Capítulo VII Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher Fátima Baptista e Nanna Meyer FISIOLOGIA DA MULHER Puberdade A puberdade constitui um processo biológico em que se verifica a evolução da criança para a idade adulta sexualmente madura e apta para a reprodução. A evolução da maturidade sexual ou fertilidade é determinada pela estimulação das gónadas (ovários e testículos), através das hormonas segregadas pela hipófise. As gónadas começam a formar gâmetas férteis (óvulos ou espermatozóides) e também a segregar hormonas que promovem o aparecimento dos caracteres sexuais adultos. Para além do desenvolvimento sexual, verifica-se também uma aceleração do crescimento linear e ponderal e da maturação das glândulas supra-renais. DESENVOLVIMENTO PUBERTÁRIO A puberdade envolve uma sequência de passos maturativos dependentes da reactivação do eixo hipotálamo-hipófise-gónada, inibido entre a primeira infância e o início da puberdade. Verifica-se a secreção da hormona libertadora das gonadotrofinas (GnRH) pelo hipotálamo, que por sua vez estimula a secreção de gonadotrofinas, nomeadamente, da hor- 313-320 313 mona folículo-estimulante (FSH) e da hormona luteinizante pela hipófise anterior. Estas hormonas controlam a formação de óvulos pelos ovários ou de espermatozóides pelos testículos e a secreção de hormonas sexuais (estrogénios, progesterona e androgénios) (Quadro VII.1). Em média, a sequência pubertal da gonadarca, adrenarca e menarca requer um período de quatro anos e meio (amplitude de ano e meio a 6 anos). Em geral, o primeiro sinal da puberdade é a aceleração do crescimento seguida por elevação do mamilo (telarca). A adrenarca surge geralmente dois anos mais tarde após a telarca. Todavia, em aproximadamente 20% das crianças o crescimento de pêlos púbicos pode constituir o primeiro sinal da puberdade. A menarca é um acontecimento mais tardio que ocorre depois do pico de velocidade em altura (Figura VII.1). O salto de crescimento das raparigas tem início dois anos mais cedo (média: dez anos e meio; amplitude de variação de nove anos e meio a catorze anos e meio); que o dos rapazes e num ano a sua taxa de crescimento duplica, conduzindo a um crescimento em altura de 6 a 11 cm. O pico da velocidade da altura ocorre entre os nove anos e meio e os treze anos, enquanto o pico de velocidade do peso ocorre um pouco mais tarde, coincidindo usualmente com a idade da menarca (média: 13 anos; amplitude de 02.05.08, 5:22 PM Nutrição, Exercício e Saúde 314 Quadro VII.1 • Sumário dos acontecimentos pubertais. • Com o aumento do estrogénio gonadal (gonadarca), verifica-se na rapariga o desenvolvimento da mama, o aumento e a redistribuição da gordura corporal e o crescimento vaginal e uterino. O crescimento do esqueleto ocorre rapidamente em resultado da secreção inicial de baixos níveis de estrogénio, o que conduz ao aumento da produção da hormona de crescimento, que por sua vez estimula a produção do factor de crescimento insulino-mimético-I (IGF-I); • O crescimento de pêlos púbicos e axilares (adrenarca) está dependente da secreção de androgénios pelo córtex das glândulas supra-renais (cuja actividade tem início por volta dos 6 anos) e em menor grau da secreção de androgénios gonadais. A adrenarca tem pouca ou nenhuma influência no crescimento do esqueleto. Embora temporariamente relacionada com a gonadarca, a adrenarca é independente; • A ocorrência da primeira menstruação (menarca) no final da puberdade está dependente da estimulação do endométrio através de secreção suficiente de estrogénios gonadais. variação: nove a dezassete anos e meio). A maioria das raparigas alcança o pico de crescimento mais ou menos dois anos após a telarca e um ano antes da menarca. As evidências sugerem que a aceleração do crescimento é devida ao estrogénio e concomitante aumento na produção da hormona de crescimento e estimulação secundária do IGF-I. dentes dos outros indicadores. A avaliação da maturação sexual é baseada no desenvolvimento de caracteres sexuais secundários – mama e menarca nas raparigas, órgãos genitais nos rapazes e pêlos púbicos em ambos os géneros. Ao contrário dos outros indicadores, que podem ser monitorizados da infância à idade adulta jovem, a utilização dos caracte- Elevação do mamilo Aparecimento de pêlos púbicos Pico de velocidade em altura Menarca Mama de adulto Pêlos púbicos de adulto 8 10 12 14 16 18 Idade (anos) Figura VII.1 • Média de idade de ocorrência de eventos pubertais. A avaliação do nível de maturidade varia de acordo com o sistema biológico considerado. Os indicadores de maturidade biológica mais utilizados nos estudos de crescimento são a maturação sexual, a maturação do esqueleto e a maturação somática, razoavelmente relacionados. A erupção e calcificação dos dentes, embora utilizadas como indicadores de maturidade, são relativamente indepen- 313-320 314 res sexuais secundários é limitada à fase pubertal do crescimento e maturação: • O estádio I corresponde à pré-puberdade (ausência de caracteres); • O estádio II ao início da puberdade; • Os estádios III-IV à continuação da maturação de cada caracter; • O estádio V ao final da puberdade, que na rapariga é sinalizado com a menarca. 02.05.08, 5:22 PM IDADE DA PUBERDADE LEPTINA Embora a maior determinante da idade da puberdade seja genética, outros factores parecem influenciar o início ou a progressão da puberdade como a localização geográfica, a exposição à luz, a nutrição e a saúde em geral e também factores psicológicos. Crianças com uma história familiar de puberdade precoce iniciam mais cedo a puberdade, verificando-se uma correlação da idade da menarca entre mães e filhas e entre irmãs. Crianças que habitem mais perto do Equador, em altitudes mais baixas, em áreas urbanas e moderadamente obesas iniciam mais cedo a puberdade comparativamente a crianças que habitem em regiões de maior latitude, em altitudes maiores, em áreas rurais e de peso normal. Existe ainda uma correlação entre o início e a duração da puberdade: quanto mais cedo o início, maior a duração. Apesar de nem todos os estudos encontrarem uma relação entre o início da puberdade e o peso (ou gordura corporal), coloca-se a hipótese de que mecanismos centrais de controlo da maturação do eixo hipotálamo-hipófise-ovário estimulem o aumento do peso (ou da massa gorda), até valores considerados limiares para a ocorrência dos acontecimentos pubertários. A identificação da leptina revitalizou a importância da relação entre a gordura corporal e a função reprodutiva. A leptina é um péptido secretado pelo tecido adiposo, que circula no sangue ligado a uma família de proteínas e que age no sistema nervoso central para regular os comportamentos alimentares e o equilíbrio energético. Várias observações suportam a função da leptina na fisiologia do sistema reprodutivo. • A administração de leptina acelera o início da puberdade nos animais roedores; • Os níveis de leptina dos rapazes aumentam na puberdade; • Foram observados níveis baixos de leptina em atletas, pacientes com anorexia e com atraso da puberdade; • Embora com um desenvolvimento sexual normal, ratos com insuficiência de leptina, permanecem pré-pubertais e não demonstram ovulação. A fertilidade é restaurada com administração de leptina. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS A diminuição da idade da menarca, observada em crianças de países desenvolvidos, reflecte uma melhoria do estado nutricional e condições de vida mais saudáveis. Parece ser crítica a obtenção de um peso de 48 kg para que ocorra a menarca. Possivelmente mais importante do que o peso corporal talvez seja o aumento da percentagem de massa gorda (de 16 para 23,5%) durante a puberdade, o que por sua vez também é influenciado pelo estado nutricional. Na realidade, nas raparigas obesas (com mais de 20 a 30% do peso normal), a menarca ocorre mais cedo do que nas raparigas de peso normal. Inversamente, as raparigas com anorexia e as que realizam exercício de forma exaustiva, ou seja, as de baixos peso e percentagem de massa gorda, apresentam atraso da menarca ou amenorreia secundária. 313-320 A existência de outros factores determinantes da ocorrência da menarca é evidenciada pelo seu atraso em raparigas morbidamente obesas (com mais de 30% de excesso de peso), diabéticas e raparigas activas ou atletas de peso normal. Raparigas com uma percentagem de massa gorda de 19% podem experimentar a menarca mais cedo e raparigas com 27% de massa gorda podem não apresentar sinais de puberdade. 315 Os níveis de leptina aumentam durante a infância até ao início da puberdade, sugerindo que um nível limiar de leptina (e consequentemente uma quantidade crítica de tecido adiposo, fonte de leptina) seja necessário para que a puberdade se inicie. Quanto mais elevados os níveis de leptina, mais cedo ocorre a idade da menarca. Após a puberdade, os níveis de leptina nos rapazes regressam aos valores pré-pubertais, devido a aparente supressão pela testosterona. Nas raparigas, os níveis de leptina são mais elevados do que nos rapazes e diminuem também com a progressão dos estádios pubertários. 02.05.08, 5:23 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 315 Nutrição, Exercício e Saúde 316 Destaque EXERCÍCIO FÍSICO NA PUBERDADE E ADOLESCÊNCIA Apesar de as crianças constituírem o grupo etário mais activo, um número pequeno mas significativo de crianças apresenta níveis insuficientes de prática de actividade física regular. As raparigas apresentam geralmente uma prática mais reduzida do que os rapazes da mesma idade. Esta diferença é aumentada durante a adolescência, uma vez que a diminuição do nível de actividade física, que se verifica a partir da puberdade em ambos os géneros, é mais acentuada nas raparigas. Para além de instrumento de desenvolvimento psicossocial e motor, a prática de actividade física, sob diversos formatos ajustados à idade e nível de maturação, constitui um instrumento de promoção da saúde. Alguns dos benefícios, como a redução ou prevenção do excesso de peso e da obesidade são obtidos a curto prazo, outros benefícios, como a prevenção de doenças cardiovasculares e da osteoporose, são obtidos a longo prazo se os hábitos de prática forem incorporados e mantidos num estilo de vida activo. Crianças e adolescentes, e em particular as raparigas, tornam-se, assim, grupos-alvo de estratégias de prevenção que têm por objectivo o aumento da prática de actividade física. O TAAG (Trial of Activity in Adolescent Girls) constitui um modelo de intervenção baseado numa aproximação sócio-ecológica em que o principal objectivo é aumentar o nível de actividade física de intensidade pelo menos moderada das adolescentes do sexto ao oitavo ano de escolaridade, através de modificações no envolvimento físico (por exemplo, o número de programas de actividade física disponível fora da escola) e psicossocial (por exemplo, a percepção do nível de confiança para a prática de actividade física, dos benefícios e barreiras de se tornar mais activa, do suporte social, etc). Trata-se de um modelo de intervenção sustentado no facto das motivações, preferências e barreiras para a prática, por serem diferentes entre rapazes e raparigas, requererem intervenções específicas de acordo com o género. Enquanto que as motivações para a prática relatadas pelos rapazes estão mais relacionadas com a oportunidade para a competição, o reconhecimento, o aumento do vigor físico e o isolamento, nas raparigas, o controlo do peso parece constituir um dos principais mediadores para a prática de actividade física. A recomendação geral para ambos os géneros é, no entanto, a de uma acumulação diária (prática intermitente com breves períodos de pausa ou recuperação), de 60 minutos de actividade física de intensidade pelo menos moderada, dos quais 20 a 30 minutos devem ser de actividade vigorosa, como correr, subir, descer e saltar, complementadas com jogos, actividades ou exercícios que solicitem a força e a flexibilidade do tronco, dos membros superiores e inferiores, duas a três vezes por semana. As propostas ou programas devem assim incluir jogos, actividades ou exercícios que solicitem o sistema cardiovascular (movimentos de locomoção como, por exemplo, nadar, pedalar, fugir, apanhar, procurar), que tenham impacto no esqueleto (por exemplo, saltar e correr) e que melhorem a força e a flexibilidade (por exemplo, subir, trepar, elevar, puxar, flectir, alongar ou esticar). As crianças geralmente não necessitam de monitorizar a frequência cardíaca devido ao baixo risco cardiovascular e à sua habilidade para ajustar o esforço à sua tolerância. A força muscular pode melhorar com o treino tanto em rapazes como em raparigas antes da puberdade devido sobretudo a adaptações neurais e não ao aumento da massa muscular. Embora os factores motivadores para a prática variem com a idade de desenvolvimento, a necessidade de divertimento, o nível apropriado de dificuldade, a limitação da competição, o apoio dos amigos/colegas e da família e o reconhecimento do sucesso constituem alguns dos factores determinantes. A falta de segurança na área de residência, a inexistência de espaços lúdicos e a limitação de transportes 313-320 316 02.05.08, 5:23 PM públicos ou privados representam barreiras à prática da actividade física. Desencorajam-se períodos de inactividade de duas ou mais horas, especialmente durante o dia. No âmbito da promoção da actividade física, as escolas devem integrar aulas de educação física em cada grau de ensino, aumentando o seu tempo útil e eliminando ou diminuindo drasticamente as dispensas destas aulas. Devem informar os alunos sobre os benefícios da prática de actividade física e oferecer facilidades de prática fora do horário escolar. As escolas e a comunidade devem disponibilizar um conjunto de actividades, desportivas mas não só, que sejam agradáveis e possam ser praticadas no dia-a-dia, que possam ir ao encontro de diversos interesses étnicos e de género, que promovam a confiança e o desenvolvimento do desempenho motor e que disponibilizem oportunidades para todos os níveis de desempenho. Os pais devem constituir um bom exemplo sendo fisicamente activos, demonstrar interesse, encorajamento e orgulho, devem envolver-se nos programas das escolas e/ou das comunidades, devem encorajar a actividade das crianças dentro de casa e providenciar o transporte para as actividades no exterior. (Ver Destaque: Exercício físico e saúde cardiovascular). Ciclo menstrual © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS O ciclo menstrual pode ser dividido em três fases: • A fase folicular; • A fase ovulatória; • A fase luteínica. 313-320 A fase folicular é caracterizada pelo desenvolvimento inicial e maturação dos folículos ováricos, processos que se encontram dependentes da segregação adequada da (FSH) e da hormona luteinizante, respectivamente. Estas hormonas estimulam os folículos do ovário a produzirem estrogénios (em que o principal é o estradiol), cuja secreção aumenta à medida que os folículos se desenvolvem. Na fase ovulatória, o nível de estrogénios, ligeiramente aumentado na fase anterior, eleva-se rapidamente e conduz a um pico da hormona luteinizante, através de retrocontrolo positivo no hipotálamo e na hipófise, que por sua vez causa a ruptura do folículo e a libertação do óvulo. Este acontecimento marca o início da fase luteínica. Nesta fase, após a libertação do óvulo, o folículo permanece no ovário e transforma-se numa pequena glândula endócrina, o corpo lúteo, que continua a segregar estrogénios mas também progesterona. Os níveis aumentados destas hor- 317 monas inibem a libertação da GnRH e diminuem a segregação de hormona luteinizante. Níveis reduzidos de hormona luteinizante conduzem à diminuição dos níveis plasmáticos de estrogénio e de progesterona e à degeneração do corpo lúteo e início da hemorragia menstrual. Devido ao mecanismo de retrocontrolo negativo do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, níveis diminuídos de estrogénio e progesterona sanguíneos estimulam a libertação da GnRH do hipotálamo iniciando-se outro ciclo menstrual (Figura VII.2). Em caso de gravidez, a hormona gonadotrofina coriónica, segregada pelo trofoblasto (camada de células que envolve o botão embrionário), surge em circulação e impede a luteólise, para que a função esteroidogénica do corpo lúteo seja mantida até que possa ser desempenhada pela placenta (às oito a 10 semanas de gravidez). A progesterona formada pelo corpo lúteo prepara a mucosa do útero ou endométrio para implantação do embrião se o óvulo for fecundado. A produção de progesterona pela placenta tem início depois da implantação. Se o óvulo não for fecundado, verifica-se uma atrofia do corpo lúteo e a ocorrência da menstruação. O estrógenio é um termo aplicado a uma família de hormonas, que inclui principalmente o estradiol, o estriol e a estrona. 02.05.08, 5:23 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 317 Nutrição, Exercício e Saúde 318 GONADOTROFINAS LH FSH CICLO OVÁRICO Maturação do folículo Ovulação Corpo amarelo P E2 -12 -8 -4 Fase folicular 0 +4 +8 +12 Fase luteínica Fase ovulatória Figura VII.2 • Concentrações sanguíneas da FSH, da hormona luteinizante (LH), do estradiol (E2) e da progesterona (P) ao longo do ciclo mestrual. O estradiol, que é o estrogénio mais potente, é uma hormona produzida principalmente pelas gónadas (ovários) e contribui para a maioria dos estrogénios circulantes durante os anos férteis. A sua função é promover a hiperplasia, ou seja, a divisão e crescimento celular. Também é produzido pela placenta durante a gravidez. O estriol é um estrogénio fraco também secretado pela placenta e/ou metabolizado a partir da estrona. A estrona deriva principalmente da androstenediona (androgénio fraco) nos adipócitos (células do tecido adiposo). Ele contribui para o restante estrogénio circulante e está associado ao metabolismo da pós-menopausa onde a sua eficiência está aumentada. A duração dos ciclos menstruais é determinada pela duração da fase folicular, que pode variar entre uma a três semanas, enquanto a fase luteínica demora em média duas semanas. A menarca, ou ocorrência da primeira menstruação, é seguida de um período de cinco a sete anos de regularização dos ciclos menstruais, com encurtamento da sua duração até alcançar 313-320 318 o padrão normal da idade reprodutiva. Por volta dos 40 anos os ciclos começam novamente a alongar-se. Um ciclo menstrual tem início no primeiro dia de uma menstruação e termina no dia precedente à menstruação seguinte. Apesar de alguma variabilidade intra-individual, o padrão normal encontra-se associado à ocorrência de nove a 12 ciclos menstruais por ano, com uma duração de 24 a 35 dias de intervalo entre os ciclos menstruais (mediana: 28 dias). Desvios destes padrões resultam frequentemente em disfunções reprodutivas, algumas manifestas, como a amenorreia e a oligomenorreia, e outras mais subtis relacionadas a anovulação e com alterações da fase luteal. Estas são causadas pela deficiência de progesterona sem ou com encurtamento da fase luteal (inferior a 10 dias quando o normal são 14 dias), provocada pela alteração da pulsatilidade da libertação da LH. Estas disfunções reprodutivas apresentam consequências ao nível da fertilidade, da saúde cardiovascular, óssea e do metabolismo oxidativo a nível muscular. A oligomenorreia é definida pela ocorrência de ciclos menstruais intermitentes com durações iguais ou superiores a 36 dias (ocorrência de três a seis ciclos menstruais por ano). A amenorreia é definida através dos seguintes critérios: • Ausência de período menstrual aos 14 anos na ausência de crescimento ou de manifestação do desenvolvimento de caracteres sexuais secundários (amenorreia primária); • Ausência de período menstrual aos 16 anos apesar de normal crescimento e manifestação de caracteres sexuais secundários (amenorreia primária); • Ausência num período maior do que 3 meses, nas mulheres que já foram menstruadas (amenorreia secundária). A coordenação do ciclo menstrual é realizada através da interacção do eixo central hipotálamo-hipófise, dos sinais de retrocontrolo e das respostas locais ao nível do ovário. Em raparigas/mulheres 02.05.08, 5:23 PM com ausência de menstruação ou função menstrual anormal, geralmente o diagnóstico ou as causas são baseadas numa das seguintes três categorias: • Hipogonadismo hipergonadotrófico (insuficiência do ovário), ou seja, a falta de capacidade de resposta do ovário à estimulação das gonadotrofinas; • Hipogonadismo hipogonadotrófico (insuficiência central), ou seja, a falta de capacidade do hipotálamo ou da hipófise e que é expressa através de baixos níveis de gonadotrofinas circulantes; • Disfunção anovulatória (ausência de ovulação). © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Disfunções menstruais em atletas 313-320 Uma das razões mais frequentes de consulta ginecológica pelas raparigas/mulheres que praticam exercício físico de forma exaustiva (intensivo e/ou extensivo) é o diagnóstico e tratamento de disfunções menstruais. A amenorreia secundária apresenta uma taxa de prevalência quatro a 20 vezes mais elevada nas atletas do que na população em geral e é designada por amenorreia atlética quando não consegue ser explicada por outros factores a não ser o treino. Entre as atletas, a prevalência da amenorreia secundária parece ser maior entre as que são jovens, as que treinam mais exaustivamente, e nos desportos em que a magreza pode possibilitar vantagens competitivas, como nos desportos de forte componente estética, de longa distância e por categorias de peso, estimando-se em 50% a sua prevalência entre as mulheres que treinam sob estas condições. Em períodos prolongados de insuficiência energética, o corpo mantém as actividades necessárias à sobrevivência disponibilizando energia para a manutenção celular de funções essenciais como a termorregulação e a locomoção, enquanto que processos menos críticos como a função reprodutiva, a deposição do tecido 319 As raparigas que iniciam programas de treino exaustivos antes da ocorrência da menarca, ou seja, antes da completa maturação da função hipotâlamica-hipofisária-gonadal, podem atrasar o aparecimento da primeira menstruação e aumentar, também, o risco de amenorreia secundária. A redução do peso corporal abaixo dos limites compatíveis com a disponibilidade de energia para a regulação das principais actividades metabólicas constitui, no entanto, uma das explicações mais fortes para a ocorrência destas disfunções hormonais. adiposo e o crescimento ficam comprometidos. Observações de que as atletas amenorreicas consomem menos calorias (1 250 a 2 150 kcal/dia) do que as atletas eumenorreicas (ciclos menstruais normais) (1 700 a 2 500 kcal/dia), com um nível de treino semelhante, confirmam que estes comportamentos alimentares estão presentes (Ver Tríade da mulher atleta). Gravidez A gravidez é o resultado da fecundação do óvulo pelo espermatozóide e da sua implantação na parede uterina com consequente crescimento e maturação. É um processo que dura em média 38 semanas. Todavia, devido à incerteza da data de concepção, a duração da gravidez é estimada com base na data do primeiro dia do último ciclo menstrual, ou seja, mais ou menos 15 dias antes da concepção, perfazendo um total de 40 semanas. Ao longo deste período de tempo as adaptações maternais da gravidez são sobretudo controladas pelo feto, pelas suas necessidades de trocas de produtos metabólicos e nutricionais com a mãe. Este controlo envolve uma grande variedade de mensagens, transmitidas em muitos casos através de hormonas (maternais, placentárias e fetais). Por exemplo, a insulina e a hormona lactogénica da placenta, também designada por somatotrofina coriónica, promovem adaptações do metabolismo energético materno no sentido de limitar a utilização da glicose por parte da mãe e de a maximizar por parte do feto. Si- 02.05.08, 5:23 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 319 Nutrição, Exercício e Saúde 320 multaneamente, a hormona lactogénica da placenta promove a lipólise como principal fonte de energia do compartimento materno. A ideia de que a gravidez constitui um período de fragilidade e de que a realização de esforços associados ao exercício é prejudicial faz parte do passado. Este facto é devido ao aumento da informação científica sobre a segurança e os benefícios do exercício maternal. No entanto muitas questões permanecem sobre o que deve ou não ser feito durante a gravidez. O exercício pode produzir efeitos adversos devido a: • Insuficiente disponibilidade de oxigénio e de energia para o trabalho muscular realizado pela mãe e para o desenvolvimento do feto; • Hipertermia, indutora de perturbações fetais; • Aumento de contracções uterinas. No entanto, os estudos indicam que mulheres saudáveis sem gravidezes complicadas não necessitam de limitar a sua prática com receio de efeitos nefastos. Não existem diferenças consistentes entre mulheres com e sem prática de exercício relativamente à taxa de aborto espontâneo, perturbações fetais, complicações no parto e capacidade para terminar o tempo normal de gravidez, ou seja, incidência de trabalho de parto precoce. Embora alguns resultados sugiram que o exercício vigoroso pode conduzir ao nascimento de bebés com menor peso, estes bebés encontram-se dentro dos limites do peso normal. Existem todavia contra-indicações para a prática do exercício durante a gravidez relacionadas ou com a condição maternal (Quadros VII.2 e VII.3) ou com o tipo de exercício (Quadro VII.4). Para as mulheres grávidas que não apresentam qualquer factor de risco, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG: American College of Obstetricians and Ginecologists) e o de Medicina Desportiva (ACSM: American College of Sports Medicine) estabeleceram linhas de orientação para a prescrição do exercício (Quadro VII.5). 313-320 320 Quadro VII.2 • Contra-indicações absolutas para a prática de exercício durante a gravidez. • Doença cardiovascular com alterações hemodinâmicas significativas; • Doença pulmonar restritiva; • Cérvix incompetente; • Trabalho de parto precoce em gravidezes anteriores; • Hemorragias persistentes no segundo e no terceiro trimestre de gravidez; • Placenta prévia depois das 26 semanas de gestação; • Trabalho de parto precoce na actual gravidez; • Ruptura de membranas; • Pré-eclampsia/hipertensão induzida pela gravidez. Quadro VII.3 • Contra-indicações relativas para a prática de exercício durante a gravidez. • • • • • • • • • • • • Anemia severa; Arritmia cardíaca maternal não avaliada; Bronquite crónica; Diabetes tipo 1 mal controlada; Obesidade mórbida extrema; Peso insuficiente extremo (IMC < 12 kg/m2); Estilo de vida extremamente sedentário; Atraso de crescimento intra-uterino na actual gravidez; Hipertensão mal controlada; Limitações ortopédicas; Hipertiroidismo mal controlado; Consumo elevado de tabaco. Quadro VII.4 • Exercício de alto risco. • • • • • • • • • • Ski aquático e na neve; Montanhismo; Snowboard; Mergulho; Scuba diving; Bungee-jumping; Equitação; Patinagem; Ciclismo de montanha ou de estrada; Exercício vigoroso em altitude (para mulheres não habituadas). 02.05.08, 5:23 PM Quadro VII.5 • Recomendações para a prática do exercício durante a gravidez e no pós-parto. • Prática regular (pelo menos três vezes por semana), de exercício de intensidade leve a moderada, com duração de 30 a 40 minutos por sessão. A intensidade vigorosa reduz o débito cardíaco nos órgãos do tórax e abdómen, incluindo o útero; • Evitar a realização de exercícios em decúbito dorsal depois do primeiro trimestre. Esta posição está associada a uma diminuição do débito cardíaco na maioria das mulheres grávidas. Devem ser igualmente evitados exercícios prolongados na posição de pé sem qualquer deslocamento; • Exercícios (na posição de pé) podem, sob algumas circunstâncias, ser praticados com intensidades semelhantes às anteriores à gravidez. Exercícios como pedalar ou nadar minimizam, todavia, os riscos de lesão e facilitam a continuação do exercício durante a gravidez; • Evitar exercícios com exigências elevadas ao nível do equilíbrio, ou seja, com elevado risco de queda, especialmente no terceiro trimestre, e exercícios indutores de trauma abdominal, mesmo que leve; • A gravidez requer 300 kcal adicionais para manter a homeostase. Assim, as mulheres que fazem exercício durante a gravidez devem ter particular cuidado para assegurar uma dieta adequada; • Aumentar a dissipação de calor durante o exercício através de vestuário e hidratação adequados num envolvimento físico confortável; • A maioria das modificações fisiológicas e morfológicas durante a gravidez persistem quatro a seis semanas após o parto. Assim, as rotinas de exercício devem ser reassumidas gradualmente de acordo com a capacidade da mulher. Durante o exercício as mulheres grávidas devem saber reconhecer os sintomas e sinais para descontinuar o exercício e procurarem conselho médico (Quadro VII.6). tiva de esforço em vez da frequência cardíaca, devido a alterações cronotrópicas durante a gravidez, que fazem com que os cálculos para a estimação da frequência cardíaca de treino não sejam apropriadas. Quadro VII.6 • Razões para interrupção do exercício. As linhas de orientação do ACOG diferenciam as mulheres grávidas com prática de exercício regular prévia à gravidez das que iniciam a sua prática durante a gravidez. A recomendação para as mulheres com prática regular prévia é a da manutenção do seu programa de treino, sem grandes alterações. Todavia, muitas mulheres modificam a intensidade, a duração e a frequência do exercício durante a gravidez devido a sintomas específicos e nível de conforto. Para aquelas mulheres que planeiam iniciar um programa durante a gravidez é necessário um consentimento médico e aconselha-se exercícios de baixo impacto ou sem impacto, tais como a marcha e a natação. Hemorragia vaginal; Dificuldades respiratórias antes do esforço; Tontura; Dor de cabeça; Dor no peito; Fraqueza muscular; Inchaço ou dor na barriga da perna (possibilidade de tromboflebite); • Trabalho de parto prematuro; • Diminuição de movimentos fetais; • Saída de líquido amniótico. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS • • • • • • • 321-376 Embora algumas mulheres grávidas possam realizar provas de esforço máximo, geralmente não é recomendado a não ser por razões clínicas. Para monitorizar a intensidade do esforço, as linhas de orientação do ACSM aconselham a utilização da escala da sensação subjec- 321 Embora o exercício não seja recomendado para todas as grávidas, a maioria das mulheres, especialmente aquelas com autorização médica, beneficiam dos programas de exercício pré-natal enquanto o feto é sujeito a um risco mínimo (Quadro VII.7). 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 321 Nutrição, Exercício e Saúde 322 Quadro VII.7 • Potenciais benefícios dos programas de exercício pré-natal. Durante a gravidez: • Melhoria da aptidão cardiorrespiratória e muscular; • Melhoria do bem-estar psicológico através da redução de sentimentos de ansiedade, de stress e de depressão; • Diminuição do ganho de peso; • Diminuição da incidência de dores nas costas; • Melhoria da digestão e redução da obstipação; • Aumento da reserva de energia. Durante e após o parto: • • • • • • Redução da duração do trabalho de parto e da dor; Diminuição da necessidade de intervenções cirúrgicas; Facilitação da recuperação do trabalho de parto; Facilitação da recuperação do peso corporal e da aptidão muscular; Maior redução da barriga após o parto; Estabelecimento de hábitos de vida saudáveis. Menopausa A menopausa espontânea é a paragem permanente da menstruação resultante da diminuição do funcionamento dos ovários. É determinada depois de 12 meses de amenorreia. A menopausa cirúrgica é a paragem da menstruação devido à remoção dos dois ovários (ooforectomia) com ou sem remoção do útero. A peri-menopausa, também designada por climatério, é o período de transição que antecede e sucede os ciclos menstruais finais. Inclui o período imediatamente anterior à menopausa, marcado pelas irregularidades dos ciclos menstruais e o primeiro ano seguinte à menopausa. A pós-menopausa refere-se ao período que tem início a partir da menopausa, se bem que este momento só pode ser determinado depois de 12 meses de amenorreia espontânea. A pré-menopausa em sentido geral inclui toda a idade fértil até à menopausa. Em sentido estrito é o período de tempo entre o início do declínio da função ovárica e a menopausa. Considera-se menopausa precoce quando ocorre antes dos 40 anos. A transição da fertilidade optimal no período da pré-menopausa para a menopausa inicia-se com uma diminuição da reserva dos ovários mas com ciclos menstruais regulares, seguida pelas menstrua- 321-376 322 ções irregulares do climatério e finalmente pela amenorreia da menopausa. Por volta dos quarenta anos a duração do ciclo menstrual aumenta, devido ao aumento da fase folicular, e a anovulação torna-se mais prevalente. Esta mudança do ciclo menstrual que antecede a menopausa é marcada pela diminuição dos níveis de inibina, hormona segregada pelas células granulosas do ovário, tanto na fase folicular (inibina B) como luteínica (inibina A), antecipando a elevação dos níveis de FSH característicos do período pós-menopausa (> 20 IU/L), apesar da ocorrência da menstruação. Concomitantemente verificam-se níveis normais da LH e níveis ligeiramente elevados de estrogénios, embora nos limites normais. Na realidade as mulheres atravessam parte da peri-menopausa com níveis ligeiramente elevados de estrogénios, devido à resposta dos ovários ao aumento da secreção da FSH, durante os dois a oito anos que antecedem a menopausa. Neste período de tempo, os folículos do ovário apresentam uma acelerada taxa de perda até ao seu esgotamento final. Esta perda acelerada parece iniciar-se quando o número total de folículos é de aproximadamente 25 000, um número alcançado na mulher normal por volta dos 37 a 38 anos (Quadro VII.8). 02.05.08, 5:25 PM Quadro VII.8 • Transição peri-menopáusica. • Idade média de início: 46 anos; • Idade de inicio para 95% das mulheres: 39 a 51 anos; • Duração média: 5 anos; • Duração para 95% das mulheres: 2-8 anos. A transição peri-menopáusica representa um continuum das modificações da regularidade menstrual e da fertilidade na mulher pré-menopáusica para a amenorreia e perda de fecundidade na mulher pós-menopáusica. ESTERÓIDES SEXUAIS E SAÚDE Doenças cardiovasculares A diminuição do nível de estrogénios, que tem início vários anos antes da menopausa e que é mais pronunciado com a cessação dos períodos menstruais, parece predispor a mulher para um aumento da doença coronária. A doença das artérias coronárias (DAC) constitui a maior causa de morte nos EUA e a terceira causa de morte das mulheres em Portugal, a seguir às doenças cérebro-vasculares e tumores malignos (INE, 2003)1 . Apesar de a DAC se desenvolver aproximadamente 10 a 15 anos mais tarde nas mulheres do que nos homens, aos 70 anos a razão homem/ /mulher para a incidência da DAC começa a aproximar-se. Uma vez que a idade é o maior estimador da DAC nas mulheres, a influência da menopausa (e do nível de estrogénios) é geralmente confundida com a influência da idade no desenvolvimento da doença coronária. A estimação do início da menopausa apresenta importantes implicações para a saúde da mulher, ao permitir estimar: • A idade relacionada com a infertilidade e a resposta às terapias de fertilidade; • O tempo de iniciação da terapia hormonal de substituição; • Os riscos de doenças crónicas. Uma vez que as mulheres passam cerca de um terço das suas vidas no estado pós-menopáusico, as modificações associadas à menopausa e à diminuição do nível dos estrogénios são cada vez mais prevalentes (Quadro VII.9). Apesar da inexistência de uma relação directa, os estudos epidemiológicos sugerem pelo menos três evidências da influência do nível de estrogénios na DAC: • As taxas de DAC são substancialmente mais baixas nas mulheres prémenopáusicas do que nos homens da mesma idade; • Após o ajustamento para outros factores de risco, o estudo de Framingham © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Quadro VII.9 • Sintomas e sinais da menopausa. 321-376 • • • • Paragem das menstruações; Sintomas vaso-motores: afrontamentos, calores súbitos, sudação, cefaleias; Sintomas psíquicos: humor depressivo, insónias, irritabilidade, perda da líbido; Sintomas urogenitais: incontinência urinária, secura, ardor e prurido vulvovaginal, dispareunia, urgência miccional e infecções urinárias, dificuldades sexuais; • Sintomas cardiovasculares: aumento da pressão arterial e do colesterol, pré-cordialgias, alterações no ECG; • Outros: aumento do peso, modificações da pele e do cabelo, artralgias, dores ósseas. 1 http: www.ine.pt 323 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 323 Nutrição, Exercício e Saúde 324 revelou que, comparativamente às mulheres, os homens de 50 a 59 anos de idade apresentam três vezes e meia mais risco de desenvolver DAC; • Mulheres com menopausa precoce apresentam um risco aumentado de DAC comparativamente a mulheres pré-menopáusicas da mesma idade. Muitos estudos epidemiológicos indicam, ainda, uma diminuição do risco de DAC nas mulheres com terapia hormonal de substituição comparativamente às mulheres sem esta terapia. As hipóteses sobre o mecanismo através do qual os estrogénios protegem a mulher do desenvolvimento da DAC são baseadas em estudos in vitro, animais e humanos. A hipótese mais antiga é a de que os estrogénios condicionam favoravelmente o metabolismo dos lípidos. Todavia somente 25 a 50% da redução do risco conferida pelos estrogénios é atribuível ao seu efeito nos lípidos. As hipóteses mais recentes sugerem acções benéficas dos estrogénios no tónus vascular coronário e periférico (Quadro VII.10). Quadro VII.10 • Efeitos cárdio-protectores dos estrogénios. Efeitos vasculares • Potenciação de factores relaxadores derivados do endotélio; • Antagonismo dos canais de cálcio; • Inibição de factores de constrição vascular; • Inibição dos efeitos constritores induzidos pela angiotensina II; • Modulação na libertação de neurotransmissores; • Inibição da biossíntese das células do músculo liso; • Inibição de hiperplasia miointimal. Efeitos na fisiologia cardíaca • Aumento do volume plasmático; • Aumento do volume sistólico; • Aumento do débito cardíaco; • Diminuição da resistência periférica. Efeitos no metabolismo e coagulação • Efeitos benéficos nos lípidos; • Efeito antioxidante; • Efeito benéfico nos factores de coagulação; • Efeito benéfico na fibrinólise. Destaque EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE CARDIOVASCULAR Cerca de 30% das mortes causadas por doenças cardiovasculares poderiam ser teoricamente prevenidas se todas as pessoas fossem suficientemente activas. Ser suficientemente activo significa acumular pelo menos 30 minutos de actividade física de intensidade moderada na maioria dos dias da semana. A actividade não tem de ser realizada de forma contínua mas pode ser fraccionada em dois períodos de 15 minutos ou em três períodos de 10 minutos. Exemplos: • Percorrer 3 km em meia hora (marcha acelerada), ou percorrer 1,5 km em 15 minutos duas vezes ao dia ou 1 km em 10 minutos três vezes ao dia; • Fazer ginástica durante meia hora (em estúdio ou na água), ou qualquer outra actividade física que aumente o ritmo cardíaco e respiratório durante este período de tempo, como pedalar ou nadar, etc. Podem ser obtidos benefícios adicionais se as actividades forem mais prolongadas ou mais intensas. Todavia, as actividades que fazem suar são consideradas de intensidade vigorosa e não são recomendadas para a generalidade das pessoas idosas sem consentimento médico. Uma forma de quantificar a actividade física consiste na utilização de pedómetros, que são instrumentos que contabilizam o número de passos dados e estão disponíveis nas lojas de desporto (cerca de 15 euros). As pessoas adultas devem acumular pelo menos cerca de 10 000 passos por dia, que são contabilizados automaticamente pelo pedómetro. Este valor só é alcançado se for realizada uma prática diária de 30 minutos de actividade física de intensidade moderada (Tabela VII.1). 321-376 324 02.05.08, 5:25 PM Tabela VIII.1 • Nível de actividade física de acordo com o número de passos dados Passos/dia Nível de actividade física < 5 000 Adulto sedentário 5 000 a 7 500 Adulto com actividade reduzida 7 500 a 10 000 Adulto com alguma actividade > 10 000 Adulto suficientemente activo Para crianças e adolescentes 10 000 passos/dia parece, no entanto, ser insuficiente para a prevenção de alguns factores de risco cardiovasculares, como o excesso de peso e a obesidade. Para este grupo etário sugere-se 12 000 passos/dia para as raparigas e 15 000 passos/dia para os rapazes. Estes valores significam, por exemplo, que as raparigas com uma prática inferior a 12 000 passos/dia são mais susceptíveis ao excesso de peso e à obesidade. Estes passos equivalem, de um modo geral, a uma prática diária acumulada de actividade física de 120 minutos para as raparigas e de 150 minutos para os rapazes. Do ponto de vista social pode parecer irresponsável a separação de recomendações baseadas no género. Todavia, o peso corporal, para além da actividade física é também determinado por factores genéticos e nutricionais. É possível que as raparigas necessitem de uma menor quantidade diária de passos para acomodar as diferenças de género relativas ao consumo energético. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Osteoporose e fracturas ósseas 321-376 A osteoporose é uma doença óssea metabólica que se traduz por um aumento da fragilidade e da susceptibilidade à fractura. Em termos clínicos, considera-se existir osteoporose quando a densidade mineral óssea apresenta um valor igual ou inferior a -2,5 desvios-padrão, comparativamente aos valores de indivíduos adultos jovens do mesmo sexo (T-Score). (Tabela VII.2) (ver Destaque Como se avalia a saúde dos ossos, pág. 32????). A osteoporose constitui a principal causa de fractura na mulher pós-menopáusica e no idoso do mundo ocidental, verificando-se em particular na anca, na coluna vertebral e no rádio. Devido à elevada percentagem de mortalidade e morbilidade que lhes está associada, as fracturas da anca e vertebrais são consideradas as mais graves. Embora existam várias causas de osteoporose, os tipos mais comuns encontram- 325 Tabela VII.2 • Critérios densitométricos de categorização da densidade óssea. T-score Densidade óssea > -1 Normal ≤ -1 e > -2,5 Osteopenia ≤ -2,5 ≤ -2,5 + fractura Osteoporose Osteoporose severa -se relacionados com a idade (osteoporose senil) e com a diminuição do nível de estrogénios (osteoporose pós-menopáusica). A osteoporose senil é caracterizada por perdas semelhantes de osso cortical e trabecular, facilitando a ocorrência de fracturas do fémur superior e da coluna vertebral e afecta, sobretudo, os indivíduos com mais de 70 anos de ambos os géneros (relação mulher/homem 2:1). A osteoporose pós-menopáusica evidencia-se quase exclusivamente na mulher 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 325 Nutrição, Exercício e Saúde 326 (relação mulher/homem 8:1), ocorre na década imediatamente a seguir à menopausa e é caracterizada pela perda desproporcional de osso trabecular da coluna vertebral e do rádio distal, predispondo-os a fracturas. Comparando com os homens, cuja perda óssea se verifica geralmente depois dos 50 anos, nas mulheres o início ocorre mais cedo de forma lenta durante a terceira e a quarta década de vida, após o esqueleto ter alcançado o pico de massa óssea. Porém, o súbito declínio de produção de estrogénios na mulher, durante a menopausa, constitui um importante factor etiológico. Depois da menopausa a perda óssea é maior nos primeiros 5 a 10 anos (2 a 4% ao ano), sobretudo ao nível do osso trabecular da coluna vertebral. Após 8 a 10 anos a média total de osso perdido declina para menos de 1% ao ano. A maioria dos estudos sobre a epidemiologia das fracturas é limitada aos adultos ou trata de factores de risco associados com a perda óssea. No entanto, a incidência de fracturas na população é bimodal com um dos picos a manifestar-se na adolescência e o outro em idades mais avançadas, relacionado com o processo de envelhecimento. Nas pessoas mais jovens, as fracturas dos ossos longos predominam, e a sua incidência é maior nos rapazes do que nas raparigas, enquanto aos 35 anos a incidência total de fracturas aumenta substancialmente nas mulheres, de tal forma que a sua incidência é o dobro da dos homens acima desta idade. O risco de fractura aumenta por volta do salto de crescimento pubertário, ou seja, nas raparigas entre os 11,5 e os 12,5 anos e nos rapazes entre os 13,5 e os 14,5 anos. A incidência anual de fracturas nos rapazes varia entre as 250 e as 300 fracturas por 10 000 e nas raparigas entre as 160 e as 200 por 10 000. Dois terços das fracturas são causados por pequenos traumas e o local ósseo mais fracturado é a região distal do antebraço, que contribui com quase cerca de 25% para o total das fracturas. O pico de velocidade do crescimento, que antecede o pico de velocidade de deposição de mineral ósseo em um ano a um ano e meio, traduz-se por uma diminuição temporária da densidade óssea, ou seja, o tamanho do osso aumenta antes do aumento da sua massa. Este facto explica parcialmente uma das razões do pico de frequência da fractura nesta idade. Tem sido sugerida uma relação entre a ocorrência de fracturas e a prática de actividade física de intensidade elevada, associada, a jogos e a desportos. No entanto, algumas destas ocorrências não podem ser atribuídas à actividade física uma vez que alguns adolescentes apresentam maior predisposição à fractura devido a uma força óssea insuficiente. Este facto revela que muitas fracturas na adolescência satisfazem o critério das fracturas de fragilidade nos adultos. Destaque EXERCÍCIO FÍSICO E SAÚDE ÓSSEA O dispêndio energético da actividade física constitui o aspecto mais importante na prevenção e tratamento das doenças cardiovasculares, pulmonares e metabólicas. No entanto, ao nível da prevenção e tratamento da osteoporose e de fracturas osteoporóticas importa considerar a carga mecânica que é aplicada ao esqueleto. Por exemplo, o potencial osteogénico ao nível da anca da prática de 30 minutos de marcha seis vezes por semana, ou seja, de um total de 180 minutos de marcha a uma velocidade de 5 km/hora é equivalente a 10 minutos de step a uma cadência de 30 passos/minuto um exercício que simula a subida e descida de um degrau, apesar de o dispêndio energético induzido pelos 180 minutos de marcha ser 10 vezes superior ao induzido pelos 10 minutos de step (780 kcal vs. 78 kcal, numa rapariga/mulher de 65 kg de peso). 321-376 326 02.05.08, 5:25 PM Actividades locomotoras na posição de pé, em que o peso corporal é suportado de uma forma activa, são preferíveis às actividades em que o peso corporal se encontra suportado por outros meios, como é o caso da natação e do ciclismo. Estas actividades não são geralmente recomendadas para a prevenção e tratamento da osteoporose, embora constituam um excelente exercício para pessoas com excesso de peso ou obesas, com problemas cardiovasculares, respiratórios e articulares. O potencial osteogénico destas actividades ao nível do esqueleto axial, como a anca e as vértebras, encontra-se diminuído. Para a prevenção e tratamento da osteoporose devem realizar-se ainda exercícios que aumentem a força muscular do tronco e dos membros como, por exemplo, a realização de movimentos de: • Flexão e extensão das pernas, na posição deitada de barriga para cima; • Extensão do tronco, na posição deitada de barriga para baixo; • Preensão de um objecto que ofereça alguma resistência, como uma espuma, embora possa ser qualquer outro objecto deformável; • Extensão e flexão dos braços, na posição de pé com as mãos à altura e largura dos ombros, apoiadas contra uma parede; • Extensão e flexão das pernas a partir da posição sentada, ou seja, levantar e sentar numa cadeira. Recomenda-se a realização de uma série de 15 repetições, seguida de uma recuperação de cerca de 30 segundos e depois a realização de uma segunda série de 15 repetições em cada um dos exercícios. Uma vez que a perda óssea devida a imobilização é de cerca de 1 a 2% por mês, ou seja, de 10 a 20% ao ano, uma perda óssea muito superior à que se observa com a osteoporose pós-menopáusica e senil, é muito importante evitar a imobilização. Se não for possível, devido a doença ou lesão, devem executar-se alguns exercícios na posição de pé, mesmo que poucos, porque podem ajudar a prevenir a perda óssea. As perdas ósseas são geralmente maiores nas regiões do esqueleto mais sensíveis aos efeitos do exercício, ou seja, nas extremidades dos membros superiores e inferiores, onde se situa geralmente o ponto de aplicação da carga. A imobilização provoca perdas ósseas mais severas em pessoas jovens comparativamente a pessoas idosas, uma vez que o desfasamento entre a prática habitual de actividade física e o desuso é geralmente maior nos jovens, por serem mais activos. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Cancro da mama 321-376 O cancro da mama constitui a principal causa de morte por cancro na mulher portuguesa (cerca de 20% de todos os cancros) (INE, 2003). Embora o cancro da mama possa ocorrer em mulheres mais jovens, a sua incidência aumenta com a idade, particularmente a partir dos 50 anos com a menopausa. Para além da idade, entre os factores de risco mais importantes encontra-se a actividade do ovário, particularmente a existência de um período fértil longo, como é o caso das mulheres que são menstruadas muito cedo e/ou as que entram na menopausa mais tarde, por estarem mais expostas à acção dos estrogénios. A função promotora do cancro da 327 mama pelos estrogénios endógenos é evidenciada pelos seguintes factos: • O cancro da mama é 100 vezes mais comum na mulher do que no homem; • O cancro da mama ocorre invariavelmente depois da puberdade; • O cancro da mama apresenta uma taxa de incidência superior nas mulheres que previamente desenvolveram cancro do endométrio; • Os tumores da mama contêm receptores de estrogénio. Outros factores de risco incluem a experiência reprodutiva, nomeadamente o facto de a mulher nunca ter engravidado, pois a amamentação é um factor de pro- 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 327 Nutrição, Exercício e Saúde 328 tecção, particularmente antes dos 30 anos; a ingestão elevada de gorduras animais, sobretudo nas mulheres pós-menopáusicas; doença benigna da mama e história familiar. A estratégia de prevenção implica o rastreio através de mamografia, inicialmente aos 35 anos e, desde que não haja alterações significativas, de dois em dois anos dos 40 aos 50 anos e de ano a ano entre os 50 e os 65 anos, nas mulheres de baixo risco. Função cognitiva A função cognitiva é um termo geral utilizado para fazer referência ao processo que envolve operações mentais tais como o tempo de reacção, a memória, a aprendizagem, a resolução de problemas, a formação de conceitos, a abstracção e o processamento visuo-espacial. Existem evidências sugerindo que pelo menos o desempenho de algumas destas funções cognitivas se encontra associado ao nível de estrogénio circulante. Apesar de o processo de envelhecimento ser certamente considerado um factor de risco do declínio da função cognitiva, a maioria das pessoas idosas não ultrapassa os limites considerados normais numa avaliação da função neuropsicológica. Têm sido, no entanto, relatadas algumas diferenças no funcionamento cognitivo entre homens e mulheres, entre diversas fases do ciclo menstrual em mulheres pré-menopáusicas, entre mulheres pós-menopáusicas com e sem terapia hormonal de substituição e entre mulheres com e sem diagnóstico de doença de Alzheimer. Tradicionalmente os homens superam as mulheres em tarefas espaciais enquanto as mulheres são mais fortes que os homens nas tarefas verbais. Nas mulheres, níveis mais elevados de estrogénio, como na fase folicular e no início da sua elevação a meio da fase luteal, foram associados a resultados mais fracos em tarefas espaciais e a melhores resultados em tarefas verbais. 321-376 328 Sintomas como a falta de memória e de capacidade de concentração são geralmente reportados entre as mulheres após a menopausa. Alguns estudos suportam a ideia de que as mulheres pós-menopáusicas sem terapia hormonal de substituição podem estar mais predispostas para a diminuição de algumas funções cognitivas comparativamente às mulheres com esta terapia hormonal. Apesar de estes problemas serem frequentemente associados à depressão e ansiedade, outros factores possíveis tais como modificações na estrutura e função do cérebro, assim como na actividade neurotransmissora, estão actualmente a ser explorados. A possibilidade de o estado pós-menopáusico de diminuição do nível de estrogénio poder contribuir para a doença de Alzheimer, uma das formas mais comuns de demência, em que se verifica uma deterioração geral das funções corticais superiores, constitui uma linha de investigação actual. A demência vascular é a segunda doença mais comum causadora de demência e nalguns casos esta entidade e a doença de Alzheimer sobrepõem-se. Mas também aqui o estrogénio apresenta uma função relevante ao melhorar o fluxo cerebral em mulheres com doença vascular. Depressão Apesar de acontecimentos psicológicos e sócio-culturais influenciarem a presença e a recorrência de problemas afectivos, os factores endócrinos podem estar na base de alguns sintomas psicológicos reportados durante os períodos que antecedem e sucedem a menopausa (período climatérico). Na literatura, o termo depressão pode referir-se a um estado emocional, a um sintoma de várias doenças ou a um diagnóstico clínico, dependendo do autor. Uma vez que a incidência de depressão é 1,4 a 2,7 vezes mais elevada nas mulheres do que nos homens, são consideradas hipóteses que envolvem as hormonas esteróides do ovário, ou seja, o estrogénio e a progesterona. De um modo geral, o estrogénio activa o sistema nervoso cen- 02.05.08, 5:25 PM tral enquanto a progesterona apresenta propriedades inibitórias. Os mecanismos propostos para os efeitos anti-depressivos do estrogénio incluem efeitos nos sistemas adrenérgicos, serotonérgicos e dopaminérgicos, tanto a nível dos receptores destes neurotransmissores como dos sistemas enzimáticos associados. Destaque EXERCÍCIO FÍSICO E BEM-ESTAR PSICOLÓGICO © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Existe a ideia de que o exercício físico é benéfico tanto na prevenção como no tratamento de diversas condições clínicas como a DAC, a hipertensão, alguns tipos de cancro, a diabetes e a osteoporose. Esta ideia encontra-se de tal modo bem fundamentada pelos estudos realizados que da descrição dos efeitos do exercício físico nestas condições se passou à sua prescrição através de recomendações. Ao nível do bem-estar psicológico os efeitos do exercício não se encontram, todavia, tão bem documentados. Vários estudos suportam uma influência positiva do exercício no bem-estar psicológico, apesar de não se conhecer a direcção e os mecanismos desta influência, ou seja, não se saber, por exemplo, se o bem-estar psicológico precede, sucede ou actua independentemente de um determinado tipo de exercício físico. Esta influência não pode, contudo, ser reduzida a uma relação neuroquímica, uma vez que podem ocorrer benefícios psicológicos sem modificações fisiológicas tal como é possível existirem modificações fisiológicas sem que benefícios psicológicos possam ser percebidos. Existem no entanto evidências de que diversos programas de exercício podem ter um efeito de prevenção ou de terapia diferenciado em vários parâmetros psicológicos. Estes programas podem ser ou não aeróbios, de curta, média ou longa duração, competitivos ou não competitivos, individuais ou colectivos, numa única ou em várias sessões, etc. De acordo com os estudos disponíveis sugerem-se as seguintes orientações (com exemplos que não se esgotam nas actividades que se descrevem): 321-376 Depressão: exercício aeróbio de moderada intensidade e de fácil execução, como a marcha (rápida), o jogging, pedalar (bicicleta ou cicloergómetro), nadar (se a habilidade estiver adquirida); treino da força em circuito com ou sem cargas adicionais, de intensidade igualmente moderada. Os programas de média (quatro meses) e longa duração (um ano) parecem produzir mais efeitos positivos. Ansiedade: o tipo e a intensidade do exercício não parecem ser cruciais. Observam-se efeitos positivos mesmo com poucas sessões, embora os resultados sejam melhores com uma adesão aos programas a médio prazo. Gestão do stress: uma vez que uma aptidão cardiorrespiratória elevada está geralmente associada a uma resposta psicológica ao stress menos pronunciada, parece que a função do exercício será mais de prevenção do que de tratamento. No entanto, apesar desta limitação existem evidências de que o exercício aeróbio (contínuo, pelo menos durante 20 minutos e com uma intensidade pelo menos moderada) pode melhorar a resposta ao stress, em particular ao stress relacionado com o trabalho ou o estilo de vida. Humor: vários tipos de exercício, tanto aeróbio como anaeróbio, estão associados a uma melhoria do humor, particularmente em pessoas com disfunções a este nível. Auto-estima: atitudes, crenças e sentimentos sobre si próprio resultam do somatório da avaliação de diferentes atributos, nomeadamente físicos, sociais, profissionais e emocionais. Neste âmbito, os diversos subdomínios da auto-estima podem estar associados de forma diferente a diversos programas de exercício, não existindo linhas orientadoras para a sua prática. 329 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 329 Nutrição, Exercício e Saúde 330 CONTRACEPTIVOS E TERAPIAS HORMONAIS Métodos de contracepção Um contraceptivo é um método cujo principal objectivo é evitar uma gravidez não desejada. Actualmente encontram-se disponíveis vários métodos de contracepção, nomeadamente métodos de contracepção hormonal, métodos de barreira, dispositivos intra-uterinos, métodos cirúrgicos e naturais. Estes métodos diferem na eficácia, conveniência e facilidade de utilização, custo, exposição a doenças sexualmente transmitidas, influência nos sintomas menstruais, assim como no desempenho atlético, na aptidão física e no bem-estar geral. A contracepção constitui um importante tópico para todas as mulheres sexualmente activas que não desejam engravidar e as mulheres atletas não são uma excepção. Contracepção hormonal A contracepção hormonal inclui as pílulas combinadas (estrogénio e progestagénio), os contraceptivos com progestagénios isolados e a contracepção pós-coito. A contracepção pós-coito é geralmente reservada para os casos de emergência de uma relação sexual desprotegida, por exemplo, a violação, ou de ineficácia de um método contraceptivo de barreira. Nestes casos, a administração de elevadas doses de estrogénio num prazo de 72 horas após o coito inibem a gravidez através da inibição da implantação do embrião. A contracepção pós-coito não deverá ser considerada como uma forma de rotina de controlo do nascimento. PÍLULAS CONTRACEPTIVAS Existem diversos tipos de pílulas contraceptivas, também designadas por contraceptivos orais, nomeadamente as pílulas combinadas e as mini-pílulas. A pílula 321-376 330 combinada foi introduzida na década de 60 e melhorada desde essa data, particularmente na redução na dose e no ajustamento dos componentes esteróides utilizados, ou seja, na combinação do estrogénio e do progestagénio. O etinil-estradiol é o estrogénio sintético presente na maioria das pílulas, sendo o seu componente progestínico que varia, em função de um determinado efeito terapêutico, acessório à acção contraceptiva. Em Portugal encontram-se disponíveis contraceptivos orais com 20, 30, 35 e 40 mcg de etinil-estradiol. Os mecanismos de acção da pílula combinada como contraceptivo incidem particularmente na prevenção da ovulação (anovulação), na inibição do desenvolvimento do endométrio para implantação embrionária (disfunção endometrial) e no aumento do muco cervical dificultando a espermo-migração (disfunção cervical). A prevenção da ovulação é o efeito primário do estrogénio através de bloqueio do desenvolvimento folicular, enquanto os outros mecanismos de contracepção são sobretudo devidos ao efeito do componente progestínico da pílula. A pílula combinada é muito efectiva quando tomada apropriadamente, com uma taxa de falha de 0,1% por ano. As pílulas combinadas podem ser monofásicas, bifásicas ou trifásicas, de acordo com as combinações constantes ou variáveis em duas (bifásicas) ou três (trifásicas) etapas do ciclo. Assim, nas pílulas combinadas monofásicas todos os comprimidos contêm uma dose constante de estrogénio e progestagénio para a totalidade do ciclo de tratamento, que é de 21 dias, enquanto que nas combinações variáveis os comprimidos apresentam variação das doses dos seus componentes activos. O seu uso inicia-se no primeiro dia da menstruação e após os 21 dias de tratamento realiza-se uma paragem de sete dias durante a qual deve ocorrer a menstruação. Após esta pausa reinicia-se uma nova carteira independentemente de ter ou não cessado a menstruação. 02.05.08, 5:25 PM A mini-pílula é um contraceptivo oral só com progestagénio, particularmente destinada às mulheres que estão a amamentar, uma vez que os estrogénios diminuem a quantidade e a qualidade do leite materno, mas também destinado às mulheres que não podem tomar estrogénios, como as mulheres com tromboembolismo venoso prévio, com lúpus eritematoso sistémico, com factores de risco na trombose venosa como a obesidade e as fumadoras abusivas com idade superior a 35 anos. Como já foi referido nas pílulas combinadas, grande parte do efeito contraceptivo é devido à acção do progestagénio, que isoladamente constitui um meio efectivo de contracepção. Todavia, os contraceptivos com progestagénios isolados aumentam a frequência de hemorragias uterinas intermenstruais, amenorreia, quistos funcionais dos ovários e também ligeira androgenização. Estes efeitos podem conduzir à interrupção deste anticontraceptivo. Para além da pílula diária, os progestagénios também se encontram disponíveis sob a forma de injecção intramuscular e de anéis vaginais em cada três meses, e de implante subdérmico em cada três a cinco anos. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS EFEITOS DAS PÍLULAS CONTRACEPTIVAS COMBINADAS 321-376 Efeitos metabólicos: os efeitos atribuídos ao estrogénio da pílula incluem a náusea, a tensão mamária, as cefaleias e a retenção aquosa. A retenção aquosa é o resultado da diminuição da excreção de sódio e raramente excede 1 a 2 kg de peso. Os efeitos colaterais do componente progestínico incluem sobretudo o aumento da depressão, da irritabilidade e da fadiga, diminuição da libido e distensão abdominal, embora possa igualmente originar um aumento de peso devido a retenção aquosa. Estes efeitos diminuem após adaptação ao novo envolvimento hormonal, geralmente passados três a quatro ciclos menstruais. Os progestagénios sintéticos suprimem, ainda, o crescimento endometrial provocando uma redução signifi- 331 cativa do volume das perdas menstruais e eventual amenorreia (descritos 20% de casos ao fim de um ano de utilização). Efeitos proteicos: os estrogénios sintéticos aumentam a produção hepática de diversas globulinas, algumas das quais envolvidas no processo de coagulação. O aumento destes factores coagulantes é insignificante nas não fumadoras com menos de 40 anos e nas fumadoras com menos de 35 anos sem doença venosa trombótica activa ou trombose prévia com contraceptivos orais. O angiotensinogénio é outra proteína cuja elevação se verificava geralmente com o uso da pílula combinada, conduzindo a aumentos da pressão arterial através da sua conversão para angiotensina. Todavia, a diminuição do estrogénio nas novas pílulas limitou o seu impacto ao nível da pressão arterial. Efeitos nos hidratos de carbono: se existir alguma história de intolerância à glicose, a pílula combinada pode piorar a situação. No entanto, não existe risco aumentado de desenvolvimento da diabetes, entre as utilizadoras ou antigas utilizadoras. Efeitos nos lípidos: é reconhecido o efeito dos estrogénios na elevação do colesterol das lipoproteínas de alta densidade (HDL) e diminuição do colesterol das lipoproteínas de baixa densidade (LDL). Este facto é considerado um efeito benéfico na saúde cardiovascular. Muitos progestagénios têm precisamente o efeito inverso aumentando o LDL-C e baixando o das HDL. Todavia, o efeito total no metabolismo lipídico da maioria das pílulas contraceptivas orais é quase nulo. Efeitos cardiovasculares: os efeitos adversos são sobretudo trombóticos. O aumento dos factores de coagulação constitui uma preocupação nas mulheres fumadoras acima dos 35 anos e nas não fumadoras acima dos 40 anos. Em presença de história de doença cardiovascular deve considerar-se a utilização de outro método de contracepção. A nível reprodutivo, não existem consequências adversas da utilização dos contraceptivos orais. As mulheres podem tentar engravidar imediatamente após a 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 331 Nutrição, Exercício e Saúde 332 paragem da pílula, apesar de se aconselhar a espera do primeiro ciclo menstrual após a sua interrupção, para que a contagem do tempo de gravidez possa ser mais exacta (cada vez menos importante com a disponibilização da imagiologia fetal). A nível neoplástico as pílulas contraceptivas orais têm demonstrado diminuir a incidência de cancro no ovário. Uma possível teoria explicativa para o desenvolvimento do cancro do ovário é designada por teoria da ovulação incessante. Pensa-se que a ovulação incessante e a subsequente reparação da superfície epitelial do ovário, depois da ruptura devida à ovulação, aumenta o risco de cancro do ovário. Neste âmbito, acontecimentos que previnam a ovulação como a utilização da pílula contraceptiva oral e a gravidez parecem apresentar protecção. Existem, todavia, algumas preocupações controversas relativamente ao cancro da mama, particularmente nas mulheres nulíparas utilizadoras de longo termo da pílula contraceptiva. A nível desportivo, uma vez que a actuação do eixo hipotálamo-hipófise-ovário pode ser suprimida devido a uma baixa disponibilidade de energia ou devido ao stress, algumas atletas podem desenvolver distúrbios menstruais em consequência da intensidade física e psicológica do seu treino. Esta supressão da função do ovário conduz a um estado de hipoestrogenismo com consequências cardiovasculares, músculo-esqueléticas e reprodutivas. A gestão apropriada destas atletas inclui uma redução da intensidade do treino, um aumento da ingestão calórica ou o início de uma terapia de substituição hormonal. A pílula combinada é geralmente considerada uma boa fonte de estrogénio para as mulheres deficientes em estrogénio. Uma vez que as mulheres que tomam contraceptivos orais apresentam geralmente uma diminuição do fluxo menstrual, traduzindo-se numa perda menor de sangue e de ferro (tornando a anemia menos comum), assim como dores mens- 321-376 332 truais menos severas, este tipo de contracepção pode constituir uma vantagem competitiva para algumas atletas. O risco de doença inflamatória pélvica também se encontra diminuído, provavelmente devido à disfunção cervical que limita a acção de bactérias no sistema reprodutivo. Os contraceptivos orais podem ser ajustados de forma a calendarizar o melhor possível a ocorrência do período menstrual, apesar de não existir nenhuma associação entre a fase do ciclo menstrual e o rendimento desportivo. Níveis elevados de progesterona durante a fase luteal do ciclo menstrual assim como durante a gravidez estimulam a ventilação e a resposta ventilatória à hipóxia e à hipercápnia. Uma vez que o sucesso nos desportos de endurance está associado a uma diminuição da elevação dos processos respiratórios, o efeito da progesterona pode eventualmente ser negativo para algumas atletas. CONTRA-INDICAÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE CONTRACEPTIVOS ORAIS Algumas das contra-indicações absolutas e/ou contracepção de elevado risco incluem mulheres fumadoras com idade superior a 35 anos, com doença vascular coronária ou cerebral, com tromboflebite activa ou história de tromboflebite profunda, com doenças tromboembólicas, com carcinoma da mama em evolução, hepatite vírica activa, cancro da mama e do endométrio, hemorragia vaginal inexplicada, cirrose hepática, colestase prévia desencadeada pela gravidez ou pela utilização da pílula e amamentação até aos seis meses do pós-parto. A adolescente beneficia geralmente do factor idade e raramente apresenta alguma doença em que os riscos da contracepção oral superem as vantagens do seu uso. Além de evitar a gravidez destacam-se os seguintes benefícios da pílula para a saúde da utilizadora: • Diminuição do fluxo menstrual e de incidência de anemia; 02.05.08, 5:25 PM • Redução das cólicas menstruais e portanto dos dias de incómodo; • Regularização e controlo do ciclo menstrual, sendo possível o seu avanço ou atraso por diversos motivos (viagem, casamento, competição desportiva, etc.); • Protecção contra algum tipo de infecções ao nível do sistema reprodutivo; • Diminuição do risco de cancro do ovário e do endométrio. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Outros métodos de contracepção 321-376 A contracepção de barreira inclui os preservativos femininos e masculinos, os diafragmas e os espermicidas. Os preservativos masculinos, à excepção da abstinência, constituem a melhor defesa para a protecção das doenças sexualmente transmitidas. Tal como os outros métodos são um meio efectivo de contracepção se devidamente utilizados. Alguns contêm espermicida, o que aumenta a sua eficácia. O maior problema é a falta de conveniência e a fraca aderência. Os dispositivos intra-uterinos actuam como contraceptivos através da criação de condições desfavoráveis para a passagem e sobrevivência dos espermatozóides na cavidade uterina. Constitui um método de contracepção de longa duração, com um tempo de actuação mínimo de cerca de dois anos, particularmente destinado às mulheres que não planeiam uma gravidez neste período. São efectivos mas não aconselhados a todas as mulheres. Existe um risco aumentado de infecção ou doença pélvica inflamatória devido à introdução de um objecto estranho. Deve ser usado unicamente por pares monogâmicos estáveis. Pode ocasionalmente gerar cólicas e hemorragia. Contrariamente à crença popular não aumentam o risco de gravidezes ectópicas comparativamente a mulheres sem contracepção. Os métodos cirúrgicos constituem uma forma de contracepção quase definitiva e por isso devem ser considerados quando a mulher possui já o número de filhos 333 desejados. Os métodos naturais incluem o método de Ogino-Knaus (método do calendário) e a avaliação das alterações do muco cervical. Terapias hormonais A terapia hormonal de substituição (THS) teve o seu início com o esforço de alívio dos sintomas específicos associados à diminuição da produção de estrogénios na menopausa. No entanto, nas duas últimas décadas o foco desta terapia mudou-se do tratamento da sintomatologia a curto prazo para a prevenção da saúde a longo prazo, particularmente das fracturas osteoporóticas e das doenças cardiovasculares. Durante e após o climatério verifica-se uma diminuição da produção hormonal pelos ovários, especificamente, uma diminuição dos níveis de estradiol, de estrona e de inibina, reflectindo a exaustão das células granulosas. Em resposta aos baixos níveis de estrogénios circulantes observa-se uma elevação dos níveis da FSH e da LH, apesar da elevação da FSH ser igualmente devida aos baixos níveis de inibina. Os níveis de outras hormonas da hipófise como a prolactina, o cortisol e a hormona de crescimento, assim como de hormonas esteróides das supra-renais, não se modificam na menopausa. Após a menopausa, os níveis de FSH e de LH encontram-se diminuídos somente nas mulheres com terapia hormonal de substituição, particularmente nas mais idosas. Todavia, a substituição hormonal não conduz a uma normalização dos níveis de FSH comparáveis aos valores pré-menopausa devido à ausência continuada da produção de inibina. Regimes das terapias hormonais de substituição O estrogénio é dado à mulher numa variedade de vias de administração, compostos e doses. A via oral e a via sistémica 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 333 Nutrição, Exercício e Saúde 334 321-376 (transdérmica ou vaginal) constituem as duas principais vias de administração dos compostos estrogénicos e progestagénicos. Na via de administração oral os níveis de estradiol e de estrona circulante são de aproximadamente 75 e 330 pg/ml, respectivamente, com um quociente estradiol/estrona inferior a um, por o estradiol oral ser largamente convertido para estrona pelo fígado. Nesta via de administração verifica-se uma maior sobrecarga metabólica hepática e maior flutuação dos níveis de estradiol e de estrona circulantes. Com a utilização de estradiol transdermal, os níveis de estradiol e de estrona são de aproximadamente 50 e 42 pg/ml, respectivamente, com um quociente estradiol/ /estrona superior a um. Na via transdérmica verifica-se uma absorção regular e mantida e uma metabolização hepática mais contínua. A aplicação vaginal proporciona um perfil estrogénico semelhante à via transdérmica. A via oral é a mais utilizada na terapia hormonal de substituição mas deve ser desaconselhada em mulheres com problemas, dos quais se destacam os seguintes: problemas de absorção, hábito tabágico superior a um maço por dia; história de trombofilia, diabetes com hipertrigliceridémia e hepatopatia grave. A via vaginal é geralmente aconselhada quando se pretende agir particularmente ao nível das mucosas urogenitais. Nas mulheres com histerectomia (sem útero), não há necessidade de prescrever progestagénios e os estrogénios podem ser administrados isoladamente num esquema contínuo. Nas mulheres sem histerectomia os progestagénios são adicionados à medicação para reduzir a incidência de hiperplasia e cancro do útero, uma vez que a utilização do estrogénio em doses tradicionais de 0,625 mg ou equivalente conduz a um aumento de 11% da incidência de hiperplasia do endométrio nestas mulheres. O progestagénio adicionado não deverá anular os efeitos positivos dos estrogénios no metabolismo lipídico e na hemostase (coagulação, fibrinólise). 334 Riscos e benefícios das terapias hormonais de substituição Os riscos e benefícios das THS foram estabelecidos sobretudo com base em estudos de observação, em que os grupos que são estudados e comparados podem apresentar diferentes níveis de risco e de estilo de vida, uma vez que os participantes que escolhem um determinado tratamento podem ser muito diferentes daqueles que não fazem a mesma escolha. Este tipo de estudos demonstrou uma diminuição da taxa de mortalidade cardiovascular nas mulheres em THS, com estrogénio isolado ou combinado (Tabela VII.3). Todavia, as consumidoras das THS podem apresentar uma menor predisposição para acontecimentos de saúde adversos, particularmente cardiovasculares, por serem mais saudáveis que as mulheres do grupo de controlo quando a terapia tem início. Existe ainda a possibilidade de o aumento de contacto com o sistema de cuidados de saúde por parte das mulheres com THS possibilitar uma melhoria do estilo de vida (diminuição do consumo de tabaco, aumento da prática de actividade física e melhoria dos comportamentos alimentares), conduzindo à desigualdade entre os grupos ao longo do tempo, apesar de serem idênticos à partida. No início dos anos 90 foram iniciados grandes estudos randomizados para providenciar evidências definitivas relativamente aos riscos e benefícios da THS na prevenção destas doenças. Neste tipo de ensaios clínicos os participantes foram aleatoriamente distribuídos pelos grupos de tratamento, minimizando possíveis diferenças entre os grupos relativamente ao estilo de vida ou a factores relacionados com a saúde (ver Investigação em Prática – Women´s Health Initiave ). 02.05.08, 5:25 PM Tabela VII.3 • Riscos e benefícios da THS (estudos não randomizados). Benefícios Risco relativo Diminuição da mortalidade por doença cardiovascular 0,5 Diminuição da osteoporose 0,4 a 0,7 Diminuição ou melhoria da doença de Alzheimer 0,5 Diminuição do cancro do cólon 0,5 a 0,7 Riscos Aumento do cancro da mama 1,2 Aumento do tromboembolismo 2a3 Alternativas às terapias hormonais de substituição FITOESTROGÉNIOS Apesar do reconhecimento dos benefícios da THS para a saúde e qualidade de vida depois da menopausa, muitas mulheres podem não optar por esse regime devido a receio dos efeitos secundários negativos e/ou a preferências por alternativas naturais. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Os receios ou preocupações incluem o aumento do risco de cancro do endométrio, para as mulheres que estão em THS sem oposição (do progestagénio), aumento do risco de cancro da mama, manutenção da menstruação com a terapia cíclica e aumento de peso. 321-376 As alternativas naturais têm sido tradicionalmente direccionadas para o aumento do consumo de cálcio, para a diminuição da ingestão de colesterol e para a prática de exercício físico regular. Mais recentemente uma outra aproximação tem incluído fontes dietéticas de estrogénio conhecidas como fitoestrogénios. Os fitoestrogénios são compostos produzidos pelas plantas, que apresentam propriedades estrogénicas quando ingeridas por animais e humanos. O interesse médico pelos fitoestrogénios deve-se em parte aos estudos epidemiológicos que 335 têm demonstrado diferenças na incidência de determinadas doenças em diversos países explicadas por diferenças no estilo de vida, particularmente da dieta. Estes estudos evidenciaram uma baixa incidência do cancro da mama e da próstata, de doença cardiovascular e de osteoporose associada às dietas tradicionais baseada na soja, que é rica em fitoestrogénios. Existem ainda resultados que demonstram o benefício dos fitoestrogénios no alívio dos sintomas das mulheres pós-menopausicas. Não existem, contudo, estudos que investiguem o impacto dos fitoestrogénios na protecção contra a doença de Alzheimer. Ao nível da mama a acção dos fitoestrogénios requer todavia clarificação, pois algumas evidências suportam o efeito antiproliferativo dos fitoestrogénios se a exposição se realizar antes da menarca, e de aumento do risco do cancro da mama após a sua ocorrência. Estas evidências permitem concluir sobre uma possível estimulação do crescimento celular com concentrações muito elevadas e inibição com concentrações muito baixas de estrogénios. SELECTIVE ESTROGEN RECEPTOR MODULATORS Os selective estrogen receptor modulators (SERM) são modeladores selectivos dos receptores estrogénicos, cuja acção mista, agonista ou antagonista do estrogénio, 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 335 Nutrição, Exercício e Saúde 336 depende da resposta ao nível dos diferentes tecidos-alvo, que por sua vez é mediada pelo menos por dois tipos diferentes de receptores. Assim, por exemplo, ao nível da mama os SERM apresentam uma acção antiestrogénica, enquanto ao nível do osso, a sua acção é agonista do estrogénio. O SERM perfeito deveria potenciar todos os efeitos positivos do estrogénio (ser agonista) e eliminar todos os seus efeitos negativos (ser antagonista), ao nível da mama, do útero e do sistema de coagulação. Exemplos de SERM utilizados na prática clínica incluem o ralo- xifeno, o tamoxifeno, o toremifeno e o droloxifeno. Este grupo de compostos encontra-se sob investigação intensa não só para a prevenção e tratamento do cancro da mama mas também para aplicação ginecológica generalizada como a THS, a endometriose e a hiperplasia endometrial, prevenção e tratamento da osteoporose, de doenças cardiovasculares e diminuição do risco de doença de Alzheimer. Estes agentes constituem mais uma opção para ser utilizada isoladamente ou em combinação com a terapia hormonal de substituição. Investigação em Prática WOMEN’S HEALTH INITIATIVE Objectivo: apesar da acumulação das evidências de estudos observacionais sobre os benefícios da THS, particularmente nas doenças cardiovasculares e na osteoporose, persistiam ainda muitas dúvidas relativamente aos seus riscos a longo prazo. O Women‘s Health Initiative (WHI) é um estudo randomizado controlado, desenvolvido pelos institutos nacionais de saúde americanos com o objectivo de definir os riscos e os benefícios das estratégias de prevenção mais frequentemente prescritas (variáveis independentes) para a redução da inciência de doenças cardiovasculares, particularmente do enfarte do miocário e do acidente vascular cerebral (AVC), do cancro da mama, do endométrio e do cólon, do embolismo pulmonar, da fractura da anca e da morte por outras causas (variáveis dependentes), em mulheres pós-menopáusicas aparentemente saudáveis. As estratégias de prevenção mais frequentemente prescritas nos EUA, para este grupo da população, incluem dietas de baixo conteúdo calórico em gordura, suplementos de cálcio e de vitamina D e a THS combinada ou só com estrogénio. Concepção: entre 1993 e 1998 o WHI envolveu 161 809 mulheres pós-menopáusicas de 50 a 79 anos (média: 63 anos), recrutadas em 40 centros clínicos. Um dos componentes deste estudo envolveu 16 608 mulheres sem histerectomia, das quais 8 506 com THS em regime combinado (estrogénio e progestagénio: 0,625 mg/dia de estrogénios equino conjugados mais 2,5 mg/dia de acetato de medroxiprogesterona) e 8 102 mulheres com placebo, como grupo de controlo. Este ensaio foi interrompido precocemente devido às evidências de que os riscos excediam os benefícios de saúde depois de um acompanhamento de 5,2 anos. Para a estimação do equilíbrio entre os riscos e benefícios deste tipo de terapia nas variáveis dependentes seleccionadas foi concebido um index global. Resultados: os investigadores do WHI observaram pequenos, mas significativos, riscos para a saúde. Comparativamente ao grupo de controlo, no grupo de mulheres com THS verificaram-se mais oito casos de cancro da mama, mais sete de enfarte do miocárdio, mais oito de AVC e mais oito de embolia pulmonar, mas menos cinco casos de fractura da anca e menos seis de cancro do cólon, por cada 10 000 mulheres-anos. O index global foi de 19 por 10 000 pessoas/ano. Os riscos relativos são apresentados na Tabela VII.4. 321-376 336 02.05.08, 5:25 PM Tabela VII.4 • Riscos e benefícios da THS (Women’s Healter Initiative Study) Variáveis dependentes Risco relativo Intervalo de confiança % Nº de eventos Ataque cardíaco 1,29 1,02 a 1,63 + 29% 286 Cancro da mama 1,26 1,00 a 1,59 + 26% 290 Acidente vascular cerebral 1,41 1,07 a 1,85 + 41% 212 Embolia pulmonar 2,13 1,39 a 3,25 + 113% 101 Cancro do cólon 0,63 0,43 a 0,92 - 37% 112 Cancro do endométrio 0,83 0,47 a 1,47 – 47 Fractura da anca 0,66 0,45 a 0,98 - 34% 106 Morte por outras causas 0,92 0,74 a 1,14 – 331 Conclusões: os resultados indicam que, na utilização da THS combinada por um período médio de 5,2 anos em mulheres pós-menopáusicas sem histerectomia, o risco total excede os benefícios, que os resultados deste ensaio não são consistentes com a recomendação deste tipo de terapia para a prevenção primária de doenças crónicas e que este regime não deve ser iniciado ou continuado para a prevenção da doença das artérias coronárias. Comentário: análises subsequentes deste estudo revelaram que no 5.º ano de tratamento se verificou uma diminuição transitória inexplicável na ocorrência de eventos adversos no grupo de controlo, em vez do seu aumento no grupo de tratamento, e que somente cerca de 10% das mulheres tinha menos de 55 anos e estava nos primeiros anos da menopausa. Neste contexto, as conclusões do WHI não podem ser generalizados a todas as mulheres pós-menopaúsicas, particularmente àquelas com menos de 55 anos em que a sintomatologia relacionada com a diminuição do nível de estrogénios está mais prevalente. Nestas mulheres, os estudos de observação não evidenciaram qualquer risco da THS a nível cardiovascular ou vascular. Para mais informações consultar as posições da Sociedade Internacional e da Sociedade Portuguesa de Menopausa. Toda a informação relativa aos resultados do estudo disponibilizada em http://www.whi.org/ NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Adolescência 321-376 De um modo geral a adolescência é definida pelo período de vida entre o início da puberdade e o final da maturação sexual. A Organização Mundial de Saúde define a adolescência em termos cronológicos como o período compreendido entre os 10 e os 18 anos, todavia a adolescência ocorre entre os 8 e os 19 anos nas raparigas e entre os 10 e os 22 anos nos rapazes, apresentando-se estes limites como mais apropriados face à normal variação entre os géneros. 337 Não existe outro período ao longo da vida em que, durante uma década, ocorram tantas modificações a nível biológico, psicológico, cognitivo ou social. Enquanto que durante a infância as necessidades nutricionais são semelhantes em ambos os géneros, com a puberdade ocorre uma diferenciação destas necessidades devido ao estabelecimento de diferenças na composição corporal e nas funções fisiológicas, características da maturação biológica. O pico de velocidade de crescimento, tanto para a altura como para o peso, obriga a uma necessidade energética e nutricional aumentada tendo em vista o desenvolvimento da puberdade e da função reprodutiva. Com a cessação do crescimento, as 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 337 Nutrição, Exercício e Saúde 338 321-376 necessidades em energia e em macronutrientes devem ser ajustadas para uma superfície corporal maior. A mineralização do esqueleto e a ocorrência do pico de massa óssea, assim como as hemorragias menstruais e o aumento da necessidade de ferro, representam os principais aspectos nutricionais das adolescentes, no que respeita às necessidades em micronutrientes. A alimentação fora do ambiente familiar, decorrente da progressiva independência dos jovens, e o aumento da pressão social para uma estética baseada na magreza aumentam o risco de desordens alimentares ou de padrões de exercício compulsivo. Uma maturação sexual precoce parece, igualmente, predispor as adolescentes para uma maior preocupação com a imagem e o peso corporal e, consequentemente, para um maior risco de desordens alimentares. Embora a prática desportiva esteja associada a um aumento da auto-estima, as atletas de elite de várias modalidades em que a imagem ou o peso corporal contribuem de forma significativa para o desempenho atlético, como na ginástica, na patinagem artística, na dança ou no fundo e meio-fundo, são também um grupo-alvo de uma grande pressão, potenciando o impacto de comportamentos alimentares prejudiciais para a saúde e o desenvolvimento de desordens alimentares (Ver Nutrição na mulher atleta). Em oposição à dieta e à magreza encontra-se a obesidade na adolescência. Dados recentes do US Centers for Disease Control and Prevention (EUA) demonstram aumentos significativos da incidência do excesso de peso e da obesidade em crianças até aos 5 anos de idade. As crianças e adolescentes de países desenvolvidos são menos activas fisicamente e mais predispostas ao excesso de peso. A prevalência do excesso de peso e da obesidade em raparigas de Lisboa e do Porto variava, em 1995, entre 16 e 23%. Apesar de estes números serem inferiores aos observados nos EUA (25,9 e 26,6%), são todavia preocupantes. A obesidade nos 338 jovens está associada a problemas de saúde cardiovasculares, endócrinos e psicológicos e constitui um factor de risco premonitor da morbilidade e mortalidade na idade adulta. A adolescência é igualmente reconhecida como um período crítico de preparação para uma gravidez saudável, uma vez que os hábitos de vida entretanto adquiridos condicionam o desenvolvimento fetal. A deficiência em ácido fólico, desordens alimentares e o abuso de drogas constituem factores de complicação de uma eventual gravidez. A promoção da saúde por diversos agentes constitui um factor determinante da educação na adolescência. Avaliação do crescimento e estado nutricional A simples avaliação do crescimento é, provavelmente, a melhor forma de estimar a adequação do aporte nutricional e do estado de saúde em geral durante a adolescência. Geralmente utilizam-se tabelas normativas de crescimento, expressas em percentis, para comparar o aumento do peso e da altura de acordo com a idade e o género. Em geral, o crescimento é considerado normal se a relação entre o peso e a altura, para uma determinada idade, se encontrar entre os percentis 25 e 75. Para além do peso e da altura, a utilização do IMC de acordo com a idade constitui igualmente um bom procedimento para avaliar o crescimento e o estado nutricional, nomeadamente o despiste do risco associado à magreza extrema, ao excesso de peso e à obesidade (Tabela VII.5). Necessidades energéticas Apesar dos escassos estudos sobre necessidades energéticas na adolescência, existem evidências de que o dispêndio de energia das adolescentes saudáveis (10 a 16 anos), com uma adequada composição corporal e prática de actividade 02.05.08, 5:25 PM Tabela VII.5 • Valores de corte para o aumento do risco nutricional durante a adolescência. Classificação Variáveis Intervalo e valor de corte Normal Peso/altura Percentil 25 a 75 Peso insuficiente Peso/altura < percentil 25 Excesso de peso Peso/altura > percentil 75 Baixa estatura para idade Altura/idade < percentil 3 Magreza ou baixo IMC para idade IMC/idade < percentil 5 Risco de excesso de peso IMC/idade ≥ percentil 85 * Obesidade IMC/idade ≥ percentil 95 * * Valores baseados na OMS, 1995. Para maior detalhe da classificação ver Lobstein, T. et al., “Obesity in children and young people: a crisis in public health.” física, se situa entre 1 850 a 2 656 kcal/ dia, valores ligeiramente superiores aos anteriormente sugeridos pela OMS, 1 910 a 2 140 kcal/dia. Problemática é a existência de uma grande variabilidade quanto à idade de início, duração e intensidade do salto de crescimento, durante o qual se verificam as maiores necessidades energéticas durante a adolescência (cerca de 2 500 kcal/dia). © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Além da altura e do peso, as modificações na composição corporal, que por sua vez tem implicações nutricionais, são também características deste período. As modificações da composição corporal são mediadas pelas hormonas sexuais, no caso da mulher pelos estrogénios e pela progesterona. Uma vez alcançado o pico de velocidade de crescimento verifica-se nas raparigas um aumento significativo da acumulação de gordura, particularmente 321-376 na zona pélvica, dorsal, dos braços e do peito. A percentagem de gordura corporal nas raparigas passa de valores médios de 15% no início da puberdade aos 9 anos para valores que podem chegar aos 30% no final da puberdade. As necessidades energéticas durante a adolescência podem ser estimadas recorrendo a tabelas de referência como as publicadas nos EUA para Americanos e Canadianos saudáveis suficientemente activos e conhecidas em Portugal como DDR (doses diárias recomendadas – Tabela VII.6). É ainda possível estimar as necessidades energéticas durante a adolescência recorrendo a equações que consideram para além da idade, o peso, a altura e o nível de actividade física. A equação que se apresenta é aplicável a raparigas dos 9 aos 18 anos com um IMC entre o 5.º e o 85.º percentil. Tabela VII.6 • Necessidades energéticas para mulheres suficientemente activas, de acordo com a idade. Faixa etária Critério Necessidades energéticas diárias (kcal/dia) 9 a 13 anos Dispêndio + deposição de energia 2 017 kcal (11 anos) 14 a 18 anos Dispêndio + deposição de energia 2 368 kcal (16 anos) > 18 anos Dispêndio + deposição de energia 2 403 kcal (19 anos) 339 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 339 Nutrição, Exercício e Saúde 340 321-376 Necessidade energética diária (kcal/dia): 135,3 – [30,8 x idade (anos)] + [10 x peso (kg) + 934 x altura (m)] x nível de actividade física + 20 O nível de actividade física é expresso através dos seguintes coeficientes: 1 – sedentária; 1,16 – insuficientemente activa; 1,31 – activa; 1,56 – muito activa. As necessidades energéticas são também influenciadas pelo estádio de desenvolvimento pubertário, encontrando-se aumentada no estádio II de Tanner, quando tem início o salto de crescimento. A composição corporal, e particularmente a quantidade de massa muscular, são igualmente factores decisivos da necessidade energética basal, que é superior nas raparigas com maior massa muscular. Não existem, todavia, recomendações para estimar as necessidades energéticas de acordo com a quantidade de massa muscular. Uma vez que um adequado aporte energético é determinante para o aporte em proteína, cálcio, ferro e outros micronutrientes, adolescentes com baixo aporte energético (< 1 800 kcal/dia) têm dificuldade em atingir as recomendações diárias para macro e micronutrientes. Devido a uma maior exigência de energia e nutrientes durante o pico de crescimento, pode ocorrer um atraso da puberdade e do crescimento linear em raparigas cujo consumo de calorias e nutrientes seja insuficiente. Do lado oposto ao do défice energético surge a preocupação com o aumento da obesidade nas adolescentes. Apesar da importância dos factores genéticos, factores ambientais, como o consumo de tabaco e de álcool e o início precoce da actividade sexual, contribuem igualmente para a obesidade das jovens, ou seja, aumentam o risco de um fraco padrão alimentar e baixa adesão ao exercício. Outros factores como as dinâmicas familiares, a insegurança alimentar e uma selecção ou preferência por alimentos pouco saudáveis contribuem também para a obesidade na adolescência. Adicionalmente, o aumento da resistência à insulina, que se verifica no início da puberdade, constitui uma predisposição natural para um ganho excessivo de peso. 340 Uma vez que a obesidade na adolescência comparativamente à da infância é mais determinante para a obesidade na idade adulta, a adolescência constitui um período de vida crítico para a aprendizagem e controlo de comportamentos saudáveis ao nível alimentar e da actividade física. Necessidades proteicas Perante a escassez de estudos sobre as necessidades proteicas durante as diferentes fases da adolescência, as recomendações nutricionais existentes para adolescentes derivam de dados sobre crianças e adultos. Considerando as diversas taxas de crescimento entre os 10 e os 20 anos, pode-se assumir que um baixo aporte proteico pode afectar significativamente a manutenção e o crescimento de tecidos, órgãos e sistemas, com particular destaque para os tecidos muscular e ósseo. Neste contexto, a síntese proteica deve ser superior à degradação que é maximizada durante o crescimento com um balanço de nitrogénio positivo. O aporte energético total, e em particular o aporte energético proveniente da proteína, constitui um factor limitativo do equilíbrio azotado. A restrição calórica através da dieta poderá, assim, comprometer a síntese proteica e o próprio crescimento. A maioria dos adolescentes não está, contudo, em risco de um aporte insuficiente de proteína. De facto, estudos sobre os hábitos alimentares durante a adolescência demonstraram que o aporte médio de proteína está, geralmente, acima das recomendações, tanto nos EUA como em Portugal ou outros países desenvolvidos. Tal como para as necessidades energéticas, a idade biológica é mais determinante para a estimativa das necessidades proteicas do que a idade cronológica. 02.05.08, 5:25 PM As necessidades energéticas são superiores durante o período do salto do crescimento. Obviamente que este facto também se aplica às necessidades proteicas, já que o gasto de azoto e minerais é superior durante esta fase. As necessidades proteicas podem ser baseadas na altura ou no peso. As seguintes recomendações são fornecidas por agências governamentais norte-americanas e europeias (Itália) (Tabela VII.7). Tabela VII.7 • Recomendações para o consumo de proteína. DDRa Idade g/cm/db SINHc g/kg/da g/kg/d 0,95 1,24 0,85 1,14 0,80 1,01 9 a 13 anos 11 a 14 anos 0,29 14 a 18 anos 15 a 18 anos 0,27 > 18 anos 19 a 24 anos 0,28 a Food and Nutrition Board, Institute of Medicine. (2000). Dietary reference intakes. Washington, DC: National Academy Pres. b Food and Nutrition Board, Institute of Medicine. (1989). Recommended dietary allowances. Washington, DC: National Academy Press. c Italian Society of Human Nutrition (1996). Recommended dietary allowances for the Italian Population, Revision. Rome: National Institute of Nutrition. Considerações sobre as gorduras e os açúcares © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS A alimentação diária dos adolescentes norte-americanos e europeus é demasiadamente rica em gordura, ou seja, excede os 30% do aporte total de energia reco- 321-376 mendado. A adolescência constitui também um período de maior consumo de hidratos de carbono processados. Dados recolhidos no Sul da Europa demonstram consumos acima de 100 g/dia de açúcares simples, claramente superiores às actuais recomendações (Quadro VII.11 e Tabela VII.8). Quadro VII.11 • Recomendação para o consumo de gorduras em adolescentes. • Gordura total: < 30% e não menos que 20% do valor calórico total; • Gordura saturada: < 10% do aporte calórico total; • Colesterol: < 300 mg/dia (a produção endógena parece ser suficiente). Perturbador parece ser o facto de algumas características protectoras, como um consumo elevado de hidratos de carbono complexos e baixo de gordura saturada, típicas da dieta Mediterrânica e em países como Espanha, Portugal, Itália e Grécia, poderem estar a desaparecer. Actualmente o consumo de hidratos de carbono baseia-se sobretudo em hidratos de carbono processados, como os produtos de pastelaria, doces e refrigerantes. A ingestão de gordura saturada tem igualmente aumentado através de um maior consumo de carne, de lacticínios gordos e de doces. Dados provenientes de Espanha, onde se analisaram indivíduos do sexo feminino, demonstraram um aporte de gordura de 39 a 45% do valor calórico total. Este valor é superior ao observado nos EUA. Os dados são semelhantes para Tabela VII.8 • Recomendação diária para o consumo de hidratos de carbono e de fibra para raparigas adolescentes. Nutriente Hidratos de carbono (g/dia) Fibra (g/dia) 9 a 13 anos 14 a 18 anos > 130 > 130 26 36 aFood and Nutrition Board, Institute of Medicine. Dietary reference intakes. DC: National Academy Pres. 341 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 341 Nutrição, Exercício e Saúde 342 as mulheres na Grécia e Itália enquanto que em Portugal o consumo de gordura variava entre os 30 e os 33% em 1995. Felizmente, o consumo de azeite, de fruta e de vegetais permanece elevado em todos estes países, apesar de se verificar uma tendência para a diminuição no consumo de azeite. Torna-se imperativo a promoção de iniciativas de educação alimentar, tanto a nível urbano como rural, tendo em vista o abrandamento de tendências não saudáveis. Um bom exemplo foi a iniciativa escandinava que conduziu a uma diminuição do consumo dos níveis de gordura de origem animal. As atletas deverão consumir maiores quantidades de hidratos de carbono relativamente às quantidades recomendadas (ver Nutrição na mulher atleta). Aporte de cálcio e pico de massa óssea O consumo de cálcio das raparigas diminui gradualmente desde a infância até à adolescência de tal forma que muitas raparigas dos 12 aos 19 anos não ingerem diariamente as 1 300 mg de cálcio recomendadas para esta faixa etária. À excepção dos países escandinavos onde o consumo de lacticínios, fonte de cálcio, é relativamente elevado, os restantes países europeus apresentam um panorama semelhante ao americano, onde o consumo médio de cálcio é reduzido. O cálcio é importante para a formação da massa óssea e aumento da resistência à fractura e a sua necessidade é mais elevada, entre outros, em períodos de crescimento acelerado, como é o caso da adolescência, período durante o qual é formada cerca de 45% da massa óssea do esqueleto adulto. A formação óssea e a retenção de cálcio variam, todavia, ao longo das diversas fases da adolescência. O ganho em altura e em massa óssea não ocorre de forma sincronizada, pelo que poderá ser uma das razões para a ocorrência transitória de uma maior fragilidade e risco de fracturas durante a adolescência. 321-376 342 As diferenças de massa óssea que se estabelecem durante a puberdade entre rapazes e raparigas, não observáveis antes deste período, são devidas a um crescimento ósseo mais prolongado no sexo masculino. Estas diferenças contribuem para uma superioridade dos rapazes em 10% na altura e em 25% no pico de massa óssea, comparativamente às raparigas. Em mulheres jovens, foi demonstrado que a retenção de cálcio é bastante superior durante no início da puberdade (Tanner I-III), comparativamente aos seus estádios finais (Tanner IV-V). A retenção média de cálcio durante o pico da velocidade de crescimento do esqueleto é de aproximadamente 200 mg/dia, variando consoante o aporte de cálcio. Aportes inferiores a 1 000 mg/dia (cerca de 800 a 900 mg/dia) conduzem a menor absorção e retenção de cálcio, enquanto aportes de cálcio de 1 500 mg/dia parecem potenciar retenções de aproximadamente 400 mg/dia em raparigas durante este período de crescimento. Entende-se por pico de massa óssea a quantidade máxima de tecido ósseo que um indivíduo adquire e que é alcançado em média por volta dos 20 a 30 anos. No entanto, a maioria da massa óssea é adquirida durante a segunda década de vida, especialmente nas caucasianas com um aporte adequado de energia, de proteína e de cálcio. Vários factores afectam o pico de massa óssea, nomeadamente factores genéticos, hormonais, nutricionais e mecânicos. Os factores genéticos contribuem para cerca de 80% da variação da massa óssea. Os factores nutricionais e a actividade física constituem os determinantes do estilo de vida capazes de influenciar complementarmente o pico de massa óssea na juventude e consequentemente prevenir o risco de fractura relacionada com a idade. Entre os factores nutricionais, o cálcio aparenta ser o mais importante, apesar de muitos outros nutrientes afectarem a saúde do esqueleto (vitamina D, zinco, fósforo, vitamina C, vitamina K, ferro, magnésio, cobre, proteína). Apresentam-se os factores que durante a adolescência podem limitar a maximização do pico de massa óssea: 02.05.08, 5:25 PM • • • • Atraso na ocorrência da menarca; Irregularidade menstrual; Consumo de álcool e de tabaco; Dietas restritivas (energia, lacticínios, proteína); • Baixo aporte de micronutrientes, particularmente de cálcio; • Aporte excessivo de proteína e de sódio; • Inactividade física. A diminuição do aporte de cálcio é decorrente da diminuição do consumo de lacticínios nas adolescentes. A falta de informação, a alimentação fora de casa, a não ingestão do pequeno-almoço, a substituição do leite por refrigerantes, a influência dos pais e em particular a influência das filhas pelas mães, o gosto, a intolerância à lactose e as preocupações com o corpo e com o peso são factores que parecem contribuir para a diminuição do consumo de cálcio neste período. Nos EUA foram implementadas campanhas de promoção tendo em vista o aumento do consumo de cálcio de produtos lácteos como, por exemplo, os Milk Matters , cujos materiais estão disponíveis no sítio do National Institutes of Health (NIH), com ligação ao National Institute of Child Health & Human Development (NICHD). A pirâmide alimentar para adolescentes compreende a inclusão de cinco doses diárias de lacticínios (entre 1 200 e 1 500 mg/dia para raparigas dos 11 aos 24 anos, e, mais especificamente, 1 300 mg para raparigas dos 9 aos 18 anos) (Tabela VII.9). A Tabela VII.10 apresenta alguns dos alimentos mais ricos em cálcio. Uma vez que a absorção de cálcio, que varia de 25 a 40%, se encontra diminuída quando o cálcio provém de fontes vegetais, uma forma possível de aumentar a sua absorção numa dieta vegetariana consiste na combinação de lacticínios com legumes, hortaliças e produtos de soja. Os vegetarianos restritivos (vegans), ou os adolescentes com intolerância à lactose devem incrementar a sua dieta com suplementos de cálcio (1 500 mg/dia de citrato ou carbonato de cálcio, ingeridos em pequenas doses de 300 a 500 mg ao longo do dia). Devido a interacções significativas entre o © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Tabela VII.9 • Estratégias para o aumento do aporte de cálcio durante a adolescência. 321-376 Factores de risco Estratégia para aumentar o aporte Falta de conhecimento/educação Implementar programas de educação em larga escala Influência maternal nos padrões alimentares dentro e fora do envolvimento familiar Uma vez que o consumo de lacticínios das mães influencia o consumo de lacticínios das filhas há que criar padrões alimentares em casa que incluam o pequeno-almoço e utilizem snacks como o leite e o iogurte Gosto/paladar Uma vez que constitui a principal razão para a restrição de lacticínios nas adolescentes, há que educar para o consumo variado de lacticínios (preparação de batidos, etc.) Intolerância à lactose A má digestão de lactose não deve ser um factor restritivo para o aporte de cálcio. Mesmo com a má digestão de lactose podem ser consumidos alguns lacticínios (queijo, iogurte com culturas probióticas e leite adicionado de lactase, se disponível) ingerindo-os em pequenas quantidades ao longo do dia Influência social As mensagens das campanhas para o consumo de lacticínios necessitam de ser apropriadas para a faixa etária do público-alvo Preocupação com o peso Programas de controlo de peso que enfatizem uma relação inversa entre a percentagem de gordura corporal e o aporte de cálcio. 343 02.05.08, 5:25 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 343 Nutrição, Exercício e Saúde 344 Tabela VII.10 • Fontes alimentares de cálcio. Fontes alimentares Tamanho da porção Cálcio (mg) Leite 240 ml 350 Iogurte com aroma/frutos 170 g 415 Iogurte natural 170 g 450 Queijo fresco 1 chávena 100 56 g 217 Sardinhas com espinhas Queijo (tipo flamengo) 28 g 300 1 chávena 122 Leite de soja (fortificado) 240 ml 120 Tofu (simples) 125 g 300 Espinafres (crus) cálcio, o ferro e o zinco, recomenda-se que a ingestão de suplementos de cálcio não seja simultânea a refeições ricas em ferro ou em combinação com suplementos de ferro ou multivitaminominerais. Se, por um lado, um aporte proteico insuficiente, como o existente em países subdesenvolvidos, pode limitar o crescimento do esqueleto, particularmente ao nível dos ossos longos, por outro lado, um aporte proteico excessivo conduz a um aumento da excreção urinária de cálcio. O exercício físico, desde que não seja excessivo (para não comprometer a activação do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal), constitui um estímulo essencial para o desenvolvimento de um esqueleto resistente à fractura, na condição de existir uma biodisponibilidade suficiente de cálcio. Embora a biodisponibilidade do cálcio esteja também dependente do consumo de outros nutrientes, a maioria dos trabalhos de investigação tem abordado a importância do consumo de cálcio na limitação ou favorecimento do efeito da actividade física no mineral ósseo. Uma observação recente sugere um limiar de 700 a 800 mg/dia a partir do qual se pode potenciar o efeito do exercício físico. À medida que o consumo se aproxima das necessidades requeridas, a actividade física parece constituir um estimador mais importante da massa óssea do que o consumo de cálcio. Destaque COMO SE AVALIA A SAÚDE DOS OSSOS? Actualmente a resistência do osso à fractura pode ser avaliada clinicamente através de radiogrametria computorizada, de absorciometria radiográfica, de densitometria de raio-X de dupla energia (DXA) e de ultra-som. É, todavia, através de DXA que se faz o diagnóstico de osteoporose, massa óssea diminuída ou massa óssea normal, uma vez que para as restantes metodologias não existem critérios de diagnóstico bem estabelecidos. DXA Os locais ósseos possíveis de avaliação através de DXA são a coluna lombar (L1-L4), a anca, o antebraço e o corpo inteiro. A densidade mineral óssea (DMO) avaliada através de DXA é expressa em valores absolutos (g/cm2) e em valores relativos, 321-376 344 02.05.08, 5:25 PM designadamente o Z-score e o T-score. A DMO resulta da razão entre o conteúdo mineral ósseo e a área de osso examinada. O Z-Score é a medida da diferença em desvios-padrão (DP) ou em percentagem (%), entre os valores da DMO da pessoa avaliada e os valores da DMO de pessoas da mesma idade e género. O T-score é a medida da diferença (em DP ou %) entre os valores da pessoa avaliada e os valores de adultos jovens do mesmo género (20 a 30 anos, quando é alcançado o pico de densidade óssea). DIAGNÓSTICO DA OSTEOPOROSE Em termos densitométricos, considera-se existir osteoporose quando a DMO está diminuída pelo menos em 25% relativamente ao que é considerado normal. Esta diminuição de 25% é expressa por um T-score de -2,5 DP. Para reduções da massa óssea entre 10 e 25%, ou seja, para um T-score entre -1 e -2,5 DP, considera-se existir massa óssea diminuída ou osteopénia. A osteoporose pode ser diagnosticada numa mulher pós-menopáusica ou num homem de pelo menos 50 anos se o Tscore da coluna lombar, da anca ou do colo do fémur for = -2,5 DP. Em algumas circunstâncias o rádio distal (também reconhecido por 33%, ou um terço) pode ser utilizado. Regiões ósseas a avaliar: • Avaliar a DMO da coluna lombar e da anca em todos os pacientes; • Avaliar a DMO do antebraço não dominante nas seguintes circunstâncias: quando a anca ou a coluna não podem ser avaliadas ou interpretadas; em caso de hiperparatiroidismo; em caso de obesidade extrema em que o peso do paciente ultrapassa o permitido pela mesa do densitómetro. Interpretação de resultados em mulheres pré-menopáusicas e em homens com menos de 50 anos: • Utilizar o Z-score em vez do T-score, particularmente nas crianças; • Expressar um Z-score ≤ -2 DP como “abaixo do valor esperado para a idade” e > -2 DP como “dentro da amplitude esperada para a idade”; • Avaliar preferencialmente a coluna e o corpo inteiro em crianças e adolescente (< 20 anos). © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Indicações para uma avaliação da DMO: 321-376 • Mulheres com pelo menos 65 anos de idade; • Mulheres pós-menopáusicas com menos de 65 anos e com um ou mais factores de risco para além da menopausa; • Homens com mais de 70 anos; • Adultos com fracturas de fragilidade; • Adultos com doença e/ou medicação associada a massa óssea diminuída ou a perda de massa óssea; • Qualquer pessoa considerada para terapia farmacológica; • Qualquer pessoa em tratamento da osteoporose, para monitorizar o efeito do tratamento; • Qualquer pessoa não tratada mas na qual a evidência de perda óssea deva conduzir ao tratamento. As mulheres que interrompam uma THS devem ser consideradas para uma densitometria de acordo com as indicações anteriores. Official Positions of the International Society for Clinical Densitometry (2005) http://www.iscd.org/Visitors/pdfs/ISCD_OP2005_000.pdf 345 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 345 Nutrição, Exercício e Saúde 346 homem (6%), devido a uma maior perda e a uma menor reserva, uma vez que quanto menor é a reserva de ferro maior é a sua absorção. A diminuição ou aumento da capacidade de produção de glóbulos vermelhos encontra-se igualmente associada a uma menor ou maior absorção de ferro. O ferro dos alimentos de origem animal, como o ferro hémico encontrado nas carnes, apresenta uma maior biodisponibilidade comparativamente ao ferro não-hémico de origem vegetal (Tabela VII.11). Outros compostos presentes nos alimentos podem por sua vez inibir ou promover a biodisponibilidade do ferro quando consumidos em simultâneo (Tabela VII.12). Apesar da perda média diária de ferro dos adolescentes ser inferior à dos adultos (1g/dia) este valor encontra-se elevado em mais 0,3 a 0,5 mg/dia em mulheres jovens menstruadas. Complicações gastrointes- Ferro e anemia ferropénica Na mulher adulta, a quantidade total de ferro corporal aproxima-se de 2,3 g, o equivalente a 42 mg/kg para uma mulher de 55 kg. Em condições normais a maioria do ferro corporal encontra-se nos glóbulos vermelhos como hemoglobina, ou seja, na forma de ferro funcional, e em pequenas quantidades na mioglobina e em enzimas respiratórias intracelulares. O remanescente do ferro corporal total é o resultado do aporte, da perda e da reserva diária. A regulação do equilíbrio do ferro ocorre principalmente pela via de absorção no tracto gastrointestinal. A biodisponibilidade do ferro varia de acordo com as características individuais, particularmente com o género, e com as características dos alimentos situando-se entre 1 a 50%. A mulher absorve maior quantidade de ferro (13%) comparativamente ao Tabela VII.11 • Fontes alimentares de ferro. Fonte Tamanho da porção Quantidade de ferro (mg) Animal (~40% hémico e 60% não hémico) Fígado 85g 9 Carne de Vaca 85g 3 Galinha 85g 1 Peixe 85g 1 Porco 85g 1 Ovo 1 inteiro 1 Vegetal (100% não hémico) Cereais, desidratados, fortificados 28 g 6 2 chávena 3 2 chávena 2 Massa, cozinhada 1 chávena 2 Arroz, cozinhada 1 chávena 2 Espinafres, cozinhados 1/ Milho doce 1/ Legumes, cozinhados Aveia, cozinhada Fruta 2 chávena 1 chávena 1/ Passas 321-376 1/ 4 chávena 1 peça 346 2 1,5 1 0,5 02.05.08, 5:26 PM Tabela VII.12 • Promotores e inibidores da biodisponibilidade de ferro. Promotores Exemplos © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Exemplos Alimentos ricos em vitamina C Citrinos, em fruta ou sumo Fitatos Cereais em grão, legumes, produtos de soja Alimentos fermentados (pH baixo) Miso (grão de soja fermentado), sauerkraut (couve fermentada) Taninos Chá, café, infusões, cacau Ferro hémico Carne vermelha, peixe ou aves Cálcio Leite, queijo e iogurte Ácidos orgânicos Ácido cítrico e tartárico Péptidos de proteína vegetal Proteína de soja, legumes, oleaginosas Álcool Cerveja, vinho, licores Oxalatos Ruibarbo, morangos tinais com perda de sangue potenciam, igualmente, a perda de ferro para além do processo normal de turnover. O ferro é armazenado no organismo principalmente na forma de ferritina, encontrada no fígado, na medula óssea, no baço e nos músculos-esqueléticos. A ferritina circulante, ainda que pouca, é utilizada como índice de análise das reservas de ferro, uma vez que há uma boa correlação com as reservas da medula óssea. Neste contexto, a ferritina plasmática representa o parâmetro mais importante na detecção inicial de uma deficiência em ferro. A anemia ferropénica constitui uma das deficiências nutricionais mais prevalentes nos países desenvolvidos. Os grupos da população mais afectados pela anemia ferropénica são as crianças, os adolescentes, as mulheres em idade fértil e as grávidas. 321-376 Inibidores Durante a adolescência as necessidades de ferro aumentam devido ao crescimento acelerado, à expansão do volume plasmático e ao incremento da massa esquelética. O crescimento necessita de uma elevada taxa de deposição de ferro (0,2 mg/ dia), principalmente durante a fase do salto de crescimento (0,9 mg/dia). Adicionalmente, nas adolescentes as perdas menstruais aumentam as necessidades diárias de ferro, particularmente quando a hemorragia menstrual é abundante (> 80 ml/mês). 347 Em consequência, estas perdas não conseguem geralmente ser compensadas pelas quantidades diárias de ferro recomendadas. De facto, vários estudos mostram que somente 28% das adolescentes norte-americanas entre os 12 e 19 anos consome diariamente o equivalente às recomendações, ou seja, 18 mg/dia. A diferença entre a quantidade de ferro recomendada e aquela que é ingerida ainda aumenta mais ao longo do ciclo de vida da mulher. A anemia ferropénica representa o estado mais grave da deficiência em ferro que se inicia com a diminuição das reservas de ferro e progride para a deficiência de ferro sem anemia (sem modificação da hemoglobina e do hematócrito) (Tabela VII.13). Apesar da falta de consenso sobre os efeitos da fase I da depleção de ferro na saúde, as evidências apontam para um impacto negativo das fases II e III no crescimento linear, na mineralização óssea, na eritropoiese, assim como na função imunitária. A prevalência da anemia ferropénica nas adolescentes é de 2 a 3%, e a da deficiência de ferro sem anemia de 11%. Uma vez que o risco da anemia se encontra aumentado nas pessoas com deficiência de ferro, torna-se importante a monitorização das fases iniciais da depleção, particularmente nas crianças, nas adolescentes e em mulheres de idade fértil, 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 347 Nutrição, Exercício e Saúde 348 Tabela VII.13 • Fases da depleção, deficiência, anemia e de sobrecarga de ferro. Fases Reserva Ferritina plasmática Funcionalidade Hemoglobina hematócrito Transporte Saturação da transferrina Reserva normal de ferro Normal Normal Normal Fase I – depleção de ferro Normal Normal Baixo Fase II – eritropoiese deficiente ou deficiência de ferro sem anemia Baixa Normal Baixo Fase III – anemia ferropénica Baixa Baixa Baixo Sobrecarga de ferro Alta Alta Normal visto que com a gravidez as necessidades de ferro duplicam. Alguns sinais e sintomas da deficiência em ferro são, habitualmente, a fadiga generalizada, a fadiga precoce associada à realização de actividades com exigência física, a diminuição da função imunitária, o atraso do crescimento, infecções e palidez da pele. NUTRIÇÃO PARA MULHERES EM IDADE FÉRTIL Atingir e manter um peso corporal adequado, não só é crucial para a preparação de uma gravidez saudável, como também é fundamental para a prevenção de doenças crónicas, como a diabetes tipo 2, as doenças cardiovasculares, alguns tipos de cancro e a osteoporose. Os principais objectivos dos agentes educativos de pessoas adultas devem reforçar a prática regular de actividade física, assim como a adopção de hábitos alimentares equilibrados. Necessidades energéticas De acordo com as DDR, as necessidades energéticas para mulheres suficientemente activas com mais de 18 anos são de 2 403 kcal/dia (ver Tabela VII.7). No entanto, tal como para a adolescência, equações que considerem para além da idade, o peso, a altura e o nível de actividade física conduzem a estimações mais exactas. Neste âmbito, para mulheres com mais de 18 anos e com um IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2, a necessidade energética diária pode ser estimada de acordo com a seguinte equação: 354,1 – [6,91 x idade (anos)] + [9,36 x peso (kg) + 726 x altura (m)] x nível de actividade física em que o nível de actividade física é expresso através dos coeficientes referidos na Tabela VII.14. De salientar que a variabilidade do gasto energético diário é bastante elevada, uma vez que é aproximadamente de 160 kcal. Assim, se forem utilizados dois desvios-padrão para estimar o gasto energético diário para um valor médio de 2 570 kcal, a estimativa varia entre as 2 250 kcal e as 2 890 kcal. Apesar do valor médio representar o ponto de par- 321-376 348 tida mais seguro para a concepção de planos alimentares, é importante avaliar as diferenças devidas ao nível da actividade física, de modo a tornar as linhas orientadoras mais específicas. Devido ao aumento da incidência do excesso de peso e da obesidade nos países mais desenvolvidos foram elaboradas equações específicas para estimar as necessidades energéticas de mulheres com mais de 18 anos e um IMC = 25 kg/ /m2. 02.05.08, 5:26 PM Tabela VII.14 • Nível de actividade física e respectivo coeficiente para determinação da necessidade energética diária (mulheres com mais de 18 anos e IMC de 18,5 a 24,9 kg/dia. Nível de actividade física Coeficiente Descrição Sedentária 1,00 Somente actividades da vida diária (AVD) Insuficientemente activa 1,12 AVD mais caminhada cerca de 3 km por dia Activa 1,27 AVD mais caminhada cerca de 11 km por dia ou equivalente Muito activa 1,45 AVD mais caminhada cerca de 27 km por dia ou equivalente Necessidade energética diária (kcal/dia) = 448 – [7,95 x idade (anos)] + [11,4 x peso (kg) + 619 x altura (m)] x nível de actividade física O nível de actividade física é expresso através dos seguintes coeficientes: 1,00 – sedentária; 1,16 – insuficientemente activa; 1,27 – activa; 1,44 – muito activa O excesso de peso e a obesidade constituem actualmente uma grande preocupação de vários países desenvolvidos. Nos EUA, a obesidade é mais prevalente em mulheres do que em homens. De facto, entre os 20 e os 74 anos de idade, 62% das mulheres têm excesso de peso e 34% são obesas. De acordo com o Centro Norte-Americano para o Controlo de Doenças e com estudos do NHANES (1974-2000), a ingestão calórica diária aumentou em ambos os sexos, mas em maior proporção nas mulheres. Este facto em combinação com um estilo de vida sedentário é provavelmente a causa mais comum de excesso de peso e obesidade em adultos. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Necessidades de macronutrientes 321-376 As necessidades em macronutrientes não são diferentes entre os géneros, durante esta fase do ciclo da vida. A variação aceitável de macronutrientes na distribuição da alimentação diária, proposta pelas DDR é de 45 a 65% para os hidratos de carbono, 10 a 35% para proteína, e 20 a 35% para a gordura. 349 NECESSIDADES DE HIDRATOS DE CARBONO As mulheres fisicamente activas podem beneficiar de uma maior quantidade relativa de hidratos de carbono, especialmente se praticarem actividades de natureza aeróbia. As recomendações das DDR sugerem 130 g de hidratos de carbono por dia, apesar de um consumo diário de 100 g ser provavelmente suficiente para 50% destas mulheres. No entanto, mulheres fisicamente activas poderão necessitar pelo menos de 200 g/dia ou de 5 g/kg de peso corporal. Esta necessidade deve-se ao facto de o hidratos de carbono serem o principal combustível do músculo e de a sua disponibilidade quer no músculo quer no fígado ser limitada. Por esta razão, há necessidade de restabelecer diariamente os respectivos níveis de glicogénio, especialmente em mulheres que treinem diária ou bi-diariamente, cujas necessidades se situam entre os 7 e os 10 g/kg/dia. Para mulheres que pratiquem exercício em dias alternados (quatro vezes por semana), a uma intensidade leve a moderada durante 30 a 60 minutos, as DDR são, provavelmente, suficientes. A escolha das fontes de hidratos de carbono deve favorecer os alimentos não processados 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 349 Nutrição, Exercício e Saúde 350 ricos em fibra, como os cereais integrais, frutos, vegetais e legumes; deve consumir-se com moderação alimentos mais processados como pão branco, arroz branco, massa processada, compotas, mel e sumo e reduzir os doces (pastelaria, confeitaria e gelados). As DDR para a quantidade de fibra são de 25 g por dia para mulheres nesta fase da vida. Tem sido demonstrado que a fibra reduz o colesterol total, o LDL-C e diminui o risco de doença cardiovascular. Dados do Nurses’ Health Study indicam uma redução de aproximadamente 20% no risco de doença coronária por cada incremento de 10 g de fibra alimentar. Ainda no mesmo estudo, assim como noutros, foi também evidenciada uma relação entre a quantidade e a qualidade dos hidratos de carbono ingeridos (por exemplo, índice e carga glicémica), e o risco de desenvolver diabetes tipo 2. No entanto, é necessário desenvolver estudos prospectivos para confirmação destes resultados. NECESSIDADES PROTEICAS Não existem diferenças entre homens e mulheres relativamente às necessidades proteicas. Estas necessidades são sobretudo estimadas a partir do peso corporal, do nível e do tipo de actividade física. As necessidades para homens ou mulheres sedentários são de 0,8 g/kg/dia. Estas necessidades são mais elevadas em adultos fisicamente activos, particularmente se as actividades forem de natureza aeróbia ou de força, uma vez que a intensidade do exercício e a sua duração aumentam a taxa oxidativa da proteína. Se o exercício ocorrer na maioria dos dias da semana e o objectivo for o aumento da quantidade de massa magra, a ingestão proteica deve ser aproximadamente 1,2 a 1,8 g/kg/dia. As necessidades proteicas são também mais elevadas para indivíduos que iniciem um programa de musculação. As fontes proteicas podem ser divididas em fontes animais e vegetais. As fontes animais, como a carne vermelha, para além da proteína, fornecem ferro, zinco e vitamina B12 mas são também res- 321-376 350 ponsáveis pelo aumento do consumo de gordura saturada na dieta. A carne vermelha pode ainda gerar algumas substâncias tóxicas, que poderão aumentar o risco de certo tipo de cancros, particularmente do cólon. Dados do Nurse’s Health Study demonstraram que as mulheres que consomem carne vermelha semanalmente possuem um risco de desenvolver cancro do cólon mais baixo do que aquelas que a consomem diariamente. O peixe poderá ser uma melhor opção para a saúde, uma vez que fornece ácidos gordos Ω -3, que estão associados a um risco inferior de desenvolver doença cardiovascular, tanto em homens como em mulheres. De um modo geral, a proteína da soja é considerada como uma fonte natural de estrogénio para as mulheres, podendo reduzir não só o risco de cancro da mama e de doença cardiovascular, mas também afectar a densidade mineral óssea, particularmente após a menopausa. Uma dieta vegetariana que elimine a maioria das fontes animais (vegan) tem de incluir a proteína da soja, uma vez que esta é a única proteína vegetal completa em aminoácidos essenciais. Nas dietas vegetarianas com lacticínios ou lacticínios e ovos, a combinação de vegetais com proteínas dos lacticínios, soja ou ovos permite atingir os requisitos de aminoácidos essenciais. Uma preocupação própria das mulheres reside no facto de dietas com elevado teor de proteína causarem excreção urinária de cálcio. De facto, as mulheres com níveis elevados de ingestão de proteína parecem correr um maior risco de osteoporose. Dados do Nurses’ Health Study revelam um aumento de 20% do risco de fractura do punho nas mulheres que consomem pelo menos cinco doses de carne vermelha por semana, em comparação com as que comem menos de uma dose por semana. A proteína de fonte animal parece causar maiores perdas urinárias de cálcio do que a proteína vegetal. Em contraste, a ingestão reduzida de proteína poderá afectar negativamente a densidade 02.05.08, 5:26 PM mineral óssea. Assim, parece ser importante, para as mulheres entre os 30 e os 50 anos, equilibrar a ingestão de proteína com outros nutrientes, uma vez que neste período ocorre uma perda de cerca de 0,5% ao ano da densidade mineral óssea. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS NECESSIDADES DE GORDURA 321-376 Não existem DDR estabelecidas para a gordura, quer para homens quer para mulheres, a partir dos 12 meses de idade. Uma vez que a gordura é altamente calórica, recomendam-se dietas com níveis baixos de gordura para controlar o peso. No entanto, em termos da saúde geral, recomenda-se a inclusão de quantidades moderadas de gordura, particularmente de gorduras vegetais que contenham ácidos linoleicos (Ω -6) e ácidos linolénicos (Ω -3), bem como ácidos gordos monossaturados. Os estudos mostram que estas gorduras se encontram favoravelmente associadas a um risco mais baixo de doença cardiovascular e de diabetes tipo 2. Apesar de a maioria das pirâmides alimentares e das orientações dietéticas dos países desenvolvidos confinarem todos os tipos de gordura ao topo da pirâmide, a Pirâmide da Alimentação Saudável proposta por Walter Willett em 2003, sugere a inclusão diária de óleos vegetais, o que é uma prática habitual dos países mediterrânicos. Os ácidos gordos polinsaturados, particularmente os ácidos gordos α -linolénicos e os monoinsaturados (azeite, óleo de canola, óleo de soja e óleo de semente de linho), bem como os ácidos gordos Ω -3 (óleos de peixe), são particularmente úteis na redução do risco de doença cardiovascular tanto no homem como na mulher. Existem muitos estudos centrados em descobrir se a gordura se encontra associada ao cancro da mama. Enquanto os primeiros estudos de caso-controlo sugeriam que uma dieta com elevado teor de gordura poderia estar associada a um maior risco de cancro da mama, os dados mais recentes de uma análise feita a oito estudos prospectivos não revelou qual- 351 quer associação. Serão necessários mais dados para compreender se, de facto, existe uma ligação entre a ingestão de gordura e o cancro da mama. NECESSIDADES DE MICRONUTRIENTES As mulheres adultas jovens e pré-menopáusicas (18 a 50 anos) estão em risco relativamente a uma ingestão insuficiente de vitamina B e E, cálcio, magnésio e ferro. Estes, assim como outros micronutrientes, para além de prepararem a mulher para a gravidez, ajudam a prevenir doenças relacionadas com o envelhecimento, como a osteoporose e as doenças cardiovasculares. Apresentam-se algumas considerações sobre as vitaminas B, o cálcio e o ferro. As DDR relativas a estes micronutrientes encontram-se na Tabela VII.16 (ver “Nutrição na gravidez e lactação em mulheres fisicamente activas”). Muitas mulheres não asseguram um bom estado nutricional previamente à ocorrência de uma gravidez. A mulher em idade fértil raramente consome quantidades adequadas de ácido fólico, necessário à síntese do ácido desoxirribonucleico e à divisão de células e essenciais ao desenvolvimento do feto. Recomenda-se que todas as mulheres em idade fértil ingiram diariamente um suplemento multivitamínico-mineral que contenha ácido fólico, a fim de reduzir o risco de malformações no recém-nascido, particularmente associadas ao tubo neural, como a espinha bífida. As mulheres precisam de ser informadas acerca da necessidade de atingirem um nível de folato adequado antes da gravidez, uma vez que o cordão espinal se fecha por volta do 28.º dia, que habitualmente coincide com o reconhecimento inicial do início da gravidez. Além disso, a ingestão de vitaminas B12 e B6 poderá ter efeitos benéficos sobre a manutenção de normais níveis de homocisteína. Níveis elevados de homocisteína no plasma estão associados a um maior risco de doença cardiovascular. O cálcio promove o crescimento linear e radial dos ossos durante a adolescência e previne a perda de mineral ósseo du- 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 351 Nutrição, Exercício e Saúde 352 Os estudos demonstram que uma dieta rica em vegetais de folha verde, alimentos fortificados como os cereais de pequeno-almoço e suplementos de ácido fólico aumentam o nível de folato no plasma e diminuem o nível de homocisteína prevenindo desta forma o risco de doença cardiovascular. rante a vida adulta. As mulheres adultas jovens e pré-menopáusicas apresentam geralmente uma baixa ingestão de cálcio. Dados do Continuing Survey of Food Intakes by Individuals (CSFII) 1994-96 nos EUA, indicam que só 16% das mulheres com idades entre os 20 e os 29 anos, 14% das mulheres entre os 30 e os 39 anos e 12% das mulheres entre os 40 e os 49 anos consomem 100% da respectiva quantidade recomendada de cálcio. As razões para estes aportes tão reduzidos vão desde preferências de gosto até padrões alimentares restritivos para efeitos de controlo de peso. As jovens têm de ser informadas sobre os benefícios dos alimentos ricos em cálcio e as opções alternativas para alcançarem uma dieta equilibrada em cálcio. As opções alternativas para as dietas vegan (sem qualquer alimento de origem animal) incluem vegetais com folhas verdes, produtos à base de soja e alimentos fortificantes (cereais de pequeno-almoço, alimentos desportivos e sumo de laranja), podendo sugerir-se suplementos de cálcio (citrato ou carbonato de cálcio) para as que se encontram em dietas restritivas e que não querem aumentar o seu aporte de alimentos ricos em cálcio. A recomendação de cálcio para mulheres entre os 19 e os 50 anos de idade é de 1 000 mg/dia (ver Nutrição na adolescência, para as fontes e absorção de cálcio). Tendo em vista a maximização da saúde óssea, deveria também ser enfatizado um equilíbrio entre o aporte e o dispêndio energético, assim como uma dieta rica em nutrientes, incluindo proteínas e outros micronutrientes como os que se apresentam: • Vitamina D: importante para a absorção de cálcio intestinal; regula os níveis de cálcio no sangue; 321-376 352 • Fósforo: constituinte dos cristais de hidroxiapatite; razão cálcio/fósforo deve ser de 2/1 para uma formação adequada de cristais de hidroxiapatite no osso; • Magnésio: a sua redução diminui a secreção paratiroideia, o que, por sua vez, diminui os níveis de vitamina D; • Boro e manganésio: importantes para a formação e remodelação óssea; • Zinco: regula a secreção de calcitonina da glândula tiróide e influencia a remodelação óssea; • Iodo: influencia a remodelação óssea; • Cobre: induz uma diminuição da remodelação óssea; • Vitamina K: coenzima durante a produção de proteínas específicas que ajudam o metabolismo ósseo; o seu envolvimento é no entanto controverso; • Fluoreto: estimula a formação óssea. Apesar de as adolescentes correrem um maior risco de forte redução das reservas de ferro e de anemia, as mulheres em idade fértil revelam geralmente uma diminuição das reservas de ferro que, na preparação para a gravidez, tem de ser corrigida. Para mais, a deficiência de ferro poderá conduzir à fadiga, e, na mulher activa, a uma má adaptação ao treino. Assim, as orientações dietéticas para esta população incluem alimentos ricos em ferro e em vitamina C (isto é, carnes magras, vegetais com folhas verdes, nozes, passas de uva, laranjas e kiwis) e, provavelmente, suplementos de ferro para mulheres com deficiência de ferro anteriormente diagnosticada, com ou sem anemia. Outras anemias nutricionais incluem a anemia de ácido fólico e de vitamina B12 (anemia megaloblástica nutricional). Enquanto a deficiência de ácido fólico é a segunda anemia nutricional mais comum entre as mulheres adultas jovens, logo a seguir à anemia de deficiência em ferro, a anemia de deficiência em vitamina B12 é relativamente rara. Apesar de as fontes alimentares deverem ser a primeira prioridade na obtenção 02.05.08, 5:26 PM de um nível adequado de nutrientes, a dieta, por si só, pode não ser suficiente para algumas mulheres em todos os períodos da idade adulta. Está demonstrado que os suplementos dietéticos são eficazes na obtenção de maiores aportes gerais de vitaminas B, vitamina C e vitamina D, e que os suplementos multivitamínicos e minerais ajudam a ultrapassar aportes de ácido fólico, ferro e vitamina D insuficientes. Os suplementos de cálcio corrigem o baixo aporte de cálcio em mulheres com restrições ao nível dos lacticínios. Problemático é, contudo, o facto de a maioria das pessoas que recorrem a suplementos serem geralmente as que têm uma melhor alimentação. NUTRIÇÃO NA GRAVIDEZ E LACTAÇÃO EM MULHERES FISICAMENTE ACTIVAS Considerações gerais A gravidez e a amamentação constituem períodos de enormes alterações fisiológicas no organismo de uma mulher, que requerem uma selecção muito cuidadosa de recursos dietéticos, não só durante a sua ocorrência como também na sua preparação antes da concepção. A gravidez divide-se em três trimestres. O aumento de peso varia durante os três trimestres e é maior durante o segundo e o terceiro, enquanto no primeiro o aumento de peso se limita a cerca de 1 a 2,5 kg. Em geral, o aumento total de peso varia entre 11,5 a 16 kg mas esta variação depende do peso antes da gravidez. A Tabela VII.15 apresenta as variações do aumento de peso relativamente ao IMC da mulher. As mulheres fisicamente activas têm geralmente maior probabilidade de ter um peso próximo do limiar inferior do que é considerado um peso normal (18,5 a 24,9 kg/m2). Neste caso, deverá ser dada atenção a um aumento normal de peso durante a gravidez, uma vez que este tem probabilidade de vir a determinar o peso do recém-nascido. Para além disso, as mulheres que praticam exercício possuem normalmente uma maior preocupação com a saúde, consumindo uma variedade de suplementos nutricionais, como as ajudas ergogénicas e herbáceas, que poderão ser prejudiciais para o feto. É, por conseguinte, primordial proceder-se a uma cuidadosa avaliação do estado nutricional, do uso de suplementos e substâncias, da história da prática de exercício e de outros hábitos, antes da concepção. O aumento do peso materno durante a gravidez influencia o peso com que o bebé nasce. O peso do recém-nascido parece ser um determinante importante não só para a saúde do bebé como para Tabela VII.15 • Aumento de peso recomendado durante a gravidez de acordo com o IMC da pré-grávida. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS IMC anterior à gravidez (kg/m2) Aumento total de peso recomendado (kg) Variação mensal do peso recomendada* (kg) 321-376 Peso insuficiente (< 18,5) 12,5 a 18 2,3 Peso normal (18,5 a 24,9) 11,5 a 16 1,8 Excesso de peso (≥ 25 a 29,9) 7,0 a 11,5 1,2 6,0 (mínimo) 0,9 Obesa (≥ 30) *aumento de peso durante o segundo e o terceiro trimestres Baseado em Institute of Medicine. Nutrition during Pregnancy. Part I Weight Gain. Washington DC: Food and Nutritition Board. National Academy of Sciences, 1990; American College of Obstetricians and Gynecologists. Nutrition During Pregnancy. Technical Bullitin 179. Washington DC: ACOG, 1993 (Level III). 353 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 353 Nutrição, Exercício e Saúde 354 321-376 O peso do recém-nascido e a idade gestacional são determinantes importantes da morbilidade e mortalidade infantis. Um recém-nascido de termo pesa cerca de 3,5 kg e nasce entre a 37.ª e a 42.ª semana. Os bebés que pesam menos de 2,5 kg são considerados bebés de baixo peso e os que nascem antes da 37.ª semana são considerados bebés nascidos antes do termo. o desenvolvimento de factores de risco em idades mais tardias. Por exemplo, um crescimento e desenvolvimento intra-uterino deficiente poderão aumentar o risco de doença cardiovascular, metabólica ou endócrina ao longo da vida. O baixo peso ao nascimento, tanto no homem como na mulher, está associado a um maior risco de doença cardiovascular, diabetes tipo 2, hipertensão e hiperlipidemia. É claro que os bébés com baixo peso, filhos de mães subalimentadas, se encontram em maior risco de complicações de saúde. Neste grupo podem ser incluídas mulheres com um nível sócio-económico baixo e mulheres com problemas alimentares anteriores ou com dependência de exercício. Em contraste, o excesso de peso e a obesidade na mulher grávida aumentam o risco de diabetes mellitus gestacional e de complicações no parto, bem como de obesidade infantil, macrossomia e malformações congénitas do bébé, independentemente do consumo de ácido fólico. Um nível baixo de ácido fólico aumenta o risco de parto antes do termo, peso baixo no nascimento e atraso no crescimento fetal. As recomendações relativas ao ácido fólico, antes e durante a gravidez, incluem 400 mg e 600 mg por dia, respectivamente. Apesar de existirem boas fontes dietéticas de ácido fólico, normalmente é necessária uma suplementação antes e durante a gravidez, para ir de encontro às recomendações e reduzir o risco de malformações do tubo neural. Para as mulheres que praticam um vegetarianismo rígido, poderá ser também necessária uma suplementação de vitamina B12, uma vez que o folato e a vitamina B12 são factores de risco independentes para as malformações do tubo neural. 354 A anemia de deficiência em ferro está igualmente relacionada com um aumento do risco de parto antes do termo, baixo peso do recém-nascido e baixo nível de ferro no bébé. As mulheres que desejam engravidar deverão medir os seus níveis de ferro e devem ser encorajadas a fazer uma suplementação em caso de deficiência de ferro e de anemia antes da gravidez, uma vez que esta rotina poderá tornar-se difícil durante a gravidez. A DDR para o ferro é de 18 mg/dia (ver Nutrição na adolescência). Ainda que seja aconselhado o recurso a suplementos mutivitamínico-minerais antes e durante a gravidez, deverá precaver-se a super-suplementação de certos micronutrientes. De facto, uma suplementação de vitamina A acima de 10 000 IU no início da gravidez poderá também causar malformações. Finalmente, as mulheres com um erro hereditário de fenilcetonúria (PKU) são aconselhadas a seguir estritamente as suas dietas restritivas em fenilalanina, antes e durante a gravidez, a fim de reduzirem o risco de atraso mental e de microcefalia dos seus bébés. As restrições dietéticas para as mulheres com fenilcetonúria traduzem-se na exclusão de alimentos ricos em proteínas, que são naturalmente altos no aminoácido essencial de fenilalanina. O facto de um bebé nascer livre de complicações e de boa saúde depende grandemente dos cuidados que a mãe tomou antes e durante a gravidez, nomeadamente ao nível do aumento correcto de peso, nutrição adequada, suplementação vitamínica e mineral e abstinência de álcool, tabaco e drogas. Necessidades durante a gravidez NECESSIDADES ENERGÉTICAS A avaliação das necessidades energéticas da mulher durante a gravidez é estimada de modo semelhante ao de outro período do ciclo de vida da mulher mas com os ajustamentos necessários à condição de grávida (Quadro VII.12). 02.05.08, 5:26 PM Quadro VII.12 • Necessidade energética diária (NED). • 1.º trimestre: NED (mulher adulta) + 0 (reserva energética da gravidez); • 2.º trimestre: NED (mulher adulta) + 160 kcal (8 kcal/semana x 20 semanas) + 180 kcal; • 3.º trimestre: NED (mulher adulta) + 272 kcal (8 kcal/semana x 34 semanas) + 180 kcal. Para justificar a necessidade adicional de energia da gravidez, recomenda-se, geralmente, um acréscimo de cerca de 300 kcal/dia durante o segundo e o terceiro trimestre, das quais 60% deverão provir de hidratos de carbono (50 g), 15% de proteínas (10 a 15 g) e cerca de 25% de gordura (10 g). Não serão necessários quaisquer ajustes durante o primeiro trimestre. As necessidades energéticas para suportar o exercício durante a gravidez excedem as 300 kcal suplementares recomendadas, mas dependem da intensidade e duração do programa de exercício. Após o primeiro trimestre, as necessidades energéticas devem ter em conta as alterações de peso e por isso é fundamental voltar a calcular as necessidades energéticas utilizando o novo peso. Deverá ter-se cuidado em fazer a distinção entre necessidades energéticas para a gravidez (+ 300 kcal) e a energia necessária para a prática de exercício durante a gravidez (entre 200 a 1 000 kcal/dia). Assim, as necessidades calóricas diárias para a grávida fisicamente activa devem variar entre 2 700 a 3 200 kcal. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS NECESSIDADES DE NUTRIENTES 321-376 As necessidades de nutrientes durante a gravidez aumentam entre 10 a 100% para responderem à exigência materna e fetal (Tabela VII.16). Relativamente aos macronutrientes, as necessidades proteicas são geralmente 10 g mais elevadas para a grávida (a DDR para proteínas em mulheres não grávidas é de 0,8 g/kg/dia), ainda que as mulheres que praticam exercício possam ter necessidades mais elevadas, que deverão ser melhor calculadas relativamente à massa corporal 355 antes da gravidez. Em casos de sedentarismo ou de actividade física insuficiente, é seguro recomendar-se entre 50 a 60 g de proteína por dia. Contudo, uma mulher que pratique diariamente exercício, de intensidade moderada ou vigorosa, deverá considerar um aporte de 70 a 90 g/dia, o que equivale a 1,2 a 1,7 g/kg/dia de proteína e iguala as necessidades proteicas dos atletas (1,2 a 1,6 g/kg/dia). As necessidades proteicas são facilmente satisfeitas através de uma alimentação equilibrada. Os suplementos em pó ou em comprimidos não são necessários e põem em risco a saúde do feto, uma vez que incluem, frequentemente, outros ingredientes para além das proteínas como, por exemplo, ervas, extractos de plantas, aminoácidos livres, creatina e outras ajudas ergogénicas. Para satisfazer as necessidades em hidratos de carbono da gravidez, as DDR já especificadas para mulheres durante o primeiro trimestre e um acréscimo de 50 g durante o segundo e o terceiro trimestre deverão ser suficientes. Estes hidratos de carbono adicionais são facilmente incorporados nas refeições ou nos lanches, mas não devem ser confundidos com os hidratos de carbono ingeridos para suportar a actividade e o exercício físico durante a gravidez. Os hidratos de carbono são a principal fonte de energia para a prática de exercício de intensidade pelo menos moderada, enquanto que, durante a prática de exercício de baixa intensidade, também é mobilizada uma considerável quantidade de gordura. Apesar de não haver contra-indicações para a prática de exercício durante a gravidez, os níveis de glicose no sangue baixam significativamente durante a sua prática, devido a uma maior utilização por parte do músculo ou a uma deficiente produção de glicose hepática (gluconeogénese). Independentemente da causa, o baixo nível de glicose passível de causar hipoglicémia na grávida durante o exercício poderá afectar o desenvolvimento fetal, ainda que seja necessário efectuar mais estudos para confirmar estes resultados. 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 355 Nutrição, Exercício e Saúde 356 Tabela VII.16 • Valores diários de referência para os nutrientes, comparando as necessidades de mulheres adultas não grávidas (19 a 50 anos), grávidas e em amamentação. Nutriente por dia Energia (kcal) Mulher adulta Mulher grávida Mulher em amamentação 2 200 2 500 2 700 Proteína (g) 50 60 65 Vitamina A (µ g RE) 700 770 1 300 Vitamina D (µ g) 5 5 5 Vitamina E (mg a tocoferol) 15 15 19 Vitamina K (µ g) 90 90 90 Vitamina C (mg) 75 85 120 Tiamina (mg) 1,1 1,4 1,4 Riboflavina (mg) 1,1 1,4 1,6 Vitamina B6 (mg) 1,3 1,9 2,0 Niacina (mg) 14 18 17 Ácido fólico (µ g DFE) 400 600 500 Vitamina B12 (µ g) 2,4 2,6 2,8 Ácido pantoténico (mg) 5 6 7 Biotina (µ g) 30 30 35 Colina (µ g) 425 450 550 Cálcio (mg) 1 000 1 000 1 000 Fósforo (mg) 700 700 700 Magnésio (mg) 320 350 310 Ferro (mg) 18 27 9 Zinco (mg) 8 11 12 Iodo (µ g) 150 220 290 Selénio (µ g) 55 60 70 Crómio (µ g) 25 30 45 Cobre (µ g) 900 1 000 1 000 Manganésio (mg) 1,8 2,0 2,6 Molibdénio (µ g) 45 50 50 Flúor (mg) 3 3 3 Para reduzir o risco de hipoglicémia materna deverá consumir-se entre 15 a 30 g de hidratos de carbono adicionais por cada sessão de exercício de 30 a 45 minutos. Estes hidratos de carbono adicionais devem ser consumidos 30 minutos antes ou durante o exercício de intensidade moderada. 321-376 356 Para as mulheres que praticam exercício de uma forma intensa ou prolongada as necessidades diárias de hidratos de carbono devem ser expressas em relação ao peso corporal prévio à gravidez e baseadas na duração, intensidade e frequência do exercício. Um aporte ade- 02.05.08, 5:26 PM quado consiste na ingestão de 5 a 7 g/kg/ dia de hidratos de carbono, para um programa diário com duração entre 90 a 120 minutos. A atleta grávida deverá ter à disposição bebidas desportivas ou água e uma barra/gel energético e ser cuidadosa no que diz respeito à manutenção de líquidos e hidratos de carbono durante o exercício. Recomenda-se a ingestão de 30 a 60 g de hidratos de carbono e de 500 a 1 200 ml de líquido por cada hora de exercício, contudo, tal depende da sua intensidade, de factores ambientais e da aptidão física da grávida. Uma vez que a hipoglicémia materna pode afectar o desenvolvimento do feto, será mais seguro para as atletas grávidas seguirem sessões mais curtas, mas com maior frequência. De seguida, apresentamos exemplos de fontes de hidratos de carbono que contêm 15 g, 30 g e 50 g, necessários para apoiar a mulher durante a gravidez, enquanto mantém o seu estilo de vida activo (Tabelas VII.17 e VII.18). À medida que as necessidades energéticas aumentam na grávida activa, podem ser consumidas maiores quantidades de gordura, particularmente as de origem vegetal, a fim de satisfazer as necessidades energéticas gerais. A gordura a ingerir deverá ser calculada com base no peso antes da gravidez e deverá situar-se entre 0,8 a 1,5 g/kg/dia. As fontes provêm de uma variedade de alimentos, onde se inclui a carne magra cozinhada, ocasionalmente peixe cozinhado, lacticínios e ovos, azeite, tofu ou outras fontes de soja, óleos vegetais, nozes e sementes. Para as mulheres sedentárias, o aporte de gordura durante a gravidez deverá ser mantido abaixo de 30% da energia total, a fim de manter o aporte calórico a níveis recomendados e prevenir um aumento de peso excessivo. Contudo, a recomendação de ácidos gordos essenciais é ligeiramente mais elevada durante a gravidez e a amamentação, nomeadamente 13 g para o ácido linoleico durante as duas fases, e 1,4 g e 1,3 g para o ácido α -linolénico, durante a gravidez e a aleitação, respectivamente. Enquanto a ingestão de líquidos nas grávidas que não praticam exercício deverá aumentar 30 ml/dia para responder às necessidades de expansão de volume plasmático, líquido amniótico e crescimento dos tecidos, as grávidas que prati- Tabela VII.17 • Fontes que fornecem entre 15 a 30 g de hidratos de carbono. Fontes de hidratos de carbono antes do exercício Fontes de hidratos de carbono durante o exercício 1/2 pãozinho ou 1 fatia de pão 0,5 L de bebida desportiva 1 banana 1/2 barra energética + barra energética + 0,5 L de água 1 iogurte de fruta 1/ 1/2 barra energética 2 porções de gomas + 0,5 L de água 2 pãozinho branco + 0,5 L de água © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Tabela VII.18 • Fontes que fornecem 50 g de hidratos de carbono. 321-376 Fontes de hidratos de carbono para refeições Fontes de hidratos de carbono para lanches 1 fatia grossa de broa Sanduiche com 2 fatias de pão 1 chávena de arroz integral 2 peças de fruta 1 batata de tamanho médio 1 iogurte de fruta com 80 g de mistura de muesli 1 1/ 4 chávena de massa (p.ex. esparguete) integral 357 1 barra de cereais + 1 chávena de leite magro 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 357 Nutrição, Exercício e Saúde 358 Quadro VII.13 • Prevenção da hipertermia da mulher grávida que pratica exercício. • Temperatura e humidade: – Considerar os períodos mais frescos do dia para a prática do exercício; – Evitar nadar em água quente ou banhos/ /saunas muito quentes. • Vestuário: – Usar roupas leves e que possibilitem a transpiração durante a prática de exercício. • Consumo de líquidos antes, durante e após o exercício: – 500 ml antes; – 500 a 1 200 ml/hora durante; – 750 a 1 000 ml após. • Sintomas de mal-estar provocado pelo calor: – Náusea, tontura, dor de cabeça, descoordenação. • Um(a) parceiro(a) de treino poderá ajudar a reforçar a ingestão de líquidos e a prática de exercício em segurança; • Intensidade e duração do exercício: – Considerar uma intensidade mais baixa, com uma duração menor. cam exercício devem elevar ainda mais a ingestão de líquidos devido às perdas induzidas pelo exercício. A grávida activa deverá ser informada acerca dos efeitos perigosos da hipertermia do feto induzida pelo exercício. Para mais, é imperativo proceder-se à substituição de electrólitos, particularmente do sódio, juntamente com a ingestão aumentada de líquidos para uma manutenção constante dos níveis de hidratação. Assim, existem regras específicas para a ingestão de líquidos, antes e durante a prática de exercício, que se aplicam a mulheres que praticam exercício de intensidade vigorosa ou com temperaturas ambientais elevadas. Em geral, as mulheres devem consumir 500 ml de líquidos, entre 30 a 60 minutos antes da sessão e de 500 a 1200 ml por cada hora de treino. Após o exercício, a perda de líquidos deve ser reposta a 150 a 200%, ou seja, 1 kg de perda de líquido deve ser substituído por cerca de 1,5 a 321-376 358 2,0 L de líquido. A desidratação durante a gravidez pode ter efeitos perigosos para o feto e poderá conduzir a um parto antes de termo. Deste modo, a ingestão de líquidos durante e entre as refeições, assim como antes, durante a após o exercício, é uma estratégia importante para evitar a desidratação. Para a jovem grávida activa, deve ser encorajado o consumo de 2,5 a 3 L de líquidos por dia, através de água, sumos, sumos diluídos, chás herbáceos, sopas e leite. Se a actividade física estiver limitada a 3 a 4 caminhadas por semana, um acréscimo de 250 a 500 ml por dia deverá ser suficiente, o que equivale a uma ingestão diária total de líquido de aproximadamente 2,5 L. Durante a gravidez, os micronutrientes são necessários em quantidades crescentes (Tabela VII.19). Recomenda-se a ingestão diária de um suplemento vitamínicomineral prescrito por um médico ou nutricionista/dietista, tanto antes da concepção como durante a gravidez, a fim de reduzir o risco de nascimento pré-termo e/ou com baixo peso. Uma atenção especial deve ser dada ao ácido fólico para a redução do risco de malformações, ao ferro, ao cálcio para as mulheres que só comem pequenas ou nenhumas quantidades de lacticínios, assim como ao zinco e à vitamina B12, para as que seguem dietas vegetarianas ou de restrição energética. Deverá dar-se resposta às necessidades crescentes adicionais resultantes do exercício através de um maior aporte de energia para cobrir as necessidades energéticas. As mulheres activas com uma história de distúrbio alimentar deverão ser encorajadas a trabalhar com um nutricionista/dietista para determinar os potenciais défices nutricionais antes e após a gravidez. Ao iniciarem a gravidez, as mulheres devem ser informadas sobre os perigos dos suplementos dietéticos e vitamínicominerais tomados acima dos níveis das DDR. A sobredosagem de algumas vitaminas solúveis na gordura e de minerais pode ser prejudicial e deverá ser evitada (Tabela VII.19). Muitos suplementos dietéticos contêm produtos herbáceos e botânicos, que po- 02.05.08, 5:26 PM Tabela VII.19 • Níveis máximos toleráveis de aporte de nutrientes durante a gravidez. Nutriente Nível máximo tolerável Cálcio (mg) 2 500 Fósforo (mg) 3 500 Magnésio (mg) 350 Vitamina D (IU) 2 000 Vitamina A (IU) 5 000 a 10 000 Vitamina C (mg) 2 000 Vitamina B6 (mg) 100 Vitamina E (mg) 1 000 Ferro (mg) 45 Zinco (mg) 40 Manganésio (mg) 11 Selénio (µ g) 400 Niacina (mg) 35 Ácido fólico sintético (µ g) 1 000 Colina (mg) 3 500 Iodo (µ g) 110 dem constituir uma ameaça para o feto. A lista seguinte apresenta as ervas e os estimulantes a serem evitados durante a gravidez (Tabela VII.20). Os aditivos alimentares como, por exemplo, os adoçantes artificiais são na generalidade considerados seguros, ainda que as mulheres com fenilcetenúria devam ter alguma atenção ao utilizarem aspartame por este conter fenilalanina. Uma vez que a sacarina adoçante atravessa a placenta e pode ser retida nos tecidos fetais, as grávidas devem moderar a ingestão de sacarina. Os nitritos contidos nas carnes curadas e no peixe fumado podem igualmente prejudicar o feto, pelo que estes devem ser consumidos em quantidades reduzidas durante a gravidez. O uso de álcool, apesar dos seus efeitos negativos sobre o feto, ainda é comum num número considerável de grávidas. As mulheres devem abster-se do consumo de bebidas alcoólicas durante a gravidez. O consumo elevado de bebidas alcoólicas durante a gravidez aumenta o risco de atraso mental, dificuldades de aprendizagem e causa graves deficiências, inclusivamente as que podem ser observadas na síndrome alcoólica do feto. Mesmo o consumo moderado de álcool (não mais do que uma bebida por dia) pode levar a um crescimento fetal deficiente e poderá reduzir a futura fertilidade da mulher. A cafeína do café, chá e dos refrigerantes não parece representar uma grande ameaça para o feto, desde que consumida em pequenas quantidades, ainda que exista alguma literatura que aponta para um aumento do risco de aborto espontâneo e baixo peso ao nascimento nas mulheres que consumam mais de 150 mg de cafeína por dia. A cafeína pode atravessar a placenta e pode afectar o ritmo cardíaco Tabela VII.20 • Produtos ervanários a evitar antes, durante a após a gravidez. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Alfalfa 321-376 Uva-espim Cimicifuga Bodelha (Focus vesiculosos) Angélica chinesa Equinácea Óleo de onagra Matricária Dong quai Eufrásia Ginseng Pilriteiro Efedra (Ma Huang) Gingko Óleo de junípero Kava kava Gengibre Hidraste Zimbro Borragem Maracujá Rosmaninho Noz de cola Erva-de-São-João Folha de artemísia 359 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 359 Nutrição, Exercício e Saúde 360 e a respiração do feto. Algumas investigações feitas em animais revelaram que o consumo de elevadas quantidades de cafeína poderá aumentar o risco de morte súbita no bébé. É, por conseguinte, aconselhável limitar o consumo de cafeína a menos de 300 mg/dia (Tabela VII.21). • Tabela VII.21 • Conteúdo de cafeína nas bebidas mais comuns. • Bebida Conteúdo de cafeína (mg) Expresso/bica (1 dose) 40 Café de máquina (1 chávena) 85 Café instantâneo (1 chávena) 60 Chá preto (1 chávena) 30 Coca-cola (1 lata) 36 Guaraná (3 a 4 g) 160 Durante a gravidez é comum a ocorrência de algumas queixas e complicações com implicações nutricionais. A lista seguinte apresenta uma perspectiva geral dos problemas mais comuns e sugestões de possíveis soluções. Para informação adicional consultar a posição oficial da Associação Americana de Dietética (American Dietetic Association) sobre nutrição para mulheres grávidas (ver Referências bibliográficas). • Náusea e vómito: constitui a queixa mais comum durante a gravidez. A situação mais complicada é a hiperemese gravídica em que o estado nutricional pode estar comprometido e requerer hospitalização. – Consumir frequentemente pequenas refeições; – Evitar cheiros desagradáveis; – Ingerir uma quantidade suficiente de líquidos; – Ser fisicamente activa num ambiente ao ar livre. • Azia – Evitar a posição deitada após as refeições; 321-376 360 • • – Dormir com a cabeça elevada; – Consumir frequentemente pequenas refeições; – Evitar produtos alimentares irritantes como a cafeína e o chocolate, e os salgados ou picantes. Obstipação – Ingerir alimentos ricos em fibra; – Aumentar a ingestão de líquidos; – Ser fisicamente activa. Desejos, aversões e pica alimentar – Optar por alimentos naturais em vez de substâncias artificiais ou químicas; – Procurar ajuda profissional relativamente aos desejos. Diabetes: a diabetes existente ou não controlada na grávida favorece o aumento de malformações congénitas, de aborto e de morte neonatal. A diabetes mellitus gestacional (DMG) aparece depois da 24.ª semana em cerca de 7% das grávidas. Para mais informações sobre o controlo da DMG, deverá consultar as normas da American Diabetes Association (ver Referências bibliográficas). As mulheres com DMG correm maior risco de contrair diabetes tipo 2 após a gravidez. A probabilidade de ocorrência de DMG está aumentada nas mulheres que antes da gravidez apresentam obesidade; Tensão arterial alta: 8 a 10% das grávidas desenvolvem hipertensão provocada pela gravidez. Nos casos mais graves (pré-eclampsia e eclampsia) poderá ocorrer proteinúria, convulsões e coma. Hipertensão crónica, história de pré-eclampsia numa gravidez anterior, nuliparidade, idade materna inferior a 20 anos ou superior a 40 anos, obesidade, mudança de parceiros e factores genéticos aumentam o risco. A hipertensão induzida pela gravidez aumenta a probabilidade de parto antes do termo, limitação do crescimento intra-uterino, morte neonatal, morbilidade e mortalidade materna. Os mecanismos envolvidos referem-se a reduzida corrente sanguínea e forneci- 02.05.08, 5:26 PM mento de nutrientes ao feto. Os radicais livres libertados devido à hipóxia da placenta podem prejudicar o sistema vascular materno, havendo, no entanto, necessidade de investigação adicional. Apesar de existirem vários meios nutricionais (suplementação de cálcio e vitamina C e E) para diminuir a pressão arterial em mulheres com pré-eclampsia, nenhuma destas soluções parece reduzir o risco de parto antes do termo ou de morbilidade e mortalidade materna ou infantil; • Doenças transmitidas pelos alimentos: as grávidas correm um risco mais elevado relativamente às doenças transmitidas pelos alimentos e devem ser aconselhadas a limitar a ingestão dos seguintes produtos: – Sumos não pasteurizados; – Lacticínios naturais ou não pasteurizados (leite, queijos); – Couve-de-bruxelas crua; – Carnes, galináceos, ovos, peixe e marisco meio cozinhados (meio crus); – Peixe com alto nível de metilmercúrio (tubarão, peixe espada, cavala e peixe paleta); para mais informações deverão consultar-se organizações a nível local. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Composição do leite materno e necessidades durante a lactação 321-376 Após o parto, a hormona prolactina faz com que a mama inicie a secreção de leite. Durante os primeiros dois a sete dias pós-parto, é secretado o colostro, que é um líquido amarelo denso que contém elevadas quantidades de factores imunitários, proteínas, minerais e outros nutrientes. O colostro é fundamental para a imunidade do bébé, uma vez que fornece anticorpos importantes para o sistema imunitário ainda minimamente desenvolvido. O leite maduro é secretado após o 21.º dia, sendo fornecido um leite de transição até esse dia. Actualmente as 361 mulheres são aconselhadas a amamentar até ao 6.º mês pós-parto, sem introdução de quaisquer líquidos ou alimentos líquidos adicionais devido ao risco de infecções por contaminação, à possibilidade de insuficiência de alimentos fornecidos e ao risco potencial de interrupção da produção de leite. Considerando os efeitos positivos para o bébé, recomenda-se a amamentação até aos 12 meses, ou, se possível, ainda até mais tarde. No entanto, os líquidos e os alimentos triturados devem ser progressivamente introduzidos após o 6.º mês. O volume do leite secretado aumenta rapidamente nos primeiros dias pós-parto para cerca de 500 ml no quinto dia, 650 ml no 1.º mês, e 700 ml aos três meses. O volume parece manter-se razoavelmente estável até ao processo de desmame. O leite humano materno fornece a energia e os nutrientes adequados aos seis primeiros meses de vida. De facto, a mãe poderia facilmente alimentar dois bébés em simultâneo. COMPOSIÇÃO DO LEITE Estima-se que o volume de leite necessário à amamentação seja cerca de 750 ml/dia durante os primeiros seis meses e de 600 ml/ /dia nos seis meses seguintes. Para poder afectar adversamente o volume de leite produzido, a nutrição materna tem de ser muito grave. O conteúdo proteico do leite humano é de cerca de 8 a 9 g/L e contém cerca de 25% de lactoalbumina (soro) e caseína, e enormes quantidades de imunoglobulina A e lactoferrina. O conteúdo proteico não é afectado pela subnutrição materna. O conteúdo proteico do leite de vaca é de 35 g/L, tornando-o inapropriado para um bébé devido à sua elevada carga osmótica e consequente perda de nutrientes como, por exemplo, de ferro. A gordura fornece aproximadamente 50% da energia do leite materno variando grandemente em cada mamada. O conteúdo de gordura é mais elevado no final de cada sessão de amamentação quando comparado com o do início, constituindo um sinal para o 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 361 Nutrição, Exercício e Saúde 362 bébé parar de mamar. O conteúdo de ácido gordo também é maior no fim do dia e a dieta da mãe (composição de ácidos gordos) é determinante da composição do leite humano. O leite humano contém lactose, sendo a galactose a mais importante fonte de energia para o desenvolvimento cerebral do bébé. A concentração de vitaminas e de minerais no leite humano dependem da dieta da mãe, do seu estado nutricional e do uso de suplementos dietéticos. A Tabela VII.22 apresenta os micronutrientes que se encontram mais dependentes da dieta da mãe (alta prioridade). Os micronutrientes de prioridade mais baixa estão menos dependentes do aporte materno e a sua suplementação é benéfica sobretudo para a mãe e não para o bébé. As deficiências de micronutrientes são raras nos países desenvolvidos, podendo, no entanto, ocorrer ainda algumas deficiências. Por exemplo, baixas concentrações de vitamina B12 no leite humano e insuficiência no bébé podem ocorrer com uma abordagem muito rígida a uma dieta vegetariana por parte da mãe. O nível de vitamina D dos bébés também pode ser baixo devido a baixos níveis de vitamina D no leite humano e a uma reduzida exposição solar do bébé. Finalmente, o flúor poderá constituir um outro micronutriente alvo de preocupação após os primeiros seis meses pós-parto, dependendo do nível até onde o conteúdo de flúor do leite humano decresce. NECESSIDADES ENERGÉTICAS E DE NUTRIENTES O conteúdo calórico de 1 L de leite materno (5% de proteína, > 50% de gordura, cerca de 38% de lactose) é cerca de 700 kcal/L de leite. Considerando a conversão de energia da dieta para o leite materno (eficácia de 80%), estima-se que 100 ml de leite contenham aproximadamente 85 kcal e que durante os primeiros seis meses são segregados 780 ml/dia e nos seis meses seguintes 600 ml/dia. Tudo isto somado, chega às 640 kcal e 510 kcal por dia de necessidades energéticas adicionais durante os primeiros seis meses e nos seis meses seguintes, respectivamente. Contudo, as mulheres durante a fase pós-parto têm maiores depósitos de energia e, assim, recomenda-se unicamente o aumento de 330 kcal e 400 kcal durante os primeiros seis meses e os seis meses seguintes da amamentação (Quadro VII.14). Para a mulher que amamenta e que também pratica exercício, a NED deve Quadro VII.14 • Necessidade energética diária (NED) para mulheres que amamentam (19 a 50 anos) NED adulta + energia do leite materno – perda de peso • Primeiros seis meses: NED adulta + 500 kcal – 170 (energia do leite materno – perda de peso) kcal; • Seis meses seguintes: NED adulta + 400 kcal – 0 (energia do leite materno – perda de peso) kcal. Tabela VII.22 • Micronutrientes de alta vs baixa prioridade durante a aleitação. 321-376 Micronutrientes de alta prioridade Micronutrientes de baixa prioridade Vitamina A Vitamina D Tiamina Ácido fólico Riboflavina Cálcio Vitaminas B6 e B12 Ferro Iodo Cobre Selénio Zinco 362 02.05.08, 5:26 PM © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS 321-376 incluir o factor de actividade física adequado. Parece que as mulheres que praticam exercício durante a amamentação ajustam facilmente o seu aporte calórico ao dispêndio energético através de uma maior ingestão de alimentos. Uma das maiores preocupações após a gravidez é a retenção do peso e o consequente aumento do risco para o excesso de peso ou obesidade nos anos seguintes. Os estudos revelam que, em média, as mulheres retêm entre 0,5 a 1 kg do peso corporal em cada gravidez. Os principais determinantes para a retenção de peso pós-parto são o peso prévio à gravidez, o aumento de peso durante a gravidez e o ganho suplementar pós-parto, sendo este último o que se encontra mais associado à obesidade e às doenças que lhe estão associadas. Uma perda de peso segura de 0,5 a 1 kg/semana poderá ser alcançada através de um decréscimo do consumo de gordura e de açúcar e de um aumento da actividade física. As mulheres que amamentam podem apresentar um maior risco de deficiência nutricional se adoptarem um programa de perda de peso de grande restrição calórica e uma prática de exercício vigorosa. A prática de exercício, de leve a moderada intensidade, não afecta a composição e o volume do leite materno (se se mantiver o nível de hidratação) nem o aumento de peso do bebé. A prática de exercício vigoroso parece diminuir, pelo menos temporariamente, algumas das propriedades imunitárias do leite materno. Além disso, a produção de ácido láctico associada ao exercício vigoroso poderá afectar a aceitação do leite por parte do bebé. É necessário, no entanto, um maior número de estudos para a definição de orientações relativamente à amamentação após exercício vigoroso, típico das atletas de alto rendimento. As necessidades de proteínas e de micronutrientes durante a amamentação são apresentadas no Quadro VII.14, no início da secção sobre a gravidez. As necessidades proteicas diárias são 15 g e 363 12 g mais elevadas nos primeiros seis meses de aleitação e nos seis meses seguintes, respectivamente. São necessárias quantidades maiores de quase todos os nutrientes, excepto de ferro, apesar de depender de cada mulher e da potencial perda de sangue durante o parto. O treino aeróbio vigoroso, particularmente em altitudes onde a aceleração da eritropoiese aumenta as necessidades de ferro, pode requerer necessidades ainda maiores. Devido ao hipoestrogenismo prolongado durante a amamentação e à elevada necessidade de cálcio por parte do bebé, a densidade mineral óssea e o cálcio urinário materno diminuem nesta fase. No entanto, as perdas de densidade óssea são rapidamente recuperadas após a amamentação, particularmente após o início da menstruação. Não se recomenda o aporte de mais cálcio para além da recomendação para mulheres em amamentação (1 200 mg/dia). NUTRIÇÃO NA MENOPAUSA A prevenção de doenças crónicas relacionadas com a idade, tendo em vista o prolongamento da qualidade de vida da mulher e da sua capacidade funcional, estão no centro da transição menopáusica. A manutenção de um peso corporal saudável e a prevenção do aumento de peso, comum na menopausa, são factores chave para a redução do risco de obesidade, doença cardiovascular, diabetes tipo 2, e alguns tipos de cancro, como o cancro da mama, do endométrio e colo-rectal. Considera-se que a mulher adulta tem uma abordagem a um estilo de vida saudável quando conjuga actividade física diária com uma dieta variada e rica em produtos integrais, vegetais e fruta, proteína vegetal da soja e dos legumes, proteína animal magra, lacticínios magros e ácidos gordos essenciais de óleos vegetais, peixe, nozes e sementes, entre outros factores não dietéticos. 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 363 Nutrição, Exercício e Saúde 364 Excesso de peso e obesidade Cerca de 50% das mulheres que entram na menopausa têm excesso de peso ou são obesas. As alterações hormonais durante a transição menopáusica, nomeadamente o decréscimo da produção e secreção de hormonas sexuais, podem tornar mais difícil a regulação da ingestão de alimentos. Na realidade, dados relativos a animais revelam que a ausência de estrogénio aumenta a ingestão de alimentos ad libitum. É comum na mulher menopáusica ou pós-menopáusica a ingestão de alimentos com elevados níveis de gordura e de açúcar, o que pode contribuir para o aumento de peso que se verifica durante este período da vida. Alguns estudos evidenciam que as mulheres com idades entre os 30 e os 55 anos aumentam em média 2 kg, havendo alguns grupos étnicos com aumento de peso superior. Para além do aumento de peso verificamse igualmente alterações na composição corporal, nomeadamente um aumento da massa gorda e uma redução da massa magra, com consequências na diminuição do metabolismo basal. As mulheres com excesso de peso, especialmente de gordura visceral, encontram-se em maior risco de desenvolverem diabetes tipo 2 do que os seus pares masculinos com quantidades semelhantes de gordura visceral pois a menopausa per se já resulta numa crescente resistência à insulina. Na menopausa, as mulheres desenvolvem assim um maior risco de doença cardiovascular do que os homens devido à ausência de protecção dos estrogénios. Nutrição após a menopausa Devido à elevada prevalência de excesso de peso e obesidade nas mulheres à medida que envelhecem, a nutrição deve focar-se no equilíbrio energético desejável para um peso saudável. Em geral, as mulheres pós-menopáusicas dos 51 aos 70 anos, têm maiores necessidades de vitamina D, vitamina B6 e cálcio, e menores necessidades de ferro e de crómio. O aporte de fibra para um nível de protecção da 321-376 364 doença cardiovascular está definido em 14 g/1 000 kcal, com uma recomendação de 21 g por dia. Os outros nutrientes são necessários em quantidades semelhantes às recomendadas para as mulheres com idades entre os 31 e os 50 anos. As DDR para as mulheres entre os 51 e os 70 anos de idade são apresentadas na Tabela VII.23, no final desta secção. Tabela VII.23 • Valores diários de referência para mulheres entre os 51 e os 70 anos de idade. Nutriente Quantidade Vitamina A (µ g RE) 700 Vitamina D (µ g) 10 Vitamina E (mg α tocoferol) 15 Vitamina K (µ g) 90 Vitamina C (mg) 75 Tiamina (mg) 1,1 Riboflavina (mg) 1,1 Vitamina B6 (mg) 1,5 Niacina (mg) 14 Folato (µ g DFE) 400 Vitamina B12 (µ g) 2,4 Ácido Pantoténico (mg) 5 Biotina (µ g) 30 Colina (mg) 425 Cálcio (mg) 1 200 Fósforo (mg) 700 Magnésio (mg) 320 Ferro (mg) 8 Zinco (mg) 8 Iodo (µ g) 150 Selénio (µ g) 55 Crómio (µ g) 20 Cobre (µ g) 900 Manganésio (mg) 1,8 Molibdénio (µ g) 45 Flúor (mg) 3 A bold: micronutrientes necessários em quantidades diferentes de outros períodos da vida). 02.05.08, 5:26 PM © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS 321-376 A hipertensão afecta 52% das mulheres com mais de 45 anos de idade e representa um importante factor de risco da doença cardiovascular. É do conhecimento geral que a hipertensão pode ser significativamente diminuída através do recurso à dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension Diet). A dieta DASH consiste numa dieta rica em frutos e vegetais (oito a 10 doses) e lacticínios magros. É uma dieta com baixos níveis de gordura total, particularmente no que diz respeito às gorduras saturadas. Os estudos demonstraram que a dieta DASH, associada à restrição de sódio, pode reduzir a pressão sanguínea tanto em indivíduos hipertensos como normotensos. Aportes elevados de sódio, nomeadamente, superiores a 2 400 mg/dia, constituem um risco independente de eventos cardiovasculares entre indivíduos com excesso de peso. A ênfase sobre o consumo de soja por parte das mulheres tem vindo a crescer devido à baixa incidência de doença cardiovascular em países como o Japão e a China, onde se consomem quantidades consideráveis de proteína da soja. A proteína da soja também se encontra associada a uma incidência mais baixa do cancro da mama em países onde esta é consumida em quantidades elevadas. Contudo, é necessária mais investigação, uma vez que alguns estudos revelaram um impacto negativo favorecendo a proliferação de tumores. Relativamente à saúde óssea, a proteína da soja pode ajudar a atenuar a perda óssea. Finalmente, a proteína da soja, e particularmente os extractos de isoflavona, têm sido estudados numa tentativa de aliviar os sintomas da menopausa, mas com um sucesso variável. Apesar de a proteína da soja, ingerida como proteína intacta ou como extractos de isoflavona, poder ser potencialmente benéfica, a sua adopção deverá ser discutida com o médico, uma vez que nem todas as mulheres estão em risco de doença cardiovascular ou de osteoporose. Deve ainda considerar-se que existem muitos tipos de cancro da mama e que o recurso adicional a compostos com propriedades estrogénicas 365 como, por exemplo, as isoflavonas, pode ter um efeito facilitador no crescimento das células do tumor (ver Fitoestrogénios, p. 23 e Cancro da Mama, p. 15). As medidas-chave para a prevenção de fracturas ósseas numa idade mais avançada baseiam-se numa dieta adequada, na ingestão suplementar de cálcio e vitamina D e num estilo de vida activo. Resultados do Women´s Health Initiative evidenciam uma redução de 29% do risco de fractura da anca em mulheres dos 50 aos 79 anos, cuja adesão à suplementação de 1 000 mg de cálcio e de 400 IU de vitamina D por dia foi superior a 80%, num período de sete anos. Esperam-se geralmente maiores benefícios em grupos de risco com osteoporose, com aporte insuficiente de cálcio e de vitamina D, com incidência de fracturas mais elevada, e desde que a suplementação seja de pelo menos 700 IU/dia de vitamina D. A ingestão suficiente de vitamina D é essencial para a absorção intestinal do cálcio e para um normal metabolismo ósseo. A vitamina D é obtida através da dieta ou pela sua síntese na pele sob a acção da luz solar. Com a idade, há um decréscimo progressivo da produção endógena de vitamina D aumentando, deste modo, a dependência de fontes dietéticas. Apesar de o efeito isolado do cálcio no risco de fractura ser reduzido, a sua combinação com a vitamina D resulta num decréscimo substancial da incidência de fractura. Considera-se que a satisfação das necessidades de cálcio e vitamina D através da alimentação e/ou suplementação constituem a primeira medida no tratamento da osteoporose e na prevenção da fractura de mulheres pós-menopáusicas. Ainda que a perda de peso seja um factor imperativo no controlo de outras doenças crónicas, o peso per se também pode ser um factor de protecção do risco de fractura nas mulheres insuficientemente activas. Apesar do fraco suporte científico sobre a influência negativa da gordura alimentar no risco de cancro da mama, as mulheres devem ser informadas de que a ingestão de álcool pode aumentar este risco. 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 365 Nutrição, Exercício e Saúde 366 Dados de uma meta-análise baseada em 53 estudos com cerca de 60 000 mulheres revelaram um aumento do risco de cancro da mama em 7% por cada 10 g adicionais de álcool consumidos por dia. As orientações actuais recomendam para as mulheres uma ingestão moderada de álcool, limitada a um copo por dia. NUTRIÇÃO NA MULHER ATLETA Aporte energético e nutricional Verifica-se geralmente uma inadequação entre a ingestão calórica e de nutrientes e as necessidades associadas a períodos específicos do ciclo de treino e de competição da mulher atleta, uma vez que o aporte alimentar se mantém relativamente constante. No caso de uma adolescente é possível que a taxa de crescimento seja limitada e a altura final mais reduzida (por exemplo, as ginastas). Muitas atletas com aporte de energia insuficiente (com ou sem distúrbios alimentares) e/ou um elevado dispêndio de energia associado ao exercício poderão sofrer de disfunção menstrual e comprometer a saúde óssea, também conhecida como a tríade da mulher atleta, que será debatida mais à frente, neste capítulo. As dietas deficientes em energia são tipicamente baixas em hidratos de carbono. É necessária a ingestão de pelo menos 2 000-2 400 kcal/dia para repor o glicogénio muscular com hidratos de carbono suficientes durante períodos de treino intenso. Contudo, algumas mulheres raramente consomem estas quantidades de calorias. Fadiga prematura, perda de desempenho, incapacidade para terminar um exercício e recuperação deficiente do treino devem ser usados como indicadores-chave da insuficiência de hidratos de carbono nas atletas. Uma vez que a ingestão de hidratos de carbono, expressa através da percentagem de ingestão calórica total, não constitui uma forma 321-376 366 conveniente de recomendação, esta deve ser expressa relativamente ao peso corporal. Assim, recomenda-se a ingestão de 5 a 7 g/kg/dia para atletas de desportos com uma componente estética e de força/ /potência significativa e 7 a 10 g/kg/dia para atletas de desportos de natureza aeróbia e de equipa. Para além dos hidratos de carbono, as dietas com baixas calorias, típicas das atletas femininas, revelam igualmente falta de proteína e de gordura, nomeadamente de ácidos gordos essenciais. Apesar de as necessidades proteicas das atletas serem mais elevadas do que as das não atletas, não se verificam diferenças quando expressas por kg de peso corporal (nível recomendado: 1,4 a 1,6 g/kg/dia para desportos com forte componente aeróbia ou estética; 1,5 a 1,8 g/kg/dia para desportos de força/potência; até 2 g/kg/dia para atletas adolescentes). As atletas que seguem dietas hipocalóricas devem aumentar a ingestão de proteína a fim de prevenir a perda pela oxidação da proteína muscular. É do conhecimento geral que uma ingestão de energia abaixo das 1 800 kcal/ dia conduz a limitações na ingestão de micronutrientes. A ingestão de ferro, cálcio, magnésio, zinco, vitamina B e de anti-oxidantes encontra-se relacionada com a ingestão de energia. As atletas de desportos com forte componente estético (ginástica, dança, mergulho, patinagem) têm maiores probabilidades de ingestão de energia abaixo das 2000 kcal/dia, enquanto as atletas com distúrbios alimentares, independentemente do desporto praticado, apresentam ingestões abaixo das 1 800 kcal/dia. Por conseguinte, estas atletas possuem um risco elevado de desenvolverem deficiências em micronutrientes. A deficiência nutricional mais comum entre as atletas femininas é a anemia de deficiência de ferro. Esta anemia tem uma prevalência semelhante nas raparigas e mulheres atletas e nas não atletas. Fadiga excessiva, falta de ar, incapacidade de recuperar entre breves mas intensos períodos de actividade, palidez, consumo de 02.05.08, 5:26 PM oxigénio máximo reduzido e menor desempenho atlético são sintomas da deficiência em ferro. Enquanto a anemia de deficiência em ferro ocorre em apenas 2 a 3% das jovens atletas, existe muito maior prevalência da deficiência em ferro sem anemia e da redução da reserva de ferro. Por conseguinte, as atletas devem ser monitorizadas através de indicadores bioquímicos, incluindo um painel de ferro completo (isto é, hemograma, ferritina plasmática e coeficiente de saturação da transferrina plasmática), particularmente no que diz respeito às que se encontram envolvidas em desportos de natureza aeróbia e que treinam ou vivem em altitudes mais altas. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS COMPONENTES CRÍTICAS RELATIVAMENTE À DIETA PARA RAPARIGAS ATLETAS 321-376 • Ingestão de energia: a ingestão de energia não deve ser inferior a 2 000 kcal/dia e, na maioria dos casos, deve compensar o dispêndio energético associado ao treino. Perante a necessidade de perda de peso, induzir défices na ordem das 200 a 300 kcal/dia e procurar aconselhamento com um nutricionista/dietista desportivo recor-rendo tanto a estratégias dietéticas como de treino que promovam a saúde e minimizem o risco de distúrbios alimentares; • Ingestão de hidratos de carbono: as refeições devem fornecer pelo menos 50 a 75 g de hidratos de carbono (por exemplo, arroz, massa, batatas), sendo o restante facultado pelos lanches (fruta, sumos, iogurte, cereais, pão integral ou barras de cereais), bebidas desportivas e barras energéticas ingeridas durante e após o exercício; • Ingestão de proteína: as refeições devem fornecer a maioria das necessidades proteicas diárias (15 a 25 g por refeição, a partir de fontes ricas em proteína, juntamente com lanches que contenham alguma proteína (por exemplo, iogurte, queijo, nozes), e um snack de recuperação 367 pós-exercício que contenha aproximadamente 10 g de proteína (copo de leite, cereais com leite, iogurte, sanduiche com manteiga de noz); • Micronutrientes: as necessidades de cálcio, ferro, zinco, magnésio, vitaminas B e antioxidantes devem ser satisfeitas através do aumento da densidade nutricional da dieta, incluindo lacticínios magros, carne magra, peixe, cereais integrais, nozes, fruta e vegetais. Poderá ser necessário um suplemento vitamínico-mineral e suplementos de cálcio e vitamina D para atletas do sexo feminino que sigam dietas hipocalóricas. Deverá também ser considerado um suplemento de ferro no caso de deficiência em ferro; • Padrão alimentar: as atletas devem ingerir pequenas quantidades de comida várias vezes ao dia, prevenindo eventual quebra do nível de energia e assegurando um desempenho atlético optimal. As atletas não devem iniciar o treino ou a competição com fome ou com sede. Uma preparação adequada inclui uma refeição rica em hidratos de carbono, moderada em proteínas e baixa em gordura, tomada 3 a 5 horas antes do treino ou da competição, com um possível lanche ingerido 1 a 2 horas antes da sessão e os líquidos devem ser consumidos com a refeição (250 a 500 ml) e 30 minutos antes do esforço físico (500 ml). As atletas devem ainda consumir bebidas desportivas durante e imediatamente após os treinos prolongados (> 60 a 90 minutos). Recomenda-se igualmente um lanche rico em proteínas após esforços intensos ou prolongados. Anorexia atlética As atletas apresentam maior risco de distúrbios alimentares e de alimentação desregrada do que as mulheres não atletas e os atletas do sexo masculino. Dados 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 367 Nutrição, Exercício e Saúde 368 recentes sobre atletas de alta competição norueguesas mostram que a prevalência de distúrbios alimentares clínicos ou subclínicos é de cerca de 20%, incluindo 1 a 3% de distúrbios alimentares clínicos. Os distúrbios alimentares são mais prevalentes nas atletas de alta competição do que nas de nível desportivo inferior e estabelecem-se tipicamente durante os anos da adolescência. A anorexia atlética é considerada um distúrbio alimentar subclínico específico da população atlética, com as seguintes características (Quadro VII.15). Tal como acontece com as não atletas, o percursor principal dos distúrbios alimentares nas atletas é a dieta ou uma alimentação restritiva com o objectivo de perder peso. Apesar de, provavelmente, a dieta não ser suficiente para despoletar um distúrbio alimentar, o facto de se tratar de uma atleta de um desporto que enfatiza a magreza é-o. A pressão para manter ou atingir um peso corporal baixo e, particularmente, uma percentagem de gordura corporal muito baixa é um factor importante que poderá precipitar um distúrbio alimentar. Esta pressão pode derivar de expectativas sociais onde a magreza é muito frequentemente associada ao sucesso. As atletas envolvidas em desportos em que a magreza pode possibilitar vantagens competitivas, nomeadamente os desportos com uma grande componente estética, de natureza aeróbia ou com categorias por pesos, correm maior risco de desenvolvimento de um distúrbio alimentar. Além disso, o ambiente desportivo caracterizase por um envolvimento em que as formas do corpo são amplamente expostas. As atletas partilham quartos, cacifos e duches, e o vestuário desportivo permite uma fácil comparação das formas do corpo, figura e tamanhos. Se existir uma predominância de atletas mais altas e mais magras, as outras poderão interpretar a magreza como um factor determinante no desempenho desportivo. Os desportos de competição também atraem as perfeccionistas, as atletas com tendências compulsivo-obessivas orienta- Quadro VII.15 • Características da anorexia atlética. Características essenciais • • • • • • • • • • • Perda de peso > 5% do peso do corpo esperado; * Ocorrência tardia da menarca (sem menstrução até aos 16 anos); Disfunção menstrual (amenorreia e oligomenorreia); Queixas gastrointestinais; Ausência de doença ou de distúrbio clinicamente comprovado que explique a perda de peso Distorção da imagem corporal; Receio excessivo do aumento de peso ou de ficar obesa; * Restrição da ingestão de energia (< 1 200 kcal/dia); * Utilização de métodos de purga (por exemplo, indução de vómitos, laxantes, diuréticos); Compulsão alimentar periódica; Exercício compulsivo. Critérios para o receio da obesidade • Perda de peso > 5% do peso corporal esperado; • Atraso da puberdade; • Ausência de doença clinicamente comprovada ou de distúrbio afectivo para explicar o aumento de peso; • Receio excessivo de ficar obesa; * • Restrição da ingestão de energia (< 1 200 kcal/dia). * * Critérios absolutos necessários ao diagnóstico, enquanto os restantes são considerados relativos e não têm de estar presentes para permitirem o diagnóstico. O receio da obesidade constituiu o distúrbio inicial a partir do qual derivou a anorexia atlética. 321-376 368 02.05.08, 5:26 PM das para níveis de realização elevados. Geralmente a perda de peso inicial permite não só a melhoria do desempenho atlético como favorece o comentário sobre a aparência corporal por parte do treinador e colegas. Estes factos reforçam a intensificação do comportamento da atleta. Todavia, a partir de uma alimentação desregrada a atleta pode desenvolver um distúrbio alimentar ao qual se encontra associada não só uma descida significativa do desempenho atlético como a tríade da mulher atleta. Outros riscos associados a distúrbios alimentares incluem a perda do treinador ou de um ente querido e a vivência de períodos vulneráveis como, por exemplo, a adolescência ou um período de reabilitação de uma lesão. Também pode ser possível que uma atleta se sinta simplesmente “esmagada” com o volume e intensidade do treino e tente voltar a sentir o controlo através da restrição da ingestão alimentar. Alguns dados também suportam a noção de que a alimentação desregrada se pode desenvolver mais facilmente em atletas com uma especialização desportiva precoce. Tríade da mulher atleta A tríade da mulher atleta foi reconhecida em 1992 e representa uma síndrome em que a alimentação desregrada, a amenorreia e a osteoporose se encontram interrelacionadas (Figura VII.3). O Colégio © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Desordens alimentares 321-376 Amenorreia Osteoporose Figura VII.3 • A tríade da mulher atleta. 369 Americano de Medicina Desportiva publicou em 1997 a sua primeira posição oficial sobre a tríade (actualizada em 2007), chamando a atenção de médicos e treinadores para a sua gravidade e facultando orientações estandardizadas para a prevenção e tratamento de atletas com um ou mais componentes da tríade. Recentemente, reconheceu-se que cada componente da tríade ocorre num contínuo e que as atletas que evidenciam uma das suas componentes podem eventualmente ser diagnosticadas com esta síndrome. Por exemplo, nem todas as atletas com disfunções menstruais apresentam padrões de alimentação desregrados, ou revelam uma diminuição da massa óssea. O facto de cada componente poder ocorrer num espectro facilita a identificação da tríade antes de se estabelecer uma condição clínica. Os estádios intermédios da tríade podem ser encontrados numa atleta com uma inadvertida (desconhecendo este facto) baixa ingestão de energia, não devido a um distúrbio alimentar mas talvez a um conflito de horário entre as sessões de treino e a escola, a padrões de refeições da família, etc., ou com distúrbios menstruais sem os sinais e os sintomas de um distúrbio alimentar. Apesar de esta atleta não possuir o mesmo nível de risco que uma outra atleta com um distúrbio alimentar, deverá, no entanto, seguir tratamento, uma vez que esta situação intermédia poderá evoluir para uma síndrome clínica. Assim, qualquer atleta que apresente uma condição subclínica da tríade e das suas componentes deverá considerar a sua condição clínica em risco. Apesar de se desconhecer a prevalência exacta da tríade, alguns estudos com atletas mostram que cerca de 30% das estudantes integradas no desporto universitário dos EUA e de 60% das atletas de alta competição da Noruega estão em risco de tríade. De salientar que neste último estudo, o número de mulheres não atletas em risco de tríade também foi elevado, devido ao facto de não entra- 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 369 Nutrição, Exercício e Saúde 370 321-376 rem em competições mas serem activas. Os resultados destes estudos indicam que a tríade existe não só nas mulheres atletas, mas também em mulheres jovens normalmente activas. ETIOLOGIA DA TRÍADE DA MULHER ATLETA A alimentação desregrada constitui o cerne da tríade da mulher atleta e está relacionada com o conceito de disponibilidade energética insuficiente. A disponibilidade energética é expressa através da diferença entre consumo e o dispêndio de energia. Estudos realizados evidenciam que uma baixa disponibilidade energética, devida a restrição da ingestão calórica, ao aumento do dispêndio energético associado ao treino ou a ambos, induz alterações na normalidade do padrão pulsátil da LH. De salientar que a regularidade do ciclo menstrual associada a uma produção adequada de estrogénio e de progesterona se encontra dependente de uma secreção pulsátil normal da LH. Se a disponibilidade energética se mantiver baixa por um período de tempo prolongado aumenta a probabilidade de ocorrência de distúrbios menstruais graves, como a oligomenorreia e a amenorreia. Tal como nos distúrbios alimentares, a disfunção menstrual ocorre igualmente num espectro, com a amenorreia a situar-se num dos extremos. A ideia central para a prevenção de distúrbios menstruais reside na optimização da dieta, especialmente, na ingestão de energia e de hidratos de carbono. O efeito protector do estrogénio no tecido ósseo encontra-se bem estabelecido na mulher. O estrogénio aumenta a eficiência da absorção intestinal do cálcio, diminui a sua excreção urinária e reduz a taxa de remodelação óssea, que, se excessiva, favorece a reabsorção em detrimento da formação óssea. Condições crónicas de hipoestrogenismo estão associadas a uma limitação do aumento da massa óssea ou à sua diminuição e como consequência à osteoporose, ou seja, a terceira componente da tríade. 370 Apesar de a massa óssea trabecular, relativamente à cortical, constituir o tipo de tecido e a coluna vertebral, relativamente a outros locais esqueléticos, constituir o local ósseo onde os efeitos deletérios da tríade da mulher atleta se fazem sentir com maior gravidade, foi igualmente observada osteopénia, ou seja, massa óssea diminuída, em outros locais esqueléticos. A diminuição de mineral ósseo (geralmente na ordem dos 10 a 20%), observada nas atletas amenorreicas, não é, no entanto, acompanhada de um aumento da excreção urinária de cálcio, frequentemente observada na osteoporose tipo I ou pós-menopáusica. Idealmente, uma carga de treino e uma ingestão calórica adequadas, de modo a assegurar o funcionamento menstrual normal, capacitam a mulher atleta jovem a poder optimizar o seu pico de massa óssea. Quando estes factores falham, os efeitos negativos da tríade da mulher atleta poderão ser minimizados através de uma redução do volume ou da intensidade do treino, do aumento de peso e de terapias hormonais, apesar de estas não se encontrarem bem estabelecidas. Com a regularização do ciclo menstrual, embora sejam esperados aumentos da DMO a curto prazo (cerca de 1 ano), a tendência a médio (cerca de 4 anos) e a longo prazo (> 5 anos) é para uma estabilização dos ganhos alcançados inicialmente, ganhos estes que não são todavia suficientes para que os valores da DMO destas atletas venham a ser considerados normais para a idade. A capacidade de normalização da DMO destas atletas, após a regularização dos ciclos menstruais, parece estar dependente não só da extensão do período de tempo durante o qual se verificaram as irregularidades como da idade da atleta relativamente ao pico de massa óssea. As consequências de uma massa óssea diminuída ou de osteoporose numa jovem incluem o risco de fractura de fadiga durante a prática desportiva assim como de fracturas relacionadas com osteoporose prematura. Para além do risco de fractura, 02.05.08, 5:26 PM as atletas com amenorreia apresentam um risco de doença cardiovascular aumentado devido a disfunção endotelial relacionada com o efeito protector dos estrogénios. TRATAMENTO DA TRÍADE DA MULHER ATLETA As atletas praticantes de qualquer desporto devem ser examinadas no que diz respeito às duas componentes da tríade, idealmente no início da época desportiva (exame físico de pré-participação). É a gravidade da tríade que define a necessidade de tratamento da atleta. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS O tratamento é mais eficaz quando se utilizar uma abordagem de equipa que inclua um médico, um nutricionista/dietista desportivo e um psicólogo ou terapeuta. Será também útil ter um fisiologista do exercício na equipa. 321-376 As atletas que sofrem de distúrbios alimentares clínicos devem seguir tratamento psicológico enquanto as atletas com distúrbios subclínicos da tríade podem necessitar unicamente de acompanhamento médico e de uma consulta com um nutricionista/dietista desportivo especializado em distúrbios alimentares nos atletas. O tratamento relacionado com a nutrição consiste na correcção do risco nutricional, particularmente do défice energético, através da utilização de um plano de dieta progressivo que vá ao encontro das necessidades energéticas do treino/competição diário e semanal da atleta. Recomenda-se pequenos incrementos de calorias suplementares (100 a 300 kcal/ /dia), sob a forma de hidratos de carbono e proteínas, recorrendo a alimentos que sejam familiares e de que a atleta goste, uma vez que uma alteração radical da ingestão habitual poderá promover os padrões do distúrbio alimentar. Uma estratégia inicial, simples mas eficaz, consiste na introdução da utilização diária de um suplemento líquido rico em calorias para satisfazer as necessidades energéticas. A orientação nutricional imediata deverá incluir o cálcio, promovendo o recurso a lacticínios e/ou a suplementação de cálcio. 371 Recomenda-se que as atletas com uma disfunção menstrual aumentem a ingestão de cálcio até 1 500 mg/dia. A educação sobre nutrição desportiva deverá centrar-se na função da energia e dos nutrientes dos alimentos num desempenho desportivo com êxito, uma vez que as consequências a longo prazo para a saúde não têm grande interesse para a atleta. A prevenção de doenças e de lesões através de uma reposição adequada pode também constituir um recurso importante para a educação e iniciação de alterações do comportamento alimentar. Em caso de hipoestrogenismo, é comum a utilização terapêutica de contraceptivos orais (ver Efeitos das pílulas contraceptivas combinadas). Todavia, se a disponibilidade energética se mantiver baixa, os efeitos positivos da correcção dos níveis de estrogénio com um contraceptivo oral ao nível do osso serão limitados. Finalmente, a chave de uma recuperação com sucesso reside no acompanhamento por parte dos membros da equipa e da adesão da atleta. Perante uma recusa de tratamento, o treinador, em conjunto com a equipa de tratamento, deverá definir critérios para a manutenção da carreira desportiva da atleta. Em caso de não aceitação das condições de tratamento, a atleta deverá ser retirada do treino e da competição. A educação é a chave do sucesso na prevenção da tríade. Para além das atletas, os modelos educativos deveriam incluir os pais e, particularmente, os treinadores, uma vez que os seus comentários e expectativas podem muitas vezes servir de perpetuadores de um estado de vulnerabilidade já existente. A educação deve centrar-se sobre a alimentação saudável durante o treino, a competição e a manutenção de um peso corporal desejável. O ATHENA (Athlete Targeting Healthy Exercise & Nutrition Alternatives – Atletas que têm como Alvo Alternativas de Exercício e Nutrição) é um dos programas mais conhecidos no âmbito da prevenção dos distúrbios alimentares. O ATHENA é um programa de prevenção de âmbito 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 371 Nutrição, Exercício e Saúde 372 escolar para atletas femininas adolescentes. O seu curriculum consiste em oito sessões de 45 minutos que decorrem integradas nas actividades habituais de treino de uma equipa. Os conteúdos e sequência do ATHENA foram concebidos para reduzir a alimentação desregrada e o uso de substâncias adelgaçantes, promovendo, simultaneamente, o exercício e a nutrição saudáveis. A característica chave do ATHENA é o facto de as atletas serem ensinadas a tornarem-se elas mesmas educadoras e de os treinadores actuarem como agentes facilitadores. Esta abordagem denomina-se ensino pelos pares e tem mostrado resultados eficazes na melhoria dos padrões alimentares da atleta. DISTÚRBIOS ALIMENTARES CLÍNICOS E SUBCLÍNICOS Os distúrbios alimentares abrangem um vasto espectro de comportamentos alimentares não saudáveis (Figura VII.4). A anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN) são condições extremas consideradas como distúrbios alimentares clínicos. Existe, no entanto, um grande número de distúrbios subclínicos, que poderão evoluir para condições patológicas. A anorexia atlética constitui um distúrbio alimentar subclínico, incluído na categoria da alimentação desregrada. Os distúrbios alimentares não especificados (EDNOS – Eating Disorders Not Otherwise Specified), apesar de menos graves do que a AN e a BN, não deixam de ser considerados distúrbios alimentares clínicos. A maioria dos EDNOS é muito semelhante à AN e à BN, não contemplando todavia todos os critérios da DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual – Manual de Diagnóstico e de Estatística, através do qual a Associação Psiquiátrica Americana define os critérios de diagnóstico dos distúrbios alimentares). Os distúrbios alimentares clínicos são geralmente diagnosticados por um médico ou psiquiatra. Distúrbios alimentares clínicos Os distúrbios alimentares clínicos ocorrem predominantemente nas mulheres jovens caucasianas das sociedades ocidentais com idades entre os 16 e os 35 anos, com uma prevalência de 0,3 a 1% para a AN e de 1 a 2% para a BN. Apesar Comportamento alimentar normal Anorexia nervosa Bulimia nervosa EDNOS Restrição alimentar Voracidade ocasional Eating Disorder Not Otherwibe Specipied (Distúrbios alimentares não específicados) EDNOS Distúrbio voracidade alimentar Figura VII.4 • Espectro dos distúrbios alimentares. 321-376 372 02.05.08, 5:26 PM de o número de jovens que procura ajuda ter provavelmente aumentado, dados da Noruega revelam igualmente uma subida para 9% das mulheres que sofrem de AN, de BN ou de EDNOS. ANOREXIA NERVOSA © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS O desenvolvimento da AN tem início durante a adolescência. O primeiro padrão visível é a restrição alimentar, ou seja, fazer dieta, que em determinado momento se torna incontrolável. Devido à inter-relação existente entre os diferentes distúrbios alimentares, é possível o desenvolvimento de uma compulsão alimentar periódica e/ou de BN. Quanto maior for o tempo de prevalência do distúrbio, maior será a dificuldade de recuperação da AN ou de qualquer outro distúrbio alimentar, enquanto um diagnóstico precoce seguido do respectivo tratamento constitui um factor determinante para a cura desta doença. Parece, todavia, que cerca de 10 a 20% dos indivíduos com AN não serão curados deste distúrbio. A AN também é reconhecida como um distúrbio alimentar associado a uma taxa de mortalidade elevada, em que o suicídio e as complicações médicas são as consequências fatais mais comuns. Independentemente do grau de recuperação, alguns aspectos como a preocupação com o peso, com a imagem corporal e com os padrões alimentares poderão nunca desaparecer. Para além dos factores mencionados nos critérios de diagnóstico (Quadro VII.16), a restrição alimentar é provavelmente o sinal de aviso mais comum de que uma pessoa pode sofrer de AN. Este é normalmente acompanhado da negação da fome e de uma prática excessiva de exercício. 321-376 Em muitos casos de AN, é normal a pessoa afectada por este distúrbio negar completamente a possibilidade de ter um problema alimentar ou um problema que venha a despoletar o distúrbio alimentar. Outros sinais frequentes são o crescimento excessivo de pêlos na face e queixas de frio. O afastamento social é um sintoma comum a todos os indivíduos afectados por um distúrbio alimentar clínico ou subclínico. Finalmente, as pessoas que sofrem de AN são normalmente perfeccionistas em tudo o que fazem. BULIMIA NERVOSA Comparativamente à AN, o início da BN dá-se tipicamente de uma forma similar mas numa idade mais tardia. A sobreposição dos dois distúrbios é de tal forma comum que muitos indivíduos com BN também apresentam os critérios de diagnóstico da AN, em determinado momento. No entanto, a restrição energética acaba por ser substituída pela alimentação compulsiva, que resulta num aumento de peso, seguido de ciclos periódicos de alimentação compulsiva e de purga. A BN não é um distúrbio de curto prazo. Em média, um historial dura cerca de cinco anos ou mais, após a apresentação do distúrbio. Existem dois tipos de BN, nomeadamente a BN purgativa e a BN não purgativa (Quadro VII.17). Os indivíduos afectados pela BN apresentam um peso, normal ou ligeiramente acima do normal, que sofre frequentemente grandes flutuações. Estas pessoas receiam permanentemente o aumento de peso e sofrem geralmente de depressão e de outras complicações psicológicas. Vários sinais físicos como o edema e o aumento das glândulas parótidas, cáries Quadro VII.16 • Critérios de diagnóstico da anorexia nervosa. • Perda significativa do peso corporal ou manutenção de um peso corporal extremamente baixo (85% do peso normal para a altura), ou ambas; • Receio exagerado de ganhar peso ou de ficar gorda; • Grau elevado de insatisfação acerca do corpo e distorção da imagem corporal; • Amenorreia nas mulheres após a menarca. 373 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 373 Nutrição, Exercício e Saúde 374 Quadro VII.17 • Critérios de diagnóstico da bulimia nervosa. • Episódios periódicos de alimentação compulsiva (consumo de uma grande quantidade de comida num período de tempo curto), seguidos de purgas (consumo de laxantes, diuréticos, clisteres ou vómito auto-induzido), que ocorram pelo menos duas vezes por semana durante três meses; • Sentido de falta de controlo durante os episódios periódicos de alimentação compulsiva e de purga; • Grau elevado de insatisfação acerca do corpo e distorção da imagem corporal. dentárias, lábios e mãos gretados e língua inflamada ajudam a identificar os pacientes com BN. Apesar de não constituir um critério de diagnóstico, a disfunção menstrual é comum nos indivíduos que sofrem de BN e o excesso de prática de exercício é frequentemente usado como um método de purga. DISTÚRBIOS ALIMENTARES NÃO ESPECIFICADOS Os distúrbios alimentares não especificados referem-se a distúrbios que não integram todos os critérios da AN ou da BN como, por exemplo, uma mulher com todos os critérios da AN à excepção de um peso corporal ligeiramente acima do limiar de diagnóstico, ou uma mulher com ciclos periódicos de alimentação compulsiva com uma duração inferior a três meses. Apesar do peso e da imagem corporal constituírem a área de enfoque central das pessoas com EDNOS, o peso corporal encontra-se habitualmente dentro dos limites normais. Todavia, a maioria destas pessoas vêm a desenvolver AN ou BN. Os EDNOS também são considerados como distúrbios alimentares clínicos e caracterizam-se por um ou mai dos critérios do DSM-IV apresentados no Quadro VII.18. Distúrbios alimentares subclínicos Desde 1980, ano em que o distúrbio alimentar subclínico é proposto como conceito, que muitos estudos têm revelado que a mulher demonstra uma patologia alimentar e preocupações com o peso corporal significativos, sem que as características manifestadas se enquadrem nos critérios definidos para os distúrbios alimentares clínicos. Os distúrbios alimentares subclínicos podem igualmente ser independentes de qualquer causa psicológica. As mulheres com distúrbios alimentares subclínicos apresentam padrões de alimentação desregulada com ou sem a utilização de métodos patológicos de controlo de peso. Constituem grandes desafios a identificação de mulheres que sofram destes distúrbios, pois não são facilmente identificáveis, assim como a Quadro VII.18 • Critérios de diagnóstico dos distúrbios alimentares não especificados. • Todos os critérios da AN, excepto a amenorreia; • Todos os critérios da AN, excepto o facto do peso se encontrar dentro dos limites normais apesar da sua perda significativa; • Todos os critérios da BN, excepto o facto de os ciclos periódicos de alimentação compulsiva/ /purga ocorrerem com uma frequência inferior a duas vezes por semana e com uma duração inferior a três meses; • Recurso regular a um comportamento compensatório inapropriado a um indivíduo com peso corporal normal, após a ingestão de pequenas quantidades de comida; • Mastigar e cuspir repetidamente, mas sem engolir, grandes quantidades de comida; • Distúrbio de alimentação compulsiva periódica (binge eating disorder – BED): episódios recorrentes de alimentação compulsiva na ausência do recurso regular a comportamentos compensatórios inapropriados característicos da BN. 321-376 374 02.05.08, 5:26 PM definição do que são padrões alimentares normais e desregulados. As mulheres com distúrbios alimentares subclínicos podem necessitar de ajuda profissional para evitar o desenvolvimento de um distúrbio alimentar clínico. © LIDEL – EDIÇÕES TÉCNICAS Tratamento, consequências e prevenção dos distúrbios alimentares 321-376 O tratamento dos distúrbios alimentares depende da gravidade do distúrbio e é normalmente dividido em tratamento com ou sem internamento do paciente. O tratamento em regime de internamento é frequentemente procurado pelos pacientes que correm risco de vida. Independentemente da natureza do tratamento, o seu sucesso depende de uma abordagem multidisciplinar com uma equipa constituída por profissionais com experiência de distúrbios alimentares na área da medicina, psicologia ou psiquiatria e da nutrição. Os distúrbios alimentares afectam a função gastrointestinal, cardiovascular, renal, oral, sanguínea, imunitária e endócrina, podendo algumas, como a função cardiovascular, falhar durante o distúrbio. Contudo, o funcionamento normal dos diversos sistemas é recuperado após o indivíduo voltar a alimentar-se, excepto no que diz respeito ao sistema esquelético em que a osteoporose e o risco de fractura permanecem aumentados, especialmente no caso da AN. No caso do BED, a principal consequência a longo prazo é a obesidade, que aumenta o risco de muitas doenças crónicas. A vida familiar, o ambiente social e a pressão por parte dos colegas constituem aspectos importantes que podem predispor uma jovem para um distúrbio alimentar. O primeiro passo para um envolvimento mais construtivo é a redução da crítica ou dos reparos constantes sobre a forma ou o peso do corpo e a educação dos pais e professores sobre os efeitos destrutivos deste tipo de comportamentos. Encorajar as refeições em família e faci- 375 litar as práticas alimentares saudáveis na escola podem ajudar a introduzir e a reforçar uma alimentação normal. Os processos educativos para crianças e adolescentes devem integrar informação sobre a dimensão e a forma do corpo e enfatizar as mudanças normais que ocorrem no desenvolvimento humano. A educação nas escolas deve igualmente centrar-se na alimentação para a saúde, no bem-estar e num estilo de vida activo. Os professores e os pais devem motivar os jovens para a prática de actividade física, realçando o prazer do sentimento de controlo do peso. Para contrapor os efeitos negativos das mensagens passadas pela publicidade relativas à imagem corporal, é importante ensinar as crianças e os jovens a identificarem imagens corporais irrealistas e mensagens escondidas. Acima de tudo, o reconhecimento precoce de preocupações com o peso e com a dieta com o subsequente tratamento podem evitar um distúrbio alimentar. Dieta crónica Permanecer cronicamente em dieta, em oposição a um distúrbio alimentar, significa restringir a ingestão de energia de uma forma consistente e com sucesso para manter um peso corporal médio ou abaixo da média. Uma pessoa em dieta permanente e preocupada com os alimentos, as calorias, e/ou o peso, subordina as suas estratégias de exercício ao controlo de peso. Estas pessoas podem igualmente ser fumadoras por razões de controlo de peso. É do conhecimento geral que a nicotina afecta a taxa metabólica de repouso, ajudando algumas mulheres a manter o peso corporal baixo e que os indivíduos que deixam de fumar podem ganhar algum peso. O tabaco é, todavia, um dos principais factores de risco de muitas doenças, e os benefícios de deixar de fumar em qualquer momento da vida são muito mais importantes do que pequenas alterações do peso corporal, quando estas ocorrerem. Estar cronicamente em dieta pode conduzir a uma perda de ener- 02.05.08, 5:26 PM Capítulo VII • Nutrição, exercício e saúde na rapariga e na mulher 375 Nutrição, Exercício e Saúde 376 gia e de eficácia na execução das tarefas da vida diária e a variações de humor, para além dos seguintes problemas: • Baixa ingestão de energia e nutrientes; • Diminuição da taxa metabólica de repouso; • Distúrbios menstruais; • Níveis de cortisol elevados; • Baixa densidade mineral óssea; • Maior risco de fracturas. O stress associado ao pensamento constante sobre a comida e à selecção de alimentos baseada em estratégias de controlo de peso conduzem a um aumento dos níveis de cortisol. A ocorrência deste aumento e a diminuição dos esteróides sexuais influenciam, por sua vez, negativamente, a densidade mineral óssea e o risco de fracturas. Estar cronicamente em dieta pode conduzir a variações de peso frequentes (dieta yo-yo), em que a pessoa perde peso mas volta a ganhá-lo pouco tempo depois. Tipicamente, o processo repete-se e o fracasso do compromisso com uma mudança do estilo de vida a longo prazo é provavelmente a principal razão para estas pessoas serem apanhadas neste ciclo sem fim. Não é muito provável que estes ciclos de variação de peso venham a causar uma doença grave, mas constituem um factor de risco para o desenvolvimento de um distúrbio alimentar mais grave, tal como se passa com a alimentação restritiva. As pessoas que se alimentam de uma forma restritiva rígida têm maior probabilidade de sofrerem de uma compulsão alimentar periódica relativamente aos alimentos que restringiram. Este tipo de rigidez na restrição alimentar também se encontra ligado à obesidade, enquanto que a restrição alimentar aplicada de uma forma flexível (ajustada às refeições anteriores, ao dispêndio energético diário, à fome e à saciedade) se encontra associada à manutenção ou à perda de peso. 321-376 376 Referências Bibliográficas ARTIGOS DE REVISÃO E META-ANÁLISES American College of Obstetricians and Gynecologists (2002), “Exercise During Pregnancy and the Postpartum Period”, Int J Gynaecol Obstet, 77: 79-81. Eaker, E. D., Packard, B. e Thom, T. J. (1989), Epidemiology and risk factors for coronary heart disease in women. In: Douglas, P. S. ed. Heart Disease in Women. FA Davis, Philadelphia. Fairburn, C. G., e Harrison, P. J. (2003), “Eating disorders”. Lancet, 361 (9355): 407-416. Gunderson, E. P. (2003), “Nutrition during pregnancy for the physically active woman”, Clin Obstet Gynecol, 46: 390-402. Loucks, A. B. (2004), “Energy balance and body composition in sports and exercise”, J Sports Sc, 22: 1-14. Manore, M. M. (2004), “Nutritional recommendations and athletic menstrual dysfunction”, Int Sport Med J, 5: 45-55. Nattiv, A., Loucks, A. B., Mamore, M. M., Sanborn, C. F., Sundgot-Borgen, J. e Warren, M. P. (2007), “The female athete triad-American College of Sports Medicine position stand”, Med Sci Sports Exerc, 39: 1867-1882. Willet, W. C. e Stampfer M. J. (2003), Rebuild the food pyramid. Scientific American, January, 64-73. ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO ORIGINAL Beals, K. A. e Manore, M. M. (2002), “Disorders of the female athlete triad among collegiate athletes”, Int J Sport Nutr Exerc Metab, 12: 281-293. Sundgot-Borgen, J. e Torstveit, M. K. (2004), “Prevalence of eating disorders in elite athletes is higher than in the general population”, Clin J Sport Med, 14: 25-32. Torstveit, M. K. e Sundgot-Borgen, J. (2005), “The female athlete triad: are elite athletes at increased risk?”, Med Sci Sports Exerc, 37: 184-193. Torstveit, M. K. e Sundgot-Borgen, J. (2005), “Low bone mineral density is two to three times more prevalent in non-athletic premenopausal women than in elite athletes: a comprehensive controlled study”, Br J Sports Med, 39: 282-287. Torstveit, M. K. e Sundgot-Borgen, J. (2005), “Participation in leanness sports but not training volume is associated with menstrual dysfunction: a national survey of 1276 elite athletes and controls”, Br J Sports Med, 39: 141-147. 02.05.08, 5:26 PM