José Ursicino da Silva: Maestro Duda Elvira Mariah Ramos Silva Licenciada em Música - UFPE Pós-Graduanda do curso de Especialização em Cultura Pernambucana - FAFIRE [email protected] RESUMO: A tradição musical pernambucana, sempre teve as orquestras de frevo como elemento de representação, divulgação e valorização da música de Pernambuco e na rica atuação musical do maestro Duda, ressaltamos seu enorme significado na cultura pernambucana e sua influência determinante no surgimento atual de uma nova forma de se tocar o frevo. PALAVRAS-CHAVE: música de Pernambuco, frevo, orquestra Maestro Duda: Vida e Obra José Urcisino da Silva, mais popularmente conhecido como MAESTRO DUDA, instrumentista, compositor, arranjador e maestro, nasceu na cidade de Goiana, interior de Pernambuco, em 23 de dezembro do ano de 1935. Aos 71 anos de idade é um dos representantes das “Orquestras de frevo e seus grandes maestro”, caracterizados por não só regerem as orquestras, como por também criarem os arranjos tocados pelas mesmas. A tradição musical pernambucana, sempre teve as orquestras de frevo como elemento de representação, divulgação e valorização da música de Pernambuco. As atuações das orquestras nos bailes carnavalescos, difundiram um tipo de marcha-carnavalesca, polcasmarchas e dobrados, caminhando para um outro ritmo, mais rico e forte ritmicamente, mais quente, que fazia o povo ferver1. O frevo então se apresenta como resultado da criatividade musical dos músicos pernambucanos, partindo de elementos externos ( polcas, marchas, estilos europeus ). 1 A origem da palavra frevo veio da expressão frever, frevedouro. 1 Neste contexto, ressaltaremos o significado de um importante representante da cultura pernambucana, um grande mestre, o MAESTRO DUDA, assim como a íntima ligação entre a sua vida e obra com a cultura de Pernambuco. O foco central em questão constitui-se em um relato de fragmentos da vida do maestro Duda a partir de sua incursão e trajetória na música pernambucana, expondo os pontos em que situam o maestro em seu tempo histórico (contexto histórico ), o mapeamento de sua produção artística, assim como a relação com a produção artística no Brasil e no mundo, e por fim traçar o perfil do maestro Duda e sua formação autodidata. A preservação cultural de Pernambuco é essencial ao processo de construção da identidade pernambucana, do que podemos denominar a “pernambucanidade”. Não é preciso apenas manter uma mesmo identidade, mas pensar em contribuir para o enriquecimento das gerações futuras. Segundo Tomaz Tadeu da Silva2 a redescoberta de um passado faz parte do processo de construção da identidade, assim como a questão das diferenças. É desta idéia de que a identidade é algo que agrega diferenças e, que mudar não significa se descaracterizar, situo a genialidade do maestro Duda. Na rica atuação musical do maestro, é revelada uma capacidade em transitar nas diversas escolas musicais, tanto a européia como a americana, apropriando-se desses estilos musicais compostos de ritmos, harmonias e melodias peculiares a estes estilos, colocando-os a serviço da sua música que apresenta-se predominantemente brasileira. Um exemplo disto é uma de suas mais conhecidas composições a “Suíte pernambucana de bolso”, onde apropria-se de uma forma musical européia que é a suíte3, de uma forma bastante particular, incluindo a esta forma erudita européia o coco de roda, o maracatu, o frevo, o caboclinho, enfim danças e ritmos do nordeste. A identificação com a cidade, o estado e o país em que nasceu, expressas na identidade musical de José Ursicino da Silva, exemplo de subsistência e resistência, que de forma inteligente e criativa coloca um “toque” particular aos gêneros musicais nordestinos. Nome reconhecido em Pernambuco, no Brasil e no mundo, o maestro Duda acumula inúmeras manifestações de reconhecimento em uma longa trajetória musical. 2 Cf. SILVA, Tomaz Tadeu da. ( org. ) Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes, 2000. A forma suíte constitui-se pela junção de peças musicais e danças em uma única peça musical, tocada de forma ininterrupta, às vezes apresentando um prelúdio ( peça de abertura ). 3 2 Duda foi escolhido pelo Projeto Memória Brasileira, da Secretaria de cultura de São Paulo, como um dos doze melhores arranjadores do século4, suas músicas foram gravadas no Brasil e no exterior em mais de 100 discos no MPB-SHELL 80 recebeu o prêmio de melhor arranjador promovido pela Rede Globo de Televisão; inaugurou em 1984 o Iº Vôo Internacional do Frevo, levando sua orquestra a Miami, seguindo para Boston onde ministrou aulas de música brasileira na Universidade de Boston. Ainda em 1984 representou o Brasil com sua orquestra na Feira das Nações também em Miami-USA. Em 1986 integrou com sua orquestra a caravana brasileira do Itamaraty rumo a Paris junto com artistas como Alceu Valença, Luiz Gonzaga, Djavan, Gal Costa, Fafá de Belém, para participar do “Grande-Halle “ de Paris, do Colleur’s Brèsil. Em 1988, em comemoração aos 138 anos do Teatro Santa Isabel, apresentou sua obra “Música para metais Nº 2” com a participação de Charles Schlueter, renomado trompetista da Orquestra Sinfônica de Boston; em 1990 atuou como professor de arranjo no Festival de Inverno de Campos do Jordão-SP, regendo o concerto no Teatro Sérgio Cardoso em São Paulo-SP, com sua obra “Música para metais Nº 3”; ainda em 1990, foi tocada a sua obra denominada “Suíte Recife” nos cem anos da OEA, fato que teve destaque no conceituado jornal “THE WASHINGTON POST”. Em 1992 e 1993 participou como professor de saxofone e arranjos no Festival Internacional de Londrina-PR; de 1994 a 1997 foi diretor e regente da ópera-boi CATIRINA, dirigida por Fernando Bicudo e baseada em autos populares do bumba-meu-boi maranhense, sendo eleito pelo MEC como o melhor espetáculo do ano de 1996. Em 1997 assumiu como diretor-artístico e regente da Banda Sinfônica da Cidade do Recife; já em 1998 foi eleito para a Academia Pernambucana de Música, ocupando a cadeira 19 que teve como patrono Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba. Fica evidente hoje, diante de um renascer da cultura musical pernambucana, mas especificamente o frevo, que é quase centenário e um patrimônio imaterial pernambucano, a influência dos que atuaram nas origens do frevo: os maestros, instrumentistas e compositores que são as fontes de influência determinante ao que hoje 4 SALDANHA, Leonardo Vilaça. Elementos estilísticos tipicamente brasileiros na “Suíte pernambucana de bolso” de José Ursicino da Silva ( Maestro Duda ). 2001. 130 f. Dissertação ( Mestrado em Artes ). Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2001. 3 podemos constatar no surgimento de uma nova forma de se tocar o frevo. A Spok Frevo Orquestra que é composta por músicos e inclusive o próprio maestro Spok, apresenta-se como um grande exemplo de que as bandas de música e as orquestras de frevo são a verdadeira escola dessa nova safra de músicos, que hoje atuam no cenário musical de Pernambuco. “...Spok foi integrante inclusive da lendária Saboeira, de Goiana, de onde saíram, entre outros o seu futuro mestre, o maestro Duda....”5. É quase unânime dentre os músicos da Spok Frevo Orquestra a existência da experiência de tocar na orquestra do maestro Duda, tida como referencial a todos os que compõem o grupo. A admiração e o respeito a sabedoria e a genialidade de Duda é algo presente entre os músicos. A beleza dos arranjos do maestro Duda impressionam pela simplicidade sofisticada, que é reconhecida em Pernambuco, no Brasil e no mundo. Sem dúvida a classe musical reconhece o mestre que é. 5 TELES, José. A revolução do frevo tem nome: maestro Spok. Revista Continente Multicultural. Recife, n. 56, p. 8-16, Ago. 2005. 4 Bibliografia FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Estudos históricos: indivíduo, biografia, história. Rio de Janeiro, 1997. 156 p. HALLL, Stuart. Identidade Cultura. América Latina: Fundação Memorial. 61 p. ( Coleção Memo ). OLIVEIRA, Sérgio. Música brasileira: retrato de um país antropofágico. ITAÚ CULTURAL. Rio de Janeiro, 4 de agosto a 10 de outubro, Paço Imperial/ Minc IPHANPatrimônio Contemporâneo. p. 133-139. SALDANHA, Leonardo Vilaça. Elementos estilísticos tipicamente brasileiros na “Suíte pernambucana de bolso” de José Ursicino da Silva ( Maestro Duda). 2001. 130 f. Dissertação ( Mestrado em Artes ). Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2001. SILVA, Tomaz Tadeu da. ( org. ) Identidade e diferença. Petrópolis: Vozes, 2000. TELES, José. A revolução do frevo tem nome: maestro Spok. Revista Continente Multicultural. Recife, n. 56, p. 8-16, Ago. 2005. 5