Notícias Diárias 17.ª Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Hematologia (SPH) | www.sph.org.pt | Publicação de distribuição gratuita 13 novembro 2015 12 a 14 de novembro «A enzima heme oxigenase-1 tem efeito protetor numa série de doenças associadas à hemólise» O Prof. Miguel Soares é o orador da Lição desta Reunião Anual da SPH, intitulada «Targeting iron/Heme in inflammation and immunity». Este investigador no Instituto Gulbenkian de Ciência resume assim uma das suas descobertas: «A enzima heme oxigenase-1 tem um efeito bastante protetor numa série de doenças associadas à hemólise, o que se deve ao facto de a hemoglobina, ao ser libertada para o meio extracelular, oxidar e libertar grupos hemes tóxicos» Pág.8 6.ª feira Aceda à versão digital O TRATAMENTO DA LLC NÃO É UM JOGO Set 2015-2941 PUB publicidade ado eloma HOJE SESSÃO EDUCACIONAL 1 das 9h00 às 10h30 Moderação: Dr. José Barbot, hematologista no Porto, e Dr.ª Marta Duarte, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Imagens que não esquecem A primeira intervenção de hoje, a cargo da Dr.ª Tabita Magalhães Maia, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), não incidirá «num tema em particular, mas em vários, sempre com a noção de que a Hematologia não é uma especialidade só clínica, mas também laboratorial». Neste âmbito, vão ser apresentadas algumas imagens com alterações fenotípicas de doentes, com o objetivo de chamar a atenção para aspetos que podem ser pistas para o diagnóstico. «Cada apresentação é acompanhada por uma breve história clínica e será dada ênfase à morfologia do sangue periférico. Este é um exame simples, mas muito informativo, e uma ferramenta imprescindível no diagnóstico diferencial de muitas patologias», revela a preletora. Segundo Tabita Magalhães Maia, são também necessários, com frequência, exames complementares de diagnóstico de imagem, como o raio-X ou a tomografia axial computadorizada [TAC], para esclarecer a situação clínica. «Nem sempre os quadros clínicos são fáceis de interpretar, mas há imagens que nos ficam na retina, que são muito úteis em determinadas situações», sublinha. Todavia, a hematologista não irá mostrar apenas imagens raras, mas também algumas alterações que, apesar de frequentes, podem levantar algumas dúvidas. «A diferenciação entre um estomatócito e um xerócito ou a identificação de “linfócitos atípicos” O desafio de diagnosticar a PTT DR T ambém na Sessão Educacional 1, a Dr.ª Marie Scully, hematologista no University College Hospital, em Londres, falará sobre uma das suas áreas de interesse: a púrpura trombo- citopénica trombótica (PTT). Trata-se de um distúrbio raro e potencialmente fatal, diagnosticado pela presença de trombocitopenia, anemia hemolítica microangiopática e trombos microvasculares que resultam no envolvimento de vários órgãos. A oradora salienta a importância de diferenciar a PTT de outras microangiopatias trombóticas, especialmente da síndrome hemolítica urémica atípica. Admitindo que «o diagnóstico de PTT pode ser desafiante», Marie Scully afirma que «o rápido agravamento dos sintomas clínicos resulta na necessidade de intubação e ventilação em 10% dos casos e de cuidados intensivos em aproximadamente 50% das situações». De acordo com a especialista britânica, o diagnóstico é confirmado por uma defi- que surgem no contexto de intercorrências infeciosas são alguns exemplos que irei apresentar, entre muitos outros», conclui. ciência severa de ADAMTS 13 (A Disintegrin and Metalloproteinase with a ThromboSpondin type 1 motif, member 13) inferior a 10%. De frisar que a maioria dos doentes tem anticorpos associados a ADAMTS 13 e os tratamentos visam suprimir esta resposta imunitária. Quanto à PTT congénita, Marie Scully explica que «é muito rara, estimada em menos de um caso por milhão de habitantes e, muitas vezes, exige a substituição regular de ADAMTS 13». Atualmente, adianta Marie Scully, há uma série de ensaios clínicos e de potenciais terapêuticas em desenvolvimento com os objetivos de melhorar o tempo de normalização plaquetária, lidar com a doença refratária severa e constituir uma alternativa para a troca de plasma. ND Ficha Técnica Edição: Congresso organizado por: Secretariado Veranatura - Conference Organizers Rua Augusto Macedo, n.º 12-D - Esc. 2 • 1600 - 503 Lisboa Tel.: (+351) 217 120 778 • (+351) 217 120 779 Fax: (+351) 217 120 204 • [email protected] • www.sph.org.pt Esfera das Ideias, Lda. 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Tratamento de leucemias e linfomas em adolescentes e jovens adultos «A «Existem doentes hemato-oncológicos com pouca diferença de idade e a mesma patologia que serão tratados de forma completamente distinta» semelhantes para linfomas B e as indicações atualmente reconhecidas em Oncologia pediátrica para uso do rituximab, bem como a tendência atual de adoção de protocolos pediátricos pelos serviços de adultos na leucemia linfoblástica aguda, com uma terapêutica baseada no risco», remata o oncologista pediatra. Cancros comuns nos adolescentes e jovens adultos 12 000 10 000 8 000 6 000 4 000 2 000 0 15-19 anos Leucemia e linfoma Sistema nervoso central Tumores malignos do osso Tecidos moles e sarcoma de Kaposi 20-24 anos Células germinativas Tiroide Melanoma da pele Outros FONTE: National Cancer Institute / Surveillance, Epidemiology, and End Results (SEER) Program 4 melhoria da sobrevida no cancro teve uma evolução mais lenta no grupo de adolescentes e adultos jovens. A menor percentagem de doentes entre os 15 e os 25 anos que entravam em estudos multicêntricos é apontada como um dos fatores responsáveis por esta diferença.» Quem o afirma é o Dr. Manuel João Brito, oncologista pediatra no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que fará uma intervenção sob o mote «Leucemias/ /linfomas em adolescentes e jovens adultos – um desafio para oncologistas pediatras e hematologistas». No sentido de encontrar uma solução para esta dificuldade, passou a incorporar-se estes doentes em ensaios clínicos multicêntricos e/ou a centralizar-se a terapêutica nesta faixa etária. Esta prática, iniciada na América do Norte, acabou por levar a um aumento da sobrevida neste grupo de doentes. Também em Portugal, como explica Manuel João Brito, o aumento da idade pediátrica levantou questões já sentidas noutros países, relativas ao seguimento dos adolescentes e adultos jovens, a uma colaboração necessária e crescente entre a Hematologia, a Oncologia de adultos e a Oncologia Pediátrica, e ao local onde estes doentes são tratados. Hoje, assiste-se, a nível internacional, a uma tendência para a criação de unidades funcionais ou físicas para o tratamento deste grupo etário. Por outro lado, sublinha o palestrante, «a evolução dos protocolos usados na idade pediátrica tem sido diferente da dos adultos e, neste momento, existem doentes hemato-oncológicos com pouca diferença de idade e a mesma patologia que serão tratados de forma completamente distinta». E acrescenta: «O questionar destas diferenças é realizado numa base científica, dada a semelhança epidemiológica e de comportamento biológico das neoplasias hemato-oncológicas nos adolescentes com mais de 15 anos e nos adultos jovens.» Segundo Manuel João Brito, se em algumas patologias hemato-oncológicas os protocolos usados em adultos foram adaptados pela Pediatria – como, por exemplo, na leucemia mieloide crónica, na leucemia mieloide aguda e no linfoma de Hodgkin –, noutros casos, foram orientações com evolução na Oncologia Pediátrica que passaram a ser usados pelos serviços de Hematologia. «Realço ainda a utilização de protocolos publicidade (RCM continua no verso) HOJE Infiltração do SNC por linfomas não Hodgkin B agressivos «I nfiltração do sistema nervoso central [SNC] por linfomas não Hodgkin B agressivos: abordagem clínica e fatores de risco» é o segundo tema apresentado na Sessão Educacional 2, a cargo da Prof.ª Maria Gomes da Silva, diretora do Serviço de Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa. A especialista justifica a escolha deste tipo de linfoma para o tema da palestra, com particular enfoque nos linfomas B difusos de grandes células, com o facto de os linfomas indolentes muito raramente atingirem o SNC e aqueles que têm alta incidência de infiltração neste sistema já disporem de «protocolos bem desenhados que diminuem seriamente essa probabilidade». Segundo a oradora, trata-se de um evento de prognóstico muito reservado e distante do ideal, que seria «conseguir identificar grupos de risco e aplicar protocolos eficazes a esses 6 doentes». Todavia, já se conseguem reconhecer alguns fatores de risco, como refere Maria Gomes da Silva. «Em determinadas circunstâncias, quando há múltiplos locais extranodais atingidos e uma desidrogenase lática alta, ou quando há um índice de prognóstico internacional elevado, os doentes têm maior probabilidade de infiltração do SNC. Além disso, admitimos a hipótese de que algumas localizações extranodais se associem a uma possível maior infiltração.» A oradora adianta, porém, que, mesmo quando se identificam populações de alto risco em que a eventualidade de infiltração é maior, não há certeza de qual a melhor estratégia profilática a seguir. «Durante muito tempo, fez-se profilaxia com administração intratecal de fármacos, mas algumas evidências recentes sugerem que, afinal, esta estratégia é pouco ou nada eficaz», refere. Atualmente, alguns autores estudam fármacos administrados por via endove- nosa, com boa penetração no SNC. Contudo, ressalva Maria Gomes da Silva, «não existe a confirmação absoluta de que essa será a melhor estratégia» e, por outro lado, «cerca de metade dos doentes em que a patologia aparece no SNC não têm fatores de risco reconhecidos previamente». A hematologista acredita, por isso, que este tópico poderá levar a uma discussão interessante, pois «os fatores de risco são pouco específicos e pouco sensíveis para identificar a população que vai ser tratada». ND PUB publicidade 110,000 Mais de colaboradores, em 100 Países Uma oferta integrada de medicamentos, vacinas e soluções terapêuticas inovadoras 112 © Blue Images/Corbis - ooyoo/getty images sites industriais, presentes em 41 países SANOFI CENTRADA NAS NECESSIDADES DOS DOENTES A Sanofi tem vindo evoluir, ao longo dos anos, para responder aos novos desafios da saúde em todo o mundo. Hoje a Sanofi é uma companhia líder mundial na área da saúde e centrada no doente. Estamos atentos às necessidades dos doentes, ajudando-os na gestão e tratamento da sua doença. 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A acumulação de heme lábil no plasma pode levar a sobrecarga de ferro, stresse oxidativo e danificação dos tecidos. Miguel Soares sublinha que os grupos hemes tóxicos têm duas facetas muito importantes: por um lado, aumentam a inflamação; por outro, podem destruir células em vários tecidos. «Detetou-se que o efeito protetor da heme oxigenase-1 é, no fundo, originado pelo efeito tóxico da heme lábil e, como esta informação é ainda pouco divulgada no meio clínico, parece-me importante abordar o assunto na Reunião Anual da SPH», destaca o orador da Lição. 8 «H á vários anos, descobriu-se que a enzima heme oxigenase-1 tem um efeito protetor numa série de doenças associadas à hemólise, o que se deve ao facto de a hemoglobina, ao ser libertada para o meio extracelular, oxidar e libertar grupos hemes tóxicos.» Esta é a resposta de Miguel Soares, quando questionado sobre a investigação em que tem estado envolvido desde 1995, quando iniciou o seu pós-doutoramento na Harvard Medical School, em Boston, nos EUA. Desde essa altura, e ao longo de 12 anos como investigador no Instituto Gulbenkian de Ciência, os principais objetivos de Miguel Soares têm sido compreender os mecanismos celulares e moleculares que regulam a inflamação e perceber como podem estes processos ser utilizados terapeuticamente para superar o resultado patológico de doenças inflamatórias mediadas pelo sistema imunitário. Repercussões na prática clínica Presumivelmente, os efeitos nocivos da heme lábil contribuem, de forma crítica, para a patogénese de doenças inflamatórias mediadas pelo sistema imunitário associadas a hemólise. Tal acontece tanto em condições hemolíticas não infeciosas, como é o caso da anemia de células falciformes, como em condições hemolíticas infeciosas, de que são exemplo a sepsia severa ou as formas graves de malária. Miguel Soares recorda que, «se as doenças infeciosas estiverem associadas com a hemólise, o estado clínico do doente pode deteriorar-se muito rapidamente». Portanto, já se sabe que a hemólise é um fator agravante para uma diversidade de patologias, mas ainda não se descobriu o motivo. «Acreditamos que o mecanismo pelo qual a hemólise se torna patológica está relacionado com a libertação dos grupos hémicos da hemoglobina», revela Miguel Soares, adiantando que o possível efeito prático desta descoberta é «o desenvolvimento de fármacos que impeçam a ação desse mesmo mecanismo, ou seja, que impossibilitem que a hemoglobina liberte esses grupos de hemes». Porém, não se sabe quando tal poderá acontecer, pois essa libertação dos grupos hemes da hemoglobina está relacionada com mecanismos moleculares muito específicos que ainda são desconhecidos. «Imaginemos que as células do epitélio do pulmão ficam muito danificadas com esta ação e há um mecanismo molecular que o explica. Julgo que, se percebermos essas vias de sinalização, talvez consigamos agir terapeuticamente em outros pontos. Esta é uma via em que a minha equipa também está a trabalhar», remata. ND Importantes descobertas Entre os diversos contributos do Prof. Miguel Soares nas áreas de investigação e clínica destacam-se: • A descoberta do papel da heme oxigenase-1 e do monóxido de carbono na prevenção da rejeição de órgãos; • O papel protetor da heme oxigenase-1 na autoimunidade; • A função do monóxido de carbono na ligação ao ferro de grupos heme, prevenindo a sua libertação e reduzindo os sintomas da patogénese em formas graves de malária; • A hemoglobina falciforme confere tolerância à infeção por plasmodium; • A proteção dirigida do macrobiota contra a transmissão da malária. HOJE Evidência e experiência nacional com o ibrutinib As mais-valias do ibrutinib no tratamento da leucemia linfocítica crónica (LLC) e a experiência prática de dois centros nacionais com este fármaco vão estar em foco no simpósio-satélite promovido pela Janssen, que terá lugar entre as 13h30 e as 14h30. por Luís Garcia «Embora os dados não sejam ainda muito maduros e, possivelmente, não seja fácil avaliar a eficácia do fármaco com acompanhamentos curtos, temos todo o interesse em comparar aquilo que observamos na nossa prática clínica com o que se verificou nos ensaios clínicos já publicados», refere a hematologista. Perspetivas futuras 10 O Dr. João Raposo e Prof.ª Maria Gomes da Silva ibrutinib é um inibidor da tirosina quinase de Bruton com aprovação relativamente recente para a LLC, também utilizado em outras neoplasias linfoides. De acordo com a Prof.ª Maria Gomes da Silva, moderadora deste simpósio e diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, «este fármaco tem-se revelado eficaz e foi aprovado com base nos dados de comparação com a terapêutica considerada standard em doentes com leucemia em recaída ou refratária». A especialista refere que «o ibrutinib tem uma utilidade particular em doentes com algumas alterações citogenéticas de mau prognóstico, nomeadamente alterações no cromossoma 17 ou mutações no gene TP53, mas também em doentes que já fizeram algumas linhas terapêuticas e estão em recaída». Segundo Maria Gomes da Silva, o ibrutinib parece apresentar uma boa relação entre eficácia e toxicidade, conseguindo obter uma taxa de respostas elevada. «Embora as respostas não sejam completas com muita frequência, são bastante frequentes e, em muitos casos, persistentes», acrescenta. No simpósio, a Prof.ª Cristina João, hematologista no Centro Clínico Champalimaud, fará uma introdução sobre os mecanismos de ação do ibrutinib, não esquecendo o desenvolvimento de resistências e algumas toxicidades do fármaco, abordando também alguma da evidência que sustenta a sua utilização na LLC. Seguir-se-á a apresentação da experiência de dois centros nacionais com esta molécula: a Dr.ª Rita Coutinho apresentará os casos do IPO de Lisboa e a Dr.ª Daniela Alves os do Centro Hospitalar Lisboa Norte. Segundo Maria Gomes da Silva, ambos os centros usam já o medicamento com alguma frequência, embora a sua utilização em Portugal seja ainda relativamente recente. O Dr. João Raposo, hematologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria (HSM), é ponderado na análise dos dados já existentes relativamente ao desempenho do ibrutinib. «O HSM é um dos centros nacionais com maior experiência com este fármaco, mas ainda é curta no tempo. Temos quatro doentes medicados com o ibrutinib na prática clínica diária, com um período de tempo que ainda não chega a um ano, pelo que é impossível tirar ilações já. Contamos também com oito doentes em ensaio clínico, há dois anos, mas esse é um domínio completamente distinto», afirma o especialista. No entanto, sublinha João Raposo, esta experiência prática ainda preliminar, associada aos resultados dos ensaios clínicos, já permite discutir algumas questões, como quando escolher este fármaco para tratar os doentes com LLC e como avaliar as respostas nestes grupos de doentes. Outro aspeto sobre o qual importa refletir são os efeitos secundários desta terapêutica e «de que forma poderão ou não comprometer a tolerância do doente a um tratamento que é contínuo e que, aparentemente, só terminará quando a doença progredir». Apesar de todas as cautelas, João Raposo admite estar entusiasmado com as perspetivas que os inibidores das cinases podem oferecer. «Temos ao nosso dispor “armas” eficazes e apetecíveis, dado que são tratamentos orais, completamente diferentes dos endovenosos, mas estamos longe de poder tirar conclusões definitivas sobre elas», conclui João Raposo. ND publicidade ONTEM Formação inaugurou reunião Dois cursos simultâneos, um dedicado às anemias congénitas e outro à trombose e hemóstase, abriram ontem o programa científico desta Reunião Anual da SPH. Seguem-se algumas das mensagens salientadas pelos formadores. Curso de anemias congénitas «Na investigação etiológica das anemias, é fundamental ter presentes alguns conceitos básicos que permitem estabelecer o diagnóstico mais eficazmente. Neste curso, foram abordadas essas ferramentas de raciocínio e discutidos os testes mais indicados para identificar a etiologia e os fatores moduladores do quadro clínico. Embora tenhamos à disposição uma grande diversidade de testes laboratoriais, é necessário não dispersar recursos e escolher os mais indicados em cada situação.» Prof.ª Letícia Ribeiro, diretora do Serviço de Hematologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) «A anemia sideropénica e a talassemia são as causas mais frequentes de anemia hipocrómica e microcítica. Na abordagem a estes doentes, além de uma cuidadosa história clínica e familiar, é imprescindível a interpretação correta dos parâmetros hematológicos e o estudo morfológico do esfregaço de sangue periférico. O diagnóstico diferencial é tão mais importante, quanto a abordagem terapêutica, o prognóstico e o aconselhamento genético variam de acordo com a patologia de base.» Prof.ª Celeste Bento, técnica superior no CHUC «As anemias hemolíticas congénitas são um verdadeiro desafio diagnóstico devido à sua multiplicidade de etiologias. A correlação dos dados clínicos com os parâmetros hematológicos, que incluem, obrigatoriamente, a observação morfológica do sangue periférico, é a chave para o seu diagnóstico, na medida em que nos orienta na escolha dos testes laboratoriais. Na formação, pretendemos clarificar as melhores estratégias para o diagnóstico diferencial e a sua abordagem terapêutica. Para tal, nada melhor do que analisar alguns casos práticos e, de forma didática, debater estas questões.» Dr.ª Tabita Magalhães Maia, hematologista no CHUC 12 «As síndromes de insuficiência medular congénita constituem um grupo raro de doenças de caráter hereditário, em que uma produção inadequada por parte da medula óssea se associa a uma suscetibilidade acrescida ao cancro. De forma consistente, mas não sistemática, está presente uma perturbação do desenvolvimento ou função dos tecidos extramedulares de que resultam defeitos somáticos ou doenças específicas de órgão. A diversidade fenotípica existente dificulta a acuidade diagnóstica.» Dr. José Barbot, hematologista no Porto «Nos últimos 30 anos, os avanços no tratamento da doença de células falciformes foram enormes. O grupo pediátrico foi o grande privilegiado e responsável por esta melhoria, pela implementação da profilaxia da infeção, pelo desenvolvimento e generalização de protocolos perante episódios febris agudos, pelo reconhecimento e tratamento precoces da síndrome torácica aguda, pela utilização de transfusões na prevenção primária e secundária do acidente vascular cerebral e de hidroxcarbamida nos casos graves, o que também diminuiu a morbilidade e a mortalidade. A vaso-oclusão é a responsável pela maioria das manifestações clínicas desta doença.» Dr.ª Anabela Morais, coordenadora da Unidade de Hematologia Pediátrica do Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria «Apesar da melhoria dos cuidados nas complicações agudas e o aumento da esperança média de vida dos doentes com drepanocitose, o tratamento das complicações crónicas continua a ser um desafio. Estas resultam da lesão de órgãos-alvo pelo mecanismo de oclusão-reperfusão e da disfunção endotelial secundária à hemólise crónica e depleção de óxido nítrico. Uma das complicações crónicas mais frequentes é a dor crónica, que pode resultar de vários episódios vaso-oclusivos sucessivos ou enfartes ósseos, necrose asséptica óssea, úlceras de perna ou osteomielite. A dor neuropática também pode coexistir. Há ainda complicações cardiorrespiratórias, renais, neurológicas, oftalmológicas, bem como úlceras de perna e disfunção erétil.» Dr.ª Alexandra Pereira, hematologista no CHUC Curso de trombose e hemóstase «A abordagem laboratorial das alterações da coagulação fundamenta-se em algoritmos de estudo que permitem identificar défices das proteínas que causam hemorragia ou trombose e esclarecer a sua origem. A otimização do diagnóstico requer uma abordagem clínico-laboratorial para orientação do painel de testes a realizar. A avaliação laboratorial depende de testes que podem ser afetados pela colheita da amostra e condições pré-analíticas, pelo que é fundamental estabelecer testes de screening que orientam para testes diferenciados, integrar os resultados obtidos com valores de referência ajustados à idade, confirmar o diagnóstico em novas amostras e efetuar estudos familiares sempre que possível. O estudo dos mecanismos moleculares subjacentes a cada patologia é fundamental para aconselhamento genético e prevenção através do diagnóstico pré-natal.» Dr.ª Teresa Fidalgo, técnica superior no CHUC «As plaquetas desempenham um papel fundamental na formação do trombo hemostático e do trombo oclusivo da doença aterotrombótica, o que justifica o uso de fármacos antiplaquetários na doença arterial. As alterações congénitas das plaquetas constituem um grupo heterogéneo de doenças raras, com clínica variável, desde hemorragias mucocutâneas graves até quadros frustres ou mesmo assintomáticos. O grande espetro de doenças congénitas da plaqueta e a complexidade da sua avaliação tornam o diagnóstico destas patologias um desafio para qualquer laboratório. O reconhecimento dos quadros de trombocitopenia, frequentemente mal classificados, é fundalmental, de forma a evitar tratamentos desnecessários e potencialmente nocivos.» Dr.ª Sara Morais, imuno-hemoterapeuta no Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António (CHP/HSA) «A hemorragia massiva é das principais causas de morbimortalidade nos doentes politraumatizados, em situações de hemorragia digestiva e obstétrica e de cirurgia major. A hemorragia severa, geralmente, é tratada através de reposição de volume com grandes quantidades de cristaloides e/ou coloides, seguida da administração de concentrados eritrocitários, e, geralmente, da infusão de agentes hemostáticos e outros componentes sanguíneos. O diagnóstico e a monitorização do tratamento e da possível coagulopatia estabelecida baseiam-se na conjunção de parâmetros clínicos e laboratoriais. As coagulopatias congénitas representam um grupo heterogéneo de doenças hemorrágicas hereditárias resultantes da deficiência quantitativa e/ou qualitativa de uma ou mais das proteínas plasmáticas da coagulação. O tratamento baseia-se na implementação de procedimentos hemostáticos locais, no tratamento substitutivo com o fator deficitário específico, plasma fresco congelado ou em desmopressina e fatores “bypassantes”, como o complexo protrombínico ou o fator VII ativado.» Dr. Ramón Salvado, imuno-hemoterapeuta no CHUC «As coagulopatias adquiridas são quadros clínicos hemorrágicos que ocorrem em indivíduos sem história prévia ou familiar de hemorragias. Estão associadas a disfunções de órgão secundárias, a neoplasmas mielo ou linfoproliferativos, tumores sólidos ou têm uma natureza autoimune. Os autoanticorpos afetam a atividade ou aceleram a clearance dos fatores da coagulação (inibidores adquiridos). Estes anticorpos são mais frequentes e atuam diretamente contra o fator VIII ou a molécula de Von Willebrand.» Dr. Manuel Campos, chefe de serviço de Hematologia Clínica no CHP/HSA «A trombofilia é um tema atual e relevante, afigurando-se um dos principais motivos de envio de doentes à consulta de especialidade, revelando-se, como tal, incontornável. Nos últimos 20 anos, assistimos a um boom de estudos diagnósticos, sobretudo moleculares, que vieram dificultar ainda mais a decisão clínica sobre quem estudar e o que estudar. O objetivo deste curso foi, em grande parte, fazer uma revisão das indicações atuais para estudos de trombofilia, relembrando que alguns deles mostram pouca evidência de utilidade clínica. Além disso, não devemos “sobre-estudar” os doentes, correndo o risco de rotular um fator de risco como doença.» Dr.ª Teresa Sevivas, imuno-hemoterapeuta no CHUC PUB publicidade 13 de novembro de 2015 13 ONTEM Novidades na terapêutica do linfoma indolente Prof.ª Maria Gomes da Silva (moderadora) e Prof. Umberto Vitolo 14 O foco do simpósio-satélite organizado ontem pela Roche esteve nas novas abordagens terapêuticas do linfoma indolente, especialmente nas potencialidades do obinutuzumab, um novo anticorpo anti-CD20 tipo II. Mas também foram evidenciadas as mais-valias deste fármaco no tratamento da leucemia linfocítica crónica. A por Marisa Teixeira sessão arrancou com um overview sobre a evolução do tratamento das doenças CD20 positivas, apresentado pela Prof.ª Maria Gomes da Silva, diretora do Serviço de Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa e moderadora deste simpósio. Muitos dos progressos no tratamento dos linfomas indolentes relacionam-se com a utilização da imunoterapia associada à quimioterapia, referiu esta especialista. E lembrou: «Nos últimos 15 anos, tem-se recorrido, com muita frequência, ao rituximab em associação com a quimioterapia para tratar linfomas indolentes e agressivos, com resultados muito favoráveis em termos de prolongamento da sobrevivência, de sobrevivência sem doença e de maior taxa de respostas completas, e de cura nos linfomas agressivos.» No entanto, existem novos anticorpos anti-CD20, resultantes dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, com outcomes promissores. Há muitas terapêuticas em desenvolvimento, que se relacionam com as vias de sinalização intracelular ou que podem ser combinadas com anticorpos monoclonais e agentes que interferem com essa mesma sinalização. «No futuro, eventualmente, poder-se-ão tratar casos de doenças indolentes com estratégias sem quimioterapia», sublinhou Maria Gomes da Silva. É que, embora ainda não exista evidência de que tal poderá acontecer, «vários ensaios clínicos com doentes em recaída ou refratários têm dado perspetivas otimistas». Obinutuzumab no linfoma folicular e na LLC O linfoma folicular é um linfoma indolente de elevada prevalência que, geralmente, é sensível à quimioterapia com rituximab e aos benefícios de manter este fármaco. Contudo, como explicou o Prof. Umberto Vitolo, diretor da Secção 2 de Hematologia do Departamento de Oncologia e Hemato- logia do Hospital Universitário Città della Salute e della Scienza di Torino, em Itália, «os doentes que não respondem nem evoluem dentro de dois anos após a quimioimunoterapia têm outcomes pobres e as opções terapêuticas são limitadas». «Diversos estudos recentes mostraram que estes casos poderão beneficiar de fármacos não quimioterápicos ou do GA101 [obinutuzumab] em combinação com quimioterapia», avançou Umberto Vitolo. O estudo Gadolin, apresentado no ASCO (American Society Clinical Oncology) Annual Meeting 2015, que decorreu entre 29 de maio e 2 de junho, comparou a utilização de bendamustina em monoterapia versus GA101 em associação com bendamustina, seguido da manutenção com GA101 em doentes refratários ao rituximab, mostrando uma melhoria significativa na sobrevivência livre de progressão mediana (29 versus 14 meses). No que se refere aos doentes com leucemia linfocítica crónica (LLC) que necessitam de tratamento, Umberto Vitolo sublinhou que «o standard of care continua a ser o esquema terapêutico rituximab-fludarabina-ciclofosfamida». E ressalvou: «Este regime é limitado a doentes com menos de 65 anos, porque o risco de mielotoxicidade e de infeções é relevante nos mais idosos.» Por isso, as opções terapêuticas nos doentes de idade avançada incluem a combinação de anticorpos anti-CD20 e quimioterapia menos tóxica, como a bendamustina e o clorambucilo. Todavia, «é urgente encontrar algo mais eficaz, que melhore os resultados», defendeu o orador. Nesse sentido, focou o estudo CLL11 (publicado em 2014, no New England Journal of Medicine), que comparou o clorambucilo às associações rituximab+clorambucilo e obinutuzumab+clorambucilo, confrontando, numa segunda fase, apenas as duas combinações. Os resultados evidenciam «um desempenho superior nos doentes de ambos os braços tratados com anticorpos anti-CD20, comparativamente ao braço do clorambucilo em monoterapia». E, quando comparados os dois braços dos anticorpos anti-CD20 do estudo CLL11, «os doentes tratados com a combinação obinutuzumab+clorambucilo tiveram taxas de resposta global e de resposta completa mais elevadas do que os doentes tratados com a combinação rituximab+clorambucilo». ND publicidade ONTEM Avanços no tratamento da LLA em adolescentes e adultos jovens As novas perspetivas no tratamento da leucemia linfoblástica aguda (LLA) e a importância de monitorizar a atividade da asparaginase para otimizar a terapêutica estiveram ontem em evidência, no simpósio-satélite promovido pela Jazz Pharmaceuticals. A sessão foi moderada pelo Prof. José Eduardo Guimarães, diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de São João, no Porto. E por Luís Garcia 16 mbora seja relativamente rara entre os adolescentes e os adultos jovens, a LLA é a leucemia diagnosticada com maior frequência na infância. Segundo o Prof. Josep-Maria Ribera, um dos oradores e hematologista no Hospital Universitari Germans Trias i Pujol, em Barcelona, as características clínicobiológicas desta patologia nos adolescentes e jovens adultos são diferentes das que se observam nas crianças, com maior frequência de subtipos de LLA com mau prognóstico, como as translocações BCR-ABL (breakpoint cluster region – Abelson), pré-T precoce e IgH (immunoglobulin heavy), entre outras. Várias análises retrospetivas de adolescentes com LLA diagnosticada de novo mostraram resultados significativamente superiores (em particular, uma taxa de surtos inferior) nos doentes tratados de acordo com protocolos pediátricos, em comparação com os que seguiram regimes de adultos. Esta constatação gerou um crescente interesse no tratamento da LLA nos adolescentes e jovens adultos. De acordo com Josep-Maria Ribera, «os estudos prospetivos nos adultos jovens com protocolos pediátricos (modificados ou não) mostraram a sua viabilidade, no mínimo, até aos 40 anos de idade, com resultados promissores e taxas de sobrevivência livre de eventos iguais ou superiores a 60-65%». Além disso, acrescentou o especialista, os resultados dos ensaios em grupos pediátricos demonstraram que o prognóstico desfavorável nos adolescentes está a desaparecer. Acresce que adolescentes mais velhos com LAA podem ser curados com quimioterapia intensiva ajustada ao risco e guiada pela doença mínima residual, sem transplante de Prof. Josep-Maria Ribera, Prof. José Eduardo Guimarães (moderador) e Dr. Ximo Duarte (da esq. para a dta.) células estaminais, apesar de alguns subtipos da doença mais frequentes nos adolescentes do que nas crianças merecerem especial atenção, na opinião de Josep-Maria Ribera. «Os avanços no tratamento da LLA em adolescentes foram transpostos para os adultos jovens e explicam a melhoria significativa na sobrevivência destes doentes nos últimos anos», concluiu o especialista. SABIA QUE… …a LLA representa 75% das leucemias diagnosticadas em idade pediátrica? Papel da asparaginase Tradicionalmente, os protocolos pediátricos para tratamento da LLA incluem o uso da asparaginase, em formulações e esquemas variados. Na sua intervenção, o Dr. Ximo Duarte, oncologista pediátrico no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, expôs alguma literatura científica sobre diversos aspetos do tratamento com asparaginase na LLA, incluindo a melhor maneir de utilizar o medicamento, e como melhorar a maneira em que ese medicamento é usado, com destaque para o trabalho de uma equipa do Dana Farber Cancer Institute, em Boston (EUA). «Uma publicação deste grupo mostra que os doentes que conseguiram fa- zer mais de 25 das 30 administrações de asparaginase que estavam programadas tiveram melhor sobrevida após o tratamento do que os doentes que não chegaram a fazer 25 administrações», enunciou este orador. A mensagem-chave de Ximo Duarte consistiu na consciencialização sobre a importância da deteção da inativação silenciosa da asparaginase. Nesse sentido, o especialista apresentou um estudo de âmbito nacional, que arrancou no início do corrente mês de novembro, com a participação de quatro unidades que tratam crianças, adolescentes e jovens adultos com LLA: IPO de Lisboa (Departamento de Oncologia da criança e do adolescente e Departamento de Hematología), Hospital Pediátrico de Coimbra e Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria. De acordo com as estimativas de Ximo Duarte, este estudo deverá contar com cerca de 60 doentes e 960 amostras anualmente, prolongando-se por quatro anos. Segundo o oncologista pediátrico, esta investigação vai monitorizar a atividade da asparaginase, identificando doentes que não estão a beneficiar do fármaco, sendo expostos à sua toxicidade desnecessariamente. «Tem grande interesse identificar os doentes com inativação silenciosa da asparaginase para, nestes casos, alterar a formulação para outra que consiga novamente atingir níveis de atividade, concluiu Ximo Duarte.» ND lisea - INS/PT/002/1015-01 Hematology/Oncology www.jazzpharmaceuticals.com EUSA Pharma SAS é uma divisão internacional da Jazz Pharmaceuticals. EUSA Pharma SAS / Jazz Pharmaceuticals 3 Allée des séquoias - 69760 Limonest - France Para pedidos de informação médica, por favor envie um e-mail para : [email protected] ou Tel : 00351308805626 ONTEM Avanços em diagnóstico e seguimento do MM A evolução na área do diagnóstico e do seguimento do mieloma múltiplo (MM) e da amiloidose primária deu o mote ao simpósio-satélite organizado ontem pela Binding Site. Em destaque esteve o imunoensaio Hevylite®, que permite identificar e quantificar com precisão a proteína monoclonal. Segue-se um resumo da informação que foi transmitida nesta sessão. cluem também o uso das CLL séricas para o seguimento do MMCL, do MMNS e da AL, e para a definição da remissão completa estrita. Finalmente, na atualização de 2014 das diretrizes do IMWG para o diagnóstico de MM, foi dada relevância à utilidade da monitorização da atividade da doença com o doseamento seriado das cadeias leves livres no soro, devido ao seu reconhecimento como biomarcador de malignidade. Precisão na deteção da proteína monoclonal 18 ORADORES E MODERADORA (da esq. para a dta.): Dr. Tiago Pais, scientific liaison manager da Binding Site Ibéria; Dr.ª Catarina Geraldes, hematologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; e Dr. Nuno Cunha, responsável pelo Setor de Imunologia e Hormonologia do Instituto Português de Oncologia de Coimbra T radicionalmente, as ferramentas laboratoriais usadas no diagnóstico diferencial dos casos suspeitos de mieloma múltiplo (MM) ou amiloidose primária (AL) baseavam-se apenas no proteinograma eletroforético (PEL) e na imunofixação sérica (IF) ou urinária (proteinúria de Bence Jones), para a deteção da proteína monoclonal (PM). Porém, apesar de o uso destas técnicas estar bastante difundido, a sua sensibilidade na deteção da secreção monoclonal de imunoglobulinas produzida durante a expansão clonal dos plasmócitos é manifestamente reduzida. O proteinograma tem uma sensibilidade de aproximadamente 1 g/L e sofre de problemas de comigração e aumentos policlonais, com particular impacto na identificação de cadeias leves livres monoclonais. A IF é um método qualitativo até dez vezes mais sensível do que o proteinograma, mas sujeito a uma interpretação subjetiva por parte de profissionais experientes e altamente especializados. Por outro lado, apesar do adicional de sensibilidade da imunofixação urinária, a pesquisa de cadeias leves livres (CLL) em colheita de urina de 24 horas (proteinúria de Bence Jones) está condicionada à eficiência do metabolismo renal, ao comprometimento do doente durante a colheita de urina e à subjetividade da interpretação do resultado. Bradwell et al., cientes das dificuldades técnicas na caracterização e quantificação do componente monoclonal produzido durante a expansão clonal dos plasmócitos, publicaram, em 2001, um artigo na Clinical Chemistry, onde referem, pela primeira vez, a possibilidade de quantificação por nefelometria das cadeias leves Kappa e Lambda não ligadas à componente pesada das imunoglobulinas, método automático e de elevada sensibilidade. Neste artigo, os autores referem também a sensibilidade da relação Kappa/Lambda no diagnóstico de monoclonalidade. Na última década, a incorporação progressiva do doseamento das CLL séricas nos painéis analíticos de estudo das gamapatias monoclonais sugeridos pelas diretrizes internacionais levou ao aumento da sensibilidade no diagnóstico diferencial do MM de imunoglobulina intacta (MMII), MM de cadeias leves (MMCL), MM não secretor (MMNS) e amiloidose primária (AL). Em 2009, A. Dispenzieri et al., nas diretrizes do International Myeloma Working Group (IMWG), recomendaram a combinação do doseamento das CLL em conjunto com o PEL e a IF sérica como sendo suficientes no rastreio inicial das gamapatias monoclonais, com exceção de casos em que haja suspeita de AL, para os quais se necessita da IF em urina de 24 horas. Estas recomendações in- Em 2009, surgiu um novo imunoensaio, o Hevylite®, que permite quantificar separadamente as diferentes imunoglobulinas associadas a uma cadeia leve específica. Ou seja, por exemplo, num MM do tipo IgAκ, este ensaio permite quantificar separadamente a IgAκ e a IgAλ de maneira automatizada e com alta sensibilidade. Adicionalmente, permite identificar a presença de uma PM através do valor resultante do quociente das duas imunoglobulinas doseadas (de forma análoga ao que se faz com o ensaio de cadeias leves livres no soro). O desenvolvimento do Hevylite® supõe dois grandes avanços: 1) Seguimento de maior qualidade dos doentes com MM ao superar algumas das limitações da PEL na quantificação de PM (principalmente nos casos de PM com padrões de migração que não permitem uma clara resolução do pico-M). Desta forma, o clínico dispõe sempre da informação sobre a evolução da PM ao longo dos ciclos de tratamento e fase posterior, mesmo quando o PEL não é quantificável; 2) Identificação de um novo tipo de imunoparesia definido pela diminuição da imunoglobulina do mesmo isótipo da tumoral, mas da cadeia leve alternativa e que tem demonstrado, ao nível dos estudos, um valor prognóstico significativo, tanto no momento de diagnóstico como no pós-tratamento. Assim, reúne-se, num único ensaio, a possibilidade de identificar e quantificar, com maior precisão, a presença de uma PM, bem como um novo tipo de imunossupressão, equivalendo à informação dada por três técnicas: PEL, IF e imunoglobulinas totais. ND publicidade ONTEM Avanços no tratamento da LLC Prof.ª Cristina João, Prof. Paulo Lúcio (moderador) e Prof.ª Carol Moreno (da esq. para a dta.) «Leucemia linfocítica crónica [LLC] e a via PI3Kδ: o impacto sobre o controlo da doença» foi o tema do simpósio-satélite organizado ontem pela Gilead. Esteve em destaque a importância de inibir esta via de sinalização, com novos fármacos como o idelalisib, para controlar com maior eficácia a LLC. O por Marisa Teixeira EXPERT'S OPINION 20 moderador do simpósio, Prof. Paulo Lúcio, hematologista no Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa, comentou a influência da via de sinalização PI3Kδ na patogénese da LLC. «Esta via tem um papel importante a nível fisiológico e está sobreativada numa série de neoplasias, incluindo as doenças linfoproliferativas crónicas. Portanto, bloqueá-la para travar o crescimento destes tumores tornou-se um alvo bastante apetecível. Para o tratamento dos linfomas e da LLC, ainda não tinha surgido uma arma terapêutica tão promissora como a que atualmente existe para inibir a via PI3Kδ». De seguida, a Prof.ª Carol Moreno, hematologista no Hospital de la Santa Creu i Sant Pau, em Barcelona, falou sobre a patogénese da LLC e as razões de ter como alvo a via de sinalização PI3Kδ». Segundo esta oradora, deu-se um grande avanço no tratamento da LLC com o aparecimento de agentes direcionados para as vias relacionadas com os recetores de célula B. «Um alvo específico dentro destas vias é a isoforma delta (δ) do PI3K, que é inibida pelo idelalisib», sublinhou. «Em doentes com LLC recidiva ou refratária, a administração oral de idelalisib levou a respostas com diminuição acentuada da linfodenopatia (superior a 80%), incluindo nos doentes que apresentavam del(17p)/ /mutação TP53», referiu Carol Moreno, adiantando que «este fármaco apresenta um perfil de toxicidade relativamente favorável». Por sua vez, a Prof.ª Cristina João, hematologista no Centro Clínico Champalimaud, focou os estudos que levaram à aprovação do idelalisib para doentes com LLC tratados previamente com pelo menos uma terapêutica, e como primeira linha nos doentes com deleções do cromossoma 17p e/ou mutações no gene TP53. Um desses estudos é o Dr. João Raposo, hematologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/ /Hospital de Santa Maria Com a chegada do idelalisib, o que mudou para os doentes com LLC de mau prognóstico? Este subtipo de doentes com mutação do PT53 ou del(17p) é, de facto, de mau prognóstico. Até há pouco tempo, não havia grandes opções terapêuticas e uma delas passava pela transplantação de células hematopoiéticas GS-US-312-0116, de fase III, publicado em março de 2014, no New England Journal of Medicine, que comparou um grupo de doentes com LLC recidiva ou refratária tratados com idelalisib e rituximab a outro grupo de doentes tratados com rituximab e placebo. «Este estudo mostra vantagem, na sobrevivência livre de progressão mediana, da utilização do idelalisib em associação com o rituximab de 19,4 meses em comparação com 6,5 meses no grupo do rituximab e placebo», avançou Cristina João. E acrescentou: «Também no que diz respeito à sobrevivência global, o mesmo grupo de doentes foi beneficiado, pois ainda não atingiu a sobrevivência global mediana enquanto os doentes tratados com rituximab e placebo alcançaram 20,8 meses.» Nos doentes tratados com idelalisib e rituximab, registou-se uma taxa de resposta global de 84% versus o grupo comparador. Já o estudo 101-08, de fase II, «mostra a inequívoca vantagem do idelalisib em doentes com del(17p)/mutTP53», o que permitiu a sua aprovação como tratamento de primeira linha para este subgrupo de doentes, em associação com o rituximab. Cristina João explicou que «os resultados deste estudo mostraram que a utilização do idelalisib é vantajosa quanto à taxa de respostas e à sobrevivência, um importante avanço, pois estes doentes têm muito mau prognóstico, que ainda não tinha sido ultrapassado com as terapêuticas anteriores, nomeadamente a imunoquimioterapia». Esta oradora referiu ainda que, em outubro deste ano, o NICE emitiu uma recomendação favorável à utilização do idelalisib associado ao rituximab nos doentes com LLC não previamente tratados e com del(17p)/mutTP53, e também nos doentes que recidivaram num período de 24 meses com o tratamento anterior. Esta recomendação do NICE ressalva que a Gilead deverá disponibilizar o idelalisib mediante o desconto acordado com o NHS do Reino Unido. ND estaminais, que é sempre difícil de aplicar, porque os doentes são idosos. Os novos inibidores das cinases (lipídica – idelalisib; tirosínica – ibrutinib) estão aprovados para o tratamento em primeira linha deste grupo específico. Só o tempo dirá qual a importância verdadeiramente real destes fármacos, mas estes primeiros anos de utilização parecem mostrar um verdadeiro progresso. A sobrevivência global nos ensaios clínicos disponíveis está em patamares superiores a 90%. Isto significa que os doentes estão vivos, com a LLC controlada e, sobretudo, têm uma qualidade de vida superior, o que me parece ser o mais relevante. publicidade AMANHÃ Terapêuticas imuno-oncológicas nos linfomas «Potencial papel da Imuno-Oncologia em linfoma» vai ser o tema comentado pela Prof.ª Maria Gomes da Silva, diretora do Serviço de Hematologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, no simpósio-satélite que decorre amanhã, entre as 13h30 e as 14h30, promovido pela Bristol-Myers Squibb (BMS). por Marisa Teixeira 22 A Prof.ª Maria Gomes da Silva pretende destacar vários aspetos nesta sessão. «Vou falar, por exemplo, sobre os unmet medical needs, ou seja, as circunstâncias em que os medicamentos convencionais podem não ser suficientes, nomeadamente nos linfomas indolentes, nos linfomas agressivos e nos linfomas Hodgkin», partilha. Apesar de FLASHBACK «a quimioterapia convencional continuar a desempenhar um papel fundamental no tratamento destas doenças», a preletora abordará terapêuticas alternativas, como a associação com outras formas de modulação do sistema imune, caso dos anticorpos monoclonais dirigidos contra antigénios de superfície. «Vou também mencionar as perspetivas recentes de interferência com as vias de sinalização intracelulares e focar-me um pouco na imunoatuação.» Posteriormente, Maria Gomes da Silva salientará a interferência com a sinapse imunológica, que «implica o conhecimento de que, para reconhecerem o tumor e serem ativados, os linfócitos T têm de o fazer no contexto de compatibilidade HLA [sigla em inglês para sistema antígeno leucocitário humano] e que, depois, têm um conjunto de recetores estimuladores e supressores da sua própria ativação». Esta hematologista acrescenta ainda que, quando prevalece com a estimulação ativadora, a célula T será ativada para destruir a célula do tumor, ou pelo menos essa seria a consequência «num mundo ideal», tendo de existir alguma interferência médica para que, de facto, tal aconteça. Por outro lado, quando há fortes sinais inibitórios, acontece o contrário – «a célula T torna-se anérgica e deixa de ser eficaz». Nos últimos tempos, alguns destes recetores e ligantes inibitórios têm sido bastante estudados. Os resultados de fase I de um dos ensaios clínicos mais recentes neste campo foram publicados em dezembro de 2014, no New England Journal of Medicine, com o artigo «PD-1 Blockade with Nivolumab in Relapsed or Refractory Hodgkin’s Lymphoma». Questionada sobre este estudo que está a testar o nivolumab em doentes com linfoma de Hodgkin refratário ou reincidente, Maria Gomes da Silva refere que «este novo anticorpo-PD1 [anti-programmed cell death-1] mostra a capacidade de induzir elevada taxa de respostas num grupo pequeno de doentes». «Estas respostas parecem ser duradouras, mas os resultados são ainda preliminares, apesar de se tratar de dados muito otimistas.» Esta hematologista espera que, no próximo Congresso da American Society of Hematology, que vai decorrer entre 5 e 8 de dezembro, em Orlando, seja divulgada informação mais atual sobre este estudo. O simpósio-satélite da BMS vai ser moderado pelo Prof. José Eduardo Guimarães, diretor do Serviço de Hematologia do Centro Hospitalar de São João, no Porto, e contará também com a intervenção da Prof.ª Maria Victoria Mateos, diretora da Unidade de Mieloma do Hospital Universitário de Salamanca, que vai falar sobre a Imuno-Oncologia no mieloma múltiplo. ND publicidade