- Seminário Concórdia

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I Trimestre -1979
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UMA REVISTA PARA OS ADULTOS
EM CRISTO
IGREJA
LUTERANA
Revista Teológica-Pastoral
da igreja Evangélica Luterana do Brasil
«Uma revista para os adultos em Cristo»
Ano: 39
Número:
1 trimestre de 1979
Q
Assinatura anual:
Cr$ 100,00 para 1979
No exterior:
US$ 9,50
Número avulso: Cr$ 15,00
REDAÇÃO
CENTRAL:
]I
J
Rev. Leopoldo Heimann, Diretor de Publicações
Caixa Postal 202, 93.000 São Leopoldo, RS e
Caixa Postal 3019, 90.000 Porto Alegre, RS,
Fones 92-18-22 e 92-18-23, a quem devem ser
remetidos os manuscritos, cartas, críticas e
sugestões.
CONSELHO
REDATORIAL:
Dr. Johannes Rottmann
Dr. Donaldo Schüler
Rev. Leopoido Heimann
QUADRO
Rev.
Rev.
Rev.
Rev.
DE COLABORADORES:
Hans Horsch
Rudi Zimmer
Acir Raymann
Gerhard Grasel
EXPEDiÇÃO
E ENCOMENDAS:
Concórdia S. A. - Artes Gráficas e Embalagens
a quem devem ser dirigidos os pedidos de assinaturas, bem como os valores correspondentes à
assinatura.
ENDEREÇO:
Qualquer mudança de endereço ou irregularidade
no número de assinaturas da revista devem ser
comunicados à Concórdia S. A. - Artes Gráficas
e Embalagens, Avenida do Forte, 586, Caixa Postal 6150, 90.000, Porto Alegre, RS.
B iBLI
EDITORIAL
CRISTO
APRESENTANDO
Toda a matéria é pensada, analisada
o selecionada.
Consideramos, pois, útil, proveitoso e
importante cada uma das informações,
comentários, meditações, recomendações
e estudos que incluimos nesta primeira
edição de 1979.
Mesmo assim, gostaríamos de destacar, especialmente, três estudos: Batismo
de Crianças um estudo que examina
os principais textos da Sagrada Escritura,
bem como os escritos básicos dos pais
da igreja cristã, que falam sobre o sacramento do batismo, particularmente o
batismo dos infantes; Liturgia: Conteúdo
e Forma numa linguagem dinâmica,
por vezes agressiva e chocante, o autor
faz uma análise profunda e séria sobre
um assunto atualissimo, tema esse que
já mereceu estudos, debates e discussões
em muitas congregações e paróquias,
distritos e conferências, convenções e
seminários;
Os Novos Vendedores de
Indulgências em que o autor, num
tom bastante polêmico, comenta os exageros e perigos dos principais expoentes
da assim chamada "igreja eletrônica".
São estudos que merecem ser analisados
nas congregações, conselhos distritais,
conferências regionais e nos educandários.
Vivendo numa época em que um barato sincretismo religioso procura, cada
vez mais, sacrificar a "sã doutrina" em
favor de "genealogias e fábulas profanas
e de velhinhas caducas", cabe à Igreja
Evangélica Luterana do Brasil, particularmente neste ano de seu 75" aniversário
de fundação, reafirmar o "cremos, ensinamos, confessamos e condenamos" das
Confissões Luteranas, procurando sempre
cumprir com a verdade exposta nas paiavras do lema do ano IEf 4.15):
-
Cresçamos em tudo naquele que
é a cabeça, Cristo I
L.
PARTIDO?
A congregação de Corinto era
uma congregação cristã, consciente, dinâmica.
Paulo chama os congregados de
"santos e santificados
em Cristo
Jesus", e a congregação, de "igreja de Deus em Corinto".
O apóstolo agradece a Deus porque a
igreja cristã de Corinto era rica
"em graça, em palavra, em conhecimento, em testemunho, em esperança, em dons espirituais".
Mas a congregação de Corinto
também era uma congregação de
muitos e grandes problemas.
Apesar da riqueza espiritual e
da fundamentação
doutrinária
da
congregação,
os congregados
viviam em desunidade de propósitos
e em desconformidade
com os
princípios
da ética cristã.
Além
das discussões, divisões e contendas sobre questões de ordem prática e pastoral o matrimônio, a
educação sexual, os sacrifícios,
a
mulher no culto, a celebração da
Santa Ceia, as dádivas de Deus, o
dom de línguas, a ressurreição, o
batismo pelos mortos os cristãos da congregação de Corinto
entraram em choque e em crise
sobre a liderança dos ministros de
Deus, criando partidos rei igiosos
em torno de quatro personalidades:
Paulo, Pedro, Apoio, Cristo. Vejamos mais de perto esta problemática partidária.
-:0:Há alguma divergência entre os
exegetas quanto a origem, número
e características
de cada um dos
partidos.
Não entraremos
neste
debate. Quem são eles?
Eu sou de Paulo! Sabe-se
que a congregação de Corinto era
constituída por cristãos de origem
judaica e gentílica.
É muito provável que os seguidores de Paulo
era formado por um grupo de gentios-cristãos.
Certamente estes integrantes não compreenderam bem
a doutrina da liberdade cristã que
Paulo pregava, e transformaram
a
Iiberdade em licenciosidade.
Esqueceram que eles foram saivos
por Cristo e gozavam da liberdade
não para pecar, mas para deixar
de pecar.
Eu sou de Apoio!
Era um
judeu-cristão
de Alexandria,
"homem eloqüente e poderoso nas Escrituras", a quem Priscila e Aqüila
"tomaram
consigo e, com mais
exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus".
É provável que os
adeptos de Apoio eram alguns intelectuais,
amantes da retórica,
que se preocupavam mais com a
forma do que com o conteúdo da
mensagem cristã, transformando
o
cristianismo numa simples filosofia
de vida em vez de uma religião
que precisa ser vivida "em espírito
e em verdade".
- Eu sou de Pedra! Certamente os partidários
de Pedro eram
alguns judeus com espírito legalista. Não entendendo a mensagem
cristã, acreditavam que o homem,
mesmo como cristão "e nova criatura em Cristo
Jesus",
deveria
continuar observando e praticando
a lei para ser salvo. Faziam confusão entre lei e evangelho, entre
justificação
e santificação, entre a
mensagem do Sinai e do Calvário.
Eu sou de Cristo! É possível que estes partidários de Cris2
to, em seu radicalismo
e até farisaismo, agiam como se Cristo só
pertencesse a eles, como se só eles
fossem "os santos, eleitos e salvos", regeitando os ministros de
Cristo. Poderiam ser os que dizem:
"Eu não preciso de igreja, de pastor, de cultos;
eu tenho Cristo, e
pratico minha fé em casa".
Não
compreenderam
a importância
da
congregação e a doutrina da igreja
cristã.
-:0:Paulo regeita, com muita veemência, este divisionismo
partidário, mostrando
ser prejudicial
à
unidade da igreja cristã e estar em
desacordo
com a revelação
de
Deus. Os ciúmes, as discussões,
as contendas, as divisões, as "simpatias e promoções de ministros"
arruinam as congregação, mutilam
a igreja, massacram a "sã doutrina", destronam o Redentor, prejudicam o progresso do reino de
Deus, e criam fariseus e hipócritas.
Atrás
do partidarismo
religioso
sempre existe o desejo do mando,
o interesse pessoal, a promoção de
sua própria imagem.
Paulo mostra que só "Cristo
Jesus é o fundamento
da igreja
cristã", que só "Cristo Jesus é a
cabeça da igreja cristã",
que o
"evangelho do Cristo crucificado é
o poder de Deus para a salvação
de todo aquele que crê?",
que
"não existe nenhum outro nome,
dado entre os homens, pelo qual
importa que sejamos salvos", que
Jesus "é o nome que está acima
de todo o nome, para que ao nome
de Jesus se dobre todo o joelho,
nos céus, na terra e debaixo da
terra, e toda a língua confesse que
Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai."
E o que são os diáconos, os
apóstolos, os profetas, os evangelistas, os bispos, os pastores, os
mestres?
Paulo responde:
São
servos de Cristo! Nada mais. Uns
podem plantar a boa semente da
palavra, outros podem regar, mas
o crescimento
sempre vem de
Deus!
-:0:Logo, a igreja cristã não conhece um Cristo partido e dividido.
Ninguém pode pregar um CristoPadeiro, um Cristo-Milagreiro,
um
Cristo-Embusteiro.
A igreja cristã
confessa este Cristo:
"Creio que
Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai deste a eternidade, e
também verdadeiro homem, nascido da virgem Maria, é meu Senhor,
que me remiu a mim, homem perdido e condenado, me resgatou e
me salvou de todos os pecados,
da morte e do poder do diabo, não
com ouro ou prata, mas com seu
santo e precioso sangue e com seu
inocente
padecimento
e morte,
para que eu lhe pertença e viva
submisso a ele em seu reino e o
sirva em eterna justiça, inocência
e bem-aventurança, assim como ele
ressurgiu dos mortos, vive e reina
para sempre.
Logo, os cristãos e os mInIStros de Cristo devem saber que
"pela graça de Deus sou o que
sou"; devem meditar sobre as palavras:
"pois quem é que te faz
sobressair? e que tens tu que não
tenhas recebido? e, se o recebeste,
por que te vanglorias, como se o
não tiveras
recebido?";
devem
"revestir-se, como eleitos de Deus,
santos e amados, de ternos afetos
de misericórdia,
de bondade, de
humildade, de mansidão, de longanimidade";
e então "dobrar
os
seus joelhos e confessar o nome
que está acima de todos os nomes
Cristo Jesus".
As festividades dos 75 anos da
Igreja Evangélica Luterana do Brasil
são propícias para se meditar sobre estas verdades. Que o Espírito
Santo nos dê o correto discernimento e nos faça viver as palavras
que formam o lema de aniversário
de nossa igreja:
Cresçamos em tudo naquele
que é a cabeça, Cristo.
L.
3
ESTUDOS
BATISMO
DE
CRIANCAS
Johannes H. Rottmann
NOTA:
Este estudo foi motivado
especialmente
por duas razões:
a)
por um tratado que achamos ser algo
incompleto, do Rev. Jeffrey C. Kinery,
publicado na revista ••Christian News»
Julho 1978 sob o título ••Our
position on Infant Baptism»; b) por
repetidas indagações da parte de pastores e leigos da IELB, que precisam
de subsídios bíblicos para sua polêmica referente ao batismo, especialmente ao batismo infantil com as diversas igrejas batistas e pentecostais
no Brasil.
Adultos vêm ao conhecimento
do
seu Senhor e Salvador Jesus Cristo
e eventualmente
experimentam
sua
conversão pessoal «pela pregação da
fé» (<<Quero apenas saber
isto de
vós: recebestes o Espírito pelas obras
da lei, ou pela pregação da fé?»), GI
3.2. A fonte da fé é a «palavra de
Cristo», como o apóstolo escreve: «E
assim, a fé vem pela pregação e a
pregação pela palavra de Cristo», Rm
10.17.
Tais adultos,
desde
o primeiro
pentecoste
cristão,
foram batizados
depois de, mediante a fé, terem aceito Jesus como seu Salvador.
Exemplos
Lucas nos relata no fim da gloriosa história do primeiro pentecoste:
4
Então os que ''1e "ceitaram
a palavra foram
Da:,zaCJ8s' havendo
um
acréscimo "acue'e
jia de quase três
mil pessoas,·
.~t 2.41. A história da
conversão d::;s primeiros pagãos (Cornélio e sua ;e'lte em Cesaréia) teve
o desiecr'o
seguinte:
«Ainda Pedro
faiava estas coisas quando
caiu o
ES:J:-tc Santo sobre todos os que oua~ 3 palavra ...
Então perguntou
;)8d-O:
Porventura
pode alguém recusar a água, para que não sejam
batizados (não devemos esquecer que
antes disso era absolutamente
inconcebível um judeu ou um pagão ser
aceito no meio do povo de Deus sem
ser circuncidado)
estes que, assim
como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados
em nome de Jesus Cristo», At 10.4448. Dos primeiros cristãos da Europa,
ganhos para Cristo, pela obra missionária de Paulo é dito o seguinte:
(Lucas relata) "Certa mulher chamada
Lídia, da cidade de Tiatira ... nos escutava (a Paulo, Si Ias, Lucas e possivelmente
também Timóteo,
At 16.
1ss.); o Senhor lhe abriu o coração
para atender
às cousas que Paulo
dizia. Depois de ser batizada, ela e
toda a sua casa, nos rogou, dizendo:
Se julgais que eu sou fiel ao Senhor,
entrai em minha casa, e aí ficai», At
16.14,15. O mesmo aconteceu com o
carcereiro
de Filipos, conforme
nos
conta Lucas: " ... o carcereiro ... depois, trazendo-os (Paulo e Silas) para
fora, disse:
Senhores,
que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus, e serás
salvo, tu e tua casa. E lhe pregaram
a palavra de Deus, e a todos os de
sua casa. Naquela
mesma hora da
noite, cuidando
deles, lavou-Ihes
os
vergões dos açoites. A seguir foi ele
batizado, e todos os seus», At 16.1733
Foi também o que ocorreu
em
Corinto com Crispo,
o principal
da
sinagoga, e com outros, como Lucas
relata:
«Mas Crispo,
o principal
da
sinagoga, creu no Senhor, com toda
a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados», At 18.8. Neste sentido devemos ler e compreender
aquela história maravilhosa que nos é relatada do
Ministro
da Fazenda da rainha Candace de Etiópia, um eunuco, a quem
o evangelista
Filipe «encontrou»
no
deserto,
lendo no livro do profeta
Isaías as profecias
a respeito
do
«Cordeiro».
Tendo sido rogado pelo
eunuco, que não entendia de quem e
de que o profeta
falava:
«Peço-te
que me expliques a quem se refere
o profeta? Filipe (o) explicou e, começando por esta passagem
da Escl'itura, anunciou-lhe
a Jesus», At 8.
34,35. Evidentemente
Filipe, em suas
interpretações
dos textos
bíblicos,
também falou do batismo, explicando
seu sentido, seu proveito, seu valor,
pois quando
os dois chegaram
«a
certo lugar onde havia água, disse o
eunuco:
Eis aqui água, que impede
que seja eu batizado?» (v. 36). Infe-
5
lizmente não sabemos qual foi a resposta de Filipe, pois o que em nossas
versões está relatado no v. 37, não
existe no original (por isso o texto na
Almeida Revisada foi posto em colchetes e a Bíblia na Linguagem
de
Hoje elimina, com razão, o versículo
inteiro)
(1). Porém Lucas nos conta
o que aconteceu
naquele oásis no
meio do deserto:
«Então (o eunuco)
mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco"
(v. 38).
Temos, portanto, evidência bibi:ca
de que, no caso do batismo de adultos, estes foram instruidos
antes
de serem batizados e que eles. de
uma ou outra maneira, coníessaram
sua fé em Jesus como seu Salvador
antes do ato batismal.
Com crianças, a modalidade
tornarem filhos de Deus era e
de se
dife-
é
rente. Todas as igrejas tradicionais
levam crianças a Cristo por meio do
batismo.
Somente aquelas igrejas e
seitas que têm suas origens no movimento anabatista do século XVI, ou
movimento
posteriores
semelhantes,
negam
às crianças
este
meio da
graç8.
As confissões da igreja
luterana
são bem claras e explícitas neste sentido e convém nos lembrarmos destas
declarações, especialmente
quando há
incertezas
a respeito do batismo de
crianças:
A Confissão de Augsburgo, confissão fundamental
da igreja luterana,
ensina: «Do batismo se ensina ... que
também se devem batizar as crianças,
as quais, pelo batismo, são entregues
a Deus e a ele se tornam agradáveis.
Por essa razão se rejeitam os anabatstes, os quais ensinam que o batiso 'nfanti! não é verdadeiro»
(CA IX.
A Apologia da Confissão de Augsburgo é igualmente clara ao afirmar:
«Em segundo lugar, é manifesto que
Deus aprova o batismo dos pequeninos. Logo, julgam impiamente os anabatistas, que condenam o batismo dos
pequeninos.
Que Deus,
entretanto,
aprova
o batismo
dos pequeninos,
demonstra-se
com o fato de ele dar
o Espírito Santo aos assim batizados.
Fosse nulo esse batismo, e a nenhum
seria dado o Espírito Santo, nenhum
se salvaria, não haveria, enfim, igreja.
Esta só razão já pode confirmar suficientemente
corações
bons e piedosos contra as opiniões impias e fanáticas
dos
anabatistas"
(Apol.
IX,
3). (2)
Para o batismo
de crianças
as
igrejas tradicionais
têm provas claras
e suficientemente
fortes,
tanto
da
própria Bíblia como da história.
As
razões que podemos enumerar para a
nossa praxe do batismo infantil são
principalmente
as seguintes:
1. A Necessidade do Batismo
Crianças depois da queda do
homem em pecado - nascem pecadoras.
Elas necessitam,
portanto,
do
renascimento:
«O que é nascido da
carne é came ... ", Jo 3.6. «Carne"
significa,
nesta e em muitas outras
passagens,
a natureza corrompida
e
pecaminosa do homem pecador, aquela natureza com a qual ele agora já
nasce. Basta apontarmos às seguintes
passagens biblicas:
Gn 5.3:
"Viveu
Adão cento e trinta
anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe
chamou Sete."
(Antes é constatado:
«No dia em que Deus criou o homem,
à sern3lhança de Deus o fez; homem
e mulher os criou", v. 1,2. Essa S8-
llelhança
de Deus, o homem a perdeu por ocasião da queda em pecado.)
Depois da divina catástrofe do diiúvio, quando Deus resolvera que doravante não mais destruiria a humanidade, ele mesmo afirmou:
Gn 8.21: «Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem,
pois é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade ... » (tradução mais certa seria «desde a sua
infância,,; a calamidade do homem já
começa com o seu nascimento, nessa
terra contaminada
pelo pecado).
Sim, o estado da pecaminosidade
do homem já começa até antes do
seu próprio nascimento,
como claramente confessa o salmista:
SI 51.5: «Eu nasci na iniqüidade,
e em pecado
me concebeu
minha
mãe» (<<O salmo não alude a qualquer
ato adulteroso
da parte da mãe ...
Simplesmente
refere à descendência
de pais pecadores, à pecaminosidade
inata, a qual junto com sua culpa e
sua condenação
é transmitida
pelos
pais aos filhos mediante a procriação
natural, de modo que são contaminados já desde seu nascimento», Langej
Schah sobre o texto).
°
Antigo
de passagens
nosidade,
a
não só da
sim, também
tes exemplos
Testamento está repleto
que mostram a pecamiculpa e a condenação,
humanidade
adulta mas,
das crianças. Os seguinsão suficientes:
SI 58.3:
«Desviam-se
os impios
desde a sua concepção;
nascem e já
se desencaminham,
proferindo
mentiI'as.» Que isto não se refere somente aos «ímpios» mas sim, a todos os
homens, mostram as seguintes
passagens:
Jó 15.14: «Que é o homem, para
que seja puro? e o que nasce de
"T'1ulher. para ser justo?»
Jó 25.4:
"Como, pois, seria Justo
o homem perante Deus, e como seria
puro aquele que nasce de mulher?
A depravação total de toda a humanidade
é constatada
em Ec 7.20:
«Não há homem justo sobre a terra,
que faça o bem e que não peque»,
o que é repetido, confirmado e exposto mais detalhadamente
por Paulo, em
«Como
está
escrito:
Rm 3.10-12:
Não há justo, nem sequer um, não
há quem entenda, não há quem busque a Deus;
todos se extraviaram,
à uma se fizeram inúteis;
não há
quem faça o bem, não há nem um
« •.•
não há
sequer.»
Rm 3.22,23:
distinção,
pois todos pecaram e carecem da glória de Deus» (<<glória»
no sentido de serem reconhecidos
da
parte de Deus como justos).
Há muitos outros textos
neo-tes-
tamentários
que falam da pecaminosidade de toda a humanidade, incluindo
quinto
capitulo
da
as crianças.
carta de Paulo aos romanos, especialmente, nos ensina este fato:
°
Rm 5.12: «Assim como por um só
homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado a morte, assim também
a morte passou a todos os homens
porque todos pecaram.»
A experiência nos ensina que também crianças
e muitas delas morrem.
Isto
nos prova plenamente que é por causa
do pecado que elas morrem, mesmo
se ao nosso ver, ainda não podiam
cometer qualquer ato pecaminoso.
E
é pecado hereditário que também corrompeu a natureza das crianças, pois
também para elas vale que «o salário
do pecado é a morte», Rm 6.23.
E é no fim deste capítulo cinco
que ambos os lados da existência
humana, neste mundo do pecado, vêm
à tona com clareza cristalina e
nenhuma das criaturas humanas fica
7
excluída destas palavras divinamente
inspiradas:
Rm 5.18-19: "Pais assim como por
uma só ofensa veio o juizo sobre
todos os homens para condenação,
assim também por um só ato de justiça (a morte do Filho de Deus na
cruz) veio a graça sobre todos os
homens para a justificação
que dá
vida.
Porque, como pela desobediência
de um só homem os muitos (isto é,
a multidão de todos os homens) se
tornaram
pecadores,
assim também
por meio da obediência de um só os
muitos foram declarados
justos.
(Foi
um ato jurídico de Deus que declarou
justos
os homens
pecadores
pela
morte vicária de Cristo - apesar de,
infelizmente,
a grande
maioria
não
aceitar a declaração
de Deus, não
crendo).
A base de tais provas biblicas,
Confissões
luteranas
condenam
as
as
seguintes heresias:
«... que perante
Deus infantes não batizados não são
pecadores, mas justos e inocentes, os
quais em sua inocência, porque ainda
não alcançaram
o uso da razão, se
salvam sem o batismo (o qual, de
acordo com o que alegam, eles desnecessitam).
Rejeitam, desta maneira,
toda a doutrina do pecado original e
o que a ele pertence.
Que só devem
batizar as crianças
quando tiverem
alcançado o uso da razão e puderem
confessar
pessoalmente
sua fé. Que
os filhos dos cristãos, por isso que
nasceram de pais cristãos e crentes,
são santos e filhos de Deus mesmo
sem o batismo e antes dele. Por essa
razão também não têm o batismo infantil em alta consideração,
nem lhe
encorajam
a prática,
contrariamente
às expressas
palavras da promessa
de Deus, que se estende
apenas
8
àqueles que lhe guardam a aliança e
não a desprezam.
Gn 17.» (Fórmula
de Concórdia,
Epitome XII, 4-6). (2).
Sem dúvida, está de acordo com
a palavra de Deus o que diz um velho provérbio:
Uma criança não precisa ser educada para o mal mas, sim,
para o beml
2. A ordem
de fazer
Discípulos
Nos recenseamentos
da antigüidade, como ainda nos de hoje, as crianças são incluídas no número dos habitantes
de um povo.
Se alguns,
porém,
querem
argumentar
que as
crianças não são mencionadas especificamente
na ordem final dada por
Jesus, podemos
então,
contra-argumentar: também adultos não são esÉ oporpecificamente
mencionados.
tuno que, neste momento, estudemos
uma vez mais o texto inspirado, em
que a ordem de batizar é implícita:
Mt 28.18-20: (a tradução segue o
texto original tão perto quanto possível) «Jesus, falou-Ihes, dizendo:
Toda
a autoridade
me foi dada no céu e
na terra.
Portanto.
tendo ido, (não temos o imperativo
de "ir» no texto original, mas sim o
particípio do aoristo;
o imperativo de
ir já está inerente no seu chamado
de embaixadores,
de apóstolos,
de
mensageiros,
Mt 10.1ss.)
discipulai (aqui, sim, temos o imperao verbo
tivo:
fazei discípulos I grego é «mathetéuo»: fazer de alguém
um «mathetês», um seguidor, um discípulo. A ordem dada aos apóstolos
foi, pois, não a de ir, mas a de fazer
discípulos.
Pergunta-se como este imperativo de fazer discípulos pode ser
executado e qual o campo de ação.
A segunda pergunta é respondida em
primeiro lugar):
todas as nações
admissível
limitar
(certamente
este termo
não
só
é
a
uma parte das nações, isto é, a adultos, como nos recenseamentos
e na
constatação
de número de habitantes
incluem,
incontestavelmente,
também
as crianças o número dos habitantes do Brasil seria diminuído por
uns 20% se fossem descontadas
as
crianças até 6 anos de idade! O objeto,
portanto,
da ordem
de fazer
discípulos
são todos os que pertencem às nações, aos povos). - É necessário, nesta altura, chamar atenção
a um grave erro de tradução na primeira e segunda edição da "Bíblia na
Linguagem de Hoje», que nesta passagem diz assim:
"Portanto,
vão a
todos os povos e façam que todos
sejam meus discípulos:
batizem esses discípulos ... ".
O grave
erro
está ra insinuação
de que os que
deviam ser batizados já seriam discípulos a r; t e s do batismo. É evidente que desta ITaneira o batismo perde
completamerte
o seu caráter de meio
da graça.
FezITente.
em definitivo,
Ao conisto não é cito oor C:isto.
trário,
com mGita c's-eza
Jesus diz
como seus apóstolos
devem e podem fazer discípulos ce todas as nações.
Ele menciona
duas ~oda!idades, ambas no mesmo nível t3r,tc no
valor como no tempo: batizando-os ...,
ensinando-os
(temos aqui dois verbos
no particípio;
e estes particípios
só
podem ser tomados como particípios
de modalidade.
E, visto que «baptízontes» batizando - e «didáskontes» ensinando são iguais em
todos
os sentidos
gramaticais,
não
pode ser criada
qualquer
diferença
entre eles, seja diferença temporal ou
aciona!. Se fosse possível fazer uma
diferença
entre
os dois particípios
então, por certo, o batizar
deveria
e
preceder o ensinar. É significativo,
até estranhável
por causa da importância de suas fontes que dois dos
mais
importantes
manuscritos
que
possuímos (B - Vaticanus - e O Bezae Cantabrigiensis)
têm no primeiro dos particípios
a forma
do
aoristo, isto é, «baptísantes»,
o que
colocaria,
definitivamente,
o batizar
a n t e s do ensinar:
"tendo os batizado ... os ensinando».
Achamos, no
entanto. que apesar da importância
dos dois textos, o texto original
é
aquele que serve por base da nossa
tradução, que colocou os dois particípios no mesmo nível, indicando que
existem, de acordo com a ordem de
Cristo, duas modalidades
de discipular as nações:
batizando-os
e ensinando-os!
Que a Almeida
Revisada
9
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emprega o masculino «os», apesar de
«todas as nações» ser feminino, está
de acordo com o grego original que,
para o neutro, «ta étlme» as nações - tem o pronome reflexivo masculino «autóus».
Não há, portanto,
nada a reclamar
contra a tradução
da Almeida
Revisada
neste ponto.
Batizando-os
em nome (eis to onómati) do Pai e do Filho e do Espírito
Santo. Eis aí uma das duas modalidades de discipular,
de fazer discípulos, uma de duas!
Ora, é sem dúvida, notável que em
todo o Novo Testamento não se acha
texto algum em que a fórmula trinitária rosse usada. As passagens que
nos falam do batismo e da fórmula
usada são as seguintes:
At 2.38: (diz Pedro) ",
cada um
de vós seja batizado em nome (epí tô
onómati) de Jesus Cristo,
."
At 10.48: (Pedro em Cesaréia na
«,
ordenou que
casa de Cornélio)
fossem
batizados
em nome (en tô
onómati) de Jesus Cristo.
At 16.15 e 33 rala-se simplesmente
do batismo em Filipos sem menc:onar uma fórmula.
At 18.8 fala-se
do batismo
de
Crispo e de outros que Creram
,ono
Senhor», mas não se menciona uma
fórmula.
At 19.1ss temos a história daqueles discípulos de João Batista que foram batizados
«no batismo de kão»,
fato este que evidentemente
não Ihes
dava sossego completo, visto que naquela época ainda não conheciam toda a história da redenção, até a ressurreição
de Cristo e que, portanto,
afim de terem certeza da validade de
seu batismo, «foram batiza dos em o
nome (eis to ónoma) do Senhor Jesus». (Esse incidente não diz que o
batismo de João não teve validade;
teve validade,
sem dúvida,
pois o
10
próprio
Cristo se deixou batizar por
João. Tratava-se,
em Éfeso, de um
caso em que precisava ser posto fora
de qualquer dúvida o estado destes
neófitos no cristianismo).
Rm 6.3: « ... todos os que fomos
batizados em Cristo Jesus (eis) fomos
batiza dos na sua morte.»
1 Co 1.1355: o apóstolo argumenta
contra os grupos e divisões
que se
criaram em Corinto ao redor de nomes; nesta argumentação
chega ao
ponto de apontar para o batismo como sendo o fundamento
de tal dependência:
« ... foi Paulo crucificado
em favor de vós, ou fostes, porventura,
batizados em nome de Paulo?» O argumento visa apontar para o absurdo
destes grupos dentro de uma congregação cristã; é evidente que cristãos
não foram batizados em nome (eis to
ónoma) de qualquer um dos ministros
de Cristo mas, sim, em nome do próprio Senhor Jesus.
GI 3.26,27: «Todos vós sois filhos
de Deus mediante
a fé em Cristo
Jesus: porque todos quantos fostes
batizados em Cristo (eís), de Cristo
vos revestistes.»
Portanto, nota-se que o batismo,
em nenhum caso, foi expressamente
feito «em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo».
Não é possível
darmos as razões para tal procedimento;
mas também
não podemos
negar que, aparentemente,
não havia
unanimidade
na fórmula
batismal nem na primeira
cristã.
Os textos
mostram
geração da igreja
dados acima nos
as seguintes
«em (epí)
diferenças.
nome
de Jesus
Cristo»
nome
de Jesus
Cristo»
At 2.38;
«em (en)
At 10.48;
«em o nome (eis) do Senhor Jesus»
At 19.1ss.;
-,sto se deixou batlza- por
ava-se, em Éfeso, de um
ue precisava ser posto fora
0;dúvida o estado destes
) cristianismo).
«em (eis) nome de Cristo Jesus»
Rm 6.3;
«em (eis) Cristo» GI 3.27.
Evidentemente,
havia certa liberdade no uso da fórmula.
O batismo
« . " todos os que fomos
0;'11 Cristo
Jesus (eis) fomos
'ia sua morte.»
como tal, porém, ficou aquele batismo
que Jesus instituiu
como uma das
modalidades
de discipular
os indivíduos nas nações. Este batismo foi um
batismo no Deus Triúno, porque não
haveria
um «Senhor
Jesus Cristo»
1355: o apóstolo
argumenta
grupos e divisões
que se
~ Corinto ao redor de noa argumentação
chega ao
;pontar para o batismo coa fundamento
de tal de" ... foi Paulo crucificado
e vós, ou fostes, porventura,
0'11 nome de Paulo?»
O ar'sa apontar para o absurdo
DOS dentro
de uma congre:ã; é evidente que cristãos
batizados em nome (eis to
qualquer um dos ministros
ilas, sim, em nome do próJ, Jesus.
,27: "Todos vós sais
mediante a fé em
-que todos quantos
em Cristo (eis), de
:stes.»
filhos
Cristo
tostes
Cristo
), nota-se que o batismo,
" caso, foi expressamente
'lome do Pai e do Filho e
) Santo».
Não é possível
razões para tal procedias também não podemos
aparentemente,
não havia
e na fórmula batismal "imeira
geração da igreja
textos dados acima nos
3 seguintes
diferenças,
01) nome de Jesus C;istc"
sem o Pai que o mandou e sem o
Espírito Santo que ensina a reconhecer Jesus como Senhor.
Neste sentido,
desde o primeiro
pentecoste cristão até o dia de hoje,
o batismo
é uma dádiva do Deus
Triúno.
No batismo
o próprio
se dá a nós: o Pai se torna
Pai e nos aceita como seus
Deus
nosso
filhos
(GI 3.16-27; Jo 1.12,13; 1 Jo 3.1); o
Filho torna-se nosso Redentor, obedecendo ao eterno plano da salvação
somos batizados, purificados
"por
meio da lavagem de água pela palavra» (Ef 5.26) e somos unidos com
ele na sua morte, pois «fomos sepultados com ele na morte pelo batismo»
(Rm 6.4); desta maneira fomos «revestidos
de Cristo» (GI 3.27), «batizados em um corpo» (1 Co 12.13),
somos todos membros de um corpo,
seu corpo, sua igreja (Ef 1.23); sua
justiça é nosso vestido de glória (Is
61.10; Mt22.11);
o Espírito Santo
torna-se, neste estado de batizados,
o nosso Consolador,
pedido pelo Filho, mandado pelo Pai em nome do
Filho (Jo 14.16,26) e enviado por Cristo
«da parte do Pai» (Jo 15.26), que «é
Espírito da verdade» e de quem o
corpo dos batizados «é santuário» (1
°
Co 6.19).
n) nome
de Jesus
(>~_.-
ome (eis) do Se"''':- .
S8, ;
Nessas
fórmulas
batismais
também
a diferença
das preposições
não fazem diferença no sentido.
São três
as preposições:
«eis", «en" e «epí».
Assim como uma criança, ao nascer
e ser registrada,
recebe o nome do
seu pai, assim a criatura humana, ao
renascer - seja por meio de batismo,
seja por meio do aceitar conscientemente a mensagem da fé é, por
assim dizer, registrada como filho de
Deus, membro
da família de Deus.
«eis» Pelo batismo é recebida para dentro da família de Deus, recebendo o nome de Cristo. Visto que
o próprio Cristo ordenou
o batismo
como uma modalidade de fazer discípulos, este é feito em seu nome (<<en»)
à sua incumbência;
e em obediência
e isto novamente é feito assim como
o foi na ocasião do primeiro pentecoste, com o uso do nome (<<epí») de
Jesus Cristo.
Que glorioso privilégio
é esse que temos, pois tamqém podemos usar este meio da graça para
os nossos filhos!
Desta maneira os
nossos
filhos
(<<carne, nascida
de
carne») tornam-se filhos de Deus conosco e com todos que aceitam essa
graça.
3. A Promessa
Batismo
da Salvação
pelo
A promessa da salvação pelo batismo também é dada expressamente
às crianças.
Assim
Pedra, falando
àquela multidão que participou do início da missão mundial da igreja cristã
no primeiro pentecoste,
diz:
«Arrependei-vos,.
e cada um de
vós seja batizado em nome de Jesus
Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito
Santo. Pois para vós é a promessa,
para vossos filhos, e para todos os
que ainda estão longe, isto é, para
quantos o Senhor nosso Deus chamar», At 2.38,39.
A palavra grega usada neste texto
para "filhos» é «téknos»; é o termo
11
mais amplo e genenco para «filhos»;
não determina a idade. No momento
do nascimento, uma criatura humana
é «téknon» do seu pai e de sua mãe.
A Escritura desconhece uma limitação
da promessa da salvação pelo batismo
a adultos ou a crianças de uma idade
mais avançada. Para o termo d,
ainda Lc 1.17; 3.8; At 17.28,19, (Para
pesquisa mais profunda recomendamos Walter Bauer: W6rterbuch zum
Neuen Testament; Arndt/Gingrich: A
Greek-English Lexicon of the New
Testament; especialmente o parágrafo
«téknon» no artigo «páis» de A. Oepke
em Theologisches W6rterbuch zum
Neuen Testament Kittel, Vol. V).
4. Batismo e Circuncisão
o apóstolo Paulo compara o sacramento do batismo com a circuncisão. Circuncisão foi o sacramento
vetero-testamentário que levou crianças - meninos de 8 dias de idade para dentro da aliança entre Deus e
seu povo. Paulo, na sua discussão
com os legalistas judaizantes da Galácia, afirma que o relacionamento,
confirmado pela aliança entre Deus e
Abraão, não foi uma aliança à base
da lei, mas uma aliança à base da
graça, mediante a fé aceita: «Abraão
creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça não sua obra,
portanto. - Sabei, pois, que os da
fé é que são filhos de Abraão. Ora,
tendo a Escritura previsto que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanunciou a Boa Nova a Abraão: Em
ti serão abençoados todos os povos»,
GI 3,6-8. De acordo com Gn 17.9-14
texto que nos relata a instituição
da circuncisão - isto seria o «sinal
de aliança entre mim (Deus) e vós»
(Abraão e sua descendência). Esse
sacramento da circuncisão deveria
12
constar no seguinte:
«todo macho
entre vós será circuncidado»; e tal
aliança, que Deus chama de «minha
aliança», valeria tanto para Abraão
como para «a tua descendência no
decurso das suas gerações». O apóstolo Paulo novamente esclarece a
interligação desta antiga aliança com
a nova aiiança, centralizada em Cristo,
escrevendo aos colossenses:
«Em
união com ele (Cristo) vocês foram
circuncidados, não com a circuncisão
que é feita pelos homens, mas com
a circuncisão do próprio Cristo, que
é a libertação do poder do corpo pecador. Porque quando vocês foram batizados, foram enterrados em Cristo,
No batismo, vocês foram também ressuscitados com ele, por meio da fé
que têm no grande poder de Deus,
o mesmo Deus que ressuscitou
Cristo», CI 2.11,12 (Tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje). Que
este sacramento da nova aliança não
foi mais limitado somente às crianças
de sexo masculino fica evidente de
GI 3.28,29: «Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo
nem liberto; nem homem nem mulhel';
porque todos vós sois u m em Cristo
Jesus. E, se sois de Cristo, também
sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa.»
Na nova aliança, qualquer homem
só podia ser recebido «pela circuncisão do coração»; só por tal «circuncisão» alguém tornou-se um israelita verdadeiro, um verdadeiro descendente de Abraão: «Porque não é
judeu (verdadeiro membro do povo
de Deus) que é circuncidado somente
na carne. Porém judeu (verdadeiro) é
aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo
louvor não procede dos homens mas
de Deus", Rm 2.28,29.
Circuncisão,
como sinal de pertencer ao povo de Deus da antiga aliança, foi ordenada (Lv 12.3) e a desobediência a essa ordem foi considerada um pecado tão grave que Deus
o castigava com a morte (cf. Ex 4.2326). A não-circuncisão
dos meninos
no povo seria um apróbrio
para o
povo inteiro (Js 5.2-9). Porém já na
antiga aliança uma mera circuncisão
na carne não bastava;
Deus exigiu
também, como prova do seu arrependimento, a «circuncisão
do coração»
(Dt 10.16) e diz que tal «circuncisão»
não é feita por homens mas pelo próprio Deus: "O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração
de tua descendência,
para amares ao
Senhor teu Deus de todo o coração
e de toda a tua alma, para que vivas»,
Dt 30.6. Como um éco destas palavras tão antigas, o apóstolo
Paulo,
milhares de anos depois, escreve aos
colossenses:
«Nele (em Cristo) também fostes circuncidados,
não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a
circuncisão
de Cristo, tendo sido sepultados juntamente
com ele no batismo ... , CI 2.12.»
5. Batismo como Meio de Santificação
de toda a Igreja
Paulo
escreve
aos
efésios:
«
Cristo amou a igreja, e a si mesmo
se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado
por meio
da lavagem de água pela palavra»,
Ef 5.25,26. t: evidente
que também
crianças pertencem à igreja, e assim'
também
elas são purificadas
«por
meio da lavagem de água pela palavra», isto é, pelo batismo que combina
os dois elementos:
a água e a palavra.
6. Batismo
Testamentária
não
é
Invenção
Neo-
Mestres e rabis judeus falam de
batismos no Antigo Testamento.
Assim, por exemplo, testifica
Maimônides (3): «O povo de Israel entrou na
aliança
mediante
três observações:
pela circuncisão, pelo batismo e pelos
sacrifícios.
A circuncisão
já existia
no exílio do povo no Egito, pois está
escrito:
'Incircunciso
nenhum
dele
comerá' (alusão ao pão não fermentado, usado no êxodo pelos israelitas).
Batismo
foi introduzido
no deserto,
exatamente antes da promulgação
da
lei, como está escrito:
'Santifica-os
todos hoje e amanhã, e mando-os a
lavarem seus vestidos'
(o lavar dos
vestidos foi considerado
como lavagem do corpo inteiro).
'Os sacrifícios
estão descritos em Ex 24,5',»
No Novo Testamento
também lemos dos «baptismôn didachês», do
ensino de batismos dos judeus (Hb
6.2) e de «ordenanças
da carne ...
e diversas abluçães» (baptismóis), Hb
9,10. Algumas destas «abluçães» ou
batismos
incluíram uma lavagem ou
um aspergir
com água ou sangue:
Arão e seus filhos à porta da tenda
«lavarás com água», Ex 29.4; «tomarás então do sangue sobre o altar ...
e o espargirás
sobre Arão e suas
vestes, e sobre seus filhos e as vestes de seus filhos com ele; para que
ele seja santificado ... », Ex 29.21; sobre o leproso
curado
com sangue
«espargirás
sete vezes»;
o que se
deve
purificar
«banhar-se-á
com
água» e ao sétimo dia mais uma vez
«lavará as suas vestes,
banhará
o
corpo», Lv 14.7-9; cf. ainda Lv 16.1419; Nm 19.7, 13-21; Ez 36.25.
t: evidente que tais batismos e havia ainda muito mais do que os
mencionados
não foram batismos
13
I
cristãos;
também
não sabemos
se
aqueles batismos, aos quais Maimônides se refere, foram de instituição
divina ou não. Sabemos,
isto sim,
que os fariseus
na época de Jesus
chamavam suas lavagens cerimoniais
(a mesma palavra para estas lavagens
é usada como para o batizar de João
Batista e de Cristo, a saber «baptízein») de batismos:
eles «não comem
sem lavar cuidadosamente
as mãos;
quando voltam da praça, não comem
sem se aspergirem (<<baptízein»)j e há
muitas outras coisas que receberam
para
observar,
como
a
lavagem
(<<baptismós») de copos, jarros e vasos de metal. .. », Me 7.3,4; Lc 11.39.
O que queremos
demonstrar
com
essas referências
é o fato de que
estes «batismos»
foram conhecidos
pelos judeus
e praticados
não só
com adultos, mas também com crianças, porque também elas precisavam
ser «purificadas».
Diante deste fato,
pois, não se compreenderia
que Cristo
tivesse excluído as crianças do seu
batismo, sem que esta excessão fosse
expressamente
mencionada.
7. Batismo
de
Prosélitos
Autoridades
teológicas
judaicas
afirmam que, quando um pagão se
convertia para a religião de Jeová, ele
era batizado com seus filhos.
Assim
se constata nos «Gemara» do Talmude
Babilônico
(4): «Se os filhos e as filhas forem convertidos
com um prosélito, então eles receberão o mesmo
tratamento ..
Numa
tal conversão
exige-se que estes prosélitos
sejam
batizados,
mesmo na sua infância.»
Os preceitos,
tanto do Talmude
de
Jerusalém como no Babilônico,
falam
de prosélitos
que deveriam ser batizados com menos de três anos de
idade.
14
Maimônides(cf.
3) é ainda mais
explícito
quando,
nas suas interpretações destas tradições, escreve:
«O
gentio que se torna um prosélito (convertido para o judaismo) como o escravo que foi libertado, eis que são
como crianças,
nascidas
de novo.»
Este «nascer de novo» (o re-nascimento) se concretizou,
segundo Maimônides, no seu batismo:
«O israelita que adota uma pequena criança
pagã, ou a achar abandonada,
e a
manda batizar, como isto fazdeia
uma prosélita» (convertida),
De novo deve ser mencionado que,
naturalmente,
não se trata de um batismo cristão. O ponto que queremos
destacar é que o batismo de crianças
não era uma coisa desconhecida
na
época de Cristo, praticado pelo povo
de Israel. Teria sido uma exceção se
Jesus tivesse limitado o seu batismo
apenas a adultos.
exílio:
«Assirr,. :::-: '::,
Israel. " cerce ::':' "':':: ~
pé, somente de -:: -:: ' -'
mulheres e Cria-;::",
"
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seguintes
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-=
8. O Tipo Vetero-Testamentário
Batismo
do
Num
texto
algo
enigmátioo,
o
apóstolo
Paulo fala de um tipo mui
significativo
do batismo
no Antigo
Testamento.
Em 1 Co 10.1,2 Paulo
escreve:
«Ora, irmãos,
não quero
que ignoreis que nossos pais estIveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo todos sido oatizados,
assim na nuvem como no
mar, com respeito a Moisés», aorescentando no v. 6: «Ora, estas oousas
se tornaram exemplos para nós.» Notemos nessa passagem, em primeiro
I.ugar, que nos primeiros
versíoulos
deste capitulo, o apóstolo destaca três
vezes que todos os membros do povo de Deus passaram por essa experiência.
A base histórica da afirmação do apóstolo temos em Ex 12.37,
onde se fala da salda do povo do
9. Não Ex:iste - e 'C'::
Exclui Criancas
3
=-=~
c·c
Muitos c::;.,,' _ -..o.: :>õ
abolidos p22 ; 2
=~
Se també,.,-:: ::::=:-: :=.
se abolido :: _ : - o
~
desaconse - 2, e :: -:2:: :,.
um texto :: _~ Novo Te5:2-=-::
_,_~,
=-
Ao contra-:::
.
- ~ '.,.':&
i;
--
-
~-.
.., ...•...
'"'-
0·~·"""
. .-.
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:=-:,..~~:zou~ seg'....;~:::-: ~:=Ga.tismo:
~O S:2~
: ::=j
:." ~"'~a pequena cnançe.
~ ~:::-ar abandonada, e a
=:,,- como isto faz dela
a (convertida).
: :2ie ser mencionado que,
:2 "',ão se trata de um ba!: =
O ponto que queremos
:~e o batismo de crianças
-:' coisa desconhecida na
:: 'sto, praticado pelo povo
- er'a sido uma exceção se
se limitado o seu batismo
acu'tos.
PO
Vetero-Testamentário do
exto algo enigmático, o
:auio fala de um tipo mui
do batismo no Antigo
Em 1 Co 10.1,2 Paulo
. Ora, irmãos, não quero
. s que nossos pais estivesob a nuvem, e todos pasmar, tendo todos sido bassim na nuvem como no
respeito a Moisés», acres'0 v. 6: «Ora, estas cousas
'i exemplos para nós.» Nosa passagem, em primeiro
nos primeiros versículos
:ulo, o apóstolo destaca três
todos os membros do pos passaram por essa expebase histórica da afirma:óstolo temos em Ex 12.37,
;ala da saída do povo do
exílio: «Assim, partiram os filhos de
lsrae! .. , cerca de seiscentos mil a
pé, somente de homens, sem contar
mulheres e crianças», e nas histórias
seguintes que falam da libertação
final dos israelitas ao atravessar o
Mar Vermelho e a consequente destruição dos seus inimigos nas águas
do Mar Vermelho.
Notemos ainda aquela frase algo
enigmática na tradução: «tendo todos
sido batizados ...
com respeito a
Moisés». É evidente que não se pode
tratar de um batismo «em nome de
Moisés», assim como nós o temos
no Novo Testamento «em nome de
Jesus Cristo».
que significava este
batismo simbólico de todos os membros do povo de Deus (notem: também
crianças!) foi que por ele os israelitas foram unidos com Moisés, o representante de Deus e o mediador do
Antigo Testamento, em quem o Mediador do Novo Testamento, Jesus
Cristo, foi prefigurado (Dt 18.18). A
libertação da escravidão no Egito por
Moisés, simbolizado por este batismo
pela nuvem e pelo mar, é também típica de nossa libertação da escravidão do pecado e da morte por Cristo,
aplicada a todos os filhos de Deus
por meio do batismo. Eis o significado deste tipo e símbolo do batismo
no Antigo Testamento, que certamente
incluiu as crianças do povo!
°
>
9. Não Existe Texto na Bíblia que
Exclui Crianças do Batismo
Muitos costumes dos judeus foram
abolidos pela igreja neotestamentária.
Se também o batismo de crianças fosse abolido ou considerado iníqüo ou
desaconselhável, então deveríamos ter
um texto que nos indicasse isto no
Novo Testamento. Isto não acontece.
Ao contrário, os textos do Novo Tes-
tamento que, de uma ou outra maneira, falam do batismo, indicam dentro do contexto histórico e textual,
que as crianças foram, como algo
natural, incluídas nas cerimônias batismais.
É verdade, não temos :uma ordem
direta: Batizem crianças! Porém a
prática do batismo infantil se baseia
firmemente na dedução lógica e necessária daquelas palavras da Escritura nas quais, é ensinado, plenamente, que a humanidade inteira, inclusive
as crianças do momento de seu nascimento, é corrompida pelo pecado e
perdida e que, portanto, precisa de
um Salvador suficiente e divino e que
o batismo é um meio pelo qual uma
pessoa - seja ela adulta ou na idade
infantil - se apropria aquela fé em
Jesus Cristo, que é a única fé que
salva (Como não existem passagens
bíblicas que diretamente exigem o batismo infantil, também existem outras
doutrinas - aceitas universalmente nas
igrejas cristãs - sem tais textos, como
por exemplo, a doutrina da Trindade,
que ensina a existência de um único
Deus em três pessoas divinas distintas:
Pai, Filho e Espirito Santo, portanto
uma Trindade ou Tri-unidade. É uma
doutrina que se deriva de deduções
lógicas e legitimas das doutrinas biblicas sobre a essência do único
Deus verdadeiro. Leia-se, para essa
doutrina, o Credo Atanasiano!). Portanto defendemos o batismo infantil
como doutrina bíblica, sem hesitação,
e com base firme na palavra de Deus.
10. A Denominada «Dedicação de
Crianças» não tem Fundamento Bíblico.
Algumas igrejas tentam preencher
a lacuna que elas de fato sentem na
falta do batismo infantil, com uma
15
cenmbnia na qual as crianças serão
levadas pelos pais, pouco depois do
seu nascimento, ao altar para ali serem abençoadas
e dedicadas.
Tal
cerimônia, certamente
é linda e confortante,
especialmente
quando
isto
coincidir com a primeira participação
da jovem mãe depois do parto. No
entanto, não temos mandamento
divino para uma tal cerimônia, enquanto o temos para o batismo e batismos não só de adultos, nem batismo só de crianças mas, simplesmente batismo de todos.
11. Batismo de Famílias Inteiras
o
batismo de alguém «com toda
sua casa» foi, de acordo com o testemunho do Novo Testamento,
largamente praticado na igreja antiga. Tal
batismo
certamente
não excluiu
as
crianças da respectiva casa. O conceito da família, tanto entre os judeus
como entre os gregos
e romanos,
incluiu até os escravos e seus filhos.
Lucas nos relata que o comandante
Cornélio, em Cesaréia, tinha «reunido
seus
parentes
e amigos
íntimos»
quando esperava por Pedro, At 10.24,
e em conseqüência
da pregação do
apóstolo «caiu o Espírito Santo sobre
todos os que ouviam a palavra», v.
44. Pedro, vendo esta manifestação
do próprio Deus, apes'ar de seus escrúpulos iniciais de seguir à ordem do
seu Senhor de pregar a pagãos,certamente perguntou a si mesmo e às
seis testemunhas (At 11.12): "Porventura pode
alguém
recusar
a água
para que não sejam batizados estes
que, assim como nós, receberam
o
Espírito Santo?» E a resposta foi esta:
-ordenou
que fossem
batizados
em
nome de Jesus Cristo»
v. 47,48. E
quando, ao voltar, a Jerusalém, essa
congregação
lhe exige prestação
de
16
contas sobre sua atividade entre pagãos, Pedro relata, apontando
para
«estes seis irmãos» como testemunhas
que Deus havia comunicado
a Corrlélio que ele deveria chamar a Pedro,
assegurando-lhe
que este «te dirá palavras mediante as quais serás salvo,
tu e toda a tua casa», At 11.13,14. A
salvação de Cornélio e de toda a sua
casa se deu «mediante a palavra» de
Pedro, que confirmou
a obra do Espírito Santo nesta casa, aplicando o
batismo com água «a todos que ouviram» esta palavra.
Temos diversos
exemplos,
especialmente relatados em Atos, de batismos de «casas» inteiras, isto é, de
famílias completas.
Em Fílipos, Lídia
foi «batizada, ela e toda a sua casa»,
At 16.15 (Bíblia na Linguagem de Hoje
diz «todas as pessoas de sua casa»,
o que é de acordo com o sentido original). Do carcereiro,
em Filipos, Lucas nos relata que ele, na «mesma
hora da noite» em que experimentou
a presença de Deus através das palavras de Paulo e Silas, «Iavou-Ihes
os vergões dos açoites. A seguir foi
ele batizado, e todos os seus», At
16.33. Em Corinto foi «Crispo, o principal da sinagoga», que tendo ouvido
a mensagem
da salvação,
«creu no
Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos coríntios,
ouvindo,
criam e eram batizados», At 18.8. E
quando, mais tarde, surgiram as facções ao redor de alguns nomes, na
igreja de Corinto, Paulo, negando de
que ele tivesse tido qualquer intenção
de criar um partido com seu nome,
enumera só poucos que ele pessoalmente batizou e que, por isso, só bem
poucos tivessem
qualquer
razão de
evocar o seu nome como originador
duma nova vida. O apóstolo, entretanto, diz expressamente
que «batizei
a casa de Estéfanas» ao lado de alguns
poucos daquela igreja. Incidentalmente, temos
nesta
argumentação
do
apóstolo uma prova, se bem que acidental, de que batismo era considerado algo mui importante,
um ato de
iniciação,
e que era de suma importância o nome em que alguém fora batizado. Isto nos leva a mais um ponto
de discussão.
12. O Argumento Negativo a Respeito do Batismo: Jesus e Paulo
o
fato mencionado no ponto anterior, a saber que o apóstolo
Paulo
evidentemente
não batizou
ele
mesmo! regularmente
os que por
sua
pregação
foram
convertidos,
acrescentado
pela afirmação
contida
em Jo 4.1-3 que Jesus também não
batizava, é tomado como argumento
contra
a necessidade
do batismo,
tanto para adultos como para crianças.
Convém,
portanto,
colocarmos
os fatos relatados nos seus respectivos contextos.
Lemos em Jo 4.1-3: «Quando, pois,
o Senhor veio a saber que os fariseus
tinham ouvido dizer que ele, Jesus,
fazia e batizava mais discípulos
que
João (se bem que Jesus mesmo não
batizava, e, sim, os seus discípulos) ...
deixou
a Judéia, retirando-se
outra
vez para a Galiléia».
Que este não
era um batismo de segunda categoria,
já se vê pelo fato de que os fariseus
viram nestes atos batismais um perigo
até maior do que nos batismos
de
João. Como Jesus, pessoalmente,
não
executava o batismo como rito, certamente seus discípulos
o faziam em
seu nome e por sua ordem; portanto,
um batismo
absolutamente
válido.
Existem outras passagens, no mesmo
Evange!ho, que apontam para batismos
realizados
na presença
de Jesus e
pelo círculo dos seus mais íntimos seguidores.
Vejamos
alguns exemplos.
«Depois foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia: ali permaneceu com eles e batizava»,
Jo
3.22. «Ora, entre os discípulos
de
João e um judeu suscitou-se uma conE
tenda com respeito à purificação.
foram ter com João e lhe disseram:
Mestre,
aquele
que estava contigo
além do Jordão, do qual tens dado
testemunho,
está batizando,
e todos
lhe saem ao encontro», Jo 3.25,26. Os
batismos,
nestas passagens,
atribuidos a Jesus, foram executados
por
seus discípulos,
e certamente
não
eram menos válidos do que os batismos realizados hoje por sua igreja.
,é,pesar' de Jesus nunca ter pessoalmente, realizado um batismo ele, sem
embargo nos deu, na sua própria vida,
um exemplo
convincente
de que o
à
batismo definitivamente
pertenceria
sua atividade
aqui na terra, ao se
deixar batizar por João Batista,
Mt
3.13-17, ato esse, com o qual começava toda a sua atividade
profética
entre os homens.
Com esse ato, no
início de sua obra redentora,
Jesus
certamente
também deu um exemplo
a seus seguidores,
exemplo que deveriam seguir. Sabemos que, quando
o Batista ao reconhecer
Jesus como
o Salvador do mundo, hesitou em batizá-Io, afirmando:
«Eu é que preciso
ser batizado por ti». Reconheceu, com
essas palavras, que o batismo fazia
parte da vida cristã de um pecador e
não do Redentor.
E Jesus lhe respondeu que, na realidade, não precisava
ser batizado por causa dos seus pecados mas que seu próprio batismo
pertencia à sua tarefa, a saber, que
ia em lugar dos pecadores cumprir a
assim nos convém cumprir
lei: « ...
toda a justiça», isto é, cumprir tudo
que a justiça de Deus exigia dos ho-
17
mens. A realização de batismos pertence não tanto à obra redentora ativa de Jesus, mas pertence à pregação,
à conversão dos homens redimidos
O batismo pertence ao
por Cristo.
ministério da divulgação e propagação
da redenção obtida por Cristo.
São
os seus ministros na terra que, como
parte integral de sua mensagem, pregam o batismo para a remissão dos
pecados e para isso exatamente foram
enviados, a saber «fazer discípulos de
todas as nações, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as cousas
que eu vos tenho ordenado».
Portanto, não podem os adversários
do batismo infantil apontar para o exemplo
de Jesus, nem ao exemplo do apóstolo Paulo.
É verdade,
Paulo escreve:
«Não
me enviou Cristo
para batizar, mas
para pregar o evangelho» (1 Co 1.17),
porque era justamente
essa a ordem
dada também aos outros apóstolos;
pois não se pode «discipular»
povos
sem a mensagem salvadora da graça
de Deus em Jesus Cristo. Mas, ainda
que Paulo não tenha considerado
o
batizar como sendo o centro de sua
atividade, de modo nenhum desprezou
o batismo. Ao contrário, a vida apostolar de Paulo começou com seu próprio batismo CAt 9.18), e ele mesmo,
quando as circunstâncias
o exigiram,
batizou, como se vê nos casos de
Crispo e Gaio, a «casa de Estéfanas»
e de outros, dos quais não se pôde
lembrar (1 Co 1.14-17). Que ele parece colocar o batismo em segundo
plano estava dentro da ordem que ele
recebeu, e que era algo diferente da
dos apóstolos, aos quais pelo próprio
Jesus o batismo fora dado como uma
das modalidades
de discipularem,
enquanto
Paulo teve consigo
sempre
companheiros,
que certamente batizaram aqueles que, pela pregação com
18
autoridade
de Paulo, foram convertidos. No caso dos coríntios, o próprio
apóstolo dá a razão porque ele, em
certo sentido, está muito satisfeito de
não ter batizado a muitos entre eles,
a saber «para que ninguém diga que
fostes batizados
em meu nome» (v.
15). Concluindo
este ponto podemos,
portanto, constatar que os exemplos de
Cristo e Paulo de maneira nenhuma
são negativos com respeito ao batismo, e nem mesmo com respeito ao
batismo infantil.
13. Testemunho da Igreja Antiga a
Respeito do Batismo Infantil
Mesmo não querendo
entrar em
todos os pormenores
da discussão
sobre o batismo infantil na igreja antiga (5), torna-se necessário apontarmos para algumas referências que nos
parecem
fundamentais
e decisivas.
(6)
Uma das mais antigas testemunhas
entre os pais apostólicos
é, sem dúvida, Justino, o mártir (89-166 p.C.).
Em sua «Apologia»,
endereçada
a
Antonio Pio, ele afirma dos cristãos:
"Muitos cristãos, tanto homens como
mulheres, que desde sua infância já
se tornaram discípulos (no grego ele
usa o mesmo verbo que Jesus usou
na sua ordem aos apóstolos de discipularem as nações, Mt 18,19, a saber,
«mathetéuein»).
ficaram
solteiros
e
imaculados
até a idade de sessenta
anos.» Essa afirmação mostra que essas pessoas devem ter sido feito discípulos ainda durante a época dos
apóstolos.
O mesmo defensor
do
cristianismo
diz no seu «Diálogo com
Trifo»:
«O batismo é a circuncisão
do Neva Testamento.»
Ireneu, um dos maiores teólogos
do segundo século (era bispo de Uão,
no sul da França, desde 177 p.C.),
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um discípulo de Policarpo, bispo de
Esmirna, que era discípulo de João, o
evangelista, escreve na sua obra fundamental «Contra os Heréticos»:
«Cristo veio para salvar a todos; digo
a todos que mediante dele foram regenerados e redimidos para Deus:
os infantes (<<infantes») e as crianças
pequenas (<<parvulos»), bem como os
meninos, jovens ou gente de idade.»
É verdade, Ireneu não menciona o batismo diretamente; porém, olhando para toda a sua argumentação fica claro
que ele, falando de crianças pequenas,
só pode pensar no batismo como meio
de sua regeneração.
Origenes, o grande teólogo de
Alexandria no Egito (184-254), apesar
de suas muitas heresias, dá, em vários lugares de suas obras um testemunho claro sobre o batismo infantil.
Eis alguns destes textos: «Segundo
o costume da igreja, o batismo é aplicado à crianças pequenas. Se elas
não tivessem algo em sua natureza
que necessitaria de perdão e misericórdia, a graça do batismo não Ihes
seria necessária». «Por esta razão a
igreja, desde os tempos dos apóstolos, tem a tradição de batizar até
crianças, porque aqueles aos quais os
mistérios divinos foram confiados sabiam que toda a criatura humana é
poluida pelo pecado, e que deve ser
purificada com a água e o Espírito:
por isso também o corpo é chamado
um corpo pecaminoso.» E: «Crianças
pequenas devem ser batizadas para a
remissão dos pecados.»
Tertuliano
(200 p.C.), o teólogo
conhecido da África do Norte, foi o
único dos pais da igreja que polemizou contra o batismo infantil. Mas
justamente porque ele estava, tão
acerbamente, polemizando contra este
batismo, prova que era praxe batizar
crianças na igreja do seu tempo. Eis
alguns dos seus argumentos contra o
batismo infantil: "Por causa da natureza, da disposição e também da idade das pessoas é muito mais proveitoso adiar o batismo; e este é especialmente o caso das crianças pequenas ... Que elas venham quando já
cresceram; que elas venham quando
já aprenderam o que se dá com elas
(no batismo). Por que se leva essas
criaturas inocentes precipitadamente
ao perdão dos pecados? Com respeito às causas terrenas se age com
muito maior precaução: aos que não
se confia bens terrenos, são entregues cousas celestiais (perdão dos
pecados às crianças). Que as crianças, em primeiro lugar, aprendam pedir pela salvação, de modo que temos
boa consciência de ter dado a salvação a tais que a pediram. As mesmas razões em favor do adiamento
do batismo são aplicáveis às pessoas
ainda solteiras. Qualquer um que veio
a reconhecer a importância do batismo, certamente procura adiar mais o
batismo do que precipitá-Ia.» Lutera
considerou Tertuliano como sendo o
Caristadt (iniciador do movimento anabatista no século XVI) do terceiro
século,
Cipriano, ° segundo dos grandes
teólogos norte-africanos
(Agostinho
foi o terceiro), bispo de Cartago
(t 258 p.C.), era amigo de Tertuliano, mas não um seguidor de sua teologia. Entre as obras de Cipriano
existe uma carta em forma de tratado,
endereçada a um dos presbíteros da
igreja de Numídia, de nome Fido, na
qual ele repreendeu severamente a
Fido porque este ensinou que crianças, antes de terem alcançada a idade de 8 dias, não deveriam ser batizadas, apontando ao fato de que no
Antigo Testamento os filhos do povo
de Israel foram circuncidados no oita19
vo dia.•• E assim, caríssimo irmão, foi
a decisão final do nosso Concílio (em
Cartago): que ninguém deveria ser
impedido de ser batizado e, desta maneira, participar da graça de Deus,
o qual é misericordioso, bom e fiel
para com todos. Daí este divino propósito deve ser procurado para todos,
e mui especialmente para crianças
pequenas e recém-nascidos». Essa
decisão foi tomada no Concílio de
Cartago, com a presença de 66 bispos, no ano de 254 p.C.
Agostinho, o maior dos doutores
da igreja antiga (354-430), foi, sem
dúvida, também um dos grandes defensores do batismo infantil. Em sua
grande luta contra Pelágio, ele reconheceu que, apesar de todas as suas
outras heresias, nunca negaram a validade do batismo infantil: «Os pelagianos nunca ousaram negar o batismo infantil, porque eles sabem que,
se o negassem, teriam contra si toda
a igreja.» Numa outra passagem,
Agostinho diz com respeito ao batismo
das crianças que «toda a igreja está
praticando batismo infantil» e que este
uso foi ••herdado dos próprios apóstolos.» Num dos sermões, ele admoesta seus ouvintes: «Não deixai que
alguém vos perverta com doutrinas
falsas. O batismo de crianças foi praticado na igreja inteira desde seu início, e foi por ela guardado até os nossos dias continuamente.»
O próprio Pelágio (nasc. 330 p.C.)
escreve numa das suas obras, com
muita clareza: ••Nunca ouvi de um
herético ímpio que tivesse afirmado
que recém-nascidos não deveriam ser
batizados.»
Tais testemunhos são certamente
suficientes para demonstrar que a
igreja antiga não só conheceu e reconheceu a validade do batismo infantil
20
mas que a igreja toda o estava praticando universalmente. Estes homens
estiveram muito mais perto, cronologicamente, aos tempos do Novo Testamento do que nós. Mas, também se
pode constatar que heréticos dentro
da igreja, já desde mui cedo, tentaram negar e combater o batismo infantil.
14.
Crer?
Crianças
Pequenas
Podem
O argumento principal dos adversários do batismo infantil é a afirmação categórica: Crianças pequenas
não podem crer!
Contra este argumento queremos
afirmar, e provar biblicamente: Crianças podem ter fé! Ora, ninguém está
afirmando que a fé das crianças seja
uma fé refletiva (••fides reflexa» l, ;sto
é, uma fé que já pode raciocinar, tirar
conclusões, etc.; mas a sua fé também não é simplesmente uma fé em
potência ou «fé potencial», uma fé que
só existe numa mera possibilidade e
faculdade de crer (••potentia credendi»). Não, a fé das crianças é uma
fé real, uma fé atual (••fides actualis»),
uma fé que de fato e realmente agarra o objeto da fé, a saber, Jesus Cristo, seu Senhor e Salvador, que
apreende as promessas contidas na
palavra anunciada no batismo, e com
isso é uma fé que salva, a única fé
que salva. Para essa afirmação não
temos palavras oriundas do raciocinar,
do filosofar, ou do refletir sobre as
potencial idades porventura inata no
homem. Baseia-se essa afirmação
nas palavras daquele que é o Criador
e Salvador ao mesmo tempo e que
de fato sabe e conhece as potencialidades e a realidade no homem, também do homem recém-nascido. Diz
o próprio Filho de Deus, feito homem
para salvar a humanidade, o que está
em Mt 18.2-6,10:
"Em verdade vos digo que (notese a solenidade deste pronunciamento, que desta maneira quase se torna
um juramento!), se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças (note-se "como»! crianças "hôs ta paidía»), de modo algum entrareis no reino dos céus». O «converter-se» e o «tornar-se como crianças» é um único ato. Porém o primeiro dos dois verbos está na voz
passiva no grego (<<trafête»), o que
mostra plenamente que o converter
não é uma ação que provém das forças, da atividade do homem; o homem é convertido por um ato de Deus,
do Espírito Santo que, pela palavra
nos coloca bem no início de uma nova
vida. Assim como uma criança nasce
aqui na terra não com sua própria
vontade e força mas que é nascido
- até, por assim dizer, c o n t r a a
sua própria vontade assim uma
pessoa que pelo poder do Espírito
Santo renasce, se converte, é no próprio ato ao menos passivo: ela é
renascida, ela é convertida. Temos,
portanto, já aqui uma causa que foge
ao nosso raciocinar, assim como fugiu ao raciocinar do grande teólogo
Nicodemos a afirmação do Mestre:
"Em verdade, em verdade te digo que
se alguém não nascer de novo, não
pode ver o reino de Deus», Jo 3.3.
É necessário que os racionalistas, que
negam a possibilidade de uma criança
ter fé, também negar a possibilidade
de um homem, por si só, renascer.
E se a conversão do homem adulto
foge ao nosso raciocínio, por que
então queremos aplicar este nosso filosofar na questão pela fé das crianças? Também aqui aplica-se a palavra do Mestre ao teólogo Nicodemos:
"Em verdade, em verdade te digo que
nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo
não aceitais o nosso testemunho. Se
tratando de cousas terrenas não me
credes, como crereis, se vos falar
das celestiais?» (Jo 3.11,12).
"Portanto, aquele que se humilhar
como esta criança, esse é o maior no
reino dos céus» (Novamente o termo
grego usado é "paidion» - que significa criança pequena). «E quem
receber uma criança (<<paidíon»), tal
como esta (tão pequeno e tão humilde), em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos (é impressionante, que Jesus aqui destaca
a pequenez, usando o termo «mikrós»
- tão pequeno que quase não pode
ser medido), que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse
ao pescoço uma grande pedra de
moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.» Neste versículo temos
a grande pedra que os racionalistas
têm que remover, afim de puderem
afirmar: Crianças pequenas não podem crer! Como se maltrata um
texto tão claro! Visto que, de acordo
com seu preconceito, crianças não
podem crer, eles simplesmente negam
que Jesus tenha falado de crianças
pequenas nestes versículos. O texto
é forçado e simplesmente tirado do
seu contexto. Não adianta, no entanto, maquinações filosóficas. Todo o
contexto fala tão claramente de crianças; já deve ser fortemente torcido
todo o texto para que ela diga o que
eies raciocinam, de que Jesus aqui
rala simplesmente de adultos algo
infantis, adultos pueris, simples, humildes.
Ora, crer, em primeiro lugar, quer
dizer: confiar. Mesmo a fé de adultos,
sejam eles cheios de pensamentos
profundos, conhecimentos científicos e
21
racioclnlo natural, digo, a fé de tais
adultos, se realmente é fé, sempre é
simples confiança, confiança tal como
uma criança pequena a tem. Quando
se fala desta confiança, então justamente a criança se torna o modelo
para o adulto - não vice-versa. Jesus,
neste texto, está apontando para a
característica de uma criança para
ilustrar o que ele deseja que os seus
discípulos sejam. Assim como uma
criança pequena é capaz de, naturalmente, confiar em sua mãe, em seu
pai, assim ela também é capaz de
ter confiança espiritual no seu coração. Não o aspecto racional é a essência da fé, mas sua qualidade essencial de confiança. Sabemos que
a fé está presente no crente mesmo
durante o sono, quando está em coma,
na insanidade, na senilidade; assim fé
pode ser ativa mesmo em recém-nascidos (cf. 1.41,44).
Neste contexto devemos ler também o v. 10 (Mt 18.10): "Não desprezeis a qualquer destes pequeninos;
porque eu vos afirmo que os seus
anjos nos céus vêem incessantemente
a face de meu Pai celeste.» Notemos:
Jesus está falando a seus discípulos
sobre como devem tratar crianças
pequenas, que nele crêem: ninguém
deve desprezá-ias. Aos olhos de
Deus, as crianças são tão preciosas
que Deus mesmo encarrega seus próprios anjos para cuidar delas. Devemos tomar cuidado em não falar e
pensar em «anjos da guarda». A
idéia de «anjo da guarda» para cada
uma das crianças não é bíblica. A
a\\l~ão no \i\HO â?ÓCíi'o de \' obias
(cap. 5), não pode servir de base para
uma tal idéia. É verdade que Deus
usa e emprega seus anjos muitas vezes para determinadas tarefas, inclusive o guiar de seus filhos, embora o
texto de At 12.15, onde se fala do
22
«seu (de Pedro) anjo», não pode ser
tomado como prova, visto que nestas
palavras se expressa uma idéia supersticiosa de alguns da congregação
reunida, quando ouviram o que aquela
serva Roda relatou. Certamente também em nossa passagem Jesus não
quer estabelecer uma doutrina sobre
«anjos da guarda» das crianças. O
que o Senhor quer destacar é que os
próprios anjos de Deus estão prontos
para cuidar das crianças, porque elas
são importantes para Deus. É notável
como as duas categorias de ministros de Deus estão postas: os apóstoios certamente são chamados a serv,rem a Deus, cuidando para que
nenhuma das crianças pequenas se
perca espiritualmente. Cuidado! Se
eles, os apóstolos, os discípulos, nós,
sim, se nós não tomarmos cuidado
para com as crianças, ai de nós!
.A.bençoados somos, no entanto, se levarmos as crianças a entrarem no
reino de Deus, porque estamos então
na mesma linha de ministério como
os próprios anjos de Deus. Quão importantes são para Deus as crianças
pequenas!
Essa verdade sempre de novo vem
à tona no Novo Testamento. Alguns
destes textos são os que seguem:
Mt 18.14: «Assim, pois, não é da
vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos» (de
novo «mikrós»).
Mt 19.14 Jesus fala de «pequeninos» e manda que os discípulos não
os deviam embaraçar de vir a ele,
«pora,ue dos tais é o reino dos céus»
(de novo o termo empregado por
Jesus é «paidía»). Devemos, portanto,
ser como eles em sua fé para também nós pudermos entrar no reino,
pela fé, no reino de Deus. Os pequeninos na sua fé são os melhores
exemplos e modelos de candidatos ao
reino. Pais Jesus afirma:
Lc 18.17: «Em verdade vos digo:
quem não receber o reino de Deus
como uma criança (<<paidíon»),de maneira alguma entrará nele.»
Lc 10.21 (Mt 11.25): «Naquela hora (quando os setenta haviam reto rnado de sua primeira missão com
grande alegria sobre a autoridade que
possuíam em nome do seu Senhor e
mediante a sua palavra) exultou Jesus
no Espírito Santo e exclamou: Graças
te dou, Ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas cousas
aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos» (aqui temos o
termo que significa crianças lactentes
«nêpioi»).
Mt 21.15,16: Quando os líderes
do povo e os principais adversários
de Jesus reclamavam sobre os cânticos que as crianças (<<paidía»)entoavam na entrada triunfal de Jesus em
Jerusalém, «Hosana ao Filho de Davi»,
Jesus os repreendeu, citando um salmo que eles conheciam: «Nunca lestes: Da boca de pequeninos (nêpioi»)
e crianças de peito (<<thelazóntoon»os que estão mamando) tiraste perfeito louvor?» Será que uma criatura
humana que louva a Deus, não pode
crer em Deus?
Mc 10.13-16 (Mt 19.13-15; Lc 18.
15-17): Aqui nos é relatado que «traz.iam-Ihe também as crianças (<<bréfoi»
um outro termo marcante para
crianças de peito) para que as tocasse». Quando então os discípulos (racionalistas que eram neste instante,
porque pensavam que tais criaturas
ainda nada tinham a ver com Jesus)
não queriam permitir que Jesus fosse
molestado pelas crianças, este deu
uma ordem bem clara para eles e para
todos os tempos: «Deixai vir a mim
os pequenos (<<paidía»)e não os em-
baraceis, porque dos tais é o reino de
Deus.»
Deve ser notado que o Novo Testamento emprega os termos «téknoi»
(crianças), «paidía (crianças pequenas), «thelazóntes» (crianças que ainda mamam) e «bréfoi» (crianças lactentes um termo, aliás, também
usado até para o feto ainda unido
com a mãe d. Lc 1.41,44 - e
para recém-nascidos cf. Lc 2.12,
16) de maneira variável. Isso nos
mostra plenamente que estas crianças
pequenas, até recém-nascidas, de
acordo com a palavra inspirada de
Deus, «crêem», «são do reino de
Deus», «louvam a Deus» e são postas
como exemplos para todos na simplicidade, como também na confiança,
que é a essência da verdadeira fé em
Cristo Jesus. Sim, crianças pequenas
podem crer, e o Espírito Santo, mediante a palavra no batismo, opera
nelas esta fé salvadora.
15. «Deixai vir a mim os Pequeninos!"
Esta ordem que se encontra três
vezes no Novo Testamento (Mc 10.
13-16; Mt 19.13-15; Lc 18.15-17) não
nos ordena batizar as crianças, e não
queremos e nem precisamos desta
passagem para «provar» o batismo infantil. Como, no entanto assim
perguntamos aos céticos -, podemos
levar crianças a Cristo de uma outra
maneira do que pelo batismo, quando
é pienamente dito que «todos quantos
tostes batizados em Cristo, de Cristo
vos revestistes»? (GI 3.27). Deixemos, pois, que nossos filhos, tão cedo quanto possível - ainda «crianças
de peito» sejam revestidos de
Cristo, da justiça de Cristo, da única
justiça que nos pode salvar, no e
pelo batismo!
23
16. Batismo
é
Necessário?
A resposta a essa pergunta vem
do próprio
Salvador.
No colóquio
teológico entre Jesus (que, como ele
mesmo afirma, «desceu do céu» Jo
3.13) e o teólogo-mar
dos judeus da
época, Nicodemos,
temos o seguinte
diálogo
que contém a primeira resposta a nossa pergunta: «Nicodemos ...
que, de noite, foi ter com Jesus, lhe
disse: Rabi, sabemos que és Mestre
vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu
fazes, se Deus nÊÍ.o estiver com ele
A isto respondeu Jesus: Em verdade.
em verdade te digo que se alguém não
nascer de novo, não pode ver o reino
de Deus.
Perguntou-lhe
Nicodernos:
Como pode um homem nascer, sendo
velho?
Pode, porventura,
voltar
ao
ventre
materno
e nascer
segunda
vez? Respondeu Jesus: Em verdade,
em verdade te digo: Quem rão nascer da água e do Espírito, não pode
entrar no reino de Deus" (10 3,1-5),
Duas vezes uma afirmação
solene,
quase um juramento:
Não pode
a
não ser ...
Não pode entrar no reino
de Deus, a não ser que seja batizado
(<<nascer da água e do Espirito~). Sem
dúvida, batismo é necessário!
Entre as últimas palavras que Jesus, segundo o Evangelho de Marcos,
disse aos seus discípulos
está esta,
como se fosse a última vontade.
o
testamento do Senhor:
«Quem crer e
for batizado será salvo; quem, porém,
não crer será condenado».
Me 16.16.
Pais que recusam batizar seus filhos
são como «os fariseus e os intérpretes da lei» que «rejeitaram, quanto a
si mesmos, o desígnio de Deus, não
tendo sido batizados
por ele. (João
Batista), Lc 7.29,30. Os que rejeitam
o batismo, portanto, rejeitam o desígnio de Deus. Não temos consolo para
24
alguém que rejeita o batismo, o desígnio de Deus. Quem desprezar
este
sacramento, este meio da graça, pode
procurar subterfúgios,
mas não achará palavra de Deus que justifique sua
atitude.
Batismo, segundo o desígnio
de Deus, é necessário!
17. No e pelo Batismo, o Espírito
Santo opera o Renascimento ou Conversão.
O erro
fundamental
de
todos
os
que negam a validade do batismo in(syn
com;
fantil é o sinergismo
ergo
obra sinergismo, portanto,
é a heresia que ensina o homem precisar «operar junto com» Deus). Os
adversários do batismo infantil iniciam
=
=
sua argumentação com a afirmação de
que uma criança ainda não pode raciocinar e que, portanto,
ela precisa
chegar primeiro a urna idade em que
pode dar conta de seus atos, afim
de poder render-se,
decidir
por si
mesmo, optar por ou procurar a Jesus
como seu Salvador pessoal. A palavra de Deus, no entanto, diz claramente que a nossa salvação não está
em nossas mãos; que somos salvos
única e absolutamente
só pela graça
de Deus. A decisão está com Deus
nunca conosco;
nunca podemos
decidir por nossa própria força de vir
a Deus; Deus vem ao nosso encontro e não nós ao seu encontro.
Se
pudéssemos
decidir por nós, então a
nossa "decisão
de crer» seria uma
boa obra que precederia
a fé;
com
tal decisão seríamos ao menos colaboradores
de Deus antes da nossa
conversão o que é absolutamente
impossível, pois segundo a Escritura,
somos mortos em pecado até o momento em que Deus nos vivifica
espiritualmente.
Como, porém, um cadáver não pode mexer nenhum dos
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nunca podemos
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segundo a Eso,·t_".:
~s em pecado até ::
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Deus nos
; --
Como, pué-
seus membros,
assim os espiritualmente mortos não podem, de modo
nenhum, fazer algo espiritual.
Deus
Espírito Santo é a única força ativa
no nosso renascimento;
nós somos,
nesse ato, absolutamente
passivos sim, mais ainda, o homem natural não
quer saber nada da vida espiritual,
nem pode querer algo espiritual,
pois
somos,
segundo
o homem natural,
«mortos em nossos delitos e pecados», Ef 2.1.
Como este é o caso, ninguém pode, antes do seu renascimento,
fazer
algo que tenha valor diante de Deus.
Ninguém se pode salvar por obras.
Quem se salva, é salvo mediante a
fé, mediante a confiança completa na
obra meritória
de Cristo.
Provas?
Leia-se as seguintes passagens:
Rm
3.21-18; 5.15,18; 11.6; Tt 3.5: Ef 2.8.9:
GI 2.11. Salvação existe só como dádiva da graça de Deus, que se recebe somente pela fé.
Salvação existe só como obra exclusiva de Cristo e nos é oferecida
unicamente
pela palavra
de Deus.
Provas?
Leia-se as seguintes passagens: Jo 6.44-65; 15.5,6; Rm 9.16; Ef
1.19,20; 2.13; 1 Co 12.3; CI 2.12.
Lutera, em sua explicação escrituristica, afirma ("O Sacramento do Santo Batismo» - Primeiro:
Que é o batismo?):
«O batismo não é apenas
água simples, mas é a água compreendida no mandamento
divino e ligada
com a palavra de Deus.» É por isso
que afirmamos:
Batismo é meio da
graça:
batismo de fato salva.
A Escritura menciona muitas bênçãos oferecidas
pelo batismo:
Mc 16.16: «Quem crer e for batizado será salvo.»
At 2.38: « ... Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome
de Jesus Cristo
para remissão
dos
vossos pecados, e recebereis
o dom
do Espírito Santo.»
At 19.5,6: «Eles, tendo ouvido isto,
foram batizados
em o nome do Se"hor Jesus. E, impondo-Ihes
Paulo as
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas, como
profetízaram»
(receberam
o dom de
pregar e anunciar a mensagem da salvação).
At 22.16
(Ananias
em Damasco
falando a SaulofPaulo):
«Levanta-te,
recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele.»
Am 6.3-14: Deste grandioso texto
as seguintes
afirmações:
<dgnorais
que todos os que fomos batizados em
Cristo Jesus, fomos batizados na sua
morte? (a sua morte foi vicária, e portanto tem todo o poder de salvar).
Fomos, pois, sepultados
com ele na
morte pelo batismo; (Notemos os verbos no passivo:
Não somos nós que
fazemos algo no nosso batismo; Cristo
faz tudo por nós; porém pela fé, operada no batismo, agarramo-nos
àquilo
que Cristo fez por nós: morreu por
nós, e os nossos pecados com ele;
foi sepultado
por nós, e os nossos
pecados com ele!) para que, como
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também
andemos nós em novidade de vida (o
que seria impossível se Cristo não tivesse ressuscitado,
e nós, pela fé,
com ele) ... foi crucificado
com ele o
nosso velho homem, para que o corpo
do pecado seja destruido, e não sirvamos o pecado como escravos;
porquanto quem morreu, declarado justo
(libertado) está do pecado ... Porque
o pecado não terá domínio sobre vós;
pois não estais debaixo da lei, e, sim,
da graça.» Notemos:
tudo isto é porque fomos batizados!
1 Co 6.11: «Tais fostes (impuros,
idólatras. adúlteros, .. , cf. v. 9 elO)
25
alguns de vós; mas vós vos lavastes
(melhor "fostes lavados» isto é, pelo
batismo), mas fostes santificados, mas
fostes justificados, em o nome do
Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
nosso Deus» (é como um eco das palavras de Jesus a Nicodemos: «Quem
não nascer da água e do Espírito, não
pode entrar no reino de Deus»).
1 Co 12.13: "Pois em um só Espírito, todos nós fomos batizados em
um corpo (isto é no corpo de Cristo,
sua igreja - o batismo, portanto, é o
meio pelo qual nos tornamos membros
do corpo de Cristo} ...
E a todos
nós foi dado beber de um só Espírito.»
GI 3.26,27: "Pois todos vós sois
filhos de Deus mediante a fé; porque
todos quantos fostes batizados em
Cristo, de Cristo vos revestistes»
(pelo batismo recebemos a vestidura
da justiça operada por Cristo),
Ef 4.3-6: « ... esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade
do Espírito no vínculo da paz: Há somente um corpo e um Espírito ... há
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o
qual é sobre todos, age por meio de
todos e está em todos,»
Ef 5.25-27: " ... Cristo amou a
igreja, e a si mesmo se entregou por
ela, para que a santificasse, tendo-a
purificado por meio da lavagem de
água pela palavra, para a apresentar
a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito.»
Tt 3.5-7: " ... não por obras de
justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou
mediante o lavar regenerador e renovador do Espirito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio
de Jesus Cristo, nosso Salvador, afim
de que, justificados por graça, nos
26
tornemos seus herdeiros, segundo a
esperança da vida eterna.»
1 Pe 3.20,21: « •• , nos dias de Noé,
enquanto se preparava a arca, na qual
poucos, a saber, oito pessoas, foram
salvos através da água, a qual, figurando o batismo, agora também vos
salva ... »
Pergunta-se, com todas estas provas que tão claramente demonstram o
poder regenerador do batismo, por
que ainda existem cristãos, que por
causa de raciocínio falho, baseado numa lógica humana falha, negam às
crianças este glorioso meio de se tornarem membros do corpo de Cristo e
serem salvos de uma condenação
que pesa sobre toda a carne, nascida
da carne, isto é, sobre todos os homens nascidos aqui na terra? I
18. Em Conclusão: Ainda Algumas
Questões e Considerações
A primeira pergunta que aflige a
muitos é esta: então não pode ser
salvo quem não for batizado? É o batismo absolutamente necessário para a
salvação?
Que podemos dizer a pais, dos
quais um filho morre antes de poder
ser batizado? A nossa resposta pode
ser que tais pais - se são cristãos,
que realmente crêem no Salvador
Jesus, que tiveram a intenção de batizar seu filho e que não querem rejeitar o batismo - possam ser consolados com as palavras que se acham
nas liturgias antigas da igreja luterana: -Encomendamos esta criança à
misericórdia de Deus!»
Para tal resposta temos boas razões bíblicas:
a) O contexto daquelas passagens
que aparentemente ensinam a necessidade absoluta do batismo indica que
em todos os casos tais palavras per-
tencem à lei e não ao evangelho. Jo
3.5 e Lc 7.29,30 são palavras dirigidéis
aos fariseus que rejeitaram o batismo.
As palavras em Mc 16.16 não contêm
a cláusula negativa e condenatória:
« ... quem não for batizado será condenado». O que realmente condena
é a incredulidade. Não é a falta do
batismo que condena; o que condena
é a rejeição do batismo. Diz Lutero:
«O crente não batizado não é condenado; aquele que não crer, este, sim,
está condenado» (St. Louis XII, 1706).
b) Apesar de que nós, os homens
na igreja, estamos comprometidos por
Deus a usar os meios da graça (Palavra de Deus e Sacramentos), devemos lembrar que Deus não está amarrado, nem pode ser, visto ser ele o
Senhor de tudo isto. Deste modo ele
pode, se assim ele quisesse, criar fé
em crianças até sem batismo, assim
como ele poderia ter suscitado «filhos a Abraão», como Jesus afirma,
"destas pedras», se assim o quisesse,
Mt 3.9.
c) Existem indicações de que Deus
não somente poderia criar, mas realmente criou fé sem meios:
João Batista, ainda no ventre materno - Lc 1.15,41,44;
as filhas dos crentes no povo da
Antiga Aliança;
o filho de Davi e de Bate-Seba 2 Sm 12.18-23;
aqueles pequeninos e crianças de
peito que dão «perfeito louvor»
citados por Jesus, Mt 21.16 do SI
8.2;
os pequeninos e crianças de peito,
nascidos antes da aliança da circuncisão.
Estes exemplos evidentemente não
podem ser citados para justificar a
rejeição do batismo.
d) Pais cristãos entregam seus filhos em oração a Deus, mesmo antes
de nascerem, no próprio nascimento
e logo depois do nascimento. Isto não
significa que a oração seja um meio
da graça, o que realmente não é;
porém, temos a promessa: «Muito
pode, por sua eficácia, a súplica do
justo», Tg 5.16.
e) Existe uma passagem algo enigmática na qual Paulo fala sobre a influência benéfica de um dos pais de
uma criança, quando este é crente,
sobre a vida desta: 1 Co 7.14. Esse
texto deve ser posto na luz da palavra de Paulo em 1 Tm 4.4,5: " ... tudo
que Deus criou é bom, e, recebido
com ações de graça, nada é recusável, porque pela palavra de Deus, e
pela oração, é santificado.»
Todos estes pontos são dados como puro consolo evangélico para pais
cristãos, cujas crianças morreram antes
de que eles pudessem ter tido a oportunidade de as batizar. Entregamos,
nestes casos, os filhos às mãos do
misericordioso Deus. É um consolo,
isto é evidente, que é procurado por
cristãos aflitos - não para os incrédulos e rejeitadores da palavra de
Deus e dos meios da graça nos sacramentos.
f) Porque padrinhos no batismo?
Podemos responder com as razões
dadas na explicação do Catecismo
Menor de Lutero, ainda em uso em
muitas das nossas congregações: Padrinhos são chamados 1) a testemunhar que as crianças foram batizadas
corretamente; 2) a ajudar na sua educação cristã; 3) a orar por elas. É,
portanto, uma instituição mui benéfica,
se bem que não prescrita na Bíblia.
A exigência da presença de testemunhas no ato do batismo é baseada em
conselhos dados na própria Bíblia: Dt
19.15; Mt 18.16; Jo 8.17; 2 Go 13.1.
27
Que Deus nos dê aquela confiança na verdade de suas promessas,
que nunca deixemos, por razões puramente racionais e falhas, de batizar
crianças tão cedo quanto possível!
Anotações
1) Neste caso Kinery, no seu trabalho mencionado na nota inicial, tenta provar demais, citando os v. 36-38
como prova de uma confissão de fé
pessoal antes do batismo. É provável
que assim sempre foi feito, apesar de
ser algo difícil imaginar essas confissões individuais no dia do Pentecoste,
no caso do batismo dos 3.000. Kinery
segue, sem se preocupar com a genuidade deste texto, simplesmente a
J. T. Mueller (Dogmática Cristã 11.
176) e Francis Pieper (Christliche Oogmatik, Vol. 111, pg 325). Lenski (lnterpretation of the Acts of the Apostles,
pg 346) caracteriza bem a situação,
quando diz: «A evidência textual deste
versículo é fraca demais para este ser
admitido como genuíno. Diz o que
pode ter acontecido. A objeção, no
entanto, é só textual. ... A confissão
de Jesus ser o Cristo sempre foi um
pré-requisito para o batismo.» O v.
37 realmente não ocorre em nenhum
manuscrito antes do século X. Em
todo caso é aconselhável não tentar
provar algo com evidências incertas.
2) Os textos citados das Confissões luteranas são da nova tradução
das mesmas feita por Arnaldo Schueler.
3) Rabi Moisés Maimônides, um
dos maiores pensadores e teólogos
judeus da Idade Média, nasc. em
1135 em Córdoba, Espanha, falec. em
1204 no Cairo, Egito. Sua obra mag·
na é a «Mishna Tora», uma exposição
extensa e erudita de leis, costumes
e prescrições cerimoniais do povo de
28
Israel até sua extinção como nação no
ano 70 D.C. pela destruição de Jerusalém e a completa dispersão dos
judeus remanescentes.
4) O Talmude, realmentes os Talmudes, porque existem duas formas
deste livro das leis, ordenanças, costumes e interpretações do Antigo Testamento: o Talmude de Jerusalém, o
mais antigo e mais breve, e o Talmude
Babilônico, o mais extenso e o mais
importante dos dois. A palavra «Talmude» (hebr. «Iamád») significa «o
apreender», e concreto: a doutrina.
Estes documentos, pouco a pouco colecionados, são interpretações, leis e
costumes que, depois da volta do exílio da Babilônia pelos mais conceituados rabis do judaismo, foram escritas
ou ensinados. Os «Gemara» são suplementos e Interpretações acrescentados às ordenanças originais e datam
de 200 até 500 O.C. As ordenanças
dos rabis, que cresceram nos últimos
séculos antes de Cristo ao lado das
leis escritas, são, no Novo Testamento,
chamados de «tradições dos anciãos»
(Mc 7.3 e 5; Mt 15.2) e foram, pelos
fariseus, consideradas de valor mais
alto que as leis escritas nos livros do
A.r. Muitas das discussões de Jesus
com os fariseus basearam-se nesta
superavaliação da parte dos fariseus
destas «tradições».
5) Com respeito ao batismo infantil
na igreja antiga apontamos para um
estudo mais profundo da situação inteira, também durante a época neotestamentária, à discussão sobre o tema havia através de vários anos entre dois dos mais eminentes teólogos
alemães da atualidade, e mundialmente conhecidos por serem autoridades
no campo do N.T. e da Patrística:
Joachim Jeremias e Kurt Aland. O resultado destas discussões se acham
reunidas nas obras citadas sob o nome deles em nossa Bibliografia.
6) As citações são traduções nossas dos textos. a nossa disposição em
língua inglesa. contidas nas coleções
ed. Wm. B. Eerdmans Publishing eo..
Grand Rapids, Mich., USA, The
Ante-Nicene Fathers 10 vols. Cedo
A. Roberts & J. Donaldson); The Nicene and Post Nicene Fathers. Cedo
Philipp Schaff) - 2 séries de 14 vols.
cada. - Para poupar espaço deixamos
a indicação individual dos volumes e
pág.inas citadas. referindo o leitor para os volumes destas séries que contém o «Comprehensive General Index».
- As citações dadas, evidentemente,
não podem ser exaustivas e completas, mas são. ao nosso ver, suficientes
para provar os pontos referidos; elas
seguem. em certo sentido. uma ordem
cronológica.
Bibliografia
Foram consultados principalmente
os seguintes comentários do N.T.:
Das Neue Testament Deutsch,
Góttingen. 1968 - 4 vols.
The interpretatian of the Books of
the N.T., by R.C.H. Lenski, Columbus.
Ohio. - 11 vols .. várias datas.
The New International Commentary
on the New Testament, vários autores,
Grand Rapids. Mich. 16 vais .. várias
datas.
Kritisch-Exegetischer
Commentar
über das Neue Testament, H. A. W.
Meyer, Goettingen, 4. Aufl.. 1858ss.
lange's Commentary on the Holy
Scriptures - Ne,; 1'e3:3-,e-: - ed.
Philipp Schaff. Grar"j P.a:::s
Vich.,
várias datas.
Outra literatura:
Concordia Triglotta, St. Louis, Mo.,
Concordia Publishing House, 1921.
Christian Dogmatics by Francis
Pieper, St. Louis, Mo., 1953, vaI. 111.
Christian Dogmatics by John T.
Mueller, St. Louis, Mo., 1955.
A Sumary of Christian Doctrine by
Edward W. A. Koehler, St. Louis, Mo.,
1952.
The Abiding Word. Vol. 11, St. Louis,
Mo., 1947. pg. 398ss.
Jeremias, Joachim: Die Kindertaufe in den ersten vier Jahrhunderten,
Goettingen, 1958.
Aland, Kurt: Taufe und Kindertaufe,
Guetersloh. 1971.
Tratados:
Dallman, Wiliiam: Infant Baptism,
St. Charles, Mo., sem data.
Why baptize children? Cone.
Publ. House Tract, sem data.
Twenge, S.: Baptism - Who and
Why? em «The Faithful Word»,
VaI. 13, nr. 4.
Kinery, Jeffrey C.: Our position on
Infant Baptism em «Christian
News», July 31, 1978.
---:0:--
29
A LITURGIA: CONTEÚDO E FORMA
Kurt Marquart
Não é nenhum segredo que o luteranismo na América do Norte se
encontra numa profunda crise. Mas os
tempos de crise devem ser vistos como tempos de oportunidades. Quando
uma ordem velha e cansada entra em
colapso, surge daí um estado de fluxo
que encoraja uma saudável competição de idéias. Decisões tomadas em
tempos assim, antes que o concreto
endureça, podem determinar os cursos
do futuro durante décadas, talvez séculos. Esta verdade encontra aplicação em todo o campo da liturgia, particularmente em nossa igreja - Sínodo de Missouri, USA. De um lado, os
desvios das normas passadas, como
contidas no Lutheran Hymnal de 1941,
assumiram proporções epidêmicas e
constituem o que pode ser descrito
como um estado de caos. De outro
lado, a rejeição dos presentes esforços inter-Iuteranos no sentido de um
consenso litúrgico, deixa Missouri livre para considerar o assunto bem de
novo. Parece óbvio que alguma coisa terá de ser feita e será feita. Mas
o quê? Desta resposta depende muita
coisa e, portanto, ela não deve ser
dada leviana e precipitadamente. Para que o resultado seja proveitoso,
ela deverá ser baseada solidamente
numa clarificação e re-apropriação dos
primeiros principios. As observações
que seguem são respeitosamente oferecidas como uma pequena contribuição neste sentido. Não são projetadas, além disso, a focalizar detalhes
técnicos - embora estes possam ser
importantes - mas sim problemas de
cada dia.
30
I. O Conteúdo da Liturgia
A malona das igrejas do nosso
mundo ocidental está enfrentando um
declínio na assistência aos cultos. A
tendência, em alguns lugares, pode
ser galopante, em outros lugares mais
lenta, mas a verdade é que a tendência é para baixo. É nosso dever, de
homens da igreja, ponderar profundamente as razões desta tendência. Do
contrário, podemos ser tentados a responder com a superstição absurda de
acreditar, nas palavras de C. S. Lewis,
que «as pessoas podem ser seduzidas
a irem à igreja por incessantes esplendores, fulgores, prolongações, reduções, Simplificações e complicações
do culto.»l Tomemos o boi pelos chifres e ouçamos o que um jovem representativo escreveu em «Memorando a um Pároco, de um jovem Pensativo»:"
Deixem que Ihes conto a razão
principal por que não assisto mais, ou
ao menos, não mais regularmente os
cultos. Desde quando saí de casa
para me pôr sobre os meus próprios
pés, visitei toda a espécie de igrejas,
mas todas elas me parecem iguais.
Todas me deixam nervoso como um
copo de bebida morna. Quando vou
à igreja, o que ouço? Do púlpito, uma
versão semi-religiosa
daquilo que
Kenneth Galbraith chama de sabedoria
convencional. Do coro, hinos vitorianos incríveis - o tipo que a vovó
gostava de ouvir. Nos bancos, o tipo
de atitude que você vê nos encontros
de estudantes - «onde não fica um
olho enxuto e onde ninguém acredita
uma unica palavra,,, E dos recepcionistas, aquele aperto de mão mecânico que me faz suspeitar que saudariam Jesus Cristo na sua segunda
vinda com as palavras: "Foi bonito
que você veio.» Em suma .. , a igreja
média representa ou é o perfeito símbolo de tudo o que eu aborreço gentileza falsa, sentimentos vazios,
pobreza emocional, mediocridade intelectual e tepidez espiritual. Talvez seja orgulho que eu fale assim, mas eu
não gostaria de ser identificado com
nenhuma instituição assim.
Nós, é claro, podemos consolarnos dizendo que a igreja luterana é
bem diferente, que a caricatura está
exagerada e que o jovem não era
simplesmente pensativo, mas realmente estúpido ao ponto de lançar fora
pérolas de grande valor só por causa
de um estojo esfarrapado. Isto, porém, apenas nos impediria de compreender a situação, Poucos pastores
experimentados negarão que, em geral, a opinião deste jovem é muito
difundida, também em círculos luterar'os, embora nem sempre seja expressa conscientemente, Para muitos, os
cultos são formalidades desagradáveis
que têm de ser sofridas com resignação estóica.
Seria tentador, neste ponto, soltar
uma torrente de palavras contra o
materialismo e o hedonismo modernos,
o futebol, a TV, os passeios dominicais e os pique-niques. Não há dúvida que todos estes pontos oferecem
não pouca ocasião para o arrependimento, embora não possamos aqui nos
demorar neles. Muito mais relevante
para nosso tópico é um problema poucas vezes discutido: o nosso Jovem
Pensativo provavelmente não tem nenhuma idéia clara sobre como é que
um culto devia ser. Além disso, assim
parece, também as igrejas que ele
visita não têm nenhuma teoria compu1sora daquilo que pretendem nos domingos de manhã. Ele e ela, talvez,
nutram alguma noção muito vaga de
como deveria ser o culto ideal, mas
eles não têm nenhuma idéia clara. A
verdade é que esta visão confusa não
aflige apenas os assim chamados
«membros-marginais». De que outra
forma poderia explicar-se que luteranos praticantes, bem instruídos, se
sentem livres para faltar aos cultos
por razões perfeitamente frívolas, como por exemplo, visitas para o almoço
dominical - para não falar nos pastores que deixam de assistir aos cultos
nos dias santos porque estão «descansando»? Numa era como a nossa,
quando os fins de semana estão
cheios de trivialidades seculares e
atrativos materiais de todos os lados,
os cristãos precisam de uma «teoria»
bem clara e compulsora do culto congregacional.
«Ouvir a palavra de
Deus» já foi uma vez uma frase de
grande peso, correspondendo a uma
realidade solene. Hoje, no pensamento de muitos, todo o negócio pode ser
resolvido sem inconveniência ou perda
de tempo, se houver necessidade, bastando que se sintonize a «Hora Luterana» enquanto se masca, devotamente, um chiclete Adams
O conceito de «culto» no protestantismo popular parece que não sugere nada tão formal como um «culto
de adoração». A idéia de culto é mais
associada a corais vibrantes do tipo
"Grandioso és tu», em concentrações
maciças de Billy Graham ou então ao
ar livre numa paisagem escarposa, de
preferência em torno de uma fogueira
com todo o mundo de mãos dadas.
Truques sentimentais de várias espécies são apregoados como promovedores de cultos «eficientes». Mas os
cultos de adoração na igreja, em ge31
~=======~~~---_.------~------~-------~-
ral, são vistos como monótonos e
tristes. São vistos não como banquetes, mas como sessões de leitura do
cardápio (Esta impressão, diga-se de
passagem, é reforçada pela profusa
distribuição de material impresso.).
Quantas pessoas se dariam ao trabalho de ir a um restaurante só para ler
o cardápio? Aqui, me parece, está o
coração da dificuldade. Não é como
se as pessoas pensassem que deviam
receber jantares, mas, a contragosto.
aceitam o cardápio. Não. Eles esperam apenas cardápios - com flores,
velas e música ambiental talvez ~
mas, mesmo assim, apenas cardápios!
Richard Wurmbrandt, tendo notado
que nos boletins de muitas igrejas é
constantamente feita referência ao
fato de que depois do culto serão
servidos refrigerantes, pergunta com
sarcasmo: «Por que vocês não dão
refrigerante no culto?» Neste ponto,
ao menos, os que estão fora da igreja, e muitos de dentro, estão de acordo. É que os membros da igreja
aprenderam a tirar uma certa satisfação e aprovação mútua da sua leitura
submissa do cardápio. Repelidas por
esta religiosidade incruenta, moralizadora, orientada em torno da lei, as
multidões procuram consolação no
mais negro e insensato Mumbo-Jumbo
de religiões africanas e caem vítimas
até mesmo de absurdos cinematográficos como «Encontros Imediatos do
39 Grau», de que uma resenha crítica
recente escreveu:
- A profundeza da espiritual idade
interna do filme se revela na cena
final, que representa a aparição e aterrizagem dos OVNI's. A enorme «navemãe» se parece menos com um veículo espacial que com uma vasta cidade de luz que desce dos céus.
Quer o paralelo seja intencional ou
não, a oferta de Spielberg deste
32
"Ersatz» da Nova Jerusalem (Ap 21)
como resposta aos anseias espirituais
da humanidade foi feita de maneira
muito jeitosa. A «conversão» de Roy
Neary sob um faixo de luz intensa
quando de caminho ao Lago de Cristal, dizem, foi conscientemente modelada após a conversão de São Paulo
na estrada de Damasco.:;
É como observou Chesterton:
«Se
as pessoas não acreditam em Deus,
não é que não acreditam em nada acreditam em tudo!
E, passando agora dos cardápios
para as sopas, consideremos os argumentos mui apropriados de C. S.
Lewis:
Podemos. com a devida reverência, dividir as religiões, como dividimos as sopas, em «grossas» e «finas».
Por «grossas», entendo aquelas que
têm orgias e êxtases e mistérios: a
África está cheia de religiões «grossas». Por «finas», entendo aquelas
que são filosóficas, éticas e universalizantes: o estoicismo, o budismo e
as igrejas moralizantes são religiões
"finas». Bem, se houver uma religião
verdadeira, ela deverá ser tanto «grossa» como «fina»: porque o Deus verdadeiro deve ter criado tanto a criança como o homem, o selvagem como
o cidadão, e cabeça como barriga,
E as únicas duas religiões que satisfazem esta condição são o hinduísmo
e o cristianismo. Mas o hinduísmo só
a cumpre imperfeitamente. A religião
"fina» do eremita brâmane que vive
na selva e a religião «grossa» do
templo da vizinhança vão de mãos
dadas. O eremita brâmane não se escandaliza com a prostituição do templo, como não se escandaliza o freqüentador do templo com a metafísica
do eremita. Mas o cristianismo realmente quebra e del'ruba o muro de
divisão. O cristianismo toma um con-
vertido do centro da África e lhe diz
que deve obedecer a uma ética universal esclarecida.
O cristianismo
toma um pedante acadêmico do século
vinte, como eu, e lhe diz que vá jejuando a um mistério, que beba o sangue do Senhor.
O convertido
selvagem deve ser «fino»:
eu devo ser
É assim que a gente sabe
«grosso».
que chegou à religião verdadeira."
é «grosso», no senO cristianismo
tido de Lewis, em dois aspectos bem
próximos.
Em primeiro
lugar, há o
mistério
redentor
da
encarnação.
Deus feito homem para a nossa salvação!
Ou, na frase memorável
de
J. B. Phillips,
Deus «entrou em foco»
por nós em Jesus Cristo. A Escritura
Sagrada coloca diante de nós, não
idéias vagas sobre uma Névoa Cósmica anônima - o grande Deus-Suspiro, como já foi chamado, para políticos renascidos de todas as religiões
mundiais mas a pessoa concreta,
histórica,
eterna daquele
em quem
"habita corporalmente
toda a plenitude da divindade« eCo 2.9). Tantos assim que, conforme
Lutera comenta
sobre este texto, quem não encontra
Deus em Cristo, não o encontrará em
parte alguma, mesmo que suba ao
céu, vá ao inferno ou penetre no espaço!
Em segundo lugar, bem assim como Deus está «focalizado»
para nós
em Cristo, assim Cristo, por sua vez.
está «focalizado»
no seu evangelho,
em que estão incluídos o santo batismo e o sacramento
do altar. Estes
meios de graça não são meras figuras, símbolos ou lembretes como
todo o nosso meio-ambiente
reformado sugere
mas comunicadores
reais e poderosos de todas as riquezas redentoras de Cristo. Este «poder
de Deus» vivificador,
criador de fé,
«dínamis de Deus para a salvação»,
como São Paulo chama o evangelho
em Romanos 1,16, jamais poderá ser
reduzido a um simples cardápio;
ele
é o próprio
banquete
messiânico.
Realmente, poderiamos
ainda descobrir dentro do evangelho
mais dois
modos de «grossura»:
a lavagem de
regeneração no batismo e a presença
real do corpo e sangue de Cristo na
santa ceia. Sobre a segunda, escreveu Charles Porterfield Krauth:
Os princípios de interpretação
que
nos aliviam do mistério da eucaristia
tomam de nós o mistério da trindade,
da encarnação
e da expiação ...
Cristo é o centro do sistema e na
ceia está o centro da revelação de
Cristo de si mesmo. A glória e o mistério da encarnação ali se combinam
como em nenhuma outra parte. É pela
comunhão com Cristo que vivemos,e
a ceia é a «Comunhão.»5
Ambos os temas, o de Deus-emCristo e o de Cristo-na-evangelho
estão unidos na profunda simplicidade
das palavras de São João: «Este é
aquele que veio por meio de água e
sangue, Jesus Cristo;
não somente
com água, mas com a água e com o
sangue.
E há três que dão o testemunho:
O Espírito, a água e o sanÇJue, e os três são unânimes num só
propósito» (1 Jo 56. e 8). Estas grandes e misteriosas realidades definem,
constituem e moldam toda a natureza
do culto cristão.
Este culto é concreto e sacramental, não vago e espiritualizante.
Não é um misticismo
pseudo-oculto
que procura, por meio
de técnicas e diligências
devocionais,
penetrar e vencer a barreira entre céu
e terra. Todos estes esforços humanos, com todos os seus impressionantes fogos de artifício
psíquicos,
não nos podem abrir o céu. Eles tratam apenas de projeções humanas e
miragens demoníacas.
Todo o ponto
33
da encarnação e dos meios de graça
é que a comunhão com Deus tem
lugar somente nos seus termos, e isto
significa para o presente aqui na terra, que serão no nosso nível. É Cristo
quem quebrou o grande muro divisório do seu lado a fim de dar-se a si
mesmo graciosamente a nós, do nessa lado.
Mesmo neste ponto, porém, a
compreensão luterana de culto ainda
pode ser abortada por meio de um
esquematismo doutrinário fácil que
pensa nos «meios da graça» ou em
«palavra e sacramentos» de forma
abstrata, em vez de pensar concretamente em batismo, pregação, absclução e eucaristia. É doutrina cai/'nista a que diz que todos os sacramentos devem ser iguais. Esta idéia
é desenvolvida pela Admonitio Neostadiensis, por exemplo, numa tentatj','3
de refutar a confissão da presenç2.
real na eucaristia da Fórmula de Ccncórdia. Respondendo a este ataque
calvinista, os luteranos Chemnitz. Seinecker e Kirchner realçam, com repetição quase enfadonha, na sua Apologia ou Defesa do Livro Cristão de
Concórdia (veja especialmente o capítulo V) que a natureza toda espec:ai
de cada sacramento deverá ser determinada não pela apelação a generalizações teóricas, mas prestando
atenção aos próprios textos bíblicos.
particularmente às respectivas palavras da instituição. Se os meios da
graça fossem mecanicamente intercambiáveis, em vez de ordenados
organicamente, então faria sentido
dizer: «Hoje temos batismo e, por
isso, não precisamos de comunhão.»
Tal argumento, porém, é completamente imposs!vel. Da mesma forma
devia ser igualmente impossível argumentar: «Enquanto tivermos pregação
regularmente, e a ceia do Senhor oca34
sionalmente, os meios da graça estão
em ação, e todo o resto é adiáfora.»
O que precisa ser visto é que nas
Confissões Luteranas, bem como no
Novo Testamento, a eucaristia não é
um extra ocasional, mas uma caracteristica regular, central e constitutiva do culto cristão. A pregação e o
sacramento pertencem juntos, não de
qualquer jeito, baralhadamente, por
coincidência estatística, mas como
elementos mutuamente correspondentes dentro de um todo integrado.
Sobre a prática nos tempos apostólicos e pós-apostólicos escreveu
Oscar Cullmann, no seu livro ••O Antigo Culto Cristão», da seguinte maneira:
A ceia do Senhor é, assim, a base
e o alvo de cada reunião. Isto corresponde a tudo o que já determinamos sobre o lugar e o tempo e o
caráter básico da reunião cristã primitiva ... Por conseguínte, não é como se o antigo cristianismo conhecesse três tipos de cultos, como nós
temos o hábito de imaginar, seguindo
o exemplo moderno: o serviço da
palavra e, ao lado dele, o batismo e
a ceia do Senhor. A coisa é, antes,
assim: na igreja antiga há apenas
estas duas celebrações ou serviços
- a ceia comum, dentro de cuja estrutura a proclamação da palavra sempre tem um lugar, e o batismo ... A
ceia do Senhor é o climax natural
para o qual se move o serviço assim
entendido e sem o qual o culto é inconcebível, porque aqui Cristo se une
com sua comunidade, como crucificado e ressuscitado e deste modo a
torna uma consigo e realmente a edifica como o seu corpo (Co 10.17).';
Com respeito às Confissões Luteranas, parece que teve lugar um desenvolvimento extraordinário. Mesmo
aquelas partes do luteranismo mundial
que cultivaram uma forte consciência
do artigo X da Confissão de Augsbur90 e de sua Apologia, dificilmente se
dão conta da instrumental idade prática e de suas ramificações
no artigo
XXIV. A tendência
foi de manter a
presença
sacramental
como assunto
de doutrina, mas permitir a prática do
sacramento
decair
de sua posição
central na igreja para uma posição
mais marginal,
suplementar,
segundo o exemplo calvinista.
As fortes
implicações
de solidariedade
e vida
comunal (1 Co 10.17) quase se perderam totalmente.
Esta não é a posição
das Confissões
Luteranas.
O artigo
XXIV da Confissão
de Augsburgo
e
da Apologia vê a missa ou a Iiturgia
como consistindo
de pregação
e o
sacramento, e como algo que deverá
ser feito todo o domingo e dia-santo.
Isto não é meramente uma acomodação temporária.
O próprio Lutero, por
exemplo,
em sua Missa
Latina de
1523, definiu a missa como consistindo, "para falar apropriadamente»,
do
«uso do evangelho
e da comunhão
na mesa do Senhor.»
De fato, ele
rejeita, na mesma obra, o costume romano de omitir
a consagração
na
sexta-feira santa, e diz que isto é «escarnecer e ridicularizar
Cristo com a
metade de uma missa e com uma parte apenas do sacramento.» 7
À cidade de Nuremberg ele recomendou, a pedido, em data de 15 de
agosto de 1528:
que sejam dadas
uma ou duas missas nas duas igrejas
paroquiais nos domingos ou dias-santos, dependendo
se há muitos ou
poucos comungantes
...
Durante a
semana, que se faça a missa nos
dias em que isto for necessário,
isto
é, se houver varias comungantes
que
a pedem e desejam. Deste modo ninguém será obrigado
ao sacramento,
mas, por outro lado, cada um seria
suficientemente
servido com ela.8
Muito significativo,
para a compreé este paráensão do sacramento,
grafo da Apologia (XXIV, 35):
Estamos
perfeitamente
dispostos
a compreender
a missa como
um
sacrifício
diário, desde que isto signifique a missa completa, a cerimônia e também a proclamação do evangelho, a fé, a oração e a ação de
graças.
Tomados
em conjunto,
são
estes o sacrifício diário do Novo Testamento;
a cerimônia
foi instituída
por causa deles e não deve ser separado deles. Por isso Paulo diz (1
Co 11.26): «Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice,
anunciais a morte do Senhor.»
Esta também foi a maneira como
os teólogos luteranos clássicos compreendiam
o assunto.
Gerhard,
por
exemplo, é citado na edição ampliada
do Compendium
de Baier, do Dr. C.
F. W. Walther,
no sentido que um
dos «objetivos
menos principais»
do
sacramento
é «que preservemos
as
assembléias
públicas
dos cristãos,
das quais a celebração
da ceia do
Senhor é a força e o laço» (1 Co
11.20).~ Em outra parte Gerhard escreveu:
Visto ter sido aceito como uma
prática na igreja cristã que nas assembléias públicas da igreja, depois
da pregação e do ouvir da palavra,
este sacramento
seja celebrado,
por
isso, este costume não deve ser abandonado sem uma necessidade
imperiosa ... e está claro ... de Atos 20.
7; 1 Co 11.20 e 33, que, quando cristãos se reuniam num lugar, eles costumavam celebrar a eucaristia.IO
Esta compreensão
sacramental
do culto
profundamente
é também ex-
pressa muito explicitamente
na literatura do início do Sínodo de Missouri,
35
por exemplo, em HauptgoUesdienst
de
F. Lochner. O Reallexicon de Eckhard
sífica é feita a seguinte
afirmação:
"A Ordem Luterana de Culto é uma
(1907 -1917), um sumário topical
ambiCioso da teologia publicada do Sínado, apresenta os seguintes pontos
sob «Abendmahl»
(Ceia do Senhor):
A ceia do Senhor deve ser administrada
pública
e solidariamente,
porque
(a) Cristo e os apóstolos o faziam
desta maneira;
(b) A ceia do Senhor é uma confissão pública,
proclamando
a morte
do Senhor (1 Co 11), e uma confissão geralmente
não é feita
num
canto;
(c) t: um laço de comunhão.
Comunhão.
1 Co 10.17; um corpo.
Nota (a) O lugar da celebração,
por isso, é a igreja, e o culto conjunto
dos
cristãos
(Versammlungsgottesdienst).
Nota (b) É exatamente na celebração da ceia do Senhor que o culto
principal encontra o seu ponto culminante (Gipfelpunkt).
A mesma fonte diz, sob "Gottesdienst», (culto ou serviço divino) que
para a Reforma Luterana houve
vários serviços:
cultos de pregação,
cultos de catecismo, cultos vesperais.
O culto
principal
(Hauptgottesdienst) era um culto com a ceia do
Senhor.
Todos os outros foram cul-
unidade com uma linda integração de
suas partes» (ein Ganzes in feiner
G1!ederung).
Este culto foi «corrom(10)
pela Guerra dos Trinta
pido ...
Anos; (2::» por aqueles da persuasão
de Spener
(pietistas) ... ; (39) pelo
racionalismo. "
tos menores (Nebengottesdienste)
Os cultos menores foram: as matinas,
cedo de manhã nos domingos
antes
do culto principal;
as vésperas nos
sábados de tarde (Sermão de Catecismo).
Segue uma secção separada sobre «A Ordem Luterana
de Culto»,
enumerando
as várias partes, começando com o introito
e terminando
com a santa ceia, que é «o selo da
palavra, seguindo-se conseqüentemente ao sermão.»
Desta ordem espe-
36
O que dissemos na parte precedente sugere claramente
que a necessidade litúrgica
mais urgente não
é este ou aquere detalhe cerimonial;
o que é necessário é a restauração
da compreensão
luterana do vínculo
íntimo entre o sermão e o sacramento. "O sacramento
e o sermão pertencem juntos», escreveu
Sasse, «e
é sempre um sinal de decadência da
igreja quando um dos dois é realçado
à custa do outro.,,11
Isto, claramente, não é uma questão de mexer com
pedaços e peças espalhafatosas
da
maquinaria litúrgica, mas de reganhar
o senso de um modo orgânico.
Onde
não como
o culto é compreendido,
um núcleo central (o sermão) rodeado
de coisas triviais vazias, mas como
a participação
solenemente
Objetiva
no próprio mistério da salvação vivificadora, ali os pecadores penitentes
não apenas encherão alegremente os
átrios do Senhor, mas também os pastores compreenderão
seu sagrado ofício mais claramente
e serão menos
tentados
a abandonar
o ofício
ou
então a escapar para toda sorte de
papéis
e funções
secundárias
na
busca de «identidade»
e «auto-realização».
É claro,
não esperamos
que a
simples publicação de uma nova liturgia ou hinário
resolverá
tudo isto.
Mas isto certamente ajudará. Um hinário novo poderia, por exemplo, seguir o modelo da Kirchen-Agende
oficial do Sínodo de Missouri, publicada
pelo Concordia Publishing House em
1902, ao oferecer apenas um culto
dominical principal, a ordem da santa
comunhão, que então termina depois
do sermão com orações, bênção e
hino, no caso de não ser celebrada a
comunhão. Isto, ao menos, evitaria a
falsa impressão criada pela forma da
"Página Cinco», de que o culto
principal da igreja é completo sem
o sacramento. Se uma forma tão
desnaturada, uma ordem de comunhão
sem comunhão, deve receber um
statuts independente, então que apareça ao menos no último lugar e não
no primeiro. Além disso, as conexões
íntimas e indissolúveis entre a Iiturgia e o dogma, fazem desejar que o
Pequeno Catecismo e a Confissão de
Augsburgo sejam impressas em qua!quer hinário futuro.
11.A Forma da Uturgía
A gente hesita ao entrar em todo
o campo das formas exteriores, onde
os gostos e os hábitos tão facilmente
são levados a um combate furioso
Mesmo assim os seguintes quatro
grupos de particularidades se impõem como especialmente relevantes
para nossa situação luterana moderna:
1 De um lado, no assunto dos
adiMora genuínos é preciso cultivar
uma largueza de perspectiva verdadeiramente evangélica e ecumênica (FC
SD X, 31). Se a igreja luterana toma
8 sério representar, não caprichos
sectários, mas o puro evangelho da
igreja de Cristo una, santa, católica
e apostólica, então ela não pode, em
princípio, querer espremer a devoção
dos zulús e dos espanhóis, dos chineses e dos americanos, dos brasileiros e dos neo-zelandeses numa única
ranhura saxônica estreita do século
16!. Neste sentido, não pode existir
uma coisa tal como «a Liturgia Luterana estática». O conteúdo imutável
terá que ser o evangelho de Deus,
mas a forma necessariamente terá
que ser colorida pela história cristã
de cada uma das nações e línguas e
culturas e continentes do mundo.
Aqui, neste momento, devemos concentrar-nos não na liturgia em geral,
ou em alguma mixórdia pseudo-cosmopolitana, mas numa forma ou em
formas apropriadas a um meio-ambiente de língua inglesa, ou mais especificamente norte-americana.
Resolvido o problema da substância, a forma é relativamente indiferente. Mas apenas relativamente. Pergunta C. S. Lewis: «Será que é verdade que quanto mais você acredita
que um acontecimento puramente sobrenatural tem lugar, tanto menos
você dará importância ao traje, aos
gestos e à posição do sacerdote?»12.
O argumento apresenta apenas a
opção entre alternativas igualmente
aceitáveis. Porque certamente ninguém gostaria de completar a sentença de C. S. Lewis com isto:
«Quanto mais você acredita que um
acontecimento puramente sobrenatural tem lugar, tanto menos você dará
grande importância a que o celebrante
esteja vestindo jeanns ou fume cigarras no altar». Obviamente fará grande diferença se as palavras e ações
do celebrante e do povo estejam em
harmonia com as transações sagradas
que devem exprimir ou comunicar. É,
evidentemente, um adiáfare se o intróito é falado ou cantado. Não segue, porém, que por isso, o intróito
pode ser falado ou cantado de modo
indiferente, negligente ou superficial.
Isto nunca poderá ser um adiáforo.
A dificuldade é que as ações multas vezes falam mais alto que as palavras. E quando as palavras ou as
37
ações não exprimem o sentido da liturgia, do serviço da palavra e dos
sacramentos, ou até a contrariam,
elas já não são adiáfora. Um catóiico
romano tradicionalista observou muito
bem sobre as mudanças iitúrgicas
após o Vaticano li, que uma doutrina,
como a da presença real, pode ser
materialmente alterada ou até «entregue» sem qualquer pronunciamento
explícito, por um simples cerimonial
mais permissivo (p. Ex., deixar cair
partículas de pão consagrado descuidadamente ao chão). Até mesmo na
vida de cada dia, certas palavras,
ações e situações podem ser vistas
como dissonantes ou até mesmo grotescas quando não concordam umas
com as outras. Pedir misericórdia
diante de um tribunal humano, por
exemplo, e ao mesmo tempo ficar sentado, com as mãos nos bolsos e mastigando chiclete, seria insuportável.
Ainda mais ridículo seria o pastor ficar sentado, confortavelmente, durante o kyrie ou o gloria in excelsis, as
pernas cruzadas de forma a dar o máximo de exposição as meias coloridas
e olhar para a congregação para ver
quem está presente. Ou considerai o
efeito interruptor de vulgares «ordens
de trânsito» dadas cada poucos minutos: Prosseguimos agora o nosso tal-etal com isto ou aquilo que se encontram na página tal e tal, logo no início,
no meio ou atrás, etc., no hinário!»
Imaginem que desastre total seria se
um diretor de palco constantemente
interrompesse um drama fascinante,
aparecendo no palco para fazer anúncios tais como estes: «Senhoras e
senhores, por gentileza, abram a página 285 de sua edição brochura de
«Quatro Grandes Peças de Henrik
Ibsen».
«Como hoje está muito
quente, por gentileza, saltem as páginas 158 a 176. Continuamos com o
38
Ato 111de 'Um Inimigo do Povo', terceira linha, no alto da página 177».
Se até a apresentação de pura ficção
e faz-de-conta proíbe toda a espécie
de palavreado interruptor tipo ensaio,
quanto mais a própria personificação
da verdade viva, eterna? Realmente,
aqui há alguém maior que Shakespeare
ou Ibsen! Seu ministro, portanto, que
dirige o povo de Deus na celebração
dos mistérios da sua nova aliança (1
Co 4.1), não tem o direito de soar
como se estivesse anunciando bonecos de Wa!t Disney a turistas cansados pela vigésima-milionésima vez!
Na escolha de formas igualmente
apropriadas, pois, deixemos prevalecer a tolerância e a acomodação mútuas. Precisamos, realmente, precavernos do zelo desatinado com que Santo Agostinho de Canterbury forçava
seu rito romano sobre os representantes de uma forma mais antiga do
cristianismo britânico. Uma vez acolhida, porém, uma forma adequada,
ela deve ser preenchida não com indiferença
.. casua!, mas com profundo
temor
e reverêncJa.
com
aquele
temor
e tremor que convém na presença não
apenas de anjos e arcanjos e de toda
a companhia celeste, mas da própria
adorável majestade divina. 1: neste
sentido que temos de compreender a
paradoxal admoestação da Confissão
de Augsburgo sobre os adiáfora:
«Nada contribue tanto para a manutenção da dignidade no culto público
e o cultivo da reverência e devoção
entre o povo que a observância das
cerimônias nas igrejas» (<<Dos Abusos", Introdução, 6),
2 -A
adoração de Deus não é
um meio para um fim (p, ex., «evangelismo»), mas é o próprio fim, Aliás
é o fim último da' igreja (Ef 1.12 e
14; Fp 1,11; 2,10-11; 1 Pe 2,5), e deve
dar significação, direção e ímpeto a
todas as funções e atividades
particulares da igreja, inclusive à grande
tarefa missionária
(Mt 28.19 e 20).
Isto significa que a liturgia pública da
igreja, isto é, o serviço da palavra e
do sacramento,
não podem ser tratados como um exercício de relações
públicas,
como estas palavras
são
compreendidas
geralmente.
A idéia.
por exemplo, de que o culto deve ser
«expressivo»,
isto é, claro e óbvio a
qualquer visitante
casual que, de repente, resolve da rua fazer seu apapragmática.
recimento, é terrivelmente
Um «serviço divino» ajustado
a. u,.,.,
ta: ideal desatinado
abrangeria
tedo
um «jardim» de banalidades
gastas.
que até o visitante casual mui P"O'JSvelmente acharia insuportável
depos
da terceira vez sem faiar dos "iés
que participam regularmente durante 70
anos. Pessoas que vêm à ;gre]a procurando a verdade div'na não esperam que seja apregoada como detergente,
sabão ou refrigerantes.
por
meio de jingles
sem sentido.
Eies.
realmente,
respeitam
a celebração
não-compromissada
da igreja dos mistérios que não são de imediato transparentes
ao não instruído.
Alguns
anos atrás, por exemplo, uma senhora
americana entrou num mosteiro ortodoxo russo no estado de Nova York,
ficou tão impressionada
pela cerimônia feita em slavônico-eclesiástico,
de
que ela não entendia
uma palavra,
que prontamente
deixou toda a sua
fortuna em testamento
àquele mosteiro, dizendo que somente aqui ela
tinha encontrado
pessoas que realmente oravam!
O maior magnetismo
missionário,
porém, sempre foi exercido pela boa
pregação evangélica.
Isto nunca deverá ser esquecido, muito menos naquela igreja que confessa na APOLOGIA (XV, 42 e 43):
...
a adoração principal de Deus
do evangelho.
Enquanto
isso, nossos oponentes pregam, falam
sobre tradições humanas, o culto dos
santos e ninharias semelhantes.
Isto
é a pregação
o povo despreza com razão e se afasta deles depois da leitura do evangelho ...
Em nossas igrejas, por outro iado, todos os sermões tratam de
tópicos tais como estes:
o arrependimento, o temor de Deus, a fé em
Cristo, a justiça da fé, a oração e a
nossa certeza de que é eficaz e é
ouvida, a cruz, o respeito aos governantes e a todas as instituições
civis,
" distinção entre o reino de Cristo (ou
seja o reino espiritual) e os assuntos
politicos, o matrimônio, a educação e
instrução das crianças, a castidade e
todas as obras de amor.
E outra
vez afirmamos (XXIV, 50
" 51):
Sermões práticos e claros segu'-am um auditório,
mas nem o povo,
"em o clero jamais entenderam o ens:namento de nossos opositores.
O
verdadeiro adorno das igrejas é o ensinamento piedoso, prático e claro, o
uso piedoso dos sacramentos,
a oração fervorosa e coisas assim. Velas,
vasos de ouro e ornamentos
semelhantes são apropriados,
mas não são
adorno peculiar da igreja.
A Iiturgia é o culto e a distribuição de Cristo na palavra e no sacramento.
Usando formas exteriores
e
°
apelo estético como excusa ou cosmético de uma pregação insípida, incompetente,
dogmaticamente
cambaleante, é uma paródia vazia; é mero
ritualismo.
A pregação boa, sã e sólida é, de longe, a tarefa mais importante e mais difícil do ofício ministerial. É, realmente, o trabalho apostólico por excelência (At 6.2 e 4; 2 Co
3; 1 Tm 5.17). Quem realmente é suficiente
para estas coisas?
Apenas
39
Deus pode habilitar ministros para a
nova aliança (2 Co 2.16; 3.6). Competência pastoral, porém, requer exercicio espiritual e teológico, bem como
crescimento e progresso (1 Tm 4.7
e 15). Conferências apropriadas de
pastores (não kaffeeklatsches insípidos dos «obreiros da igreja» e de
suas famílias) são vitais neste processo e, no crescimento na qualidade
da pregação devem ter prioridade suprema na agenda. Isto significa concentração contínua não primariamente
sobre as técnicas mas sobre o conteúdo. Os meios eletrônicos, em particular, são tão eficientes para moldar
uma mentalidade secular, mesmo entre membros da igreja, que os pregadores cristãos precisam trabalhar arduamente para neutralizar e exorcisar
estes demônios. Constantemente devem edificar e reforçar uma perspectiva cristã sólida, incompromissada.
A pregação é este tipo de combate
espiritual para as mentes e as almas
dos homens. Não é a recitação anêmica de fórmulas e c1ichês prontos.
Isto seria sermonizar e nada mais. A
pregação é a exposição e aplicação
sempre novas da palavra viva de
Deus para hoje. O ponto, como alguém disse bem, não é o de iluminar
o obscuro texto bíblico com a luz de
erudição hábil, mas deixar a luz do
texto (SI 119.105) iluminar as nossas
vidas!
O povo tem fome e sede da proclamação autêntica. Quando o sacerdote soviético Dimitri Dudko incluiu
uma sessão de perguntas e respostas
na sua celebração da liturgia, a igreja
mal pôde conter as multidões que se
juntavam. Estas sessões se tornaram
tão populares que o KGB arranjou
um «acidente» de automóvel ao qual,
felizmente, o padre Dudko sobreviveu,
embora com pernas quebradas. A fo40
me ardente do pão da vida não está
limitada à União Soviética. Os ocidentais estão mais cansados, não há
dúvida. Mas a fome está aí, apesar
de tudo.
3 - Uma terceira série de particularidades trata daquilo que C. S.
Lewis chamou o «Bicho Carpinteiro
Litúrgico». Eu não poderia fazer melhor do que citar Lewís diretamente:
A novidade, em si, pode ter valor
apenas para divertir. E as pessoas
não vão à igreja para serem divertidas. Vão para usar a cerimônia, ou,
se você prefere, para pô-Ia em ação.
Cada cerimônia é uma estrutura de
atos e palavras através das quais recebemos um sacramento, ou nos arrependemos, ou suplicamos, ou adoramos. E nos habilita a fazermos estas coisas da melhor forma se
você quiser, ela ,funciona~ melhor quando, através de longa familiaridade, já não temos que pensar sobre
ela. Enquanto você ainda nota, e tem
que contar, o número de passos, você
ainda não dança. mas apenas está
aprendendo a dançar. Um sapato bom
é aqueie que você nem nota. Boa
leitura se torna possível quando você
não precisa conscientemente pensar
sobre os olhos, a luz, a impressão,
e a soletração. O culto divino perfeito seria aquele do qual nem nos
damos conta; a nossa atenção teria
estado em Deus. Cada novidade,
porém, previne isto. Fixa a nossa
atenção na própria cerimônia; e pensar sobre o culto é algo completamente diferente que fazer culto ...
Realmente há alguma excusa para o
homem que disse: «Eu gostaria que
eles se lembrassem que a ordem a
Pedro foi: Apascenta as minhas ovelhas! e não: Faze experiências com
os meus ratos, ou ensina a meus
cães treinados alguns novos truques.»
De modo que a minha posiçao
liturgiológica
se resume num pedido
de permanência
e uniformidade.
Eu
me posso acostumar com quase qualquer tipo de cerimônia (culto) desde
que ela permaneça.
Mas se cada
forma é arrebatada exatamente quando começo a me acostumar com ela,
então
jamais
poderei
fazer
algum
progresso
na arte do culto.
Vocês
não me dão a oportunidade
de adquirir um hábito treinado habito deI!'
arte.'"
Que faremos, então, com a 'dé:a
de que «a juventude"· Tea entecLada
com sempre a mesme CQ;se e cue
por isso requer constantes inovações
para mantê-Ios
interessados?
Este
sentimento
é bem intencionado,
não
há dúvida, mas está essencialmente
É verdade
que, de início,
desatinado.
alguns adolescentes
tolos (não todos,
felizmente) gostem quando o culto se
transforma
num «show» de variedades, especialmente
quando um entre
eles lisonjeia as parvas imagens do
«culto jovem» promovidos pelos meios
de comunicação com finalidade lucrativa. A longo prazo, porém, este caminho forçosamente produzirá um desprezo consciente ou subconsciente
da
igreja. Por que, afinal, quem poderia
respeitar uma instituição
que, depois
de uma experiência
de 2000 anos.
está tão confusa a respeito de suas
funções ao ponto de dizer:
«Queridos filhos, ajudai-nos;
Nós já não temos certeza sobre o que deveríamos
fazer. Talvez vocês tenham algumas
boas idéias?»
Quem, neste mundo
de Deus, poderia tomar a sério o
culto-peça teatral que é apelidado com
a horrível palavra de «culto experimental»?
O fato é que nenhuma sociedade
saudável, viável permite que seus filhos arbitrem seus valores. Cabe aos
anciãos da tribo
guardar a herança
cultural e de transmití-Ia solenemente
à geração mais nova e nunca o
contrário.
Também na nossa sociedade o problema não é o da juventude,
mas dos seus pais. Se a juventude
está confusa
sobre valores,
isto é
principalmente
porque os pais o estão. Se a Iiturgia é maçante para
crianças, ela o é geralmente
porque
os pais não a acham interessante
também.
Se as crianças
vêem os
adultos
tratar
os cultos
dominicais
como a atividade mais importante
de
suas vidas, elas também os iriam respeitar, e jamais sonhariam
em tratá'os como uma «atividade pop», com
que cada João, PedíO ou Paulo podem mexer.
Uma igreja que ganhou
c.eaidade
conscienciosa
dos velhos
pais principalmente
dos pais (Ef
3.15: 6.4)1 - terá também a devoção
e ded·eação dos seus filhos.
Mas
urna 'greja que vergonhosamente
capitula aos caprichos
e gostos
dos
ado'eseentes
terá o que ela merece
(não terá. e não merecerá
nenhum
.
,
....
COS
GOlS)'
E finalmente,
há um princípio
de
variedade imbutida na liturgia, e isto
é o ritmo do ano eclesiástico.
As
unidades básicas deste ritmo gentil,
natural, são a semana e o ano. Este
ciclo é virtualmente
quebrado quando
se força sobre ele o estranho toque
de tambor
«das ênfases
mensais»
baseadas nos imperativos
de atividade, e de organização
do ano financeiro. É também quebrado pelo falso
não-sim ou mesmo pelo não-não nãosim (sim-não-não-não)
dos «Domingos
com Santa Ceia» e «Domingos
sem
Santa Ceia». A mudança apropriada
entre domingo e domingo deveria estar na significação
e aplicação especifica do sacramento, não em tê-Ia ou
não tê-Ia. A eucaristia é todo o evan41
gelho em ação. Este um evangelho,
como
um diamante
precioso,
tem
muitas facetas ou aspectos, dos quais
um ou dois são especiamente
realçados na perícope de cada domingo ou
dia de festa. E, não importa que faceta concreta
do evangelho
total é
celebrada num dia determinado.
Este
é o significado
especifico, ou o modo
de aplicação do sacramento
naquele
dia. O sacramento é sempre a dádiva
do evangelho total, naturalmente.
Mas
no dia de natal o recebemos
sob o
aspecto da natividade
de nosso Senhor, em epifanias na celebração
do
seu
batismo,
no domíngo
Laetare
como o pão divino ou da vida, revelado na alimentação
maravilhosa
da
multidão,
e assim por diante.
Em
outras palavras, o sacramento,
como
o próprio evangelho, jamais deve ser
visto como algum aspecto estreito ou
como uma «ração normalizada»
invariável no banquete,
que é o cristianismo. É antes a realidade total, sob
muitos aspectos
maravilhosos,
cada
um especialmente
observado
e celebrado nas várias oportunidades.
Cada
vez ele é tão novo como são novas
diariamente as misericórdias
de Deus.
Temos aqui o caleidoscópio
de Deus.
que, no declínio de cada semana ou
temporada,
exibe a mesma generosidade divina em configurações
sempre novas e excitantes.
4 Em conclusão, alguma coisa
deveria ser dita sobre o requisito duplo de que as formas litúrgicas e musicais sejam (a) solenes e adequadas
e (b) capazes de serem cantadas pela
congregação.
A igreja antiga evitou
estudiosa mente a característica
musical da ostentação e da voluptuosidade
da religião pagã do estado e dos cultos de mistério.
Sobriedade,
não delírio, foi o marco do culto cristão,
1
Co 12.2; Ef 5.15-20. Em nosso pró42
prio tempo é difícil imaginar uma paróquia mais horripilante
que uma «cerimônia"
ou "hinos»
cheirando
às
devaSSidões e obcenidades
pagãs do
É pura zombaria
trans«culto-rock".
formar os mistérios cristãos em atos
roucos de um ciube noturno. Que tem
a luz a ver com
escuridão, ou Cristo
com Beliai. 0'-' c A.gnus-Dei com os
Beatles, os ~'!k'+;ees e seus comparsas? As celebrações sc,enes da igreja (1 Co 5.8: nb :.:3 10) não devem
00""
os modos e as
ser profanadas
maneiras das re:,gÔes cananéias
da
fertilidade
(1 Co 10.7-8) e de suas
duplicatas modernas
Uma reverência
conveniente
porém, é uma CO;S6: "ma estreiteza
pretenciosa,
bem cu:"a
30a música
de igreja deve poder se,· cantada. E
aquilo que uma vez pôde ser cantado,
necessariamente
já não poderá ser
cantado hoje. Mais ainda, 2.quilo que
soa majestosamente
quando cantado
por milhares
numa catedra:
gótica,
pode soar ridículo quando tentado por
17 pessoas ao choro funerai de um
simulador de um órgão eletrônico.
A
;greja deve cultivar devoção viva, não
peças esquisitas de museu para agradai' aos paladares musicais sofisticados. Pai' isso, é melhor cantar «Mais
perto quero estar» com entusiasmo e
gosto,
do que devastar
um grande
hino como «A Isaias sucedeu», tropeçando
penosa e desajeitadamente
sobre a sua íngreme magnificência.
Isto de modo algum deve sugerir que
se abandonem
os antigos
tesouros
agora. A questão deve, contudo, ser
manejada
com certa discreção.
As
congmgações
podem e devem aprender a cantar os grandes
clássicos
cristãos do passado.
Mas o culto divino dominical
não é o tempo e o
lugar para a prática ou o ensaio. Só
pode desencorajar
uma congregação
<3
:Úicil imaginar uma paYr!pilante que uma -ce,hinos»
cheirando
às
" cbcenidades
pagãs do
:: pura zombaria transs:érios cristãos em atos
clube noturno. Que tem
''"1 a escuridão, ou Cristo
o Agnus-Dei
com os
/onkees e seus comparcrações solenes da igreHb 13.10) não devem
3S com os modos e as
-.l
religiões cananéias
da
Co 10.7-8) e de suas
Joernas.
:;rência conveniente
pocoisa;
uma estreiteza
oem outra.
Boa música
ia poder ser cantada. E
-na vez pôde ser cantado,
,nte já não poderá ser
Mais ainda, aquilo que
samente quando cantado
numa catedral
gótica,
fculo quando tentado por
30 choro funeral de um
um órgão eletrônico.
A
:Aivar
devoção viva, não
"tas de museu para agra:cares musicais sofistica:0. é melhor cantar "Mais
estar» com entusiasmo e
ceie devastar
um grande
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a íngreme magnificência.
c algum deve sugerir que
em os antigos
tesouros
c8stão deve, contudo, ser
y-n certa discreção.
As
,3 podem e devem apren3' os grandes clássicos
:oassado. Mas o culto dical não é o tempo e o
; prática ou o ensaio. Só
corajar uma congregação
se ela é compelida a cantar hinos desconhecidos
seguidamente.
A maioria
dos hinos cantados num determinado
domingo devem ser conhecidos
o suficiente para serem cantados peia comunidade
em peso e com fervor
Basta procurar domina;- um ou dois
hinos desconhecidos
por culto.
Isto
permite o necessál-io treino sem destruir a alegria da congregação
no cu!to. Também deve ser guardado
na
mente que, uma vez que se tenha um
arcabouço litúrgico conveniente
e estável, há considerável
liberdade dentro dele para hinos popularmente
expressivos
(CA XXIV, 2). Serra difícil
encontrar
um exemplo mais perfeito
destes princípios
que a pl'ática do
grande bispo St. .Ambrósio de Milão.
Durante a semana santa do ano 386,
um ano antes da conversão de Santo
Agostinho,
a viúva imperatriz
Justina,
que era uma fanática ariana, tentou
compelir Ambrósio a entregar uma de
suas igl'ejas aos arianos. O bispo se
recusava firmemente a fazê-Io. Várias
pressões
eram exerciclas sobre ele,
inclusive o dramático cerco da igreja
de Ambrósio pelos soldados
arianos,
que receberam ordens para deixar o
povo entrar,
mas não sair.
A.3sim
Ambrósio
e muitos da sua gente roram forçados a passar vários dias na
igreja,
virtualmente
cercada.
Para
encorajar sua congregacão a permanecer na fé verdadeira,
Ambrósio compôs lindos hinos, exaltando a Santissima Trindade e a verdadeira
divindade de nosso Senhor.
Estes hinos
eram então cantados antifonicamente
pelo clero e pelo povo.
Agostinho
reporta que este canto era tão compulsor que foi imitado até mesmo pelos soldados arianos lá fora! No século 16, igualmente, a Reforma muitas
vezes foi cantada
para dentro
dos
corações e das mentes do povo. Não
deveria a celebração
dos cultos, nas
nossas igrejas hoje, ser igualmente
contagiante?
NOTAS DE PÉ DE PAGINA
1. C. S. Lewis, Letters To Malcolm:
On Prayer (New York:
Harcout,
Brace, and World, 1964), p. 4.
2. Roy Larson, "Memo to a Parson,
from a Wistful Young Man", Religion in Life, XXXI (1961), p. 356,
oited in E. \IV. Janetzki, "Where Is
lhe Church?" Basic Studies in
Christianity (Adelaide: Lutheran Publishing House, n.d.), p. 71.
3. Spirítual Counterfeits Project News18tter, 8erkeley, California, JanuaryFebruary 1978.
4-. C. S. Lewis, Undeceptions (London:
Geoffrey Bles, 1971), p. 76.
5, Charlas Porterfiel Krauth, The Conservative Reformation and Its Theology (Minneapolis: Augsburg, 1963),
pp. 650, 655.
6. Oscar Cullmann,
Early Christian
Worship
(London:
SCM
Presa,
1966), pp. 30, 31, 34.
7. Jaroslav Pelikan and Helmut T.
Lehmann, eds. Luther's Works (St.
Louis: Concordia Publishing House,
1955-1976), 53, p. 24.
8. J. G. \Nalch, ed., Dr. Martin Luther's Saemmtliche
Schriften
(St.
Louis: Concordia Publishing House), 10, cols 2256-2258.
9. C. F. W. Walther, ed., Johanni
Gulielmi
Compendium
Theologíae
Positivae
(St. Louis:
Concordia,
1879), p. 529.
1 (). Martin Chemnitz, Polycarp Leyser,
and
John
Gerhard,
Harmoniae
o.uatuor Evangelistarum
(Frankfort
and Hamburg, 1652), 11, p. 1085,
11. H. Sasse, This Is My Body (Minnea"0115: Augsburg, 1959), p. 2.
12. C. S. Lewis, Letters To Malcolm,
p. 9.
13. Ibid., pp. 4-5.
"Concordia
Trad.: Edgard A. Krieser
Theological Quarterly",
Outubro 78
43
o
PLANO
DIVINO
DA SALvaçãO
i
(Ef 1.3- 4)
Efésios
1.3-14 é um texto
dificil.
Isto se deve à riqueza de conteúdo
bem como à maneira como o texto
se apresenta.
Tanto no texto português quanto no grego deparamo-nos
com um periodo de proporções
descomunais:
do versiculo
3 ao 14 há
apenas um ponto, bem ao final. Estamos diante do período mais comprido
que se conhece na literatura
bíblica.
Este fato em nada desmerece
o
texto. É evangelho puro. É um resumo da história da salvação, ou, então,
a doutrina cristã em traços gerais. O
tema é este:
Deus, em seu amor,
nos abençoou em Cristo.
Tudo que
o texto menciona é bênção. Pode-se
fazer quatro divisões:
1) Deus nos
escolheu e predestinou
em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos seu povo e seus filhos;
2) por
graça, em Cristo, temos redenção e
remissão;
3) Deus nos desvendou o
mistério
reunifícador
em Cristo;
4)
crendo em Cristo fomos selados com
o Espírito Santo.
1. Deus nos escolheu e predestinou em Cristo (v. 4,5). Trata-se de
uma ação de Deus. A perspectiva do
Deus nos escotexto é teocêntrica.
lheu. Se ele revela este fato, então
também isto é graça (favor imerecido).
é bênção. Com esta revelação Deus
certamente
não pretendia propôr um
quebra-cabeça
teológico,
mesmo que
por vezes e para alguns assim possa
parecer.
Sua intenção é consolar e
induzir ao louvor.
Vamos examinar
alguns detalhes
do texto, a passagem básica para a
44
Vilson Scholz
doutrina da eleição, deixando de lado
a pretensão
de sermos exaustivos.
Deus nos escolheu para si. Este é o
sentido do verbo eklégomai no aoristo
médio.
Deus nos escolheu nele (en
auto), em Cristo.
Neste ponto inicia
a central idade de Cristo no plano da
salvação.
A eleição precisa ser vista
à luz de Cristo. A decisão eterna foi
tomada com vistas à manifestação
de
Cristo no tempo. É um ato do amor
de Deus.
Deus nos escolheu
antes
da fundação do mundo. A história da
salvação vai de eternidade
a eternidade, desde antes da fundação
do
mundo até ao "resgate
da sua propriedade» (v. 14), a consumação final.
Deus mostra que ninguém é cristão
!Jor acidente.
Antes de se preocupar
com o mundo Deus já se preocupava
com cada um de nós. Mais um detalhe:
Deus nos escolheu.
Este nos
inclui o apóstolo
cristãos.
Este nos
eleição
interessa
cristãos:
somente
Paulo e todos os
deixa claro que a
exclusivamente
a
estes foram eleitos
(não há dupla predestinação)
e só a
eles se destina a revelação deste fato,
para consolo.
No momento em que
se abandona o reino de Deus a discussão em torno dessa verdade perde o sentido.
A meta de Deus é nos tornar
"santos e irrepreensíveis
perante ele»
(4 b) e a adoção de filhos (5 a). Santos são aqueles separados por Deus.
Da perspectiva
do Antigo Testamento
«santos» têm também o sentido
de
"povo
Deus
de
pela
Deus».
Como
povo
de
fé somos «sem defeito»,
perante
Deus e tão-somente
nesta
dimensão.
A mesma situação é descrita por outras palavras como «adoção de filhos», isto é, Deus na eternidade decidiu elevar-nos
à condição
de seus filhos, para que tivéssemos a
ousadia de clamar "Aba, Pai", isto é,
paizinho (Rm 8.15).
A determinante
fina! deste ato em
Cristo foi a suaiontade
(5 b) e o
objetivo (,!timo é o "louvor da glória
de sua graça
(6 a)
2. Por um favor imerecido
Deus
concede.
g!'ac!osarnente,
em Cristo,
redenção e remissão.
Redenção (apoIytrosis - v Ti aponta para a imagem
da libertação
de escrs\'os
Redimir
é libertar das forças sstânicas, do
pecado, da carne, do egoísmo.
da
morte. Este foi e continua sendo (afinal, o verbo éxomen está no
presente,
denotando
continuidade)
o
grande valor do sangue de Cristo.
Falar em sangue de Cristo é um outro
modo de se referir à sua cruz e todas
8S suas implicações.
Depois do ato inicial de libertação
vem a remissão dos pecados.
A palavra remissão (áphesis - v. 7) indica
um ato de remover,
levar embora.
Remir pecados é apagar pecados. Segundo Miquéias 7.19, é um lançar nas
profundezas
do mar. É uma bênção
que, igualmente,
sempre de novo é
concedida.
A palavra pecado no original é paráptoma, palavra que vem
do verbo parapípto, «cair para o lado». Paráptoma (pecado) é a queda,
o tropeço.
Pecar é cair quando cumpria ficar de pé. (A propósito, nossa
palavra pecado, em sua origem latina, lembra o passo em falso do cavalo
que tropeça, e neste sentido é uma
boa tradução para paráptoma.)
Por trás de tudo isso está a «riqueza
de sua graça»
(7 b).
3. Deus deu sua graça em grande
medida, em toda sabedoria e entendimento,
tornando
conhecido
o mistério unificador em Cristo.
O mistério de Deus é o propósito
secreto de Deus nas suas relações
com o homem. Esse mistério repousa
na vontade de Deus e tem como centro o próprio Cristo.
É mistério
na
medida em que não é conhecido
a
partir do esforço
humano.
O plano
estava com Deus e só foi conhecido
a partir do momento em que ele decidiu revelá-Io.
Aqui temos, portanto,
revelação.
é esse? Reunificar
Que mistério
tudo sob uma única cabeça Cristo
(anakephalaiosasthai
tá pánta en to
Christo). Eis o alvo: unir, restabelecer a harmonia, eliminar as rupturas.
Dia a dia podemos verificar
que no
mundo operam forças
desintegradoraso forças caóticas.
Impera o mal,
reina o pecado.
Pecado é ruptura:
entre Deus e homem, na personalidade do próprio homem, nas relações
inter-individuais
e inter-grupais.
A
ruptura estende-se
também ao domínio da natureza. A doutrina do pecado pode ser provada
experimentalmente, caso não bastasse
o testemunho escriturístico.
Vivemos cercados de rupturas
que apontam para
Gênesis 3. Diante disso, Deus não
cessa de criar, de ordenar o mundo.
Ele
continua
ordenando,
continua
criando.
Esse é o aspecto da providência de Deus. Por outro lado, Deus
restaura
harmonias
rompidas,
salva.
Essa harmonização
vai desde as re ..
lações Deus-homem
(o ponto fundamenta!!), homem-homem
e se estende a todas as coisas (tá pánta), nos
céus e na terra. A reunificação
acontece em Cristo, no reino de Deus.
Tudo está centralizado
em Cristo.
45
-
-
....
-
...
-
Quando sucederá ou sucede isto?
"Na dispensação
da plenitude
dos
tempos».
Essa tarefa reunificadora
foi
inaugurada, instalada (oikonomia - organização, instalação do plano salvífico de Deus) na plenitude dos tempos (kairói).
Houve diversos
kairói
(plural de kairós, isto é, tempo oportuno, momento decisivo, dia D, hora
H, intervenção
salvífica) ao longo da
história da salvação de Deus. Chegou
agora a plenitude destes kairói. Houve o transbordamento.
Atingiu-se
o
nível máximo. Chegou o kairós decisivo, a intervenção
salvífica que dá
sentido, que ilumina todas as demais:
o Filho de Deus se manifesta encaro
nado e o reino de Deus está aí. A
dispensação
da plenitude dos tempos
é o tempo do Novo Testamento:
desde a encarnação
até a parusia do
Filho de Deus.
Cristo está no centro e no aplce
da história da salvação.
O kairós em
Cristo
esclarece
todos
os demais.
Num certo sentido, todos os demais
kairói (êxodo do Egito, volta do remanescente
da Babilônia,
etc.) foram
ensaios do grande kairós: adquirem
sentido em Cristo e só existiram em
função do kairós em Cristo.
Vivemos na dispensação
da plenitude dos tempos. É um tempo de eliÉ um tempo de
minação de rupturas.
salvação, de paz. Para esta sua missão paCificadora Cristo nos conclama
(Mt 5.9). Ele nos envia para pacificar
homem e natureza (ecologia),
homem
e Deus, homem consigo mesmo, homem com seus semelhantes.
O reino
de Deus se caracteriza pela paz, pela
salvação,
pela eliminação
de rupturas. Essa já era a mensagem dos profetas. O ponto culminante,
o último
ato, o dado que não podemos esquecer é a volta de Cristo. Esta eliminará
46
-~-------------
por completo as rupturas. Pacificamos
na expectativa desse dia.
4. Cremos
em Cristo
e fomos
selados com o Espírito Santo (v. 13,
14).
Ouvindo a palavra da verdade,
o
evangelho da salvação, os efésios creram em Cristo e foram selados com
o Espírito. O selo sugere duas imagens: Destinava-se
a fechar, guardal"
e proteger
algo. Desta forma, selavam-se livros. Por outro lado, o selo
é marca de propriedade.
Deus não cria para abandonar.
Deus não compra (salva) para deixar
a propriedade
entregue a si mesma.
Deus cria e guarda;
salva e coloca
sua marca de proprietário:
o Espírito
Santo.
O Espírito Santo da promessa é
também penhor da herança.
Penhor
(arrabon) é a entrada, o sinal que se
É uma
dá numa transação comercial.
garantia de que no devido tempo tudo
será acertado.
Assim é o penhor do
Espírito Santo. É a garantia absoluta
de que haverá o resgate total. Deus
salva o homem em Cristo e envia o
Espírito Santo como garantia de que
no fim haverá salvação
plena.
Um
paralelo
humano temos
no homem
que compra um terreno
e constrói
uma cabana para dizer que o terreno
tem dono e que vai ser construido
um grande edifício.
(Nota: No grego
moderno a palavra
arrabon, penhor,
É mais ou
designa noivado, aliança.
menos esta a idéia do texto:
Deus
faz um pacto e envia o Espírito como
garantia da herança; é o noivado que
aponta para o casamento.)
O texto termina falando em resgate da propriedade
(v. 14). É a consumação final. No que refere ao homem, a ressurreição
do corpo.
Deus
resgata o corpo. Ele salva o homem
em toda sua personalidade:
corpo e
espírito. A maior garantia da nossa
ressurreição - além da promessa de
Deus - é o envio do Espírito Santo,
selo e penhor, aos nossos corações.
No «resgate da propriedade» ligamse os dois extremos da história da
salvação: o tempo desde antes da
fundação do mundo e o tempo que
segue o desenlace final.
O propósito de Deus em tudo isto
é
o louvor de sua glória (v. 6,12,14).
Portanto, "bendito seja o Deus e Pai
de nosso Senhor Jesus Cristo ... » (v.
1). Louvor é a nota dominante que
perpassa todo este texto, uma verdadeira doxologia. Louvor e adoração
é a atitude d@ homem diante de tão
magnífico plano de salvação. Louvor
é tudo que nos resta. A religião cristã é a religião do louvor e da gratidão. E venhamos e convenhamos:
há motivos de sobra. Fazer teologia
- com tudo o que isto implica - é
assumir, acima de tudo, uma atitude
de gratidão e louvor.
47
A
OS NOVOS VENDEDORES DE INDULGEHCIAS
Willem C. van Hatten
«Tão logo o dinheiro soar no cofrinho, aalminha pulará para o céu»
(<<sobalddas Geld im Kastchen klingt,
das Seelchen in den Himmel springt»).
Quem não conhece o lema favorito do
padre dominicano João Tetzel na sua
venda de indulgências? Estamos no
ano de 1517: o papa precisa de dinheiro para a construção da basílica
de São Pedro. Nada mais fácil que
arrancar esse dinheiro dos crédulos,
com promessas falsas. Logo depois,
contudo, aparecem as 95 teses de
Martinho Lutero «para esclarecimento
do poder das indulgências».
São
principalmente três pontos no sistema
de indulgências que despertam a indignação justa do professor de teologia Lutero:
a) o sistema das indulgências é
contra o evangelho;
b) uma certeza da salvação comprada é contrária ao arrependimento
verdadeiro;
c)comprar indulgências como uma
boa obra prejudica o amor ao próximo.
Três fatores - como descobrimos
- são ainda de grande importância.
Pois o «tão logo ... » de João Tetzel
podemos ouvir de novo e até chega
aos nossos ouvidos e olhos através
do rádio e da televisão. Parece que
a venda de indulgência é um bom negócio ainda hoje para aqueles que
apelam aos instintos egoístas do
homem.
As novas indulgências são sobretudo mais do que atraentes, pois os
vendedores não apenas prometem
salvação eterna, como também um
bom melhoramento da vida material.
48
Os novos sumo-sacerdotes
da
«Tetzel S.A.» apresentam-se também
como intercessores e mediadores poderosos que, pelas forças das suas
orações, podem realizar grandes coisas para os outros. Duas destas pessoas, para as quais a religião tornouse uma grande fonte de lucro, são
Thomas L. Osborn e Rex Humbard.
Eles prometem bênçãos abundantes
para a vida material, mas tem que
se pagar para receber essas bênçãos.
Osborn, o pregador da Aliança,
conta como a aliança de Deus torna-se
efetiva no momento em que sua carta,
com pedidos para intercessões - e
naturalmente com cheque - é posta
no correio.
Rex Humbard, o pregador da Catedral do Amanhã, a catedral nos ares,
promete todas as riquezas do banco
de Deus, posto que você pague, pois
sem pagar as bênçãos não virão.
a) Contra o Evangelho
De vez em quando encontramos
pessoas que dizem: .Não é bom criticar estas pessoas, pois elas pregam
Cristo». Seria verdade? É certo que
elas falam de Cristo, que usam o nome de Cristo. Mas falar de Jesus
Cristo e usar o seu nome é outra
coisa do que pregar Cristo! Pois pregar Cristo é pregar o evangelho da
salvação pela graça pura de Deus, da
justificação pela fé. Mas certamente
não é a pregação de uma nova lei a
qual até Deus se submeteria e que
soaria: «Dai e dar-se-vos-á» (Lc 6.
38) (A Chave, p. 35). As palavras do
Senhor:
«Mais bem-aventurado
é dar
que receber» (At 20.35) parecem soar
agora:
«Bem-aventurado
quem dá,
pois receberá».
Quem recebe finalmente são os fundadores
e diretores
de trustes religiosos.
Mas nem a salvação nem as bênçãos de Deus podem ser compradas.
Na sua segunda carta aos Corintios o apóstolo Paulo, falando destes
tipos de «pregadores»,
usa palavras
rudes, pois muitos deram ouvido a
eles e se apartaram da simplicidade
e pureza
devidas
a Cristo
(11.3).
Quem não prega a simplicidade
do
evangelho, mas uma nova lei até
usando o nome de Cristo prega
um outro Jesus (11.4) e por isso
Paulo fala de falsos apóstolos, obreiros fraudulentos,
transformando-se
em
apóstolos de Cristo (11.13). São eles
que escravizam,
devoram e detêm a
gente;
são eles que exaltam-se
da
sua pureza e piedade e que até esbofeteiam o rosto dos outros (11.20).
É assim:
eles levam a uma nova escravidão espiritual
e devoram ou espremem a gente como limões ou laranjas e até insultam povos inteiros,
vendendo e propagando
o seu estilo
de vida particulai' como o único que
É o estilo
de «Qlamour»
dá certo.
(encanto e beleza), do «streamline»,
do super-jato
e do dólar
doente.
Mas, como muitas novelas da TV, eles
mostram um mundo irreal e encantado, apelando à cobiça para viver nesse mundo de sonhos, e muita gente
quer assegurar-se dum lugarzinho. melhor ainda: um lugarzão. nesse mundo fantástico
das «nlulti-nacionais
da
fé»,
programa do seu rei (Rex) da audiência. Se - como os latinos diziam nomen est omen(o
nome é um sinal),
o nome Humbard' é muito bom, pois
«hum»
significa
«mistificação»
e
"bard» significa
«trovador»,
«bardo»,
então:
trovador ou bardo da mistificação, das ilusões, dum mundo irreal!
Mas há mais ainda - e irreal também -'- pois os senhores
diretores
das empresas
da fé posam também
como mediadores com dons poderosos
de oração.
Quer algo de Deus? Não há mais
problemas:
mande seu pedido através de Thomas ou Rex, mas ... não
esqueça o cheque!
Coisa muito triste, pois onde fica
a verdade bíblica:
há um só Deus e
um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus? Humbard, Osborn
e outros chamados intercessores
poderosos, tomam e ocupam o lugar de
Cristo como o único mediador.
Eles
tomam o lugar de Cristo, que disse:
ninguém vem ao Pai, senão por mim
(João 14.6) e que ensinou-nos
pedir
apenas em seu nome (Jo 16.23,24).
r--.Jãoprecisamos dos Osborns, dos
Humbards e companhia
para dirigirnos a Deus.
Precisamos
de Jesus
Cristo.
Falando em termos de negócIos,
como eles gostam de falar, temos
que dizer: o único autorizado é Cristo,
os outros são como disse um coiega indignado
oessoas
que
para alcançar
rar-se,
- apenas «picaretas»,
usam de expedientes
favores,
para melho-
b) A Salvação
É tão
simples: mande seu cartão
agora, e ...
não esqueça o cheque!
Pelo menos uma vez por semana
os pobres enganados sentem-se
parte deste mundo irreal assistindo
ao
a rre pe nd im e ntove
comprada
exclui
o
rd adeiro
Lembremo-nos
como Lutero condenou a certeza da salvação comprada, pois na qual não há lugar para
49
um arrependimento verdadeiro.
De
vez em quando ouvimos também nas
pregações dos novos vendedores de
indulgências a palavra «arrependimento», mas não é o arrependimento
verdadeiro, é apenas uma mudança
no estilo da vida.
Arrependimento e conversão, como
a Bíblia nos ensina, eles não conhecem, ou pelo menos, não pregam.
Por isso eles usam uma Bíblia adaptada. Freqüentemente eles usam a
Bíblia, mas apenas como um arsenal
de textos, geralmente tirados do contexto e adaptados às exigências do
(sistema do) pregador. Agora, por
exemplo, temos de crer que durante
quase vinte séculos as palavras do
Senhor: «Pedi, e dar-se-vos-á buscai
e achareis; batei e abrir-se-vos-á»
(Mt 7.7, Lc 11.9) nunca foram bem
entendidas, pois segundo o sr. Humbard - nosso trovador de mistificações - isso quer dizer: pedir = orar;
buscar = jejuar; bater = dar. Tudo
é tão fácil, é apenas um sistema:
você pede, depois faz jejum (calculado por Humbard em Cr$ 45,00 por
pessoa, por almoço) depois manda o
dinheiro para a catedral nos ares, que
felizmente tem caixas postais na terra
firme em muitos países e até uma
conta no banco ...
Depois de tudo
isso, chegarão as mais ricas bênçãos
materiais. " Mas o pobre e quebrantado pecador que não procura bênçãos materiais, mas um Deus benigno,
fica na miséria. Pois ele não procura
a chave para o sucesso, ele procura
um Deus perdoador; o que ele pode
fazer com as grandes coisas oferecidas na capa do livrinho de Humbard, como poder espiritual, cura física e sucesso financeiro, se ele não
encontrar um Deus propício e se ele
não achará um lugar de arrependimento?
50
o que significa o sucesso para
alguém em busca da paz com Deus?
São estas pessoas tão comercializadas e cegas que elas nem entendem
que existem muitos que falam com
Paulo: o que para mim era lucro, isto
considerei perda por causa de Cristo,
sim deveras, considero tudo como
perda, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus meu
Senhor: por amor do qual perdi todas
as causas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Fp 3.7,8).
Nas Bíblias destes pregadores não
se acham textos que falam sobre isso,
nem sobre tribulações, perseguições
e provas; o livro de lá parece estar
eliminado nas suas Bíblias, e o apóstolo Pauio. com todas as suas tribulações reiatadas em 2 Coríntíos 11.2328 deve ter sido um cristão muito reiaxado e ruim, não chegando ao «status,· desses pregadores da vida boa
e próspera, vendedores de castelos
nos ares, ou lotes frios, vendedores
de ilusões e irrealidades. Uma coisa
muito triste, contudo, ' que, como nos
dias de Paulo, muitos gostam de ser
enganados, e de boa mente toleram e
até seguem às suas heresias.
Heresias, sim! Falta-me o espaço
para mostrar como, por exemplo, A
CHAVE de Humbard contradiz a Bíblia
do começo até o fim. O livro transborda de sinergismo e até as obras
de Deus dependem do homem (I'. 100).
A justiça da fé torna-se uma justiça
pelas obras. Humbard também nos
conta que Deus precisa do amor dos
homens; é outra coisa do que lemos
em Atos 17.25: «nem é serviço por
mãos humanas, como se de alguma
coisa precisasse», ou Romanos 11.3336: "dele e por meio dele e para ele
são todas as causas». Vale a pena
ler a Fórmula de Concórdia, art. II e
111
ao lado do livrinho de Humbard e
das cartas de Osborn para descobrir
como eles construíram
um sistema
não-bíblíco,
baseado
nas obras humanas.
Neste sistema, eles usam um ou
mais textos
bíblicos
tirados
do
contexto - para bater depois sempre
na mesma tecla, até não se saber
mais se isso é a palavra, a vontade
e o mandamento
de Deus.
Mas -
como no mercado
automo-
bilístico os picaretas sempre falam de uns aspectos,
vendendo
muitas vezes sucata, enquanto o
comprador
vive na ilusão de ter adquirido
o carro mais sofisticado
do
país ou do mundo. Mas é só ilusão,
e logo depois ele fica decepcionado.
Gostaria de saber quantas "Chaves
para o Sucesso», vendidas por Humbard com isso ele revela-se como
um bom discípulo
de Demétrío
de
Éfeso, At 19 - tornaram-se
um obstáculo no caminho para Deus!
Gostaria de saber quantas destas
chaves fecharam as portas dos céus
e para a vida com Cristo, em vez de
abrir.
Pois não devemos, nem podemos,
comprar a «chave para o sucesso»;
mas devemos entregar-nos
a Cristo.
Não na base de «Eu dou e por isso
receberei» um pensamento
pagão
antiquíssimo mas de gratidão pela
salvação.
c) Amor
próximo
próprio
contra
o amor ao
Thomas L. Osborn pede as primícias de cada mês, as quais devem ser
pagas antes de qualquer nota, e Humbard fala também dos grandes milagres que aconteceram
nas vidas de
pessoas que mandaram dinheiro
necessário para o sustento da vida da
família. Assim eles ensinam especular,
e há pouca diferença entre uma pessoa jogando com seu último dinheiro
na loteria e uma pessoa
investindo
nas empresas dos ares. As duas, pois,
fazem isso para ganhar! para enriquecer-se!
Quando uma pessoa usa o
seu dinheiro deste modo não sobra
nada para o próximo.
Ou outra
conclusão
dos ensinamento
deles a ajuda ao outro é consíderada também um bom investimento,
que dará
lucro. Onde fica aqui o amor ao próximo?
O que fica é apenas uma pessoa
egoista, fazendo boas obras, ou melhor, fazendo a grande obra que consiste em pagar, pagar, pagar, para ...
receber!
É uma religião egocêntrica,
baseada na cobiça, e por isso não tendo
lugar para o amor de Deus.
Escreveu o apóstolo:
«Ora, aquele
que possui recursos
deste mundo e
vir a seu irmão padecer necessidade
e fechar-lhe o seu coração, como pode
permanecer
nele o amor de Deus?»
(1 Jo 3.17).
Perguntamos:
onde permanece
o
amor de Deus nos corações dos apóstolos da mistificação,
se eles, sem
nenhuma vergonha pedem até dos necessitados?
Onde permanece o amor
de Deus nos corações daqueles que
dão aos necessitados,
apenas como
um bom investimento
para receber
mais de volta?
Não fecham eles os
corações aos outros, apenas pensando em si mesmos e como prosperar?
Onde
fica
o
amor
corações de tantos que
mundo com corações
pensando em descontar
sua única boa obra:
ganhar?
de Deus
nos
passam pelo
fechados,
só
sua boa obra,
investir
para
51
d) o porquê dos sucessos
vendedores de indulgências.
dos
Há várias razões para o sucesso
"das multinacionais da fé». O motivo
fundamental é que se prega uma religião segundo o homem. Toda a relação entre o homem e Deus é reduzida a um negócio. O homem paga
e Deus dará os juros. Por isso o homem não depende de Deus, mas Deus
até fica dependendo do homem (A
Chave, pp. 33, 94 ete.). Na base de
negócio, o homem não vive da graça.
mas, sim, dos seus direitos e as bênçãos de Deus tornam-se juros merecidos. Na base de negócio, não há
arrependimento, com dinheiro paga-se
tudo!
Uma outra razão importante é que
os pregadores por torpe ou sórdida
ganância (Tt 1.11, 1 Pe 5.2) descobriI'am falta de método no cristianismo
atual, e, como todas as neo-religiões
oferecem um método, um método não
dificil: mandar dinheiro e receber uma
chavinha; jejuar: um almoço por semana, mandar regularmente seus che,
ques e unir-se ao círculo da oracãc
pelo rádio ou televisão, etc., etc.
Pelos métodos que formam :./;,
parte integral das construções d23
neo-religiões, o homem é treinado os
métodos, pois, são exercícios'
Lemos na Bíblia que se pode treinar o coração na avareza (2 Pe 2.! 4).
É isso o que aGontece nos métodos
dirigidos ao despertar a cobiça. Mas
a Biblia diz também: exercita-se na
piedade (1 Tm 4.7). Uma coisa muitas
vezes negligenciada, pois o individualismo se conteve de prescrever métodos e regras, resultando hoje em
dia numa busca frenética de métodos.
Quando a Bíblia diz: «Exercita-te
na piedade», muitas pessoas perguntam: «mas como, se alguém não me
52
explicar?» (At 8.30). Temos que exercitar uns aos outros na piedade, temos de ensinar como viver conforme
a vontade de Deus, como e quando
orar, ete.
Lemos na Biblia também de pessoas com método, como um Daniel,
que três vezes por dia se punha de
joelhos (on 6.11) e o próprio Senhor
les:.;s freqüentava a sinagoga aos
sábados conforme o seu costume (lc
" "i6:: Contudo no decorrer dos temaos e principalmente desde os meac::s Ó:: século passado, trocamos os
bc-s CCStU"'6S e métodos para a von:ade-dedua!
Agora, sentindo falta
de bo~ metodo da vida, muitos proc.ura'" o3'ee~dBdores de métodos, e
paga.~ -;e"s\",ente
muito - para
ap;e,.,de"j~:)2drão
de vida. Mas já
pe0sc:": c ::..:e .? ",:nr;:, igreja pode<a "2ZS' se desse tanto para o traba.
:
"",,-
"-'
.
.-.o::;,
;;
'-''-'"-
.
=" e sstes dias com um cristão
~'~:..::::::ycspero, Ele disse que dava
2 ç::"":.1'Úlôde espírita, pois «eles faze,.,., :a"to
para os desamparados».
=>erguntei: mas o senhor nunca se
:::,::;,-,scientizouque a igreja também
poderia fazer muitas coisas se o sr.
e outros dessem este dinheiro à igreja e se o sr. formasse um grupo de
leigos ativos para atender aos outros
que precisam de ajuda?» É tão fácil
dizer minha igreja não faz nada. Mas
é uma auto-acusação, pois, no fundo,
é dizer: eu não faço nada!
Quanto dinheiro não se perde, que
poderia ser usado no trabalho da sua
própria igreja?
No crescimento assustador das
neo-religiões e na prosperidade das
indústrias da fé, com suas organizações mundiais e funcionários mais
que bem-pagos, podemos ver o fluxo
do dinheiro para estas organizações.
Isso porque muitos dos doadores
pensam que se compra a salvação
através do dinheiro, enquanto eles
não têm vontade de cansar-se na
. vinha do Senhor. É tão fácil preencher um cheque no começo do mês
e assistir à televisão, dizendo: pois
é, a minha igreja não faz nada! É tão
fácil deixar o trabalho da igreja por
conta dum "funcionário pago» o
pastor - assistido por uns entusiastas, falando do pouco que se realiza.
Deus, porém, te chama!
Deus quer a tua participação!
Deus não pede apenas cheques,
mas ele chama pessoas, com todo o
coração, toda a alma, todas as forças
e todo o entendimento (lc 10.27).
Deus não quer fazer negócios,
prometendo dividendos e juros.
Ele nos chama à atividade mais
intensa para ganhar almas por palavras e atos.
Não para vivermos melhor materialmente, talvez ele nos chama para
sofrer pelo seu nome (At 9.16).
Deus chama os seus filhos para
abrir seus corações e viver e falar,
constrangidos pelo amor de Cristo (2
Co 5.14).
Neste amor construiremos a igreja com todos os nossos esforços,
experimentando uma comunhão real e
viva, e não nos contentando com uma
comunidade, ou até uma catedral irreal - nos ares.
Ref. Bibliográficas:
R. Humbard: A Chave para o sucesso
na vida - São Paulo, 1977.
R. Humbard: Folhetos para obter dinheiro.
Reportagens sobre o «ministério» de
Humbard e Osborn.
Th. l. Osborn: Folhetos para obter
dinheiro.
H. J. Hegger: Religion is not: Trading
with God (ORD, XII, 1978, nO 1,2).
53
A Arqueologia
e
a Bíblia
(Tel Mardikh
-
Rev. Tércio
Ebla e a Bíblia)
Machado
Siqueira
o
ESFORÇO arqueológico
desenvolvido por alguns homens, tem trapara
zido à luz preciosas informações
o conhecimento,
especialmente,
das
civilizações
do Médio e Oriente Próximo. Lamentavelmente,
estes poucos
heróis não têm recebido o devido reconhecimento,
pela dedicação
e renúncia em favor das Ciências
Humanas.
Há pouco mais de dez anos precisamente
em 1964 iniciava-se
uma paciente tentativa
dirigida
pela
Universidade
de Roma, na localidade,
modernamente
chamada de Tell Mardikh, na Síria. Neste local, a Missão
Arqueológica
Italiana acredita ter encontrado Ebla, a antiga capital de um
importante império no Oriente Médio,
durante o 111e \I milênios.
Assim, o
descobrimento
de Ebla vem preencher
um vazio na história até então obscuro. Tal feito era ansiosamente
esperado pela ciência, pois dela somente havia menções
em importantes
documentos
da antigüidade.
Quando
eram vagas as alusões a Ebla, julgava-se que ela estivesse localizada ao
sul da Turquia.
Ao contrário
dos descobrimentos
dos Rolos do Mar Morto, dos manuscritos de 'Hag Hammad'
e 'Ugarif
(todos de grande importância
para a
reconstrução
histórica
e lingüística
da Bíblia), o achado de Ebla é o resultado da persistência e planificação dos
professores
Paulo Mattiae (chefe da
54
missão)
e
M.
Giovanni
(especialista
em Assiriologia
grafista da Missão).
Resumo
Pettinato
e o epi-
Histórico
Graças aos documentos escritos e
resultados das pesquisas, pode-se esboçar quatro grandes etapas na história de Ebla: no primeiro periodo por volta de 2500 a.C. Ebla vive
a sua etapa de grande prosperidade
econômica
e cultural
(este período
à Primitiva Era Dinástica
relaciona-se
das Cidades-Estados
da Suméria).
É
bom ressaltar que o seu esplendor foi
resultado
de sua excelente
posição
geográfica
(veja o mapa i1ustrativo).
Ela controlava
as principais
estradas
do tráfico entre a Mesopotâmia
e o
Mediterrâneo.
Com isto, o seu relacionamento
comercial e politico
com
Mari, Ugarit, Bibios, Haram e outras
antigas cidades, faz com que Ebla se
torne uma preciosa fonte de informação para o conhecimento das civilizações do Oriente Próximo e Médio
Oriente, bem como a Bíblia. Um segundo período pode ser colocado entre 2250 e 2000 a.C. quando a cidade
passou por um período de domínio
acádico. O terceiro período se estende entre 2000 e 1800 a.C. quando,
ao que tudo parece, a cidade foi tomada por um novo elemento invasor,
que seguramente não lhe devolveu
seus melhores dias. Após 1600 a.C.,
Ebla perdeu toda sua significação,
quando foi tomada e destruída, possivelmente, pelos Hititas.
Alguns grupos de textos
No artigo publicado pela revista
americana «Biblical Archeologist» (39
(1976) 45), Pettinato classifica os documentos descobertos em Ebla, em
cinco grupos principais: a) os textos
econômicos e administrativos, relacionados à administração da cidade, ao
comércio exterior, agricultura e indústria metalúrgica e têxtil; b) os léxicos
encontrados refletem o alto grau de
cultura científica; c) os textos históricos e jurídicos refletem a intensa
atividade diplomática da cidade. Para
os estudiosos da Bíblia em especial,
este vasto círculo de relacionamento
é bastante significativo, pois ganha-se
novos dados no trabalho de reconstrução histórica, lingüística e costumes
patriarcais e pré-patriarcais. Eis um
bom exemplo: a expressão «nós somos homens parentes» utilizado por
Abraão (Gn 13.8), encontra-se literalmente numa carta diplomática de
Ebla. Abraão teria usado uma fórmula
corrente nos meios diplomáticos para
exprimir os laços de dois aliados políticos; os textos religiosos constituem, naturalmente, os mais importan-
tas documentos de análise para os
estudiosos da Bíblia. Neste grupo encontram-se histórias mitológicas, hinos, fórmulas de encantamento e
coleções de provérbios; e) os silabários têm possibilitado ou facilitado
o deciframento e leitura dos documentos encontrados, pois eles podem ser
comparados a um moderno dicionário
bilíngüe (sumário e, no recém-descoberto, eblaíta). Talvez estes sejam os
mais antigos vocabulários da humanidade.
A Bíblia
e os documentos de Ebla
Os comentários introdutórios deste
artigo objetivam dar ao leitor uma
visão, ainda que pequena, de conjunto, da importância de Ebla como
condutora e geradora de tradições
culturais do Antigo Oriente Próximo.
Entretanto, como o nosso interesse
aqui é analisar algumas relações entre
os documentos de Ebla e a Bíblia,
vamos enumerar alguns pontos que
têm chamado mais atenção dos teólogos especializados no campo de
Arqueologia.
1. Nomes bíblicos
A leitura dos tabletes de Ebla fez
emergir nomes de cidades e pessoas
também citados na Biblia, alguns dos
quais ainda obscuros em seu significado. Entre as muitas cidades que
mantinham comércio com Ebla citamse nomes como Hazor, Megido, Biblos.
Sidon, Aco, Dor, Asdote, Gaza e,
possivelmente, Jerusalém.
Se realmente a referência a Jerusalém for correta, estamos diante da
mais antiga menção desta cidade.
Outra possível relação trazida pelos
textos refere-se aos nomes das cidades da Pentápole do Mar Morto, de
55
que fala Gn 14.2: Sodoma, Gomorra,
Admá, Zeboim e Belá.
O que mais
tem surpreendido
aos lingüístas
é
que as cidades estão citadas na mesma ordem que encontramos
na Bíblia.
Da mesma forma, os textos contêm
nomes que são lingüisticamente
similares a nomes bíblicos.
Entre estes
nomes, podemos citar os de Abraão.
Israel, Ismael, Miquéias,
ESE,ú, Saul,
Davi, etc. Embora não podendo faiar
em termos definitivos,
uma das mais
interessantes
correspondências
está
entre os nomes do grande rei de Ebla
(Ebrium)
que é semanticamente
e
lingüisticamente
equivalente
ao nome
de Eber, em Gn 10.26 e paralelos.
Segundo a Bíblia, Eber foi um dos ancestrais de Abraão.
Referindo-se
ao
assunto, o editorial da respeitada
revista americana,
«Biblical
Archeologist» (março, 1977, pág. 3), afirma que
a correlação é intrigante, embora não
haja nos tabletes de Ebla nenhum elo
de ligação entre os duas pessoas.
2.
fJ.
língua
O eblaíta,
agora
descoberto,
é
uma língua semítica
que floresceu
aproximadamente
mil anos antes da
língua hebraica.
Seu estreito parentesco com outras línguas semíticas Fenício, Ugarítico,
Hebraico pode
certamente lançar muitas luzes na estafante pesquisa bíblica, pois, ao contrário
do que se pensa, persistem
muitas dificuldades
na compreensão
de textos do Antigo Testamento,
especialmente
nos livros poéticos.
3. A religião
O panteão de Ebla contava
com
cerca de quinhentas divindades,
mas
reconhecia
Dagon como a divindade
mais importante,
Dagon era conheci53
do tanto em Mari (localizada na Média
Mesopotâmia)
como na costa filistéia
(Jz 16.23; 1 Sm 5.2-7). Segundo
os
textos de Js 15.41; 19.27, Dagon pai'eoe ter sido cultuado em Canaan, por
algum povo.
Mas as possibilidades
de uma correlação
não fica somente
20 principal deus dos eblaítas: Baal,
tão conhecido
através das advertênproféticas,
teria dado seu nome
a uma das quatro portas da cidade.
\larrativas
acerca da criação e dilú\/io poderão,
sem qualquer
dúvida,
tl'azer vaiíosas
informações
para a
interpretação
de Gênesis.
Um ponto que tem provocado
intensas discussões
refere-se aos noC,3S
mes próprios.
Segundo alguns estudiosos do texto, os nomes próprios de
Eb!a poderiam conter, sob uma forma
abreviada, nada menos que um equivalente
do nome por excelência
da
Bíblia:
Javé. Assim, alguns
nomes
próprios
poderiam
conter
a forma
«EI. ou "Ya» (exemplo:
abreviada
Ismsel e Isaias). Que diriam os grandes teólogos? Por hora, estamos diante de conjecturas,
e toda afirmação
seria por demais temerosa.
4. Instituições
Mais urna vez podemos
sintomas
de uma relação
culturas eblaíta e israelita.
encontrar
entre as
Particula"
rizando o culto em Ebla, podemos
vê-ia liderado por várias classes de
Eacerdotes
e sacerdotisas.
É bem
verdade que Israel não conheceu
a
segunda classe de liderança.
Entretanto, é bom lembrar que a Tradição
Israelita
foi um elemento
vivo
apropriando ou criando, eliminando ou
purificando
toda
sorte
de cultura.
Todo este processo, ao contrário
de
outros povos, seria ao propósito salvifico de Deus.
Uma segunda instituição
em Ebla
que muito nos interessa, é a dos reis.
Tal como em Israel, a legitimação
da
sucessão de um rei, necessariamente, dependia da unção. Mas no ambito profético, Ebla, certamente,
poderá
lançar preciosas
luzes sobre o problema da origem da instituição profética do mundo antigo. Um dos termos
usados em Ebla para identificar o profeta era «nabi'utum»
(o termo hebraico é «nabi»). É bem verdade que
o profetismo em Israel é pleno de originalidade, até então não comparável
a outra cultura.
O profetismo
bíblico
«segue sendo continuadamente
diálogo de Deus e do Homem. A leitura
fiel da Bíblia descobre a originalidade
deste tempo biblico, sua função motora, geradora de um futuro» (Neher,
La ES8ncia dei Profetísmo, pág. 14).
Na verdade, toda informação
correlata é importante para o estudo da Bíblia. Porém, o profetismo
em Israel,
desempenhou
uma função sui-ge::eris
asSim que não cabem aqui maiores
comentários.
Conclusão
Diante dos dados esboçados neste
trabalho, temos três opções a oferecer aos leitores:
1) colocar-se
numa
posição de recusa a toda e qualquer
relação Ebla-Bíblia;
2) tomar a cultura eblaíta
como predecessora
de
Israel.
Isto
significa
assumir
uma
metodologia
de análise da Bíblia, isto
é, estudá-Ia à luz de Ebla; 3) assumir
uma atitude científica e desapaixonada diante das informações,
agora recebidas.
É bom salientar que atualmente
as
informações
acerca de Ebla passam
por um período crítico.
As agencias
de informações
do Ocidente atribuem
tal problema
à crise árabe-israelita
que se desenvolve
em nossos dias.
Entretanto,
sabe-se
que a maneira
pouco prudente - e até mesmo imatura - com que os resultados vindos
de Ebla foram tratados pela imprensa
do Ocidente, criou um ambiente pouco saudável entre Mattiae e Pettinato.
E como resultado
disso, houve por
parte dos dois arqueólogos
uma recusa de informações
apressadas.
Sabe-se, entretanto,
que após a leitura
de todos os textos
encontrados,
o
material será liberado às universidades do mundo (neste sentido, qualquer univerSidade
no Brasil
poderá
adquirir
toda documentação
de Ebla
em forma de fotografia,
"sllde», etc.).
Um exemplo do sensacionalismo
feito
em torno dos primeiros resultados de
Ebla temos na publicação
"Christian
Beacon»,
editada
eventualmente
em
espanhol sob o nome de "Faro Cristiano». Nela, encontramos farto material comentando
alguns resultados de
Ebla. Entretanto, conclusões apressadas foram postas diante do público
leitor em toda a América.
Eis algumas:
"Críticos
bíblicos
perturbados
sobre Tell Mardikh»;
"Desbaratadas
as teorias
dos altos críticos»;
"A
arqueologia
confirma a Bíblia».
Em vista do grande número de
informações e da importância que Ebla
representa para o conhecimento
bíblico, algumas observações
são necessárias:
a) tudo indica que algumas conclusões apressadas de informações
a
:-espeito de [bla prejudicaram
o trabalho
em Tell Mardikh,
veiculando
conclusões
imaturas que confundiram
a verdade dos fatos.
Na realidade,
somente um longo e paciente exame
permitirá a determinação
do grau de
ligação entre Ebla e o mundo bíblico.
É importante
destacar aqui que semelhança, em princípio,
não significa
57
automaticamente dependência, mesmo
porque a fé professada pelo povo
bíblico carrega particularidades essencialmente diversas das outras religiões do mundo antigo. Frases como
«A arqueologia confirma a Bíblia» podem ser uma boa manchete de jornal.
mas nunca uma frase inteligente, porque a mensagem bíblica não depende
da arqueologia para se impor como
verdade. Portanto, não se Justifica tal
entusiasmo como se nosse fé dependesse dos resultados da existência
ou não de pessoas, cidades ou exatidão de datas.
b) Não resta dúvida que existe
uma conexão entre Ebla e a Biblia,
principalmente (e não exclusivamente)
sobre o nível lingüística. Entretanto.
tal conexão não deve ser viste como
dependência. Erros e mais erros fOram cometidos quando alguns teÓlogos tentaram analísar a Bíbiia à 'u:
da cultura babilônica.
Estaríamos
58
vendo o nascer de uma nova metodologia de interpretação à luz de Ebla?
Se isto realmente acontecer, provavelmente cairemos nos mesmos erros
cometidos anteriormente.
Os leitores podem estar certos de
que Ebla constitui um dos mais importantes, senão a mais significativa
descoberta para a elucidação de alguns textos da Bíblia Hebraica. Segundo David Freedman, os achados
da Síria constituem a mais importante
descoberta arqueológica até então
levada a efeito. Embora as verdades
fundamentais da Bíblia não sejam
suscetíveis de serem demonstradas
pela arqueologia, devemos saudar
efusivamente a chegada desses documentos, pois eles, sem dúvida, serão de inestimável valia na reconstrução daquele mundo que precede o
aparecimento de Abraão.
(<<Expositor Cristão»,
Jan. 1979)
MEDITACÃO
•
Tem
Cuidado
Mesmo
e da
de Ti
Doutrina
(1 Tm 4.16)
O. A. Goerl
Um jovem pastor acaba de receber
uma carta. Seu coração vibra ao reparar
no remetente. Aí está o nome, logo no
começo: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança", e em seguida o nome do destinatário: "a Timóteo, verdadeiro filho na
fé", 1 Tm 1.1,2. É para mim a carta jubila Timóteo para mim pessoalmente, e não está endereçada à congregação
de Éfeso como aquela (dois ou três anos
atrás). Podemos imaginar a sofreguidão
com que Timóteo lia e relia a carta, até
que, estou certo, sabia de cor trechos
inteiros. Comoviam-no especialmente as
passagens que se referiam à sua pessoa,
em que o velho mestre e conselheiro espiritual usa o "tu" familiar e lhe fala à
consciência, ao coração como acontece no capitulo quatro, que culmina na
exortação: "Tem cuidado de ti mesmo
e da doutrina. Continua nestes deveres;
porque, fazendo assim, salvarás tanto a
ti mesmo como aos teus ouvintes."
Tem cuidado dí' ti mesmo - uma palavra que se alojou no íntimo de Timóteo, e que dizia da preocupação do apóstolo pela alma de seu "filho na fé".
Não que houvesse uma motivação específica - pois é com alegria que o apóstolo, conforme escreve na segunda carta,
guarda a recordação "de tua fé sem fingimento, a mesma que habitou em tua
avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou
certo que também em ti". 2 Tm 2.1,5.
Amigos, antes de sermos ministros da
palavra, antes de sermos pastores formados e diplomados, sim, antes de sermos estudantes de teologia, importa ser-
59
mos cristiíos verdadeiros, isto é, termos
uma "fé sem fingimento".
Os discípulos de Jesus não foram homens que se
apresentaram ao Mestre para se ofereCerem como futuros obreiros da igreja;
sua preocupação era outra. João e André, os dois primeiros, discípulos de João
Batista, viram seu mestre apontar para
aquele vulto que se aproximava, acompanhando o gesto com as palavras: "Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado
do mundo!" Jo 1.29. Noutro dia repete-se a cena, e os dois seguem os passos
do novo Mestre para o primeiro encontro, um encontro abençoado, e de volta
exultam de felicidade: Achamos o MessiasI
Paulo não só exorta a outros, ele
confessa de si mesmo: "Esmurro o meu
corpo e o reduzo à escravidão, para que,
tendo pregado a outrem, não venha eu
mesmo a ser desclassificado."
1 Co 9.
27. Compreendemos a dor do pai da
igreja mãe, DI'. C. F. W. Walther, quando
numa carta a um amigo se referia a um
dos colégios pré-teológicos da igreja: que
deviam naquele instituto fazer empenho
em formar cristãos, caso contrário saria
melhor fechar o estabelecimento.
Tem cuidado de ti mesmo. Cuida da
tUil alma. Seja esta a tua preocupação
primeira, diariamente, nas aulas, no quarto de estudo, em qualquer atividade e
situaçi'io. Seja esta a tua convicção arraigllda na graça divina: Eis o Cordeiro
de Deus que tira o meu pecado.
Gue adianta a mente cheia e a alma
vazia.
Um pastor morno, um rebanho morno.
"Tem". cuidado de ti mesmo e da
doutrin(l".
É uma ligação que convida
a meditar. Cuidar de duas causas: da
própria pessoa e da doutrina.
E realmente há um relacionamento importante,
pois a primeira depende inteiramente da
segunda, razão por que o apóstolo prosseguB na sua carta: "Continua nestes
deveres; porque, fazendo assim, salvarás a ti mesmo como aos teus ouvintes."
"Doutrina" é o ponto alto da epístola. Só ela pode salvar almas - a minha
e as que me são confiadas. "Doutrina",
"palavra digna de toda aceitação" são
as "sãs palavras de nosso Senhor Jesus
Cristo" (6.3) conforme ele mesmo testemunhou: "Se vós permanecerdes na
minha
palavra,
sois verdadeiramente
60
meus discípulos;
e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
Jo
831.32.
Mas Paulo fala ao mesmo tempo de
"outra doutrina".
E tudo indica que o
objetivo de sua carta era avisar e fortalecer Timóteo na luta contra a outra doutrina o jovem pastor, aigo tímido,
talvez desanimado e ainda sofrendo de
u,n mal gástrico.
Pois logo de início
12mbra que o deixara em Éfeso "para
adono2.stares a certas pessoas a fim de
que não ensinem outra doutrina" (1.3).
Como ccmpreender outra doutrina no
selo da congregação? Jesus explica o
fenôme~:o n.3 parábola do ]oio no trigo.
Fora lanC.3da boa semente no campo, o
eva"geihc .sah'sdor do Cordeiro de Deus.
ivlas à ::citsc quando
os servos dormiam,
veie e ;n:",I;o e lançou o joio no meio
C~esc;a junto o joio, imperdo F:gO.
ceDTfvei "O c:::<neco, mas aos poucos era
!ic-taco
VedeJ
;}6lnei no Apocalípse
corres-
c::<·:s:<jç 2. situação naquele tempo. O
;.::;cnts "60'30e ordens de escrever cartas
2 se:,," '--"i2s.
Lemos na maioria das
-;36"r2S iniciais que encorajam,
·i.':ç~hecimento daquilo que havia
,-,~ c·c·~, ;:3 ccngrec8cão,
seguindo-se, no
,-,-,-?r~o. l.E'0 "mas'~' a'dversativo -- "mas
::0- ·,c contra ti" ...
E a primeira con,,-e;:;6c30 da série é exatamente Éfeso,
:-.j" 001' ora se encontrava Timóteo:
Tenho ('ontra ti - Éfeso: Abandonas--,
.,~C
o teu primeiro
amor.
Tenho contra ti -. Pórgamo: Tens aí
(Os
que sustentam a doutrina de Balaão e
6 doutrina dos Nicola[tas.
Tenho contra ti - Tiatira:
Toleras
cssa mulher, Jezabel, que a si mesma se
declara profetisa e ensina e seduz os
rneus servos.
Tenho contra ti Laodicéia: Não
és quente nem frio, és morno.
E o ]oio continua no trigal. Nossa
Igreja mãe passou por duras refregas
nos Últimos anos. Lamentavelmente, tudo
indica que também sobre a nossa querida IEL8 vêm descendo sombras, desde
uns. tempos para cá. Notamos em nosso
meio indícios de pentecostalismo, de legalismo, de mistura de lei e evangelho,
traços característicos de espírito entusiasta, de conceitos confusos sobre o
que venha a ser um verdadeiro crente.
Tudo isso ligado a um certo orgulho espiritual, talvez inconsciente, que menospreza as confissões e os princípios escriturísticos de hermenêutica, conquistados pelos pais luteranos, após prolongadas lutas doutrinárias. Não nos iludamos: descaso pelas confissões e a quebra tumultuada de praxes e tradições
antigas pOdem ser sintomas de um mal
incipiente, de uma infecção que ameaça
o corpo da igreja. Culpado é o EGO, o
"eu" que se quer colocar em evidência
à sua maneira. Desloca-se do centro a
doutrina do Cordeiro de Deus e toma o
seu lugar a própria pessoa com seus esforços, e dignidade, e conduta cristã.
Demais, não devemos estranhar o
fato, pois na mesma carta o apóstolo
prediz que nos últimos tempos alguns
obedeceriam
a espírítos
enganadores
(4.1).
Por essa razão continua seu brado
de vigilância: tem cuidado da doutrina!
COI11outras palavras: estudai a fundo as
doutrinas, examina i as Escrituras, lutai
pela pureza dos ensinamentos.
Para
tanto obedeçamos à palavra: "Não ultrapasseis o que está escrito." 1 Co 4.6.
Não nos desviemos um palmo sequer do
"está escrito"
-.- a única arma que
o Filho de Deus usou frente ao maligno.
No final o consolo: Os ventos levantam ondas, mas também sopram velas.
Tendo Jesus por timoneiro, o barco da
igreja não perecerá.
(Devoção proferida na
Faculdade de Teologia
Seminário Concórdia).
do
61
-~
,
.
NOTICIAS E COMENT ARIOS
o Amor no
Celibato
o número de maio-agosto de "Perspectiva
Teológica",
da
Faculdade
de
Teologia
Cristo
Rei, em São Leopoldo,
RS, faz uma apresentação
do livro "O
amor no Celibato",
de 138 páginas, publicado
pela Editora
Vozes,
em 1975.
Escrito por uma psicóloga
alemã Luise Rinser e um sacerdote
italiano Egídio Gentili -,
a obra mostra que ao
padre que se acha em dificuldade
por
causa de uma mulher
é perfeitamente
possivel
amar à distância,
sem contato
fisico,
Este amor no celibato
seria uma
terceira alternativa
para o problema,
As
0'Jtras alternativas
são a fuga (separação
imediata)
e a dispensa
dos compromissos da ordenação
para a realização
do
n:atrimônic.
o amor no celibato é possível mas
ão é fáci I. Porque o amor inclui tamém o relacionamento
físico:
"Não tenes lido que o Criador desde o princípio
os fez il0mem e mulher I e .. , por esta
causa deixará o homem pai e mãe e se
unirá a sua mulher, tornando-se
os dois
uma só carne?"
(Mt 19.4,5).
Este relacionamento
físico
é tão importante que
o apóstolo
celibatário,
depois
de dizer
que a mulher
não tem poder
sobre o
seu próprio
corpo, e, sim, o marido,
e
vice-versa,
ordena:
"Não vos priveis um
ao outro, salvo, talvez,
por mútuo consentimento,
por algum tempo,
para vos
dedicardes
à oração
e novamente
vos
ajuntardes,
para que Satanás
não vos
tente por causa da incontinência"
(1 Co
7.4,5).
Naturalmente
o amor
pode
e
deve sobreviver
quando a enfermidade,
a
distância,
a idade ou outro acontecimento impedir, temporária
ou definitivamente,
o relacionamento
físico.
Aquele
que aceita
o celibato
como
dom sabe se conter e não precisa de um
amor à distância.
Necessário
se torna fechar o coração para uma pessoa em particular,
assim como o cônjuge honesto e
62
fiel não se permitirá amar outra mulher
ou outro homem. Porque o relacionamento físico é uma conseqüência natural
do amor quase uma exigência o
padre ou o cônjuge se arriscam muito.
permitindo-se amar e ser amado.
O livro ou o comentário do padre
Balduíno José Ody prende-se antes à
tradição católica-romana do que às Escrituras Sagradas ao afirmar Que o amor
de José e Maria era à distância: "o matrimônio virginal de José e Maria". Seja
respeitado o ponto de vista de Roma, mas
a grande maioria dos eruditos protestantes não hesita em aceitar com naturalidade o que se encontra em Mt 1.24,25:
"Quando acordou, José fez o que o anjo
do Senhor havia mandado, e casou com
Maria. Mas não teve relações com ela
até ela dar à luz seu filho. E José deu
ao menino o nome de Jesus" (A Bíblia
na Linguagem de Hoje). Qualquer protestante é capaz de abrir Mt 12.46-50 e
13.53-58 e mostrar Que José e Maria tiveram filhos e filhas.
A igreja católica
rebate com a explicação de que "irmãos"
e "irmãs" naqueles textos são primos ou
parentes próximos.
Nas entrelinhas é possível descobrir
que atrás de tudo encontra-se a crença
de que a virgindade é um estado moral
superior ao matrimônio. Neste caso seria
bom lembrar que o sacerdote Zacarias
era casado, mantinha relações sexuais
com Isabel, sua esposa, e não possuía
filhcs, pelo Que orava ao Senhor. Nenhuma destas causas impediu a referência
de que "ambos eram justos diante de
Deus, vivendo irrepreensivelmente
em
todos os preceitos e mandamentos do
Senhor" (Lc 1.6). Zacarias foi o primeiro a saber do próximo nascimento de
Jesus e Deus lhe deu o privilégio de se
tornar o pai de João Batista, o precursor
e batizador do Messias prometido.
Do ponto de vista evangélico há uma
Quarta alternativa para o padre Que se
acha em dificuldade
por desejar uma
esposa Que se dê a ele a permissão
de contrair matrimônio e continuar padre, uma vez que os sacerdotes hebreus,
os apóstolos, (inclusive Pedra) e os ministros da igreja primitiva eram casados.
Seria o fim do celibato sacerdotal obrigatório, reafirmado pela encíclica "Sacerdotalis Celibatus", de Paulo VI, há
11 anos.
("U1timato"/Novembro
78)
63
o Senhorio de
No programa Flávio Cavalcanti de 17
de dezembro próximo passado, a TV Tupi
apresentou uma entrevista com o deputado federal A. Nunes, umbandista praticante, eleito recentemente por mais de
cel mil votos de seus correligionários.
O
deputado, citando "o maior inimigo do
umbandista, o padre Quevedo e a própria Conferência Nacional de Bispos",
confirmou o que a imprensa vem dizendo
há muito tempo, com alguma margem de
imprecisão: No Brasil há cerca de trezentos mil terreiros de umbanda (destaque é nosso Red.), freqüentados por
cerca de trinta milhões de umbandistas
(destaque é nosso Red.). São dados
estarrecedores para quem está acostumado a pensar no Brasil em termos de
"maior nação católica do mundo", em
termos de pais cristão, subdividido em
bem definidos canteiros eclesiásticos e
confessionais.
Este quadro de "país
cristão" é falso, e é enganador. Se pensarmos no sem número de seitas existentes, além do umbandismo e do espiritismo kardecista se pensarmos nos
movimentos que têm suas raízes em religiões orientais, budistas e outras e levarmos em conta a "religião natural brasileira ", de que "toda religião é boa, se
a gente acredita nela e se pratica o que
ela ensina" aí o quadro se modifica:
A igreja cristã encolhe, e os cristãos se
dão conta de que são minoria no país.
Esta conscientização poderá ser um choque para nós -. mas será um choque
salutar. Por que vamos falar como um
Golias forte e armado, se não passarmos
de uma pequena Davi, que nada tem além
de sua funda? Antes da terapia deverá
vir o diagnóstico. E o diagnóstico é este:
os cristãos são minoria. Talvez semprE!
o foram - em qualquer país e em qualquer época.
O Brasil parece um país especialmente fecundo para todo tipo de religiões
nativas e exóticas desde as maciçamente mágicas às mais espirituais e esotéricas (de Macumba e Candomblé a
Seicho-No-Iê e ao Kardecismo). Mas em
grau maior ou menor, o mesmo quadro
se apresenta nas outras nações latinoamericanas. Numa conferência sobre "a
imagem de Cristo na América Latina",
Cristo Hoje
realizada em Lima há alguns anos, e da
qual participei, foi relatado por exemplo,
que a maioria dos colonos peruanos e
bolivianos, embora formalmente católicos,
continuam oferecendo sacrifícios ao deus
"EI Tio" e à deusa "Pacha Mama", à
"Mãe Terra", e que em todos os países
existe como que uma corrente subterrânea de religiosidade pagâ que freqüentemente leva ao sincretismo (ã mistura de
conceitos de doutrinas cristãs com crençar; pagãs).
Nos próprios Estados Unidos, e mesmo nos países tradicionalmente cristãos
da Europa, surgem movimentos religiosos,
conflitantes com as igrejas cristãs, que
conseguem arrebanhar centenas de milhares dó adeptos. Freqüentemente se trata
de movimentos sincretistas que misturam
elementos cristãos, budistas e outros,
oferecendo saídas para a crise ecológica,
biológica e espiritual em que se debate
a humanidade. Por vezes são cultos fanáticos que submetem as pessoas, principalmente os jovens, a verdadeiras lavagens cerebrais, como por exemplo o
movimento do milionário coreano Sum
Mun; por vezes são "cultos"
realmente
violentos cujos adeptos são dominados
por um líder de influência quase demoníaca, como o "reverendo Jones", que
há dois meses, num ato de desespero
louco, levou mais de 900 adeptos seus
a praticarem suicídio coletivo (ou a "serem suicidados"
pelos membros mais
fanáticos do "Templo do Povo").
Na Califórnia, nos Estados Unidos,
Estado riquíssimo,
houve verdadeiros
surtos de cultos virulentos, cujos adeptos
mataram e praticaram todo tipo de vioiência. Há um sem número de cultos
satânicos, com rituais de missa negra e
com observâncias criminosas secretas.
São coisas que nos perturbam e inquie-
tar:~.
A pergunta se impõe: O Que é que
nós, que cremos em Jesus Cristo, que
vemos nele o Caminho, a Verdade e a
Vida, que o temos por Salvador que morreu e ressuscitou por nós - o que é que
nós temos a dizer frente a este cipoal
de religiões, de cultos e de movimentos
místicos que ou ignoram Cristo por
completo, ou procuram encampá-Io em
seus sistemas, fazendo dele um grande
homem inspirado, um médium especialmente poderoso, um filósofo iluminado,
um revolucionário político? Que nivelam
com Buda, com Allan Kardec e com Masaharu Taniguchi, o fundador do SeichoNo-lê?
Já o dissemos: o pequeno Davi dispõe apenas de sua funda. Apenas? Oxalá que sempre tivesse a funda à mão,
para usá-Ia, no confronto espiritual com
o Golias da religiosidade
virulenta e
pervertida!
Se olharmos para o passado, verificaremos que no tempo dos apóstolos a situação espiritual e religiosa nem era tão
diferente da nossa. Vingava um sincretismo em grande escala. O movimento
gnóstico, que oferecia conhecimento secreto do mundo sobrenatural, de certa
forma pode ser comparado com o Kardecismo e com algumas correntes esotéricas do umbandismo.
As antigas religiões de mistério, a prática de identificação dos deuses gregos com os romanos, assírios, persas .. , os cultos políticos ~ tudo tem seus paralelos na religiosidade dos nossos dias.
Não há nada de novo debaixo do sol,
Mas não poderemos deixar de perguntar:
O que é que fez o pequeno Davi, a igreja cristã, aquela minoria das minorias
entre os movimentos espirituais do primeiro século? Ela não combateu as religiões. O Novo Testamento, que foi escrito num ambiente saturado de religião
pagã" de sincretismo e de superstição,
não ataca as divindades romanas ou
gregas, ou as superstições siro-fenícias e
cutras. O pequeno Davi usa a sua funda
-, o evangelho simples e claro. Anuncia
que Cristo é o Senhor: Senhor dos poderes e Senhor dos homens. E as próprias testemunhas do Senhorio de Cristo
vivem esta sua mensagem, vivem a realidade da fé em Cristo, o seu Salvador
~ em meio a um mundo que se debate
em sonhos e pesadelos religiosos, místicos e filosóficos.
Foi este o verdadeiro segredo do discipulado e do apostolado, foi esta a
arma secreta dos primeiros cristãos: Eles
tomaram o Senhorio de Jesus Cristo a
sério. O evangelho não era uma religião,
nem uma simples doutrina. Era uma nova realidade. Esta realidade da revelação
do Deus da verdade e da graça, no diaa-dia desta gente de Jesus, gente "do
caminho", como eram chamados, forçava
o seu ambiente a mudar as perspectivas.
O Cristo exorcista estava presente
onde os cristãos se reuniam - e os pagãos o notavam. Paulo~ Pedro, Felipe,
Barnabé, não necessitaram de planos astuciosos para se infiltrarem no cipoal da
religiosidade sincretista de Éfeso, Corinto ou Roma. Eles foram ouvidos por
estarem presentes com sua mensagem a mensagem do Cristo vivo e atuante. Esta mensagem, por sua própria natureza,
libertava os homens de seus sonhos, de
suas especulações, de suas esperanças
confusas. O evangelho claro e puro, que
põe Cristo no centro, que o deixa ser o
que é ~ Rei dos reis e Senhor dos senhores ~ ele faz o homem acordar de
seus sonhos. Fá-Io acordar para a vida.
... "Grande é a Diana dos efésios",
gritaram os habitantes de Éfeso, cheios
de furor e confusão, resistindo ao evangelho pregado por Paulo, Nesta resistência, e religião pagã, o sonho, a saudade --' poderá demonizar-se, tornar-se
virulenta e perniciosa, Não nos admiremos S6 as coisas voltarem a acontecer em
nesse te;-npo.
Pregar o evangelho é um risco. Não
ccntemos com os aplausos das divindades de nossa época. O que vale é que
não percamos a orientação no Senhor
que permanece, enquanto que os ídolos,
as saudades e os sonhos do coração humano se desvanecem.
("Jornal
Lindolfo Weingaertner
Evangélico" ~ 79i2)
-0-065
o Paciente
Esquecido
Mais Animo Para
a Assistência Espiritual
Os números falam por si: 70% de
todos os cidadãos da RFA (Alemanha
Ocidental) vão ao médico durante o ano.
Cerca de um quinto desses pacientes
vêm à consulta por causa de crises ou
males psíquicos. Entre 1 % e 2% de
toda a população tem necessidade de
tratamento psicoterápico, o que representa cerca de um milhão de pessoas. É o
que se conClui da enquete psiquiátrica
governamental, . que após dois anos de
discussões internas, agora novamente é
o centro das atenções políticas, para que
os doentes psíquicos possam ser melhor
assistidos.
Tanto quanto é necessário uma reforma neste campo, temos que nos cuidar
de esperar toda a salvação da psicologia.
O número dos consultórios cresce continuamente. Já é possível buscar conselhos sobre quase todos os conflitos com
que nos defrontamos:
dificuldades no
casamento e na educação, situações de
conflito especiais de mulheres grávidas.
assistência espiritual por telefone, serviço de aconselhamento sobre psicologia
escolar. A lista é comprida. E provavelmente vai ficar maior, pois como se sabe.
as pessoas não ficam com mais saúde
quanto mais médicos existem, também
não espiritualmente, quanto mais psicólocas executam o seu serviço. E a psicologia há muito se transformou na matéria da moda em nossas universidades.
Por causa de tanta psicologia no país,
que aliás sai bem cara, também a igreja
não pode fugir desta tendência.
Já é
fabuloso verificar quantos pastores, cooperadores sociais, dirigentes de grupos
de jovens nadam junto na onda da psicologia, formando-se autodidaticamente e
se apresentando como profissionais em
seguida. Muitas vezes tem-se a impressão de que estes colaboradores crêem
mais na psicologia do que no poder da
fé.
E o que fica de lado é o diálogo de
assistência espiritual. perde-se a coragem
66
de chamar pecado de pecado, e desaparece o poder para prevenir distúrbios psíquicos pelo diálogo, pela co-responsabilidade e pela disposição de tempo.
Muitos conflitos poderiam ser evitados
pela melhor convivência compreensiva
entre cõnjuges, pais e filhos, vizinhos e
colegas de trabalho.
E cada vez mais se enfraquece a força para conseguir resolver os próprios
problemas. Assim como metade da nação toma comprimidos quando sente a
menor dor, logo se chama psiquiatras e
psicólogos no caso de conflitos.
Além
disso, somos cada vez maís incapazes de
auxiliar pessoas que realmente estão psiquicamente doentes. Transferindo-os para clínicas, esperando ajuda somente dos
psiquiatras,
internando os velhos em
asilos com conforto variado, contribuímos
para transformar o doente psíquico num
paciente esquecido.
Nada contra uma considerável melhoria na assistência e no tratamento médico aos doentes. psíquicos ou físicos,
mas tudo contra uma fé na psicologia.
O que precisamos é maior ânimo para a
assistência espiritual em nossas comunidades cristãs, mais conhecimento sobre
a culpa e o pecado do homem, e mais
confiança no fato de que somente Deus
soluciona o nó górdíco do círculo vicioso de culpa e conflitos psíquicos. A
pergunta, portanto, é se nós crístãos queremos perder o paciente esquecido comDietamente para a psicologia ou se vamos
lembrar-nos novamente que a fé contém
um poder redentor. Psiquiatras que realmente entendem algo do assunto, há
muito sabem disto e dirigem perguntas
insistentes à comunidade cristã.
Até
agora com sucesso reduzido.
("Chamada
Thomas Maiar
da Meia Noite"
Nov. 1978)
OS "OVNls" E O BOM-SENSO
/>,
expressão "discos voadores" foi
cunhado há 31 anos pela imprensa ao
noticiar a visão de nove objetos em forma de disco voando sobre Mount Rainier,
em Washington, ti da pelo piloto particular Kemmeth Arnold, no dia 24 de junho de 1947, Mais tarde criou-se uma
expressão mais elástica Objetos Voadores Não Identificados ou OVNls. Desde
então várias pessoas começaram a ver
estes objetos, sempre de forma misteriosa, nunca em lugares abertos ao grande
público. No momento, de todas as partes do mundo chegam 100 relatos por
dia de existência de objetos voadores não
identificados.
Apesar de serem imprestáveis 90% destes relatos diários por fa 1ta de consistência, há três pontos que não
se pode negar, de acordo com o mais
famoso "expert" em ovnilogia (ou ufologia), J. Allen Hynek, professor de Astronemia da Northwestern
University em
Chicago, e conselheiro técnico do filme
"Contatos Imediatos do Terceiro Grau":
1) os relatos acerca dos OVNls existem;
2) os relatos persistem; 3) em muitos
casos os relatos procedem de pessoas
responsáveis.
Ao mesmo tempo é necessário considerar outros fatos de suma importância:
1) Os simples enganos. O relatório
de 1969 (8.400 páginas) da Força Aérea
dos EUA, que analisou 12.618 visões de
OVNls, afirma que 95% devem-se a
"simples
enganos de identificação
de
uma variedade incrível de fenômenos".
Os tais objetos voadores foram confundidos com meteoros, relâmpagos em
forma de bola, reflexos de holofotes nas
nuvens, balões metereológicos, foquetes
e até com insetos que apresentam órgãos
fosforescentes localizados na parte inferior dos segmentos abdominais (os pirilampos, também chamados vagalumes ou
moscas-de-fogo) ...
2) Mistificações.
Para ganhar dinheiro ou notoriedade, ou para distrair a
atenção da massa, milhares de pessoas
estão prontas a abusar da credulidade
alheia, com exageros ou mentiras bem
elaboradas. ,Dimão, o mágico de Samaria, não foi o primeiro a chamar a aten-
ção do povo para cousas extraordinárias,
que nada tinham de sobrenatural e que
Eram apenas aparentes, realizadas na base de truques. Ele era tão inescrupuloso
cue chegou a oferecer dinheiro aos apóstolos para receber e distribuir o poder do
Espírito Santo (At 8.9-24). E o advogado de Brasília, que disse no programa
Flávio Cavalcante ter coabitado duas vezes com uma mulher extraterrena, não
foi o último. Religiosos, políticos, vendedores e até cientistas estão sempre
prontos a explorar esta mina, que é a
credulidade humana.
3) Alucinações. O indivíduo alucinado, isto é, privado temporariamente da
razão, pode não estar mentindo quando
afirma sem sombra de dúvida ter visto
objetos voadores não identificados
e
seus tripulantes, mas isto não quer dizer
obrigatoriamente que a visão seja real
gegundo o psiquiatra Jean Rosembaum,
este é o caso do lenhador Travis Walton,
que em 1975 teria sido levado para o
interior de um OVNI em Arizona e visto
"seres semelhantes a fetos bem desenvolvidos,de
150 cm de altura mais ou
menos, com cabeças carecas e ovais, e
enormes olhos castanhos" (os mesmos
que aparecem ao final do filme "Contatos Imediatos do Terceiro
Grau").
Walton era fã de discos voadores e,
pouco antes do incidente, dissera a mãe
que, se algum dia fosse raptado por um
aparelho destes, ela não se preocupasse,
pois tudo terminaria bem, "Ele diz a
verdade quando conta que o fato aconteceu', explica o psiquiatra, "mas tratase de uma verdade sua. Ao nível da
realidade objetiva, tal coisa não se deu",
A" alucinações podem ser provoca das
por enfermidades mentais e por outros
meios, inclusive a ingestão de drogas
alucinógenas.
4.
Projeções.
O psicólogo
suíço
Karl Jung, falecido em 1961, acreditava
que os OVNls eram produtos da inteligência e Imaginação do homem, "projeções do subconsciente coietivo trazidos
à tona em tempos de stress ou causa
parecida".
Aquilo que sempre foi história de quadrinhos e ficção científica
67
tornou-se na mente do povo, estranha
realidade.
Ronald Schiller, autor do artigo "Três
OVNls Difíceis de Negar" (fevereiro de
1978 em "Seleções do Reader's Digest"),
disse que solicitou ao já citado J. Allen
Hynek e a onze outros importantes especialistas casos convincentes de discos
voadores para estudar e ficou sabendo
que casos "perfeitos"
não existem. "O
único fato concreto que emerge de tudo
isso, a despeito dos milhões de aterragens de discos voadores supostamente
ocorridas, é que ninguém jamais conseguiu uma prova concludente, tangível
(seja uma porca, um parafuso, um artefato, um instrumento, um fugitivo), nem
mesmo uma fotografia convincente", desabaTa Schiller.
No que diz respeito a fotografias de
OVNls, o artigo de "Seleções" informa
68
que elas "têm sido identificadas como
discos plásticos de brinquedo atirados
ao ar, fotomontagens, objetos pendentes
de fios, sujeira na lente da máquina e
manchas de revelação". Ninguém ignora
as possibilidades atuais da arte fotográfica. especialmente na fotomontagem.
Basta ver o filme de Steven Spielberg ou
qualquer outro filme de ficção científica
para tomar conhecimento dos incriveis
recursos de fotografia.
Se as possibilidades de engano, mistificação. alucinação e projeção forem
afastadas e se o objeto voador não identificado for absolutamente real, temos no
mínimo três solenes perguntas para fazer
a respeito dos OVNlss: 1) de onde eles
vem: 2) o que querem aqui; 3} por que
estão envoltos em tanto místério?
("Ultimato",
novembro 78)
A IGREJA NO MUNDO
"EU TAMBÉM
SOU CRISTÃO I"
Foi por ocasião da invasão japonesa
na China. Em certa região, dedicado
pastor evangélico cumpria seu ministério.
Nas circunstãncias, os inimigos do cristianismo apelavam para os mais indignos
meios no propósito de abafar a propagação da fé e dos ensinamentos do Senhor Jesus. Visando à eliminação da
profícua atividade do dedicado pastor,
alguém, escondendo-se atrás do covarde
anonimato, o acusou de manter contato
com o inimigo e de manter discreto serviço de espionagem. Interpelado pelo
oficial japonês que comandava a área, o
pastor se defendeu, negando a acusação
~~ jamais espionara, jamais fizera qualquer contato com os inimigos: "De modo algum! nem sou espião, nem tenho
mantido qualquer contato com o inimigo!" O oficial, com aspereza na voz
e muita suspeita no coração, gritou:
"Se você não é criminoso como ousaria
alguém acusá-Ia? Por certo você fez
algo e, por isso, deve morrer. Vou matá10." - "Não estou com medo de morrer,
embora seja inocente", respondeu o pasto;, "mas, senhor oficial.
conceda-me
alguns momentos para orar e cantar os
louvores do meu Deus." - "Certo, pode
orar." O pastor ajoelhou-se e, levantando a cabeça, rosto voltado para o
céu, começou a cantar seu hino favorito.
Derramou sua alma na primeira e na segunda estrofes, crendo ser esta a última
vez, na terra, em que teria oportunidade
de cantar o louvor de Deus. O hino era
longo, mas ele o cantou inteirinho, todas
as estrofes até ao fim. Seu rosto irradiava o amor de Cristo que enchia seu
coração. Quando acabou de cantar, curvou a cabeça em silenciosa submissão.
Ouviu, então, a voz do oficial japonês
que, profundamente emocionado, lhe falou; "Eu conheço este hino. Nós o cantávamos lá no Japão, também. Ninguém
pode cantar esse hino do modo como
você o cantou e ser meu inimigo.
Eu,
também, sou cristão."
(Amantino Adorno Vassão em "U Itimato" nr. 114)
69
GUERRA CIVIL ATRASA, MAS NÃO
IMPEDE O TRABALHO DAS
SOCIEDADES BíBlICAS
o escritório da Sociedade Bíblica na
Angola foi totalmente destruído duranto
a guerra civil a partir de 1975. Na destruição perdeu-se o manuscrito da tradução do Novo Testamento para a língua Kimbundu, falada por 1.500.000
bantus. O trabalho precisou ser refeito
e a primeira Bíblia completa nesta língua
já está circulando.
Os cristãos de Angola pretendem reorganizar a Sociedade
Bíblica e atender a grande demanda de
Bíblias e porções bíblicas existentes no
país. Quase a metade da população da
RepLlblica Popular de Angola, de orien·
taçãc marxista, é composta de católicos
(J protestantes.
Sobre a divulgação da Biblia no mundo lemos na mesma revista: No ano passado as diversas sociedades bíblicas colocaram em circulação mais de 9 milhões
de Bíblias completas, 11 milhões de
Novos Testamentos e 390 milhões de
porções ou seleções bíblicas, formando
um total de 410 mílhões - quase quatro
vezes a população do Brasil. Pelo menos alguma parte da Biblia já está traduzida em 1.631 línguas e dialetos, falados por 98% da população do mundo.
A Bíblia completa está em 266 línguas e
o Novo Testamento em 420. É possível
alcançar a marca do meio bilhão de
exemplares a distribuição mundial das
Escrituras Sagradas no ano em curso um aumento de 22% sobre o ano anterie:'. -.
CiSÃO NA IGREJA PRESBITERIA!\IA
DO BRASil
o domínio do Instituto Mackenzie
pela cúpula da Igreja Presbiteriana do
Brasil - provocando "a cobiça e a luta
política dentro da Igreja" - foi um dos
motivos alegados por pastores de 50
igrejas do Rio, São Paulo, Minas, Espírito
Santo, Bahia e Pernambuco que se desligaram da organização, na segunda cisão
desde sua instalação no Brasil, em 1859.
No terceiro Encontro de Presbiterianos,
encerrado num domingo (10 de setembro
de 1978) em !tabaia (São Paulo) os
pastores instalaram a Federação Nacional
de Igrejas Presbiterianas, divulgando ma70
nifeséo em que se declaram fiéis aos
princípios doutrinários e teológicos da
igreja, mas discordam da sua direção,
observando que ela formou um "verdadeiro partido político", com normas de
atuação próprias do meio secular a fim
de perpetuar o domínio de um grupo
apenas. Redigido pelo Pastor Samuel
Martins Barbosa, da Igreja Presbiteriana
do Jardim das Oliveiras, em São Paulo,
o manifesto de Atíbaia denuncia a atuação dos dirigentes da IPB nos últimos 12
anos, quando a organização foi presidida
pela Sr. Boanerges Ribeiro. O manifesto
,dirma que "a continuidade dos mesmos
elementos, através de eleições sucessivas,
denota o caráter de imoralidade", destacando que é evidente que aqueles que
têm o domínio, têm poderosa máquina
para manobrar com caráter de legalida,
de, a fim de se perpetuarem no poder.
E, corno conseqüência da corrupção do
(,rupo dominante, a vida toda da igreja
foi atingida".
Depois de denunciar o
processe
do eleição
dentro
da igreja -
"conciliábu!os, informações tendenciosas,
tudo para garantir o número necessário
de votos para a eleição da pessoa indicada" o manifesto adverte para a
perseguição de pastores e para "o uso
tendencioso da constituição da igreja,
que serve de norma apenas quando favorece a cúpula. As mais absurdas medidas têm sido tomadas contra concílios,
pastores e comunídades locais, com violação clamol"Osa das leis e praxes presbiterianas".
No manifesto, os pastores
denunciam, ainda, "o domínio do Instituto Mackenzie pela cúpula da igreja.
Toda a cúpuia ajustou-se com grande
'desprendimento' aos polpudos empregos
do Instituto
Mackenzíe.
Aqueles que
sempre se opuseram à presente administração defenderam a desvinculação do
Mackenzie da igreja. Na atual situação,
o que vai acontecer, sempre, é a luta
política pela posse da direção da igreja,
porque quem tiver esta, terá também a
posse do Mackenzie. E, assim, instala-se
a cobiça e a luta política dentro da igreja. E é por isso que tem acontecido e
contra isto
que se levantam os signatários deste documento",
Dizendo que
"tivemos de séguir o exemplo de Paulo
e Barnabé: a Séparação", os pastores
se propõem a prosseguir o trabalho que
já vinham fazendo "sem quebra de fidelidade a palavra de Deus, aos credos da
é
Igreja Reformada. Tudo isto é dolorido,
mas não podemos deixar de prosseguir
na obra que nos foi confiada por Deus,
nem podemos ser infiéis à voz da nossa
consciência iluminada pelo Espírito Santo". A cisão da Igreja Presbiteriana do
Brasil, formalizada no último fim de semana, teve origem no primeiro Encontro
de Presbiterianos, realizado em outubro
do ano passado (1977), no Espírito Santo, quando vários pastores se manifestaram contra a administração da IPB. No
segundo encontro, realizado durante a
Semana Santa, em Belo Horizonte, 08
pastores resolveram aguardar a nova
eleição para o Supremo Concilio órgão máximo da igreja no país que
ocorreu em julho último. Como a cúpula
da igreja se manteve praticamente a
mesma o Sr. Boanerges Ribeiro, que
era candidato (presidente) a vice os
pastores marcaram o terceiro encontro
para Atibaia, decidindo pelo desligamento. Os pastores dissidentes representam
50 das mil e 13 igrejas organizadas no
país.
Esta notícia publicada na primeira
página de Jornal do Brasil, foi transcrita
no boletim mensal da ASTE de setembro,
1978. Não somos aptos a julgar com
qual das partes está a verdadeira tradição do presbiterianismo.
No entanto
fazem-nos pensar num lado o relativamente pequeno número dos dissidentes
(50 entre mais de 1.000), e noutro lado
o fato de que esses dissidentes querem
permitir em seu meio a liberdade plena
da exegese da Escritura, enquanto a outra parte fica com o princípio "fundamentalista"
da absoluta inerrãncia das
Escrituras Sagradas. A principal entre as
razões desta lamentável císão nos parece
ter sido não tanto uma questão doutrinária quanto questões de administração
e de influências sobre bens terrenos. É
necessário observar os desenvolvimentos
futuros dentro da igreja presbiteriana no
Brasil. H. R.
DINHEIRO
PARA
TERRORISTAS
Os jornais seculares noticiaram, em
duas épocas diferentes, nestes últimos
tempos, que o CONSELHO MUNDIAL DE
IGREJAS, que tem sua sede na Suíça e
que pretende
representar
as igrejas
evangélicas, fez doações em dinheiro
---- vultosas somas a vários "movi-
mentos de libertação nacional", especialmente da África. Ninguém se dispôs a
negar tais doações, de modo que é de
se admitir que sejam elas verdadeiras.
Numa dessas notícias se dizia que as
doações tinham como objetivo projetos
educacionais e de saúde daqueles movimentos. Ora, é sabido que os movimentos que se dizem de libertação nacional
são compostos de terroristas que se
servem da violência para impor os seus
planos de tomada de poder. É curioso
que um dos tais movimentos relacionados
no noticiário da imprensa como beneficiários da liberaiidade do órgão, que diz
representar as igrejas evangélicas. é o
que pretende tomar o poder na Rodésia.
E também os jornais noticiaram o massacre de missionários protestantes e católicos, praticado na fronteira da Rodésia,
por esse mesmo grupo de terroristas.
Assim o dinheiro das igrejas evangélicas,
por vias transversas, vai financiar o massacre, a morte violenta e estúpida de
missionários idealistas e inocentes quanto aos problemas enfrentados por aquela
sofrida região africana. De nada adianta
o argumento de que o dinheiro é para
atender a projetos educacionais e de
saúde. Os terroristas não têm base física (Território) em que possam instalar
hospitais e escolas, e desprezam os conceitos da chamada 'moral ocidental', de
modo que não têm nenhum escrúpulo em
usar o dinheiro que recebem conforme
os seus interesses, sem atentar para as
intenções dos doadores. O CONSELHO
MUNDIAL DE IGREJAS não é composto
de pessoas ingênuas, que creiam na honestidade de propósitos dos terroristas.
Do que se conclui que as doações são
feitas exatamente para fornecer recursos
que possam financiar a guerrilha.
É o
dinheiro de cristãos possibilitando a escalada da violência, a morte de vítimas
inocentes, crianças e velhos, missionários e outros idealistas. A Igreja Presbiteriana Independente, há tempos, decidiu não se filiar a esse "conselho" e
por isto deve estar tranqüila por não participar dessa atividade financiadora do
terror. Entretanto, parece que a nossa
igreja está ligada a alguns órgãos que se
filiam
ao CONSELHO MUNDIAL
DE
IGREJAS. Se é assim, a Igreja Independente deve, com firmeza e urgência desvincular-se desses órgãos, para não ter,
nem indiretamente,
qualquer laço de
71
união nem de mera simpatia com
quem tão mal representa as igrejas evangélicas." (Transcrito de "O Estandarte"
15 e 31 de outubro de 1978). Resta-nos a assegurar aos nossos leitores que também a IELB não tem nenhum
laço que os une àquela agência de Genebra que de uma maneira tal tornou-se
um órgão sócio-político que até várias
igrejas
tradicionalmente
"ecumênicas"
pouco a pouco estão se desligando dele.
Por isso só podemos concordar com o
Rev, Laudelino de Abreu Alvareno, que
escreveu o artigo acima transcrito.
H. R.
A IGREJA ELETRÔNICA E SEUS
CAMELÔS
Sob esse título escreve o conhecido
pastor presbiteriano e jornalista Roberto
Themudo Lessa o seguinte com que podemos concordar: "A primeira vez que
o Brasil assistiu a Rex Humbard foi no
Natal de 1976, em cadeia internacional
de televisão, A partir de janeiro de 1977.
seu programa passou a ser transmitido
semanalmente pela TV Tupi. Em junho.
finalmente, o 'pastor internacionalmente
conhecido' veio ao Brasil: colocou 170
mil pessoas no Maracanã, outro tanto no
Pacaembu. O 'Fantástico' dedicou boa
parte da noite de domingo retransmitindo
as palavras de Humbard e as canções
entoadas por sua mulher, quatro filhos,
duas noras e seis netos, todos proclamando 'a mensagem positiva do amor e
do perdão de Deus'. Rex Humbard
é o mais famoso representante da 'Igreja
Eletrõnica' como são conhecidos os
programas de rádio e televisão que vendem Jesus - uma indústria em expansão
nos Estados Unidos, estimando-se que
há 1.200 estações de rádio e TVs religiosas no país. Há até mesmo uma
'National Religious Broadcasting' organização que representa algumas dessas
emissoras. O Evangelho, hoje em dia,
é um negócio como ter uma cadeia de
hamburgueres, uma frota de táxis ou ser
dono de cursinho pré-vestibular. Dá uma
nota certa. Segundo 'The Wall Street
Journal', oito pastores, famosos como
Rex, nos Estados Unidos, arrecadam
mais de 250 milhões de dólares por ano,
em donativos. A 'Catedral do Amanhã',
em Akron, Ohio onde se produz o
programa de Rex Humbard emprega
72
300 pessoas e tem para 79 um orçamento de 18 milhões de dólares, Nenhum
dos programas apresentados em 237 estações de TV norte-americanas (no mundo todo são 570 programas, atingindo
100 milhões de telespectadores) deixa
de pedir sua contribuição,
Um negócio
da China. Muitas das estações religiosas norte-americanas têm audiência superior a dois milhões de pessoas, o que
realmente é impressionante considerandose que os programas comerciais mais
popularer. atingem em média um público
de 2 milhões e 800 mil pessoas, Todos
esses programas pedem respostas telefônicas ou por carta, acompanhadas de
doações. Rex Humbard é a maior estrela desse show. Desvinculado de organizações eclesiásticas, concílios, sínodos,
etc., o empresásio Humbard não tem de
prestar contas a comunidade alguma do
que recebe, Como é que o Imposto de
Renda vai saber quanto ele ganha se vem
tudo num envelope fechado e ihviolável?
Ou será que as doações já são dedutiveis? Por tudo isto, lamento não poder
concordar com a forma do ministério escolhido por Rex. Humbard. Ela é colonialista, direitista, eletrônica, anticomunitária, divisionista, massificante, dominadora, lucrativa e com culto à personalidade. Com toda essa carga negativa, a
grande virtude, que é a de falar da Bíbiia e anunciar por ela a salvação em
Cristo, fica muito prejudicada."
(Transcrito de CooJornal, Porto Alegre, Nr. 31).
Nosso Senhor Jesus Cristo, que mandou a seus seguidores proclamar a
Boa Nova "dos eirados" (Mt 10.27),
certamente não queria que disso fosse
feito um negócio de milhões. A "Hora
Luterana", que é a "Voz da Cruz" da
nossa igreja, não visa fins lucrativos em
bens terrenos; ela só quer trazer Cristo
às nações numa mensagem clara e evangélica e bíblica. Tomemos cuidado com
tantôs irradiações que usam o nome do
nosso Senhor somente com fins egoístas,
ou que misturam doutrinas bíblicas com
idéias e doutrinas erradas. Rex Humbard
foi um espetáculo -. e nada mais. Deus
livre o nosso povo de tais "negociantes"
do evangelho de Cristo. Certamente vale
para tais programas religiosos a advertência do apóstolo João: "Provai
os
espíritos se procedem de Deus, porque
muitos falsos profetas têm saído pelo
mundo fora", 1 Jo 4, 1. "~.' H. R.
EM MOÇAMBIQUE A MAIOR
POPULAÇÃO NÃO EVANGELlZADA
HEMISFÉRIO SUL
DO
Lemos no "Semeador Baptista", o órgão ofical da Convenção Batista Portuguesa, a declaração de um missionário
daquele país africano.
Segundo essa
declaração encontra-se a maior população ainda não evangelizada do hemisfério
sul ao norte de Moçambique. Essa antiga colônia portuguesa, independente
desde 1975, tinha, há dois anos, 660.000
católicos e 350.000
protestantes.
A
grande maioria dos moçambicanos conserva suas crenças animistas, apesar dos
esforços dos missionários portugueses.
Há quase um milhão de muçulmanos no
pais. O "Semeador Baptista" diz que a
Igreja do Nazareno, em Mamputo, ex-Lourenço Marques, capital da República Popular de Moçambique (de tendência marxista), de 1.200 membros passou para
50. É proibido batizar qualquer pessoa
de idade inferior a 21 anos. O último
missionário protestante foi expulso em
1976. A revista "Ultimato",
que menciona essa noticia, tem, todavia a seguinte ressalva: "Talvez haja algum exagero pelo menos nesta última informação.
pais o próprio "Ultimato"
tem um assinante em Mamputo que é missionário
evangélico". Seja como for: a multidão do povo nãoevangelizado
de Moçambique é um desafio para todos os
cristãos de fala portuguesa. H. R.
EVANGElIZAÇÃO
DOS CHINESES
Embora não se possa atingir os chineses em seu próprio país, a não ser
através de programas de rádio, os 38 milhões de chineses espalhados pelo mundo
estão sendo alcançados pelo evangelho
por meio de 4.000 igrejas chinesas e
400 missionários. Os cristãos têm sido
hostilizados na China desde 1926, Há
50 anos havia 8.518 missionários protestantes no país e três milhões de cristãos batizados, dos quais 600.000 eram
evangélicos. Notícias recentes dão conta
de que algumas igrejas cristãs estão
sendo reabertas no país mais populoso
do mundo (mais de 800 milhões):
a
Igreja Anglicana de Shangai, uma igreja
metodista em Pequim e três igrejas católicas em Shangai, Pequim e Canton.
("Ultimato",
novo 78)
A RESPOSTA VERDADEIRA
Um testemunho firme da parte de um
renomado cientista com respeito à Bíblia
nos é transmitido na revista "Ultimato"
de novo 78, onde lemos na seção "Personalia" o seguinte: "Willem J. Ouweneel, de 34 anos, membro da Igreja Reformada Holandesa, diretor-redator
da
é Ciência", especialista
revista "Bíblia
em genética e embriologia, é o diretor da
I ecém-formada Faculdade Evangélica, de
Ede, na Holanda. Ele tem se preocupado
tremendamente com a juventude atual,
deixada sem respostas lógicas e racionais
para as grandes perguntas da vida. Para
Ouweneel estas respostas existem e estão na Bíblia e no Deus da Bíblia, O
jovem cientista, que tem feito conferências sobre criacionismo e evolução na
Holanda e em outros países, é também
autor do livro "A Juventude no Final
deste Século",
publicado
em 1977.
Ouweneel afirma que os problemas dos
jovens de hoje são os mesmos dos jovens de ontem. A diferença é que no
passado oferecia-se a resposta, a resposta de Deus, e hoje não se oferece resposta alguma e, sim, hipóteses ou especulações:
uma concepção
irracional,
caótica, absurda e sem sentido a respeito
da origem e do propósito do universo e
da vida, em conseqüência da teoria da
evolução. E isto está levando o nosso
século ao nihilismo e anarquia."
Achamos, também, que uma das
causas das frustrações, das inquietações,
das perguntas sem fim que se notam
entre os jovens do nosso tempo, é, sem
dúvida, a incerteza transmitida a eles
pela instrução recebida nos colégios e
faculdades por professores aos quais
falta justamente o lastro da fé no Criador. H. Fi.
--~---~------------73
VOCÊ JÁ LEU?
A VIDA PODE SER SEXUAL (Ufe
Can Se Sexual) de Elmer N. Witt com
tradução de Roberto Seide, Concórdia
S. A. - Artes Gráficas e Embalagens.
100 páginas.
Afirma o autor, na introdução, que o
assunto da sexualidade é explosivo e
que, seguir uma certa linha, é provocar
problemas. Mesmo assim escreveu este
iivro com uma visão cristã do problema.
Destina-se, especialmente, a adolescentes
e àqueles que devem orientá-Ias e aconselhá-Ias neste assunto. Procura o autor
traçar uma diferenciação entre sexo e
sexualidade. A forma pela qual o sexo
invade e influencia toda a vida, é uma
realidade da natureza e em si mesmo
algo bom, uma dádiva.
O conhecimento sexual é de natureza
diferente do conhecimento a respeito do
sexo. As pessoas, na sua maioria, sabem menos do processo humano de reprodução do que supomos. Conhecemos
o impacto da revolução sexual na qual
vivemos? "O sexo é banalizado ao ser
reduzido a simples diversão", sem qualquer comprometimento.
Temos de combater a imagem do sexo formada pela
massa, para que não condicione nossa
compreensão da sexualidade.
Sexualidade se expressa por relacionamento. É parte do poder, conferido por
Deus, de criar reiacionamento.
"Casat.•• ento
é o acordo de viver Juntos em
amor e significa maturidade, que sabe
combinar satisfação com frustrações."
O
autor ainda discute problemas como:
n'8sturbação, homosexualismo e experiênC'3ê. pré-nupciais.
Embora bastante conciso, merece este
livro uma distribuição entre nossa juventude, por causa de sua visão cristã do
o8xo. Usa o autor uma linguagem acessível aos jovens, fugindo de toda a tentativa de moralizar o assunto. Transparece o amor do educador e pai.
A. J. Schmidt
FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Otto A.
Goerl, Departamento de Comunicação,
Concórdia S. A., Porto Alegre, 1977,
120 pp.
Trata-se de um estudo do Epítome
(resumo) da Fórmula de Concórdia, o último dos textos confessionais luteranos
compreendidos no Livro de Concóidla.
O autor dividiu o estudo em quatro capítulos:
I. Que significam
Símbolos e
11.
Precisamos de
Livros Simbólicos?
Confissões. 111. Como nasceu a Fórmula
de Concórdia? (a situação da época, o
histórico das controvérsias doutrinárias e
os autores da Fórmula de Concórdia).
IV. Os doze artigos do Epítome, sua explanação e aplicação.
O autor do livro, além de velho estudioso e professor da matéria, possui o
dom da apresentar a Fórmula de Concórdia de maneira que torna possivel
alcançar o fim indicado:
ser estudada
nas congregações. O livro, efetivamente,
é um tesouro de informações, explanações e aplicações que evidencia o fato
de que na Fórmu!a de Concórdia há rico
alimento espiritual para todos os cristãos,
não
apenas
substância
pesada
para
o
deleite de eruditos e sutis dissecadorss
de controvérsias teológicas.
Arnaldo Schü!er
-:0:ASSiM COMO EU VOS AMEI: Manual
de eV6ngel!zação, Paulo Flor. Porto Alewe,
Departamento
de
Comunicação,
Concórdia S. A., 1978. 189 páginas.
Está aí um novo manual de evangeIização, editado pelo Departamento de
Comunicação da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Seu autor é o Rev. Paulo
Flor, professor no Instituto Concórdia de
São Leopoldo, RS, pré-Seminário
da
IELB. De há muito o prof. Paulo é um
apaixonado pelo evangelismo.
Em anos
passados integrou uma equipe que ministrou diversos cursos para evangelistas no ãmbito da IELB, Além disso é
homem envolvido na atividade evangelís~
tica que se reaIiza nos arredores dos
educandários onde trabalhou e trabalha
(outrora em São Paulo e atualmente em
São Leopoldo). É portanto um livro que
brota de pesquisa, experiência pessoal e,
seguramentE), destes contatos com evangeiistas leigos nos antigos cursos para
evangelistas.
O manual destina-se a pastores e leigos indistintamente.
Quem deve evangelizar? pergunta o autor no capítulo quarto. A resposta é; Todos os cristãos, sem
exceção. O autor lembra o sacerdócio
fêa! de todos os crentes (1 Pe 2.9) extensivo à tarefa evangelística e faz
referência a uma afirmação de George
Sweazy (Effective Evangelism); os efeitos da Reforma não eram destruir o sacerdócio e deixar uma igreja de leigos,
mas de destruir o iaicismo e deixar uma
igreja de sacerdotes.
Os muros dos
conventos e mosteiros foram arrasados
não para deixar sair aqueles que estiveram sob suas ordens sagradas, mas de
deixar entrar todos os crentes (p. 37).
O texto é extremamente acessível. Há
fartura de ilustrações. Trata-se, em certo sentido, de uma coletânea de histórias missionárias agrupadas sob diversos
temas, o que torna a leitura entusiasrnant2.
Eis um apanhado geral: Capítulo I:
Conceito ciEo evangelização. Capítulo 11:
c/otivoc par·3 evangelizar (num total de
,-,-7;';), Capitulo 111: Obstáculos da evan"
'-:,€,;f"c~o, (O autor divide-os em exterrCl~
e 1nternos,
Entre estes estão o mun-
-'0",-.",0,
os rreconceitos,
etc. Como
c:ytáculos externos aparecem, entre outco~. o ;nateriallsmo, o agnosticísmo e o
cc,,",;,,;srnê,
A propósito deste último, é
citedo o depo:mento de uma coreana,
Ora. He'sn I<:m, dizendo que nos anos
de 1959 s 1960 o partido comunista da
Coréia do Norte liquidou aproximadamente 3 milhões de pessoas, incluindo
nesse número todos os cristãos do país.
Segundo outro depoimento, na China o
nÚmero atingiu 5 milhões (p. 24). Lembramos isso a propósito do sempre mencionado massacre de seis milhões de
judeus na Segunda Guerra Mundial. A
pergunta é: quem lembra desses massacrados ai? Por outro lado, fica evidenciado um fato; os mártires não pertencem ao passado. Às vezes evocamos as
distar.tes arenas romanas e seus mártires pensando que ali se atingiu o grau
máximo e o princípio do fim da perseguição. Isso não é verdade. Há mártirC2 entre nós, no século XX, muito mais
certamente que naqueles tempos iniciaiS).
Capítulo IV: Quem deve evangelizar?
75
Capítulo V: Qualidades fundamentais de
um evangelista. Capítulo VI: Qualidades
complementares de um evangelista. (Ressaita-se o espírito de oração e o conhecimento prático da Bíblia. Há indicações
quanto à prática da oração e do estudo
bíblico. É o capítulo mais desenvolvido:
acima de 40 páginas). Capítulo VII: A
evangelização pessoal o mais antigo
e o mais eficiente método evangelístico.
Capítulo VIII: Algumas regras básicas
para a visitação evangelística.
Capítulo
IX: Como fazer uma visita evangelística
(Descrição elaborada, desde o preparo até
a despedida). Capítulo X: Algumas escusas e como respondê-Ias. (Destacamos
uma delas apresentando um trecho da
resposta: Na igreja há muitos hipócritas. Resposta: É melhor estar na igreja
com hipócritas por algum tempo do que
no inferno para sempre com eles p.
130). Capítulo XI: Como reaver os inativos.
Capítulo XII:
Conservação dos
novos convertidos.
(Um capítulo muito
relevante). A muitas congregações falta
uma total infra-estrutura para a absorção
dos neófitos.
Subitamente
aparecem
diante dos olhos da congregação no dia
da profissão de fé e da mesma forma
desaparecem. Não há integração).
Há
ainda um apêndice que inclui proposta
para uma comissão evangelística e modelo de cartão para prospectos.
A nosso ver é um manual completo.
O autor introduz o tema, analisa os obstáculos, apresenta o evangelista e suas
qualidades e passa à evangelização pessoal. Coloca-nos então diante da visita
concreta e encerra com o tão pertinente
aspecto da integração do novo convertido.
Vilson Scholz
---_.-~---_..
í
N D I C E
APRESENTANDO,
EDITORIAL:
Cristo Partido,
1
ESTUDOS:
Batismo de Crianças, 4
A Liturgia:
Conteúdo e Forma, 30
O Plano Divino da Salvação, 44
Os Novos Vendedores de Indulgências, 48
A Arqueologia e a Bíblia, 54
MEDITAÇÃO:
Tem Cuidado de Ti Mesmo e da Doutrina, 59
NOTíCIAS E COMENTÁRIOS:
O Amor no Celibato, 62
O Senhorio de Cristo Hoje, 64
O Paciente Esquecido Os "OVNls"
Mais Ãnimo Para a Assistência
e o Bom-Senso, 67
A IGREJA NO MUNDO, 69
VOCÊ JÁ lEU?, 74
76
Espiritual,
66
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