Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 ○ ○ 1 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.3, nº1 jan/fev 2002 - 1~64) EDITORIAL Crônica de uma dengue anunciada, Marco Antonio Guimarães da Silva ................................................... 3 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS. ............................................................................................... 4 ARTIGOS ORIGINAIS Análise do efeito do laser de baixa potência (As-Ga-Al) no modelo de inflamação de edema de pata em ratos, Regiane Albertini, Fernanda Ishida Correa, Wellington Ribeiro, José Carlos Cogo, Edson Antunes, Simone Teixeira, Gilberto de Nucci, Hugo Caire Castro Faria Neto, Aimbire F.S.C., Renato Amaro Zângaro, Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins ............................................................................... 5 Fisioterapia prática Parâmetros manipuláveis clinicamente na Estimulação Elétrica Neuromuscular, Jamilson Simões Brasileiro, Carlos Eduardo dos Santos Castro, Nivaldo Antonio Parizotto .................. 16 Avaliação experimental subjetiva da propriocepção em indivíduos pós-lesão de ligamento cruzado anterior submetidos ou não a procedimento de reconstrução ligamentar, Eduardo Baltasar Francisco, Silvio Antonio Garbelotti Junior ..................................................................... 25 Avaliação da força de preensão palmar dos alunos de quarto e primeiro anos do curso de fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo, Laís Pelissoni Vicente, Andrea Lopes Gallinaro .... 30 Goniometria: sua prática e controvérsias, Marcos Antonio Tedeschi ............................................................ 36 Intervenção fisioterapêutica preventiva em alunos de 5ª a 8ª séries do colégio de aplicação da Universidade Iguaçu, Luís Guilherme Barbosa, Tadeu de Oliveira Madeira, Claudia da Costa Soares, Ivana P. Cardoso ........................................................................................................ 42 Ginástica Laborativa Orientações fisioterapêuticas motoras para pacientes portadores de Distrofia Muscular de Duchenne, na fase I, Renata Calhes Franco de Moura, Márcia Cristina Bauer Cunha, Ana Paula Monteiro ............. 46 REVISÕES Intervenção da educação física nos indivíduos com doença de Alzheimer, Marcus Vinicius Simões da Silva Gomes ............................................................................................................. 53 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ................................................................................................................................ 61 EVENTOS. ................................................................................................................................................................. 63 A Atlântica Editora está com novo telefone para atendimento aos assinantes: (21) 2221-4164 O CDRom com a edição integral dos volumes 1 e 2 da Fisioterapia Brasil será distribuido com a edição de março/abril de 2002 ○ 2 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin Argentina) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek Brasília) Grupo de assessores Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Albernice Ma de Oliveira Barreto (CREFITO1 Recife) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 Campo Grande) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC Santa Catarina) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep São Paulo) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 Porto Alegre) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB Rio de Janeiro) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO4 Belo Horizonte) Dr. Zenildo Gomes da Costa (CREFITO 3 São Paulo) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 Salvador) Rio de Janeiro Rua Conde de Lages, 27 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Revista Fisioterapia Brasil Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Assinaturas para 2 anos R$ 174,00 6 números ao ano + 1 CD-ROM Tel.: (21) 2221-4164 RJ / (11) 3361-5595 SP www.atlanticaeditora.com.br ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua Conde de Lages, 27 - Glória 20241-080 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2221-4164 Cel: (21) 9662-9411 Ilustração da capa: Karel Appel, Fear, 1952, óleo sobre tela, 116x89 cm, Coleção Stephane Janssen (EUA) I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 3 Editorial Crônica de uma dengue anunciada ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva A epidemia de dengue, que assola alguns estados do Brasil e se manifesta mais agressivamente no Estado do Rio de Janeiro, é o reflexo de uma vergonhosa e deplorável omissão das autoridades públicas. Por que podemos ver alguns erros que cometemos, mas não podemos suprimilos? Essa é a pergunta que P.D. Ouspensky (1878-1947), pensador russo que manifestava em suas obras grande preocupação com os problemas relacionados com a vida prática humana, tenta responder em O quarto Caminho. Os responsáveis por esta calamidade sanitária deveriam ler esse livro; talvez ele possa despertá-los para o seu papel. Caso contrario, no próximo verão, a epidemia ganhará proporções inimagináveis. Afinal, os sintomas da doença vêm se revelando cada vez mais assustadores; sua patogenia caracteriza-se por um quadro de morbidade que acaba por afetar drasticamente a qualidade de vida do paciente, podendo até mesmo causar a sua morte. Enquanto na maior parte dos países chamados desenvolvidos a luta pela qualidade de vida passou ser o núcleo das atenções na área da saúde, no Brasil do século XXI, lutamos para sobreviver ao recrudescimento de doenças infecto-contagiosas, epidemias, violência, etc. Este conjunto de desgraças, aliadas, constituirá uma forte ameaça à melhoria dos índices de longevidade que conquistamos nas últimas décadas. É preciso que deixemos a hipocrisia de lado e tentemos definir um conceito de estado de saúde e qualidade de vida que desejamos para a população. Para Bergner (“The Sickness Impact Profile: conceptual formulation and methodology for the development of a health status measure”, International Journal of Health Services 6:393-415), existem cinco dimensões, interconectas, do estado de saúde: características herdadas ou genéticas, condição fisiológica ou anatômica, condição funcional, condição mental e potencial de saúde do indivíduo. Alguns destes fatores afetam diretamente o estado de saúde das pessoas, enquanto outros fatores o fazem indiretamente. O grande desafio dos gestores da coisa pública seria promover uma adaptação do modelo acima, circunstanciada a nossa real necessidade. Que mostrem serviço, porque até o momento somos público assistente de um colossal descaso. * Editor científico de Fisioterapia Brasil Pós Doutorado na UFRJ Professor de mestrado recomendado pela CAPES 4 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 Resumos de trabalhos e congressos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Gloria Maria Moraes Vianna ○ ○ Resumo da dissertação (Mestrado em Morfologia), Orientador: Carlos Alberto Mandarim de Lacerda, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) - Instituto de Biologia Endereço: Av. Oliveira Botelho, 504 Alto, Teresópolis, 25250-001Rio de Janeiro RJ, Tel/Fax: (21) 2642-3545, Cel: 99975790, E-mail: [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Morfologia e estereologia das alterações precoces do miocárdio devidas a inibição da síntese do óxido nítrico Foram estudadas as alterações precoces do miocárdio em Rattus norvegicus, variedade Wistar, submetidos a inibição da síntese do óxido nítrico utilizando métodos de análise morfológica e quantificação estereológica. Quatro grupos de 10 ratos adultos e normotensos foram estudados: controle 25 e 40 dias e L-NAME 25 e 40 dias. Os animais do grupo L-NAME receberam diariamente 60mg/100ml (equivalente a 12 mg/ animal). Após o experimento, os corações foram pesados e tecnicamente preparados para microscopia de luz. A pressão arterial final e o peso cardíaco foram maiores nos grupos LNAME em relação aos seus controles. O peso cardíaco aumentou de 0,6 para 0,9g (+50,0%) entre os grupos C25 e L25 e de 0,7 para 0,9g (+28,6%) entre os grupos C40 e L40 dias respectivamente, e esta diferença foi significativa. O miocárdio dos animais LNAME apresentou fibrose perivascular e intersticial e hipertrofia dos miócitos. A técnica de picro sirius (que é colágeno específico) combinada à luz polarizada, permitiu observar o aumento de colágeno cor vermelho alaranjado (provavelmente tipo I) e, em menor quantidade, colágeno de cor verde (provavelmente do tipo III). Comparando os grupos experimentais com seus respectivos controles, a densidade de volume dos vasos sangüíneos não apresentou diferenças aos 25 dias e diminuiu aos 40 dias. A densidade de comprimento dos vasos sangüíneos foi menor nos grupos L-NAME 25 e 40 dias. A densidade de área dos miócitos foi menor nos dois grupos L-NAME, enquanto a área transversa média dos miócitos foi maior nestes grupos, sugerindo hipertrofia precoce dos miócitos. A densidade de área dos vasos sangüíneos foi menor no grupo L-NAME 40 e não sofreu alteração no grupo L-NAME 25. Estes resultados sugerem que a inibição da síntese do óxido nítrico causa hipertrofia ventricular esquerda que precede a fibrose miocárdica. Há perda de miócito cardíaco com fibrose de substituição e as alterações vasculares surgem precocemente nesse tipo de modelo de hipertensão arterial e incluem fibrose perivascular e hipertrofia da camada média. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 5 Artigo original Análise do efeito do laser de baixa potência (As-Ga-Al) no modelo de inflamação de edema de pata em ratos Effect of low power laser radiation on the rat paw edema Regiane Albertini*, Fernanda Ishida Correa*, Wellington Ribeiro*, José Carlos Cogo*, Edson Antunes**, Simone Teixeira**, Gilberto de Nucci**, Hugo Caire Castro Faria Neto***, Aimbire F.S.C.*, Renato Amaro Zângaro*, Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Laboratório de Farmacologia, IP&D, UNIVAP, **Departamento de Farmacologia, Faculdade de Ciências Médicas UNICAMP, ***Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica, FIOCRUZ, Rio de Janeiro RJ Palavras-chave: Inflamação, laser, carragenina, diclofenaco sódico. Resumo A reação inflamatória representa um conjunto de reações locais e gerais do organismo contra uma agressão, promovendo condições ideais para a reparação do tecido lesado. Há poucos estudos relatando a eficiência do laser de baixa potência em seu efeito antiinflamatório. A proposta desse estudo foi investigar o efeito da terapia com laser de baixa potência no processo inflamatório agudo, em modelo clássico de edema de pata em ratos. O edema foi induzido por injeção sub-plantar de carragenina, o volume da pata foi mensurado antes da indução do edema e após intervalos de 1 hora, num total de 4 horas utilizando hidroplestimógrafo. A irradiação laser baseou-se em diferentes protocolos para determinar densidade de energia, período e taxa de repetição. Os resultados demonstraram que a densidade de energia para obter o efeito antiinflamatório com laser de As-Ga-Al é de 1 J/cm2 e 2,5 J/cm2, reduzindo o edema em 27% (P < 0,05) e 45,47% (P < 0,01), respectivamente. Em animais adrenalectomizados o laser não foi capaz de inibir a formação do edema. Conclusão: A densidade de energia de 2,5 J/cm2 produz efeitos antiinflamatórios similares ao diclofenaco de sódio na dose de 1 mg/kg. Nosso resultados sugerem que o mecanismo de ação da irradiação laser de baixa potência parece ser devido ao estimulo do eixo endócrino, mas estudos complementares são necessários para confirmar essa hipótese. Artigo recebido 23 de outubro de 2001; aprovado 15 de dezembro de 2001. Endereço para correspondência: Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins, Universidade do Vale do Paraíba - IP&D, Av. Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova, 12244-000 São José dos Campos SP, Tel: (12) 3947-1087 Fax: (12) 3949-1008, E-mail: [email protected] 6 Key-words: Inflammation, laser, carrageenan, sodium diclofenac. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Abstract Background: The inflammatory reaction represents a group of local and general reactions of the organism against an aggression, promoting ideal conditions for the repair of the cell. There are few studies telling the efficiency of the laser of low potency and its anti-inflammatory effect. The purpose of presenting study was to investigate the effect of the therapy with Ga-Al-As semiconductor diode laser, in the acute inflammatory process, using for this, the classic model of rat paw edema. Methods: The edema was provoked by sub-plantar injection of carrageenan (1 mg/paw), the paw volume was measured before, and then after, 1, 2, 3 and 4 hours the injection using a hydroplethysmometer (Ugo Basile, Vareze, Italy). The laser irradiation was accomplished using different protocols to establish the densities of energy, period and repetition rate. Results: The densities of energy that produced anti-inflammatory effect were 1 J/cm2 and 2,5 J/cm2, reducing 27 % (P < 0,05) and 45,47 % (P < 0,01) respectively the edema. In adrenalectomized animals the laser was not able to inhibit the edema formation. Conclusion: The density of energy of 2,5 J/cm2 produces anti-inflammatory effects similar to the effects of the sodium diclofenac in the dose of 1 mg/kg. Our result suggest that the mechanism of action of low power laser irradiation seems to be due to the stimulation of the endocrine axis but further studies are necessary to clarify this hypothesis. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Introdução A reação inflamatória é o mecanismo fisiopatológico básico em resposta a diversas doenças, sendo representada por um conjunto de reações locais e gerais do organismo. Ela é composta por uma série de fenômenos complexos que se associam e se complementam uns aos outros formando uma reação em cascata, que envolve uma interação complexa entre células inflamatórias neutrófilos, linfócitos e monócitos/ macrófagos [1]. A resposta inflamatória visa, em última instância, combater o agente agressor e eliminar produtos resultantes da destruição celular, promovendo condições ideais para a reparação do tecido lesado. O fato de a inflamação ser produzida por diferentes irritantes e manter características uniformes, levou a sugestão de que os sintomas são causados por mensageiros químicos gerados no local da reação, e que são agora conhecidos como mediadores químicos da inflamação. A reação que ocorre durante as primeiras horas após a injúria é independente da natureza (biológica, física e química) do agente nocivo, sendo a resposta bastante similar, mesmo após uma grande variedade de estímulos. Inicialmente, o agente agressor é combatido por duas linhas de proteção, a defesa inata não induzida (ataque humoral sistema complemento e macrófagos residentes), mas, se o agente agressor não for combatido nessa etapa de defesa inicial, uma segunda via de resposta é induzida - a resposta inflamatória aguda ou defesa inata induzida, que é iniciada com o aumento da permeabilidade vascular e formação de edema [2]. O aumento da permeabilidade promove extravasamento de proteínas plasmáticas para o espaço intersticial que, somado ao aumento de pressão hidrostática de filtração e pressão osmótica intersticial, leva à formação de edema. Em geral, as alterações do fluxo e do calibre vascular iniciam-se rapidamente após a agressão e se desenvolvem em velocidades variáveis que dependem da gravidade do agente irritante, das características do tecido afetado, da espécie animal e da coexistência de estados patológicos [3]. As prostaglandinas são mediadores infla- 7 matórios que desempenham importantes papeis no processo inflamatório, e a interferência em sua síntese determina uma sensível redução nas alterações proporcionadas pela inflamação [4], visto que a inibição da síntese de prostaglandinas é o mecanismo de ação de muitos antiinflamatórios não-hormonais. Utilizando técnicas farmacológicas, químicas, térmicas e mecânicas, entre outras, uma série de trabalhos vem sendo publicada a respeito da utilização de recursos terapêuticos físicos antiinflamatórios, como a estimulação elétrica [5], ondas curtas [6], irradiação infravermelha [7], acupuntura e ultra-som terapêutico de baixa e média intensidade [8]. Diversos grupos incluem trabalhos realizados com laser de baixa potência como alternativa de tratamento antiinflamatório. Vários trabalhos têm sido publicados para melhorar o entendimento dos efeitos da terapia laser. Porém, apesar de todas as investigações realizadas e do importante uso clínico do laser de baixa potência, a aceitação desta terapia e os resultados obtidos são controversos [9,10]. O termo Laser é um acrônimo para Light Amplification by emission of radiation (amplificação da luz pela emissão estimulada da radiação). Embora Albert Einstein originalmente tenha delineado os princípios subjacentes à geração deste tipo de luz no início deste século, foi somente em 1960 que Maiman [11] produziu o primeiro feixe de luz de laser, e, baseado neste protótipo, surgiram vários aparelhos. As características que diferem a luz laser de uma lâmpada são: monocromaticidade, colimação e coerência. A coerência é uma das propriedades da luz laser, como citada acima, mas ao penetrar no tecido, esta propriedade se perde nos primeiros extratos da pele. Isto ocorre devido à grande variedade de estruturas celulares que compõe a pele [12]. Segundo esses autores, apesar da perda da coerência da radiação do Laser de Baixa Potência (LBP) no interior dos tecidos, esta é absorvida pelas células gerando alterações no seu metabolismo tanto em tecidos superficiais como profundos [13]. O efeito de estimulação com LBP depende do comprimento de onda, da dose e da intensidade da luz utilizada na irradiação [14]. 8 O presente trabalho teve como objetivo geral investigar o efeito da terapia com laser de diodo (AS-GA-Al) no processo inflamatório agudo, utilizando para isto o modelo clássicos de edema de pata em ratos. Materiais e métodos Modelo experimental de edema de patas em ratos Foram utilizados ratos Wistar machos pesando entre 150 e 200 g, com livre acesso a água e ração provenientes do Biotério da Central da Universidade de Campinas (UNICAMP). Os ratos foram randomizados e divididos em grupos de 5 a 6 animais. O edema foi induzido através de uma injeção subplantar de carragenina 1mg/pata [15] (carrageenan - Sigmal Chemical) ou 48/80, na pata esquerda, sob leve anestesia com halotano. O volume total injetado foi sempre de 0,1 ml/pata. O volume da pata foi medido imediatamente antes da injeção, e após, a intervalos de uma (1) hora, num total de quatro (4) horas, utilizando-se um hidropletismômetro (modelo 7140, Ugo Basile, Italy). Resumidamente: O método de avaliação de o volume plantar de patas de ratos é baseado no princípio clássico de Arquimedes, onde o volume da pata é igual ao volume de água deslocado após sua imersão em um dado recipiente. O edema de pata é calculado pela diferença entre o volume inicial da pata (antes da injeção do agente inflamatório) e o volume a cada hora, durante um período de 04 horas. Os resultados serão expressos como aumento do volume da pata (ml). Protocolos experimentais Protocolo 01 - Efeito da irradiação com LBP em 03 densidades de energia Os animais foram irradiados a cada 1h durante as 05 horas de experimentação, ou seja, nos tempos 1h, após a injeção do estímulo, 2h e 3h. A irradiação com laser foi realizada com densidades de energia de 1, 2,5 e 5 J/cm2, incidindo o feixe de laser sobre 01 ponto na região plantar da pata do rato, com tempo de irradiação de 80 segundos. Protocolo 02 - Comparação do efeito antiinflamatório do LBP a droga protótipo di- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 clofenaco sódico O diclofenaco sódico foi administrado nas doses de 1, 3 e 10 mg/kg, imediatamente após a indução do edema e o grupo tratado com laser recebeu a irradiação como no protocolo 1 na densidade de energia de 2,5 J/cm2. Protocolo 03 - Investigação do número de irradiações no efeito antiinflamatório do LBP - 02 irradiações por grupo A irradiação do laser foi realizada com a densidade de energia de 2,5J/cm2 determinada no protocolo 1, como sendo a ideal, e os animais receberam somente duas sessões de irradiação, como citado acima. Protocolo 04 - 03 irradiações por grupo variando tempo inicial de aplicação A irradiação do laser foi realizada com a densidade de energia de 2,5J/cm2, alterando o momento da irradiação como descrito abaixo. Grupo 01 - Controle carragenina; Grupo 02 - carragenina + Laser (10 min, 1h e 2h após estímulo); Grupo 03 - carragenina + Laser (1h, 2h e 3h após estímulo); Grupo 04 - carragenina + Laser (na hora, 1 h e 2h após estímulo). Protocolo 05 - Efeito do LBP no Edema Induzido pelo composto 48/80 - Degranulador de mastócitos Grupo 01 - Controle 48/80; Grupo 02 - 48/80 + Laser (1J/cm2); Grupo 03 - 48/80+ Laser (2,5 J/cm2); Grupo 04 - 48/80 + Laser (5 J/cm2); Grupo 05 (Sham) - receberam somente a irradiação com laser com intensidade de 2,5 J/cm2. A irradiação do laser foi realizada com no protocolo 1. Modelo experimental de adrenalectomia Foram utilizados ratos Wistar machos pesando entre 150 e 200 g, com livre acesso a água e ração. Os ratos foram randomizados e divididos em grupos de 5 a 6 animais. Procedimento cirúrgico A cirurgia foi realizada para retirada da glândula adrenal. Esse procedimento teve por objetivo avaliar a participação da referida glândula no mecanismo de ação do laser de baixa potência. Os animais foram anestesiados intraperitonealmente com pentobarbital sódico 40 mg/ kg de peso do animal, em seguida tricotomizados na região das últimas costelas com finalidade de facilitar o acesso cirúrgico para a retirada das glândulas. Após a retirada com- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 pleta das glândulas adrenais, os animais foram suturados com fio de algodão internamente e fio de sutura não absorvível externamente. Os animais ficaram em repouso por 4 dias, com livre acesso à ração e água salina. No quinto dia realizou-se o modelo experimental de edema de pata. Protocolo 06 - adrenalectomia Controles: Grupo 01 - Carragenina; Grupo 02 - Carragenina + adrenalectomia; Grupo 03 - Sham (realizou-se o procedimento cirúrgico sem a retirada das glândulas). Tratados: Grupo 04 - Carragenina + laser 2,5 J/cm2; Grupo 05 - Carragenina + adrenalectomia + laser 2,5 J/cm2. Os animais foram irradiados com no protocolo1. Laser O laser utilizado foi um Dermolaser® diodo, visível (650nm), CW, numa densidade de energia de 1; 2,5 e 5 J/cm2 (potência do feixe: 250 mW, aplicação pontual, tempo de aplicação 80 segundos). Os animais irradiados receberam irradiação em 1 ponto, na região plantar da pata inflamada. Análise dos resultados Os dados obtidos foram analisados estatisticamente pelo teste de análise de variância a 5% de probabilidade (ANOVA), e, quando da necessidade de outro teste para determinação da diferença encontrada, foi utilizado o teste de Tukey, também à 5% de probabilidade. Os resultados estão apresentados sob a forFig. 1 Volume extravasamento (edema), após período de 4 horas, dos animais controle e tratados com três irradiações (1 J/cm2 , 2,5 J/cm2 e 5 J/cm2) na 1a, 2a e 3a hora após indução do edema por carragenina. Os valores estão representados como média ± DP para 6 animais. *P < 0,05, **P < 0,01, ***P < 0,001 em relação ao controle. 9 ma de gráficos e tabelas, que foram escolhidos de acordo com a melhor representação para cada tipo de experimento. Resultados Efeito antiinflamatório do LBP em edema de pata A análise do efeito antiinflamatório da terapia de laser de baixa potência baseou-se em modelo clássico de inflamação de edema de pata em ratos. Primeiramente realizou-se 6 protocolos, no modelo de edema de pata em ratos, para determinar a densidade de energia, o número de irradiações necessárias e o momento ideal para inicio da terapia, a fim de obter o efeito antiinflamatório satisfatório. Para a analise comparativa do efeito antiinflamatório do laser de baixa potência no edema de pata foi considerado o volume médio (6 animais) extravasado no período de 4 horas. Observando a Fig.1, pode-se notar que a dose 2,5 J/cm2 apresenta um efeito antiinflamatório que inicia-se após a primeira aplicação do laser. Na segunda hora ocorreu uma redução do edema de 47,76% em relação ao grupo controle. O edema permanece sem evolução (44,91% de inibição) na terceira hora, e, ao final do experimento (quarta hora) a inibição do edema foi de 45,47% (P < 0,001), em relação ao grupo controle. As densidades de energia de 1 J/cm2 e 5 J/cm2 tiveram ao final do experimento uma inibição do edema de 26,96% (P < 0,05) e 1,2%, respectivamente, em relação ao grupo controle. 10 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Fig. 2 Volume extravasamento (edema),após período de 4 horas; dos animais controle, tratados com três irradiações (, 2,5 J/cm2 / 1a, 2a e 3a hora) após indução do edema por carragenina e tratados com diclofenaco de sódio (1mg/kg, 3mg/kg, e 10mg/kg) imediatamente após a indução do edema. Os valores estão representados como média ± DP para 6 animais. *P < 0,05, **P < 0,01, ***P < 0,001 em relação ao controle. Fig. 3 Volume extravasamento (edema), após período de 4 horas; dos animais controle e tratados com duas irradiações (2,5 J/cm2) variando o inicio da terapia após a indução do edema por carragenina. Os valores estão representados como média ± DP para 6 animais. *P < 0,05, **P < 0,01, ***P < 0,001 em relação ao controle. Fig. 4 Volume extravasamento (edema),após período de 4 horas; dos animais controle e tratados com três irradiações (2,5 J/cm2) variando o inicio da terapia sendo o edema induzido por carragenina. Os valores estão representados como média ± DP para 6 animais. *P < 0,05, **P < 0,01, ***P < 0,001 em relação ao controle. Em relação à eficácia do laser como método antiinflamatório, nota-se na figura 4.2 que seu efeito é comparável ao diclofenaco sódico na dose de 1 mg/kg. Nesta dose a inibição do edema foi de 47,19% (P < 0,01) e a inibição do laser 2,5 J/cm2, de 40,47% (P < 0,05). Para as doses de 3 mg/kg e 10 mg/kg tem-se uma inibição do edema de 73,59% e 83,34% (P < 0,001), respectivamente, em relação ao grupo controle. Nota-se na Fig.3 que a redução do edema foi significativa com 2 aplicações, somente ao final do experimento (na 4 horas), para as aplicações 10 min antes da indução do edema e 1 hora após a indução do edema quando se tem uma inibição de 23,48% (P < 0,01); e para 1 e 2 horas após a indução do edema teve-se 16,18% (P < 0,05). Nas aplicações realizadas na 2a e 3a hora após a indução do edema, a inibição não foi significativa, inibindo 8,9 % (P > 0,05). Na Fig. 4 observa-se que alterando-se o inicio da terapia, temos resultados bastante distintos ou seja, para aplicação do laser imediata- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 11 Fig. 5 Volume extravasamento (edema),após período de 4 horas; dos animais controle e tratados com três irradiações (1 J/cm2 , 2,5 J/cm2 e 5 J/cm2) na 1º, 2º e 3º hora após indução do edema pelo composto 48/80. Os valores estão representados como média ± DP para 6 animais. *P < 0,05, **P < 0,01, ***P < 0,001 em relação ao controle. Fig. 6 Volume extravasamento (edema),após período de 4 horas; dos animais controle ( adrenalectomizados e não-adrenalectomizados) e tratados com 2,5 J/cm2 irradiações na 1º, 2º e 3º hora após indução do edema por carragenina. Os valores estão representados como média ± DP para 6 animais. *P < 0,05, **P < 0,01, ***P < 0,001 em relação ao controle. mente à indução do edema temos efeito próinflamatório, a qual provoca aumento do edema de 31,96% (P < 0,05), em relação ao controle, se a aplicação é realizada 10 min (antes da indução do edema), 1 e 2 horas (após a indução do edema) não se tem efeito significativo na redução do edema com inibição de 3,36%. Mas, se a aplicação do laser for iniciada 1 hora após a indução do edema temos efeito antiinflamatório, ou seja, a redução do edema é de 28,48% (P < 0,01). Na Fig. 5 nota-se que o laser não teve ação antiinflamatória no edema provocado por 48/ 80, pois, os resultados não foram estatisti-camente significativos. Na Fig. 6 podemos observar que os animais que foram adrenalectomizados desenvolveram edema 13,13% menor que os animais controles não-adrenalectomizados. E também que os animais adrenalectomizados tiveram a inibição do edema menor que os animais nãoadrenalectomizados, sendo a inibição de 26,64% (p < 0,01) e 31,21% (p < 0,001), respectivamente em relação ao controle não adrena- lectomizado. Mas, se consideramos os animais adrenalectomizados, os animais tratados com laser não tiveram resultados significativos em relação à inibição do edema. Na Fig. 7 podemos confirmar a adrenalectomia realizada nos animais, constatamos que os animais adrena-lectomizados têm a dosagem de cortisol inferior a 0,20 g % e os animais não adrenalectomizados, 0,21 a 0,32 g. Discussão No presente trabalho, determinamos os parâmetros de irradiação LBP no processo inflamatório agudo, em ratos. Os efeitos do laser de baixa potência (LBP) são baseados nos mecanismos não térmicos [10], ou seja, a partir da interação da luz com o tecido, promovendo efeitos de biomodulação [10]. Muitos pesquisadores têm procurado entender o mecanismo ação dos LBP, bem como, determinar o comprimento de onda, número de aplicação, tempo de irradiação e densidade de energia mais apropriados [16]. Tunér e 12 Hode [17] realizaram uma analise crítica dos estudos da terapia LBP é concluíram que os parâmetros para a irradiação são determinantes para validação da terapia. A escolha do comprimento de onda está de acordo com Kolari [18], que descreveu que a radiação com laser de diodo Arseneto-GálioAluminio (As-Ga-Al) mostrou-se simples e segura por se tratar de um aparelho pequeno, de fácil aplicação à pele, de baixo custo e ainda, pelo fato do aparelho fornecer um feixe de luz com as características de monocromaticidade, coerência e colimação e dentro dos limites de sensibilidade de potência e densidade de energia para promover efeitos biológicos sem dano. As reações atérmicas ocorrem com densidade de potência 0,1 - 10 w/cm2 e densidade de energia 0,1 - 10 J/cm2 [19] e as aplicações com objetivos clínicos devem estar na faixa da 1-4 J/cm2 [10]. Dessa forma, o aparelho utilizado está dentro das especi-ficações com densidade de potência de 0,625-6,25 mw/cm2 e densidade de energia de 0,06 -37,5 J/cm2. Nossos resultados demonstraram que o LBP, no modelo de edema de pata induzido por carragenina, possui efeitos antiinflamatórios quando utilizado com densidade de energia 2,5 J/cm2, e irradiado por no mínimo de 2 aplicações, a partir da 1a hora da indução do edema. Contudo, se a terapia for repetida por 3 vezes, temos resultados mais pronunciados, obtendo inibição de 50% no volume de líquido extravasado. Esses resultados corroboram com estudos de Honmura et al. [20] que analisaram o efeito terapêutico do LBP (AsFig. 7 As colunas representam a concentração de cortisol (mg%) presente no sangue dos animais após a indução de inflamação com carragenina. As colunas carra (carragenina), C+ L (carragenina + laser 2,5J/cm2) e Sham (animais operados sem retirada da glândula adrenal) representam os animais que não foram adrenalectomizados, e as colunas C+ A (carragenina + laser + adrenalectomia) e C+A (carragenina + adrenalectomia), os animais adrenalectomizados. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Ga-Al), em modelo inflamatório de edema de pata induzido por carragenina utilizando num total de 3 aplicações obtendo de 20 a 30% de redução do edema. Além disso, quando trataram os animais com a mesma densidade de energia, mas com apenas uma aplicação não obteve redução do edema. A respeito do mecanismo de ação do LBP na redução do edema, alguns autores sugerem que os componentes celulares (fotorreceptores) podem absorver fotóns fornecidos através da energia do LBP e acelerar a produção de ATP fornecendo energia para célula, que por sua vez podem modular a resposta inflamatória [21-24]. Vários estudos clínicos evidenciaram efeitos benéficos da laserterapia em patologias inflamatórias como bursites, tendinites, fasciite plantar e síndrome do túnel do carpo. Sabe-se que comprimentos de onda entre 600-700 nm (região visível) correspondem a região do espectro eletromagnético que pode ser absorvido no ciclo respiratório, e essa energia eletromagnética é absorvida por componentes (fotorreceptores) do ciclo respiratório estimulando a cadeia respiratória, aumentando a produção de ATP mitocondrial [23]. Neste mesmo contexto, Wilden e Karthein [23] relatam que a absorção da luz fornece energia à célula como as ligações químicas e cada comprimento de onda corresponde a um tipo de ligação química que resulta em diferentes energias, sendo que na região do visível temos a energia das ligações iônicas ou seja, 3,2*10-19-6,4*10-19J. Dessa forma, considerando que a absorção Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 de luz fornece às células energia e que essa energia é absorvida pelo citocromo da mitocôndria então, a célula utiliza essa energia no ciclo respiratório para produzir ATP. Estes dados em conjunto estão de acordo com a nossa proposta que o mínimo de energia para catalisar as reações foi obtido com 2 aplicações de laser e que 3 aplicações seriam o ideal pois, com essa repetição tivemos uma redução do edema de quase 50%. Ainda assim, o tratamento conversador com a terapia de LBP é indicado nas afecções inflamatórias como, bursites, tendinites, DORT, fasciite plantar para minimizar a dor e sintomas inflamatórios (para revisão ver Huang [24]). Ainda assim, o mecanismo de ação do LBP na inflamação aguda ainda não está totalmente elucidado . Campana et al. [25] quantificaram o nível de fibrinogênio plasmático (FP) em modelo de lesão tecidual induzida por laparotomia e tratada com LBP e diclofenaco de sódio. Nesse modelo experimental os resultados mostraram que o nível de FP que se encontrava aumentado no tecidos lesados retornaram a níveis normais após o tratamento com LBP, sendo que esse mesmo resultado ocorreu no tratamento com diclofenaco de sódio. Esses resultados sugerem que a resposta inflamatória pode ser normalizada ou reduzida pela ação fotoquímica do LBP agindo como seletivo da enzima ciclooxigenase (COX) ou em nível superior na cascata de produção de mediadores inflamatórios, visto que a redução do FP obtida com LBP foi semelhante a do diclofenaco sódico. Sattayut et al. [26] investigaram o efeito do laser As-Ga-Al (820 nm) com densidade de energia de 4 J/cm2 e 19 J/cm2 na produção de PGE2 em culturas de células estimulada com IL-I e obtiveram como resultado que a inibição da síntese de PGE2 ocorreu com 19 J/cm2 sugerindo ser este o mecanismo analgésico para as dores músculo-esqueléticas. Campana et al. [27] avaliaram a inflamação em modelo de artrite reumatóide, em ratos, induzida por hidroxiapatita e tratada com LBP (632,8 nm) com densidade de energia de 8 J/ cm2 no momento da irradiação, 24 e 48 horas após o estimulo, e obtiveram como resultados que o nível de FP, PGE2 plasmático e PGE2 sinovial estavam reduzidos em relação ao con- 13 trole. Entretanto, as lesões histológicas permaneceram sem diferenciação entres os grupos tratados e não tratados, sendo sugerido que o LBP é capaz de inibir os efeitos quimiotáticos dos estágios iniciais da inflamação ou podem interferir com os mediadores químicos assim inibir a COX/ COX2. Tomados em conjuntos esses resultados corroboram com os nossos que mostraram que a terapia com LBP foi capaz de reduzir o edema induzido por carragenina como o diclofenaco sódico na dose de 1 mg/kg. Dessa forma, é razoável sugerir que o mecanismo ação do LBP pode estar interferindo na ativação da COX, entretanto nota-se que existem divergências a respeito desse mecanismo. De acordo com a Fig.5 evidenciamos que a ação do LBP não reduz a degranulação dos mastócitos pois, o laser foi incapaz de inibir o edema provocado pelo composto de 48/80, que é um irritante que tem a ação de degranular mastócitos. Silveira & Lopes [28] realizaram estudos onde observaram a comportamento de mastócitos em duas áreas, sendo um área tratada com laser de baixa potência (Zona B) e a outra área não tratada. Os resultados demonstraram que o número de mastócitos degranulados aumentou de maneira significativa no zona B (laser) o que evidencia o fenômeno de desgranulação total e completa dos grânulos liberados. Maillet [29] relata que a ação dos fótons emitidos pela radiação do LBP atua na membrana celular de mastócitos, provocando a sua ruptura, já que são células especialmente vulneráveis a qualquer tipo de estímulo [30]. Tendo vista os experimentos de Silveira e Lopes [28] relatados acima cabe-nos discutir sobre a diferença de resultados encontrada ao analisarmos os resultados de edema de pata em ratos. Silveira e Lopes [28] relatam que a irradiação laser com 9 J/cm2 determina a desgranulação de mastócitos numa intensidade maior do que em condições fisiológicas, o que favorece a ocorrência de alterações circulatórias locais, em especial a vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular, este fato justifica no nosso experimento de edema de pata termos encontrado maior volume com a irradiação de 5 J/cm2, e como a análise do efeito 14 antiinflamatório em pata de ratos, é baseado no volume extravasado, temos então a falsa idéia que a terapia com 5 J/cm2 não foi eficaz. De acordo com os resultados descritos acima é razoável admitir as divergências no padrão ótimo de densidade energia para terapia com LBP. Nossos resultados nos conduzem a admitir que a melhor densidade de energia é a de 2,5 J/cm2, visto que com essa densidade de energia conseguimos reduzir o volume do edema da pata do rato. Outro mecanismo de ação que podemos sugerir a partir dos resultados apresentados na Fig. 6 é que o laser aumenta a liberação de cortisol endógeno, uma vez que quando realizamos adrenalectomia e tratamento com LBP, este foi incapaz de inibir a formação do edema. Apesar disso, ao dosar o cortisol, não conseguimos detectar diferenças na concentração deste no sangue, mas este fato pode ter ocorrido porque o método utilizado para a dosagem não foi sensível para detectar a diferença. Estes resultados sugerem fortemente que o mecanismo de ação do efeito antiinflamatório da Terapia com Laser de Baixa Potência parece envolver um mecanismo endócrino de liberação de cortisol endógeno que estaria atuando na inibição da reação inflamatória. Esta hipótese estaria de acordo com diversos trabalhos que atribuem os efeitos analgésicos do LBP a liberação de endorfinas pelo hipotálamo, uma vez que começa a se delinear na literatura a possibilidade do LBP em atuar em todo o eixo hipófise-hipotálamo-adrenal. Referências 1. Tedgui A, Mallat Z. Antiinflammatory mechanisms in the vascular wall. Cir Res 2001;88:877-887. 2. Siqueira Jr, JF, Dantas, C.J.S. Mecanismos celulares e moleculares da inflamação, ed. Medsi, 238p, 2000. 3. Ali H, Haribabu B, Richardson RM, Snyderman R. Mechanisms of inflammation and leukocyte activation. Med Clin North Am 1997;81:1-28. 4. Bakhle YS, Botting RM. Cyclooxygenase-2 and its regulation in inflammation mediators of inflammation,5;305-323, 1996. 5. 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Release processes in mast cells and their activaction by injury Ann NY Acad Sci 1964;116:880-890. 16 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Artigo original Parâmetros manipuláveis clinicamente na Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) Clinically changeable parameters in the Neuromuscular Electrical Stimulation (NMES) Jamilson Simões Brasileiro*, Carlos Eduardo dos Santos Castro**, Nivaldo Antonio Parizotto*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapêuta, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Mestre em Fisioterapia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), **Fisioterapêuta, Professor da UFSCAR, Mestre em Fisioterapia pela UFSCAR, ***Fisioterapêuta, Professor da UFSCAR, Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Campinas (UNICAMP), Trabalho realizado na Universidade Federal de São Carlos - SP. Palavras-chave: fisioterapia, estimulação elétrica, eletroterapia. Resumo A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) é um recurso bastante utilizado na prática fisioterapêutica, sendo aplicado atualmente em diversas condições clínicas. Particularmente nas últimas duas décadas, houve uma grande expansão da EENM na fisioterapia, motivada basicamente por dois fatores: a popularização dos aparelhos eletroterápicos e sua aplicação em músculos inervados. Entretanto, as pesquisas que envolvem o uso da EENM ainda são bastante controversas: além de uma grande diversidade nos procedimentos metodológicos, o uso de diferentes parâmetros de estimulação leva a conclusões conflitantes. Indiferente a isso, várias formas de aparelhos eletroterápicos continuam a serem produzidos, muitas vezes de forma redundante. O conhecimento de todas os parâmetros físicos disponíveis nestes geradores é indispensável na aplicação deste recurso, já que, a partir desta manipulação, os efeitos fisiológicos serão desencadeados. Assim, o presente artigo se propõe a oferecer, aos usuários deste recurso, uma breve discussão sobre os principais parâmetros físicos manipuláveis nos aparelhos elétricos. Artigo recebido 15 de dezembro de 2001; aprovado em 15 de janeiro de 2002 Endereço para correspondência: Jamilson Simões Brasileiro, Laboratório de Eletrotermofototerapia Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos UFSCar, Via Washington Luiz, km 235, CP 676, 13565-905 - São Carlos SP, Tel: (016) 9111-0584/ 3361-7267, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Key-words: Physical therapy, electrical stimulation, electrotherapy. 17 Abstract The neuromuscular electrical stimulation (NMES) is a widely used tool in physical therapy clinical practice. It is actually applied in several clinical conditions. In the two past decades the NMES had a great expansion in the application in physical therapy, induced by two factors: the popularization of electrical therapy machines and their application in innervated muscles. However, the research in NMES is controversial: besides the diverseness in the methodological procedures, the great variations in the electrical parameters which can conduct to conflicting conclusions. Unconcernent with these reasons, several kinds of electrotherapy machines remain in the market, sometimes in a redundant way. The knowledge of all the physical parameters displayed in these equipments is essential in the application of this therapeutic tool. It is important to know how is the expected physiological response with changes in the physical parameters. Thus, this paper offer to the users of this electrical tool a concise discussion about the main physical parameters that are changeable. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) é a ação de estímulos elétricos terapêuticos aplicados sobre o tecido muscular, através do sistema nervoso periférico íntegro [1]. Há algum tempo, especialistas em Fisioterapia, Medicina Desportiva e Fisiologia do Exercício tem expressado o seu interesse na utilização desses estímulos elétricos como coadjuvante dos exercícios, na cura de enfermidades ou na melhora do condicionamento físico humano. Particularmente nas últimas duas décadas, o uso da EENM difundiu-se bastante entre a comunidade científica e, contrariamente às suas aplicações anteriores, seu uso passou a incluir músculos inervados. Dois fatores contribuíram para isso: o primeiro foi a popularização dos geradores de corrente elétrica, e o segundo foram os trabalhos do cientista russo Yakov Kots, que afirmava que a EENM seria capaz de produzir ganhos de força significativos em sujeitos saudáveis [2]. Embora es- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ tes estudos nunca tenham sido reproduzidos no ocidente, o interesse pelo uso da EENM, tanto em sujeitos sadios como em populações de pacientes, foi renovado [3]. Atualmente, as pesquisas que envolvem o uso da EENM são bastante controversas: além de uma grande diversidade nos procedimentos metodológicos, o uso de diferentes parâmetros de estimulação leva a conclusões conflitantes. Alheio a tudo isso, várias formas de geradores continuam a serem produzidos, muitas vezes de forma redundante. Na verdade, isso só dificulta a tomada de decisão por parte do fisioterapêuta sobre qual corrente e que parâmetros usar, na aplicação em seus pacientes. Assim, o objetivo deste artigo é oferecer aos fisioterapêutas, uma revisão objetiva, sobre os principais parâmetros manipuláveis clinicamente, durante o uso da EENM. O nosso enfoque recairá sobre a aplicação deste recurso no restabelecimento da performance muscular, considerando fatores tais como a força, 18 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 potência e resistência à fadiga. Desta forma, outras aplicações clínicas da EENM, tais como a recuperação funcional ou o restabelecimento de amplitude articular, poderão sofrer algumas alterações, em relação aos protocolos propostos. Parâmetros manipuláveis clinicamente na EENM As formas de onda As correntes elétricas tem sido usadas como proposta terapêutica há centenas de anos. Hoje, com o surgimento de diversas formas de ondas elétricas, vários tipos de geradores também proliferaram. Como regra geral, o desenvolvimento destes equipamentos costuma associá-los aos nomes dos seus inventores ou mesmo de seus fabricantes, causando mais confusão do que auxílio, na tomada de decisão por parte do clínico. Na verdade, todos eles são Estimuladores Elétricos Transcutâneos e a maioria são também Estimuladores Elétricos Nervosos Transcutâneos (TENS), por serem aplicados através da pele com o objetivo fisiológico de excitar nervos periféricos. Portanto, qualquer estimulador é essencialmente, uma unidade de TENS, desde que utilize eletrodos de superfície e estimule nervos periféricos [2]. Kantor [4] condena a presença de redundantes tipos de onda e julga que não existe necessidade para as múltiplas formas de estimulação encontradas hoje, pois esse fato só complica o processo de decisão do clínico e provavelmente adiciona um custo desnecessário para o estimulador. De uma forma geral, as correntes usadas na eletroterapia clínica contemporânea podem ser divididas em três tipos: as contínuas, as alternadas e as pulsadas. A corrente contínua (também chamada de galvânica) é caracterizada por um fluxo contínuo de partículas carregadas e não é usada nos programas de EENM. A corrente alternada é um fluxo bidirecional contínuo de partículas carregadas. Os íons corporais movem-se primeiro em uma direção e quando o campo elétrico é revertido, eles movem-se para suas posições originais. Esta forma de corrente é usada em várias aplicações terapêuti- cas sendo que seu uso contemporâneo mais comum, sob o aspecto clínico, é a corrente interferencial. A corrente pulsada é amplamente utilizada na EENM, sendo definida como um fluxo uni ou bidirecional de partículas carregadas que periodicamente são interrompidas, por um período de tempo finito [3]. A corrente pulsada é caracterizada por uma unidade elementar: o pulso elétrico. Um único pulso é definido como um evento elétrico isolado, separado por um tempo finito do próximo evento [3]. Cada pulso normalmente dura apenas uns poucos ms ou ms, seguidos então por um intervalo interpulso. Pulsos elétricos podem exibir formas diferentes e como conseqüência disso, vários nomes apareceram na literatura ao longo dos anos, tais como a forma farádica, a exponencial, a senoidal, a quadrada e a triangular, dentre outras. Além do formato do pulso, os tipos de corrente apresentam outra forma de classificação: monofásica ou bifásica. Por definição, monofásica indica que existe apenas uma fase para cada pulso e, desta forma, o fluxo da corrente é unidirecional, sendo que a polaridade de um eletrodo será sempre positiva e a do outro negativa. Quando duas fases opostas estão contidas em um único pulso, a forma de onda é definida como um pulso bifásico. Além disso, os pulsos bifásicos podem ser simétricos ou assimétricos. Pulsos simétricos com um intervalo interfase parecem ter preferência clínica em relação aos pulsos assimétricos, particularmente se o alvo for a excitação de fibras motoras. No passado, pulsos assimétricos, como a corrente farádica, eram mais utilizados [2]. Um estudo conduzido por [5] comparou a capacidade de geração de torque entre as formas de onda monofásica e bifásica, e conclui que as últimas produzem cerca de 20 a 25% mais torque que as primeiras. Os autores analisam que, atualmente não existe razão para o uso de forma de onda monofásica, principalmente quando a estimulação de grandes grupos musculares, como o quadríceps femural, for necessária. Um outro experimento avaliou cinco formas de onda comumente usadas no processo de excitação do nervo periférico e, todas elas foram efetivas tanto na excitação de fibras motoras quanto sensitivas. A carga de pulso Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 da forma de onda bifásica simétrica foi menor que as outras formas. Baseando-se nestas conclusões, os autores acreditam que esta forma de pulso pode ser a preferida para estimulação de nervos periféricos já que, não só houve uma redução na quantidade de energia elétrica envolvida na estimulação, como também eliminou-se uma potencial irritação da pele (freqüentemente associada aos pulsos monofásicos) e minimizou-se o desconforto da estimulação [4]. No Brasil, a maioria dos equipamentos utilizados na EENM produzem pulsos bifásicos, normalmente simétricos. O manual do equipamento poderá informar aos usuários quais os tipos de pulsos disponíveis no gerador. A avaliação do desconforto parece ser um item essencial dentro da prática clínica, pois muitas vezes é o fator limitante do uso da EENM, sobretudo quando altas forças contráteis são solicitadas, como nos regimes de treinamento de força [5]. Delitto & Rose [6] compararam as formas de onda senoidal, triangular e quadrada e concluíram que nenhuma das três mostrou-se mais confortável para produzir contrações musculares. Apesar disso, observaram, através da modificação no tipo da onda, uma alteração na percepção do conforto particular de cada sujeito submetido ao treinamento. Usando a forma de onda mais confortável para um paciente individualmente, pode-se aumentar a intensidade da contração produzida. Holcomb et al [7] e Brasileiro et al [8] compararam a capacidade de produção de torque entre os estimuladores convencionais de baixa freqüência e os geradores de corrente russa e não observaram diferenças na efetividade de nenhum deles, quando se objetivou a produção de contrações musculares vigorosas. Quanto ao item desconforto, nenhum dos equipamentos mostrou-se superior, embora tenha sido observada uma preferência individual dos sujeitos por uma ou por outra forma de onda. A intensidade da corrente: amplitude e duração do pulso Nos regimes de treinamento existe uma relação direta entre a intensidade da contração produzida eletricamente e o aumento da força 19 muscular. Os sujeitos têm de estar capacitados para suportar contrações produzidas eletricamente em altas intensidades [6]. Quanto maior a intensidade tolerada, maior será o número de unidades motoras recrutadas e maior a profundidade de ativação, a partir dos eletrodos de superfície [9]. Sabe-se que as fibras motoras são freqüentemente situadas mais profundamente nos tecidos que as sensoriais e, portanto, mais intensidade de estímulo é requerida para causar sua descarga [4]. A amplitude é uma medida da magnitude da corrente com referência à linha base de corrente zero e é normalmente medida em Ampère ou suas subunidades. Dependendo do estimulador específico, as amplitudes geralmente não excedem os valores máximos de 100 a 200 mA. Já a duração do pulso, eqüivale ao tempo decorrido entre o início e o término de todas as fases de um único pulso, sendo normalmente medido em ms, ou pelas subunidades destes; em estimuladores clínicos, a duração do pulso é muitas vezes erroneamente classificada com largura do pulso. Um pulso excessivamente longo torna-se desconfortável para a estimulação transcutânea; por outro lado, pulsos muito curtos são ineficazes para desencadear o processo de contração. McNeal & Baker [21] têm sugerido que uma duração de pulso de 0,3 ms tem se mostrado preferida, nesta relação conforto/eficácia. Como a carga do pulso é determinada por sua amplitude e por sua duração, além da sua forma, ela fornecerá uma indicação da influência relativa que este terá nos sistemas biológicos. A estimulação elétrica normalmente provocará respostas sensitivas antes das respostas motoras. Se a amplitude ou a duração do estímulo for suficientemente aumentada, respostas motoras serão produzidas e sobrepostas à estimulação sensitiva. Se a intensidade é aumentada ainda mais, a estimulação provocará uma resposta dolorosa, a qual ocorrerá simultaneamente às respostas sensitivas e motoras. Os níveis de amplitude tolerada por um sujeito variam bastante em função de diversos aspectos. Lieber & Kelly [10] sugerem que certos indivíduos são mais aptos que outros para receber estimulação elétrica efetiva, provavelmente baseando-se em diferenças 20 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 anatômicas. Eles observaram em seus estudos, por exemplo, que enquanto um indivíduo atingiu 71% da sua contração máxima com 45 mA, outro sujeito suportou 85 mA, mas gerou apenas 48% desta contração. Os autores hipotetizaram que os indivíduos com maior eficácia de contração podem ter padrões de ramificação nas fibras motoras relativamente mais superficiais. Massey [11] também observou que fatores relacionados com a impedância tecidual, tais como as diferenças no percentual de gordura corporal, podem contribuir para uma falta de correlação entre amplitude e o torque muscular gerado. De uma forma geral, quanto maior a força de contração em treinamento provocada eletricamente, maiores ganhos de força serão gerados. Assim, o parâmetro de intensidade do treinamento no músculo será dado pela força de contração gerada, e não pela intensidade de corrente produzido pelo estimulador. Uma relação linear entre a dosagem de estimulação e a recuperação de força muscular já foi observada entre grupos de pacientes fazendo uso de estimuladores clínicos [12]. Por outro lado, tem sido observado em programas de estimulação continuados que os pacientes tornaram-se rapidamente acostumados à aplicação da corrente e como conseqüência disso, suportaram intensidades próximas a 100 mA, valor considerado relativamente alto [5]. Entretanto, aumentos substanciais na amplitude da corrente em um mesmo sujeito, ao final de um programa de treinamento, não garante um aumento correspondente na força contrátil [13]. A freqüência dos pulsos No passado, e com base apenas em definição elétrica, a freqüência sempre foi considerada como inversamente proporcional à duração do pulso; entretanto, os estimuladores modernos, particularmente os de corrente pulsada, são projetados para produzir pulsos muito curtos com intervalo entre eles relativamente longos. Tal construção leva a uma total independência entre a freqüência e a duração do pulso, ao menos sob uma perspectiva fisiológica [2]. Diversos estudos já avaliaram as respostas neuromusculares diante de diferentes freqüências de estimulação, pois sempre observou-se que, nas contrações voluntárias existe uma relação direta entre a freqüência de ativação de unidades motoras e a tensão gerada pelo músculo. Estas freqüências, em contrações voluntárias máximas contínuas, estão em torno de 30 a 70 Hz [14]. Em um clássico estudo sobre a relação freqüência do equipamento/geração de torque, observou-se que nenhuma diferença significativa foi registrada entre os torques gerados por freqüências de 50 e 100 Hz, embora ambas tenha produzido significativamente mais torques que a estimulação à 20 Hz. Os pesquisadores concordam que o aumento na freqüência de estimulação além da freqüência de tetania, não altera a força do músculo, pois a máxima tensão já havia sido encontrada. Como os torques da EENM em 50 e 100 Hz são similares, essa tetania pode ser similar para ambas as freqüências de estimulação. Se um aumento na freqüência dos pulsos tornará o músculo apto a responder, dependerá também da duração do seu período refratário. Este período pode variar de acordo com o músculo ou o nervo; assim, como esses tecidos têm um tempo de recuperação de 1 a 2 milisegundos após um disparo, estes não produzirão ótima tensão em repostas a estímulos maiores que 100 pps [15]. Delitto et al [5] sugerem que a EENM pode ser usada com sucesso quando as freqüências variam entre 30 e 80 pulso por segundo. O uso de freqüências de estimulação de 2.200 e 2.500 Hz pode ser atribuído aos trabalhos de Kots. Estas correntes, conhecidas popularmente como corrente russa, são administradas sob forma de envelopes a 50 Hz, o que minimizaria o desconforto sensorial na pele, e permitiria assim, uma estimulação motora de maior intensidade, resultando em maior força de contração. Estudos recentes, entretanto, têm demonstrado que não existe diferença na efetividade das contrações geradas por correntes de 2.500 Hz, comparando-as com as de baixa freqüência, quando elas são usadas para produzir contrações musculares [7,8]. Os controles de ciclo on/off (taxa de repetição de trens de pulso) Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Quando uma estimulação intermitente é requerida para um determinado programa terapêutico, é necessário que haja um mecanismo que ajuste o período de estimulação elétrica e a duração do repouso entre os períodos de estimulação. Nos programas de EENM, sobretudo quando se objetiva o fortalecimento muscular, os controles on time/off time são essenciais, já que a contração estimulada contínua do músculo esquelético leva a uma fadiga muscular muito rápida, o que implica numa queda da força gerada. O período on time de estimulação muscular para muitas aplicações são geralmente ajustados até 10 ou 15 segundos; já o off time são geralmente de 1 ou 2 minutos, sendo mais comumente praticados em 60 segundos [5]. Tem sido sugerido pela literatura que esse intervalo de aproximadamente 60 segundos é necessário após contrações de 10 segundos de duração, para prevenir fadiga muscular durante o processo de fortalecimento com EENM. Evidências sugerem que altas forças contráteis são necessárias para aumentar a força muscular (isso é, treiná-lo efetivamente); a geração desses níveis de contração apenas podem ser alcançadas usando-se altas intensidades de estimulação. Esse tipo de contração é muito fatigante e leva a uma rápida queda de força se o off time for muito curto. Significativos ganhos de força no quadríceps femural de pacientes foram conseguidos usando-se um período on time de 10 segundos, seguido por um off time de 2 minutos, com 10 a 15 contrações por sessão [16,12]. A manipulação desta variável pode também determinar o sistema energético usado e os estoques de energia disponíveis para cada contração. O exercício muscular tem como fonte energética primária o sistema de trifosfato de adenosina e fosfocreatina (ATP-PC), o qual fornece energia rapidamente durante contrações musculares máximas. A utilização da fosfagenase é esgotada em 10 a 15 segundos. Intervalos entre as contrações são necessárias para permitir o reabastecimento de deste composto e evitar a produção do ácido lático, o que adia o início do processo de fadiga; se isso não for respeitado, as contrações não poderão ser mantidas em altas intensidades. Margaria [11] 21 tem observado que o reabastecimento da fosfagenase está 50% concluído em 22 segundos de repouso; o total reabastecimento deste composto ocorrerá em torno de 2 minutos. Um estudo avaliou duas diferentes relações on/off em distintos protocolos de estimulação: em um grupo foi utilizado a relação 15 segundos on para 50 off, enquanto que no segundo foi usado 12 segundos on para 8 off. A intensidade da contração isométrica induzida eletricamente para o modelo 12/8 foi cerca de 50% da intensidade do modelo 15/50. Assim, parece que, com um período maior de estimulação elétrica, o músculo trabalha em uma intensidade de contração menor e com uma maior quantidade de fadiga. Desta forma, o modelo 15/50 seria adequado para programas que objetivassem maior produção de torque, enquanto que o modelo 12/8 seria apropriado para o desenvolvimento de uma maior resistência à fadiga [17]. Os controles de rampa Essa forma de modulação da corrente está associada com a parte on do ciclo. Com a rampa, a carga do pulso pode aumentar gradativamente dentro de um determinado período de tempo, normalmente variando de 1 a 5 segundos, permitindo então um aumento progressivo da contração muscular. Muitos estimuladores permitem também uma rampa de descida, resultando em uma diminuição gradual da carga até o fim do tempo de contração. As modulações de rampa no início e no fim do período de estimulação oferecem uma forma mais confortável de contração em uma variedade de aplicações, especialmente quando níveis de estimulação muito altos são requeridos. Em aplicações de EENM, a inclusão de um tempo de rampa de subida leva a um recrutamento gradual de unidades motoras e, como conseqüência, uma ativação gradativa das fibras musculares, o que resulta em uma elevação suave na geração de força no músculo. O início gradual de estimulação muscular produz contrações que imitam aquelas produzidas em atividades funcionais durante a ativação muscular voluntária, sendo mais confortável para o indivíduo que recebe a estimulação [3]. 22 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 A importância dos eletrodos de estimulação Um eletrodo é um material condutor que serve como interface entre o estimulador e os tecidos do paciente. Nas aplicações de EENM, os eletrodos são fixados sobre a pele, sendo assim chamados de eletrodos de superfície. O material com que este é construído, sua distribuição pelo corpo e o seu tamanho são considerados hoje condições essenciais para o desenvolvimento de uma contração muscular efetiva. Os eletrodos de estimulação usados em eletroterapia são geralmente feitos de uma borracha de silício eletricamente condutora, de polímeros condutores auto-adesivos ou ainda de metais. No caso dos eletrodos de borracha, um agente de acoplamento, como um gel, um creme ou algum líquido eletrolítico, torna-se necessário para fornecer um caminho de menor resistência à passagem da corrente elétrica. No caso de eletrodos de metal, esponjas embebidas em água são mais comumente utilizadas enquanto que os eletrodos autoadesivos são recobertos por um condutor que serve de agente de acoplamento [3]. Segundo Alon [2], um bom eletrodo deverá atender as seguintes exigências: a) Condutibilidade alta e uniforme; b) Flexibilidade para se adaptar as várias áreas do corpo; c) Durabilidade e resistência à quebra por forças mecânicas ou elétricas; d) Pressão e colocação uniforme. Lieber & Kelly [10] avaliaram os três tipos de eletrodos relacionados anteriormente, no que se refere à capacidade de geração de torque. Os eletrodos de borracha produziram o maior torque absoluto, quando comparados com os demais, apresentando maior corrente e menor impedância. Já Binder-Macleod [10] defende que a maior parte dos eletrodos utilizados na clínica, independente do tipo de material utilizado, tem uma resistência extremamente baixa, e chama atenção para outras variáveis que também podem afetar a resistência dos eletrodos, tais como o seu tamanho, o meio de acoplamento e, sobretudo, a pressão de aplicação destes sobre a pele. O autor constatou que é essencial uma pressão firme e uniforme sobre os eletrodos, para que possa haver uma condutibilidade também uniforme entre eletrodo e a pele. Se isso não for adequado, observa-se uma significativa queda na tolerância do sujeito à corrente. A intensidade da estimulação, o tamanho dos eletrodos, bem como sua adequada fixação, passam a ser, desta forma, condições essenciais para a obtenção de uma contração muscular efetiva. A área dos eletrodos necessária para a estimulação depende em parte da área de tecidos excitáveis a ser estimulada. Um eletrodo muito grande ou que foi selecionado de forma errada pode fazer com que a corrente se espalhe para as estruturas excitáveis que não o nervo ou músculo de interesse. Por outro lado, a densidade de corrente (quantidade de corrente pela área de aplicação) é inversamente proporcional ao tamanho do eletrodo. Desta forma, à medida que a área de contato do eletrodo diminui, a densidade de corrente aumenta; um eletrodo excessivamente pequeno para uma determinada área de ativação poderá assim, gerar um desconforto sensorial muito intenso, antes mesmo que uma contração muscular efetiva seja desencadeada. Na utilização da EENM sobre o músculo quadríceps femural, grandes eletrodos de estimulação (por exemplo, de 8x12 cm) normalmente são utilizados; isso reduz o desconforto por uma densidade de corrente excessiva ao mesmo tempo que garante a estimulação do grupo muscular selecionado. A colocação dos eletrodos na EENM também é decisiva para a obtenção do efeito desejado. A orientação da técnica de colocação de eletrodos mais freqüente para esses programas é a bipolar, com eletrodos iguais em tamanho; neste caso, a habilidade relativa de cada eletrodo para ativar um nervo ou um músculo será igual, quando ondas bifásicas simétricas forem aplicadas. Os protocolos de estimulação O objetivo das aplicações de EENM quando se procura o fortalecimento muscular é atingir o máximo tolerável de contrações. À medida Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 que o tratamento é continuado, a amplitude de estimulação deve ser aumentada gradualmente até que o limiar motor seja alcançado e excedido. Nas situações em que o paciente não suporte a EENM em intensidades suficientes para se produzir fortalecimento, alguns dias de adaptação podem ser necessários. Nas sessões iniciais, baixas amplitudes de estimulação são administradas por períodos de contração menores que 10 segundos. Não existe um protocolo definitivo que inclua todas as variações possíveis em um programa de fortalecimento muscular. Soo et al [18], em uma revisão na literatura disponível, observou que o número de contrações por sessão variou de seis, oito ou dez repetições, sendo que a maioria dos autores tem usado dez. O número de sessões de exercícios registrados variou de dois a cinco por semana. Em outros estudos, observam-se protocolos que incluem dez contrações de quinze segundos, três vezes por semana [15], ou cinco dias por semana [19]. Lieber et al [20] utilizou a EENM por um período de 30 minutos, consistindo de 10 segundos de contração muscular por 20 de repouso, cinco dias por semana. De uma forma geral, os protocolos normalmente envolvem estimulações em intensidades máximas durante dez a quinze segundos, seguidos por um período de repouso entre 30 e 60 segundos. O número de repetições em uma única sessão é em torno quinze, e o número de sessões diárias, pode variar de uma a três. A maioria dos estudos freqüentemente aponta para um número de três a cinco sessões por semana e o período de treinamento irá variar muito em função dos objetivos do programa, bem como das respostas do paciente frente à EENM. Conclusões A EENM constitui-se hoje em um importante recurso terapêutico, particularmente quando é associado a cinesioterapia. Entretanto, para tirar o máximo proveito na utilização destes equipamentos, o fisioterapêuta deverá ter conhecimento dos parâmetros físicos da corrente elétrica que serão manipulados, já que, as respostas fisiológicas observadas nos pacientes dependerão destes conhecimentos. 23 O fisioterapeuta clínico deve estar atento aos parâmetros a serem escolhidos frente as diferentes necessidades presentes na sua prática. Ele deve sempre observar a evolução clínica dos seus pacientes e definir os parâmetros de acordo com os critérios de fadigabilidade da musculatura em tratamento, ritmo de contração necessário, assim como as necessidades funcionais a serem estimuladas. Desta forma, o presente artigo se propôs a oferecer os conceitos fundamentais utilizados na EENM; acreditamos assim, podermos estar contribuindo com a otimização dos nossos recursos, e assim, aprimorarmos a nossa intervenção junto aos pacientes, nosso objetivo maior. Referências 1. American Physical Therapy Association. Section on Clinical Electrophysiology. Electrotherapeutic Terminology in Physical Therapy, 1990. 2. Alon G. The Principles of the Electrical Stimulation. In: Nelson RM, Hayes KW, Currier DP. Clinical Electrotherapy. 3rd. Stamford: Aplleton & Lange; 1999. 3. Robinson AJ & Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia Clínica 2ª ed. Porto Alegre (RS): Artmed Editora; 2001. 4. Kantor G, Alon G, Ho HS. The Effects of Selected Stimulus Waveforms on Pulse and Phase Characteristics at Sensory and Motor Thresholds. Physical Therapy 1994;74(10):951961. 5. Delitto A, Rose SJ, Mckowen JM, Lehman RC, Thomas JA, Shively RA. 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Acesse www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 25 Artigo original Avaliação experimental subjetiva da propriocepção em indivíduos pós-lesão de ligamento cruzado anterior submetidos ou não a procedimento de reconstrução ligamentar Experimental subjective assessment of proprioception in subjects with anterior cruciate ligament injuries submitted or not at ligament replacement Eduardo Baltasar Francisco*, Silvio Antonio Garbelotti Junior** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Acadêmico de Fisioterapia do UniFMU, Bolsista do programa de Iniciação Científica do UniFMU, **Docente das disciplinas de Anatomia Humana e Cinesiologia e Cinesiopatologia do UniFMU, Mestre em Morfologia pela UNIFESP-EPM Palavras-chave: Joelho, ligamento cruzado anterior, propriocepção. Resumo Objetivo: Propor uma avaliação da propriocepção de pós-lesão do ligamento cruzado anterior através de técnica subjetiva de baixo custo e alta reprodutibilidade. Métodos: Foram avaliados sete indivíduos submetidos e três indivíduos não submetidos à cirurgia de reconstrução para a avaliação da propriocepção. Foi necessário um goniômetro mecânico e uma ficha de avaliação para a anotação dos dados. Era pedido ao indivíduo que sentado reproduzisse 0º, 30º, 60º e 90º com pequenas pausas para a anotação dos dados e com as médias de cada joelho foi feito um estudo inferencial para determinar diferenças significantes entre o resultado esperado e observado. Resultados: Foram encontradas variações estatisticamente significativas (P>0,05) em 0º para os indivíduos com procedimento cirúrgico de reconstrução do ligamento cruzado anterior. Para os indivíduos sem cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior foram encontradas variações também significativas (P>0,05) em 0º e na passagem de 30º para 0º. Conclusão: Não há um déficit de propriocepção e sim um visível encurtamento dos músculos posteriores da coxa. Esta conclusão referente a um possível encurtamento não sugere uma exclusão do tratamento proprioceptivo durante a reabilitação, pois em nosso estudo observamos também resultados significativos. Artigo recebido 27 de dezembro de 2001, aprovado 15 de janeiro de 2001 Endereço para correspondência: Eduardo Baltasar Francisco, Rua Abagiba 237, Vila Vera, São Paulo SP, Tel: (11) 6946-4640/9799-6426, E-mail: [email protected]. 26 Key-words: Knee, Anterior Cruciate Ligament, Proprioception Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Abstract Objective: Suggest a proprioception evaluation of post-injury of Anterior Cruciate Ligament through a subjective technic of low cost and hight reproductibility. Methods: Seven subjects submitted and three non-submitted at replacement surgery were evaluated through a test with mechanical goniometer. The subjects repeated 0º, 30º, 60º and 90º of leg flexion position. For data analysis was utilized the t test. Results: Were found some significant statistics data (P > 0.05) in 0º position for both groups, and in across of 30º to 0º. Conclusion: Do not have a significant deficit on proprioception post-injury of Anterior Cruciate Ligament. The significant of data concerning the 0º position can be result of shortening muscle, the proprioceptive training do not have to be excluded because in our results we observe some significatives data (no significant, P > 0.05). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Na maioria das entorses de joelho, uma das estruturas mais comprometidas é o ligamento cruzado anterior (LCA), havendo ou não ruptura do mesmo, desestabilizando o joelho, por exemplo, o deslocamento anterior fêmur na desaceleração da marcha. O LCA não é o único a atuar na estabilização do joelho, junto a ele existem outros ligamentos que são o Ligamento cruzado posterior (LCP), Ligamento Colateral Tibial (LCT) e Ligamento colateral fibular (LCF). Durante a flexão do joelho o LCA e LCP se torcem entre si limitando a rotação exagerada da articulação. Devemos salientar que o LCA é menos forte que o LCP, por isso nos entorses de joelho é mais comum que aja uma ruptura do LCA antes do LCP. Sabe-se que esse ligamento contém inúmeros mecanorreceptores, cuja função é manter o sistema nervoso central informado ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ da posição da articulação; angulação; deslocamento; velocidade do deslocamento; além de deformações que possam resultar em lesão. Quando ocorre a ruptura, há dois tipos de tratamento, o conservador (fisioterapia) onde o quadríceps e os músculos isquiotibiais são fortalecidos permitindo ao paciente não atleta viver com essa lesão; porém em atletas o tratamento preferencial é o cirúrgico. Uma das técnicas cirúrgicas mais comuns é feita através de artroscopia e tem como objetivo retirar os feixes do LCA e substituí-lo com um retalho do tendão patelar com porções ósseas nas extremidades, da patela e da tíbia, e podendo também ser utilizada uma porção do semitendíneo. Diante desses fatores, este trabalho procura contribuir para resolução de problemas: a) O déficit proprioceptivo pós-lesão de ligamento cruzado anterior é alto suficiente para justificar a ampla utilização de exercícios propriocep- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 tivos na reabilitação fisioterapêutica? b) Sugerir um teste funcional de baixo custo e alta reprodutibilidade para avaliação inicial e acompanhamento da evolução do tratamento. 27 Fig. 1 Exemplo da Avaliação individual com uso do goniômetro mecânico Método Para este estudo foram selecionados e incluídos no grupo dez indivíduos que sofreram lesão de ligamento cruzado anterior e foram submetidos ou não a procedimento de reconstrução, sendo que nos casos de cirurgia, todas foram feitas através da técnica que utiliza um retalho do tendão patelar para substituição do ligamento lesado. O critério de inclusão foi então a capacidade de entender, por parte do indivíduo, o método de reprodução da técnica. Os indivíduos não poderiam apresentar no momento do teste quadro inflamatório agudo ou crônico já que o edema dificultaria a evolução das angulações solicitadas e o membro contra-lateral deveria ser saudável. Nesse grupo de estudo 100% dos pacientes eram destros sendo que 8 indivíduos apresentaram lesão do lado dominante e os outros 2 indivíduos apresentaram lesão do lado não dominante. O membro inferior dos pacientes estava desnudo para evitar influências dos receptores da pele. Com a ajuda do velcro do goniômetro mecânico (marca Fleximeter) conseguíamos prender com firmeza o mesmo, tendo como ponto de fixação do aparelho 2,5 cm acima do maléolo lateral. Os exames foram feitos em uma sala fechada para evitar outros tipos de influências (Fig. 1). O indivíduo era orientado a sentar com o membro inferior relaxado não podendo mais tocar o solo e foram demonstradas passivamente as seguintes angulações: 0º, 30º, 60º e 90º, as quais deveriam ser repetidas, posteriormente, apenas com o comando de voz do avaliador, o mesmo tentaria repetir as angulações solicitadas sem que fossem revelados os resultados de seu exame. Cada teste foi repetido três vezes pelo indivíduo avaliado sendo considerado a média para efeitos de dados com a intenção de diminuir o erro apresentado pelo goniômetro (5º sugerido pelo fabricante). Clínica de Fisioterapia do UniFMU/SP - 2001 A solicitação dos graus de movimento eram feitos a partir de 0º fletindo a perna para 30º, 60º e 90º, com pausas em cada ângulo para a anotação dos dados. Com a chegada à flexão de 90º pedia-se a volta repetitivamente com pausas também em cada ângulo para anotação dos dados sendo assim 60º, 30º, 0º respectivamente. Esse exame foi repetido três vezes com percepção visual do movimento pelo indivíduo e três vezes sem percepção visual do movimento pelo indivíduo. O mesmo teste foi aplicado no joelho lesado e no joelho não lesado do mesmo indivíduo. O tratamento dos dados foram feitos através da estatística descritiva e inferencial. Para cada angulação e teste foi feita a média e desvio padrão. O teste t de Student foi aplicado para determinar variações significantes dos resultados e assim comparamos o resultado obtido (t observado) com a tábua de t crítico e conseguimos analisar a Hipótese inicial (Ho) que determinava que o indivíduo fosse capaz de reproduzir os ângulos sugeridos pelo teste. Foram considerados resultados significativos, porém não significantes estatisticamente (P < 0,05), médias observadas com diferenças maiores do que 5º em relação ao esperado. Resultados Tivemos como primeiro resultado as médias para cada joelho e ângulo esperado com e sem percepção visual. Apresentados nas tabelas 1 e 2 a seguir: 28 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Tabela 1 - Média das angulações com percepção visual Grau Joelho Joelho Joelho esperado com Cirurgia sem Cirurgia Saudável 0º 30º 60º 90º 60º 30º 0º 6,29 ± 1,60 32,57 ± 5,01 60,14 ±4,69 91,86 ± 4,22 60,00 ± 4,15 37,00 ± 6,97 2,86 ± 1,70 11,67 ± 5,77 28,67 ± 6,03 62,67 ± 15,53 91,67 ± 2,89 56,00 ± 9,54 37,67 ± 11,24 4,00 ± 4,00 4,65 ± 0,80 31,27 ± 1,51 60,34 ± 5,71 88,77 ± 1,64 62,65 ± 2,67 38,05 ± 1,32 6,86 ± 1,03 Dados apresentados em média ± desvio padrão; valores apresentados em graus. Tabela 2 - Média das angulações sem percepção visual Grau Joelho Joelho Joelho esperado com Cirurgia sem Cirurgia Saudável 0º 30º 60º 90º 60º 30º 0º 7,57 ± 6,68 32,43 ± 12,82 61,71 ± 14,76 84,43 ± 7,74 60,43 ± 4,35 35,00 ± 5,83 4,86 ± 4,38 13,67 ± 1,15 28,33 ± 9,61 62,67 ± 6,43 88,67 ± 2,31 54,67 ± 4,04 33,33 ± 2,89 8,67 ± 5,13 6,12 ± 1,58 25,36 ± 7,43 56,84 ± 14,17 84,31 ± 4,48 55,29 ± 14,76 35,45 ± 14,72 7,17 ± 2,79 Dados apresentados em média ± desvio padrão; valores apresentados em graus Tabela 3 Hipótese inicial (Ho) dos indivíduos com percepção visual. Grau esperado Joelho Joelho Joelho com Cirurgia sem Cirurgia Saudável 0º 30º 60º 90º 60º 30º 0º rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita rejeita rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita rejeita rejeita Teste t para P = 0,05. Tabela 4 Hipótese inicial (Ho) dos indivíduos sem percepção visual. Grau esperado Joelho Joelho Joelho com Cirurgia sem Cirurgia Saudável 0º 30º 60º 90º 60º 30º 0º rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita rejeita Teste t para P = 0,05. rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita não rejeita rejeita Ao aplicarmos o teste t encontramos algumas variações significantes (P > 0,05) das angulações esperadas nos indivíduos com percepção visual. Sendo a escala proposta de reprodução das angulações para cada indivíduo de 0º, 30º, 60º, 90º, 60º, 30º e 0º, respectivamente, observamos que no grau esperado de valor de 0º, em qualquer passagem, tivemos variações significativas (P > 0,05), excluindo apenas o joelho sem cirurgia durante o retorno do movimento, em todos os protocolos avaliados (Tabela 3) e também tivemos um valor significante (P > 0,05) na passagem de 30º para 0º, no retorno do movimento do joelho saudável. E por final encontramos também variações significantes (P > 0,05) das angulações esperadas sendo em 0º em qualquer passagem novamente durante o retorno do movimento (Tabela 4). Discussão De modo geral, não foi observado déficit proprioceptivo estatisticamente significativo (P > 0,05) nos indivíduos analisados. Apesar de alguns resultados serem significativos (P < 0,05), como, por exemplo, a posição de 90º dos joelhos não lesados sem percepção visual, pois utilizamos a margem de erro do fabricante do goniômetro e também sugerida por Kaplan et al. como sendo de 5º. Os resultados que apresentaram significância estatística (P > 0,05) se referem às reproduções de 0º. Os dados foram provavelmente influenciados por um visível encurtamento dos músculos posteriores da coxa apresentado por grande parte dos indivíduos avaliados e assim podendo sugerir um fortalecimento de quadríceps já que a articulação do joelho é mais instável em 60º segundo Fuchs et al. É um dado muito interessante apresentado por Fuchs et al. que explicam que a perda da capacidade proprioceptiva não ocorre somente por perda dos receptores das articulações decorrente da ruptura do ligamento cruzado anterior. Ocorre também perda dos receptores musculares devido a atrofia, mas, como citado anteriormente, os dados significativos em nosso estudo mostram um possível encurtamento, ou seja, um desuso dos músculos posteriores da coxa acontecendo então Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 uma hipotrofia muscular, seguindo o padrão de atrofia dos receptores musculares. Nossos resultados, portanto, revelou uma técnica eficiente, merecedora, de trabalhos de desenvolvimento e aplicabilidade da técnica com amostras maiores. Alguns fatores influenciaram negativamente o trabalho tais como dificuldade em conseguir indivíduos dispostos a participar do teste e um curto período para estudo. Estes fatores resultaram em uma amostra pequena (n < 30), nos incentivando a sugerir uma continuação do trabalho com a inclusão de algumas outras variáveis como, por exemplo, a fadiga muscular como fator de influência negativa da propriocepção como relatado por Hiemstra et al. Conclusão Quando há uma ruptura do ligamento cruzado anterior podendo ou não haver intervenção cirúrgica de reconstrução ligamentar, não há um déficit significativo de propriocepção e sim um visível encurtamento dos músculos posteriores da coxa. No que se refere a um possível encurtamento não sugerimos uma exclusão do tratamento proprioceptivo durante a reabilitação, pois em nosso estudo observamos também alguns resultados significativos (P < 0,05). Sem dúvida o fortalecimento e alongamento são imprescindíveis e deve ser enfatizada nos protocolos de reabilitação fisioterapêutica. 29 Referências 1. Abbott LC, Saunders JB, Bost fc, Anderson CE. Injuries to the ligaments of the knee joint. 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São Paulo: Manole, 1991. 30 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Artigo original Avaliação da força de preensão palmar dos alunos de quarto e primeiro anos do curso de fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo Assessment of grip strength among university students of the fourth and first year graduation of Physical Therapy of the University City of São Paulo Laís Pelissoni Vicente*, Andrea Lopes Gallinaro** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Acadêmica do quarto ano do Curso de Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), monitora da disciplina de Neurologia, **Mestre em reabilitação em reumatologia pela UNIFESP, prof. de fisioterapia reumatologica na UNICID Palavras-chave: força, preensão palmar, alunos, fisioterapia. Resumo O propósito deste estudo foi avaliar se houve diferença da força de preensão palmar de 50 alunos do quarto, comparados com 50 alunos do primeiro ano do curso de Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo. O Dinamômetro Jamar foi usado para mensurar a força de preensão palmar sendo posicionado em cinco manoplas sucessivas. Dos participantes da avaliação 2 eram do sexo masculino e 98 do sexo feminino. O teste foi realizado na Universidade Cidade de São Paulo, com posições e instruções padronizadas. Os resultados deste estudo revelaram que houve aumento estatisticamente significativo de força de preensão palmar dos alunos do quarto comparados com os do primeiro ano, para primeira, segunda, quarta e quinta manoplas da mão direita e para todas as manoplas da mão esquerda. Artigo recebido 5 de janeiro; aprovado 15 de fevereiro. Endereço para correspondência: Laís Pelissoni Vicente, Rua Joaquim Antunes, 977 apto 34, Pinheiros 05415-012 São Paulo SP Tel: (11) 3814-4755, E-mail: [email protected] Andrea Lopes Gallinaro, Rua Rio Grande 321 ap 61, Vila Mariana, 04018-000 São Paulo SP Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Key-words: strenght, grip, students, physical therapy. 31 Abstract The purpose of this study was to evaluate if had difference of the grip strength among university students of the fourth and first year gradation of Physical Therapy of the University City of São Paulo. The Jamar dynamometer was used to measure grip strength using standardized positioning and instructions. A sample of 2 males and 98 females was analyzed. Results of this study indicate that students of fourth year are stronger than students of first year to first, second, fourth and fifth position of the dominant hand (right) and to all positions of no dominant hand (left). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A Fisioterapia é uma ciência aplicada e um campo de atuação profissional cujo principal objeto de estudo é o movimento humano. Usa de recursos próprios, sendo consideradas as capacidades iniciais do indivíduo, tanto as físicas e psíquicas, como as sociais. Busca promover, aperfeiçoar ou adaptar essas capacidades, estabelecendo, assim, um processo terapêutico que envolve terapeuta, paciente e recursos físicos e/ou naturais, racionalmente empregados [2,1,13]. Durante a graduação de fisioterapia, ocorre o desenvolvimento das habilidades manuais, ou seja, as mãos são treinadas e propiciam a execução dos manuseios específicos para cada tipo de tratamento. O tipo de preensão mais utilizada pelo fisioterapeuta é a força de preensão palmar plena com os cinco dedos segurando o objeto em contato com a palma da mão. A força de preensão é bastante importante para execução e precisão dos manuseios. Ela orienta a aplicação correta de determinadas técnicas assim como o posicionamento dos pacientes, o que favorece o sucesso em diversos tratamentos. Mathiowetz et al. [9] fizeram um estudo com o propósito de estabelecer valores normais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ clínicos em 638 adultos de 20 a 75 anos de idade em quatro testes de força manual. Os resultados mais altos para força de preensão ocorreram nos grupos etários de 25 a 39 anos sendo que em homens os valores foram 121 e 104 libras (1 libra = 0,454 kg) para a mão direita e esquerda, respectivamente e para as mulheres 70 e 61 libras, em média, para a mão direita e esquerda, respectivamente. A força de preensão é aplicada na maioria dos manuseios não estereotipados, o que sugere que a partir da prática clínica ocorre seu aumento. Partindo do pressuposto de que no quarto ano de fisioterapia ocorre o aumento da força de preensão, quando comparado com o primeiro ano, imagina-se que o indivíduo desenvolve força muscular com a prática (através de aulas de massoterapia, cinesioterapia e outras), que vem sendo executada desde o segundo ano. O presente trabalho tem como objetivo identificar e analisar a existência de diferença entre a força de preensão palmar dos alunos do quarto comparados com os do primeiro ano de fisioterapia. Material e método Foram avaliados 100 alunos do curso de Fisioterapia da Universidade Cidade de São Paulo, sendo 50 alunos do quarto ano e 50 alunos 32 do primeiro ano. Estes foram escolhidos de forma casual tanto na Clínica de Fisioterapia (na última semana do estágio supervisionado do quarto ano), quanto na sala de aula dos alunos do primeiro ano (durante a quarta semana de aula março/2001). A avaliação foi feita por um único terapeuta previamente treinado para o manuseio do dinamômetro Jamar. Inicialmente foi aplicado um questionário constando de nome, sexo, idade, grupo étnico, dominância manual, atividade física, dor, patologia e grupo socioeconômico. Foram excluídos todos os participantes que tivessem alguma disfunção neuromuscular prévia ou lesão músculo-esquelética, trauma que afetassem a força da mão significativamente. A mensuração foi efetuada em ambas as mãos, direita e esquerda, começando sempre pela mão dominante do aluno. A avaliação da força de preensão foi realizada com o aparelho Jamar PC 503051 (Bissell Health Company) que é um dinamômetro manual altamente sensível, com margem de erro de 5% trazendo dados quantitativos e objetivos sobre o grupo muscular responsável pela preensão. Antes da execução da avaliação foi verificada a calibragem do aparelho. Para efetividade da avaliação foi necessário determinar a dominância manual do aluno e tal mensuração foi feita bilateralmente. A mão dominante foi testada primeiro. O aluno foi posicionado em local com temperatura ambiente, iluminado, sentado confortavelmente em uma maca com o posicionamento do membro avaliado segundo mostra a Figura 1. As manoplas foram ajustadas aleatoriamente e o teste foi realizado alternadamente nas mãos para evitar fadiga. O comando verbal foi importante para que o aluno executasse de forma precisa e correta o teste. Antes da avaliação a examinadora orientou e demonstrou ao aluno como executar o teste [11]. Resultados e discussão No presente estudo foram avaliados 100 alunos do curso de Fisioterapia, sendo 50 alunos do quarto ano e 50 alunos do primeiro ano. Todos, previamente responderam um questionário. Os alunos tinham em média a mesma faixa etária, variando entre 17 e 24 anos, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 sexo, a maior parte composta pelo sexo feminino, havendo dois do sexo masculino, um do primeiro ano e outro do quarto ano, grupo étnico, com a totalidade composta por brancos e o padrão socioeconômico variando de classe média para alta. Analisando os 50 alunos do quarto ano de Fisioterapia abordados casualmente, verificase que 99% eram do sexo feminino, brancos de classe média-alta, com idade média de 22 anos. Apenas 14% dos alunos praticavam algum tipo de atividade física, sendo os praticantes em sua totalidade eram do sexo feminino. Na amostra 96% eram destros e o relato de dor em membros superiores foi verificado em 28% dos alunos, sendo na musculatura extensora de punho a mais referida, principalmente na mão direita. Quanto à patologia de membros superiores, 30 % dos alunos apresentaram algum tipo de acometimento, destacando-se a tendinite em punho e dedos tanto na mão dominante como na mão não dominante. Figura 1: Avaliação da força de preensão palmar: posicionamento do antebraço, punho e mão para a avaliação. Fonte: [9] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Além dos alunos do quarto ano, também foram avaliados 50 alunos do primeiro ano do curso de Fisioterapia. A partir dos dados obtidos foi possível verificar que 99% dos indivíduos eram do sexo feminino, brancos de classe média-alta com idade média de 18 anos. Apenas 28% dos alunos, praticavam algum tipo de atividade física. Em relação à mão dominante, 94% dos alunos são destros e o relato de dor em membros superiores foi referido em 18% dos alunos, principalmente na região de punho e dedos bilateralmente. A incidência de patologia em membros superiores foi constatada em 20% dos alunos, destacando-se a tendinite em dedos bilateralmente. A partir da identificação dos alunos do quarto e primeiro anos de fisioterapia, verifica-se que a grande maioria, nos dois grupos, é composta por sujeitos do sexo feminino, 98%, os 2% restante sendo do sexo masculino. Foi verificada diferença entre a força manual dos homens avaliados, em relação à força muscular das mulheres. A diferença de força da mão dominante dos alunos em relação às alunas do quarto e primeiro anos foi de 50 libras. Contudo, em ambos grupos de alunos do curso de Fisioterapia, a maioria é do sexo feminino, o que confere ao sexo feminino a definição da alteração da força muscular neste trabalho. Em relação à idade dos alunos do primeiro ano, constata-se a média de 18 anos, porém, nos alunos do quarto ano, a média foi 22 anos. A média total de idade dos sujeitos participantes do presente estudo foi 20 anos. Entretanto, a idade dos sujeitos se enquadra na afirmação de que o indivíduo ganha força muscular entre a idade de 20-30 anos e também com os maiores valores nessa faixa etária, isto citado de acordo com os estudos de [17,9,14,15]. Em relação à atividade física, 28% dos alunos do primeiro ano e 14% dos alunos do quarto ano realizam algum tipo de atividade física. No presente estudo, tais alunos não apresentaram uma força de preensão mais elevada quando comparados aos alunos que não praticavam alguma atividade, por isso a mesma não interferiu nos valores de força. O relato espontâneo de dor em membros superiores também é uma variável que interfere nos valores da avaliação da força de preensão, porém a mesma não é considerável e nem 33 mesmo exageradamente presente nos sujeitos avaliados. A dor estava presente em 18% dos alunos do primeiro ano e 28% presente nos alunos do quarto ano. Verifica-se maior presença nos alunos do quarto ano que, por estarem no último ano da graduação e passando pelo estágio supervisionado, estes apresentam dor em membros superiores pelo trabalho contínuo com as mãos ou também por apresentarem distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Já os alunos do primeiro ano, não realizam a prática em Fisioterapia, o que pode sugerir a ausência de habilidade nos manuseios e conseqüentemente menor surto de dor em membros superiores. A incidência de patologia em membros superiores deve ser considerada, pois também pode interferir nos resultados da avaliação da força de preensão. Couto et al. [3] citaram que os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho com acometimento dos membros superiores são ocasionados pela utilização biomecanicamente incorreta dos membros superiores, que resultam em dor, fadiga, perda da performance e por fim incapacidade funcional. Nos alunos do primeiro ano, 20% apresentou algum tipo de alteração, sendo a mais presente a tendinite em mãos, punhos e antebraços. Já os alunos do quarto ano, 30% apresentou algum tipo de patologia, destacando a tendinite de mãos, punhos e antebraços e também presença de cisto sinovial em metacarpos. A dominância manual também foi um fator considerado, visto que a maioria dos sujeitos do primeiro ano, 94%, e do quarto ano, 96%, tem como mão dominante a direita, o que demonstra que a amostra avaliada é composta em quase sua totalidade por destros. Um sujeito do primeiro ano apresentou dominância tanto com a mão direita quanto com a mão esquerda. Durante a realização da avaliação com o dinamômetro manual Jamar, alguns alunos do quarto ano, 24% referiram que o aparelho era incômodo, apresentando dor principalmente em região tenar e no centro da palma da mão (do 3º metacarpo para região tênar). Comentaram que o apoio do dinamômetro era muito duro e desconfortável. Os alunos do primeiro ano não sentiram incômodo durante o teste e não relataram qualquer tipo de dor à execução do teste. 34 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Para análise estatística dos dados colhidos na avaliação da força de preensão palmar bilateral foi feita uma tabela com os valores das cinco manoplas da mão direita, assim como com os valores das cinco manoplas da mão esquerda dos alunos do quarto e primeiro anos do curso de Fisioterapia. Em seguida, foram somados os valores da mão direita de cada manopla e de cada grupo e calculada a média e o desvio padrão (DP). O mesmo se procedeu com a mão esquerda. Por fim, foi aplicado o teste estatístico t-student com p < 0,05 podendo ser visualizado na Tabela 1. Tabela 1 - Valores das médias, desvios padrões e Teste tstudent dos alunos do 1º e 4º anos de Fisioterapia, em libras. ANO Média Desvio Padrão Teste T -student MD1 MD2 MD3 MD4 MD5 ME1 ME2 ME3 ME4 ME5 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 1 4 45,72 46,16 63,32 66,86 56,46 62,26 49,34 53,66 39,38 43,22 40,28 43,66 57,5 58,94 51,4 54,94 43,96 47,16 35,32 38,64 9,2539 10,1908 12,8069 13,7692 11,4236 13,3826 11,4493 13,6884 10,1235 11,5781 8,4637 11,2714 12,554 13,9378 11,6426 12,7574 10,3035 9,8527 8,7725 9,2511 manoplas apresentaram significância estatística, porém em ordem decrescente de força, a segunda manopla foi a que apresentou maior diferença estatística seguido da terceira, quarta, primeira e quinta manoplas. A dominância manual também deve ser considerada. Foi aplicado o teste t-student entre a mão direita e esquerda de ambos os grupos. Os resultados podem se verificados de acordo com a Tabela 2. Tabela 2 - Teste t-student aplicado entre a mão direita e a mão esquerda do primeiro e quarto anos, em pounds. Ano Mão Média DP Teste T Primeiro Primeiro Primeiro 0,821659 Primeiro 0,186229 Primeiro 0,021861 Quarto 0,090203 Quarto 0,080651 Quarto 0,093382 Quarto 0,588496 Quarto 0,150471 0,115694 MD1 ME1 MD2 ME2 MD3 ME3 MD4 ME4 MD5 ME5 MD1 ME1 MD2 ME2 MD3 ME3 MD4 ME4 MD5 ME5 45,72 40,28 63,32 57,5 56,46 51,4 49,34 43,96 39,38 35,32 46,16 43,66 66,86 58,94 62,26 54,94 53,66 47,16 43,22 38,64 9,2539 8,4637 12,8069 12,554 11,4236 11,6426 11,4493 10,3035 10,1235 8,7725 10,1908 11,2714 13,7692 13,9378 13,3826 12,7574 13,6884 9,8527 11,5781 9,2511 0,00140 0,011941 0,015315 0,007633 0,017314 0,12377 0,002601 0,00308 0,003806 0,015686 MD = mão direita; ME = mão esquerda; DP = desvio padrão; 1,2,3,4,5 = número das manoplas. p<0,05 0,068599 MD = mão direita; ME = mão esquerda; 1,2,3,4,5 = manoplas do aparelho Jamar; p < 0,05. Foi possível constatar que todas as médias de força de preensão do quarto ano, para todas as manoplas, tanto das medidas da mão direita quanto das medidas da mão esquerda foi maior, quando comparadas com o primeiro ano. Foi aplicado o teste t-student sendo constatado que o quarto ano para mão direita, em ordem decrescente de força, a primeira manopla foi a que apresentou maior diferença estatística em relação ao primeiro ano. Em seguida, a segunda, quarta e quinta manoplas. Já a terceira manopla não apresentou significância estatística. Na mão esquerda, todas as Na Tabela 2 foi possível constatar que todas as médias da mão direita foram maiores do que as da mão esquerda. A partir das médias obtidas, essas sugerem que a mão direita foi mais forte que a mão esquerda. Porém, a significância só pôde ser verificada com a aplicação do teste t-student com p<0,05. Para os alunos do primeiro ano, a mão direita não apresentou diferença significante de força em relação à mão esquerda para todas as manoplas. Para os alunos do quarto ano, a mão direita somente apresentou diferença significante de força em relação à mão esquerda para a primeira manopla. As demais forças da segunda, terceira, quarta e quinta manoplas foram semelhantes entre a mão direita e a mão esquerda. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Conclusão Os valores resultantes da avaliação da força de preensão palmar para mão direita dos alunos do quarto ano foram estatisticamente maiores, em ordem decrescente de força, para primeira, segunda, quarta e quinta manoplas quando comparados com os alunos do primeiro ano. Em relação à mão esquerda, todas as manoplas apresentaram diferença estatisticamente significativa, sendo destacada em ordem decrescente de força, a segunda, terceira, quarta, primeira e quinta manoplas. Confirma-se então a hipótese de que os alunos do quarto ano apresentam um aumento da força de preensão palmar quando comparados com os alunos do primeiro ano do curso de Fisioterapia. O estudo demonstrou o quanto a força de preensão palmar foi treinada e trabalhada durante a graduação para o ganho das habilidades manuais necessárias para execução correta das diversas técnicas fisioterapêuticas, principalmente no último ano durante as 816 horas de estágio prático e que talvez a manutenção deste treinamento seja fundamental para evitar os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. Referências 1. Brasil. Resolução nº4, de 28 de fevereiro de 1983. Fixa os mínimos de conteúdo e duração dos cursos de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 7 mar.1983.Seção I, p.3630. 2. Castro CES A fisioterapia e o atual modelo médico. 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São Paulo: Roca, 1983. 36 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Artigo original Goniometria: sua prática e controvérsias Goniometer: Its practice and controversies Marcos Antonio Tedeschi* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapeuta estatutário da Prefeitura de São José dos Pinhais PR, Professor estatutário da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Coordenador dos cursos de Fisioterapia e Administração da Faculdade Dom Bosco de Curitiba Palavras-chave: Articulações humanas, arcos de movimento, profissionais da saúde. Key-words: Human articulations, Movement arches, Health Professionals. Resumo Este artigo aborda uma das técnicas mais praticadas como medida dos ângulos das articulações humanas, a goniometria. Coloca a importância deste recurso para os profissionais da saúde e outros, bem como discute dois grandes conflitos: o da unidade de medida e da nomenclatura dos arcos de movimento voluntário humanos. Ao final fornece uma proposta niveladora para o conflito. Abstract This article approaches one of the techniques more practiced as measure of the angles of the human articulations, the goniometric. It places the importance of this resource for the professionals of the health and other, as well as it discusses two great conflicts: the one of the unit of measure and of the nomenclature of the human arches of voluntary movement. At the end it supplies a leveling proposal for the conflict. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Artigo recebido 10 de janeiro; aprovado 15 de fevereiro. Endereço para correspondância: Marcos Antonio Tedeschi, Rua Avenida Água Verde 766, Bairro Água Verde, 80620-200 Curitiba PR, Tel: (41) 423-1147, E-mail: [email protected] ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Introdução O conhecimento das amplitudes normais das articulações e importante não só para os profissionais da área da saúde, mas também para os anatomistas, os educadores físicos e os engenheiros analistas dos movimentos e espaços humanos. A compreensão e mensuração dos movimentos normais e anormais, das articulações é a chave para o entendimento da anatomia funcional constitui o fundamento para o estudo da cinesiologia e da biomecânica. A goniometria é um mito dos mais utilizados para medir os ângulos articulares do corpo, como escrito na sua etimologia grega gonion = normal de ou angular e metro = medida. A inserção desta escrita, ocorre ao pesquisar as medidas dos ângulos e movimentos do corpo humano, onde foi envolvendo diversos padrões diferentes entre um autor e outro, levando a questionar sobre os conflitos encontrados. A necessidade de discutir este assunto reside na tentativa de padronizar ou utilizar a padronização existente, eliminando diversos conflitos de interpretação e melhorando a compreensão sobre o assunto goniometria. Apresenta-se, neste artigo, dois conflitos: o primeiro em relação a unidade de medida do ângulo e o segundo, a nomenclatura a partir da formação do arco de movimento voluntário, bem como uma sugestão para amenizá-los. Os instrumentos de mensuração Para Moore (1980) existem diversos instrumentos e métodos utilizados para analisar os arcos de movimentos humanos, relatando as diversas confusões sobre as unidades de medidas e métodos propostos através dos anos. Os instrumentos para medir amplitudes articulares podem variar desde os complicados aparelhos utilizados pelos anatomistas e investigadores ocupados com problemas fundamentais da cinesiologia humana, até dispositivos simples, tendo como alguns exemplos: o prumo para medição das articulações dos ombros, artrômetros para cotovelos, flexímetros para os dedos das mãos, cinema- 37 diografia, manivelas, goniometros elétricos, cinemadioscopia, goniometria de bolha de ar (parecido com um relógio de pulso), entre outros. O instrumento mais utilizado para medir os ângulos dos arcos de movimentos humanos na área da saúde é o goniômetro, pois apresenta algumas vantagens em relação a outros instrumentos como: ser de fácil manuseio, baixo custo de aquisição, facilidade de captação e reposição, possibilita uma tomada de decisão eficiente e dependendo da qualidade do goniômetro eficaz (dependendo do tamanho das hastes, da precisão da escala e habilidade do aferidor). O goniômetro comumente usado é o chamado goniômetro universal (Marques, 1997), sendo constituído de um transferidor ao centro com um círculo completo apresentado o sistema de unidade de medida graus (º) indo de 0º à 360º ou meio círculo indo de 0º à 180º, com dois braços, um sendo fixo e um móvel, que acompanha o movimento solicitado, pode ser confeccionado de metal, madeira, plástico (PVC ou acrílico) ou de osso. As unidades de medida A divisão do círculo em 360 partes iguais não possui qualquer razão científica. Talvez seja mais de razão histórica, pois o povo babilônio, que viveu entre 4000 e 3000 a.C., realizava estudos em dimensões de terrenos e construções através do sistema hexagonal, ou seja, na base 60, mas o primeiro astrônomo grego a dividir em 360 partes um círculo foi Hipsicles (180 a.C.). Em relação à unidade de medida do arco do movimento, Marques (1997) relata que na década de 50, a maioria das escolas de terapia dos Estados Unidos já adotava a escala de 0º à 180º, confirmado por Shestack (1979) a utilização do grau como medida dos ângulos articulares. Este fato decorre que em 1923 ocorreu a publicação pela Associação Ortopédica Americana e defendida pela Associação Médica Americana e a Administração de Veteranos, onde a unidade de medida do movimento articular humano seria o grau a partir de 0º e este seria a posição anatômica ereta, ou seja, 38 de pé, com os pés no solo em angulo reto com a perna, e as palmas das mãos estando voltadas para a frente (posição neutra). No início de todos os estudos de qualquer assunto que derive de fatores de ordem quantitativos, conta na História a existência de uma profusão de unidades diversas, criadas por civilizações antigas, variáveis de países a países ou mesmo dentro de um mesmo país ou região. O Sistema Métrico, por exemplo, foi o primeiro sistema racional de unidades, mais perto da nossa época e fruto da Revolução Francesa, tendo a sua internacionalização causada pela Convenção do Metro, em 20 de maio de 1875, com um Tratado que criou o Bureau Internacional de Pesos e Medidas BIPM, situado desde essa data na França, no Pavilhão de Breteuil, em Sèvres. Oficialmente, sua relevância aconteceu por ocasião da XIo Conferência Geral de Pesos e Medidas, em 1960, tendo o aval dos mais importantes países e por isso, podendo ser chamado de Sistema Internacional de Unidades SI, compreendendo duas classes de unidades: - As unidades de base: metro, quilograma, segundo, ampère, kelvin, mol e candela; - As unidades derivadas: como, por exemplo: metro por segundo e volt. Compreendem também, as unidades derivadas adimensionais: radiano e esteroradiano. O radiano foi uma unidade alternativa criada pelo matemático Thomas Muir e o físico James T. Thompson, de uma forma independente. O termo radian apareceu pela primeira vez em um trabalho de Thompson em 1873. Contudo, mesmo a maioria dos países tendo aderido ao SI na XI Conferência Mundial de Peso e Medidas, desde 1960, onde o radiano foi definido como unidade universal de ângulo, a maioria dos autores brasileiros e internacionais continua utilizando o sistema de graus como unidade de ângulo. Como exemplo tem-se os fisioterapeutas alemães D. Eitner, W. Kuprian, L. Meissner e H. Ork, todos tendo trabalhado nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972, e dirigentes de entidades de pesquisa da Alemanha utilizam o graus como medida de ângulo (KUPRIAN, 1984). Hamill e Knutzen (1999), pesquisadores norte-americanos, embora citem a SI em seu Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 livro no anexo C (pg. 514), utilizam o grau como unidade de medida dos ângulos em suas revisões anatômicas funcionais dos membros superior, inferior e tronco (pg. 143-326) e Lippert (1996), fisioterapeuta e diretor do programa de fisioterapia do Colégio Greshan, Oregan, também utiliza o grau em sua obra (p. 97-262). Nesta mesma tendência os fisioterapeutas brasileiros também utilizam o grau como unidade de medida de ângulo, podendo-se citar Marques (1997), em Manual de goniometria e Fornasari (2001), em Manual para estado da cinesiologia. Apenas foi encontrado em Enoka (2000) a utilização do radiano como unidade de medida do ângulo em toda sua obra sobre as bases neuromecânicas da Cinesiologia. Ao final deste é apresentada a tabela adaptada sobre os movimentos das principais articulações do corpo humano de Enoka (2000, p. 125). As nomenclaturas dos arcos de movimentos voluntários do corpo humano Com relação aos conflitos na nomenclatura a partir da formação do arco de movimento voluntário, temos duas posições bem definidas, aqueles que adotam como referências os planos anatômicos, ou seja sagital, coronal e transversal; e os que adotam a ação do músculo agonista no movimento e/ou o conceito físico do movimento da alavanca. Para o primeiro grupo de autores, onde predominantemente encontram-se os fisioterapeutas brasileiros (Marques, 1997) (Fornasari, 2001), a nomenclatura do arco do movimento está no plano onde o segmento se encontra, ou seja, a frente do plano coronal (plano que passa sobre a sutura coronal do crânio; divide o corpo em anterior e posterior) à partir da posição neutra, é determinado como flexão e para trás do mesmo à partir da posição neutra, como extensão; no plano sagital (plano que passa sobre a sutura sagital do crânio; divide o corpo em direito e esquerdo) à partir da posição neutra, é determinado que o movimento que se aproxime deste plano seja adução e o afastamento a partir da posição neutra de abdução. Porém, neste último plano nas articulações do carpo (mãos) passa para Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 desvio ulnar e radial, no tarso (pés) de inversão e eversão, e inclinação lateral direta e esquerda (tronco). O terceiro plano é o transversal o qual divide o corpo em duas porções; mais próxima do solo como inferior e distante do mesmo como superior, onde temos os movimentos articulares voluntários de rotação interna e externa (ombro e coxa), rotação para direita e esquerda (tronco), e supinação e pronação (antebraço). Ocorre ainda, segundo Tortora (2000), os movimentos especiais como a elevação e depressão, como na mandíbula e escápula; e a flexão plantar e dorsal do pé. O segundo grupo de pesquisadores, principalmente estudiosos norte-americanos em Biomecânica (Hamil e Knutzen, Tortora, Lippert), estabelecem o nome do arco do movimento sobre os preceitos físicos ou o músculo agonista (que esta realizando o movimento). Ou seja, para o plano sagital com eixo frontal (coronal): flexão é o ato de dobrar ou diminuição do ângulo entre duas hastes comunicantes (vértice) ou ação dos músculos flexores com afastamento da posição neutra; extensão é a ampliação, dilatação, aumento da dimensão ou aumento do ângulo entre duas hastes comunicantes ou ação dos músculos extensores com aproximação da posição neutra; e hiperextensão: aumento da dimensão no sentido posterior ao plano de referência. Para o plano frontal com eixo sagital abdução, desvio radial e eversão para o afastamento do plano e adução, desvio ulnar e inversão para a aproximação do plano. E finalmente, para o plano transversal com eixo vertical, rotação interna (medial) e pronação para a aproximação do plano e rotação externa (lateral) e supinação para o afastamento do plano referido. Em concordância os dois grupos têm a nomenclatura das articulações do tipo diartrose plana (ossos do carpo, tarso, clavícula e externo), diartrose gínglimo (joelho e cotovelo) diartrose trocóide (extremidades proximais do rádio e da ulna), diartrose elipsoíde/condilar (punho), diartrose em sela (entre o trapézio do carpo e o metacarpal), sendo todas estas articulações com um ou dois graus de liberdade de movimento. A também concordância nas articulações do tipo anfiartrose. 39 A discordância está nas diartroses esferóide/cotilóide (ombro e quadril), ambas com três graus de livres, ou seja, por sua forma anatômica com superfície articular óssea semelhante a uma bola ou maçaneta, ajustada a uma depressão semelhante a um copo em um osso, permite que a mesma tenha arco de movimentos voluntários em todos os três planos já citados. Autores como Tortora, Lippert, Hamil Knutzen relatam a existência de uma hiperextensão para a articulação do ombro e do quadril, considerando extensão apenas o retorno à posição neutra. A hiperextensão, neste caso, é considerada o arco de movimento voluntário realizado nas articulações glenoumeral e coxofemural no plano sagital, eixo frontal, e sentido posterior, com formação de um ângulo normalmente em torno de 0,8 rad (45º) e 0,18 rad (10º), respectivamente (1 rad é aproximadamente 57,3°). A maior indagação a estes autores está na seguinte pergunta: se o retorno a posição neutra após uma flexão é uma extensão, qual o nome do retorno da hiperextensão? Será uma hipoflexão? Caso esta lógica de adotar o conceito físico puro para a determinação do arco de movimento voluntário ou a ação dos músculos agonistas para determinar o nome do movimento esteja correta, seria necessário estende-la para os outros planos. Assim teríamos, no plano coronal a existência da hiperadução e hipoabdução quando os membros tivessem o arco do movimento a partir da posição neutra em direção a linha mediana (coronal) e também, a existência de uma hiper rotação interna e hipo-rotação externa quando os membros tivessem o arco do movimento à partir da posição neutra em direta a linha mediana no plano transversal. Conclusão As propostas sugeridas neste artigo são: 1) A criação de uma campanha para a utilização do radiano como unidade de medida de ângulo plano, junto as Faculdades com curso da área da saúde. Como também, junto às empresas que produzem e fazem a comercialização dos goniômetros, que incluam junto ao 40 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Tabela 1. Movimento das principais articulações do corpo humano. Segmentos Articulações Graus de Liberdade Cabeça Intervertebral 3 Atlantoaxial 1 Tronco Intervertebral Ombro Arco do movimento em Radiano Graus Flexão Extensão Lateralização D/E Rotação D/E Rotação D/E 1,13 0,87 0,70 0,95 0,80 65 50 40 55 45 3 Flexão Extensão Lateralização D/E Rotação D/E 1,66 0,61 0,70 0,61 95 35 40 35 Esternoclavicular Acromioclavicular Glenoumeral Escapulotorácica 3 Flexão Extensão Abdução Adução Rotação medial Rotação Lateral Elevação Depressão 3,14 0,79 3,14 0,70 1,57 1,57 0,35 0,09 180 45 180 40 90 90 20 5 Braço Cubital/ cotovelo 1 Antebraço Radio-ulnar 1 Flexão Extensão Pronação Supinação 2,53 2,53 1,20 1,57 0-145 145-0 70 90 Mão Punho 2 Flexão Extensão Desvio radial Desvio ulnar 1,57 1,22 0,35 0,79 90 70 20 45 Dedos Metacarpofalangeana 2 Interfalângica 1 Flexão Extensão Abdução Adução Flexão Extensão 1,57 0,52 0,35 0,35 1,92 0,17 90 30 20 20 110 10 Polegar Carpometacárpica 2 Flexão Extensão Abdução Adução Oposição 0,26 1,22 1,22 1,22 1,57 15 70 70 70 90 Coxa Quadril 3 Flexão Extensão Abdução Adução Rotação medial Rotação lateral 2,18 0,17 0,79 0,26 0,79 0,79 125 10 45 15 45 45 Perna Joelho 2 Flexão Extensão Rotação Medial Rotação Lateral 2,44 2,44 0,70 0,50 0-140 140-0 40 30 Pé Tornozelo 1 Intertársica 3 Flexão plantar Flexão dorsal Inversão Eversão 0,79 0,35 0,70 0,35 45 20 40 20 Metatarsofalângica 2 Flexão Extensão Abdução Adução 0,70 0,79 0,17 0,17 40 45 0-10 10-0 Artelhos Interfalângica 1 Flexão 2º -5º/ 1º Extensão2º- 5º/1º Movimentos 0,61/1,57 0,61/1,57 35/90 35/90 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 grau as marcações dos radianos, ou seja, ao lado das 360 divisões dos graus coloquem as 628 ou 62 divisões (aproximadamente) dos radianos, habituando aos que medem os arcos dos movimentos a esta unidade de medida, que já foi padronizada internacionalmente e é adimensional, o que facilita a aplicação dos cálculos nos estudos de movimentos circulares dentro da Biomecânica. E a segunda está na padronização da antiga nomenclatura dos arcos dos movimentos voluntários para as articulações esferóides, onde o nome do movimento esta no plano ao qual se encontra, como exemplo: se o membro estiver à frente no plano sagital o nome é flexão. Caso esteja ascendente no valor numérico estará realizando uma flexão, caso esteja descendente o valor numérico estará desfazendo uma flexão. Consulte a tabela de movimento das principais articulações do corpo humano com as duas propostas aqui englobadas. 41 Referências 1. Basmajian JV. et al. Terapêutica por exercícios. 3 ed. São Paulo: Manole, 1980. 2. Biscuola GJ, Maiali AC. Física. São Paulo: Saraiva, 1996. 3. Blacque-Belair A. Índex clínico. São Paulo: Andrei, 1977. 4. Bonjorno RA. et al. Física fundamental. São Paulo: FTD, 1993. 5. Cotta,H et al. Tratado de rehabilitacion. 3.ed. Barcelona: Labor, 1976. 6. Cutter NC, Kevorkian CG. Provas funcionais musculares. São Paulo: Manole, 2000. 7. Enoka RM. 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Porto Alegre: Artmed, 2000. 42 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Artigo original Intervenção fisioterapêutica preventiva em alunos de 5ª a 8ª séries do colégio de aplicação da Universidade Iguaçu Preventive physioterapeutic intervention in students of the 5ª to 8ª class in application school of the Iguaçu university Luís Guilherme Barbosa*, Tadeu de Oliveira Madeira**, Claudia da Costa Soares***, Ivana P. Cardoso**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Professor de Fisioterapia Preventiva da UNIG. Mestre e doutorando em Engenharia de Produção UFRJ, **Coordenador do Curso de Fisioterapia da UNIG, ***Monitora da disciplina Fisioterapia Preventiva e Saúde Pública, ****Aluna colaboradora, oriunda do Curso de Pós-graduação em Cinética Funcional Palavras-chave: Prevenção, fisioterapia, ergonomia, educação. Key-words: Prevention, physiotherapy, ergonomics, education. Resumo A atividade de estudar, do ponto de vista postural, pode ser prejudicial à saúde da criança, ao longo do tempo. As posturas adotadas pelas crianças, necessárias à atividade, sofrem interferência do mobiliário, do humor, da idade, da atividade de aula aplicada e da capacidade física. A identificação dessas posturas erradas permite a inserção de atividades compensatórias, para prevenir o surgimento de alterações posturais. Abstract To study during long time can be damage to the health if we think about the body postural arranged. The childrens body posture receives of age and table and chair and humor and listen and physical capacity influences. The wrongs body posture identification can be used to insert compensations activities to prevent the body posture alterations. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Artigo recebido em 1 de fevereiro de 2002; aprovado em 10 de fevereiro de 2002 Endereço par correspondência: Luís Guilherme Barbosa, Caixa Postal 80214, 25521970, São João de Meriti. RJ. Tel: (21) 99544150, E-mail: [email protected] ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 1 - Introdução A atividade do estudante, do ponto de vista postural, pode ser prejudicial à saúde da criança, ao longo do tempo. As posturas adotadas pelas crianças, necessárias à atividade, sofrem interferências diversas, tais como: do mobiliário, do humor, da idade, da capacidade física, dos meios de transportes para a escola, da carga da mochila, das atividades desenvolvidas em sala de aula e, mesmo, no lar. Essas alterações podem ser detectadas ainda no início de sua instalação, facilitando a intervenção clínica e fisioterápica. A interferência preventiva na criança tende retardar o aparecimento de alterações em adultos jovens, além de ser muito mais barato do ponto de vista financeiro e emocional. Logo trabalhar com a criança e com o adolescente representa uma possibilidade de vida melhor para a população, no aspecto referente aos desconfortos posturais, tão comuns no adulto. Este trabalho é resultado parcial do Projeto de Iniciação à Pesquisa científica da Universidade Iguaçu. 43 parecesse a elas uma atividade corriqueira e divertida, de modo a não induzir qualquer possibilidade de inferirem que sua participação na atividade se dava por motivo de doença. As alterações apresentadas nas meninas não foram consideradas em função da vestimenta inadequada adotada pelo grupo, o mesmo ocorrendo na parte inferior do corpo dos meninos (da cintura pélvica até os pés), visto não termos tido tempo hábil de informar a vestimenta adequada. A opção de manter o trabalho apesar de algumas intempéries se deveu ao fato da grande expectativa apresentada pelas alunas que se mostraram grandemente estimuladas na realização das tarefas e qualquer retrocesso representaria uma lacuna imperdoável, pois a aluna que participa do processo de iniciação científica estava no semestre final. Resultados Obtidos na observação das fotos e filmagem de 12 meninos. VISTA: Anterior Materiais e métodos As avaliações posturais de 12 crianças do sexo masculino foram realizadas na Sala de Aulas Práticas da disciplina de Métodos e Técnicas de Avaliação. As filmagens realizadas com uma filmadora Handcam SONY Digital 8, que forneceram as imagens, via placa de captura de vídeo, para o Software de Análise Postural DaVinci, da MICROMED, o qual facilitou a análise em questão. Estes dados foram obtidos durante duas aulas de educação física, devido à facilidade da vestimenta e do deslocamento, de modo a não interferir nas atividades de sala de aula, o que seria mais complicado nos aspectos reposição de conteúdo e vestimenta. Foi usado um Simetrógrafo de material plástico translúcido [1], com divisórias eqüidistantes, cujas distâncias não foram objetos de controle, visto que nossa abordagem, nesse momento do trabalho, não tem cunho quantitativo. Buscamos criar um clima de entretenimento e cortesia para facilitar a participação das crianças, de modo que Região Cabeça Cintura Escapular Tronco Região Cabeça Cintura Escapular Tronco Abdome Lombar Alterações Inclinação lateral: à direita - 4; à esquerda - 8. Ombro mais elevado: direito - 10; esquerdo - 2. Triângulo de Talle: > à direita 4; à esquerda 8. VISTA: Perfil Alterações Ânteropulsão 11; Retropulsão - 1. Ombros: Ânteropulsão 12; Retropulsão 0.Escápulas Aladas 12 Cifose Torácica 11; Curvatura Torácica Normal - 1. Protuso 8; Normal 4. Lordose 8; Normal 4. Discussão Em um primeiro momento podemos referir um determinado sentimento de caos envolvendo os resultados, entretanto a postura do jovem em crescimento é bastante variável nos aspectos relativos a forma [2]. A grande variedade de posturas adotadas ao longo do dia por esses adolescentes é muito grande, facil- 44 itando a alternância dessas alterações em relação a lados e amplitudes, intensificandose em compressões e trações das diversas estruturas envolvidas [3]. É comum a presença de alterações posturais em escolares [4]. Entretanto, fica patente a total predominância da escápula alada, preconizada pela fraqueza dos músculos serráteis e rombóides, proveniente, provavelmente, das posturas adotadas pela criança, seja na escola [5], seja nas demais atividade realizadas durante o dia diante da televisão, nas refeições, ou mesmo durante o deslocamento para casa [6]. Conclusões Todos possuem indicação para realização de um trabalho de correção e manutenção da postura, visando impedir a evolução e mesmo a instalação de vícios posturais, ao longo do tempo, prováveis causadores de problemas outros derivados dos desequilíbrios ora existentes. Dois alunos, porém, merecem atenção Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 especial, visto que um deles (Foto 1), apresenta exacerbação da curvatura lombar, que aliada à obesidade pode representar grande risco à sua saúde; enquanto o outro (Foto 2), apresenta grande estatura e alterações posturais bastante acentuadas, tendendo a ocorrer a instalação das mesmas. Agradecimentos Nossos agradecimentos a Diretora do Colégio de Aplicação Profa. Maria de Fátima Mayer Raunheit Ramos, a Coordenadora Geral do Colégio de Aplicação Profa. Maria Caroline Provençano do Outeiro Gonçalves, a Profa. Edith Maria Marques Magalhães Silva, Orientadora Pedagógica do Colégio de aplicação, a toda a equipe da Educação Física e demais profissionais que facilitaram de alguma maneira nossas atividades, tão como aos alunos que na confiança do trabalho se expuseram diante de nossos olhares atentos. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Referências 1. 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Descrição dinâmica da marcha durante o transporte de cargas de 10KG, 20 KG e 30 KG através de mochilas. Anais do VIII Congresso Brasileiro de Biomecânica. UDESC. Florianópolis. 1999. Págs. 591-596. Lançamento Atlântica Editora TRATAMENTO OSTEOPÁTICO DAS LOMBALGIAS E CIÁTICA por François Ricard O autor é diretor da Escuela de Osteopatia de Madri, e neste volume apresenta através de textos e ilustrações as técnicas desenvolvidas ao longo de sua carreira. São 400 páginas com fotos, ilustrações e texto. Para conhecer mais: www.atlanticaeditora.com.br 46 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Artigo original Orientações fisioterapêuticas motoras para pacientes portadores de Distrofia Muscular de Duchenne, na fase I Motive Physiotherapeutic orientations for patient with Muscular Dystrophy of Duchenne, in the phase I Renata Calhes Franco de Moura*, Márcia Cristina Bauer Cunha**, Ana Paula Monteiro*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, Mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, **Fisioterapeuta, Mestre e Doutoranda em Neurociências (UNIFESP-EPM), ***Fisioterapeuta, especializanda em Intervenção em Neuropediatria (UFSCAR) Palavras-chave: Distrofia Muscular de Duchenne, cinesioterapia, doença neuromuscular. Key-words: Muscular Dystrophy of Duchenne, kinesitherapy, neuromuscular disease. Resumo A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença autossômica recessiva ligada ao cromossomo X, manifestando-se exclusivamente em meninos. A DMD é caracterizada pela diminuição progressiva da força muscular, evidente nos primeiros cinco anos de vida da criança, evoluindo com contraturas e atrofias até a perda da deambulação. Desse modo, a cinesioterapia motora quando orientada aos pais e cuidadores de crianças com DMD, e realizada na fase inicial da doença, sob a forma de exercícios simples e moderados. Eles prolongam o desenvolvimento das contraturas, da deambulação independente e maximizam as capacidades funcionais, promovendo uma melhor qualidade de vida aos portadores de DMD. Abstract The Muscular Dystrophy of Duchenne (DMD) is an autossomical recessive disease that manifested exclusively in boys. DMD is characterized by the progressive decrease of the muscular force, evident in the first five years of the childs life, developing with contractures and atrophies until the loss of the walking. This way, the motive kinesitherapy when guided the parents and childrens caretakers with DMD, and accomplished in the initial phase of the disease, under the form of simple and moderate exercises: they prolong the development of the contractures, of the independent deambulação and they maximize the functional capacities, promoting a better quality of life to the bearers of DMD. Artigo recebido em 1 de fevereiro de 2002; aprovado em 15 de fevereiro de 2002. Endereço para correspondência: Ms Márcia Cristina Bauer Cunha, rua 03 de maio, 82 apto 34, 04044-020 São Paulo SP, Tel: (11) 5573-2234 e (11) 9635-1395, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Introdução A Distrofia Muscular de Duchenne (DMD) é uma doença autossômica recessiva ligada ao cromossomo X, especificamente no lócus Xp21. Este tipo de distrofia é transmitido pelas mulheres, expressando-se nos homens, sendo caracterizada pela diminuição progressiva da força muscular, seguida por contraturas, atrofias e deformidades. A causa desta doença é atribuída à ausência da distrofina, uma proteína citoesquelética, fixada na membrana sarcolêmica dos músculos, cujo papel é extremamente importante para o funcionamento da fibra muscular, em especial durante sua contração e relaxamento [3, 5, 12, 14]. As manifestações clínicas da DMD são evidentes no decorrer dos primeiros cinco anos de vida, evoluindo até a perda da deambulação que ocorre entre os sete e treze anos de idade. O paciente poderá ir a óbito durante a segunda década de vida, geralmente em decorrência da insuficiência respiratória [17, 20]. Como a DMD é uma doença de caráter progressivo, o programa de tratamento deve ser elaborado precocemente, visando minimizar os efeitos da deterioração sobre o paciente [9,18]. Com base neste aspecto, a orientação à família da criança portadora de DMD, é considerada um ponto fundamental no processo de reabilitação, uma vez que o paciente passará a maior parte do tempo em contato com os familiares. É muito comum estes não saberem proceder e lidar corretamente com as dificuldades e necessidades mais básicas da criança, o que além de dificultar o processo de reabilitação, pode acarretar o aparecimento ou a progressão mais rápida dos sintomas. Levando este fato em consideração, vamos demonstrar neste estudo, o emprego da cinesioterapia, sob a forma de exercícios simples e moderados, orientados aos pais e cuidadores das crianças portadoras de DMD. Evolução clínica Os meninos portadores de DMD são raramente sintomáticos ao nascimento ou início da lactância, embora alguns já apresentem fraqueza muscular. As habilidades motoras grosseiras iniciais, como rolar, sentar-se e se 47 levantar, geralmente podem ser obtidas nas idades apropriadas ou podem ser levemente retardadas. O comprometimento do controle da cabeça na lactância pode ser o primeiro sinal de fraqueza. A deambulação geralmente é conseguida na idade normal de 12 meses, mas a fraqueza da cintura pélvica pode ser observada de forma branda já no segundo ano de vida [11,12]. As primeiras manifestações clínicas da DMD tornam-se evidentes quando a criança apresenta atraso no desenvolvimento motor aos três e cinco anos de idade. A criança demora a sentar-se, ficar em pé, e quando anda cai com freqüência. Aos cinco anos de idade, há atrofia muscular evidente e hipertrofia das panturrilhas, e a criança é incapaz de correr ou saltar, subir ou descer escadas e levantarse do chão, a não ser de forma inteiramente anormal, pela manobra de Gowers, na qual ela afirma os membros inferiores, usando ambos os membros superiores, ou seja, subindo em si mesma [1,13,19]. A perda da função da musculatura pélvica e a contratura em flexão dos quadris acompanham a fraqueza da musculatura abdominal e são observadas em primeiro lugar na deambulação. Estas características determinam a instabilidade da pelve, projeção do tronco para trás e proeminência abdominal. O desequilíbrio muscular, ocasionado pelo desenvolvimento da atrofia e do desalinhamento postural, é um fator que precipita o eventual desenvolvimento de contraturas próximo às articulações que apóiam peso [4]. Além da lordose lombar, protusão abdominal, flexão e abdução do quadril, o padrão postural na DMD ainda apresenta pé equinovaro, resultante de atrofia relativa e fraqueza dos flexores dorsais do tornozelo, em comparação com os flexores plantares bem preservados. Conseqüentemente a todas essas alterações posturais, ocorre a marcha anserina. O paciente anda, em geral, apresentando exagero de oscilações laterais do tronco e da pelve, como meio de compensar a fraqueza do músculo glúteo médio, na dependência da gravidade em que se encontra a atrofia muscular, associada à lordose lombar [1,6,12,19]. A firmeza do apoio sobre a base de sustentação se reduz à medida que aumenta a fraqu- 48 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 eza muscular, resultando em diminuição da amplitude dos passos, e a criança se vê obrigada a equilibrar-se, para manter a deambulação, exigindo maior esforço e levando-a a quedas constantes. Em decorrência deste fato, a maioria dos pacientes continua a andar com dificuldade crescente até aproximadamente os 10 anos. Aos 12 anos de idade, 95% dos pacientes precisam usar cadeira de rodas. Nesta fase, as contraturas já existentes, em flexão de quadris e joelhos e inversão com flexão plantar dos pés, resultam em duas importantes deformidades: pés em equinovaro e escoliose; as quais são ligeiramente progressivas [11,17]. com aparelhos ortopédicos longos para os membros inferiores. · Grau 7: Caminha com auxílio de aparelhos ortopédicos longos para membros inferiores, mas precisa de ajuda para equilibrar-se. · Grau 8: Mantém-se em pé com auxílio dos aparelhos ortopédicos, porém não consegue andar, nem mesmo com ajuda. · Grau 9: Confinada a cadeira de rodas. Os flexores do cotovelo vencem a ação da gravidade. · Grau 10: Confinada a cadeira de rodas. Os flexores do cotovelo não conseguem vencer a ação de gravidade. Classificação da capacidade funcional Já Taylor et al. [18] de um modo mais simplificado, classificou a capacidade funcional, de acordo com três estágios de evolução da DMD: Estágio inicial: Paciente ainda deambula; Estágio médio: Deambulação em cadeira de rodas; Estágio tardio: Paciente é dependente para quase todas as atividades. A capacidade funcional conforme a evolução clínica na DMD, foi classificada por diversos autores. Dentre algumas importantes classificações, Leitão et al. [10] demonstrou em seu estudo, uma escala constituída por quatro fases distintas: · Fase 1: tem início após o diagnóstico até a incapacidade para dominar o passo; · Fase 2: do final da fase 1 até a necessidade de órteses para a criança poder continuar andando; · Fase 3: da deambulação com órtese até a sua inviabilidade; · Fase 4: impossibilidade de andar mesmo com órtese. Uso de uma prancha ortostática, ou de um pódio apropriado para a manutenção da postura em pé. De um modo mais detalhado, Shepherd [17] classificou a capacidade funcional dos portadores de DMD, de acordo com uma escala constituída por graus (1 a 10): · Grau 1: Caminha e sobe escadas sem necessitar de ajuda. · Grau 2: Anda e sobe escadas com ajuda de um corrimão. · Grau 3: Caminha e sobe escadas lentamente, apoiando-se no corrimão (mais de 25 segundos para 8 degraus comuns). · Grau 4: Anda sem ajuda e se levanta da cadeira, mas não consegue subir escadas. · Grau 5: Anda sem ajuda, mas não é capaz de levantar-se da cadeira ou escalar degraus. · Grau 6: Caminha somente com ajuda ou Tratamento O programa de tratamento escolhido deve basear-se na função residual em que o paciente se encontra, juntamente com a evolução prevista para doença. Isso implica que os métodos de tratamento irão variar de acordo com os três estágios de evolução da DMD, conforme a classificação funcional de Taylor et al. [18]: estágio inicial (o paciente deambula); estágio médio (o paciente depende da cadeira de rodas); e estágio tardio (o paciente está confinado ao leito). Levando em consideração o fato que o programa de reabilitação deve ser elaborado precocemente, iremos salientar o emprego da cinesioterapia no estágio inicial (fase I) da DMD. Este recurso fisioterapêutico, é indispensável ao tratamento da DMD, principalmente no que se refere aos exercícios terapêuticos que ele engloba e suas funções [9,10]. Durante a realização de um exercício terapêutico, o movimento completo que envolve músculos e articulações, é denominado amplitude do movimento (ADM). Para manter a ADM normal, os seguimentos precisam ser movimentados em suas amplitudes comple- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 tas periodicamente, e para que isso ocorra, podem ser utilizados três tipos de exercícios: Exercícios passivos: O movimento é realizado dentro da ADM livre para um seguimento e é produzido inteiramente por uma força externa (não há contração voluntária). A força externa pode vir da gravidade, de um aparelho, de outra pessoa, ou de outra parte do corpo do próprio indivíduo. Exercícios ativos: O movimento é realizado dentro da ADM livre para um seguimento e é produzido por uma contração ativa dos músculos que cruzam aquela articulação. Exercícios ativos-assistidos: É realizado um tipo de ADM ativa, na qual a assistência é feita por uma força externa, porque os músculos que iniciaram o movimento precisam de assistência para completá-lo. Associadas a estas três formas de exercícios, podem ser realizadas manobras terapêuticas de alongamento, que possuem a finalidade de aumentar ou preservar o comprimento dos tecidos moles [7,8]. Devido ao fato da prática da cinesioterapia assumir um papel essencial na fase inicial da DMD, elaboramos a seguir algumas orientações de exercícios simples, destinados principalmente para casa. Os exercícios ativos e passivos demonstrados deverão ser realizados de forma lenta e delicada. O alongamento poderá ser mantido por 15 segundos, e repetido 5 vezes, sendo muito importante intercalar com pausas ao término de cada exercício [9,16,21]. 49 baixo do tronco e quadril, enquanto a criança realiza elevações do tronco com apoio sobre os braços estendidos. Este exercício (Foto 2) contribui para a manutenção do comprimento normal dos flexores da coxa, além de favorecer a flexibilidade do tronco [17]. Com o pé apoiado sobre um degrau (de uma escada ou banquinho), a criança balança-se frente ao pé apoiado, até seu limite de flexão Foto 1. Orientações para exercícios ativos Ao realizar estes exercícios, a criança deverá ser instruída corretamente por um adulto, sobre o modo de realização destes, além disso, necessitará de sua supervisão integral no decorrer de tal atividade. Para alongar os músculos da panturrilha, a criança coloca-se em pé, com a pelve e os braços dirigidos para frente, de encontro à parede (Foto1). Os calcanhares precisam estar em contato com o solo, e os joelhos deverão ser mantidos em extensão completa [17]. Em casa, o paciente deve passar certa parte do tempo em decúbito ventral. Uma almofada (ou travesseiro) deverá ser colocada em- Foto 2. 50 Foto 3. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 do joelho. O mesmo movimento deverá ser repetido com a perna oposta. Este exercício (Foto 3) promoverá o alongamento dos músculos extensores do joelho [2, 15]. Orientações para exercícios passivos Ao realizar estes exercícios, deve-se respeitar o limiar da amplitude do movimento da criança, e evitar, sobretudo, o movimento brusco da estrutura a ser manuseada. Para alongar os músculos flexores do quadril, a pessoa que for executar o exercício, também deverá estar ao lado da criança e esta, em decúbito ventral e relaxada (Foto 4). Posicionamento das mãos: Uma mão deverá estar apoiada sobre as nádegas da criança, e a outra mão abaixo do joelho fletido. Lentamente a coxa deve ser levantada. Repetir o mesmo movimento com a outra perna [10]. Para alongar o músculo Tensor da Fácia Lata, a criança deve ser colocada em decúbito dorsal. A pessoa que estiver executando o exercício deve trazer a perna da criança à linha média (Foto 5). Posicionamento das mãos: uma mão deve estar na face lateral do quadril, Foto 4. Foto 5. Foto 6. Foto 7. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 para dar estabilidade, e a outra sobre a panturrilha. Este exercício deve ser realizado lentamente, e repetido com a outra perna, respeitando sempre o limite da amplitude do movimento da criança [15]. Para alongar os músculos adutores do quadril, a criança deverá estar em decúbito lateral, com as pernas estendidas, e a pessoa que for executar o exercício, deve colocar-se atrás da criança (Foto 6). Posicionamento das mãos: Uma mão deverá estar posicionada sobre o quadril e a outra mão, embaixo da coxa que será elevada. A perna será elevada lentamente, respeitando o limite referido pela criança. Repetir o mesmo movimento com a perna oposta [7]. Para alongar os flexores do joelho, a criança deve estar em decúbito ventral, com um travesseiro fino enrolado logo acima do joelho fletido (Foto7). A pessoa que for executar o exercício deverá ficar ao lado da criança, com uma de suas mãos apoiadas em cima das nádegas (para a estabilização desta). Posicionamento da mão: A mão oposta a que ficou apoiada deverá segurar o tornozelo e assim, estender lentamente a perna. Repetir o mesmo movimento com a perna oposta [7]. Discussão Leitão et al. [9,10] ressalta que manobras cuidadosas de alongamento, aplicadas em membros inferiores ajudam a manter o comprimento normal dos músculos e a amplitude articular. Estes alongamentos devem ser ministrados precocemente nos tendões de Aquiles, nos flexores dos joelhos, nos flexores dos quadris, e no músculo Tensor da Fácia Lata. Realizados de forma regular e precisa, os alongamentos prolongam e previnem o desenvolvimento de contraturas, melhoram a marcha, e mantém a capacidade física razoável nas crianças portadoras de DMD. Segundo Taylor et al.[18] o mecanismo mais efetivo para a prevenção de contraturas nos MMII, é a deambulação ou a manutenção da posição em pé, na qual o peso do corpo da criança exerce força de alongamento significativa sobre os músculos flexores dos quadris, joelhos e flexores plantares dos tornozelos. 51 Para Thompson et al. [19] a atrofia ocorre quando um músculo é mantido em posição encurtada devido à deformidade articular, e também quando se contrai sobre uma amplitude reduzida. O posicionamento articular durante o alongamento, pode dessa forma, ser importante. Segundo este autor, devemos incentivar os adultos a realizarem os alongamentos nas crianças com DMD, para prevenir as contraturas, possibilitando que estas desfrutem atividades físicas como o lazer. Foi com base neste aspecto, que elaboramos neste estudo, os exercícios de forma ilustrativa, para serem destinados justamente aos pais e cuidadores das crianças com DMD, de modo a incentivá-los a prática diária em sua casa. Quanto a frequência e tempo estabelecidos para os exercícios, Vignos [21], destaca que o alongamento realizado em um exercício passivo ou ativo, deveria ser repetido de 10 a 15 vezes, e a articulação mantida por um período lento de 10 segundos. Kisner et al.[7] afirma que o alongamento deve ser mantido preferivelmente por 15 a 30 segundos e repetido várias vezes em uma sessão de exercícios, enquanto Shepherd [17] aponta que pelo menos 30 minutos diários devem ser dedicados em casa, a fim de promover a mobilidade e a função. Com base nas opiniões destes autores, limitamos para o alongamento (ativo e passivo), um período de 15 segundos de duração, e para cada exercício, 5 repetições; contudo, podendo ser alterados para mais ou para menos, devido às características individuais e evolutivas da patologia. Considerando as opiniões anteriores, a cinesioterapia desde que administrada de forma cautelosa, como a proposta neste estudo, é um recurso necessário e benéfico ao tratamento dos portadores de DMD. Conclusão A elaboração de orientações de exercícios simples e fáceis de serem realizados possibilita que os próprios pais e cuidadores da criança com DMD, o realizem em sua casa, promovendo a mobilidade diária de estruturas musculares que venham a se comprometer com a progressão da doença. Assim, a cinesioterapia motora sob a forma de exercícios 52 ativos e passivos moderados, voltados principalmente para os membros inferiores, quando aplicados na fase inicial da DMD: prolongam o desenvolvimento de contraturas, a deambulação independente e maximizam as capacidades funcionais, proporcionando uma melhor qualidade de vida à criança. Referências 1. Bradford DS, Lonstein JE, Moe JH, Ogilvie JW, Winter RR. Escolioses e outras deformidades da coluna. 2a. edição. 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Progressive muscular dystrophy Duchenne type. Controversies of the Kinesitherapy treatment. São Paulo Medical Journal. 1995;113(5):995- 999. 10. Leitão RA, Leitão AV, Lancellotti, CL. Distrofias musculares. In: Lianza S. Medicina de reabilitação. 2a edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1995. p.383-94. 11. Marcondes E. Pediatria básica. 8 a edição. São Paulo: Editora Sarvier; 1999. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 p.1156-58. 12. Nelson WE, Behrman RE, Kliegman RM, Arvin AM. Nelson - Tratado de pediatria. 2a edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1997. p.2019-23. 13. Rodriguez J, Ferriere G. Las distrofias musculares progressivas en la infancia. Revista Chilena pediátrica 1982;21:379-388. 14. Rowland LP. Merritt - Tratado de neurologia. 9a edição. São Paulo: Editora Guanabara; 1997. p.604-609. 15. Schneider W, Spring H, Trischler T. Mobilidade Teoria e prática. 1a edição. São Paulo: Livraria Santos; 1995. p.39-88. 16. 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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 53 Revisão Intervenção da educação física nos indivíduos com doença de Alzheimer Physical education in patients with Alzheimer Disease Marcus Vinicius Simões da Silva Gomes ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Diretor N &T Neuron and Therapeutics, Rio de Janeiro Palavras-chave: Doença de Alzheimer, grupos especiais, proteína β amiloide A4; Enroscados neurofibrilares, jogo, exercício. Resumo Os mecanismos de aderência à atividade física vêm sendo estudados criteriosamente ano a ano, a fim de proporcionar uma inclusão cada vez maior de pessoas mesmo que sob condições especiais. Indivíduos considerados senis buscam uma melhora da qualidade de vida através do exercício, e algumas populações senis especiais como os portadores da doença de Alzheimer, todavia não contam com muitas estratégias para tal inclusão, assim como não se sabe efetivamente os benefícios do exercício a esse tipo de população. Esta revisão busca traçar estratégias, partindo desde a concepção neurofisiológica até uma formulação da aprendizagem motora, mecanismos de interpretação psicomotores e proporcionar questionamentos sob a necessidade da educação física intervir junto a esses indivíduos. Os jogos como parte do processo terapêutico são sugestões dessa revisão, como também dados epidemiológicos do rápido crescimento da doença. Endereço par correspondência: Prof. Marcus Vinicius Simões da Silva Gomes, N&T, Rua Visconde de Pirajá, 550/1511 Ipanema 22420-040 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2239-0096 / 9974-2472, Fax: (21) 2525-3901, E-mail: [email protected] 54 Key-words: Dementia; Alzheimer disease; special group; β amiloid A4 protein; neurofibrilar tangles; game, exercise Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 Abstract Adhesion to exercise has been studied a lot to provide inclusion of many people with special conditions. Until now, Patients with senile conditions have not been studied, and, particularly, patients with Alzheimer disease have no strategy for inclusion in program of physical education. This review shows some neurophysiological procedures, motor and psychomotor learning, physical education in patients with Alzheimer Disease. Games could be an excellent therapeutic method. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Aristóteles acreditava que no coração e não no cérebro se localiza a inteligência e o pensamento, sendo que a palavra cérebro foi utilizada na escrita por volta do ano 1700 a.C., porém baseados em textos que remontam 3000 a.C. Um dos primeiros a explorar o sistema nervoso foi o grego Hipócrates (460-377 a.C) [22]. Na antiguidade a loucura foi tratada como um mal da alma e apenas o exorcismo dos espíritos maus podia livrar o individuo desse sofrimento. Hoje, com o avanço cientifico e tecnológico, podemos livrar o individuo da completa exclusão, com novos métodos de tratamento e intervenção. Muitas doenças relacionadas ao cérebro continuam ser desconhecidas do ponto de vista do surgimento e progressividade, porém a ciência tem conseguido descobrir algumas peças desse quebra-cabeça complexo, principalmente quando alguma doença leva a quadros de demência. A demência tem sido chamada de epidemia do século por ocorrer no segmento ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ populacional que vem crescendo mais rapidamente, e por estar envolvendo um grande número de pessoas no processo dos cuidados. A Demência é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) na classificação Internacional de doenças (décima revisão) [21] como uma desordem caracterizada por deterioração tanto da memória como do pensamento, suficiente para prejudicar as atividades diárias. A degeneração da memória afeta o registro, o armazenamento e a recuperação de novas informações [2,3,6]. A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença que leva a esse tipo de quadro. Esta doença foi reconhecida primeiramente pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer, em 1907 e, até 1983, era diagnosticada apenas por exclusão de critérios. Esse tipo de enfermidade costuma ser progressiva e irreversível, instalando quadros de demências. A DA leva ao óbito em sua fase tardia, é responsável por mais da metade dos quadros de demência, respondendo por 52,8 % em dados post mortem [2], podendo ser con- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 siderada como uma degeneração crônica causada pela demência senil [1]. Hoje a DA afeta cerca de 4 milhões de Americanos, com duração média de vida após o diagnóstico entre 8 a 20 anos, tendo ocorridos, somente em 1997, 22 mil mortes pela doença (Alzheimer Association Center for Disease Control Research). 14 milhões de Americanos terão a doença antes da metade do novo século. 10% das pessoas com mais de 65 anos e 25 a 40% com mais de 85 anos a possuem. Sete de dez pessoas com a doença vivem em casa sob cuidados de familiares, com custo médio por tempo de vida por paciente na faixa de U$ 174.000,00. É mais predominante em países em vias de desenvolvimento [2,17]. Os pacientes de Alzheimer tornam-se cada vez mais dependentes e excluídos da sociedade. No Brasil não existe nenhuma política definida junto aos hospitais e clínicas psiquiátricas para melhoria das condições desses pacientes. O sistema nervoso possui diferentes classificações. Neste artigo tomaremos como base à estrutura geral segundo as funções: - Divisão sensorial - Receptores sensoriais; - Processamento de informação Transmissão; - Armazenamento da informação Integração e memória. A DA é causada pela perda progressiva das funções das células cerebrais [1,2,6,17,18]. Junto à degeneração neuronal, há declínio da transmissão colinérgica no córtex, hipocampo, e em áreas do cérebro particularmente associadas com a memória e grandes funções intelectuais [14]. A evolução da DA é caracterizada por estágios de progressão. Os estágios de evolução marcam as perdas de memória, e o declínio do controle de consciência [1]. O termo consciência engloba dois conceitos distintos; estado de consciência e experiência consciente sendo que a experiência consciente refere-se ao que as pessoas têm ciência (pensamentos, idéias, sentimentos, percepções, sonhos, raciocínio), durante qualquer dos estados de consciência. O estado consciente que prevalece obedece à interação entre três sistemas neuronais, que fazem parte da formação reticular [1,3]. 55 Um grande número de neurônios participa e influencia todo o sistema nervoso central, monitorizando e codificando algumas mensagens ascendentes e descendentes do sistema nervoso, sendo o sistema ativador reticular (SAR) um dos responsáveis em deixar o sistema nervoso central (SNC) em alerta para o recebimento das mensagens [3]. Uma atrofia predominante nos lobos frontal, parietal e occipital, com um alargamento dos ventrículos laterais e uma diminuição da substancia branca, são causas patológicas da doença [2]. Rhian Jenkins et al. [13] estudaram a relação entre o volume intracranial total (VIT) e a DA esporádica e familiar, em um grupo de 85 pacientes com DA e 52 voluntários saudáveis, usando imagem de ressonância magnética da cavidade intracranial. Concluíram que o VIT não foi determinante entre os subgrupos, sem significância entre idade de inicio e VIT, com predictor significativo apenas em relação ao sexo. Relacionando os dados anteriores, supõese que, se o SAR mantém ligação com algumas áreas do córtex e essas áreas começam a ter seus neurônios em processo de degeneração, a codificação ou a resposta por essas vias pode estar fora do padrão aprendido. Neurônios afetados preferencialmente pela formação dos Enroscados Neurofibrilares (EN), são de células piramidais de tamanho médio no córtex cerebral nas áreas II e IV entre outras, porém com associação com o lobo frontal, parietal e temporal [18]. O córtex dos pacientes de Alzheimer não só tem um prejuízo relacionado à atrofia, porém pode ser intoxicado pela formação de EN que se relacionam com o SAR, interferindo no estado de consciência. Os EN são considerados os maiores marcadores da doença de Alzheimer, se desenvolvem no núcleo de neurônios piramidais incluindo seus filamentos, podendo estender-se até os dendritos, consistem em filamentos pareados helicoidais [18]. Vickers et al [18] observou que os EN são progressivos e graduais, assim podendo ser uma das características de demência progressiva, pela capacidade de se expandirem de neurônio a neurônio, e pela capacidade que os neurônios têm em se associar. Até agora, percebe-se que ocorre uma deterioração da área IV, a qual mantém relação com o movimento, a 56 atividade física e os possíveis benefícios terapêuticos dela. Nossa proposta de atividade física junto a esses pacientes, é a utilização do jogo; quando falamos de jogo, referimos nos em sua origem latina, iocus, que significa diversão, brincadeira; o jogo com movimento, onde podemos relacionar a importância psicomotora, segundo Canestri [4] , é estabelecido em três atributos essenciais: Psicomotricidade expressiva O movimento surge da tensão e dos motivos interiores do indivíduo e do que ele revela; Psicomotricidade executiva a atividade motora estruturada como ação externa, dirigida intencionalmente (também pode ser automatizada) até um fim exterior para alcançar; Psicomotricidade impressiva - a atividade motora vista interiormente sobre as formas de impressões subjetivas, porém variadas. A classificação do espaço do jogo em domesticado e selvagem tem como referência o jogo no ambiente familiar que não apresenta surpresa e, portanto, não será portador de nenhuma informação para o praticante, que poderá desencadear, com toda tranqüilidade, automatismos motores adquiridos [5]; - relacionando diretamente com pacientes de Alzheimer esses pacientes poderão estar mais seguros e com possibilidades de menores frustrações. No ambiente selvagem as situações de improviso são a base motriz do desenvolvimento do desvendamento das ações motoras [5]. Através dessas possibilidades podemos inter-relacionar com alguns mecanismos somato sensoriais do sistema nervoso. A modulação do sistema colinérgico [14] tem sido desenvolvida em diferentes estratégias incluindo o aumento da produção de acetilcolina com precursores colinérgicos (colina e lecitina), prevenção sináptica da destruição da acetilcolina pela acetilcolinesterase inibitória (AchE) ou estimulação direta póssináptica dos receptores muscarínicos com receptores agonistas. Novas evidências indicam que alguns neuro receptores inibitórios (AchE), podem também ter um efeito neuro protetor, talvez através da ativação dos receptores nicotínicos Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 e em conseqüência aumentar a regeneração neurotrópica. Outra possibilidade seria a ação do efeito colinérgico agonista no processamento e secreção da proteína precursora amiloide β A4 [2]. Sabendo da origem das vias colinérgicas nas áreas tegmental lateral com projeção em vias tegmental dorsal matéria cinzenta, periaquedutal, colículo superior, SARA, com implicações na atenção seletiva, das vias de origem prosencefálica basal com vias de projeção no hipocampo, hipotálamo lateral, núcleo basal e neocórtex com implicações fisiológicas na memória, processos afetivos e demência senil de Alzheimer [6]; tendo em vista essas observações podemos concluir que este seja um dos motivos pelo qual devemos optar pelo jogo em ambiência doméstica, pois sabemos quais as áreas e vias mais acometidas pela DA. Outro dado importante é não levar o paciente à fadiga nas atividades, considerando que este possui uma doença degenerativa, sendo a fadiga um aspecto relevante para interrupção da atividade. No sistema músculo-esquelético um potente neurotransmissor é a acetilcolina [2,3,7,16]. Esse neuro-transmissor junto ao botão sináptico promove mecanismos graduais de permeabilidade da membrana junto a outros íons, com isso a execução da contração muscular esta intimamente ligada a acetilcolina [3]. Segundo Machado, o sistema piramidal é responsável pela execução de movimentos voluntários, isto é, deliberados e planejados decorrentes de um ato de vontade. Como já visto, a área IV dos pacientes com DA parece estar comprometida, sendo uma das áreas da volição, logo o sistema predominante é o sistema extra piramidal, que engloba um grande número de estruturas cerebrais ligadas entre si, que coordenam espaço temporalmente e o padrão dos movimentos grosseiros da área cortical do cérebro e conduzem, com programas parciais automatizados disponíveis, a um fluxo harmonioso de movimento. Suas conexões são núcleos, vias e circuitos que influenciam o sistema piramidal [7]. Os núcleos compreendem o núcleo caudado, putâmem e pálido, núcleo centro mediano do tálamo, núcleos sub-talâmicos, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 57 núcleo rubro e substância negra (grande produtor de dopamina), substância reticulada da ponte e bulbo (localização dos núcleos das vias cuneiforme e grácil - sensório-sensitivas). Os núcleos da base recebem importantes aferências das áreas IV e VI [6]; relacionando com o jogo, podemos intervenir no processo, não exigindo dos pacientes com DA, padrão de movimento com total fineza. Em relação à fadiga, uma diminuição da dopamina com aumento da serotonina pode facilitar a performance [19], porém uma diminuição da dopamina causada por degeneração pode desencadear movimentos incoercíveis e involuntários (Doença de Parkinson) [7]. Através desses resultados devemos observar as condições da diminuição desse neurotransmissor, pelo fato de considerar como está a recaptação junto a fenda sináptica. Os estudos sobre Doença de Alzheimer e exercício são poucos; a Mayo Clinic publicou um artigo coordenado pela Dra Janet L. Vittone, geriatra, sobre alguns benefícios dos exercícios, dentre eles: gia diferente, foi realizado por Dvorak & Poehlman [12], onde buscava a inter-relação da massa músculo-esquelética, atividade física e status cognitivo nos pacientes com DA. O estudo utiliza como critério de parâmetro nutricional o índice de massa corporal (IMC), que pode levar a outras interpretações. Em um questionário realizado entre os professores de educação física (n = 33) com mais de 02 anos de exercício da profissão, na cidade do Rio de Janeiro, a maioria das respostas diz que a melhor forma de se trabalhar seria com exercícios coordenativos, o que torna falho segundo os resultados dessa revisão, pela incapacidade funcional do sistema nervoso do paciente portador de DA O questionário proposto foi adaptado do NIBUNICAMP, para que pudesse ser relacionado com atividade física, com validação da Psicóloga Maria José Estevez, Mestranda da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segue em anexo o modelo utilizado - Retenção das habilidades motoras - Melhoria do sono, circulação sangüínea, - Prevenção de algumas lesões ortopédicas O questionário a seguir visa verificar o nível de conhecimento dos profissionais de Educação física que trabalham na área de saúde e condicionamento, na cidade do Rio de Janeiro. A análise desse resultado poderá servir como estímulo para o desenvolvimento de novas pesquisas da educação física relacionadas à saúde mental. De acordo com o estágio da doença podem ser adicionados exercícios com pesos para melhoria do balanço corporal e flexibilidade [15] e treino aeróbico que tem mostrado forte aumento das funções mentais em 20 a 30% [17]. Um estudo proposto por Rolland et al. [11] concluiu que os exercícios podem amenizar problemas de comportamento, de nutrição e risco de quedas. Foram avaliados 23 indivíduos, 13 homens e 10 mulheres, com idade 71-92 anos, média de 78 anos, todos com DA. Foram analisados autonomia, função cognitiva, status nutricional, problemas comportamentais e riscos de queda. Foram utilizados programas padronizados de bicicleta e caminhada de acordo com o estágio de cada paciente. Os resultados não foram significativos para autonomia, status nutricional (p < 0,001) e função cognitiva (p < 0,001). Risco de queda (p < 0,01) e problemas comportamentais (p < 0,05) diminuíram. Um outro estudo, com metodolo- ANEXO I Questionário Alzheimer NIB UNICAMP (Modificado por Marcus Simões). O termo Demência pode ser definido como: a) Defeito na memória e no intelecto levando a julgamento e tomada de decisões inadequadas b)Defeito isolado e exclusivo da memória levando a distúrbio de comportamento c) Defeito exclusivo de linguagem d) Defeito da atenção profundo e) N.A.A. Os quadros demenciais podem ser auto limitados, mais freqüentemente progressivos. É (são) causa (s) de Demência progressiva: a) Infartos cerebrais múltiplos b) Lesões expansivas intracranianas 58 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 c) d) e) Doença de Alzheimer Doença de Huntington T.A.A Ainda sobre Demência podemos afirmar : a) A doença de Alzheimer é uma forma rara de Demência b) A prevalência de quadros demenciais tem aumentado nos últimos anos, devido ao aumento da longevidade e de os médicos estarem mais atentos para o diagnóstico deste estado. c) A causa mais freqüente de demência são os múltiplos infartos cerebrais. d) Depressão, uso excessivo de drogas e álcool e hematomas sub-durais são causas irreversíveis de Demência. e) Distúrbios endócrinos e metabólicos, hidrocefalia comunicante e doença de Creustzfeld-Jakob são causas de Demência. Analise as alternativas abaixo e marque o EXCETO: a) Demência é a perda de capacidades intelectuais com gravidade suficiente para interferir com atividades rotineiras b) Como os quadros de Demência são sempre progressivos e irreversíveis, o diagnóstico apurado não se faz necessário. c) As causas mais freqüentes de demência são a doença de Alzheimer e a doença vascular (infartos cerebrais múltiplos). d) Do ponto de vista fisiopatológico ocorrem quadros demenciais quando vários sistemas cerebrais que suportam o aprendizado, a memória, a tomada de decisões e a linguagem apresentam disfunções por quaisquer processos patológicos neurológicos. e) A demência tem sido chamada a epidemia do século por ocorrer no segmento populacional que vem crescendo mais rapidamente no final deste século, qual seja o de indivíduos com mais de 65 anos . Sobre a doença de Alzheimer podemos afirmar : a) É uma doença degenerativa e progressiva do SNC (sistema nervoso central) b) É a causa mais freqüente de Demência. c) Afeta o cérebro, resultando em alter- ação da memória, do pensamento e do comportamento. d) Leva a perda da função intelectual (pensamentos, lembranças e raciocínio) interferindo nas atividades rotineiras do indivíduo. e) T.A.A. Quantos estágios são conhecidos de desenvolvimento da doença de Alzheimer: a) Três b) Quatro c) Cinco d) Seis e) N.A.A Os maiores prejuízos causados pela deteriorização cerebral ocorrem com maior freqüência onde: a) Cerebelo b) Medula espinhal c) Tireóide d) Córtex da supra renal e) Lobos temporal, frontal e parietal Quais os exames laboratoriais que podem ser realizados para diagnostico da doença de Alzheimer, EXCETO : a) Tomografia computadorizada b) Tomografia - SPECT c) Ressonância magnética d) Biopsia cerebral e) Bioquímica do sangue As ações da equipe de saúde, ao lidar com um paciente com doença de Alzheimer, devem estar dirigidas para: a) A manutenção de uma ótima função cognitiva b) A promoção de segurança física c) A redução da ansiedade e agitação d) A promoção de independência nas atividades de cuidados pessoais e) T.A.A Para o paciente de Alzheimer a ênfase do trabalho físico seria em que valência física : a) Força b) Flexibilidade c) Coordenação Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 d) e) Aeróbio Velocidade Qual seria o melhor método avaliativo para o paciente de Alzheimer da condição física: a) Observacional b) Testes psicométricos c) Testes antropométricos d) Testes de capacidade aeróbia e anaeróbia e) Testes de preensão palmar Em suas opiniões pacientes de Alzheimer devem realizar atividade física : a) Sim b) Não Justifique sua resposta objetivamente. Comentários Através da revisão de literatura podemos relacionar algumas das reações neurofisiológicas dos pacientes portadores da DA com a atividade física. A estratégia é permitir que nos estágios iniciais da doença os pacientes possam melhorar sua condição qualitativa de vida, através de atividades, onde não constem os parâmetros de performance. As atividades devem ser prazerosas, moderadas e que possam reviver ou vincular o jogo ao passado de cada paciente, estimulando assim a memória [15]. Conclusão O esforço de novas estratégias de investigação na DA, com certeza oportunizará a esses indivíduos estarem incluídos na comunidade, podendo colaborar na implementação da sociedade inclusiva no Brasil. Segundo Werneck [8] - nesta sociedade não há lugar para atitudes como abrir espaço para o deficiente ou aceitá-lo, num gesto de solidariedade, e depois bater no peito com a sensação de ter sido muito bonzinho. Na sociedade inclusiva ninguém é bonzinho. Somos apenas e isto é o suficiente cidadãos responsáveis pela qualidade de vida do nosso semelhante, por mais 59 diferente que ele seja ou nos pareça ser. Novas propostas serão abertas para uma intervenção mais direta dos profissionais da educação física, tendo em vista que pouco se sabe sobre os benefícios em função do desconhecimento relacionado a essa doença. O conhecimento específico dos professores de educação física sobre a doença de Alzheimer é insuficiente para que se possa intervir com êxito nos pacientes acometidos pela doença e faltam estudos de maior abrangência sobre atividade física e doenças degenerativas do sistema nervoso central. Referências 1. ACSMs. Exercise Management for Persons with Chronic Disease and Disabilities. 1997, Human Kinetic. 2. Perkin GD. Atlas Mosby em cores e texto de Neurologia 1998, ed. Manole 3. Vander AJ, Sherman JH, Luciano DS. Fisiologia humana 1981 ed. Mcgraw Hill do Brasil. 4. Da Silva AR. Psicologia del deporte y preparacíon del deportista 1975 ed. Kapelusz. 5. Parlebás P. Elementos de sociologia del deporte 1988 ed. Cef. 6. Graeff FG, Brandão M L. Neurobiologia das doenças mentais 1999 ed. Lemos. 7. Machado ABM. Neuroanatomia Funcional 1988 ed. Livraria Atheneu . 8. Werneck C. Ninguém mais vai ser bonzinho na sociedade inclusiva 1997 ed. WVA. 9. Negrine A. Aprendizagem & Desenvolvimento infantil 1994 ed. Prodil. 10. Gillette-Guyonet S et al. Weight loss in Alzheimer disease. Am.J.Clin.Nutr 2000;71:637s 642s. 11. Rolland Y, Rival L, Pillard F et al. Feasibily of regular physical exercise for patients with moderate to severe Alzheimer Disease. J. Nutr Health Aging 2000;4(2):109-113. 12. Dvorak RV, Poehlman ET. Appendicular skeletal muscle mass, physical activity, and cognitive status in patients with Alzheimers disease. Neurology 1998;5:386-90. 13. Rhian J et al. Intracranial volume and Alzheimer disease, evidence against the cerebral reserve hypothesis. Arch Neurol 60 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 Janeiro / Fevereiro 2002 2000;57:220-224. 14. Emilien G et al. Prospects for Pharmacological Intervention in Alzheimer Disease. Arch Neurol. 2000;57: 454-459. 15. Vittone JL. Exercise and Alzheimer physical, mental benefits. Mayo Foundation for Medical Education and Research Jun 2000. 16. Chusid Joseph G. Neuroanatomia correlativa e Neurologia Funcional 1985 ed. Guanabara Koogan. 17. Khalsa DS. New development in the Prevention and Reversal of Memory Loss. Alzheimers Prevention Foundation, Jan 2000. 18. Grasby DC. Pathological Hallmarks of Alzheimer Disease. Department of Pathology, Clinical School, University of Tasmania, Hobart, Tasmania 7000, Australia, Mar 2000. 19. Noakes TD. Physiological models to understand exercise fatigue and the adaptions that predict or enhance athletic performance Scan. J. Med & Science and Sports 2000;10:3. 20. Ciccone CD. Pharmacology in rehabilitation 1990, ed. CPR. 21. CID-10. Critérios diagnósticos para pesquisa / Organização Mundial da Saúde; Porto Alegre: Artes médicas,1998. 22. Nunes Filho EP. Psiquiatria e saúde mental: conceitos clínicos e terapêuticos fundamentais. São Paulo 2000 Ed. Atheneu. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS DE FISIOTERAPIA NOVOS CURSOS - INSCRIÇÕES ABERTAS Introdução a Manipulação Miofascial - Módulo I Objetivo : Orientar e ensinar ao aluno de Fisioterapia e ao Fisioterapeuta, manobras de manipulação miofascial recurso auxiliar no tratamento de distúrbios ósteo-musculares, tão comuns na clínica diária. Data : De 6 a 7 de Abril de 2002. NÃO PERCA TEMPO !! - VAGAS LIMITADAS Horário de Atendimento: 9:00 às 17:00 horas CEAF - Av. Iraí, 393 - Conj.72 - Moema - SP - Fone: (11) - 5 5 4 3 - 5 1 1 9 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 6 1 Normas de publicação Fisioterapia Brasil A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico, bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (300 dpi). Fotos e 6 2 desenhos devem estar digitalizados e salvo nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings MeSH do Index Medicus Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Agradecimentos: Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua Conde Lages, 27 - Glória 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 Calendário de eventos 2002 Junho Physical Therapy 2002 Annual Conference & Exposition of the American Physical Therapy Association 5-8 de junho Cincinnati, Ohio, EUA Informações: www.apta.org 6 Novembro 8th General Assembly of Asian Confederation for Physical Therapy 17-20 de novembro Central Grand Plaza Hotel Bangkok, Thailand Informações: [email protected] European Congress on Prevention of Diseases Through Physiotherapy 27-30 de novembro Vienna, Áustria Informações: www.physio.at/congress/2002.htm 2003 Junho Agosto 2nd International Symposium on Rehabilitation and Physical Therapy in Veterinary Medicine 10-14 de agosto Knoxville, Tennessee Informações: www.utc.edu/~vetpt/ World Confederation for Physical Therapy 14th International Congress and 15th General Meeting 7-12 de junho Barcelona, Espanha Informações: www.wcpt.org E-mail: [email protected] MJ Livros Universitários Livraria especializada em Fisioterapia Entrega em todo o Brasil Tel.: (11) 6942-0886 R. Carolina Ferraz, 584 - Itaquera - São Paulo - SP www.mjlivros.com.br 3 Assine Fisioterapia Brasil Assine Fisioterapia Brasil por 2 anos por apenas R$ 174,00 (6 edições + 1 CD-ROM ao ano no total de 12 edições e 2 CDROMs) e mantenha-se bem informado sobre o que acontece de mais importante em sua área. Preencha o pedido abaixo, e envie por correio ou fax. Você receberá em seu endereço um boleto de cobrança, e, após uma semana, sua publicação. 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F. C. Henriques .............................................. 116 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. .............................................................................................................................. 128 EVENTOS. ............................................................................................................................................................... 131 O CDRom com a edição integral dos volumes 1 e 2 da Fisioterapia Brasil esta acompanhando esta edição. ○ 66 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin Argentina) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek Brasília) Grupo de assessores Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC Santa Catarina) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep São Paulo) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua Conde de Lages, 27 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Assinaturas para 2 anos R$ 174,00 6 números ao ano + 1 CD-ROM Tel.: (21) 2221-4164 RJ / (11) 3361-5595 SP www.atlanticaeditora.com.br Revista Fisioterapia Brasil Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Administração Bárbara de Assis Jorge Editoração e Arte Kassina Camargo Ribeiro Revisão Ricardo Augusto da Silva Ferreira ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua Conde de Lages, 27 - Glória 20241-080 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2221-4164 Cel: (21) 9662-9411 Ilustração da capa: Jean Dubuffet (1901-1985), Desnuda, 1945, óleo sobre tela, 75x60 cm, coleção privada I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 67 Editorial Sobre Ergonomia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva * Editor científico de Fisioterapia Brasil Pós Doutorado na UFRJ Professor de mestrado recomendado pela CAPES A relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho, que constitui o objeto de estudo da ergonomia, ampara-se em um amplo universo do conhecimento que reúne as ciências matemáticas, as ciências físicas, as ciências biológicas e as ciências humanas. A engenharia e a organização do trabalho buscam otimizar a melhora do rendimento do homem no trabalho e têm em Vauban, no século XVII, e Belidor, no século XVIII, seus precursores, que em suas épocas tentaram medir a carga do trabalho diário. Esses autores, acreditavam que uma carga muito elevada trazia fadiga e enfermidades e preconizavam uma melhor organização de tarefas para otimizar o rendimento. Posteriormente, Vaucanson e Jacquard propuseram os primeiros dispositivos automáticos que suprimiam os postos de trabalho mais penosos. A via física e fisiológica do estudo homem/posto de trabalho encontrou em Leonardo da Vinci o seu precursor. Ao esclarecer os movimentos dos segmentos corporais, Da Vinci lançou a pedra fundamental para os estudos da relação entre homem e posto de trabalho pela via mecânica. Ainda nesta área, vimos Lavoisier lançar os primeiros elementos da fisiologia respiratória e calorimetria para medir o custo do trabalho muscular. A série de monografias escritas no século XVII por Ramazini, sobre problemas oculares de pessoas que fabricam objetos pequenos e sobre problemas de posturas inadequadas e transporte de cargas físicas, credenciou a esse pesquisador italiano a paternidade da medicina do trabalho. Ainda que as contribuições para o desenvolvimento da ergonomia venham ocorrendo ao longo de séculos, observase que a primeira grande obra que descreve métodos de medidas e técnicas experimentais foi escrita por Jules Amar 68 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 em 1914. Em seu livro Motor Humano, Amar, também criador do CNAM- Conservatoire des Arts et Metiers-, ofereceu as bases da fisiologia do trabalho muscular, com inserção de capítulos que versam sobre a fadiga e sobre os efeitos do meio ambiente, da temperatura, do ruído e da iluminação na saúde do trabalhador. Todas as contribuições acima levantadas acabaram por permitir e incentivar publicações na área da medicina do trabalho. A tenra idade acadêmica da fisioterapia não a havia credenciado, ainda, a assumir, no campo editorial, o seu importante papel dentro da saúde do trabalhador. Tive a oportunidade e privilégio de ler um livro, ainda no prelo, escrito por um fisioterapeuta que irá sem dúvida alguma preencher a lacuna científica encontrada na área da fisioterapia do trabalho. Seu livro merece muito boas vindas, não apenas pelo seu pioneirismo, mas pela sua clareza e concisão. Fisioterapia Preventiva nos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho- DORTS- possui um conjunto de qualidades específicas, que o individualiza como extremamente valioso para o fisioterapeuta, que busca aprofundar-se na prevenção e manutenção da saúde do trabalhador. Temos a certeza de que o resultado dos esforços de seu autor, Luis Guilherme Barbosa, para apresentar o tema fisioterapia do trabalho será bastante apreciado pelos leitores. È só aguardar o seu lançamento. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 69 Resumos de trabalhos e congressos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Roquelaure Y et al., Int J Occup Med Environ Health 2001;14(4):357-67. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Prevalência, incidência e fatores de risco da síndrome do canal cárpico em uma fábrica de calçados Este estudo foi realizado para avaliar a prevalência e incidência da síndrome do canal cárpico (SCC) em uma grande e moderna fábrica de calçados e identificar os fatores de prognóstico de CTS. 199 trabalhadores foram examinados em 1996, e 162 deles foram reexaminados em 1997. Fatores de risco ergonômicos e psicossociais de SCC foram avaliados por análise workpost e questionário auto-administrado. A prevalência da SCC no início e em 1997 foi 16,6% (IC 95%: 11,4-21,7) e 11,7% (IC 95%: 6,7-16,8), respectivamente. Nenhum tipo específico de trabalho foi associado à SCC. No início, obesidade (OR = 4,4; IC 95%: 1,1-17,1) e ansiedade (OR = 4,3; IC 95%: 1,0-18,6) foram fatores de risco significativos de SCC. A deflagração rápida dos movimentos dos dedos foram também fatores de risco de SCC (OR = 3,8; IC 95%: 1,0-17,2). O severo controle da gerência foi também associado com SCC (OR = 0,5; IC 95%: 0,2-1,3). A prevalência e incidência da SCC nesta industria foram maiores do que na população geral ou outros tipos de industria. O estudo mostra o papel da ansiedade em trabalhadores expostos a grau elevado de exigência física e psicológica. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Halverson L, Maas R, J Fam Pract 2002;51(1):61-3, Janeiro de 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Distensão da cápsula da articulação do ombro (hidroplastia): serie de pacientes portadores de ombro gelado tratados em unidades de cuidados primários Ombro gelado (frozen shoulder), causada por capsulite adesiva, é frequentemente tratada por injeções intra-articulares de esteróides, fisioterapia, e manipulação cirúrgica sob anestesia. Os benefícios dessas terapias são limitados. A distensão hidráulica da cápsula da articulação do ombro (hidroplastia) alivia rapidamente a dor e melhora imediatamente a função do ombro em pacientes portadores de capsulite adesiva. Foram 70 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 efetuadas 21 hidroplastias em 16 pacientes durante um período de 4 anos. Em 94% dos casos (17/18) a mobilidade melhorou imediatamente após o tratamento. Em 53% dos casos (10/19) foi constatado melhora imediata, a curto prazo e a longo prazo da função e do conforto. Nenhuma complicação foi detectada. Os resultados de nossa serie sugerem que o método da hidroplastia poderia ser avaliado em número maior de casos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia e tratamento da espasticidade Richardson D, Eur J Neurol 2002;9 Suppl 1:17-22, maio de 2002 ○ ○ Fisioterapeutas são membros da equipe de reabilitação envolvida no manejo da espasticidade do adulto. A fisioterapia é uma parte do arsenal terapêutico no combate ao distúrbio da síndrome do neurônio motor superior. Identificar as alterações fisiológicas causadas pela fisioterapia é difícil. Bem como várias intervenções em reabilitação, esta área é pouco estudada, e, até recentemente, tinha pouca ou nenhuma evidência de sua eficiência. O objetivo deste trabalho foi de identificar os componente chave do método da fisioterapia e mostrar suas técnicas específicas. Os componentes estudados são: educação e curriculum vitae dos pacientes; ciclo de intervenção envolvendo avaliação correta, medições, intervenção e avaliação; metas possíveis e estágios de progresso a longo prazo. As técnicas específicas utilizadas foram tratamentos dirigidos para alterações no alongamento, força e performance funcional do músculo. Essas técnicas podem ser separadas em biomecânicas, cognitivas e neurofisiológicas, cada uma delas sendo interdependentes das outras. Fisioterapia combinada com os outros tratamentos disponíveis pode vencer o desafio da espasticidade do adulto. ○ Lauridsen UB, de la Cour BB, Gottschalck L, Svensson BH, Dan Med Bull 2002;49(1):70-2, fevereiro de 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia intensiva após fratura do quadril Introdução: Este estudo randomizado avaliou o efeito da fisioterapia intensiva sobre a duração da reabilitação após fratura do quadril. Métodos: 88 pacientes transferidos na divisão de reabilitação após tratamento cirúrgico de fratura do quadril, foram incluídos no estudo. 44 pacientes foram randomizados para fisioterapia durante 3,6 horas (média) por semana, e 44 pacientes do grupo controle receberam tratamento fisioterapêutica 1,9 hora/semana. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 71 O resultado foi definido como a duração da reabilitação física até o paciente for capaz de 1) andar 50 metros em menos de 2 minutos, 2) subir as escada de um andar, 3) se sentar e levantar, 4) se levantar da cama, 5) tomar um banho, se vestir e usar o banheiro. Resultados: No grupo randomizado para fisioterapia intensiva, 24 pacientes desistiram após 15 dias de tratamento e 13 pacientes desistiram do grupo controle após 22 dias (valores médias). A interrupção precoce do tratamento foi causada por complicações ortopédicas, fadiga e cooperação insuficiente do paciente. Nenhuma diferença significativa na duração da reabilitação foi observada entre os pacientes dos dois grupos que completaram o estudo. Discussão: A taxa muito elevada de desistência sugere que a fisioterapia intensiva tem um valor limitado para diminuir a duração da reabilitação após cirurgia do quadril. Um objetivo alterado incluindo reabilitação adaptada pode ser necessário para diminuir a duração da hospitalização após fratura do quadril. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Lansbury G, Sullivan G, J Allied Health 2002;31(1):43-50, fevereiro de 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Conhecimentos, conselhos e administração de remédios livres de prescrição pelos fisioterapeutas aos seus pacientes Fisioterapeutas têm geralmente formação e conhecimentos limitados em farmacologia, mas eles aconselham os seus pacientes para o uso de remédios livres de prescrição (OTC over the counter) e os administram durante o tratamento. Essa prática pode ter consequências sobre a responsabilidade profissional se os efeitos adversos e contra-indicações não são adequadamente avaliados. Também alguns remédios OTC podem ter efeitos sobre o tratamento fisioterapêutico. O objetivo deste estudo foi de avaliar o conhecimento do fisioterapeuta no que diz respeito a remédios OTC, como eles são aconselhados e administrados aos pacientes. Para isso, um questionário anônimo e auto-administrado foi enviado para uma amostra de 25% dos fisioterapeutas do estado de New South Wales, Austrália (n = 660). A análise mostrou que uma proporção significativa dos fisioterapeutas aconselha e administra remédios OTC, apesar de uma formação e conhecimentos limitados na área. 72 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Artigo original A atuação da fisioterapia na prevenção de quedas em pacientes com osteoporose senil Physical therapy for prevention of falls in patients with senile osteoporosis Renata Alvarenga Vieira**, Cristiane Cotrim dAlessandro*, Érica Detoni de Souza Reis*, Juliana Pacheco de Paiva*, Kércia Lara Xavier*, Lílian Aparecida Rodrigues*, Marcela Cangussu Barbalho*, Melissa Oliveira de Aquino*, Paula da Costa Maia*, Viviane Maria Liberano Ribeiro* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Discentes do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora, **Mestranda em Saúde Coletiva do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ, Professora da disciplina Fisioterapia Geriátrica do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora, Coordenadora de Estágio de Fisioterapia em Saúde Coletiva da UFJF, Coordenadora do Projeto de Extensão: Atuação Fisioterapêutica na Comunidade de Idosos do Instituto Espírita João de Freitas PROAEX UFJF. Palavras-chave: fisioterapia, prevenção, osteoporose senil, quedas. Resumo O presente estudo teve como objetivo verificar a eficácia de um programa de tratamento fisioterapêutico voltado para prevenção dos principais fatores que predispõem às quedas em pacientes com osteoporose senil. Para tanto, 64 idosos foram submetidos a uma avaliação fisioterapêutica, a fim de que se pudessem analisar suas capacidades física e funcional e, através desta, realizar a triagem dos mesmos. Assim, a amostra selecionada foi dividida em 3 grupos com abordagem fisioterapêutica diferenciada: atendimento domiciliar individual, terapia de grupo e participação de palestras informativas. Após o período de nove meses, os idosos integrantes do atendimento individualizado e da terapia de grupo foram submetidos à aplicação de um questionário qualitativo direcionado para a verificação da efetividade do tratamento proposto. Diante da análise dos dados apresentados após a aplicação do questionário, foi possível uma avaliação positiva da intervenção fisioterapêutica direcionada para a prevenção de quedas em idosos com osteoporose senil. Artigo recebido em 1 de fevereiro de 2002; aprovado em 9 de abril de 2002 Endereço para correspondência: Renata Alvarenga Vieira, Rua Engenheiro José Carlos Morais Sarmento, 281/ 203, Bairro Santa Catarina 36.036-100 Juiz de Fora MG. Tel: (32)32121638, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Key-words: : physiotherapy, prevention, senile osteoporosis, falls. 73 Abstract This study aimed at assessing the efficacy of a physiotherapeutic treatment program for prevention of chief factors predisposing to falls in senile osteoporosis population. 64 elders underwent triage through a physiotherapeutic evaluation which assessed their functional and physical performance. The selected sample was divided in 3 groups with different physiotherapeutic approaches: individual home care, group therapy and attendance to informative lectures. After nine months subjects belonging to both home care and group therapy arms were submitted a qualitative questionnaire to assess treatment effectiveness. The data obtained showed a positive result of the physiotherapeutic intervention for the prevention of falls in elders with senile osteoporosis. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução O tecido ósseo humano e suas peculiaridades Osteoporose senil e suas consequências O processo de formação, crescimento e desenvolvimento do tecido ósseo humano inicia-se durante a fase embrionária e segue até a idade adulta. O esqueleto ósseo é um tecido vivo que está em constante renovação. Nos primeiros anos de vida, na infância e na adolescência, predomina o processo de formação óssea, com intensa ação dos osteoblastos, que são células jovens responsáveis pela síntese da matriz óssea. Além da função de sustentação estrutural, o esqueleto ósseo é um importante reservatório de bicarbonato e cálcio. Na deficiência destes elementos, o organismo começa a retirar o cálcio presente nos ossos, para manter o nível circulante normal. A perda óssea que ocorre em indivíduos com mais de 70 anos e atinge de maneira proporcional o osso cortical e trabecular, caracteriza a osteoporose tipo II ou senil, cuja instalação é lenta, com perda óssea relacionada à idade. Seu agravamento pode se dar pela diminuição da quantidade e da qualidade das refeições, levando a uma dieta pobre em cálcio, e pelo sedentarismo que ocasiona uma hipotrofia da musculatura, levando a debilidade do sistema muscular e interferindo nas ações de estimulação, através de forças de tração e tensão, que este exerce sobre o sistema esquelético e também na proteção da musculatura ao tecido ósseo em caso de traumas e quedas. O sedentarismo também contribui para a menor exposição à 74 luz solar e, conseqüentemente, impede a conversão da vitamina D em sua forma ativa. Além disto, no idoso o equilíbrio em geral é prejudicado pela marcha deficiente, ocorrendo fraqueza muscular progressiva e lentificação, além da diminuição das respostas reflexas e alterações da visão, o que aumenta o risco de quedas [1]. Quando estas alterações próprias do envelhecimento estão associadas à osteoporose, as quedas geralmente trazem como conseqüência as fraturas, que representam uma das complicações mais temidas, em função do alto nível de morbidade e mortalidade, ocorrendo principalmente em ossos de sustentação, como o colo do fêmur e vértebras. Segundo estudo realizado no Hospital das Clínicas, da FMUSP, São Paulo, aos 80 anos, o limiar de fratura no colo do fêmur é de 45% e na coluna de 81,8% [2]. Nos Estados Unidos existem aproximadamente 250.000 fraturas de quadril anualmente, conseqüentes à osteoporose. Em média, 15% destes pacientes irão ao óbito no primeiro ano após a fratura e de 20 a 25% necessitarão ser institucionalizados [3]. A queda e suas conseqüências representam um problema crescente em uma população que envelhece. Estatísticas mostram que mais de 40% das mulheres acima de 70 anos de idade e com osteoporose sofrerá algum tipo de fratura, podendo se avaliar o alto custo do tratamento destas pacientes e sua repercussão na população mundial [3]. A cada ano, quase um terço de todas as pessoas com 65 anos de idade ou mais caem. Prevenir as quedas é de fundamental importância, principalmente para as pessoas que têm osteoporose, visto que as complicações não se restringem aos danos físicos, pois o medo de novas quedas provoca problemas psicológicos, restringindo as atividades físicas e sociais. Habitualmente, as quedas devem-se a várias causas que podem ser intrínsecas (alterações fisiológicas e/ou patológicas) ou extrínsecas (fatores ambientais). No que diz respeito às alterações fisiológicas, sabe-se que quando um indivíduo avança na idade, alguns sistemas orgânicos experimentam um declínio de função, sendo comum associá-la Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 ao processo de envelhecimento. Apesar de muitas destas alterações consideradas normais ao envelhecimento possuírem poucos efeitos na realização das necessidades diárias da maioria da população idosa, agravos à saúde que ocorrem nos sistemas sensoriais, neurológico, cardiorrespiratório e músculo-esquelético podem colocar certos indivíduos em riscos de quedas, principalmente na presença de fatores de risco ambientais. Quanto às alterações patológicas, dentre elas as enfermidades do sistema de sustentação, de partes moles, do sistema sensorial, neurológicas e cardiovasculares, sabe-se que estas são capazes de diminuir a estabilidade do idoso, principalmente quando somadas à instabilidade postural produzida pelo envelhecimento. As causas extrínsecas de quedas são condições relacionadas às circunstâncias ambientais vivenciadas pelo idoso. A maioria das quedas que ocorrem no ambiente doméstico se devem a fatores como pisos úmidos, encerados ou irregulares, tapetes soltos ou desfiados, obstáculos no chão, iluminação deficiente, ambientes monocromáticos, cama de altura inadequada, móveis frágeis, cadeiras e vasos sanitários baixos e sem apoio lateral, escadas sem corrimão e/ou com degraus não apropriados, falta de apoio nos boxes de banheiro e calçados inadequados. Quedas sofridas no ambiente externo costumam ocorrer em função de calçadas em mau estado de conservação, tráfego excessivo, sinalização deficiente e falta de adaptação dos meios de transporte e de acessos para pessoas com deficiência. A atuação da fisioterapia Segundo Santarém [4], a fisioterapia pode atuar nesta área, uma vez que os exercícios físicos fazem parte tanto da profilaxia da osteoporose, na juventude e na idade adulta, como também do tratamento. A exata maneira pela qual os exercícios físicos exercem estímulos ao aumento da massa óssea ainda não está esclarecida. Sabe-se que dois fatores são importantes: a tensão dada pelo suporte de cargas e a contração Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 muscular, sendo o primeiro mais atuante do que o segundo. As metas terapêuticas a longo prazo da fisioterapia consistem em prevenir as fraturas e a instalação de deformidades da coluna. Essas metas são atingidas através de programas de exercícios e educação do paciente. As estratégias do tratamento fisioterápico se dão em três áreas principais: prevenir os fatores de risco que predispõem a doença, evitar a progressão da patologia já instalada e promover a profilaxia de quedas e fraturas. O alcance dos objetivos prédeterminados pode se dar através de um programa fisioterapêutico baseado tanto na orientação e informação, quanto na prática de exercícios cinesioterápicos específicos. No que diz respeito às orientações, é importante que os idosos sejam informados quanto à necessidade de se evitar os fatores de risco, tanto intrínsecos quanto extrínsecos, que predispõem às quedas na osteoporose senil. Além disto, os idosos devem ser conscientizados quanto ao curso normal da patologia e a importância do tratamento fisioterapêutico na prevenção de complicações características da doença. De acordo com Ferreira [5], o programa de exercícios deve levar em consideração o bemestar, regularidade e satisfação de quem o pratica. O exercício profilático adequado para a osteoporose deve enfatizar a prevenção de quedas, através de exercícios moderados, de baixo impacto e que melhoram a força muscular e o equilíbrio [6], além da marcha e as atividades de vida diária. Assim, os acadêmicos do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora pretendem propor um programa de intervenção fisioterapêutica, voltado para a prevenção dos principais fatores que predispõem a ocorrência de quedas em pacientes com osteoporose senil, com conseqüente retardo da evolução e outras complicações da patologia já instalada. Material e métodos Um programa de fisioterapia foi realizado na comunidade de 64 idosos, com idade média de 76 anos, do Instituto Espírita João 75 de Freitas, situado na cidade de Juiz de Fora MG, através do Projeto de Extensão Atuação Fisioterapêutica na Comunidade de Idosos do Instituto Espírita João de Freitas, com apoio financeiro da Pró-Reitoria de Articulação Externa e Extensão (PROAEX), no período de abril a dezembro de 2001. O trabalho realizado pelos acadêmicosbolsistas do Projeto em questão foi uma pesquisa de caráter qualitativo, que consiste na prevenção através de orientação a respeito dos fatores de risco de quedas, além da elaboração e supervisão de atividade física específica. Inicialmente, todos os 64 idosos do Instituto Espírita João de Freitas foram submetidos a uma avaliação fisioterapêutica geral, a fim de que se pudesse analisar suas capacidades física e funcional e, através desta, realizar a triagem dos idosos. Assim, estabeleceu-se que os senescentes que apresentavam total independência funcional, nenhuma intercorrência clínica e nem história de queda prévia seriam selecionados para participação exclusiva do programa de palestras. Os demais idosos foram submetidos à aplicação da Escala de riscos de quedas de Downton (Tabela I) e, de acordo com os resultados obtidos (66,6% dos pacientes apresentaram risco elevado de quedas) e suas características clínicas e funcionais, integrados ao programa de tratamento fisioterapêutico individualizado ou em grupo. Desta forma, o agrupamento dos idosos se fez da seguinte maneira: 09 foram selecionados para serem submetidos ao atendimento domiciliar individual, 12 para integrarem a terapia de grupo e 43 convocados para participarem somente das palestras informativas. Assim, a participação nas palestras foi solicitada a todos os idosos, inclusive àqueles integrados à abordagem terapêutica individual ou em grupo. Todos foram esclarecidos sobre a necessidade de adesão à intervenção proposta durante o período pré-determinado. O programa de cinesioterapia, tanto no atendimento domiciliar quanto na terapia de grupo, foi elaborado a partir de princípios específicos para a abordagem da osteoporose, com intensidade maior do que a utilizada nas atividades de vida diária; especificidade de 76 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 exercícios em relação aos locais mais susceptíveis a fraturas; diversidade na direção e no tipo de força aplicada para que os exercícios englobem todas as amplitudes de movimentos funcionais; e duração necessária para que sejam atingidos os efeitos da atividade física. O programa foi voltado para a prevenção contra o sedentarismo, melhora da marcha, equilíbrio, coordenação motora e propriocepção, estimulação da sensibilidade e reflexos, ganho de alongamento, amplitude de movimento (ADM) e força muscular, condicionamento cardiovascular e respiratório e melhor controle do tônus postural, proporcionando, com isto, maior integração do esquema corporal e ganho na qualidade de vida, além de maior independência nas atividades de vida diária, já que os idosos frágeis tendem a cair em situações corriqueiras do dia-a-dia, envolvendo atividades simples como sentar, levantar e tomar banho [7]. Tabela I Escala de avaliação de risco de quedas de Downton · Somar um ponto por cada item com asterisco 1- Quedas anteriores : 2- Medicamentos: não/ sim* nenhum tranqüilizantes - sedativos * diuréticos* hipotensores ( não-diuréticos ) * antiparkisonianos* antidepressivos* outros medicamentos 3 - Déficit sensorial : nenhum alterações visuais* alterações auditivas* nos membros* (icto, etc.) 4 - Estado mental: orientado confuso* 5 - Marcha: normal segura, com ajuda insegura, com/sem ajuda* impossível · 3 ou mais pontos indicam risco elevado de quedas. O atendimento domiciliar, realizado duas vezes por semana, com duração média de 45 minutos, foi elaborado de acordo com as necessidades de cada paciente, sempre enfatizando os objetivos acima descritos. Além disto, a oportunidade de contato direto com o domicílio dos idosos, facilitou a realização da inspeção do ambiente, a fim de que se pudesse identificar e informar aos idosos a respeito dos riscos de quedas existentes e suas possibilidades de mudança. Segundo Duarte [7], faz-se necessária não só a readequação do ambiente, como também uma intervenção que contemple os aspectos de melhora da percepção, e do comportamento dos idosos frente ao uso deste ambiente, para se garantir um bom programa de prevenção de quedas em idosos. Quanto ao atendimento em grupo, sua freqüência foi de duas vezes por semana, com duração aproximada de uma hora. Uma de suas funções é devolver aos idosos a oportunidade de se sentirem aceitos, importantes e capazes, além de promover uma maior independência no dia-a-dia, tanto no sentido funcional como intelectual, já que durante a terapia é estimulada a participação ativa dos idosos na realização e no comando dos exercícios. O contato entre os idosos estimula a socialização e melhora a autoestima, promovendo o bem estar geral dos senescentes e um melhor entendimento e aceitação do processo de envelhecimento. Durante a terapia, que é sempre realizada com o auxílio de vários ritmos musicais, são utilizados materiais como bolas, bastões, bambolês, faixas de tecidos, halteres confeccionados artesanalmente e materiais de texturas diferentes, todos em cores bem vibrantes, o que torna mais descontraída a atividade. No decorrer do atendimento, procura-se realizar atividades de aquecimento prévio, aumentar gradativamente a intensidade dos exercícios, orientar quanto às vestimentas, sapatos e alimentação, corrigir posturas e movimentos incorretos, promover comandos verbais simples e demonstrar os movimentos a serem realizados, promovendo maior conhecimento e percepção corporal, além de maior conscientização quanto à prática de atividades físicas. Existe ainda a preocupação quanto ao controle da freqüência cardíaca e da pressão arterial dos idosos, que são aferidas no início e no final das sessões, quando são realizados exercícios Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 de desaquecimento e relaxamento objetivando restabelecer os valores iniciais. Quando praticado em grupo, o atendimento é mais prazeroso e permite um exercício de socialização e convivência, também fundamentais para o bem-estar do sujeito [5]. Tabela II Questionário de verificação da eficácia do tratamento proposto 1)Após iniciar a fisioterapia, você se sentiu mais seguro (a) para realizar suas atividades diárias? ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 2)Após a fisioterapia, você sentiu melhora em algum destes fatores: 2.1 Sentar e levantar ( ) Sim ( ) Não ) Nunca apresentei dificuldades 2.2 Subir escada sem apoio ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 2.3 Disposição ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 2.4 Lidar com os talheres ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 2.5 Vestir-se ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 2.6 Modo de andar ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 2.7 Independência nas atividades de vida diária ( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca apresentei dificuldades 3)Após as palestras sobre quedas e osteoporose, você tomou algum cuidado para prevenir quedas? ( ) Sim ( ) Não 4)Após a entrada no programa de fisioterapia, você sofreu alguma queda? ( ) Sim ( ) Não Cartilhas educativas foram distribuídas durante as palestras informativas, organizadas e ministradas mensalmente, pelos próprios acadêmicos, direcionadas para todos os idosos que participaram do estudo. Foram utilizados recursos audiovisuais que despertaram maior atenção e interesse dos idosos, como: apresentação de teatro, slides e vídeos educativos, exposição de cartazes e dinâmicas de grupo. Após o período de nove meses de atuação fisioterapêutica, os idosos integrantes do atendimento individualizado e da terapia de grupo, foram submetidos à aplicação de um questionário (tabela II) direcionado para a verificação da efetividade do tratamento proposto. 77 Resultados Segundo a aplicação do questionário elaborado com o objetivo de verificar a eficácia do tratamento fisioterapêutico proposto, os resultados apresentados foram: Tabela III Resultados pós-aplicação do questionário Parâmetros SIM NÃO Nunca apresentou analisados dificuldades Questão Questão Questão Questão Questão Questão Questão Questão Questão Questão 1 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 3 4 93,3% 93,3% 60,0% 93,3% 73,3% 73,3% 93,3% 93,3% 86,6% 20,0% 6,7% 6,7% 40% 6,7% 6,7% 6,7% 6,7% 6,7% 13,4% 80,0% 20% 20% A análise destes dados permitiu aos autores as seguintes correlações: · A proposta de verificação da interferência da fisioterapia na independência e funcionalidade dos gerontes em relação às suas atividades de vida diária, obteve resposta positiva, comprovada em 93,3 % dos entrevistados; · Ao se questionar a respeito do ato de sentar e levantar, subir escadas sem apoio e melhora no modo de andar, a resposta favorável da maioria dos entrevistados é indicativa de melhora de equilíbrio, força muscular, coordenação motora, propriocepção, marcha e tônus postural; · Melhora do condicionamento cardiovascular e respiratório foi verificada, já que a grande maioria dos pacientes (93,3%) relatou aumento da disposição, sendo este termo integrado ao questionário, por permitir ao idoso um melhor entendimento da diminuição da fadiga durante as atividades; · O relato de melhora ao lidar com talheres e vestir-se, dado pela maioria dos pacientes (73,3%), indica ganho de coordenação motora fina e propriocepção, sendo que no ato de vestir-se também foi verificado uma melhor coordenação motora grossa, alongamento e ganho de ADM, principalmente dos grandes grupos articulares; 78 · O item que aponta maior independência nas atividades de vida diária apresentada por 93,3% dos pacientes, teve o propósito de enfocar, principalmente, a melhora na qualidade de vida, que é conseqüente de alterações positivas de todos os outros fatores analisados; · A eficácia das orientações preventivas em relação à quedas, realizada através de palestras, pôde ser vista pelo fato de 86,6% dos pacientes afirmarem tomar algum cuidado na prevenção das mesmas; · O fato de 80% dos pacientes não relatarem a ocorrência de quedas, aborda de maneira objetiva total interferência do programa em relação à prevenção e diminuição da incidência de quedas nos idosos submetidos ao tratamento fisioterapêutico. Conclusão Considerando-se a grande incidência e conseqüente relevância das quedas em pacientes com osteoporose senil, sua prevenção constitui-se numa estratégia primordial de intervenção terapêutica. Conforme a proposta do trabalho realizado, esta prevenção mostrou-se eficaz ao abordar todas as vertentes relacionadas aos riscos de quedas nestes idosos, enfatizando uma abordagem através de orientações e condutas cinesioterápicas específicas. Quanto à elaboração do questionário, houve uma preocupação em adequá-lo ao entendimento dos idosos, direcionando-o às suas situações cotidianas, a fim de que se pudesse avaliar parâmetros específicos através da relação destes com atividades funcionais, como o aumento da força muscular na melhora da marcha. Desta forma, os dados fornecidos pelos próprios idosos tornaram os resultados mais fidedignos e os despertaram para os benefícios da atuação fisioterapêutica. A avaliação positiva do programa fisioterapêutico proposto para a prevenção de quedas em pacientes com osteoporose senil, foi possível tanto através da análise quantitativa dos dados obtidos com a aplicação do questionário, como também pela observação da interferência destes em Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 aspectos sociais que implicam em melhora da qualidade de vida, secundários ao aumento das capacidades física e funcional dos gerontes. Referências 1. Fernandes CE et al. Osteoporose. Rev Bras Med 1995;52(10):1170-1186. 2. Freitas AL et al. Epidemiologia na osteoporose. Rev Med 1998;77(1):31-44. 3. Plapler PG. Osteoporose e Exercícios. Rev Hosp Clín Fac Méd 1997;52(3):163-170. 4. Santarém JM. Exercício Físico e Osteoporose. www.saudetotal.com.br/ saude /musvida/porose 5. Ferreira E. Envelhecimento e atividade física. www.fisiosite.com.br/Recursos/ envelhecatvfisica 6. Turner CH. Exercício como uma Terapia para a Osteoporose. 7. Duarte Y.A.O, Diogo MJD. Atendimento Domiciliar: Um Enfoque Gerontológico. São Paulo: Editora Atheneu; 2000. p.187198. 8. Skare TL. Reumatologia: Princípios e Prática. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A.; 1999. p. 248 - 259. 9. Papaleo CF. Geriatria - Fundamentos, clínica e terapêutica. Editora Atheneu; 1994. p.297307. 10. Papaleo CF. Gerontologia. Editora Atheneu; 1996. p. 6070. 11. Pickles B, Compton A, Colt C, Simpson J, Vandervoort A Fisioterapia na terceira idade. São Paulo: Livraria Editora Santos; 1998. 12. Cantera IR, Domingo PL. Guias Práticos de Enfermagem. Rio de Janeiro: McGrawHill Interamericana do Brasil Ltda; 1998. p. 203212. 13. Simpson JM. Instabilidade Postural e Tendência às Quedas. In: Fisioterapia na Terceira Idade. São Paulo: Editora Santos; 1998. p. 197-212. 14. Sakamoto LC, Isaac RVC, Gonçalves MA. Osteoporose Epidemiologia. www.saudetotal.com 15. Brandão SMA, Vieira JGH. Fatores Envolvidos no Pico de Massa Óssea. Arq Bras Endocrinol Metab 1999;43(6):401-408. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 79 Artigo original Relaxamento aquático em piscina aquecida, realizado através do método Ai Chi: nova abordagem hidroterapêutica para pacientes portadores de doenças neuromusculares Aquatic relax in heated swimming pool done through Ai Chi method: new hydrotherapy treatment for patients with neuromuscular disease Márcia Cristina Bauer Cunha*, Rita Helena Duarte Dias Labronici**, Acary Souza Bulle Oliveira***, Alberto Alain Gabbai**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, Mestre e Doutoranda em Neurociências pela UNIFESP-EPM, **Fisioterapeuta, Mestre em Neurociências pela UNIFESP-EPM, ***Médico Neurologista, Chefe do Setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP-EPM, ****Médico Neurologista, Professor Titular e Chefe da Disciplina de Neurologia da UNIFESP-EPM Palavras-chave: Doenças neuromusculares, fisioterapia, hidroterapia, relaxamento aquático, método Ai Chi. Resumo As doenças neuromusculares representam um grupo grande de afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do neurônio inferior, o seu prolongamento, a junção neuromuscular ou o tecido muscular esquelético. Estas doenças particularmente têm em comum uma evolução com piora progressiva, causando limitação crescente para a realização de tarefas simples. Por estas razões, há a necessidade de se criar formas alternativas de terapia, dentre elas o relaxamento aquático realizado em piscina aquecida, visando melhorar a qualidade de vida destes pacientes. Apresentamos o método Ai Chi como forma alternativa de abordagem hidroterapêutica para pacientes portadores de Doenças Neuromusculares (DNM), e demonstramos também a evolução de 3 pacientes com diagnóstico de Atrofia Muscular Espinhal tipo III (Kugelberg-Welander), que realizaram a terapia através do método Ai Chi. Artigo recebido em 10 de fevereiro 2002 ; aprovado em 10 de março 2002 Endereço para correspondência: Ft Márcia Cristina Bauer Cunha, UNIFESP-EPM Setor Neuromuscular, Rua Pedro de Toledo, 377 - Vila Clementino, 04039-031 - São Paulo SP, E-mail: marcia­[email protected] 80 Key-words: Neuromuscular diseases, hydrotherapy, aquatic relax in heated swimming pool, Ai Chi method. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Abstract Neuromuscular disorders can be subdivided into myopathies, in which the pathology is confined to the muscle itself, with no associated structural abnormality in the peripheral nerve, and neuropathies or neurogenic atrophies, in which muscle weakness is secondary to an abnormality along the course of the peripheral nerve, from the anterior horn cell to the neuromuscular junction. Because of the progression of these disorders, a search for therapeutic methods is need. There is no drug that could stop the progression of the disease, or improve the routine daily activities. Ai Chi has been used like a method to treat patients with neuromuscular diseases, including SMA. The main purpose is to improve the physical condition and quality of life for these patients. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução As doenças neuromusculares representam um grupo grande de afecções que comprometem a unidade motora, ou seja, o corpo celular do neurônio inferior, o seu prolongamento, a junção neuromuscular ou o tecido muscular esquelético [1]. O comprometimento do corpo celular do neurônio motor inferior (NMI) caracterizase por atrofia, atonia, arreflexia, fraqueza e fasciculação. As principais doenças são: Poliomielite Anterior Aguda, Atrofia Muscular Espinhal (AME), e a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). A lesão da fibra nervosa manifesta-se com alteração da motricidade, da sensibilidade (superficial e/ou profunda), com diminuição dos reflexos e envolvimento autonômico. As polineuropatias periféricas caracterizam-se por comprometimento predominante das porções distais dos 04 membros, tendo como principais causas o diabetes, a desnutrição, a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ hanseníase e doenças hereditárias (Doença de Charcot Marie Tooth, Amiloidose) [2]. O acometimento da junção neuromuscular (JNM) manifesta-se com fadigabilidade, com flutuação da fraqueza, usualmente piorando com o decorrer do dia. A Miastenia Grave Autoimune Adquirida é o grande representante das doenças que envolvem a JNM. As doenças musculares apresentam-se, na maioria das vezes, com fraqueza muscular de predomínio proximal, alteração no padrão de marcha (báscula de bacia), ocasionando quedas ao solo e dificuldade para levantar-se (Sinal de Gowers ou levantar miopático). Dentre as principais miopatias destacam-se a Distrofia Muscular (Duchenne/Becker, Cintura Membros, Emery Dreifuss), as Miopatias Metabólicas, e as Inflamatórias [3]. Para a realização do diagnóstico destas doenças é fundamental a história detalhada, os dados familiares, além de um exame físico adequado. Os principais exames laboratoriais úteis para a realização diagnóstica Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 topográfica ou até etiológica são: · Dosagem da enzima creatino-quinase (CK), que catalisa a liberação do fosfato de creatina que ocorre principalmente no músculo. Valores aumentados de CK indicam comprometimento da fibra muscular, usualmente secundária à necrose muscular. · Eletroneuromiograma (ENMG) analisa a velocidade de condução elétrica e o estado das unidades motoras (corpo celular do neurônio motor inferior, o seu prolongamento e as fibras inervadas pelo neurônio). Diminuição na velocidade de condução indica lesão desmielinizante da fibra nervosa. A presença de fibrilações, fasciculações, ou de ondas positivas do músculo em repouso é diagnóstico de desnervação aguda das fibras musculares, ou seja, comprometimento axonal. · Biopsia muscular com estudo histoquímico, realizada em músculo apropriado, usualmente deltóide, deve ser processada com técnicas adequadas. A presença de agrupamento de fibras do mesmo tipo (type grouping) é indicativa de comprometimento neurogênico. A presença de necrose muscular, reação inflamatórias ou alterações na arquitetura das fibras musculares, sugerem comprometimento muscular. · A biopsia de nervo, geralmente realizada em nervo sensitivo (sural ou fibular), raramente faz diagnóstico específico. Entretanto, por meio dela, é possível diferenciar a lesão axonal da desmielinizante [3]. Exceto as doenças de causa inflamatória, praticamente não há uma medicação específica que reverta os danos ocasionados na unidade motora. Estas doenças, particularmente, têm em comum uma evolução com piora progressiva, causando limitação crescente para a realização de tarefas simples. Por estas razões, existe a necessidade de se criar formas alternativas de terapia, com o objetivo de melhora de qualidade de vida, especialmente para os pacientes gravemente afetados [4]. A hidroterapia tem ganhado, progressivamente, vários adeptos, pois proporciona a possibilidade de realização de atividade física, muitas vezes impossível de se realizar fora 81 da água. Pacientes severamente incapacitados fora da água, são notavelmente móveis na piscina [5]. A água oferece a experiência do corpo atuar em duas forças principais: gravidade para baixo e flutuação ou impulso para cima. Ela proporciona o potencial de exer-cício em três dimensões: estimulação perceptual, visual e auditiva; e também através dos receptores da pele, devido aos efeitos da turbulência, calor e pressão hidrostática. A terapia na água também auxilia no controle de equilíbrio, controle rotacional e trabalho respiratório [6]. Os efeitos adquiridos são tanto físicos quanto psicológicos. Para a criança a atividade na água constitui um meio de ampliar as suas experiências [7]. Objetivo O objetivo deste trabalho é o de apresentar o método Ai Chi como forma alternativa de abordagem hidroterapêutica, que tem se mostrado muito útil para o tratamento de pacientes portadores de Doenças Neuromusculares (DNM). Material e métodos Material: Foram estudados 3 pacientes portadores de Atrofia Muscular Espinhal tipo III (Kugelberg-Welander), matriculados no setor de Doenças Neuromusculares da UNIFESP-EPM. Método: O método Ai Chi foi criado a partir da combinação dos conceitos do Tai-Chi e do Qigong, juntamente com as técnicas de Shiatsu e Watsu. É uma modalidade terapêutica individual realizada dentro da água (na altura dos ombros), utilizando a combinação de respiração profunda com movimentos leves e amplos dos membros superiores, membros inferiores e tronco. É o total alongamento e relaxamento progressivo do corpo, integrando mente, corpo e a energia espiritual. A progressão dos movimentos do Ai Chi desenrola-se desde uma respiração simples, para a incorporação de movimentos da extremidade superior, para a incorporação de 82 movimentos do tronco, depois incorporação de movimentos de extremidade inferior e finalmente, para o envolvimento total do corpo [8]. Benefícios do Ai Chi: A estabilização do tronco e os benefícios em relação ao manejo da dor são os dois pontos mais citados por hidroterapeutas. Os movimentos leves e harmoniosos alongam os músculos enquanto promovem uma experiência suavizante. Os movimentos proporcionados pelo Ai Chi permitem uma melhora do metabolismo e na circulação sangüínea, aumentando o consumo de oxigênio em 7%, segundo pesquisa feita por fisiologistas no Japão. A naturalidade dos movimentos do Ai Chi acalma a mente e diminui o stress e a insônia. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 2.Mesma posição anterior membros superiores frente ao corpo realizando movimentos lentos de flexão e extensão; Posicionamentos e orientações ao pacientes antes de realizar a sessão 1. Início com os pés separados, joelhos semifletidos para fora, mantendo-se com a coluna ereta; 2. Flexão dos joelhos até que a água alcance o nível dos ombros, permanecendo com os braços descansados sobre a superfície; 3. O queixo deve estar relaxado e levemente para baixo; 4. Inspiração pelo nariz com a palma das mãos viradas para cima; 5. Expiração pela boca com a palma das mãos viradas para baixo; 6. Peso uniformemente distribuído sobre os pés. Etapas do Ai Chi 1. Membros inferiores semifletidos, corpo imerso membros superiores frente ao corpo, elevados pela água; 3A e 3B. Mesma postura anterior membros superiores realizando abdução e adução; Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 4. Cruzar membros superiores à frente do corpo; 83 7A e 7B. Lateral membro inferior da frente com joelho semifletido e membros superiores elevados. Realizar movimentos de abdução dos membros superiores e elevação do membro inferior que estava à frente [8]. 5. Membros superiores abertos levar um membro superior ao outro, no meio; 6. Lateral membros inferiores semifletidos levar os membros superiores à frente; fechando-os, e transferir o peso corporal para o membro inferior da frente; Resultados Para ganharmos experiência, 3 pacientes portadores de Atrofia Muscular Espinhal (AME), que já vinham sendo tratados com fisioterapia motora (uma sessão semanal) e hidroterapia (uma sessão semanal), foram submetidos a um tratamento com o método Ai Chi, com duração de 20 minutos como complemento final da hidroterapia, durante um ano. 84 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Tabela I Resultados pós-aplicação do questionário Nome Idade Início da doença S.F. L.S. W.S. 18 15 30 07 05 13 Barthel (antes) Barthel (depois) 70 80 70 80 95 85 Idade, idade de início dos sintomas, Escala de Barthel antes e após de um ano de terapia. Por se tratar de doença progressiva, não esperávamos uma melhora da força muscular, e das atividades de vida diária. Entretanto, foi evidente uma melhora no Barthel, principalmente nos itens vestuário e higiene. Discussão Harold Dull, em 1984, criou o Watsu, uma técnica de relaxamento aquático profundo, onde o paciente permanece nos braços do terapeuta. Devido ao grau de fraqueza muscular dos pacientes com Doenças Neuromusculares, eles apresentaram dificuldade para o total relaxamento do corpo, visto que neste método o paciente permanece somente com apoio do cotovelo do terapeuta na região cervical, entrando água no ouvido e não permitindo segurança. Em 1997 Jun Konno criou o Ai Chi visando utilizá-lo para aulas de relaxamento em grupo, e não utilizou esta técnica para pacientes. Não há dados na literatura para serem discutidos, pois não existem relatos desta técnica, e nenhuma outra de relaxamento, que foram realizadas para pacientes com Doenças Neuromusculares. Conclusão As abordagens hidroterapêuticas, realizadas em piscina aquecida, têm sido utilizadas como tratamento complementar para pacientes portadores de Doenças Neuromusculares. O Ai Chi, que é uma terapia de relaxamento de fácil execução, e foi realizada junto com os pacientes, que seguiram os comandos do terapeuta. Os pacientes relataram que esta forma de terapia, realizada individualmente ou em grupo, é facilmente aprendida por eles, e mesmo com suas limitações nas amplitudes de movimentos e diminuição de força muscular, a água auxiliou e facilitou a sua realização. Esta técnica proporcionou relaxamento e prazer, estimulou movimentos ativos, melhorou as atividades de vida diária, proporcionando assim uma melhor qualidade de vida aos pacientes com Doenças Neuromusculares. Referências 1. Dubovitz V. Muscle Disorders, Saunders, Second edition, London, 1995. 2. Ramos JÁ, Prado FC. Atualização Terapêutica. Artes Médicas, 19 edição, São Paulo, 1999. 3. Engel AG, Armstrong CF. Myology. McGraw-Hill, second edition, New York, 1995. 4. Cunha MCB, Oliveira ASO, Labronici RHDD. Spinal Muscular Atrophy Type II (Intermediary) and III (Kugelberg Welander). Evolution of 50 Patients with Physiotherapy and Hydrotherapy in a Swimming Pool. Arquivos de NeuroPsiquiatria, São Paulo, 1996:54. 5. Skinner AT, Thomson AM. Duffields Exercise in Water. 3rd ed. London, England: Bailliere Tindall; 1983. 6. Davis B, Harrison RA. Hydrotherapy in Practice. New York, NY: Churchill Livingston; 1988:171-177. 7. Campion MR. Hidroterapia: Princípios e Prática. Manole, São Paulo, 1999. 8. Konno Jun. Ai Chi. A Symphony for my body. Physical Therapy Products 1997;2:46-48. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 85 Artigo original Avaliação do reflexo patelar através da EMG de superfície em indivíduos saudáveis e com instabilidade patelofemoral Patellar reflex assessment across the surface EMG in healthy individuals with patellar instability João Carlos Ferrari Corrêa*, Fernanda Ishida Corrêa**, Rúben de Faria Negrão Filho***, Fausto Bérzin**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Professor Doutor do Departamento de Fisioterapia do Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE) e da Universidade de Taubaté (UNITAU), **Professora Mestre do Departamento de Fisioterapia da Universidade de Taubaté (UNITAU), ***Professor Doutor do Departamento de Fisioterapia da Universidade Estadual Paulista (UNESP), ****Professor Doutor da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) * Palavras-chave: Eletromiografia, reflexo patelar, VMO. Resumo Período de latência da resposta reflexa dos músculos vasto medial oblíquo e vasto lateral, foi mensurado em 10 voluntários saudáveis e 10 voluntários com instabilidade patelofemoral. A resposta reflexa para ambos os músculos foi mensurada através do período de latência da percussão patelar e analisada através da eletromiografia de superfície. Nos voluntários saudáveis não houve diferenças estatisticamente significativas, já nos voluntários com instabilidade patelofemoral foram encontradas diferenças do período de latência entre os músculos vasto lateral, que ativou-se significativamente mais rápido que o vasto medial oblíquo. O aumento do período de latência da resposta reflexa do músculo vasto medial oblíquo, pode indicar um desequilíbrio neurofisiológico do controle motor nos pacientes com instabilidade patelofemoral. Título abreviado: EMG na avaliação do reflexo patelar Recebido em 4 de abril de 2002; aprovado em 12 de abril de 2002 Endereço para correspondência: Prof. Dr. João Carlos Ferrari Corrêa, Rua Jamil João Zarif, 56, Santana, 02405-000 São Paulo SP, E-mail: [email protected]. 86 Key-words: Electromyography, patellar reflex, VMO. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Abstract Reflex response time of the vastus medialis obliquus and vastus lateralis were evaluated in 10 normal subjects and 10 patients with extensor mechanism dysfunction (patellofemoral instability). The reflex response times for both muscles to a patellar tendon tap were evaluated by electromyography. In normal subjects, determined that the vastus medialis obliquus fired before than the vastus lateralis. In the patients, the vastus lateralis fired significantly faster than the vastus medialis obliquus. This increase of reflex response in the vastus medialis obliquus may be demonstrating a neurophysiologic motor control imbalance that may account for or contribute to their patellofemoral instability. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Durante as atividades físicas, o mecanismo extensor providencia estabilidade à articulação patelofemoral. Distúrbios patológicos nessa articulação podem afetar diretamente os músculos constituintes do mecanismo extensor, principalmente os músculos vasto medial oblíquo (VMO) e vasto lateral (VL) [1]. A instabilidade patelofemoral tem sido identificada como uma causa em potencial desses distúrbios patológicos, devido ao movimento lateral da patela ser controlado, dentre tantos fatores, pela projeção anterior do côndilo femoral lateral, tração dinâmica medial do VMO e estática do retináculo medial, entre outros [2]. Quando o VMO contrai, a patela centralizase no sulco troclear. Portanto, para um alinhamento biomecânico correto, faz-se necessário um mecanismo extensor dependente do ótimo funcionamento do VMO. A proposta desse estudo foi de determinar a resposta reflexa dos músculos VMO e VL, em voluntários saudáveis e em pacientes com instabilidade patelofemoral, utilizando-se o reflexo tendinoso patelar. Material e métodos Participaram deste trabalho, realizado no Laboratório de Eletromiografia do Centro Universitário Nove de Julho - UNINOVE, 10 voluntários saudáveis, com idade média de 20,8 (± 1,31) anos e 10 voluntários portadores de instabilidade patelofemoral, com idade média de 22,5 (± 1,52), após o projeto de pes- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 quisa ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (segundo a resolução CNS 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, de 10/10/96). Os voluntários foram submetidos ao teste de reflexo tendinoso patelar, durante os quais foram obtidos dados da atividade elétrica dos músculos VMO e VL, da coxa dominante. O sistema de aquisição de sinais consistiu de dois pares de eletrodos de superfície, bipolares, do tipo ativo e pré-amplificados 20 vezes, com modo comum de rejeição maior que 80 dB; além de um martelo clínico de reflexo, adaptado com um cristal gerador de um efeito piezelétrico, que emitia um sinal no momento exato da percussão do tendão patelar, utilizado para a realização do teste do reflexo tendinoso patelar. Esses 2 componentes do sistema de aquisição de sinais (eletrodo de superfície e martelo de reflexo) foram conectados à um módulo condicionador de sinais, modelo MCS 1000 - V2, de 16 entradas analógicas, da empresa Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda. No condicionador, os sinais analógicos foram filtrados com um filtro passa banda de 20 à 500 Hz, realizado através de filtro analógico e acrescidos para um ganho final de 1000 vezes [3]. Uma vez adquirido o sinal, o mesmo era digitalizado através da placa analógico/digital (A/D), modelo CAD 12/36 utilizada como conversor A/D para leitura de sinais analógicos com 12 bits de resolução. Ao chegar no local do exame, os voluntários foram submetidos a uma avaliação do estado funcional da articulação do joelho, de forma que foram selecionados somente os voluntários que apresentaram a articulação do joelho sem comprometimentos fisiológico e patológico (grupo saudável) e que apresentassem instabilidade patelofemoral (grupo patológico). Os voluntários foram informados que podiam retirar o seu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem penalização alguma, antes mesmo de ler e assinar o termo de consentimento para participação em pesquisa clínica. Os eletrodos de superfície foram colocados sobre o ponto motor dos músculos vasto medial oblíquo (VMO) e vasto lateral 87 (VL) da coxa dominante de todos voluntários, seguindo o sentido longitudinal das fibras. A técnica de localização do ponto motor empregada foi a mesma sugerida por Dainty & Norman[4], e que conforme relatado por Araujo, Sá & Amadio[2], está sujeita a menos erros sistemáticos. Durante a análise dos dados foram considerados os períodos de latência (obtido através do teste do reflexo tendinoso patelar) dos músculos VMO e VL. Para a medida do período de latência, foi considerado o tempo (em milissegundos - ms) entre o pico do sinal emitido pelo martelo de reflexo e o pico do potencial de ação gerado pelos músculos VMO e VL. Considerando que 10 repetições (do teste de reflexo tendinoso patelar) foram realizadas, a média dessas repetições foram consideradas representativas de cada voluntário. A figura 1 mostra um exemplo do registro do período de latência. Resultados Os dados sobre o período de latência da atividade elétrica, frente à percussão sobre o tendão patelar, podem ser visualizados na tabela I para os voluntários do grupo controle e na Tabela II para os voluntários do grupo patológico. Fig. 1 Exemplo do registro de um período de latência, que corresponde ao tempo entre o pico do sinal do martelo de reflexo e o pico do potencial de ação dos músculos. 88 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Tabela 1 - Média (X) e desvio padrão (DP), do perío-do de latência do reflexo, das 10 repetições dos 10 voluntários do grupo saudável e da respectiva média total destes, em milisegundos (ms), dos músculos vasto medial oblíquo (VMO) e vasto lateral (VL). Período de latência Voluntário 1 Voluntário 2 Voluntário 3 Voluntário 4 Voluntário 5 Voluntário 6 Voluntário 7 Voluntário 8 Voluntário 9 Voluntário 10 Média 10 voluntários X VMO VL DP X DP 0,17625 0,11547 0,16 0,20833 0,1874 0,165846 0,15643 0,1235 0,18 0,18546 0,01685 0,03578 0,01 0,00753 0,024 0,03786 0,00707 0,02881 0,02345 0,03421 0,14167 0,12667 0,15 0,18667 0,19568 0,18 0,165 0,156 0,2075 0,208 0,165869 0,02485 0,171719 0,02855 0,01329 0,02658 0,00707 0,01033 0,0255 0,03464 0,00707 0,02302 0,02986 0,03114 Observando a tabela I, nota-se pela média dos 10 voluntários do grupo saudável, que o primeiro músculo a responder ao estímulo foi o músculo vasto medial oblíquo (0,165869 ms), seguido do músculo vasto lateral (0,171719 ms). O resultado da análise de variância (ANOVA) aplicada aos valores contidos na tabela I mostra que temos p > 0,05 (ou que F calculado < F tabelado), então, aceitamos a hipótese de nulidade, ou seja, a média do período de latência do reflexo tendinoso patelar, dos 2 músculos estudados, não mostrou diferença estatisticamente significativa. Tabela II - Média (X) e desvio padrão (DP), do período de latência do reflexo, das 10 repetições dos 10 voluntários do grupo patológico e da respectiva média total destes, em milisegundos (ms), dos músculos vasto medial oblíquo (VMO) e vasto lateral (VL). Período de VMO VL latência X DP X DP Voluntário 1 Voluntário 2 Voluntário 3 Voluntário 4 Voluntário 5 Voluntário 6 Voluntário 7 Voluntário 8 Voluntário 9 Voluntário 10 Média 10 voluntários 0,2458 0,2213 0,18 0,2154 0,19546 0,17451 0,145121 0,1621 0,1954 0,19547 0,01685 0,03578 0,01 0,00753 0,024 0,03786 0,00707 0,02881 0,02345 0,03421 0,1930561 0,02485 0,19542 0,2012 0,1754 0,18667 0,17451 0,16520 0,1324 0,1542 0,192 0,18974 0,01329 0,02658 0,00707 0,01033 0,0255 0,03464 0,00707 0,02302 0,02986 0,03114 0,176674 0,02855 Observando a tabela II, nota-se pela média dos 10 voluntários do grupo com insta- bilidade patelofemoral, que o primeiro músculo a responder ao estímulo foi o músculo vasto lateral (0,165869 ms), seguido do músculo vasto medial oblíquo (0,171719 ms). O resultado da análise de variância (ANOVA) aplicada aos valores contidos na tabela II mostra que temos p < 0,05 (ou que F calculado > F tabelado), então, não podemos aceitar a hipótese de nulidade, ou seja, a média do período de latência do reflexo tendinoso patelar, dos 2 músculos estudados, mostrou diferença estatisticamente significativa. Discussão Vários autores [1, 5 - 10] têm indicado que um desequilíbrio dos músculos VMO e VL podem levar a uma patologia patelofemoral; contudo, poucos artigos publicados têm sustentado eletromiograficamente esta hipótese. Nossos resultados estão em discordância com os resultados apresentados por Karst & Willett [6], que analisaram o período de latência de 24 voluntários saudáveis e não encontraram diferença significativa entre o período de latência da atividade elétrica dos músculos VMO e VL (VMO = 25,95 ± 1,57 e VL = 25,76 ± 1,75). Observaram também que no grupo de 24 voluntários sintomáticos, dentre os quais continham 7 subluxações da patela e 4 insuficiência do VMO, comparativamente com o grupo controle, também não houve diferença significativa (VMO = 25,95 ± 1,94 e VL = 25,89 ± 1,97). Já Voight & Wieder [6] e Witvrouw et al.[8], ao analisarem voluntários saudáveis, relatam que o músculo VMO foi signifi-cativamente mais rápido que o VL, e durante o mesmo estudo em voluntários portadores de disfunção do mecanismo extensor, encontraram justamente o inverso, ou seja, o músculo VL mais rápido que o VMO, o que indica que há uma reversão da ordem de disparo dos músculos normais entre VMO e VL, em pacientes com disfunção do mecanismo extensor. Estes pacientes podem demonstrar um desequilíbrio no controle motor neurofisiológico, o qual pode contribuir para a dor anterior do joelho. De acordo com os resultados apresentados Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 pelos autores acima, apesar da diferença significativa encontrada por Voight & Wieder [7] em voluntários saudáveis, acredita-se haver uma igualdade para o período de latência entre os músculos VMO e VL, conforme demonstrado neste estudo quando da ausência de patologias. Já frente a uma patologia patelofemoral, os estudos nos levam a acreditar que o período de latência da atividade elétrica muscular entre os músculos VMO e VL pode se alterar. Young et al.[9] relata uma diminuição significativa da atividade eletromiográfica no músculo quadríceps femoral em joelho edemaciado, entre 0º e 30º de flexão do joelho, contudo, em joelhos normais, esta diferença na atividade elétrica não ocorre. Ele postulou que o decréscimo da atividade elétrica a 0º de flexão do joelho em joelhos edemaciados, resulta da inibição reflexa do quadríceps causado por uma distensão da cápsula articular e pressão intra-articular que altera com a posição da articulação do joelho. Smillie [10] concluiu em seus estudos que dentre os músculos do quadríceps femoral, o músculo VMO é o primeiro a sofrer atrofia frente à inibição reflexa, antes mesmo que ela possa ser detectada em outros pontos; além de ser o último a se recuperar em volume. Assim, caso os desequilíbrios musculares entre os músculos VMO e VL possam vir a ser comprovados pelo teste de verificação do período de latência, este fato propiciaria uma melhor compreensão da fisiopatologia em questão, e poderia auxiliar no controle da reabilitação fisioterápica nesses pacientes; uma vez que o teste é de fácil realização e de custo baixo, tornando-o aceitável em prática clínica. Conclusão Os resultados indicam que uma alteração do início da ativação muscular do músculo VMO e VL em pacientes com instabilidade patelofemoral pode ocorrer. Esses pacientes podem demonstrar um desequilíbrio no controle motor neurofisiológico, podendo assim contribuir para a etiologia da instabilidade patelofemoral. Tais conhecimentos, além de mecanismos de reeducação específica, podem contribuir para providenciar uma maior eficácia durante a reabilitação. 89 Referências 1. Carson WG. Diagnosis of extensor mechanism disorders. Clin Sports Med 1985;4:1-4. 2. Araújo RC, Sá MR, Amadio AC. Estudo sobre as técnicas de colocação de eletrodos para eletromiografia de superfície em músculos do membro inferior. VI Congresso Brasileiro de Biomecânica, Universidade de Brasília. Anais 1995;244-50. 3. Basmanjian JV, De Luca CJ. Muscle alive: their functions revealed by electromyography. 5th ed. Baltimore: Williams & Wilkins 1985. 561p. 4. Dainty DA, Norman RW. Standarding biomechanical testing in sports. Champaingn: Human Kinetics 1987. 5. Insall JN. Surgery of the knee. New York: Churchill Livingstone 1982. 6. Karst GM, Willet GM. Onset timing of electromyographic activity in the vastus medialis oblique and vastus lateralis muscle in subjects with and without patellofemoral pain syndrome. Physical Therapy 1995;75:813-23. 7. Voight ML, Wieder DL. Comparative reflex response times of vastus medialis obliquus and vastus lateralis in normal subjects and subjects with extensor mechanism dysfunction. The American Journal of Sports Medicine 1991;19:131-37. 8. Witvrouw E, Sneyers C, Lysens R, Victor J, Bellemans J. Reflex response times of vastus medialis oblique and vastus lateralis in normal subjects and in subjects with patellofemoal pain syndrome. Journal Orthopaedic Sports Physical Therapy 1996; 24:160-65. 9. Young A, Hughes I, Round JM, Edwards RH. The effect of knee injury on the number of muscle fibres in the human quadriceps femoris. Clin Sci 1982; 62:227-34. 10. Smillie JS. Traumatismos da articulação do joelho. 5 ed. São Paulo: Manole 1980. 90 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Revisão Hipertensão arterial sistêmica e atividade física: Orientações fisioterapêuticas para exercícios físicos Arterial systemic hypertension e physical activity: Physiotherapeutic orientation for physical exercise Daniel Ventura de Andrade*, Katia Kusuki de Almeida** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta (FIG), Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP - UNINOVE), Mestrando em Ciências do Movimento (UNG), Professor de BMTAF (UNINOVE - UNIBAN), **Fisioterapeuta (UNINOVE), Especializanda em Fisiologia do Exercício e treinamento resistido na saúde, na doença e no envelhecimento (FMUSP) Palavras-chave: Hipertensão, exercício físico, fisioterapia, conduta terapêutica. Resumo Introdução: A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma das doenças crônicas mais prevalentes em todo mundo e o principal fator de risco para todas as doenças cardio-cerebro-vasculares, diminuindo a expectativa de vida do indivíduo. Sendo assim, a abordagem de um tratamento não medicamentoso vem sendo bem aceito, através da prática da atividade física regular. A fisioterapia, através de orientações para a prática de exercícios físicos pode prevenir e reduzir os níveis de hipertensão arterial, objetivando a melhora de qualidade de vida deste indivíduo. Objetivo: Estudar a relação existente entre atividade física e hipertensão arterial sistêmica e elaborar orientações individuais para a realização de exercícios físicos em indivíduos hipertensos. Resultados: Fica significativamente sugerido que o exercício físico tem efeito hipotensor na pressão arterial quando feito adequadamente, dependendo do tipo de exercício, frequência, duração e intensidade, determinados para cada indivíduo. Conclusão: Concluímos com o presente estudo, que é possível se elaborar um programa de atividade física para hipertensos, baseado em parâmetros científicos da fisiologia do exercício, o que possibilita melhor aproveitamento dos benefícios da atividade física, assim como, fornece base para uma prescrição mais segura. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Artigo recebido em 22 de fevereiro de 2002; aprovado em 4 de abril de 2002 Endereço para correspondência: Daniel Ventura de Andrade, Rua Tucuna, 333/121 Pompéia 05021-010 São Paulo SP, Tel: (11) 3675-7817 ou (11) 9372-5624, E-mail: [email protected] ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Key-words: Hypertension, physical exercise, physical therapy, therapeutical approaches. 91 Abstract Introduction: The Arterial Systemic Hypertension (ASH) is one of the most prevalent chronic diseases in all over the world and the main factor of risk for all cardiac-brain-vascular disease reducing the life expectation of the person. So, the approach of a non-medicament treatment has been well accepted, across the practice of regular exercise activity. The physical therapy, across orientations for practice of physical exercises that can reduce and prevent the levels of arterial hypertension, abstracting the improvement of the quality of life of this person. Objective: Study the relation between the physical activity and Arterial Systemic Hypertension (ASH) and prepare individual orientations for the realization of physical exercises on people with hypertension. Results: Be significantly suggested that the physic exercise have hypotensive effect on the arterial pressure when well done, depending of the kind of exercise, frequency, duration and intensity, determined for each person. Conclusion: We conclude with this current study, that is possible to elaborate a physic activity program for patients that owns hypertension, based on scientific parameters of the exercise physiology, what enable a great advantage of the exercise benefits, as same as supply basis for secure course. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é definida como uma entidade multifatorial e multicausal, sendo conceituada como síndrome caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, associados a alterações metabólicas, hormonais e a fenômenos tróficos (hipertrofias cardíaca e vascular) [1]. Foi também identificada como um dos fatores de risco mais importante na cardiopatia coronariana e nos acidentes vasculares cerebrais, podendo também determinar insuficiência cardíaca congestiva [2]. Segundo Riera [3], a HAS pode ser classificada em Hipertensão Sistólica e Hipertensão Diastólica, conforme as tabelas I e II: Tabela I Classificação diagnóstica da hipertensão arterial (> 18 anos de idade) PAD CLASSIFICAÇÃO <85 Normal 85 90 Normal Limítrofe 90 99 Hipertensão Leve (Estágio I) 100 109 Hipertensão Moderada (Estágio II) > 110 Hipertensão Grave (Estágio III) <90 Hipertensão Sitólica Isolada Fonte: Kohmann et al. III Consenso Brasileiro de Hipertensão (1998) Tabela II Classificação diagnóstica da hipertensão arterial (> 18 anos de idade) PAD CLASSIFICAÇÃO <130 Normal 130 - 139 Normal Limítrofe 140 159 Hipertensão Leve (Estágio I) 160 179 Hipertensão Moderada (Estágio II) > 180 Hipertensão Grave (Estágio III) >140 Hipertensão Sitólica Isolada Fonte: Kohmann et al. III Consenso Brasileiro de Hipertensão (1998) ○ 92 Pressão arterial sistólica e diastólica A Pressão arterial sistólica e diastólica pode ser primária ou essencial e secundária. · Hipertensão arterial primária ou essencial: É a hipertensão sistêmica de causa desconhecida, sendo que mais de 95% de todos os casos de hipertensão arterial recaem nessa categoria. Tem sempre um forte componente familiar genético, porém com influências ambientais fenotípicas importantes, início habitual entre 20 e 40 anos, caráter insidioso na sua forma benigna, com aparecimento de lesão de órgão -alvo em 10 a 15 anos, e rapidamente progressiva na chamada malígna acelerada, que se costuma observar na terceira década [3, 4]. Os possíveis mecanismos fisiopatológicos da hipertensão primária são: consumo de sódio; sensibilidade à catecolaminas; atividade aumentada do sistema reninaangiotensina-aldosterona; defeito tubular renal na absorção de sódio; permeabilidade aumentada do músculo liso ao íon cálcio; fatores poligênicos [3]. · Hipertensão Arterial Secundária: É o estado hipertenso em que existe uma causa conhecida para a elevação da pressão arterial (PA). Cerca de 10% dos hipertensos adultos são portadores de hipertensão arterial secundária. Sua detecção tem importância pela existência de causas curáveis de hipertensão arterial (HA) [5]. As formas secundárias de hipertensão secundária são: nefrogênica; endócrina; exógena; induzida pela gestação; coarctação da aorta; hematológica; neurológica e estresse agudo [3, 5, 6]. A incidência de HAS no Brasil é alta e está presente em cerca de 15 (10%) a 30 (20%) milhões de pessoas, atingindo quase 65% dos idosos. Os negros (38%) tem maior prevalência do que os brancos (29%), e os homens (33%) uma prevalência maior do que as mulheres (27%), até aproximadamente aos 50 anos. Após essa idade, é mais comum nas mulheres. Embora a HA predomine na fase adulta, sua prevalência em crianças e adolescentes não é desprezível, representando 7% [1, 3, 4]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Segundo Riera [3], os maiores fatores de risco para desenvolver a HA são: tabagismo; dislipidemia; diabetes mellitus; idade acima de 60 anos; sexo: homens e mulheres em fase pós-menopáusicas e história familiar para doença cardiovascular em mulheres menores de 65 anos e homens menores de 55 anos. Efeitos do exercício físico em indivíduos hipertensos Visto que homens e mulheres com pressões arteriais elevadas possuem uma grande incidência anual de doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, claudicação intermitente e acidente vascular encefálico, há discussões sobre a eficácia de um tratamento não-farmacológico, como o exercício físico, pois a saúde e a qualidade de vida do homem pode ser preservada e aprimorada pela prática regular de atividade física, pois o sedentarismo representa um risco para a saúde [7]. Para Powers & Howley [8] a redução da PA está associada ao exercício de endurance. Embora nem todos os indivíduos hipertensos respondam ao exercício desta forma, ele é recomendado, pois, ocorrem outras alterações que reduzem o risco de doença coronariana mesmo se a PA não for reduzida. Observações de Mc Ardle et al. [9] mostram que as pressões sistólica e diastólica são reduzidas em aproximadamente 6 à 10 mmHg, com exercício aeróbico regular para homens e mulheres sedentários, independentemente da idade. Isso foi observado tanto em indivíduos hipertensos quanto em normotensos, tanto em repouso quanto em atividade física. Esses efeitos do treinamento com exercícios sobre a PA são mais visíveis na maioria dos indivíduos com hipertensão moderada ou limítrofe. Há dois tipos de exercício físico: dinâmico ou isotônico e estático ou isométrico. O exercício isotônico é aquele em que ocorre contração e relaxamento muscular contra uma carga de exercício constante. Já o exercício isométrico é aquele em que ocorre uma contração prolongada contra uma carga maior que no isotônico, e geralmente, não está associado ao movimento [10]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Com base neste conceito, a sobrecarga cardiovascular aguda, que é observada com o exercício intensivo de resistência, poderia ser prejudicial para os indivíduos que sofrem de doenças cardíacas e vasculares, principalmente para os destreinados nessa forma de exercício físico, pois, este tipo de exercício produz um aumento na tensão, principalmente na fase concêntrica da contração muscular, comprime o sistema arterial periférico, fazendo com que haja uma diminuição na perfusão muscular aumentando a resistência vascular periférica (RVP) total. Como conseqüência, há um aumento na atividade do sistema nervoso simpático, débito cardíaco e PA média, na tentativa de restaurar o fluxo sanguíneo muscular. Então, para as pessoas com HAS, são indicadas as formas mais rítmicas de exercício moderado [9]. Efeitos agudos do exercício físico Para se entender melhor os efeitos do exercício físico na HAS, será necessário entender o comportamento da PA após uma sessão de exercício físico prolongado, a PA no período pós-exercício e a influência da duração do exercício sobre a PA. · Pressão arterial após uma sessão de exercício físico prolongado: Foram realizados estudos utilizando-se intensidade de 40 à 70% do VO 2 máx e foi verificado que o efeito hipotensor foi o mesmo ou maior do que uma intensidade maior de VO2 máx. [7, 11]. Assim, vê-se que o treinamento de intensidade moderada produz reduções maiores ou tão grandes, quanto uma intensidade maior, fator importante para população específica de hipertensos [7, 8, 11]. · Pressão arterial no período pós-exercício físico: Estudos mostraram que após uma sessão de exercício físico prolongado, realizado numa intensidade de 55% de VO2 máx, há uma redução importante na pressão arterial no período pós-exercício, permanecendo abaixo dos valores pré-exercício por um período de 90 minutos [12]. · Redução da pressão arterial em função do tempo de exercício: Exercícios físicos com duração de 40 minutos resultam em maior diminuição da pressão arterial quando 93 comparada aos exercícios com 20 minutos de duração [8, 12]. Efeitos do treinamento físico Quanto aos benefícios dos efeitos crônicos do exercício físico na HA, há uma dependência do tipo de exercício físico, da intensidade e da duração do mesmo e geralmente o exercício físico isotônico (aeróbico) de baixa intensidade e com sessões de 30 a 45 minutos de duração, são as que mais beneficiam o indivíduo hipertenso [10, 12]. Para Lima et al. [13], após a interrupção de um programa de exercícios, que havia resultado em redução da PA, o efeito desapareceu após um período de sedentarismo, e, para Negrão & Rondon [12], observando a PA por um longo período de tempo, após uma única sessão de exercício físico, notou-se que os níveis pressóricos de 24 horas, permaneciam abaixo dos níveis pressóricos de 24 horas, após um dia controle, sem exercício. · Exercícios de resistência: Segundo Hagberg et al. [7], a prática de exercícios físicos contra resistência pode precipitar um evento cerebrovascular, devido a uma resposta tensional importante desencadeada agudamente por um exercício contra resistência de alta intensidade. Em Mc Ardle et al. [9] os estudos sugerem que o treinamento padronizado de resistência é menos eficaz para reduzir a PA em repouso, apesar de já ter sido relatado alguns efeitos benéficos para este tipo de exercício. · Exercícios em ritmo estável: Nos exercícios aeróbicos rítmicos do tipo isotônico, há um aumento na pressão sistólica nos primeiros minutos. A medida que o exercício continua, a pressão sistólica diminui gradualmente, enquanto as arteríolas nos músculos se dilatam e a RVP ao fluxo sanguíneo diminui. A pressão diastólica se mantém inalterada, uma vez que nesse tipo de exercício, ocorre uma dilatação dos vasos sanguíneos nos músculos ativos reduzindo a RVP total [9]. · Exercícios progressivos: Durante o 94 exercício aeróbico ocorre uma rápida elevação da pressão sistólica e depois aumenta linearmente com a intensidade do exercício, enquanto que a pressão diastólica permanece estável ou aumenta muito pouco. Isso acontece devido a grande movimentação de sangue pelo coração durante o exercício máximo [9]. · Exercícios com os braços: Nestes exercícios, há uma elevação da freqüência cardíaca (FC) devido a um maior fluxo simpático ao coração e da PA, tanto da pressão sistólica como da pressão diastólica, quando comparada com os exercícios com as pernas. Isso ocorre porque no braço há maior resistência ao fluxo sanguíneo, representando uma maior sobrecarga cardiovascular, pois, aumenta o trabalho do miocárdio [8, 9]. · Pressão arterial na recuperação: Após um período de exercício sub-máximo contínuo, a pressão sistólica é reduzida por algum tempo para níveis abaixo do valor préexercício. Essa resposta hipotensora, dura por até 12 horas durante a recuperação e isso vai ocorrer porque quando o exercício aeróbico cessa, há uma quantidade significativa de sangue que permanece estagnada nos órgãos viscerais e/ou nos membros inferiores, reduzindo o volume sanguíneo central e reduzindo a PA sistêmica [9]. Segundo Powers & Howley [8] os efeitos dos programas de exercícios sobre a função cardiorrespiratória vai depender da freqüência, duração e intensidade adequadas das sessões de exercícios, descritas na discussão. Modificações no estilo de vida O objetivo de um tratamento não-medicamentoso é a redução da morbidade e da mortalidade cardiovascular, através das modificações de estilo de vida que vão favorecer a redução da PA. Este tratamento está indicado para pacientes tanto hipertensos como também aos normotensos, mas que tem alto risco cardiovascular. É importante lembrar que este tratamento causa modificações no estilo de vida, o que devem acontecer de forma gradual e permanente. Também será de fundamental importância o envolvimento familiar para Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 que se tenha as metas atingidas [1]. As modificações do estilo de vida que comprovadamente reduzem os valores da PA são: Redução de peso; redução na ingestão de sal/sódio (duas gramas ao dia); suplementação de potássio, cálcio e magnésio; dietas especiais; aumento da ingestão de fibras; combate ao tabagismo; redução da cafeína e do álcool; combate ao estresse e também ao sedentarismo, pois o exercício físico exerce uma ação protetora contra o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, demonstrando uma prevalência menor de hipertensão em pessoas fisicamente ativas. Além de reduzir a PA também traz outros benefícios adicionais como a diminuição do peso corporal, abandono ao tabagismo e do controle do estresse [1, 4, 14]. A importância da prática da atividade física regular em indivíduos hipertensos pode ser uma alternativa importante no tratamento da hipertensão arterial, sendo esta uma das doenças crônicas mais prevalentes em todo o mundo e o principal fator de risco para todas as doenças cardio-cérebro-vasculares. A fisioterapia, através de orientações e acompanhamento da prática de exercícios físicos, pode prevenir e reduzir os níveis de hipertensão arterial, objetivando a melhora de qualidade de vida deste indivíduo. Orientações fisioterapêuticas para exercícios físicos Antes que se faça uma prescrição de exercícios físicos para um indivíduo hipertenso, deve-se saber dos fatores já citados anteriormente que podem afetar potencialmente na prescrição de exercícios físicos. Assim, o indivíduo deve fazer uma avaliação, respondendo um questionário auto-administrável e para adultos (PAR-Q), que determina se o indivíduo necessita de uma consulta médica antes de submeter-se a um programa de condicionamento físico. Se todas as respostas forem não, o indivíduo está apto para ser inserido num programa de atividade física terapêutica. A elaboração e a prescrição de exercícios Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 tem caráter individual, pois, depende da idade da pessoa, freqüência cardíaca de repouso, freqüência cardíaca máxima estimada, doenças associadas (sistêmicas ou músculoesqueléticas) e dos hábitos alimentares. 95 Tabela III - Cálculo da FC estimada para diferentes idades Idade 75% FC Sugestões (quadro) · Os exercícios não precisam estar dentro de uma modalidade que o indivíduo não goste. As opções mais indicadas são: caminhada, bicicleta, nadar e jogging. · Freqüência: Praticar de 3 a 5 vezes por semana. · Duração: Praticar de 30 a 60 minutos cada sessão, começando com 30 minutos e ir aumentando o tempo gradativamente. · Intensidade: Utilizar 60% a 90% da freqüência cardíaca máxima, que corresponde a 50% a 85% do VO2 máx. · Ambiente: Os exercícios devem ser realizados numa temperatura moderada, nem muito calor e nem muito frio. · Vestuário: Os exercícios devem ser feitos com roupas e calçados leves e confortáveis para que não atrapalhe os movimentos. É importante que o indivíduo que for submetido a um condicionamento físico, saiba mensurar a freqüência cardíaca, tanto de repouso quanto a máxima. Assim, ele saberá se está atingindo entre 60% a 90% da freqüência cardíaca máxima. Para mensurar a freqüência cardíaca máxima, é só utilizar a fórmula: 210 (0,65 x idade). A partir daí, calcular em torno de 75% o valor obtido para saber se o indivíduo está atingindo ou não 60% a 90% da freqüência cardíaca máxima. A tabela III indica a freqüência cardíaca estimada em 75% da FC máx, que deve ser atingida durante os exercícios conforme a idade. 30 32 143 142 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 141 140 139 138 137 136 135 134 133 132 131 130 129 128 127 126 125 124 123 Discussão Após efetuarem vários estudos, os autores pesquisados, na sua maioria, acreditam que a prática regular e controlada de uma atividade física possui diversos efeitos benéficos, além do controle da PA. Esta prática também auxilia no controle do peso corporal, diminuição do colesterol, melhora das condições psicológicas, promovendo efeito relaxante e a sensação de bem estar. Devido a PA ser um parâmetro sujeito a variações consideráveis, especialmente durante a prática de atividade física, concordamos com a importância de cuidados especiais na prescrição de um programa de condicionamento físico dirigido ao indivíduo hipertenso. Este condicionamento para ser benéfico depende integralmente do tipo de exercício físico, sua freqüência, duração e intensidade. Apesar de várias pesquisas efetuadas apresentarem resultados positivos, a replicação do estudo e a comparação com os demais torna- 96 se difícil, pois a maioria dos trabalhos não especifica os tipos de exercícios prescritos, suas freqüências, durações e intensidades. Ficou sugerido significativamente que o tipo de exercício mais indicado para os indivíduos hipertensos é a atividade física do tipo aeróbio com contração muscular isotônica. São poucos os estudos efetuados com o exercício do tipo isométrico dirigidos a indivíduos hipertensos. Alguns autores sugerem que o treinamento contra resistência possa reduzir a PA em repouso, não demonstrando que existe um aumento de riscos cerebrovasculares ou a imposição de uma demanda excessiva sobre um miocárdio já comprometido. Concluíram indicando um treinamento contra resistência, especialmente em circuito com pesos, podendo reduzir a PA em repouso [7, 15, 16]. Quanto à freqüência dos exercícios, ficou sugerido uma freqüência entre 3 a 5 vezes por semana, sendo poucos os autores que indicam um número maior de vezes [7, 11, 16, 17]. Ficou demonstrado em estudo feito por Powers & Howley [8], que é maior o risco de lesões ortopédicas e complicações cardíacas quanto maior for a freqüência de exercícios aplicada. Para Mc Ardle et al. [9] a freqüência dos exercícios pode ser feita com intervalos entre um dia e outro, devido a freqüência estar diretamente ligada a intensidade e não a seqüência do treinamento. Visto o exposto, concluímos que podemos utilizar uma freqüência de exercício mínima com uma maior intensidade de exercícios, ou seja, quanto menor for a freqüência, maior será a intensidade e vice-versa. Não existem dados que determinem com exatidão o tempo de duração para cada sessão de exercícios dirigidos. Tavares [10] e a Liga Mundial Contra a Hipertensão [16] sugerem a duração de 45 a 60 minutos cada sessão, outros autores como Hagberg et al. [7] sugerem de 20 a 60 minutos e Negrão & Rondon [12] de 30 a 45 minutos. Acreditamos que, para obtermos benefícios com a atividade física, o mínimo para cada sessão seria de 20 minutos e o máximo de 60 minutos de duração, pois, estudos foram efetuados com estes parâmetros e obtiveram resultados satisfatórios. Porém, isto acontece em função Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 também da intensidade associada à freqüência do exercício e duração. Um fato importante que notamos, é que indivíduos sedentários realizam com maior facilidade uma sessão de exercícios de baixa intensidade e longa duração. A intensidade é outro parâmetro importante, porém de difícil discussão, pois alguns autores não citam valores da intensidade, classificando -a como leve, moderada e vigorosa. Notamos também que esta classificação difere entre alguns autores, sendo que enquanto um considera uma intensidade leve como menor de 70% do VO2 máx, outro considera uma intensidade vigorosa como 60% do VO2 máx. A partir desta controvérsia acreditamos ser importante prescrever a intensidade dos exercícios físicos com base na freqüência cardíaca alvo (FCA), que pode ser determinada de duas maneiras: pelo método direto ou indireto. O método direto é determinado a partir dos resultados de um teste de esforço físico graduado. O método indireto é mais simples de ser calculado, usando-se apenas a FC de reserva (Método de Karvonen) para calcular a faixa da FCA. Para calcular a FCA deve-se seguir três passos: 1) Subtrair a FC de repouso da FC máxima para obter a FC de reserva, sendo que a FC máxima pode ser medida diretamente durante um esforço máximo, ou estimada usando a fórmula 220 - idade, lembrando da possibilidade de erro com desvio padrão da estimativa igual a mais ou menos 11 batimentos por minuto. Então, segundo Foss & Keteyian [17] um outro método alternativo para prever a FC máxima é 210 - (0,65 x idade). 2) Calcular 60% e 80% da FC de reserva. 3) Adicionar para cada valor da FC de reserva à FC de repouso para obter a FCA. Este método fornece estimativas razoáveis de intensidade de exercício, pois, 60% a 80% da FC de reserva é igual a aproximadamente 60% a 80% do VO2 máx, valores estes suficientes para atingir os efeitos da função cardiorrespiratória. Outro método simples é o da porcentagem da FC máxima, onde pega-se 70% e 85% da FC máxima para obter a FCA [8]. Para Foss & Keteyian [17] essa porcentagem seria de 60% à 90% da FC máxima, uma vez que esses valores correspondem a um VO2 máx. que fica entre 50% e 85%. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Através dos estudos descritos em Powers & Howley [8] e Foss & Keteyian [17] sabe-se que, para se ter melhorias da função cardiorrespiratória, a intensidade tem que atingir níveis de 50% a 85% do VO2 máx, sendo que para a maioria das pessoas uma faixa suficiente para se atingir os objetivos está entre 60% a 80% do VO 2 máx. Para um indivíduo sedentário é indicado £ 50% do VO2 máx e para um indivíduo bem condicionado é indicado ³ 80% do VO2 máx. Tavares [10] não especifica o valor, porém sugere uma carga mínima. Embora a maioria dos autores como Jennings et al. [18], Fuchs et al. [11] e Hagberg et al. [7] sugerirem entre 40% a 70 % do VO2 máx, os estudos feitos por Negrão & Rondon [12] mostram que se utilizados valores de 30%, 50% e 80% do VO2 máx, há também benefícios com relação à queda dos níveis da PA. Com base nos dados já mencionados e relacionados aos tipos de exercícios, suas freqüências, durações e intensidades, os autores pesquisam no intuito de constatar o quanto esses exercícios foram benéficos na redução da PA. A maioria dos autores constataram que no treinamento físico aeróbico, em níveis sub máximos, havia uma redução da pressão arterial sistólica e da pressão arterial diastólica em torno de 10 mmHg, tanto em repouso quanto durante a realização dos exercícios. Após uma sessão de exercício físico prolongado, Negrão & Rondon [12] afirmam que a PA permanece abaixo dos valores préexercício por um período de 90 minutos, enquanto que Hagberg et al. [7] afirmaram permanecer por um período de até 9 horas. Todos os autores confirmam que após um período de sedentarismo, essas reduções da PA desaparecem e que também quando foram submetidos a um tempo maior de treinamento (9 meses), não foram obtidas reduções além das inicialmente alcançadas. Então, notamos que é muito importante a realização de uma atividade física regular, pois, o efeito hipotensor do exercício só é evidente enquanto for mantido o programa, e mesmo que não se consiga novas reduções da PA para os hipertensos com um treinamento prolongado, a taxa da PA é 97 mantida e também ocorrerão outras alterações que podem reduzir o risco de doença coronariana. Para Hagberg et al. [7] não ficou sugerido claramente quais mecanismos tem ação na redução da PA em indivíduos hipertensos, mas sabe-se que estes mecanismos independem da redução do peso e da gordura corporal. Alguns autores, como Lima et al., [13] acreditam que, entre as alterações hemodinâmicas, podem ser citadas a diminuição do débito cardíaco (DC) de repouso e da RVP e, também, o papel importante do sistema nervoso simpático, através da diminuição do tônus simpático cardiovascular com reduções dos níveis de no epinefrina e epinefrina circulante. Além destes, Burnett & Glenn [19] citam que durante o repouso ocorre uma diminuição da FC atrial, aumento do tônus parassimpático (vagal), aumento do volume sangüíneo e que durante os exercícios ocorrem um aumento do volume sistólico, aumento da extração de oxigênio pelo músculo, aumento do VO2 máx, diminuição do fluxo sanguíneo e diminuição do consumo de oxigênio do miocárdio. Powers & Howley [8] afirmam que a PA pode ser regulada de duas maneiras: pela regulação a curto prazo, que é através do sistema nervoso simpático e pela regulação a longo prazo, que é através dos rins. Estes regulam a PA por meio do seu controle do volume sangüíneo. Autores afirmam que os barorreceptores localizados na artéria carótida e no arco aórtico são sensíveis à alterações da PA. Quando se percebe o aumento da PA, esses receptores são disparados enviando impulsos ao centro de controle cardiovascular, e, como resposta, há uma diminuição da atividade simpática, que pode diminuir o DC e/ou a RVP, diminuindo por sua vez a PA [8, 17]. Pesquisas efetuadas por Negrão & Rondon [12] mostram que a redução do DC está associada a um menor volume sistólico. Ficou claro também que a diminuição da RVP total não era o mecanismo hemodinâmico que diminuía a PA, mas sim a diminuição do DC, que estava associada a uma importante queda na FC de repouso, devido à diminuição do tônus simpático sobre o coração. 98 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Um questionário Auto-Administrável para Adultos Physical activity readiness questionnaire (PAR- Q) PAR-Q E VOCÊ O PAR-Q foi elaborado para ajudá-lo a se ajudar. Muitos benefícios da saúde estão associados ao exercício regular, e o preenchimento do PAR-Q é o primeiro passo importante a ser dado caso você esteja planejando aumentar a quantidade de atividade física em sua vida. Para a maioria das pessoas, a atividade física não deve apresentar qualquer problema ou risco. O PAR-Q foi elaborado para identificar a pequena quantidade de adultos aos quais a atividade pode ser inadequada ou aqueles que devem ser aconselhados por um médico sobre o tipo de atividade que lhes é mais adequada. O bom senso é o seu melhor guia nas respostas às questões. Por favor, leia-as cuidadosamente e indique com um X se a sua resposta for SIM ou NÃO. SIM NÃO £ £ £ £ £ £ £ £ £ £ £ £ 1. Seu médico alguma vez mencionou que você possui algum problema cardíaco? 2. Você apresenta freqüentemente dores no coração e no peito? 3. Você tem freqüentemente sensações de desmaio ou crises de tonturas severas? 4. Alguma vez seu médico lhe disse que sua pressão arterial estava muito alta? 5. Alguma vez seu médico lhe disse que você possui um problema ósseo ou articular, como artrite, que foi agravado ou que pode piorar com o exercício? £ 6. Existe uma boa razão física não mencionada para que você não participe de um programa de atividade física, apesar de desejar fazê-lo? £ 7. Você tem mais de 65 anos de idade e não está habituado à prática de exercício vigoroso? Se você respondeu Se você não o fez recentemente, consulte seu médico por telefone ou pessoalmente ANTES de aumentar sua atividade física e/ou de submeter a um teste físico. Informe-o as questões a que você respondeu SIM no PAR-Q ou mostre-lhe uma cópia do questionário. Programas Após a avaliação médica, peça conselhos ao seu médico quanto à sua adequação para: a atividade física sem restrições, provavelmente com aumento gradual. a atividade física restrita ou supervisionada para satisfazer suas necessidades específicas, pelo menos no início. Verifique os serviços e programas especiais existentes na sua comunidade. Se você respondeu o PAR-Q precisamente, tem uma garantia razoável de sua adequação atual para: um programa de exercício graduado - O aumento gradual do exercício adequado promove o desenvolvimento de um melhor condicionamento físico com minimização e eliminação do desconforto. um teste de esforço físico - Se você desejar, pode se submeter a testes de condicionamento físico (como o Canadian Home Fitness Test) ou a testes mais complexos. Adiar Se você apresentar uma doença temporária não grave, como um resfriado comum. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Conclusão Há uma relação de causa e efeito existente entre o exercício físico e a Hipertensão Arterial Sistêmica, devido ao fato do exercício ter um efeito hipotensor sobre a pressão arterial, desde que esse seja feito regularmente e adequadamente, respeitando os parâmetros de freqüência, duração e intensidade. Concluímos com o presente estudo, que é possível se elaborar um programa de atividade física para hipertensos, baseado em parâmetros científicos da fisiologia do exercício, o que possibilita melhor aproveitamento dos benefícios do exercício, assim como, fornece base para uma prescrição mais segura. Referências 1. Kohlmann O. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Arq Bras Endocrinol Metab 1999; 43:257-69. 2. Schoen FJ. Vasos Sangüíneos. In: Cotran RS, Kumar V, Robbins SL, Schoen FJ. Patologia Estrutural e Funcional. 5 ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1996. p.429-34. 3. Riera ARP. Hipertensão Arterial - Conceitos Práticos e Terapêutica. São Paulo: Editora Atheneu; 2000. p.1-22. 4. Oparil S. Hipertensão Arterial. In: Benett & Plum. Tratado de Medicina Interna. 20ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1997. p.285-91. 5. Giorgi DMA. Hipertensão Arterial: Avaliação Laboratorial Mínima Hipertensão Arterial Secundária: Diagnóstico Diferencial. Hiper Ativo 1998;5:64-5. 6. Kaplan NM. Hipertensão Sistêmica Mecanismos e Diagnóstico. In: Braunwald, Tratado de Medicina Cardiovascular. 4 ª edição. São Paulo: Editora Roca; 1998. p.873-92. 7. Hagberg JM, Blair SN, Ehasani AA, Gordon NF, Kaplan N, Tipton CM, Zambraski EJ. Atividade Física, Aptidão Física e Hipertensão Arterial. Rev Bras Med Esport 1998;4:160-70. 8. Powers SK & Howley ET. Fisiologia do 99 exercício - Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 3 ª edição. São Paulo: Editora Manole; 2000. p.151-73, 285-95. 9. Mc Ardle, WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do Exercício - Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 4ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 1998 p.256-96. 10. Tavares A. Exercício Físico e Hipertensão Arterial. Clínica Médica - Diagnóstico e Tratamento 1996;1:27-9. 11. Fuchs FD, Moreira WD, Ribeiro JP. Atualização - Eficácia Anti-Hipertensiva do Condicionamento Físico Aeróbio. Uma Análise Crítica das Evidências Experimentais. Arq Bras Cardiol 1993;61:187-89. 12. Negrão CE, Rondon MUPB. Exercício Físico, Hipertensão e Controle Barorreflexo da Pressão Arterial. Rev Bras Hipertens 2001;8:89-95. 13. Lima EG, Herkenhoff F, Vasquez EC. Atualização - Reatividade da Pressão Arterial Durante o Exercício Físico. Arq Bras Cardiol 1994;63:51-3. 14. Kaplan NM. Hipertensão Sistêmica Terapia. In: Braunwald, Tratado de Medicina Cardiovascular. 4 ª edição. São Paulo: Editora Roca; 1998. p.910-17. 15. Cononie CC, Graves JE, Pollock ML, Phillips MI, Sumners C, Hagberg JM. Effect of Exercise Training on Blood Pressure in 70-79 Years old Men and Women. Med Sci Sports Exerc 1991;1:50511. 16. Liga Mundial Contra La Hipertensión. El Ejercicio Físico en el Tratamiento de la Hipertensión 1993; 114: 326-31. 17. Foss ML & Keteyian SJ. Fox - Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 6ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2000. p.196-223, 268-81. 18. Jennings GL, Deaken G, Korner P, Meredith I, Kingwell B, Nelson L. What is the Dose-Response Relationship Between Exercise Training and Blood Pressure?. Ann Med 1991; 23: 313-18. 19. Burnett CN, Glenn T, Princípios do Exercício Aeróbio. In: Kisner C, Colby LA. Exercícios Terapêuticos - Fundamentos e Técnicas. 3 ª edição. São Paulo: Editora Manole; 1998. p.110-39. 100 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Revisão Adaptações morfofuncionais do músculo estriado esquelético relacionadas à postura e o exercício físico Morph-functional adaptations of the skeletal groove muscle related to the posture and the physical exercise Glória Maria Moraes Vianna da Rosa*, Glauco Alexandre Gaban**, Leonardo Davi Pistarino Pinto*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta (IBMR), Mestre em Morfologia Humana (UERJ), Professora da Universidade Gama Filho e da Universidade de Nova Iguaçu, Coordenadora do curso de Pós-Graduação em Fisioterapia Cinética Funcional da Universidade de Nova Iguaçu, Supervisora de Estágio do Hospital Universitário São José, **Acadêmico de Fisioterapia (UGF), Monitor voluntário da disciplina de Cinesioterapia no 1o e 2o semestre de 2001 (UGF), Estágios no Hospital Geral do Andaraí, Clínica Ossotrauma e na Clínica Dr. Lídio Toledo, ***Acadêmico de Fisioterapia (UGF), Monitor voluntário da disciplina de Cinesioterapia no 1o e 2o semestre de 2001 (UGF). Palavras-chave: adaptação do músculo estriado esquelético, postura, exercício físico, hipertrofia muscular, elasticidade muscular, tensão passiva. Resumo A postura envolve um complexo mecanismo para atingir o equilíbrio, onde os maus hábitos posturais são alguns dos fatores que podem afetá-la. Para se ter uma postura normal é necessário um sistema muscular equilibrado onde a manutenção de uma postura inadequada, causada por algum desequilíbrio, gera mudanças estruturais do músculo estriado esquelético e no tecido conjuntivo como forma de adaptação funcional. Estas alterações causam uma diminuição no arco de movimento, proporcionando lesões, dor e diminuição na força de contração máxima. O objetivo deste trabalho foi, através da revisão de literatura, analisar essas adaptações do músculo estriado esquelético causadas pela manutenção de uma postura inadequada e pelos exercícios físicos. Concluiu-se que, ocorre aumento ou diminuição no número de sarcômeros em série, que a manutenção de uma determinada posição é fator determinante na regulação desse número. Há aumento na proporção de tecido conjuntivo, com deposição aleatória de suas fibras, aproximação dos elementos da matriz e formação de ligações cruzadas Artigo recebido em 19 de março de 2002; aprovado em 9 de abril de 2002 Titulo Abreviado: morphfunc.adapt.musc.estri.esq.to.post.exer Endereço para correspondência: Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Av. Oliveira Botelho, 504, Alto, 25960001 Teresópolis RJ, Telefax: (21) 26423545// 99975790, E-mail:[email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 101 anormais contribuindo para redução em sua extensibilidade. A melhor forma para recuperar estas alterações, parece ser o exercício físico realizado através de alongamentos lentos e progressivos, técnicas de inibição do tônus muscular associadas às técnicas neuromusculares de alívio da dor juntamente com a realização das posturas globais, que atuam na cadeia encurtada, tensionando-a, proporcionando sua hipertrofia longitudinal associado a hipertrofia concêntrica dos músculos opostos a esta cadeia, devido a realização de uma gradativa contração isotônica concêntrica. ○ Key-words: Adaptation of the skeletal grooved muscle, posture, physical exercise, muscular hypertrophy, muscular elasticity, passive tension. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Abstract The posture involves a complex mechanism to reach the balance, where the bad posture habits are some of the factors that can affect it. To have a normal posture it is necessary a balanced muscular system, where the maintenance of an inadequate posture, caused by some unbalance, generates structural changes of the skeletal grooved muscle and in the conjunctive tissue as form of functional adaptation. These alterations cause a decrease in the movement arch, providing lesions, pain and decrease force of maximum contraction. The objective of this work was, through the literature revision, to analyze those adaptations of the skeletal grooved muscle caused by the maintenance of an inadequate posture and of physical exercises, and it was concluded that, happens increase or decrease in the sarcomeres number in series, and the maintenance of a certain position is decisive factor in the regulation of that number. There is increase in the conjunctive tissue proportion, with aleatory deposition of its fibers, approach of the matrix elements and abnormal crossed connections contributing to reduction in its extensibility. The best form to recover these alterations, it seems to be the physical exercise accomplished through slow and progressive lengthening, muscular inhibition strain techniques associated to neuromuscular technical to relief the pain together with the accomplishment of the global postures that act straining in the shortened chain, providing its longitudinal hypertrophy associated with the concentric hypertrophy of the opposite muscles to this chain due to a gradual concentric isotonic contraction realization. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 102 Introdução A postura, usualmente definida como o arranjo relativo das partes do corpo, envolve um complexo mecanismo para atingir o equilíbrio nas diversas atitudes corporais assumidas no dia a dia [1,2]. Vários são os fatores que podem afetá-la, dentre eles os maus hábitos posturais de repouso, de trabalho e de lazer [1]. A manutenção de uma postura inadequada propicia adaptações estruturais do tecido muscular estriado esquelético com conseqüente perda da flexibilidade corporal acarretando em limitação da mobilidade articular, predisposição de lesões musculares, algias da coluna vertebral e desenvolvimento de processos degenerativos por aplicações de forças irregulares [3-6], levando à incapacidade funcional temporária ou permanente. Para reverter este processo, o exercício parece ser a chave para dar ao tecido muscular estriado esquelético as propriedades funcionais e estruturais ideais para um melhor desempenho das atividades de vida diária. Este trabalho tem por objetivo, através de revisão da literatura, analisar as adaptações do músculo estriado esquelético durante a manutenção de uma postura considerada inadequada e os exercícios físicos, que parecem promover as alterações morfofuncionais ideais para o restabelecimento de uma atitude corporal mais harmônica, que permita minimizar o que parece constituir em importante queixa da população e um grande problema sócio-econômico mundial. Revisão da literatura Adaptação do tecido muscular relacionado à postura Considera-se postura normal, no adulto, quando o eixo vertical do corpo passa pelo vertex, apófise odontóide de C2, corpo vertebral de L3 e projeta-se no solo, no centro do quadrilátero de sustentação, eqüidistante dos dois pés. Os planos escapular e glúteo devem estar alinhados, o comprimento da flecha lombar deve ser de 4 a 6 cm e da cervical de 6 a 8 cm. O ângulo sacral deve ser Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 de 32 graus, o disco entre L3/L4 estritamente horizontal e a vértebra L3 deve se apresentar mais anteriorizada [2]. Para a aquisição desta postura, há necessidade de um sistema muscular equilibrado com a participação, principalmente, de fibras tônicas e tônico-fásicas, que são mais resistentes a fadiga, embora com menor força contrátil. Este equilíbrio, por sua vez, pode ser alterado pela ausência de uma relação harmoniosa entre os segmentos corporais, por forças contrárias desequilibradas e pela presença de quadro álgico [2]. A alteração no comprimento dos membros inferiores é um dos exemplos de perda da relação harmônica entre os segmentos, contribuindo para obtenção de uma postura inadequada. Dentre os fatores que comprometem o equilíbrio de forças musculares está o distúrbio no tônus muscular neurogênico, que muitas vezes é alterado pela presença de dor, assim como o estado emocional. Segundo Kelerman [7], as respostas de cada pessoa ao mundo caracterizam-na criando sua forma emocional única. Pessoas introvertidas tendem a aumentar o tônus da musculatura flexora tornando-se mais cifóticas, e as extrovertidas tendem a aumentar o tônus extensor apresentando-se mais lordóticas. O desuso muscular ou o super uso de determinado grupamento muscular, em detrimento de seu opositor, e lesões nervosas, que comprometem a força muscular, são outros exemplos de causas que interferem na harmonia do sistema muscular. A manutenção de uma determinada atitude corporal parece propiciar mudanças estruturais no músculo estriado esquelético como forma de adaptação postural, sendo essas alterações as responsáveis pela perda de flexibilidade observadas em vários estudos [3,8,2]. Crawford e Jull [8] observaram uma menor amplitude de elevação do braço em pacientes idosos, portadores de cifose dorsal aumentada. Holland e Davis citados por Alter [9] também observaram uma menor flexibilidade nos músculos peitorais em pacientes apresentando ombros arredondados. Muitos são os estudos abordando a capacidade de adaptação do músculo estriado Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 esquelético, quando mantido em um certo grau de extensão [10, 11]. Essa habilidade de adaptação foi primeiro demonstrada por Marey [12], que verificou um aumento no comprimento do tríceps sural poucas semanas após transplante de sua porção distal para uma região mais inferior do calcâneo. Posteriormente, por outros autores como Alder et al. [13], que identificaram uma diminuição no comprimento do músculo esquelético, após certo período em posição encurtada. Looughna, Goldspink e Goldspink [14], em estudo realizado para investigar alterações em fibras de contração lenta de ratos, devido a hipocinesia e hipodinamia, também observaram que o grau de atrofia muscular foi maior e mais rápido em músculos posturais. A diminuição no comprimento de músculos mantidos encurtados foi devido a perda de sarcômeros em série, e seu aumento, quando mantido em posição alongada, foi por acréscimo desta unidade funcional e essas alterações ocorreram independente de inervação muscular [11,15,16,17,4,18,19]. Segundo Tabary et al. [11], as modificações no comprimento da fibra muscular provavelmente ocorrem para manter o comprimento fisiológico e funcional do sarcômero. Gordon et al. [20] verificaram que a força isométrica máxima é produzida quando o sarcômero atinge um comprimento entre 2,0 a 2,25µ, que é um comprimento próximo ao comprimento em posição de repouso. Este comprimento permite uma máxima interação de pontes cruzadas de miosina com os filamentos de actina. Quando o músculo é estirado ou encur-tado, o sarcômero passa a atingir um comprimento maior ou menor do que o de repouso e, por tanto, há redução na sobreposição entre seus filamentos contráteis. O ajuste parece ocorrer então para que o comprimento do sarcômero retorne ao seu comprimento funcional [11]. Além da redução no comprimento da fibra e no número de sarcômeros em músculo imobilizado na posição encurtada, estudos também demonstram aumento em sua resistência passiva e isso, provavelmente, é devido a alteração na remodelação no tecido 103 conjuntivo nos músculos mantidos encurtados [15, 21, 11, 17]. Foi observado aumento na proporção de colágeno, diminuição no conteúdo de glicosaminoglicanas e água da matriz extracelular com conseqüente aproximação de suas fibras, deposição aleatória do colágeno recém-formado e formação de ligações cruzadas anormais entre as mesma [17, 22, 9]. Todas essas mudanças no tecido conjuntivo parecem ocorrer para proteger o músculo de um alongamento muscular excessivo [10, 23, 22]. A diminuição no comprimento da fibra muscular mantida em encurtamento, que pode ocorrer quando se mantém uma postura corporal inadequada, associado a perda da extensibilidade, devido as alterações no tecido conjuntivo, diminuem a amplitude articular, predispondo a lesões e/ou dor, e redução da força máxima contrátil [23, 24]. Adaptação do tecido muscular relacionada ao exercício físico O sistema locomotor, através do exercício físico, é funcionalmente estimulado e o tecido muscular demonstra importante capacidade para modificar-se e adaptar-se frente às diferentes condições de stress mecânico [25]. O processo de adaptação muscular que ocorre durante a manutenção de uma determinada postura inadequada, com conseqüente redução de sua capacidade funcional, também se desenvolve com a prática de exercícios físicos que utilizam sobrecarga de força inadequada, pois esta capacidade motora requer uma condição restrita da amplitude de movimento [26]. Tabary et al. [11], após quatro semanas da retirada da imobilização em encurtamento, identificaram extensibilidade e número de sarcômeros próximo ao grupo controle não imobilizado, demonstrando, com isso, uma adaptação muscular de acordo com sua funcionalidade. Tabary et al. [11] e Goldspink et al. [16] observaram restauração dos comprimentos originais dos músculos após retirada da imobilização em encurtamento e alongamen- 104 to. E essas alterações ocorreram tanto nos músculos inervados [11] quanto nos denervados [16], demonstrando que o ajuste no número de sarcômeros não parece estar diretamente sob controle neural, mas sim uma resposta miogênica à quantidade de tensão passiva, à qual o músculo está sendo submetido [27, 16, 21]. Os exercícios excêntricos parecem, por esta razão, propiciar a hipertrofia excêntrica (ou longitudinal) da fibra muscular [28], e os exercícios concêntricos, a hipertrofia concêntrica (ou transversal) [29]. Como os fatores limitantes da flexibilidade, observados durante a prática do alongamento, se devem também à composição e organização da matriz extracelular dos tecidos conjuntivos [30]. Parte dos esforços para aumentar a flexibilidade tem sido direcionada à fáscia muscular, através da utilização de técnicas de alongamento do tipo passiva [4], ou as denominadas manobras de pompage [31], visando com isso a produção e retenção de glicosaminoglicanas e manutenção das proporções normais de água propiciando um distanciamento das fibras da MEC (matriz extracelular), deposição de fibras colágenas paralelas as linhas de tensão impostas pelo movimento e prevenindo a formação de elos de ligação anormais [4]. Williams et al. [32] realizaram um experimento aplicando diferentes combinações de imobilização e eletroestimulação e concluíram que é possível prevenir o acúmulo de tecido conjuntivo, identificado no músculo imobilizado em posição encurtada, ou pelo alongamento passivo ou pela contração muscular, mesmo sendo induzida por eletroestimulação, embora não tenha prevenido a perda de sarcômeros em série. Discussão As adaptações morfológicas do tecido muscular à demanda funcional, podem propiciar menor qualidade de vida por diminuição na flexibilidade e surgimento de quadro álgico dentre outros fatores. E o exercício físico, como demonstra importante capacidade para modificá-lo frente às diferentes condições de stress mecânico, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 parece ser o melhor caminho para reverter esse processo. Contudo, muitos são os fatores a serem considerados, uma vez que este mesmo instrumento de recuperação pode se tornar mais um importante causador de novas indesejadas adaptações. Como um dos fatores limitantes da flexibilidade envolve o tecido conjuntivo [30], várias são as propostas de exercícios visando aumentar sua extensibilidade. Porém, o tipo de força de tensão aplicada e o tempo de sua aplicação influenciam na sua mudança estrutural [33,34]. Forças de tração baixa, por aumentarem a deformação plástica permanente deste tecido, parecem ser a melhor forma de trabalho. Contudo, reque-rem um maior tempo para produzir a mesma quantidade de alongamento que um método de força mais alta [33]. Desta forma, manobras miofasciais, assim como as de pompage utilizadas por Bienfait [31], realizadas de forma lenta e suave, parecem estimular as alterações desejadas sobre o tecido conjuntivo, sem gerar sua ruptura ou seu enfraquecimento, como observado em protocolos que utilizam força de tração elevada [33]. Williams [32], utilizando alongamento passivo por 15 minutos diários em patas de ratos, mantidas imobilizadas em posição de encurtamento, revelou prevenção da alteração de conjuntivo. Contudo, não houve prevenção na perda de sarcômeros em série na fibra muscular. Em 30 minutos diários porém, houve prevenção de sua perda e com a aplicação de duas horas diárias, observou-se inclusive aumento de seu número em série em cerca de 10%, o que comprova a necessidade de um tempo mínimo de manutenção do alongamento, para o desenvolvimento das adaptações tróficas longitudinais desejadas sobre a fibra muscular. Os exercícios excêntricos também apresentam um poderoso efeito sobre a hipertrofia longitudinal dos músculos esqueléticos [36,28], assim como os concêntricos estimulam a hipertrofia concêntrica . Trabalhos como os de Kibler [37], Armstrong [38], Clarkson [39,28] contudo, demonstram que as atividades físicas que se utilizam de exercícios excêntricos (assim como os concêntricos) estressantes, causam Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 alterações citoesqueléticas e teciduais nocivas à integridade morfofuncional do sistema músculo esquelético, e os exercícios excêntricos possuem maior índice de lesão e maior desconforto. Tem sido sugerido que a base biomecânica para estes danos seja a magnitude da tensão imposta sobre a fibra [18], o que demonstra a necessidade de um programa equilibradamente dosado. Posturas de alongamento ativas como as utilizadas no RPG (Reeducação Postural Global) [40], ou as denominadas posturas globais do RPG/RPM (Reeducação Postural Global, pelo Reequilibro Proprioceptivo e Muscular) permitem tensionar os diversos músculos que compõem as cadeias musculares encurtadas, e a contração concêntrica dos músculos opostos, favorecendo a hipertrofia excêntrica dos encurtados e concêntricas daqueles que se mostram com um comprimento maior que o fisiológico. No RPG/RPM, durante a realização das posturas globais, é realizado manobras miofasciais, técnicas de inibição do tônus muscular como TEM (Técnica de Energia Muscular) e os pontos de pressão isquêmica. As manobras miofasciais alteram a extensibilidade do conjuntivo retraído, diminuindo sua resistência, e a TEM diminui o tônus neurogênico daqueles músculos que se mostram tensos [41], facilitando assim a contração das fibras musculares tônicas e tônico-fásicas (principais responsáveis pela manutenção da postura corporal) dos músculos opostos àqueles encurtados. As alterações posturais podem, com certa freqüência, ser a causa da dor miofascial, que é definida como uma disfunção neuromuscular regional, tendo como característica a presença de regiões sensíveis em bandas musculares contraturadas e/ou tensas que produzem dor referida em áreas distantes ou adjacentes [42]. A atenuação do quadro álgico, favorece a diminuição do tônus muscular neurogênico, facilitando ainda mais o trabalho das fibras musculares tônicas tônico -fásicas. Desta forma os recursos analgesiantes associados a essas posturas, como os citados pontos isquêmicos [42], irão 105 facilitar ainda mais a obtenção das alterações morfológicas desejadas à obtenção de uma postura ideal. Conclusão O músculo estriado esquelético adapta-se às alterações em seu comprimento por meio da regulação no número de sarcômeros em série, e a manutenção de uma determinada posição é fator determinante na regulação desse número. Além das alterações no comprimento de uma fibra muscular mantida encurtada, há adaptações no conjuntivo, como aumento em sua proporção, deposição aleatória do colágeno, aproximação dos elementos da matriz e formação de ligações cruzadas anormais, comprometendo sua extensibilidade. Tônus muscular neurogênico aumentado associado à presença de dor e diminuição na extensibilidade do conjuntivo são fatores que dificultam a solicitação das chamadas fibras musculares posturais. A aplicação de exercícios de alongamento lentos e progressivos previnem o acúmulo de conjuntivo e proporcionam maior deformação plástica permanente possibilitando a normalização de sua extensibilidade. Exercícios concêntricos promovem hipertrofia concêntrica e os excêntricos, embora promovam hipertrofia excêntrica, propiciam maior número de lesões teciduais. Desta forma, métodos como RPG ou RPG/ RPM que utilizam posturas que desenvolvem um tensionamento constante dos músculos encurtados, associados a um trabalho concêntrico das fibras que compõem a musculatura oposta e a técnicas de efeito sobre o conjuntivo, de alívio da dor e da tensão muscular neurogênica parecem propiciar as alterações morfológicas necessárias para o retorno ao reequilíbrio postural desejado de forma confortável e segura. 106 Referências 1. Gagey PM e Weber B. Uma breve história Posturologia. In: Posturologia: Regulação e distúrbios da posição ortostática. 2a ed. São Paulo: Manole; 2000.1-7. 2. Bricot B. 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Resumo Esse estudo tem o objetivo de fornecer um maior conhecimento sobre a neuropatia periférica diabética e o papel da plasticidade neural na regeneração dos nervos afetados, o que diminuiria os sintomas, promovendo uma possível cura. A metodologia foi a revisão de literatura, a qual se refere aos mecanismos patológicos, que contribuem para o desenvolvimento da neuropatia periférica diabética, sua principal conseqüência, o pé diabético, e seu tratamento. Concluído o estudo foi possível observar que os novos medicamentos e terapias promovem a plasticidade neural, presente na regeneração nervosa. A fisioterapia é essencial para os pacientes diabéticos com neuropatia periférica, não apenas porque estimula a regeneração nervosa, mas também ajuda a reduzir os sintomas, melhorando a circulação sangüínea para os pés, o que diminui o risco de desenvolver o pé diabético, causa importante de muitas amputações. Artigo recebido em 15 de dezembro de 2001; aprovado em 4 de abril de 2002 Endereço para correspondência: Rosalina de Paula Ferreira Cunha, Rua Luís Guimarães, 296, Casa Forte, 52061-160 Recife PE, Tel: (81) 3441-2731, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Key-words: Peripheral diabetic neuropathy, diabetic foot, neural plasticity and physical therapy 109 Abstract This study has the aim to supply a bigger knowledge about the peripheral diabetic neuropathy and the role of the neural plasticity in the affected nerves regeneration which would decrease the symptoms, promoting a possible cure. The methodology was the literature review which refers to the pathological mechanisms that contribute for the peripheral diabetic neuropathy development, its main consequence, the diabetic foot, and its treatment. Concluded the study it was possible to observe that the new medicines and therapies promote the neural plasticity, present in the nervous regeneration. The physical therapy is essential for the diabetic patients with peripheral neuropathy not only because stimulate the nervous regeneration but also help to reduce the symptoms, improving the blood circulation for the feet, which decrease the risk of developing the diabetic foot, important cause of many amputations. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Diabetes mellitus é uma doença caracterizada pela falta absoluta ou relativa de insulina no organismo. Se manifesta devido a uma deficiente função secretora de insulina pelo pâncreas e/ou a uma ação deficiente da insulina nos tecidos-alvo. A insulina facilita a penetração de glicose nas células de tecidos insulino-dependentes. No diabetes mellitus, este hormônio é incapaz de exercer adequadamente sua função, logo as células ficam impedidas de absorver a glicose, elevando os níveis dessa substância no sangue e a excreção urinária da mesma. A poliúria, sede exagerada, fome intensa, perda de peso, cansaço, dificuldade de cicatrização e impotência sexual são alguns dos sintomas desta doença. Os pacientes diabéticos podem ser classificados em dois grupos: • Tipo 1 ou insulino -dependente: Os pacientes são dependentes do uso terapêutico de insulina. Na maioria dos casos, o início da doença ocorre na infância ou na juventude. • Tipo 2 ou não-insulino-dependente: Embora os pacientes desse tipo passem eventualmente a ter que usar insulina para ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ controle da glicose, não há dependência ao uso terapêutico desta substância. O diabetes tipo 2 é característico da idade adulta. Com o envelhecimento, sua incidência é progressivamente maior. Atualmente, grande parte da morbidade e da mortalidade ligadas ao diabetes mellitus diz respeito às suas complicações crônicas vasculares e neurológicas. Uma das piores complicações crônicas do diabetes é a neuropatia periférica, pois causa muita dor, desconforto, incapacidade e até a morte do paciente. Neuropatia periférica diabética A neuropatia periférica diabética é um distúrbio no nervo periférico causado pelo diabetes e caracterizado por atrofia e degeneração axonal e/ou por alterações na célula de Schwann, provocando desmielinização em segmentos do axônio. Conseqüentemente, o transporte axonal é prejudicado e a velocidade de condução nervosa é diminuída ou, se a lesão for mais 110 grave, a transmissão do impulso nervoso é interrompida. Os sintomas podem ser fraqueza muscular, se as fibras nervosas danificadas são motoras, perda de sensibilidade, dor, dormência e sensações anormais, como formigamento, alfinetadas e queimação, se as fibras nervosas atingidas são sensitivas, e disfunções nos órgãos internos comandados pelo sistema nervoso autônomo, se as fibras nervosas afetadas são pertencentes a esse sistema. O risco de desenvolver a neuropatia é maior para pacientes de idade avançada, fumantes, alcoólatras, com pobre controle da glicemia e aqueles que apresentam diabetes de longa duração. Classificações da neuropatia periférica diabética A neuropatia periférica diabética pode ser: • Sensorial ou sensitiva: Quando os nervos afetados são aqueles que levam informações das sensações das várias partes do corpo para o sistema nervoso central. Esta é a forma mais comum de neuropatia. • Autonômica ou independente: Quando afeta os nervos que controlam as atividades involuntárias do organismo. Pode causar impotência sexual, hipotensão ortostática, diarréia, bexiga neurogênica, a qual não se esvazia totalmente na micção e se torna alvo para repetidas infecções, entre outras disfunções. • Motora: Quando atinge os nervos que mandam os sinais para os músculos a fim de que estes executem os movimentos. Esta forma é muito rara. • Mononeuropatia: Quando só um nervo for lesado. • Polineuropatia: Quando vários nervos forem danificados. • Neuropatia assimétrica: Quando só um lado do corpo é afetado. • Neuropatia simétrica: Quando os dois lados do corpo são afetados. • Neuropatia distal: Quando afeta os nervos que vão para as mãos e pés. • Neuropatia proximal: Quando atinge os nervos que vão para partes mais proximais do corpo, como a coxa. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 A polineuropatia simétrica distal, em sua forma predominantemente sensitiva, é a neuropatia diabética mais comum. É causada pela lesão de fibras nervosas longas. O acometimento pode ser das extremidades inferiores (em bota) ou das superiores (em luva). Degeneração e regeneração das fibras nervosas periféricas nas neuropatias Geralmente, a degeneração das fibras nervosas periféricas se dá pelo processo designado como degeneração walleriana a qual é conseqüência de uma lesão primitiva do neurônio. Ela se desenvolve sobre a parte distal da fibra que se separou do corpo celular e proximalmente até o nodo de Ranvier acima da lesão. Está associada a uma degeneração do axônio e à diferenciação da bainha de mielina; dos restos mielínicos se encarregam os macrófagos os quais são originados das células de Schwann. A regeneração se faz do centro do axônio afetado ou das colaterais dos axônios vizinhos. É facilitada pela persistência de bainhas endoneurais e se segue de forma centrífuga, ficando a remielinização garantida pela proliferação das células de Schwann que ocorre no início da regeneração. As funções de condução da extremidade distal da fibra desaparecem alguns dias após a lesão do nervo, reaparecendo com a regeneração e a velocidade de condução inicialmente reduzida retornando, progressivamente ao seu valor inicial. Na neuropatia diabética existe o acometimento de células de Schwann: Ele se manifesta clinicamente pela lentificação das velocidades de condução e, anatomicamente, por lesões de desmielinização segmentar. Ela tem início no nodo de Ranvier e é caracterizada por uma disjunção glioaxonal. Pode-se também observar lesões de axônios nas quais é difícil saber se são conseqüências de lesões das células de Schwann ou se traduzem a associação de uma neuropatia axonal primitiva com conseqüente degeneração walleriana. Logo, não se tem como certo qual desses processos é primário ou secundário ao outro. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 Patogênese Os mecanismos patogênicos que contribuem para o desenvolvimento da neuropatia periférica diabética podem ser: • Teoria metabólica do sorbitol mioinositol: A glicose é convertida em sorbitol nas células pela atividade da enzima aldose reductase. Com a hiperglicemia provocada pelo diabetes, a quantidade de sorbitol acumulada no interior da célula é grande. Esse acúmulo de sorbitol afeta a célula nervosa, pois diminui os níveis intracelulares de mio-inositol, limitando o metabolismo intracelular. A redução intracelular desta substância está associada à diminuição da atividade da bomba de sódio e potássio, o que aumenta a concentração de sódio e água no interior da célula. Esse acúmulo de sódio explica o bloqueio seletivo que ocorre no nodo de Ranvier, onde a atividade da bomba se concentra. O edema localizado no nodo de Ranvier provocado pelo acúmulo de água e sódio intracelular promove a disjunção glioaxonal, uma das primeiras manifestações da neuropatia diabética. Tudo isso influencia a velocidade de condução nervosa, tornando-a mais lenta. • Redução do fluxo sangüíneo endoneural e a isquemia do nervo: O espessamento da membrana basal capilar provocado pela glicosilação de suas proteínas estruturais, alterações da viscosidade sangüínea secundária à presença de proteínas glicosiladas circulantes, agregações plaquetárias e hiperplasia das células endoteliais resultam na oclusão do vaso causando a isquemia endoneural. A diminuição da tensão de oxigênio e do fluxo sangüíneo endoneural lentifica a velocidade de condução nervosa. • Glicosilação: O aumento da glicemia faz com que a glicose se ligue às hemácias, modificando suas propriedades bioquímicas, conseqüentemente, dificultando o fornecimento de oxigênio para as células, às proteínas axonais de transporte, alterando a síntese da bainha de mielina, às membranas celulares, interferindo no funcionamento celular, nas proteínas das paredes vasculares, facilitando a aterosclerose pela diminuição do efluxo de lipoproteínas, que se ligam às proteínas da matriz vascular e a outras 111 proteínas circulantes, aumentando a viscosidade sangüínea. • Estresse oxidativo: Os radicais livres são produzidos pelo organismo como parte de sua defesa natural contra as doenças e em conseqüência do seu metabolismo normal. Radicais livres de oxigênio são espécies reativas do oxigênio que possuem um elétron instável na última camada de elétrons do átomo de oxigênio e isto os tornam altamente instáveis, logo são capazes de reagir com qualquer substância ao seu redor. O estresse oxidativo ocorre quando o organismo produz uma quantidade grande de radicais livres e esse excesso não pode ser neutralizado pelos mecanismos fisiológicos enzimáticos antioxidantes. Na neuropatia periférica diabética, o estresse oxidativo é provocado pela hiperglicemia e os mecanismos celulares e extracelulares antioxidantes estão diminuídos no diabetes. A conversão de glicose em sorbitol e subseqüentemente em frutose resulta na diminuição dos depósitos de NADPH e NAD+ na célula nervosa, tornando-a mais vulnerável ao ataque dos radicais livres de oxigênio. Os radicais livres também lesam a camada endotelial dos vasos sangüíneos que nutrem as células nervosas. A interrupção desse fluxo sangüíneo induz a produção de mais radicais livres de oxigênio, aumentando ainda mais o estresse oxidativo e causando lesão neuronal e axonal. Esse estresse também prejudica a ação dos fatores neurotróficos que ajudam na regeneração nervosa. • Perda de sustentação neurotrófica: Os fatores neurotróficos são proteínas que promovem a sobrevivência, o desenvolvimento, a diferenciação e a regeneração do tecido nervoso. São produzidos pelas células-alvo, ligando-se a receptores dos terminais axônicos, sendo internalizado e transportado até o corpo celular (transporte retrógrado), onde participa da ativação metabólica neuronal. Na neuropatia periférica diabética, há uma diminuição do tono neurotrófico decorrente de transtornos na síntese, secreção e resposta de alguns fatores neurotróficos, como o fator de crescimento neuronal (FCN), indispen-sável para o desenvolvimento normal dos 112 neurônios e dos axônios. Em presença de hiperglicemia crônica, as respostas neurotróficas apresentam diversas alterações que atingem o funcionamento neuroaxonal. Essas alterações são: diminuição dos fatores de crescimento, disfunção no transporte retrógrado do FCN para o corpo celular, distúrbios nos mecanismos de transdução de sinais de resposta aos fatores de crescimento neuronal e alterações na produção de FCN pelas células de Schwann. • Diminuição dos níveis de óxido nítrico: Recentemente, pesquisadores têm observado que o excessivo metabolismo da glicose modifica a quantidade de óxido nítrico nos nervos. Nas pessoas com diabetes, os baixos níveis de óxido nítrico, o qual é um vasodilatador, podem levar a constrição dos vasos que nutrem o nervo, promovendo a lesão nervosa. • Hiperhomocisteinemia: A homocisteína é um metabólito intermediário do metabolismo da metionina. A metionina é um aminoácido importante na síntese de muitas proteínas, alterando seu metabolismo, a produção de nutrientes que são essenciais para um ótimo funcionamento dos sistemas nervoso, esquelético e cardiovascular é afetada. Altos níveis de homocisteína acumulados na célula inibem as reações de metilação, a qual está envolvida na regeneração da metionina, assim o metabolismo desse aminoácido é alterado. Outro efeito da homocisteína é que ela interage com o receptor N-Metil-D-Aspartato, causando um influxo excessivo de cálcio e produção de radicais livres, resultando em neurotoxicidade. • A deficiência de Acetil-L-Carnitina: A acumulação de ácidos graxos de cadeia longa no nervo prejudica seu funcionamento, pois altera a integridade da membrana mitocondrial, perturbando o metabolismo intracelular e a produção de energia da célula nervosa. Acetil-L-Carnitina é um derivado da carnitina que promove a beta-oxidação desses ácidos graxos no fígado. Logo, sua deficiência ajuda no acúmulo desses ácidos, contribuindo para as alterações no metabolismo da célula nervosa, na sua produção de energia e na condução do impulso nervoso. Todos esses mecanismos formam a base para pesquisas sobre medicamentos e terapias Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 para o tratamento dessa patologia. Pé diabético Entende-se por pé diabético um conjunto de alterações ligado às angiopatia e neuropatia periféricas, freqüentemente complicado por infecções [1]. É grande a quantidade de pacientes diabéticos que possuem problemas vasculares e neurológicos nos membros inferiores, principalmente nos pés. Estima-se que um entre cinco diabéticos internados tenha sido em razão do pé diabético [1]. Os problemas mais comuns são infecções, ulcerações, deformações, ou gangrenas que podem levar, nos casos mais graves, nos quais se desenvolve osteomielite, a amputações de um dedo, pé ou perna. • Há três principais fatores que promovem o desenvolvimento dessas complicações nos pacientes diabéticos: neuropatia periférica, diminuição da circulação sangüínea no membro inferior e baixa resistência às infecções: • Neuropatia periférica: Como a capacidade de detectar as sensações de calor, frio e dor está diminuída ou até ausente, ferimentos ou queimaduras podem não ser percebidos por longo período de tempo, se tornando focos de ulcerações e, posteriormente, infecções. Na neuropatia periférica motora, há fraqueza muscular e perda do tônus nas coxas, pernas e pés devido ao acometimento dos nervos motores, podendo levar ao desenvolvimento de deformidades nos pés, como o joanete. • Diminuição da circulação sangüínea: O diabetes lesa a parede dos vasos, levando à doença vascular periférica que pode causar dormência e dor na panturrilha e nádegas ao caminhar, pois reduz o suprimento sangüíneo para o membro inferior, conseqüentemente, diminui a entrega de oxigênio e nutrientes. Outra conseqüência disso é se o pé for ferido, a cicatrização pode ser muito devagar, aumentando o risco para infecções. • Baixa resistência às infecções: Quando a glicemia está acima do normal, os leucócitos apresentam deficiências na capacidade de Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 defender o organismo contra a invasão de bactérias e outros microorganismos, devido à hipóxia causada pela diminuição da circulação sangüínea periférica, pela glicosilação das hemácias, e ao espessamento da membrana basal dos vasos, o qual interfere na diapedese destes. Logo, nos diabéticos, as infecções se desenvolvem mais rapidamente, pois a resposta imune está diminuída. Um grande número de amputações das extremidades inferiores ocorre anualmente em pacientes diabéticos e muitas delas poderiam ser evitadas através de cuidados especiais com os pés, como checar os pés todo dia, examinando se há cortes, bolhas, unhas encravadas, manchas vermelhas ou pé de atleta, afim de impedir a progressão de ulcerações e infecções. Se qualquer um desses problemas ocorrer, deve-se ir, imediatamente, ao médico. Tratamento da neuropatia periférica diabética Atualmente, novos medicamentos e terapias estão sendo desenvolvidos com a finalidade de diminuir os sintomas da neuropatia, como a dor e estimular a regeneração dos nervos afetados. O estudo Controle e Complicações do Diabetes (Diabetes Control and Complications Trial - DCCT ) realizado nos Estados Unidos e Canadá no período de 1983 a 1993 mostrou que mantendo a glicemia o mais normal possível reduz em 60% o risco de desenvolver a neuropatia diabética. Logo, o primeiro passo para prevenir e diminuir os sintomas e a velocidade de progressão desta patologia é controlar os níveis glicêmicos, limitando assim, o estrago que a hiperglicemia pode causar aos nervos. A fisioterapia é muito importante para os pacientes diabéticos com neuropatia, devido aos seguintes fatores: Os exercícios fazem com que os músculos enfraquecidos pela diminuição da atividade nervosa fiquem mais fortes, a massoterapia alivia a dor e ativa a circulação, os espasmos musculares podem ser reduzidos pelos exercícios de alongamento, a dor pode ser aliviada pelo 113 TENS (estimulação nervosa elétrica transcutânea) o qual é um aparelho que estimula as fibras nervosas, através de eletrodos colocados sob a pele do paciente, com pequena quantidade de eletricidade e por meio da teoria da comporta da dor. A liberação de opióides endógenos promove a analgesia. Além disso, os exercícios também melhoram a circulação sangüínea dos membros inferiores, o que diminui o risco de desenvolver o pé diabético e aliviam a dor e a dormência, se o paciente já possui a doença vascular periférica. No tratamento da neuropatia pode-se utilizar analgésicos, como aspirina e codeína, antiinflamatórios contendo ibuprofeno, pomadas analgésicas e drogas que atuam na condução nervosa. Alguns dos tratamentos mais recentes são: • Bloqueador do receptor N-Metil-DAspartato (NMDA): O memantine é um exemplo desse medicamento, ele diminui a dor que os pacientes com neuropatia sentem à noite. • Inibidores da enzima aldose reductase: São drogas, como o sorbinil, que impedem a conversão intraneuronal de glicose em sorbitol. • Suplementação com mio-inositol: Suplementos de mio-inositol aumentam os níveis desta substância na célula nervosa. • Suplementação com antioxidantes: Os antioxidantes são substâncias endógenas ou exógenas que possuem a propriedade de neutralizar a ação dos radicais livres, ou seja, estabilizando-os e protegendo as células do estresse oxidativo. Alguns dos antioxidantes utilizados são: Ácido alfa-lipóico é um potente antioxidante, pois regenera, através de reações de oxi-redução, outros antioxidantes, como vitaminas C e E. Ele previne e melhora as alterações na condução nervosa e no fluxo sangüíneo endoneural. Além disso, ele reduz a peroxidação lipídica e aumenta a resposta da glicose à insulina; O zinco permite a diminuição da peroxidação lipídica e da glicosilação; O selênio é um cofator de uma enzima antioxidante, a gluta-tiona peroxidase, logo ajuda na diminuição dos 114 radicais livres; A vitamina E reforça os efeitos da insulina e a vitamina C que permite a regeneração da vitamina E e da glutationa necessária a enzima glutationa peroxidase. · Ácido gama-linolênico: É um precursor de ácidos gordurosos insaturados que são importantes na estrutura das membranas e como segundo mensageiro. Ele está presente em óleos terapêuticos e tem a capacidade de melhorar os déficits na condução nervosa e no fluxo sangüiíneo endoneural. Sua eficácia é aumentada quando combinado ao ascorbato, formando o ácido gama-linolênico ascorbil. • Acetil-L-Carnitina: Melhora e previne alterações na velocidade de condução nervosa. Além disso, previne a redução da síntese e transporte axonal da substância P, e promove a regeneração da fibra nervosa, pois facilita as interações neurotróficas e mantém a integridade da membrana funcional nervosa. Sua associação com o sorbinil reduz as mudanças funcionais, estruturais e bioquímicas causadas pela hiperglicemia na bainha de mielina, aumentando a velocidade de condução nervosa, a largura da bainha e o número de fibras mielinizadas. • Inibidores da glicosilação: São drogas, como a aminoguanidina, que previnem ou reduzem as complicações microvasculares causadas pela glicosilação. • Estimulação da regeneração nervosa: A plasticidade neural é a capacidade que o sistema nervoso possui de se ajustar perante influências ambientais durante o desenvolvimento, e estabelecer, reorganizar ou recuperar funções desorganizadas por condições experimentais ou patológicas. Logo, o sistema nervoso quando submetido a lesões destrutivas pode ser capaz, em determinadas condições, de recuperar as funções anteriormente perdidas. Estudos recentes têm demonstrado que o sistema nervoso periférico apresenta uma rápida regeneração. Após uma lesão, ocorre a degeneração do coto distal do nervo, enquanto que a bainha de mielina na redondeza e o envoltório do nervo permanecem conservados. Do coto proximal, o qual está ligado ao corpo celular, brotam e crescem vários prolongamentos para dentro da bainha de mielina, ocupando-a como um canal, até Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 que possam encontrar novamente seu órgãoalvo. No caso de secção total do nervo, o crescimento dos axônios pode ocorrer ao longo de bainhas incorretas de mielina, desse modo, esses axônios podem encontrar órgãos-alvo diferentes dos originais. Na neuropatia periférica diabética, a plasticidade neural está presente na regeneração dos nervos afetados. Recentemente, tem sido testado o uso dos fatores neurotróficos no tratamento da neuropatia. Eles seriam excitados ou adicionados ao corpo a fim de estimular a regeneração do tecido nervoso. Os pesquisadores estão trabalhando numa terapia genética na qual genes seriam introduzidos na célula nervosa a fim de produzir fatores de crescimento neuronal. Desse modo, as células nervosas voltariam a ter a capacidade de se proteger e se regenerar com maior facilidade. O tratamento fisioterápico também é muito importante para estimular a regeneração nervosa, pois a atividade física é capaz de aumentar a produção dos fatores neurotróficos. É indispensável a fisioterapia para os pacientes diabéticos com neuropatia periférica não apenas pela ajuda na regeneração nervosa mas também pelos outros aspectos já mencionados, anteriormente, como o aumento do fluxo sangüíneo para o membro inferior e do tônus muscular. Todos esses tratamentos estão sendo desenvolvidos para proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes diabéticos com neuropatia. Quanto mais cedo começar o tratamento, maior será a probabilidade de preservar e regenerar o tecido nervoso. Referências 1. Vaisman M, Tendrich M. Diabetes Mellitus na prática clínica. Rio de Janeiro: Cultura Médica, 1994. 2. Lundy-Ekman L. Neurociência: Fundamentos para a reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 3. Ogard WK, Stockert BW. Neuropatias periféricas. In: Umphred DA: Fisioterapia Neurológica. São Paulo: Manole 1994; p. 331-343. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 - Março / Abril 2002 4. Strokes M. Cash: Neurologia para fisioterapeutas. São Paulo: Premier, 2000. 5. Miller AL, Kelly GS. Homocysteine Metabolism: Nutritional modulation and impact on health and disease. Alt Med Rev 1997;2(4):234-254. 6. Stevens MJ, Lattimer SA, Feldman EL, Helton ED, Millington DS, Sima AAF, Greene DA. Acetyl-L -Carnitine deficiency as a cause of altered nerve myo-inositol content, Na, K-ATPase activity, and motor conduction velocity in the streptozotocin-diabetic rat. Metabolism: Clinical and Experimental 1996;45/7:865-872. 7. Packer L, Tritschler HJ, Wessel K. Neuroprotection by the metabolic antioxidant alpha-lipoic acid. Free Radical Biology and Medicine 1996;22(1-2):359378. 115 8. Cameron NE, Cotter MA. Comparison of the effects of ascorbyl gamma-linolenic acid and gamma-linolenic acid in the correction of neurovascular deficits in diabetic rats. Diabetologia 1996;39(9):1047-1054. 9. Malone JI, Lowitt S, Salem AF, Miranda C, Korthals JK, Carver J. The effects of acetyl-L -Carnitine and sorbinil on peripheral nerve structure, chemistry and function in experimental diabetes. Metabolism: Clinical and Experimental 1996;45(7):902-907. 10. Sima AAF, Ristic H, Merry A, Kamijo M, Lattimer AS, Stevens MJ, Greene DA. Primary preventine and secondary interventionary effects of acetyl-L Carnitine on diabetic neuropathy in the bio-breeding worcester rat. Journal of clinical investigation 1996;97(8):1900-1907. Lançamento Atlântica Editora TRATAMENTO OSTEOPÁTICO DAS LOMBALGIAS E CIÁTICAS por François Ricard O autor é diretor da Escuela de Osteopatia de Madri, e neste volume apresenta através de textos e ilustrações as técnicas desenvolvidas ao longo de sua carreira. São 400 páginas com fotos, ilustrações e texto. Para conhecer mais: www.atlanticaeditora.com.br 116 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 Caso Clínico Programa de hidroterapia na reabilitação de um paciente portador da doença de Parkinson Hydrotherapy in Parkinson disease rehabilitation Sandra Regina Morini*, Sheila Cristiane Adachi**, Sylvia H. F. C. Henriques*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia aplicada a Neurologia Infantil pelo HC UNICAMP, **Fisioterapeuta da Academia Água Azul (Itatiba SP), ***Fisioterapeuta, Mestre em Fisiologia do Exercício, Doutoranda FCM UNICAMP, Profª. Faculdade de Fisioterapia UNIP, Coordenadora do Centro de Reabilitação do Instituto Affonso Ferreira Palavras-chave: Parkinson, hidroterapia, parkinsonismo, reabilitação aquática, fisioterapia. Resumo A reabilitação do paciente com a doença de Parkinson necessita de abordagens variadas e ricas em recursos. A hidroterapia em piscina terapêutica pode fazer parte do contexto de um programa reabilitador que vise um controle maior do organismo humano que é bastante complexo. Entretanto, estudos na área ainda são escassos. A finalidade maior deste trabalho foi observar os possíveis benefícios que a hidroterapia pode trazer ao paciente com a doença de Parkinson. Para tanto foi aplicada uma proposta de tratamento hidroterápico em um paciente parkinsoniano, para verificar a possibilidade de se empregar a hidroterapia como mais uma forma de tratamento nesta doença. Foi possível observar a facilidade na realização dos exercícios terapêuticos dentro da água, bem como o efeito do ambiente aquático no tono muscular. Nos resultados obtidos, o paciente em estudo apresentou ganho de ADM em algumas articulações, e, o mais importante, não teve a perda esperada pela evolução da doença. Portanto, a hidroterapia se mostrou eficaz neste caso, o que nos leva a pensar que ela deva ser aplicada na reabilitação da doença de Parkinson. Artigo recebido em 19 de março de 2002; aprovado em 10 de abril de 2002 Endereço para correspondência: Sylvia H. F. C. Henriques, Av. José Bonifácio, 2656 13093-241 Campinas SP, Tel/fax: (19) 3254-4200, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 Key-words: : Parkinson, hydrotherapy, aquatic rehabilitation, physiotherapy. 117 Abstract The rehabilitation program of a patient with Parkinsons disease requires different approaches and the use of extensive resources. Hydrotherapy, utilizing therapeutic pools, has been one option in rehabilitating programs. Although studies in this area have been scarce, the findings are positive with the use of larger human control groups. Hence, the main purpose of this study was to observe possible benefits of hydrotherapy to a patient with Parkinsons disease, and therefore employ this method as a potential treatment for the disease. In summary, observations were made into the use of under-water therapeutic exercises, as well as the effect of the aquatic environment on muscle tone. The results showed an increase in articulation for amplitude, and most importantly did not have the loss expected from the evolution of the disease. Therefore, hydrotherapy was effective in this case, that will steal to think that it should be applied in the rehabilitation of the patient with Parkinson disease. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A doença de Parkinson A doença de Parkinson é uma doença crônica degenerativa, de caráter progressivo e que acomete os núcleos da base no sistema nervoso central. Isto interfere no tono muscular, leva a posturas anormais e movimentos involuntários. A rigidez, a bradicinesia, o tremor e as alterações posturais são os sinais e sintomas característicos da doença e manifestam-se por lentidão na movimentação voluntária, expressão facial diminuída (face de máscara), distúrbios do equilíbrio e da marcha (marcha festinante), postura flexionada ou encurvada. Nota-se ainda a micrografia e a disartria. Sua patologia está relacionada com a deficiência do neurotransmissor dopamina nos núcleos da base [1,2]. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O parkinsonismo primário ou idiopático é o termo utilizado para designar a doença de Parkinson quando sua causa não pode ser identificada. Ocorre em média entre os 35 e os 60 anos, tanto em homens como em mulheres, e a maioria dos casos são na forma idiopática do parkinsonismo. Cerca de 2% das pessoas acima de 65 anos são acometidas com a doença de Parkinson e por isso pode ser considerada uma doença comum em idosos [1]. A hidroterapia na reabilitação neurológica A hidroterapia é um recurso da fisioterapia que utiliza a água como agente externo, abrangendo e aplicando exercícios aquáticos terapêuticos em piscina aquecida e coberta, para ajudar na reabilitação de várias patologias, com orientação restrita do profissional de fisioterapia. O objetivo da reabilitação aquática 118 neurológica geral é tornar o paciente o mais independente possível para a realização de suas tarefas de vida diária. Existe uma grande variedade de métodos terapêuticos disponíveis para o tratamento de pessoas com problemas neurológicos, sendo que a hidroterapia está se tornando mais aceita, ocupando um lugar definitivo no tratamento destes indivíduos [3]. Embora as pesquisas dos tratamentos hidroterápicos em pacientes com lesões neurológicas sejam bastante limitadas até o presente momento, a hidroterapia vem sendo utilizada por muitos fisioterapeutas. Possivelmente a escolha pela hidroterapia se deva aos efeitos que esta proporciona ao organismo humano e a grande aceitação por parte dos pacientes. Várias são as técnicas que podem ser aplicadas na hidroterapia. O WATSU (Water Shiatsu, shiatsu aquático) é uma das técnicas que promovem o relaxamento muscular e o alongamento de musculaturas encurtadas, melhorando as amplitudes de movimento e trazendo bem-estar geral ao paciente [4]. Os métodos de Bad Ragaz e Halliwick podem ser empregados para o desenvolvimento de força muscular, para melhorar as amplitudes de movimento e proporcionar um condicionamento físico adequado para os pacientes com a doença de Parkinson. O Bad Ragaz incorpora alguns princípios da Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva (FNP), diferindo no item referente à resistência ao movimento, que é obtida pela turbulência e não pelo terapeuta. Os padrões podem ser direcionados para contrações musculares isométricas ou isotônicas. Este método exige uma posição de mãos e manipulação adequada do fisioterapeuta para surtir o efeito desejado. O método Halliwick é baseado nos princípios da hidrodinâmica e no desenvolvimento humano. Neste método são utilizadas atividades para facilitar padrões de movimento com variação no nível de dificuldade. A conquista da habilidade será alcançada em um programa de dez pontos levando ao condicionamento físico adequado. Além disto, através deste método o paciente melhora sua capacidade nas atividades funcionais, pois há uma melhora no equilíbrio e estabilidade postural [4]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 Todas as técnicas utilizadas na hidroterapia não devem ser estanques e tão pouco trabalharem segmentos individualmente. Isto garante o trabalho global do indivíduo e é mais condizente com o ambiente aquático que é extremamente dinâmico. Objetivos Objetivo geral Avaliar se o paciente parkinsoniano consegue participar de uma sessão de fisioterapia e obter bons resultados com esta proposta fisioterápica. Objetivos específicos Estudar e descrever a doença de Parkinson. Descrever a hidroterapia, mais precisamente o tratamento em piscina terapêutica. Descrever, sucintamente, quais as formas terapêuticas mais utilizadas para tratar o doente com Parkinson. Avaliar o paciente parkinsoniano antes e após o tratamento hidroterápico e comparar os resultados. Entrar na piscina terapêutica e realizar os exercícios. Obter melhora na modulação do tono muscular e melhorar a força muscular. Obter melhora ou manutenção das ADMs. Material e métodos Este trabalho baseou-se no estudo de um paciente portador da doença de Parkinson: AM, 41 anos, do sexo masculino, cor branca, casado, aposentado da profissão de operador de tratamento de água com função anterior exercida em indústria têxtil, no tratamento de esgoto industrial e laboratório químico. Há seis anos foi diagnosticado a doença de Parkinson com início dos sinais e sintomas pertinentes, sendo que o tremor não se manifestou. Na história familiar a mãe tinha doença de Alzheimer. Fez uso da droga levodopa + carbidopa por três anos nas fases iniciais da doença. Esta medicação foi suspensa pelo médico porque o paciente apresentou, como Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 efeitos colaterais, náusea e sudorese intensa. As medicações anti-parkinsonianas de uso na época do estudo eram a selegilina na dosagem de 20 mg duas vezes ao dia e o biperideno 4mg por dia e, como complemento, a vitamina E. Na fisioterapia, o paciente participou exclusivamente de sessões de hidroterapia em piscina terapêutica, com duração de uma hora, duas vezes por semana e no período de sete meses. As sessões e as avaliações foram realizadas pela mesma terapeuta. Foi avaliado no início do tratamento e reavaliado no final do período. Avaliação inicial Para avaliação deste paciente foram utilizadas as escalas de classificação de Schwab para a progressão da doença, a classificação de Hoehn e Yahr para incapacidades e a Escala de Webster. Na classificação de Schwab, no início do tratamento hidroterápico, este paciente se encaixou no grau 2, na classificação de Hoehn e Yahr se encontrava no estágio II da doença e na Escala de Webster somou um total de 09 pontos, que o posicionou no início da doença, ou seja, sem prejuízos ou incapacidades. Ao exame físico inicial pôde-se notar a ausência de tremor, embora a lentidão estivesse presente e pouca diminuição na amplitude dos movimentos. A rigidez só apareceu quando foram realizados movimentos passivos em membros superiores, apresentando-se de forma branda. Detectouse mínima hipomimia não caracterizando a face de máscara por completo. Nos movimentos ativos alternados de pronosupinação observou-se uma branda redução na amplitude sendo mais significativa no membro superior esquerdo. Para os movimentos ativos de membros inferiores, o paciente apresentou maiores dificuldades na tríplice flexão do membro inferior esquerdo. Notou-se que seu hemicorpo esquerdo estava mais comprometido. Na primeira avaliação o paciente apresentou uma marcha anterógrada, com passos um pouco curtos e oscilação de membros superiores normal, não necessitando de auxílio. Sua postura apresentou, na fase 119 inicial do tratamento, moderada flexão do tronco não permanecendo totalmente ereto. Nos testes para as reações de equilíbrio notouse uma leve retropulsão, mas com recuperação do equilíbrio sem ajuda. A goniometria deste paciente foi realizada em duas etapas do tratamento. Uma no início do tratamento, para averiguar as amplitudes de movimento das articulações antes de iniciarmos a hidroterapia, e outra no final do tratamento após o programa hidroterápico proposto. A mensuração das amplitudes articulares de movimento foi feita através de um goniômetro universal, constituído por duas hastes denominadas braços do goniômetro, sendo uma móvel (braço móvel) e a outra fixa (braço fixo), por um transferidor de valores em graus e um eixo com parafuso referencial da marca Fernandes. Todas as articulações foram testadas com movimentos ativos e no método proposto por Marques [5]. Pode-se observar que muitas articulações não apresentavam seu limite máximo de amplitude havendo alguma restrição ao movimento (tabela I). Tabela I- Amplitude dos movimentos articulares inicial Membros superiores Articulação Ombro Movimento Flexão Extensão Adução Abdução Rotação interna Rotação externa Graus de movimento 170(D) 160(E) 40(D) 40(E) 40(D) 40(E) 120(D) 120(E) 90(D) 90(E) 65(D) 60(E) Cotovelo Flexão Extensão 130(D) 10(D) 130(E) 10(E) Rádio-Ulnar Pronação Supinação 80(D) 90(D) 80(E) 90(E) Punho Flexão Extensão Adução Abdução 50(D) 10(D) 40(D) 15(D) 50(E) 10(E) 30(E) 10(E) 120 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 Membros inferirores Articulação Quadril Movimento Flexão Extensão Adução Abdução Rotação interna Rotação externa Graus de movimento 100(D) 70(E) 10(D) 9(E) 15(D) 15(E) 30(D) 20(E) 20(D) 10(E) 20(D) 10(E) Joelho Flexão 140(D) 140(E) Tornozelo Flexão dorsal Flexão plantar Abdução/Eversão Adução/Inversão 20(D) 20(D) 10(D) 12(D) 20(E) 20(E) 10(E) 10(E) Coluna vertebral Articulação Cervicais Lombares Movimento Flexão Extensão Flexão lateral Rotação Graus de movimento 40 40 20(D) 30(E) 55(D) 50(E) Flexão Extensão Flexão lateral Rotação 30(D) 30(D) 70 35 30(E) 30(E) *Valores abaixo da média em negrito. Os testes de força muscular também foram realizados antes e após o tratamento hidroterápico. O sistema de graduação utilizado foi o proposto por Hislop e Montgomery [6], que vai de 0 a 5 pontos. Vários grupos musculares apresentavam uma deficiência na sua força ativa (tabela II). Tabela II - Teste de forÁa muscular PrÈ-Hidroterapia MMSS OmbroD Grau OmbroE Grau Flexores 4 Flexores 3 Extensores 4 3 4 4 4 Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. 3 3 3 3 3 4 4 4 4 Cotovelo E Flexores Extensores Pronadores Supinadores 4 3 3 3 Punho D Flexores Extensores 3 3 Punho E Flexores Extensores 3 3 Dedos M„o D Flexores Extensores 4 3 Dedos M„o E Flexores Extensores 3 3 Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. Cotovelo D Flexores Extensores Pronadores Supinadores Coluna Cervical Flexores Extensores Rotadores D Rotadores E Inclinadores D Inclinadores E Grau 4 4 3 3 3 3 Tronco Grau Flexores Extensores Rotadores D Rotadores E Inclinadores D Inclinadores E Diafragma 4 3 3 2 3 3 4 MMII Quadril D Flexores Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. 4 4 4 4 4 4 Quadril E Flexores Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. 3 3 3 3 3 3 Joelho D Flexores Extensores 4 4 Joelho E Flexores Extensores 4 4 Tornozelo D Dorsiflexão Flexãoplantar Inversão Eversão 4 3 4 4 Tornozelo E Dorsiflexão Flexãoplantar Inversão Eversão 3 3 3 3 Para complementar a avaliação postural, foi realizada a mensuração de determinadas regiões corporais do paciente pré e póstratamento hidroterápico. Foi feita a cirtometria do tórax com uma fita métrica que fornece os resultados em centímetros. Esta mensuração é útil para avaliar o diâmetro do tórax e o quanto à caixa torácica pode influenciar nas funções pulmonares do paciente. A medida da distância entre a coluna cervical e um ponto fixo e da distância dos ombros em relação ao mesmo ponto fixo, permitem a avaliação da postura flexora onde um aumento da cifose pode ser percebido e mensurado (tabela III). Tabela III - Medidas especiais Cirtometria (altura dos mamilos) Coluna cervical até parede (sinal da seta) Ombros até parede (vista lateral) PrÈ-hidroterapia 84 cm. 10cm. 12cm. Programa de tratamento para a reabilitação aquática do paciente AM O programa proposto para a reabilitação do paciente em estudo foi direcionado especificamente para ele, não devendo ser utilizado Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 para todo e qualquer indivíduo que tenha a doença de Parkinson. Cada paciente tem suas características peculiares e necessita de uma abordagem individualizada na sua terapêutica. Quando o paciente inicia uma sessão de exercícios aquáticos terapêuticos, ele precisa ter a musculatura preparada, para isso é dado um aquecimento antes de iniciar os alongamentos e fortalecimentos. No entanto, em primeiro lugar, o paciente realiza o aquecimento, sendo que cada movimento proposto deve ser executado durante 2 minutos. Para o aquecimento dos membros superiores foram realizados exercícios de estilo nado de peito, estendendo os dois braços para frente com flexão de ombro, levando os braços em abdução horizontal dos ombros a 90º, e flexão dos cotovelos a 90º, aduzindo o ombro para a linha mediana. A seguir, realizou-se a puxada com o braço flexionado, com flexão de ombro a 90º, extensão de cotovelo e punhos de um dos braços e flexão de cotovelo do lado oposto, alternadamente. Exercícios de pêndulo da frente para trás, balançando o braço através da flexão e extensão do ombro; extensão de cotovelo, realizando ao mesmo tempo a prono-supinação; o pêndulo em círculo com circundução de ombro e semiflexão de cotovelo; pêndulos em puxadas com flexão e extensão de cotovelo; pêndulo cruzado à frente do corpo balançando o braço na frente do corpo com uma das mãos no quadril, abduzindo e aduzindo horizontalmente os membros superiores. Para o aquecimento de membros inferiores, o paciente começou em pé fazendo a caminhada se deslocando para frente e para trás na parte rasa da piscina. Depois realizou a passada lateral com as pernas estendidas, abduzindo uma das pernas, apoiando o pé no chão e aduzindo a outra perna em direção à linha mediana, voltando à posição inicial. Durante a deambulação, o paciente ficou na posição ereta e se deslocou para frente flexionando um dos joelhos e o quadril a 90º, enfatizando uma ação confortável para os braços em oscilação. Após a caminhada foram feitos os exercícios de bicicleta, onde utilizouse de um equipamento de flutuação como uma 121 bóia, mantendo a coluna ereta e o abdômen contraído, executando uma ação de bicicleta vertical e alternadamente flexionando e estendendo os joelhos e quadril. Após os exercícios de aquecimento puderam ser iniciados os alongamentos. No alongamento dos membros superiores, o paciente realizou cinco repetições de cada exercício, mantendo por 30 segundos. No ombro, aplicou-se alongamentos de peitorais passivos e ativos na borda da piscina; puxada para trás por trás do tórax, segurando as mãos atrás do corpo, ombros e cotovelos em extensão; alongamento cruzado à frente, com o cotovelo semi-fletido e adução horizontal do ombro; extensão do ombro com os braços estendidos segurando na escada da piscina com ambas as mãos, uma das pernas ficava à frente e a coluna ereta. Outra forma de alongamento é o do canto, em que o paciente utilizou o canto da piscina, com as mãos apoiadas na parede na altura dos ombros, fez a flexão dos cotovelos inclinando o corpo para frente sem deixar o cotovelo cair; encolher os ombros, elevando-os na direção das orelhas; toque do cotovelo, mãos nos ombros com os cotovelos abduzidos a 90º, onde o paciente realizou a flexão dos cotovelos e do punho em direção aos ombros com os dedos tocando os mesmos; rolamento de ombro, que é a circundução dos ombros, movimentando as articulações para frente, para cima, para trás e para baixo. Para o cotovelo e antebraço, foi realizado o alongamento do bíceps; tríceps; antebraço com palmas das mãos voltadas para baixo o cotovelo em extensão e flexão dos punhos. No alongamento para o punho e mão, foram feitos os seguintes exercícios: onda fechada com a mão fechada levemente, em que o paciente realizou a flexão e extensão do punho; alongamento da palma da mão, com a palma voltada para cima, flexão do cotovelo mantendo-o relaxado e apoiado lateralmente ao corpo e usando a mão oposta para alongar o punho e os dedos fazendo o desvio ulnar; mãos na posição de rezar, com as mãos unidas na frente do corpo, pontas dos dedos voltadas para cima, abdução de ombros com os cotovelos fletidos a 90º e extensão de punhos; mãos na posição reversa de rezar, com as 122 superfícies dorsais das mãos unidas próximas ao corpo, pontas dos dedos voltadas para baixo, ombros abduzidos com os cotovelos fletidos a 90º, e flexão de punhos. Para alongar as musculaturas dos membros inferiores o paciente também realizou cinco repetições de cada exercício, mantendo por 30 segundos. Foram feitos os seguintes alongamentos: alongamento dos adutores de quadril, em pé com as pernas em afastamento maior que a largura dos ombros, com flexão de um dos joelhos e transferência de peso para o mesmo; alongamento do quadríceps; ísquios-tibiais; com grande afastamento ântero -posterior, em pé de frente para a escada da piscina e segurandoa com ambas as mãos, colocando um pé num dos degraus da escada com flexão de quadril e joelho e extensão de quadril do lado oposto; panturrilha; antepé e panturrilha e alongamento dos músculos anteriores da perna. O próximo grupo muscular a ser alongado foi o da coluna cervical. O paciente realizou o alongamento de trapézio e trapézio superior; elevador da escápula e ainda fez a extensão do pescoço. Finalizando os alongamentos o paciente realizou o trabalho para a musculatura do tronco. Assim ele fez o alongamento com extensão da coluna, em pé, com a coluna dorsal contra a parede da piscina e os braços apoiados na borda, uma das pernas ficava à frente pressionando a pélvis anteriormente, elevando o tórax e fazendo um arco com a coluna lombar sem hiperextender o pescoço; extensão torácica, com a coluna lombar ereta contra a parede da piscina e lentamente o paciente fazia a extensão da coluna sem hiperextender o pescoço. A próxima seqüência de exercícios visava o fortalecimento muscular. Para os exercícios de fortalecimento foram executadas três séries de 30 repetições. Para o ombro, o paciente realizou exercícios de flexão e extensão do ombro com bastão; abdução e adução horizontal com bastão; pressionamento de ombros para baixo, segurando equipamentos flutuantes lateralmente ao corpo na altura do tórax, com os cotovelos em flexão de 90º, pressionando os halteres para baixo e estendendo os cotovelos. Abdução e adução resistida de Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 ombro; flexão e extensão resistida de ombro; abdução e adução horizontal resistida; rotação interna e externa resistida e combinação dos movimentos de braços, começando com a abdução e adução dos braços na lateral, paralelamente ao chão, mas em um ângulo um pouco menor que 90º, depois circundução dos braços para trás e para frente. Fortalecendo as musculaturas do cotovelo e antebraço, o paciente realizou a flexão do cotovelo, segurando um equipamento de resistência nas mãos realizando a abdução dos ombros e flexão dos cotovelos, movimentando as mãos em direção à superfície da água e retornando à posição inicial; exercícios de pronação e supinação resistida. Os músculos dos punhos e das mãos foram fortalecidos com os seguintes exercícios: Exercícios com a mão espalmada, abduzindo e aduzindo os dedos; enrolar os dedos, flexionando as falanges distais e médias para baixo, segurando e relaxando; flexão e extensão de punho segurando um halter flutuante; desvio radial e ulnar de punho e rotação de punho segurando um halter flutuante. Após os exercícios de fortalecimento de membros superiores o paciente passou a trabalhar a musculatura do tronco. Nos exercícios de tronco o paciente fez a rotação do tronco de pé, apoiando os braços numa prancha flutuando na superfície da água e lentamente o paciente gira o tronco para os lados alternadamente; rotação resistida do tronco, segurando a prancha verticalmente à frente do tórax com os braços estendidos, abaixo da superfície da água; extensão passiva do tronco, segurando numa bóia com os pés apenas tocando o chão, mantendo a extensão das pernas e pressionando o quadril em direção ao chão, e estendendo o tronco; contrações abdominais de pé, com a pélvis em báscula posterior, segurando uma bola firmemente contra o tórax e contraindo os músculos abdominais; abdominais cruzados de pé. Para o trabalho de fortalecimento de membros inferiores o paciente realizou flexão, extensão, abdução, adução e circundução do quadril; salto com afastamento, saltando e abduzindo os quadris e os braços e retornando à posição inicial saltando e aduzindo os quadris e os braços; bicicleta Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 com uma perna, em pé sobre uma perna e apoiando o braço na borda da piscina, realizando uma ação de pedalar uma bicicleta com flexão e extensão de joelhos e quadril; puxada de ísquios para trás, em pé com a coluna apoiada na parede da piscina, uma perna faz a flexão de quadril a 90º, flexão e extensão do joelho enquanto mantém a flexão de quadril. Os agachamentos são exercícios feitos de frente para a parede da piscina, com os pés afastados na distância do ombro, flexionando e estendendo os joelhos até que as coxas estejam quase paralelas ao solo; grandes passos, dando passos para frente com flexão do joelho da perna que está à frente e extensão do joelho da perna, que está atrás. São também utilizados exercícios de flexão dorsal e plantar do tornozelo; eversão e inversão do tornozelo; elevação do calcanhar; saltitar, com flexão de joelhos e quadris, saltando para frente com o auxílio dos braços. Terminado o trabalho de fortalecimento, desenvolveu-se a reeducação da marcha e promoveu-se a melhora do equilíbrio. A marcha e o equilíbrio foram trabalhados com transferência de peso de um lado para outro; transferência de peso ântero -posterior; posição de cegonha, elevando uma das pernas com flexão de quadril e joelho, tentando equilibrar-se na outra perna, utilizando-se dos braços se for necessário; pivô de quatro pontos, onde o paciente a partir da posição de duplo apoio, dá um passo à frente com a perna esquerda e, depois, com a perna direita, girando e formando um quadrado de volta à posição inicial. O trabalho feito em piscina funda para os membros superiores foi basicamente o mesmo feito para o aquecimento no início da sessão, exceto nos exercícios de onda com o paciente na posição vertical, ombros abduzidos, cotovelos em extensão e braços horizontalmente na lateral, ocorrendo alternadamente à flexão de um punho enquanto o outro fazia a extensão. Continuando na parte funda da piscina o paciente realizou o exercício denominado pressionamento de cotovelo, alternadamente com os antebraços movimentando-se para baixo e para cima na frente do corpo, o 123 paciente executava o movimento de flexão de um cotovelo, enquanto o outro fazia a extensão; pressionamento lateral de punho, com os cotovelos fletidos e punhos em extensão, o paciente executava a extensão dos cotovelos, mantendo os punhos em extensão. Para os exercícios de membros inferiores em piscina funda, temos o salto com afastamento; salto cruzado, abduzindo e aduzindo o quadril passando a linha mediana do corpo. A elevação dupla de joelhos, mantendo as pernas unidas com flexão de quadril e joelhos a 90º, trazendo os joelhos em direção ao tórax e voltando para a posição inicial com extensão de quadril e joelhos; flexão dupla de joelhos, flexionando ambos os joelhos levando os calcanhares em direção à superfície da água, e voltando a posição inicial com extensão de quadril e joelhos. A abdução e adução de quadril na posição sentada, flexionando os quadris a 90º e mantendo os joelhos em extensão; flexão de quadril com rotação externa, simultaneamente realizando a flexão de quadril e joelhos em rotação externa; flexionando o quadril, colocando as superfícies plantares dos pés unidas, executando a abdução e adução do quadril, unindo e afastando os joelhos. Na utilização do método Halliwick, iniciou-se com os exercícios de respiração com a boca, nariz e depois fazendo a imersão; pulando à frente; pulando e imergindo; o scull, onde o terapeuta apóia o paciente pelas mãos, este deve elevar os pés do fundo da piscina realizando uma tríplice flexão com mais de 90º de flexão do joelho em um tempo de 5 segundos. Durante este tempo o terapeuta promove um deslizamento turbulento. No método de Bad Ragaz utilizou-se os exercícios isotônicos de padrões de membros superiores para extremidade superior de abdução e adução unilateral ou bilateral; padrões para membros inferiores de abdução e adução com resistência unilateral e padrão de abdução com resistência bilateral. Foram feitos ainda exercícios utilizando padrões de tronco com extensão do tronco e rotação para a esquerda e flexão de tronco e rotação para a direita, padrões de membros inferiores com padrão de abdução e adução unilateral e bilateral; e padrões de extremidade 124 inferior assimétrica bilateral de flexoextensão, com extensão de joelho, quadril movendo-se para flexão de joelho e quadril. Resultados Após sete meses de tratamento hidroterápico o paciente permaneceu com as mesmas classificações nas escalas de Schwab, Hoehn e Yahr e com um ponto a mais na escala de Webster, continuando posicionado no início da doença. Na reavaliação do paciente foram observadas as seguintes diferenças nos sinais clínicos do paciente: o tremor já se manifesta em extremidades superiores sendo que este é leve e acomete mais o lado esquerdo. A rigidez permanece branda nos movimentos passivos de flexo-extensão dos membros superiores caracterizando uma roda denteada, mas de leve intensidade. A hipomimia facial sofreu um aumento moderado evidenciando mais a face de máscara que agora pode ser um pouco mais notada. A movimentação ativa de membros superiores e inferiores apresenta uma melhora global, embora alguns movimentos ainda se encontrem prejudicados como a dorsi-flexão no pé esquerdo. Na avaliação final da marcha foi observada uma melhora nas passadas ficando estas mais alargadas e com maior dissociação de cinturas. Sua postura, após a hidroterapia, demonstrou uma melhora na flexão do tronco podendo ficar mais ereto, mas não totalmente. E houve também uma melhora significativa para as reações de equilíbrio. Pode-se observar que este paciente apresentou um ganho em graus na amplitude articular de movimento de algumas articulações, embora ainda não alcancem a máxima amplitude. Outras, porém, sofreram uma diminuição em graus na sua amplitude (tabela IV). Notou-se um ganho na força muscular em vários segmentos do corpo deste paciente. Os movimentos realizados pelos músculos rotadores e inclinadores da coluna cervical e lombar puderam ser melhorados com o fortalecimento proposto. A melhora da sua postura pode ser conseguida com o fortalecimento dos extensores da coluna. Mas este objetivo ainda não foi alcançado. A Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 musculatura dos membros superiores atingiu um grau maior de força bilateralmente. Somente os músculos extensores dos dedos da mão direita ainda estão deficientes. Os músculos do membro inferior esquerdo apresentam certo grau de fraqueza, sendo que Tabela IV - Amplitude dos movimentos articulares após 7 meses de hidroterapia Membros Superiores Articulação Movimento Graus de movimento Ombro Flexão Extensão Adução Abdução Rotação interna Rotação externa 150(D) 45(D) 48(D) 170(D) 90(D) 72(D) 140(E) 45(E) 35(E) 161(E) 90(E) 60(E) Cotovelo Flexão Extensão 120(D) 10(D) 115(E) 10(E) Rádio-Ulnar Pronação Supinação 80(D) 90(D) 80(E) 90(E) Punho Flexão Extensão Adução Abdução 55(D) 20(D) 38(D) 15(D) 55(E) 10(E) 35(E) 12(E) Membros Inferiores Articulação Movimento Grausde movimento Quadril Flexão Extensão Adução Abdução Rotação interna Rotação externa 110(D) 15(D) 20(D) 32(D) 32(D) 20(D) 99(E) 05(E) 20(E) 32(E) 20(E) 20(E) Joelho Flexão 135(D) 135(E) Tornozelo Flexão dorsal Flexão plantar Abdução/Eversão Adução/Inversão 20(D) 30(D) 20(D) 10(D) 12(E) 29(E) 15(E) 08(E) Coluna Vertebral Articulação Movimento Cervicais Flexão Extensão Flexão lateral Rotação Lombares Flexão Extensão Flexão lateral Rotação Graus de movimento 31(D) 60(D) 50(D) 30(D) 41 32 80 50 35(E) 60(E) 50(E) 30(E) *Valores normais em negrito. Valores sublinhados = ganho na ADM. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 se obteve uma melhora para os flexores do quadril, dorsiflexores e flexores plantares. Os outros grupos musculares do membro inferior esquerdo precisam ainda de mais trabalho de fortalecimento. O membro inferior direito obteve melhora na flexão 125 plantar e manteve um grau de força muscular como no início do tratamento (tabela V). E por fim observa-se que o diâmetro do tórax obteve um aumento após o trabalho hidroterápico, podendo melhorar assim sua capacidade respiratória (tabela VI). Tabela VI - Medidas locais Tabela V - Teste de Força Muscular Pós-hidroterapia Coluna Cervical Flexores Extensores Rotadores D Rotadores E Inclinadores D Inclinadores E Diafrágma Grau 4 4 4 4 4 4 4 Tronco Flexores Extensores Rotadores D Rotadores E Inclinadores D Inclinadores E Grau 4 3 4 3 4 4 Grau 4 4 4 4 4 4 Ombro E Flexores Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. Grau 4 4 4 4 4 4 Quadril D Flexores Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. Grau 4 4 4 4 4 4 Quadril E Flexores Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. Grau 4 3 3 3 3 4 Joelho DD Flexores Extensores Grau S44 S44 Joelho EE Flexores Extensores Grau S4 S4 Tornozelo EE Dorsiflexão Flexãoplantar Inversão Eversão Grau O4 R4 O3 O33 MMSS Ombro D Flexores Extensores Abdutores Adutores Rotadores Int. Rotadores Ext. MMII Tornozelo DD Grau Dorsiflexão O44 Flexãoplantar R44 Inversão O44 Eversão O44 Cotovelo D Flexores Extensores Pronadores Supinadores Grau 4 4 4 4 Cotovelo E Flexores Extensores Pronadores Supinadores Grau 4 4 4 4 Punho DD Flexores Extensores Grau S44 S44 Punho EE Flexores Extensores Grau S4 S4 Dedos Mão EE Flexores Extensores Grau S4 S33 Dedos Mão DD Grau Flexores S44 Extensores S44 Cirtometria (altura dos mamilos) Pós-hidroterapia 86,5 cm. Coluna cervical até parede (sinal da seta) 10cm. Ombros até parede (vista lateral) 15cm. Discussão O paciente estudado mostrou-se muito interessado pela técnica aplicada e relatava satisfação ao realizar os exercícios fisioterápicos na piscina com água aquecida, por apresentar maior facilidade para realizá-los. Dentre os benefícios que a hidroterapia ofereceu para este indivíduo enfatiza-se a melhora no seu equilíbrio, que se mostrou nítida em todos os testes de reações de equilíbrio, e na sua postura, que demonstrou um melhor alinhamento biomecânico. Ficou evidente, ainda, a melhora obtida na força de vários grupos musculares e na amplitude de movimento de algumas articulações. O tono muscular apresentou-se mais próximo do norma, após as sessões de hidroterapia, melhorando e facilitando o alongamento das musculaturas flexoras principalmente. Notou-se também melhora na marcha onde as passadas ficaram mais amplas e com uma oscilação de membros superiores e dissociação de cinturas mais evidentes. Este estudo demonstrou que grande parte dos objetivos do tratamento de um paciente parkinsoniano, pode ser alcançada com a utilização de técnicas fisioterápicas em piscina. Os efeitos da pressão hidrostática e da turbulência sobre o corpo do doente parkinsoniano podem amenizar a bradicinesia, devido ao feedback aumentado ao cérebro [7]. As alterações posturais devem ser corrigidas com exercícios que promovam o alongamento das musculaturas flexora e adutora geralmente encurtadas, melhorem a força da musculatura extensora, principalmente do tronco e através de posicionamentos adequados para a execução das atividades de vida diária. 126 Exercícios de mobilidade devem basear-se em padrões de movimento funcionais envolvendo diversos segmentos corporais. Maior ênfase deve ser dada aos movimentos de extensão, abdução e rotações. Estes precisam ser rítmicos e recíprocos evoluindo para uma máxima amplitude. Os comandos verbais e as estimulações visuais e auditivas auxiliam grandemente na execução dos exercícios [2]. Devem-se encorajar as reações de equilíbrio na seqüência do desenvolvimento, a fim de que estas se mantenham em um nível automático [1]. Para isto, os efeitos da turbulência e metacêntricos são de grande utilidade. É importante ressaltar que a resistência aplicada deve ser gradual, para que o paciente desenvolva força muscular em grupos adequados impedindo padrões anormais de movimento. Uma característica marcante do doente com Parkinson é a face de máscara. Muitas atividades aquáticas auxiliam na manutenção dos músculos da mímica facial, por exigirem constantes movimentos quando o indivíduo submerge a cabeça na água. A capacidade respiratória será melhorada à medida que o paciente consiga desenvolver uma amplitude máxima da caixa torácica e força nos músculos respiratórios. A pressão hidrostática oferece uma resistência ao tórax e associada aos exercícios respiratórios pode garantir o bom desempenho das funções pulmonares do paciente. Estes exercícios respiratórios podem ainda estar associados aos exercícios de amplitude articular e/ou aos da mímica facial. O treino de marcha em ambiente aquático busca os mesmos objetivos traçados em terra. Passadas mais alargadas com ampliação da base de sustentação, aumento dos movimentos contralaterais do tronco associados à oscilação de membros superiores, padrão normal de marcha calcanhar/artelhos e incremento das reações posturais precisam ser encorajados [2]. Para atingir estas metas o fisioterapeuta deve inicialmente facilitar a deambulação do paciente, utilizando sua esteira como auxiliar. Vários recursos de estímulos visuais e auditivos, como a sinalização com faixas, passos marcados no Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 fundo da piscina e músicas, podem ser empregados. Na progressão da marcha o paciente deve conseguir a deambulação de maneira mais independente e automática. Mais uma vez o Watsu, o Bad Ragaz e o Halliwick têm grande aplicação para auxiliar em todas as fases da marcha. O alongamento muscular promovido pelo Watsu, as atividades isométricas e isotônicas do Bad Ragaz e a melhora do equilíbrio conseguida através do Halliwick, permitem uma melhora geral nas fases de apoio e de oscilação na marcha dos pacientes parkinsonianos [4]. Conclusão A partir de tudo o que foi exposto neste trabalho, especialmente sobre as características oferecidas pelo ambiente aquático, percebe-se que a hidroterapia pode ter muitas vantagens na sua aplicação para um indivíduo com a doença de Parkinson. Basta que o fisioterapeuta conheça com exatidão todos os seus aspectos para direcionar o tratamento adequadamente. As propriedades que a água possui e que não estão disponíveis em solo, devem ser aproveitadas completamente para a valorização do tratamento hidroterápico. Assim, este ambiente ricamente dinâmico oferece condições para otimizar as metas traçadas no tratamento do indivíduo parkinsoniano. É necessário ainda que se esclareça que a hidroterapia, assim como outros recursos fisioterápicos, não é capaz de levar à cura desta enfermidade. Mas pode estar associada ao retardo da progressão dos sinais e sintomas da doença de Parkinson. O paciente estudado apresentou melhora no equilíbrio estático e dinâmico, o que melhorou conseqüentemente sua marcha. Obteve modulação no tono muscular, aumento nas ADMs de determinadas articulações e ganho de força em vários grupos musculares que otimizam a realização dos movimentos voluntários e das AVDs. E ainda, em conseqüência de todos estes aspectos somados, sua postura modificou-se ficando mais alinhado, impedindo assim a progressão das alterações Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 2 Março / Abril 2002 posturais, que geralmente tendem a se agravar na doença de Parkinson. Conclui-se que, neste caso, foram alcançados os objetivos primariamente elaborados para o tratamento deste paciente. E que a hidroterapia teve grande participação nestes resultados, pois foi a única forma de terapia instituída além da medicamentosa. 127 3. 4. Referências 1. Melnick ME. Distúrbios dos gânglios da base, In: Umphred DA. Fisioterapia Neurológica. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole Ltda, 1994, p. 549-566. 2. Sullivan SB O, Schmitz TJ. Fisioterapia: Avaliação e Tratamento. 2ª edição. São 5. 6. Paulo: Editora Manole Ltda, 1993 Gray S. Reabilitação Neurológica, In: Campion MR. Hidroterapia: Princípios e Prática. 1ª edição brasileira. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2000, p.201-221. Morris DM. Reabilitação Aquática do paciente com prejuízo neurológico, In: Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação Aquática. 1ª edição brasileira. São Paulo: Editora Manole Ltda, 2000, p. 117-140. Marques AP. Manual de Goniometria. 1ª edição. São Paulo: Editora Manole Ltda, 1997. Hislop HJ, Montgomery J. Provas e Funções Musculares: Técnicas de Exame Manual, 1ª edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan S.A., 1996. 128 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 Normas de publicação Fisioterapia Brasil A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 2. Artigos originais 1. Editorial 4. Comunicação breve Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a biblio-grafia não deve conter mais que dez referências. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico, bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselhase o mesmo dos artigos originais. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 129 Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 130 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and localization of urokinasetype plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua Conde Lages, 27 - Glória 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 Calendário de eventos 2002 Abril 26 e 27 de abril I o Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rio de Janeiro RJ Informações: (21) 2538-9360, E-mail: [email protected] 28 de abril a 5 de maio WONCA World Conference on Rural Health Melbourne, Australia http://www.ruralhealth2002.net E-mail: [email protected] 1 a 4 de maio 2 a JOPEF Fisioterapia Curitiba PR Informações: (41)252 5123 www.korppus.com.br Maio 9 e 10 de maio Congresso Brasileiro de Fisioterapia do Trabalho FISIOTRAB IIIo Seminário de Ergonomia e Segurança do Trabalho Centro de Convenções, Curitiba PR Informações: www.fisiotrab.com.br 23 a 25 de maio 7ª Jornada Catarinense de Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica Teatro Juarez Machado, Joinville SC Junho 5 a 8 de junho Physical Therapy 2002 Annual Conference & Exposition of the American Physical Therapy Association Cincinnati, Ohio, EUA Informações: www.apta.org 14 e 15 de junho Simpósio de Ventilação Mecânica do Hospital Nossa Senhora de Lourdes Centro de Convenções Rebouças, São Paulo SP Informações: Centro de Estudos do HNSL Tel: (11)5018-4730 / 5018-4732 24 a 28 de julho VIII ENEEFISIO I ENAFISIO Espaço cultural José de Rego, João Pessoa PB Informações: (83) 216 7550 www.eneefisio.com.br [email protected] Julho 131 Agosto 10 a 14 de agosto 2 nd International Symposium on Rehabilitation and Physical Therapy in Veterinary Medicine Knoxville, Tennessee Informações: www.utc.edu/~vetpt/ 17 a 22 de agosto 10th World Congresso on Pain San Diego, California, USA International Association for the Study of Pain (IASP) 909 NE 43rd St., Suite 306 Seattle WA 98105-6020 USA Tel: 206-547-6409 Fax: 206-547-1703 E-mail: [email protected] www.iasp-pain.org and www.painbooks.org Setembro 3 a 7 de setembro VIII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar Centro de Convenções de Curitiba PR Informações: (51) 3338-4344 ou 3381-2380, E-mail: [email protected] 19 a 22 de setembro Scoliosis Research Society Annual Meeting Scientific Session Seattle, WA, EUA Scoliosis Research Society, 6300 N. River Rd, Ste 727, Rosemont, IL 60018-4226 Tel: 847-698-1627 E-mail: [email protected] / [email protected] / [email protected] 25 a 27 de setembro International Latino Womens Congress Condado Plaza Hotel San Juan, PR http://www.ilwcinc.com 11 a 13 de outubro Annual Congress of the Physiotherapy International Convention Centre Birmingham, UK www.csp.org.uk Outubro Chartered Society of Novembro 17-20 de novembro 8 th General Assembly of Asian Confederation for Physical Therapy Central Grand Plaza Hotel Bangkok, Thailand Informações: [email protected] 132 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2002 27-30 de novembro European Congress on Prevention of Through Physiotherapy Vienna, Áustria Informações: www.physio.at/congress/2002.htm Diseases 2003 Fevereiro 24 a 28 de fevereiro International Society for the Study of the Lumbar Spine 2003 Annual Meeting New Delhi, India Shirley Fitzgerald Tel: 416-480-4833 Fax: 4l6-480-6055 [email protected] 7 a 12 de junho World Confederation for Physical Therapy 14th International Congress and 15th Meeting Barcelona, Espanha Informações: www.wcpt.org E-mail: [email protected] Junho General 12 a 14 de junho International Trauma Congress Durban, South Africa Dr George E Dimopoulos Tel: +27 31 2612018 Fax: +27 31 261 7321 [email protected] 2004 Fevereiro 24 a 28 de fevereiro International Society for the Study of the Lumbar Spine 2004 Annual Meeting Porto, Portugal Shirley Fitzgerald Tel: 416-480-4833 Fax: 4l6-480-6055 [email protected] Assine Fisioterapia Brasil, 6 edições ao ano + 1 CD-Rom R$ 174,00 por 2 anos www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 ○ ○ 133 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.3, nº3 maio/junho 2002 - 133~200) EDITORIAL Titulação acadêmica e competência, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................... 135 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS. ............................................................................................ 137 ARTIGOS ORIGINAIS O treinamento muscular respiratório como alternativa para desmame difícil, Carla Janaina Andreghetto, Eli Maria Pazzianotto Forti ................................................................................ 140 Exercícios terapêuticos para portadores de Esclerose Múltipla com déficit de coordenação Fisioterapia práticaAndreia Luiz Vargas, Roseli Cordeiro de Almeida Morais, motora e equilíbrio, Márcia Cristina Bauer Cunha ............................................................................................................................... 151 Avaliação do uso de monofilamentos para prevenção do pé diabético, Estela SantAna Vieira Douat, Ana Paula de Lourdes Pfister, Ana Maria Fonseca Abreu, João Wagner Rodrigues Hernandez, Lúcia Bernadete Nielsen Tinasi Goulart ........................................... 157 Análise da capacidade funcional em uma população geriátrica institucionalizada em João Pessoa, Neide Maria Gomes de Lucena, Ricardo Oliveira Guerra, Alinne Bezerra de Lucena, Carla Franklin da Silva, Roberto Quirino do Nascimento ............................. 164 Análise da produção científica de resumos publicados na revista Fisioterapia Brasil em 2001, Rafael Cusatis Neto, Polyana Santos Ferraz .................................................................................... 170 Ergonomia: antropocentrismo versus teoria sistêmica, Marcos Antonio Tedeschi ........................................................................................................................................ 177 Ginástica Laborativa REVISÕES A sintomatologia da síndrome de Pusher e o seu impacto no processo de reabilitação: revisão da literatura, Angela Bersot Ribeiro, Gláucia Ramos Pereira Henriques, Ana Lúcia Corrêa, Renata Coury Figueiredo Sanglard, João Santos Pereira ............................................. 183 Ombro de nadador: revisão da literatura, Patrícia da Silva Campos ...................................................................................................................................... 192 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................................... 197 EVENTOS. ................................................................................................................................................................ 200 A Atlântica Editora está com novo telefone para atendimento aos assinantes: (21) 2221-4164 134 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin Argentina) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek Brasília) Grupo de assessores Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC Santa Catarina) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep São Paulo) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua Conde de Lages, 27 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Assinaturas por 1 ano R$ 90,00 6 números ao ano + 1 CD-ROM Tel.: (21) 2221-4164 RJ / (11) 3361-5595 SP www.atlanticaeditora.com.br Revista Fisioterapia Brasil Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editores associados Dr. André Luís Santos Silva Dra. Luciene Deccache Moreira Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Administração Bárbara de Assis Jorge Editoração e Arte Kassina Camargo Ribeiro Copy & Revisão Ricardo Augusto da Silva Ferreira ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua Conde de Lages, 27 - Glória 20241-080 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2221-4164 Cel: (21) 9662-9411 Representante Assinaturas - SP A.Shalon - (11) 3361-5595 Ilustração da capa: Wassily Kandinsky (1866-1944), Estudo para improvisação, 1910, óleo sobre papelão 56x71 cm. I.P. 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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 135 Editorial Titulação acadêmica e competência ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva * Editor científico de Fisioterapia Brasil Pós Doutorado na UFRJ Professor de mestrado recomendado pela CAPES E-mail: [email protected] Premidas pelas exigências impostas pelo Ministério da Educação, as universidades, centros universitários e faculdades brasileiras, passaram a exigir que seus docentes se qualifiquem academicamente. Tal fato acabou gerando uma corrida desenfreada em busca da imposta titulação. Como era de se esperar, as agências fomentadoras de pesquisa no Brasil passaram também a vincular a oferta de bolsas e auxílios aos titulados academicamente. Parece bastante lógica a preocupação dos órgãos condutores da pesquisa e ensino no país na promoção da qualidade em suas respectivas áreas. É preciso, entretanto, muito cuidado, porque se cumprida à risca a tal determinação, acabaremos por formar uma legião de excluídos ou por criar diferenças de posição social entre professores. A universidade não pode hierarquizar-se em classes e sub-classes de docentes, sem deixar espaço para os que, apesar de excelentes profissionais, pesquisadores e pensadores, não puderam ou não quiseram levar adiante as imposições do sistema vigente. A questão só não é tão grave sob ponto de vista sócio acadêmico, porque ainda há nas universidades um desequilíbrio numérico entre os que são e os que não são PhDs. Sob ponto de vista biológico, a ontogenia repete a filogenia em diversas áreas do desenvolvimento homem/ espécie. Analogicamente, guardando -se as devidas proporções, parece que, sob a ótica sócio-comportamental, a mitificação do PhD no meio acadêmico guarda uma estreita relação com o processo civilizatório da espécie humana, que, mesmo nos países onde alcançou o chamado alto grau de desenvolvimento, tem dado mostras de equívocos e regressões. Há que se ter muita competência para administrar todos esses fatos. Toda esta história poderá resultar na criação de um movimento de discriminação entre professores. 136 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 No passado as vozes e letras de pensadores e filósofos como Pascal, Montaigne, Montesquieu e, mais recentemente, Levi-Strauss, se manifestaram contra as pretensas raças e classes superiores. Até que ponto não estaríamos reproduzindo também uma pseudo superioridade nas universidades. Talvez na vitória do estruturalismo sobre o humanismo, bem evidenciada nos ensaios de Foucault, esteja a gênese de toda a história. Um sistema que busca a estrutura impessoal e que vincula o valor da produção à titulação prévia, acaba determinando limites e subordinações para o ser pensante. Se no meio acadêmico o que outorga a reputação e o respeito é a titulação, na vida profissional não ocorre o mesmo. Alguns dos melhores profissionais na área de fisioterapia que conheço, não são possuidores de títulos e poderão seguir se destacando como os melhores em suas especialidades. Alguns fazem pesquisa de qualidade, publicam excelentes livros, que são referência para concursos públicos, e têm se mostrado professores com conteúdo e organização metodológica de fazer inveja ao mais conceituado educador. Que fique claro que, embora tenha uma certa admiração pelo anarquismo, não sou seguidor de Bakunin e, tampouco, marxista empedernido. Não faço apologia ao não reconhecimento acadêmico, até porque segui todos os trâmites acadêmicos vigentes. Apenas desejo sugerir que o bom senso deve prevalecer na hora do julgamento de profissionais que são verdadeiros ícones da fisioterapia, mas não possuem títulos de especialização, mestrado ou doutorado. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 137 Resumos de trabalhos e congressos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia na síndrome da vestibulite vulvar Bergeron S et al. J Sex Marital Ther 2002;28(3):183-92, maio de 2002 ○ ○ Este estudo avaliou a eficácia da fisioterapia no tratamento da dor durante o ato sexual e melhora da função sexual em mulheres portadoras de vestibulite vulvar. Esta síndrome é uma causa frequente de dispareunia pré-menopausa e é caracterizada por uma dor tipo queimadura, localizada no vestíbulo da vulva (entrada da vagina) e provocada pela pressão aplicada no lugar. As participantes foram 35 mulheres com vestibulite vulvar que participaram de um programa de 7 sessões. Entrevistas por telefone foram realizadas para avaliar se a fisioterapia ou outros tratamentos foram eficazes sobre a dor durante o ato sexual e a função sexual. A duração do tratamento foi de 2 até 44 meses, com uma média de 16 meses. A fisioterapia foi responsável por uma melhora completa ou significativa em 51,4% das participantes, melhora moderada em 20,0% e pequena ou nenhuma melhora em 28,6%. O tratamento resultou em uma diminuição da dor experimentada durante as consultas ginecológicas e os atos sexuais. Resultou também em aumento significativo da frequência dos atos sexuais e dos níveis de desejo sexual. Os resultados do tratamento foram melhores em pacientes com nível de menor educação. Os achados demonstram que a fisioterapia é uma modalidade de tratamento promissora para a dispareunia associada a vestibulite vulvar. ○ ○ ○ ○ Bassols A et al. J Pain Symptom Manage 2002;23(4):318-28, abril de 2002. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Como a população geral cuida da dor? Estudo em Catalunha, Espanha Vários estudos epidemiológicos mostraram que a dor é um sintoma muito comum em pacientes que procuram cuidados médicos. Porém, as características do tratamento da dor na população geral têm sido menos estudadas. Este estudo foi desenhado para descrever e analisar como a população geral da Catalunha (Espanha) usa as estratégias de tratamento dos sintomas dolorosos. O estudo foi realizado em 1964 indivíduos adultos, que foram entrevistados por telefone sobre a ocorrência de eventos dolorosos nos últimos 6 meses, intensidade e local da dor, além do que foi feito para tratar a dor e o resultado. Dados foram comparados por idade e sexo. A prevalência da dor foi 138 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 elevada (78,6%) e mais frequente em mulheres. A mais comum estratégia terapêutica foi a consulta do médico (66,3%), seguida pela auto-medicação (27,6%) e as medicinas alternativas (20,5%). Drogas foram o primeiro tratamento empregado pelos médicos (86,5%), seguido pela fisioterapia (18,1%). Dores nas extremidades, coluna e pescoço foram muitas vezes tratadas sem sucesso. A auto-medicação foi muitas vezes feita com aspirina ou paracetamol, combinados com outras estratégias terapêuticas (51,9%). Idade (diminuição do uso do paracetamol pelos idosos) e sexo (baixo uso do paracetamol pelos homens) foram relacionados ao tipo de droga usada na auto-medicação. Homens idosos e os que apresentaram elevada dor no peito foram muitas vezes hospitalizados. Em conclusão, dor é uma razão comum para a procura de cuidados médicos e do uso de remédios. As estratégias terapêuticas são muitas vezes relacionadas ao tipo de dor, mas também à idade e sexo. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Gert Kwakkel et al. Physical Therapy 82(5): 432-448, maio de 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Efeito e duração de sessões de reabilitação das extremidades superiores e inferiores, além da velocidade de marcha e coordenação da marcha em pacientes hemiplégicos Introdução e objetivo: Foram investigados os efeitos de durações diferentes de sessões de reabilitação para as extremidades superiores (ES) e inferiores (EI) sobre a reabilitação da coordenação dos membros em pacientes hemiplégicos. Material e métodos: 53 pacientes que sofreram de acidente vascular cerebral, envolvendo as artérias cerebrais médias, participaram de programas com 1) focalização sobre as ES, 2) focalização sobre as EI paréticas, ou 3) condição na qual o braço parético (ES) e a perna (EI) foram imobilizados com um aparelho de pressão inflável (controle). Os 3 tratamentos foram aplicados durante 30 minutos, 5 dias por semanas, durante as primeiras 20 semanas após ocorrência do acidente. Todos os pacientes participaram também de um programa de reabilitação de 5 dias por semana, que consistiu em 15 minutos de exercícios dos ES e 15 minutos de exercícios dos EI, em adição à sessão de 1,5 hora de treinamento de atividades diárias. Diferenças entre os 3 tratamentos foram avaliadas em termos de conforto e de velocidade máxima da marcha. Foram também avaliadas a fase relativa continua média (CRP) entre os movimentos do braço e perna paréticos (PAL) e do braço e perna não paréticos (NAL) e as deviações padrões de CRP de ambos os pares dos membros. Resultados: A velocidade de marcha confortável melhorou no grupo que recebeu intervenções envolvendo os EI, quando Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 139 comparados com os grupos que receberam tratamentos dos ES e o grupo controle. Não foi encontrado diferença entre os 3 tratamentos no que se refere a CRP média de NAL e PAL, bem como no desvio padrão de CRP em ambos os pares de membros. Discussão e conclusão: For a da melhora da velocidade da marcha como resultado de uma duração maior das sessões de reabilitação, não foram encontrados efeitos diferenciais da duração das sessões de reabilitação para EI e ES sobre a variável medida em relação com a marcha hemiplégica. Entretanto, o aumento da velocidade de marcha resultou em uma CRP média maior para ambas as pares de membros, com aumento da estabilidade e assimetria de marcha, indicando que a velocidade de marche influencia a coordenação entre os membros na marcha hemiplégica. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cromie JE, Robertson VJ, Best MO. Physical Therapy 2002;82(5):459-72, maio de 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Desordens músculo-esqueléticos ligadas ao trabalho e cultura do fisioterapeuta Introdução e objetivo: Conhecimento, ferramentas, relacionamentos e atitudes de trabalho são considerados como avaliados pelos fisioterapeutas. Este artigo estuda como os fisioterapeutas se vêem, quando experimentam desordens músculo-esqueléticos relacionados com o trabalho (WMSDs). O artigo estuda também como esses valores competem entre si, e sugere como isso pode contribuir à ocorrência de WMSDs w ao comportamento do terapeuta após WMSD. Métodos: 18 terapeutas, que mudaram de trabalho após WMSD, participaram de entrevistas que foram desenhadas para conhecer melhor as atitudes e crenças dos terapeutas que sofreram WMSD. Resultados: Os participantes não anteciparam as WMSDs, e, tipicamente, acreditaram que o conhecimento da fisioterapia e de suas ferramentas poderiam prevenir a ocorrência de WMSDs. Eles se consideraram como informados e indicaram que essas características são fortemente valorizadas pela profissão. A necessidade de mostrar esses atributos resultou, às vezes, em comportamentos que contribuíram para o desenvolvimento de WMSDs, que pioraram após da ocorrência. Discussão e conclusão: Os valores culturais dos fisioterapeutas podem tornar difícil para que eles façam o seu trabalho de uma maneira que minimize o risco de WMSDs. O estudo identificou um potencial conflito entre a necessidade do terapeuta, 1) demonstrar a sua capacidade para trabalhar e cuidar de seus pacientes e 2) demonstrar a sua competência para ficar livre de ferimentos. 140 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Artigo original O treinamento muscular respiratório como alternativa para desmame difícil Respiratory muscular training like alternative for dificult weaning Carla Janaina Andreghetto*, Eli Maria Pazzianotto Forti** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Graduanda em Fisioterapia na Universidade Metodista de Piracicaba, **Mestre e Supervisora de estágio em UTI na Universidade Metodista de Piracicaba Palavras-chave: Ventilação mecânica, desmame, treinamento muscular respiratório, eletroestimulação diafragmática. Resumo Esta pesquisa trata-se de uma revisão do processo de desmame, bem como o momento de sua indicação, o preparo do paciente e seus possíveis métodos. Enfatizando as principais causas do insucesso do desmame, que resulta no retorno do paciente ao ventilador. Minimizando os efeitos deletérios à musculatura respiratória, a fisioterapia respiratória atua com o treinamento destes músculos, utilizando como recursos o threshold, o ajuste da sensibilidade do respirador e a Estimulação Elétrica Diafragmática, a mais recente técnica de treinamento respiratório. Acreditando nos efeitos benéficos da Estimulação Elétrica Diafragmática de melhorar a função diafragmática, foi realizado um estudo numa paciente submetida a ventilação mecânica por tempo prolongado. As estimulações elétricas diafragmáticas foram realizadas até o completo desmame da paciente do respirador. Artigo recebido em 10 de abril; aprovado em 10 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Carla Janaina Andreghetto, Rua Flamínio Levy, 300, 13490-000 Cordeirópolis - SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Key-words: : Mechanical ventilation, weaning, respiratory muscular training, electric stimulation of diaphragm. 141 Abstract This work is about a revision of the weaning process, including the moment of its indication, the preparation of the patient and the possible methods of weaning. Emphasizing the main causes of the failure of the process, which results in the return of the patient to the mechanical ventilation. Reducing the deleterious effects to respiratory musculature, the respiratory physical therapy acts in the training of these muscles, using the Threshold, the control of the sensitivity of the respirator and the most recent technique respiratory training, the electric stimulation of diaphragm. Believing in the beneficial effects of the electric stimulation of diaphragm to increase the diaphragm function and to contribute for the weaning process, a research was done in a patient submitted to mechanical ventilation during a prolonged time. The electric stimulation of diaphragm was realized up to the complete weaning of the patient from the respirator. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução O protocolo clínico de retirada rápida ou gradual e definitiva do paciente do ventilador mecânico, na terapia intensiva, é denominado desmame. Trata-se de um programa individualizado, indicado quando o paciente, apesar de já não mais necessitar de suporte ventilatório total, ainda não se sente capaz de manter a sustentação em ventilação espontânea. Assim, o desmame deve ser iniciado quando o quadro agudo do paciente estiver estabilizado e quando tiver completa reversão da insuficiência respiratória. Suspende-se previamente o uso de sedativos para por em prática tal protocolo, que deverá se dar de maneira gradual e progressiva, obedecendo três etapas distintas: desmame do ventilador, do tubo orotraqueal e do oxigênio. Recomenda-se que o desmame seja efetivado, se possível, na posição fowler, visando uma favorabilidade à mecânica diafragmática, preferencialmente durante o dia, pois além de permitir que, em pacientes conscientes, o rendimento do trabalho seja máximo devido à reinstituição do ritmo do sono, ainda facilite 142 providências mais rápidas e seguras em casos de eventuais complicações, face ao máximo funcionamento hospitalar. Todas essas particularidades, aliadas ainda à duração do suporte ventilatório e ao nível de agressividade das condutas médicas, não afastam definitivamente um insucesso de tal protocolo, já que a ventilação por tempo prolongado pode, apesar das precauções e cuidados, resultar em doença pulmonar crônica, exacerbada por infecção aguda ou qualquer outro tipo de processo agudo. Assim sendo, este estudo foi direcionado para o desmame difícil, ou seja, aquele no qual a retirada do suporte ventilatório não é tão simples, podendo ocasionar insucesso desta conduta. Vários fatores podem ser a causa deste insucesso, tais como a hipoxemia arterial ocasionando uma disfunção pulmonar; a hipercapnia e, a principal delas, que é a fadiga dos músculos respiratórios pelo desuso, caracterizada por diminuição da capacidade pulmonar total, capacidade vital, tosse e ventilação alveolar. Daí então, é necessário a adoção de medidas preventivas para se evitar ou diminuir complicações. Será de suma importância, realização de exercícios específicos e constantes para um real e efetivo condicionamento dos músculos respiratórios. Portanto, o treinamento muscular respiratório deve ser realizado desde o momento em que o paciente, sob ventilação mecânica, estiver com prognóstico para iniciar o desmame. O treinamento muscular respiratório objetiva o restabelecimento da função dos músculos respiratórios, melhorando sua força e endurance. Em pacientes submetidos à ventilação mecânica por tempo prolongado, este treinamento visa minimizar a atrofia e fraqueza dos músculos respiratórios, evitando a fadiga que, por sua vez, retarda o processo de desmame. Neste caso, o treinamento pode ser realizado com threshold, com o ajuste da sensibilidade do próprio respirador ou com o uso da Estimulação Elétrica Diafragmática. Tendo a Estimulação Elétrica Diafragmática o objetivo de melhorar a função dos Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 músculos respiratórios, em especial do diafragma, bem como sua velocidade de condução do estímulo e sua capacidade de endurance, fizemos um estudo em uma paciente submetida à ventilação mecânica com esta técnica de treinamento muscular respiratório, cujo caso está relatado posteriormente neste estudo. Desmame Em uma U.T.I., 50% dos pacientes recebem algum tipo de suporte ventilatório, embora, em sua maioria, sejam pacientes pósoperatórios e necessitem de auxílio por menos de 24 horas, outros, não cirúrgicos, são ventilados mecanicamente por períodos mais prolongados. Sendo assim, a permanência do paciente, sob estes suportes por tempo prolongado, pode gerar problemas que poderão agravar, de forma irreversível, o quadro do paciente. Em caso de suporte ventilatório, tanto médicos, quanto paramédicos e a própria família, almejam a liberação em curto prazo, a partir do momento em que o paciente seja capaz de retomar e sustentar a ventilação espontânea [1]. Baseando-se na literatura que fundamenta este trabalho, pode-se definir desmame como o processo de retirada gradual ou abrupta do suporte ventilatório do paciente, permitindo que ele retorne à ventilação espontânea, devendo ser individualizado e baseado em dados fisiológicos. O respirador artificial possui desvantagens que geram efeitos colaterais e até acidentes. Tais como os relacionados a baroinversão, barotrauma, alterações do débito cardíaco e urinário, aumento da pressão intracraniana, desconexões acidentais, maior probabilidade de infecção nosocomial, toxidade do oxigênio, pneumonias associadas à ventilação mecânica e complicações laringotraqueais associadas a entubação e/ou traqueostomia, dificultando o processo de desmame ou ocasionando o óbito do paciente [2]. Os pacientes submetidos à ventilação mecânica, em sua grande maioria, podem ser facilmente desmamados, após o tratamento e estabilização da patologia de base, que levou à utilização deste recurso respiratório. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Geralmente estes pacientes foram submetidos à ventilação mecânica por broncoespasmo agudo, hiperoxigenação inadvertida, cirurgias simples, sedação exagerada ou sobrecarga hídrica. Porém, de 5 a 30% dos pacientes apresentam difícil desmame e, às vezes, insucesso na primeira ou segunda tentativa. Fazem parte deste grupo, os pacientes com patologias pulmonares prévias (pneumopatas agudos graves e crônicos), cardiopatias, grandes cirurgias abdominais ou torácicas, doenças neurológicas e debilitantes, doenças multissistêmicas, com prejuízo da reserva funcional cardiorrespiratória, ventilação mecânica prolongada e com disfunção de múltiplos órgãos [4]. O desmame do paciente do ventilador ocorre gradualmente em três estágios, 1) do ventilador, que deverá ser realizado no período mais precoce possível, a partir da estabilização do quadro clínico; 2) do tubo, que deve ser removido quando o paciente apresentar ventilação espontânea adequada, reflexos de vômito faríngeo e laríngeo ativados, além de tosse ativa eficaz para a remoção de secreções. Antes de promover o desmame da cânula, o paciente deverá respirar um período espontaneamente, o diâmetro da cânula deve ser reduzido para aumentar a resistência do fluxo aéreo e o cuff deverá ser desinsuflado e, por fim, a cânula de traqueostomia poderá ser retirada. E, finalmente, 3) do oxigênio [5] . Para o início do processo de desmame, alguns critérios básicos devem ser seguidos, já que os fatores fisiopatológicos que determinam a capacidade de retornar a ventilação espontânea, são opostos aos critérios que indicam a necessidade da ventilação mecânica. Preparo do paciente O paciente deve ser preparado para o desmame o mais precoce possível. Os músculos respiratórios devem participar, na medida do possível, do processo de ventilação, para evitar atrofia e incoordenação, diminuindo a necessidade de pressão positiva para ventilação, evitando barotraumas e 143 efeitos cardiocirculatórios. Esta participação dar-se-á através de modos de ventilação programados no ventilador e que permitem a participação muscular em determinado momento do ciclo respiratório [6]. Métodos fisioterápicos que permitem o aumento da força e da endurance dos músculos respiratórios, devem ser utilizados desde o prognóstico favorável ao desmame. O paciente deve ser posicionado em fowler, pois facilita o movimento diafragmático; o desmame deve ser iniciado durante o dia e, se não completado, o paciente deve repousar à noite. Por fim, antes da realização de qualquer treinamento fisioterápico ou início do processo de desmame, a higiene brônquica deverá ser realizada, permitindo melhorar tanto a complacência do complexo toracopulmonar quanto a ventilação nas vias aéreas. Avaliação inicial - condições para o desmame da prótese ventilatória. Inicialmente deverá ser planejada a estratégia de retirada do suporte ventilatório, bem como a escolha do ventilador disponível na U.T.I. Qualquer que seja a estratégia escolhida, condutas adequadas devem ser adotadas para garantir o conforto do paciente, melhorar a carga de trabalho aplicada, a tonicidade e a força dos músculos respiratórios [2]. Também deve ser considerado o tempo em que o paciente permaneceu sob ventilação mecânica, pois num período curto, 24 a 48 horas, o desmame é traduzido na simples desconexão do aparelho, permitindo a respiração espontânea, seguindo -se da retirada do tubo orotraqueal. Já em casos de suporte por tempo prolongado, a retirada do suporte ventilatório deve ser lenta, gradual e extremamente cuidadosa. Para que o desmame seja realizado com sucesso, a observação clínica de alguns parâmetros faz-se necessário. Entre estes parâmetros, não existe o de maior importância nem o de menor, existindo, sim, uma relação e complementação entre si [8]. O protocolo elaborado, baseando-se nos artigos consultados, cujas bibliografias estão relatadas ao final deste artigo, segue abaixo: 144 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Protocolo de desmame · Estabilidade clínica: afebril; resolução da patologia de base; contatuando; suporte nutricional adequado; ausência de anemia (mínimo 10g/100ml de sangue); sono adequado; dor e ansiedade controlados; nível de consciência normal; sem previsão de cirurgia de porte; ausência de sangramentos; tratamento prévio de alterações como hipocalemia, hiponatremia, hiperglicemia renais. · Estabilidade hemodinâmica: bom débito cardíaco; sem uso de drogas vasoativas, pressão arterial e freqüência cardíaca adequada; ausência de arritmias. · Estabilidade hidroeletrolítica: o equilíbrio eletrolítico e ácido-básico para evitar a alcalose e a acidose, isto porque a alcalose metabólica pode levar a hipoventilação alveolar, resultando em hipoxemia e atelectasias com alterações na relação ventilação/perfusão. Além da alcalose e da acidose serem deletérias à oxigenação tecidual, pois na primeira tem-se aumento da afinidade do oxigênio pela hemoglobina, tornando difícil a liberação de oxigênio pelos tecidos e, na segunda, diminui esta afinidade, dificultando sua captação pelos tecidos. · Estabilidade respiratória: radiografias do tórax devem apresentar aspecto normal ou com progressão para normalização do quadro; o paciente deve apresentar drive respiratório intacto para respirar. Critérios de avaliação Índice de oxigenação PaO2 ≥ 60 mmHg com FiO2 ≤ 40% PEEP ≤ 5 cm H2O PaO2 ÷ FiO2 ≥ 200 Padrão respiratório/mecânica respiratória VC ≥ 5 ml/kg de peso FR ≤ 3 rpm TOBBIN ≤ 100 rpm/L PImáx ≥ -20 cmH2O VM ≤ 10 L Complacência VC ÷ PP PEEP = 60 a 100 ml/cm H2O Procedimento do desmame Dos autores estudados, Nozawa & Silva [11] descreveram o procedimento do desmame, dividindo-o em três fases: · Primeira fase; de início da respiração espontânea, gradativamente, a FR e FiO2 são diminuídas, mantendo uma PEEP constante e alterando a modalidade do ventilador para IMV/SIMV com pressão suporte entre 1520cmH2O, para que seja mantido pelo paciente um VC e uma FR aceitáveis. · Segunda fase; na qual o paciente está colaborativo e sem sinais de fadiga respiratória, a FR é diminuída até 1rpm, a FiO2 deve ser < ou = 40%, e a pressão suporte (PS) deve ser gradualmente diminuída, de 5 em 5cmH2O até atingir 5cmH2O. · Terceira fase, com o paciente em respiração espontânea coloca-se na modalidade CPAP com PS de 5cmH2O. Considerando como uma quarta fase, procede-se a extubação. Depois desta fase, deve ser realizada a higiene brônquica para possibilitar ventilação adequada. O paciente é posicionado sentado, as fixações são retiradas e o cuff é desinsuflado. O paciente é orientado a realizar uma inspiração profunda com a boca aberta e uma tosse ativa, que é o momento de retirada da cânula. Caso haja ainda secreções, é orientado a tossir e depois é colocado o suplemento de oxigênio. Métodos de desmame · Desmame Direto do Ventilador Artificial (Abrupto): Utilizado para pacientes ventilados mecanicamente por tempo curto, sem complicações pulmonares e com condições clínicas estáveis. É realizada a retirada da prótese e é oferecida ao paciente uma concentração de O 2, similar da oferecida durante a ventilação mecânica. Monitora-se a gasometria por 20 minutos, para decidir se prossegue o desmame ou se retorna o paciente ao ventilador. Após 30 minutos de ventilação espontânea, procede-se a extubação [6,10,12]. · Desmame Progressivo com Peça T: Utilizado para pacientes que estiveram sob ventilação mecânica por menos de dois dias, quando estiver acordado, alerta, respirando sem dificuldade, com bons reflexos de tosse e vômito e hemodinami-camente estável. O Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 paciente é colocado respirando com uma peça T, recebendo oxigênio e/ou umidificação. Permanecerá por este meio de respiração por um tempo e depois retornará ao ventilador. O tempo de respiração com a peça T é aumentado gradativamente, enquanto diminui-se o tempo do respirador, até procederse o desmame. O oxigênio oferecido é similar ao oferecido pela ventilação mecânica. Durante o desmame o paciente é monitorado pela gasometria arterial [ 4,5,6,10,12,13,15]. A extubação se dá quando a oxigenação for mantida durante a ventilação espontânea, tendo a PaO2 > 60mmHg e, caso não haja retenção de CO2, com PaCO2 < 5mmHg . · Desmame com Ventilação Mandatória Intermitente (IMV) e com Ventilação Mandatória Intermitente Sincronizada (SIMV): Utilizado em casos nos quais o paciente satisfaz os critérios para o desmame, mas não consegue sustentar a ventilação espontânea por tempo prolongado. O paciente respira espontaneamente, mas recebe respirações periódicas do ventilador com pressão positiva, num volume e numa freqüência pré-estabelecida. Sendo caracterizado por ciclos respiratórios espontâneos e ciclos mandatórios. Porém, deve haver sincronismo entre paciente e ventilador, para não aumentar a carga de trabalho e nem desencadear a fadiga [2,4,5,6,11,12,15]. O desmame é procedido com a redução gradual, lenta ou rápida, das ventilações mecânicas oferecidas por minuto, permitindo que o paciente assuma cada vez mais a respiração espontânea. · Desmame com a Ventilação com Suporte Pressórico (PS): É fornecida uma pressão suporte positiva durante a inspiração espontânea de todos os ciclos respiratórios do paciente. Proporciona redução no consumo de oxigênio, devido à diminuição do trabalho respiratório, evitando a fadiga dos músculos inspiratórios e a assincronia paciente-ventilador. Também proporciona condições para o recondicionamento muscular, devido ao aumento gradativo das solicitações dos músculos inspiratórios durante o processo de desmame. A pressão suporte permite eficácia e condicionamento muscular devido à sua carga de trabalho 145 resultante. Pressões acima de 20cm H2O permitem pouco trabalho muscular. Este método também permite uma melhor sincronia paciente-ventilador [4,6,11,12]. O desmame é iniciado com PS máxima, gerando um VC de 10 a 12 ml/kg, sendo reduzida gradualmente até que seja atingida uma PS entre 5 8cm H2O, com boa tolerância do paciente, procedendo-se, assim, a extubação. · Uso da Pressão Positiva no Final da Expiração e da Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas (PEEP e CPAP) Durante o Desmame: O uso da PEEP ou CPAP em níveis baixos (4-7cm H2O) em situações de grandes riscos de atelectasias, em fase de recuperação de insuficiência respiratória aguda, objetivando uma melhora da capacidade residual funcional (CRF) da PaO2 e diminuindo o shunt pulmonar. A PEEP ou auto-PEEP pode estabilizar os alvéolos, impedindo seu colapso; a CRF também aumenta e apresenta potencial benéfico face à hiperinsuflação [4,11,13]. Desmame difícil Predizer a evolução do desmame é definir sinais e sintomas, que possam distinguir os pacientes que terão sucesso na retirada da assistência ventilatória, daqueles que deverão permanecer mecanicamente ventilados. Os fatores fisiopatológicos que determinam se o paciente tem condições de retornar à respiração espontânea, são inversos às indicações da necessidade de suporte ventilatório e podem ser agrupados em três formas: 1) Insuficiência respiratória hipoxêmica, devido ao prejuízo das trocas gasosas ou à diminuição da PO2 do sangue arterial; 2) Falência da bomba muscular respiratória, resultante da sobrecarga da bomba respiratória ou decréscimo na capacidade neuromuscular; 3) Fatores psicológicos, demonstrando dependência do respirador [1]. É considerado desmame difícil quando o paciente apresenta baixa reserva funcional pulmonar, devido à doença pulmonar obstrutiva crônica, miopatias, doenças cardiorrespiratórias, depressão do centro 146 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 respiratório, desnutrição, insuficiência ventricular esquerda, alterações psicológica, não resolução da patologia de base que requereu a ventilação mecânica, não identificação e correção da fadiga muscular respiratória [6]. O insucesso do desmame leva ao retorno da assistência ventilatória [16]. Fatores que indicam insucesso do desmame · Hipoxemia: Desencadeada pelo retorno à ventilação espontânea pela hipoventilação, prejuízo das trocas gasosas ou queda do conteúdo de O2 no sangue venoso, após um período de ventilação mecânica, sugere disfunção pulmonar não permitindo o desmame. A ventilação mecânica tem efeitos benéficos em pacientes que a necessitam, pois permite: O fornecimento da FiO2; a manutenção do VC adequado, impedindo ou revertendo atelectasias; Diminuir o shunt pulmonar com a adição da pressão positiva expiratória final, reduzindo a FiO2; Aliviar a carga de trabalho dos músculos respiratórios [1,12]. · Falência da bomba muscular respiratória: Pode ser resultante de um decréscimo na capacidade neuromuscular, causado pela diminuição na resposta dos centros respiratórios, disfunção do nervo frênico, redução da força e/ou resistência da musculatura respiratória, hiperinsuflação, desnutrição, decréscimo do fornecimento de oxigênio, acidose respiratória, anormalidades de minerais e eletrólitos, desordens endocrinológicas, atrofia muscular por desuso ou fadiga da musculatura respiratória, disfunção diafragmática, falência cardíaca, ausência de drive respiratório. Esta diminuição da resposta dos centros respiratórios é caracterizada pela hipercapnia desenvolvida no processo de desmame, sendo mais comum pela alcalose respiratória [1,9,11,12,18]. · Fatores psicológicos: Alguns pacientes tornam-se irritados com a solicitação da desistência da dependência do ventilador, mostram-se inseguros, ansiosos e temerosos de que o desmame resulte em morte súbita. Este estado pode ser agravado por conflitos com os membros da família e pela depressão associada a uma enfermidade crônica [1,11]. Fatores para serem investigados em caso de insucesso do desmame São relatados segundo Fernandez [15]: Posição favorável para a mecânica diafragmática; presença de obstrução das vias aéreas, principalmente por secreções; presença de alcalose respiratória, devido ao uso de diuréticos ou de aspiração nasogástrica; Administração de sedativos ou analgésicos que podem deprimir o impulso respiratório, produzindo hipoventilação alveolar e acidose respiratória; valores da gasometria arterial, em especial a saturação do oxigênio; adequado suporte nutricional; função diafragmática normal. Treinamento muscular respiratório O treinamento dos músculos respiratórios (TMR), por meio de um programa com carga adequada, visa aumentar a força e endurance destes músculos, evitando o surgimento de fadiga. Em pacientes sob ventilação mecânica, o TMR tem sido empregado na reabilitação tóraco-pulmonar, objetivando oferecer um maior suporte muscular respiratório à bomba ventilatória, por apresentarem deficiência ventilopulmonar, restaurando ao nível funcional a atividade muscular respiratória. O TMR melhora a força e/ou endurance dos músculos respiratórios referindo-se à capacidade de trabalho da musculatura respiratória e eficiência do consumo de O2. O treinamento tem sido realizado com técnica de respirar contra uma pressão sustentada, preestabelecida com uma porcentagem da PImáx (pressão inspiratória máxima), oferecendo sobrecarga aos músculos respiratórios, melhorando a ventilação pulmonar e a eficiência da mecânica respiratória [18 ]. Em pacientes submetidos à ventilação mecânica por tempo prolongado, o TMR visa restaurar a atividade muscular respiratória a seu nível funcional máximo, restabelecendo a função destes músculos e readaptandoos aos esforços progres-sivamente, para que retorne à respiração espontânea, realizando o desmame com sucesso [17,18 ]. O TMR pode ser benéfico a pacientes que Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 sofreram fracassos nas tentativas de desmame. Mas no retreinamento muscular, uma análise criteriosa deverá ser feita baseando-se na grande reserva funcional dos músculos respiratórios, assim como na grande capacidade de sua adaptação. E, também, lembrar que a fadiga muscular é resultante de um trabalho excessivo, portanto um exercício inadequado pode produzir danos irreversíveis à musculatura. É necessário repouso antes do retreinamento da musculatura fadigada ou lesada [9]. TMR com threshold Threshold é um aparelho fluxo-independente constituído de uma válvula selenóide, que não sofre influência do padrão de respiração e não requer regulação externa. Em sua extremidade tem uma válvula que é mantida pela pressão positiva de uma mola, que se abre permitindo a passagem de ar quando a pressão negativa é gerada. Este aparelho é conectado na traqueostomia ou no tubo orotraqueal [18]. Pires et al. [18] realizaram um experimento de TMR com threshold em 5 pacientes submetidos à ventilação mecânica, a mais de uma semana em SIMV, consciente, cooperativo, com estabilidade hemodinâmica, cardio e hidroeletrolítica, e com uma tentativa de desmame sem sucesso; duas vezes ao dia com séries de 10 inspirações com esforços de 40% da PI máx, até a retirada do suporte ventilatório. Os resultados obtidos foram: Aumento significativo da PI máx e PE máx (pressão expiratória máxima); aumento do VC, possibilitando ampliação do volume pulmonar e transporte de oxigênio em níveis adequados; Diminuição do índice de Tobin; Melhora na oxigenação pulmonar, tornando a troca gasosa mais eficiente e aumento PaO2/FiO2. TMR com ajuste da sensibilidade do respirador Este treinamento tem como objetivo oferecer sobrecarga inspiratória ao esforço do paciente, submetendo-o ao trabalho muscular progressivo. Quanto mais negativa é 147 ajustada a sensibilidade do respirador, maior será o esforço inspiratório do paciente [18]. Pires et al. [18] realizaram um experimento de TMR com ajuste da sensibilidade do respirador em 20 pacientes submetidos à ventilação mecânica, a mais de uma semana em SIMV, consciente, cooperativo, com estabilidade hemodinâmica, cardio e hidroeletrolítica, e com uma tentativa de desmame sem sucesso; duas vezes ao dia com séries de 10 inspirações com esforços de 40% da PI máx, até a retirada do suporte ventilatório. Os resultados obtidos foram: Aumento significativo da PI máx e PE máx; aumento do VC, possibilitando a ampliação do volume pulmonar e transporte de oxigênio em níveis adequados; Diminuição do índice de Tobin; melhora na oxigenação pulmonar, tornando a troca gasosa mais eficiente e aumento PaO2/FiO2. TMR com estimulação elétrica diafragmática EED é uma técnica da fisioterapia respiratória que melhora a função dos músculos respiratórios, em particular do diafragma, bem como sua velocidade de condução do estímulo e sua capacidade de endurance. A eletroestimulação é vantajosa, pois sua administração se dá em porções musculares específicas e gera respostas localizadas [19]. A EED consiste na estimulação elétrica transcutânea do diafragma sobre os pontos paraxifóideo ou linha axilar média, de forma a produzir a contração do diafragma, tendo como objetivo seu retreinamento e o recrutamento de fibras [20]. Um pré-requisito para a EED é a permanência intacta do motoneurônio, pois qualquer dano em seu trajeto resultará em degeneração do tipo walleriana, irreversível e, conseqüentemente, atrofia e fibrose muscular [20]. Azeredo [20] afirma a incidência de atrofia pelo desuso dos músculos respiratórios em pacientes submetidos à ventilação mecânica prolongada, sejam tetraplégicos, portadores ou não de doença pulmonar. O tratamento com EED proporciona o recondicionamento do diafragma, diminuindo o tempo para o procedimento do desmame. 148 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Relato de caso Introdução O TMR pode ser realizado de várias maneiras; TMR com threshold, TMR com ajuste da sensibilidade do respirador e TMR com Estimulação Elétrica Diafragmática. Tendo como objetivo aumentar a força e endurance destes músculos, evitando a fadiga e dando um maior suporte muscular respiratório à bomba ventilatória. Materiais e Métodos A eletroestimulação diafragmática foi realizada em uma paciente do sexo feminino, 27 anos, com diagnóstico definitivo de tumor cerebelar e hidrocefalia, internada na Unidade de Terapia Intensiva Geral do Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba no dia 02 de agosto de 2001, submetida à ventilação mecânica invasiva. Foram usados como parâmetros de avaliação o volume corrente (VC), a freqüência respiratória (FR), o volume minuto (VM) e o índice de TOBIN - Índice da Respiração Superficial (IRS), sendo este último o mais enfatizado. Verificados a partir do momento no qual a paciente manteve-se em respiração espontânea, em nebulização contínua e após a conclusão do desmame. O VC (mL) foi verificado através de um ventilômetro, marca Ohmeda; a FR (rpm) foi contada em um minuto; o VM (L/ min) foi obtido multiplicando o VC pela FR e o IRS, dividindo a FR pelo VC em litros. A Eletroestimulação Diafragmática foi no período da manhã, de segunda a sexta-feira, com a paciente em decúbito dorsal com a cabeceira do leito elevada a 30º, posicionada de forma confortável. Para realização da eletroestimulação, foram respeitados os horários de medicação e alimentação, bem como os cuidados gerais do paciente. Para a eletroestimulação elétrica diafragmática foi utilizado o aparelho Dualpex 994, Phrenics da marca Quark, com os seguintes parâmetros: Rampa tempo de subida da intensidade do trem de pulso de 0,7 s.; Freqüência Respiratória 14 respirações por minuto; Largura de Pulso (T) de 1,2 ms; Freqüência de 30 Hz, por um tempo de 20 minutos. A intensidade era determinada pela contração, visível e palpável do músculo diafragma, durante a eletroestimulação. Os eletrodos foram fixados à pele da paciente previamente limpa com solução alcóolica à 70%, com fita esparadrapo larga, de forma que cobrisse totalmente o eletrodo. Foram utilizados dois pares de eletrodos, colocados na musculatura paravertebral na região da 4ª vértebra lombar e no ponto motor do músculo diafragma, 7º espaço intercostal na linha axilar anterior, sendo um par no hemicorpo direito e o outro no esquerdo [19]. Resultados e discussão À partir do momento de sua internação, a paciente foi ventilada mecanicamente com o respirador, em modalidade SIMV. O TMR foi realizado com Estimulação Elétrica Diafragmática, com o objetivo de facilitar o desmame da paciente. O desmame foi concluído, com sucesso, 24 dias após o início das estimulações. Considerou-se como sucesso o desmame, quando a permanência em nebulização contínua por 48 horas, sem a necessidade de retorno ao ventilador [18]. Durante o período inicial da estimulação, a paciente esteve com o ventilador na modalidade SIMV, sem desenvolver respirações espontâneas. No 1º dia de estimulação, a paciente apresentou um Volume Corrente (VC) de 600 ml, um Volume Minuto (VM) de 7,2 l, com nenhuma Freqüência Respiratória Espontânea (FRE), foi usado uma intensidade 17 do lado direito (D) e 15 do lado esquerdo (E). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Nos 2º e 3º dias a paciente não apresentou nenhuma mudança nos valores do 1º dia. No 5º dia de estimulação, foi necessária uma intensidade de 16 do lado D e 14 do lado E, permanecendo os mesmos valores de VC, VM e FRe. Do 6º dia até o 15º dia de estimulação, não houve melhora significativa nos parâmetros de avaliação e, ainda, não apresentava drive respiratório. No 16 º dia de estimulação, foi necessário uma maior intensidade do aparelho, 18 para o lado D e 14 para o lado E, mas pela primeira vez a paciente ficou em nebulização por 45 minutos com VC = 200 ml, FR = 29 rpm e IRS = 29 No 17º dia de estimulação, a paciente foi colocada em nebulização contínua por 1 hora, com VC = 250 ml, FR = 45 rpm, VM = 11,25 L/min e IRS = 180, a intensidade foi de 12 para os lados D e E. No 18º dia, a paciente permaneceu em respiração espontânea por 30 minutos, a intensidade usada foi de 14, para o lado D e E. No 19º dia, obteve-se um VC= 490 ml, um VM = 4,9 L, não apresentou nenhuma FRE e a intensidade usada foi igual a 16 para o lado D e E. Já no 20º dia, permaneceu em respiração espontânea com PS por 1 hora, com VC = 540 ml, VM = 6,9 L, e IRS = 177,27. E no 22º 149 dia, em nebulização contínua, apresentava VC = 250 mL, FR = 40 rpm, VM = 10,170 L/ min e IRS = 160. Gradativamente, foi-se aumentando o tempo no qual a paciente permanecia em nebulização contínua. Quando retornava ao respirador a modalidade utilizada era SIMV com PS. Finalmente, o desmame foi concluído com sucesso. A avaliação final, que determinou o sucesso do desmame, foi realizada no 24º dia, 48 horas após a conclusão do desmame. Sendo os dados finais, VC = 300mL, FR = 40rpm, VM = 12,60L/min e IRS = 140. A partir da análise destes dados, pode ser observado o aumento do volume corrente, bem como a redução do índice de TOBIN, ou seja, melhora da mecânica respiratória. Conclusão Pode ser concluído que o TRM com EED contribuiu para a melhora da mecânica do músculo diafragma, aumentando sua força e endurance durante o tempo no qual a paciente foi submetida a VM, facilitando seu desmame. Porém, a literatura sobre o assunto ainda é escassa, requerendo maiores estudos de tal tema. Conclusão Em termos objetivos, o TMR visa restabelecer a função dos músculos respiratórios, melhorando sua força e endurance. Portanto, deve ser adotado desde o momento em que se prevê o desmame de um paciente do suporte ventilatório, seja de forma abrupta ou gradual. A ventilação mecânica prolongada pode resultar em atrofia e fraqueza dos músculos respiratórios, resultando em fraqueza destes músculos por desuso e, conseqüentemente, retardando o processo de desmame, além da possibilidade de originar outras complicações. Sendo assim, o TMR visa minimizar as complicações da ventilação mecânica aos músculos respiratórios, mantendo o trofismo muscular e sua força e endurance. Desta forma, facilita o desmame do paciente da prótese ventilatória, permitindo que ele retorne à respiração espontânea num tempo mais curto. Neste estudo, a técnica de Estimulação Elétrica Diafragmática foi aplicada numa paciente submetida à ventilação mecânica e pode-se observar um aumento do VC, com redução do Índice de TOBIN, facilitando seu processo de desmame. Sendo assim, o TMR é de suma importância num processo de desmame, principalmente naqueles considerados difíceis, pelo maior comprometimento da musculatura respiratória, dificultando ou mesmo impossibilitando o retorno à respiração espontânea. 150 Referências 1. Tobin MJ; Jubran A. Problemas no Desmame da Ventilação Mecânica. In: GRENVIK, A. et al. Condutas Atuais em Terapia Intensiva: Ventilação Mecânica e Respiração Assistida. Rio de Janeiro: Revinter, 1994. p.151-175. 2. Crespo AS, Carvalho AF, Costa Filho RC. Desmame do Suporte Ventilatório. Rev Brás Anestesiol 1994;44:2:135-146. 3. Ruiz VC, Oliveira LC, Christovan, JC. 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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 151 Artigo original Exercícios terapêuticos para portadores de Esclerose Múltipla com déficit de coordenação motora e equilíbrio Therapeutic exercises for carriers of Multiple Sclerosis with deficit of coordination and balance *Andreia Luiz Vargas, **Roseli Cordeiro de Almeida Morais, ***Márcia Cristina Bauer Cunha ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, Especializanda em Intervenção em Neuropediatria (UFSCar), **Fisioterapeuta, Mestranda em Ciências da Saúde (UNG), professora da Uninove, ***Fisioterapeuta, Mestre e Doutoranda em Neurociências (UNIFESP-EPM), supervisora de estágios da Uninove. Trabalho realizado no Centro Universitário Nove de Julho (UNINOVE) São Paulo Palavras-chave: Esclerose Múltipla, cinesioterapia, coordenação motora, equilíbrio, doença desmielinizante. Resumo A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica, desmielinizante e auto-imune, que atinge principalmente adultos jovens, com maior freqüência o sexo feminino. A EM é caracterizada por uma inflamação na bainha de mielina que reveste os axônios, interferindo na transmissão dos impulsos nervosos. O déficit de coordenação motora e equilíbrio são sintomas comuns e debilitantes para os portadores de EM, pois interferem diretamente na realização de suas atividades de vida diária, principalmente na marcha. Desse modo, através de uma revisão bibliográfica, demonstraremos que a cinesioterapia motora, através de exercícios ativos, tem papel fundamental na melhora da marcha e, conseqüentemente, melhora da qualidade de vida dos portadores de EM, desde que estes exercícios sejam feitos com cautela, com períodos de descanso e supervisionados por um fisioterapeuta. Artigo recebido em 14 de março de 2002, revisado em 6 de maio e aprovado em 10 de maio de 2002 Endereço para correspondência: Andreia Luiz Vargas. Rua Fernandes Pereira, 596, Artur Alvim, 03565-000 São Paulo - SP, Tel: (11)6749-0017, Cel: (11) 9856-9014, E-mail: [email protected] 152 Key-words: : Multiple Sclerosis, kinesitherapy, coordination, balance, demyelinating disease. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Abstract The Multiple Sclerosis (MS) it is a chronic neurological disease demyelinating and autoimmune that it reaches mainly young adults and more frequently the female. The MS it is characterized by an inflammation in the myelin hem that covers the axons, interfering in the transmission of the nervous pulses. The deficit of coordination and balance are common and debilitating symptoms for the carriers of MS because they interfere directly in the accomplishment of their activities of daily life, mainly in the gait. This way, through a bibliographical revision we will demonstrate that the kinesitherapy through active exercises has fundamental paper in the improvement of the gait and consequently it gets better of the quality of life of the carriers of MS since these exercises are made with caution with rest periods and supervised by a physiotherapist. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Atualmente, a Esclerose Múltipla é definida como uma doença desmielinizante inflamatória e auto -imune que ataca a substância branca do SNC, caracterizada por inflamação na bainha de mielina, que reveste o axônio das células nervosas, com capacidade de destruição da mesma, prejudicando a condução dos impulsos nervosos [1,2]. Nos estágios iniciais, a lesão da EM começa com uma reação imune celular mediada por linfócitos ativados, tipicamente células auxiliadoras T4, determinando inflamação e desmielinização. As lesões podem progredir para remielinização ativa por oligodendrócitos depois de desaparecida a inflamação ou podem evoluir para proliferação de astrócitos e cicatrizes em áreas de desmielinização persistente ou repetida. No entanto, como regra, os oligodendrócitos e a remielinização regeneram insuficientemente para explicar a marcante recuperação observada em muitos pacientes [4,2]. Segundo Melaragno [5], ainda são controversas as diversas possíveis causas que desencadeariam a Esclerose Múltipla. Muitas teorias vêm à tona, sendo possível que cada uma delas seja correta para elucidar pelo menos um aspecto da doença. O que se considera como certo é a existência de um defeito imunológico. Mas, por sua vez, as características, o tipo e as principais causas desse mesmo defeito imunológico são também questões polêmicas. Fisioterapia na Esclerose Múltipla Como a EM é uma doença progressiva e de sintomatologia diversificada, os planos de tratamento devem ser flexíveis e adequados às necessidades de cada paciente. Na fisioterapia, o terapeuta e o paciente portador de EM trabalham como uma equipe para minimizar as limitações impostas pela doença, maximizar a capacidade funcional e melhorar a qualidade de vida em geral, evitando complicações debilitantes [6,7]. Embora as necessidades individuais dos pacientes variem, freqüentemente, a curto prazo, as seguintes metas gerais são apropriadas ao tratamento fisioterapêutico dos pacientes de EM: · Incentivar o desenvolvimento de estratégias de movimento; · Melhorar a qualidade dos padrões de movimento; Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 · · · · · · · · · · · Incentivar o aprendizado de habilidades motoras; Melhorar força muscular; Melhorar a coordenação motora; Melhorar o padrão da marcha; Melhorar as funções em atividade de vida diária; Minimizar anormalidades de tônus muscular; Implementar a terapia preventiva; Ajudar o paciente a compreender melhor os sintomas de EM e como eles afetam a vida diária; Ajudar no ajuste psicológico do paciente e da família; Melhorar a estabilidade postural; Manter e melhorar a tolerância à fadiga [6,8,9]. A determinação das metas e seleção do tratamento devem ser cuidadosamente planejadas em torno das capacidades e necessidades individuais do paciente, ou seja, tratar os sintomas que vão surgindo em cada surto, mas sempre levando em conta o que o paciente pode atingir, não ultrapassando seus graus de dificuldade [8,6,10]. Os sintomas da EM trazem limitações e distúrbios psicológicos aos pacientes, sendo que a maioria pode ser minimizada com a fisioterapia. O déficit de coordenação motora e equilíbrio são considerados limitantes para os portadores de EM, pois interferem diretamente na realização de suas atividades de vida diária, principalmente na marcha. Por isso, demonstraremos neste estudo a utilização da cinesioterapia, através de exercícios ativos para coordenação motora e equilíbrio, a fim de promover uma melhora no padrão da marcha e qualidade de vida destes pacientes. Observando a necessidade do emprego da cinesioterapia nos portadores de EM, demonstraremos alguns exercícios ativos em posicionamentos diferentes com objetivos específicos, que devem ser realizados sempre com a supervisão de um fisioterapeuta, respeitando o limite do paciente e não permitindo que haja compensações. O número 153 de repetições também sofrerá variações, lembrando que o paciente portador de EM pode rapidamente entrar em fadiga muscular. Decúbito dorsal Para promover a dissociação de cinturas, melhora da coordenação motora e alongamento muscular, o paciente deve posicionar-se em decúbito dorsal, com membros inferiores (MMII) fletidos, pés apoiados e segurando uma bola nas mãos. Pedir ao paciente que leve os membros superiores (MMSS) e a cabeça para um lado, enquanto os MMII fletidos vão para o lado contrário, repetindo o movimento para o outro lado, como mostra a figura 1. Para treinar principalmente a coordenação motora, o paciente deve manter elevação da cabeça e tronco, fletir o quadril e o joelho, posicionar o calcanhar a 5 cm do leito e deslizá-lo lentamente sobre a crista da tíbia oposta, tornozelo e pé, até chegar nos dedos, repetindo com o outro MI, como ilustrado na figura 2. Posição sentada Para enfatizar o trabalho do tronco e promover a melhora do equilíbrio e .ECKH= 154 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 .ECKH=" .ECKH= coordenação motora, o paciente deve ficar sentado numa maca, sem apoio dos pés, com ombros abduzidos a 90º. Pedir que faça uma rotação de tronco para a direita e esquerda alternadamente, olhando por cima dos ombros, como mostra figura 3. O fisio terapeuta deve ficar atento para que os MMII permaneçam soltos e não haja compensações. Para promover a descarga de peso, propriocepção nos MMII, fortalecimento dos músculos paravertebrais e alinhamento do tronco, o paciente posiciona-se sentado numa bola, com ombros abduzidos a 90º, realizando a transferência de peso para o MID e MIE, mantendo o tronco alinhado, conforme figura 4. Se necessário, o fisioterapeuta deverá auxiliar o paciente. Posição de pé Para melhorar a coordenação motora e equilíbrio o paciente deve caminhar sobre uma única linha reta, colocando um pé à frente do outro, como ilustrado na figura 5. O ideal é que ele realize este exercício sem o auxílio das barras paralelas e com auxílio visual de um espelho. Para promover a melhora da propriocepção, equilíbrio e descarga de peso deve ser realizado o treino de equilíbrio látero-lateral e ântero-posterior na prancha de equilíbrio, conforme figuras 6 e 7. Posição quadrúpede (gato) .ECKH=! Para promover a transferência de peso, fortalecimento de glúteos e dissociação de cintura, o paciente deve permanecer na posição gato, depois elevar um MS e MI contralateral, permanecendo por alguns segundos nesta posição, como mostra figura 8. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 .ECKH=# .ECKH=$ .ECKH=& Discussão Kraft [11] e Freeman et al. [12] afirmam que, apesar de muitas drogas estarem sendo utilizadas para alterar o curso da EM, elas não são suficientes para restabelecer as funções perdidas. Por isso, é necessária a associação dos medicamentos com a fisioterapia, pois esta compõe-se de técnicas e exercícios que melhoram a mobilidade desses pacientes e torna possível a melhora nas atividades de vida diária (AVD). No que diz respeito ao tipo de exercício proposto aos portadores de EM, Mertin [13] afirma que é importante o paciente ser um agente ativo na terapia, ou seja, que os exercícios propostos sejam ativos e que envolvam estratégias de aprendizado para as 155 .ECKH=% AVDs, principalmente a marcha. Thomson et al. [10] ainda complementam afirmando que para os pacientes com déficit de coordenação motora e equilíbrio, o fisioterapeuta deve utilizar exercícios ativos, repetidos e numa velocidade que permita ao paciente maior controle motor. Entretanto, Sadiq et al. [14] afirmam que os exercícios ativos podem esgotar os pacientes com EM, promovendo aumento da temperatura corporal, ocasionando sintomas transitórios. Por isso, indica exercícios passivos unicamente para manter a mobilidade desses pacientes. Quanto à freqüência dos exercícios, Nicholas [15] e Walter [16], sabendo que os portadores de EM possuem uma desmielinização no sistema nervoso e que podem chegar à fadiga facilmente, afirmam que os exercícios ativos para esses pacientes devem ter períodos curtos de esforço, seguidos por períodos curtos de descanso e que, ao final da terapia, deve ser promovido o relaxamento global. Wiles et al. [17] observaram, em seus estudos, que pacientes com EM, em sua maioria, possuem alguma anormalidade na marcha e utilizando-se de técnicas de treino de equilíbrio, treino de marcha e controle de tronco, concluíram que os pacientes 156 obtiveram melhora significativa na mobilidade, além de melhorar o humor e auto-estima. Urbscheit [18] ainda acrescenta que para esses pacientes são importantes a posição sentada, as transferências de peso, a manutenção do equilíbrio com ombros abduzidos ou fletidos e rotações de tronco, pois são posições usadas nas AVDs e que os exercícios na posição quadrúpede promovem uma maior estabilidade do quadril, tão importante para a marcha e independência destes pacientes. Portanto, levando em conta as opiniões dos autores pesquisados ao longo deste trabalho, foram elaborados exercícios ativos em posicionamentos diferentes, por serem de extrema importância no tratamento dos portadores de EM, desde que feitos com cautela, períodos de descanso e sempre supervisionados por um fisioterapeuta. Conclusão A cinesioterapia motora, através de exercícios ativos em decúbito dorsal, posição sentada, em pé e quadrúpede, possibilita, além do fortalecimento e alongamento de grupos musculares específicos, a melhora na coordenação motora e equilíbrio importantes para a realização da marcha, independência e melhora da qualidade de vida dos portadores de EM. Referências 1. Frankel DI. Esclerose Múltipla. In: Umphred D.A. Fisioterapia Neurológica. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole Ltda; 1994. p.529-47. 2. De Oliveira EML, De Souza NA. Esclerose Múltipla. In: Prado FC, Ramos JA, Valle JR. Atualização Terapêutica Manual Prático. 19ª edição. São Paulo: Artes Médicas; 1999. p.821-24. 3. Rudick RA. Doenças Desmielinizantes. In: Bennet JC, Plum F. Cecil Tratado de Medicina Interna. 20ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 1997. p. 2324-29. 4. Sipe JC. Esclerose Múltipla. In: Taylor RB. Tratamento de casos difíceis em medicina. 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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 157 Artigo original Avaliação do uso de monofilamentos para prevenção do pé diabético Evaluation of the use of monofilaments for diabetic foot prevention Estela SantAna Vieira Douat*, Ana Paula de Lourdes Pfister**, Ana Maria Fonseca Abreu***, João Wagner Rodrigues Hernandez****, Lúcia Bernadete Nielsen Tinasi Goulart***** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, especializanda em Fisioterapia Dermato-Funcional (CEUCLAR), estagiária do Laboratório de Eletrotermofototerapia da UFSCAR.**Fisioterapeuta, especializanda em Fisioterapia Pneumológica (UNIFRAN),***Fisioterapeuta, especializanda em Fisioterapia Cardiorespiratória (UNICAMP),****Fisioterapeuta, Professor da UNIFENAS, Mestre em patologia experimental pela UNIFENAS, Doutorando em Biomedicina e Laboratório de Laser da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, *****Médica, especialista e docente em Endocrinologia e Metabologia da UNIFENAS. Palavras-chave: Prevenção, monofilamentos, pé diabético, amputação. Resumo O Diabetes Mellitus (DM) é um distúrbio de caráter crônico, que afeta grande parte da população implicando em altos índices de morbi-mortalidade. A devastação clínica e o alto risco de amputação do pé diabético têm exigido uma ação preventiva do mundo inteiro. Este estudo tem como objetivo identificar e descrever as alterações sugestivas de neuropatia sensoriais diabética em pés de pacientes com DM tipo 2. Avaliamos 58 pacientes de ambos os sexos, com faixa etária entre 30 e 79 anos, com anamnese e grau de sensibilidade pelos monofilamentos de Semmes-Weinstein. Foi analisado o grau de sensibilidade em relação a sexo, idade, índice de massa corpórea, duração da doença, patologia associada e tabagismo. Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas, usando-se o teste do χ2 (qui quadrado), na relação entre grau de sensibilidade em diferentes idades estudadas (p < 0,01), e em relação à duração da doença (p < 0,05). Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em relação ao sexo, índice de massa corpórea, patologia associada e tabagismo. Portanto, concluímos que o Artigo recebido em 10 de abril; aprovado em 10 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Carla Janaina Andreghetto, Rua Flamínio Levy, 300, 13490-000 Cordeirópolis - SP, E-mail: [email protected] 158 Fisioterapia Brasil - Volume 3 -Número 3 - Maio / Junho de 2002 indivíduo portador de DM tipo 2 deve ser encaminhado o mais precocemente possível ao tratamento fisioterapêutico preventivo, o que minimizará o risco de complicações e conseqüente amputação do(s) membro(s) afetado(s). Key-words: : Prevention, monofilaments, diabetic foot, amputation. Abstract Diabetes mellitus (DM) is a chronic disorder that affects a large number of people causing high rates of morbid-mortality. The clinical devastation and the high risk of she diabetic foot amputation has called for preventive measures all over the world. This paper aims at identifying and describing the alterations leading to diabetic sensory neuropathy in type 2 DM patients feet well as assessing sex, age and body ness related factors, duration of the disease, associated pathology and smoking. 58 Patients of both sexes with age ranging between 30 and 79 were assessed and evaluated as to the anamnesis and the degree of sensitivity with Semmes-Weinstein monofilaments. There were statistically significant differences in the χ2 test as to the degree of sensitivity and the different ages evaluated (p < 0,01) and in relation to the duration of the disease (p < 0,05). No statistically significant differences were found in relation to sex, body mass rate, associated pathology and smoking. Therefore, we may conclude that type 2 DM carriers more undergo early preventive physical therapeutic treatment in order to avoid complications resulting from the amputation of the affected limb (s). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Diabetes Mellitus (DM) é um distúrbio metabólico determinado geneticamente, associado à deficiência absoluta ou relativa de insulina, e que na sua expressão clínica completa é caracterizada por alterações metabólicas e complicações vasculares e neuropáticas. O componente metabólico é caracterizado não só pela hiperglicemia como também por alterações no metabolismo das proteínas e lipídeos. O componente vascular é constituído por macroangiopatia inespecífica, aterosclerose e suas diferentes manifestações clínicas microangiopatia que afeta particularmente a retina e rim [1]. Denomina-se pé-diabético as lesões do pé de pacientes diabéticos que ocorrem em conseqüência de neuropatia (90% dos casos), doença vascular periférica e deformidades. Estas lesões, que geralmente ocorrem mediante trauma, são complicadas por infecção e podem terminar em amputação, quando não for instituído tratamento precoce e adequado [2]. A neuropatia diabética é uma das complicações mais comuns do DM e tem várias apresentações clínicas. A intensidade e a extensão das anormalidades anatômicas e funcionais da neuropatia diabética estão Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 paralelas ao grau e a duração da hiperglicemia. A hiperglicemia aguda reduz a função nervosa. A hiperglicemia crônica está associada à perda de fibras mielínicas e amielínicas, degeneração walleriana e diminuição na reprodução das fibras nervosas [3]. A neuropatia diabética é descrita em qualquer idade incluindo as formas juvenis, porém, existe uma predileção pelos idosos [1]. Na avaliação clínica, verificou-se que 10% dos pacientes têm neuropatia na época do diagnóstico e 50% apresentarão após 25 anos do diagnóstico [4]. Estudos eletrofisiológicos demonstram anormalidades subclínicas, incluindo uma diminuição de condução sensorial nervosa e motora na maioria dos pacientes, após 5 a 10 anos de diabetes [5]. No Brasil, o monofilamento SemmesWeinsten (SW) começou a ser utilizado em 1993, na avaliação da neuropatia em portadores de Hanseníase em Minas Gerais [12]. Em 1985 iniciou-se a produção nacional dos monofilamentos SW (estesiômetro) no SORRI-Bauru Sociedade para Reabilitação e Reintegração do Incapacitado de Bauru. A avaliação de sensibilidade com o uso dos monofilamentos de nylon possui um papel fundamental na detecção precoce dos distúrbios da função nervosa. No Brasil, os monofilamentos SW são mais conhecidos como estesiômetro [6]. As possíveis explicações do surgimento das diferentes formas dessa complicação no Diabetes Mellitus, baseiam-se nas teorias das alterações nos vasos sanguíneos ou das anormalidades do metabolismo, ou de ambos [7]. A teoria vascular atribui à neuropatia diabética ao surgimento da microangiopatia com espessamento dos vasos nutrientes (vasa vasorum), que pode progredir para oclusão completa dos vasos [7]. Atualmente, a teoria mais aceita para a patogenia da neuropatia diabética é a maior atividade da via do poliol (sorbitol açúcar álcool da glicose). Para que haja a atividade excessiva da via do poliol (sorbitol) é necessário o estado diabético descontrolado associado às seguintes condições: 1) hiperglicemia (deficiência de insulina) e, 2) tecidos que contêm a enzima aldose redutase e tecido (nervoso, cristalino, aorta, hemácia), 159 nos quais a entrada da glicose nas células não é regulada pela insulina [7]. Em um indivíduo normal, aproximadamente 1% da glicose é desviada através da via do poliol, produzindo sorbitol e frutose. Nos pacientes diabéticos pode acumular-se uma quantidade excessiva de sorbitol nas células de Schwann, que produz um efeito tóxico, resultando em desmielinização segmentar e menor velocidade de condução nos nervos periféricos [7]. Todo organismo é acometido, porém as regiões distais dos membros inferiores são as mais afetadas [1]. A incapacidade em identificar os estímulos dolorosos ou qualquer outra lesão da extremidade inferior resulta na perda de um importante mecanismo protetor. A perda deste sinal de alerta inicial, faz com que problemas relativamente simples possam progredir rapidamente para situações que chegam a ameaçar o membro [7]. Material e Métodos A amostra populacional foi constituída de 58 pacientes portadores de Diabetes Mellitus tipo 2, avaliados quanto ao sexo, idade, IMC, tempo de doença, tabagismo e patologia associada. Os pacientes eram de ambos os sexos, com idade variando entre 30 e 79 anos, e atenderam aos seguintes critérios: não apresentar úlcera diabética; não apresentar amputação de qualquer segmento de membros inferiores e assinarem o termo de consentimento de acordo com o Comitê de Ética de Pesquisa em Humanos, nos termos da resolução 196/96. Foi realizada anamnese completa e individual de cada paciente onde foi cadastrado nome, sexo, idade, peso, altura, tempo da doença, se tabagista e patologia associada. O paciente foi observado quanto à sintomatologia de neuropatia diabética. Em seguida foram examinados o aspecto geral e o grau de sensibilidade através dos Monofilamentos de SemmesWeinstein (SW). Inicialmente foi demonstrada aos pacientes, a aplicação do monofilamento em outra parte do corpo (mão ou braço), para que 160 Fisioterapia Brasil - Volume 3 -Número 3 - Maio / Junho de 2002 eles se familiarizassem com o procedimento. Ficaram em decúbito dorsal, com os membros inferiores estendidos e olhos fechados. O estesiômetro utilizado é fabricado pela SORRI-Bauru, e é constituído por um conjunto de 6 monofilamentos de nylon especial, calibrados, protegidos por um tubo plástico. Existe um furo transversal nos tubos onde se encaixam os monofilamentos. Cada filamento possui uma cor que identifica a força axial necessária para envergá-lo. Iniciou-se com filamento mais leve azul normal para o pé, progredindo na ordem crescente de peso, até a obtenção de uma resposta positiva. Cor e interpretação Booth e Young [13] sugerem que o monofilamento requer 24 horas de descanso após o exame de 10 pacientes consecutivos, para que mantenha sua acuidade e qualidade de mensuração, o que foi seguido como método desta pesquisa. Foram avaliados 5 pontos: Hálux, cabeças do 1º, 2º e 5º metatarsos e na projeção plantar do calcâneo. O filamento foi aplicado perpendicularmente à superfície cutânea do paciente, pressionando levemente até atingir a força necessária para envergá-lo, e retirado em seguida. O filamento foi aplicado 3 vezes em cada local do teste, sendo que uma única resposta positiva foi suficiente para confirmar sensibilidade no nível indicado. Iniciou-se com o filamento mais leve, azul, normal para o pé, progredindo na ordem crescente de peso até a obtenção de resposta positiva. O intervalo de tempo entre cada contato foi variado aleatoriamente (deixando tempo para o paciente responder) reduzindo, assim, a probabilidade do paciente adivinhar o momento do contato. Na análise dos resultados foram utilizados testes paramétricos do χ2, com o objetivo de comparar os resultados obtidos com os filamentos correspondentes em relação a sexo, idade, IMC (índice de massa corpórea), tempo de diabetes, em 0,05 ou 5% o nível para a rejeição da hipótese de nulidade. Resultados Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na relação entre o grau de sensibilidade em diferentes idades estudadas (p < 0,01) e em relação à duração da doença (p < 0,05). Nas variáveis: sexo, IMC, patologia associada não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. Cor Interpretação Verde (Nominal 0,05 gr) Sensibilidade normal para mão e pé. Azul (Nominal 0,2 gr) Sensibilidade diminuída para mão com dificuldade quanto à discriminação fina. Dentro do normal para o pé. Violeta (Nominal 2,0 gr) Sensibilidade protetora para mão diminuída, permanecendo o suficiente para prevenir lesões. Dificuldade para discriminação de forma e temperatura. Vermelho Escuro (Nominal 4,0 gr) Perda de sensação protetora para as mãos e, às vezes, para o pé, vulnerável a lesões. Perda de discriminação quente/frio. Laranja (Nominal 10,0 gr) Perda da sensação protetora para o pé, ainda podendo sentir pressão profunda e dor. Vermelho Magenta (Nominal 300,0 gr) Perda da sensibilidade à pressão profunda, podendo ainda sentir dor. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Discussão O presente estudo utilizou-se de um conjunto de 6 monofilamentos produzido pela SORRI-Bauru com diâmetros diferentes entre si, que determinam padrões diferentes de força axial de 0,05g a 300g, sendo que o filamento de 0,05 g foi excluído por instrução do manual de uso, já que o monofilamento de 0,2 g é considerado normal para o pé, permitindo, assim, que fossem detectados graus diferentes de perda sensitiva, incluindo a perda da sensibilidade protetora crítica. A International Diabetes Federation [16] recomenda o uso do monofilamento de 10 g para analisar a perda de sensibilidade protetora crítica, que leva ao risco de úlcera plantar, ou seja, detectando pacientes com neuropatia periférica avançada. Porém iniciamos o presente estudo com o uso do monofilamento de 2 gramas, considerado sensibilidade normal para os pés, pois nosso objetivo era detectar alterações sensitivas de forma precoce, para intervenção fisioterapêutica preventiva, levando-se em 161 consideração que mesmo os pacientes em fases iniciais de perda de sensibilidade, estão mais suscetíveis a lesões nos pés e por isso devem ser submetidos a programas educacionais ou, se necessário, tratamentos mais efetivos. Segundo Rosero et al. [8], a úlcera foi observada predominantemente na região metatarsiana (70%) e calcânea (30%) dos 58 pacientes avaliados no estudo. Por este motivo foram utilizados pontos localizados nessas áreas de maior pressão para a avaliação do grau de sensibilidade. A sensibilidade também foi avaliada no hálux, devido ao fato da força de peso do corpo sair através dele, durante a fase de impulsão da marcha, exercendo grande pressão sobre esse ponto [7]. A característica dos 58 indivíduos diabéticos avaliada neste estudo foi comparativa com os dados fornecidos pelo Consenso Brasileiro de Diabetes [2], que considera a distribuição homogênea da doença em relação ao sexo. Observamos que tanto homens quanto mulheres possuem a * p < 0,01 pela análise do Qui-Quadrado. Fig.1- Número de pacientes por grupos etários com sensibilidade aos monofilamentos. 162 mesma probabilidade de perda sensorial nos pontos avaliados. No estudo realizado por Petters e Lavery [9], onde 213 pacientes foram avaliados, confirma-se que o aumento da idade incrementa os fatores de risco para o desenvolvimento do pé diabético. O presente estudo está de acordo com o achado acima citado, revelando um qui-quadrado com diferenças estatisticamente significativas entre as idades estudadas e o risco de neuropatia diabética (p < 0,01). A freqüência da obesidade é muita elevada nos diabéticos levando a resistência periférica à ação da insulina. Por esse motivo deve-se ter um empenho especial na manutenção do peso normal [2]. Procurouse relacionar neste estudo o aumento no Índice de Massa Corpórea em relação ao grau de neuropatia, não sendo encontrando diferenças estatisticamente significativas. Segundo Pirart, citado por Gautier [10], em um estudo realizado entre 1949-1973, foram avaliados 4500 pacientes com critérios diagnósticos essencialmente clínicos, onde Fisioterapia Brasil - Volume 3 -Número 3 - Maio / Junho de 2002 se demonstrou que a prevalência da neuropatia aumenta com a duração da evolução do Diabetes: de 7% para um diabético diagnosticado há menos de um ano, eleva-se até quase 50% após 25 anos de evolução. Os dois fatores essenciais citados por Pirart, que incidem sobre a freqüência e gravidade da neuropatia, são a duração da doença diabética e qualidade do controle glicêmico. Kozak et al. [7], em um estudo com pacientes diabéticos mais velhos, relataram que 8% dos pacientes tinham neuropatia ao ser feito o diagnóstico de Diabetes. Com o passar do tempo, esse número aumentava até 40%, após 20 anos de duração. Este estudo confirma a literatura acima citada, sendo encontradas diferenças estatisticamente significativas usando -se o teste do quiquadrado na relação entre o grau de sensibilidade e a duração da doença (p > 0,05). A hipertensão arterial afeta 20% da população geral e 50% da população diabética. A associação de hipertensão arterial e diabetes aumenta drasticamente o risco de morbi-mortalidade. A taxa de hipertensão nos * p < 0,05 pela análise do Qui-Quadrado. Fig.2 - Número de pacientes por tempo de diabetes com sensibilidade aos monofilamentos. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 diabéticos é de duas a três vezes maior do que os não diabéticos da mesma idade [11]. Neste estudo foi relacionada à hipertensão com neuropatia sensorial diabética e diminuição no grau de sensibilidade, não sendo encontradas diferenças estatisticamente significativas. Na revisão bibliográfica de Mayfield et al., citado por Grossi et al. [14] e Rosemberg [15], muitos estudos têm mostrado uma associação do fumo com o aumento do risco para doença macrovascular, doença vascular periférica, úlceras diabéticas ou amputação. Nesta pesquisa não foram evidenciadas diferenças estatisticamente significativas entre o tabagismo e o grau de sensibilidade, o que provavelmente se deve ao fato de termos na pesquisa um número significativamente inferior de pacientes tabagistas. Conclusão Foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na relação entre o grau de sensibilidade em diferentes idades estudadas (p < 0,01) e em relação à duração da doença (p < 0,05). Nas variáveis: sexo, IMC, patologia associada não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. Portanto, o uso de monofilamentos é um importante instrumento para detectar pé em risco, proporcionando prevenção ou tratamento fisioterapêutico precoce. Referências 1. Wajchenberg BL. Tratado de Endocrinologia Clínica.1ª ed., São Paulo, Roca, 1992. 2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso Brasileiro de Conceitos e Condutas para o Diabetes Mellitus: Recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes para a Prática Clínica. São Paulo, 1997 3. Clark JR, Lee DA. Prevention and treatment of complications of Diabetes Mellitus. The New England Journal of 163 Medicine 1995:1210-1217. 4. Marvin EL. Preventing amputation in patient with diabetes. Diabetes Care 1995; 18(10). 5. David MN. Long-term complications of Diabetes Mellitus, The New England Journal of Medicine 1998:1676-1685. 6. Moreira D, Campos LCF. A importância da avaliação da sensibilidade e do uso dos monofilamentos de Semmes-Weinstein. Fisioterapia em Movimento 1999; 12: 4353. 7. Kozak GP. et al. Tratamento do Pé Diabético; 2 a. ed, Rio de Janeiro: Interlivros, 1996. 8. Rosero CA, Gonzalez PV, Nery JAC et al. Mal Perfurante Plantar: estudo de 50 casos. Anais da Acad Nat. Méd 1996;156 (1):5-8. 9. Petters JG, Lavery LA. 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Disponível na Internet http://www.idf.org/ Capturado em 25 outubro de 2001. 164 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Artigo original Análise da capacidade funcional em uma população geriátrica institucionalizada em João Pessoa Analysis of the functional capacity in an institutionalized elderly community in João Pessoa Neide Maria Gomes de Lucena*, Ricardo Oliveira Guerra**, Alinne Bezerra de Lucena***, Carla Franklin da Silva***, Roberto Quirino do Nascimento**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Profª. do Departamento de Fisioterapia da UFPB, Doutora em Educação Física pela Universidade de Granada Espanha, **Prof. do Departamento de Fisioterapia da UFRN, Doutor em Educação Física pela Universidade de Granada Espanha, ***Fisioterapeuta, ***Fisioterapeuta, ****Profº. Doutor do Departamento de Estatística da UFPB Palavras-chave: Capacidade funcional, idosos, institucionalizados. Resumo O presente trabalho tem como objetivo identificar a situação de dependência e da capacidade funcional dos idosos residentes na Associação Metropolitana de Erradicação a Mendicância (AMEM), João Pessoa - PB. Como instrumento de medida para aferir as variáveis: enfermidades crônicas, saúde percebida, invalidez e dependência quanto às atividades da vida diária (AVDs); utilizou-se um questionário multidimensional adaptado de Johnson & Wolinski, incluindo o Índice de Katz e da entrevista como técnica para a coleta de dados. Um total de 39 idosos foram entrevistados, com informações colhidas através de entrevista direta e pela consulta aos prontuários de registro. A faixa etária mais freqüente correspondeu à 7ª e 8ª décadas de vida, sendo 59% do sexo masculino, com o declínio mental, as doenças circulatórias e a artrite como enfermidades crônicas mais freqüentes. O Índice de Katz nos revelou que 38,5% encontram-se parcial ou totalmente dependentes, estando 25,6% acamados atualmente. Pelos resultados obtidos, ressaltamos a importância do desenvolvimento de programas terapêuticos, que priorizem os cuidados com as Artigo recebido em 19 de abril; aprovado em 10 de maio. Endereço para correspondência: Profa. Dra. Neide Maria Gomes de Lucena, Rua Miguel Sátiro 150/303 Cabo Branco 58045-110 João Pessoa - PB, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 165 enfermidades e de programas de intervenção fisioterapêutica, a fim de prevenir e melhorar a capacidade funcional, além de permitir uma melhor qualidade de vida deste coletivo. Key-words: : Functional capacity, Institutionalized, elderly people. Abstract The present work has as objective identifies the dependence situation and of the resident elderly people functional capacity in the Metropolitan Association of Eradication the Begging (AMEM), João Pessoa - PB. As measure instrument to confront the variables: chronic illnesses, noticed health, disability and dependence with relationship to the activities of the daily life (AVDs), a questionnaire adapted multidimensional of Johnson and Wolinski was used, including the Index of Katz and interview as technique for the collection of data. A total of 39 elderly people was interviewed, with information picked through direct interview and for the consultation to the registration handbooks. The most frequent age group corresponded to the 7th and 8th decades of life, being 59% of the male sex, with the mental decline, the circulatory diseases and the arthritis as chronicles illnesses more frequent and the Index of Katz revealed us that 38,5% are partial or totally dependent, being 25,6% fallen ill now. For the obtained results, we pointed out the importance of the development of therapeutic programs that prioritize the cares with the illnesses and programs of physical therapy, in order to prevent and to improve the functional capacity and to allow a better quality of life of this collective one. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Os esforços da ciência no sentido de prolongar o limite da vida do ser humano parecem ser paradoxais diante das atitudes sociais com relação aos idosos. Estes são afastados da sociedade através de atitudes hostis e preconceituosas. Além disso, o próprio idoso parece marginalizar-se quando assume uma postura negligente consigo mesmo, isolando-se e descuidando-se de sua aparência. A velhice pode ser definida por Silveira & Bento [1] como um conjunto de modificações que se observam no ser humano por volta dos 60 anos em diante. De um modo geral, o desenvolvimento humano se caracteriza por contínuas modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas. Dentre as variáveis que motivam as transformações no processo de envelhecimento, Silva & Meirelles [2] mencionam as relacionadas com os mecanismos intrínsecos do nosso organismo e as relacionadas com fatores orgânicos extrínsecos. Atualmente, os idosos vivem, segundo Guerra et al. [3], os últimos anos de suas vidas em situações de dependência, ou seja, com 166 necessidade de importante ajuda para a realização das atividades de vida diária. Num futuro próximo, espera-se uma grande demanda de cuidados para manter a saúde destas pessoas. Assim, os tipos de incapacidades e a forma como elas estão influenciando as AVDs dos idosos devem ser considerados quando se faz o planejamento e a providência destes serviços. Na investigação dos fatores que têm influência na capacidade dos idosos, Guerra et al. [3] ressalta que é muito importante não só buscar as causas das enfermidades crônicas como também o próprio processo de envelhecimento e suas incapacidades originadas. Testes de valorização da função cognitiva, saúde física, entre outros, proporcionam informações de grande valor para o entendimento das causas da redução da capacidade funcional. A própria OMS [4] instituiu uma classificação internacional de deficiências, incapacidades e invalidez de onde se estabelece o seguinte modelo de relação entre enfermidade e saúde: Invalidez: Enfermidade ou desordem → deficiência → incapacidade → invalidez. Segundo o trabalho de Johnson & Wolisnki [5], existem 4 dimensões de saúde: enfermidade, invalidez, incapacidades funcionais e saúde percebida. Os determinantes de saúde têm efeitos sobre cada uma das dimensões de saúde devido a suas relações de causalidade. Para estes autores os tipos de incapacidade funcional são: incapacidades nas atividades de manutençãoconservação do ambiente e incapacidades nas atividades de cuidados pessoais. A invalidez é o maior efeito desfavorável associado ao envelhecimento. Idosos que tenham dificuldade de mobilidade devido a situações clínicas têm um alto grau de risco de torna-se inválidas ou de agravar o processo de incapacidade. A OMS em seu estudo sobre a incapacidade publicado no início da década de 80, considera a invalidez como um fenômeno social derivado das incapacidades e deficiências do sujeito. As maiores causas de incapacidade física são as enfermidades crônicas tais como a artrite, como afirma Guccione [6] e enfermidades Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 cardíacas; e ainda situações agudas como as fraturas do quadril, segundo Kiel e OSullivan, [7] e os acidentes cérebro-vasculares. Segundo Kane & Kane [8], a avaliação da incapacidade está vinculada no desenvolvimento das atividades da vida diária. A forma de avaliação da incapacidade é determinada pelos diferentes objetivos dos estudos. Nos estudos que têm como objetivo quantificar a incapacidade dos sujeitos se utiliza como forma de coleta de informação o nível de dificuldade que têm os sujeitos para realizar determinadas atividades. Se por outro lado, o objetivo do estudo é quantificar o nível de dependência dos sujeitos, se avalia, neste caso, o grau de intervenção necessária para diminuir ou amenizar a incapacidade. Material e método Para este estudo, a população foi constituída por 39 idosos residentes na Associação Metropolitana de Erradicação a Mendicância (AMEM) na cidade de João Pessoa PB, sendo 16 do sexo feminino e 23 do sexo masculino, com idades variando de 42 a 96 anos, no período compreendido entre janeiro a março de 2001. A coleta de dados foi realizada através de um instrumento de medida fundamentado no questionário multidimensional adaptado de Johnson & Wolinski [5] para aferir as variáveis: enfermidades crônicas, saúde percebida, invalidez e dependência quanto às atividades da vida diária (AVDs), incluindo o Índice de Katz, e da entrevista direta como técnica para a coleta de dados. Preenchido pelo investigador direcionado face a face aos idosos e/ou seus cuidadores, além da consulta aos prontuários. Utilizamos para a avaliação funcional dos idosos o Índice de Katz que avalia as AVDs relacionadas com os cuidados pessoais. A escolha deste instrumento se deve a sua grande utilização, seja separadamente ou incluindo os questionários multidimensionais e sua reconhecida validade e aceitação em trabalhos similares, como o de Guerra [9]. Os resultados obtidos foram analisados quantitativamente através de estatística descritiva a partir das medidas do aplicativo Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 SPSS for windows 8., que permitiu identificar e agrupar variáveis por afinidades. Por exemplo: enfermidades crônicas, saúde percebida, invalidez e AVDs além da abordagem qualitativa. 167 percebida pelos idosos na tabela 2, na qual estes referem, em sua maioria, um estado regular ou bom de saúde. Tabela II - Estado de Saúde Percebida Estado Percebido Resultados Muito mal Mal Regular Bom Muito bom Total n 1 9 14 14 1 39 % 2,6 23,1 35,9 35,9 2,6 100,0 Através das variáveis sócio-demográficas, identificamos que dos 39 idosos institucionalizados e entrevistados no AMEM, 59% eram do sexo masculino e 41% do sexo Fonte: AMEM, 2001. feminino e a idade média era de 69,5 anos. O tempo médio Tabela III -Invalidez analisada pela capacidade funcional de residência no AMEM era de 7,82 anos, sendo o idoso Tipo de Invalidez Observada muita pouca não institucionalizado a mais dificuldade dificuldade realiza tempo residindo há 25 anos Dificuldade de: % % % empurrar ou tirar um objeto 23,1 64,1 12,8 e o mais recente há apenas inclinar, agachar ou rodar 12,8 59,0 28,2 1 ano. O estado civil variou, estender os braços por cima dos ombros 15,4 69,2 15,4 sendo 71,8% solteiro, 15,4% manejar pequenos objetos 33,3 56,4 10,3 separado, 7,7% viúvo e Fonte: AMEM, 2001. apenas 5,1% casado. Quanto à escolaridade, 64,1% eram analfabetos e o restante (35,9%) possuía o 1º Os percentuais encontrados na tabela 3 grau incompleto. Destes idosos, 46,15% nos revelam que o tipo de invalidez mais utilizam medicamentos, 61,5% tiveram encontrada foi quanto à dificuldade de contato com médico nos últimos 6 meses e manejar pequenos objetos. 33,33% esteve acamado nos últimos 6 meses ou ainda se encontram acamados. Tabela IV - Índice de KATZ (AVD - banho) Quanto ao tipo de enfermidade crônica n % encontrada na tabela 1, o declínio mental, as Não recebe ajuda 20 51,3 doenças circulatórias e a artrite são as Recebe ajuda em parte do corpo 4 10,3 principais doenças observadas. Não toma banha só 15 38,5 Tabela I - Tipos de Enfermidades Crônicas Observadas Enfermidade Observada Declínio mental Doenças circulatórias Artrite Hipertensão Doenças cérebro-vasculares Doenças do coração Problema genito-urinários Problemas digestivos Doenças respiratórias Catarata / glaucoma Diabetes n 19 9 7 6 4 4 3 3 2 2 2 % 48,7 23,1 17,9 15,4 10,3 10,3 7,7 7,7 5,1 5,1 5,1 Fonte: Associação Metropolitana de Erradicação a Mendicância (AMEM), 2001. Podemos visualizar o estado de saúde Total 39 100,0 Fonte: AMEM, 2001. O Índice de Katz referente à tabela 4 nos mostra que a atividade de vestuário apresenta uma das mais altas porcentagens (46,2%) de idosos que necessitam de ajuda, seja esta total ou parcial. Já na tabela 5, este mesmo Índice nos revela que, relativo ao banho, existe a maior porcentagem de ajuda (48,8%). Na tabela 6, quanto à atividade de higiene, 25,6% dos idosos recebem algum tipo de ajuda para ir ao banheiro e 15,4% não vai ao banheiro, recebendo os cuidados higiênicos no leito. Em relação à transferência, 66,7% dos 168 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 idosos possuem mobilidade independente como mostra a tabela 7. Tabela V - Índice de KATZ (AVD - vestuário) n Sem ajuda para vestir-se Com ajuda parcial Com ajuda total Total 21 4 14 39 % 53,8 10,3 35,9 100,0 Fonte: AMEM, 2001. Tabela VI - Índice de KATZ (AVD - higiene) n Vai ao banheiro só Recebe ajuda para ir ao banheiro Não vai ao banheiro Total 23 10 6 39 % 59,0 25,6 15,4 100,0 Fonte: AMEM, 2001. Tabela VII - Índice de KATZ (AVD-transferência) n Move-se só Move-se com ajuda Não sai da cama Total 26 7 6 39 % 66,7 17,9 15,4 100,0 Fonte: AMEM, 2001. Conforme a tabela 8, observamos que 15,4% dos idosos têm acidentes ocasionais de incontinência e 23,1% não têm controle esfincteriano. Tabela VIII - Índice de KATZ (AVD - continência) n Controla Acidentes ocasionais Não controla Total 24 6 9 39 % 61,5 15,4 23,1 100,0 Fonte: AMEM, 2001. De acordo com a tabela 9, no que diz respeito à alimentação, 82,1% dos idosos não recebem ajuda e 17,9% dependem de cuidadores para alimentar-se. Tabela IX - Índice de KATZ (AVD - alimentação) n Alimenta-se só Ajuda total Total Fonte: AMEM, 2001. 32 7 39 % 82,1 17,9 100,0 Discussão As características sócio-demográficas da população de nosso estudo são valorizadas com objetivo de possibilitar a comparação com futuros trabalhos similares. O estado civil é um fator que intervém em vários processos de grande relevância da senescência. Este estudo demonstrou um baixo índice (5,1%) de indivíduos casados, assim como foram encontrados resultados semelhantes no trabalho de Bazo [10], onde a população geriátrica institucionalizada apresenta baixa porcentagem neste estado civil. Já a alta porcentagem de indivíduos solteiros (71,8%) pode indicar a marginalização que existe com os idosos e a negligência familiar para com eles, além do próprio idoso preferir o isolamento da sociedade, pois acredita, muitas vezes, ser um incômodo para sua família. Quanto à escolaridade, o estudo nos revela que a grande maioria (64,1%) dos idosos são analfabetos e o restante semi-analfabetos (35,9%). Isto nos mostra que, de acordo com Martinez [11], o baixo nível sócio-econômico ou a procedência rural, podem ser uma das possíveis causas que reflitam este elevado índice de analfabetismo. Observamos que, entre as enfermidades estudadas, o declínio mental (48,7%), as doenças circulatórias (23,1%) e a artrite (17,9%) são as que possuem maior prevalência, ratificando outros estudos como o de Guerra [9]. Em nosso estudo, a população da instituição considera seu estado de saúde de regular a bom, visto que apenas 38,5% encontram-se total ou parcialmente dependentes, enquanto que os demais são independentes. A grande dificuldade encontrada em manejar pequenos objetos pode estar relacionada com a perda da habilidade com o avançar da idade, além do elevado índice de artrite, acentuando os problemas referentes às dificuldades de preensão fina. Referente ao Índice de Katz, foi analisado a dependência quanto às atividades de vestuário, banho, higiene, transferência, continência e alimentação. Dentre estas atividades da vida diária, os dados Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 demonstram que banho e vestuário possuem os maiores índices de dependência funcional, parcial ou total, coincidindo com o resultado encontrado no trabalho de Guerra [9]. Estas atividades de maior prevalência devem-se ao fato de que existe uma limitação acentuada pelo avançar da idade. Conclusão A saúde percebida é um importante parâmetro psicossocial na avaliação do estado de saúde, na determinação do prognóstico e na análise da sobrevivência de uma população. Entretanto, a avaliação subjetiva da saúde parece estar marcadamente influenciada pela predisposição dos idosos em aceitar os prejuízos, as incapacidades e as deficiências como um fator normal de sua idade. Apesar das dificuldades encontradas para a realização deste estudo, visto que, há escassez de trabalhos publicados analisando estas variáveis e de bibliografia que abordem este tema, faz-se necessária à continuação do estudo como forma de ampliar os conhecimentos sobre os agravos à saúde da população geriátrica e suas capacidades e limitações funcionais. Pelos motivos expostos, é importante ressaltar os critérios de avaliação do indivíduo idoso, incluindo instrumentos de medidas, que envolvam as diversas dimensões que são peculiares a esse coletivo com a finalidade de desenvolver programas terapêuticos, que priorizem os cuidados com as enfermidades e de programas de intervenção fisioterapêutica, a fim de prevenir e melhorar a qualidade de vida dos idosos. 169 Referências 1. Silveira MIP, Bento VES. Síndrome Normal da Velhice: uma abordagem biopsicossocial e uma proposta psicoterápica. Arquivos Brasileiros de Psicologia. Rio de Janeiro 1982;34. 2. Silva VF, Meirelles E. 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Universidad de Granada, 1997. 170 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Artigo original Análise da produção científica de resumos publicados na revista Fisioterapia Brasil em 2001 The analysis of abstracts in scientific researches published in Fisioterapia Brasil, 2001 Rafael Cusatis Neto*, Polyana Santos Ferraz** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Professor de Cinesiologia, Métodos e Técnicas de Avaliação da Faculdade do Clube Náutico Mogiano e Universidade Santana, **Graduada em Fisioterapia pela Faculdade do Clube Náutico Mogiano e Fisioterapeuta da Clínica Vista Verde Palavras-chave: Produção científica, resumos, fisioterapia e metaciência. Resumo Estudos sobre produção científica são relevantes porque fornecem um mapeamento das contribuições, necessidades e déficits nas diversas áreas de conhecimento. Os objetivos da pesquisa foram caracterizar os autores quanto ao número e gênero, identificar as áreas da Fisioterapia de maior concentração, o delineamento de pesquisa empregado e os temas envolvidos nas pesquisas. A pesquisa foi do tipo documental em 63 resumos da Revista Fisioterapia Brasil publicados em 2001. Os resultados obtidos demonstraram uma tendência a publicação múltipla (85,7%), com predominância do sexo feminino (41,9%), a área de maior concentração foi a ortopedia e traumatologia (33,8%), o delineamento mais empregado foi o descritivo (n = 45) e os aspectos biomecânicos e fisiológicos foram as temáticas mais envolvidas nas pesquisas com 35,2% e 36,6% respectivamente. Foi aplicado o teste do χ2 para análise inter-grupo. Conclui-se que a Fisioterapia Brasil deve publicar mais pesquisa experimental e envolver todos os aspectos dos seres humanos, ou seja, biomecânicos, fisiológicos e psicológicos. Artigo recebido em 10 de abril de 2002; aprovado em 10 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Rafael Cusatis Neto, Faculdade do Clube Naútico Mogiano, Universidade Santana (UniSantana) e Instituto Mogiano de Fisioterapia Especializada (IMFE), Rua Isabel Cristina Xavier Franco, 19, Jardim Aracy, 08770-590 Mogi das Cruzes SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Key-words: : Scientific research, abstracts, physical therapy and metascience. 171 Abstract The studies about scientific research are relevants because they can provide a mapping about many contribuitions, needs and deficit in several range of knowledge. The main objective of this research was to characterize the authors, identify the areas of bigger concentration in Physical Therapy in number and gender, the outlining of the research applied and the subject involved in these researches. The research was a documentary about 63 abstracts published in Brasilian Physical Therapy Tourual, Fisioterapia Brasil, year 2001. The results obtained showed an inclination to multipled publication (85,7%), predominance of female (41,9%), the area of more concentration was orthopedy and traumatology (33,8%), the descriptive (n = 45) was the most used outlining and biomechanics and physiological aspects were the thematic involved in those researches with respectively 35,2% and 36,6%. It was applied the test of χ2 to analyses intergroup. We can conclued that Fisioterapia Brasil has to work with more experimental research and involve all the aspects about the human beens, in other words, biomechanics, physiological and psychological. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A Fisioterapia vem crescendo nas últimas décadas, seja na forma de tratamento ou em sua produção científica, embora em ritmo aquém do desejável, o que pode ser indício de que muitas das inovações tecnológicas estão carecendo de dados de pesquisa que validem seu uso. Se a ciência for analisada pelos princípios descritos por Staats, a Fisioterapia, como a Psicologia, pode ser considerada uma ciência pré-paradigmática, pois tem vários autores competindo entre eles e não há um tratamento sistemático das características da Fisioterapia, métodos específicos de observação e experimentação. O mesmo autor diz que uma ciência precisa de uma inter-relação construtiva, durante a qual, os cientistas podem se informar a respeito do trabalho dos outros, aprender a trabalhar a interdisciplinaridade [1]. No Brasil a produção científica está relacionada com atuação dos cursos de pósgraduação, quer pelo seu fazer científico, quer pelo seu papel na formação de professores e pesquisadores que irão atuar em outras entidades, universitárias ou não [2]. Além disso, a avaliação da produção científica permite conhecer o desenvolvimento de uma ciência ou de uma de sua parte. E isto precisa ser um trabalho constante [3]. 172 A pesquisa ocupa um papel ímpar na geração de conhecimento científico e tecnológico, fornecendo o substrato básico para o saber e o fazer, para o conhecimento e para a atuação do profissional [4]. No Brasil a pesquisa está intimamente relacionada à pós-graduação, quer pela produção em si (dissertações, teses, artigos, etc), quer pela formação de recursos humanos para a pesquisa. A Fisioterapia está sendo subrepresentada neste espaço. A profissão de fisioterapeuta caminha a passos largos no que se refere à assistência e está engatinhando, porém ganhando forma e qualidade na produção científica [5]. Estudos sobre as disciplinas oferecidas na graduação de Fisioterapia, mostram uma deficiência nas disciplinas referentes à pesquisa científica (metodologia e estatística), o que sugere pouca consideração em formar indivíduos aptos a desenvolver pesquisas [6]. Apesar das monografias serem uma exigência curricular, elas ficam relegadas a um segundo plano e não existem professores preparados e nem disponíveis para orientações, o que compromete o produto [7]. É importante lembrar que a monografia pode ser o primeiro momento de uma iniciação científica e um futuro mestrado e doutorado. A Fisioterapia deve formar profissionais descobridores e propositores de solução e não consumidores e copiadores de técnicas em moda. Para isso a formação científica na graduação e na pós-graduação é imprescindível [8]. O fortalecimento da profissão passa, necessariamente, pelo avanço e pela divulgação do conhecimento teórico e metodológico na área, bem como pela formação sólida de novos profissionais docentes e pesquisadores [9]. Se a Fisioterapia almeja ganhar respeito e consideração da comunidade científica, não pode seguir assumindo modelos empíricos baseados em delineamento científico inadequado. Vale dizer que é necessário ter uma produção respeitável qualitativa e quantitativamente [10]. O mesmo autor descreve que além da Fisioterapia produzir pouco, os artigos que são produzidos não resistem a uma análise crítica rigorosa. É evidente que os indica- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 dores que consolidam uma profissão no meio acadêmico passam não só pela formação de uma massa crítica, mas também pela produção científica. Todavia é necessária uma análise metacientífica desta produção para se poder aquilatar a situação. A Fisioterapia tem obrigação de avaliar seus métodos de tratamentos para assegurar os valores e utilidades. A mesma autora relata que a realização de pesquisas pode ser vista como tarefa conhecidamente importante na determinação do desenvolvimento e progresso de uma ciência e de um país, já que seus dados trazem em si, aspectos reveladores de uma realidade [11]. A ausência de um instrumento bibliográfico, que controle a produção de uma área de conhecimento e a divulgue, torna esta produção, se escassa, igualmente isolada, impedindo o intercâmbio entre os pesquisadores e entre instituições, e dificultando a integração das áreas de estudo [12]. É o que parece estar ocorrendo no Brasil, especialmente no que concerne à Fisioterapia. De nada adianta a comunidade científica dizer que a Fisioterapia precisa ser fundamentada em critérios científicos se não for capaz de mostrar a sociedade que é possível fazê-la como ciência [13]. O próprio envolvimento da ciência leva para o foco da atenção do cientista temas específicos que, por seu próprio evoluir, cedem espaço a outros ou ao fazer pelos modismos que também podem ocorrer na ciência. Há uma influência das relações entre ciência-sociedade, devendo ser atendidas, na medida do possível, as suas demandas na solução de problemas e na busca de uma melhor qualidade de vida para a sociedade [14]. Estudos sobre produção científica são relevantes porque fornecem um mapeamento das contribuições, necessidades e déficits nas diversas áreas de conhecimento, como também, possibilitam redefinir políticas de pós-graduação [15]. Vale salientar que a pesquisa trará subsídios para analisar como está a Fisioterapia conforme se reflete na produção científica, ou seja, áreas com déficit de pesquisa, tipos de delineamento inespecíficos para a saúde, aspectos humanos envolvimentos, dentre outros. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Material e Método A pesquisa é do tipo documental, tendo em vista uma análise de metaciência de 63 resumos de congressos e trabalhos publicados na revista Fisioterapia Brasil em 2001. Foi elaborado um protocolo para registro com os objetivos de analisar a autoria das produções, quanto ao gênero e número; caracterizar o delineamento da pesquisa em duas macro classificação, descritiva e experimental [16]; verificar as áreas de concentração da Fisioterapia que estão sendo enfocadas nas pesquisas e pelas inúmeras áreas de atuação que a Fisioterapia possui. Esse tópico tem um item como outras, que foi assinalado quando a pesquisa não permitiu descobrir qual a área de atuação enfocada, ou quando a pesquisa foi relacionada a alguma técnica de tratamento. Além de identificar os temas e variáveis envolvidas. Após a leitura dos resumos e a identificação das variáveis que foram estudadas, foi feito o registro no protocolo para cada variável estudada. Para garantir a fidedignidade do registro, o mesmo foi submetido a dois juizes independentes e experientes em produção científica (Juiz 2 e Juiz 3) para avaliação do registro, ambos mestres e doutorandos. O autor também foi considerado como juiz (Juiz 1). As distribuições dos resumos para os juizes foram feitas de uma maneira seqüencial, ou seja, sempre o primeiro e o último de cada edição. Estabeleceu-se como critério mínimo à obtenção de 75%, de acordo pelo menos entre os juizes para cada variável pesquisada, ou seja, se em algumas variáveis ocorresse de não atingir esta porcentagen estabelecida, a mesma seria excluída da pesquisa. Os dados coletados foram processados por meio de uma análise qualitativa e quantitativa. A análise quantitativa foi feita por meio de freqüência e porcentagem, sendo apoiada em teste inferencial não paramétrico, face à natureza dos dados. O teste de ÷2 foi aplicado para análise intergrupo, partindo da hipótese nula Ho de que não existe diferenças significantes entre os resumos, e como alternativa que poderiam ser diferentes, com referencia as variáveis em estudo. Para garantir a validade do resultado 173 da pesquisa e para que se possa assegurar a confiabilidade do saber geral, o nível de significância ou margem de erro foi de 0,05, aceito na área [17,18]. Resultados e Discussão Tabela I - Concordância entre os Juízes Juízes Variáveis Autoria Gênero Área de concentração Delineamento de pesquisa Aspectos desenvolvidos J1VsJ2 % J1VsJ3 % J2VsJ3 % 100 100 81 91 79 100 100 82 100 85 100 100 90 91 81 Na tabela I, sobre a concordância entre os juízes, os resultados demonstram que houve uma grande concordância nas variáveis autoria e gênero com 100% entre os três juízes. Observa-se que em todas as variáveis houve concordância acima dos 75% estipulados previamente. Os dados também demonstraram uma dificuldade quanto à concordância das variáveis áreas de concentração e aspectos humanos desenvolvidos, em ambos os juízes. A apresentação dos resultados de cada categoria analisada seguirá a mesma ordem descrita no protocolo, começando pelo número da autoria, que foram consideradas como única, quando o artigo possuía apenas um autor e autoria múltipla quando o artigo possuía dois ou mais autores. Tabela II Quanto ao tipo de autoria Caracterização dos autores quanto ao número Autoria única Autoria múltipla F % 09 54 14,2 85,7 Os dados revelaram uma superioridade em autoria múltipla (85,7%) sobre a autoria única (14,2%). Foi aplicado o teste χ2 para verificar a homogeneidade entre as variáveis o χ2o= 32,1, sendo significante a concentração de autoria múltipla (χ2c= 3,84, ngl = 1 e n.sig = 0,05), rejeitando Ho. Quanto ao predomínio do trabalho em cooperação, pode-se tomar como indício de linhas de pesquisa institucionalizada, de grupo de pesquisa articulada e de desenvolvimento na área [19]. 174 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Tabela III Quanto ao gênero dos Autores Gênero Feminino Masculino Sem identificação Total F % 89 40 83 212 41,9 18,8 39,1 99,9 Na tabela III, sobre a caracterização quanto ao gênero, os resultados demonstraram uma maior incidência do sexo feminino (41,9%). O sexo masculino obteve 18,8%. Em 39,1% não foi possível a identificação dos autores, já que alguns trabalhos possuem apenas o sobrenome, e ainda existiram nomes que podem ser tanto do sexo masculino quanto feminino. Foi aplicado o teste de χ 2 para verificar a homogeneidade entre as respostas das variáveis o χ2o= 20,09, sendo significante a concentração feminina (χ2c= 5,99, ngl = 2 e n.sig = 0,05), rejeitando H o . O fato de predominar a produção feminina, pode estar refletindo o predomínio de mulheres atuando na área. Tabela IV Quanto à área de concentração Área de concentração Neurologia Ortopedia e Traumatologia Cardio-respiratória Oncologia Ginecologia e Urologia Estética Dermatologia Geriatria Outros Total F % 11 24 20 4 6 2 1 1 2 71 15,5 33,8 28,2 5,6 8,4 2,8 1,4 1,4 2,8 99,8 * * * * * Excluído do tratamento estatístico devido à baixa ocorrência. Na tabela IV, sobre a área de concentração que estão sendo enfocadas os resultados, demonstraram que a ortopedia e traumatologia, com 33,8%, apresentam maior incidência, seguidos de cardiorrespiratória, com 28,1% e neurologia (15,4%). A ginecologia e urologia apresentaram-se com 8,4%. A oncologia obteve 5,6%, a estética 2,8% e as áreas de dermatologia e geriatria tiveram 1,4% de concentração.Outras áreas totalizaram 2,8%. Foi aplicado o teste de ÷2 para verificar a homogeneidade entre as respostas das variáveis o χ2o= 23,35, sendo significante a concentração de ortopedia e traumatologia (χ2c= 9,49, ngl= 4 e n.sig= 0,05), rejeitando Ho. Estudos sobre produção científica são relevantes porque fornecem um mapeamento das contribuições, necessidades e déficits nas diversas áreas de conhecimento, como também, possibilitam redefinir políticas de pós-graduação [20]. Além disso, a avaliação da produção científica permite conhecer o desenvolvimento de uma ciência ou de uma área sua. E isto precisa ser um trabalho constante [3]. Fig. 1 - Delineamento de pesquisa Na figura 1, sobre o delineamento de pesquisa, os resultados demonstraram uma grande tendência para as pesquisas de delineamento descritiva, que obtiveram uma freqüência de 45. Já as pesquisas com delineamento experimental tiveram uma freqüência de 18. Um delineamento de pesquisa em saúde deve permitir um contraste satisfatório, não-viciado, a ser feito entre grupos com e sem fator de risco ou intervenção [21]. Os resultados apresentados vão de encontro ao dos autores, que descrevem a importância da pesquisa experimental. Certamente poderia melhorar o quadro, com um melhor preparo dos pesquisadores em metodologia científica, amadurecimento do conhecimento e de seu fazer. Pesquisas com delineamento descritivo também são de fundamental importância, principalmente para a Fisioterapia. Isto porque ao se tratar de uma ciência nova, este delineamento permite descrever as variáveis que constituem uma determinada realidade e comparar a ocorrência de algumas variáveis em dois momentos ou situações diferentes em um contexto natural. Todavia, não Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 175 Na tabela V, sobre os aspectos envolvidos nas pesquisas, os resultados obtidos demonstraram uma tendência para os aspectos biomecânicos e fisiológicos com 35,2% e 36,6% respectivamente. Os aspectos psicológicos obtiveram 12,6%. Tiveram ainda trabalhos que não foram possíveis identificar os aspectos envolvidos ou não tinham aspectos humanos envolvidos (15,5%). Foi aplicado o teste de χ 2 para verificar a homogeneidade entre as respostas das variáveis o χ2o= 13,66, sendo significante a concentração aspectos fisiológicos (χ2c= 7,81, ng = 3 e n.sig = 0,05), rejeitando a H o . Pesquisas na área da saúde tem que levar em consideração todos os aspectos dos seres humanos, ou seja, os aspectos biomecânicos, fisiológicos e psicológicos. Para analisar as alterações patobiomecânicas é necessário preconizar a total interdependência de uma tríade unificada pelo aparelho músculoesquelético, com os aspectos orgânicosviscerais e psicocomportamentais, por meio da qual podem ser obtidos maiores complementos para explicar as deficiências da funcionalidade humana [22]. um trabalho em cooperação, que é importante para a pesquisa, pois assim, um pesquisador pode se interar a respeito do trabalho de outros pesquisadores e até colaborar com o mesmo. Quanto ao gênero feminino, o trabalho demonstra que pode haver um indício de mais pesquisadoras atuando na área de Fisioterapia. Quanto ao delineamento de pesquisa na Fisioterapia está se usando o delineamento descritivo que é importante, pois visa identificar quais variáveis constituem uma determinada realidade, e como a Fisioterapia é uma ciência em crescimento este delineamento torna-se importante. Porém devem existir mais trabalhos com delineamento experimental, pois ao se tratar de saúde, pesquisas que visam estabelecer relações causa-efeito com controle e manipulação de variáveis possuem um grande grau de confiabilidade. Deve-se investir em pesquisa experimental para que se possa contribuir para o crescimento da Fisioterapia como ciência. A Fisioterapia precisa trabalhar a interdisciplinaridade, pois necessita visualizar o ser humano como um todo e não apenas nos aspectos biomecânicos e fisiológicos, como vem sendo representada nas pesquisas. Salienta-se ainda que o aprimoramento deve ser constante, exigindo cada vez mais a conscientização dos pesquisadores e a parcela de contribuição de cada um, pois o sucesso das pesquisas deve-se ao apoio e a colaboração de toda comunidade científica. Enfim, as pesquisas têm um papel de destaque na divulgação do saber. Conclusão Referências Conclui-se que a Fisioterapia começa a trilhar um novo caminho em pesquisa e que mais trabalhos de metaciência devem ser realizados a fim de aquilatar a situação e as áreas que estão sendo enfocadas. A presente pesquisa demonstrou uma grande tendência na área de ortopedia e traumatologia necessitando mais trabalhos nas outras áreas. Existe um grande número de pesquisa com autoria múltipla, mostrando 1. Staats AW. Psychologys Chris. New York: Plensum, 1983. 2. Witter GP. Pós-graduação e produção científica: a questão da autoria. Catálogo de publicações dos docentes. Transinformação. 1989;1(1):29-37. 3. Lucca E. Competencia Social e Esporte: Análise de produção. Tese de Doutorado. Puc-Campinas: Campinas, 2000. 4. Witter GP. Pesquisa em Psicologia Escolar permitem chegar a relação de causa e efeito, nem para tratar o resultado das práticas profissionais. Tabela V Aspectos humanos envolvidos nas pesquisas Aspectos envolvidos Aspectos biomecânicos Aspectos fisiológicos Aspectos psicológicos Outros Total F % 25 26 9 11 71 35,2 36,6 12,6 15,5 99,9 176 no Brasil. In: Wechsler SM. Psicologia Escolar: Pesquisa, Formação e Prática. Campinas: Alínea, 1996. 5. Marques AP. Fisioterapia e reestruturação curricular. Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo 1998;5(1): -3. 6. Rebelatto JR, Botomé SP. Fisioterapia no Brasil. São Paulo: Manole, 1999. 7. Marques AP. Para onde caminha a Fisioterapia. Revista de Fisioterapia da Universidade de São Paulo 1998;5(2):70. 8. Rebelatto JR. Problemas e soluções. Revista Brasileira de Fisioterapia 1996;1(1):1-2. 9. Coury HJCG.. Fortalecendo nossa profissão e área de conhecimento: Pesquisa e divulgação. Revista Brasileira de Fisioterapia 2001;5(2):48. 10. Silva GAM. Da Fisioterapia que temos para a fisioterapia que necessitamos: um novo paradigma? Fisioterapia Brasil 2000;1(2):53-54. 11. List M. Fisioterapia: Uma profissão versátil em cuidados da saúde. Atualização Brasileira de Fisioterapia 1986;3(1):23-27. 12. Granja EC. Produção Científica: Dissertações e Teses do IPUSP (1980/ 1989). Tese de Doutorado. IPUSP: São Paulo, 1995. 13. Almeida GL. Uma agenda para a Fisioterapia do terceiro milênio no Brasil. Fisioterapia Brasil 2000;1(2):55-64. 14. Witter GP, Pécora GMM. Temática das Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 dissertações e teses em Biblioteconomia e Ciência da Informação no Brasil (19701992). In: Witter, G. P. Produção Científica. Campinas: Átomo, 1997. 15. Domingos NAM. Produção Científica: Análise de resumos de Dissertações e Teses em Psicologia (1992/1996). Tese de Doutorado, PUC-Campinas: Campinas, 1999. 16. Campos LFL. Métodos e Técnicas de pesquisa em Psicologia. Campinas: Alínea, 2000. 17. Siegel S. Nonparametric statistics for the behavioral sciences. New York: Mc Graw Hill, 1956. 18. Witter GP. Produção Científica. Campinas: Átomo, 1997. 19. Buriti MA. Produção Científica em Periódicos de Psicologia do Esporte e Educação Física Prevenção. Tese de Doutorado. PUC-Campinas: Campinas, 1999. 20. Domingos NAM. Títulos e Resumos Elaboração e Apresentação. Campinas: Lince, 1999. 21. Jekel JF, Elmore JG, Katz DL. Epidemologia bioestatística e medicina preventiva. São Paulo: Artes Médicas, 1999. 22. Barreiros CA, Victoni A. Fisioterapia Uma reflexão. Texto disponível na internet: htt://www.fisioterapia.com.Br/ publicações, 2001. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 177 Artigo original Ergonomia: antropocentrismo versus teoria sistêmica Ergonomics: anthropocentrism versus systemic theory Marcos Antonio Tedeschi* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta estatutário da Prefeitura de São José dos Pinhais, Paraná. Professor estatutário da Secretaria de Estado da Educação do Paraná Coordenador dos cursos de Fisioterapia e Administração da Faculdade Dom Bosco de Curitiba Palavras-chave: Conceito de ergonomia; fase tecnocêntrica; fase antropocêntrica; fase sistemocêntrica; teoria dos sistemas; sistemas probabilísticos e determinísticos. Key-words: : Concept of ergonomics, technicocentrism, anthropocentrism, systemcentrism, theory of the systems and its components, sstems of probability and determination. Resumo Este artigo aborda a evolução das visões da Ergonomia, tendo seu início com ênfase na técnica utilizada nos postos de trabalho, centrada no homem como o sujeito do estudo e, depois, passando para uma ênfase no sistema interno e externo ao posto de trabalho. Esta nova visão não espera resolver os problemas da Ergonomia, mas ampliar seu espectro de análise. Abstract This article approaches the evolution of the vision of the ergonomics, tends its beginning with emphasis in the technique used in the work positions, passing for a the emphasis centered in the man as the subject of the study and today, passing for an emphasis in the internal and external system to the work position. This new vision does not hope to solve the ergonomics problems, but to enlarge its analysis spectrum. Artigo recebido em 10 de janeiro de 2002; aprovado em 10 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Rua Avenida Água Verde 766, Bairro Água Verde, 80.620-200 Curitiba PR, Tel: (41) 423-1147, E-mail: [email protected] 178 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Introdução Fase tecnocêntrica Parece não haver dúvidas de que as organizações humanas são o tipo de sistema social que concentra a realização do trabalho em nossa sociedade industrial, e que continuará sendo na passagem para a sociedade pósindustrial, como observado por Drucker [1]. E nossos trabalhos deveriam ser dirigidos para estas organizações, a fim de manter e criar uma credibilidade recíproca. Sendo assim, são nas organizações que os estudos da Ergonomia, enquanto ciência, encontram seu objeto de estudo, ou seja, as forças humanas nas situações produtivas (postos de trabalho). Mas o que é Ergonomia? Qual o seu significado nestas organizações? Qual seu campo de atuação? Estas respostas são muito simples e ao mesmo tempo bem complexas. Contudo, apresentaremos uma tentativa de respostas e tendências para estas indagações. No estudo da Ergonomia, os elementos desencadeados são decorrentes de diversas ciências, tendo como início o processo físico (biológico) do trabalho, caracterizando-se por uma fase centrada na técnica ou tecnocentrismo. Esta característica ocorre porque os estudos iniciais do trabalho, realizados de forma científica, ocorreram no final do século XIX e início do século XX, com forte influência da engenharia, através dos princípios científicos da Administração e da Organização Racional do Trabalho, contendo duas fases: 1ª) Através do livro Shop Management (Administração de Oficinas) de 1903, de Frederick Winslow Taylor, onde o termo Ergonomia ainda não aparece, mas sim o estudo de tempos e movimentos, com suas cargas, para a análise das tarefas de cada operário, com um estudo cronometrado, decompondo analiticamente o trabalho dos operários, visando a racionalizá-lo e a simplifica-lo a fim de obter o maior rendimento com o menor esforço e a maior remuneração. 2ª) Período relativo ao livro The Principles of Scientific Management (Princípios Científicos da Administração), onde concluise a Organização Racional do Trabalho, na qual o operário deveria ser logicamente acompanhado através de uma estrutura geral das organizações. Este período teve contribuições de Henry Gantt (1910), Franck e Lillian Gilberth (1911, 1912, 1914, 1917 e 1919) e Hamington Emerson (1909 e 1912), os quais são responsáveis pela introdução do estudo de tempos e movimentos dos operários, como técnica administrativa básica para a racionalização do trabalho. Como todos os acima citados eram engenheiros de formação, tinham como princípios as técnicas aplicadas ao trabalho, ou seja, um tecnocentrismo. Conceito Considerando o elo entre a ergonomia e as organizações humanas, será prudente conceituar o trabalho como todo esforço inteligente capaz de produzir algo útil ou, conforme Codo [2], o trabalho é uma relação de dupla transformação entre o homem e a natureza, geradora de significado, ou, ainda, de forma sintética: o trabalho é o ato de transmitir significado à natureza. A Ergonomia, segundo a International Ergonomics Association, é um corpo de conhecimentos, que tem como objeto as interações que se estabelecem entre os seres humanos e outros elementos de um sistema [6]. Em um aspecto etimológico, encontramos em Montmolin [3] que Ergonomia é a fusão de dois radicais de origem gregos, a saber, ergon = trabalho/ força + nomos = lei, regra ou casa. Com esta composição podemos chamá-la de ciência do trabalho. Em um aspecto epidemiológico superficial, encontra-se a utilização deste termo, pioneiramente nos trabalhos de Murrel em 1949, a fim de estudar de forma interdisciplinar o trabalho e adaptá-lo as características fisiológicas e psicológicas do ser humano. Fase antropocêntrica Na época da publicação das conclusões da experiência de Hawthorne, liderada por Elton Mayo em 1932, iniciou-se um deslocamento gradual da visão tecnocêntrica para antropocêntrica, porque os estudos começaram a fazer Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 uma correlação entre produtividade e iluminação nos postos de trabalho, descobrindo seus efeitos psicológicos. Apesar do termo Ergonomia tenha sido pioneiramente utilizado por W. Jaztuzebowiski (1857), foi Murrel (1949) que designou à Ergonomia um domínio de intervenção constituído a partir de várias disciplinas, com o objetivo de estudar o trabalho, a fim de adaptá-lo às características fisiológicas e psicológicas do homem, caracterizando uma visão antropocêntrica, colocando o homem como sujeito da ação e o trabalho como objeto. Mas a relação aqui apresentada entre homem e trabalho está permeada pelo significado, tendo os mesmos a finalidade de transcender esta relação. Os significados são símbolos ou signos que eternizam uma relação, sem a qual não apresentaria nenhum caráter subjetivo de análise. Ainda em Codo [2], encontramos que a atividade humana é uma síntese provisória, forçosamente mediada em comparação a dos animais que é imediata, pois estamos condenados à mediação, construindo um significado para cada ação. Ao contrário dos animais, que simplesmente executam por determinações genéticas e fisiológicas. Há de considerar-se, também, a colocação de Dejours [4] quando escreve: No conteúdo significativo do trabalho em relação ao sujeito, entra a dificuldade prática da tarefa, a significação da tarefa acabada em relação a uma profissão (noção que contém ao mesmo tempo a idéia de evolução pessoal e de aperfeiçoamento) e o estatuto social implicitamente ligado ao posto de trabalho determinado. É importante extrair da citação acima a questão do estatuto social, para iniciar a explanação do deslocamento do antropocentrismo para uma Teoria Sistêmica ou Sistemocentrismo. Fase sistemocêntrica A Teoria Geral dos Sistemas tem como seu idealizador o biólogo alemão Ludwig Von Bertalanffy, o qual elaborou, em 1968, uma teoria interdisciplinar capaz de transcender aos problemas exclusivos de cada ciência e proporcionar princípios e modelos gerais (sejam físicos, biológicos, psicológicos, 179 sociológicos, químicos, etc), para todas as ciências envolvidas, de modo que as descobertas de uma ciência pudessem ser utilizadas pelas demais. Para Von Bertalanffy, a Teoria Geral dos Sistemas é uma nova visão de realidade que transcende os problemas tecnológicos, exige uma reorganização das ciências sociais e é operativa com vários graus de sucesso, ou seja, é a reunião complexa de elementos em interação, com troca de informações contínuas com o meio ambiente. Os pressupostos básicos da TGS são: 1. Integração das ciências naturais e sociais. 2. Tal integração parece orientar a teoria geral dos sistemas. 3. O objetivo é o campo não físico do conhecimento científico. 4. Desenvolvendo princípios unificadores das diversas ciências, essa teoria aproxima nos do objetivo da unidade da ciência. 5. Isso pode levar a uma integração muito necessária na educação científica. Dois modelos representam bem esta teoria: o modelo de Katz e Kahn, relatando três módulos de estudo de um sistema. O modulo de entrada, o de transformação e o de saída com um mecanismo de retroalimentação; e o modelo sociotécnico de Tavistock, calçado em dois subsistemas: o técnico (material ou natural) e o social (ou humano). Os sistemas se caracterizam por determinados parâmetros, os quais, são constantes arbitrárias que definem as subunidades ou componentes do sistema. Exemplificando em um sistema educacional e com seus parâmetros, teríamos: • Entrada/Insumo/input. Alunos, professores, equipe técnico-pedagógica e a equipe de apoio logístico como recursos humanos; a instituição de ensino com seus imóveis, móveis, utensílios, máquinas, equipamentos, instalações, terrenos, veículos, materiais de expediente, etc, como recursos materiais; os numerários para despesas correntes e de investimentos como recursos financeiros; e seus regulamentos, currículos, planejamentos, metodologias de ensino como recursos tecnológicos. 180 Processamento/ Transformação/ • throughput. Como os momentos do ensinoaprendizagem, quando os recursos anteriores se misturam, se interatuam e interdependem para formar os propósitos ou objetivos definidos. • Saída/ Resultados/ Produto/ output. É o final do processo/ processamento ou materialização do aluno em cidadão, como indivíduo formado, que é capaz de aprender à aprender, etc. • Retroação/ Retroalimentação/ Retroinformação/ feed back. É o mecanismo de autocontrole e auto-regulação das entradas e saídas, na tentativa de estabelecer um estado de homeostasia/equilíbrio interno dinâmico, ou seja, é verificar quais objetivos propostos pelo sistema educacional/ Instituição de Ensino foram alcançados, e por que foram alcançados, e quais objetivos não foram alcançados e por que não foram alcançados. Assim, parte da energia da saída retorna a entrada sobre a forma de informações quantitativas e qualitativas, a fim de tornar o sistema eficiente/eficaz/efetivo. • Ambiente/ Environment. É tudo que envolve externamente o sistema educacional. É a fonte de todos os recursos e o destino de todos os produtos; é para onde todas as funções do sistema estão, direta ou indiretamente, apontados; é o mundo político/ econômico/ social/ ecológico/ cósmico, que envolve os sistemas educacionais/ instituições de ensino. Na literatura que versa sobre novos paradigmas ou paradigma emergente, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Patrício [5] relata encontrar inúmeras denominações para essas novas abordagens, como, por exemplo: Sistêmica, Holística, Ecológica, Complexidade e Multidimensional. Na verdade, muda o nome e certas particularidades de conceitos e abordagens. No entanto, a essência é a mesma: questionar e propor novas visões para o caráter fragmentário do positivismo e sua abordagem mecanicista do ser humano e da vida; questionar o rigor na objetividade, da linearidade e da busca das verdades absolutas na produção do conhecimento. Esses paradigmas promovem discussão e reflexão sobre a neutralidade do cientista e daqueles que aplicam os conhecimentos, em detrimento de suas repercussões. A ética é colocada explicitamente na produção do conhecimento e, indo além, essas abordagens conduzem à concepção de saberes e de práxis, dando outros significados à epistemologia. Assim, a Ergonomia corre para uma visão sistemocêntrica ou holística, considerando o aspecto biopsíquico-social das forças humanas nos postos de trabalho. É do conhecimento de qualquer cientista, que ao operar num sistema aberto e complexo, o número de variável estudadas e operacionalizadas cresce enormemente, bem como seu controle e análise. Contudo, o reducionista na volta de uma visão antropocêntrica ou ainda tecnocêntrica da Ergonomia, pode levar a obter interpretações equivocadas sobre as forças que incidem nos postos de trabalho. Mas para se chegar a uma Teoria Sistêmica dentro da Ergonomia é necessário passar pelas visões tecnocêntrica e antropocêntrica, como degraus de uma visão transcendente ao posto de trabalho. Uma das ciências que podem nos fornecer alguns substratos é a Cibernética, que pode ser definida como uma ciência da comunicação e do controle que atua, principalmente, sobre os sistemas, as transferências de informações inter e intra sistemas, ou seja, permite que conhecimentos e descobertas de uma ciência possam ter condições de apli- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 cação a outras ciências. Um sistema é um conjunto de elementos dinamicamente relacionados, formando uma atividade para atingir um objetivo, operando dados/ energia/ matéria para fornecer informações/ energia/ matéria. Os sistemas podem ser estudados por suas complexidades e sobre as características probabilísticas ou determinísticas, originando seis categorias diferentes, segundo Stafford Beer: · Sistema determinísticos simples: Cálculo de queda livre ou jogo de bilhar. · Sistema determinísticos complexos: Os computadores eletrônicos. · Sistemas determinísticos excessivamente complexos: O cosmos físico. · Sistema probabilísticos simples: Jogar uma moeda ou um dado. · Sistema probabilísticos complexos: O conceito de lucro ou o conceito de riqueza. · Sistema probabilísticos excessivamente complexos: Ergonomia, Economia, etc. As propriedades dos sistemas cibernéticos são excessivamente complexos, probabilísticos e auto reguladores, e sofrem uma hierarquia de nível estático até simbólico, como apresenta-se abaixo : Sistemas fechados 1 Sistemas estáticos 2 Sistemas dinâmicos simples 3 Sistemas cibernéticos simples Sistemas abertos 4 Sistemas abertos 5 Organismos inferiores 6 Animais 7 Homem 8 Sistemas sócio culturais 9 Sistemas simbólicos Á medida que sobe aos níveis elevados, torna-se progressivamente precária e insuficiente as teorias. Nota-se que cada nível tem a característica de ser um sistema de sistemas. A Cibernética dá muita importância aos modelos ou paradigmas, sejam físicos ou matemáticos, para a compreensão do funcionamento dos sistemas. Os modelos são representações simplificadas de alguma parte 181 da realidade. Stan aponta três razões para utilização de modelos: 1 - A manipulação de entidades reais (pessoas ou organizações) é socialmente inaceitável ou legalmente proibida. 2 - O volume de incerteza com que a Administração está lidando, cresce rapidamente e aumenta desproporcionalmente as conseqüências dos erros. A incerteza é o anátema da Ergonomia e de todas as ciências sociais. 3 - A capacidade de construir modelos que constituem boas representações da realidade aumentou bastante com os avanços da física, estatística e computação. Conclusão Assim, reconhecendo as deficiências da utilização da nova visão sistemocêntrica, através da incorporação das visões tecnocêntrica e antropocêntrica, a Ergonomia passará por uma melhora qualitativa de suas análises ergonômicas do trabalho dentro das organizações. Não é de pensar que a troca de visão soluciona os problemas da Ergonomia, muito ao contrário, aumenta o grau de incerteza e precisão, mas recontextualiza a sua importância e seus estudos. Referências 1. Drucker PF. Administração de organizações. São Paulo: Pioneira,1994. 2. Codo W. Psicologia Social. In: Lane STM. & Codo W. O Homem em Movimento.São Paulo: Brasiliense, 1987. 3. Montmolin M. A ergonomia. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. Morgan G. Imagem da organização. São Paulo: Atlas, 1996. 4. Dejour C. La charge psychique de travail. Trad. Ideli Domingues (s/cid e s/ed. 1994), Paris: Entreprise Moderne d´Édition, 1980. 5. Patrício ZM et al. 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A inteligência no trabalho: textos selecionados de ergonomia. Trad. Roberto Leal Ferreira, São Paulo : Fundacentro, 1994. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 183 Revisão A sintomatologia da síndrome de Pusher e o seu impacto no processo de reabilitação: revisão da literatura Angela Bersot Ribeiro*, Gláucia Ramos Pereira Henriques*, Ana Lúcia Corrêa*, Renata Coury Figueiredo Sanglard*, João Santos Pereira** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, Mestranda em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco Rio de Janeiro, **Doutor em Medicina pela UNIFESP, Professor Titular do PROCIMH, Universidade Castelo Branco Rio de Janeiro Palavras-chave: Síndrome de Pusher, heminegligência corporal, equilíbrio, marcha, acidente vascular encefálico. Resumo A síndrome de Pusher (ou síndrome de não alinhamento) é um conjunto de sintomas observáveis em alguns pacientes que sofreram um Acidente Vascular Encefálico (AVE). As seqüelas por AVE podem apresentar os mais variados tipos de sintomatologia, dependendo do local do Sistema Nervoso Central (SNC) onde ocorreu a lesão. O tamanho e o lado da lesão também irão determinar variantes de sintomatologia. Observa-se que a grande maioria dos pacientes que apresentam a sintomatologia da síndrome de Pusher tem hemiplegia à esquerda, apesar de poderem ser encontrados alguns poucos pacientes pusher com hemiplegia direita. Esta revisão de literatura associa os sintomas desta síndrome com a área e o lado da lesão cerebral. Também discute o impacto destes sintomas no processo de reabilitação e a necessidade da intervenção terapêutica específica. É feita também uma associação dos principais sintomas da síndrome de Pusher como fatores de interferência no prognóstico de recuperação funcional do paciente vítima de um AVE. Artigo recebido em 12 de abril de 2002; aprovado em 10 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Angela Bersot Ribeiro, Rua Bráulio Cunha, 67, Ano Bom, 27320470 Barra Mansa RJ, Tel: (24)3323 0377, E-mail: [email protected] 184 Key-words: : Pusher syndrome, hemineglect, balance, gait, stroke. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Abstract The Pusher syndrome (or non alignment syndrome) is a group of symptoms observed in some patient that suffered a stroke. The sequels for stroke can present the most varied sintomatology types, depending on the place of the Central Nervous System where the lesion happened. Size and side of the lesion will also determine sintomatology variants. It is observed that the patients great majority that they present the sintomatology of the Pusher syndrome has hemiplegy to the left, in spite of they could be found some few patient pusher with right hemiplegy. This literature revision associates the symptoms of this syndrome with area and side of the cerebral lesion. The impact of these symptoms are also discuted in the rehabilitation process and need of specific therapeutic intervention. It is also made an association of the main symptoms of the Pusher syndrome as interference factors in the prognostic of the functional recovery in patients victims of a stroke. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A síndrome de Pusher foi descrita pela primeira vez por Davies [1]. Em seu livro Passos a Seguir [2] ela diz: O problema é (...) complexo, e a observação de pacientes durante muitos anos mostrou que aqueles que têm dificuldade em alcançar independência deambulativa também demonstrarão outras dificuldades em comum. Essas dificuldades são tão uniformes que elas poderiam ser classificadas juntas como uma síndrome, a síndrome de Pusher, nome que deriva de um sintoma evidente (o ato de empurrar). O paciente empurra fortemente para o seu lado hemiplégico em todas as posições e resiste a qualquer tentativa de correção passiva da sua postura, isto é, correção que traria o seu peso no sentido ou por sobre a linha mediana do seu corpo para o lado não afetado. Além deste principal sintoma ela também descreve todos os sinais típicos que este paciente apresenta. Os sintomas mais característicos da síndrome são o abandono contralateral à lesão, a assimetria de tronco agravada pelo ato de empurrar e a heminegligência corporal com importante falha proprioceptiva. Eles estarão sendo estudados a seguir mais detalhadamente, especialmente quanto ao o impacto destes sintomas no processo de reabilitação. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Considerações gerais Ao se descrever a síndrome de Pusher falou-se que muito mais pacientes com hemiplegia à esquerda do que à direita apresentam a sintomatologia característica. Isto poderia implicar em que a manifestação da síndrome teria relação com a especialização hemisférica. Embora nenhuma parte do sistema nervoso funcione de forma isolada, é sabido que cada hemisfério cerebral tem diferentes capacidades cognitivas e são diferentemente especializados. Estudos com o amital sódico puderam contribuir para a relação entre a desteridade e a especialização hemisférica [3]. Estes estudos puderam confirmar que 96% das pessoas destras têm a área da fala localizada no hemisfério esquerdo, e o mais surpreendente, que a maioria dos canhotos também. Kandel [4] ainda coloca que o lado do cérebro que controla a fala é também aquele que controla a movimentação fina da mão dominante. Os pacientes canhotos, além disso, demonstram maior variabilidade de respostas em testes visuais para se determinar dominância cerebral do que os destros, cujas respostas são mais típicas, levando a acreditar que nem sempre o canhoto tem sua dominância cerebral à direita [3]. Por conta disso, percebe-se que a grande maioria das pessoas apresenta dominância cerebral esquerda, mesmo os canhotos. Uma vez que não faz parte do quadro clássico da síndrome a dificuldade na fala (por exemplo: afasias), poderia esta síndrome estar associada a lesão do hemisfério não dominante, o direito na grande maioria das pessoas. Não apenas o lado hemisférico parece estar relacionado às manifestações da síndrome de Pusher. O local da lesão parece determinar os sintomas apresentados, ou seja, encontram-se semelhanças muito importantes entre a descrição da síndrome feita por Davies [1] e as descrições que encontramos quando estudamos lesões no lobo parietal direito. Davies [1] não associa os sintomas que descreve a respeito da síndrome com nenhuma área específica do cérebro, porém ao falar sobre dois 185 importantes sintomas heminegligência corporal e heminegligência espacial unilateral ela cita Mountcastle (1978), que descreve o profundo abandono contralateral, relacionando-o a lesões do lobo parietal. Segundo Kandel et al. [4], lesões no lobo parietal não -dominante (geralmente o direito) exibem notáveis distúrbios, caracterizados por um impressionante déficit da imagem corporal e da percepção das relações espaciais, denominando estes sintomas como síndrome da negligência. Esta descrição assemelha-se a realizada por Davies [2] sobre a síndrome de Pusher. Estudos baseados a partir do PET (tomografia por emissão de posítrons) demonstram que o lobo parietal direito é capaz de dirigir a atenção tanto para o campo visual direito como para o esquerdo, enquanto que o lobo parietal esquerdo só é capaz de controlar a atenção para o lado direito [5]. Um estudo de Sakashita [6] também coloca que o hemisfério cerebral direito conta com aparato neural para atender aos dois hemiespaços, enquanto que o hemisfério esquerdo atende quase que exclusivamente ao hemiespaço direito contralateral. Ainda acrescenta que negligência espacial unilateral após injúria cerebral à esquerda não tem sido relatada e, citando Gainotti (1968) diz que ela só aparece quando existe uma sequela de hemianopsia homônima direita, ou seja, um déficit de campo visual que ocorre nas duas metades direitas dos campos visuais [7]. Contudo, a negligência espacial unilateral ocorre na injúria cerebral à direita mesmo na ausência de déficits no campo visual. O estudo de Sakashita [6] analisa pacientes com distúrbios da atenção visual nas lesões unilaterais dos núcleos da base e da substância branca profunda, tanto no hemisfério cerebral direito como no esquerdo. Ele conta que pacientes com injúria à direita mostram respostas mais lentas à estimulação nos hemiespaços direito e esquerdo do que aqueles com injúria à esquerda. Estes últimos mostram tempo de resposta mais lento na estimulação pelo lado direito, mas não tão lento na estimulação pelo lado 186 esquerdo. Os pacientes com injúria cerebral à direita mostram tempo de resposta acentuadamente prolongado nos dois hemiespaços, sendo mais óbvio, é claro, no hemiespaço esquerdo. Sakashita [6] associa a existência destes sintomas nas lesões de estruturas subcorticais (núcleos da base e substância branca profunda) por causa da importante conexão que elas apresentam com o córtex parietal, além dos córtices frontal e do cíngulo. Conclui-se daí que na presença de lesões à esquerda ainda se permite o controle do campo visual e do hemiespaço, tanto direito quanto esquerdo, já que existem duas representações distintas no hemisfério direito íntegro. Ao contrário, porém, lesões à direita, evidenciam déficit visual completo à esquerda e do controle do hemiespaço esquerdo, pois apenas o hemisfério direito controla o campo visual esquerdo, ou melhor ainda, o hemisfério direito atende quase que exclusivamente a este hemiespaço. A importância disto está no fato de que apesar do déficit visual por si só não explicar todas as manifestações da síndrome da negligência, ele contribui de modo muito significativo para a síndrome clínica, como um todo. O ato de empurrar O ato de empurrar é o principal e mais descrito sintoma da síndrome de Pusher, que inclusive deve seu nome a ele. Bohannon [8] relata a existência do sintoma de lateropulsão ou empurrão pelo lado sudável para o lado contralateral à lesão, que alguns pacientes que sofreram um AVE podem apresentar. Estudos de alguns autores associam a existência deste sintoma significativamente às lesões cerebrais à direita [8,9]. Estes pacientes (com lesão cerebral à direita) empenham-se arduamente em buscar o seu centro de equilíbrio, e uma vez que possuem uma importante perda sensorial, não são capazes de estimar a correta base de suporte, percebendo-a erroneamente numa posição sempre mais à esquerda do seu centro, como se esta fosse a base de suporte mais segura. Observando-se a sintomatologia do paciente pusher, percebe-se facilmente Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 que este sintoma aqui descrito pode ser enquadrado como fazendo parte desta síndrome, ou que a síndrome abrange o sintoma descrito. O artigo de Pérennou et al. [10] confirma a existência de uma postura vertical inclinada que o paciente com lesão cerebral hemisférica tende a assumir, tanto na posição sentada como de pé. O autor não relata nestes pacientes a existência do empurrão (pushing) para o lado oposto à lesão, porém compara que, quanto maior a perda sensitiva (e, neste caso, mais especificamente a perda proprioceptiva) apresentada pelo paciente, maior a inclinação postural contralesional. Pode-se perfeitamente admitir que as dramáticas negligência espacial unilateral e heminegligência corporal (também descritas na síndrome de Pusher) justifiquem esta postura vertical inclinada e mais ainda, que apenas a inclinação passiva do tronco não baste para que o paciente encontre aquilo que julga ser o seu centro de equilíbrio, mas precise procurar este centro ativamente, através do empurrão. As informações referentes à manutenção da postura vertical viriam dos receptores dos órgãos otolíticos e/ou somáticos. Estes receptores somáticos seriam sensores para a gravidade localizados no tronco (como por exemplo, órgãos tendinosos de Golgi), que competiriam com as forças gravitacionais. Para a manutenção de uma postura ereta é necessária a integração intacta dos sinais provenientes destes sensores [10], o que não ocorre no paciente pusher. Bohannon [4], assim como Pérennou [10], cita que pacientes com importante heminegligência parecem apresentar um distúrbio egocêntrico de percepção, ou seja, uma dificuldade para perceberem sua posição no espaço, o que seria chamado de negligência espacial. O impacto dos sintomas no processo de reabilitação Indicadores prognósticos Uma série de fatores podem ser utilizados na fase inicial, e até tardia do AVE, como Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 indicadores prognósticos da futura condição motora, que pode se caracterizar, por exemplo, pelo ganho de marcha ou independência nas atividades de vida diária (AVDs). Entre outros fatores, encontram-se, alguns em especial como tendo grande relevância, tais como: comprometimento do equilíbrio na posição sentada e de pé; déficit motor do braço afetado; distúrbios de percepção; distúrbios proprioceptivos; déficit motor geral que o paciente apresenta no primeiro dia da avaliação [11] Indubitavelmente, o paciente com síndrome de Pusher apresenta grande parte destes sintomas, que são os fatores descritos como de grande importância para o prognóstico, e principalmente aqueles que são objetos deste estudo: comprometimento do equilíbrio associado à postura assimétrica do tronco, que é agravada pelo ato de empurrar; distúrbios de percepção, resultando no abandono contralateral à lesão; distúrbios proprioceptivos que resultam na heminegligência corporal. Segundo Wade et al. [12], a avaliação do déficit motor instalado no paciente que sofreu um AVE é considerado um importante fator para o prognóstico no tocante à aquisição das AVDs. Fazendo parte deste déficit motor encontraremos o comprometimento do equilíbrio sentado, que ocorre por uma deficiência no controle da atividade reflexa do tronco. Outro fator primordial seria a função do braço afetado. Feigin et al. [13], confirmam que a qualidade do equilíbrio sentado tem alto poder indicativo sobre a capacidade de marcha até 6 meses pós-AVE. Estudos realizados por Brosseau et al. [14,15], encontram a correlação entre o prognóstico de alta do paciente do programa de reabilitação e a sua condição funcional na data de admissão a este programa. Com isto conclui-se que quanto maior a independência funcional no início da reabilitação, mais curta a duração deste programa, sendo que distúrbios na percepção podem contribuir para o aumento da duração do impedimento motor que prolonga a data da alta. Os distúrbios na percepção afetam a marcha e o equilíbrio, sendo fundamental uma boa 187 condição da primeira e pré-requisito para a alta e o retorno para casa. A perda da capacidade deambulativa é um importante indicador. Segundo Davies [2] a maioria dos pacientes com hemiplegia são capazes de alcançar marcha independente, por isso é importante considerar por que a minoria deixa de aprender a andar com métodos convencionais, parecendo necessitar de uma abordagem mais intensa e específica. Já foi dito acima que o paciente pusher apresenta importantes distúrbios, que caracterizam a síndrome, distúrbios que são considerados fatores de relevância para o prognóstico. Percebe-se claramente então porque, ao se avaliar um paciente pusher, o prognóstico na maior parte das vezes apresenta-se sombrio, uma vez que estes distúrbios apresentam-se bastante graves. Davies [2] coloca que grande parte das vezes estes pacientes são considerados inelegíveis para a reabilitação, uma vez que apresentam muito mais complicações do que os outros pacientes. Por outro lado, verifica-se no estudo de Saeki et al. [16] que ao se avaliar o prognóstico de pacientes após o primeiro AVE, baseandose no índice de Barthel quanto às aquisições das AVDs, em diferentes locais de lesão cerebral, o estudo conclui que a associação é negativa apenas para os pacientes portadores de lesão no lobo parietal direito. Este fato poderia explicar porque grande parte das vezes o paciente pusher é abandonado à própria sorte. Observa-se mais uma vez coincidências nos estudos entre lesão do lobo parietal direito e síndrome de Pusher. Pedersen et al. [17] também associam a presença do sintoma do empurrão especialmente a lesões no lobo parietal direito, e ainda comprovam que pacientes portadores deste sintoma apresentam lentidão maior no seu processo de reabilitação, ainda na fase de hospitalização quando comparados àqueles sem este sintoma. Negligência espacial unilateral (abandono contralateral à lesão) Estudos de Robertson et al. [18] que tratam da reabilitação específica do paciente com 188 negligência unilateral esquerda trazem interessantes informações. Inicialmente os autores afirmam que o sintoma da negligência não impede que o paciente seja capaz de desenvolver padrões motores compensatórios para determinado tipo de estímulo e/ou treinamento, porém estes pacientes têm grande dificuldade e às vezes incapacidade de desenvolver estratégias gerais de comportamento. Observa-se no paciente pusher que muitas vezes, mesmo possuindo movimentos seletivos na sua mão ou no seu pé, ele tem dificuldades importantes para as AVDs, quer dizer, para o uso funcional do seu próprio corpo. Robertson et al. [18] descrevem em um tipo de treinamento em que o procedimento era diferenciado para pacientes com sintomatologia semelhante. Dois aspectos desta sintomatologia foram o objeto de estudo desta pesquisa e consistiram no alvo do treinamento recebido pelos pacientes: a negligência espacial e visual à esquerda e os distúrbios da propriocepção, aspectos que se apresentavam mais ou menos severos em cada paciente. O estudo quis demonstrar que o estímulo visual pode ser irrelevante para a diminuição da heminegligência, e que apenas este tipo de estimulação pode não ser suficiente para a melhora da performance motora do paciente. Em dois pacientes foram utilizados protocolos de tratamento que ancoravam a estimulação sensório-motora no estímulo visual; no terceiro paciente não houve esta ancoragem. Neste último paciente os resultados foram bastante semelhantes aos outros dois (redução da negligência), sustentando a hipótese acima descrita. Todos os pacientes, após o treino específico, obtiveram melhoras no seu sintoma de negligência. Um dado ainda interessante a respeito do estudo deve ser analisado: a melhora a heminegligência estava diretamente relacionada à estimulação do braço esquerdo no hemiespaço esquerdo. Estímulos do braço esquerdo no hemiespaço direito e do braço direito no hemiespaço esquerdo não produziram redução da negligência. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Heminegligência corporal (perda proprioceptiva) Carey et al. [19] comentam que 65% dos pacientes com AVE sofrem perda proprioceptiva e de sensações táteis nos mais variados graus. A perda sensorial do dimídio afetado e ainda mais, a perda da função perceptual deste dimídio contribui para resultados inferiores nas análises funcionais, prolonga o tempo de reabilitação, com implicação negativa na exploração manual dos objetos, controle dos movimentos da mão e reabilitação da função motora geral. É interessante lembrar que a função do membro superior é um dos fatores indicativos de prognóstico, assim como são os distúrbios de percepção e proprioceptivos. Entretanto, os autores demonstram que o treino somatossensorial específico, ou seja, discriminação tátil e discriminação proprioceptiva, foram efetivos para a melhora da perda sensorial tátil e proprioceptiva em todos os pacientes que participaram do projeto, inclusive no único paciente que apresentava negligência espacial unilateral. A negligência corporal como um sintoma isolado quando trabalhada especificamente, permite que o paciente adquira subsídios sensoriais essenciais para a construção de padrões motores funcionais. Heilman et al. [20] comparam tarefas verbais e visuoespaciais na melhora da heminegligência em pacientes com lesão hemisférica direita. Comentam que o hemisfério cerebral direito é melhor estimulado por tarefas visuoespaciais, enquanto que o esquerdo por tarefas verbais, de modo que o hemisfério direito será mais eficazmente ativado quando sistematicamente estimulado sob o ponto de vista visuoespacial, podendo, talvez, colaborar para a diminuição da heminegligência, e ainda que tarefas verbais poderiam incrementar os sintomas da negligência, uma vez que estimulam predominantemente o hemisfério esquerdo. Os achados de sua pesquisa comprovam a hipótese postulada por Kinsbourne [21], em que pacientes com lesão hemisférica à esquerda apenas estimulados verbalmente teriam a assimetria entre o lado direito e o Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 lado esquerdo minimizada. Apesar de outro estudo [18] relatar que o sintoma da negligência espacial e visual pode ser minimizado através de estímulos que não envolvam o sistema visual e, até mesmo, que tarefas apenas visuais não teriam grande impacto neste sintoma, é interessante registrar que, se comprovadamente as tarefas visuoespaciais estimulam predominantemente o hemisfério direito, poderiam ser mais eficazes as tarefas que unissem ou aliassem tanto estímulos visuoespaciais como proprioceptivos. Por outro lado, é interessante notar que comandos verbais são na maioria das vezes dispensáveis e podem até confundir o paciente. Davies [2 aponta como um dos sinais típicos do paciente pusher, a sua necessidade constante de instruções verbais, mesmo que para o terapeuta a informação oferecida pelas suas mãos pareça suficiente. Ela diz que quando o paciente deu um passo para a frente com o seu pé direito e a terapeuta lhe pede para dar outro passo, ele pode perguntar qual o pé que ele deve mover. Seu dramático distúrbio perceptivo o faz necessitar deste constante feedback verbal. No entanto, não se deve relacionar esta necessidade que apresenta o paciente, como um procedimento terapêutico, uma vez que sua necessidade está, na realidade, no recebimento do maior número possível de informações táteis/ cinestésicas. Assimetria de tronco Um dos principais sinais que o paciente pusher apresenta é a assimetria de tronco, onde o centro de gravidade apresenta-se todo desviado para o lado afetado, situação que piora ainda mais pelo ato de empurrar, sintoma que está associado à existência de importante falha proprioceptiva, heminegligência corporal e negligência espacial unilateral. A adequação do controle postural (podese entender aí, uma postura vertical simétrica com posicionamento mediano do centro de gravidade) é pré-requisito para a estabilização do corpo nas posições elevadas durante movimentos voluntários e para a 189 mobilidade, assim como representa prérequisito para a marcha [13,22,23]. A experiência clínica tem demonstrado que pacientes com hemiplegia facilmente adotam um mecanismo anormal de manutenção da postura para compensar sua deficiência de equilíbrio, quando não são submetidos a um programa de treinamento do controle postural após o AVE. Estudos têm demonstrado que o treino específico do controle postural é eficaz. Magnusson et al. [22] apresentam um estudo em que pacientes sobreviventes de um AVE, que receberam uma estimulação sensorial específica (eletroestimulação e acupuntura), além da fisioterapia e terapia ocupacional convencionais, apresentaram uma recuperação funcional, no tocante ao controle postural, significativamente melhor quando comparados ao grupo controle que só recebeu a fisioterapia e terapia ocupacional. Wu, Shin-Han et al. [23], com um estudo similar de estimulação da postura simétrica e da posição mediana do centro de gravidade em pacientes hemiplégicos, demonstram que a distribuição assimétrica do peso e o desvio do centro de gravidade podem ter melhora significativa quando é aplicado um programa de tratamento direcionado. Os autores, ainda, consideram que a intervenção específica, que estimula o paciente a distribuir ativamente a carga através do membro inferior, que não está recebendo peso, pode ser eficiente tanto para o paciente que não coloca a carga sobre a perna afetada, como para aquele que joga seu peso para o lado não afetado, como é o caso do paciente pusher, promovendo um efeito clínico positivo na simetria. Pérennou et al. [10] demonstram que o uso da Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) aplicada no lado contralateral à lesão, pode ser usada para dar ao paciente informação sensitiva, uma vez que age como um estímulo substituto que reativa ou reorganiza a injúria neural, devolvendo ao corpo orientação a respeito da gravidade e, portanto, reduzindo a assimetria do tronco e a inclinação pelo desvio do centro de gravidade. 190 Conclusão Como se pode constatar, a sintomatologia da síndrome de Pusher é variada e rica, e se caracteriza pela grande coincidência com a sintomatologia que se observa nas lesões hemisféricas à direita e mais ainda, nas lesões do lobo parietal direito. Obviamente que este trabalho, em se tratando apenas de uma revisão de literatura, não comprova nem constata nada experimentalmente, e nem mesmo faz a análise da prática clínica pessoal. Porém, deixa-se em aberto mais uma perspectiva de estudo relativo a esta síndrome. O fisioterapeuta que trabalha com o paciente hemiplégico, com certeza irá se deparar com um paciente pusher em algum momento de sua vida profissional. E irá constatar que o tratamento deste paciente deve ser diferenciado, deve ser específico, além de representar um desafio, uma vez que não é fácil lidar com toda sintomatologia que ele apresenta. O embasamento neurofisiológico, o conhecimento da fisiopatologia do AVE, uma avaliação criteriosa e uma conduta bem traçada são pontos fundamentais para o sucesso do programa de reabilitação. Outro ponto fundamental é que quanto mais cedo a abordagem fisioterapêutica for iniciada maiores serão os ganhos, o que não quer dizer que o paciente que inicia seu tratamento tardiamente não possa obtê-los. Sempre existirão ganhos, mas é correto afirmar que estes serão maiores quando a abordagem for mais rápida. Não se pode esquecer que muitos dos distúrbios que se apresentam na síndrome de Pusher, como, por exemplo, assimetria de tronco, falhas proprioceptivas, dificuldades para a marcha, são caracterizados como importantes indicadores de prognóstico. Ao se avaliar um pacientes pusher deparase com um paciente que apresenta conjuntamente distúrbios destas funções fundamentais e, a primeira vista, pode se estabelecer um prognóstico sombrio, em virtude da gravidade destas alterações. No entanto, a literatura permite que se fale com propriedade e com certeza que o paciente Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 pusher pode ter enormes ganhos potenciais, tanto qualitativa como quantitativamente, e mesmo que não se consiga chegar a uma independência nas AVDs, consegue-se melhorar substancialmente a qualidade de vida do paciente. O tratamento fisioterapêutico que se reveste de uma característica multifocal, permitindo intervenções específicas para cada tipo de sintoma, tem a chance de ser mais eficiente. A minimização dos distúrbios sensoriais colabora para a melhora da sintomatologia como um todo, e permite a proposição de tarefas motoras cada vez mais elaboradas, com conseqüentes melhoras funcionais. Referências 1. Davies P. Steps to follow. A guide to the treatment of adult hemiplegia. New York: Springer, Berlin Heidelberg; 1985. 2. Davies P. Passos a Seguir. Um guia para o tratamento da hemiplegia no adulto. São Paulo: Manole; 1996. 3. Kupfermann IA. Cognição e o Córtex. In Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Fundamentos da Neurociência e do Comportamento. Rio de Janeiro: PrenticeHall do Brasil; 1997. p 281-292. 4. Kandel ER, Schwartz JH, Jessel TM. Fundamentos da Neurociência e do Comportamento. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil;1997. 5. Corbetta M, Miezin FM, Shulman GL et al. 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Am J Occup Ther 1996;50(1):17-23. 192 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Revisão Ombro de nadador - revisão da literatura Swimmers Shoulder - Literature Revision Patrícia da Silva Campos* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Alfenas-MG, pós-graduada pela Unimep, especialista em fisioterapia desportiva, aprimoramento profissional em RPG/RPM pelo CBF-SP Palavras-chave: ombro de nadador, instabilidade, dor do ombro. Resumo Problemas nos ombros de nadadores de alto nível são freqüentes, e eles apresentam anormalidades na função. O objetivo desse trabalho foi apresentar dados da literatura que discutem a provável causa dos comprometimentos apresentados no ombro de nadador. A fonte utilizada foi a Bireme e os bancos de dados foram a Medline e Lilacs. O período de levantamento foi de junho a novembro de 2000. As palavras-chave foram: swimming, swimmers shoulder, impingement, anterior instability, muscular imbalance. Observações sobre a síndrome do impacto secundária à instabilidade do ombro têm sido encontradas em nadadores. Os atletas exibem disfunção dos músculos estabilizadores da escápula, dos músculos do manguito e dos rotadores internos e externos. Erros de treinamento, nível de performance, desequilíbrio de força, têm sido sugeridos como fatores etiológicos, que contribuem para os problemas de overuse no ombro de atletas. Artigo recebido em 8 de abril de 2002; aprovado em 6 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Rua Anchieta, 730, sala 05, Centro, 13201-804 Jundiaí SP, Tel: (11) 4521 1095, 4586 4455 (11) 9613 5464, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Key-words: swimmers shoulder, instability, shoulder pain. 193 Abstract Shoulder problems in high level swimmers are common, and they exhibited abnormality in function. The purpose of this article was to introduce data of literature for discussion of possible reason of the engagement showed in swimmers shoulder. The database used were Medline and Lilacs of Bireme. The period of raising was from June to November 2000. The key-words were: swimming, swimmers, shoulder, impingement, anterior instability, muscular imbalance. Observations about the impingement syndrome secondary to instability of shoulder, have been found in swimmers. The athletes displays dysfunctions in the scapular stabilizers, in the rotator cuff muscles and internal and external rotators. Training errors, performance level, and strength imbalance, have been suggested as etiologic factors that contribute to overuse shoulder problems in athletes. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Em 1978 Kennedy et al. [4] relataram que numa população de 2496 nadadores profissionais canadenses, 3% apresentaram dor no ombro. Em pesquisas posteriores de outros autores, prevaleceu um número muito maior, e isto está ligado à melhora da performance e ao aumento no tempo de treinamento. O impacto tem sido reportado como fenômeno secundário tanto para a instabilidade gleno-umeral ou função escapular. Em 1992, Warner et al. [8] analisaram três grupos de indivíduos. Um dos grupos era composto por pacientes com instabilidade gleno-umeral, sendo que 68% desses indivíduos apresentaram sinais de impacto [1]. No trabalho realizado por Rupp et al. [6], em 1995, dos 22 nadadores estudados, em 11 o sinal do impacto foi encontrado, indicando tendinite do manguito rotador. O impacto foi na maioria dos casos associado à apreensão. O impacto positivo puro, sem apreensão, foi raro. Os problemas nos ombros de nadadores de alto nível são freqüentes, e eles apresentam anormalidades na função do ombro, sinal do impacto positivo, sinal da apreensão positivo, forte rotação interna e fraca rotação externa [6]. O objetivo desse trabalho foi apresentar dados da literatura que discutem a provável causa dos comprometimentos apresentados no ombro de nadador. 194 Metodologia A metodologia utilizada foi a revisão de literatura tendo como fonte utilizada a Bireme, na qual os bancos de dados consultados foram a Medline e Lilacs. Foram utilizados 10 artigos de 1978 a 2000. Os comandos de palavras chave utilizados foram: Swimming, swimmers shoulder, impingement, anterior instability, muscular imbalance. Ombro de nadador Dores no ombro têm sido freqüentemente reportadas, particularmente por aqueles nadadores que praticam o estilo livre e borboleta. Pesquisas têm consistentemente mostrado que de 40 a 70% dos nadadores reclamam desse tipo de dor no ombro. Contudo, a etiologia da dor no ombro não tem sido entendida completamente. Acredita-se que o impacto nas estruturas subacromiais tem sido a maior causa dos problemas no ombro, experimentados por nadadores no estilo crawl. O impacto refere-se ao fenômeno mecânico, em que o contato com a grande tuberosidade do úmero e o arco coracoacromial, criam uma força compressiva nas estruturas subacromiais [9]. Os principais fatores associados a dores no ombro de nadadores são ao longo tempo de natação, falta de técnica de braçada e erros durante o treinamento. A causa da dor é uma combinação de overuse (microtraumas repetitivos) e sobrecarga (aumento súbito de exercício). Quando Kennedy et al. [4] descreveram a condição do ombro do nadador, foi considerado sinônimo da síndrome do impacto [1]. Mas foi observado que nadadores do estilo costas poderiam ter apresentado experiências anteriores isoladas de instabilidade glenoumeral, e que alguns nadadores tiveram instabilidade glenoumeral multidirecional. Mesmo que essa frouxidão seja herdada ou adquirida pela natação, é controverso [6]. Pesquisas biomecânicas sugerem que mudanças significativas na atividade muscular (principalmente nas rotações do ombro e estabilizadores da escápula), têm efeito importante no desenvolvimento de problemas Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 no ombro de atletas. Os nadadores impulsionam seus braços de modo similar a um lançamento. Durante a fase de impulso o ombro é abduzido ou flexionado ao máximo e rodado externamente. Nesse estágio a maior parte da inércia é lançada e a carga na parte ântero-inferior da capsula é alta. Repetições numerosas dessa carga podem relaxar o complexo capsuloligamentar, particularmente no ligamento gleno-umeral inferior. O uso de remos manuais aumenta a carga, causando desequilíbrio muscular e dor no ombro [9]. Indicações de instabilidade ântero-inferior foram explicadas pelo fato de 21 ombros (dentre 49 ombros doloridos) apresentarem sinais positivos de apreensão. Contudo é raro encontrar nadadores com sub-luxações. Parece que há uma transição gradual entre frouxidão no ombro e instabilidade clínica. O ponto principal é que um sinal positivo de impacto está associado com a presença de translação da cabeça umeral. A respiração unilateral está associada a uma rotação insuficiente do corpo e abdução adicional com risco de impacto no ombro inverso. Richardson et al. [5], em 1980, descobriram que a dor no ombro é mais comum no lado da respiração, quando praticando estilo livre. A localização da dor estava principalmente na frente ou ântero-lateral. Uma grande amplitude de movimento é necessária para a performance competitiva nos nadadores de alto nível. Uma frouxidão substancial das estruturas capsuloligamentosas anterior e inferior foi encontrada, e uma grande rotação externa, especialmente com o ombro abduzido a 90 graus. Este fenômeno é visto na maioria dos nadadores de competição. A maioria dos atletas com frouxidão assintomática progrediram para instabilidade sintomática atraumática. Frouxidão é definida como um aumento da translação da cabeça umeral na superfície da glenóide. Instabilidade é definida como a expressão sintomática da excessiva translação gleno-umeral [1]. As forças encontradas na remada da natação e treinamento de flexibilidade parecem produzir progressiva atenuação dos estabilizadores estáticos ântero-inferior da articulação. Isto mostrou ser resultado da natação e especialmente do programa de flexibilidade [6]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Glousman et al. [3], em 1988, enfatizaram que nesses atletas com instabilidade anterior atraumática, o sinal de apreensão irá reproduzir dor que ocorre durante atividades atléticas, mas não produz a razão da instabilidade. A estabilidade da articulação gleno-umeral é o resultado de numerosos fatores, cada um contribui para uma condição. Tem sido bem documentado, a importância do labrum e dos ligamentos gleno-umerais como estabilizadores passivos primários, limitando a translação anterior. A atividade dos estabilizadores da articulação gleno-umeral inclui o manguito rotador e os músculos escapulares (serrátil anterior e os trapézios). Os músculos escapulares controlam o ritmo escápulo-umeral, que provê um ótimo contato entre a cabeça umeral e a glenóide durante a elevação ou abdução do braço. A maioria dos atletas exibe escápula alada e protração do ombro. Esses fenômenos clínicos são indicativos da disfunção dos músculos estabilizadores da escápula. Os músculos do manguito têm um papel crítico na instabilidade gleno-umeral. A função do manguito rotador é de manter a cabeça umeral no centro da glenóide, enquanto o deltóide provê o movimento. Foi encontrado também um desequilíbrio entre os rotadores internos e externos. O desequilíbrio muscular sozinho não tem sido visto como causa de problemas no ombro. Combinado, contudo, com atenuação das estruturas capsuloligamentares, os estabilizadores dinâmicos (manguito rotador) podem não ser capazes de compensar a insuficiência dos estabilizadores estáticos [1]. O diagnóstico correto da dor no ombro de atletas de ponta é importante para o planejamento do programa de tratamento adequado. Aproximadamente 95% desses atletas, com instabilidade não traumática do ombro, recuperam-se completamente com tratamento conservador. Existe a evidência crescente de que a instabilidade escápulotorácica aparece como regra dos problemas do ombro em atletas de ponta [6]. Uma das metas de prevenção é evitar a disfunção ou desequilíbrio do manguito rotador e dos estabilizadores escapulares. 195 Exercícios com tiras de borracha e treinamento com peso regular sobre o grupo muscular pode prevenir danos, contudo não há estudos detalhados sobre isso [1]. Discussão Conforme encontrado na literatura consultada, o impacto foi mais notado no lado da respiração [9,10]. Anormalidades na atividade dos rotadores da escápula, sugerindo que aquela disfunção muscular é um fator para considerar na etiologia ou recorrência de dor no ombro [6,7]. A relação entre força de rotação externa e interna, baseada no teste de força isocinético concêntrico, foi menor em nadadores do que no controle. Essa diminuição na relação rotação externa/rotação interna pode ser atribuída a uma grande força de rotação interna [2,6]. Uma teoria que tem sido freqüentemente aceita, é a de que o ombro de nadador é um indicativo de tendinite do manguito rotador. Observações da associação entre a tendinite do manguito rotador e frouxidão no ombro têm sido encontradas em nadadores. A instabilidade mostra ser um problema primário nas queixas dos atletas. E a tendinite do manguito mostra ser um fenômeno secundário [1,2,3]. Muitos componentes, incluindo erros de treinamento, nível de performance, desequilíbrio de força, têm sido sugeridos como fatores etiológicos, que contribuem para os problemas de overuse no ombro de atletas [1,2]. Concordamos com os autores citados, pois eles provaram através de suas pesquisas, que a síndrome do impacto não é um fator isolado e nem o fator primário na patologia ombro de nadador, como propôs Glousman em 1988 [3]. O fator primário é a instabilidade da articulação gleno-umeral, que, associado ao overuse, comum em atletas de ponta, além de erros de treinamento, levam ao desenvolvimento da síndrome do impacto, conseqüentemente à dor e perda da função. Devido à alta incidência, a prevenção parece ser indispensável em atletas de ponta. 196 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Conclusões Existem alterações severas da função normal contribuindo para a patologia ombro de nadador, como: 1. Frouxidão das estruturas capsulo ligamentares anterior e inferior, com instabilidade anterior atraumática, devido à repetitiva sobrecarga; 2. Impacto com tendinite do manguito rotador; 3. Desequilíbrio muscular do manguito rotador e disfunção escápulo-torácica [6]; 4. A avaliação clínica de nadadores com dor no ombro revela o impacto coracoacromial como fenômeno secundário à instabilidade da articulação gleno-umeral; 5. A direção da instabilidade é predominantemente ântero-inferior; 6. Os nadadores com queixa de dor no ombro apresentaram falta de coordenação escápulo-umeral. Agradecimentos Ao principal colaborador desse artigo, mestre e amigo, Edson Alves Barros Jr, fisioterapeuta, mestrando em BioengenhariaFMRP-USP, docente UNIP Ribeirão PretoSP Fisioterapia Aplicada a Ortopedia e Traumatologia; docente UNICLAR (Batatais - SP) Fisioterapia Desportiva, sem o qual não seria possível a realização do mesmo. Aos docentes do curso de fisioterapia desportiva da Unimep, Carlos Alberto Fornasari e Rinaldo R. de Jesus Guirro, pelo incentivo. 4. 5. 6. 7. 8. Dynamic electromyographic analysis of the throwing shoulder with glenohumeral instability in: Bak K, Fauno P. Clinical findings in competitive swimmers with shoulder pain. The American J of Sports Med 1997;25(2):254-458. Kennedy JC, Hawkins R, Krissoff WB, 1978. Orthopaedic manifestations of swimming in Bak K and Fauno P. Clinical findings in competitive swimmers with shoulder pain. The American J of Sports Med 1997;25(2):254-458. Richardson AB, Jobe FW, Collins HR, 1980. The shoulder in competitive swimming in Bak K and Fauno P. Clinical findings in competitive swimmers with shoulder pain. The American J of Sports Med 1997; 25(2):254-458. Rupp S, Berninger K, Hopf T. Shoulder problems in high level swimmersimpingement, anterior instability, muscular imbalance? Int. J. Sports Med 1995;16(8):557-562. Wadsworth DJS and Bullock-Saxton JE. 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Yanai T, Hay JG and Miller GF. Shoulder impingement in front-crawl swimming: I. a method to identify impingement. Med & Science in Sports & Exercise 2000;32(1):21-29. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 197 Normas de publicação Fisioterapia Brasil A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 2. Artigos originais 1. Editorial 4. Comunicação breve Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a biblio-grafia não deve conter mais que dez referências. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico, bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselhase o mesmo dos artigos originais. 198 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qua- lidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 199 na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and nd management. 2 ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and localization of urokinasetype plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua Conde Lages, 27 - Glória 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] 200 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 3 - Maio / Junho de 2002 25 a 27 de setembro International Latino Womens Congress Condado Plaza Hotel San Juan, PR http://www.ilwcinc.com Calendário de eventos 2002 24 a 28 de julho VIII ENEEFISIO I ENAFISIO Espaço cultural José de Rego, João Pessoa PB Informações: (83) 216 7550 www.eneefisio.com.br [email protected] 4 a 9 de agosto 4 th World Congress of Biomechanics Telus Convention Center, Calgary, Alberta Human Performance Laboratory The University of Calgar Telephone: (403) 220-7552 Fax: (403) 284-3553 Site: www.wcb2002.com Email: [email protected] Julho Agosto 10 a 14 de agosto 2 nd International Symposium on Rehabilitation and Physical Therapy in Veterinary Medicine Knoxville, Tennessee Informações: www.utc.edu/~vetpt/ 17 a 22 de agosto 10th World Congresso on Pain San Diego, California, USA International Association for the Study of Pain (IASP) 909 NE 43rd St., Suite 306 Seattle WA 98105-6020 USA Tel: 206-547-6409 Fax: 206-547-1703 E-mail: [email protected] www.iasp-pain.org and www.painbooks.org Setembro 3 a 7 de setembro VIII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar Centro de Convenções de Curitiba PR Informações: (51) 3338-4344 ou 3381-2380, E-mail: [email protected] 19 a 22 de setembro Scoliosis Research Society Annual Meeting Scientific Session Seattle, WA, EUA Scoliosis Research Society, 6300 N. River Rd, Ste 727, Rosemont, IL 60018-4226 Tel: 847-698-1627 E-mail: [email protected] / [email protected] / [email protected] 11 a 13 de outubro Annual Congress of the Physiotherapy International Convention Centre Birmingham, UK www.csp.org.uk Outubro Chartered Society of Novembro 17-20 de novembro 8 th General Assembly of Asian Confederation for Physical Therapy Central Grand Plaza Hotel Bangkok, Thailand Informações: [email protected] 27-30 de novembro European Congress on Prevention of Through Physiotherapy Vienna, Áustria Informações: www.physio.at/congress/2002.htm Diseases 2003 Fevereiro 24 a 28 de fevereiro International Society for the Study of the Lumbar Spine 2003 Annual Meeting New Delhi, India Shirley Fitzgerald Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055 [email protected] 7 a 12 de junho World Confederation for Physical Therapy 14th International Congress and 15th Meeting Barcelona, Espanha Informações: www.wcpt.org E-mail: [email protected] Junho General 12 a 14 de junho International Trauma Congress Durban, South Africa Dr George E Dimopoulos Tel: +27 31 2612018 / Fax: +27 31 261 7321 [email protected] 2004 Fevereiro 24 a 28 de fevereiro International Society for the Study of the Lumbar Spine 2004 Annual Meeting Porto, Portugal Shirley Fitzgerald Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055 [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 ○ ○ 201 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.3, nº4 julho/agosto 2002 - 201~268) EDITORIAL Fisioterapia e esporte: um dia para comemorar ............................................................................................ 203 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS. ............................................................................................ 204 ARTIGOS ORIGINAIS Avaliação do efeito de dois laseres de baixa potência (AsGa e HeNe) na dermatite tópica induzida por óleo de cróton em orelha de camundongos, Mara Sueli, Flávio Aimbire Soares de Carvalho, José Carlos Cogo, Wellington Ribeiro, Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins ...................................................... 207 Correlação entre a fadiga subjetiva e objetiva na eletroestimulação neuromuscular, Fisioterapia prática Kênia Fonseca Pires, Débora Bevilacqua Grosso ............................................................................................... 216 Efeitos do laser arsenieto de gálio (AsGa) na inflamação articular aguda induzida em ratos wistar através do adjuvante completo de Freund, CristinaVincensi, Paulo de Tarso Camillo de Carvalho ................................................................................... 223 Uso das correntes diadinâmicas de Bernard (DF e CP) no tratamento de hiperidrose. Avaliação de 10 casos, Gladson Ricardo Flor Bertolini, Daiane Breda ....................................................... 231 Ensino de hidroterapia na graduação estabelecendo objetivos, Fátima Aparecida Caromano, Márcia Gouveia da Cunha, Maria Sílvia Pardo, Juliana Monteiro da Silva ............................................. 237 Lesão traumática e déficit elástico-muscular, Gian Nicola Bisciotti, Nilton Petrone Vilardi Jr, Eliane Fátima Manfio ............................................................................................................................................. 242 REVISÕES Ginástica Laborativa de um recém-nascido pré-termo e a correlação com os fatores perinatais, Evolução neuromotora Cíntia Salles Brandolis Gregório, Elizabeth Costa Tang Pinheiro, Daniela Elaine Oliveira Campos, Eduardo José Alfaro ................................................................................................................................................ 250 Vertigem cervicogênica: considerações sobre o diagnóstico funcional e a fisioterapia labiríntica, André Luís Santos Silva, Marco Antônio Guimarães da Silva, João Santos Pereira ................................ 258 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ............................................................................................................................... 264 EVENTOS. ................................................................................................................................................................ 267 A Atlântica Editora está com novo telefone para atendimento aos assinantes: (21) 2221-4164 202 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin Argentina) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek Brasília) Grupo de assessores Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC Santa Catarina) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep São Paulo) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua Conde de Lages, 27 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Assinaturas por 1 ano R$ 90,00 6 números ao ano + 1 CD-ROM Tel.: (21) 2221-4164 RJ / (11) 3361-5595 SP www.atlanticaeditora.com.br Revista Fisioterapia Brasil Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editores associados Dr. André Luís Santos Silva Dra. Luciene Deccache Moreira Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Administração Bárbara de Assis Jorge Editoração e Arte Kassina Camargo Ribeiro Copy & Revisão Ricardo Augusto da Silva Ferreira ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua Conde de Lages, 27 - Glória 20241-080 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2221-4164 Cel: (21) 9662-9411 Representante Assinaturas - SP A.Shalon - (11) 3361-5595 Ilustração da capa: Edouard Pignon (nascido em 1905), Les joueurs de billard, 1938, óleo sobre tela 130x195 cm. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 203 Editorial Fisioterapia e esporte: um dia para comemorar ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O crescimento da profissão fica sempre mais visível quando a mídia aloca espaço para seus profissionais. Temos visto isto na Rede Globo de Televisão, onde o fisioterapeuta já é um personagem quase que cativo em suas novelas (embora com uma abordagem nem sempre adequada). No esporte, quando o assunto é lesão, pronto, lá está o profissional sendo questionado sobre o desenvolvimento ou recuperação do atleta. Isso é muito importante para toda a comunidade da fisioterapia, porque, embora não espelhe o tamanho que a mesma representa, demonstra sua participação no cotidiano do país. Foi sob este prisma que nós editores vimos à importância (e também com muita felicidade), a declaração do Ronaldo logo após a conquista do pentacampeonato. Dedicar sua vitória pessoal ao seu fisioterapeuta, transmite confiança a todos os profissionais anônimos, que sabem por que atuam nesta profissão. Nossa revista tem publicado diversos artigos, onde a importância da fisioterapia como ciência é demonstrada em seu próprio conteúdo. Na questão de uma Copa do mundo existe toda uma ciência por detrás, seja na saúde do atleta, seja nos esquemas táticos. Porém, não poderíamos deixar de anotar este evento, que nos deixou extremamente felizes através das declarações de um atleta vitorioso. Tanto o professor Nilton Petrone, como toda a equipe que participou da recuperação do jogador da seleção brasileira, estão de parabéns. Os editores 204 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Resumos de trabalhos e congressos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cléo Valentini Pinto Monografia apresentada como exigência do curso de pósgraduação Lato Sensu em Fisioterapia, realizado no período de agosto/1999 e dezembro/2000, na Universidade Estácio de Sá, Coordenação do curso: Prof. José V. Martins. Endereço par correspondência: Av. Almirante Álvaro Alberto 180/102 São Conrado 22610-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)3322-4931/9921 6626, E-mails: [email protected], [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Tratamento fisioterapêutico de um caso de AVE, usando a terapia de restrição e indução de movimento, além do recurso medicamentoso da toxina botulínica tipo A Este estudo de caso objetivou avaliar o tratamento fisioterapêutico de um caso crônico de acidente vascular encefálico (AVE), usando a terapia de restrição e indução de movimento (TRIM), além do recurso medicamentoso da toxina botulínica tipo A (TBA). Visou, também, pesquisar novos caminhos para reabilitar e reintegrar à sociedade, num curto espaço de tempo, uma parcela importante de pacientes crônicos de AVE, elegíveis para esse tipo de terapia, combinada pelos critérios de inclusão estabelecidos, embora este trabalho seja apenas um estudo de caso. Descreve o tratamento não convencional de uma mulher com 27 anos de idade, paciente crônica de AVE, ocorrido na artéria cerebral média (ACM) esquerda, em julho/1997. A isquemia foi atribuída ao uso de anticoncepcional. O tratamento foi realizado cerca de três anos após o evento. As infiltrações com TBA foram feitas em grupos musculares do membro superior direito (MSD) e do membro inferior direito (MID). A decisão de usar a terapia combinada foi devida ao seguinte: (a) tratava-se de um caso crônico de AVE, que, embora não atendesse completamente a todos os critérios de inclusão propostos na literatura sobre a TRIM, tinha poucas chances de uma melhora substancial dentro dos fundamentos da fisioterapia tradicional; (b) o mecanismo propiciado pela TBA em relação ao tônus poderia permitir um aumento importante da resposta à TRIM; (c) a paciente tinha um forte desejo de usar sua mão direita e uma forte motivação para o tratamento, embora soubesse que fosse ainda de caráter experimental. A combinação desses fatores permitia inferir um bom prognóstico para a paciente. Recente revisão literária sobre a TRIM salienta que existem evidências clínicas da sua eficácia. É um tratamento baseado em experiências controladas randomizadas. Se a terapia for usada no momento correto do curso da doença, não envolve medicamentos e não apresenta efeitos colaterais nem riscos. A literatura sobre as pesquisas com a TRIM tem destacado que o seu efeito terapêutico tem sido transferido do ambiente clínico para a vida real dos pacientes, o que nem sempre ocorre na fisioterapia tradicional. Quanto a TBA, a droga já vem sendo usada há mais de uma década no tratamento da espasticidade, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 205 independentemente da sua etiologia, sendo indicada, principalmente, quando da presença de aumento de tônus, interferindo na função. A avaliação da situação funcional da paciente antes e depois do tratamento fisioterapêutico, foi feita por meio de testes funcionais para o MSD e MID, baseados em protocolos específicos. No contexto social da doença abordouse tanto a questão familiar, quanto a profissional, bem como as perspectivas do caso clínico, contemplando duas visões individuais: (a) do fisioterapeuta sobre a paciente; (b) da paciente sobre o tratamento. A primeira visão baseou-se num painel sobre as mudanças na qualidade de vida (QDV) da paciente, que revelou mudanças positivas importantes nas suas atividades em casa, nos seus relacionamentos e no lazer dentro e fora de casa. A segunda visão baseou-se no registro do depoimento da própria paciente sobre o seu tratamento. Os resultados mostraram que, a despeito do grande esforço necessário para usar e operacionalizar a TRIM, ela pode ser um novo alento para uma parcela importante de pacientes crônicos de AVE. A terapia combinada TBA-TRIM poderia ampliar ainda mais os resultados da fisioterapia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Hoving JL, Koes BW, de Vet HC, van der Windt DA, Assendelft WJ, van Mameren H, Deville WL, Pool JJ, Scholten RJ, Bouter LM. Department of Clinical Epidemiology, Cabrini Hospital, Victoria, Australia, [email protected], Annals of Internal Medicine 2002;136(10):713-22, maio de 2002 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Terapia manual, fisioterapia e cuidados contínuos por clínico geral em pacientes portadores de dor do pescoço Introdução Dor do pescoço é um problema comum, mais a eficiência de terapias conservativas frequentemente aplicadas nunca foi diretamente comparada. Objetivo Determinar a eficiência da terapia manual, da fisioterapia (physical therapy) e dos cuidados contínuos administrados por clínico geral.Desenho: Estudo controlado, randomizado. 183 pacientes, com idade 18-70 anos, que apresentaram dor não específica no pescoço, pelo menos durante 2 semanas. Intervenção 6 semanas de terapia manual (técnicas especificas de mobilização), uma vez por semana para fisioterapia (terapia de exercícios) e duas vezes por semana para cuidados contínuos, administrados por clínico geral (analgésicos, aconselhamento, educação). Medições O tratamento foi considerado como eficaz, quando o paciente reportou estar completamente recuperado ou muito recuperado, em uma escala de 6 pontos. Também foram medidas a disfunção física, intensidade da dor e incapacidade. 206 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Resultados Em 7 semanas, as taxas de sucesso foram de 68,3% para a terapia manual, 50,8% para a fisioterapia e 35,9% para os cuidados contínuos. Diferenças estatisticamente significativas na intensidade da dor com a terapia manual, comparada com os cuidados contínuos ou da fisioterapia, foram notadas de 0,9 a 1,5 em uma escala de 0 a 10. Escores de incapacidade também favoreceram a terapia manual, mas com diferenças pequenas entre os grupos. Os resultados da terapia manual foram significativamente melhores do que as outras duas técnicas. O resultado da fisioterapia foi melhor do que os cuidados contínuos, mas sem diferença significativa. Conclusão: Na prática diária, a terapia manual é uma opção favorável de tratamento para os pacientes com dor do pescoço, em comparação com fisioterapia ou cuidados contínuos de um médico clínico. Comentários de Jules M Rothstein, PT, PhD, FAPTA, editor da revista Physical Therapy, junho de 2002: Por negligência, incompetência ou talvez conspiração inspirada de um filme de Oliver Stone, nossa profissão sofre de ferimentos irreparáveis da parte dos que não entendem o que são e o que fazem os fisioterapeutas. O problema vem de nossa incapacidade de diferenciar nossa profissão de nossas intervenções. Problema surgido através das pessoas que, por acidente ou intenção, preferem se auto promoverem, do que encarar a profissão como um tudo. Somos fisioterapeutas, mas existem pessoas que preferem ser chamadas, por exemplo, de terapeutas manuais, terapeutas certificados NDT, terapeutas certificados McKenzie, etc... No estudo citado acima, os autores comparam duas intervenções de fisioterapia e o leitor poderia ter a impressão de que terapia manual e fisioterapia são mutuamente exclusivas. Em razão deste título infeliz e desta discussão, os autores (e o jornal) não servem nem a ciência nem ao sistema de saúde. Imagine que um médico envie um artigo com o seguinte título: Apendicectomia, cirurgia ou cuidados contínuos por médico clínico, em pacientes com apendicite: estudo controlado e randomizado! Uma parte da pesquisa reportada neste artigo, trata do que os autores chamam de fisioterapia, que parece ser um amalgamo de intervenções de exercícios, alongamentos e massagem, sem lógica aparente nem regras de tratamento, por terapeutas não aprovados pela Netherlands Manual Therapy Association. Entretanto, o grupo tratado por terapia manual, recebeu cuidados por pessoas previamente certificados por esta associação. Descrevendo as suas intervenções, os autores são tão claros e informativos do que um chefão da máfia testemunhando em frente do Congresso dos Estados Unidos. Eles dizem que usam uma técnica eclética baseada nos trabalhos de Cyriax, Kaltenborn, Maitland e Mennel. Como fisioterapeuta, não tenho a menor idéia do que está sendo feito neste estudo. Vários destes autores não concordam entre eles (...). Autores e editores devem evitar títulos confusos. Você pode ser treinado com terapeutas manuais tais como terapeuta NDT ou McKenzie , mas, antes de tudo, você é membro de uma profissão. Assim como os cirurgiões podem ser especialistas em várias técnicas, existem fisioterapeutas especialistas em várias técnicas; mas estamos falando do repertório que podem oferecer aos pacientes, não da criação de um profissional inteiramente diferente. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 207 Artigo original Avaliação do efeito de dois laseres de baixa potência AsGa e HeNe - na dermatite tópica induzida por óleo de cróton em orelha de camundongos The effect of two low power lasers radiations GaAs and HeNe on the topic dermatitis induced by croton oil in mice ear Mara Sueli, Fst. M.Sc.*, Flávio Aimbire Soares de Carvalho, B.Sc. M.Sc.*, José Carlos Cogo, B.Sc. PhD**, Wellington Ribeiro,P.Sc. PhD*, Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins, B.Sc. PhD* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Laboratório de Farmacologia Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento IP&D UNIVAP, ** Serpentário do Centro de Estudos da Natureza CEN/IP&D - UNIVAP Palavras-chave: Laser, Hélio - Neônio, Arsenieto de Gálio, inflamação. Resumo A inflamação é uma reação de defesa do organismo responsável pelo início do processo de reparação tecidual. Tem sido demonstrado que diversos fatores estão envolvidos na modulação da resposta inflamatória, tanto na fase aguda, como na fase crônica. Com o objetivo de investigarmos o efeito de dois tipos de radiação laser (HeNe 632,8 nm, AsGa 904 nm) no processo inflamatório decorrente de dermatite por agente irritante, foi utilizado o modelo clássico de dermatite tópica induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O laser HeNe reduziu significativamente o edema. Por outro lado, o laser AsGa potencializou a reação inflamatória. Artigo recebido em 29 de abril; aprovado em 20 de maio de 2002. Endereço para correspondência: Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins, Universidade do Vale do Paraíba, IPeD, Avenida Shishma Hijomi, 2911 - Urbanova, 12244-000, São José dos Campos - SP,. Tel (12) 3947-1087, Fax (12) 3949-1008, Email: [email protected] 208 Key-words: Laser, Helium Neon, Gallium Arsenide, inflammation. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Abstract Inflammation is essentially a protective response that initiates the process of tissue repair. Evidence exists for a number of different factors that play important roles in modulating the inflammatory response at either phase of acute inflammation. In this present work, it was used classical model of topic dermatitis induced by chemical agent (croton oil) in mouse ears and it was investigated the effect of laser therapy HeNe (632,8 nm) and GaAs- (904 nm), on the acute inflammatory process. The HeNe diode laser (632,8 nm) was effective to inhibit the edema, considering that the best energy density was 2,0 J/cm 2. It can be concluded that the Laser HeNe was effective in reducing the crotoninduced mice ear edema, while the Laser GaAs didnt show any antiinflammatory effect in this model. It was observed an important tendency to worsening the dermatitis state after the laser GaAs application. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A pele é um dos maiores órgãos do corpo humano, perfazendo cerca de 16 por cento do peso corporal. Suas funções são diversas, tais como, proteção do organismo contra lesões de dessecação, receptora de estímulos do meio ambiente; excreção de várias substâncias; além de termorregulação e manutenção do equilíbrio hídrico. As funções específicas da pele dependem em grande parte das propriedades da epiderme. Esse epitélio forma um revestimento celular ininterrupto, que recobre toda a superfície externa do corpo, mas que também está especializado em alguns locais para formar os vários anexos da pele: pêlo, unhas e glândulas. Suas células produzem a proteína fibrosa queratina, que é ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ essencial para a função protetora da pele, e a melanina, pigmento que protege contra a radiação ultravioleta. A epiderme dá origem a dois tipos principais de glândulas, uma das quais produz uma secreção aquosa, o suor, e a outra uma secreção oleosa, o sebo [1,2]. A dermatite de contato é uma reação inflamatória da pele, causada pelo contato com algum fator ambiental. Freqüentemente resulta no que é denominado eczema ou dermatite eczematosa. Estes últimos termos se referem a qualquer erupção caracterizada pela exsudação de líquido, vermelhidão, espaçamento e ocasional formação de fissuras e crosta. Sob esta denominação têm sido incluídas numerosas erupções cutâneas, algumas das quais podem ser agora classificadas com bases etiológicas [3]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 As substâncias que causam essa doença podem ser divididas em dois grupos: aquelas que atuam como irritantes primários e aquelas que atuam como verdadeiros sensibilizadores alérgicos. Com o emprego cada vez maior de substâncias químicas em nossa vida cotidiana, tanto no lar quanto no trabalho, a incidência da dermatite de contato aumentou tremendamente, e é provável que assim continuem a ser. A dermatite de contato é uma das causas mais comuns de doenças da pele na indústria. De fato, foi observado que cerca de dois terços dos casos de indenização industrial nos Estados Unidos, são consequência de doenças dermatológicas, e que elas, em sua maioria, constituem dermatites de contato [3,4,5]. Utilizando-se de técnicas farmacológicas, químicas, térmicas e mecânicas, entre outras, uma série de trabalhos vem sendo publicados a respeito da utilização de recursos terapêuticos físicos anti-inflamatórios, como a estimulação elétrica [6], ondas curtas [7], irradiação infravermelha [8], acupuntura e ultra-som terapêutico de baixa e média intensidade [9]. Diversos grupos incluem trabalhos realizados com laseres de baixa potência, como alternativa de tratamento anti-inflamatório e de reparação tecidual [10, 11, 12, 13]. No entanto, existe uma enorme carência de artigos na literatura, a respeito do emprego do laser em patologias tópicas como a dermatite de contato por substâncias irritantes. Além disso, existe ainda muita controvérsia a respeito de qual o tipo de laser e o comprimento de onda ideal a ser utilizado para cada tipo de patologia. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é de investigar o efeito da terapia com 02 laseres de baixa intensidade (Hélio-Neônio 632,8 nm e Arsenieto de Gálio, 904 nm), na dermatite de contato induzida por óleo de croton em orelha de camundongo. Material e Métodos Foram utilizados camundongos swiss machos provenientes do Biotério da UNIVAP, pesando entre 20 e 25 g, com livre acesso a água e ração, e ciclo claro/escuro de 12 horas. Cada grupo experimental foi constituído de 10 animais (n=10). 209 Protocolos de irradiação Laser HeNe Os primeiros grupos foram submetidos a irradiação com laser HeNe (632,8nm) utilizando densidades de energia 1, 2 e 5 J/cm2. Protocolo de irradiação Valores Densidade de energia (DE) Potência (P) Comprimento de onda (l) Área de feixe Distância da pele Tempo indução óleo de cróton Tempo de irradiação 1,0; 2,0; 5,0 J/cm² 2 mW 632,8 nm 0,08 cm² Técnica de contato 0,30,60 1 J/cm²=00:40 s; 2 J/cm² = 01 min 20 s; 5 J/cm² = 03 min 20 s Laser AsGa Neste grupo experimental os animais foram submetidos a irradiação com laser AsGa com densidade de energia de 1, 2, 5 J/cm2 Protocolo de irradiação Valores Densidade de energia (DE) Potência (P) Comprimento de onda (l) Área de feixe Distância da pele Tempo indução óleo de cróton Tempo de irradiação 1.0; 2.0; 5.0 j/cm2 2mW 904nm 0,08 cm² Técnica de contato 0",30,60 1 J/cm² =00:20s; 2 J/cm² = 00:40s; 5 J/ cm² = 1min 40s Indução da dermatite pelo óleo cróton O processo inflamatório foi experimentalmente caracterizado como dermatite induzida, de acordo com a metodologia descrita por Sértie et al [14]. Para tanto, 200 mg de óleo cróton foram dissolvidos em 20 ml de acetona, e esta solução aplicada topicamente na orelha de camundongos. Após duas horas da aplicação tópica da solução, os camundongos foram sacrificados com uma dose letal de anestésico inalatório (halotano). Posteriormente, foi então retirada uma amostra da orelha direita com punch de 8 mm diâmetro e o peso da amostra pesado em balança analítica digital com precisão de 05 casas decimais. 210 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Irradiação com laser HeNe e laser AsGa Após a indução da dermatite, os animais foram irradiados com laser HeNe e AsGa em diferentes densidades de energia. O objetivo foi avaliar o efeito anti-inflamatório dos laseres HeNe e AsGa sobre o edema de orelha, induzido por óleo de cróton em camundongos. Protocolo experimental - 01 Laser HeNe (632,8 nm) · Grupo 1 (grupo controle) - óleo de cróton sem irradiação laser; · Grupo 2 - óleo de cróton e laser 1 J/cm2; · Grupo 3 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2; · Grupo 4 - óleo de cróton e laser 5 J/cm2. Protocolo experimental - 02 Laser AsGa (904 nm) · Grupo 1 (grupo controle) - óleo de cróton sem irradiação laser; · Grupo 2 - óleo de cróton e laser 1 J/cm2; · Grupo 3 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2.; · Grupo 4 - óleo de cróton e laser 5 J/cm2. conduzidas utilizando o GraphPad Software V.2.01, Graphpad Instat-tm (1990-1993). Os resultados foram expressos como a média ± E.P.M. Os valores de P < 0,05 foram considerados significativos. Resultados Efeito da irradiação com laser He-Ne na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo O gráfico 01 representa o efeito da irradiação com laser He-Ne na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongos. Como podemos observar, a irradiação com esse tipo de laser na densidade de energia de 1 J/cm2 foi capaz de reduzir o edema. Neste grupo experimental a irradiação com laser He-Ne imediatamente (0 minuto), 30 e 60 minutos após a indução do edema, foi significativamente reduzida a 28 ± 1%, 31 ± 2% e 25 ± 1%, respectivamente. Protocolo experimental - 03 Laser HeNe (632,8 nm; 2 J/cm 2 ) em diferentes momentos de irradiação após a indução do edema de orelha; · Grupo 1 (grupo controle) - óleo de cróton sem irradiação laser; · Grupo 2 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2 imediatamente após a indução do edema; · Grupo 3 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2 30 minutos .após a indução do edema; · Grupo 4 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2 60 minutos após a indução do edema; · Grupo 5 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2 90 minutos após a indução do edema; · Grupo 6 - óleo de cróton e laser 2 J/cm2 120 minutos após a indução do edema. Análise estatística Os dados das amostras foram submetidos à análise de variância (ANOVA), seguido de teste de t de Student para amostras não pareadas. As análises estatísticas foram Gráfico 01 Efeito da irradiação com laser He-Ne (1 J/cm2) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 03 momentos diferentes (0, 30 e 60 min) após a indução da dermatite (* = P<0,05 ; n=10) No gráfico 02 podemos observar o efeito da irradiação com laser He-Ne com densidade de energia de 2 J/cm 2 . Neste grupo experimental o laser He-Ne reduziu de forma significativa o edema de orelha em camundongos 42 ± 0,5%, 55 ± 0,8% e 52 ± 0,6, nos grupos irradiados imediatamente Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 (0 minuto) 30 e 60 minutos após a indução do edema, respectivamente. 211 Efeito da irradiação com laser As-Ga na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo O gráfico 04 representa o efeito da irradiação com laser As-Ga sobre o edema de orelha induzido por óleo de cróton em camundongos. Neste grupo experimental podemos observar que a irradiação com laser As-Ga com densidade de energia de 1 Jcm2 não foi capaz de reduzir significativamente o edema de orelha nos grupos irradiados imediatamente (0 minuto), 30 e 60 minutos após a indução do edema, respectivamente. Gráfico 02 Efeito da irradiação com laser He-Ne (2 J/cm2 ) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 03 momentos diferentes (0, 30 e 60 min) após a indução da dermatite (* = P<0,05; n=10) O gráfico 03 representa o efeito da irradiação com laser He-Ne com densidade de energia de 5 J/cm 2. Analisando este gráfico, podemos observar que a irradiação com laser He-Ne foi efetiva em reduzir o edema de orelha imediatamente após a sua indução (0 minuto16 ± 1%). Nos demais períodos de irradiação, 30 e 60 minutos após a indução do edema, a irradiação com laser He-Ne não foi efetiva na redução do edema, 8 ± 1% e 13 ± 1%, respectivamente. Gráfico 03 Efeito da Irradiação com laser He-Ne (5 J/cm2 ) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 03 momentos diferentes (0, 30 e 60 min) após a indução da dermatite (* = P<0.05 ; n=10) Gráfico 04 Efeito da irradiação com laser As-Ga (1 J/cm2) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 03 momentos diferentes (0, 30 e 60 min) após a indução da dermatite. (* = P<0,05; n=10) Gráfico 05 Efeito da irradiação com laser As-Ga (2 J/cm2 ) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 03 momentos diferentes (0, 30 e 60 min) após a indução da dermatite (* = P<0,05; n=10) 212 O gráfico 05 representa o efeito da irradiação com laser As-Ga sobre o edema de orelha induzido por óleo de cróton em camundongos. Neste grupo experimental podemos observar que a irradiação com laser As-Ga com densidade de energia de 2 J/cm2 não foi capaz de reduzir significativamente o edema de orelha nos grupos irradiados imediatamente (0 minuto), 30 e 60 minutos após a indução do edema, respectivamente. O gráfico 06 representa o efeito da irradiação com laser As-Ga sobre o edema de orelha induzido por óleo de cróton em camundongos. Neste grupo experimental podemos observar que a irradiação com laser As-Ga com densidade de energia de 5 J/cm2 não foi capaz de reduzir significativamente o edema de orelha nos grupos irradiados imediatamente (0 minuto), 30 e 60 minutos após a indução do edema, respectivamente. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 induzido por óleo de cróton em camundongos. Neste grupo experimental podemos observar que a irradiação com laser He-Ne foi efetiva em reduzir o edema em todos os diferentes intervalos de tempo, mesmo quando irradiado imediatamente após a indução da dermatite (0 minuto), porém seu efeito anti-inflamatório mais pronunciado é observado 60 minutos após a indução da dermatite. Gráfico 07 Perfil temporal de efeito da irradiação com laser He-Ne (2 J/cm2) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 05 momentos diferentes (0, 30, 60, 90 e 120 min) após a indução da dermatite (* = P<0,05; n=10) Discussão Gráfico 06 Efeito da irradiação com laser As-Ga (5 J/cm2 ) na dermatite induzida por óleo de cróton em orelha de camundongo. O gráfico mostra o efeito da irradiação em 03 momentos diferentes (0, 30 e 60 min) após a indução da dermatite (* = P<0,05; n=10) Efeito da irradiação com laser He-Ne na Densidade de energia de 2 J/cm2 irradiados 05 momentos diferentes (0, 30, 60, 90 e 120 min) após a indução da dermatite por óleo de cróton em orelha de camundongo O gráfico 07 representa o perfil temporal de efeito do laser He-Ne com densidade de energia de 2 J/cm2 sobre o edema de orelha A aplicação da laserterapia como tecnologia terapêutica na área de fisioterapia tem apresentado um crescimento significativo. As propriedades curativas da radiação laser, aliadas à segurança do tratamento parecem ser os principais responsáveis por este crescimento, justificando também o aumento do interesse dos pesquisadores da área biomédica, na investigação dos mecanismos de ação dos efeitos terapêuticos dos laseres de baixa potência. Os efeitos do laser de baixa potência (LBP) são baseados nos mecanismos não térmicos [12, 13], ou seja, a partir da interação da luz com o tecido, influenciando funções celulares, tais como, estimulação ou inibição de atividades bioquímicas, fisiológicas e proliferativas, e promovendo efeitos de biomodulação [13]. A magnitude do efeito é referida como sendo dependente do comprimento de onda da radiação, da energia Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 total oferecida ao tecido e da densidade de energia aplicada [15,16]. O tecido biológico é pouco homogêneo do ponto de vista óptico. Dessa forma, toda a radiação eletromagnética ao incidir sobre o tecido, interage por meio de reflexão, espalhamento, absorção e transmissão. A reflexão varia com o ângulo de incidência da luz e as propriedades ópticas da superfície do tecido. Karu [17] relatou em seus estudos, que a reflexão da pele, quando se tem o feixe laser incidindo perpendicularmente, é de 4-7%, variando com a aplicação de pomadas, líquidos e secreção sebácea. Então, de 93 a 97% da irradiação incidente na superfície penetra nos substratos subseqüentes, na pele e na derme, encontrando substâncias com índice de refrações diferentes. Dessa forma, os fótons vão se distribuir de acordo com a absorção de cada estrutura, pois a função fotoreguladora determina qual comprimento de onda que cada estrutura é capaz de absorver e, com isso, promover transformações na atividade funcional e metabólica da célula. O presente trabalho mostra que a irradiação com o LBP He-Ne (632 nm) foi capaz de reduzir significativamente o edema de orelha em camundongos decorrente da dermatite tópica induzida por óleo de cróton (gráficos 1 e 3). O edema induzido por óleo de cróton é um modelo experimental clássico utilizado para estudos de inflamação tópica. Em contrapartida, observamos que o Laser de Arsenieto de Gálio (904 nm) não apresentou efeito terapêutico no edema de orelha em camundongos decorrente da dermatite tópica, sendo observado uma tendência importante de potencialização do efeito edematogênico (gráficos 4 e 6). A respeito do mecanismo de ação do LBP na redução do edema, alguns autores sugerem que os componentes celulares (fotorreceptores), podem absorver fótons fornecidos através da energia do LBP e acelerar a produção de ATP, fornecendo energia para célula, que por sua vez pode modular a resposta inflamatória [18,19,20]. Neste sentido, podemos inferir que o comprimento de onda da radiação é um fator primordial para o efeito biológico observado. Apesar de alguns tipos de laser serem classificados como de baixa 213 potência, se faz necessário o estudo das características particulares de cada laser em função de seu comprimento de onda. É descrito na literatura, que na fase inicial do processo inflamatório, principalmente quando induzido por substâncias irritantes, ocorre a degranulação mastocitária (liberação do conteúdo dos grânulos dos mastócitos), que no caso de roedores contém predominantemente serotonina. Nossos resultados mostram que a irradiação com laser He-Ne com densidade de energia de 2 J/cm2 foi eficaz na redução do edema 30 minutos (fase aguda inicial) após a indução da dermatite, atingindo seu melhor efeito anti-inflamatório 60 minutos após a indução da dermatite. Embora o presente trabalho não aborde um estudo sobre as células inflamatórias presentes no exsudato da orelha de camundongos, é provável que a irradiação com laser He-Ne possa interferir com a degranulação de mastócitos, no sentido de reduzir o edema. Nossa hipótese diverge dos estudos de Albertini et al [21,22], que mostraram em modelo de edema de pata em ratos induzido pelo composto 48/80, que a irradiação com laser de Baixa Potência (As-Ga) não reduz a degranulação dos mastócitos. Vale ressaltar que o composto 48/80 tem a ação de degranular mastócitos. Ainda neste contexto, Silveira & Lopes [23] avaliaram o comportamento de mastócitos em duas áreas, sendo uma tratada com LBP e a outra não tratada. Os resultados demonstraram que o número de mastócitos degranulados aumentou de maneira significativa na área tratada com LBP, o que evidencia o fenômeno de degranulação total e completa dos grânulos liberados. Além disso, Maillet et al. [24] relatam que a ação dos fótons emitidos pela radiação do LBP, atua na membrana celular de mastócitos, provocando a sua ruptura, já que são células especialmente vulneráveis a qualquer tipo de estímulo [25]. Da mesma forma, Tuner & Hode [26] observaram que os efeitos da irradiação com He-Ne na potência de 4mW, e com densidade de energia de 2,4 J/ cm 2 sobre mastócitos, aumentou a degranulação desse tipo de célula. Tomados em conjunto, os resultados acima 214 descritos mostram divergências no que diz respeito ao tipo de LBP, e a densidade de energia utilizada para obtenção do melhor efeito biológico. Uma outra hipótese que podemos sugerir é o efeito da irradiação com LBP sobre o fluxo linfático. O sistema de vasos linfáticos e linfonodos filtra e regula os líquidos extravasculares, e em conjunto com o sistema de fagócitos mononucleares, representa uma segunda linha de defesa, que é acionada, sempre que uma reação inflamatória local não consegue conter e neutralizar a lesão. Os vasos linfáticos são canais extremamente delicados, revestidos por endotélio delgado e contínuo com junções celulares frouxas e superpostas; possuem membrana basal escassa e ausência de sustentação muscular, exceto nos ductos maiores. O fluxo linfático na inflamação é aumentado, e parece ser o grande responsável pela drenagem de líquido, leucócitos e restos celulares de edema que chegam a linfa. Válvulas estão presentes nos vasos linfáticos, permitindo que o conteúdo linfático flua apenas no sentido proximal [1]. Segundo Lievens [27, 28], a irradiação com LBP He-Ne é capaz de aumentar significativamente o fluxo linfático no sítio inflamatório, e ainda, que a restauração de vasos linfáticos foi extremamente mais rápida em animais irradiados (9 dias), do que em animais não irradiados (55 dias). Estes dados sugerem que a redução do edema inflamatório em animais submetidos à terapia com laser de baixa potência pode apresentar um componente linfático, através do aumento da drenagem do exsudato inflamatório. Dessa forma, é razoável admitir que o LBP (He-Ne) pode interferir com o fluxo linfático no sítio inflamatório, no sentido de aumentar a drenagem do exsudato, permitindo a redução do edema É importante salientar que este trabalho evidencia a importância do conhecimento do comprimento de onda da radiação laser adequado a ser utilizado em cada patologia específica, e que o uso inadequado desta tecnologia pode não causar o efeito esperado, como até mesmo induzir uma piora do quadro inflamatório. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Referências 1. Contran RS, Kumar V, Collins T. Robbins patologia estrutural e funcional ed. Guanabara, Koogan p.1051, 2000, Bloom e Fawcett, 1977. 2. Wolf, R., Wolf, D. Contact Dermatitis. 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Láser med science 1991:189-191. 216 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Artigo original Correlação entre a fadiga subjetiva e objetiva na eletroestimulação neuromuscular Correlation between the subject fatigue and objective in the electrical neuromuscular stimulation Kênia Fonseca Pires*, Débora Bevilacqua Grosso** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Mestre em Fisioterapia - Centro Universitário do Triângulo UNIT Uberlândia-MG; Professora e Supervisora de estágio de Fisioterapia traumato-ortopédica Fundação Educacional de Caratinga FUNEC FAFISC,** Doutora em Anatomia - Patologia Buco Dental Centro Universitário do Triângulo UNIT Uberlândia-MG Palavras-chave: eletromiografia, eletroestimulação neuromuscular, escala visual analógica. Resumo Objetivos: Correlacionar o efeito imediato de dois parâmetros de modulação da eletroestimulação neuromuscular (EENM) na freqüência mediana (Fmed), através da análise da atividade eletromiográfica dos músculos flexores do punho e da escala visual analógica (EVA). Métodos: Foram analisados 12 voluntários, na faixa etária de 18 a 29 anos, divididos em dois grupos iguais. O programa da EENM consistiu de uma única aplicação de 30 minutos, sendo o 1º grupo (1G-MF) estimulado com corrente de média freqüência (2000 Hz modulada a 50 Hz) e o 2º grupo (2G-BF) estimulado com corrente de baixa freqüência (50Hz). A frequência mediana foi analisada durante três contrações isométricas voluntárias máximas (CIVM) de 4 segundos, realizadas sempre antes do preenchimento da EVA, que aconteceu antes do início da EENM, 10, 20 e 30 minutos durante a mesma e 15 minutos e 24 horas após seu término. Análise estatística utilizada foi a Correlação de Pearson. Artigo recebido em 7 de maio de 2002; aprovado em 20 de junho de 2002. Endereço para correspondência: Kênia Fonseca Pires, Avenida Moacyr de Matos, 90/ 302 Centro Caratinga MG, Tel: (33)3321-9135 E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 217 Resultados: Houve correlação de Pearson, entre a diminuição da Fmed e o aumento da IF e DF, demonstrando correlação inversa perfeita para o grupo de baixa freqüência (2 G-BF) em todos os tempos analisados, r = -0,7093553 para IF e r= - 0,6795900 para DF. Também houve correlação inversa para o grupo de média freqüência (1G-MF) a partir de 20 EENM, r= -0,4138271 para IF e r= - 0,2289225 para DF. Conclusão: Os resultados permitem concluir que o grupo eletroestimulado com baixa freqüência (2G-BF), produz maior fadiga muscular que o grupo eletroestimulado com média freqüência (1G-MF). Key-words: eletromyographic, stimulation electrical neuromuscular, analogic visual scale. Abstract Objectives: To analyze the immediate effect of two parameters of modulation of the neuromuscular stimulation electrical (EENM) in the medium frequency (Fmed), through the analysis of the electromyographyc activity of the flexors of the wrist and through analogic visual scale (VAS). Methods: Twelve volunteers were analyzed, in the age group from 18 to 29 years, divided equally in two groups. The program of EENM consisted of na only application of 30 minutes, being a group stimulated with current of average frequency (2000Hz modulated to 50Hz) and second group stimulated with current of low frequency (50Hz). Fmed was analyzed during 3 voluntary isometric contractions maximum (CIVM) of 4 seconds, always accomplished before VAS completion, that happened before the beginning of EENM, 10, 20 and 30 minutes during the same and 15 minutes and 24 hours after your end. The statistc analys was Correlation of Pearson. Results: There was correlation of Pearson, between the decrease of Fmed and the increase of IF and DF, demonstrating perfect inverse correlation for the group of low frequency (2G-BF) in every analysed time, r= - 0,7093553 for IF and r= -0,6795900 for DF. There was also inverse correlation for the group of average frequency (1G-MF) starting from 20 of EENM, r= -0,4138271 for IF and r= -0,2289225 for DF. Conclusion: The results allow to conclude the group electrical stimulated with low frequency (2G-BF) it produces larger muscle fatigue that the group electrical stimulated with average frequency (1G-MF). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 218 Introdução A fadiga muscular pode ser definida como falência da propagação do potencial de ação e no acoplamento do sistema de contração relaxamento. Este efeito é o resultado encontrado nas estimulações de baixa e média frequências, realizadas na prática clínica fisioterápica, evidenciada através da utilização da eletroestimulação neuromuscular (EE), em pacientes que se encontram em condições patológicas que comprometem o seu movimento. A seleção da frequência utilizada depende dos objetivos terapêuticos desejados; quando o objetivo é desenvolver força muscular e gerar menor fadiga, Savage [4] recomenda a utilização de 10Hz a 50Hz. Por outro lado, Selkowitz [5] recomenda a frequência de 2500Hz, modulada a 50 Hz, para justificar uma forte contração e agradabilidade. A EE é o uso de corrente elétrica para produzir contração muscular, favorecendo o fortalecimento e hipertrofia muscular, proporcionando um complemento no processo de recuperação e facilitando a conduta fisioterápica. Porém, a maior limitação da EE é a queda precoce da força muscular, devido sua fadiga. De acordo com Binder-MacLeod & McDermond [1], a frequência e a intensidade são fatores determinantes da força muscular, sugerindo que quanto maior a frequência, maior a fadiga muscular. Por outro lado, Laufer et al [?] indicaram a corrente de média frequência para produzir maior força muscular e menor fadiga muscular. A avaliação da fadiga muscular induzida pela (EE), pode ser realizada pela escala visual analógica (EVA) e também pela análise da atividade do sinal eletromiográfico. A EVA (Visual Analogue Scale VAS) é formada por uma linha reta não numerada de 5cm de comprimento, que nas extremidades são assinalados pontos de nenhum cansaço muscular e maior cansaço muscular possível, e em outra reta são assinalados nenhuma sensação desagradável relacionada ao cansaço muscular e sensação mais desagradável possível relacionada ao cansaço muscular [2]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 A análise do sinal eletromiográfico (EMG) é um método que permite o registro da atividade elétrica do músculo, que se faz por meio de eletrodos, funcionando como dispositivos de interface entre um sistema de registro e os tecidos do paciente. Em 1977, Lindstrom et al [3] propuseram um modelo matemático de geração do sinal mioelétrico e, em 1985, Basmajian & De Luca descreveram as manifestações elétricas da fadiga muscular e a sua localização. Sendo assim, o sinal eletromiográfico pode ser analisado quantitativamente pela amplitude da frequência dos sinais EMG. E a redução da frequência do sinal eletromiográfico indica a diminuição da velocidade de condução das fibras musculares. Na literatura, foi encontrado apenas um trabalho que relacionasse a EE de baixa e média frequência, Grimby & WigerstadLossing [8] demonstraram que não houve diferenças significativas entre as EE de alta e baixa frequência, em relação ao desconforto percebido. Diante disso, o presente trabalho objetivou estabelecer possíveis correlações entre a eletromiografia e a intensidade e desagradabilidade da fadiga muscular, nos diferentes protocolos de EE. Material e método Foram analisados o feito de dois protocolos de EE nos músculos flexores do punho, do membro superior não dominante, de 12 voluntários divididos em dois grupos, com faixa etária de 18 a 29 anos (X = 23 ± 2,6), tendo como critérios de inclusão não ter história de dor, fratura, de trauma e disfunção osteomioarticular no segmento a ser analisado, sendo os mesmos recrutados por convite verbal e após esclarecimentos da pesquisa, assinaram o Termo de Consentimento Informado, recebendo a aprovação pelo Comitê de Ética. O 1º grupo representa o estimulado com média frequência (2.000 Hz modulada a 50Hz) e o 2º representa o grupo estimulado com baixa frequência (50Hz). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Tabela I Parâmetros das correntes elétricas e dos procedimentos utilizados no programa de eletroestimulação neuromuscular Parâmetros ee 1º grupo 2º grupo Forma do pulso Largura do pulso (µs) Tempo de subida (s) Freqüência (Hz) Modulação em amplitude (%) Freqüência da modulação (Hz) Ton:Toff (s) Tempo de estimulação (minutos) Bifásico 100 0,5 2000 100 50 3:1 30 Bifásico 250 0,5 50 100 3:1 30 O eletromiógrafo utilizado foi desenvolvido pelo Laboratório de Engenharia Biomédica da Universidade Federal de Uberlândia UFU, sob a responsabilidade do Professor Dr. Alcimar Barbosa Soares, alocado no Laboratório de Eletromiografia do Centro Universitário de Uberlândia UNIT, possuindo as seguintes características: · Aquisição simultânea de até oito canais diferenciais; · Terra comum a todos os canais; · Filtros com faixa de passagem de 20Hz a 5KHz; · Um estágio de amplificador ajustável, possibilitando ganhos entre 100 vezes e 41.000 vezes; · Isolação óptica; · - 1,5 Kv 9RMS) a 60Hz; · RRMC (Relação de Rejeição em Modo Comum) de 93 dB a 60Hz; · Faixa de entrada de 10V a + 10V Os eletrodos utilizados para captação da atividade elétrica dos músculos flexores do punho do membro superior não dominante foram eletrodos passivos bipolares de superfície do tipo Beckmam. Para garantir uma distância fixa entre os eletrodos, foi utilizada uma base de fixação, que manteve os eletrodos a uma distância de 20mm entre os centros [6]. Foi utilizado um software (aplicativo AlcEmg), que possibilitava o ajuste do número de canais, controle automático do processo de aquisição, cálculo do conteúdo espectral do sinal, cálculo da frequência mediana. O equipamento utilizado para eletroestimulação neuromuscular (EENM), possuía 219 dois canais independentes, modelo Dualpex 961 (Quark), possibilitando variações de frequência na faixa de 1Hz a 4000Hz. Os eletrodos da EE de silicone-carbono consistiam área de 5cm2 . Foi elaborada uma ficha para análise da fadiga muscular subjetiva, baseada na Escala Visual Analógica , utilizada para avaliar em suas dimensões intensidade e desagradabilidade. Procedimentos A sala foi preparada para o posicionamento de um dispositivo em acrílico que permitiu a fixação do punho a 45° flexão, confeccionado no Laboratório de Concepção Instrumental do Centro Universitário do Triângulo UNIT (figura 1). Ele foi fixado na mesa de madeira para permanecer completamente estabilizado e permitir a realização das contrações isométricas. O eletroestimulador (figura 2), eletromiógrafo (figura 3) e computador foram posicionados de forma a facilitar a operação das atividades experimentais. Em seguida, os voluntários foram esclarecidos quanto a EE, preenchimento das escalas (figura 4), dos comandos verbais, que incentivariam na realização das contrações isométricas voluntárias máximas (CIVMs). Posteriormente, o voluntário foi orientado que permanecesse na posição sentada com os membros inferiores apoiados no chão e o com o membro superior não dominante supinado e apoiado na mesa, então foi realizada a limpeza da pele sobre o ventre dos músculos flexores do punho, com álcool a 70%, para diminuir a impedância elétrica, em seguida foram posicionados os eletrodos da EE e EMG, untados com gel hidrossolúvel e fixados com fita adesiva na linha média do ventre muscular [9] e o eletrodo terra foi posicionado no epicôndilo lateral do úmero. Os voluntários preencheram a EVA no início do procedimento e foram instruídos a se concentrar no comando verbal atenção já dado pelo operador do eletromiógrafo, para iniciar a contração de forma vigorosa com duração de 4s, para captação dos sinais EMG durante três CIVMs, obtidas na posição de 45° de flexão. Ao final do período de 10 220 minutos, 20 minutos e 30 minutos, foi realizada nova captação dos sinais EMG, através de três CIVMs e também o preenchimento das escalas subjetivas; totalizando 30 minutos de EE. Posteriormente, o voluntário permanecia 15 minutos em repouso e em seguida três novas aquisições do sinal EMG e preenchimento das escalas subjetivas e outra coleta foi realizada 24 horas após. Em seguida, foi realizada a análise do sinal EMG e cálculo da frequência mediana e as escalas subjetivas foram mensuradas com régua profissional, a partir do ponto de nenhuma fadiga até o ponto assinalado pelo voluntário; o valor obtido foi multiplicado por 2, obtendo o resultado final em uma escala de 0 a 100 mm. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Figura 3 Eletromiográfo Nenhum cansaço muscular Maior cansaço muscular possível Outras informações:________________________________________ Figura 1 Dispositivo em acrílico com fixação do punho a 45º flexão Nenhuma sensação Sensação mais desagradável relacionada ao cansaço muscular desagradável possível relacionada ao cansaço muscular Outras informações:________________________________________ Figura 4 Escala visual analógica Resultados Figura 2 Eletroestimulador neuromuscular Para realizar a correlação da Fmed com a intensidade e desagradabilidade da fadiga, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson, para todos os tempos analisados, sendo r= -1, valor para correlação inversa perfeita. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Figura 5 - Correlação da freqüência mediana (Fmed) e da intensidade da fadiga (IF) dos músculos flexores do punho no grupo 1 (1G-MF, n= 6) e no grupo 2 (2G-BF, n= 6). Para o 1G-MF não houve relação inversa (r= 0,0758107) e para o 2G-BF houve relação inversa entre Fmed e IF (r= -0,7093553). 221 Figura 8 - Correlação da freqüência mediana (Fmed) e da desagradabilidade da fadiga (DF) dos músculos flexores do punho no grupo 1 (IG-MF, n= 6) e no grupo 2 (2G-BF, n= 6), a partir de 20 min de EE. Houve relação inversa entre Fmed e DF tanto no 1G-BF (r= -0,2289225) quanto no 2GBF (r= -0,9352397). Discussão Figura 6 - Correlação da freqüência mediana (Fmed) e da desagradabilidade da fadiga (DF) dos músculos flexores do punho no grupo 1 (IG-MF, n= 6) e no grupo 2 (2G-BF). No 1G-MF não houve relação inversa (r= 0,0720535) e no 2G-BF houve relação inversa entre Fmed e DF (r= -0,6795900). Figura 7 - Correlação da freqüência mediana (Fmed) e da intensidade da fadiga (IF) dos músculos flexores do punho no grupo 1 (IG-MF, n= 6) e no grupo 2 (2G-BF, n= 6), a partir de 20 min de EE. Houve relação inversa entre Fmed e IF tanto para 1G-MF (r= -0,4138271) quanto para 2G-BF (r= -0,9958522). Neste trabalho foi verificado os dados da frequência mediana, relacionados com os dados da EVA, através da correlação de Pearson. Isto é, se a diminuição da freqüência mediana era acompanhada de aumento da IF e DF. Os resultados revelaram que houve relação inversa entre a frequência mediana e a intensidade (IF) e/ou desagradabilidade (DF) da fadiga, no grupo eletroestimulado com corrente de baixa freqüência, para todos os tempos analisados. A mesma relação não foi observada no grupo de média freqüência quando realizada a análise de todos os tempos. Não foi encontrado estudos que correlacionassem estes parâmetros, por isso os resultados não podem ser diretamente comparados. Apesar dos resultados deste trabalho revelarem que a modulação, em amplitude da corrente de baixa freqüência, causou maior fadiga muscular e também maior percepção subjetiva da mesma em relação a corrente de média freqüência, estes resultados não concordam com os resultados de Guirro, que observou diminuição da freqüência mediana da EE de média freqüência [9]. No entanto, o autor não realizou análise imediata da freqüência mediana, mas no final de um protocolo de 15 dias de EE, atribuiu os resultados encontrados ao recrutamento seletivo das 222 fibras musculares susceptíveis à fadiga (fibras do tipo II). Portanto, os resultados encontrados da freqüência mediana e intensidade e desagradabilidade da fadiga (IF e DF) do grupo de média freqüência, indicam que esta modulação é a mais adequada para ser utilizada, porque além de não promover fadiga muscular, também é a mais agradável. No entanto, ao comparar estas mesmas variáveis a partir de 20 minutos de EE, foi observado que quando há diminuição da frequência mediana, existe também aumento da intensidade e desagradabilidade da fadiga, a partir deste período de aplicação. Portanto, a presença desta relação inversa à de baixa freqüência, nas aplicações que não ultrapassem o tempo de 20 minutos de EE, evidenciaram que aumentam as possibilidades de ocorrer fadiga, tanto objetiva quando subjetiva. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 2. 3. 4. 5. 6. Conclusão A EE com corrente de média freqüência mostrou-se mais vantajosa que a EE de baixa freqüência. No entanto, a partir de 20 minutos de EE, também apresentou correlação inversa entre a freqüência e a intensidade e desagradabilidade da fadiga. Portanto, esse período é o tempo ideal para a EE e cuidados adicionais devem ser tomados para protocolos mais demorados. Referências 1. Binnder-MacLeod SA, McDermond LR. Changes in the force-frequency relationship of the human quadriceps 7. 8. 9. femoris muscle following electrically and voluntarily induced fatigue. Phys Ther 1992;72(2):95-104. Harmitt M et al. Relação entre dor e fadiga antes e após a avaliação da força muscular e do pico de torque médio para o músculo quadríceps da coxa. In: Congresso de Iniciação Científica, 6 anais Unimep/CNPq, 1998; p.65-66. Lindstrom L, Kadefors R, Petersen I. Na electromyographic index for localized muscle fatigue. JApplPhysiol 1977;43:750754. Savage B. Interferential therapy. London:Faber and Faber, 1984. Selkowitz DM. High frequency electrical stimulation in muscle strengthening. Am J. Sports Med. Andrade A. Técnicas para classificação de sinais EMG no controle de mebros artificiais. 2000. 102 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) Faculdade de Engenharia Elétrica. Universidade Federal de Uberlândia 2000. Basmajian IV, De Luca C. Muscle ative their functions revealed by electromyography. 5 . ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1985;p. 516. Grimby G, Wigerstad-Lossing. Comparison of high- and low frequency muscle stimulators. Arch Phys Med Rehabil 1989;70:835-838. Guirro A. Análise da atividade elétrica e da força dos músculos flexores da mão após estimulação elétrica neuro muscular. 2000. 193 f. Tese (Doutorado em Anatomia) Pós- Graduação em Biologia e Patologia Buco Dental, Universidade de Campinas, Piracicaba 1989;17(1):103-111. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 223 Artigo original Efeitos do laser Arsenieto de Gálio (AsGa) na inflamação articular aguda induzida em ratos wistar através do adjuvante completo de Freund The effects of the Laser Gallium Arsenide(AsGa) in treatment of inflammation in the articulation in wistar rats through the Complete Adjuvant of Freund CristinaVincensi*, Paulo de Tarso Camillo de Carvalho** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Fisioterapeuta Graduada pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal UNIDERP-MS,** Mestre em Bioengenharia EESC/FMRP/IQSC Universidade de São Paulo USP, Professor Titular da disciplina de Fisioterapia Geral - Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal- UNIDERP - Campo Grande MS Palavras-chave: Laser de baixa intensidade, inflamação induzida, Adjuvante completo de Freund. Resumo O presente estudo tem como objetivo verificar os efeitos do laser Arsenieto de Gálio no tratamento da inflamação aguda na articulação do joelho. Para tanto utilizou-se 24 rattus novergicus albinos da linhagem wistar, fêmeas, sem idade estabelecida, distribuídas em 2 grupos e 4 subgrupos. A análise foi realizada através dos resultados histopatológicos. A indução da inflamação foi realizada através da injeção 0,45 ml de solução de Soro Albumina Bovina (SAB) e Adjuvant Completo de Freund (ACF) no joelho direito, sendo que o contralateral serviu de testemunha. O grupo tratado foi composto por 12 animais, sendo estes subdivididos em 3 e 7 dias. O grupo induzido, mas não tratado foi enquadrado no mesmo protocolo. Após Artigo recebido em 1 de junho de 2002; aprovado em 20 de junho de 2002. Endereço para correspondência: Prof. Paulo de Tarso Camillo de Carvalho, Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal /Coordenação do Curso de Fisioterapia, Rua Alexandre Herculano, 1400, Parque dos Poderes, 79037-280 Campo Grande MS, E-mail: [email protected] 224 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 eutanásia, coletou-se as peças que foram coradas pela técnica de Hematoxilina-Eosina (HE). Na análise estatística obteve-se p<0,5, e nos resultados foi possível constatar diferenças significativas nos animais tratados nos subgrupos de 3 e 7 dias, quando comparados com o grupo controle, em relação aos parâmetros de mononucleares, congestão vascular e neoformação de vasos. Concluindo-se que o laser apresenta efetividade como antiinflamatório, antiedematoso e analgésico. Key-words: Low Intensity Laser Therapy, induced inflammation, Freunds Adjuvant Abstract The present study has as objective verifies the effects of the Laser Gallium Arsenide (GaAs) in the treatment of the sharp inflammation in the articulation of the knee, analyzed through histopathologic results. We used 24 Rattus albino novergicus of the lineage Wistar, females, without established age, distributed in 2 groups and 4 subgroups. The induction of the inflammation was induced through the injection of 0.45 ml of solution of Serum Bovine Albumin (SAB) and Adjuvant Complete of Freund (ACF) in the right knee, and the against lateral served as witness. The treated group was composed of 9 animals, being these subdivided in 3 and 7 days. The induced group, but non treated was framed in the same protocol. After euthanasia, it was collected the pieces that were red-faced for the technique of Hematoxilina-Eosina (HE). In the it analyzes statistics it was obtained p <0,5, in the results were possible to verify significant differences in the treated animals in the subgroups of 3 and 7 days when compared with the group control, in the mononuclear parameters, vascular congestion and neo formation of vessels. It was concluded that the laser presents effectiveness as antiinflammatory anti- swelling and analgesic. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Introdução As doenças inflamatórias que afetam as articulações, apresentam prevalência alta principalmente a osteoartrite e a artrite reumatóide. Estudos indicam uma previsão de que 59,4 milhões de novos casos aparecerão nas Américas até o ano 2020. Vale lembrar que estas doenças, além de serem incapacitantes, são de grande morbidade. O processo inflamatório conduz a níveis elevados de incapacidade que, se não resolvidos, podem apresentar quadros remissivos, que comprometem funcionalmente, tanto as atividades de vida diária como as atividades da vida profissional do paciente, principalmente no que tange ao quadro álgico, assim como a perda de amplitude de movimento. Durante a década passada, houve crescente interesse sobre o que a reabilitação, principalmente a fisioterapia poderia oferecer a estes pacientes. Vários estudos foram publicados preconizando tratamentos, que se estendem desde a cinesioterapia e os já tradicionais recursos físicos, tais como termoterapia (superficial e profunda), crioterapia, eletroterapia analgésica, até a aplicação da laserterapia de baixa intensidade. Apesar do uso do laser com fins terapêuticos já perfazer mais de 40 anos, muitos estudos experimentais ainda buscam elucidar seus mecanismos de atuação. As pesquisas dos efeitos biológicos e fisiológicos do laser abrangem três áreas principais; pesquisa celular, estudos em animais e estudos controlados em humanos. Os termos laserterapia de baixa intensidade e laserterapia no nível baixo reativo, são usados para distinguir as aplicações de baixa energia usadas na fisioterapia, das aplicações de alta energia usadas terapeuticamente para destruição tecidual [1, 2, 3,4]. Diversos pesquisadores reportam que a radiação laser apresenta efeito antiinflamatório, analgésico, influencia no metabolismo do tecido conectivo (neoformador de colágeno), prolifera fibroblastos, induz a reepitelização e sintetiza proteoglicanas e DNA [1,5,3,6,2,4]. Os efeitos fisiológicos da laserterapia de baixa intensidade podem ser creditados a 225 incorporação da radiação laser, onde há liberação de substâncias pré-formadas como histamina, serotonina e bradicinina. Porém elas atuam na síntese de prostaglandinas, na lise da fibrina, proporcionando modificações estimulatórias ou inibitórias em reações enzimáticas, como na atividade da bomba sódio/potássio mantendo-a com maior eficiência. Para que esta reação aconteça fazse necessário à produção de ATP, devido ao grande consumo de energia [6]. Processos inflamatórios articulares podem ser induzidos experimentalmente por vários agentes agressores entre eles o Adjuvante Completo de Freund. Esta droga provoca um processo inflamatório agudo, marcado pela proliferação, hiperplasia de células inflamatórias e infiltrado mononucleares na sinovia, podendo a longo prazo gerar erosão da cartilagem articular. Os problemas causados pelos processos inflamatórios articulares, sua morbidade e seu alto grau de incapacidade associado as lacunas deixadas na literatura, no que tange a laserterapia de baixa intensidade nos motivou a realizar este estudo [7,8]. Metodologia Animais de experimentação Para dar cumprimento ao trabalho utilizouse 24 ratos rattus novergicus albinos de linhagem wistar, fêmeas, com peso corpóreo variando de 200 a 300g e idade variada. Os animais permaneceram em boas condições de ambiente, luz, temperatura e higiene com alimentação controlada e água ad libitum. Grupos experimentais Os animais foram distribuídos aleatoriamente em 2 grupos, contendo 12 animais cada um, que foram denominados Grupos A e B, sendo respectivamente A: animais tratados; B: animais controle ou não tratados. Os grupos A e B ainda foram subdivididos em dois (2) subgrupos com 6 animais cada, que foram denominados A1 - animais tratados 7 dias, A2 - animais tratados 3 dias, B1- animais não tratados 7 dias e B2 -animais não tratados 3 dias. 226 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Indução ao processo inflamatório Análise histológica Os animais foram mantidos em plano anestésico, pela inalação de éter etílico. A partir de então, eram submetidos a injeções de 0,45 ml de solução SAB e ACF via intraarticular, no joelho direito. Foi realizada a tricotomia do membro posterior direito, pesagem de marcação na fontanela, conforme o grupo a que pertencia cada animal. Para haver inclusão dos animais no presente estudo, eles foram submetidos a uma avaliação prévia, na qual o animal deveria apresentar no mínimo três, dos cinco sinais inflamatórios, ou seja calor , rubor, tumor, dor e incapacidade funcional. As peças foram processadas pelas técnicas usuais de inclusão em parafina, e os cortes de 5 micrômetros obtidos foram corados pelo método de hematoxilina-eosina. As lâminas foram submetidas a um exame histopatológico e analisadas em microscópio óptico comum semi quantitativamente Alphaphot - 2 YS2 Nikon Tratamento Os animais do subgrupo A1 receberam radiação por 7 dias consecutivos, e o subgrupo A2 por 3 dias consecutivos. O aparelho utilizado no experimento foi o laser semicondutor diodo AsGa LIV 973, fabricado pela KLD Biossistemas, com potência de 45 Watts, com densidade de energia 4 J/cm2. O tempo de exposição foi fornecido pelo aparelho que é microprocessado. A energia foi depositada entre pontos cutâneos com 6 radiações, sendo 3 pontos na face lateral e 3 na face medial do joelho direito. Eutanásia Análise estatística Após a análise histopatológica, os dados foram encaminhados ao bioestatístico, que estipulou e comprovou os resultados através do Teste de Wilcoxon e Teste dos Sinais [6,11, 13,14]. Resultados Nas observações clínicas dos sinais flogísticos, os animais induzidos com SAB e ACF apresentaram em análise macroscópicas alterações coesas. No primeiro dia após indução da solução responsável pelo comprometimento unilateral dos animais expostos, encontramos aumento na temperatura local, tumefação, quadro álgico e perda da função, expressos na tabela I. O exame histopatológico dos cortes longitudinais dos animais tratados, revelaram alterações características de reorganização celular nos animais submetidos à radiação laser, quando comparados aos animais não tratados. No corte histológico do subgrupo B2, apresentou-se processo inflamatório agudo extenso, envolvendo sinóvia e tecidos moles adjacentes, com presença significativa de microabcessos, advindo da extensão dos número de neutrófilos, pequena quantidade de Após as lesões, no terceiro e sétimo dia respectivamente, os animais foram submetidos à eutanásia por inalação de éter etílico, em dose letal, até a parada cardiorrespiratória. Constatado óbito, foi seccionada a articulação fêmoro tíbio talar do membro posterior direito de cada animal e retirada em bloco (1 cm acima do fêmur e 1 cm abaixo da Tabela I - Observações clínicas macroscópicas tíbia). As peças após identi Dor Calor Rubor Tumor Perda da função ficação foram imersas em 1+ 0% 0% 0% 0% 0% solução de formalina a 10 % 2+ 0% 33,33 0% 0% 0% tamponado por 48 horas Após a 3+ 50% 66,67% 33,33% 50% 0% retirada dos tecidos moles, as 4+ 50% 0% 66,67% 50% 100% articulações foram descal DP 0,288675 0,319153 0,319153 0,288675 0,5 cificadas em solução de EDTA 0 Ausente; + Leve ; ++ Discreto; +++ Moderado; ++++ Severo durante 14 dias [9,10]. DP: Desvio Padrão Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 227 Tabela II: Alterações anátomo-patológicas no subgrupo B2 controle 3 dias. Processo Inflamatório 3 dias Ntrat Média 4+ 3+ 2+ 3 Neutrófilos 4+ 4+ 3+ 3.67 Mononucleares 2+ 2+ 2+ 2 Congestão Neoformação Vascular 2+ 2+ 1+ 1.67 0 0 0 0 0 Ausente; + Leve ; ++ Discreto; +++ Moderado; ++++ Severo Tabela III: Alterações anátomo-patológicas no grupo induzido e tratado com radiação laser. 3 dias Ntrat Média Processo Inflamatório Neutrófilos 2+ 1+ 3+ 2.0 2+ 1+ 2+ 1.67 Mononucleares 2+ 1+ 2+ 1.67 Congestão Neoformação Vascular 1+ 1+ 1+ 1.0 0 0 1+ 0.33 0 Ausente; + Leve ; ++ Discreto; +++ Moderado; ++++ Severo Tabela IV: Alterações anátomo-patológicas no grupo 3 induzido e não tratado, com 7 dias. 7 dias Trat Média Processo Inflamatório Neutrófilos Mononucleares 4+ 4+ 4+ 4+ 4+ 4+ 4.0 2+ 2+ 1+ 2+ 1+ 1+ 1.5 4+ 4+ 4+ 4+ 4+ 4+ 4.0 Congestão Neoformação Vascular 0 0 0 0 0 0 0 1+ 1+ 1+ 1+ 1+ 1+ 1.0 0 Ausente; + Leve ; ++ Discreto; +++ Moderado; ++++ Severo Tabela V: Alterações anátomo-patológicas no subgrupo A1 (7 dias). 7 dias Trat Média Processo Inflamatório Neutrófilos Mononucleares 1+ 2+ 1+ 2+ 2+ 1+ 2.0 0 1+ 0 2+ 1+ 2+ 1.0 2+ 2+ 2+ 2+ 2+ 2+ 2.7 Congestão Neoformação Vascular 0 0 0 0 0 0 0 3+ 3+ 3+ 3+ 4+ 3+ 3.17 0 Ausente; + Leve ; ++ Discreto; +++ Moderado; ++++ Severo mononucleares, com presença de congestão vascular, sem a formação de granuloma epitelióide, com ausência de células gigantes e de neoformação de vasos (tabela II). Nos cortes histológicos dos subgrupo A2 tratado com 3 dias, revelam processo inflamatório caracterizado como discreto, que se estende a tecidos moles, sinóvia ou ambos, presença de edema em tecidos moles. A sinóvia apresenta neoformação de vasos, mononucleares e neutrófilos em pequena quantidade, caracterizado por leve congestão vascular, com neoformação de casos oscilando entre ausente a leve formação, com ausência de granulomas epitelióides e células gigantes (tabela III). Os cortes histológicos do subgrupos B1 - não tratado com 7 dia, apresentaram intenso processo inflamatório, que se estende desde a sinóvia a tecidos moles adjacentes, com presença acentuada de mononucleares, que esboçavam granulomas epitelióides, formando microabcessos advindo do excesso de neutrófilos. Em algumas circunstâncias, houve presença de células gigantes com neovascularização classificada como discreta, com ausência de congestão vascular (tabela IV). Os cortes histológicos no subgrupo A1 - tratados com 7 dias, apresentam processo inflamatório de leve a discreto, em alguns casos na sinóvia, às vezes se estende a tecidos moles adjacentes a articulação ou em ambos. Apresentam em pouca quantidade neutrófilos, e moderados mononucleares, esboçando granuloma epitelióide em pequena quantidade, sem congestão vascular e grande quantidade de neoformação vascular (tabela V). Discussão Os animais objeto deste estudo, foram divididos em 2 grupos experimentais e subdivididos em subgrupos de 3 e 7 dias. Esta subdivisão se deu com o objetivo de acompanhar os principais eventos da inflamação, que apresenta uma fase aguda caracterizada pela curta duração de minutos a 72 horas [22, 23, 24, 16, 25, 17]. 228 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 De acordo com os dados estatísticos, o trabalho apresentou evidências suficientes para comprovar a efetividade do laser no grupo de 7 dias. Houve diferença significativa do processo inflamatório entre os animais tratados com laser, quando comparados com os animais não tratados, em 3 e 7 Fig. 1 Gráfico comparativo das observações clínicas dias. Constatamos, também, macroscópicas que há diferença significativa proliferação e hiperplasia de células na neoformação vascular quando comparado inflamatórias e infiltrados mononucleares na aos animais tratados e não tratados em 7 dias. sinóvia, com abundância de poliUtilizou-se no experimento Adjuvante morfonucleares e mononucleares, como Completo de Freund e Soro Albumina Bovina. células T e agregado de macrófagos em A indução do Adjuvante Completo de Freund grande quantidade, pode ou não se estender foi responsável pela intensa reação inflamatória aguda - monoartrite. Portanto, a tecidos moles adjacentes a sinóvia, que em esta substância é um pré-requisito para o longo prazo podem gerar erosão da cartilagem desenvolvimento da doença, pois apresenta articular e óssea [20, 21, 18, 19]. Mycobacterium em sua concentração, que é Neste estudo foi obser vado uma um material inanimado não degradável, como inflamação do tipo granulomatosa que é um partículas de sílica, irritantes químicos e/ou processo caracterizado por agregado de mecânico e até auto-imunes, que em longo macrófagos modificados designadas células prazo pode gerar uma artrite reumatóide em epitelióides, ou células gigantes multicobaia experimental [16, 17, 18, 7, 19]. nucleadas. Estas células são circundadas A injeção de Adjuvante Completo de por leucócitos mononucleares, monócitos, Freund, apresenta histologicamente linfócitos e estão associadas a micror- Fig. 2 - Gráfico Comparativo das Alterações Anátomo Patológicas. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 ganismos e a outros agentes capazes de induzir a sensibilização dos linfócitos T. Nossos achados corroboram com vários estudos [16, 20, 17], pois os macrófagos não foram destruídos pelo agente agressor através da fagocitose, acabaram por perder sua motilidade e se fixaram no tecido onde originaram um granuloma. A escolha do laser Arsenieto de Gálio se deu devido à vasta referência da literatura de seu efeito antiinflamatório, antiedematoso e analgésico [29, 30, 31, 2, 32, 6, 5]. Anneroth et al. [32] comprovaram, em seu experimento utilizando cobaias com Adjuvante Completo de Freund, que não há diferenças entre os grupos tratados e não tratados durante a transição fase da aguda, para subaguda representada pelos dias 3 e 7. Concluíram que no grupo controle de 7 dias, houve proliferação de capilares e células endoteliais para área adjacente à lesão, e o grupo controle não apresentou proliferação de células sangüíneas como leucócitos, linfócitos, polimorfonucleares, macrófagos e células plasmáticas. A laserterapia reorganizou o processo inflamatório, tanto em células como em vasos sangüíneos. Alguns autores [27, 33, 19, 32] relatam que as células endoteliais são transformadas em capilares devido ao efeito neoformador do laser. O laser atua sobre o processo inflamatório modulando a neovascularização, que como conseqüência diminui a perda da função, incrementa a oxigenação tecidual, aumenta a microcirculação regional e estimula diversas reações durante o processo de reparação tecidual [32, 34, 27, 5]. Conclusão Através dos resultados histopatológicos concluímos que: o laser apresentou efetividade nos grupos submetidos à radiação laser, pois propiciou um aumento na neoformação de vasos. E no grupo tratado com 7 dias não houve formação de granuloma epitelióide, com diminuição de neutrófilos, macrófagos, porém nos grupos não tratados obtivemos granulomas epitelióides e um processo inflamatório de grande extensão. 229 Referências 1. Petersen SL, Botes C, Olivier A, Guthrie AJ. The effect of low level laser therapy (LLLT) on wound healing in horses. Equine Veterinary Journal 1999;31(3):228-231. 2. Mendes C. Laserterapia de Baixa Intensidade. Disponível em http//: www. forprestauradora.usp.com.br. acesso em julho de 2001. 3. Low J, Reed A. Eletroterapia Explicada: princípios e prática. 3. Ed. São Paulo: Manole: São Paulo, 2001. p.390-409. 4. Carvalho PTC, Mazzer N, Corazza AV, Raduam RM. Os efeitos do laser de baixa intensidade em feridas cutâneas induzidas em ratos diabéticos. Fisioterapia Brasil 2001;2(4): 241-245. 5. Brosseau L, Welch V, Wells G et al. Low level laser therapy for osteoarthritis and rheumatoid arthritis: a metaanalysis. 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Portanto, a hiperidrose palmar é caracterizada como o aumento da sudorese nas palmas das mãos. Existem várias formas de tratamento conservador para esta alteração, sendo controversos os resultados. Para o alívio definitivo, a literatura mostra ser obtido pela simpatectomia torácica, mas com os riscos associados de um procedimento cirúrgico. Neste trabalho, foi proposto o tratamento através de estimulação com a corrente alternada, polarizada e de baixa freqüência. Como resultado, foi observado alívio dos sintomas em 80% dos indivíduos, porém sem significado clínico, pois o alívio era apenas temporário. Mas devido ao pequeno número de indivíduos (10) e terapias (5), acredita-se que sejam necessários maiores estudos sobre a eletroestimulação em hiperidrose palmar. Artigo recebido em 01 de julho de 2002; aprovado em 10 de julho de 2002. Endereço para correspondência: Gladson Ricardo Flor Bertolini, Rua Universitária, 1476/21, Jardim Universitário.85.819-110 - Cascavel, PR. Tel: (45) 220-3157 (Comercial). E-mail: [email protected] 232 Key-words: hyperhidrosis, eletroestimulation. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Abstract Hyperhidrosis is characterised by excessive sweating, that occurs in rich regions in sweating glands, therefore palmar hyperhidrosis is the rise of sweating in palms. There are many forms of conservative treatment for this alteration, being results controversial. To achieve a definite relief, the literature shows that it can be obtained by Thoracic Sympathectomy, but there are risks associated in a surgery procedure. In this study was offered a treatmente through estimulation with an alternative current, polarizated and low frequency. As results were observed symptoms relief in 80% of individuals, but without a clinic significance because relief was temporary, but due to the few numbers of individuals (10) and therapies (5), are necessary more studies about electroestimulation in palmar hyperhidrosis. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução As funções fisiológicas do suor são variadas. Junto com a vascularização cutânea, compõe o principal mecanismo de regulação da temperatura corporal; contribui para manter a camada córnea maleável; previne a ação traumática da fricção sobre a superfície epidérmica e contribui para manter o pH cutâneo [8]. As glândulas sudoríparas écrinas são inervadas pelas fibras simpáticas pósganglionares, e atuam sobre a parte secretora por liberação de acetilcolina. As fibras simpáticas pós-ganglionares são dependentes dos gânglios simpáticos, da medula espinhal, do hipotálamo e do córtex cerebral; sendo assim, a sudação pode depender de qualquer dessas estruturas [8]. Hiperidrose é aumento do fluxo sudoral, generalizado ou circunscrito a determinadas áreas [1]. Geralmente acomete em maior intensidade as regiões mais ricas em glândulas sudoríparas, como couro cabeludo, fronte, virilha, axila, planta dos pés e palma das mãos [21]. Constitui fenômeno passageiro, ou persistente, podendo-se agravar em certas circunstâncias [1]. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Na hiperidrose cortical ou emocional existe pré-disposição familiar, em muitos casos por gene autossômico dominante. As glândulas sudoríparas são normais e não há alteração de colinesterase, admitindo-se que os impulsos oriundos do córtex podem liberar quantidade excessiva de acetilcolina, aumentando a sudorese. Ocorre melhora durante o sono, devido à diminuição dos impulsos nervosos [21]. A hiperidrose hipotalâmica ocorre devido a uma possível sensibilidade aumentada dos centros termorreguladores do hipotálamo. A principal fonte estimuladora do hipotálamo é o aumento da temperatura, por causas exógenas (calor) ou endógenas (exercício ou doenças). Além disso, uma série de distúrbios metabólicos, reações medicamentosas, doenças cardiovasculares e neurológicas, podem aumentar a sensibilidade dos centros hipotalâmicos. Não há diminuição com o sono, podendo tornar-se mais intensa [21]. A hiperidrose palmar é considerada a forma mais inconveniente, na qual a umidade permanente e intensa das mãos pode constituir um transtorno à execução de certas tarefas, com prejuízo de atividades profissionais e sociais [1]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 A simpatectomia para hiperidrose palmar é realizada nos gânglios simpáticos T2 e T3 [13,17,20]. Quando essa cirurgia é aberta, freqüentemente acompanha uma alta morbidade, podendo haver síndrome de Horner, lesão do nervo frênico, plexo braquial, artéria subclávia e hemotórax. A incidência e severidade das complicações diminuem quando a cirurgia é realizada endoscopicamente [23]. Os bons resultados são superiores a 90%, a dor é pouco significante, e são bons os resultados estéticos [9]. Então, esta é considerada a terapêutica definitiva para a hiperidrose palmar. Porém, podem existir complicações, tais como risco de persistência da sudorese [4], pneumotórax, síndrome de Horner transitória, hiperidrose compensatória (principalmente na parte superior das costas, nádegas, parte anterior do tórax, abdome, coxa e gustativa) [4,7,9,11,13], ptose palpebral e embolia cerebral [4]. A hiperhidrose palmar usualmente ocorre na infância, ou pré-puberdade. A história natural não tratada é persistir por toda a vida, mas acredita-se que a atividade glandular diminua após a quarta década de vida [14]. Por isso o tratamento conservador é visto como uma possibilidade. Para Hölzle a iontoforese com água de torneira, é o meio mais efetivo para o tratamento da hiperidrose palmo -plantar sem efeitos colaterais significantes, podendo ter atuação produzindo um distúrbio funcional na célula écrina secretora [10]. Autores como Ciccone, Lefaucheur, Xhardez, Dacos e Wathelet também mostram a importância da iontoforese como tratamento para hiperidrose palmar [5,16,22]. Para Ciccone, a iontoforese parece induzir a formação de tampões seratinosos nas glândulas sudoríparas, bloqueando, assim, o fluxo da transpiração para a superfície da pele [5]. Porém, podem existir outras justificativas, pois, segundo Dooley e Kasprak [24], a eletroestimulação pode produzir bloqueio da vasoconstricção reflexa, atuando sobre o simpático [12]. Em um estudo com eletroestimulação em 10 sujeitos saudáveis, Leandri, Brunetti e Parodi observaram vasodilatação, que possivelmente foi causada por um reflexo axonal [15]. Costello e Jeske 233 relatam o efeito de endosmose, como sendo a fuga de líquidos do pólo positivo [6]. Apresenta-se então a utilização da iontoforese com água de torneira, sendo a corrente elétrica usada numa corrente polarizada de baixa freqüência. Metodologia Realizou-se no ambulatório de fisioterapia da Unioeste, tratamento fisioterapêutico em 12 indivíduos com hiperidrose palmar. Receberam um questionário antes e um após o tratamento, composto de questões subjetivas sobre suas sensações a respeito da sudação e do tratamento. Todos eram alunos do curso de fisioterapia da Unioeste. O grupo era composto por 3 homens (25%) e 9 mulheres (75%), a idade variou entre 19 a 26 anos (média 21 anos). Apenas um apresentava doença associada (desidrose). Além da hiperidrose palmar, 11 (91,67%) apresentavam hiperidrose plantar, 3 (25%) axilar, 2 (16,67%) região esternal, poplítea, couro cabeludo e face. Todos apresentavam a superfície palmar úmida, seis referiram-na fria (50%) e 1 cianótica (8,32%). Com relação ao início dos sintomas, 4 não recordavam, 4 referiram que sempre apresentaram, 1 relatou início há 10 anos, 1 há 7 anos, 1 há 6 anos e 1 há 1 ano. Como fator causal, 7 (58,33%) apontaram estresse emocional, 4 (33,33%) altas temperaturas e 1 (8,33%) o frio. Todos apresentavam exacerbação da sudorese por fatores emocionais, 10 (83,33%) por ambientes aquecidos e 10 (83,33%) por esforços físicos. Quanto ao prejuízo de tarefas, 9 (75%) referiram escrever, 3 (25%) ao cumprimentar, 1 (8,33%) ao cozinhar, 5 (41,67%) ao atender pacientes, 1 ao segurar objetos por tempo prolongado e 2 não referiram prejuízos. Oito (66,67%) referiram prejuízos em suas relações sociais e 4 (33,33%) não referiram prejuízos. Sete (58,32%) não referiram predisposição familiar, 3 (25%) referiram e 2 (16,67%) não souberam responder. Em 11 (91,67%) o grau de sudorese diminuía durante o sono e em 1 (8,33%) aumentava. Dez (83,33%) nunca haviam reali- 234 zado tratamento para hiperidrose, 1 realizou tratamento homeopático ansiolítico e 1 utilizou cremes homeopáticos para desidrose. Para a realização do tratamento foi utilizado um equipamento de correntes diadinâmicas de Bernard, marca KLD, modelo Phasys ETM 901. As correntes utilizadas foram a Difásica Fixa (DF) por dois minutos e Curto Período (CP) por quatro minutos. O tratamento consistiu de cinco terapias diárias. O eletrodo positivo foi colocado dentro de um recipiente com água de torneira e os pacientes posicionaram a mão direita dentro do recipiente, enquanto o eletrodo negativo foi posicionado, aproximadamente, na região medial na face volar ou dorsal do antebraço direito. O membro esquerdo foi considerado controle. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 e por pouco tempo; 2 (20%) responderam ser útil e eficaz para o alívio dos sintomas em curto espaço de tempo; 1 (10%) respondeu ser útil e eficaz por um período de aproximadamente 12 horas; 1 respondeu que o resultado não era satisfatório por diminuir pouco a hiperidrose; 1 respondeu que o tratamento promove apenas leve redução da hiperidrose e 2 consideraram o tratamento totalmente ineficaz. Discussão Segundo Lin a hiperidrose palmar é uma desordem funcional comum, que pode causar Resultados Durante a realização das 5 sessões do tratamento, houve desistência de 2 indivíduos. Após o término das sessões, um novo questionário foi aplicado. Oito (80%) pessoas referiram alteração no grau de sudorese, sendo relatado alívio dos sintomas, sem compensação em outro local, enquanto 2 (20%) não observaram alterações (fig. 1). Um (10%) paciente relatou que a alteração durou 5 minutos, 3 (30%) 20 minutos, 2 (20%) 30 minutos, 1 (10%) 1 hora e 1 (10%) 12 horas. A média do tempo considerada foi de 113,13 minutos, com coeficiente de variação de 217%. Quanto ao retorno da hiperidrose, 4 (50%) relataram que ela voltou na mesma intensidade, enquanto 4 (50%) relataram que ela retornou em intensidade menor. Com respeito à alteração de uma mão em relação à outra durante o dia, 5 (62,5%) observaram alterações. Sendo que 1 (12,5%) referiu que os sintomas diminuíram nos primeiros 30 minutos, 1 referiu uma diminuição da hiperidrose com ressecamento da pele, 1 referiu diminuição dos sintomas por 1 hora, e 2 (25%) referiram uma leve diminuição dos sintomas. Perguntou-se a opinião deles sobre o tratamento: 3 (30%) responderam não achar o tratamento eficaz, pois o alívio era pequeno Fig. 1. Alteração na Sudorese. Fig. 2. Tempo de Diminuição da Hiperidrose. sérios transtornos psicológicos, ocupacionais e sociais [17]. De forma concordante, Naver e Aquilonius citam a produção de dificuldades em relações sociais e profissionais [19]. Há alta incidência em jovens, podendo diminuir de intensidade em indivíduos com maior faixa etária [14]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Foi encontrado neste grupo de 12 estudantes uma prevalência do sexo feminino (3 homens e 9 mulheres), com uma média de 21 anos de idade, apesar do grupo ser pré-estabelecido como de universitários, não diferiu muito dos dados apresentados por Noppen et al. com 8 mulheres e 5 homens, e média de idade de 28 anos [20]. Esta faixa etária também é próxima da encontrada por Lin (25,1 anos) [17], Goh et al. (24 anos) [9] e Lu et al. (20 anos) [18]. Porém, com relação ao sexo, Hsia et al. obtiveram prevalência do sexo masculino (25 masculino, 22 feminino) [11], bem como Goh et al. com 23 indivíduos do sexo masculino e 12 do feminino [9]. Lu et al. com 45 casos do sexo masculino e 48 do feminino [18], e Lin com 17 do sexo masculino e 25 do feminino, mostraram maior equilíbrio [17]. Isto demonstra não haver uma pré-disposição com relação a sexo, mas uma prevalência de indivíduos jovens. De 10 indivíduos que realizaram as 5 terapias, 8 referiram alteração no grau de sudorese ao comparar com a mão esquerda, na qual não foi realizado tratamento. Porém a duração do alívio dos sintomas para a maioria foi extremamente curto, com uma média de 113,13 minutos e coeficiente de variação de 217%. Sendo que em todos, ao final do tratamento, a hiperidrose retornou no mesmo ou em menor grau. Estes resultados são discordantes com os de Hölzle [10] e Lefaucheur [16], que afirmam obter bons resultados clínicos, sendo que o primeiro utilizou corrente direta pulsada de 10 KHz, mas nenhum mencionou o tempo de diminuição da sudorese. O tratamento foi realizado diariamente num período de 5 dias. Segundo Ciccone, é necessário em torno de 8-20 dias antes que uma diminuição apreciável na transpiração seja observada. Porém, o tratamento deve ser continuado semanal ou mensalmente, ou os tratamentos diários repetidos após aproximadamente 6 semanas [5]. Como efeito colateral, encontrou-se apenas em 1 caso a referência sobre ressecamento da pele, concordando com o relato de Hölzle, que a iontoforese não possui efeitos colaterais significantes [10]. Nenhum indivíduo referiu sudorese compensatória 235 em qualquer lugar. Hsia et al. referem que o fenômeno de suor compensatório esteve presente em 74,5% dos pacientes tratados com simpatectomia, mas foi um sintoma considerado tolerável [11]. Drott e Claes mostram hiperidrose compensatória em 55% dos casos, mas consideram como sendo de pouca importância [7]. Conclusão Conclui-se que as correntes Diadinâmicas de Bernard DF e CP, produziram efeitos de diminuição da hiperidrose, sendo que ainda não é totalmente elucidada a razão de tal acontecimento. Porém, os efeitos clínicos não foram duradouros e, portanto, não foram considerados como de uma terapia útil. Devido ao pequeno número de indivíduos atendidos, e ao curto período em que foi realizado o tratamento, fugindo do que é apregoado na literatura, não é possível concluir sobre a total ineficácia da iontoforese com água de torneira para o tratamento de indivíduos com hiperidrose, principalmente pela vantagem de não produzir efeitos colaterais significantes. Observa-se a necessidade de mais trabalhos, utilizando diversas formas de corrente, bem como períodos de tratamento maiores e tempos de seguimento estabelecidos. Referências 1. Bechelli LM, Curban GV. Afecções das Glândulas Sudoríparas (Hidroses). In: Compêndio de Dermatologia. 5. ed. São Paulo: Atheneu, 1978, p. 531-535. 2. 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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 237 Artigo original Ensino de hidroterapia na graduação estabelecendo objetivos Teaching hydrotherapy during the graduation establishing objectives Fátima Aparecida Caromano*, Márcia Gouveia da Cunha**, Maria Sílvia Pardo**, Juliana Monteiro da Silva** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Profa. Dra. do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - LAFIREACOM, **Fisioterapeutas e Mestrandas do LAFI-REACOM Palavras-chave: fisioterapia, hidroterapia, ensino. Key-words: Physiotherapy, hydroterapy, teaching. Resumo Este trabalho é uma primeira discussão dos objetivos de ensino a serem alcançados na disciplina de hidroterapia, parte do currículo mínimo oficial dos cursos de Fisioterapia. A partir deste trabalho espera-se produzir uma discussão, enriquecendo o ensino direcionado à hidroterapia. Abstract This work is a first discussion of teaching objectives that must be reached in the course of hydrotherapy, part of the official curriculum minimum of the Courses of Physiotherapy. Starting from this work we hope to produce a wider discussion, to improve the educatin in a course of hydrotherapy. Artigo recebido em 28 de junho de 2002; aprovado em 5 de julho de 2002. Endereço para correspondência: Fátima Caromano. Rua Cipotânea, 51, Cidade Universitária da USP, Curso de Fisioterapia da USP, 05360-000 -São Paulo SP, Tel: (11)3091-7451, E-mail: [email protected] 238 Introdução A hidroterapia é a utilização dos efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos, advindos da imersão do corpo, ou parte dele, em meio aquático, como recurso auxiliar na reeducação funcional neuromotora, musculoesquelética ou cardiorespiratória, visando o restabelecimento da saúde, sua manutenção ou ainda prevenção de uma alteração funcional orgânica. A utilização pragmática da água com objetivo terapêutico é antiga, tendo registros datados de 400 a.C., mas somente no final do século XV iniciou-se as pesquisas que fundamentaram o uso clínico deste recurso. Seu reconhecimento nos meios científicos é recente e deve-se a quatro fatores: 1º) A física é uma ciência que tradicionalmente se desenvolveu com constância e com uma produção altamente significativa. A hidrostática, hidrodinâmica e termo dinâmica, são ramos da física que fundamentam a hidroterapia e acompanharam seu desenvolvimento. 2º) A necessidade de estudar os reajustes da função cardiopulmonar e renal normal durante alterações inesperadas, levou os pesquisadores a descobrirem que a imersão seria o meio mais adequado para estes estudos. 3º) A necessidade de pesquisas com simulação de ausência de gravidade, durante a preparação para enviar homens ao espaço e, mais recentemente, a avaliação do treinamento físico na ausência de gravidade. 4º) Os bons resultados obtidos com o tratamento hidroterapêutico de uma série de disfunções, por vários grupos de trabalho, que começam a ser difundidos. Desta forma, a hidroterapia está bem fundamentada em pesquisas realizadas pelas áreas básicas, talvez até mais que outros recursos utilizados pela fisioterapia [1,3]. A formação de profissionais para atuarem como especialistas na aplicação de exercícios físicos em meio aquático, iniciou-se em 1930, com a inauguração, na Inglaterra, do primeiro Centro de Formação de Hidroterapeutas. Posteriormente, este curso foi integrado ao programa de graduação em Fisioterapia [4]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 No Brasil a hidroterapia é uma disciplina obrigatória nos cursos de graduação em fisioterapia. Os estudos de hidroterapia, inseridos no conjunto dos conteúdos do currículo de fisioterapia, vão permitir a este profissional compreender as possibilidades de utilização do meio aquático, seus benefícios, limites e contra-indicações. O conteúdo de hidroterapia é ministrado, normalmente, no terceiro ou quarto semestre do curso, que tem duração de quatro anos. É o primeiro ou segundo contato do aluno com recursos fisioterapêuticos, mas é a primeira vez que o aluno irá programar uma sessão de exercícios físicos com fins terapêuticos. Neste contexto, é útil que o aluno disponha de um repertório para elaboração de uma sessão fisioterapêutica, que lhe permita desenvolver a técnica aprendida de forma eficiente e operacionalizada. Aprender a executar uma sessão de hidroterapia significa, numa primeira etapa, compreender e descrever os fundamentos do exercício na água e dominar sua execução. Numa segunda etapa, planejar a sessão com objetivos terapêuticos específicos, aplicar e avaliar a qualidade técnica do tratamento. Na terceira etapa o aluno deverá elaborar e aplicar um plano de tratamento, em seguida executálo e avaliá-lo. A última etapa ocorre fora da disciplina, mais precisamente, na prática clínica supervisionada, onde o aluno tem a possibilidade de utilizar outros conhecimentos, adquiridos em outras matérias, tão necessários para alcançar esta etapa. As atividades de ensino devem ser planejadas, de tal forma que o aluno trabalhe com situações cada vez mais próximas da atuação fisioterapêutica com pacientes. O treinamento prático de alunos na execução de técnicas fisioterapêuticas tem características próprias, dependendo da capacidade de compreensão do aluno e, principalmente, da sua habilidade em interagir com o paciente, informando-o e ensinando-o sobre as atividades a serem desenvolvidas, auxiliando-o ou contando com o auxílio do paciente para realização dos exercícios físicos propostos, corrigindo comportamentos motores inadequados, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 239 Quadro 1 - OBJETIVO TERMINAL - planejar, de forma fundamentada, aplicar e avaliar uma sessão de hidroterapia Objetivos intermediário Primeira subdivisão dos objetivos terminais 1. Conhecer o histórico da hidroterapia Conhecer a evolução tecnológica da construção de piscinas e equipamentos afins 1. pacientes cardíacos 2. gestantes 3. deficientes físicos 4. deficientes mentais 1a.Variações em função da profundidade da água 1b.Variações em função da postura 1c.Transferência de calor na água e variações em função da temperatura da água 2a. Para um segmento específico 2b. Para todo corpo 2c. Utilização de acessórios 3a. Respostas cardiovasculares 3b. Respostas respiratórias 3c. Respostas renais 4a. Respostas cardiovasculares 4b. Respostas respiratórias 4c. Respostas endócrinas e renais 4d. Regulação da temperatura 2 Conhecer e executar técnicas de prevenção de acidentes 3. Descrever os princípios físicos decorrentes da imersão de um corpo na água. 4. Descrever o equilíbrio e o movimento na água 5. Descrever as respostas fisiológicos decorrentes da imersão e a possibilidade de uso pela fisioterapia 6. Descrever as respostas fisiológicas decorrentes do exercício físico em imersão e a possibilidade de uso pela fisioterapia 7.Descrever os cuidados com o paciente em função das respostas fisiológicas produzidas pela imersão e pela prática de exercícios na água 8.Descrever as adaptações ao treinamento físico na água 9.Descrever e executar as técnicas cinesioterapia na água 10.Fundamentar e descrever os métodos exercícios de hidroterapia 11.Descrever exercícios de hidroterapia 12.Programar e aplicar e avaliar uma sessão de hidroterapia 13.Programar plano de tratamento aplicar e avaliar 14.Aplicar e avaliar plano de tratamento na situação aluno-aluno e aluno-pacientes 6a. Diferentes modalidades de exercício físico Segunda subdivisão dos objetivos terminais Dominar técnicas de prevenção Dominar técnicas de primeiros socorros Para bebês e crianças Para idosos Para magros e obesos Para grávidas Em situação de fluxo alinhado Em situação de fluxo desalinhado Nível de imersão Temperatura da água Tempo de imersão Metabolismo energético aeróbico Metabolismo energético anaeróbico Nível de imersão Temperatura da água Tempo de imersão Tipo de exercício físico realizado Populações de diferentes faixas Gestantes Cardiopatas Pneumopatas Pacientes estressados Obesos Utilização de acessórios Trabalho terapeuta-paciente Trabalho terapeuta-grupo Atividades recreacionais 7 a. Para inserir o paciente na água 7b. Para retirar o paciente da água 7c. Para realizar exercícios de facilitação do movimento 7d. Para realizar exercícios de resistência do movimento 7e. Para exercícios de condicionamento físico 7f. Para exercícios de relaxamento 7g. Para exercícios de coordenação motora 7h. Para exercícios de equilíbrio 8a. Exercícios de calistenia 8b. Exercícios para condicionamento físico 8c. Exercícios de relaxamento e Watsu 8d. Método Halliwick 8e. Método Bad Ragaz 9a. Descrever a seqüência de movimentos e/ou posturas a ser realizada pelo paciente 9b. Descrever a posição do terapeuta durante o exercício 9c. Descrever o ensino dos movimentos para o paciente 9d. Descrever a seqüência de comandos verbais 9e. Descrever as compensações a serem observadas 9f. Descrever as atividades a serem desenvolvidas pelo terapeuta e sua função 9g. Definir a função do exercício Caso clínico específico hipotético Ficha de exercícios Caso clínico específico hipotético aplicar e avaliar Casos clínicos reais Critérios estabelecidos na ficha de programação de exercícios As células marcadas em negrito referem-se aos conteúdos que podem ser melhor explorados na prática clínica profissionalizante e, posteriormente, em cursos de especialização em hidroterapia. 240 fornecendo feedback sobre a evolução do exercício e programando a continuidade da tarefa. Esta etapa de ensino pode ser superada com êxito, quando é permitido ao aluno a autoavaliação dos passos necessários para o treino em habilidades técnicas, associadas ao feedback fornecido pelo professor [2]. O conteúdo a ser desenvolvido Ao concluir o curso, o aluno deverá (objetivo terminal): planejar, de forma fundamentada; aplicar, com técnica adequada; e avaliar uma sessão de tratamento fisioterapêutico utilizando hidroterapia. Para tanto, deverá atingir uma série de passos intermediários ou objetivos intermediários, descritos no quadro 1. Como pode ser observado neste quadro, cada objetivo terminal para ser ensinado, atingindo as necessidades de conhecimento de um futuro profissional fisioterapeuta, deve ser dividido em objetivos mais específicos, que por sua vez podem ainda ser mais detalhados. Nesta proposta existem dois níveis de refinamento dos objetivos terminais a serem desenvolvidos pelo professor e aprendidos pelos alunos. Após ter sido estabelecido todos os objetivos a serem desenvolvidos pela disciplina e aprendidos pelo aluno, cabe ao professor duas tarefas: 1. Determinar a melhor forma didática para ser abordado cada objetivo intermediário; 2. Estabelecer como será realizada a avaliação do aprendizado de cada objetivo. A experiência com esta disciplina tem mostrado que a grande dificuldade no ensino diz respeito ao treinamento e à avaliação das atividades práticas. A solução do problema, considerando -se a população de alunos atendida no Curso de Fisioterapia de Universidade de São Paulo, foi estabelecer um roteiro para elaboração de cada exercício físico proposto pelo aluno (quadro 2). A partir desta ficha, estabeleceu-se um roteiro a ser entregue para o aluno, juntamente com o filme que contém a prática realizada pelo aluno na piscina, onde ele deve realizar observações sistematizadas de seu desempenho, avaliando detalhadamente a técnica realizada e conclu- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 indo sobre a eficácia do exercício físico em função do objetivo de tratamento proposto [2]. Quadro 2 - Ficha de planejamento de atividades de hidroterapia Grupo: Data: Atividade nº: 1. Descrição cinesiológica do exercício físico: 2. Desenho da seqüência do exercício físico: 3. Função da atividade física: 4. Posicionamento do terapeuta: 5. Posicionamento do paciente: 6. Forma de ensino do(s) movimento(s) ao paciente: 7. Comando verbal: 8. Meios auxiliares (tipo e função) 9. Fixação do paciente 10. Observações: Quadro 3 - Ficha de observação do comportamento do terapeuta e do paciente durante sessão de hidroterapia Aluno: Data: Atividade nº: Responda sim, não, ou parcialmente e comente de forma breve e objetiva. 1. O ensino do movimento(s) ao paciente foi adequado e eficiente? 2. O paciente realizou o exercício como descrito durante a sessão? 3. A função do exercício era compatível com a prescrita? 4. O posicionamento do paciente estava adequado e conforme planejado? 5. O posicionamento do terapeuta estava adequado e conforme planejado? 6. A fixação estava adequada e conforme o planejado? 7. O comando verbal foi correto e audível? 8. A utilização dos meios auxiliares foi correta e conforme o planejado? 9. O paciente foi fixado de forma adequada, não realizando movimentos de compensação que comprometessem o exercício físico do paciente? 10. Observações: A inserção de novos objetivos intermediários, a especificação mais detalhada do objetivo terminal, o desenvolvimento de técnicas de ensino direcionadas para hidroterapia e o avanço no conhecimento da área, deve ser freqüentemente considerado e atualizado para melhor adequação do ensino desta disciplina, que cresce em conteúdo e possibilidades terapêuticas de forma constante e significativa. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Este trabalho em si é limitado, mas é o primeiro passo para que outros professores possam contribuir com idéias, estudos e pesquisas, permitindo uma melhor compreensão da disciplina de hidroterapia dentro do curso de Fisioterapia. Referências 1. Becker BE e Cole A. Comprehensive aquatica therapy. Butterworth- 241 Heinemann, Boston, 1997. 2. Caromano FA e Passarella J. Uso do videotape como feedback no processo de ensino -aprendizagem de comportamentos fisioterápicos em hidroterapia. Revista de fisioterapia da USP 1995, 2(1):22-30. 3. Campion MR. Hidroterapia princípios e prática. Manole, São Paulo, 2000. 4. Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação aquática, Manole, 2000. 242 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Artigo original Lesão traumática e déficit elástico muscular Traumatic lesion and muscular elastic deficit Gian Nicola Bisciotti*, Nilton Petrone Vilardi Jr**, Eliane Fátima Manfio*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *PhD, Departamento de Treinamento e Performance, Faculdade de Ciências do Esporte, Universidade de Claude Bernard, Lyon (França), Escola Universitária de Ciência Motora, Torino (Itália), Consultor Científico da Internazionale de Milão (Itália), **Diretor do curso de Fisioterapia da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, Fisioterapeuta da Internazionale de Milão (Itália), ***Coordenadora do Laboratório de Biomecânica da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro Palavras-chave: lesão, músculo, energia elástica, força. Resumo Na analise de um movimento com uma fase de pré-estiramento (excêntrico), quando comparado com um movimento sem uma fase de pré-estiramento (puramente concêntrico), verifica-se que ocorre uma modificação, do ponto de vista temporal, nos parâmetros de força, velocidade e potência do movimento, modificando positivamente a totalidade dos parâmetros biomecânicos deste movimento. Observa-se que, devido aos fenômenos ligados a energia elástica, ocorre modificações das características mecânicas da Unidade Músculo-Tendínea, ao nível da força, onde no início da fase concêntrica do movimento com pré-estiramento, a força é significativamente maior do que no início do mesmo tipo de movimento executado sem pré-estiramento. Conseqüentemente consegue-se um aumento na velocidade e uma potência inicial maior. Verifica-se um aumento significativo na potência média do movimento executado com pré-estiramento, sendo que os valores da potência máxima não diferem estatisticamente. Com um Artigo recebido em 2 de julho de 2002; aprovado em 15 de julho de 2002. Endereço para correspondência: Eliane Fátima Manfio, Laboratório de Biomecânica LABBIO, Universidade Estácio de Sá UNESA, Av. Prefeito Dulcídio Cardoso, 2900, Barra da Tijuca - 22631-052 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 3089-5012, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 243 continuo e sistemático monitoramento das características essenciais do movimento, tais como a força, a velocidade de contração e a produção de potência, e das características elásticas do músculo lesionado, contribui para a obtenção de informações importantes e indispensáveis para garantir a eficiência de qualquer protocolo fisioterapeutico de reabilitação. A possibilidade de utilizar um equipamento específico, com um simples protocolo de teste, podendo obter dados fidedignos e precisos, contribui para diferenciar o empirismo da rigorosidade científica. Key-words: injure, muscle, elastic energy, force. Abstract In an analysis of a movement with a pre-stretchiness phase (eccentric) when compared to a movement with no pre-stretchiness (concentric), we can notice that there is a change, from the temporal point of view, in the force, speed and power parameters of the movement, changing positively the biomechanic parameters totality of this movement. It can be noticed, due to the phenomena linked to the elastic energy, that there is a change in the mechanic characteristics of the muscle-tendon unit, in terms of force, when in the beginning of the concentric phase of a movement with pre-stretchiness, the force is significantly higher than in the beginning of a similar movement without pre-stretchiness. Consequently there is an increase of the speed and an initial higher power. It can be noticed a significant increase in the average power of the movement with pre-stretchiness, and the values of the maximum power are statistically similar. The continuous and systematic monitoring of the essential characteristics of the movement, such as force, contraction speed and power production, as well as elastic characteristics of the injured muscle, are important and essential to guarantee the efficacy any physiotherapeutic protocol of rehabilitation. A possibility to use specific equipment with simple test protocol, obtaining precise data, to contribute differentiate the empiricism form scientific accuracy. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 244 Introdução A elasticidade é definida como a propriedade do corpo de suportar uma deformação através de uma solicitação externa, e de retornar, ao menos parcialmente, a forma e o volume inicial, ao término desta solicitação. O músculo humano possui notável propriedade elástica: na fase concêntrica do movimento, o músculo armazena energia elástica, que depois é restituída sobre forma de trabalho mecânico, na sucessiva fase excêntrica. Na análise do comportamento muscular, efetuada através da adoção de um modelo mecânico com três componentes [13, 20], o papel de estocagem e restituição da energia elástica, durante um movimento que comporta uma fase de alongamento muscular, imediatamente seguida de uma fase de encurtamento, a qual devemos atribuir ao elemento elástico em série (SEC). Do ponto de vista anatômico, é identificável essencialmente no tendão (parte passiva), a responsabilidade de estocar 72% da energia elástica total e na parte ativa do músculo, principalmente na porção S2 da cabeça miosinica, armazena o restante, ou seja, 28% da energia elástica total. Sempre no âmbito do mesmo modelo muscular, o papel de gerador de força é ao invés atribuído ao componente contrátil (CC), identificável anatomicamente ao nível das pontes de actinomiosina. Assim, durante a fase excêntrica da corrida, por exemplo, o tendão de Aquiles é alongado em cerca de 6%, igual à cerca de 1,5 cm em relação ao seu comprimento inicial, e restitui cerca de 90% da energia elástica potencial armazenada, sob a forma de trabalho mecânico, na sucessiva fase concêntrica do movimento. Portanto, o rendimento muscular passa de 25% a 40%, a energia elástica constitui assim, efetivamente, energia metabolicamente gratuita e por este motivo tem um papel essencial, na potencialização ou na economia do gesto. A economia metabólica, devido ao acúmulo e a conseqüente restituição de energia elástica, têm por base o fato que parte do trabalho positivo, resulta no desenvolvimento de energia elástica Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 armazenada nos elementos elásticos e também na diminuição da velocidade de encurtamento (durante a fase positiva de trabalho muscular), reduzindo assim a despesa energética [11]. Ao contrário, em um trabalho muscular que não realize uma fase de alongamento anteriormente, a energia necessária à realização do trabalho positivo, provêm essencialmente da transformação de energia química ao nível do componente contrátil do mesmo músculo. Todavia é interessante notar que esta economia energética seria redimensionada se considerássemos o efetivo custo da fase de trabalho excêntrico [11]. É importante salientar que alguns autores atribuem ao aumento de trabalho concêntrico, obtido imediatamente depois de uma fase excêntrica, o fato que esta última provoca um incremento da rigidez do complexo músculotendineo, que de tal modo, consegue transmitir na fase inicial da contração concêntrica, mais eficazmente a força [11,29]. Além disso, a fase excêntrica inicial, permitiria ao componente contrátil de trabalhar na porção excêntrica da relação força-velocidade [13]. O potenciamento da fase concêntrica concorreria também, com a ação do reflexo miotático de estiramento, que se manifestaria depois de cerca de 40 70 ms do início da fase de pré-estiramento [21,17,12,24]. Em todo caso, o fato de executar um movimento através de um ciclo estiramento-encurtamento (SSC), obtêm-se como resultado um aumento da força, da velocidade e da potência expressa durante a fase concêntrica do mesmo. O aumento destes três parâmetros é em ultima análise o verdadeiro significado do termo restituição de energia elástica. Como resultado de uma prévia fase de alongamento muscular, verificaremos um aumento da ativação neuromuscular, devido ao aumento do número de ligações ativas ao nível das pontes de actino-miosina, fator que determinaria um aumento dos valores de força registrados no início da fase de contração do movimento [4, 5, 11]. Todavia, a intervenção da restituição de energia elástica, influenciará o andamento da produção de força, velocidade e potência somente durante a primeira parte da fase Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 concêntrica do movimento [4, 30]. Além disso, é interessante notar que os valores da potência máxima alcançada em um movimento efetuado em uma fase SSC, não diferem estatisticamente do valor de potencia máxima registrado durante a execução do mesmo movimento, executado sem uma fase de estiramento. Efetivamente somente a potência média do movimento tem um resultado maior em um movimento executado em SSC, se confrontarmos com o mesmo, sendo executado em um ciclo puramente concêntrico, este graças ao aumento da produção de potência na primeira parte da fase concêntrica [4]. Em conclusão, o potenciamento da fase concêntrica de um movimento, devido ao efeito de uma precedente condição de pré-estiramento, poderia ser imputado ao fenômeno ligado ao acúmulo e restituição da energia elástica da parte do SSC ou a fatores concernentes a otimização da característica mecânica da unidade músculo tendínea (UMT). Ambos, estes parâmetros obtidos como resultado ao aumento do nível de força, que tem início na fase concêntrica, fator que por sua vez influência positivamente os outros parâmetros biomecânicos relativos à fase de impulso. Todos estes aspectos são, entretanto, caracterizados por uma forte transitoriedade, que se traduz em uma modificação limitada, do ponto de vista temporal, dos parâmetros de força, velocidade e potência, do movimento considerado, modificando positivamente a totalidade dos parâmetros biomecânicos do mesmo movimento. Assim podemos afirmar, que o comportamento elástico do músculo não é em última análise uma estratégia comportamental ao aumento de energia do músculo, mas o resultado muito eficaz afim de aumentar, nem que transitoriamente, a produção de potência, melhorando assim, a sensibilidade ao rendimento muscular. A figura 1 esclarece este efeito de transitoriedade na modificação dos parâmetros biomecânicos do movimento (força, velocidade e potência do mesmo movimento), devido à restituição de energia elástica. Na figura 1, é possível observar o comportamento da produção de força durante 245 Fig. 1- Comportamento da força durante o movimento de extensão da perna com pré-estiramento (CC+SEC) e sem pré-estiramento (CC). a fase concêntrica de um movimento de extensão da perna. A curva CC se refere ao movimento efetuado sem uma preventiva fase excêntrica de alongamento (pré-estiramento), onde a força é produzida essencialmente pelo componente contrátil. Ao contrário, a curva CC+SEC é referente ao mesmo tipo de movimento efetuado, porém com a existência da fase inicial de pré-estiramento. Podemos observar que, devido aos fenômenos ligados à energia elástica ocorre modificações das características mecânicas da UMT, ao nível da força, onde no início da fase concêntrica do movimento da curva CC+SEC (com préestiramento), a força é significativamente maior do que no início do mesmo tipo de movimento executado sem uma fase de préestiramento (curva CC). Conseqüentemente, consegue-se um maior aumento na velocidade do movimento, evidenciado, sobretudo, maior inclinação da curva de velocidade do movimento CC+SEC em relação à curva do movimento CC (figura 2). O aumento dos valores de força e velocidade permite, como era de se esperar, um aumento da potência desenvolvida no mesmo movimento. Observando as duas curvas de potência, na figura 3, é interessante notar como as duas curvas diferem somente na parte inicial do movimento. A inclinação da curva CC+SEC se apresenta efetivamente mais íngreme comparada à curva CC, determinando deste modo uma potência inicial maior, desenvolvida durante a fase concêntrica de um movimento com fase de pré-estiramento. 246 Todavia, observa-se que o pico de potência dos dois tipos de movimento não difere, determinando de certa forma que o efeito potenciativo da fase de pré-estiramento se exaure na primeira parte (cerca de 100 ms) da fase concêntrica do movimento [4, 30]. Fig. 2 - Comportamento da velocidade durante o movimento de extensão da perna com préestiramento (CC+SEC) e sem pré-estiramento (CC). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 direção à direita. Em outras palavras, a intervenção da energia elástica restituída da SEC, permitiria ao músculo gerar, em uma velocidade de contração elevada, uma força muito superior aquela que ele poderia realizar, nas mesmas condições, só com o componente contrátil [3,28,6,30]. Além deste papel de potenciamento da produção de força, que devemos considerar, visto que o papel de estocagem da energia potencial pode ser da ordem de 40-60 joules por grupos musculares em condição de contração máxima, o elemento elástico em série (SEC) desenvolve também um papel de proteção, nos confrontos da estrutura articular e periarticular, em caso de brusca e repentina contração muscular (Figura 4) [8]. Desta forma, é interessante recordar como alguns atletas, por exemplo, os jogadores de futebol, que realizam trabalhos em terrenos mórbidos, que limitam fortemente a estocagem e a restituição de energia elástica da parte do SEC, podem registrar a perda das características elásticas musculares, que expõem a um risco maior de lesão em caso de eventos do tipo traumático [7] e principalmente na fase excêntrica do movimento [1,16]. Fig. 3 - Comportamento da potência durante o movimento de extensão da perna com pré estiramento (CC+SEC) e sem pré-estiramento (CC). O papel de proteção da elasticidade músculo-tendinea Vários estudos demonstram que durante um movimento balístico com uma fase de alongamento-encurtamento, a restituição de energia elástica acumulada durante a fase excêntrica, tem a possibilidade de deslocar a relação força-velocidade para cima e em Fig. 4 - A interposição de uma mola longa com um cabo vinculado a uma estrutura, na qual uma força é aplicada de modo repentino, desenvolvendo um papel de amortecedor, que é capaz de preservar de possíveis danos à mesma estrutura. No âmbito biológico, a componente elástica em série, também desenvolve este segundo papel, além disso, a estocagem e restituição de energia elástica para as estruturas articulares e periarticulares. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 O trauma e a perda da característica mecânica do músculo 247 rápica da reabilitação do comportamento mecânico do músculo acometido, tendo como segundo termo de comparação o comportamento mecânico da musculatura do lado sadio. A possibilidade de quantificar em que medida o trauma tenha diminuído a capacidade elástica da musculatura acometida, é um importante instrumento de parâmetros corretos para a alta do paciente. A importância na recuperação da característica elástica do músculo acometido é determinada pelo fato que no homem, assim como em outros animais, um movimento comporta uma ativação muscular puramente do tipo isométrico, excêntrico ou puramente concêntrico. A maior parte dos movimentos humanos, é caracterizada de uma ativação muscular que comporta uma fase de contração muscular do tipo excêntrica, imediatamente seguida de uma fase concêntrica. A situação mais típica é representada pela corrida, onde a primeira fase de impulso (contração concêntrica), os músculos extensores são contraídos, mas logo depois serão alongados, porque o centro de gravidade sobe durante a Após um trauma é possível registrar toda a série de eventos a nível muscular que possam ser substancialmente reconduzidos a uma degeneração da fibra muscular, caracterizada por destruição miofibrilar associada a um dano, a nível mitocondrial ou do reticulo sarcoplasmático [9]. Além disso, neste estado de alteração da ultraestrutura muscular, podemos também verificar uma interrupção na continuidade do sarcolema [10]. A perda da integridade do sarcolema, unida ao dano do retículo sarcoplasmatico, pode levar a uma elevação da concentração intracelular de Ca++. A conseqüente alteração na capacidade de bombear Ca ++ do sarcoplasma, comprometeria a homeostase do mesmo Ca++, que teria como conseqüência uma contração não controlada dos sarcomeros [2, 27]. A força mecânica, causada por esta cadeia de eventos, que permanece ao nível da miofibrila após o trauma, poderia levar a um agravamento do dano estrutural súbito do componente contrátil [2]. Neste caso em que o dano do tecido muscular é de uma ) certa severidade, os sintomas clínicos encontrados referemse a uma intensa sintomatologia mais ou menos dolorosa, em caso de alongamento passivo ou de contração ativa, ede* ma, resposta inflamatória ou edematosa no interior do tecido muscular, diminuição da capacidade de força referente à região muscular acometida e alteração dos esquemas proprioceptivos. Parece então, claro a Fig. 5 - Parâmetros biomecânicos do movimento de extensão da perna, exigência do controle efetuado em cadeia cinética aberta (leg extension), do segmento normal, não lesionado (A) e do segmento lesionado (B). durante a fase fisiote- 248 fase de contato, ocorrendo então uma desaceleração para baixo e para frente. Como quantificar a característica elástica muscular através do teste de elasticidade Na quantificação da característica elástica muscular, devemos primeiramente nos deter ao melhor posicionamento, que poderá ser em cadeia cinética aberta ou fechada, apropriado à ação biomecânica da musculatura acometida. O mesmo movimento deve ser executado pelo paciente, sem solução de continuidade, através de duas modalidades: o primeiro movimento deve ser efetuado partindo de uma posição estática, fazendo intervir então na produção de força somente o componente contrátil (CC). Ao final do primeiro movimento, o paciente continua a executar uma série de movimentos idênticos ao primeiro, mas efetuados agora devido ao ciclo estiramento-encurtamento (CC+SEC). Os parâmetros biomecânicos do exercício serão registrados em tempo real com um aparelho específico (Real Power Total Reabilitation), através do qual é possível calcular os componentes da produção de força, potência e velocidade relativos a primeira fase da curva (normalmente os primeiros 100 ms), pelo que resguarda o movimento executado com a partida estática (CC), ou pelo melhor movimento executado na modalidade estiramento-encurtamento (CC+SEC). A diferença entre os vários valores permite calcular o aumento de força contrátil, da velocidade de contração e da produção de potência, devido à fase de pré-estiramento e depois em última análise, quantificar a característica elástica da musculatura do lado lesionado e do lado contralateral normal. Na figura 5, podemos observar a diminuição da velocidade de contração (4,7% lesionado e 22,7% não lesionado), da força contráctil (2,4% lesionado e 11,4% não lesionado) e da produção de potência (7,1% lesionado e 28,6% não lesionado) no segmento lesionado em comparação com o segmento não lesionado, nos dois tipos de movimentos testados (CC e CC+SEC). Trata-se de um quadro clássico póstraumático (reconstrução de LCA 90 dias), que demonstra a importante perda das Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 características elásticas da musculatura extensora do segmento inferior após a lesão e a cirurgia de reconstrução do LCA. Conclusão O continuo e sistemático monitoramento das características essenciais do movimento, tais como a força, a velocidade de contração e a produção de potência, e das características elásticas do músculo lesionado, contribui para a obtenção de informações importantes e indispensáveis para garantir a eficiência de qualquer protocolo fisioterapeutico de reabilitação. A possibilidade de utilizar um equipamento específico, com um simples protocolo de teste, podendo obter dados fidedignos e precisos, contribui para diferenciar o empirismo da rigorosidade científica. Referências 1. Armstrong RB. Initial events in exercise induced muscular injury. Med. Sci. Sports Exerc 1990;22:429- 437. 2. Armstrong RB, Warren GL Warren A. Mechanism of exercise induced fiber injury. Sports Med 1991;12:184-207. 3. Asmussen E Bonde Petersen F. Storage of elastic energy in skeletal muscles in man. Acta Physiol Scand 1974;91:385-392. 4. Bisciotti GN, Combi F, Forloni F. Per ritrovare la funzionalitá. 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J Appl Physio 1991;70:825-833. 250 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Revisão Evolução neuromotora de um recém-nascido pré-termo e a correlação com os fatores perinatais Neuromotor evolution of pre-term newly born and correlation with perinatal factors Cíntia Salles Brandolis Gregório*; Elizabeth Costa Tang Pinheiro**; Daniela Elaine Oliveira Campos***; Eduardo José Alfaro**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, especialista em Fisioterapia aplicada a Neonatologia pela UNICAMP, mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, docente da disciplina de Fisioterapia aplicada a Ginecologia,Obstetrícia e Pediatria da Universidade Camilo Castelo Branco-SP, **Fisioterapeuta, mestranda em Educação pela Universidade Brás Cubas, docente da disciplina de Fisioterapia aplicada a Ginecologia,Obstetrícia e Pediatria da Universidade Camilo Castelo Branco-SP, FCNM e UniSantana, ***Fisioterapeuta, mestranda em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, docente da disciplina de Fisioterapia aplicada a Ginecologia,Obstetrícia e Pediatria da Universidade Camilo Castelo Branco-SP e UniSantana, ****Fisioterapeuta, mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, docente supervisor de estágio em Neuropediatria e Neurologia da Universidade Camilo Castelo Branco-SP e FCNM. Palavras-chave: prematuro; fatores de risco; evolução neuromotora. Resumo O objetivo deste trabalho é realizar um estudo retrospectivo de uma criança de dois anos de idade, nascida prematuramente e descrever sua evolução neuromotora, assim como os fatores perinatais envolvidos, considerados de risco para distúrbio de desenvolvimento. Mediante revisão de literatura, buscou-se identificar possível correlação dos fatores perinatais envolvidos com a incidência de distúrbios de desenvolvimento. Apesar da evolução neuromotora não apresentar alterações até o presente momento, é necessário acompanhar esta criança, para verificar possível distúrbio de aprendizagem. Artigo recebido em 31 de maio de 2002, aprovado a 20 de junho de 2002 Endereço para correspondência: Cíntia Salles Brandolis Gregório, Rua Eugênio Bettarello, 55/ 44-C, 05616-090 São Paulo - SP, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Key-words: preterm; risk factors; motor evolution. 251 Abstract The goal of this work is to perform a retrospective life-long study of a two years-old child, preterm newborn , in order to describe his motor evolution. The child birth related factors are also considered, since they may introduce risks associated to occurrence of developmental disturbs. These factors were listed, and it has been searched for a possible correlation with the presence of developmental disturbs such a correlation was searched by means of specialized literature revision. Although the child motor evolution did not suffer changes until current time, a longitudinal tracking study of this child is needed, to verify a possible learning damage. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Nos últimos vinte anos, os avanços tecnológicos nos cuidados perinatais e a capacitação dos profissionais envolvidos no acompanhamento de gestações de risco, tem permitido maior sobrevivência de recémnascidos pré-termo (RNPT) com menos de 32 semanas de idade gestacional e/ou peso menor que 1500g. Esta população de RNPT apresenta o que a literatura tem designado novas morbidades, uma vez que apresentam alto risco para desvios de desenvolvimento e de seqüelas neuromotoras e sensoriais [1,2,3]. As seqüelas mais comuns nesta população são; atraso no desenvol-vimento, distúrbios de aprendizagem, comportamento e paralisia cerebral (P.C.) [4,5,6,7,8,9]. O objetivo deste trabalho é realizar um estudo retrospectivo de uma criança de dois ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ anos de idade, nascida prematuramente e descrever sua evolução neuromotora, assim como os fatores perinatais envolvidos, considerados de risco para distúrbio de desenvolvimento. A P.C. é um grupo de desordens não progressivas caracterizadas por um distúrbio do tônus e da postura, secundárias a uma disfunção ou malformação do encéfalo em desenvolvimento, que pode ocorrer no período pré, peri ou pós-natal (período que compreende até dois anos após o nascimento). O quadro clínico pode-se modificar com o passar do tempo, muito embora a P.C. seja uma desordem neurológica fixa [12,13,14]. O aumento da incidência de P.C. no início da década de 80 coincidiu com o aumento do índice de sobrevivência dos pequenos prematuros. Uma das possibilidades mais aceitas para este fato, é de que a P.C. 252 represente um ponto final de uma cadeia de efeitos aversivos, ocorrendo num período em que o encéfalo está particularmente vulnerável à lesões isquêmicas [15]. Kuban e Leviton [13] relataram em seus estudos, que o índice de P.C. é 25 a 31 vezes mais alto em recém-nascidos com peso de nascimento menor ou igual a 1500g (comparado a recém-nascidos de peso normal). Os bebês cujo peso de nascimento é menor que 2500g refletem possibilidade de 33% e apresentar sinais de P.C.. Por outro lado, outros autores relataram que a prematuridade como fator isolado (idade gestacional <37 semanas, a contar do 1º dia da última menstruação [10]), não retarda nem acelera a seqüência do desenvolvimento neuropsicomotor [16,17]. No presente caso,V.S.M., sexo masculino, branco, nasceu de parto vaginal, com 31 semanas de idade gestacional, peso ao nascimento de 770g e altura de 33cm (RNPT, pequeno para a idade gestacional (PIG), com peso ao nascimento menor do que seria de se esperar, diante de sua idade gestacional [10]), podendo representar alto risco para P.C.. O RNPT PIG também é considerado de risco, pelos efeitos adversos da prematuridade e do crescimento intra-uterino. MacCarton et al em 1996, encontraram maior morbidade cognitiva e neurológica nos RNPT PIG do que nos adequados para a idade gestacional (AIG) com peso ao nascimento dentro do que seria de se esperar diante de sua idade gestacional [10] , quando comparados com a idade gestacional. Contudo, na comparação desses recém-nascidos por faixa de peso, não houve diferença estatística entre os grupos [18]. Outro estudo[19] relatou os efeitos da prematuridade e do retardo do crescimento intra-uterino sobre o desenvolvimento motor e cognitivo diferem em seus mecanismos. A habilidade motora foi positivamente associada à idade gestacional e negativa-mente associada ao grau de retardo de crescimento intra-uterino, enquanto a habilidade cognitiva, esteve relacionada ao retardo de crescimento intra-uterino. No presente estudo, além de retardo de crescimento intra-uterino, V.S.M. apresenta a idade gestacional como fator aversivo às habilidades cognitiva e motora, analisadas em tais estudos. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 No entanto, outros autores relatam que na ocorrência de retardo de crescimento intrauterino em bebês a termo, corre-se o risco de P.C., mas não em bebês nascidos antes da 33a semana de idade gestacional [20,21]. V.S.M. necessitou de ventilação por pressão positiva logo após o nascimento (anóxia perinatal) e foi encaminhado à unidade de terapia intensiva neonatal sob entubação orotraqueal e ventilação pulmonar assistida ,onde permaneceu por 74 dias (dos quais 21 dias sob ventilação assistida). Neste período V. apresentou algumas intercorrências, consideradas fatores de risco para P.C., como meningite, sepse precoce, displasia broncopulmonar, hemorragia periventricularintraventricular (HPIV) e retinopatia da prematuridade. A necessidade de ventilação assistida foi positivamente associada à P.C em RNPT, embora não podendo ser utilizada como único fator, pois está intimamente relacionada com a prematuridade e os eventos relacionados à esta, como o baixo peso ao nascimento, a HPIV, crises convulsivas neonatais, displasia broncopulmonar, meningite, sepse e asfixia perinatal, que também são considerados fatores de risco [22]. O tempo de internação do RNPT na unidade de terapia intensiva neonatal parece ter relação nas crianças com diagnóstico de alteração neurológica. Pedromônico et al mostraram em 1998, que os RNPT com tempo de internação superior a 35 dias mostraram evidência de alteração no processo de construção da imagem corporal [23]. A HPIV sangramento da matriz germinativa subependimária [11] , é a patologia neurológica mais importante no período neonatal, acometendo principalmente o RNPT com peso ao nascimento menor que 1500g, ocasionando graves seqüelas motoras e intelectuais, principalmente nos graus III e IV [24]. A presença ou ausência de HPIV é diagnosticada mediante a ultra-sonografia cerebral neonatal. Resultados que apresentem graus lesivos de HPIV (graus III e IV), são considerados de risco para alterações no desenvolvimento [25]. No presente caso, V. apresentou HPIV grau I, portanto não considerado lesivo ou de risco para alterações no desenvolvimento. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Segundo Tavares et al [26], a idade gestacional ou baixo peso ao nascer (<1750 g), parto vaginal e sexo masculino são fatores fortemente associados com a presença de HPIV o que coincide com o presente caso. Mello et al [27] realizaram um estudo preditivo da presença de HPIV, em relação ao desenvolvimento motor e cognitivo de prematuros de muito baixo peso, após 12 meses de idade corrigida. Concluíram que diante da ausência de HPIV, a probabilidade de uma criança ter desenvolvimento motor e cognitivo normais é de 85%. Ou seja, prematuros de muito baixo peso, com ausência de HPIV (ou graus não lesivos de HPIV), como no presente estudo, apresentam probabilidade estatística de 15% de acontecer distúrbio no desenvolvimento. A displasia broncopulmonar é uma patologia crônica, característica de recémnascidos ventilados em pressão positiva e/ou expostos a altos níveis de oxigênio inspirado. Estas crianças requerem maior tempo de internação por dependência crônica de oxigênio. V., durante o período de internação, permaneceu 21 dias sob ventilação assistida e após a alta hospitalar permaneceu sob oxigênioterapia domiciliar durante 4 meses período em que realizou acompanhamento fisioterapêutico domiciliar diário (4 vezes ao dia). Alguns estudos mostram que a displasia broncopulmonar pode estar relacionada com distúrbios no desenvolvimento. Northway em 1979, estudou a incidência de alterações do desenvolvimento neuropsicomotor em crianças com displasia broncopulmonar, encontrando 34% com seqüelas graves, incluindo outros itens, tais como: paralisia cerebral, retardo mental, déficit visual e déficit auditivo [28]. Sauve e Singhal em 1985 estudaram 179 recém-nascidos com displasia broncopulmonar e 112 controles pareados por peso e ano de nascimento. O grupo de recémnascidos com displasia broncopulmonar apresentou pequeno aumento de incidência de alterações no desenvolvimento neuromotor e déficit auditivo, porém este resultado não foi significativo [29]. Meisels em 1986, também mostrou em seu estudo que o desenvolvimento neuropsicomotor dos pacientes 253 com displasia broncopulmonar é, em geral, mais afetado do que em recém-nascidos controle [32]. Sweeney & Swanson em 1998, relataram que bebês de baixo peso ao nascimento geralmente exibem instabilidade neurológica, devido ao seu estado clínico, e não à disfunção do sistema nervoso central. Uma das condições que leva a esta condição é a displasia broncopulmonar. Os bebês com doença pulmonar crônica exibem baixo tono muscular, atraso nas funções motoras e reações de equilíbrio imaturas [38]. Outros autores sugerem, que o desenvolvimento neuropsicomotor está relacionado a eventos perinatais e neonatais, e não à presença ou ausência de displasia broncopulmonar. Assim, não se pode relacionar a displasia broncopulmonar como fator isolado associada às seqüelas motoras [30,31]. A asfixia perinatal não tem sido relacionada às seqüelas neuromotoras tardias e a paralisia cerebral [33,12,34]. Porém, pode-se produzir alterações transitórias, resultando em uma encefalopatia manifesta, como hipotonia proximal dos membros inferiores de RNPT, convulsões e tremores, 72 horas após o nascimento [35]. Drillien et al [4], avaliaram o desenvolvimento neuropsicomotor de 281 recém-nascidos com peso ao nascimento inferior a 2000g, e constataram que 40% destas crianças apresentaram alterações neuromotoras transitórias nos primeiros meses de vida. Estes autores denominaram este fenômeno de distonia transitória associada ao baixo peso ao nascer, que se traduz clinicamente de hipotonia proximal em membros inferiores, hipertonia extensora do pescoço, irritabilidade e letargia. Muitas vezes são avaliados fatores não específicos para quantificar a asfixia perinatal. O boletim de Apgar, que é utilizado rotineiramente nos países ocidentais para a avaliação das condições clínicas do recémnascido no momento do parto, não apresenta boa correlação com a asfixia perinatal em recém-nascidos com idade gestacional inferior a 32 semanas [36]. Isto explicaria o fato de V. apresentar asfixia perinatal e um boletim de Apgar considerado contraditório para tal evento (1º minuto, 8 e 5º minuto 9). 254 Todos os fenômenos descritos podem ocorrer concomitantemente, influindo negativamente no prognóstico neuropsicomotor. Os estudos na literatura têm demonstrado a importância do caráter precoce da intervenção. Os primeiros dois anos de vida constituem o período crítico para a estimulação, devido à plasticidade cerebral e ao rápido período de crescimento e desenvolvimento. Em 1987, Resnick et al demonstraram redução significativa na prevalência de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor em 124 crianças, submetidas a um programa de intervenção precoce desde o período de internação até o final do segundo ano de vida, quando comparado a um grupo controle não submetido à intervenção [39]. Outros estudos demonstraram melhora no crescimento somático e na função motora após estimulação visual, auditiva, tátil,cinestésica e vestibular no período neonatal [40,41,42]. No presente estudo, V. realizou durante o período de internação, acompanhamento fisioterapêutico (estimulação motora e fisioterapia respiratória). No período pré-alta os pais receberam orientações quanto a importância da continuidade na intervenção terapêutica (estimulação). Durante os primeiros quatro meses pós- alta, V. recebeu acompanhamento fisioterapêutico diário e, em seguida, iniciou fisioterapia na clínica-escola da Universidade Camilo Castelo Branco estando com 4 meses de idade corrigida e 6 meses de idade cronológica. Motoramente, apresentava bom controle cervical, não rolava e não assumia ou mantinha a postura sentada, embora esbo çava reação de proteção lateral e anterior. O acompanhamento fisiote- Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 rapêuitco foi intensivo (5 vezes semanais). A família foi orientada quanto a posicio namentos corretos e exercícios para serem realizadas em casa. V., durante 1 ano e 4 meses, não apresentou intercorrências respiratórias. Durante sua evolução neuromotora, V. adquiriu todas as etapas posturais. Com 1 ano de 3 meses de idade cronológica deambulava com apoio e 3 meses depois, deambulava independentemente. Atualmente, com dois anos de idade cronológica, apresenta retração de cintura escapular, que evidencia-se em todas as posturas, principalmente durante o correr (fotos). A função bimanual e as pinças estão presentes e sem alterações. Comentários A retração de cintura escapular deve-se, provavelmente, à permanência em decúbito dorsal de 74 dias durante o período de internação. Talvez por fatores fisiológicos, já que o RNPT encontra-se em condições bem diferentes do ambiente intra-uterino. Este, além de fornecer suporte fisiológico e temperatura adequada, priva o feto da ação da gravidade pois sua musculatura esquelética ainda não atingiu maturação suficiente para vencê-la [46]. Assim, pode-se supor que a longa permanência desta musculatura esquelética imatura sob a ação da gravidade, seja responsável por esta retração de cintura escapular. Mediante revisão de literatura, pode-se dizer que a intervenção fisioterapêutica precoce é favorável em casos de RNPT PIG. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Mesmo na presença de fatores perinatais aversivos ao desenvolvimento neuropsicomotor normal, a intervenção precoce mostrou ser favorável quanto ao desenvolvimento neuromotor. No entanto, estas crianças devem ser acompanhadas até a idade escolar, já que muitos estudos mostram que grande porcentagem apresentam déficit de aprendizagem. O estudo de Drillien et al. [4], mostrou que 14% dos recém-nascidos de peso abaixo de 1500g apresentavam algum tipo de déficit sensorial, mental ou neurológico, durante o primeiro ano de vida. Aos seis anos de idade, 92% das crianças deste estudo freqüentavam escola normal, sendo que 18% delas apresentavam algum déficit de aprendizagem. Calame et al. ressaltaram a importância da intervenção precoce do RNPT de muito baixo peso. E relataram que, embora os casos de paralisia cerebral tivessem diminuído, as incidências de distúrbios leves e de dificuldades eram menos avaliadas [43]. Esse estudo mostra a relação entre pequenas anormalidades neurológicas no primeiro ano de vida e fracasso escolar, observado em cerca de 23% das crianças. Em 12% delas foi constatado déficit sensório motor grave, e houve alta incidência de desvios de comportamento, como hiperatividade, ansiedade e irritabilidade, com comprometimento da escolaridade. Outros autores também observaram que as alterações neuromotoras no primeiro ano de vida, mesmo se transitórias, em recém nascidos pré-termo submetidos a fatores de risco perinatais, estão associadas a mau desempenho escolar [4,44,45]. Desse modo, torna-se necessário um acompanhamento longitudinal dessa criança, para observar o possível acometimento na aprendizagem psicomotora. Até o presente momento, não evidencia-se alterações de ordem neuromotoras. Referências 1. Vergara E. Foudations for practice in the neonatal intensive care unit and early intervention. Rockville: AOTA Inc., 1993;335. 2. Goyen TA, Lui K,Woods T. 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Enzyme histochemistry of developing human muscle. Nature 1966; 211: 884-885. 258 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Revisão Vertigem cervicogênica: Considerações sobre o diagnóstico funcional e a fisioterapia labiríntica Cervicogenic vertigo: Considerations about functional diagnosis and the labyrinthine physical therapy André Luís Santos Silva*, Marco Antônio Guimarães da Silva**, João Santos Pereira*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Fisioterapeuta, Laboratório de Biomecânica Clínica do Hospital Municipal de Ipanema SUS/MS Rio de Janeiro,** Doutor em Medicina pela UBA-Argentina Professor Titular do PROCIMH / UCB Rio de Janeiro,***Doutor em Medicina pela UNIFESP Professor Titular do PROCIMH / UCB Rio de Janeiro Palavras-chave: Vertigem cervicogênica, diagnóstico diferencial, fisioterapia labiríntica. Resumo Alguns profissionais de saúde aceitam a premissa de que a região cervical é a fonte geradora da queixa de vertigem. Mas existem outras causas para justificar o fenômeno. Outros problemas podem causar sintomas de tontura e desequilíbrio, tais como a disfunção vestibular periférica, efeito colateral de drogas, hipotensão ortostática, ataques isquêmicos transitórios e síndrome do pânico. Este trabalho tem como objetivo revisar os fundamentos etiopatogênicos da vertigem cervicogênica, apresentar os argumentos praticados na literatura e debater sobre as possibilidades diagnósticas e terapêuticas disponíveis, sob a ótica da fisioterapia labiríntica. De acordo com a revisão qualitativa realizada, os dados obtidos sugerem que a determinação de diagnóstico etiológico e funcional preciso sobre a vertigem cervicogênica, não possui respaldo de teste clínico definitivo e inequívoco. Artigo recebido em 2 de julho de 2002; aprovado em 10 de julho de 2002. Endereço para correspondência: André Luís Santos Silva, Rua Presidente Carlos de Campos, 332 Laranjeiras - 22271-080 Rio de Janeiro RJ, Tel-Fax (21) 2554-6169, E-mail: [email protected], Site: www.fisideal.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Key-words: Cervicogenic vertigo, differentials diagnosis, vestibular rehabilitation. 259 Abstract Although some peolple in the medical community accept the premise that the vertigo complaint can present the cervical region as generating source of the symptoms, exists others causes to justify the phenomenon. A myriad of problems, that are not the cervical disfunction, can cause symptoms of dizziness and disequilibrium, as the peripheral vestibular pathology, drug interactions, orthostatic hypotension, transitory ischemic attacks, migraine and panic syndrome, for example. The aim of this work is to revise the anatomic and physiological findings of the cervicogenic vertigo, to present the arguments practised in literature and to debate on available diagnostic and therapeutical possibilities, under the optics of the labyrinthine physical therapy. In accordance with the carried through qualitative revision, the obtained data suggest that the determination of etiologic and functional diagnosis on the cervicogenic vertigo does not possess endorsment of definitive and unequivocal clinical test. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Em fisioterapia, uma das queixas mais comuns é a tontura. Ganança et al [2], citam que aproximadamente 85% das tonturas são causadas por disfunção do sistema vestibular periférico (labirinto e/ou nervo vestíbulo coclear) ou central (núcleos e vias no sistema nervoso central SNC), e que ambas podem ou não estar relacionadas com distúrbios em outras partes do corpo. A vertigem é o sintoma mais comum do mundo, sendo a terceira queixa mais freqüente [3]. Acomete mais de 33% das pessoas em alguma época de suas vidas; a sétima queixa mais encontrada nas mulheres, afligindo 61% delas com mais de 70 anos; presente em 50 a 60% dos idosos que vivem em suas casas ou 81 a 91% dos idosos atendidos em ambulatórios geriátricos [3,5,6]. A vertigem cervicogênica é caracterizada por tontura e desequilíbrio, por vezes associada com cervicalgia em pacientes com patologias nesta região [1,7]. O diagnóstico e tratamento de pacientes acometidos por esta patologia constituem um desafio na prática diária. Ganança et al, em estudo de preva- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ lência de hipóteses diagnósticas de vestibulopatia em dez anos de acompanhamento, encontraram 1,4% dos casos com origem relacionada à síndrome cervical [2]. Os autores observaram que a Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) liderava a prevalência, com 21,7% das vestibulopatias periféricas mais freqüentes [2]. Caovilla et al, também encontraram dados similares em uma pesquisa sobre prevalência diagnóstica [5]. Achados semelhantes foram relatados pela fisioterapeuta Susan Herdman, que menciona que 20 a 30% de todos os pacientes com vertigem apresentam a VPPB como causa [6,7]. Furman também relatou alta prevalência de VPPB em sua casuística [8]. Um estudo recente da dinâmica circulatória cerebral com ultrassonografia por efeito Doppler, demonstrou que em 52% dos pacientes vertiginosos com diagnóstico prévio atribuído a problemas na região cervical, apenas 5% apresentavam realmente vertigem de causa cervical por variações de fluxo de artérias vertebrais [8]. Os autores consideraram a osteoartrite de coluna cervical de baixo valor clínico como fator causal de disfunções otoneurológicas, contudo, enfatizaram a importância dos 260 transtornos hemodinâmicos capilares (circulação cerebral terminal), na troca metabólica entre as células cerebrais [8]. Outros processos podem apresentar sinais e sintomas parecidos, como a ataxia cerebelar e distúrbio vestibular unilateral crônico bilateral [5,6,7,13,14,15]. A proposta deste artigo é revisar a incidência e prevalência, histórico e a base fisiopatológica da vertigem cervicogênica. Como tontura, entende-se uma queixa não segura do paciente (não há uma ilusão clara de movimento) e está geralmente relacionada a alterações da microcirculação cerebral. Sensação desagradável de relação perturbada com os objetos circundantes no espaço; difere da vertigem pelo fato de não haver nenhuma vivência de que o paciente ou o mundo externo estejam em movimento [4,5,6,7,13,14]. A vertigem é uma queixa segura de ilusão de movimento. Sensação de que o mundo exterior está girando em torno do paciente (vertigem objetiva) ou de que ele está se movendo no espaço (vertigem subjetiva). O termo é empregado erroneamente, como sinônimo de tontura, para indicar uma sensação desagradável de perturbação das relações com objetos próximos do espaço. É considerado um distúrbio do equilíbrio, ou seja, da capacidade de posicionamento do corpo no espaço, assim como são as ataxias [1,2,3,7,13,14]. Ocorre uma alteração nas estruturas responsáveis pelo posicionamento espacial (quadro 01). Quadro 01. Estruturas responsáveis pelo posicionamento espacial. 1) Sistema vestibular (tanto periférico, labirinto e nervo VII, como cen trais, os 4 núcleos vestibulares situados no bulbo e suas conexões). 2) Sistema visual 3) Cerebelo 4) Cordão posterior da medula 5) Fascículo Longitudinal Medial (fibras que comunicam os núcleos vestibulares com alguns dos núcleos dos pares cranianos motores e com a formação reticular) O diagnóstico é dependente da correlação de sintomas de desequilíbrio e o tipo de tontura e dor, se presente, e a exclusão de outras disfunções vestibulares baseada na história, exame físico e provas de função Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 vestibular [1,7,12,21]. Quando diagnosticada corretamente, a vertigem cervicogênica pode ser tratada com sucesso utilizando uma combinação de terapia manual com fisioterapia labiríntica (reabilitação vestibular) [1,2,3,5,7,12,21]. Os centros de controle de equilíbrio utilizam as informações sobre a posição e o movimento derivados dos aferentes proprioceptivos de muitos segmentos do corpo (e não apenas do pescoço), e os combinam com as informações vestibulares para produzir uma imagem adequada da inclinação do corpo e as respostas posturais apropriadas [1,3,7,11,12,13,20]. Três situações, todas elas não completamente destituídas de controvérsia, têm sido consideradas como podendo determinar a vertigem cervicogênica [2,7,12]. Argumentos para insuficiência vértebrobasilar A insuficiência vértebro-basilar (IVB), por compressão das artérias vertebrais, devido aos osteófitos osteoartríticos ou por instabilidade atlanto-occiptal, se encontra como uma das três possíveis causas de vertigem cervicogênica [1,2,12]. Durante um movimento de rotação e extensão da cabeça ou uma manipulação da coluna cervical, as artérias vertebrais podem ser comprimidas. Em indivíduos normais, as artérias carótidas fornecem uma circulação colateral suficiente para evitar os sintomas. Na vigência de doença aterosclerótica, a circulação cérebrovascular pode ser comprometida, até que a compressão das artérias vertebrais provoque uma IVB [4]. A IVB inicia repentinamente, curta duração, e pode vir isolada ou acompanhada de náusea e vômito. Quando associada à cefaléia, pode estar relacionada a vasoespasmos transitórios do sistema vértebro-basilar [4,7]. Geralmente vem associada a sintomas de alucinações visuais, queda, fraqueza, defeitos no campo visual, diplopia e cefaléias, que representam isquemia em outras áreas supridas pelo território posterior [7]. Para se testar a IVB (teste da compressão da artéria vertebral), deve-se posicionar o paciente em decúbito Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 261 dorsal e realizar uma rotação com extensão cervical (posição de Rosé) [5,7,16]. Deve-se observar que a posição é a mesma da manobra de Dix-Hallpike, usada para avaliar a vertigem posicional paroxística benigna (VPPB) [20]. O breve episódio de vertigem (menor que 01 minuto), com nistagmo vertical e rotacional combinado e associado ao movimento da manobra, são mais provavelmente devido à VPPB do que à IVB. Para diferenciá-las e isolar uma atribuição à IVB, basta fazer com que o paciente sentado, flexione o tronco para a frente ao nível do quadril e ao mesmo tempo estenda e gire o pescoço. Assim, o paciente ficará na mesma posição da cabeça como no teste anterior, mas sua cabeça permanecerá na vertical. Esta posição previne que os sintomas da VPPB ocorram, em virtude da gravidade [3,7,12,14,17]. importância particular, que alguns autores consideram essa região como um labirinto secundário [21]. As informações oriundas do pescoço informam aos centros superiores sobre a posição da cabeça, em referência a um movimento diferencial entre cabeça e tronco. Esta é a diferença fundamental para o sistema vestibular, o qual é sensível aos movimentos da cabeça em relação ao espaço. Ambos os sistemas complementam um ao outro [7,11,12,21]. A posição da cabeça é governada pelas estruturas moles cervicais e através de informações do Reflexo Vestíbulo-Cólico (RVC). A informação cervical proprioceptora serve como um feedback, onde o Reflexo Cérvico-Cólico (RCC) é, então, gerado. Os reflexos resultantes (eferentes) são o Reflexo Cérvico-Ocular (RCO) e o Cérvico-Espinhal (RCE) [7,21]. A localização exata dos proprioceptores cervicais é controversa [12]. Alguns autores atribuíram às regiões das articulações intervertebrais [1,21]. Outros já situaram os fusos musculares e tecidos moles [12]. A região cervical superior tem sido indicada como uma fonte de proprioceptores. Eles estão presentes nas cápsulas articulares, ligamentos e músculos [11]. Estudos recentes demonstram que os proprioceptores do pescoço devem ser considerados como uma integração de informações oriundas da articulação, pele e músculos. O fato é que os músculos intervertebrais são organizados com orientação muito variada, implicando em informações de diferentes sinais oriundas de músculos individuais, os quais possuem verdadeiro potencial para promover um retrato detalhado da posição e movimentos da cabeça [21]. As respostas óculo-motoras às estimulações proprioceptivas cervicais deflagram movimentos oculares reflexos (RCO), idênticos ao nistagmo vestibular (RVO), porém mais fracos e inconsistentes, assim como é questionada a sua real contribuição para a estabilização do olhar [12,21]. A interação cérvico-vestibular, através da convergência dos sinais vestibulares e proprioceptores cervicais tem sido constatada [21]. A estimulação de estruturas proprioceptoras e do sistema vestibular, resultam em atividade dos mesmos neurônios localizados Argumentos para Síndrome Simpática Cervical Posterior Outra hipótese fisiopatológica sobre a vertigem cervicogência seria a Síndrome Simpática Cervical Posterior [3,12]. Por essa teoria, haveria uma irritação do plexo vertebral simpático, o qual provocaria uma constrição da artéria labiríntica e, conseqüêntemente, haveria hipoperfusão do aparelho vestibular periférico associada à vertigem. Os dados objetivos para suportar esta teoria ainda são escassos. Vale lembrar, também, que o controle da circulação intracraniana é independente do sistema simpático cervical. Nesse sentido, é difícil considerar como uma lesão cervical poderia causar uma diminuição do fluxo para a orelha interna [7,12,11]. Argumentos para sinais proprioceptivos alterados Um argumento seria a presença de sinais proprioceptivos alterados, com quadro de inflamação ou irritação das raízes nervosas cervicais ou das facetas, que poderiam provocar uma má combinação multissensorial. Segundo Norré, os receptores da coluna cervical possuem uma 262 no complexo nuclear vestibular. Essa convergência inclui um centro cervical especial, o Núcleo Cervical Central (NCC), que existe nos segmentos C1-C4. Os mecanismos visuais e vestibulares juntos podem gerar melhor estabilidade do que isolados [21]. As diversas pesquisas para se identificar a vertigem cervicogênica com achados oculomotores, abrangem testes com ablação cervical proprioceptiva e registro de movimentos oculares [24], estudos de eletronistagmografia (ENG) em pacientes com cervicalgia, após lesões em chicote [22,24], Teste de Torsão Cervical na Perseguição Uniforme (TCPU), injeção de anestésicos locais na musculatura cervical póstero-superior [23]. Porém, tais estudos não forneceram dados sólidos para definirem a origem cervical da vertigem [7,12,21]. Quanto ao aspecto relacionado ao equilíbrio, as pesquisas experimentais realizadas através de testes com posturografia dinâmica, ataxia induzida em seres humanos e alterações no controle postural da postura ortostática, ainda não apresentaram sensibilidade e especificidade satisfatórias para identificar os indivíduos com vertigem cervical [7,12]. Outras causas de vertigem cervicogênica seriam de natureza traumática, tumoral e a Síndrome do chicote (Whiplash) [2,3,4,5]. Discussão Embora a queixa de vertigem possa apresentar a região cervical como fonte geradora dos sintomas, existem outras causas para justificar o fenômeno [3,7]. Uma miríade de problemas, que não sejam as disfunções cervicais, podem causar sintomas de tontura e desequilíbrio [7,12,13,16,18,21]. Nesse sentido, o diagnóstico deve ser baseado nos sinais e sintomas individuais e, também, na ausência de causas otoneurológicas [2,5,7,11]. Na suposição de vertigem cervicogênica, deve ser realizada uma avaliação pormenorizada do quadrante superior, com análise da amplitude de movimento ativa e passiva, palpação, força, sensibilidade, reflexos e testes segmentares de mobilidade cervical, além da investigação Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 do equilíbrio corporal [7,14,21]. Frente a esse contexto de sinais e sintomas, o tratamento pela fisioterapia labiríntica objetiva concentrar-se na mobilidade limitada, no aumento de tônus, no combate aos pontosgatilhos por síndrome miofascial paralela e correção postural, frente à oscilação aumentada do corpo [7,12]. Resumidamente, a abordagem pode incluir a mobilização cervical, cinesioterapia ativa para amplitude e fortalecimento, técnicas de mobilização de tecidos moles, agentes térmicos e eletroterápicos [7,12,13,19]. Dentre as inúmeras técnicas disponíveis para ganhar arco de movimento, citaremos duas com o paciente em decúbito dorsal: a distração atlanto-occiptal e a mobilização em rotação de C1-C2 com flexão, esta última associando o recurso semelhante á técnica de contrair/ relaxar [12,13,19,21]. Na seqüência, a cinesioterapia ativa deve ser estimulada com atividades de movimento óculo-cefálico, de posicionamento, de habituação, equilíbrio e marcha, como aplicado nos pacientes vestibulopatas [7,10,12,14,19]. Conclusão A causa cervical da vertigem é polêmica [1,7,3,7,9,10,11,12,13,16,21]. De acordo com a revisão qualitativa de literatura e a prática diária, constatamos que outras causas otológicas e neurológicas da vertigem podem, também, apresentar-se com restrição da mobilidade cervical, cervicalgia, aumento de tensão muscular, sensação de flutuação ou desequilíbrio, ataxia e instabilidade [1,7,11,12]. Então, esses fatores não podem ser indicativos de uma causa cervical para os sintomas [7,12]. Ainda não existe um teste clínico conclusivo, com sensibilidade e especificidade satisfatórias, para a vertigem cervicogênica [1,10,11,12,20,21]. Os fisioterapeutas clínicos e pesquisadores devem identificar os múltiplos componentes préplanejados e automáticos de uma resposta postural, a fim de determinar a melhor forma de influenciar a sua organização. Tal reconhecimento contribui para direcionar os profissionais a determinarem a abordagem e Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 263 a eficácia da sua estratégia de intervenção para o treinamento e restauração da função. edição, São Paulo, Editora Manole; 2002. pp. 490-504. Silva ALS, Moreira JS. Vertigem: A Abordagem da fisioterapia. Fisioterapia Brasil 2000; 01(01):91-97. Silva ALS. Tratamento Individualizado de Paciente Idoso com Vertigem Postural: Relato de Caso. J Fisiobrasil. Fev 2000; pp.03. Silva ALS. Abordagem da Fisioterapia em Pacientes com Disfunção Labiríntica: A Reabilitação Vestibular. J Fisiobrasil. Jun 2000; pp.02. Silva ALS. Postura, Estabilidade e Quedas: Atuação dos sistemas proprioceptivo, vestibular e visual. Conferência Anais do Congresso Fisioterapia 2000, Fortaleza, CE, 2000. Silva ALS et al. Reabilitação Vestibular em duas pacientes com vertigem posicional paroxística benigna. Fisioterapia Brasil. 2001;02(05):313-323. Silva ALS. 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Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CDROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www.icmje.org, na versão atualizada de outubro de 2001. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 2. Artigos originais 1. Editorial 4. Comunicação breve Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a biblio-grafia não deve conter mais que dez referências. Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico, bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselhase o mesmo dos artigos originais. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qua- 265 lidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou 266 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and nd management. 2 ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S et al. Expression and localization of urokinasetype plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Rua Conde Lages, 27 - Glória 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel: (21) 2221 4164 E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 25 a 28 de setembro CONNEFI (3º Congresso Fisioterapia) Belém - PA Tel: (91) 224-2111 / 224-2143 Calendário de eventos 2002 4 a 9 de agosto 4 th World Congress of Biomechanics Telus Convention Center, Calgary, Alberta Human Performance Laboratory The University of Calgar Telephone: (403) 220-7552 / Fax: (403) 284-3553 Site: www.wcb2002.com / Email: [email protected] 267 Agosto 10 a 14 de agosto 2 nd International Symposium on Rehabilitation and Physical Therapy in Veterinary Medicine Knoxville, Tennessee Informações: www.utc.edu/~vetpt/ 17 a 22 de agosto 10th World Congresso on Pain San Diego, California, USA International Association for the Study of Pain (IASP) 909 NE 43rd St., Suite 306 Seattle WA 98105-6020 USA Tel: 206-547-6409 / Fax: 206-547-1703 E-mail: [email protected] www.iasp-pain.org and www.painbooks.org Setembro 3 a 7 de setembro VIII Congresso Brasileiro de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar Centro de Convenções de Curitiba - PR Informações: (51) 3338-4344 ou 3381-2380, E-mail: [email protected] 9 a 13 de setembro 5º Simpósio de Fisioterapia da UMC Mogi das Cruzes - SP Tel: (11) 4699-1345 19 a 22 de setembro Scoliosis Research Society Annual Meeting Scientific Session Seattle, WA, EUA Scoliosis Research Society, 6300 N. River Rd, Ste 727, Rosemont, IL 60018-4226 Tel: 847-698-1627 E-mail: [email protected] / [email protected] / [email protected] 20 a 22 de setembro I Jornada Catarinense de Reabilitação Neurológica Centreventos Cau Hansen em Joinville-SC Sueli Brandão Eventos 47-422-1133 / 422-1734 [email protected] Norte-Nordeste de 25 a 27 de setembro International Latino Womens Congress Condado Plaza Hotel San Juan, PR Site: www.ilwcinc.com 11 a 13 de outubro Annual Congress of the Physiotherapy International Convention Centre Birmingham, UK www.csp.org.uk Outubro Chartered Society of Novembro 07 a 10 de novembro 2º Congresso de Fisioterapia da UFJF / 6º Encontro de Fisioterapia Juiz de Fora - MG Tel: (32) 3236-4237 / 3218-4041 / 9971-6034 17-20 de novembro 8 th General Assembly of Asian Confederation for Physical Therapy Central Grand Plaza Hotel Bangkok, Thailand Informações: [email protected] 27-30 de novembro European Congress on Prevention of Through Physiotherapy Vienna, Áustria Informações: www.physio.at/congress/2002.htm Diseases Dezembro 11 - 14 de Dezembro X Semana Acadêmica de Fisioterapia da Ufsm, e V Jornada de Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia Centro de Convenções do Hotel Itaimbé, Santa Maria-RS. Tel: (55) 3025-7105 ou 222-1028 Email: [email protected], ou, [email protected] 2003 Fevereiro 24 a 28 de fevereiro International Society for the Study of the Lumbar Spine 2003 Annual Meeting New Delhi, India Shirley Fitzgerald Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055 Email: [email protected] 268 7 a 12 de junho World Confederation for Physical Therapy 14th International Congress and 15th Meeting Barcelona, Espanha Informações: www.wcpt.org E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 4 - Julho / Agosto de 2002 Junho General 12 a 14 de junho International Trauma Congress Durban, South Africa Dr George E Dimopoulos Tel: +27 31 2612018 / Fax: +27 31 261 7321 Email: [email protected] 2004 Fevereiro 24 a 28 de fevereiro International Society for the Study of the Lumbar Spine 2004 Annual Meeting Porto, Portugal Shirley Fitzgerald Tel: 416-480-4833 / Fax: 4l6-480-6055 Email: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro 2002 ○ ○ 269 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.3, nº5 set/out 2002 - 269~340) EDITORIAL Novos tempos, Marco Antonio Guimarães da Silva ........................................................................................... 271 RESUMOS DE TRABALHOS. ............................................................................................................................... 273 ARTIGOS ORIGINAIS O fisioterapeuta político, Marcos Antonio Tedeschi ........................................................................................... 276 Fisioterapia prática Tratamento fisioterapêutico na fibromialgia, Cristiane Januário Sette, Raquel Vallada, Edson Alves de Barros Júnior ................................................................................................................................. 281 Efeitos da hidrocinesioterapia na amplitude de movimento em indivíduos sedentários utilizando o método Bad Ragaz, Alexandre Fiorelli, Eduardo Aguilar Arca, Francine Peron Rodrigues Pinto, Giovana Fazzani Bortotto ...................................................................... 285 Apoio ergonômico para a região sacro-ílio-lombar na posição sentada em viagens de longa distância, Mariana Huet, Anamaria de Moraes .................................................................................. 293 Relação reflexa entre o sistema oculomotor e a cervical superior, Carlos Alberto M. Barreiros, Bianca Elisabeth Thurm ................................................................................. 309 A atuação da fisioterapia na atenção primária à saúde - Reflexões a partir de uma experiência universitária, Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro .......................................................................... 311 Ginástica Laborativa construtiva: efeitos no desenvolvimento Prática sensório-motriz de prematuros com disfunções neuromotoras, Vernon Furtado da Silva, Maria do Céu, Marco Antonio Guimarães da Silva ..................................................................................................................... 319 ESTUDO DE CASO Protocolo hidrocinesioterapêutico na mielopatia esquistossomal, Christianne Maria Silva Magalhães, Karen Lúcia de Araújo Freitas Moreira ................................................. 327 Quantificação da utilização de muletas canadenses em um paciente portador de paralisia cerebral (diparesia espástica), Carlos Bandeira de Mello Monteiro, Sandra Cardozo Martins .................... 333 NORMAS DE PUBLICAÇÃO. ................................................................................................................................ 338 EVENTOS. ................................................................................................................................................................ 340 ○ 270 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro 2002 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB Rio de Janeiro) Conselho científico Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires UBA Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin Argentina) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek Brasília) Grupo de assessores Dra. Lisiane Fabris (UNESC Santa Catarina) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep São Paulo) Dra. Luci Fabiane Scheffer Novaes (Univ. do Sul de Santa Catarina) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Gordon S. Cummings (Langley-Estados Unidos) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB Rio de Janeiro) Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Rua Conde de Lages, 27 20241-080 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 E-mail: [email protected] www.atlanticaeditora.com.br São Paulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Assinaturas por 1 ano R$ 90,00 6 números ao ano + 1 CD-ROM Tel.: (21) 2221-4164 RJ / (11) 3361-5595 SP www.atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin [email protected] Editores associados Dr. André Luís Santos Silva Dra. Luciene Deccache Moreira Editoração e Arte Kassina Camargo Ribeiro Copy & Revisão Ricardo Augusto da Silva Ferreira Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. [email protected] Administração Bárbara de Assis Jorge Gerente Comercial Stevenson Gusmão Revista Fisioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Rua Conde de Lages, 27 - Glória 20241-080 - Rio de Janeiro - RJ Tel/Fax: (21) 2221-4164 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2221-4164 Cel: (21) 9662-9411 Representante Assinaturas - SP A.Shalon - (11) 3361-5595 Ilustração da capa: Rafael Barradas, Jugadores de naipes, 1918, têmpera sobre tela, 49x59 cm, Montevideo. I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro 2002 271 Editorial Novos tempos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva * Editor científico de Fisioterapia Brasil Pós Doutorado na UFRJ Professor de mestrado recomendado pela CAPES Lá pelas tantas, em seu livro Bagagens de um Viajante, Saramago, querendo sinalizar um final de mais um ano, assim se expressa: Vai o ano correndo manso entre noites e dias, entre nuvens e sol, e quando mal nos precatamos chegamos ao fim. Roubo o texto de um de meus autores preferidos, para, ainda que tardiamente, registrar os nossos já passados primeiro e segundo aniversários. Selecionei esse pequeno trecho, porque, sem que nos déssemos conta, nosso primeiro aniversário já se foi e o segundo está em vias de acontecer no presente mês. As preocupações que assombram todos os editores de periódicos, centradas principalmente na falta de artigos para o próximo número, foram rapidamente exterminadas. Nossas expectativas foram superadas a ponto de contarmos com artigos reservas para pelo menos seis edições. Esse quantitativo parece refletir a confiança e o respeito que conquistamos neste período. Um aspecto interessante a ser notado, quando analisamos, de uma forma geral, os delineamentos que sustentaram a execução dos trabalhos geradores dos artigos enviados para publicações, é que foram em sua quase totalidade amparados no paradigma da racionalidade cognitivo-instrumental. Para Boaventura Souza Santos (Pela Mão de Alice, 1995) o tal paradigma, assumido pelas ciências da natureza, associa-se aos paradigmas da moral-prática (do direito e da ética) e o da racionalidade estético-expressiva (das artes e literaturas), para formar o saber privilegiado que constitui a universidade moderna. A Universidade, assim, acaba sendo o nascedouro das produções cientificas e como consequência o grande manancial dos periódicos. E qual seria o perfil de nossas futuras publicações? Mais uma vez Souza Santos vem nos ajudar. Ele nos lembra muito bem que estamos em uma fase de transição paradigmática da ciência moderna, para uma ciência pós-moderna e que se a universidade quiser sobreviver terá que transformar o seu tripé sustentador ensino, pesquisa e extensão, assumindo uma dupla ruptura epistemológica que 272 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro 2002 priorize a racionalidade moral-prática e a racionalidade estético -expressiva, sobre a racionalidade cognitivo instrumental. Acreditamos que alguns passos ja foram dados neste sentido e o modelo biopsicogênico da dor de Waddel aponta ainda que timidamente, neste sentido. Cabe-nos também, enquanto produtores de ciência, por mais cartesianos e positivistas que sejamos, contribuir com a parte que nos cabe deste latifúndio. A Revista Fisoterapia Brasil, com toda certeza, terá uma longa vida e espera ser testemunha dos novos tempos acadêmicos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Recomendações aos autores Agradecemos a todos os fisioterapeutas e outros especialistas que enviam artigos e trabalhos para publicação. Estamos também aceitando monografias de graduação e trabalhos acadêmicos, estudos de caso, que constituirão em breve um banco de dados acessível por CD-ROM ou por Internet e que, na medida do possível, serão publicados na forma de artigos, após seleção e avaliação pelo Comitê Científico. Recomendamos o envio do texto completo do trabalho, respeitando as normas de publicação, que podem ser encon-tradas nas últimas páginas desta revista ou em nosso site: www.atlanticaeditora.com.br ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 273 Resumos de trabalhos e congressos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cléo Valentini Pinto Pós-Graduado em Fisioterapia Neurológica pela UNESA, Endereço para correspondência: Av. Almirante Álvaro Alberto, 180/102 São Conrado 22610-070 Rio de Janeiro RJ, Tel: 3322-4931/9921-6626, E-mails: [email protected], [email protected] ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia com prática maciça na recuperação motora de AVE no lado não dominante Introdução: Relato de um caso de tratamento fisioterapêutico, usando prática maciça (PM), para recuperação motora de acidente vascular encefálico (AVE), com hemiparesia braquial distal à esquerda (E) em lado não dominante, sem capacidade de realizar funções antes do tratamento. A paciente é uma mulher jovem, que sofreu um AVE isquêmico em 11/03/2001, tendo presentemente 21 anos de idade. O acidente foi provocado pelo uso de anticoncepcional, três meses após o início da utilização do mesmo. Além da hemiparesia a paciente apresentava importante déficit sensitivo superficial e profundo. Objetivos: A estratégia do tratamento foi, prioritariamente, tentar incorporar funções à vida diária da paciente, que lhe dessem independência funcional, bem como funções que, embora não sejam do lado não dominante, podem ocorrer, em determinadas contingências, no mundo real e, também, funções, visando apenas aumentar o controle motor da sua mão E. Assim, a idéia era desenvolver habilidades motoras e melhorar a qualidade dos atos motores, para alcançar fluidez no movimento, visando o aspecto cosmético do punho e da mão E, para aumentar a auto-estima da paciente. Existiam três fortes razões para o uso da PM: a estabilização da evolução dentro do tratamento convencional, a plasticidade neural de uma jovem e a motivação da paciente. Método: Utilização da PM no membro superior comprometido durante 8 horas por dia, cinco vezes por semana, durante duas semanas consecutivas, sem restrição do movimento no lado sadio. Isto totaliza 80 horas de fisioterapia, correspondendo, aproximadamente, a 8 meses de fisioterapia convencional, num esquema de três vezes por semana. A PM provoca uma mudança comportamental importante na paciente, substituindo o desuso aprendido do membro superior hemiparético por um novo uso aprendido, dentro de um curto espaço de tempo. Os fundamentos da PM são idênticos ao da terapia de restrição e indução do movimento: a reorganização cortical de uso dependente e o condicionamento operante. A paciente passa a realizar uma fisioterapia paralela pelo uso das funções incorporadas e a 274 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 da paciente logo após a aplicação da PM, além de adiar uma estabilização da recuperação motora. O tratamento deu ênfase a quatro grupos de macro-funções: alimentação, vestuário, cuidados pessoais e atividades instrumentais. O treinamento das funções era sempre precedido de um trabalho de facilitação, usando recursos como: FNP, pesos, bastões, bola e espelho. O trabalho foi documentado por meio de filmagens, com objetivo de criar um referencial para orientação da paciente e do fisioterapeuta, bem como para o acompanhamento da evolução do tratamento. Também, foram feitas diversas fotografias da mão da paciente, para documentar a situação e evolução das atrofias provocadas pelo desuso. Resultados: as seguintes funções foram incorporadas, ou estão parcialmente incorporadas, ao mundo real da paciente, dentro dos quatro grupos de macro-funções supra-mencionados: (a) Alimentação: segurar o prato com a mão E para servir-se (*); cortar o alimento no prato (carnes, frutas, etc.), com o garfo na mão E; cortar pão francês em duas metades ou abrir no meio para fazer sanduíche ou cortar em fatias pequenas, segurando o pão com a mão E; espetar o alimento e levar à boca, segurando o garfo na mão E dentro do padrão normal do movimento (*); segurar com a mão E um copo ou uma taça para servir-se; beber líquidos com a mão E, usando uma taça; abrir a tampa com rosca de uma garrafa de 500 ml, usando a mão E para segurar a mesma; (b) Vestuário: abotoar o porta-seios, usando ambas as mãos; usar ambas as mãos para tirar/colocar roupas que saem pela cabeça (*); usar ambas as mãos para tirar/colocar roupas na parte inferior; dar o laço no tênis, usando ambas as mãos; (c) Cuidados pessoais: escovar o cabelo com a mão E; (d) Atividades instrumentais: dirigir com a mão E no volante (o carro da paciente foi adaptado para uso exclusivo da mão direita, mas sem problemas para dirigir com ambas as mãos); usar a seta com a mão E; usar o fone na mão E; pegar e recolocar o fone na base com a mão E; abrir/fechar, usando a mão E, gavetas, portas, portões, armários, etc.; ligar/desligar, usando a mão E, interruptores de luz, TV, som, etc.; (*) função parcialmente executada. Observouse que durante a PM ocorreu uma redução do tempo na execução das funções, devido a prática contínua e maciça no mundo real da paciente. Em relação ao tônus deve ser registrada a seguinte observação da paciente: Sempre que venho para Itaipava fico mais espástica do que no Rio, mas está acontecendo o oposto. As razões são óbvias, a temperatura mais baixa em Itaipava e a quantidade de movimento ativo durante a PM. Esse tônus mais baixo foi mantido até o término da PM. Relativamente à força, ocorreu aumento na extensão e na flexão do punho, nos movimentos do polegar e um aumento discreto nos demais dedos. Nos exercícios para punho, procurou-se evitar que a extensão de punho provocasse a flexão condicionada dos demais dedos. O tratamento amorteceu essa assinergia. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 275 Conclusões: (a) a PM pode superar o desuso aprendido também do lado não dominante, desde que haja motivação do paciente e condições funcionais favoráveis para esse tipo de prática; (b) a transferência de funções para a vida real aumenta ainda mais a possibilidades de corrigir a supressão condicionada do movimento, criada pelo desuso aprendido e adia a estabilização da evolução da reabilitação; (c) a redução do tônus durante a PM precisa ser acompanhada para ver se essa situação é permanente; (d) houve aumento de força na extensão e flexão do punho, nos movimentos do polegar e do indicador para executar diversos tipos de pinça, bem como uma alteração discreta nos demais dedos para o ato de preensão; (e) não houve alteração da sensibilidade superficial nem profunda. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Rodolfo Borges Parreira*, Lisandro Antonio Ceci*, Luiz Otávio Davanso*, Afonso Shiguemi Inoue Salgado** *Discentes do 4º ano do curso de Fisioterapia da Universidade Norte do Paraná, **Docente da Disciplina de Fisioterapia Aplicada a Ortopedia, Traumatologia e Desportiva na Universidade Norte do Paraná. Endereço para correspondência: Rodolfo Borges Parreira, rua São Vicente, 618, Centro 86025901 Londrina PR ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Principais lesões decorrentes da prática de canoagem em atletas da seleção brasileira Sendo a alta competitividade um fator motivante para melhores resultados, o talento combinado com o biotipo, são fatores determinantes e pontos de vantagem para os atletas. No entanto, o abuso na disciplina de treinamento e os excessos de exercícios, promovem desgastes naturais que podem prejudicar o desempenho do atleta. A canoagem é uma modalidade olímpica que dispõe de tipos de prática, sendo elas a modalidade individual (K1), em dupla (K2) e em quarteto (K4). Este trabalho foi realizado com atletas profissionais da Seleção Brasileira de canoagem em seu local de treinamento, no Iate Clube de Londrina, e teve por objetivo quantificar as principais lesões decorrentes da prática desta modalidade esportiva, durante a vida profissional do atleta. A metodologia usada neste trabalho está baseada na pesquisa de campo, apoiada em uma ficha de avaliação que além dos dados pessoais do atleta e um quadro onde era quantificada a lesão, constava o dado de treinamento (tempo de prática, tempo de treinamento, tempo de treinamento específico, período de treinamento), para uma melhor quantificação das lesões. Foram entrevistados 10 atletas, todos praticantes das modalidades K1, K2 e K4, e tinham uma média de idade de 19,1 anos, variando entre 16 e 26 anos. O tempo médio de prática dos atletas era de 7,3 anos, variando entre 3 e 12 anos, e o tempo de treinamento diário era de 5 horas. Dentre os atletas analisados, os segmentos mais afetados foram o ombro (47,80%), seguido de joelho (17,30%), coluna e punho (13,00%), cotovelo e braço (4,34%). As principais patologias encontradas foram a tendinite (34,7%) e estiramento muscular (21,7%). Ficou comprovado que os membros superiores e a coluna são as regiões anatômicas mais lesadas na prática da canoagem. O joelho teve um destaque, pois este permanece em posição estática e em isometria durante toda a prática esportiva. Isto se deve à posição em que o esporte é praticado. 276 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2002 Artigo original O fisioterapeuta político Physical therapy and politics Marcos Antonio Tedeschi ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta Estatutário da Prefeitura de São José dos Pinhais, Professor Estatutário da Secretara de Estado da Educação do Paraná, Professor da Universidade Tuiuti do Paraná e Coordenador de Curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco de Curitiba Palavras-chave: Política, fisioterapia, participação. Key-words: Politics, physical therapy, participation. Resumo Com a atual estrutura do sistema público de saúde brasileiro, a participação do fisioterapeuta no quadro político tornou-se imperativo. Embora mal vista por muitos, a política é o maior agente de transformação da saúde pública, e apenas com a participação efetiva é possível obter espaço em um mundo cada vez mais competitivo. É necessário que cada fisioterapeuta seja um político, como um remador em um barco, pois a participação política é intransferível e a não ocupação de seu espaço sede lugar para outro interessado. Faz-se necessário a formação de fisioterapeutas políticos. Abstract With the current structure of the Brazilian public system of health the Physiotherapists participation in the political picture became imperative. Although bad seen by many, the politics is the largest agent of transformation of the public health and just with the effective and possible participation to obtain space more and more in a world competitive. Necessary Ë that each Physiotherapist is a politician, as a rower in a ship, because the political participation is untransferable and the non occupation of its space thirst place for another interested. He/she makes himself necessary the formation of political Physiotherapists. Artigo recebido 4 de junho de 2002; aprovado 15 de julho de 2002. Endereço para correspondência: Rua Previsto Columbia, 99, Guairá 80630-240 Curitiba PR, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2002 277 Introdução Participação política A política para a categoria dos fisioterapeutas no Estado do Paraná e muito outros Estados da União, freqüentemente foi tratada com descaso, coisa de fisioterapeuta obsoleto ou incompetente. Recentemente, no II Ciclo de Conferências de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná, promovido pelos Acadêmicos de Fisioterapia daquela entidade, em 27/10/2001, fui convidado para participar de uma mesa de debate com o tema Política, a Fisioterapia, ontem, hoje e o futuro, trazendo a problemática se é necessário à participação do Fisioterapeuta na política? Ao escutar os Doutores Professores João Henrique Faryniuk, Luiz Bertassoni Neto, Roberto Cepeda e Marcelo Márcio Xavier, senti uma forte compulsão de fazer este artigo. Acrescentando ao estimulo da Dr.ª Eunice Tokars, iniciei a escrever com o objetivo de colocar uma visão sobre o estágio atual da política na categoria dos fisioterapeutas, principalmente a política dos fisioterapeutas na saúde. A importância desta temática encontra-se na atual organização e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), hoje municipalizado e orientado a partir das Conferências Municipais de Saúde, regidos por legislação própria, constituída por representantes dos usuários (50%), dos trabalhadores (25%) dos gestores (25%) e fiscalizado por um Conselho Municipal de Saúde, com membros eleitos na Conferência supracitada. Tem-se como hipótese mais elementar das hipóteses, que só com a participação efetiva da categoria dos fisioterapeutas nas decisões políticas da área da saúde, é que será garantido e ampliado o mercado de trabalho e não na limitação do número de instituições de ensino de fisioterapia. O objetivo desta escrita é resgatar os conceitos da participação política e relatar algumas atitudes nefastas na gestão de nossa categoria em relação a área da saúde. A metodologia utilizada será uma forma híbrida entre o método estruturalista e o bibliográfico. O estruturalista desenvolvido por Lévi-Strauss [8], onde investiga um fenômeno concreto, eleva-se a um nível abstrato com a construção de um modelo (onde insiro o bibliográfico) e retomá-se ao concreto. Até há pouco tempo, a massa moderna era industrial [1] proletária, com idéias e padrões fragmentados. Procurava dar sentido a sua existência, lutavam em bloco por melhores condições de vida e pelo poder político. Crente no futuro, mobilizava-se para grandes metas, através de sindicatos e partidos ou apelos nacionais, com participações profundas. Os profissionais autônomos, neste momento, ficando a reboque das grandes categorias profissionais assalariadas. A massa pós-moderna, no entanto, é consumista, classe média, flexível nas idéias e nos costumes. Vive no conformismo em países sem idéias, seduzida e atomizada pela mídia, querendo o espetáculo do prazer do consumo, de bens e serviços no lugar do poder. Mas, quem somos nós? Confesso que nenhum de nós fisioterapeutas saberia responder exatamente a essa pergunta. Só afirmar que não importa os rótulos nos atribuídos, somos o que produzimos e participamos [4]. Como cita Medina [3], nas car reiras profissionais, por exemplo, é fácil observar uma ampla tendência à formação de especialistas, em detrimento de uma formação mais generalizante, em quase todos os setores da atividade humana. Por conseqüência, sabe-se mais e mais sobre o particular sem, contudo, avançarmos no sentido de um melhor entendimento de totalidade dos fenômenos humanos e universais, e incluo aqui a participação política como elemento totalizador da atividade profissional. Chauí [5], relata que a história é a práxis1 e que o aspecto fundamental da existência histórica dos homens é a ação pela qual podem reproduzir as relações sociais existentes, ou transformá-las, seja de maneira radical ou parcial. Assim, somos o que reproduzimos. Quando não participamos sistematicamente da política de saúde, criamos um paradigma de que isto não é coisa para fisioterapeutas e esperamos sermos reconhecidos pelas grandes obras (tratamentos e recuperações) que realizamos. A política muito trabalhada por Aristóteles [6], onde se utiliza a obra República de Platão, para atribuir a necessidade natural da cooperação entre todos os membros da sociedade para que o homem, quer como 278 indivíduo (zom politicom), quer como membro da comunidade, consiga satisfazer suas necessidades e alcance a perfeição. É nesse sentido que afirma a origem natural da sociedade e da participação de seus elementos como elemento gerador. Assim, a palavra política é derivada da palavra grega polis, que significa cidade, isto é, o lugar onde as pessoas vivem juntas. Logo, política é uma ação em prol do bem comum e imperativa para aqueles que desejem viver e conviver em cidades. Não se pode admitir profissionais, do nível superior, que não participem das decisões de sua categoria. Esta participação inclui as questões legais, éticas, mercadológicas e outras. Em Dallari [7], para encerrar este raciocínio, tem-se a afirmação de que todos os indivíduos têm o dever de participar da vida social, procurando exercer influência sobre as decisões de interesse comum. Esse dever tem, sobretudo, dois fundamentos: em primeiro lugar a vida social, necessidade básica dos seres humanos, é uma constante troca de bens e de serviços, não havendo uma só pessoa que não receba alguma coisa de outras; em segundo lugar, se muitos ficarem em atitude passiva, deixando as decisões para outros, um pequeno grupo, mais atuante ou mais audacioso, acabará dominando, sem resistência e limitações. A fisioterapia brasileira repete a escrita Nicolau Maquiavel não é só o precursor da moderna ciência política, mas também o antecessor dos fundadores de qualquer forma de administração pública. Ele descreveu de maneira aberta, como um naturalista, como os homens agem com o poder, não como deveriam agir. A objetividade ao escrever a maneira de agir de Duque Cesar Borgia descartou o arcabouço do poder, tornou-o visível, analisável, avaliável. Antes de Maquiavel não se podia ter o fato político examinado com clareza, porque os dados políticos vinham misturados de conteúdos teológicos, éticos e sociais, amálgama que dificultava ver a realidade. O comportamento dos dirigentes de nossa categoria também sofre pela mesma mistura de considerações morais, religiosas e culturais, o que dificulta separar os galhos das folhas. Para exemplificar nossa atual situação na disputa do Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2002 poder na área da saúde com as categorias participantes, é necessário colocar um texto, de autoria desconhecida, muito engraçado que recebi por e-mail, sobre planejamento estratégico que é também uma forma de planejamento político; Conta à história que, em 1994, houve uma competição entre as equipes de remo do Brasil e do Japão. Logo no início da competição, a equipe japonesa começou a distanciar-se e completou o percurso rapidamente. A equipe brasileira chegou à meta com uma hora de atraso. De volta ao Brasil, o Comitê Executivo se reuniu para avaliar as causas de tão desastroso e imprevisto resultado e concluiu: 1) A equipe japonesa era formada por um chefe de equipe e 10 remadores. 2) A equipe brasileira era formada por um remador e 10 chefes de equipe. A decisão passou para a esfera do Planejamento Estratégico, com vistas a realizar uma séria reestruturação da equipe para o ano seguinte. Em 1995, logo após a largada da competição, a equipe japonesa logo distanciou-se e, desta vez, a equipe brasileira chegou à meta com duas horas de atraso. Uma nova análise das causas do fracasso mostrou os seguintes resultados: 1) A equipe japonesa continuava com um chefe de equipe e 10 remadores. 2) A equipe brasileira, após as mudanças introduzidas pelo pessoal do Planejamento Estratégico, era formada por: · Um Chefe de Equipe · Dois Assessores de Chefia · Sete Chefes de Departamento · Um remador A conclusão do Comitê que analisou as causas do novo fracasso foi unânime: O remador é um incompetente !!! Em 1996 uma nova oportunidade de competir com os japoneses se apresentou. O Departamento de Tecnologias e Negócios do Brasil pôs em prática um plano destinado a melhorar a produtividade da equipe, com a introdução de mudanças baseadas na nova tecnologia e que, sem dúvida nenhuma, produziria aumentos significativos de eficiência e eficácia. Os pontos principais das mudanças eram o Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2002 resizing e o turn-around e, sem dúvida, os brasileiros humilhariam os japoneses. O resultado foi catastrófico, e a equipe brasileira chegou à meta três horas depois dos japoneses. As conclusões revelaram dados aterradores: 1) Mantendo a sua tradição milenar, a equipe japonesa era formada por um Chefe de Equipe e 10 remadores; 2) A equipe brasileira, por sua vez, utilizou uma formação vanguardista, integrada por: · Um Chefe de Equipe · Dois Auditores de Qualidade Total · Um Assessor especializado em Empowerment · Um Supervisor de Downsizing · Um Analista de Procedimentos · Um Tecnologista · Um Controller · Um Chefe de Departamento · Um Controlador de Tempo · Um remador Depois de vários dias de reunião e análise da situação, o Comitê decidiu castigar o remador e, para isto, aboliu todos os benefícios e incentivos em função do fracasso alcançado. Na reunião de encerramento, o Comitê, fortalecido com a presença dos principais conselheiros, decidiram: Vamos contratar um novo remador, mas utilizando um contrato de Prestação de Serviços de Terceiros, sem vínculos trabalhistas, para não termos que lidar com o sindicato, que degrada a eficiência e a produtividade dos recursos humanos. Da mesma forma que a equipe Japonesa, nossa categoria precisa de um chefe, que pode ser o presidente do Crefito e/ou Coffito, e muitos remadores, ou seja, muitos fisioterapeutas. A função de remar e colocar a profissão à frente das outras está nas ações e participações dos remadores, ou seja, de cada fisioterapeuta em seu município e/ou esta Não adianta eleger Deus para presidente do Crefito, da Associação, do Sinfito, da cooperativa, ou outra agremiação, se não houver remadores participando da competição. A ação política é indelegável. Todo fisioterapeuta está obrigado a participar, não adiantando terceirizar suas ações ou participações, pois estas atitudes só deixam nossa categoria cada vez mais atrasada na conquista de seu espaço na área da saúde, assim como na constituição desta nova sociedade. 279 As alegações... eu não sabia, ninguém avisa, não gosto disto, não entendo nada..., não consegue justificar a falta de participação. Pois, como os remadores, tem que treinar, tem que cumprir sua função, é necessário servir e apoiar seu colega de equipe, tem que procurar as respostas e repassar instantaneamente para seus colegas, visto que estamos no mesmo barco e competindo com as outras profissões e não entre nós. Assim, é necessário procurar as prefeituras, os Conselhos Municipais de Saúde, Secretarias Municipais e Estatuais de Saúde, informar-se das discussões e das comissões; participar delas (profissionais e Alunos); avisar o maior número de pessoas da categoria, cobrar a sua presença e dos colegas para treinar. Só com estas atitudes é que poderemos diminuir nossas defasagens em relação às outras categorias e ampliar nossa participação no mercado da área da saúde. Conclusão A política é uma das ações mais antigas e brilhantes da existência humana em sociedade, mas ao mesmo tempo mal falada e conduzida por pessoas com pouco domínio sobre este assunto. Profissionais liberais de nível superior, onde estão incluídos os fisioterapeutas, têm que ter a noção que a política é o ponto de equilíbrio entre as necessidades coletivas e a administração pública, e é exercida por cada cidadão como dever, em respeito a sociedade que lhe mantém, e como direito na inclusão de sua idéias nos destinos desta mesma sociedade de que é responsável. Assim, a participação na política, principalmente na de saúde, é um comportamento necessário ao futuro da profissão, pois a não participação como remadores, torna incerto o futuro do nosso mercado. Como sugestão, indico a necessidade da existência constante de um canal de informação sobre às políticas de saúde, de preferência eletrônico, e a formação do fisioterapeuta político pelas disciplinas de Epidemiologia e Saúde Pública, História da Fisioterapia, Fundamentos da Fisioterapia, Ética e Deontologia, Cultura e Cidadania e Administração Aplicada. 280 Referências 1. Santos JF. O que é pós-modernismo. São Paulo:Brasiliense;1995. 2. Codo W. O que é ideologia. Campinas: Papirus;1985. 3. Medina JPS. O brasileiro e seu corpo. Campinas:Papirus;1991. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 6 - Novembro / Dezembro de 2002 4. Lakatos EM,Marconi MA. Metodologia científica. Atlas;1991. 5. Chauí M. O que é ideologia. Campinas: Papirus;1985. 6. Costa JS. Averróis: o aristotelismo radical. São Paulo: Ed. Moderna;1994. 7. Dallari DA. O que é participação política. Campinas:Papirus;1983. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 281 Artigo original Tratamento fisioterapêutico na fibromialgia Physical therapy in fibromyalgia Cristiane Januário Sette *, Raquel Vallada *, Edson Alves de Barros Júnior** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Alunas do curso de graduação em Fisioterapia da Universidade Paulista UNIP Ribeirão Preto, Professor da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Paulista-UNIP Ribeirão Preto, Mestre em Bioengenharia USP Ribeirão Preto * ** Palavras-chave: Fisioterapia, fibromialgia, postura, relaxamento. Resumo Neste trabalho os autores fazem uma abordagem detalhada a respeito da fibromialgia no intuito de esclarecer seu significado, bem como seus sinais e sintomas. A partir de um levantamento bibliográfico foi estabelecido um protocolo para tratamento fisioterapêutico e realizado acompanhamento de 3 pacientes na Clínica Escola de Fisioterapia na Universidade Paulista UNIP, Campus Ribeirão Preto, utilizando técnicas de ginástica holística e relaxamento em grupo, além do trabalho cardiovascular através de caminhadas. Após o tratamento, observou-se que as dores permaneceram, porém houve diminuição da intensidade, assim como uma diminuição significativa de pontos e dor, tensão e melhor conscientização postural, sugerindo que o tratamento fisioterapêutico pode contribuir no tratamento da fibromialgia. Artigo recebido em 20 de junho de 2002; aprovado em 15 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Raquel Vallada, Rua Niterói, 135 Bloco H, apto 32, 14090-710 Ribeirão Preto SP, Tel: 16-627-8198, E-mail: [email protected] 282 Key-words: physiotherapy, fibromyalgia, posture, relaxament. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Abstract In our article, we have set forth a detailed description of fibromyalgia in order to provide a precise understanding of that condition including its external manifestations and its symptoms. Our clinical treatment of patients and observations of their responses to those treatment have led us to propose a protocol for a physiotherapeutic treatment that has successfully mitigated the symptoms of a number of patients. These protocols were applied to patients at the physiotherapy School Clinic of the Universidade Paulista UNIP, Campus Ribeirão Preto. The treatment makes use of holistic gymnastic techniques which the patients perform in a group setting. Also, cardiovascular treatment is provied each patient by having that patient walk at a pace that suits his or her condition. After each treatment, we observed that, while a patients pain was not eliminated, its intensity was reduced. The tension to which a patient suffered in various muscles of the body was meaningfully reducted, and there was improvement in the patients posture. These responses suggest that physiotherapeutic treatment is a useful tool to mitigate the discomfort suffered by victims of the fibromyalgia condition. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Segundo Atra, Pollak, Martinez [1], Haun [2] e Kiss [3], a fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa músculo-esquelética, crônica, não inflamatória, de etiologia desconhecida, caracterizada pela presença de dor difusa pelo corpo e sensibilidade exacerbada à palpação de pontos, denominados pontos dolorosos (tender points). A maioria dos pacientes apresenta também fadiga crônica, distúrbio do sono e humor, além de cansaço. De acordo com Pollak [4], essa síndrome acomete predominantemente o sexo feminino ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ (90%), sem distinção de raça, com picos de incidência por volta de 40 a 50 anos de idade. Haun [2] e Kiss [3], relatam que freqüentemente fatores sociais e/ou emocionais estão envolvidos com o aparecimento da dor. O diagnóstico da fibromialgia baseia-se nos critérios definidos pelo Colégio Americano de Reumatologia (ACR), em 1990 [2]. Estes critérios são: 1. Dor difusa presente tanto no lado direito como no lado esquerdo, acima e abaixo da cintura por mais e 3 meses; Dor em 11 dos 18 pontos dolorosos à palpação (fig.1). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 283 Fig.1 - Mapeamento dos pontos dolorosos mais freqüentes [3]. Material e métodos O objetivo deste trabalho foi, a partir de um levantamento bibliográfico, estabelecer um protocolo de tratamento fisioterapêutico para fibromialgia, e observar os seus resultados em pacientes portadores desta síndrome. Pacientes e métodos Foram tratados três pacientes do sexo feminino com idade entre 29 e 60 anos, portadores de fibromialgia. O tratamento foi realizado no período de setembro a novembro de 2001, na Clínica Escola da Universidade Paulista UNIP de Ribeirão Preto. Utilizou-se um questionário sobre qualidade de vida, com perguntas sobre: relacionamento familiar, relacionamento no trabalho, lazer, atividade física, qualidade do sono, presença de depressão, piora dos sintomas com stress e intensidade da dor. A intensidade da dor foi registrada por uma escala de dor graduada de 0 a 10 (Escala Análoga Visual), sendo 0 a ausência de dor e 10 a máxima dor possível. A avaliação foi realizada antes de se iniciar o tratamento e após o seu término. Antes do início do tratamento, foi apresentada uma aula aos pacientes para explicar a natureza, causas e sintomas da doença. Foram entregues folhetos explicativos contendo orientações para os pacientes e seus familiares, sobre como conviver melhor com a fibromialgia. Foi proposto um plano de tratamento em grupo (2 vezes por semana), iniciado com exercícios cardiovasculares (caminhada por 10 minutos), onde os pacientes eram orientados a controlar a freqüência cardíaca, antes e após os exercícios. Depois eram realizados alongamentos das cadeias encurtadas, em sessões que duravam 30 minutos, e relaxamento por 10 minutos, a fim de minimizar as tensões dos músculos comprometidos e proporcionar bem-estar aos pacientes. Para finalizar, eram executados exercícios para percepção corporal, onde, na posição deitada, o paciente era instruído a contrair e relaxar cada segmento do corpo, de Fig. 2 - Técnica de percepção corporal. 284 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Discussão Tabela I - Resultados do questionário sobre a qualidade de vida antes tratamento paciente dorme bem acorda cansada tem depressão com o stress a dor piora escala de dor de 0 a 10 a sim sim sim sim 6 b não sim sim sim 10 após tratamento c não sim sim sim 10 a sim às vezes não sim 3a4 Gráfico I - Resultados das regiões de pontos dolorosos antes e após o tratamento Observou-se neste trabalho, conforme afirmam Haun [2] e Kiss [3], a existência de distúrbios emocionais em pacientes fibromiálgicos, pois as 3 pacientes demonstram haver relação entre os aspectos psicoemocionais e existência do quadro álgico. Em situações de pressão no trabalho ou stress, as dores aumentaram. Após o tratamento, embora a dor ainda tenha permanecido, observou-se uma diminuição de sua intensidade e uma melhor conscientização postural, pois conforme as pacientes relataram, durante a atividade diária, passaram a corrigir a postura e ganharam maior disposição para realizarem tarefas rotineiras. b sim sim sim sim 6 c sim sim sim sim 8 Conclusão maneira seqüencial, com respiratórias profundas (fig.2). incursões Resultados Os resultados encontrados no questionário sobre a qualidade de vida, antes e após o tratamento, estão descritos na tabela I. Observou-se após o tratamento, que 2 pacientes (B,C) relataram melhora do sono e uma paciente (A) relatou que passou a acordar melhor, não apresentando ainda depressão. Observou-se também que a escala de dor reduziu nas 3 pacientes (A,B,C), embora ainda relatassem piora em situações de stress. Os resultados da avaliação dos pontos dolorosos encontrados antes e após o tratamento estão demonstrados no gráfico 1. Observou-se que apesar da dor não ter desaparecido na maioria dos pontos, após o tratamento obteve-se uma melhora significativa na intensidade da mesma à palpação. Podemos concluir que o tratamento fisioterapêutico proposto contribuiu para o tratamento da fibromialgia, porém estudos com maior número de casos devem ser realizados, para que se possa obter dados relevantes quanto aos efeitos do tratamento fisioterapêutico nas fibromialgia. Referências 1. Atra E, Pollak DF, Martinez JE. Fibromialgia etipatogenia e terapêutica. Revista Brasileira de Reumatologia 2(33): 68-69. 2. Haun MVA. et al. Fibromialgia. Sincope de reumatologia 2001;1(3):4-8 e 15-17. 3. Kiss MH. et al. Fibromialgia: dois anos depois. Revista Brasileira de Reumatologia 1996;2(41)72-74. 4. Pollak DF, Atra E. Aspectos gerais da fibromialgia: atualização terapêutica. Extratos da Literatura Médica Mundial em Fibromialgia 1999:4. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 285 Artigo original Efeitos da hidrocinesioterapia na amplitude de movimento em indivíduos sedentários utilizando o método Bad Ragaz Effects hydrokinesitherapy in the range of movement in sedentary people using the Bad Ragaz method Alexandre Fiorelli*, Eduardo Aguilar Arca*, Francine Peron Rodrigues Pinto**, Giovana Fazzani Bortotto** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Professores do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sagrado Coração USC- Bauru, mestrando em fisiologia pela USC, Supervisor Clínico de Estágio Supervisionado em Hidrocinesioterapia, **Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da USC Palavras-chave: Hidrocinesioterapia, amplitude de movimento, sedentarismo, método Bad Ragaz. Resumo O propósito deste estudo foi avaliar os efeitos da hidrocinesioterapia na ADM, utilizando o método Bad Ragaz. Foram sujeitos do estudo 17 indivíduos sedentários, do sexo feminino, com faixa etária compreendida entre 18 a 25 anos. Foi realizado a goniometria das articulações do ombro e do quadril, em todos os eixos de movimento. Em seguida, iniciou-se o programa de hidrocinesioterapia, utilizando o método Bad Ragaz por um período de 6 semanas. Após o período de tratamento, foi realizada a reavaliação dos indivíduos. Os dados coletados foram analisados estatisticamente segundo o teste de Wilcoxon. Os resultados apresentaram as medidas descritas avaliadas no pré e no pós-tratamento e respectivos resultados do teste estatístico da comparação das amplitudes de movimento das articulações do ombro e quadril, onde obteve-se diferenças estatisticamente significativa, em todos os eixos de movimentos estudados. Diante dos resultados obtidos, pode-se concluir que o método Bad Ragaz produziu efeitos positivos e significativos na alteração da ADM nas articulações estudadas, para esta população específica. Artigo recebido em 2 de julho de 2002; aprovado em 15 de agosto de 2002 Endereço para correspondência: Alexandre Fiorelli, Rua Irmã Arminda 10-50, Bairro Jardim Brasil 17011-160 Bauru-SP. Tel: (14) 235 7056, E-mail: [email protected] 286 Key-words: Hydrokinesiotherapy, amplitude of movement, sedentary, Bad Ragaz method. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Abstract The purpose of this study was to verify the effects of the hydrokinesiotherapy in the range of movement, using the Bad Ragaz method. Seventeen sedentary female were subjected to this study, age eighteen twenty five years. The goniometric measurement of shoulder and hip articulations was made in all axes of movement, there upon started the hydrokinesiotherapy progran, using the Bad Ragaz method during six weekes and after that another evolution of the people studied was conducted. The date was analysed statistically according to Wilcoxon Test. The results presented the measures described evaluated before and after the treatment and results of the statistical test of comparison of moments of shoulder and hip articulations. We find a significant statistical difference in the range of movement. The method produced positive effects and these were significant in the development in amplitude of movement in all the articulations studied, to that people. Introdução A amplitude de movimento (ADM), é definida como a capacidade de movimento da articulação com maior grau de amplitude possível, ou seja, grau de movimento que ocorre entre dois segmentos adjacentes e declina de 20% a 30%, dos 20 aos 70 anos. A ADM diminuída, particularmente nas articulações do ombro, da coluna e do quadril, estão associadas a dificuldades na realização de várias atividades de vida diária [1]. A ADM é normalmente limitada por ligamentos (incluindo capsula articular), comprimento e extensibilidade dos músculos e fáscias, tendões, interposição de massas de tecidos moles ou do contato de um osso contra o outro. Essas estruturas não têm padrões definidos e suas características variam de indivíduo para indivíduo [2]. A fisioterapia utiliza seu conhecimento e recursos técnicos, para compreender os parâmetros da ADM, pois ela tem significativo relacionamento com as patologias que atingem o sistema músculo-esquelético [3]. Com isso, vários recursos fisioterapêuticos foram elaborados para o aumento da mobilidade articular. Um deles, é a hidrocinesioterapia; que consiste na aplicação externa da água para fins terapêuticos, utilizando-se das propriedades físicas como agentes da terapia [4]. Atualmente, existem várias técnicas desenvolvidas especificamente para o tratamento de pacientes na piscina, dentre elas o método Bad Ragaz. O método Bad Ragaz, ou método das argolas, é um conjunto de técnicas terapêuticas, realizadas na água, que tem sido desenvolvido, através dos anos, nas águas térmicas de Bad Ragaz Suíça [5]. Desde 1930, pacientes tem usado as águas do SPA em Bad Ragaz, para atividades terapêuticas. Em 1957, com os avanços das técnicas desenvolvidas pelo Dr. Knupher de Wilbad (Alemanha), foi introduzido o método Bad Ragaz. Os exercícios do método foram agrupados dentro de uma técnica de tratamento horizontal, em que o paciente foi suportado a Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 flutuar em flutuadores de argola, ao redor do pescoço, região pélvica e debaixo dos joelhos e tornozelos. A técnica modificada foi usada para estabilização ou exercícios ativos/resistidos. Knupher incorporou conceitos da neuro fisiologia no tratamento e, com o passar do tempo, desenvolveu exercícios em uma série simples de movimentos, passando de articulação para articulação, mantendo um simples plano de movimento [6]. Com o rápido crescimento e aceitação da facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP), Dr. Zinn, diretor médico em Bad Ragaz e sua equipe médica, cultuou e modificou os exercícios de Knupher. Três diagonais de movimento foram desenvolvidas e adicionadas aos modelos originais, dos exercícios de Knupher. Em 1967, as fisioterapeutas Bridget Davis e Verena Laggatt, incorporaram os padrões de FNP, de Margaret Knott, resultando em uma técnica conhecida hoje como Bad Ragaz, ou seja, utilizou os padrões de movimentos, que podem ser usados em terra, mas difere das técnicas de FNP, porque não é aplicada resistência pelo fisioterapeuta. Em vez disso, a resistência é fornecida na medida em que o corpo se move através da água, quanto mais rápido é o movimento maior é a resistência [5]. O método continuou a desenvolver-se, e está se tornando progressivamente popular na Alemanha, Inglaterra, Austrália, África do Sul, Estados Unidos e em outros países [6]. Em relação ao aumento da amplitude de movimento, o método Bad Ragaz tem sido descrito com grande eficácia, devido aos movimentos proporcionados pelos exercícios do método em questão. Na maioria dos exercícios utililiza-se os padrões diagonais de cada segmento, dependendo por sua vez, exclusivamente da capacidade que cada paciente tem aos exercícios propostos. Dessa forma, tem-se uma variabilidade da progressão dos exercícios, da resistência, do tempo das sessões e da compreensão individual [7]. O objetivo deste estudo foi verificar os efeitos da hidrocinesioterapia na amplitude de movimento, utilizando o método Bad Ragaz. Material e métodos Foram sujeitos desse estudo 17 indivíduos sedentários, do sexo feminino, na faixa etária compreendida dos 18 aos 25 anos; alunos do 287 curso de Fisioterapia da Universidade do Sagrado Coração - USC - Bauru - SP. Foram excluídos deste estudo indivíduos praticantes de qualquer atividade física regular (três vezes por semana), e os que apresentaram as seguintes contra-indicações: distúrbios vestibulares, comprometimento físico funcional, infecções de pele, doença vascular periférica, insuficiência cardíaca, epilepsia e hidrofobia. Inicialmente foi feito um contato com os alunos do curso de Fisioterapia da USC, através de uma visita à classe, visando explicar o objetivo do trabalho e convidá-los a participar do mesmo. A avaliação foi realizada individualmente, no qual foram avaliados os graus de amplitude de movimento - ADM dos sujeitos, nas seguintes articulações: ombro (escápulo-umeral) e quadril (coxo-femural), bilateralmente, em todos os eixos de movimento. O programa de hidrocinesioterapia foi realizado na piscina terapêutica da clínicaescola do curso de Fisioterapia da USC, duas vezes por semana, por um período de seis semanas, totalizando 12 sessões, com duração de 30 minutos cada. Em cada sessão foi utilizada os padrões unilateral e bilateral, do método Bad Ragaz, para membros superior e membros inferiores [6]. As reavaliações foram realizadas após o término das 12 sessões, nas quais foram aplicados os mesmos parâmetros de avaliação dos graus de amplitude de movimento dos sujeitos. Para a análise dos dados, foi utilizado o teste estatístico de Wilcoxon, para amostras dependentes [8]. Resultados Nesta etapa, são apresentados os resultados obtidos no teste estatístico e nas medidas avaliadas da amplitude de movimento (ADM) das articulações escápulo-umeral (ombro) e coxo - femural (quadril), em todos os eixos de movimento (flexão, extensão, abdução, adução, rotação externa e rotação interna), comparando os dois momentos avaliados (pré e póstratamento). Analisando os resultados da tabela I, a ADM da articulação do ombro, em todos os eixos de movimento: flexão (OF), extensão (OE), abdução (OAB), adução (OAD), rotação externa 288 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 (ORE) e rotação interna (ORI), do hemicorpo direito (D) e esquerdo (E), apresentou valores com diferença significativas do pré para o póstratamento (P < 0,001). Tabela II. Medidas descritas avaliadas pré e póstratamento e respectivo resultado do teste estatístico da comparação dos movimentos da articulação coxo-femural Tabela I. Medidas descritas avaliadas pré e pós-tratamento e respectivo resultado do teste estatístico da comparação dos movimentos da articulação escápulo-umeral QFD variável QED OFD OED OADD OABD ORED ORID OFE OEE OADE OABE OREE ORIE movimentos pré pós 150 ± 4,25 (134 ; 168 40 ± 6,75 (28 ; 45) 30 ± 5 (22 ; 40) 164 ± 5,75 (142 ; 178) 70 ± 5,5 (56 ; 90) 68 ± 5,5 (50 ; 78) 152 ± 8,5 (128 ; 170) 40 ± 4,37 (30 ; 45) 28 ± 3,25 (22 ; 38) 168 ± 4,5 (146 ; 178) 72 ± 6 (44 ; 90) 64 ± 6 (48 ; 76) 170 ± 5 (162 ; 178) 40 ± 0 (40 ; 48) 40 ± 1 (30 ; 40) 176 ± 5 (160 ; 180) 86 ± 5 (72 ; 90) 80 ± 5 (68 ; 90) 170 ± 4,75 (154 ; 178) 45 ± 0 (40 ; 45) 40 ± 1,25 (28 ; 40) 174 ± 4 (166 ; 180) 84 ± 6 (72 ; 90) 78 ± 2,5 (72 ; 90) resultado do teste estatístico (P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) variável movimentos pré QADD QABD QRED QRID QFE pós 150 ± 4,25 170 ± 5 110 ± 7,5 120 ± 5 (98 ; 124) (100 ; 125) 10 ± 0 10 ± 0 (10 ; 10) (10 ; 10) 12 ± 1,37 15 ± 0 (10 ; 15) (15 ; 15) 34 ± 3,37 42 ± 2,75 (14 ; 40) (26 ; 45) 34 ± 3,37 42 ± 3,5 (24 ; 42) (32 ; 45) 32 ± 2,75 44 ± 2,75 (20 ; 42) (36 ; 45) 106 ± 5,75 120 ± 5,75 (90 ; 120) (110 ; 125) 10 ± 0 10 ± 0 (10 ; 10) (10 ; 10) 12 ± 1,5 15 ± 0 (10 ; 15) (15 ; 15) 30 ± 6,5 42 ± 2,5 (18 ; 40) (32 ; 45) 32 ± 5 40 ± 2,5 (22 ; 45) (34 ; 45) 32 ± 4,5 44 ± 1,5 (26 ; 45) (36 ; 45) resultado do teste estatístico (P < 0,001) (P < 0,001) P = 1,000) (P < 0,001) P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) QEE (P < 0,001) QADE (P < 0,001) QABE (P < 0,001) QREE (P < 0,001) QRIE (P < 0,001) QFD: quadril flexão direita; QED: quadril extensão direita; QADD: quadril adução direita; QABD: quadril abdução direita; QRED: quadril rotação externa direita; QRID: quadril rotação interna direita; QFE: quadril flexão esquerda; QEE: quadril extensão esquerda; QADE: quadril adução esquerda; QABE: quadril abdução esquerda; QREE: quadril rotação externa esquerda e QRIE: quadril rotação interna esquerda. (P < 0,001) (P < 0,001) OFD: ombro flexão direita; OED: ombro extensão direita; OADD: ombro adução direita; OABD: ombro abdução direita; ORED: ombro rotação externa direita; ORID: ombro rotação interna direita; OFE: ombro flexão esquerda; OEE: ombro extensão esquerda; OADE: ombro adução esquerda; OABE: ombro abdução esquerda; OREE: ombro rotação externa esquerda e ORIE: ombro rotação interna esquerda. A tabela II evidenciou valores superiores com diferenças significativas para a ADM de quadril, na maioria das variáveis estudadas: flexão direita (QFD) e esquerda (QFE), abdução direita (QABD) e esquerda (QABE), adução direita (QADD) e esquerda (QADE), rotação externa direita (QRED) e esquerda (QREE) e rotação interna direita (QRID) e esquerda (QRIE) (P< 0,001), exceto na extensão de quadril direito (QED) e esquerdo (QEE), onde não apresentou diferença estatística significativa do pré para o pós- tratamento (P = 1,000). (P = 1,000) (P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) (P < 0,001) Discussão O Bad Ragaz é um método da hidrocinesioterapia, utilizado pelo fisioterapeuta, que contribui para melhorar a amplitude de movimento (ADM), também em indivíduos sedentários. A ADM é resultante da capacidade de elasticidade demonstrada pelos músculos e tecidos conjuntivos, combinados a limitação óssea articular. Com isso, a manutenção de uma boa elasticidade dos tecidos muscular e conectivo, poderá garantir a manutenção de níveis desejados de ADM [9]. A mobilidade sofre influência direta de uma grande variedade de fatores: idade, sexo, tipo de tecido, presença de doenças degenerativas ou inflamatórias de coluna e articulações, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 deformidades congênitas ou adquiridas, grau de condicionamento físico, estado mental, temperatura e hora do dia [10]. Referindo-se ao estilo de vida, em relação a prática de atividades físicas regulares, os indivíduos mais ativos normalmente têm se mostrado mais flexíveis do que os indivíduos menos ativos. Isto se deve a um possível encurtamento dos tecidos colágenos, tornandoos rígidos e, conseqüentemente, reduzindo sua capacidade de elasticidade, devido a falta de atividade física regular. Entretanto, mesmo aqueles indivíduos considerados ativos, como no exemplo dos maratonistas, os níveis de flexibilidade podem ser bastante reduzidos, caso não realizem atividades físicas que envolvam extensão total dos seguimento [11]. Em relação à freqüência dos exercícios a serem realizados, o número mínimo de sessões seriam de duas a três vezes semanais, pois só assim contribuiria para a manutenção e desenvolvimento dos níveis de flexibilidade [9]. O presente estudo verificou, em 17 indivíduos sedentários, uma variação da ADM através da Goniometria, após a implementação do programa de intervenção. Houve aumento da ADM em quase todas as articulações estudadas, exceto na extensão de quadril (tanto hemicorpo direito quanto no esquerdo), do pré para o pós-tratamento. Observou-se significância estatística para a maioria dos movimentos estudados, constatando, assim, que a atividade desempenhada por aqueles indivíduos possivelmente colaborou para os resultados obtidos. Resultados semelhantes foram encontrados em outro estudo, que comparou um grupo experimental de vinte indivíduos, submetidos a um programa de exercícios de alongamento, com um grupo controle. Foram encontradas diferenças significantes entre os grupos na ADM das articulações de joelho e tornozelo. O grupo experimental melhorou significativamente sua ADM em relação ao grupo controle [12]. Estudiosos analisaram a ADM do quadril em mulheres praticantes e não praticantes de atividade física, e observaram o declínio da ADM mais acentuado em extensão do que flexão do quadril, isto porque a espécie humana desenvolve mais os movimentos de flexão, preservando, assim, esta característica articular. Isto pode explicar o presente estudo que, para 289 a extensão do quadril, não apresentou significância estatística no ganho de amplitude articular [13]. Outros pesquisadores realizaram um programa de hidrocinesioterapia na ADM em indivíduos do grupo da terceira idade da Universidade do Sagrado Coração, onde observaram a ADM das articulações: tornozelo (flexão e extensão), joelho (flexão) e quadril (flexão e extensão), mostrado a média e o desvio padrão de cada movimento, comparando entre os três momentos avaliados (M1, M2 e M3). Houve um aumento significativo da ADM para a maioria das articulações e movimentos estudados, nos três momentos analisados [14]. Franco, Souza & De Vitta [3], realizaram uma análise comparativa da flexibilidade dos músculos posteriores, através do teste de goniometria com esquadro, em quinze indivíduos sedentários e quinze indivíduos treinados (capoeiristas). Os índices verificados em todos os testes, em ambos os grupos, demonstraram claramente as diferenças nos níveis de flexibilidade, constatando, assim, que a atividade desempenhada pelos indivíduos treinados colaborou para os resultados obtidos. Os exercícios na água têm seu lugar na reabilitação de um paciente, onde o calor da água mantém o paciente aquecido durante todo o tratamento. A liberdade de movimentação em flutuação ajuda a aumentar a ADM sem resistência do atrito. Pode-se elaborar um programa de exercício incorporando um grande número de articulações e músculos, incluindo movimentos em diferentes planos, com mínima alteração da posição inicial. O Bad Ragaz diferese de outros métodos já descritos, pois utiliza as propriedades físicas da água e ao mesmo tempo possibilita a função anatômica e fisiológica normal das articulações e músculos, contribuindo, conseqüentemente, para o aumento da ADM destas articulações [5]. Conclusão Diante dos resultados obtidos, com base no referencial teórico e considerando as limitações do presente estudo, pode-se concluir que o método Bad Ragaz produziu efeitos positivos e significativos no desenvolvimento da amplitude de movimento em todas as articulações estudadas. 290 Referências 1. Meusel H. Health and well-being for older adults through physical exercises and sport: Outline of the Giessen Model. In: Mcpherson, B. D. (Ed). Sport and Aging. Champaign, Human Kinetics,1989: 107- 116. 2. Kapandji IA. Fisiologia articular. 5. ed. São Paulo: Manole, 1990. 3. Franco AN, Souza, RV, De Vitta A. Análise comparativa de flexibilidade dos músculos posteriores em indivíduos sedentários e treinados (capoeiristas). Bauru: [ s.n. ], 1999. (Trabalho de Conclusão de Curso- USC). 4. Mazzarini C, Bellenzani AN. Eu aprendi a nadar. In: Psicomotricidade teoria e prática: Estimulação, Educação e Reeducação Psicomotora com Atividades Aquáticas. São Paulo: Lovise, 1986. 5. Skinner TA, Thonson AM. Duffield: exercícios na água. 3. ed. São Paulo: Manole, 1985. 6. Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Aquatic rehabilitation. Philadelphia: Lippincott, 1997. 7. Becker BE, Cole AJ. Terapia Aquática Moderna. São Paulo: Manole, 2000. 8. Curi PR. Metodologia e análise da pesquisa em ciências biológicas. 2. ed. Botucatu: Tipomic, 1998. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 9. Farias Junior JC, Barros MVG. Flexibilidade e aptidão física relacionada à saúde. Disponível em: www:\flexibilidade.htm, Acesso em: 16 ago. 2000. 10. Schneider W, Spring H, Trischlert T. Mobilidade: teoria e prática. São Paulo: Ed. Santos, 1995. 11. Pollock ML, Wilmore JH. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. 2 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993. 12. Mills EM. The effect of low-intensity aerobic exercise on muscle strength, flexibility, and balance- among sedentary elderly persons. Nursing Rearch. Hamilton, 1994;43(4):207. 13. Formoso et al. (1986) apud Yazawa RH et. al. Antropometria e flexibilidade em senhoras praticantes de ginástica aquática. Revista Brasileira de Ciências e movimento, 1989;3:23-29. 14. Bonilha C, Daibem CGL, Fiorelli A. Programa de hidrocinesioterapia sobre a amplitude de movimento em indivíduos da universidade aberta a terceira idade. Bauru: [sn], 2000 (Trabalho de Conclusão de CursoUSC). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 291 Artigo original Apoio ergonômico para a região sacro-ílio-lombar na posição sentada em viagens de longa distância Ergonomic support for lumbo-sacro-iliac region on sitting posture during long distance flights Mariana Huet*, Anamaria de Moraes** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, Mestranda da linha de pesquisa do mestrado em Design: Ergonomia e Usabilidade na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, **PhD, Coordenadora do programa de PósGraduação do Departamento de Artes e Design da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Palavras-chave: ergonomia, posição sentada reclinada, apoio lombo-sacro. Key-words: ergonomics, sittingreclined position, lumbo-sacral support. Resumo A imobilidade na postura sentada reclinada nas viagens longas, leva o passageiro da classe econômica a uma acomodação na busca de alívio da pressão sob as tuberosidades isquiáticas e dos constrangimentos posturais, escorregando a pelve para frente ou rodando a pelve. Ao perder o apoio oferecido pelo encosto, a região lombo-sacra e os ílios sofrem uma deformação. Esta deformação, juntamente com a imobilidade prolongada, agrava patologias locais provocando dores e desconforto nos usuários. O objetivo desta pesquisa é propor recomendações para um aparato/apoio para a região sacroílio-lombar, adaptável às poltronas de aviões. Abstract The long time spent sitting on commercial flight forces the passenger of economic class to scoop his hip forwards or to twist it, looking for relief of pressure under the buttocks and trying to escape from postural constraint. Loosing the lumbar support provided by the backrest, lumbo-sacral region and sacro-iliac joints suffer a deformation that, together with the lack of mobility, aggravates local diseases causing discomfort and pain on users. The goal of this research is a recommendation of support for lumbo-sacro-iliac region, adaptable to airplane seats. Artigo recebido em 10 de julho de 2002; revisado em 15 de agosto; aprovado em 31 de agosto de 2002 Endereço para correspondência: Departamento Design: Ergonomia e Usabilidade na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Rua Marquês de São Vicente, 225, Gávea 22453-900 Rio de Janeiro RJ, e-mail: [email protected], Anamaria de Moraes, E-mail: [email protected] 292 Introdução O transporte aéreo aproximou continentes e países, com uma economia de tempo radical para o passageiro. A viagem, que durava dias num navio, leva atualmente cerca de doze horas, impulsionando um estilo de vida de grande velocidade, mas sem conforto. A prioridade das classes econômicas das aeronaves comerciais é acomodar o maior número possível de passageiros, às custas de um desconforto inconcebível nos outros meios de transporte. A poltrona dos aviões comerciais é calculada para o tipo masculino médio de passageiro, onde os extremos gordo/alto e magro/baixo podem não se adequar, onde o sujeito é obrigado a passar doze horas numa única posição sentada - dormindo precariamente. As poltronas de aviões, trens, carros e auditórios com um bom desenho cadeiras de descanso - oferecem um apoio lombar no encosto. Não atendem, no entanto, à necessidade básica do organismo que é o movimento do corpo. A imobilidade forçada, neste caso, é a maior fonte de desconforto, por agravar a pressão do peso do corpo sobre as tuberosidades isquiáticas, coxas, pelve e tronco. Sem poder sair da poltrona nas viagens aéreas, na busca de alívio das pressões e na acomodação aos encurtamentos musculares próprios da sua constituição física, o passageiro freqüentemente escorrega a pelve para frente, perdendo o apoio lombar oferecido pelo encosto, sujeitando-se a perturbações nos sistemas músculo -esquelético e circulatório e nos tecidos moles (fig. 1). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 A imobilidade na postura sentada reclinada adotada nas viagens longas, leva o sujeito a uma acomodação na busca de conforto, escorregando para frente ou rodando a pelve. Ao perder o apoio oferecido pelo encosto, a região lombar baixa, a região sacra e os ilíacos sofrem uma deformação na sua lordose fisiológica. As faltas de apoio da pelve e da região lombar, juntamente com a imobilidade prolongada, deformam o local e agravam patologias como a artrose entre as vértebras lombares (artrose interfacetária), o sofrimento por compressão, principalmente do nervo ciático nas suas raízes (hérnia de disco) e o sofrimento por compressão do nervo ciático no seu trajeto pela pelve - ciática não radicular (fig. 2). Os estudos da biomecânica da região sacro-íliolombar na posição sentada reclinada e das deformações causadas em viagens longas nesse local, podem levar a novas definições ergonômicas em relação à localização do apoio lombar em cadeiras de descanso. Pacientes de fisioterapia com patologias lombo-sacras, queixam-se freqüentemente de desconforto/dor em viagens longas, principalmente as viagens aéreas noturnas, onde sofrem pela imobilidade articular e pela falta de posição para dormir. Do ponto de vista anatômico, os ossos ílios e o sacro, na pelve, são os pontos de partida dos músculos posteriores do tronco, antigravitários, que sustentam a coluna vertebral na posição de pé e na posição sentada sem apoio. A coluna lombo-sacra é superprotegida e geralmente está em hiperlordose pela ação conjunta dos músculos espinhais, diafragma e ílio-psoas [1,9,12]. Fig. 1- Perda do apoio lombar. Fig.2 - Palpação do nervo ciático na sua passagem pela pelve [2]. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Fig. 3 - Região do pires, concavidade entre a coluna lombo-sacra e os ossos ílios, ponto crucial do equilíbrio na posição de pé [15]. A coluna vertebral na região lombo-sacra (linha vertical) e as articulações do sacro com os ílios (linha horizontal), formam uma concavidade semelhante a um pires. Encaixado entre a coluna lombar e os ílios no encontro dessas linhas, o sacro serve de amortecedor, com pequenos ajustes [12], no ponto crucial sagrado do equilíbrio humano em bipedestação (fig. 3). Na postura sentada essa concavidade sofre as deformações causadas pelas limitações de uma posição forçada entre o assento, o encosto e os braços das poltronas, por adaptações aos constrangimentos causados pela falta de espaço para os membros inferiores e pelas tentativas de alívio das pressões sob as tuberosidades isquiáticas e sob a região lombar baixa. Material e métodos · Pesquisa bibliográfica (anátomo-fisiologia, biomecânica e ergonomia); · Entrevista não estruturada focalizada; · Entrevista semi-estruturada. Pesquisa bibliográfica Ergonomia da postura sentada reclinada Os estudos de cadeiras de descanso feitos por Grandjean [3], citando várias pesquisas de Akerblom, Hosea, Yamaguchi; e, mais 293 recentemente, as pesquisas de Serber, apud Lueder [4], mostram que a posição do encosto da poltrona reclinada em cerca de 110°, favorece o descanso dos músculos espinhais e diminui a pressão sobre os discos intervertebrais. Citando Keegan, Grandjean [3] aponta a lordose como a forma ideal da coluna lombar, que deve ser mantida por um apoio na posição sentada reclinada. Qualquer perfil de assento, mesmo muito confortável no início, torna-se progressivamente incômodo após um longo e ininterrupto tempo sentado [4,8]. Além do desconforto provocado pela imobilização e deformação na coluna vertebral e na pelve, há necessidade de mudanças de posição para aliviar a pressão sob as tuberosidades isquiáticas e coxas, facilitando a circulação sanguínea [4,7]. O americano Etienne Grandjean [3], no seu livro sobre a ergonomia do lar, estudando as cadeiras de descanso easy chairs -, desenvolveu uma pesquisa buscando o perfil ideal de cadeiras, visando ao conforto na posição sentada reclinada para leitura ou para descanso. Na revisão bibliográfica, o autor cita os primeiros trabalhos importantes no campo do design para a postura sentada, feitos por Akerblom, em 1948, e pelo cirurgião ortopédico Keegan, em 1952. Ambos enfocam, em primeiro lugar, as necessidades da coluna vertebral do ser humano, indicando uma forma similar à da coluna vertebral para o perfil do encosto. Um suporte lombar convexo anteriormente na altura das vértebras lombares baixas foi também recomendado. Usando essas colocações ortopédicas, Grandjean [3] desenvolveu uma pesquisa analisando o conforto na postura sentada, em relação a diferentes perfis de cadeiras de descanso. A pesquisa foi feita entre usuários saudáveis e pacientes com queixas de dores nas costas. Na primeira série de testes, cinco perfis de cadeiras bem conhecidas, incluindo a recomendada por Akerblom, foram montados numa máquina de sentar ajustável e testadas por 10 homens, durante 150 minutos cada um. Na segunda série 52 pessoas (36 homens e 16 mulheres), em períodos de 8 minutos cada, testaram os novos perfis desenvolvidos a partir dos achados da primeira série de testes. No final, usando o perfil de cadeira que foi julgado o melhor, mudaram-se os ângulos do assento e do encosto e a altura do assento, até que cada 294 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 pessoa atingisse o seu conforto máximo. Todas as experiências foram feitas em duplicata, sendo que uma vez o sujeito lia e outra só descansava. A idade dos 52 sujeitos variava entre 18 e 63 anos; as mulheres mediam entre 1,52 e 1,71 m de altura os homens entre 1,63 e 1,87 m. Usando os resultados da primeira série de testes, obteve-se um novo perfil para a cadeira de descanso (perfil VI). As seguintes medidas foram consideradas as mais confortáveis: Para leitura: Inclinação do assento Ângulo entre assento e encosto Altura do assento ao chão 23-24° 101-104° 39-40 cm Para descanso numa posição relaxada: Inclinação do assento Ângulo entre assento e encosto Altura do assento ao chão 25-26° 105-108° 37-38 cm Todos os resultados entre usuários saudáveis, mostram uma preferência ao perfil cujo encosto tenha um bom suporte lombar. Este perfil tem uma saliência convexa anterior, com uma projeção máxima num raio de 11-14 cm acima do bordo do assento, isto é, a partir do ponto mais baixo sob a tuberosidade isquiática (fig. 4). Ficou evidente nos resultados dos testes que uma grande inclinação do assento, com um ângulo entre 20-28° é o preferido, pois a inclinação acentuada previne o deslizamento da pelve para frente, induzindo a um bom apoio das costas no suporte lombar. Prosseguindo no estudo de Grandjean, em Fig. 4 - Cadeira de descanso: ângulos e medidas [3]. pesquisa feita entre pacientes do Instituto de Zurich com problemas sacro-lombares (17 homens e 21 mulheres), todos tinham problemas entre a 5ª vértebra lombar e o sacro, diagnosticados clinicamente e com confirmação de exames radiológicos. Na época da pesquisa eles já haviam passado da fase aguda dos sintomas, mas ainda se queixavam de dores lombares. Suas idades variavam entre 30 e 75 anos (média 59) para as mulheres e entre 33 e 82 anos (média 55) para os homens. Os sujeitos pesquisados foram divididos entre os portadores de hiperlordose (curva lombar fortemente acentuada) e os portadores de alordose (em português se diria curva lombar retificada). É sabido que as mulheres têm mais curvas, sendo mais freqüentemente hiperlordosadas, enquanto que os homens são mais comumente retificados, o que se confirmou nesta pesquisa: · Hiperlordose; 13 mulheres, 7 homens ; 4 mulheres, 14 homens · Retificação O teste durava uma hora por vez na posição de descanso usando o perfil VI, perfil desenvolvido a partir dos experimentos com pessoas saudáveis. O questionário deveria ser respondido duas vezes em cada teste, uma vez após 5 minutos e outra após 60 minutos na posição de descanso sentada. Não foi verificada diferença significante em relação ao tempo. Entre as pessoas saudáveis e as que se queixam de dores, a distribuição dos sintomas nas diferentes partes do corpo ombros, dorso, lombos foi a mesma. A diferença maior foi em relação à altura, onde os pacientes com dor regulavam a cadeira na posição mais alta. Um comentário que deve ser feito em relação à altura da cadeira é que numa cadeira mais alta o ângulo de fechamento da pelve em relação aos membros inferiores pode ser maior, em favor do conforto dos músculos da pelve ísquiotibiais, glúteos e pelvitrocanterianos -, que sofrem menos constrangimentos. Na análise estatística, Grandjean [3] mostra que no perfil VI o apoio da pelve (nádegas) estava mais confortável, mas as queixas eram mais freqüentes quando o assento estava muito baixo ou muito estreito. Outro ponto interessante foi o referente a dorso e lombos, sem diferenças significantes entre os grupos da hiperlordose e da retificação. Isto confirma a hipótese da presente Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 pesquisa, de que o pires sofre deformações pela falta de apoio numa coluna com hiperlordose lombar ou retificada. Aprofundando as experiências, foram testados 5 tipos diferentes de perfis de encosto (fig. 5), para verificar o perfil mais aceito por todos os que se queixavam de dores nas costas. Foram 68 pessoas, sendo 33 mulheres e 35 homens nesta nova série de testes, agrupados de acordo com seu diagnóstico: hiperlordose 29 sujeitos; alordose 30 sujeitos; lordose normal - 9 sujeitos. A idade média foi de 52 anos (extremos 27 e 82) e a altura média de 1,66 m (extremos 1,47 e 1,86 m). Todos haviam recebido alta da clínica, mas ainda sofriam de dores ocasionais nas costas. A grande maioria (81%) preferiu os perfis IV e V, levando à conclusão de que pessoas com queixas nas costas preferem um perfil de encosto nitidamente convexo para frente, na altura da região lombar e levemente côncavo para frente acima deste nível. O perfil reto do encosto (I e III) foi virtualmente rejeitado por todos (63 entre 68). A aplicação do teste χ2 (qui quadrado) não mostra diferença significativa entre os grupos hiperlordose e retificação, mas mostra uma tendência interessante: pessoas com hiperlordose preferem uma maior inclinação do encosto, com um apoio lombar mais pronunciado. Fig. 5 - freqüência preferida para o perfil de encosto [3]. 295 O resultado surpreendente desses ajustes individuais é a altura preferida do suporte lombar principal, 8 a 10 cm acima do ponto de contato com o assento, com poucas variações individuais. Enquanto Akerblom e Keegan indicavam uma altura de 17 a 21 cm, Schoberth propunha um encosto de cadeiras principalmente dirigido ao apoio do sacro e do bordo superior da pélvis, na tentativa de limitar a rotação posterior da pelve, que levaria à cifose lombar (inversão da lordose lombar). Grandjean [3] compara seus resultados com as medidas de pressão feitas por Yamaguchi, com pontos interessantes em comum: o ângulo do assento de 19-21° e a inclinação do encosto de 103-110°, preferidas pelos doentes lombares, estão na mesma zona que Yamaguchi registrou como de equilíbrio neutro das forças entre as vértebras, isto é, com forças de compressão resultantes da curvatura da coluna vertebral iguais a zero. Grandjean conclui que a concordância entre as impressões subjetivas de conforto ou desconforto e as medidas relevantes ortopédicas, mostra que a hipótese original ergonômica está correta: as posturas confortáveis são também ortopedicamente corretas. Partindo das bases dos perfis IV e V, muito parecidos e ligeiramente diferentes do perfil VI, escolhido como o melhor entre os usuários saudáveis, Grandjean desenvolveu o perfil de uma cadeira de descanso. Nessa proposta os ângulos da inclinação do assento e do encosto causaram mais problemas do que as outras dimensões avaliadas. O projeto de cadeira de descanso foi trabalhado com as seguintes discussões: · Uma inclinação forte do assento para trás previne o deslizar da pelve para frente, induzindo o ocupante a se encostar contra o encosto com sua região lombar e sacra; infelizmente, quanto maior a inclinação mais difícil será para ele levantar-se da cadeira. Este ponto é particularmente importante em relação aos idosos; · A inclinação do encosto em relação ao assento da cadeira mais confortável tem um índice maior de variações entre as pessoas com queixas lombares. Um valor confiável de 95% optou por ângulos com cerca de 101° a 113°. O valor médio de 107° leva em consideração, também, as medidas de pressão de Yamaguchi; · A altura do ponto principal de apoio 296 oferecido pela almofada lombar, pode ser resolvida dentro de uma média de 6 cm mais ou menos, a partir de sua posição mais eficiente. A média de 8-14 cm acima do assento, também está de acordo com os argumentos ortopédicos de Schoberth [9]. Em suas considerações finais, Grandjean [3] conclui pelas seguintes definições para o design de cadeiras de descanso: · A coluna vertebral deve ser mantida na sua forma normal, com um mínimo de forças sobre os discos intervertebrais, com o maior relaxamento possível dos músculos das costas; · A cadeira de descanso deve poder variar as posições e dimensões de acordo com as diferentes atividades; · As cadeiras de descanso devem ter no encosto uma almofada lombar convexa anteriormente, com uma pequena concavidade anterior atingindo o nível das vértebras torácicas. O ponto de apoio principal da almofada deve ser 8-14 cm na vertical acima do assento quando ocupado, na altura do bordo superior do sacro e da 5ª vértebra lombar; · Cadeiras de descanso devem ser bem estofadas, para distribuir o peso do corpo sobre uma área grande das nádegas. É desejável uma almofada que distribua o peso do corpo sobre um círculo de 6-10 cm de diâmetro; · Para o design de uma cadeira de descanso mais simples, com poucos ajustes, devem-se usar as seguintes dimensões: · Altura do assento ...................... 39-41 cm · Profundidade do assento .......... 47-48 cm · Inclinação do assento ............... 20-26° · Ângulo assento/encosto ............ 105-110° Serber, apud Lueder et al.[4], traz uma visão mais atual da ergonomia de cadeiras. As cadeiras ergonômicas tradicionais visavam à manutenção de uma postura alinhada. Várias pesquisas foram desenvolvidas definindo as formas, ajustes e dimensões do assento e do encosto, mas a necessidade de movimento do segmento lombar foi ignorada. A coluna lombosacra é um complexo sistema de articulações. Manequins para estudo do design da postura sentada, foram concebidos com movimento somente na articulação do quadril, considerando a coluna lombar como um segmento rígido. O modelo de manequim com movimento lombar (lumbar motion model mannequin), foi desenvolvido visando ao estudo Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 da mobilidade lombar. Foi postulado que uma articulação localizada no corpo vertebral de L3, pode representar todo movimento lombar no plano sagital médio, com precisão de 99% em relação a todos os movimentos do segmento lombar. Esse local está na intersessão entre a altura média lombar e a linha do centro longitudinal do tronco. O centro instantâneo de flexão lombar (ICLF, em inglês) é usado para representar todos os movimentos produzidos pela coluna lombar como uma única articulação (fig. 6). O ICLF está localizado no centro do corpo vertebral de L3, servindo como centro virtual de movimento. O movimento da articulação é representado como uma bola de rolimã, onde as regiões cervical e dorsal rodam como um todo, a partir da articulação acima de L1. O ICLF está localizado no centro do corpo vertebral de L3, servindo como centro virtual de movimento. O movimento da articulação é representado como uma bola de rolimã, onde as regiões cervical e dorsal rodam como um todo a partir da articulação acima de L1. Fig. 6 - Centro instantâneo de flexão lombar. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 O objetivo desse modelo é facilitar o design de cadeiras. O movimento lombar associado aos ângulos entre tronco-coxas de 128° a 90°, é de especial interesse no design de cadeiras ergonômicas. O movimento lombar associado aos ângulos entre troncocoxas entre 110° e a flexão completa de 35°, é muito importante para a indústria de transportes públicos no estudo da dinâmica dos passageiros durante acidentes. Traduzido num diagrama corporal, o ICLF é facilmente aplicado em equações dinâmicas relacionadas ao movimento. É fato bem conhecido que a coluna vertebral, assim como todo o sistema esquelético, precisa de micro e macro movimentos, para suas necessidades metabólicas, e que os movimentos musculares são necessários para promover a circulação sanguínea. Posições sentadas estáticas impedem a mobilidade lombar e retificam e deformam a curva lombar. Esta é a questão central da presente pesquisa. Os testes realizados por algumas horas, não chegam a causar deformações significativas na região pélvica e nos tecidos sob as nádegas e coxas. A proposta de Serber atende à necessidade de apoio da região sacroílio-lombar, mas ainda não dá condições às mudanças de apoio para alívio das pressões sobre os tecidos, pois há que se diminuir as pressões sobre um lado ou outro da nádega, favorecer o relaxamento dos músculos em detrimento da coluna reta ou vice-versa. Jogar o corpo para frente ou para trás e mudar o apoio dos pés [7]. Serber cita dados de Nachemson e Morris:Na posição de pé, a pressão intradiscal é 30% menor que a pressão na posição sentada ereta, descendo para 50% na posição sentada recli nada, salientando que Andersson e Ortengren notaram que, se o ângulo encosto/assento aumenta, diminui a atividade dos músculos costais, medida na eletroneuromiografia. Serber desenvolveu o design de uma cadeira, que faz um movimento em equilíbrio constante (continuous balanced motion CBM). O assento roda seguindo o movimento pélvico, centrada próximo ao ICLF e ao centro de gravidade sagital do corpo (CG). Seu apoio lombar firme e ajustável na espessura e na altura modela a lordose lombar na altura do ICLF. O movimento do assento responde ao movimento corporal num arco de 24°. Os ajustes do encosto variam entre 30° de reclinação para trás e 3° de inclinação para 297 Fig. 7 - Cadeira com o mecanismo de equilíbrio constante. frente. Como o centro de rotação (CR) é fixo, a coluna lombar média se mantém em contato com o apoio lombar durante os movimentos pélvicos (fig. 7). Epidemiologia Bendix afirma que a incidência de dor lombar aumenta com a permanência na postura sentada e aumentou consideravelmente nas últimas décadas, apesar de não ter piorado em qualidade. Segue comentando a pesquisa de Kelsey, onde motoristas que dirigem automóveis por mais de quatro horas por dia, correm um risco três vezes maior de sofrer uma hérnia de disco e salienta que justamente as pessoas com costas instáveis tendem a escolher um trabalho sedentário, mas paradoxalmente vários estudos sugerem que as tarefas sentadas são em si mesmas um fator de risco. Patogenia As causas da maioria das dores lombares são desconhecidas. A explicação para a maior parte das dores lombares está na interação entre o disco intervertebral e as facetas articulares posteriores. O disco consiste em um envoltório 298 de lâminas que envolvem um núcleo macio. Durante a adolescência e a vida adulta jovem, surgem rupturas nos discos lombares na maioria das pessoas (Hirsch e Schajowitz, apud Bendix). Somente as grandes rupturas determinam uma hérnia no disco, podendo causar dores quando as raízes do nervo são comprimidas. Outra causa de dor lombar está na interação entre a deformação do disco e as facetas articulares (Miller, Yang e King apud Bendix). A deformação nos discos altera o encaixe das articulações interfacetárias, que podem então ser uma fonte de dor. Neste caso a origem da deformação está no disco, mas os agentes da dor são as facetas. A dor lombar está mais freqüentemente ligada ao sistema ligamentar e capsular e à compressão óssea, do que a problemas musculares. Dores musculares podem aparecer mais tarde provocadas por espasmos na região afetada. Bendix, então, se pergunta: porque acontecem as rupturas dos discos? E coloca as opiniões de Nachemson e Anderssom, em pesquisas dirigidas às pessoas que são submetidas a cargas pesadas em seus trabalhos. Alterações discais em pessoas sedentárias (principalmente motoristas) podem ter menos ligação com as cargas sofridas, mas com o fenômeno de desgaste das estruturas colágenas, causadas por má nutrição do disco. Bendix descreve a fisiologia da nutrição do disco intervertebral, que se dá por osmose, comparável a uma esponja dentro dágua. Ao ser comprimido, os detritos são eliminados, ao se aliviar a pressão todos os nutrientes são absorvidos. O disco é a maior estrutura do corpo que não possui vasos sanguíneos, e tem uma tendência grande a se romper. É curioso observar o ponto de vista da medicina veterinária, ao analisar a coluna vertebral dos quadrúpedes: Os discos estão entre os órgãos que mais consistentemente apresentam alterações degenerativas com o avanço da idade; lesões de disco constituem uma fonte comum de distúrbio lombar, há pouco tempo reconhecido no homem e no cão, agora diagnosticado também em outros animais domésticos e mesmo em animais silvestres. [...] Alterações insidiosas envolvendo o núcleo e o anel iniciam-se cedo durante a vida. A fragmentação do anel pode permitir que o núcleo escape, geralmente na direção do canal vertebral, onde, direta ou indiretamente, pode Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 empurrar a coluna. A calcificação do núcleo diminui a elasticidade e a flexibilidade normais da espinha. Alterações degenerativas podem acometer qualquer disco, mas os efeitos naturalmente têm probabilidade de ser mais graves quando envolvem os discos nas regiões mais móveis; os discos do pescoço, em grandes animais, e aquele da junção lombossacral, são especialmente suscetíveis(Dice et al., Tratado de Anatomia Veterinaria, 1997). Na sua revisão bibliográfica, Bendix consulta Sanjevi, Bojsen-Noller e Weismann para entender as cápsulas articulares e os ligamentos são formados por fibras elásticas colágenas. Essas fibras têm a propriedade de suportar um alongamento por horas. Quando a força de estiramento é retirada, existe um lapso de tempo até que o comprimento original se refaça . Este lapso de tempo varia entre 20 minutos a algumas a horas. Ao se permanecer sentado por horas alguns ligamentos vão ser habitualmente estirados, dependendo da postura. Posturas em cifose lombar vão distender as fibras posteriores. Após várias horas, diariamente, sentado num carro ou escritório, a estabilidade vertebral é ligeiramente reduzida, permitindo movimentos não habituais que levam a um stress nas articulações envolvidas. O problema da posição sentada é a combinação entre a carga sofrida e o tempo de duração. Sentar-se numa cadeira incômoda, que provoca grande carga sobre várias partes do corpo, pode não ser um problema por um período curto. As tarefas e o hábito levam normalmente à permanência sentada por um tempo muito longo, levando à lesão, mesmo numa cadeira confortável. Reinecke et al., em pesquisa paralela, partem dos princípios de Schobert, que descreve três tipos de posturas sentadas: mediana, anterior e posterior. Elas são definidas em função do peso do centro de gravidade do tronco sobre as tuberosidades isquiáticas. Na postura mediana, o centro de gravidade está diretamente sobre as tuberosidades. Se os eretores da coluna e os íliopsoas estiverem relaxados, a coluna lombar estará ereta ou ligeiramente cifótica. Se estiverem ativos, a pelve estará em rotação anterior, com lordose lombar (Andersson e Ortengren, 1974b, apud Reinecke, 1994). Na postura anterior o tronco está inclinado para frente, transferindo o peso para o apoio sobre os pés, mudando o centro de Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 gravidade para um ponto anterior às tuberosidades. Se os eretores da coluna estiverem em ação a coluna se retificará, com rotação anterior da pelve, mas se estiverem inativos, a pelve fará uma rotação posterior, aumentando a cifose da coluna vertebral. Já na postura posterior, o centro de gravidade cai por trás das tuberosidades, a pelve faz uma rotação posterior e estabiliza o tronco com apoio das tuberosidades e do cóccix. Quando os músculos estão relaxados na postura anterior ou posterior, a coluna lombar está em cifose e os ligamentos posteriores sustentam a coluna (Akerblom, Schoberth, Andersson, apud Reinecke). Reinecke concluique na postura sentada prolongada, como nos automóveis e no trabalho sedentário, um apoio lombar não garante a lordose lombar. Diz que muitos usuários deslizam a pelve para frente, provavelmente para estabilizar a postura. O apoio lombar, no entanto, deve ser usado; os efeitos biomecânicos dos apoios lombares devem ser reconsiderados; as investigações devem prosseguir sobre um apoio que realmente induza à lordose no encosto do carro ou de uma cadeira de descanso, verificando se o stress sobre a coluna está sendo aliviado. Resumindo, para os ergonomistas a postura sentada prolongada pode provocar lesões como hérnia de disco, alterações interfacetárias ou deformação dos ligamentos posteriores da coluna lombar, quando se somam os efeitos da carga sofrida com o tempo de duração. É preciso minimizar as deformações e aumentar as possibilidades de movimentação dentro da postura sentada, com um bom apoio para as estruturas ósteo-musculares. Anátomo-fisiologia e biomecânica da posição sentada Ao estudar a biomecânica do ser humano, observa-se que o equilíbrio está constantemente mudando durante a marcha. A pélvis e a coluna lombar, a região do pires da figura 3, são os centros principais de ajustes na posição de pé e ao caminhar. Souchard e Bienfait acreditam que os músculos antigravitários enrijecidos, encurtados pelo uso constante, são responsáveis pela pouca mobilidade da coluna vertebral. Analisando a fig. 8, o equilíbrio da pelve sobre os membros inferiores na posição em pé, se dá graças aos músculos ísquio-tibiais/ glúteos/pelvitrocanterianos (a) que impedem o 299 (a) (b) Fig. 8 Músculos antigravitários (a) Isquiotibiais, Glúteos, Pelvitrocanterianos, Espinhais (b) Iliopsoas, Adutores Cadeia suspensora do diafragma [11]. desequilíbrio anterior da pelve, enquanto os músculos íliopsoas/adutores (b) impedem seu desequilíbrio posterior. A concavidade da lordose lombo-sacra é formada pela tração realizada pelos íliopsoas em carga. Da pelve para cima, os ossos ílios e o sacro são os pontos de partida para os músculos sacroespinhais (a) e fig. 9, que sustentam a lordose da coluna vertebral, numa relação antagonista/complementar com os músculos íliopsoas [9]. Internamente, o diafragma (b) é um músculo em forma de cúpula, fixado por suas raízes à coluna lombar e suspenso por um feixe tendinoso à base do crânio e à coluna cervical . Coluna vertebral e pelve, num olhar posterior Uma visão geral sobre a anatomia e biomecânica do tronco no ser humano em pé e 300 das curvas fisiológicas da coluna vertebral, incluindo o mecanismo de manutenção da concavidade do pires na região sacro-íliolombar A coluna vertebral, diz Souchard [9], é acompanhada pelos músculos espinhais pluriarticulares, a partir do sacro e dos ílios. Estes sobem até o occipital e estão dispostos de tal modo, que se pode descrever um tronco lombar (massa comum) perdendo ramos à medida que sobe pelas costas, e um ramo cefálico perdendo ramos à medida que desce pelas costas. Logo, a maior implantação de músculos espinhais situa-se nas zonas lordóticas (lordose lombar, lordose cervical). A massa carnosa lombar é, mais precisamente, de finalidade estática, enquanto a massa cervical garante também a mobilidade da cabeça e preserva a horizontalidade do olhar. A estabilidade vertebral é mantida, em todas as suas fisiologias (antero ou póstero-flexão, látero-flexão e rotação) pela massa comum, pelos interespinhosos, pelos intertransversários e pelos supra-espinhosos. A coaptação intervertebral, no nível das apófises articulares posteriores, é garantida principalmente pelo transversário espinhoso. A estabilidade vértebro-costal é realizada pelo músculo longo dorsal, que se estende da massa comum até a apófise transversa da primeira dorsal, assegurando a sustentação muscular entre a vértebra e a costela adjacente. Nisso, ele é ajudado pelos músculos intercostais externos. O músculo sacro-lombar, que vem da massa comum até a terceira vértebra cervical, fixa as costelas (fig. 9). Coluna vertebral, pelve e membros inferiores, num olhar antero/posterior Estudo sobre a anatomia e biomecânica do tronco, quando em equilíbrio sobre os membros inferiores, e sobre a manutenção do pires da região sacro-ílio-lombar Os músculos ísquiotibiais sustentam a bacia numa posição vertical. O encurtamento dos ísquiotibiais é conseqüência natural no bípede. O reforço dos músculos ísquiotibiais provoca uma rotação medial (interna) nos joelhos em carga, aumentando a demanda dos pequenos músculos pelvitrocanterianos, rotadores laterais (externos) de quadril, associados ao grande glúteo. Essa ação vai colocar o membro inferior Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 em rotação lateral (externa) [9]; os dois músculos pelvitrocanterianos piriformes juntos, verticalizam o sacro ou limitam a horizontalização que acompanha a anteversão de bacia [12]. O músculo piriforme, ou piramidal da bacia (M. piriformis), nasce no bordo da incisura ciática maior e na face anterior do sacro e se fixa no bordo superior do trocanter maior do Fig. 9 - Massa comum [9]. fêmur [1]. A conclusão da presente pesquisa é que a extrema rigidez dos músculos ísquiotibiais e pelvitrocanterianos, é o principal fator de desconforto na postura sentada. A posição de conforto para os isquiotibiais é a postura em cifose lombar, com a pelve em posteroversão. A posição de conforto para os pelvitrocanterianos seria a de Buda, a de montaria a cavalo ou a de uma perna cruzada sobre a outra coxa, todas favorecendo a rotação lateral de quadril. Nos homens a rigidez dos músculos pelvitrocanterianos é maior que nas mulheres devido à conformação diferente dos ossos da bacia, levando a uma maior necessidade de rotação lateral (externa) na postura sentada. Isto é visível num auditório ou nas conduções públicas, onde os joelhos dos homens estão mais separados. Os pelvitrocanterianos e glúteos estão extremamente constrangidos pelas limitações das poltronas de aviões impostos pelo ângulo entre encosto/assento, pela largura do assento e dos braços da poltrona e pelo pequeno espaço disponível para os membros inferiores, obrigados a uma grande flexão de joelhos e quadril nas pessoas mais altas. Já nas mulheres o conforto é obtido pela posição dos membros inferiores cruzados, que, além de ser uma postura socialmente elegante, faz com que os músculos pelvitrocanterianos e glúteos estejam em tensão isométrica, aumentando o tônus e a conseqüente sustentação sob as protuberantes tuberosidades isquiáticas. O músculo psoas (M. psoas) se divide em um Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 plano superficial e num plano profundo. O plano superficial se insere sobre as faces laterais da 12ª vértebra dorsal, da 1ª à 4ª vértebras lombares e, também, sobre os discos intervertebrais correspondentes. No plano profundo se insere sobre as apófises costiformes da 1ª à 5ª vértebras lombares. O músculo psoas se une ao músculo ilíaco, formando o músculo íliopsoas (M. iliopsoas), que se fixa ao pequeno trocanter do fêmur (fig 8b). O músculo psoas é um músculo pluriarticular que permite uma grande amplitude de elevação de quadril. O músculo ilíaco é um flexor potente da mesma articulação. Os dois músculos em conjunto, na posição deitada, agem elevando a porção superior do tronco ou a metade inferior do corpo [13]. Para Bienfait [12], a fisiologia do equilíbrio da pelve abriu muitas polêmicas. A articulação do quadril, articulação de múltiplos eixos, pode realizar movimentos de flexão-extensão no plano sagital, abdução-adução no plano frontal, rotação medial (interna) e lateral (externa) no plano horizontal. Todos esses movimentos são ampliados pelos deslocamentos da cintura pélvica e da região lombar. Na marcha e na posição de pé, o músculo íliopsoas é o principal responsável pela fixação da lordose lombar do ser humano, que tem uma liberdade de ação com as mãos e com o olhar diferentes do quadrúpede. Essa fixação, em carga, determina um enrijecimento fisiológico dos músculos da lordose lombo-sacra. Na postura sentada o músculo íliopsoas está relaxado, mas os músculos antagonistas complementares que sustentam a lordose lombo-sacra, os espinhais, estão em situação de constrangimento pelo estiramento da sua concavidade contra o encosto. O pires visto por dentro o diafragma Segundo Souchard [9], a existência do ser humano depende de funções hegemônicas como a circulação, a digestão, etc. São funções essencialmente vegetativas, automáticas, sem ação voluntária. A exceção é o músculo diafragma, que, apesar de essencial, possui os comandos automático e voluntário. Enquanto está no domínio automático inconsciente, o diafragma garante a sobrevivência, atuando nos níveis respiratório, circulatório e digestivo, com sua ação de bomba ritmada. Nas funções menos vitais à vida, como a fonação ou a estática do 301 comando voluntário, pode dosar a graduação de tensão e ritmo, na fala, ou pode tensionar o diafragma e seus pilares para proteger a região lombar, mantendo sua forma ao elevar grandes pesos. Em situações extremas, o automatismo domina, como o afogado que inspira água. A caixa torácica é o continente e os alvéolos pulmonares o conteúdo. Quando o continente aumenta, o conteúdo dilata-se sob influência da pressão atmosférica. A caixa torácica aumenta lateralmente e elevando-se para frente, e o continente aumenta em suas três dimensões [12]. O diafragma é um tabique músculo aponeurótico que separa as duas cavidades: torácica (acima) e abdominal (abaixo). Mecanicamente pode ser dividido em duas zonas anatômicas: centro tendíneo e parte muscular contrátil. Ele é parte de uma cadeia que vai praticamente da cabeça aos pés, chamada cadeia cérvico-tóraco-abdôminopélvica ou sistema suspensor do diafragma. No trecho superior desta cadeia, todas as aponeuroses convergem numa formação tendinosa, que nasce na base do crânio e vai chegar no diafragma, dando as formas e os limites tanto à cúpula diafragmática como aos outros órgãos ligados a ele (vértebras cervicais, faringe, coração, estômago) [12]. Sistema suspensor do diafragma Começa no pescoço pela aponeurose profunda, preso por um conjunto aponeurótico, fascial e ligamentar, desde a base do crânio e coluna cérvico -dorsal, até a quarta vértebra dorsal (figs. 8,10). Sob o diafragma, prossegue a cadeia fibrosa: os pilares do diafragma, muito mais tendinosos que musculares, se fixam à coluna lombar. O pilar direito insere-se sobre a face anterior de L2 e L3 e sobre os discos L1/L2, L2/ Fig. 10 - Sistema suspensor do diafragma [9]. 302 L3, L3/L4. O pilar esquerdo insere-se sobre o corpo de L2 e os discos L1/L2 e L2/L3. As inserções desses pilares sobre as vértebras e discos lombares, se fazem junto às inserções do músculo íliopsoas e fornecem uma sólida implantação às fáscias ilíacas, que descem até os membros inferiores. Nesse nível, não temos mais uma, mas duas cadeias laterais ou dois feixes músculo-tendinosos, que prosseguem até os pés. No ser humano, na posição de pé, o músculo ílio psoas é co -responsável pelo equilíbrio da pelve sobre os membros inferiores. A amarração músculo-fascial oferecida pela cadeia, tanto no sentido da cabeça como na direção dos pés, fixa fortemente a região lombar na concavidade anterior denominada lordose lombar [12]. As costelas Na inspiração profunda, a tração exercida pelo sistema suspensor do diafragma, coloca em jogo os músculos espinhais pelo mecanismo de pré-tensão. Os pequenos músculos interespinhosos são os principais responsáveis pela inspiração, ao levar a coluna vertebral à póstero -flexão, abrindo o gradil costal anteriormente como uma sanfona. Essa ação é auxiliada pela tração para baixo (rotação externa), que os músculos longo dorsal e sacro lombar fazem sobre o pequeno braço da costela (fig. 9). O ângulo de 90° entre o pequeno e o grande braço da costela, transforma essa rotação em elevação do grande braço da costela. O grande dorsal e o sacro lombar agem, assim, a partir de baixo, de ponto fixo em ponto fixo costal, como a cordinha ao abrir uma veneziana. A contração inspiratória através dos espinhais, pode se estender até a primeira vértebra dorsal e respectiva costela pelo músculo longo dorsal, que termina em D1 e pelo músculo sacro lombar, cujos feixes inferiores podem se contrair independentemente do feixe superior [10]. Como todos os músculos antigravitários, o sistema suspensor do diafragma pode estar enrijecido pelo uso constante. Na viagem de avião, na postura sentada prolongada, o passageiro sofre os agravantes da tensão pela excitação e ansiedade em relação ao passeio ou tarefa a ser executada; neste caso todo seu sistema físico e mental está alterado, tendo que lidar às vezes com um estômago cheio, o que só aumenta a pressão sob o diafragma. Na postura sentada, a parte inferior da cadeia Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 suspensora do diafragma, o músculo íliopsoas, está relaxada, mas os músculos espinhais, sinérgicos ao diafragma na inspiração, estão constrangidos contra o encosto, em sua ação de elevação das costelas. Entrevista não estruturada, focalizada Respostas à entrevista feita com o arquiteto de interiores de aeronaves Sergio Bernardo. A prioridade para definir o espaço entre as poltronas da classe econômica é comercial. Nessa classe a mão do designer não tem muita influência, uma vez que os argumentos dos gerentes da rentabilidade são muito mais poderosos. Observa-se uma diminuição do espaço ao longo do tempo, desde o surgimento do avião como um meio de transporte comercial regular. É verdade que as poltronas tiveram um grande avanço em termos de tecnologia e ergonomia, apesar do espaço entre elas ter diminuído. Na década de 70, as poltronas de classe econômica eram mais robustas e macias, apesar dos poucos recursos de ajustabilidade. A necessidade de se promover a proliferação de assentos no mesmo espaço, é uma exigência comercial para manter os mesmos níveis de rentabilidade, com tarifas cada vez menores em função da competitividade. Surgiram então as poltronas hi-density, muito mais leves e menores que as antigas poltronas long haul. Na última década os fabricantes de poltronas se esmeraram na busca de soluções ergonômicas, que ajudassem a diminuir a sensação de desconforto provocada pelos pitches reduzidos (distância em polegadas entre um determinado ponto de uma poltrona e o mesmo ponto na poltrona subseqüente), que a guerra de tarifas forçava as grandes companhias a adotarem. Pode-se verificar alguns recursos que somente eram previstos em assentos das classes superiores: apoio ajustável para a cabeça, descanso para os pés e almofada inflável na região lombar, são alguns desses novos recursos que as poltronas de classe econômica apresentam como alternativa para compensar o menor espaço. Alguns fabricantes de aviões passaram a definir espaços mínimos em função de requisitos das autoridades aeronáuticas. Esses espaços mínimos, no entanto, não podem ser associados aos diferenciais de conforto que os passageiros esperam encontrar a bordo de um avião. Para se ter uma idéia, podem ser Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 encontrados pitches de 29" em companhias asiáticas que, mesmo com o passageiro encostando o joelho na poltrona da frente, são aceitos como mínimos pelas autoridades... até os de 37", que uma empresa adotou recentemente, unicamente porque buscava um nicho específico de mercado e um posicionamento bem definido, para ser reconhecida como uma companhia que prioriza o conforto em detrimento da ocupação. Logicamente as tarifas são maiores nas empresas que oferecem mais espaço para as pernas. A empresa procura seguir um padrão que foi determinado em reuniões entre os membros da alliance da qual faz parte. Depois de muita discussão entre os profissionais de marketing e de finanças, foi adotado um pitch mínimo de 32" para as empresas da aliança. Apesar disso, muitas ainda configuram os aviões com pitch de 31", a título de tolerância mínima, numa demonstração de que mais vale a inclusão de uma fila adicional de poltronas na classe econômica do que aumentar o conforto dos remanescentes. Benchmarking é uma ferramenta poderosa na hora de escolher um determinado fabricante de poltronas. Existem empresas onde os diferenciais de conforto são fatores determinantes para a seleção de assentos, independente do custo. A British Airways é uma das que se destacam nesse tema e provavelmente a de maior vanguarda no desenvolvimento de soluções que buscam conforto. Revolucionou o mercado quando introduziu, em 1997, o conceito de ambiente de 1ª classe, ao invés de poltrona de 1ª classe, com um produto que logo foi batizado de cocoon pela indústria. Há dois anos a mesma BA voltou a sacudir o mercado, com a introdução de leitos na classe executiva de seus aviões. É o benchmarking principal da indústria. Atualmente as empresas buscam um equilíbrio entre o padrão superior definido pela BA e as equações de rentabilidade que sempre diminuem o espaço para os passageiros. Estamos chegando a um conceito que se chama Lie flat, que é uma poltrona onde o passageiro pode se esticar em uma superfície quase plana, porém inclinada o suficiente para que os pés de um ocupante possam se acomodar embaixo do encosto do outro e encurtar a distância entre assentos. Na classe econômica a novidade é o surgimento de uma espécie de 4ª classe nos vôos 303 de longa duração. Algumas empresas estão destinando uma pequena quantidade de assentos de classe econômica, para seus passageiros mais freqüentes (beneficiários de vantagens dos programas demilhagens) ou os que pagam tarifas cheias (sem descontos). Em média, 10% dos assentos de classe econômica são configurados com pitches de até 38", com maior ângulo de reclinação dos encostos, apoios ajustáveis para a região lombar, cabeça e pés, além de um serviço de bordo diferenciado. Os gerenciadores de rentabilidade identificaram esse nicho específico, se rendendo aos apelos dos especialistas em marketing, sem abrir mão, no entanto, da concentração de assentos no resto do avião, que são destinados aos que são mais sensíveis à tarifa promocional do que aos diferenciais de conforto. Por causa da competitividade e em função do benchmarking, os recursos de ajustabilidade, que eram diferenciais de conforto em algumas empresas, passaram logo a fazer parte do leque de ofertas de todas as grandes companhias aéreas e são, hoje em dia, como uma espécie de commodity na classe econômica. Distância entre poltronas Continuando a entrevista, diz o arquiteto: O RBHA 121 (Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutica) define alguns parâmetros, que acabam interferindo na concepção das poltronas. A questão da inflamabilidade e os acessos mínimos às saídas de emergência são alguns deles. O FAA norte-americano também é responsável por grande parte da legislação vigente. O principal documento que o fabricante de poltronas tem que seguir é o TSO-C127, norma desenvolvida pela SAE (Society of Automotive Engineers) que regulamenta o conceito de 16G (16 vezes a aceleração da gravidade) para os aviões novos (o B777 é um exemplo). Os parâmetros principais são referentes aos tipos de deformação que a poltrona de avião deve suportar, no caso de uma desaceleração brusca, que possa atingir até uma força de 16G sobre o conjunto de poltrona + passageiro + estrutura do piso onde está fixada. Os aviões mais antigos têm que cumprir requisitos sobre forças de 9G no máximo. Não existe, no entanto, nenhum limite específico determinado pela autoridade aeronáutica para a distância entre os assentos, bastando os fabricantes comprovarem que os 304 parâmetros de deformação foram atendidos. Um outro parâmetro que limita a distância entre poltronas é o esforço que a estrutura do piso pode suportar. Como exemplo, posso citar o B767, que só admite pitches de até 30", sem a necessidade de reforço nos trilhos onde a poltrona é fixada. Desde o momento que não existe uma dimensão mínima estabelecida para o espaço entre as poltronas de classe econômica, as empresas estão livres para determinar os seus padrões. Como existem as alianças entre grupos de companhias que pretendem oferecer níveis de conforto parecidos, seguindo a hipótese de que os passageiros compartilhados devem receber um tratamento idêntico de cada uma delas, existe uma tendência de 32" ser uma dimensão mínima universal para o pitch entre as poltronas da classe econômica. Trombose venosa profunda Os casos de morte de passageiros por problemas circulatórios foram considerados uma decorrência da falta de mobilidade pelas companhias aéreas. Alegam que a ausência de movimentos por um período prolongado é o principal fator, que pode desencadear a trombose e isso não é um privilégio dos passageiros da classe econômica. A imobilidade pode acontecer mesmo na primeira classe. Algumas companhias colocaram avisos nos filmes de bordo e nos sites orientando os passageiros, para a prática de alguns exercícios durante o vôo. Fisicamente não houve qualquer mudança no espaço entre as poltronas, que tenha sido provocada pelos episódios. Vê-se uma preferência a culpar a imobilidade, como conseqüência da ocorrência destes episódios, sem tocar nas restrições espaciais. Entrevista semi-estruturada - o que dizem os passageiros Em pequena pesquisa, realizada com 18 usuários, adultos saudáveis, das classes econômica e executiva, a maior queixa foi em relação ao constrangimento referente ao espaço entre os bancos, que impede a movimentação dos membros inferiores ou a posição de pé. Os passageiros muito altos, como C.A., de 1,92 m, só viajam no corredor, para esticar os membros inferiores, escorregando a pelve para Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 frente e protegendo a região lombar com um travesseiro. Já os muito baixos, como A.M., com 1,53 m, escorregam a bacia até a beirada do assento, uma vez que não alcançam o piso ou o apoio para os pés, colocando os pés no encosto da frente. Todos os entrevistados gostam de andar no corredor para aliviar o desconforto. Dos 18 usuários entrevistados, as queixas de constrangimentos posturais se apresentaram da seguinte forma: (a) Região lombo-sacra: 12 queixas (67%), das quais 8 foram associadas a queixas nos membros inferiores. Buscando alívio dos constrangimentos posturais e das pressões sob as tuberosidades isquiáticas, esses passageiros variaram as posturas, somando algumas alternativas, como: · uso de travesseiro sob região lombo-sacra (7); · rodando a pelve para os lados (6); · colocando os membros inferiores para cima (5); · deslizando a pelve para frente (2); · usando a poltrona do corredor (4). Naturalmente os passageiros que colocam os membros inferiores para cima, apoiados sobre o encosto da poltrona da frente, devem ser forçados a deslizar sua pelve para frente, o que pode ser mais enfocado nas próximas entrevistas, uma vez que somente 2 entre os 5 sujeitos que elevaram os membros inferiores, lembraram-se de que deslizaram a pelve. (b) Desconforto nos membros inferiores: dos 6 passageiros (33%) que se queixaram somente em relação aos membros inferiores, nenhum os colocou para cima, buscando o alívio entre: · usar travesseiro sob região lombar (1) · rodar a pelve (3) · viajar no corredor (1) Como se pode observar, as queixas das mulheres são maiores nos membros inferiores (60%) que na lombar (30%). E as queixas dos homens se dividem entre lombar (50%) e dos membros inferiores (40%). Quanto à altura, os mais altos sofrem mais com a lombar (60%) e os mais baixos com os membros inferiores (70%). Já a idade não altera as queixas. Conclusão Todos os entrevistados se queixam de constrangimentos, seja na região lombo-sacra ou nos membros inferiores; todos se movimentam na poltrona ao longo da viagem, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 pouco aproveitando, provavelmente, do apoio lombar fixo oferecido pelo encosto da poltrona. O estilo de vida sedentária, as viagens aéreas cada vez mais longas, levam à necessidade da busca por conforto e proteção do corpo, na postura mais assumida por todos no seu quotidiano de trabalho e de lazer. As companhias aéreas, mesmo forçadas pela situação de mercado para manter a política do milagre da proliferação de assentos, devem trabalhar os critérios ergonômicos, para avaliar os constrangimentos posturais, as atividades e as estratégias dos usuários durante o vôo. Agradecimentos À amiga fisioterapeuta Suely Marques, pela revisão criteriosa e pelo incentivo em todas as horas. Referências 1. Kapandji AI. Fisiologia Articular, vol.3, Tronco e Coluna Vertebral, 5a. ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 2. Hoppenfeld S. Propedêutica ortopédica. Rio de Janeiro: Atheneu; 1993. 3. Grandjean E. The physiological design of household furniture. In: Ergonomics of the home. New York Toronto:Taylor & Francis, London; 1973,109-120. 4. Lueder R, Noro K. 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Key-words: Oculomotor system, upper cervical, vestibuloocular reflex. Resumo Este trabalho tem como objetivo mostrar a relação reflexa entre o sistema oculomotor e a cervical superior, através da revisão da literatura científica. Esta relação reflexa ocorre pelo fascículo longitudinal medial, que integra as vias dos sistemas vestibular e labiríntico, ocular, mesencefálico, cerebelar e as informações proprioceptivas originadas na coluna cervical. Reflexos como o vestíbulo-ocular, cérvico-ocular e cervico-cólico têm papel importante no que diz respeito ao equilíbrio e ajustes posturais, estabilizando principalmente a cabeça e os olhos em relação ao pescoço e o corpo. A relação entre os movimentos oculares e o aumento de tensão na região suboccipital fica evidente através das fibras que descendem pelo tracto tecto-espinhal. Abstract This research has the objective to show the relationship between the oculomotor system and upper cervical through the analysis of the scientific literature. This reflex relationship occurs through medial longitudinal fasciculus which integrates the vias of the vestibular, labyrinth, ocular, mesencefalic, cerebelar system and proprioceptive informations having origin in the cervical spine. Reflexes such as the vestibuloocular, cervicoocular, cervicocolic have an important role in balance, postural adjustment, stabilizing the head and eyes relatively to the neck and body. The relationship between the ocular movements and the increase of tension in the suboccipital is evident through the descending fibers of the tecto-espinal tract. Artigo recebido em 19 de julho; aprovado em 30 de agosto de 2002 Endereço para correspondência: Clínica Barreiros Victoni Rua Apeninos, 930/82 Paraíso, 04114-020 São Paulo-SP E-mail: [email protected] ou [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Introdução A coluna cervical é constituída por duas partes anatômicas e funcionalmente distintas: a coluna cervical superior (occipital, atlas e axis) e a coluna cervical inferior (platô do axis até T1). A estabilidade da coluna cervical superior é dada por membranas, ligamentos e músculos [1,2,3,4]. A função dos músculos da coluna cervical superior (suboccipital) é a de manter o equilíbrio da cabeça e horizontalidade do olhar. O centro de gravidade da cabeça situa-se mais anteriormente; isto faz com que os músculos posteriores suboccipitais sejam potentes para regular este equilíbrio. Para esta função existem quatro músculos: o reto posterior maior e menor da cabeça e o oblíquo superior e inferior da cabeça. Estes músculos, considerados posturais, controlam o desequilíbrio anterior permanente da cabeça, a lateroflexão, a rotação e a horizontalidade do olhar [1,2,3,4]. A informação proprioceptiva necessária à manutenção do equilíbrio é a originada nos receptores articulares do pescoço. Quando a cabeça é inclinada pela torção do pescoço, os impulsos provenientes dos receptores fazem com que o aparelho vestibular dê ao indivíduo uma sensação de desequilíbrio; isto causará reflexos musculares imediatos, chamados de reflexos cervicais, que enviam aferências para o núcleo vestibular [5,6]. Dos três reflexos proprioceptivos cervicais, dois são mais importantes para a relação cérvico-ocular: 1) reflexo cérvico-ocular (RCO), que corresponde ao movimento ocular compensatório provocado pela rotação do corpo em torno da cabeça fixa. Sinais proprioceptivos dos músculos e articulações cervical criam um feedback negativo, como uma compensação, para manter a cervical alinhada à cabeça e aos olhos; 2) reflexo cérvico-cólico (RCC), que é acionado pelo estiramento dos músculos do pescoço. Outro reflexo importante para a relação acima, é um vestibular: reflexo vestíbulo-cólico (RVC), que provoca a contração reflexa dos músculos do pescoço devido a estimulação dos órgãos otolíticos [7,8]. O sistema nervoso central (SNC) desempenha uma função geral, que é a de interpretar tudo o que atua sobre o organismo e produz respostas adequadas a cada estímulo. Os impulsos nervosos ascendentes e 307 descendentes passam por vias formadas por fibras longitudinais, que se agrupam em tractos e fascículos. As vias ascendentes levam informações para os níveis superiores do SNC e os descendentes para a medula espinhal. Dividem-se em dois grupos: via piramidal e via extrapiramidal [9,10]. A via piramidal é o conjunto de fibras de origem cortical com efeitos monossinápticos sobre os motoneurônios. É constituída por duas vias: uma córtico-nuclear, que termina em motoneurônios dos núcleos motores somáticos dos nervos cranianos (III,IV,VI e XII); e a via córtico -espinhal, que termina nos motoneurônios medulares [9,11]. O sistema extrapiramidal atua por fibras originadas de neurônios localizados em núcleos subcorticais, cujas eferências dirigem-se à medula e córtex cerebral. A via extrapiramidal é formada pelos tractos tecto -espinhal, vestíbulo-espinhal, retículo-espinhal rubroespinhal. A função do tracto retículo-espinhal é a participação nos movimentos automáticos; o tracto vestíbulo-espinhal tem como função o ajuste do equilíbrio, a contração dos músculos do pescoço e posicionamento da cabeça, tendo sua origem nos núcleos vestibulares. O tracto tecto-espinhal origina-se no colículo superior e coordena os movimentos do pescoço com os dos olhos, isto porque recebe fibras da retina e córtex visual, que descendem até os segmentos mais altos da medula cervical [9,10,11]. Outra região importante no controle do sentido e posição da cabeça e dos olhos é a região mesencefálica. O mesencéfalo é constituído pelo tecto do mesencéfalo e pedúnculos cerebrais. O tecto do mesencéfalo é constituído de quatro eminências: dois colículos superiores, relacionados com a visão e participação do movimento dos olhos e da cabeça e dois inferiores, relacionados com a audição [9,12]. O colículo superior possui conexões com fibras que formam o tracto tecto-espinhal, retina e córtex que fazem sinapse com neurônios motores da coluna cervical. O colículo superior possui fibras que se ligam ao núcleo do nervo oculomotor, que por sua vez está relacionado com o fascículo longitudinal medial. A parte somática deste núcleo está relacionada com neurônios motores responsáveis pela inervação dos músculos extrínsecos do bulbo ocular. Estas fibras constituem o nervo oculomotor [9]. 308 O sistema visual inclui os olhos, as estruturas neurológicas das vias visuais e os músculos oculares. Os axônios de células ganglionares da retina formam o tracto do nervo óptico. O tracto óptico, ao penetrar no encéfalo, projeta-se em três vias: 1) núcleo geniculado lateral; 2) núcleo geniculado caudal; 3) núcleo lateral do tálamo. A maior porção projeta para o núcleo geniculado lateral e que, por sua vez, projeta fibras para o córtex visual e para o colículo superior, que auxilia na orientação dos olhos e cabeça de acordo com os estímulos [10,13]. O controle dos movimentos oculares é sempre em resposta aos estímulos visuais, vestibulares ou cervicais, cujas aferências terminam no núcleo do nervo oculomotor, nervo abducente e nervo troclear, que seguem até os músculos extraoculares do olho. Os músculos extrínsecos dos olhos são formados pelo reto superior, inferior, medial, lateral e oblíquo superior e inferior. Todos os músculos, menos o reto lateral e o oblíquo superior, são inervados pelo nervo oculomotor. Os outros dois são inervados, respectivamente, pelos nervos abducente e troclear. Os núcleos oculares recebem informações provenientes dos núcleos vestibulares e trafegam pelo fascículo longitudinal medial, que são importantes para a estabilização da posição dos olhos, quando a cabeça faz um movimento (reflexo vestíbuloocular) [9,10,14]. Existe uma série de ações reflexas no sistema motor visual. Os reflexos compensatórios sustentam os olhos em direção ao alvo de acordo com o movimento do corpo. Durante o movimento, os reflexos, como os vestíbulooculares, compensam as acelerações linear e angular, enquanto que o sistema optocinético compensa a velocidade. Os movimentos dos olhos dependem da ação dos pares cranianos III (oculomotor), IV (troclear) e VI (abducente), que são a via final comum para estes movimentos [10,13,14]. O sistema vestibular faz parte do conjunto de sistemas nas informações para controle e movimento dos olhos e cabeça. Seus órgãos periféricos encontram-se na orelha interna, compostos pelos canais semicirculares e pelos órgãos otolíticos, que contém receptores (utrículo e sáculo). Os impulsos nervosos gerados neste sistema seguem pela porção vestibular do nervo vestíbulo-coclear, através do qual atingem os núcleos vestibulares. Deste Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 saem fibras para o fascículo longitudinal medial e vão diretamente aos núcleos dos pares de nervos cranianos III, IV e VI, determinando o movimento do olho de acordo com o movimento da cabeça. Através do nervo vestibular as informações chegam aos núcleos vestibulares situados no tronco encefálico. São quatro núcleos: superior, lateral, medial e inferior [9,10,11,15]. O núcleo medial tem seus prolongamentos para o tracto vestíbulo espinhal que terminam na região cervical da medula. Os axônios deste tracto realizam conexões com motoneurônios que inervam os músculos cervicais. O núcleo vestibular inferior possui fibras eferentes que constituem vias do tracto vestíbulo-espinhal e vestíbulo-reticular [15]. Nota-se, então, que os núcleos vestibulares emitem fibras que podem ter destinos como: os núcleos motores da musculatura extra-ocular (tracto vestíbulo-ocular), outras regiões do mesencéfalo como, por exemplo, o tracto vestíbulo-reticular e vestíbulo-tectal, e regiões do vérmis cerebelar. Todas estas conexões também são influenciadas por outros sistemas, que vão processar, integrar e enviar respostas de ajuste dos olhos e a cabeça. [13,15] Inputs provenientes do complexo nuclear vestibular, seguem até o lobo flóculo-nodular do cerebelo com informações da posição da cabeça. Mas, ao longo do percurso, informações visuais vindas do córtex, colículo superior e núcleo geniculado lateral, integram-se para que o cerebelo possa controlar o equilíbrio e influenciar na coordenação dos músculos dos olhos e correção da posição da cabeça [13] Essa influência dá-se pela grande projeção que o cerebelo envia para os quatro núcleos vestibulares, através dos axônios das células de Purkinje. Nos núcleos vestibulares, agem indiretamente através do tracto vestíbuloespinhal e fascículo longitudinal medial. É através deste que desempenha um papel chave no controle dos músculos extraoculares [10,15]. Discussão Observou-se que a relação reflexa entre o sistema oculomotor e a cervical superior, está interligada com os mecanismos de ajuste de equilíbrio humano e posturais, provenientes das informações vindas do sistema labiríntico e vestibular, sistema ocular, a integração com e Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 mesencéfalo e cerebelo e as informações proprioceptivas originadas na coluna cervical. Todas as informações, tanto ascendentes como descendentes, cursam através do fascículo longitudinal medial, que, por sua vez, está relacionado com as vias piramidal e extrapiramidal do SNC [9,10,11,15]. As interações multisensoriais entre a retina (que é um receptor sensorial), músculos do globo ocular, sistema vestibular e os músculos da região cervical, estão localizados sob o controle dos diferentes subsistemas oculomotores: a oscilação, os reflexos visuomotores e reflexo vestíbulo-ocular [16]. Um estudo realizado por Holtmann [18], analisou os reflexos cérvico-oculares (RCO) em relação à diferença de velocidade de torção cervical. Concluiu que existe um nistagmo cervical, quando há torção do tronco com a cabeça fixa (RCO) e um nistagmo vestibular, quando a cabeça se move em função do movimento rápido (nistagmo optocinético). Frenzel apud Holtmann [18], também mostrou que o RCO é função recíproca da velocidade de torção cervical, pois o RCO, segundo os autores, difere do nistagmo vestibular, pois o input de aferência cervical domina sobre o controle dos movimentos oculares, principalmente em fases mais lentas, ao contrário do reflexo vestibular, que responde à inputs mais rápidos. Os reflexos cervicais são acionados quando existe a torção do pescoço, com conseqüente excitação das fibras musculares extrafusais, que enviam suas aferências ao núcleo vestibular. As aferências não provém somente das fibras musculares, mas também pelos receptores articulares do tipo Ia, Ib e II. O controle dos movimentos oculares ocorre em resposta aos estímulos visuais ou vestibulares, cujas aferências terminam nos núcleos dos nervos oculomotor, abducente e troclear, que inervam os músculos extraoculares [5,6,19,14]. Como as vias reflexas são mistas, pode-se dizer que, assim como existe o input de aferência cervical para o nervo oculomotor, existe também o input proveniente do sistema oculomotor em direção à coluna cervical [16]. A rotação da cabeça ocorre, principalmente, na cervical superior, articulação atlantoaxial (C1/ C2 ), onde se encontra o sistema dos músculos suboccipitais que, além de outras funções, controlam a rotação e a horizontalidade do olhar. 309 Os receptores mioarticulares, situados na cervical superior, vão enviar impulsos para núcleos vestibulares e reticulares, através do fascículo longitudinal medial e reforçam a relação da cervical com os músculos extraoculares. A formação reticular tem grande importância no sistema oculomotor e é fonte importante de via descendente, que projeta em nível dos interneurônios e motoneurônios cervicais, estando implicado na produção de movimento de rotação e flexo-extensão [9, 1,20,4,2]. De acordo com um estudo realizado por Hekkilia e Wennegren [20], pacientes com alterações por lesão causada pelo movimento de chicote (whiplash injury), possuem alteração da função oculomotora, bem como a propriocepção cinestésica cervicocefálica. Segundo os autores, a disfunção oculomotora pode ser explicada pelo envolvimento do sistema proprioceptivo cervical e pela lesão à nível medular. Os resultados obtidos, sugerem que a restrição dos movimentos cervicais e alterações da informação proprioceptiva da região cervical, afetam os movimentos oculares. Pode-se dizer que o movimento ocular e a região cervical estão interligados através do sistema oculomotor, uma vez que as vias nervosas trafegam de forma ascendente e descendente [21]. Conclusão Pode-se concluir que os mecanismos de ajuste da postura e equilíbrio humano são provenientes das vias labirínticas, vestibulares e da integração delas com o sistema ocular, cerebelar e das informações proprioceptivas, vindas de várias regiões do corpo, inclusive da coluna cervical superior. Os estudos citados dos diversos autores analisaram a relação existente entre os movimentos dos olhos e o aumento da tensão nos músculos da região cervical. Os resultados obtidos pelos pesquisadores demonstraram a existência do nistagmo cervical, que durante muito tempo foi um achado clínico importante na terapêutica do fisioterapeuta. E este trabalho pôde concluir, que existe de fato esta relação reflexa entre o sistema oculomotor e a região cervical superior. Portanto, é importante observar que quando estamos tratando a região cervical superior, ocorrerá também uma 310 interferência no sistema oculomotor e viceversa, tornando-se um fator a ser observado e levado em consideração na terapêutica. Como tanto, os ajuste posturais, como o controle do equilíbrio, implicam em modulação do tônus postural. Isto nos leva a questionar se conseguimos, através dos movimentos oculares, alguma ação benéfica na regulação da tonicidade muscular. Referências 1. Kapandji IA. Fisiologia Articular Esquemas Comentados de Mecânica Humana vol. 3, São Paulo: editora Manole 2a edição; 1990. 2. Palastanga N; Field D; Soames R. Anatomia e Movimento Humano Estrutura e Função. Editora Manole 3a edição; 2000. 3. Bienfait M. Fisiologia da Terapia Manual. Summus Editorial Ltda; 1987. 4. Gray Henry FRS. Anatomia. Guanabara Koogan; 29a edição, 1977. 5. Gardner Ernest MD. Anatomia Estudo Regional do Corpo Humano. Rio de Janeiro: editora Guanabara Koogan 3ª edição; 1971. 6. 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Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 311 Artigo original A atuação da fisioterapia na atenção primária à saúde Reflexões a partir de uma experiência universitária The physiotherapist participation in the primary health care Reflections based on an university experience Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapeuta graduada pela URNe, Mestre em Educação CE/UFPB, Professora da disciplina de Fisioterapia Preventiva no curso de Fisioterapia da UFPB. Palavras-chave: fisioterapia, atenção primária, saúde pública. Resumo A inserção da fisioterapia nos serviços de atenção primária à saúde é um processo em construção, uma vez que sua forma mais tradicional de atuação acontece em serviços de nível secundário e terciário. Buscando analisar os limites e possibilidades que emergem nessa atuação da Fisioterapia, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, cuja análise evidenciou possibilidades de atuação voltadas tanto para a reabilitação, quanto para ações de proteção da saúde. As dificuldades dizem respeito a questões relativas à gestão do sistema de saúde e à formação acadêmica do fisioterapeuta. Key-words: physical therapy, primary care, public health. Abstract The physiotherapist insertion in the health primary care services is a process in construction, once that it has a traditional actuation in services of second and third levels. Intending to analyze the limits and possibilities that emerge in this actuation it was developed a qualitative approach, where became evident possibilities of an actuation toward as to the rehabilitation process as to actions of health protection. The difficulties refer to questions concerning to health system management and to physiotherapist academic formation. Artigo recebido em 15 de agosto, aprovado em 30 de agosto. Endereço para correspondência: Kátia Suely Queiroz Silva Ribeiro, Av. Umbuzeiro, nº 91, Manaíra, 58038-180, João Pessoa - PB, e-mail: [email protected]. 312 Introdução A Atenção Primária, também conhecida como Medicina Comunitária, Atenção Básica e Cuidados Primários em Saúde, surgiu como uma necessidade de expandir o acesso aos serviços de saúde a grandes parcelas da população, que vinham sendo excluídas do processo, pelo modelo assistencial baseado na medicina científica, que era hegemônico na primeira metade do século XX. Esse modelo tem como características, a ênfase na assistência curativa, a tecnificação do ato médico, a exclusão de práticas alternativas e o individualismo. Na organização dos serviços de saúde no Brasil, predominou, até a década de 1970, a tendência de destinar o maior aporte de recursos à rede hospitalar, cujos serviços eram prestados predominantemente pela rede privada credenciada. Isso determinou uma concentração dos atendimentos nesse nível de atenção e uma sobrecarrega, com uma demanda que poderia ser atendida em serviços de menor complexidade. Nas últimas décadas, muitos esforços foram envidados no intuito de reorganizar a assistência no sistema público de saúde, com ênfase para os serviços de Atenção Primária à Saúde (APS). Em 1999, o Ministério da Saúde lançou o Manual para a Organização da Atenção Básica, a fim de orientar a estruturação desse nível de atenção, e define que Atenção Básica é um conjunto de ações, de caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde, voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação [3]. Esse documento estabelece que a atenção deve estar baseada nos princípios do SUS, integralidade da assistência, universalidade, eqüidade, resolutividade, intersetorialidade, humanização do atendimento e participação social. Essa lógica de priorizar a Atenção Primária se contrapõe à ênfase nos hospitais e requer uma mudança de concepção quanto ao modelo assistencial, uma vez que, ao contrário do que tem ocorrido, ela não deve ser orientada pela idéia de uma assistência simplificada destinada a minimizar os problemas de saúde da população pobre. Pelo contrário, ela se apresenta como uma grande complexidade, como destaca Mendes, citado por Medina, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Aquino & Carvalho [5]. Para estes autores, Atenção Primária à Saúde é o nível de menor densidade e maior complexidade tecnológica, porque se utiliza, por um lado, de poucos recursos de baixo custo, no que se refere a equipamentos diagnósticos e terapêuticos, e, por outro lado, incorpora instrumentos tecnológicos advindos das ciências sociais (antropologia, sociologia e história) e humanas (economia, geografia, etc) na compreensão do processo saúde-doença e na intervenção coletiva e individual. Pressupõe ainda que os profissionais de saúde tenham, não apenas competência técnica, mas também uma compreensão alargada dos problemas de saúde e o entendimento de que a assistência à saúde é muito mais do que assistência à doença. Requer também uma compreensão de saúde que ultrapasse a visão biológica tradicional. Esse entendimento se contrapõe à visão que muitas pessoas têm de que a saúde pública é o local onde atuam profissionais pouco qualificados, sendo na realidade uma atuação que exige uma qualificação mais aprimorada e que envolve conhecimentos de áreas diversas da que a maioria dos profissionais de saúde estão familiarizados, a exemplo do estudo das ciências humanas e sociais que é fundamental nesse tipo de atuação. A forma como a Fisioterapia vem se inserindo na rede pública de saúde sofre influência do seu surgimento, pois teve sua gênese e evolução caracterizadas pela atuação na reabilitação. Surgindo, inicialmente, como uma especialidade da medicina tornou-se, posteriormente, uma profissão autônoma, mas seguindo a lógica da especialidade, foi enquadrada, em termos de hierarquia na organização do sistema de saúde, em serviços de atenção secundária e terciária. Essa lógica de distribuição, durante muito tempo, excluiu da rede básica os serviços de fisioterapia, o que tem acarretado uma grande dificuldade de acesso da população a esses serviços. Na medida em que se tornou mais conhecida e que se ampliaram as áreas de intervenção da Fisioterapia, houve um aumento na demanda por esses serviços, porém a oferta não aumentou na mesma proporção. O atendimento restrito, principalmente aos centros de reabilitação e outros serviços de atenção secundária, vem ocasionando uma Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 demanda reprimida nesses locais, onde há listas de espera em que as pessoas aguardam durante meses por atendimento. Há um outro agravante no que diz respeito ao acesso ao tratamento fisioterapêutico, que é a dificuldade que grande parte dos usuários tem de se deslocar para esses serviços. Essa dificuldade se torna mais importante, tanto em função das limitações físicas que muitos apresentam, como também do ponto de vista econômico, uma vez que esse atendimento pressupõe repetidas idas ao serviço, deslocando-se por longas distâncias, o que representa, além do esforço físico, despesas com transporte. Essas dificuldades, muitas vezes impossibilitam o acesso ao tratamento, pois há ocasiões em que a pessoa, mesmo conseguindo uma vaga no serviço de fisioterapia, não tem condições financeiras e/ou físicas de se deslocar continuamente até o serviço, perdendo a oportunidade de recuperação e agravando o problema. A preocupação em expandir o acesso ao tratamento fisioterapêutico à população que dele necessita, vem suscitando debates e impulsionando experiências de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária, buscando construir um modelo de atuação neste nível de atenção, que não costuma ser tradição na prática fisioterapêutica. Neste sentido é que desenvolvemos uma pesquisa de mestrado, que teve como objetivo analisar as possibilidades e limites de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária à Saúde, tomando por base a experiência de um projeto de extensão universitária denominado Fisioterapia na Comunidade. Este projeto é desenvolvido pelo curso de Fisioterapia da UFPB desde 1995 e, atualmente, é realizado nas comunidades do Grotão e Maria de Nazaré, que ficam localizadas em áreas periféricas do município de João Pessoa, junto às Equipes de Saúde da Família lá atuantes. São realizadas atividades de atendimento fisioterapêutico domiciliar e na Unidade de Saúde da Família (USF), ações educativas coletivas e trabalhos com grupos de idosos, hipertensos, diabéticos e gestantes. Muitos questionamentos acerca dos limites e possibilidades de atuação do fisioterapeuta vieram à tona no desenrolar das atividades desse projeto. Essas questões evidenciaram a carência de definições claras quanto ao nosso papel na Atenção Primária, e revelaram a 313 predominância do caráter reabilitador da formação profissional do fisioterapeuta, com todas as limitações impostas pela lógica fragmentada da especialidade. Por outro lado, tornaram claras algumas possibilidades que essa atuação apresenta, motivada pelo desejo de disponibilizar o atendimento fisioterapêutico à população. São estas questões que iremos abordar em seguida. Material e métodos A opção metodológica desta pesquisa foi por uma abordagem qualitativa, do tipo observação participante. Essa escolha foi feita devido a dificuldade de se trabalhar com números, quando caminhamos para o universo de significações, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores [7]. A pesquisa foi desenvolvida nas Comunidades do Grotão e Maria de Nazaré, no período de março de 1998 a julho de 2000. Foram utilizados na coleta de dados os seguintes instrumentos: anotações no diário de pesquisa; entrevistas semi-estruturadas, realizadas com os estudantes que participaram do projeto Fisioterapia na Comunidade e com moradores da comunidade; o registro de uma oficina de avaliação do projeto, que foi realizada em maio de 2000; e pesquisa bibliográfica, onde se buscaram informações referentes a outras experiências de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária no Brasil. A análise dos dados teve como ponto central a organização do material, com base em categorias de análise, que foram definidas a partir de dimensões da análise através dos temas emergentes, em torno dos quais circulam os conteúdos da pesquisa [11], sendo que algumas delas foram propostas a partir dos objetivos da pesquisa, enquanto que outras emergiram durante a leitura do material. Resultados e discussão Possibilidades de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária: formas de atuação antigas se mantêm ao mesmo tempo em que outras se revelam O levantamento das experiências de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária à Saúde, assim como os dados empíricos desta pesquisa, mostram que esta atuação tem se caracterizado, 314 primordialmente, por atividades relacionadas à reabilitação, uma vez que essa é a necessidade mais premente da população, sendo também, a função mais conhecida do fisioterapeuta. Entretanto, outras formas de atuação, visando também à manutenção da saúde, vêm sendo desenvolvidas de forma pontual. De uma maneira geral, elas têm se constituído em: atendimento fisioterapêutico a pessoas que necessitam de reabilitação, seja nas unidades de saúde ou no domicílio; atuação em grupos de escola de posturas, de hipertensos, de diabéticos, de gestantes e prevenção de incapacidades em hanseníase. Os relatos das experiências, que estão buscando estruturar serviços de fisioterapia na rede básica, mostram alternativas que têm sido adotadas para atender à necessidade de reabilitação da população, num contexto em que o número de fisioterapeutas é reduzido. O atendimento dos clientes que conseguem se deslocar para o serviço de saúde é realizado individualmente ou em grupo. O trabalho com grupos tem se mostrado como uma possibilidade de atuação da Fisioterapia na Atenção Básica, em que se pode adequar às necessidades dos usuários e a disponibilidade de profissionais, podendo representar uma estratégia de atender a uma demanda que não tem possibilidade de ser atendida individualmente. Essa medida, que já foi adotada em serviços de atenção secundária e terciária, pode contribuir no sentido de ampliar o atendimento a um maior número de pessoas do que seria possível no atendimento individual. Os grupos, sendo formados por pessoas que têm problemas semelhantes, proporcionam uma identificação entre seus participantes e o compartilhamento das estratégias de enfrentamento desses problemas, formando uma rede através da qual as pessoas se incentivam mutuamente. Além de atender a uma necessidade da demanda por atendimento, o trabalho em grupo também facilita o tratamento, uma vez que cria um estímulo aos participantes, representando uma oportunidade de se enriquecer o tratamento, através da troca de experiências e do trabalho lúdico que essa forma de intervenção possibilita. Esse modelo de atendimento também pode agir como um elemento motivador à continuidade do tratamento, pois, à medida que o processo de reabilitação se prolonga, muitos usuários Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 sentem-se desestimulados para fazer os exercícios individualmente. O atendimento domiciliar, por sua vez, é uma atividade que se mostra imprescindível ao trabalho na Atenção Primária, pois é nesse nível de atenção que nos deparamos com a realidade das pessoas que precisam de atendimento fisioterapêutico e não podem se deslocar ao serviço. Esse atendimento requer do profissional uma disponibilidade de tempo maior para sua realização do que no serviço de saúde, pois, além do tempo necessário ao deslocamento para o domicílio, o atendimento nestas circunstâncias torna-se mais demorado em função da necessidade de adaptação dos procedimentos às condições do ambiente. Nesse contexto, a orientação ao cuidador e aos agentes de saúde, tem sido a solução apontada para assegurar a continuidade e dar uma maior intensidade ao tratamento. Essa possibilidade se evidencia em algumas experiências como a dos fisioterapeutas dos municípios de Vitória ES [8] e Camaragibe PE [9], nos quais se destaca a participação de agentes de saúde e familiares no tratamento fisioterapêutico. A integração destes sujeitos no processo de reabilitação, representa uma possibilidade concreta e viável de expandir o tratamento fisioterapêutico na Atenção Básica. Os agentes comunitários de saúde (ACS), por estarem convivendo cotidianamente com os usuários dos serviços fisioterapêuticos, têm melhores condições de acompanhar a realização freqüente das orientações apresentadas pelo fisioterapeuta, assegurando que elas sejam realizadas corretamente e de forma regular. As propostas de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária sempre se apresentam como tendo o objetivo de desenvolver ações que, além de reabilitar, também estejam voltadas para a manutenção da saúde, ou pelo menos, a prevenção de seqüelas, mas enfrentam dificuldades em encaminhar essas atividades. Questionamentos têm sido feitos a respeito da possibilidade de uma atuação de caráter preventivo. O termo preventivo é aqui utilizado para evidenciar uma intervenção mais precoce no processo saúde-doença, embora, a reabilitação também esteja incluída em um nível de prevenção. Na experiência do projeto Fisioterapia na Comunidade, essa dificuldade ficou evidente. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Iniciamos no projeto com o intuito de fazer ações preventivas para além da reabilitação, porém, à medida que o trabalho foi ficando mais conhecido, houve uma maior solicitação por parte das pessoas da comunidade e dos agentes de saúde, aumentando a demanda por reabilitação. Com isso, ficamos mais detidos no tratamento em detrimento das ações mais preventivas, pois havia uma necessidade sentida por esse tipo de assistência. Percebemos que, com esta atitude, corríamos o risco de estar reforçando a postura de atuação limitada à intervenção no nível da reabilitação, que desde o princípio buscávamos modificar, no sentido de também promovermos ações voltadas para a manutenção da saúde. Torna-se evidente que, para transpor os limites da reabilitação, tão enfatizada na formação do fisioterapeuta, precisamos superar os limites impostos pela escassez de recursos materiais e de profissionais nas unidades básicas de saúde. É necessário, ainda, um maior empenho na organização de ações mais preventivas, de modo a priorizá-las num contexto em que há uma demanda gritante por atendimento de reabilitação. É esse esforço que se percebe nos relatos das experiências de serviços da rede básica que estão implantando a Fisioterapia. Desse modo, em meio aos questionamentos daqueles que buscam novas formas de atuação para a profissão, além da reabilitação, novas possibilidades vão se delineando. Na estruturação desses serviços, as ações vão se organizando em torno de temas específicos, selecionados, freqüentemente, em função da demanda local. Percebe-se, assim, que em algumas experiências há um direcionamento à atuação com idosos, em outra, são desenvolvidas ações mais voltadas à criança ou aos hipertensos etc. Durante esse tempo em que desenvolvemos o projeto Fisioterapia na Comunidade, várias possibilidades de atuação se apresentaram para a Fisioterapia nos espaços de Atenção Primária em Saúde (APS), somadas à reabilitação. O trabalho com a Escola de Posturas é a atividade que vem acontecendo de forma mais regular. Apesar da dificuldade de difundir melhor a proposta na comunidade, aos poucos os participantes vão fazendo sua divulgação, ao sentir os resultados que essa atividade proporciona. A orientação postural tem sido 315 realizada em alguns espaços como ruas da comunidade, escola e grupo de idosos. Essas são atividades com as quais a Fisioterapia já está bastante familiarizada e que estão presentes na maioria dos relatos de atuação na Atenção Básica, buscando prevenir ou minimizar os problemas decorrentes das disfunções posturais. O conhecimento relativo à orientação postural vem sendo bastante discutido e praticado nos cursos de Fisioterapia, destacando-se enquanto abordagem de cunho mais preventivo num panorama curricular essencialmente direcionado à reabilitação. Esse fato vem exercendo forte influência na atuação do fisioterapeuta na APS, na medida em que as atividades de orientação postural têm representado um ponto de partida para ações preventivas. Em um contexto em que o fisioterapeuta trilha novos caminhos e busca construir modalidades de intervenção, que possam se integrar a uma perspectiva de manutenção da saúde, essa atividade se consolida como uma possibilidade de atuação. Isso se torna bem evidente quando comparamos o desenvolvimento de atividades de orientação postural com a integração da Fisioterapia em outras ações, a exemplo do trabalho com hipertensos e com gestantes, cuja abordagem na formação acadêmica é mais recente e ainda incipiente. Nessas atividades, a atuação da Fisioterapia ainda está se consolidando e, muitas vezes, os papéis do fisioterapeuta e do educador físico se confundem na medida em que ambos trabalham com exercícios visando a manutenção da saúde. Constata-se, assim, que a atuação do fisioterapeuta na Atenção Primária pressupõe uma adequação de sua prática à realidade desse nível de atenção à saúde e às necessidades da população. Requer, também, uma reflexão contínua de suas ações, no sentido de uma práxis que possibilite que, ao trilhar esses caminhos, o profissional possa delinear novos contornos de atuação. Limitações para a atuação da Fisioterapia na Atenção Primária à Saúde No processo de construção da atuação da Fisioterapia na Atenção Primária à Saúde (APS), vêm surgindo dificuldades que, de certa forma, são próprias de uma nova forma de atuação profissional. Algumas dificuldades dizem respeito à possibilidade de oferta de 316 serviços de fisioterapia na Atenção Básica, enquanto que outras são referentes à formação acadêmica do fisioterapeuta que, não priorizando essa abordagem, forma profissionais despreparados para atuar nesse nível de atenção à saúde. Do ponto de vista da oferta de serviços, uma das dificuldades diz respeito ao entendimento dos gestores de saúde quanto a disponibilizar serviços de fisioterapia na rede básica. Discutindo essa questão, um fisioterapeuta fez a seguinte afirmação: os gestores falam de interdisciplinaridade, mas na hora de aplicar os recursos querem economizar. É inviável, na lógica do sistema, ter fisioterapia em todas as unidades básicas de saúde. Isso traduz uma grande contradição no sistema de saúde. Desde a Conferência sobre Cuidados Primários em Saúde em Alma-Ata (Relatório de Alma-Ata, 1978), que se traçou como meta para solucionar os problemas de saúde dos países subdesenvolvidos, um maior investimento na APS. Revela, também, as distorções a que são submetidas as soluções apontadas nestes encontros, em decorrência da falta de prioridade para as políticas sociais. Que maior investimento é esse, que após mais de 20 anos não se conseguiu estruturar as unidades básicas de saúde (UBS), com o mínimo necessário a oferta de um atendimento digno à população, tanto do ponto de vista de recursos materiais quanto de profissionais? Considerando o que é chamado de a lógica do sistema, fica realmente difícil, com os recursos que atualmente são destinados à Atenção Básica, oferecer serviços de fisioterapia. Precisamos analisar a situação das pessoas que necessitam de atendimento fisio terapêutico, que é um tipo de tratamento contínuo, ou seja, que requer diversas sessões por um tempo razoavelmente longo, em serviços que estão agrupados em centros de reabilitação, distante da residência dos usuários, tendo listas de espera enormes. Como poderão essas pessoas ter acesso ao atendimento de Fisioterapia, se a lógica do sistema inviabiliza a existência de fisioterapia nas UBS, que são os serviços mais próximos e mais acessíveis aos usuários? Quem conhece a realidade das pessoas que moram nos bairros de periferia e nas favelas, sabe da dificuldade que é o deslocamento de uma pessoa que tem uma deficiência física mais grave para os serviços de fisioterapia. Todo Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 portador de deficiência física, mesmo residindo em bairros mais centrais, já encontra muita dificuldade de se deslocar em função das barreiras arquitetônicas. Na periferia o problema se agrava, pois as ruas, que em muitas áreas são becos bastante acidentados, impedem o acesso de automóveis e dificultam o deslocamento em cadeiras de rodas. Não há como falar em eqüidade na oferta dos serviços de fisioterapia, num contexto de diferenças sociais tão marcantes. As dificuldades de acesso a esses serviços são infinitamente maiores para os sujeitos das camadas populares, de modo que o processo distributivo tem que ser necessariamente desigual, requerendo uma discriminação positiva a fim de que se possam reduzir as desigualdades [2]. Isso significa que, na implantação de novos serviços de fisioterapia, devem ser adotados critérios de distribuição dos mesmos, que venham a beneficiar prioritariamente as pessoas que têm maior dificuldade de acesso a eles. No que se refere às dificuldades de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária relacionadas à formação acadêmica do fisioterapeuta, observa-se que essa formação não o prepara e nem o incentiva a atuar nesse nível de atenção. Esta formação é direcionada, principalmente, para o atendimento em centros de reabilitação e hospitais, num enfoque eminentemente voltado à reabilitação, e com uma estrutura curricular preocupada com a abordagem de doenças que deixam seqüelas reabilitáveis. Os relatos dos estudantes entrevistados evidenciam bem essas dificuldades decorrentes da escassa experiência na Atenção Básica durante o percurso acadêmico. A dificuldade do fisioterapeuta em desenvolver as atividades na Atenção Básica se apresenta, inclusive, na reabilitação, por conta da escassez de recursos terapêuticos. A parca ou inexistente experiência de atuação na rede básica, encontra elevado número de fisioterapeutas despreparados para atuar nesse nível, estando capacitados a atuar em serviços melhor estruturados em termos de recursos. Isso tem ocasionado uma certa imobilidade nesses profissionais, pois se sentem limitados na realização do tratamento fisioterapêutico naquelas circunstâncias. Soma-se a isso, a dificuldade que é lidar com a nova realidade Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 do atendimento domiciliar numa comunidade pobre. Além do fato desses profissionais não estarem preparados para essa atuação, existe o aspecto de que eles costumam ver, como modelo legítimo de prática profissional, os serviços com muita tecnologia, causando frustração a atuação na APS, pois é um trabalho que costuma ser desvalorizado socialmente, financeiramente e marcado pela escassez de recursos [12]. Imaginemos um profissional que passou cerca de cinco anos na universidade, aprendendo e praticando métodos e técnicas de reabilitação. Esse sujeito aprendeu a aplicar os diversos recursos terapêuticos aos quadros clínicos com que se depara, executando-os nos espaços próprios com relativa infra-estrutura, buscando o máximo de habilidade na execução da técnica e sem muita percepção das condições de vida do cliente. Indo para serviços de rede básica, o fisioterapeuta é deslocado daquele espaço conhecido de atendimento, onde contava com recursos que facilitavam o procedimento. Situa-se, agora, mais próximo da realidade daquelas pessoas, deparando-se com questões que aparentemente não dizem respeito a sua profissão. Há uma peculiaridade do tratamento fisioterapêutico que é a continuidade que ele tem nos casos mais crônicos, fazendo com que haja um contato permanente e contínuo entre o profissional e os clientes. Então, quando esse profissional é requisitado para atender pessoas no domicílio, ele se vê forçado a conviver com os problemas daquela família e da comunidade e, se antes, em outros espaços, já se favorecia a formação de vínculos afetivos entre eles, agora esses vínculos se ampliam para a família e a comunidade. Isso o leva a se envolver com os seus problemas, suas alegrias e conflitos, o que muitas vezes causa angústia no profissional e o distancia dos usuários. Essa aproximação, ao mesmo tempo em que pode aprofundar os vínculos, também torna mais evidentes as diferenças de classe, de crenças e de valores entre o profissional e as pessoas da comunidade, podendo ocasionar em alguns profissionais uma aversão a posturas que favoreçam uma aproximação maior. Outra dificuldade é na definição do papel do fisioterapeuta na prevenção primária. O trabalho na rede básica pressupõe uma atuação que não se limite à prevenção em nível terciário, mas também, e principalmente, a realização de 317 atividades de promoção e proteção da saúde. Embora a produção científica da Fisioterapia na área de Atenção Primária seja ainda reduzida, encontram-se relatos de experiências de atuação nesse espaço, e alguns retratam exatamente essa dificuldade. Afonso [1], no artigo Fisioterapia na Atenção Primária, coloca o questionamento, que surgiu na experiência por ela relatada, de como se poderia trabalhar com prevenção primária, considerando-se o contexto da situação de saúde do país e o objeto de estudo e trabalho do fisioterapeuta, que é voltado principalmente para o curativo, a reabilitação. Ela observa que a formação discente parece não estar voltada para a questão da prevenção, mas sim, prioritariamente, para as técnicas de tratamento reabilitadoras. Evidencia-se, desse modo, uma indefinição por parte dos fisioterapeutas de qual o seu papel no nível primário de prevenção em saúde. Na prática de atuação na Atenção Básica, a limitação na atuação do fisioterapeuta à reabilitação envolve, ainda, outros fatores, dentre eles: o número insuficiente de profissionais disponíveis, a urgência de tratamento para pessoas com seqüelas, que acaba forçando uma priorização do tratamento em detrimento da prevenção e o tempo despendido no atendimento fisioterapêutico. Entretanto, a dificuldade que este profissional tem em valorizar a importância da sua atuação, no sentido de prevenir tanto quanto reabilitar, também tem grande influência nessa restrição. Apesar dessa limitação, já há atualmente uma tentativa de revisão e alargamento dessa perspectiva, através da atuação visando também à promoção e manutenção da saúde. A própria definição atual da Fisioterapia, sendo como a ciência da saúde voltada ao estudo, prevenção e terapêutica dos distúrbios cinéticos funcionais de órgãos e sistemas do corpo humano [6], já significa um avanço, uma vez que faz referência à prevenção de distúrbios no corpo humano e não apenas ao tratamento dos mesmos, como tínhamos anteriormente, quando a Fisioterapia era definida apenas como tratamento de pacientes incapacitados por doenças, traumatismo ou perda de uma parte do corpo, através de exercícios terapêuticos, calor, frio, água, luz, eletricidade, ultra-som ou massagem [10]. Entretanto, na prática, a ênfase maior ainda é para o tratamento de seqüelas. 318 Considerações finais A pesquisa proporcionou uma maior clareza quanto às possibilidades de atuação da Fisioterapia na Atenção Primária (APS), no sentido de que possam ser desenvolvidas ações de promoção, manutenção e recuperação da saúde. Embora a formação acadêmica seja deficiente nesse sentido, percebe-se, nos relatos de experiências de Fisioterapia na APS e na atuação do projeto Fisioterapia na Comunidade, que os fisioterapeutas inseridos neste nível de atenção, estão construindo um caminho de atuação que busca uma diretriz em torno da manutenção da saúde. Um exemplo disso, é a semelhança entre essas atuações, que vão desenvolvendo ações de reabilitação, ao mesmo tempo em que buscam integrar-se aos programas já existentes nos serviços, como o programa de diabetes, hipertensão, hanseníase, entre outros. Nessa construção, a orientação postural tem se mostrado como o espaço de prevenção, onde o fisioterapeuta se sente mais à vontade para desenvolver suas atividades, visando à manutenção da saúde, estando presente em praticamente em todos os trabalhos de prevenção. Em meio aos limites e possibilidades de atuação da Fisioterapia na Atenção Básica, estão os sujeitos das classes populares, excluídos do acesso adequado ao cuidado com a sua saúde. Cohn [4], afirma que: Neste país cabe às populações socialmente condenadas elaborar a sua capacidade de utilização da rede, precária e eternamente insuficiente, para ter acesso à assistência à doença, reiterando a sua condição de desigualdade para ajustar modos próprios de acessibilidade a serviços de difícil acesso, para à sua maneira conquistar o direito à saúde. No tocante à Fisioterapia, essa elaboração da utilização dos serviços por parte da população acaba sendo mais complicada, pois, além do desconhecimento que ainda há em relação a esse tratamento, existe uma reduzida oferta de serviços e uma dificuldade de deslocamento dos usuários. Isso tudo resulta no aumento da limitação física, na medida em que as seqüelas Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 vão se agravando, e em uma vida já repleta de limitações, decorrentes das condições sócioeconcômicas, esse sujeito se vê privado de mais um direito, o de locomover-se. Enfatizamos que, na organização da Fisioterapia na Atenção Primária, é necessário um redirecionamento e uma reorientação da prática fisioterapêutica, no sentido de adequar as atividades, considerando a disponibilidade de profissionais e as necessidades locais, para que ações preventivas e curativas possam ser desenvolvidas de modo a atender as necessidades da população. Referências 1. Afonso JL. Fisioterapia na Atenção Primária em Saúde. Ícone 1994; 2: 45-75. 2. Almeida C. Saúde e Eqüidade nas Reformas Contemporâneas. Saúde em Debate 2000; 24:6-21. 3. Brasil, Ministério da Saúde. Manual para Organização da Atenção Básica. Brasília, 1999. 4. Cohn A. et al. A Saúde como Direito e como Serviço. 2ª edição. São Paulo: Cortez; 1999. 5. Medina MG, Aquino R, Carvalho ALB. Avaliação da Atenção Básica: construindo novas ferramentas para o SUS. Divulgação em Saúde para Debate 2000; 21: 15-28. 6. Menezes RG. Entrevista à Revista Fisio&Terapia 1998; 2: 12-14. 7. Minayo M C S. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 5ª edição. São Paulo Rio de Janeiro: HUCITEC ABRASCO; 1998. 8. O Coffito. São Paulo, set/2000. Trimestral. 9. O Coffito. São Paulo, mar/2001. Trimestral 10. Shestak R. Fisioterapia Prática. 3ª ed. São Paulo: Manole;1980. 11. Spink MJ. Desvendando as Teorias Implícitas: uma metodologia de análise das Representações Sociais. In Guareschi PA , Jovchelovitche S (orgs). Textos em Representações Sociais. 2ª edição. Petrópolis: Vozes; 1995. 12. Vasconcelos EM. A Medicina e o Pobre. São Paulo: Edições Paulinas; 1987. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 319 Artigo original Prática sensório-motriz construtiva: Efeitos no desenvolvimento de prematuros com disfunções neuromotoras Constructive sensory-motor practice: Effects in the motor development of premature infants with neuromotor dysfunctions Vernon Furtado da Silva*, Maria do Céu**, Marco Antonio Guimarães da Silva*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Ph.D, **Mestranda em Ciência da Motricidade Humana, *** Ph.D, Universidade Castelo Branco-RJ Palavras-chave: Intervenção neonatal, disfunções neuromotoras, desenvolvimento motor, prematuridade. Resumo Teorizado a partir de fundamentos associados a neuroplasticidade humana, o presente estudo investigou algumas das possíveis relações entre intervenções efetivadas, através de exercícios com grande ênfase em efeitos sensoriais e organizações construtivas, e um método tradicional na reabilitação de disfunções neuromotoras de neonatos com história de síndrome hipóxico-isquêmica. Os pontos referenciais para análise sobre ganhos advindos das referidas intervenções, foram às etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor do neonato em relação específica com a Escala de Denver. O pressuposto substantivo definiu a possibilidade de que o primeiro tipo de intervenção pudesse ser mais efetiva do que a segunda, desde que aplicada imediatamente após o diagnóstico do mal (UTI), do que tardiamente como na forma tradicional de aplicação (após o 3º mês de vida do neonato). Participaram do estudo 69 pré-termos nascidos abaixo de 36 semanas e que no exame neurocomportamental (com testagem voltada para o tônus muscular e movimentação espontânea), apresentaram sinais de lesão do sistema nervoso central associada à condições de hipertonia, resistência à movimentação passiva, clónus e reflexos patológicos, além de história de síndrome hipóxico-isquêmica. O programa foi implementado até que os bebês adquirissem a marcha ativa. Os dados obtidos na entrada (seqüencial) e pós-programa (trimestralmente), foram tratados através de análise qualitativa (não Artigo recebido em 20 de agosto de 2002; aprovado em 30 de agosto de 2002 Endereço para correspondência: Prof. Vernon Furtado da Silva, Universidade Castelo Branco/Mestrado Av.Santa Cruz, 1631 - Realengo 21710-250 Rio de Janeiro RJ 320 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 paramétrica) e tendo como referência às aquisições motoras aprendidas. Uma análise de variância com instrumentação não paramétrica (Kruskal Wallis Test), revelou significância estatística entre os dados de entrada e saída do grupo, em todos os trimestres da aplicação do programa, sendo p < 0.05 em todas as avaliações. Os dados em termos da recomposição da normalidade motriz dos neonatos revelaram um valor de 95,6%, referente a 66 dos pré-termos ingressos no programa. Uma outra avaliação efetivada aos 12 meses, mostrou que desenvolveram a marcha ativa com padrões de postura estática e dinâmica dentro da referência normal, além de normalidade do mecanismo reflexo postural (reajuste automático), previamente diagnosticado como anormal. Os restantes pré-termos (4,4%) não apresentaram ganhos desenvolvimentistas, persistindo neles os sinais patológicos antes identificados. Estes resultados foram discutidos, como fornecendo suporte sobre a importância da: 1) Prática de exercícios com metodologia construtivista e 2) imediata aplicação deste tipo de prática, para a obtenção de resultados positivos na recuperação motriz de neonatos portadores de disfunções neuromotoras ao nascer. Key-words: constructivist, neural-motor dysfunction, motor development, premature. Abstract Based upon the cerebral neuroplasticity notion, the present study investigated the effects of constructive sensory motor practices on the motor development of premature babies who underwent neuromotor disfuctions. The basic rational was that the effects of the intervention would be effective if the program would be applied in a immediate post born basis. The subjects were 69 premature infants with age up to 36 weeks and diagnostic of lesion in the central nervous system. The Dever scale for infant motor development as the referential point for evaluation of the gains obtained within the sensory motor program application. That program was applied until the subjects could actively walk. The pre and post program datum were studied through no parametric statistics (Kruskal Wallis Test). The results of the analysis indicated statistically significant gains in most of the factors under investigation (including muscle tonus, resistance to passive movement, clónus, and pathologic reflexes) with at least p< 0.05 for all the comparisons made. Comparing the results with the data for the normal population it was shown that of the total infants 95,6% reached that point of normality (66 infants). An other evaluation that was realized 12 months after revealed that all those developed gait with normal pattern of posture (static and dynamic) and normal reflexes for posture automatic mechanical organization. The remaining 4,4% infants do not presented considered developmental gains an the pathologic sights remained in their motor behavior. The results were discussed as an indication for the importance of : 1) the constructive sensory motor practice and, 2) immediate intervention of such practices for motor development of infants born with neuromotor dysfunction. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Introdução No desenvolvimento motor da criança, a formação de esquemas associados, possibilita uma base referencial para o seu desenvolvimento geral, condições dependentes, em grande parte, da maturação do sistema nervoso como um todo e do contexto ambiental deflagrador dos estímulos, aos quais os seus receptores sensoriais alcançam. Desenvolvimento, neste sentido, define-se através de sensações percebidas pelo cérebro, estrutura integradora e consolidadora das múltiplas experiências corporais que ela experimenta em relação ao seu ambiente circundante. Devido a grande quantidade de estruturas centrais associadas à motricidade humana (e de outros animais), qualquer lesão em uma destas estruturas, pode interferir no desenvolvimento e performance motriz do seu portador, fato demonstrado em uma infinidade de casos médicos. Lesões neurais têm, quase sempre, relações de temporalidade e intensidade que geralmente determinam a dimensão dos seus efeitos maléficos. Por exemplo, em alguns casos, uma lesão que poderia ter um pequeno efeito em uma pessoa adulta, interfere de forma massiva sobre as mesmas funções em um indivíduo bem mais jovem, ou vice-versa. E, dependendo, também, da intensidade da lesão, ela pode ter efeitos muito mais graves em organismos pouco desenvolvidos do que em outros com desenvolvimento mais avançado. Esta regra se aplica, portanto, a bebês que adquirem lesões do sistema nervoso central (SNC). Principalmente os prematuros, que quase sempre passam por problemas que interferem no seu desenvolvimento neuropsico-motor e favorecem o aparecimento de disfunções neuromotoras, que alteram a sua motricidade em várias dimensões [2,7,9, 14,19,35,37]. Estas lesões podem acometer um dos hemisférios cerebrais ou os dois conco mitantemente, designando, assim, os quadros manifestos de hemiparesias, diplegias ou quadriparesias, as quais também podem vir acompanhadas de distúrbios associados. Dentre eles, se incluem o déficit da cognição, da visão, epilepsia, deficiência mental e microcefalia (às vezes, com atrofia dos lóbulos frontais), conforme explicado por vários autores desenvolvimentistas [4,2,18]. 321 Assim sendo, quando os complexos mecanismos que abrangem a motricidade humana são de alguma forma alterados por disfunção, quase sempre surge à manifestação de uma motricidade reflexa patológica, que normalmente promove o aparecimento de padrões de posturas e movimentos anormais, os quais, impedem parcialmente a formação devida dos esquemas motores, que normalmente desenvolveriam se não fossem os problemas citados. A literatura desenvolvimentista mostra que os bebês que nascem prematuramente, são mais susceptíveis a lesões do SNC, em todos os períodos de nascimento (pré, péri ou pósnatal), do que os bebês normais. Isto em virtude da imaturidade daquele sistema e da fragilidade da rede vascular cerebral responsável, em grande parte pela nutrição das células nervosas, que compõem o referido sistema. Graças à alta tecnologia implantada nas unidades de terapia intensiva (UTI) neonatais e a formação cada vez mais adequada dos profissionais na área da saúde, a população de bebês sobreviventes a prematuridade aumentou significativamente nestes últimos anos [43] e, concomitantemente, também o número de bebês de alto risco que sofreram a síndrome hipóxico -isquêmica decorrente da anóxia neonatal. Segundo pesquisas americanas, aproximadamente 25% a 30% dos prematuros de alto risco, desenvolvem alguma forma de disfunções neuromotoras nos primeiros meses de vida [22]. Esta pesquisa foi reafirmada no congresso da Organização Mundial da Saúde, realizado em 2000, na cidade de Berlin. A prematuridade, como amplamente divulgado, tem diversas etiologias que não foram abordadas neste estudo, uma vez que o enfoque de interesse aqui se limita a casos de recém-natos pré-termo e com idade cronológica abaixo de 36 semanas. Ou seja, indivíduos apresentando imaturidade dos sistemas necessários a sobrevida, frágeis e expostos às limitações impostas pelas lesões cerebrais, decorrentes da síndrome hipóxicoisquêmica, causa comum da morte dos neurônios da área acometida. Quando esta atinge as áreas motoras 4 e 6 de Brodman, os núcleos da base e/ou o cerebelo, a manifestação clínica emergente é caracterizada por alteração de tônus e persistência dos reflexos primitivos, 322 fato que conduz o neonato ao desenvolvimento de padrões motores anormais, em aprendizado de consolidação reflexa patológica [11,12,13,14,19,33]. Uma estratégia adequada para prevenir esta instalação indevida, seria uma intervenção que pudesse colaborar com a exercitação mais exacerbada dos organismos pressupostamente reguladores da motricidade associada. Estratégias deste tipo fazem parte dos protocolos de intervenção neonatal que já foram propostos [1,8,10,24,26, 30,32,36,39]. Entretanto, em sua maioria, estes protocolos tendem a ser demasiadamente passivos, fato que provavelmente não permite uma procedência mais construtiva do sistema implementador e regulador das ações motrizes regulares do bebê, o seu cérebro. O princípio da intervenção, através de exercícios sensório-motores desde o nascimento, normalmente se apóia na escala do desenvolvimento do comportamento neuromuscular descrita por Fonseca [20], na qual afirma que o período de desenvolvimento da mielinização das vias medulocerebelosas e medulotalâmicas, ocorre na 28ª semana após a concepção e, também, nos princípios da plasticidade neuronal, que estabelece determinados períodos do desenvolvimento neonatal, como altamente receptivos a intervenções deste tipo [3,25,28,40,42]. Estudos recentes também sugerem que o período mais importante para o desenvolvimento motor axial, começa antes do nascimento e termina aproximadamente aos 5 anos de idade [23]. Estas janelas abertas em determinados momentos do desenvolvimento do neonato, oferecem uma grande oportunidade para um trabalho interventivo sobre algumas das funções do sistema nervoso, que são normalmente alteradas em decorrência de acidentes de nascimento ou outro de iguais proporções. Considerando-se, pois, o direcionamento da literatura baseada no construtivismo desenvolvimentista, que enfatiza a necessidade da exercitação do pensar e do elaborar da mente em forma ativa, este estudo se propôs a observar se um programa de atividades sensório-motrizes, desenvolvido através de vivências ativas do bebê e viabilizado antes da instalação dos esquemas mentais próprios àquele momento de vida, poderia sobrepor os ganhos em normalidade motriz que outros programas normalmente conseguem alcançar. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Método e instrumentos População e amostra A população deste estudo foi composta de bebês prematuros que necessitaram de cuidados especiais, tendo que permanecer na UTI neonatal do Hospital Alcides Carneiro do Município de Petrópolis. Foi realizada uma amostra ocasional estratificada, composta por (N= 69) bebês pré-termos, nascidos abaixo de 36 semanas, que no período neonatal sofreram a síndrome hipóxico -isquemica (anóxia), apresentando no exame neurocomportamental, sinais de lesão do sistema nervoso central caracterizado através de anomalias, tais como hipertonia, resistência à movimentação passiva, clônus, reflexos patológicos, ausência de reflexos e reações normais à idade. Instrumentos de avaliação Na presente pesquisa, foram utilizados os seguintes testes como instrumentos de avaliação: a) Escala de sinais neurológicos de Moosa e Dubowitz [34]. Consistido de 10 itens: 1- Observação da postura em supino; 2- Verificação da extensibilidade do punho; 3- Dorsiflexão do pé; 4- Retorno da flexão do braço; 5- Retorno da flexão da perna; 6- Ângulo poplíteo; 7- Calcanhar-orelha; 8- Sinal do cachecol; 9- Puxado para sentado observar a queda da cabeça; 10- Suspensão ventral, foi substituída pela observação da postura em prono. b) Teste de tônus muscular do conceito Bobath [2]. Trata-se de um teste de alta validação (validação lógica), editada por Berta Bobath, desde os anos 50, e ainda preconizado em todos os cursos de aperfeiçoamento do Conceito Neuroevolutivo, com reconhecimento mundial, pois é utilizado nos cinco continentes como instrumento de avaliação de tônus muscular por todos os NDTs (terapeutas do conceito neuroevolutivo, Bobath). Tanto como critério de avaliação clínica, quanto em estudos de pesquisa na área. Este teste se propõe a identificar se há presença de resistência ou Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 hiper-mobilidade na movimentação passiva dos seguimentos corporais. Ele pode ser executado e analisado em concomitância com o teste de Moosa e Dubowitz [34]. c) Teste de reflexos primitivos, cuja tabela referencial foi elaborada pelos autores: AndréThomas, Dargassies, Illingworth e Minkowski. Mais de 70 reflexos primitivos já foram detectados no período neonatal [20]. Porém, foram selecionados os mais significativos em termos de ontogênese da motricidade. Tais como: 1- Moro; 2- Gallant; 3- Reflexo Tônico Cervical Assimétrico; 4- Reação positiva de suporte; 5- Marcha automática; 6- Preensão palmar e plantar; 7- Reação cervical de retificação; 8- Reação corporal de retificação; 9Reação labiríntica de retificação; 10- Landau; 11- Reação de extensão protetora dos braços para frente, para os lados e para trás; 12- Reação de colocação dos braços e das pernas; 13Astasia; 14- Sucção. Esta tabela tem validade lógica, sendo utilizada como instrumento de avaliação por todos os profissionais desenvolvimentistas. d) Escala Evolutiva do Desenvolvimento Motor de Denver (revisto por Frankenburg e Dodds [15]), tendo sido utilizado somente o protocolo do desenvolvimento motor (assunto pertinente da pesquisa). Este preconiza que o bebê deve apresentar as etapas neuroevolutivas do desenvolvimento motor: controle da cabeça entre o 3º/5º mês; sentar sem apoio entre o 6º/ 9º mês; engatinhar entre o 8º/11º mês e andar sozinho entre o 12º/14º mês. Esta escala obteve validade por critério, com índice de 0.94 [18]. Procedimentos · De diagnose Foi aplicado o teste de Moosa e Dubowitz [34] na UTI-neonatal, teste de tônus muscular (Bobath), pesquisa dos reflexos primitivos, análise da tabela do Ballard, para indicar a idade cronológica do pré-termo e as condições de nascimento através do Apgar. Obedeceu-se, no estudo, um critério de exclusão, no qual todos os RN que não apresentaram os sinais acima mencionados foram dispensados da continuidade do programa. · Procedimentos de intervenção O programa de exercícios sensório-motores foi iniciado na UTI intermediária, depois no alojamento (materno infantil), sendo feito duas 323 sessões semanais, respeitando o estado geral do RN, principalmente os estados da consciência [27]. Após a alta hospitalar, no 1º mês de tratamento ambulatorial foi feita uma sessão semanal. A partir do 2º mês foram feitas duas sessões semanais. As sessões intervencionais até os 6 meses de idade corrigida, tiveram o tempo de duração de 30 minutos, onde o principal objetivo foi a normalização do tônus e a entrada das reações automáticas. Após os 6 meses tiveram a duração em média de 40 minutos, em conjunto com outros educadores, cada qual com um bebê, onde as idades variaram de 6 a 12 meses; nesta fase se estabelece o processo intervencional, objetivando o ganho das etapas do desenvolvimento motor, inerentes a idade corrigida do bebê. O educador exerceu dois papéis fundamentais: de facilitador do movimento propriamente dito, e facilitador da interação do bebê com o objeto, com o outro, e com o meio, sendo por tanto facilitador da motricidade. Estes prematuros, após receberem alta fisioterapia por volta de 13 meses de idade corrigida, foram mantidos em follow-up com retestagem aos 18 meses, aos 2 anos, aos 3 anos, aos 4 anos e aos 5 anos, para controle dos padrões motores. Tratamento estatístico Os dados obtidos na entrada (seqüencial) e pós-programa (trimestralmente), foram tratados através de análise qualitativa e não paramétrica, sobre avaliações trimestrais, tendo como referência as etapas motoras apreendidas, segundo a escala do desenvolvimento motor proposta por Denver. Resultados e discussão Em primeira instância, convém observar o quantitativo de entrada e saída do programa experimentado pela pesquisa, que demonstra uma satisfatória permanência dos prematuros dela participantes, conforme pode se observar através de uma inspeção da figura 1. A análise de variância Chi2, previamente definida para quantificar os dados resultantes da experimentação, revelou significância estatística entre os dados de entrada e saída dos membros 324 Fig.1 - Descreve o quantitativo de prematuros que iniciaram, permaneceram e/ou abandonaram o programa interventivo. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Fig. 2 - Resultado do Programa de Intervenção Motora Essencial no Grupo de bebês prematuros, considerando-se a ausência e/ou permanências dos padrões patológicos verificados antes do programa interventivo (período de Junho /95 a Junho/2000). do grupo a cada trimestre da aplicação do programa. Os índices das comparações trimestrais indicaram significância sucessiva em termos de p < 0.05 em todas as avaliações. Os dados, em termos percentuais finais, foram de 66 pré-termos (95.6%), apresentando normalidade Considerando -se que os resultados de nas etapas do desenvolvimento motor no período programas tradicionais de intervenções em proposto na escala de Denver, aos 12 meses de bebês prematuros, que sofrem problemas idade corrigida, tendo como referência a marcha hipóxicos-isquêmicos têm se mostrado de ativa do neonato. Esta normalidade foi demonspouca valia, os presentes resultados, sem trada em eventos de postura estática e dinâmica dúvida, indicam uma situação bastante dentro da referência normal, além de presença diferente em termos da reabilitação deste tipo normal do reflexo postural (mecanismo de de criança. Ou seja, o programa de intervenção reajuste automático) dos bebês. Do grupo que aqui experimentado, se aplicado aderiu totalmente ao programa, somente 3 préimediatamente após o nascimento, pode ser um termos (4.4%) não revelaram os padrões da instrumento de garantia à eficácia terapêutica normalidade (figura 2). necessária em trabalho de reabilitação neural, Comparativamente à Escala de Denver, os em ocorrências desta natureza. dados acima se posicionaram conforme apresentado na figura 3, considerando-se a Conclusão comparação entre os dados pré (a) e pós (b) programa, obtidos através de sua Utilizando como base os resultados oriundos operacionalização. deste estudo preliminar, pode-se concluir que Na Figura 3, estão plotados os dados a intervenção promoveu a reabilitação total dos referentes aos ganhos observados sobre os padrões motores associados aos atos de andar, fatores sentar, engatinhar e andar, ocorridos engatinhar e sentar dos pré-termos durante/entre o período pré e pós-programa. participantes do presente estudo. O trabalho Dela, pode-se observar que as etapas do interventivo provavelmente facilitou os desenvolvimento motor dos bebês, que no teste mesmos, a condição de desenvolver as etapas inicial apresentaram sinais da síndrome hipóxico-isquêmica, se desenvolveram, com Figura 3. Dados comparativos a entrada do grupo no Programa (a) e do efeito do Programa sobre efetividade, na mesma os fatores do sentar (Desenv.1), engatinhar (Desenv.2) e andar (Desenv.3) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 decorrência cronológica que a dos bebês normais Sentar (se comparada à Escala Engatinhar de Desenvolvimento Andar Meses 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 proposta por Denver). Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 neuroevolutivas necessárias ao desenvolvimento motor normal. Se faz necessário estressar o fato de que os problemas neuromotores implícitos nas condições motrizes do grupo aqui estudado, não estavam associados a déficit cognitivo, microcefalia frontal, epilepsia fora de controle e/ou outras síndromes similares. Com a implementação do programa, ocorrendo desde a UTI neonatal, foram otimizadas condições junto a integração dos reflexos primitivos, inibição total da espasticidade e dos reflexos patológicos, prérequisitos para um desenvolvimento normal do aprendizado inerente ao fluxo do desenvolvimento motor em qualquer criança. Importante também de se ressaltar é o fato de que a intervenção precoce, estabelecida na metodologia de intervenção aqui efetivada, contraria alguns princípios da reabilitação pediátrica tradicional, que propõe o início da intervenção somente a partir do 3º ou 4º mês de vida do neonato. O princípio desta restrição, apóia-se na possibilidade de que uma intervenção tão precoce pode ser agressiva ao SNC, condição não ocorrida nesta pesquisa. Apesar disto, como já enfatizado, a tendência benéfica da intervenção realizada não foi extensiva a um grupo bem menor dos prematuros entrantes, cuja condição neuromotora observada estava associada a problemas emocionais, de cognição e epilepsia. De uma forma ampla, acredita-se que a eficiência deste trabalho tenha sido possível, em grande parte, ao fator precocidade de intervenção, uma vez que no início do programa de exercícios efetivados, o organismo neuromotor dos participantes, ainda não esquematizado as componências patológicas dos movimentos comuns a etapa evolutiva do momento e, conseqüentemente, das etapas posteriores. E que através da ampliação da arborização dendríticas, criada a partir de vivências experimentais construtivistas, os esquemas motores desenvolvidos puderam marcar o processo de (re)organização neural progressiva e extensiva o suficiente para normatizar o compêndio operacional da funcionalidade neuromotora dos prematuros, que persistiram durante todo o programa. Referências 1. Achenbach TM, Howell CT, Aoki MF, Rauh VA. Nine-Year Outcome of the Vermont 325 Intervention Program for Low Birth Weight Infants. American Academy of Pediatrics, Pediatrics. 1993;91:45-55. 2. Bobath K. A Neurophysiological Basis for the Treatment. London: Spastics International Publications Ltda, 1980. 3. Bussad VSR. Plasticidade e esteriotipia no desenvolvimento de padrões instintivos. Psicologia USP, 1995;6:195-230. 4. Bobath B, Bobath K. Motor Development in the Different Types of Cerebral Palsy. London: Willian Heinemann, 1975. 5. Bobath B. 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Resumo A presente pesquisa qualitativa na forma de estudo de caso, teve como propósito a utilização dos recursos hidrocinesioterapêuticos (método Bad Ragaz, Watsu) no tratamento da mielopatia esquistossomal, no período de dezembro de 2001 à março de 2002, objetivando-se o ganho funcional do paciente. Os dados analisados nos induzem a continuar estudando, aprimorando os conhecimentos dessas técnicas, adequando-as e até inovando-as, a fim de aproveitar, ao máximo, o potencial de recuperação do paciente, refletido em suas AVD´s, possibilitando-lhe melhor integração social. Abstract The present qualitative research as a study case had as intention the use of the hydrokinesiotherapeutics resources (method Bad Ragaz, Watsu) in the treatment esquistossomal mielopaty, in the period of December 2001 up to March 2002, objectifying the functional profit. The analyzed datas induce us to continue studying, improving the knowledge of these techniques, adjusting them and also innovating them, in order to take advantage, at most, of the potential of the patient recovery, reflected in their daily life activities, providing better social integration. Artigo recebido em 11 de julho de 2002; aprovado em 15 de agosto de 2002. Endereço para correspondência: Christianne Maria Silva Magalhães, Rua Gumercindo B. Dunda, 378/301 Bessa 58037-390 João Pessoa PB - tel.: (83)2460338 - e-mail: [email protected] 328 Introdução Neuroesquistossomose Estima-se que existem cerca de 10 a 12 milhões de brasileiros portadores de Esquistossomose Mansoni (EM). Trata-se de uma endemia com vários focos descritos nas regiões Sul (Paraná), Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo), Centro Oeste (Goiás) e, no Estado do Pará, na região Amazônica [1]. Atualmente, a EM pode ser encontrada em muitos países, através de viagens a áreas onde a doença é endêmica, como a África, Brasil e Caribe [2]. A neuroesquistossomose é uma evolução severa da infecção esquistossomal. Segundo Ferrari, o sistema nervoso central pode estar envolvido devido ao Schistosoma mansoni, Schistosoma haematobium e o Schistosoma japonicum; porém, o Schistosoma mansoni é a causa mais freqüentemente causa relatada de mielopatia esquistossomal; que ocorre após a deposição de ovos do parasita na medula espinhal ou após a instalação do próprio parasita na medula. As manifestações clínicas provenientes dessa infecção, formam uma tríade clássica, composta por: Dor, é o sintoma inicial na maioria dos pacientes. Os relatos citam que em 60 a 70% dos casos ocorre dor lombar, irradiada para os membros inferiores (MMII). Disfunção Vesical, depois da dor lombar, esse é o segundo sintoma mais comum, correspondendo a 24% dos relatos. Paresia dos MMII, alcançando 16% dos relatos, a paresia dos MMII com hiporreflexia ou arreflexia é o terceiro sinal presente no quadro clínico do portador de mielopatia esquistossomal. Hidroterapia É amplamente aceito que a hidroterapia possa ampliar a reabilitação da lesão medular. Giesecke [5], lembra que a terapia em piscina favorece os seguintes aspectos: redução da espasticidade e dor, favorece o fortalecimento muscular geral, o estado psicológico; desenvolve a amplitude de movimento articular e estado funcional, melhora o estado circulatório, metabólico, periférico, bem como, Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 a resistência aeróbica e o estado respiratório do paciente com lesão medular. Os efeitos da hidroterapia devem aproveitar ao máximo os princípios da física da água estacionária (hidrostática), e em movimento (hidrodinâmica), a fim de se favorecer sua racional aplicabilidade, implícita em técnicas efetivas. Usar essas propriedades (hidrostáticas e hidrodinâmicas) no tratamento do paciente lesionado medular, é um processo muito favorável, uma vez que a água desempenha parte do papel do fisioterapeuta, e favorece a realização de posicionamentos e atividades, que proporcionarão a evolução do seu quadro clínico funcional e fisiológico, uma vez que, na água, segundo lembra Campion [6], os efeitos fisiológicos inerentes ao exercício, influenciam os sistemas: circulatório, pulmonar, nervoso central-periférico, músculo-esquelético, além do sistema endócrino e renal. Metodologia Caracterização do estudo O presente trabalho descritivo em forma de estudo de caso, é baseado na aplicação de uma proposta de tratamento em hidroterapia, pretendendo estabelecer o acompanhamento funcional do paciente com mielopatia esquistossomal, observando a praticidade e os parâmetros do protocolo de tratamento, embasado na aplicação da hidrocinesioterapia, utilizando as técnicas de Bad Ragaz e Watsu [4]. Amostra Constituiu-se de um indivíduo com neuroesquistossomose medular, encaminhado à Fisioterapia, e acompanhado durante o período compreendido de dezembro de 2001 à março de 2002. Recursos materiais Para execução e documentação deste estudo foi utilizado um computador. Quanto a realização da assistência fisioterapêutica ao paciente, portador de distúrbio da marcha, foram utilizados os seguintes materiais: · Protocolo de tratamento; · Piscina; · Acessórios para terapia em piscina. Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Procedimentos · Foi esclarecido o propósito do estudo ao paciente, explicando seus benefícios e as condutas a serem tomadas durante o tratamento; · A solicitação de inclusão e permissão do indivíduo no referido estudo, foi conduzido através do seu conhecimento dos direitos humanos dos indivíduos nos experimentos médicos, bem como pela sua assinatura no termo de consentimento livre e esclarecido, conforme resolução 196 96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) de 10/10/96. Técnicas metodológicas A conduta fisioterapêutica aplicada ao paciente foi baseada no protocolo de tratamento hidroterapêutico. O protocolo de tratamento Aplicado à partir da avaliação fisioterapêutica, a proposta de tratamento compreendeu a utilização da hidrocinesioterapia, embasada em técnicas de Bad Ragaz, que empreendeu os padrões de rotação de tronco, extensão de joelho/quadril, além de abdução e extensão de quadril com extensão de joelho; como também Watsu, envolvendo atividades como a sanfona, dança da respiração na água e sanfona rotatória. Esta proposta de tratamento constou de duas séries, sendo conduzida durante 35 minutos a primeira, constituída por alongamentos e atividades com disposição variada de posicionamentos; e a segunda série, com duração de 15 minutos, envolvendo o relaxamento do paciente. Histórico e avaliação funcional inicial do sujeito de estudo O paciente, E.A.S, 37 anos, apresentava paresia dos MMII, com hiporreflexia patelar direita e aquiliana esquerda; mostrando dificuldade maior para a dorsiflexão do pé esquerdo e extensão do membro inferior esquerdo(MIE). Dificuldade para flexão e extensão do quadril e do joelho direito, como também, na execução de atividades da vida diária (AVDs): subir e descer degraus, sentar- 329 se e levantar-se da cadeira, do chão; além disso, apresentava hipotrofia da coxa direita e perna esquerda; comprometimento leve da sensibilidade, do equilíbrio, da coordenação, e disfunção vesical, parcialmente, sob controle. Proposta de um protocolo de tratamento hidroterapêutico Primeira série Hidrocinesioterapia n Posicionamento do paciente: paciente em ortostatismo è (água até a cintura) · paciente fazendo uso de um espaguete, à nível de 1/3 inferior da perna, e bóia no antepé, costas apoiada na parede e os braços na borda da piscina, alongar os isquiostibiais, fazendo uso da flutuabilidade. A perna de apoio pode estar semifletida. · paciente defronte à borda da piscina, segurar na mesma, com os braços estendidos. Posicionar-se a um passo para frente, de modo a encostar a superfície plantar e artelhos do pé na parede da piscina, enquanto, simultaneamente, inclina um pouco o seu tronco para frente, empurrar para baixo o seu pé de trás, contra-agindo com o empuxo, de modo a alongar a fáscia plantar e músculos da panturrilha. · agachar com as pernas abduzidas, de modo a flexionar os joelhos, vencendo o efeito do empuxo, trabalhando os músculos do quadríceps. Progressão: utilizar cinto de resistência para maximizar o efeito da flutuabilidade e/ou realizar o mesmo exercício com o nível imersão ainda menor. · com os braços na borda da piscina, lateralmente, realizar a adução dos MMII, com os joelhos em flexão, utilizando -se da resistência imposta pelo meio para contrair a região do períneo. Progressão: utilizar resistência manual na adução. n Marcha: (o paciente podendo fazer uso de bóia no antepé esquerdo) · Caminhar lateralmente Variação: fisioterapeuta realiza turbulência manual, contra-agindo contra o deslocamento do paciente. 330 Fisioterapia Brasil - Volume 3 - Número 5 - Setembro / Outubro de 2002 Progressão: caminhar lateralmente com a prancha sob a água, de modo que o maior raio de extensão do objeto esteja em contato com a água. · Ao dar um passo no fundo da piscina, paciente chuta, sem fazer uso da bóia no antepé, tentando aproveitar-se da flutuabilidade da água para realizar a dorsi-flexão do pé, de modo a realizar o contato desse calcanhar com o solo, trabalhando os dorsiflexores (tibial anterior). · Caminhar sobre os calcanhares, mantendo flexão-dorsal dos tornozelos. è (água ao nível do peito) · com um espaguete passando por baixo das axilas, flexionar os MMII em direção ao tronco inferior, trabalhando, concomitantemente, a respiração, favorecendo o trabalho da báscula, musculatura abdominal e flexora do quadril e joelho. Progressão: foram utilizadas caneleiras com carga · pés unidos, braços estendidos na lateral do corpo, saltar (fazendo uso da flutuabilidade assistida) e abduzir os quadris (uso da resistência do meio), voltando ao chão com afastamento lateral dos MMII, retornando a posição inicial (pés unidos). · em supino, espaguetes por baixo da axila, flexionar os MMII, levando - os para trás, modificando o decúbito para prono. Bad Ragaz Posicionamento inicial do paciente nas atividades 1 e 2: paciente em supino, quadris e joelhos estendidos bilateralmente · Disposição de bóias nas atividades 1, 2 e 3: o paciente posiciona-se com bóias à nível do segmento L5-S1 e ao nível do pescoço do paciente, que através da pega do terapeuta e do seu comando v