mapas de conversação em diabetes como instrumento de educação

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CONEXÃO FAMETRO:
ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE
XII SEMANA ACADÊMICA
ISSN: 2357-8645
MAPAS DE CONVERSAÇÃO EM DIABETES COMO
INSTRUMENTO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE
EXPERIÊNCIA
Juliana Mineu Pereira Medeiros – Universidade Federal do Ceará1
Anne Caroline Ferreira Queiroga- Universidade Federal do Ceará2
Tatiana Rebouças Moreira -Universidade Federal do Ceará 3
Synara Cavalcante Lopes - Universidade Federal do Ceará 4
APRESENTAÇÃO
O diabetes mellitus (DM) consiste num grupo de doenças multifatoriais
que atingem uma grande parcela da população em todo o mundo. Dados mais
recentes
revelam
que
o
número
de
diabéticos
está
aumentando
significativamente, devido ao crescimento e envelhecimento populacional, maior
urbanização e maior prevalência de obesidade e sedentarismo (SBD, 2016).
No mundo, 1 em cada 11 adultos, o que estima-se que sejam 415 milhões
de pessoas, são portadoras de DM e 1 a cada 2 adultos que possuem DM
desconhecem o diagnóstico da doença (IDF, 2015). No Brasil, em 2014, estimouse que existiam 11,9 milhões de pessoas com diabetes, na faixa etária de 20 a
79 anos. Essa estimativa pode chegar a 19,2 milhões em 2035 (SBD, 2016). No
Ceará, estudo realizado por meio do Sistema de Informações Hospitalares (SIH)
do Sistema Único de Saúde (SUS), com os pacientes hospitalizados no estado
entre 2001-2012 evidenciou 51.317 internações por DM, sendo a grande maioria
do sexo feminino (58,4%) maiores de 20 anos de idade (SANTOS et al., 2014).
1Enfermeira.
Residente em Assistência em Diabetes do Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI - HUWC/UFC. E-mail:
[email protected]
2
Enfermeira. Residente em Assistência em Diabetes do Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI - HUWC/UFC.
3
Enfermeira Diabetologista.Tutora/Preceptora da Residência Integrada Multiprofissional em
Atenção Hospitalar à Saúde - RESMULTI - HUWC/UFC.
4Nutricionista. Mestre em Farmacologia. Coordenadora da Residência Integrada Multiprofissional
em Atenção Hospitalar à Saúde em Assistência em Diabetes - RESMULTI - HUWC/UFC
O DM não é uma única doença e sim um grupo heterogêneo de doenças
metabólicas que possuem em comum a hiperglicemia, resultante de defeitos da
secreção ou na ação da insulina. É classificado atualmente em: Diabetes Mellitus
tipo 1 (DM1), Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2), Diabetes Gestacional (DMG) e
outros tipos específicos de DM (SBD, 2016).
No DM1 ocorre uma total destruição das células beta pancreáticas,
resultado de agressões ambientais, genéticas ou idiopáticas. O paciente
portador deste tipo requer tratamento insulínico como primeira escolha, além de
controle da dieta. Já no DM2, ocorre uma resistência à ação da insulina, ou seja,
o paciente produz o hormônio, porém as células desenvolvem uma resistência à
sua ação, resultando em hiperglicemia. O tratamento deste tipo é,
primeiramente, com antidiabéticos orais (ADO), porém em algum momento, o
paciente pode requerer tratamento insulínico para melhor controle (SBD, 2016).
As complicações crônicas do DM influenciam diretamente na vida do
portador desta patologia e de sua família, estando presente nos mais diferentes
tipos de DM. Essas complicações são divididas em microvasculares e
macrovasculares.
As complicações microvasculares envolvem a retinopatia diabética, a
neuropatia diabética e a nefropatia diabética. Em estudo transversal, com 318
pacientes com DM2 abordados por inquérito telefônico, mais da metade (53,8%)
dos participantes referiram possuir complicações microvasculares. A maior
frequência foi às oftalmológicas (42,8%), vasculares (14,5%) e renais (12,9%)
(CECILIO et al., 2015). As complicações macrovasculares são descritas como
doenças cardiovasculares, como o infarto agudo do miocárdio e o acidente
vascular encefálico (SBD, 2016).
Em uma revisão sistemática, onde incluiu onze estudos, ficou claro a
importância das atividades educativas no controle das complicações. Dentre
estes estudos, dois ensaios clínicos demostraram a eficácia da intervenção na
redução das complicações cardiovasculares, da catarata ou retinopatia
diabética. Houve também uma significativa redução das úlceras nos pés, da
vasculopatia periférica e da neuropatia, além da manutenção da função renal
destes indivíduos (MENEZES; LOPES; NOGUEIRA, 2016).
Para a prevenção do aparecimento das complicações os profissionais de
saúde utilizam estratégias de Educação em Saúde em grupos e individualmente.
Em relação as estratégias em grupo, destacamos a utilização do Mapa de
Conversação em Diabetes (MCD).
O Mapa de Conversação em Diabetes é uma estratégia educativa criada
pela Federação Internacional de Diabetes (IDF) que visa a educação em saúde
a partir de ilustrações lúdicas e interativas, contendo metáforas sobre as
condições crônicas e cotidianas do diabetes. Os MCDs foram desenvolvidos
para crianças e adultos como uma estratégia de educação em diabetes em
grupo. Os grupos para a aplicação dos Mapas de Conversação em Diabetes são
formados por no máximo 15 participantes.
Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência da aplicação dos
Mapas de Conversação em um Ambulatório Especializado em Diabetes.
PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo descritivo, com abordagem qualitativa em formato
de relato de experiência na utilização do Mapa de Conversação em
Complicações do Diabetes em um Ambulatório Especializado em Diabetes em
Fortaleza-Ce, no período entre maio a agosto de 2016.
Segundo Prodanov e Freitas (2013), a pesquisa descritiva é aquela no
qual o pesquisador registra e descreve os fatos observados sem interferir neles,
visando descrever características de determinada população ou fenômeno.
Estabelece-se relações entre as variáveis do estudo por meio de técnicas
padronizadas de coleta de dados, questionário e observação sistemática.
Os pacientes são selecionados previamente em dois momentos: no
primeiro, é realizado uma revisão do prontuário no dia anterior a consulta com
Endocrinologista para avaliar as necessidades de atendimentos do paciente,
buscando aqueles que diagnóstico superior a 10 anos, fatores de risco para
desenvolvimento de complicações e/ou com controle glicêmico fora das metas
preconizadas pela Sociedade Brasileira de Diabetes. O segundo momento de
seleção é realizado no dia da consulta, onde busca-se os pacientes com algum
grau de descompensação, presença de complicações, na triagem para as
consultas.
Após a seleção, os pacientes são convidados a participar do grupo. Os
participantes ficam dispostos em meia lua, onde no meio é exposto o Mapa de
Conversação. Os acompanhantes dos pacientes também são convidados a
participar. Cada grupo é composto em média com 4 a 10 participantes, com
duração entre 40 a 60 minutos.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
O grupo inicia-se com uma apresentação dos profissionais facilitadores
que iram conduzir a sessão. Os facilitadores são compostos de um Enfermeiro
Residente em Assistência em Diabetes e um Psicóloga Extensionista. Após a
apresentação dos facilitadores, os participantes são convidados a se
apresentarem, dizendo nome, procedência e tempo de diagnóstico de DM.
O Mapa de Conversação de Complicações do Diabetes é exposto em
uma mesa centralizada, no qual o facilitador pergunta aos participantes quais
elementos do mapa lhe chamam mais atenção. Através das respostas, o
facilitador conduz o grupo, sempre utilizando as falas dos participantes.
Para facilitar a discursão, utiliza-se também das ferramentas de cartões
com o objetivo de direcionar a discursão.
O Mapa de Conversação “ Entendendo os Muitos Fatores do Controle
da Diabetes” expõe de maneira lúdica as problemáticas das complicações
crônicas macrovasculares e microvasculares através de um vulcão em erupção
em uma ilha, no qual chamamos de ilha das complicações. Os fatores de risco
destas complicações são colocados como os precursores do vulcão entrar em
erupção, fazendo alusão aos fatores de risco que culminam em complicações.
Logo abaixo da ilha das complicações, vemos um barco que está
navegando entre os fatores de risco não modificáveis para a ocorrência de
complicações e os modificáveis. Em cima disto, o facilitador gera uma discursão
a cerca de como a mudança no estilo de vida previne as complicações.
É enfatizado no mapa, a importância dos exames de rotina, como a
glicemia em jejum, hemoglobina glicada, triglicerídeos, colesterol total e suas
frações para o acompanhamento e rastreamento destas complicações. Para
facilitar a educação, utilizamos os cartões com os valores de referência. Assim o
paciente conhece a importância desde exames e como eles interferem nas
condutas dos profissionais de saúde.
Por fim, o barco chega ao seu destino, que é uma outra ilha, porém essa
é a ilha que todos almejam, onde os fatores de risco modificáveis estão
controlados, juntamente com a prática da dieta, do exercício físico e a utilização
dos medicamentos prescritos.
Com a utilização do Mapa de Conversação de Complicações do
Diabetes, foram construídas sessões de grupo com o cotidiano, no qual os
participantes demostram interesse pela temática e discutem sobre os fatores de
risco para o desenvolvimento de complicações. Também é possível na sua
utilização, trabalhar os hábitos de vida e suas modificações, bem como aspectos
de adesão ao tratamento e valores de referências dos exames de rotina.
Os participantes, muitas vezes, falam de assuntos que não são relatados
nas consultas individuais, pois através do relato do outro, o participante ver si
mesmo e quando se expressa, ver que não está sozinho, outros também passam
pelo mesmo calvário. Através da empatia e da fala do outro, o participante
constrói saberes e práticas para o seu cotidiano.
O facilitador trabalha mais como mediador do que detentor do saber.
Esclarece dúvidas sobre algumas temáticas, media conflitos e realizada as
“perguntas gatilho” para iniciar a discursão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Mapa de Conversação é uma importância estratégia de educação em
saúde no qual o profissional de Enfermagem dispõe para a melhora das
condições clínicas e prevenção de complicações do DM.
Este instrumento permite ao profissional a realizar o empoderamento do
paciente com diabetes, promovendo o autocuidado e garantindo melhor controle
da doença, de forma a prevenir ou retardar o surgimento das complicações
relacionadas.
Por ser um instrumento validado pela Federação Internacional de
Diabetes, torna a estratégia do grupo educativo uma prática baseada em
evidências, e já provada em estudos a sua eficácia.
REFERÊNCIAS
CECILIO, H.P.M; ARRUDA, G.O; TESTON, E.F.; SANTOS, A.L.; MARCON, S.S.
Behaviors and comorbidities associated with microvascular complications in
diabetes. Act Paul Enferm, v 28, pag 113-9, 2015.
Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes: 2015-2016/Sociedade Brasileira
de Diabetes; [organização José Egidio Paulo de Oliveira, Sérgio Vencio]. – São
Paulo: AC Farmacêutica, 2016.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6º edição. São Paulo: Atlas,
2008.
INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. Diabetes Atlas. 7º ed. 2015.
Disponível em: <http://www.idf.org/diabetesatlas>. Acesso em: 06 jun.2016.
MENEZES, M.M; LOPES, C.T; NOGUEIRA, L.S. Impact of educational
interventions in reducing diabetic complications: a systematic review. Rev Bras
Enferm. V 69(4):p 726-37, 2016.
POLIT, D. F.; BECK, C. T.; HUNGLER, B. P. Fundamentos de Pesquisa em
Enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5.ed. Rio de Janeiro: Artmed,
2004.
PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico
[recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho
acadêmico – 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013. Disponível
em:<http://www.faatensino.com.br/editora>. Acesso em: 30 marc.2016.
SANTOS, F.A.L.; LIMA, W.P.; SANTOS, A.L.; TESTON, E.F.; MARCON, S.S.
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Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v 23(4):p 655-663,2014.
VIEIRA, S.; HOSSNE, W. S. Metodologia científica para a área da saúde. – 2.
ed. Elsevier Brasil, 2015.
VILAR, Lucio et al. Endocrinologia clínica. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2013.
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