AS RELAÇÕES ENTRE O ARCHETYPE, O URPHÄNOMENE E A

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AS RELAÇÕES ENTRE O ARCHETYPE, O URPHÄNOMENE E A ESTÉTICA
GOETHEANA NA FORMAÇÃO EPISTEMOLÓGICA E METODOLÓGICA DA
GEOMORFOLOGIA.
Antonio Carlos Vitte, Departamento de Geografia, Programa de Pós-Graduação em
Geografia, Instituto de Geociências, Unicamp, Campinas (SP), Brasil. CP 6152, CEP
13083-970. Pesquisador CNPq. E-mail: [email protected]
O objetivo do presente trabalho é discutir as relações entre o conceito de
morfologia com as ideias de estética, arquétipo e fenômeno puro
[Urphänomene] de Johann Wolfgang von Goethe, conforme desenvolvido em
sua Ciência da Morfologia (GOETHE, 1988), conceituada como “... a the
form, formation and transformation of organic natures” (JARDINE, 2000, p.
37), na constituição epistemológica e metodológica da geomorfologia.
A ciência da morfologia de Goethe, considerava o conceito de organismo um
recurso heurístico, portanto epistemológico para os estudos sobre a natureza.
E é neste quadro que Goethe desenvolveu uma metodologia para os
estudos sobre as morfologias, possibilitando com isto conectar os estudos
empíricos sobre os morfotipos e suas variações espaciais a uma concepção
metafísica de natureza. Neste processo de construção epistemológica e
metodológica da ciência da morfologia, Goethe lançou mão do moderno
desenvolvimento científico de sua época assim como redefiniu o sentido da
estética, da sensibilidade, da imaginação, da teleologia e do mecanicismo
nos estudos científicos da natureza.
A premissa da ciência goetheana era a de que haveria uma harmonia e um
constante processo de transformação das formas no cosmos. A partir desta
premissa, a ciência da morfologia estudaria variadas formas, sejam elas
animais, vegetais, minerais ou humanas, pois a tese goetheana é que todas
as formas são modificações de uma forma primordial, uma Urformen. Um
fenômeno puro, Urphänomene, é uma construção realizada pela imaginação,
uma imagem que guia a interpretação do mundo e da natureza, mas que
exigiu uma percepção disciplinada e cultivada pelos princípios norteadores da
ciência da morfologia. O fenômeno puro é para Goethe nada mais seria que
um arquétipo que guiaria a percepção científica e artística do sujeito e, ao
mesmo tempo, permitiria conectar o mundo empírico a uma estrutura
epistemológica e filosófica. Esta postura epistemológica também seria capaz
de problematizar o sentido do empírico, que segundo Goethe, dada da
influência de Linneu, era concebido como fragmentário, onde a percepção do
sujeito era limitada apenas as partes das formas; e que sem uma referência
heurística, como a noção de organismo, inviabilizava a visão de totalidade e o
ordenamento dos fenômenos, pois o empirista, ao estar preocupado com os
fragmentos não percebe que ele mesmo, o empirista, fica perdido no labirinto
das variações morfológicas e consequentemente, não consegue construir
uma estrutura explicativa que abrangesse a conexão entre todos os
fenômenos. Estas reflexões goetheanas guiaram o olhar humbodtiano na
constituição do sentido de espacialidade das formas naturais, formas estas
que seriam o produto de uma profunda e intensa interação e conexão entre
todos os elementos da natureza. É neste quadro que Humboldt lançará as
bases da geomorfologia, entendendo o relevo enquanto produto das
conexões da geoesfera que se faz em sua própria historicidade. As principais
fontes de pesquisas serão livros, teses, textos e artigos acadêmicos. A
análise acima contribuirá na compreensão da historiografia da ciência
geográfica de modo geral e de modo específico na relação da Geografia, a
naturphilosophie e a geomorfologia.
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