UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CENTRO DE ENGENHARIAS E CIÊNCIAS EXATAS CAMPUS DE FOZ DO IGUAÇU CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA MODELAGEM E AVALIAÇÃO DA PROTEÇÃO DE ALIMENTADORES E GERADORES SÍNCRONOS DISTRIBUÍDOS CONSIDERANDO SISTEMAS DESEQUILIBRADOS FABRICIO ANDRADE MOURINHO FOZ DO IGUAÇU – PR 2013 FABRICIO ANDRADE MOURINHO MODELAGEM E AVALIAÇÃO DA PROTEÇÃO DE ALIMENTADORES E GERADORES SÍNCRONOS DISTRIBUÍDOS CONSIDERANDO SISTEMAS DESEQUILIBRADOS FABRICIO ANDRADE MOURINHO Relatório de trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Prof. M.Eng. Jonas Roberto Pesente FOZ DO IGUAÇU - PR 2013 Dedico este trabalho à minha família. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por todas as conquistas e lições de minha vida, e esta conquista merece ser mencionada. Agradeço aos meus pais, por infinitos motivos, mas destaco aqui a oportunidade que me forneceram em ter uma formação de qualidade, sempre me motivando e desejando o melhor. Adicionalmente, agradeço a minha família, e aos meus amigos por sempre estarem ao meu lado. Ainda agradeço a minha namorada, Bárbara, por sempre me apoiar e entender o motivo de minha ausência em alguns momentos. Com relação à formação, agradeço a todos os professores da Universidade Estadual do Oeste do Paraná por terem tanto me ensinado e, certamente, contribuíram para formação de meu caráter e conduta. Fico orgulhoso em carregar comigo o nome desta Universidade. Especialmente agradeço ao professor orientador Jonas Roberto Pesente pela orientação, paciência e amizade, as quais serviram de motivação para a execução deste trabalho, além de todo suporte e contribuições feitas ao trabalho. Agradeço aos membros da banca examinadora por aceitarem o convite de avaliar este trabalho e fazer contribuições de modo a enriquecê-lo. Ao Laboratório de Automação e Simulação de Sistemas Elétricos – LASSE, local onde iniciei minhas pesquisas na área de Sistemas de Energia Elétrica, adquiri conhecimentos que utilizarei em minha vida profissional e fiz grandes amigos. A Itaipu Binacional pela concessão de espaço físico, profissionais e bolsa, elementos que foram importantes para a realização deste trabalho. Agradeço, especialmente, o supervisor de estágio, o Engenheiro Rodrigo Pimenta. RESUMO MOURINHO, F. A. (2013). Modelagem e Avaliação da Proteção de Alimentadores e Geradores Síncronos Distribuídos Considerando Sistemas Desequilibrados. Monografia de Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2013. Resumo: O aumento da implantação de geradores de pequenos e médios portes conectados diretamente nos sistemas de subtransmissão e distribuição de energia elétrica é uma realidade observada em âmbito mundial, implicando em uma tendência de descentralização da produção de energia elétrica. Diante desta nova modalidade de geração de energia elétrica, a Geração Distribuída, é imprescindível realizar estudos para que a conexão de tais geradores com as redes elétricas seja tal que minimize eventuais impactos negativos ao sistema e ao próprio gerador. Os atuais sistemas de distribuição não foram planejados para operar na presença de múltiplas fontes de energia, além de que é intrínseca a característica de desequilíbrio de cargas entre as fases em tais sistemas, impactando diretamente sobre o comportamento do gerador síncrono e consequentemente sobre o sistema de proteção associado. O estudo acerca do efeito do desequilíbrio sobre o comportamento das funções de proteção que constituem os sistemas de distribuição na presença de geradores síncronos se encontra no estado da arte, e forma o produto deste trabalho. No contexto apresentado, este trabalho apresenta a modelagem e a avaliação de funções de proteção de geradores síncronos e de alimentadores de distribuição em aplicativo com capacidade de representação trifásica detalhada do sistema, o ATP. Os resultados obtidos a partir de simulações evidenciam o efeito do desequilíbrio sobre a atuação e comportamento das proteções presentes em sistemas de distribuição com geração distribuída e mostram que em alguns casos é majoritária a representação do sistema desequilibrado para o correto ajuste das funções de proteção. Palavras-Chave: Geração Distribuída, Sistemas Desbalanceados, Sistemas de Proteção, Proteção de Geradores Síncronos Distribuídos, Proteção de Sistemas de Distribuição, Simulação Computacional de Sistemas de Energia Elétrica, Relés digitais. ABSTRACT MOURINHO, F. A. (2013). Modeling and Evaluation of Protection of Feeders and Distributed Synchronous Generators Considering Unbalanced Systems. Monografia de Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Foz do Iguaçu, 2013. Abstract: The increasing deployment of small and medium generators connected directly in the sub-transmission and distribution systems of electrical energy is a reality observed worldwide, resulting in a trend of decentralization of electricity production. Faced with this new form of power generation, Distributed Generation, it is important to carry out studies on the connection of these generators with electrical networks in order to minimize any negative impacts to the system and the generator itself. The traditionals distribution systems were not designed to operate in the presence of multiple sources of energy, and that is the intrinsic characteristic of load imbalance between phases in these systems, impacting directly on the behavior of synchronous generator and consequently on the protection system associated. The study of the effect of imbalance on the behavior of the protection functions that constitute the distribution system in the presence of synchronous generators is in the state of the art, and it is the product of this work. In this context, this work presents the modeling and evaluation of protective functions of synchronous generators and distribution feeders in a program capable of representing detailed triphase system, ATP. The results from simulations show the effect of imbalance on the performance and behavior of the protections present in distribution systems with distributed generation and show that in some cases it is necessary to represent the unbalanced system for proper adjustment of the protection functions. Keywords: Distributed Generation System, Unbalanced Systems, Protection Systems, Protection of Synchronous Generators Distributed, Protection of Distribution Systems, Computer Simulation of Power Systems, Digitals Relays. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ATP – Alternative Transients Program FD – Fator de Desequilíbrio GD – Geração Distribuída GS – Gerador Síncrono GSD – Gerador Síncrono Distribuído SGD – Sistema de Geração Distribuída MS – Máquina Síncrona RMS – Root Mean Square RP – Regime Permanente SD – Sistema de Distribuição SE – Sistema de Excitação SP – Sistema de Proteção SEE – Sistema de Energia Elétrica SIN – Sistema Interligado Nacional TC – Transformador de Corrente TP – Transformador de Potencial ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica RT – Regulador de Tensão TDFR – Transformada Discreta de Fourier Recursiva SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1 1.1 Justificativa ..................................................................................................................................3 1.2 Objetivo geral ..............................................................................................................................3 1.3 Objetivos específicos ...................................................................................................................4 1.4 Estrutura do trabalho ..................................................................................................................4 2. ESTUDOS DE CURTOS-CIRCUITOS EM SISTEMAS DE ENERGIA ..................................................... 6 2.1 Formulação e análise do problema de curtos circuitos .................................................................6 2.2 Estudo de curto-circuito para um Sistema de Distribuição com Geração Distribuída ................ 14 2.3 Considerações Finais ................................................................................................................... 18 3. PROTEÇÃO CLÁSSICA DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA............................ 20 3.1 Introdução a proteção de Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica .................................... 20 3.2 Dispositivos empregados na Proteção de SDEE .......................................................................... 21 3.2.2 – Religadores ............................................................................................................................ 23 3.2.3 – Seccionalizadores .................................................................................................................. 23 3.2.4 – Disjuntores ............................................................................................................................ 24 3.3 – Coordenação e Seletividade dos Dispositivos de Proteção...................................................... 24 3.3.1 – Coordenação entre Elos Fusíveis........................................................................................... 24 3.3.2 - Coordenação entre religador, seccionalizador e elo fusível .................................................. 25 3.4 Considerações Finais .................................................................................................................. 27 4. PROTEÇÃO DE GERADORES SÍNCRONOS DISTRIBUÍDOS................................................................ 28 4.1 Sistemas de Proteção em Sistemas de Geração Distribuída ....................................................... 28 4.2 Descrição e ajuste recomendado das Funções de Proteção de Geradores Síncronos ............... 32 4.3 Relés Comerciais ......................................................................................................................... 45 4.4 Considerações Finais ................................................................................................................... 46 5. MODELAGEM DAS FUNÇÕES DE PROTEÇÃO ............................................................................. 47 5.1 Estimação Fasorial ....................................................................................................................... 47 5.2 Funções de Proteção Implementadas ......................................................................................... 49 5.3 Considerações Finais ................................................................................................................... 57 6. EFEITO DO DESEQUILÍBRIO DE CARGA SOBRE A ATUAÇÃO DAS PROTEÇÕES DOS GERADORES SÍNCRONOS DISTRIBUÍDOS E DOS ALIMENTADORES DE DISTRIBUIÇÃO ........................................ 58 6.1 Sistema teste ............................................................................................................................... 58 6.2 Definição dos Casos de Simulação .............................................................................................. 59 6.3 Análise da atuação das Proteções associadas ao GSD sob Condições de Desequilíbrio............. 59 6.4 Considerações Finais ................................................................................................................... 75 7. CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 77 REFERÊNCIAS .............................................................................................................................. 80 ANEXO A – PARÂMETROS DOS MODELOS DOS SISTEMAS TESTE .................................................. 84 AN.1 Parâmetros do Sistema de Distribuição Completo .................................................................. 84 AN.2 Parâmetros do Sistema de Distribuição Equivalente ............................................................... 86 1 1. INTRODUÇÃO O crescimento constante do consumo mundial de energia elétrica, o estabelecimento de tecnologias para exploração de novas fontes energéticas e a necessidade de aumentar a eficiência dos Sistemas de Energia Elétrica (SEE) aliados a reestruturação do setor elétrico (JENKINS, et al., 2000; ACKERMANN; ANDERSSON; SÖDER, 2001) tem contribuído para a instalação de médios, pequenos e micro geradores nas redes de distribuição e subtransmissão de eletricidade, modalidade conhecida como Geração Distribuída (GD). Essa nova modalidade de geração de energia elétrica já está presente nos parques de geração de diversos países (INTERNACIONAL ENERGY AGENCY, 2002; JENKINS et al., 2000; SHINJI; YOKOYAMA; HAYASHI, 2009; WANG; ZHONG, 2009), inclusive no Brasil (GRANVILLE et al., 2009). No caso do Brasil, especificamente, existe a perspectiva de crescimento da oferta de energia elétrica proveniente de tais geradores, em complemento aos geradores de grande porte tradicionais. Aliado à dificuldade crescente de financiamento de grandes centrais de geração estão os problemas relacionados ao impacto ambiental associado à implantação destas grandes centrais. Estes fatores contribuíram para a valorização da geração distribuída (DIAS; BOROTONI; HADDAD, 2005). Segundo a (AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA, 2012), existem atualmente 73 usinas operando em condição de co-geração qualificada, ou seja, que satisfazem os requisitos normativos estabelecidos pela própria entidade, totalizando uma capacidade instalada de 2.564.436 kW, cerca de 2% da capacidade total instalada no país. Neste cenário, o estado de São Paulo possui grande destaque (SOUZA MACHADO, 2004), devido ao seu elevado número de usinas sucroalcooleiras que utilizam o bagaço da cana, subproduto de seu processo industrial, para gerar energia. A pequena parcela de contribuição da GD na geração de energia elétrica no Brasil decorre do fato de que até recentemente não havia regulamentação padronizada de procedimentos para a inserção de geradores conectados diretamente na rede distribuição, além do reduzido conhecimento das tecnologias envolvidas na GD para sua operação adequada (DIAS; BOROTONI; HADDAD, 2005), o que acabou por atrasar o processo de implantação de geração distribuída na realidade do SEE brasileiro. A GD apresenta potencial de expansão originado do crescimento do setor de cana de açúcar no Brasil, estabelecimento da regulamentação associada (GRANVILLE et al., 2009) e 2 das tecnologias acerca de energias renováveis para a geração de energia elétrica, já aplicado na região oeste do Paraná (DREHER et. al., 2010). A GD é vantajosa quando comparada às fontes convencionais, pois, apresenta menores perdas de transmissão, devido à proximidade com os centros consumidores, menor impacto ambiental e ampliação da matriz energética (PITOMBO, 2010; LUIZ, 2012). Não obstante, por outro lado, há entraves técnicos, econômicos e reguladores que se interpõem à sua utilização. Acerca do desempenho elétrico, a instalação de geradores distribuídos nos sistemas de subtransmissão e de distribuição de energia elétrica deve ser precedida de uma série de estudos visando determinar condições de operação, controle e proteção desses geradores de forma a minimizar eventuais impactos negativos nos SEEs (CARVALHO, 2009). Tais impactos são originados porque a conexão de geradores distribuídos nos sistemas de distribuição impacta significativamente no fluxo de potência e no perfil de tensão dos consumidores e equipamentos das empresas concessionárias de energia (PITOMBO, 2010), justificando-se o estabelecimento de metodologias para avaliação rigorosa dos riscos envolvidos (GÓMEZ, et. al., 2013). Dentre tais impactos, destacam-se os associados aos sistemas de proteção (GÓMEZ, et. al., 2013), uma vez a proteção nos sistemas de distribuição é realizada com elementos não direcionais, tais como elos fusíveis e religadores, que somente operam adequadamente se não houver contribuição de corrente desde os terminais das cargas. De acordo com (SALLES, 2007), a implantação de geradores distribuídos em redes de distribuição tem dificultado a aplicação dos esquemas tradicionais de proteção, quer seja nas instalações da concessionária ou do acessante, especialmente em processos sazonais de produção de energia elétrica. Os estudos de proteção de alimentadores puramente radiais podem ser efetuados através de técnicas tradicionais, pois o fluxo de corrente é unidirecional, o que simplifica a parametrização dos dispositivos de proteção. A modificação da topologia tradicional do sistema de distribuição causada pela inserção de GDs demanda então, a avaliação criteriosa da performance de seus dispositivos de proteção e eventualmente, seu reajuste (LUIZ, 2012; GÓMEZ, et. al., 2013). Adicionalmente, os estudos acerca do desempenho do sistema de proteção de GSs, em sua grande maioria, levam em conta a operação em redes equilibradas, de modo que o 3 comportamento dos SPs em redes desequilibradas é questão a ser resolvida. Os SDs, no entanto, apresentam a característica intrínseca de desequilíbrio de cargas entre fases e linhas de transmissão assimétricas (KERSTING, 2002). A análise adequada do caso desequilibrado carece de formulação matemática que considere a representação trifásica detalhada do sistema, que agrega maior complexidade em sua solução (PIARDI, 2012). Nesse sentido, a análise de operação de GSDs conectados diretamente as redes de distribuição, com seus respectivos equipamentos de proteção ainda não está consolidada Salienta-se ainda que os geradores distribuídos não careçam somente de proteção contra curtos-circuitos, mas também de proteção contra situações anormais de operação, como, sobretensões, subtensões, subfrequências, sobrefrequências, desbalanços de corrente, sobreexcitação, inversão de potência e perdas de excitação. Muitas de tais situações podem ser ocasionadas por distúrbios que ocorrem na rede das concessionárias e, geradores submetidos a tais condições, mesmo que por curto intervalo de tempo, podem sofrer danos irreparáveis (KINDERMANN, 2008). A partir do exposto, o escopo do desenvolvimento deste trabalho é delimitado pela modelagem das principais funções de proteção presentes em GSDs e na rede de distribuição em aplicativo de simulação de sistemas elétricos com capacidade de representação trifásica. Os modelos foram implementados em ATP a partir da linguagem de programação MODELS que permite a representação detalhada de todas as etapas dos relés digitais de proteção. A principal contribuição do trabalho é a verificação do impacto do desequilíbrio sobre a atuação e o comportamento das proteções associadas aos sistemas de distribuição com GSDs. A justificativa, objetivos e estrutura do trabalho são descritos abaixo. 1.1 Justificativa A realização deste trabalho é justificada pela carência de análise do efeito do desequilíbrio sobre o desempenho e atuação das funções de proteção empregadas em sistemas de distribuição na presença de GSDs. 1.2 Objetivo geral Desenvolver e testar uma biblioteca de modelos das principais funções de proteção 4 empregadas em sistemas de proteção de redes de distribuição e subtransmissão de energia elétrica na presença de geradores síncronos distribuídos e analisar o efeito do desequilíbrio sobre cada função. Os modelos devem ser desenvolvidos para o uso no ambiente ATP/ATPDraw. 1.3 Objetivos específicos • Revisão bibliográfica acerca da teoria de componentes simétricas; • Revisão da teoria de faltas simétricas e assimétricas; • Compatibilização do sistema-teste em aplicativo trifásico detalhado e em sistema unifilar fasorial para análise de curto-circuitos; • Revisão bibliográfica acerca da proteção dos elementos de sistemas de Geração Distribuída; • Criação de um guia para ajuste de funções de proteção de sistemas de geração distribuída; • Modelagem de bibliotecas de simulação das funções de proteção estabelecidas na revisão em aplicativo com capacidade de representação trifásica detalhada; • Condicionamento das proteções de forma a atuar em seus limiares e aplicação do desequilíbrio de forma a verificar seu efeito sobre a atuação da proteção; e • Gerar conclusões acerca dos resultados obtidos. 1.4 Estrutura do trabalho Este trabalho está segmentado de acordo com a seguinte estrutura: Capítulo 2: apresenta a revisão bibliográfica acerca de componentes simétricas e sobre faltas em SEE. Neste capítulo é realizado um estudo de curto-circuito em um sistema de distribuição real e compatibilizado tal sistema em aplicativo trifásico detalhado e em aplicativo unifilar fasorial; Capítulo 3: apresenta a revisão bibliográfica acerca da proteção tradicional em sistemas de distribuição de energia elétrica e ilustra os principais dispositivos utilizados, assim como os aspectos fundamentais da coordenação entre os dispositivos presentes nos 5 SDs; Capítulo 4: apresenta a revisão bibliográfica sobre a proteção de Sistemas de Geração Distribuída e traz os principais ajustes empregados; Capítulo 5: apresenta a descrição da modelagem das funções de proteção implementadas em aplicativo de simulação de transitórios eletromagnéticos de sistemas de potência; Capítulo 6: apresenta as simulações e os respectivos resultados com o SD operando em condições de desequilíbrio de carga. Neste capítulo é evidenciado o efeito do desequilíbrio sobre a atuação e o comportamento do sistema de proteção associado aos sistemas de distribuição com geração distribuída; Capítulo 7: apresenta as conclusões acerca dos resultados obtidos no trabalho; Anexo A: são apresentados os parâmetros dos modelos que compõem o cenário de estudo. 6 2. ESTUDOS DE CURTOS-CIRCUITOS EM SISTEMAS DE ENERGIA O ajuste dos dispositivos de proteção nos sistemas de energia elétrica é realizado a partir da reprodução ou estudo de condições anormais, geralmente chamadas de faltas. Este método, especialmente quando aplicado aos curtos circuitos, permite antever e avaliar as possíveis consequências dos defeitos previsíveis, de onde se pode verificar a suportabilidade dos equipamentos e propor soluções técnicas para reduzir efeitos indesejados. O estudo de curto-circuito em SEE é realizado aplicando-se diferentes tipos de eventos (que originam curtos-circuitos) em diversos pontos do sistema e analisando as correntes em pontos particulares como, por exemplo, nos locais onde estão instalados os relés de proteção, próximos aos geradores e/ou próximo do ponto de conexão com a concessionária, para SDs. Em Sistemas de Distribuição, principalmente, é necessário atualizar o estudo de curtocircuito sempre que ocorrerem alterações na topologia do sistema, decorrentes de expansões, novas interligações e inserção de novos geradores (como é o caso da GD) e grandes motores (dos SANTOS, 2008). 2.1 Formulação e análise do problema de curtos circuitos (GRAINGER, 1996) define falha em um circuito elétrico como qualquer evento que interfere com o fluxo normal da corrente que flui pelas linhas. Uma falha é considerada um curto-circuito quando reduz, inesperadamente, a impedância do circuito vista a partir de um ponto específico, geralmente induzindo o valor da corrente a se tornar superior ao valor da corrente nominal. As principais causas dos curtos-circuitos são: • Falha no isolamento de equipamentos; • Rompimento de condutores; • Descargas Atmosféricas; • Surtos de chaveamentos; e • Conexão indireta a terra através de árvores ou outros elementos. 7 Os curtos-circuitos podem ser classificados de acordo com sua natureza: trifásicos (também chamados de simétricos); bifásicos, bifásicos-terra e monofásicos (também chamados de assimétricos). Eletricamente, cada tipo de curto-circuito corresponde a uma configuração topológica específica e por isso é abordado separadamente na próxima seção, baseado no equacionamento de faltas nos terminais de um gerador síncrono. Tal abordagem é utilizada porque as conclusões obtidas podem ser estendidas a qualquer circuito elétrico através do Teorema de Thevènin. Curto-circuito Trifásico Os curtos-circuitos trifásicos são originados quando as três fases do circuito se conectam, como ilustrado na Figura 2.1 para um curto circuito franco ao potencial de terra. Figura 2.1 – Curto-circuito trifásico nos terminais de um GS. A análise desse tipo de falta pode ser realizada simplesmente através de seu diagrama unifilar, uma vez que sob esta condição o modulo das correntes que circulam pelas fases são iguais e o sistema elétrico permanece equilibrado. É esperado que sob a condição de curto-circuito, as correntes sejam significativamente superiores que as correntes de carga, o que valida à aproximação do sistema elétrico por um circuito linear para solução de tensões e correntes. A corrente de curto-circuito trifásico é apresentada na Equação 2.1. Valendo-se do teorema da superposição, as tensões ao longo do sistema são obtidas da soma da tensão pré- 8 falta com a variação da tensão causada pela corrente de curto. = onde é a tensão na fase a e (2.1) a impedância do GS. Equacionamento de curtos-circuitos não simétricos O acoplamento entre as fases em SEEs resulta em circuitos de difícil solução no domínio de fase, para a condição de desbalanço de corrente entre as fases, apresentada durante curtos-circuitos assimétricos. A utilização do método das componentes simétricas elimina tal acoplamento e permite a solução de curtos não simétricos de forma análoga a curtos-circuitos simétricos. Tal método é baseado na decomposição dos n fasores não equilibrados em n sistemas equilibrados de fasores (FORTESCUE, 1918). Aplicado aos SEEs em condição de desequilíbrio, este método origina as seguintes grandezas no domínio de sequência1: • Componente de sequência positiva: Sistema trifásico equilibrado de grandezas com a mesma sequência de fase (abc) do sistema original; • Componente de sequência negativa: Sistema trifásico equilibrado de grandezas com a sequência de fase inversa (acb) àquela do sistema original; • Componente de sequência zero: Sistema de três grandezas monofásicas que são iguais em módulo e em fase. A Figura 2.2 ilustra a decomposição de um grupo de grandezas desequilibradas no domínio de fase em um sistema de grandezas equilibradas no domínio de sequência: Figura 2.2 – Componentes de sequência da tensão de um sistema trifásico desequilibrado. Tal decomposição pode ser realizada pela operação apresentada na Equação 2.2, 1 Tal transformação é puramente matemática. De fato as grandezas existem no domínio do tempo, e as representações no domínio de fase ou de sequência apenas simplificam os cálculos. 9 ilustrada para o conjunto de tensões desequilibradas 1 = 1 1 onde = 1 1 , ,e . (2.2) . As grandezas no domínio de sequência podem ser obtidas pela operação inversa, Equação 2.3: = 1 1 1 3 1 1 1 (2.3) A aplicação do método das componentes simétricas às relações de grandezas em equipamentos dos SEE resulta em modelos de impedâncias no domínio de sequência para cada classe de equipamento, que permite construir redes de sequência aplicáveis à solução de curtos circuitos não simétricos. As representações de todos os elementos podem ser encontradas em (GRAINGER, 1996). Enfatiza-se especialmente que as características de conexão de transformadores alteram significativamente a distribuição das correntes durante curtos assimétricos, de modo que devem ser cuidadosamente analisadas. Curtos-circuitos Monofásicos Estatisticamente, curtos-circuitos monofásicos são os mais frequentes em sistemas de energia elétrica (GRAINGER, 1996). A Figura 2.3 apresenta a característica das conexões elétricas para um curto-circuito monofásico nos terminais do GS. 10 Figura 2.3 – Curto-circuito monofásico nos terminais de um GS. As condições de contorno para tal classe de curto-circuito são: Va = 0; e Ib=Ic=0. Decompondo essas grandezas no domínio de sequência resulta na Equação 2.4. 1 1 = 1 3 1 1 1 0 0 (2.4) Os circuitos de sequência se conectam em série, assim como ilustrado na Figura 2.4. Figura 2.4 – Circuito equivalente para uma falta monofásica. A partir do circuito da Figura 2.3 e da Equação 2.4, verifica-se que a corrente de falta, pode ser determinada pela Equação 2.5: = + 3 + +3 " Como os três circuitos de sequência se conectam em série, as correntes (2.5) , e são iguais, no entanto a corrente de falta é a soma dessas três correntes no ponto de falta, motivo pelo qual é incluído o fator multiplicativo ‘3’ no numerador da Equação 2.5. 11 Curtos-circuitos Bifásicos Os curtos-circuitos bifásicos ocorrem quando duas fases se conectam, de forma exclusiva, de modo que não há correntes de sequência zero na corrente de falta. A Figura 2.5 ilustra as conexões de tal classe de falta: Figura 2.5 – Curto-circuito bifásico nos terminais do GS. O curto-circuito bifásico nos terminais do GS possui como condições de contorno: Ia = 0, Vb = Vc e Ib = - Ic e apresenta as formulações matriciais das Equações 2.6 e 2.7. = 1 1 1 3 1 = 1 1 1 3 1 1 1 1 1 0 − Por decomposição de tais grandezas no domínio de sequência resulta que (2.6) (2.7) = , de maneira que os circuitos de sequência positiva e negativa se conectam em anti-paralelo como ilustrado na Figura 2.6.: 12 Figura 2.6 – Circuito equivalente de sequência para falta bifásica nos terminais do GS. Curtos-circuitos bifásicos a terra O curto-circuito bifásico corresponde à condição onde duas fases se conectam ao potencial de terra, Figura 2.7. Figura 2.7 – Curto-circuito bifásico a terra nos terminais do GS. As condições de contorno do curto bifásico à terra no terminal do GS são: Ia=0 e Vb=Vc=0, e a relação matricial correspondente a da Equação 2.8. 1 1 = 1 3 1 1 1 0 0 Decompondo essas grandezas no domínio de sequência resulta que Va/3 e + + (2.8) = = = = 0, de onde se verifica que para essa classe de curto-circuito a rede de sequência positiva se conecta em série com o paralelo das redes de sequência zero e 13 negativa, tal como ilustrado na Figura 2.8. Figura 2.8 – Circuito equivalente para uma falta bifásica a terra nos terminais do GS. No contexto da realização deste trabalho é providencial analisar o efeito da proximidade da falha de geradores síncronos, como segue. Efeito da proximidade da falha ao gerador síncrono Em máquinas síncronas, o fluxo através de seu entreferro varia desde o instante em que ocorre o curto-circuito até o regime permanente, devido ao decaimento das correntes nos enrolamentos amortecedores e do acoplamento entre o circuito de campo e os circuitos do seu estator. Esse fenômeno é modelado por considerar reatâncias diferentes para cada período, definidos cronologicamente como, subtransitório, transitório e de regime permanente, e são representados em análises de sistemas elétricos respectivamente por. X’’d, X’d e Xd, tal que X’’d < X’d < Xd (GRAINGER, 1996). Para faltas trifásicas nos terminais do GS a excursão temporal da corrente de falta é completamente descrita pela Equação 2.9. Onde: 3 4 = $ % & '()* + + − ,- − .$ % & '(+ − ,- /01 2 : tensão interna máxima do gerador, ou tensão pré-falta na barra de falta; : impedância entre a tensão interna do gerador e a falta; 5: componente resistiva da impedância; L: indutância do circuito; + : ângulo da tensão interna com relação à referência; e (2.9) 14 ,: ângulo da impedância Z. Percebe-se da Equação 2.9 que a corrente de falta possui duas componentes: a primeira exponencial e a segunda senoidal, que resulta na característica assimétrica com relação ao eixo das abscissas, ilustrada na Figura 2.9. Figura 2.9 – Resposta no tempo da corrente de falta em um circuito. Este fenômeno é relevante ao passo que corresponde à elevação da corrente de falta nos primeiros ciclos de sua ocorrência. Tal efeito é avaliado a partir da modelagem detalhada do GS ou o representado por possuir a impedância do período de interesse. 2.2 Estudo de curto-circuito para um Sistema de Distribuição com Geração Distribuída Esta seção apresenta os resultados do estudo de curto-circuito do Sistema de Distribuição adotado neste trabalho, e é fundamentado na compatibilização entre a solução do método clássico, onde é empregada a representação fasorial unifilar de grandezas e a modelagem linear da rede, e a simulação com representação trifásica detalhada. Descrição da rede de distribuição O sistema utilizado para estudo de curto-circuito é apresentado em (ABREU, 2005). Tal sistema consiste em parte da rede de distribuição instalada no interior do Estado de São Paulo, ilustrada Figura 2.9. 15 2.9 – Sistema de Distribuição Teste para cálculo de curtos-circuitos. Os dados de rede de tal sistema estão apresentados no Anexo A. Salienta-se que a conexão do transformador ligado à Barra de conexão da subestação de subtransmissão com a rede de distribuição (6 7899 :; − 6) não permite a passagem de correntes de sequência zero, e reduz a corrente de falta para as faltas monofásicas e bifásicas à terra. Estudo de Curto-Circuito pelo Método Clássico O método tradicional na solução de curtos-circuitos emprega numerosas simplificações na representação da rede (dos SANTOS, 2008): Todas as barras com tensão pré-falta igual a 1 pu; Desconsideração de cargas passivas do sistema; Desconsideração de capacitâncias das linhas de transmissão; Desconsideração de bancos de capacitores e reatores em derivação; Transformadores operando com derivação nominal; e Impedância da rede de sequência negativa idêntica à da rede de sequência positiva. 16 O estudo de curtos-circuitos no método clássico foi realizado no aplicativo Matlab®. Estudo de Curto-Circuito pelo Método Trifásico Detalhado Neste caso não são realizadas simplificações significativas na rede, considerando que todas as dinâmicas de relevância, eletromecânicas ou eletromagnéticas são representadas por modelos trifásicos detalhados, e resolvidos pela integração das equações diferenciais correspondentes. Desta forma, foi empregado o aplicativo Alternative Transients Program (ATP) na realização do estudo. Salienta-se que o ATP apresenta como solução as excursões temporais instantâneas, de forma que o valor comparado deste método com o método clássico é o valor eficaz de regime permanente. Resultados obtidos As Tabelas 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4 apresentam os resultados obtidos para faltas aplicadas nos pontos do sistema de distribuição considerados de maior importância. A solução apresentada pelo método clássico é chamada de caso-base e os valores percentuais entre parênteses obtidos dos demais métodos de solução correspondem à variação percentual com relação ao caso base. Tabela 2.1 – Comparação das correntes de curto-circuito If para faltas monofásicas. Faltas Monofásicas Nó If MatlabTM com condições iniciais flat [A] 292 701 910 803 810 601 2544 2408 796 3673 1325 3909 If MatlabTM com condições iniciais do fluxo de potência [A] 2564 (0,8 %) 2425 (0,7 %) 790 (-0,75 %) 3722 (1,3 %) 1332 (0,52 %) 3979 (1,8 %) If ATP[A] 2616 (2,8 %) 2568 (6,6 %) 1030 (29 %) 3502 (-4,6 %) 1469 (10,8 %) 4567 (16 %) Verifica-se da Tabela 2.1 que a máxima diferença percentual de correntes desde a aproximação da tensão em todas as barras por 1 p.u. até a utilização das tensões obtidas da solução do fluxo de potência é da ordem de 2 %, considerada, portanto, não significativa. Esse 17 resultado pode ser estendido aos obtidos para outras classes de curtos-circuitos. A máxima diferença entre as correntes do caso base com relação às correntes obtidas a partir da representação detalhada é da ordem de 29%, considerada significativa. Tal diferença é originada da representação das cargas e dos reatores, aspecto que evidencia que em sistemas de distribuição, tal como o avaliado, sua modelagem pode alterar significativamente os resultados do estudo. A Tabela 2.2 apresenta a comparação das diferentes soluções para curtos-circuitos bifásicos a terra no sistema avaliado, onde se verifica que a máxima diferença entre a representação da tensão obtida a partir da solução do fluxo de potência é da ordem de 1,5% e da solução considerando a representação detalhada é da ordem de 17%. Tabela 2.2 – Comparação das correntes de curto-circuito para faltas bifásicas a terra. Faltas Bifásicas a terra Nó 292 701 910 803 810 601 If MatlabTM com condições iniciais flat [A] 1523 1455 591 3840 864 6201 If MatlabTM com condições iniciais do fluxo de potência [A] 1535 (0,8 %) 1466 (0,8 %) 585 (-1,02 %) 3896 (1,5 %) 869 (0,6 %) 6307 (0,2 %) If ATP[A] 1628 (6,8 %) 1572 (8 %) 692 (17 %) 4178 (8,8 %) 950 (10 %) 6378 (2,8 %) A Tabela 2.3 apresenta a comparação das diferentes soluções para curtos-circuitos bifásicos no sistema avaliado, onde se verifica que a máxima diferença entre a representação da tensão obtida a partir da solução do fluxo de potência é da ordem de 1,7 % e da solução considerando a representação detalhada é da ordem de 35 %. Verifica-se que para faltas bifásicas próximas ao Nó 292 apresentam correntes de curto-circuito maiores que as faltas monofásicas e bifásicas a terra. Isto decorre porque as faltas bifásicas não apresentam ligação à terra, e, portanto, não apresentam correntes de sequência zero que são limitas pelo transformador. A maior diferença percentual de correntes de falta acontece para as faltas aplicadas no Nó 910 (35 %) e decorre de seu afastamento dos geradores, que resulta em correntes de curtocircuito menores onde, as correntes de carga constituem parcela considerável da corrente de falta. 18 Tabela 2.3 – Comparação das correntes de curto-circuito para faltas bifásicas. Faltas Bifásicas If MatlabTM com condições iniciais flat [A] 6459 5892 1035 3021 2452 2471 Nó 292 701 910 803 810 601 If MatlabTM com condições iniciais do fluxo de potência [A] 6510 (0,8 %) 5933 (0,7 %) 1029 (-0,6 %) 3058 (1,23 %) 2466 (0,6 %) 2514 (1,7 %) If ATP[A] 7110 (10 %) 6682 (13 %) 1400 (35 %) 3773 (24 %) 2877 (17 %) 2772 (12 %) A Tabela 2.4 apresenta a comparação das diferentes soluções para curtos-circuitos trifásicos no sistema avaliado, onde se verifica que a máxima diferença entre a representação da tensão obtida a partir da solução do fluxo de potência é da ordem de 2 % e da solução considerando a representação detalhada é da ordem de 21 %. Tabela 2.4 – Comparação das correntes de curto-circuito para faltas trifásicas. Faltas Trifásicas Nó 292 701 910 803 810 601 If MatlabTM com condições iniciais flat [A] 6790 6221 1213 5900 2885 7981 If MatlabTM com condições iniciais do fluxo de potência [A] 6815 (0.4%) 6326 (1.6%) 1188 (-2%) 5924 (0.4%) 2907 (0.76%) 8044 (0.8%) If ATP[A] 7413 (9%) 6641 (6.7%) 1474 (21%) 6500 (10%) 3331(15%) 8566 (7%) Por fim, a partir da comparação direta entre as Tabelas, se verifica que as faltas trifásicas resultaram nas maiores correntes de curto-circuito. 2.3 Considerações Finais Foram apresentadas nesse capítulo a fundamentação para estudos de curtos-circuitos em sistemas de energia elétrica e as aplicações de tais conceitos sobre o sistema de distribuição sob análise. O estudo realizado é baseado na comparação da solução apresentada pelo método clássico, onde a rede é aproximada pelo modelo linear de rede e são desconsiderados todos os 19 elementos em derivação (carga, capacitores e reatores), derivações de transformadores, e aspectos da dinâmica eletromagnética de geradores. Foi verificada diferença máxima na solução de todos os curtos-circuitos de 35% entre as correntes obtidas dos diferentes métodos de modelagem e solução, de forma que conclui-se que a modelagem clássica pode resultar em aproximações não válidas na solução da corrente de curto-circuito em sistemas de distribuição, corroborando para a afirmação de que a modelagem trifásica detalhada é relevante para avaliação de faltas em sistemas de distribuição contendo geradores. No capítulo posterior são apresentados os principais dispositivos utilizados nos sistemas de proteção de SDs e descritos, de forma sucinta, os principais conceitos aplicados ao ajuste e coordenação entre tais dispositivos. 20 3. PROTEÇÃO CLÁSSICA DE SISTEMAS DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA Neste capítulo o trabalho é contextualizado dentro da filosofia atual de proteção de SDEE. São apresentados os principais equipamentos utilizados na proteção de Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica, tais como os elos fusíveis, seccionalizadores, religadores e os disjuntores. Em complemento, estão apresentados os principais aspectos da coordenação destes elementos. 3.1 Introdução a proteção de Sistemas de Distribuição de Energia Elétrica As empresas de distribuição de energia elétrica têm como objetivo principal fornecer energia elétrica de qualidade para os consumidores e buscar o mínimo custo operacional. No intuito de quantificar e monitorar o desempenho das concessionárias e de suas respectivas redes de distribuição, a ANEEL adota indicadores de continuidade de serviço, estabelecidos na Resolução no. 24, de 27 de janeiro de 2000. A ANEEL é responsável, adicionalmente, por regular, fiscalizar e sancionar quanto necessário, a atuação das concessionárias. Baseado nesses indicadores, interrupções no fornecimento de energia elétrica podem originar multas para as concessionárias. Tais sanções são necessárias, pois descontinuidades de fornecimento causam impacto direto sobre os consumidores, em especial indústrias, que podem apresentar significativos lucros cessantes nessas condições, e processos críticos como respiradores de hospitais. As interrupções de energia elétrica podem ser causadas por numerosos fatores, como tempestades, curtos-circuitos provocados por árvores ou animais e mau funcionamento de equipamentos. É obrigação da empresa concessionária desligar linhas ou equipamentos tão logo aconteçam distúrbios, assim como realizar a imediata recomposição das instalações após a extinção da anormalidade. Além das medidas preventivas empregadas pelas concessionárias no intuito de diminuir a ocorrência de falhas, as redes de distribuição dispõem de sistemas de proteção que são constituídos de dispositivos responsáveis por isolar falhas e impedir sua propagação. Conhecidamente, o sistema de proteção é projetado de forma a atender propriedades básicas de confiabilidade, seletividade, velocidade e sensibilidade (CONCEIÇÃO, 2012). 21 A seletividade consiste de o dispositivo de proteção mais próximo do defeito desconectar a parte defeituosa do sistema. Nesse intuito, o sistema de proteção deverá ser capaz de distinguir se a ocorrência é interna ou externa à sua zona de proteção. A velocidade pode ser definida como o tempo mínimo de operação para o dispositivo de proteção atuar, a fim de reduzir ou eliminar as perturbações do sistema. A confiabilidade é a propriedade do elemento de proteção de atender com segurança e exatidão as funções que lhe foram atribuídas. Por fim, a sensibilidade é a qualidade que o dispositivo deve possuir para reconhecer com precisão a faixa de valores indicados para operação ou não operação. O dimensionamento correto dos dispositivos de proteção de determinado SDEE implica no seguinte conjunto de benefícios (CONCEIÇÃO, 2012): - Redução de danos aos materiais e equipamentos, diretamente associados à redução de custos de manutenção e gastos com transportes e mão de obra; - Aumento da capacidade de realizar manobra, reduções do número de desligamentos e do tempo de interrupção, que, sob o contexto geral da performance dos SEE, corresponde ao aumento da sua segurança operativa. - Concomitante aumento de renda, por simultânea redução da perda de faturamento durante interrupções, maior qualidade de energia, e redução de multas; e - Melhoria da imagem social da empresa. Nas subseções subsequentes, os dispositivos de proteção empregados em SDEE são detalhados, assim como apresentado os ajustes recomendáveis. 3.2 Dispositivos empregados na Proteção de SDEE 3.2.1 Chave e elo fusível A proteção dos sistemas de SDEE é baseada na sensibilização por sobrecorrente, por ser suficiente em sistemas radiais e incomparavelmente mais barata que dispositivos como a proteção de distância. Este é o motivo pelo qual a chave fusível é amplamente utilizada na proteção contra sobrecorrentes. Sua operação consiste basicamente na fusão do elo de conexão entre seus terminais ou elo fusível, quando percorrido por corrente de magnitude superior a nominal, por 22 tempo igual ou superior que respeite sua característica tempo-corrente (PARADELO JR., 2006). Os fusíveis são construídos sob as seguintes classes (CONCEIÇÃO, 2012): - Tipo “H”, denominados “fusíveis de alto surto”, e seu tempo de atuação permite suportar correntes elevadas por tempo suficiente de forma a acomodar correntes de in rush. Assim, são empregados na proteção de transformadores de distribuição, e possuem correntes nominais típicas de 0,5, 1, 2, 3, e 5 A; - Tipo “K”, que apresentam rápida atuação e são empregados principalmente na proteção de alimentadores de distribuição. É comum subclassificá-los em elos preferenciais, que possuem corrente nominal de 6, 10, 15, 25, 30, 40, 65, 100, 140 e 200 A, e elos não preferenciais que possuem correntes nominais de 8, 12, 20, 30, 50 e 80 A; e - Tipo “T”, que apresentam atuação lenta e são utilizados na proteção de alimentadores, de forma coordenada com os de tipo “K”. Possuem as mesmas correntes nominais que elos tipo “K”. Enfoque especial é dado à proteção de transformadores por elos fusíveis. Em tal ocasião, o fusível deve satisfazer simultaneamente os seguintes requisitos: 1. Atuar para curtos-circuitos no transformador ou na rede secundária; 2. Não atuar para sobrecargas do transformador em até duas vezes a potência nominal do transformador em regime permanente; 3. Fundir em tempo inferior a 17 segundos para correntes de 2,5 a 3 vezes a corrente nominal do transformador; 4. Não fundir para correntes de magnetização dos transformadores, considerada desde 8 a 12 vezes sua corrente nominal; e 5. Devem estar coordenados com as proteções a montantes e a jusante do transformador. O dimensionamento de elos fusíveis para proteção de alimentadores considera a corrente de atuação, coordenação e seletividade. Em SDEEs radiais, o elo fusível eletricamente mais próximo da falha e de retaguarda são denominados elo protetor (proteção principal, que deve atuar primeiro), e elo protegido (proteção de retaguarda), respectivamente. De acordo com (CONCEIÇÃO, 2012), o dimensionamento de elos fusíveis deve considerar: 23 - O crescimento anual da carga na determinação do fator de segurança k apropriado. Na ausência da taxa de crescimento da carga, adota-se k=1,5; - corrente nominal do elo fusível igual ou superior a 150% da corrente de carga máxima prevista no seu ponto de instalação da chave fusível. Concomitantemente, a corrente nominal da chave fusível deve ser igual à no mínimo 150% da corrente nominal do elo fusível; - a corrente nominal do elo fusível igual ou inferior a 25% da corrente de curtocircuito monofásico mínimo no final do trecho protegido; e - determinações de correntes de curto-circuito fase-terra devem considerar resistência de falta igual a 40 Ω (MAMEDE, 2011). 3.2.2 – Religadores O religador é amplamente empregado para proteção de sistemas aéreos de distribuição primária, e pode realizar tanto a abertura do alimentador por ajuste de corrente a partir de características tempo-corrente, quanto seu fechamento automático, considerando certa sequência de operações, também ajustáveis. O religador permite a eliminação de defeitos temporários, que, segundo (GIGUER, 1988) correspondem desde 70% a 86% das falhas em SDEE. Tal aspecto evita o deslocamento da equipe de manutenção e a verificação do perímetro do alimentador em falta e reduz significativamente os períodos de interrupção de fornecimento. O princípio de eliminação de falta do religador associa uma curva de tempo inverso proporcional a amplitude da corrente como sensor de falta, ajustável para cada atuação. É comum adotar curvas mais inversas nas primeiras atuações de forma a evitar a fusão do elo em tais atuações. O religamento do circuito ocorre após temporização ajustável de forma independente, onde é comum adotar duas primeiras longas e uma ou as duas últimas curtas. 3.2.3 – Seccionalizadores O seccionalizador é o dispositivo que tem a função de seccionar o trecho da rede de 24 distribuição sob falha, automaticamente, sem sofrer rompimento permanente. Substitui o elo fusível, e atua quando houver defeito situado a sua jusante, previamente interrompido pelo religador “N-1” vezes, onde N é a quantidade permitida ao religador interromper o defeito. Após sua operação, o seccionalizador permanece aberto e pode ser fechado manualmente (PARADELO JR., 2006). O ajuste indicado para seccionalizadores é igual a 80% do ajuste mínimo do dispositivo de proteção de retaguarda (CONCEIÇÃO, 2012). Devido o seu alto custo, não são comumente empregados em SDEE do Brasil. Na sua ausência, as empresas adotam estratégias baseadas em chaves que são operadas manualmente, de modo que alimentadores vizinhos possam alimentar cargas do alimentador defeituoso. 3.2.4 – Disjuntores O disjuntor é o dispositivo cuja finalidade é interromper a corrente de determinado circuito elétrico, assim como, desenergizá-lo ou restabelecer sua carga. Disjuntores devem ser capazes de seccionar circuitos tanto sob carga nominal quanto em curtos-circuitos e sobrecargas (GIGUER, 1988). Seu acionamento pode ser automático a partir de elementos de proteção e controle, ou manual em manobras coordenadas. 3.3 – Coordenação e Seletividade dos Dispositivos de Proteção O princípio fundamental dos estudos de coordenação e seletividade em redes de distribuição é a superposição das curvas características tempo-corrente dos elementos de proteção, a partir de onde se define as temporizações e ajustes mais adequados para cada equipamento. As subseções seguintes descrevem, de forma simplificada, o ajuste para coordenação de determinados elementos. 3.3.1 – Coordenação entre Elos Fusíveis Inicialmente, o elo protetor, que interrompe a falta, deve possuir capacidade suficiente para suportar a corrente de curto circuito à que será submetido. Em seguida, o elo fusível 25 protegido, à montante do protetor, deve coordenar com o elo fusível protetor para o maior valor da corrente de curto-circuito no ponto de instalação do elo protetor (PARADELO JR., 2006). A seletividade entre tais elos em série é garantida se o tempo de interrupção do elo fusível protetor for no máximo 75% do tempo mínimo de fusão do elo protegido (GIGUER, 1988). Os fabricantes de elos fusíveis fornecem arranjos informando o máximo valor de corrente de falta, para a qual haverá coordenação entre elos protegido e protetor. A Tabela 3.1 apresenta o arranjo de elos fusíveis do tipo “K”. A título de exemplo, de acordo coma Tabela 3.1, a máxima corrente de falta para o qual o elo protetor de 6K está coordenado com o elo protegido de 10K é igual a 190A (GIGUER, 1988). Tabela 3.1 – Coordenação entre elos fusíveis do tipo “K”. Inominal do Elo protetor [A] 6K 10K 15K 20K 25K 40K 10K 190,0 - Corrente nominal do Elo fusível protegido [A] 15K 20K 25K 40K 65K 510,0 650,0 840,0 1340 2200 300,0 540,0 840,0 1340 2200 430,0 1340 2200 1100 2200 660,0 2200 1100 3.3.2 - Coordenação entre religador, seccionalizador e elo fusível A hierarquia da proteção em SDEE é tal que na ocorrência de falhas temporárias no trecho onde o elo fusível é proteção primária, o religador irá operar nos ciclos rápidos sem que ocorra a fusão do elo. Contudo, se a falta persistir durante os ciclos rápidos, o elo fusível deverá fundir para isolar o trecho sob defeito, de modo que o alimentador mantenha a continuidade de serviço nos demais alimentadores. A garantia da coordenação entre religador, seccionalizador e elo fusível é garantida se forem observados os seguintes critérios (PARADELO JR., 2006): - corrente mínima de atuação das unidades de fase terra do seccionalizador deve ser igual a 80% da corrente mínima de ajuste do religador; 26 - religador deve ser ajustado para detectar a corrente de curto-circuito entre fases mínimas e entre fase e terra mínima no final do trecho em que o seccionalizador atua como equipamento de proteção primária; - corrente de ajuste do seccionalizador deve ser menor ou igual a corrente de curto circuito mínimo em sua zona de proteção primária; - ajuste de contagens do seccionalizador igual ao ciclos de religamentos ajustado no religador (que se encontra a montante) menos um; - é recomendável que o religador seja ajustado com 2 operações lentas e 1 ou 2 rápidas, e o seccionalizador para registrar até 2 ou 3 contagens; - ajuste da unidade de sobrecorrente de fase do religador menor que a corrente de curtocircuito bifásica, dividida por fator de segurança entre 1,5 e 2; - ajuste da unidade de sobrecorrente de neutro menor que a corrente de curto-circuito monofásica mínima no qual o religador é proteção primária, e maior que a corrente de retorno para o neutro, no caso do sistema operar de maneira desequilibrada (corrente em regime permanente no neutro não nula); - tempo de interrupção do elo fusível - para todos os valores possíveis da corrente de curto-circuito - menor que o tempo mínimo de abertura do religador na curva lenta, que garante que o elo possa fundir e desligue o trecho defeituoso. A Figura 3.1 ilustra a coordenação entre religador e fusível. Evidencia-se, da Figura 3.1, que a coordenação é garantida no intervalo de corrente “a”. 27 Figura 3.1 – Curvas de coordenação entre religador e fusível. Adaptado de (CONCEIÇÃO, 2012). 3.4 Considerações Finais Neste capítulo foi descrita a visão geral da proteção de sistemas de distribuição. Foram sucintamente descritos a topologias dos sistemas de distribuição, elos fusíveis, seccionalizadores, disjuntores e religadores. Foram também apresentados, conceitos acerca da coordenação e seletividade de dispositivos, que podem ser complementados pelo trabalho de (GIGUER, 1988). No capítulo 4 é abordada a proteção de Geradores Síncronos, que se aplica a análise realizada neste trabalho. 28 4. PROTEÇÃO DE GERADORES SÍNCRONOS DISTRIBUÍDOS Este capítulo apresenta as funções de proteção que compõem a proteção dos elementos típicos que formam os Sistemas de Geração Distribuída (SGD), desde o gerador até o ponto de conexão do autoprodutor com a concessionária. Estão descritas as perturbações as quais tais sistemas estão sujeitos, sejam elas internas ou externas, e associadas perturbações às funções de proteção que garantem a integridade do SGD em cada caso. 4.1 Sistemas de Proteção em Sistemas de Geração Distribuída Neste trabalho o termo Sistema de Geração Distribuída (SGD) é utilizado para os elementos que compõe desde o gerador até o ponto de conexão dos equipamentos do autoprodutor com a concessionária distribuidora de energia. É relevante para especificação, ajuste e coordenação da proteção, o detalhamento dos elementos de potência e de manobra, compostos pelo gerador elétrico, transformador elevador, linha de distribuição e barramentos das subestações (quando houver), que podem ser tanto para manobra do transformador elevador quanto para manobra no ponto de conexão da linha de distribuição com a linha da concessionária. O diagrama típico dos elementos principais de um SGD, como definido, é apresentado na Figura 4.1. Linha para conexão com a rede G Gerador Transformador Ponto de conexão com a concessionária Figura 4.1 – Diagrama unifilar do SGD. Pela própria complexidade, a maior parte das funções de proteção de um SGD estão associadas aos geradores síncronos. Assim, as perturbações as quais os geradores dos SGDs estão sujeitos e as proteções associadas estão descritas como segue. 29 Perturbações Elétricas no Gerador Síncrono e Proteções Associadas. Os geradores síncronos são compostos de numerosas partes móveis e fixas que interagem entre si, e estão sujeitas a defeitos mecânicos (estruturais, térmicos) e elétricos. As perturbações elétricas compõem a grande maioria desses efeitos, juntamente aos problemas que causam aos geradores, assim como as funções de proteção mais adequadas para sua identificação estão sintetizadas na Tabela 4.1. A Figura 4.2 apresenta as funções de proteção e os sinais que são utilizados em tais funções, para um SGD típico. Figura 4.2 – Funções de proteção associadas ao SGD. Via de regra, em geradores de médio e pequeno porte (até 30 MW), atualmente, esse conjunto de funções de proteção é incorporada num único relé digital que é alimentado através de transformadores de potencial e de corrente, sensores de temperatura entre outros, e que são conectados em posições específicas para utilização específica de cada função de proteção. Tabela 4.1 – Principais perturbações nos geradores elétricos. Evento Principais Efeitos Curto circuito monofásico nos terminais Curto circuito bifásico e trifásico nos terminais Sobreaquecimento dos enrolamentos do estator Sobreaquecimento dos enrolamentos do estator Sobreaquecimento dos enrolamentos do estator Sobreaquecimento dos enrolamentos do rotor Sobrevelocidade, sobreaquecimento dos enrolamentos e perda de estabilidade Danos a turbina Curto circuito entre espiras Curto circuito bifásico à terra e no enrolamento (interno) Perda de excitação (abertura do campo) Motorização Função de Proteção Indicada Falha Estator-Terra (64) Diferencial de fase (87F) Diferencial Split Phase (87SP) Diferencial de neutro ou de terra (87N ou 87G) Perda de Excitação (40) Direcional de Potência (32) 30 Desequilíbrio (corrente de sequência negativa) Vibrações e aquecimento nos enrolamentos Sequência negativa (46) Desequilíbrio de tensão Perturbações no Sistema Elétrico Desbalanço de tensão (47) Elevação não controlável de tensão associada a colapso de frequência Perturbações no Sistema Elétrico Proteção Volts/Hertz (24) Manobra de sincronização Torção do eixo de acoplamento entre gerador e turbina Proteção de cheque de sincronismo (25) Perturbações no Sistema Elétrico Proteção de subtensão (27) Operação em regime acima do nominal Sobrecarga (imagem) térmica (49) Sobretensão não controlável Perturbações no Sistema Elétrico Sobretensão de fase (59) Perda de sincronismo Perturbações no Sistema Elétrico Out of step (78) Perturbações no Sistema Elétrico Proteção de frequência (81) Perturbações no Sistema Elétrico Proteção de mínima impedância (21) Perturbações no sistema elétrico Salto de vetor e df/dt Redução não controlável de tensão Elevação não controlável de temperatura Sobrefrequência ou subfrequência Curto-circuito a jusante do gerador Evitar ilhamento O dano nos geradores elétricos para cada tipo de falta depende da sua potência nominal. As normas vigentes estabelecem a complexidade do Sistema de Proteção (SP) necessária para cada faixa de potência, tal como apresentado na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Conjunto de proteções indicadas de acordo com a potência do gerador. Tipo de proteção indicada <1 Regime nominal MW ≥1 ≥ 10 > 100 Diferencial - - X X Terra restrita - - X X Falta entre espiras do estator - - - X Sobrecorrente com restrição por tensão X X - - Sobrecarga X X X X Sobretemperatura (detetor) - X X X Corrente de sequência negativa - - X X Perda de carga - - - X Antimotorização X X X X Perda de campo - - X X Perda de sincronismo - - - X Sobrevelocidade X X X X Sobretensão X X X X 31 Falta à terra no rotor - - X X Perda de campo - - X X Indicador de vibração - - X X Temperatura do mancal - - X X FONTE: Caminha, (1999). Juntamente com os geradores, os transformadores elevadores compõem o conjunto de equipamentos de geração e tem seu sistema de proteção descrito a seguir. Perturbações Elétricas no Transformador Elevador e Proteções Associadas Os transformadores elétricos têm a função de transformar tensões e correntes de maneira a adequar seu uso à função que se destina em cada etapa dos sistemas de energia, tais como geração, transmissão e distribuição. De acordo com a C37.91-2000 IEEE “Guide for Protective Relay Applications to Power Transformers” os transformadores estão sujeitos, principalmente, as seguintes perturbações: • Ciclo térmico: mudanças no carregamento do transformador podem causar desgastes nos materiais de isolação; • Vibração: causada pela mudança a cada meio ciclo do fluxo magnético no núcleo do transformador. A vibração pode, também, provocar desgastes na isolação; • Correntes de Foucault: podem ocasionar aquecimento localizado e ainda podem provocar a circulação de correntes elevadas no núcleo; e • Correntes de falta: podem danificar a isolação e as estruturas mecânicas dos transformadores. As principais proteções utilizadas na proteção elétrica de transformadores são a Proteção Diferencial (87), a Proteção de Sobrecorrente (50/51) de fase e de neutro e a proteção de Buchholz, que é previamente ajustada pelo fabricante. As perturbações às quais os transformadores estão sujeitas e as proteções recomendadas estão apresentadas na Tabela 4.3. 32 Tabela 4.3– Principais perturbações nos transformadores. Evento Principais Efeitos Curto circuito monofásico e bifásico à terra nos terminais Curto circuito bifásico e trifásico nos terminais Sobreaquecimento dos enrolamentos Sobreaquecimento dos enrolamentos Sobreaquecimento dos enrolamentos Falha entre espiras Função de Proteção Indicada Sobrecorrente de Neutro (50/51N), Bucholz (63) Sobrecorrente de fase (50/51), Bucholz (63) Diferencial (87), Bucholz (63) Por fim, compõem os sistemas de geração distribuída os alimentadores e, eventualmente, barramentos para medição de faturamento e manobras. A proteção de alimentadores de subtransmissão e distribuição de energia elétrica é constituída basicamente por Relés de Sobrecorrente e os demais elementos apresentados no Capítulo 3. A proteção de barramentos não será abordada neste trabalho. 4.2 Descrição e ajuste recomendado das Funções de Proteção de Geradores Síncronos Nesta subseção são detalhadas as filosofias de cada função de proteção e o ajuste recomendado. Transformadores de tensão e de corrente Os transformadores de tensão e de corrente são redutores de grandezas para utilização em proteções, controladores e medidores de faturamento. O Transformador de Potencial (TP) geralmente é construído como uma coluna capacitiva que divide as tensões desde a tensão do condutor até a terra, com relação típica que garanta 115 V na baixa tensão. Pode, em casos eventuais, ser construído como um transformador com enrolamentos primário e secundário quando for mais econômico. O Transformador de Corrente (TC) geralmente é construído por um enrolamento que involucra o condutor principal do circuito protegido, com relação de transformação típica que garante 5A no secundário para corrente máxima de operação do primário em regime. Em especial deve-se atentar a saturação do TC a qual pode comprometer o sistema de proteção associado. 33 Proteção Diferencial (87) A função proteção diferencial (87) compara as correntes dos extremos do circuito elétrico protegido, e atua quando houver diferença entre elas. A Figura 4.3 ilustra um esquema típico da proteção diferencial utilizada na proteção dos enrolamentos da armadura do GS. Figura 4.3 – Esquema de ligação da Proteção Diferencial (87). A proteção diferencial atua de acordo com a curva conhecida como característica. A corrente para atuação instantânea, ponto inicial da característica é chamada pick-up, enquanto a inclinação da curva é chamada de scope. A Figura 4.4 apresenta a característica típica mais simples da proteção 87, onde a curva em azul (ajuste) delimita as regiões de atuação e não atuação da função. . Figura 4.4 – Característica de atuação da função de proteção diferencial. 34 Na Figura 4.4 o eixo das ordenadas corresponde ao parâmetro derivado da corrente diferencial, chamado corrente de operação ou corrente diferencial, enquanto no eixo das abscissas corresponde ao parâmetro derivado do carregamento do elemento, denominado corrente de restrição. Verifica-se que quanto maior a corrente de restrição, maior a corrente diferencial é necessária para que a função atue. Essa característica é assim implementada para evitar atuações incorretas devido aos erros de precisão dos elementos envolvidos que aumentam com o carregamento do elemento. Os erros tratáveis são erros de relação dos TCs de proteção (10% para cada TC), de relação de transformação (2%) e de comutador de derivação sob carga (5%). Os dois últimos erros são aplicáveis à proteção diferencial de transformadores. Segundo (CARRASCO, 2009) o valor típico de ajuste mínimo varia entre 5 e 20% da corrente nominal do equipamento protegido. No caso dos GSs, este tipo de proteção não atua se a impedância de aterramento for considerável. Deve-se atentar que a aplicação da proteção diferencial em transformadores com conexão triângulo-estrela deve ter a fase da corrente de um dos terminais compensada entes de ser comparada pela proteção, como mostra a Figura 4.5. Em todos os transformadores a relação de transformação de corrente entre o lado de baixa e de alta deve ser compensada pela relação dos transformadores de corrente. Certos relés digitais podem executar internamente (através da lógica implementada no relé) tais compensações de defasamento e magnitude das correntes. Figura 4.5 – Proteção Diferencial (87) aplicada ao transformador com ligação triângulo-estrela. Proteção de Sobrecorrente (50,51) A proteção de sobrecorrente garante a proteção contra curto-circuitos, porém depende 35 de sua configuração adequada a cada tipo de aterramento do GS de modo a garantir seu correto funcionamento. Esta função pode ser classificada como segue: • 50: Sobrecorrente de fase instantânea; • 51: Sobrecorrente de fase com tempo inverso ou definido; • 50N: Sobrecorrente de neutro instantânea; • 50G: Sobrecorrente de terra instantânea (residual Ia + Ib+ Ic); • 51N: Sobrecorrente de neutro com tempo inverso ou definido; e • 51G: Sobrecorrente de terra com tempo inverso ou definido; (residual Ia + Ib+ Ic) A principal diferença entre estas funções é de que os elementos de neutro (N) recebem a corrente diretamente do TC tipo janela, enquanto que os elementos residuais (G) operam a partir da soma das correntes de fase, além de que as funções 50/51 empregam a corrente de cada fase. Os dispositivos residuais (G) podem ser utilizados como proteção redundante. As funções de neutro (N) devem ser ajustadas para atuar na corrente de curto-circuito entre a fase e a terra o mais rápido possível. Este tipo de proteção apresenta limitações na presença de uma resistência de aterramento. Neste caso, a função pode não atuar devido à diminuição das correntes de defeito e atuar de maneira incorreta devido às correntes de terceira harmônicas. Para sanar este defeito utiliza-se a proteção 59, conectada a um filtro passa-baixa de modo a não permitir a passagem da terceira harmônica. O filtro é conectado no secundário do Transformador de Potencial (TP) que está alimentando à tensão na impedância de aterramento do elemento. Somente correntes na frequência nominal (60 Hz) são vistas pela proteção 59, de forma que esta proteção possa distinguir somente as tensões geradas pelos defeitos, atuando de maneira eficaz (KINDERMANN, 2008). A proteção de sobrecorrente com tempo inverso (51) é assim chamada porque atua baseada numa curva que garante operação mais rápida quanto maior for à corrente de defeito. A função 50/51é também utilizada para a proteção de linhas, em geral no nível de subtransmissão e distribuição. A seletividade da função 50/51 é realizada com base na temporização dos sistemas de proteção. A filosofia de atuação de tal função exige que o relé mais próximo da falha opere antes que os relés mais distantes, para garantir a seletividade (KINDERMANN, 2005). 36 Desta forma, pode-se separar os Relés de Sobrecorrente, quanto a sua curva tempocorrente, em dois grupos: • Característica de tempo definido: Se a corrente medida for maior que a corrente de ajuste Ip, o relé emite a ordem de abertura do disjuntor, após o atraso de tempo ta definido, para qualquer que seja o valor da corrente; • Característica de tempo inverso: este tipo de relé dispõe de diferentes curvas de atuação, que alteram o tempo de atuação de forma a aumentar a rapidez de acordo com a intensidade da corrente pelo relé. De acordo com a norma IEC 60255-3 e IEEE Std. C37.90-1989 o tempo de operação de relés de sobrecorrente é dado pela Expressão 4.1. * = <. > B ? A −1 @ + C. > (4.1) Onde: t é o tempo de operação do relé, D é o ajuste multiplicador de tempo, I: corrente de falta, Ip: Corrente de ajuste (pick-up), e α, β e L são coeficientes que determinam a inclinação característica do relé. A Tabela 4.3 apresenta as constantes normalizadas pela IEC 255-3 e ANSI, e utilizadas pelos fabricantes. O ajuste das proteções de sobrecorrente nos alimentadores de distribuição é realizado desde o elemento mais próximo da carga até o elemento próximo da subestação de distribuição, considerando a ajuste do primeiro elemento o mais rápido possível (cerca de 150% acima da corrente máxima de carga), elevando o ajuste (pelo dial de tempo e pela corrente de pick-up) para garantir coordenação e seletividade entre as proteções. Tabela 4.3 - Valores de α, β e L para relé de sobrecorrente padrão. Tipo de Curva Norma Normal Inversa Muito Inversa IEC 255-3 Extremamente Inversa Inversamente de Tempo Longo Moderadamente Inversa Inversa ANSI Muito Inversa Extremamente Inversa β 0,14 13,5 80 120 0,0104 5,95 3,88 5,67 α L 0,02 0 1 0 2 0 1 0 0,02 0,0226 2 0,180 2 0,0963 2 0,0352 37 Proteção de Sobrecarga (49) A função de proteção contra sobrecarga (49), também conhecida como proteção de imagem térmica, resguarda o elemento protegido contra sobrecargas de forma indireta, através da informação da corrente do estator do gerador. É mais usual, contudo, monitorar diretamente a temperatura do gerador através de sensores de temperatura (RTD), instalados nos enrolamentos do estator e nos mancais do gerador. Caso o gerador atinja uma temperatura superior a de projeto definida pelo fabricante, a proteção deve atuar. Geralmente, a função 49 emite um alarme quando a temperatura medida for de 95% da temperatura máxima estipulada pelo fabricante, e deve atuar quando for superior a temperatura máxima. Se for necessário usar proteção por imagem térmica, a relação que define a imagem é a da Equação 4.2, onde “t” é o tempo de disparo [s], Te a constante de tempo térmica do gerador [s], Ieq é o valor das correntes de fase [A], k é o fator de sobrecarga contínua, θ a elevação da temperatura atual e ∆T a elevação de temperatura para disparo. (4.2) G 8H − , G * = D8 . E' F K |J − ,7 | A configuração é realizada diretamente em termos da temperatura, onde se adota 95% para emissão de alarme e 100% para desligamento. Parâmetros comumente adotados, quando necessário, são k = 1,05.In e Te = 60 [min] e temperatura ambiente de 40ºC com elevação de 100ºC. Proteção de Sobreexcitação (24) A sobreexcitação é caracterizada pela condição de sobrefluxo magnético nos núcleo do transformador ou do gerador. Esta condição pode ser identificada pela razão entre a tensão de operação e a frequência (V/Hz), e é identificada quando maior que um determinado valor, tipicamente 1,05 p.u. (CARRASCO, 2009). O ajuste desta proteção é realizado de maneira percentual da razão entre a tensão nominal pela frequência nominal (este valor pode estar entre 5 e 20%), com ajuste de tempo 38 definido ou tempo inverso. Caso seja conhecida a curva limite de sobreexcitação do gerador, informada pelo fabricante, é recomendável ajustar a curva de atuação como a réplica da curva limite, porém, deslocada para baixo cerca de 20% (KINDERMANN, 2008). Proteção de Cheque de Sincronismo (25) Para sincronizar um GS ao SEE, o gerador deve ter mesma sequência de fase da rede, o mesmo sentido de rotação do campo girante, a mesma frequência elétrica, o mesmo valor eficaz de tensão e defasamento angular mínimo. A função de cheque de sincronismo (25) monitora as informações do lado do GS e do sistema elétrico, permitindo fechamento do disjuntor quando as condições de sincronismo são atendidas. Proteção contra Motorização (32) A proteção contra motorização é feita pela proteção direcional de potência (32), a qual protege o gerador e a turbina contra a operação motorizada do gerador, evitando danos mecânicos à turbina. Esta proteção pode ser ajustada em 3% a 10% da potência nominal do GS (KINDERMANN, 2008). Para evitar desligamentos incorretos por inversão de potência ativa, o qual pode ocorrer na sincronização do GS ao sistema ou em algum transitório, é recomendado adotar retardo de tempo em sua atuação, geralmente indicado pelo fabricante. Proteção de Subtensão (27) Em geral, o Regulador de Tensão (RT) do GS mantém a tensão terminal do gerador dentro de limites pré-estabelecidos. Todavia, se houver uma sobrecarga severa, perda de uma unidade geradora, falha no RT ou falta no sistema, pode ocorrer uma subtensão proibitiva no barramento terminal do GS. A função de subtensão (27) pode ser ajustada a partir da diferença de 10% da tensão nominal, e ter estágios temporizados, de forma a atuar mais rapidamente durante quedas de tensão de maior intensidade. Tipicamente adotam-se dois níveis de atuação: a) Nível 1: 5 segundos para 90% da tensão nominal; e 39 b) Nível 2: 0,5 segundo para 75% da tensão nominal. Proteção de Sobretensão (59) A função de sobretensão (59) estabelece o limite superior do envelope de tensão de segurança. Tipicamente se ajusta esta função a partir de dois estágios de operação temporizados: a) Nível 1: 5 segundos para 110% da tensão nominal; e b) Nível 2: 0,5 segundo para 130% da tensão nominal. Proteção de Frequência (81) É requisito básico de um Sistema de Energia Elétrica que a frequência seja mantida constante porque subfrequências podem causar desligamentos generalizados nas cargas e máquinas rotativas e sobrefrequências podem causar sobrefluxos e danos mecânicos associados à sobrevelocidades de máquinas rotativas. A proteção de frequência é tipicamente ajustada para atuar em 0,5 segundos se a frequência for menor do que 58 Hz ou maior do que 66 Hz. Proteção de Sobrecorrente de Sequência Negativa (46) Correntes de sequência negativa produzem vibrações e aquecimento em máquinas rotativas, gerando desgaste e risco de danos às máquinas (KINDERMANN, 2008). As normas ANSI C50.13-1977 e IEEE standard C37.102-1995 estabelecem como limite de suportabilidade para correntes de sequência negativa no gerador, dada pela Equação 4.3: ² ∗ * = N (4.3) onde t é o tempo de defeito da corrente de sequência negativa (I2) e K é um valor que depende da dimensão da máquina síncrona. Tal constante varia de 40 para máquinas de pólos salientes a 10 para máquinas de rotor cilíndrico. O valor exato deste parâmetro é fornecido pelo fabricante. O valor da corrente de sequência negativa pode ser determinado pela Equação 4.4: 40 98O8PQ 1 =R ( 3 + + -R (4.4) O ajuste que deve se adotar para a proteção de sobrecorrente de sequência negativa é apresentada na Figura 4.6, onde se ilustra a margem entre a atuação e a região que implica em danos para o GS. Proteção contra corrente de sequência negativa. Tempo Curva de suportabilidade de corrente de sequência negativa Curva de atuação da proteção Corrente de sequência negativa Figura 4.6 – Curva de ajuste da proteção e curva do GS: I2² t = K. Proteção de Distância (21) A proteção de distância possui como principal benefício a seletividade na proteção de linhas de transmissão quando comparada às outras funções, podendo ser utilizada em esquemas de desbloqueio permissivo ou disparo direto por sobre ou subalcance. Nos alimentadores da distribuição, por exemplo, são utilizadas exclusivamente proteções de sobrecorrente, que se valem do sistema de distribuição ser basicamente radial. Em sistemas malhados, essa proteção não garante seletividade e pode atuar para falhas em regiões protegidas por outros relés de sobrecorrente. A função 21 pode ser empregada então, para suprir a deficiência dos relés de sobrecorrente. A filosofia de funcionamento do relé de distância se baseia no cálculo da impedância, admitância ou reatância (as quais são proporcionais a distância do ponto de medição até o ponto de falha), com base nas medições de tensão e corrente. O tipo de relé de distância que se mostra mais atraente é o relé de admitância, também 41 conhecido como Relé MHO. Devido a sua natureza direcional, os relés MHOs não atuam para defeitos fora da sua direcionalidade, garantindo seletividade. A representação da característica de atuação do Relé MHO no plano R-X corresponde a circunferência que tangencia a origem, Figura 4.7. X Z1 R Figura 4.7 – Característica de atuação do Relé MHO. Na região de fronteira, delimitada pela circunferência, e a área externa a circunferência, o SP não atua. A região interna da circunferência corresponde à delimitação das grandezas elétricas na condição de falta, a qual o SP deve atuar. É comum ajustar este relé para que ele tenha três zonas de atuação, Figura 4.8. X Z3 Z2 Z1 R Figura 4.8 – Características das três zonas de atuação do relé tipo MHO. De acordo com (KINDERMANN, 2005) as Zonas de proteção para linhas de transmissão podem ser ajustadas da seguinte maneira: • Zona 1 (Z1): 80 % da impedância da LT a jusante do relé sem temporização. • Zona 2 (Z2): 100% da impedância da LT mais 50% a 60% da impedância da 42 LT a jusante seguinte com temporização igual a ∆t. • Zona 3 (Z3): 100% da impedância das duas primeiras LTs a jusante e mais 20% a 30% da impedância da próxima LT com temporização de 2∆t. É importante ressaltar que a temporização ∆t varia de acordo com cada sistema. A quantificação de ∆t deve ser tal que satisfaça a coordenação desta função com as outras proteções do sistema. Em sistemas de distribuição essa função não é atualmente empregada na proteção dos alimentadores, podendo ser proposta devido à redução atual do custo dos relés associada à garantia de seletividade após a conexão de geradores distribuídos aos alimentadores de distribuição.2 Nos geradores a proteção de distância é utilizada como proteção de retaguarda para elementos que estão conectados aos seus terminais, e é chamada de mínima impedância, ajustada de modo a atuar para falhas no transformador elevador e eventualmente para falhas nos alimentadores de distribuição. Proteção de Perda de Excitação (40) A perda de excitação de um GS pode sobre aquecer os enrolamentos do rotor e do estator da máquina síncrona, causar sobrevelocidade no rotor e também comprometer a estabilidade de GSs da mesma usina, colocando em risco o SEE (KINDERMANN, 2008). As causas que provocam a perda de excitação são tipicamente: • curtos-circuitos na bobina do campo do rotor; • abertura na bobina de campo do rotor; • falha na excitatriz do GS; e • abertura acidental do disjuntor de campo; Esta função pode ser implementada usando o princípio da função de distância (21), geralmente adotando-se a característica MHO (admitância). A função 40 direciona a medição de admitância para o interior da máquina síncrona e seu ajuste deve cobrir a zona do lugar geométrico das impedâncias de perda de excitação, que 2 Atualmente empregam-se adicionalmente, à proteção de LTs, as proteções diferenciais. As proteções de distância, no entanto, não demandam sistemas de transmissão de dados remotos para atuação. 43 é definida como um circulo de raio igual à reatância síncrona de eixo direto Xd,considerando o deslocamento no eixo das coordenadas (offset) igual a -Xd’/2, onde Xd’ é a reatância transitória do eixo direto do GS (KINDERMANN, 2008). Salienta-se, ainda, que durante a perda de excitação a trajetória da impedância verificada pela proteção entra na zona de atuação, fazendo com que a proteção atue. Pode-se ajustar esta proteção da seguinte forma: • Zona instantânea: Região com diâmetro igual à impedância base da máquina síncrona ( • S = S ⁄√3 S ), impedância do GS com offset de − V′ W ou seja, igual a 1 pu, na base de ;e Zona temporizada: Região com diâmetro igual à que configura região de Subexcitação do GS. :, com offset de − V′ W , A Figura 4.9 ilustra a região chamada de zona de atuação da proteção que caracteriza o lugar geométrico de perda de excitação. X − ′ X 2 R 1pu : Figura 4.9 – Zona de atuação da proteção de perda de excitação. Em geradores onde a impedância transitória de eixo direto é inferior a 1 pu são usadas características modificadas, tais como a “curva tomate” (LEITE, 2010). Os ajustes dessa proteção nestes casos são verificados e atestados por simulações de transitórios eletromecânicos. Proteção de contra sobretensão residual (59N) Faltas a terra em sistemas isolados caracterizam-se por deslocar a tensão fase-neutro e por produzir tensões elevadas nas fases que não estão envolvidas no defeito, e que chegam a atingir √3 vezes o valor da tensão nominal na fase, em regime permanente (SALLES, 2007). 44 É comum as concessionárias de energia utilizarem transformadores com conexão delta-estrela para alimentar cargas dos consumidores trifásicos conectados aos seus sistemas de transmissão e alimentadores de distribuição. De acordo com (LINO, 2007), a implantação de GD em paralelo com a rede pode alterar o comportamento do sistema em ocasiões de faltas na linha, o que dificulta a identificação e eliminação do defeito. Devido à conexão delta-estrela do transformador da interconexão mesmo com a abertura do disjuntor da concessionária o gerador distribuído pode operar sem causar alterações evidentes nas variáveis elétricas do sistema, o que não sensibiliza o sistema de proteção. Neste caso, o qual o gerador opera de forma ilhada, o GS deve ser retirado de operação. Em situações normais de operação e para um sistema equilibrado a componente de sequência zero da tensão tem valor nulo. Entretanto, a ocorrência de faltas monofásicas ou bifásicas a terra causa desbalanço nas componentes da tensão, sem alterar o módulo das tensões de fase da rede (LINO, 2007). Desta forma a tensão normal de sequência zero pode aumentar substancialmente quando o disjuntor da subestação da concessionária se abrir. Para a determinação do ajuste de tal função, deve ser realizado um conjunto de simulações de forma a atestar a qualidade do ajuste. No capítulo 6 é apresentado o ajuste recomendado. Síntese do ajuste das proteções de geradores síncronos distribuídos Na Tabela 4.4 esta apresentada a síntese dos ajustes descritos neste capítulo. Tabela 4.4 – Ajuste das Funções de Proteção do GS. Função de Proteção Proteção Diferencial (87) Proteção de Sobrecorrente (51/51N) Proteção de Sub e Sobretensão (27/59) Proteção de Frequência (81) Proteção de Sobreexcitação (24) Ajuste inicial recomendado 87: Declividade (slope): - GS: 5 a 25% - Transformador: 10 a 45% Ajuste: Imin=0.2.In 51: Equação 4.1, comIp<Icc(mínimo) ou Ip=1.5.In; 51N: Equação 4.1 com Ip=0.3.In 27: 5s para 90% deVn; e0,5s para 75% de Vn 59: 5s para 110% de Vn; e0,5s para 130% de Vn 81: 0,5s para f < 58 Hz ef > 66 Hz. 24: Curva de atuação 20% abaixo da curva limite de sobreexcitação do equipamento. 45 Proteção contra perda de excitação (40) 40: Zona de atuação da proteção dada pela Figura 4.9. Proteção contra corrente de sequência negativa (46) 46: Curva de atuação cerca de 20% abaixo da curva apresentada na Equação 4.3. Proteção contra Motorização (32) 32: Potência ativa reversa ajustada entre 3% a 10% da potência nominal do GS Proteção contra Sobretensão de neutro (59N) 59N:O ajuste depende da resistência de aterramento do GS e das conexões do Transformador de conexão. 4.3 Relés Comerciais O relé digital corresponde ao dispositivo gerenciado por microprocessador e que geralmente incorporam diversas funções ou até todas as necessárias para proteção de determinado equipamento. Adicionalmente, estes equipamentos têm a capacidade de monitorar e medir grandezas do sistema, além de se comunicar com outros dispositivos. Os relés digitais permitem numerosas parametrizações, e, portanto têm como principal característica a flexibilidade (SOUZA, 2010). O ajuste das funções de proteção, a configuração de parâmetros operacionais e a forma de conexão dos transdutores para utilização pelas funções de proteção variam substancialmente de fabricante para fabricante, de maneira que convém registrar os principais fabricantes e quais as peculiaridades de cada um durante o ajuste do conjunto de proteções. Neste sentido, citam-se, em específico, as funções dos relés SEL-300G/2664, AREVA P127, empregados atualmente na proteção de geradores distribuídos (SOUZA, 2010): - 50/51 – Sobrecorrente de fase instantânea e temporizada; - 50/51G – Sobrecorrente residual instantânea e temporizada; - 21 – Distância de fase, com múltiplas zonas tipo MHO; - 67G – Sobrecorrente direcional de neutro; - 25 – Cheque de sincronismo; - 27/59 – Subtensão e sobretensão fase-neutro e entre fases; - 32 – Direcional de potência; - 40 – Perda de excitação; - 46 – Sobrecorrente de sequência negativa; - 81 – Subfrequência e Sobrefrequência; 46 - 49 – Sobrecarga por imagem térmica; - 60 – Perda de potencial; - 64 – Proteção de terra; - 49 – Imagem Térmica; - 24 – Proteção de Sobreexcitação; e - 87 – Diferencial. A partir desse levantamento, abordaram-se nesse capítulo, os principais aspectos da proteção de geradores síncronos conectados em SDEE. 4.4 Considerações Finais Foi apresentado nesse capítulo uma revisão bibliográfica dos defeitos e proteções que envolvem o sistema de geração distribuída, assim como o ajuste das principais funções de proteções e as principais características dos relés digitais. A integração de SGD junto às redes de subtransmissão e distribuição de energia elétrica apresentam, além dos benefícios, uma série de desafios no que diz respeito ao impacto que ela pode trazer aos SEE. Tanto a concessionária, quanto o Auto Produtor enfrentam problemas técnicos, pois os SD iniciais não foram projetados para operarem com geradores conectados diretamente a eles. Justificam-se então estudos da influência da GD nos SD, bem como uma análise mais refinada acerca de SP apropriados, que além de satisfazerem as normas especificadas pela concessionária devem também zelar pela integridade do SDG. As funções típicas de proteção de GDs e os ajustes recomendados estão apresentados na Tabela 4.4. O Capítulo 5 apresenta o modelos de proteção implementados em ATP/ATPDraw, os quais fazem parte da contribuição técnica deste trabalho. 47 5. MODELAGEM DAS FUNÇÕES DE PROTEÇÃO Neste capítulo são apresentados os modelos das funções de proteção implementados na linguagem MODELS em ATP, os quais compõem o cenário de estudo do trabalho, assim como a metodologia para a Estimação Fasorial. 5.1 Estimação Fasorial A estimação fasorial é o processo numérico que compreende a extração dos fasores de tensão e corrente a partir da medição física de tais grandezas, e é empregado na digitalização e condicionamento dos sinais de entrada de um relé digital. Os fasores são utilizados na análise de sistemas elétricos, simplificando a solução do estado de regime permanente e o cômputo durante transitórios (CARDOSO, 2012). A Transformada de Fourier é o método usualmente utilizado para estimação espectral em sinais elétricos. Isso decorre devido sua simplicidade e qualidade dos resultados obtidos. A Transformada de Fourier é empregada na formulação e análise dos SEE, mais especificamente, para a estimação dos fasores das grandezas à frequência fundamental, caso particular chamado de Transformada Discreta de Fourier (MIRANDA et al., 2005). De acordo com (PHADKE, THORP, 2008), os algoritmos de estimação de fasores podem ser agrupados, segundo seu método de processamento, como não recursivos e recursivos. Todos os relés apresentados neste capítulo empregam sinais de tensão e/ou corrente, tratados a partir do método da Transformada Discreta de Fourier Recursiva (TDFR). No processo recursivo somente o primeiro fasor do sinal é calculado. Os demais são atualizados a partir do cálculo do fasor imediatamente anterior. A Transformada Discreta de Fourier (TDF) pode ser usada na sua forma recursiva quando se deseja obter o valor instantâneo da componente fundamental de um sinal qualquer, e com o objetivo de implementar algoritmos mais eficientes (PHADKE, THORP, 2008; AGOSTINI, 2006). Na prática, a conversão das amostras em medidas fasoriais através da TDF se resume à implementação da expressão matemática apresentada na Equação 5.1. 48 Z= onde: √ [ ( − \- (5.1) = ∑[ _c ^_ cos N, (5.2) = ∑[ _c ^_ sen N, (5.3) ,= f [ = 2ghi (5.4) Nas Equações 5.1 a 5.4, N representa o número de amostras que compõe um período da senóide de frequência nominal do sistema (f ), e i o intervalo de amostragem correspondente. Considerando X(r) como sendo a medida fasorial correspondente ao conjunto de amostras x {k = r, (r+1), ..., (N+r-1)}, e assumindo a existência de um novo conjunto de Dados x {k = r, (r+1) (r+2), ..., (N+r)} o fasor X(r+1) correspondente será obtido da Equação 5.5. (j + 1- = (j- + √ [ (^[k9 − ^9 - lm9n (5.5) Da Equação 5.5 se determinam as parcelas real e imaginária do fasor, por aplicar a Identidade de Euler. Observa-se, entretanto, que uma das particularidades da Transformada Discreta de Fourier é o fato de que o uso desta ferramenta matemática fornece como resultado de módulo de fasor apenas a componente de frequência fundamental dos sinais amostrados. Portanto, no caso do sistema estar operando em regime permanente, o cálculo da TDF possui significativa exatidão, caso as aquisições sejam realizadas a taxas de amostragem razoáveis (AGOSTINI, 2006), em contraponto da estimação durante transitórios. O produto da estimação fasorial pelo método recursivo de grandezas senoidais em regime, resulta em fasores com módulo e fase constantes, tal como ilustrado na Figura 5.1, opostamente ao processo de estimação pelo método não recursivo, que resulta nos chamados fasores girantes. 49 Figura 5.1 - Processo de estimação fasorial recursivo. Adaptado de (PHADKE, THORP, 2008). 5.2 Funções de Proteção Implementadas Nesta Seção são apresentadas as funções de proteção que foram implementadas em ATP utilizando a ferramenta MODELS. Proteção Diferencial (87) Neste trabalho foram implementadas proteções diferenciais baseadas na comparação de somente dois grupos de sinais trifásicos. Assim, os sinais que devem ser aferidos para o algoritmo da “Função 87” são as correntes de entrada (I1) e saída (I2) do elemento que se deseja proteger, tal como ilustra a Figura 5.2. I1 Elemento Protegido I2 Figura 5.2 – Princípio da Proteção Diferencial. O processo de estimação fasorial apresentado na Seção 5.1 é realizado para calcular os fasores das correntes I1 e I2, o qual fornece separadamente suas parcelas reais e imaginárias. A partir do cômputo dos fasores das correntes de entrada e saída do elemento protegido, podem-se calcular as correntes de restrição e de operação do relé diferencial, tal como apresenta as Equações 5.6 e 5.7, respectivamente. 9 = o( pq − pq - +( $ − $ - (5.6) 50 ; onde: , 98 e , s3 = o( pq + pq - +( $ + $ - são as partes reais e imaginárias das correntes (5.7) e , respectivamente. A característica de atuação da proteção é instantânea e neste trabalho corresponde à inequação apresentada na Equação 5.8. ; > 0.27 9 + 0.2 " (5.8) onde Iw corresponde a corrente nominal do GS. Os ajustes apresentados são sugeridos por (KINDERMANN, 2008) para GSs. Proteção de Sobrecorrente (51) O algoritmo de sobrecorrente emprega a corrente do elemento que se deseja proteger aferida em somente um ponto. O processo de estimação fasorial apresentado na Seção 5.1 é utilizado para fornecer o módulo da corrente nas três fases, o qual é utilizado na lógica de atuação do sistema de proteção. A curva de ajuste implementada no algoritmo da Função (51) corresponde ao descrito no Capítulo 4, o que atende a norma ANSI e está descrita pela Equação 5.9. O ajuste empregado é o de tempo inverso, e possui coeficientes descritos na Tabela 5.3. * = x.y | z ? A l z{ + C. > (5.9) onde: t: tempo de operação do relé (s); D: dial ou ajuste multiplicador de tempo; I: corrente de falta; Ip: corrente de pickup selecionada; +, <eC: coeficientes que determinam a inclinação característica do relé (Tabela 4.3). O modelo implementado permite que os parâmetros +, <, D e C sejam configurados de acordo com a aplicação de modo a garantir a coordenação e seletividade do sistema. 51 Em relés digitais de sobrecorrente, programados para operar com característica de tempo inverso definida pelas normas IEC (International Electrotechnical Commision) ou ANSI (American National Standards Institute), o tempo de atuação pode ser obtido através da integração da equação normalizada (IEC Std 60255-3, 1989). A integração numérica é realizada em intervalos finitos de tempo (m), com duração ∆t. Pode-se assumir que a razão entre a corrente de falta e a corrente de pick up é igual a M(t), portanto a atuação da função baseada na integração é definida pela Equação 5.10. } ~•(7-| l + C. >€ • x.y l X* > 1 (5.10) A magnitude do fasor da corrente é calculada a cada ciclo de aplicação da TDF. Caso a Expressão 4.10 seja satisfeita, o relé emite o sinal para desligamento do elemento protegido. Proteção de Subtensão (27) e Sobretensão (59) As Funções 27 e 59 empregam a tensão terminal do GS. O processo de estimação fasorial é utilizado para fornecer o módulo da tensão de fase nas três fases, o qual é utilizado na lógica de atuação do sistema de proteção. Os ajustes adotados neste trabalho correspondem a 0,9 p.u. e 1,10 p.u., de acordo com (LINO, 2007). Proteções de subtensão e sobretensão possuem, em geral, atuação instantânea, e seus modelos podem indicar sinal de atuação devido a chaveamentos e transitórios operacionais. De forma a modelar a função de forma a evitar indicações de atuação incorretamente, a saída do sinal de atuação do algoritmo somente será verdadeira se a tensão violar um dos limites e permanecer fora do intervalo considerado admissível por um tempo pré-determinado. O tempo de retardo selecionado para as simulações é igual a 60 ms. Ou seja, a proteção de subtensão, por exemplo, atuará somente se a tensão aferida for menor do que 0,9 pu e permanecer abaixo deste valor por tempo igual ou superior a 60 ms Proteção de Frequência (81) e Salto de Vetor As funções de sub e sobrefrequência monitoram a frequência do sistema, e atuam se tal grandeza permanecer fora dos limites aceitáveis por tempo maior ou igual ao ajuste especificado. 52 Neste modelo, é realizada filtragem do sinal monofásico temporal da tensão utilizado na estimação da frequência, e computado o período do sinal pela passagem por zero em sentido ascendente, tal como em (VIEIRA Jr., 2006). O envelope aceitável da excursão da frequência adotado é de ± 2 Hz a partir do valor nominal da frequência, e o retardo de tempo adotado, igual a 20 ms. Incorporado às funções de sub ou sobrefrequência, foi implementada a função de Salto de Vetor, também conhecida como relé de deslocamento de fase, amplamente empregada em GDs para função de identificação de ilhamento, e desligamento do GD com objetivo de garantir que não será gerada microrrede no SDEE. Na ocorrência de ilhamentos, ocorre variação da frequência do GD e, por conseguinte, do ângulo de fase da tensão terminal, fenômeno chamado de “Salto de Vetor”. O relé de deslocamento de fase implementado compara o período da senóide de tensão do ciclo atual com a duração do período do ciclo anterior. É iniciada uma nova medição cada vez que a forma de onda da tensão cruza o eixo horizontal em sentido ascendente. A variação da duração do ciclo é proporcional ao deslocamento de fase, que é o sinal de entrada da função (VIEIRA Jr., 2006), (VIEIRA Jr. et. al. 2008). O ajuste adotado é igual a 12º, indicado para GDs por (VIEIRA JR., 2006), o qual garante não atuação durante transitórios eletromecânicos estáveis. Proteção de Sobrecorrente de Sequência Negativa (46) O limite de suportabilidade para correntes de sequência negativa é sistematizado pela Equação 5.10 (KINDERMANN, 2008). ∗* <N (5.10) onde t é o tempo de defeito da corrente de sequência negativa (I2) e K depende dos parâmetros construtivos da máquina síncrona. Tal constante varia de 40 para máquinas de pólos salientes a 10 para máquinas de rotor cilíndrico (KINDERMANN, 2008) e é fornecida pelo fabricante do gerador. O modelo do relé implementado calcula a corrente de sequência negativa a partir das medições das correntes nas três fases, tal como ilustrado na Equação 5.11. onde , e = ƒ( + + - são as correntes das fases a, b e c respectivamente e a é igual a (5.11) m. f/ƒ . Uma 53 vez obtida , seu valor RMS é extraído pela aplicação da Equação 5.12. 93\ =o } • • (*-X* (5.12) O ajuste adotado corresponde ao valor 20% menor que a corrente estabelecida na Equação 5.10. Uma vez que geradores elétricos podem, em geral, suportar até funcionamento contínuo (KINDERMANN, 2008), o produto = 0,1. ∗ * somente é computado > 0.1. " e envia sinal de desligamento caso a Equação 5.13 for atendida. quando ∗ * > 0,8 ∗ N " em (5.13) Proteção contra sobretensão residual (59N) Para detecção da componente 3.V0 empregada na Função 59N, o algoritmo implementado realiza a soma fasorial da tensão estimada nas três fases, Equação 5.14 onde , 3. e = + + (5.14) são calculados a partir do processo de estimação fasorial apresentado na Seção 5.1. O ajuste adotado inicialmente é igual a3. = 0,1. ". Proteção contra sobrecorrente de Neutro (51N) De acordo com (SALLES, 2007), caso o transformador de interconexão seja ligado em estrela com o neutro aterrado do lado da concessionária, haverá a necessidade de utilizar a Função 51N, pois a corrente de neutro do transformador é o sinal adequado para identificar faltas assimétricas nas adjacências do transformador. A função implementada efetua a soma da corrente temporal nas três fases, Equação 5.15, sobre a qual o processo de estimação fasorial é realizado e fornece o módulo da corrente de neutro, utilizado na lógica de proteção. " Ao valor eficaz da corrente = " é + + (5.15) então submetida à curva ANSI de tempo inverso, de forma que o sinal para desligamento do transformador é enviado pela lógica correspondente. De acordo com (LINO, 2007) o valor de pick-up indicado para tal função é @s †‡@ = 0,1. ". 54 Proteção contra sobreexcitação (24) A Função de proteção contra sobreexcitação (24), também denominada de Volts/Hertz, mensura a tensão na proporção da frequência (V/f) em relação aos seus valores nominais para identificar a presença de sobreexcitação. De acordo com as normas ANSI/IEEE C50.13 e C57.12 para geradores e transformadores são estabelecidos limites para a relação V/HZ em condição de operação contínua: • Geradores: 1.05 pu (base do gerador) • Transformadores: 1.05 pu (base do transformador) à plena carga com fator de potência maior de que 0.8 ou 1.0 pu em vazio O algoritmo do relé implementado estima o fasor da tensão de cada fase a partir da TDFR, tal como apresentado na Seção 5.1 e transforma o valor para pu. A frequência é calculada a partir da velocidade angular da máquina, que é fornecida pelo ATP. Após o computo da frequência, tal grandeza é transformada também para valores em por unidade. O ajuste da Função (24) consiste em uma curva ANSI de tempo inverso em pu, onde o valor de pick-up é igual a 1.05. Assim, se o valor da integral na Equação 5.2 for maior do que 1, o relé emite um sinal de trip. Tal função possui, adicionalmente, atuação instantânea para V/f superior a 1,25 p.u. Proteção contra sobrecorrente no campo (Ifd) O fenômeno típico que pode levar o GS a sobrecorrente de campo é a sobreexcitação, para qual são empregadas proteções no estator (V/Hz). Ao circuito do rotor, em geral, é incorporada a proteção de falha a terra, pela injeção e medição de corrente CA ou medição da corrente de desequilíbrio (KINDERMANN, 2008). Há, entretanto, na literatura, casos incomuns onde é utilizada proteção de campo por funções de sobrecorrente. Neste trabalho, no intuito de avaliar o efeito do desequilíbrio de carga pré-perturbação na corrente de campo do rotor, foi implantado um relé de sobrecorrente que utiliza a curva ANSI de tempo inverso, onde se empregou @s †‡@ = 1,5. "_ 3@; . Evidencia-se que o ajuste desta proteção deve ser tal que permita a coordenação com a característica da capacidade térmica do enrolamento de campo e a curva de atuação do 55 limitador de sobreexcitação. Proteção contra potência reversa (32) O algoritmo da Função 32 utiliza como entrada as tensões e correntes de cada fase do GS. O processo de estimação fasorial descrito na Seção 5.1 é utilizado para fornecer o modulo e ângulo de tais grandezas. A expressão para potência ativa monofásica é fornecida a partir da Equação 5.16. Š = ∗ ∗ ‹Œ&• (5.16) onde e são os valores eficazes das tensões e correntes de cada fase e • é a diferença entre o ângulo da tensão e o da corrente (ângulo do fator de potência). Devido à característica da Equação 5.16, a potência ativa calculada será negativa apenas se a parcela ‹Œ&• se tornar negativa. A Figura 5.3 ilustra o comportamento da função cosseno em função dos quadrantes no plano complexo. Im g 2 g 0 Re − g 2 Figura 5.3 – Variação do sinal da função cosseno em função dos quadrantes. Da Figura 5.3 se observa que o intervalo de − < • < f f corresponde ao intervalo de potência ativa positiva, ou seja, no primeiro e quarto quadrante. De forma análoga, a potência ativa é negativa nos quadrantes restantes. Conclui-se então, que a inversão de potência ativa pode ser identificada pela condição de diferença angular entre tensão e corrente maior que 90o. O ajuste da Função 32 implementada consiste univocamente na escolha do nível de potência ativa mínima admissível por fase, associado à identificação de inversão de potência, e foi adotado igual a 10% da potência nominal do GD. 56 Proteção contra perda de excitação (40) A Função 40 identifica a condição de perda de excitação a partir do valor de impedância aferido a partir dos terminais do GS, uma vez que a impedância aparente atinge certa região não operacional no plano R-X somente na condição de subexcitação. A impedância aparente a partir dos terminais do gerador é obtida da razão entre tensão e corrente de cada fase, que é comparada à região do plano R-X definida na Figura 4.9. O ajuste adotado emprega zona externa temporizada em 200ms e interna instantânea. Religador A função de religamento implementada consiste em três estágios que empregam a rotina de sobrecorrente de tempo inverso, e que podem adotar diferentes curvas. Mesmo que usualmente religadores possuam as duas primeiras curvas rápidas e as ultimas lentas, esta configuração é particular a cada SDEE, de forma a definir a melhor sequência de operação que garante a coordenação do religador aos equipamentos instalados à sua jusante. A filosofia adotada corresponde a condição onde se a falta for permanente, o religador desenvolverá a sequência completa de operações, isto é, 2 religamentos e 3 disparos de bloqueio, de tal forma que após o terceiro disparo o religador permanecerá aberto até receber comando manual de fechamento. Em contraste, caso a falta for temporária e desapareça antes do último desligamento, o sistema é reenergizado e permanece nessa condição. Fusível O elemento fusível possui característica de sobrecorrente de tempo inverso que, no entanto, comercialmente estão disponíveis em numerosas configurações, conhecidas como famílias. Neste trabalho os parâmetros das curvas de atuação de cada fusível do SDEE teste foram determinados pela compatibilização da curva de fusão fornecida pelo fabricante S&C Electric Company (S&C, 2013) e da Equação 5.17. * = x. | z ? A l Ž.z{ + L (5.17) 57 A Figura 5.4 apresenta um exemplo de compatibilização para elos de corrente nominal igual a 25 A do tipo “K”, resultando em + = 2, < = 5,04, C = 0 e D = 2. 10 2 Curva implementada Curva obtida a partir de testes experimentais - 25 K Tempo [s] 10 10 10 10 1 0 -1 -2 10 2 10 3 Corrente [A] Figura 5.4- Compatibilização curvas de tempo vs. corrente de fusíveis de 25 K. 5.3 Considerações Finais Nesse capítulo foram apresentados os modelos das funções de proteção que compõem o escopo de estudo deste trabalho, bem como os ajustes inicias das funções utilizadas para as simulações e análises apresentadas no Capítulo 6, que aborda a avaliação do efeito do desequilíbrio de carga sobre a atuação das proteções estudadas. 58 6. EFEITO DO DESEQUILÍBRIO DE CARGA SOBRE A ATUAÇÃO DAS PROTEÇÕES DOS GERADORES SÍNCRONOS DISTRIBUÍDOS E DOS ALIMENTADORES DE DISTRIBUIÇÃO Neste capítulo os resultados obtidos das simulações de atuação das funções de proteção de interesse, correspondente à proteção de SDEE contendo geração distribuída são apresentados e discutidos. O objetivo geral é avaliar o desempenho de atuação das proteções, em termos de capacidade de identificação e atrasos envolvidos, quando da existência de desequilíbrio de carga, condição na qual os sistemas de proteção não foram projetados para atuar nem tampouco consideram na determinação de seus ajustes. Inicialmente o Sistema de Distribuição teste é apresentado, assim como a metodologia utilizada no estabelecimento dos casos de simulação. Por fim, os resultados são apresentados e as análises são deliberadas. 6.1 Sistema teste O sistema teste utilizado neste trabalho está descrito em (ABREU, 2005) e apresentado inicialmente na Figura 2.9. Uma vez que os efeitos do desequilíbrio são verificados a partir das tensões e correntes aferidas nos terminais do gerador, as análises para as proteções do GSD foram realizadas sobre o sistema equivalente, tal como apresentado em (PIARDI, 2012), Figura 6.1. Gerador Síncrono Distribuído 807 Barramento Infinito 806 Z807-806 C807 Zth C806 Figura 6.1 - Diagrama Unifilar do SD Equivalente Utilizado para Testes. Neste sistema, a GD é caracterizada por um GSD com potência nominal de 10 MVA, conectado diretamente no SDEE de tensão de 13,8 kV. A carga nominal conectada ao nó 807 59 é de 5,5 MW com um fator de potência indutivo de 0,99. Sobre todas as funções, aos sinais de corrente se inferiu redutores (TCs) com características C400 e aos sinais de tensão redutores (TPs) com características lineares. 6.2 Definição dos Casos de Simulação Todas as análises realizadas são baseadas em variações do caso de referência, chamado caso base, que corresponde ao Sistema de Distribuição equivalente na condição de fluxo de carga apresentado no Anexo A. O desequilíbrio de carga empregado é definido em (SALIM, 2011) e consta de desequilibrar a carga entre as fases de forma diferencial, de tal forma a manter a potência trifásica constante e igual a do caso equilibrado, como descrito pelas Equações 6.1, 6.2 e 6.3. ’sO = (1 + E-’ ’:O = (1 − E-’ ’‡O = ’ “ “ (6.1) (6.2) (6.3) “ onde “E” é o Fator de Desequilíbrio (FD) associado; S • é a potência monofásica consumida no caso equilibrado; S–— é o valor da potência monofásica onde ocorre o incremento de carga; S˜— , a potência associada ao decremento de carga e, por fim, S™— é parcela não sujeita ao desequilíbrio. Os desequilíbrios empregados para verificação do desempenho das funções de proteção foram iguais a 0%, 25% e 50%, aplicados à carga conectada ao terminal do gerador. O evento simulado corresponde àquele que causa a atuação da função sob avaliação. A Seção 6.3 apresenta os resultados obtidos a partir das simulações. 6.3 Análise da atuação das Proteções associadas ao GSD sob Condições de Desequilíbrio São apresentados nesta seção os resultados das principais simulações de cada função de proteção implementada, a fim de observar o comportamento e desempenho de tais funções sob condições desequilibradas. As análises realizadas são baseadas na comparação da atuação da proteção em condições equilibradas de carga, ajustadas de forma a atender os critérios de 60 cada função de proteção, consideradas, portanto, casos de referência de atuação. Avaliação do desempenho da Proteção Diferencial (87) em condições de desequilíbrio A atuação da proteção diferencial foi simulada por considerar o GSD modelado como fonte de tensão ideal em série com sua reatância sub-transitória de eixo direto, de onde se aferiram as correntes de fechamento de neutro e do terminal do estator. O evento simulado consta na aplicação de curtos-circuitos monofásicos a 50% do enrolamento do estator, considerando os três patamares de desequilíbrio estabelecidos na Seção 6.2. A Figura 6.2 apresenta a corrente diferencial e o ajuste adotado de acordo com o Capítulo 5 para os três patamares de desequilíbrio. Foi utilizado um TC do tipo C400 para a redução de corrente, de tal forma que a Figura 6.2 apresenta a corrente no secundário do TC referenciada no primário. Tal metodologia de representação também é utilizada para as demais funções que empregam a corrente como grandeza de interesse. C o rren te [A ] 500 400 Corrente diferencial FD=0% 300 Ajuste FD=0% 200 100 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Tempo [s] C o rrente [A ] 500 400 Corrente diferencial FD=25% 300 Ajuste FD=25% 200 100 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Tempo [s] C orren te [A ] 500 400 Corrente diferencial FD=50% 300 Ajuste FD=50% 200 100 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Tempo [s] Figura 6.2 – Corrente diferencial e ajuste da função 87. I) FD = 0%. II) FD = 25% III) FD = 50%. 61 A Função implementada emite sinal de desligamento caso a corrente diferencial for maior que o ajuste adotado. De acordo com a Figura 6.2, se verifica que tanto a corrente diferencial quanto o ajuste (que depende da corrente de operação) não são sensíveis ao desequilíbrio. Foi constatado ainda que o desempenho de tal função é similar para curtos-circuitos bifásicos e trifásicos no estator, mesmo com elevados valores de FD. Adicionalmente, foram realizadas simulações de curtos-circuitos fora da região de proteção delimitada pela proteção diferencial, onde se verificou que não houveram atuações incorretas para qualquer nível de desequilíbrio. Este resultado é esperado pela própria filosofia de atuação da função diferencial, e atesta esta função como adequada para emprego em sistemas desequilibrados. Avaliação do desempenho da Proteção de Sobrecorrente (50/51) em condições de desequilíbrio A simulação realizada consiste em aplicar curtos-circuitos trifásicos francos no nó intermediário entre a barra infinita e o GSD. A Figura 6.3 apresenta os fasores das correntes nas três fases para FD = 0% e 50%, assim como os sinais de desligamento de cada fase da função de sobrecorrente. Na Figura 6.3 se pode observar que o módulo da corrente das três fases em regime permanente difere em regime permanente devido ao desequilíbrio. No entanto, tal corrente de regime, incluído desequilíbrio, é significativamente inferior às correntes de curto-circuito, de forma que o efeito do desequilíbrio não é significativo. Apesar de haver aumento da diferença entre sinais de desligamento entre as fases na presença do desequilíbrio, a diferença é inferior a 20 ms, não significativa para proteções de sobrecorrente. É relevante salientar que o desequilíbrio na função de sobrecorrente será tão mais influente quanto à aproximação da corrente de regime e de curto circuito. 62 C orrente [A ] FD = 0%. 1500 1000 500 0 0 Ia Ib Ic Trip a Trip b Trip c 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.4 0.5 0.6 Tempo [s] C orrente [A ] FD = 50%. 1500 1000 500 0 0 Ia Ib Ic Trip a Trip b Trip c 0.1 0.2 0.3 Tempo [s] Figura 6.3 – Proteção de Sobrecorrente (51). I) FD = 0%. II) FD = 50%. Avaliação do desempenho da Proteção de Subtensão (27) e Sobretensão (59) em condições de desequilíbrio A atuação da função de Subtensão foi simulada a partir do curto-circuito trifásico no nó intermediário entre o GSD e a barra infinita. A Figura 6.4 apresenta a tensão na “fase a” (Vfa) do evento simulado para os três patamares de desequilíbrio avaliados. Na Figura 6.4 se pode observar que a tensão Vfa difere em regime de acordo com o desequilíbrio devido a queda de tensão da fase proporcional à sua corrente. 63 Proteção de Subtensão (27) 1.05 Vfa FD = 0% 1 0.95 Vfa FD = 25% X: 0.05245 Y: 0.9805 Vfa FD = 50% Ajuste de Subtensão Tensão [pu] 0.9 0.85 0.8 0.75 0.7 0.65 0.6 0.55 0.05 0.1 0.15 0.2 Tempo [s] 0.25 0.3 0.35 0.4 Figura 6.4 – Avaliação da Proteção de Subtensão (27). Entretanto, na ocorrência do defeito o impacto do desequilíbrio é reduzido, assim como a diferença entre tempos de atuação. Se considerado FD = 50%, a diferença entre o modulo da tensão terminal das fases“a” e “b” de regime é de cerca de 5%, que pode ser significativa para operação contínua em termos da tensão aferida para fins de controle. De forma análoga, a simulação realizada para análise da função de sobretensão, corresponde ao chaveamento em derivação de um banco hipotético de capacitores com potência igual a 5,5 Mvar, no nó intermediário entre o GSD e a barra infinita. Foi verificado nas simulações que, a exemplo do caso anterior, a diferença da tensão terminal em regime pré-evento não é significativa. Adicionalmente, a Figura 6.5 ilustra o comportamento da tensão terminal nas três fases do GSD para FD = 50%, onde se verifica resultados análogos aos da função de subtensão. Destaca-se, no entanto, que a tensão terminal de regime permanente da “fase b” é de cerca de 1,08 p.u., próxima do limite superior de tensão, de forma que deve-se atentar para condições de operação sob desequilíbrio e valores reduzidos de pick-up de tensão. 64 Proteção de Sobretensão (59). 1.15 Tensão [pu] 1.1 1.05 1 Va FD = 50% Vc FD = 50% Vb FD = 50% Ajuste de sobretensão 0.95 0.9 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 Tempo [s] Figura 6.5 – Tensão terminal nas três fases do GSD para FD = 50%. A sensibilidade da atuação da proteção de sobretensão depende, sobretudo, da composição da condição de regime sob desequilíbrio com a magnitude da perturbação. No sistema analisado, o chaveamento de um banco de capacitores de 2 Mvar considerado FD igual a 50%, resulta nas trajetórias de tensão apresentadas na Figura 6.6, onde se verifica que somente a fase de menor carregamento extrapola o limite superior de tensão, de onde se conclui que, novamente, a modelagem trifásica detalhada é relevante para análise de casos onde há proximidade do limiar de atuação durante o evento que a proteção deve identificar. Proteção de Sobretensão (59) - FD = 50%. Va Vb Vc Ajuste de Sobretensão Tensão [pu] 1.15 1.1 1.05 1 0.95 0.05 0.1 0.15 0.2 Tempo [s] Figura 6.6 – Tensão terminal do GSD para FD = 50%. 0.25 65 Avaliação da Proteção de Frequência (81) e Salto de Vetor O evento simulado para sensibilizar a proteção de subfrequência foi um curto-circuito trifásico no nó intermediário entre o GSD e a barra infinita. Tal evento fez com que o GSD perdesse o sincronismo. A Figura 6.7 apresenta a excursão da frequência que é estimada pela tensão terminal de cada fase do gerador para FD = 50%. Pode-se avaliar da Figura 6.7 que mesmo antes da aplicação do evento a frequência não difere devido ao alto desequilíbrio aplicado. De fato, a frequência da tensão terminal não é uma grandeza afetada pelo o desequilíbrio do sistema e assim tal proteção opera de maneira tradicional mesmo em sistemas com altos níveis de desbalanço nas cargas. Função de Subfrequência (81) - FD = 50% 62 60 Frequência [Hz] 58 56 Frequência Va Frequência Vb Frequência Vc Ajuste Subfrequência 54 52 50 48 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 Tempo [s] Figura 6.7 – Proteção de Subfrequência para FD = 50%. A atuação da proteção de sobrefrequência foi simulada a partir da aplicação de curto circuito trifásico no nó intermediário entre o GSD e a barra infinita. Tal evento reduz a capacidade do GSD de entregar potência ativa ao SDEE e causa a aceleração do seu rotor, o que é ilustrado na Figura 6.8, que apresenta, adicionalmente, o efeito do desequilíbrio sobre a mesma fase, para todos os níveis de desequilíbrio considerados. Na Figura 6.8 é evidenciado que a variação da frequência ocorre de modo discreto, pois o algoritmo só determina um único valor de frequência por ciclo. A Figura 6.8 indica que a frequência não é afetada pelo desequilíbrio de carga, 66 fenômeno esperado, uma vez a aceleração do rotor é transferida às ondas de tensão de todas as fases, independente da existência ou ausência do desequilíbrio Função de Sobrefrequência (81) 63.5 Freqa FD = 0% 63 Freqa FD = 25% Freqa FD = 50% Ajuste de Sobrefrequência Frequência [Hz] 62.5 62 61.5 61 60.5 60 59.5 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 Tempo [s] Figura 6.8 – Proteção de Sobrefrequência. A atuação da proteção de Salto de Vetor (SV) foi análoga a proteção de sobrefrequência. A Tabela 6.1 apresenta os tempos de atuação da função Salto de Vetor, associados a cada FD simulado, onde t0 é o instante de aplicação do evento. Tabela 6.1 - Tempos de atuação da função de deslocamento de fase do GSD considerando desequilíbrio de carga. Curto-circuito 3-ϕ no nó806 FD = 0 FD = 25% FD = 50% Tempo de atuação [s] SV ta =t0+ 0,0187 tb=t0+ 0,0237 tc=t0+ 0,0125 ta =t0+ 0,0187 tb=t0+ 0,0237 tc=t0+ 0,0125 ta =t0+ 0,0187 tb=t0+ 0,0237 tc= t0+ 0,0125 Constata-se da Tabela 6.1 que o tempo de atuação da Proteção de Salto de Vetor não 67 varia de forma significativa com relação à variação do FD, pois as diferenças correspondem aos instantes discretos de determinação da frequência. Avaliação da Proteção contra potência reversa (32) A condição de inversão de fluxo de potência no GSD foi simulada pela variação súbita do ângulo e módulo da tensão terminal da barra infinita. Este evento pode ser originado de distúrbios no SDEE ou no sistema de subtransmissão ao qual o GSD se conecta. A excursão superior apresentada na Figura 6.9 corresponde a potência elétrica em cada fase, fornecida pelo GSD, para FD = 0%, e a inferior, para FD = 50%. Na Figura 6.9 se verifica que no caso equilibrado, o consumo de potência do gerador não causa atuação da proteção, em oposição à condição de desequilíbrio, de onde se conclui que o desequilíbrio afeta a atuação da proteção contra potência reversa. Deve-se atentar que convém avaliar a proximidade da atuação da proteção contra potência reversa para eventos típicos no sistema elétrico em questão. Potência ativa - FD = 0% P o tê n c ia A tiv a [M W ] 1.2 1 Pa Pb Pc Ajuste 0.8 0.6 0.4 0.2 0 -0.2 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.45 0.5 Tempo [s] Potência ativa - FD = 50% P o tê n c ia A tiv a [M W ] 1.5 Pa Pb Pc Ajuste 1 0.5 0 -0.5 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 Tempo [s] Figura 6.9 – Potência elétrica fornecida pelo GSD. I) FD = 0%. II) FD = 50%. 68 É relevante salientar que os problemas associados à operação motorizada do GS estão relacionados com danos mecânicos na turbina, e, portanto, uma vez que a potência trifásica é a mesma em ambos casos, a proteção tem seu desempenho afetado já que seu ajuste só possui um grau de liberdade. Avaliação da Proteção de Sobreexcitação (24) O modelo da proteção de sobreexcitação foi sensibilizado pela simulação de degrau de 15% na referência do regulador de tensão maquinado GSD. Uma vez que a frequência se mantém aproximadamente constante, a razão V/f supera o ajuste adotado. A Figura 6.10 ilustra a razão V/f para diferentes FDs, de onde se percebe que a proteção de sobreexcitação é afetada pelo desequilíbrio na mesma proporção que a tensão terminal do GSD. É relevante salientar que o ajuste de pick-up adotado para a função de sobrexcitação é de 1,05 p.u., de modo que desequilíbrios acentuados podem causar atuação da proteção em regime permanente para níveis acentuados de desequilíbrio. Razão V/Hz - FD = 0%. 1.25 V /H z [p u ] 1.2 V/Hz a 1.15 V/Hz c V/Hz b 1.1 1.05 1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4 1.6 1.8 2 1.4 1.6 1.8 2 Tempo [s] Razão V/Hz - FD = 50%. 1.25 V /H z [p u ] 1.2 V/Hz a 1.15 V/Hz c 1.1 V/Hz b 1.05 1 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 Tempo [s] Figura 6.10 – Proteção de Sobreexcitação (24). 69 Avaliação do desempenho da Proteção de Sobrecorrente de Campo em condições de desequilíbrio A proteção contra sobrecorrente de campo, quando utilizada, tem por finalidade atuar como retaguarda do limitador de sobreexcitação. A Figura 6.11 apresenta a excursão da corrente de campo (Ifd) para FD = 0% e 50%, frente ao chaveamento de um banco de reatores de 10 Mvar em derivação no nó em que está conectada a carga L. Em condições de desequilíbrio, a corrente de excitação, que compreende a grandeza de entrada da função avaliada, apresenta comportamento oscilatório, de forma que foi empregada sua filtragem para utilização na lógica da proteção. Na Figura 6.11 se pode perceber que o desequilíbrio desloca a corrente de campo no eixo das coordenadas, porém, apesar de causar a redução do tempo de atuação da proteção, tal alteração de tempo de atuação não é significativa. Valor eficaz da corrente de campo do GSD para FD = 0% e 50%. Corrente [A] 30 25 20 15 Ifd - FD = 0% 10 Ifd - FD = 50% 5 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.35 0.4 Tempo [s] Valor temporal da corrente de campo do GSD para FD = 0% e 50%. Corrente [A] 35 30 Ifd - FD = 0% 25 Ifd - FD = 50%. 20 15 10 5 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 Tempo [s] Figura 6.11 – Proteção contra sobrecorrente de campo. Avaliação do desempenho da Proteção contra Perda de Excitação (40) em condições de desequilíbrio A perda de excitação do GSD foi simulada forçando o valor da tensão no campo Efd à 70 nulidade. O tempo de atuação da proteção contra perda de excitação é função da trajetória da impedância aparente frente à perturbação, que depende do montante de potência fornecido pele GSD previamente ao distúrbio (CARRASCO, 2009). O desequilíbrio altera a potência entregue por fase do GSD, e, por consequência, a impedância aparente verificada em cada fase. A Figura 6.12 ilustra a trajetória das impedâncias aparentes por fase para FD = 50%, onde se verifica que, neste caso a impedância da fase “b” (trajetória em vermelho) é a única a excursionar na região de atuação temporizada e o sinal de trip para esta fase é efetuado pela região temporizada. A trajetória circular descrita pelas impedâncias é devido à perda de sincronismo antecipada da máquina, contudo, isto acontece no interior da característica de operação da função, o que significa que o esquema de proteção detectou a perda de excitação antes que a máquina perdesse o sincronismo. Função 40 - FD = 50%. 0.5 0 X [pu] -0.5 -1 Zona 1 Zona 2 Fase a Fase b Fase c -1.5 -2 -2.5 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5 R [pu] Figura 6.12 – Função de Proteção contra perda de excitação. A maior parte dos trabalhos que abordam a Função de Perda de Excitação considera o sistema equilibrado. Entretanto, com base no exposto, para o ajuste e análise de tal função aplicada à GSDs deve-se representar o sistema de maneira trifásica detalhada e levar em consideração o desequilíbrio do sistema para análises mais fiéis a realidade. 71 Avaliação do desempenho da Proteção de Sobrecorrente de Sequência Negativa (46) em condições de desequilíbrio A proteçãode sobrecorrente de sequência negativa é projetada para identificação de desequilíbrio em SEE. Neste trabalho foi constatado que para FD superiores a 38%, a corrente de sequência negativa é superior a 10% do valor nominal do GSD em de regime permanente, de modo que a atuação da proteção ocorre sem a existência de distúrbios no sistema. A Figura 6.13 apresenta a variação da corrente negativa em função do FD, assim como o limite de suportabilidade em regime permanente de I para o GSD em questão. 120 Limite de suportabilidade em regime permanente para corrente de sequência negativa 100 Corrente de sequência negativa em rms Corrente [A] 80 60 40 20 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Fator de Desequilíbrio (FD) Figura 6.13 - Correntede sequência negativa em função do FD e limite de š› em regime permanente. Conclui-se que, em GSDs que dispunham de proteções contra correntes de sequência negativa a representação do desequilíbrio é relevante tanto na parametrização da função quanto na possibilidade de existência de dano ao GSD para operação no SDEE. Avaliação do desempenho da proteção de Sobrecorrente de Neutro (51N) em condições de desequilíbrio A proteção de Sobrecorrente de Neutro (51N), de forma análoga a proteção de sobrecorrente de sequência negativa, é sensível ao desequilíbrio, e tem por objetivo detectar faltas assimétricas que porventura não sensibilizem a proteção de sobrecorrente de fase. A Figura 6.14 ilustra o valor eficaz da corrente no neutro (In = 3I0) com relação ao 72 fator de desequilíbrio para diferentes magnitudes de resistências de aterramento. Função 51N 400 350 Corrente no neutro para Rn = 2 pu Corrente no neutro para Rn = 1 pu Corrente no neutro para Rn = 0 pu Ajuste adotado Corrente [A] 300 250 200 150 100 50 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Fator de desequilíbrio (FD) Figura 6.14 - Correnteno neutro em função do FD e ajuste da Função 51N. Da Figura 6.14 se conclui que a parametrização e análise da proteção de sobrecorrente de neutro demanda a representação trifásica detalhada, e que para aterramentos de baixa resistência, o GSD pode ser desconectados em regime permanente para FDs da ordem de 10%, nível de desequilíbrio usual SDEEs. Avaliação do desempenho da Proteção de Sobretensão de Neutro (59N) em condições de desequilíbrio Analogamente a proteção de sobrecorrente de neutro, a proteção de sobretensão de neutro atua quanto maior for o desbalanço de grandezas no sistema elétrico analisado. Assim, a parametrização e ajuste da proteção de sobretensão de neutro devem levar em consideração a análise do valor da resistência aterramento do GS, e às condições de desequilíbrio máximas em regime permanente. A Figura 6.15 ilustra a variação do módulo da tensão no neutro do GSD em relação à variação do FD aplicado, para diferentes magnitudes de resistência de aterramento. 73 Função 59N. 0.7 Tensão no neutro [pu] 0.6 Vn (R = 0 pu) Vn (R = 0.5 pu) Vn (R = 1 pu) Vn (R = 2 pu) Vn (R = 10 pu) 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 Fator de desequilíbrio (FD) Figura 6.15 – Tensão no neutro em função do FD. O ajuste adotado para a proteção de sobretensão de neutro é igual a 40% da tensão nominal (0.4Vn). Verificou-se que as variações da tensão de neutro são inferiores às da corrente de neutro para o mesmo fator de desequilíbrio, de forma que a proteção 59N não atua em regime permanente para fatores de desequilíbrio típicos. O ajuste adotado é consistente para detecção de faltas assimétricas simuladas no nó intermediário entre o GSD e a barra infinita. A Figura 6.16 apresenta as grandezas de atuação das proteções 46, 51N e 59N para simulação de curto-circuito monofásico franco no nó intermediário, com a resistência no neutro do GSD igual a 1 p.u., e para FD = 0% e = 25%. Verifica-se que o desequilíbrio não altera de forma significativa o desempenho da atuação das proteções, porém deve ser analisado para determinação dos ajustes. 74 FD = 0%. 1.2 1 Corrente no neutro [pu] Tensão no neutro [pu] Corrente de Sequência negativa [pu] [p u ] 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 0.3 0.35 0.4 0.45 0.5 Tempo [s] FD = 25%. 1 Corrente no neutro [pu] Tensão no neutro [pu] Corrente de Sequência negativa [pu] [p u ] 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 Tempo [s] Figura 6.16 – Funções 46, 51N e 59N. Avaliação da Proteção de Religamento em condições de desequilíbrio Adicionalmente às proteções do GSD, foi avaliado o comportamento da função de religamento para três níveis de desequilíbrio. O religador modelado foi alocado na saída da barra infinita (fonte de tensão ideal no ATP), que é uma aproximação razoável da Subestação do SD analisado. Foram ajustadas três zonas do religador, as duas primeiras lentas e a terceira rápida. O evento simulado consiste da aplicação de curtos-circuitos trifásicos e monofásicos permanentes no nó central entre a barra infinita e o GSD, de forma que o desligamento do circuito deve ser efetuado pelo dispositivo. A Figura 6.19 ilustra os resultados obtidos, de onde se conclui que nestas condições a função implementada atuou corretamente, ou seja, não foi afetada pelo desequilíbrio. 75 Falta monofásica - FD = 0% C o r r e n te [A ] C o r r e n te [A ] Falta trifásica - FD = 0% 1000 1000 0 -1000 -1000 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 Tempo [s] Tempo [s] Falta trifásica - FD = 25% Falta monofásica - FD = 25% C o r r e n te [A ] C o r r e n te [A ] 0 1000 0.8 0.9 1 0.8 0.9 1 0.8 0.9 1 1000 0 -1000 0 -1000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 Tempo [s] Tempo [s] Falta trifásica - FD = 50% Falta monofásica - FD - 50% C o r r e n te [A ] C o r r e n te [A ] 0 1000 1000 0 -1000 0 -1000 0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1 0 0.1 0.2 0.3 Tempo [s] 0.4 0.5 0.6 0.7 Tempo [s] Figura 6.19 – Proteção de Religamento. 6.4 Considerações Finais Neste capítulo foram apresentados os resultados das simulações com o SD operando em condições equilibradas e em condições de desequilíbrio de carga. Verificou-se que o desequilíbrio afeta de forma significativa especialmente proteções que atuam utilizando a informação de desequilíbrio para identificação de faltas assimétricas, como a proteção de sobrecorrente de neutro (51N), sobretensão residual (59N) e proteção de sobrecorrente de sequência negativa (46), e as que dispõem de uma única grandeza de ajuste para decidir o envio do sinal de desligamento do GSD, como a proteção de potência reversa (32). As demais proteções não têm redução de desempenho significativa, devido ao aspecto que as magnitudes das grandezas em condições de falta diferem acentuadamente das grandezas de regime. Deve-se considerar, no entanto, a avaliação detalhada da proximidade do limiar de 76 atuação de cada proteção com relação à condição de operação em regime permanente, e a magnitude de impedâncias de aterramento, que afetam significativamente correntes de falta. A proteção diferencial se mostrou com desempenho praticamente inalterado com relação ao desequilíbrio. O elo fusível não foi avaliado com relação ao desequilíbrio, pois sua análise é equivalente à função de sobrecorrente. Contudo, o modelo implementado pode ser utilizado para parametrização e simulação de atuações. 77 7. CONCLUSÕES O crescimento populacional e o contínuo desenvolvimento tecnológico exigem uma demanda de energia cada vez maior. Atrelado a tais fatores, a reestruturação do setor elétrico brasileiro, incentivos governamentais, a procura de geração elétrica através de fontes alternativas e uma maior conscientização ambiental impulsionaram o desenvolvimento da Geração Distribuída no Brasil. Basicamente, a GD consiste na implantação de geradores conectados diretamente nas redes de distribuição e subtransmissão de eletricidade. Esta modalidade de geração pode trazer vantagens, tais como a redução das perdas na transmissão, melhoria do perfil de tensão, aumento da confiabilidade do sistema e um baixo impacto ambiental localizado. Com a popularização da geração distribuída, é essencial conhecer seus impactos sobre a dinâmica e operação dos sistemas de potência, assim como, sobre o desempenho das proteções associadas aos geradores distribuídos. No entanto, em Sistemas de Distribuição é intrínseca a característica de desequilíbrio de cargas entre as fases e linhas de transmissão não transpostas. Nessa condição, a análise de GSs e seu respectivo sistema de proteção é um ponto em aberto nas pesquisas, o que constitui um desafio do ponto de vista técnico para a certificação da operação adequada desta nova realidade do SEE. Nesse contexto, evidencia-se o conjunto de elementos responsável por garantir a operação segura do GS, denominados Relés de Proteção. Estudos acerca da filosofia de ajuste, modelagem e implementação dos relés presentes no GS, em sua grande maioria, levam em conta a operação em redes equilibradas, e pouco se sabe do comportamento destes operando em condições de desequilíbrio. Nesse contexto, o principal produto desta análise foi verificar o efeito do desequilíbrio sobre a atuação e comportamento das funções de proteção presentes em SD com geração disitribuída e o consequente impacto sobre o GS conectado ao SD, denominado Gerador Síncrono Distribuído (GSD). Para tanto, inicialmente está apresentada a revisão bibliográfica acerca de estudos de curtos-circuitos em sistemas de distribuição, que abordam a teoria de componentes simétricos e faltas. Baseado em tal revisão foi realizada a análise comparativa da magnitude dos curtos- 78 circuitos em sistemas de distribuição a partir da abordagem clássica (sistema unifilar-fasorial) com a relação à abordagem trifásica detalhada. Verificou-se que a abordagem unifilar-fasorial pode apresentar diferenças significativas em curtos-circuitos em nós próximos aos elementos em derivação com impedâncias reduzidas, que para o caso avaliado, atingiram a ordem de no máximo 35%. Adicionalmente, é apresentada a revisão bibliográfica acerca da proteção de sistemas de distribuição na presença de geradores síncronos, onde se descreve as principais funções de proteção existentes, assim como os ajustes típicos recomendados. A análise do efeito do desequilíbrio sobre o desempenho das funções de proteção de geradores síncronos e alimentadores de distribuição foi realizada fundamentada na simulação temporal a partir de modelos detalhados de relés digitais de proteção. Os principais resultados obtidos podem ser sintetizados como segue: A função diferencial (87) não é afetada pelo desequilíbrio de carga, mantendo seu desempenho para qualquer fator de desequilíbrio; A função de sobrecorrente (51) é sensível com relação ao desequilíbrio tanto quanto maior for à relação entre a corrente de carga com a corrente de curto-circuito. Curtos circuitos que apresentem correntes elevadas, a proteção de sobrecorrente não é significativamente afetada; As funções de tensão (27 e 59) são sensíveis com relação ao desequilíbrio, e se deve atentar que em sistemas desequilibrados, a tensão de cada fase difere em regime permanente, o que afeta a atuação da proteção; As proteções de subfrequência, sobrefrequência e salto de vetor mantém o mesmo desempenho independente do desbalanço de carga; As proteções de sobreexcitação (24) e de sobrecorrente no campo apresentam diferenças significativas quando sujeitas a sistemas desequilibrados. Foi verificado, porém, que tais funções atuaram corretamente para todas as perturbaçãos simuladas; As proteções de perda de excitação (40) e de potência ativa reversa (32) são diretamente afetadas pelo carregamento das fases, de forma que a parametrização e análise de tais funções de proteção demandam a representação detalhada do sistema trifásico considerando os níveis previstos de desbalanço de carga; As proteções de corrente de sequência negativa (46), sobrecorrente de neutro (51N) e sobretensão residual (59N) são as que mais sofrem o efeito do desequilíbrio, pois sua 79 própria atuação é baseada na identificação de grandezas associadas ao desequilíbrio. Assim, destaca-se que para o ajuste de tais funções, deve-se modelar e analisar os efeitos do desequilíbrio e avaliar a suportabilidade do GSD na condição desequilibrada. Salienta-se ainda, que o aterramento do GS é característica fundamental na avaliação e ajuste de tais funções, especialmente da função 51N, que para valores elevados de resistência de falta, pode não ser sensibilizada. Pode-se concluir que os objetivos propostos foram alcançados, uma vez que o presente trabalho contempla uma biblioteca de funções de proteções de geradores síncronos e de alimentadores de distribuição, a qual pode ser utilizada em diversas simulações e análises em aplicativo de capacidade de representação trifásica detalhada. Tais modelos permitem que futuros usuários possam estender a sua utilização para sistemas de grande porte, de modo a fazer estudos reais de ajuste e coordenação da proteção para GSs e de alimentadores de distribuição, de forma a serem gerados resultados mais fiéis à realidade. 80 REFERÊNCIAS ABREU, L. V. L de. Análise do Desempenho Dinâmico de Geradores Síncronos Conectados em Redes de Distribuição de Energia Elétrica. 2005. 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Revista Controle & Automação, v. 19, n. 2, p. 199–213, 2008. 84 ANEXO A – PARÂMETROS DOS MODELOS DOS SISTEMAS TESTE Esta seção do texto se dedica a apresentar os dados do sistema utilizado no desenvolvimento do Capítulo 2 e de seu equivalente utilizado no desenvolvimento do Capítulo 6.São apresentados os parâmetros dos elementos que compõem o Sistema de Distribuição Completo (Linhas de Transmissão, Transformadores, Gerador Síncrono Distribuído e as cargas de cada barra) e Equivalente (Impedância de Thévenin e Parâmetros da Fonte Ideal) e as constantes utilizadas nos modelos do Sistema de Excitação e seus respectivos Limitadores e do Regulador de Velocidade. Adicionalmente, é apresentado o fluxo de carga denominado “Caso Base”, sobre o qual se baseiam as variações para análise. AN.1 Parâmetros do Sistema de Distribuição Completo A Tabela AN.1 apresenta os dados das linhas de transmissão do sistema de distribuição. Os valores de impedância estão expressos em p.u./km, com bases =13,8kV e ’ =10MVA. Tabela AN.1 - Dados das Linhas de Transmissão do Sistema de Distribuição Barras 292 – 701 292 – 901 292 – 801 901 – 501 901 – 902 901 – 904 902 – 903 904 – 905 905 – 906 906 – 907 906 – 908 908 – 909 R + jX [p.u./km] 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,02 + j0,03 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,04 + j0,03 0,03 +j0,03 0,03 +j0,03 0,03 +j0,03 0,08 +j0,03 FONTE: ABREU, 2005. Distância [km] 0,25 1,75 0,01 0,01 3,65 0,33 4,40 0,55 0,13 0,75 0,3 1,42 Barras 908 – 910 910 – 911 801 – 802 802 – 803 803 – 804 804 – 601 803 – 805 805 – 806 806 – 807 801 – 808 808 – 809 809 – 810 R + jX [p.u./km] 0,08 + j0,03 0,08 + j0,03 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,00 + j0,00 0,08 + j0,03 0,08 + j0,03 0,08 + j0,03 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 0,01 + j0,02 Distância [km] 1,76 9,00 2,00 2,30 2,65 0 3,20 1,73 3,55 2,3 0,25 1,55 85 Devido a forma de representação da cargas no aplicativo adotado com capacidade de representação trifásica detalhada, as cargas foram aproximadas por impedâncias constantes. Para o seu cálculo desde o fluxo de potência, sua potência foi considerada à tensão nominal (1p.u.), que resultam nos valores apresentados na Tabela AN.2, representados em MW e Mvar. Tabela AN.2 - Dados das Cargas do Sistema de Distribuição P [MW] 5,5 0 1,9 0,01 0,02 1,25 0,0 0,04 0,05 Barra 601 602 701 802 803 804 805 806 807 Q [MW] 0 0,2 0,87 0,01 0,01 0,57 0,0 0,02 0,02 Barra 808 809 810 811 812 813 901 902 903 P [MW] 0,06 0,11 0,1 0,07 0,03 0,0 0,12 0,06 0,0 Q [MW] 0,03 0,05 0,05 0,03 0,01 0,0 0,06 0,03 0,0 P [MW] 0,11 0,59 0,16 0,0 0,08 0,09 0,1 - Barra 904 905 906 907 908 909 910 - Q [MW] 0,05 0,29 0,08 0,0 0,04 0,05 0,05 - FONTE: ABREU, 2005. Conforme verificado na Erro! Fonte de referência não encontrada., estão representados bancos de capacitores em derivação em algumas barras, que possuem os seguintes valores: El. Derivação 1= 0,3 Mvar; El. Derivação 2= 1,2 Mvar; El. Derivação 3=1,5 Mvar, que também estão representados por impedâncias equivalentes, calculadas à tensão nominal em seus terminais (1 p.u.). 5 \8 =10MVA): Os dados dos transformadores de três enrolamentos são os seguintes (’ l =5 lƒ =5 lƒ = 0 p.u. e l = 0,0989p.u., lƒ = 0,057p.u. e transformadores de dois enrolamentos tem os seguintes parâmetros (’ p.u. e = 0,0565p.u. para o TR1 e 5 = 0p.u. e lƒ = 0,174p.u. Os \8 =10MVA): = 0,0396p.u. para o TR2. 5 =0 O gerador síncrono distribuído possui os seguintes dados, todos representados em sua base (’ \8 = 10MVAe ′: = 0,398p.u.; \8 =13,8kV): Ÿ = 0,7s; ′H = 0,3p.u.; ": = 0,254p.u.; : = 2,06p.u.; "H = 0,254p.u.; O H = 2,5p.u.; = 0,1p.u.; D′: = 7,8s; D′H = 3s; D": = 0,066s e D"H = 0,075s. A impedância de sequência zero e negativa são, respectivamente, = 0,005 + j0,05p.u. e l = 0,035 + j0,12p.u. 86 AN.2 Parâmetros do Sistema de Distribuição Equivalente O sistema de distribuição equivalente é derivado a partir da barra 806, onde os dados da linha entre a barra 806 e 807 e suas respectivas cargas dessas barra são do sistema completo. O restante do sistema está representado por uma impedância equivalente em série com uma fonte de tensão ideal que representa o barramento infinito. Tais elementos possuem os seguintes valores (’ \8 = 10MVAe \8 =13,8kV): 8H = 0,4743 + j0,287p.u. e ¢ = 0,981p.u com ângulo de -7.57°.Os valores de ângulo e módulo da tensão terminal do barramento infinito foram obtidos através da aplicação do Teorema de Thévenin, adotando a conexão com o sistema interligado nacional como referência angular com tensão igual a 1p.u. A Figura AN.1 ilustra o diagrama do Sistema Equivalente onde estão apresentados os dados referentes ao fluxo de carga de referência denominado “Caso Base”. Gerador Distribuído 807 V = 1 7,94°p.u. 806 V = 0,97 10,1°p.u. Z807-806 V = 0,981 -7,57°p.u. Barramento Infinito Zth 2,0 - j2,4MVA -1,2 + j2,8MVA 0,05 + j0,02MVA C807 0,04 + j0,02MVA C806 Figura AN.1 - Caso Base para Realização das Análises