ANÁLISE MORFOLÓGICA DE FRUTOS, SEMENTES E PLÂNTULAS DE Cassia lucens Vogel (VERMELHINHO) – LEGUMINOSAE – CAESALPINIOIDEAE Ely Simone Cajueiro Gurgel1, Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), [email protected]; Maria de Nazaré do Carmo Bastos2, MPEG, [email protected]; João Ubiratan Moreira dos Santos3, MPEG, [email protected] Introdução Considerando a importância do reconhecimento da composição florística da área impactada em questão, torna-se necessário também proceder à identificação das espécies através da morfologia dos seus frutos, sementes e plântulas. A partir da pesquisa fundamental, isto é, do levantamento fisionômico e estrutural de quatro clareiras naturais na Base de Operações Geólogo Pedro de Moura (Urucu, Coari – AM), verificou-se as espécies nativas que as estão povando. Diversos estudos relacionados à flora, necessitam da identificação correta, da fase que precede a germinação, até a fase em que a parte aérea está desenvolvida, entretanto, na Amazônia, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos nesta área de conhecimento, gerando uma lacuna, limitando a execução de determinadas pesquisas, tais como inventário, auto-ecologia das espécies, estudos da regeneração natural, dentre outros. Desde os primórdios, a morfologia vem oferecendo base para a identificação e para a classificação dos vegetais, por abranger caracteres de pronta e fácil interpretação. A caracterização morfológica continua sendo utilizada, porém, interpretada com o auxílio de métodos mais modernos. É pequeno o número de espécies que, reconhecidas e descritas com a utilização exclusiva da morfologia, ficaram posteriormente invalidadas mediante aplicação de outros métodos, com a finalidade de comprová-las ou testá-las (Fernandes, 1996). Os caracteres do fruto têm importância na classificação, delimitação e identificação das plantas com sementes, porque fornecem caracteres seguros para a caracterização de gêneros e famílias (Lawrence, 1970). Os caracteres internos fornecidos pelas sementes de muitos grupos de plantas são de grande interesse para a classificação, como a presença ou ausência de endosperma (albúmen), forma e posição do embrião e número e disposição dos cotilédones (Lawrence, 1970). Martin (1946) criou um sistema filogenético baseado na morfologia interna comparada, condizente com os conceitos modernos. Sementes e polens são os principais recursos empregados para a identificação da vegetação passada; devido à existência de uma terminologia elaborada para os retículos encontrados na superfície (Stuessy, 1989; Ferreira, 1997). O tipo de germinação, constitui um dos caracteres relevantes para diferenciar espécies (Duke, 1965), enquanto o conhecimento morfológico da plântula permite caracterizar famílias, gêneros e até mesmo espécies e tem sido aplicado no inventário florestal em muitas regiões. Este estudo teve como objetivo descrever frutos, sementes e plântulas de Cassia lucens Vogel, uma Leguminosae – Caesalpinioideae, conhecida popularmente na região como “vermelhinho”, uma espécie muito utilizada na área de estudo recompondo as clareiras antrópicas. Material e Métodos Foram realizadas expedições à Base de Operações Geólogo Pedro de Moura, localizado no município de Coari, na margem esquerda do rio Urucu, na Base de Operações Geólogo Pedro de Moura. Durante as excursões foram coletados frutos e sementes maduros, diretamente da copa e no chão de cinco matrizes nativas de C. lucens, distantes uma das outras por mais de 100 m. Procedeu-se a coleta de material botânico fértil para confecção de exsicatas e identificação, uma amostra foi depositada e incorporada ao MG (herbário do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém - Pará) e outra encontra-se na BOGOM. O material foi transportado para a Coordenação de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi, onde os frutos e as sementes foram beneficiados até a completa limpeza. Uma sub-amostra com 30 frutos e 30 sementes foi retirada aleatoriamente para a descrição morfológica. Dos frutos, registrouse a morfologia geral, classificação, coloração, textura, consistência, posição, a deiscência e o indumento do pericarpo; da semente, analisou-se o tegumento, o endosperma e o embrião. Os caracteres morfológicos analisados das sementes foram: forma e borda; consistência, cor e textura dos tegumentos, posição do hilo e da micrópila e o embrião quanto ao tipo e forma. Considerou-se germinação o período entre o entumescimento da semente até antes que os eofilos estivessem totalmente formados e, plântula a fase de desenvolvimento em que os eofilos estavam totalmente formados. A definição de eofilo e metafilo foi feita com base na análise da planta matriz, levando-se em consideração o conceito de Duke & Polhill (1981). Para o processo germinativo e para a morfologia da plântula, utilizou-se vermiculita em bandeja de plástico com 80 x 40 x 20 cm. A metodologia e a terminologia empregadas estão de acordo com os trabalhos de Martin (1946), Systematics Association Committee for Descriptive Terminology (1962), Font-Quer (1965), Duke (1965, 1969), Pijl (1972), Radford et al. (1974), Kuniyoshi (1983), Roderjan (1983), Van Roosmalem (1985), Gunn (1991), Stern (1992), Oliveira (1993), Barroso et al. (1999), Gurgel (2000) e Gurgel et al. (2002). Os caracteres morfológicos dos frutos e sementes, do processo germinativo e de plântulas foram ilustrados com fotografias. As fotografias foram feitas em lupa Zeiss Stemi SV6 com capturador de imagem digital sound vision SV micro adaptado e máquina fotográfica digital Nikon DIX, com lentes para aumentar as estruturas. Resultados e Discussão O fruto é um legume, deiscente, seco, castanho escuro, linear, achatado, ápice levemente obtuso e sub-apiculado, base estipitada. Pericarpo subcoriáceo, castanho (maduro) ou verde (imaturo), levemente venado, polispérmico com numerosas sementes. Estenocárpico. Pedúnculo arredondado, estriado e lenticelado. Funículo sublenhoso. Segundo Van Roosmalen (1985) a dispersão é hidrocórica. Externamente a semente é estenospérmica, oblonga. Testa castanho escuro, quase negra, monocrômica, apresenta consistência cartácea. Pleurograma completo. Região hilar basal lateral, com hilo diminuto e circular. O pleurograma, é uma marca que ocorre na superfície de certas sementes, originada pela interrupção da paliçada da exotesta ou por diferenças nas camadas complexas da testa. Sua fisiologia é desconhecida. Apresenta-se como linha em forma de U na maioria das sementes de Mimosoideae ou como estrutura fechada, de colorido mais forte que o da testa, em sementes de espécies do gênero Cassia das Caesalpinioideae ou como linha que circunda a borda da sementes nas Curcubitaceae (Barroso et al., 1999). Internamente apresenta endosperma contínuo. Embrião cotiledonar, axial, invaginado, pleurorrizo com cotilédones acumbentes, grande e ocupa toda a cavidade do núcleo seminal, com lâminas paralelas, ligeiramente côncavos, foliáceos, dominantes, cremes, oblongos, ápice e base arredondados, margem inteira, chanfrados com a radícula exposta, unidos somente ao ápice do hipocótilo, glabros, isófilos. Eixo embrionário, situado entre os lóbulos cotiledonares, reto, grande e espesso, verde esbranquiçado. Plúmula moderadamente desenvolvida, acima do eixo embrionário, da mesma cor do eixo embrionário. A germinação é fanerocotiledonar epígea, inicialmente curvada e posteriormente reta. Com a reidratação a semente entumesce-se, aumentando significativamente o seu volume, após a semeadura a raiz rompe o tegumento próximo à região hilar, inicialmente cilíndrica, glabra, amarela esbranquiçada, com coifa castanho claro, à medida que ocorre o seu alongamento, apresenta uma zona pilífera com pelos simples, hialinos, reduzidos e retos. Coleto não evidenciado. Hipocótilo amarelado na base e esverdeado no ápice, cilíndrico, sub-herbáceo, curvado e canescente. Paracotilédones amarelos, à medida que vão sendo liberados do tegumento tornam-se verdes, com lâminas paralelas, isófilos, glabros, nervuras evidentes, prefolheação valvar, estreitamente oblongos a elípticos, ápice agudo, margem inteira, base cuneada assimétrica, nervação peninérvea, com nervuras laterais tendendo a ficar paralelas a principal, devido ao formato do cotilédone; subsésseis; pulvino achatado, verde e glabro. A plântula apresenta raiz axial, angulosa ferrugínea próximo ao coleto, glabra e estriada, coifa imperceptível. Raízes laterais curtas e pouco ramificadas. Coleto imperceptível. Hipocótilo cilíndrico, ferruginoso na base e avermelhado próximo ao ápice, glabro e estriado. Paracotilédones ausentes, deixando uma cicatriz proeminente. Epicótilo longo, reto, sub-herbáceo, verde, glabro, com poucas lenticelas intactas. Eofilo um, composto, paripinado, com dois pares de folíolos opostos, discolores, face adaxial verde e brilhante, abaxial avermelhada e opaca, ambas glabras; prefolheação mutuamente equitante; nervação peninérvea reticulada, com nervura principal bem evidente e imersa na face adaxial e impressa na abaxial, folíolos oblongos a elípticos, ápice levemente retuso, margem inteira, base aguda. Pulvínos ausentes. Ráquis longa, cilíndrica, verde-amarelada, suavemente côncova e com tricômas simples, hialinos, curvos, curtos, longos e retos, e uma estipela apical filiforme de base verde, ápice amarelo avermelhado, com tricômas simples, hialinos, curtos, retos e curvos. Peciólulo curto, cilíndrico, verde com tricômas semelhantes aos da ráquis, com pulvino distal, cilíndrico e verde. Pulvínulos proximal e cilíndrico, verde, coberto por tricômas semelhantes aos encontrados no peciólulo. Planta jovem com eofilo semelhante ao da plântula, entretanto alterno. 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