medicina A FICHA DO VÍRUS Existem três tipos de influenza (A,B,C), subdivididos de acordo com as proteínas que ficam em sua superfície H1 N1 Diz respeito à neuraminidase, enzima que permite ao vírus lançar seu material genético para dentro da célula. No caso, são nove variedades. material genético Um dia vamos nos livrar dela? O micro-organismo que provoca a doença vive se modificando para infectar o homem e, muitas vezes, acerta em cheio. Diante das preocupações que um novo tipo do vírus desperta, SAÚDE! revela o que os cientistas têm feito para nos proteger dessa recorrente ameaça por DIOGO SPONCHIATO, LÚCIA HELENA DE OLIVEIRA E PAULA DESGUALDO design e infográficos GLENDA CAPDEVILLE, LETÍCIA RAPOSO, ERIKA ONODERA e ROBSON QUINAFÉLIX E le habitava a face da Terra muito antes dos primeiros hominídeos. Como um Davi às avessas, pode ter contribuído para dizimar os dinossauros. E, de tempos em tempos, logo após uma transformação ou outra, assusta e gripa uma boa parcela da população. A versão da vez atende pelo nome de vírus A (H1N1), já infectou milhares no planeta e semeou o temor de uma pandemia. Enquanto as autoridades e os médicos tomam providências para conter o avanço da doença apelidada de gripe suína, os cientistas não medem esforços para descobrir meios de derrotar todas as facetas do influenza, o micro-organismo camaleônico que causa febre e até mortes. Mas a pergunta que não quer calar é: vamos um dia ficar livres para sempre do intruso? “Esse vírus é muito instável e trafega entre diversas espécies animais. Por isso, sempre está sujeito a mutações que o tornam irreconhecível ao corpo humano”, explica o virologista Edison Durigon, da Universidade de São Paulo. O desafio é encontrar um jeito de construir uma muralha dentro do organismo. Nessa busca, pesquisadores americanos, por exemplo, quebram a cabeça para viabili- zar uma vacina universal, capaz de barrar o mutante a despeito dos seus disfarces. Mas a principal estratégia, defendem os especialistas, é jamais tirar os olhos do baderneiro microscópico. Em outras palavras, sustentar uma rede de vigilância planetária que não cochila. “Não adianta ter os laboratórios mais capacitados do mundo se esse controle é inadequado”, diz a virologista Terezinha Maria de Paiva, do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Em entrevista exclusiva, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, concorda e acrescenta: “Quando surge um vírus novo, nenhum epidemiologista pode dar chute”, opina. “Ouvi gente dizendo que a infecção pelo A (H1N1) seria igual à de 1918, que começou devagar e, depois, matou milhões. Outros apostaram em voz alta que essa gripe iria desaparecer. Puro chute. Quem acertou? Ora, cientistas sabem muito bem que só depois de seis a oito meses é que alguém terá bases mínimas para responder a essa e a outras perguntas, como: será que o vírus mudará e que todos os esforços para uma vacina foram em vão? Será que ficará mais forte? Será que ficará mais fraco?”, diz (veja a entrevista na íntegra em www.revistasaude.com.br). ›› FONTES: EDISON DURIGON, PROFESSOR DE VIROLOGIA DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DA USP; STEFAN UJUARI, INFECTOLOGISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ (SP); RENATO KFOURI, DIRETOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES A letra faz referência à hemaglutinina, proteína responsável pela adesão do vírus às células do hospedeiro. Existem, por sua vez, 15 variantes dela. O CONTÁGIO EM NÚMEROS 3 a 5 metros 2. Uma única tosse libera cerca de 20 mil vírus no ar. Se cada um pudesse infectar uma pessoa, seria o suficiente para contaminar meio estádio do Pacaembu, em São Paulo. 20 mil vírus { 1. Um espirro é capaz de contaminar alguém a uma distância de 3 a 5 metros, o que, em média, equivale ao comprimento de um carro. 3. Se uma pessoa da sua casa estiver gripada, sua chance de pegar a doença irá girar em torno de 20%. 20% de chance de contágio medicina vírus da gripe anticorpo 1 Logo que o sistema O influenza é uma velha ameaça à A INVASÃO célula humanidade. E não estamos falando Veja como a gripe ataca o sistema humana somente dos grandes surtos capazes respiratório e castiga o corpo inteiro de matar milhões de pessoas, como na gripe espanhola do início do século 20. O vírus penetra o organismo por O próprio vírus da gripe comum — ou meio de gotículas que chegam ao sazonal, como preferem os médicos — hemaglutinina nariz, à boca e até aos olhos. Ele também troca de roupa frequentemenprocura células do sistema respiratório te para se esquivar do nosso sistema com um receptor em sua membrana. imune. Daí por que a vacina é renovaDaí, se vale de uma proteína, a da anualmente. Por mais que o microhemaglutinina, para se grudar ali. material organismo ainda consiga encontrar receptores genético brechas para atacar, o imunizante é o da célula jeito mais seguro de prevenir estragos Outra molécula presente — sobretudo aos organismos mais frána superfície do bicho entra na geis. Por isso, é recomendado a crianhistória. A enzima neuraminidase ças, idosos e indivíduos de risco, como é quem garante ao vírus portadores de câncer ou HIV. neuraminidase a capacidade de invadir o “A gripe comum, em si, possui uma interior da célula, jogando lá baixa letalidade, cerca de 0,5%”, caldentro seu material genético. cula o infectologista Stefan Ujuari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em multiplicação material genético dos vírus São Paulo. Ainda assim, estima-se inserido na célula que esteja por trás de 500 mil mortes ao ano em todo o mundo. O perigo, O influenza usa a estrutura porém, dobra de tamanho quando um da própria célula para se influenza que antes só vivia em outras reproduzir. Assim que esse espécies, como aves e porcos, consemaquinário se esgota, cópias gue se recombinar e migrar para o do vírus, novas em folha, saem corpo humano. Nesse caso, o organissaída do vírus para infectar outras unidades. Eles mo pena para se defender e a repercusconseguem se espalhar, mas têm certa são da invasão é bem mais intensa. predileção pela traqueia, no pescoço. A REAÇÃO DO CORPO Conheça as estratégias de defesa do organismo para conter a gripe 1 bloqueio do anticorpo 2 O vírus não é nada sem FONTES: EDISON DURIGON, PROFESSOR DE VIROLOGIA DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DA USP; NANCY BELLEI, INFECTOLOGISTA DA UNIFESP. liberam substâncias inflamatórias para avisar o organismo que algo está errado. Uma das respostas é a febre. O corpo eleva a temperatura para tentar matar mais vírus. substâncias inflamatórias 4 Entre as células convocadas para combater os intrusos estão as chamadas natural killers – algo como exterminadoras naturais. Sua função é assassinar células que já estão dominadas pelo influenza. ›› Febre: a temperatura do corpo se eleva para favorecer a atuação das defesas e desarticular a infecção. Fadiga e dores no corpo: a presença de vírus e substâncias inflamatórias na circulação acarreta um mal-estar que vai dos pés à cabeça. 4 À medida que várias células são atacadas e os vírus se multiplicam, os pequenos inimigos podem cair na corrente sanguínea e se instalar em outras paragens, como músculos e articulações — mas em menor quantidade, que fique claro. células de defesa 3 Nesse meio-tempo, células de defesa 3 Tosse e congestão nasal: as vias aéreas superiores são agredidas e o organismo responde produzindo muco para barrar mais ataques. A tosse é uma tentativa do organismo de fazer uma faxina geral na região. vírus destruído uma célula. Se, por acaso, não tem onde depositar seu material genético e se multiplicar, ele sucumbe. 2 OS SINAIS DA DOENÇA imunológico reconhece o influenza, envia anticorpos para bloquear a entrada dele nas células. No caso da gripe suína, o corpo ainda não identifica as proteínas da parte externa do vírus e, por isso, não tem anticorpos eficientes para barrá-lo. destruição da célula infectada ataque do vírus corrente sanguínea UM MÍSSIL CONTRA O VÍRUS 1. Em laboratório, cientistas estimulam células humanas a produzirem uma substância que, dentro do organismo, funcionará como um anticorpo específico contra o vírus da gripe. Um novo jeito de evitar a infecção: os anticorpos monoclonais cultura de células 2. Ela é injetada no corpo e, feito um míssil atrás do alvo, bloqueia uma das proteínas que asseguram a entrada do influenza na célula. O anticorpo monoclonal surtiria efeito por cerca de um mês. anticorpo monoclonal natural killers A solução perfeita para coibir esse bando de micro-organismos seria encontrar dentro do seu material genético algo que nunca ou pouco se altera, como uma proteína. A estratégia, então, seria se valer desse achado para formular uma vacina universal, válida para todo o planeta. Essa é uma ideia fixa para cientistas da Universidade Saint Louis, nos Estados Unidos, cuja pesquisa atrai investimentos de diversos laboratórios. “Mas o trabalho deles ainda é algo para o futuro”, pondera o geriatra João Toniolo Neto, da Universidade Federal de São Paulo. Por ora, não se sabe se ela daria cabo de toda sorte de influenza, principalmente os que estão por vir. Para aprimorar a frente de batalha, pesquisadores não perdem tempo em aperfeiçoar a versão de vacina disponível para o influenza sazonal, aquele típico das estações mais frias. “A meta é enriquecê-la com substâncias capazes de potencializar sua ação”, esclarece Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. No entanto, quando há um novo vírus no ar, a tática para inibir uma possível pandemia seria elaborar vacinas específicas. O Instituto Butantan, em São Paulo, pretende fabricar um imunizante contra a gripe suína, por exemplo. “Aguardamos amostras do vírus da OMS para dar início à produção”, conta a pesquisadora Cosue Miyaki. O fato é que novas vacinas só obtêm êxito se os serviços de vigilância epidemiológica ao redor do mundo não dormem no ponto (veja o quadro ao lado). “É um trabalho silencioso ao longo do ano inteiro”, diz Terezinha de Paiva. ›› VÍRUS SOB CONSTANTE VIGIA COMO É FEITA A VACINA Ao longo de cada ano, cientistas acompanham os tipinhos que circulam no globo A fórmula do imunizante é renovada anualmente em laboratório 1 Amostras de secreções respiratórias 2 Os especialistas brasileiros de pessoas gripadas são coletadas e enviadas a laboratórios credenciados pela OMS. “No Brasil são três: Instituto Adolfo Lutz (SP), Fundação Oswaldo Cruz (RJ) e Instituto Evandro Chagas (PA)”, informa o ministro José Gomes Temporão. amostra de secreção usam recursos como a microscopia eletrônica para analisar os vírus detidos. “Assim, estão aptos a isolá-los e classificá-los, além de mapear seu código genético”, diz, ainda, o ministro. 1 Amostras de influenza são 1 Atlanta (EUA) 3 4 Genebra (Suíça) Belém (PA) Tóquio (Japão) Rio de Janeiro (RJ) São Paulo (SP) Melbourne (Austrália) 2 3 A partir do momento em 4 Essa rede de vigilância, que que os especialistas conhecem os vírus, informam centros de referência em outros países, como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), com sede em Atlanta, nos Estados Unidos. abrange mais de 140 centros no globo, culmina em reuniões na sede da OMS, em Genebra, na Suíça. Nelas, são definidos os vírus contemplados na vacina do hemisfério norte e na versão do imunizante feita para o sul. FONTES: ISAÍAS RAW, DIRETOR-PRESIDENTE DO INSTITUTO BUTANTAN; COSUE MIYAKI, PESQUISADORA DO INSTITUTO BUTANTAN (SP); RENATO KFOURI, DIRETOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES; NERVO SANCHES E OTÁVIO CINTRA, DIRETOR E GERENTE DE VACINAS DO LABORATÓRIO GSK OUTRAS FONTES: TEREZINHA MARIA DE PAIVA, VIROLOGISTA DO LABORATÓRIO DE VÍRUS RESPIRATÓRIOS DO INSTITUTO ADOLFO LUTZ (SP); RENATO KFOURI, DIRETOR DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES; JOÃO TONIOLO NETO, GERIATRA DA UNIFESP medicina injetadas em ovos de galinha que contêm um embrião vivo em pleno desenvolvimento. Os ovos são incubados para o vírus se multiplicar. O imunizante comum combina três tipos de micro-organismos, cultivados separadamente, um de cada vez. 2 O líquido que envolve o embrião serve de matéria-prima para a vacina. Depois de extraí-lo, fragmenta-se e inativa-se o vírus que está ali. Só então o imunizante fica pronto para ser distribuído. Cada ovo rende material para aproximadamente uma única dose. UMA RECEITA DIFERENTE Numa pandemia, a vacina produzida em ovos não daria conta do recado — o rendimento é baixo e a fabricação em escala mundial levaria meses. A solução seria aumentar a capacidade de produção por meio do cultivo do vírus em células e adicionar substâncias para potencializar o efeito do produto. A GRIPE NA HISTÓRIA ERA DOS DINOSSAUROS 412 A.C. – 1º REGISTRO 1580 – PANDEMIA 1889 – ESCALA GLOBAL 1918-19 – GRIPE ESPANHOLA O influenza está entre os homens e outros animais desde os primórdios. Nossa linha do tempo mostra a repercussão de seus maiores ataques Patos e gansos são os reservatórios originais do vírus. Como seus ancestrais conviveram com os dinos, o influenza pode ter contribuído para a extinção dos répteis gigantes. O grego Hipócrates (460 a.C.375 a.C.), o pai da medicina, descreve uma doença respiratória que durou semanas, matou muita gente e depois desapareceu. É o primeiro relato científico sobre a gripe. O termo quer dizer que a infecção já se alastrou por mais de um continente. Ele surgiu por causa de um surto que começou na Europa e alcançou outros territórios. Suspeita-se que a primeira pandemia ocorreu na Rússia. Em apenas três meses, disseminou-se da Europa à Oceania. Cerca de 300 mil pessoas morreram então. Trata-se do ataque mais avassalador do influenza na história. Apesar do nome, os primeiros casos foram detectados nos Estados Unidos. Especialistas estimam entre 30 milhões e 50 milhões de mortes. { 1 hora É o tempo que o vírus sobrevive em uma superfície plana, como a barra de um vagão de metrô ou o corrimão de uma escada rolante O QUE VOCÊ PODE E DEVE FAZER Algumas atitudes restringem a disseminação, o contágio e os sintomas da doença 2 USAR A MÁSCARA A medida é exclusiva para situações de alto risco, o que não é o caso do Brasil. Se fosse necessário, o modelo cirúrgico N95 seria o recomendado. Máscaras usadas por muito tempo ou versões mais simples não impedem a entrada nem sequer a saída do vírus. trama apertada Lavar bem as mãos com sabonete é uma das principais formas de evitar a transmissão, especialmente depois de frequentar lugares e transportes públicos. Na falta de um banheiro, invista no álcool em gel. Não esfregue o nariz e os olhos. Quando for tossir ou espirrar, utilize um lenço descartável para conter a propagação do vírus. E limpe as mãos em seguida. 30% infectados 3 EVITAR AGLOMERAÇÕES vírus bloqueado É uma estratégia clássica, mas difícil de adotar, sobretudo nos meses mais frios. Acontece que, nos ambientes fechados e apinhados de gente, o vírus se espalha com rapidez. Se uma pessoa gripada tosse em um vagão de trem com 70 passageiros, 21 podem sair infectados. trama frouxa passagem do vírus 2 horas É a validade de uma máscara cirúrgica para bloquear a passagem do vírus 4 TOMAR ANTIGRIPAIS… 5 …E ANTIVIRAIS Analgésicos, anti-inflamatórios e antitérmicos são receitados para controlar os sintomas. Ou seja, não enfrentam o vírus em si. Lembre-se: eles só devem ser usados sob prescrição de um especialista. Essa não é uma tática preventiva e também requer orientação médica. Os antivirais só funcionam até 48 horas após a infecção. Porém, os sintomas às vezes demoram mais do que isso para aparecer. Daí, nem adianta apostar na droga. 1930-50 – A VIGILÂNCIA 1957 – GRIPE ASIÁTICA 1968 – GRIPE DE HONG KONG 1976 – A 1ª GRIPE SUÍNA 1977 – GRIPE RUSSA 1997 – GRIPE AVIÁRIA Nesse período, os três tipos do vírus (A, B e C) foram isolados e identificados. Em 1947, a Organização Mundial da Saúde criou a rede internacional de vigilância da gripe. Um milhão de vítimas: esse foi o resultado da pandemia que despontou na China, se propagou por países vizinhos, até se espalhar por quase todo o globo. Deflagrado mais uma vez na China, o ataque migrou para a ilha de Hong Kong e não demorou para correr o mundo. Dessa vez, foram cerca de 500 mil casos. Antes do alarde que eclodiu nos últimos meses, outro influenza de origem suína já havia contaminado o ser humano. A gripe não passou de um susto – infectou poucas pessoas. Na Guerra Fria, uma vacina aplicada em soldados russos para protegê-los do vírus causou o surto. Feita com o micro-organismo vivo, contaminou o Exército e parte da população. H5N1. Um tipo de influenza que antes só se hospedava em aves conseguiu atacar o corpo humano. Muito agressivo, ainda é motivo de preocupação. FONTES: JOÃO TONIOLO NETO, GERIATRA DA UNIFESP E AUTOR DE A HISTÓRIA DA GRIPE (DEZEMBRO EDITORIAL); EDISON DURIGON, VIROLOGISTA DO INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS DA USP; STEFAN UJUARI, INFECTOLOGISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ (SP) FOTO EDUARDO SVEZIA / CABELO E MAQUIAGEM JOÃO SIGNORINI PRODUÇÃO ALÊ RAVIZZA / ANY ANY / ORTO-NIL/ POLO BY KIM/ EQUUS “Será muito difícil erradicar o influenza”, afirma a infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo. Por isso, não dá para baixar a guarda — tanto a curto como a longo prazo. “Uma grande mutação pode levar anos para acontecer”, esclarece a infectologista Tânia Chaves, do Hospital das Clínicas de São Paulo. O malfeitor é bem-sucedido na medida em que usa células de diversos hospedeiros para se multiplicar e se rearranjar com seus familiares, dando origem a estirpes mais terríveis. “O medo é uma recombinação entre o A (H1N1) da gripe suína com o agente por trás da aviária, o A (H5N1), que é mais letal”, diz o professor Durigon. Com os avanços da medicina, porém, é improvável que enfrentemos um dia uma catástrofe como a gripe espanhola. A vigilância e as novas vacinas afastam esse risco. E até nós mesmos podemos prestar uma pequena contribuição, ao evitar tomar remédios para a doença sem orientação de um médico. “A automedicação só pode tornar os vírus mais resistentes”, alerta Isaías Raw, diretor-presidente do Instituto Butantan. Ninguém quer dar um empurrãozinho a um inimigo que já causa tanta dor de cabeça — e no corpo inteiro. 1 MANTER A HIGIENE { FONTES: GILBERTO TURCATO, INFECTOLOGISTA DO HOSPITAL ALEMÃO OSWALDO CRUZ (SP); TÂNIA CHAVES, MÉDICA RESPONSÁVEL PELO AMBULATÓRIO DOS VIAJANTES DO HOSPITAL DAS CLÍNICAS DE SÃO PAULO; JOÃO TONIOLO NETO, GERIATRA DA UNIFESP medicina