O RESSUSCITADO CAMINHA CONNOSCO AO RITMO DA VIDA

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O RESSUSCITADO CAMINHA CONNOSCO AO RITMO DA
VIDA
Georgino Rocha
Jesus persiste em recorrer a mediações humanas para mostrar a
novidade da sua vida de ressuscitado, após a morte. Lucas, o narrador
do episódio de Emaús, apresenta-o como caminhante junto de dois
discípulos que rumavam àquela povoação. Esmorecidos e frustrados. Ao
cair da tarde. Ao terminar do dia. Ao chegar a noite. Símbolos
expressivos da agonia da esperança que lhes ia roendo o coração.
Símbolos da disposição de tantos corações surpreendidos perante o
insucesso provisório das suas opções de vida. Lc 24, 13-35.
O Papa Francisco, na audiência geral do passado dia 26, reconhece-o e
afirma que: “A nossa existência é uma peregrinação, temos uma alma
migrante. Somos um povo de caminhantes, tendo Jesus por
companheiro de viagem: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos
tempos». Assim quis Ele assegurar-nos de que não Se limita a esperarnos lá no fim da nossa viagem, mas já nos acompanha em cada um dos
nossos dias”. Grande certeza que nos consola.
A distância geográfica de Jerusalém a Emaús é relativamente curta, mas
simboliza um itinerário enorme de iniciação que, normalmente, os
candidatos à vida cristã e inserção eclesial estão chamados a percorrer.
Outrora, os discípulos eram Cléofas (que significa celebração) e o seu
inominado companheiro (talvez para sermos nós a dar-lhe nome).
Regressam à aldeia, após o fracasso das suas expectativas provocado
pelo desfecho trágico da vida do seu mestre, Jesus de Nazaré. Dão largas
a este estado de espírito, lamentam o sucedido e “sonham” retomar um
passado que não volta. Alimentam e ampliam a amargura da frustração,
“curtida” em conversas e atitudes. Sem horizontes de futuro onde brilhe
qualquer “semáforo” de esperança. Amarrados a um presente marcado
pelas chagas ainda em ferida viva e sangrante, carregam as gratas
recordações de um tempo feliz e vivem à procura de sentido para a etapa
que se avizinha.
O diálogo com o desconhecido, que se faz companheiro, mostra a
dolorosa situação em que se encontram e a novidade de rumores
incríveis que começavam a surgir. Constitui uma excelente amostra do
sentir de tantos contemporâneos, uma boa referência para lançar pontes
de contacto e iniciar uma viagem comum, com o ritmo cadenciado dos
passos de cada um e com a franqueza do coração aberto de todos. Agora
somos nós os peregrinos de Emaús.
O novo companheiro escuta, com delicada atenção, a resposta à
pergunta que lhes fizera. E após uma breve censura, toma a palavra e
faz--lhes a explicação do sucedido, situando-o no contexto das
Escrituras. À medida que fala, o coração dos caminhantes vibra com
novos ritmos que surgem progressivamente: coração sem esperança e
incapaz de ver as luzes que começam a despontar; coração acolhedor do
estranho que se faz companheiro e dialoga, sem reservas; coração aberto
à intervenção de Jesus que narra tudo o que nas Escrituras lhe diz
respeito; coração transformado que deseja permanecer com o
desconhecido a quem oferece hospedagem e convida para uma refeição;
coração agradecido que reconhece a nova forma de presença de Jesus
nos sinais do pão e do vinho (eucaristia); coração entusiasmado no amor
e pressionado pela novidade da experiência feita que quer contar aos
discípulos; coração enternecido que recebe a alegre notícia dada pela
comunidade reunida: “O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão”.
O Santo Padre na mensagem para a 54ª semana de Oração pelas
Vocações, que hoje começa, faz-se eco desta novidade e diz-nos:
“Amados irmãos e irmãs, é possível ainda hoje voltar a encontrar o
ardor do anúncio e propor, sobretudo aos jovens, o seguimento de
Cristo. Face à generalizada sensação duma fé cansada ou reduzida a
meros «deveres a cumprir», os nossos jovens têm o desejo de descobrir
o fascínio sempre atual da figura de Jesus, de deixar-se interpelar e
provocar pelas suas palavras e gestos e, enfim, sonhar – graças a Ele –
com uma vida plenamente humana, feliz de gastar-se no amor”.
O Ressuscitado vive connosco e marca o ritmo que o coração humano
deseja e procura assumir. Felizmente!
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