47-124-1-SP

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ESCUTA MUSICAL E SUA IMPORTÂNCIA NA EDUCAÇÃO
MUSICAL
Helcio de Lima Maroni *
Ailen Rose Balog de Lima†
Resumo:
Esse texto tem como objetivo discorrer brevemente sobre o que é escuta musical e a
sua importância para a educação musical. Uma vez que não temos controle sobre a
audição é o único sentido que não descansa, esse texto fala quais são os tipos de
escuta, baseado em um artigo das autoras Souza e Torres. Após falar dos tipos de
escuta, o texto fala sobre a escuta musical nos dias atuais, em que a tecnologia
digital faz parte do nosso cotidiano, tendo como referência o texto de Daniel Gohn,
bem como o desenvolvimento da apreciação musical. Conclui-se então que o acesso
ao mundo musical, hoje é muito fácil, porém nem sempre esse acesso é de
qualidade, sendo assim é necessário, como educadores musicais, desenvolver em
nossos alunos a escuta musical.
Palavras-chave:
Musicalização.
Educação
Musical;
Apreciação
Musical;
Escuta
Musical;
Aluno do Curso de Licenciatura em Música no Centro Universitário Adventista de São Paulo
(Unasp). E-mail: [email protected]
†Mestre em educação, Centro Católico Salesiano Auxilium, UNISALESIANO, Brasil. Professora
do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus Engenheiro Coelho. Lattes:
http://lattes.cnpq.br/7467857120324543. E-mail: [email protected]
*
MARONI, Helcio de Lima. DE LIMA, Ailen Rose Balog. Escuta musical e sua importância na educação
musical. INTEGRATIO, v. 1, n. 2, ago. - dez. 2016, p. x-y.
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INTRODUÇÃO
Temos o controle sobre todos os sentidos, exceto a audição. O paladar não é
usado a menos que ingerimos algo na boca; a visão é desativada quando fechamos
nossos olhos; o olfato pode ser interrompido ao taparmos o nariz ou quando
prendemos a respiração; o tato não é usado se não encostarmos em nada. Mas e a
audição? Mesmo se taparmos nossos ouvidos iremos ouvir sons, na melhor das
hipóteses ouviremos zumbidos, mas nunca deixaremos de ouvir, obviamente em
condições normais e saudáveis. De acordo com Souza e Torres (2009) há diversas
maneiras de ouvir música, que serão apresentadas, de forma breve, ao longo desse
texto.
De acordo com Popolin (2010), é pressuposto que aprendizagem musical se
dá por meio de vivências musicais. Popolin (2010, apud Swanwick 2003) afirma que
a aprendizagem é fruto da vivência. De acordo com o mesmo educador, a vivência
se dá por meio da apreciação musical, ou seja, a escuta musical.
O autor ainda fala da proposta de ensino musical, desenvolvido por
Swanwick (1979), em que a “Composição”, “Apreciação” e “Performance” são as
bases para uma aprendizagem musical efetiva, sendo essas auxiliadas pela
“Literatura” e “Aquisição de Técnica”. Vale aqui ressaltar mais uma vez que o ponto
de apreciação envolve a escuta musical. Por fim, Popolin concorda com Swanwick
ao dizer que a aprendizagem musical se dá da mesma forma que a linguagem oral,
ou seja, primeiro se vivencia ouvindo, depois de um tempo aprende-se a falar e só
depois é ensinado as partes técnicas e literárias.
Sendo assim, esse texto tem como objetivo mostrar a importância da
apreciação nas aulas de musicalização, seja infantil, jovem ou adulta.
Cabe aqui dizer que o termo usado nesse texto para se referir à
apreciação/percepção musical será a expressão “escuta musical”, pois segundo
Popolin (2010, apud Granja, 2006; Brito, 2003 e Behne, 1997), “sugere uma
experiência mais complexa, apurada, profunda e densa que atinge o corpo como um
todo, diferente de ser simplesmente uma perturbação vibratória no órgão auditivo
ou
apenas
um
processo
fisiológico
natural.
É
que
além
disso,
envolve
intencionalidade, atenção, concentração não exprimindo uma ação involuntária de
captar sons e/ou contra a vontade”.
1.
Formas de ouvir música
É fato a presença da música em todos os lugares e situações. Podemos dizer
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musical. INTEGRATIO, v. 1, n. 2, ago. - dez. 2016, p. x-y.
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até que a música é uma arte onipresente, seja qual for a comunidade ou status do
indivíduo. Uma vez que existem várias “tribos musicais” e que cada tribo tem a sua
música, cada música será escutada de forma diferente (SOUZA e TORRES, 2009).
As autoras, Souza e Torres (2009) apontam que existe o [1] ouvir
motoricamente, ou seja, o ouvir que desafia ou solicita ao corpo o movimento. As
autoras ainda falam que essas músicas geralmente são de andamentos mais
agitados. “Juventude e corpo, música e dança são temas que estão entrelaçados,
pois os jovens têm um corpo, e esse corpo deve ser colocado ou está em
determinados lugares, sendo observado e controlado bem como realizado diferentes
movimentos” (2009). [2] Ouvir música como função compensatória é a escuta
musical em que tem como objetivo “suplantar outro sentimento, como o de solidão”
(idem); [3] Ouvir para relaxar, ou seja, a escuta musical que tem como objetivo
desligar das tensões, provocando um estado de relaxamento; [4] Ouvir música como
“pano de fundo” é quando o indivíduo usa a música como ferramenta para
concentrar-se em outras atividades; [5] Ouvir emocional, “a maioria dos jovens
necessita da música não apenas como fundo musical, por assim dizer, como
elemento do cotidiano vivido, do qual ele não pode ser distinguido”; [6] Ouvir
associativo, é quando ouvimos uma música e associamos a algum produto,
geralmente. Pode ser associativa a algum lugar, pessoa ou situação; [7] por fim, o
ouvir analítico e combinado com outros sentidos “decorre de uma experiência mais
atenta da audição musical em direção a uma escuta analítica.
2.
Música como água
Hoje o despertador está nos celulares e colocamos como toque uma música
que seja capaz de nos acordar. Para esperarmos o metrô e ônibus colocamos nosso
fone de ouvido para ouvirmos nossa playlist. Essas músicas são compartilhadas
com a mesma facilidade que se a água sai de uma torneira1. Gohn (2007), citando
Kusek e Leonhard (2005) fala sobre pagar o consumo de música da mesma forma
que se paga o consumo de água. Ele explica:
Similarmente, poderemos pagar taxas mensais baixas para ter
acesso ao conteúdo musical que nos interessa, utilizando todos os
mecanismos disponíveis para a individualização da experiência. Ou
seja, teremos mais controle sobre a música que ouvimos, aceitando
ou não as recomendações que recebemos, e o valor cobrado pelo
acesso a um enorme repositório de informações será relativamente
pequeno. Eventualmente, poderemos escolher músicas consideradas
‘especiais’, talvez performances reservadas a um grupo seleto, ou a
1
Levando em consideração a realidade de abundância e facilidade dos grandes centros.
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musical. INTEGRATIO, v. 1, n. 2, ago. - dez. 2016, p. x-y.
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mais recente produção de um artista que admiramos. Neste caso,
como se estivéssemos comprando água Evian, pagaremos mais caro
(p.4).
A partir dessa ideia pode-se perceber que o acesso à música não é o
problema em questão, mas sim a qualidade desse acesso. O desenvolvimento de
uma escuta analítica é de vital importância para a aprendizagem musical através
da escuta (apreciação) musical.
3.
Apreciação Musical: como desenvolvê-la?
Começamos essa seção citando França (2002), que diz que “o ouvir permeia
toda experiência musical ativa, sendo um meio essencial para o desenvolvimento
musical” (p.12). Dessa forma não desenvolvimento musical de fato se o ouvir não
estiver sendo educado.
Gonh cita um parágrafo de Flowers (2003) muito pertinente ao assunto,
sendo assim será reproduzido originalmente:
Ouvir música é sem dúvida a forma mais comum de engajamento
musical, inescapável em quase todos os aspectos da vida – de
insípido a inoportuno a sublime – incluindo a música de fundo, a
música que gera determinado estado de espírito e a música que
demanda nosso completo foco e atenção. Ouvir é como respirar ou
comer: a maioria das pessoas faz sem instruções diretas. Mas assim
como especialistas no corpo humano têm sugestões para que possa
respirar mais eficientemente e nutricionistas têm princípios sobre
como comer bem, também os educadores musicais têm diretrizes
sobre como ouvir mais efetivamente, para tirar o máximo da música,
focando nossa atenção para o maior impacto musical possível (Gohn
apud Flowes, 2003:28).
De acordo com Gohn, a apreciação musical pode ser desenvolvida desde que
seja observado e identificado os comportamentos quando o indivíduo é submetido à
determinada música ou estilo musical. O autor fala que temos pré-disposição para
sermos capazes de ouvir música por mais ou menos tempo. Ele ainda fala que a
diversidade musical que somos expostos varia de acordo com o meio que estamos.
Para que o universo musical do indivíduo seja expandido, o autor sugere três
passos: (1) atribuir gestos corporais à música; (2) manter o foco na cultura e no seu
contexto; (3) construir pontes que ligam peças musicais contrastantes, ou seja,
“encontrar elementos comuns entre peças musicais distintas”.
De acordo com Gohn, “estratégias com estas despertam interesses que
extrapolam a música e podem estender a capacidade de um indivíduo para
permanecer ouvindo música, e para mais facilmente aceitar experiências com
conteúdos musicais desconhecidos” (p. 5).
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musical. INTEGRATIO, v. 1, n. 2, ago. - dez. 2016, p. x-y.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma vez que a escuta musical (apreciação) amplia os horizontes do universo
musical do indivíduo, esse passa a conhecer novas características musicais, novos
elementos que até então era desconhecido. Sendo assim, é papel do educador
musical manter essa expansão para que assim seja possível ensinar cada vez mais
novos elementos, mais conceitos que antes era “impossível” expor.
A apreciação musical provoca comportamentos diferenciados em cada
indivíduo, sendo assim, a expansão desse universo também será de acordo com
cada um. E é papel do professor respeitar esses limites musicais, sempre almejando
sua expansão.
O professor deve utilizar da facilidade de acesso às músicas para tornar essa
“água” a mais pura possível, a mais livre de “bactérias”, proporcionando assim,
uma experiência, uma vivência musical de qualidade.
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, Renata Mattos de. Sobre a criação da obra de arte musical e sua
escuta: o que se dá pra ouvir. Cógito, n.9, p. 94 – 99. Outubro, 2008. Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cogito/v9/n9a21.pdf>. Acessado em 30/05/2016
FRANÇA, Cecília Cavalieri; Swanwick, Keith. Composição, Apreciação e
Performance na educação musical: teoria, pesquisa e prática. Em Pauta – v.13 –
n.21
–
dezembro
2002.
Disponível
em
<
https://scholar.google.com.br/citations?user=kHek0pUAAAAJ&hl=pt-PT&oi=sra > acessado em
31/08/2016
GOHN, Daniel. A apreciação musical na era das tecnologias digitais. Disponível
em
<http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2007/educacao_musical/edmus_DGohn.
pdf>. Acessado em 30/05/2016
POPOLIN, Álisson. O que os jovens do ensino médio aprendem de música
através de suas experiências diárias de escuta: Um estudo de caso. Rio de
Janeiro, 2010
SOUZA, Jusamara e TORRES, Maria Cecília de Araújo. Maneiras de ouvir música:
uma questão para a educação musical com jovens. Música na educação básica.
Porto Alegre, v. 1, n. 1, outubro de 2009.
MARONI, Helcio de Lima. DE LIMA, Ailen Rose Balog. Escuta musical e sua importância na educação
musical. INTEGRATIO, v. 1, n. 2, ago. - dez. 2016, p. x-y.
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