EPOXIDAÇÃO DE BORRACHA DE POLIBUTADIENO EM SOLVENTE APOLAR Luciane K. de A. Schneider1, Marly A. M. Jacobi1* 1* Instituto de Química da UFRGS , Av. Bento Gonçalves, 9500, 91501-970 Porto Alegre/RS - [email protected] Epoxidation of polybutadiene rubber in non polar solvent The epoxidation of polybutadiene rubber in cyclohexane, at 50°C, by the method of performic acid generated in situ, at different reagent concentration was investigated. The epoxy degree was determined by 1 H-RMN, and because of the gelation and coagulation of modified rubber during the reaction, only a maximum of 30 mol% of epoxy degree could be achieved. The reaction followed a first order kinetic in relation to hydrogen peroxide and acid concentration showing a rate constant of 4,0 (±0,5) x 10-5 L.mol-1.seg-1. H2O2/C=C/HCOOH, e pelo uso ou não de agente surfactante, como segue: experimento A: 3/2/1 sem surfactante; experimento B: 3/2/1 com surfactante; experimento C: 2/1/1 e experimento D: 3/3/1. Os experimentos C e D foram realizados sem surfactante. A reação de epoxidação encontra-se descrita detalhadamente na literatura [2, 3]. À borracha dissolvida em ciclohexano, e aquecida a 50°C, adiciona-se o ácido fórmico e lentamente a quantidade necessária de água oxigenada. No estudo cinético da reação, alíquotas foram retiradas do meio reacional, neutralizadas com uma solução a 5% de Na2CO3 e lavadas para a remoção da água oxigenada residual. O polímero foi coagulado, seco sob vácuo e caracterizado por 1H RMN, clorofórmio deuterado (Varian VXR-200 MHz). Introdução A modificação de elastômeros tem sido estudada com o intuito de obterem-se materiais com propriedades mais adequadas para aplicações específicas. Entre as diferentes possibilidades para modificar polidienos, a epoxidação destaca-se por ser um método simples, eficiente, gerando um grupo funcional capaz de imprimir propriedades diferenciadas ao polímero e com potencialidades de reagir e ou interagir subsequentemente com outros grupos funcionais presentes nas borrachas ou nas cargas. Dentre as propriedades que podem ser modificadas pela introdução do grupamento epóxido podemos citar a temperatura de transição vítrea e a solubilidade em solventes apolares e óleos [1]. Nos estudos já realizados em nosso laboratório pôde-se constatar que é possível epoxidar borrachas comerciais, em solução de tolueno, pelo método do ácido perfómico gerado in situ e que o rendimento da reação depende de vários fatores, destacando-se a microestrutura do polímero, a concentração dos reagentes bem como a temperatura reacional [2, 3]. Dando seqüência aos estudos de epoxidação, neste trabalho exploramos o comportamento de uma borracha de polibutadieno comercial com alto teor de cis, em um solvente pouco polar, o ciclohexano. Resultados e Discussão A solubilidade, em solventes apolares, do polímero epoxidado diminui com o aumento do grau de epoxidação. Neste contexto, em todos os experimentos realizados, observou-se a coagulação do polímero durante a reação, com o aumento do grau de epoxidação, assim como, observou-se, também, a gelificação do sistema, durante o processo de epoxidação. Estes fatores fazem com que o limite máximo do grau de epoxidação para esta borracha, em ciclohexano, fique em aproximadamente, 30 mol %, ao contrário do que foi demonstrado em estudos anteriores, com tolueno [3]. Os graus de epoxidação foram determinados a partir das análises de 1H RMN pela relação das áreas relativas aos sinais na região 3,0 e 5,5 ppm, correspondente aos hidrogênios do grupamento epóxido e das ligações duplas remanescentes, respectivamente [3]. A Figura 1 apresenta espectros de 1H RMN para duas amostras distintas, A e B, com 3 e 16% de epoxidação, Experimental Polibutadieno comercial, com no mínimo de 96% de unidades cis 1,4, viscosidade Mooney 47 (ML(1+4) 100°C) foi utilizado sem purificação prévia. Os reagentes, solventes e indicadores, peróxido de hidrogênio (Nuclear 28-32%), ácido fórmico (Nuclear 98%) e ciclohexano (Nuclear), foram usados como fornecidos pelos fabricantes. O surfactante utilizado foi Tween 20. As condições reacionais foram variadas em função da proporção molar dos reagentes 1027 respectivamente. Observa-se, nitidamente, um aumento da área na região de 3,0 ppm e uma diminuição proporcional na área relativa ao sinal em 5,5 ppm, com o aumento do tempo reacional. À semelhança do que é descrito na literatura [5], um tratamento cinético simplificado em função da concentração da água oxigenada pode ser efetuado, assumindo que a reação é de primeira ordem em relação ao H2O2 e ao ácido. Sendo o ácido regenerado no processo, a sua concentração permanece constante, portanto, a velocidade de formação do grupamento epóxido pode ser escrito: d [epox] = k1 ([H 2O2 ]0 − [epóxido]).[HCOOH ] dt Integrando, tem-se: ln ([H 2O2 ]0 − [epóxido]) = −κ 1 [HCOOH]0 t + ln[H 2O2 ]0 Aplicando-se o tratamento matemático aos dados da Figura 2 obtemos retas cuja inclinação fornece a constante de velocidade, a 50°C, de 4,0 (±0,5) x 10-5 Lmol-1s-1, (figura 3), inferior a encontrada para o solvente tolueno, nesta mesma temperatura (7,8 x 10-5) [3]. ln [H2O2] Figura 1: Espectros de 1H RMN. A) proporção molar 3/3/1, 30 min de reação; B) proporção molar 2/1/1, 40 min de reação. A reação de epoxidação pelo método do ácido perfórmico gerado in situ, ocorre em duas etapas, onde na primeira etapa ocorre a formação do perácido, pela reação do peróxido de hidrogênio com o ácido (etapa lenta do processo) e na segunda etapa a adição do oxigênio à dupla ligação com a liberação do ácido, sendo a mesma rápida e exotérmica [4]. Portanto, a velocidade reacional depende da concentração do peróxido de hidrogênio e do ácido. Desta forma, diferentes proporções de reagentes geram rendimentos reacionais distintos. Além disso, devido ao fato do meio reacional constituir-se em um sistema heterogêneo, surfactantes são adicionados para melhorar o contato entre as fases. Neste estudo em particular, a adição do surfactante Tween 20 praticamente não influenciou o rendimento da reação de epoxidação, tão pouco, evitou a coagulação do polímero epoxidado. A influência da proporção molar, e conseqüentemente, da concentração dos reagentes sobre o rendimento da reação é apresentada na Figura 2, onde são mostrados 3 experimentos considerando diferentes proporções molares dos reagentes. Para altas concentrações de peróxido de hidrogênio e ácido, o controle da reação é mais difícil e a gelificação ocorre em tempos menores. Independente da proporção molar, o grau de epoxidação máximo atingido é 30%. 0,2 0,1 0,0 -0,1 0 60 80 Grau de Epoxidação (mol%) 80 100 120 140 160 180 200 220 Agradecimentos Agradecemos a Petroflex pela bolsa de doutorado. Referências Bibliográficas 1. S. Roy; B. R. Gupta, e S. K. De, S. K. in Elastomer Technology Handbook, Ed. Nicholas P. Cheremisinoff, 1993, 17, 635. 2. M. M. Jacobi; C. P. Neto; C. G. Schneider; T. L. C. Rocha; R. H. Schuster, Kautsch Gummi Kunstst 2002, 55, 590 3. M. M. Jacobi; C. K. Santin; E. Vigâmico;R. H. Schuster, Kautsch Gummi Kunstst, 2004, 57, 82 4. S. Gnecco; A. Pooley; M. Krause Polymer Bulletin 1996, 37, 609. 5. Ng ,S.C.; Gan, L.H; Eur. Polym. J. 1986, 07, 573 Serie 2:1:1 Serie 3:2:1 Serie 3:3:1 40 60 Conclusões É possível epoxidar polibutadieno comercial com alto teor de cis, em ciclohexano, pelo método do ácido perfórmico gerado in situ. Devido a baixa solubilidade do polímero epoxidado, o sistema coagula e gelifica quando um grau de epoxidação de 30mol% é atingido, independente das concentrações iniciais dos reagentes. A velocidade da reação depende da concentração dos reagentes (peróxido de hidrogênio e ácido) e segue uma cinética de primeira ordem em relação ao peróxido de hidrogênio. Utilizando-se relações molares de 3/1/1, a reação é mais lenta, mas é mais facilmente controlada. 15 20 40 Figura 3: ln [H2O2] em função do tempo para BRcis, a 50°C. 20 0 20 tempo (min) 25 0 0,5 0,3 30 5 serie 2:1:1 serie 3:2:1 serie 3:3:1 0,6 0,4 35 10 0,7 100 120 140 160 180 200 tempo (min) Figura 2: Influência da proporção molar H2O2/C=C/HCOOH sobre o grau de epoxidação Anais do 8o Congresso Brasileiro de Polímeros 1028