A espiritualidade e a mística do evangelizador Roteiro de reflexão/celebração/oração Objectivos Este roteiro de reflexão/celebração/oração pretende: • ajudar o jovem a descobrir os significados das palavra espiritualidade e mística; • aprofundar a raiz do seu compromisso cristão e as suas motivações evangélicas no anúncio da Boa Nova; • vivenciar um tempo forte de encontro com o Espírito do Senhor que o impulsiona para a missão. O caminho a realizar a) Vai-se realizando o roteiro proposto, ora será em forma de jogral, ora integrará leituras bíblicas...será um incentivo ao cântico e à expressão pessoal, mas sobretudo, pretende ajudar-te a encontrar o Espírito Santo como presença amorosa e memória do Cristo ‘água viva’ da mística que anima o compromisso do cristão... b) A sala estará ornada com «uma boca» de um poço, à volta do qual se coloca, numa metade, ramos secos e palha, e no outro lado, flores e ramos verdes... colocar-se-á ainda uma Bíblia em cima de uma almofada... c) Várias pessoas integram esta celebração, dividindo entre si os vários papéis... d) Material necessário: leitor de CD, folhas com as palavras «espiritualidade» e «mística», folha com a parábola dos poços para cada participante e respectivas perguntas, folha de cânticos, os símbolos característicos das dimensões da espiritualidade... N. 1: A missão evangelizadora exige estruturas e meios, técnicas e instrumentos adequados. Tudo isso é muito importante mas, não substitui a “acção discreta” do Espírito Santo que faz arder o coração do seguidor de Jesus e o coloca no caminho dos irmãos para expressar a sua experiência (cf. Lc 24,32-35). N. 2: Deste modo, a exigência maior para cada evangelizador é a de viver uma espiritualidade sólida e capaz de dar conta da própria esperança (cf. 1Pd 3,15). Só uma espiritualidade firme pode dar sustentação ao testemunho cristão, especialmente se levarmos em conta que a cultura actual aprecia a religiosidade e os valores espirituais, mas numa perspectiva fortemente individualista e subjectivista. N. 1: «A espiritualidade missionária exprime-se, antes de tudo, no viver em plena docilidade ao Espírito, e em deixar-se plasmar interiormente por Ele, para se tornar cada vez mais semelhante a Cristo».1 Cantor: Refrão: “ENVIA TEU ESPÍRITO SENHOR, E RENOVA A FACE DA TERRA...” • • Iniciar a música suave de fundo... Colocar a palavra «espiritualidade» fora da boca do poço... N. 2: Entende-se por espiritualidade a experiência religiosa de uma pessoa (ou grupo) em determinada época que leva a um estilo fundamental e uma orientação dinâmica com os quais enfrenta a vida. A «espiritualidade cristã» é a tentativa de assegurar que o Espírito de Jesus Cristo nos impulsione e nos guie. Viver segundo o Espírito exige um estilo de vida centrado no seguimento de Jesus e aberto à sua missão: O leitor pega na Bíblia e lê as passagens... 1 cf. Encíclica Redemptoris missio do Papa João Paulo II, Rmi 87 1 N. 3: «Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio a vós... Recebam o Espírito Santo...»(Jo. 20,21-22). «Deus não nos deu um Espírito de covardia, mas sim de fortaleza, caridade e temperança»(2Tm 1,7). «Não recebeste o Espírito de escravidão para reincidires no temor»(Rm 8,15). Cantor: Refrão: “ENVIA TEU ESPÍRITO SENHOR, E RENOVA A FACE DA TERRA...” Colocar a palavra «mística» dentro do poço... N. 1: Do evangelizador exige-se mais ainda: uma profunda mística cristã e missionária. A palavra «mística» deriva da palavra ‘mistério’, cujo sentido é «algo escondido, porém verdadeiro». A mística cristã é um conjunto de motivações evangélicas nas quais encontramos força, alegria e unidade interior para o nosso estilo de vida. N. 2: Daí a relação da espiritualidade com a mística: a espiritualidade é o estilo de vida e a mística a sua raiz profunda, a motivação que envolve os nossos sentimentos, emoções e afectos. A espiritualidade pode ser compreendida e explicada – tem uma significação; a mística provém das respostas que damos à nossa existência – aponta para o sentido. N. 1: Em breves comparações, podemos dizer que a vida cristã se parece com um campo verdejante e trabalhado, formado pelas nossas actividades evangelizadoras, ideais e projectos. A mística cristã é como a água que mantém o prado húmido, sempre verde e em crescimento. Não vemos a água sobre o prado, mas sem ela tudo estaria certamente seco. A mística constitui a seiva da vida dos cristãos e das comunidades. A mística deve ser permanentemente celebrada, pois de contrário, desfaz-se e torna-se um esqueleto sem carne. Cantor: 1.ª estrofe e refrão: “PELOS PRADOS E CAMPINAS – SALMO 23...” • Entregar o texto com a parábola dos poços aos participantes as interpelações e tira de papel a preencher... Narrador: PARÁBOLA DOS POÇOS... • Explica-se que o resultado da reflexão individual de 10m. será escrito em síntese na tira de papel e colocada em silêncio de um dos lados do poço, conforme se trata de uma síntese mais ‘seca’ ou mais ‘viçosa’... N. 2: A Mística vivida pelo evangelizador deve ter a força para o envolver totalmente, ajudando-o a renovar as expressões do anúncio, o ardor evangélico e a busca de novos métodos. Mística que o auxilia a sintetizar as coisas do coração e da razão, tornando-o capaz de entregar a vida toda pela causa do Reino, a exemplo de Jesus. Mística que lhe dá a coragem e audácia para exercer a sua insubstituível missão de profeta e homem de Deus hoje. Cantor: Cântico: “TU É MINHA VIDA...” N. 1: Como cultivar a espiritualidade e a mística missionárias? A espiritualidade e a mística não partem simplesmente de um desejo humano de Deus. Não se pode reduzir tudo a factores psicológicos. Ambas, espiritualidade e mística, partem da experiência do amor de Deus pela humanidade, são Dom de Deus. Mas, esse Dom exige uma resposta amorosa e co-responsável. Portanto, como cultivar a espiritualidade e a mística? N. 2: A primeira resposta vem-nos da Bíblia. Deus apresenta um rolo escrito a profeta Ezequiel (3) e convida-o a comê-lo e a levar a mensagem à casa de Israel: 2 Leitor: «Ele me disse: “Filho do homem, come o que tens diante de ti! Come este rolo e vai falar à casa de Israel”. Eu abri a boca e ele me fez comer o rolo, dizendo: “Filho do homem, alimenta o teu ventre e sacia as entranhas com este rolo que te dou”. Eu o comi, e era doce como mel na minha boca. Ele me disse: “Filho do homem, vai! Dirige-te à casa de Israel e fala-lhes com as minhas palavras... O espírito arrebatou-me e levou-me, e eu fui com ânimo amargurado e excitado, enquanto a mão do Senhor pesava sobre mim». N. 2: É necessário ‘comer’ a mensagem, ou seja, fazer a experiência do Espírito do Senhor e da sua mensagem, assimilando-a. N. 1: A Segunda resposta é uma atitude constante de atenção à realidade na sua complexidade e evolução. Diz Paulo VI na Encíclica Evangelli Nuntiandi: «A evangelização comporta uma mensagem explícita, adaptada às diversas situações e continuamente actualizada: sobre a vida social; a vida internacional, a paz, a justiça e o desenvolvimento, uma mensagem sobremaneira vigorosa nos nossos dias, sobre a libertação».2 N. 1: Isto exige uma atitude de abertura ao novo, discernimento e conversão para intuir a presença do Espírito que habita na história, reconhecendo progressivamente a sua evolução e aceitando o risco dos desígnios sempre novos de Deus. • 1. 2. 3. 4. Entregar as perguntas para reflectir em grupo (15m) ... Como cristão, tens-te preocupado séria e concretamente em cultivar uma espiritualidade e mística missionárias? Aponta três atitudes/compromissos/actividades em que seja visível esse teu cultivo. Tem sido mesmo o Espírito Santo a mover-te e a criar atitudes de Cristo missionário? Ou tem havido motivações fracas e mais individualistas no teu compromisso de evangelizador? Consegues apontar um exemplo concreto de um facto em que isso sucedeu? No teu dia-a-dia, qual tem sido a importância que deste à análise da realidade, ao discernimento evangélico, a atenção aos ‘sinais dos tempos’? Como cristão, vives a fidelidade ao Espírito? Há coragem e criatividade no teu anúncio e nos métodos, ou prevalece o medo de arriscar, o desejo de segurança, a sacralização das estruturas? • Partilhar em forma de louvor e/ou de pedido de perdão... Cantor: Cântico: “CIVILIZAÇÃO DO AMOR” Oração do Pai-nosso Benção final de envio... 2 cf. Encíclica Evangelii Nuntinadi do Papa Paulo VI, 29 3 Continuação da Oração/celebração «Espiritualidade e mística» • Iniciar uma encenação com símbolos de cada uma das dimensões propostas e com cântico intercalar correspondente, colocando-os ao redor do poço... Cântico: “MEU SONHO É SHALOM” N. 1: De que espiritualidade falávamos nesta manhã? Quais são as suas principais características? Podemos sintetizar essa espiritualidade do evangelizador nos seguintes pontos: N.2: Centrada em Jesus Cristo e no Reino • Colocar a bacia com água, jarro e toalha ao redor do poço enquanto se lê a passagem bíblica... Leitor: «Antes da festa da Páscoa, Jesus sabia que tinha chegado a hora de passar deste mundo para o Pai. E, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Durante a ceia [...] levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura. Depois derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha da cintura. [...]Depois de lavar-lhes os pés, vestiu o manto, pôs-se de novo à mesa e perguntou-lhes: “Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou. Se pois eu, Mestre e Senhor, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo para que façais o mesmo que eu vos fiz». N. 2: Enviado para evangelizar, o Filho de Deus renuncia a projectos humanos e dedica-se totalmente ao projecto do Pai. A nossa comunhão com Cristo, diariamente cultivada, exige um processo contínuo de conversão para também nós assumirmos com generosidade e alegria esse mesmo projecto do Pai. Vivendo em íntima comunhão com Cristo3 o evangelizador é capaz de renunciar a projectos particulares, colocando a sua realização pessoal na doação de si pela causa do Reino. Cântico: Refrão do “DÁ-NOS UM CORAÇÃO” N. 1: Aberta à acção do Espírito • Colocar pote de barro com fogo a arder ao redor do poço enquanto se lê a passagem bíblica... Leitor: «Se me amais, guardareis meus mandamentos. Eu pedirei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, que estará convosco para sempre. Ele é o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis porque permanece convosco e está em vós». N.1: Espiritualidade aberta à acção do Espírito significa deixar-se conduzir pelo Espírito, que é capaz de transformar tímidos discípulos em testemunhas corajosas e atentas aos “sinais” da presença do Reino em acção.4 A docilidade ao Espírito exige do evangelizador contínua revisão de vida, para que suas atitudes correspondam aos apelos que lhe chegam da realidade. O Espírito precede a acção do evangelizador, assiste-o quotidianamente, confortando-o nas dificuldade e mesmo no fracasso. Precisamos cultivar uma atitude de fortaleza e perseverança 3 4 cf., RMi 88 cf. RMi 87 4 diante das perplexidades, adversidades e conflitos. Esta atitude é fruto da esperança a que somos chamados, que está fundada nas promessas do Senhor e não em nossos projectos. Cântico: Refrão do “DÁ-NOS UM CORAÇÃO” N.2: Iluminada e alimentada pela palavra de Deus • Colocar a Bíblia ao redor do poço enquanto se lê a passagem bíblica... Leitor: «Como a chuva e a neve descem do céu, e para lá não voltam, mas regam a terra, para ela ficar fértil e produtiva, para dar semente ao semeador e pão para comer, assim acontece com a palavra que sai de minha boca: não volta para mim chocha, sem ter realizado a minha vontade, sem ter cumprido a sua missão».(Is 55,10-11) N.2: A acção evangelizadora exige que o evangelizador cuide da própria competência, mas nada substitui a experiência do Deus vivo, alimentada constantemente pela escuta da Palavra de Deus tanto no livro da Escritura quanto no livro da Vida. Cântico: Refrão do “DÁ-NOS UM CORAÇÃO” N.1: Encarnada na realidade • Colocar uma planta ao redor do poço enquanto se lê a passagem bíblica... Leitor: «O Senhor lhe disse: “Eu vi a opressão de meu povo no Egipto, ouvi os gritos de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel [...] O clamor dos israelitas chegou até mim. Eu vi a opressão que os egípcios fazem pesar sobre eles. E agora vai, que eu te envio ao Faraó para que libertes o meu povo, os israelitas, do Egipto”».(Ex.3,7-9). N.1: O evangelizador deve abrir-se a uma profunda sensibilidade com a maneira de ser do nosso povo (e dos jovens). O anúncio explícito de Jesus Cristo e do Reino deve ser inserido no meio da vida das pessoas e dos grupos e deve levar muito em conta as culturas. O esforço para realizar a inculturação é sinal de um amor semelhante ao que levou o Filho de Deus a se encarnar e assumir a nossa história. N.2: O evangelizador deve pautar-se por uma profunda caridade apostólica. Essa caridade apostólica é “feita de atenção, ternura, compaixão, acolhimento, disponibilidade e empenho pelos problemas das pessoas”.5 A Boa Nova há-de ser proclamada, antes de mais, pelo testemunho. Todos os cristãos são chamados a dar este testemunho e podem ser, sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores. Assim, o evangelizador deve ser, antes de mais nada, testemunha mais do que mestre. Será “pelo testemunho vivido com fidelidade ao Senhor Jesus, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente aos poderes deste mundo” que ele há-de evangelizá-lo.6 Cântico: Refrão do “DÁ-NOS UM CORAÇÃO” N.1: Inserida na Igreja particular • 5 6 Colocar uma planta ao redor do poço enquanto se lê a passagem bíblica... cf.RMi 89 cf. Exortação Evangelii nuntiandi do Papa Paulo VI, EN 44 5 Leitor: Que todos sejam um como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que eles estejam em nós, e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que tu me deste, a fim de que sejam um como nós somos um. Eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade, e o mundo conheça que tu me enviaste e que os amaste, como amaste a mim». (Jo.17, 21-23) N. 1: Participar generosa e alegremente na vida e na missão da comunidade, sinal e germe do Reino, vencendo os perigos do individualismo e do fechamento em grupos restritos. Um testemunho particularmente válido hoje é uma comunidade solidária e alegre, imagem e início da comunhão com a Trindade Santa. A experiência pessoal de comunhão com Cristo e a adesão ao seu projecto de vida devem levar o cristão (o jovem) a comprometer-se com uma comunidade eclesial concreta, conscientizando-se da própria pertença ao Povo de Deus. Cântico: Refrão do “DÁ-NOS UM CORAÇÃO” N. 2: Que conduz à libertação integral • Colocar uma corrente ao redor do poço enquanto se lê a passagem bíblica... Leitor: «Chegou a Nazaré onde se tinha criado. Segundo seu costume, entrou num sábado na sinagoga e se levantou para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, deu com a passagem onde se lia: O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar aos aprisionados a libertação, aos cegos a recuperação da vista, para pôr em liberdade os oprimidos, e para anunciar um ano da graça do Senhor. Jesus fechou o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se. Os olhos de todos os presentes na sinagoga se fixaram nele».(Lc. 4,16-20) N. 2: Deve o evangelizador assumir uma atitude de misericórdia, daquela misericórdia do próprio Deus, que encontrou a sua expressão mais alta nas atitudes de Jesus para com os pobres, aflitos e pecadores, para com todos os crucificados desta terra, que o evangelizador deve amar como os preferidos de Deus. Como Cristo e os mártires, o cristão comprometido encontra pedras no caminho e conhece o sofrimento. Buscando a superação de todo e qualquer sofrimento, pessoal e social, o cristão aprenderá a integrá-lo no de Cristo, Servo Sofredor. Essa atitude leva ao amadurecimento e à conversão e dá ao cristão condições de perseverança no seu compromisso, sobretudo nos momentos mais difíceis. Cântico: Refrão do “DÁ-NOS UM CORAÇÃO” Conclusão do animador: • O evangelizador deverá, portanto, viver e cultivar a espiritualidade autenticamente cristã, que tem seus fundamentos na Palavra de Deus e na Eucaristia, na vida comunitária e no serviço ao mundo. • O evangelizador de hoje deve ser um santo. Deve estar cheio de ardor missionário7 e que o seu zelo “brote de uma verdadeira santidade de vida, alimentada pela oração e, sobretudo, pelo amor à Eucaristia”.8 Cântico: “DEUS ESTÁ” 7 8 cf. RMi 90 EN 76 6