58 Editorial Câncer de pênis no Brasil: um problema de saúde pública Vinicius Carrera Souza, Oncologista,Clínica AMO Stella Maria Marques Dourado, Oncologista, Clínica AMO O câncer de pênis (CP) é um tumor raro nos países desenvolvidos, representando cerca de 0,4% das neoplasias malignas em homens, na Europa e nos EUA1. Porém, sua incidência aumenta sobremaneira em países em desenvolvimento, chegando a representar 10-20% dos tumores urogenitais masculinos2. Dentre os fatores de risco relacionados, destacamse a fimose, o tabagismo, as doenças sexualmente transmissíveis (como o HPV), mas o que chama mais atenção é o fato de haver uma associação estreita com questões sócio-econômicas. Fatores como baixa escolaridade, má instrução e higiene íntima inadequada ocupam papel de destaque quando analisamos o perfil clínico, cultural e epidemiológico desses pacientes1,2. Segundo dados do INCA, o CP corresponde a 2% de todos os casos de cânceres urogenitais em homens, sendo ainda mais comum nas regiões menos favorecidas, como o Norte e o Nordeste3. Apesar de ser uma doença com alto potencial de cura se identificada em estágios mais precoces, a demora no diagnóstico e na procura por tratamento específico é observada em mais de 50% dos casos4. O pico de incidência ocorre na terceira idade, sem predominância de raça, porém em países como o nosso vemos uma prevalência maior numa faixa etária mais precoce, acometendo homens a partir da quarta década de vida. Este dado também está relacionado à maior incidência de fatores de risco ligados ao baixo nível sócio-econômico desta população5. O tratamento depende da extensão local do tumor e acometimento ou não de linfonodos regionais, sendo rara a ocorrência de metástases à distância. Vai desde terapias tópicas (em estágios iniciais) até tratamento cirúrgico, seja a penectomia parcial ou radical. Também podem ser utilizadas, em casos específicos, a braquiterapia, a quimioterapia neoadjuvante e a quimioterapia exclusiva, nos casos mais avançados1. Os estudos que abordam o tratamento do Câncer de Pênis são, em sua grande maioria, pequenos e não-randomizados, por se tratar de uma patologia rara. Esta revista traz um estudo observacional e descritivo, realizado pelo Núcleo de Pesquisa em Uro-Oncologia da Fundação de Centro de Controle de Oncologia (FCECON), em Manaus, que objetivou pesquisar o perfil clínico-epidemiológico e fatores de risco que influenciaram no surgimento de CP em 34 homens atendidos naquela instituição, entre Janeiro de 2007 a novembro de 2012. Dentre os resultados, destacamos uma maior frequência da neoplasia na faixa etária entre 40-69 anos (68%), histórico de tabagismo (71%), presença de Fimose (53%), antecedente de doenças sexualmente transmissíveis (42%) e baixo nível escolar (56%). A origem étnica não foi associada a uma maior incidência. O perfil desses pacientes foi compatível, portanto, com aquele descrito na literatura5,6. Todos esses fatores tornam o Câncer de Pênis uma doença que merece maior atenção das autoridades públicas dos países em desenvolvimento, no intuito de identificar os principais grupos de risco, realizar campanhas educativas voltadas a esses homens e desenvolver estratégias eficazes para detecção e tratamento precoces. Para prevenir essa neoplasia e todo o ônus social e econômico que ela acarreta, algumas estratégias simples podem e devem ser adotadas o quanto antes. Nos últimos anos, a Sociedade Brasileira de Urologia vem fazendo uma forte campanha para a prevenção dessa doença, no intuito de diminuir o número ainda alto de amputações penianas, cerca de 1.000/ano. É importante a adoção de medidas simples e eficazes, como ensinar às crianças, desde cedo, práticas 59 de higiene íntima diária. Apesar de a fimose dificultar a limpeza local, aumentando em até 4 vezes o risco de surgimento de lesões malignas em glande e prepúcio, a prática de circunsição não é recomendada de rotina para todos os homens pois, quando falamos em câncer de pênis, o mais importante é disseminar massivamente noções básicas de limpeza local. A realização do auto-exame do pênis é uma estratégia simples, com foco na identificação precoce de lesões de aspecto suspeito, devendo ser realizado mensalmente7. Outra importante forma de prevenção é o estímulo ao uso de preservativos, já que o número aumentado de parceiras sexuais e as DSTs também estão associados ao aumento da incidência da doença, além da vacinação contra o HPV8. A associação com o tabagismo ainda continua obscura, porém diversos estudos mostram uma relação significativa com o CP, sendo este um importante alvo de futuras campanhas preventivas9,10. Por todos estes motivos, estudos como o que trazemos nesta edição, realizado pela FCECON, merecem destaque e servem de incentivo para que outros maiores sejam elaborados por outros centros espalhados pelo Brasil. A prevenção e o controle do CP precisam adquirir o mesmo foco e a mesma atenção que a área de serviços assistenciais. Todos esses esforços podem mudar significativamente o prognóstico e a qualidade de vida desses pacientes. O diagnóstico tardio e a baixa procura por tratamento especializado fazem com que os desfechos sejam menos favoráveis, muitas vezes com necessidade de cirurgias mutiladoras que impactam fortemente na questão física, psicológica, na reabilitação funcional e na reintegração social desses indivíduos. Referências bibliográficas 1. National Comprehensive Cancer Network (NCCN). Disponível em: http://www.nccn.org/professionals/physician_ gls/pdf/penile.pdf. 2. Barnholtz-Sloan JS, Maldonado JL, Pow-sang J, Giuliano AR. 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Hellberg D, Valentin J, Eklund T, Nilsson S. Penile cancer: is there an epidemiological role for smoking and sexual behavior? Br Med J 1987; 1995:1306-8. 10. Harish K, ravi R. The role of tobacco in penile carcinoma. Braz J Urol 1995; 75: 375-7. Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 60 Artigo Original Perfil clínico-epidemiológico associado a fatores de risco de pacientes com câncer de pênis atendidos em um Hospital de Referência Oncológica em Manaus Clinical and epidemiological profile associated with risk factors for patients with penile cancer treated at an Oncological Reference Hospital in Manaus Giuseppe Figliuolo¹, Samuel Nuno Pereira Lima², Sebastião Pinto da Costa³, Jusimara Maia da Silva4, Cristiano Silveira Paiva 5, Jose Nilson Araújo Bezerra6, Kátia Luz Torres Silva7 Núcleo de Pesquisa em Uro-Oncologia da Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCECON) em Manaus (AM); Médico Urologista com Mestrado pela Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) em Manaus (AM); 2 Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em Manaus (AM); 3 Acadêmico de Medicina, Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em Manaus (AM); 4 Médica graduada pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em Manaus (AM); 5 Núcleo de Pesquisa em Uro-Oncologia da Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCECON) em Manaus (AM); Médico Urologista com Doutorado pela Escola Paulista de Medicina- Unifesp em São Paulo (SP); 6 Professor do departamento de Enfermagem do Centro Universitário do Norte (Uninorte) em Manaus (AM); Enfermeiro especialista em Estomaterapia pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em Manaus (AM); Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) em Manaus (AM); 7 Núcleo de Pesquisa em Bases Biológicas e moleculares das Neoplasias da Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCECON) em Manaus (AM); Diretora do Ensino e Pesquisa da Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCECON) em Manaus (AM); Farmacêutica-bioquímica; Doutorado na Universidade de São Paulo (USP-SP). 1 Estudo realizado no Núcleo de Pesquisa em Uro-Oncologia da Fundação Centro de Controle de Oncologia (FCECON) em Manaus (AM). Palavras -chave Câncer, pênis, fatores de risco, FCECON Enviado: 24/07/2014 Resumo O câncer de pênis é um tumor raro, com maior incidência em homens a partir dos 50 anos, embora possa atingir os mais jovens. Está relacionado às baixas condições socioeconômicas e de instrução, à má higiene íntima e a presença de fimose. Há estudos que também sugerem a associação entre infecção pelo papilomavírus humano e o câncer de pênis. O objetivo desta pesquisa foi analisar o perfil clínico-epidemiológico e fatores de risco que influenciaram no surgimento do câncer de pênis em pacientes atendidos na Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas, no período de Janeiro 2007 a novembro de 2012. Foi realizado um estudo epidemiológico, observacional e descritivo através de entrevista semiestruturada e revisão de prontuários de 34 homens, de um total de 70 casos confirmados de câncer de pênis, atendidos no período de Janeiro 2007 a Novembro 2012. Dos 34 homens diagnosticados com a neoplasia: 19 (56%) possuíam doença ativa e estavam sem tratamento; 13 (38%) tratados e sem evidencia da neoplasia e 02 (6%) óbitos em decorrência da | Aprovado: 26/05/2015 61 Perfil clínico-epidemiológico associado a fatores de risco de pacientes com câncer de pênis atendidos em um Hospital de Referência Oncológica em Manaus patologia. A faixa etária variou de 26 a 89 anos, com maior frequência entre 40- 69 anos: 23 (68%) casos. Em relação aos fatores de risco observou-se: histórico de tabagismo em 24 (71%) homens; fimose em 18 (53%); 14 (42%) com antecedentes de doenças sexualmente transmissíveis e 19 (56%) com baixo nível escolar. A ocorrência do câncer de pênis segue o perfil descrito na literatura: baixo nível escolar, fimose, tabagismo e antecedentes de doenças sexualmente transmissíveis. Keywords Cancer, penis, risk factors, FCECON Abstract The penile cancer is a rare tumor, with higher incidence in men from the age of 50, although it can reach younger men. It is related to the low socioeconomic status and education, poor personal hygiene and the presence of phimosis. There are studies that also suggest the association between human papillomavirus infection and penile cancer. The objective of this research was to analyze the clinical and epidemiological profile and risk factors that influenced the rise of penile cancer in patients treated at the Foundation Center of the State of Amazonas Oncology Control, from January 2007 to November 2012. It was conducted an epidemiologic, observational and descriptive study through semi-structured interviews and review of medical records of 34 men, a total of 70 confirmed cases of penile cancer, treated between January 2007 and November 2012. Of the 34 men diagnosed with cancer: 19 (56%) had active disease and were untreated; 13 (38%) treated with no evidence of neoplasia and 02 (6%) deaths due to the disease. The age range was 26-89 years, more frequently between 40- 69 years: 23 (68%) cases. Regarding risk factors observed: smoking history in 24 (71%) men; phimosis in 18 (53%); 14 (42%) with a history of sexually transmitted diseases and 19 (56%) with low educational level. The occurrence of penile cancer follows the profile described in the literature: low school level, phimosis, smoking and a history of sexually transmitted diseases. Introdução O câncer de pênis (CP) é uma patologia rara em países desenvolvidos como Estados Unidos da América e Europa, representando cerca de 0,3 a 0,5% dos tumores malignos do homem 1. De acordo com estudo realizado por Barnholtz-Sloan e colaboradores, constatou-se que a incidência de câncer, primário e maligno, do pênis nos Estados Unidos entre 1973 e 2002 foi de 0,69 por 100.000 habitantes2. Por outro lado, em algumas regiões da Ásia, África e América do Sul, esta doença chega a representar cerca de 10 a 20% dos tumores urogenitais masculinos, constituindo verdadeiro problema de saúde3. No Brasil, o CP é uma patologia frequente, dados levantados pelo Datasus sugerem que o país esteja em segundo lugar no ranking mundial da doença, atrás apenas da África 4. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer o tumor representa 2% de todos os casos de cânceres no homem, sendo mais frequente nas regiões Norte e Nordeste que nas regiões Sul e Endereço para correspondência: Giuseppe Figliuolo E-mail: [email protected] Rua Fortaleza, 528, Adrianópolis CEP 69057-080, Manaus - AM, Brasil Sudeste5. Conforme dados da Fundação de Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas, em um estudo realizado em Manaus no ano de 1999, o câncer de pênis foi responsável por 20% das neoplasias no homem, com incidência de 4,17 por 100.000 homens6. O tipo histológico mais frequente do CP é o carcinoma epidermóide, também denominado espinocelular ou escamoso (CEC) que representa 95% dos tumores malignos do pênis7. Os fatores de risco para o CP são múltiplos e, apesar de varias causas e fatores de risco tem sido descrito como a presença de fimose e de HPV, a neoplasia permanece com etiologia ainda incerta8. A incidência de fimose entre pacientes com CP é de ordem de 74%, embora ainda não tenha sido encontrado um carcinógeno específico, a ausência da circuncisão dificulta a higienização adequada da glande, que associada à presença da bactéria Mycobacterium smegmati, além de causar a irritação crônica do epitélio, contribui para a gênese do CP9. M ateriais e M étodos Trata-se de um estudo epidemiológico, observacional e descritivo que investigou o perfil sócio-demográfico, epidemiológico e fatores de risco em pacientes com diagnóstico histopatológico de câncer de pênis atendidos no período de Janeiro 2007 a Novembro de 2012 em um Hospital de referência em Oncologia da Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 62 Figliuolo et al. cidade de Manaus (AM): Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCECON). De um total de 70 homens que deram entrada na Fundação diagnosticados com a neoplasia, apenas 34 deles preencheram os critérios de inclusão do estudo, participando assim ativamente da pesquisa. Os dados foram colhidos por meio de entrevista semiestruturada contendo dados demográficos, epidemiológicos, clínicos e através da revisão de prontuários do Serviço de Arquivo Médico e Estatística (SAME) da FCECON. Os critérios de inclusão neste estudo foram: homens maiores de 18 anos com diagnostico de câncer de pênis atendidos no ambulatório da FCECON; aceitação da participação voluntária no estudo, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os de exclusão: pacientes que não cumpriram qualquer das etapas do estudo: preenchimento incompleto de dados clínicos, demográficos e ou epidemiológicos na entrevista; prontuários sem informações necessárias á pesquisa. Os dados foram inseridos em uma planilha do Excel e analisados na plataforma eletrônica Epi Info® versão 3. As variáveis estudadas considerando os fatores de risco e determinantes sociais foram: faixa etária, etnia, estado civil, grau de escolaridade, atividade ocupacional, renda familiar, tabagismo procedência, história prévia de doença sexualmente transmissível, presença de fimose (incapacidade de exposição da glande). Em relação descrição clínica das lesões foram consideradas as variáveis: tempo de aparecimento dos sintomas e diagnóstico de câncer de pênis; presença de doença pré-neoplásica (leucoplasias, balanite xerótica obliterante, doença de Bowen, papulose Bowenóide e condiloma acuminado); localização topográfica/ histológica do tumor (glande, prepúcio, haste); tamanho da lesão; presença de linfonodos inguinais palpáveis; estágio da doença; presença e localização de metástase; tratamento (s) realizado (s) (cirúrgico: penectomia parcial, radical, linfadenectomia e/ou paliativo: quimioterapia e radioterapia). O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Amazonas no dia 07 de dezembro de 2011, sob o protocolo CAAE nº. 0516.0.115.000-11, seguindo a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Resultados Participaram da pesquisa 34 pacientes do sexo masculino, maiores de 18 anos com diagnóstico de câncer de pênis. A situação clinica dos participantes no momento da entrevista foi a seguinte: 19 (56%) com doença ativa e aguardando tratamento; 13 (38%) tratados e sem evidência de neoplasia e 02 (6%) óbitos em decorrência da patologia. Dos 13 (38%) pacientes submetidos ao tratamento, a maioria, 12 (92%), apresentava doença localmente avançada sendo, portanto, realizada à amputação parcial do pênis e, em apenas 01 (08%), a amputação radical. A caracterização da amostra segundo as características sócio-demográficas encontram-se na tabela 1 e 2 e figura 1. As relacionadas à presença de fimose, antecedentes de DSTs e topografia peniana das lesões malignas estão listadas na tabela 3. Tabela 1. Distribuição das variáveis sócio-demográficas dos 34 pacientes com câncer de pênis atendidos na FCECON Índices Demográficos N (%) 26 ---| 39 anos 04 12 40 ---| 69 anos 23 68 70 ---| 89 anos 07 20 Pardos 24 70 Caucasianos 04 12 Negros 06 18 Solteiro 11 32 Casado 19 56 Viúvo 04 12 Não alfabetizados 05 14 Ensino fundamental incompleto 19 56 Ensino fundamental completo 03 09 Ensino médio 06 18 Ensino superior completo 01 03 Empregados 25 74 Desempregados 09 26 > 3 salários mínimos 06 18 1-3 salários mínimos 20 58 < 1salário mínimo 08 24 Sim 06 18 Abstêmio 18 53 Não 10 29 Faixa etária Etnias Estado civil Escolaridade Atividade ocupacional Renda familiar Tabagismo 63 Perfil clínico-epidemiológico associado a fatores de risco de pacientes com câncer de pênis atendidos em um Hospital de Referência Oncológica em Manaus Tabela 2. Distribuição da amostra conforme a procedência dos 34 pacientes com câncer de pênis atendidos na FCECON Procedência (Cidade-Estado) N (%) Amazonas 27 79 Outros estados 07 21 Total 34 100 Figura 1. Distribuição geográfica, em números e porcentagens, dos 27 casos de pacientes com CP diagnosticados na FCECON, procedentes do estado do Amazonas, no período de janeiro de 2007 a novembro de 2012, segundo as mesorregiões amazonenses Em relação aos estados Brasileiros Em relação as Mesorregiões Amazonenses Mesorregião Norte Amazonense (MNA) 0 0 Mesorregião Sudoeste Amazonense (MSEA) 03 09 Mesorregião Centro Amazonense (MCA) 22 64 Mesorregião Sul Amazonense (MSA) 02 06 Total 27 79 Em relação às Municípios Amazonenses Atalaia do Norte (MSEA) 01 03 Careiro da Várzea (MCA) 02 06 Coari (MCA) 01 03 Fonte Boa (MSEA) 01 03 Itacoatiara (MCA) 01 03 Juruá (MSEA) 01 03 Lábrea (MSA) 01 03 Manacapuru (MCA) 01 03 Manaus (MCA) 11 32 Maués (MCA) 01 03 Parintins (MCA) 05 14 Purus (MSA) 01 03 Total 27 79 Em relação aos outros estados brasileiros São Luiz - MA 01 03 Bélem - PA 01 03 Capanema - PA 02 06 Juruti – PA 01 03 Garanhões - PE 01 03 Itaveira - PI 01 03 Total 07 21 1. Mesorregião Norte Amazonense: 0 (0%); 2. Mesorregião Sudoeste Amazonense 03 (9%): Atalaia do Norte 01 (3%), Fonte Boa 01 (3%) e Juruá 01 (3%); 3. Mesorregião Centro Amazonense 22 (64%): Careiro da Várzea 02 (6%), Coari 01 (3%), Itacoatiara 01 (3%), Manacapuru 01 (3%), Manaus 11 (32%), Maués 01 (3%), Parintins 05 (14%); 4. Mesorregião Sul Amazonense 02 (6%): Lábrea 01 (3%), Purus 01 (3%). Tabela 3. Distribuição das variáveis relacionadas á presença de fimose, antecedentes de DSTs e topografia peniana das lesões cancerígenas dos 34 pacientes estudados VARIÁVEIS N % Sim 16 47 Não 18 53 Sim 14 42 Não 20 58 Fimose Antecedente de DSTs Topografia peniana das lesões cancerígenas Glande 13 38,5 Prepúcio 05 14 Glande e Prepúcio 13 38,5 Glande e Haste 01 03 Todo órgão 02 06 Discussão O câncer de pênis é uma neoplasia rara, que atinge aproximadamente 1/100.000 homens nos países desenvolvidos 10-11. A alta incidência é observada em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, onde é mais elevada nas regiões Norte e Nordeste 13, aco- Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 64 Figliuolo et al. metendo principalmente homens na terceira idade, independentemente de sua origem étnica10. Brumini (1982), assim como em nossa pesquisa, evidenciou que a análise epidemiológica dos casos de CP indica que, em relação ao perfil sócio-econômico-cultural dos portadores, a neoplasia acomete principalmente homens de classe social e nível de instrução baixo, sendo que as áreas de maior incidência estão contidas nas regiões mais carentes dos países em desenvolvimento13. A demora na procura de atendimento médico também decorrente do baixo nível cultural dos pacientes é uma variável que prejudica o resultado do tratamento. Uma grande parcela dos casos de CP em estádio avançado necessita de tratamento cirúrgico mutilante que resulta em repercussões psicológicas e funcionais desfavoráveis, situação que dificulta a reabilitação e a reintegração social. Lopes e colaboradores publicaram em 1996 e 2000 duas séries sobre CP, nas quais mais de quinhentos pacientes foram excluídos em cada uma delas por apresentarem doença irressecável, metastática ou por recusarem tratamento14,15. Os dados apresentados por estes autores refletem o estádio avançado na apresentação e o baixo nível cultural dos enfermos. Dos pacientes nos estudos, 63,4% e 73,17% apresentavam tumores T3 e T4, também evidenciando doença local avançada. No mundo o câncer de pênis acomete principalmente pacientes entre 60 e 70 anos, entretanto é pouco frequente em adultos jovens e raro em crianças16-18. De acordo com Favorito em colaboradores (2008) o câncer de pênis no Brasil ocorre mais precocemente, a partir da quarta década de vida, em relação à população mundial19. Este fato foi observado em nossa pesquisa, onde foi encontrada uma incidência mais elevada (68%) de CP entre a faixa etária de 40 a 69 anos. Em nosso estudo a maioria dos pacientes evidenciava lesões cancerígenas na glande (38,5%), no prepúcio (14%) e em ambas as áreas (38,5%) do pênis. Resultados compatíveis com os encontrados na literatura: Cubilla (2009) descreve que o câncer de pênis quase que em 48% dos casos a lesão é evidenciada na glande, em prepúcio 21% e ambas as áreas 9%, já no sulco coronal apresenta 6% das lesões. A lesão pode se estender quando não tratada em estágios iniciais para o prepúcio, infiltrando tecidos adjacentes como o subepitelial, conjuntivo, corpo esponjoso e cavernoso, e pode invadir órgãos como próstata e bexiga. São raras as metástases à distância como próstata e bexiga. São raras as metástases à distância20. Em relação à etnia, a maioria dos pacientes brasileiros diagnosticados com câncer de pênis é caucasiano, entretanto, isto não parece ser um fator de risco determinante para esta neoplasia segundo estudo realizado por Favorito em 200819. Já em nosso estudo encontramos 24 (70%) pacientes pardos, o que pode ser explicado por ser a etnia predominante na região Norte do país. Segundo o pesquisador Bleeker e seus colaboradores (2009), os principais fatores de risco para o desenvolvimento de CP são a presença de fimose, as baixas condições socioeconômicas, número elevado de parceiras sexuais, história de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), em especial o papiloma vírus humano (HPV), más condições de higiene e o tabagismo17. A respeito da presença de fimose nos pacientes com CP encontramos uma incidência em nosso estudo de 18 (53%) homens. De acordo com Dilner e colaboradores (2000) e Bleeker e colaboradores (2009) o principal fator de risco relacionado à biologia do CP em homens seria a presença de fimose, a qual dificultaria a higiene, facilitando o acúmulo de esmegma, assim favorecendo condições de irritação crônica com ou sem inflamação bacteriana do prepúcio e da glande, que podem representar um componente crítico no desenvolvimento e progressão de lesões cancerígenas 8,17. A associação entre tabagismo e CP tem sido relatada em estudos realizados por Hellberg e colaboradores (1987), Maden e colaboradores e Harish; Ravi (1995), porém continua obscuro qual seria o mecanismo de ação do tabaco na carcinogênese peniana21-23. Nesta pesquisa, 24 (71%) pacientes tinham histórico de tabagismo. C onclusão Acreditamos que os resultados encontrados em nosso estudo podem servir como ferramenta para elaboração de programas de prevenção para detecção precoce de câncer de pênis, em indivíduos com risco aumentado para o desenvolvimento de tal afecção: como pacientes com fimose, de baixo nível sócio-cultural, com hábitos sexuais e de higiene precários. Além disso, evidencia a necessidade das campanhas educativas serem adequadas aos hábitos culturas e regionais de cada população em especial ao da Região Norte (Amazonas), onde existe uma necessidade crescente de práticas efetiva de políticas públicas de saúde direcionadas para a população masculina. C onflito de I nteresses Nada a declarar Referências 1. Riveros M, Lebrón RF. Geographical pathology of cancer of the penis. Cancer 1963 Jun; 16:798-811. 2. Barnholtz-Sloan JS, Maldonado JL, Pow-sang J, Giuliano AR. Incidence trends in primary malignant penile cancer. Urologic Oncology 2007; 25(5): 361-367. 3. Bhana D, Kyalwazi SK. 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Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 66 Artigo Original Association between nutritional subjective global assessment and manual dynamometry in cancer patients of a chemotherapy service in Southern Brazil Associação entre a avaliação subjetiva global e a dinamometria manual em pacientes oncológicos de um serviço de quimioterapia do Sul do Brasil Tainá Lopes da Silva1, Alessandra Doumid Borges Pretto2, Maria Cristina Gonzalez3, Carla Alberici Pastore4 Degree in Nutrition, Federal University of Pelotas. [email protected]. Pelotas, RS, Brazil. Nutritionist, Master in Nutrition and Food, Federal University of Pelotas and PhD in Health Behavior and the Catholic University of Pelotas. [email protected]. Pelotas, RS, Brazil. 3 Physician, Doctor in Epidemiology. Post-graduation Program on Health and Behavior, Catholic University of Pelotas. [email protected]. Pelotas, RS, Brazil. 4 Nutritionist, Doctor on Health and Behavior. Nutrition College, Federal University of Pelotas. [email protected]. Pelotas, RS, Brazil. 1 2 Pastore C.A. participated in the project design, data collection, statistical analysis, interpretation of results, drafting and revision of the manuscript; Silva T.L. participated in drafting the design, interpretation of results and writing of the manuscript; Pretto A.D.B. participated in revising the manuscript and Gonzalez M.C. participated in the design and orientation of the project, coordination of data collection, statistical analysis and revision of the manuscript. Keywords Cancer, nutritional status, Subjective Nutritional Assessment, handgrip strength Enviado: 24/07/2014 Summary Objectives: This article aims to verify whether there is an association between Subjective Global Assessment and handgrip strength in cancer patients treated at a Chemotherapy service of Pelotas-RS. Methodology: Cross-sectional study, cradling a randomized, controlled, blind, conducted in the Department of Chemotherapy of Academic Hospital of the Federal University of Pelotas, between June 2008 and May 2010, among patients with cancer gastrointestinal tract and lungs. Nutritional status was assessed by Subjective Global Assessment and the handgrip strength was measured by dynamometry. Results: We evaluated 77 patients, 57.1% were male, with 74% of the sample presenting gastrointestinal cancers. Among the severely malnourished patients, those with tumors of the gastrointestinal tract were handgrip strength significantly lower than those with lung cancers (p = 0.03). There was not found statistically significant relationship between hand grip strength and classification of Subjective Global Assessment in the overall sample. However, the mean handgrip strength tended to decrease with worsening nutritional status in both cancer sites. Conclusion: Although there was no association between the Subjective Global Assessment and hand grip strength, there was a tendency to decreased grip strength according to the worsening nutritional status, suggesting the impact of malnutrition on muscle function of patients. | Aprovado: 26/05/2015 67 Nutritional assessment in cancer Palavras -chave Câncer, estado nutricional, avaliação subjetiva global, dinamometria, força de preensão manual Resumo Objetivos: Este artigo teve por objetivo verificar se existe uma associação entre a Avaliação Subjetiva Global e força de preensão manual em pacientes com câncer tratados pelo serviço de quimioterapia na cidade de Pelotas-RS, Brasil. Metodologia: Estudo transversal aninhado em um ensaio clínico randomizado, controlado e cego de Quimioterapia do Hospital de Ensino Serviço da Universidade Federal de Pelotas-RS, Brasil, entre junho de 2008 e maio de 2010, com pacientes com câncer trato gastrointestinal e do pulmão. O estado nutricional foi avaliado através da Avaliação Subjetiva Global e força de preensão da mão por meio de dinamometria. Resultados: Foram avaliados 77 pacientes, sendo 57,1% do sexo masculino, com 74% da amostra apresentando câncer do trato gastrointestinal. Entre os pacientes com desnutrição grave, aqueles com tumores gastrointestinais possuíam força de aperto de mão, mais baixos (p 0,03). Não houve associação significativa entre a classificação manual de dinamometria de Avaliação Subjetiva Global no total da amostra. No entanto, a força de preensão da mão mostrou uma tendência a diminuir com o estado nutricional em ambos os locais de câncer. Conclusões: Embora não tivesse nenhuma associação entre a Avaliação Subjetiva Global e dinamometria houve uma tendência à diminuição da força de preensão da mão de acordo com a deterioração do estado nutricional, sugerindo o impacto da desnutrição na função muscular dos doentes avaliados. Introduction Cancer is a disease characterized by the abnormal growth of cells, which can grow in an exacerbated way in a short time and spread in anywhere in the body, invading tissues and organs. Currently ranks as the second leading cause of deaths worldwide, about 12% of all deaths, second only to cardiovascular diseases 1. According to the National Cancer Institute (NCI), the World Health Organization states, in 2008, around twelve million new cases of câncer2, and National Cancer Institute (INCA) estimates for Brazil, for the biennium 2012/2013, the incidence of 518,510 new cases3. Among the biggest problems faced by cancer patients, malnutrition is considered the most common, being found in 40-80% of cancer patients during the course of the disease 4. This injury affects around 15-20% of patients at diagnosis and up to 80-90% of patients with advanced stage 5. The prevalence of malnutrition varies according to the kind of tumor, stage of disease and treatment. The deficit of nutritional status is closely related to decreased response to treatment and quality of life, and bringing a higher risk of postoperative complications, increased morbidity and mortality, length of stay and hospital costs. Its Author for correspondence: Carla Alberici Pastore Phone: (53) 3226-3768 / Fax: (53) 3921-1309 E-mail: [email protected] Rua Taquari, 617, Laranjal CEP 96090-770, Pelotas - RS, Brasil importance lies in the fact that 20% of deaths occur in cancer patients due to complications resulting from malnutrition, not the disease itself 5. Approximately two thirds of cancer patients at advanced stages of the disease suffer from anorexia, which leads to significant weight loss and progressive cachexia, an important factor that contributes to death. Knowledge of the mechanisms underlying the effects of caquexia on the patient may play a role in identifying treatment measures targetted to muscle wasting and to maintain body strength5. Malnutrition in cancer patients is frequently reported in the literature and found in almost 75% of the patients at diagnosis. It is also significantly associated with increased morbidity and mortality, reduced response and tolerance to treatment, higher costs, diminished chances of survival and worse Quality Of Life. Malnutrition is caused by several factors and may vary according to the type of tumor, its stage and treatment used6. To improve the quality of life of the patient, nutritional therapy should be initiated immediately after the diagnosis of malnutrition or nutritional risk, thus reducing the length of stay and hospitalar cost7. When started early, the nutritional therapy may further reduce morbidity and enable the patient completes the course of the treatment oncológico7. The Patient-Generated Subjective Global Assessment (PG-SGA) developed by Ottery, validated in 1996, as an adaptation of the Subjective Global Assessment proposed by Detsky 8, is used exclusively to assess the nutritional status of cancer patients. In 2010, Gonzalez et al translated and validated the Brazilian version of PG-SGA 9. The questionnaire consists of Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 68 da Silva et al. two parts with questions designed to investigate the nutritional status, gastrointestinal symptoms and functional capacity. With the numerical results (score) is possible, beyond categorization, set the strategy most appropriate to nutritional intervention10. It is known that the nutritional losses are associated with a low strength, that this parameter appears to undergo early changes, occurring before the measurable changes in composition corporal11. The impact of tumor and / or treatment results in loss of muscle mass affecting its functionality 11. A dynamometer is a test that aims to estimate the function of skeletal muscle, thus, valid in the evaluation of nutritional status in cancer patients7. Hand grip strength is a nutritional assessment technique sensitive to changes in nutritional status in the short term, being a noninvasive, inexpensive, easy to apply, quick and the weighing of patient - not always possible - is unnecessary11. Therefore, the objective of this study was to determine whether there is an association between methods PG-SGA, already established for use in cancer, and hand grip strength in patients with cancer treated at the Chemotherapy Service of Academic Hospital of Federal University of Pelotas (UFPEL), Rio Grande do Sul, Brazil. M aterials and Methods Cross-sectional study, cradling a randomized, controlled, blind, conducted in the Department of Chemotherapy of Academic Hospital UFPEL, between June 2008 and May 2010, entitled “Nutritional Intervention in Cancer Patients: Effects on Body Composition and Quality Life. Patients older than 18 years, patients with cancer of the gastrointestinal tract and lung, beginning chemotherapy for the first time, were considered eligible. The oncology patients referred for chemotherapy at the Academic Hospital UFPEL, whom met the inclusion criteria were invited to participate in the study during the first medical consultation, if met the other eligibility criteria evaluated by the oncologist. After agreement about the participation and completion of informed consent, patients were referred for consultation with a nutritionist. At this point, it was performed the evaluation of the patient, according to standardized questionnaires addressing demographic and socioeconomic aspects. Also, it was performed the Patient-Generated Subjective Global (SGA), according to Detsky8, which was adapted and translated and validated in Brazil by Gonzalez et al9. During the consultation, hand grip strength was also performed, test that aims to estimate the functional state of the skeletal muscle, using JAMAR® dynamometer. Three measures were obtained for each hand (dominant and nondominant), with one-minute intervals between each measurement, using the largest measurement obtained from each hand. This study was approved by the Research Ethics Committee responsible for the hospital involved in the study, according to letter No. 066/06 of 30 July 2006. Data were processed with double entry and consistency checking through software EpiInfo 6.04d®. The analysis were performed using Stata 9.1®. Results The study included 77 patients referred for cancer chemotherapy in the Academic Hospital of the Federal University of Pelotas (UFPel), 57.1% were male. Mean age was 64.4 ± 11.6 years. Predominated married individuals or with a partner (58.4%), with white skin 85.7%. The majority of the sample presented gastrointestinal cancer (74%). Of those, 22% had cancer of the esophagus or stomach, 46.7% of colon and rectal cancer and 5.2% pancreatic cancer or gallbladder. Only 26% presented lung tumors. Thirty-five percent of the patients had disease on stage III, 27% stage IV and 23% on stage II. As to the character of chemotherapy treatment, 52% was performed by palliative way, 30% pre / neo adjuvant, 16% adjuvant and 1% performed curative treatment. The analysis of the nutritional status of patients, according to PG-SGA, showed that 66.2% had moderate malnutrition or risk of malnutrition and 20.8% severe malnutrition. When the nutritional status was assessed according to Body Mass Index (BMI), it was found only 7.8% underweight, with a general mean BMI of 23.3 ± 3.8 kg/m2. In Table 1 it can be observed the classification of nutritional status, according to ASG, by cancer type. The PG-SGA consists of boxes containing questions designed to evaluate different parameters and criteria that compose the assessment of nutritional status and overall cancer patient. In the physical examination of the PG-SGA, 40.8% of patients had moderate loss, taking into account this criterion, weight loss of adipose tissue and muscle mass. About the symptoms boxes, the score of the sample reached a median of 6 (IQR 2, 9) points, from minimum of zero and maximum of 16 points. There was a predominance of right-handed individuals, representing 88.2% of the sample. For analysis purposes, it was used the values of the left hand grip strength, to enable comparison with existing studies in the literature. Regarding the left dynamometry of the general population, the handgrip strength reached an average of 24.5 ± 9.4 kgf, the minimum was 8kgf and the maximum was 51kgf. Observing by gender, women had a mean of 18.7 ± 6.2 kgf, ranging from 8 to 32kgf while men reached an average of 29.1 ± 9.0 kgf, ranging from 10 to 51kgf. Table 2 shows comparison 69 Nutritional assessment in cancer dynamometry left by genre according to the type of tumor. There was no statistically significant relationship between hand grip strength and classification of PG-SGA in the general sample. It can be observed, however, a tendency to decrease the handgrip strength according to the worsening in nutritional status, as noted in Table 3. Table 1. Classification of nutritional status (SGA) according to tumor site Tumor location Nutritional Status TGI I n = 57 Lung n = 20 SGA “A” 10.5% 20.0% PG-SGA “B” 70.2% 55.0% PG-SGA “C” 19.3% 25.0% TGI: gastrointestinal tract p = 0.37 (Fischer´s exact test) I boxes, physical examination, metabolic demand, function and activity) and the handgrip strength was used Pearson correlation to the boxes whose score results in a continuous variable (symptoms and physical examination) and Anova test for the activity boxes and function and metabolic demand, whose scores are categorical.The boxes subjected to Pearson correlation resulted in weak negative correlation (r = -0.22 for the symptoms box and r = -0.31 box for physical examination, explaining only between 4.7% (R2 box Symptoms = 0.0468) and 9.3% (box Physical Examination R2 = 0.0933) of the variation of the dominant hand grip dynamometry. The boxes of Metabolic Demand and Activity and Function were not significant to determining the handgrip strength in this sample of cancer patients (p = 0.30 and p = 0.06 respectively). Table 4. Comparison between handgrip strength and nutritional status (PG-SGA) according to tumor site Dynamometry Table 2. Comparison of the handgrip strength according to tumor site Tumor location Gender TGI I Lung p valueII Mean (DP) Kgf Mean (DP) Kgf Male 29.4 (±9.6) 28.2 (±7.3) 0.7 Female 18.3 (±6.4) 19.9 (±5.6) 0.5 TGI: gastrointestinal tract II Test t I Table 3. Handgrip strength according to nutritional status (PG-SGA) in patients with lung and gastrointestinal cancer Handgrip Strength Nutricional status Mean (DP) (Kgf) Mín. – Máx. (Kgf) ASG “A” 29.3 (10.1) 18 – 47 ASG “B” 24.9 (9.4) 8 – 51 ASG “C” 20.5 (7.8) 10 – 32 p = 0.24 (Anova test) There was also no statistical association between PPP and ASG-hand grip strength when the sample is stratified by tumor type. However, the average handgrip strength tended to decrease with worsening nutritional status in both cancer sites, as shown in Table 4. To appraise the association between the scores of the boxes that compose the PGPG-SGA (symptoms TGI I Mean (DP) Nutritional status Lung II Mean (DP) p value PG-SGA “A” 30.6 (10.8) Kgf 27.2 (10.1) Kgf 0.63 PG-SGA “B” 25.4 (9.6) Kgf 20.6 (10.4) Kgf 0.41 PG-SGA “C” 17.7 (7.6) Kgf 0.03 26.6 (3.9) Kgf III p = 0.33 (Anova test for the means of grip strength between categories of nutritional status in patients with GI – gastrointestinal - cancer) II p = 0.14 (Anova test for the means of grip strength between categories of nutritional status in patients with lung cancer) III Test t (for means of grip strength according to nutritional status [intra PGSGA categories] according to tumor location) I Discussion The TGI cancer accounted for 74% of the sample, standing up to lung cancer. This result is similar to previous studies that found a high prevalence of cancers that affect the GI tract. Hortegal et al 11, in a survey conducted in cancer patients found sample comprised 36.7% of GI cancer, followed by lung cancer, which accounted for 26.7%. The rest of sample was composed of various other malignancies. According toWaitzberg 12, cancers of the digestive tract by directly assaulting the bodies responsible for nutrition, are often associated with the incidence of cachexia. The present study, however, found a higher prevalence of severe malnutrition in individuals with lung cancer. The tumor TGI was more frequently associated with moderate malnutrition or suspected. Abrunhosa13 observed that the group of patients with lung cancer had the highest prevalence of stunting (26.7%) and the lowest muscle strength in males than patients affected by other types of cancer. Xará14 observed, 55.6% of moderate / suspected among patients Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 70 da Silva et al. with carcinoma in the stomach, and among cases of carcinoma in the mouth, lips or tongue, 50% were in severe malnutrition. According to PG-SGA, the majority of the sample was classified as moderate or suspected malnutrition (66.2%) followed by severe malnutrition (20.8%). Abrunhosa 18 found similar results, being 72.3% of patients were classified as moderate or suspected malnutrition and 17.8% as severely malnourished. Duval et al15, reported 80% prevalence of malnutrition or risk of malnutrition, which was also identified according to BMI classification, where found a high prevalence of malnourished individuals. In a study of Borges et al 16, unlike the studies cited above, 70.7% the sample was well nourished and only 4.2% had severe malnutrition. However, his sample was composed predominantly of female patients diagnosed with breast or gynecological cancer, which justifies the high prevalence of patients well nourished since the incidence of malnutrition is reduced in these tumor types. In this study, according to BMI, 59.7% of patients were classified as normal, 29.9% as overweight and only 7.8% underweight. Patients with lung cancer had a higher prevalence of underweight at the time of data collection. According to Bauer et al17, malnourished cancer patients may present with normal BMI or within the average overweight or obese, with body fat masking the loss of lean body mass. The strength of handgrip among males was 29.1 ± 9.4 kgf and females 18.7 ± 6.2 kgf. Among severely malnourished patients studied, those with lung tumor had lower muscle strength than those with tumors of TGI. There was no statistically significant when compared methods of PG-SGA and dynamometry, but there was a trend to reduced grip strength according to the worsening nutritional status, a result which is similar to previous studies. Contrary to expectation, given this trend, patients classified as moderately malnourished or suspected, were distributed almost equally among the three tertiles of muscle strength. Considering the results found in this study is a clear need for the assessment and monitoring of nutritional status in cancer patients, as malnutrition occurred frequently in those referred for chemotherapy. Although in this study there was no significant association between the methods of PG-SGA and hand grip strength, there was a tendency for decreased muscle strength with worsening nutritional status. Therefore, it is evident the importance of knowing the patient nutritional status and his functional capacity, more research is needed with larger samples to assess this relationship, since both may be associated and impact the evolution of the treatment of disease and quality of life of these patients. Referências 1. Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2010: Incidência de Câncer no Brasil. INCA, Rio de Janeiro. 2010 2. World health organization (WHO). Globocan 2008 (IARC). [acesso em jan 2012) < http://globocan.iarc.fr/factsheet.asp#BOTH > 3. Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA). Estimativa 2012: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2012. 4. Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2011: Incidência de Câncer no Brasil. INCA, Rio de Janeiro. 2011. 5. Bot J, Piessen G, Robb WB, Roger V, Mariette C. Advanced tumor stage is an independent risk factor of postoperative infectious complications after colorectal surgery: arguments from a case-matched series. Dis Colon Rectum 2013 May; 56(5): 568-76. 6. Sosa S, Sánchez L K, Motola KD, Green RD. The cachexia-anorexia syndrome among oncological patients. Gac Med Mex 2008. Sep-Oct;141 (5): 435-40 7. Kyle UG, Pirlich M, Schuetz T, Lochs H, Pichard C. Is nutritional depletion by nutritional risk index associated with increasedlength of hospital stay? A population-based study. JPEN 2004; 28(2): 99-104. 8. Detsky AS, Baker JP, Johnston N, Whittaker S, Mendelson RA, Jeejeebhoy KN. What is subjective global assessment of nutritional status? J Parenter Enteral Nutr 1987; 11: 8-13. 9. Coppini LZ. Avaliação nutricional no paciente com câncer. In: Waitzberg DL, editor. Dieta, nutrição e câncer. 2ª ed. São Paulo: Atheneu; 2006; 385-91. 10. Matos LC, Tavares MM, Amaral TF. Handgrip strength as a Hospital Admission Nutritional Risk Screening Method. 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European Journal of Clinical Nutrition 2002; 56: 779–785. 71 Artigo Original Prevalência de diabetes em pacientes com neoplasias malignas de trato intestinal em um hospital de ensino Prevalence of diabetes in patients with intestinal malignancies in a teaching hospital Luana Gaino Bertolazzi1, José Luiz Domingues Junior2, Valeska Cristina Moreira Farias de Oliveira do Carmo3, Fábio Leite Couto Fernandez4 ¹ Enfermeira residente no Programa de Residência Multiprofissional em Atenção ao Câncer da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP); ² Estudante da quinta série do curso de graduação em Medicina da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP); 3 Médica do serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FUNFARME/FAMERP). 4 Médico-chefe do serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Base da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FUNFARME/FAMERP). Local de realização da pesquisa: Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – Hospital de Base Conflitos de interesse: Declaramos a inexistência de conflito de interesse no desenvolvimento deste trabalho. Palavras-chave Diabetes mellitus, câncer de cólon, fatores de risco, perfil epidemiológico, pacientes oncológicos, comorbidades Resumo Introdução O câncer configura-se como um grave problema de saúde pública no Brasil, dada a sua elevada morbimortalidade. Neste cenário, pesquisas que auxiliem o esclarecimento de fatores de risco para o câncer e redução de agravos, aos já portadores de neoplasias, são bem quistas. Recentemente, o diabetes passou a ser visto em concomitância com neoplasias malignas de trato intestinal (NMTI), de forma patogênica ou prognóstica. Objetivos: Reconhecer a prevalência de diabetes nos pacientes com NMTI e verificar possíveis influências da presença do diabetes na localização da neoplasia e nos óbitos. Material e Métodos: Foram estudados os prontuários de todos os pacientes diagnosticados com NMTI desde 01/06/2010 em busca da confirmação ou exclusão da presença de diabetes tipos 1 e 2. Resultados: Foram identificados 246 pacientes com NMTI, havendo discreta predominância de homens (n = 124; 50,4%) e maioria com idade entre 61 a 70 anos (n = 70; 28,5%). A neoplasia mais frequente, em ambos os sexos, foi de cólon sigmóide (n = 88; 35,7%). A concomitância das patologias foi vista em 14,6% (n = 36) dos pacientes, com maioria diabetes tipo 2 (n = 30; 83,3%). Não houve relações estatisticamente significantes entre a prevalência de diabetes mellitus nos pacientes com NMTI (p = 0,647), nem em relação à mortalidade desses indivíduos (p = 0,309) e a localização da neoplasia (p > 0,05). Conclusões: Ainda que nesta análise retrospectiva a co-relação não tenha sido significativa, a pandemia do diabetes continua a ocorrer simultaneamente à do câncer, urgindo a necessidade de estudos prospectivos que estabeleçam melhor essa relação, metabólica e estatisticamente. Keywords Diabetes mellitus, colon cancer, risk factors, Abstract Introduction: The cancer appears as a serious public health problem in Brazil, given its high morbidity and mortality. In this scenario, studies that help clarify the risk factors for cancer and reduction of harm to cancer patients already are well conquests. Recently, diabetes was Enviado: 13/05/2014 | Aprovado: 31/07/2015 72 Bertolazzi et al. epidemiology, cancer patients, comorbidity related with the pathogenesis or prognostic of malignant neoplasms of the intestinal tract (MNIT). Objectives: Identify the prevalence of diabetes in patients with MNIT and verify influences between the presence of diabetes with deaths and the location of the cancer. Material and Methods: The records of all patients diagnosed with MNIT since 01/06/2010 were studied, seeking confirmation or exclusion of the presence of diabetes types 1 and 2. Results: We selected 246 patients, with a slight predominance of men (n = 124, 50.4%) and most aged 61-70 years (n = 70, 28.5%). The most frequent cancer in both sexes was sigmoid colon (n = 88, 35.7%). Concomitant diabetes and MNIT was seen in 14.6% of patients (n = 36), predominantly type 2 diabetes (n = 30, 83.3%). There were no statistically significant associations between the prevalence of diabetes mellitus in patients with NMTI (p = 0.647), nor in relation to mortality in these patients (p = 0.309) and the cancer localization (p > 0,05). Conclusions: Although in this retrospective analysis no significant relationship was observed, the pandemic of diabetes continues to occur concurrently with cancer, urging the need for prospective studies to better establish the association between MNIT and diabetes. Introdução Referencial Teórico O câncer é a designação genérica para uma gama de doenças com elevada morbimortalidade e aspectos multifatoriais de gênese e prognóstico1.Com um perfil epidemiológico em constante ascendência2, o câncer pode ser estimado como um grave problema de saúde pública no Brasil1-2. Além da elevada incidência atual, em 30 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) espera que o aumento dos números de caso seja de 20% nos países desenvolvidos e 100% nos países em desenvolvimento, com 17 milhões de óbitos por câncer1-2. Desta maneira, a temática relacionada ao câncer no Brasil rende espaços nas agendas políticas e técnicas de todas as esferas do governo, na tentativa de se avaliar a eficácia das intervenções adotadas e destinar a alocação de recursos de forma a impactar neste cenário1-2 Para que isso se concretize, faz-se necessário um conhecimento aprofundado da epidemiologia e apresentação de cada tipo de câncer, bem como do reconhecimento das estratégias voltadas à identificação dos fatores de risco e redução dos agravos1. A exemplo dessas estratégias, são crescentes os estudos3-4 que verificam a concomitância de câncer e diabetes mellitus (DM), estabelecendo relações clínicas, bioquímicas e metabólicas5. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)6 diabetes mellitus corresponde a um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresentam em comum a hiperglicemia. Esta hiperglicemia é o resultado de defeitos na ação intracelular da insulina, em sua secreção ou em ambos. A classificação do DM com base na etiologia Endereço para correspondência: Luana Gaino Bertolazzi E-mail: [email protected] Rua Teodoro Demonte, 268, apartamento 22 CEP 15091-260, São José do Rio Preto - SP, Brasil inclui quatro categorias: DM tipo 1, DM tipo 2, DM gestacional e outros tipos específicos. O diabetes tipo 1, com prevalência na população geral de 5-10%, decorre da destruição das células beta pancreáticas. Os mecanismos de destruição comumente são mediados por distúrbios auto-imunes, e acarretam deficiência na produção e secreção de insulina. A sintomatologia costuma ter início abrupto, ainda nas primeiras décadas de vida7. O diabetes tipo 2 é uma doença crônica com elevada prevalência na população mundial8, presente em até 95% dos casos de DM6. Caracteriza-se por defeitos na ação e na secreção da insulina, comumente diagnosticado em pacientes acima de 40 anos. Um relatório conjunto da Sociedade Oncológica dos Estados Unidos e da Associação Americana de Diabetes9 traz que pacientes com diabetes tipo 2 apresentam maiores riscos para o desenvolvimento de cânceres de fígado, bexiga, pâncreas, mama e intestinos3-5,10.As neoplasias malignas do trato intestinal (NMTI) são doenças de alta incidência e mortalidade ao redor do mundo, sendo a terceira neoplasia maligna mais diagnosticada entre os homens e a segunda entre as mulheres11. Estudos trazem que o DM e as NMTI compartilham fatores de risco em comum, sejam eles modificáveis (obesidade, sedentarismo, tabagismo, dieta pobre em fibras, constipação intestinal) ou não (sexo, idade avançada e etnia)3,5,10,12. Como supracitada na ocorrência do DM2, estudos13 trazem que a idade avançada é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento dos cânceres de origem intestinal, já que sua incidência é incomum antes dos 40 anos. Além desses fatores epidemiológicos de risco em comum, há ainda a relação com os fatores genéticos e a exposição do intestino a agentes cancerígenos (físicos, químicos e biológicos)14. A agressão à mucosa intestinal se manifesta inicialmente por lesões inflamatórias inespecíficas, que podem evoluir para displasia e, finalmente, para o carcinoma15. Outros elementos de risco são: história familiar, síndromes genéticas, doença inflamatória crônica do intestino, consumo excessivo de álcool e gordura animal, 6-7 Prevalência de diabetes em pacientes com neoplasias malignas de trato intestinal em um hospital de ensino Metodologia tabagismo e obesidade8,10,16. Pacientes portadores de DM geralmente queixam-se de constipação e outras anormalidades gastrintestinais17, diretamente associadas a danos celulares no cólon e no reto18. As lesões celulares podem provocar mutações genéticas específicas no ácido desoxirribonucleico (DNA) do epitélio intestinal, produzindo alterações estruturais e funcionais que, facilmente, poderiam culminar no câncer cólon-retal8,10. Justificativa do Estudo Câncer e diabetes são duas principais causas de morte nos Estados Unidos5. Isoladamente, ambas já apresentam prognósticos perturbadores. De forma preocupante, a comunidade científica começou a verificar a concomitância de ambas, com estimativas que mostram que até um em cada cinco pacientes com câncer também tem diabetes11,19. A conexão entre as duas patologias é complexa e existem variadas linhas de pesquisa que defendem os meandros desta concomitância5,20. Alguns pesquisadores afirmam que o diabetes aumenta o risco do desenvolvimento do câncer, especialmente o diabetes tipo 2, já que este costuma ser precedido por picos ora glicêmicos, ora insulínicos, no sangue, que são condições propícias para o desenvolvimento do câncer. A glicose dá energia para a multiplicação celular e a insulina é um acelerador metabólico, conforme demonstrado em estudos in vitro 3,10. Uma outra linha de pesquisa4 afirma que o tratamento quimioterápico pode elevar os níveis sanguíneos de glicose e, além disso, os glicocorticóides que combatem a náusea e o vômito na quimioterapia induzem a resistência insulínica. Independente da maneira pela qual o diabetes e o câncer se desenvolvam, e da ordem de diagnóstico, a concomitância de ambas influi no prognóstico do paciente7,20. Desta maneira, faz-se necessária a condução de estudos que verifiquem a prevalência dessa patologia na população oncológica, de forma a impactar positivamente na assistência prestada, além de se obter um fator de risco biológico a ser prevenido na população saudável. Objetivos O presente estudo tem como objetivos: • Identificar os pacientes diagnosticados com neoplasias malignas do trato intestinal (CID C180-C189); • Levantar o perfil epidemiológico dos referidos pacientes oncológicos; • Verificar a prevalência de diabetes (tipos 1 e 2) nestes pacientes; • Relacionar a presença do diabetes com o sítio específico de neoplasia de trato intestinal; • Associar a ocorrência dos óbitos nos pacientes oncológicos referidos com a presença do diabetes. Delineamento de estudo Trata-se de um trabalho exploratório-descritivo, de caráter retrospectivo, realizado em um hospital geral de ensino, de capacidade extra, localizado em São José do Rio Preto. A instituição é de abrangência quaternária, integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) e classificado como Centro de Alta Complexidade em Oncologia (CACON). Foram sujeitos do estudo os pacientes diagnosticados com neoplasias malignas do trato intestinal, de acordo com as definições histopatológicas do sistema de Classificação Internacional das Doenças (CID 10). Os pacientes em questão tiveram seus diagnósticos médicos definidos entre as terminologias que abrangem CID C180 a C189, sendo elas: neoplasia maligna de cólon ascendente, transverso, descendente, sigmóide e cólon sem especificação (respectivamente, CIDs C182, C184, C186, C187 e C189). Também se enquadraram as neoplasias malignas de ceco e apêndice (CID C180 e C181) e neoplasias malignas das flexuras hepática e esplênica (CID C183 e C185). Foram inclusos os pacientes de ambos os sexos, em acompanhamento e/ou tratamento, bem como aqueles que já evoluíram a óbito. Os pacientes com data de primeiro diagnóstico inferior a 01/06/2010 foram desconsiderados devido à indisponibilidade destes dados no sistema eletrônico da instituição. Procedimento para coleta de dados Os sujeitos desta pesquisa foram localizados através de levantamento feito na base de dados do Registro Hospitalar do Câncer, um sistema integrado à Secretaria Estadual da Saúde e à Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP). Na ocasião, a pesquisa dos CIDs 180-189 foi suficiente para suprir os dois primeiros objetivos deste estudo (identificação dos sujeitos e epidemiologia). A limitação do levantamento relaciona-se com o período de início de alimentação de dados do sistema eletrônico de prontuários na instituição (01/06/2010), de forma que todos os pacientes diagnosticados com neoplasia maligna de trato intestinal deste estudo tiveram sua confirmação diagnóstica apenas a partir desta data. Num segundo momento, os sujeitos levantados tiveram seus prontuários eletrônicos verificados, através dos documentos “evolução médica” e “admissão no serviço de emergência” a procura de história clínica e exames laboratoriais que confirmem ou excluam a presença de diabetes tipos 1 e 2 nos pacientes em questão. Aspectos éticos O projeto de pesquisa deste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, em 12/11/2013 (CAAE: 23873713.9.0000.5415 e parecer nº 454.514). Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 73 74 Bertolazzi et al. Por se tratar de uma pesquisa com análise de prontuários, obteve-se dispensa do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Integral e rigorosamente, o anonimato e o sigilo das informações obtidas foram mantidas, de maneira a se preservar a dignidade dos participantes. Tabela 2. Localização das neoplasias malignas do trato intestinal, por sexo e geral. São José do Rio Preto, 2013 Tratamento e análise dados Os dados obtidos foram tabulados em planilhas eletrônicas do programa Microsoft Excel, e organizadas em tabelas e percentuais. Foram também realizados testes de tabulação cruzada (crosstabulation) e testes de qui-quadrado, considerando-se p<0,05 como estatisticamente significativo. Ceco (C180) 14 (5,7) 6 (2,4) 20 (8,1) Apêndice (C181) 7 (2,8) 4 (1,6) 11 (4,5) Cólon ascendente (C182) 19 (7,7) 27 (11,0) 46 (18,7) Flexura hepática (C183) 4 (1,6) 3 (1,2) 7 (2,8) Cólon transverso (C184) 14 (5,7) 4 (1,6) 18 (7,3) Flexura esplênica (C185) 2 (0,8) 2 (0,8) 4 (1,6) Cólon descendente (C186) 10 (4,1) 18 (7,3) 28 (11,4) Cólon sigmóide (C187) 39 (15,9) 49 (19,9) 88 (35,8) 13 (5,3) 11 (4,5) Resultados Foram identificados 246 pacientes diagnosticados com neoplasias malignas do trato intestinal, com discreta predominância de pacientes do sexo masculino (n=124; 50,4%). A maioria (n=181; 73,6%) segue em acompanhamento e/ou tratamento na instituição, especialmente as pacientes do sexo feminino (n=94; 38,2%). Desta maneira, o número de pacientes que progrediram a óbito no período foi superior no sexo masculino (n=37; 15%). (Tabela 1). Com relação aos tipos específicos de neoplasia, nas Tabelas 1 e 2 vê-se prevalência de neoplasia maligna de cólon sigmóide (n=88; 35,7%) em ambos os sexos, seguida de neoplasia maligna de cólon ascendente (n=46; 18,7%). A neoplasia de maior letalidade nas mulheres foi a de ceco (n=7; 2,8%), enquanto que nos pacientes do sexo masculino foi a de cólon sigmóide (n=13; 5,3%). A tabela 3 apresenta a predominância de pacientes com idade entre 61 a 70 anos (n=70; 28,5%), principalmente nos pacientes de sexo masculino (n=44;17,9%). Nas mulheres as faixas mais acometidas pelas neoplasias intestinais foram as dos 41-50 anos (n=25; 10,2%), bem como a dos 51-60 anos (n=25; 10,2%). TOTAL por sexo Localização da Feminino Masculino neoplasia maligna (CID) n (%) n (%) Cólon (C189) TOTAL Total Geral n (%) 24 (9,8) 122 (49,6) 124 (50,4) 246 (100) Tabela 3. Distribuição etária dos pacientes diagnosticados com neoplasias malignas do trato intestinal (CID C180 – C189). São José do Rio Preto, 2013 Idades Pacientes do Sexo Pacientes do sexo Feminino Masculino Total N (%) Vivos n (%) Óbitos n (%) Vivos n (%) Óbitos n (%) 15-20 2 (0,8) 0 (0,0) 0 (0,0) 0 (0,0) 2 (0,8) 21-30 0 (0,0) 2 (0,8) 1 (0,4) 1 (0,4) 4 (1,6) 31-40 11 (4,5) 2 (0,8) 2 (0,8) 3 (1,2) 18 (7,3) 41-50 21 (8,5) 4 (1,6) 14 (5,7) 3 (1,2) 42 (17,0) 51-60 22 (8,9) 3 (1,2) 16 (6,5) 4 (1,6) 45 (18,3) Tabela 1. Prevalência das neoplasias malignas do trato intestinal por sexo, divididos entre pacientes em acompanhamento e/ou seguimento e aqueles que vieram a óbito. São José do Rio Preto, 2013 Localização da neoplasia maligna (CID) Ceco (C180) Pacientes em acompanhamento Pacientes que vieram a óbito e/ou tratamento TOTAL por sexo F - n (%) M - n (%) F - n (%) M - n (%) F - n (%) M - n (%) 7 (2,8) 4 (1,6) 7 (2,8) 2 (0,8) 14 (5,7) 6 (2,4) Apêndice (C181) 6 (2,4) 4 (1,6) 1 (0,4) 0 (0,0) 7 (2,8) 4 (1,6) Cólon ascendente (C182) 15 (6,1) 16 (6,5) 4 (1,6) 11 (4,5) 19 (7,7) 27 (11,0) Flexura hepática (C183) 2 (0,8) 1 (0,4) 2 (0,8) 2 (0,8) 4 (1,6) 3 (1,2) Cólon transverso (C184) 10 (4,1) 3 (1,2) 4 (1,6) 1 (0,4) 14 (5,7) 4 (1,6) Flexura esplênica (C185) 2 (0,8) 2 (0,8) 0 (0,0) 0 (0,0) 2 (0,8) 2 (0,8) Cólon descendente (C186) 9 (3,7) 15 (6,1) 1 (0,4) 3 (1,2) 10 (4,1) 18 (7,3) 34 (13,8) 36 (14,6) 5 (2,0) 13 (5,3) 39 (15,9) 49 (19,9) 9 (3,7) 6 (2,4) 4 (1,6) 5 (2,0) 13 (5,3) 11 (4,5) 94 (38,2) 87 (35,4) 28 (11,4) 37 (15,0) 122 (49,6) 124 (50,4) Cólon sigmóide (C187) Cólon (C189) TOTAL F: feminino; M: masculino 75 Prevalência de diabetes em pacientes com neoplasias malignas de trato intestinal em um hospital de ensino 61-70 20 (8,1) 6 (2,4) 32 (13,0) 12 (4,9) 70 (28,5) 71-80 13 (5,3) 6 (2,4) 19 (7,7) 12 (4,9) 50 (20,3) 81-90 5 (2,0) 5 (2,0) 3 (1,2) 2 (0,8) TOTAL diabetes tipo 2, a média geral das idades é de 64,9 anos, 61,7 anos nos homens e 67,1 anos nas mulheres. Os portadores de diabetes tipo 1 apresentam média geral das idades em 50,5 anos (61,3 anos nos homens e 29 anos nas mulheres). 44,4% (n=16) dos pacientes apresentaram idade entre 61 e 70 anos. A idade mínima para as mulheres foi de 18 anos e para os homens 47. A idade máxima foi de 89 anos para as mulheres e 73 anos para os homens. As tabulações cruzadas (crosstabulation) e o teste de qui-quadrado trouxeram que não há diferenças estatisticamente significantes entre a prevalência de diabetes mellitus nos pacientes com neoplasias malignas do trato intestinal (p = 0,647), nem em relação à mortalidade desses indivíduos (p = 0,309) e nem à localização da neoplasia (p > 0,05). 15 (6,1) 246 (100) 94 (38,2) 28 (11,4) 87 (35,4) 37 (15,0) A tabela 4 revela a concomitância de neoplasia maligna intestinal e diabetes (tipo 1 ou 2 ) em 14,6% dos pacientes (n=36). Destes, 83,3% (n=30) são portadores de diabetes tipo 2. A prevalência de ambas as patologias foi maior nas mulheres (n=20; 8,1%) do que nos homens (n= 16; 6,5%). Tabela 4. Prevalência de diabetes nos pacientes com neoplasias malignas do trato intestinal (CID C180 – C189). São José do Rio Preto, 2013 Diabetes Pacientes do sexo Feminino Pacientes do sexo Masculino Discussão Baseando-se no aumento da expectativa de vida, algumas linhas de pesquisa14 defendem a mera coincidência da concomitância de DM e NMTI, já que nos pacientes com idade avançada o diabetes tipo 2 tem sido cada vez mais incidente, e a população sobrevivente ao câncer também tem aumentado. Essa prerrogativa do perfil epidemiológico da população condiz com os achados neste estudo, já que 72,2% (n=26) dos pacientes com ambas as patologias tem idade maior ou igual a 61 anos.Reconhece-se que tanto o DM2 quanto o câncer têm maior incidência e prevalência com o avançar da idade. Um estudo recente14 traz que os pacientes com idade maior ou igual a 55 anos compreendem cerca de 80% dos casos de câncer diagnosticados e 23,1% dos pacientes com idade maior ou igual a 60 anos desenvolvem diabetes tipo 2, comparada com 10,7% de adultos jovens. Em nosso estudo, a média geral nos pacientes portadores de neoplasias malignas do trato intestinal e diabetes (tipos 1 e 2) é de 62,5 anos e especificamente do diabetes tipo 2, a média geral das idades é de 64,9 anos. Total N (%) Vivos n (%) Óbitos n (%) Vivos n (%) Óbitos n (%) Tipo 1 2 (5,6) 0 (0,0) 1 (2,8) 3 (8,3) 6 (16,7) Tipo 2 14 (38,9) 4 (11,1) 7 (19,4) 5 (13,9) 30 (83,3) TOTAL 16 (44,4) 4 (11,1) 8 (22,2) 8 (22,2) 36 (100) No que perfaz a localização específica da neoplasia de trato intestinal em concomitância com diabetes (tipos 1 ou 2), a tabela 5 traz que essa relação é mais comum nas neoplasias de cólon sigmóide (n=14;38,9%), em ambos os sexos. No que cerne a idade, a média geral nos pacientes portadores de neoplasias malignas do trato intestinal e diabetes (tipos 1 e 2) é de 62,5 anos; por sexo são 61,6 anos nos homens e 63,3 anos nas mulheres. Especificamente do Tabela 5. Prevalência de Diabetes (DM) tipos 1 e 2, por sexo, em concomitância com neoplasias malignas do trato intestinal, por localização específica (CID C180-C189). São José do Rio Preto, 2013 Localização da neoplasia maligna (CID) Ceco (C180) Feminino Masculino Subtotal DM 1 n(%) DM 2 n(%) DM 1 n(%) DM 2 n(%) DM 1 n(%) DM 2 n(%) Total n(%) - 2 (5,6) - 1 (2,8) - 3 (8,3) 3 (8,3) 1 (2,8) 1 (2,8) - - 1 (2,8) 1 (2,8) 2 (5,6) Cólon ascendente (C182) - 4 (11,1) 2 (5,6) 3 (8,3) 2 (5,6) 7 (19,4) 9 (25,0) Flexura hepática (C183) - - - 1 (2,8) - 1 (2,8) 1 (2,8) Cólon transverso (C184) 1 (2,8) 3 (8,3) - - 1 (2,8) 3 (8,3) 4 (11,1) Flexura esplênica (C185) - - - - - - - Cólon descendente (C186) - - 1 (2,8) 1 (2,8) 1 (2,8) 1 (2,8) 2 (5,6) Cólon sigmóide (C187) - 7 (19,4) 1 (2,8) 6 (16,7) 1 (2,8) 13 (36,1) 14 (38,9) Apêndice (C181) Cólon (C189) TOTAL - 1 (2,8) - - - 1 (2,8) 1 (2,8) 2 (5,6) 18 (50,0) 4 (11,1) 12 (33,3) 6 (16,7) 30 (83,3) 36 (100) Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 76 Bertolazzi et al. A influência da idade na prevalência de diabetes e na tolerância à glicose diminuída foi bem evidenciada pelo estudo multicêntrico sobre a prevalência do diabetes no Brasil6, no qual se observou variação de 2,7% para a faixa etária de 30-59 anos e de 17,4% para a de 60-69 anos, ou seja, um aumento de 6,4 vezes. Alguns estudos14,20 trazem predominância masculina na concomitância entre diabetes e câncer. Nesta pesquisa, viu-se discreta predominância masculina do diagnóstico de NMTI (n=124; 50,4%); entretanto, a concomitância de ambas as patologias foi maior nas mulheres (n=20; 8,1%) do que nos homens (n= 16; 6,5%). Isso condiz com os resultados de um estudo10 onde as mulheres tiveram um risco aumentado para o desenvolvimento da neoplasia intestinal. Em contradição a ambos os trabalhos anteriores, uma meta-análise com quinze estudos trouxe que não há diferença entre os sexos na associação entre DM e NMTI16. Quanto à ordem de incidência diagnóstica, algumas linhas de pesquisa14,20 apontam o desenvolvimento do diabetes tipo 2 secundário ao diagnóstico oncológico, e inferem que uma parcela de responsabilidade nesse contexto possa ser atribuída aos próprios pacientes. Uma vez que o câncer costuma ser visto como uma doença com elevada letalidade, os pacientes podem passar a descuidar de vários aspectos secundários ao tratamento oncológico, como dieta equilibrada e atividade física, culminando para resistência insulínica, hiperglicemia e, então, o diabetes tipo 2. Ressalta-se que hiperglicemia acarreta danos renais e ao sistema circulatório, piorando o prognóstico do câncer19. A concomitância de ambos os diagnósticos podem aumentar a mortalidade, segundo estudos realizados no Japão, Coréia e Hong Kong11,21, especialmente entre os pacientes sem controle do regime terapêutico do diabetes. Um outro estudo, da Sociedade Americana do Câncer, com mais de um milhão de indivíduos adultos participantes, traz também que os pacientes com diabetes e câncer tiveram maior taxa de mortalidade3. Em contraposição, apenas um estudo22 vem de encontro aos nossos resultados, não mostrando forte consistência desta relação. Quanto às teorias das NMTI serem secundárias ao DM, alguns estudos5,14 inferem a possibilidade de que os mecanismos metabólicos relacionados ao diabetes possam realizar a expressão de oncogenes. Parece haver uma interação crítica entre hiperglicemia, hiperinsulinemia, produção aumentada de ácidos biliares e obesidade, especialmente a central, criando um estado de inflamação crônica de baixo grau5,10,16. Além disso, esses fatores metabólicos conduzem ao aumento de substrato receptor da insulina (IRS), aumentando potencialmente o crescimento e proliferação de células tumorais5,21 e elevando a incidência de câncer na população diabética em sob insulinoterapia12. Além de estes fatores constituírem-se da base da relação NMTI secundária ao DM, também se acredita que eles possam influenciar a resposta à terapia antineoplásica5. A evidência desta teoria baseia-se na identificação de que hiperinsulinemia se relacionada com fatores mutagênicos e anti-apoptóticos8,14. Também vale ressaltar que a insulina promove o crescimento tumoral em ratos23 e estimula a proliferação celular da neoplasia de cólon in vitro24. Em um estudo16 foi visto que o DM aumenta em até 30% o risco de desenvolver NMTI. De forma semelhante, outro trabalho avalia que o risco de indivíduos com diabetes desenvolverem câncer colorretal é 1,22 vezes maior do que o de indivíduos não diabéticos25. A associação positiva permanece consistente, tanto para homens e mulheres e para os estudos realizados na América do Norte, Europa e Ásia, bem como para os diferentes tempos de seguimento. Além dos elementos metabólicos, estudos20 inferem que o transito intestinal lento, comum em pacientes com DM, seria um risco a mais, ao contribuir para o aumento da exposição da mucosa à substâncias tóxicas. Pessoas com diabetes são mais sedentárias do que aquelas que não possuem diabetes e a prática de exercícios físicos é um dos fatores de proteção contra o desenvolvimento de câncer colorretal20, sugerindo que há outros fatores em comum entre as doenças e necessariamente uma relação de causa e conseqüência10. Apesar de todas as teorias acerca da relação entre DM e NMTI serem viáveis, este estudo retrospectivo não pôde contribuir para as discussões, principalmente pela falha de preenchimento das histórias clínicas médicas nos prontuários informatizados. Ainda assim, nosso estudo concorda com as teorias de que os pacientes com NMTI e DM estão em maior risco para todas as causas e mortalidade específica por câncer e têm sobrevida livre de doença pior do que aqueles que não têm diabetes mellitus26. O aumento do risco de mortalidade total, associado com diabetes, foi explicado principalmente pelo prejuízo da função cardiovascular, não pelo aumento da mortalidade específica por NMTI25,27. Conclusão Através de pesquisas de bases epidemiológicas, os centros especializados em oncologia podem traçar, com perícia, uma metodologia voltada para o controle do câncer, e o preparo das instituições hospitalares para condutas terapêuticas assertivas voltadas aos pacientes oncológicos. Considerando a relação íntima ente DM e NMTI, se faz necessário um tratamento coordenado, de forma que os pacientes oncológicos tenham suas dietas, glicemias capilares e medicamentos constantemente monitorados. A natureza crônica do DM, a gravidade de suas complicações e os meios dispensados para controlá-la, torna o DM uma doença onerosa para o Sistema de Saúde. Descobrir uma correlação com o desenvolvimento do câncer possibilita dupla atuação preventiva para a redução de ambos os agravos. Isso pode ser feito através da prevenção do Prevalência de diabetes em pacientes com neoplasias malignas de trato intestinal em um hospital de ensino início do DM (prevenção primária) ou de suas complicações agudas ou crônicas (prevenção secundária). Ainda que nesta análise retrospectiva a co-relação não tenha sido significativa, a pandemia do diabetes continua a ocorrer simultaneamente à do câncer, urgindo a necessidade de estudos prospectivos que estabeleçam melhor essa relação, metabólica e estatisticamente. Desde o reconhecimento que o diabetes pode ser prevenido, com mudança do estilo de vida, espera-se que o câncer também possa. Essa percepção fará com que a área de atenção primária atinja o mesmo valor de que se prestigia a atenção hospitalar. Limitações do estudo Como o estudo foi baseado em análise de prontuários eletrônicos, os resultados estão sujeitos a vieses de aferição. Além do mais, incidência do DM tipo 2 (DM2) é difícil de ser determinada em grandes populações, pois envolve seguimento durante alguns anos, com medições periódicas de glicemia. 11. Jemal, A.; Bray, F.; Center, M.M; Ferlay, J.; et al. Global cancer statistics. CA Cancer J Clin. 2011 Mar-Apr;61(2):69-90. 12. Hense, H.W.; Kajüter, H.; Wellmann, J.; Batzler, W.U. Cancer incidence in type 2 diabetes patients - first results from a feasibility study of the D2C cohort. Setembro de 2011. Disponível em: http:// www.diabetes.org.br/diabetology-a-metabolic-syndorme/1898-incidencia-de-cancer-em-diabeticos-resultados-preliminares-do-estudo-de-viabilidadede-coorte-d2c 13. Eddy, D.M. Screening for colorectal cancer. 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Universidade Federal de Pelotas (UFPel). 1 2 Todos os autores participaram efetivamente na concepção e na redação final do trabalho. Nada a declarar. Palavras-chave Neoplasias da mama, quimioterapia, excesso de peso, lipídios Resumo Objetivos: Verificar o consumo de ácidos graxos por pacientes com câncer de mama em tratamento quimioterápico e avaliar a prevalência de excesso de peso. Metodologia: Estudo transversal com pacientes com neoplasia mamária do Setor de Oncologia do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas, atendidos no período de junho a setembro de 2012. Avaliou-se histórico familiar de neoplasias, presença de amamentação, consumo alimentar e medidas antropométricas para cálculo do Índice de Massa Corporal. Resultados: A média de idade foi de 56,91±12,25 anos. Cerca de 61% estavam acima do peso ideal, 34,78% relataram ter história familiar de câncer de mama, 43,48% estavam em estadiamento IV e 26% não amamentaram. Os ácidos graxos mais consumidos foram os saturados, seguidos de monoinsaturados e poli-insaturados. Aproximadamente 56% das pacientes apresentaram consumo adequado de lipídios totais da dieta. O consumo de colesterol e ácidos graxos monoinsaturados esteve dentro do recomendado, enquanto os saturados estiveram acima e os poli-insaturados abaixo da recomendação. A média de Índice de Massa Corporal foi de 29,8 quilogramas por metro quadrado (kg/m²). Conclusões: Embora a quantidade de gorduras totais consumidas e consumo de ácidos graxos monoinsaturados estejam de acordo com o recomendado, observou-se um elevado consumo de ácidos graxos saturados e um baixo consumo de poli-insaturados, caracterizando uma inadequada ingestão quanto à qualidade de lipídios da dieta. Além disto, verificou-se alta prevalência de excesso de peso. Keywords Breast cancer, chemotherapy, overweight, lipids Abstract Objectives: To determine the consumption of fatty acids for patients with breast cancer undergoing chemotherapy and assess the prevalence of overweight. Methods: Cross-sectional study with patients with breast cancer in the Teaching Hospital of Oncology Division of the Enviado: 28/01/2015 | Aprovado: 26/05/2015 79 Consumo de gorduras e câncer de mama Federal University of Pelotas, served from June to September 2012. We evaluated family history of neoplasia; breastfeeding, food intake and anthropometric measures to calculating the Body Mass Index. Results: The mean age was 56.91 ± 12.25 years. About 61% were overweight, 34.78% reported having a family history of breast cancer, 43.48% were in stage IV and 26% did not breastfeed. The most consumed fatty acids were saturated, followed by polyunsaturated and monounsaturated. About 56% of patients had adequate intake of total dietary lipids. The consumption of cholesterol and monounsaturated fatty acids was within recommended levels, while saturated stood up and polyunsaturated below the recommendation. The mean body mass index was 29.8 kilograms per square meter (kg/m²). Conclusions: Although the amount of total fat consumed and consumption of monounsaturated fatty acids are in accordance with the recommendations, there was a high intake of saturated fatty acids and a low consumption of polyunsaturated, featuring an inadequate intake on the quality of lipids diet. In addition, there was a high prevalence of overweight. Introdução O câncer se caracteriza pelo crescimento descontrolado, rápido e invasivo de células com alteração em seu material genético1. O desenvolvimento de neoplasias, de modo geral, resulta da interação entre fatores ambientais e fatores endógenos, resultantes de eventos que geram mutações sucessivas no material genético1,2. Além disso, alterações hormonais e história familiar de câncer são outros fatores possíveis desencadeadores da neoplasia3. Já entre os fatores ambientais, destaca-se o consumo alimentar. Existem fortes evidências de que a dieta contribua de maneira significativa para cerca de 1/3 dos casos de câncer em países desenvolvidos2,4. A incidência de câncer de mama vem aumentando significativamente em todo o mundo2. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA)1, este tipo de neoplasia é o mais frequente no sexo feminino e apresenta altas taxas de mortalidade. No Brasil, esta taxa pode ser alta em razão do atraso no diagnóstico e da escolha do tipo de tratamento antineoplásico1,5. Observou-se que a falta ou a curta duração do aleitamento materno são fatores que contribuem significativamente para a alta incidência de câncer de mama em países desenvolvidos6. Estudos indicam que pode existir associação entre o elevado consumo de ácidos graxos e o desenvolvimento do câncer de mama4,7. Há evidências de que o efeito da gordura da dieta seja exercido após o início da tumorigênese e que este processo geralmente aumenta com o elevado conteúdo de gordura consumida7. As primeiras evidências de que os lipídios da dieta poderiam influenciar o risco de desenvolver a neoplasia mamária surgiram em 1942, quando um pesquisador constatou que a incidên Endereço para correspondência: Christine da Silva Gonçalves Telefone: (53) 9151-0626 E-mail: [email protected] Voluntários da Pátria, 290 Pelotas - RS, Brasil cia da doença foi maior em ratos alimentados com uma dieta suplementada com gordura4. Por outro lado, uma dieta rica em frutas e vegetais e pobre em gorduras pode melhorar o prognóstico de câncer de mama e diminuir o risco de reincidência2. Embora o consumo de lipídios possa representar um risco para a doença, dependendo do tipo de gordura consumida, pode também ser considerado um fator de proteção contra o câncer de mama, o que evidencia a necessidade de se avaliar não só a quantidade, mas também a qualidade da gordura ingerida7,8. Em pacientes cujo consumo de Ômega 3 (ω-3) é elevado, observa-se uma tendência à redução das taxas de incidência de neoplasia mamária, o que demonstra o papel protetor acerca de determinados ácidos graxos9,10. Mulheres com câncer de mama submetidas à quimioterapia podem apresentar efeitos colaterais, sendo bem comumente observado o ganho de peso5,11. A causa do ganho ponderal durante o tratamento é provavelmente multifatorial12, podendo estar relacionado com aspectos psicológicos como ansiedade e estresse, hormônios, decréscimo da atividade física ou aumento do consumo de determinados alimentos5. Por isso, torna-se de extrema importância a investigação dos possíveis fatores de risco para o desenvolvimento e prognóstico da neoplasia mamária, com foco na alimentação como determinante do ganho de peso. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o consumo de ácidos graxos, e a qualidade destes, por pacientes com câncer de mama submetidas à quimioterapia, bem como a prevalência de excesso de peso no momento da primeira sessão de quimioterapia. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo transversal, onde foram entrevistadas pacientes maiores de 20 anos com diagnóstico de neoplasia mamária durante a primeira sessão de quimioterapia, no Setor de Oncologia do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), atendidas de junho a setembro de 2012. Os dados foram coletados após o esclarecimento sobre a pesquisa, e a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 80 Gonçalves et al. pelas pacientes. Foram excluídas pacientes em uso de terapia nutricional enteral ou com alguma incapacidade física. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPel, nº 32/12. Avaliaram-se as seguintes variáveis: peso, altura, consumo de ácidos graxos, histórico familiar de câncer e de amamentação. Peso e altura foram avaliados antes da infusão do quimioterápico para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), seguindo a classificação da OMS para adultos13 e Lipschitz para idosos14, utilizando balança digital Filizola® e estadiômetro acoplado à balança. O consumo de ácidos graxos foi avaliado por Questionário de Frequência Alimentar (QFA) desenvolvido para estudar fatores dietéticos nas doenças crônicas não transmissíveis, que tem como principal característica avaliar a ingestão alimentar de longo prazo em apenas uma aplicação15. A análise da composição da dieta foi feita pelo programa ADS Nutri®. Para estabelecer a quantidade ingerida em gramas de cada alimento referido, considerou-se o número de vezes em que o alimento foi ingerido (1 a 10 vezes), a frequência (diária, semanal ou mensal), e o tamanho da porção (pequena, média ou grande) conforme valores de referência da Tabela para avaliação de consumo alimentar em medidas caseiras16. Foi possível verificar o aporte calórico diário de lipídios através da quantidade total em gramas multiplicada por 9 kcal, equivalente a 1g de lipídio. A mediana de consumo de cada ácido graxo foi obtida através do programa SPSS®. Através de anamnese nutricional, foram questionados histórico de neoplasia e de amamentação. Para análise da composição da dieta foi utilizado o programa ADS Nutri®. O consumo de lipídios foi comparado às recomendações da OMS e da IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia17. As variáveis foram descritas como mediana e percentis, média e desvio padrão ou percentuais e frequências relativas, conforme sua natureza. A comparação foi realizada pelo teste qui-quadrado de Pearson entre as variáveis categóricas. O nível de significância considerado foi de p < 0,05. Para a análise foi utilizado o programa estatístico SPSS®. Resultados Das 27 pacientes que se enquadravam nos critérios de inclusão, 23 foram analisadas, obtendo-se quatro perdas em função do não comparecimento no dia do tratamento. A média de idade do estudo foi de 56,91±12,25 anos, sendo 56,5% pacientes adultas e 43,5% idosas. Constatou-se que 84,6% das adultas estão acima do peso ideal e 30% das idosas encontram-se com sobrepeso. (Tabela 1). Do total, 60,86% estão acima do peso considerado normal, sendo a média de IMC de 29,82±5,07 kg/m². Tabela 1. Caracterização da amostra de pacientes com câncer de mama em tratamento quimioterápico. Pelotas, RS (N = 23) Variável Estadiamento IMC adultas I IMC idosasII Historia Familiar de neoplasia Amamentação I Categoria N % I 0 0 II 2 8,7 III 8 34,78 IV 10 43,48 V 3 13,04 Eutrofia 2 15% Sobrepeso 4 31% Obesidade 7 54% Baixo peso Eutrofia Sobrepeso 2 5 3 20 50 30 Sem histórico 12 52% Câncer de mama 8 35% Outros tipos de câncer 3 13% Sim 17 74 Não 6 26 Classificação segundo OMS (1995), II Classificação segundo Lipschitz (1994). A mediana de consumo de ácidos graxos saturados (AGS) foi de 7,58% (6,03-9,81). Já os ácidos graxos monoinsaturados (AGM) apresentaram valores de consumo dentro do recomendado, com mediana de 6,27% (4,94-7,26) Para os ácidos graxos poli-insaturados (AGP), a mediana de consumo foi de 3,75% (2,99-4,73), valor abaixo do recomendado. O colesterol apresentou mediana de consumo de 295,86 mg/dia (219,26524,9).Em relação à quantidade de consumo total de lipídios, 56,52% das pacientes possuem ingestão adequada. A mediana de consumo foi de 21,29% (17,81-25,8), o que corresponde a 472,37 calorias (316,51-576,39) por dia de lipídios (Tabela 2). Tabela 2. Mediana dos lipídios da dieta de pacientes com câncer de mama em tratamento quimioterápico e valores diários recomendados. Pelotas, RS. (N = 23) Nutrientes Valores da amostra Mediana (p25-p75) Valores diários recomendados AG (%) 21,29% (17,81-25,38) 20-35%I 25-35%II AGS (%) 7,58% (6,03-9,81) <10%I <7%II AGM (%) 6,27% (4,94-7,26) <20%II AGP (%) 3,75% (2,99-4,73) 6-10%I 10%II Colesterol (mg) 295,85 mg (219,26-524,91) Até 300mgIII AG = Ácidos Graxos totais, AGS = Ácidos Graxos Saturados, AGM = Ácidos Graxos Monoinsaturados, AGP = Ácidos Graxos Poli-insaturados. I Recomendação segundo Organização Mundial da Saúde (OMS). II Recomendação segundo Diretriz brasileira sobre dislipidemias e prevenção da aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia, para tratamento de hipercolesterolemia. III Recomendação segundo Dietary Reference Intakes (DRI). 81 Consumo de gorduras e câncer de mama Os alimentos ricos em gorduras mais consumidos pelas pacientes foram: linguiça/salsicha (consumidos mensalmente), frango (semanalmente) e leite integral (diariamente) (Tabela 3). Tabela 3. Alimentos ricos em lipídios mais consumidos, conforme frequência de consumo por pacientes com câncer de mama em tratamento quimioterápico. Pelotas, RS. (N = 23) Frequência de consumo Diário Semanal Mensal Alimentos % de consumo Leite integral 4,07% Carne bovina 3,70% Frango 74,07% Ovos 48,14% Macarrão/Pizza 48,14% Biscoitos e torradas 44,44% Linguiça / Salsicha 69,56% Discussão A alimentação possui grande influência nos estágios de iniciação, promoção e propagação do câncer. Entre as mortes por câncer atribuídas a fatores ambientais, a dieta contribui com cerca de 35%2. Neste estudo, foi analisado o consumo de lipídios por pacientes com neoplasia mamária. Conforme apontado pela National Academy of Sciences, existe correlação entre o maior consumo de gorduras dietéticas totais com o aumento do risco de câncer de mama2. Em países com baixa ingestão de gordura, constatou-se baixa mortalidade por câncer de mama comparado aos que apresentam alta ingestão15. Wayne et al. 18 avaliaram o consumo prévio de gorduras de mulheres com câncer de mama e verificaram que após dois anos do diagnóstico, houve uma diminuição do consumo energético e aumento no consumo de gorduras. Além de ser fator importante no prognóstico do câncer de mama, os alimentos ricos em gorduras também podem ser determinantes no ganho de peso comumente observado em pacientes com este tipo de neoplasia18. Baseado nos critérios estabelecidos para adultos e idosos, constatou-se, neste estudo, uma prevalência de excesso de peso de 60,86% nas mulheres, sendo de 84,6% entre adultas, e 30% entre idosas, o que corrobora com um estudo prévio19, onde o excesso de peso também esteve presente de forma expressiva, em cerca de 72% da população estudada. Zanchin et al.20 constataram que 50-90% das pacientes em tratamento quimioterápico apresentam algum ganho de peso, por isso é de fundamental importância a análise do consumo alimentar com diagnóstico de câncer de mama, visto que este pode ser fator determinante no ganho de peso e no prognóstico da doença. Estudos apontam que os ácidos graxos poli-insaturados (AGP) possuem um papel importante na prevenção da progressão e crescimento do câncer7,20. Por outro lado, os ácidos graxos saturados estariam associados com um aumento de chance de desenvolver este tipo de neoplasia, podendo estar associado também com o ganho de peso 7. Neste estudo constatou-se um adequado consumo de AGS, quando considerado o valor recomendado pela OMS, que estabelece um consumo de até 10% do VET1. Porém, ao considerar a recomendação da IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, a qual preconiza um consumo de até 7% do VET, observou-se que a mediana de percentual de consumo esteve acima do recomendado, com cerca de 7,58% (6,03-9,81). Levando em consideração o valor recomendado pela OMS, constatou-se que cerca de 18% das pacientes apresentaram consumo de AGS superior a recomendação. Já segundo a recomendação da IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose, foi observado que 60,86% das pacientes apresentaram consumo acima do recomendado. Em relação aos AGM, é recomendado pela IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia um consumo de AGM menor que 20% do total de lipídeos da dieta por dia, especialmente para tratamento de hipercolesterolemia17. Foi observado que todas as pacientes apresentaram um consumo dentro do valor recomendado. A mediana de consumo foi de 6,27% (4,94-7,26). Para os AGP, a OMS1 recomenda consumo entre 6 e 10% do total de lipídios da dieta. Neste estudo, a mediana de consumo foi de 3,75% (2,99-4,73), mostrando uma baixa ingestão destes ácidos graxos. O baixo consumo destes AG pode ter relação com o estadiamento da neoplasia, já que é sugerido que os AGP possuem um papel importante na prevenção da progressão do câncer7,20. Segundo Boyd et al.8, o câncer de mama pode estar associado ao consumo de gordura saturada. Por outro lado, uma pesquisa conduzida no México não associou o consumo de gordura saturada e monoinsaturada ao risco de desenvolver câncer de mama, mas a gordura poli-insaturada foi considerada fator de proteção entre mulheres na pós-menopausa15. Neste estudo, os AGP apresentaram baixo consumo entre as pacientes diagnosticadas com câncer de mama, o que corrobora com os achados da literatura em relação à gordura poli-insaturada ser possível fator de proteção contra o câncer de mama. No presente estudo, o colesterol apresentou consumo dentro do recomendado pela Ingestão Diária Recomendada (DRI), que é de 300 mg/dia. A mediana de consumo foi de 295,86 mg (219,26-524,9). Na análise do Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 82 Gonçalves et al. consumo total de lipídios na dieta, 43% das pacientes apresentaram consumo inferior de gorduras e 56,52% apresentaram consumo dentro dos valores recomendados. A recomendação diária segundo a OMS1 estima que 20% a 35% do total de calorias da dieta devem ser provenientes de gorduras. A mediana de consumo foi de 21,29% (17,81-25,38) do valor calórico total da dieta, mostrando-se, portanto, compatível com os valores recomendados. Estudo de Tartari et al.22 verificou que a mediana de consumo de gordura ficou acima do recomendado. Em pesquisa conduzida por Verde21, observou-se que os pacientes aumentaram o consumo de gordura após o tratamento quimioterápico. Dentre os alimentos ricos em lipídios mais citados no estudo, encontram-se a linguiça/salsicha, consumidos mensalmente, frango semanalmente e leite integral diariamente, o que corrobora com achados prévios da literatura19. É sugerido que a amamentação exerce proteção contra o câncer de mama nas mulheres, porém os achados deste estudo mostram que apenas 26% das mulheres com diagnóstico de neoplasia mamária não amamentaram. No presente estudo, a prevalência de pacientes com histórico familiar de câncer foi de 48%, sendo 35% de câncer de mama e 13% de outros tipos de câncer. Estes achados também foram encontrados no estudo de Dantas et al.3, que mostrou que a presença de história familiar de câncer pode estar associada com o desenvolvimento da neoplasia. Um estudo demonstrou que a obesidade e o ganho ponderal, principalmente na região abdominal, aumentam o risco de câncer de mama em mulheres na pós-menopausa18. Segundo Caan et al. 23, o excesso de peso no momento do diagnóstico associa-se a um prognóstico menos favorável. Mulheres com IMC acima de 28 kg/m² apresentam maior risco de desenvolverem câncer de mama, e este índice pode ter associação com o estadiamento da doença17. Estes achados fortalecem os resultados encontrados neste estudo, onde foi observada uma alta prevalência de excesso de peso. Loprinzi et al.24 demonstraram diminuição do ganho ponderal durante a quimioterapia com um seguimento mensal com nutricionistas durante o tratamento. Neste estudo, 95,7% das pacientes nunca tinham realizado acompanhamento dietético. As orientações nutricionais podem modificar hábitos alimentares não saudáveis, como o consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas, que estão fortemente associadas com o desenvolvimento do câncer de mama, além de prevenir o excesso de peso. Como limitações do estudo aponta-se a falta de significância na comparação das variáveis que pode ter sido em função do pequeno tamanho amostral. Por se tratar de um estudo transversal, o peso corporal foi avaliado somente no momento da entrevista, desta forma, não foi possível obter dados de ganho de peso corporal durante o tratamento; além disto, não foi analisado o percentual de gordura corporal das pacientes. Em relação à avaliação do consumo alimentar, o uso do QFA depende da memória dos entrevistados e pode levar à subestimação do real consumo alimentar. A quantidade de gorduras totais, colesterol e AGM consumidos pela maioria das pacientes avaliadas estavam de acordo com o recomendado, porém foi observada uma inadequada ingestão quanto à qualidade desses lipídios, estando o consumo de AGS acima do recomendado e o de AGP abaixo da recomendação. Também se observou alta prevalência de excesso de peso corporal. Com isso, nota-se a necessidade de intervenção nutricional nestas pacientes, com estímulo a redução do consumo de AGS, bem como a manutenção do peso dentro dos níveis de eutrofia. Referências 1. Instituto Nacional de Câncer; Ministério da Saúde. Consenso nacional de nutrição oncológica. Rio de Janeiro: INCA; 2009. Disponível em http://www1.inca.gov.br/inca/Arquivos/publicacoes/Consenso_Nutricao_internet.pdf. 2. Garófolo A, Avesani CM, Camargo KG, Barros ME, Silva SRJ, Taddei JAAC, et al. Dieta e câncer: um enfoque epidemiológico. Rev Nutr. 2004 Out/Dez;17(4): 491-505. 3. Dantas ÉLR, Sá FHL, Carvalho SMF, Arruda AP, Ribeiro EM, Ribeiro EM. Genética do câncer hereditário. Revista Brasileira de Cancerologia 2009; 55(3): 263-9. 4. Mendes MCS. Perfil de ácidos graxos da dieta e do tecido adiposo mamário e o risco de desenvolvimento do câncer de mama: Um estudo caso-controle [dissertação]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2008. 5. Silva BC, Fernandes RC, Martins KA, Machado MG. 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Less than 40 cases of hemangiopericytoma involving the genitourinary tract have been described and only one case originating in the seminal vesicle(5,6). We describe the second case of this tumor originating in the seminal vesicle presenting with associated hypoglycemia. Figure 1. Magnetic resonance imaging revealing a heterogeneous mass, well defined posterior to the bladder and prostate. Case Report A 42 year old man, white, with routine annual monitoring returns eight months after the last normal evaluation, with complaints of urinary frequency, urgency, feeling of heaviness in the pelvis and nocturia. Also reported malaise, weakness, dizziness and drowsiness. In digital rectal examination prostate fibro-elastic with 20cc, urinalysis with 3,000 leukocytes, culture negative, glucose 47mg/dL and PSA of 0.84 ng/ml. An ultrasound showed a solid lesion in the topography of left seminal vesicle and a MRI showed a expansive lesion, solid, well defined, with its epicenter in the left seminal vesicle, heterogeneous with cystic areas, with cleavage plane between prostate and posterior wall of the bladder, measuring 45 mm in diameter (Figure 1). A transrectal biopsy of the lesion showed that it was a hemagiopericytoma. CT scans of the abdomen and chest were normal. The patient underwent laparoscopic resection of the lesion (Figure 2) preserving prostate, right seminal vesicle and bladder. Lesion with well-defined with pseudo-capsule Enviado: 15/12/2013 | Aprovado: 24/04/2015 Figure 2. Laparoscopic view of the tumor (T) with the deferent (D) dissected and the posterior wall of the bladder (B). 85 Hemangiopericytoma of seminal vesicle presenting with hypoglycemia contents softened with gray color (Figure 3). He was discharged after 36 hours with a good outcome and the pathology confirmed the diagnosis of hemangiopericytoma with radial margins compromised by neoplasm (Figure 4). With follow-up of 26 months, no evidence of recurrence or metastasis and the patient is asymptomatic Figure 3. Gross morphology of capsulated tumor. Figure 4. Photomicrographs. A. In the center vase sinusoidal pattern, surrounded by elongated neoplastic cells with minimal pleomorphism (HE 200x). B. branched vascular network with vessels large and small caliber, lined by single layer of flat endothelium (HE 100x). C. Dense collagen that extended the perivascular interstitium (HE x400). Author for correspondence: Wilson Busato Junior E-mail: [email protected] Marcos Konder, 1207/103 CEP 88301-303, Itajai - SC, Brazil Discussion In international literature, this is the second case described HPC originating from the seminal vesicles(6). These tumors are rare and difficult to diagnose and in some cases described have been questioned in recent reviews(7). In urinary tract have been described in the kidney, bladder, prostate and spermatic cord(4,8-10). The clinical presentation is nonspecific and depends on the affected site. They are deep tumors with slow-growing, which can cause urinary and/or intestinal symptoms, as in this case, since there is some metastasis in 50% of cases(11). Macroscopically, the HPC is well circumscribed and covered by a thin pseudo-capsule, richly vascularized. When cut, going from gray to red-brown, often with areas of hemorrhage and necrosis (11). Hemangiopericytomas of benign behavior usually are well defined, although the capsule may contain tumor cells infiltrated microscopy (5), fibro elastic or soft consistency, white or gray. Those of malignant behavior, in turn, tends to be larger, grossly infiltrative, with areas of hemorrhage, necrosis or friable. In the analysis are presented fibrous, spongy or vascular(11). In microscopy, the classical hemangiopericytoma consist of spindle cells with indistinct cytoplasmic edges, arranged around an elaborate vasculature. These vessels branching form a web with variations in the caliber. Typically, the vessel has a sinusoidal default type setting staghorn-branching, while those larger gauge by thickening collagen, which extends into the interstitium. Show immunohistochemical positivity for CD34 (12). Histologic criteria for malignacy include cellular pleomorphism, tumor necrosis, hemorrhage, hypocellularity, moderate-to-severe nuclear atypia, infiltrative margins, sharply demarcated anaplastic or poorly differentiated foci, and high mitotic count (>4 mitoses/10hpf)(3,13). Due to the release of insulin growth factor-like, paraneoplastic syndromes such as hypoglycemia are associated with HPC and occur in up to 50% of cases and hypertension secondary to ectopic production of renin is also reported(6,14). The imaging findings also are not specific and show a mass bounded by a pseudocapsule, retrovesical, with or without prostatic urethral obstruction(15). Because of the rarity of this location, this is the first reported case of laparoscopic excision of a solid fibrous tumor of the seminal vesicle. Some authors suggest preoperative vascular studies and arterial embolization, because of bleeding risk with resection, particularly in tumors located in the central nervous system or chest (3). We did not performed prior embolization and intraoperative bleeding was minimal. Espat et al (7) suggest that mutilating surgery should be avoided because of the favorable evolution of Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 86 Busato Jr et al. HPC, and if histological criteria of malignancy arise, adjuvant radiotherapy may be considered. It is believed that the prognosis is better than that reported in previous studies where other types of sarcomas more aggressive were included (7,13). Recurrences have been reported after 24 years and long-term follow-up is recommended, even with benign appearing tumors. References 1. Armulik A, Abramsson A, Betsholtz C. Endothelial/pericyte interactions. Circ.Res, 2005, 97(6):512-23. 2. Stout AP, Murray MR. Hemangiopericytoma. A vascular tumor featuring Zimmermann’s pericytes. Ann Surg 1942, 116:26. 3. Penel N, Amela EY, Decanter G, et al. Solitary fibrous tumors and so-called hemangiopericytoma. Sarcoma 2012;2012:690251. 7. Espat NJ, Lewis JJ, Leung D, et al. 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Acadêmica estagiária do serviço de Cancerologia Clínica do Hospital da Cidade de Passo Fundo – RS. 3 Residente do Serviço de Cancerologia Clínica do Hospital da Cidade de Passo Fundo – RS. 1 2 Este trabalho foi realizado no Serviço de Oncologia do Hospital da Cidade de Passo Fundo – Passo Fundo/RS. Introdução O carcinoma espinocelular de células cutâneas é uma neoplasia maligna decorrentes da proliferação maligna dos queratinócitos da epiderme e sua incidência está aumentando em todo o mundo, tendo maiores taxas em áreas de maior exposição ao sol. O principal fator de risco para o carcinoma espinocelular cutâneo (CEC) é a exposição à luz UV, a qual causa danos no DNA, iniciando uma série de alterações pode resultar em transformação maligna. Embora sejam localmente invasivos, geralmente permanecem localizados à epiderme e podem ser curados por uma variedade de técnicas. O diagnóstico precoce e o tratamento definitivo fornecem a melhor oportunidade de cura do carcinoma cutâneo escamoso, sendo alcançada através de tratamento tópico, cirúrgico, radioterápico, terapias-alvo ou terapias sistêmicas. Relato de Caso G.R.P, homem, 39 anos, branco, casado, agricultor, natural de Camargo. Procurou nosso serviço com queixa de lesão em terço inferior face medial da perna direita, acompanhado de prurido, dor e dificuldade para movimentação da perna seguida de um crescimento da lesão tornando-se vegetante, evidenciando que o crescimento foi primeiro como infiltração e após em extensão. Ao exame, a lesão apresentava 13 cm x 7 cm, com bordos assimétricos, vegetante, espessa e infiltrativa com presença de crostas e secreção sero-sanguinolenta. Solicitamos ultrassom abdominal o qual não tinha alterações e tomografia computadorizada evidenciando lesão permeável em tela subcutânea relacionável a veias varicosas superficias associadas a lesão tumefascente de contornos lobulares Enviado: 09/07/2013 | Aprovado: 09/09/2013 com diminutas calcificações; presença de estruturas vaculares em seu interior, além de espessamento difuso do periósteo dos ossos tíbia e fíbula relacionada a alteração de insuficiência venosa crônica. O estudo anatomopatológico indicou um carcinoma epidermóide grau I de Broders com invasão linfática e perineural. Após estes resultados, revisando a literatura, optamos pelo tratamento com o esquema 5-Fluoracil + Cisplatina + Bleomicina, sendo interrompido no segundo ciclo de quimioterapia por rash importante devido à Bleomicina, esperamos três semanas e recomeçamos a quimioterapia somente com 5-Fluoracil + Cisplatina. Paciente foi reestadiado no intervalo entre o terceiro e quarto ciclo onde fora evidenciado diminuição da lesão e do infiltrado. No període entre 5º e 6º ciclo, houve progressão e recidiva da doença (Figura 1), solicitado tomografia computadorizada, a qual demonstrou as mesmas dimensões e características da lesão tumescente situada na teça subcutânea, não havendo alteração no sistema venoso superficial e sem evidências de lesão óssea agressiva, apenas periostite por estase venosa crônica. Frente a este quadro, o paciente fora encaminhado ao cirurgião oncológico para avaliação. Discussão O carcinoma basocelular e carcinoma de células escamosas da pele, referidos em conjunto como o câncer de pele não melanoma, são as neoplasias malignas mais comumente diagnosticado na população branca dos Estados Unidos, sendo estimado pelo Instituto Nacional do Câncer que aproximadamente um milhão de novos casos ocorreram em 20071. Apesar de sua alta prevalência, são raramente fatais. O carcinoma de células escamosas são biologicamente mais agressivos, e as lesões negligenciadas podem ser fatais devido tanto à extensão local quanto pelas metástases2. 88 Villarroel et al. Figura 1. Fotos mostrando a evolução do paciente. (A): antes do tratamento quimioterápico. (B): resultado após 3 ciclos de quimioterapia, evidenciando regressão das lesões e melhora dos sintomas. (C): Resultado após 4 ciclos de quimioterapia, com maior regressão das (D): Ao retornar para o 6º ciclo de quimioterapia, com recidiva das lesões lesões; paciente sem queixas. mesmo assintomático. O fator de risco mais importante para o desenvolvimento de carcinoma não melanoma é a exposição crônica a radiação UV (UVR) na luz solar3,4 UVR é um carcinógeno completo, que inicia e promove a carcinogênese e o UBV inicia fotocarcinogênese através do DNA , sendo diretamente prejudiciais5,6,7,8. Outros fatores de risco que interagem com a exposição à luz UV incluem ter a pele que queima facilmente, de cor clara, ascendência européia do norte, a idade avançada, exposição à fototerapia PUVA, o tratamento imunossupressor, a exposição à radiação e Endereço para correspondência: Rodrigo Ughini Villarroel E-mail: [email protected] Rua Uruguai 2001, 811b, Centro Comercial Crediplan0 CEP 99010-112, Centro - Passo Fundo - RS, Brasil outros agentes cancerígenos industrial, tabagismo, inflamação crônica e doenças hereditárias raras também estão associados com um risco aumentado de CEC cutânea9. O comportamento biológico do CEC invasivo é determinado por uma série de variáveis, incluindo profundidade da invasão, o grau de diferenciação celular (neoplasias pouco diferenciadas apresentam maiores taxas de recidiva), fatores de risco conhecidos e o estado imunológico do paciente. Lesões que ocorrem na pele exposta ao sol têm melhor prognóstico do que aqueles resultantes da não-pele exposta ao sol. CECs mucosas têm uma maior tendência a recorrer e metastizar quando comparado aos CECs localizados CCEs localizados em regiões com pêlos e a pele exposta ao sol10. Embora o prognóstico do CEC cutâneo seja excelente, há certas características clinico - patológicas que estão associadas à doença mais agressiva. Estas características 89 Tratamento quimioterápico para carcinoma de células escamosas de pele localmente avançado incluem invasão além do tecido subcutâneo, invasão perineural, tamanho do tumor, maior profundidade de invasão, metástase linfonodal, e origem no lábio ou ouvido11. A taxa global em cinco anos de recorrência de CEC primária da pele é de 8%, enquanto CEC cutânea agressiva possui taxas muito mais altas (20% a 25%) de recorrência e metástases12,13. Taxas de metástase de CEC primário são relatados em cerca de 1 a 5% em geral. Cerca de 85% das metástases ocorrem em linfonodos regionais com o restante que ocorrem em locais distantes, tais como os pulmões, fígado, cérebro, pele e osso14. A crioterapia, eletrocirurgia, alguns tipos de radioterapia e tratamentos tópicos pode ser usados para tratar CECs cutâneas superficiais e doença de Bowen, que é também conhecido como carcinoma de células escamosas in situ. Em contraste, as lesões que são mais profundamente invasivas ou têm um maior risco de recidiva ou metástase em geral, exigem a excisão cirúrgica, a cirurgia de Mohs, ou radioterapia mais extensa14. A abordagem ideal para um caso específico requer uma consideração da probabilidade de lesão recorrente ou metastático, os fatores de cosméticos, e perícia e os recursos do médico. Especial atenção deve ser voltada para a preservação da forma e função, sem sacrificar a oportunidade para a cura de lesões situadas em ou perto de áreas cosmeticamente sensíveis (por exemplo, pálpebras, lábios, orelhas, nariz, genitais e dedos)14. O uso da terapia sistêmica é limitado a pacientes com metástases à distância ou doença localmente avançada que não pode ser adequadamente controlada com técnicas cirúrgicas ou radioterápico2. Atualmente não há quimioterapia adjuvante recomendada para pacientes com CEC agressivo após tratamento cirúrgico definitivo e radioterapia15. O uso de quimioterapia sistêmica é utilizada em casos isolados. Na experiência publicada por Sadek em 1990, baseada em cisplatina combinações parecem ser os regimes mais ativos. Estes regimes foram, em geral, adaptados dos utilizados para o câncer de células escamosas provenientes de outros locais2. Uma combinação de bolus de cisplatina, além de uma infusão de cinco dias de bleomicina e 5-fluorouracil, foi usada para tratar 14 pacientes com carcinoma de células escamosas avançados da pele ou dos lábios16. Respostas tumorais objetivas (quatro completa e sete parcial) foram observadas em 11 pacientes. Em sete pacientes, a regressão do tumor com quimioterapia sistêmica permitido tratamento definitivo posterior locais com cirurgia ou radioterapia. Apesar de o carcinoma de células escamosas e de células basais serem sensíveis à quimioterapia baseada em platina, a administração de cisplatina requer a função renal adequada. Além disso, a quimioterapia citotóxica pode ser associado com toxicidade significativa de medula óssea. Porém, o estudo realizado por Behshad em 2011, concluiu que o tratamento sistêmico leva a respostas objetivas em carcinoma localmente avançado de células escamosas cutâneas que não são passíveis de cura local17. Um estudo realizado por Guthrie et al.18 também relataram, em 12 pacientes com CEC cutâneo, selecionados para a terapia baseada em cisplatina para lesões inacessíveis à terapia local. Os pacientes receberam cisplatina 75 mg/m2 e Doxorrubicina 50 mg/m2 a cada 3 semanas até 4 ciclos. Sete dos 12 pacientes receberam apenas quimioterapia, 2 destes 7 alcançaram resposta completa e não tinham evidencias de doença, 12 e 4 meses a contar do início da quimioterapia, respectivamente, 2 atingiram resposta parcial (1 para 3 meses antes de morrer de doença progressiva e 1 para 6 meses antes de desenvolver esta doença progressiva), e três pacientes não responderam à quimioterapia (2 estavam vivos com doença progressiva e um morto de doença progressiva no o tempo de preparação do manuscrito). Outro estudo realizado por Khansur e Kennedy19 relatou 2 casos de CEC metastático e 5 pacientes com CEC localmente avançado cutânea. Todos tinham declinado a cirurgia e , assim, receberam cisplatina 100 mg/m2 no dia 1 e 5 Fluorouracil-1 g/m2/d por 4 dias de infusão contínua. Ciclos foram repetidos a cada 3 semanas. Pacientes receberam entre 2-6 ciclos. O primeiro paciente com doença metastática alcançou uma resposta completa e não possuía evidência de doença até 24 meses após a quimioterapia. O segundo paciente alcançou uma resposta parcial e desenvolveu uma doença progressiva três meses após a quimioterapia. Dois pacientes com doença localmente avançada alcançaram resposta completa, um foi perdido para seguimento 3 meses após a quimioterapia, e do outro morreu de um infarto do miocárdio, mas não possuía evidências da doença até 13 meses após a quimioterapia. Dois pacientes com doença localmente avançada tiveram respostas parciais, um obteve resposta completa após a cirurgia de consolidação e os outros se recusaram a continuar o tratamento. Um paciente com localmente avançados da doença não tinha resposta a 6 ciclos de quimioterapia e morreu dedoença locorregional extenso e um AVC. Outras opções para tratamento sistêmico incluem retinóides e interferon-alfa. Lippman et al.20 relatou, em 28 pacientes com CECs cutâneo, que tinham ou não tratamento prévio, ou foram inacessíveis às terapias local, ou eram metastáticos. A combinação de ácido 13-cis-retinóico (1 mg/kg/d) e interferon-α-2a subcutânea recombinante humana (3 milhões de unidades/d) por 2 meses produziu uma taxa de resposta de 93% para localmente avançado lesões e uma taxa de 25% para pacientes com doença metastática distante. Estudos mais recentes apontam a presença de um novo tratamento: o Cetuximab, um anticorpo monoclonal Revista Brasileira de Oncologia Clínica Vol. 11, no 40 abril / maio / junho 2015 90 Villarroel et al. que tem como alvo o receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), tem atividade antitumoral em pacientes com carcinoma avançado de células escamosas da pele21,22. O papel potencial do Cetuximab no tratamento de carcinoma de células escamosas avançados da pele foi estudada prospectivamente em um estudo de fase II, que incluiu 36 pacientes23. A maioria dos pacientes tinha doença loco-regional e apenas 8 por cento tinham metástases sistêmicas. Cetuximab foi administrado em sua programação convencional semanal (400 mg/m2 em 1 semana e depois 250 mg/m2 semanalmente). Oito respostas parcial e duas completas foram observadas e 15 tiveram a doença estável para uma taxa global de controle da doença de 69%. Três pacientes foram capazes de se submeter a ressecção completa do tumor após o tratamento com Cetuximab. A justificativa para o uso do esquema terapêutico: Cisplatina + 5-Fluoracil + Bleomicina foi semelhante ao empregado em alguns estudos relatados; os agentes têm eficácia comprovada para a CEC em outros sítios da doença24, Mesmo com a retirada da Bloemicina, o tratamento obteve uma resposta convincente e foi bem tolerado, além de obtermos uma resposta importante diminuindo o volume da doença inicial. References 1. Squamous cell carcinoma. Disponível em: http://www.cancer.gov/ search/results. Acessado em Setembro de 2011. 2. Martins, RG. Tratamento sistêmico de células escamosas cutâneo avançado e carcinomas basocelulares. Martins, RG. Uptodate. 2011. 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