FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR FILOMENA MARIA MINETO BRONDANI ATIVIDADE CARRAPATICIDA DO LÁTEX DA PLANTA Hura crepitans E DO EXTRATO ETANÓLICO DA PLANTA Rinorea pubiflora em larvas de Boophilus microplus E Rhipicephalus sanguineus Monte Negro – RO 2006 FILOMENA MARIA MINETO BRONDANI ATIVIDADE CARRAPATICIDA DO LÁTEX DA PLANTA Hura crepitans E DO EXTRATO ETANÓLICO DA PLANTA Rinorea pubiflora EM LARVAS DE Boophilus microplus E Rhipicephalus sanguineus Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia para a obtenção do título de Mestre em Biologia Experimental. Orientador: Prof. Dr. Luís Marcelo Aranha Camargo Co-orientadora: Profª. Drª. Mariangela Soares de Azevedo Monte Negro – RO 2006 ii FILOMENA MARIA MINETO BRONDANI ATIVIDADE CARRAPATICIDA DO LÁTEX DA PLANTA Hura crepitans E DO EXTRATO ETANÓLICO DA PLANTA Rinorea pubiflora EM LARVAS DE Boophilus microplus E Rhipicephalus sanguineus Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Experimental da Universidade Federal de Rondônia para a obtenção do título de Mestre em Biologia Experimental. Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Prof. Dr. Luís Marcelo Aranha Camargo USP – Universidade de São Paulo ________________________________________________ Profª. Drª. Mariangela Soares de Azevedo UNIR – Universidade Federal de Rondônia ________________________________________________ Profª. Drª. Luciana Gatto Brito EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa da Agropecuária ________________________________________________ Profª. Drª. Rubiane C. Pagotto - suplente UNIR – Universidade Federal de Rondônia iii FICHA CATALOGRÁFICA BRONDANI, Filomena Maria Mineto Brondani Atividade carrapaticida do látex da Hura crepitans e do extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora em larvas de Boophilus microplus e Rhipicephalus sanguineus. Monte Negro, RO, UNIR-USP, 2006. xvi, 59p. Dissertação: Mestre em Biologia Experiental 1. Carrapaticida; 2. Fitoterapico; 3. Hura creapitans; 4. Rinorea pubiflora. I. Universidade Federal de Rondônia, Núcleo de Saúde. II. Título. iv Ao meu marido Walmor e filhos, Paulo Augusto e Joaquim Osório pelo apoio e compreensão em meus momentos de ausência. Ao meu pai Vitélio e a memória de minha mãe Almerinda, que me incentivaram a estudar e me ensinaram a ser persistente. v AGRADECIMENTOS À Deus, por ter me proporcionado a vida e as oportunidades, zelando sempre por mim. Ao meu orientador Dr Luís Marcelo pela orientação, paciência e a oportunidade a mim concedida para que eu pudesse melhorar os meus conhecimentos abrindo-me caminhos na pesquisa científica. A minha co-orientadora profª Mariângela que não mediu esforços em me auxiliar na parte de fitoquímica. Ao meu marido Walmor pela sua compreensão e carinho ajudando-me em todos os momentos a cuidando de nossos filhos. Aos meus filhos, Paulo Augusto e Joaquim Osório por compreender a minha ausência e pelo carinho nos momentos difíceis. A minha irmã Gertrudes e cunhados Mariano, Inês e Irineu, minhas sobrinhas Lara e Larissa pelo apoio neste período de ausência. Aos professores da UNIR, pela colaboração no meu crescimento pessoal e profissional. Ao professor Pedro Barreto Crispim pela sua disponibilidade e auxílio na análise estatística e gráficos. A profª Vera Engracia e dona Edinéia pela disponibilidade em sempre atender-me com carinho e presteza. A minha amiga Denise pela colaboração na formatação do trabalho e carinho com seu apoio. A meus amigos e pesquisadores do laboratório que estiveram sempre presentes ajudando-me em vários momentos desta pesquisa, os quais foram muito vi importantes para que ela acontecesse, Dr Labruna, Ms Débora, Dr Cecília, Dr Carlos e Flávio. A minha amiga Márcia pela sua disponibilidade, paciência e colaboração nos momentos de estudo. Aos amigos João, Suzamar, Sandra, Aline, Adriana, Edilene, Raquel, Carolina e os demais colegas de turma pela amizade e apoio. Aos amigos do laboratório que sempre deram apoio com sua presença e agradável convivência, Leormando, Marlene, Ademir, João, Max, Juliana em especial ao seu Manoel pela colaboração na coleta das teleógenas. A Direção e professores do colégio Aurélio pelo apoio . A SEDUC, através da Carmem, da Rizeuda, Tereza e demais, pelo apóio e compreensão. Ao Sr Manuel das Dores Ferreira que auxiliou na coleta de material da planta H. crepitans. Agradeço de maneira geral a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a conclusão deste trabalho, que por esquecimento deixei de citá-los. vii “Um homem não é grande pelo que faz, mas pelo que renuncia”. (Albert Schweitzer) viii RESUMO O controle da infestação por carrapatos Rhipicefalus sanguineus e Boophilus microplus é de importância médica e veterinária, pois os mesmos são agentes causadores de doenças aos animais e ao homem como; dermatoses, babesiose, anemia, tristeza parasitária bovina, erliquioses entre outras. O presente trabalho avaliou a atividade carrapaticida do extrado etanólico das folhas da planta R. pubiflora (Canela de macuco) e do látex da planta H. crepitans L (Assacu) em ensaios biológicos com a utilização de larvas infestantes de R. sanguineus e B. microplus. Os testes foram feitos em duplicata com a utilização de larvas infestantes, sendo as mesmas colocadas em envelopes impregnados com extrato etanólico da R. pubiflora e látex da H. crepitans em 5 concentrações diferenciadas e a mortalidade das larvas foi verificada no tempo 6, 12 e 24 horas após terem sido colocadas nos envelopes. Os resultados desses ensaios biológicos demonstraram que o Látex da Planta H. crepitans L teve atividades carrapaticida significativa (acima de 97%), tanto para R. sanguineus como para B. microplus e o extrato etanólico da planta R. pubiflora não demonstrou atividade carrapaticida em nenhum dos casos. Na verificação das classes de substâncias, através de testes, constatou-se que o extrato etanólico da planta R. pubiflora possui esteróides em sua composição e que o látex da planta H. crepitans L. contém alcalóide. ix O uso indiscriminado de carrapaticidas químicos resulta em resistência adquirida, exigindo assim doses cada vez maiores, e, conseqüentemente aumentando os danos ao meio ambiente, aos animais e ao homem. A utilização de produtos de nossa biodiversidade como agente carrapaticida vem contribuir para a preservação do meio ambiente colaborando assim para o desenvolvimento sustentável da região. x ABSTRACT The control of the ticks Rhipicephalus sanguineus and Boophilus micropulus is of public and veterinary health importance. These species are vectors of very important diseases such as ehrlichosis, babesiosis, anaplasmosis as well as producing dermatitis and anemia. The acaricidal activity of the latex obtained from Hura crepitans L and the ethanolic extract of Rinoria pubiflora (Canela de macaco) leaves against “infectious” larvae of R. sanguineus and B. micropulus was evaluated by filter paper contact toxicity bioassays. The biotoxicity of the latex and the extract against the larvae was assessed separately and in duplicate. The larvae were incubated in filter paper envelopes impregnated with the compounds in 5 different concentrations for 24 hours. The larvae were observed at 6, 12 and 24 hours and their mortality rate was recorded. The H. crepitans L latex demonstrated a significant acaricidal activity (over 97 % mortality) for the larvae of Rhipicephalus sanguineus and Boophilus micropulus. The ethanolic extract of R. pubiflora show no acaricidal activity at any of the concentrations tested for the two tick species studied here. The chemical analyses of these compounds revealed that the latex of H. crepitans L and that the ethanolic extract of R. pubiflora contained alkaloids and steroids respectively. The control of the ticks Rhipicephalus sanguineus and Boophilus micropulus is of public and veterinary health importance. These species are vectors of very important diseases such as ehrlichosis, babesiosis, anaplasmosis as well as producing dermatitis and anemia. xi The indiscriminate use of chemical acaricides for tick control facilitates the induction of parasite resistance and the need for the application of higher doses to achieve effectiveness with the consequent deleterious impact on the environment. The use of natural products obtained from our diverse native flora as acaricidal agents will greatly contribute to the preservation of the environment and the sustainable development of the region. xii LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Distribuição geográfica da H. creapitans na América........................... 9 Figura 2 - Tronco, folhas e fruto de Hura crepitans............................................... 10 Figura 3 - Exemplar de Rinorea pubiflora............................................................. 12 Figura 4 - Imagem de fêmea ingurgitada de Boophilus microplus........................ 13 Figura 5 - Ciclo de vida do Boophilus microplus................................................... 14 Figura 6 - Bovino infestado por B. microplus........................................................ 15 Figura 7 - Capituli sextavado da base, um caráter identificando o R. sanguíneus. ....................................................... ................................................... 17 Figura 8 - Dimorfismo sexual de R. sanguíneus. ................................................ 18 Figura 9 - Ciclo de vida do R. sanguineus. .......................................................... 19 Figura 10 - R. sanguineus infestando o pavilhão auditivo de um cão................... 20 Figura 11 - Localização do município de Monte Negro – RO............................... 23 Figura 12 - Localização do município de Humaitá – AM. ..................................... 23 Figura 13 - Planta H. crepitans, observar metodologia de coleta......................... 26 Figura 14 – Preparação de extratos...................................................................... 29 Figura 15 - Envelopes em duplicatas.................................................................... 29 Figura 16 - Contagem das larvas.......................................................................... 30 Figura 17 - Relação da concentração do látex da planta Hura crepitns L. em função da mortalidade de larvas de B. microplus no decorrer do tempo............... 37 Figura 18 - Porcentagem média de mortalidade em relação ao tempo corrigida pela fórmula e Abbott em larvas de B. Microplus para cada concentração do latex H. Crepitans................................................................................................... 38 xiii Figura 19 - Relação da concentração do látex da planta Hura crepitns L. em função da mortalidade de larvas de R. sanguineus no decorrer do tempo em relação as 5 concentrações e controle.................................................................. 39 Figura 20- Porcentagem média de mortalidade de larvas de R. sanguineus em relação ao tempo para cada concentração do latex H. Crepitans corrigida pela fórmula de Abbott. ................................................................................................. 40 Figura 21 - Comparação da mortalidade das larvas do B. microplus nas cinco concentrações do extrato etanólico da R. pubiflora e controle em função do tempo de contato................................................................................................... 41 Figura 22 - Compara a mortalidade das larvas de R. sanguineus em contato com as 5 concentrações do extrato etanólico da R. pubiflora e controle em função do tempo de contato. ................................................................................. 42 xiv LISTA DE TABELA Tabela 1 - Resultados obtidos nos testes para classe de substâncias................. 32 Tabela 2 - Mortalidade de larvas B. microplus, por ação da H. crepitans L. em diferentes dosagens observadas a cada 6 horas por 24 horas............................. 33 Tabela 3 - Mortalidade de larvas R. Sanguineus, por ação da H. crepitans L. em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas......................... 34 Tabela 4 - Mortalidade de larvas B. microplus, por ação da R. pubiflora em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas............................... 35 Tabela 5 - Mortalidade de larvas R. sanguineus, por ação da R. Pupiflora em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas............................... 36 xv SUMÁRIO RESUMO viii ABSTRACT x LISTA DE FIGURA x LISTA DE TABELA xii 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1 1.1 HISTÓRICO SOBRE O USO TERAPEUTICO DAS PLANTAS............... 4 1.2 FAMÍLIA EUPHORBIACEAE................................................................... 7 1.2.1 Hura crepitans ... ............................................................................. 8 1.3 FAMILIA Violaceae................................................................................... 10 1.3.1 CARACTERISTICA DA PLANTA Rinorea pubiflora........................ 11 1.4 Boophilus microplus................................................................................. 12 1.4.1 - CARACTERISTICAS DOS B. microplus....................................... 12 1.4.2 CICLO DE VIDA DO Boophilus microplus. ..................................... 13 1.4.3 IMPORTÂNCIA VETERINÁRIA DO Boophilus microplus............... 15 1.5 Rhipicephalus sanguineus...................................................................... 17 1.5.1 CARTERISTICAS DO Rhipicephalus sanguineus.......................... 17 1.5.2 CICLO DE VIDA.............................................................................. 18 1.5.3 IMPORTÂNCIA VETERINÁRIA DO R. sanguineus........................ 19 2- OBJETIVO....................................................................................................... 21 2.1 OBJETIVO GERAL.................................................................................. 21 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.................................................................... 21 3- METODOLOGIA.............................................................................................. 22 3.1 AREAS DE COLETAS DE MATERIAIS BIOLÓGICOS........................... 22 xvi 3.1.1 MONTE NEGRO - RO..................................................................... 22 3.1.2 HUMAITÁ - AM................................................................................ 23 3.2 MATERIAIS E MÉTODOS....................................................................... 24 3.3 PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS................................................... 25 3.4 COLETA E IDENTIFICAÇÃO DAS PLANTAS......................................... 25 3.5 OBTENÇÃO DO EXTRATO ETANÓLICO DA PLANTA Rinorea pubiflora............................................................................................................... 27 3.6 IDENTIFICAÇÃO DA CLASSE DAS SUBSTANCIAS.............................. 27 3.6.1 Esteróides e Terpenos..................................................................... 27 3.6.2 Flavanóides...................................................................................... 28 3.6.3 Alcalóides......................................................................................... 28 3.7 COLETAS DE TELEÓGENAS INGURGITADAS DE B. microplus E R. sanguineus.......................................................................................................... 28 3.8 ENSAIOS BIOLÓGICOS.......................................................................... 28 3.9 ANÁLISE ESTATISTICA.......................................................................... 30 4 RESULTADO.................................................................................................... 32 4.1 CLASSE DE SUBSTÂNCIAS.................................................................. 32 4.2 ATIVIDADE CARRAPATICIDA DAS PLANTAS R. pubiflora E H. creapitans EM R. sanguineus E B. microplus...................................................... 33 5 DISCUSSÃO..................................................................................................... 43 6 CONCLUSÃO................................................................................................... 48 7 BIBLIOGRAFIA................................................................................................. 49 1 1 INTRODUÇÃO Possuidor de uma flora variada o Brasil conta com um grande número de espécies vegetais utilizadas como fitoterápicos, e, somente uma pequena fração tem sido alvo de estudos que confirmem seus efeitos. A biodiversidade presente no Brasil constitui uma de nossas maiores riquezas, destacando-se como fontes para a obtenção de novas substâncias com finalidade terapêutica na medicina e veterinária. O Brasil abriga a maior diversidade biológica, e se encontra entre os 17 países ditos mega diversos, reúnem 70% das espécies de animais e vegetais catalogadas até hoje no mundo. Calcula-se que o Brasil possua entre 15% a 20% de toda a biodiversidade mundial e o maior número de espécies endêmicas (Lewinsohn & Prado, 2002). Sendo assim, esta ampla biodiversidade acaba se tornando um recurso estratégico, um laboratório genético para a medicina, a agricultura e indústria (Marques, 1982). O potencial das plantas superiores usadas como fonte de novos medicamentos é ainda pouco explorado, considerando estimativa de que existe cerca de 400 a 500 mil espécies de plantas e somente uma pequena porcentagem tem sido investigada fitoterapicamente, e dentre estas, a fração que representa as que são submetidas a testes biológicos e farmacológicos é ainda menor (Hamburguer & Hostettmn, 1991). Com o apogeu das idéias de preservação e de desenvolvimento sustentável, novas perspectivas surgem em relação a plantas de importância fitoterápica. A tendência global de uma preocupação com a biodiversidade em 2 conjunto com idéias de desenvolvimento sustentável trouxe novos ares ao estudo de plantas medicinais brasileiras, despertando novamente um interesse geral na fitoterapia. Novas linhas de pesquisa foram estabelecidas em universidades, algumas buscando bases mais sólidas para avaliação científica do uso de plantas medicinais (Lorenzi. & Abreu, 2002). A busca por fórmulas alternativas de controle de pragas, sem o uso de substância sintética, tem sido uma tendência mundial tanto na área agrícola como veterinária, buscando assim alimentos sem resíduos químicos e conseqüentemente uma melhor qualidade de vida (Morrone, et al, 2001). O controle dos carrapatos é na maioria das vezes feito através de carrapaticidas químicos, enquanto somente uma pequena quantidade de agricultores o faz através de fitoterápicos ou removem-os manualmente (Pamo et al, 2004). Estudos que visam à utilização de extratos vegetais no combate a carrapatos ainda estão em fase inicial. As técnicas de controle mais usadas é a rotação de pastagens, a criação de bovinos resistentes e aplicação de produtos químicos, sendo este último método que provoca contaminação do ambiente e a restrição temporária da utilização da carne e do leite de animais tratados, além de contribuir para criar carrapatos resistentes a esses produtos. Essa problemática tem causado prejuízos econômicos em nosso país que ultrapassam bilhões de dólares anualmente (Boletim Agropecuário, 2003). A utilização de extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora da família Violeaceae e do látex da planta Hura crepitans, da família das Euphorbiaceas em ensaios biológico para testar efeitos como carrapaticidas vem colaborar na valorização de produtos oriundos da biodiversidade amazônica. 3 O uso indiscriminado de carrapaticidas químicos, muitas vezes sem assistência técnica, resulta em resistência adquirida por carrapatos, exigindo assim doses cada vez maiores e conseqüentemente aumentando os danos ao meio ambiente, aos animais e ao homem. Em conseqüência do avanço da agricultura e pecuária extensivas houve um abandono no uso de plantas fitoterápicas de ação antipragas e antiparasitas selecionadas por conhecimento empírico. Isto implica em importantes perdas: ambientais, econômicas e sociais entre outras, pois o Brasil com sua mega-biodiversidade deixa de explorar suas riquezas naturais se sujeitando a dependência da tecnologia externa, além de contribuir para a poluição do meio ambiente e até mesmo na extinção de espécies. Direcionar estudos para carrapatos Boophilus microplus (carrapatos de bovinos) e Rhipicephalus sanguineus (carrapatos marrom de cães) se deve ao fato de parasitarem animais domésticos e conseqüentemente estarem ligados ao convívio humano. E, utilizar extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora e do látex da Hura creapitans em teste biológico com larvas de Boophilus microplus e Rhipicephalus sanguineus é buscar alternativa usando produtos de nossa biodiversidade amazônica como agente carrapaticida, contribuindo assim com a preservação do meio ambiente e colaborando para o desenvolvimento econômico sustentável da região. 4 1.1 Histórico sobre o uso terapêutico das plantas O uso das espécies vegetais, com fins terapêuticos, remonta ao início da civilização, desde o momento que o homem despertou para a consciência e começou um longo percurso de manuseio, adaptação e modificação de recursos naturais para seu benefício. Essas práticas milenares, atividade humana por excelência, ultrapassou todas as barreiras e obstáculos durante o processo evolutivo e chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial. Desde a pré-história o homem procurou aproveitar os princípios ativos existentes nos vegetais, embora de modo totalmente empírico ou intuitivo, baseados em descobertas ao acaso. Antigos textos caldeus, babilônios e egípcios já traziam referências a certas espécies vegetais usadas em rituais religiosos, na Bíblia, tanto no novo como no antigo testamento, há muitas referências a plantas curativas (Van den Berg, 1998). Até o século XIX, os recursos terapêuticos eram constituídos predominantemente por plantas e extratos vegetais. No início do século passado, esses recursos começaram a ser estudados com os instrumentos científicos da época e se estabeleceu paulatinamente a tendência da utilização das substâncias ativas isoladas, nesta época toma impulso à química orgânica, Wohler sintetiza a uréia a partir do cianeto de amônio, mudando à teoria que orgânico só se origina de orgânico e os químicos começam a produzir versões dos componentes das plantas, iniciando assim, a transição de medicamentos naturais para sintéticos (Schenkel et al., 2003). Muitas plantas acumulam substâncias que podem ser extraídas em quantidade suficientes para serem economicamente utilizadas para as mais 5 variadas aplicações científicas, tecnológicas e comerciais. As substâncias químicas extraídas das plantas são normalmente classificadas em metabólitos primários e secundários. Os primários são encontrados principalmente em sementes e órgãos de armazenamento, estão ligados ao desenvolvimento da planta. Os secundários são derivados do metabolismo primário, com distribuição limitada a determinados grupos taxonômicos, possuem um papel ecológico, como: atrativos para polinizadores, defensores químicos contra microorganismos, insetos, predadores superiores e até mesmo contra outras plantas (aleloquímicos). Eles são utilizados comercialmente como compostos biologicamente ativos como: Pesticidas, fármacos, aromatizantes entre outros. Podemos citar como alguns exemplos de metabólitos secundários a nicotina, aspiretrina, rotenona, cocaína, morfina, azadirachtina (planta Neen), óleos essências, resinas, alcalóides, flavanóides, taninos, entre outros (Di Stase, 1996). Tanto os primários como os secundários podem ser obtidos através de processos relativamente simples como: destilação a vapor, extração com solvente aquoso ou orgânico (Balandrim, 1985). A nicotina é um dos mais antigos inseticidas e provavelmente o alcalóide mais conhecido e utilizado, agindo também como acaricida, ela se decompõe facilmente em presença de luz (Pilli & Yoshinaga,2003). Os produtos naturais podem ser de potencial interesse no combate a pestes. Primeiro porque, graças à diversidade de tipos estruturais, constituem fonte rica de compostos a serem pesquisados em testes biológicos de triagem, segundo porque o conhecimento sobre sua atividade biológica pode levar à aplicação direta do próprio produto resultante de modificações estruturais, 6 terceiro porque conhecer e compreender função de um produto químico na natureza pode levar as novas estratégias no manejo de pragas (Prates, 1992). Pesquisas estão sendo feitas na busca de alternativas biológicas no controle de ectoparasitos de importância veterinário. Como relatado por Prates et al. (1993), o óleo essencial da Melinis minutiflora (capim gordura) composta por monoterpenos e α e β- pineno, provocou mortalidade de 100% das larvas do carrapato Boophilus microplus em dez minutos em condições de laboratório e dois componentes isolados do óleo essencial do capim gordura matam larvas em cinco minutos. Um grupo de pesquisa de plantas da Empresa brasileira de pesquisa agropecuária de Campo Grande, MS, comprovou a atividade carrapaticida em B. microplus da planta Melia azedarach (cinamomo) e pesquisas em andamento com o objetivo de isolar o princípio ativo desta planta (Dantas et al., 2000). Furlong et al. (2002), realizaram um estudo sobre extrato alcoólico e o aquoso do Neen (Azadirachta indica) que é composto por azadiractina (proteína), limoneno, triterpenos, genuninos, nimbim em larvas de B. microplus. O extrato aquoso em 48 horas de exposição obteve os melhores resultados. Silva & Martinez. (2004) avaliaram duas formulações comerciais de A. indica contra B. microplus e observaram elevada eficiência dos produtos somente em altas concentrações, assim como em Amblyomma variegatum (Ndumu et al., 1999). Costa-Junior et al. (2002) avaliaram a eficiência in vitro de rotenóides extraídos do Timbó (Derris urucu) em teleóginas do carrapato B. microplus e a maior concentração utilizada no experimento (10,0 mg/ml) obtiveram uma eficiência média de 97,85%. Chagas (2001) detectou a ação acaricida dos 7 óleos essenciais (hidrocarbonetos terpenicos monocíclicos) de três espécies de eucalipto (Eucalytus citriodora, Eucalypitus globulus e Eucalyptus staigeriana) sobre o carrapato B. microplus. Os resultados foram tão satisfatórios que incentivaram o depósito de três patentes nacionais e uma patente internacional dos produtos desenvolvidos a partir dos óleos essenciais destas três espécies de eucalipto. Os acaricidas constituem o principal mecanismo de controle de carrapatos. Os primeiros acaricidas foram os arsênicos (década de 40), os clorados (DDT, BHC em 1952), os fosforados (décadas de 50 e 60), as amidinas (década de 70), os piretróides (década de 80) e por último os quimioterápicos com ação inseticida (Furlong, 1993). Inseticidas e acaricidas provocam certo grau de poluição ambiental, sendo prejudiciais à vida e ao meio ambiente. Resíduos de acaricidas no leite e na carne constituem um problema universal e de grande importância na saúde pública e sua presença interfere na comercialização de produtos de origem animal (Uilenberg, 1996). 1.2 Familia Euphorbiacea Esta família é representada, aproximadamente, por 290 gêneros, com cerca de 7500 espécies, distribuídas em todas as regiões tropicais e subtropicais do globo, principalmente na América e África. No Brasil ocorrem 72 gêneros e cerca de 1100 espécies em habitat diferentes (Barrroso, 1991). São plantas de hábitos bastante variados, existindo ervas, subarbusto, árvores e trepadeiras. Possuem folhas alternadas, inteiras ou partidas, em geral estípulas, lactescentes ou não. Flores sempre de sexos separados, 8 geralmente monoclamídeas, também diclamídeas, em plantas monóicas, reunidos em inflorescências muito variadas, em geral do tipo cacho. Dentre as Euphorbiacecae encontram-se muitas plantas úteis como à mamona (Ricinus communis), com sementes ricas em óleo rícino, o tungue (Auleurites fordii) que produz óleo de baixo ponto de congelamento, essenciais para certos tipos de lubrificação. Também pertence a essa família a seringueira da Amazônia (Hevea brasileisis), a mandioca (Manihot esculenta), o assacu (Hura crepitans ) árvore que produz látex cáustico, a coroa-de-cristo (Acacia farnesiana), o quebra-pedra (Phyllanthus niruri) usado como remédio entre outras (Joly,1993). O aspecto químico característico da família das Euphorbiaceae é representado por triterpenos seguido de flavanóides e alcalóides (Payo Hill et al., 2001). Muitas plantas que produzem alcalóides são evitadas por animais ou insetos em sua dieta, isto ocorre devido a sua toxidade ou ao fato de a maioria dos alcalóides ter gosto amargo (Simões, 2003). 1.2.1 Hura crepitans L. A Hura crepitans é largamente distribuída em toda a América tropical, desde a Amazônia até a América Central e Antilhas sendo encontrada em solos argilosos das matas de várzeas, em terrenos alagáveis ao logo dos rios e igarapés (SUDAM, 1979). (fig.1) Em geral é encontrada em regiões de clima quente, com temperaturas variando entre (25°C e 28°C), requer uma alta precipitação de chuvas e um subsolo bastante úmido na região das raízes, exige solo rico em nutrientes minerais, com pH variando entre cinco a oito (Franscis,1990). 9 Fonte: John Francis Figura 1 – Distribuição geográfica da H. creapitans na América. Árvore grande, de até 30 metros de altura (fig. 2), casca verde, espinescente e muito lactente, folhas alternadas longo-peciolada, duas estípulas, largo-ovaladas ou quase cordadas, dentadas ou inteiras, dobras na página superior e com as nervuras da página inferior pálido-ferrugineas, flores avermelhadas, monóicas apeladas, as femininas solitárias e as masculinas dispostas em espigas pendiculadas de 6 centímetros de comprimento. Frutos em forma de cápsula esférica, lenhosa, dura, achatado. O tronco fornece madeira branca e macia, resistente à umidade, usada na construção civil, à queima da madeira produz fumaça inseticida, o látex produzido pela árvore é cáustico e irritante, destrói tecidos ulcerados, usado em doses mínimas é antireumático e anti-helmíntico. A “hurina” e a “creptina” (proteínas) são uns dos princípios ativos da Hura crepitans, o látex pode provocar a morte se usado na razão de 6g/50 kg de peso corporal. O albúmen que envolve a semente constitui purgante, mas a semente desprovida de albúmen é comestível por certos macaco e araras, os índios Ipurinãs usam o látex para envenenar 10 flechas e outras tribos também o utilizam para embarbascar peixes (Corrêa, 1978; Mesa, 1974; Stirpe, 1974). A planta Hura crepitans L. possui a “lecetina” uma proteína tóxica (Rates, 2000). O conhecimento empírico do uso do látex da H. crepitans L. pelos povos da Amazônia como inseticida originou a possibilidade de ser testado como provável carrapaticida. Fonte: http://stfs.siedu/webatlas/spanish/huracr.html Figura 2 – Tronco, folhas e fruto de Hura crepitans. 1.3 Família Violaceae A família Violaceae foi subordinada por Hutchinson em 1967, no Brasil ocorrem cerca de setenta espécies subordinadas a dez gêneros. A maior concentração de espécies encontra-se nos Estados Unidos da América e Europa (Barroso et al, 2004). Esta família é composta por 16 gêneros de distribuição nas regiões tropicais e subtropicais, são plantas herbáceas, lenhosas ou trepadeiras, com folhas inteiras em rosetas ou de disposição alternada, com espículas. Flores cleistógamas às vezes desenvolvidas. Flores pequenas e vistosas, cíclicas, 11 hermafroditas de simetria radial ou fortemente zigomorfas, diclamídeas, em geral zigomorfas, podendo ou não apresentar uma espora (da corola) desenvolvida. Possuem cinco estames, livres entre si ou com os filetes soldados. Ovário superior em geral com três carpelos, porém unilocular, com placentação parietal. Fruto seco, capsular, sementes aladas ou com arilo. Como planta cultivada destaca-se Violeta (Viola adorata), com flores normais e flores cleistógomas, curto-pendiculadas não coloridas, desenvolvidas rente ao chão na roseta, o amor perfeito (Viola tricolor) é também um exemplo desta espécie (Joly, 1993). A planta da África Rinorea welwitschii (violaceae) é utilizada pelos povos de Ghana no tratamento de febre, picada de cobra e sífilis (Stewart et al, 2000). 1.3.1 Catacteristrica da planta Rinorea pubiflora Árvore de no máximo 8m de altura localiza-se em terrenos pedregosos, beira de rio e mata em geral, pouco citada na literatura, quando citada refere-se à catalogação (fig. 3). Essa planta foi alvo de estudo a partir de observação feita pelos pesquisadores Dr. Phd Luís Marcelo Aranha Camargo, médico parasitologista e Dr. Marcelo Bahia Labruna, veterinário ambos os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), quando ao transportar carrapatos silvestres em frascos contendo folhas de R. pubiflora, os mesmos morreram, surgindo carrapaticida. a possibilidade dessa planta possuir atividade 12 Fonte: Denise Rezende Figura 3 – Exemplar de Rinorea pubiflora. 1.4 Boophilus microplus 1.4.1 Caracteristicas dos B. microplus O B. microplus é um carrapato ixodíneo amplamente distribuído ocorrendo entre as latitudes de 32° norte e 35° sul, correspondendo à faixa intertropical que abrange importantes zonas da América Central, América do sul, África e Oceania. No Brasil é uma das espécies de maior prevalência e importância (Santana, 2004). Esse carrapato pode infestar: bovinos, búfalos, cavalos, burros, caprinos, ovelhas, cervos, porcos e cães. Tendo maior importância veterinária em bovinos (Sou..., 2003). Taxonomicamente o B. microplus é classificado como: Filo: Artopode; Classe: Aracnídea; Família: Ixodidae; Gênero: Boophilus e Espécie: Boophilus microoplus (Drugueri,2004). O B. microplus possui o corpo pequeno, sem ornamentação, capitulo hexagonal, aparelho bucal curto, hipostômio mais longo do que os palpos com placas circulares, sulco anal e festões ausentes. Machos com quatro placas 13 adunais longas e distintas; o corpo termina numa ponta aguda e nas fêmeas o corpo termina normalmente em forma arredondada (Guimarães et al, 2001) (Fig. 4). Fonte: http://imagens.google.com.br/imagens?q=boophilus+microplus Figura 4 – Imagem de fêmea ingurgitada de Boophilus microplus. 1.4.2 Ciclo de vida do Boophilus microplus. O B. microplus é um carrapato monoxeno, ou seja, só precisa de um hospedeiro para completar a sua fase parasitária. Quando uma larva sobe em um bovino (Fig. 5), fixa-se à pele e após 7 a 8 dias, muda para o estágio de ninfa, esta ninfa, imediatamente inicia sua alimentação e após 7 a 8 dias ocorre sua mudança para o estágio adulto, sendo que 50% das ninfas transformam-se em adultos fêmeas (Teleóginas) e 50% em adultos machos (Gonandro). As fêmeas se alimentam por sete dias, posteriormente se desprendem da pele do bovino, caindo ao solo para iniciar a fase não parasitária. A fase parasitária compreendida da larva à fêmea ingurgitada se completa em 21 a 22 dias, num único bovino (Gonzales, 1993). 14 Fonte: http://www.carol.com.br/estilo/boletim.jsp?edi=13&pag=7 Figura 5 – Ciclo de vida do Boophilus microplus. A fase parasitária pode variar de 18 até 35 dias para a maioria dos carrapatos. No caso dos machos, eles se ingurgitam como as fêmeas, e podem permanecer no corpo dos bovinos por até 50 dias, fecundando várias fêmeas neste período. A fase não parasitária em condições ambientais favoráveis (27°C) e 80% de umidade relativa apresentam as seguintes durações para cada etapa: O período entre a queda da fêmea ingurgitada do hospedeiro no solo até o início da postura dos ovos (período de pré-postura) dura de dois a três dias. O período de postura dura aproximadamente de 15 dias, quando cada fêmea ingurgitada coloca de 2000 a 3000 ovos. Após o fim desse período em torno de 10 dias, as larvas começam a eclodir podendo durar até 10 dias este período. Após a eclosão, as larvas ainda não estão aptas para subir nos 15 bovinos, pois necessitam em torno de 7 dias para endurecer suas cutículas e se tornarem infestantes. A partir daí, subirão para a ponta dos capins, esperando a passagem de um bovino para que possam subir nele e iniciar a fase parasitária (Labruna, 2000). 1.4.3 Importância veterinária do Boophilus microplus O Carrapato dos bovinos, B. microplus, é um parasita que necessita obrigatoriamente passar uma fase de vida sobre os animais, onde se alimenta (Fig. 6). Ao se alimentar, causa irritação, danifica o couro, ingere sangue e podem inocular os agentes da Tristeza Parasitária Bovina (Furlong & Massard, 1994). Eles podem causar vários tipos de ações que prejudicam o animal como: ação espoliativa, pela retirada de sangue do animal; cada carrapato que completa o seu ciclo no animal retira de 1mL a 3mL de sangue; ação irritante, devido à penetração e aderência do rostro (peça bucal); a saliva do carrapato possui uma ação anti-coagulante; ação necrosante, responsável pelo estrago no couro e predisposição do animal às infecções e outros parasitas, como as miiases; ação tóxica, pela introdução de toxinas no organismo parasitado (Lauar, 1986). Fonte: http://www.dpi.qld.gov.au/images/2378.jpg Figura 6 - Bovino infestado por B. microplus. 16 Os carrapatos afetam a saúde e o conforto dos animais e isso determina também a quantidade de gado produzido, assim como seu comércio, sendo, portanto, um problema local da fazenda e um problema público. Com custos diretos, como: perda de peso vivo, perdas na produção de leite, prejuízo no couro e as perdas por febre do carrapato causadas por Babesia bovis, B.bigemina e Anaplasma marginale, além das perdas indiretas pelo controle químico (Sutherst, 1983). Os prejuízos causados por B. microplus à pecuária brasileira estão classificados em dois grupos principais. No primeiro grupo se enquadram os danos decorrentes da ação direta, caracterizados por espoliação sanguínea e suas conseqüências, como anemia, prurido, irritação, queda de peso e perda na produção de leite e carne, predisposição à instalação de miíases e desvalorização do couro. Em um segundo grupo é compreendido o traumatismo ocasionado pela ação direta, constituídos essencialmente, pela transmissão de agentes causadores de doenças, como tristeza parasitária bovina e pelos gastos com aquisição de medicamentos e de mão de obra especializada para o tratamento dos animais, além das perdas com os bovinos que vão a óbito, quando não adequadamente tratados. Na tentativa de se evitar que a situação chegue a tal ponto, os carrapaticidas são utilizados indiscriminadamente, levando ao aumento dos gastos, à seleção e proliferação de populações de carrapatos resistentes às bases químicas disponíveis, além da poluição ambiental e da elevada quantidade de resíduos nos produtos derivados dos animais tratados (Furlong & prata, 2003). 17 1.5 Rhipicephalus sanguineus 1.5.1 Caracteristicas do Rhipicephalus sanguineus Originário da região afro tropical, o ixodíneo foi introduzido no Brasil possivelmente a partir do século XVI, com a chegada dos colonizadores europeus e seus animais domésticos (Labruna & Pereira, 2001). É um ectoparasito que se caracteriza pela hematofagia em animais de sangue quente, preferindo o cão como principal hospedeiro, mas pode parasitar cavalos bovinos e até humanos (Goddard, 1989). É um carrapato de fácil reconhecimento, de cor marrom escuro (chamado de carrapato vermelho do cão), ornamentado, embora não suficiente para identificação formal, pode ser reconhecido por sua cor marrom escura, forma alongada do corpo e capituli sextavado da base. O capituli sextavado da base é um caráter particular de identificação do R. sanguineus (Lord, 2001) (fig. 7). Fonte: http://www.creatures.ifas.ufl.edu/urban/medical/brown_dog_tick.htm Figura 7 - Capituli sextavado da base, um caráter identificando o R. sanguíneus. 18 É uma espécie de carrapato de textura dura, possui escudo dorsal e corpo liso, com ornamentações na borda superior, os peritremas estão atrás dos 4 pares de patas e o orifício genital está entre os dois pares de patas. O dimorfismo sexual é evidente, a fêmea mede 10 a 12 mm, possui abdomem de cor embranquecida à marrom claro; os machos medem entre 3 a 4 mm, são mais duros e de cor marrom (fig. 8). A hematofagia é contínua e lenta. As mudas ocorrem no meio ambiente, necessitam de três hospedeiros para cumprir um ciclo biológico do R. sanguineus (Drugueri, 2004). Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~prodap/2001/ixodidae/Rhipicephalus.html Figura 8 - Dimorfismo sexual de R. sanguíneus. 1.5.2 Ciclo de vida As fêmeas depositam em torno de 2500 a 3000 ovos os quais são geralmente depositados em lugar úmidos, estes depois de um período de incubação, que varia de 21 a 27 em temperatura e umidade favorável (27ºC e 80%) e de até 80 dias em condições desfavoráveis. Após esse período nascem as larvas que depois de um período de sete dias se tornam infestantes, podendo subir em um hospedeiro para se alimentar de sangue, após se alimentarem caem no solo e se transformam em ninfas infestantes em um tempo médio de nove dias. Essas devem subir novamente em um hospedeiro para se alimentarem e cair no solo para sofrer muda e se tornarem 19 adultas, se transforma em machos em 4,5 dias e em fêmeas em 5,5 dias. Ambos devem subir no cão para se alimentarem. Uma vez alcançada a maturidade sexual ocorre à cópula, as fêmeas caem no solo procurando lugar protegido para por seus ovos e completar o ciclo e os machos permanecem por mais um período no cão, geralmente não se alimentam de sangue (Drugueri, 2004) (fig. 9). Fonte: http://www.icb.ufmg.br/~prodap/2001/ixodidae/Rhipicephalus.html Figura 9 – Ciclo de vida do R. sanguineus. 1.5.3 Importância veterinária do R. sanguineus O R. sanguineus tem se mostrado vetor para muitas doenças em cães, como a Ehrlichia canis e Hematozoon canis (Inokuma et al., 1998). Seu ataque causa irritação e desconforto aos animais, com perda de sangue (Fig. 10). Na África, especialmente na bacia do Mediterrâneo, é o principal vetor de um tipo de tifo, conhecido pelo nome de Febre Botanosa. A doença é causada pela 20 Rickttesia conori. O carrapato é transmissor da Babesia canis, causadora da babebiose canina e da Rickettsia canis, causadora da riquetsiose canina, é hospedeiro intermediário de Hepatozoon canis, protozoário causador de anemia nos cães (Guimarães et al, 2001). Estudos realizados na Carolina do Norte, EUA, demonstraram que o R. sanguineus, principalmente suas formas imaturas alimentam-se em humanos mais frequentemente do que previamente se suponha. O ixodineo desenvolvese em alta densidade em algumas cidades do Brasil, e poderá causar aumento da incidência de enfermidades emergentes ao homem, tais como babesiose e febre maculosa (Fernandes, 2000). Fonte: http://www.icb.usp.br/~marcelcp/Rhipicephalus.htm Figura 10 - R. sanguineus infestando o pavilhão auditivo de um cão. 21 2- OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Avaliar a atividade carrapaticida do extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora e do látex da planta Hura crepitans em larvas de B. microplus e R. sanguineus. 2.2 Objetivo específico - Avaliar a atividade carrapaticida do extrato etanólico da planta Rinorea publifora em larvas de B. microplus e R. sanguineus. - Verificar o potencial carrapaticida do látex da planta Hura crepitans em larvas de Boophilus microplus e Rhiphicephalus sanguineus. - Identificar a classe dos constituintes químicos presentes no extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora e do látex da planta Hura crepitans. 22 3- METODOLOGIA 3.1 Áreas de coletas de materiais biológicos 3.1.1 Monte Negro - RO O município de Monte Negro (“S 10° 15’35”, W 63° 18’06”) (Fig. 11), localizado no Estado de Rondônia, possui vastas áreas de florestas equatoriais apresentando regime hidrográficas de enchentes e vazantes, tendo característica de rios de planaltos e planícies, o relevo é constituído de planícies e baixos planaltos variando de 90 a 350m acima do nível do mar (IBGE,2004). Neste município encontra-se implantado o Instituto de pesquisa avançado da USP, onde foram realizados a coleta da planta R. pubiflora e preparação de seu extrato etanólico, coleta de teleógenas de R. sanguíneus e B. microplus para obtenção de larvas bem como os ensaios biológicos para a verificação da atividade carrapaticida das plantas estudadas. 23 Figura 11 – Localização do município de Monte Negro – RO. 3.1.2 Humaitá - AM Pertencente ao Estado do Amazonas com uma população de 29.164 habitantes, área territorial de 33.074 km, caracteriza por florestas tropicais com matas de várzea e terra firme. A economia caracteriza-se por agricultura de subsistência e extensiva, pesca extração vegetal e criação de gado (IBGE, 2000). Em floresta de várzea deste município foi coletado o material vegetal e extraído o látex da Hura crepitans L (fig. 12). Fonte: http://www.manausonline.com/municipio_detalha.asp?ide_mun=26 Figura 12 – Localização do município de Humaitá – AM. 24 3.2 Materiais e métodos A produção do extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora foi realizada no laboratório do Instituto de Ciências Biomédicas 5/Universidade de São Paulo (ICB5USP), localizado no município de Monte Negro-RO tendo como coordenador o Professor Dr. Luiz Marcelo A. Camargo. Foi utilizada balança modelo A2000c n°259459 marca Marte para pesar material vegetal e estufa marca Supermax modelo Lab-trad FB-60 para secagem do mesmo. Na preparação do extrato etanólico utilizou-se etanol 95% PA da marca VETEC. Utilizou-se aparelho banho-maria marca Carolina para evaporação do solvente e na pesagem do extrato balança de precisão marca Voyager, modelo SND2791118353644. Nos ensaios de identificação das classes das substâncias foram utilizados: Acido clorídrico, ácido sulfúrico, fita magnésio e clorofórmio marca VETEC, anidrido acético marca MERCK e solução de dragendorf. Na coleta das fêmeas ingurgitadas foi usado luvas marca RIMED, para armazenamento das mesmas usou-se vidro com tampas e descecadores Shilds H42050 e H42051, Should marca Quimis, modelo 341-210. Nos ensaios biológicos foi usado papel filtro melita n° 103, água destilada processada no destilador marca QUIMIS e modelo 341 - 210 placas petri diâmetro 15 cm, copos béquer, pipetas e pincel n° 06, marca CONDOR. O látex da Hura crepitans foi coletado em recipiente plástico descartável e armazenado em freezer CONSUL. 25 3.3 Procedimentos experimentais Os procedimentos referentes as etapas da pesquisa seguem no organograma abaixo. Coleta do Material Vegetal Rinorea pubiflora Hura crepitans Secagem e Maceração do Material 1-EtOH 95% 2- Filtração/Evaporação Torta Preparação de Excicatas Extração do Látex Teste Classe de Substância Ensaios Biológicos/Atividade Carrapaticida Extrato Etanólico 3.4 Coleta e identificação das plantas O material vegetal da Rinorea publifora foi coletado as margens do rio Jamari no lado pertencente ao Município de Cacaulândia-RO, distante 10 Km da sede do município do Monte Negro-RO. A planta foi localizada a partir do conhecimento empírico e orientada pelo motorista e mateiro Ademir Quadros, funcionário do Instituto de Ciência biomédica 5/ Universidade de São Paulo (ICB5USP). Foram coletadas folhas para preparação do extrato etanólico e material vegetativo e reprodutivo para confecção de exsicata que foi enviada ao Instituto de Pesquisa da Amazônia (INPA), sendo identificada como Rinorea pubiflora, com testemunho n° 217114. 26 O material vegetativo bem como o látex da planta H. crepitans foram coletadas a partir de informações empíricas do Sr. Manuel das Dores Ferreira, filho de seringueiro e natural do município de Manicoré-AM. Esses materiais foram coletados de plantas H. crepitans localizadas no município de HumaitáAM, a margem do rio Madeira a 20 km da sede do município, sentido Manaus. O látex foi extraído através de técnica idêntica a utilizada na coleta do látex da seringueira (Hevea brasiliensis) (fig.13), foi coletado em torno de 900 mL e armazenado em recipiente plástico, transportado em caixa térmica com gelo e posteriormente conservado em freezer até a utilização do mesmo em ensaios biológico com o objetivo de verificar sua atividade carrapaticida. Foi coletado também material vegetativo para a confecção de exsicatas, sendo a mesma enviada para o INPA, onde foi confirmado que se tratava da planta H. crepitans L, mas não foi catalogada por não possuir material reprodutivo. Fonte: Manoel das Dores Ferreira Figura 13 – Planta H. crepitans, observar metodologia de coleta. 27 3.5 Obtenção do extrato etanólico da planta Rinorea pubiflora As folhas da Rinorea pubiflora após coletadas foram selecionadas obtendo-se 1550g de material fresco e posteriormente colocadas em estufa a 40°C por três dias, após esse período as mesmas foram trituradas e pesadas, resultando em 623g de material seco. Esse material foi colocado em recipiente de vidro e acrescentado 2,4 L de etanol 95% PA e deixado em repouso por 15 dias. Através do processo de filtração foi separada a parte sólida da líquida, o filtrado foi submetido a banho-maria para evaporação do etanol, resultando um montante de 25g de extrato etanólico com aspecto pastoso de cor verde oliva. O mesmo foi armazenado em recipiente escuro, vedado e guardado em geladeira para posterior utilização em ensaios biológicos para verificação da atividade carrapaticida. 3.6 Identificação da classe das subsâncias O extrato etanólico da planta R. publifora e o látex da H. crepitans foram submetidos a testes específicos para as principais classes de substâncias, tais como: terpenos, flavanóides, esteróides e alcalóides, segundo Merck (1972). 3.6.1 Esteróides e Terpenos - Dissolve-se uma pequena quantidade do material em clorofórmio (CHCL3) adicionou-se 1mL de anidrido acético e aproximadamente três gotas de ácido sulfúrico (H2SO4). A coloração verde indica teste positivo para esteróides e a coloração vermelha positivo para terpenos. 28 3.6.2 Flavanóides – Dissolveu-se uma pequena quantidade de material em etanol, adicionaram-se algumas fitas de magnésio e em seguida ácido clorídrico concentrado. A coloração avermelhada indica teste positivo para flavanóides. 3.6.3 Alcalóides – Solubilizou-se uma pequena quantidade do material em solução de ácido clorídrico (HCL). Adicionou-se solução de dragendorf. A precipitação de material amarelo indica resultado positivo para alcalóides. 3.7 Coleta de Teleóginas ingurgitados de B. microplus e R. sanguineus Foram coletadas teleóginas ingurgitadas, colocadas em recipientes de vidro, mantidos dentro de descecadores com água na bandeja para manter umidade em torno de 80% e deixando em temperatura ambiente (22 a 35°C). As mesmas produziram ovos que geraram um pool de larvas, sendo usadas em ensaios biológicos quando atingiram de 14 a 21 dias de nascidas. 3.8 Ensaios Biológicos Os ensaios foram feitos segundo FAO (1971), seguindo o mesmo modelo tanto para o R. Sanguineus e B. microplus. Foram preparadas cinco concentrações de extrato etanólico da Rinoria pubiflora, solubilizados em 30 gotas de Tween 20 e 7,5 mL de água destilada nas proporções de 0,2g; 0,4g; 0,6g; 0,8g; 1,0g. O controle foi feito com 30 gotas de Tween em 7,5 mL de água destilada (Fig. 14). 29 Foto: Leormando Fortunato Figura 14 – Preparação de extratos. As cinco diferentes concentrações do látex da H. crepitans para cada 10 mL de água destilada foram de 0,25mL; 0,50mL; 0,75mL; 1,00mL e 1,25mL. O controle foi feito com apenas água destilada. Utilizaram-se envelopes em duplicatas para cada concentração e para os controles. Nos envelopes, com o auxílio de um pequeno pincel, foram colocadas aproximadamente 70 larvas de 18 dias de nascidas, sendo escolhidas as que estavam na borda do recipiente e envelopes foram vedados com clips, os mesmos deixados em ambiente com umidade em torno de 80% e temperatura ambiente (Fig. 15). Foto: Leormando Fortunato Figura 15 - Envelopes em duplicatas. 30 A observação da mortalidade foi feito no tempo de 6, 12 e 24 horas. Para mortalidade maior contaram-se os vivos e para mortalidade menor contaram-se os mortos e no final das 24 horas verificou-se a mortalidade para cada caso. As larvas vivas foram separadas e colocadas sobre algodão embebido em solução de detergente para imobilizá-las. Somente as larvas que se deslocavam eram consideradas vivas (Fig. 16). Foto: Leormando Fortunato Figura 16 - Contagem das larvas. 3.9 Análise estatística Os resultados dos ensaios biológicos para verificação da atividade carrapaticida do extrato etanólico da planta R. publiflora e do látex da H. crepitans L. foram armazenados no programa estatístico STATISTIES 6.0 sendo os mesmo utilizados na confecção dos gráficos e o índice de mortalidade corrigidos pela fórmula de ABBOTT (1925), transcrita abaixo. (%mortalidade= mortalidade das larvas tratadas – mortalidade das larvas do controle x 100) 100-mortalidade das larvas do controle 31 Para a análise estatística foi realizado o testes ANOVA e quando houve diferenças significativas pelo teste da ANOVA foi utilizado o procedimento de comparações múltiplas de Tukey com nível se significância 5%. 32 4 RESULTADOS 4.1 Classe de substâncias Resultados obtidos através de testes para classe de substâncias presentes no látex da H. crepitans e no extrato etanólico da R.. pubiflora : estão representados na tabela abaixo. Tabela 1 – Resultados obtidos nos testes para classe de substâncias Resultados das classes de substâncias Extrato etanólico R. Látex da H. crepitans pubiflora L. Esteróide (+) (-) Terpenos (-) (-) Flavanóides (-) (-) Alcalóides (-) (+) Classes 33 4.2 Atividade carrapaticida da planta R. pubiflora e H. creapitans em R. sanguineus e B. microplus Tabela 2– Mortalidade1 de larvas B. microplus, por ação da H. crepitans em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas. Dosagem Mortalidade Média (%) ± Desvio-Padrão 0h 6h 12 h 24 h Controle 0.00 ± 0.00 a2 0.00 ± 0.00 a 2.35 ± 0.04 a 8.35 ± 1.34 a 0.25 0.00 ± 0.00 a 85.79 ± 0.97 b 90.1 ± 1.66 b 100.00 ± 0.00 b 0.50 0.00 ± 0.00 a 88.75 ± 1.77 b 91.89 ± 0.61 b 100.00 ± 0.00 b 0.75 0.00 ± 0.00 a 92.59 ± 0.13 c 96.45 ± 1.41 c 100.00 ± 0.00 b 1.00 0.00 ± 0.00 a 94.17 ± 0.99 c 100.00 ± 0.00 d 100.00 ± 0.00 b 1.25 0.00 ± 0.00 a 95.39 ± 0.08 c 100.00 ± 0.00 d 100.00 ± 0.00 b 1 Mortalidade (%) corrigida em relação à testemunha (ABBOTT, 1925). 2 Médias não seguidas da mesma letra minúscula na coluna, diferem significativamente entre si, pela análise de variância um fator e o procedimento de comparações múltiplas de Tukey em nível de 5% de significância 34 Tabela 3 – Mortalidade1 de larvas R. sanguineus, por ação da H. crepitans em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas. Dosagem Mortalidade Média (%) ± Desvio-Padrão 0h 6h 12 h 24 h Controle 0.00 ± 0.00 a2 2.43 ± 3.44 a 6.21 ± 1.55 a 11.22 ± 1.37 a 0.25 0.00 ± 0.00 a 55.39 ± 3.36 b 91.89 ± 1.53 b 93.88 ± 1.64 b 0.50 0.00 ± 0.00 a 54.17 ± 0.23 b 93.19 ± 0.10 b 96.41 ± 1.64 b 0.75 0.00 ± 0.00 a 62.38 ± 0.17 bc 97.30 ± 0.10 c 100.00 ± 0.00 c 1.00 0.00 ± 0.00 a 69.99 ± 2.56 bc 100.00 ± 0.00 d 100.00 ± 0.00 c 1.25 0.00 ± 0.00 a 84.99 ± 3.55 c 100.00 ± 0.00 d 100.00 ± 0.00 c 1 Mortalidade (%) corrigida em relação à testemunha (ABBOTT, 1925). 2 Médias não seguidas da mesma letra minúscula na coluna, diferem significativamente entre si, pela análise de variância um fator e o procedimento de comparações múltiplas de Tukey em nível de 5% de significância. 35 Tabela 4 – Mortalidade1 de larvas B. microplus, por ação da R. publifora em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas. Dosagem 1 Mortalidade Média (%) ± Desvio-Padrão 0h 6h 12 h 24 h Controle 0.00 ± 0.00 a 0.00 ± 0.00 a 2.10 ± 0.03 ab 4.29 ± 0.06 a 0.20 0.00 ± 0.00 a 0.00 ± 0.00 a 2.33 ± 0.08 ab 2.33 ± 0.08 b 0.40 0.00 ± 0.00 a 0.00 ± 0.00 a 1.25 ± 1.77 a 5.00 ± 0.00 c 0.60 0.00 ± 0.00 a 0.00 ± 0.00 a 2.27 ± 0.07 ab 6.81 ± 0.22 d 0.80 0.00 ± 0.00 a 1.10 ± 1.53 a 3.28 ± 1.50 ab 6.59 ± 0.10 d 1.00 0.00 ± 0.00 a 1.25 ± 1.77 a 5.60 ± 0.08 b 10.13 ± 0.18 e Médias não seguidas da mesma letra minúscula na coluna, diferem significativamente entre si, pela análise de variância um fator e o procedimento de comparações múltiplas de Tukey em nível de 5% de significância. 36 Tabela 5 – Mortalidade1 de larvas R. sanguineus, por ação da R. publifora em diferentes dosagens observada a cada 6 horas por 24 horas. Dosagem 1 Mortalidade Média (%) ± Desvio-Padrão 0h 6h 12 h 24 h Controle 0.00 ± 0.00 0.00 ± 0.00 2.10 ± 0.03 4.21 ± 0.06 0.20 0.00 ± 0.00 0.00 ± 0.00 1.09 ± 1.53 3.28 ± 1.50 0.40 0.00 ± 0.00 0.00 ± 0.00 2.67 ± 0.05 3.98 ± 1.81 0.60 0.00 ± 0.00 0.00 ± 0.00 2.22 ± 0.00 4.44 ± 0.00 0.80 0.00 ± 0.00 1.11 ± 1.57 2.27 ± 0.07 5.56 ± 1.55 1.00 0.00 ± 0.00 2.41 ± 0.03 3.54 ± 1.57 7.14 ± 0.24 Não houveram diferenças significativas nas comparações das dosagens de acordo com o tempo em nível de significância 5% na análise de variância. 37 Line Plot (Spreadsheet3 6v*4c) 120 100 80 60 40 20 Controle 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 0 -20 0 horas 6 horas 12horas 24 horas Figura 17 - Relação da concentração do látex da planta H. crepitns em função da mortalidade de larvas de B. microplus no decorrer do tempo nas cinco concentrações e controle. 38 120 Porcentagem de Mortalidade 100 80 60 40 20 0 -20 0 6 12 24 Controle 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 Tempo ( horas ) Figura 18 - Porcentagem média de mortalidade em relação ao tempo corrigida pela fórmula e Abbott em larvas de B. microplus para cada concentração do latex H. crepitans. 39 Line Plot ( 10v*10c) 120 100 80 60 40 20 CONTR 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 0 -20 0horas 6horas 12horas 24horas Ca Figura 19 - Relação da concentração do látex da planta H. crepitns L. em função da mortalidade de larvas de R. sanguineus no decorrer do tempo em relação as 5 concentrações e controle. 40 120 Porcentagem de Mortalidade 100 80 60 40 20 0 -20 0 6 12 24 Controle 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 Tempo ( horas ) Figura 20 - Porcentagem média de mortalidade de larvas de R. sanguineus em relação ao tempo para cada concentração do latex H. crepitans corrigida pela fórmula de Abbott. 41 Line Plot (Spreadsheet5 6v*4c) 10 8 6 4 2 controle 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0 -2 0 horas 6 horas 12 horas 24 horas Figura 21 – Comparação da mortalidade das larvas do B. microplus nas 5 concentrações do extrato etanólico da R. pubiflora e controle em função do tempo de contato. 42 Line Plot (Spreadsheet4 6v*4c) 8 7 6 5 4 3 2 1 Controle 0,20 0,4 0,6 0,8 1,0 0 -1 0 horas 6 horas 12 horas 24 horas Figura 22 - Compara a mortalidade das larvas de R. sanguineus em contato com as 5 concentrações do extrato etanólico da R. pubiflora e controle em função do tempo de contato. 43 5 DISCUSSÃO O látex da planta H. crepitans demonstrou presença de alcalóides e o extrato etanólico da planta R. pubiflora a presença de esteróides. Já mencionado por Kutchan (1995) e Evans (1996), onde citam que essas substâncias nitrogenadas(alcalóides) farmacologicamente ativas são encontradas predominantemente nas angiospermas e na sua grande maioria possuem caráter alcalino. Esse grupo tem apresentado um grande impacto através dos tempos na economia, na medicina, na agronomia, na veterinária e em outros setores sociais e políticos. O uso de extratos vegetais contendo alcalóides como medicamento, venenos e em porções mágicas (rituais religiosos), pode ser traçado desde os primórdios da civilização (Henrique, et al., 2003). Os alcalóides possuem atividades farmacológicas antibacteriana, antifúngica, antiinflamatórias, como inseticidas entre outras (DI Stasi, 1996b). A salasodina (esteróide) extraída da planta do gênero Solanum tem sido usada como fonte para produção de progesterona e cortisona, compostos que são utilizados como matéria-prima na produção de fármacos diuréticos e anticoncepcionais (Mola, 1997). O resultado dos testes para verificar atividade carrapaticida mostrou que o extrato etanólico da R. pubiflora não possui atividade carrapaticida e o látex da planta H. crepitans possui, confirmando assim os efeitos fitorerápicos de seus componentes, onde esteróides estão relacionados com fármacos ligados a hormônios (Mola, 1997) e os alcáides com atividades antibacteriana, antifúngica e na agricultura como inseticida ou acaricida (DI Stasi, 1996b). 44 De acordo com as normas do Ministério da Agricultura um acaricida é está dentro dos padrões quando sua eficácia for igual ou maior que 95% (Brasil, 1990). Os resultados deste estudo mostram que o látex da planta H. crepitans é um carrapaticida eficiente para R. sanguineus e B. microplus. Figura 17 e 18 relaciona o látex da planta H. crepitans em cinco concentrações e controle, onde verificarou-se que após 24 horas todas as cinco diferentes concentrações obtiveram o mesmo índice de mortalidade (100%). Na figura 19 e 20 observou-se que as cinco concentrações do látex da H. crepitans em contato com larvas de R. sanguineus obtiveram médias relativamente semelhante com pequeno desvio padrão e o controle se diferenciando das 5 concentrações. As concentrações 0,25 e 0,50 são estatisticamente iguais e diferentes das demais e que a partir da concentração 0,75 até 1,25 são também consideradas estatisticamente iguais. Comprovando assim a eficiência do látex da planta H. cripitans como carrapaticida, pois embora nas duas primeiras concentrações não tenham alcançado 100% de mortalidades como as demais, possuem atividade carrapaticidas, pois o índice de mortalidade foi superior a 95%. A figura 21 mostra às cinco concentrações do extrato etanólico da planta R. pubiflora e controle em função do tempo de exposição das larvas de B. microplus. Constatou-se que a média de mortalidade da concentração 0,2 foi menor que o controle, sugerindo que essa concentração não interferiu na mortalidade das larvas, nas demais concentrações houve um pequeno aumento na porcentagem de mortalidade com um pequeno desvio padrão, mas 45 com diferenças pouco significativas. Esse gráfico confirma que o estrato etanólico não possui atividade carrapaticida em B. microplus. A figura 22 relaciona a porcentagem de mortalidade das larvas de R. sanguineus em presença das cinco concentrações do extrato etanólico da planta R. pubiflora e controle onde observou-se que não houve diferenças significativas entre as concentrações próximas em relação a mortalidade, mas uma pequena diferença entre a primeira e a última, diferença essa que não demonstrou atividade carrapaticida do extrato. Observações feitas a partir dos gráficos referentes às cinco concentrações do extrato etanólico da planta R. pubiflora onde foram testada a atividade carrapaticida em larvas de B. microplus e R. sanguineus, constatouse que essa planta não possui atividade carrapaticida, pois as mortalidades das larvas foram insignificantes em relação ao controle. Os resultados dos testes foram confirmados através do teste ANOVA e comparação múltipla de Tukey e o índice de mortalidade corrigido pela fórmula de ABBOTT. Segundo observação feita pelos pesquisadores Dr Luis Marcelo A. Camargo e Dr Marcelo B. Labruna onde a planta R. pubiflora poderia apresentar atividade carrapaticida, não foi confirmado em teste com B. microplus e R. sanguineus, a não confirmação desta hipótese pode estar relacionado com as espécies de carrapatos, pois os mesmos observaram que carrapatos de animais silvestres morreram ao serem transportados em presença de folhas dessa planta e os carrapatos utilizados em ensaios biológicos são carrapatos de animais domésticos sendo os mesmos de habitat diferentes. Ou ainda, pode estar relacionado com outros fatores, como: 46 temperatura, vedação dos frascos, umidade, isto é, condicionamento no transporte dos mesmos. O fato do látex da planta H. crepitans revelar atividade carrapaticida pode estar relacionada à presença de alcalóide, ou ainda pela presença de proteínas como Hurina, creptina (correia, 1978) e lecitina (Rates 2000). A lecitina é uma proteína considerada inseticida, proteínas com ação inseticida precisam ser ingeridas pelo inseto para que seus efeitos aconteçam, uma vez que o exoesqueleto oferece proteção contra agentes hidrofílicos e macromoléculas como é o caso das proteínas. Em conseqüência o mecanismo de ação da maioria das proteínas inseticidas envolve interferências com o processo digestivo, agindo nas enzimas digestivas, por exemplo, as glicohidrolases e proteinases (Carline, 2004). A piretrina uma proteína derivada de flores de plantas do gênero Clysanthemum é um dos inseticidas mais antigos, sendo usada na Pércia para matar piolho desde 400 aC. A ginesina é uma proteína isolada a partir da pimenta preta (Piper nigrum) que também possui atividade inseticida (Pilli, & IOSHINAGA, 2003c). O alcaloide encontrado no látex da H. crepitans pode estar agindo de forma semelhante à nicotina. A atividade inseticida da nicotina está relacionada com sua semelhança na configuração e distribuição de cargas como a acetilcolina, onde o ían nicotinium interage com a acetilcolina, atuando como inseticida, interferindo no sistema nervoso (Pilli & Yoshinaga, 2003). Para determinar qual das substâncias presentes no látex da H. crepitans que possui atividade carrapaticida sugere-se um estudo posterior onde através de coluna cromatográfica possa separar os componentes, bem como novos 47 ensaios biológicos carrapaticida carrapaticida. poderão ser e identificação da feitos para substância verificação presente da que atividade age como 48 6 CONCLUSÃO Analisando todos os aspectos apresentados nesta pesquisa, conclui-se que o extrato etanólico da planta R. pubiflora apresenta esteróides, em sua composição química e que o látex da planta H. crepitans possui alcalóides como um dos seus componentes químicos presentes na planta. Os resultados dos ensaios biológicos com carrapatos R. sanguineus e B. microplus demonstrou que o extrato etanólico da planta R. pubiflora não possui atividade carrapaticida e que o látex da planta H. crepitans. obteve atividade carrapaticida significativa. Conforme o resultado obtido nesta pesquisa sugere-se estudos posteriores com isolamento e identificação das substâncias presentes no látex da H. crepitans, para que seja possível identificar o principio ativo que age como carrapaticida, viabilizando o uso do mesmo. Sendo a planta H. crepitans comum nas áreas alagadas das margens dos rios da região amazônica, viabilizar o uso do seu látex como agente carrapaticida é valorizar a biodiversidade local sem correr o risco de sacrificar as árvores, bem como incentivar o uso racional do meio ambiente colaborando para o desenvolvimento sustentável da região. 49 7 BIBLIOGRAFIA ABBOTT, W.S. A method of computing the effectiveness of an insectide. 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