CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA MOTRICIDADE ORAL A RELAÇÃO DA FONOAUDIOLOGIA COM A ORTOPEDIA FUNCIONAL DOS MAXILARES ADRIANA DE PAIVA MANDETTA SÃO PAULO 1999 -1- Resumo O objetivo fundamental deste trabalho teórico além de estudar e analisar a Ortopedia Funcional dos Maxilares, e chamar a atenção dos fonoaudiólogos para a importância do trabalho fonoaudiológico em parceria com a ortodontia, sempre visando o equilíbrio final do sistema estomatognático e o sucesso no tratamento de nossos pacientes. É importante salientar que as características básicas dos aparelhos ortopédicos funcionais permitem a sua aplicação terapêutica em dentições decíduas, portanto o seu caráter precoce. Por tudo isto, são técnicas que podem ser aplicadas em concomitância com a fonoaudiologia, pois ambas interferem no sistema estomatognático introduzindo estímulos positivos ao sistema nervoso, apagando os estímulos negativos, esperando as respostas de novas posturas, crescimento harmônico e reestabelecimento da saúde do paciente. A monografia poderá ser útil aos fonoaudiólogos que trabalham com ortodontistas especializados na Ortopedia -2- Funcional dos Maxilares. “Nada é impossível ao Homem de vontade forte.” (Mirabeau) -3- Sumário Introdução.......................................................................................................05 Justificativa......................................................................................................06 Discussão teórica............................................................................................07 Considerações finais.......................................................................................30 Referencias bibliográficas...............................................................................37 -4- Introdução Atualmente percebemos uma grande preocupação e valorização da busca por um melhor padrão de qualidade de vida. E quando se fala em qualidade de vida, estamos nos referindo ao direito ao lazer, à educação, à cultura e à saúde. Existem muitas pessoas com alterações no sistema estomatognático e normalmente essas alterações acarretam muitos prejuízos ao indivíduo, tanto no âmbito social, estético, quanto funcional. Mais do que uma simples preocupação estética (padrão estético dentário) notamos a crescente procura por uma saúde bucal, incluindo formas, funções e processos neurofisiológicos eficientes para cada indivíduo. Sabemos que necessitamos da integridade, bem como, equilíbrio muscular, coordenação e sincronia das estruturas para um bom funcionamento do sistema estomatognático. O objetivo fundamental deste trabalho teórico é, além de estudar e analisar a Ortopedia Funcional dos Maxilares chamar a atenção dos fonoaudiólogos para a importância do trabalho fonoaudiológico em parceria com a ortodontia, sempre visando o equilíbrio final do sistema estomatognático e o sucesso no tratamento de nossos pacientes. -5- Justificativa Devido aos princípios fundamentais e as características básicas das técnicas ortopédicas funcionais, o tratamento das disfunções do sistema estomatognático é realizado quando se iniciam os distúrbios funcionais. Na maioria dos casos são distúrbios neuro-musculares que se não tratados em idades precoces, podem ocasionar em conseqüência alterações físicas, difíceis de serem tratadas posteriormente. As características básicas dos aparelhos ortopédicos funcionais permitem a sua aplicação terapêutica em dentições decíduas, portanto o seu caráter prematuro. Por tudo isto, são técnicas que podem ser aplicadas em concomitância com a fonoaudiologia, pois ambas interferem no sistema estomatognático introduzindo estímulos positivos ao sistema nervoso, apagando os estímulos negativos, esperando as respostas de novas posturas, crescimento harmônico e restabelecimento da saúde do paciente. Justificamos a idéia da realização deste trabalho na busca de melhor compreendermos e atendermos as necessidades de nossos clientes e, ainda, obter resultados mais rápidos, desenvolvendo um estudo com a atenção voltada à integração da Ortopedia Funcional dos Maxilares e Fonoaudiologia. -6- Discussão Teórica O conhecimento, por parte do fonoaudiólogo, dos objetivos e ou prioridades do tratamento odontológico, em particular Ortopédico Funcional ou Ortodôntico é fundamental para facilitar o entendimento do momento adequado para a intervenção fonoaudiológico, pois, muitas vezes faz-se necessário trabalhar no inicio do tratamento odontológico para se preparar a musculatura e favorecer o processo de adaptação do paciente com o aparelho, seja ele removível ou não. A Ortopedia, dentro da Odontologia, é a especialidade que acompanha o desenvolvimento onto e pós-ontogenético, para que não haja envelhecimento precoce da boca, causado por problemas de maturação incorreta. O objetivo da Ortodontia é impedir o crescimento físico (prevenção) ou recuperar o crescimento harmonioso (Tratamento interceptivo ou curativo). O diagnóstico, não só em Ortodontia, deve ser racional, nunca precipitado, pois a precipitação pode ocasionar conseqüências irreversíveis. O diagnóstico criterioso impede que se encaminhe o paciente para outros especialistas, sem necessidade, ou vice-versa. Psiquiatras, cirurgiões, otorrinolaringologistas, pediatras, endocrinologistas, fonoaudiólogos, alergistas, recebem e encaminham pacientes para ortodontístas, mas nem sempre o fazem criteriosamente, por falta de bom diagnóstico. Também, ortodontistas insistem em tratar sozinhos certos pacientes, quando na realidade é necessário trabalho em equipe. Por isso, a preocupação de estudarmos a integração do trabalho fonoaudiológico com a ortodontia, mais especificamente a Ortopedia Funcional dos Maxilares. -7- A Fonoaudiologia, no Brasil, vem realizando um trabalho na área mioterápica há mais ou menos 30 anos. Este trabalho tem se modificado muito, principalmente na última década. A ortodontia também mudou muito, crescendo bastante, inovando suas técnicas e abordagens. Os fonoaudiólogos acompanham de perto o caminho dos ortopedistas funcionais dos maxilares. As grandes descobertas ocorridas na área dos profissionais que trabalham com o sistema estomatognático interessam-nos porque interferem fortemente em nosso trabalho. A face humana é um complexo sensorial encarregado de transmitir ao SNC a maioria das informações e sinais do meio-ambiente. Segundo Couly (1977), essa atividade centrípeta perceptiva está ligada a incessantes emissões centrífugas para o meio-ambiente. Tudo aconteceu em função da idade do tempo que essas informações levam atuando sobre o mecanismo excitação-resposta e do biotipo. A face humana sofre influências genéticas e do meio-ambiente. Segundo Planas (l969), a primeira excitação neural de desenvolvimento é a respiração nasal. Ela influi sobre o desenvolvimento dos maxilares, principalmente do arco dentário superior, na postura da mandíbula, na posição da língua, na situação do espaço rinofaríngeo e permite intercâmbio gasoso, fator muito importante, entre outros (hormonais) para a pneumatização, e isto influi inclusive sobre o seio frontal. Para que a respiração nasal seja facilitada, a boca se fecha, pelo menos, em uma das três zonas. -8- - anterior - fechamento realizado através da tonicidade labial normal, entre os lábios; - média - fechamento realizado através da tonicidade lingual normal, entre o dorso da língua e o palato duro; ou, - posterior - fechamento realizado através, também, da tonicidade lingual normal, entre a base da língua e o palato mole. Muitos autores acreditam que a postura lingual contra o palato não é somente muscular, e sim está ligada à pressão atmosférica. Para que a respiração nasal se realize é importante o selamento bucal em pelo menos uma zona. Por isso, não basta observar o paciente na zona anterior, para concluir que é um respirador bucal, pois pode estar com selamento na zona média ou posterior. Amígdalas hipertrofiadas não impedem a respiração nasal, mas a língua se dispõe mais anteriormente para facilitá-la; isto pode produzir, de maneira definitiva, provocando mesioclusões. Frankel (l979) observou pacientes jovens, com dentição decídua, onde a simples eliminação das amígdalas foi suficiente para recuperar, em três semanas, a posição normal da mandíbula e a respiração nasal. Observou, também, a falta de desenvolvimento do seio frontal em casos de mesioclusões e a recuperação desse espaço sinusal, após o tratamento, pela presença da respiração nasal, facilitando a pneumatização e estimulando esse desenvolvimento. -9- O desenvolvimento exagerado do seio frontal é encontrado, assim como prognatismo maxilar, glabela pronunciada, em casos de hipersepto-etmóide; porém, quando o septo-etmoidal é hipodesenvolvido, encontra-se até ausência total de seio frontal, assim como maxilar superior retraído e fronte sem relevo. A mastigação, as suturas membranosas da base do crânio e o próprio crescimento do septo-etmóide são os causadores desses quadros, pois provocam alterações nas articulações fronto-maxilares. Há concordância quanto ao fato de que o tratamento precoce da má-oclusão possibilita a recuperação mais fácil da respiração nasal e, consequentemente, a diminuição das inflamações do espaço rinofaríngeo; regulariza a pneumatização, a tonicidade labial, a posição da língua e da mandíbula; elimina as gengivites e diminui, também, o índice de cáries causadas pela respiração bucal; recupera, ainda, a umidade natural dos lábios, tão comumente rachados nesses casos. A deglutição atípica acompanha, em geral, os casos de respiração bucal. Na realidade é muito raro um paciente respirar só pela boca, geralmente são respiradores naso-bucais. Só um tratamento ortodôntico, de preferência precoce muda a forma e, automaticamente, recupera a função. Casos de distoclusões divisão I, principalmente, dispensam encaminhamento a fonoaudiólogos para recuperação de deglutição normais. Esse procedimento, na maior parte dos casos, além de tudo, cansa o paciente, que só pela mudança da forma, o mais modificará a função. - 10 - rápido possível, Nota-se que uma amigdalectomia (mudança de forma) é suficiente para recuperar a respiração nasal de determinados pacientes com dentição decídua. Todos que praticam a Ortopedia Funcional dos Maxilares por um tempo razoável, durante os períodos precoces de desenvolvimento, concordam que nas distoclusões divisão I, exceto nas que vêm acompanhadas de comprometimentos sistêmicos mais graves, obstruções sérias, não é necessário tratamento bucal. Nesses casos, para plasmar forma e função, de maneira mais eficiente, é necessário, antes de mais na, tratar da mastigação (em geral viciosa), e isto só eliminando a má-oclusão. O ajuste de deglutição e respiração a parâmetros harmoniosos de funcionamento surge depois automaticamente. Os casos de distoclusões divisão II, em geral, não são de respiradores bucais, isto pelas próprias características biotipológicas. Na maioria da vezes, não é possível corrigir adequadamente, sem tratamento fonoaudilógico complementar, casos de má-oclusão estruturais onde se tenha incisivos superiores e inferiores na mesma direção, ou seja, maxilares na mesma proporção, mas crescendo divergentemente, principalmente se tratando de adultos. Com tratamento ortodôntico pode-se até melhorar a forma, como também recuperar, parcialmente, determinadas funções, mas, além desses resultados, para não se correr riscos de instabilidades do equilíbrio neuro-oclusal, de recidiva, somente mesmo com ajuda do complemente importantíssimo da fonoaudiologia. - 11 - Introdução ao Estudo da Fisiologia Oral do Sistema Estomatognático Evolução Conceitual: Até há pouco tempo, as publicações científicas odontológicas utilizavam o termo “oclusão dentária” para referir-se às relações estáticas de contato entre as superfícies oclusais. Enquanto que se reservava o termo “articulação dentária” para referir-se às relações dinâmicas de contato interoclusal nos movimentos da mandíbula. Na atualidade, o sentido e a interpretação do termo oclusão são muito mais amplos. “Oclusão” significa relações estáticas e dinâmicas entre as superfícies oclusais e mais ainda entre todas as partes do Sistema Estomatognático (SE). Assim, quando se diz “oclusão harmônica”, significa que as relações entre as superfícies oclusais de ambas arcadas dentárias são harmônicas entre si, e com todas as demais partes do sistema. O conceito de “sistema mastigatório” também sofreu uma notável evolução: o conceito mecanicista, pois relacionava os dentes com as articulações temporamandibular em um enfoque puramente mecânico. O conceito atual é fisiológico, pois entre os dentes e ATM existe a intervenção decisiva das estruturas periodontais e fundamentais da energia neuromuscular. - 12 - SISTEMA ESTOMATOGNÁTICO: (antigamente denominado Sistema Mastigantório) I. Conceituação: O Sistema Estomatognático é uma entidade fisiológica, funcional, perfeitamente definida, integrada por um conjunto heterogêneo de órgãos e tecidos, mas cuja biologia e fisiopatologia são absolutamente interdependentes. II. Componentes Anatômicos: Ossos: crânio, mandíbula, hióide, clavícula e esterno. Músculos: da mastigação, deglutição e expressão facila. Articulações: dentro-alveolar (periodonto) e temporomandibular. Ligamentos: periodontais e temporamandibulares. Língua, lábios e bochechas. Dentes Sistema vascular (relacionado) Sistema nervoso (relacionado) A integração destes elementos anatomicamente tão diferentes, em um sólido e indivisível sistema funcional é o resultado de um processo evolutivo, de uma maturação no pensamento científico odontológico. Vejamos o processo: 1ª etapa: A existência de uma entidade biológica bucal e suas relações recíprocas com a saúde e enfermidade do organismo, foram compreendidas e aceitas pelas ciências médicas desde séculos ou milênios. - 13 - 2ª etapa: A “ODONTOLOGIA” ampliou horizontes quando compreende que os dentistas estavam descuidando-se (Karolyi, 1925) imperdoavelmente dos dentes entre si na arcada, as relações de uma arcada com a outra e as relações da mandíbula ao crânio; perdendo-se como conseqüência toda noção da influência decisiva destes fatores na fisiologia e patologia da mastigação. 3ª etapa: Na década de 30, a descrição de um tipo de enfermidade periodontal produzida ou agravada por alterações da oclusão dentária, levou os periodontistas ao estudo profundo das íntimas relações existentes entre a oclusão dentária e as estruturas de suporte. Começa-se a ver mais do que o simples dente. Surge o conceito de “odonto”; isto é, a unidade biológica do dente com suas estruturas de suporte. 4ª etapa: Nos últimos 20 anos, a clínica médica impotente por resolver todos os casos de alterações das articulações temporamandibulares, que recorriam ao neurologista, otorrino, e até ao psiquiatra, solicitou e recebeu a atenção da Odontologia, que logo chegou à conclusão que 90% destas alterações das ATM eram devidas às desarmonias funcionais na oclusão dentária; e que portanto, deviam ser tratadas odontologicamente. Isto demonstrou a insuficiência dos conhecimento sobre a função tanto normal como patológica da oclusão; e impôs-se a necessidade de buscar procedimentos que permitam investigar mais profundamente estes problemas. 5ª etapa: Felizmente, diversos progressos simultâneos em outros ramos científicos do conhecimento humano, permitiram a criação e utilização de novos e extraordinários aparelhos e instrumentos de investigação: a) a cineradiografia e - 14 - mais recentemente a cinefluoroscopia laminográfica, oferecem a pela primeira vez uma imagem vívida dos dentes , mandíbula e ATM em plena função; b) a eletromiografia permitiu descobrir e/ou demonstrar aspectos discutidos e insuperitados da função neuromuscular; c) a telemetria eletrônica, utilizando definitivamente o tipo e extensão dos contatos oclusais na função mandibular e em contatos parofuncionais como o bruxismo; d) aparelhos mecânicos e instrumentos eletrônicos tornaram possível a medição extra do grau de mobilidade dentária; e) diversos instrumentos como gnatosiômetos e pantógrafos permitiram registrar, reproduzir e estudar as posições e movimentos mandibulares em oclusões normais e patológicas; f) microfones ultrasensíveis combinados com gravadores fidelíssimos, deram novos dados sobre a função e disfunção da oclusão das ATM. Assim, a atividade dos investigadores sobre oclusão, que estava baseada nos nem sempre fiéis dados recolhidos em animais, cadáveres e articuladores, pode ser extrapolada diretamente ao ser humano normal e patológico; a ao final, a Odontologia pode orientar a busca das respostas e suas inquietudes, dúvidas e ignorância, com um enfoque realmente biológico. Os resultados obtidos, e os que se estão obtendo dia a dia, são assombrosos, apaixonantes, podendo-se dizer que a ciência odontológica tem avançado em seus aspectos biológicos e funcionais, mas nos últimos 15 anos, que em toda sua história anterior. Mais ainda, pode-se dizer que nasceu uma nova Ciência Odontológica. Estas investigações, ao esclarecer eficientemente múltiplos e variados aspectos da fisiologia íntima normal e patológica da oclusão dentária e de todo o sistema mastigatório, demonstraram de forma controvertida, terminante, a total - 15 - interdependência de 4 fatores fisiológicos básicos: 1) Oclusão Dentária; 2) Periodonto; 3) ATM; 4) Mecanismo Neuromuscular. III. Componentes Fisiológicos 1. Oclusão Dentária 2. Periodonto 3. Articulação Temporamandibular 4. Mecanismo Neuromuscular 6ª etapa: O investigador John Thompson, compreendendo que este coordenado sistema funcionava não só no ato mastigatório, senão também na deglutição, respiração, fonação e postura (da mandíbula, língua e hióide), estudou-se exaustivamente e o chamou com acerto “Sistema Estomatgnático”, denominação que foi de imediato aceita em todos os círculos científicos. IV. Funções 1. Mastigação 2. Deglutição 3. Respiração 4. Fonação 5. Postura (da mandíbula, língua e hióde) - 16 - 7ª etapa: É evidente que toda a atividade funcional do Se, é produzida pela ação dos músculos guiados pelos impulsos nervosos, isto é, pelo Mecanismo Neuromuscular. Enquanto que os outros elementos: Dentes, Periodonto e ATM, representam elementos passivos. Mas qualquer intenção de determinar qual destes quatro fatores é o mais importante ou dominante, é inútil; e pela estreitíssima e intrincada inter-relação existente entre todos os elementos funcionais; estímulos neuromusculares, morfina oclusal e das ATM, padrões de movimentos mandibulares, estado de saúde local e geral, etc. Estamos pois, frente a uma unidade biológica – funcional indivisível, e como tal deverá ser compreendida, diagnosticada e tratada. CONCEITOS FISIOPATOLÓGICOS: Podemos deixar estabelecidos já, alguns fisiopatológicos fundamentais. 1. Existe uma unidade biológica bula “de caráter funcional” denominada sistema estomatognático (SE), integrada por 4 constituintes fisiológicos básicos: oclusão dentária, periodonto, ATM e mecanismo neuromuscular. 2. Este sistema é a parte integrante de outra unidade biológica fundamental – o indivíduo – do qual não podemos separar ao efetuar nossas considerações diagnosticas e terapêuticas. 3. A saúde biológica de todo o SE depende em alto grau da perfeita harmonia funcional entre seus constituintes fisiológicos. Quando cada um e todos eles trabalham corretamente, harmoniosamente, as funções - 17 - conseguidas com o máximo de eficiência e o mínimo gasto de energia, servem de saudável auto estímulo; em outras palavras, a própria função normal, preserva e cria condições que favoreçam a saúde biológica. 4. O principal fator etiológico da patologia funcional do SE, é constituído pelas alterações na oclusão dentária. Suas severas seqüelas patológicas são: a) Bruxismo em primeira instância, e através deste hábito de grande potencial patogênico, se produzirá segundo a resistência local das estruturas; b) Abrasão Patológica nos dentes; c) Trauma Periodontal nos tecidos de suporte; d) Artrite traumática nas ATM. Mecanismos Neurofisiológicos do Sistema Estomatognático Não devemos falar da maior ou menor importância de cada um dos constituintes do SE (Sistema Estomatognático), pois são imprescindíveis, a maioria dos pesquisadores concordam que o mecanismo neuromuscular tem um papel predominante no funcionamento do sistema, pois que toda sua dinâmica depende da energia criada pela atividade neuromuscular. Constitui um surpreendente paradoxo, que este fator seja precisamente o menos conhecido pelo dentista. Os músculos excitados pelo SN, constituem a parte ativa do SE; enquanto que os dentes, osso, maxilares e ATM são elementos passivos, simples receptores ou transmissores dessas forças. - 18 - Para compreender a fisiologia e patologia do SE, devemos recordar alguns conhecimentos básicos da fisiologia neuromuscular. Sabe-se que as duas grandes classes de funções do SN (Sistema Nervoso) são: 1) manutenção da constância do meio interno (homeostade) através de funções vegetativas que asseguram sua organização e 2) emissão de comportamentos, que são funções globais do organismo no meio em que vive. Estas duas funções desenvolvem-se através de 3 etapas bem definidas, ou seja: 1. percepção do estímulo sensitivo; 2. Sua integração no SNC (Sistema Nervoso Central) e 3. A reação motora (contração da musculatura lisa e visceral e secreção das glândulas exócrinas e endócrinas). 1) Percepção – A percepção está constituída por duas fases: a) a recepção do estímulo por meio de terminações nervosas sensoriais especializadas (receptores) e b) a condução desse estímulo até o SNC por meio dos nervos aferentes formados por cadeias de neurônios sensoriais. O SNC está assim constantemente informado das condições existentes, tanto no exterior como no interior do organismo, por meio dos receptores. Um receptor é por definição um tecido nervoso especializado, sensível a uma alteração determinada do meio ambiente. Cada estímulo específico é recepcionado por um receptor específico, o qual é normalmente refratário ou pouco sensível a todos os demais estímulos. - 19 - No SE foram identificados até o presente, os seguintes receptores: 1) terminações nervosas livres na pele e mucosa bucal, no periodonto e nos músculos da mastigação – detectam as sensações de tanto grosseiro, pressão profunda, de dor, de calor e de frio. 2) corpúsculos de Meissner (tato delicado) nos lábios e mucosa bucal – receptor especializado que nos permite a discriminação da textura precisa e de outros detalhes finos do objeto que é tocado. 3) corpúsculos de Pacini, encontrado na profundidade dos tecidos bucais – responde à compressão e ao estiramento rápidos ou a qualquer deformação rápida do tecido; entretanto, o sinal que é transmitido pelo corpúsculo de Pacini dura apenas pequena fração de segundo. 4) órgão terminal da ATM – detecta o estiramento dos tecidos e da cápsula da articulação, o que determina o grau de angulação da articulação. 5) mecanorreceptor da membrana periodontal (proprioceptor) detecta a pressão sobre os dentes e os tecidos de suporte (“deve ser notado que a pressão pode ser considerada tanto sensação proprioceptiva como exteroceptiva”). Os proprioceptores da membrana periodontal são de sensibilidade delicada, a qual é necessárias para poder cumprir sua missão de dar alarme ou aviso ao SNC sobre possíveis condições adversas na intimidade dos tecidos da cavidade oral. A membrana ou ligamento periodontal, por exemplo, tem proprioceptores tão sensíveis que diferenças de um centésimo de milímetro das folhas de papel colocados entre as arcadas dentárias ou mesmo restaurações um pouquinho alta, são notadas, - 20 - enquanto que pressões iguais ou até maiores não são percebidas pelos receptores táteis da pele. Todos os receptores têm um “limiar de excitabilidade”; se a intensidade do estímulo não alcança este limiar, a recepção e a reação portanto não se produzem. Por exemplo: uma xícara de café quente pode ser difícil de beber, mas a ingestão de líquidos de temperaturas crescentes capacita o indivíduo a tolerar temperaturas mais altas que no primeiro caso. Esta elevação gradual do limiar de excitação é conseqüência do fenômeno de “adaptação” de grande importância na patologia do SE. Isto explica porque forças oclusais intensas criadas pelo bruxismo, podem produzir alteração, lesão ou destruição das estruturas do SE (dentes, periodonto, ATM) sem que o indivíduo se dê conta. O mecanismo proprioceptivo não foi alertado; porque este fenômeno de “adaptação” em estímulos crescentes, foi elevando o limiar de excitabilidade dos proprioceptores. Nos músculos mastigatórios e outros relacionados ao SE são encontrados fusos musculares (proprioceptores). Por exemplo: ao músculo massefer foram encontrados uma densidade de 118 fusos/g de tecido muscular. Estes receptores detectam o grau de estiramento do músculo. Existem controvérsias quanto à existência de órgãos tendíneos de Golgi nos músculos mastigatórios, pois embora alguns pesquisadores descartam a existência de receptores tendíneos nos músculos mastigatórios (os responsáveis pela inibição das pequenas forças de fechamento seriam os mecanorreceptores da membrana periodontal e outros receptores da gengiva, palato e demais mucosas da boca), - 21 - outros pesquisadores através de estudos histológicos identificaram órgãos tendinosos de Golgi, principalmente nos músculos masseter e temporal. 2) Integração – quando um receptor é excitado por um músculo, este é conduzido pelos nervos sensitivos ou aferentes até o SNC, onde é integrado, analisado e classificado. Cada estímulo específico é individualizado para poder determinar uma reação correspondente também específica. O SN conta de duas partes: o SNC constituído pelo encéfalo e medula espinhal e o SNP constituído pelos núcleos espinhais com seus gânglios correspondentes. O tronco encefálico é constituído pelo bulbo ou medula oblonga, pela ponte cerebral e o mesencéfalo; existindo nestes, núcleos dos nervos craniais (como o núcleo mesencefálico do trigêmeo) e núcleos ou formações reticulares dispersas. Para que um estímulo seja consciente, por exemplo; para que o indivíduo sinta dor, é necessário que a excitação iniciada no SNP seja conduzida até o tálamo que desempenha um papel especialmente importante na determinação do tipo de sensação – a chamada modalidade sensorial, isto é, se será tato, ou pressão, ou frio, ou calor ou dor) e depois para o córtex somestésico que determina em qual ponto do corpo esses sinais sensoriais têm origem. Se o estímulo origina-se na cabeça ou pescoço, mais especificamente na oclusão dentária, é captado pelos proprioceptores periodontais, é conduzido pelo nervo sensorial do trigêmeo ao núcleo mesencefálico deste nervo (V par cranial); dali, atravessa a formação - 22 - reticular, chega ao tálamo e desde ali ao córtex somestésico, onde é integrado; neste instante, o indivíduo se faz consciente do estímulo. 3) Reação – Uma vez produzida a integração do estímulo no córtex somestésico, inicia-se o processo de reação a nível do córtex motor. O impulso motor emergente desce para o cerebelo, dali passa às porções superiores do tronco encefálico e na ponte alcança o núcleo motor do trigêmeo; assim, seguindo as vias descendentes ou motoras desse nervo, produzirá a estimulação do grupo muscular indicado. Neste longo trajeto dentro do SNC, tanto em sua etapa aferente como na resposta eferente, existem vários controles de registro, modificações, coordenações, em diversos níveis com a finalidade de dar a resposta motora mais adequada. Assim o tálamo cumpre a importante função regulando todos os impulsos sensoriais, antes que estes cheguem a sua estação terminal que é o córtex somestésico. As formações reticulares atuam também nesta função de controle e regulação, tanto dos impulsos sensoriais como dos impulsos motores. Mas é o cerebelo quem atua nesta função reguladora em forma principal. Os impulsos sensoriais de todas as partes do organismo chegando via nervos sensitivos periféricos ou craniais são ali controlados antes de continuar sua via ascendente até o córtex; e também todos os impulsos motores nascidos no córtex motor antes de - 23 - continuar sua via descendente para os músculos correspondentes deverão ser regulados pelo cerebelo. Neste circuito até aqui, a fisiologia nervosa em suas três partes bem definidas: 1. a percepção do estímulo sensorial; 2. sua integração no SNC; e 3. a reação motora. Temos assim desenvolvido o mecanismo neuromuscular básico consciente; isto é, com intervenção do córtex cerebral. Mas existe outro tipo de mecanismo neuromuscular, inconsciente, no qual a reação motora a um determinado estímulo sensorial produz-se sem intervenção do córtex cerebral, de forma automática. São os arcos reflexos, de grande importância na fisiologia do SE. Faremos uma breve explanação dos princípios fundamentais da Ortopedia Funcional dos Maxilares e suas características básicas para podermos compreender um pouco mais dessa técnica. A Ortodontia é a especialidade que usa todos os meios técnicos conhecidos, procurando aperfeiçoai-los cada vez mais, afim de corrigir as anomalias criadas pela falta de desenvolvimento correto dos maxilares e conseqüentes más posições dentárias. Nesse mundo da tecnologia ortodôntica apareceram também outras formas de tratamento, com características comuns, que chamamos hoje, Ortopedia Funcional dos Maxilares, que abrange as denominadas Técnicas Ortopédicas Funcionais (TOF). - 24 - Fundamentos Básicos da Reabilitação Neuroclusal De acordo com Planas (1962), idealizador da Reabilitação Neuroclusal é muito importante conhecermos o normal para identificarmos o que esteja fora da normalidade. Devemos identificar os reais fatores paratípicos que possam estimular ou frear o desenvolvimento fisiológico do sistema estomatognático, para então podermos intervir adequadamente no sentido de se buscar equilíbrio o mais precocemente possível. A Reabilitação Neuroclusal visa fundamentalmente a verdadeira profilaxia do desequilíbrio oclusal no adulto que irá desencadear a lesão periodontal, o que levará a perda do órgão dental. Esta profilaxia deverá ser feita o mais cedo possível. A Reabilitação Neuroclusal (RNO) não busca uma posição estética e artística dos dentes, e sim uma função mastigatória eficiente o que manterá saudável o aparelho mastigatório e com uma estética satisfatória. O adulto perde os dentes por duas causas fundamentais a saber: a cárie e a doença periodontal. Segundo a RNO a verdadeira causa da doença periodontal é justamente o trauma oclusal ou seja o desequilíbrio funcional do aparelho mastigador, tanto o excesso de carga oclusal quanto a falta de carga oclusal. Os pontos fundamentais para RNO são as unidades biológicas, dentes, ligamentos peridontais e ossos alveolares, e as articulações temporamandibulares. O sistema estomatognático irá se desenvolver fisiologicamente às custas dos fatores penatípicos (externos) adicionando os fatores genéticos. Os fatores paratípicos principais são a respiração nasal, deglutição e a mastigação. - 25 - Justamente os estímulos oclusais desencadeados pela mastigação fisiológica forte e com amplos movimentos de lateralidade e que irão desenvolver saudavelmente e manter a longetude do sistema estomagnático. As ATMs, juntamente com os dentes e suas articulações vão fechar todo o circuito neural para o desenvolvimento correto do sistema. Trata-se de uma região neurógena de grande importância no desenvolvimento do aparelho mastigador e, por conseqüência, da oclusão, pois irão comandar o crescimento mandibular. Como o conceito de Reabilitação Neuro Oclusal é bastante amplo e abrangente, as técnicas ortopédicas funcionais são armas utilizadas para se realizar uma reabilitação Neuro Oclusal. Os princípios fundamentais são: 1º princípio: “Excitação Neural” (EN) “O equilíbrio do sistema estomagnático, clinicamente deve ser conseguido a partir de: Excitação Neural correta de Articulações, Músculos, Periodonto, Mucosa, Periósteo e outras estruturas, provocada por estímulos dados, através de aparelhos ortopédicos funcionais, aplicados dentro de padrões adequados de Tempo, Intensidade e Qualidade, aproveitando a Velocidade de Condução do impulso nervoso mais conveniente à obtenção de melhores resultados clínicos, no menor tempo possível, de acordo com cada caso.” (Simões, 1974, p.25) 2º princípio: “Mudança de Postura” (MP) “Os aparelhos ortopédicos funcionais (AOFs) podem atuar, sempre bimaxilarmente, modificando a posição da mandíbula para a obtenção de melhores e mais rápidos resultados clínicos.” (Simões, 1974, p.26) - 26 - 3º princípio: “Mudança de Postura Terapêutica” (MPT)“A Mudança de Postura Terapêutica deve ser realizada dentro de limites fisiológicos individuais e traz um resultado definitivamente mais rápido se for possível contato entre os incisivos em uma Determinada Área (DA).” (Simões, 1983, p.27) As características básicas da Ortopedia Funcional dos Maxilares são: 1ª característica: “Suporte Dentário” - Os aparelhos ortopédicos funcionais são de ancorarem bimaxilar e não dependem exclusivamente de suporte dentário, podendo ser soltos completamente dentro da cavidade oral. 2ª característica: “Tratamento Precoce” Os aparelhos ortopédicos funcionais também agem em períodos precoces do desenvolvimento. 3ª característica: “Porcentagem de Extrações” Os aparelhos ortopédicos funcionais diminuídos muito a porcentagem de extrações. - 27 - A Língua e o Complexo Hiódeo como Recurso no Diagnóstico e Tratamento das Má-Oclusões. A postura da mandíbula é sempre modificada quando se usa Ortopedia Funcional. A língua e o complexo hiódeo são muitos sensíveis ao comportamento mandibular. Um aparelho, qualquer que seja, colocado na boca produz um efeito, um trabalho mecânico sobre um ou mais elementos de sua própria estrutura. Ele sai de um estado passivo e fica numa situação diferente, imposta pela boca, que o coloca num estado ativo. Essa, o aparelho exerce e sofre pressões provocando resposta bioelétrica e alterando a função celular através de excitação neural. Há transformação de energia, portanto, existe, potenciais de deformação intramoleculares, resultantes da modificação estrutural obtida. Além dessas forças extrínsecas geradas pelo aparelho, há aquelas provenientes das próprias funções orais e das forças naturais que regulam os mecanismos de crescimento, desenvolvimento e erupção. A moldura que valoriza esse quadro é dada pela postura em movimento. A força mastigatória gera efeito nos ossos e concorre para o desenvolvimento e constante adaptação funcional dos ossos maxilares, entre outros. O princípio vital fundamental do aparelho mastigatório é movimento e excitação neural. Por isso, quando o recurso terapêutico for postura e movimento os princípios fundamentais de atuação serão excitação neural correta e mudança de - 28 - postura da mandíbula adequada (Simões, 1974 p.60, 61), e o objetivo do tratamento será Reabilitação Neuro-Oclusal. Quando a postura mandibular é modificada também a lingual muda. Isto deve estar relacionado com o mecanismo de defesa compensatório que mantém os níveis de espaço adequados à passagem de ar tanto que, nas má oclusões depois de cirurgias mandibulares e próteses totais imediatas a língua muda sua postura para não diminuir a passagem de ar. As posições da língua do pescoço, da mandíbula e das alterações temporomandibulares, da região inframandibular, da passagem de ar de cabeça estão inter relacionadas. Quando a mandíbula e a língua mudam de posição, o osso hióide, durante a deglutição e fonação, também modifica sua posição. A posição do hióide também é baseada, primordialmente na estabilidade do diâmetro faringeano afim de não haver obstrução respiratória. A postura lingual pode variar com a idade, o tônus muscular, a ação de diferentes grupos musculares em distintas situações varia de acordo com seu volume, superfície e com a maneira de se relacionar com ossos hióide e mandíbula. A postura lingual pode variar, ainda, de indivíduo para indivíduo, com a fadiga, o sono, a posição coroporal erecta, supina ou sentada. Um aparelho que muda a postura mandibular também varia a postura lingual provocando estímulos mecânicos. As quatro forças naturais usadas no tratamento das má-oclusões numa Reabilitação Neuro-Oclusal são: as do crescimento e desenvolvimento, da erupção, da postura e movimentos mandibulares e da postura de movimentos linguais (Simões, 1970, p.59, 63). - 29 - Os movimentos linguais, labiais e das bochechas formam um verdadeiro corredor muscular, cuja dinâmica é um dos importante fatores que guiam a erupção dentária. A erupção obedece um padrão natural assim como outros eventos biológicos estão geneticamente programados, para obedecerem determinados padrões durante a vida. Os principais são: respiração, abertura de boca, deglutição, mastigação, erupção, atrição, equilíbrio entre a perda de dentes decíduos e erupção de permanentes, desempenho das ATMs, gustação, postura corporal e eventos endocrinológicos. A postura e os movimentos linguais e mandibulares participam destes padrões. Assim, cada vez mais podemos ressaltar a importância do trabalho inter-disciplinar, envolvendo fonoaudiólogos e dentistas. Considerações Finais A partir do momento que os fonoaudiólogos compreenderem o objetivo odontológico, poderão desenvolver um raciocínio no sentido de analisar como de fato auxiliar no tratamento. Em cada tipo de má oclusão raciocinamos diferentemente. Portanto em uma mordida aberta a atuação do fonoaudiólogo se faz necessária no inicio do tratamento quando o caso é tratado com ortodontia, porém, não poderemos aumentar o nível de tensão da musculatura da língua, pois, assim, não a tornaremos nociva para a oclusão, o que influenciaria a evolução odontologica. Nesse caso, é - 30 - importante enfatizar outros aspectos como a respiração, e não a língua propriamente e dita. Se a mordida aberta estiver sendo tratada por ortopedia funcional dos maxilares – RNO, é importante favorecer o vedamento labial, porque a prioridade do tratamento, muitas vezes, é a expansão e crescimento da maxila e, consequentemente, ocorrerá um aumento de espaço intra-oral e uma melhor acomodação da língua. Se pesarmos num paciente com classe II, com uma discrepância importante maxilo-mandibular, também teremos que raciocinar para relacionar o espaço intraoral com a possibilidade de posicionamento lingual, com isso iremos trabalhar, se necessário for quando a ortopedia funcional dos maxilares, alcançar a mudança de postura mandibular, e assim ocorrer um aumento de espaço intra-oral, analisaremos se há necessidade real da terapia fonoaudiologica, ou se a intervenção breve poderá ser o suficiente. Um exemplo típico da integração inter-disciplinar Ortopedia Funcional dos Maxilares e Fonoaudiologia é o atendimento ao respirador bucal (se bem que para resolver os problemas do respirador bucal há a necessidade da intervenção de outras especialidades médicas). Passamos agora a descrever as principais características do respirador bucal e a conduta básica empregada em Ortopedia Funcional dos maxilares e Fonoaudiologia. - 31 - O que é um respirador bucal? É aquele indivíduo que respira pela boca, quase que totalmente, pois a passagem de ar pelas narinas é insuficiente, quando não existe em alguns casos. O que ocorre a partir desse fato é uma das mais incríveis transformações no “facies” de uma pessoa. Temos observado mais amiúde em crianças, tanto do sexo masculino, quanto do feminino, sem nos preocuparmos com uma estatística a respeito do sexo. O “facies” do respirador bucal é característico: • A boca aberta, com a conseqüente queda da mandíbula. • A musculatura dos lábios geralmente frouxa e o lábio inferior geralmente está invertido. O volume dos lábios é sempre desigual, pois o lábio inferior é maior, às vezes o dobro do superior. • A musculatura bucinadora e masseterina estirada, provocando na maioria das vezes, uma compreensão maxilar com a conseqüente protusão incisal. A direção das trajetórias funcionais desses músculos ficam modificados e comprimindo o maxilar, que sendo um osso poroso e trabeculado, não consegue a sua expansão transversal e então muda a trajetória de crescimento para a direção sagital. • Olhar divergente ou convergente, perdido no horizonte e sem brilho. • Desatento e quase sempre com a capacidade auditiva diminuída. ocorre com o respirador bucal um aumento da produção de muco pelas glândulas salivares e o acúmulo deste muco na Trompa de Eustáquio obstruindo-a. Com a ocorrência deste fato há um desequilíbrio da função timpânica, fazendo com que essa criança tenha a sua acuidade auditiva diminuída. - 32 - • Ao estar desatenta e desligada da realidade (hipóxia cerebral), ela ouve mal e muitas vezes é repreendida na escola e tem baixo rendimento escolar. Na verdade, ela está precisando é de cuidados para mudar todo o seu componente funcional que está errado, mas como os professores não tem orientação nesse sentido e desconhecendo o fato, não podem orientar a criança a respeito. • Outro fato que nos chama a atenção, é o dos pais sempre dizer que vão colocar os filhos na natação para melhorar a respiração. O que é bom, pois a natação ajuda a desenvolver a musculatura em geral, especialmente do tórax e braços. Mas se a criança for um respirador bucal e for colocada na natação como terapêutica, ela estará reforçando a respiração bucal, pois para nadar a criança respira pela boca e com isso reforçando tudo o que já foi relatado até aqui. • A língua do respirador bucal está sempre embaixo apoiada no assoalho bucal e não aonde deveria estar, isto é, no palato estimulando-o. Com esse mecanismo da língua colocando-se no assoalho bucal, faz com que a mandíbula pela lei da gravidade e ação da musculatura, dela própria, do osso hióide, fique para baixo e para trás. • Com o que foi exposto, compõe-se o quadro que é muito comum encontrar uma criança com a boca aberta, aspecto abobalhado, olhar embaçado, maxilar com compressão, dentes protraídos, lábio inferior invertido, mandíbula retruída caracterizando uma distoclusão. Quanto ao desenvolvimento da erupção dentária, ocorre uma sincronia no tempo da mesma, pois com o maxilar em compressão, com as trajetórias funcionais alteradas, a erupção dentária também se processará de maneira anômala. - 33 - Acontece ainda uma maior incidência de cáries, pois como as glândulas salivares secretam mais muco no respirador bucal, este vai se opor aos dentes. E levandose em conta que o respirador bucal é um desatento e desligado, se não houver um responsável que comande a higiene bucal com freqüência, teremos uma boca sempre cariada. O que ocorre ao nível das fossas nasais e vias aéreas superiores? Normalmente as narinas absorvem, aquecem e filtram o ar enviando-o pela traquéia aos pulmões. No entanto no respirador bucal isso não ocorre, pois ele utiliza as narinas com esse fim. Como não há ventilação pelas fossas nasais, há formações de polipos e vegetações adenoideanas, que progridem, aumentando de volume, pois a sua formação se dá através de bactérias anacróbicas e como não há passagem de ar pelas narinas, elas crescem e aumentam as adenóides. A etiologia do respirador bucal é bem variada e complexa, pois durante a primeira infância, qualquer doença, acidente, estado alérgico, gripe, que obstrua as vias aéreas superiores e com o tempo tenha permanecido, cria o hábito de respirar pela boca, e como já foi explicado, todas aquelas modificações funcionais são reforçadas ao correr do tempo, fazendo com que estes reflexos de função se estabilizem de estímulos nervosos. Características gerais: boca aberta, tórax retruído, coluna cervical (pescoço) fletido para frente, pontas dos ombros para frente, omoplatas salientes, barriga saliente, musculatura abdominal flácida, postura de pernas e pés alterada. Quanto ao nível de oxigenação cerebral, metabolismo basal, absorção alimentar, fonação, comportamento, que sabemos serem alterados no respirador bucal. - 34 - Uma criança respiradora bucal, quando cai ou encontra um obstáculo repentino bate os dentes anteriores, pois ela não te o reflexo de colocar as mãos à frente para se proteger. Elas caem até da própria altura e não colocam os braços para se proteger, pois a sua dinâmica muscular e postura corporal não permitem, pois esses reflexos não foram condicionados no seu organismo. Para reabilitar a criança portadora da respiração bucal, primeiro devemos dar condições para que ela promova o fechamento dos lábios e com isso o tríplice fechamento bucal. Mas para conseguirmos isso, é necessário oferecermos os meios para que a criança efetivamente feche os lábios. Com o fechamento labial ocorre: promoção de estímulo através de nova posição mandibular, com a reorientação das trajetórias funcionais musculares e com a língua voltando à estimular o palato. E como faremos isso? Através de uma aparatologia de ortopedia funcional dos maxilares e exercícios específicos requerida, a ajuda de profissionais como: fonoaudiólogo, médico pediatra, otorrino, psicólogo e outros na medida em que suas especialidades forem sendo requisitadas no decorrer do tratamento. A ortopedia funcional dos maxilares age através de uma aparatologia que não tem impedimento de ser usada em qualquer dentição, pode ser usada na dentição decídua, mista e permanente. Pois essa aparatologia estimula o crescimento e desenvolvimento do sistema estomatognático (boca com os músculos, dentes, língua, glândulas, mucosa, gengiva, periodonto), dentro das idéias e da teoria de crescimento e desenvolvimento de Moss. - 35 - Terapias indicadas para as dolicofaciais nas quais se enquadra o respirador bucal. Prioridade: tratamento da respiração bucal (se houver) e mordida aberta. Trabalho de ortodontia: Trabalho com aparelhos bioelásticos atuando na postura da língua, postura da mandíbula e no fechamento labial. • Reorientação das trajetórias funcionais musculares • Remoção das compreensões maxilares. Trabalho da fonoaudiologia: O trabalho preventivo é mais eficaz. Respiração nasal. Musculatura elevada da mandíbula. Trabalho concomitante orto no auxílio do reequilíbrio da tonicidade muscular. - 36 - Referências Bibliográficas - Aires, M.M. Fisiologia Básica , 1985. - Behsnilian, V. Oclusión & Rehabilitación, Montevideo – Uruguay, 1971. - Douglas, C.R. 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