Cascavel, sexta-feira, 21 de agosto de 2015 - Ano XVIV- Nº 1911 - Clipping News Agência de Notícias - (45) 3037-5020 - Editor: Jairo Eduardo A reinvenção do picadeiro Espetáculo montado em Cascavel mostra como a “extinção” dos bichos repaginou o circo “Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer”. A fala vem de longe, do Confúcio, lá da terra do sol poente. E pode ser aplicada ao momento que vivem os profissionais do picadeiro. Não havia a opção de mudar o vento. Os bichos foram “extintos” do circo faz cinco anos. Então o jeito era ajeitar as velas do barco. O Pitoco foi conhecer o Circo Portugal antes, durante, e após o espetáculo. Luciano Avanzi é o típico profissional do picadeiro. 40 anos, malabarista, ele nasceu no circo. Mora em motorhome, um ônibus adaptado. Ali tem suíte, cozinha, TV tela plana e um beliche para abrigar três filhos. Cinco pessoas vivem no “busão”. É uma morada modesta se comparada a estrelas de outras grandezas da troupe. Quem passa ali pela avenida Brasil, no Centro Cívico, enxerga trailers de até 100 mil dólares, típicos apartamentos de luxo nômades como o circo. Importados, os trailers de última geração são carregados pelas carretas em largura de 2,75 metros. Quando viram “apartamento”, dobram de tamanho e comportam toda engenhoca tecnológica das residências de alto padrão. Em um dos trailers “top de linha” mora a vedete do circo, a bela Michelle Portugal (foto). Carismática, humilde, ela descende da 8ª geração do português que trouxe o circo para o Brasil, quase um século atrás. Nem parece a principal estrela da constelação. Acompanhe o diálogo durante o intervalo de 10 minutos do espetáculo, ontem a noite: Pitoco (chegando em um grupo de artistas) – Quem é a vedete, a principal estrela do circo? Artista – Ninguém. Aqui somos todos iguais. A resposta veio dela, Michelle, que estava naquele grupo, surpreendendo o editor desavisado. Não é bem assim. O circo, a exemplo da sociedade é hierarquizado. Tanto assim que você pode pagar R$ 20 para assistir, ou R$ 200, se quiser ficar bem pertinho do Luciano e da Michelle, no camarote de cadeira estofada. Por onde passou, Michelle semeou fãs apaixonados. Alguns abriram perfis em rede social no nome dela, coisa de celebridade. E o que leva essas pessoas a enfrentar uma vida nômade? “O aplauso do público”, diz o malabarista Luciano, que recebe dois mínimos de salário e já “empregou” o filho de 16 anos como globista (motoqueiro do globo da morte) e a filha de 14 como dançarina. O menino participa de um dos números mais aplaudidos, que põe seis motociclistas simultaneamente dentro do globo. Saudoso do tempo dos bichos, Luciano diz que os animais doados pelo circo a zoológicos brasileiros, em sua maioria, morreram. Cita a girafa, o elefante e o hipopótamo. A verdade é que o circo precisou se reinventar. O Portugal puxa com seus 14 caminhões e 26 carretas (o mais velho da frota é do ano 2010), um King Kong enorme e um GM Camaro que vira “Transformers”. Neste ponto, inspirados pelo francês Antoine Lavoisier, encontramos a palavra que resume o circo pós extinção do elefante: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Corpo fechado Há uma lição para o mundo corporativo da atuação da vedete do circo. Michelle é diretora de arte do Circo Portugal. Pelos lanços consanguíneos, daria para apresentá-la aqui como “filha do dono”. Bailarina, coreógrafa e ilusionista, ela troca nove vezes o figurino durante o show. Mas não se iluda. A estrela, no intervalo, toda maquiada e em trajes impecáveis, vende sorvete para a plateia. A postura da artista une dois valores raros no mundo do trabalho: a humildade e a capacidade de atuar nas várias pontas do processo. Viva o circo! Leia na Aldeia! A nova unidade da imobiliária Cidade, na porção Norte de Cascavel, não poderia estar mais protegida espiritualmente. Em um lado do imóvel, está o templo da Iurd do bispo Macedo. Do outro lado, a Mundial do “milagreiro” Valdemiro, e atrás a Assembleia de Deus, do Eduardo Cunha. O imóvel em si, foi locado pelo Capelão. O lendário capeta, se existisse, passaria longe! A reportagem de capa da revista “Aldeia” traz a trajetória profissional de quem se equilibra entre equinos de raça e petições, Adani Triches, para quem, “advogar não é para os fracos”. Nas páginas amarelas, a inspiradora entrevista obtida pela editora Rejane Martins com Aline Adams, jovem capaz de elaborar uma mensagem comovente do triunfo da mente sobre o corpo. “A vida é aquilo que acontece enquanto estamos fazendo planos para o futuro” (John Lennon) Crônica Pitocas Em tempos de caça ás bruxas nos gastos dos vereadores, um dos sujeitos mais tranquilos da região chama-se Ademar Dorfschimidt. Comerciante na área de confecções, ele preside a Câmara de Toledo, uma das mais enxutas do Paraná. Ali, fora assessoria de vereadores, há apenas dois cargos de livre nomeação, aquele que dispensa concurso público e em regra remunera bem. A Câmara de Cascavel tem mais de cem cargos comissionados. Cada vereador tem direito a quatro assessores, quando em Toledo o parlamentar se vira com apenas um. O velho truque de aumentar o salário com diárias não prospera no município vizinho. Ali o vereador pode viajar representando a Câmara uma única vez por semestre. Ademar, o presidente, tem direito a usar telefone celular custeado pelo contribuinte. Mas não usa. O carro oficial, a disposição dos nobres parlamentares, tem cota livre de combustível. Mas cada vereador custou menos de 20,00 por mês, neste ítem. Estão orçados R$ 57 mil para custos com telefonia. Mas cada gabinete gasta, em média, R$ 290,00. Até nas minúcias, ha contenção: o Legislativo poderia contratar uma assinatura de periódico para cada vereador, totalizando 19, mas limitou a apenas três. Como resultado, a Câmara de Toledo gasta 30% do orçamento que está autorizada legalmente. O Legislativo custa aos cofres dos toledanos, 1,96% do orçamento global do município. A sacada aqui, não está em redu- zir ou eliminar salário de vereador. O segredo está na folha de pagamento enxuta. Toledo poderia gastar R$ 16 milhões com pessoal, mas gasta um terço deste valor. A soma dos salários dos vereadores de Cascavel (R$ 223 mil/mês) representam apenas 18% dos custos do Legislativo. O peso mesmo está no número inacreditável de servidores. Somente os comissionados, que estão lá por indicação política, sem concurso público, consomem quase meio milhão de reais por mês. Somando a folha de pagamento com encargos patronais, a conta chega a R$1,1 milhão/mês. Por aqui, o grupo recém constituído “Com Nosso Dinheiro Não”, que visa reprisar os “gatos pingados” de outros municípios, agora sabe que em Cascavel, salário de vereador é “café pequeno”. da n Age O escritor Osmar Junior autografa o “Cascavel Feia na Foto” na livraria Nobel. Será nesta sexta-feira, das 16 às 20 horas. E a feirinha, que nas terças, quintas e domingos vai para a praça Wilson Joffre, recebe a freguesia neste sábado, no Centro Cívico, sob a generosa florada dos ipês. Cãozinho incômodo Engajado nas causas da educação, o médico Ovídio Rohde me repassa pelo zap-zap alguns vídeos. É o vídeo do Ovídio. No mais recente, cravou uma frase que reproduzi aqui, em edição recente: “de tanto economizarmos com educação, ficaremos ricos em ignorância”. Eu poderia agregar outra: “educação é cara? Experimente a ignorância!”. Me envolvo pessoalmente no trato com a pasta de assinantes do Pitoco. Não abro mão. É um jeito de conversar periodicamente com o leitor, e saber direto na fonte se estamos acertando a linha. O fazemos pessoalmente, no Café com Pitoco, e por telefone, no momento de renovarmos os contratos. É missão árdua vender leitura em um país de poucas letras, onde fração importante da população considera assinatura de periódico um gasto, algo supérfluo. Já recebi toda sorte de resposta da turma que considera dinheiro demais investir o equivalente a um cafezinho por semana para ter um jornal entregue na comodidade do seu endereço. Esta semana, um cidadão disse: “eu ia mesmo ligar para você parar de entregar o Pitoco aqui na empresa. Meus funcionários ficam lendo e esquecem de atender os clientes”. Meio desconcertado, não sei dizer se fiquei triste pela visão empresarial curta do meu interlocutor, ou feliz pelo apego dos funcionários dele ao jornalzinho. Eu poderia argumentar que o vendedor dele, com mais informações obtidas no periódico, poderia qualificar a prosa com o cliente, se transformar em um profissional mais persuasivo, incrementar as vendas. Talvez até se transformar em alguém melhor. Mas, pensando bem, argumento nenhum entraria na cabecinha limitada de quem acha que ler é perder tempo. O cãozinho incômodo não irá mais atrapalhar o expediente nas tardes de terça e sexta naquele endereço da Rua Jorge Lacerda. Mas continuará sendo recebido com ansiedade e carinho em milhares de outros destinos em Cascavel. The end Lideranças paranaenses do entorno do governador Beto Richa são tão enfáticas contra o aditivo de tempo nos contratos do pedágio, que não fosse pelo timbre da voz, poderíamos jurar que seria o Requião discursando. Do “Bob”, só falta mesmo copiar o “abaixa ou acaba”.