Título: Comunidades leitoras: práticas de ocupação discursiva de espaços sociais intra e extraescolares I ) Articulação da proposta com o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) Considerando que o curso de Pedagogia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, por seu Projeto Pedagógico Institucional (PPI), contempla o resultado das discussões sobre a carreira do pedagogo, fomentadas e consolidadas desde os anos de 1980, indicando a “necessidade de formação de um profissional capaz de atuar nos espaços escolares e não­escolares que compreendem o campo educacional”, este projeto se apresenta como um conjunto de ações potencializadoras da formação de graduandos, com ênfase nas licenciaturas desta instituição. Sediada na Escola de Educação, a proposta pretende criar espaços­tempos de articulação entre ensino­pesquisa­extensão, conforme perspectiva, constante no referido PPI, de que “a Pedagogia se aplica ao campo teórico­prático da educação como práxis social”(UNIRIO,2007). I. 1. Do objeto: A leitura como prática eminentemente social, constituinte do sistema cultural das sociedades, tem na escola seu locus privilegiado de ensino e aprendizagem. Contudo, o desenvolvimento de competências comunicativas ­ verbais, linguísticas, textuais ­ deve mobilizar nos alunos capacidades de ouvir, falar, ler e escrever, as quais levem em conta práticas leitoras que antecedem o contato destes com aspectos normativo­descritivos relacionados à língua materna, conforme propiciado pela educação escolar. Tais práticas de leitura e produção de textos, iniciando­se na infância e variando de indivíduo para indivíduo, dizem respeito a contextos socioculturais contingentes e múltiplos, os quais, por vezes, parecem escapar à escola. As incidências e reincidências desse processo, todavia, permitem agregá­las segundo afinidades, regularidades e padrões. Uma vez que se define como espaço preferencial para o desenvolvimento de tais níveis de letramento (Soares), a escola deve encontrar estratégias para mapeá­los, articulando leitura escolar à leitura de mundo (Freire). As turmas de alunos do ensino regular ­ desde a educação básica até o ensino superior ­ se consideradas enquanto comunidades de leitores (Fish) e transformadas em grupos focais de trabalho, apresentam­se como objeto de interesse dos estudos e de práticas experimentais para uma pedagogia da leitura e escrita que contemple todas as áreas de estudo, e não exclusivamente aquelas relacionadas ao ensino da língua materna. A leitura praticada dentro e fora da escola, por sujeitos inseridos nas diversas etapas da educação formal (do ensino fundamental ao superior), é, portanto, o objeto dessa pesquisa­ação que investe na formação de comunidades leitoras dentre os graduandos da UNIRIO, ao tempo em que pretende igualmente cooperar com o percurso formativo de leitores ­ docentes e discentes ­ de escola municipal situada no Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, numa perspectiva de docência colaborativa, com/entre alunos e professores da UNIRIO, direta ou indiretamente envolvidos nessa proposta. I. 2. Dos espaços: No Complexo da Maré, reconhecido como bairro Maré em lei municipal de 1994, as escolas, que atendem ao total 16 comunidades distintas, fazem parte da rede pública municipal de ensino. O histórico daquela população tem sido marcado por lutas em diversas frentes. A união dos moradores em defesa de sua permanência no lugar de origem, bem como o fortalecimento de suas associações, principalmente a partir de 1984, tem conseguido garantir melhorias na qualidade de vida daquelas famílias, na forma de escolas, creches, postos de saúde (cf. Redes/Observatório das Favelas, 2012). Assim, ações como a da SME­RJ, garantindo a chegada de livros às salas de leitura das escolas, por exemplo, são conquistas coletivas: de reconhecimento, por parte do governo, daquela população como parte integrante da cidade do Rio de Janeiro e de educadores, os quais atuando em diversas instâncias, promovem a prática da leitura como fator de desenvolvimento da educação pública. Muitos desafios, contudo, ainda estão por vencer. A dificuldade de se incluir a leitura literária na rotina dos alunos, os desafios de um planejamento integrado na escola, a irregularidade das ações de formação continuada dos docentes para o trabalho com a leitura, além dos baixos níveis de letramento que as famílias moradoras na região apresentam ­ o que repercute desfavoravelmente sobre as práticas leitoras das crianças e adolescentes, alunos da rede pública ­ por vezes, fazem com que o acervo bibliográfico disponibilizado nas salas de leitura repousem, estéreis, nas prateleiras. O projeto “Leitores da Maré: ações de incentivo à leitura do docente e do discente, no contexto da formação continuada e do planejamento integrado na escola pública municipal” ­ contemplado pela Faperj para vigência em 2015 e que prevê, dentre outros aportes, a seleção de dois bolsistas de graduação ­ é uma primeira investida na formação de leitores da escola pública municipal da região, que tem na Escola de Educação da UNIRIO sua instância de execução. O PET­UNIRIO apresenta­se, assim, como agente potencializador de tais ações, na medida em que trabalharia em conjunto com essa iniciativa, concentrando­se na interface com a UNIRIO. II ) Atuação coletiva e ações conjuntas entre bolsistas de diferentes estágios no fluxo das formações de graduação associadas à proposta: A possibilidade de ação conjunta entre bolsistas PET e bolsistas FAPERJ, em projeto de promoção da leitura, reafirma o compromisso com o fortalecimento da graduação, uma vez que cria oportunidades concretas de reflexão sobre conceitos construídos nas aulas das licenciaturas. Ao acompanhar ações desenvolvidas na educação básica , novas situações­problema chegam à universidade, a qual busca construir outras hipóteses de enfrentamento, a partir de revisão teórico­pragmática em grupos de estudos e trabalho. Alunos de diferentes cursos e em diferentes etapas de sua graduação podem vir a atuar cooperativamente, pela formação de grupos focais, pelo mapeamento de ações e pela visibilidade do processo e do conhecimento produzido. III ) Realização de atividades que permitam o desenvolvimento de uma visão ampla das atividades de Ensino, Pesquisa e Extensão na UNIRIO A formação de grupo de estudo e trabalho, dentre os bolsistas selecionados, prevê a realização das seguintes ações: pesquisa bibliográfica, de caráter conceitual, teórico e pragmático, sobre leitura; coleta e tratamento de dados sobre práticas de leitura dentro e fora da escola; construção de perfis de leitores dos docentes e docentes em diferentes segmentos da educação pública (do ensino fundamental à universidade). Como pesquisa­ação, tais práticas resultariam em uma segunda etapa de procedimentos metodológicos, a saber: 1. planejamento, execução e avaliação de atividades de leitura intracampus, com vistas à formação continuada de leitores entre alunos e professores da UNIRIO e 2.planejamento, execução e avaliação das atividades de leitura extracampus, de caráter extensionista, na(s) escola(s) pública(s) participante(s), com vistas à formação inicial e continuada de leitores na Maré. IV ) Articulação entre diferentes temáticas voltadas às políticas institucionais de combate a evasão e a retenção desenvolvidas pela UNIRIO, bem como a melhoria do processo de formação em nível de Graduação A prática da leitura, ou sua ausência, figura como fator determinante do nível de informação, referências e habilidades verbais dos discentes de quaisquer áreas de estudo. Contudo, embora se reconheça a leitura como fundamental ao desenvolvimento de competências linguísticas, sua prática nem sempre tem recebido a devida atenção das instituições de pesquisa e ensino, no que concerne à trajetória formativa dos estudantes. Embora o déficit de leitura seja reiteradamente marcado em avaliações desfavoráveis de alunos, de turmas – e até de cursos inteiros – não se observa com a mesma frequência uma concentração de esforços no sentido de mapear hábitos de leitura, incentivar práticas afirmativas de recepção de textos, investigar a relação entre os processos de construção do conhecimento e das competências textuais e a incidência e eficácia de práticas leitoras promovidas dentre os grupos de estudantes. Assim, um projeto que focaliza as práticas leitoras de licenciandos e problematiza a formação inicial e continuada de estudantes como leitores, em diferentes etapas de escolarização, investe no fortalecimento das graduações, ao tempo em que enfrenta um dos fatores que causam o desânimo e o sentimento de impotência de muitos dos alunos que chegam à universidade com marcas de uma formação leitora deficitária ou insatisfatória. V ) Ampla formação acadêmico­profissional: A construção de perfis de leitores dentre docentes e discentes dos cursos de licenciatura da UNIRIO, mediante pesquisa sobre seus processos escolares e extraescolares de formação de leitor, contribui para a criação de referenciais teórico­metodológicos para o trabalho com leitura realizado nos cursos de graduação. O resgate de memórias de leitura dos licenciandos da UNIRIO, principalmente daquelas situadas no período de sua educação básica, enfatiza a importância da atuação mediadora dos professores ­ o que pode despertar nos graduandos o interesse em se constituírem nessa função, enquanto educadores. VI ) Interdisciplinaridade que favoreça uma formação acadêmica condizente com o estágio atual de desenvolvimento do conhecimento O destaque dado à leitura, em diferentes momentos da formação escolar, conforme evidenciado nos depoimentos, entrevistas e observação de campo, investe na construção do caráter interdisciplinar das práticas leitoras. Apropriado desta concepção de leitura como compromisso de todas as áreas de ensino, o graduando tem, em seu percurso formativo, a oportunidade de projetar seu desenvolvimento como educador numa perspectiva de trabalho cooperativo, buscando a efetiva integração dos componentes curriculares da educação básica. VII) Formação pedagógica dos bolsistas PET­UNIRIO através da atuação coletiva e ações conjuntas entre tutor e bolsistas no processo de formação de outros estudantes de Graduação da Universidade: As trocas realizadas durante a vigênca do projeto estarão organizadas a partir da realização das seguintes ações: rodas de leitura, relatos compartilhados, enquetes, questionários, gráficos, murais, tabelas e outras formas de coleta e comunicação de dados, com vistas ao levantamento das referências prévias dos docentes, discentes, sobre processos de formação de leitores vivenciados em seu ambiente familiar, escolar, profissional e sócio­cultural ­ atividades de diagnose. Síntese de conceitos sobre Leitura, historicidade, relação com a cultura escolar, com a produção de conhecimentos, construção de subjetividades, definição de práticas leitoras, de alfabetização e de letramento, processos de aquisição de linguagem, desenvolvimento de competências linguísticas ­ grupos de estudo. Exame de documentos e registros (relatórios, planos de curso, planejamentos, avaliações) relacionados à prática da leitura na escola, à luz dos referenciais conceituais levantados e com vistas à projeção das ações do projeto ­ pesquisa e análise documental. VIII) Utilização de tecnologias e metodologias de apoio à aprendizagem.: A construção de blog, a constituição de grupos em rede social, bem como outros meios de informação e comunicação serão imprescindíveis, no sentido de manter a coesão entre os sujeitos, bem como a atualização dos dados do projeto. O registro das ações, em imagens e textos verbais, igualmente, será realizado a partir de diferentes plataformas. Leituras e produção de textos em suportes diversos garantirão a construção de um acervo e banco de dados relacionados à proposta. IX ) Formação acadêmica, política e cidadã, visando à atuação qualificada dos estudantes participantes do PET­UNIRIO como pesquisadores e extensionistas, do ponto de vista social e técnico­científico, em diferentes espaços sociais, nas comunidades populares e na universidade: A abertura de campo de pesquisa e de extensão universitária, em região da cidade ainda não contemplada por programas e projetos da UNIRIO, como é o caso da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, permite a inserção de licenciandos na realidade concreta de escola da rede municipal, com vistas ao (re)conhecimento das potencialidades e vulnerabilidades apresentadas no cotidiano do trabalho docente. Neste sentido, é possível também contribuir para a formação continuada dos professores da rede pública, mediante a interlocução entre docentes de diferentes segmentos, para o trabalho com (e a prática regular de) leituras do texto literário. Sistematização de práticas de formação de leitores entre os grupos de docentes e de discentes.Aporte de recursos materiais e humanos que garantam a potencialização de ações de incentivo da leitura de textos literários na instituição de ensino superior, buscando uma dinâmica de sustentabilidade das ações pelo engajamento da comunidade intra e extraescolar. Proposição de um projeto de sala de leitura como espaço de formação continuada dos docentes para o trabalho com leitura na instituição escolar, bem como lócus privilegiado para a efetiva integração curricular, mediante a apropriação de seu acervo, por parte de docentes e discentes, e a relação deste com os tópicos em estudo nas diversas etapas da graduação. X ) Estímulo à formação de novas lideranças capazes de articular competência acadêmica com compromisso social A proposição que pode/deve resultar deste projeto é a constituição de uma sala de leitura, como espaço de formação continuada dos docentes e discentes para o trabalho com leitura na escola, em todas as áreas de ensino. Espaço privilegiado para a efetiva integração curricular, mediante a apropriação de seu acervo, por parte de docentes e discentes, e a relação deste com os tópicos em estudo nos diversos anos de escolaridade. Ademais, a criação de tempos e espaços de leitura, concretizados nas diversas etapas do planejamento integrado, que enfatiza a sala de aula como espaço privilegiado de leitura, mas situados, ainda, em ambiências diversas, nas dependências escolares e extraescolares, tais como: cantinhos de leitura individual; espaços para o compartilhamento de experiências de leitura (apresentação de contadores de histórias, conversa com autores etc); estante móvel para circulação de um cardápio de leituras; prateleiras contendo livros, assinaturas de revistas e jornais para os leitores da escola e seus visitantes; dentre outros utensílios e itens do mobiliário. Tais sugestões ­ aliadas a outras que surgirão, no decorrer dos trabalhos ­ servirão como elementos desencadeadores de outras ações, projetos e práticas proativas na formação de leitores.