Aspectos Biomecânicos do Tecido Muscular Tipos de tecido muscular: Músculo não estriado (células fusiformes, mono ou binucleado, de contração involuntária e lenta); Músculo estriado cardíaco (células mononucleadas, unidas por discos intercalares e de contração involuntária e rítmica); Músculo estriado esquelético (formado por feixes de células cilíndricas alongadas e multinucleadas, sujeitas a controle voluntário) Os ossos, tendões e ligamentos são chamadas estruturas passivas já que recebem a atuação de forças externas (gravidade, etc.) e internas (provenientes da contração muscular). Assim, seu comportamento biomecânico é facilmente estudado e visualizado por curvas de comportamento biomecânico (deformação e carga). Para as estruturas ativas, os músculos, isso não ocorre; ele tem diversas propriedades que atrapalham nesta visualização e o estudo de seu comportamento biomecânico é mais complexo. Músculo estriado esquelético Músculo estriado esquelético é o tecido que, respondendo a um adequado estímulo neural, apresenta a capacidade de desenvolver tensão ativamente, transformando energia eletroquímica em energia mecânica. Funções: Relacionadas ao movimento: o Dinâmicas Produzir movimentos, ou seja, movimenta o segmento ósseo através da carga de tração criada no tecido muscular e transmitida para o tendão (junção músculo-tendínea) que a transfere para o tecido ósseo; o Estáticas Estabilidade às articulações (a força interna produzida pela contração assegura estabilidade para a articulação, juntamente com a cápsula articular, ligamentos e tendões); Manutenção postural. Relacionadas à proteção orgânica: o Absorção de choques o Redistribuição de cargas No mecanismo de contra-inclinação, o músculo de segmento se contrai e cria uma carga de tração nas estruturas passivas no sentido contrário, contrabalanceando a carga de tração exercida sobre o tecido ósseo quando recebe um choque. Ex.: quando o indivíduo salta, o tecido ósseo recebe uma carga de tração (na face posterior) após o choque; além disso, a inércia do movimento provoca uma dinâmica de força que cria uma carga compressiva (na face anterior) tendendo a levá-lo para frente; a esta carga o tecido responde facilmente, pois é resistente a cargas compressivas, já àquela carga a resposta não é tão eficaz, pois tem uma menor resistência a carga de tração. Assim, neste caso, o tecido muscular atua conforme descrito acima otimizando o seu comportamento biomecânico (aumentando a sua resistência a cargas de tração); ela aumenta a sua resistência e rigidez diante desta carga. Na face posterior, a carga de tração sofrida pelo segmento ósseo por ação da inércia e força direcionada para frente após o salto é equilibrada por esta carga de tração criada no sentido inverso pelo músculo; assim, ele traciona os tendões e ligamentos das estruturas adjacentes e é criada uma espécie de compressão no osso que ele envolve fazendo-o voltar ao seu estado original. O músculo fadigado, no entanto, prejudica a contra-inclinação, pois deixa a contração muscular menos eficiente. Assim, as propriedades biomecânicas do tecido ósseo associadas ao funcionamento do tecido muscular permitem uma melhor resposta a cargas compressivas. Quanto à absorção de choques, o tecido muscular permite melhores respostas a cargas desta natureza através do fortalecimento do seu componente elástico. *** Os tênis na verdade não absorvem impacto; o que eles fazem é uma redução da percepção da pressão (pois os pés são muito sensíveis à pressão). A questão da escolha do tênis de acordo com a pisada é mais uma questão econômica do que fisiológica ou biomecânica. *** Características do calçado para correr/caminhar: A região do antepé deve estar mais baixo que o calcanhar (3,5cm); Solução de continuidade na sola (não pode ser inteiriça; deve haver uma transição que facilite a pronação e supinação); Deve ser leve; Produzido por material que facilite a eliminação de calor. Propriedades: Irritabilidade – resposta a estímulos eletroquímicos; Contratilidade – produzir tensão (encurtamento); Extensibilidade – alongar-se além do estado de repouso; Elasticidade – retornar ao comprimento de repouso. Papel do músculo: Agonista – principal responsável pelo movimento; Antagonista – ao contrair-se, provoca movimento articular oposto ao agonista; o Ações: Contração do agonista e relaxamento do antagonista (movimento não opositor); Contração do agonista e extensão do antagonista (desacelerar o movimento); Contração do agonista e contração do antagonista (movimentos precisos). Estabilizador – Cria condições adequadas para os movimentos. Neutralizador – Impede ação indesejada. Ações musculares: Modelo mecânico: o Componente contrátil – responsável pelas propriedades de contratilidade e irritabilidade do tecido muscular; o Componentes elásticos– responsáveis pelas propriedades de extensibilidade e elasticidade do tecido muscular; Componentes elásticos em paralelo (fibra muscular, endomísio, perimísio e epimísio) – limitar o alongamento dos elementos contráteis; Componentes elásticos em série (tecido tendíneo) – limitar a extensão do componente contrátil (para não perder sua função). Tipos de ações: o Isométrica – músculo está ativo, desenvolve tensão através da atuação dos componentes contráteis, mas não há mudança perceptível da articulação; o Isotônica Concêntrica – há encurtamento do comprimento muscular, gerando tensão, que vence a resistência externa e produz movimento (atuação do componente contrátil); o Isotônica Excêntrica – resistência externa supera a força interna produzida pelo músculo que se alonga enquanto produz tensão (atuação dos componentes contráteis e elásticos – assim, tem maior capacidade de produzir tensão). Estrutura: Macroscópica Microscópica 3º Ciclo Cap PM Merlin 04 de setembro de 2009 Estrutura Biomecânica do tecido muscular Macroscópica (arquitetura da fibra muscular) o Peniforme (unipenada e bipenada) Não ocorre o acompanhamento; Produz mais força que a fusiforme (maior densidade de fibras); Aumento da área de seção transversal (mais na bipenada), ocasiona mais força. Ex.: semimembranoso, reto femoral (bipenado), deltóide (multipenado) o Fusiforme Uma única fibra acompanha todo o prolongamento/comprimento do músculo (longitudinalmente, do tendão proximal ao distal); Produz menor força, mas permite maior amplitude de contração muscular. Ex.: sartório Ângulo das fibras bipenadas (peniformes) há uma angulação, sendo que como há uma maior quantidade de fibras ele produz mais força, entretanto o tendão é mais exigido, devido ao ângulo, diferentemente do músculo fusiforme (exigência no sentido suportado pelo tendão) O arranjo de fibras penado produz um aumento de área de secção. Em comparação ao arranjo fusiforme, em um mesmo corte na fibra muscular, há uma maior secção. Ou seja, há mais força (um dos objetivos do treinamento de força é aumentar a secção do músculo). Quando o arranjo das fibras é fusiforme, o músculo tende a produzir menos força do que o peniforme, entretanto a amplitude da contração seria maior. O arranjo penado coloca uma quantidade de fibras gigantesca no mesmo volume muscular já que a penação aumenta a área de secção transversal fisiológica. Assim, o músculo do arranjo penado irá transferir isoladamente menos força para o tendão; entretanto, devido a maior quantidade de fibras a força será compensada e a exigência do tendão será maior. Microscópica o Endomísio o Perimísio o Epimísio *** Fascículo conjunto de fibras // Endomísio entre as fibras, margeando o perimísio // Ventre conjunto de fascículos Fibra muscular: Sarcolema; Túbulos transversos; Retículo sarcoplasmático; Sarcoplasma; Miofibrilas. Miofibrilas: Sarcômeros – unidade básica de contração: o Delimitado pela linha Z; o Linha I, que desaparece durante a contração; o Linha A, que muda o feixe de luz; o Linha H, onde há apenas miosina (meromiosina leve); o Linha M, onde há apenas a titina. Linha z (linha entre dois discos). A banda I vem de isotrópico se dois materiais respondem da mesma maneira a um mesmo estímulo, eles são isotrópicos (a banda I não muda o feixe de luz, lá só tem actina). Já a banda A muda o plano de refração da luz, e por isso é anisotrópica. Na zona H só temos a miosina, porém não se tem as cabeças (apenas a meromiosina leve). Os volumes dos sarcômeros são iguais. O que difere entre o fusiforme e o peniforme é a distribuição macroscópica. O fusiforme encurta muito mais que o peniforme. A variação do músculo que está em série (fusiforme) é quatro vezes maior do que o peniforme. Há uma proporção de que quanto maior o número de sarcômeros, maior é a amplitude. A proporção de força, no entanto é inversa; no peniforme é quatro vezes maior que no fusiforme. Miofilamentos (conjuntos de proteínas): Espesso – Miosina (proteína contrátil): o Meromiosina leve; o Meromiosina pesada (cabeças, sítios de contração); A conformação das cabeças de miosina, a orientação espacial e a distância entre as suas cabeças é sempre a mesma. Girando sempre 120º já que é um arranjo em espiral. Proteína funcional – Titina: o Mola fisiológica, mantém o filamento espesso no centro do sarcômero; o A titina se liga desde a linha Z até a linha M, fazendo uma ligação não linear no centro do sarcômero, não deixando ela se deslocar do centro. Miofilamento delgado – Actina (proteína contrátil), Troponina e tropomiosina (proteínas reguladoras) o Troponiona I – inibe o sítio de ligação com a actina; o Feixe em dupla hélice. Copiar do Souza e do D’Ávila 10 de setembro de 2009 Copiar da Maria 17 de setembro de 2009 Revisão potencial de ação – contração muscular – fusos musculares – órgãos tendinosos de golgi O tecido muscular também apresenta características visco-elásticas, mas em repouso (acomodação da deformação e relaxamento de estresse). Em atividade, no entanto, o músculo não apresenta tais características e o seu comportamento é estudado quanto à: Relação força-comprimento: descreve a relação entre a máxima força que um músculo consegue produzir e seu comprimento 14 de outubro de 2009 Receptores Sensoriais Órgão sensitivo que fornecem informações ao SNC sobre a estrutura interna do organismo e sobre o meio ambiente externo. Pertencem ao sistema nervoso autônomo. Atuação: Transdução – alteração de formas de energia Tipos: o Morfologia: Terminações nervosas livres (discos de Merkel – sensores de pressão) Terminações encapsuladas (conjunto de receptores protegidos por cápsulas de tecido conjuntivo – órgãos tendinosos de Golgi e Fusos musculares) o Localização: Exteroceptores (Discos de Merkel) Interoceptores (Corpúsculo de pucinj) Proprioceptores (FM/OTG) o Função: Mecanorreceptores (FM/OTG) Fotorreceptores (Olhos) Fonorreceptores (Ouvidos) Quimiorreceptores (hipotálamo/língua) Nociceptores (dor) Fusos musculares: mecanorreceptores, encapsulados, proprioceptores, com comprimento de 0,5 mm a 13 mm, formado por conjuntos de fibras musculares intrafusais, revestidas por cápsula de tecido conjuntivo, dispostos em paralelo com as fibras musculares extrafusais, reconhecendo alterações de comprimento muscular e taxa de variação de comprimento. Fibra saco nuclear: mais longa, liga-se ao tecido conjuntivo da cápsula e ao tecido conjuntivo da fibra extrafusal. Apresenta grande número de núcleos arranjados na região equatorial e terminações polares com miofilamentos contráteis. Inervação: aferentes (Ia) e eferentes (ɣ) Fibra cadeia nuclear: liga-se ao tecido conjuntivo da cápsula apenas, núcleos organizados em fileira na região equatorial e terminações polares com miofilamentos contráteis. Inervação: aferentes (Ia e II) e eferentes (ɣ) Respondem ao treinamento de força Reflexo de estiramento Pelo alongamento muscular, a fibra é estirada, e o fuso (em paralelo à fibra) reconhece este alongamento, e mandam um comando de natureza excitatória para provocar a contração como forma de defesa. Ocorre então o reflexo de estiramento; pois no alongamento o motoneurônio ɣ e os aferentes (Ia e II) são acionados e mandam a mensagem de contração ao motoneurônio α. Facilitação autogênica Já no caso da contração muscular inicialmente voluntária, há a estimulação de um motoneurônio α, o fuso muscular se alonga, pois a estimulação do motoneurônio α estimula o motoneurônio ɣ e ele provoca a contração das extremidades e ocorre o alongamento da região equatorial, o que aciona os eferentes (seja Ia ou II). Então é enviada uma mensagem de reforço (co-contração, acionamento de antagonistas, etc.) ao motoneurônio α (chamada facilitação autogênica). Há assim o estímulo neural inibitório do antagonista e excitatório do agonista quando ocorre a contração, pois o organismo detecta o alongamento do fuso (independentemente de o músculo estar contraído). 21 de outubro de 2009 Existem muitos tipos de neurônios, mas vale citar as características de alguns deles: Propriedades biomecânicas de neurônios ∅ (𝒖𝒎) Diâmetro α (eferente) ɣ (eferente) Ia (aferente) Ib (aferente) 15 5 13-20 13-20 V (m/s) Velocidade de propagação 100 50 80-120 80-110 Excitabilidade Grande Pequena Grande Grande II (aferente) 6-12 35-75 04 de novembro de 2009 Órgãos tendinosos de Golgi Na função de proteção, estas estruturas realizam a equalização de força; Faz também o controle motor Pequena Não copiei... o Davila copiou... passou um monte de aula... 04 de janeiro de 2010 Análise de movimento Biomecânica da corrida o Cinemática o Cinética o EMG Andando, há momentos em que os dois pés estão em contato com o solo, momentos em que um está tocando o chão e outro está se deslocando (balanço). À medida que aumentamos a velocidade e passamos da marcha para a corrida há também um tempo de vôo, em que ambos os pés estão no ar, sem contato com o solo. Conforme a velocidade aumenta, a fase de vôo aumenta e o contato diminui; esta diminuição no tempo de intervalo dificulta a absorção muscular do impacto; o impacto relativo da magnitude de forca que foi gerada é maximizado. Há dois aspectos biomecânicos muito nítidos na corrida: Absorção de energia potencial de forma elástica Geração de energia (usando esta energia para produzir movimento) *** Ex 1 – Análise do movimento do calcanhar na corrida (Novacheck, 1998): Quando o tibial anterior contrai concentricamente, ele realiza dorsiflexão; o torque estará no sentido da perna (levará o pé à perna; inserção no pé é onde se aplica a força); O torque do gastrocnêmio será no sentido oposto (flexão plantar); Conforme o tempo passa no ciclo de apoio, aumenta a dorsiflexão e então ocorre flexão plantar, que também dura um período, atinge o seu máximo (fase de balanço), depois começa a diminuir e entra em dorsiflexão novamente, que diminui um pouco antes da nova fase de apoio e dorsiflexão mais intensa; No movimento de corrida analisado cientificamente, o tornozelo não apresenta torque dorsiflexor, somente torque de flexão plantar; disto concluímos que o movimento de dorsiflexão durante a corrida ocorre por ativação excêntrica; Após o contato inicial, que ocorre em dorsiflexão, o segundo momento é uma flexão plantar (ponta do pé no chão), há um torque para o gastrocnêmio e a sua contração concêntrica ativa, o que não é imediato (ativação eletromiográfica), fica sem produzir força num primeiro momento já que o tibial anterior age excentricamente; O tibial anterior é ativado a partir do momento em que se tira o pé do chão; e ele atua excentricamente diminuindo a velocidade e intensidade da dorsiflexão até o contato; Após o contato e na retirada do pé, supõe que haveria ativação concêntrica do gastrocnêmio e sóleo (tríceps sural) já que atinge a máxima flexão plantar, porém na eletromiografia vemos que não há ativação muscular neste momento; Há um momento em que ocorre flexão plantar sem que a musculatura responsável por este movimento esteja ativa; este paradoxo existe na corrida para quadril, gastrocnêmio, quadríceps, etc. A contração excêntrica é de alongamento muscular; ela potencializa a capacidade do músculo para gerar energia potencial elástica (aumenta a taxa de energia potencial elástica); esta energia pode ser eliminada na forma de calor ou transformada em energia de propulsão (ciclo alongamentoencurtamento); para isto a fase excêntrica deve ser curta e logo buscar a fase concêntrica, aumentando a eficiência mecânica. Isto acontece em todos os músculos no ato de correr (sempre ao deixar o solo não haverá ativação muscular) Fase/Instante Movimento Contato inicial até o aplainamento do pé Dorsiflexão inicial que é diminuída (DFFP) Contato inicial até apoio médio (anteriorização da tíbia) Apoio médio até a Retirada do pé Retirada do pé até o balanço médio Aumento da dorsiflexão (anteriorização da tíbia) FPDF Diminuição da dorsiflexão, ponto neutro e início da flexão plantar DFFP Pico de flexão plantar e início de sua retificação com dorsiflexão Ação muscular Torque esperada esperado (cinemática) Ação muscular de fato (cinética) por eletromiografia Torque de fato Ação concêntrica do G/S Torque dos flexores plantares Ação excêntrica do TA e isométrica do G/S (sem torque) Torque do TA (diminuição de velocidade) Ação concêntrica do TA Torque de DF Ação excêntrica de gastrocnêmio/sóleo e isométrica (final) de TA Torque de flexão plantar (G/S) Ação concêntrica de G/S Torque de FP Sem ativação muscular Perde-se o torque FP e não há outro (nulo) 1º momento atuação do G/S 2º momento ativação de TA 1º momento torque de G/S 2º momento torque de TA Ativação de TA sem torque (isométrica) ----