Ministério da Educação Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Campus Realengo – Curso de Bacharelado em Farmácia TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO BACHARELADO EM FARMÁCIA “REVISÃO SOBRE O USO DE GABAPENTINA E OUTROS FÁRMACOS PARA TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA)” Aluna: Katharine Braga Gomes Brum Orientador: Prof Dr Eduardo Rodrigues da Silva Rio de Janeiro, 23 de março de 2013. REVISÃO SOBRE O USO DE GABAPENTINA E OUTROS FÁRMACOS PARA TRATAMENTO SINTOMÁTICO DE PACIENTES COM ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA) REVIEW ON THE USE OF GABAPENTIN AND OTHER DRUGS FOR THE SYMPTOMATIC TREATMENT OF PATIENTS WITH AMYOTROPHIC LATERAL SCLEROSIS (ALS) Katharine Braga Gomes Brum1 Eduardo Rodrigues da Silva2 1 – Bacharelado em Farmácia – Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) – Campus Realengo. E-mail: [email protected] 2 – MSc, Professor Efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) – Campus Realengo. E-mail: [email protected] RESUMO Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa que atinge de 1 a 2 casos em cada 100.000 habitantes. Os principais sintomas estão relacionados com o sistema muscular, os primeiros deles são atrofia e fascilações de língua. A revisão bibliográfica realizada no período de maio de 2012 a janeiro de 2013 mostrou duas formas de tratamento, o primeiro com a utilização de Riluzol, único neuroprotetor capaz de retardar a progressão da patologia, e o segundo com o combate aos sintomas que seguem a evolução da doença, como sialorréia, aumento de secreções brônquicas, dor e câimbras todos tratados por terapia multimedicamentosa. Um fármaco frequente nas pesquisas publicadas sobre o assunto é a Gabapentina que é eficaz contra câimbras e dor, com baixa incidência de efeitos adversos e interações medicamentosas. PALAVRAS-CHAVE:Gabapentina; Esclerose Lateral Amiotrófica; Tratamento de ELA. BRUM&SILVA, 2013 Página 1 ABSTRACT Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) is a neurodegenerative disease that affects 1 to 2 cases per 100,000 inhabitants. The main symptoms are related to the muscular system, the first of them are atrophy and tongue fascilations. A literature review carried out from May 2012 to January 2013 showed two forms of treatment, the first with the use of Riluzole, the only neuroprotective able to slow the progression of the pathology, and the second act in combating the symptoms that follow the evolution of the disease, such as salivation, increased bronchial secretions, pain and cramps all treated for multidrug therapy. A drug frequently cited on published research on the subject, is Gabapentin is effective against cramps and pain, with a low incidence of adverse effects and drug interactions. KEYWORDS: Gabapentin, Amyotrophic Lateral Sclerosis, Treatment of ALS INTRODUÇÃO Neurodegeneração é o termo usado para doenças caracterizadas por perda progressiva da estrutura e função de neurônios, incluindo a morte dos mesmos (CARLESI et al., 2011). Uma das representantes desta classe de patologias é a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que tem causa desconhecida e acomete o neurônio motor inferior em sua apresentação mais clássica, outras formas incluem lesões no neurônio motor superior e bulbo (XEREZ, 2008). Sua prevalência mundial varia de 4 a 6 casos a cada 100.000 habitantes, no Brasil esse número diminui para 1 a 2 casos. É mais comumente observada em pacientes acima de 60 anos caucasianos americanos e europeus (CRONIN, HARDIMAN e TRAYNOR, 2007). A fisiopatologia da ELA ainda é obscura, entretanto dentre os inúmeros sintomas que apresenta, o primeiro e mais característico é atrofia ou fascilação na língua comprometendo a capacidade de deglutição do indivíduo portador. Os demais sintomas envolvem perda de força muscular, sialorréia, aumento das secreções brônquicas, sintomas envolvendo a atividade pseudobulbar, câimbras, espasticidade, depressão, ansiedade, insônia, dor neuropática e trombose venosa profunda (XEREZ, 2008). Como ainda é uma doença sem protocolo de tratamento definido e eficaz (LAI, 1999), a abordagem terapêutica segue em duas vertentes, a primeira com a utilização de neuroprotetores, a primeira escolha é a administração de riluzol para diminuição da progressão da patologia; a segunda é o tratamento sintomático que é multimedicamentoso e objetiva a melhora na qualidade de sobrevida dos pacientes (BEGHI et al.; 2011). Uma das drogas aplicadas para o tratamento de câimbras, espasticidade e dor neuropática em pacientes com ELA é a gabapentina, medicamento alvo deste estudo. É uma molécula estruturalmente análoga do ácido γaminobutírico (GABA) conforme ilustrado na figura 1, mas seu mecanismo de ação difere dos outros fármacos que interagem com este neurotransmissor, não sendo completamente elucidado até o presente momento. (TAYLOR et al.; 1998). A proposta mais aceitável para sua ação é a interação com os canais de BRUM&SILVA, 2013 Página 2 cálcio voltagem dependentes (GEE et al.; 1996). Segundo CLIVATTI, SAKATA e ISSY (2009) a gabapentina é responsável pela inibição da sensibilização central da dor, diminuindo a necessidade de uso de opióides para o tratamento desta, sem apresentar constipação como evento adverso, fator limitante de seu uso. Figura 1: Estrutura molecular da Gabapentina Fonte: MEDTRONIC (2006) As formulações farmacêuticas comerciais de gabapentina, disponíveis no mercado são cápsulas de 300mg e 400mg ou comprimidos revestidos contendo 400mg de gabentina (PFIZER, 2012). Em busca de bases de patentes nos bancos do INPI, no período de maio a agosto de 2012, foram encontradas poucas patentes depositadas sobre formulações contendo gabapentina. Três patentes mais relevantes foram encontradas, a primeira, de número PI 0415702-8 A, trata de um processo para preparo de uma formulação com gabapentina injetável sendo esta de difícil administração doméstica por necessitar de seringas e pessoal especializado (MEDTRONIC, 2006). A segunda, de número PI 0513566-4 A, reivindica uma melhora farmacotécnica na formulação de gabapentina para comprimidos e cápsulas (ZAMBON GROUP, 2008). Já a patente de número PI 0621665-0 A2 descreve um novo processo de síntese da gabapentina de nome químico ácido 1-aminometil-ciclohexanoacético (PFIZER, 2012). Não foi encontrada nenhuma patente referente à formulação de líquidos orais. No entanto segundo o banco de dados de substâncias perigosas (HSDB, 2012) existe uma formulação oral produzida pela Pfizer, forma farmacêutica não encontrada no Brasil nem na listagem de produtos da referida empresa. Fomentando assim a relevância deste estudo. O presente estudo objetiva relatar a evolução no tratamento farmacológico para pacientes portadores de ELA através de levantamento bibliográfico, enfatizando o tratamento sintomático desses pacientes com gabapentina e outras drogas. A busca de referenciais foi realizada na rede internacional de computadores em bases de artigos e periódicos como BIREME, SCIELO e base de patentes do INPI com as palavras chaves gabapentina, ELA, tratamento da ELA, ELA X Gabapentina, Gabapentin e ALS no período de maio de 2012 a janeiro de 2013. Além destas também serão utilizadas como fonte as farmacopéias Brasileira 5ª edição, Americana em sua 30ª Edição e a Britânica do ano de 2009, além de livros de fundamentos de Farmacotécnica. BRUM&SILVA, 2013 Página 3 DESENVOLVIMENTO O estudo inicia-se com a busca de referenciais, com descritores gerais, gabapentina, tratamento de ELA, ELA X Gabapentina e seus equivalentes em inglês. 1. ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA 1.1 – QUADRO CLÍNICO A ELA também conhecida como doença de Charcot na França e doença de Lou Gehring nos Estados Unidos da América, como já dito anteriormente, é uma doença neurodegenerativa que acomete os neurônios motores inferior e superior. O quadro clínico se constitui de: atrofias musculares distais e/ou proximais dos membros superiores e/ou inferiores e dos músculos da língua, miofasciculações, sinais piramidais: hiperreflexia, sinal de Babinski, sinal de Hoffmann, ausência de alterações de sensibilidades e distúrbios do controle esfincteriano, evolução insidiosa (LIMA, 1979). De acordo com o critério El Escorial (1998) as formas clínicas da ELA são: esporádica, familiar, síndrome ELA plus conhecida também com a forma de Guam que apresenta sinais extrapiramidais, degeneração cerebelar, demência, envolvimento do sistema nervoso autonômico, anormalidades sensitivas, anormalidades nos movimentos oculares, síndrome mimetizando a ELA expressa como síndrome pós-poliomielite, neuropatia motora multifocal com ou sem bloqueio de condução, ou ainda síndrome de ELA com anormalidades laboratoriais de significado incerto: gamopatias monoclonais, autoanticorpos (IGM1), endocrinopatias, linfoma, infecções (HIV1, HTLV1, varicela zoster, brucelose, borreliose, sífilis, doença da arranhadura do gato), toxinas exógenas (chumbo,mercúrio, alumínio). 1.2 – DIAGNÓSTICO O diagnóstico é baseado em critérios clínicos e laboratoriais sintetizados no quadro 1. A utilização desses critérios diagnósticos é possível apenas por profissionais neurologistas e após série de exames neurológicos, geralmente levando a um diagnóstico tardio. Para facilitar o diagnóstico elaborou-se um algoritmo diagnóstico exposto na figura 1(SMITHSON, 1999). Para confirmação do diagnóstico são recomendados diversos exames complementares de sangue (VHS, PCR, Hemograma, TGO, TGP, LDH, TSH, T3, T4, Vitamina B12, Folato, Eletroforese de proteínas, Eletroforese de Imunoglobulinas, CPK, Creatinina, Eletrólitos, Glicose, Enzima ligada a Angiotensina, Lactato, Hexoxidase A e B, Anti-ganglisídeo, GM-1, Anti-DNA, Anti-ACHR, Anti-MUSK, Sorologia para Borrelia e outros vírus), urina (cádmio, chumbo, mercúrio, manganês, imunoeletroforese), líquido cefalorraquidiano (LCR) (celularidade, citopatologia, concentração total de proteínas, glicose, lactato, eletroforese de BRUM&SILVA, 2013 Página 4 proteínas, sorologia para Borrelia e outros vírus), neurofisiológicos (ENMG, velocidade de transmissão nervosa, potencial evocado motor), radiológicos (RMN, radiografia de Tórax, mamografia) e biópsias (músculo, nervo, medula óssea e linfonodo) (XEREZ, 2008). ELA típica Quadro 1 Critérios Diagnósticos Sinais do neurônio motor superior (NMS) e inferior (NMI) em três regiões ELA clinicamente definida apoiada laboratorialmente ELA clinicamente provável Sinais do NMS e/ou NMI em uma região e portador de uma mutação genética Sinais no NMS e NMI em duas regiões ELA provável Sinais de acometimento do NMI e NMS em uma região ou de NMS em duas ou três regiões ELA suspeita Sinais de acometimento de NMI em duas ou três regiões Adaptado de LIMA, FRAGA E FGA (2009) e XEREZ (2008). Sinais característicos, fascilação de língua e combinação de sinais de NMS e NMI Fraqueza e astenia Doença Neurológica Exame Físico Excluir patologias como neuropatias, tumor medular, siringomielia, tumor medular e espondiloartropatias, por meio de exames de imagem, ENMG e bioquímicos. Informar Sempre rever o diagnóstico Figura 2. Algoritmo Diagnóstico Adaptado de XEREZ (2008) BRUM&SILVA, 2013 Página 5 1.3 – TRATAMENTO COM NEUROPROTETORES Após o diagnóstico fechado, inicia-se o tratamento com neuroprotetores. Foram testadas diversas drogas dentre elas o carbonato de lítio que se mostrou promissor, mas os dados ainda são insuficientes para a comprovação de seus efeitos (MILLER et al., 2009), o medicamento de primeira escolha e o único comprovadamente eficaz na diminuição da velocidade de progressão da ELA é o Riluzol (ANDERSEN et al., 2012). O preconizado pelo Ministério da Saúde do Brasil (2002) é a administração de um comprimido de 50 mg de Riluzol duas vezes ao dia de 1 a 2 horas antes das refeições. Sua estrutura química está exposta na figura 3. Riluzol Figura 3. Estrutura Química do Riluzol Fonte: BRUNO, LAZO E PARKER (2010) O Riluzol é absorvido por via oral e amplamente se liga às proteínas plasmáticas, seu metabolismo acontece no fígado mediado por enzimas do citocromo P450 por hidroxilação e glicuronidação, é excretado pela urina sob a forma inativa. Ele inibe a liberação de glutamato e bloqueia receptores tipo NMDA e cainato (receptores de glutamato), inibe também canais de sódio voltagem dependentes (Figura 4). Em um estudo clínico realizado em 1996 por Lacomblez et al. mostrou-se que o aumento de sobrevida médio foi de apenas sessenta dias, ainda assim é o único fármaco que comprovou eficácia na diminuição da progressão da ELA. É necessário o acompanhamento clínico e laboratorial ao longo do tratamento, a dosagem de enzimas hepáticas é fundamental pois o Riluzol pode causar lesões hepáticas. O metabolismo da maioria dos fármacos é mediado pelo citocromo P450, um conjunto de enzimas hepáticas que atuam no metabolismo de fase I catalisando reações de oxidação e redução (KATZUNG, 2006 e BARREIRO, SILVA E FRAGA, 1996). Como diversas drogas utilizam essa via para seu metabolismo, constituindo um ponto de constantes interações medicamentosa. Na figura 5 é possível visualizar de forma geral o metabolismo de fármacos. BRUM&SILVA, 2013 Página 6 Canais de sódio voltagem dependentes Motoneurônio celular Terminação Axonal Liberação de Glutamato Receptor NMDA Canais de Cálcio Voltagem Dependentes Canais de Cálcio Voltagem Dependentes Figura 4. Sítios de Ação do riluzol Adaptado de www.als-cherite.de Figura 5. Metabolismo de Fármacos Fonte: MOURA e REYES (2002) 1.4 – TRATAMENTO SINTOMÁTICO O tratamento sintomático de pacientes com ELA visa melhorar a qualidade de sua sobrevida, como é uma doença neurodegenerativa, seus BRUM&SILVA, 2013 Página 7 sintomas são amplos e diversificados. Incluem sialorréia, aumento de secreções brônquicas, lobilidade pseudobulbar, câimbras, espasticidade, depressão, ansiedade, insônia, dor e trombose venosa profunda (XEREZ,2008). O principal alvo de intervenção medicamentosa é a espaticidade. Caracterizado pelo aumento do tônus muscular que é a resistência inicial a uma mobilização passiva seguida de um relaxamento súbito. É o produto da perda dos estímulos descendentes aos neurônios motores medulares (BRUNO, LAZER E PARKER, 2010). 2. FÁRMACOS PARA TRATAMENTO SINTOMÁTICO DA ELA 2.1 – SIALORRÉIA Sialorréia é o aumento da produção e secreção de saliva, causa desconforto ao paciente e limitação social. No início da doença o problema pode ser resolvido por conscientização e esforço do paciente em engolir a saliva, que se acumula na cavidade oral pela dificuldade de deglutição promovida pela doença. Em pacientes em estágio mais avançado indica-se a administração de hioscina oral ou transdérmica, atropina em gotas, glicopirrolato ou amitriptiplina; os dois primeiros fármacos anticolinérgicos, o terceiro um inibidor de estímulos vagais e o último um inibidor da recaptação de norepinefrina (XEREZ, 2008 e BRUNO, LAZO E PARKER, 2010). As estruturas químicas estão expostas na figura 6. Alguns pacientes apresentam sialorréia alternada com sintomas de boca seca, para estes a melhor opção é a atropina em gotas (ANDERSEN, 2012). Atropina Hioscina Figura 6. Estrutura dos fármacos utilizados para tratamento de Sialorréia em ELA Fonte: BRUNO, LAZO E PARKER (2010) BRUM&SILVA, 2013 Página 8 Glicopirrolato Amitriptilina Figura 6. Estrutura dos fármacos utilizados para tratamento de Sialorréia em ELA Fonte: BRUNO, LAZO E PARKER (2010) Outras opções para tratamento são a radiação das glândulas salivares para diminuição de produção da saliva. A intervenção cirúrgica não é recomendada (ANDERSEN, 2012 e XEREZ, 2008). 2.2 – AUMENTO DE SECREÇÕES BRÔNQUICAS Em verdade, o paciente geralmente não tem aumento da produção de secreções brônquicas, assim como na sialorréia ele apresenta acúmulo de fluido pela não eliminação dos mesmos, além do aumento de sua viscosidade. A alternativa farmacológica é a utilização de N – acetilcisteína que é um fluidificante que facilita a eliminação destas secreções. A estrutura molecular desse fármaco está exposta na figura 7. Figura 7. Estrutura Química da N-acetilcisteína Fonte: www.nutricao.inf.br Além do aumento de produção de secreção brônquica e aumento de sua viscosidade, os pacientes com ELA apresentam ainda ressecamento da vias respiratórias. Por isso podemos ainda utilizar beta bloqueadores como metoprolol e propanolol, broncodilatadores anticolinérgicos como ipratrópio e teofilina, até mesmo furosemida (diurético) pode ser aplicada nesses casos. BRUM&SILVA, 2013 Página 9 Tratamentos não farmacológicos incluem a utilização de nebulizadores e outros aparatos para assistência respiratória. – LOBILIDADE PSEUDOBULBAR 2.3 Sintomas pseudobulbares como chorar, gritar e gargalhar podem aparecer em pacientes portadores de ELA. São chamados pseudobulbares porque nesses casos não há sinais motores bulbares. Esses sintomas geralmente são tratados com aconselhamento médico, quando muito graves ou incômodos ao paciente recomenda-se o uso antidepressivos como amitriptilina, fluvoxamina e citalopram, o estudo dirigido por BROOKS et al. (2004) revela a eficácia da terapia combinada de quinidina e dextromorfan, posteriormente aprovada em 2010 pelo FDA para este fim (PIORO, 2011). As estruturas químicas estão expostas nas figuras 8 e 9. Quinidina Figura 8. Estrutura Química da Quinidina Fonte: www.answers.com Figura 9. Estrutura Química do Dextromorfan Fonte: www.pharmacycode.com BRUM&SILVA, 2013 Página 10 2.4 – CÂIMBRAS O aparecimento de câimbras é um sintoma incômodo para a maioria dos pacientes com ELA, especialmente à noite, são comumente acompanhadas de dor. Seu tratamento na maioria dos casos é não medicamentoso e inclui massagens, fisioterapia, hidroterapia e exercícios físicos. Quando a terapia não medicamentosa é ineficaz recomenda-se o uso de quinino, magnésio, carbamazepina, fenitoína, verapamil e gabapentina (ANDERSEN, 2012). Um estudo recente com pacientes não portadores de ELA mostrou a eficácia do uso de vitamina E e quinino ilustrando uma possível alternativa para este tratamento (DIENER et al., 2002). A gabapentina particularmente é eficaz para o tratamento de câimbras e da dor provocada pela mesma, apresenta poucos efeitos adversos sendo preferencialmente escolhido frente ao demais (HONARMAND, MOHAMMADREZA E MOHAMMAD, 2011 e KALRA, 2003). 2.5 – ESPASTICIDADE O tratamento de primeira escolha para espasticidade é a terapia não medicamentosa comum ao tratamento das câimbras em ELA. A intervenção medicamentosa destaca o uso de baclofeno para os casos mais graves, podemos ainda citar a gabapentina, tizanidina, memantina, dantroleno, tetrazepam e diazepam embora não existam estudos que comprovem sua eficácia em portadores de ELA. Outra opção é a aplicação de toxina botulínica. A estrutura química do baclofeno está exposta na figura 10. Seu mecanismo de ação gabamimética acontece pela interação com receptor GABAβ, na figura 11 podemos observar a ação baclofeno e do diazepam sobre a medula espinhal. Baclofeno Figura 10. Estrutura Química do Baclofeno Fonte: www.abrela.org.br BRUM&SILVA, 2013 Página 11 Figura 11. Sítios de ação do baclofeno e Diazepam Fonte: KATZUNG (2006) 2.6 – DEPRESSÃO, ANSIEDADE E INSÔNIA Não foram encontrados, até o presente momento, estudos que avaliem a farmacoterapia para depressão, ansiedade e insônia especificamente em pacientes com ELA. O preconizado é a utilização de antidepressivos tricíclicos, inibidores seletivos da recaptação da serotonina e hipnóticos (XEREZ, 2008). No quadro 2 estão listados os fármacos mais utilizados nesse tratamento. Quadro 2. Fármacos usados para o tratamento de Depressão, ansiedade e insônia em Pacientes com ELA Classe Fármaco Ação esperada Antidepressivos Tricíclicos Amitriptilina Antidepressivo e auxilia no tratamento contra insônia Inibidores da recaptação da serotonina Fluoxetina, Sertralina, Paroxetina. Antidepressivo Hipnóticos Zolpidem Ação contra insônia Benzodiazepínicos Diazepam Age contra ansiedade Adaptado de BRUNO, PARKER E LAZO (2010) BRUM&SILVA, 2013 Página 12 2.7 – DOR Pacientes portadores de esclerose lateral amiotrófica sofrem constantemente de dor, principalmente as causadas pelas câimbras e atrofias. O tratamento é iniciado com paracetamol e fármacos opióides como o tramadol são introduzidos lentamente em doses progressivas. A limitação desse tratamento é a constipação (XEREZ, 2008). Uma alternativa é a utilização de terapias combinadas e a administração de Gabapentina que age reduzindo a hiperalgesia e pela diminuição do componente neuropático da dor (CLIVATTI, SAKATA E ISSY 2009). 2.8 – TROMBOSE VENOSA PROFUNDA A falta de movimentação e atrofia muscular, promovidas pela ELA, aumentam o risco de trombose venosa profunda, sua incidência é de pelo menos 2,7% dos pacientes a cada ano (ELMAN et al., 2005 e QUERSHI et al., 2007). São indicadas medidas gerais para melhora da circulação como fisioterapia, uso de meia elástica e elevação dos membros inferiores. O uso de medicamentos anticoagulantes de forma profilática não é recomendado (XEREZ, 2008). 3. GABAPENTINA Ao longo do levantamento bibliográfico foi verificada uma tendência da utilização de gabapentina para o tratamento dos portadores de ELA, inclusive um estudo que relaciona a gabapentina como tratamento monomedicamentoso para ELA (KALRA, 2003). A Gabapentina é um análogo estrutural do ácido γ-aminobutírico (GABA) mas seu mecanismo de ação difere de seu precursor. O GABA é um neurotransmissor inibitório, sua ação se dá pela mimetização do potencial inibitório pós sináptico, age na célula por dois receptores GABAα e GABAβ. O primeiro atua sobre os canais de cloreto aumentando a permeação por esses íons, o segundo age sobre canais de sódio e potássio. A gabapentina funciona como um gabamimético mas não interage com esses receptores gabaérgicos, atua sobre a unidade α2δ dos canais de cálcio BRUM&SILVA, 2013 Página 13 voltagem dependentes diminuindo a entrada de cálcio na célula nervosa e assim reduzindo a liberação de neurotransmissores promovendo a ação semelhante ao neurotransmissor GABA (KATZUNG, 2006). Sua ação antihiperálgica consiste na redução da hiperexcitabilidade dos neurônios do corno dorsal da medula espinhal induzida pela lesão que é responsável pela sensibilização central (MANEUF, 2003). A gabapentina é um sólido branco cristalino, um aminoácido neutro e solúvel em água, atravessa a barreira encefálica rapidamente atingido sua concentração máxima plasmática de duas a três horas após administração, não é metabolizada e sua excreção se dá pela via renal. Seu tempo de meia vida independe da dose variando de cinco a sete horas, sua biodisponibilidade é inversamente proporcional a dose e atinge cerca de 60%. No Brasil, é comercializada sob a forma de cápsulas de 300mg ou 400mg e comprimidos de 600mg. (DISTRITO FEDERAL, 2008). Sua utilização clássica é no tratamento de crises epiléticas em adultos e crianças acima de 12 anos, mas tem ganhado campo no tratamento da dor neuropática por seu mecanismo anti-hiperálgico descrito anteriormente (CLIVATTI, SAKATA e ISSY, 2009 e PFIZER, 2012). A dose preconizada para o tratamento da dor neuropática varia de 300mg a 3600mg divididos em três doses diárias de 8 em 8 horas. O tratamento precisa ser iniciado pela titulação da dose conforme quadro 3 (PFIZER, 2012). Dose Quadro 3. Esquema de Dosagem - Titulação Inicial Dia 1 Dia 2 Dia 3 Manhã - 300mg 300mg Tarde - - 300mg Noite 300mg 300mg 300mg Fonte: PFIZER (2012) O tratamento com gabapentina apresenta como efeitos adversos mais comuns sonolência, fadiga, tonteira, ataxia, cefaléia e tremor, entretanto geralmente apresentam baixa intensidade (KATZUNG, 2006 e EMBRAFARMA, 2012). A adesão do tratamento é prejudicada pelas formas farmacêuticas disponíveis, cápsulas e comprimidos grandes, principalmente quando lembrase que o pública alvo do tratamento de ELA é em grande maioria idoso e apresenta dificuldade de deglutição como um dos primeiros sintomas da patologia (XEREZ, 2008). Outra barreira é o ajuste de dose para pacientes pediátricos (NAHATA, 1998). Considerações Finais BRUM&SILVA, 2013 Página 14 O tratamento da Esclerose lateral Amiotrófica ainda não tem um protocolo totalmente definido quando ao tratamento sintomático.Visto que cada paciente evolui de forma diferente e a própria patologia assume diferentes mecanismos patológicos não totalmente elucidados. Dentre a gama de medicamentos disponíveis na literatura a gabapentina tem se destacado pela baixa incidência de efeitos adversos e interações medicamentosas não significativas com morfina, fenobarbital, fenitoína, carbamazepina e ácido valpróico. Sua biodisponibilidade é reduzida quando coadministrada com antiácidos contendo alumínio e magnésio. Estudos apontam uma possível solução para a melhora na administração da gabapentina em pacientes pediátricos ou com dificuldade de deglutição. Nahara (1998) sugeriu uma formulação de gabapentina em xarope que apresentou bons resultados, foi preparada a partir da incorporação de gabapentina em cápsulas de 300mg disponíveis comercialmente. BRUM&SILVA, 2013 Página 15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSEN, P. M. et al. EFNS guidelines on the Clinical Management of Amyotrophic Lateral Sclerosis (MALS) – revised report of an EFNS task force. European Journal of Neurology, v.19:p.360-375. 2012. BARREIRO, J. E.; SILVA, J. F. M.; FRAGA, C. A. M. Noções Básicas do Metabolismo de Fármacos. Química Nova, v.19, n.6:p.641-650. 2006. BEGHI, E. et al. The epidemiology and treatment of ALS: focus on the heterogeneity of the disease and critical appraisal of therapeutic trials. 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