Ed Motta, mídia e homogeneização musical

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Ed Motta, mídia e homogeneização musical
Por Lucas Alves
Sintonize o rádio na estação mais ouvida da sua cidade ou ligue sua televisão no canal
que exibe videoclipes e você terá 90% de chance de ouvir uma música em inglês, cantada por
norte-americanos. A partir dessa atenção exagerada da mídia, muitos de nossos músicos, para
alcançar o sucesso, esquecem de suas próprias peculiaridades e buscam um som cada vez
menos nacional e próprio. Resultado: os principais artistas nacionais não fazem música para
brasileiros e se tornam cada vez mais submissos às culturas tidas como “superiores”.
Na quinta-feira (10), por volta das oito da manhã, o cantor de soul Ed Motta publicou
um atestado de submissão que ilustra esse artigo. Poderia ser apenas uma foto caseira com as
datas dos seus shows na legenda, mas Ed decidiu não parar por aí. No caminho tortuoso que
leva a nós, latinos, ao sucesso, Ed Motta se perdeu.
Não dá para negar. De fato, um texto infame.
Logo abaixo da sua agenda (toda escrita em inglês, diga-se de passagem) havia um
recado mal criado aos fãs brasileiros. “Fico honrado em ser prestigiado pela comunidade
brasileira, mas é importante frisar, não tem músicas em português no repertório, eu não falo
português no show/ não venha com um grupo de brasuca berrando “Manuel” porque não
tem, e muito menos gritar “Fala português Ed”/ o mundo inteiro fala inglês, não é possível que
o imigrante brasileiro não saiba”
O aviso que essa pequena observação traz consigo é: Brasileiros, essa turnê não é para
vocês. Uma atitude que desrespeita àqueles que colocaram Motta no lugar em que ele está
hoje, afinal, o que seria um músico sem seu público? Além disso, o cantor destilou veneno aos
fãs dos ritmos midiáticos, como o sertanejo, axé e pagode.
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Isso é um reflexo da exaltação por artistas norteamericanos ou europeus, pela mídia
musical brasileira (ou latina, ou mundial). Tal exaltação não influencia apenas os artistas
nacionais em suas composições, mas principalmente o público. Isso se torna fácil de perceber
em festivais que trazem artistas internacionais em primeiro plano e os brasileiros, em segundo,
recebendo um cachê incomparavelmente menor. Sujeitos a uma chuva de vaias ou até mesmo
garrafas.
Carlinhos Brown que o diga.
Os festivais realizados por bandas brasileiras e de igual ou melhor qualidade, não
ganham tanto público, muito menos publicidade ou verba. Esses eventos estão fadados ao
fracasso. A falta de público e de incentivo contribui para a dissolução e a desistência. Os
artistas desistem de sua obra e tentam se adequar ao gosto universal. Um erro profundo.
Alcançar o sucesso é fazer o público se adaptar à sua música, não o contrário.
Entretanto existe uma contradição no meio de tudo isso. A mesma mídia que sempre
idolatra ídolos americanos e esquece dos brasileiros, agora se apoia na reação do público para
mostrar como Ed agiu de forma equivocada. Aproveitando a chuva de cliques que podem
ganhar, os portais, que antes nunca pensaram no inglês sobreposto ao português, criticam o
cantor de todas as formas, conquistando o internauta. Um ótimo exemplo de como, em alguns
casos, o leitor pode influenciar na forma de como a notícia é dada.
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Atos vindos de músicos como
Ed Motta ou do próprio público se
tornam cada vez mais comuns nesse
mundo internético, globalizado e igual.
Todavia é necessário ressaltar que a
homogeneização
da
música
é
promovida pela mídia, que abre mais
espaço para artistas internacionais, ou
os que querem ser, e esquecem da
riqueza de ritmos que o Brasil possui.
Poucos são os programas, seja em rádio
ou TV, que mostram videoclipes e
músicas nacionais. A pluralidade
Pouco público. Show da banda Kiara Rocks no Circo Voador, em outubro de 2012.
musical, não só do Brasil, mas do mundo inteiro, está ameaçada. Atrelado a isso, nossos
músicos perdem o seu valor dentro do próprio cenário e aqueles que temem essa
desvalorização,
perdem
as
suas
próprias
características.
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