Gametogênese A espermatogênese e a oogênese, são os processos de formação do gameta masculino (espermatozoide) e do gameta feminino (oócito). O espermatozoide e o oócito são células muito especializadas. Elas contêm a metade do número de cromossomos das outras células do corpo (as células somáticas). Essa redução no numero de cromossomos se deve a divisão celular chamada meiose, específica para a formação dos gametas. A restauração do número de cromossomos (46) ocorre quando essas duas células se unem na fecundação e formam o zigoto. A espermatogênese acontece nos testículos, enquanto a oogênese ocorre nos ovários. Após serem formados, os espermatozóides são armazenados no epidídimo, de onde podem ser expelidos pela uretra e os oócitos são captados pelas tubas uterinas, local de encontro dos dois gametas. Começaremos pela espermatogênese. Ela acontece nos túbulos seminíferos, estrutura tubular dentro dos testículos. Em um corte histológico dos túbulos seminíferos, podemos visualizar as células da linhagem espermatogênica em diferentes fases de desenvolvimento. Na puberdade, por influência da testosterona, inicia-se a espermatogênese. Túbulo seminífero: As espermatogônias são as células mais imaturas e estão localizadas no compartimento basal do túbulo seminífero. São elas que sofrem sucessivas mitoses e assim, mantém a espermatogênese ativa por toda vida. Algumas células permanecem como espermatogônias e outras se diferenciam em espermatócito I. Essa célula sofrerá a primeira meiose, originando dois espermatócitos II. Em seguida, os espermatócitos II completam a segunda meiose e originam 4 espermátides (células haploides). As espermátides passarão por um processo chamado espermiogênese até se transformarem em espermatozoides, encontrados no lúmen do túbulo. Na espermiogênese não há divisão celular, apenas um rearranjo das organelas e da forma da célula, adquirindo um acrossomo, que contém enzimas hidrolíticas, e um flagelo, estruturas importantes para a fecundação. Diferentemente da espermatogênese, a ovogênese acontece da puberdade à menopausa. Milhares de oogônias (análogas às espermatogônias), são formadas na vida intra-uterina da mulher e se diferenciam em oócitos primários, sendo que ao nascimento, a mulher tem aproximadamente apenas 300.000 oócitos primários, ou seja, a maioria degenera. Os oócitos primários estacionam na primeira meiose até a puberdade, quando então, em cada ciclo, a cada mês, um matura e é liberado do ovário (oocitação ou ovulação). Nesse processo ele completa a primeira meiose e dá origem ao oócito II e ao primeiro corpo polar, célula não funcional. A segunda meiose só se completa no momento da fecundação e dá origem ao oócito que será o gameta fecundado e o segundo corpo polar (célula também não funcional). Os oócitos primários se desenvolvem dentro de estruturas que chamamos de folículos ovarianos. Então, um folículo é o oócito mais as células foliculares em torno dele. Os folículos sofrem várias modificações até chegar ao estágio maduro ou de Graff (folículo grande, que faz volume na parede do ovário). É esse folículo que liberará o ovócito II. A regulação hormonal é mais complexa no sistema reprodutor feminino do que no masculino. Em um ciclo de 28 dias, na primeira metade, o FSH estimula a maturação dos folículos que por sua vez secretam estrogênio. O aumento do estrogênio, causa um pico de LH que induz a liberação do oócito, a ovulação, e assim o organismo feminino se prepara para uma possível gestação, com liberação de progesterona também pelo corpo lúteo, estrutura glandular formada à partir do folículo maduro que liberou o oócito que poderá ser fecundado. Fecundação Fecundação é uma sequencia complexa de eventos coordenados, que se inicia com o contato dos gametas, oócito e espermatozoide na tuba uterina. Termina com a mistura dos cromossomos maternos e paternos, assim originando o embrião, unicelular, diploide, o zigoto. O espermatozoide, ao chegar ao sistema genital feminino, sofre a capacitação, que é a perda de glicoproteínas e proteínas que cobrem a superfície do acrossomo, organela em forma de capuz que contém enzimas que propiciam a fecundação. Os espermatozoides são quimio-atraídos para a tuba uterina, se tornam hiperativos e fazem contato e reconhecimento do oócito, o que propicia a reação acrossômica. A reação acrossômica é a liberação das enzimas do acrossoma, por formação de poros entre a membrana plasmática do espermatozoide e do acrossomo. A liberação dessas enzimas permite que o espermatozoide penetre a corona radiata, que são células foliculares ao redor do oócito. Também propicia a penetração na zona pelúcida, camada glicoproteica ao redor do oócito, entre a corona radiata e o oócito, então, há a fusão das membranas plasmáticas do oócito com o espermatozoide, com a entrada do núcleo do espermatozoide no oócito, deixando para trás seu flagelo e suas mitocôndrias. Com a entrada do núcleo do espermatozoide, ocorre o término da segunda divisão meiótica do ovócito, formação do pronúcleo feminino e do segundo corpo polar, célula não funcional. Forma-se o pronúcleo masculino, e, então, o zigoto. À medida que o zigoto passa ao longo da tuba em direção ao útero, sofre as clivagens, também chamadas de segmentação: uma série de divisões mitóticas que formam várias células menores, os blastômeros. Aproximadamente 3 dias após a fecundação, uma massa de 12 ou mais blastômeros, a mórula, entra no útero. Reparem que a zona pelúcida ainda permanece, impedindo o crescimento em tamanho dessa estrutura. Uma cavidade se forma na mórula, chamando-se agora de blastocisto. O blastocisto perde a zona pelúcida e irá começar o processo de implantação ou nidação no endométrio uterino. A fecundação 1) reestabelece o número diplóide de cromossomos; 2) determina o sexo do embrião (por parte do cromossomo X ou Y do espermatozoide), que combinado ao oócito X, originará XX: feminino ou XY: masculino; 3) proporciona a variabilidade da espécie pela combinação de cromossomos maternos e paternos; 4) produz a ativação do zigoto: início da segmentação (clivagens). Apenas 1 espermatozoide penetra o oócito e o fecunda, embora muitos tentem. Se mais de um espermatozoide participar da fecundação, o zigoto terá um conjunto extra de cromossomos, uma triplodia, que é responsável pela maioria dos abortos espontâneos. No final da primeira semana após a fecundação, o blastocisto, formado a partir das sucessivas mitoses do zigoto, encontra-se solto na cavidade uterina e é formado pelo 1) trofoblasto, trofo significa nutrição, porque ele será a contribuição embrionária para a formação da placenta e 2) um aglomerado de células, a massa celular interna, ou embrioblasto, que formará o embrião propriamente dito. No início da segunda semana o blastocisto está parcialmente incrustado no endométrio. O trofoblasto diferencia-se em 2 camadas, a mais interna, o citotrofoblasto, cito porque as células mantêm sua identidade e o sinciciotrofoblasto, sincício porque as células perdem sua identidade, e atuam como uma massa multinucleada que invade o tecido materno. Normalmente a implantação do blastocisto ocorre na parede posterior do útero, porém, algumas vezes o blastocisto pode se implantar fora do útero, são as gestações ectópicas. A mais frequente entre elas é na tuba uterina, podendo ocorrer fora do útero, no abdome ou até no ovário. Esses locais são inviáveis de sustentar uma gestação. Com aproximadamente 8 dias, o blastocisto está parcialmente implantado e a massa celular interna se segrega em duas camadas embrionárias: o epiblasto, voltado para a região dorsal e o hipoblasto, voltado para a região ventral. Forma-se uma cavidade, a cavidade amniótica – acima do epiblasto, que se enche de líquido, o líquido amniótico. Temos então, o disco embrionário bilaminar. Aos 9 dias de desenvolvimento o hipoblasto formará uma camada de células achatadas, que reveste o saco vitelino primitivo, e um tecido conjuntivo frouxo chamado mesoderma extraembrionária, que se interpõe entre o trofoblasto de um lado, e o saco amniótico e o saco vitelino, de outro. Ao final da segunda semana, formam-se vacúolos no mesoderma extraembrionário, formando a cavidade coriônica. A segunda semana de desenvolvimento é denominada de semana dos 2: o embrioblasto forma dois folhetos embrionários: o epiblasto e o hipoblasto. Formam-se duas cavidades, a cavidade amniótica e o saco vitelino. O trofoblasto, agora chamado córion, se diferencia em duas camadas o citotrofoblasto e o sinciciotrofoblasto. Terceira e quarta semanas A terceira semana caracteriza-se pela gastrulação, que é o estabelecimento dos 3 folhetos germinativos que darão origem a todos os tecidos do embrião. Esses folhetos se dispõem em camadas, o ecto, o meso e o endoderma. Eles se formam a partir do epiblasto do embrião didérmico. Olhando o disco didérmico de cima em que foi retirado o saco amniótico, vemos a formação da linha primitiva no epiblasto. Posteriormente, por um mecanismo de invaginação celular, a linha primitiva se aprofunda e se transforma em um sulco primitivo até uma depressão, chamada fosseta primitiva.O sulco primitivo aparece, então, como consequência de deslocamentos celulares que, em conjunto, caracterizam a etapa de gastrulação. À medida que as células epiblásticas se introduzem na linha primitiva entre as células do ecto e as células do hipoblasto, as células do ecto substituem as do hipoblasto, formando a endoderme. Posteriormente, outras células epiblásticas continuam ingressando pela linha primitiva em sentido lateral e se introduzem entre o epiblasto (agora denominado ectoderma) e o endoderma para formar uma camada intermediária, chamada mesoderma intraembrionária. Assim, as primeiras células que entram pela linha primitiva substituem as células do hipoblasto e formam a endoderme, e as ondas celulares posteriores formam a camada mesodérmica. Temos então, a formação do embrião tridérmico, originado pelo processo de gastrulação Posteriormente, ocorre a formação da notocorda, que se dá pela formação de um tubo celular rígido no mesoderma, que cresce em direção cefálica. A notocorda é uma estrutura maciça, com forma de barra, que é transitória no ser humano. Ela tem um papel muito importante na indução do desenvolvimento de outras estruturas embrionárias, como o SN. Em torno dos 20 dias há um engrossamento da região medial da ectoderme (neuroectoderme) provocado por sinais moleculares da notocorda que induzem a formação da placa neural. As células ectodérmicas da região medial do disco embrionário aumentam em altura, e as células ectodérmicas destinadas a formar a epiderme da pele permanecem achatadas. Como consequência da mudança de forma desta população celular na parte média da placa neural, ocorre uma invaginação sobre seu eixo longitudinal e a consequente formação do tubo neural ou sulco neural, limitado lateralmente pelas pregas neurais As bordas do tubo neural (pregas neurais), por volta do final da terceira semana aproximam-se entre si e se fundem. O tubo neural é o primórdio do sistema nervoso central. O fechamento do tubo neural começa no meio do embrião e avança de forma progressiva para as extremidades cranial e caudal. Um grupo de células da neuroectoderme, correspondentes à zona das pregas neurais, são segregadas do tubo neural e iniciam uma nova etapa migratória: são as células da crista neural. Essas células se diferenciarão no sistema nervoso periférico, entre outros.