“Pandemia de Influenza no Brasil: epidemiologia, tratamento e prevenção da Influenza A (H1N1)” por José Cerbino Neto Tese apresentada com vistas à obtenção do título de Doutor em Ciências na área de Epidemiologia em Saúde Pública. Orientador Principal: Prof. Dr. Guilherme Loureiro Werneck Segundo orientador: Prof. Dr. Carlos Everaldo Alvares Coimbra Junior Rio de Janeiro, julho de 2012. Esta tese, intitulada “Pandemia de Influenza no Brasil: epidemiologia, tratamento e prevenção da Influenza A (H1N1)” apresentada por José Cerbino Neto foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros: Prof. Dr. Gerson Oliveira Penna Prof. Dr. Vitor Laerte Pinto Junior Prof. Dr. José Fernando Verani Prof. Dr. Andrey Moreira Cardoso Prof. Dr. Guilherme Loureiro Werneck – Orientador principal Tese defendida e aprovada em 23 de julho de 2012. Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública C411 Cerbino Neto, José Pandemia de Influenza no Brasil: Epidemiologia, Tratamento e Prevenção da Influenza A (H1N1). / José Cerbino Neto. -- 2012. xi, 105 f. : il. ; tab. ; graf. Orientador: Werneck, Guilherme Loureiro Coimbra Jr, Carlos E. A. iii Para Larissa e Joana, por tudo. iv Agradecimentos Gostaria de agradecer aqui a todos os que de alguma forma contribuíram para a realização desta tese. Agradeço à Larissa pelo apoio e estímulo em todas as horas. Sem seu carinho e parceria nestes dezesseis anos essa trajetória não teria sido possível. À Joana agradeço pela alegria que trouxe para nossas vidas. Agradeço à minha mãe Sandra e a meus irmãos Bianca e Bruno, por estarem sempre ao meu lado acreditando no sucesso desta empreitada. Quero agradecer também aos colegas do Instituto de Pesquisa Evandro Chagas, onde parte desta tese foi desenvolvida, e em especial à Eveline Quintella, Ananza Tainá, Alejandro Hasslocher, Valdiléa Veloso e Dra Léa Camillo-Coura, por suas contribuições diretas ou indiretas para este trabalho. À Escola Nacional de Saúde Pública e ao Programa de Epidemiologia em Saúde Pública, na pessoa de seu coordenador Reinaldo Souza Santos, meus sinceros agradecimentos pela ajuda ao longo de todo o curso. Aos professores e também amigos Andrey Cardoso, Vitor Laerte e José Verani, meus agradecimentos pela leitura cuidadosa e contribuições fundamentais para o conteúdo e forma dos estudos aqui reunidos. Ao amigo e professor Gerson Penna meu especial obrigado pela ajuda e generosidade com a qual compartilhou toda a sua experiência como Secretário Nacional de Vigilância em Saúde durante a pandemia de influenza. Ao Professor Carlos Coimbra agradeço a compreensão e parceria ao longo de todo o doutorado. Ao meu orientador Guilherme Werneck meu muito obrigado por ter acreditado no projeto. Seu profundo conhecimento científico e metodológico foi o grande referencial em torno do qual esse trabalho se desenvolveu. v On fait la Science avec des faits comme une maison avec des pierres; mais une accumulation de faits n’est pas plus une Science qu’un tas de pierres n’est une maison.1 Henri Poincaré 1 Faz-se ciência com os fatos, como se faz uma casa com pedras; mas uma acumulação de fatos não é ciência, assim como um monte de pedras não é uma casa. vi Resumo A influenza humana é uma doença infecciosa viral altamente transmissível, de distribuição global, e que apresenta epidemias sazonais. Pequenas mudanças antigênicas frequentes (drifts) tornam indivíduos infectados anteriormente apenas parcialmente protegidos, o que facilita a circulação do vírus anualmente. Quando ocorrem mudanças antigênicas maiores (shifts), o vírus influenza pode originar subtipos com potencial pandêmico, como o influenza A (H1N1) de origem suína que determinou a pandemia de 2009. Nesta tese foram realizados três estudos para analisar diferentes aspectos desta pandemia no Brasil. No primeiro estudo foi descrita a distribuição espacial dos óbitos relacionados à influenza no Brasil em 2009 e 2010. Com os dados disponíveis nos sistemas de vigilância verificou-se que nas Regiões Sul e Sudeste a mortalidade foi mais alta e mais concentrada nos meses de inverno. Os resultados sugerem que medidas preventivas adequadas às características epidemiológicas locais e regionais poderiam ser mais efetivas no controle da influenza do que recomendações nacionais. No segundo trabalho analisou-se o impacto do uso do oseltamivir na letalidade da influenza pandêmica em 426 pacientes internados no Rio de Janeiro em 2009. Encontrou-se uma redução de 60% no risco de óbito nos pacientes que utilizaram o oseltamivir até o quarto dia do início dos sintomas. O terceiro estudo comparou a incidência de eventos adversos em 511 profissionais de saúde vacinados com duas formulações da vacina de vírus fracionado monovalente contra influenza pandêmica. A vacina sem adjuvante foi aplicada em 171 profissionais, enquanto outros 340 receberam a formulação com o adjuvante lipídico AS03. A vacina com adjuvante mostrou-se significativamente mais reatogênica, com risco de reações adversas locais até seis vezes maior do que no grupo vacinado sem adjuvante. Os resultados desta tese podem contribuir para o aprimoramento das estratégias de prevenção e controle da influenza humana no Brasil. Palavras-chave: Influenza Humana; Vírus da Influenza A Subtipo H1N1; Vacinas contra Influenza; Antivirais; vii Abstract Human influenza is a viral infectious disease that spreads easily, circulates worldwide, and causes annual epidemics. The virus is constantly changing because of the antigenic drifts, making previously infected individuals only partially protected, what facilitates its seasonal circulation. When major antigenic shifts happen, influenza virus subtypes with pandemic potential may appear, such as the influenza A (H1N1) of swine origin that determined the 2009 pandemic. In this thesis we conducted three studies to examine different aspects of that pandemic in Brazil. In the first study we described the spatial distribution of influenza-related deaths in Brazil in 2009 and 2010. With the data available on surveillance systems it was found that in the South and Southeast Regions mortality was higher and more concentrated in the winter months. The results suggest that preventive measures aimed at local and regional epidemiological patterns could be more effective in controlling influenza than general national recommendations. In the second study, we analyzed the impact of oseltamivir treatment on pandemic influenza mortality in 426 hospitalized patients in Rio de Janeiro in 2009. We found a 60% reduction in risk of death in patients who received oseltamivir within four days of symptom onset. The third study compared the incidence of adverse events in 511 health care workers vaccinated with two formulations of monovalent split virus vaccine against pandemic influenza. The vaccine without adjuvant was used in 171 individuals, while 340 received the formulation with the lipid adjuvant AS03. The adjuvanted vaccine was significantly more reactogenic, with the risk of local adverse reactions up to six times higher than in the group vaccinated with the non-adjuvanted formulation. The results of this thesis may contribute to the improvement of prevention and control strategies of human influenza in Brazil. Key Words: Influenza, Human; Influenza A vírus, H1N1 Subtype; influenza Vaccines; Antiviral Agents viii Sumário Agradecimentos................................................................................................................ iv Resumo ............................................................................................................................. vi Abstract ........................................................................................................................... vii Sumário ........................................................................................................................... viii I) Introdução ................................................................................................................... 12 II) Revisão de Literatura .................................................................................................. 16 1) Histórico .................................................................................................................. 16 1.1) Influenza Humana ............................................................................................ 16 1.2) Influenza suína ................................................................................................. 17 1.3) Emergência do vírus influenza A H1N1 pandêmico de linhagem suína .......... 18 2) O vírus ..................................................................................................................... 19 3) Manifestações Clínicas............................................................................................ 21 3.1) Clínica da infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09: ................................ 23 4) Tratamento ............................................................................................................. 25 5) Prevenção ............................................................................................................... 27 5.1) Vacinação ......................................................................................................... 27 5.2) Profilaxia........................................................................................................... 28 5.3) Medidas não farmacológicas ........................................................................... 29 6) Epidemiologia ......................................................................................................... 29 6.1) Pandemia de 2009 ........................................................................................... 31 6.2) Pandemia no Brasil........................................................................................... 33 III) Objetivos.................................................................................................................... 36 1) Objetivo geral: ........................................................................................................ 36 2) Objetivos específicos: ............................................................................................. 36 ix IV) Metodologia .............................................................................................................. 36 1) Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil............................................................................................................................ 36 1.1) Desenho do estudo .......................................................................................... 36 1.2) Área do Estudo ................................................................................................. 37 1.3) Fonte de Dados ................................................................................................ 37 1.4) Análise .............................................................................................................. 37 2) Impacto do uso de oseltamivir na mortalidade por Influenza A(H1N1)pdm09 em pacientes internados no Rio de Janeiro, Brasil. .......................................................... 38 2.1) População e Desenho do Estudo ..................................................................... 38 2.2) Variáveis ........................................................................................................... 38 2.4) Análise .............................................................................................................. 39 3) Comparação de eventos adversos pós-vacinação contra influenza A (H1N1) pdm09 com ou sem adjuvante entre profissionais de saúde no Rio de Janeiro, Brasil. ........ 40 3.1) Local e População do Estudo ........................................................................... 40 3.2) Coleta de dados................................................................................................ 40 3.3) Análise dos dados............................................................................................. 41 V) Resultados .................................................................................................................. 42 1) Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil............................................................................................................................ 42 Figura 1 – Mortalidade (óbitos por 100.000 habitantes) associada à influenza (CID 10: J10 a J18 e J22) no Brasil e regiões, 2006 a 2010. ............................................. 44 Figura 2 – Mortalidade mensal associada à influenza (CID 10: J10 a J18 e J22) no Brasil e Regiões (óbitos/100.000 habitantes), 2006 a 2010. .................................. 45 Figura 3 – Óbitos mensais em casos confirmados de Influenza notificados no SINAN por regiões geográficas, 2009 a 2010. ......................................................... 46 x 2) Impacto do uso de oseltamivir na mortalidade por influenza A(H1N1)pdm09 em pacientes internados no Rio de Janeiro, Brasil. .......................................................... 47 Tabela 1 - Características dos pacientes e fatores associados ao óbito baseado no teste χ2 de Pearson, e os riscos relativos estimados pelo modelo de regressão de Poisson univariado. ................................................................................................. 49 Tabela 2 - Análise multivariada da associação entre óbito e variáveis selecionadas em pacientes internados com influenza a H1N1 .................................................... 50 Tabela 3 - Características das mulheres em idade fértil e associação entre as variáveis e óbito por influenza ................................................................................ 51 Tabela 4 - Análise multivariada da associação entre óbito e variáveis selecionadas em mulheres em idade fértil internadas com influenza A H1N1 ............................ 52 3) Comparação de eventos adversos pós-vacinação contra influenza A (H1N1) pdm09 com ou sem adjuvante entre profissionais de saúde no Rio de Janeiro, Brasil. ........ 53 Tabela 5 – Características das vacinas e dos profissionais de saúde em cada grupo ................................................................................................................................. 55 Tabela 6 – Número e percentual de profissionais de cada grupo com diferentes EAPV em cada avaliação, e razão de prevalência (RP) das reações em grupos vacinados com ou sem adjuvante ........................................................................... 56 VI) Discussão ................................................................................................................... 57 1) Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil............................................................................................................................ 57 2) Impacto do uso de oseltamivir na mortalidade por influenza A(H1N1)pdm09 em pacientes internados no Rio de Janeiro, Brasil. .......................................................... 59 3) Comparação de eventos adversos pós-vacinação contra influenza A (H1N1) pdm09 com ou sem adjuvante entre profissionais de saúde no Rio de Janeiro, Brasil. ........ 62 VI) Conclusão .................................................................................................................. 64 VII) Bibliografia ............................................................................................................... 66 VIII) Anexos ..................................................................................................................... 77 xi Anexo 1 ....................................................................................................................... 77 Comparison of adverse events following immunization with pandemic influenza A(H1N1)pdm09 vaccine with or without adjuvant among health professionals in Rio de Janeiro, Brazil ............................................................................................... 77 Anexo 2 ....................................................................................................................... 92 Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil. ....................................................................................................................... 92 Anexo 3 ..................................................................................................................... 104 Henoch-Schönlein purpura following influenza A H1N1 vaccination ................... 104 12 I) Introdução A Influenza humana é uma doença febril aguda autolimitada causada pelos vírus influenza do tipo A ou B, que tem distribuição global e possui como característica marcante apresentar epidemias anuais com dimensão e gravidade variáveis1. A elevada carga de doença e as frequentes mudanças antigênicas estão associadas a complexos padrões epidemiológicos de disseminação que tornam o controle da infecção um desafio2. Em 2009 houve a emergência de um novo subtipo de influenza A (H1N1) a partir de uma linhagem suína, classificado como A/California/7/2009 H1N13, e este subtipo determinou uma nova pandemia, o que não ocorria desde 19684. Esta foi portanto a primeira pandemia a acontecer em um mundo globalizado, com rápida e intensa circulação de pessoas e mercadorias – o que tem grande influência sobre a disseminação do vírus entre países – e com transmissão de informações em tempo real, o que introduz novas ferramentas para seu acompanhamento e monitoramento5. Mudanças antigênicas relevantes (shifts) fazem parte da biologia e da dinâmica evolutiva do vírus Influenza, e são um fenômeno observado de tempos em tempos 6. Entretanto, cada subtipo novo emerge com características próprias que determinam, entre outros comportamentos, sua transmissibilidade, sua virulência e o grau de imunidade cruzada com subtipos anteriores6. A primeira pandemia do século XXI foi identificada rapidamente, e medidas de prevenção e controle foram tomadas em uma escala e com uma velocidade sem precedentes na história das epidemias 7. No entanto, todas as medidas e pressuposições iniciais se baseiam em induções a partir do conhecimento obtido pela observação do comportamento de subtipos anteriores. Considerando que a própria classificação do vírus como novo subtipo se baseia justamente em sua diferença em relação às cepas anteriores, a pandemia de influenza pode ser entendida como uma doença antiga ao mesmo tempo em que é também uma doença nova. Faz-se necessário então uma observação metódica do comportamento do novo subtipo pandêmico e de seus determinantes. 13 A abordagem da influenza humana pode ser dividida em três grandes áreas, listadas abaixo com alguns exemplos de tópicos de interesse dentro de cada uma delas: Vigilância Epidemiológica o Distribuição espaço-temporal, sazonalidade o Vigilância virológica o Indicadores e fatores de risco de morbidade e mortalidade Abordagem clínica o Descrição das formas clínicas o Diagnóstico o Tratamento Prevenção e controle o Imunização o Profilaxia o Medidas não-farmacológicas de controle da transmissão Esta tese tem o objetivo de investigar um aspecto de cada uma dessas áreas, buscando uma melhor compreensão dos fenômenos associados à influenza pandêmica no Brasil. Conhecer detalhadamente a epidemiologia da influenza no Brasil e seus determinantes é de grande importância para o planejamento da vacinação anual e para a organização da assistência, e é fundamental verificar se o padrão de circulação da cepa pandêmica difere da esperada para a influenza sazonal. Um dos parâmetros observados para estudar a epidemiologia da influenza é a forma e a velocidade em que ocorre a transmissão do vírus em uma população de determinado território8. Essa dinâmica através da qual um fenômeno localizado em uma área se move para outra área pode também ser chamado de difusão9. Esse padrão de difusão da doença, conhecido como “onda” de influenza, pode ser determinado para diferentes níveis de agregação, como hemisférios, continentes, países ou cidades. Além das propriedades do subtipo e da imunidade da população, fatores ambientais, demográficos e 14 comportamentais também influenciam a circulação e a atividade do vírus influenza 10. Em regiões temperadas observa-se um padrão sazonal típico, com picos de incidência no inverno, enquanto que regiões tropicais e subtropicais não apresentam esse mesmo padrão11. Sendo um país de dimensões continentais, abrangendo desde a região equatorial ao norte até a zona temperada subtropical ao sul, o Brasil apresenta em seu território uma diversidade climática e ambiental cujo impacto sobre a circulação do vírus influenza ainda não está esclarecido12. Conhecer a dinâmica do novo vírus durante a pandemia é importante não só para as ações de combate e controle direcionadas a esta cepa, mas para permitir a identificação de alterações no padrão de circulação que sugiram a emergência de um novo subtipo, e para subsidiar a construção de modelos de predição13. A primeira pergunta que buscamos responder então foi com que intensidade e em que momento a influenza pandêmica atingiu as diferentes regiões do país. Depois da fase inicial de contenção da pandemia, a nova cepa viral inevitavelmente alcança a transmissão sustentada dentro dos territórios e o objetivo passa a ser a redução da morbimortalidade associada a circulação do vírus14. Até que uma vacina esteja disponível, isso só pode ser alcançado com o tratamento efetivo dos pacientes infectados. Desde seu surgimento, o novo vírus influenza A (H1N1) mostrouse resistente às adamantases, restando os inibidores da neuraminidase como drogas de escolha para o tratamento da infecção15. A evidência científica disponível no início da pandemia sobre a efetividade dos inibidores da neuraminidase, especialmente o oseltamivir, dava conta de uma redução no tempo de sintomas e sugeria uma possível redução na incidência de complicações, sem dados consistentes sobre prevenção de formas graves e redução na mortalidade16,17. Importante lembrar ainda que mesmo a limitada evidência disponível havia sido produzida em cepas diferentes do vírus influenza, antes do surgimento do subtipo pandêmico. Como a influenza é uma doença aguda sem sequelas associadas, o desfecho de interesse para o tratamento da doença é a redução da mortalidade associada à infecção. A segunda pergunta que passou a ser objetivo desse trabalho foi qual a efetividade do oseltamivir na prevenção do óbito por influenza pandêmica. 15 O principal mecanismo de proteção individual e de controle da transmissão de influenza é a vacinação18. Depois da pandemia instalada e da abordagem terapêutica estar definida, é a implantação da imunização contra o novo subtipo que permite o controle da doença de forma mais efetiva19. Desde o reconhecimento do novo vírus, o desenvolvimento de uma vacina contra a cepa pandêmica tornou-se uma prioridade, desafiando a capacidade de resposta coordenada e a eficiência do complexo industrial da saúde, da comunidade científica e das autoridades internacionais de saúde 20 .A velocidade com que o objetivo foi alcançado deixou claro que o esforço foi bem sucedido: em 29 de abril, o subtipo do vírus influenza A/California/7/2009 foi selecionado como a cepa de referência internacional para a fabricação da vacina, e apenas cinco meses depois, em 21 de setembro de 2009, a vacinação foi iniciada na China21. No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) realizou uma campanha de vacinação contra a influenza A (H1N1) pandêmica entre os dias 08 de março e 21 de maio de 201022. A campanha utilizou vacinas monovalentes produzidas por três laboratórios diferentes, Glaxo SmithKline (GSK), Sanofi Pasteur/Butantan e Novartis, todas utilizando o vírus inativado fracionado como antígeno e timerosal como conservante. A vacina da GSK foi a única que também continha um adjuvante, o AS03, composto de esqualeno, DL-α tocoferol e polissorbato 80, que havia sido utilizado anteriormente em vacinas pré-pandêmicas23-25, mas não estava presente em qualquer uma das vacinas contra a gripe sazonal utilizadas em campanhas anteriores. Sendo um adjuvante novo, com poucas evidências disponíveis sobre sua segurança em mulheres grávidas, a OMS recomendou que inicialmente a primeira escolha para este grupo deveria ser de preparações inativadas e sem adjuvantes, quando disponíveis26, o que levou à contraindicação da vacina com adjuvante nesta população pelo Ministério da Saúde22. Por conta das preocupações com a segurança e da urgência em iniciar a utilização da vacina pandêmica em larga escala antes da temporada de influenza de 2010, a vigilância pós-comercialização de eventos adversos passou a ter grande importância, especialmente para a detecção de eventos adversos pós-vacinais (EAPV) raros. Um exemplo dessa atribuição da vigilância foram os casos de narcolepsia recentemente observados que levaram a Agência Europeia de Medicamentos a 16 restringir o uso da vacina com adjuvante AS03 em pessoas com menos de vinte anos de idade27. A segurança da vacina é uma informação fundamental, tanto para definir o equilíbrio risco versus benefício que irá em última instância determinar a utilização ou não da vacina, quanto para subsidiar estratégias de estímulo à adesão à vacina. Em uma situação em que se tem dois tipos distintos de vacina em uso que teriam supostamente a mesma efetividade, o perfil de eventos adversos será determinante na escolha de qual delas de deve utilizar. A terceira pergunta que este trabalho pretende responder é sobre a segurança das formulações de vacina contra influenza utilizadas na primeira campanha do Brasil. A proposta desta tese é portanto responder questões específicas sobre diferentes aspectos da pandemia de influenza no Brasil. A falta de evidências conclusivas sobre várias questões relacionadas ao novo subtipo pandêmico do vírus influenza, e sobre o próprio fenômeno de surgimento da pandemia, dificulta a implantação de medidas de prevenção e controle da doença. Espera-se que os estudos aqui apresentados, que buscam entender melhor a dinâmica da influenza pandêmica no Brasil e avaliar estratégias terapêuticas e preventivas, possam contribuir para a formulação de políticas que reduzam o impacto da influenza sobre a saúde da população. II) Revisão de Literatura 1) Histórico 1.1) Influenza Humana Há pelo menos 400 anos o vírus influenza tem causado epidemias em intervalos de um a três anos. Embora não apresente uma manifestação clínica característica, a alta taxa de ataque, o caráter explosivo das epidemias e a frequência de tosse como sintoma permitiu a identificação em registros históricos de 299 possíveis epidemias de influenza entre 1173 e 1875, um intervalo médio de 2,4 anos entre cada uma delas 28. A maior pandemia conhecida da história, a “gripe espanhola” de 1918-1919, registrou durante três ondas globais 21 milhões de mortes29. 17 Embora a influenza já fosse reconhecida como entidade nosológica desde a antiguidade, seu agente causal só foi identificado em 1933 com o primeiro isolamento do vírus influenza A e, apenas em 1936, com o desenvolvimento do método de cultivo do vírus em ovos embrionados, é que foi possível estudá-lo mais detalhadamente e desenvolver uma vacina inativada1. Após o isolamento do tipo A, o vírus influenza tipo B foi identificado em 1939 e o influenza tipo C em 1950. 1.2) Influenza suína Até a pandemia de 1918 a influenza ainda não havia sido descrita em porcos, quando em 30 de setembro daquele ano, no Cedar Rapids Swine Show de Iowa, foi observada uma doença respiratória nos suínos que participavam da exposição semelhante à síndrome gripal que estava atingindo seres humanos naquele momento. Foi então levantada a hipótese de existência de uma influenza suína, sem se entender completamente sua relação com a influenza humana30. Em 1931, antes portanto do primeiro isolamento do vírus influenza, Robert Shope demonstrou a transmissão da doença entre porcos a partir da secreção de animais doentes. Restava a dúvida quanto à transmissão entre porcos e homens. Shope demonstrou, então, a existência de anticorpos neutralizantes para influenza suína e humana em menores de seis meses e maiores de doze anos, enquanto que as crianças nesse intervalo de idade apresentavam anticorpos apenas contra influenza humana. Esse achado sugeria que o vírus da influenza suína ou outro antigenicamente semelhante havia circulado na população humana em 1918, e que crianças nascidas depois disso não haviam sido expostas a esse mesmo vírus. Os resultados afastavam também a possibilidade de reatividade cruzada total entre anticorpos heterólogos, já que a infecção passada pelo vírus da influenza humana podia ser verificada em todas as faixas etárias, mas só havia sinais de influenza suína em uma faixa etária bem definida 30. Hoje sabemos que foi um vírus de influenza aviária que superou as barreiras interespécies em 1918, emergindo simultaneamente como vírus humano e suíno. A variante humana começou a sofrer mutações logo em seguida, distanciando-se antigenicamente da cepa inicial, enquanto que a variante suína sofreu maior conservação. Os infectados pela influenza humana em 1918 apresentavam então anticorpos que reagiam também contra o vírus suíno de 18 1931, mas os infectados nos anos seguintes não30. A evidência sorológica inequívoca confirmando a infecção em humanos por vírus da influenza suína só foi documentada em 1958, e o primeiro isolamento de vírus suíno em um humano ocorreu em 1974, em um paciente com doença de Hodgkin que vivia em uma fazenda de porcos 30. Hoje já foi demonstrado um aumento acentuado na prevalência de anticorpos contra influenza suína em trabalhadores de criações de porcos comparados com controles não expostos30. Exposição e infecção são necessários mas não suficientes para um novo vírus epidêmico surgir, uma vez que o vírus deve também passar por adaptações para que possa ser transmitido de forma sustentada. Depois das evidências de uma origem comum entre os vírus da influenza humana e suína, e da possibilidade de infecção cruzada entre espécies, foi documentada a emergência de um vírus humano a partir de um vírus suíno em 1976, quando houve uma epidemia no Fort Dix, Nova Jersey, por um novo vírus A H1N1 de origem suína, com evidência sorológica de 230 casos e um óbito. O R0 (basic reproductive number), que é o número de infecções causadas por uma pessoa infectada introduzida em uma população completamente susceptível, foi estimado em 1.2, abaixo do observado na influenza pandêmica e sazonal, que varia de 1.8 a 2.0. A emergência de um novo vírus de influenza humana nesse episódio levou à implementação de uma campanha de vacinação em massa, que resultou em 40 milhões de doses aplicadas e 532 casos da Síndrome de Guillain-Barré, incluindo 32 óbitos30. Entre 2005 e fevereiro de 2009, pouco antes do surgimento da nova cepa pandêmica de influenza humana derivada de uma cepa suína, a vigilância passiva de influenza nos EUA detectou 11 casos infecção humana pelo vírus suíno, demonstrando que a transmissão zoonótica esporádica de influenza ocorre habitualmente em nosso meio, e que a vigilância virológica de rotina é fundamental para detectar precocemente passagens do vírus pela barreira interespécies31. 1.3) Emergência do vírus influenza A H1N1 pandêmico de linhagem suína Em março de 2009 foi observado um aumento na notificação de síndrome gripal em diversas regiões do México, levando o país a notificar à Organização Mundial 19 de Saúde (OMS) em 12 de abril um surto de síndrome gripal, cumprindo determinações do Regulamento Sanitário Internacional (RSI). O número de casos continuou aumentando, até que no dia 17 de abril, após notificação de casos de pneumonia atípica no estado de Oaxaca, foi emitido um alerta nacional de epidemia 4 . Nesse mesmo dia o Centers for Disease Control e Prevention (CDC) do governo americano isolou em duas crianças da Califórnia, ambas sem história de contato com animais, um vírus influenza de linhagem suína não identificado anteriormente3 . Alguns dias depois, em 23 de abril, várias amostras de casos de síndrome gripal do México foram confirmados como Influenza A (H1N1) da mesma cepa isolada na Califórnia4 . Este subtipo foi classificado como A/California/7/2009 32, e em uma padronização de nomenclatura posterior realizada pela OMS passou a ser chamado de influenza A(H1N1)pdm0933. Considerando as características epidemiológicas e virológicas apresentadas até aquele momento, em 25 de abril a OMS decretou Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional34. Depois de atingir todo o território mexicano e em seguida envolver também o Canadá e os EUA, o vírus se espalhou por todo o mundo, sendo decretada pandemia de influenza pela OMS em 11 de junho 7, a primeira desde 1968 e também a primeira a ser acompanhada em tempo real. Até março de 2010, um ano após o início dos casos, 17.700 óbitos confirmados laboratorialmente haviam sido notificados à OMS, o que deve ser analisado considerando-se que o número de casos confirmados laboratorialmente subestima consideravelmente o número total de infecções e, por consequência, o real impacto da pandemia35. O Brasil, como membro da OMS e signatário do RSI, seguiu todas as recomendações com relação à vigilância e às medidas de controle, e em 7 de maio de 2009, na semana epidemiológica 17, confirmou seu primeiro caso de influenza A (H1N1)pdm0936. 2) O vírus O vírus influenza pertence à família Ortomixovírus, sendo classificado em três tipos, A, B e C, com base em diferenças antigênicas. Os três tipos apresentam diferenças em sua organização genética, perfil de hospedeiros, comportamento 20 epidemiológico e características clínicas1. O influenza A, que é o tipo com maior variabilidade genética e potencial para causar epidemias, é dividido ainda em subtipos com base em duas proteínas do envelope viral, a hemaglutinina (H) e a neuraminidase (N). Já foram identificadas na natureza 16 tipos de hemaglutinina (H1 a H16) e nove de neuraminidase (N1 a N9)1. Uma das características mais impressionantes do vírus influenza é a sua variabilidade antigênica, que explica porque ele continua sendo um importante causador de doença epidêmica anual mesmo em adultos, já expostos ao vírus ao longo da vida. A variação envolve principalmente as duas glicoproteínas externas, e é chamada de drift ou shift antigênico de acordo com o grau de variação. O drift antigênico está relacionado a pequenas mudanças antigênicas que ocorrem com frequência na hemaglutinina e na neuraminidase virais, resultado da acumulação de mudanças pontuais de aminoácidos nessas glicoproteínas37. Como os anticorpos gerados após contato com as cepas anteriores não neutralizam as novas variantes tão efetivamente, ocorre uma seleção imunológica, e as novas cepas tornam-se predominantes na onda sazonal seguinte1. Já o shift antigênico parece resultar de um mecanismo diferente, também determinado pela seleção imunológica. Após algumas ondas pandêmicas por um mesmo vírus influenza, a proporção de indivíduos imunes na população aumenta, favorecendo a circulação das cepas desse vírus alteradas pelo drift. Esse fenômeno se repete nas epidemias subsequentes por essas cepas com pequenas variações antigênicas, até que após 10 a 30 anos de circulação de variantes desse subtipo a proporção de indivíduos imunes fica muito alta, favorecendo o surgimento de um novo subtipo, que emerge do grande pool de subtipos presentes na natureza6. O novo vírus A(H1N1)pdm09 surgido em 2009 possui uma biologia molecular complexa, com seis genes de origem suína norte-americana e dois de origem eurasiática35. Apesar do genoma distinto de todos os vírus identificados anteriormente, o vírus pandêmico compartilha três genes com o H1N1 sazonal atual e três com o H3N2 sazonal, ainda não estando claro se níveis baixos de proteção cruzada podem conferir alguma proteção clínica contra o novo vírus30,35. Um dos motivos de 21 apreensão após isolamento do novo vírus foi a verificação da existência de três genes que compartilham uma descendência comum com o vírus de 1918, codificando proteínas do nucleocapsídeo, proteínas não estruturais e Hemaglutinina30. 3) Manifestações Clínicas Na apresentação típica de influenza, após 2 a 3 dias de incubação tem início abrupto um quadro sistêmico com febre, calafrios, mialgia, prostração, cefaleia e hiporexia, embora mais raramente esse início possa ser mais insidioso. Habitualmente cefaleia e mialgia são as principais queixas, e sua intensidade está diretamente relacionada à intensidade da febre. Os sintomas sistêmicos duram cerca de três dias, cedendo com a diminuição da temperatura corporal. Sintomas respiratórios como tosse, odinofagia (faringite), obstrução nasal e rinorreia estão presentes, mas ficam em segundo plano em consequência do predomínio do quadro sistêmico, ganhando importância com a diminuição da temperatura corporal, principalmente a tosse, em geral a principal queixa nesse período. Ao contrário dos outros sintomas respiratórios que duram cerca de quatro dias após a fim da febre, a tosse pode persistir por algumas semanas38. Dentre todos os sintomas, a febre é o mais característico, e a presença de um quadro sistêmico é o principal diferencial em relação ao resfriado comum. Nos extremos de idade podemos observar algumas diferenças na apresentação da influenza. Em crianças a taxa de ataque secundário é maior, a febre costuma ser mais alta e é mais frequente a presença de linfadenopatias cervicais. Já em idosos a febre continua presente, mas em geral mais branda, e as complicações pulmonares são bem mais comuns1. Apesar de nem sempre ser percebida clinicamente, a infecção aguda por influenza causa anormalidades na função pulmonar mesmo em pacientes previamente hígidos sem sinais de complicação, e em provas de função pulmonar é possível observar alterações por semanas após a recuperação clínica38. Entre as complicações de influenza, as mais comuns são as pulmonares 35. A pneumonia viral primária é uma complicação rara mas potencialmente grave. É a principal causa de óbito em adultos jovens, e é mais comum em portadores de doença 22 pulmonar ou cardiovascular crônicas, especialmente cardiopatia reumática, em gestantes e em imunodeprimidos. A pneumonia normalmente começa com a apresentação típica de influenza, evoluindo com piora da febre e da tosse e levando a dispneia, cianose e hipoxemia. Estudos de imagem mostram um acometimento pulmonar bilateral difuso, com padrão de síndrome de angústia respiratória do adulto, sem consolidações 1. Já a pneumonia bacteriana secundária é clinicamente indistinguível de uma pneumonia bacteriana não relacionada ao vírus, sendo a principal responsável pela morbidade e mortalidade associadas à influenza, principalmente em adultos. É mais comum em idosos e em portadores de doenças pulmonares, cardiovasculares e metabólicas crônicas, que em geral apresentam um quadro típico de influenza, e após 4 a 14 dias de recuperação evoluem com recrudescência da febre e com sinais de pneumonia bacteriana. Os agentes mais comuns nesses casos são o Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Staphylococcus aureus39. Estudos sugerem que o mecanismo da infecção bacteriana secundária a influenza está relacionado ao aumento no risco de doença invasiva em portadores, e não ao aumento da transmissão das bactérias40. Outras complicações pulmonares são a exacerbação de DPOC, como bronquite e asma41, e pneumonia viral localizada, mais leve e semelhante a um quadro de pneumonia atípica. Além do envolvimento pulmonar, podemos observar miosite42, miocardite, pericardite43 e síndrome do choque tóxico, por provável interferência na flora estafilocócica1. A influenza também tem sido associada à síndrome de GuillainBarré, embora o vínculo causal não esteja claramente estabelecido1. A síndrome de Reye, caracterizada por uma encefalopatia após infecção viral, pode ser causada também pela infecção por influenza. Com manifestações que vão desde letargia e delirium até convulsão e parada respiratória, ocorre quase que exclusivamente em crianças com infecção viral que utilizam aspirina, e por isso essa medicação deve ser evitada nesses casos1. Apesar de em algumas situações proteínas como a hemaglutinina e a NS1 terem demonstrado estar relacionadas à virulência, ainda há pouca evidência de que 23 existam diferenças estruturais inerentes às cepas virais que possam explicar diferenças em sua patogenicidade. Em vez disso, parece ser o grau de imunidade da população o maior determinante da gravidade das epidemias1. A infecção pelo vírus influenza resulta em desenvolvimento de anticorpos contra as glicoproteínas do envelope hemaglutinina e neuraminidase e contra as proteínas estruturais M e NP 44. Duas semanas após a inoculação do vírus aparecem simultaneamente IgM, IgG e IgA contra hemaglutinina, e 4 a 7 semanas após a infecção observamos o pico no nível desses anticorpos, quando começam então a declinar lentamente. Os anticorpos ainda são detectáveis por anos em níveis baixos, voltando a subir rapidamente em caso de reexposição44. Para o diagnóstico de influenza podem ser utilizadas secreções respiratórias coletadas com swab nasal, swab de orofaringe, swab combinado (nasal e orofaringe) ou aspirado nasal, sendo este último o de melhor rendimento45. Os métodos utilizados para identificação do vírus são a cultura, PCR e identificação de antígeno. Métodos sorológicos como a fixação de complemento e a inibição de hemaglutinação permitem verificar a presença de anticorpos. 3.1) Clínica da infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09: A infecção pelo vírus influenza A(H1N1)pdm09 apresentou algumas características comuns às infecções por influenza e outras específicas dessa cepa. Em um grande inquérito sorológico realizado antes e após a pandemia nos EUA verificouse que 54,4% das infecções foram assintomáticas46. Em uma análise da OMS com informações de todos os continentes é descrito que a maioria dos pacientes sintomáticos evoluiu com síndrome gripal clássica com febre, tosse, faringite e rinorreia, após um período de incubação de 1,5 a 3 dias, que pode se prolongar por até 7 dias35 . Uma apresentação clínica mais leve, chamando a atenção pela ausência de febre, foi informada em 8 a 32% dos infectados, e a presença de sintomas gastrointestinais foi mais comum do que na influenza sazonal. Os sinais de progressão para formas graves ou complicações envolveram dispneia, taquipneia em crianças, dor no peito, hemoptise, escarro purulento, febre prolongada ou recorrente, estado mental alterado, manifestações de desidratação e recrudescimento de sintomas 24 respiratórios após melhora inicial. Doença pulmonar preexistente foi um importante fator de risco, com 24 a 50% dos pacientes hospitalizados com história de asma e 36% dos adultos com história de doença pulmonar obstrutiva crônica35 . Dentre as complicações, a principal síndrome clínica que levou a internação foi a pneumonite viral difusa, associada com hipoxemia grave, síndrome de angústia respiratória do adulto, e ocasionalmente choque e insuficiência renal. A progressão rápida é a regra, começando no 4º ou 5º dia de doença, com entubação em menos de 24h. Essa síndrome foi responsável por 49 a 72% das internações em terapia intensiva, e o CURB-65 não se mostrou um escore de gravidade adequado para as pneumonites. A outra complicação pulmonar comum nos casos graves é a pneumonia bacteriana, diagnosticada em 20 a 24% de pacientes em terapia intensiva e encontrada em 26 a 38% de pacientes que foram a óbito35 . Os achados radiológicos habituais na pneumonite viral foram infiltrados difusos mistos intersticiais e alveolares, com eventual distribuição lobar e multilobar principalmente nos casos de coinfecção bacteriana. Na tomografia computadorizada de tórax foram observadas opacidades em vidro-fosco, broncogramas aéreos e consolidação alveolar, particularmente em lobos inferiores35 . As alterações laboratoriais inespecíficas mais comuns foram linfopenia e aumento de transaminases. Nos casos graves com presença de miosite e rabdomiólise observou-se também aumento de desidrogenase lática (LDH), creatinoquinase (CK) e creatinina. Além da miosite, trombocitopenia e acidose metabólica estavam associadas a mau prognóstico35 . O diagnóstico diferencial deve considerar outros vírus respiratórios, legionelose, meningococcemia, leptospirose, dengue e malária. Deve-se ter em mente também a possibilidade de coinfecção, tendo sido descritas coinfecções com dengue, parainfluenza, vírus sincicial respiratório (RSV), pneumococo e influenza sazonal35. O método de escolha para o diagnóstico etiológico é o RT-PCR. Aspirado ou swab de nasofaringe no início do quadro são materiais adequados, com pico de isolamento em nasofaringe no dia de início dos sintomas. Com período de excreção 25 viral maior do que na influenza sazonal, no 8º dia de doença não complicada 74% dos pacientes ainda apresentavam RNA viral em nasofaringe. O influenza A(H1N1)pdm09 tem maior tropismo e patogenicidade em tecido pulmonar, e como consequência em aspirados endotraqueais ou broncoscópicos de pacientes entubados o RNA viral foi encontrado em maior quantidade e por mas tempo do que em vias aéreas superiores – entre pacientes com isolamento viral em broncoscopia, 19% tinham vias aéreas superiores negativa. O teste rápido para diagnóstico à beira do leito tem aplicação limitada, já que uma recente meta-análise identificou que apesar de alta especificidade (98,2%), sua sensibilidade é baixa, e apresenta grande variação entre diferentes populações, tornando-o um teste ruim para rastreamento47. A imunofluorescência direta ou indireta é menos sensível do que o PCR35 . Para o diagnóstico sorológico os métodos de microneutralização ou inibição de hemaglutinação detectam aumento de título em exames pareados, e amostra única com títulos altos na fase convalescente pode significar infecção recente35 . Achados histopatológicos de pacientes com infecção confirmada pelo vírus influenza demonstraram congestão vascular pulmonar e hemorragia alveolar nos quadros iniciais. Os achados mais consistentes foram lesão alveolar difusa com membrana hialina e edema septal, traqueíte e bronquiolite necrotizante48. Broncopneumonia com evidencia de coinfecção bacteriana foi encontrada em 26 a 38% das necropsias35. Além das infecções bacterianas pulmonares secundárias, comuns também na influenza sazonal, foram descritas infecções secundárias virais e fúngicas, envolvendo agentes como Citomegalovírus e Zigomicetos48. 4) Tratamento Existem quatro drogas disponíveis para tratamento de influenza: oseltamivir, zanamivir, amantadina e rimantadina. As adamantases, classe composta pela amantadina e pela rimantadina são inibidores de M2, ativos contra vírus influenza A, mas sem ação sobre influenza B e C 49. O seu mecanismo de ação é a inibição do canal de íon M2 do vírus influenza A, 26 comprometendo a replicação viral 50. Os efeitos adversos mais comuns são alterações discretas do SNC, como tonteira, vertigem e dificuldade de concentração51. Tanto a Amantadina quanto a Rimantadina demonstraram eficácia contra vírus influenza susceptíveis, reduzindo tempo de sintomas, intensidade da febre e excreção viral quando administradas até 48h após o início do quadro. O grande limitador para utilização dessa classe de antivirais é o rápido desenvolvimento de resistência pelo vírus49, fazendo com que atualmente praticamente todos os isolados de subtipos H3N2 e H1N1pdm09 sejam resistentes a essas drogas15 . A outra classe de antivirais disponível é a dos inibidores de neuraminidase, composta pelo oseltamivir e pelo zanamivir, ambos potentes inibidores dessa enzima tanto no vírus influenza A quanto no influenza B, sendo portanto clinicamente ativas sobre os dois vírus49. A mutação His275Tyr na neuraminidase viral confere resistência ao oseltamivir mas não ao zanamivir, e deve ser suspeitada em pacientes com uso prolongado, particularmente imunodeprimidos e quando há falha na quimioprofilaxia35 . Ainda há controvérsia na literatura sobre a efetividade do tratamento da influenza com antivirais, em parte pela variação no desfecho utilizado – síndrome gripal, infecção confirmada, desenvolvimento de formas graves ou óbito – e em parte por diferenças na dose, duração e dias de doença ao iniciar o tratamento. Uma grande meta-análise da Cochrane Collaboration concluiu que o tratamento com inibidores da neuraminidase é efetivo na redução do tempo de doença contra influenza confirmada, mas não contra síndrome gripal, e que não há evidência suficiente para concluir sobre redução de complicações ou óbitos 16. Outros ensaios, no entanto concluíram que além do tempo de doença, o oseltamivir reduz a gravidade da influenza e parece reduzir também a incidência de complicações secundárias52. Em indivíduos imunocompetentes o período de replicação viral após a infecção é curto, o que explicaria porque quanto mais precoce for a utilização dos antivirais maior será a efetividade do tratamento1,49. De fato, ensaios clínicos randomizados 27 analisando casos de influenza sazonal não complicada mostraram benefício apenas quando o tratamento era iniciado até 48h após o início dos sintomas 16,52,53. Apesar da pouca evidência de benefício na utilização dos antivirais após 48h de doença, ainda se questiona se em populações específicas, como imunodeprimidos por exemplo, a terapia tardia poderia ter ainda algum benefício, principalmente sobre as formas graves e as complicações1. O influenza pandêmica A (H1N1)pdm09 mostrou-se sensível ao oseltamivir (tamiflu®) e ao zanamivir (relenza®) e resistente à amantadina e à rimantadina, portanto seu tratamento se restringe ao uso das neuraminidases54 . A terapia precoce reduziu a duração da hospitalização e o risco de progressão para doença grave e terapia intensiva em alguns estudos, mas mortes também aconteceram apesar da terapia precoce35. A administração do oseltamivir após 48h pode estar associada à redução na letalidade de pacientes hospitalizados com influenza, devendo ser considerada em casos graves, juntamente com aumento da dose para 150mg duas vezes ao dia e ampliação do período de tratamento para 10 dias54. 5) Prevenção 5.1) Vacinação As primeiras vacinas contra influenza foram desenvolvidas ainda nos anos 30, utilizando células virais inteiras como antígeno. A partir dos anos 70 as vacinas de vírus fragmentado foram introduzidas, mostrando-se menos reatogênicas do que as formulações anteriores. Apesar destas vacinas de vírus fragmentado serem as mais utilizadas atualmente, ainda são utilizadas as vacinas com antígenos de célula inteira e as vacinas vivas atenuadas55. As campanhas de vacinação contra influenza sazonal são realizadas desde o ano 2000 no Brasil, direcionadas a idosos e algumas populações de risco. O momento da vacinação em relação ao pico de circulação da influenza é fator determinante da efetividade desta medida preventiva, e na primeira vacinação realizada após o 28 surgimento da influenza A(H1N1)pdm09 verificou-se que o número de casos evitados estava relacionado ao momento de aplicação da vacina56. Modelos matemáticos ainda com aplicação limitada, tem tentado prever o momento ótimo para aplicação da vacina contra influenza, evitando o maior número de casos e óbitos possíveis57. A efetividade da vacina ainda é questionada, e em meta-análise de ensaios clínicos avaliando a vacina contra influenza inativada, demonstrou-se proteção moderada contra infecção confirmada, sem evidências de impacto na incidência de formas graves e no óbito18. Em outra meta-análise mais recente, verificou-se que 35% dos estudos identificados demonstraram proteção contra infecção clínica confirmada, com eficácia média de 59% para adultos entre 18 e 65 anos58. O estudo Europeu IMOVE que avaliou a vacina sazonal da temporada 2010/2011 concluiu que a vacina trivalente conferiu proteção moderada contra doença confirmada laboratorialmente. A efetividade global foi de 52%, variando de 55% para influenza A H1N1 a 50% para influenza B. Ajustada por idade, a efetividade foi de 66% em crianças de 0 a 14 anos, 41% de 15 a 59 anos e 60% em maiores de 60 anos59. A vacina contra influenza pandêmica foi avaliada, em grande parte, por meio de estudos de imunogenicidade e de estudos clínicos observacionais, já que a urgência na sua utilização não permitiu a realização de grandes ensaios clínicos controlados. Em inquérito soroepidemiológico realizado nos EUA encontrou-se 16% dos vacinados contra influenza A(H1N1)pdm09 sem a presença de anticorpos protetores46. Em um estudo caso-controle realizado na Espanha, a efetividade da vacina pandêmica foi de 62 a 64%60, e em uma meta-análise de cinco estudos observacionais, a efetividade média da vacina foi de 69 %58. 5.2) Profilaxia O uso de oseltamivir em comunicantes domiciliares expostos a pacientes com influenza confirmada reduz o risco de transmissão intradomiciliar49. A profilaxia da infecção com a utilização do oseltamivir está entre as recomendações oficiais para manejo da influenza, e é indicada para profissionais de saúde, profissionais de laboratório e para pacientes que possuam fator de risco para complicações e que tenham sido reconhecidamente expostos a ao vírus influenza nas últimas 48h 61. 29 5.3) Medidas não farmacológicas Utilização de máscara e higienização das mãos, mas não uso de máscara isoladamente, sugeriram redução da transmissão em ensaio clínico, embora a força da evidência não seja grande62. Em ambiente hospitalar recomenda-se precaução de contato e respiratória. 6) Epidemiologia A influenza é transmitida pessoa a pessoa por meio do contato com secreções respiratórias. Ainda é motivo de controvérsias o papel relativo das partículas grandes, como as gotículas de secreção respiratória e da saliva, e das partículas pequenas (<10µm de diâmetro) como os aerossóis produzidos durante a tosse e em procedimentos hospitalares, mas admite-se que a transmissão ocorra na maioria das vezes por partículas grandes63. É com base nessa característica que se recomenda isolamento de pacientes apenas com precauções de contato e gotículas, embora em várias situações específicas, como em surtos dentro de aeronaves e em modelos experimentais, tenha se verificado transmissão por aerossóis com grande eficiência63. A alta transmissibilidade da influenza pode ser demonstrada pelas taxas de ataque observadas durante as epidemias, que ficam em torno de 10 a 20% em populações não vacinadas, mas podem chegar até a 50% em situações específicas 41,64. A idade tem grande influência sobre o risco individual de influenza, que apresenta uma curva epidêmica em forma de U com taxas de ataque habitualmente maiores nos jovens, enquanto que a letalidade é mais expressiva nos idosos64. A morbidade e mortalidade também são particularmente altas quando associadas a algumas condições clínicas como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças metabólicas, hemoglobinopatias, insuficiência renal, imunodeficiência e gestação 65. A morbidade e a mortalidade associadas à circulação do vírus podem ser determinadas pela observação do aumento na hospitalização e na mortalidade associada à pneumonia e influenza (P&I) durante uma epidemia66. Essa mortalidade em excesso pode ser calculada também para todas as causas, ou seja, um aumento na mortalidade geral observado durante o período de circulação do vírus influenza. Embora menos precisa que a mortalidade por P&I, alguns autores sugerem que esse critério mais 30 sensível tende a refletir melhor a carga de doença associada à influenza por incluir óbitos indiretamente associados à infecção67. Os custos diretos com influenza representam apenas cerca de 20% do impacto econômico da doença – 30 a 50% desse custo resulta da perda de produtividade 68. Estima-se que um caso típico de influenza cause 5 a 6 dias de restrição de atividades, sendo 3 a 4 dias com restrição até de deambulação, e 3 dias perdidos na escola ou trabalho1. Um traço característico da influenza é sua natureza epidêmica 1, com marcante padrão sazonal em regiões temperadas, apresentando picos de incidência no inverno, tipicamente entre dezembro e abril no hemisfério norte e entre junho e setembro no hemisfério sul69. Regiões tropicais e subtropicais apresentam transmissão de influenza durante todo o ano, mas também estão sujeitas a oscilações sazonais na incidência, influenciada pelas estações chuvosas12. Nessas regiões pode inclusive ocorrer mais de um período de atividade viral por ano12. As razões para essas alterações sazonais não estão totalmente claras, mas alguns estudos apontam o clima e a relação entre temperatura e humidade como o principal determinante desse padrão de ocorrência, com influência direta sobre a sobrevivência do vírus no ambiente, sobre a eficiência de transmissão e sobre a susceptibilidade do hospedeiro. Alterações no clima também teriam influência indireta por meio de mudanças nos padrões de aglomeração humana e de ventilação em ambientes fechados12,69. Os eventos observados em uma epidemia seguem uma ordem, primeiro com o surgimento de doença febril respiratória em crianças, seguida pelo aumento de síndrome gripal entre adultos. Após esses eventos verifica-se um aumento no número de internações por pneumonia, exacerbação de DPOC e insuficiência cardíaca, e finalmente registra-se aumento no absenteísmo no trabalho e escolar. O último indicador a apontar a presença de epidemia é o aumento na mortalidade por pneumonia, o que é explicado pelo intervalo entre surgimento da doença e óbito, e pela demora na consolidação de dados de mortalidade pelas autoridades 70. 31 Os fatores que levam ao fim de uma epidemia não são totalmente conhecidos. Embora surtos se encerrem antes de esgotados os susceptíveis1, é a relação entre o número de indivíduos susceptíveis e imunes em uma determinada área que vai determinar o risco e a magnitude da próxima onda sazonal71. Normalmente uma única cepa de influenza predomina durante uma epidemia, mas em alguns casos verifica-se mais de uma linhagem de uma mesmo subtipo, dois subtipos diferentes de influenza A ou até mesmo influenza A e B circulando simultaneamente72. Quando ocorre a emergência de um novo vírus para o qual a população não possui imunidade e este determina uma epidemia grave que se espalha por todo o mundo, temos uma pandemia. Em uma pandemia observamos algumas características como, por exemplo, a transmissão extremamente rápida, com surtos ocorrendo simultaneamente em diversas partes do mundo, sem respeitar necessariamente a sazonalidade habitual. A taxa de ataque costuma ser alta em todas as faixas etárias, com mortalidade elevada em adultos jovens. Há também a presença de ondas secundárias imediatamente após a onda inicial1. Para desenvolver estratégias de controle da influenza específicas para as características epidemiológicas locais, os padrões e determinantes da circulação do vírus nas regiões equatorial, tropical e temperada devem ser entendidos, permitindo entre outras coisas aprimorar localmente a seleção de cepa vacinal e o momento mais adequado para a vacinação12. 6.1) Pandemia de 2009 Durante a pandemia as taxas de ataque variaram de 4 a 28% e o número básico de reprodução foi estimado entre 1.4 e 1.671, semelhante ao encontrado na influenza sazonal e inferior ao observado em pandemias anteriores73. A definição de caso utilizada em cada estudo, no entanto, tem grande influência sobre o resultado encontrado. A utilização de doença confirmada laboratorialmente ou mesmo síndrome gripal como desfechos, por exemplo, subestima muito essa taxa de ataque considerando-se o grande número de infecções assintomáticas. Inquéritos sorológicos 32 identificaram até 52,7% de positividade após a pandemia, mostrando uma transmissão muito maior do que as taxas de ataque calculadas identificaram 46. A incidência foi maior em crianças e adultos jovens74, e a faixa etária mostrouse um fator determinante para a transmissibilidade, com incidências 2 a 5 vezes maiores em crianças até 14 anos quando comparadas a adultos ou idosos 13,75-77, e números de reprodução chegando a 3,0 e 3,6 em situações específicas como surtos em escolas35. Esse padrão fez com que as crianças tivessem papel fundamental na transmissão da influenza pandêmica56, e em alguns casos as diferenças de taxa de ataque observadas entre países pode ser parcialmente explicada pelas diferenças demográficas existentes entre eles73. A maior parte das infecções foram agudas e autolimitadas e a maioria dos fatores de risco para doença grave por influenza sazonal também estavam associados a infecções graves pela influenza A(H1N1)pdm09. O número total de óbitos por influenza durante a pandemia foi de 18.15678, muito mais baixo até do que as previsões mais otimistas, que falavam em 2 a 7 milhões de óbitos 79. A taxa de letalidade ficou abaixo de 0,5% e a grande variação nas estimativas (0,0004 e 1,47%) reflete a incerteza na confirmação diagnóstica. A taxa de letalidade entre sintomáticos ficou em 0,048% nos EUA e 0,026% na Inglaterra. De 9 a 31% dos hospitalizados precisaram de UTI, onde 14 a 46% faleceram35. A presença de sinais clínicos e laboratoriais de gravidade foi o maior fator preditor de óbito80. A idade avançada, no entanto, não influenciou os quadros graves da mesma forma que na influenza sazonal. Na Inglaterra a maior parte das formas graves ocorreu em crianças e adultos jovens. Nos EUA 90% das mortes ocorreram em menores de 65 anos, e 32 a 45% dos internados tinham menos de 18 anos35. A principal hipótese para explicar a relativa preservação dos idosos em relação às taxas de ataque e principalmente a proteção contra formas graves é de que estes teriam tido contato com cepas semelhantes quando jovens e manteriam ao menos imunidade parcial contra a cepa pandêmica35,73. 33 Existem evidências de que a mudança na faixa etária mais atingida com o surgimento de um novo vírus está mesmo relacionada à imunidade prévia da população. Na primeira onda pós-pandêmica do hemisfério norte, por exemplo, a idade média dos pacientes internados na Inglaterra passou de 20 anos na pandemia para 35 anos no ano seguinte77. Um estudo realizado na Índia verificou que apesar da mortalidade geral baixa, o percentual de óbitos em menores de 12 anos ficou acima do esperado considerando os percentuais observados em anos anteriores com a influenza sazonal, com 18,6% dos óbitos por influenza ocorridos em 2009 atingindo essa faixa etária. Em 2010, no entanto esse percentual na mesma faixa etária caiu para 7,4% 81. A tendência é que a faixa etária mais atingida pelo vírus influenza A (H1N1)pdm09 continue subindo com os anos até se aproximar da faixa etária pré-pandêmica. Dos pacientes que foram hospitalizados ou morreram, 25 a 50% não apresentavam nenhuma comorbidade. Gestantes, obesos, imunodeprimidos e neuropatas apresentaram forte associação com quadros graves35. Comorbidades e gestação também não estavam associadas ao risco de óbito de por influenza80. O acesso e a qualidade da atenção médica dispensada apresentou relação com a letalidade por influenza. Na Inglaterra a análise dos óbitos em crianças sugeriu que a rapidez e a qualidade da assistência foram determinantes para o desfecho 82, e um estudo canadense encontrou relação entre retardo na prescrição de antivirais e desenvolvimento de formas graves, embora ainda seja discutível a eficiência dos antivirais para este fim35. 6.2) Pandemia no Brasil Como visto anteriormente, o primeiro caso de influenza A (H1N1)pdm09 no Brasil foi identificado em 7 de maio de 2009, durante a semana epidemiológica 17 36. A definição de caso inicialmente adotada no Brasil foi a seguinte: febre >38 oC, tosse e contato próximo com pessoa infectada ou história de viagem para países com casos confirmados nos últimos 10 dias. Possíveis sintomas adicionais associados seriam cefaleia e dor muscular ou articular. Essa definição prevaleceu durante a chamada fase de contenção da doença, até que em 16 de julho, na semana epidemiológica 28, o Brasil reconheceu seu primeiro caso por transmissão autóctone sustentada36. A partir 34 daí a definição de caso foi alterada para febre e tosse acompanhada de dispneia ou óbito, limitada portanto aos casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG). A investigação laboratorial também passou a ficar restrita a esses casos. No Brasil foram registrados entre 19/04/2009 e 02/01/2010 (semana epidemiológica 16 a 52) 48.978 casos confirmados de influenza pandêmica, com uma taxa de notificação de 23,3 casos por 100.000 habitantes. No mesmo período ocorreram 2.051 óbitos por influenza pandêmica, levando a uma taxa de mortalidade de 1,1/100.000 habitantes. Chama a atenção a heterogeneidade na distribuição dos óbitos entre as regiões, como a mortalidade na Região Sul em 3,0, enquanto que a Região Nordeste teve apenas 0,1 óbito por 100.000 habitantes83. Destes, 5.747 (16,7%) foram confirmados laboratorialmente como influenza pandêmica e 915 (2,7%) como sazonal. Dentre os confirmados, 3.249 (56,5%) eram mulheres, e entre estas 2.256 mulheres estavam em idade fértil (15-49anos), e 525 (23,3%) estavam grávidas. A idade média dos pacientes foi de 26 anos (0 a 90 anos), com a maioria entre 20 e 49 anos. No período do estudo, a incidência de síndrome gripal com SRAG foi de 3/100.000 habitantes, com dois picos, um no grupo com até cinco anos de idade (3,8/100.000) e outro no grupo de 20 a 29 anos (4,6/100.000). A menor incidência foi entre os maiores de 60 anos36. Além dos sintomas que faziam parte da definição de caso, os mais comuns foram mialgia (62,2%), rinorreia (54%) e calafrios (53,4%). Para 33,3% de todos os casos de SRAG, pelo menos uma comorbidade estava presente, sendo a doença respiratória crônica a mais comum36. A distribuição espacial dos casos mostra que as Regiões mais afetadas foram as Sul e Sudeste (8,6 e 3,7/100.000), e os municípios na fronteira com Argentina Uruguai e Paraguai apresentaram as maiores incidências. As Regiões Norte, Nordeste e CentroOeste contribuíram com apenas 6% do total dos casos, com pequena transmissão sustentada no período estudado36. Um total de 1.567 óbitos por síndrome gripal com IRAG foram notificados, com 645 confirmados como influenza pandêmica. A letalidade foi de 4,5% entre síndrome 35 gripal e de 11,2% entre confirmados laboratorialmente. O risco de morte foi maior entre os pacientes com comorbidades, Risco Relativo (RR)=2,16 (Intervalo de Confiança (IC) 95% = 1,96-2,38) para influenza sazonal e RR=1,89 (IC95% = 1,64-2,18) para influenza pandêmica. A letalidade foi a semelhante entre mulheres em idade fértil gestantes e não gestantes (12,6% e 11,7%)36. Em estudo realizado com 157 pacientes internados no Rio Grande do Sul, obesidade e diabetes foram identificados como fatores de risco independentes para óbito84. Deve ser observado que pode haver superestimação da letalidade, uma vez que os casos mais graves tendem a ser mais notificados e serem priorizados na confirmação laboratorial. A epidemia atingiu seu pico no Brasil na semana epidemiológica 31, aproximadamente quatro semanas após Argentina, Chile e Uruguai, e na semana 32 o número de casos começou a declinar36. 36 III) Objetivos 1) Objetivo geral: Analisar a epidemiologia, o tratamento e a prevenção da influenza A pandêmica no Brasil. 2) Objetivos específicos: 2.1) Descrever a distribuição dos óbitos por influenza pandêmica no Brasil no tempo e no espaço, identificando diferenças regionais no comportamento da doença. 2.2) Analisar o impacto do uso de antiviral no tratamento de pacientes internados com influenza pandêmica. 2.3) Analisar a segurança das diferentes formulações da vacina pandêmica contra influenza utilizadas na primeira campanha de vacinação realizada após a introdução do novo vírus. IV) Metodologia Para alcançar os objetivos definidos nesta tese foram realizados três estudos, com desenhos e metodologias adequadas aos dados analisados e aos resultados esperados. O projeto foi aprovado pelos comitês de ética do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (CAAE - 0021.0.009.000-11) e do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAAE 0030.1.259.000-09). A seguir a descrição da metodologia utilizada em cada um dos estudos. 1) Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil. 1.1) Desenho do estudo 37 Por meio de um estudo ecológico descritivo retrospectivo foi analisada a mortalidade mensal relacionada à influenza nas cinco regiões geográficas do país de 2006 a 2010. 1.2) Área do Estudo O Brasil é um país que ocupa 8.514.876,60 Km2 na América do Sul, estendendose por mais de 35 graus de latitude, e abrangendo desde a floresta amazônica em região equatorial ao norte, até a zona temperada subtropical ao sul. O país é dividido em 27 unidades federadas agrupadas em cinco regiões geográficas (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-oeste) e 5.565 municípios, com uma população total de 190.732.694 pessoas85. 1.3) Fonte de Dados O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde foi utilizado para identificar os óbitos por pneumonia e influenza de 2006 a 2010. Foram extraídos os óbitos identificados pelos códigos do CID-10 (J10) a (J18) e (J22) e agrupados por mês, ano e região. Para o cálculo das taxas de mortalidade por 100.000 habitantes foram usados os dados do Censo Demográfico 2010 e as estimativas intercensitárias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para 2006 a 200985. Foi calculada a média aritmética da taxa de mortalidade nos três anos anteriores à pandemia (2006-2008) para fins de comparação. Foram utilizados dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) para analisar o número de óbitos em casos confirmados de Influenza, agrupados por mês e região, para os anos 2009 e 2010. 1.4) Análise Foram construídos gráficos para ilustrar a distribuição dos óbitos por influenza entre as regiões do Brasil ao longo do tempo. As taxas de mortalidade anuais por pneumonia e influenza em cada região foram comparadas inicialmente. Em seguida as taxas mensais de mortalidade por pneumonia e influenza entre 2006 e 2010 em cada uma das regiões e no país foram plotadas em seis gráficos na mesma escala. Por fim, para ilustrar a distribuição do número absoluto de óbitos mensais confirmados por 38 influenza em 2009 e 2010 foram construídos dois gráficos, uma para as Regiões Sul e Sudeste e outro para Norte e Nordeste, com escalas diferentes devido à grande diferença entre os valores. 2) Impacto do uso de oseltamivir na mortalidade por Influenza A(H1N1)pdm09 em pacientes internados no Rio de Janeiro, Brasil. 2.1) População e Desenho do Estudo Para analisar o impacto do oseltamivir na mortalidade por influenza foi formada uma coorte retrospectiva com os dados dos pacientes internados por influenza no Estado do Rio de Janeiro entre o início da vigilância de casos, em abril de 2009, até o final daquele ano. Os pacientes foram identificados a partir das notificações ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) e do monitoramento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro. As informações clínicas, epidemiológicas e demográficas das notificações e dos prontuários médico-hospitalares dos pacientes foram extraídas por meio de um questionário padronizado, e organizadas em um banco de dados com o programa Epidata®86. 2.2) Variáveis Os desfechos possíveis no estudo foram a resolução do quadro com alta hospitalar ou o óbito do paciente. A informação sobre óbito foi verificada tanto no prontuário da internação quanto na notificação do SINAN após o encerramento do caso. Para a variável de exposição uso de oseltamivir, os pacientes foram classificados nas seguintes categorias: sem utilização do antiviral, início do tratamento nos primeiros quatro dias após o início dos sintomas, e início tardio, quando este se deu após o quarto dia de doença. Para avaliar a influência de possíveis variáveis interferentes sobre o desfecho nos grupos de expostos e não expostos, características demográficas, como sexo e faixa etária, e informações clínicas dos pacientes foram categorizadas e incluídas na análise. Foram levantados dados sobre a presença de comorbidades como diabetes, doenças cardiovasculares (hipertensão arterial sistêmica, insuficiência cardíaca, doença coronariana e doença cerebrovascular), 39 doenças respiratórias (DPOC, Asma) e imunodepressão (HIV/AIDS, quimioterapia, uso de corticoides e transplante de órgãos), que também foram incluídas análise. A má qualidade da informação sobre obesidade nos prontuários não permitiu a utilização desse dado. A presença dos critérios clínicos ou laboratoriais de gravidade também foi verificada e incluída na análise. Os critérios para definição de síndrome respiratória aguda grave foram a presença de dispneia, hipoxemia, ou sinais clínicos ou radiológicos de pneumonia87. Dentro do estrato de mulheres em idade fértil foi construída também uma variável para identificar a presença de gestação no primeiro, segundo ou terceiro trimestre. 2.4) Análise Na análise inicial foi investigada a associação entre cada variável explicativa e o óbito utilizando-se o teste qui-quadrado de Pearson ou o teste exato de Fisher. Para a construção do modelo explicativo foi preciso considerar algumas características do estudo. Além do desenho de coorte com um desfecho binário, verifica-se que este desfecho de interesse ocorre em mais de 10% das observações, já que 16% dos pacientes internados incluídos no estudo evoluíram para óbito. Por conta disso, optouse por utilizar um modelo de regressão de Poisson com variância robusta, que gera estimativas de risco relativo (RR) mais adequados do que as razões de chance (OR) de modelos logísticos nestas circunstâncias88. O programa Stata® foi utilizado para a regressão de Poisson univariada e multivariada, gerando estimativas de RR brutos e ajustados pelas variáveis que se mantiveram significantes no modelo (p<0,05)89. O teste de Wald foi aplicado para verificar a significância estatística da associação entre as variáveis explicativas e o desfecho através do p-valor e dos intervalos de confiança. A qualidade do ajuste do modelo foi verificada pelo teste da razão de verossimilhança e pelo teste qui-quadrado de Wald. Após a análise com toda a população do estudo, foi construído um novo modelo sem as gestantes para verificar diferenças nos riscos relativos estimados. Ainda para examinar a influência da gestação na mortalidade por influenza e na resposta ao tratamento com oseltamivir, foi realizada também uma estratificação por 40 sexo e faixa etária, realizando-se uma análise apenas das mulheres em idade fértil incluindo, além das outras variáveis já descritas, a gestação como variável explicativa. 3) Comparação de eventos adversos pós-vacinação contra influenza A (H1N1) pdm09 com ou sem adjuvante entre profissionais de saúde no Rio de Janeiro, Brasil. 3.1) Local e População do Estudo A fim de comparar o perfil de segurança das vacinas monovalentes contra a influenza pandêmica utilizadas na campanha de 2010, analisamos os dados da vigilância ativa de eventos adversos realizada durante a vacinação dos profissionais de saúde do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro, Brasil. O IPEC é uma das unidades técnico-científicas da Fiocruz, cuja principal atividade é a pesquisa clínica em doenças infecciosas. Com um hospital de alta complexidade, o IPEC tem 564 profissionais envolvidos direta ou indiretamente no cuidado de pacientes da instituição, e é uma das unidades de referência para internação de pacientes com gripe A (H1N1) pdm09 no estado do Rio de Janeiro. Entre os seus serviços, o IPEC oferece um Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), que investiga e trata eventos adversos pós-vacinais (EAPV) como uma de suas atividades, e um serviço de farmacovigilância, que faz parte da Rede de Hospitais Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Para realizar a campanha de vacinação em 2010, o IPEC recebeu duas diferentes formulações de vacinas de vírus fracionados monovalentes contra a gripe A (H1N1) pdm09, uma sem adjuvante (Sanofi Pasteur Inc. - Lote E7163) e outra contendo o adjuvante AS03 (GlaxoSmithKline SA - Lote AA03E090AA). A composição das vacinas é mostrada na Tabela 5. A disponibilidade das duas formulações da vacina variou durante toda a campanha, e dependendo do dia em que o profissional procurava o serviço para ser vacinado poderia receber a vacina com ou sem adjuvante. Não houve procedimentos de randomização ou cegamento durante a campanha. 3.2) Coleta de dados 41 Para identificar os EAPV em profissionais do IPEC, o CRIE e o serviço de farmacovigilância estabeleceram uma rotina de vigilância ativa por telefone que contatava os vacinados 24 horas, 7 dias e 21 dias após a vacinação para completar um questionário de monitoramento. Na primeira entrevista o respondente era questionado sobre o início dos sintomas nas primeiras 2 horas e entre 2-24 horas após a vacinação, e na segunda e terceira entrevistas eram avaliados os intervalos entre 24 horas e 7 dias após a vacina e entre 7 e 21 dias, respectivamente. Na parte objetiva do questionário havia perguntas específicas sobre a presença de sinais e sintomas habitualmente associados à vacinação, e em seguida o entrevistado tinha a oportunidade de relatar quaisquer outras alterações observadas durante o período avaliado. Os eventos relatados foram classificados de acordo com sua gravidade em dois tipos, reações graves (que levaram à morte, hospitalização ou incapacidade permanente) ou não graves. Quanto às manifestações clínicas descritas pelos vacinados durante as entrevistas, estas foram divididas em reações locais (dor, calor, eritema, edema ou endurecimento no local de aplicação da vacina) ou reações sistêmicas (sinais e sintomas temporalmente associados à vacinação que não se encaixavam na definição de reação local). 3.3) Análise dos dados Como não houve acompanhamento individual longitudinal que permitisse a construção de uma coorte retrospectiva, os dados foram analisados de forma transversal para avaliar o período e a população de cada entrevista. A prevalência de EAPV foi calculada para todos os profissionais e separadamente para os grupos que receberam a vacina com ou sem adjuvante, em cada um dos intervalos avaliados. Foi analisada a presença de qualquer EAPV, apenas reações locais ou apenas reações sistêmicas. Os dados foram digitados no programa Epidata®86, e o SPSS 19 foi utilizado para análise descritiva e estatística. O nível de significância escolhido para todos os testes foi de 0,05. Para verificar a comparabilidade entre os grupos foi utilizado o teste t de Student para variáveis contínuas e qui-quadrado para proporções. A razão de prevalência e intervalos de confiança de 95% (IC 95%) foram calculados para qualquer 42 EAPV, reações locais e reações sistêmicas entre os grupos vacinados com ou sem adjuvante. V) Resultados Os resultados encontrados nos três estudos realizados, com as tabelas e figuras que os ilustram, são apresentados em sequência a seguir. 1) Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil. A mortalidade associada à influenza no Brasil apresentou trajetória ascendente de 2006 a 2010, com o maior incremento observado de 2008 para 2009, ano da pandemia (Figura 1). Na avaliação por regiões destacam-se algumas semelhanças entre as áreas, como por exemplo, o aumento da mortalidade em 2009 e a manutenção de taxas elevadas em 2010. São as diferenças, no entanto, que chamam mais atenção. Primeiro destaca-se a variação na intensidade do acometimento regional. Enquanto as taxas médias anuais em 2009 chegam a 37,99 óbitos/100.000 habitantes na Região Sudeste e 28,05 na Região Sul, no Norte e Nordeste essas taxas ficam em 16,53 e 17,48 respectivamente, sugerindo um impacto muito menor da influenza nos estados mais ao norte. Segundo, observam-se padrões diferenciados em relação à distribuição temporal da mortalidade (Figura 2). As regiões Sul e Sudeste, que registraram o maior número de óbitos nos anos anteriores em julho, apresentam um pico de mortalidade em agosto no ano pandêmico, refletindo a sazonalidade na distribuição dos casos, principalmente na região Sul. No Centro-Oeste a distribuição sazonal também está presente no ano da pandemia, apesar de não tão pronunciada. Já as Regiões Norte e Nordeste apresentam uma distribuição uniforme, sem o padrão sazonal clássico. Nestas regiões o mês de maio registra o maior número de óbitos. A notificação de influenza pelo SINAN teve início na semana epidemiológica 16 de 2009. Ao analisar o número absoluto de óbitos registrados nesse sistema em casos confirmados de influenza (Figura 3) observa-se que a distribuição mensal nas Regiões Sul e Sudeste é semelhante à observada no SIM, com o pico de ocorrência em agosto 43 de 2009, quando varia de 600 a 900 óbitos. Já nas Regiões Norte e Nordeste verifica-se uma variação mensal não perceptível nesses dados. Após uma primeira elevação entre julho e agosto de 2009 o número de óbitos diminui lentamente até iniciar nova subida em janeiro de 2010, formando novo pico em março daquele ano. 44 Óbitos por 100.000 hab 45 40 35 30 25 20 15 10 2006 2007 2008 2009 2010 Brasil 22,80 23,57 24,09 28,01 29,07 Norte 13,21 14,94 14,71 16,54 15,92 Nordeste 13,74 14,23 15,00 17,49 17,57 Sudeste 32,11 32,70 33,53 38,00 40,79 Sul 20,59 21,31 20,97 28,05 26,94 Centro-Oeste 17,62 19,53 20,71 23,11 24,52 Fonte: SIM/SVS/MS Figura 1 – Mortalidade (óbitos por 100.000 habitantes) associada à influenza (CID 10: J10 a J18 e J22) no Brasil e regiões, 2006 a 2010. 45 Região Nordeste Região Norte Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2009 2006-2008 2010 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 2009 2006-2008 2010 Região Centro-Oeste Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2006-2008 2009 2010 Região Sul Região Sudeste 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2006-2008 2009 2009 2010 Brasil 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2010 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 2006-2008 2006-2008 2009 2010 Fonte: SIM/SVS/MS Figura 2 – Mortalidade mensal associada à influenza (CID 10: J10 a J18 e J22) no Brasil e Regiões (óbitos/100.000 habitantes), 2006 a 2010. jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10 set/10 out/10 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10 set/10 out/10 nov/10 dez/10 46 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Sudeste Norte regiões geográficas, 2009 a 2010. Sul 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Nordeste Fonte: SINAN/SVS/MS Figura 3 – Óbitos mensais em casos confirmados de Influenza notificados no SINAN por 47 2) Impacto do uso de oseltamivir na mortalidade por influenza A(H1N1)pdm09 em pacientes internados no Rio de Janeiro, Brasil. Foram identificadas 439 internações por influenza no Estado do Rio de Janeiro durante o período estudado, sendo que estavam disponíveis informações sobre o desfecho (óbito) para 426 casos, e sobre o uso de oseltamivir para 390 pacientes, que foram incluídos na análise. Para cada uma das outras variáveis foram incluídos os casos em que havia informação positiva ou negativa, sendo excluídos os pacientes que não apresentavam nenhum registro sobre a característica de interesse, e por isso observase uma variação no número total de observações para cada uma das variáveis. Na análise das características de base de todos os pacientes incluídos no estudo (Tabela 1), as variáveis sexo e idade não apresentaram associação estatisticamente significantes em relação com a mortalidade em pacientes internados. Entre as comorbidades, a presença de doenças cardiovasculares e diabetes apresentaram associação com o óbito. A imunodepressão teve resultado limítrofe, com o p valor um pouco acima do limite estabelecido para significância no qui-quadrado de Pearson e um pouco abaixo na regressão univariada. A presença de critérios de gravidade durante a internação também esteve associada ao óbito, conforme esperado, assim como a não utilização ou a utilização tardia do oseltamivir. Na regressão de Poisson multivariada, permaneceram no modelo como explicativas do óbito por influenza os sinais de gravidade e o uso de oseltamivir. O uso precoce do antiviral, iniciado até o quarto dia de doença, reduziu em 60% o risco de óbito nos pacientes internados. O oseltamivir iniciado tardiamente não teve impacto na mortalidade dos pacientes internados com influenza pandêmica. A análise foi repetida excluindo-se da amostra as gestantes de modo a se examinar sua influência nos resultados, e as mesmas variáveis permaneceram estatisticamente associadas ao óbito. O impacto do tratamento com oseltamivir também se manteve com ou sem as gestantes, reduzindo a mortalidade quando usado precocemente (RR 0,4; p<0,01 com as gestantes e RR 0,39 p<0,01 sem as gestantes), e sem efeito significativo quando usado tardiamente. 48 No grupo das mulheres em idade fértil foram incluídas 188 pacientes, sendo que destas 130 estavam grávidas. O número menor de observações diminuiu a capacidade da análise identificar possíveis relações entre as variáveis e o óbito, principalmente para as comorbidades, que apresentaram frequências baixas no grupo. Na análise descritiva as variáveis gravidade e uso de oseltamivir, assim como na análise geral, apareceram associadas ao óbito. Interessante notar a menor prevalência de formas graves nesse estrato do que na análise geral. A gravidez não teve influência no óbito desse grupo (Tabela 3). Na regressão de Poisson apenas o uso de oseltamivir manteve-se associado ao óbito dos pacientes, com uma diferença em relação à análise geral. Quando a categoria de referência para comparação foi não ter usado o antiviral, não houve diferença estatística na mortalidade, tanto no uso precoce quanto no tardio. Se a referência for o uso precoce do antiviral, no entanto, o uso tardio aumentou o risco de óbito (Tabela 4). 49 Tabela 1 - Características dos pacientes e fatores associados ao óbito baseado no teste χ2 de Pearson, e os riscos relativos estimados pelo modelo de regressão de Poisson univariado. Análise Descritiva Variáveis n (%) Letalidade % Regressão de Poisson Univariada χ2 de Pearson Risco Relativo Estimado Bruto 95% IC p valor* Idade 0-9 anos 110 (25,88) 15,45 Referência 71 (16,71) 14,08 0,91 0,44-1,88 0,801 20-29 anos 132 (31,06) 15,15 0,98 0,54-1,78 0,948 30-39 anos 43 (10,12) 6,98 0,45 0,14-1,46 0,185 40-49 anos 29 (6,82) 24,14 1,56 0,71-3,41 0,263 51 anos e mais 40 (9,41) 27,50 1,78 0,91-3,47 0,091 0,85-2,06 0,216 1,11-3,08 0,019 10-19 anos 8,25 (p=0,143) Sexo Feminino 283 (66,75) 14,49 Masculino 141 (33,25) 19,15 1,51 (p=0,218) Referência 1,32 Doença cardiovascular Não 370 (87,68) 14,59 5,12 (p=0,024) Referência Sim 52 (12,32) 26,92 Não 409 (96,01) 14,91 Referência 41,18 8,39 (p=0,004) Sim 2,76 1,49-5,10 0,001 15,76 17,57 0,14 (p=0,7) Referência 1,11 0,64-1,93 0,699 Não 394 (92,49) 14,97 Referência Sim 28,13 3,81 (p=0,051) 1,03-3,43 0,04 21,61 (p=0,000) Referência 2,79-45,12 0,001 3,69 2,13-6,41 0,000 2,83 1,58-5,08 0,000 1,84 Diabetes 17 (3,99) Doença Respiratória Não 349 (82,51) Sim 74 (17,49) Imunodepressão 32 (7,51) 1,88 Gravidade Não 105 (25,67) 1,9 Sim 304 (74,33) 21,38 Usou 0-4 dias 232 (59,49) 8,19 11,22 Oseltamivir Usou após 4 dias 76 (19,49) 63,89 Não usou 82 (21,02) 23,17 * Teste de Wald Referência 25,6 (p=0,000) 50 Tabela 2 - Análise multivariada da associação entre óbito e variáveis selecionadas em pacientes internados com influenza a H1N1 Risco Relativo Estimado Ajustado Variável 95% IC p valor* 2,13 - 33,15 0,0020 0,4011 0,22 -0,73 0,0030 0,9952 0,59-1,67 0,9860 Presença de critérios de gravidade Não Referência Sim 8,4119 Início do Oseltamivir Não usou Menos de 4 dias de doença Mais de 4 dias de doença * Teste de Wald Referência 51 Tabela 3 - Características das mulheres em idade fértil e associação entre as variáveis e óbito por influenza Variáveis n (%) Letalidade % 10-19 anos 39 (20,74) 10,25 20-29 anos 111 (59,04) 16,22 30-39 anos 37 (19,68) 5,41 40-49 anos 1 (0,54) 0,00 Não 33 (20,25) 9,1 Sim 130 (79,75) 11,53 Não 172 (93,48) 12,8 Sim 12 (6,52) 16,67 Não 186 (98,94) 12,37 Sim 2 (1,06) 50 Não 165 (87,77) 12,73 Sim 23 (12,23) 13,04 Não 184 (97,87) 12,5 Sim 4 (2,13) 25 Não 62 (35,23) 1,61 Sim 114 (64,77) 20,18 Usou 0-4 dias 121 (68,36) 4,96 Usou após 4 dias 25 (14,13) 40 Não usou 31 (17,51) 16,13 p valor* Idade 0,44 Gestação 0,98 Doença cardiovascular 0,65 Diabetes 0,24 Doença Respiratória 0,98 Imunodepressão 0,42 Gravidade 0,00 Oseltamivir * Teste Exato de Fischer 0,01 52 Tabela 4 - Análise multivariada da associação entre óbito e variáveis selecionadas em mulheres em idade fértil internadas com influenza A H1N1 Risco Relativo Estimado Ajustado Variável 95% IC p valor* Início do Oseltamivir Menos de 4 dias de doença Referência Mais de 4 dias de doença 5,0457 1,84 -13,81 0,002 Não usou 1,8771 0,53 -6,60 0,326 * Teste de Wald 53 3) Comparação de eventos adversos pós-vacinação contra influenza A (H1N1) pdm09 com ou sem adjuvante entre profissionais de saúde no Rio de Janeiro, Brasil. Entre os dias 8 e 31 de março de 2010, de um total de 564 profissionais de saúde, 511 (90,6%) foram vacinados no IPEC, com 171 trabalhadores recebendo a vacina de vírus fracionado sem adjuvante e 340 recebendo a formulação de vírus fracionado com o adjuvante AS03. Entre os vacinados, 494 (96,67%) responderam a pelo menos uma das entrevistas de eventos adversos. A porcentagem de resposta para cada entrevista variou de 67% a 80%. Os grupos eram comparáveis em relação à idade e à distribuição por sexo (Tabela 5), e não havia mulheres grávidas entre os profissionais de saúde avaliados. Não houve relato de EAPV grave em nenhum dos grupos, de acordo com a definição de gravidade adotada pelo estudo. Considerando-se a presença de qualquer evento durante o período de acompanhamento, 389 (79%) dos vacinados relataram o aparecimento de algum sinal ou um sintoma nos primeiros 21 dias após a vacinação. Comparado com o grupo que recebeu a vacina sem adjuvante, o risco de EAPV 2 horas após administração da vacina foi duas vezes maior entre aqueles que receberam a vacina com o adjuvante AS03 (RP 2,05; IC 95 1,55-2,71, p <0,001 ). Na avaliação após 24 horas da vacinação, a razão de prevalência foi ainda maior (RP 3,42; IC 95 2,62-4,48, p <0,001). Nas avaliações posteriores ao fim de 7 e 21 dias, não houve diferença significativa na ocorrência de EAPV entre os dois grupos observados (Tabela 6). As reações locais foram o tipo de EAPV mais comum, especialmente no grupo que recebeu a vacina com adjuvante, onde 55,87% dos pacientes relataram alguma reação local logo após a administração da vacina, chegando a 87,85% 24 horas após a vacinação. Em relação ao grupo sem adjuvante, a razão de prevalência destes EAPV 2 horas e 24 horas após a vacinação foi de 3,01 e 4,57 (p <0,001), respectivamente. Entre um e sete dias após a vacinação a prevalência diminuiu significativamente, atingindo 31,84% do grupo imunizado com adjuvante. No entanto, o risco em relação ao grupo sem adjuvante permaneceu significativamente mais elevada (RP 6,05, p <0,001). No período de entre 7 e 21 dias após a vacinação, reações locais foram raras (Tabela 6). 54 Manifestações sistêmicas não apresentaram taxas tão elevadas como as manifestações locais, embora elas tenham aumentado em importância nas avaliações mais tardias, com 7 e 21 dias pós-vacinação. Não houve síndrome neurológica ou reação de hipersensibilidade imediata temporalmente associadas à vacinação. Entre 1 e 7 dias após a vacinação 25,65% e 26,25% dos pacientes nos grupos com e sem adjuvante, respectivamente, relataram reações sistêmicas, sendo mialgia (8,2%), malestar (7,8%) e cefaleia (4,1%) as mais comuns. Comparando os dois grupos, a maior diferença ocorreu 24 horas após administração da vacina, quando a prevalência de reações sistêmicas no grupo da vacina com adjuvante alcançou 48,98% e a razão de prevalência foi de 4,11 (IC 95% = 2,62-6,46, p <0,001). Nessa avaliação, as reações sistêmicas mais citadas no grupo com adjuvante foram mialgia (8,0%), mal-estar (7,5%), cefaleia (3,5%) e febre (3,4%). 55 Tabela 5 – Características das vacinas e dos profissionais de saúde em cada grupo Grupo sem adjuvante (n=171) Grupo com adjuvante (n=340) Características dos profissionais de saúde Idade, média ± DP (intervalo) 38.12±11.61 (18-62) 37.12±11.68 (18-61) Masculino Feminino 57 (33.33%) 114 (66.66%) 126 (37.05%) 214 (62.94%) Sexo Entrevista 1 Questionários respondidos por Entrevista 2 entrevista Entrevista 3 151 (88.30%) 247 (72.64%) 152 (88.88%) 179 (52.64%) 142 (83.04%) 247 (72.64%) Fabricante Sanofi Pasteur GSK Antígeno A/California/07/2009 (H1N1) fracionado A/California/07/2009 (H1N1) fracionado Adjuvante Não AS03 (esqualeno, DL-α tocoferol, polisorbato) Conservante Timerosal Timerosal Características das vacinas * Student's t test, p > 0.05 ** χ2 Test, p > 0.05 56 Tabela 6 – Número e percentual de profissionais de cada grupo com diferentes EAPV em cada avaliação, e razão de prevalência (RP) das reações em grupos vacinados com ou sem adjuvante Tipo de EAPV Qualquer evento Manifestações Locais Manifestações Sistêmicas Grupo Intervalo de tempo avaliado 0 - 2h 2h - 24h 1 - 7 dias 8 - 21 dias Sem adjuvante 42 (27.81%) 40 (26.49%) 43 (28.28%) 15 (10.56%) Com adjuvante 141 (57.08%) 224 (90.68%) 58 (32.40%) 16 (6.47%) RP: 2.05 IC 95 (1.55 - 2.71) p<0.001 RP: 3.42 RP: 1.15 IC 95 (2.62 - 4.48) IC 95 (0.82 - 1.59) p<0.001 RP: 0.61 IC 95 (0.31 - 1.20) Sem adjuvante 28 (18,54%) 29 (19,20%) 8 (5.26%) 0 Com adjuvante 138 (55,87%) 217 (87,85%) 57 (31.84%) 2 (0.8%) RP: 3,01 IC 95 (2.12 – 4.29) p<0.001 RP: 4,57 RP: 6.05 IC 95 (3.29 - 6,37) IC 95 (2.98 - 12.28) p=0.5 p<0.001 p<0.001 Sem adjuvante 18 (11.92%) 18 (11.92%) 39 (25.65%) 15 (10.56%) Com adjuvante 16 (6.47%) 121 (48.98%) 47 (26.25%) 14 (5.66%) RP: 0.54 IC 95 (0.29 - 1.03) RP: 4.11 RP: 1.02 IC 95 (2.62 - 6.46) IC 95 (0.71 - 1.47) p<0.001 RP: 0.54 IC 95 (0.27 - 1.08) 57 VI) Discussão 1) Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil. Os dados agregados por regiões sugerem uma heterogeneidade na distribuição espacial e temporal da mortalidade por pneumonia e influenza durante a pandemia no país. As taxas de mortalidade aumentaram no sentido norte-sul, e da mesma forma, a concentração dos óbitos nos meses de inverno também cresceu em direção ao sul, sugerindo um gradiente na intensidade e na sazonalidade da atividade da influenza. Os óbitos com confirmação etiológica por influenza revelam um padrão nas Regiões Norte e Nordeste que pelo pequeno número absoluto não se reflete nos dados sindrômicos do SIM. Em países do hemisfério norte houve duas ondas durante a pandemia de 2009, já que o novo vírus foi introduzido inicialmente fora do período habitual de circulação, havendo novo aumento da incidência no final do ano quando normalmente ocorre a estação de influenza. Na região temperada do hemisfério sul esperava-se apenas uma onda pandêmica em 2009, como realmente foi observado, já que o novo vírus começou a circular próximo do período habitual de aumento no número de casos 73. Nas regiões tropicais, no entanto, o padrão de ocorrência do vírus influenza ainda não foi completamente esclarecido12,90,91 e ainda não há um modelo confiável que preveja a difusão da doença nessas áreas. No Brasil foram descritos dois padrões de circulação do vírus ao longo do ano. Nas Regiões Norte e Nordeste o pico de incidência da doença está associado à estação chuvosa, entre os meses de março e maio, sem o aumento de casos nos meses de inverno observados nas outras regiões12,90,91. Em estudo anterior que avaliou a média da mortalidade mensal por pneumonia e influenza entre 1996 e 2005 em capitais da Região Norte (Belém) e Sudeste (São Paulo), o pico na Região Norte ocorreu em março enquanto na Sudeste ocorreu em junho90. Esse padrão de circulação faz com que as Regiões Norte e Nordeste sejam os locais por onde começa a estação de influenza no 58 Brasil, que apresenta uma onda sazonal no sentido norte-sul que leva cerca de três meses para atingir os estados da Região Sul e Sudeste12. Se pelos dados do SIM a emergência da cepa pandêmica não teve impacto perceptível na mortalidade por pneumonia e influenza nestas Regiões, os óbitos do SINAN sugerem um pico no inverno de 2009, logo após a introdução do vírus, o que já fugiria ao padrão habitual da região, além de um pico em março de 2010, antes, portanto, do início da vacinação específica. Nos estados mais próximos da zona temperada a “segunda onda” de influenza pandêmica seria esperada em 2010 cerca de três meses após o pico na zona tropical e subequatorial, habitualmente no mês de junho12,90, quando a população da área já havia passado pela campanha de vacinação, o que poderia explicar a ausência de um novo aumento nos óbitos no SINAN nestas regiões. As Regiões Sul e Sudeste foram também afetadas mais intensamente pela influenza em 2009, e a imunidade mais alta da população local também poderia significar um menor risco de adoecimento em comparação com os habitantes dos estados do norte90. Estudos demonstraram que a morte por pneumonia e influenza é o desfecho mais específico para se analisar a mortalidade associada à influenza2,12,92. Trabalhos anteriores também demonstraram correlação entre os dados de mortalidade do SIM e as informações de vigilância virológica e clínica para identificar a circulação do vírus influenza12,36. Entretanto, existe ainda na literatura controvérsia quanto ao melhor método para mensurar a mortalidade por influenza e é preciso cuidado ao estimar, contar ou comparar as mortes por influenza em determinados cenários 93. Como em apenas 2,7% dos primeiros 34.500 casos de síndrome gripal notificados em 2009 foi identificado influenza sazonal36, pode-se assumir que naquele ano no Brasil a circulação de influenza corresponde à circulação do vírus influenza A (H1N1)pdm09 e, portanto, os dados do SIM seriam adequados para avaliar a mortalidade pela influenza pandêmica em 2009. No entanto, a baixa atividade de influenza nas Regiões Norte e Nordeste pode tornar a vigilância sindrômica pouco sensível para detectar alterações em sua epidemiologia. 59 A dinâmica da influenza é determinada não só pelas características da cepa em circulação, pela imunidade da população, e por fatores climáticos como temperatura e umidade, mas também por uma série de outros fatores que variam no grau e na escala em que influenciam a transmissão e o adoecimento10. Assim, a estrutura etária, a prevalência de comorbidades, a poluição ambiental, os hábitos de convivência, adensamento populacional e a co-sazonalidade de outros agentes infecciosos são exemplos de fatores não considerados neste estudo que poderiam, de alguma forma, influenciar as diferenças regionais na epidemiologia da influenza. A idade dos pacientes acometidos, por exemplo, está relacionada com a letalidade da doença, e diferenças regionais nas pirâmides etárias poderiam explicar as diferenças observadas. Além destes fatores, variáveis não ambientais ou demográficas, mas associadas ao sistema de saúde das regiões – como as coberturas vacinais, o acesso aos serviços de saúde e a qualidade da vigilância – também podem apresentar variação regional que influencie os resultados observados. Estas variáveis não foram consideradas porque o objetivo do estudo, até pela natureza e qualidade dos dados disponíveis, não foi identificar a causa das diferenças regionais na mortalidade por influenza, mas registrar e descrever essa diferença. A observação dos dados neste estudo levanta duas questões importantes. A primeira seria a necessidade de se coletar informações abrangentes e detalhadas sobre a epidemiologia da influenza nas Regiões do país. É preciso aprimorar a vigilância laboratorial localmente para se conhecer o perfil etiológico das doenças respiratórias, produzindo evidências que permitam entender os determinantes socioambientais envolvidos e subsidiar uma vigilância sindrômica. A segunda é a necessidade de se buscar estratégias de prevenção e controle de influenza mais específicas para as características epidemiológicas loco-regionais. O momento ideal para vacinação contra influenza é um exemplo de recomendação nacional que poderia ser mais eficaz se pensado de forma regional, devendo-se considerar ainda o estreito período entre a determinação das cepas circulantes no mundo e a produção da vacina anual. 2) Impacto do uso de oseltamivir na mortalidade por influenza A(H1N1)pdm09 em pacientes internados no Rio de Janeiro, Brasil. 60 Neste estudo verificou-se redução de 60% na mortalidade de pacientes internados com influenza que iniciaram o uso do oseltamivir até quatro dias do início dos sintomas. Esse efeito foi observado independentemente do sexo, da idade e de comorbidades presentes nos pacientes. A outra variável que, além do uso do antiviral, influenciou no risco de óbito foi a presença de sinais de gravidade. Esse achado na verdade apenas confirma a adequação do critério de gravidade, que se supõe ser capaz de identificar como graves os pacientes com maior risco de óbito. Pode-se falar portanto, em duas contribuições do estudo para a melhor compreensão do tratamento da influenza. Em primeiro lugar a produção de evidência da redução da letalidade da influenza pandêmica com o uso do oseltamivir. Duas grandes meta-análises construídas a partir de ensaios clínicos publicadas após a pandemia não encontraram evidência de redução da mortalidade por influenza com o uso de inibidores de neuraminidase16,17, o que pode estar relacionado ao pequeno número de óbitos observado nestes tipos de estudo que avaliaram a efetividade dos antivirais. Outros estudos observacionais, no entanto, tem encontrado resultado semelhante ao nosso, verificando a redução dos óbitos por influenza pandêmica com o uso do oseltamivir, como demonstrado em recente meta-análise94 que reuniu estudos com esse desenho. A segunda contribuição deste trabalho foi a demonstração de que existe efeito protetor do oseltamivir mesmo quando esse é iniciado até quatro dias após o aparecimento dos primeiros sintomas da infecção. A maior parte dos estudos que demonstraram redução no tempo de doença e na incidência de complicações por influenza com uso de antivirais, encontraram benefício apenas quando o medicamento foi iniciado dentro das primeiras 48h após o aparecimento dos sintomas16,17,52,95,96. Apesar da pouca evidência disponível para essa recomendação, foi considerado o fato da pandemia se tratar de uma nova apresentação da doença, potencialmente grave, e com poucas opções terapêuticas, e por isso os protocolos de tratamento da influenza pandêmica sugeriam o uso dos inibidores de neuraminidase precocemente, mas não descartavam seu uso tardiamente, principalmente em casos graves35,54,87. Estudos que avaliaram a relação entre o momento de início do tratamento e a efetividade da droga durante a pandemia concluíram que a efetividade diminuía progressivamente quanto maior fosse a demora em iniciar o antiviral, mas 61 encontraram benefício mesmo no uso após 48h de sintomas97,98. Poucos estudos definiram novos intervalos para iniciar o tratamento ainda com efeito de redução da mortalidade. Um estudo realizado na China encontrou redução estatisticamente significante da mortalidade quando o tratamento foi iniciado até o quinto dia do início dos sintomas99, enquanto uma coorte acompanhada em Hong Kong encontrou benefício em iniciar o tratamento até o quarto dia, assim como neste trabalho100. Não foi identificada associação entre a gestação e o risco de óbito neste estudo. Enquanto estudos realizados nos EUA e na Austrália identificaram a gestação como fator de risco para o óbito101,102, estudos na França, Japão e no Brasil não verificaram essa associação84,103,104. O número de formas graves entre as mulheres em idade fértil, e principalmente entre as gestantes, foi abaixo do observado no resto da população do estudo. Isso parece estar relacionado à identificação da gestação como fator de risco para formas graves durante a pandemia, e a uma tendência a internar formas clínicas mais leves61,87. Parece consistente o achado de risco maior de desenvolvimento de formas graves entre as gestantes, mas se não há maior risco de óbito ou se o cuidado e o tratamento precoce dispensado a elas é que reduziu a mortalidade ainda precisa ser verificado104,105. Vários estudos observaram o aumento no risco de óbito associado ao início tardio do antiviral106-108, e esse fenômeno também foi observado em nosso estudo, especialmente nas mulheres em idade fértil. Chama a atenção a baixa plausibilidade biológica de que a medicação usada mais tardiamente aumente a chance de óbito quando seu uso precoce o reduz, e essa observação é na verdade compatível com um viés de confundimento. Os pacientes que não tenham recebido o oseltamivir nas primeiras 48h e apresentem boa evolução clínica certamente não receberão o antiviral tardiamente. São os que evoluem mal após os primeiros dias de aparecimento dos sintomas os grandes candidatos a receber o inibidor de neuraminidase depois disso. Na análise houve controle pelos critérios de gravidade, mas esta é limitada pela utilização de uma variável categórica – grave e não grave – quando na verdade a variação no comprometimento clínico dentro de cada uma dessas categorias é muito grande. O grande espectro da gravidade da apresentação clínica não consegue ser 62 incorporado pela variável utilizada nos estudos de fatores risco para óbito por influenza. Além desta, este estudo apresenta outras limitações. O desenho retrospectivo não permite uma padronização no registro de informações nos documentos primários, como os prontuários por exemplo. Isso diminui a confiabilidade das informações, e impossibilitou, por exemplo, a utilização da variável obesidade, uma vez que informações sobre peso, altura e índice de massa corporal não estavam presentes na maioria dos documentos-fonte analisados. A obesidade foi identificada em outros trabalhos como fator de risco para o óbito por influenza, e deveria ter sido incluída na análise para verificar sua contribuição para o resultado84,105,107. A avaliação da influência das outras comorbidades fica também prejudicada pelo tamanho da amostra, e a baixa prevalência de algumas patologias torna necessário agrupá-las em variáveis que podem não refletir o risco individual associado a cada uma delas109. Por fim, os critérios para internação dos pacientes, e, por conseguinte para inclusão dos pacientes no estudo, ficou sujeito a diversos fatores como, por exemplo, as mudanças nas recomendações oficiais de tratamento e controle ao longo da pandemia e a oportunidade e possibilidade dos pacientes terem acesso aos serviços de saúde. 3) Comparação de eventos adversos pós-vacinação contra influenza A (H1N1) pdm09 com ou sem adjuvante entre profissionais de saúde no Rio de Janeiro, Brasil. Neste estudo identificou-se que a presença do adjuvante AS03 aumentou a reatogenicidade da vacina, principalmente devido a reações locais. A maior contribuição deste estudo é a comparação direta entre duas vacinas de vírus fracionados permitindo quantificar o risco de EAPV relacionado à presença do adjuvante AS03. O risco observado foi consideravelmente maior, mostrando um aumento de até seis vezes no risco de eventos adversos locais no grupo vacinado com a vacina com adjuvante. Apesar de nenhum estudo pós-comercialização ter feito uma comparação direta entre as vacinas antes, era esperada uma prevalência mais elevada de efeitos 63 adversos na vacina com adjuvante, com base no perfil de segurança das duas formulações. Os primeiros estudos clínicos realizados com a vacina de vírus fracionado contra influenza pandêmica sem adjuvante encontraram incidência e gravidade de eventos adversos semelhantes aos observados com a vacina sazonal do mesmo tipo110,111. Após a utilização da vacina em larga escala, grandes programas vigilância de eventos adversos nos EUA e na China confirmaram esses resultados encontrando dados semelhantes112-114. A outra vacina utilizada na campanha, uma vacina de vírus fracionado com adjuvante AS03, foi desenvolvida a partir de vacinas pré-pandêmicas contra a gripe A (H5N1), que tiveram uso clínico mais restrito 20,23. Os estudos realizados com a vacina contra influenza H5N1 contendo o adjuvante AS03 encontraram uma associação entre a presença do adjuvante e um aumento na reatogenicidade da vacina23-25. Nos ensaios conduzidos com a vacina contra influenza A(H1N1)pdm09 contendo o AS03 também encontraram alta incidência de eventos adversos, com reações locais leves a moderadas sendo mais comuns e eventos adversos graves raramente relatados115-119. Este estudo tem várias limitações, algumas delas típicas de estudos de vigilância pós-comercialização, como a ausência de randomização na alocação dos grupos ou cegamento na aplicação da vacina e avaliação dos EAPV. Na avaliação da distribuição por sexo e idade, os grupos foram considerados comparáveis, e o fato de que o estudo tratou de uma população razoavelmente homogênea, com profissionais de saúde de um mesmo hospital, pode reduzir o risco de um viés de seleção significativo. Outra limitação é a não classificação dos EAPV quanto à gravidade. Os resultados considerados graves - morte, hospitalização e incapacidade permanente ou temporária - foram monitorados, mas os sinais e sintomas não foram classificados de acordo com sua intensidade. A vigilância ativa de EAPV tende a detectar sintomas mais leves, e eventos adversos sem grande repercussão clínica podem ter tido uma forte influência sobre as taxas de EAPV relatados. A ausência de eventos adversos graves deve ser interpretada com cautela, uma vez que o tamanho de nossa amostra não é adequado para avaliar manifestações raras. Finalmente, a falta de dados de 64 imunogenicidade das vacinas impossibilita uma avaliação do risco-benefício da utilização do adjuvante. Apesar destas limitações, o estudo foi capaz de demonstrar e quantificar o risco de EAPV atribuído à presença do adjuvante AS03 na vacina, uma informação relevante para a tomada de decisão dentro da política de imunização contra influenza. A diferença no risco de eventos adversos observada neste estudo, se confirmada em estudos posteriores em outras populações, deve ser considerada quando for privilegiada a indicação da utilização de um tipo de vacina sobre a outra, uma vez que a expectativa de eventos adversos, mesmo os não graves, é reconhecida como um dos fatores responsáveis pela dificuldade em atingir altas coberturas em um programa de vacinação120,121. Em uma revisão sistemática sobre fatores que influenciam a adesão à vacinação contra influenza verificou-se que a percepção do risco de se contrair a doença e seu potencial de gravidade foram as principais motivações para tomar a vacina, enquanto que dúvidas sobre a segurança e os efeitos adversos da vacina foram o maior obstáculo a sua utilização122. Essa avaliação de risco versus benefício é o principal determinante da adesão das pessoas à recomendação de vacinação contra influenza123. Estudos de eficácia e efetividade deverão demonstrar uma clara vantagem da vacina com adjuvante AS03 para justificar seu uso apesar do maior risco de eventos adversos associados. VI) Conclusão Este trabalho nos permite chegar a algumas conclusões. A primeira delas, antes mesmo de analisar os resultados dos estudos realizados como parte da tese, está relacionada ao fenômeno influenza em sua relação com seus hospedeiros, humanos e animais, e com o meio-ambiente. A dinâmica genética de shifts e drifts do vírus cria ciclos epidêmicos em que a influenza, ao mesmo tempo em que é a mesma doença circulando repetidamente, é também uma nova doença de tempos em tempos. Ao se estudar a literatura sobre influenza, verifica-se que não há evidência robusta sobre 65 vários aspectos da doença, principalmente no Brasil, e sobre a pandemia especificamente a falta de evidência é ainda maior, em parte por ser um fenômeno inesperado e com seu último episódio ainda recente. Todo o conhecimento sobre a pandemia é construído em cima de analogias à influenza sazonal e às pandemias anteriores, mas a medida que estudos sobre a nova pandemia vão sendo publicados fica claro que todas essas analogias precisam ser confirmadas e revistas. Sobre os objetivos desta tese, os resultados encontrados nos estudos aqui descritos podem subsidiar algumas conclusões relevantes. Em primeiro lugar, as políticas de controle da influenza no Brasil devem considerar as diferenças locais e regionais na epidemiologia da infecção para que as medidas adotadas sejam as mais eficazes possíveis. O detalhamento da circulação dos vírus respiratórios e seu impacto na saúde das populações precisam ser antes observados e descritos diretamente para depois permitir a utilização de modelos de vigilância sindrômica ou sentinela. Em segundo lugar, a disponibilidade e o acesso ao tratamento da influenza devem ser garantidos. A efetividade observada no tratamento e o sucesso na distribuição da medicação podem ser na verdade explicações para termos verificado uma mortalidade na pandemia tão abaixo das previsões. Por fim, a importância da vacinação não deve ser subestimada, nem a importância da adesão das pessoas às recomendações para que o programa seja bem sucedido. As formulações da vacina são diferentes, com reatogenicidade muito distinta, e devem ser vistas como tal. Além de questões como disponibilidade dos imunobiológicos, custo e imunogenicidade, o impacto que o perfil de eventos adversos pode ter sobre a adesão à vacinação deve ser considerado. A influenza continuará sendo um desafio. O comportamento da doença muda porque mudam os vírus, mudamos nós, e porque muda o ambiente em que convivemos. Conhecer as inter-relações que determinam a dinâmica dessa infecção é fundamental para alcançarmos uma convivência equilibrada. 66 VII) Bibliografia 1. Treanor JJ. 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Comparison of adverse events following immunization with pandemic influenza A(H1N1)pdm09 vaccine with or without adjuvant among health professionals in Rio de Janeiro, Brazil Abstract A vaccination campaign against pandemic influenza A(H1N1)pdm09 was held in Brazil in March 2010 using two types of monovalent split virus vaccines, a AS03adjuvanted and a non-adjuvanted. We compared their reactogenicity in health professionals from a Clinical Research Institute in Rio de Janeiro, Brazil, and there were no serious adverse event following immunization (AEFI) among the 494 subjects evaluated. The risk of any AEFI was higher in the AS03-adjuvanted vaccine 2h and 24h post vaccination (PR: 2.05 (CI 95% 1.55-2.71) and PR: 3.42 (CI 95% 2.62-4.48) respectively), but there was no difference between vaccines in the assessments 7 and 21 days after vaccination. The group receiving the AS03-adjuvanted vaccine had a higher risk of presenting local reactions 2h (PR 3.01; CI95% 2.12-4.29), 24h (PR 4.57; CI95% 3.29-6.37) and 7 days (PR 6.05; CI95% 2.98-12.28) after vaccination. We concluded that in the population studied, the two types of vaccine proved to be safe in regards to serious AEFI, and that the vaccine against influenza A(H1N1)pdm09A with 78 adjuvant was more reactogenic, especially in the 24 hours following vaccination. This behavior must be confirmed and better characterized by longitudinal studies in the general population. Keywords: Influenza A Virus, H1N1 Subtype; Influenza Vaccines; Adverse Effects. Introduction In April 2009 a new subtype of influenza A (H1N1) human virus of swine origin was identified in North America (CDC 2009a), also known as influenza A(H1N1)pdm09 to differentiate it from the seasonal variant. Within two months the new viral subtype had met the pandemic criteria, leading the World Health Organization (WHO) to declare the existence of an influenza pandemic on June 11, 2009 (WHO 2009a). Since the recognition of the new virus, vaccine development became a priority, challenging the efficiency and coordinated responsiveness of the health industry, the scientific community and international health authorities (Girard et al. 2010). The speed with which the objective was achieved made it clear that the effort was successful: on April 29, the virus strain A/California/7/2009 was selected as the international reference strain for manufacturing the vaccine, and five months later, on 21 September 2009, vaccination was started in China (Girard et al. 2010). In Brazil, the Ministry of Health (MOH) launched a vaccination campaign against influenza A(H1N1)pdm09 between March 8 and May 21, 2010 (MS 2010a). The campaign used monovalent vaccines produced by three different laboratories, Glaxo SmithKline (GSK), Sanofi Pasteur/Butantan and Novartis, all using split inactivated virus as antigen and thimerosal as a preservative. GSK's vaccine was the only one that also 79 contained an adjuvant, the AS03, composed of squalene, DL-α tocopherol and polysorbate 80, which was previously used in pre-pandemic vaccines (Baras et al. 2008, Leroux-Roels et al. 2007, Rümke et al. 2008) but was not present in any of the seasonal influenza vaccines used in previous campaigns. This being a new adjuvant, with sparse evidence available on the safety in pregnant women, the WHO initially recommended that the first choice for this group should be non adjuvanted inactivated preparations when available (WHO 2009b), which led to the contraindication of the adjuvanted vaccine in this population by the MOH (MS 2010a). Given the safety concerns and the urgency to start using the vaccine in large scale before the 2010 influenza season, the post-marketing surveillance of adverse events has grown in importance in the case of pandemic influenza vaccine, especially for the detection of rare AEFI, such as the recently observed cases of narcolepsy that led the European Medicines Agency to recommend restricting the use of the AS03-adjuvanted vaccine in people under twenty years of age (EMA 2011). In order to compare the safety profile of monovalent pandemic influenza vaccines used in the 2010 campaign, we analyzed data from active surveillance of adverse events held during the vaccination of health professionals from the Institute of Clinical Research Evandro Chagas (IPEC) of the Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) in Rio de Janeiro, Brazil. Materials and methods IPEC is one of the technical-scientific units of Fiocruz whose primary activity is clinical research in infectious diseases. With a high complexity hospital, IPEC has 564 80 professionals directly or indirectly involved in the care of the institution’s patients, and it is one of the reference units for hospitalization of influenza A(H1N1)pdm09 patients in the state of Rio de Janeiro. Among its services, IPEC offers a Reference Center for Special Immunobiologicals (CRIE), which investigates and treats adverse events following immunization (AEFI) as one of its activities, and a Pharmacovigilance Service which is part of the Sentinel Hospitals Network of the Brazilian National Sanitary Surveillance Agency (ANVISA). To carry out the vaccination campaign, IPEC received two different formulations of monovalent vaccines against influenza A(H1N1)pdm09, a nonadjuvanted (Sanofi Pasteur Inc. - Lot E7163) and an AS03-adjuvanted formulation (GlaxoSmithKline SA - Lot AA03E090AA). The vaccine composition is shown in Table I. The availability of the two vaccine formulations varied throughout the campaign, and depending on the day that the professional sought to be vaccinated a different type of vaccine was administered. There was no randomization or blinding procedures during the campaign. To identify AEFI in IPEC employees, the CRIE and the Pharmacovigilance Service implemented an active surveillance routine by telephone, which contacted the vaccinee 24 hours, 7 days and 21 days after vaccination to complete a questionnaire for AEFI monitoring. In the first interview, the respondent was asked about the onset of symptoms in the first 2 hours and between 2-24 hours after vaccination, and the other two interviews evaluated the intervals between the first and second and between the second and third interviews, respectively. In the objective part of the questionnaire, respondent answered questions about the presence of common signs 81 and symptoms associated with vaccination, and then the respondent had the opportunity to report any other changes noticed during the evaluation period. As there was no individual longitudinal follow-up that allowed the construction of a retrospective cohort, the data were analyzed in a cross-sectional manner to evaluate the period and the population of each interview. The prevalence of AEFI was calculated for each of the intervals for all professionals, and separately for the group receiving the non-adjuvanted vaccine and the group vaccinated with the AS03adjuvanted formulation. The prevalence in both groups was compared by calculating the prevalence ratio of AEFI in the analyzed intervals. The reported events were classified according to their severity into two types, serious reactions (which led to death, hospitalization or permanent disability) or nonserious. As for the clinical manifestations described in interviews by the professionals, AEFI were divided into local reactions (pain, heat, erythema, edema or induration at vaccine site) or systemic reactions (signs and symptoms temporally associated with vaccination that did not fit the definition of local reaction). The data were entered in Epidata 2.2 and the R 2.12.1 software was used for descriptive and statistical analysis. The significance level chosen for all tests was 0.05. To check the comparability between the groups we used Student's t test for continuous variables and chi-square test for proportions. The prevalence ratio and 95% confidence intervals (95% CI) were calculated for AEFI groups reported in each interview. The study was approved by the institutional research ethics committee (CAAE – 0021.0.009.000-11). 82 Results Between March 8 and 31, 2010, 511 healthcare workers were vaccinated in IPEC, from a total of 564 (90.6%), with 171 workers receiving the non-adjuvanted vaccine and 340 receiving the AS03-adjuvanted formulation. Among the vaccinated, 494 (96.67%) responded to at least one of the adverse event interviews. The response percentage for each interview ranged from 67% to 80%. Both vaccinated groups were comparable regarding age and gender (Table I). There were no pregnant women among the healthcare professionals evaluated. There were no reports of serious AEFI in either group. Considering the presence of any event during the follow-up period, 389 (79%) of vaccinees reported the onset of a sign or a symptom. Compared to the group that received the non-adjuvanted vaccine, the risk of any AEFI 2 hours after vaccine administration was 2-fold greater among those who received the AS03-adjuvanted vaccine (PR 2.05; 95% CI 1.55 - 2.71; p<0.001). In the assessment 24 hours after vaccination, the prevalence ratio was even higher (PR 3.42; 95% CI 2.62 - 4.48; p<0.001). In later assessments at 7 and 21 days, no significant difference in the occurrence of AEFI between the two vaccines was observed (Table II). Local symptoms were the most common AEFI, especially in the group receiving the AS03-adjuvanted vaccine, where 55.87% of patients reported some local reaction soon after vaccine administration, and reaching 87.85% 24 hours after vaccination. Regarding the non-adjuvanted group, the prevalence ratio of such AEFI 2 hours and 24 hours after vaccination was 3.01 and 4.57 (p <0.001), respectively. Between one and 83 seven days after vaccination the prevalence decreased significantly, reaching 31.84% of the group immunized with adjuvant. Nevertheless, the risk in relation to the group without adjuvant remained significantly higher (PR 6.05, p <0.001). In the period between 7 and 21 days after vaccination, local reactions were rare (Table 2). Systemic manifestations did not show rates as high as local manifestations, although they did increase in importance in later assessments, at 7 and 21 days postvaccination. There was no neurological syndrome or immediate hypersensitivity reaction temporally associated with vaccination. Between 1 and 7 days after vaccination 25.65% and 26.25% of patients in groups with and without adjuvant, respectively, reported systemic reactions, the most common being myalgia (8,2%), malaise (7,8%) and headache (4,1%). Comparing the two groups, the greatest difference occurred 24 hours after vaccine administration, when the prevalence of systemic reactions in the vaccine group with adjuvant reached 48.98% and the prevalence ratio was 4.11 (95% CI 2.62 - 6.46; p <0.001). At this evaluation, the most cited systemic reactions in the adjuvant group were myalgia (8,0%), malaise (7,5%), headache (3,5%) and fever (3,4%) Discussion Our study identified that the presence of the AS03 adjuvant increased the vaccine’s reactogenicity, mostly due to local reactions. The major contribution of this study is the post-marketing direct comparison between two split virus vaccines, quantifying the risk of AEFI attributed to the presence of AS03 adjuvant. The observed 84 risk was considerably higher, showing up to a 6-fold increase in the group vaccinated with adjuvanted vaccine. Although not directly measured before, the risk of adverse events was expected to be higher in the adjuvanted vaccine, based on the safety profile of the two formulations. The first clinical studies conducted with the pandemic influenza splitvirus non-adjuvanted vaccine identified adverse events with incidence and severity similar to those observed with the seasonal vaccine of the same type (MS 2010b, Vellozzi et al. 2009). After its use in large-scale, adverse events surveillance programs in the U.S. and China showed similar results (CDC 2009b, Liang et al. 2011, Wu et al. 2010). The other vaccine used in the campaign, a split-virus AS03-adjuvanted, was based on pre-pandemic vaccines against influenza A (H5N1) which had a more restricted clinical use (Baras et al. 2008, Girard et al. 2010). The studies evaluating the influenza H5N1 vaccine containing the adjuvant AS03 have associated its presence to an increase in vaccine reactogenicity (Baras et al. 2008, Leroux-Roels et al. 2007, Rümke et al. 2008), and trials conducted with the AS03-adjuvanted H1N1 pandemic vaccine also found high incidences of adverse events, with local mild to moderate reactions being much more common and serious adverse events rarely being reported (Carmona et al. 2010, Nicholson et al. 2011, Roman et al. 2010a, Roman et al. 2010b, Waddington et al. 2010). This study has several limitations, some of them typical of post-marketing surveillance studies, like the absence of randomization and blinding. In the assessment of distribution by gender and age, the groups were found to be comparable, and the fact that the study dealt with a reasonably homogeneous population, with healthcare 85 professionals from the same hospital, can be considered a mitigating factor. Another limitation was the non-classification of the severity of AEFI. The outcomes considered serious - death, hospitalization and permanent or temporary disability - were monitored, but the reported signs and symptoms were not classified according to their intensity. Active surveillance of AEFI tends to detect milder symptoms and events with no clinical significance may have had a strong influence on the reported AEFI rates. The absence of serious adverse events should be interpreted with caution, as our study sample size is not adequate to evaluate rare manifestations. Finally, the lack of immunogenicity data precludes an evaluation of the risk benefit of the adjuvanted vaccine. Despite these limitations, the study was able to demonstrate and quantify the risk of AEFI attributed to the presence of the AS03 adjuvant in the vaccine, a relevant evidence for decision-making in influenza vaccination policies. The difference in risk of adverse events observed in this study, if confirmed in further studies in other populations, should be considered when indicating one kind of vaccine over the other, since the expectation of adverse events, even if not severe, is recognized as one of the factors responsible for compliance or non-compliance with a vaccination program (Rubin et al. 2011, Black and Rappuoli 2010). Effectiveness studies must demonstrate a clear advantage of the AS03 adjuvanted vaccine to justify its use despite the expected associated adverse events. Disclosure Statement: The authors declared no conflicts of interest. 86 References Baras B, Bouveret N, Devaster JM, Fries L, Gillard P, Sanger R, Hanon E 2008. A vaccine manufacturer's approach to address medical needs related to seasonal and pandemic influenza viruses. Influenza Other Respi Viruses 2: 251-260. Black S, Rappuoli R 2010. A crisis of public confidence in vaccines. Sci Transl Med 2: 61mr1. 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N Engl J Med 363: 2416-2423. 90 Table I - Characteristics of the healthcare professionals and vaccines in each group Non-adjuvant group (n=171) Healthcare professionals characteristics Age, mean ± SD (range) Gender Male Female Interview 1 Questionnaires answered per Interview 2 interview Interview 3 Adjuvant group (n=340) 38.12±11.61 (18-62) 37.12±11.68 (18-61) 57 (33.33%) 114 (66.66%) 126 (37.05%) 214 (62.94%) 151 (88.30%) 247 (72.64%) 152 (88.88%) 179 (52.64%) 142 (83.04%) 247 (72.64%) Manufacturer Sanofi Pasteur GSK Antigen A/California/07/2009 (H1N1) A/California/07/2009 (H1N1) Adjuvant No AS03 (squalene, DL-α tocopherol, polysorbate) Preservative Thimerosal Thimerosal Characteristics of the vaccines * Student's t test, p > 0.05 ** χ2 Test, p > 0.05 91 Table II - Number and percentage of professional in both groups with different AEFI in each assessment, and prevalence ratio (PR) of reaction in groups vaccinated with and without adjuvant Type of AEFI Any event Local manifestations Systemic manifestations Group Time interval evaluated 0 - 2h 2h - 24h 1 - 7 days 8 - 21 days Without adjuvant 42 (27.81%) 40 (26.49%) 43 (28.28%) 15 (10.56%) With adjuvant 141 (57.08%) 224 (90.68%) 58 (32.40%) 16 (6.47%) PR: 2.05 CI 95 (1.55 - 2.71) p<0.001 PR: 3.42 CI 95 (2.62 - 4.48) p<0.001 PR: 1.15 CI 95 (0.82 - 1.59) PR: 0.61 CI 95 (0.31 - 1.20) Without adjuvant 28 (18,54%) 29 (19,20%) 8 (5.26%) 0 With adjuvant 138 (55,87%) 217 (87,85%) 57 (31.84%) 2 (0.8%) PR: 3,01 (CI95 2.12 – 4.29) p<0.001 PR: 4,57 (CI95 3.29 - 6,37) p<0.001 PR: 6.05 (CI95 2.98 - 12.28) p<0.001 p=0.5 Without adjuvant 18 (11.92%) 18 (11.92%) 39 (25.65%) 15 (10.56%) With adjuvant 16 (6.47%) 121 (48.98%) 47 (26.25%) 14 (5.66%) PR: 0.54 (CI95 0.29 - 1.03) PR: 4.11 (CI95 2.62 - 6.46) p<0.001 PR: 1.02 (CI95 0.71 - 1.47) PR: 0.54 (CI95 0.27 - 1.08) 92 Anexo 2 Artigo com os resultados do estudo epidemiológico descritivo sobre a distribuição da mortalidade associada a influenza pandêmica no Brasil. Submetido aos Cadernos de Saúde Pública em março de 2012, em revisão. Diferenças Regionais na Mortalidade Associada à Influenza A H1N1 Pandêmica no Brasil. Regional Differences in Pandemic Influenza A H1N1 Associated Mortality in Brazil. Resumo O objetivo deste artigo é examinar as diferenças regionais na mortalidade associada à influenza entre 2006 e 2010 no Brasil. A vigilância sindrômica, que inclui óbitos por pneumonia e influenza registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade, mostrou aumento na mortalidade durante a pandemia apenas nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Nessas regiões, principalmente na região Sul, esse aumento ocorreu entre julho e setembro de 2009. Avaliando-se os óbitos de casos confirmados de influenza notificados ao Sistema de Informações de Agravos de Notificação, verificou-se um padrão temporal diferente entre as regiões Sul/Sudeste e as regiões Norte/Nordeste, com aumento entre julho e novembro de 2009 para todas as regiões e outro pico em março de 2010, antes da campanha de vacinação, apenas para as últimas. Os resultados mostram diferenças regionais na intensidade e na distribuição temporal da pandemia de influenza, e apontam para a necessidade de instrumentos de vigilância e de controle específicos para as regiões do país. Abstract The aim of this paper is to examine regional differences in mortality associated with influenza between 2006 and 2010 in Brazil. The syndromic surveillance, which includes deaths from pneumonia and influenza recorded in the Mortality Information System showed an increase in mortality during the pandemic only in the South, Southeast and Midwest. In these regions, especially in the South, this increase occurred between July and September 2009. Reviewing the deaths of confirmed cases 93 of influenza reported to the Information System of Notifiable Diseases, there was a temporal pattern different from the South / Southeast and the North / Northeast, with an increase between July and November 2009 for all regions and another peak in March 2010, before the vaccination campaign, only for the latter. The results show regional differences in the intensity and temporal distribution of pandemic influenza, and point to the need of surveillance tools and control strategies specific to regions of the country. Keywords: Influenza humana; Mortalidade; Epidemias; Introdução A influenza é uma doença viral aguda de distribuição mundial, transmitida por via respiratória e pelo contato com superfícies contaminadas1. A elevada carga de doença e as frequentes mudanças antigênicas estão associadas a complexos padrões epidemiológicos de disseminação tornando seu controle um desafio2. Em 2009, a emergência de um novo subtipo de influenza a partir de uma linhagem suína, classificado como A/California/7/2009 H1N1, deu origem à primeira pandemia do século XXI3. Este novo vírus influenza levou a um aumento na mortalidade por doenças respiratórias em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil, que registrou os primeiros casos da doença em maio de 20094. Além das propriedades do subtipo e da imunidade da população, fatores ambientais, demográficos e comportamentais também influenciam a circulação e a atividade do vírus influenza5. Em regiões temperadas observa-se um padrão sazonal típico, com picos de incidência no inverno, enquanto que regiões tropicais e subtropicais não apresentam esse mesmo padrão6. Sendo um país de dimensões continentais, abrangendo desde a região equatorial ao norte até a zona temperada subtropical ao sul, o Brasil apresenta em seu território uma diversidade climática e ambiental cujo impacto sobre a circulação de influenza ainda não está esclarecido7. A compreensão da epidemiologia da influenza no Brasil é de grande importância para a vigilância em saúde e particularmente para o planejamento da vacinação anual contra 94 influenza. Neste sentido, o objetivo deste trabalho é examinar as diferenças regionais na mortalidade associada à influenza entre 2006 e 2010 no Brasil. Materiais e métodos O Brasil, maior país da América do Sul, é dividido em 27 unidades federadas, e estas são agrupadas em 5 regiões geográficas, Norte, Sul, Sudeste, Nordeste e Centrooeste. Por meio de um estudo ecológico descritivo retrospectivo foi analisada a mortalidade mensal relacionada à influenza nas cinco regiões geográficas do país de 2006 a 2010. O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde foi utilizado para identificar os óbitos por pneumonia e influenza de 2006 a 2010. Foram extraídos os óbitos identificados pelos códigos do CID-10 (J10) a (J18) e (J22) e agrupados por mês, ano e região. Para o cálculo das taxas de mortalidade por 100.000 habitantes foram usados os dados do Censo Demográfico 2010 e as estimativas intercensitárias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística para 2006 a 2009 8. Foi calculada a média aritmética da taxa de mortalidade nos três anos anteriores à pandemia (2006-2008) para fins de comparação. Foram utilizados dados do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN) para analisar o número de óbitos em casos confirmados de Influenza, agrupados por mês e região, para os anos 2009 e 2010. Resultados A mortalidade associada à influenza no Brasil apresentou trajetória ascendente de 2006 a 2010, com o maior incremento observado de 2008 para 2009, ano da pandemia (Figura 1). Na avaliação por regiões destacam-se algumas semelhanças entre as áreas, como por exemplo, o aumento da mortalidade em 2009 e a manutenção de taxas elevadas em 2010. São as diferenças, no entanto, que chamam mais atenção. Primeiro destaca-se a variação na intensidade do acometimento regional. Enquanto as taxas médias anuais em 2009 chegam a 37,99 óbitos/100.000 hab na região Sudeste e 28,05 na região Sul, no Norte e Nordeste essas taxas ficam em 16,53 e 17,48 respectivamente, sugerindo um impacto muito menor da influenza nos estados mais 95 ao norte. Segundo, observam-se padrões diferenciados em relação à distribuição temporal da mortalidade (Figura 2). As regiões Sul e Sudeste, que registraram o maior número de óbitos nos anos anteriores em julho, apresentam um pico de mortalidade em agosto no ano pandêmico, refletindo a sazonalidade na distribuição dos casos, principalmente na região Sul. No Centro-Oeste a distribuição sazonal também está presente no ano da pandemia, apesar de não tão pronunciada. Já as regiões Norte e Nordeste apresentam uma distribuição uniforme, sem o padrão sazonal clássico. Nestas regiões o mês de maio registra o maior número de óbitos. A notificação de influenza pelo SINAN teve início na semana epidemiológica 16 de 2009. Ao analisar o número absoluto de óbitos registrados no SINAN em casos confirmados de influenza (Figura 3) observa-se que a distribuição mensal nas regiões Sul e Sudeste é semelhante à observada no SIM, com o pico de ocorrência em agosto de 2009, quando varia de 600 a 900 óbitos. Já nas regiões Norte e Nordeste verifica-se uma variação mensal não perceptível nos dados do SIM. Após uma primeira elevação entre julho e agosto de 2009 o número de óbitos diminui lentamente até iniciar nova subida em janeiro de 2010, formando novo pico em março daquele ano. Discussão Os dados agregados por regiões sugerem uma heterogeneidade na distribuição espacial e temporal da mortalidade por pneumonia e influenza durante a pandemia no país. As taxas de mortalidade aumentaram no sentido norte-sul, e da mesma forma, a concentração dos óbitos nos meses de inverno também cresceu em direção ao sul. Os óbitos com confirmação etiológica por influenza revelam um padrão nas regiões Norte e Nordeste que pelo pequeno número absoluto não se reflete nos dados sindrômicos do SIM. Em regiões tropicais e no hemisfério sul o padrão de ocorrência do vírus influenza ainda não foi completamente esclarecido7, 9,10. No Brasil foram descritos dois padrões de circulação do vírus ao longo do ano. Nas regiões Norte e Nordeste o pico de incidência da doença está associado à estação chuvosa, entre os meses de março e maio, sem o aumento de casos nos meses de inverno observados nas outras regiões 7, 9,10 . Em estudo anterior que avaliou a média da mortalidade mensal por pneumonia e 96 influenza entre 1996 e 2005 em capitais da região Norte (Belém) e Sudeste (São Paulo), o pico na região Norte ocorreu em março enquanto na Sudeste ocorreu em junho9. Esse padrão de circulação faz com que as regiões Norte e Nordeste sejam os locais por onde começa a estação de influenza no Brasil7. Se pelos dados do SIM a emergência da cepa pandêmica não teve impacto perceptível na mortalidade por pneumonia e influenza nestas regiões, os óbitos do SINAN sugerem um pico no inverno logo após a introdução do vírus, o que já fugiria ao padrão habitual da região, além de um pico em março de 2010, antes, portanto, do início da vacinação específica. Nos estados mais próximos da zona temperada a “segunda onda” de influenza pandêmica seria esperada cerca de três meses após o pico na zona tropical e subequatorial, habitualmente no mês de junho7, 9, quando a população da área já havia passado pela campanha de vacinação, o que poderia explicar a ausência de um novo aumento nos óbitos no SINAN nestas regiões. As regiões Sul e Sudeste foram também afetados mais intensamente pela influenza em 2009, e a imunidade mais alta da população local também poderia significar um menor risco de adoecimento em comparação com os habitantes dos estados do norte9. Estudos demonstraram que mortes por pneumonia e influenza são o desfecho mais específico para estudar a mortalidade associada à influenza2, 7. Trabalhos anteriores também demonstraram correlação entre os dados de mortalidade do SIM e as informações de vigilância virológica e clínica para identificar a circulação do vírus influenza4, 7. Os dados do SIM seriam adequados então para avaliar a influenza pandêmica em 2009. No entanto, a baixa atividade de influenza nas regiões Norte e Nordeste pode tornar a vigilância sindrômica pouco sensível para detectar alterações em sua epidemiologia. A dinâmica da influenza é determinada não só pelas características da cepa em circulação, pela imunidade da população, e por fatores climáticos como temperatura e umidade, mas também por uma série de outros fatores que variam no grau e na escala em que influenciam a transmissão e o adoecimento5. Assim, a estrutura etária, a prevalência de comorbidades, a poluição ambiental, os hábitos de convivência, adensamento populacional e a co-sazonalidade de outros agentes infecciosos são 97 exemplos de fatores não considerados neste estudo que poderiam, de alguma forma, influenciar as diferenças regionais na epidemiologia da influenza. A observação dos dados neste estudo levanta duas questões importantes. A primeira seria a necessidade de se aprimorar a vigilância laboratorial no nível local para conhecer o perfil etiológico das doenças respiratórias, produzindo evidências que permitam entender os determinantes socioambientais envolvidos e subsidiar uma vigilância sindrômica. A segunda é a necessidade de se buscar estratégias de prevenção e controle de influenza mais específicas para as características epidemiológicas loco-regionais. O momento ideal para vacinação contra influenza é um exemplo de recomendação nacional que poderia ser mais eficaz se pensado de forma regional, devendo-se considerar ainda o estreito período entre a determinação das cepas circulantes no mundo e a produção da vacina anual. Bibliografia 1. Brankston G, Gitterman L, Hirji Z, Lemieux C, Gardam M. Transmission of Influenza A in human beings. The Lancet Infectious Diseases. 2007;7:257-65. 2. Simonsen L. The global impact of influenza on morbidity and mortality. Vaccine. 1999;17:S3 - 10. 3. 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Óbitos por 100.000 hab 45 40 35 30 25 20 15 10 2006 2007 2008 2009 2010 Brasil 22,80 23,57 24,09 28,01 29,07 Norte 13,21 14,94 14,71 16,54 15,92 Nordeste 13,74 14,23 15,00 17,49 17,57 Sudeste 32,11 32,70 33,53 38,00 40,79 Sul 20,59 21,31 20,97 28,05 26,94 Centro-Oeste 17,62 19,53 20,71 23,11 24,52 Fonte: SIM/SVS/MS 101 Tabela 1 – Mortalidade associada à influenza (CID 10 J10 a J18 e J22) em óbitos por 100.000 habitantes no Brasil e regiões, 2006 a 2010. 2006 2007 2008 2009 2010 Brasil 22,80 23,57 24,09 28,01 29,07 Norte 13,21 14,94 14,71 16,54 15,92 Nordeste 13,74 14,23 15,00 17,49 17,57 Sudeste 32,11 32,70 33,53 38,00 40,79 Sul 20,59 21,31 20,97 28,05 26,94 Centro-Oeste 17,62 19,53 20,71 23,11 24,52 Fonte: SIM/SVS/MS 102 Figura 2 – Mortalidade mensal associada à influenza (CID 10: J10 a J18 e J22) no Brasil e Regiões (óbitos/100.000 habitantes), 2006 a 2010. Região Nordeste Região Norte Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2009 2006-2008 2010 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2009 2006-2008 2010 Região Centro-Oeste Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 2006-2008 2009 2010 Região Sul Região Sudeste 2006-2008 2009 2010 2009 2010 Brasil 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 2006-2008 2006-2008 2009 2010 Fonte: SIM/SVS/MS 103 Figura 3 – Óbitos mensais em casos confirmados de Influenza notificados no SINAN por regiões geográficas, 2009 a 2010. 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 Sudeste Sul 45 40 35 30 25 20 15 10 5 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09 jan/10 fev/10 mar/10 abr/10 mai/10 jun/10 jul/10 ago/10 set/10 out/10 0 Norte Nordeste Fonte: SINAN/SVS/MS 104 Anexo 3 Artigo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 44 (4):531, 2011, com relato de caso de evento adverso à vacina contra influenza pandêmica atendido no Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas. Henoch-Schönlein purpura following influenza A H1N1 vaccination Vacinação contra influenza A H1N1 seguida por púrpura de Henoch-Schönlein Maria Inês Fernandes Pimentel1, Érica de Camargo Ferreira e Vasconcellos1 and José CerbinoNeto1 A 39-year-old female, was examined on May 2010, in a primary health care unit in Rio de Janeiro, in Brazil, with a history of purpura in the lower limbs, arthralgias and diffuse abdominal pain, which appeared a few hours after receiving influenza A H1N1 vaccine. She presented hemorrhagic blisters on her legs and feet (Figure A), leukocytosis with a shift to the left and slightly elevated platelet count. She also complained of abdominal pain, arthralgia and malaise. Abdominal ultrasound, liver function tests, blood urea nitrogen (BUN), serum creatinine and electrolytes were normal. Histopathology of the cutaneous lesion was non-specific. Direct immunofluorescence was not available. Oral prednisone (60mg/day, single dose) was started. During outpatient treatment, purpuric lesions healed and abdominal pain disappeared (with occasional complaints of diarrhea), but 24h proteinuria rose from 137 to 277mg. Patient did not return for the scheduled consultation on October 2010. In 2009, pandemic influenza A H1N1 was considered an international serious public health problem, leading to rapid development of vaccines to prevent its spread. Henoch- Schönlein purpura can follow several infectious events. Recently, a case of thrombotic thrombocytopenic purpura has been reported after vaccination against H1N1. The present case followed H1N1 vaccination in a previously healthy patient. Although a causal relationship cannot be established, this hypothesis remains likely. The set of signs and symptoms presented by our patient lead us to the probable diagnosis of Henoch-Schönlein purpura. 105 Figure A References 1. Valenciano M, Kissling E, Cohen JM, Oroszi B, Barret AS, Rizzo C, et al. Estimates of pandemic influenza vaccine effectiveness in Europe, 2009-2010: results of Influenza Monitoring Vaccine Effectiveness in Europe (I-MOVE) Multicentre Case-Control Study. PLoS Med [Internet]. 2011 Jan [cited 2011 27 April]; 8 (1): e1000388. Available from: http://www.plosmedicine.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pmed.10003 88. 2. Watanabe T, Onda H. Henoch-Schönlein purpura with antiphospholipid antibodies following an influenza vaccination. Pediatr Nephrol 2001; 16:458-462. 3. Hermann R, Pfeil A, Busch M, Kettner C, Kretzchmar D, Hansch A, et al. Very severe thrombotic thrombocytopenic purpura (TTP) after H1N1 vaccination. Med Klin 2010; 105:663-668.