Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Departamento de Biologia Geral Programa de Pós-Graduação em Genética DISSERTAÇÃO DE MESTRADO CONSTRUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE VETORES VACINAIS PARA A CINOMOSE CANINA, BASEADOS EM ADENOVIRUS E Lactococcus lactis EXPRESSANDO AS PROTEÍNAS HEMAGLUTININA E DE FUSÃO, E ANÁLISE DA RESPOSTA IMUNE HUMORAL INDUZIDA APÓS IMUNIZAÇÃO ORIENTADO: Isabelle Vilela Carvalho ORIENTADOR: Oscar Bruna Romero Belo Horizonte 2011 ISABELLE VILELA CARVALHO CONSTRUÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE VETORES VACINAIS PARA A CINOMOSE CANINA, BASEADOS EM ADENOVIRUS E Lactococcus lactis EXPRESSANDO AS PROTEÍNAS HEMAGLUTININA E DE FUSÃO, E ANÁLISE DA RESPOSTA IMUNE HUMORAL INDUZIDA APÓS IMUNIZAÇÃO Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre pelo programa de PósGraduação em Genética, Departamento de Biologia Geral, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. ORIENTADO: Isabelle Vilela Carvalho ORIENTADOR: Oscar Bruna Romero Belo Horizonte 2011 “Os verdadeiros vencedores na vida são pessoas que olham para cada situação com a esperança de poder resolvê-la ou melhorá-la”. Barbara Pletche AGRADECIMENTOS A Universidade Federal de Minas Gerais e ao programa de Pós-Graduação em Genética pela oportunidade para a realização deste trabalho. Ao Prof. Dr. Oscar Bruna Romero pela orientação, ensinamentos, confiança e apoio. A todos os colaboradores que contribuíram para a realização deste trabalho: Prof. Dr. Anderson Miyoshi e suas alunas Camila Próspere e Tessália Saraiva do Departamento de Biologia Geral - UFMG; Prof. Dr. Rômulo Cerqueira e sua aluna Gissandra Farias do Departamento de Medicina Preventiva - UFMG. Ao programa de Pós-Graduação em Microbiologia por permitir a utilização de seus equipamentos para a realização dos experimentos. Aos amigos do LAR pela amizade e ajuda em todos os momentos. Ao Douglas pelo carinho, compreensão, companheirismo. Aos meus pais Paulo e Cássia, avô Sebastião, irmãos Carol, Marcus e sobrinho Gu pelo carinho, apoio, confiança e amizade. SUMÀRIO LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................... I LISTA DE TABELAS................................................................................................................. III LISTA DE ABREVIATURAS ..................................................................................................... IV RESUMO.................................................................................................................................... 1 ABSTRACT................................................................................................................................ 2 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 3 1.1 Cinomose canina .............................................................................................................. 3 1.1.2 Vírus da Cinomose canina (VCC)............................................................................... 5 1.1.3 Patogenia................................................................................................................... 9 1.1.4 Resposta Imune contra VCC.................................................................................... 11 1.1.5 Vacinas contra o Vírus da Cinomose canina ............................................................ 13 1.2 VETORES VACINAIS ..................................................................................................... 15 1.2.1 Adenovírus ............................................................................................................... 15 1.2.1.2 Adenovírus como vetor vacinal.......................................................................... 17 1.2.2 Lactococcus lactis .................................................................................................... 19 1.2.2.1 Lactococcus lactis como vetor vacinal ............................................................... 20 2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 22 3. OBJETIVOS ......................................................................................................................... 24 3.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................................... 24 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 24 4. FLUXOGRAMA DE ATIVIDADES .................................................................................... 25 5. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................... 26 5.1 Meios de cultura utilizados .............................................................................................. 26 5.2 Construção de Adenovírus Recombinantes capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da Cinomose canina..................................................................................................... 26 5.2.1 Construção das ORFs sintéticas das proteínas hemaglutinina (H) e de fusão (F) do vírus da cinomose canina.................................................................................................. 26 5.2.2 Transformação bacteriana........................................................................................ 27 5.2.2.1 Confecção de Escherichia coli DH5α quimiocompetente................................... 27 5.2.2.2 Transformação de E. coli DH5α com os plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF..................................................................................................... 28 5.2.2.3 Extração do DNA plasmidiano pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF de E. coli. ............................................................................................................................... 28 5.2.3 Digestão enzimática, purificação e ligação do DNA.................................................. 28 5.2.3.1 Transformação de E. coli DH5α com os plasmídeos pAdCMVHASSH e pAdCMVHASSF ............................................................................................................ 29 5.2.3.2 Reação de Sequenciamento ............................................................................. 30 5.2.4 Construção dos Adenovírus Recombinantes............................................................ 30 5.2.4.1 Transfecção dos plasmídeos recombinantes em células HEK 293A ................. 30 5.2.4.2 Confirmação da presença das sequências nucleotídicas da ORF H no AdH e da ORF F no AdF............................................................................................................... 32 5.2.4.3 Confirmação da expressão das proteínas H e F pelos adenovírus recombinantes, através da técnica de RT-PCR (Transcrição reversa e Reação em Cadeia da Polimerase). .................................................................................................................. 32 5.2.4.4 Western Blotting ................................................................................................ 33 5.2.4.5 Purificação e titulação dos adenovírus recombinantes ...................................... 33 5.2.4.6 Imunizações de camundongos com os adenovírus recombinantes ................... 34 5.2.4.7 Análise da Resposta Imune Humoral................................................................. 34 5.2.4.7.1 ELISA (Enzyme-Linked ImmunoSorbent Assay) ......................................... 34 5.2.4.7.2 Ensaio de Neutralização Viral ..................................................................... 35 5.3 Construção de L. lactis recombinantes capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da cinomose canina. ............................................................................................................. 35 5.3.1 Obtenção das ORFs de interesse. ........................................................................... 35 5.3.2 Transformação bacteriana........................................................................................ 36 5.3.2.1 Confecção de células eletrocompetentes de L. lactis NCDO2118 ..................... 36 5.3.2.2 Transformação de L. lactis NCDO2118 com os plasmídeos pXYSEC:H e pXYSEC:F..................................................................................................................... 37 5.3.2.3 Confirmação dos clones de L. lactis contendo os plasmídeos pXYSEC:He pXYSEC:F..................................................................................................................... 37 5.3.2.4 Reação de Sequenciamento ............................................................................. 38 5.3.2.5 Confirmação da expressão das proteínas H e F pelos L. lactis recombinantes . 38 5.3.2.5.1 Indução da expressão gênica das proteínas H e F ..................................... 38 5.3.2.5.2 Extração das frações protéicas, citoplasmática e secretada dos L. lactis recombinantes........................................................................................................... 38 5.3.2.5.3 Western Blotting ......................................................................................... 39 6. RESULTADOS ..................................................................................................................... 40 6.1 Construção dos Adenovírus Recombinantes capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da Cinomose canina..................................................................................................... 40 6.1.1 Obtenção das ORFs H e F ....................................................................................... 40 6.1.2 Construção dos Adenovírus Recombinantes............................................................ 41 6.1.3 Análise funcional dos adenovírus recombinantes construídos.................................. 43 6.1.4 Análise da Resposta Imune Humoral ....................................................................... 45 6.1.4.1 ELISA ................................................................................................................ 45 6.1.4.2 Ensaio de Neutralização Viral............................................................................ 46 6.2 Construção de Lactococcus lactis capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da Cinomose canina .................................................................................................................. 48 6.2.1 Obtenção das ORFs de interesse ............................................................................ 48 6.2.2 Construção dos L. lactis recombinantes ................................................................... 49 6.2.3 Análise funcional das linhagens recombinantes de L. lactis ..................................... 50 7. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 51 8. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS ....................................................................................... 54 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................... 55 LISTA DE FIGURAS Figure 1. Árvore Filogenética baseada na diferença de porcentagem nucleotídica do gene da fosfoproteína............................................................................................................................... 3 Figure 2. Árvore Filogenética “Neighbor-joining” baseada na sequência parcial do gene da nucleoproteína do VCC............................................................................................................... 5 Figure 3. Representação esquemática do genoma do vírus da Cinomose canina ..................... 6 Figure 4. Representação esquemática do vírus VCC................................................................. 7 Figure 5. Representação esquemática da replicação do VCC ................................................... 8 Figure 6. Corpúsculos de Lentz (setas) em hemácia e neutrófilo ............................................. 11 Figure 7. Representação esquemática da estrutura do Adenovírus ......................................... 16 Figure 8. Representação esquemática da construção dos plasmídeos contendo as ORFs sintéticas H e F ......................................................................................................................... 27 Figure 9. Representação esquemática da construção dos vetores de transferência. ............... 29 Figure 10. Representação esquemática da recombinação homóloga resultante da cotransfecção do vetor de transferência pAdCMVlink e do pJM17 ............................................... 31 Figure 11. Representação esquemática da clonagem das ORFs F e H no plasmídeo de expressão pXYSEC:Nuc........................................................................................................... 36 Figure 12. Sequências das proteínas F e H adicionadas dos sítios de restrição e o Peptídeo sinal HASS ............................................................................................................................... 40 Figure 13. Resolução eletroforética da clivagem dos plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4TOPO HASSF........................................................................................................................... 41 Figure 14. Resolução eletroforética da clivagem dos plasmídeos pAdCMVlinkHASSH e pAdCMVlinkHASSF .................................................................................................................. 42 Figure 15. Resolução eletroforética da reação de PCR do sobrenadante de células HEK293A infectadas com os adenovírus recombinantes .......................................................................... 43 Figure 16. Resolução eletroforética da RT-PCR do sobrenadante de células HEK293A infectadas com AdF e AdH. ...................................................................................................... 44 Figure 17. Ensaio de Imunodetecção para confirmar a expressão das proteínas H e F pelos AdH e AdF em células HEK293A.............................................................................................. 45 Figure 18. Resposta imune humoral de camundongos BALB/c imunizados com adenovírus recombinantes .......................................................................................................................... 46 I Figure 19. Ensaio de Neutralização Viral para confirmação da presença de anticorpos neutralizantes específicos contra o VCC no soro de camundongos imunizados com adenovírus recombinantes codificando as proteínas H e F. ........................................................................ 47 Figure 20. Resolução eletroforética da reação de PCR do pCR4-TOPOHASSF e pCR4TOPOHASSFH com iniciadores específicos............................................................................. 48 Figure 21. Resolução eletroforética da reação de ligação entre o plasmídeo pXYSEC e ORF H e plasmídeo pXYSEC e ORF F................................................................................................. 49 Figure 22. Resolução eletroforética da reação de PCR do DNA plasmidiano extraído dos clones de L. lactis recombinantes. ....................................................................................................... 49 Figure 23. Ensaio de Imunodetecção a partir das proteínas extraídas do sobrenadante e da fração celular dos L. lactis recombinantes, induzidos e não induzidos.. .................................... 50 II LISTA DE TABELAS Tabela 1. Sinais clínicos mais frequentes em cães infectados pelo vírus da cinomose canina. 10 Tabela 2. Microrganismos utilizados como vetores vacinais..................................................... 15 Tabela 3. Síntese das funções das proteínas adenovirais ........................................................ 17 Tabela 4. Antígenos e proteínas terapêuticas expressadas em L. lactis................................... 21 Tabela 5. Iniciadores específicos utilizados para o sequenciamento dos insertos HASSH e HASSF ..................................................................................................................................... 30 Tabela 6. Iniciadores específicos utilizados para confirmação da presença das ORFs de interesse no AdH e AdF............................................................................................................ 32 Tabela 7. Iniciadores específicos utilizados para amplificar as ORFs H e F para construção de L. lactis ..................................................................................................................................... 35 III LISTA DE ABREVIATURAS BL - Bactérias Lácticas º C - Graus Celsius DNA - Ácido desoxirribonucléico dNTP - Desoxinucleotídeo trifosfato DO600nm - Densidade ótica em comprimento de onda de 600 nm DTT - Ditioeritritol EDTA - Etileno diamino tetra-acetato dissódio ELISA - Ensaio imunoenzimático (Enzyme-linked immunosorbent assay) ELISPOT - Enzyme-linked immunosorbent spot F - Proteína de fusão do vírus da cinomose canina GRAS - Generally Regarded As Safe H - Proteína hemaglutinina do vírus da cinomose canina HAd5 - Adenovírus humano do tipo 5.(Human adenovirus 5) IFNγ - Interferon-gama IgG - Imunoglobulina G IgA - Imunoglobulina A IL - Interleucina Kb - Quilobases (103 pb) kDa - Kilodalton LB - Meio Luria-Bertani mg - mililitro mM - Milimolar ng - Nanograma nm – Nanômetro OGM – Organismo geneticamente modificado ORF - Fase Aberta de Leitura (Open Reading Frame) pb - Pares de bases PBS - Salina tamponada com fosfato (Phosphate-buffered saline) PCR - Reação em Cadeia da Polimerase Polymerase Chain Reaction) PEG - Polietileno glycol PMSF - Fenil-metil sulfonil fluoreto pH - Potencial Hidrogeniônico IV q.s.p - Quantidade suficiente para RNA - Ácido ribonucléico mRNA - Ácido ribonucléico mensageiro r.p.m - Rotações por minuto SDS - Dodecil Sulfato de Sódio TCA - Ácido Tricloroacético TH1 - Células T auxiliares do tipo 1 TH2 - Células T auxiliares do tipo 2 UFP - Unidade Formadora de Placa U.V. - Ultravioleta VCC - Vírus da Cinomose Canina µFD - Microfaraday µg - Micrograma µL - Microlitro µM - Micromolar ρmoles - Picomoles Ω - OHM V RESUMO A cinomose canina causa uma doença grave em cães podendo levar ao óbito de animais jovens e debilitados. As vacinas contra o vírus da cinomose atualmente disponíveis no mercado não são totalmente eficazes e ainda apresentam problemas de segurança, sobre tudo pela significativa frequência de reversão ao fenótipo patogênico dos vírus atenuados que entram na sua composição. As vacinas recombinantes baseadas em vetor carregando antígenos virais (proteínas H e F) vêm sendo consideradas ferramentas promissoras contra a cinomose canina, já que são caracterizadas como seguras e eficazes. O adenovírus humano tipo 5 recombinante deficiente em replicação foi pesquisado neste trabalho como vetor vacinal contra cinomose canina por ser muito seguro e por ter a capacidade de induzir respostas imunes semelhantes aquelas descritas como protetoras contra a doença (anticorpos neutralizantes e IFNγ). Bactérias da espécie L. lactis também foram utilizadas como vetores de imunização em nossos experimentos, devido ao fato de serem igualmente seguras e porque estudos mostraram que estas bactérias são eficientes na indução de respostas imunes de mucosa com secreção de IgAs específicos contra os antígenos recombinantes que expressam. Nossos resultados mostram que a construção de dois candidatos vacinais contra cinomose canina baseados no adenovírus humanos tipo 5 recombinante e mais dois baseados em L. lactis recombinantes, onde cada vetor foi capaz de expressar a proteína hemaglutinina (H) ou a proteína de fusão (F), separadamente, foi bem sucedida. Ensaios de imunodetecção (imunoeletroblotting) mostraram a capacidade tanto do vetor adenoviral quanto do L. lactis em expressar corretamente as proteínas H e F. Quando os adenovírus recombinantes foram administrados em camundongos BALB/c foi detectada a produção de anticorpos IgG anti-VCC por meio de ELISA e confirmada a presença de anticorpos neutralizantes pelo ensaio de neutralização viral. Podemos assim concluir que os vetores adenovirais, assim como aqueles baseados na bactéria L. lactis podem ser utilizados no futuro como candidatos vacinais contra a cinomose canina, podendo ser também testados como componentes de protocolos heterólogos de imunização sequencial do tipo dose-reforço “prime-boost” para determinar a possibilidade de indução de respostas imunes protetoras complementares que permitam diminuir a dose vacinal de cada um destes vetores. 1 ABSTRACT Canine distemper is a severe disease in dogs that leads young and impaired animals to death. Currently available vaccines against canine distemper virus (CDV) are not completely effective and represent safety concerns, mainly because of the significant frequency of reversion of attenuated viruses, present in the vaccine, into the pathogenic phenotype. Recombinant vector-based vaccines carrying viral antigens (H and F proteins) have been considered promising tools against canine distemper, as they are characterized as safe and effective. In this study, the recombinant replication-deficient human adenovirus type 5 was tested as a vaccination vector against canine distemper due to its safety and ability to induce immune responses similar to those described as effective against the disease (neutralizing antibodies and IFNγ). Lactococcus lactis bacteria were also used as a vaccination vectors in our trials, for being equally safe and because previous studies showed that these bacteria are efficient in inducing mucosa immune responses with specific IgA secretion against the recombinant antigen they express. Our results show the construction of two vaccine candidates against canine distemper based on recombinant human adenovírus type 5 and two more based on recombinant L. lactis, both vectors expressing the hemagglutinin (H) or the fusion protein (F), separately. Immunodetection assays (imunoeletroblotting) showed the competence of both adenoviral and L. lactis vectors to properly express the H and F proteins. When the recombinant adenoviruses were administered to BALB/c mice was observed the production of anti-CDV IgG by ELISA. Neutralinzing antibodies were also detected by a Virus Neutralization Assay. Our results support the idea that adenoviral, as well as L. lactis vectors must be considered as promising vaccine candidates against canine distemper. Further tests wtih both vectors in sequential prime-boost immunization heterologous protocols are guaranteed to determine the possibility of synergistic induction of protective immunity against CDV. 2 1. INTRODUÇÃO 1.1 Cinomose canina O vírus da cinomose canina (VCC) pertence ao gênero Morbillivirus, família Paramyxoviridae, ordem Mononegavirales. Além do VCC, são também representantes do gênero o vírus do sarampo, Vírus da peste bovino, Vírus da peste de pequenos ruminantes e vírus emergentes de mamíferos aquáticos (vírus da cinomose de focas, golfinhos e botos) (Figura 1) (Murphy et al., 1999; Visser et al., 1993). Os Morbillivirus são patógenos altamente contagiosos que causam doença severa em humanos e animais, causando febre, coriza, conjuntivite, gastroenterite e pneumonia em seus hospedeiros naturais. Os principais locais de propagação viral são tecidos linfóides, e doenças agudas são acompanhadas por linfopenia profunda e imunossupressão, levando a infecções secundárias (Griffin, 2001; Murphy et al., 1999). Figure 1. Árvore Filogenética baseada na diferença de porcentagem nucleotídica do gene da fosfoproteína. Modificado de Barret et al., 1993. A cinomose canina é uma doença multissistêmica com distribuição mundial que acomete principalmente cães, mas, atualmente devido à intensa urbanização que aumenta o contato entre os animais domésticos e silvestres, o vírus está se disseminando entre os carnívoros selvagens como, os da Família Canidae (raposas, dingos, coiotes, lobos e chacais), Família Mustelidae (furões, doninhas, martas, cangambás, texugos e lontras), Família Procyonidae (guaxinins, juparás e quatis), Família Felidae (guepardos, leões, 3 onças-pintadas, maracajás e jaguatiricas), e ainda Família Ursidae (ursos e pandas) (Sherding, 2003). A doença foi primeiramente documentada na América do Sul em 1746, e posteriormente houve a disseminação do vírus para os países europeus como Espanha, Inglaterra, Itália e Rússia. A chegada do VCC a Europa foi atribuída aos colonizadores espanhóis no século XVII (Blancou, 2004). A cinomose apresenta relevante importância já que resulta em alta mortalidade (30% a 70%) só perdendo em gravidade para raiva, é caracterizada como enzoótica no mundo, sendo endêmica no Brasil. Os filhotes de cães (2 a 6 semanas) são as principais vítimas da moléstia, como consequência da perda da imunidade materna (Swango, 1997), mas acomete cães de todas as idades como foi demonstrado no estudo realizado por Silva e colaboradores (2007) na região de Santa Maria (RS) onde constataram que dos animais diagnosticados com cinomose, 45,9 % eram filhotes, 51,4% adultos e 2,7% idosos. Várias linhagens do vírus da cinomose canina são encontradas atualmente, sendo todas antigenicamente semelhantes, mas variáveis quanto à virulência e o tropismo da infecção, e sorologicamente indiferenciáveis (Kornegay,1992). Uma pesquisa conduzida por Castilho e colaboradores (2007) no estado de São Paulo, avaliou a diversidade genética molecular das linhagens de VCC pela análise da sequência nucleotídica parcial da região mais conservada do gene da nucleoproteína utilizando reação da polimerase em cadeia (PCR) e transcrição reversa. A análise filogenética apresentou 4 grupos maiores, no grupo I foram alocadas as linhagens brasileiras com identidade nucleotídica de 95.6% e 95,8% com as linhagens vacinais Onderstepoort e Lederle, respectivamente. O grupo II é composto por linhagens relacionadas aos guaxinins, grupo III com linhagens orientais e o grupo IV com as linhagens vacinais Onderstepoort e Lederle com identidade de 99,7% entre elas (Figura 2). 4 Figure 2. Árvore Filogenética “Neighbor-joining” baseada na sequência parcial do gene da nucleoproteína do VCC. Modificado de Castilho et al., 2005. 1.1.2 Vírus da Cinomose canina (VCC) Dentre os membros do gênero Morbillivirus, o vírus da cinomose canina e o vírus do sarampo encontram-se juntamente relacionados, apresentando organização genômica muito similar (Chan et al., 2009) O vírus VCC é envelopado com morfologia esférica e diâmetro variando de 100 a 700 nm (Appel, 1987). O genoma é composto de RNA de fita simples de polaridade negativa não segmentado com aproximadamente 16Kpb, há 6 unidades transcricionais codificando 8 proteínas, sendo 6 estruturais e 2 não estruturais (Harder e Osterhaus, 1997; Pozza, 2005). Dentre as proteínas estruturais estão a proteína do nucleocapsídeo (N), fosfoproteína (P), proteína da matriz (M), proteína de fusão (F), hemaglutinina (H) e a grande proteína (L). As proteínas não estruturais são C e V (Harder & Osterhaus, 1997) (Figura 3). 5 Figure 3. Representação esquemática do genoma do vírus da Cinomose canina O genoma apresenta uma região 3` denominada líder, contendo sinais de terminação transcricional e traducional para o gene da nucleoproteína, seguida pelas unidades transcricionais separadas por regiões intergênicas curtas com exceção de uma longa região intergênica entre os gene das proteínas matriz (M) e de fusão (F), a qual apresenta alta grau de plasticidade entre as linhagens (Rima et al., 1995) e por último uma curta região 5` chamada trailer com sinais de iniciação de transcrição e tradução para o gene da proteína L (Belline et al., 1985; Cattaneo et al., 1993; Lamb e Parks, 2007). As UTRs (Unstranlated Region) dos Morbillivirus apresentam comumente comprimento de 100 a 200 nucleotídeos, com exceção da UTR entre os genes M e F que são maiores, por exemplo, no vírus do sarampo pode ultrapassar os 1000 nucleotídeos (Heider et al., 1997). Esta longa UTR provavelmente tem importância funcional. No vírus do sarampo tem sido proposto que esta região controla a citopatogenicidade durante a replicação (Takeda et al., 2005), otimiza a disponibilidade da polimerase para replicação viral (Parks et al., 2001) e regula a atividade de fusão célula - célula (Cathomen et al., 1995). No VCC a região entre os genes M e F contêm muitos códons de iniciação em fase de leitura, seguido por um peptídeo sinal longo da proteína F. A diminuição do peptídeo sinal resulta em aumento da formação de sincício, indicando que esta região regula a função da proteína F (Von Messling e Cattaneo, 2002), portanto, há indícios de que esta região modula a virulência através do controle transcricional da expressão do gene F (Anderson e Messling, 2008). Os genes são transcritos pela RNA polimerase dependente de RNA viral, a qual inicia pela extremidade 3` do genoma. A maioria dos genes é monocistrônico com exceção do gene P que codifica também as proteínas C e V, sendo V expressa pela edição do RNA co-transcricional e C é expressa por sobreposição do quadro de leitura (Bellini et al., 1985; Cattaneo et al., 1989). 6 Figure 4. Representação esquemática www.virology.net/bigvirology/EM/3dvírus). do vírus VCC. (Modificado de O nucleocapsídeo é formado pela proteína N juntamente com cópias da proteína P associada à polimerase dependente de RNA (L). Logo, o RNA viral associado ao nucleocapsídeo (N, P e L) formam o complexo ribonucléico (RNP) que direciona a síntese do RNA mensageiro e a replicação (Lamb e Parks, 2007) (Figura 4). A proteína P é altamente fosforilada e possui aproximadamente 73 a 80 KDa, atua na formação do complexo para a síntese de RNA. A proteína C e V ainda não tiveram suas funções totalmente elucidadas, mas a primeira parece atuar na inibição seletiva de síntese de RNA permitindo a transição da transcrição primária para a replicação do genoma viral (Curran et al., 1992) e a segunda participa da síntese de mRNA (Tober et al., 1998). A proteína M desempenha funções na maturação e no agrupamento das partículas virais e compõe a camada interna estabilizando a membrana e mediando o contato com o complexo ribonucléico (Harder & Osterhaus, 1997), além de servir como ponto de ancoragem para as duas glicoproteínas de superfície (Lamb & Kolakofsky, 1996). As proteínas hemaglutinina (H) e de fusão (F) são glicoproteínas de superfície que estão ancoradas no envelope viral, são responsáveis pela adsorção e fusão viral, ou seja, são proteínas chaves para a infecção e antigenicamente determinantes (Lamb e Parks, 2007). A proteína H tem morfologia globular e medeia à ligação do vírus ao receptor celular da membrana e a interação proteína F-H atua na fusão das duas membranas, celular e viral permitindo a entrada do complexo RNP (Messling et al., 2001; Lamb e Parks, 2007; Cattaneo e Rose, 1993). Na maioria dos representantes dos membros da família Paramyxoviridae a proteína H apresenta atividade de hemaglutinação e neuraminidase, 7 porém esta última atividade nunca foi descrita nos representantes do gênero Morbilivirus, no qual está alocado o VCC (Langedijk et al ., 1997). O gene F codifica uma proteína de 662 aminoácidos, o qual compreende um peptídeo pré-sinal, a subunidade F1 e a subunidade F2, as duas subunidades são produzidas via proteólise pós-traducional do precursor F0 (Merz et al., 1980; Cherpillod et al., 2004). A proteína F medeia à penetração na célula hospedeira permitindo a dispersão do vírus. A replicação do VCC ocorre no citoplasma da célula hospedeira. A entrada do vírus na célula é mediada pela ligação da proteína de superfície hemaglutina a receptores celulares (CD150), seguido pela fusão a membrana plasmática, promovida pela proteína de fusão. Após a fusão, o nucleocapsídeo é liberado no citoplasma, onde tem início a replicação do genoma viral, para tal ocorre à formação de um RNA (+) intermediário seguido da cópia do genoma viral RNA (-), já que o VCC apresenta genoma com polaridade negativa (Diallo, 1990). A transcrição é realizada pela RNA polimerase viral, a tradução das proteínas virais ocorre nos ribossomos, exceto das proteínas de superfície H e F, as quais são sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso e posteriormente, processadas no complexo de Golgi. Os nucleocapsídeos montados no citoplasma migram para a superfície celular onde se associam à membrana onde estão inseridas as proteínas de superfície H e F (Lamb e Kolakofsky, 1996). A liberação das partículas virais maduras é realizada por brotamento na membrana plasmática onde é adquirido o envelope. (Krakowka et al., 1980, 1985) (Figura 5). Figure 5. Representação esquemática da replicação do VCC. Modificado de Moss and Griffin, 2006. 8 1.1.3 Patogenia O vírus da cinomose canina causa uma doença muito semelhante ao sarampo humano, mas, com diferenças significativas mostrando-se mais neurotrópica e causando encefalite aguda em cerca de metade dos animais infectados (Appel e Gillespie, 1972; Mamaev et al., 1996). O índice de mortalidade pela infecção do VCC varia com a espécie hospedeira, variando de 0% em gatos domésticos, a 50% em cães domésticos e chegando a 100% nos furões. A encefalite é a causa de morte mais comum em animais infectados (Appel e Gillespie, 1972; Summers e Appel, 1994). Assim como outros morbilívirus, o VCC é um agente infeccioso linfotrópico e altamente imunossupressivo. A infecção causa a inibição e comprometimento das funções imune humoral e celular, caracterizada por imunossupressão, perda de linfócitos, e leucopenia, tornando os animais altamente susceptíveis às infecções oportunistas. O linfotropismo do VCC é baseado na ligação da proteína H viral ao receptor CD150, este receptor é expresso em uma variedade de células, mas após a infecção pelo VCC a expressão deste receptor aumenta nas células linfóides, o que parece ser uma estratégia para aumentar a amplificação do vírus no hospedeiro (Beineke et al., 2009). O mecanismo de imunossupressão induzida pelo VCC ainda não é bem compreendido, mas, a destruição seletiva das células infectadas expressando o CD150 parece contribuir para o processo. Já foi demonstrado que o VCC é capaz de induzir apoptose, resultando na depleção de linfócitos, assim como, modular a função de macrófagos pela inibição da interleucina 1 (IL-1), prejudicando à apresentação de antígenos pelos mesmos, e como consequência ocorre a redução da diferenciação de células B em imunoglobulinas (Krakowka et al.,1987). As proteínas virais com propriedades imunomodulatórias descritas são, a nucleoproteína e a proteína V, a primeira atua na supressão de células não infectadas e modula a apresentação de antígenos pelas células dendríticas (Schneider-Schaulies e Dittmer, 2006), e a segunda inibi a resposta de citocina (von Messling et al., 2006). Grandes variações na duração, gravidade e apresentação clínica da cinomose canina têm sido observadas em animais infectados. O período de incubação pode variar de 1 a 4 semanas dependendo da linhagem viral, idade do animal e estado imune do hospedeiro. A manifestação da doença varia da ausência de sinais clínicos a doença severa com alta mortalidade (Appel, 1970; Krakowka et al., 1980; Moritz et al., 2000). É uma enfermidade de evolução aguda, subaguda ou crônica que, além dos sinais clínicos sistêmicos, pode também evoluir para graves sinais neurológicos. Os principais sintomas da doença são alterações oculares, gastrointestinais, respiratórios e neurológicos (Tabela 1) (Rude, 1987; Shell, 1990; Tipold, 1995). 9 A transmissão do vírus ocorre por meio de aerossóis e gotículas (Ettinger, 1992). A infecção viral inicia-se com a replicação viral em tecidos linfóides do trato respiratório superior; macrófagos e monócitos representam os primeiros tipos celulares onde ocorre a propagação viral (Appel, 1970). Após esta replicação viral local, o patógeno é então disseminado pelo sistema linfático e circulatório para tecidos hematopoiéticos distantes durante a fase de viremia primária, a qual resulta em infecção generalizada de todos os tecidos linfóides (Beineke et al., 2009). A multiplicação do vírus nos linfócitos produz linfopenia levando a um quadro de imunossupressão. Os sinais clínicos iniciais são caracterizados por letargia, desidratação, anorexia, perda peso e febre. A segunda viremia acontece alguns dias depois, frequentemente associada à febre alta, e resulta na infecção de vários tecidos em todo o organismo (Appel, 1969; Appel e Gillespie, 1972; Okita et al., 1997), podendo atingir o sistema nervoso central, neste estágio ocorre hiperplasia e desenvolvimento de células gigantes multinucleadas (Arns et al., 2007). Tabela 1. Sinais clínicos mais frequentes em cães infectados pelo vírus da cinomose canina. FORMA CLÍNICA Inespecífica SINAIS CLÍNICOS Anorexia, apatia e febre Cutânea Máculas, pápulas, pústulas, hiperqueratose do focinho e das almofadas plantares Sistêmica Gastrenterite, conjuntivite, descarga nasal, tosse, hipoplasia de esmalte Neurológica Incoordenação, ataxia, delírios com vocalização, paresia do membro posterior, tetraplegia, diminuição dos reflexos pupilares, coma e morte No estágio agudo, o vírus é encontrado nas secreções e excreções do corpo, esta fase é acompanhada por vários sinais clínicos com erupções cutâneas, secreção nasal e ocular, conjuntivite e anorexia seguida de sinais respiratórios e gastrointestinais, os quais são complicados por infecções bacterianas secundárias (Krakowka et al., 1985). O período de incubação da doença aguda geralmente é de três a seis dias, podendo se estender por 21 dias (Arns et al., 2007). Se ocorrer uma resposta imune eficiente, principalmente com o aumento da produção de anticorpos neutralizantes específicos o animal pode se recuperar levando a eliminação dos vírus de alguns órgãos, mas ele pode persistir em certos tecidos como nos órgãos linfóides e sistema nervoso central (SNC) (Appel, 1970, 1987; Greene e Appel, 1998; Grone et al., 2003; Schobesberger et al., 2005). 10 A permanência do VCC no SNC resulta na forma nervosa da cinomose canina, cães com sinais nervosos geralmente morrem. Alguns animais se recuperam, mas ficam com sequelas como mioclonia persistente (Beineke et al., 2009). A invasão do sistema nervoso central pelo vírus ocorre principalmente pela via hematogênica, células como os astrócitos, oligodendrócitos, microglia, neurônios e células do plexo coróide podem ser infectadas (Orlando et al., 2008). A infecção por ser de amplo espectro, na maioria dos casos há dificuldade no seu diagnóstico clínico sendo confundida com outras moléstias. Entretanto, diversos testes mais específicos podem ser usados para o diagnóstico da doença como o de detecção de corpúsculos de Lentz (Figura 6) em células como hemácias e leucócitos através de esfregaço sangüíneo, Histopatológico, a Soroneutralização, a Imunohistoquímica, a Reação em Cadeia de Polimerase da Transcriptase Reversa (RT-PCR), ELISA, a Imunofluorescência, entre outros (Martins et al., 2009). Figure 6. Corpúsculos de Lentz (setas) em hemácia e neutrófilo. Martins et al., 2009 1.1.4 Resposta Imune contra VCC Estudos sobre a infecção pelo VCC em cães têm demonstrado que a produção de anticorpos específicos e a resposta imune mediada por células, contra o vírus são ambas, críticas para defesa contra a infecção (Beineke et al., 2009). A resposta imune humoral contra o vírus foi investigada em animais infectados naturalmente e experimentalmente (Krakowka et al, 1980; Rima et al, 1991). A presença e a quantidade de anticorpos específicos contra o VCC têm sido correlacionadas ao nível de gravidade da doença. A ausência destes, leva a um quadro clínico agudo, muitas vezes fatal, e ao contrário, quando títulos de anti-VCC são detectados com cerca de 10 -14 dias 11 pós-infecção, é observada a eliminição viral do hospedeiro (Beineke et al., 2009). Geralmente, a imunidade protetora humoral está relacionada a produção de anticorpos contra as seguintes proteínas virais, a nucleoproteína, a hemaglutinina e a proteína de fusão (Miele e Krakowka, 1983; Rima et al., 1991). Foi demonstrado por Rima et al., 1991, que a produção de anticorpos contra a proteína hemaglutinina previne o desenvolvimento de lesões no SNC em cães infectados. Adicionalmente, os anticorpos neutralizantes e a citotoxicidade humoral mediada pelo complemento, são críticos para a eliminação de particulas virais livres (durante a infecção e as viremias), evitando assim, a disseminação viral no hospedeiro (Appel et al.,1982,1984). Apesar dos anticorpos anti-VCC reduzirem a disseminação viral, eles podem atuar na modulação da expressão dos antígenos virais, o que pode contribuir para persistência da infecção nos animais, possivelmente devido à diminuição do reconhecimento dos antígenos e inadequada citotoxicidade humoral mediada pelo complemento (Ho e Babiuk, 1979; Alldinger et al., 1993). A resposta imune celular contra o VCC também exerce um papel fundamental na proteção contra o vírus. Gerber e Marron, em 1976, demonstraram a presença de imunidade protetora celular contra a cinomose canina, mesmo na ausência de resposta imune mediada por anticorpos. Resposta imune mediada por células T específicas para o VCC foi evidenciada em alguns trabalhos, como a presença de células T citotóxicas (CD8+) (Shek et al., 1980; Appel et al., 1982) e células “Natural Killer” (NK), estas últimas, segundo Ringler e Krakowka (1985), parece atuarem de forma basal na defesa imune contra o VCC. Através da análise da função dos macrófagos durante a infecção, Appel e colaboradores (1984), revelaram que a citotoxicidade mediada por linfócitos antivirais determina o quadro clínico em animais infectados. Logo, uma resposta imune celular sólida pode resultar na eliminação viral, enquanto a falta ou uma inadequada citotoxicidade mediada por linfócitos está correlacionada à persistência do VCC no SNC (Appel et al., 1982). Com relação ao perfil de citocinas produzidas durante a infecção pelo VCC, Valli et al (2009), demonstrou que o padrão de produção de citocina em resposta a infecção não reflete o perfil Th1 ou Th2 clássica, o que se observa é um equilíbrio da produção de citocinas pró e anti-inflamátorias, onde os níveis das mesmas tendem a mudar ao longo do tempo. Svitek e von Messling (2007), analisaram a resposta de citocinas em furões infectados com VCC, eles observaram nos animais sobreviventes, uma robusta e duradoura produção de citocinas com resposta imune inicial do tipo Th1 e posteriormente uma resposta tendendo a Th2. 12 1.1.5 Vacinas contra o Vírus da Cinomose canina Não existem medicamentos antivirais efetivos para a infecção por VCC, assim faz-se necessário a utilização de medidas preventivas como as vacinas para evitar a disseminação do vírus. Em 1950, foi desenvolvida uma vacina contra o VCC, que era composta pelo vírus atenuado e sua ampla utilização ajudou a manter a doença sob controle (Appel, 1987; Appel e Summers, 1999; Greene et al., 1998). Atualmente, a maioria das vacinas comerciais disponíveis também é composta por linhagens de VCC atenuadas por meio de passagens seriadas em cultivos celulares, como em células de rim canino (linhagem Rockborn), em ovos de galinha (linhagem Onderstepoort) ou em cultura de fibroblasto de galinha (linhagem Lederle) (Haig, 1956). As vacinas vivas atenuadas estimulam tanto resposta imune celular quanto humoral (Valli et al., 2009), porém como o processo de atenuação está baseado em passagens sucessivas, torna-se um processo de tentativas e erros, e a estabilidade e homogeneidade das modificações são críticas para a segurança da vacina. Casos de reversão à virulência foram amplamente documentados em vacinas para cinomose canina (Gemma et al., 1996), além de baixa eficiência das mesmas quando na presença de proteção passiva em animais jovens (até 9 meses de idade) devido aos anticorpos transferidos ao cão via colostro, que neutralizam o vírus vacinal e impedem sua multiplicação o que gera desenvolvimento de resposta imune deficiente (Welter et al., 2000). Além de apresentar o risco de induzir infecção virulenta em espécies silvestres (Barrett et al., 1993). Apesar das vacinas compostas pelo vírus da cinomose atenuado terem sido eficientes no passado, resultando em diminuição dos casos, atualmente, a incidência de doença relacionada ao VCC na população canina em todo o mundo parece ter aumentado nas últimas décadas e muitos episódios de infecção em animais vacinados têm sido relatados (Blixenkrone-Moller et al., 1993; Kai et al., 1993; Gemma et al., 1996; Decaro et al., 2004). Neste contexto, novas tecnologias vêm sendo utilizadas no desenvolvimento de vacinas com objetivo de gerar o tipo e a duração da resposta imune apropriada a cada patógeno e para a obtenção de produtos seguros e eficazes. O avanço dos conhecimentos na área de biologia molecular e da genética dos microrganismos permitiu a geração das vacinas recombinantes através da manipulação de patógenos como: 1. Deleção de genes responsáveis pela patogenicidade, tornando a linhagem vacinal adequadamente atenuada; 2. Deleção de genes que codificam proteínas de superfície, para diferenciar animais vacinados dos naturalmente infectados (vacinas com marcadores antigênicos); 3. Construção de vetores recombinantes (vírus e/ou bactérias) que codificam genes de proteínas de outros patógenos; 4. Construção de vacinas recombinantes que codificam 13 moléculas imunomoduladoras, as quais estimulam diferentes mecanismos da resposta imunológica (Flores, 2010). Dentre as vacinas recombinantes que vêm sendo desenvolvidas para prevenir a cinomose canina, estão às vacinas de DNA e as baseadas em vetores virais vivos. As vacinas de DNA são construídas a partir da inserção de um gene que codifica o antígeno de interesse dentro de um plasmídeo contendo um forte promotor e uma sequência sinal para poliadenilação, o qual é injetado diretamente nas células musculares onde o gene é expresso. Foi observado que a vacina de DNA pode gerar resposta imune celular, incluindo de células T citotóxicas (Wolff et al., 1990). Pesquisas com vacinas de DNA para cinomose canina têm sido realizadas, utilizando o gene H (Jensen et al., 2009), genes N e H (Dahl et al., 2004; Nielsen et al., 2009), os genes H, N e F (Cherpillod et al ., 2000; Griot et al., 2004). Sixt e colaboradores (1998) imunizaram camundongos com plasmídeos expressando a proteína H e F, e obtiveram respostas do tipo Th1 e Th2. Conferindo proteção contra infecção letal a todos os animais imunizados tanto com plasmídeo expressando H quanto F, porém só no primeiro foi observada, in vitro, a presença de anticorpos neutralizantes de vírus. As vacinas de DNA demonstram bons resultados, mas um produto comercial ainda não foi permitido devido às preocupações com segurança, como, o amplo risco de integração no genoma hospedeiro, ativação de proto-oncogenes e inativação de genes supressores de tumor e da possibilidade de geração de anticorpos anti-nucleares (Sharma e Khuller 2001; Dunham, 2002). Já as vacinas vivas baseadas em vetores recombinantes são compostas por microrganismos geneticamente modificados. Estes vetores funcionam como sistemas de entrega derivados, na maioria das vezes, de patógenos e são usados para expressar genes codificadores de antígenos dos mais variados patógenos, eles podem ser bactéria ou vírus recombinantes. As vacinas vetorizadas são eficientes na indução de resposta humoral e, principalmente, de resposta imune celular, pois, são capazes de entregar antígenos heterólogos até as vias de processamento de antígenos necessárias para estimular resposta células T citotóxicas (CTL) restrita ao MHC de classe I. No caso de infecção viral, como, por VCC, são essências as respostas imunes humoral e celular para a eliminação do vírus, principalmente de CTLs que desempenham importante papel no combate a infecção (Liu, 2010). Na tabela 2 são mostrados alguns exemplos de microrganismos que vêm sendo utilizados como vetores. 14 Tabela 2. Microrganismos utilizados como vetores vacinais. Vetores Recombinantes Adenovírus, Poxvírus, Vírus associado a Adeno, Herpes Vírus, Vírus do Vírus Sarampo, Vírus da Estomatite Vesicular. Bactérias Salmonella, Shigella, Listeria, Lactococcus. Vacinas recombinantes contra VCC, utilizando poxvírus como vetor, os quais induzem a expressão das proteínas H e F já foram desenvolvidas. Elas são conhecidas como NYVAC-HF (vírus vaccinia atenuado) e ALVAC-HF (canaripoxivirus recombinante), tendo esta última, sido liberada para a imunização de cães. Estas vacinas são consideradas eficientes, mas apresentam algumas limitações na presença de anticorpos pré-existentes contra o VCC como foi demonstrada por Welter et al., (2000). O adenovírus canino tipo 2 competente em replicação expressando as proteínas H e F separadamente, também já foi utilizado como vetor vacinal para cinomose canina. Construídos por Fischer et al., (2002), seus resultados mostraram que eles foram capazes de gerar proteção contra o vírus mesmo na presença de anticorpos maternos anti-VCC e anti-HAd5. 1.2 VETORES VACINAIS 1.2.1 Adenovírus Os adenovírus foram primeiramente isolados em 1953 por Wallace Rowe e colaboradores, onde os mesmos tinham como objetivo o isolamento do “vírus causador do resfriado comum” através do cultivo de células das adenóides e amígdalas retiradas de crianças. Eles descreveram um agente que causava degeneração celular (Rowe et al, 1953), o qual foi denominado a princípio de adenoid degeneration (AD) adenoidpharyngealconjuntival (APC) e acute respiratory disease agents (ARD) e, em 1956, teve sua nomenclatura consolidada. Os membros da família Adenoviridae infectam várias espécies de vertebrados, dentre eles suínos, caninos, bovinos, humanos, peixes. Os principais sintomas associados à infecção pelo adenovírus são as doenças respiratórias, urinárias, oculares e gastrointestinais. Na maioria dos casos a infecção é branda, no entanto, em indivíduos imunocomprometidos pode torna-se fatal (Hierholzer,1992). Segundo o Comitê Internacional de Taxonomia Viral (ICTV – International Committee on Taxonomy of Viruses), a família Adenoviridae é composta pelos gêneros 15 Ichtadenovirus, Aviadenovirus, Atadenovirus, Mastadenovirus, Siadenovirus. Os adenovírus que infectam humanos estão alocados no gênero Mastadenovirus e são diferenciados em 51 sorotipos, eles estão entre os vírus mais bem caracterizados e com capacidade de infectar diferentes tipos celulares (Kojaoghlanian et al., 2003). Os adenovírus são vírus não envelopados com capsídeo icosaédrico com uma dupla fita de DNA genômico com aproximadamente 36 Kbp (Horwitz, 1996). A maioria dos sorotipos codifica mais que 30 proteínas estruturais e não estruturais, dentre as proteínas não estruturais, estão aquelas que controlam o ciclo celular humano e várias que interferem na resposta imune do hospedeiro (Figura 7) (Kojaoghlanian et al., 2003). Figure 7. Representação esquemática da estrutura do Adenovírus. Modificado de Hall et al., 2010. O capsídeo é formado pelas proteínas denominadas hexons e pentons com projeções denominadas fiber nos doze vértices (Stewart et al., 1993). Outras proteínas chamadas “menores”, IIIa, VI, VIII e IX, também estão associadas ao capsídeo (Vellinga et al., 2005). No núcleo viral há 6 proteínas estruturais, 5 estão associadas a dupla fita de DNA, são elas V, VII, Mu, IVa2 e a proteína terminal (TP) que está ligada covalentemente a região 5´ terminal que apresenta região repetitiva invertida (ITRs) . O último componente é uma protease, a qual é necessária para o processamento de algumas das proteínas estruturais para a produção de vírus infecciosos maduros (tabela 3) (Russel, 2000). A entrada do vírus na célula é mediada por ligação de alta afinidade da proteína fiber a receptores celulares, como o CAR (Coxsackie and Adenovirus Receptor) identificado como uma glicoproteína com 46 KDa utilizado pela maioria dos adenovírus, exceto pelos 16 adenovírus B (Roelvink et al.,1998; Muotri et al, 2002). O ciclo de infecção pode ser definido dentro de três fases de expressão: precoce, intermediária e tardia. A primeira compreende a entrada do vírus na célula hospedeira e a passagem do genoma viral para o núcleo, seguido pela transcrição seletiva e tradução dos genes precoces. Estes eventos iniciais modulam as funções da célula, permitindo a replicação do DNA viral e resultando na transcrição e tradução dos genes tardios (Russel, 2000). Tabela 3. Síntese das funções das proteínas adenovirais Nome Localização Função conhecida II Hexon (monômero) Estrutural III Base Penton Penetração IIIA Associado a penton Penetração IV Fibre Ligação ao receptor V Core: associado com DNA e Penton Empacotamento VI Polipeptídeo menor Hexon Estabilização/Montagem da partícula VII Core Como histona VIII Polipeptídeo menor Hexon Estabilização/Montagem da partícula IX Polipeptídeo menor Hexon Estabilização/Montagem da partícula TP Genoma - proteína terminal Replicação do genoma Mu Nucleoproteína Replicação do genoma IV2a Nucleoproteína Empacotamento do genoma Protease Associado com pentons Maturação Modificado de www.microbiologybytes.com/virology/Adenoviruses.htmL 1.2.1.2 Adenovírus como vetor vacinal Vários vírus têm sido utilizados como vetores vacinais, as características intrínsecas de cada vírus determina suas aplicações específicas e seu potencial como vetor vacinal (Liu, 2010). Muitas vacinas baseadas em vetores adenovirais recombinantes estão sendo testadas, entre elas estão às vacinas para o HIV, Malária e Tuberculose (Buchbinder et al., 2008, Sridhar et al., 2008, Magalhães et al., 2008). Os vetores adenovirais são obtidos através da deleção de genes do genoma viral para a inserção de antígenos exógenos. Os vetores de primeira geração apresentam supressão dos genes das regiões E3 e E1, sendo estes últimos essenciais para a replicação viral, logo estes vetores são de replicação deficiente. A replicação destes adenovírus recombinantes é realizada em células HEK (Human Embryonic Kidney) 293, as quais são transformadas, logo possuem a região viral E1 integrada em seu genoma. Novas construções de vetores vêm sendo desenvolvidas através de deleções gênicas adicionais, 17 como dos genes da região E4 (Ad com deleção E1 e E4) (Raper et al., 1998) e os “helperdependent adenoviruses” que são vetores totalmente desprovidos das regiões codificantes de proteínas virais, os quais necessitam de adenovírus auxiliares para sua geração (Mitani et al., 1995). As sucessivas deleções têm como objetivos a diminuição da expressão de proteínas virais diminuindo a intensidade da resposta imune do hospedeiro contra o vetor, aumento da capacidade de clonagem e redução dos riscos da geração de adenovírus competentes para replicação (Krougliak et al., 1995; Dedieu et al., 1997). Entre as vantagens do uso do adenovírus como vetor, estão: o nível significativo de expressão do produto transgênico (Dani, 2000); a incapacidade do material genético adenoviral de se integrar ao genoma do hospedeiro (Hall et al., 2010); a estabilidade; a obtenção de altos títulos virais; a fácil manipulação e purificação; a capacidade de infectar vários tipos celulares e principalmente, a capacidade de induzir resposta imune inata e adaptativa (humoral e celular) (Graham, 2000). Atualmente o AdCh63 e o AdC9 estão sendo testados como ferramentas para o desenvolvimento de vacinas (Capone et al., 2010; Reyes-Sandoval et al., 2010). O adenovírus humano sorotipo 5 (HAd5) apesar de ter sido intensamente utilizado no passado, ainda é considerado um bom candidato a vetor para a construção de vacinas. Estudos em humanos e animais têm demonstrado que o HAd5 como vetor é capaz de induzir resposta imune inata e adaptativa (celular e humoral), principalmente, resposta imune celular de células T CD8+ específica contra o produto transgênico (Shiver et al., 2002; Casimiro et al., 2003; Casimiro et al., 2004), além de serem considerados seguros e bem tolerados (Priddy et al., 2008; Buchbinder et al., 2008; Harro et al., 2009). Muitas vacinas já foram desenvolvidas utilizando como vetor o adenovírus humano tipo 5 recombinante apresentando resultados significativos, como para Malária (Plasmodium falciparum) (Shott et al., 2008; Palma et al., 2011), Botulismo (Zeng et al., 2007), vírus da encefalite do carrapato (Jacob et al., 1994), Pseudomonas aeruginosa (Worgall et al., 2005). Xiang et al., construíram em 2003, um adenovírus humano tipo 5 recombinante expressando a glicoproteína do vírus da raiva, e imunizaram, pelas vias oral e intranasal, camundongos recém nascidos de fêmeas previamente imunizadas com adenovírus recombinante. Seus resultados mostraram que os camundongos imunizados, tanto por via oral quanto intranasal, induziram produção de anticorpos e que os mesmos foram capazes de proteger os animais contra o desafio com o vírus da raiva. A eficácia do vetor adenoviral não foi prejudicada pela presença dos anticorpos maternos transferidos. 18 1.2.2 Lactococcus lactis As Bactérias Láticas (BL) são bactérias Gram-positivas, que compõe um grupo heterogêneo de microrganismos que em sua maioria convertem carboidratos em ácido lático e estão naturalmente associadas às superfícies das mucosas, principalmente no trato gastrointestinal animal. Entre as BL há espécies patogênicas, como os Streptococcus pneumoniae (causador da pneumonia) e espécies não patogênicas utilizadas na fermentação industrial tanto de produtos lácteos quanto de carnes e vegetais (Dunny & Cleary, 1991; Wood & Holzapfel; 1995). Apresentam uma variedade de gêneros importantes como Lactococcus, Enterococcus, Oenococcus, Pediococcus, Streptococcus, Leuconostoc e Lactobacillus (Makarova et al., 2006). O gênero Lactococcus inclui cinco espécies, dentre elas o L. lactis, os quais são diferenciados em subespécies L. lactis subsp. cremoris, L. lactis subsp. hordniae e L. lactis subsp. Lactis (Garde et al., 1999). São cocos homofermentativos que produzem exclusivamente acido lático L (+), os quais são encontrados geralmente associados à material vegetal (Williams et al., 1990). As Lactococcus lactis são bactérias não invasivas e apatogênicas, elas já são utilizadas há milênios na preservação e produção de produtos fermentados (Bolotin et al., 2001). Há três subespécies de L. lactis como citado acima, cujos fenótipos são diferenciados com base na utilização da arginina, temperatura de crescimento e tolerância a salinidade (Kelly et al., 2010). Diante do papel fundamental dos L. lactis na fermentação de produtos industrializados, tem-se observado um aumentado progressivo das pesquisas buscando ampliar o conhecimento da biologia molecular desta espécie (Burne et al., 2007). O sequenciamento completo do genoma de L. lactis ssp. lactis IL1403 foi realizado por Bolotin et al., (2001), onde foi observado um conteúdo genômico rico em AT com 2,365,589 pb, codificando 2.310 proteínas, incluindo 293 genes codificando proteínas pertencentes a seis profagos e 43 elementos de sequências de inserção (IS). O conteúdo de GC é de 35,4%, a região codificante representa 86%, a não codificante 12,6% e RNA estável 1,4%. Durante as duas últimas décadas muitos estudos têm sido realizados ampliando o conhecimento sobre a genética e o sistema de expressão protéica de Lactococcus lactis (Nouaille et al., 2003; Mills et al., 2006); o que tem permitido um maior controle de processos industriais que utilizam estes microrganismos, além de estimular o interesse em novas aplicações como na produção de proteínas heterólogas, na produção de proteínas de interesse dentro de alimentos e principalmente na construção de vacinas vivas, utilizandoas como vetores para entrega de antígenos ou proteínas terapêuticas ao nível de mucosa (Burne et al., 2007). 19 1.2.2.1 Lactococcus lactis como vetor vacinal Muitos atributos dos L. lactis levaram a sua utilização como vetor vacinal, entre estes, incluem a possibilidade de entrega por via oral, que é a via natural de infecção de grande número de microrganismos (Liu, 2010), assim como relativo baixo custo de produção sendo viáveis para produção em larga escala, são sensíveis a antibióticos facilitando o controle em caso de reações adversas. A princípio, as variantes atenuadas de bactérias patogênicas despertaram maior interesse para o desenvolvimento de vacinas, mas as espécies não patogênicas fornecem um nível maior de segurança e algumas apresentam atividade adjuvante inata (Nouaille et al., 2003). Muitas espécies de BL têm sido usadas como veículos de entrega de vacinas e moléculas terapêuticas ao sistema imune de mucosas, como Streptococcus gordonii, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus casei, Lactobacillus acidophilus, e Lactococcus lactis (Wells, 2011). O L. Lactis tem sido considerado um candidato promissor para a administração controlada de antígenos vacinais (Bermúdez-Humarán et al., 2004; Wells & Mercenier, 2009), devido principalmente, a sua associação longa e segura com humanos, representando uma boa alternativa ao uso dos clássicos vetores bacterianos patogênicos atenuados (Wells & Mercenier, 2009), como a Salmonella sp., Listeria monocytogenes e Shigella sonnei, evitando assim, o risco de virulência residual ou reversão de virulência . Esta bactéria, além de ser considerada um microrganismo “GRAS” (Generally Regarded As Safe), ou seja, seguro para o consumo, apresenta outras características que a torna um bom candidato tanto para vetor de expressão quanto vacinal, entre elas estão, i) não produzem endotoxinas, ii) número reduzido de proteínas são secretadas, sendo apenas uma (Usp45 – 45 KDa) detectada em gel de poliacrilamida sob condições desnaturantes (van Asseldonk et al., 1990), iii) são bactérias não invasivas, logo não colonizam evitando tolerância ao veto, iiii) a imunização com L. lactis recombinantes, por via oral, apresenta vantagens em relação à entrega sistêmica como a redução dos efeitos secundários, fácil administração, e a segurança (Neutra e Kozlowski, 2006; Levine e Dougan, 2008). Este tipo de imunização tem como objetivo a entrega de antígenos a superfície de mucosa; as quais são locais onde naturalmente ocorre a interação entre organismo e ambiente, representando assim, a principal porta de entrada de patógenos (Bermúdez-Humarán, 2009). Desta forma, estas bactérias podem gerar resposta imune de mucosas, ou seja, são capazes de induzir a produção de imunoglobulina A antígeno específica pelo tecido linfóide associado à mucosa, as quais podem neutralizar vírus ou toxinas. Assim como, no caso de entrega de moléculas terapêuticas, pode ser eficaz no tratamento de doenças associadas à 20 mucosa, resultando na diminuição do consumo de drogas, e reduzindo ou evitando possíveis efeitos das mesmas no organismo devido à administração sistêmica (Wells, 2011). Muitas pesquisas vêm sendo feitas utilizando o L. lactis expressando antígenos, como mostrado na tabela 4. Marelli (2011) e colaboradores construíram L. lactis expressando a subunidade VP8+ do capsídeo do rotavírus na forma citoplasmática e ancorada na parede celular e imunizaram, oralmente, camundongos BALB/c. Foi observado nível significativo de anticorpos IgA intestinal e sistêmico nos camundongos imunizados e que estes anticorpos foram capazes de bloquear a infecção pelo rotavírus em ensaio in vitro. Resultados similares foram obtidos por Gu e colaboradores (2009) que construíram L. lactis expressando a subunidade UreB de Helicobacter pylori , onde foi constada a presença de IgG e IgA no soros dos animais imunizados e que estes foram protegidos quando desafiados com H. pylori SS1. Tabela 4. Antígenos e proteínas terapêuticas expressadas em L. lactis Antígenos Administração(Via) Patógeno / Doença Referência Fragmento C da toxina tétano Oral, intranasal Tétano Robinson et al., 1997 Proteína Oral Helicobacter pylori Kim et al., 2006 Intranasal Streptococcus Hanniffy et al., 2007 Antígenos Bacterianos de membrana Cag12 Antígeno PspA pneumoniae Antígenos Virais E7 (HPV -16) Proteína capsídeo L1 Intranasal Oral Vírus do papiloma Bermudez-Humaran et humano al., 2005 Vírus do papiloma Cortes-Perez et al., humano 2009 Antígeno NSP4 Intramuscular Rotavírus Enouf et al., 2001 Antígeno VP7 Oral Rotavírus Li et al., 2010 MSP-1(19) Oral Plasmodium yoelii Zhang et al., 2005 CWP2 Oral Giardia lamblia Lee et al., 2009 Antígenos de Protozoários Modificado de Bahey-El-Din et al., 2010. 21 2. JUSTIFICATIVA A cinomose canina é uma doença considerada enzoótica no mundo, embora o uso da vacina tenha reduzido a ocorrência da doença a partir de 1950. No Brasil é considerada endêmica com um número significativo de mortes de cães. O vírus da cinomose canina apresenta um amplo espectro de hospedeiros sendo capaz de infectar varias espécies da ordem Carnívora. O principal reservatório do vírus são os cães; animais de todas as idades podem ser acometidos. Os filhotes e os indivíduos imunocomprometidos são os mais susceptíveis a infecção, e na maioria dos casos, não resistem à infecção. É uma doença viral aguda, subaguda ou crônica altamente contagiosa. A infecção apresenta sinais respiratórios, digestivos, oculares e/ou cutâneos, resultantes da disseminação sistêmica do vírus, o que causa grande sofrimento físico ao animal. Quando na forma neurológica da doença, causa alta taxa de mortalidade. A morbidade da doença varia de 25% a 75% e a relação letalidade/casos chega frequentemente de 50-90% dependendo da linhagem viral. Apenas a raiva tem porcentagem de letalidade em cães mais elevada que a cinomose (Swango, 1997). Apesar do uso constante de vacinas vivas atenuadas, a cinomose ainda é uma doença frequente. A vacina recombinante comercial, que utiliza como vetor um poxvírus, apresenta resultados significativos, porém, com eficácia comprometida nas doses de reforço e na presença de anticorpos maternos. Assim faz-se necessário o desenvolvimento de vacinas recombinantes, utilizando novos vetores, visando à obtenção de vacinas que resultem em eficácia e proteção de longa duração. O adenovírus humano tipo 5 é um vetor viral que apresenta características positivas para o desenvolvimento da vacina, como a relativa estabilidade, a fácil manipulação, a possibilidade de ser obtido em altos títulos, a fácil purificação, a segurança devido a deficiência na replicação viral e a imunogenicidade com alta eficiência na indução de respostas imunes mediadas por linfócitos T e B. Muitos trabalhos têm comprovado a eficiência do adenovírus humano tipo 5 em induzir resposta principalmente de linfócitos T CD8 resultando na proteção dos animais imunizados contra infecções virais, mesmo na presença de anticorpos pré-existentes contra o vetor. Assim estes vetores expressando as glicoproteínas do VCC podem ser eficientes na indução de resposta imune protetora contra o vírus. Além do vetor viral propõem-se o uso L. lactis como vetor bacteriano. A L. lactis se encontra no grupo das BL sendo amplamente utilizada na indústria de alimentos para a produção e preservação de alimentos fermentados. Esta bactéria tem sido apontada por muitos pesquisadores como um promissor meio de apresentação de antígenos, já que não 22 é patogênica nem invasiva, além de ser bem caracterizada. A administração oral destas bactérias recombinantes promove um contato efetivo do antígeno com o sistema imune associado à mucosa induzindo a secreção de IgAs, a principal classe de anticorpos que podem ser eficientemente secretados pelo epitélio, visando o combate ao patógeno durante a fase inicial da infecção. Estudos comprovam a capacidade do L. lactis para expressar antígenos virais e bacterianos e induzir resposta imune sistêmica e de mucosa. O VCC inicia a infecção principalmente pelo epitélio respiratório, logo, uma vacina com o L. lactis expressando as proteínas F e H, poderia gerar resposta imune mucosal com a secreção de IgAs anti-VCC, os quais, impediriam a entrada do vírus nas células do hospedeiro, evitando a sua disseminação. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi a construção de vacinas recombinantes contra a cinomose canina utilizando como vetores o adenovírus humano tipo 5 deficiente em replicação e o L. lactis, ambos expressando as glicoproteínas de superfície H e F do VCC. 23 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Construir vetores vacinais para cinomose canina utilizando o adenovirus humano tipo 5 e o L. lactis expressando as proteínas hemaglutinina (H) e de fusão (F) e avaliar a resposta imune humoral em modelos murinos 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1. Construir um adenovírus recombinante capaz de expressar a glicoproteína H e um outro expressando a glicoproteína F do vírus da Cinomose canina. 2. Administrar os adenovírus recombinantes, separadamente ou em combinação, em camundongos BALB/c com protocolo de imunização do tipo dose única e reforço (prime-boost). 3. Avaliar a resposta imune humoral induzida pelas glicoproteínas H e F expressas pelos adenovírus recombinantes, através de ensaio imunoenzimático (ELISA). 4. Analisar a capacidade de neutralização viral dos anticorpos produzidos, através do ensaio de neutralização viral. 5. Construir um L. lactis recombinante capaz de expressar a glicoproteína H e um outro expressando a glicoproteína F do vírus da Cinomose canina. 24 6. FLUXOGRAMA DE ATIVIDADES 25 5. MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Meios de cultura utilizados Luria-Bertani (LB) Os componentes foram pesados nas seguintes quantidades: 10 g Peptona; 5 g Extrato de levedura; 5 g Cloreto de Sódio e homogeinizados em q.s.p 1 litro de água. E posteriormente, o meio preparado foi autoclavado por 15 minutos. M17 Os componentes foram pesados nas seguintes quantidades: 5g Digerido pancreático de caseína; 5 g de Peptona de soja; 5 g de Extrato de carne; 2,5 g de Extrato de levedura; 0,5 g de Ácido ascórbico; 0,25 g de magnésio; 19 g de Betaglicerofosfato dissódico e homogeinizados em q.s.p 1 litro de água. E posteriormente, o meio preparado foi autoclavado por 15 minutos. M17 + Glicose + Sacarose (M17Gluc-Sac): Foram adicionados ao meio descrito acima, 5 g de Glicose e 171,1 g Sacarose, após os componentes foram homogeinizados e autoclavados por 15 minutos. M17 + Glicose (GM17) Meio M17 foi acrescido de Glicose 0,5% estéril. M17 + Xilose (XM17) Meio M17 foi acrescido de Xilose 1% estéril. 5.2 Construção de Adenovírus Recombinantes capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da Cinomose canina 5.2.1 Construção das ORFs sintéticas das proteínas hemaglutinina (H) e de fusão (F) do vírus da cinomose canina As sequências nucleotídicas codificadoras das proteínas H e F (sem sequências de ancoramento), foram obtidas apartir do genoma completo da linhagem vacinal Onderstepoort depositado no GenBank (http: www.ncbi.nlm.nih.gov) com número de acesso AF305419. Foram adicionados às respectivas sequências nucleotídicas, a sequência 26 nucleotídica para a expressão do sinal de secreção da hemaglutinina do vírus influenza (HASS) e sítios de restrição para as enzimas BglII e KpnI, na sequência da proteína hemaglutinina, e SpeI e KpnI, na sequência da proteína de fusão. As ORFs foram sintetizadas pela empresa Entelechon GmbH. As ORFs sintéticas foram clonadas no vetor pCR4-TOPO (Invitrogen), gerando os plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF (Figura 8). A B Figure 8. Representação esquemática da construção dos plasmídeos contendo as ORFs sintéticas, A) pCR4-TOPOHASSH; B) pCR4-TOPOHASSF 5.2.2 Transformação bacteriana 5.2.2.1 Confecção de Escherichia coli DH5α quimiocompetente Uma colônia de E. coli DH5α foi cultivada em 5 mL de meio Luria Bertani – LB (descrito na páginas 24) e incubada sob agitação (180 r.p.m, Shaker Superohom G25, Brasil) a 37oC por 16 horas. Uma alíquota de 1 mL desta cultura foi inoculada em 300 mL de LB e incubada sob as mesmas condições até a cultura atingir uma densidade óptica a 600nm (DO600nm ) entre 0.4 e 0.6. As bactérias foram centrifugadas a 2800 x g durante 10 minutos a 4°C e o sedimento homogeneizado em 150 mL de 75 mM de CaCl2, 10 mM de Tris-HCl 27 pH 8,0. As bactérias foram centrifugadas novamente e o sedimento celular foi ressuspendido em 30 mL da mesma solução, acrescida de 15% de Glicerol, sendo então distribuído em alíquotas de 100 µL e congelados a -70°C até o momento do uso. 5.2.2.2 Transformação de E. coli DH5α com os plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF A transformação dos plasmídeos (pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF) em células de E. coli DH5 α foi realizada pelo Método de Choque Térmico conforme descrito por Mandel & Higa (1970). Aproximadamente 100 ng dos plasmídeos foram utilizados para a transformação, após o processo as células foram plaqueadas em meio LB com ampicilina (100 µg/mL) para seleção das colônias de bactérias transformadas. 5.2.2.3 Extração do DNA plasmidiano pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF de E. coli. As colônias de bactérias selecionadas foram inoculadas em 5 mL de meio LB suplementado com ampicilina (100 µg/mL) e incubadas a 37º C por 16 horas com aeração. Os plasmídeos recombinantes foram extraídos através do Kit Miniprep Quiagen, conforme o manual do fabricante. 5.2.3 Digestão enzimática, purificação e ligação do DNA Para a digestão enzimática dos plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF foram realizadas reações com as enzimas BglII e KpnI, e com SpeI e KpnI, respectivamente. Os produtos das reações de clivagem foram resolvidos em gel de agarose a 1% em tampão TAE 1X (tris-acetato 0,04M; EDTA 0,001M), acrescido com brometo de etídio (1% p/v), sob voltagem de 100 V durante 1 hora. As bandas correspondentes as sequências HASSH e HASSF foram extraídas e purificadas utilizando o Kit QIAEX II da Qiagen, conforme o manual do fabricante. As ORFs H e F purificadas foram clonadas separadamente, no vetor de transferência pAdCMVLink1, o qual foi previamente clivado pelas mesmas enzimas de restrição correspondentes. A ligação de cada ORF ao pAdCMVLink1 foi realizada utilizando 1U da enzima T4 DNA Ligase (Invitrogen) em um volume final de 10 µL, a 16ºC durante 4 horas utilizando uma proporção equimolar de 3 inserto / 1 vetor, resultando nos plasmídeos recombinantes pAdCMVHASSH e pAdCMVHASSF (Figura 9). 28 A B Figure 9. Representação esquemática da construção dos vetores de transferência através da ligação dos insertos nos plasmídeos. A) pAdCMVHASSH; B) pAdCMVHASSF. 5.2.3.1 Transformação de E. coli DH5α com os plasmídeos pAdCMVHASSH e pAdCMVHASSF Aproximadamente 5 µl do produto de cada reação de ligação (pAdCMVHASSH ou pAdCMVHASSF) (item 5.2.3) foram usados para transformar 100 µl de células quimiocompetentes de E. coli DH5α de acordo com o descrito no item 5.2.2. Para a confirmação da presença das ORFs no vetor de transferência pAdCMVLink1, os DNAs plasmidiais (pAdCMVHASSH e pAdCMVHASSF) foram extraídos (conforme descrito no item 5.2.2.3) e a confirmação das clonagens foi realizada pela análise do perfil de clivagem com a enzima de restrição BglII no plasmídeo pAdCMVHASSH e com as enzimas de restrição SpeI e KpnI para o plasmídeo pAdCMVHASSF . 29 5.2.3.2 Reação de Sequenciamento As sequências nucleotídicas dos insertos HASSH e HASSF clonadas no vetor pAdCMVLink1 foram confirmadas através de sequenciamento parcial (Sanger et al., 1977) com iniciadores específicos mostrados na tabela 5, utilizando o Kit DYEnamic ET Dye Terminator (Amersham Bioscience) e o sequenciador MegaBACE. Todos os sequenciamentos foram feitos no Núcleo de Genoma e Expressão Gênica (NAGE) do ICBUFMG. Tabela 5. Iniciadores específicos utilizados para o sequenciamento dos insertos HASSH e HASSF INICIADOR SEQUÊNCIA OB29 Senso 5’ ACG GGG ATT TCC AAG TCT 3’ SV40 Antisenso 5’ CAC TGC ATT CTA GTT GTG G 3’ 5.2.4 Construção dos Adenovírus Recombinantes 5.2.4.1 Transfecção dos plasmídeos recombinantes em células HEK 293A Os plasmídeos recombinantes (pAdCMVHASSH ou pAdCMVHASSF) foram cotransfectados com o plasmídeo pJM17,o qual apresenta o genoma completo do HAd5, em células HEK 293A (Kidney Embrionary Human) para recombinação homóloga e geração dos adenovírus recombinantes (Figura 10). A transfecção foi realizada pelo Método de Cloreto de Cálcio (McGrory et al., 1988). As células HEK293A foram cultivadas em placas com 6 poços, numa densidade de 6 x 105 células por poço, em DMEM (Dulbecco Modified Eagle’s Medium) completo acrescido de 5% soro fetal bovino, e cultivadas durante 24 horas. Para cada transfecção foram utilizados 10 µg de plasmídeo pJM17 e 10 µg do vetor de transferência clonado (pAdCMVLink HASS H ou pAdCMVLink HASS F), os quais foram diluídos juntos em água deionizada estéril q.s.p. 450 µL, e posteriormente foi adicionado 50 µL de CaCl2 2,5M. Em um tubo de polipropileno foram adicionados 500 µL do tampão HeBS 2X, composto de 280 mM de NaCl, 50 mM de HEPES e 1 mM de Na2HPO4, pH 7,05-7,12. A solução de plasmídeos/CaCl2 foi adicionada gota a gota no tampão HeBS 2X, com a agitação constante da mistura. A mistura foi incubada durante 30 minutos em temperatura ambiente para formação do precipitado de cristais de fosfato de cálcio e DNA. Em seguida, a mistura foi agitada em “vortex” e acrescentada a 3 mL de DMEM completo. Cada poço contendo 6 x 105 células HEK293A foi cultivado com 3 mL do meio contendo o precipitado 30 durante 16 horas. Os poços foram lavados 2 vezes com PBS 1X para retirada do excesso de precipitado, e as células de cada poço foram tratadas com tripsina e divididas para 3 poços. Os cultivos transfectados foram mantidos a 37º C e 5% de CO2 até a formação de placas de lise na monocamada, as quais indicam a formação de vírus recombinantes. Figure 10. Representação esquemática da recombinação homóloga resultante da co-transfecção do vetor de transferência pAdCMVlink contendo o inserto de interesse e o plasmídeo pJM17, o qual contém o genoma do adenovírus humano tipo 5. No 14º dia após a transfecção foram observadas as placas de lise, as mesmas foram coletadas e utilizadas para re-infectar células HEK293A e posteriormente o sobrenadante celular contendo os vírus recombinantes AdH ou AdF foram estocados a -70 ºC. 31 5.2.4.2 Confirmação da presença das sequências nucleotídicas da ORF H no AdH e da ORF F no AdF. Para a obtenção do DNA viral, células HEK 293A foram cultivadas em placas de cultura (60 mm x 15 mm) até apresentarem confluência de 70 a 90%. Posteriormente foram infectadas com AdH e AdF, separadamente. Quando as células apresentaram efeito citopático, o sobrenadante celular foi coletado para a realização de reações de PCR (Polimerase Chain Reaction) utilizando os iniciadores específicos mostrados na tabela 6. O produto da PCR (5 µL) foi resolvido por eletroforese em gel de agarose 1 % em TAE 1X (Tris-acetato 0,04 M; EDTA 0,001 M), acrescido com brometo de etídio (1% p/v), a 70 V, visualizado em luz U.V. a 320 nm e fotografado. Tabela 6. Iniciadores específicos utilizados para confirmação da presença das ORFs de interesse no AdH e AdF INICIADOR SEQUÊNCIA H Senso 5´ GGA GAT GGT ATG GAT TAT TAT 3´ H Antisenso 5´ TTC TCA TGT AAC CGT TAA 3´ F Senso 5´ ATG CAC AAG GGA ATC CCC 3´ F Antisenso 5´ AAG GCT CAG ATA CAT TG GAA 3´ 5.2.4.3 Confirmação da expressão das proteínas H e F pelos adenovírus recombinantes, através da técnica de RT-PCR (Transcrição reversa e Reação em Cadeia da Polimerase). Para realização da RT-PCR, o RNA das células infectadas, com cada adenovírus recombinante, foi extraído através do RNeasy Mini Kit (QUIAGEN) e tratados com a enzima DNAse RQ1 (Promega) conforme especificações do fabricante. A reação de RT-PCR foi preparada com 0,5 µg de Oligo dT15 (iniciador hibridiza com a cauda poliA dos mRNAs), 2 µL dNTP 40 mM, 100 U RNAsin Ribonuclease Inhibitor (Promega), 200 U enzima M-MLV Antisenso Transcription (Promega), 5 µL do tampão 5X de reação da enzima, 2 µg RNA e H2O ultra pura para um volume final de 25 µL. As reações da RT foram feitas a 37ºC por 5 minutos; 42ºC por 60 minutos; e 70ºC por 20 minutos em termociclador. Após esse ciclo foram feitas as reações de PCR utilizando os iniciadores descritos na Tabela 6. O produto de PCR (5 µL) foi resolvido por eletroforese em gel de agarose 1% em TAE 1X (Tris-acetato 0,04 M; EDTA 0,001 M), acrescido com brometo de etídio (1% p/v), a 70 V, visualizado em luz U.V. a 320 nm e fotografado. 32 5.2.4.4 Western Blotting Para verificar a indução da expressão das proteínas H e F pelos adenovírus recombinantes construídos, foram realizados ensaios de imunodetecção. Células HEK293A foram cultivadas e infectadas separadamente com os adenovírus recombinantes. Após 48 horas de infecção as proteínas totais das células HEK293A infectadas com os adenovírus AdH ou AdF foram extraídas em tampão de amostra (6 mL Tris-HCl 0,5 M; 4,8 mL glicerol; 9,6 mL SDS 10%; 2,4 mL β-mercaptoetanol; 1,2 mL azul de bromofenol 0,05% (v/v); 24 mL H2O destilada), desnaturadas a 95 ºC por 5 minutos e separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida 8%. As proteínas foram transferidas para membranas de nitrocelulose (Hybond-C ExtraAmershan Biosciences). As membranas foram incubadas com tampão de bloqueio (PBS 1X, 5% leite em pó desnatado e 0,1% Tween 20), “overnight” a 4º C. Após esse período, as membranas foram incubadas com o anticorpo primário na concentração 1:5.000 em tampão de bloqueio por 2 horas sob agitação, à temperatura ambiente. O anticorpo primário foi obtido através do soro coletado de camundongos BALB/c imunizados com a vacina comercial NOBIVAC PUPPY DP (composta pelos vírus atenuados da cinomose canina e da parvovirose). Após 3 lavagens com tampão de bloqueio, as membranas foram sensibilizadas com o anticorpo secundário Rabbit anti-Mouse IgG (H+L) na concentração 1:10.000 em tampão de bloqueio por 1 hora sob agitação, à temperatura ambiente. A membrana foi lavada três vezes com Tampão de Bloqueio, seguida de três lavagens com uma solução PBS 1X contendo 0,1% Tween 20 e outras três vezes com PBS 1X. A revelação foi realizada utilizando o kit ECL-Plus (Amershan Biosciences) e filme Kodak, segundo o protocolo do fabricante. 5.2.4.5 Purificação e titulação dos adenovírus recombinantes Para a purificação dos adenovírus recombinantes, 15 garrafas de cultura celular de 150 cm2, contendo células HEK293A com cerca de 90% de confluência, foram infectadas com AdH e AdF, separadamente. Após 48 horas, foi observado o efeito citopático causado pela infecção viral e então, as células foram centrifugadas a 724 x g, por 5 min a 4 ºC, e o “pellet” celular e sobrenadante foram submetidos ao processo de purificação utilizando o Kit Vivaspin (VivaScience), de acordo com o protocolo sugerido pelo fabricante. Após a purificação os adenovírus foram aliquotados em volume de 250 µL e armazenados a -70ºC. Para as titulações, foram feitas diluições seriadas dos vírus recombinantes em meio DMEM. Cerca de 450 µL de cada uma das diluições (107 a 1011) 33 foram adicionadas aos poços de placas de cultura com células HEK293A confluentes, em duplicata. As placas foram incubadas por 7 a 9 dias a 37ºC e 5% CO2. Após esse período foi observada a formação de placas de lise nas diluições e essas placas foram contadas. 5.2.4.6 Imunizações de camundongos com os adenovírus recombinantes Para a imunização foram utilizados camundongos da linhagem BALB/c fêmeas com 6 a 8 semanas de idade, obtidos do Centro de Bioterismo (CEBIO) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Os animais foram manipulados conforme recomendações do “Guia de Manutenção e Uso de Animais de Laboratório” e de acordo com o Comitê de Ética em Experimentação Animal (CETEA) da UFMG que previamente autorizou os testes (protocolo número 140/2005). Grupos contendo 5 camundongos foram imunizados com duas doses de AdH (grupo 1), AdF (grupo 2), AdH/AdF (grupo 3), e como controle foi utilizado um grupo não imunizado. A administração das vacinas foi realizada por via subcutânea na base da cauda, seguindo o protocolo de imunização conhecido como “dose-reforço” baseada na inoculação múltipla dos vetores de imunização. Antes da primeira dose da vacina foi retirado o sangue dos animais pelo plexo retrorbital para obtenção do soro pré-imune. Posteriormente, foi realizada a primeira imunização com 10 µL dos adenovírus recombinantes com 109 UFP/mL diluídos em PBS1X e 1% de soro de animal não imunizado. Após 28 dias, foi retirado sangue dos animais e foi inoculada a dose reforço da vacina. Seguidos 10 dias da dose reforço, outra coleta de soro foi realizada. Os soros coletados foram utilizados para análise da resposta humoral induzida pelos adenovírus recombinantes. 5.2.4.7 Análise da Resposta Imune Humoral 5.2.4.7.1 ELISA (Enzyme-Linked ImmunoSorbent Assay) Para os ensaios de ELISA, placas de 96 poços foram sensibilizadas com 0,5 µg/poço de vírus VCC linhagem Lederle concentrado (gentilmente cedido por Gissandra F. Braz do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva - UFMG). Os soros dos camundongos foram diluídos (1:25 a 1:25.600) e utilizados como anticorpo primário. Como anticorpo secundário foi utilizado anti-mouse IgG conjugado à peroxidase (Zymed). Após incubação foi revelado com Tetrametilbenzidina (Sinapse) e a leitura realizada a 450 nm. Todos os experimentos foram feitos em duplicata. O valor do cut-off foi obtido pela fórmula: Cut-off = Média das absorbâncias do controle negativo X 3. (Desvios padrão do controle negativo) 34 5.2.4.7.2 Ensaio de Neutralização Viral Para o ensaio de neutralização, os soros coletados dos animais imunizados com os adenovírus recombinantes foram inicialmente aquecidos a 56ºC por 30 minutos e diluídos (1:2 a 1: 32) em meio DMEM (Dulbecco Eagle´s Minimum Essential Medium), sem soro. As diluições dos soros foram misturadas a igual volume de inóculo de VCC contendo 3,3 TCID50 (Dose Infectante de Cultura de Tecido) em cada poço de uma placa de 96 poços. A mistura foi incubada a 37ºC, a 5% de CO2 por 180 minutos para a neutralização. Posteriormente, foi adicionado a cada poço cerca de 16.000 células VERO. A placa foi mantida a 37ºC, 5% de CO2 por 3 dias, quando foi, então, observado o efeito citopático nas células. O ensaio foi realizado em triplicata. 5.3 Construção de L. lactis recombinantes capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da cinomose canina. 5.3.1 Obtenção das ORFs de interesse. Para a obtenção das ORFs H e F através dos plasmídeos pCR4-TOPOHASSH e PCR-TOPOHASSF, foram construídos iniciadores específicos (mostrados na tabela 7) para amplificar as sequências nucleotídicas por reações de PCR, tornando possível a retirada do peptídeo sinal HASS e a inserção de sítios de restrição para as enzimas de restrição NsiI e ClaI. Tabela 7. Iniciadores específicos utilizados para amplificar as ORFs H e F para construção de L. lactis INICIADOR SEQUÊNCIA LacH Senso 5´ CCA TGC ATC AAT GCT CCC CTA CCA AGA C 3´ LacH Antisenso 5´ ATA TCG ATT TAA CGG TTA CAT GAG AAT CT 3´ LacF Senso 5´ CCA TGC ATC AAT GCA CAA GGG AAT CCC 3´ LacF Antisenso 5´ CCA TCG ATT TAC TAG TTA AAG GAA GAG CG 3´ Os produtos das reações de PCR foram clivados com as enzimas de restrição NsiI e ClaI e purificados utilizando o Kit QIAEX II da Qiagen, seguindo especificações do fabricante. Posteriormente, os mesmos foram ligados, separadamente, ao plasmídeo de expressão pXYSEC:Nuc (gentilmente cedido pelo Prof. Anderson Miyoshi do Departamento de Biologia Geral - UFMG), previamente linearizado com as mesmas enzimas de restrição, 35 utilizando-se a enzima T4 DNA ligase (Promega) de acordo com as recomendações do fabricante. O sistema de expressão gênica e endereçamento protéico para L. lactis utilizado neste trabalho foi o denominado XIES (Xylose-Inducible Expression System), desenvolvido por Miyoshi et al., (2004). Este sistema consta do promotor PxyIT, peptídeo sinal (PS) e sítio de ligação do ribossomo (RBS) da proteína Usp45 de L. lactis e o gene repórter nuc de Staphylococcus aureus. Figure 11. Representação esquemática da clonagem das ORFs F e H no plasmídeo de expressão pXYSEC:Nuc. A) pXYSEC:F; B) pXYSEC:H 5.3.2 Transformação bacteriana 5.3.2.1 Confecção de células eletrocompetentes de L. lactis NCDO2118 Um primeiro inóculo foi realizado com uma única colônia de L. lactis NCDO2118 (gentilmente cedido pelo Prof. Anderson Miyoshi) em meio M17Glu-Sac (vide item 5.1). Este inóculo foi mantido a 30°C, “overnight” e sem agitação. Um segundo inóculo foi realizado 36 com 100 µL dessa primeira cultura, que foi novamente inoculada em meio M17Glu-Sac, a qual foi incubada a 30°C, sem agitação, por 8-10 horas. Uma alíquota de 1 µL, desta última cultura foi então inoculada em 150 mL de meio M17Glu-Sac contendo glicina (1%). Uma vez que a cultura, alcançou uma densidade óptica (DO600nm) em torno de 0.4-0.6, esta foi centrifugada a 8.000 x g durante 15 minutos a 4°C. O precipitado celular foi então ressuspenso em 150 mL de uma solução gelada constituída de sacarose 0,5 M e glicerol 10%. Esse processo de centrifugação e lavagem foi repetido mais três vezes e, após a última lavagem, o “pellet” foi ressuspenso em 1 mL de uma solução constituída por PEG3000 30% e glicerol 10%. Alíquotas de 100 µL dessas células foram estocadas a -70º C até o momento de uso. 5.3.2.2 Transformação de L. lactis NCDO2118 com os plasmídeos pXYSEC:H e pXYSEC:F Os produtos das reações de ligação dos plasmídeos pXYSEC:H e pXYSEC:F foram usados para transformar as células de L. lactis NCDO2118. Alíquotas com células eletrocompetentes, congelados à -70°C foram colocadas no gelo durante 5 minutos. Em seguida, adicionou-se 100 ng dos plasmídeos, separadamente, as células, as quais foram transferidas para cubetas de eletroporação, previamente resfriadas. Ambas as amostras foram submetidas a um pulso de 2,5 KVolts, capacitância 25 µFD e resistência de 200 OHMS, utilizando um eletroporador CelljecTUno (Thermo Electro Corporation). Imediatamente após o pulso, foi adicionado 1 mL de meio M17 Glu-Sac para ressuspender as células e estas foram incubadas à 30º C sem agitação por 4 horas. A seleção dos transformantes foi realizada plaqueando-se 100 µL da cultura de células eletroporadas, com cada um dos plasmídeos, em placas de Petri contendo meio M17 Glu-Sac ágar suplementado com 10 µg/mL de cloranfenicol. As culturas foram mantidas a 30º C por aproximadamente 30 horas, e posteriormente, os clones recombinantes foram coletados. 5.3.2.3 Confirmação dos clones de L. lactis contendo os plasmídeos pXYSEC:H e pXYSEC:F As colônias de L. lactis transformadas com os plasmídeos pXYSEC:H e pXYSEC:F coletadas foram inoculadas em 5 mL de meio M17 Glu-Sac suplementado com 10 µg/mL de cloranfenicol. As culturas foram incubadas a 30°C por aproximadamente 18 horas. Foi feita uma cultura estoque em glicerol (500 µL da cultura + 500 µL de glicerol 80%) de cada clone e estes foram armazenados a 70º C. O protocolo utilizado para a extração dos plasmídeos 37 foi o mesmo utilizado no item 5.2.2.3 com uma única modificação: após a primeira centrifugação, o precipitado celular foi ressuspenso em 100 µL de uma solução de TrisEDTA-Lisozima (10 mM Tris-HCl; 10 mM EDTA; 300 mM NaCl; 10 mg/mL Lisozima) e incubado por meia hora. Posteriormente, o DNA plasmidiano foi utilizado para a realização de reações de PCR com os iniciadores específicos mostrados na tabela 7. 5.3.2.4 Reação de Sequenciamento Para a confirmação da presença dos insertos nos plasmídeos pXYSEC:H e pXYSEC:F, foi realizado o sequenciamento (Sanger et al., 1977) parcial do DNA plasmidiano, utilizando-se o Kit DYEnamic ET Dye Terminator (Amersham Bioscience) e o sequenciador MegaBACE. Todos os seqüenciamentos foram feitos no Núcleo de Genoma e Expressão Gênica (NAGE) do ICB-UFMG, utilizando os iniciadores específicos mostrados na tabela 7. 5.3.2.5 Confirmação da expressão das proteínas H e F pelos L. lactis recombinantes 5.3.2.5.1 Indução da expressão gênica das proteínas H e F Uma alíquota de 10 µL da cultura estoque dos clones confirmados de L. lactis NCDO2118 recombinantes (pXYSEC:H ou pXYSEC:F) foi inoculada em meio GM17 (vide item 5.1) suplementado com 10 µg/mL de cloranfenicol. Os inóculos foram mantidos “overnight” a 30º C, sem agitação. Essas culturas foram então diluídas (1:10.000) em meio XM17 (vide item 5.1) ou GM17 (controle negativo da indução) suplementados com 10 µg/mL de cloranfenicol. Uma vez que a cultura alcançou uma densidade óptica (DO600nm) em torno de 1, alíquotas da fração celular e do sobrenadante (4 mL) de cada cultura foram coletadas e submetidas à extração protéica. 5.3.2.5.2 Extração das frações protéicas, citoplasmática e secretada dos L. lactis recombinantes. Alíquotas de 4 mL das culturas (induzidas e não induzidas) foram centrifugadas a 8.000 x g, 4º C por 15 minutos. Em seguida, o sobrenadante foi separado do precipitado celular, e tratados separadamente. O sobrenadante foi filtrado (filtro 0,22 µm) e então adicionou-se 100 µL de ácido tricloroacético (TCA) 100% gelado; ditiotreitol (DTT) 10mM e foi incubado por uma hora no 38 gelo. Após incubação, o mesmo foi centrifugado a 8.000 x g, 4º C, por 20 minutos. O precipitado protéico foi então ressuspenso em 60 µL de NaOH 50 mM. O “pellet” celular foi ressuspenso em 100 µL de solução de TE-LYS (vide item 5.3.2.3) acrescido de DTT 10 mM. Em seguida, foi incubado a 37ºC por 30 minutos e, posteriormente, adicionados 50 µL de dodecil sulfato de sódio (SDS) 20%. Ao final da extração, as amostras foram ressuspensas em tampão DTT-LB 2X (75 mM tris-HCl pH 6,8; 3% SDS; 15% glicerol; 0,15% azul de bromofenol; 200 mM DTT) na proporção de 1:1, aquecidas a 100°C por 5 minutos e estocadas a -20º C. 5.3.2.5.3 Western Blotting O ensaio de imunodetecção foi utilizado para a confirmação da expressão das proteínas H e F. As frações protéicas extraídas dos clones de L. lactis recombinantes induzidos e não induzidos foram resolvidos por eletroforese em gel de poliacrilamida 8%. As proteínas foram transferidas para membranas de nitrocelulose (Hybond-C ExtraAmershan Biosciences). Estas membranas foram incubadas com tampão de bloqueio (PBS 1X, 5% leite em pó desnatado e 0,1% Tween20), “overnight” a 4º C. Após esse período as membranas foram incubadas com o anticorpo primário (soro de coelho hiperimune anti-VCC Lederle, gentilmente cedido por Gissandra F. Braz do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva - UFMG) na concentração 1: 20.000 em tampão de bloqueio por 1 hora sob agitação à temperatura ambiente. Após 3 lavagens com tampão de bloqueio, as membrana foram sensibilizadas com o anticorpo secundário Goat anti-Rabbit IgG (H+L) na concentração 1:10.000 em tampão de bloqueio por 1 hora sob agitação à temperatura ambiente. A membrana foi lavada três vezes com tampão de bloqueio, seguida de três lavagens com uma solução PBS 1X contendo 0,1% Tween 20 e outras três vezes com PBS 1X. A revelação foi realizada utilizando o kit ECL-Plus (Amershan Biosciences) e filme Kodak, segundo o protocolo do fabricante. 39 6. RESULTADOS 6.1 Construção dos Adenovírus Recombinantes capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da Cinomose canina. 6.1.1 Obtenção das ORFs H e F As sequências nucleotídicas das ORFs H e F do vírus da cinomose canina linhagem Onderstepoort foram obtidas no Genbank. A estas sequências foram acrescidos a sequência de nucleotídeos do sinal de secreção da hemaglutinina do vírus influenza (HASS) e sítios de restrição de enzimas, os quais são necessários para as etapas posteriores de clonagem (Figura 12). As ORFs H e F adicionadas do sinal de secreção HASS foram denominadas de HASSH e HASSF, respectivamente. Figure 12. Sequências das proteínas F e H adicionadas dos sítios de restrição e o Peptídeo sinal HASS. A) Sequência da proteína F com sítios de restrição para as enzimas KpnI e SpeI; B) Sequência da proteína H com sítios de restrição para as enzimas BglII e KpnI. Destacado em azul está a localização do peptídeo sinal HASS. As sequências nucleotídicas HASSH (1921pb) e HASSF (1908pb) foram sintetizadas pela empresa Entelechon GmbH e clonadas no plasmídeo pCR4-TOPO (Invitrogen), separadamente. Posteriormente, estas sequências foram retiradas destes plasmídeos por meio de enzimas de restrição para clonagem no plasmídeo de transferência pAdCMVlink 1 (Figura 13). 40 Figure 13. Resolução eletroforética da clivagem dos plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF. Eletroforese em gel de agarose 1% corado com brometo de etídio. 1-Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen), 2 -produto da digestão do pCR4-TOPO HASSH (1921pb) e 3-produto da digestão do pCR4-TOPO HASSF (1908 pb). As bandas marcadas são correspondentes aos insertos HASSH e HASSF, respectivamente. 6.1.2 Construção dos Adenovírus Recombinantes Para a construção dos adenovírus recombinantes os insertos HASSH e HASSF obtidos por clivagem dos plasmídeos pCR4-TOPO HASSH e pCR4-TOPO HASSF foram ligados nos plasmídeos pAdCMVLink1 previamente linearizados pelas mesmas enzimas de restrição, resultando nos vetores pAdCMVHASSH e pAdCMVHASSF. As clonagens foram confirmadas pela clivagem dos plasmídeos e através de sequenciamento parcial. Na figura 14 pode-se observar que quando clivado com a enzima de restrição BglII, o plasmídeo pAdCMVHASSH apresenta-se como uma banda de aproximadamente 9.000 pb correspondente ao pAdCMVLink1 (6.700 pb) mais a sequência nucleotídica HASSH (1.922 pb). Já o plasmídeo pAdCMVHASSF foi clivado com as enzimas de restrição SpeI e KpnI, evidenciando a presença da sequência nucleotídica HASSF (1.908 pb) no vetor de transferência pAdCMVLink-1 (6.700pb). 41 A B Figure 14. Resolução eletroforética da clivagem dos plasmídeos pAdCMVlinkHASSH e pAdCMVlinkHASSF. Eletroforese em gel de agarose 1% corado com brometo de etídio. A) Clivagem do plasmídeo pAdCMVlinkHASSH 1-Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen), 2pAdCMVlink1 vazio linearizado (6700pb), 3-pAdCMVlinkHASSH (9000pb) clivado com a enzima BglII, B) Clivagem do plasmídeo pAdCMVlinkHASSF com as enzimas Spe I e Kpn I 1- Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen), 2-pAdCMVlink vazio (6700pb) e HASSF (2000pb). As bandas marcadas são correspondentes ao pAdCMVHASSH linearizado e o inserto HASSF, respectivamente. Para a geração dos adenovírus humanos tipo 5 recombinantes (HAd5) os plasmídeos pAdCMVHASSH ou pAdCMVHASSF foram co-transfectados com o plasmídeo pJM17 em células permissivas HEK 293A pelo Método Cloreto de cálcio desenvolvido por McGrory et al., (1988). Após 14 dias da transfecção, foi possível observar placas de lise, as quais indicam a formação dos adenovírus recombinantes contendo os insertos de interesse, estes foram denominados AdH e AdF. A confirmação da presença dos insertos nos adenovírus foi feita por PCR utilizando iniciadores específicos mostrados na tabela 6. Na figura 15 é possível observar uma banda de 525 pb correspondente a parte da sequência de nucleotídeos da 42 ORF H amplificada do sobrenadante de células HEK293A infectadas com AdH e uma banda de 418 pb referente a parte da ORF F em células infectadas com AdF Figure 15. Resolução eletroforética da reação de PCR do sobrenadante de células HEK293A infectadas com os adenovírus recombinantes. 1-Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen). 2-Fragmento da sequência nucleotídica da proteína F amplificado (418pb) do sobrenadante de células infectadas com AdF. 3-Controle positivo (pAdCMV-LinkHASSF). 4Fragmento da sequência nucleotídica da proteína H amplificado (525pb) do sobrenadante de células infectadas com AdH. 5- Controle positivo (pAdCMV-LinkHASSH). 6.1.3 Análise funcional dos adenovírus recombinantes construídos. A fim de se verificar a transcrição das ORFs heterólogas pelos adenovírus recombinantes obtidos, foi realizada a técnica RT-PCR. Para isto, o RNA viral, de células HEK293A infectadas com os mesmos, foi convertido em cDNA, o qual foi utilizado como molde para reações de PCR com os iniciadores específicos mostrados na tabela 6. Na figura 16 é possível observar a amplificação de fragmentos das sequências nucleotídicas relativas proteína H (522 pb) e a proteína F (418 pb). 43 Figure 16. Resolução eletroforética da RT-PCR do sobrenadante de células HEK293A infectadas com AdF e AdH. A) Amplificação apartir do cDNA de células infectadas com AdF; 1- Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen), 2-3 Fragmento amplificado da sequência nucleotídica da proteína F (418pb), 4- Controle positivo (pAdCMV-LinkHASSF), 5-Controle Negativo. B) Amplificação apartir do cDNA de células infectadas com AdH; 1- Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen), 2- Fragmento amplificado da sequência nucleotídica da proteína H (525pb), 3- Controle positivo (pAdCMV-LinkHASSH). O reconhecimento por anticorpos anti-VCC das proteínas H e F expressas pela maquinaria das células HEK293A infectadas pelos adenovírus AdH e AdF foi detectado por Western Blotting. Anticorpos foram coletados de camundongos imunizados com vacina comercial (NOBIVAC-Puppy Dp - Intervet). Uma banda de aproximadamente 70 KDa correspondente a proteína F (precursor F0) foi observada no sobrenadante de células HEK293A infectadas com AdF, já no sobrenadante de células HEK293A infectadas com AdH foi detectada uma banda de 60 KDa referente a proteína H, as quais não são observadas nos controles (sobrenadantes de células HEK293A não infectadas e células HEK293A infectadas com AdCMV) (figura 17). 44 Figure 17. Ensaio de Imunodetecção para confirmar a expressão das proteínas H e F pelos AdH e AdF em células HEK293A, respectivamente. A) 1- Proteína F expressa por células HEK293A infectadas com AdF reconhecidas por anticorpos anti-VCC, 2- Células HEK293A não infectadas (controle), 3- Células HEK293A infectadas com AdCMV (controle). B) 1- Proteína H expressa por células HEK293A infectadas com AdH reconhecidas por anticorpos anti-VCC , 2- Células HEK293A não infectadas (controle), 3- Células HEK293A infectadas com AdCMV (controle). 6.1.4 Análise da Resposta Imune Humoral 6.1.4.1 ELISA Um dos testes utilizados para avaliar se as imunizações dos camundongos com os adenovírus recombinantes, expressando as proteínas F e H, são capazes de gerar resposta imune humoral contra o vírus VCC foi o teste de ELISA. A imunização dos animais com os adenovírus recombinantes, expressando as proteínas isoladamente ou a mistura dos dois vetores, foram capazes de induzir resposta de anticorpos IgG anti-VCC. No entanto, na primeira dose administrada não foi detectada produção significativa de IgG anti-VCC quando comparado ao controle negativo, mas após a segunda imunização observou-se um aumento do título de anticorpos. Dentre os grupos de imunização o que apresentou maior título de IgG total após a segunda dose foi o que recebeu AdF (25.600) seguido pelos vacinados com AdH (12.800) e com a mistura dos adenovírus (6.400), como evidenciado na figura 18. 45 A B C Figure 18. Resposta imune humoral de camundongos BALB/c imunizados com adenovírus recombinantes. A) Titulação dos anticorpos do soro de animais que receberam 2 doses de AdH; B) Titulação dos anticorpos do soro de animais que receberam 2 doses de AdF; C) Titulação dos anticorpos do soro de animais que receberam 2 doses de AdH/AdF. Como controle foi utilizado soro de animais não imunizados (NI), a resposta imune humoral foi avaliada 10 dias após a segunda imunização utilizando como antígeno o vírus VCC da linhagem vacinal Lederle concentrado. Cut-off 0.043855 6.1.4.2 Ensaio de Neutralização Viral A capacidade de neutralização, in vitro, do vírus VCC pelos anticorpos produzidos através das imunizações foi comprovada pela técnica de Neutralização Viral. A partir deste ensaio foi constatado que todos os grupos imunizados com os adenovírus recombinantes apresentaram anticorpos neutralizantes contra o vírus VCC, quando comparados ao grupo controle composto de animais imunizados com AdLacz. Na figura 19, é possível observar a maior atividade de anticorpos neutralizantes no soro de animais imunizados com AdH e com AdH/AdF. Uma vez que as células VERO mostraram-se com menor efeito citopático, ou seja, formação de sincícios. 46 A B C D Figure 19. Ensaio de Neutralização Viral para confirmação da presença de anticorpos neutralizantes específicos contra o VCC no soro de camundongos imunizados com adenovírus recombinantes codificando as proteínas H e F. A) Soro do grupo imunizado com AdF; B) Soro do grupo imunizado com AdH; C) Soro do grupo imunizado com AdH/AdF; D) Soro do grupo controle imunizado com AdLacZ. Ensaio mostrado em duplicata para melhor visualização, e o resultado foi obtido na diluição 1:4 dos soros no terceiro dia pós-infecção. 47 6.2 Construção de Lactococcus lactis capazes de expressar as proteínas H e F do vírus da Cinomose canina 6.2.1 Obtenção das ORFs de interesse As sequências de nucleotídeos referentes às ORFs H e F para a construção dos L. lactis recombinantes foram obtidas por PCR dos plasmídeos sintéticos pCR4-TOPOHASSH e pCR4-TOPOHASSF. Para tal foram construídos iniciadores específicos (Tabela 7) para que as sequências nucleotídicas de interesse fossem obtidas sem peptídeo sinal HASS e para inserção de sítios de enzimas de restrição requeridos para as etapas posteriores da clonagem. A figura 20 mostra a amplificação das ORFs H (1840 pb) e F (1840 pb). Figure 20. Resolução eletroforética da reação de PCR do pCR4-TOPOHASSF e pCR4TOPOHASSFH com iniciadores específicos mostrados na tabela 7. 1-Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen). 2- sequência da ORF da proteína F amplificada (1840 pb). 3sequência da ORF da proteína H amplificada (1840 pb). Após a amplificação das ORFs H e F e clivagem das mesmas e do plasmídeo pXYSEC:Nuc pelas enzimas de restrição específicas, foram realizadas reações de ligação entre pXYSEC e ORF H, e pXYSEC e ORF F utilizando-se a enzima T4 DNA ligase (Promega). Aproximadamente 5 µL dos produtos das reações de ligação foi aplicada em gel de agarose 1%, onde foi confirmada a ligação das ORFs de interesse nos plasmídeos pXYSEC (figura 21). 48 Figure 21. Resolução eletroforética da reação de ligação entre o plasmídeo pXYSEC e ORF H e plasmídeo pXYSEC e ORF F. 1-Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen). 2-Banda representando o plasmídeo pXYSEC:H. 3- Banda representando o plasmídeo pXYSEC:F. 6.2.2 Construção dos L. lactis recombinantes Os plasmídeos pXYSEC:F e pXYSEC:H foram utilizados para a transformação de L. lactis NCDO2118 por eletroporação. A confirmação dos clones positivos foi realizada por sequenciamento parcial e PCR utilizando os iniciadores mostrados na tabela 7, obtendo assim duas bandas de 1840 pb uma correspondente à ORF H e a outra à ORF F (figura 22). Figure 22. Resolução eletroforética da reação de PCR do DNA plasmidiano extraído dos clones de L. lactis recombinantes. 1-Marcador de peso molecular 1Kb DNA Ladder (Invitrogen). 2- Sequência da ORF F (1840 pb) amplificada do DNA plasmidiano do L. lactis; 3- Controle positivo (pCR4TOPOHASSH). 4-Controle negativo. 5- sequência da ORF H (1840 pb) amplificada do DNA plasmidiano do L. lactis; 6- Controle positivo (pCR4-TOPOHASSF). 7- Controle negativo. 49 6.2.3 Análise funcional das linhagens recombinantes de L. lactis A confirmação da correta expressão e endereçamento das proteínas H e F pelos L. lactis recombinantes, induzidos por xilose, foi realizada por Western Blotting. Para o reconhecimento das proteínas F e H foi utilizado anticorpos anti-VCC provenientes de soro hiperimune de coelho. Na figura 23 A, observa-se uma banda de 69 KDa correspondente a proteína H e na figura 23 B a proteína precursora F0 com uma banda de 70 KDa, ambas proteínas foram detectadas no sobrenadante das células induzidas. Figure 23. Ensaio de Imunodetecção a partir das proteínas extraídas do sobrenadante e da fração celular dos L. lactis recombinantes, induzidos e não induzidos. A) L. lactis codificando a proteína H; 1 e 2 - proteínas da fração celular e do sobrenadante proteínas da fração celular e do sobrenadante de bactérias induzidas, respectivamente; 3 e 4- proteínas da fração celular e do sobrenadante de bactérias não induzidas, respectivamente; B) L. lactis codificando a proteína F; 1 e 2 - proteínas da fração celular e do sobrenadante de bactérias induzidas, respectivamente; 3 e 4proteínas da fração celular e do sobrenadante de bactérias não induzidas, respectivamente. Bandas marcadas são correspondentes as proteínas H e F, respectivamente. 50 7. DISCUSSÃO As proteínas H e F foram escolhidas como antígeno vacinal devido a suas características imunogênicas comprovadas por Welter et al., (1998) com canaripoxívirus recombinantes e por Cherpillod et al., (2000), Sixt et al., (2008), Jensen et al., (2009) e Nielsen et al., (2009) com vacinas de DNA. A fim de se potencializar e direcionar a resposta imune gerada, cada uma das sequências nucleotídicas que codificam estas duas proteínas, foi inserida, no genoma do HAd5 recombinante e em plasmídeo para expressão em L. lactis. Para otimizar a expressão e a apresentação ao sistema imune das proteínas codificadas pelos adenovírus recombinantes, foi adicionado a suas sequências nucleotídicas o sinal de secreção HASS, o qual já foi utilizado em outros trabalhos comprovando sua eficácia no aumento da expressão e secreção de proteínas recombinantes (Hussy et al., 1996). O adenovírus humano tipo 5 tem sido amplamente utilizado como vetor para o desenvolvimento de muitas vacinas para humanos e animais contra as mais variadas doenças, como Malária (Bruna-Romero et al., 2001; Shott et al ., 2008; Palma et al., 2011), Ebola (Ledgerwood et al., 2010), Febre Aftosa (Moraes et al., 2002), entre outros. Um dos desafios apontados na utilização de vetores adenovirais para o desenvolvimento de vacinas é a presença de imunidade pré-existente contra o vetor. No entanto, muitos estudos têm demonstrado a capacidade dos mesmos em gerar imunidade protetora contra o antígeno mesmo na presença de anticorpos contra o vetor, o que foi demonstrado por Lees et al., (2002) e Xiang et al., (2003) utilizando adenovírus recombinantes expressando a glicoproteína G do vírus da raiva para imunizar animais recém nascidos. Esta característica do adenovírus pode representar uma vantagem para o desenvolvimento de uma vacina para a cinomose canina, já que os filhotes são os mais acometidos pela doença e as vacinas recombinantes disponíveis contra o VCC, NYVAC-HF (vírus vaccinia atenuado) e ALVAC-HF (canaripoxivirus recombinante) não são capazes de proteger os animais na presença de anticorpos contra o vetor (Welter et al., 2000). Segundo, Andrade et al., (2007), o adenovírus humano tipo 5 apresenta algumas características que pode torná-lo mais imunogênicos que os poxvírus, como a presença de proteínas com atividade adjuvante no vírion (Molinier-Frenkel et al., 2003), a habilidade de infectar células apresentadoras de antígenos sem causar danos a funcionalidade das mesmas, a capacidade de infectar vários tipos celulares (Brown et al., 2003), e de expressar altos níveis de transgene por um curto período de tempo, evitando o desenvolvimento de tolerância. Além destas características, o HAd5 pode superar a relativa imaturidade do sistema imune de neonatos, devido a sua habilidade de infectar células dendríticas imaturas 51 dirigindo a sua maturação em células apresentadoras de antígenos (Zhong et al., 1999; Varnavski et al., 2003). Já foi demonstrado por Fischer et al., (2002) que o adenovírus pode ser uma ferramenta eficaz contra o VCC. Os autores construíram adenovírus caninos tipo 2 (CAd2) competentes em replicação, expressando as proteína H e F e os inocularam em cães recém nascidos de mães previamente imunizadas. Foi constatado que filhotes imunizados foram protegidos do desafio com VCC mesmo na presença de imunidade pré-existente ao vetor. No entanto, para fins de imunização preconiza-se o uso de Ad deficiente em replicação, visto que os Ad replicativos são menos previsíveis e sua utilização pode gerar insegurança quanto ao seu potencial de toxicidade (Tatsis e Ertl, 2004). Logo, a construção de vacinas usando HAd5 recombinantes deficiente em replicação para cinomose canina torna-se uma opção segura e eficaz, já que o animal não apresenta anticorpos neutralizantes contra o vetor e, por estar desabilitado, não apresenta capacidade de gerar doença no animal. Neste trabalho foram construídos dois adenovírus recombinantes um expressando a proteína H e o outro a proteína F. A capacidade dos mesmos em expressar corretamente as proteínas foi confirmada por ensaios de imunodetecção utilizando anticorpos policlonais anti-VCC. Porém, a proteína H mostrou-se um pouco menor, já que em Schmid et al., (2000) esta proteína apresentou aproximadamente 69 KDa, mas, Fischer et al., (2002) demonstrou em seu trabalho que duas bandas foram reconhecidas por anticorpos monoclonais anti-VCC uma de 68 KDa e a outra um pouco menor. A banda menor parece ser resultado da falta de estabilidade da proteína H ou a terminação prematura do processo de síntese. Nos estudos citados, a expressão foi induzida pelo VCC em células VERO e MDCK (Madin and Darby canine kidney) respectivamente, Sendo assim, o tamanho reduzido da proteína também pode ter sofrido interferência das diferenças no processamento da proteína na célula HEK293A. Os adenovírus recombinantes quando inoculados em camundongos BALB/c em diferentes combinações foram capazes induzir a produção de IgG anti-VCC, de acordo com o protocolo de imunização do tipo prime-boost. É relevante ressaltar que o soro do grupo que recebeu duas doses de AdF foi a que apresentou maior título de anticorpos. No entanto, através do Ensaio de Neutralização Viral foi possível observar a maior prevalência de anticorpos neutralizantes do VCC no soro dos animais imunizados com AdH/AdF e com AdH, comprovando os relatos de Hirayama et al., (2001) e Sixt et al., (1998), de que os anticorpos contra a proteína H tem atividade neutralizante e inibem a ligação do VCC a receptores celulares. Segundo Jensen et al., (2009), estes anticorpos protegem os animais contra viremia, linfopenia e sintomas clínicos causados pelo vírus. Os resultados deste trabalho comprovam assim o potencial dos adenovírus recombinantes construídos de gerar resposta imune humoral contra o vírus da cinomose 52 canina. No entanto, estudos adicionais da resposta imune mediada por células induzida pelos vetores recombinantes são necessários, devido a sua aparente importância no desenvolvimento de uma proteção sólida contra VCC, como demonstrado por Welter et al., (2000), Sixt et al., (1998) e Shek et al., (1980). Além dos adenovírus recombinantes foram construídas duas linhagens recombinantes de L. lactis, uma expressando a proteína H e, a outra, a proteína F. Muitos estudos têm demonstrado que o L. lactis pode ser geneticamente modificado para expressar antígenos, como o antígeno ribossomal L7/L12 de Brucella (Ribeiro et al., 2002), antígeno E7 do Papillomavírus humano Tipo 16 (Bermudez-Humaran et al., 2002) e o fragmento C da toxina do tétano (Robinson et al., 1997). Estas bactérias são capazes de estimular resposta imune sistêmica e principalmente de mucosa, sendo capazes de neutralizar patógenos. Estudos como o de Li et al., (2010), comprovam a geração de anticorpos neutralizantes contra rotavírus estimulada por L. lactis expressando antígeno específico. Desde modo, a utilização de L. lactis recombinantes expressando as glicoproteínas H e F como vetor vacinal para cinomose canina pode induzir a secreção de anticorpos IgA específicos anti-VCC nas mucosas, as quais são a principal via de entrada do vírus no organismo, o que pode impedir ou reduzir o nível de infecção das células do hospedeiro. A correta expressão e endereçamento das proteínas produzidas pelos L. lactis recombinantes foram confirmadas por ensaios de imunodetecção utilizando soro hiperimune anti-VCC de coelho. Esses resultados iniciais são relevantes, pois demonstram a capacidade destas bactérias de se tornarem promissores vetores vacinais contra o vírus da cinomose canina. Apesar dos L. lactis recombinantes serem considerados bons vetores e seguros, atualmente, tem-se discutido os possíveis impactos da liberação na natureza destas bactérias, as quais são linhagens não colonizadoras. A utilização de organismos geneticamente modificados (OGM) causa preocupação sobre a sua sobrevivência e propagação no ambiente, e sobre a transferência de genes de resistência a antibióticos utilizados como marcadores de seleção, ou de outras modificações genéticas para outros microrganismos. Para prevenir a liberação dos OGMs no ambiente, estratégias de biocontenção têm sido desenvolvidas, como a construção de microrganismos auxotróficos ou a inserção de gene suicida (Lee, 2010). 53 8. CONCLUSÃO E PERSPECTIVAS Apartir dos dados aqui apresentados é possível concluir que os adenovírus recombinantes codificando as proteínas H e F construídos foram capazes de expressar corretamente as proteínas, e quando inoculados em camundongos BALB/c foram capazes de gerar resposta imune humoral contra o vírus da cinomose canina. Além dos adenovírus recombinantes, os L. lactis recombinantes construídos também foram capazes de expressar e endereçar corretamente as proteínas. Como continuidade a este trabalho, pretende-se administrar em camundongos BALB/c os vetores construídos em protocolos heterólogos, assim como outros vetores já utilizados (ALVAC, NYVAC). Posteriormente serão avaliadas as respostas imunes celular e humoral envolvidas na proteção contra o vírus VCC através de testes como ELISPOT, Ensaio de Proliferação, ELISA. Além disso, será realizado o ensaio de Soroneutralização com diferentes linhagens do vírus para verificar a ocorrência de proteção cruzada. 54 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLDINGER, S., BAUMGARTNER, W., ORVELL, C. Restricted expression of viral surface proteins in canine distemper encephalitis. Acta Neuropathol. 85, 635–645, 1993. ANDERSON, E.D. AND VON MESSLING, V. Region between the Canine Distemper Virus M and F Genes Modulates Virulence by Controlling Fusion Protein Expression. J. Virol., 11:10510–10518, 2008. APPEL, M. Distemper pathogenesis in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association 156: 1681–1684, 1970. APPEL, M.J. Canine Distemper Virus in Virus Infections of Carnivores. Elsevier Science Publishers B.V., Amsterdam, The Netherlands, pp. 133–159, 1987. APPEL M.J.G. Pathogenesis of canine distemper. Am. J. Vet. Res. 30, 1167, 1969. APPEL, M. J. G., AND GILLESPIE J. H.. Canine distemper virus. Virol. Monogr. 11:1–96, 1972. APPEL, M.J., MENDELSON, S.G., HALL, W.W. Macrophage Fc receptors control infectivity and neutralization of canine distemper virus-antibody complexes. J. Virol. 51, 643–649, 1984. APPEL, M.J., SHEK, W.R., SUMMERS, B.A. Lymphocyte-mediated immune cytotoxicity in dogs infected with virulent canine distemper virus. Infect. Immun. 37, 592–600, 1982. APPEL, M.J.G.; SUMMERS, B.A. Canine Distemper: current status.In: CHARMICHAEL, L.E. Recent Advances In Canine Infectious Diseases, Ithaca, 1999. Disponível em: http://www. ivis.org/advances/Infect_Dis_Carmichael/toc.asp. <Acessado em: 13 jan. 2010.> ARNS, C. W.; SPILKI, F. R.; ALMEIDA, R. S. Paramyxoviridae. In: FLORES, E. F. (Org.) Virologia Veterinária. Santa Maria: Ed. da UFSM,. cap. 26, p. 659-688, 2007. BAHEY-EL-DIN, M.; GAHAN, C.G.; GRIFFIN, B.T. Lactococcus lactis as a cell factory for delivery of therapeutic proteins. Curr Gene Ther 10(1):34-45, 2010. BARRETT, T.; VISSER, I.K.G.; MAMAEV, L.; GOATLEY, L.; VAN BRESSEM, M.F. & OSTERHAUS, A.N.M.E. Dolphin and porpoise morbilliviruses are genetically distinct from phocine distemper virus. Virology 193, 1010-1012, 1993. 55 BEINEKE, A.; PUFF, C.; SEEHUSEN, F.; BAUMGÄRTNER, W. Pathogenesis and immunopathology of systemic and nervous canine distemper. Vet Immunol Immunopathol. Jan 15;127(1-2):1-18. Epub 2008 Oct 4. Review. PubMed PMID:19019458, 2009. BELLINI, W. J., G. ENGLUND, S. ROZENBLATT, H. ARNHEITER, AND C. D. RICHARDSON. Measles virus P gene codes for two proteins. J. Virol. 3:908–919, 1985. BERMÚDEZ-HUMARÁN, L.G. Lactococcus lactis as a live vector for mucosal delivery of therapeutic proteins. Hum Vaccin. Apr;5(4):264-7. Epub 2009 Apr 30. Review. PubMed PMID: 19202351. BERMÚDEZ-HUMARÁN, L.G.; CORTES-PEREZ, N.G.; LEFÈVRE, F.; GUIMARÃES, V.; RABOT, S.; ALCOCER-GONZALEZ, J.M.; GRATADOUX, J.J.; RODRIGUEZ-PADILLA, C.; TAMEZ-GUERRA, R.S.; CORTHIER, G.; GRUSS, A.; LANGELLA, P. A novel mucosal vaccine based on live Lactococci expressing E7 antigen and IL-12 induces systemic and mucosal immune responses and protects mice against human papillomavirus type 16induced tumors. J Immunol. 2005 Dec 1;175(11):7297-302. PubMed PMID: 16301635. BERMÚDEZ-HUMARÁN, L.G.; CORTHIER, G.; LANGELLA, P. Recent advances in the use of Lactococcus lactis as live recombinant vector for the development of new safe mucosal vaccines. Recent Res Dev Microbiol, 8:147-160, 2004. BERMUDEZ-HUMARAN, L.G.; LANGELLA, P.; MIYOSHI, A..; GRUSS, A.; GUERRA, R. T.; MONTES DE OCA-LUNA, R. AND LE LOIR, Y. Production of human papillomavirus type 16 E7 protein in Lactococcus lactis. Appl. Environ. Microbiol. (68) 2: 917-922, 2002. BLANCOU, J. Dog distemper: imported into Europe from South America? Hist. Med. Vet. 29(2):35-41, 2004. BLIXENKRONE-MOLLER, M.; SVANSSON, V.; HAVE, P.; ORVELL, C.; APPEL, M., PEDERSEN, I.R.; DIETZ, H.H.; HENRIKSEN, P. Studies on manifestations of canine distemper virus infection in an urban dog population. Vet. Microbiol. 37, 163–173, 1993. BOLOTIN, A.; WINCKER, P.; MAUGER, S.; JAILLON, O.; MALARME, K.; WEISSENBACH, J.; EHRLICH, S.D.; SOROKIN, A. The complete genome sequence of the lactic acid bacterium Lactococcus lactis ssp. lactis IL1403. Genome Res. 2001 May;11(5):731-53. PubMed PMID: 11337471; PubMed Central PMCID: PMC311110. 56 BROWN, K.; GAO, W.; ALBER, S. et al. Adenovirus-transduced dendritic cells injected into skin or lymph node prime potent simian immunodeficiency virus-specific T cell immunity in monkeys. J Immunol 171:6875-6882, 2003. BRUÑA-ROMERO, O.; GONZÁLEZ-ASEGUINOLAZA, G.; HAFALLA, J.C.; TSUJI, M.; NUSSENZWEIG, R,S. Complete, long-lasting protection against malaria of mice primed and boosted with two distinct viral vectors expressing the same plasmodial antigen. Proc Natl Acad Sci U S A. Sep 25;98(20):11491-6. Epub 2001 Sep 11. PubMed PMID: 11553779; PubMed Central PMCID: PMC58757. BUCHBINDER, S.P.; MEHROTRA, D.V.; DUERR, A.; FITZGERALD, D.W.; MOGG, R.; et al. Efficacy assessment of a cell-mediated immunity HIV-1 vaccine (the Step Study): a doubleblind, randomised, placebo-controlled, test-of-concept trial. Lancet 372: 1881–1893, 2008. BURNE, R.A.; BESSEN, D.E.; BROADBENT, J.R.; CLAVERYS, J.P. The Seventh International Conference on the Genetics of Streptococci, Lactococci, and Enterococci. J Bacteriol. 2007 Feb;189(4):1209-18. Epub 2006 Sep 29. Erratum in: J Bacteriol. 2007 May;189(9):3682. PubMed PMID: 17012391; PubMed Central PMCID: PMC1797339. CASIMIRO, D.R.; et al. Vaccine-induced immunity in baboons by using DNA and replicationincompetent adenovirus type 5 vectors expressing a human immunodeficiency virus type 1 gag gene. J. Virol. 77: 7663–7668, 2003. CASTILHO, J.G.; BRANDÃO, P.E.; CARNIELI, J.R. P.; OLIVEIRA, R.N.; MACEDO, C.I.; PEIXOTO, Z.M.P.; CARRIERI, M.L.; & KOTAIT, I. Molecular analysis of the N gene of canine distemper virus in dogs in Brazil. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 59:654-659, 2007. CAPONE, S.; REYES-SANDOVAL, A.; NADDEO, M.; SIANI, L.; AMMENDOLA, V.; ROLLIER, C.S.; NICOSIA, A.; COLLOCA, S.; CORTESE, R.; FOLGORI, A.; HILL, A.V. Immune responses against a liver-stage malaria antigen induced by simian adenoviral vector AdCh63 and MVA prime-boost immunisation in non-human primates. Vaccine, 29, 256-265, 2010. CATHOMEN, T.; BUCHHOLZ, C.J.; SPIELHOFER, P.; CATTANEO, R. Preferential initiation at the second AUG of the measles virus F mRNA: a role for the long untranslated region. Virology. Dec 20;214(2):628-32, 1995. PubMed PMID: 8553566. 57 CATTANEO, R.; ROSE, J.K. Cell fusion by the envelope glycoproteins of persistent measles viruses which caused lethal human brain disease. J Virol. Mar;67(3):1493-502, 1993. PubMed PMID: 8437226; PubMed Central PMCID: PMC237519. CATTANEO, R.; KAELIN, K.; BACZKO, K.; BILLETER, M.A. Measles virus editing provides an additional cysteine-rich protein. Cell. 1989 Mar 10;56(5):759-64. PubMed PMID: 2924348. CHERPILLOD, P.;TIPOLD, A.; GRIOT-WENK, M.; CARDOZO, C.; SCHMID, I.; FATZER, R.; SCHOBESBERGER, M.; ZURBRIGGEN, R.; BRUCKNER, L.; ROCH, F.; VANDEVELDE, M.; WITTEK, R.; ZURBRIGGEN, A. DNA vaccine encoding nucleocapsid and surface proteins of wild type canine distemper virus protects its natural host against distemper. Vaccine. Jul 1;18(26):2927-36, 2000. PubMed PMID: 10825593. CHERPILLOD, P.; ZIPPERLE, L.; WITTEK, R.; ZURBRIGGEN, A.: An mRNA region of the canine distemper virus fusion protein gene lacking AUG codons can promote protein expression. Arch Virol, 149:1971-1983, 2004. CORTES-PEREZ, N.G.; KHARRAT, P.; LANGELLA, P.; BERMÚDEZ-HUMARÁN, L.G. Heterologous production of human papillomavirus type-16 L1 protein by a lactic acid bacterium. BMC Res Notes. 2009 Aug 24;2:167. PubMed PMID: 19703307; PubMed Central PMCID: PMC2742549 CURRAN, M.D.; O'LOAN, D.; KENNEDY, S.; RIMA, B.K. Molecular characterization of phocine distemper virus: gene order and sequence of the gene encoding the attachment (H) protein. J Gen Virol. May;73 ( Pt 5):1189-94, 1992. PubMed PMID: 1588321. DAHL, L.; JENSEN, T.H.; GOTTSCHALCK, E.; KARLSKOV-MORTENSEN, P.; JENSEN, T.D.; NIELSEN, L.; et al. Immunization with plasmid DNA encoding the hemagglutinin and the nucleoprotein confers robust protection against a lethal canine distemper virus challenge. Vaccine, 22(27–28):3642–8, 2004. DANI, S.U. Terapia Gênica, vetores para terapia gênica. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento.12: 28-33, 2000. DE ANDRADE, B.P.; GAZZINELLI, R.T.; DEL VAL, M.; BRUNA-ROMERO, O. Protective immunization against murine cytomegalovirus infection using adenoviruses and poxviruses expressing hepatitis B virus chimeras. Int Microbiol. Dec;10(4):261-9, 2007. PubMed PMID: 18228223. 58 DECARO, N.; CAMERO, M.; GRECO, G.; ZIZZO, N.; TINELLI, A.; CAMPOLO, M.; PRATELLI, A.; BUONAVOGLIA, C. Canine distemper and related diseases: report of a severe outbreak in a kennel. New Microbiol. 27, 177–182, 2004. DEDIEU, J.F.; VIGNE, E.; TORRENT, C.; et al. Long-term gene delivery into the livers of immunocompetentmice with E1/E4-defective adenoviruses. J Virol; 71:4626-37, 1997. DIALLO, A. Morbillivirus group: genome organisation and proteins. Vet Microbiol. Jun;23(14):155-63, 1990. Review. PubMed PMID: 2205968. DUNHAM, S.P. The application of nucleic acid vaccines in veterinary medicine. Research in Veterinary Science, 73, 9–16, 2002. DUNNY, G.M.; and CLEARY, P.P. Genetics and molecular biology of streptococci, lactococci, and enterococci. American Society for Microbiology, Washington, DC, 1991. ENOUF, V.; LANGELLA, P.; COMMISSAIRE, J.; COHEN, J.; CORTHIER, G. Bovine rotavirus nonstructural protein 4 produced by Lactococcus lactis is antigenic and immunogenic. Appl Environ Microbiol. 2001 Apr;67(4):1423-8. PubMed PMID: 11282586; PubMed Central PMCID: PMC92750. ETTINGER, S.J. Tratado de Medicina Interna Veterinária . 3 ed. São Paulo: Manole. 47, p 315-318, 1992. FISCHER, L.; TRONEL, J.P.; PARDO-DAVID, C.; TANNER, P.; COLOMBET, G.; MINKE, J.; AUDONNET, J.C. Vaccination of puppies born to immune dams with a canine adenovirusbased vaccine protects against a canine distemper virus challenge. Vaccine. Oct 4;20(2930):3485-97, 2002. PubMed PMID: 12297394. FLORES, F.E. Saúde Pública Veterinária. Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Disponível em: <jararaca.ufsm.br/websites/departamen/download>. Acesso em 1 maio de 2011, 2010. GARDE, S.; BABIN, M.; GAYA, P.; NUÑEZ, M.; MEDINA, M. PCR amplification of the gene acmA differentiates Lactococcus lactis subsp. lactis and L. lactis subsp. cremoris. Applied and Environmental Microbiology 65, 5151–5153, 1999. 59 GEMMA, T.; IWATSUKI, K.; SHIN, Y.S.; YOSHIDA, E.; KAI, C.; MIKAMI, T. Serological analysis of canine distemper virus using an immunocapture ELISA. J. Vet. Med. Sci. 58, 791–794, 1996. GERBER, J.D.; MARRON, A.E. Cell-mediated immunity and age at vaccination associated with measles inoculation and protection of dogs against canine distemper. Am. J. Vet. Res. 37, 133–138, 1976. GRAHAM, F.L. Adenovirus vectors for high-efficiency gene transfer into mammalian cells. Trends in Immunology Today. 21: 426-428, 2000. GREENE, C.E.; APPEL, M.J. CANINE DISTEMPER. In: Greene, C.E. (Ed.), Infectious Diseases of the Dog and Cat. second ed. The W.B. Saunders Co., Philadelphia, Pa, pp. 9– 22, 1998. GRIFFIN, D. E. Measles virus, p. 1401–1441. In D. M. Knipe, P. M. Howley, D. E. Griffin, R. A. Lamb, M. A. Martin, B. Roizman, and S. E. Straus (ed.), Fields virology, 4th ed. Lippincott Williams & Wilkins, Philadelphia, Pa, 2001. GRIOT, C.; MOSER, C.; CHERPILLOD, P.; BRUCKNER, L.; WITTEK, R.; ZURBRIGGEN, A.; ZURBRIGGEN, R. Early DNA vaccination of puppies against canine distemper in the presence of maternally derived immunity. Vaccine. Jan 26;22(5-6):650-4, 2004. PubMed PMID:14741156. GRONE, A.; GROTERS, S.; KOUTINAS, A.; SARIDOMICHELAKIS, M.; BAUMGAィRTNER, W. Non-cytocidal infection of keratinocytes by canine distemper virus in the so-called hard pad disease of canine distemper. Vet. Microbiol. 96, 157–163, 2003. GU, Q.; SONG, D.; ZHU, M. Oral vaccination of mice against Helicobacter pylori with recombinant Lactococcus lactis expressing urease subunit B. FEMS Immunol Med Microbiol. Aug;56(3):197-203. Epub 2009 May 15. PubMed PMID: 19453750. HAIG, D.A. Onderstepoort Vet. J. 27, 19-53, 1956. HALL, K.; BLAIR ZAJDEL, M.E.; BLAIR, G.E. Unity and diversity in the human adenoviruses: exploiting alternative entry pathways for gene therapy. Biochem J. Oct 11;431(3):321-36, 2010. Review. PubMed PMID: 20937040. 60 HANNIFFY, S.B.; CARTER, A.T.; HITCHIN, E.; WELLS, J.M. Mucosal delivery of a pneumococcal vaccine using Lactococcus lactis affords protection against respiratory infection. J Infect Dis 195(2):185-93, 2007. HARDER, T.C.; OSTERHAUS, A.D. Canine distemper virus--a morbillivirus in search of new hosts? Trends Microbiol. Mar;5(3):120-4, 1997. Review. PubMed PMID: 9080611. HARRO, C.D.; ROBERTSON, M.N.; LALLY, M.A.; O’NEILL, L.D.; EDUPUGANTI, S.; et al. Safety and immunogenicity of adenovirus-vectored near-consensus HIV type 1 clade B gag vaccines in healthy adults. AIDS Res Hum Retroviruses 25: 103–114, 2009. HEIDER, A.; SANTIBANEZ, S.; TISCHER, A.; GERIKE, E.; TIKHONOVA, N.; IGNATYEV, G.; MRAZOVA, M.; ENDERS, G.; SCHREIER, E. Comparative investigation of the long noncoding M-F genome region of wild-type and vaccine measles viruses. Arch Virol.;142(12):2521-8, 1997. PubMed PMID: 9672611. HIERHOLZER, J.C. Adenoviruses in theimmunocompromisedhost. Cin. Microbiol. Rev. 5: 262-274, 1992. HIRAYAMA, N.; SENDA, M.; NAKASHIMA, N.; TAKAGI, M.; SUGIYAMA, M.; YOSHIKAWA, Y.; YAMANOUCHI, K. Protective effects of monoclonal antibodies against lethal canine distemper virus infection in mice. J Gen Virol 72, 2827-2830, 2001. HO, C.K.; BABIUK, L.A. Immune mechanisms against canine distemper. II. Role of antibody in antigen modulation and prevention of intercellular and extracellular spread of canine distemper virus. Immunology 38, 765–772, 1979. HORWITZ, M.S. Adenovirus, p. 2149-2171. In. B.N. Fields, D.M. Knipe and P.M. Howley. (ed). Fields Virolo- gy, 3rd ed. Lippincott-Raven, Phila- delphia, PA, 1996. HUSSY, P.; SCHMID, G.; MOUS, J.; and JACOBSEN, H. Purification and in vitrophospholabeling of secretory envelope proteins E1 and E2 of hepatitis C virus expressed in insect cells. Virus Res 45, 45-57, 1996. JACOBS, S.C.; STEPHENSON, J.R.; WILKINSON, G.W. Protection elicited by a replicationdefective adenovirus vector expressing the tick-borne encephalitis virus non-structural glycoprotein NS1. J Gen Virol. Sep;75 ( Pt 9):2399-402, 1994. PubMed PMID: 8077939. 61 JENSEN, T.H.; NIELSEN, L.; AASTED, B.; BLIXENKRONE-MØLLER, M. Early life DNA vaccination with the H gene of Canine distemper virus induces robust protection against distemper. Vaccine. 2009 Aug 20;27(38):5178-83. Epub 2009 Jul 9. PubMed PMID: 19596418. KAI, C.; OCHIKUBO, F.; OKITA, M.; IINUMA, T.; MIKAMI, T.; KOBUNE, F.; YAMANOUCHI, K. Use of B95a cells for isolation of canine distemper virus from clinical cases. J. Vet. Med. Sci. 55, 1067–1070, 1993. KELLY, W.J.; WARD, L.J.; LEAHY, S.C. Chromosomal diversity in Lactococcus lactis and the origin of dairy starter cultures. Genome Biol Evol. 2010;2:729-44. Epub 2010 Sep 16. PubMed PMID: 20847124; PubMed Central PMCID: PMC2962554. KIM, S.J.; JUN, D.Y.; YANG, C.H.; KIM, Y.H. Expression of Helicobacter pylori cag12 gene in Lactococcus lactis MG1363 and its oral administration to induce systemic anti-Cag12 immune response in mice. Appl Microbiol Biotechnol. 2006 Sep;72(3):462-70. Epub 2006 Apr 4. PubMed PMID: 16586107. KOJAOGHLANIAN, T.; FLOMENBERG, P.; HORWITZ, M.S. The impact of adenovirus infection on the immunocompromised host. Rev Med Virol. May-Jun;13(3):155-71, 2003. Review. PubMed PMID:12740831. KORNEGAY, J.N. Doenças causadoras de comprometimento neurologico multifocal. In: HOSKINS, J.D. Pediatria veterinária: cães e gatos até 6 mese de idade. Manole. p. 138-139, 1992. KRAKOWKA, S.; AXTHELM, M.K.; JOHNSON, G.C. Canine distemper virus. In: Olsen, R.G., Krakowka, S., Blakeslee, J.R. (Eds.), Comparative Pathobiology of Viral Diseases, vol. 2. CRC Press, Boca Raton, pp. 137–164, 1985. KRAKOWKA, S.; HIGGINS, R.J.; KOESTNER, A. Canine distemper virus: review of structural and functional modulations in lymphoid tissues. Am. J. Vet. Res. 41, 284–292, 1980. KRAKOWKA, S.; RINGLER, S.S.; LEWIS, M.; OLSEN, R.G.; AXTHELM, M.K. Immunosuppression by canine distemper virus: modulation of in vitro immunoglobulin synthesis, interleukin release and prostaglandin E2 production. Vet. Immunol. Immunopathol. 15, 181– 201, 1987. 62 KROUGLIAK, V.; GRAHAM, F.L. Development of cell lines capable of complementing E1, E4, andprotein IX defective adenovirus type 5 mutants. Hum Gene Ther; 6:1575-86, 1995. LAMB, A.B.; KOLAKOFSKY, D. Paramyxoviridae: the viruses and their replication. In: FIELDS, B.N.; KNIPE, D.M.; HOWLEY, P.M. Fundamental virology. 3.ed. Philadelphia: Lippincott-Raven, p.577- 604, 1996, LAMB, R.A.; PATERSON, R.G.; JARDETZKY, T.S. Paramyxovirus membrane fusion: lessons from the F and HN atomic structures. Virology, v.344, n.1, p. 30-37, 2006. LAMB, R.A.; PARKS, G.D. Paramyxoviridae: The viruses and their Replication. In: KNIPE, D. M; HOWLEY, P.M, Filds’ Virology. 5.ed. Philadelphia, PAUSA: Wolters Kluwer, v.2, cap. 41, p.1449-1469, 2007. LANGEDIJK, J.P.; DAUS, F.J.; VAN OIRSCHOT, J.T. Sequence and structure alignment of Paramyxoviridae attachment proteins and discovery of enzymatic activity for a morbillivirus hemagglutinin. J Virol. Aug;71(8):6155-67, 1997. PubMed PMID: 9223510; PubMed Central PMCID: PMC191876. LEDGERWOOD, J.E.; COSTNER, P.; DESAI, N.; HOLMAN, L.; ENAMA, M.E.; YAMSHCHIKOV, G.; MULANGU, S.; HU, Z.; ANDREWS, C.A.; SHEETS, R.A.; KOUP, R.A.; ROEDERER, M.; BAILER, R.; MASCOLA, J.R.; PAU, M.G.; SULLIVAN, N.J.; GOUDSMIT, J.; NABEL, G.J.; GRAHAM, B.S.; VRC 205 Study Team. A replication defective recombinant Ad5 vaccine expressing Ebola virus GP is safe and immunogenic in healthy adults. Vaccine. Dec 16;29(2):304-13. Epub 2010 Oct 27. PubMed PMID: 21034824. LEE, P. Biocontainment strategies for live lactic acid bacteria vaccine vectors. Bioeng Bugs. Jan;1(1):75-77, 2010. PubMed PMID: 21327129; PubMed Central PMCID: PMC3035145. LEE, P.; ABDUL-WAHID, A.; FAUBERT, G.M. Comparison of the local immune response against Giardia lamblia cyst wall protein 2 induced by recombinant Lactococcus lactis and Streptococcus gordonii. Microbes Infect. 2009 Jan;11(1):20-8. Epub 2008 Oct 19. PubMed PMID: 18992359. LEES, Y.C.; BRIGGS, J.D.; WU, X.; DAVIS, D.R.; MOORE, M.S.; GORDON, C.; XIANG, Z.; ERTL, J.C.; TANG, C.D.; FU, F.Z. Induction of protective immunity by topic application of a recombinant adenovirus expressing rabies vírus glycoprotein. Veterinary Microbiology, v. 85, p. 295-303, 2002. 63 LEVINE, M.M.; DOUGAN, G. Optimism over vaccines administered via mucosal surfaces. Lancet; 351:1375-6, 1998. LI, Y.J.; MA, G.P.; LI, G.W.; QIAO, X.Y.; GE, J.W.; TANG, L.J.; LIU, M.; LIU, L.W. Oral vaccination with the porcine rotavirus VP4 outer capsid protein expressed by Lactococcus lactis induces specific antibody production. J Biomed Biotechnol. 2010;2010:708460. Epub 2010 Jun 6. PubMed PMID: 20625406; PubMed Central PMCID: PMC2896853. LIU, M.A. Immunologic basis of vaccine vectors. Immunity. Oct 29;33(4):504-15, 2010. Review. PubMed PMID: 21029961. McGRORY, W.J.; BAUTISTA, D.S.; GRAHAM, F.L. J. Virol., 163: 614-617, 1988. MAGALHAES, I.; SIZEMORE, D.R.; AHMED, R.K.; MUELLER, S.; WEHLIN, L.; et al. rBCG induces strong antigen-specific T cell responses in rhesus macaques in a prime-boost setting with an adenovirus 35 tuberculosis vaccine vector. PLoS One 3: e3790, 2008. MAMAEV, L.V.; VISSER, I.K.; BELIKOV, S.I.; DENIKINA, N.N.; T.; HARDER, L.; GOATLEY, B.; RIMA, B.; EDGINGTON, A.D.; OSTERHAUS, M.E.; AND BARRETT, T. Canine distemper virus in lake Baikal seals (Phoca siberica). Vet. Rec. 138: 437–439, 1996. MANDEL, M. AND HIGA, A. J. Mol. Biol. 53, 159–162, 1970. MAKAROVA, K.; et al. Comparative genomics of the lactic acid bacteria. Proc Natl Acad Sci U S A. 2006 Oct 17;103(42):15611-6. Epub 2006 Oct 9. PubMed PMID: 17030793; PubMed Central PMCID: PMC1622870. MARELLI, B.; PEREZ, A.R.; BANCHIO, C.; DE MENDOZA, D.; MAGNI, C. Oral immunization with live Lactococcus lactis expressing rotavirus VP8* subunit induces specific immune response in mice. J Virol Methods. 2011 Apr 20. [Epub ahead of print] PubMed PMID: 21530589. MARTELLA, V.; ELIA, G.; & BUONAVOGLIA, C. Canine distemper virus. Vet. Clin. North Am. Small Anim. Pract. 38:787-797, 2008. MARTINS, B.D.; LOPES, A.T.S.; FRANÇA, T.R. Cinomose canina – Revisão de literature. Acta Veterinaria Brasilica, v.3, n.2, p.68-76, 2009. 64 McGHEE, J.R.; MESTECKY, J. In defense of mucosal surfaces. Development of novel vaccines for IgA responses protective at the portals of entry of microbial pathogens. Infect Dis Clin North Am. Jun;4(2):315-41, 1990. Review. PubMed PMID:2189002. MERZ, D.C.; SCHEID, A.; CHOPPIN, P.W.: Importance of antibodies to the fusion glycoprotein of paramyxoviruses in the prevention of spread of infection. J Exp Med, 151:275-288, 1980. MESSLING, V.V.; ZIMMER, G.; HERRLER, L.H.; et al. The hemagglutinin of canine distemper virus determines tropism e citopathogenicity. J.Virology., v.75, n.14, p. 6418-6427, 2001. MIELE, J.A.; KRAKOWKA, S. Antibody responses to virion polypeptides in gnotobiotic dogs infected with canine distemper virus. Infect. Immun. 41, 869–871, 1983. MILLS, S.; MCAULIFFE, O.E.; COFFEY, A.; FITZGERALD, G.F.; ROSS, R.P. Plasmids of lactococci - genetic accessories or genetic necessities? FEMS Microbiol Rev 30(2):243-73, 2006. MITANI, K.; GRAHAM, F. L.; CASKEY, C. T.; AND KOCHANEK, S. Rescue, propagation, and partial purification of a helper virus-dependent adenovirus vector. Proc. Natl. Acad. Sci. USA 92: 3854–3858, 1995. MIYOSHI, A.; JAMET, E.; COMMISSAIRE, J.; RENAULT, P.; LANGELLA, P.; AZEVEDO, V. A xylose-inducible expression system for Lactococcus lactis. FEMS Microbiol Lett. 2004 Oct 15;239(2):205-12. PubMed PMID: 15476967. MOLINIER-FRENKEL, V.; LENGAGNE, R.; GADEN, F. et al. Adenovirus hexon protein is a potent adjuvant for activation of a cellular immune response. J Virol 76:127-135, 2002. MONTEIL, M.L.E.; POTIER, M.F.; CARIOLET, R.; HOUDAYER, C.; ELOIT, M. Effective priming of neonates born to immune dams against the immunogenic pseudorabies virus glycoprotein gD by replication-incompetent adenovirus-mediated gene transfer at birth. J Gen Virol. Dec;78 ( Pt 12):3303-10, 1997. PubMed PMID: 9400981. MORAES, M.P.; MAYR, G.A.; MASON, P.W.; GRUBMAN, M.J. Early protection against homologous challenge after a single dose of replication-defective human adenovirus type 5 expressing capsid proteins of foot-and-mouth disease virus (FMDV) strain A24. Vaccine. Feb 22;20(11-12):1631-9, 2002. PubMed PMID: 11858872. 65 MORITZ, A.; FRISK, A.; BAUMGARTNER, W. The evaluation of diagnostic procedures for the detection of canine distemper virus infection. Eur. J. Comp. Anim. Pract. 10, 37–47, 2000. MOSS, W.J.; GRIFFIN, D.E. MEASLES. Lancet. Aug 17, 2011. PubMed PMID: 21855993. MUOTRI, A.R.; MARCHETTO, M.C.N.; CASTELLI, J.B., VENTURA, M.A., MENCK, C.F.M. Vetores Adenovirais: Adenovírus recombinantes como uma poderosa ferramenta de transferência gênica. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - nº 26- maio/junho 2002. MURPHY, F.A.; GIBBS, E.P.; HORZINEK, J.M.C.; AND STUDDERT, M.J. Veterinary virology, 3rd ed., p. 411–428, 1999. Academic Press, San Diego, Calif. NEUTRA, M.R.; KOZLOWSKI, P.A. Mucosal vaccines: the promise and the challenge. Nat Rev Immunol; 6:148-58, 2006. NIELSEN, L.; SØGAARD, M.; KARLSKOV-MORTENSEN, P.; JENSEN, T.H.; JENSEN, T.D.; AASTED, B.; BLIXENKRONE-MØLLER, M. Humoral and cell-mediated immune responses in DNA immunized mink challenged with wild-type canine distemper virus. Vaccine. Jul 30;27(35):4791-7. Epub 2009 Jun 17. PubMed PMID: 19539579. NOUAILLE, S.; RIBEIRO, L.A.; MIYOSHI, A.; PONTES, D.; LE LOIR, Y.; OLIVEIRA, S.C.; LANGELLA, P.; AZEVEDO, V. Heterologous protein production and delivery systems for Lactococcus lactis. Genet Mol Res 2(1):102-11, 2003. OKITA, M.; YANAI, T.; OCHIKUBO, F.; GEMMA, T.; MORI, T.; MASEKI, T.; YAMANOUCHI, K.; MIKAMI, T.; KAI, C. Histopathological features of canine distemper recently observed in Japan. J. Comp. Pathol. 116, 403–408, 1997. ORLANDO, E.; IMBSCHWEILER, I.; GERHAUSER, I.; BAUMGARTNER, W.; WEWETZER, K. In vitro characterisation and preferential infection by canine distemper virus of glial precursors with Schwann cell characteristics from adult canine brains. Neuropathol. Appl. Neurobiol., in press, 2008. PALMA, C.; OVERSTREET, M.G.; GUEDON, J.M.; HOICZYK, E.; WARD, C.; KAREN, K.A.; ZAVALA, F.; KETNER, G. Adenovirus particles that display the Plasmodium falciparum circumsporozoite protein NANP repeat induce sporozoite-neutralizing antibodies in mice. Vaccine. Feb 11;29(8):1683-9. Epub 2011 Jan 1. PubMed PMID: 21199707; PubMed Central PMCID: PMC3061321. 66 PARKS, G.D.; WARD, K.R.; RASSA, J.C. Increased readthrough transcription across the simian virus 5 M-F gene junction leads to growth defects and a global inhibition of viral mRNA synthesis. J Virol. Mar;75(5):2213-23, 2001. PubMed PMID: 11160725; PubMed Central PMCID: PMC114805. POSTON, R.P.; ENGLAND, J.J. Canine distemper. In: CASTRO, A.C.;HEUSCHELE, W.P. Veterinary diagnostic virology - apractitioner’s guide. St Louis : Mosby year book, p.135-138, 1992. POZZA, M. Detecção e Análise Molecular do Vírus da Cinomose canina. Dissertação, 2005. PRIDDY, F.H.; BROWN, D.; KUBLIN, J.; MONAHAN, K.; WRIGHT, D.P.; et al. Safety and immunogenicity of a replication-incompetent adenovirus type 5 HIV-1 clade B gag/pol/nef vaccine in healthy adults. Clin Infect Dis 46: 1769–1781, 2008. RAPER, S.E.; et al. Selective gene transfer into the liver of non-human primates with E1deleted, E2A-defective, or E1-E4 deleted recombinant adenoviruses. Hum. Gene Ther. 9: 671–679, 1998. REYES-SANDOVAL, A.; BERTHOUD, T.; ALDER, N.; SIANI, L.; GILBERT, S.C.; NICOSIA, A.; COLLOCA, S.; CORTESE, R.; HILL, A.V. Prime-boost immunization with adenoviral and modified vaccinia virus Ankara vectors enhances the durability and polyfunctionality of protective malaria CD8+ T-cell responses. Infect Immun, 78, 145-153, 2010. RIMA, B.K.; et al. In Measles Virus (Current Topics in Microbiology and Immunology) (Vol. 191), pp. 65-83, 1995. RIMA, B.K.; DUFFY, N.; MITCHELL, W.J.; SUMMERS, B.A.; APPEL, M.J. Correlation between humoral immune responses and presence of virus in the CNS in dogs experimentally infected with canine distemper virus. Arch. Virol. 121, 1–8, 1991. RINGLER, S.S.; KRAKOWKA, S. Effects of canine distemper virus on natural killer cell activity in dogs. Am. J. Vet. Res. 46, 1781–1786,1995. RIBEIRO, L.A.; AZEVEDO, V.; LE LOIR, Y.; OLIVEIRA, S.C.; DIEYE, Y.; PIARD, J.C.; GRUSS, A.; LANGELLA, P. Production and targeting of the Brucella abortus antigen L7/L12 in Lactococcus lactis: a first step towards food-grade live vaccines against brucellosis. Appl Environ Microbiol. 2002 Feb;68(2):910-6. PubMed PMID: 11823235; PubMed Central PMCID: PMC126665. 67 ROBINSON, K.; CHAMBERLAIN, L.M.; SCHOFIELD, K.M.; WELLS, J.M.; AND LE PAGE, R. W. Oral vaccination of mice against tetanus with recombinant Lactococcus lactis. Nat. Biotechnol. 15:653–657, 1997. ROELVINK, P.W.; LIZONOVA, A.; LEE, J.G.; LI, Y.; BERGELSON, J.M.; FINBERG, R.W.; BROUGH, D.E.; KOVESDI, I.; AND WICKHAM, T.J. The coxsackievirus-adenovirus receptor protein can function as a cellular attachment protein for adenovirus serotypes from subgroups A, C, D, E, and F. J. Virol. 72, 7909–7915, 1998. ROWE, W.P.; HUEBNER, R.J.; GILMORE, R.J.; et al. Isolation of a cytopathogenic agent from human adenoids undergoing spontaneous degeneration in tissue culture. Proc Soc Exp Bio Med; 84:570-573, 1953. RUDE, T.A. Canine distemper virus: infection and prevention. Can. Pract., v.14, p.16-24, 1987. RUSSELL, W.C. Adenoviruses: update on structure and function. J Gen Virol. Jan;90(Pt 1):1-20, 2009. Review. PubMed PMID: 19088268. RUSSELL, W.C. Update on adenovirus and its vectors. J Gen Virol. Nov;81(Pt 11):2573604, 2000. Review. PubMed PMID: 11038369 SAMBROOK, J.; RUSSEL, D.W. Molecular Cloning – A laboratory Manual. Ed. Cold Spring Harbor, 2001. New York. SANGER, F.; NICKLEN, S.; COULSO, A.R. DNA sequencing with chain- terminating inhibitors. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, v. 74:5463-5467, 1977. SCHMID, E.; ZURBRIGGEN, A.; GASSEN, U.; RIMA, B.; TER MEULEN, V.; SCHNEIDERSCHAULIES, J. Antibodies to CD9, a tetraspan transmembrane protein, inhibit canine distemper virus-induced cell-cell fusion but not virus-cell fusion. J Virol. Aug;74(16):7554-61, 2000. PubMed PMID: 10906209; PubMed Central PMCID: PMC112276. SCHNEIDER-SCHAULIES, S.; DITTMER, U. Silencing T cells or T-cell silencing: concepts in virus-induced immunosuppression. J. Gen. Virol. 87, 1423–1438, 2006. SCHOBESBERGER, M.; SUMMERFIELD, A.; DOHERR, M.G.; ZURBRIGGEN, A., GRIOT, C. Canine distemper virus-induced depletion of uninfected lymphocytes is associated with apoptosis. Vet. Immunol. Immunopathol. 104, 33–44, 2005. 68 SHARMA, A.K. AND KHULLER, G.K. DNA vaccines: future strategies and relevance to intracellular pathogens. Immunology and Cell Biology, 79, 537–546, 2001. SHEK, W.R.; SCHULTZ, R.D.; APPEL, M J. Natural and immune cytolysis of canine distemper virus-infected target cells. Infect Immun. Jun;28(3):724–734, 1980. SHELL, L.G. Canine distemper. Comp. Small Anim., v.12, p.173-179, 1990. SHERDING, R.G. Cinomose. In: BIRCHARD, S. J., SHERDING, R. G., Manual saunders: clínica de pequenos animais. 2 ed. Rocca, p. 117-120, 2003. SHIVER, J.W.; FU, T.M.; CHEN, L.; CASIMIRO, D.R.; DAVIES, ME.; et al. Replication incompetent adenoviral vaccine vector elicits effective anti-immunodeficiencyvirus immunity. Nature 415: 331–335, 2002. SHOTT, J.P.; McGRATH, S.M.; PAU, M.G.; CUSTERS, J.H.; OPHORST, O.; DEMOITIÉ, M.A.; DUBOIS, M.C.; KOMISAR, J.; COBB, M.; KESTER, K.E.; DUBOIS, P.; COHEN, J.; GOUDSMIT, J.; HEPPNER, D.G.; STEWART, V.A. Adenovirus 5 and 35 vectors expressing Plasmodium falciparum circumsporozoite surface protein elicit potent antigen-specific cellular IFN-gamma and antibody responses in mice. Vaccine. 2008 Jun 2;26(23):2818-23. Epub 2008 Apr 16. PubMed PMID: 18455276. SILVA, M.C.; FIGHERA, R.A.; BRUM, J.S.; GRAÇA, D.L.; KOMMERS, G.D.; IRIGOYEN, L.F. & BARROS, C.S.L. Aspectos clinicopatológicos de 620 casos neurológicos de cinomose em cães. Pesq. Vet. Bras. 27:215-220, 2007. SIXT, N.; CARDOSO, A.; VALLIER, A.; FAYOLLE, J.; BUCKLAND, R.; WILD, T.F. Canine distemper virus DNA vaccination induces humoral and cellular immunity and protects against a lethal intracerebral challenge. J Virol. Nov;72(11):8472-6, 1998. PubMed PMID: 9765383; PubMed Central PMCID: PMC110255. SRIDHAR, S.; REYES-SANDOVAL, A.; DRAPER, S.J.; MOORE, A.C.; GILBERT, S.C.; et al. Single-dose protection against Plasmodium berghei by a simian adenovirus vector using a human cytomegalovirus promoter containing intron A. J Virol 82: 3822–3833, 2008. STEWART, P.L.; FULLER, S.D.; BURNETT, R.M. Difference imaging of adenovirus: bridging the resolution gap between x-ray crystallography and electron microscopy. EMBO J; 12: 2589–2599, 1993. 69 SVITEK, N.; VON MESSLING, V. Early cytokine mRNA expression profiles predict Morbillivirus disease outcome in ferrets. Virology 362, 404–410, 2007. SUMMERS, B. A. AND APPEL M. J. Aspects of canine distemper virus and measles virus encephalomyelitis. Neuropathol. Appl. Neurobiol. 20: 525–534, 1994. SWANGO, L.J. Moléstias virais caninas. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinaria. 4 ed. Manole. p. 576-580, 1997. TAKEDA, M.; OHNO, S.; SEKI, F.; NAKATSU, Y.; TAHARA, M.; YANAGI, Y. Long untranslated regions of the measles virus M and F genes control virus replication and cytopathogenicity. J Virol. Nov;79(22):14346-54, 2005. PubMed PMID: 16254369; PubMed Central PMCID: PMC1280205. TATSIS, N.; ERTL, H.C. Adenoviruses as vaccine vectors. Mol Ther. Oct;10(4):616-29. Review. PubMed PMID: 15451446, 2004. TIMOFEEV, A.V.; OZHERELKOV, S.V.; PRONIN, A.V.; DEEVA, A.V.; ELBERT, L.B.; STEFENSON, J.R. A recombinant adenovirus expressing the NS1 nonstructural protein of tick-borne encephalitis virus: some characteristics of the immunologic basis of antiviral action. Vopr Virusol. Sep-Oct;42(5):219-22, 1997. Russian. PubMed PMID: 9424847. TIPOLD, A. Diagnosis of inflamatory and infectious diseases of the central nervous system in dogs: a retrospective study. J. Vet. Int. Med., v.9, p.304-314, 1995. TOBER, C.; SEUFERT, M.; SCHNEIDER, H.; BILLETER, M.A.; JOHNSTON, I.C.; NIEWIESK, S.; TER MEULEN, V.; SCHNEIDER-SCHAULIES, S. Expression of measles virus V protein is associated with pathogenicity and control of viral RNA synthesis. J Virol. Oct;72(10):8124-32, 1998. PubMed PMID: 9733853; PubMed Central PMCID: PMC110150. VALLI, J.L.; WILLIAMSON, A.; SHARIF, S.; RICE, J.; SHEWEN, P.E. In vitro cytokine responses of peripheral blood mononuclear cells from healthy dogs to distemper virus, Malassezia and Toxocara. Vet Immunol Immunopathol. 2010 Apr 15;134(3-4):218-29. Epub 2009 Oct 3. PubMed PMID: 19880197. VAN ASSELDONK, M.; RUTTEN, G.; OTEMAN, M.; SIEZEN, R.J.; DE VOS, W.M.; SIMONS, G. Cloning of usp45, a gene encoding a secreted protein from Lactococcus lactis subsp. lactis MG1363. Gene 95(1):155–160, 1990. 70 VARNAVSKI, A.N., SCHLIENGER, K.; BERGELSON, J.M.; GAO, G.P. AND WILSON, J.M. Efficient transduction of human monocytes-derived dendritic cells by chimpanzee-derived adenoviral vector. Hum. Gene Ther. 14:533, 2003. VELLINGA, J.; VAN DEN WOLLENBERG, D.J.; VAN DER HEIJDT, S.; RABELINK, M.J.; HOEBEN, R.C. The coiled-coil domain of the adenovirus type 5 protein IX is dispensable for capsid incorporation and thermostability. J Virol. 2005 Mar;79(5):3206-10. PubMed PMID: 15709043; PubMed Central PMCID: PMC548437. VISSER, I. K.; VAN BRESSEM, M. F.; BARRETT, T. AND OSTERHAUS, A. D. Morbillivirus infections in aquatic mammals. Vet. Res. 24:169–178, 1993. von MESSLING, V.; AND CATTANEO, R. Amino-terminal precursor sequence modulates canine distemper virus fusion protein function. J. Virol. 76:4172–4180, 2002. von MESSLING, V.; SVITEK, N.; CATTANEO, R. Receptor (SLAM [CD150]) recognition and the V protein sustain swift lymphocyte-based invasion of mucosal tissue and lymphatic organs by a morbillivirus. J. Virol. 80, 6084–6092, 2006. WELLS, J. Mucosal Vaccination and Therapy with Genetically Modified Lactic Acid Bacteria. Annu. Rev. Food Sci. Technol. 2:423 – 45, 2011. WELLS, J.M.; MERCENIER, A.: Mucosal delivery of therapeutic and prophylactic molecules using lactic acid bacteria. Nat Rev Microbiol, 6:349-62, 2008. WELLS, J.M.; WILSON, P.W.; NORTON, P.M.; LE PAGE, R.W. A model system for the investigation of heterologous protein secretion pathways in Lactococcus lactis. Appl Environ Microbiol. Nov;59(11):3954-9, 1993. PubMed PMID: 8285699; PubMed Central PMCID: PMC182558. WELTER, J.; TAYLOR, J.; TARTAGLIA, J.; PAOLETTI, E.; STEPHENSEN, C.B. Mucosal vaccination with recombinant poxvirus vaccines protects ferrets against symptomatic CDV infection. Vaccine. Jan 28;17(4):308-18, 1999. PubMed PMID:9987168. WELTER, J.; TAYLOR, J.; TARTAGLIA, J.; PAOLETTI, E.; STEPHENSEN, C.B. Vaccination against canine distemper virus infection in infant ferrets with and without maternal antibody protection, using recombinant attenuated poxvirus vaccines. J Virol. Jul;74(14):6358-67, 2000. PubMed PMID: 10864646; PubMed Central PMCID: PMC112142. 71 WILLIAMS, A.M.; FRYER, J.L.; COLLINS, M.D. Lactococcus piscium sp. nov. a new Lactococcus species from salmonid fish. FEMS Microbiology Letters 68, 109–114, 1990. WOLFF, J.A.; MALONE, R.W.; WILLIAMS, P.; CHONG, W.; ACSADI, G.; JANI, A.; AND FELGNER, P.L. Direct gene transfer into mouse muscle in vivo. Science 247, 1465–1468, 1990. WOOD, B.J.B. AND HOLZAPFEL, W.H. The genera of lactic acid bacteria, 1st ed. Blackie Academic and Professional, Glasgow, United Kingdom, 1995. WORGALL, S.; KRAUSE, A.; RIVARA, M.; HEE, K.K.; VINTAYEN, E.V.; HACKETT, N.R.; ROELVINK, P.W.; BRUDER, J.T.; WICKHAM, T.J.; KOVESDI, I.; CRYSTAL, R.G. Protection against P. aeruginosa with an adenovirus vector containing an OprF epitope in the capsid. J Clin Invest. 2005 May;115(5):1281-9. Epub 2005 Apr 1. PubMed PMID: 15841217; PubMed Central PMCID: PMC1070634. XIANG, Z.Q.; GAO, G.P.; REYES-SANDOVAL, A.; LI, Y.; WILSON, J.M.; ERTL, H.C. Oral vaccination of mice with adenoviral vectors is not impaired by preexisting immunity to the vaccine carrier. J Virol. Oct;77(20):10780-9, 2003. Erratum in: J Virol. 2005 Mar;79(6):3888. PubMed PMID: 14512528; PubMed Central PMCID: PMC224991. ZENG, M.; XU, Q.; ELIAS, M.; PICHICHERO, M.E.; SIMPSON, L.L.; SMITH, L.A. Protective immunity against botulism provided by a single dose vaccination with an adenovirusvectored vaccine. Vaccine. 2007 Oct 23;25(43):7540-8. Epub 2007 Sep 5. PubMed PMID: 17897756; PubMed Central PMCID: PMC2077857. ZHANG, W. & ARCOS, R. Interaction of the adenovirus major core protein precursor, pVII, with the viral DNA packaging machinery. Virology 334, 194–202, 2005. ZHANG, Z.H.; JIANG, P.H.; LI, N.J.; SHI, M. & HUANG, W. Oral vaccination of mice against rodent malaria with recombinant Lactococcus lactis expressing MSP119. World J. Gastroenterol. 11, 6975–6980, 2005. ZHONG, L.; GRANELLI-PIPERNO, A.; CHOI, Y. AND STEINMAN, R.M. Recombinant adenovirus is an efficient and non-perturbing genetic vector for human dendritic cells. Eur. J. Immunol. 29:964, 1999. 72