A informacao na contemporaneidade

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PALESTRA PROFERIDA PELA DRA. ANA RITA DE PAULA NO 1º CICLO DE DEBATES:
CAPACITANDO AGENTES SOCIAIS NA DEFESA DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
POR MEIO DA DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES, NO DIA 12 DE ABRIL DE 2010, NO FLOWER’S
GARDEN BUFFET.
É um prazer imenso estar aqui depois de 12 anos de trabalho intenso, comemorando
com tantos amigos da primeira hora e tantos amigos novos. Eu gostaria de conversar
com vocês sobre a informação na contemporaneidade, ou seja, qual sua importância
nos dias atuais e qual a relação da informação com o processo de globalização e o
processo de emancipação das pessoas com deficiência.
Começaremos a falar sobre o conceito de informação. O que significa exatamente
informação? Se procurarmos nos dicionários, veremos que informação é um ato e um
efeito ou uma conseqüência do se informar, da obtenção do conhecimento para
garantir participação. Informação tem a ver, portanto, com o conceito de dado, de
comunicação e de conhecimento. A definição de dado relaciona-se com a menor parte,
o elemento básico de uma informação. Na informática, o dado é cada registro que a
pessoa insere no computador. A comunicação é todo o processo de transmissão de
dados e de informações. E o conhecimento é todo o produto construído por uma
pessoa ou grupo, através da elaboração subjetiva a partir do dado e da informação.
Ao pensarmos sobre informação podemos perceber que há diferentes níveis,
diferentes dimensões da informação. A primeira dimensão é a dimensão pessoal da
informação. Ou seja, quando tomamos conhecimento de um dado, ele vai se juntar a
uma série de outros dados que nós já ouvimos, lemos ou vivenciamos ao longo da vida.
Essa primeira dimensão do sujeito em particular, transforma-se quando os seres
humanos se juntam em coletividade trocando informações e reflexões subjetivas,
surgindo a dimensão grupal ou coletiva da informação. Para que a informação se torne
coletiva tem que passar por alguns estágios. Ela passa inicialmente pelo estágio da
produção da informação, em seguida pela sua
sistematização, ou seja, o
estabelecimento de correlações e análises críticas entre várias informações e só assim
tornar-se produto do e para o conjunto da sociedade. Por fim, é somente a partir das
dimensões pessoal e coletiva que a informação se torna conhecimento. Eu queria
lembrá-los de uma frase que aparece em uma propaganda do Jornal O Estado de São
Paulo, que é a seguinte: ‘’informação envelhece, conhecimento é para sempre’’.
Apesar de a informação envelhecer, ela é base de todo o conhecimento, gerando um
ciclo. O conhecimento produz novas informações e leituras críticas dessas informações
que vão chegando aos nossos ouvidos e aos nossos olhos. Portanto, informação e
conhecimento estão intimamente ligados.
Na verdade, vivemos, hoje em dia, a Era da Informação ou a Era Digital, como alguns
preferem chamar. A Era da Informação ou Era Digital iniciou-se nos anos 80, com o
progresso dos meios de comunicação e principalmente com a agilidade adquirida de
transmissão das informações, principalmente, através, do avanço tecnológico. Então,
informação e tecnologia, também andam de mãos dadas. Foi a partir da invenção do
micro-processador, da rede de computadores, da fibra ótica e até do computador
pessoal que a informação passou a correr pelo mundo numa velocidade inimaginável
há anos atrás.
Portanto, tecnologia, informação e conhecimento formam uma tríade, são três irmãs
gêmeas que andam sempre juntas.
Qual é a principal característica da informação nos dias atuais? É, principalmente, a
rapidez da propagação e seu acesso fácil e rápido. Isso faz com que todas as pessoas,
de todas as partes do mundo, tenham acesso a informação e, portanto, tenham
condições de aprofundar o seu conhecimento e a sua crítica sobre o mundo.
A informação está intimamente ligada também ao processo de globalização. É
importante compreender que a globalização é um processo que se iniciou há muitos
anos atrás. O que acontecia antes no mundo ocidental? Somente os países da Europa
sabiam da existência um dos outros. Todas as Américas e os demais países da África e
da Ásia não eram conhecidos pelo núcleo da Europa. A globalização se inicia, na
verdade, com as navegações marítimas, com a possibilidade dos países europeus
tomarem consciência de que existiam outros povos além daqueles que eles
conheciam.
Portanto, a característica principal da globalização, é esse reconhecimento de que
existem outras culturas, outros povos convivendo e compartilhando o nosso planeta.
Globalização significa a possibilidade de aproximação entre as culturas e os povos e só
se tornou possível pelo novo avanço tecnológico, principalmente das informações,
com o progresso dos meios de transporte e dos meios de comunicação.
A partir da era dos descobrimentos, no século XV inicia-se a aproximação entre as
nações do mundo. A revolução industrial foi um dos elementos que permitiu esse
progresso tecnológico e também contribuiu para o processo de globalização.
Ao examinarmos os progressos da tecnologia da informação podemos perceber sua
impressionante evolução. Na antigüidade, existia somente o Correio como forma de
circulação da informação. Podemos imaginar o que significa uma informação depender
do passo do homem para alcançar outra nação, outra cultura? Naquela época a
informação caminhava no tempo do passo do homem.
Depois em 1838, surge o Código Morse que é a base, ainda hoje, do telégrafo. Em
seguida, foi criado o telefone, em 1860. No final do Século XIX, o rádio e, por fim, a
televisão, já em meados do século XX. Os computadores surgem na década de 30 e a
internet dá o grande salto para a possibilidade da propagação mais rápida e facilitada
da informação, a partir da década de 70.
A globalização tem sua face econômica, sua face social e sua face cultural. Estamos
aqui somente fazendo um recorte social a partir da informação. E nesse recorte social,
é relevante fazer uma reflexão sobre o que é emancipação.
Como a informação contribui para emancipação do homem? Novamente, vamos olhar
para o dicionário. A primeira definição de emancipação que consta nos dicionários
refere-se à emancipação dos menores de 18 anos para exercerem uma série de
direitos legais. Assim, a maioria das pessoas conhece o significado do termo
emancipação pelo processo de emancipar seu filho menor, ou melhor, de tornar
acessível ao seu filho alguns direitos que só viriam mais tarde. Emancipação, na
verdade, vai além desse ato jurídico e além do significado de alforria ou de libertação
que também estão presentes neste conceito.
Uma concepção um pouco mais ampla de emancipação se refere ao ato de libertar um
indivíduo ou um grupo social, equiparando-os ao padrão legal dos cidadãos em geral.
O que significa isto para as pessoas com deficiência? Significa que emancipar-se é
conquistar a cidadania plena, é ser reconhecido como cidadão brasileiro e, portanto,
detentor de todos os direitos que a nossa Constituição outorga.
Uma definição mais relacionada diretamente ao indivíduo é a construída por Paulo
Freire. Esse incrível pensador brasileiro define emancipação como a condição humana
de ser protagonista da própria história. Para que as pessoas com deficiência sejam
reconhecidas como cidadãs é necessário que cada pessoa tome a sua história nas
mãos. Que cada pessoa, em particular, seja protagonista da sua história.
A informação, neste mundo globalizado, é condição indispensável para a emancipação.
Portanto, quando pensamos numa rede de informação estamos pensando em
propagar informações imprescindíveis às pessoas com deficiência para se que elas
sintam-se pertencentes a uma coletividade e à nação brasileira.
Quando falamos de informação e globalização é importante perceber que a
globalização aproxima as diversas culturas, aproxima povos e pessoas que vivem e têm
valores diferentes. Logo, é importante pensar e refletir sobre as questões da
diversidade humana em um mundo onde a informação tem um peso tão grande. É
importante reconhecer que as pessoas são diferentes, individualmente, culturalmente
e socialmente. A diversidade implica no respeito à diferença. E, Boaventura Santos, um
filósofo português, diz que é fundamental, quando vivemos em um mundo
globalizado, defender a igualdade sempre que a diferença implicar em menos valia, em
inferioridade. Quando vemos uma situação de inferioridade entre diferentes é
fundamental defender a igualdade. Mas, também é fundamental defender a diferença
quando a igualdade implicar em descaracterizar o direito. Diferentes sim, desiguais
nunca.
Portanto, a informação viabiliza direitos e é um direito em si mesma. É um direito
previsto na Constituição Brasileira e está detalhado também na Convenção
Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. A Convenção apresenta um item
sobre o direito das pessoas com deficiência à informação e destaca a importância da
sua veiculação das mais diferentes formas para garantir acessibilidade e acesso. De
nada adianta informação sem que o indivíduo não possa absorvê-la, de acordo com
suas características pessoais.
Quais são os desafios atuais em termos de garantir direitos em um mundo
globalizado? O principal desafio é a democratização do acesso à informação, ou seja,
que essa realidade que vivemos aqui hoje, neste evento1, possa acontecer em
qualquer outro espaço de participação coletiva.
Estamos vivendo uma transformação no imaginário social, nas representações que a
sociedade construiu e constrói a respeito das pessoas com deficiência. Elas
antigamente eram vistas somente como pacientes. Depois, passaram a ser vistas como
consumidores de serviços, e, muito recentemente vemos o reconhecimento das
pessoas com deficiência como cidadãs. Precisamos, ainda, fazer muito para a efetiva
transposição do lugar ocupado por essas pessoas na sociedade brasileira. É necessário
fazê-las transpor o lugar de paciente para o de consumidor e de consumidor para a
condição de cidadão. Eventos e iniciativas como essa, mostram que estamos no
caminho certo.
1
No evento havia pessoas sem deficiência e com os diferentes tipos de deficiência, para as quais foram
garantidas todas as formas disponíveis atualmente de tecnologias que permitem o acesso as
informações faladas, escritas e em imagens por meio de, por exemplo, não lembro do nome dos
recursos disponíveis
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