consulta de enfermagem: uma prática necessária aos

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CONSULTA DE ENFERMAGEM: UMA PRÁTICA NECESSÁRIA AOS INDIVÍDUOS
COM TRANSTORNOS MENTAIS
NURSE CONSULTATION: A NECESSARY PRATICE FOR PATIENTS WITH
MENTAL ILLNESS
Mariana Henriques Mendes
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/UNILESTEMG
Valéria Anício de Freitas
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/UNILESTEMG.
[email protected]
Prof. Everton Teixeira Gomes
Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais e Enfermeiro Especialista em
Farmacologia Aplicada/UNIFENASMG.
RESUMO
O transtorno mental caracteriza-se por falha do indivíduo em comportar-se de acordo com as
expectativas de sua comunidade, afetando-lhe cada aspecto e refletindo-se em seus pensamentos,
sentimentos e ações. A consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais permite
uma abordagem personalizada e integral, envolvendo assistência física, psíquica, social com a
finalidade de prestar um cuidado de qualidade. Este estudo tem como objetivo conhecer a percepção
dos formandos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais mediante
a consulta de Enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais. A amostra foi constituída por 37
formandos que responderam um questionário semi-estruturado. Os resultados revelaram que grande
parte dos alunos, 81% (30) possuem conhecimento sobre a realização da consulta de enfermagem
aos indivíduos com transtornos mentais, mas um número significativo, 73% (27) não se sentem
preparados, mostram-se atemorizados, inseguros por não terem prática na realização de tal
procedimento. Percebe-se a necessidade de aprimoramento pela instituição de ensino para a
realização desta prática, ampliando assim, as possibilidades de uma assistência global,
correlacionadas às transformações da reforma psiquiátrica, culminando num atendimento holístico e
de qualidade.
PALAVRAS-CHAVE: saúde mental, consulta de enfermagem, transtorno mental.
ABSTRACT
The mental disorder is characterised by failed individual behave according to the expectations of its
community, affecting each appearance and reflecting in your thoughts, feelings and actions. While the
consultation of nursing to individuals with mental disorders allows a custom and integral approach,
involving assistance physical, mental, social purpose to provide care quality. This study aims to meet
the perception of trainees of nursing from the Centro Universitário do Leste de Minas Gerais about the
nursing consultation to individuals with mental disorders. To achieve this, the sample was made up 37
trainees, which was used a questionnaire previously structured. The results showed that a large
proportion of students, 81% (30), have knowledge on the nursing consultation for individuals with
mental disorders, but a significant number, 73% (27) do not feel prepared, scared, unsafe for failing to
practice in this procedure. However, it’s necessary improvement and educational institution for
performing this practice, expanding the possibilities of global assistance, correlated to transformations
of psychiatric reform, culminating in a holistic care and quality.
WORD-KEY: mental health, nursing consultation, mental disorder.
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INTRODUÇÃO
Segundo Tuono et al (2007) o termo “transtorno” de acordo com o Código
Internacional de Doenças (CID-10), não é um termo exato para indicar doenças, mas
é utilizado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos
reconhecidos na forma clínica, podendo ser associado a sofrimento e interferência
com funções pessoais. Para Teixeira et al (2001) o transtorno mental caracteriza-se
por falha do indivíduo em comportar-se de acordo com as expectativas de sua
comunidade. A pessoa não consegue mais encontrar soluções satisfatórias para
seus conflitos e seus mecanismos de defesa são utilizados de forma menos sadia.
Vale a pena lembrar que os indivíduos com sofrimentos mentais sempre
estiveram presente na comunidade, a história da enfermagem vem sendo traçada
desde que o homem apresentou ou pensou sobre a doença mental e atualmente
atinge uma parcela significativa da população. Segundo estimativas da Organização
Mundial da Saúde os transtornos mentais ocorrem comumente e afetam mais de
25% da população em dada fase da sua vida. São também universais, afetando
pessoas de todos os países e sociedades, indivíduos de todas as idades, mulheres
e homens, ricos e pobres, pessoas de áreas urbanas e rurais, exercem, portanto,
considerável impacto sobre os indivíduos, as famílias e a comunidade, visto a
magnitude do ônus econômico, do sofrimento do doente, e gasto adicional, não só
para sua família como também para o poder público (CANEJO; COLVERO, 2005;
PESSOA, 2006; OMS, 2001).
O surgimento da enfermagem esteve relacionado ao sofrimento das pessoas
doentes e a necessidade de alguém que prestasse os cuidados necessários para
aliviar esse sofrimento e ajuda para dar sentido às suas dores e sofrimentos na
religião e/ou filosofia (CANDIDO; FUREGATO, 2005).
Conforme Teixeira et al (2001) no início do século XX o enfoque da
assistência deixa de ser apenas físico e começam a ser desenvolvidas teorias
psiquiátricas e psicológicas a fim de mudar o enfoque desta assistência. Influenciado
por estas transformações, em 1952, surge o trabalho pioneiro de Hildegard Peplau,
que preconiza o relacionamento terapêutico enfermeira-paciente como instrumento
básico de assistência de enfermagem psiquiátrica. Após esta época a assistência de
enfermagem passa a se centrar nas relações interpessoais, inicia-se uma nova era
onde a criação e manutenção de um ambiente terapêutico nas instituições
humanizam a assistência ao doente mental.
A Enfermagem, entendida como uma prática social participa do trabalho de
equipe multiprofissional e está vinculada às diversas práticas de saúde, incluindo a
assistência à saúde mental coletiva e individual. No Brasil, o ensino de enfermagem
psiquiátrica e saúde mental mantiveram íntima relação com a evolução da
assistência ao doente, porém, foi influenciado historicamente pelas mudanças e
transformações internacionais do modo de perceber o doente, a doença mental e o
cuidar do enfermo (LUCHESE, 2005).
O Artigo 11, da Lei do Exercício Profissional n.º 7.498, de 25 de junho de
1986, e o Decreto 94.406, de 08 de Junho de 1987, legitimam a consulta de
enfermagem como uma atividade privativa do enfermeiro. Sua implantação ocorreu
ao longo do desenvolvimento histórico da enfermagem, culminando com a resolução
n.º 272, de 27 de Agosto de 2002, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEn)
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que dita as normas e requisitos para a operacionalização da consulta de
enfermagem.
Especialistas relatam que a consulta de enfermagem deve, sistematicamente,
compreender a realização de um histórico, com um enfoque que vai além dos
aspectos biológicos; a elaboração de diagnósticos de enfermagem, que deve
contemplar ações ou a denominação de problemas ou de necessidades de
atendimento e o plano assistencial, que inclui técnicas, normas e procedimentos que
orientam e controlam a realização das ações destinadas à obtenção, análise e
interpretação de informações acerca das condições de saúde com orientações que
possam influir na adoção de práticas favoráveis à saúde (CONEJO; COLVERO,
2005). Diante desta contextualização, pergunta-se: Será que os formandos estão
preparados para realizar a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos
mentais?
Este estudo permite uma reflexão no meio acadêmico sobre a assistência à
pessoa com transtorno mental, visto que o acadêmico de enfermagem possui forte
tendência a carregar consigo estereótipos e preconceitos em relação à doença
mental, esses preconceitos são semelhantes aos da população em geral, onde
reconhecem os doentes mentais como loucos, incapacitados e agressivos. Acreditase que, se esses preconceitos não forem trabalhados adequadamente durante o
curso de enfermagem, podem se traduzir em atitudes negativas frente à pessoa com
transtorno mental, no momento em que esses alunos estiverem exercendo as suas
atividades profissionais (PEDRÃO et al, 2005).
O estudo valoriza o uso adequado da consulta de enfermagem na abordagem
dos diferentes aspectos do paciente com transtorno mental, pois à medida que os
profissionais estejam conscientes da importância deste atendimento no tratamento
do paciente com sofrimento mental, tornam-se aptos a oferecer o que de fato é
direito do paciente e responsabilidade da profissão. Propiciando uma assistência
diferenciada, fazendo com que os pacientes sintam acolhidos, compreendidos e
respeitados no seu sofrimento, além de romper tabus e minimizar preconceitos.
Tendo em vista todos esses aspectos, o presente estudo objetiva conhecer a
percepção dos formandos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do
Leste de Minas Gerais a respeito da consulta de enfermagem aos indivíduos com
transtornos mentais, verificar se os acadêmicos estão preparados para realizar tal
assistência e identificar as dificuldades.
METODOLOGIA
Esta pesquisa baseou-se em um estudo descritivo, cujo objetivo principal é a
exposição das características do tema de estudo, opiniões, atitude e crenças de
uma população, e uma abordagem qualitativa que busca as circunstâncias e
aspectos do ambiente, a fim de enriquecer a sistemática em questão (GIL, 2002;
RAMPAZZO, 2002).
Participaram da pesquisa 37 estudantes do curso de enfermagem que
concluíram o Estágio Supervisionado I no 1º semestre de 2008, de ambos os
gêneros dos turnos matutino e noturno.
A coleta de dados foi realizada no campus III do Centro Universitário do Leste
de Minas Gerais-UnilesteMG, no período de 18 à 25 de agosto de 2008, através de
um questionário semi-estruturado (APÊNDICE A), sendo este elaborado pelas
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pesquisadoras, contendo informações como gênero, período e o conhecimento
sobre a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais.
Para a realização deste estudo, primeiramente foi obtida uma carta de
autorização da coordenação do curso de enfermagem do Centro Universitário do
Leste de Minas Gerais-UnilesteMG. Em seguida, os formandos foram informados
sobre os objetivos e metodologia do trabalho, para esclarecimento da atividade a ser
realizada, para que, com consentimento de cada um pudessem ficar certos de que
seus direitos seriam respeitados, para então participarem deste estudo. Por
conseguinte, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Os entrevistados foram abordados em sala de aula com autorização prévia do
professor que estava lecionando naquele momento.
Após a tabulação e interpretação dos dados, foram selecionadas as
informações mais relevantes para o estudo, organizada através de gráficos e falas
dos participantes, valorizando assim as relações entre os sujeitos da pesquisa
analisados com apoio da literatura pesquisada.
Os cuidados éticos foram baseados na Resolução nº196 de 1996 do
Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisa envolvendo seres
humanos (BRASIL, 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A princípio houve dificuldade na adesão dos acadêmicos a pesquisa, onde
muitos recusaram em participar devido o estilo do questionário e por considerarem o
assunto difícil, sendo que dos 73 alunos que concluíram o Estágio Supervisionado I
apenas 37 participaram do estudo.
Em relação ao perfil, 84% (31) dos participantes são do sexo feminino e 16%
(6) masculino. Quanto ao período cursado observou-se a seguinte distribuição: 5%
(2) cursam o sétimo período, 87% (32) cursam o oitavo e 8% (3) cursam o nono
período.
Quando questionados sobre o que entendem por consulta de enfermagem,
81% (30) afirmaram ser o atendimento sistematizado e holístico do enfermeiro como
se observa em:
Consiste no atendimento holístico do enfermeiro, buscando diagnósticos de
enfermagem para buscar medidas de intervenções tanto em caráter
paliativo, preventivo ou de tratamento (F1).
É um momento entre o paciente e o enfermeiro onde o mesmo estará
realizando uma anamnese e exame físico, com o intuito de buscar
informações e conseqüentes melhorias no estado de saúde do indivíduo
(F2).
Esse resultado confere com a Resolução do COFEN 272/02 que dispõe sobre
a Consulta de Enfermagem, sendo atividade privativa do Enfermeiro, que utiliza
componentes do método científico para identificar situações de saúde/doença,
prescrever e implementar medidas de Enfermagem que contribuam para a
promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo,
família e comunidade que favorece a concretização de um modelo assistencial
adequado às condições das necessidades de saúde da população.
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Ao passo que 19% (7) descreveram ser o instrumento e a forma que aborda o
paciente, desviando um pouco do que legitima a resolução supracitada.
É o instrumento do enfermeiro (F10).
É a forma de abordar o paciente (F5).
Sobre a questão do que entendem por transtorno mental, 70% (26) dos
formandos consideram que são distúrbios psicológicos que modificam o padrão de
vida e que ocasionam alterações comportamentais, como apresentado em:
É uma patologia onde normalmente o
comportamentos diferentes do padrão (F19).
paciente
tem
idéias
e
Alterações no bem-estar psicológico do indivíduo que pode refletir no modo
de agir e viver das pessoas (F30).
Esses fatos condizem com Teixeira et al (2001) que definiram o transtorno
mental como uma falha do indivíduo em comportar-se de acordo com as
expectativas de sua comunidade. Enquanto 27% (10) deles referem-se aos
transtornos mentais como sendo de origem essencialmente fisiológica como em:
São transtornos neurológicos que um indivíduo pode apresentar (F15).
É algum tipo de patologia ou deficiência que acomete funções cognitivas do
cérebro, ocasionando algum tipo de deficiência para o indivíduo (F2).
Pode-se questionar tais definições, pois de acordo com Tuono et al (2007) o
termo “transtorno” segundo CID – 10, é um termo errado para indicar doenças, mas
exato para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos
reconhecidos na forma clínica, podendo ser associado a sofrimento e interferência
com funções pessoais. Somente um participante (3%), não respondeu ao
questionamento.
Quando questionados sobre como se deve realizar a consulta de enfermagem
aos indivíduos com transtornos mentais, 43% (16) dos formandos apontaram
cuidados especiais como cautela, paciência e tranqüilidade como primordiais neste
tipo de consulta, a sistematização do atendimento de enfermagem foi apontada por
32% (12) dos participantes como prática a ser realizada durante a consulta, para
16% (6) dos participantes o envolvimento da família ou acompanhante é uma
necessidade na consulta aos pacientes com transtorno mental, enquanto 9% (3) dos
formandos informaram não saber como deve ser realizada a consulta a esses
pacientes, como mostra a seguir:
Com muita tranqüilidade, tornando o ambiente acolhedor e transmitindo
confiança ao paciente (F33).
Beteghelli et al (2005) discorreram sobre como é imprescindível que o
enfermeiro mantenha uma comunicação eficaz com o doente mental, estabelecendo
vínculos para um relacionamento baseado na confiança e segurança, assim, o
doente mental pode falar de si e de seus problemas, com leveza e tranqüilidade,
depositando cada vez mais credibilidade na assistência de enfermagem.
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Deve ser feita de forma minuciosa, abordando todos os tópicos da consulta
de enfermagem para assim o enfermeiro entender o verdadeiro núcleo do
problema... (F26).
Beteghelli et al (2005) confirmam que o processo de enfermagem deve ser
utilizado adequadamente na abordagem do doente mental, pois oferece ordem e
direcionamento ao cuidado prestado, constituindo-se na essência da prática da
enfermagem, como instrumento e metodologia para auxiliar o enfermeiro na tomada
de decisões. Portanto, o enfermeiro, ao utilizar o processo de enfermagem tem
subsídios para as intervenções na problemática dos aspectos psicoemocionais
apresentados pelos doentes mentais.
Deve-se ser realizada com a presença de um acompanhante que possa
responder aquilo que diz respeito ao cliente (F16).
De fato Spadini e Souza (2006) reconheceram o valor da participação da
família na assistência ao doente mental, sendo que a enfermagem tem o papel de
conhecer e compreender o contexto em que o doente mental vive, oferecendo apoio
e orientações voltando-se para o núcleo familiar e oferecendo suporte necessário a
fim de melhorar a qualidade de vida de todos.
Sobre o questionamento quanto à sua preparação para realizar a consulta de
enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, 73% (27) dos participantes
disseram que não se sentem preparados, enquanto 27% (10) disseram sentir-se
preparados.
Dos que se sentem preparados, 60% (6) atribuem ao embasamento teórico
adquirido na graduação, 10% (1) atribui às experiências práticas, na segurança em
realizar o procedimento e 30% (3) não justificaram porque se sentem preparados,
como se observa em:
Sim. Pois com o conhecimento adquirido no curso temos base para tal (F4).
De acordo com Souza et al (2006) os enfermeiros destacaram-se
historicamente por cuidar bem de seus clientes e de forma organizada, envolvendo
disciplina e conhecimento científico.
Realizei estágio na área, e hoje consigo entender e compreender como vive
este indivíduo (F8).
A oferta de estágios em serviços de saúde mental também foi apresentada
por Pinho e Santos (2006) como possibilidade de reconhecimento das formas de
intervenção pelos alunos, o incentivo do professor em estimular o contato com o
sujeito que padece psiquicamente, pode promover a re-significação da doença
mental.
Dos que não se sentem preparados, a falta de atividades práticas durante a
graduação foi preponderante apontada por 41% (11) dos formandos, 22% (6)
mencionaram o déficit de conhecimento científico como sendo causa da falta de
preparo, 11% (3) aliam ao não embasamento e à falta de prática, 22% (6) atribuem a
outros fatores como dificuldade de interação com pessoas que possuem transtorno
mental, ausência de abordagem da consulta de enfermagem a esse tipo de paciente
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na graduação, enquanto 4% (1) não justificou porque não se sente preparado, como
se vê em:
Não. Necessito ainda de muita prática (F17).
Pinho e Santos (2006) apresentaram a possibilidade de realizar estágios em
saúde mental como fator que propicia aos alunos a oportunidade de superar seus
conflitos, suas inseguranças e seus posicionamentos excludentes quando em
contato com o doente mental, somente assim os futuros enfermeiros podem
oferecer-lhes um ambiente propício ao resgate de sua identidade moral e social
abalada com o rótulo da doença mental, exercendo sua profissão com fins
verdadeiramente terapêuticos.
Não. Porque não tenho um vasto conhecimento de patologias, para saber
conduzir a consulta (F12).
Não. Porque não tenho embasamento teórico e nem prático (F28).
Souza et al (2006) destacaram fatores que dificultam o cuidado profissional,
entre eles relacionaram o déficit de conhecimento como fator essencial, uma vez
que a educação funciona como eixo central da assistência de enfermagem prestada.
Não. Acho difícil interagir com um doente mental (F20).
Não. Pois não teve uma abordagem sobre o assunto em termo de consulta
de enfermagem na graduação, ficou a desejar (F26).
A boa relação entre enfermeiro-paciente foi descrita como sendo importante
para atendimento de qualidade, no trabalho de Jorge et al (2006), cabendo à equipe
de saúde mental compreender o indivíduo em sua integralidade construindo um
novo paradigma de saúde/doença mental que busque o desenvolvimento de uma
relação saudável, centrada na interação.
Quando questionados se já realizaram consulta de enfermagem ao paciente
com transtorno mental, apenas 14% (5) responderam positivamente, enquanto 86%
(32) informaram que nunca realizaram esse tipo de consulta.
Quando solicitados a descrever pontos dificultadores para realização da
consulta de enfermagem, a dificuldade de interação com as pessoas com transtorno
mental foi citada por 38% (14) dos formandos, 27% (10) mencionaram a falta de
prática, 14% (5) citaram a falta de embasamento como dificultadora do processo,
outros fatores como o preconceito, foram descritos por 16% (6) e 5% (2) dos
participantes não responderam, como se observa a seguir:
Dificuldade de intera com estes tipos de pacientes (F15).
Jorge et al (2006) também apresentaram a necessidade dos profissionais
estarem, primeiramente, comprometidos com uma proposta de prestação de
assistência à saúde qualificada e ética que balize o relacionamento interpessoal
entre o profissional e o usuário, sendo imprescindível que o enfermeiro mantenha
uma comunicação eficaz com o doente mental, estabelecendo vínculos para um
relacionamento baseado na confiança e segurança, livre de preconceitos e temores.
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O pouco contato com estes pacientes durante a graduação (F6).
Estudos têm demonstrado que a participação direta dos discentes nos
serviços de saúde mental vem possibilitando trocas de experiências e um maior
contato com enfermeiros do serviço, diminuindo distâncias que por vezes dificultam
as relações no desenvolvimento da prática como descrevem Munari, Godoy e
Esperidião (2006).
Falta de conhecimento dos diversos tipos de transtornos (F12).
Monteiro (2006) afirmou que a atitude ética do enfermeiro revela-se de suma
importância no atendimento ao doente mental, prestando um cuidado digno,
respeitoso, livre de estigmas, crendices e preconceitos.
Sobre pontos facilitadores nesse procedimento, 54% (20) dos formandos
afirmaram não conhecer ou não descreveram. A boa interação enfermeiro-paciente
foi citada por 16% (6) como sendo positiva no procedimento, 11% (4) mencionaram
o embasamento científico, 14% (5) descreveram a presença de acompanhante ou
familiar como importante para o bom desenvolvimento da consulta e 5% (2) dos
participantes apontaram a prática como facilitadora, como se vê em:
Adequação, adaptação e interação (F3).
Conejo e Colvero (2005) também afirmaram que o cuidado envolve uma ação
interativa, essa ação está calcada em valores e no conhecimento do ser que cuida
para com o ser que é cuidado, destacando assim o aspecto relacional como
componente fundamental da assistência aos indivíduos no campo da saúde mental.
Conhecimento adquirido em Saúde Mental e Neurociências (F9).
Segundo Pessoa, Pagliuca e Damasceno (2006) o conhecimento produzido
pela enfermagem através das teorias permitem a compreensão das experiências
dos profissionais. O conhecimento teórico influencia a realidade tornando-se
importante para guiar a educação, a pesquisa e a prática.
Paciente junto com acompanhante (F34).
De acordo com Jorge et al (2006) as diversas maneiras de pensar e agir em
função do tratamento dos doentes mentais seja com práticas individuais ou
interdisciplinares, para que seja efetiva, deve incluir a família.
Os pontos facilitadores seriam ter mais ações práticas durante a graduação,
para familiarizar com o processo (F30).
Munari, Godoy e Esperidião (2006) afirmaram que a atual situação do ensino
e da prática na área da saúde mental necessita de uma revisão, a fim de enfrentar a
dicotomia entre o saber reproduzido nas escolas e o praticado na assistência ao
doente mental, que acaba por resultar na formação de profissionais acríticos, pouco
atuantes politicamente e desvinculados da nova proposta da Reforma Psiquiátrica.
Quando questionados sobre a necessidade de aperfeiçoamento na consulta
de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, 86% (32) dos formandos
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afirmam sentir necessidade de aprimorar e 14% (5) afirmam que não sentem essa
necessidade.
Entre as necessidades de aperfeiçoamento, a prática durante a graduação
mostra-se preocupação entre os formandos, sendo descrita por 40% (15) dos
participantes, 32% (12) mencionaram maior capacitação e conhecimento, 14% (5)
citaram outras necessidades e 14% (5) não descreveram quais são suas
necessidades de aperfeiçoamento, como apresenta:
Técnicas de abordagem, diálogo e etc. (F22).
Segundo Beteghelli et al (2005) o bem-estar do doente mental deve ser alvo
do enfermeiro, sendo necessário modificar efetivamente as respostas
psicoemocionais inadequadas em todos os âmbitos da assistência de enfermagem,
enfatizando a promoção de um efetivo relacionamento enfermeiro-paciente, de
estratégias cognitivas, de expressões de sentimentos, de modificações
comportamentais, de habilidades sociais e da educação em saúde mental.
Deve-se haver uma melhor capacitação dos profissionais para atendimento
ao cliente com esses transtornos (F11).
Monteiro (2006) defende a idéia de que o enfermeiro foi direcionado para
desenvolver ações técnicas claras, previsíveis e definidas e que o cuidado ao doente
mental não se baseia em intervenções objetivas ou previsíveis, exigindo do
profissional uma formação dinâmica e contínua, pois em saúde mental, exige-se do
enfermeiro uma postura de iniciativa e criatividade, cujas oportunidades nem sempre
lhes são oferecidas na graduação e na instituição, sendo necessárias constantes
capacitações.
CONCLUSÃO
Com o presente estudo percebe-se que a maioria dos formandos da pesquisa
possui conhecimento sobre a realização da consulta de enfermagem aos indivíduos
com transtornos mentais, mas um número significativo não se sente preparado,
mostrando-se atemorizados, inseguros por não terem prática na realização de tal
procedimento.
Destaca-se a relevância de trabalhar os estigmas, estereótipos e
preconceitos que os graduandos trazem consigo, evitando atitudes negativas frente
à estes pacientes e estabelecendo um relacionamento acolhedor entre enfermeiropaciente, mantendo uma assistência diferenciada e livre de preconceitos.
Contudo, percebe-se a necessidade de aprimoramento pela instituição de
ensino para o desenvolvimento efetivo da prática terapêutica da enfermagem aos
indivíduos com transtornos mentais, ampliando assim, as possibilidades de uma
assistência global, correlacionadas às transformações da reforma psiquiátrica,
culminando num atendimento holístico e de qualidade.
REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – Roteiro de entrevista para os formandos.
QUESTIONÁRIO
1 – Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino
2 – Está cursando qual período: _____
3 – O que você entende sobre Consulta de Enfermagem?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________
4 – E sobre Transtorno Mental?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________
5 – Como deve ser realizada a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos
mentais?
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________
6 - Sente-se preparado para realizar esta consulta?
( ) Sim
( ) Não
Justifique.
__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
_____________________________________________________
7 – Já realizou a consulta de enfermagem ao paciente com transtorno mental?
( ) Sim
( ) Não
8 – Quais pontos considera dificultadores para a realização de tal procedimento?
___________________________________________________________________
E quais pontos são facilitadores?
___________________________________________________________________
8 – Sente necessidade de aperfeiçoamento em consulta de enfermagem aos indivíduos com
transtornos mentais?
( )Sim
Quais______________________________________________________
( ) Não
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