A INFLUÊNCIA DO RUÍDO NA SAÚDE AUDITIVA DOS DENTISTAS DA CIDADE DE PATROCÍNIO/MG THE NOISE’S INFLUENCE ON DENTISTS HEARING HEALTH FROM PATROCÍNIO/MG CITY Samantha Schuttz Borges1 Renata Sales2 1 Bacharel em Fonoaudiologia pelo Centro Universitário do Cerrado (UNICERP). Fonoaudióloga em consultório particular. 2 Fonoaudióloga, Doutora em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Fonoaudióloga docente de pós graduação em Audiologia na UNIFRAN e FEF. email: [email protected] RESUMO O ruído é um problema enfrentado por diversos profissionais nos dias atuais, podendo ocasionar danos à saúde como a aquisição de uma perda auditiva. A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é um dos efeitos do ruído ocupacional na saúde do trabalhador, caracterizada por origem sensorioneural e coclear que afeta principalmente as frequências de 3000 a 6000Hz, irreversível e geralmente bilateral. Os dentistas estão expostos a altos níveis de ruído advindos de várias fontes no consultório odontológico, sendo profissionais susceptíveis a PAIR. Objetivo: O objetivo da pesquisa foi verificar o perfil audiológico dos dentistas atuantes na cidade de Patrocínio/MG e analisar se o ruído constante no consultório odontológico está exercendo alterações na acuidade auditiva desses profissionais. Material e Método: Participaram do estudo 20 dentistas de ambos os gêneros, com a faixa etária de 30 a 50 anos de idade, atuando na profissão há mais de cinco anos. Para coleta de dados foi aplicado um questionário sobre a audição e realizado exames auditivos (imitanciometria e audiometria). Resultados: 15% da população estudada apresentavam queixas otológicas e 20% mostraram perda auditiva indicativa de PAIR. Conclusões: Queixas otológicas como sensação de perda auditiva e zumbido foram presentes entre os dentistas e o ruído presente nos consultórios odontológicos pode estar acometendo PAIR nessa população. Palavras-chave: Dentista. Ruído. Perda auditiva. ABSTRACT Noise is a problem faced by many professionals today, and may cause damage to health as the acquisition of a hearing loss. The noise-induced hearing loss (NIHL) is one of the effects of occupational noise on workers' health, and characterized by sensorineural and cochlear origin that primarily affects the frequencies 3000 to 6000 Hz, irreversible and usually bilateral. Dentists are exposed to high levels noise coming from various sources in the dental office, and professional susceptible to NIHL. Aim: The objective of the research was to investigate the audiological profile of dentists working in Patrocínio/MG city and analyze if the constant noise in the dental office is exerting changes in hearing acuity of these professionals. Material and Methods: The study included 20 dentists of both genders, with age 30-50 years old, working in the profession for more than five years. For data collection was a questionnaire about hearing and hearing tests performed (impedance and audiometry). Results: 15% of the study population had otologic complaints and 20% showed hearing loss indicative of NIHL. Conclusions: Otologic complaints as hearing loss sensation and tinnitus was present among dentists and the noise present in the dental office may be affecting the hearing health in this population. Keywords: Dentist. Noise. Hearing loss. INTRODUÇÃO O ruído é um fator de risco em diversos ambientes de trabalho. Desde a década de 70, as perdas auditivas induzida por ruído (PAIR) são caracterizadas como um problema alarmante na saúde pública, devido ao impacto negativo que causam na qualidade de vida dos trabalhadores (GONÇALVES, 2007). A exposição ao ruído tem crescentes preocupações e investigações na área da saúde, sendo importante registrar que entre suas repercussões está a PAIR, de efeito tardio e irreversível que pode acometer os cirurgiões-dentistas (TORRES, et al., 2007). Considera-se PAIR uma alteração auditiva com característica sensorioneural e coclear que afeta principalmente as frequências de 3000 a 6000Hz, quase sempre bilateral e irreversível (GONÇALVES et al., 2009). Segundo a legislação trabalhista brasileira, Norma Regulamentadora 15 NR15, um ambiente de trabalho será considerado de risco para o desenvolvimento de perdas auditivas quando ultrapassar 85dBA para uma jornada de 8 horas de trabalho. Já na Norma Regulamentadora 17 - NR17, que é baseada na Norma Brasileira - NBR número 10152, está estabelecido que para fins de conforto acústico, os níveis máximos de ruído em consultórios odontológicos devem ser de 45dBA a 50dBA. Pesquisas demonstram que as clínicas, os consultórios e os laboratórios odontológicos apresentam elevados níveis de pressão sonora que podem acarretar, com o tempo, comprometimentos à saúde dos profissionais que expostos, como a PAIR (ABNT, 2000; BRASIL, 1978; BRASIL 1998; GONÇALVES et al. 2010; LELO et al., 2009). Pesquisas epidemiológicas revelam que 25% da população exposta ao ruído sejam portadoras de PAIR em algum grau, porém ainda são pouco conhecidos seus dados de prevalência no Brasil. (BERNARDI et al., 2006). Os dentistas estão expostos a altos níveis de ruído advindos de várias fontes presentes no consultório odontológico, tais como, compressores de ar, sugadores de saliva, bombas de aspiração à vácuo e turbinas de alta rotação, além de outros fatores como som ambiente e ruído externo ao ambiente de trabalho (BERRO; NERM, 2004). Apesar dos efeitos do ruído serem passíveis de prevenção, a adoção de medidas preventivas entre os odontólogos ainda é insipiente. Entre estas medidas está a utilização de protetores auriculares, ainda não completamente incorporada entre os equipamentos de proteção individual do odontólogo (GONÇALVES et al., 2010; TORRES et al., 2007). Uma vez que os ambientes de trabalho dos odontólogos apresentam níveis de ruído elevado, portanto, de risco para a ocorrência de perdas auditivas, surge à necessidade de se compreender melhor como estas ocorrem, visando seu diagnóstico precoce e intervenções. O objetivo do trabalho foi verificar o perfil audiológico dos dentistas atuantes na cidade de Patrocínio/MG e analisar se o ruído constante no consultório odontológico esteja exercendo alterações na acuidade auditiva desses profissionais. METODOLOGIA Estudo transversal, aprovado pelo comitê de ética em pesquisa (COEP) do Centro Universitário do Cerrado de Patrocínio. Todos os participantes do trabalho foram esclarecidos sobre os objetivos desse estudo e convidados a participar do mesmo, o qual foi iniciado após a concordância e a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi realizada no Centro de Saúde do Centro Universitário do Cerrado de Patrocínio, na cidade de Patrocínio/MG. O critério de inclusão para o estudo foi ser dentista atuante por pelo menos cinco anos na rede pública ou privada na cidade de Patrocínio/MG, com idade máxima de 50 anos de idade, para excluir doenças otológicas relacionadas à idade avançada. Participaram da pesquisa 20 dentistas, sendo 11 do sexo masculino e nove do feminino, com faixa etária entre 30 e 50 anos de idade. Todos foram submetidos à inspeção do meato acústico externo e à audiometria tonal de 500Hz a 8000Hz por via aérea e via óssea (quando necessário, ou seja, limiares tonais aéreos superiores a 25 dBNA) e discriminação de fala, utilizando- se audiômetro BETA 6000 (calibrado segundo o padrão ANSI 1969) em cabina acústica (calibrada pela Norma I.S.O. 8253-1 de 1989). Em seguida foi realizado a impedanciometria com impedanciômetro INTERACOUSTICS A 235, para identificar possíveis alterações de orelha média. Ambos os exames foram realizados por uma estagiária de fonoaudiologia (aluna do 4º ano do curso de Fonoaudiologia da UNICERP), acompanhada por uma docente fonoaudióloga especialista em audiologia. Considerou-se o limiar auditivo tonal de 25dBNA em todas as frequências, como limite de normalidade. Aplicou-se um questionário aos dentistas, investigando o tempo de atuação diária e sintomas otológicos. Foram excluídos do trabalho os dentistas que apresentaram alterações na impedanciometria e/ou audiogramas mostrando perdas auditivas do tipo condutiva ou mista, indicativo de alterações de orelha externa e/ou média. Os dados obtidos foram analisados de forma descritiva. RESULTADOS De acordo com os resultados mostrados no questionário verificou-se que 70% da população estudada atuava na área odontológica há mais de 11 anos e 30% entre cinco e dez anos, sendo que 90% trabalham mais de cinco horas diárias. Quanto à exposição frente ao ruído ocasionado pelos equipamentos odontológicos, 5% chegam a permanecer mais de dez horas diariamente, enquanto 95% ficam expostos de uma a dez horas diárias. Quanto ao histórico familiar, 20% registram casos de surdez na família, 15% referem zumbido e sensação de perda auditiva. Episódios de tontura e uso de equipamento de protetores auditivos não foram descritos por nenhum dentista estudado. Os achados audiométricos registraram quatro casos de perda auditiva com perfil indicativo de PAIR de grau leve e os demais apresentaram limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade. DISCUSSÃO No presente estudo verificou-se 20% de alterações auditivas de origem sensorioneurais entre os dentistas atuantes na cidade. Estudos mostram variação de 24, 34% a 70% dos dentistas com perda auditiva sugestiva de PAIR (BERBARE; FUKUSIMA, 2003; GONÇALVES et al., 2012; LELO et al., 2009; MOTA, 2005; SANTANA, 2000). Dias (2006), relata que a queixa de zumbido é comum entre a população que atua no ambiente ocupacional com elevado nível de ruído intensidade. Tal achado também foi verificado neste estudo. Trabalhos mostram baixo índice no uso de equipamento de proteção individual (EPI) - protetores auriculares entre os dentistas durante a jornada de trabalho, corroborando com os achados desse estudo, onde nenhum profissional estudado fazia uso desse tipo de proteção (FERNANDES, 2000; GONÇALVES et al., 2010; TORRES et al., 2007). Segundo Gambarra, et al. (2012) a repercussão do ruído ocupacional na audição dos dentistas revela grande índice da queixa de sensação da perda auditiva. No estudo de Dias, et al. (2009) essa queixa não foi relevante e, neste estudo, foi registrada em 15% da população. O trabalho mostrou 20% da população com perfil audiológico indicativo de PAIR. As audiometrias com perdas auditivas sensorioneurais indicativas de PAIR entre os dentistas são registradas em diversos estudos (DIAS, 2006; DIAS, OLIVEIRA, BRUNO, 2009; FERNANDEZ, 2000; GAMBARRA et al, 2012; GONÇALVES et al, 2009; GONÇALVES et al. 2010; GONÇALVES et al., 2012; TORRES et al., 2007). CONCLUSÃO Frente os resultados obtidos, pôde-se concluir queixas otológicas como sensação de perda auditiva e zumbido entre os dentistas e que o ruído presente nos consultórios odontológicos pode estar acometendo PAIR nessa população da cidade de Patrocínio/MG. Sabendo que os efeitos do ruído são passíveis de prevenção, sugere-se um trabalho de promoção de saúde na população dos dentistas, visando à melhoria da qualidade de vida dos mesmos. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10152: Níveis de ruído para conforto acústico em ambientes diversos. Rio de Janeiro, 2000. BERBARE, G.M.; FUKUSIMA, S.S. Perda auditiva induzida por ruído de motores de alta-rotação em odontólogos e alunos de odontologia: análise audiométrica em freqüência entre 250Hz a 16 KHz. Rev Bras Saúde Ocup., n. 107/108, p. 28-38, 2003. BERNARDI, A.P. A; FIORINI, A.C. COSTA; E. A; IBAÑEZ; R.N; SENA; T.R. R. Perda auditiva induzida por ruído (PAIR). Brasília: Ministério da Saúde, 2006. BERRO, R.J.; NERM, K. Avaliação dos ruídos em alta frequência dos aparelhos odontológicos. Rev CEFAC, v. 6, n. 4, p. 300-305, 2004. BRASIL - MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Portaria 3.214 de jul. 1978. Normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho (NR-15): Atividades e operações insalubres. Brasília, 1978. Disponível em: <http:// www.mte.gov.br/temas/segsau/legislacao/normas/ conteudo/nr15>. Acesso em: 23/09/2010. BRASIL – MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Portaria 3.214 de jul. 1978. Normas regulamentadoras de segurança e saúde no trabalho (NR 17): Ergonomia. Brasília, 1998. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/temas/segsau/legislacao/normas/conteudo/nr17>. Acesso em: 23/09/2010. DIAS, A; CORDEIRO, R, CORRENTE, J.E; GONÇALVES, C.G.O. Associação entre perda auditiva induzida pelo ruído e zumbidos. Cad Saúde Pública. 2006. DIAS, F.A.M; OLIVEIRA, H.G. P; BRUNO, J.G. Levantamento dos achados audiológicos e da presença de queixas e extra auditivas em dentistas. Bahia, 2009. 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