o tratamento da llc não é um jogo

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Notícias Diárias
17.ª Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) | www.sph.org.pt | Publicação de distribuição gratuita
13
novembro
2015
12 a 14 de novembro
«A enzima heme
oxigenase-1 tem efeito
protetor numa série
de doenças associadas
à hemólise»
O Prof. Miguel Soares é
o orador da Lição desta
Reunião Anual da SPH,
intitulada «Targeting
iron/Heme in inflammation and immunity». Este
investigador no Instituto Gulbenkian de Ciência resume assim
uma das suas descobertas: «A enzima
heme oxigenase-1 tem um efeito bastante
protetor numa série de doenças associadas à hemólise, o que se deve ao facto de a
hemoglobina, ao ser libertada para o meio
extracelular, oxidar e libertar grupos hemes
tóxicos» Pág.8
6.ª feira
Aceda à versão digital
O TRATAMENTO DA LLC
NÃO É UM JOGO
Set 2015-2941
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eloma
HOJE
SESSÃO EDUCACIONAL 1
das 9h00 às 10h30
Moderação: Dr. José Barbot, hematologista no Porto, e Dr.ª Marta Duarte,
hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Imagens que não esquecem
A
primeira intervenção de hoje, a
cargo da Dr.ª Tabita Magalhães
Maia, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra (CHUC), não incidirá «num
tema em particular, mas em vários, sempre
com a noção de que a Hematologia não é
uma especialidade só clínica, mas também
laboratorial». Neste âmbito, vão ser apresentadas algumas imagens com alterações
fenotípicas de doentes, com o objetivo de
chamar a atenção para aspetos que podem
ser pistas para o diagnóstico. «Cada apresentação é acompanhada por uma breve história
clínica e será dada ênfase à morfologia do
sangue periférico. Este é um exame simples,
mas muito informativo, e uma ferramenta
imprescindível no diagnóstico diferencial de
muitas patologias», revela a preletora.
Segundo Tabita Magalhães Maia, são também necessários, com frequência, exames
complementares de diagnóstico de imagem, como o raio-X ou a tomografia axial
computadorizada [TAC], para esclarecer a situação clínica. «Nem sempre os quadros clínicos são fáceis de interpretar, mas há imagens que nos ficam na retina, que são muito
úteis em determinadas situações», sublinha.
Todavia, a hematologista não irá mostrar
apenas imagens raras, mas também algumas alterações que, apesar de frequentes,
podem levantar algumas dúvidas. «A diferenciação entre um estomatócito e um xerócito ou a identificação de “linfócitos atípicos”
O desafio de diagnosticar a PTT
DR
T
ambém na Sessão Educacional 1, a
Dr.ª Marie Scully, hematologista
no University College Hospital,
em Londres, falará sobre uma das
suas áreas de interesse: a púrpura trombo-
citopénica trombótica (PTT). Trata-se de um
distúrbio raro e potencialmente fatal, diagnosticado pela presença de trombocitopenia, anemia hemolítica microangiopática e
trombos microvasculares que resultam no
envolvimento de vários órgãos.
A oradora salienta a importância de
diferenciar a PTT de outras microangiopatias trombóticas, especialmente da
síndrome hemolítica urémica atípica.
Admitindo que «o diagnóstico de PTT
pode ser desafiante», Marie Scully afirma
que «o rápido agravamento dos sintomas
clínicos resulta na necessidade de intubação e ventilação em 10% dos casos e de
cuidados intensivos em aproximadamente
50% das situações».
De acordo com a especialista britânica,
o diagnóstico é confirmado por uma defi-
que surgem no contexto de intercorrências
infeciosas são alguns exemplos que irei
apresentar, entre muitos outros», conclui.
ciência severa de ADAMTS 13 (A Disintegrin
and Metalloproteinase with a ThromboSpondin type 1 motif, member 13) inferior a 10%.
De frisar que a maioria dos doentes tem
anticorpos associados a ADAMTS 13 e os
tratamentos visam suprimir esta resposta
imunitária.
Quanto à PTT congénita, Marie Scully
explica que «é muito rara, estimada em
menos de um caso por milhão de habitantes e, muitas vezes, exige a substituição regular de ADAMTS 13». Atualmente, adianta Marie Scully, há uma série de ensaios
clínicos e de potenciais terapêuticas em
desenvolvimento com os objetivos de melhorar o tempo de normalização plaquetária, lidar com a doença refratária severa e
constituir uma alternativa para a troca de
plasma. ND
Ficha Técnica
Edição:
Congresso organizado por:
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Direção: Madalena Barbosa ([email protected])
Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira ([email protected])
Coordenação: Luís Garcia ([email protected])
Redação: Ana Rita Lúcio, Luís Garcia e Marisa Teixeira
Fotografia: Rui Jorge • Design e paginação: Susana Vale
Patrocinadores desta edição:
NOTA: Os textos desta publicação estão escritos segundo as regras do novo Acordo Ortográfico.
13 de novembro de 2015
3
HOJE
SESSÃO EDUCACIONAL 2
das 11h00 às 12h30
Moderação: Prof. José Eduardo Guimarães, diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de São João, no Porto, e Dr.ª Marília Gomes, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário
de Coimbra.
Tratamento de leucemias e linfomas
em adolescentes e jovens adultos
«A
«Existem doentes
hemato-oncológicos
com pouca diferença
de idade e a mesma
patologia que serão
tratados de forma
completamente
distinta»
semelhantes para linfomas B e as indicações
atualmente reconhecidas em Oncologia pediátrica para uso do rituximab, bem como a
tendência atual de adoção de protocolos
pediátricos pelos serviços de adultos na
leucemia linfoblástica aguda, com uma terapêutica baseada no risco», remata o oncologista pediatra.
Cancros comuns nos adolescentes
e jovens adultos
12 000
10 000
8 000
6 000
4 000
2 000
0
15-19 anos
Leucemia e linfoma
Sistema nervoso central
Tumores malignos do osso
Tecidos moles e sarcoma de Kaposi
20-24 anos
Células germinativas
Tiroide
Melanoma da pele
Outros
FONTE: National Cancer Institute / Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER) Program
4
melhoria da sobrevida no
cancro teve uma evolução mais lenta no grupo
de adolescentes e adultos
jovens. A menor percentagem de doentes
entre os 15 e os 25 anos que entravam em
estudos multicêntricos é apontada como um
dos fatores responsáveis por esta diferença.»
Quem o afirma é o Dr. Manuel João Brito,
oncologista pediatra no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que fará
uma intervenção sob o mote «Leucemias/
/linfomas em adolescentes e jovens adultos
– um desafio para oncologistas pediatras e
hematologistas». No sentido de encontrar
uma solução para esta dificuldade, passou
a incorporar-se estes doentes em ensaios
clínicos multicêntricos e/ou a centralizar-se
a terapêutica nesta faixa etária. Esta prática,
iniciada na América do Norte, acabou por levar a um aumento da sobrevida neste grupo
de doentes.
Também em Portugal, como explica
Manuel João Brito, o aumento da idade
pediátrica levantou questões já sentidas
noutros países, relativas ao seguimento
dos adolescentes e adultos jovens, a uma
colaboração necessária e crescente entre
a Hematologia, a Oncologia de adultos e a
Oncologia Pediátrica, e ao local onde estes
doentes são tratados. Hoje, assiste-se, a nível internacional, a uma tendência para a
criação de unidades funcionais ou físicas
para o tratamento deste grupo etário.
Por outro lado, sublinha o palestrante, «a
evolução dos protocolos usados na idade
pediátrica tem sido diferente da dos adultos e, neste momento, existem doentes
hemato-oncológicos com pouca diferença
de idade e a mesma patologia que serão
tratados de forma completamente distinta».
E acrescenta: «O questionar destas diferenças é realizado numa base científica, dada a
semelhança epidemiológica e de comportamento biológico das neoplasias hemato-oncológicas nos adolescentes com mais de
15 anos e nos adultos jovens.»
Segundo Manuel João Brito, se em algumas patologias hemato-oncológicas os
protocolos usados em adultos foram adaptados pela Pediatria – como, por exemplo,
na leucemia mieloide crónica, na leucemia
mieloide aguda e no linfoma de Hodgkin –,
noutros casos, foram orientações com evolução na Oncologia Pediátrica que passaram
a ser usados pelos serviços de Hematologia.
«Realço ainda a utilização de protocolos
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(RCM continua no verso)
HOJE
Infiltração do SNC por linfomas
não Hodgkin B agressivos
«I
nfiltração do sistema nervoso central [SNC] por linfomas
não Hodgkin B agressivos:
abordagem clínica e fatores de risco» é o segundo tema apresentado na Sessão Educacional 2, a cargo da
Prof.ª Maria Gomes da Silva, diretora do
Serviço de Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa. A especialista justifica a escolha deste tipo de linfoma
para o tema da palestra, com particular enfoque nos linfomas B difusos de grandes células, com o facto de os linfomas indolentes
muito raramente atingirem o SNC e aqueles
que têm alta incidência de infiltração neste
sistema já disporem de «protocolos bem
desenhados que diminuem seriamente essa
probabilidade».
Segundo a oradora, trata-se de um evento
de prognóstico muito reservado e distante do
ideal, que seria «conseguir identificar grupos
de risco e aplicar protocolos eficazes a esses
6
doentes». Todavia, já se conseguem reconhecer alguns fatores de risco, como refere Maria
Gomes da Silva. «Em determinadas circunstâncias, quando há múltiplos locais extranodais atingidos e uma desidrogenase lática
alta, ou quando há um índice de prognóstico
internacional elevado, os doentes têm maior
probabilidade de infiltração do SNC. Além
disso, admitimos a hipótese de que algumas
localizações extranodais se associem a uma
possível maior infiltração.»
A oradora adianta, porém, que, mesmo
quando se identificam populações de alto
risco em que a eventualidade de infiltração
é maior, não há certeza de qual a melhor estratégia profilática a seguir. «Durante muito
tempo, fez-se profilaxia com administração
intratecal de fármacos, mas algumas evidências recentes sugerem que, afinal, esta
estratégia é pouco ou nada eficaz», refere.
Atualmente, alguns autores estudam
fármacos administrados por via endove-
nosa, com boa penetração no SNC. Contudo, ressalva Maria Gomes da Silva, «não
existe a confirmação absoluta de que
essa será a melhor estratégia» e, por outro lado, «cerca de metade dos doentes
em que a patologia aparece no SNC não
têm fatores de risco reconhecidos previamente». A hematologista acredita, por
isso, que este tópico poderá levar a uma
discussão interessante, pois «os fatores de
risco são pouco específicos e pouco sensíveis para identificar a população que vai
ser tratada». ND
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HOJE
Potencialidades do efeito protetor
da heme oxigenase-1
O Prof. Miguel Soares, investigador no Instituto Gulbenkian de Ciência, em Oeiras, é o orador convidado para partilhar os resultados das suas investigações na Lição desta Reunião Anual da SPH, sob o mote
«Targeting iron/Heme in inflammation and immunity». Moderada pelo Prof. António Parreira, diretor clínico
do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa, esta sessão decorre entre as 12h30 e as 13h30.
por Marisa Teixeira
A inflamação e a imunidade podem ser associadas a vários graus de hemólise e, como
tal, à libertação do grupo heme da hemoglobina extracelular. Isto origina heme lábil, um
pool de ferro lábil redox ativo debilmente ligado à hemoglobina ou outras moléculas. A
acumulação de heme lábil no plasma pode
levar a sobrecarga de ferro, stresse oxidativo
e danificação dos tecidos.
Miguel Soares sublinha que os grupos
hemes tóxicos têm duas facetas muito importantes: por um lado, aumentam a inflamação; por outro, podem destruir células
em vários tecidos. «Detetou-se que o efeito
protetor da heme oxigenase-1 é, no fundo,
originado pelo efeito tóxico da heme lábil
e, como esta informação é ainda pouco divulgada no meio clínico, parece-me importante abordar o assunto na Reunião Anual
da SPH», destaca o orador da Lição.
8
«H
á vários anos, descobriu-se que a enzima
heme oxigenase-1 tem
um efeito protetor numa série de doenças associadas à hemólise,
o que se deve ao facto de a hemoglobina, ao
ser libertada para o meio extracelular, oxidar
e libertar grupos hemes tóxicos.» Esta é a
resposta de Miguel Soares, quando questionado sobre a investigação em que tem estado envolvido desde 1995, quando iniciou o
seu pós-doutoramento na Harvard Medical
School, em Boston, nos EUA.
Desde essa altura, e ao longo de 12 anos
como investigador no Instituto Gulbenkian
de Ciência, os principais objetivos de Miguel
Soares têm sido compreender os mecanismos celulares e moleculares que regulam a
inflamação e perceber como podem estes
processos ser utilizados terapeuticamente
para superar o resultado patológico de doenças inflamatórias mediadas pelo sistema
imunitário.
Repercussões na prática clínica
Presumivelmente, os efeitos nocivos da
heme lábil contribuem, de forma crítica,
para a patogénese de doenças inflamatórias
mediadas pelo sistema imunitário associadas a hemólise. Tal acontece tanto em condições hemolíticas não infeciosas, como é o
caso da anemia de células falciformes, como
em condições hemolíticas infeciosas, de que
são exemplo a sepsia severa ou as formas
graves de malária.
Miguel Soares recorda que, «se as doenças
infeciosas estiverem associadas com a hemólise, o estado clínico do doente pode deteriorar-se muito rapidamente». Portanto, já
se sabe que a hemólise é um fator agravante
para uma diversidade de patologias, mas
ainda não se descobriu o motivo. «Acreditamos que o mecanismo pelo qual a hemólise
se torna patológica está relacionado com a
libertação dos grupos hémicos da hemoglobina», revela Miguel Soares, adiantando que
o possível efeito prático desta descoberta
é «o desenvolvimento de fármacos que impeçam a ação desse mesmo mecanismo, ou
seja, que impossibilitem que a hemoglobina
liberte esses grupos de hemes».
Porém, não se sabe quando tal poderá
acontecer, pois essa libertação dos grupos
hemes da hemoglobina está relacionada com
mecanismos moleculares muito específicos
que ainda são desconhecidos. «Imaginemos
que as células do epitélio do pulmão ficam
muito danificadas com esta ação e há um mecanismo molecular que o explica. Julgo que, se
percebermos essas vias de sinalização, talvez
consigamos agir terapeuticamente em outros
pontos. Esta é uma via em que a minha equipa
também está a trabalhar», remata. ND
Importantes descobertas
Entre os diversos contributos do Prof. Miguel Soares nas áreas
de investigação e clínica destacam-se:
• A descoberta do papel da heme oxigenase-1 e do monóxido de carbono
na prevenção da rejeição de órgãos;
• O papel protetor da heme oxigenase-1 na autoimunidade;
• A função do monóxido de carbono na ligação ao ferro de grupos heme,
prevenindo a sua libertação e reduzindo os sintomas da patogénese em
formas graves de malária;
• A hemoglobina falciforme confere tolerância à infeção por plasmodium;
• A proteção dirigida do macrobiota contra a transmissão da malária.
HOJE
Evidência e experiência nacional
com o ibrutinib
As mais-valias do ibrutinib no tratamento da leucemia linfocítica crónica (LLC) e a experiência prática de
dois centros nacionais com este fármaco vão estar em foco no simpósio-satélite promovido pela Janssen, que
terá lugar entre as 13h30 e as 14h30.
por Luís Garcia
«Embora os dados não sejam ainda muito
maduros e, possivelmente, não seja fácil
avaliar a eficácia do fármaco com acompanhamentos curtos, temos todo o interesse
em comparar aquilo que observamos na
nossa prática clínica com o que se verificou
nos ensaios clínicos já publicados», refere a
hematologista.
Perspetivas futuras
10
O
Dr. João Raposo e Prof.ª Maria Gomes da Silva
ibrutinib é um inibidor da tirosina quinase de Bruton com
aprovação relativamente recente para a LLC, também utilizado em outras neoplasias linfoides. De
acordo com a Prof.ª Maria Gomes da Silva,
moderadora deste simpósio e diretora do
Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa,
«este fármaco tem-se revelado eficaz e foi
aprovado com base nos dados de comparação com a terapêutica considerada standard
em doentes com leucemia em recaída ou
refratária».
A especialista refere que «o ibrutinib
tem uma utilidade particular em doentes
com algumas alterações citogenéticas de
mau prognóstico, nomeadamente alterações no cromossoma 17 ou mutações no
gene TP53, mas também em doentes que
já fizeram algumas linhas terapêuticas e
estão em recaída». Segundo Maria Gomes
da Silva, o ibrutinib parece apresentar uma
boa relação entre eficácia e toxicidade,
conseguindo obter uma taxa de respostas
elevada. «Embora as respostas não sejam
completas com muita frequência, são bastante frequentes e, em muitos casos, persistentes», acrescenta.
No simpósio, a Prof.ª Cristina João, hematologista no Centro Clínico Champalimaud,
fará uma introdução sobre os mecanismos
de ação do ibrutinib, não esquecendo o
desenvolvimento de resistências e algumas
toxicidades do fármaco, abordando também alguma da evidência que sustenta a
sua utilização na LLC. Seguir-se-á a apresentação da experiência de dois centros nacionais com esta molécula: a Dr.ª Rita Coutinho
apresentará os casos do IPO de Lisboa e a
Dr.ª Daniela Alves os do Centro Hospitalar
Lisboa Norte.
Segundo Maria Gomes da Silva, ambos os
centros usam já o medicamento com alguma frequência, embora a sua utilização em
Portugal seja ainda relativamente recente.
O Dr. João Raposo, hematologista no Centro
Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa
Maria (HSM), é ponderado na análise dos
dados já existentes relativamente ao desempenho do ibrutinib. «O HSM é um dos centros nacionais com maior experiência com
este fármaco, mas ainda é curta no tempo.
Temos quatro doentes medicados com o
ibrutinib na prática clínica diária, com um
período de tempo que ainda não chega a
um ano, pelo que é impossível tirar ilações
já. Contamos também com oito doentes em
ensaio clínico, há dois anos, mas esse é um
domínio completamente distinto», afirma o
especialista.
No entanto, sublinha João Raposo, esta
experiência prática ainda preliminar, associada aos resultados dos ensaios clínicos, já permite discutir algumas questões,
como quando escolher este fármaco para
tratar os doentes com LLC e como avaliar
as respostas nestes grupos de doentes.
Outro aspeto sobre o qual importa refletir são os efeitos secundários desta terapêutica e «de que forma poderão ou não
comprometer a tolerância do doente a um
tratamento que é contínuo e que, aparentemente, só terminará quando a doença
progredir».
Apesar de todas as cautelas, João Raposo
admite estar entusiasmado com as perspetivas que os inibidores das cinases podem
oferecer. «Temos ao nosso dispor “armas”
eficazes e apetecíveis, dado que são tratamentos orais, completamente diferentes
dos endovenosos, mas estamos longe de
poder tirar conclusões definitivas sobre
elas», conclui João Raposo. ND
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ONTEM
Formação inaugurou reunião
Dois cursos simultâneos, um dedicado às anemias congénitas e outro à trombose e hemóstase, abriram
ontem o programa científico desta Reunião Anual da SPH. Seguem-se algumas das mensagens salientadas
pelos formadores.
Curso de anemias congénitas
«Na investigação etiológica das anemias, é fundamental ter presentes alguns conceitos básicos que permitem estabelecer o diagnóstico mais eficazmente. Neste curso, foram abordadas essas ferramentas de raciocínio e discutidos
os testes mais indicados para identificar a etiologia e os fatores moduladores do quadro clínico. Embora tenhamos
à disposição uma grande diversidade de testes laboratoriais, é necessário não dispersar recursos e escolher os mais
indicados em cada situação.» Prof.ª Letícia Ribeiro, diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC)
«A anemia sideropénica e a talassemia são as causas mais frequentes de anemia hipocrómica e microcítica. Na
abordagem a estes doentes, além de uma cuidadosa história clínica e familiar, é imprescindível a interpretação
correta dos parâmetros hematológicos e o estudo morfológico do esfregaço de sangue periférico. O diagnóstico
diferencial é tão mais importante, quanto a abordagem terapêutica, o prognóstico e o aconselhamento genético
variam de acordo com a patologia de base.» Prof.ª Celeste Bento, técnica superior no CHUC
«As anemias hemolíticas congénitas são um verdadeiro desafio diagnóstico devido à sua multiplicidade de etiologias.
A correlação dos dados clínicos com os parâmetros hematológicos, que incluem, obrigatoriamente, a observação
morfológica do sangue periférico, é a chave para o seu diagnóstico, na medida em que nos orienta na escolha dos
testes laboratoriais. Na formação, pretendemos clarificar as melhores estratégias para o diagnóstico diferencial e a sua
abordagem terapêutica. Para tal, nada melhor do que analisar alguns casos práticos e, de forma didática, debater estas
questões.» Dr.ª Tabita Magalhães Maia, hematologista no CHUC
12
«As síndromes de insuficiência medular congénita constituem um grupo raro de doenças de caráter hereditário, em
que uma produção inadequada por parte da medula óssea se associa a uma suscetibilidade acrescida ao cancro. De
forma consistente, mas não sistemática, está presente uma perturbação do desenvolvimento ou função dos tecidos
extramedulares de que resultam defeitos somáticos ou doenças específicas de órgão. A diversidade fenotípica existente dificulta a acuidade diagnóstica.» Dr. José Barbot, hematologista no Porto
«Nos últimos 30 anos, os avanços no tratamento da doença de células falciformes foram enormes. O grupo pediátrico
foi o grande privilegiado e responsável por esta melhoria, pela implementação da profilaxia da infeção, pelo desenvolvimento e generalização de protocolos perante episódios febris agudos, pelo reconhecimento e tratamento precoces
da síndrome torácica aguda, pela utilização de transfusões na prevenção primária e secundária do acidente vascular
cerebral e de hidroxcarbamida nos casos graves, o que também diminuiu a morbilidade e a mortalidade. A vaso-oclusão é a responsável pela maioria das manifestações clínicas desta doença.» Dr.ª Anabela Morais, coordenadora
da Unidade de Hematologia Pediátrica do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria
«Apesar da melhoria dos cuidados nas complicações agudas e o aumento da esperança média de vida dos doentes
com drepanocitose, o tratamento das complicações crónicas continua a ser um desafio. Estas resultam da lesão de
órgãos-alvo pelo mecanismo de oclusão-reperfusão e da disfunção endotelial secundária à hemólise crónica e depleção de óxido nítrico. Uma das complicações crónicas mais frequentes é a dor crónica, que pode resultar de vários episódios vaso-oclusivos sucessivos ou enfartes ósseos, necrose asséptica óssea, úlceras de perna ou osteomielite. A dor
neuropática também pode coexistir. Há ainda complicações cardiorrespiratórias, renais, neurológicas, oftalmológicas,
bem como úlceras de perna e disfunção erétil.» Dr.ª Alexandra Pereira, hematologista no CHUC
Curso de trombose e hemóstase
«A abordagem laboratorial das alterações da coagulação fundamenta-se em algoritmos de estudo que permitem
identificar défices das proteínas que causam hemorragia ou trombose e esclarecer a sua origem. A otimização do
diagnóstico requer uma abordagem clínico-laboratorial para orientação do painel de testes a realizar. A avaliação
laboratorial depende de testes que podem ser afetados pela colheita da amostra e condições pré-analíticas, pelo que
é fundamental estabelecer testes de screening que orientam para testes diferenciados, integrar os resultados obtidos
com valores de referência ajustados à idade, confirmar o diagnóstico em novas amostras e efetuar estudos familiares
sempre que possível. O estudo dos mecanismos moleculares subjacentes a cada patologia é fundamental para aconselhamento genético e prevenção através do diagnóstico pré-natal.» Dr.ª Teresa Fidalgo, técnica superior no CHUC
«As plaquetas desempenham um papel fundamental na formação do trombo hemostático e do trombo oclusivo da
doença aterotrombótica, o que justifica o uso de fármacos antiplaquetários na doença arterial. As alterações congénitas das plaquetas constituem um grupo heterogéneo de doenças raras, com clínica variável, desde hemorragias
mucocutâneas graves até quadros frustres ou mesmo assintomáticos. O grande espetro de doenças congénitas da
plaqueta e a complexidade da sua avaliação tornam o diagnóstico destas patologias um desafio para qualquer laboratório. O reconhecimento dos quadros de trombocitopenia, frequentemente mal classificados, é fundalmental, de
forma a evitar tratamentos desnecessários e potencialmente nocivos.» Dr.ª Sara Morais, imuno-hemoterapeuta no
Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António (CHP/HSA)
«A hemorragia massiva é das principais causas de morbimortalidade nos doentes politraumatizados, em situações de hemorragia digestiva e obstétrica e de cirurgia major. A hemorragia severa, geralmente, é tratada através de reposição de volume com grandes quantidades de cristaloides e/ou coloides, seguida da administração de concentrados eritrocitários, e,
geralmente, da infusão de agentes hemostáticos e outros componentes sanguíneos. O diagnóstico e a monitorização do
tratamento e da possível coagulopatia estabelecida baseiam-se na conjunção de parâmetros clínicos e laboratoriais. As coagulopatias congénitas representam um grupo heterogéneo de doenças hemorrágicas hereditárias resultantes da deficiência
quantitativa e/ou qualitativa de uma ou mais das proteínas plasmáticas da coagulação. O tratamento baseia-se na implementação de procedimentos hemostáticos locais, no tratamento substitutivo com o fator deficitário específico, plasma fresco congelado ou em desmopressina e fatores “bypassantes”, como o complexo protrombínico ou o fator VII ativado.» Dr. Ramón Salvado, imuno-hemoterapeuta no CHUC
«As coagulopatias adquiridas são quadros clínicos hemorrágicos que ocorrem em indivíduos sem história prévia ou familiar de hemorragias. Estão associadas a disfunções de órgão secundárias, a neoplasmas mielo ou linfoproliferativos,
tumores sólidos ou têm uma natureza autoimune. Os autoanticorpos afetam a atividade ou aceleram a clearance dos
fatores da coagulação (inibidores adquiridos). Estes anticorpos são mais frequentes e atuam diretamente contra o fator VIII ou a molécula de Von Willebrand.» Dr. Manuel Campos, chefe de serviço de Hematologia Clínica no CHP/HSA
«A trombofilia é um tema atual e relevante, afigurando-se um dos principais motivos de envio de doentes à consulta de
especialidade, revelando-se, como tal, incontornável. Nos últimos 20 anos, assistimos a um boom de estudos diagnósticos, sobretudo moleculares, que vieram dificultar ainda mais a decisão clínica sobre quem estudar e o que estudar. O objetivo deste curso foi, em grande parte, fazer uma revisão das indicações atuais para estudos de trombofilia, relembrando
que alguns deles mostram pouca evidência de utilidade clínica. Além disso, não devemos “sobre-estudar” os doentes,
correndo o risco de rotular um fator de risco como doença.» Dr.ª Teresa Sevivas, imuno-hemoterapeuta no CHUC
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13 de novembro de 2015
13
ONTEM
Novidades na terapêutica do linfoma
indolente
Prof.ª Maria Gomes da Silva (moderadora) e Prof. Umberto Vitolo
14
O foco do simpósio-satélite organizado ontem pela Roche esteve nas
novas abordagens terapêuticas do linfoma indolente, especialmente
nas potencialidades do obinutuzumab, um novo anticorpo anti-CD20
tipo II. Mas também foram evidenciadas as mais-valias deste fármaco
no tratamento da leucemia linfocítica crónica.
A
por Marisa Teixeira
sessão arrancou com um overview sobre a evolução do tratamento das doenças CD20 positivas, apresentado pela Prof.ª
Maria Gomes da Silva, diretora do Serviço
de Hematologia do Instituto Português de
Oncologia de Lisboa e moderadora deste
simpósio. Muitos dos progressos no tratamento dos linfomas indolentes relacionam-se com a utilização da imunoterapia associada à quimioterapia, referiu esta especialista. E lembrou: «Nos últimos 15 anos,
tem-se recorrido, com muita frequência, ao
rituximab em associação com a quimioterapia para tratar linfomas indolentes e agressivos, com resultados muito favoráveis em
termos de prolongamento da sobrevivência, de sobrevivência sem doença e de maior
taxa de respostas completas, e de cura nos
linfomas agressivos.»
No entanto, existem novos anticorpos
anti-CD20, resultantes dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, com outcomes
promissores. Há muitas terapêuticas em
desenvolvimento, que se relacionam com as
vias de sinalização intracelular ou que podem ser combinadas com anticorpos monoclonais e agentes que interferem com essa
mesma sinalização. «No futuro, eventualmente, poder-se-ão tratar casos de doenças
indolentes com estratégias sem quimioterapia», sublinhou Maria Gomes da Silva. É que,
embora ainda não exista evidência de que
tal poderá acontecer, «vários ensaios clínicos
com doentes em recaída ou refratários têm
dado perspetivas otimistas».
Obinutuzumab no linfoma folicular
e na LLC
O linfoma folicular é um linfoma indolente
de elevada prevalência que, geralmente,
é sensível à quimioterapia com rituximab
e aos benefícios de manter este fármaco.
Contudo, como explicou o Prof. Umberto
Vitolo, diretor da Secção 2 de Hematologia
do Departamento de Oncologia e Hemato-
logia do Hospital Universitário Città della
Salute e della Scienza di Torino, em Itália, «os
doentes que não respondem nem evoluem
dentro de dois anos após a quimioimunoterapia têm outcomes pobres e as opções terapêuticas são limitadas».
«Diversos estudos recentes mostraram
que estes casos poderão beneficiar de fármacos não quimioterápicos ou do GA101
[obinutuzumab] em combinação com quimioterapia», avançou Umberto Vitolo. O
estudo Gadolin, apresentado no ASCO
(American Society Clinical Oncology) Annual Meeting 2015, que decorreu entre 29
de maio e 2 de junho, comparou a utilização de bendamustina em monoterapia
versus GA101 em associação com bendamustina, seguido da manutenção com
GA101 em doentes refratários ao rituximab, mostrando uma melhoria significativa na sobrevivência livre de progressão
mediana (29 versus 14 meses).
No que se refere aos doentes com leucemia linfocítica crónica (LLC) que necessitam
de tratamento, Umberto Vitolo sublinhou
que «o standard of care continua a ser o esquema terapêutico rituximab-fludarabina-ciclofosfamida». E ressalvou: «Este regime é
limitado a doentes com menos de 65 anos,
porque o risco de mielotoxicidade e de infeções é relevante nos mais idosos.» Por isso, as
opções terapêuticas nos doentes de idade
avançada incluem a combinação de anticorpos anti-CD20 e quimioterapia menos tóxica,
como a bendamustina e o clorambucilo.
Todavia, «é urgente encontrar algo mais eficaz, que melhore os resultados», defendeu o
orador. Nesse sentido, focou o estudo CLL11
(publicado em 2014, no New England Journal
of Medicine), que comparou o clorambucilo
às associações rituximab+clorambucilo e
obinutuzumab+clorambucilo, confrontando,
numa segunda fase, apenas as duas combinações. Os resultados evidenciam «um desempenho superior nos doentes de ambos
os braços tratados com anticorpos anti-CD20,
comparativamente ao braço do clorambucilo
em monoterapia». E, quando comparados
os dois braços dos anticorpos anti-CD20 do
estudo CLL11, «os doentes tratados com a
combinação obinutuzumab+clorambucilo
tiveram taxas de resposta global e de
resposta completa mais elevadas do que
os doentes tratados com a combinação
rituximab+clorambucilo». ND
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ONTEM
Avanços no tratamento da LLA
em adolescentes e adultos jovens
As novas perspetivas no tratamento da leucemia linfoblástica
aguda (LLA) e a importância de
monitorizar a atividade da asparaginase para otimizar a terapêutica
estiveram ontem em evidência, no
simpósio-satélite promovido pela
Jazz Pharmaceuticals. A sessão foi
moderada pelo Prof. José Eduardo
Guimarães, diretor do Serviço de
Hematologia do Centro Hospitalar
de São João, no Porto.
E
por Luís Garcia
16
mbora seja relativamente rara entre os adolescentes e os adultos
jovens, a LLA é a leucemia diagnosticada com maior frequência
na infância. Segundo o Prof. Josep-Maria
Ribera, um dos oradores e hematologista
no Hospital Universitari Germans Trias i Pujol, em Barcelona, as características clínicobiológicas desta patologia nos adolescentes
e jovens adultos são diferentes das que se
observam nas crianças, com maior frequência de subtipos de LLA com mau prognóstico, como as translocações BCR-ABL (breakpoint cluster region – Abelson), pré-T precoce
e IgH (immunoglobulin heavy), entre outras.
Várias análises retrospetivas de adolescentes com LLA diagnosticada de novo
mostraram resultados significativamente
superiores (em particular, uma taxa de surtos inferior) nos doentes tratados de acordo
com protocolos pediátricos, em comparação com os que seguiram regimes de adultos. Esta constatação gerou um crescente
interesse no tratamento da LLA nos adolescentes e jovens adultos.
De acordo com Josep-Maria Ribera, «os
estudos prospetivos nos adultos jovens com
protocolos pediátricos (modificados ou não)
mostraram a sua viabilidade, no mínimo,
até aos 40 anos de idade, com resultados
promissores e taxas de sobrevivência livre
de eventos iguais ou superiores a 60-65%».
Além disso, acrescentou o especialista, os resultados dos ensaios em grupos pediátricos
demonstraram que o prognóstico desfavorável nos adolescentes está a desaparecer.
Acresce que adolescentes mais velhos com
LAA podem ser curados com quimioterapia intensiva ajustada ao risco e guiada pela
doença mínima residual, sem transplante de
Prof. Josep-Maria Ribera, Prof. José Eduardo Guimarães (moderador) e Dr. Ximo Duarte (da esq. para a dta.)
células estaminais, apesar de alguns subtipos
da doença mais frequentes nos adolescentes do que nas crianças merecerem especial
atenção, na opinião de Josep-Maria Ribera.
«Os avanços no tratamento da LLA em adolescentes foram transpostos para os adultos
jovens e explicam a melhoria significativa na
sobrevivência destes doentes nos últimos
anos», concluiu o especialista.
SABIA QUE…
…a LLA representa 75% das
leucemias diagnosticadas em
idade pediátrica?
Papel da asparaginase
Tradicionalmente, os protocolos pediátricos
para tratamento da LLA incluem o uso da
asparaginase, em formulações e esquemas
variados. Na sua intervenção, o Dr. Ximo
Duarte, oncologista pediátrico no Instituto
Português de Oncologia (IPO) de Lisboa,
expôs alguma literatura científica sobre diversos aspetos do tratamento com asparaginase na LLA, incluindo a melhor maneir de
utilizar o medicamento, e como melhorar
a maneira em que ese medicamento é usado, com destaque para o trabalho de uma
equipa do Dana Farber Cancer Institute, em
Boston (EUA). «Uma publicação deste grupo
mostra que os doentes que conseguiram fa-
zer mais de 25 das 30 administrações de asparaginase que estavam programadas tiveram melhor sobrevida após o tratamento do
que os doentes que não chegaram a fazer 25
administrações», enunciou este orador.
A mensagem-chave de Ximo Duarte consistiu na consciencialização sobre a importância da deteção da inativação silenciosa da
asparaginase. Nesse sentido, o especialista
apresentou um estudo de âmbito nacional,
que arrancou no início do corrente mês de
novembro, com a participação de quatro
unidades que tratam crianças, adolescentes e jovens adultos com LLA: IPO de Lisboa
(Departamento de Oncologia da criança e do
adolescente e Departamento de Hematología), Hospital Pediátrico de Coimbra e Centro
Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa
Maria. De acordo com as estimativas de Ximo
Duarte, este estudo deverá contar com cerca
de 60 doentes e 960 amostras anualmente,
prolongando-se por quatro anos.
Segundo o oncologista pediátrico, esta
investigação vai monitorizar a atividade da
asparaginase, identificando doentes que
não estão a beneficiar do fármaco, sendo
expostos à sua toxicidade desnecessariamente. «Tem grande interesse identificar os
doentes com inativação silenciosa da asparaginase para, nestes casos, alterar a formulação para outra que consiga novamente
atingir níveis de atividade, concluiu Ximo
Duarte.» ND
lisea
- INS/PT/002/1015-01
Hematology/Oncology
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ONTEM
Avanços em diagnóstico e seguimento do MM
A evolução na área do diagnóstico e do seguimento do mieloma múltiplo (MM) e da amiloidose primária
deu o mote ao simpósio-satélite organizado ontem pela Binding Site. Em destaque esteve o imunoensaio
Hevylite®, que permite identificar e quantificar com precisão a proteína monoclonal. Segue-se um resumo da
informação que foi transmitida nesta sessão.
cluem também o uso das CLL séricas para o
seguimento do MMCL, do MMNS e da AL, e
para a definição da remissão completa estrita. Finalmente, na atualização de 2014 das
diretrizes do IMWG para o diagnóstico de
MM, foi dada relevância à utilidade da monitorização da atividade da doença com o
doseamento seriado das cadeias leves livres no soro, devido ao seu reconhecimento
como biomarcador de malignidade.
Precisão na deteção
da proteína monoclonal
18
ORADORES E MODERADORA (da esq. para a dta.): Dr. Tiago Pais, scientific liaison manager da Binding Site Ibéria; Dr.ª Catarina
Geraldes, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; e Dr. Nuno Cunha, responsável pelo Setor de Imunologia e
Hormonologia do Instituto Português de Oncologia de Coimbra
T
radicionalmente, as ferramentas
laboratoriais usadas no diagnóstico diferencial dos casos suspeitos de mieloma múltiplo (MM) ou
amiloidose primária (AL) baseavam-se apenas no proteinograma eletroforético (PEL) e
na imunofixação sérica (IF) ou urinária (proteinúria de Bence Jones), para a deteção da
proteína monoclonal (PM). Porém, apesar
de o uso destas técnicas estar bastante difundido, a sua sensibilidade na deteção da
secreção monoclonal de imunoglobulinas
produzida durante a expansão clonal dos
plasmócitos é manifestamente reduzida. O
proteinograma tem uma sensibilidade de
aproximadamente 1 g/L e sofre de problemas de comigração e aumentos policlonais,
com particular impacto na identificação de
cadeias leves livres monoclonais.
A IF é um método qualitativo até dez vezes mais sensível do que o proteinograma,
mas sujeito a uma interpretação subjetiva
por parte de profissionais experientes e altamente especializados. Por outro lado, apesar
do adicional de sensibilidade da imunofixação urinária, a pesquisa de cadeias leves livres (CLL) em colheita de urina de 24 horas
(proteinúria de Bence Jones) está condicionada à eficiência do metabolismo renal, ao
comprometimento do doente durante a colheita de urina e à subjetividade da interpretação do resultado.
Bradwell et al., cientes das dificuldades
técnicas na caracterização e quantificação
do componente monoclonal produzido
durante a expansão clonal dos plasmócitos,
publicaram, em 2001, um artigo na Clinical
Chemistry, onde referem, pela primeira vez,
a possibilidade de quantificação por nefelometria das cadeias leves Kappa e Lambda não ligadas à componente pesada das
imunoglobulinas, método automático e de
elevada sensibilidade. Neste artigo, os autores referem também a sensibilidade da
relação Kappa/Lambda no diagnóstico de
monoclonalidade.
Na última década, a incorporação progressiva do doseamento das CLL séricas
nos painéis analíticos de estudo das gamapatias monoclonais sugeridos pelas diretrizes internacionais levou ao aumento da
sensibilidade no diagnóstico diferencial do
MM de imunoglobulina intacta (MMII), MM
de cadeias leves (MMCL), MM não secretor
(MMNS) e amiloidose primária (AL).
Em 2009, A. Dispenzieri et al., nas diretrizes do International Myeloma Working Group
(IMWG), recomendaram a combinação do
doseamento das CLL em conjunto com o
PEL e a IF sérica como sendo suficientes no
rastreio inicial das gamapatias monoclonais,
com exceção de casos em que haja suspeita
de AL, para os quais se necessita da IF em
urina de 24 horas. Estas recomendações in-
Em 2009, surgiu um novo imunoensaio, o
Hevylite®, que permite quantificar separadamente as diferentes imunoglobulinas associadas a uma cadeia leve específica. Ou seja,
por exemplo, num MM do tipo IgAκ, este
ensaio permite quantificar separadamente
a IgAκ e a IgAλ de maneira automatizada
e com alta sensibilidade. Adicionalmente,
permite identificar a presença de uma PM
através do valor resultante do quociente das
duas imunoglobulinas doseadas (de forma
análoga ao que se faz com o ensaio de cadeias leves livres no soro).
O desenvolvimento do Hevylite® supõe
dois grandes avanços:
1) Seguimento de maior qualidade dos
doentes com MM ao superar algumas das
limitações da PEL na quantificação de PM
(principalmente nos casos de PM com padrões de migração que não permitem uma
clara resolução do pico-M). Desta forma, o
clínico dispõe sempre da informação sobre
a evolução da PM ao longo dos ciclos de tratamento e fase posterior, mesmo quando o
PEL não é quantificável;
2) Identificação de um novo tipo de imunoparesia definido pela diminuição da imunoglobulina do mesmo isótipo da tumoral,
mas da cadeia leve alternativa e que tem demonstrado, ao nível dos estudos, um valor
prognóstico significativo, tanto no momento de diagnóstico como no pós-tratamento.
Assim, reúne-se, num único ensaio, a possibilidade de identificar e quantificar, com
maior precisão, a presença de uma PM, bem
como um novo tipo de imunossupressão,
equivalendo à informação dada por três técnicas: PEL, IF e imunoglobulinas totais. ND
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ONTEM
Avanços no tratamento da LLC
Prof.ª Cristina João, Prof. Paulo Lúcio (moderador) e Prof.ª Carol Moreno (da esq. para a dta.)
«Leucemia linfocítica crónica [LLC] e a via PI3Kδ: o impacto sobre o
controlo da doença» foi o tema do simpósio-satélite organizado ontem
pela Gilead. Esteve em destaque a importância de inibir esta via de
sinalização, com novos fármacos como o idelalisib, para controlar com
maior eficácia a LLC.
O
por Marisa Teixeira
EXPERT'S OPINION
20
moderador do simpósio, Prof.
Paulo Lúcio, hematologista no
Centro Clínico Champalimaud,
em Lisboa, comentou a influência da via de sinalização PI3Kδ na patogénese
da LLC. «Esta via tem um papel importante
a nível fisiológico e está sobreativada numa
série de neoplasias, incluindo as doenças linfoproliferativas crónicas. Portanto, bloqueá-la para travar o crescimento destes tumores
tornou-se um alvo bastante apetecível. Para o
tratamento dos linfomas e da LLC, ainda não
tinha surgido uma arma terapêutica tão promissora como a que atualmente existe para
inibir a via PI3Kδ».
De seguida, a Prof.ª Carol Moreno, hematologista no Hospital de la Santa Creu i Sant
Pau, em Barcelona, falou sobre a patogénese
da LLC e as razões de ter como alvo a via de
sinalização PI3Kδ». Segundo esta oradora,
deu-se um grande avanço no tratamento da
LLC com o aparecimento de agentes direcionados para as vias relacionadas com os recetores de célula B. «Um alvo específico dentro
destas vias é a isoforma delta (δ) do PI3K,
que é inibida pelo idelalisib», sublinhou.
«Em doentes com LLC recidiva ou refratária, a administração oral de idelalisib levou
a respostas com diminuição acentuada da
linfodenopatia (superior a 80%), incluindo
nos doentes que apresentavam del(17p)/
/mutação TP53», referiu Carol Moreno, adiantando que «este fármaco apresenta um perfil
de toxicidade relativamente favorável».
Por sua vez, a Prof.ª Cristina João, hematologista no Centro Clínico Champalimaud,
focou os estudos que levaram à aprovação
do idelalisib para doentes com LLC tratados
previamente com pelo menos uma terapêutica, e como primeira linha nos doentes com
deleções do cromossoma 17p e/ou mutações no gene TP53. Um desses estudos é o
Dr. João Raposo, hematologista
no Centro Hospitalar Lisboa Norte/
/Hospital de Santa Maria
Com a chegada do idelalisib, o que
mudou para os doentes com LLC de
mau prognóstico?
Este subtipo de doentes com mutação do
PT53 ou del(17p) é, de facto, de mau prognóstico. Até há pouco tempo, não havia grandes opções terapêuticas
e uma delas passava pela transplantação de células hematopoiéticas
GS-US-312-0116, de fase III, publicado em
março de 2014, no New England Journal of
Medicine, que comparou um grupo de doentes com LLC recidiva ou refratária tratados
com idelalisib e rituximab a outro grupo de
doentes tratados com rituximab e placebo.
«Este estudo mostra vantagem, na sobrevivência livre de progressão mediana, da
utilização do idelalisib em associação com
o rituximab de 19,4 meses em comparação
com 6,5 meses no grupo do rituximab e placebo», avançou Cristina João. E acrescentou:
«Também no que diz respeito à sobrevivência
global, o mesmo grupo de doentes foi beneficiado, pois ainda não atingiu a sobrevivência
global mediana enquanto os doentes tratados com rituximab e placebo alcançaram 20,8
meses.» Nos doentes tratados com idelalisib e
rituximab, registou-se uma taxa de resposta
global de 84% versus o grupo comparador.
Já o estudo 101-08, de fase II, «mostra a
inequívoca vantagem do idelalisib em doentes com del(17p)/mutTP53», o que permitiu a sua aprovação como tratamento de
primeira linha para este subgrupo de doentes, em associação com o rituximab. Cristina
João explicou que «os resultados deste estudo mostraram que a utilização do idelalisib
é vantajosa quanto à taxa de respostas e à
sobrevivência, um importante avanço, pois
estes doentes têm muito mau prognóstico,
que ainda não tinha sido ultrapassado com
as terapêuticas anteriores, nomeadamente a
imunoquimioterapia».
Esta oradora referiu ainda que, em outubro
deste ano, o NICE emitiu uma recomendação
favorável à utilização do idelalisib associado
ao rituximab nos doentes com LLC não previamente tratados e com del(17p)/mutTP53,
e também nos doentes que recidivaram
num período de 24 meses com o tratamento
anterior. Esta recomendação do NICE ressalva que a Gilead deverá disponibilizar o idelalisib mediante o desconto acordado com o
NHS do Reino Unido. ND
estaminais, que é sempre difícil de aplicar, porque os doentes são
idosos. Os novos inibidores das cinases (lipídica – idelalisib; tirosínica – ibrutinib) estão aprovados para o tratamento em primeira
linha deste grupo específico. Só o tempo dirá qual a importância
verdadeiramente real destes fármacos, mas estes primeiros anos de
utilização parecem mostrar um verdadeiro progresso. A sobrevivência global nos ensaios clínicos disponíveis está em patamares superiores a 90%. Isto significa que os doentes estão vivos, com a LLC
controlada e, sobretudo, têm uma qualidade de vida superior, o que
me parece ser o mais relevante.
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AMANHÃ
Terapêuticas imuno-oncológicas
nos linfomas
«Potencial papel da Imuno-Oncologia em linfoma» vai ser o tema comentado pela Prof.ª Maria Gomes da
Silva, diretora do Serviço de Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, no simpósio-satélite que decorre amanhã, entre as 13h30 e as 14h30, promovido pela Bristol-Myers Squibb (BMS).
por Marisa Teixeira
22
A
Prof.ª Maria Gomes da Silva
pretende destacar vários aspetos nesta sessão. «Vou falar, por
exemplo, sobre os unmet medical needs, ou seja, as circunstâncias em que
os medicamentos convencionais podem
não ser suficientes, nomeadamente nos linfomas indolentes, nos linfomas agressivos e
nos linfomas Hodgkin», partilha. Apesar de
FLASHBACK
«a quimioterapia convencional continuar
a desempenhar um papel fundamental no
tratamento destas doenças», a preletora
abordará terapêuticas alternativas, como a
associação com outras formas de modulação do sistema imune, caso dos anticorpos
monoclonais dirigidos contra antigénios de
superfície. «Vou também mencionar as perspetivas recentes de interferência com as vias
de sinalização intracelulares e focar-me um
pouco na imunoatuação.»
Posteriormente, Maria Gomes da Silva salientará a interferência com a sinapse imunológica, que «implica o conhecimento de
que, para reconhecerem o tumor e serem
ativados, os linfócitos T têm de o fazer no
contexto de compatibilidade HLA [sigla em
inglês para sistema antígeno leucocitário
humano] e que, depois, têm um conjunto
de recetores estimuladores e supressores
da sua própria ativação». Esta hematologista acrescenta ainda que, quando prevalece
com a estimulação ativadora, a célula T será
ativada para destruir a célula do tumor, ou
pelo menos essa seria a consequência «num
mundo ideal», tendo de existir alguma interferência médica para que, de facto, tal aconteça. Por outro lado, quando há fortes sinais
inibitórios, acontece o contrário – «a célula T
torna-se anérgica e deixa de ser eficaz».
Nos últimos tempos, alguns destes recetores e ligantes inibitórios têm sido bastante
estudados. Os resultados de fase I de um dos
ensaios clínicos mais recentes neste campo
foram publicados em dezembro de 2014,
no New England Journal of Medicine, com o
artigo «PD-1 Blockade with Nivolumab in Relapsed or Refractory Hodgkin’s Lymphoma».
Questionada sobre este estudo que está a
testar o nivolumab em doentes com linfoma
de Hodgkin refratário ou reincidente, Maria
Gomes da Silva refere que «este novo anticorpo-PD1 [anti-programmed cell death-1]
mostra a capacidade de induzir elevada
taxa de respostas num grupo pequeno de
doentes».
«Estas respostas parecem ser duradouras, mas os resultados são ainda preliminares, apesar de se tratar de dados muito
otimistas.» Esta hematologista espera que,
no próximo Congresso da American Society of Hematology, que vai decorrer entre
5 e 8 de dezembro, em Orlando, seja divulgada informação mais atual sobre este
estudo.
O simpósio-satélite da BMS vai ser moderado pelo Prof. José Eduardo Guimarães, diretor do Serviço de Hematologia do Centro
Hospitalar de São João, no Porto, e contará
também com a intervenção da Prof.ª Maria
Victoria Mateos, diretora da Unidade de Mieloma do Hospital Universitário de Salamanca, que vai falar sobre a Imuno-Oncologia no
mieloma múltiplo. ND
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