225 CONSULTA DE ENFERMAGEM: UMA PRÁTICA NECESSÁRIA AOS INDIVÍDUOS COM TRANSTORNOS MENTAIS NURSE CONSULTATION: A NECESSARY PRATICE FOR PATIENTS WITH MENTAL ILLNESS Mariana Henriques Mendes Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/UNILESTEMG Valéria Anício de Freitas Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais/UNILESTEMG. [email protected] Prof. Everton Teixeira Gomes Docente do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais e Enfermeiro Especialista em Farmacologia Aplicada/UNIFENASMG. RESUMO O transtorno mental caracteriza-se por falha do indivíduo em comportar-se de acordo com as expectativas de sua comunidade, afetando-lhe cada aspecto e refletindo-se em seus pensamentos, sentimentos e ações. A consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais permite uma abordagem personalizada e integral, envolvendo assistência física, psíquica, social com a finalidade de prestar um cuidado de qualidade. Este estudo tem como objetivo conhecer a percepção dos formandos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais mediante a consulta de Enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais. A amostra foi constituída por 37 formandos que responderam um questionário semi-estruturado. Os resultados revelaram que grande parte dos alunos, 81% (30) possuem conhecimento sobre a realização da consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, mas um número significativo, 73% (27) não se sentem preparados, mostram-se atemorizados, inseguros por não terem prática na realização de tal procedimento. Percebe-se a necessidade de aprimoramento pela instituição de ensino para a realização desta prática, ampliando assim, as possibilidades de uma assistência global, correlacionadas às transformações da reforma psiquiátrica, culminando num atendimento holístico e de qualidade. PALAVRAS-CHAVE: saúde mental, consulta de enfermagem, transtorno mental. ABSTRACT The mental disorder is characterised by failed individual behave according to the expectations of its community, affecting each appearance and reflecting in your thoughts, feelings and actions. While the consultation of nursing to individuals with mental disorders allows a custom and integral approach, involving assistance physical, mental, social purpose to provide care quality. This study aims to meet the perception of trainees of nursing from the Centro Universitário do Leste de Minas Gerais about the nursing consultation to individuals with mental disorders. To achieve this, the sample was made up 37 trainees, which was used a questionnaire previously structured. The results showed that a large proportion of students, 81% (30), have knowledge on the nursing consultation for individuals with mental disorders, but a significant number, 73% (27) do not feel prepared, scared, unsafe for failing to practice in this procedure. However, it’s necessary improvement and educational institution for performing this practice, expanding the possibilities of global assistance, correlated to transformations of psychiatric reform, culminating in a holistic care and quality. WORD-KEY: mental health, nursing consultation, mental disorder. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 226 INTRODUÇÃO Segundo Tuono et al (2007) o termo “transtorno” de acordo com o Código Internacional de Doenças (CID-10), não é um termo exato para indicar doenças, mas é utilizado para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos reconhecidos na forma clínica, podendo ser associado a sofrimento e interferência com funções pessoais. Para Teixeira et al (2001) o transtorno mental caracteriza-se por falha do indivíduo em comportar-se de acordo com as expectativas de sua comunidade. A pessoa não consegue mais encontrar soluções satisfatórias para seus conflitos e seus mecanismos de defesa são utilizados de forma menos sadia. Vale a pena lembrar que os indivíduos com sofrimentos mentais sempre estiveram presente na comunidade, a história da enfermagem vem sendo traçada desde que o homem apresentou ou pensou sobre a doença mental e atualmente atinge uma parcela significativa da população. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde os transtornos mentais ocorrem comumente e afetam mais de 25% da população em dada fase da sua vida. São também universais, afetando pessoas de todos os países e sociedades, indivíduos de todas as idades, mulheres e homens, ricos e pobres, pessoas de áreas urbanas e rurais, exercem, portanto, considerável impacto sobre os indivíduos, as famílias e a comunidade, visto a magnitude do ônus econômico, do sofrimento do doente, e gasto adicional, não só para sua família como também para o poder público (CANEJO; COLVERO, 2005; PESSOA, 2006; OMS, 2001). O surgimento da enfermagem esteve relacionado ao sofrimento das pessoas doentes e a necessidade de alguém que prestasse os cuidados necessários para aliviar esse sofrimento e ajuda para dar sentido às suas dores e sofrimentos na religião e/ou filosofia (CANDIDO; FUREGATO, 2005). Conforme Teixeira et al (2001) no início do século XX o enfoque da assistência deixa de ser apenas físico e começam a ser desenvolvidas teorias psiquiátricas e psicológicas a fim de mudar o enfoque desta assistência. Influenciado por estas transformações, em 1952, surge o trabalho pioneiro de Hildegard Peplau, que preconiza o relacionamento terapêutico enfermeira-paciente como instrumento básico de assistência de enfermagem psiquiátrica. Após esta época a assistência de enfermagem passa a se centrar nas relações interpessoais, inicia-se uma nova era onde a criação e manutenção de um ambiente terapêutico nas instituições humanizam a assistência ao doente mental. A Enfermagem, entendida como uma prática social participa do trabalho de equipe multiprofissional e está vinculada às diversas práticas de saúde, incluindo a assistência à saúde mental coletiva e individual. No Brasil, o ensino de enfermagem psiquiátrica e saúde mental mantiveram íntima relação com a evolução da assistência ao doente, porém, foi influenciado historicamente pelas mudanças e transformações internacionais do modo de perceber o doente, a doença mental e o cuidar do enfermo (LUCHESE, 2005). O Artigo 11, da Lei do Exercício Profissional n.º 7.498, de 25 de junho de 1986, e o Decreto 94.406, de 08 de Junho de 1987, legitimam a consulta de enfermagem como uma atividade privativa do enfermeiro. Sua implantação ocorreu ao longo do desenvolvimento histórico da enfermagem, culminando com a resolução n.º 272, de 27 de Agosto de 2002, do Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 227 que dita as normas e requisitos para a operacionalização da consulta de enfermagem. Especialistas relatam que a consulta de enfermagem deve, sistematicamente, compreender a realização de um histórico, com um enfoque que vai além dos aspectos biológicos; a elaboração de diagnósticos de enfermagem, que deve contemplar ações ou a denominação de problemas ou de necessidades de atendimento e o plano assistencial, que inclui técnicas, normas e procedimentos que orientam e controlam a realização das ações destinadas à obtenção, análise e interpretação de informações acerca das condições de saúde com orientações que possam influir na adoção de práticas favoráveis à saúde (CONEJO; COLVERO, 2005). Diante desta contextualização, pergunta-se: Será que os formandos estão preparados para realizar a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais? Este estudo permite uma reflexão no meio acadêmico sobre a assistência à pessoa com transtorno mental, visto que o acadêmico de enfermagem possui forte tendência a carregar consigo estereótipos e preconceitos em relação à doença mental, esses preconceitos são semelhantes aos da população em geral, onde reconhecem os doentes mentais como loucos, incapacitados e agressivos. Acreditase que, se esses preconceitos não forem trabalhados adequadamente durante o curso de enfermagem, podem se traduzir em atitudes negativas frente à pessoa com transtorno mental, no momento em que esses alunos estiverem exercendo as suas atividades profissionais (PEDRÃO et al, 2005). O estudo valoriza o uso adequado da consulta de enfermagem na abordagem dos diferentes aspectos do paciente com transtorno mental, pois à medida que os profissionais estejam conscientes da importância deste atendimento no tratamento do paciente com sofrimento mental, tornam-se aptos a oferecer o que de fato é direito do paciente e responsabilidade da profissão. Propiciando uma assistência diferenciada, fazendo com que os pacientes sintam acolhidos, compreendidos e respeitados no seu sofrimento, além de romper tabus e minimizar preconceitos. Tendo em vista todos esses aspectos, o presente estudo objetiva conhecer a percepção dos formandos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais a respeito da consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, verificar se os acadêmicos estão preparados para realizar tal assistência e identificar as dificuldades. METODOLOGIA Esta pesquisa baseou-se em um estudo descritivo, cujo objetivo principal é a exposição das características do tema de estudo, opiniões, atitude e crenças de uma população, e uma abordagem qualitativa que busca as circunstâncias e aspectos do ambiente, a fim de enriquecer a sistemática em questão (GIL, 2002; RAMPAZZO, 2002). Participaram da pesquisa 37 estudantes do curso de enfermagem que concluíram o Estágio Supervisionado I no 1º semestre de 2008, de ambos os gêneros dos turnos matutino e noturno. A coleta de dados foi realizada no campus III do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais-UnilesteMG, no período de 18 à 25 de agosto de 2008, através de um questionário semi-estruturado (APÊNDICE A), sendo este elaborado pelas Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 228 pesquisadoras, contendo informações como gênero, período e o conhecimento sobre a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais. Para a realização deste estudo, primeiramente foi obtida uma carta de autorização da coordenação do curso de enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais-UnilesteMG. Em seguida, os formandos foram informados sobre os objetivos e metodologia do trabalho, para esclarecimento da atividade a ser realizada, para que, com consentimento de cada um pudessem ficar certos de que seus direitos seriam respeitados, para então participarem deste estudo. Por conseguinte, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os entrevistados foram abordados em sala de aula com autorização prévia do professor que estava lecionando naquele momento. Após a tabulação e interpretação dos dados, foram selecionadas as informações mais relevantes para o estudo, organizada através de gráficos e falas dos participantes, valorizando assim as relações entre os sujeitos da pesquisa analisados com apoio da literatura pesquisada. Os cuidados éticos foram baseados na Resolução nº196 de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO A princípio houve dificuldade na adesão dos acadêmicos a pesquisa, onde muitos recusaram em participar devido o estilo do questionário e por considerarem o assunto difícil, sendo que dos 73 alunos que concluíram o Estágio Supervisionado I apenas 37 participaram do estudo. Em relação ao perfil, 84% (31) dos participantes são do sexo feminino e 16% (6) masculino. Quanto ao período cursado observou-se a seguinte distribuição: 5% (2) cursam o sétimo período, 87% (32) cursam o oitavo e 8% (3) cursam o nono período. Quando questionados sobre o que entendem por consulta de enfermagem, 81% (30) afirmaram ser o atendimento sistematizado e holístico do enfermeiro como se observa em: Consiste no atendimento holístico do enfermeiro, buscando diagnósticos de enfermagem para buscar medidas de intervenções tanto em caráter paliativo, preventivo ou de tratamento (F1). É um momento entre o paciente e o enfermeiro onde o mesmo estará realizando uma anamnese e exame físico, com o intuito de buscar informações e conseqüentes melhorias no estado de saúde do indivíduo (F2). Esse resultado confere com a Resolução do COFEN 272/02 que dispõe sobre a Consulta de Enfermagem, sendo atividade privativa do Enfermeiro, que utiliza componentes do método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e implementar medidas de Enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção da saúde, recuperação e reabilitação do indivíduo, família e comunidade que favorece a concretização de um modelo assistencial adequado às condições das necessidades de saúde da população. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 229 Ao passo que 19% (7) descreveram ser o instrumento e a forma que aborda o paciente, desviando um pouco do que legitima a resolução supracitada. É o instrumento do enfermeiro (F10). É a forma de abordar o paciente (F5). Sobre a questão do que entendem por transtorno mental, 70% (26) dos formandos consideram que são distúrbios psicológicos que modificam o padrão de vida e que ocasionam alterações comportamentais, como apresentado em: É uma patologia onde normalmente o comportamentos diferentes do padrão (F19). paciente tem idéias e Alterações no bem-estar psicológico do indivíduo que pode refletir no modo de agir e viver das pessoas (F30). Esses fatos condizem com Teixeira et al (2001) que definiram o transtorno mental como uma falha do indivíduo em comportar-se de acordo com as expectativas de sua comunidade. Enquanto 27% (10) deles referem-se aos transtornos mentais como sendo de origem essencialmente fisiológica como em: São transtornos neurológicos que um indivíduo pode apresentar (F15). É algum tipo de patologia ou deficiência que acomete funções cognitivas do cérebro, ocasionando algum tipo de deficiência para o indivíduo (F2). Pode-se questionar tais definições, pois de acordo com Tuono et al (2007) o termo “transtorno” segundo CID – 10, é um termo errado para indicar doenças, mas exato para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos reconhecidos na forma clínica, podendo ser associado a sofrimento e interferência com funções pessoais. Somente um participante (3%), não respondeu ao questionamento. Quando questionados sobre como se deve realizar a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, 43% (16) dos formandos apontaram cuidados especiais como cautela, paciência e tranqüilidade como primordiais neste tipo de consulta, a sistematização do atendimento de enfermagem foi apontada por 32% (12) dos participantes como prática a ser realizada durante a consulta, para 16% (6) dos participantes o envolvimento da família ou acompanhante é uma necessidade na consulta aos pacientes com transtorno mental, enquanto 9% (3) dos formandos informaram não saber como deve ser realizada a consulta a esses pacientes, como mostra a seguir: Com muita tranqüilidade, tornando o ambiente acolhedor e transmitindo confiança ao paciente (F33). Beteghelli et al (2005) discorreram sobre como é imprescindível que o enfermeiro mantenha uma comunicação eficaz com o doente mental, estabelecendo vínculos para um relacionamento baseado na confiança e segurança, assim, o doente mental pode falar de si e de seus problemas, com leveza e tranqüilidade, depositando cada vez mais credibilidade na assistência de enfermagem. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 230 Deve ser feita de forma minuciosa, abordando todos os tópicos da consulta de enfermagem para assim o enfermeiro entender o verdadeiro núcleo do problema... (F26). Beteghelli et al (2005) confirmam que o processo de enfermagem deve ser utilizado adequadamente na abordagem do doente mental, pois oferece ordem e direcionamento ao cuidado prestado, constituindo-se na essência da prática da enfermagem, como instrumento e metodologia para auxiliar o enfermeiro na tomada de decisões. Portanto, o enfermeiro, ao utilizar o processo de enfermagem tem subsídios para as intervenções na problemática dos aspectos psicoemocionais apresentados pelos doentes mentais. Deve-se ser realizada com a presença de um acompanhante que possa responder aquilo que diz respeito ao cliente (F16). De fato Spadini e Souza (2006) reconheceram o valor da participação da família na assistência ao doente mental, sendo que a enfermagem tem o papel de conhecer e compreender o contexto em que o doente mental vive, oferecendo apoio e orientações voltando-se para o núcleo familiar e oferecendo suporte necessário a fim de melhorar a qualidade de vida de todos. Sobre o questionamento quanto à sua preparação para realizar a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, 73% (27) dos participantes disseram que não se sentem preparados, enquanto 27% (10) disseram sentir-se preparados. Dos que se sentem preparados, 60% (6) atribuem ao embasamento teórico adquirido na graduação, 10% (1) atribui às experiências práticas, na segurança em realizar o procedimento e 30% (3) não justificaram porque se sentem preparados, como se observa em: Sim. Pois com o conhecimento adquirido no curso temos base para tal (F4). De acordo com Souza et al (2006) os enfermeiros destacaram-se historicamente por cuidar bem de seus clientes e de forma organizada, envolvendo disciplina e conhecimento científico. Realizei estágio na área, e hoje consigo entender e compreender como vive este indivíduo (F8). A oferta de estágios em serviços de saúde mental também foi apresentada por Pinho e Santos (2006) como possibilidade de reconhecimento das formas de intervenção pelos alunos, o incentivo do professor em estimular o contato com o sujeito que padece psiquicamente, pode promover a re-significação da doença mental. Dos que não se sentem preparados, a falta de atividades práticas durante a graduação foi preponderante apontada por 41% (11) dos formandos, 22% (6) mencionaram o déficit de conhecimento científico como sendo causa da falta de preparo, 11% (3) aliam ao não embasamento e à falta de prática, 22% (6) atribuem a outros fatores como dificuldade de interação com pessoas que possuem transtorno mental, ausência de abordagem da consulta de enfermagem a esse tipo de paciente Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 231 na graduação, enquanto 4% (1) não justificou porque não se sente preparado, como se vê em: Não. Necessito ainda de muita prática (F17). Pinho e Santos (2006) apresentaram a possibilidade de realizar estágios em saúde mental como fator que propicia aos alunos a oportunidade de superar seus conflitos, suas inseguranças e seus posicionamentos excludentes quando em contato com o doente mental, somente assim os futuros enfermeiros podem oferecer-lhes um ambiente propício ao resgate de sua identidade moral e social abalada com o rótulo da doença mental, exercendo sua profissão com fins verdadeiramente terapêuticos. Não. Porque não tenho um vasto conhecimento de patologias, para saber conduzir a consulta (F12). Não. Porque não tenho embasamento teórico e nem prático (F28). Souza et al (2006) destacaram fatores que dificultam o cuidado profissional, entre eles relacionaram o déficit de conhecimento como fator essencial, uma vez que a educação funciona como eixo central da assistência de enfermagem prestada. Não. Acho difícil interagir com um doente mental (F20). Não. Pois não teve uma abordagem sobre o assunto em termo de consulta de enfermagem na graduação, ficou a desejar (F26). A boa relação entre enfermeiro-paciente foi descrita como sendo importante para atendimento de qualidade, no trabalho de Jorge et al (2006), cabendo à equipe de saúde mental compreender o indivíduo em sua integralidade construindo um novo paradigma de saúde/doença mental que busque o desenvolvimento de uma relação saudável, centrada na interação. Quando questionados se já realizaram consulta de enfermagem ao paciente com transtorno mental, apenas 14% (5) responderam positivamente, enquanto 86% (32) informaram que nunca realizaram esse tipo de consulta. Quando solicitados a descrever pontos dificultadores para realização da consulta de enfermagem, a dificuldade de interação com as pessoas com transtorno mental foi citada por 38% (14) dos formandos, 27% (10) mencionaram a falta de prática, 14% (5) citaram a falta de embasamento como dificultadora do processo, outros fatores como o preconceito, foram descritos por 16% (6) e 5% (2) dos participantes não responderam, como se observa a seguir: Dificuldade de intera com estes tipos de pacientes (F15). Jorge et al (2006) também apresentaram a necessidade dos profissionais estarem, primeiramente, comprometidos com uma proposta de prestação de assistência à saúde qualificada e ética que balize o relacionamento interpessoal entre o profissional e o usuário, sendo imprescindível que o enfermeiro mantenha uma comunicação eficaz com o doente mental, estabelecendo vínculos para um relacionamento baseado na confiança e segurança, livre de preconceitos e temores. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 232 O pouco contato com estes pacientes durante a graduação (F6). Estudos têm demonstrado que a participação direta dos discentes nos serviços de saúde mental vem possibilitando trocas de experiências e um maior contato com enfermeiros do serviço, diminuindo distâncias que por vezes dificultam as relações no desenvolvimento da prática como descrevem Munari, Godoy e Esperidião (2006). Falta de conhecimento dos diversos tipos de transtornos (F12). Monteiro (2006) afirmou que a atitude ética do enfermeiro revela-se de suma importância no atendimento ao doente mental, prestando um cuidado digno, respeitoso, livre de estigmas, crendices e preconceitos. Sobre pontos facilitadores nesse procedimento, 54% (20) dos formandos afirmaram não conhecer ou não descreveram. A boa interação enfermeiro-paciente foi citada por 16% (6) como sendo positiva no procedimento, 11% (4) mencionaram o embasamento científico, 14% (5) descreveram a presença de acompanhante ou familiar como importante para o bom desenvolvimento da consulta e 5% (2) dos participantes apontaram a prática como facilitadora, como se vê em: Adequação, adaptação e interação (F3). Conejo e Colvero (2005) também afirmaram que o cuidado envolve uma ação interativa, essa ação está calcada em valores e no conhecimento do ser que cuida para com o ser que é cuidado, destacando assim o aspecto relacional como componente fundamental da assistência aos indivíduos no campo da saúde mental. Conhecimento adquirido em Saúde Mental e Neurociências (F9). Segundo Pessoa, Pagliuca e Damasceno (2006) o conhecimento produzido pela enfermagem através das teorias permitem a compreensão das experiências dos profissionais. O conhecimento teórico influencia a realidade tornando-se importante para guiar a educação, a pesquisa e a prática. Paciente junto com acompanhante (F34). De acordo com Jorge et al (2006) as diversas maneiras de pensar e agir em função do tratamento dos doentes mentais seja com práticas individuais ou interdisciplinares, para que seja efetiva, deve incluir a família. Os pontos facilitadores seriam ter mais ações práticas durante a graduação, para familiarizar com o processo (F30). Munari, Godoy e Esperidião (2006) afirmaram que a atual situação do ensino e da prática na área da saúde mental necessita de uma revisão, a fim de enfrentar a dicotomia entre o saber reproduzido nas escolas e o praticado na assistência ao doente mental, que acaba por resultar na formação de profissionais acríticos, pouco atuantes politicamente e desvinculados da nova proposta da Reforma Psiquiátrica. Quando questionados sobre a necessidade de aperfeiçoamento na consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, 86% (32) dos formandos Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 233 afirmam sentir necessidade de aprimorar e 14% (5) afirmam que não sentem essa necessidade. Entre as necessidades de aperfeiçoamento, a prática durante a graduação mostra-se preocupação entre os formandos, sendo descrita por 40% (15) dos participantes, 32% (12) mencionaram maior capacitação e conhecimento, 14% (5) citaram outras necessidades e 14% (5) não descreveram quais são suas necessidades de aperfeiçoamento, como apresenta: Técnicas de abordagem, diálogo e etc. (F22). Segundo Beteghelli et al (2005) o bem-estar do doente mental deve ser alvo do enfermeiro, sendo necessário modificar efetivamente as respostas psicoemocionais inadequadas em todos os âmbitos da assistência de enfermagem, enfatizando a promoção de um efetivo relacionamento enfermeiro-paciente, de estratégias cognitivas, de expressões de sentimentos, de modificações comportamentais, de habilidades sociais e da educação em saúde mental. Deve-se haver uma melhor capacitação dos profissionais para atendimento ao cliente com esses transtornos (F11). Monteiro (2006) defende a idéia de que o enfermeiro foi direcionado para desenvolver ações técnicas claras, previsíveis e definidas e que o cuidado ao doente mental não se baseia em intervenções objetivas ou previsíveis, exigindo do profissional uma formação dinâmica e contínua, pois em saúde mental, exige-se do enfermeiro uma postura de iniciativa e criatividade, cujas oportunidades nem sempre lhes são oferecidas na graduação e na instituição, sendo necessárias constantes capacitações. CONCLUSÃO Com o presente estudo percebe-se que a maioria dos formandos da pesquisa possui conhecimento sobre a realização da consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, mas um número significativo não se sente preparado, mostrando-se atemorizados, inseguros por não terem prática na realização de tal procedimento. Destaca-se a relevância de trabalhar os estigmas, estereótipos e preconceitos que os graduandos trazem consigo, evitando atitudes negativas frente à estes pacientes e estabelecendo um relacionamento acolhedor entre enfermeiropaciente, mantendo uma assistência diferenciada e livre de preconceitos. Contudo, percebe-se a necessidade de aprimoramento pela instituição de ensino para o desenvolvimento efetivo da prática terapêutica da enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais, ampliando assim, as possibilidades de uma assistência global, correlacionadas às transformações da reforma psiquiátrica, culminando num atendimento holístico e de qualidade. REFERÊNCIAS Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009 234 BETEGHELLI, P. et al. Sistematização da Assistência de Enfermagem em um ambulatório de saúde mental. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 07, n. 03, p. 334 – 343, 2005. Disponível em: <http://www.revistas.ufg.br/index.php/fen>. 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QUESTIONÁRIO 1 – Gênero: ( ) Feminino ( ) Masculino 2 – Está cursando qual período: _____ 3 – O que você entende sobre Consulta de Enfermagem? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _____________________________________________________ 4 – E sobre Transtorno Mental? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _____________________________________________________ 5 – Como deve ser realizada a consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _____________________________________________________ 6 - Sente-se preparado para realizar esta consulta? ( ) Sim ( ) Não Justifique. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ _____________________________________________________ 7 – Já realizou a consulta de enfermagem ao paciente com transtorno mental? ( ) Sim ( ) Não 8 – Quais pontos considera dificultadores para a realização de tal procedimento? ___________________________________________________________________ E quais pontos são facilitadores? ___________________________________________________________________ 8 – Sente necessidade de aperfeiçoamento em consulta de enfermagem aos indivíduos com transtornos mentais? ( )Sim Quais______________________________________________________ ( ) Não Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG-V.2-N.1-Jul./Ago. 2009