Análise da precipitação A água na forma de precipitação é um dos agentes deflagradores de escorregamentos de encostas. A instabilização ocorre pelos seguintes mecanismos (FILHO, 1995 e OGURA & MACEDO, 2002 apud IDE, 2005): i) Elevação do nível d’água e geração de forças de percolação; ii) Preenchimento temporário de fendas, trincas e/ou estruturas em solos saprolíticos e rochas, com geração de pressões hidrostáticas; iii) Formação de ‘frentes de saturação’ sem formação de lençol freático, reduzindo a resistência dos solos pela perda de ‘coesão aparente’. A quantidade e a intensidade de precipitação são fatores relevantes nos processos de escorregamentos, pois influenciam no modo como a água da chuva infiltra no maciço rochoso ou terroso (IDE, 2005). A infiltração de água eleva o grau de saturação do solo que causa uma redução no atrito entre as partículas do solo, alterando sua resistência e coesão. Neste sentido, destaca-se que os verões de 2009/2010 e 2010/2011 registraram diversos dias de chuva e elevados volumes de precipitação. O Gráfico X apresenta os números de dias com chuva para os meses de Dezembro de 2009 e 2010, Janeiro de 2010 e 2011 e Fevereiro de 2010 e 2011: Gráfico 1 - Número de dias com chuva para o trimestre de verão (DJF) 2009/2010 e 2010/2011 Fonte: IAG/USP, 2011 Os meses de Dezembro de 2009 e de 2010 e Janeiro de 2010 e de 2011 tiveram mais dias de chuva (22 dias nos dois anos de Dezembro, e 28 e 26 dias para Janeiro, respectivamente) que a média climatológica (19 dias em Dezembro e 21 dias em Janeiro). Já o mês de Fevereiro 2010 apresentou menos dias de chuva (17 dias) com relação à média (19 dias) e às normais. No total foram 67 dias de chuva nos verões de 2009/2010 e a mesma quantia para o verão seguinte, sendo que a média é de 59 dias. O aumento no total de dias de chuvas possibilita que o grau de saturação do solo se mantenha elevado por um longo período de tempo, sendo um dos fatores contribuintes para os escorregamentos de encostas. Em termos de volume, o verão 2009/2010 foi o mais chuvoso da série climatológica de 1933 a 2010 com 1.255,8 mm acumulados que representa 103% acima da média da série (618 mm). O verão de 2010/2011 foi o segundo mais chuvoso com 1.074,5 mm acumulados, 73,8% acima da média (Gráfico X). Gráfico 2 - Precipitação Mensal para o trimestre de verão (DJF) de2009/2010 e 2010/2011 Fonte: IAG/USP, 2011 As precipitações mensais dos dois anos ultrapassaram as médias e as normais das séries. Dentre os meses apresentados, destaca-se Janeiro com 654,2 mm de precipitação em 2010 e 466,3 mm em 2011. São 187% e 104% a mais que a média de 227,9 mm. Estes elevados valores podem contribuir para uma maior quantidade de ocorrências de deslizamentos de encostas, e mais ações emergenciais realizadas pela Defesa Civil. A distribuição de dias de chuva ao longo do verão de 2009/2010 é apresentada no Gráfico X: Gráfico 3 - Precipitações Diárias: a) Dezembro 2009, b) Janeiro 2010, c) Fevereiro 2010 Fonte: IAG/USP, 2011 A leitura do Gráfico X revela que no mês de Dezembro de 2009 (Gráfico Xa) as precipitações se concentraram nos dias 7 e 8, alcançando aproximadamente 46 mm no dia 8, e após um tempo decorrido com baixa ou sem precipitação, esta voltou no dia 28 com um pouco de intensidade e foi diminuindo até o final do mês. Para Janeiro de 2010, as chuvas foram bem distribuídas durante 28 dias e com maiores volumes, chegando aos 91 mm no dia 21 (Gráfico Xb). No mês de Fevereiro de 2010 as chuvas foram esparsas temporalmente. Foram registrados alguns dias com grande acúmulo de precipitação, como no dia 4 que foi o registro de maior quantia precipitada em 24 horas, 97,2 mm (Gráfico Xc) (IAG/USP, 2011). Com isso, há a possibilidade considerável que em Janeiro houve maior escoamento de águas superficiais, dado a maior constância de chuvas. Este também é um fator contribuinte para o escorregamento de encostas A distribuição de dias de chuva ao longo do verão de 2010/2011 é apresentada no Gráfico X: Gráfico 4 - Precipitações Diárias: a) Dezembro 2010, b) Janeiro 2011, c) Fevereiro 2011 Fonte: IAG/USP, 2011 Analisando os dados (Gráfico X), observa-se que houve no mês de Dezembro mais dias com maior precipitação que no mesmo mês do ano anterior. No dia 13 o índice ultrapassou 50 mm (Gráfico Xa). Na primeira quinzena de Janeiro houve maior ocorrência de chuvas, sendo que o dia com maior precipitação, dia 14, alcançou o acumulado de 97,8 mm, o maior volume acumulado em 24 horas (Gráfico Xb). As chuvas foram bem distribuídas ao longo do mês de Fevereiro, com destaque para o dia 21 que registrou 40,6 mm de acúmulo de precipitação (Gráfico Xc) (IAG/USP, 2011). Conforme já demonstrado na sessão 2.3, a precipitação acumulada para o trimestre Dezembro, Janeiro e Fevereiro de 1933/1934 a 2010/2011 (Gráfico X) vem apresentando tendência de aumento, sendo que esta pode ser separada em 3 períodos, segundo IAG/USP (2011): Verão de 1933/1934 a 1960/1961: aumento de 91,7 mm Verão de 1961/1962 a 1989/1990: aumento de 98,5 mm Total: Verão de 1933/34 ao Verão de 2010/11: aumento de 261,6 mm Gráfico 5 - Precipitação acumulada no trimestre (DJF) de 1933/1934 a 2010/2011 Fonte: IAG/USP, 2011 Com isso, as tendências no aumento na precipitação acumulada no trimestre são bastante significativas, refletindo nas alterações relevantes nos valores das normais: de 1933 a 1960 a média da normal do trimestre é de 182,6 mm, ao passo que de 1961 a 1990 a média da normal do trimestre é de 209,9 mm. Analisando os últimos anos do Gráfico X, observa-se a precipitações atípicas dos verões de 2009/2010 e 2010/2011, os mais chuvosos da série climatológica. Vale ressaltar que os dados utilizados nesta análise são referentes à estação metereológica do IAG/USP, localizada no município de São Paulo. Foi realizada uma busca por uma estação em Mauá, mas os dados de pluviosidade atualizados datavam de 2004. Por critério de dados recentes e proximidade, foi escolhida esta estação. No entanto, é de se considerar que a precipitação pode não apresentar um regime semelhante em localidades (espacialidades) distintas, devido às possíveis diferenças e variações. Houve a tentativa de correlação dos dias de maiores precipitações com registros de ocorrências de deslizamentos publicados em reportagens pesquisadas no histórico, mas não foi possível chegar a um resultado satisfatório, pois além do fator citado, as ocorrências podem não ter sido relatadas por não apresentarem incidentes que alterassem o bem estar da população. .