Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Causas das doenças do coração - por que eu? Não existe uma única causa para a doença coronariana, ou pelo menos ainda não encontramos uma. A pesquisa médica mostrou, por outro lado, que uma gama de fatores pode torná-lo mais suscetível a desenvolver DCC os quais são chamados fatores de risco. Fatores de risco Assim como uma pessoa alta tem mais chances de bater a cabeça em um batente de porta do que uma pessoa baixa, as pessoas com um ou mais fatores de risco para DCC têm maior chance de ter um ataque do coração do que aquelas sem nenhum fator de risco. Contudo, nem todas as pessoas altas batem a cabeça no batente da porta nem todas as pessoas com fatores de risco para DCC acabam tendo um ataque do coração, mas a probabilidade de isso acontecer é maior. Os fatores de risco para as doenças do coração se dividem entre aqueles sobre os quais podemos fazer alguma coisa - modificáveis - e aqueles que não podemos mudar - imodificáveis. O risco de você ou eu desenvolvermos a DCC torna-se maior quanto mais fatores de risco tivermos, pois os riscos se multiplicam. Além disso, os fatores de risco não são todos iguais. Alguns, como o fumo, podem aumentar muito as suas chances de desenvolver A DCC. Portanto, um fumante com alto nível de colesterol e pressão alta tem uma chance maior de ter DCC do que se tivesse um destes fatores isoladamente. Contudo, um alto nível de colesterol em alguém que não apresenta outros fatores de risco significa que o risco de DCC é apenas levemente mais alto que a média. Talvez você nem precise se preocupar com isso, mas o seu médico vai saber aconselhá-lo a respeito. Fatores que aumentam o risco de desenvolver DCC Modificáveis 1 • Tabagismo • Colesterol elevado CE • Hipertensão Arterial HÁ • Diabetes • Obesidade • Stress • Falta de exercício Imodificáveis • Fatores genéticos por exemplo, um colesterol elevado herdado • Sexo - Mais homens que mulheres desenvolvem DCC • Idade Idade e sexo As doenças do coração torna-se mais freqüentes à medida que nos tornamos mais velhos. No Brasil, as doenças cardiovasculares são as principais causas da mortalidade. O que é surpreendente sobre a DCC é que, até a idade de 55 anos, ela é muito mais comum em homens do que em mulheres. Isto se dá porque até a menopausa (a mudança que se dá quando a mulher pára de menstruar) as mulheres raramente têm ataques do coração. Depois da menopausa, a DCC torna-se mais comum, de modo que a freqüência entre mulheres gradualmente se iguala à dos homens até que, após a idade de 75 anos, os números são aproximadamente iguais. A razão exata pela qual as mulheres estão protegidas da DCC antes da menopausa não é conhecida com certeza, mas parece estar relacionada aos hormônios que desaparecem uma vez que a menstruação pára. Agora que tantas mulheres estão em terapia de reposição hormonal, existem evidências de que ela pode se proteger contra ataques do coração e muitos médicos recomendam o tratamento por esta razão (além de, é claro, muitas outras). História familiar Os médicos falam de uma história familiar positiva quando um ou mais dos familiares próximos (por exemplo, os pais, irmãos ou filhos) têm uma DCC. Se seu pai teve um ataque do coração antes dos 60 anos ou sua mãe antes dos 65, o risco de você desenvolver uma DCC aumenta. 2 Evidentemente, se os seus pais viveram até uma idade em que o ataque do coração se torna comum, isto já não é tão importante. O mesmo se aplica a irmãos, embora, em grandes famílias, o fato de um membro ter um ataque do coração pode ser meramente resultante do acaso. Como é que a DCC corre na família? Parte da explicação está nos genes que herdamos de nossos pais, que podem nos tornar mais suscetíveis a ter um colesterol alto ou desenvolver hipertensão arterial ou diabetes. Parte é também resultado do estilo de vida semelhante que membros de uma família costumam ter: todos comem a mesma coisa e, se os pais fumam com freqüência, os filhos fumam também. Se os seus familiares sofrem de doenças do coração os cheeck-ups periódicos com o seu médico podem ser muito úteis para que você certifique de que não desenvolveu colesterol alto, hipertensão arterial ou outros problemas que poderiam ser tratados para reduzir o seu risco de ter DCC. A dieta e colestrol Como já vimos, o ateroma é a principal causa da doença coronariana. Formam-se depósitos de gordura e, especialmente, de colesterol, que são conhecidos como placas, nas paredes das artérias. Isto as torna mais estreitas e reduz o fluxo sangüíneo. Quando as placas se partem, forma-se um coágulo na área lesionada, que impede o sangue de chegar até uma região do músculo cardíaco. Este processo todo tem mais chances de ocorrer (e de causar mais danos, caso ocorra) em uma pessoa que tenha um alto nível de colesterol no sangue. A sua constituição genética é parcialmente responsável por determinar o seu nível de colesterol. Algumas famílias possuem genes para altos níveis de vários tipos de gorduras do sangue. Esta condição clínica é conhecida como hiperlipidemia familiar ou HF. Entretanto, a dieta também tem um papel importante na determinação dos níveis de colesterol. Quanto mais gorduras você comer, especialmente gorduras animais e laticínios, maior risco corre para contrair DCC. Portanto, realmente vale a pena reduzir o conteúdo de gordura animal da sua dieta. A pesquisa de framingham Uma das primeiras pesquisas que relacionaram os altos níveis de colesterol com a DCC foi conduzida após a Segunda Guerra Mundial, em uma pequena cidade próxima a Boston, nos Estados Unidos, chamada Framingham. Todos os moradores passaram por exames anuais que 3 visavam detectar quem havia sofrido de DCC. Uma forte relação com alto colesterol foi descoberta logo no início - quanto mais alto o colesterol, maior o risco de ter um ataque do coração. A pesquisa de Framingham também demostrou a importância de outros fatores de risco como o tabagismo, hipertensão arterial e diabetes. Um seguimento de aproximadamente 40 anos desde o início do estudo permitiu que estes fatores de risco fossem confirmados. Tabagismo O hábito de fumar está fortemente relacionado com o risco para DCC. As substâncias químicas na fumaça do cigarro passam dos pulmões para a corrente sangüínea e circulam pelo corpo, afetando todas as células. Estas substâncias fazem os vasos sangüíneos se contraírem temporariamente. Também aumenta a aderência das células sangüíneas, chamadas plaquetas, aumentando a probabilidade de um coágulo se formar. Os indivíduos que fumam cachimbo ou charuto não correm o mesmo risco que os que fumam cigarros, mas ainda assim são mais suscetíveis a ter DCC do que não-fumantes. A quantidade que você fuma também interessa; o risco aumenta progressivamente entre fumantes leves (menos de dez cigarros por dia), moderados (10-20 cigarros por dia) ou pesados (mais de 20 cigarros por dia). A razão pela qual os médicos insistem para que se pare de fumar é que este é o único fator de risco que você pode controlar sozinho. Além do mais, você começa a ter benefícios a partir do momento em que pára. Embora a chance de você ter um DCC nunca vir a ser igual à de um não-fumante, ela chega perto desta após um ano da interrupção do fumo. Stress Muitas pessoas que tiveram um ataque do coração indicam algum stress pessoal como a sua causa, mas tem sido surpreendentemente difícil provar esta relação cientificamente. Existem fatores precipitantes bem determinados que podem levar a um ataque do coração, como o exercício físico repentino e inesperado e experiências emocionais extremas, mas isto só ocorre raramente. Também pensamos com freqüência que certos tipos de personalidade apresentam maior risco para doenças do coração que outros. A tecnologia moderna trouxe com ela a capacidade de realização muito rápida das coisas, cuja realização há uma geração levaria dias. A pressão para 4 assumir mais compromissos do que se consegue administrar e para definir objetivos pouco realistas tem criado a idéia da personalidade do tipo A. Este indivíduo (geralmente homem) inquieto, que tem dificuldades para relaxar, torna-se cada vez mais tenso no trabalho à custa das relações pessoais e, no final, tende a se exaurir. Diz-se que este indivíduo tem um risco dobrado para DCC, comparado com a personalidade " relaxada" do tipo B. A teoria relacionando DCC e a personalidade estressada já esteve muito em voga. Já se despendeu muito esforço tentando convencer pessoas que tinham trabalhado duro a vida toda a relaxar. As pesquisas modernas não confirmam estes achados anteriores e, embora uma doença grave de qualquer tipo obrigue a uma revisão das prioridades, as tentativas de mudar radicalmente o comportamento têm tido poucos benefícios. Doenças relacionas com DCC Duas doenças comuns e importantes estão associadas a um maior risco de doenças do coração: hipertensão arterial (HÁ) e diabetes. • Hipertensão Arterial O termo pressão arterial se refere, na verdade, à pressão nas artérias que levam o sangue do coração para o resto do corpo. A hipertensão arterial causa stress no coração e na circulação e a maioria das pessoas sabe que também causa derrames. O tratamento da hipertensão deve reduzir o risco tanto para ataques do coração como para derrames. A pressão arterial é usualmente medida na parte superior do braço. A cada batimento cardíaco, a pressão arterial atinge um pico (pressão sistólica) e depois cai a um nível baixo entre batimentos (pressão diastólica). A pressão é medida em milímetros de mercúrio (mmHg). A pressão média de uma pessoa saudável em repouso é 120/70 (dizse 120 sobre 70). Uma pressão em repouso de 140/90 está no limite, enquanto 150/100 é claramente alta. A hipertensão é encontrada no mundo todo e é especialmente comum nos países afro-caribenhos e entre americanos negros. É bastante comum também no Brasil, atingindo aproximadamente de 45% da população masculina com mais de 50 anos. A causa da hipertensão arterial da maioria das pessoas é desconhecida. Ela atinge vários membros de uma família e também indivíduos com doenças do rim. Infelizmente, na maioria dos casos, a hipotensão arterial não tem sintomas, e é por esta razão que você deve checar a sua pressão arterial de tempos, no caso de ela estar alta e você não 5 saber disso. A pressão alta danifica o revestimento das artérias e acelera o desenvolvimento de ateroma. O coração também tem que trabalhar mais para mandar sangue em pressão alta, mas para fazer isso necessita de um suprimento adequado de oxigênio. Com isso aumenta a chance de o indivíduo ter angina ou um ataque do coração. A hipertensão arterial também aumenta o risco de um derrame por causa dos danos causados • aos vasos sangüíneos do cérebro. Diabetes Esta é uma doença comum que afeta aproximadamente oito em cada cem pessoas no Brasil. É causada por uma deficiência do hormônio chamado insulina, ou por uma resistência a ele. Este hormônio é essencial no controle do movimento da glicose para dentro das células do corpo através da corrente sangüíneo. A diabetes pode afetar pessoas de qualquer idade, inclusive crianças. Pessoas jovens têm chances maiores de precisar de injeções de insulina para controlar a doença. Muitas pessoas, por outro lado, desenvolvem a diabetes já em idade avançada e, quando isto acontece, os sintomas são poucos e a doença pode ser controlada com dieta e comprimidos. O objetivo do tratamento é manter o nível de glicose no sangue o mais próximo do normal. Entretanto apesar do tratamento, a diabetes pode aumentar o risco para várias doenças circulatórias, incluindo as doenças coronarianas, Isto é particularmente importante para as mulheres porque parece neutralizar o efeito protetor dos hormônios femininos, fazendo com que praticamente a mesma proporção de mulheres e homens com diabetes desenvolvam as DCC. Um bom controle da diabetes com dieta, comprimidos e insulina, torna os problemas cardíacos e circulatórios menos comuns. Um controle ruim freqüentemente resulta em níveis muito anormais de gordura no sangue, incluindo colesterol alto, fazendo com que as pessoas com diabetes necessitem de medicações adicionais para controlar este problema. Uma doença bem compreendida Mas nem tudo é ruim. Existem características de estilo de vida que podemos controlar e que podem reduzir o risco de DCC e que examinaremos mais à frente. As pessoas geralmente se sentem culpados por terem doenças do coração, como se isso fosse, de algum modo, culpa 6 delas, mas isso não é justo. O fato é que nós simplesmente sabemos muito mais sobre fatores que levam à DCC do que sabemos sobre quase todas as outras doenças importantes. Pontos centrais • DCC é muito mais freqüente em homens do que em mulheres, e nos mais velhos do que nos mais jovens. • Os fatores de risco importantes para DCC são o tabagismo, o colesterol alto, a hipertensão arterial e a diabetes. • Parar de fumar e diminuir o colesterol e a pressão arterial reduzem o risco de DCC. http://www.lincx.com.br/lincx/orientacao/prevencao/causa_coracao.html - topo http://www.lincx.com.br/lincx/orientacao/prevencao/causa_coracao.html - topo FONTE: ISTOÉ - GUIA DA SAÚDE FAMILIAR - volume 6 "DOENÇAS DO CORAÇÃO" paginas 26 a 36 7