, .'.,< I Trimestre -1979 i--'·.--.------·" " -." ~iI \ '"~'2ntl\ '. UMA REVISTA PARA OS ADULTOS EM CRISTO IGREJA LUTERANA Revista Teológica-Pastoral da igreja Evangélica Luterana do Brasil «Uma revista para os adultos em Cristo» Ano: 39 Número: 1 trimestre de 1979 Q Assinatura anual: Cr$ 100,00 para 1979 No exterior: US$ 9,50 Número avulso: Cr$ 15,00 REDAÇÃO CENTRAL: ]I J Rev. Leopoldo Heimann, Diretor de Publicações Caixa Postal 202, 93.000 São Leopoldo, RS e Caixa Postal 3019, 90.000 Porto Alegre, RS, Fones 92-18-22 e 92-18-23, a quem devem ser remetidos os manuscritos, cartas, críticas e sugestões. CONSELHO REDATORIAL: Dr. Johannes Rottmann Dr. Donaldo Schüler Rev. Leopoido Heimann QUADRO Rev. Rev. Rev. Rev. DE COLABORADORES: Hans Horsch Rudi Zimmer Acir Raymann Gerhard Grasel EXPEDiÇÃO E ENCOMENDAS: Concórdia S. A. - Artes Gráficas e Embalagens a quem devem ser dirigidos os pedidos de assinaturas, bem como os valores correspondentes à assinatura. ENDEREÇO: Qualquer mudança de endereço ou irregularidade no número de assinaturas da revista devem ser comunicados à Concórdia S. A. - Artes Gráficas e Embalagens, Avenida do Forte, 586, Caixa Postal 6150, 90.000, Porto Alegre, RS. B iBLI EDITORIAL CRISTO APRESENTANDO Toda a matéria é pensada, analisada o selecionada. Consideramos, pois, útil, proveitoso e importante cada uma das informações, comentários, meditações, recomendações e estudos que incluimos nesta primeira edição de 1979. Mesmo assim, gostaríamos de destacar, especialmente, três estudos: Batismo de Crianças um estudo que examina os principais textos da Sagrada Escritura, bem como os escritos básicos dos pais da igreja cristã, que falam sobre o sacramento do batismo, particularmente o batismo dos infantes; Liturgia: Conteúdo e Forma numa linguagem dinâmica, por vezes agressiva e chocante, o autor faz uma análise profunda e séria sobre um assunto atualissimo, tema esse que já mereceu estudos, debates e discussões em muitas congregações e paróquias, distritos e conferências, convenções e seminários; Os Novos Vendedores de Indulgências em que o autor, num tom bastante polêmico, comenta os exageros e perigos dos principais expoentes da assim chamada "igreja eletrônica". São estudos que merecem ser analisados nas congregações, conselhos distritais, conferências regionais e nos educandários. Vivendo numa época em que um barato sincretismo religioso procura, cada vez mais, sacrificar a "sã doutrina" em favor de "genealogias e fábulas profanas e de velhinhas caducas", cabe à Igreja Evangélica Luterana do Brasil, particularmente neste ano de seu 75" aniversário de fundação, reafirmar o "cremos, ensinamos, confessamos e condenamos" das Confissões Luteranas, procurando sempre cumprir com a verdade exposta nas paiavras do lema do ano IEf 4.15): - Cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo I L. PARTIDO? A congregação de Corinto era uma congregação cristã, consciente, dinâmica. Paulo chama os congregados de "santos e santificados em Cristo Jesus", e a congregação, de "igreja de Deus em Corinto". O apóstolo agradece a Deus porque a igreja cristã de Corinto era rica "em graça, em palavra, em conhecimento, em testemunho, em esperança, em dons espirituais". Mas a congregação de Corinto também era uma congregação de muitos e grandes problemas. Apesar da riqueza espiritual e da fundamentação doutrinária da congregação, os congregados viviam em desunidade de propósitos e em desconformidade com os princípios da ética cristã. Além das discussões, divisões e contendas sobre questões de ordem prática e pastoral o matrimônio, a educação sexual, os sacrifícios, a mulher no culto, a celebração da Santa Ceia, as dádivas de Deus, o dom de línguas, a ressurreição, o batismo pelos mortos os cristãos da congregação de Corinto entraram em choque e em crise sobre a liderança dos ministros de Deus, criando partidos rei igiosos em torno de quatro personalidades: Paulo, Pedro, Apoio, Cristo. Vejamos mais de perto esta problemática partidária. -:0:Há alguma divergência entre os exegetas quanto a origem, número e características de cada um dos partidos. Não entraremos neste debate. Quem são eles? Eu sou de Paulo! Sabe-se que a congregação de Corinto era constituída por cristãos de origem judaica e gentílica. É muito provável que os seguidores de Paulo era formado por um grupo de gentios-cristãos. Certamente estes integrantes não compreenderam bem a doutrina da liberdade cristã que Paulo pregava, e transformaram a Iiberdade em licenciosidade. Esqueceram que eles foram saivos por Cristo e gozavam da liberdade não para pecar, mas para deixar de pecar. Eu sou de Apoio! Era um judeu-cristão de Alexandria, "homem eloqüente e poderoso nas Escrituras", a quem Priscila e Aqüila "tomaram consigo e, com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus". É provável que os adeptos de Apoio eram alguns intelectuais, amantes da retórica, que se preocupavam mais com a forma do que com o conteúdo da mensagem cristã, transformando o cristianismo numa simples filosofia de vida em vez de uma religião que precisa ser vivida "em espírito e em verdade". - Eu sou de Pedra! Certamente os partidários de Pedro eram alguns judeus com espírito legalista. Não entendendo a mensagem cristã, acreditavam que o homem, mesmo como cristão "e nova criatura em Cristo Jesus", deveria continuar observando e praticando a lei para ser salvo. Faziam confusão entre lei e evangelho, entre justificação e santificação, entre a mensagem do Sinai e do Calvário. Eu sou de Cristo! É possível que estes partidários de Cris2 to, em seu radicalismo e até farisaismo, agiam como se Cristo só pertencesse a eles, como se só eles fossem "os santos, eleitos e salvos", regeitando os ministros de Cristo. Poderiam ser os que dizem: "Eu não preciso de igreja, de pastor, de cultos; eu tenho Cristo, e pratico minha fé em casa". Não compreenderam a importância da congregação e a doutrina da igreja cristã. -:0:Paulo regeita, com muita veemência, este divisionismo partidário, mostrando ser prejudicial à unidade da igreja cristã e estar em desacordo com a revelação de Deus. Os ciúmes, as discussões, as contendas, as divisões, as "simpatias e promoções de ministros" arruinam as congregação, mutilam a igreja, massacram a "sã doutrina", destronam o Redentor, prejudicam o progresso do reino de Deus, e criam fariseus e hipócritas. Atrás do partidarismo religioso sempre existe o desejo do mando, o interesse pessoal, a promoção de sua própria imagem. Paulo mostra que só "Cristo Jesus é o fundamento da igreja cristã", que só "Cristo Jesus é a cabeça da igreja cristã", que o "evangelho do Cristo crucificado é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê?", que "não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos", que Jesus "é o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai." E o que são os diáconos, os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os bispos, os pastores, os mestres? Paulo responde: São servos de Cristo! Nada mais. Uns podem plantar a boa semente da palavra, outros podem regar, mas o crescimento sempre vem de Deus! -:0:Logo, a igreja cristã não conhece um Cristo partido e dividido. Ninguém pode pregar um CristoPadeiro, um Cristo-Milagreiro, um Cristo-Embusteiro. A igreja cristã confessa este Cristo: "Creio que Jesus Cristo, verdadeiro Deus, gerado do Pai deste a eternidade, e também verdadeiro homem, nascido da virgem Maria, é meu Senhor, que me remiu a mim, homem perdido e condenado, me resgatou e me salvou de todos os pecados, da morte e do poder do diabo, não com ouro ou prata, mas com seu santo e precioso sangue e com seu inocente padecimento e morte, para que eu lhe pertença e viva submisso a ele em seu reino e o sirva em eterna justiça, inocência e bem-aventurança, assim como ele ressurgiu dos mortos, vive e reina para sempre. Logo, os cristãos e os mInIStros de Cristo devem saber que "pela graça de Deus sou o que sou"; devem meditar sobre as palavras: "pois quem é que te faz sobressair? e que tens tu que não tenhas recebido? e, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?"; devem "revestir-se, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade"; e então "dobrar os seus joelhos e confessar o nome que está acima de todos os nomes Cristo Jesus". As festividades dos 75 anos da Igreja Evangélica Luterana do Brasil são propícias para se meditar sobre estas verdades. Que o Espírito Santo nos dê o correto discernimento e nos faça viver as palavras que formam o lema de aniversário de nossa igreja: Cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. L. 3 ESTUDOS BATISMO DE CRIANCAS Johannes H. Rottmann NOTA: Este estudo foi motivado especialmente por duas razões: a) por um tratado que achamos ser algo incompleto, do Rev. Jeffrey C. Kinery, publicado na revista ••Christian News» Julho 1978 sob o título ••Our position on Infant Baptism»; b) por repetidas indagações da parte de pastores e leigos da IELB, que precisam de subsídios bíblicos para sua polêmica referente ao batismo, especialmente ao batismo infantil com as diversas igrejas batistas e pentecostais no Brasil. Adultos vêm ao conhecimento do seu Senhor e Salvador Jesus Cristo e eventualmente experimentam sua conversão pessoal «pela pregação da fé» (<<Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei, ou pela pregação da fé?»), GI 3.2. A fonte da fé é a «palavra de Cristo», como o apóstolo escreve: «E assim, a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo», Rm 10.17. Tais adultos, desde o primeiro pentecoste cristão, foram batizados depois de, mediante a fé, terem aceito Jesus como seu Salvador. Exemplos Lucas nos relata no fim da gloriosa história do primeiro pentecoste: 4 Então os que ''1e "ceitaram a palavra foram Da:,zaCJ8s' havendo um acréscimo "acue'e jia de quase três mil pessoas,· .~t 2.41. A história da conversão d::;s primeiros pagãos (Cornélio e sua ;e'lte em Cesaréia) teve o desiecr'o seguinte: «Ainda Pedro faiava estas coisas quando caiu o ES:J:-tc Santo sobre todos os que oua~ 3 palavra ... Então perguntou ;)8d-O: Porventura pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados (não devemos esquecer que antes disso era absolutamente inconcebível um judeu ou um pagão ser aceito no meio do povo de Deus sem ser circuncidado) estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo», At 10.4448. Dos primeiros cristãos da Europa, ganhos para Cristo, pela obra missionária de Paulo é dito o seguinte: (Lucas relata) "Certa mulher chamada Lídia, da cidade de Tiatira ... nos escutava (a Paulo, Si Ias, Lucas e possivelmente também Timóteo, At 16. 1ss.); o Senhor lhe abriu o coração para atender às cousas que Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa, e aí ficai», At 16.14,15. O mesmo aconteceu com o carcereiro de Filipos, conforme nos conta Lucas: " ... o carcereiro ... depois, trazendo-os (Paulo e Silas) para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa. E lhe pregaram a palavra de Deus, e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-Ihes os vergões dos açoites. A seguir foi ele batizado, e todos os seus», At 16.1733 Foi também o que ocorreu em Corinto com Crispo, o principal da sinagoga, e com outros, como Lucas relata: «Mas Crispo, o principal da sinagoga, creu no Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados», At 18.8. Neste sentido devemos ler e compreender aquela história maravilhosa que nos é relatada do Ministro da Fazenda da rainha Candace de Etiópia, um eunuco, a quem o evangelista Filipe «encontrou» no deserto, lendo no livro do profeta Isaías as profecias a respeito do «Cordeiro». Tendo sido rogado pelo eunuco, que não entendia de quem e de que o profeta falava: «Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta? Filipe (o) explicou e, começando por esta passagem da Escl'itura, anunciou-lhe a Jesus», At 8. 34,35. Evidentemente Filipe, em suas interpretações dos textos bíblicos, também falou do batismo, explicando seu sentido, seu proveito, seu valor, pois quando os dois chegaram «a certo lugar onde havia água, disse o eunuco: Eis aqui água, que impede que seja eu batizado?» (v. 36). Infe- 5 lizmente não sabemos qual foi a resposta de Filipe, pois o que em nossas versões está relatado no v. 37, não existe no original (por isso o texto na Almeida Revisada foi posto em colchetes e a Bíblia na Linguagem de Hoje elimina, com razão, o versículo inteiro) (1). Porém Lucas nos conta o que aconteceu naquele oásis no meio do deserto: «Então (o eunuco) mandou parar o carro, ambos desceram à água, e Filipe batizou o eunuco" (v. 38). Temos, portanto, evidência bibi:ca de que, no caso do batismo de adultos, estes foram instruidos antes de serem batizados e que eles. de uma ou outra maneira, coníessaram sua fé em Jesus como seu Salvador antes do ato batismal. Com crianças, a modalidade tornarem filhos de Deus era e de se dife- é rente. Todas as igrejas tradicionais levam crianças a Cristo por meio do batismo. Somente aquelas igrejas e seitas que têm suas origens no movimento anabatista do século XVI, ou movimento posteriores semelhantes, negam às crianças este meio da graç8. As confissões da igreja luterana são bem claras e explícitas neste sentido e convém nos lembrarmos destas declarações, especialmente quando há incertezas a respeito do batismo de crianças: A Confissão de Augsburgo, confissão fundamental da igreja luterana, ensina: «Do batismo se ensina ... que também se devem batizar as crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a ele se tornam agradáveis. Por essa razão se rejeitam os anabatstes, os quais ensinam que o batiso 'nfanti! não é verdadeiro» (CA IX. A Apologia da Confissão de Augsburgo é igualmente clara ao afirmar: «Em segundo lugar, é manifesto que Deus aprova o batismo dos pequeninos. Logo, julgam impiamente os anabatistas, que condenam o batismo dos pequeninos. Que Deus, entretanto, aprova o batismo dos pequeninos, demonstra-se com o fato de ele dar o Espírito Santo aos assim batizados. Fosse nulo esse batismo, e a nenhum seria dado o Espírito Santo, nenhum se salvaria, não haveria, enfim, igreja. Esta só razão já pode confirmar suficientemente corações bons e piedosos contra as opiniões impias e fanáticas dos anabatistas" (Apol. IX, 3). (2) Para o batismo de crianças as igrejas tradicionais têm provas claras e suficientemente fortes, tanto da própria Bíblia como da história. As razões que podemos enumerar para a nossa praxe do batismo infantil são principalmente as seguintes: 1. A Necessidade do Batismo Crianças depois da queda do homem em pecado - nascem pecadoras. Elas necessitam, portanto, do renascimento: «O que é nascido da carne é came ... ", Jo 3.6. «Carne" significa, nesta e em muitas outras passagens, a natureza corrompida e pecaminosa do homem pecador, aquela natureza com a qual ele agora já nasce. Basta apontarmos às seguintes passagens biblicas: Gn 5.3: "Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e lhe chamou Sete." (Antes é constatado: «No dia em que Deus criou o homem, à sern3lhança de Deus o fez; homem e mulher os criou", v. 1,2. Essa S8- llelhança de Deus, o homem a perdeu por ocasião da queda em pecado.) Depois da divina catástrofe do diiúvio, quando Deus resolvera que doravante não mais destruiria a humanidade, ele mesmo afirmou: Gn 8.21: «Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, pois é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade ... » (tradução mais certa seria «desde a sua infância,,; a calamidade do homem já começa com o seu nascimento, nessa terra contaminada pelo pecado). Sim, o estado da pecaminosidade do homem já começa até antes do seu próprio nascimento, como claramente confessa o salmista: SI 51.5: «Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe» (<<O salmo não alude a qualquer ato adulteroso da parte da mãe ... Simplesmente refere à descendência de pais pecadores, à pecaminosidade inata, a qual junto com sua culpa e sua condenação é transmitida pelos pais aos filhos mediante a procriação natural, de modo que são contaminados já desde seu nascimento», Langej Schah sobre o texto). ° Antigo de passagens nosidade, a não só da sim, também tes exemplos Testamento está repleto que mostram a pecamiculpa e a condenação, humanidade adulta mas, das crianças. Os seguinsão suficientes: SI 58.3: «Desviam-se os impios desde a sua concepção; nascem e já se desencaminham, proferindo mentiI'as.» Que isto não se refere somente aos «ímpios» mas sim, a todos os homens, mostram as seguintes passagens: Jó 15.14: «Que é o homem, para que seja puro? e o que nasce de "T'1ulher. para ser justo?» Jó 25.4: "Como, pois, seria Justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce de mulher? A depravação total de toda a humanidade é constatada em Ec 7.20: «Não há homem justo sobre a terra, que faça o bem e que não peque», o que é repetido, confirmado e exposto mais detalhadamente por Paulo, em «Como está escrito: Rm 3.10-12: Não há justo, nem sequer um, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um « •.• não há sequer.» Rm 3.22,23: distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus» (<<glória» no sentido de serem reconhecidos da parte de Deus como justos). Há muitos outros textos neo-tes- tamentários que falam da pecaminosidade de toda a humanidade, incluindo quinto capitulo da as crianças. carta de Paulo aos romanos, especialmente, nos ensina este fato: ° Rm 5.12: «Assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram.» A experiência nos ensina que também crianças e muitas delas morrem. Isto nos prova plenamente que é por causa do pecado que elas morrem, mesmo se ao nosso ver, ainda não podiam cometer qualquer ato pecaminoso. E é pecado hereditário que também corrompeu a natureza das crianças, pois também para elas vale que «o salário do pecado é a morte», Rm 6.23. E é no fim deste capítulo cinco que ambos os lados da existência humana, neste mundo do pecado, vêm à tona com clareza cristalina e nenhuma das criaturas humanas fica 7 excluída destas palavras divinamente inspiradas: Rm 5.18-19: "Pais assim como por uma só ofensa veio o juizo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça (a morte do Filho de Deus na cruz) veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como pela desobediência de um só homem os muitos (isto é, a multidão de todos os homens) se tornaram pecadores, assim também por meio da obediência de um só os muitos foram declarados justos. (Foi um ato jurídico de Deus que declarou justos os homens pecadores pela morte vicária de Cristo - apesar de, infelizmente, a grande maioria não aceitar a declaração de Deus, não crendo). A base de tais provas biblicas, Confissões luteranas condenam as as seguintes heresias: «... que perante Deus infantes não batizados não são pecadores, mas justos e inocentes, os quais em sua inocência, porque ainda não alcançaram o uso da razão, se salvam sem o batismo (o qual, de acordo com o que alegam, eles desnecessitam). Rejeitam, desta maneira, toda a doutrina do pecado original e o que a ele pertence. Que só devem batizar as crianças quando tiverem alcançado o uso da razão e puderem confessar pessoalmente sua fé. Que os filhos dos cristãos, por isso que nasceram de pais cristãos e crentes, são santos e filhos de Deus mesmo sem o batismo e antes dele. Por essa razão também não têm o batismo infantil em alta consideração, nem lhe encorajam a prática, contrariamente às expressas palavras da promessa de Deus, que se estende apenas 8 àqueles que lhe guardam a aliança e não a desprezam. Gn 17.» (Fórmula de Concórdia, Epitome XII, 4-6). (2). Sem dúvida, está de acordo com a palavra de Deus o que diz um velho provérbio: Uma criança não precisa ser educada para o mal mas, sim, para o beml 2. A ordem de fazer Discípulos Nos recenseamentos da antigüidade, como ainda nos de hoje, as crianças são incluídas no número dos habitantes de um povo. Se alguns, porém, querem argumentar que as crianças não são mencionadas especificamente na ordem final dada por Jesus, podemos então, contra-argumentar: também adultos não são esÉ oporpecificamente mencionados. tuno que, neste momento, estudemos uma vez mais o texto inspirado, em que a ordem de batizar é implícita: Mt 28.18-20: (a tradução segue o texto original tão perto quanto possível) «Jesus, falou-Ihes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto. tendo ido, (não temos o imperativo de "ir» no texto original, mas sim o particípio do aoristo; o imperativo de ir já está inerente no seu chamado de embaixadores, de apóstolos, de mensageiros, Mt 10.1ss.) discipulai (aqui, sim, temos o imperao verbo tivo: fazei discípulos I grego é «mathetéuo»: fazer de alguém um «mathetês», um seguidor, um discípulo. A ordem dada aos apóstolos foi, pois, não a de ir, mas a de fazer discípulos. Pergunta-se como este imperativo de fazer discípulos pode ser executado e qual o campo de ação. A segunda pergunta é respondida em primeiro lugar): todas as nações admissível limitar (certamente este termo não só é a uma parte das nações, isto é, a adultos, como nos recenseamentos e na constatação de número de habitantes incluem, incontestavelmente, também as crianças o número dos habitantes do Brasil seria diminuído por uns 20% se fossem descontadas as crianças até 6 anos de idade! O objeto, portanto, da ordem de fazer discípulos são todos os que pertencem às nações, aos povos). - É necessário, nesta altura, chamar atenção a um grave erro de tradução na primeira e segunda edição da "Bíblia na Linguagem de Hoje», que nesta passagem diz assim: "Portanto, vão a todos os povos e façam que todos sejam meus discípulos: batizem esses discípulos ... ". O grave erro está ra insinuação de que os que deviam ser batizados já seriam discípulos a r; t e s do batismo. É evidente que desta ITaneira o batismo perde completamerte o seu caráter de meio da graça. FezITente. em definitivo, Ao conisto não é cito oor C:isto. trário, com mGita c's-eza Jesus diz como seus apóstolos devem e podem fazer discípulos ce todas as nações. Ele menciona duas ~oda!idades, ambas no mesmo nível t3r,tc no valor como no tempo: batizando-os ..., ensinando-os (temos aqui dois verbos no particípio; e estes particípios só podem ser tomados como particípios de modalidade. E, visto que «baptízontes» batizando - e «didáskontes» ensinando são iguais em todos os sentidos gramaticais, não pode ser criada qualquer diferença entre eles, seja diferença temporal ou aciona!. Se fosse possível fazer uma diferença entre os dois particípios então, por certo, o batizar deveria e preceder o ensinar. É significativo, até estranhável por causa da importância de suas fontes que dois dos mais importantes manuscritos que possuímos (B - Vaticanus - e O Bezae Cantabrigiensis) têm no primeiro dos particípios a forma do aoristo, isto é, «baptísantes», o que colocaria, definitivamente, o batizar a n t e s do ensinar: "tendo os batizado ... os ensinando». Achamos, no entanto. que apesar da importância dos dois textos, o texto original é aquele que serve por base da nossa tradução, que colocou os dois particípios no mesmo nível, indicando que existem, de acordo com a ordem de Cristo, duas modalidades de discipular as nações: batizando-os e ensinando-os! Que a Almeida Revisada 9 ----- emprega o masculino «os», apesar de «todas as nações» ser feminino, está de acordo com o grego original que, para o neutro, «ta étlme» as nações - tem o pronome reflexivo masculino «autóus». Não há, portanto, nada a reclamar contra a tradução da Almeida Revisada neste ponto. Batizando-os em nome (eis to onómati) do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Eis aí uma das duas modalidades de discipular, de fazer discípulos, uma de duas! Ora, é sem dúvida, notável que em todo o Novo Testamento não se acha texto algum em que a fórmula trinitária rosse usada. As passagens que nos falam do batismo e da fórmula usada são as seguintes: At 2.38: (diz Pedro) ", cada um de vós seja batizado em nome (epí tô onómati) de Jesus Cristo, ." At 10.48: (Pedro em Cesaréia na «, ordenou que casa de Cornélio) fossem batizados em nome (en tô onómati) de Jesus Cristo. At 16.15 e 33 rala-se simplesmente do batismo em Filipos sem menc:onar uma fórmula. At 18.8 fala-se do batismo de Crispo e de outros que Creram ,ono Senhor», mas não se menciona uma fórmula. At 19.1ss temos a história daqueles discípulos de João Batista que foram batizados «no batismo de kão», fato este que evidentemente não Ihes dava sossego completo, visto que naquela época ainda não conheciam toda a história da redenção, até a ressurreição de Cristo e que, portanto, afim de terem certeza da validade de seu batismo, «foram batiza dos em o nome (eis to ónoma) do Senhor Jesus». (Esse incidente não diz que o batismo de João não teve validade; teve validade, sem dúvida, pois o 10 próprio Cristo se deixou batizar por João. Tratava-se, em Éfeso, de um caso em que precisava ser posto fora de qualquer dúvida o estado destes neófitos no cristianismo). Rm 6.3: « ... todos os que fomos batizados em Cristo Jesus (eis) fomos batiza dos na sua morte.» 1 Co 1.1355: o apóstolo argumenta contra os grupos e divisões que se criaram em Corinto ao redor de nomes; nesta argumentação chega ao ponto de apontar para o batismo como sendo o fundamento de tal dependência: « ... foi Paulo crucificado em favor de vós, ou fostes, porventura, batizados em nome de Paulo?» O argumento visa apontar para o absurdo destes grupos dentro de uma congregação cristã; é evidente que cristãos não foram batizados em nome (eis to ónoma) de qualquer um dos ministros de Cristo mas, sim, em nome do próprio Senhor Jesus. GI 3.26,27: «Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus: porque todos quantos fostes batizados em Cristo (eís), de Cristo vos revestistes.» Portanto, nota-se que o batismo, em nenhum caso, foi expressamente feito «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». Não é possível darmos as razões para tal procedimento; mas também não podemos negar que, aparentemente, não havia unanimidade na fórmula batismal nem na primeira cristã. Os textos mostram geração da igreja dados acima nos as seguintes «em (epí) diferenças. nome de Jesus Cristo» nome de Jesus Cristo» At 2.38; «em (en) At 10.48; «em o nome (eis) do Senhor Jesus» At 19.1ss.; -,sto se deixou batlza- por ava-se, em Éfeso, de um ue precisava ser posto fora 0;dúvida o estado destes ) cristianismo). «em (eis) nome de Cristo Jesus» Rm 6.3; «em (eis) Cristo» GI 3.27. Evidentemente, havia certa liberdade no uso da fórmula. O batismo « . " todos os que fomos 0;'11 Cristo Jesus (eis) fomos 'ia sua morte.» como tal, porém, ficou aquele batismo que Jesus instituiu como uma das modalidades de discipular os indivíduos nas nações. Este batismo foi um batismo no Deus Triúno, porque não haveria um «Senhor Jesus Cristo» 1355: o apóstolo argumenta grupos e divisões que se ~ Corinto ao redor de noa argumentação chega ao ;pontar para o batismo coa fundamento de tal de" ... foi Paulo crucificado e vós, ou fostes, porventura, 0'11 nome de Paulo?» O ar'sa apontar para o absurdo DOS dentro de uma congre:ã; é evidente que cristãos batizados em nome (eis to qualquer um dos ministros ilas, sim, em nome do próJ, Jesus. ,27: "Todos vós sais mediante a fé em -que todos quantos em Cristo (eis), de :stes.» filhos Cristo tostes Cristo ), nota-se que o batismo, " caso, foi expressamente 'lome do Pai e do Filho e ) Santo». Não é possível razões para tal procedias também não podemos aparentemente, não havia e na fórmula batismal "imeira geração da igreja textos dados acima nos 3 seguintes diferenças, 01) nome de Jesus C;istc" sem o Pai que o mandou e sem o Espírito Santo que ensina a reconhecer Jesus como Senhor. Neste sentido, desde o primeiro pentecoste cristão até o dia de hoje, o batismo é uma dádiva do Deus Triúno. No batismo o próprio se dá a nós: o Pai se torna Pai e nos aceita como seus Deus nosso filhos (GI 3.16-27; Jo 1.12,13; 1 Jo 3.1); o Filho torna-se nosso Redentor, obedecendo ao eterno plano da salvação somos batizados, purificados "por meio da lavagem de água pela palavra» (Ef 5.26) e somos unidos com ele na sua morte, pois «fomos sepultados com ele na morte pelo batismo» (Rm 6.4); desta maneira fomos «revestidos de Cristo» (GI 3.27), «batizados em um corpo» (1 Co 12.13), somos todos membros de um corpo, seu corpo, sua igreja (Ef 1.23); sua justiça é nosso vestido de glória (Is 61.10; Mt22.11); o Espírito Santo torna-se, neste estado de batizados, o nosso Consolador, pedido pelo Filho, mandado pelo Pai em nome do Filho (Jo 14.16,26) e enviado por Cristo «da parte do Pai» (Jo 15.26), que «é Espírito da verdade» e de quem o corpo dos batizados «é santuário» (1 ° Co 6.19). n) nome de Jesus (>~_.- ome (eis) do Se"''':- . S8, ; Nessas fórmulas batismais também a diferença das preposições não fazem diferença no sentido. São três as preposições: «eis", «en" e «epí». Assim como uma criança, ao nascer e ser registrada, recebe o nome do seu pai, assim a criatura humana, ao renascer - seja por meio de batismo, seja por meio do aceitar conscientemente a mensagem da fé é, por assim dizer, registrada como filho de Deus, membro da família de Deus. «eis» Pelo batismo é recebida para dentro da família de Deus, recebendo o nome de Cristo. Visto que o próprio Cristo ordenou o batismo como uma modalidade de fazer discípulos, este é feito em seu nome (<<en») à sua incumbência; e em obediência e isto novamente é feito assim como o foi na ocasião do primeiro pentecoste, com o uso do nome (<<epí») de Jesus Cristo. Que glorioso privilégio é esse que temos, pois tamqém podemos usar este meio da graça para os nossos filhos! Desta maneira os nossos filhos (<<carne, nascida de carne») tornam-se filhos de Deus conosco e com todos que aceitam essa graça. 3. A Promessa Batismo da Salvação pelo A promessa da salvação pelo batismo também é dada expressamente às crianças. Assim Pedra, falando àquela multidão que participou do início da missão mundial da igreja cristã no primeiro pentecoste, diz: «Arrependei-vos,. e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós é a promessa, para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar», At 2.38,39. A palavra grega usada neste texto para "filhos» é «téknos»; é o termo 11 mais amplo e genenco para «filhos»; não determina a idade. No momento do nascimento, uma criatura humana é «téknon» do seu pai e de sua mãe. A Escritura desconhece uma limitação da promessa da salvação pelo batismo a adultos ou a crianças de uma idade mais avançada. Para o termo d, ainda Lc 1.17; 3.8; At 17.28,19, (Para pesquisa mais profunda recomendamos Walter Bauer: W6rterbuch zum Neuen Testament; Arndt/Gingrich: A Greek-English Lexicon of the New Testament; especialmente o parágrafo «téknon» no artigo «páis» de A. Oepke em Theologisches W6rterbuch zum Neuen Testament Kittel, Vol. V). 4. Batismo e Circuncisão o apóstolo Paulo compara o sacramento do batismo com a circuncisão. Circuncisão foi o sacramento vetero-testamentário que levou crianças - meninos de 8 dias de idade para dentro da aliança entre Deus e seu povo. Paulo, na sua discussão com os legalistas judaizantes da Galácia, afirma que o relacionamento, confirmado pela aliança entre Deus e Abraão, não foi uma aliança à base da lei, mas uma aliança à base da graça, mediante a fé aceita: «Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça não sua obra, portanto. - Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou a Boa Nova a Abraão: Em ti serão abençoados todos os povos», GI 3,6-8. De acordo com Gn 17.9-14 texto que nos relata a instituição da circuncisão - isto seria o «sinal de aliança entre mim (Deus) e vós» (Abraão e sua descendência). Esse sacramento da circuncisão deveria 12 constar no seguinte: «todo macho entre vós será circuncidado»; e tal aliança, que Deus chama de «minha aliança», valeria tanto para Abraão como para «a tua descendência no decurso das suas gerações». O apóstolo Paulo novamente esclarece a interligação desta antiga aliança com a nova aiiança, centralizada em Cristo, escrevendo aos colossenses: «Em união com ele (Cristo) vocês foram circuncidados, não com a circuncisão que é feita pelos homens, mas com a circuncisão do próprio Cristo, que é a libertação do poder do corpo pecador. Porque quando vocês foram batizados, foram enterrados em Cristo, No batismo, vocês foram também ressuscitados com ele, por meio da fé que têm no grande poder de Deus, o mesmo Deus que ressuscitou Cristo», CI 2.11,12 (Tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje). Que este sacramento da nova aliança não foi mais limitado somente às crianças de sexo masculino fica evidente de GI 3.28,29: «Dessarte não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulhel'; porque todos vós sois u m em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa.» Na nova aliança, qualquer homem só podia ser recebido «pela circuncisão do coração»; só por tal «circuncisão» alguém tornou-se um israelita verdadeiro, um verdadeiro descendente de Abraão: «Porque não é judeu (verdadeiro membro do povo de Deus) que é circuncidado somente na carne. Porém judeu (verdadeiro) é aquele que o é interiormente, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens mas de Deus", Rm 2.28,29. Circuncisão, como sinal de pertencer ao povo de Deus da antiga aliança, foi ordenada (Lv 12.3) e a desobediência a essa ordem foi considerada um pecado tão grave que Deus o castigava com a morte (cf. Ex 4.2326). A não-circuncisão dos meninos no povo seria um apróbrio para o povo inteiro (Js 5.2-9). Porém já na antiga aliança uma mera circuncisão na carne não bastava; Deus exigiu também, como prova do seu arrependimento, a «circuncisão do coração» (Dt 10.16) e diz que tal «circuncisão» não é feita por homens mas pelo próprio Deus: "O Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas», Dt 30.6. Como um éco destas palavras tão antigas, o apóstolo Paulo, milhares de anos depois, escreve aos colossenses: «Nele (em Cristo) também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo ... , CI 2.12.» 5. Batismo como Meio de Santificação de toda a Igreja Paulo escreve aos efésios: « Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra», Ef 5.25,26. t: evidente que também crianças pertencem à igreja, e assim' também elas são purificadas «por meio da lavagem de água pela palavra», isto é, pelo batismo que combina os dois elementos: a água e a palavra. 6. Batismo Testamentária não é Invenção Neo- Mestres e rabis judeus falam de batismos no Antigo Testamento. Assim, por exemplo, testifica Maimônides (3): «O povo de Israel entrou na aliança mediante três observações: pela circuncisão, pelo batismo e pelos sacrifícios. A circuncisão já existia no exílio do povo no Egito, pois está escrito: 'Incircunciso nenhum dele comerá' (alusão ao pão não fermentado, usado no êxodo pelos israelitas). Batismo foi introduzido no deserto, exatamente antes da promulgação da lei, como está escrito: 'Santifica-os todos hoje e amanhã, e mando-os a lavarem seus vestidos' (o lavar dos vestidos foi considerado como lavagem do corpo inteiro). 'Os sacrifícios estão descritos em Ex 24,5',» No Novo Testamento também lemos dos «baptismôn didachês», do ensino de batismos dos judeus (Hb 6.2) e de «ordenanças da carne ... e diversas abluçães» (baptismóis), Hb 9,10. Algumas destas «abluçães» ou batismos incluíram uma lavagem ou um aspergir com água ou sangue: Arão e seus filhos à porta da tenda «lavarás com água», Ex 29.4; «tomarás então do sangue sobre o altar ... e o espargirás sobre Arão e suas vestes, e sobre seus filhos e as vestes de seus filhos com ele; para que ele seja santificado ... », Ex 29.21; sobre o leproso curado com sangue «espargirás sete vezes»; o que se deve purificar «banhar-se-á com água» e ao sétimo dia mais uma vez «lavará as suas vestes, banhará o corpo», Lv 14.7-9; cf. ainda Lv 16.1419; Nm 19.7, 13-21; Ez 36.25. t: evidente que tais batismos e havia ainda muito mais do que os mencionados não foram batismos 13 I cristãos; também não sabemos se aqueles batismos, aos quais Maimônides se refere, foram de instituição divina ou não. Sabemos, isto sim, que os fariseus na época de Jesus chamavam suas lavagens cerimoniais (a mesma palavra para estas lavagens é usada como para o batizar de João Batista e de Cristo, a saber «baptízein») de batismos: eles «não comem sem lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem se aspergirem (<<baptízein»)j e há muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem (<<baptismós») de copos, jarros e vasos de metal. .. », Me 7.3,4; Lc 11.39. O que queremos demonstrar com essas referências é o fato de que estes «batismos» foram conhecidos pelos judeus e praticados não só com adultos, mas também com crianças, porque também elas precisavam ser «purificadas». Diante deste fato, pois, não se compreenderia que Cristo tivesse excluído as crianças do seu batismo, sem que esta excessão fosse expressamente mencionada. 7. Batismo de Prosélitos Autoridades teológicas judaicas afirmam que, quando um pagão se convertia para a religião de Jeová, ele era batizado com seus filhos. Assim se constata nos «Gemara» do Talmude Babilônico (4): «Se os filhos e as filhas forem convertidos com um prosélito, então eles receberão o mesmo tratamento .. Numa tal conversão exige-se que estes prosélitos sejam batizados, mesmo na sua infância.» Os preceitos, tanto do Talmude de Jerusalém como no Babilônico, falam de prosélitos que deveriam ser batizados com menos de três anos de idade. 14 Maimônides(cf. 3) é ainda mais explícito quando, nas suas interpretações destas tradições, escreve: «O gentio que se torna um prosélito (convertido para o judaismo) como o escravo que foi libertado, eis que são como crianças, nascidas de novo.» Este «nascer de novo» (o re-nascimento) se concretizou, segundo Maimônides, no seu batismo: «O israelita que adota uma pequena criança pagã, ou a achar abandonada, e a manda batizar, como isto fazdeia uma prosélita» (convertida), De novo deve ser mencionado que, naturalmente, não se trata de um batismo cristão. O ponto que queremos destacar é que o batismo de crianças não era uma coisa desconhecida na época de Cristo, praticado pelo povo de Israel. Teria sido uma exceção se Jesus tivesse limitado o seu batismo apenas a adultos. exílio: «Assirr,. :::-: '::, Israel. " cerce ::':' "':':: ~ pé, somente de -:: -:: ' -' mulheres e Cria-;::", " _ seguintes que ': = final dos israe.:::" :: ::: Mar Vermelho s = ::::'::-== truição dos S8,-,= do Mar Vermeh:: Notemos ai,,:;:: c " enigmática na ::,,:: _::-';, sido batizados Moisés», É evies- '" :,S ' tratar de um t·:: s- :: '§ Moisés», ass!"" :::-:: -" no Novo Tes!",-',;," Jesus Cristo». C ::_:: - " batismo simbó:ç:: -s '=~ bras do povo de ="_õ .~ orianças!) foi c,,-s ::::' =" tas foram uniCc& presentante de D= _"" .~ Antigo Testam2-:: -s , diador do 1\:,:: - o~~ Cristo, foi pre"; _ -::::: ;: libertação da 2&:-::, ::~:: Moisés, simbc:;:::::;: pela nuvem e :s: - ~ pica de nosse -..o.--_~dão do pecacc ,,:::: __ aplicada a te:::s :::: por meio do ::&' ,,-: _= do deste tipc -= õ -: >:: no Antigo T2&:::--S--: :-" incluiu as c' ,,' -=, -= 8. O Tipo Vetero-Testamentário Batismo do Num texto algo enigmátioo, o apóstolo Paulo fala de um tipo mui significativo do batismo no Antigo Testamento. Em 1 Co 10.1,2 Paulo escreve: «Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estIveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo todos sido oatizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés», aorescentando no v. 6: «Ora, estas oousas se tornaram exemplos para nós.» Notemos nessa passagem, em primeiro I.ugar, que nos primeiros versíoulos deste capitulo, o apóstolo destaca três vezes que todos os membros do povo de Deus passaram por essa experiência. A base histórica da afirmação do apóstolo temos em Ex 12.37, onde se fala da salda do povo do 9. Não Ex:iste - e 'C':: Exclui Criancas 3 =-=~ c·c Muitos c::;.,,' _ -..o.: :>õ abolidos p22 ; 2 =~ Se també,.,-:: ::::=:-: :=. se abolido :: _ : - o ~ desaconse - 2, e :: -:2:: :,. um texto :: _~ Novo Te5:2-=-:: _,_~, =- Ao contra-::: . - ~ '.,.':& i; -- - ~-. .., ...•... '"'- 0·~·""" . .-. ------ :=-:,..~~:zou~ seg'....;~:::-: ~:=Ga.tismo: ~O S:2~ : ::=j :." ~"'~a pequena cnançe. ~ ~:::-ar abandonada, e a =:,,- como isto faz dela a (convertida). : :2ie ser mencionado que, :2 "',ão se trata de um ba!: = O ponto que queremos :~e o batismo de crianças -:' coisa desconhecida na :: 'sto, praticado pelo povo - er'a sido uma exceção se se limitado o seu batismo acu'tos. PO Vetero-Testamentário do exto algo enigmático, o :auio fala de um tipo mui do batismo no Antigo Em 1 Co 10.1,2 Paulo . Ora, irmãos, não quero . s que nossos pais estivesob a nuvem, e todos pasmar, tendo todos sido bassim na nuvem como no respeito a Moisés», acres'0 v. 6: «Ora, estas cousas 'i exemplos para nós.» Nosa passagem, em primeiro nos primeiros versículos :ulo, o apóstolo destaca três todos os membros do pos passaram por essa expebase histórica da afirma:óstolo temos em Ex 12.37, ;ala da saída do povo do exílio: «Assim, partiram os filhos de lsrae! .. , cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar mulheres e crianças», e nas histórias seguintes que falam da libertação final dos israelitas ao atravessar o Mar Vermelho e a consequente destruição dos seus inimigos nas águas do Mar Vermelho. Notemos ainda aquela frase algo enigmática na tradução: «tendo todos sido batizados ... com respeito a Moisés». É evidente que não se pode tratar de um batismo «em nome de Moisés», assim como nós o temos no Novo Testamento «em nome de Jesus Cristo». que significava este batismo simbólico de todos os membros do povo de Deus (notem: também crianças!) foi que por ele os israelitas foram unidos com Moisés, o representante de Deus e o mediador do Antigo Testamento, em quem o Mediador do Novo Testamento, Jesus Cristo, foi prefigurado (Dt 18.18). A libertação da escravidão no Egito por Moisés, simbolizado por este batismo pela nuvem e pelo mar, é também típica de nossa libertação da escravidão do pecado e da morte por Cristo, aplicada a todos os filhos de Deus por meio do batismo. Eis o significado deste tipo e símbolo do batismo no Antigo Testamento, que certamente incluiu as crianças do povo! ° > 9. Não Existe Texto na Bíblia que Exclui Crianças do Batismo Muitos costumes dos judeus foram abolidos pela igreja neotestamentária. Se também o batismo de crianças fosse abolido ou considerado iníqüo ou desaconselhável, então deveríamos ter um texto que nos indicasse isto no Novo Testamento. Isto não acontece. Ao contrário, os textos do Novo Tes- tamento que, de uma ou outra maneira, falam do batismo, indicam dentro do contexto histórico e textual, que as crianças foram, como algo natural, incluídas nas cerimônias batismais. É verdade, não temos :uma ordem direta: Batizem crianças! Porém a prática do batismo infantil se baseia firmemente na dedução lógica e necessária daquelas palavras da Escritura nas quais, é ensinado, plenamente, que a humanidade inteira, inclusive as crianças do momento de seu nascimento, é corrompida pelo pecado e perdida e que, portanto, precisa de um Salvador suficiente e divino e que o batismo é um meio pelo qual uma pessoa - seja ela adulta ou na idade infantil - se apropria aquela fé em Jesus Cristo, que é a única fé que salva (Como não existem passagens bíblicas que diretamente exigem o batismo infantil, também existem outras doutrinas - aceitas universalmente nas igrejas cristãs - sem tais textos, como por exemplo, a doutrina da Trindade, que ensina a existência de um único Deus em três pessoas divinas distintas: Pai, Filho e Espirito Santo, portanto uma Trindade ou Tri-unidade. É uma doutrina que se deriva de deduções lógicas e legitimas das doutrinas biblicas sobre a essência do único Deus verdadeiro. Leia-se, para essa doutrina, o Credo Atanasiano!). Portanto defendemos o batismo infantil como doutrina bíblica, sem hesitação, e com base firme na palavra de Deus. 10. A Denominada «Dedicação de Crianças» não tem Fundamento Bíblico. Algumas igrejas tentam preencher a lacuna que elas de fato sentem na falta do batismo infantil, com uma 15 cenmbnia na qual as crianças serão levadas pelos pais, pouco depois do seu nascimento, ao altar para ali serem abençoadas e dedicadas. Tal cerimônia, certamente é linda e confortante, especialmente quando isto coincidir com a primeira participação da jovem mãe depois do parto. No entanto, não temos mandamento divino para uma tal cerimônia, enquanto o temos para o batismo e batismos não só de adultos, nem batismo só de crianças mas, simplesmente batismo de todos. 11. Batismo de Famílias Inteiras o batismo de alguém «com toda sua casa» foi, de acordo com o testemunho do Novo Testamento, largamente praticado na igreja antiga. Tal batismo certamente não excluiu as crianças da respectiva casa. O conceito da família, tanto entre os judeus como entre os gregos e romanos, incluiu até os escravos e seus filhos. Lucas nos relata que o comandante Cornélio, em Cesaréia, tinha «reunido seus parentes e amigos íntimos» quando esperava por Pedro, At 10.24, e em conseqüência da pregação do apóstolo «caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra», v. 44. Pedro, vendo esta manifestação do próprio Deus, apes'ar de seus escrúpulos iniciais de seguir à ordem do seu Senhor de pregar a pagãos,certamente perguntou a si mesmo e às seis testemunhas (At 11.12): "Porventura pode alguém recusar a água para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?» E a resposta foi esta: -ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo» v. 47,48. E quando, ao voltar, a Jerusalém, essa congregação lhe exige prestação de 16 contas sobre sua atividade entre pagãos, Pedro relata, apontando para «estes seis irmãos» como testemunhas que Deus havia comunicado a Corrlélio que ele deveria chamar a Pedro, assegurando-lhe que este «te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa», At 11.13,14. A salvação de Cornélio e de toda a sua casa se deu «mediante a palavra» de Pedro, que confirmou a obra do Espírito Santo nesta casa, aplicando o batismo com água «a todos que ouviram» esta palavra. Temos diversos exemplos, especialmente relatados em Atos, de batismos de «casas» inteiras, isto é, de famílias completas. Em Fílipos, Lídia foi «batizada, ela e toda a sua casa», At 16.15 (Bíblia na Linguagem de Hoje diz «todas as pessoas de sua casa», o que é de acordo com o sentido original). Do carcereiro, em Filipos, Lucas nos relata que ele, na «mesma hora da noite» em que experimentou a presença de Deus através das palavras de Paulo e Silas, «Iavou-Ihes os vergões dos açoites. A seguir foi ele batizado, e todos os seus», At 16.33. Em Corinto foi «Crispo, o principal da sinagoga», que tendo ouvido a mensagem da salvação, «creu no Senhor, com toda a sua casa; também muitos dos coríntios, ouvindo, criam e eram batizados», At 18.8. E quando, mais tarde, surgiram as facções ao redor de alguns nomes, na igreja de Corinto, Paulo, negando de que ele tivesse tido qualquer intenção de criar um partido com seu nome, enumera só poucos que ele pessoalmente batizou e que, por isso, só bem poucos tivessem qualquer razão de evocar o seu nome como originador duma nova vida. O apóstolo, entretanto, diz expressamente que «batizei a casa de Estéfanas» ao lado de alguns poucos daquela igreja. Incidentalmente, temos nesta argumentação do apóstolo uma prova, se bem que acidental, de que batismo era considerado algo mui importante, um ato de iniciação, e que era de suma importância o nome em que alguém fora batizado. Isto nos leva a mais um ponto de discussão. 12. O Argumento Negativo a Respeito do Batismo: Jesus e Paulo o fato mencionado no ponto anterior, a saber que o apóstolo Paulo evidentemente não batizou ele mesmo! regularmente os que por sua pregação foram convertidos, acrescentado pela afirmação contida em Jo 4.1-3 que Jesus também não batizava, é tomado como argumento contra a necessidade do batismo, tanto para adultos como para crianças. Convém, portanto, colocarmos os fatos relatados nos seus respectivos contextos. Lemos em Jo 4.1-3: «Quando, pois, o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos que João (se bem que Jesus mesmo não batizava, e, sim, os seus discípulos) ... deixou a Judéia, retirando-se outra vez para a Galiléia». Que este não era um batismo de segunda categoria, já se vê pelo fato de que os fariseus viram nestes atos batismais um perigo até maior do que nos batismos de João. Como Jesus, pessoalmente, não executava o batismo como rito, certamente seus discípulos o faziam em seu nome e por sua ordem; portanto, um batismo absolutamente válido. Existem outras passagens, no mesmo Evange!ho, que apontam para batismos realizados na presença de Jesus e pelo círculo dos seus mais íntimos seguidores. Vejamos alguns exemplos. «Depois foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia: ali permaneceu com eles e batizava», Jo 3.22. «Ora, entre os discípulos de João e um judeu suscitou-se uma conE tenda com respeito à purificação. foram ter com João e lhe disseram: Mestre, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, está batizando, e todos lhe saem ao encontro», Jo 3.25,26. Os batismos, nestas passagens, atribuidos a Jesus, foram executados por seus discípulos, e certamente não eram menos válidos do que os batismos realizados hoje por sua igreja. ,é,pesar' de Jesus nunca ter pessoalmente, realizado um batismo ele, sem embargo nos deu, na sua própria vida, um exemplo convincente de que o à batismo definitivamente pertenceria sua atividade aqui na terra, ao se deixar batizar por João Batista, Mt 3.13-17, ato esse, com o qual começava toda a sua atividade profética entre os homens. Com esse ato, no início de sua obra redentora, Jesus certamente também deu um exemplo a seus seguidores, exemplo que deveriam seguir. Sabemos que, quando o Batista ao reconhecer Jesus como o Salvador do mundo, hesitou em batizá-Io, afirmando: «Eu é que preciso ser batizado por ti». Reconheceu, com essas palavras, que o batismo fazia parte da vida cristã de um pecador e não do Redentor. E Jesus lhe respondeu que, na realidade, não precisava ser batizado por causa dos seus pecados mas que seu próprio batismo pertencia à sua tarefa, a saber, que ia em lugar dos pecadores cumprir a assim nos convém cumprir lei: « ... toda a justiça», isto é, cumprir tudo que a justiça de Deus exigia dos ho- 17 mens. A realização de batismos pertence não tanto à obra redentora ativa de Jesus, mas pertence à pregação, à conversão dos homens redimidos O batismo pertence ao por Cristo. ministério da divulgação e propagação da redenção obtida por Cristo. São os seus ministros na terra que, como parte integral de sua mensagem, pregam o batismo para a remissão dos pecados e para isso exatamente foram enviados, a saber «fazer discípulos de todas as nações, batizando-os e ensinando-os a guardar todas as cousas que eu vos tenho ordenado». Portanto, não podem os adversários do batismo infantil apontar para o exemplo de Jesus, nem ao exemplo do apóstolo Paulo. É verdade, Paulo escreve: «Não me enviou Cristo para batizar, mas para pregar o evangelho» (1 Co 1.17), porque era justamente essa a ordem dada também aos outros apóstolos; pois não se pode «discipular» povos sem a mensagem salvadora da graça de Deus em Jesus Cristo. Mas, ainda que Paulo não tenha considerado o batizar como sendo o centro de sua atividade, de modo nenhum desprezou o batismo. Ao contrário, a vida apostolar de Paulo começou com seu próprio batismo CAt 9.18), e ele mesmo, quando as circunstâncias o exigiram, batizou, como se vê nos casos de Crispo e Gaio, a «casa de Estéfanas» e de outros, dos quais não se pôde lembrar (1 Co 1.14-17). Que ele parece colocar o batismo em segundo plano estava dentro da ordem que ele recebeu, e que era algo diferente da dos apóstolos, aos quais pelo próprio Jesus o batismo fora dado como uma das modalidades de discipularem, enquanto Paulo teve consigo sempre companheiros, que certamente batizaram aqueles que, pela pregação com 18 autoridade de Paulo, foram convertidos. No caso dos coríntios, o próprio apóstolo dá a razão porque ele, em certo sentido, está muito satisfeito de não ter batizado a muitos entre eles, a saber «para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome» (v. 15). Concluindo este ponto podemos, portanto, constatar que os exemplos de Cristo e Paulo de maneira nenhuma são negativos com respeito ao batismo, e nem mesmo com respeito ao batismo infantil. 13. Testemunho da Igreja Antiga a Respeito do Batismo Infantil Mesmo não querendo entrar em todos os pormenores da discussão sobre o batismo infantil na igreja antiga (5), torna-se necessário apontarmos para algumas referências que nos parecem fundamentais e decisivas. (6) Uma das mais antigas testemunhas entre os pais apostólicos é, sem dúvida, Justino, o mártir (89-166 p.C.). Em sua «Apologia», endereçada a Antonio Pio, ele afirma dos cristãos: "Muitos cristãos, tanto homens como mulheres, que desde sua infância já se tornaram discípulos (no grego ele usa o mesmo verbo que Jesus usou na sua ordem aos apóstolos de discipularem as nações, Mt 18,19, a saber, «mathetéuein»). ficaram solteiros e imaculados até a idade de sessenta anos.» Essa afirmação mostra que essas pessoas devem ter sido feito discípulos ainda durante a época dos apóstolos. O mesmo defensor do cristianismo diz no seu «Diálogo com Trifo»: «O batismo é a circuncisão do Neva Testamento.» Ireneu, um dos maiores teólogos do segundo século (era bispo de Uão, no sul da França, desde 177 p.C.), um discípulo de == ==1 Esmirna, que era ç ~::'..i' evangelista, escr",.= -:: , == damental «Co~:-:: "Cristo veio pare 2::' :. a todos que me: ='::= 1; generados e "e: - :::~ os infantes (",inia~·Ü.E:~ ~ pequenas (<<par-.'ukc5-' meninos. .. io.e' i' ::. -=-'--.'" É verdade >S'S, -~: -" tismo dice:,,-e'::e ::':"7; que aia. '= =":: só pode :e'==' :s :':C:",ª, -: := de sua 'e:::e-e"s:~: Origene:; Alexandra ': :- :: c' _ de suas ;,-,,,,:::'2 °s'õ=-.~ rios lugares == :'":'= :.:;; munho clarç .:'::é:3 Eis alguns::,s==" :s'~ o costume c" ;'s.= : ~ cado à c(=-:=-~ :e':'A! não tivesse:::: =- que necessta':; :'-7 ':.:: córdia, a eveçe:: : -",'; se~a necessa-a· :: igreja, desde:" "-2 -:';:;; los, tem a :~e::: =-~_ ~ crianças, pore,";; :. :,= ~ mistérios dj'-!,~:" ~::-=~. biam que tece poluida peio c=:=:: :;, purificada cc:, ":::'~ por isso taf",bé: ::~ = um corpo pe':3pequenas de·.e- 77' :.;; . , remlssao dOS :"2 :=: =-~ .• Tertuliano conhecido de .':"'. ~ ~ único dos pôS ::: :.~ =-7 zou contra -= : .. .::.~ ':=: c:,,' justamente acerbamente. batismo, crianças p:-:_s s;! ::: :'- :"'" preve :_.;- .;--; na 'o'e::. :: ;; um discípulo de Policarpo, bispo de Esmirna, que era discípulo de João, o evangelista, escreve na sua obra fundamental «Contra os Heréticos»: «Cristo veio para salvar a todos; digo a todos que mediante dele foram regenerados e redimidos para Deus: os infantes (<<infantes») e as crianças pequenas (<<parvulos»), bem como os meninos, jovens ou gente de idade.» É verdade, Ireneu não menciona o batismo diretamente; porém, olhando para toda a sua argumentação fica claro que ele, falando de crianças pequenas, só pode pensar no batismo como meio de sua regeneração. Origenes, o grande teólogo de Alexandria no Egito (184-254), apesar de suas muitas heresias, dá, em vários lugares de suas obras um testemunho claro sobre o batismo infantil. Eis alguns destes textos: «Segundo o costume da igreja, o batismo é aplicado à crianças pequenas. Se elas não tivessem algo em sua natureza que necessitaria de perdão e misericórdia, a graça do batismo não Ihes seria necessária». «Por esta razão a igreja, desde os tempos dos apóstolos, tem a tradição de batizar até crianças, porque aqueles aos quais os mistérios divinos foram confiados sabiam que toda a criatura humana é poluida pelo pecado, e que deve ser purificada com a água e o Espírito: por isso também o corpo é chamado um corpo pecaminoso.» E: «Crianças pequenas devem ser batizadas para a remissão dos pecados.» Tertuliano (200 p.C.), o teólogo conhecido da África do Norte, foi o único dos pais da igreja que polemizou contra o batismo infantil. Mas justamente porque ele estava, tão acerbamente, polemizando contra este batismo, prova que era praxe batizar crianças na igreja do seu tempo. Eis alguns dos seus argumentos contra o batismo infantil: "Por causa da natureza, da disposição e também da idade das pessoas é muito mais proveitoso adiar o batismo; e este é especialmente o caso das crianças pequenas ... Que elas venham quando já cresceram; que elas venham quando já aprenderam o que se dá com elas (no batismo). Por que se leva essas criaturas inocentes precipitadamente ao perdão dos pecados? Com respeito às causas terrenas se age com muito maior precaução: aos que não se confia bens terrenos, são entregues cousas celestiais (perdão dos pecados às crianças). Que as crianças, em primeiro lugar, aprendam pedir pela salvação, de modo que temos boa consciência de ter dado a salvação a tais que a pediram. As mesmas razões em favor do adiamento do batismo são aplicáveis às pessoas ainda solteiras. Qualquer um que veio a reconhecer a importância do batismo, certamente procura adiar mais o batismo do que precipitá-Ia.» Lutera considerou Tertuliano como sendo o Caristadt (iniciador do movimento anabatista no século XVI) do terceiro século, Cipriano, ° segundo dos grandes teólogos norte-africanos (Agostinho foi o terceiro), bispo de Cartago (t 258 p.C.), era amigo de Tertuliano, mas não um seguidor de sua teologia. Entre as obras de Cipriano existe uma carta em forma de tratado, endereçada a um dos presbíteros da igreja de Numídia, de nome Fido, na qual ele repreendeu severamente a Fido porque este ensinou que crianças, antes de terem alcançada a idade de 8 dias, não deveriam ser batizadas, apontando ao fato de que no Antigo Testamento os filhos do povo de Israel foram circuncidados no oita19 vo dia.•• E assim, caríssimo irmão, foi a decisão final do nosso Concílio (em Cartago): que ninguém deveria ser impedido de ser batizado e, desta maneira, participar da graça de Deus, o qual é misericordioso, bom e fiel para com todos. Daí este divino propósito deve ser procurado para todos, e mui especialmente para crianças pequenas e recém-nascidos». Essa decisão foi tomada no Concílio de Cartago, com a presença de 66 bispos, no ano de 254 p.C. Agostinho, o maior dos doutores da igreja antiga (354-430), foi, sem dúvida, também um dos grandes defensores do batismo infantil. Em sua grande luta contra Pelágio, ele reconheceu que, apesar de todas as suas outras heresias, nunca negaram a validade do batismo infantil: «Os pelagianos nunca ousaram negar o batismo infantil, porque eles sabem que, se o negassem, teriam contra si toda a igreja.» Numa outra passagem, Agostinho diz com respeito ao batismo das crianças que «toda a igreja está praticando batismo infantil» e que este uso foi ••herdado dos próprios apóstolos.» Num dos sermões, ele admoesta seus ouvintes: «Não deixai que alguém vos perverta com doutrinas falsas. O batismo de crianças foi praticado na igreja inteira desde seu início, e foi por ela guardado até os nossos dias continuamente.» O próprio Pelágio (nasc. 330 p.C.) escreve numa das suas obras, com muita clareza: ••Nunca ouvi de um herético ímpio que tivesse afirmado que recém-nascidos não deveriam ser batizados.» Tais testemunhos são certamente suficientes para demonstrar que a igreja antiga não só conheceu e reconheceu a validade do batismo infantil 20 mas que a igreja toda o estava praticando universalmente. Estes homens estiveram muito mais perto, cronologicamente, aos tempos do Novo Testamento do que nós. Mas, também se pode constatar que heréticos dentro da igreja, já desde mui cedo, tentaram negar e combater o batismo infantil. 14. Crer? Crianças Pequenas Podem O argumento principal dos adversários do batismo infantil é a afirmação categórica: Crianças pequenas não podem crer! Contra este argumento queremos afirmar, e provar biblicamente: Crianças podem ter fé! Ora, ninguém está afirmando que a fé das crianças seja uma fé refletiva (••fides reflexa» l, ;sto é, uma fé que já pode raciocinar, tirar conclusões, etc.; mas a sua fé também não é simplesmente uma fé em potência ou «fé potencial», uma fé que só existe numa mera possibilidade e faculdade de crer (••potentia credendi»). Não, a fé das crianças é uma fé real, uma fé atual (••fides actualis»), uma fé que de fato e realmente agarra o objeto da fé, a saber, Jesus Cristo, seu Senhor e Salvador, que apreende as promessas contidas na palavra anunciada no batismo, e com isso é uma fé que salva, a única fé que salva. Para essa afirmação não temos palavras oriundas do raciocinar, do filosofar, ou do refletir sobre as potencial idades porventura inata no homem. Baseia-se essa afirmação nas palavras daquele que é o Criador e Salvador ao mesmo tempo e que de fato sabe e conhece as potencialidades e a realidade no homem, também do homem recém-nascido. Diz o próprio Filho de Deus, feito homem para salvar a humanidade, o que está em Mt 18.2-6,10: "Em verdade vos digo que (notese a solenidade deste pronunciamento, que desta maneira quase se torna um juramento!), se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças (note-se "como»! crianças "hôs ta paidía»), de modo algum entrareis no reino dos céus». O «converter-se» e o «tornar-se como crianças» é um único ato. Porém o primeiro dos dois verbos está na voz passiva no grego (<<trafête»), o que mostra plenamente que o converter não é uma ação que provém das forças, da atividade do homem; o homem é convertido por um ato de Deus, do Espírito Santo que, pela palavra nos coloca bem no início de uma nova vida. Assim como uma criança nasce aqui na terra não com sua própria vontade e força mas que é nascido - até, por assim dizer, c o n t r a a sua própria vontade assim uma pessoa que pelo poder do Espírito Santo renasce, se converte, é no próprio ato ao menos passivo: ela é renascida, ela é convertida. Temos, portanto, já aqui uma causa que foge ao nosso raciocinar, assim como fugiu ao raciocinar do grande teólogo Nicodemos a afirmação do Mestre: "Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus», Jo 3.3. É necessário que os racionalistas, que negam a possibilidade de uma criança ter fé, também negar a possibilidade de um homem, por si só, renascer. E se a conversão do homem adulto foge ao nosso raciocínio, por que então queremos aplicar este nosso filosofar na questão pela fé das crianças? Também aqui aplica-se a palavra do Mestre ao teólogo Nicodemos: "Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto, contudo não aceitais o nosso testemunho. Se tratando de cousas terrenas não me credes, como crereis, se vos falar das celestiais?» (Jo 3.11,12). "Portanto, aquele que se humilhar como esta criança, esse é o maior no reino dos céus» (Novamente o termo grego usado é "paidion» - que significa criança pequena). «E quem receber uma criança (<<paidíon»), tal como esta (tão pequeno e tão humilde), em meu nome, a mim me recebe. Qualquer, porém, que fizer tropeçar a um destes pequeninos (é impressionante, que Jesus aqui destaca a pequenez, usando o termo «mikrós» - tão pequeno que quase não pode ser medido), que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.» Neste versículo temos a grande pedra que os racionalistas têm que remover, afim de puderem afirmar: Crianças pequenas não podem crer! Como se maltrata um texto tão claro! Visto que, de acordo com seu preconceito, crianças não podem crer, eles simplesmente negam que Jesus tenha falado de crianças pequenas nestes versículos. O texto é forçado e simplesmente tirado do seu contexto. Não adianta, no entanto, maquinações filosóficas. Todo o contexto fala tão claramente de crianças; já deve ser fortemente torcido todo o texto para que ela diga o que eies raciocinam, de que Jesus aqui rala simplesmente de adultos algo infantis, adultos pueris, simples, humildes. Ora, crer, em primeiro lugar, quer dizer: confiar. Mesmo a fé de adultos, sejam eles cheios de pensamentos profundos, conhecimentos científicos e 21 racioclnlo natural, digo, a fé de tais adultos, se realmente é fé, sempre é simples confiança, confiança tal como uma criança pequena a tem. Quando se fala desta confiança, então justamente a criança se torna o modelo para o adulto - não vice-versa. Jesus, neste texto, está apontando para a característica de uma criança para ilustrar o que ele deseja que os seus discípulos sejam. Assim como uma criança pequena é capaz de, naturalmente, confiar em sua mãe, em seu pai, assim ela também é capaz de ter confiança espiritual no seu coração. Não o aspecto racional é a essência da fé, mas sua qualidade essencial de confiança. Sabemos que a fé está presente no crente mesmo durante o sono, quando está em coma, na insanidade, na senilidade; assim fé pode ser ativa mesmo em recém-nascidos (cf. 1.41,44). Neste contexto devemos ler também o v. 10 (Mt 18.10): "Não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste.» Notemos: Jesus está falando a seus discípulos sobre como devem tratar crianças pequenas, que nele crêem: ninguém deve desprezá-ias. Aos olhos de Deus, as crianças são tão preciosas que Deus mesmo encarrega seus próprios anjos para cuidar delas. Devemos tomar cuidado em não falar e pensar em «anjos da guarda». A idéia de «anjo da guarda» para cada uma das crianças não é bíblica. A a\\l~ão no \i\HO â?ÓCíi'o de \' obias (cap. 5), não pode servir de base para uma tal idéia. É verdade que Deus usa e emprega seus anjos muitas vezes para determinadas tarefas, inclusive o guiar de seus filhos, embora o texto de At 12.15, onde se fala do 22 «seu (de Pedro) anjo», não pode ser tomado como prova, visto que nestas palavras se expressa uma idéia supersticiosa de alguns da congregação reunida, quando ouviram o que aquela serva Roda relatou. Certamente também em nossa passagem Jesus não quer estabelecer uma doutrina sobre «anjos da guarda» das crianças. O que o Senhor quer destacar é que os próprios anjos de Deus estão prontos para cuidar das crianças, porque elas são importantes para Deus. É notável como as duas categorias de ministros de Deus estão postas: os apóstoios certamente são chamados a serv,rem a Deus, cuidando para que nenhuma das crianças pequenas se perca espiritualmente. Cuidado! Se eles, os apóstolos, os discípulos, nós, sim, se nós não tomarmos cuidado para com as crianças, ai de nós! .A.bençoados somos, no entanto, se levarmos as crianças a entrarem no reino de Deus, porque estamos então na mesma linha de ministério como os próprios anjos de Deus. Quão importantes são para Deus as crianças pequenas! Essa verdade sempre de novo vem à tona no Novo Testamento. Alguns destes textos são os que seguem: Mt 18.14: «Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos» (de novo «mikrós»). Mt 19.14 Jesus fala de «pequeninos» e manda que os discípulos não os deviam embaraçar de vir a ele, «pora,ue dos tais é o reino dos céus» (de novo o termo empregado por Jesus é «paidía»). Devemos, portanto, ser como eles em sua fé para também nós pudermos entrar no reino, pela fé, no reino de Deus. Os pequeninos na sua fé são os melhores exemplos e modelos de candidatos ao reino. Pais Jesus afirma: Lc 18.17: «Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança (<<paidíon»),de maneira alguma entrará nele.» Lc 10.21 (Mt 11.25): «Naquela hora (quando os setenta haviam reto rnado de sua primeira missão com grande alegria sobre a autoridade que possuíam em nome do seu Senhor e mediante a sua palavra) exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, Ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas cousas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos» (aqui temos o termo que significa crianças lactentes «nêpioi»). Mt 21.15,16: Quando os líderes do povo e os principais adversários de Jesus reclamavam sobre os cânticos que as crianças (<<paidía»)entoavam na entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, «Hosana ao Filho de Davi», Jesus os repreendeu, citando um salmo que eles conheciam: «Nunca lestes: Da boca de pequeninos (nêpioi») e crianças de peito (<<thelazóntoon»os que estão mamando) tiraste perfeito louvor?» Será que uma criatura humana que louva a Deus, não pode crer em Deus? Mc 10.13-16 (Mt 19.13-15; Lc 18. 15-17): Aqui nos é relatado que «traz.iam-Ihe também as crianças (<<bréfoi» um outro termo marcante para crianças de peito) para que as tocasse». Quando então os discípulos (racionalistas que eram neste instante, porque pensavam que tais criaturas ainda nada tinham a ver com Jesus) não queriam permitir que Jesus fosse molestado pelas crianças, este deu uma ordem bem clara para eles e para todos os tempos: «Deixai vir a mim os pequenos (<<paidía»)e não os em- baraceis, porque dos tais é o reino de Deus.» Deve ser notado que o Novo Testamento emprega os termos «téknoi» (crianças), «paidía (crianças pequenas), «thelazóntes» (crianças que ainda mamam) e «bréfoi» (crianças lactentes um termo, aliás, também usado até para o feto ainda unido com a mãe d. Lc 1.41,44 - e para recém-nascidos cf. Lc 2.12, 16) de maneira variável. Isso nos mostra plenamente que estas crianças pequenas, até recém-nascidas, de acordo com a palavra inspirada de Deus, «crêem», «são do reino de Deus», «louvam a Deus» e são postas como exemplos para todos na simplicidade, como também na confiança, que é a essência da verdadeira fé em Cristo Jesus. Sim, crianças pequenas podem crer, e o Espírito Santo, mediante a palavra no batismo, opera nelas esta fé salvadora. 15. «Deixai vir a mim os Pequeninos!" Esta ordem que se encontra três vezes no Novo Testamento (Mc 10. 13-16; Mt 19.13-15; Lc 18.15-17) não nos ordena batizar as crianças, e não queremos e nem precisamos desta passagem para «provar» o batismo infantil. Como, no entanto assim perguntamos aos céticos -, podemos levar crianças a Cristo de uma outra maneira do que pelo batismo, quando é pienamente dito que «todos quantos tostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes»? (GI 3.27). Deixemos, pois, que nossos filhos, tão cedo quanto possível - ainda «crianças de peito» sejam revestidos de Cristo, da justiça de Cristo, da única justiça que nos pode salvar, no e pelo batismo! 23 16. Batismo é Necessário? A resposta a essa pergunta vem do próprio Salvador. No colóquio teológico entre Jesus (que, como ele mesmo afirma, «desceu do céu» Jo 3.13) e o teólogo-mar dos judeus da época, Nicodemos, temos o seguinte diálogo que contém a primeira resposta a nossa pergunta: «Nicodemos ... que, de noite, foi ter com Jesus, lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus nÊÍ.o estiver com ele A isto respondeu Jesus: Em verdade. em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodernos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: Quem rão nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus" (10 3,1-5), Duas vezes uma afirmação solene, quase um juramento: Não pode a não ser ... Não pode entrar no reino de Deus, a não ser que seja batizado (<<nascer da água e do Espirito~). Sem dúvida, batismo é necessário! Entre as últimas palavras que Jesus, segundo o Evangelho de Marcos, disse aos seus discípulos está esta, como se fosse a última vontade. o testamento do Senhor: «Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado». Me 16.16. Pais que recusam batizar seus filhos são como «os fariseus e os intérpretes da lei» que «rejeitaram, quanto a si mesmos, o desígnio de Deus, não tendo sido batizados por ele. (João Batista), Lc 7.29,30. Os que rejeitam o batismo, portanto, rejeitam o desígnio de Deus. Não temos consolo para 24 alguém que rejeita o batismo, o desígnio de Deus. Quem desprezar este sacramento, este meio da graça, pode procurar subterfúgios, mas não achará palavra de Deus que justifique sua atitude. Batismo, segundo o desígnio de Deus, é necessário! 17. No e pelo Batismo, o Espírito Santo opera o Renascimento ou Conversão. O erro fundamental de todos os que negam a validade do batismo in(syn com; fantil é o sinergismo ergo obra sinergismo, portanto, é a heresia que ensina o homem precisar «operar junto com» Deus). Os adversários do batismo infantil iniciam = = sua argumentação com a afirmação de que uma criança ainda não pode raciocinar e que, portanto, ela precisa chegar primeiro a urna idade em que pode dar conta de seus atos, afim de poder render-se, decidir por si mesmo, optar por ou procurar a Jesus como seu Salvador pessoal. A palavra de Deus, no entanto, diz claramente que a nossa salvação não está em nossas mãos; que somos salvos única e absolutamente só pela graça de Deus. A decisão está com Deus nunca conosco; nunca podemos decidir por nossa própria força de vir a Deus; Deus vem ao nosso encontro e não nós ao seu encontro. Se pudéssemos decidir por nós, então a nossa "decisão de crer» seria uma boa obra que precederia a fé; com tal decisão seríamos ao menos colaboradores de Deus antes da nossa conversão o que é absolutamente impossível, pois segundo a Escritura, somos mortos em pecado até o momento em que Deus nos vivifica espiritualmente. Como, porém, um cadáver não pode mexer nenhum dos --.-- - - --- ----------.- -- - -_o..::. :--- ---- --- --- - - - :--.:.~ --- ~-- -,:. - "'" .... _-==~entaj de :' j sde todos os do batismo in, -7-~8n:o (syn com; -.: - snergismo, portanto, : - ~ ensina o homem pre.' --.to com» Deus). Os .:: .: stismo infantil iniciam = '-':':~O com a afirmação de . ; -:s ainda não pode ra.: _e portanto, ela precisa - e -: a uma idade em que ::':s de seus atos, afim -e- der-se, decidir por si ':: - :or ou procurar a Jesus '3 ~.sdor pessoal. A pala-.: ~o entanto. diz c/ara:' - :ssa salvação não está -. ~:8' que somos salvos .:: _tsmente só pela graça - decisão está com Deus =.: -:8CO; nunca podemos -.:ssa própria força de vir ~ - 8 vem ao nosso encon-.: s ao seu encontro. Se :ecidir por nós, então a s ~G de crer» seria uma .8 :yecederia a fé; com õ,orísmos ao menos cola.:e Deus antes da nossa - o que é absoluta----8--te ::s segundo a Eso,·t_".: ~s em pecado até :: =_,0 Deus nos ; -- Como, pué- seus membros, assim os espiritualmente mortos não podem, de modo nenhum, fazer algo espiritual. Deus Espírito Santo é a única força ativa no nosso renascimento; nós somos, nesse ato, absolutamente passivos sim, mais ainda, o homem natural não quer saber nada da vida espiritual, nem pode querer algo espiritual, pois somos, segundo o homem natural, «mortos em nossos delitos e pecados», Ef 2.1. Como este é o caso, ninguém pode, antes do seu renascimento, fazer algo que tenha valor diante de Deus. Ninguém se pode salvar por obras. Quem se salva, é salvo mediante a fé, mediante a confiança completa na obra meritória de Cristo. Provas? Leia-se as seguintes passagens: Rm 3.21-18; 5.15,18; 11.6; Tt 3.5: Ef 2.8.9: GI 2.11. Salvação existe só como dádiva da graça de Deus, que se recebe somente pela fé. Salvação existe só como obra exclusiva de Cristo e nos é oferecida unicamente pela palavra de Deus. Provas? Leia-se as seguintes passagens: Jo 6.44-65; 15.5,6; Rm 9.16; Ef 1.19,20; 2.13; 1 Co 12.3; CI 2.12. Lutera, em sua explicação escrituristica, afirma ("O Sacramento do Santo Batismo» - Primeiro: Que é o batismo?): «O batismo não é apenas água simples, mas é a água compreendida no mandamento divino e ligada com a palavra de Deus.» É por isso que afirmamos: Batismo é meio da graça: batismo de fato salva. A Escritura menciona muitas bênçãos oferecidas pelo batismo: Mc 16.16: «Quem crer e for batizado será salvo.» At 2.38: « ... Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.» At 19.5,6: «Eles, tendo ouvido isto, foram batizados em o nome do Se"hor Jesus. E, impondo-Ihes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas, como profetízaram» (receberam o dom de pregar e anunciar a mensagem da salvação). At 22.16 (Ananias em Damasco falando a SaulofPaulo): «Levanta-te, recebe o batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele.» Am 6.3-14: Deste grandioso texto as seguintes afirmações: <dgnorais que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? (a sua morte foi vicária, e portanto tem todo o poder de salvar). Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; (Notemos os verbos no passivo: Não somos nós que fazemos algo no nosso batismo; Cristo faz tudo por nós; porém pela fé, operada no batismo, agarramo-nos àquilo que Cristo fez por nós: morreu por nós, e os nossos pecados com ele; foi sepultado por nós, e os nossos pecados com ele!) para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida (o que seria impossível se Cristo não tivesse ressuscitado, e nós, pela fé, com ele) ... foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruido, e não sirvamos o pecado como escravos; porquanto quem morreu, declarado justo (libertado) está do pecado ... Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e, sim, da graça.» Notemos: tudo isto é porque fomos batizados! 1 Co 6.11: «Tais fostes (impuros, idólatras. adúlteros, .. , cf. v. 9 elO) 25 alguns de vós; mas vós vos lavastes (melhor "fostes lavados» isto é, pelo batismo), mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus» (é como um eco das palavras de Jesus a Nicodemos: «Quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus»). 1 Co 12.13: "Pois em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo (isto é no corpo de Cristo, sua igreja - o batismo, portanto, é o meio pelo qual nos tornamos membros do corpo de Cristo} ... E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.» GI 3.26,27: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé; porque todos quantos fostes batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes» (pelo batismo recebemos a vestidura da justiça operada por Cristo), Ef 4.3-6: « ... esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz: Há somente um corpo e um Espírito ... há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos,» Ef 5.25-27: " ... Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém santa e sem defeito.» Tt 3.5-7: " ... não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espirito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, afim de que, justificados por graça, nos 26 tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.» 1 Pe 3.20,21: « •• , nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos através da água, a qual, figurando o batismo, agora também vos salva ... » Pergunta-se, com todas estas provas que tão claramente demonstram o poder regenerador do batismo, por que ainda existem cristãos, que por causa de raciocínio falho, baseado numa lógica humana falha, negam às crianças este glorioso meio de se tornarem membros do corpo de Cristo e serem salvos de uma condenação que pesa sobre toda a carne, nascida da carne, isto é, sobre todos os homens nascidos aqui na terra? I 18. Em Conclusão: Ainda Algumas Questões e Considerações A primeira pergunta que aflige a muitos é esta: então não pode ser salvo quem não for batizado? É o batismo absolutamente necessário para a salvação? Que podemos dizer a pais, dos quais um filho morre antes de poder ser batizado? A nossa resposta pode ser que tais pais - se são cristãos, que realmente crêem no Salvador Jesus, que tiveram a intenção de batizar seu filho e que não querem rejeitar o batismo - possam ser consolados com as palavras que se acham nas liturgias antigas da igreja luterana: -Encomendamos esta criança à misericórdia de Deus!» Para tal resposta temos boas razões bíblicas: a) O contexto daquelas passagens que aparentemente ensinam a necessidade absoluta do batismo indica que em todos os casos tais palavras per- tencem à lei e não ao evangelho. Jo 3.5 e Lc 7.29,30 são palavras dirigidéis aos fariseus que rejeitaram o batismo. As palavras em Mc 16.16 não contêm a cláusula negativa e condenatória: « ... quem não for batizado será condenado». O que realmente condena é a incredulidade. Não é a falta do batismo que condena; o que condena é a rejeição do batismo. Diz Lutero: «O crente não batizado não é condenado; aquele que não crer, este, sim, está condenado» (St. Louis XII, 1706). b) Apesar de que nós, os homens na igreja, estamos comprometidos por Deus a usar os meios da graça (Palavra de Deus e Sacramentos), devemos lembrar que Deus não está amarrado, nem pode ser, visto ser ele o Senhor de tudo isto. Deste modo ele pode, se assim ele quisesse, criar fé em crianças até sem batismo, assim como ele poderia ter suscitado «filhos a Abraão», como Jesus afirma, "destas pedras», se assim o quisesse, Mt 3.9. c) Existem indicações de que Deus não somente poderia criar, mas realmente criou fé sem meios: João Batista, ainda no ventre materno - Lc 1.15,41,44; as filhas dos crentes no povo da Antiga Aliança; o filho de Davi e de Bate-Seba 2 Sm 12.18-23; aqueles pequeninos e crianças de peito que dão «perfeito louvor» citados por Jesus, Mt 21.16 do SI 8.2; os pequeninos e crianças de peito, nascidos antes da aliança da circuncisão. Estes exemplos evidentemente não podem ser citados para justificar a rejeição do batismo. d) Pais cristãos entregam seus filhos em oração a Deus, mesmo antes de nascerem, no próprio nascimento e logo depois do nascimento. Isto não significa que a oração seja um meio da graça, o que realmente não é; porém, temos a promessa: «Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo», Tg 5.16. e) Existe uma passagem algo enigmática na qual Paulo fala sobre a influência benéfica de um dos pais de uma criança, quando este é crente, sobre a vida desta: 1 Co 7.14. Esse texto deve ser posto na luz da palavra de Paulo em 1 Tm 4.4,5: " ... tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graça, nada é recusável, porque pela palavra de Deus, e pela oração, é santificado.» Todos estes pontos são dados como puro consolo evangélico para pais cristãos, cujas crianças morreram antes de que eles pudessem ter tido a oportunidade de as batizar. Entregamos, nestes casos, os filhos às mãos do misericordioso Deus. É um consolo, isto é evidente, que é procurado por cristãos aflitos - não para os incrédulos e rejeitadores da palavra de Deus e dos meios da graça nos sacramentos. f) Porque padrinhos no batismo? Podemos responder com as razões dadas na explicação do Catecismo Menor de Lutero, ainda em uso em muitas das nossas congregações: Padrinhos são chamados 1) a testemunhar que as crianças foram batizadas corretamente; 2) a ajudar na sua educação cristã; 3) a orar por elas. É, portanto, uma instituição mui benéfica, se bem que não prescrita na Bíblia. A exigência da presença de testemunhas no ato do batismo é baseada em conselhos dados na própria Bíblia: Dt 19.15; Mt 18.16; Jo 8.17; 2 Go 13.1. 27 Que Deus nos dê aquela confiança na verdade de suas promessas, que nunca deixemos, por razões puramente racionais e falhas, de batizar crianças tão cedo quanto possível! Anotações 1) Neste caso Kinery, no seu trabalho mencionado na nota inicial, tenta provar demais, citando os v. 36-38 como prova de uma confissão de fé pessoal antes do batismo. É provável que assim sempre foi feito, apesar de ser algo difícil imaginar essas confissões individuais no dia do Pentecoste, no caso do batismo dos 3.000. Kinery segue, sem se preocupar com a genuidade deste texto, simplesmente a J. T. Mueller (Dogmática Cristã 11. 176) e Francis Pieper (Christliche Oogmatik, Vol. 111, pg 325). Lenski (lnterpretation of the Acts of the Apostles, pg 346) caracteriza bem a situação, quando diz: «A evidência textual deste versículo é fraca demais para este ser admitido como genuíno. Diz o que pode ter acontecido. A objeção, no entanto, é só textual. ... A confissão de Jesus ser o Cristo sempre foi um pré-requisito para o batismo.» O v. 37 realmente não ocorre em nenhum manuscrito antes do século X. Em todo caso é aconselhável não tentar provar algo com evidências incertas. 2) Os textos citados das Confissões luteranas são da nova tradução das mesmas feita por Arnaldo Schueler. 3) Rabi Moisés Maimônides, um dos maiores pensadores e teólogos judeus da Idade Média, nasc. em 1135 em Córdoba, Espanha, falec. em 1204 no Cairo, Egito. Sua obra mag· na é a «Mishna Tora», uma exposição extensa e erudita de leis, costumes e prescrições cerimoniais do povo de 28 Israel até sua extinção como nação no ano 70 D.C. pela destruição de Jerusalém e a completa dispersão dos judeus remanescentes. 4) O Talmude, realmentes os Talmudes, porque existem duas formas deste livro das leis, ordenanças, costumes e interpretações do Antigo Testamento: o Talmude de Jerusalém, o mais antigo e mais breve, e o Talmude Babilônico, o mais extenso e o mais importante dos dois. A palavra «Talmude» (hebr. «Iamád») significa «o apreender», e concreto: a doutrina. Estes documentos, pouco a pouco colecionados, são interpretações, leis e costumes que, depois da volta do exílio da Babilônia pelos mais conceituados rabis do judaismo, foram escritas ou ensinados. Os «Gemara» são suplementos e Interpretações acrescentados às ordenanças originais e datam de 200 até 500 O.C. As ordenanças dos rabis, que cresceram nos últimos séculos antes de Cristo ao lado das leis escritas, são, no Novo Testamento, chamados de «tradições dos anciãos» (Mc 7.3 e 5; Mt 15.2) e foram, pelos fariseus, consideradas de valor mais alto que as leis escritas nos livros do A.r. Muitas das discussões de Jesus com os fariseus basearam-se nesta superavaliação da parte dos fariseus destas «tradições». 5) Com respeito ao batismo infantil na igreja antiga apontamos para um estudo mais profundo da situação inteira, também durante a época neotestamentária, à discussão sobre o tema havia através de vários anos entre dois dos mais eminentes teólogos alemães da atualidade, e mundialmente conhecidos por serem autoridades no campo do N.T. e da Patrística: Joachim Jeremias e Kurt Aland. O resultado destas discussões se acham reunidas nas obras citadas sob o nome deles em nossa Bibliografia. 6) As citações são traduções nossas dos textos. a nossa disposição em língua inglesa. contidas nas coleções ed. Wm. B. Eerdmans Publishing eo.. Grand Rapids, Mich., USA, The Ante-Nicene Fathers 10 vols. Cedo A. Roberts & J. Donaldson); The Nicene and Post Nicene Fathers. Cedo Philipp Schaff) - 2 séries de 14 vols. cada. - Para poupar espaço deixamos a indicação individual dos volumes e pág.inas citadas. referindo o leitor para os volumes destas séries que contém o «Comprehensive General Index». - As citações dadas, evidentemente, não podem ser exaustivas e completas, mas são. ao nosso ver, suficientes para provar os pontos referidos; elas seguem. em certo sentido. uma ordem cronológica. Bibliografia Foram consultados principalmente os seguintes comentários do N.T.: Das Neue Testament Deutsch, Góttingen. 1968 - 4 vols. The interpretatian of the Books of the N.T., by R.C.H. Lenski, Columbus. Ohio. - 11 vols .. várias datas. The New International Commentary on the New Testament, vários autores, Grand Rapids. Mich. 16 vais .. várias datas. Kritisch-Exegetischer Commentar über das Neue Testament, H. A. W. Meyer, Goettingen, 4. Aufl.. 1858ss. lange's Commentary on the Holy Scriptures - Ne,; 1'e3:3-,e-: - ed. Philipp Schaff. Grar"j P.a:::s Vich., várias datas. Outra literatura: Concordia Triglotta, St. Louis, Mo., Concordia Publishing House, 1921. Christian Dogmatics by Francis Pieper, St. Louis, Mo., 1953, vaI. 111. Christian Dogmatics by John T. Mueller, St. Louis, Mo., 1955. A Sumary of Christian Doctrine by Edward W. A. Koehler, St. Louis, Mo., 1952. The Abiding Word. Vol. 11, St. Louis, Mo., 1947. pg. 398ss. Jeremias, Joachim: Die Kindertaufe in den ersten vier Jahrhunderten, Goettingen, 1958. Aland, Kurt: Taufe und Kindertaufe, Guetersloh. 1971. Tratados: Dallman, Wiliiam: Infant Baptism, St. Charles, Mo., sem data. Why baptize children? Cone. Publ. House Tract, sem data. Twenge, S.: Baptism - Who and Why? em «The Faithful Word», VaI. 13, nr. 4. Kinery, Jeffrey C.: Our position on Infant Baptism em «Christian News», July 31, 1978. ---:0:-- 29 A LITURGIA: CONTEÚDO E FORMA Kurt Marquart Não é nenhum segredo que o luteranismo na América do Norte se encontra numa profunda crise. Mas os tempos de crise devem ser vistos como tempos de oportunidades. Quando uma ordem velha e cansada entra em colapso, surge daí um estado de fluxo que encoraja uma saudável competição de idéias. Decisões tomadas em tempos assim, antes que o concreto endureça, podem determinar os cursos do futuro durante décadas, talvez séculos. Esta verdade encontra aplicação em todo o campo da liturgia, particularmente em nossa igreja - Sínodo de Missouri, USA. De um lado, os desvios das normas passadas, como contidas no Lutheran Hymnal de 1941, assumiram proporções epidêmicas e constituem o que pode ser descrito como um estado de caos. De outro lado, a rejeição dos presentes esforços inter-Iuteranos no sentido de um consenso litúrgico, deixa Missouri livre para considerar o assunto bem de novo. Parece óbvio que alguma coisa terá de ser feita e será feita. Mas o quê? Desta resposta depende muita coisa e, portanto, ela não deve ser dada leviana e precipitadamente. Para que o resultado seja proveitoso, ela deverá ser baseada solidamente numa clarificação e re-apropriação dos primeiros principios. As observações que seguem são respeitosamente oferecidas como uma pequena contribuição neste sentido. Não são projetadas, além disso, a focalizar detalhes técnicos - embora estes possam ser importantes - mas sim problemas de cada dia. 30 I. O Conteúdo da Liturgia A malona das igrejas do nosso mundo ocidental está enfrentando um declínio na assistência aos cultos. A tendência, em alguns lugares, pode ser galopante, em outros lugares mais lenta, mas a verdade é que a tendência é para baixo. É nosso dever, de homens da igreja, ponderar profundamente as razões desta tendência. Do contrário, podemos ser tentados a responder com a superstição absurda de acreditar, nas palavras de C. S. Lewis, que «as pessoas podem ser seduzidas a irem à igreja por incessantes esplendores, fulgores, prolongações, reduções, Simplificações e complicações do culto.»l Tomemos o boi pelos chifres e ouçamos o que um jovem representativo escreveu em «Memorando a um Pároco, de um jovem Pensativo»:" Deixem que Ihes conto a razão principal por que não assisto mais, ou ao menos, não mais regularmente os cultos. Desde quando saí de casa para me pôr sobre os meus próprios pés, visitei toda a espécie de igrejas, mas todas elas me parecem iguais. Todas me deixam nervoso como um copo de bebida morna. Quando vou à igreja, o que ouço? Do púlpito, uma versão semi-religiosa daquilo que Kenneth Galbraith chama de sabedoria convencional. Do coro, hinos vitorianos incríveis - o tipo que a vovó gostava de ouvir. Nos bancos, o tipo de atitude que você vê nos encontros de estudantes - «onde não fica um olho enxuto e onde ninguém acredita uma unica palavra,,, E dos recepcionistas, aquele aperto de mão mecânico que me faz suspeitar que saudariam Jesus Cristo na sua segunda vinda com as palavras: "Foi bonito que você veio.» Em suma .. , a igreja média representa ou é o perfeito símbolo de tudo o que eu aborreço gentileza falsa, sentimentos vazios, pobreza emocional, mediocridade intelectual e tepidez espiritual. Talvez seja orgulho que eu fale assim, mas eu não gostaria de ser identificado com nenhuma instituição assim. Nós, é claro, podemos consolarnos dizendo que a igreja luterana é bem diferente, que a caricatura está exagerada e que o jovem não era simplesmente pensativo, mas realmente estúpido ao ponto de lançar fora pérolas de grande valor só por causa de um estojo esfarrapado. Isto, porém, apenas nos impediria de compreender a situação, Poucos pastores experimentados negarão que, em geral, a opinião deste jovem é muito difundida, também em círculos luterar'os, embora nem sempre seja expressa conscientemente, Para muitos, os cultos são formalidades desagradáveis que têm de ser sofridas com resignação estóica. Seria tentador, neste ponto, soltar uma torrente de palavras contra o materialismo e o hedonismo modernos, o futebol, a TV, os passeios dominicais e os pique-niques. Não há dúvida que todos estes pontos oferecem não pouca ocasião para o arrependimento, embora não possamos aqui nos demorar neles. Muito mais relevante para nosso tópico é um problema poucas vezes discutido: o nosso Jovem Pensativo provavelmente não tem nenhuma idéia clara sobre como é que um culto devia ser. Além disso, assim parece, também as igrejas que ele visita não têm nenhuma teoria compu1sora daquilo que pretendem nos domingos de manhã. Ele e ela, talvez, nutram alguma noção muito vaga de como deveria ser o culto ideal, mas eles não têm nenhuma idéia clara. A verdade é que esta visão confusa não aflige apenas os assim chamados «membros-marginais». De que outra forma poderia explicar-se que luteranos praticantes, bem instruídos, se sentem livres para faltar aos cultos por razões perfeitamente frívolas, como por exemplo, visitas para o almoço dominical - para não falar nos pastores que deixam de assistir aos cultos nos dias santos porque estão «descansando»? Numa era como a nossa, quando os fins de semana estão cheios de trivialidades seculares e atrativos materiais de todos os lados, os cristãos precisam de uma «teoria» bem clara e compulsora do culto congregacional. «Ouvir a palavra de Deus» já foi uma vez uma frase de grande peso, correspondendo a uma realidade solene. Hoje, no pensamento de muitos, todo o negócio pode ser resolvido sem inconveniência ou perda de tempo, se houver necessidade, bastando que se sintonize a «Hora Luterana» enquanto se masca, devotamente, um chiclete Adams O conceito de «culto» no protestantismo popular parece que não sugere nada tão formal como um «culto de adoração». A idéia de culto é mais associada a corais vibrantes do tipo "Grandioso és tu», em concentrações maciças de Billy Graham ou então ao ar livre numa paisagem escarposa, de preferência em torno de uma fogueira com todo o mundo de mãos dadas. Truques sentimentais de várias espécies são apregoados como promovedores de cultos «eficientes». Mas os cultos de adoração na igreja, em ge31 ~=======~~~---_.------~------~-------~- ral, são vistos como monótonos e tristes. São vistos não como banquetes, mas como sessões de leitura do cardápio (Esta impressão, diga-se de passagem, é reforçada pela profusa distribuição de material impresso.). Quantas pessoas se dariam ao trabalho de ir a um restaurante só para ler o cardápio? Aqui, me parece, está o coração da dificuldade. Não é como se as pessoas pensassem que deviam receber jantares, mas, a contragosto. aceitam o cardápio. Não. Eles esperam apenas cardápios - com flores, velas e música ambiental talvez ~ mas, mesmo assim, apenas cardápios! Richard Wurmbrandt, tendo notado que nos boletins de muitas igrejas é constantamente feita referência ao fato de que depois do culto serão servidos refrigerantes, pergunta com sarcasmo: «Por que vocês não dão refrigerante no culto?» Neste ponto, ao menos, os que estão fora da igreja, e muitos de dentro, estão de acordo. É que os membros da igreja aprenderam a tirar uma certa satisfação e aprovação mútua da sua leitura submissa do cardápio. Repelidas por esta religiosidade incruenta, moralizadora, orientada em torno da lei, as multidões procuram consolação no mais negro e insensato Mumbo-Jumbo de religiões africanas e caem vítimas até mesmo de absurdos cinematográficos como «Encontros Imediatos do 39 Grau», de que uma resenha crítica recente escreveu: - A profundeza da espiritual idade interna do filme se revela na cena final, que representa a aparição e aterrizagem dos OVNI's. A enorme «navemãe» se parece menos com um veículo espacial que com uma vasta cidade de luz que desce dos céus. Quer o paralelo seja intencional ou não, a oferta de Spielberg deste 32 "Ersatz» da Nova Jerusalem (Ap 21) como resposta aos anseias espirituais da humanidade foi feita de maneira muito jeitosa. A «conversão» de Roy Neary sob um faixo de luz intensa quando de caminho ao Lago de Cristal, dizem, foi conscientemente modelada após a conversão de São Paulo na estrada de Damasco.:; É como observou Chesterton: «Se as pessoas não acreditam em Deus, não é que não acreditam em nada acreditam em tudo! E, passando agora dos cardápios para as sopas, consideremos os argumentos mui apropriados de C. S. Lewis: Podemos. com a devida reverência, dividir as religiões, como dividimos as sopas, em «grossas» e «finas». Por «grossas», entendo aquelas que têm orgias e êxtases e mistérios: a África está cheia de religiões «grossas». Por «finas», entendo aquelas que são filosóficas, éticas e universalizantes: o estoicismo, o budismo e as igrejas moralizantes são religiões "finas». Bem, se houver uma religião verdadeira, ela deverá ser tanto «grossa» como «fina»: porque o Deus verdadeiro deve ter criado tanto a criança como o homem, o selvagem como o cidadão, e cabeça como barriga, E as únicas duas religiões que satisfazem esta condição são o hinduísmo e o cristianismo. Mas o hinduísmo só a cumpre imperfeitamente. A religião "fina» do eremita brâmane que vive na selva e a religião «grossa» do templo da vizinhança vão de mãos dadas. O eremita brâmane não se escandaliza com a prostituição do templo, como não se escandaliza o freqüentador do templo com a metafísica do eremita. Mas o cristianismo realmente quebra e del'ruba o muro de divisão. O cristianismo toma um con- vertido do centro da África e lhe diz que deve obedecer a uma ética universal esclarecida. O cristianismo toma um pedante acadêmico do século vinte, como eu, e lhe diz que vá jejuando a um mistério, que beba o sangue do Senhor. O convertido selvagem deve ser «fino»: eu devo ser É assim que a gente sabe «grosso». que chegou à religião verdadeira." é «grosso», no senO cristianismo tido de Lewis, em dois aspectos bem próximos. Em primeiro lugar, há o mistério redentor da encarnação. Deus feito homem para a nossa salvação! Ou, na frase memorável de J. B. Phillips, Deus «entrou em foco» por nós em Jesus Cristo. A Escritura Sagrada coloca diante de nós, não idéias vagas sobre uma Névoa Cósmica anônima - o grande Deus-Suspiro, como já foi chamado, para políticos renascidos de todas as religiões mundiais mas a pessoa concreta, histórica, eterna daquele em quem "habita corporalmente toda a plenitude da divindade« eCo 2.9). Tantos assim que, conforme Lutera comenta sobre este texto, quem não encontra Deus em Cristo, não o encontrará em parte alguma, mesmo que suba ao céu, vá ao inferno ou penetre no espaço! Em segundo lugar, bem assim como Deus está «focalizado» para nós em Cristo, assim Cristo, por sua vez. está «focalizado» no seu evangelho, em que estão incluídos o santo batismo e o sacramento do altar. Estes meios de graça não são meras figuras, símbolos ou lembretes como todo o nosso meio-ambiente reformado sugere mas comunicadores reais e poderosos de todas as riquezas redentoras de Cristo. Este «poder de Deus» vivificador, criador de fé, «dínamis de Deus para a salvação», como São Paulo chama o evangelho em Romanos 1,16, jamais poderá ser reduzido a um simples cardápio; ele é o próprio banquete messiânico. Realmente, poderiamos ainda descobrir dentro do evangelho mais dois modos de «grossura»: a lavagem de regeneração no batismo e a presença real do corpo e sangue de Cristo na santa ceia. Sobre a segunda, escreveu Charles Porterfield Krauth: Os princípios de interpretação que nos aliviam do mistério da eucaristia tomam de nós o mistério da trindade, da encarnação e da expiação ... Cristo é o centro do sistema e na ceia está o centro da revelação de Cristo de si mesmo. A glória e o mistério da encarnação ali se combinam como em nenhuma outra parte. É pela comunhão com Cristo que vivemos,e a ceia é a «Comunhão.»5 Ambos os temas, o de Deus-emCristo e o de Cristo-na-evangelho estão unidos na profunda simplicidade das palavras de São João: «Este é aquele que veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo; não somente com água, mas com a água e com o sangue. E há três que dão o testemunho: O Espírito, a água e o sanÇJue, e os três são unânimes num só propósito» (1 Jo 56. e 8). Estas grandes e misteriosas realidades definem, constituem e moldam toda a natureza do culto cristão. Este culto é concreto e sacramental, não vago e espiritualizante. Não é um misticismo pseudo-oculto que procura, por meio de técnicas e diligências devocionais, penetrar e vencer a barreira entre céu e terra. Todos estes esforços humanos, com todos os seus impressionantes fogos de artifício psíquicos, não nos podem abrir o céu. Eles tratam apenas de projeções humanas e miragens demoníacas. Todo o ponto 33 da encarnação e dos meios de graça é que a comunhão com Deus tem lugar somente nos seus termos, e isto significa para o presente aqui na terra, que serão no nosso nível. É Cristo quem quebrou o grande muro divisório do seu lado a fim de dar-se a si mesmo graciosamente a nós, do nessa lado. Mesmo neste ponto, porém, a compreensão luterana de culto ainda pode ser abortada por meio de um esquematismo doutrinário fácil que pensa nos «meios da graça» ou em «palavra e sacramentos» de forma abstrata, em vez de pensar concretamente em batismo, pregação, absclução e eucaristia. É doutrina cai/'nista a que diz que todos os sacramentos devem ser iguais. Esta idéia é desenvolvida pela Admonitio Neostadiensis, por exemplo, numa tentatj','3 de refutar a confissão da presenç2. real na eucaristia da Fórmula de Ccncórdia. Respondendo a este ataque calvinista, os luteranos Chemnitz. Seinecker e Kirchner realçam, com repetição quase enfadonha, na sua Apologia ou Defesa do Livro Cristão de Concórdia (veja especialmente o capítulo V) que a natureza toda espec:ai de cada sacramento deverá ser determinada não pela apelação a generalizações teóricas, mas prestando atenção aos próprios textos bíblicos. particularmente às respectivas palavras da instituição. Se os meios da graça fossem mecanicamente intercambiáveis, em vez de ordenados organicamente, então faria sentido dizer: «Hoje temos batismo e, por isso, não precisamos de comunhão.» Tal argumento, porém, é completamente imposs!vel. Da mesma forma devia ser igualmente impossível argumentar: «Enquanto tivermos pregação regularmente, e a ceia do Senhor oca34 sionalmente, os meios da graça estão em ação, e todo o resto é adiáfora.» O que precisa ser visto é que nas Confissões Luteranas, bem como no Novo Testamento, a eucaristia não é um extra ocasional, mas uma caracteristica regular, central e constitutiva do culto cristão. A pregação e o sacramento pertencem juntos, não de qualquer jeito, baralhadamente, por coincidência estatística, mas como elementos mutuamente correspondentes dentro de um todo integrado. Sobre a prática nos tempos apostólicos e pós-apostólicos escreveu Oscar Cullmann, no seu livro ••O Antigo Culto Cristão», da seguinte maneira: A ceia do Senhor é, assim, a base e o alvo de cada reunião. Isto corresponde a tudo o que já determinamos sobre o lugar e o tempo e o caráter básico da reunião cristã primitiva ... Por conseguínte, não é como se o antigo cristianismo conhecesse três tipos de cultos, como nós temos o hábito de imaginar, seguindo o exemplo moderno: o serviço da palavra e, ao lado dele, o batismo e a ceia do Senhor. A coisa é, antes, assim: na igreja antiga há apenas estas duas celebrações ou serviços - a ceia comum, dentro de cuja estrutura a proclamação da palavra sempre tem um lugar, e o batismo ... A ceia do Senhor é o climax natural para o qual se move o serviço assim entendido e sem o qual o culto é inconcebível, porque aqui Cristo se une com sua comunidade, como crucificado e ressuscitado e deste modo a torna uma consigo e realmente a edifica como o seu corpo (Co 10.17).'; Com respeito às Confissões Luteranas, parece que teve lugar um desenvolvimento extraordinário. Mesmo aquelas partes do luteranismo mundial que cultivaram uma forte consciência do artigo X da Confissão de Augsbur90 e de sua Apologia, dificilmente se dão conta da instrumental idade prática e de suas ramificações no artigo XXIV. A tendência foi de manter a presença sacramental como assunto de doutrina, mas permitir a prática do sacramento decair de sua posição central na igreja para uma posição mais marginal, suplementar, segundo o exemplo calvinista. As fortes implicações de solidariedade e vida comunal (1 Co 10.17) quase se perderam totalmente. Esta não é a posição das Confissões Luteranas. O artigo XXIV da Confissão de Augsburgo e da Apologia vê a missa ou a Iiturgia como consistindo de pregação e o sacramento, e como algo que deverá ser feito todo o domingo e dia-santo. Isto não é meramente uma acomodação temporária. O próprio Lutero, por exemplo, em sua Missa Latina de 1523, definiu a missa como consistindo, "para falar apropriadamente», do «uso do evangelho e da comunhão na mesa do Senhor.» De fato, ele rejeita, na mesma obra, o costume romano de omitir a consagração na sexta-feira santa, e diz que isto é «escarnecer e ridicularizar Cristo com a metade de uma missa e com uma parte apenas do sacramento.» 7 À cidade de Nuremberg ele recomendou, a pedido, em data de 15 de agosto de 1528: que sejam dadas uma ou duas missas nas duas igrejas paroquiais nos domingos ou dias-santos, dependendo se há muitos ou poucos comungantes ... Durante a semana, que se faça a missa nos dias em que isto for necessário, isto é, se houver varias comungantes que a pedem e desejam. Deste modo ninguém será obrigado ao sacramento, mas, por outro lado, cada um seria suficientemente servido com ela.8 Muito significativo, para a compreé este paráensão do sacramento, grafo da Apologia (XXIV, 35): Estamos perfeitamente dispostos a compreender a missa como um sacrifício diário, desde que isto signifique a missa completa, a cerimônia e também a proclamação do evangelho, a fé, a oração e a ação de graças. Tomados em conjunto, são estes o sacrifício diário do Novo Testamento; a cerimônia foi instituída por causa deles e não deve ser separado deles. Por isso Paulo diz (1 Co 11.26): «Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor.» Esta também foi a maneira como os teólogos luteranos clássicos compreendiam o assunto. Gerhard, por exemplo, é citado na edição ampliada do Compendium de Baier, do Dr. C. F. W. Walther, no sentido que um dos «objetivos menos principais» do sacramento é «que preservemos as assembléias públicas dos cristãos, das quais a celebração da ceia do Senhor é a força e o laço» (1 Co 11.20).~ Em outra parte Gerhard escreveu: Visto ter sido aceito como uma prática na igreja cristã que nas assembléias públicas da igreja, depois da pregação e do ouvir da palavra, este sacramento seja celebrado, por isso, este costume não deve ser abandonado sem uma necessidade imperiosa ... e está claro ... de Atos 20. 7; 1 Co 11.20 e 33, que, quando cristãos se reuniam num lugar, eles costumavam celebrar a eucaristia.IO Esta compreensão sacramental do culto profundamente é também ex- pressa muito explicitamente na literatura do início do Sínodo de Missouri, 35 por exemplo, em HauptgoUesdienst de F. Lochner. O Reallexicon de Eckhard sífica é feita a seguinte afirmação: "A Ordem Luterana de Culto é uma (1907 -1917), um sumário topical ambiCioso da teologia publicada do Sínado, apresenta os seguintes pontos sob «Abendmahl» (Ceia do Senhor): A ceia do Senhor deve ser administrada pública e solidariamente, porque (a) Cristo e os apóstolos o faziam desta maneira; (b) A ceia do Senhor é uma confissão pública, proclamando a morte do Senhor (1 Co 11), e uma confissão geralmente não é feita num canto; (c) t: um laço de comunhão. Comunhão. 1 Co 10.17; um corpo. Nota (a) O lugar da celebração, por isso, é a igreja, e o culto conjunto dos cristãos (Versammlungsgottesdienst). Nota (b) É exatamente na celebração da ceia do Senhor que o culto principal encontra o seu ponto culminante (Gipfelpunkt). A mesma fonte diz, sob "Gottesdienst», (culto ou serviço divino) que para a Reforma Luterana houve vários serviços: cultos de pregação, cultos de catecismo, cultos vesperais. O culto principal (Hauptgottesdienst) era um culto com a ceia do Senhor. Todos os outros foram cul- unidade com uma linda integração de suas partes» (ein Ganzes in feiner G1!ederung). Este culto foi «corrom(10) pela Guerra dos Trinta pido ... Anos; (2::» por aqueles da persuasão de Spener (pietistas) ... ; (39) pelo racionalismo. " tos menores (Nebengottesdienste) Os cultos menores foram: as matinas, cedo de manhã nos domingos antes do culto principal; as vésperas nos sábados de tarde (Sermão de Catecismo). Segue uma secção separada sobre «A Ordem Luterana de Culto», enumerando as várias partes, começando com o introito e terminando com a santa ceia, que é «o selo da palavra, seguindo-se conseqüentemente ao sermão.» Desta ordem espe- 36 O que dissemos na parte precedente sugere claramente que a necessidade litúrgica mais urgente não é este ou aquere detalhe cerimonial; o que é necessário é a restauração da compreensão luterana do vínculo íntimo entre o sermão e o sacramento. "O sacramento e o sermão pertencem juntos», escreveu Sasse, «e é sempre um sinal de decadência da igreja quando um dos dois é realçado à custa do outro.,,11 Isto, claramente, não é uma questão de mexer com pedaços e peças espalhafatosas da maquinaria litúrgica, mas de reganhar o senso de um modo orgânico. Onde não como o culto é compreendido, um núcleo central (o sermão) rodeado de coisas triviais vazias, mas como a participação solenemente Objetiva no próprio mistério da salvação vivificadora, ali os pecadores penitentes não apenas encherão alegremente os átrios do Senhor, mas também os pastores compreenderão seu sagrado ofício mais claramente e serão menos tentados a abandonar o ofício ou então a escapar para toda sorte de papéis e funções secundárias na busca de «identidade» e «auto-realização». É claro, não esperamos que a simples publicação de uma nova liturgia ou hinário resolverá tudo isto. Mas isto certamente ajudará. Um hinário novo poderia, por exemplo, seguir o modelo da Kirchen-Agende oficial do Sínodo de Missouri, publicada pelo Concordia Publishing House em 1902, ao oferecer apenas um culto dominical principal, a ordem da santa comunhão, que então termina depois do sermão com orações, bênção e hino, no caso de não ser celebrada a comunhão. Isto, ao menos, evitaria a falsa impressão criada pela forma da "Página Cinco», de que o culto principal da igreja é completo sem o sacramento. Se uma forma tão desnaturada, uma ordem de comunhão sem comunhão, deve receber um statuts independente, então que apareça ao menos no último lugar e não no primeiro. Além disso, as conexões íntimas e indissolúveis entre a Iiturgia e o dogma, fazem desejar que o Pequeno Catecismo e a Confissão de Augsburgo sejam impressas em qua!quer hinário futuro. 11.A Forma da Uturgía A gente hesita ao entrar em todo o campo das formas exteriores, onde os gostos e os hábitos tão facilmente são levados a um combate furioso Mesmo assim os seguintes quatro grupos de particularidades se impõem como especialmente relevantes para nossa situação luterana moderna: 1 De um lado, no assunto dos adiMora genuínos é preciso cultivar uma largueza de perspectiva verdadeiramente evangélica e ecumênica (FC SD X, 31). Se a igreja luterana toma 8 sério representar, não caprichos sectários, mas o puro evangelho da igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica, então ela não pode, em princípio, querer espremer a devoção dos zulús e dos espanhóis, dos chineses e dos americanos, dos brasileiros e dos neo-zelandeses numa única ranhura saxônica estreita do século 16!. Neste sentido, não pode existir uma coisa tal como «a Liturgia Luterana estática». O conteúdo imutável terá que ser o evangelho de Deus, mas a forma necessariamente terá que ser colorida pela história cristã de cada uma das nações e línguas e culturas e continentes do mundo. Aqui, neste momento, devemos concentrar-nos não na liturgia em geral, ou em alguma mixórdia pseudo-cosmopolitana, mas numa forma ou em formas apropriadas a um meio-ambiente de língua inglesa, ou mais especificamente norte-americana. Resolvido o problema da substância, a forma é relativamente indiferente. Mas apenas relativamente. Pergunta C. S. Lewis: «Será que é verdade que quanto mais você acredita que um acontecimento puramente sobrenatural tem lugar, tanto menos você dará importância ao traje, aos gestos e à posição do sacerdote?»12. O argumento apresenta apenas a opção entre alternativas igualmente aceitáveis. Porque certamente ninguém gostaria de completar a sentença de C. S. Lewis com isto: «Quanto mais você acredita que um acontecimento puramente sobrenatural tem lugar, tanto menos você dará grande importância a que o celebrante esteja vestindo jeanns ou fume cigarras no altar». Obviamente fará grande diferença se as palavras e ações do celebrante e do povo estejam em harmonia com as transações sagradas que devem exprimir ou comunicar. É, evidentemente, um adiáfare se o intróito é falado ou cantado. Não segue, porém, que por isso, o intróito pode ser falado ou cantado de modo indiferente, negligente ou superficial. Isto nunca poderá ser um adiáforo. A dificuldade é que as ações multas vezes falam mais alto que as palavras. E quando as palavras ou as 37 ações não exprimem o sentido da liturgia, do serviço da palavra e dos sacramentos, ou até a contrariam, elas já não são adiáfora. Um catóiico romano tradicionalista observou muito bem sobre as mudanças iitúrgicas após o Vaticano li, que uma doutrina, como a da presença real, pode ser materialmente alterada ou até «entregue» sem qualquer pronunciamento explícito, por um simples cerimonial mais permissivo (p. Ex., deixar cair partículas de pão consagrado descuidadamente ao chão). Até mesmo na vida de cada dia, certas palavras, ações e situações podem ser vistas como dissonantes ou até mesmo grotescas quando não concordam umas com as outras. Pedir misericórdia diante de um tribunal humano, por exemplo, e ao mesmo tempo ficar sentado, com as mãos nos bolsos e mastigando chiclete, seria insuportável. Ainda mais ridículo seria o pastor ficar sentado, confortavelmente, durante o kyrie ou o gloria in excelsis, as pernas cruzadas de forma a dar o máximo de exposição as meias coloridas e olhar para a congregação para ver quem está presente. Ou considerai o efeito interruptor de vulgares «ordens de trânsito» dadas cada poucos minutos: Prosseguimos agora o nosso tal-etal com isto ou aquilo que se encontram na página tal e tal, logo no início, no meio ou atrás, etc., no hinário!» Imaginem que desastre total seria se um diretor de palco constantemente interrompesse um drama fascinante, aparecendo no palco para fazer anúncios tais como estes: «Senhoras e senhores, por gentileza, abram a página 285 de sua edição brochura de «Quatro Grandes Peças de Henrik Ibsen». «Como hoje está muito quente, por gentileza, saltem as páginas 158 a 176. Continuamos com o 38 Ato 111de 'Um Inimigo do Povo', terceira linha, no alto da página 177». Se até a apresentação de pura ficção e faz-de-conta proíbe toda a espécie de palavreado interruptor tipo ensaio, quanto mais a própria personificação da verdade viva, eterna? Realmente, aqui há alguém maior que Shakespeare ou Ibsen! Seu ministro, portanto, que dirige o povo de Deus na celebração dos mistérios da sua nova aliança (1 Co 4.1), não tem o direito de soar como se estivesse anunciando bonecos de Wa!t Disney a turistas cansados pela vigésima-milionésima vez! Na escolha de formas igualmente apropriadas, pois, deixemos prevalecer a tolerância e a acomodação mútuas. Precisamos, realmente, precavernos do zelo desatinado com que Santo Agostinho de Canterbury forçava seu rito romano sobre os representantes de uma forma mais antiga do cristianismo britânico. Uma vez acolhida, porém, uma forma adequada, ela deve ser preenchida não com indiferença .. casua!, mas com profundo temor e reverêncJa. com aquele temor e tremor que convém na presença não apenas de anjos e arcanjos e de toda a companhia celeste, mas da própria adorável majestade divina. 1: neste sentido que temos de compreender a paradoxal admoestação da Confissão de Augsburgo sobre os adiáfora: «Nada contribue tanto para a manutenção da dignidade no culto público e o cultivo da reverência e devoção entre o povo que a observância das cerimônias nas igrejas» (<<Dos Abusos", Introdução, 6), 2 -A adoração de Deus não é um meio para um fim (p, ex., «evangelismo»), mas é o próprio fim, Aliás é o fim último da' igreja (Ef 1.12 e 14; Fp 1,11; 2,10-11; 1 Pe 2,5), e deve dar significação, direção e ímpeto a todas as funções e atividades particulares da igreja, inclusive à grande tarefa missionária (Mt 28.19 e 20). Isto significa que a liturgia pública da igreja, isto é, o serviço da palavra e do sacramento, não podem ser tratados como um exercício de relações públicas, como estas palavras são compreendidas geralmente. A idéia. por exemplo, de que o culto deve ser «expressivo», isto é, claro e óbvio a qualquer visitante casual que, de repente, resolve da rua fazer seu apapragmática. recimento, é terrivelmente Um «serviço divino» ajustado a. u,.,., ta: ideal desatinado abrangeria tedo um «jardim» de banalidades gastas. que até o visitante casual mui P"O'JSvelmente acharia insuportável depos da terceira vez sem faiar dos "iés que participam regularmente durante 70 anos. Pessoas que vêm à ;gre]a procurando a verdade div'na não esperam que seja apregoada como detergente, sabão ou refrigerantes. por meio de jingles sem sentido. Eies. realmente, respeitam a celebração não-compromissada da igreja dos mistérios que não são de imediato transparentes ao não instruído. Alguns anos atrás, por exemplo, uma senhora americana entrou num mosteiro ortodoxo russo no estado de Nova York, ficou tão impressionada pela cerimônia feita em slavônico-eclesiástico, de que ela não entendia uma palavra, que prontamente deixou toda a sua fortuna em testamento àquele mosteiro, dizendo que somente aqui ela tinha encontrado pessoas que realmente oravam! O maior magnetismo missionário, porém, sempre foi exercido pela boa pregação evangélica. Isto nunca deverá ser esquecido, muito menos naquela igreja que confessa na APOLOGIA (XV, 42 e 43): ... a adoração principal de Deus do evangelho. Enquanto isso, nossos oponentes pregam, falam sobre tradições humanas, o culto dos santos e ninharias semelhantes. Isto é a pregação o povo despreza com razão e se afasta deles depois da leitura do evangelho ... Em nossas igrejas, por outro iado, todos os sermões tratam de tópicos tais como estes: o arrependimento, o temor de Deus, a fé em Cristo, a justiça da fé, a oração e a nossa certeza de que é eficaz e é ouvida, a cruz, o respeito aos governantes e a todas as instituições civis, " distinção entre o reino de Cristo (ou seja o reino espiritual) e os assuntos politicos, o matrimônio, a educação e instrução das crianças, a castidade e todas as obras de amor. E outra vez afirmamos (XXIV, 50 " 51): Sermões práticos e claros segu'-am um auditório, mas nem o povo, "em o clero jamais entenderam o ens:namento de nossos opositores. O verdadeiro adorno das igrejas é o ensinamento piedoso, prático e claro, o uso piedoso dos sacramentos, a oração fervorosa e coisas assim. Velas, vasos de ouro e ornamentos semelhantes são apropriados, mas não são adorno peculiar da igreja. A Iiturgia é o culto e a distribuição de Cristo na palavra e no sacramento. Usando formas exteriores e ° apelo estético como excusa ou cosmético de uma pregação insípida, incompetente, dogmaticamente cambaleante, é uma paródia vazia; é mero ritualismo. A pregação boa, sã e sólida é, de longe, a tarefa mais importante e mais difícil do ofício ministerial. É, realmente, o trabalho apostólico por excelência (At 6.2 e 4; 2 Co 3; 1 Tm 5.17). Quem realmente é suficiente para estas coisas? Apenas 39 Deus pode habilitar ministros para a nova aliança (2 Co 2.16; 3.6). Competência pastoral, porém, requer exercicio espiritual e teológico, bem como crescimento e progresso (1 Tm 4.7 e 15). Conferências apropriadas de pastores (não kaffeeklatsches insípidos dos «obreiros da igreja» e de suas famílias) são vitais neste processo e, no crescimento na qualidade da pregação devem ter prioridade suprema na agenda. Isto significa concentração contínua não primariamente sobre as técnicas mas sobre o conteúdo. Os meios eletrônicos, em particular, são tão eficientes para moldar uma mentalidade secular, mesmo entre membros da igreja, que os pregadores cristãos precisam trabalhar arduamente para neutralizar e exorcisar estes demônios. Constantemente devem edificar e reforçar uma perspectiva cristã sólida, incompromissada. A pregação é este tipo de combate espiritual para as mentes e as almas dos homens. Não é a recitação anêmica de fórmulas e c1ichês prontos. Isto seria sermonizar e nada mais. A pregação é a exposição e aplicação sempre novas da palavra viva de Deus para hoje. O ponto, como alguém disse bem, não é o de iluminar o obscuro texto bíblico com a luz de erudição hábil, mas deixar a luz do texto (SI 119.105) iluminar as nossas vidas! O povo tem fome e sede da proclamação autêntica. Quando o sacerdote soviético Dimitri Dudko incluiu uma sessão de perguntas e respostas na sua celebração da liturgia, a igreja mal pôde conter as multidões que se juntavam. Estas sessões se tornaram tão populares que o KGB arranjou um «acidente» de automóvel ao qual, felizmente, o padre Dudko sobreviveu, embora com pernas quebradas. A fo40 me ardente do pão da vida não está limitada à União Soviética. Os ocidentais estão mais cansados, não há dúvida. Mas a fome está aí, apesar de tudo. 3 - Uma terceira série de particularidades trata daquilo que C. S. Lewis chamou o «Bicho Carpinteiro Litúrgico». Eu não poderia fazer melhor do que citar Lewís diretamente: A novidade, em si, pode ter valor apenas para divertir. E as pessoas não vão à igreja para serem divertidas. Vão para usar a cerimônia, ou, se você prefere, para pô-Ia em ação. Cada cerimônia é uma estrutura de atos e palavras através das quais recebemos um sacramento, ou nos arrependemos, ou suplicamos, ou adoramos. E nos habilita a fazermos estas coisas da melhor forma se você quiser, ela ,funciona~ melhor quando, através de longa familiaridade, já não temos que pensar sobre ela. Enquanto você ainda nota, e tem que contar, o número de passos, você ainda não dança. mas apenas está aprendendo a dançar. Um sapato bom é aqueie que você nem nota. Boa leitura se torna possível quando você não precisa conscientemente pensar sobre os olhos, a luz, a impressão, e a soletração. O culto divino perfeito seria aquele do qual nem nos damos conta; a nossa atenção teria estado em Deus. Cada novidade, porém, previne isto. Fixa a nossa atenção na própria cerimônia; e pensar sobre o culto é algo completamente diferente que fazer culto ... Realmente há alguma excusa para o homem que disse: «Eu gostaria que eles se lembrassem que a ordem a Pedro foi: Apascenta as minhas ovelhas! e não: Faze experiências com os meus ratos, ou ensina a meus cães treinados alguns novos truques.» De modo que a minha posiçao liturgiológica se resume num pedido de permanência e uniformidade. Eu me posso acostumar com quase qualquer tipo de cerimônia (culto) desde que ela permaneça. Mas se cada forma é arrebatada exatamente quando começo a me acostumar com ela, então jamais poderei fazer algum progresso na arte do culto. Vocês não me dão a oportunidade de adquirir um hábito treinado habito deI!' arte.'" Que faremos, então, com a 'dé:a de que «a juventude"· Tea entecLada com sempre a mesme CQ;se e cue por isso requer constantes inovações para mantê-Ios interessados? Este sentimento é bem intencionado, não há dúvida, mas está essencialmente É verdade que, de início, desatinado. alguns adolescentes tolos (não todos, felizmente) gostem quando o culto se transforma num «show» de variedades, especialmente quando um entre eles lisonjeia as parvas imagens do «culto jovem» promovidos pelos meios de comunicação com finalidade lucrativa. A longo prazo, porém, este caminho forçosamente produzirá um desprezo consciente ou subconsciente da igreja. Por que, afinal, quem poderia respeitar uma instituição que, depois de uma experiência de 2000 anos. está tão confusa a respeito de suas funções ao ponto de dizer: «Queridos filhos, ajudai-nos; Nós já não temos certeza sobre o que deveríamos fazer. Talvez vocês tenham algumas boas idéias?» Quem, neste mundo de Deus, poderia tomar a sério o culto-peça teatral que é apelidado com a horrível palavra de «culto experimental»? O fato é que nenhuma sociedade saudável, viável permite que seus filhos arbitrem seus valores. Cabe aos anciãos da tribo guardar a herança cultural e de transmití-Ia solenemente à geração mais nova e nunca o contrário. Também na nossa sociedade o problema não é o da juventude, mas dos seus pais. Se a juventude está confusa sobre valores, isto é principalmente porque os pais o estão. Se a Iiturgia é maçante para crianças, ela o é geralmente porque os pais não a acham interessante também. Se as crianças vêem os adultos tratar os cultos dominicais como a atividade mais importante de suas vidas, elas também os iriam respeitar, e jamais sonhariam em tratá'os como uma «atividade pop», com que cada João, PedíO ou Paulo podem mexer. Uma igreja que ganhou c.eaidade conscienciosa dos velhos pais principalmente dos pais (Ef 3.15: 6.4)1 - terá também a devoção e ded·eação dos seus filhos. Mas urna 'greja que vergonhosamente capitula aos caprichos e gostos dos ado'eseentes terá o que ela merece (não terá. e não merecerá nenhum . , .... COS GOlS)' E finalmente, há um princípio de variedade imbutida na liturgia, e isto é o ritmo do ano eclesiástico. As unidades básicas deste ritmo gentil, natural, são a semana e o ano. Este ciclo é virtualmente quebrado quando se força sobre ele o estranho toque de tambor «das ênfases mensais» baseadas nos imperativos de atividade, e de organização do ano financeiro. É também quebrado pelo falso não-sim ou mesmo pelo não-não nãosim (sim-não-não-não) dos «Domingos com Santa Ceia» e «Domingos sem Santa Ceia». A mudança apropriada entre domingo e domingo deveria estar na significação e aplicação especifica do sacramento, não em tê-Ia ou não tê-Ia. A eucaristia é todo o evan41 gelho em ação. Este um evangelho, como um diamante precioso, tem muitas facetas ou aspectos, dos quais um ou dois são especiamente realçados na perícope de cada domingo ou dia de festa. E, não importa que faceta concreta do evangelho total é celebrada num dia determinado. Este é o significado especifico, ou o modo de aplicação do sacramento naquele dia. O sacramento é sempre a dádiva do evangelho total, naturalmente. Mas no dia de natal o recebemos sob o aspecto da natividade de nosso Senhor, em epifanias na celebração do seu batismo, no domíngo Laetare como o pão divino ou da vida, revelado na alimentação maravilhosa da multidão, e assim por diante. Em outras palavras, o sacramento, como o próprio evangelho, jamais deve ser visto como algum aspecto estreito ou como uma «ração normalizada» invariável no banquete, que é o cristianismo. É antes a realidade total, sob muitos aspectos maravilhosos, cada um especialmente observado e celebrado nas várias oportunidades. Cada vez ele é tão novo como são novas diariamente as misericórdias de Deus. Temos aqui o caleidoscópio de Deus. que, no declínio de cada semana ou temporada, exibe a mesma generosidade divina em configurações sempre novas e excitantes. 4 Em conclusão, alguma coisa deveria ser dita sobre o requisito duplo de que as formas litúrgicas e musicais sejam (a) solenes e adequadas e (b) capazes de serem cantadas pela congregação. A igreja antiga evitou estudiosa mente a característica musical da ostentação e da voluptuosidade da religião pagã do estado e dos cultos de mistério. Sobriedade, não delírio, foi o marco do culto cristão, 1 Co 12.2; Ef 5.15-20. Em nosso pró42 prio tempo é difícil imaginar uma paróquia mais horripilante que uma «cerimônia" ou "hinos» cheirando às devaSSidões e obcenidades pagãs do É pura zombaria trans«culto-rock". formar os mistérios cristãos em atos roucos de um ciube noturno. Que tem a luz a ver com escuridão, ou Cristo com Beliai. 0'-' c A.gnus-Dei com os Beatles, os ~'!k'+;ees e seus comparsas? As celebrações sc,enes da igreja (1 Co 5.8: nb :.:3 10) não devem 00"" os modos e as ser profanadas maneiras das re:,gÔes cananéias da fertilidade (1 Co 10.7-8) e de suas duplicatas modernas Uma reverência conveniente porém, é uma CO;S6: "ma estreiteza pretenciosa, bem cu:"a 30a música de igreja deve poder se,· cantada. E aquilo que uma vez pôde ser cantado, necessariamente já não poderá ser cantado hoje. Mais ainda, 2.quilo que soa majestosamente quando cantado por milhares numa catedra: gótica, pode soar ridículo quando tentado por 17 pessoas ao choro funerai de um simulador de um órgão eletrônico. A ;greja deve cultivar devoção viva, não peças esquisitas de museu para agradai' aos paladares musicais sofisticados. Pai' isso, é melhor cantar «Mais perto quero estar» com entusiasmo e gosto, do que devastar um grande hino como «A Isaias sucedeu», tropeçando penosa e desajeitadamente sobre a sua íngreme magnificência. Isto de modo algum deve sugerir que se abandonem os antigos tesouros agora. A questão deve, contudo, ser manejada com certa discreção. As congmgações podem e devem aprender a cantar os grandes clássicos cristãos do passado. Mas o culto divino dominical não é o tempo e o lugar para a prática ou o ensaio. Só pode desencorajar uma congregação <3 :Úicil imaginar uma paYr!pilante que uma -ce,hinos» cheirando às " cbcenidades pagãs do :: pura zombaria transs:érios cristãos em atos clube noturno. Que tem ''"1 a escuridão, ou Cristo o Agnus-Dei com os /onkees e seus comparcrações solenes da igreHb 13.10) não devem 3S com os modos e as -.l religiões cananéias da Co 10.7-8) e de suas Joernas. :;rência conveniente pocoisa; uma estreiteza oem outra. Boa música ia poder ser cantada. E -na vez pôde ser cantado, ,nte já não poderá ser Mais ainda, aquilo que samente quando cantado numa catedral gótica, fculo quando tentado por 30 choro funeral de um um órgão eletrônico. A :Aivar devoção viva, não "tas de museu para agra:cares musicais sofistica:0. é melhor cantar "Mais estar» com entusiasmo e ceie devastar um grande ·A Isaias sucedeu», tro'asa e desajeitadamente a íngreme magnificência. c algum deve sugerir que em os antigos tesouros c8stão deve, contudo, ser y-n certa discreção. As ,3 podem e devem apren3' os grandes clássicos :oassado. Mas o culto dical não é o tempo e o ; prática ou o ensaio. Só corajar uma congregação se ela é compelida a cantar hinos desconhecidos seguidamente. A maioria dos hinos cantados num determinado domingo devem ser conhecidos o suficiente para serem cantados peia comunidade em peso e com fervor Basta procurar domina;- um ou dois hinos desconhecidos por culto. Isto permite o necessál-io treino sem destruir a alegria da congregação no cu!to. Também deve ser guardado na mente que, uma vez que se tenha um arcabouço litúrgico conveniente e estável, há considerável liberdade dentro dele para hinos popularmente expressivos (CA XXIV, 2). Serra difícil encontrar um exemplo mais perfeito destes princípios que a pl'ática do grande bispo St. .Ambrósio de Milão. Durante a semana santa do ano 386, um ano antes da conversão de Santo Agostinho, a viúva imperatriz Justina, que era uma fanática ariana, tentou compelir Ambrósio a entregar uma de suas igl'ejas aos arianos. O bispo se recusava firmemente a fazê-Io. Várias pressões eram exerciclas sobre ele, inclusive o dramático cerco da igreja de Ambrósio pelos soldados arianos, que receberam ordens para deixar o povo entrar, mas não sair. A.3sim Ambrósio e muitos da sua gente roram forçados a passar vários dias na igreja, virtualmente cercada. Para encorajar sua congregacão a permanecer na fé verdadeira, Ambrósio compôs lindos hinos, exaltando a Santissima Trindade e a verdadeira divindade de nosso Senhor. Estes hinos eram então cantados antifonicamente pelo clero e pelo povo. Agostinho reporta que este canto era tão compulsor que foi imitado até mesmo pelos soldados arianos lá fora! No século 16, igualmente, a Reforma muitas vezes foi cantada para dentro dos corações e das mentes do povo. Não deveria a celebração dos cultos, nas nossas igrejas hoje, ser igualmente contagiante? NOTAS DE PÉ DE PAGINA 1. C. S. Lewis, Letters To Malcolm: On Prayer (New York: Harcout, Brace, and World, 1964), p. 4. 2. Roy Larson, "Memo to a Parson, from a Wistful Young Man", Religion in Life, XXXI (1961), p. 356, oited in E. \IV. Janetzki, "Where Is lhe Church?" Basic Studies in Christianity (Adelaide: Lutheran Publishing House, n.d.), p. 71. 3. Spirítual Counterfeits Project News18tter, 8erkeley, California, JanuaryFebruary 1978. 4-. C. S. Lewis, Undeceptions (London: Geoffrey Bles, 1971), p. 76. 5, Charlas Porterfiel Krauth, The Conservative Reformation and Its Theology (Minneapolis: Augsburg, 1963), pp. 650, 655. 6. Oscar Cullmann, Early Christian Worship (London: SCM Presa, 1966), pp. 30, 31, 34. 7. Jaroslav Pelikan and Helmut T. Lehmann, eds. Luther's Works (St. Louis: Concordia Publishing House, 1955-1976), 53, p. 24. 8. J. G. \Nalch, ed., Dr. Martin Luther's Saemmtliche Schriften (St. Louis: Concordia Publishing House), 10, cols 2256-2258. 9. C. F. W. Walther, ed., Johanni Gulielmi Compendium Theologíae Positivae (St. Louis: Concordia, 1879), p. 529. 1 (). Martin Chemnitz, Polycarp Leyser, and John Gerhard, Harmoniae o.uatuor Evangelistarum (Frankfort and Hamburg, 1652), 11, p. 1085, 11. H. Sasse, This Is My Body (Minnea"0115: Augsburg, 1959), p. 2. 12. C. S. Lewis, Letters To Malcolm, p. 9. 13. Ibid., pp. 4-5. "Concordia Trad.: Edgard A. Krieser Theological Quarterly", Outubro 78 43 o PLANO DIVINO DA SALvaçãO i (Ef 1.3- 4) Efésios 1.3-14 é um texto dificil. Isto se deve à riqueza de conteúdo bem como à maneira como o texto se apresenta. Tanto no texto português quanto no grego deparamo-nos com um periodo de proporções descomunais: do versiculo 3 ao 14 há apenas um ponto, bem ao final. Estamos diante do período mais comprido que se conhece na literatura bíblica. Este fato em nada desmerece o texto. É evangelho puro. É um resumo da história da salvação, ou, então, a doutrina cristã em traços gerais. O tema é este: Deus, em seu amor, nos abençoou em Cristo. Tudo que o texto menciona é bênção. Pode-se fazer quatro divisões: 1) Deus nos escolheu e predestinou em Cristo antes da fundação do mundo, para sermos seu povo e seus filhos; 2) por graça, em Cristo, temos redenção e remissão; 3) Deus nos desvendou o mistério reunifícador em Cristo; 4) crendo em Cristo fomos selados com o Espírito Santo. 1. Deus nos escolheu e predestinou em Cristo (v. 4,5). Trata-se de uma ação de Deus. A perspectiva do Deus nos escotexto é teocêntrica. lheu. Se ele revela este fato, então também isto é graça (favor imerecido). é bênção. Com esta revelação Deus certamente não pretendia propôr um quebra-cabeça teológico, mesmo que por vezes e para alguns assim possa parecer. Sua intenção é consolar e induzir ao louvor. Vamos examinar alguns detalhes do texto, a passagem básica para a 44 Vilson Scholz doutrina da eleição, deixando de lado a pretensão de sermos exaustivos. Deus nos escolheu para si. Este é o sentido do verbo eklégomai no aoristo médio. Deus nos escolheu nele (en auto), em Cristo. Neste ponto inicia a central idade de Cristo no plano da salvação. A eleição precisa ser vista à luz de Cristo. A decisão eterna foi tomada com vistas à manifestação de Cristo no tempo. É um ato do amor de Deus. Deus nos escolheu antes da fundação do mundo. A história da salvação vai de eternidade a eternidade, desde antes da fundação do mundo até ao "resgate da sua propriedade» (v. 14), a consumação final. Deus mostra que ninguém é cristão !Jor acidente. Antes de se preocupar com o mundo Deus já se preocupava com cada um de nós. Mais um detalhe: Deus nos escolheu. Este nos inclui o apóstolo cristãos. Este nos eleição interessa cristãos: somente Paulo e todos os deixa claro que a exclusivamente a estes foram eleitos (não há dupla predestinação) e só a eles se destina a revelação deste fato, para consolo. No momento em que se abandona o reino de Deus a discussão em torno dessa verdade perde o sentido. A meta de Deus é nos tornar "santos e irrepreensíveis perante ele» (4 b) e a adoção de filhos (5 a). Santos são aqueles separados por Deus. Da perspectiva do Antigo Testamento «santos» têm também o sentido de "povo Deus de pela Deus». Como povo de fé somos «sem defeito», perante Deus e tão-somente nesta dimensão. A mesma situação é descrita por outras palavras como «adoção de filhos», isto é, Deus na eternidade decidiu elevar-nos à condição de seus filhos, para que tivéssemos a ousadia de clamar "Aba, Pai", isto é, paizinho (Rm 8.15). A determinante fina! deste ato em Cristo foi a suaiontade (5 b) e o objetivo (,!timo é o "louvor da glória de sua graça (6 a) 2. Por um favor imerecido Deus concede. g!'ac!osarnente, em Cristo, redenção e remissão. Redenção (apoIytrosis - v Ti aponta para a imagem da libertação de escrs\'os Redimir é libertar das forças sstânicas, do pecado, da carne, do egoísmo. da morte. Este foi e continua sendo (afinal, o verbo éxomen está no presente, denotando continuidade) o grande valor do sangue de Cristo. Falar em sangue de Cristo é um outro modo de se referir à sua cruz e todas 8S suas implicações. Depois do ato inicial de libertação vem a remissão dos pecados. A palavra remissão (áphesis - v. 7) indica um ato de remover, levar embora. Remir pecados é apagar pecados. Segundo Miquéias 7.19, é um lançar nas profundezas do mar. É uma bênção que, igualmente, sempre de novo é concedida. A palavra pecado no original é paráptoma, palavra que vem do verbo parapípto, «cair para o lado». Paráptoma (pecado) é a queda, o tropeço. Pecar é cair quando cumpria ficar de pé. (A propósito, nossa palavra pecado, em sua origem latina, lembra o passo em falso do cavalo que tropeça, e neste sentido é uma boa tradução para paráptoma.) Por trás de tudo isso está a «riqueza de sua graça» (7 b). 3. Deus deu sua graça em grande medida, em toda sabedoria e entendimento, tornando conhecido o mistério unificador em Cristo. O mistério de Deus é o propósito secreto de Deus nas suas relações com o homem. Esse mistério repousa na vontade de Deus e tem como centro o próprio Cristo. É mistério na medida em que não é conhecido a partir do esforço humano. O plano estava com Deus e só foi conhecido a partir do momento em que ele decidiu revelá-Io. Aqui temos, portanto, revelação. é esse? Reunificar Que mistério tudo sob uma única cabeça Cristo (anakephalaiosasthai tá pánta en to Christo). Eis o alvo: unir, restabelecer a harmonia, eliminar as rupturas. Dia a dia podemos verificar que no mundo operam forças desintegradoraso forças caóticas. Impera o mal, reina o pecado. Pecado é ruptura: entre Deus e homem, na personalidade do próprio homem, nas relações inter-individuais e inter-grupais. A ruptura estende-se também ao domínio da natureza. A doutrina do pecado pode ser provada experimentalmente, caso não bastasse o testemunho escriturístico. Vivemos cercados de rupturas que apontam para Gênesis 3. Diante disso, Deus não cessa de criar, de ordenar o mundo. Ele continua ordenando, continua criando. Esse é o aspecto da providência de Deus. Por outro lado, Deus restaura harmonias rompidas, salva. Essa harmonização vai desde as re .. lações Deus-homem (o ponto fundamenta!!), homem-homem e se estende a todas as coisas (tá pánta), nos céus e na terra. A reunificação acontece em Cristo, no reino de Deus. Tudo está centralizado em Cristo. 45 - - .... - ... - Quando sucederá ou sucede isto? "Na dispensação da plenitude dos tempos». Essa tarefa reunificadora foi inaugurada, instalada (oikonomia - organização, instalação do plano salvífico de Deus) na plenitude dos tempos (kairói). Houve diversos kairói (plural de kairós, isto é, tempo oportuno, momento decisivo, dia D, hora H, intervenção salvífica) ao longo da história da salvação de Deus. Chegou agora a plenitude destes kairói. Houve o transbordamento. Atingiu-se o nível máximo. Chegou o kairós decisivo, a intervenção salvífica que dá sentido, que ilumina todas as demais: o Filho de Deus se manifesta encaro nado e o reino de Deus está aí. A dispensação da plenitude dos tempos é o tempo do Novo Testamento: desde a encarnação até a parusia do Filho de Deus. Cristo está no centro e no aplce da história da salvação. O kairós em Cristo esclarece todos os demais. Num certo sentido, todos os demais kairói (êxodo do Egito, volta do remanescente da Babilônia, etc.) foram ensaios do grande kairós: adquirem sentido em Cristo e só existiram em função do kairós em Cristo. Vivemos na dispensação da plenitude dos tempos. É um tempo de eliÉ um tempo de minação de rupturas. salvação, de paz. Para esta sua missão paCificadora Cristo nos conclama (Mt 5.9). Ele nos envia para pacificar homem e natureza (ecologia), homem e Deus, homem consigo mesmo, homem com seus semelhantes. O reino de Deus se caracteriza pela paz, pela salvação, pela eliminação de rupturas. Essa já era a mensagem dos profetas. O ponto culminante, o último ato, o dado que não podemos esquecer é a volta de Cristo. Esta eliminará 46 -~------------- por completo as rupturas. Pacificamos na expectativa desse dia. 4. Cremos em Cristo e fomos selados com o Espírito Santo (v. 13, 14). Ouvindo a palavra da verdade, o evangelho da salvação, os efésios creram em Cristo e foram selados com o Espírito. O selo sugere duas imagens: Destinava-se a fechar, guardal" e proteger algo. Desta forma, selavam-se livros. Por outro lado, o selo é marca de propriedade. Deus não cria para abandonar. Deus não compra (salva) para deixar a propriedade entregue a si mesma. Deus cria e guarda; salva e coloca sua marca de proprietário: o Espírito Santo. O Espírito Santo da promessa é também penhor da herança. Penhor (arrabon) é a entrada, o sinal que se É uma dá numa transação comercial. garantia de que no devido tempo tudo será acertado. Assim é o penhor do Espírito Santo. É a garantia absoluta de que haverá o resgate total. Deus salva o homem em Cristo e envia o Espírito Santo como garantia de que no fim haverá salvação plena. Um paralelo humano temos no homem que compra um terreno e constrói uma cabana para dizer que o terreno tem dono e que vai ser construido um grande edifício. (Nota: No grego moderno a palavra arrabon, penhor, É mais ou designa noivado, aliança. menos esta a idéia do texto: Deus faz um pacto e envia o Espírito como garantia da herança; é o noivado que aponta para o casamento.) O texto termina falando em resgate da propriedade (v. 14). É a consumação final. No que refere ao homem, a ressurreição do corpo. Deus resgata o corpo. Ele salva o homem em toda sua personalidade: corpo e espírito. A maior garantia da nossa ressurreição - além da promessa de Deus - é o envio do Espírito Santo, selo e penhor, aos nossos corações. No «resgate da propriedade» ligamse os dois extremos da história da salvação: o tempo desde antes da fundação do mundo e o tempo que segue o desenlace final. O propósito de Deus em tudo isto é o louvor de sua glória (v. 6,12,14). Portanto, "bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo ... » (v. 1). Louvor é a nota dominante que perpassa todo este texto, uma verdadeira doxologia. Louvor e adoração é a atitude d@ homem diante de tão magnífico plano de salvação. Louvor é tudo que nos resta. A religião cristã é a religião do louvor e da gratidão. E venhamos e convenhamos: há motivos de sobra. Fazer teologia - com tudo o que isto implica - é assumir, acima de tudo, uma atitude de gratidão e louvor. 47 A OS NOVOS VENDEDORES DE INDULGEHCIAS Willem C. van Hatten «Tão logo o dinheiro soar no cofrinho, aalminha pulará para o céu» (<<sobalddas Geld im Kastchen klingt, das Seelchen in den Himmel springt»). Quem não conhece o lema favorito do padre dominicano João Tetzel na sua venda de indulgências? Estamos no ano de 1517: o papa precisa de dinheiro para a construção da basílica de São Pedro. Nada mais fácil que arrancar esse dinheiro dos crédulos, com promessas falsas. Logo depois, contudo, aparecem as 95 teses de Martinho Lutero «para esclarecimento do poder das indulgências». São principalmente três pontos no sistema de indulgências que despertam a indignação justa do professor de teologia Lutero: a) o sistema das indulgências é contra o evangelho; b) uma certeza da salvação comprada é contrária ao arrependimento verdadeiro; c)comprar indulgências como uma boa obra prejudica o amor ao próximo. Três fatores - como descobrimos - são ainda de grande importância. Pois o «tão logo ... » de João Tetzel podemos ouvir de novo e até chega aos nossos ouvidos e olhos através do rádio e da televisão. Parece que a venda de indulgência é um bom negócio ainda hoje para aqueles que apelam aos instintos egoístas do homem. As novas indulgências são sobretudo mais do que atraentes, pois os vendedores não apenas prometem salvação eterna, como também um bom melhoramento da vida material. 48 Os novos sumo-sacerdotes da «Tetzel S.A.» apresentam-se também como intercessores e mediadores poderosos que, pelas forças das suas orações, podem realizar grandes coisas para os outros. Duas destas pessoas, para as quais a religião tornouse uma grande fonte de lucro, são Thomas L. Osborn e Rex Humbard. Eles prometem bênçãos abundantes para a vida material, mas tem que se pagar para receber essas bênçãos. Osborn, o pregador da Aliança, conta como a aliança de Deus torna-se efetiva no momento em que sua carta, com pedidos para intercessões - e naturalmente com cheque - é posta no correio. Rex Humbard, o pregador da Catedral do Amanhã, a catedral nos ares, promete todas as riquezas do banco de Deus, posto que você pague, pois sem pagar as bênçãos não virão. a) Contra o Evangelho De vez em quando encontramos pessoas que dizem: .Não é bom criticar estas pessoas, pois elas pregam Cristo». Seria verdade? É certo que elas falam de Cristo, que usam o nome de Cristo. Mas falar de Jesus Cristo e usar o seu nome é outra coisa do que pregar Cristo! Pois pregar Cristo é pregar o evangelho da salvação pela graça pura de Deus, da justificação pela fé. Mas certamente não é a pregação de uma nova lei a qual até Deus se submeteria e que soaria: «Dai e dar-se-vos-á» (Lc 6. 38) (A Chave, p. 35). As palavras do Senhor: «Mais bem-aventurado é dar que receber» (At 20.35) parecem soar agora: «Bem-aventurado quem dá, pois receberá». Quem recebe finalmente são os fundadores e diretores de trustes religiosos. Mas nem a salvação nem as bênçãos de Deus podem ser compradas. Na sua segunda carta aos Corintios o apóstolo Paulo, falando destes tipos de «pregadores», usa palavras rudes, pois muitos deram ouvido a eles e se apartaram da simplicidade e pureza devidas a Cristo (11.3). Quem não prega a simplicidade do evangelho, mas uma nova lei até usando o nome de Cristo prega um outro Jesus (11.4) e por isso Paulo fala de falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo (11.13). São eles que escravizam, devoram e detêm a gente; são eles que exaltam-se da sua pureza e piedade e que até esbofeteiam o rosto dos outros (11.20). É assim: eles levam a uma nova escravidão espiritual e devoram ou espremem a gente como limões ou laranjas e até insultam povos inteiros, vendendo e propagando o seu estilo de vida particulai' como o único que É o estilo de «Qlamour» dá certo. (encanto e beleza), do «streamline», do super-jato e do dólar doente. Mas, como muitas novelas da TV, eles mostram um mundo irreal e encantado, apelando à cobiça para viver nesse mundo de sonhos, e muita gente quer assegurar-se dum lugarzinho. melhor ainda: um lugarzão. nesse mundo fantástico das «nlulti-nacionais da fé», programa do seu rei (Rex) da audiência. Se - como os latinos diziam nomen est omen(o nome é um sinal), o nome Humbard' é muito bom, pois «hum» significa «mistificação» e "bard» significa «trovador», «bardo», então: trovador ou bardo da mistificação, das ilusões, dum mundo irreal! Mas há mais ainda - e irreal também -'- pois os senhores diretores das empresas da fé posam também como mediadores com dons poderosos de oração. Quer algo de Deus? Não há mais problemas: mande seu pedido através de Thomas ou Rex, mas ... não esqueça o cheque! Coisa muito triste, pois onde fica a verdade bíblica: há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus? Humbard, Osborn e outros chamados intercessores poderosos, tomam e ocupam o lugar de Cristo como o único mediador. Eles tomam o lugar de Cristo, que disse: ninguém vem ao Pai, senão por mim (João 14.6) e que ensinou-nos pedir apenas em seu nome (Jo 16.23,24). r--.Jãoprecisamos dos Osborns, dos Humbards e companhia para dirigirnos a Deus. Precisamos de Jesus Cristo. Falando em termos de negócIos, como eles gostam de falar, temos que dizer: o único autorizado é Cristo, os outros são como disse um coiega indignado oessoas que para alcançar rar-se, - apenas «picaretas», usam de expedientes favores, para melho- b) A Salvação É tão simples: mande seu cartão agora, e ... não esqueça o cheque! Pelo menos uma vez por semana os pobres enganados sentem-se parte deste mundo irreal assistindo ao a rre pe nd im e ntove comprada exclui o rd adeiro Lembremo-nos como Lutero condenou a certeza da salvação comprada, pois na qual não há lugar para 49 um arrependimento verdadeiro. De vez em quando ouvimos também nas pregações dos novos vendedores de indulgências a palavra «arrependimento», mas não é o arrependimento verdadeiro, é apenas uma mudança no estilo da vida. Arrependimento e conversão, como a Bíblia nos ensina, eles não conhecem, ou pelo menos, não pregam. Por isso eles usam uma Bíblia adaptada. Freqüentemente eles usam a Bíblia, mas apenas como um arsenal de textos, geralmente tirados do contexto e adaptados às exigências do (sistema do) pregador. Agora, por exemplo, temos de crer que durante quase vinte séculos as palavras do Senhor: «Pedi, e dar-se-vos-á buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á» (Mt 7.7, Lc 11.9) nunca foram bem entendidas, pois segundo o sr. Humbard - nosso trovador de mistificações - isso quer dizer: pedir = orar; buscar = jejuar; bater = dar. Tudo é tão fácil, é apenas um sistema: você pede, depois faz jejum (calculado por Humbard em Cr$ 45,00 por pessoa, por almoço) depois manda o dinheiro para a catedral nos ares, que felizmente tem caixas postais na terra firme em muitos países e até uma conta no banco ... Depois de tudo isso, chegarão as mais ricas bênçãos materiais. " Mas o pobre e quebrantado pecador que não procura bênçãos materiais, mas um Deus benigno, fica na miséria. Pois ele não procura a chave para o sucesso, ele procura um Deus perdoador; o que ele pode fazer com as grandes coisas oferecidas na capa do livrinho de Humbard, como poder espiritual, cura física e sucesso financeiro, se ele não encontrar um Deus propício e se ele não achará um lugar de arrependimento? 50 o que significa o sucesso para alguém em busca da paz com Deus? São estas pessoas tão comercializadas e cegas que elas nem entendem que existem muitos que falam com Paulo: o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo, sim deveras, considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor: por amor do qual perdi todas as causas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Fp 3.7,8). Nas Bíblias destes pregadores não se acham textos que falam sobre isso, nem sobre tribulações, perseguições e provas; o livro de lá parece estar eliminado nas suas Bíblias, e o apóstolo Pauio. com todas as suas tribulações reiatadas em 2 Coríntíos 11.2328 deve ter sido um cristão muito reiaxado e ruim, não chegando ao «status,· desses pregadores da vida boa e próspera, vendedores de castelos nos ares, ou lotes frios, vendedores de ilusões e irrealidades. Uma coisa muito triste, contudo, ' que, como nos dias de Paulo, muitos gostam de ser enganados, e de boa mente toleram e até seguem às suas heresias. Heresias, sim! Falta-me o espaço para mostrar como, por exemplo, A CHAVE de Humbard contradiz a Bíblia do começo até o fim. O livro transborda de sinergismo e até as obras de Deus dependem do homem (I'. 100). A justiça da fé torna-se uma justiça pelas obras. Humbard também nos conta que Deus precisa do amor dos homens; é outra coisa do que lemos em Atos 17.25: «nem é serviço por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse», ou Romanos 11.3336: "dele e por meio dele e para ele são todas as causas». Vale a pena ler a Fórmula de Concórdia, art. II e 111 ao lado do livrinho de Humbard e das cartas de Osborn para descobrir como eles construíram um sistema não-bíblíco, baseado nas obras humanas. Neste sistema, eles usam um ou mais textos bíblicos tirados do contexto - para bater depois sempre na mesma tecla, até não se saber mais se isso é a palavra, a vontade e o mandamento de Deus. Mas - como no mercado automo- bilístico os picaretas sempre falam de uns aspectos, vendendo muitas vezes sucata, enquanto o comprador vive na ilusão de ter adquirido o carro mais sofisticado do país ou do mundo. Mas é só ilusão, e logo depois ele fica decepcionado. Gostaria de saber quantas "Chaves para o Sucesso», vendidas por Humbard com isso ele revela-se como um bom discípulo de Demétrío de Éfeso, At 19 - tornaram-se um obstáculo no caminho para Deus! Gostaria de saber quantas destas chaves fecharam as portas dos céus e para a vida com Cristo, em vez de abrir. Pois não devemos, nem podemos, comprar a «chave para o sucesso»; mas devemos entregar-nos a Cristo. Não na base de «Eu dou e por isso receberei» um pensamento pagão antiquíssimo mas de gratidão pela salvação. c) Amor próximo próprio contra o amor ao Thomas L. Osborn pede as primícias de cada mês, as quais devem ser pagas antes de qualquer nota, e Humbard fala também dos grandes milagres que aconteceram nas vidas de pessoas que mandaram dinheiro necessário para o sustento da vida da família. Assim eles ensinam especular, e há pouca diferença entre uma pessoa jogando com seu último dinheiro na loteria e uma pessoa investindo nas empresas dos ares. As duas, pois, fazem isso para ganhar! para enriquecer-se! Quando uma pessoa usa o seu dinheiro deste modo não sobra nada para o próximo. Ou outra conclusão dos ensinamento deles a ajuda ao outro é consíderada também um bom investimento, que dará lucro. Onde fica aqui o amor ao próximo? O que fica é apenas uma pessoa egoista, fazendo boas obras, ou melhor, fazendo a grande obra que consiste em pagar, pagar, pagar, para ... receber! É uma religião egocêntrica, baseada na cobiça, e por isso não tendo lugar para o amor de Deus. Escreveu o apóstolo: «Ora, aquele que possui recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?» (1 Jo 3.17). Perguntamos: onde permanece o amor de Deus nos corações dos apóstolos da mistificação, se eles, sem nenhuma vergonha pedem até dos necessitados? Onde permanece o amor de Deus nos corações daqueles que dão aos necessitados, apenas como um bom investimento para receber mais de volta? Não fecham eles os corações aos outros, apenas pensando em si mesmos e como prosperar? Onde fica o amor corações de tantos que mundo com corações pensando em descontar sua única boa obra: ganhar? de Deus nos passam pelo fechados, só sua boa obra, investir para 51 d) o porquê dos sucessos vendedores de indulgências. dos Há várias razões para o sucesso "das multinacionais da fé». O motivo fundamental é que se prega uma religião segundo o homem. Toda a relação entre o homem e Deus é reduzida a um negócio. O homem paga e Deus dará os juros. Por isso o homem não depende de Deus, mas Deus até fica dependendo do homem (A Chave, pp. 33, 94 ete.). Na base de negócio, o homem não vive da graça. mas, sim, dos seus direitos e as bênçãos de Deus tornam-se juros merecidos. Na base de negócio, não há arrependimento, com dinheiro paga-se tudo! Uma outra razão importante é que os pregadores por torpe ou sórdida ganância (Tt 1.11, 1 Pe 5.2) descobriI'am falta de método no cristianismo atual, e, como todas as neo-religiões oferecem um método, um método não dificil: mandar dinheiro e receber uma chavinha; jejuar: um almoço por semana, mandar regularmente seus che, ques e unir-se ao círculo da oracãc pelo rádio ou televisão, etc., etc. Pelos métodos que formam :./;, parte integral das construções d23 neo-religiões, o homem é treinado os métodos, pois, são exercícios' Lemos na Bíblia que se pode treinar o coração na avareza (2 Pe 2.! 4). É isso o que aGontece nos métodos dirigidos ao despertar a cobiça. Mas a Biblia diz também: exercita-se na piedade (1 Tm 4.7). Uma coisa muitas vezes negligenciada, pois o individualismo se conteve de prescrever métodos e regras, resultando hoje em dia numa busca frenética de métodos. Quando a Bíblia diz: «Exercita-te na piedade», muitas pessoas perguntam: «mas como, se alguém não me 52 explicar?» (At 8.30). Temos que exercitar uns aos outros na piedade, temos de ensinar como viver conforme a vontade de Deus, como e quando orar, ete. Lemos na Biblia também de pessoas com método, como um Daniel, que três vezes por dia se punha de joelhos (on 6.11) e o próprio Senhor les:.;s freqüentava a sinagoga aos sábados conforme o seu costume (lc " "i6:: Contudo no decorrer dos temaos e principalmente desde os meac::s Ó:: século passado, trocamos os bc-s CCStU"'6S e métodos para a von:ade-dedua! Agora, sentindo falta de bo~ metodo da vida, muitos proc.ura'" o3'ee~dBdores de métodos, e paga.~ -;e"s\",ente muito - para ap;e,.,de"j~:)2drão de vida. Mas já pe0sc:": c ::..:e .? ",:nr;:, igreja pode<a "2ZS' se desse tanto para o traba. : "",,- "-' . .-.o::;, ;; '-''-'"- . =" e sstes dias com um cristão ~'~:..::::::ycspero, Ele disse que dava 2 ç::"":.1'Úlôde espírita, pois «eles faze,.,., :a"to para os desamparados». =>erguntei: mas o senhor nunca se :::,::;,-,scientizouque a igreja também poderia fazer muitas coisas se o sr. e outros dessem este dinheiro à igreja e se o sr. formasse um grupo de leigos ativos para atender aos outros que precisam de ajuda?» É tão fácil dizer minha igreja não faz nada. Mas é uma auto-acusação, pois, no fundo, é dizer: eu não faço nada! Quanto dinheiro não se perde, que poderia ser usado no trabalho da sua própria igreja? No crescimento assustador das neo-religiões e na prosperidade das indústrias da fé, com suas organizações mundiais e funcionários mais que bem-pagos, podemos ver o fluxo do dinheiro para estas organizações. Isso porque muitos dos doadores pensam que se compra a salvação através do dinheiro, enquanto eles não têm vontade de cansar-se na . vinha do Senhor. É tão fácil preencher um cheque no começo do mês e assistir à televisão, dizendo: pois é, a minha igreja não faz nada! É tão fácil deixar o trabalho da igreja por conta dum "funcionário pago» o pastor - assistido por uns entusiastas, falando do pouco que se realiza. Deus, porém, te chama! Deus quer a tua participação! Deus não pede apenas cheques, mas ele chama pessoas, com todo o coração, toda a alma, todas as forças e todo o entendimento (lc 10.27). Deus não quer fazer negócios, prometendo dividendos e juros. Ele nos chama à atividade mais intensa para ganhar almas por palavras e atos. Não para vivermos melhor materialmente, talvez ele nos chama para sofrer pelo seu nome (At 9.16). Deus chama os seus filhos para abrir seus corações e viver e falar, constrangidos pelo amor de Cristo (2 Co 5.14). Neste amor construiremos a igreja com todos os nossos esforços, experimentando uma comunhão real e viva, e não nos contentando com uma comunidade, ou até uma catedral irreal - nos ares. Ref. Bibliográficas: R. Humbard: A Chave para o sucesso na vida - São Paulo, 1977. R. Humbard: Folhetos para obter dinheiro. Reportagens sobre o «ministério» de Humbard e Osborn. Th. l. Osborn: Folhetos para obter dinheiro. H. J. Hegger: Religion is not: Trading with God (ORD, XII, 1978, nO 1,2). 53 A Arqueologia e a Bíblia (Tel Mardikh - Rev. Tércio Ebla e a Bíblia) Machado Siqueira o ESFORÇO arqueológico desenvolvido por alguns homens, tem trapara zido à luz preciosas informações o conhecimento, especialmente, das civilizações do Médio e Oriente Próximo. Lamentavelmente, estes poucos heróis não têm recebido o devido reconhecimento, pela dedicação e renúncia em favor das Ciências Humanas. Há pouco mais de dez anos precisamente em 1964 iniciava-se uma paciente tentativa dirigida pela Universidade de Roma, na localidade, modernamente chamada de Tell Mardikh, na Síria. Neste local, a Missão Arqueológica Italiana acredita ter encontrado Ebla, a antiga capital de um importante império no Oriente Médio, durante o 111e \I milênios. Assim, o descobrimento de Ebla vem preencher um vazio na história até então obscuro. Tal feito era ansiosamente esperado pela ciência, pois dela somente havia menções em importantes documentos da antigüidade. Quando eram vagas as alusões a Ebla, julgava-se que ela estivesse localizada ao sul da Turquia. Ao contrário dos descobrimentos dos Rolos do Mar Morto, dos manuscritos de 'Hag Hammad' e 'Ugarif (todos de grande importância para a reconstrução histórica e lingüística da Bíblia), o achado de Ebla é o resultado da persistência e planificação dos professores Paulo Mattiae (chefe da 54 missão) e M. Giovanni (especialista em Assiriologia grafista da Missão). Resumo Pettinato e o epi- Histórico Graças aos documentos escritos e resultados das pesquisas, pode-se esboçar quatro grandes etapas na história de Ebla: no primeiro periodo por volta de 2500 a.C. Ebla vive a sua etapa de grande prosperidade econômica e cultural (este período à Primitiva Era Dinástica relaciona-se das Cidades-Estados da Suméria). É bom ressaltar que o seu esplendor foi resultado de sua excelente posição geográfica (veja o mapa i1ustrativo). Ela controlava as principais estradas do tráfico entre a Mesopotâmia e o Mediterrâneo. Com isto, o seu relacionamento comercial e politico com Mari, Ugarit, Bibios, Haram e outras antigas cidades, faz com que Ebla se torne uma preciosa fonte de informação para o conhecimento das civilizações do Oriente Próximo e Médio Oriente, bem como a Bíblia. Um segundo período pode ser colocado entre 2250 e 2000 a.C. quando a cidade passou por um período de domínio acádico. O terceiro período se estende entre 2000 e 1800 a.C. quando, ao que tudo parece, a cidade foi tomada por um novo elemento invasor, que seguramente não lhe devolveu seus melhores dias. Após 1600 a.C., Ebla perdeu toda sua significação, quando foi tomada e destruída, possivelmente, pelos Hititas. Alguns grupos de textos No artigo publicado pela revista americana «Biblical Archeologist» (39 (1976) 45), Pettinato classifica os documentos descobertos em Ebla, em cinco grupos principais: a) os textos econômicos e administrativos, relacionados à administração da cidade, ao comércio exterior, agricultura e indústria metalúrgica e têxtil; b) os léxicos encontrados refletem o alto grau de cultura científica; c) os textos históricos e jurídicos refletem a intensa atividade diplomática da cidade. Para os estudiosos da Bíblia em especial, este vasto círculo de relacionamento é bastante significativo, pois ganha-se novos dados no trabalho de reconstrução histórica, lingüística e costumes patriarcais e pré-patriarcais. Eis um bom exemplo: a expressão «nós somos homens parentes» utilizado por Abraão (Gn 13.8), encontra-se literalmente numa carta diplomática de Ebla. Abraão teria usado uma fórmula corrente nos meios diplomáticos para exprimir os laços de dois aliados políticos; os textos religiosos constituem, naturalmente, os mais importan- tas documentos de análise para os estudiosos da Bíblia. Neste grupo encontram-se histórias mitológicas, hinos, fórmulas de encantamento e coleções de provérbios; e) os silabários têm possibilitado ou facilitado o deciframento e leitura dos documentos encontrados, pois eles podem ser comparados a um moderno dicionário bilíngüe (sumário e, no recém-descoberto, eblaíta). Talvez estes sejam os mais antigos vocabulários da humanidade. A Bíblia e os documentos de Ebla Os comentários introdutórios deste artigo objetivam dar ao leitor uma visão, ainda que pequena, de conjunto, da importância de Ebla como condutora e geradora de tradições culturais do Antigo Oriente Próximo. Entretanto, como o nosso interesse aqui é analisar algumas relações entre os documentos de Ebla e a Bíblia, vamos enumerar alguns pontos que têm chamado mais atenção dos teólogos especializados no campo de Arqueologia. 1. Nomes bíblicos A leitura dos tabletes de Ebla fez emergir nomes de cidades e pessoas também citados na Biblia, alguns dos quais ainda obscuros em seu significado. Entre as muitas cidades que mantinham comércio com Ebla citamse nomes como Hazor, Megido, Biblos. Sidon, Aco, Dor, Asdote, Gaza e, possivelmente, Jerusalém. Se realmente a referência a Jerusalém for correta, estamos diante da mais antiga menção desta cidade. Outra possível relação trazida pelos textos refere-se aos nomes das cidades da Pentápole do Mar Morto, de 55 que fala Gn 14.2: Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Belá. O que mais tem surpreendido aos lingüístas é que as cidades estão citadas na mesma ordem que encontramos na Bíblia. Da mesma forma, os textos contêm nomes que são lingüisticamente similares a nomes bíblicos. Entre estes nomes, podemos citar os de Abraão. Israel, Ismael, Miquéias, ESE,ú, Saul, Davi, etc. Embora não podendo faiar em termos definitivos, uma das mais interessantes correspondências está entre os nomes do grande rei de Ebla (Ebrium) que é semanticamente e lingüisticamente equivalente ao nome de Eber, em Gn 10.26 e paralelos. Segundo a Bíblia, Eber foi um dos ancestrais de Abraão. Referindo-se ao assunto, o editorial da respeitada revista americana, «Biblical Archeologist» (março, 1977, pág. 3), afirma que a correlação é intrigante, embora não haja nos tabletes de Ebla nenhum elo de ligação entre os duas pessoas. 2. fJ. língua O eblaíta, agora descoberto, é uma língua semítica que floresceu aproximadamente mil anos antes da língua hebraica. Seu estreito parentesco com outras línguas semíticas Fenício, Ugarítico, Hebraico pode certamente lançar muitas luzes na estafante pesquisa bíblica, pois, ao contrário do que se pensa, persistem muitas dificuldades na compreensão de textos do Antigo Testamento, especialmente nos livros poéticos. 3. A religião O panteão de Ebla contava com cerca de quinhentas divindades, mas reconhecia Dagon como a divindade mais importante, Dagon era conheci53 do tanto em Mari (localizada na Média Mesopotâmia) como na costa filistéia (Jz 16.23; 1 Sm 5.2-7). Segundo os textos de Js 15.41; 19.27, Dagon pai'eoe ter sido cultuado em Canaan, por algum povo. Mas as possibilidades de uma correlação não fica somente 20 principal deus dos eblaítas: Baal, tão conhecido através das advertênproféticas, teria dado seu nome a uma das quatro portas da cidade. \larrativas acerca da criação e dilú\/io poderão, sem qualquer dúvida, tl'azer vaiíosas informações para a interpretação de Gênesis. Um ponto que tem provocado intensas discussões refere-se aos noC,3S mes próprios. Segundo alguns estudiosos do texto, os nomes próprios de Eb!a poderiam conter, sob uma forma abreviada, nada menos que um equivalente do nome por excelência da Bíblia: Javé. Assim, alguns nomes próprios poderiam conter a forma «EI. ou "Ya» (exemplo: abreviada Ismsel e Isaias). Que diriam os grandes teólogos? Por hora, estamos diante de conjecturas, e toda afirmação seria por demais temerosa. 4. Instituições Mais urna vez podemos sintomas de uma relação culturas eblaíta e israelita. encontrar entre as Particula" rizando o culto em Ebla, podemos vê-ia liderado por várias classes de Eacerdotes e sacerdotisas. É bem verdade que Israel não conheceu a segunda classe de liderança. Entretanto, é bom lembrar que a Tradição Israelita foi um elemento vivo apropriando ou criando, eliminando ou purificando toda sorte de cultura. Todo este processo, ao contrário de outros povos, seria ao propósito salvifico de Deus. Uma segunda instituição em Ebla que muito nos interessa, é a dos reis. Tal como em Israel, a legitimação da sucessão de um rei, necessariamente, dependia da unção. Mas no ambito profético, Ebla, certamente, poderá lançar preciosas luzes sobre o problema da origem da instituição profética do mundo antigo. Um dos termos usados em Ebla para identificar o profeta era «nabi'utum» (o termo hebraico é «nabi»). É bem verdade que o profetismo em Israel é pleno de originalidade, até então não comparável a outra cultura. O profetismo bíblico «segue sendo continuadamente diálogo de Deus e do Homem. A leitura fiel da Bíblia descobre a originalidade deste tempo biblico, sua função motora, geradora de um futuro» (Neher, La ES8ncia dei Profetísmo, pág. 14). Na verdade, toda informação correlata é importante para o estudo da Bíblia. Porém, o profetismo em Israel, desempenhou uma função sui-ge::eris asSim que não cabem aqui maiores comentários. Conclusão Diante dos dados esboçados neste trabalho, temos três opções a oferecer aos leitores: 1) colocar-se numa posição de recusa a toda e qualquer relação Ebla-Bíblia; 2) tomar a cultura eblaíta como predecessora de Israel. Isto significa assumir uma metodologia de análise da Bíblia, isto é, estudá-Ia à luz de Ebla; 3) assumir uma atitude científica e desapaixonada diante das informações, agora recebidas. É bom salientar que atualmente as informações acerca de Ebla passam por um período crítico. As agencias de informações do Ocidente atribuem tal problema à crise árabe-israelita que se desenvolve em nossos dias. Entretanto, sabe-se que a maneira pouco prudente - e até mesmo imatura - com que os resultados vindos de Ebla foram tratados pela imprensa do Ocidente, criou um ambiente pouco saudável entre Mattiae e Pettinato. E como resultado disso, houve por parte dos dois arqueólogos uma recusa de informações apressadas. Sabe-se, entretanto, que após a leitura de todos os textos encontrados, o material será liberado às universidades do mundo (neste sentido, qualquer univerSidade no Brasil poderá adquirir toda documentação de Ebla em forma de fotografia, "sllde», etc.). Um exemplo do sensacionalismo feito em torno dos primeiros resultados de Ebla temos na publicação "Christian Beacon», editada eventualmente em espanhol sob o nome de "Faro Cristiano». Nela, encontramos farto material comentando alguns resultados de Ebla. Entretanto, conclusões apressadas foram postas diante do público leitor em toda a América. Eis algumas: "Críticos bíblicos perturbados sobre Tell Mardikh»; "Desbaratadas as teorias dos altos críticos»; "A arqueologia confirma a Bíblia». Em vista do grande número de informações e da importância que Ebla representa para o conhecimento bíblico, algumas observações são necessárias: a) tudo indica que algumas conclusões apressadas de informações a :-espeito de [bla prejudicaram o trabalho em Tell Mardikh, veiculando conclusões imaturas que confundiram a verdade dos fatos. Na realidade, somente um longo e paciente exame permitirá a determinação do grau de ligação entre Ebla e o mundo bíblico. É importante destacar aqui que semelhança, em princípio, não significa 57 automaticamente dependência, mesmo porque a fé professada pelo povo bíblico carrega particularidades essencialmente diversas das outras religiões do mundo antigo. Frases como «A arqueologia confirma a Bíblia» podem ser uma boa manchete de jornal. mas nunca uma frase inteligente, porque a mensagem bíblica não depende da arqueologia para se impor como verdade. Portanto, não se Justifica tal entusiasmo como se nosse fé dependesse dos resultados da existência ou não de pessoas, cidades ou exatidão de datas. b) Não resta dúvida que existe uma conexão entre Ebla e a Biblia, principalmente (e não exclusivamente) sobre o nível lingüística. Entretanto. tal conexão não deve ser viste como dependência. Erros e mais erros fOram cometidos quando alguns teÓlogos tentaram analísar a Bíbiia à 'u: da cultura babilônica. Estaríamos 58 vendo o nascer de uma nova metodologia de interpretação à luz de Ebla? Se isto realmente acontecer, provavelmente cairemos nos mesmos erros cometidos anteriormente. Os leitores podem estar certos de que Ebla constitui um dos mais importantes, senão a mais significativa descoberta para a elucidação de alguns textos da Bíblia Hebraica. Segundo David Freedman, os achados da Síria constituem a mais importante descoberta arqueológica até então levada a efeito. Embora as verdades fundamentais da Bíblia não sejam suscetíveis de serem demonstradas pela arqueologia, devemos saudar efusivamente a chegada desses documentos, pois eles, sem dúvida, serão de inestimável valia na reconstrução daquele mundo que precede o aparecimento de Abraão. (<<Expositor Cristão», Jan. 1979) MEDITACÃO • Tem Cuidado Mesmo e da de Ti Doutrina (1 Tm 4.16) O. A. Goerl Um jovem pastor acaba de receber uma carta. Seu coração vibra ao reparar no remetente. Aí está o nome, logo no começo: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pelo mandato de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança", e em seguida o nome do destinatário: "a Timóteo, verdadeiro filho na fé", 1 Tm 1.1,2. É para mim a carta jubila Timóteo para mim pessoalmente, e não está endereçada à congregação de Éfeso como aquela (dois ou três anos atrás). Podemos imaginar a sofreguidão com que Timóteo lia e relia a carta, até que, estou certo, sabia de cor trechos inteiros. Comoviam-no especialmente as passagens que se referiam à sua pessoa, em que o velho mestre e conselheiro espiritual usa o "tu" familiar e lhe fala à consciência, ao coração como acontece no capitulo quatro, que culmina na exortação: "Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes." Tem cuidado dí' ti mesmo - uma palavra que se alojou no íntimo de Timóteo, e que dizia da preocupação do apóstolo pela alma de seu "filho na fé". Não que houvesse uma motivação específica - pois é com alegria que o apóstolo, conforme escreve na segunda carta, guarda a recordação "de tua fé sem fingimento, a mesma que habitou em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice, e estou certo que também em ti". 2 Tm 2.1,5. Amigos, antes de sermos ministros da palavra, antes de sermos pastores formados e diplomados, sim, antes de sermos estudantes de teologia, importa ser- 59 mos cristiíos verdadeiros, isto é, termos uma "fé sem fingimento". Os discípulos de Jesus não foram homens que se apresentaram ao Mestre para se ofereCerem como futuros obreiros da igreja; sua preocupação era outra. João e André, os dois primeiros, discípulos de João Batista, viram seu mestre apontar para aquele vulto que se aproximava, acompanhando o gesto com as palavras: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!" Jo 1.29. Noutro dia repete-se a cena, e os dois seguem os passos do novo Mestre para o primeiro encontro, um encontro abençoado, e de volta exultam de felicidade: Achamos o MessiasI Paulo não só exorta a outros, ele confessa de si mesmo: "Esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outrem, não venha eu mesmo a ser desclassificado." 1 Co 9. 27. Compreendemos a dor do pai da igreja mãe, DI'. C. F. W. Walther, quando numa carta a um amigo se referia a um dos colégios pré-teológicos da igreja: que deviam naquele instituto fazer empenho em formar cristãos, caso contrário saria melhor fechar o estabelecimento. Tem cuidado de ti mesmo. Cuida da tUil alma. Seja esta a tua preocupação primeira, diariamente, nas aulas, no quarto de estudo, em qualquer atividade e situaçi'io. Seja esta a tua convicção arraigllda na graça divina: Eis o Cordeiro de Deus que tira o meu pecado. Gue adianta a mente cheia e a alma vazia. Um pastor morno, um rebanho morno. "Tem". cuidado de ti mesmo e da doutrin(l". É uma ligação que convida a meditar. Cuidar de duas causas: da própria pessoa e da doutrina. E realmente há um relacionamento importante, pois a primeira depende inteiramente da segunda, razão por que o apóstolo prosseguB na sua carta: "Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás a ti mesmo como aos teus ouvintes." "Doutrina" é o ponto alto da epístola. Só ela pode salvar almas - a minha e as que me são confiadas. "Doutrina", "palavra digna de toda aceitação" são as "sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo" (6.3) conforme ele mesmo testemunhou: "Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente 60 meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." Jo 831.32. Mas Paulo fala ao mesmo tempo de "outra doutrina". E tudo indica que o objetivo de sua carta era avisar e fortalecer Timóteo na luta contra a outra doutrina o jovem pastor, aigo tímido, talvez desanimado e ainda sofrendo de u,n mal gástrico. Pois logo de início 12mbra que o deixara em Éfeso "para adono2.stares a certas pessoas a fim de que não ensinem outra doutrina" (1.3). Como ccmpreender outra doutrina no selo da congregação? Jesus explica o fenôme~:o n.3 parábola do ]oio no trigo. Fora lanC.3da boa semente no campo, o eva"geihc .sah'sdor do Cordeiro de Deus. ivlas à ::citsc quando os servos dormiam, veie e ;n:",I;o e lançou o joio no meio C~esc;a junto o joio, imperdo F:gO. ceDTfvei "O c:::<neco, mas aos poucos era !ic-taco VedeJ ;}6lnei no Apocalípse corres- c::<·:s:<jç 2. situação naquele tempo. O ;.::;cnts "60'30e ordens de escrever cartas 2 se:,," '--"i2s. Lemos na maioria das -;36"r2S iniciais que encorajam, ·i.':ç~hecimento daquilo que havia ,-,~ c·c·~, ;:3 ccngrec8cão, seguindo-se, no ,-,-,-?r~o. l.E'0 "mas'~' a'dversativo -- "mas ::0- ·,c contra ti" ... E a primeira con,,-e;:;6c30 da série é exatamente Éfeso, :-.j" 001' ora se encontrava Timóteo: Tenho ('ontra ti - Éfeso: Abandonas--, .,~C o teu primeiro amor. Tenho contra ti -. Pórgamo: Tens aí (Os que sustentam a doutrina de Balaão e 6 doutrina dos Nicola[tas. Tenho contra ti - Tiatira: Toleras cssa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa e ensina e seduz os rneus servos. Tenho contra ti Laodicéia: Não és quente nem frio, és morno. E o ]oio continua no trigal. Nossa Igreja mãe passou por duras refregas nos Últimos anos. Lamentavelmente, tudo indica que também sobre a nossa querida IEL8 vêm descendo sombras, desde uns. tempos para cá. Notamos em nosso meio indícios de pentecostalismo, de legalismo, de mistura de lei e evangelho, traços característicos de espírito entusiasta, de conceitos confusos sobre o que venha a ser um verdadeiro crente. Tudo isso ligado a um certo orgulho espiritual, talvez inconsciente, que menospreza as confissões e os princípios escriturísticos de hermenêutica, conquistados pelos pais luteranos, após prolongadas lutas doutrinárias. Não nos iludamos: descaso pelas confissões e a quebra tumultuada de praxes e tradições antigas pOdem ser sintomas de um mal incipiente, de uma infecção que ameaça o corpo da igreja. Culpado é o EGO, o "eu" que se quer colocar em evidência à sua maneira. Desloca-se do centro a doutrina do Cordeiro de Deus e toma o seu lugar a própria pessoa com seus esforços, e dignidade, e conduta cristã. Demais, não devemos estranhar o fato, pois na mesma carta o apóstolo prediz que nos últimos tempos alguns obedeceriam a espírítos enganadores (4.1). Por essa razão continua seu brado de vigilância: tem cuidado da doutrina! COI11outras palavras: estudai a fundo as doutrinas, examina i as Escrituras, lutai pela pureza dos ensinamentos. Para tanto obedeçamos à palavra: "Não ultrapasseis o que está escrito." 1 Co 4.6. Não nos desviemos um palmo sequer do "está escrito" -.- a única arma que o Filho de Deus usou frente ao maligno. No final o consolo: Os ventos levantam ondas, mas também sopram velas. Tendo Jesus por timoneiro, o barco da igreja não perecerá. (Devoção proferida na Faculdade de Teologia Seminário Concórdia). do 61 -~ , . NOTICIAS E COMENT ARIOS o Amor no Celibato o número de maio-agosto de "Perspectiva Teológica", da Faculdade de Teologia Cristo Rei, em São Leopoldo, RS, faz uma apresentação do livro "O amor no Celibato", de 138 páginas, publicado pela Editora Vozes, em 1975. Escrito por uma psicóloga alemã Luise Rinser e um sacerdote italiano Egídio Gentili -, a obra mostra que ao padre que se acha em dificuldade por causa de uma mulher é perfeitamente possivel amar à distância, sem contato fisico, Este amor no celibato seria uma terceira alternativa para o problema, As 0'Jtras alternativas são a fuga (separação imediata) e a dispensa dos compromissos da ordenação para a realização do n:atrimônic. o amor no celibato é possível mas ão é fáci I. Porque o amor inclui tamém o relacionamento físico: "Não tenes lido que o Criador desde o princípio os fez il0mem e mulher I e .. , por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?" (Mt 19.4,5). Este relacionamento físico é tão importante que o apóstolo celibatário, depois de dizer que a mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e, sim, o marido, e vice-versa, ordena: "Não vos priveis um ao outro, salvo, talvez, por mútuo consentimento, por algum tempo, para vos dedicardes à oração e novamente vos ajuntardes, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência" (1 Co 7.4,5). Naturalmente o amor pode e deve sobreviver quando a enfermidade, a distância, a idade ou outro acontecimento impedir, temporária ou definitivamente, o relacionamento físico. Aquele que aceita o celibato como dom sabe se conter e não precisa de um amor à distância. Necessário se torna fechar o coração para uma pessoa em particular, assim como o cônjuge honesto e 62 fiel não se permitirá amar outra mulher ou outro homem. Porque o relacionamento físico é uma conseqüência natural do amor quase uma exigência o padre ou o cônjuge se arriscam muito. permitindo-se amar e ser amado. O livro ou o comentário do padre Balduíno José Ody prende-se antes à tradição católica-romana do que às Escrituras Sagradas ao afirmar Que o amor de José e Maria era à distância: "o matrimônio virginal de José e Maria". Seja respeitado o ponto de vista de Roma, mas a grande maioria dos eruditos protestantes não hesita em aceitar com naturalidade o que se encontra em Mt 1.24,25: "Quando acordou, José fez o que o anjo do Senhor havia mandado, e casou com Maria. Mas não teve relações com ela até ela dar à luz seu filho. E José deu ao menino o nome de Jesus" (A Bíblia na Linguagem de Hoje). Qualquer protestante é capaz de abrir Mt 12.46-50 e 13.53-58 e mostrar Que José e Maria tiveram filhos e filhas. A igreja católica rebate com a explicação de que "irmãos" e "irmãs" naqueles textos são primos ou parentes próximos. Nas entrelinhas é possível descobrir que atrás de tudo encontra-se a crença de que a virgindade é um estado moral superior ao matrimônio. Neste caso seria bom lembrar que o sacerdote Zacarias era casado, mantinha relações sexuais com Isabel, sua esposa, e não possuía filhcs, pelo Que orava ao Senhor. Nenhuma destas causas impediu a referência de que "ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor" (Lc 1.6). Zacarias foi o primeiro a saber do próximo nascimento de Jesus e Deus lhe deu o privilégio de se tornar o pai de João Batista, o precursor e batizador do Messias prometido. Do ponto de vista evangélico há uma Quarta alternativa para o padre Que se acha em dificuldade por desejar uma esposa Que se dê a ele a permissão de contrair matrimônio e continuar padre, uma vez que os sacerdotes hebreus, os apóstolos, (inclusive Pedra) e os ministros da igreja primitiva eram casados. Seria o fim do celibato sacerdotal obrigatório, reafirmado pela encíclica "Sacerdotalis Celibatus", de Paulo VI, há 11 anos. ("U1timato"/Novembro 78) 63 o Senhorio de No programa Flávio Cavalcanti de 17 de dezembro próximo passado, a TV Tupi apresentou uma entrevista com o deputado federal A. Nunes, umbandista praticante, eleito recentemente por mais de cel mil votos de seus correligionários. O deputado, citando "o maior inimigo do umbandista, o padre Quevedo e a própria Conferência Nacional de Bispos", confirmou o que a imprensa vem dizendo há muito tempo, com alguma margem de imprecisão: No Brasil há cerca de trezentos mil terreiros de umbanda (destaque é nosso Red.), freqüentados por cerca de trinta milhões de umbandistas (destaque é nosso Red.). São dados estarrecedores para quem está acostumado a pensar no Brasil em termos de "maior nação católica do mundo", em termos de pais cristão, subdividido em bem definidos canteiros eclesiásticos e confessionais. Este quadro de "país cristão" é falso, e é enganador. Se pensarmos no sem número de seitas existentes, além do umbandismo e do espiritismo kardecista se pensarmos nos movimentos que têm suas raízes em religiões orientais, budistas e outras e levarmos em conta a "religião natural brasileira ", de que "toda religião é boa, se a gente acredita nela e se pratica o que ela ensina" aí o quadro se modifica: A igreja cristã encolhe, e os cristãos se dão conta de que são minoria no país. Esta conscientização poderá ser um choque para nós -. mas será um choque salutar. Por que vamos falar como um Golias forte e armado, se não passarmos de uma pequena Davi, que nada tem além de sua funda? Antes da terapia deverá vir o diagnóstico. E o diagnóstico é este: os cristãos são minoria. Talvez semprE! o foram - em qualquer país e em qualquer época. O Brasil parece um país especialmente fecundo para todo tipo de religiões nativas e exóticas desde as maciçamente mágicas às mais espirituais e esotéricas (de Macumba e Candomblé a Seicho-No-Iê e ao Kardecismo). Mas em grau maior ou menor, o mesmo quadro se apresenta nas outras nações latinoamericanas. Numa conferência sobre "a imagem de Cristo na América Latina", Cristo Hoje realizada em Lima há alguns anos, e da qual participei, foi relatado por exemplo, que a maioria dos colonos peruanos e bolivianos, embora formalmente católicos, continuam oferecendo sacrifícios ao deus "EI Tio" e à deusa "Pacha Mama", à "Mãe Terra", e que em todos os países existe como que uma corrente subterrânea de religiosidade pagâ que freqüentemente leva ao sincretismo (ã mistura de conceitos de doutrinas cristãs com crençar; pagãs). Nos próprios Estados Unidos, e mesmo nos países tradicionalmente cristãos da Europa, surgem movimentos religiosos, conflitantes com as igrejas cristãs, que conseguem arrebanhar centenas de milhares dó adeptos. Freqüentemente se trata de movimentos sincretistas que misturam elementos cristãos, budistas e outros, oferecendo saídas para a crise ecológica, biológica e espiritual em que se debate a humanidade. Por vezes são cultos fanáticos que submetem as pessoas, principalmente os jovens, a verdadeiras lavagens cerebrais, como por exemplo o movimento do milionário coreano Sum Mun; por vezes são "cultos" realmente violentos cujos adeptos são dominados por um líder de influência quase demoníaca, como o "reverendo Jones", que há dois meses, num ato de desespero louco, levou mais de 900 adeptos seus a praticarem suicídio coletivo (ou a "serem suicidados" pelos membros mais fanáticos do "Templo do Povo"). Na Califórnia, nos Estados Unidos, Estado riquíssimo, houve verdadeiros surtos de cultos virulentos, cujos adeptos mataram e praticaram todo tipo de vioiência. Há um sem número de cultos satânicos, com rituais de missa negra e com observâncias criminosas secretas. São coisas que nos perturbam e inquie- tar:~. A pergunta se impõe: O Que é que nós, que cremos em Jesus Cristo, que vemos nele o Caminho, a Verdade e a Vida, que o temos por Salvador que morreu e ressuscitou por nós - o que é que nós temos a dizer frente a este cipoal de religiões, de cultos e de movimentos místicos que ou ignoram Cristo por completo, ou procuram encampá-Io em seus sistemas, fazendo dele um grande homem inspirado, um médium especialmente poderoso, um filósofo iluminado, um revolucionário político? Que nivelam com Buda, com Allan Kardec e com Masaharu Taniguchi, o fundador do SeichoNo-lê? Já o dissemos: o pequeno Davi dispõe apenas de sua funda. Apenas? Oxalá que sempre tivesse a funda à mão, para usá-Ia, no confronto espiritual com o Golias da religiosidade virulenta e pervertida! Se olharmos para o passado, verificaremos que no tempo dos apóstolos a situação espiritual e religiosa nem era tão diferente da nossa. Vingava um sincretismo em grande escala. O movimento gnóstico, que oferecia conhecimento secreto do mundo sobrenatural, de certa forma pode ser comparado com o Kardecismo e com algumas correntes esotéricas do umbandismo. As antigas religiões de mistério, a prática de identificação dos deuses gregos com os romanos, assírios, persas .. , os cultos políticos ~ tudo tem seus paralelos na religiosidade dos nossos dias. Não há nada de novo debaixo do sol, Mas não poderemos deixar de perguntar: O que é que fez o pequeno Davi, a igreja cristã, aquela minoria das minorias entre os movimentos espirituais do primeiro século? Ela não combateu as religiões. O Novo Testamento, que foi escrito num ambiente saturado de religião pagã" de sincretismo e de superstição, não ataca as divindades romanas ou gregas, ou as superstições siro-fenícias e cutras. O pequeno Davi usa a sua funda -, o evangelho simples e claro. Anuncia que Cristo é o Senhor: Senhor dos poderes e Senhor dos homens. E as próprias testemunhas do Senhorio de Cristo vivem esta sua mensagem, vivem a realidade da fé em Cristo, o seu Salvador ~ em meio a um mundo que se debate em sonhos e pesadelos religiosos, místicos e filosóficos. Foi este o verdadeiro segredo do discipulado e do apostolado, foi esta a arma secreta dos primeiros cristãos: Eles tomaram o Senhorio de Jesus Cristo a sério. O evangelho não era uma religião, nem uma simples doutrina. Era uma nova realidade. Esta realidade da revelação do Deus da verdade e da graça, no diaa-dia desta gente de Jesus, gente "do caminho", como eram chamados, forçava o seu ambiente a mudar as perspectivas. O Cristo exorcista estava presente onde os cristãos se reuniam - e os pagãos o notavam. Paulo~ Pedro, Felipe, Barnabé, não necessitaram de planos astuciosos para se infiltrarem no cipoal da religiosidade sincretista de Éfeso, Corinto ou Roma. Eles foram ouvidos por estarem presentes com sua mensagem a mensagem do Cristo vivo e atuante. Esta mensagem, por sua própria natureza, libertava os homens de seus sonhos, de suas especulações, de suas esperanças confusas. O evangelho claro e puro, que põe Cristo no centro, que o deixa ser o que é ~ Rei dos reis e Senhor dos senhores ~ ele faz o homem acordar de seus sonhos. Fá-Io acordar para a vida. ... "Grande é a Diana dos efésios", gritaram os habitantes de Éfeso, cheios de furor e confusão, resistindo ao evangelho pregado por Paulo, Nesta resistência, e religião pagã, o sonho, a saudade --' poderá demonizar-se, tornar-se virulenta e perniciosa, Não nos admiremos S6 as coisas voltarem a acontecer em nesse te;-npo. Pregar o evangelho é um risco. Não ccntemos com os aplausos das divindades de nossa época. O que vale é que não percamos a orientação no Senhor que permanece, enquanto que os ídolos, as saudades e os sonhos do coração humano se desvanecem. ("Jornal Lindolfo Weingaertner Evangélico" ~ 79i2) -0-065 o Paciente Esquecido Mais Animo Para a Assistência Espiritual Os números falam por si: 70% de todos os cidadãos da RFA (Alemanha Ocidental) vão ao médico durante o ano. Cerca de um quinto desses pacientes vêm à consulta por causa de crises ou males psíquicos. Entre 1 % e 2% de toda a população tem necessidade de tratamento psicoterápico, o que representa cerca de um milhão de pessoas. É o que se conClui da enquete psiquiátrica governamental, . que após dois anos de discussões internas, agora novamente é o centro das atenções políticas, para que os doentes psíquicos possam ser melhor assistidos. Tanto quanto é necessário uma reforma neste campo, temos que nos cuidar de esperar toda a salvação da psicologia. O número dos consultórios cresce continuamente. Já é possível buscar conselhos sobre quase todos os conflitos com que nos defrontamos: dificuldades no casamento e na educação, situações de conflito especiais de mulheres grávidas. assistência espiritual por telefone, serviço de aconselhamento sobre psicologia escolar. A lista é comprida. E provavelmente vai ficar maior, pois como se sabe. as pessoas não ficam com mais saúde quanto mais médicos existem, também não espiritualmente, quanto mais psicólocas executam o seu serviço. E a psicologia há muito se transformou na matéria da moda em nossas universidades. Por causa de tanta psicologia no país, que aliás sai bem cara, também a igreja não pode fugir desta tendência. Já é fabuloso verificar quantos pastores, cooperadores sociais, dirigentes de grupos de jovens nadam junto na onda da psicologia, formando-se autodidaticamente e se apresentando como profissionais em seguida. Muitas vezes tem-se a impressão de que estes colaboradores crêem mais na psicologia do que no poder da fé. E o que fica de lado é o diálogo de assistência espiritual. perde-se a coragem 66 de chamar pecado de pecado, e desaparece o poder para prevenir distúrbios psíquicos pelo diálogo, pela co-responsabilidade e pela disposição de tempo. Muitos conflitos poderiam ser evitados pela melhor convivência compreensiva entre cõnjuges, pais e filhos, vizinhos e colegas de trabalho. E cada vez mais se enfraquece a força para conseguir resolver os próprios problemas. Assim como metade da nação toma comprimidos quando sente a menor dor, logo se chama psiquiatras e psicólogos no caso de conflitos. Além disso, somos cada vez maís incapazes de auxiliar pessoas que realmente estão psiquicamente doentes. Transferindo-os para clínicas, esperando ajuda somente dos psiquiatras, internando os velhos em asilos com conforto variado, contribuímos para transformar o doente psíquico num paciente esquecido. Nada contra uma considerável melhoria na assistência e no tratamento médico aos doentes. psíquicos ou físicos, mas tudo contra uma fé na psicologia. O que precisamos é maior ânimo para a assistência espiritual em nossas comunidades cristãs, mais conhecimento sobre a culpa e o pecado do homem, e mais confiança no fato de que somente Deus soluciona o nó górdíco do círculo vicioso de culpa e conflitos psíquicos. A pergunta, portanto, é se nós crístãos queremos perder o paciente esquecido comDietamente para a psicologia ou se vamos lembrar-nos novamente que a fé contém um poder redentor. Psiquiatras que realmente entendem algo do assunto, há muito sabem disto e dirigem perguntas insistentes à comunidade cristã. Até agora com sucesso reduzido. ("Chamada Thomas Maiar da Meia Noite" Nov. 1978) OS "OVNls" E O BOM-SENSO />, expressão "discos voadores" foi cunhado há 31 anos pela imprensa ao noticiar a visão de nove objetos em forma de disco voando sobre Mount Rainier, em Washington, ti da pelo piloto particular Kemmeth Arnold, no dia 24 de junho de 1947, Mais tarde criou-se uma expressão mais elástica Objetos Voadores Não Identificados ou OVNls. Desde então várias pessoas começaram a ver estes objetos, sempre de forma misteriosa, nunca em lugares abertos ao grande público. No momento, de todas as partes do mundo chegam 100 relatos por dia de existência de objetos voadores não identificados. Apesar de serem imprestáveis 90% destes relatos diários por fa 1ta de consistência, há três pontos que não se pode negar, de acordo com o mais famoso "expert" em ovnilogia (ou ufologia), J. Allen Hynek, professor de Astronemia da Northwestern University em Chicago, e conselheiro técnico do filme "Contatos Imediatos do Terceiro Grau": 1) os relatos acerca dos OVNls existem; 2) os relatos persistem; 3) em muitos casos os relatos procedem de pessoas responsáveis. Ao mesmo tempo é necessário considerar outros fatos de suma importância: 1) Os simples enganos. O relatório de 1969 (8.400 páginas) da Força Aérea dos EUA, que analisou 12.618 visões de OVNls, afirma que 95% devem-se a "simples enganos de identificação de uma variedade incrível de fenômenos". Os tais objetos voadores foram confundidos com meteoros, relâmpagos em forma de bola, reflexos de holofotes nas nuvens, balões metereológicos, foquetes e até com insetos que apresentam órgãos fosforescentes localizados na parte inferior dos segmentos abdominais (os pirilampos, também chamados vagalumes ou moscas-de-fogo) ... 2) Mistificações. Para ganhar dinheiro ou notoriedade, ou para distrair a atenção da massa, milhares de pessoas estão prontas a abusar da credulidade alheia, com exageros ou mentiras bem elaboradas. ,Dimão, o mágico de Samaria, não foi o primeiro a chamar a aten- ção do povo para cousas extraordinárias, que nada tinham de sobrenatural e que Eram apenas aparentes, realizadas na base de truques. Ele era tão inescrupuloso cue chegou a oferecer dinheiro aos apóstolos para receber e distribuir o poder do Espírito Santo (At 8.9-24). E o advogado de Brasília, que disse no programa Flávio Cavalcante ter coabitado duas vezes com uma mulher extraterrena, não foi o último. Religiosos, políticos, vendedores e até cientistas estão sempre prontos a explorar esta mina, que é a credulidade humana. 3) Alucinações. O indivíduo alucinado, isto é, privado temporariamente da razão, pode não estar mentindo quando afirma sem sombra de dúvida ter visto objetos voadores não identificados e seus tripulantes, mas isto não quer dizer obrigatoriamente que a visão seja real gegundo o psiquiatra Jean Rosembaum, este é o caso do lenhador Travis Walton, que em 1975 teria sido levado para o interior de um OVNI em Arizona e visto "seres semelhantes a fetos bem desenvolvidos,de 150 cm de altura mais ou menos, com cabeças carecas e ovais, e enormes olhos castanhos" (os mesmos que aparecem ao final do filme "Contatos Imediatos do Terceiro Grau"). Walton era fã de discos voadores e, pouco antes do incidente, dissera a mãe que, se algum dia fosse raptado por um aparelho destes, ela não se preocupasse, pois tudo terminaria bem, "Ele diz a verdade quando conta que o fato aconteceu', explica o psiquiatra, "mas tratase de uma verdade sua. Ao nível da realidade objetiva, tal coisa não se deu", A" alucinações podem ser provoca das por enfermidades mentais e por outros meios, inclusive a ingestão de drogas alucinógenas. 4. Projeções. O psicólogo suíço Karl Jung, falecido em 1961, acreditava que os OVNls eram produtos da inteligência e Imaginação do homem, "projeções do subconsciente coietivo trazidos à tona em tempos de stress ou causa parecida". Aquilo que sempre foi história de quadrinhos e ficção científica 67 tornou-se na mente do povo, estranha realidade. Ronald Schiller, autor do artigo "Três OVNls Difíceis de Negar" (fevereiro de 1978 em "Seleções do Reader's Digest"), disse que solicitou ao já citado J. Allen Hynek e a onze outros importantes especialistas casos convincentes de discos voadores para estudar e ficou sabendo que casos "perfeitos" não existem. "O único fato concreto que emerge de tudo isso, a despeito dos milhões de aterragens de discos voadores supostamente ocorridas, é que ninguém jamais conseguiu uma prova concludente, tangível (seja uma porca, um parafuso, um artefato, um instrumento, um fugitivo), nem mesmo uma fotografia convincente", desabaTa Schiller. No que diz respeito a fotografias de OVNls, o artigo de "Seleções" informa 68 que elas "têm sido identificadas como discos plásticos de brinquedo atirados ao ar, fotomontagens, objetos pendentes de fios, sujeira na lente da máquina e manchas de revelação". Ninguém ignora as possibilidades atuais da arte fotográfica. especialmente na fotomontagem. Basta ver o filme de Steven Spielberg ou qualquer outro filme de ficção científica para tomar conhecimento dos incriveis recursos de fotografia. Se as possibilidades de engano, mistificação. alucinação e projeção forem afastadas e se o objeto voador não identificado for absolutamente real, temos no mínimo três solenes perguntas para fazer a respeito dos OVNlss: 1) de onde eles vem: 2) o que querem aqui; 3} por que estão envoltos em tanto místério? ("Ultimato", novembro 78) A IGREJA NO MUNDO "EU TAMBÉM SOU CRISTÃO I" Foi por ocasião da invasão japonesa na China. Em certa região, dedicado pastor evangélico cumpria seu ministério. Nas circunstãncias, os inimigos do cristianismo apelavam para os mais indignos meios no propósito de abafar a propagação da fé e dos ensinamentos do Senhor Jesus. Visando à eliminação da profícua atividade do dedicado pastor, alguém, escondendo-se atrás do covarde anonimato, o acusou de manter contato com o inimigo e de manter discreto serviço de espionagem. Interpelado pelo oficial japonês que comandava a área, o pastor se defendeu, negando a acusação ~~ jamais espionara, jamais fizera qualquer contato com os inimigos: "De modo algum! nem sou espião, nem tenho mantido qualquer contato com o inimigo!" O oficial, com aspereza na voz e muita suspeita no coração, gritou: "Se você não é criminoso como ousaria alguém acusá-Ia? Por certo você fez algo e, por isso, deve morrer. Vou matá10." - "Não estou com medo de morrer, embora seja inocente", respondeu o pasto;, "mas, senhor oficial. conceda-me alguns momentos para orar e cantar os louvores do meu Deus." - "Certo, pode orar." O pastor ajoelhou-se e, levantando a cabeça, rosto voltado para o céu, começou a cantar seu hino favorito. Derramou sua alma na primeira e na segunda estrofes, crendo ser esta a última vez, na terra, em que teria oportunidade de cantar o louvor de Deus. O hino era longo, mas ele o cantou inteirinho, todas as estrofes até ao fim. Seu rosto irradiava o amor de Cristo que enchia seu coração. Quando acabou de cantar, curvou a cabeça em silenciosa submissão. Ouviu, então, a voz do oficial japonês que, profundamente emocionado, lhe falou; "Eu conheço este hino. Nós o cantávamos lá no Japão, também. Ninguém pode cantar esse hino do modo como você o cantou e ser meu inimigo. Eu, também, sou cristão." (Amantino Adorno Vassão em "U Itimato" nr. 114) 69 GUERRA CIVIL ATRASA, MAS NÃO IMPEDE O TRABALHO DAS SOCIEDADES BíBlICAS o escritório da Sociedade Bíblica na Angola foi totalmente destruído duranto a guerra civil a partir de 1975. Na destruição perdeu-se o manuscrito da tradução do Novo Testamento para a língua Kimbundu, falada por 1.500.000 bantus. O trabalho precisou ser refeito e a primeira Bíblia completa nesta língua já está circulando. Os cristãos de Angola pretendem reorganizar a Sociedade Bíblica e atender a grande demanda de Bíblias e porções bíblicas existentes no país. Quase a metade da população da RepLlblica Popular de Angola, de orien· taçãc marxista, é composta de católicos (J protestantes. Sobre a divulgação da Biblia no mundo lemos na mesma revista: No ano passado as diversas sociedades bíblicas colocaram em circulação mais de 9 milhões de Bíblias completas, 11 milhões de Novos Testamentos e 390 milhões de porções ou seleções bíblicas, formando um total de 410 mílhões - quase quatro vezes a população do Brasil. Pelo menos alguma parte da Biblia já está traduzida em 1.631 línguas e dialetos, falados por 98% da população do mundo. A Bíblia completa está em 266 línguas e o Novo Testamento em 420. É possível alcançar a marca do meio bilhão de exemplares a distribuição mundial das Escrituras Sagradas no ano em curso um aumento de 22% sobre o ano anterie:'. -. CiSÃO NA IGREJA PRESBITERIA!\IA DO BRASil o domínio do Instituto Mackenzie pela cúpula da Igreja Presbiteriana do Brasil - provocando "a cobiça e a luta política dentro da Igreja" - foi um dos motivos alegados por pastores de 50 igrejas do Rio, São Paulo, Minas, Espírito Santo, Bahia e Pernambuco que se desligaram da organização, na segunda cisão desde sua instalação no Brasil, em 1859. No terceiro Encontro de Presbiterianos, encerrado num domingo (10 de setembro de 1978) em !tabaia (São Paulo) os pastores instalaram a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas, divulgando ma70 nifeséo em que se declaram fiéis aos princípios doutrinários e teológicos da igreja, mas discordam da sua direção, observando que ela formou um "verdadeiro partido político", com normas de atuação próprias do meio secular a fim de perpetuar o domínio de um grupo apenas. Redigido pelo Pastor Samuel Martins Barbosa, da Igreja Presbiteriana do Jardim das Oliveiras, em São Paulo, o manifesto de Atíbaia denuncia a atuação dos dirigentes da IPB nos últimos 12 anos, quando a organização foi presidida pela Sr. Boanerges Ribeiro. O manifesto ,dirma que "a continuidade dos mesmos elementos, através de eleições sucessivas, denota o caráter de imoralidade", destacando que é evidente que aqueles que têm o domínio, têm poderosa máquina para manobrar com caráter de legalida, de, a fim de se perpetuarem no poder. E, corno conseqüência da corrupção do (,rupo dominante, a vida toda da igreja foi atingida". Depois de denunciar o processe do eleição dentro da igreja - "conciliábu!os, informações tendenciosas, tudo para garantir o número necessário de votos para a eleição da pessoa indicada" o manifesto adverte para a perseguição de pastores e para "o uso tendencioso da constituição da igreja, que serve de norma apenas quando favorece a cúpula. As mais absurdas medidas têm sido tomadas contra concílios, pastores e comunídades locais, com violação clamol"Osa das leis e praxes presbiterianas". No manifesto, os pastores denunciam, ainda, "o domínio do Instituto Mackenzie pela cúpula da igreja. Toda a cúpuia ajustou-se com grande 'desprendimento' aos polpudos empregos do Instituto Mackenzíe. Aqueles que sempre se opuseram à presente administração defenderam a desvinculação do Mackenzie da igreja. Na atual situação, o que vai acontecer, sempre, é a luta política pela posse da direção da igreja, porque quem tiver esta, terá também a posse do Mackenzie. E, assim, instala-se a cobiça e a luta política dentro da igreja. E é por isso que tem acontecido e contra isto que se levantam os signatários deste documento", Dizendo que "tivemos de séguir o exemplo de Paulo e Barnabé: a Séparação", os pastores se propõem a prosseguir o trabalho que já vinham fazendo "sem quebra de fidelidade a palavra de Deus, aos credos da é Igreja Reformada. Tudo isto é dolorido, mas não podemos deixar de prosseguir na obra que nos foi confiada por Deus, nem podemos ser infiéis à voz da nossa consciência iluminada pelo Espírito Santo". A cisão da Igreja Presbiteriana do Brasil, formalizada no último fim de semana, teve origem no primeiro Encontro de Presbiterianos, realizado em outubro do ano passado (1977), no Espírito Santo, quando vários pastores se manifestaram contra a administração da IPB. No segundo encontro, realizado durante a Semana Santa, em Belo Horizonte, 08 pastores resolveram aguardar a nova eleição para o Supremo Concilio órgão máximo da igreja no país que ocorreu em julho último. Como a cúpula da igreja se manteve praticamente a mesma o Sr. Boanerges Ribeiro, que era candidato (presidente) a vice os pastores marcaram o terceiro encontro para Atibaia, decidindo pelo desligamento. Os pastores dissidentes representam 50 das mil e 13 igrejas organizadas no país. Esta notícia publicada na primeira página de Jornal do Brasil, foi transcrita no boletim mensal da ASTE de setembro, 1978. Não somos aptos a julgar com qual das partes está a verdadeira tradição do presbiterianismo. No entanto fazem-nos pensar num lado o relativamente pequeno número dos dissidentes (50 entre mais de 1.000), e noutro lado o fato de que esses dissidentes querem permitir em seu meio a liberdade plena da exegese da Escritura, enquanto a outra parte fica com o princípio "fundamentalista" da absoluta inerrãncia das Escrituras Sagradas. A principal entre as razões desta lamentável císão nos parece ter sido não tanto uma questão doutrinária quanto questões de administração e de influências sobre bens terrenos. É necessário observar os desenvolvimentos futuros dentro da igreja presbiteriana no Brasil. H. R. DINHEIRO PARA TERRORISTAS Os jornais seculares noticiaram, em duas épocas diferentes, nestes últimos tempos, que o CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS, que tem sua sede na Suíça e que pretende representar as igrejas evangélicas, fez doações em dinheiro ---- vultosas somas a vários "movi- mentos de libertação nacional", especialmente da África. Ninguém se dispôs a negar tais doações, de modo que é de se admitir que sejam elas verdadeiras. Numa dessas notícias se dizia que as doações tinham como objetivo projetos educacionais e de saúde daqueles movimentos. Ora, é sabido que os movimentos que se dizem de libertação nacional são compostos de terroristas que se servem da violência para impor os seus planos de tomada de poder. É curioso que um dos tais movimentos relacionados no noticiário da imprensa como beneficiários da liberaiidade do órgão, que diz representar as igrejas evangélicas. é o que pretende tomar o poder na Rodésia. E também os jornais noticiaram o massacre de missionários protestantes e católicos, praticado na fronteira da Rodésia, por esse mesmo grupo de terroristas. Assim o dinheiro das igrejas evangélicas, por vias transversas, vai financiar o massacre, a morte violenta e estúpida de missionários idealistas e inocentes quanto aos problemas enfrentados por aquela sofrida região africana. De nada adianta o argumento de que o dinheiro é para atender a projetos educacionais e de saúde. Os terroristas não têm base física (Território) em que possam instalar hospitais e escolas, e desprezam os conceitos da chamada 'moral ocidental', de modo que não têm nenhum escrúpulo em usar o dinheiro que recebem conforme os seus interesses, sem atentar para as intenções dos doadores. O CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS não é composto de pessoas ingênuas, que creiam na honestidade de propósitos dos terroristas. Do que se conclui que as doações são feitas exatamente para fornecer recursos que possam financiar a guerrilha. É o dinheiro de cristãos possibilitando a escalada da violência, a morte de vítimas inocentes, crianças e velhos, missionários e outros idealistas. A Igreja Presbiteriana Independente, há tempos, decidiu não se filiar a esse "conselho" e por isto deve estar tranqüila por não participar dessa atividade financiadora do terror. Entretanto, parece que a nossa igreja está ligada a alguns órgãos que se filiam ao CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS. Se é assim, a Igreja Independente deve, com firmeza e urgência desvincular-se desses órgãos, para não ter, nem indiretamente, qualquer laço de 71 união nem de mera simpatia com quem tão mal representa as igrejas evangélicas." (Transcrito de "O Estandarte" 15 e 31 de outubro de 1978). Resta-nos a assegurar aos nossos leitores que também a IELB não tem nenhum laço que os une àquela agência de Genebra que de uma maneira tal tornou-se um órgão sócio-político que até várias igrejas tradicionalmente "ecumênicas" pouco a pouco estão se desligando dele. Por isso só podemos concordar com o Rev, Laudelino de Abreu Alvareno, que escreveu o artigo acima transcrito. H. R. A IGREJA ELETRÔNICA E SEUS CAMELÔS Sob esse título escreve o conhecido pastor presbiteriano e jornalista Roberto Themudo Lessa o seguinte com que podemos concordar: "A primeira vez que o Brasil assistiu a Rex Humbard foi no Natal de 1976, em cadeia internacional de televisão, A partir de janeiro de 1977. seu programa passou a ser transmitido semanalmente pela TV Tupi. Em junho. finalmente, o 'pastor internacionalmente conhecido' veio ao Brasil: colocou 170 mil pessoas no Maracanã, outro tanto no Pacaembu. O 'Fantástico' dedicou boa parte da noite de domingo retransmitindo as palavras de Humbard e as canções entoadas por sua mulher, quatro filhos, duas noras e seis netos, todos proclamando 'a mensagem positiva do amor e do perdão de Deus'. Rex Humbard é o mais famoso representante da 'Igreja Eletrõnica' como são conhecidos os programas de rádio e televisão que vendem Jesus - uma indústria em expansão nos Estados Unidos, estimando-se que há 1.200 estações de rádio e TVs religiosas no país. Há até mesmo uma 'National Religious Broadcasting' organização que representa algumas dessas emissoras. O Evangelho, hoje em dia, é um negócio como ter uma cadeia de hamburgueres, uma frota de táxis ou ser dono de cursinho pré-vestibular. Dá uma nota certa. Segundo 'The Wall Street Journal', oito pastores, famosos como Rex, nos Estados Unidos, arrecadam mais de 250 milhões de dólares por ano, em donativos. A 'Catedral do Amanhã', em Akron, Ohio onde se produz o programa de Rex Humbard emprega 72 300 pessoas e tem para 79 um orçamento de 18 milhões de dólares, Nenhum dos programas apresentados em 237 estações de TV norte-americanas (no mundo todo são 570 programas, atingindo 100 milhões de telespectadores) deixa de pedir sua contribuição, Um negócio da China. Muitas das estações religiosas norte-americanas têm audiência superior a dois milhões de pessoas, o que realmente é impressionante considerandose que os programas comerciais mais popularer. atingem em média um público de 2 milhões e 800 mil pessoas, Todos esses programas pedem respostas telefônicas ou por carta, acompanhadas de doações. Rex Humbard é a maior estrela desse show. Desvinculado de organizações eclesiásticas, concílios, sínodos, etc., o empresásio Humbard não tem de prestar contas a comunidade alguma do que recebe, Como é que o Imposto de Renda vai saber quanto ele ganha se vem tudo num envelope fechado e ihviolável? Ou será que as doações já são dedutiveis? Por tudo isto, lamento não poder concordar com a forma do ministério escolhido por Rex. Humbard. Ela é colonialista, direitista, eletrônica, anticomunitária, divisionista, massificante, dominadora, lucrativa e com culto à personalidade. Com toda essa carga negativa, a grande virtude, que é a de falar da Bíbiia e anunciar por ela a salvação em Cristo, fica muito prejudicada." (Transcrito de CooJornal, Porto Alegre, Nr. 31). Nosso Senhor Jesus Cristo, que mandou a seus seguidores proclamar a Boa Nova "dos eirados" (Mt 10.27), certamente não queria que disso fosse feito um negócio de milhões. A "Hora Luterana", que é a "Voz da Cruz" da nossa igreja, não visa fins lucrativos em bens terrenos; ela só quer trazer Cristo às nações numa mensagem clara e evangélica e bíblica. Tomemos cuidado com tantôs irradiações que usam o nome do nosso Senhor somente com fins egoístas, ou que misturam doutrinas bíblicas com idéias e doutrinas erradas. Rex Humbard foi um espetáculo -. e nada mais. Deus livre o nosso povo de tais "negociantes" do evangelho de Cristo. Certamente vale para tais programas religiosos a advertência do apóstolo João: "Provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora", 1 Jo 4, 1. "~.' H. R. EM MOÇAMBIQUE A MAIOR POPULAÇÃO NÃO EVANGELlZADA HEMISFÉRIO SUL DO Lemos no "Semeador Baptista", o órgão ofical da Convenção Batista Portuguesa, a declaração de um missionário daquele país africano. Segundo essa declaração encontra-se a maior população ainda não evangelizada do hemisfério sul ao norte de Moçambique. Essa antiga colônia portuguesa, independente desde 1975, tinha, há dois anos, 660.000 católicos e 350.000 protestantes. A grande maioria dos moçambicanos conserva suas crenças animistas, apesar dos esforços dos missionários portugueses. Há quase um milhão de muçulmanos no pais. O "Semeador Baptista" diz que a Igreja do Nazareno, em Mamputo, ex-Lourenço Marques, capital da República Popular de Moçambique (de tendência marxista), de 1.200 membros passou para 50. É proibido batizar qualquer pessoa de idade inferior a 21 anos. O último missionário protestante foi expulso em 1976. A revista "Ultimato", que menciona essa noticia, tem, todavia a seguinte ressalva: "Talvez haja algum exagero pelo menos nesta última informação. pais o próprio "Ultimato" tem um assinante em Mamputo que é missionário evangélico". Seja como for: a multidão do povo nãoevangelizado de Moçambique é um desafio para todos os cristãos de fala portuguesa. H. R. EVANGElIZAÇÃO DOS CHINESES Embora não se possa atingir os chineses em seu próprio país, a não ser através de programas de rádio, os 38 milhões de chineses espalhados pelo mundo estão sendo alcançados pelo evangelho por meio de 4.000 igrejas chinesas e 400 missionários. Os cristãos têm sido hostilizados na China desde 1926, Há 50 anos havia 8.518 missionários protestantes no país e três milhões de cristãos batizados, dos quais 600.000 eram evangélicos. Notícias recentes dão conta de que algumas igrejas cristãs estão sendo reabertas no país mais populoso do mundo (mais de 800 milhões): a Igreja Anglicana de Shangai, uma igreja metodista em Pequim e três igrejas católicas em Shangai, Pequim e Canton. ("Ultimato", novo 78) A RESPOSTA VERDADEIRA Um testemunho firme da parte de um renomado cientista com respeito à Bíblia nos é transmitido na revista "Ultimato" de novo 78, onde lemos na seção "Personalia" o seguinte: "Willem J. Ouweneel, de 34 anos, membro da Igreja Reformada Holandesa, diretor-redator da é Ciência", especialista revista "Bíblia em genética e embriologia, é o diretor da I ecém-formada Faculdade Evangélica, de Ede, na Holanda. Ele tem se preocupado tremendamente com a juventude atual, deixada sem respostas lógicas e racionais para as grandes perguntas da vida. Para Ouweneel estas respostas existem e estão na Bíblia e no Deus da Bíblia, O jovem cientista, que tem feito conferências sobre criacionismo e evolução na Holanda e em outros países, é também autor do livro "A Juventude no Final deste Século", publicado em 1977. Ouweneel afirma que os problemas dos jovens de hoje são os mesmos dos jovens de ontem. A diferença é que no passado oferecia-se a resposta, a resposta de Deus, e hoje não se oferece resposta alguma e, sim, hipóteses ou especulações: uma concepção irracional, caótica, absurda e sem sentido a respeito da origem e do propósito do universo e da vida, em conseqüência da teoria da evolução. E isto está levando o nosso século ao nihilismo e anarquia." Achamos, também, que uma das causas das frustrações, das inquietações, das perguntas sem fim que se notam entre os jovens do nosso tempo, é, sem dúvida, a incerteza transmitida a eles pela instrução recebida nos colégios e faculdades por professores aos quais falta justamente o lastro da fé no Criador. H. Fi. --~---~------------73 VOCÊ JÁ LEU? A VIDA PODE SER SEXUAL (Ufe Can Se Sexual) de Elmer N. Witt com tradução de Roberto Seide, Concórdia S. A. - Artes Gráficas e Embalagens. 100 páginas. Afirma o autor, na introdução, que o assunto da sexualidade é explosivo e que, seguir uma certa linha, é provocar problemas. Mesmo assim escreveu este iivro com uma visão cristã do problema. Destina-se, especialmente, a adolescentes e àqueles que devem orientá-Ias e aconselhá-Ias neste assunto. Procura o autor traçar uma diferenciação entre sexo e sexualidade. A forma pela qual o sexo invade e influencia toda a vida, é uma realidade da natureza e em si mesmo algo bom, uma dádiva. O conhecimento sexual é de natureza diferente do conhecimento a respeito do sexo. As pessoas, na sua maioria, sabem menos do processo humano de reprodução do que supomos. Conhecemos o impacto da revolução sexual na qual vivemos? "O sexo é banalizado ao ser reduzido a simples diversão", sem qualquer comprometimento. Temos de combater a imagem do sexo formada pela massa, para que não condicione nossa compreensão da sexualidade. Sexualidade se expressa por relacionamento. É parte do poder, conferido por Deus, de criar reiacionamento. "Casat.•• ento é o acordo de viver Juntos em amor e significa maturidade, que sabe combinar satisfação com frustrações." O autor ainda discute problemas como: n'8sturbação, homosexualismo e experiênC'3ê. pré-nupciais. Embora bastante conciso, merece este livro uma distribuição entre nossa juventude, por causa de sua visão cristã do o8xo. Usa o autor uma linguagem acessível aos jovens, fugindo de toda a tentativa de moralizar o assunto. Transparece o amor do educador e pai. A. J. Schmidt FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Otto A. Goerl, Departamento de Comunicação, Concórdia S. A., Porto Alegre, 1977, 120 pp. Trata-se de um estudo do Epítome (resumo) da Fórmula de Concórdia, o último dos textos confessionais luteranos compreendidos no Livro de Concóidla. O autor dividiu o estudo em quatro capítulos: I. Que significam Símbolos e 11. Precisamos de Livros Simbólicos? Confissões. 111. Como nasceu a Fórmula de Concórdia? (a situação da época, o histórico das controvérsias doutrinárias e os autores da Fórmula de Concórdia). IV. Os doze artigos do Epítome, sua explanação e aplicação. O autor do livro, além de velho estudioso e professor da matéria, possui o dom da apresentar a Fórmula de Concórdia de maneira que torna possivel alcançar o fim indicado: ser estudada nas congregações. O livro, efetivamente, é um tesouro de informações, explanações e aplicações que evidencia o fato de que na Fórmu!a de Concórdia há rico alimento espiritual para todos os cristãos, não apenas substância pesada para o deleite de eruditos e sutis dissecadorss de controvérsias teológicas. Arnaldo Schü!er -:0:ASSiM COMO EU VOS AMEI: Manual de eV6ngel!zação, Paulo Flor. Porto Alewe, Departamento de Comunicação, Concórdia S. A., 1978. 189 páginas. Está aí um novo manual de evangeIização, editado pelo Departamento de Comunicação da Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Seu autor é o Rev. Paulo Flor, professor no Instituto Concórdia de São Leopoldo, RS, pré-Seminário da IELB. De há muito o prof. Paulo é um apaixonado pelo evangelismo. Em anos passados integrou uma equipe que ministrou diversos cursos para evangelistas no ãmbito da IELB, Além disso é homem envolvido na atividade evangelís~ tica que se reaIiza nos arredores dos educandários onde trabalhou e trabalha (outrora em São Paulo e atualmente em São Leopoldo). É portanto um livro que brota de pesquisa, experiência pessoal e, seguramentE), destes contatos com evangeiistas leigos nos antigos cursos para evangelistas. O manual destina-se a pastores e leigos indistintamente. Quem deve evangelizar? pergunta o autor no capítulo quarto. A resposta é; Todos os cristãos, sem exceção. O autor lembra o sacerdócio fêa! de todos os crentes (1 Pe 2.9) extensivo à tarefa evangelística e faz referência a uma afirmação de George Sweazy (Effective Evangelism); os efeitos da Reforma não eram destruir o sacerdócio e deixar uma igreja de leigos, mas de destruir o iaicismo e deixar uma igreja de sacerdotes. Os muros dos conventos e mosteiros foram arrasados não para deixar sair aqueles que estiveram sob suas ordens sagradas, mas de deixar entrar todos os crentes (p. 37). O texto é extremamente acessível. Há fartura de ilustrações. Trata-se, em certo sentido, de uma coletânea de histórias missionárias agrupadas sob diversos temas, o que torna a leitura entusiasrnant2. Eis um apanhado geral: Capítulo I: Conceito ciEo evangelização. Capítulo 11: c/otivoc par·3 evangelizar (num total de ,-,-7;';), Capitulo 111: Obstáculos da evan" '-:,€,;f"c~o, (O autor divide-os em exterrCl~ e 1nternos, Entre estes estão o mun- -'0",-.",0, os rreconceitos, etc. Como c:ytáculos externos aparecem, entre outco~. o ;nateriallsmo, o agnosticísmo e o cc,,",;,,;srnê, A propósito deste último, é citedo o depo:mento de uma coreana, Ora. He'sn I<:m, dizendo que nos anos de 1959 s 1960 o partido comunista da Coréia do Norte liquidou aproximadamente 3 milhões de pessoas, incluindo nesse número todos os cristãos do país. Segundo outro depoimento, na China o nÚmero atingiu 5 milhões (p. 24). Lembramos isso a propósito do sempre mencionado massacre de seis milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial. A pergunta é: quem lembra desses massacrados ai? Por outro lado, fica evidenciado um fato; os mártires não pertencem ao passado. Às vezes evocamos as distar.tes arenas romanas e seus mártires pensando que ali se atingiu o grau máximo e o princípio do fim da perseguição. Isso não é verdade. Há mártirC2 entre nós, no século XX, muito mais certamente que naqueles tempos iniciaiS). Capítulo IV: Quem deve evangelizar? 75 Capítulo V: Qualidades fundamentais de um evangelista. Capítulo VI: Qualidades complementares de um evangelista. (Ressaita-se o espírito de oração e o conhecimento prático da Bíblia. Há indicações quanto à prática da oração e do estudo bíblico. É o capítulo mais desenvolvido: acima de 40 páginas). Capítulo VII: A evangelização pessoal o mais antigo e o mais eficiente método evangelístico. Capítulo VIII: Algumas regras básicas para a visitação evangelística. Capítulo IX: Como fazer uma visita evangelística (Descrição elaborada, desde o preparo até a despedida). Capítulo X: Algumas escusas e como respondê-Ias. (Destacamos uma delas apresentando um trecho da resposta: Na igreja há muitos hipócritas. Resposta: É melhor estar na igreja com hipócritas por algum tempo do que no inferno para sempre com eles p. 130). Capítulo XI: Como reaver os inativos. Capítulo XII: Conservação dos novos convertidos. (Um capítulo muito relevante). A muitas congregações falta uma total infra-estrutura para a absorção dos neófitos. Subitamente aparecem diante dos olhos da congregação no dia da profissão de fé e da mesma forma desaparecem. Não há integração). Há ainda um apêndice que inclui proposta para uma comissão evangelística e modelo de cartão para prospectos. A nosso ver é um manual completo. O autor introduz o tema, analisa os obstáculos, apresenta o evangelista e suas qualidades e passa à evangelização pessoal. Coloca-nos então diante da visita concreta e encerra com o tão pertinente aspecto da integração do novo convertido. Vilson Scholz ---_.-~---_.. í N D I C E APRESENTANDO, EDITORIAL: Cristo Partido, 1 ESTUDOS: Batismo de Crianças, 4 A Liturgia: Conteúdo e Forma, 30 O Plano Divino da Salvação, 44 Os Novos Vendedores de Indulgências, 48 A Arqueologia e a Bíblia, 54 MEDITAÇÃO: Tem Cuidado de Ti Mesmo e da Doutrina, 59 NOTíCIAS E COMENTÁRIOS: O Amor no Celibato, 62 O Senhorio de Cristo Hoje, 64 O Paciente Esquecido Os "OVNls" Mais Ãnimo Para a Assistência e o Bom-Senso, 67 A IGREJA NO MUNDO, 69 VOCÊ JÁ lEU?, 74 76 Espiritual, 66