Análise comparativa entre as reações adversas infusionais notificadas pelo Hospital do Câncer III e a bula do medicamento docetaxel (1) Almeida, C. A. ; Barbosa, M. F. (2); Muniz, C. H. B. (1) (2) Faculdade de Farmácia – Universidade Federal Fluminense – Curso de Residência em Farmácia Hospitalar – Niterói (RJ) E-mail: [email protected] (2) Instituto Nacional de Câncer (INCA) – Hospital do Câncer III (HCIII) – Farmácia – Rio de Janeiro (RJ) E-mail: [email protected] Palavras-chaves: farmacovigilância, docetaxel, reações adversas FAIXA ETÁRIA DAS PACIENTES QUE APRESENTARAM RAM AO DOCETAXEL 3% RESUMO 3% 15% 17% 20 - 30 anos 31 - 40 anos INTRODUÇÃO O INCA faz parte da Rede de Hospitais Sentinela, um projeto desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 2001. Um dos objetivos desse projeto é controlar os medicamentos pós-comercialização. De acordo com as diretrizes nacionais definidas pela ANVISA em 2006, é necessário realizar a vigilância dos produtos pós-comercialização (pós-mercado e pós-registro) e pós-uso através de controle de efeitos adversos (EA) e queixas técnicas (QT). Tal recomendação fundamenta-se no fato de que alguns eventos adversos de produtos sob vigilância sanitária só serão observados quando utilizados em larga escala [1]. As RAM podem afetar tanto um indivíduo quanto um grupo vulnerável. Estudos epidemiológicos podem tanto elucidar os ganhos terapêuticos que o fármaco pode proporcionar, quanto os eventos adversos observados no grupo estudado [2]. Docetaxel 51 - 60 anos 30% OBJETIVO Caracterizar o perfil dos pacientes que apresentaram RAM infusionais ao docetaxel durante o segundo semestre de 2009, verificando a taxa de recorrência e comparando-as com as descritas na bula. METODOLOGIA Analisar o banco de dados da farmacovigilância do Hospital do Câncer III selecionando apenas as RAM infusionais ao docetaxel durante o segundo semestre de 2009 e compará-los com os dados fornecidos na bula. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da análise dos dados da farmacovigilância foram observadas 85 notificações de 66 pacientes diferentes. Entre essas 11 pacientes apresentaram duas notificações e 4 pacientes apresentaram três notificações de RAM infusionais ao docetaxel. Na caracterização do perfil dos pacientes foi encontrado apenas o sexo feminino. As idades das pacientes variaram entre 21 e 72 anos, sendo o grupo de 41 a 50 anos mais abrangente seguido pelo faixa entre 51 e 60 anos. Esses dados estão descritos na figura 1. 32% > 70 anos Figura 1: Gráfico representando as faixas etárias das pacientes que apresentaram RAM infusionais ao docetaxel no segundo semestre de 2009. Algumas características clínicas importantes foram relatadas pelas pacientes. A principal delas foi a hipertensão, presente em 23 pacientes, 34,85%. Outros também relatados foram diabetes e tabagismo, mas em quantidade não significativa. Os principais sintomas descritos nas notificações foram: dispnéia (74,24%), rubor facial (68,18%), opressão torácica (63,64%), dor lombar (21,21%) e dor abdominal (16,67%). A comparação entre os sintomas descritos na bula do medicamento de referência utilizado no Hospital do Cãncer III e nas notificações estão representados na tabela 1. Tabela 1: Comparação entre os sintomas das RAM infusionais descritas na bula do docetaxel de referência e as descritas nas notificações. Sintomas descritos na bula Rubor Rash com ou sem prurido Dificuldade inspiratória Dor lombar Dispnéia Febre medicamentosa ou calafrio O docetaxel é um medicamento quimiterápico utilizado como segunda linha para o tratamento de câncer de mama avançado e câncer de pulmão de células nãopequenas. Também possui atividade contra o câncer de cabeça e pescoço, câncer pulmonar de células pequenas, câncer gástrico, câncer ovariano avançado refratário à platina e câncer vesical [3]. Segundo o fabricante do docetaxel de referência utilizado no Hospital do Câncer III deve existir uma atenção especial durante as duas primeiras aplicações do medicamento devido às reações adversas infusionais, podendo ocorrer segundos após o início da aplicação. As reações de hipersensibilidade podem ocorrer dentro de poucos minutos após o início da infusão, sendo os sintomas mais freqüentes: rubor, rash com ou sem prurido, dificuldade inspiratória, dor lombar, dispnéia e febre medicamentosa ou calafrio. Nesses casos recomenda-se a interrupção imediata da infusão e, se necessário, suspender o tratamento com o docetaxel. Segundo Martindale, neutropenia, anemia e reações de pele não definidas são RAM mais comuns com uso de docetaxel, mas essas não se caracterizam como reações infusionais, e sim reações tardias [4]. 61 - 70 anos Sintomas descritos nas notificações Rubor Prurido Opressão torácica Dor lombar Dispnéia Tremores Dor cervical Calores Tosse seca Zumbido no ouvido Cefaleia Inquietação Enjoô Lipotimia Hipertensão Essas RAM também foram definidas de acordo com a classe de casualidade do Algoritmo de Naranjo. Esses valores foram explicitados na tabela 2. Tabela 2: Classe de casualidade das RAM infusionais ao docetaxel de acordo com o Algoritmo de Naranjo. ALGORITMO DE NARANJO Definidas 5 Possíveis 33 Prováveis 45 Duvidosas 0 Não preenchidos 2 Além dessa classificação também foi determinada a intensidade das reações. Ocorreram 64 reações leves, 17 moderadas, 2 graves e 2 notificações não tiveram essa classificação preenchidas. Na bula, classifica-se 5,3% da RAM como severas, no estudo foram encontradas 3,03%. CONCLUSÃO A bula do fabricante informa as RAM considerando a dose padrão como 100mg/m2. No protocolo do Hospital do Câncer III considera-se a dose 100mg/m2 em terapias adjuvantes e neo-adjuvantes e de 60 a 75mg/m2 em casos paliativos, descartando a hipótese de sobredose. A análise do banco de dados possibilitou a identificação de algumas reações não descritas na bula, porém essas foram notificadas em quantidades inferiores às descritas. Todas foram notificadas para a ANVISA e os relatórios obtidos poderão ser utilizados para definir novas diretrizes terapêuticas. REFERÊNCIAS [1] BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretrizes Nacionais para Vigilância de Eventos Adversos e Queixas Técnicas de Produtos sob Vigilância Sanitária. ANVISA, 2006. [2] CASTRO, L. L. C. Farmacoepidemiologia: uma nova disciplian. Fundamentos da Farmacoepidemiologia. Campo Grande: GRUPURAM, 2001; p.6. [3] CHU, E.; SARTORELLI, A. C. Quimioterapia do Câncer. In: KATZUNG, B. G.; Farmacologia: Básica & Clínica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogman, 2005; p. 763. [4] SWEETAMN, S. C. Martindale: The Compete Drug Reference. Pharmaceutical Press. Londres: Pharmaceutical Press, 2007; p. 645 Projeto Gráfico: Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica / CEDC / INCA Análise dos dados da farmacovilância do Hospital do Câncer III, unidade curativa de câncer de mama do Instituto Nacional de Câncer (INCA), coletados através de notificações de reações adversas ao docetaxel no momento da infusão do mesmo. O estudo tem como objetivo caracterizar o perfil das pacientes que apresentaram reações adversas infusionais ao docetaxel e compará-los com a bula do medicamento de referência utilizado nesse hospital. 41 - 50 anos