III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 EIXO TEMÁTICO: Administrativas O ECOMARKETING COMO REFLEXÃO ESTRATÉGICA PARA UMA SOCIEDADE DE CONSUMO CONSCIENTE Mariane Possignolo Gomes 1 Enrique Viana Arce 2 RESUMO: Os participantes da sociedade contemporânea incitadas pela mídia sobre catástrofes ambientais mais intensas e por ações isoladas de grupos ambientalistas, que tornam visíveis as consequências negativas desencadeadas pelos atos impensados da humanidade, estão desenvolvendo um pensamento mais crítico em relação à maneira como ela interage com o meio ambiente, buscando adotar atitudes que contribuam para a minimização dos impactos ambientais, estimulando, assim, a criação de mecanismos para a redução da poluição, métodos mais limpos de produção e hábitos mais ecologicamente responsáveis. Dessa maneira, este projeto tem o intuito de verificar por meio de pesquisas bibliográficas e de campo como determinadas estratégias de Ecomarketing, publicidade verde e a adoção de medidas sustentáveis pelas organizações estimulam os consumidores a decisões de compra conscientes e como algumas empresas da cidade de Americana-SP lidam com a variável meio ambiente por meio da adoção de práticas sustentáveis. Os principais resultados obtidos demonstram que o marketing verde, quando utilizado com comprometimento pelas organizações pode contribuir para a construção de um desenvolvimento sustentável estimulando mudanças na extração, produção, transporte, consumo e descarte de produtos. PALAVRAS CHAVES: Estratégias de Sustentabilidade, Marketing Ambiental, Publicidade Verde. 1. INTRODUÇÃO A cultura do consumo começa a se formar a partir da Revolução Industrial e se consolida após a Segunda Guerra Mundial, com o nascimento da sociedade de consumo particularmente nos E.U.A. Também surgem nesse período conceitos como “obsolescência planejada”, “marketing” e “produtos descartáveis”, que deram novos formatos às relações de consumo, fixando o consumismo como entidade capitalista (OLÍVIO et al, 2010). A partir da década de 80, no entanto, uma verdadeira crise mundial se instalou. Uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos de nossa vida – a saúde e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade (CAPRA, 1986). Com origem no desenvolvimento de uma cultura que desvaloriza a durabilidade e de um sistema econômico que 1 2 Gestora Empresarial, Graduada em Gestão Empresarial (FATEC-AM), [email protected]. Prof. Dr. da Faculdade de Tecnologia de Americana (FATEC-AM), [email protected] III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 valoriza somente a produção de bens e serviços e não considera a qualidade de vida nem a distribuição de riquezas entre a população como prioridade (LEONARD, 2011). Com sua intensificação parte da população mundial desenvolveu uma consciência de responsabilidade sobre os impactos que suas atitudes podem causar ao meio ambiente, desencadeando assim, o surgimento de iniciativas em diferentes setores da sociedade, visando à preservação da biodiversidade e do meio ambiente e, consequentemente, uma melhoria na qualidade de vida das presentes e futuras gerações. Dessa forma, consumir respeitando o meio ambiente segue uma tendência de crescimento significativo nos próximos anos (DIAS, 2012). Don Slater apud Bauman (2008, p. 19-20) acredita que atualmente existem dois tipos de consumidores, os que se iludem com as promessas fraudulentas, deixando-se seduzir por qualquer apelo publicitário e os considerados “heróis da modernidade”, que são capazes de definir o mercado, devido a sua forte autonomia. Esses “heróis da modernidade” são considerados elementos chave para a promoção de mudanças na maneira como a humanidade lida com a extração de matérias-primas e com a produção, utilização e descarte de bens de consumo, pois estes apresentam um poder de decisão mais conciso, que além de impactar na escolha do produto a ser adquirido também é capaz de influenciar as pessoas do seu ciclo social, tais como familiares e amigos. Para acompanhar tais mudanças e tendências, os profissionais de marketing iniciaram estudos buscando encontrar mecanismos para atender as expectativas de um novo perfil de público-alvo, resultando em um novo conjunto pouco indistinto chamado marketing ecológico, marketing verde ou ecomarketing. Para Polonsky (1994) apud Dias (2012, p.74) essas denominações são um “conjunto de atividades designadas para gerar e facilitar qualquer troca com o objetivo de satisfazer os desejos ou necessidades humanas, desde que a satisfação dessas necessidades ocorra com o mínimo de impacto prejudicial sobre o meio ambiente”. Esse cenário serviu, por conseguinte, de justificativa para observar a partir de um campo recente de estudo, o Ecomarketing, o comportamento da sociedade frente aos impactos causados pelo consumo ao meio ambiente. Este trabalho, teve como objetivo, portanto identificar a importância das estratégias do marketing ambiental, as ferramentas do marketing verde e a utilização da publicidade verde como iniciativas para o processo de escolha de um bem ou serviço, consciente. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Para o desenvolvimento desta pesquisa foram utilizadas duas metodologias que proporcionaram a obtenção de dados: a quantitativa e qualitativa, a quantitativa buscou dados em pesquisas de campo e a qualitativa os analisou por intermédio de bibliografias pertinentes. O levantamento de referencial teórico foi realizado com base em trabalhos de mestrado e doutorado, livros especializados, legislações e artigos científicos. A pesquisa de campo foi realizada em três etapas destinadas a obter a opinião de consumidores, de organizações empresariais e de um III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 pesquisador de marketing que nos proporcionou observações relevantes sobre as estratégias de Ecomarketing. A primeira etapa da pesquisa de campo consistiu na aplicação de um questionário composto por nove questões fechadas desenvolvido por meio de ferramentas do google drive que foi disponibilizado via rede social, abrangendo um universo de 134 consumidores residentes em Americana e cidades próximas, com escolaridades distintas e faixa etária entre 16 e 50 anos, para identificar se os consumidores estão desenvolvendo atitudes e pensamentos ecosustentáveis. A segunda etapa foi à aplicação de outro questionário, também online, composto por vinte e oito questões mistas (abertas e fechadas) destinadas a verificar o posicionamento de gestores de algumas empresas da cidade de Americana atuantes em diferentes segmentos de mercado, tais como químico, de serviços, industrial e têxtil. E a terceira etapa se baseou na confecção de um conjunto de dezessete perguntas abertas, que foram enviadas via e-mail a um renomado professor da Universidade de São Paulo (USP), com a finalidade de identificar a relevância da adoção de estratégias de marketing ambiental mediante a visão de um especialista em marketing. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como resultado dos materiais coletados em nossa pesquisa empírica foi possível verificar que fatores ambientais e estratégias de marketing ecológico podem influenciar o consumidor na tomada de decisões no momento da aquisição de um produto ou serviço. Podemos verificar isso quando 99% de consumidores responderam que optariam por adquirir um produto ecologicamente correto ao invés de um convencional na condição dos dois terem o mesmo preço e qualidade. Quando perguntados sobre as suas reações frente a algum escândalo envolvendo danos ambientais causados por uma empresa, as respostas mostraram que 35,4% das pessoas deixariam de adquirir os produtos ou serviços oferecidos por essa empresa, e somente 55,9% voltariam a adquirir os produtos/serviços quando as questões ambientais fossem solucionadas, enquanto uma pequena parcela de apenas 8,7% continuaria a adquirir os produtos/serviços. Questionados sobre a não realização de melhorias ambientais nos processos produtivos das empresas se mostraram favoráveis às questões ambientais e contrários as empresas que não adotam uma ecopostura; 59,8% dos consumidores responderam que consideram que essas empresas prejudicam o meio ambiente e não pensam no bem-estar de seus clientes; 20,5% acreditam que essas empresas não exercem consciência socioambiental e, portanto, não pretendem adquirir os produtos/serviços oferecidos por elas; 10,2% pensam que essas são empresas normais, uma vez que atingir os lucros está acima de qualquer consequência e 9,4% disseram que não apresentam opinião formada sobre esse assunto, pois não procuram conhecer as empresas das quais adquirem produtos ou serviços. III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 A pesquisa também possibilita observar que a maioria dos consumidores mostra-se bastante favorável a adoção de uma publicidade verde pelas empresas, além de ressaltar que a utilização desse tipo de estratégia influencia a maioria dos consumidores no momento da compra (TABELA 1). Tabela 1: Opinião dos consumidores acerca da utilização da publicidade verde e se a adoção dessa estratégia os influencia no momento da compra de um produto ou serviço. A publicidade verde... É importante para identificar empresas ambientalment e corretas 79,7% É apenas mais uma forma de divulgação de produtos/ serviços 13,3% 100% A publicidade verde... Nem sempre está relacionada a realidade da empresa Sempre me influencia na aquisição de um produto/ serviço 7% 9,4% Às vezes me influencia, depende do produto e da minha necessidade 63,3% 24,2% 100% Somente me influencia se for condizente a minha realidade Nunca me influencia 3,1% Para o momento da compra, os consumidores foram questionados se eles optam por produtos em embalagens retornáveis, 88,2% disseram que adquirem produtos com embalagens retornáveis sempre que possível, enquanto 11,8% não consideram ser esta característica relevante. Foi perguntado também se os consumidores procuram identificar nos produtos selos de certificações ambientais e as respostas foram: 27,4% realizam essa identificação, pois dessa forma eles podem comprar produtos que agridem menos o meio ambiente; 66,1% verificam às vezes a existência de selos de certificação ambiental e 6,5% não verifica, pois considera irrelevante essa prática. Podemos avaliar que os resultados apresentados decorrem do afloramento de uma percepção ecológica da sociedade com relação aos impactos que o consumo inconsciente pode desencadear e da formação de novos valores que levam os indivíduos a realização de ações concretas, não adquirindo dessa forma produtos que podem afetar o meio ambiente, evitando empresas que apresentam uma imagem ambientalmente negativa (DIAS, 2012, p.32). No entanto, apesar dessas demonstrações e constatações, as empresas pesquisadas da cidade de Americana-SP ainda não estão inteiramente engajadas nas questões ambientais (TABELA 2). Tabela 2: Adoção de práticas mais sustentáveis de produção pelas organizações pesquisadas É importante para a escolha do Na sua empresa, você optou por adotar... fornecedor... Sistema de Gerenciamento Ambiental (SGA)? SIM NÃO 40% 60% 100% ISO 14.000? SIM NÃO 25% 75% 100% Fornecedores com Qualidade preocupações Qualidade ambiental Preço ambientais? do produto do produto SIM NÃO 25% 75% 12% 33% 33% 100% 100% Confiança na empresa fornecedora 22% III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 Em razão da maior sensibilidade da sociedade com relação aos assuntos relacionados com o meio ambiente consideramos, portanto, que as empresas, com o passar do tempo, irão implantar processos produtivos mais sustentáveis, já que as pressões exercidas por parte do governo e da sociedade estão aumentando, fato que desponta em nossa pesquisa com relação à adoção de melhorias ambientais, com 100% dessas organizações citando que, somente adotaram ações ambientalmente sustentáveis, quando perceberam que estavam perdendo clientes que buscavam por produtos mais verdes, ou seja, menos agressivos ao meio ambiente e a sociedade. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados apresentados podemos entender que, para atingir uma melhoria na qualidade de vida das atuais e futuras gerações, garantindo assim a disponibilidade de recursos para a humanidade, é imprescindível a sociedade, o governo e as empresas se unirem na promoção de mudanças na maneira de extrair matérias-primas, e produzir, consumir e descartar bens de consumo, buscando dessa maneira integrar suas ações no sentido de atingir um desenvolvimento sustentável, pois todos os elementos da natureza encontram-se interligados e suas ações desencadeiam em impactos indiretos ou diretos sobre os demais elementos. Percebe-se a importância dos meios de comunicação para a transmissão e formação de eco-valores na sociedade, auxiliando as empresas a divulgar suas ações sustentáveis, promover produtos ecológicos e divulgar campanhas de conscientização demonstrando a população qual a importância das mudanças de hábitos de consumo e descarte de produtos e embalagens, proporcionando um sentimento de satisfação por serem vistas como essenciais para realização de mudanças que visam à preservação do meio ambiente e a conservação da vida. Além de auxiliar a sociedade na identificação de empresas que não contribuem para o bem-estar socioambiental, por meio da divulgação de ações realizadas por essas organizações e que impactaram na qualidade ambiental. Os principais resultados obtidos com nossa pesquisa demonstram que, apesar de a adoção de estratégias de marketing ambiental auxiliar as organizações empresariais na criação de um diferencial competitivo, e do fato dos consumidores estarem buscando produtos/serviços cada vez mais vinculados a marcas que desenvolvem uma ecopostura, as organizações da região de Americana-SP ainda caminham lentamente em direção a esse ideal. Acreditamos, que a não adoção de práticas ambientalmente corretas por essas organizações está fortemente relacionada aos altos custos de mudança, uma vez que depois de implantada uma metodologia de produção torna-se tanto culturalmente quanto financeiramente difícil de serem alteradas. No entanto, como dissemos acima, as exigências tanto do mercado consumidor, quanto dos órgãos governamentais poderão induzir a mudanças com características ambientais que se tornarão com o tempo, não mais um adicional, mas sim um requisito essencial para a permanência e sobrevivência das empresas no mercado tanto nacional quanto internacional. III SIGA Ciência (Simpósio Científico de Gestão Ambiental) Realizado dias 16 e 17 de agosto de 2014 na ESALQ-USP, Piracicaba-SP V1.2014 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982. Tradução de Álvaro Cabral. [s.n.], [s.d.], [s.l]. DIAS, Reinaldo. Marketing ambiental: ética, responsabilidade social e competitividade nos negócios. São Paulo: Atlas, 2007. FUHR, Heinrich; ALLES, Karine. Marketing ambiental: uma ferramenta estratégica. [S.I]: Faculdade de Itapiranga - FAI, Itapiranga. 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