Observação Solicitamos aos eventuais leitores que, caso disponham de outras informações que possam enriquecer este verbete, favor encaminhá-las à Fundação José Augusto através do seu Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL, situado na Rua Jundiaí, 641, Tirol, CEP 59020-120, ou, pelo E-mail [email protected] Ademir Ribeiro Radialista Ademir Ribeiro, a voz de ouro Por Edson Benigno No começo dos anos 60, ele fez um teste de locução na Rádio Poti, disputando com 20 candidatos, e foi o único aprovado. Daí por diante começa a sua grande trajetória no rádio. Dono de uma voz limpa, grave e marcante, fez história na radiofonia potiguar apresentando, por muitos anos, o programa Show da Manhã, um dos maiores líderes de audiência no horário. "Eu lia poemas meus e de outros autores. Abria espaço para uma crônica chamada "O Nome do Dia" e tocava apenas músicas do passado. O programa foi um sucesso que marcou muito minha vida", diz Ademir Ribeiro, hoje com 66 anos. Ainda apresentou, na Rádio Poti, o noticiário O Galo Informa, com notícias do Brasil e do Mundo. E participou de rádio-novela da emissora. "Eu queria ser somente locutor. Mas, um dia, estava no ar a novela Amargo Silêncio, de Janete Clair. Quem fazia o galã era meu companheiro de rádio Nilson Freire, porém ele adoeceu e Genar Wanderley me pediu para substituí-lo", conta. "Logo de principio recusei, mas acabei depois aceitando. Dei um verdadeiro show de interpretação. Após a exibição daquele capítulo, o telefone da emissora não parava de tocar. Todos queriam saber quem era o novo galã da novela. Confesso que fui endeusado pelo povo. Depois desta experiência passei atuar em novelas da emissora, além de continuar como locutor e redator", relembra. Também trabalhou na Rádio Cabugi, além de ter apresentado um noticiário na Televisão Universitária, ao lado de Liênio Trigueiro. Porém, nunca quis prosseguir sua carreira em outro Estado. "Fui convidado para trabalhar na Rádio Globo, do Rio de Janeiro, Na De Voyce Of América (Estados Unidos) e Deutsch Welle (Alemanha)", revela. E acrescenta: "Inclusive, o diretor da Rádio O Povo, do Ceará, veio aqui a Natal me convidar, não para eu ser locutor, mas para que pudesse dirigir a rádio cearense. Falei pra ele que amo minha cidade e não sairia daqui de jeito nenhum. Além disso, eu tinha muito amor pelo prefixo onde estava trabalhando, a Rádio Poti, que naquela época era a dona do mundo, em termos de rádio", argumenta. Apesar do vozeirão que possui, Ademir nunca tomou cuidado especial com sua voz. Nem jamais a usou em campanhas políticas. "Tudo que conquistei, até hoje, foi através da minha voz em estúdio. Fui o maior salário do Brasil, como locutor de rádio, sem fazer política ou gravações foras", confessa. "Me lembro bem que, no início da carreira, o diretor da Rádio Poti, chamado Rui Ricardo, disse pra mim: 'Ademir isso aqui jamais irá ser profissão, não passará de um bico'. E me aconselhou a dedicar-se aos estudos. Tinha terminado o científico e não queria fazer faculdade. Disse ao diretor que eu ia conseguir tudo na vida com esta voz, que Deus me deu. Provei também a ele que trabalhar em rádio pra mim não era um hobby e sim uma profissão", conta. Religioso e americano, duas qualidades Religiosamente, todas as manhãs faz cinco orações. Obrigado, Senhor, por mais um dia. Que esse dia de hoje seja bem melhor que o de ontem, em todos os sentidos, sob todos os aspectos e em qualquer circunstância. "Essa é a abertura que faço matinalmente. Ainda continuo crendo muito. Tenho aqui a medalha de Nossa Senhora de Fátima, minha protetora, e a Cruz de Cristo Jesus, meu Pai Celestial. Mas se me perguntar se vou à missa, responderei que ia quando era menino. Hoje assisto à Santa Missa pela televisão, todos os domingos. Mas não vou à Igreja". A paixão pelo América ainda é do mesmo jeito. Sem tamanho. Numa ocasião, o seu time tinha vencido o ABC, e ele foi para a rádio fantasiado: bermuda branca, camisa vermelha, número 9 às costas, que era a do Pancinha, seu ídolo à época. Aí César Rizzo disse: "Chefe, vá para casa descansar três dias...". Ele perguntou se estava sendo suspenso ou recebendo uma licença. Era suspensão. Como retrucou e disse o que não devia, Rizzo emendou: "Você está demitido". A resposta veio na hora: "Me dê essa porcaria para eu assinar", pedi. Assinou. Na chefia de pessoal, Luis Sena perguntou o que tinha acontecido. "Eu expliquei que estava assinando minha demissão. César Rizzo foi falar com Luís Maria Alves. Chegou lá e contou que estava com uma demissão para seu Luís assinar. Luís Maria Alves perguntou de quem era a demissão. Quando César disse que era aminha, imediatamente ouviu de Luís Maria Alves: 'Ademir Ribeiro? Você é quem está demitido. Peça suas contas, vá embora e volte para o Rio de Janeiro!'. Ademir Ribeiro está aposentado e não pretende trabalhar mais em rádio. Também acha que se aceitar algum convite, estará tomando o lugar de alguém que precisa mais do que ele. "Quando saí da Rádio Poti, recebi uma boa indenização. Hoje tenho o suficiente pra viver e por isso não sinto vontade de voltar ao rádio", explica. Jaime Wanderley, O novelista Um tipo de programa hoje quase desaparecido, mas que fez muito sucesso no Brasil nos anos 30, 40, 50 e 60 do século passado foi o das radionovelas. Com a mesma comunicabilidade que alcançam atualmente suas sucessoras, as telenovelas. Antes de elas chegarem ao país, importadas de Cuba ou do México, o Nordeste já fora precursor inaugurando o esquema de histórias contadas pelo rádio em capítulos: pela Rádio Clube de Pernambuco, em 1937, foi transmitida a primeira história seriada: "Sinhazinha Moça", adaptação de Luiz Maranhão, em capítulos diários, do romance "Senhora de Engenho", do escritor pernambucano Mário Sette. Somente em 1941 é que a Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, começou a transmitir a que - ignorando-se o pioneirismo nordestino (tanto em termos de data anterior, como da autoria brasileira da história) – é erroneamente considerada sempre a primeira radionovela brasileira: "Em Busca da Felicidade", escrita pelo cubano Leandro Blanco, adaptada em português por Gilberto Martins, e transmitido cada capítulo em meia hora por manhã. Privilegiando o público feminino, a chamada dizia: "Senhoras e senhoritas, o famoso creme dental Colgate apresenta o primeiro capítulo da empolgante novela 'Em Busca da Felicidade'". Foram mais de três anos de emoções fortes, com uma multidão de personagens ("à medida que os capítulos iam se sucedendo, o número de personagens crescia" - informou Floriano Faissal em entrevista num velho exemplar da revista "Rádio- Teatro", do Rio de Janeiro). E Floriano completou seu histórico daquela radionovela com uma curiosidade: "Em Busca da Felicidade não acabou...Houve um desentendimento entre a Rádio e o anunciante, e a história ficou no ar, feito a Sinfonia Inacabada..." As estações de rádio também transmitiam novelas no Rio Grande do Norte. Pela Rádio Poti se ouviram muitas. Tanto as que apresentavam dramas adultos, como as que eram novelas seriadas dedicadas aos jovens ("Aventuras de Tarzam", "Jerônimo, o Herói do Sertão", "O Capitão Atlas"). A de maior sucesso foi, sem dúvida, "O Direito de Nascer", do cubano Félix Caignet, adaptada por Eurico Silva, e com a radio-atriz Guiomar Gonçalves magnificamente interpretando a terna e bondosa Mamãe Dolores. Mas tivemos também um autor, que escreveu radionovelas que foram irradiadas nas estações locais, com elenco local. Foi Jaime Wanderley, podendo-se mencionar de sua autoria: "Vingança Que Redime" (Rádio Poti, 1954); "Porque Me Fiz Criminoso" (Rádio Nordeste, 1956); "Espinhos da Encruzilhada" (Rádio Nordeste, 1957); "O Pierrô Escarlate" (Rádio Poti, 1958); "Suplício de Uma Paixão" (Rádio Nordeste, 1959); "O Crime Da Rua Sem Nome" (Rádio Nordeste, 1960). Os nossos principais galãs de radionovelas foram Nilson Freire (que foi também locutor do noticioso "O Galo Informa"), Ademir Ribeiro (os antigos devem se lembrar de sua voz grave interpretando o personagem de "Amargo Silêncio") e Genar Wanderley. As atrizes principais foram Glorinha Oliveira (o seu maior êxito foi interpretando uma personagem menina na novela "A Tempestade") e Marli Rayol (chegou mesmo a receber a medalha de ouro como "a melhor radio-atriz do Estado") e Eunice Freire (ou Sandra Maria - seu nome artístico -, que trabalhou em outros setores do rádio, chegando a ser diretora de programação de uma emissora do nosso Estado). Jailton Augusto da Fonseca