ENCONTROS E DESENCONTROS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL: SUPERVISÃO DE ESTÁGIO EM SERVIÇO SOCIAL Lucivânia Oliveira Lisboa* Fernanda Fraga Trindade Carla Alessandra da Silva Nunes GT2:Políticas Públicas RESUMO: O presente trabalho conta com resultados parciais da pesquisa vinculada ao Programa de Iniciação Científica Voluntária da Universidade Federal de Sergipe (UFS), sobre a supervisão de estágio em Serviço Social, tendo como objeto específico a supervisão de estágio dos discentes do curso de Serviço Social da referida instituição. Para a realização da pesquisa foram utilizados procedimentos metodológicos através de pesquisa bibliográfica e aplicação de questionários aos supervisores de campo, contando com uma leitura da política de educação e suas implicações para a formação profissional. Com base nestes procedimentos foi possível traçar o perfil dos mesmos e suas concepções de estágio e supervisão. Conclui-se que embora haja uma aproximação da supervisão de estágio aos princípios das Diretrizes Curriculares vigentes, há desafios no desenvolvimento do estágio, decorrentes das condições de formação e de exercício profissional dos assistentes sociais. Palavras- Chave: Serviço Social, Concepção de estágio e Formação profissional. ABSTRACT: This work includes partial results linked to the Scientific Initiation Program Volunteer of the Federal University of Sergipe (UFS) on probation supervision in social work, with the specific object to probation supervision of students from the Social Service that institution. To carry out the research methodological procedures were used by reading about the subject, literature and questionnaires to field supervisors featuring a reading of the education policy and its implications for training. Based on these procedures it was possible to profile them and their conceptions of probation and supervision, it is concluded that although there is an approximation of probation supervision to the principles of the current curriculum guidelines, there are challenges in the development stage. Understanding that this subject is essential for a likely preview of such professionals. Keywords: Social Service, Design internship and professional training * Estudante de graduação; Grupo CNPq: Serviço Social ,Políticas Públicas e Movimentos Sociais; email:[email protected] Estudante de graduação; Grupo CNPq: Serviço Social, Políticas Públicas e Movimentos Sociais; email:[email protected] Profª. do Depto. de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe; Mestre em Educação. Grupo CNPQ: Serviço Social, Políticas Públicas e Movimentos Sociais; e-mail: [email protected] 1 1- INTRODUÇÃO O presente trabalho consiste na apresentação dos resultados parciais da pesquisa vinculada ao Programa de Iniciação Científica Voluntária da Universidade Federal de Sergipe(UFS) e que tem como objeto específico a supervisão de estágio dos discentes do curso de Serviço Social da referida instituição. A supervisão de estágio em Serviço Social é parte fundamental da formação do estagiário. Além de unir teoria e prática, o estágio é um momento de ensino-aprendizagem em um espaço singular na vida acadêmica do formando, conforme preconiza as Diretrizes Curriculares :“É uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio institucional objetivando capacitá-lo para o exercício do trabalho profissional, o que pressupõe supervisão sistemática[...]”(ABEPSS,1996). O objetivo geral é analisar o trabalho pedagógico da Supervisão de Estágio em Serviço Social, a partir das representações dos supervisores de campo, tendo em vista o perfil profissional preconizado pelas Diretrizes Curriculares. Para tanto, buscamos inicialmente alcançar alguns dos objetivos específicos, como traçar um perfil dos profissionais que têm supervisionado estágio e compreender a concepção de supervisão que orienta a formação e o exercício profissionais, a partir das representações desses supervisores. Sobre o tema apontado vale-se destacar a pouca produção teórica, inclusive no Departamento de Serviço Social da UFS (DSS/UFS) com apenas três trabalhos de conclusão de curso sobre a temática. Daí também que surge a necessidade de se pesquisar mais sobre Supervisão de Estágio em Serviço Social. 2- TRANSFORMAÇÕES CAPITALISTAS E SEUS REFLEXOS NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO A atuação do profissional de Serviço Social está inserida nas relações de produção e reprodução social constituídas pelo modo de produção capitalista. Nas suas diferentes configurações, nos processos sociais que cria e recria, revelam-se elementos determinantes da gênese e das mudanças da profissão que tem nas expressões da “questão social” sua matériaprima. Aqui, a análise limita-se a compreender tais mudanças na formação e no trabalho do assistente social a partir da crise do capital dos anos 70 para então conhecer seus 2 desdobramentos na supervisão de estágio dos discentes do curso de Serviço Social da UFS. A crise do capital de 1970 pode ser definida, ainda que de maneira muito simplista, como uma dificuldade intensa de realização do seu ciclo de acumulação, o que pôs em questão o modelo de produção e de regulação fordista-keynesiano, dominante até então. Como formas de enfrentamento para a crise: Buscou-se um tripé de “soluções” como processos de reestruturação produtiva, liberalização do fluxo de capitais financeiros e a retração dos Estados nacionais no que concerne aos direitos sociais, que associadas à derrocada do muro de Berlim, trouxe amplo espaço para a movimentação do capital em todos os aspectos da vida social. A partir dessa década há uma intensa disputa entre capital e trabalho pelo uso do “fundo público”. (PEREIRA, 2009, p.269) Decorrente desta alteração no modo de regulação estatal, a educação sofre profundas transformações. Segundo Pereira (2009), no aprofundamento do projeto neoliberal, políticas sociais como saúde, previdência e educação, foram relegadas a último plano, com ações focalistas dos Estados e, ao mesmo tempo, ampla abertura para a exploração mercadológica de tais necessidades sociais. Nesse contexto, a existência de políticas sociais universalizantes e o acesso à educação pública tornaram-se extremamente limitados. Dessa forma, o crescimento de matrículas na educação, antes resultante das lutas das classes trabalhadoras e das necessidades de formação de mão-de-obra para o mercado, é agora o resultado da transformação do direito educacional em serviço mercantilizado, alternativa para investimentos lucrativos do capital. Outro elemento citado pela autora Pereira (2009) é a idéia da “Terceira via”. Trata-se de uma sociedade civil atuando através do trabalho voluntário e empreendedorismo social, para auxiliar o estado no enfrentamento das expressões da “questão social”, sendo esta “via” como um meio para responsabilizar o indivíduo e transferir a responsabilidade que cabe ao estado, para a sociedade, conseqüência da idéia vinculada de que o estado é o responsável pela crise, eximindo o capital de qualquer culpa e tornando o estado como impotente para agir na área social. No Brasil este contexto está presente entre outros pontos, na proposta de abertura da educação para o capital privado e a consolidação da ideologia da „terceira via‟, o que atende duas utilidades principais para o capital, como afirma Pereira: Assim, o ensino superior constitui-se como um veio extremamente 3 lucrativo para o capital e, ao mesmo tempo, destaca-se pelo seu papel na disseminação ideológica da sociabilidade colaboracionista, através da formação de intelectuais colaboradores e empreendedores, sob a ótica do capital”(PEREIRA,2009 p.271). De acordo com o Censo da Educação Superior de 2004 realizado pelo INEP, 71,7% das matrículas efetuadas no ensino superior foi no setor privado. No ano de 2007 houve um aumento de 5%. Através destes dados podemos perceber a política de expansão e democratização do acesso ao ensino superior, baseada na injeção de dinheiro no ensino privado por parte do estado, o qual passa a idéia de que é uma conseqüência da conjuntura, incentiva certa “naturalização” do investimento no setor privado em detrimento do campo das políticas públicas. Também a modalidade de Ensino a Distância vem crescendo muito no país, gerando diversas discussões, desde sua metodologia de ensino a sua exploração comercial por parte do setor privado, principalmente os cursos nas áreas humanas, pelos baixos custos para sua instalação. Entre eles está o curso de Serviço Social. Aliado a esse processo de mercantilização das políticas sociais, das quais a educação é exemplar, o capital busca formas de intensificar a exploração do trabalho, através das diversas formas de inserção precarizada do trabalhador e como tal, o assistente social não está isento dessa condição. Segundo Iamamoto (2008), existe ainda uma visão unilateral da profissão, como trabalho concreto. Só se aborda o Serviço Social em seu valor de uso social, esquecendo o trabalho do assistente social enquanto trabalho abstrato, enquanto um trabalhador assalariado que vive uma situação comum a todos os demais assalariados que vende sua força de trabalho especializada aos empregadores em troca de um equivalente expressa na forma monetária. O Assistente Social ingressa nas instituições empregadoras como parte de um coletivo de trabalhadores que implementa as ações institucionais, cujo resultado final é fruto de um trabalho combinado. Mas durante o período em que trabalha não tem o poder de livremente estabelecer suas prioridades, seu modo de operar e acessar todos os recursos necessários, mostrando a necessidade de respaldos legais para o assistente social, na direção da expansão das margens de autonomia profissional no mercado de trabalho. Um respaldo coletivo da categoria para fortalecer o projeto profissional associado às forças sociais comprometidas com a democratização da vida em sociedade. (IAMAMOTO, 2008) Os rebatimentos que a mercantilização do ensino superior e a perda do papel da universidade na formação de profissionais críticos provocam no Serviço Social, bem como os 4 desafios do exercício profissional no atual contexto de precarização do trabalho, merece a atenção do conjunto da categoria dos assistentes sociais, no sentido de defender, fortalecer a direção ético-politica da profissão que vai na contramão dessas tendências, na medida em que defende a ampliação de direitos, a liberdade e a construção de uma sociedade sem exploração e dominação de qualquer natureza. Tratando-se especificamente do estágio supervisionado em Serviço Social, enquanto componente curricular onde se viabiliza com maior efetividade a articulação entre formação e exercício profissional, tem sido consenso a preocupação com o lugar que ocupa no conjunto da formação, sua coerência com o perfil profissional preconizado pelas Diretrizes Curriculares e com a qualidade das experiências que os campos de estágio têm proporcionado, bem como a preocupação com a indissociabilidade entre supervisão acadêmica e de campo.(ABEPSS,2010).Tais preocupações se justificam pela concepção de estágio assumida: O estágio se constitui num instrumento fundamental na formação da análise crítica e da capacidade interventiva, propositiva e investigativa do(a) estudante, que precisa apreender os elementos concretos que constituem a realidade social capitalista e suas contradições, de modo a intervir, posteriormente como profissional, nas diferentes expressões da questão social, que vem se agravando diante do movimento mais recente de colapso mundial da economia, em sua fase financeira, e de desregulamentação do trabalho e dos direitos sociais. (ABEPSS, 2010, p. 11) Nessa perspectiva, o estágio supervisionado é uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócio-institucional, objetivando capacitálo para o exercício profissional, o que pressupõe supervisão sistemática. Esta supervisão é feita conjuntamente por professor supervisor e por profissional de campo, com base em plano de estágio, elaborados em conjunto pelas unidades de ensino e organizações que oferecem estágio. (CFESS, 2008) 2-DELINEAMENTO METODOLÓGICO A pesquisa seguiu a proposta de um estudo empírico, com caráter exploratório, que de acordo com Gil (1999, p.43), tem como objetivo proporcionar ao pesquisador uma visão aproximada de determinado fato, sendo esta, entre todas as pesquisas, a que apresenta menor rigidez. Por tratar-se de uma pesquisa social, de caráter predominantemente qualitativo, exigiu 5 uma abordagem contextualizada do objeto e da sua relação com os sujeitos, sob orientação da perspectiva histórico-dialética de modo a “...dar conta das relações, conexões que envolve o objeto, entre a parte e o todo, entre estrutura e história, entre objeto e suas representações.”(NUNES,2010,p.7). Daí a importância da pesquisa bibliográfica em articulação com a pesquisa empírica realizada. Pesquisa bibliográfica através de livros, artigos científicos, revistas, periódicos e via internet, documentos e legislações específicas, abordando as temáticas da formação profissional, política de educação superior, trabalho do assistente social articuladas ao objeto de estudo, a supervisão de estágio em Serviço Social. A pesquisa empírica, nesta primeira etapa, foi desenvolvida junto aos assistentes sociais supervisores de campo1 dos discentes/estagiários do Departamento de Serviço Social(DSS) da Universidade Federal de Sergipe(UFS), mais especificamente do curso noturno implementado no ano de 2003, pela resolução n° 33/02/CONEP. Foi considerado o universo dos supervisores que atuaram/atuam entre os anos 20092010, ou seja, que estavam ou que ainda estão em pleno exercício da supervisão nas turmas de Estágio Supervisionado em Serviço Social III e Estágio Supervisionado em Serviço Social I2, tendo como referência o Quadro de Supervisores de Campo enviado pelo DSS ao Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) em 2010. O projeto inicialmente pretendia abordar os supervisores de estágio durante os últimos quatro anos. No entanto, este objetivo tornou-se inviável devido a alta rotatividade dos supervisores nas instituições, o que dificultou a identificação destes nos seus novos espaços ocupacionais. Para a coleta de dados que possibilitou a construção do perfil do supervisor de campo de Serviço Social da UFS, foram aplicados questionários, com perguntas mistas. As primeiras perguntas são fechadas, ou seja, possuem alternativas as quais corresponderam aos dados quantitativos que possibilitaram a identificação do sexo, idade, instituição formadora, formação continuada, tempo de experiência profissional e de supervisão de estágio. Para sua apresentação foram utilizados gráficos e tabelas no item de resultados e discussões. As perguntas abertas, aquelas que não apresentam, nem sugerem qualquer resposta, compõem o item sobre as concepções de estágio e supervisão de estágio, requerendo uma análise quantiqualitativa. A partir da definição do universo e do instrumento a ser aplicado, buscamos alcançar a totalidade destes supervisores, daí não termos definido previamente uma amostra. Os questionários foram enviados para os 66 supervisores entre os meses de novembro de 2010 a 6 janeiro de 2011, através do meio eletrônico, contato pessoal e por telefone, sendo respondidos 14 questionários, perfazendo uma amostra não probabilística por acessibilidade de 21% dos supervisores de campo, nessa primeira etapa. De acordo com GIL (1999), o uso de questionários apresenta entre as limitações, “Não oferecer a garantia de que a maioria das pessoas devolvam-no devidamente preenchido, o que pode implicar a significativa diminuição da representatividade da amostra” (p.129). Dos questionários retornados, obtivemos representatividade das quatro áreas que mais absorvem discentes do curso: assistência social, saúde, educação e sócio- jurídico. A interpretação considerou a classificação de categorias, definidas a partir da análise dos dados. Sua “codificação é o processo pelo qual os dados brutos são transformados em símbolos que possam ser tabulados” (GIL, 1999, p.168). Após esta etapa foi realizada a tabulação que segundo Gil (1999) “... é o processo de agrupar e contar os casos que estão nas várias categorias de análise” (p.169). Este processo requer definições com base no referencial teórico, cujas principais categorias são: Formação profissional, política educacional, supervisão de estágio em Serviço Social e o trabalho do assistente social. 3-A SUPERVISÃO DE ESTÁGIO PARA OS SUPERVISORES DE CAMPO Com base nos dados da pesquisa em desenvolvimento, é possível constatar que a maioria dos supervisores que compõem a amostra da pesquisa, tiveram sua formação pautada no atual currículo, seguindo as Social(ABEPSS,1996,BRASIL,2002). Diretrizes Curriculares do curso de Serviço Além desse aspecto, os supervisores são contemporâneos das mudanças que atravessam a educação superior, especialmente no que se refere à expansão _ ainda bastante limitada_ dos cursos universitários para alunos trabalhadores e/ou filhos da classe trabalhadora por meio da oferta de vagas em cursos noturnos. Os profissionais que compõem a amostra da pesquisa revelaram uma concepção de Estágio coerente com as referências jurídico-políticas da profissão. Destaca-se uma visão de estágio enquanto “espaço fundamental da formação profissional”, reiterando a centralidade deste componente curricular. Isto nos remete a que os supervisores de campo compreendem que o estágio não é algo solto, isolado do conjunto dos princípios e diretrizes que envolvem o projeto de formação profissional. Ao mesmo tempo, tal concepção de estágio requer uma sintonia entre campos de estágio e unidades de ensino, de forma a não transformar o estágio 7 em uma experiência desvinculada do projeto pedagógico do curso. Esta aproximação, inclusive, apareceu entre as sugestões dos supervisores de campo, conforme veremos mais adiante, o que sinaliza que esta não é uma prática consolidada. Tal análise merece aprofundamento no decorrer da pesquisa. Contudo, torna-se necessário problematizar o papel da teoria e da prática, ou seja, será que de fato superamos a visão que já predominou no Serviço Social de que o estágio era o campo da prática, porém desvinculado da teoria? Dito de outra forma, a preocupação neste aspecto é saber se a expectativa dos supervisores de campo vai na direção de uma relação imediata entre teoria e prática, o que muitas vezes recai na visão de que “ a teoria não tem nada a ver com a realidade”. A princípio, a análise dos dados nos leva a supor que estes chavões foram superados, porém a continuação da pesquisa irá aprofundar a análise. Outro elemento freqüente nas respostas dos supervisores foi do estágio se constituir numa “forma de aproximação do discente à realidade institucional”, no sentido de se constituir “momento privilegiado da formação profissional do Serviço Social, por inserir o aluno em processos de trabalho que tratam das diversas expressões da Questão Social”, conforme preconiza o artigo primeiro da resolução do CONEP N°24 do ano de 2010, .Mais uma vez percebe-se a importância do estágio para capacitar o discente na observação, proposição e intervenção nas demandas postas ao Serviço Social conforme adverte Guerra(2006, apud ABEPSS,2010,p.12): Frequente também foram as respostas que abordaram o estágio enquanto “oportunidade para efetuar a relação entre teoria e prática”, ressaltando que estas são indissociáveis. Tal reconhecimento encontra fundamento nos princípios presentes nas diretrizes curriculares, entre eles, Rigoroso trato teórico, histórico e metodológico da realidade social e do Serviço Social, que possibilite a compreensão dos problemas e desafios com os quais os profissionais se defrontam no universo da produção; e reprodução da vida social; Adoção de uma teoria social crítica que possibilite a apreensão da totalidade social em suas dimensões de universalidade, particularidade, singularidade; Estabelecimento das dimensões investigativas e interventivas como princípios formativos e condição central da formação profissional, e da relação teoria e realidade. (ABEPSS, 1996, p.06) Contudo, torna-se necessário problematizar o papel da teoria e da prática, ou seja, será que de fato superamos a visão que já predominou no Serviço Social de que o estágio era o campo da prática, porém desvinculado da teoria? Dito de outra forma, a preocupação neste 8 aspecto é saber se a expectativa dos supervisores de campo vai na direção de uma relação imediata entre teoria e prática, o que muitas vezes recai na visão de que “ a teoria não tem nada a ver com a realidade”. A princípio, a análise dos dados nos leva a supor que estes chavões foram superados, porém a continuação da pesquisa irá aprofundar a análise. Outro elemento freqüente nas respostas dos supervisores foi do estágio se constituir numa “forma de aproximação do discente à realidade institucional”, no sentido de se constituir “momento privilegiado da formação profissional do Serviço Social, por inserir o aluno em processos de trabalho que tratam das diversas expressões da Questão Social”, mais uma vez percebe-se a importância do estágio para capacitar o discente na observação, proposição e intervenção nas demandas postas ao Serviço Social conforme adverte Guerra (2006, apud ABEPSS, 2010, p.12): Assim, o processo de formação profissional e, particularmente o estágio supervisionado curricular, devem garantir a apreensão do significado sóciohistórico do Serviço Social; das condições de trabalho dos assistentes sociais;das conjunturas;das instituições;do universo dos trabalhadores usuários dos diversos serviços e das políticas sociais.Neste aspecto,exige conhecimentos teóricos e saberes prático-interventivos, além, é claro, dos fundamentos e da lógica tendencial que os constituem. Para tanto requer articulação das dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa, Indicação esta que apareceu apenas uma vez nas respostas das supervisoras de campo, chama a atenção o fato destas dimensões não terem sido citadas com frequência também quando abordamos a concepção de supervisão de estágio. A maioria das respostas apresentadas faz menção a apenas uma das dimensões da formação, a técnico-operativa. Sem desconsiderar a importância do supervisor “preparar o acadêmico para as atividades técnicooperativas da profissão”, há que se ter o cuidado para não cair no tecnicismo, afinal um dos princípios que deve nortear a realização do estágio é a [...]indissociabilidade entre as dimensões teórico-metodológica, éticopolítica e técnico-operativa, que deve ser garantida na experiência de estágio, evitando a tendência de autonomização da dimensão operativa em detrimento das demais,especialmente quando se trata da vivência no campo ou da supervisão de campo[...](ABEPSS,2010,p.13) A maior parte dos pesquisados compreende a supervisão de estágio como um momento de aprendizagem, de caráter pedagógico para os sujeitos inseridos no processo, numa relação de troca mútua, o que denota uma relação de horizontalidade entre supervisores 9 e estagiários. No instrumento de coleta de dados também buscamos debater as dificuldades existentes na supervisão de estágio. Entre as respostas, 50% indicaram a falta de tempo para a supervisão, devido às demandas atendidas no espaço de trabalho. Neste aspecto, as respostas remetem à precarização do trabalho do assistente social, no nosso caso específico, dos assistentes sociais supervisores de campo inseridos nas instituições públicas. Nestas temos, por um lado: O crescimento da pressão na demanda por serviços, cada vez maior, por parte da população usuária mediante o aumento de sua pauperização. Esta se choca com a já crônica- e agora agravada- falta de verbas e recursos das instituições prestadoras de serviços sociais públicos [...]”(IAMAMOTO, 2008). A frágil relação entre o campo de estágio e academia também surgiu entre as dificuldades, reforçando uma característica já percebida anteriormente no estudo desenvolvido por Buriolla (1995), “... em muitos estágios [...] há desinformação e desintegração entre Unidade de Ensino e Unidade Campo de Estágio;” (BURIOLLA, 1995, p. 17-18). Outro fator é a falta de estrutura da instituição de campo que representa uma dificuldade para o processo de supervisão, o que vai contra a Resolução n.533 do CEFSS, que no Artigo 2º, parágrafo único, descreve os requisitos básicos de uma instituição campo de estágio, entre eles está um espaço físico adequado. 4-CONSIDERAÇÕES FINAIS O artigo objetivou socializar alguns dados obtidos através da pesquisa que analisa a supervisão de estágio em Serviço Social.Para o alcance desses resultados foram utilizados a pesquisa bibliográfica em articulação com a pesquisa empírica. A partir disso, foi possível traçar um perfil geral dos supervisores de campo do estágio. Em termos gerais, constatamos que o perfil predominante dos supervisores de campo é de que pertencem ao sexo feminino, são jovens com menos de 30 anos, heterossexuais, se auto-declaram brancas e de religião católica. A maioria dos supervisores são de recém-formados em universidade pública e em cursos noturnos, tendo na pós-graduação um elemento importante da formação continuada. 10 Uma questão preliminar, levantada e problematizada através da pesquisa bibliográfica foi o processo de mercantilização e precarização do ensino superior no cenário que se delineou no Brasil a partir dos anos 70 e sobre como o Serviço Social vem enfrentando tal processo na defesa da qualidade da formação profissional. Nesse contexto, a supervisão de estágio em Serviço Social tem um lugar estratégico. No que diz respeito à concepção dos supervisores sobre a supervisão, nota-se que os mesmos possuem uma concepção coerente com as referências jurídico-políticas da profissão, reiterando a centralidade desse componente curricular. Contudo, não podendo deixar de lado o fato de que o assistente social supervisor de campo está também inserido nas relações de produção e reprodução social constituídas pelo modo de produção capitalista, nas suas diferentes configurações, o processo de supervisão de estágio e seu direcionamento para as dimensões constitutivas da formação profissional, referentes às competências teóricometodológica, técnico-operativa e ético-política mostrou-se insuficiente. Os dados apontam dificuldades no processo de supervisão de campo, devido à inserção precarizada destes profissionais nos espaços sócio-ocupacionais, desdobrando-se na falta de tempo para supervisionar os discentes e na falta de reconhecimento, por parte da instituição empregadora, da supervisão de estágio como atividade que faz parte do seu cotidiano de trabalho na instituição, configurando-se o chamado “sobretrabalho”. Ao mesmo tempo, chama a atenção o fato de que a grande parte dos supervisores pesquisados apontam a falta de apoio da academia como um dos principais fatores que têm dificultado o processo pedagógico da supervisão e propõem o estreitamento entre as instituições de ensino e campos de estágio como uma das alternativas para melhoria desse processo. Desse modo, embora haja uma aproximação da supervisão de estágio aos princípios das Diretrizes Curriculares vigentes, os desafios e fragilidades presentes na prática de supervisão de estágio estão relacionados aos impactos dos processos sociais contemporâneos que têm afetado a política de ensino superior e o trabalho dos assistentes sociais nos diferentes espaços sócio-ocupacionais. 5- REFERÊNCIAS ABEPSS. Diretrizes gerais para o Curso de Serviço Social. Rio de Janeiro,1996.Disponível em http://www.abepss.org.brAcesso em 17 de março de 2010. 11 BURIOLLA, M. F Supervisão em Serviço Social: o supervisor, sua relação e seus papeis 4. ed. ,São Paulo: Cortez, 1995. IAMAMOTO, Marilda Vilela. Serviço Social em tempo de capital fetiche:capital financeiro, trabalho e questão social. 3.ed.São Paulo:Cortez,2008. PEREIRA, L. D. Mercantilização do ensino superior, educação a distância e ServiçoSocial.Revista Katalisis.,Florianópolis, v.12,n2., jul/dez 2009 CFESS. Resolução CFESS N533 de 29de setembro de 2008. Regulamenta a supervisão direta de Estagio no Serviço Social. Disponível em http//www.cfess.org.br GIL,A.C. Pesquisa Paulo:Atlas,1999. Social.In Métodos e técnicas de pesquisa social.5.ed.São NUNES, C. A. da S.supervisão de estágio em Serviço Social: Encontros e desencontros da formação profissional. Projeto de pesquisa. Mimeografado. 2010. 12