1 COMPLEXO DENTINO-PULPAR: fisiologia e resposta às injúrias Diana Gabriela Soares Ana Paula Dias Ribeiro André Luiz Fraga Briso Josimeri Hebling Carlos Alberto de Souza Costa ooINTRODUÇÃO Neste capítulo, abordaremos, de maneira geral, o complexo dentino-pulpar, desde sua formação, durante a odontogênese, passando pelas características dos tecidos que o compõem (dentina e polpa), até como esta estrutura responde às agressões que recebe durante a vida do elemento dental. Nesse contexto, serão discutidos, com base em evidências científicas, os possíveis danos que determinados procedimentos clínicos podem causar no complexo dentino-pulpar e como podemos evitar, ou pelo menos minimizar, a ocorrência de lesões nesta estrutura responsável pela vitalidade do elemento dental. Para isso, serão abordados os materiais dentários e as técnicas amplamente empregados na Dentística restauradora contemporânea. COMPLEXO DENTINO-PULPAR A dentina e a polpa são tecidos que apresentam inter-relação estrutural e funcional durante toda a vida do órgão dental. Responsáveis pela síntese e deposição da matriz de dentina, as células da polpa, denominadas odontoblastos, permanecem com seus prolongamentos citoplasmáti- Capitulo_01.indd 1 cos no interior dos túbulos dentinários. Consequentemente, as repercussões e os mecanismos de resposta tecidual ocorrem de forma integrada, o que determina que a dentina e a polpa sejam entendidas e reconhecidas como integrantes de um mesmo complexo, o complexo dentino-pulpar (Figuras 1.1 a 1.3). Odontogênese A inter-relação dentina/polpa tem início na odontogênese. Em sítios específicos do epitélio bucal (banda epitelial primária), células proliferam para formar as lâminas dentárias. Imediatamente ao redor delas, ocorre o fenômeno denominado condensação do ectomesênquima, em que um aglomerado de células ectomesenquimáticas determina a formação da papila dentária, responsável pela origem tanto da dentina quanto da polpa dental. Pelo fato de as células da lâmina dentária assumirem, em conjunto, uma estrutura cuja conformação assemelha-se a um broto, esse estágio é chamado de estágio de botão. Com a condensação das células do ectomesênquima, as células localizadas no interior do epitélio continuam a se desenvolver, caracterizando a formação de uma estrutura que assume a forma de um capuz. Essa nova estrutura, que 16/09/2013 10:24:11 2 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar D D FD FD F P oo Figura 1.1 oo Figura 1.2 oo Figura 1.3 Vista geral da polpa coronária de um pré-molar humano jovem extraído. É possível observar que a polpa (P) está envolvida pela dentina (D), a qual é internamente revestida por uma camada contínua de odontoblastos (setas). Tricrômico de Masson, 32 ×. Polpa radicular do mesmo dente apresentado na Figura 1.1. Verifica-se, nesta figura, o tecido conjuntivo fibroso denso (FD) no centro da polpa radicular. Tricrômico de Masson, 32 ×. Detalhe da polpa radicular. Nota-se o contraste entre o tecido pulpar central fibroso (FD) e o tecido pulpar periférico frouxo (F). Observa-se aqui a camada contínua de odontoblastos que resveste internamente a dentina radicular (setas). Tricrômico de Masson, 180 ×. repousa sobre a papila dentária, recebe o nome de órgão dentário, cuja morfologia determina uma nova fase da odontogênese, o estágio de capuz. Ao redor do órgão dentário e da papila dentária, um grupamento significante de células ectomesenquimáticas se organiza para originar o folículo dentário. Nesse momento, o germe dentário passa a ser composto de: (1) órgão dentário, que dará origem ao esmalte; (2) papila dentária, responsável pela formação da dentina e da polpa; e (3) folículo dentário, que dá origem aos tecidos de suporte do elemento dentário, como o osso alveolar, o ligamento periodontal e o cemento.1 Ocorrem diversos fenômenos durante a fase seguinte da odontogênese, chamada de estágio de campânula. Nessa etapa, diferentes estratos (epitélio dentário externo, retículo estrelado, estrato intermediário e epitélio dentário interno) podem se diferenciar no órgão do esmalte. Já na periferia do órgão dentário, as células mais próximas à papila dentária (epitélio dentário interno) adquirem forma cilíndrica baixa e interagem reciprocamente com as células do ectomesênquima, o que resulta na formação do complexo dentino-pulpar. No epitélio dentário interno, as células relacionadas às futuras cúspides tornam-se colunares altas, dando início ao estágio tardio de campânula, além de promover uma sinalização, por meio da membrana basal, que passa a diferenciá-las das células mais periféricas da papila dentária, transformando-as em pré-odontoblastos. Esse fenômeno se inicia pela secreção de fatores de crescimento, particularmente aqueles pertencentes à superfamí- Capitulo_01.indd 2 lia TGFβ, os quais se acumulam na membrana basal. Essas proteínas bioativas se relacionam com os receptores de membrana dos pré-odontoblastos, que passam a secretar fibronectina e a expressar a proteína 165kDa, específica para interagir com a fibronectina. A interação entre essas moléculas resulta na diferenciação final dos pré-odontoblastos em odontoblastos, momento em que ocorre o alongamento das células e a polarização do núcleo (assumindo a posição basal), bem como o desenvolvimento do retículo endoplasmático rugoso que se dispõe paralelo ao longo do eixo da célula.2 A partir desse momento, inicia-se a deposição de matriz de dentina, composta principalmente de colágeno tipo I, proteoglicanos e proteínas não colagenosas, como sialoproteína óssea, sialoproteína da dentina, osteocalcina, fosfoforina, osteopontina, osteonectina, entre outras. Nesse processo, denominado dentinogênese, os odontoblastos se deslocam centripetamente em relação à papila dentária, movimento em que deixam para trás de seu corpo um prolongamento citoplasmático. Durante a mineralização da matriz dentinária, os prolongamentos citoplasmáticos dos odontoblastos são envolvidos pela matriz mineralizada, formando, assim, os túbulos dentinários, os quais conferem a característica de permeabilidade à dentina. Os odontoblastos se organizam em monocamada em toda a periferia da polpa dental, formando a camada odontoblástica1 (Figura 1.4). Essa camada de odontoblastos é forte e intimamente unida por junções intercelulares vigorosas que funcio- 16/09/2013 10:24:14 Complexo Dentino-Pulpar o oo Figura 1.4 Detalhe do complexo dentino-pulpar de pré-molar humano íntegro. Aqui, vê-se que os odontoblastos, organizados em camada para revestir internamente a dentina, apresentam prolongamentos citoplasmáticos (setas) que se localizam no interior dos túbulos dentinários. Tricrômico de Masson, 125 ×. nam como um filtro que permite a passagem de água e de algumas proteínas de baixo peso molecular e íons, formando, assim, o fluido dentinário, o qual preenche toda a extensão dos túbulos dentinários. Ao mesmo tempo em que a atividade de síntese dos odontoblastos primários ocorre, células mesenquimais do centro da papila dentária se diferenciam em outros tipos celulares, dando origem à região central da polpa. Dentina A dentina é considerada um tecido parcialmente mineralizado, formado quase em sua totalidade por cristais de hidroxiapatita, em meio à matriz de colágeno.3,4 De 3 maneira geral, tem sido demonstrado que sua composição, em volume, é de aproximadamente 55% de minerais, 30% de material orgânico e 15% de fluido.5 O tecido dentinário é depositado pelos odontoblastos por toda a vida do órgão dental. Durante a odontogênese até a erupção e completa formação do ápice radicular, ocorre deposição rápida de dentina (dentina primária) pelos odontoblastos primários. Após esse período, ocorre uma abrupta redução na deposição de dentina pelos odontoblastos, porém essa atividade permanece de forma lenta por toda a vida do órgão dental. Aqui, trata-se da dentina secundária, a qual promove uma diminuição fisiológica do volume da câmara pulpar e do canal radicular com o passar dos anos. Como os prolongamentos dos odontoblastos estão presentes, a dentina primária e a secundária apresentam característica tubular e são também consideradas fisiológicas6 (Figura 1.5). No tecido dentinário, é possível diferenciar, ainda, dois tipos distintos de estruturas com composições diferentes. Entre os túbulos dentinários, há um tecido mineralizado com interposição de colágeno, denominado dentina intertubular. Já ao redor dos túbulos dentinários, existe um tecido dentinário altamente mineralizado (95%), que leva o nome de dentina peritubular. A deposição de dentina peritubular promove redução do diâmetro dos túbulos dentinários da periferia (0,9 µm) até a polpa (3,0 µm), o que permite que os túbulos dentinários apresentem a característica de cone invertido. Além disso, o número de túbulos dentinários é menor na superfície da dentina (15.000/mm2) do que próximo à polpa (65.000/mm2). Esses fatores permitem que a morfologia da dentina adquira diferentes características de acordo com a profundidade, fato este que apresenta repercussão direta sobre a eficácia dos procedimentos restauradores, bem como a respeito dos diversos procedimentos clínicos sobre o tecido pulpar.4,6 B MD MD A Capitulo_01.indd 3 oo Figura 1.5 A Corte transversal na região de deposição de matriz dentinária não mineralizada (pré-dentina) demonstrada em B. É possível observar a presença dos túbulos dentinários que contêm, individualmente, prolongamentos citoplasmáticos (setas) dos odontoblastos. Entre os túbulos, pode-se observar a matriz dentinária (MD) rica em colágeno. TEM. 16/09/2013 10:24:16 4 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar Polpa dental A polpa dental é constituída por um tecido conjuntivo frouxo especializado, estruturalmente dividido em camadas: a odontoblástica; a acelular; a rica em células; e a central. Na periferia da polpa, encontram-se células organizadas em paliçada logo abaixo da pré-dentina, conhecida como camada odontoblástica (Figura 1.6). Os odontoblastos, quando completamente diferenciados, apresentam-se altamente polarizados (núcleo localizado próximo à região subodontoblástica) e caraterizados como células secretoras, com presença abundante do retículo endoplasmático rugoso e complexo de Golgi. Além disso, seus corpos celulares estabelecem entre si numerosos contatos por meio das junções intercelulares, as quais permitem comunicação intercelular e trocas metabólicas.7 Responsáveis pela produção contínua de dentina fisiológica (dentina secundária), quando expostas a injúrias, essas células podem participar do processo de esclerose dentinária e produção de dentina reacional, bem como estão envolvidas na resposta imunoinflamatória da polpa. Logo abaixo dos odontoblastos, encontra-se uma delgada área com nenhuma ou com poucas células, denominada zona acelular (zona de Weill). Essa camada, atravessada por prolongamentos de células adjacentes, vasos e fibras nervosas, é parcialmente ocupada pelo plexo de Rashkow, constituído por fibras mielínicas (A-δ e A-β) e fibras amielínicas (fibras C). Essa estrutura nervosa se caracteriza por numerosos filetes nervosos, originados de um ou mais feixes nervosos centrais que penetram a polpa pelo forâmen apical e acompanham os vasos sanguíneos em sua rota. Deste plexo alguns filetes nervosos, ricos em receptores para dor, passam através dos odontoblastos e terminam na pré-dentina ou dentina (cerca de 100 µm dentro dos túbulos dentinários). Em virtude da localização periférica dessas fibras nervosas de rápida condução e baixo limiar de excitabilidade, estímulos externos que conseguem provocar rápida movimentação do fluido dentinário promovem a ativação das terminações nervosas na embocadura dos túbulos e na câmara pulpar, gerando o quadro clínico de hipersensibilidade.8 Proposta por Brännström no ano de 1986, essa teoria hidrodinâmica é a mais aceita pela comunidade científica para explicar o fenômeno de hipersensibilidade dentinária.9 Junto à camada acelular, existe uma delgada área específica de tecido conjuntivo que apresenta notável quantidade de células, a zona rica em células. Nessa região, está presente uma quantidade considerável de células mesenquimais indiferenciadas que funcionam como um sistema de reserva e que estão diretamente relacionadas com a manutenção da camada odontoblástica e, consequentemente, com a reparação pulpar. Já foi observado que, quando ocorre morte de odontoblastos, seja por um Capitulo_01.indd 4 D PD CO CA CRC P oo Figura 1.6 Neste corte histológico de um dente humano íntegro, pode-se observar as distintas estruturas e camadas que caracterizam o complexo dentino-pulpar: dentina (D); pré-dentina (PD); camada de odontoblastos (CO); camada acelular (CA); camada rica em células (CRC); e região central da polpa (P). Tricrômico de Masson, 250 ×. mecanismo natural de morte celular programada (apoptose) ou por um processo patológico, as células mesenquimais de reserva são estimuladas por meio da interação de mediadores químicos e fatores de crescimento com receptores de membrana, o que resulta em sua diferenciação em novos odontoblastos, que agora levam o nome de odontoblastoides.10,11 Esse processo de recrutamento e diferenciação celular ainda não está bem esclarecido, porém sabe-se que ele é distinto daquele da odontogênese, no qual a presença de células epiteliais se faz necessária.12 A última camada, conhecida como zona central, é constituída por um tecido conjuntivo frouxo singular, no qual estão presentes fibroblastos, células mesenquimais indiferenciadas, células do sistema imune (macrófagos e linfócitos), além de capilares e fibras nervosas distribuídas de forma equilibrada na matriz extracelular. Essa matriz é composta de elementos fibrosos e da substância fundamental (formada por proteoglicanas, glicosaminoglicanas, glicoproteínas e água), sendo o colágeno o constituinte fibroso mais abundante (Figura 1.7), e permite a difusão de nutrientes, oxigênio e proteínas entre os componentes celulares e a microcirculação, o que lhe consagra papel importante na manutenção da capacidade de reparação pulpar.1,2,7 RESPOSTA DO COMPLEXO DENTINO-PULPAR AOS AGENTES IRRITANTES Uma vez rompida a integridade do esmalte, o complexo dentino-pulpar fica exposto às diversas injúrias do meio bucal, que compreendem desde estímulos de ori- 16/09/2013 10:24:17 Complexo Dentino-Pulpar o 5 VS B oo Figura 1.7 A gem microbiana, traumática e iatrogênica (preparos cavitários e outros procedimentos clínicos) até traumas de origem química advindos de materiais dentários. De maneira geral, esse complexo responde a esses irritantes com a produção de dentina, tendo como principal objetivo limitar a difusão de componentes tóxicos para o tecido pulpar, pela diminuição da permeabilidade do tecido dentinário, bem como afastar-se da fonte agressora. Dessa forma, a resposta do complexo dentino-pulpar compreende três mecanismos básicos de defesa, que estão intimamente relacionados e que dependem do tempo e da intensidade da agressão: a deposição de dentina intratubular; a deposição de dentina terciária; e a inflamação/ resposta imune.13,14 O primeiro mecanismo, a deposição de dentina intratubular, resulta na formação da esclerose dentinária. Esse fenômeno é considerado um importante mecanismo de defesa da polpa, o qual reduz e pode até mesmo obstruir a luz interna dos túbulos dentinários, reduzindo drasticamente a permeabilidade da dentina. Essa redução no diâmetro tubular pode ocorrer em virtude do acúmulo de cristais de apatita provenientes da própria dissolução da dentina no interior dos túbulos, que leva à liberação de proteínas não colagenosas aprisionadas na dentina mineralizada, as quais podem atuar diretamente nos odontoblastos, estimulando a produção de matriz extracelular.15 Segundo Pashley e colaboradores,16 quando o dente é exposto à atrição, ocorre uma alteração no movimento de fluido dentinário do interior da polpa para fora, com o objetivo de conduzir e formar depósitos de minerais no interior dos túbulos. Já nos casos de lesões de cárie, este mecanismo também está associado à resposta dos receptores de membrana localizados nos odontoblastos e/ou em seus prolongamentos citoplasmáticos, que seriam ativados por proteínas metabolicamente ativas provenientes Capitulo_01.indd 5 A Detalhe da região central da polpa selecionada a partir de B. Nota-se que, neste tecido conjuntivo frouxo, há a presença de células do sistema imune, fibroblastos (seta amarela) e vasos sanguíneos (VS) TEM. da dissolução da dentina. Essas proteínas são liberadas no interior dos túbulos e ativam os odontoblastos, estimulando a secreção de proteínas relacionadas à deposição de matriz dentinária. Dessa forma, os túbulos de dentina próximos ao processo de lesão por cárie podem ser obstruídos por proteínas secretadas pelos odontoblastos em associação com cristais do fluido dentinário e da dentina descalcificada, além dos próprios componentes internos dos túbulos. Quando ocorre a deposição de dentina terciária na periferia pulpar em resposta a um estímulo externo, o mecanismo de defesa é conhecido como deposição de dentina terciária, considerada patológica, cujo objetivo, de maneira geral e simplória, seria o distanciamento dos odontoblastos do agente agressor. A dentinogênese terciária engloba um amplo espectro de respostas que vão desde a secreção de uma dentina tubular, que pouco difere da dentina primária e da secundária, até a deposição de uma dentina amorfa e atubular. Dessa forma, a dentina terciária tem sido subclassificada em reacional e reparadora em virtude dos distintos eventos biológicos que envolvem sua deposição, bem como de suas características morfológicas.17 Em situações em que o complexo dentino-pulpar é submetido à agressão de baixa intensidade, os odontoblastos primários (os mesmos responsáveis pela deposição da dentina primária e da secundária) são estimulados a depositar e mineralizar matriz dentinária, provavelmente por mecanismos associados à inflamação de baixa intensidade. Essa dentina, denominada reacional, pouco se diferencia da dentina primária e da secundária, apresentando, na maioria das vezes, característica tubular (Figura 1.8). Quando a agressão é de alta intensidade, pode ocorrer morte dos odontoblastos ou mesmo aspiração dessas células para o interior dos túbulos dentinários (desencadeando um processo de autólise). Durante esse processo, 16/09/2013 10:24:19 6 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar DRL oo Figura 1.8 oo Figura 1.9 Dentina reacional (DRL) depositada abaixo de uma área de agressão de baixa intensidade aplicada sobre o complexo dentino-pulpar. Nota-se a linha cálcio-traumática (setas), sendo que, abaixo dela, a matriz de dentina reacional recém-depositada exibe túbulos dentinários evidentes. Uma camada contínua de odontoblastos também pode ser observada. H/E, 250 ×. Dentina reparadora (DRA) depositada abaixo de uma área de agressão de forte intensidade aplicada sobre o complexo dentino-pulpar. Nota-se que resíduos de odontoblastos primários mortos permaneceram incluídos em uma matriz de dentina amorfa (setas oblíquas), a qual, em uma região mais interna, apresenta alguns túbulos dentinários irregulares (setas horizontais). Essa dentina terciária reparadora está revestida por uma delicada camada de células odontoblastoides de variada morfologia, que foram recém-diferenciadas. Tricrômico de Masson, 250 ×. células mesenquimais indiferenciadas da polpa são “estimuladas” a se diferenciar em células odontoblastoides e secretar matriz de dentina, inicialmente amorfa e, muitas vezes, atubular, a qual caracteriza a dentina reparadora. A deposição de uma matriz tubular por células polarizadas é observada posteriormente na superfície dessa matriz amorfa. Esse processo de reparação pulpar é mais complexo e envolve diversos eventos bioquímicos/moleculares, que dependem diretamente das condições e características da polpa previamente à ação do agente irritante18,19 (Figura 1.9). A diferenciação entre esses dois tipos de dentina terciária é de grande importância no estudo da biocompatibilidade dos materiais dentários. Isso porque, se determinado material resultar na deposição de dentina reparadora, sabe-se que ocorreu a morte dos odontoblastos agredidos e nova formação de camada de células odontoblastoides pela diferenciação das células mensequimais indiferenciadas subjacentes. Consequentemente, um número menor de células mesenquimais permanecerá na polpa remanescente, o que pode reduzir a capacidade do complexo dentino-pulpar de responder a agressões futuras. Como ocorre a morte dos odontoblastos, o prolongamento deles será degradado. O último mecanismo de defesa, a inflamação/resposta imune, está relacionado à capacidade das células pulpares de induzir uma resposta inflamatória e imune frente aos agentes agressores do complexo dentino-pulpar. Esse mecanismo envolve tanto uma resposta imune inata quanto a adaptativa, incluindo desde o fluido dentinário até diversos tipos celulares e suas citocinas inflamató- Capitulo_01.indd 6 DRA rias.20,21 O resultado final dessa resposta imune é um quadro inflamatório exacerbado, cujo objetivo principal é eliminar os agentes agressores. Entretanto, se o agente agressor não for eliminado, como pode ocorrer durante a evolução do processo carioso, essa inflamação imune eventualmente leva à destruição irreversível da polpa.21 A resposta inicial compreende o aumento da pressão intrapulpar, resultando na exsudação do fluido dentinário. Quando a dentina é exposta, a pressão positiva da polpa dental limita a invasão dos túbulos dentinários por bactérias e seus produtos, bem como de outras substâncias nocivas, prevenindo, pelo menos durante um período curto inicial de tempo, que cheguem até o tecido pulpar.22 Em polpas injuriadas, observou-se um alto conteúdo de anticorpos no interior dos túbulos dentinários próximos à região afetada, possivelmente como forma de reagir aos antígenos de forma específica ou não.14 Outro fenômeno frequentemente encontrado nessa situação específica é a precipitação de proteínas plasmáticas de alto peso molecular no interior dos túbulos dentinários, entre eles o fibrinogênio, que podem reduzir a permeabilidade da dentina.23 Por estarem localizados na periferia da polpa e, consequentemente, em contato direto com a pré-dentina e com a dentina, por meio de seus prolongamentos, os odontoblastos representam o primeiro grupo celular a entrar em contato com os agentes agressores que podem se difundir pelos tecidos mineralizados do dente. Apesar de sabermos 16/09/2013 10:24:22 que a principal função dos odontoblastos é a síntese e posterior mineralização da matriz dentinária, estudos recentes demonstraram a participação desse tipo celular no processo de reconhecimento de padrões moleculares associados aos patógenos, na produção de citocinas e quimiocinas e na regulação do fluxo sanguíneo pulpar.20,21,24 Os odontoblastos expressam receptores do tipo Toll (“Toll-like receptors”), que induzem a fase efetora da resposta imune inata pela ativação da via NF-κB, resultando em secreção de citocinas pró-inflamatórias e quimiocinas, na produção de peptídeos antimicrobianos e na maturação das células dendríticas.25,26 Além disso, essas células são responsáveis pela produção de certas quimiocinas, como as CCL2 (que participam da quimiotaxia de células dendríticas imaturas), os monócitos, os macrófagos ativos etc., para o sítio injuriado.24 Com relação à participação dos odontoblastos na microcirculação, foi demonstrado o aumento na expressão da quimiciona pró-angiogênica CXCL2 quando essas células foram estimuladas com LTA (ácido lipoteicoico), o que pode contribuir para o aumento na vascularização durante o processo inflamatório, particularmente em virtude de sua posterior ligação a receptores nas células endoteliais.27 Esse mesmo estímulo (LTA) sobre células odontoblastoides e outras células pulpares resultou em aumento na produção do fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), um importante indutor de angiogênese e permeabilidade vascular.28 Essas células também podem produzir a enzima NADPH-diaforase, envolvida na produção de óxido nítrico, um potente vasodilatador.29,30 Outros componentes dessa resposta imune pulpar são os neuropeptídeos, responsáveis por alterar múltiplos processos, como a permeabilidade vascular e a vasodilatação no local da injúria.31 Entre os neuropeptídeos mais comumente encontrados no tecido pulpar, estão o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina (CGRP), a substância P (SP), a neuroquinina (NKA) e o polipeptídeo vasoativo intestinal (VIP). O resultado final da inflamação neurogênica é um aumento transiente na pressão tecidual intersticial e na movimentação do fluido dentinário em sentido contrário à polpa, sendo considerado, como descrito anteriormente, um fator protetor do complexo dentino-pulpar. No entanto, caso o tecido pulpar não consiga absorver esse excesso de fluido intersticial por meio dos sistemas linfático e circulatório, um aumento nos níveis dos neuropeptídeos somado ao edema persistente podem levar à dor e possível necrose local na polpa.32,33 Os demais participantes da resposta imunoinflamatória pulpar incluem células típicas do sistema imune, como células dendríticas, macrófagos, linfócitos T e B, além de suas citocinas e quimiocinas. As células dendríticas são consideradas a população mais importante no reconhecimento e na apresentação de antígenos do tecido pulpar. Diante da captura, do processamento e do reconhecimento Capitulo_01.indd 7 Complexo Dentino-Pulpar o 7 dos produtos de patógenos, essas células em estado imaturo iniciam um processo de maturação funcional e migram até os nódulos linfáticos regionais para apresentar os antígenos aos linfócitos T imaturos.34 O processo de maturação das células dendríticas resulta em maior produção de citocinas pró-inflamatórias, as quais sustentam o recrutamento desse tipo celular circulante imaturo, de seus precursores e também de células T para o local da injúria.35 Os macrófagos participam da resposta pulpar na apresentação de antígenos, na fagocitose e na modulação da resposta imune por meio da produção de diversas citocinas e fatores de crescimento.21 Essas células, quando ativadas, produzem TNF-α, IL-1, IL-10, IL-12, quimiocinas e vários mediadores lipídicos, como o fator de ativação de plaquetas, prostaglandinas e leucotrienos. Com relação aos linfócitos, são mais encontradas células T do que B no tecido pulpar. Quando ativados, os linfócitos T participam no reconhecimento do antígeno por meio dos receptores de membrana (células T “helper”) e atuam na eliminação de células do hospedeiro infectadas e transformadas por vírus, induzindo a apoptose delas, além de produzir IFN-γ com objetivo de aumentar a fagocitose (células T citotóxicas). Os linfócitos B são geralmente encontrados em lesões de cárie profunda21 e caracterizam uma resposta pulpar adaptativa, ou seja, um antígeno específico. Além de sua função principal em produzir anticorpos, as células B podem também atuar como apresentadoras de antígenos, modular as funções das células dendríticas e produzir citocinas, como IL-10, IL-4 e IFN-γ, em resposta aos patógenos.36,37 REPERCUSSÃO DOS PROCEDIMENTOS CLÍNICOS NO COMPLEXO DENTINO-PULPAR A partir do rompimento da integridade do esmalte, seja por um processo carioso ou mesmo durante a realização de um preparo cavitário, túbulos dentinários são expostos, criando, assim, uma via de comunicação direta entre o tecido pulpar e o ambiente externo. Com o objetivo de selar a dentina e atuar como agente de reparação tecidual, diversos materiais dentários estão sendo empregados na Odontologia. Entretanto, esses materiais apresentam características distintas no que se refere à composição química, hidrofilicidade, resistência mecânica, adesividade com os tecidos dentários e presença de produtos de degradação, fatores intimamente relacionados à resposta do tecido pulpar. Dessa forma, uma característica extremamente importante na seleção do material dentário ideal é a sua compatibilidade e capacidade de interagir com o complexo dentino-pulpar, com o objetivo de prevenir danos pulpares ou, pelo menos, contribuir para a reparação da polpa em um curto período de tempo. Outro fator a ser levado em consideração no que diz respeito à repercussão de um dado procedimento clínico no tecido pulpar é a profundidade do preparo cavitário. 16/09/2013 10:24:23 8 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar Sabe-se que, dependendo da profundidade da cavidade, o tecido dentinário assume características completamente distintas quanto ao número e diâmetro dos túbulos dentinários, como relatado anteriormente neste capítulo. Assim, atenção especial deve ser dada quando se está trabalhando em dentina profunda, um substrato que apresenta elevada permeabilidade, em virtude do maior número e diâmetro dos túbulos dentinários, o que também determina uma elevada umidade nesse tecido. Esses fatores devem ser levados em consideração quando da escolha do material odontológico a ser aplicado nesse tipo de substrato. Quanto maior a permeabilidade do tecido dentinário, maior a possibilidade de difusão transdentinária de componentes dos materiais dentários não polimerizados para o tecido pulpar. Os componentes liberados pelos materiais que conseguem atravessar a dentina para alcançar a polpa podem desencadear reações no tecido pulpar que vão desde uma leve reação inflamatória até necrose. Dessa forma, a espessura do remanescente dentinário (RDT – Remaining Dentin Thickness) deve ser considerada como um importante fator a ser avaliado quando da seleção do material dentário ideal para solucionar uma situação clínica específica. Preparo cavitário O procedimento clínico mais comumente praticado pelos cirurgiões-dentistas e que pode provocar desequilíbrio entre os diversos componentes do complexo dentino-pulpar é aquele onde o esmalte e a dentina são cortados durante a realização de um preparo cavitário. Uma vez que esse procedimento pode gerar danos ao tecido pulpar de intensidade variada, cuidados simples devem ser levados em consideração e respeitados durante sua confecção. Com o advento do condicionamento ácido dos tecidos duros dentários proposto por Buonocore,38 associado à aplicação de sistemas adesivos, os antigos conceitos atribuídos aos preparos cavitários passaram por uma profunda transformação. Ao deixar de ser prioridade a forma de retenção, atualmente recomenda-se que o preparo cavitário limite-se à remoção do tecido cariado (preparo cavitário minimamente invasivo). Sabe-se que, quanto maior a profundidade do corte da dentina, maior a probabilidade de dano direto aos odontoblastos pelo corte dos seus prolongamentos citoplasmáticos presentes nos túbulos dentinários.12 Dessa forma, com essa nova filosofia restauradora, passou-se a valorizar a capacidade reparadora da polpa, já que o prolongamento dos odontoblastos é preservado, aumentando o potencial de formação de esclerose dentinária. Além disso, o corte de dentina sadia promove exposição de túbulos sem esclerose dentinária promovida pelo processo carioso, ou seja, ocorre exposição de túbulos com amplo diâmetro e altamente permeáveis.13 Capitulo_01.indd 8 Turbina de alta velocidade Convencionalmente, os procedimentos de corte dos tecidos dentais são realizados a partir da utilização de instrumentos rotatórios associados à turbina de alta velocidade. O contato direto da broca com as superfícies do dente gera uma alta intensidade de calor, a qual é neutralizada pelo jato água/ar que atinge a porção ativa da broca e dos tecidos dentários remanescentes. Sob essa condição, a broca e o dente são refrigerados, o que impede que o calor excessivo seja transmitido para o tecido pulpar, ou seja, evita-se que o aquecimento venha a causar danos de variada intensidade a esse tecido conjuntivo especializado39 (Figura 1.10). O aquecimento do elemento dental é a principal causa de alterações irreversíveis aos odontoblastos. O estudo clássico desenvolvido por Zach e Cohen, em 1965, demonstrou, pela primeira vez, os efeitos produzidos pelo calor em dentes de primatas. Os autores relataram que, quando se aplicou uma temperatura de 5,6°C na câmara pulpar dos dentes desses animais, 15% das polpas avaliadas sofreram necrose. Contudo, quando se elevou a temperatura para 16,5°C, 100% das polpas sofreram danos irreversíveis.40 Durante a preparação cavitária, o aumento inadvertido da temperatura na câmara pulpar pode ocorrer por diversos fatores. A utilização de brocas sem a correta atividade de corte e a excessiva pressão de corte aplicada sobre as estruturas dentárias, bem como a falta de refrigeração, podem, isoladamente, ou em associação, causar aquecimento e gerar sérios danos para o tecido oo Figura 1.10 Dente humano submetido a preparo cavitário sem os devidos cuidados com a irrigação, pressão de corte da dentina e capacidade de corte da ponta diamantada. Observa-se a ruptura da camada odontoblástica, sendo que muitos odontoblastos foram aspirados para o interior dos túbulos dentinários (setas). Nota-se a desorganização do tecido pulpar subjacente associada à hemorragia local. Tricrômico de Masson, 250 ×. 16/09/2013 10:24:26 pulpar. Por esse motivo, é recomendada a substituição frequente das brocas empregadas em procedimentos clínicos.41-43 Da mesma maneira, movimentos de pressão intermitentes devem ser aplicados sobre a estrutura dentária durante a preparação cavitária, o que reduzirá a possibilidade de aquecimento excessivo do elemento dental. Pode-se recomendar a pressão de corte de quatro segundos com outros quatro segundos de descanso. Também devem ser obtidas adequada refrigeração das brocas e das estruturas dentárias pela utilização de turbinas que contenham pelo menos dois orifícios de diâmetros apropriados, os quais devem estar totalmente desobstruídos durante o procedimento clínico de corte das estruturas dentárias.41,44 O descuido na observação de qualquer um desses itens poderá acarretar sérios prejuízos ao tecido pulpar, fato que certamente justifica os cuidados a serem tomados. Método químico/mecânico A remoção químico/mecânica do tecido cariado é um método que foi proposto com o objetivo de desenvolver procedimentos menos invasivos e mais confortáveis ao paciente. Ele propõe a aplicação de um agente químico que consegue atuar apenas na dentina comprometida pelo processo carioso, amolecendo-a e facilitando, assim, sua remoção mecânica por meio de instrumentos manuais especialmente desenhados.45 Já foram propostos diversos métodos químico/mecânicos para remoção do tecido cariado.45,46 Atualmente, um método patenteado e com comprovada efetividade para essa atividade é o que emprega o Carisolv™ (Medi Team Dentalutveckling AB, Sävedalen, Suécia), um produto que apresenta, na sua composição, três aminoácidos com diferentes funções que interagem efetivamente na dentina cariada: a lisina (aminoácido básico); a leucina (aminoácido hidrófobo); e a glutamina (aminoácido ácido). Além dos aminoácidos, o Carisolv™ apresenta um evidenciador de dentina cariada, a eritrosina (E127B), água, hipoclorito de sódio e cloreto de sódio. A mistura do hipoclorito de sódio com os aminoácidos, em um pH elevado, gera a formação de um aminoácido N-clorado, em que o cloro frouxamente ligado é ativado e ataca o colágeno desnaturado na lesão de cárie.47 O hipoclorito de sódio é um agente proteolítico não específico que consegue remover componentes orgânicos e com reconhecida atividade antimicrobiana; porém, os aminoácidos neutralizam o efeito agressivo dessa substância sobre os tecidos sadios.48 O resultado é, basicamente, o amolecimento da dentina cariada, deixando a dentina subjacente, a qual, apesar da presença de poucos microrganismos, mantém seu potencial de remineralização.49 A eficácia desse sistema na remoção do tecido cariado foi avaliada em diversos estudos, que demonstraram que o Carisolv™ é eficaz na remoção do tecido cariado, ao ex- Capitulo_01.indd 9 Complexo Dentino-Pulpar o 9 cluir quase que totalmente a necessidade de anestesia local; porém, o maior tempo clínico necessário para a execução desse método foi considerado sua principal desvantagem.50-56 Em um estudo recente, desenvolvido com microtomografia computadorizada, ficou constatado que esse método foi mais seletivo para remoção de cárie quando comparado a outros oito métodos.57 O efeito do Carisolv™ em polpas humanas expostas foi avaliado por Bulut e colaboradores.58 O produto foi aplicado sobre a polpa exposta por um período de 10 minutos, tendo como controle a aplicação de solução salina. Após uma semana, uma resposta pulpar semelhante, que consistia em suave inflamação adjacente à área de perfuração, foi encontrada em ambos os grupos, não havendo diferença estatística entre eles. Os autores concluíram que o Carisolv™ não causa reações adversas para o tecido pulpar de seres humanos, sendo considerado, assim, um produto biocompatível. Em estudo recente, Chang e colaboradores59 demonstraram que a utilização do Carisolv™ em cavidades profundas, previamente ao capeamento pulpar indireto com hidróxido de cálcio, resultou em 95,3% de vitalidade pulpar em comparação com 87% quando o método tradicional foi empregado, uma diferença estatisticamente significativa. Dessa forma, e segundo os autores, o método químico/ mecânico foi mais efetivo na preservação da vitalidade pulpar do que o método tradicional quando da realização de capeamento pulpar indireto em cavidades profundas. Outros estudos com polpa de ratos também foram realizados, sendo observado que a aplicação do Carisolv™ em polpa exposta por períodos de 10 a 30 minutos não promoveu alterações significativas no tecido pulpar. Além disso, foram observadas destruição tecidual superficial e necrose de coagulação em 150 μm de profundidade, limitada à área exposta. Segundo os autores, esse produto causa uma hidrólise alcalina dos componentes celulares da polpa, porém não decompõe o colágeno desse tecido.49,60,61 Laser Er:YAG O sistema de ablação a ar pela utilização do laser Er:YAG é uma alternativa para remoção do tecido cariado que tem sido bastante estudada.39,62 O laser Er:YAG atua em um comprimento de onda cujo valor é igual ao pico de absorção da água e muito próximo do grupo hidroxila (OH–) referente à apatita mineral encontrada tanto no esmalte como na dentina.63-67 Esse importante fator permite que a energia liberada pelo laser Er:YAG seja satisfatoriamente absorvida, tanto pelo esmalte como pela dentina,63 uma vez que ambas as estruturas apresentam naturalmente água e cristais de hidroxiapatita na sua composição.68 Durante a aplicação desse tipo de laser na superfície dental, a água absorve a energia eletromagnética emitida pelo sistema de Er:YAG, transformando-a em energia tér- 16/09/2013 10:24:26 10 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar mica, passando rapidamente do estado líquido para o estado gasoso.69 Esse processo provoca intensa elevação da pressão interna do substrato mineral, rompendo a sua estrutura pelo processo de microexplosões, um fenômeno conhecido como ablação.63,70 É nesse contexto que o sistema de laser Er:YAG tem sido utilizado para remover tecido cariado e realizar preparos cavitários.66,71-73 A capacidade do sistema laser em ablacionar os tecidos dentais está diretamente relacionada a dois parâmetros: a energia por pulso; e a taxa de repetição. Assim, à medida que se aumentam a taxa de repetição e a energia por pulso, maior é a eficácia de remoção do tecido dentinário. Porém, como consequência, esse processo provoca aumento da temperatura do tecido irradiado.67,74 Segundo Kilinc e colaboradores,75 contudo, o aumento na temperatura da câmara pulpar, in vitro, observado para o laser Er:YAG foi significativamente menor que o verificado para as brocas em alta rotação, não ultrapassando 5,5°C. Outras pesquisas demonstram que a refrigeração pela utilização de jato água/ar previne o aumento excessivo da temperatura produzido durante o processo de ablação, resultando em um mecanismo eficiente e seguro para procedimentos clínicos.39,76,77 De acordo com Hossain e colaboradores,78 a refrigeração com jato água/ar não apenas impede o aquecimento excessivo das estruturas irradiadas, como também aumenta a efetividade de ablação. Na literatura, não existe um consenso ou padronização em relação aos parâmetros utilizados para realização da preparação cavitária com o uso do laser, sendo que seus estudos empregaram diferentes parâmetros, o que torna difícil a eleição de um método seguro e eficaz.77,79 Em estudo in vitro, Promklay e colaboradores80 observaram que a aplicação do laser Er:YAG, com diferentes energias de pulso (120, 300 e 500 mJ), sobre superfície de discos de dentina com 0,5 mm de espessura não causou alterações significativas sobre fibroblastos cultivados no lado oposto dos discos. Os autores observaram ainda que, para a energia de 500 mJ, houve aumento na produção de colágeno tipo I pelas células. Os efeitos da preparação cavitária com laser Er:YAG sobre polpas humanas foi avaliada por João Fernando Kina.81 O autor empregou energia de pulso de 500 mJ, taxa de repetição de 10 Hz e volume de água de 8,4 mL/ min. O preparo com o laser foi realizado com movimentos horizontais, lentos e contínuos, para evitar acúmulo de energia em uma única região do preparo. A análise histológica dos dentes submetidos à preparação cavitária a laser e com turbina de alta velocidade não demonstrou alterações significativas no tecido pulpar. Nessa pesquisa, não foi mensurada a temperatura gerada durante a confecção das cavidades, entretanto o autor especulou que o calor gerado foi baixo, pois não ocorreram danos teciduais significativos na polpa dos pacientes, mesmo considerando que o RDT entre as paredes cavitárias e a polpa era, em média, de 935,2 μm. Em uma análise mais detalhada, foi possível constatar que apenas um (1) espécime de cada Capitulo_01.indd 10 grupo experimental apresentou tecido pulpar com resposta inflamatória significativa e notável desorganização tecidual no corno pulpar diretamente relacionado com as paredes cavitárias. Nesses espécimes, o remanescente dentinário entre o assoalho da cavidade e a polpa era de 214 μm, para o método com laser, e de 413 μm, para a turbina de alta rotação. Esses dados histológicos demonstram que ambos os sistemas apresentam potencial para causar agressões pulpares quando do corte ou da ablação de tecido dentinário muito profundo (RDT < 0,5 mm). Assim, os cirurgiões-dentistas devem estar atentos quando da realização de procedimentos clínicos de preparação cavitária, especialmente quando houver a necessidade de remoção de dentina próxima à polpa. Como anteriormente discutido, esse procedimento se torna mais crítico quando o tecido dentinário profundo a ser mecanicamente removido apresenta-se cariado. Nesse caso, os possíveis danos pulpares causados pelo preparo cavitário podem se somar ao processo inflamatório previamente instalado na polpa em decorrência da presença de bactérias e seus produtos citotóxicos. Quanto à morfologia da cavidade, no estudo realizado por Kina,81 foi relatado que o sistema laser não permitiu controle efetivo da eliminação dos tecidos mineralizados do dente, quando foram obtidos preparos mais irregulares do que aqueles confeccionados com turbina de alta velocidade. Segundo o autor, esse fato pode ter resultado nas exposições pulpares acidentais que ocorreram apenas neste grupo durante a realização do experimento. Neves Ade e colaboradores57 observaram, em estudo in vitro com microtomografia computadorizada, que a remoção do tecido cariado com laser Er:YAG resultou em remoção não seletiva da cárie, quando comparado a outros métodos. Dessa forma, apesar de estudos demonstrarem a ausência de efeitos adversos sobre o tecido pulpar, ainda não há evidências da segurança na utilização desse método para remoção do tecido cariado (já que pode resultar em remoção inespecífica do tecido dental sem efetivo controle operacional), bem como uma definição clara dos parâmetros ideais a serem empregados clinicamente. Procedimentos restauradores O procedimento restaurador visa a devolver as funções, a morfologia e a característica de cor ao elemento dental, possibilitando o rápido reparo do complexo dentino-pulpar.17 Assim, a biocompatibilidade é uma importante propriedade a ser considerada na seleção de um agente restaurador, especialmente quando a restauração é realizada em cavidades profundas. Além da biocompatibilidade, pesquisas recentes têm investigado a capacidade desses materiais dentários em interagir com o complexo dentino-pulpar e auxiliar no processo de regeneração por meio da modulação das respostas celulares.12 Sabe-se que, 16/09/2013 10:24:27 Complexo Dentino-Pulpar o 11 durante a dentinogênese, proteínas não colagenosas, além de fatores de crescimento, permanecem sequestrados na dentina após sua mineralização. Quando aplicados sobre a dentina, alguns materiais apresentam capacidade de liberar moléculas bioativas desse tecido dentário tubular, principalmente em virtude de suas características de acidez ou alcalinidade, bem como por seu potencial de atuar como agente quelante, o que pode auxiliar no processo de regeneração pulpar. Dessa forma, nesta seção será dado enfoque para os materiais utilizados para restauração de cavidades profundas (capeamento pulpar indireto), bem como para aqueles aplicados em polpa exposta (capeamento pulpar direto). DI DA Capeamento pulpar indireto Em casos de lesões profundas, o capeamento indireto da polpa é empregado com o objetivo de manter a vitalidade pulpar: (1) detendo o processo carioso; (2) promovendo esclerose dentinária (reduzindo a permeabilidade); (3) estimulando a formação de dentina reacional; e (4) remineralizando a dentina cariada.82 O correto diagnóstico clínico da condição pulpar bem como a seleção do material capeador e de um material restaurador que permita adequado selamento da interface dente/restauração são essenciais para o sucesso desse procedimento restaurador. Como anteriormente descrito neste capítulo, atualmente preconiza-se a realização de preparos cavitários minimanente invasivos, limitados à remoção do tecido cariado. Essa remoção deve restringir-se à camada mais superficial de dentina cariada (dentina infectada), clinicamente apresentada como uma dentina necrótica, destruída e desorganizada, e pode ser feita facilmente com instrumentos manuais. A dentina infectada é rica em microrganismos, toxinas e enzimas, não conservando estrutura histológica passível de reorganização e remineralização.83,84 Logo abaixo da dentina infectada, encontra-se uma estrutura dentinária contaminada (dentina afetada), que se apresenta como uma estrutura distorcida, de coloração alterada, mas com textura parcialmente mantida. A dentina afetada também contém microrganismos, embora em menor número83,84 (Figuras 1.11 e 1.12). Após remoção da dentina infectada, é recomendado que se aplique, sobre a dentina afetada, um material dentário que apresente comprovada atividade antimicrobiana, já que este deve atuar sobre microrganismos remanescentes, inibindo sua atividade e metabolismo. Esse procedimento permite que o processo de cárie da camada mais profunda de dentina paralise, potencializando ou, pelo menos, criando condições adequadas para a reparação do complexo dentino-pulpar.84,85 Tem sido relatado que o material forrador ideal deve apresentar as seguintes propriedades: módulo de elasticidade semelhante à dentina; adesão ao substrato dentinário; atividade antimicrobiana; adequada resistência mecânica; copolimerização com o material restaurador; Capitulo_01.indd 11 oo Figura 1.11 Visão geral de uma lesão de cárie em evolução em um dente decíduo. Nota-se que a camada mais superficial da lesão, denominada dentina infectada (DI), apresenta elevado número de microrganismos e sua estrutura já está completamente desorganizada. Abaixo dela, observa-se um menor número de microrganismos penetrando na dentina por meio dos túbulos dentinários (setas). Esta parte da lesão, a qual, apesar de contaminada, ainda preserva a característica tubular da dentina, leva o nome de dentina afetada (DA). Brown & Brenn, 125 ×. DI oo Figura 1.12 Detalhe de uma dentina infectada (DI), a qual se apresenta desorganizada e, consequentemente, sem potencial de remineralização. Brown & Brenn, 250 ×. baixa solubilidade; e biocompatibilidade com o tecido pulpar.84 Vários materiais dentários foram propostos para o capeamento indireto, sendo que sua viabilidade de utilização será descrita a seguir. Hidróxido de cálcio Os materiais a base de hidróxido de cálcio têm sido empregados como agentes forradores e capeadores com 16/09/2013 10:24:30 12 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar elevados índices de sucesso clínico há décadas.14 Suas características, que incluem ação bacteriostática e bactericida aliada à sua alcalinidade, parecem exercer papel fundamental na paralização do processo carioso. Já foi demonstrado que esse material promove a deposição de dentina reacional e esclerose dentinária.86 Quando usado para forramento de cavidades profundas preparadas em dentes humanos ou mesmo para capeamento pulpar direto, foi demonstrado que o hidróxido de cálcio, nas suas diferentes formulações, causa mínima resposta inflamatória pulpar, sendo considerado padrão-ouro em pesquisas.42,87-94 Apesar das vantagens do uso dos cimentos de hidróxido de cálcio como materiais para capeamento pulpar indireto, estes apresentam desvantagens relacionadas às suas propriedades físicas, como falta de adesão às estruturas dentárias, baixa resistência mecânica e elevada solubilidade. Dessa forma, apesar de os cimentos de hidróxido de cálcio (Hidro C, Dycal e outros) continuarem sendo amplamente usados na clínica odontológica para forramento cavitário e capeamento pulpar indireto, outros materiais têm sido propostos e estudados. Sistemas adesivos A aplicação de sistemas adesivos diretamente em cavidades profundas foi proposta, há alguns anos, por clínicos/pesquisadores que não recomendavam a aplicação prévia de um agente capeador indireto biocompatível para proteção do complexo dentino-pulpar. Porém, já está comprovado, a partir de diversas pesquisas científicas, que esse procedimento pode causar reação inflamatória crônica persistente do tipo corpo estranho e reabsorção dentária interna associada ou não a áreas de necrose do tecido pulpar.87 Diversos fatores estão envolvidos neste processo, os quais serão discutidos a seguir. Atualmente, os sistemas adesivos são classificados de acordo com o número de etapas necessárias para sua aplicação clínica e com o seu mecanismo de interação com o substrato dentinário. O primeiro grupo de sistemas adesivos que surgiu é formado por aqueles que preconizam a remoção completa da smear layer por meio do condicionamento ácido total. Nesse procedimento, um ácido forte (ácido fosfórico 30 a 40%) é aplicado sobre a superfície dentinária, promovendo descalcificação da dentina intertubular e peritubular e alargando a embocadura dos túbulos dentinários. Em seguida, aplicam-se o primer e o adesivo, o que resulta na formação de uma camada híbrida acidorresistente.45,95,96 O condicionamento ácido total aplicado em cavidades muito profundas (RDT < 0,5 mm) pode resultar na exposição de uma rede de fibrilas de colágeno parcialmente desnaturadas, entrelaçadas em meio a amplos túbulos dentinários desobstruídos, os quais passam a permitir uma intensa exsudação de fluido dentinário do interior da polpa para a parede pulpar da cavidade. Mesmo após a Capitulo_01.indd 12 remoção do excesso de água da cavidade, esse tipo de substrato se mantém muito úmido, especialmente em virtude da presença do fluido dentinário, sendo que este quadro pode ser ainda mais intenso se o tecido pulpar apresentar-se inflamado.17 Atenção especial deve ser dada ao procedimento de secagem da cavidade. Sabe-se que, em condições ideais, esse procedimento deve ser realizado de forma delicada, tomando-se cuidado para não desidratar e ressecar a dentina e provocar o colapso das fibrilas colágenas, o que dificulta a formação da camada híbrida. Em substrato dentinário profundo, a secagem excessiva da cavidade gera um rápido movimento de saída do fluido dentinário,97 o que pode provocar aspiração do corpo dos odontoblastos para dentro dos túbulos dentinários, ocasionando a morte dessas células, que são eliminadas dentro de alguns dias. A aplicação do sistema adesivo em um ambiente que apresenta excesso de umidade resulta na formação de uma camada híbrida heterogênea e de qualidade inadequada. O sistema adesivo compete com o fluido dentinário para ocupar a região desmineralizada pelo condicionamento ácido, ou seja, não consegue penetrar em toda a área desmineralizada; dessa forma, permanecem gaps de dentina descalcificada pobre em minerais, a qual é altamente suscetível à hidrólise. Esses gaps tornam-se, então, sítios de falhas do mecanismo de adesão. Já foi demonstrado que as metaloproteínases da própria dentina e/ou da saliva podem degradar a interface adesiva.98 Além disso, a ampla umidade pode interferir na polimerização dos monômeros resinosos do sistema adesivo: aqueles não polimerizados permanecem livres em meio ao fluido dentinário e podem se deslocar facilmente por meio dos túbulos dentinários em direção ao tecido pulpar. A difusão in vitro de componentes resinosos pela dentina foi amplamente demonstrada na literatura.99-102 Costa e colaboradores103 demonstraram que, quando o sistema adesivo não é polimerizado, o efeito citotóxico in vitro sobre células odontoblastoides é exarcebado, ao ser comparado aos mesmos materiais submetidos à fotopolimerização. Diversos estudos in vivo relataram que a aplicação de sistemas adesivos em cavidades profundas submetidas ao condicionamento ácido resultou na formação de longos tags de resina e na difusão transdentinária de monômeros residuais não completamente polimerizados do material em direção à polpa.42,87,91,92,94,104 Associado à penetração de tais glóbulos de materiais resinosos, observou-se no tecido pulpar de dentes humanos intensa reação inflamatória e desorganização da camada de odontoblastos, sendo que este quadro não foi reversível.42 Porém, quando o substrato dentinário não foi submetido ao condicionamento ácido, foi observada apenas uma leve reação inflamatória.42,87 Outro procedimento clínico que pode influenciar na difusão de componentes não polimerizados para o tecido pulpar é a fotopolimerização do sistema adesivo. Foi de- 16/09/2013 10:24:31 Complexo Dentino-Pulpar o 13 monstrado no estudo de Hashimoto e colaboradores97 que, durante a fotopolimerização, o aumento na temperatura gerado pela luz promove inversão no sentido de movimentação do fluido dentinário dentro dos túbulos, ou seja, este passa a se deslocar em direção à câmara pulpar, o que pode ocasionar maior difusão de monômeros residuais para o interior da polpa. Os sistemas adesivos apresentam, na sua composição, diversos monômeros resinosos, como HEMA (2-Hydroxyethyl methacrylate), Bis-GMA (Bisphenol A-glycidyl methacrylate), TEGDMA (Triethylene glycol dimethacrylate) e UDMA (uretano dimetacrilato), os quais apresentam reconhecida citotoxicidade sobre células de mamíferos em cultura.42,105-108 Ratanasathien e colaboradores106 descreveram a seguinte sequência decrescente de citotoxicidade: Bis-GMA > UDMA > TEGDMA >>> HEMA. Apesar de sua menor toxicidade em relação aos demais monômeros resinosos, o HEMA é o principal monômero presente nos sistemas adesivos. Já foi demonstrado que uma concentração de 16 μmol/L de HEMA causou efeito inibitório irreversível sobre a síntese de DNA, proteínas e metabolismo celular sobre fibroblastos em cultura.109 Contudo, os sistemas adesivos apresentam uma concentração de 4.000 μmol/L de HEMA, número muito maior que o empregado no estudo de Hanks e colaboradores.109 Além disso, esse monômero apresenta elevada hidrofilicidade e baixo peso molecular, o que pode facilitar sua penetração e difusão pelos túbulos dentinários. Acredita-se, então, que uma concentração considerável de HEMA possa atingir a câmara pulpar após aplicação do sistema adesivo em cavidades profundas condicionadas, ou seja, esse monômero provavelmente é o principal responsável pelos efeitos deletérios no tecido pulpar após aplicação dos sistemas adesivos. Já o Bis-GMA, apesar de sua elevada citotoxicidade, apresenta elevado peso molecular e é um monômero hidrofóbico, o que limita sua difusão pelos tecidos dentários.110 Foi demonstrado por estudos in vitro que o contato direto de monômeros resinosos com diferentes tipos celulares promoveu aumento na produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), além de diminuição da atividade de antioxidantes intracelulares, desencadeando o processo de estresse oxidativo celular, seguido de morte celular por apoptose.111-115 Quando em contato com o tecido pulpar, os monômeros resinosos desencadeiam uma reação inflamatória crônica. Podem ser vistos macrófagos na periferia da polpa relacionada à área de aplicação do sistema adesivo, células que apresentam capacidade para fagocitar os componentes dos materiais resinosos; porém, as enzimas lisossomais produzidas por elas não conseguem digerir esses produtos, o que resulta em uma reação inflamatória persistente (Figuras 1.13 e 1.14). Um segundo grupo de sistemas adesivos disponíveis para uso clínico leva o nome de adesivos autocondicionantes, os quais têm por objetivo modificar a smear layer e incorporá-la no processo de adesão.88 Como a smear layer não é removida, acredita-se que a difusão de com- oo Figura 1.13 Dente humano submetido a preparo cavitário muito profundo (RDT = 287 µm). Após condicionamento ácido total, um sistema adesivo foi aplicado sobre todas as paredes cavitárias. Observa-se a desorganização da camada odontoblástica, sendo que as células morreram por aspiração para o interior dos túbulos dentinários ou por contato direto com componentes resinosos que se difundiram por meio dos túbulos dentinários. Tricrômico de Masson, 250 ×. Capitulo_01.indd 13 oo Figura 1.14 Detalhe de uma área da Figura 1.13, em que um macrófago apresenta grande quantidade de glóbulos de material adesivo que alcançaram a câmara pulpar. TEM. 16/09/2013 10:24:32 14 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar ponentes monoméricos a partir desses materiais em direção à câmara pulpar possa ser minimizada. Com o objetivo de avaliar a segurança da aplicação de adesivos autocondicionantes em cavidades profundas, Souza Costa e colaboradores92 realizaram estudo em dentes humanos. Os autores observaram presença de glóbulos de material resinoso não polimerizado em direção ao tecido pulpar em apenas dois dos 15 espécimes estudados, associada à intensa reação inflamatória, sendo que esses espécimes apresentaram RDT menor que 300 μm. Cetingüç e colaboradores102 demonstraram que a penetração de HEMA pelos tecidos dentais a partir de sistemas adesivos ocorre na seguinte ordem crescente: condicionamento ácido + aplicação do sistema adesivo > adesivo autocondicionante > aplicação do sistema adesivo sem condicionamento ácido. Porém, no mesmo estudo, foi mostrado que, quanto menor é o RDT, maior é a difusão de HEMA a partir de sistemas adesivos autocondicionantes. Em estudo recente, foi demonstrado que a aplicação de diferentes sistemas adesivos autocondicionantes sobre discos de dentina in vitro resultou em difusão significativa de monômeros resinosos – sendo o HEMA o principal componente encontrado –, o que produziu redução significativa da viabilidade de células odontoblastoides semeadas na superfície oposta dos discos de dentina.116 Outros estudos demonstram que pode ocorrer nanoinfiltração na camada híbrida confeccionada sob substrato úmido.117,118 Dessa forma, a degradação da camada híbrida e a consequente liberação de monômeros resinosos podem ocorrer com o decorrer do tempo e, assim, exacerbar os danos ao tecido pulpar.92 Tem sido demonstrado que os monômeros advindos dos sistemas adesivos podem interferir no metabolismo celular causando danos ao DNA, com a ativação consecutiva de mecanismos de reparo e, eventualmente, apoptose celular.119 Mais recentemente, alguns estudos observaram um retardo na resposta do sistema imune inato frente a agentes agressores como o LPS (lipopolissacarídeo) causado pelos monômeros resinosos em virtude da redução da ação das MAP-kinases e, consequentemente, redução de mediadores inflamatórios.120 Esse achado indica que os monômeros podem interferir na resposta inflamatória, permitindo que o sistema imune atue de forma mais branda. Essa ação de supressão dos sintomas inflamatórios pelos monômeros ainda permanece em questionamento, pois, apesar de poder favorecer a regeneração tecidual, também pode levar a um quadro de sépsis em razão da dificuldade em reverter o processo infeccioso.120 Outra particularidade dos monômeros foi observada no estudo de Galler e colaboradores,121 em que demonstrou-se que células pulpares expostas a baixas concentrações de TEGDMA apresentaram redução na expressão de genes relacionados à mineralização, como o colágeno tipo 1, a fosfatase alcalina, a silaproteína óssea, a sialofosfoproteí- Capitulo_01.indd 14 na da dentina, entre outros. Os autores sugerem que esse fenômeno ocorreu porque não houve energia suficiente para a diferenciação celular, já que a maioria da energia disponível foi utilizada para reaver as reações oxidativas, impedindo, portanto, a formação de barreira mineralizada.121 Assim, como o advento desses materiais é recente e poucos estudos estão disponíveis na literatura, parece ainda ser de bom-senso, para situações clínicas de cavidade profunda, utilizar materiais forradores que definitivamente apresentem boas propriedades biológicas. Cimento de ionômero de vidro As indicações de um material forrador vão muito além de proteger a polpa dos possíveis efeitos tóxicos dos materiais dentários. Na atualidade, sabe-se que um agente forrador/base pode ser utilizado para: (1) inibir a atividade bacteriana na dentina afetada por cárie após remoção da dentina infectada; (2) diminuir a área a ser restaurada com resina composta, determinando uma importante redução na quantidade de material restaurador a ser aplicado na cavidade, bem como o número de incrementos necessários; e (3) regularizar o assoalho cavitário. Apesar de sua comprovada eficácia para capeamento indireto em cavidades profundas, as desvantagens do hidróxido de cálcio anteriormente descritas neste capítulo (falta de adesão micromecânica ou química à dentina, não copolimerização com os materiais resinosos, elevada solubilidade e baixa resistência mecânica) demonstram que esse material, apesar de amplamente utilizado, parece não se enquadrar no perfil atual de um forrador ideal. Diante disso, os cimentos de ionômero de vidro, modificados ou não por resina, têm sido propostos como material forrador/base cavitário, pois apresentam propriedades mecânicas e módulo de elasticidade semelhantes à dentina, além de comprovada atividade antimicrobiana pela liberação de flúor, reduzida solubulidade, adesão ao substrato dentinário e copolimerização com materiais resinosos.122-124 Além disso, tem sido demonstrado que a interação química entre componentes dos cimentos de ionômero de vidro com o tecido dentinário gera a formação de cristais na embocadura dos túbulos dentinários,125 o que pode reduzir a permeabilidade da dentina, especialmente quando se trata de cavidades profundas. Porém, poucos são os estudos disponíveis na literatura que avaliaram a biocompatibilidade desses materiais em cavidades profundas. Duque e colaboradores126 demonstraram que a aplicação do cimento de ionômero de vidro modificado por resina Vitrebond® (3M ESPE, St. Paul, Minnesota, Estados Unidos) em cavidades profundas preparadas em dentes de primatas não causou reação inflamatória no tecido pulpar. Os autores relataram apenas a ocorrência de discreta deposição de dentina reacional na região da polpa relacionada com o assoalho cavitário. Pesquisas com dentes huma- 16/09/2013 10:24:33 Complexo Dentino-Pulpar o 15 oo Figura 1.15 oo Figura 1.16 Dente humano submetido a preparo cavitário muito profundo. Após tratamento das paredes cavitárias com um primer (ácido poliacrílico + HEMA) e restauração com o CIV Vitremer®, o dente foi extraído e processado para análise microscópica. Observa-se a intensa reação inflamatória pulpar mediada por células mononucleares em meio a numerosos vasos sanguíneos dilatados e congestos. A dentina apresenta áreas de reabsorção interna (setas). Tricrômico de Masson, 250 ×. Neste dente humano, o CIV Vitrebond® foi aplicado sobre o assoalho cavitário antes do tratamento da dentina com primer e restauração da cavidade com Vitremer®. Notam-se aqui a manutenção da integridade da camada odontoblástica e a ausência de inflamação e desorganização tecidual. Tricrômico de Masson, 250 ×. nos também apresentaram resultados animadores a respeito desse material.89,94 Quando Vitrebond® foi aplicado em cavidades muito profundas (RDT < 0,3 mm), o tecido pulpar manteve suas características histológicas de normalidade. Atualmente, nosso grupo de pesquisa avaliou a aplicação do cimento de ionômero de vidro Vitremer® em cavidades profundas após tratamento das paredes cavitárias com um primer fornecido pelo próprio fabricante. Essa pesquisa foi proposta em virtude da dificuldade encontrada em algumas situações clínicas, particularmente em Odontopediatria, de se aplicar um CIV para forramento cavitário, seguido do uso de outro CIV para restaurar a cavidade. Assim, talvez um único cimento, como o Vitremer®, pudesse ser empregado com segurança, independentemente da profundidade da cavidade, reduzindo o tempo clínico e o custo da restauração. Todavia, os resultados negativos observados na polpa, caracterizados por persistente inflamação e desorganização tecidual (dados ainda não publicados), desencorajaram a indicação desse procedimento clínico (Figuras 1.15 e 1.16). Novas pesquisas com diferentes CIVs estão em andamento com o objetivo de demonstrar os efeitos de diferentes materiais ionoméricos sobre o tecido pulpar, o que fornecerá ao clínico opções para a seleção do material forrador/base cavitário. Estudo in vitro realizado por Souza Costa e colaboradores127 demonstrou que alguns cimentos cimentos de ionômero de vidro, como Fuji II LC™ e Fuji IX GP™ (GC, Tóquio, Japão) e Ketac-Molar™ (3M ESPE, St. Paul, Minnesota, Estados Unidos), foram menos citotóxicos para células pulpares Capitulo_01.indd 15 em cultura do que o Vitrebond®. Em estudo com dentes de ratos, o Fuji IX™ demonstrou boa biocompatibilidade, não induzindo efeitos nocivos para a polpa dental desses animais.128 Pode-se especular que esses produtos apresentam biocompatibilidade similar àquela encontrada para o Vitrebond®. Todavia, resultados de pesquisas in vitro e em animais não podem ser diretamente extrapolados para condições clínicas. Dessa maneira, como todos os procedimentos clínicos devem ser empregados com base em evidências científicas, parece claro que o Vitrebond® ainda permanece como o único material forrador que atualmente cumpre a maioria dos requisitos de um agente forrador ideal, cujas proriedades foram comprovadas por meio de pesquisas científicas publicadas em periódicos internacionais de forte impacto para a área do conhecimento. Capeamento pulpar direto Há mais de 60 anos, o hidróxido de cálcio tem sido utilizado como agente capeador direto de polpas expostas com o objetivo de induzir ou, pelo menos, permitir que as células pulpares participem, de forma definitiva, da formação de uma barreira mineralizada.12,14 A característica alcalina desse material é capaz de induzir uma necrose de extensão limitada à superfície da exposição pulpar, a qual estimula o mecanismo de reparação pulpar. Os passos seguintes assemelham-se àqueles descritos para a deposição de dentina reparadora, nos quais células mesenquimais indiferenciadas da polpa são recrutadas para a região de necrose e diferenciam-se em células odontoblastoides. Essas células recém-diferenciadas sintetizam, depositam e mineralizam uma denti- 16/09/2013 10:24:35 16 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar HC BM oo Figura 1.17 oo Figura 1.18 Dente humano submetido à exposição mecânica da região mais superior do corno pulpar vestibular. Sobre a ferida pulpar, foi aplicado pó de hidróxido de cálcio (HC). Nota-se o início de formação de uma barreira mineralizada (setas), a qual apresenta tendência de obliterar a exposição, interpondo-se entre o material capeador e a polpa subjacente. H/E, 64 ×. Decorridos 60 dias após o capeamento pulpar direto com hidróxido de cálcio, uma barreira mineralizada (BM) completa foi formada, a qual está revestida internamente por uma camada contínua de células odontoblastoides recém-diferenciadas (setas). H/E, 86 ×. na amorfa, formando-se, assim, a barreira mineralizada, que se interpõe entre o material capeador e a polpa subjacente12,14 (Figuras 1.17 e 1.18). Esse potencial reparador do hidróxido de cálcio tem sido explicado, pelo menos em parte, por sua capacidade de solubilizar proteínas da dentina exposta, em virtude de sua alcalinidade, e, consequentemente, modular a resposta de células odontoblastoides a produzir dentina.129 Alguns pesquisadores demonstraram a capacidade do hidróxido de cálcio em extrair da dentina proteínas não colagenosas e glicosaminoglicanas, além de fatores de crescimento, como o TGF-β1.129,130 Mais recentemente, surgiu no mercado odontológico o agregrado trióxido mineral (MTA), um cimento composto de micropartículas hidrófilas de vários óxidos minerais. Em contato com água, o pó do MTA se geleifica e se solidifica, tornando-se uma barreira quase que impermeável. De maneira geral, o mecanismo de ação do MTA é semelhante ao do hidróxido de cálcio.12,131,132 O pH inicial desse material é cerca de 10,2, o qual, após reação de presa, eleva-se para aproximadamente 12,5, quando, então, permanece constante. Duas características importantes do MTA, que podem ser consideradas vantagens quando este material é comparado ao hidróxido de cálcio, são: (1) radiopacidade; e (2) baixa solubilidade. Além disso, durante a reação de presa, o MTA apresenta expansão, o que pode prevenir a infiltração marginal de bactérias.132 Já foi demonstrado, em estudo in vivo realizado em tecido conjuntivo subcutâneo de ratos, que o MTA consegue promover formação de granulações grosseiras caracterizadas como cristais de calcita, que surgem em decorrência da Capitulo_01.indd 16 reação do cálcio com o dióxido de carbono do tecido conjuntivo. Esse resultado foi semelhante à reação tecidual observada para o hidróxido de cálcio.133,134 Assim, estudos in vivo foram realizados com o objetivo principal de avaliar a resposta pulpar frente à aplicação do MTA em exposições pulpares. Eles demonstraram que o MTA comportou-se de forma semelhante ao hidróxido de cálcio, ao depositar barreira dentinária e manter a polpa subjacente com características de normalidade e livre de processo inflamatório.135-138 Estudos recentes demonstraram que o MTA, quando em contato com cultura primária de células pulpares, aumentou de forma significativa a expressão de proteínas relacionadas com a diferenciação de células mesenquimais indiferenciadas da polpa em células odontoblastoides, como fosfatase alcalina (ALP), sialoproteína da dentina (DSPP), colágeno tipo I (COL1), osteocalcina (OCN) e sialoproteína óssea (BSP).139-141Além disso, foi observado que esse material ativou a diferenciação das células pulpares pela via de sinalização MAPK (proteína quinase ativada por mitógenos). Dessa forma, demonstrou-se que o MTA apresenta potencial para favorecer a reparação pulpar, estimulando a diferenciação de células da polpa em células odontoblastoides.141 Além disso, já foi descrito que os componentes de eluição do MTA, como íons cálcio, aumentaram a proliferação de células pulpares em cultura.142 Em revisão de literatura recente, Bakland e Andreasen143 afirmaram que, apesar de o MTA apresentar-se uma alternativa promissora para a substituição do hidróxido de cálcio para o capeamento de polpas expostas, ainda não existem estudos clínicos a longo prazo que demonstrem eficácia e segurança para esse material. Em pesquisa recente realizada por nosso grupo de pesquisa, 16/09/2013 10:24:37 Complexo Dentino-Pulpar o 17 PRMTA VS P oo Figura 1.19 oo Figura 1.20 Dente humano submetido à exposição mecânica da polpa (P) e a capeamento pulpar direto com o cimento ProRoot-MTA® (PRMTA). H/E, 64 ×. Cinco dias após o capeamento pulpar direto com ProRoot-MTA®, grânulos de bismuto (setas), liberados pelo cimento, são observados na matriz extracelular da polpa, próximos a um amplo vaso sanguíneo (VS). H/E, 250 ×. em que uma cuidadosa avaliação histopatológica de polpa de dentes humanos capeada com o ProRoot-MTA® foi realizada, observou-se, no período de cinco dias, a ocorrência de delgada necrose de coagulação no tecido pulpar imediatamente abaixo do material capeador. Após 60 dias da realização do procedimento operatório, verificou-se a formação de uma barreira mineralizada mais homogênea do que aquela que havia sido capeada com hidróxido de cálcio. Todavia, no período inicial de avaliação (cinco dias), resíduos do material capeador, caracterizado como bismuto, foram observados dispersos em meio à matriz extracelular da polpa (Figuras 1.19 e 1.20). Já aos 60 dias, diversos fragmentos de bismuto residual foram observados no citoplasma de células endoteliais e no interior de vasos sanguíneos localizados distante da área de capeamento. Esses achados histológicos chamaram a atenção, pois esses componentes de MTA presentes na corrente circulatória caracterizam um processo patológico de embolia local, sendo que os êmbolos poderiam alcançar facilmente capilares da região da cabeça e do pescoço e, talvez, ocasionar sérios problemas para a saúde geral dos pacientes. Desde então, não temos mais utilizado ou recomendado o uso do ProRoot-MTA® ou de VS oo Figura 1.21 oo Figura 1.22 No período de 30 a 60 dias após o capeamento pulpar com o cimento ProRoot-MTA®, grânulos de bismuto liberados do material foram observados na parede de vasos sanguíneos da polpa (setas). Tricrômico de Masson, 125 ×. Como demonstrado na Figura 1.21, além de se acumularem nas paredes de vasos sanguíneos (VS), fragmentos de bismuto liberados com cimento ProRoot-MTA® também são observados no interior desses vasos pulpares. H/E, 125 ×. Capitulo_01.indd 17 16/09/2013 10:24:41 18 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar outro tipo de MTA que contenha bismuto na sua composição como agente capeador (Figuras 1.21 e 1.22). A utilização de outros materiais (sistemas adesivos, cimento de ionômero de vidro etc.) como agentes capeadores diretos de polpas expostas são contraindicados. Tal asserção foi baseada em diversos estudos realizados, especialmente nos últimos 15 anos, em dentes humanos, nos quais demonstrou-se que o material adesivo resinoso aplicado sobre a polpa ocasionou reação inflamatória do tipo corpo estranho e reabsorção dentinária interna, associada à falta de diferenciação de novos odontoblastos e consequente não formação de barreira.43,90,93,144-147 Agentes cimentantes O uso de restaurações indiretas na Odontologia é uma modalidade de tratamento cada vez mais comum na atualidade. Isso se deve à excelente estética final e às propriedades mecânicas desses materiais quando comparados àqueles usados para restaurações diretas de cavidades dentárias. Porém, uma grande desvantagem da execução de restaurações indiretas é a necessidade de se confeccionar preparos cavitários específicos para prover estabilidade para a restauração, o que, muitas vezes, leva à necessidade de corte de tecido dental sadio e, consequentemente, exposição de grande número de túbulos dentinários altamente permeáveis. Estima-se que, dependendo do dente, cerca de 1 a 10 milhões de túbulos dentinários são expostos quando da realização do preparo para receber uma coroa total.148 Portanto, a escolha de um agente cimentante biocompatível é fundamental para o êxito do procedimento clínico. O cimento de fosfato de zinco é, até hoje, um material amplamente utilizado na Odontologia. Apesar da falta de adesividade, da ausência de atividade antimicrobiana e da elevada solubilidade, esse cimento apresenta comprovada eficácia clínica, demonstrada por diversos estudos clínicos longitudinais.148 Porém, a acidez dele é considerada um fator de risco para danos ao tecido pulpar, sendo contraindicado para aplicação em substrato dentinário profundo.148-151 Os cimentos de ionômero de vidro e os cimentos resinosos são alternativas amplamente empregadas para a cimentação de restaurações indiretas.148,152 Os primeiros apresentam diversas vantagens, como discutido anteriormente, sendo uma de suas características marcantes sua biocompatibilidade com o complexo dentino-pulpar.89,94 Sabe-se que a acidez desse tipo de material odontológico em contato com a dentina pode gerar a formação de cristais na embocadura dos túbulos dentinários. Assim, não se espera a ocorrência de danos ao tecido pulpar e sensibilidade pós-operatória quando do uso de materiais ionoméricos como agentes cimentantes. Sua grande desvantagem é a baixa resistência Capitulo_01.indd 18 mecânica quando comparada a de cimentos resinosos.153-156 Porém, como afirmado anteriormente, poucos são os materiais com comprovada indicação para aplicação em substrato dentinário profundo, sendo necessários mais estudos para indicação desses materiais para essa situação clínica em particular. Atualmente, uma nova categoria de cimentos resinosos, denominada cimentos autoadesivos, foi introduzida na Odontologia. Para esses cimentos, também não há recomendação de qualquer pré-tratamento da superfície do dente, sendo o material manipulado e aplicado em passo único.148,152,157 O mecanismo de adesão é baseado na ação de monômeros multifuncionais com grupamentos de ácido fosfórico, os quais simultaneamente desmineralizam e se infiltram no esmalte e na dentina.157 Nesse protocolo, a smear layer não é removida e a sensibilidade pós-operatória não é esperada.91 Como os cimentos resinosos autoadesivos não necessitam dos passos clínicos de condicionamento ácido e/ou fotoativação, eles se apresentam como uma alternativa clínica interessante, pois, além de reduzir o tempo do procedimento clínico restaurador, seu uso poderia, hipoteticamente, prevenir a difusão transdentinária de monômeros residuais, evitando danos às células pulpares.91 Em um estudo in vivo realizado em pré-molares humanos íntegros, foi demonstrado que a aplicação do cimento autoadesivo Rely X Unicem™ (3M ESPE, St. Paul, Minnesota, Estados Unidos) em cavidades muito profundas causou nenhuma ou discreta reação inflamatória pulpar.91 Nos dentes onde foi aplicado um cimento resinoso convencional (Variolink; Ivoclar Vivadent, Schaan, Lienchstein), observou-se formação de longos tags de resina no interior dos túbulos dentinários, associada à intensa reação inflamatória e desorganização tecidual, a qual foi persistente em análises de 60 dias após a realização dos procedimentos clínicos. Outro estudo in vitro demonstrou o discreto efeito citotóxico do Rely X Unicem™ para células odontoblastoides em cultura.158 Os autores expuseram as células, durante 24 horas, aos extratos provenientes de corpos de prova preparados com Rely X Unicem™. Os extratos obtidos após 24 horas ou 7 dias de contato dos corpos de prova com o meio de cultura causaram redução de apenas 2,64 e 10,51% no metabolismo celular, respectivamente. Essa leve redução metabólica causada pelo Rely X Unicem™ sobre as células odontoblastoides não foi estatisticamente diferente dos dados obtidos para o grupo-controle, em que as células não tratadas representavam 100% de metabolismo. Os demais materiais avaliados, entre eles hidróxido de cálcio (Dycal® – Dentsply Caulk, Milford, Delaware, Estados Unidos), Vitrebond® (3M ESPE) e Rely X Lutting™ (3M ESPE), promoveram redução do metabolismo celular de 78 a 91%. Os excelentes resultados obtidos para o Rely X Unicem™ podem estar relacionados, pelo menos em parte, à 16/09/2013 10:24:41 composição desse cimento, aliados à ausência de pré-tratamento da dentina. Esse material apresenta o persulfato de sódio como iniciador da reação de polimerização, o qual reduz a liberação de monômeros residuais.159,160Além disso, seu elevado nível de carga inorgânica, como a sílica silanizada (5 a 10% em peso), pode limitar a liberação de monômeros residuais, bem como a difusão transdentinária deles, pois o aumento na quantidade de carga em um material resinoso previne sua degradação imediata em ambiente úmido.161 Portanto, esse cimento parece ser uma interessante opção para a cimentação de peças protéticas em preparações dentárias que expõem dentina profunda. Clareamento dental O clareamento dental é um procedimento bastante requisitado na atualidade, porém, o problema da sensibilidade dental, comum após esse tratamento, tem atraído a atenção dos pesquisadores.162 Estima-se que cerca de 2/3 dos pacientes submetidos ao clareamento dental relatam algum tipo de desconforto pós-tratamento.163 Foi demonstrado por diversos estudos in vitro164-167 que a fisiopatologia da sensibilidade dental pós-clareamento está relacionada à penetração de peróxido de hidrogênio (H2O2), principal componente ativo dos géis clareadores, no tecido pulpar. Dessa forma, acredita-se que a aplicação de géis clareadores na superfície dental promove a difusão de H2O2 e seus subprodutos de degradação, como íons hidroxila e ânion superóxido, para o tecido pulpar, gerando uma reação inflamatória, intimamente relacionada ao processo de dor de origem pulpar.168 Se o procedimento de clareamento dental resulta em dano ao tecido pulpar, provavelmente ocorre a liberação de mediadores da inflamação, como prostaglandinas, que podem excitar ou sensibilizar nociceptores pulpares.169 Diversos estudos in vitro utilizando câmaras pulpares artificiais demonstraram elevada citotoxicidade transamelodentinária sobre células odontoblastoides quando da aplicação de agentes clareadores com elevadas concentrações de H2O2 (20 a 38%) sobre discos de esmalte/dentina, conforme recomendado para a técnica do clareamento de consultório.170-173 Além disso, estudos in vivo demonstraram presença de inflamação pulpar de leve a intensa, dependendo da espessura do dente clareado, a qual seria resultante da ação do H2O2 e seus produtos de degradação nas células pulpares.174-176 Nesses estudos in vivo, quando géis clareadores com 35 ou 38% de H2O2, associados ou não à ativação por luz ou calor, foram aplicados em pré-molares, não foram observadas alterações significativas no tecido pulpar.175-177 Entretanto, Souza Costa e colaboradores176 observaram que, em incisivos inferiores, três aplicações consecutivas de um gel com 38% de H2O2, resultaram em necrose de coagulação da Capitulo_01.indd 19 Complexo Dentino-Pulpar o 19 polpa coronária desses dentes. No mesmo estudo, o procedimento clareador foi realizado em pré-molares, onde não foram observadas alterações histológicas significativas. A espessura de dentina dos dentes foi mensurada, sendo observado que nos pré-molares a espessura média foi de 3,1 mm, enquanto nos incisivos a média foi de aproximadamente 1,8 mm. Resultados semelhantes a esses foram observados por Seale e colaboradores,178 em que o clareamento com H2O2 a 35%, associado ou não ao calor, em caninos de cães, resultou em intensa reação inflamatória no tecido pulpar, gerando morte de odontoblastos. A espessura de esmalte e dentina dos dentes nesse estudo foi de aproximadamente 1,7 mm. Dessa forma, fica claro que a espessura de esmalte e dentina apresenta importante influência sobre os efeitos agressivos dos géis clareadores, provavelmente por interferir diretamente na difusão transamelodentinária de componentes tóxicos. Tem sido descrito que a associação dos géis clareadores com calor ou luz, um procedimento que objetiva promover um clareamento mais rápido, visto que a luz apresenta um efeito catalítico que acelera a liberação de OH– bem como a difusão de H2O2 pelo esmalte e pela dentina,179 resulta em maiores índices de sensibilidade dental.163 Porém, já foi demonstrado em estudos in vivo que a aplicação de luz ou calor não promoveu aumento na eficácia do procedimento clareador.180,181 Por sua vez, outros estudos demonstraram que esse procedimento pode resultar em maior difusão de H2O2 pelas estruturas mineralizadas do dente,179 bem como em aumento da temperatura intrapulpar acima do limiar biológico das células pulpares.182 Maiores efeitos tóxicos para as células pulpares in vitro também foram demonstrados quando o procedimento de clareamento de consultório foi realizado associado à aplicação de luz halógena.171 Caviedes-Bucheli e colaboradores183 demonstraram, ainda, que o clareamento de pré-molares com altas concentrações de H2O2 associadas ao laser ou à luz halógena resultou em aumento significativo da expressão de substância P, quando comparado com dentes apenas clareados com o gel. Esses achados podem explicar, pelo menos em parte, a maior prevalência de sensibilidade dental após o clareamento associado à luz. Diante do comprovado efeito tóxico dos agentes clareadores com altas concentrações de H2O2, a técnica de clareamento caseiro, pela utilização de géis com baixas concentrações de peróxido de carbamida (PC), parece ser uma alternativa bastante interessante. Soares e colaboradores184 observaram que a aplicação do gel clareador com 10% de PC em discos de esmalte/dentina não resultou em difusão de componentes tóxicos que podem promover redução significativa do metabolismo de células odontoblastoides em cultura, independentemente do número de aplicações do produto sobre a superfície dental (1, 7 ou 14 aplicações). Em estudo similar, Lima e colaboradores185 16/09/2013 10:24:41 20 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar relataram que a aplicação do mesmo gel por seis horas na superfície de discos de dentina, com 0,5 mm de espessura, não resultou em redução do metabolismo das células odontoblastoides que estavam aderidas na superfície pulpar do disco. Esses autores observaram, ainda, que uma única aplicação de um gel clareador com 16% de PC sobre a superfície dental resultou em difusão significativa de H2O2, a qual foi suficiente para causar intensos efeitos tóxicos nas células odontoblastoides.184,185 De acordo com a literatura, a difusão de produtos do gel clareador é proporcional à sua concentração e ao seu tempo de aplicação sobre o esmalte.165-167 Portanto, o aumento da concentração do gel clareador de 10 para 16% de PC provavelmente determinou maior difusão de componentes tóxicos do produto por meio da estrutura dental, tornando a técnica de clareamento com PC a 16% mais tóxica para as células odontoblastoides. Dessa forma, pode-se concluir que a utilização de géis clareadores com elevadas concentrações de H2O2 na sua composição deve ser repensada em virtude do elevado risco de danos ao tecido pulpar que apresenta, especialmente em dentes anteriores – por conta de sua reduzida espessura de esmalte e dentina –, sendo eles os dentes mais requisitados para o clareamento dental. A aplicação de agentes clareadores com baixas concentrações de PC, que promovem liberação lenta e gradual de H2O2 para o dente,166 parece ser uma alternativa mais segura para o clareamento dental por proporcionar um clareamento eficaz186,187 e com menores riscos de danos ao tecido pulpar.184 Atualmente, apenas o gel clareador com 10% de PC recebeu o selo de aprovação pela ADA, o que determina sua segurança e eficácia.188 Portanto, a eleição da melhor técnica e/ ou produto a ser empregado para o clareamento dental deve ser baseada em evidências científicas que proporcionem maior segurança do ponto de vista biológico. ooCONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com o exposto neste capítulo, fica claro que qualquer material dentário aplicado sobre dentes vitais exerce, não apenas uma função mecânica/estética, mas também promove uma resposta no complexo dentino-pulpar, cuja magnitude pode resultar em estímulo para a reparação pulpar ou até mesmo em necrose desse tecido altamente especializado. Assim, é importante que os cirurgiões-dentistas conheçam a fisiologia e biologia do tecido pulpar e os efeitos negativos que os procedimentos clínicos e as diferentes classes de materiais dentários podem causar sobre o complexo dentino-pulpar. Dessa maneira, a seleção dos materiais e das técnicas a serem usados em situações clínicas específicas deve ser baseada em evidências científicas e clínicas. Essa ação certamente determinará um aumento no êxito dos tratamentos restauradores usados todos os dias nos consultórios e clínicas odontológicas, fornecendo maior segurança para os cirurgiões-dentistas e seus pacientes. ooREFERÊNCIAS 1. Ten Cate AR. Histologia bucal. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 2. Figueiredo JAP, Costa CAS, Hebling J, Estrela C. Biologia pulpar. In: Estrela C. Ciência endodôntica. São Paulo: Artes Médicas; 2004. p. 1-21. 3. Linde A, Goldberg M. Dentinogenesis. Crit Rev Oral Biol Med. 1993;4(5):679-728. 4. Goldberg M, Kulkarni AB, Young M, Boskey A. Dentin: structure, composition and mineralization. Front Biosci. 2011;3:711-35. 5. Marshall GW Jr. Dentin: microstructure and characterization. Quintessence Int. 1993;24(9):606-17. 6. Smith AJ. Dentin formation and repair. In: Hargreaves KM, Goodis HE. Seltzer and Bender’s dental pulp. Chicago: Quintessence; 2002. p. 41-62. 7. Pashley D. Pulpodentin complex. In: Hargreaves KM, Goodis HE. Seltzer and Bender’s dental pulp. Chicago: Quintessence; 2002. p. 63-94. 8. Yu C, Abbott PV. An overview of the dental pulp: its functions and responses to injury. Aust Dent J. 2007;52 Suppl 1:S4-16. 9. Brannstrom M. The hydrodynamic theory of dentinal pain: sensation in preparations, caries, and the dentinal crack syndrome. J Endod. 1986;12(10):453-7. 10. D’Souza, RN, Bachman T, Baumgardner KR, Butler WT, Litz M. Characterization of cellular responses involved in reparative dentinogenesis in rat molars. J Dent Res. 1995;74(2):702-9. 11. Nör JE. Tooth regeneration in operative dentistry. Oper Dent. 2006;31(6):633-42. Capitulo_01.indd 20 12. Ferracane JL, Cooper PR, Smith AJ. Can interaction of matreials with the dentin-pulp complex contribute to dentin regenetarion? Odontology. 2010;98(1):2-14. 13. Cox CF, Bogen G, Kopel HM, Ruby JD. Repair of pulpal injury by dental materials. In: Hargreaves KM, Goodis HE. Seltzer and Bender’s dental pulp. Chicago: Quintessence; 2002. p. 325-44. 14. Goldberg M, Lacerda-Pinheiro S, Jegat N, Six N, Septier D, Priam F, et al. The impact of bioactive molecules to stimulate tooth repair and regeneration as part of restorative dentistry. Dent Clin North Am. 2006;50(2):277-98. 15. Goldberg M, Farges JC, Lacerda-Pinheiro S, Six N, Jegat N, Decup F, et al. Inflammatory and immunological aspects of dental pulp repair. Pharmacol Res. 2008;58(2):137-47. 16. Pashley DH, Ciucchi B, Sano H, Horner JA. Permeability of dentin to adhesive agents. Quintessence Int. 1993;24(9):618-31. 17. Cooper PR, Takahashi Y, Graham LW, Simon S, Imazato S, Smith AJ. Inflammation-regeneration interplay in the dentine-pulp complex. J Dent. 2010;38(9):687-97. 18. Smith AJ, Lesot H. Induction and regulation of crown dentinogenesis: embryonic events as a template for dental tissue repair? Crit Rev Oral Biol Med. 2001;12(5):425-37. 19. Sloan AJ, Smith AJ. Stem cells and the dental pulp: potential roles in dentine regeneration and repair. Oral Dis. 2007;13(2):151-7. 20. Hahn CL, Liewehr FR. Innate immune responses of the dental pulp to caries. J Endod. 2007;33(6):643-51. 16/09/2013 10:24:42 21. Hahn CL, Liewehr FR. Update on the adaptive immune responses of the dental pulp. J Endod. 2007;33(7):773-81. 22. Vongsavan N, Matthews B. Fuild flow through cat dentine in vivo. Arch Oral Biol. 1992;37(3):175-85. 23. Pashley DH, Galloway SE, Stewart F. Effects of fibrinogen in vivo on dentine permeability in the dog. Arch Oral Biol. 1984;29(9):725-8. 24. Farges JC, Keller JF, Carrouel F, Durand SH, Romeas A, Bleicher F, et al. Odontoblasts in the dental pulp immune response. J Exp Zool B Mol Dev Evol. 2009;312B(5):425-36. 25. Pazgier M, Hoover DM, Yang D, Lu W, Lubkowski J. Human beta-defensins. Cell Mol Life Sci. 2006;63(11):1294-313. 26. Carmody RJ, Chen YH. Nuclear factor-kappaB: activation and regulation during toll-like receptor signaling. Cell Mol Immunol. 2007;4(1):31-41. 27. Schwarze SR, Luo J, Isaacs WB, Jarrard DF. Modulation of CXCL14 (BRAK) expression in prostate cancer. Prostate. 2005;64(1):67-74. 28. Telles PD, Hanks CT, Machado MA, Nör JE. Lipoteichoic acid up-regulates VEGF expression in macrophages and pulp cells. J Dent Res. 2003;82(6):466-7. 29. Kerezoudis NP, Olgart L, Fried K. Localization of NADPH- diaphorase activity in the dental pulp, periodontium and alveolar bone of the rat. Histochem. 1993;100:319-22. 30. Law AS, Baumgardner KR, Meller ST, Gebhart GF. Localization and changes in NADPH-diaphorase reactivity and nitric oxide synthase immunoreactivity in rat pulp following tooth preparation. J Dent Res. 1999;78(10):1585-95. 31. De Swert KO, Joos GF. Extending the understanding of sensory neuropeptides. Eur J Pharmacol. 2006;533(1-3):171-81. 32. Van Hassel HJ. Physiology of the human dental pulp. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1971;32(1):126-34. 33. Tonder KJ. Vascular reactions in the dental pulp during inflammation. Acta Odontol Scand. 1983;41(4):247-56. 34. Ohshima H, Maeda T, Takano Y. The distribution and ultrastructure of class II MHC-positive cells in human dental pulp. Cell Tissue Res. 1999;295(1):151-8. 35. Ohshima H, Nakakura-Ohshima K, Takeuchi K, Hoshino M, Takano Y, Maeda T. Pulpal regeneration after cavity preparation, with special reference to close spatio-relationships between odontoblasts and immunocompetent cells. Microsc Res Tech. 2003;60(5):483-90. 36. Bayry J, Lacroix-Desmazes S, Kazatchkine MD, Hermine O, Tough DF, Kaveri SV. Modulation of dendritic cell maturation and function by B lymphocytes. J Immunol. 2005;175(1):15-20. 37. Lund FE, Garvy BA, Randall TD, Harris DP. Regulatory roles for cytokine-producing B cells in infection and autoimmune disease. Curr Dir Autoimmun. 2005;8:25-54. 38. Buonocore MG. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filling materials to enamel surface. J Dent Res. 1955;34(6):849-53. 39. Attrill DC, Davies RM, King TA, Dickinson MR, Blinkhorn AS. Thermal effects of the Er:YAG laser on a simulated dental pulp: a quantitative evaluation of the effects of a water spray. J Dent. 2004;32(1):35-40. Complexo Dentino-Pulpar o 21 44. Goodis HE, Pashley D, Stabholz A. Pulpal effects of thermal and mechanical irritants. In: Hargreaves KM, Googis HE. Seltzer and Bender’s dental pulp. Chicago: Quintessence; 2002. p. 371-88. 45. Ericson D, Zimmermam M, Raber H, Götrick B, Bornstein R, Thorell J. Clinical evaluation of efficacy and safety of a new method for chemo-mechanical removal of caries: a multi-centre study. Caries Res. 1999;33(3):171-7. 46. Kotb RM, Abdella AA, El Kateb MA, Ahmed AM. Clinical evaluation of Papacarie in primary teeth. J Clin Pediatr Dent. 2009;34(2):117-23. 47. Erickson RL. Surface interactions of dentin adhesive materials. Oper Dent. 1992;(Suppl 5):81-94. 48. Fure S, Lingström P, Birkhed D. Evaluation of Carisolv for the chemo-mechanical removal of primary root caries in vivo. Caries Res. 2000;34(3):275-80. 49. Dammaschke T, Stratmann U, Mokrys K, Kaup M, Reiner Ott KH. Reaction of sound and demineralised dentine to Carisolv in vivo and in vitro. J Dent. 2002;30(1):59-65. 50. Nadanovsky P, Cohen Carneiro F, Souza de Mello F. Removal of caries using only hand instruments: a comparison of mechanical and chemo-mechanical methods. Caries Res. 2001;35(5):384-9. 51. Bergmann J, Leitão J, Kultje C, Bergmann D, Clode MJ. Removing dentine caries in deciduous teeth with Carisolv: a randomised, controlled, prospective study with six-month follow-up, comparing chemomechanical treatment with drilling. Oral Health Prev Dent. 2005;3(2):105-11. 52. Dammaschke T, Eickmeier M, Schäfer E, Danesh G, Ott KH. Effectiveness of Carisolv compared with sodium hypochlorite and calcium hydroxide. Acta Odontol Scand. 2005;63(2):110-4. 53. Flückiger L, Waltimo T, Stich H, Lussi A. Comparison of chemomechanical caries removal using Carisolv or conventional hand excavation in deciduous teeth in vitro. J Dent. 2005;33(2):87-90. 54. Pandit IK, Srivastava N, Gugnani N, Gupta M, Verma L. Various methods of caries removal in children: a comparative clinical study. J Indian Soc Pedod Prev Dent. 2007;25(2):93-6. 55. Hosein T, Hasan A. Efficacy of chemo-mechanical caries removal with Carisolv. J Coll Physicians Surg Pak. 2008;18(4):222-5. 56. Peric T, Markovic D, Petrovic B. Clinical evaluation of a chemomechanical method for caries removal in children and adolescents. Acta Odontol Scand. 2009;18:1-7. 57. Neves Ade A, Coutinho E, de Munck J, Van Meerbeek B. Caries-removal effectiveness and minimal-invasiveness potential of caries-excavation techniques: a micro- C T investigation. J Dent. 2011;39(2):154-62. 58. Bulut G, Zekioglu O, Eronat C, Bulut H. Effect of Carisolv on the human dental pulp: a histological study. J Dent. 2004;32(4):309-14. 59. Chang P, Yan LJ, Li R, Lu LY, Li B. Evaluation of chemomechanical and traditional mechanical caries removal in indirect pulp capping of symmetric primary molars. Nan Fang Yi Ke Da Xue Xue Bao. 2011;31(9):1568-70. 60. Dammaschk T, Stratmann U, Mokrys K, Kaup M, Ott KH. Histocytological evaluation of the reaction of rat pulp tissue to Carisolv. J Dent. 2001;29(4):283-90. 40. Zach L, Cohen G. Pulp response to externally applied heat. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1965;19:515-30. 61. Young C, Bongenhielm U. A randomised, controlled and blinded histological and immunohistochemical investigation of Carisolv on pulp tissue. J Dent. 2001;29(4):275-81. 41. Ottl P, Lauer HC. Temperature response in the pulpal chamber during ultrahigh-speed tooth preparation with diamond burs of different grit. J Prosthet Dent. 1998;80(1):12-9. 62. Gontijo I, Navarro RS, Haypek P, Ciamponi AL, Haddad AE. The applications of diode and Er:YAG lasers in labial frenectomy in infant patients. J Dent Child. 2005;72(1):10-5. 42. Hebling J, Giro EM, Costa CA. Human pulp response after an adhesive system application in deep cavities. J Dent. 1999;27(8):557-64. 63. Hibst R, Keller U. The mechanism of Er:YAG laser induced ablation of dental hard substances. SPIE Proc. 1993;1880:156-61. 43. Nascimento AB, Fontana UF, Teixeira HM, Costa CA. Biocompatibility of a resin-modified glass-ionomer cement applied as pulp capping in human teeth. Am J Dent. 2000;13(1):28-34. 64. Gouw-Soares S, Tanj E, Haypek P, Cardoso W, Eduardo CP. The use of Er:YAG, Nd: YAG and Ga-Al-As lasers in periapical surgery: a 3-year clinical study. J Clin Laser Med Surg. 2001;19(4):193-8. Capitulo_01.indd 21 16/09/2013 10:24:42 22 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar 65. Nair PNR, Baltensperger MM, Luder HU, Eyrich GK. Pulpal response to Er:AG laser drilling of dentine in healthy human third molars. Lasers Surg Med. 2003;32(3):203-9. 66. Liu JF, Lai YL, Shu WY, Lee SY. Acceptance and efficiency of Er:YAG laser for cavity preparation in children. Photomed Laser Surg. 2006;24(4):489-93. 67. Corona SA, Souza AE, Chinelatti MA, Borsatto MC, Pécora JD, Palma-Dibb RG. Effect of energy and pulse repetition rate of Er: YAG laser on dentin ablation ability and morphological analysis of the laser-irradiated substrate. Photomed Laser Surg. 2007;25(1):26-33. 68. Pashley DH, Pashley EL, Carvalho RM, Tay FR. The effects of dentin permeability on restorative dentistry. Dent Clin North Am. 2002;46(2):211-45. 69. Meister J, Franzen R, Forner K, Grebe H, Stanzel S, Lampert F, et al. Influence of the water content in dental enamel and dentin on ablation with erbium YAG and erbium YSGG lasers. J Biomed Opt. 2006;11(3):34030. 70. Raucci-Neto W, de Castro LM, Corrêa-Afonso AM, Da Silva RS, Pécora JD, Palma-Dibb RG. Assessment of thermal alteration during class V cavity preparation using the Er:YAG laser. Phtomed Laser Surg. 2007;25(4):281-6. 71. Keller U, Hibst R. Effects of laser Er:YAG in caries treatment: a clinical pilot study. Lasers Surg Med. 1997;20(1):32-8. 72. Ceballos L, Toledano M, Osorio R, García-Godoy F, Flaitz C, Hicks J. Er- YAG pretreatment effect on in vitro secondary caries formation around composite restorations. Am J Dent. 2001;14(1):46-9. 73. Tsanova STs, Tomov GT. Morphological changes in hard dental tissues prepared by Er:YAG laser (LiteTouch, Syneron), Carisolv and rotary instruments: a scanning electron microscopy evaluation. Folia Med. 2010;52(3):46-55. 74. Contente MM, de Lima FA, Galo R, Pécora JD, Bachmann L, Palma-Dibb RG, et al. Temperature rise during Er:YAG cavity preparation of primary enamel. Lasers Med Sci. 2012;27(1):1-5. 75. Kilinc E, Roshkind DM, Antonson SA, Antonson DE, Hardigan PC, Siegel SC, et al. Thermal safety of Er:YAG and Er,Cr:YSGG lasers in hard tissue removal. Photomed Laser Surg. 2009;27(4):565-70. 76. Armengol V, Jean A, Marion D. Temperature rise during Er:YAG and Nd:YAP laser ablation of dentin. J Endod. 2000;26(3):138-41. 77. Kim ME, Jeoung DJ, Kim KS. Effects of water flown on dental hard tissue ablation using Er:YAG laser. J Clin Laser Med Surg. 2003;21(3):139-44. 78. Hossain M, Nakamura Y, Yamada Y, Kimura Y, Nakamura G, Matsumoto K. Ablation depths and morphological changes in human enamel and dentin after Er:YAG laser irradiation with or without water mist. J Clin Laser Med Surg. 1999;17(3):105-9. 79. Zhang S, Chen T, Ge LH. Scanning electron microscopy was used to observe dentin morphology in primary and permanent teeth treated by erbium: yttrium-aluminum-garnet laser. Beijing Da Xue Xue Bao. 2011;43(5):766-9. 80. Promklay A, Fuangtharnthip P, Surarit R, Atsawasuwan P. Response of dental pulp cells to Er:YAG irradiation. Photomed Laser Surg. 2010;8(6):793-9. 81. Kina JF. Análise histopatológica comparativa de polpas humanas após confecção de cavidades de classe I com turbina de alta velocidade ou laser de Er:YAG [tese]. Araraquara: Faculdade de Odontologia de Araraquara, Universidade Estadual; 2008. 82. Eidelman E, Finn SB, Koulourides T. Remineralization of carious dentin treated with calcium hydroxide. J Dent Child. 1965;32(4):218-25. 83. Consolaro A. Cárie dentária: histopatologia e correlações clínico-radiográficas. Bauru: Consolaro; 1996. 84. Hilton TJ. Can modern restorative procedures and materials reliably seal cavities? In vitro investigations. Part 1. Am J Dent. 2002;15(3):198-210. Capitulo_01.indd 22 85. Silberkweit M, Massler M, Schour I, Weinmann JP. Effects of filling materials on the pulp of the rat incisor. J Dent Res. 1955;34(6):854-69. 86. Fitzgerald M, Heys RJ. A clinical and histological evaluation of conservative pulpal therapy in human teeth. Oper Dent. 1991;16(3):101-12. 87. Souza Costa CA, do Nascimento AB, Teixeira HM. Response of human pulps following acid conditioning and application of a bonding agent in deep cavities. Dent Mater. 2002;18(7):543-51. 88. Costa CA, Teixeira HM, Nascimento ABL. Presente e futuro dos forradores e capeadores pulpares. In: Cardoso RJA, Gonçalves EAN. Dentística e laser. São Paulo: Santos; 2002. p. 75-93. 89. Costa CA, Giro EM, do Nascimento AB, Teixeira HM, Hebling J. Short-term evaluation of the pulpo-dentin complex response to a resin-modified glass-ionomer cement and a bonding agent applied in deep cavities. Dent Mater. 2003;19(8):739-46. 90. Costa CA, Oliveira MF, Giro EM, Hebling J. Biocompatibility of resin-based materials used as pulp-capping agents. Int Endod J. 2003;36(12):831-9. 91. Souza Costa CA, Hebling J, Randall RC. Human pulp response to resin cements used to bond inlay restorations. Dent Mater. 2006;22(10):954-62. 92. Souza Costa CA, Teixeira HM, Lopes do Nascimento AB, Hebling J. Biocompatibility of resin-based dental materials applied as liners in deep cavities prepared in human teeth. J Biomed Mater Res B Appl Biomater. 2007;81(1):175-84. 93. Modena KC, Casas-Apayco LC, Atta MT, Costa CA, Hebling J, Sipert CR, et al. Cytotoxicity and biocompatibility of direct and indirect pulp capping materials. J Appl Oral Sci. 2009;17(6):544-54. 94. Costa CA, Ribeiro AP, Giro EM, Randall RC, Hebling J. Pulp response after application of two resin modified glass ionomer cements (RMGICs) in deep cavities of prepared human teeth. Dent Mater. 2011;27(7):e158-70. 95. Nakabayashi N, Nakamura M, Yasuda N. Hybrid layer as a dentin-bonding mechanism. J Esthet Dent. 1991;3(4):133-8. 96. Nakabayashi N, Ashizawa M, Nakamura M. Identification of a resin-dentin hybrid layer in vital human dentin created in vivo: durable bonding to vital dentin. Quintessence Int. 1992;23(2):135-41. 97. Hashimoto M, Ito S, Tay FR, Svizero NR, Sano H, Kaga M, et al. Fluid movement across the resin-dentin interface during and after bonding. J Dent Res. 2004;83(11):843-8. 98. Hebling J, Pashley DH, Tjäderhane L, Tay FR. Chlorhexidine arrests subclinical degradation of dentin hybrid layers in vivo. J Dent Res. 2005;84(8):741-6. 99. Gerzina TM, Hume WR. Effect of dentine on release of TEGDMA from resin composite in vitro. J Oral Rehabil. 1994;21(4):463-8. 100.Bouillaguet S, Wataha JC, Hanks CT, Ciucchi B, Holz J. In vitro cytotoxicity and dentin permeability of HEMA. J Endod. 1996;22(5):244-8. 101. Gerzina TM, Hume WR. Diffusion of monomers from bonding resin-resin composite combinations through dentine in vitro. J Dent. 1996;24(1-2):125-8. 102. Cetingüç A, Olmez S, Vural N. HEMA diffusion from dentin bonding agents in young and old primary molars in vitro. Dent Mater. 2007;23(3):302-7. 103. Costa CAs, Vaerten MA, Edwards CA, Hanks CT. Cytotoxic effects of current dental adhesive systems on immortalized odontoblast cell line MDPC-23. Dent Mater. 1999;15(6):434-41. 104. Tay FR, Gwinnett AJ, Pang KM, Wei SH. Structural evidence of a sealed tissue interface with a total-etch wet-bonding technique in vivo. J Dent Res. 1994;73(3):629-36. 105. Hanks CT, Strawn SE, Wataha JC, Craig RG. Cytotoxic effects of resin components on cultured mammalian fibroblasts. J Dent Res. 1991;70(11):1450-5. 16/09/2013 10:24:42 Complexo Dentino-Pulpar o 23 106.Ratanasathien S, Wataha JC, Hanks CT, Dennison JB. Cytotoxic interactive effects of dentin bonding components on mouse fibroblast. J Dent Res. 1995;74(9):1602-6. 127. Souza Costa CA, Hebling J, Garcia-Godoy F, Hanks CT. In vitro cytotoxicit y of five glass-ionomer cements. Biomaterials. 2003;24(21):3853-8. 107. Pameijer CH, Stanley HR. The disastrous effects of the “total etch” technique in vital pulp capping in primates. Am J Dent. 1998;11:S45-54. 128. Six N, Lasfargues JJ, Goldberg M. In vivo study of the pulp reaction to Fuji IX, a glass ionomer cement. J Dent. 2000;28(6):413-22. 108. Porto IC, Oliveira DC, Raele RA, Ribas KH, Montes MA, de Castro CM. Cytotoxicity of current adhesive systems: in vitro testing on cell cultures of primary murine macrophages. Dent Mater. 2011;27(3):221-8. 129. Graham L, Cooper PR, Cassidy N, Nor JE, Sloan AJ, Smith AJ. The effect of calcium hydroxide on solubilisation of bio-active dentine matrix components. Biomaterials. 2006;27(14):2865-73. 109.Hanks CT, Fat JC, Wataha JC, Corcoran JF. Cytotoxicity and dentin permeability of carbamide peroxide and hydrogen peroxide vital bleaching materials, in vitro. J Dent Res. 1993;72(5):931-8. 130.Tomson PL, Grover LM, Lumley PJ, Sloan AJ, Smith AJ, Cooper PR. Dissolution of bio-active dentine matrix components by mineral trioxide aggregate. J Dent. 2007;35(8):636-42. 110. Moharamzadeh K, Van Noort R, Brook IM, Scutt AM. HPLC analysis of components released from dental composites with different resin compositions using different extraction media. J Mater Sci Mater Med. 2007;18(1):133-7. 111. Stanislawski L, Lefeuvre M, Bourd K, Soheili-Majd E, Goldberg M, Périanin A. TEGDMA-induced toxicity in human fibroblasts is associated with early and drastic glutathione depletion with subsequent production of oxygen reactive species. J Biomed Mater Res A. 2003;66(3):476-82. 112. Lefeuvre M, Amjaad W, Goldberg M, Stanislawski L. TEGDMA induces mitochondrial damage and oxidative stress in human gingival fibroblasts. Biomaterials. 2005;26(25):5130-7. 113. Chang HH, Guo MK, Kasten FH, Chang MC, Huang GF, Wang YL, et al. Stimulation of glutathione depletion, ROS production and cell cycle arrest of dental pulp cells and gingival epithelial cells by HEMA. Biomaterials. 2005;26(7):745-53. 114. Demirci M, Hiller KA, Bosl C, Galler K, Schmalz G, Schweikl H. The induction of oxidative stress, cytotoxicity, and genotoxicity by dental adhesives. Dent Mater. 2008;24(3):362-71. 115. Goldberg M. In vitro and in vivo studies on the toxicity of dental resin components: a review. Clin Oral Investig. 2008;12(1):1-8. 116. Lanza CR, Souza Costa CA, Furlan M, Alécio A, Hebling J. Transdentinal diffusion and cytotoxicity of self-etching adhesive systems. Cell Biol Toxicol. 2009;25(6):533-43. 117. Tay FR, Pashley DH, Suh BI, Carvalho RM, Itthagarun A. Single-step adhesives are permeable membranes. J Dent. 2002;30(7-8):371-82. 118. Tay FR, Pashley DH. Water treeing-a potential mechanism for degradation of dentin adhesives. Am J Dent. 2003;16(1):6-12. 119. Eckhardt A, Müller P, Hiller KA, Krifka S, Bolay C, Spagnuolo G, et al. Influence of TEGDMA on the mammalian cell cycle in comparison with chemotherapeutic agents. Dent Mater. 2010;26(3):232-41. 120. Schmalz G, Krifka S, Schweikl H. Toll-like receptors, LPS, and dental monomers. Adv Dent Res. 2011;23(3):302-6. 121. Galler KM, Schweikl H, Hiller KA, Cavender AC, Bolay C, D’Souza RN, et al. TEGDMA reduces mineralization in dental pulp cells. J Dent Res. 2011;90(2): 257-62. 122.Xie D, Brantley BM, Culbertson G, Wang G. Mechanical properties and microstructures of glass-ionomner cements. Dent Mater. 2000;16:129-38. 123. Hilton TJ. Keys to clinical success with pulp capping: a review of the literature. Oper Dent. 2009;34(5):615-25. 131. Fridland M, Rosado R. Mineral trioxide aggregate (MTA) solubility and porosit y with dif ferent water-to -powder ratios. J Endod. 2003;29(12):814-7. 132. Darvell BW, Wu RC. “MTA”: an hydraulic silicate cement: review update and setting reaction. Dent Mater. 2011;27(5):407-22. 133. Holland R, Souza V, Nery MJ, Otoboni JA Filho, Bernabé PF, Dezan E Jr. Reaction of rat connective tissue to implanted dentin tubes filled with mineral trioxide aggregate or calcium hydroxide. J Endod. 1999;25(3):161-6. 134. Camilleri J, Pitt Ford TR. Mineral trioxide aggregate: a review of the constituents and biological properties of the material. Int Endod J. 2006;39(10):747-54. 135. Holland R, Souza V, Murata SS, Nery MJ, Bernabé PF, Otoboni JA Filho, et al. Healing process of dog dental pulp after pulpotomy and pulp covering with mineral trioxide aggregate or Portland cement. Braz Dent J. 2001;12(2):109-13. 136.Tziafas D, Pantelidou O, Alvanou A, Belibasakis G, Papadimitriou S. The dentinogenic effect of mineral trioxide aggregate (MTA) in short-term capping experiments. Int Endod J. 2002;35(3):245-54. 137. Yaltirik M, Ozbas H, Bilgic B, Issever H. Reactions of connective tissue to mineral trioxide aggregate and amalgam. J Endod. 2004;30(2):95-9. 138.Parirokh M, Asgary S, Eghbal MJ, Kakoei S, Samiee M. A comparative study of using a combination of calcium chloride and mineral trioxide aggregate as the pulp-capping agent on dogs’ teeth. J Endod. 2011;37(6):786-8. 139. Masuda-Murakami Y, Kobayashi M, Wang X, Yamada Y, Kimura Y, Hossain M, et al. Effects of mineral trioxide aggregate on the differentiation of rat dental pulp cells. Acta Histochem. 2010;112(5):452-8. 140.Min KS, Yang SH, Kim EC. The combined effect of mineral trioxide aggregate and enamel matrix derivative on odontoblastic differentiation in human dental pulp cells. J Endod. 2009;35(6):847-51. 141. Zhao X, He W, Song Z, Tong Z, Li S, Ni L. Mineral trioxide aggregate promotes odontoblastic differentiation via mitogen-activated protein kinase pathway in human dental pulp stem cells. Mol Biol Rep. 2012;39(1):215-20. 142. Takita T, Hayashi M, Takeichi O, Ogiso B, Suzuki N, Otsuka K, et al. Effect of mineral trioxide aggregate on proliferation of cultured human dental pulp cells. Int Endod J. 2006;39(5):415-22. 143. Bakland LK, Andreasen JO. Will mineral trioxide aggregate replace calcium hydroxide in treating pulpal and periodontal healing complications subsequent to dental trauma? A review. Dent Traumatol. 2012;28(1):25-32. 124. Mitra SB, Lee CY, Bui HT, Tantbirojn D, Rusin RP. Long-term adhesion and mechanism of bonding of a paste-liquid resin-modified glass-ionomer. Dent Mater. 2009;25:459-66. 144. Nowicka A, Buczkowska-Radlińska J, Lipski M, Lichota D, Woźniak K, Góra M, et al. Response of dental pulp to self-etching adhesive systems used in indirect capping: a literature review. Ann Acad Med Stetin. 2009;55(1):79-83. 125. Chen L, Shen H, Suh BI. Antibacterial dental restorative materials: a state-of-the-art review. Am J Dent. 2012;25(6):337-46. 145. Costa CAS, Hebling J, Hanks CT. Current status of pulp capping with dentin adhesive systems: a review. Dent Mater. 2000;16(3):188-97. 126. Duque C, Hebling J, Smith AJ, Giro EM, Oliveira MF, Souza Costa CA. Reactionary dentinogenesis after applying restorative materials and bioactive dentin matrix molecules as liners in deep cavities prepared in nonhuman primate teeth. J Oral Rehabil. 2006;33(6):452-61. 146. Pereira JC, Segala AD, Costa CAS. Human pulpal response to direct pulp capping with an adhesive system. Am J Dent. 2000;13(3):139-47. Capitulo_01.indd 23 147. Costa CAS, Mesas na, Hebling J. Pulp response to direct capping with an adhesive system. Am J Dent. 2000;13(2):81-7. 16/09/2013 10:24:43 24 o Dentística: Uma Abordagem Multidisciplinar 148.Pegoraro TA, da Silva NR, Carvalho RM. Cements for use in esthetic dentistry. Dent Clin North Am. 2007;51(2):453-71. 149. Brannstrom M, Nyborg H. Comparison of pulpal effect of two liners. Acta Odontol Scand. 1969;27(5):443-51. 150.Brannstrom M, Nyborg H. Bacterial growth and pulpal changes under inlays cemented with zinc phosphate cement and Epoxylite CBA 9080. J Prosthet Dent. 1974;31(5):556-65. 151. Nakabayashi N, Pashley DH. Hybridization of dental hard tissues. Chicago: Quintessence; 1998. 152. Hill EE. Dental cements for definitive luting: a review and practical clinical considerations. Dent Clin North Am. 2007;51(3):643-58. 153. Inoue S, Van Meerbeek B, Abe Y, Yoshida Y, Lambrechts P, Vanherle G, et al. Effect of remaining dentin thickness and the use of conditioner on micro-tensile bond strength of a glass-ionomer adhesive. Dent Mater. 2001;17(5):445-55. 154. Yli-Urpo H, Vallittu PK, Närhi TO, Forsback AP, Väkiparta M. Release of silica, calcium, phosphorus and fluoride fromglass ionomer cement containing bioactive glass. J Biomater Appl. 2004;19(1):5-20. 155. Inoue S, Abe Y, Yoshida Y, de Munck J, Sano H, Suzuki K, et al. Effects of conditioner on bond strength of glass-ionomer adhesive to dentin/ enamel with and without smear layer interposition. Oper Dent. 2004;29(6):685-92. 156.de Munck J, Van Meerbeek B, Yoshida Y, Inoue S, Suzuki K, Lambrechts P. Four-year water degradation of a resin modified glass-ionomer adhesive bonded to dentin. Eur J Oral Sci. 2004;112(1):73-83. 171. Dias Ribeiro AP, Sacono NT, Lessa FC, Nogueira I, Coldebella CR, Hebling J, et al. Cytotoxic effect of a 35% hydrogen peroxide bleaching gel on odontoblast-like MDPC-23 cells. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2009;108(3):458-64. 172. Trindade FZ, Ribeiro AP, Sacono NT, Oliveira CF, Lessa FC, Hebling J, et al. Trans-enamel and trans-dentinal cytotoxic effects of a 35% H2O2 bleaching gel on cultured odontoblast cell lines after consecutive applications. Int Endod J. 2009;42(6):516-24. 173. Sacono NT, Coldebella CR, Ribeiro AP, Soares DG, Trindade FZ, Hebling J, et al. Efeito citotóxico de agentes clareadores a base de peróxido de hidrogênio a 20% e 38% sobre células odontoblastóides. Rev Odontol Bras Central. 2010;18(48):15-21. 174. Bowles WH, Ugwuneri Z. Pulp chamber penetration by hydrogen peroxide following vital bleaching procedures. J Endod. 1987;13(8):375-7. 175. Kina JF, Huck C, Riehl H, Martinez TC, Sacono NT, Ribeiro AP, et al. Response of human pulps after professionally applied vital tooth bleaching. Int Endod J. 2010;43(7):572-80. 176. Souza Costa CA, Riehl H, Kina JF, Sacono NT, Hebling J. Human pulp responses to in-office tooth bleaching. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2010;109(4):e59-64. 177. Robertson WD, Melfi RC. Pulpal response to vital bleaching procedures. J Endod. 1980;6(7):645-9. 157. Radovic I, Monticelli F, Goracci C, Vulicevic ZR, Ferrari M. Self-adhesive resin cements: a literature review. J Adhes Dent. 2008;10(4):251-8. 178. Seale NS, McIntosh JE, Taylor AN. Pulpal reaction to bleaching of teeth in dogs. J Dent Res. 1981;60(5):948-53. 158. Mendonça AA, Souza PP, Hebling J, Costa CA. Cytotoxic effects of hard-setting cements applied on the odontoblast cell line MDPC-23. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2007;104(4):e102-8. 179. Camargo SE, Cardoso PE, Valera MC, de Araújo MA, Kojima AN. Penetration of 35% hydrogen peroxide into the pulp chamber in bovine teeth after LED or Nd:YAG laser activation. Eur J Esthet Dent. 2009;4(1):82-8. 159. Bourke AM, Walls AW, McCabe JF. Light-activated glass polyalkenoate (ionomer) cements: the setting reaction. J Dent. 1992;20(2):115-20. 160.Kakaboura A, Elaides G, Palaghias G. An FTIR study on the setting mechanism of resin-modified glass-ionomer restoratives. Dent Mater. 1996;12(3):173-8. 161. Shajii L, Santerre A. Effect of filler content on the profile of released biodegradation products in micro-filled bis-GMA/TEGDMA dental composite resins. Biomaterials. 1999;20(20):1897-908. 162. Sulieman M, Addy M, MacDonald E, Rees JS. The effect of hydrogen peroxide concentration on the outcome of tooth whitening: an in vitro study. J Dent. 2004;32(4):295-9. 163. Markowitz K. Pretty painful: why does tooth bleaching hurt? Med Hypotheses. 2010;74(5):835-40. 164. Gökay O, Yilmaz F, Akin S, Tunçbìlek M, Ertan R. Penetration of the pulp chamber by bleaching agents in teeth restored with various restorative materials. J Endod. 2000;26(2):92-4. 165. Benetti AR, Valera MC, Mancini MN, Miranda CB, Balducci I. In vitro penetration of bleaching agents into the pulp chamber. Int Endod J. 2004;37(2):120-4. 166.Gökay O, Müjdeci A, Algin E. In vitro peroxide penetration into the pulp chamber from newer bleaching products. Int Endod J. 2005;38(8):516-20 167. Camargo SE, Valera MC, Camargo CH, Gasparoto Mancini MN, Menezes MM. Penetration of 38% hydrogen peroxide into the pulp chamber in bovine and human teeth submitted to office bleach technique. J Endod. 2007;33(9):1074-7. 168.Kim S. Neurovascular interactions in the dental pulp in health and inflammation. J Endod. 1990;16(2):48-53. 169. Goodis HE, Bowles WR, Hargreaves KM. Prostaglandin E2 enhances bradykinin-evoked iCGRP release in bovine dental pulp. J Dent Res. 2000;79(8):1604-7. Capitulo_01.indd 24 170. Coldebella CR, Ribeiro AP, Sacono NT, Trindade FZ, Hebling J, Costa CA. Indirect cytotoxicity of a 35% hydrogen peroxide bleaching gel on cultured odontoblast-like cells. Braz Dent J. 2009;20(4):267-74. 180.Hein DK, Ploeger BJ, Hartup JK, Wagstaff RS, Palmer TM, Hansen LD. In-office vital tooth bleaching: what do lights add? Compend Contin Educ Dent. 2003;24(4A):340-52. 181. Kugel G, Papathanasiou A, Williams AJ 3rd, Anderson C, Ferreira S. Clinical evaluation of chemical and light-activated tooth whitening systems. Compend Contin Educ Dent. 2006;27(1):54-62. 182. Eldeniz AU, Usumez A, Usumez S, Ozturk N. Pulpal temperature rise during light-activated bleaching. J Biomed Mater Res B Appl BioMater. 2005;72(2):254-9. 183. Caviedes-Bucheli J, Ariza-García G, Restrepo-Méndez S, Ríos-Osorio N, Lombana N, Muñoz HR. The effect of tooth bleaching on substance P expression in human dental pulp. J Endod. 2008;34(12):1462-5. 184. Soares DG, Ribeiro AP, Sacono NT, Coldebella CR, Hebling J, Costa CA. Transenamel and transdentinal cytotoxicity of carbamide peroxide bleaching gels on odontoblast-like MDPC-23 cells. Int Endod J. 2011;44(2):116-25. 185. Lima AF, Lessa FC, Mancini MN, Hebling J, Costa CA, Marchi GM. Transdentinal protective role of sodium ascorbate against the cytopathic effects of H2O2 released from bleaching agents. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod. 2010;109(4):e70-6. 186. Meireles SS, Heckmann SS, Santos IS, Della Bona A, Demarco FF. A double blind randomized clinical trial of at-home tooth bleaching using two carbamide peroxide concentrations: 6-month follow-up. J Dent. 2008;36(11):878-84. 187. Meireles SS, Santos IS, Bona AD, Demarco FF. A double-blind randomized clinical trial of two carbamide peroxide tooth bleaching agents: 2-year follow-up. J Dent. 2010;38(12):956-63. 188.American Dental Association. Over the counter home-use tooth bleaching products [Internet]. Chicago: ADA; 2006 [capturado em 20 fev. 2012]. Disponível em: http://www.ada.org/files/guide_overcounter_bleach.pdf. 16/09/2013 10:24:43