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Produção do Português Escrito
Oficinas de escrita
Tempo, modo, modalidade, aspeto e coesão
Sessão 1, aula 9
Fernanda Pratas
CLUL
Objetivos destas 6 sessões
Sessões 1 e 2 (em março):
- introdução aos conceitos de tempo, modo, modalidade e aspeto
- exercícios destinados a criar familiaridade com estes conceitos
Sessões 3 e 4 (em abril):
- tempo, modo, modalidade e aspeto em diferentes sequências
textuais: descritivas, narrativas, explicativas, argumentativas…
- exercícios destinados à prática destes géneros textuais
Sessões 5 e 6 (em maio):
- exercícios destinados à prática destes géneros textuais
de que tempo falamos?
Time
Tempo
Tense
tempo, no sentido de ‘time’
• uma sequência de momentos, alinhados
de forma unidirecional (ou seja, evolui
sempre do passado para o presente para o
futuro) e irreversível
estratégias linguísticas para
codificar relações de tempo
• Tempo/tense
• Aspeto gramatical (em muitas línguas, incluindo o português,
estas duas estratégias estão combinadas morfologicamente)
• Aspeto lexical ou Aktionsart (a distinção mais relevante para
aqui é entre estados e não-estados)
• Advérbios temporais
• Organização discursiva
tempo, no sentido de ‘tense’
• uma categoria do verbo que estabelece
relações de natureza deítica, isto é,
partindo sempre do momento em que
falamos
• Passado – anterior
• Presente – mais ou menos coincidente
• Futuro – posterior
em português (e outras línguas
Klein (2009)
românicas)
- Esta sobreposição lexical entre os dois ‘tempos’
que se verifica em algumas línguas poderia dar a
ideia de que as noções de tempo/time não
poderiam ser expressas sem o tempo/tense
- Esta é uma ideia absurda, já que muitas línguas
do mundo fazem isso sem quaisquer problemas
tempo/tense não chega
- Além disso, temos algumas limitações no que
respeita ao tempo/tense:
A. como lidar, por exemplo, com os
diversos tipos de situações no passado?
(cf. exemplos que se seguem, extraídos do texto
de Sophia)
formas verbais no texto de
Sophia
- era
- havia
- brincava
- imaginava
- fazia
entre muitos outros.
Mas também…
- encontrou
- foi
- passou
tempo/tense não chega
B. na prática, os três valores simples (passado,
presente e futuro) surgem muitas vezes
baralhados.
(cf. frases que se seguem)
tempo/tense não chega
Jornal Público do dia 23 de março
- “Amanhã volto ao metro. Se estiver fechado, vou de
bicicleta”
- Juiz do Supremo retira investigação sobre Lula das mãos de
Sérgio Moro
- Cabe aos cubanos mudar o seu país, insiste Barack Obama
tempo/tense não chega
jornal Expresso, dia 23 de março:
- André Pinto, 28 anos, estava distraído a ouvir
música no metro de Bruxelas, como faz todos os
dias. De repente vê um grande clarão, no
minuto seguinte viu-se no meio do pânico, de
pessoas feridas e outras inanimadas. “Pensámos
que tinha chegado a nossa hora.”
tempo/tense não chega
Em A. e B. temos dois argumentos diferentes.
A. – a categoria de tempo/tense não é, de facto, suficiente para dar
conta de tudo o que as línguas naturais são capazes de expressar
em termos de relações temporais. Para isso, precisamos de outras
estratégias.
Proposta: vamos referir/expor algumas ideias básicas sobre estas
estratégias, praticando também a sua identificação em diferentes
sequências textuais.
tempo/tense não chega
2. – técnicas mais ou menos habilidosas permitem-nos utilizar
determinadas construções temporais em contextos “inesperados”
(ou não-canónicos).
Estas estratégias são em geral mais bem-sucedidas quando
dominamos inteiramente os contextos mais comuns (canónicos),
ganhando assim um maior à-vontade para depois criar e
experimentar longe destes.
Proposta: vamos explorar também isto ao longo das aulas desta
oficina de escrita.
porque é que o aspeto conta
- Recuperando a ideia em A:
para dar conta da forma como as línguas naturais
expressam tempo/time, temos de investigar muito
mais do que tempo/tense.
- Uma das categorias fundamentais para darmos
conta dos diferentes passados que vimos no
texto de Sophia é a do aspeto gramatical (há
outro tipo de aspeto que veremos depois)
porque é que o aspeto conta
- tal como tempo/tense, a categoria gramatical
de aspeto reflete-se na flexão verbal; por vezes
envolve o uso de verbos auxiliares;
- ao contrário de tempo/tense, o aspeto
gramatical exprime um ponto de vista particular
sobre a situação descrita na frase (por isso é
muitas chamado viewpoint)
porque é que o aspeto conta
- A Maria estava a fechar a porta.
- A Maria fechou a porta.
Ambas as frases estão no passado (um tempo anterior ao momento
da enunciação), mas distinguem-se pelo tipo de ponto de vista
quanto à situação denotada:
• a primeira apresenta uma situação em desenvolvimento –
aspeto imperfetivo
• a segunda apresenta uma situação já completa – aspeto
perfetivo
o outro aspeto que interessa
Narrativa constituída por frases simples em sequência.
Questão: as duas situações descritas em cada uma das sequências
de frases ocorrem realmente numa sequência temporal ou
são simultâneas?
A. Um homem entra no bar. Come uma maçã.
o outro aspeto que interessa
B. Um homem entra no bar. Está doente.
o outro aspeto que interessa
C. Um homem entra no bar. Veste um casaco azul.
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