Fisioterapia_2004 - Faculdade Montenegro

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Fisioterapia
Brasil
o
ano 5 - n 1
a
tlântica
e d i t o r a
Janeiro / Fevereiro de 2004
ISSN 1518-9740
Neurologia
• Estresse e equilíbrio postural
• Fisioterapia na doença de Parkinson
• Transtorno de déficit de atenção
Traumato
• Efeitos dos saltos altos sobre articulações e coluna lumbar
• Prevalência de lombalgia em praticantes de exercício
Respiratório
• Aparelho respiratório e envelhecimento
• Facilitação do diafragma pelo método Kabat
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Fisioterapia
Brasil
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ano 5 - n 2
a
tlântica
e d i t o r a
Março / Abril de 2004
Postura
ISSN 1518-9740
• Análise da marcha em gestantes
• Personalidade e postura
• Equilíbrio estático de idosos e quedas
Desporto
• Acupuntura cinética e lesões desportivas
• Ondas curtas e alongamento estático
Veterinário
Tratamento de um cão portador de displasia coxo-femoral
Respiratório
Isostretching e respiração
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Fisioterapia
Brasil
o
ano 5 - n 3
a
tlântica
e d i t o r a
Maio / Junho de 2004
Biomecânica
ISSN 1518-9740
Marcha e postura com calçado de salto alto
Desporto
· Avaliação postural da seleção brasileira masculina de basquete
· Ruptura por trauma do músculo deltóide
Respiratório
· Influência do decúbito ventral em pacientes com hipoxemia
· Complicação na respiração com pressão positiva intermitente
Sexologia
Fisioterapia e aprimoramento da vida sexual feminina
Estimulação elétrica
Limites da estimulação elétrica neuromuscular no fortalecimento
dos músculos
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Fisioterapia
Brasil
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ano 5 - n 4
a
tlântica
e d i t o r a
Julho / Agosto de 2004
ISSN 1518-9740
Obstétrica
· Dor sacroilíaca e lombar durante a gestação
· Estimulação transcutânea na dor do trabalho de parto
Traumato
· Artroplastia total do joelho
· Ultra-som no tendão calcâneo
ATM
TENS no controle da dor miofascial
Fisiologia
Bases estruturais e moleculares da contração muscular
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Fisioterapia
Brasil
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ano 5 - n 5
a
tlântica
e d i t o r a
Setembro / Outubro de 2004
ISSN 1518-9740
Músculo-esquelético
· Eletromiografia com cicloergômetro padrão e aquático
· TENS em hérnia discal lombar
· Estereofotografia de moiré e detecção de escoliose
Joelho
· Correção das alterações posturais na luxação recidivante
·
de patela
Avaliação proprioceptiva no pós-operatório de ligamento
cruzado anterior
Paralisia espástica
· Toxina botulínica tipo A e paralisia espástica
· Biofeedback-EMG na reabilitação da postura e do padrão
de marcha em paralisia cerebral
Comportamento
Stress e disfunções da ATM
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Fisioterapia
Brasil
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ano 5 - n 6
a
tlântica
e d i t o r a
Novembro / Dezembro de 2004
ISSN 1518-9740
Neuro funcional
• Hemiplegia e toxina botulínica tipo A
• Desenvolvimento motor em criança institucionalizada
• Hemisfericidade e prática mental
Esporte
• Handebol e instabilidade da articulação glenoumeral
• Avaliação cardiológica do atleta
• Síndrome da dor femoropatelar
Anatomia
Suprimento sanguíneo do osso escafóide
Respiratório
Uso do ventilador mecânico como recurso fisioterapêutico na UTI
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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Fisioterapia Brasil
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Índice
(vol.5, nº1 janeiro/fevereiro 2004 - 01~88)
EDITORIAL
Reflexões sobre a pós-graduação acadêmica lato sensu, a pós-graduação profissional
e a produção cientifica, Marco Antonio Guimarães da Silva ................................................................................................................04
ARTIGOS ORIGINAIS
Alterações hemodinâmicas frente aos exercícios de membros superiores com Thera-band em pacientes
hipertensos controlados, Rodolfo Borges Parreira, Juliana Albano Spiller, Shirley Aparecida Fabris de Souza .................................. 07
Correlação entre hemisfericidade e o aprendizado psicomotor em tarefas de comunicação gestuais,
Yara Sonia Vallado, Geane P.O. Delgado, Denise Oliveira Rezende, Vernon Furtado da Silva, Wesley de P. Melo ....................................12
Saltos altos e artralgias nos membros inferiores e coluna lombar, Flávia Maria Oliveira de Albuquerque,
Elirez
Bezerra da Silva
.....................................................................................................................................................................................16
Fisioterapia
prática
A interferência da mobilização intra-articular na amplitude de coxofemoral em idosos, Gláucia Ramos Pereira
Henriques, João Santos Pereira, Marco Antônio Guimarães da Silva .............................................................................................................22
Facilitação do diafragma pelo método Kabat como reexpansão pulmonar em pacientes com traumatismo
cranioencefálico e ventilação com suporte pressórico, Sérgio Nogueira Nemer, Jefferson B. Caldeira, Paulo R. S. Filho,
Leandro M. Azeredo, Cláudia S. Geraldo, Ricardo Gago, Monclar R. Polycarpo, Léa K. Ferreira, Cátia M. Coimbra,
Rodrigo A. Ramos, Paulo Cesar P. de Souza ...................................................................................................................................................29
Prevalência de lombalgia em praticantes de exercício contra-resistência, Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos,
Marco Antônio Guimarães da Silva, João Santos Pereira, Luiz Alberto Batista ...........................................................................................37
REVISÕES
Alterações no consumo de oxigênio, na difusão da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo
esqueléticas observadas após transplante cardíaco, Luciana Leitão Santos, Gisele Alves Guimarães ....................................45
Análise da influência do estresse no equilíbrio postural, Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Wilma Costa Souza,
Leonardo
Davi Laborativa
Pistarino Pinto, Glauco Alexandre Gaban, Alexsandra Dias Serafim, Enio Thalles Batista de Faria ...............................50
Ginástica
Adaptação funcional do aparelho respiratório aos efeitos do envelhecimento: aplicabilidade dos exercícios
globais de força e resistência, Alexandre de Mayor, Renata Ungier de Mayor .................................................................................56
A intervenção fisioterapêutica na doença de Parkinson, Soraya Carvalho da Costa Monte, João Santos Pereira,
Marco Antônio Guimarães Silva ......................................................................................................................................................................61
ESTUDO DE CASO
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: tratamento fisioterapêutico com abordagem
ludoterapêutica, Alcioney Valeski, Bárbara Lucia Pinto Coelho, Michelle Corrêa Rodrigues .................................................................66
ATUALIZAÇÃO
Graduação da resistência ao movimento durante a imersão na água, Juliana Monteiro Candeloro,
Fátima Aparecida Caromano ...........................................................................................................................................................................73
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS . ......................................................................................................................77
NORMAS DE PUBLICAÇÃO . .............................................................................................................................................................86
EVENTOS . ..................................................................................................................................................................................................88
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Novaes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
a
a
Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Prof . Dr . Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde
Editoração e arte
Andréa Vichi
[email protected]
Rio de Janeiro
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20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
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6 números ao ano + 1 CD-ROM
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enviado para o seguinte endereço
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Ilustração da capa: Ex-votos na gruta do Santuário de Bom Jesus da Lapa, Bahia – Foto: Sarah Milgram, 2003
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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Editorial
Reflexões sobre a pós-graduação
acadêmica lato sensu, a pós-graduação
profissional e a produção cientifica
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
Ainda pensando em um tema para o editorial e, já temendo cobranças
do nosso editor executivo, um francês que trabalha com a precisão e
pontualidade de um relógio suíço, resolvo, fazendo uma digressão no pensar
e, sabe Deus por que, checar o correio eletrônico. Feliz idéia, porque uma
das mensagens anunciava a aprovação, em primeiro lugar em um concurso
público, de uma ex-aluna de um dos cursos de pós-graduação realizados
pela parceria Universidade Castelo Branco e Atlântica Educacional em Brasília.
Desconheço o número de candidatos que concorreram com a nossa exaluna, mas, a julgar pelo desemprego no país e pela quantidade absurda de
inscritos em outros concursos públicos, imagino que a candidata em questão
teve que vencer uma concorrência numérica expressiva, provavelmente de
centenas ou até mesmo de milhares de candidatos. A lista de mensagens
incluía, também, convite para participar de banca examinadora de defesa de
dissertação de mestrado de um outro ex-aluno. Os dois fatos em si e mais as
publicações que alguns dos nossos ex-alunos vem fazendo em periódicos
indexados são, em parte, frutos da política educacional inovadora implantada,
há alguns anos, por nós e renovada a quase todo momento. Não representam,
por isso, surpresas. A surpresa chegaria, mais tarde, na informação de que
um Conselho Regional de uma profissão da área de saúde, que não a nossa,
estava passando a informação de que os cursos de pós-graduação organizados
pela citada parceria, na área daquele Conselho, não tinham validade porque
não eram reconhecidos ou recomendados pelo Conselho Federal daquela
profissão. Os senhores ou senhoras que transmitiram as informações
desconheciam o parecer CES 908/98 do Conselho Nacional de Educação CNE/CES- que lá pelas tantas diz o seguinte:
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor de mestrado recomendado
pela CAPES
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“Assim sendo, a formação pós-graduada de caráter profissional, que pressupõe
necessariamente o exercício, sob supervisão, da prática profissional, poderá ser oferecida
tanto por instituição de ensino superior com atuação tradicional em uma área
específica como em ambientes de trabalho dotados de corpo técnico-profissional
possuidor de titulação profissional ou acadêmica reconhecida e de instalações
apropriadas ou por Sociedade Nacional Especializada ou, ainda, mediante a
celebração de convênios ou acordos entre instituições de ensino superior e estas sociedades.
O valor do título obtido, entretanto, variará segundo as situações a seguir
descritas:
1) Curso de especialização oferecido por instituição de ensino superior: o título
tem reconhecimento acadêmico, e para o exercício do magistério superior, mas não
tem necessariamente valor para o exercício profissional sem posterior manifestação
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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dos conselhos, ordens ou sociedades nacionais profissionais respectivos, nas áreas da
saúde e jurídica;
2) Curso de especialização realizado em ambientes de trabalho qualificados,
credenciados por IES que possuam pós-graduação stricto sensu na área ou em área
correlata ou autorizado pelo CNE ou, por sua delegação, pelos CEE: os títulos
terão reconhecimento profissional e acadêmico;
3) Curso oferecido mediante celebração de convênios ou acordos entre instituições
de ensino, ordens ou sociedades, conselhos nacionais ou regionais com chancela nacional
profissional: os títulos, neste caso, terão tanto reconhecimento acadêmico como
profissional;
4) Cursos oferecidos por instituições profissionais mediante convênio com ordens,
sociedades nacionais, ou conselho: o título tem reconhecimento profissional, mas não
será reconhecido para fins acadêmicos sem a expressa manifestação de uma instituição
de ensino superior.
Em qualquer um dos casos mencionados, os títulos profissional ou acadêmico
reconhecidos terão validade nacional.”
A resolução CNE/CES no 01 de 03/04/01 oferece uma nova leitura para
a pós-graduação acadêmica, sem revogar ou alterar, contudo, o parecer 908/
98, descrito parcialmente acima.
Do exposto podemos concluir que somente a Universidade poderá expedir
o titulo de pós-graduação acadêmica. Os diferentes Conselhos Federais para
fazê-lo terão que estar amparados por convênio que envolva uma Instituição
de Ensino. Os títulos de reconhecimento profissional serão emitidos pelos
Conselhos Profissionais ou por Universidades que possuam curso de Mestrado
ou Doutorado na área ou em área correlata. No caso especifico da parceria
Atlântica/UCB, a titulação oferecida poderá, a critério da Universidade, ser o
de reconhecimento profissional e acadêmico, já que a Universidade em questão
possui curso stricto sensu em área correlata e se prepara para lançar curso na
área de fisioterapia.
Mas o que justifica a inserção de um tema como este, corpo estranho, à
primeira vista, em um editorial?
Sabemos que a Universidade é a grande indutora de proliferação de
trabalhos científicos e que dela saem, direta ou indiretamente, quase que a
totalidade dos artigos enviados às revistas de divulgação cientifica. Portanto,
cursos organizados no âmbito universitário tendem a gerar produção cientifica.
E quanto aos cursos organizados na esfera profissional, sem o entorno
universitário? Seriam também fomentadores de alguma produção cientifica?
Não poderia fazer pré-julgamentos sobre a indução à produção de artigos em
um curso de pós-graduação realizado fora do âmbito de uma universidade ou
sem a influência da mesma, porque o reconhecimento destes cursos por parte
do nosso Conselho na nossa área ainda é recente. Mas a julgar pelo pragmatismo
que envolve os profissionais que se voltam somente à área profissional, sem
vínculos acadêmicos, potenciais clientes dos cursos pós-graduação profissional,
poder-se-ia deduzir que haverá dificuldades em obter desta massa crítica
produção cientifica. Poderá haver uma ruptura no elo da transmissão de
conhecimentos baseados em evidências, caso a minha opinião seja plausível.
O termo “baseados em evidência” é aqui utilizado para classificar trabalhos
que se caracterizam por delineamentos adequados e pela neutralização dos
erros sistemáticos; trabalhos em cujos resultados podemos confiar e que
freqüentemente usam as revistas cientificas como veículo, utilizando-se,
excepcionalmente, dos livros, para o mesmo fim. Isto nos remete a um outro
problema que a universidade tem tentado controlar: a utilização exacerbada
de livros como fonte de consulta.
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Ainda somos fortemente influenciados por uma produção baseada em
livros e só agora, ainda muito aquém do desejado, a cultura pela busca de
informações cientificas, em periódicos, torna-se uma realidade. A prova disto
é que a Revista Fisioterapia Brasil em seus quatro anos de criação já alcançou a
marca de 12000 assinantes e esta em franca expansão, sobretudo após a sua
indexação pelo Lilacs/Bireme.
Sabemos que a realidade da pesquisa na área sócio-histórica é diferente, e
que, neste universo, os livros desempenham papel fundamental, mas cabe
repetir, mais uma vez: na área da pesquisa experimental ou quantitativa,
denominada área biológica ou dos fatores biofísicos, não cabe, excetuando
uma ou outra busca, espaço para consultas a livros.
Se resgatarmos o que disse Descartes sobre a responsabilidade dos que
trabalham com o método cientifico, poderemos observar a importância que
um periódico cientifico representa na vida dos que fazem ciência. O filosofo,
pai do cartesianismo, nos diz que o principio básico do método na investigação
cientifica é o de se organizar uma serie de diversos pensamentos, seja para
descobrir algo que se ignora, seja para levar para outros alguma coisa que se
descobriu. A revista cientifica acaba atuando nas duas pontas da afirmação
descartiana, porque permite ao pesquisador buscar, através do que está
publicado, as informações de que necessita para equacionar o problema
levantado, bem como lhe serve de veiculo para levar à comunidade cientifica
os resultados que encontrou.
Dessa forma, a ciência segue o seu rumo, alimentada pela entrada e saída
das informações fornecidas pelos investigadores que o mercado editorial
cientifico, através de seus periódicos, se encarrega de nos trazer.
Comunicado aos assinantes
Temos procurado neste cinco anos sempre aprimorar o sistema de distribuição do periódico para os nossos assinantes.
Na distribuição da última edição de novembro/dezembro, experimentamos uma nova sistemática de envio que, infelizmente,
não correspondeu às nossas expectativas e, com isto, alguns assinantes acabaram não recebendo seu exemplar. Para
muitos, reenviamos a revista pelo correio normal, porém, alguns assinantes ficaram sem seu exemplar, devido à edição
ter se esgotado. Para estes, nós estaremos acrescentando um número no final de sua subscrição. Para tanto, pedimos que
entrem em contato conosco. Aproveitamos para lembrar que na próxima edição, de março/abril, estará encartado o CDROM das edições anteriores para todos os assinantes. Quem não recebeu a revista de novembro/dezembro no formato
papel poderá consultar a mesma no CD-ROM.
A partir desta edição, a revista será distribuída somente pelos Correios, com prazo de distribuição de 10 a 20 dias em
média. A devolução dos exemplares não entregues é garantida, mas, em caso de atraso de mais de 15 dias, por favor entre
em contato com a Editora, pelo telefone ou pelo e-mail: [email protected].
As datas de chegada das edições no seu endereço são aproximadamente as seguintes: 1 de março, 1 de maio, 1 de
julho, 1 de setembro, 1 de novembro, 1 de janeiro.
Os editores
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Artigo original
Alterações hemodinâmicas frente aos exercícios
de membros superiores com Thera-band em
pacientes hipertensos controlados
Hemodynamic alterations after exercises of upper limbs with
Thera-band in patients with controlled arterial hypertension
Rodolfo Borges Parreira*, Juliana Albano Spiller*, Shirley Aparecida Fabris de Souza**
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*Acadêmicos de Fisioterapia da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, Londrina-PR, **Supervisora de estágio no Ambulatório de
Fisioterapia aplicada a Cardio-vascular, Universidade Norte do Paraná – UNOPAR
Palavras-chave:
alterações hemodinâmicas,
exercícios de membros
superiores, Thera-band.
Resumo
O objetivo desta pesquisa foi verificar as alterações hemodinâmicas em 14 pacientes
hipertensos controlados com exercícios dinâmicos de membros superiores ativo livres e
ativo resistido com Thera-band. Foram divididos três grupos, onde o grupo I realizou
exercícios ativos livres de braço, o grupo II realizou exercícios resistidos com Theraband e o grupo III foi o controle. Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o
método Anova com nível de significância a 0,05. Os resultados mostram que no Grupo
I, a média geral da freqüência cardíaca inicial e final (MgFCi e MgFCf) foi
respectivamente 80,44 bpm e 90,18 bpm e a média geral da PA inicial e final (MgPAi e
MgPAf) foi 126,4/78 mmHg e 136,2/83 mmHg respectivamente. No Grupo II a
MgFCi e MgFCf foi respectivamente 70,15 bpm e 82,4 bpm e a MgPAi e MgPAf
148/87 mmHg e 147,5/92,5 mmHg respectivamente. O Grupo III apresentou MgFCi
90,46bpm e MgFCf 100,12 bpm e a MgPAi 143/96 mmHg e MgPAf 138,2/94mmHg.
A variação da FC inicial-final (VFCi-f) do grupo I foi 1,74 bpm, do grupo II 12,25 bpm
e do grupo III foi de 9,66 bpm. Na análise da PA sistólica e diastólica inicial e final a
variação (VPASi-f e VPADi-f) do grupo I foi 9,8/5 mmHg, o grupo II de –0,5/5,5
mmHg e o grupo III foi de -4,8/-2 mmHg. Podemos concluir que atividades de membros
superiores com exercícios dinâmicos resistidos com o Thera band, como apresentado
pelo grupo II, representa os melhores valores na redução da pressão arterial, comparandose com o grupo I, indicando portanto uma modalidade no tratamento fisioterapêutico
ambulatorial na redução da pressão arterial em pacientes hipertensos.
Artigo recebido 25 de junho de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Rodolfo Borges Parreira, rua São Vicente, 618/504, Centro 86025-901 Londrina-PR, Tel: (43) 3323-4237,
E-mail: [email protected].
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Abstract
The aim of this study was to verify the hemodynamic alteration in 14 controlled
hypertensive patients with dynamic exercises of upper limb, active and active with
resistance with Thera-band. Three groups were divided, where group I carried through
free active exercises of arm, group II carried through exercises resisted with Theraband and group III was the control. The level of significance was chosen at p = 0,05.
The results showed that in Group I, the general average of the initial and final cardiac
frequency (gACFi and gACFf) was respectively 80,44 bpm and 90,18 bpm and the
general average of the initial and final arterial pressure (APgAi and APgAf) was 126,4/
78 mmHg and 136,2/83 mmHg respectively. In Group II the gACFi and gACFf were
respectively 70,15 bpm and 82,4 bpm and the APgAi and APgAf 148/87mmHg and
147,5/92,5 mmHg respectively. Group III presented gACFi 90,46 bpm and gACFf
100,12 bpm and the APgAi 143/96 mmHg and APgAf 138,2/94 mmHg. The variation
of the CF initial-final (VFCi-f) of group I was 1,74 bpm, of group II 12,25 bpm and
of group III it was of 9,66 bpm. In the analysis of the systolic arterial pressure and
diastolic initial and final the variation (VPASi-f and VPADi-f) of group I was 9,8/5
mmHg, group II of 0,5/5,5 mmHg and group III were of -4,8/-2mmHg. We can
conclude that activities of upper limbs with resisted dynamic exercises with Thera
Band, as presented by the group II, represent the best values in the reduction of the
blood pressure, when compared with the group I, indicating therefore a modality in the
physical therapy treatment for the reduction of the blood pressure in patient with
hypertension.
Key-words:
hemodynamics changes,
upper limb exercises,
Thera-band.
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Introdução
As patologias cardiovasculares são atualmente as
principais responsáveis pela mortalidade no mundo. A
prevalência de hipertensão em uma população geral varia
entre 15-20% [1,2,3] e os níveis de pressão sofrem nítida
elevação com a idade [2], chegando a índices de até 50% na
população idosa [3].
A hipertensão arterial é definida como uma entidade de
etiologia múltipla, de fisiopatogenia multifatorial, e sua
presença causa lesão dos chamados órgãos-alvo (coração,
cérebro, vasos, rins e retina) [4]. Fatores como quantidade e
qualidade dos alimentos, tabagismo, fatores genéticos,
alcoolismo, obesidade, sedentarismo e estresse, contribuem
para a elevação da pressão arterial. Para tanto, mudança no
estilo de vida como dieta balanceada, controle de peso e
exercícios físicos moderado em bases regulares trazem
benefícios para pacientes hipertensos.
O exercício físico provoca várias alterações fisiológicas
no organismo, mas principalmente no sistema cardiovascular.
Por provocar um aumento das necessidades metabólicas, o
organismo reage para que ocorra um controle diante de uma
rápida redistribuição do fluxo sangüíneo e uma elevação da
perfusão circulatória para os músculos em atividade [5] e a
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magnitude da resposta dependem da intensidade do esforço
e do tamanho da massa muscular envolvida [6,7]. Atividades
físicas têm sido empregadas em estudos epidemiológicos de
hipertensão arterial para tentar diminuir as respostas
hipertensivas.
As formas e os tipos de exercício físico para o sistema
cardíaco [1,5-19] e para a determinação das respostas
cardiovascular [18-28] são bem documentados. Os exercícios
de membros inferiores e membros superiores apresentam
respostas cardiovasculares diferentes [16,17,18], e estas
diferenças ocorrem em presença da massa muscular
envolvida, da rede vascular e do sistema simpático, que
determinam a freqüência cardíaca.
O objetivo desta pesquisa foi verificar as alterações das
respostas hemodinâmicas analisando a freqüência cardíaca e
pressão arterial em pacientes hipertensos controlados com
exercícios dinâmicos de membros superiores ativo livres e
ativo resistido com Thera-band.
Material e métodos
Foram estudados 14 pacientes (86,6% do sexo feminino
e 13,3% do sexo masculino), com idade média de 49,78 ±
4,28 anos e que apresentavam diagnóstico de hipertensão
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arterial, estando os pacientes em tratamento no Ambulatório
de Fisioterapia Cardiovascular, na Universidade Norte do
Paraná, Londrina PR. Todos os pacientes faziam uso de
medicamentos anti-hipertensivos. Foram divididos em 2
grupos com 5 pacientes cada grupo e 1 grupo com 4
pacientes. O grupo 1 foi submetido a exercícios ativos livres
de membros superiores (MMSS), o grupo 2 realizou exercícios
de MMSS com Thera-band, e o grupo 3 foi o grupo controle.
Todos os pacientes assinaram o termo de consentimento livre
e esclarecido.
Os pacientes seguiram um protocolo de tratamento
aplicado no ambulatório de Fisioterapia Cardiovascular que
constava de aquecimento com caminhada leve, exercícios
calistênicos e alongamentos por 10 minutos, seguido de
endurance com bicicleta e esteira ergométrica por um período
de 30 minutos, desaquecimento com caminhada de baixa
intensidade para reduzir a freqüência cardíaca (FC) e pressão
arterial (PA) por 5 minutos e o relaxamento onde o paciente
descansa em decúbito dorsal com os joelhos semi-fletidos
para a FC e PA voltarem aos seus valores basais ou próximo
do basal por um tempo de 5 minutos.
O grupo 1 realizou exercícios ativos livres de abdução e
adução de braço vertical, abdução e adução de braço
horizontal e flexão de braço. O grupo 2 realizou exercícios
de abdução e adução horizontal de braço e abdução e adução
vertical de braço com Thera-band® (cor amarelo), com
comprimento total de 1,20cm, sendo as extremidades unidas
tornando-o assim com 47cm de diâmetro para a realização
dos exercícios, e o grupo 3 realizou apenas o protocolo
proposto da terapia. Os exercícios foram realizados a uma
freqüência de uma abdução-adução por segundo. As terapias
foram realizadas com período total de 8 sessões. Os pacientes
tiveram a PA medida por um esfigmomanômetro da marca
Tycos (Welch Allyn Company. USA, 1999) colocado no braço
esquerdo ao nível do coração e em posição sentada [29], e a
FC foi medida por um freqüêncímetro (Polar Electro Ou
Professorintie. Finland, 1999), colocado logo abaixo do
processo xifóide e o relógio no punho esquerdo. A PA e a
FC foram medidas antes e logo após os exercícios propostos
nesta pesquisa.
9
MgFCi 90,46 bpm e MgFCf 100,12 bpm (p = 0,358) e a
MgPAi 143/96 mmHg e MgPAf 138,2/94 mmHg (p sistólico
= 0,712 e p diastólico = 0,904).
A variação da freqüência cardíaca inicial e final (VFCi-f)
do grupo I foi 1,74 bpm, do grupo II 12,25 bpm e a do
grupo III foi de 9,66 bpm, representado no Gráfico 1. Na
análise da pressão arterial sistólica e diastólica inicial e final a
variação (VPASi-f e VPADi-f) do grupo I foi 9,8/5 mmHg,
o grupo II de –0,5/5,5 mmHg e o grupo III foi de –4,8/-2
mmHg, (Gráfico 2).
Gráfico 1 – Variação da freqüência cardíaca inicial-final.
Gráfico 2 –Variação da pressão arterial sistólica e diastólica
inicial-final.
Resultados
Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o método
estatístico Anova com nível de significância a 0,05.
No Grupo I, a média geral da freqüência cardíaca inicial
e final (MgFCi e MgFCf) foi respectivamente 80,44 bpm e
90,18 bpm (p = 0,294) e a média geral da pressão arterial
inicial e final (MgPAi e MgPAf) foi 126,4/78 mmHg e 136,2/
83 mmHg respectivamente (p sistólico = 0,155 e p diastólico
= 0,256). No Grupo II a MgFCi e MgFCf foi respectivamente
70,15 bpm e 82,4 bpm (p = 0,334) e a MgPAi e MgPAf 148/
87 mmHg e 147,5/92,5 mmHg respectivamente (p sistólico
= 0,979 e p diastólico = 0,579). O Grupo III apresentou a
artigo 02 - Rodolfo.pmd
9
Discussão
Em uma rotina clínica é comum a administração de
remédios no tratamento de hipertensão arterial [1,18,23],
porém há estudos que demonstraram evidências favoráveis
do efeito anti-hipertensivo do treinamento físico com
características aeróbicas. Um trabalho de Cade et al. [19]
demonstrou a eficácia da atividade aeróbica na ação antihipertensiva em pacientes com hipertensão arterial sistêmica,
concluindo que pacientes com capacidade física e emocional
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10
podem alcançar diminuição significativa na pressão arterial.
Mas Senitko et al. [26] mostrou que exercícios de endurance
provocam a diminuição da pressão arterial semelhante entre
um grupo de sedentários e um grupo de indivíduos treinados.
Nosso estudo demonstrou que a variação da FC inicial e
no final dos exercícios de MMSS após oito sessões de
fisioterapia, o grupo I, II e III foi respectivamente 1,74 bpm,
12,25 bpm e 9,66 bpm. A variação da PA sistólica e diastólica
inicial e final foi do grupo I foi 9,8/5 mmHg, do grupo II de
–0,5/5,5 mmHg e do grupo III de –4,8/-2 mmHg. Não houve
diferença estatisticamente significativa para a FC nos grupos
I (p = 0,294), II (p = 0,334) e III (p = 0,358). Para a pressão
arterial sistólica e diastólica, também não demonstraram
diferença estatisticamente significativa nos grupos I, II e III
(p sistólico = 0,155 e p diastólico = 0,256), (p sistólico=0,979
e p diastólico = 0,579) e (p sistólico = 0,712 e p diastólico =
0,904) respectivamente.
Pudemos verificar durante o estudo que o grupo I reduziu
a freqüência cardíaca após a sessão de fisioterapia (Gráfico
1), e apresentou em acentuado aumento na pressão arterial
sistólica quanto diastólica em relação aos outros grupos
(Gráfico 2). Já a freqüência cardíaca foi mais acentuada no
grupo II quando comparado com os outros grupos em
questão. No grupo III tanto a pressão arterial sistólica quanto
diastólica reduziram após o trabalho fisioterapêutico (FC
medida após o relaxamento). Isto se equipara com a maioria
dos estudos e demonstra que exercício dinâmico, realizado
regularmente em hipertensos leves a moderados gera
decréscimos significativos nos níveis de pressão arterial
sistólica e diastólica, tanto em repouso, como em esforço
após período de treinamento com a realização dos exercícios
aeróbicos e dinâmicos [6,13,15,21-24,26,27]. Ao compararem
os efeitos do treinamento dinâmico/aeróbico de força,
sugerem que um programa de exercício aeróbico de
intensidade moderada sem alterações na dieta, em não obesos
e com hipertensão controlada, parece oferecer pouco
benefício no que diz respeito a diminuições no nível de PA,
oferecendo dessa forma pouco suporte para o efeito antihipertensivo do exercício dinâmico [21-23]. Já Brown et al.
[24] e Floras et al. [25] relataram não haver redução significativa
na PA e FC em exercícios dinâmicos de curta duração, e
Legrarnate et al. (2002)[6] não encontrou mudanças na FC
antes e após exercício máximo. Estas respostas
cardiovasculares frente às alterações da PA e FC que ocorrem
durante os exercícios são decorrentes do tipo de exercício
realizado, intensidade, duração e as condições climáticas.
Em um estudo de Haddad et al. [18] com treinamento
físico de membros superiores em paraplégicos num programa
de 12 semanas, os autores observaram que em repouso a
freqüência cardíaca diminuiu em 14% e a pressão arterial
sistólica e a diastólica diminuíram em 4% e 15%
respectivamente. Martin et al. [15] comparou atividades
aeróbicas (experimental) com exercícios calistênicos (placebo),
observou uma redução da PA no grupo experimental (-6/-9
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10
mmHg), diferente do grupo placebo (+0,9/=0,8 mmHg).
Kiyonaga et al. [23] mostrou que houve uma redução na média
da pressão sistólica e diastólica (20/10 mmHg) em 50% dos
pacientes após 10 semanas de treinamento aeróbico.
Num determinado nível de consumo de oxigênio, tanto
FC quanto PA são elevadas durante o trabalho de MMSS em
comparação com os de MMII segundo Toner et al. [9] e
Powers & Howley [30]. O grande aumento da PA no trabalho
de braço se deve a vasoconstrição no grupo muscular inativo,
pois quanto maior o grupo muscular envolvido na realização
do exercício, maior a quantidade de vasos de resistência
dilatada. Essa maior resistência periférica se reflete numa
maior pressão arterial [6,9,26,30,31].
O sistema nervoso também contribui em grande parte
com o controle hemodinâmico através do mecanismo
barorreflexo e da atividade nervosa simpática que após a
atividade física diminuem suas atividades nervosas
[6,9,24,25,27,29,28,31], mas ainda há controversas sobre tal
mecanismo. Chen et al. [27], demonstrou em ratos, uma
atenuação do tônus simpático e parassimpático (47 ± 12% e
71 ± 12%, respectivamente) mediado pela desaceleração
cardíaca durante o período precoce de recuperação.
Conclusão
Atividade anti-hipertensiva não farmacológica como os
exercícios físicos são bastante variados, muitas vezes o tipo
de atividade, intensidade, duração e condições climáticas
tornam os resultados muito diferentes.
Portanto podemos concluir que exercícios dinâmicos
livres (grupo I) aumentaram os níveis de PA e diminuiu a FC
em comparação com o grupo III (controle) onde teve os
menores índices de valores na pressão arterial e o maior na
freqüência cardíaca, e exercício dinâmico resistidos com
Thera-band (grupo II) representou a maior elevação da FC
e um ligeiro decréscimo na PA sistólica e aumento na PA
diastólica. Todos os resultado não apresentaram diferença
estatisticamente significativas. Os menores valores de PA
apresentados pelo grupo III se equiparam aos outros autores
onde exercícios aeróbicos promovem um decréscimo na
pressão arterial.
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C
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12
Artigo original
Correlação entre hemisfericidade e o aprendizado
psicomotor em tarefas de comunicação gestuais
Correlation between hemisphericity and psychomotor
learning in gesture communication
Yara Sonia Vallado, Geane P.O. Delgado, Denise Oliveira Rezende, Vernon Furtado da Silva, D.Sc., Wesley de P. Melo
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Mestrado em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro
Palavras-chave:
Hemisfericidade, comunicação
gestual, Língua de Sinais
Brasileira (LIBRAS).
Resumo
O objetivo deste estudo foi correlacionar ganhos de aprendizagem psicomotora
expressos em comunicação gestual (Linguagem de sinais) em escolares do ensino médio.
Teoricamente, para que seja utilizada a comunicação gestual, especialmente na Língua
de Sinais Brasileira (LIBRAS), cada um dos hemisférios cerebrais de uma pessoa
ouvinte mostra uma decodificação predominantemente diferente. Sendo assim, no
hemisfério esquerdo prevalecem funções lingüísticas e no hemisfério direito prevalecem
funções viso-espaciais. A questão de pesquisa foi associada à possibilidade de que em
casos de mono hemisfericidade esquerda, esta relação pudesse não ocorrer. Uma
amostra de 100 alunos de ambos os gêneros, na faixa etária compreendida entre 15
e 17 anos, permitiu a identificação de 11 estudantes bi-hemisféricitos (HB), 7
hemisféricitos esquerdo (HE) e 5 hemisféricitos direito (HD), sendo que tais
identificações foram definidas pelo Teste de Movimento Conjugação Lateral dos
Olhos (CLEM). Os componentes destes grupos foram submetidos posteriormente
ao teste de sinais significativos de LIBRAS. Os dados obtidos foram tratados
estatisticamente através de uma análise de variância cujos resultados revelaram
diferenças significativas em ganhos favoravelmente ao grupo mono-hemisférico
esquerdo sendo p < 0,05, como observado através do teste posterior de Tukey. Este
resultado contraria a teoria da direcionalidade hemisférica quando o fenômeno da
hemisfericidade
não
é considerado.
Artigo recebido em 24 de novembro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Vernon Furtado da Silva, Mestrado em Ciência da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco, Avenida
Santa Cruz, 1631 Realengo 21710-250 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]
artigo 05 - Vernon.pmd
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Abstract
The aim of this study was to establish a correlation between hemispheres and the
psychomotor learning in connection with the gesture communication. When the gesture
communication is practiced, especially in the Brazilian Sign Language (LIBRAS), each
of the brain hemispheres of the listening person reveals a predominantly different
decode. Therefore, in the left hemisphere prevails the linguistic functions and in the
right hemisphere the space-vision. In this study participated 100 students of both sexes,
15 to 17 years old. Once selected, the group was submitted to the CLEM test in order
to identify the preference of the hemisphere processing. The students were then divided
in three hemispheric groups, that is, the right hemisphere, the left hemisphere and the
bi-hemispheres. The components of each group were submitted to an individual selective
test including significative competency in relation to the communicative gestures signs.
The results were statistically treated through variance analyse with p ≤ 0,05. The results,
according to the performance of each student, indicated evidences that the linguistics
aspects are preferably processed in the left hemisphere.
Key-words:
Hemisphericity, gesture
communication, Brazilian
Sign Language (LIBRAS)
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Introdução
O cérebro é dividido em duas partes, sendo, estas,
denominadas hemisférios. De um modo geral, o hemisfério
esquerdo controla a metade direita do corpo e vice-versa, em
razão do cruzamento das fibras nervosas na região
correspondente ao tronco encefálico. Os hemisférios cerebrais
aparentemente são iguais, mas na realidade, têm diferenças
anatômicas, neuroquímicas, funcionais, que de certa forma,
estão definidas geneticamente, mas que se aprimoram com a
maturação, com a interação com o meio, proporcionando
assim a especialização de cada hemisfério. Outras assimetrias
também podem estar presentes em cérebros humanos [1].
No presente estudo entendemos como hemisfericidade
cerebral a acentuada tendência do processamento de
informações ser representado em um dos hemisférios,
independente da especificidade do indivíduo. Ou seja, é a
capacidade superior de um dos hemisférios sobre o outro,
para a execução de determinadas funções.
Na maioria das pessoas, a área de Broca está localizada
na área cortical do lobo frontal do hemisfério esquerdo, sendo
responsável pela compreensão da linguagem e pela produção
da fala. A área de Broca realiza o planejamento dos
movimentos para a produção da linguagem falada e também
a organização gramatical. A área de Wernicke é responsável
pela compreensão da linguagem falada e está localizada na
área cortical parieto-temporal do lobo esquerdo [2].
Com referência às funções lingüísticas, a dominância é
determinada geneticamente, mas a preferência manual pode,
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pelo menos em parte ser determinada, pelo meio ambiente.
Também é possível se afirmar que o hemisfério esquerdo
está relacionado com as habilidades verbais, enquanto as
habilidades não-verbais dependem mais do hemisfério
direito [1].
A hemisfericidade cerebral está relacionada não só aos
fatores genéticos, maturativos, neuroquimicos, já citados, mas
também, a outras influências, como posturas assimétricas
durante o período pré-natal. Estas assimetrias posturais
favorecem processamentos hemisféricos diferenciados tanto
perceptivos como motores. Dois terços dos fetos no terceiro
trimestre da gestação, estão posicionados com o seu lado
direito externamente. Estimulação sensorial lateralizada
durante o desenvolvimento pré e pós-natal pode determinar
assimetrias cerebrais [3].
Os fetos do sexo masculino têm um hemisfério cerebral
direito maior do que o hemisfério cerebral esquerdo. Além
disso, há evidências de que o cérebro masculino pode ser na
média mais lateralizado ou assimétrico do que o feminino.
Essas e outras diferenças na organização cerebral podem
estar subjacentes diferenças entre os gêneros, como, por
exemplo, a maturação mais precoce das mulheres, o melhor
desempenho das mulheres em tarefas lingüísticas, o melhor
desempenho dos homens em tarefas viso-espaciais, e a maior
incidência de canhotos entre os homens.
O sistema nervoso do neonato já está bem desenvolvido
o que permite a criança, gradualmente com a maturação,
adquirir o sentido de direcionalidade, temporalidade,
ritmicidade e lateralidade e a coordenação motora.
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De acordo com Goleman, citado por Fernandes [3], a
partir dos 5-6 anos de idade os hemisférios apresentam
relativa plasticidade em sua habilidade para desenvolver
diferentes funções, e só então começam a se especializar.
As funções simbólicas predominam sobre as motoras, a
partir do décimo ano de vida. É durante a infância que a
lateralização consolida os processos específicos de habilidades
dentro dos hemisférios cerebrais esquerdo e direito
considerando-se uma população normal [3].
Atualmente, temos muitas formas de comunicação através
de sinais visuais como, por exemplo, a sinalização homógrafa
usada para a comunicação naval; a comunicação através de
sinais nos aeroportos, no trânsito, etc. A Língua Brasileira de
Sinais (LIBRAS), língua materna dos indivíduos portadores
de surdez, é uma das formas de comunicação, que se realiza
visualmente através de movimentos coordenados, estruturação
espaço-temporal é ao mesmo tempo, uma forma simbólica de
comunicação, apresentando conotações emocionais que são
transmitidas através de expressões faciais e corporais. A Língua
de Sinais apresenta características para as quais cada um dos
hemisférios cerebrais de pessoas ouvintes desenvolve
características hemisféricas diferentes [4].
Considerando os conceitos já mencionados, presentes em
indivíduos com processamentos hemisféricos diferentes,
este trabalho objetiva verificar, nos indivíduos já
selecionados, através da aplicação do Teste CLEM, como
hemisféricitos direito, esquerdo e bi-hemisféricitos, qual a
diferença existente nos processamentos envolvendo uma
comunicação por sinais visuais. Para esta análise, recorremos
a alguns sinais utilizados na Língua de Sinais Brasileira, a
qual engloba funções lingüísticas e como tal possivelmente
realizada preferencialmente por indivíduos hemisféricitos
esquerdos; ao mesmo tempo, esta comunicação requer não
só a decodificação percepto-visual, a transposição do visual
para movimentos corporais, manuais e expressivos,
utilizando a percepção espacial, a relação espacial,
movimentos seqüenciais rítmicos e memória sendo estes
aspectos mais pertinentes ao hemisfério direito.
Considerando os conceitos já expostos, questionamos qual
é o hemisfério que melhor processa funções lingüísticas
mais relacionadas com o hemisfério esquerdo e funções
viso-espaciais, mais próprias do hemisfério direito, ou ambos
os hemisférios participam em igualdade.
Método
Amostra
Após a aplicação do Teste CLEM em 100 indivíduos
selecionando-os como bi-hemisféricitos (HB), hemisféricitos
esquerdo (HE) e hemisféricitos direito (HD), todos na
faixa etária entre 15 e 17 anos, foi realizado o estudo com
referência ao aprendizado da LIBRAS com a participação de
23 indívíduos.
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Instrumentos: teste CLEM
O Teste de Movimento Conjugação Lateral dos Olhos
(CLEM) é correlacionado por parâmetros científicos com
índices altamente significativos, comparados aos resultados
obtidos através da eletroencefalografia e a tomografia por
emissão de prótons [5], cujo objetivo é detectar as tendências
de preferência de processamento hemisférico de um
indivíduo.
Alguns cuidados na aplicação do teste foram tomados,
como por exemplo, aplicação individualmente em condições
físicas, mentais e emocionais adequadas aos procedimentos
e objetivo da testagem, evitando dessa forma distrações
visuais e auditivas.
O presente teste foi aplicado com o indivíduo sentado,
dentro de uma cabina própria. Foi realizada uma filmagem
da direção dos movimentos dos olhos, relacionando questões
pertinentes à natureza de cada hemisfério, ou relativamente
à natureza bi-hemisférica do indivíduo.
Foram selecionadas e aplicadas a as perguntas cujo
objetivo era examinar a capacitação hemisférica direita. A
reação contra-lateral dos olhos foi registrada pela filmadora
e analisada durante o processamento de sua resposta.
Os resultados foram aferidos através das imagens registradas
em uma fita de vídeo, assinalando também o movimento do
olhar nas fichas contendo as figuras tipo “face de relógio”,
conforme Borg, citado por Fairweather e Sidaway [5].
Posteriormente foi feita uma análise entre os registros das
imagens e dos cartões para garantir a fidedignidade
dos resultados.
Para a verificação da capacidade diferenciada de
reprodução, compreensão dos sinais envolvendo posições
espaciais, direcionalidade, movimentos seqüenciais, praxia
fina, foi utilizada uma lista de dez sinais da LIBRAS.
Os seguintes sinais foram utilizados: bom dia, obrigado,
difícil, trabalho, homem, perguntar, amigo, cachorro,
nascer, branco.
Procedimentos
A pesquisa foi realizada individualmente, no turno da
manhã, em sala com boa luminosidade e silenciosa. Os
indivíduos participantes, já selecionados como
hemisféricitos diferenciados (HD, HE e BH), inicialmente
receberam a explicação sobre a natureza da pesquisa.
Questionou-se também o conhecimento prévio dos sinais
da LIBRAS. Só participaram os que não conheciam os
mesmos. Foi realizado um treino individual, com a
apresentação de cada sinal por duas vezes, pelo pesquisador
e reprodução por duas vezes pelo participante. Após este
treino, os dez sinais foram reproduzidos em seqüência pelo
pesquisador. Finalmente, foi solicitada ao participante a
reprodução um a um, à medida que cada sinal era nomeado
pelo pesquisador.
11/02/04, 12:05
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
Avaliação
15
Fig. I
Foram contabilizados como acertos a reprodução exata
dos sinais testados, tanto em relação aos aspectos visuoespaciais, a coordenação dos movimentos, a sua
direcionalidade e ao significado lingüístico dos mesmos.
Tratamento estatístico
Os dados oriundos dos resultados à apresentação dos
sinais da LIBRAS foram estudados através de uma análise
de variância modelo Oneway, com testes posteriores de Tukey
para se definir a direção das possíveis diferenças entre grupos.
Também foi utilizada estatística descritiva, com médias e
desvios mostrados em tabelas comparativas. Para o teste da
hipótese principal, utilizou-se a probalidade de erro alpha £
0,05.
Resultados e discussão
Os resultados da análise de variância utilizada no estudo
dos dados dos testes indicaram haver significância estatística
conforme mostrado na Tabela I. Ou seja, com F(2,19) 77,14;
p < 0,05. Utilizando-se os testes posteriores de Tukey ficou
evidente que o grupo de indivíduos bi-hemiféricitos foi
significativamente superior em performance do que o grupo
hemisféricito direito e também superior ao grupo
hemisféricito esquerdo, todavia, neste caso, sem significância
considerável. Também revelou aquela análise detalhada que
os hemisféricitos esquerdos foram melhores que os indivíduos
hemisféricitos direitos.
Foi possível concluir, após a comparação dos resultados
obtidos, entre os indivíduos HD, HE e BH significativa
prevalência favorável aos indivíduos HE sobre os HD,
sugerindo que nos mesmos, quando a comunicação não é
realizada verbalmente e sim através de movimentos visoespaciais com conotações emocionais, cuja competência é
mais pertinente ao hemisfério direito, ainda assim, a LIBRAS
apresenta maior incidência de processamento no hemisfério
esquerdo, sinalizando que os aspectos lingüísticos
predominam sobre os espaciais no aprendizado e
compreensão da LIBRAS. Em relação ao BH e HE não
ocorreu prevalência significativa.
Conclusão
Concluiu-se, após a comparação dos resultados obtidos,
entre os indivíduos HB, HE e HD uma significativa
prevalência favorável aos indivíduos HE sobre os HD,
sugerindo que mesmo quando a comunicação não é
realizada verbalmente e sim através de movimentos visoespaciais com conotações emocionais, cuja competência é
mais pertinente ao hemisfério direito, ainda assim, a LIBRAS
apresenta maior incidência de processamento no hemisfério
esquerdo sinalizando que os aspectos lingüísticos
predominam sobre os espaciais no aprendizado e
compreensão da LIBRAS.
Referências
1. Brodal A. Anatomia neurológica com correlações clínicas.
São Paulo: Roca; 1984.
2. Cupello RCM, Miranda ABR. Rupturas em trajetos
cerebrais subjacentes a alguns sinais neurolingüísticas
encontrados em diversos tipos de afasia. Fono Atual 2003;
6(23):42-59.
3. Fernandes V. Papel dos hemisférios do cérebro. [citado
2003 set 24]. Disponível em URL: http://www.
interfisio.com.br.
4. Moura MC, Lodi AC, Pereira MC. Língua de sinais e educação
do surdo. São Paulo: Sociedade Brasileira de Neuropsicologia;
1993.
5. Fairweather MM, Sidaway B. Estratégias pedagógicas
hemisféricas utilizadas na aquisição e na retenção de uma
habilidade motora. American Alliance for health physical
education, recreation and dance 1995; 65.
C
Tabela I - Apresentação das médias dos grupos e hemisféricos, desviopadrão e testes posteriores respectivos.
Grupos
hemisféricos
HD (G1)
HE (G2)
BH (G3)
Média
DP
Test posterior (Tukey) Sig.
4,60
6,50
7,00
1,34
1,04
1,18
HD x HE (0,04) e BH (0,004)
HE x HD(0,04) e BH(0,689)
BH x HD(0,004) e HE(0,689)
Para efeito de uma melhor compreensão sobre os
resultados, os dados acima estão mostrados na Figura 1.
artigo 05 - Vernon.pmd
15
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16
Artigo original
Saltos altos e artralgias nos membros
inferiores e coluna lombar
High-heels and articular pain in lower limbs
and lumbar spine
Flávia Maria Oliveira de Albuquerque*, Elirez Bezerra da Silva, M.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Universidade Gama Filho – UGF, **Fisioterapeuta e Professor de Educação Física,
Professor Fisioterapia Desportiva - UGF
Palavras-chave:
Dor músculo-esquelética,
calçados femininos, alterações
articulares degenerativas.
Resumo
Introdução: a marcha em calçados de salto alto causa várias alterações posturais
que devem ser acomodadas na cinemática dos membros inferiores, pelve e coluna
lombar. Objetivo: verificar o efeito dos calçados de salto alto sobre a dor articular e
muscular nos membros inferiores, pelve e coluna lombar. Material e Métodos: foram
analisadas 20 mulheres, divididas em dois grupos iguais, de acordo com o uso de
salto alto ou baixo e que permanecem em posição ortostática em média de seis horas
por dia. Através de questionário e ficha de avaliação postural, foram realizados testes
de inspeção e palpação articular e muscular específicos para membros inferiores e
coluna lombar. Resultados: o grupo que utilizou saltos altos apresentou dores e
alterações em proporções maiores, principalmente nos pés, tornozelos e
compartimento medial dos joelhos, bem como estresse tecidual, dor considerável à
palpação do quadrado lombar. Um achado bastante relevante foi o fato de todas as
participantes do grupo experimental (100 %) apresentarem eversão do antepé e
marcha em pronação excessiva, contribuindo para maior pressão na faceta e retináculo
medial do joelho em 60% das voluntárias. Conclusão: os calçados de salto alto causam
dor na faceta medial do joelho, eversão do antepé e marcha em pronação significativas.
Artigo recebido 9 de dezembro de 2003; aceito 15 de janeiro de 2004
Endereço para correspondência: Flávia Maria Oliveira de Albuquerque, Rua Voluntários da Pátria, 161/701 Ipiranga 31140-630 Belo Horizonte MG,
Tel: (31) 3421-6086/8818-6086, E-mail: [email protected], Elirez Bezerra da Silva: [email protected]
artigo 01a - Flávia.pmd
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Abstract
Introduction: High-heeled gait causes a lot of postural changes that must be
accommodated in the kinematics of the lower limbs, pelvis, and spine during gait.
Objective: To verify the effects of high-heeled shoes on articular and muscle pain in the
lower limbs, pelvis and lumbar spine. Material and Methods: Twenty women were analyzed,
divided equally in two groups, according to the wearing of high-heeled shoes or low and
that spent an average of six hours in a standing position. The examining postural test
consisted of questionnaire, viewing and specific palpation trials for lower limbs and
lumbar spine. Results: High-heeled group had much greater changes and pain, mainly in
the feet, ankles and medial compartment of the knees, as well as tissue stress, such as
considerable pain to the palpation of the square lumbar spine muscle. All of the subjects
(100%) of experimental group presented everted forefoot and excessive pronated gait
as the most relevant aspect that leads to higher pressure in medial facet and retinaculum
of the knee in 60% of the volunteers. Conclusion: High-heeled shoes, higher than five
centimeters, cause pain in the medial facet of the knee, significant everted forefoot and
pronation of the foot during gait.
Key-words:
Muscle-skeletal pain, female
shoes, degenerative bone and
joint disease.
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Introdução
Observado por Opila, entre outros autores, a marcha em
calçados de salto alto, comparada à de salto baixo, causa várias
alterações posturais como força compressiva sob a cabeça
dos metatarsos, aumento da flexão plantar do tornozelo,
passadas mais curtas e em menor velocidade, oscilação da
pronação e supinação do pé, aumento da flexão do joelho na
fase de apoio, diminuição da flexão do joelho e do quadril na
fase de oscilação, bem como diminuição da amplitude de
movimento da pelve anteroposteriormente [1-5].
O aumento das cargas compressivas, as alterações
biomecânicas do pé e a instabilidade do contato do calcanhar
devem ser acomodados na cinemática dos membros
inferiores, pelve e coluna durante a marcha. Por outro lado,
movimentos compensatórios alteram os padrões de stress
tecidual o que pode contribuir para os sintomas de dor lombar
associada ao uso de saltos altos [4]. Muitos observadores
clínicos enfatizam que saltos altos aumentam a lordose lombar
[5]. No entanto, Bryan et al. realizaram um estudo sugerindo
que a percepção do aumento da lordose lombar deve ter sido
influenciada pela proeminência glútea [6]. A análise postural,
com diferentes alturas de saltos mostrou que em saltos
elevados a pelve tende a retroverter, causando retificação da
coluna lombar [7]. Isso, provavelmente, é uma tentativa de
superar a inclinação anterior do tronco que está associada ao
uso de calçados altos. Para reposicionar o centro de gravidade
do corpo mais posteriormente e aliviar a sensação de cair
artigo 01a - Flávia.pmd
17
17
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○
para frente, os músculos abdominais e paraespinhais
contraem [8]. Com a retroversão pélvica, os músculos
ísquiotibiais se tornam relaxados.
Estudos recentes têm mostrado que o calçado inadequado
especialmente usado pelas mulheres, por longo tempo, tem
sido o principal causador de alterações no antepé [9-11]. O
aumento na altura do salto leva a um aumento de força
compressiva sob a cabeça dos metatarsos [1]. Saltos a partir
de 5 cm diminuem a carga sob o calcâneo e transferem a
carga para as cabeças dos metatarsos [10]. A forma anterior
do calçado tem uma importante influência na distribuição
dos picos máximos de pressão [12]. Um calçado muito
estreito e fechado na frente impõe uma força lateral dirigida
ao hálux e primeiro metatarso, bem como uma força
medialmente direcionada ao quinto pododáctilo e quinto
metatarso. Segundo Xing, o hábito, iniciado pelas chinesas,
de usar sapatos de ponta fina e de saltos altos tem provocado
uma das alterações mais comuns do pé, o hálux valgo [10].
Um grande número de pesquisas tem sido realizado
quanto ao estudo comparativo das alterações provocadas pela
marcha em saltos altos, baixos e sem calçado. No entanto,
vários autores, entre eles, Snow [2] mencionaram a
necessidade de estudos quantitativos e investigações clínicas
para avaliar a relação entre o uso prolongado de saltos altos
e alterações ortopédicas, articulares e degenerativas.
Este estudo teve por objetivo verificar o efeito dos
calçados de salto alto sobre a dor articular e muscular nos
membros inferiores e coluna lombar.
11/02/04, 12:05
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
18
Material e métodos
Sujeitos
Participaram do presente estudo 20 mulheres, saudáveis,
voluntárias e ativas, que foram categorizadas em dois grupos
de acordo com o uso de salto alto ou baixo. Mulheres usuárias
de salto plataforma, bem como as que relataram alterações
de ordem ortopédica ou neurológica foram excluídas do
estudo. A faixa etária do grupo de salto baixo variou de 19 a
48 anos (32,4 ± 10,6), a estatura foi de 1,53 a 1,65 m (1,6 ±
0,04 m) e o peso corporal entre 50,5 a 65 kg (56,5 ± 5,49); a
idade do grupo de salto alto variou entre 19 a 41 anos (27,5
± 7,72), a estatura foi de 1,58 a 1,75 m (1,66 ± 0,06) e o peso
corpóreo entre 47 a 64,8 kg (56,96 ± 5,81).
Calçados
As participantes foram selecionadas de acordo com o uso
de calçados mais freqüentes e divididas em dois grupos: 10
que utilizavam saltos abaixo de 5 centímetros e 10 mulheres
usuárias de saltos acima de 5 cm.
Por ter sido realizado no verão, os calçados eram abertos,
tipo sandálias. O número do calçado do grupo de salto baixo
variou entre 35 a 37 (35,85 ± 1,07) e o de salto alto de 33 a
38 (35,85 ± 1,77). A altura dos calçados de saltos altos foi de
5 a 10 cm (6,3 ± 1,3 cm) e a de saltos baixos ou rasteiros
variou de 0 a 4 cm (1,4 ± 0,44 cm).
Ambos os grupos trabalhavam em posição ortostática
por no mínimo 4 a 12 horas diárias, média de 6 a 7 horas/
dia por período mínimo de um ano.
Artralgia nos membros inferiores
e coluna lombar
Com a utilização de questionário e ficha de avaliação
postural foram realizados testes específicos para membros
inferiores e região lombar. As participantes foram questionadas
quanto ao conforto do calçado, ao incômodo no pé ao fim do
dia e à escolha por um determinado calçado [13].
Por se tratar de um estudo com o objetivo de avaliar
alterações provocadas pelo tipo de calçado, ênfase foi dada
aos testes em postura estática, bem como testes palpatórios
[14]. O teste dinâmico (da marcha) foi realizado na intenção
de levantar dados de observação clínica, visto que vários
autores registraram informações mais detalhadas e precisas
em outros artigos. O material utilizado para avaliação incluiu
fita métrica, papel para plantigrafia, lápis ou caneta, tinta
guache, goniômetro, régua grande (60 cm) e máquina digital.
O critério de avaliação da dor foi de acordo com a queixa
das voluntárias aos testes articulares e de palpação.
Os testes articulares compreenderam a amplitude dos
movimentos das articulações dos membros inferiores e da
lombar onde foi verificado se havia boa mobilidade articular
artigo 01a - Flávia.pmd
18
sem queixa de dor. As participantes realizaram movimentos
ativos dos pés e tornozelos (dorsiflexão/flexão plantar;
inversão/eversão; circundução) e dos joelhos (flexo/extensão,
rotação) em posição sentada. Os movimentos de flexão/
extensão, inclinação e rotação da região lombar foram
observados em posição ortostática.
Os testes de palpação abrangeram as articulações do pé e
tornozelo (fáscia plantar, cabeça dos metatarsos, calcâneo,
maléolos e ligamentos, interósseos), do joelho (retináculo
medial e lateral, faceta medial e lateral, borda superior e
inferior da patela) e coluna sacrolombar (músculo quadrado
lombar, vértebras lombares e do sacro), com as voluntárias
na posição decúbito dorsal e ventral.
Aproveitando-se o teste de palpação da articulação do
joelho, foram avaliados o derrame intra-articular e a crepitação
articular.
O teste de derrame intra-articular foi realizado em
decúbito dorsal com uma mão exercendo pressão na região
distal do quadríceps e outra no centro da patela em direção à
tróclea, comprimindo e descomprimindo a mesma. Em caso
de presença de derrame, é possível sentir o sinal da tecla que
a patela faz ao ser comprimida contra a tróclea.
A crepitação articular foi percebida através da mesma
posição anterior com a participante realizando a flexoextensão do joelho.
À inspeção foram avaliadas as formas, os arcos, o
alinhamento dos dedos e bordos internos/ externos dos pés.
Os joelhos foram observados quanto ao alinhamento dos
membros inferiores com a participante em posição
ortostática. co
Foram avaliadas a mobilidade da coluna lombar ânteroposterior, as inclinações laterais e o equilíbrio lombo-pélvico
nos três planos: frontal, sagital e horizontal. Para a análise
dos três planos, os olhos do fisioterapeuta foram posicionados
ao nível das cristas ilíacas com as voluntárias em posição
ortostática. No plano frontal (voluntária de costas para o
terapeuta), foi observada a altura das cristas ilíacas pelo
posicionamento do dorso das mãos do examinador exercendo
pressão para baixo, verificando se ambas estavam situadas
no mesmo plano horizontal. No plano sagital, pela localização
da espinha ilíaca ântero-superior e da espinha ilíaca pósteroinferior, com a participante de perfil. Os dedos indicadores
do terapeuta foram posicionados sobre as espinhas e foi
verificado se ambas situavam-se na horizontal ou se havia
desequilíbrio, por estarem situadas em um plano oblíquo.
No plano horizontal, o terapeuta apoiou levemente a polpa
dos polegares contra as espinhas ilíacas ântero-superiores da
pessoa examinada e observou a posição de seus polegares de
cima para baixo. Estes deviam estar em uma mesma linha
horizontal, situada em plano frontal ao paciente. Se um dos
polegares estivesse mais posterior do que o outro, a pelve
encontrava-se desalinhada no plano horizontal, ou seja, em
rotação para esse lado [14].
A flexibilidade da cadeia muscular posterior foi testada
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com as participantes de pé, joelhos em extensão, pés
aproximados, realizando flexão do tronco com as mãos em
direção ao chão, sem forçar. Observando de perfil, foram
analisados a amplitude, o posicionamento ou a presença dos
seguintes itens: o ângulo tíbio-társico, joelhos, ângulo
coxofemoral, cuvette lombossacral, retificações vertebrais,
posição cervical e distância dedo-chão. O ângulo tíbio-társico
maior que 90º indicou retração do solear, pois puxa a tíbia
para trás. A flexão dos joelhos ao teste de flexão do tronco
comprovou retração dos ísquiotibiais; caso se encontrassem
em hiperextensão seria devida à retração do solear. O ângulo
coxofemoral maior que 90º indicou retração dos músculos
pelvitrocanterianos, principalmente o piriforme. Em caso de
depressão arredondada na região de L5-S1 indicaria a
presença de cuvette lombossacral (desequilíbrio estático). Na
região da coluna, foi observado se toda a coluna formava
uma suave curva do sacro ao occiptal ou se havia retificação
em alguma área e, em especial, a distância dedo-chão (a ponta
dos dedos deveria tocar o chão com todos os outros fatores,
já apresentados, normais) [14].
Análise dos dados
Foi utilizado o teste não-paramétrico qui-quadrado para
um nível de significância igual a 0,05 do programa Primer of
Biostatistics, version 4.0 by Stanton A. Glantz, da
McGrawHill, 1996.
Resultados
Ao questionamento subjetivo, nove mulheres, do grupo
de salto baixo, afirmaram que seu calçado era confortável e
que não machucava o pé ao fim do dia; quanto à escolha,
seis preferiram o conforto e quatro, a beleza. No grupo de
salto alto, seis afirmaram que seu calçado era confortável e
quatro, que não. No entanto, na questão seguinte, nove
reafirmaram que machucava ou incomodava o pé ao fim do
dia. Na questão escolha do calçado, cinco escolhiam pela
beleza e altura, quatro informaram que era exigência da
profissão ou do local de trabalho e uma preferiu o conforto.
Quanto à presença ou ausência de dor, os dados podem
ser observados de acordo com a Tabela I.
Tabela I - Presença ou ausência de dor a um ou mais testes articulares.
Sim
6
3
Salto alto
Salto baixo
χ 2 (1) = 0,808; p = 0,369
Dor
Não
4
7
Os dados correspondentes aos testes de palpação dos
pés e tornozelos podem ser visualizados na Tabela II. As
mulheres usuárias de salto alto apresentaram mais queixas
e alterações nos pés e tornozelos, em pelo menos duas
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19
19
estruturas, que foram relacionadas abaixo de acordo com
as áreas mais sensíveis à palpação.
Discussão
A quantidade de mulheres que usou salto alto e referiu
dor aos testes articulares foi duas vezes maior que a
quantidade de mulheres que usou salto baixo, apesar desta
diferença não ter sido significativa (Tabela I). A dor à palpação
dos pés, tornozelos e coluna lombar também foi mais referida
por mulheres que usaram salto alto, mas também estas
diferenças não foram significativas (Tabelas II e IV).
Na articulação do joelho, na faceta medial, a quantidade
de mulheres que usou salto e referiu dor foi maior
significativamente que a quantidade de mulheres que usou
salto baixo (Tabela III). As maiores compensações
ascendentes ocorrem nos joelhos devido ao torque sagital
prolongado nessa articulação durante a fase de apoio, pois
aumenta o trabalho do músculo quadríceps, prolonga o
estresse sobre o ligamento patelar e a pressão sobre a
articulação fêmoro-patelar [3,15,16]. Portanto, tais pressões
podem conduzir, precocemente a alterações degenerativas,
principalmente no compartimento medial do joelho devido
a haver aumento do torque em varo, levando a comprometimento maior no lado medial. Foi ainda afirmado que
alterações osteoartríticas nos joelhos são mais comuns no
lado medial que no lateral. Segundo os estudos clínicos
de Joseph [17], o aumento da flexão do joelho e da
atividade muscular do quadríceps, associada à marcha em
salto alto, sugere que mulheres com problemas de joelho
como condromalácia patelar não deveriam usar esses tipos
de calçados.
A quantidade de mulheres que usou salto alto com marcha
em pronação e com eversão do antepé foi significativamente
maior do que a quantidade de mulheres que usou salto baixo
[Tabela V]. O equilíbrio do corpo começa nos pés, pois são
a base de sustentação do nosso corpo. Quando estamos de
pé, o corpo humano oscila constantemente sobre sua base,
de acordo com a forma e orientação da mesma. Sem bons
apoios dos pés no chão, não há boa estática, levando,
portanto, a desequilíbrios ascendentes. A posição do pé em
flexão plantar, por elevação do salto, e, usualmente, a largura
estreita do calcanhar causa alteração na pronação e supinação
do pé durante a marcha, levando à instabilidade do tornozelo
e contribuindo para instabilidade geral [18]. A quantidade
de mulheres que usou salto alto que apresentou
encurtamento da cadeia muscular posterior do corpo foi
maior do que a quantidade de mulheres que usou salto baixo.
Todavia, esta diferença não foi significativa [Tabela VI]. A
retração do sóleo é bastante comum porque os calçados de
saltos altos fazem com que ele trabalhe sempre em
encurtamento [15]. O sóleo traciona a tíbia para trás e a
coloca em permanente posição de rotação lateral, a qual se
torna responsável pela maioria das artroses posteriores da
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Tabela II – Alteração e/ou dor à palpação dos pés e tornozelos.
Salto alto
5
2
2
1
2
1
1
4
4
Fáscia plantar
Ligamento talofibular anterior
Ligamento talofibular posterior
Ligamento deltóide
Bordo interno do calcâneo
Cabeça do 2º, 3º, 4º e 5 º metatarsos.
Neuroma de Morton
Hálux valgo
Quinto varo
χ2 (1)
0,879
0,000
0,556
0,000
0,556
0,000
0,000
1,067
2,812
Salto baixo
2
1
0
0
0
0
0
1
0
p
0,348
1,000
0,456
1,000
0,456
1,000
1,000
0,302
0,094
A Tabela III mostra os dados obtidos à palpação dos joelhos.
Tabela III – Alteração e/ou dor à palpação dos joelhos.
Salto alto
Salto baixo
χ2 (1)
p
Retináculo medial
6
2
1,875
0,171
Retináculo lateral
2
2
0,312
0,576
Faceta medial
6
0
5,952
0,015
Faceta lateral
2
2
0,312
0,576
Pólo inferior da patela
2
2
0,312
0,576
Derrame intra-articular
6
6
0,208
0,648
Crepitação articular
9
8
0,000
1,000
A Tabela IV mostra as observações encontradas ao exame clínico da região lombar.
Tabela IV – Alteração e/ou dor à palpação da região lombar.
Salto alto
Salto baixo
χ2 (1)
p
Músculo quadrado lombar
10
8
0,556
0,456
L5-S1
2
0
0,556
0,456
Tabela V – Desalinhamento na marcha e desequilíbrio lombo-pélvico.
Salto alto
Salto baixo
χ2 (1)
p
Eversão do antepé/ Marcha em pronação
10
5
4,267
0,039
Desequilíbrio estático lombo-pélvico
6
4
0,200
0,655
Tabela VI - Flexibilidade da cadeia muscular posterior (toca o chão).
Salto alto
Salto baixo
Flexibilidade
Sim
3
6
Não
7
4
patela e dos pés valgos. Isso foi também observado por
Merrifield [16] que confirmou a tendência do pé rodar
externamente, principalmente com o uso de salto alto. Na
tentativa de melhorar a estabilidade, a usuária,
freqüentemente, anda a passos curtos, como se estivesse
andando no gelo. O salto alto, conforme mencionado por
Snow [2] leva a um aumento do pico de pressão na cabeça
artigo 01a - Flávia.pmd
20
dos metatarsos, alinha o pé em flexão plantar e causa
aumento do choque de carga vertical durante a marcha.
Logo, os mecanismos normais do pé são alterados e
compensações ocorrem nas articulações superiores como
aumento da flexão do joelho e do quadril, da lordose lombar,
bem como alteração nos tecidos moles para absorverem as
cargas verticais [19]. Ao exame dos pés e tornozelos das
usuárias do salto alto foram observadas calosidades na região
plantar que indicou maior pressão/apoio dos pés onde se
localizam os calos.
Os resultados encontrados neste estudo corroboraram
aqueles encontrados por McBride & Corrigan onde os calçados
de salto alto provocaram alterações e efeitos prejudiciais nos
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
padrões da marcha, bem como nas articulações e músculos
ascendentes dos membros inferiores e coluna lombar, pois
ao usar salto elevado, o centro de gravidade é deslocado
para frente o que faz com que a coluna lombar retroverta
para manter o centro de gravidade entre os pés. Isso
mantém a lombar em má posição, contribuindo para
aumentar o estresse tecidual, o qual pode acelerar alterações
degenerativas [20,21].
Conclusão
Da análise dos resultados, concluiu-se que os calçados de
salto alto (maior que cinco centímetros) causam dor na faceta
medial do joelho, eversão do antepé e marcha em pronação
significativas.
Referências
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artigo 01a - Flávia.pmd
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C
11/02/04, 12:05
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
22
Artigo original
A interferência da mobilização intra-articular
na amplitude de coxofemoral em idosos
Interference of intra-articular mobilization
in the hip amplitude of elderly people
Gláucia Ramos Pereira Henriques*, João Santos Pereira, D.Sc.**, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.**
○
○
○
○
○
○
○
○
○
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○
*Fisioterapeuta, **Programa de mestrado Ciência da Motricidade Humana/PROCIMH/UCB-RJ
Resumo
O processo de envelhecimento atinge todo o organismo alterando a independência
do indivíduo. A articulação deteriora-se gradativamente promovendo rigidez articular
devido às retrações inevitáveis na cápsula que impedem as amplitudes de movimento
dentro dos parâmetros de normalidade. Foram avaliados 30 indivíduos na faixa etária
entre 60 e 69 anos, divididos em 2 grupos: controle e experimental. Os resultados
mostraram, com nível de significância α = 5 %, que a mobilização intra-articular interfere
na amplitude articular de coxofemoral no plano sagital, em idosos sem patologias
associadas.
Palavras-chave:
Sistema motor,
envelhecimento,
articulação, quadril.
Abstract
The aging process reaches all the organism altering the personal independence. The
joint gradually gets depraved and therefore promote a joint rigidity due to an inevitable
retraction in the capsule which does not allows a range of movement amplitudes in the
normal concepts. In this study 30 persons between 60 and 69 years old were evaluated,
divided in two groups, the control group and the experimental. The results showed,
through a significant level α = 5 %, that the intra-articular mobilization interferes in the
hip amplitude in the sagital level, in elderly people without diseases related.
Key-words:
Motor system, elderly,
joint, hip.
Artigo recebido 15 de dezembro de 2003; aceito 15 de janeiro de 2004
Endereço para correspondência: Gláucia Henriques, Rua Dalva da Fonseca, 150/602–bl 2, Vila Santa Isabel 27522-000 Resende RJ,
Tel: (24) 3354-7457, E-mail: [email protected]
artigo 03a - Gláucia.pmd
22
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Introdução
O processo de envelhecimento determina importante
perda funcional osteoarticular e deve ser cuidadosamente
avaliada no idoso, pois desencadeia doenças com alta
morbidade e baixa mortalidade. Suas prevalências e incidências
são diretamente proporcionais ao atual aumento da longevidade
da população brasileira [1,2], principalmente se não houver a
intervenção de profissionais que possam minimizar este
processo. As possibilidades de minimização do quadro de
eugeria, embora reduzidas, ainda são possíveis [3].
Com o envelhecimento articular, torna-se mais provável
que a perda de amplitude de movimento resulte em redução
da capacidade em realizar atividades básicas da vida diária [4].
O funcionamento normal de uma articulação implica em
que a amplitude articular seja o mais próximo possível das
amplitudes fisiológicas e que as estruturas osteoarticulares
conservem suas propriedades, principalmente as de rotação
e deslizamento. Estas condições estão relacionadas às
estruturas cápsulo ligamentares, cartilaginosas e ósseas [5].
Estas alterações são progressivas e ocorrem principalmente na coluna vertebral e nos membros inferiores. Nessas
articulações o desgaste é mais acentuado devido à atuação
das forças de compressão sofridas durante toda a vida [6].
A dinâmica a que esses tecidos são submetidos altera suas
propriedades, desenvolvendo uma adaptação funcional às
demandas mecânicas que lhes são impostas [7].
Importantes alterações ocorrem durante o envelhecimento nos tecidos periarticulares, especialmente nas camadas superficiais. O colágeno é um componente importante
da cartilagem e do tecido conjuntivo e pode se tornar cada
vez mais rígido, devido à ligação cruzada entre as fibras de
colágeno. A elastina é um outro componente fibroso
importante do tecido conjuntivo. Com o envelhecimento,
a elastina é suplantada pela pseudoelastina, que é um
colágeno parcialmente degradado ou uma proteína elastina
defeituosa [8]. A água e as proteoglicanas diminuem,
enquanto as fibras colágenas aumentam em número e
espessura. Como conseqüência, a cartilagem fica mais
delgada e surgem rachaduras e fendas na superfície, o que
dificulta o deslizamento entre as extremidades articulares
[2]. O aumento na concentração de fibrila de 68/mm2 no
jovem para 140 fibrilas/mm2 no ancião [7], tornaria os
ligamentos mais resistentes e menos flexíveis. A estas alterações são somadas a diminuição da movimentação do idoso
e a alteração da quantidade e qualidade do líquido sinovial,
o resultado destes fatores desencadeia no idoso, diminuição
da flexibilidade articular alterando a amplitude de movimento articular [9,6], aumentando o risco de lesões em
movimentos que exigem maior amplitude articular, limitando a magnitude e a velocidade de movimento destas
articulações [10,8].
As mobilizações que objetivem ganhar amplitude articular
devem ser consideradas nos casos em que as articulações e
artigo 03a - Gláucia.pmd
23
23
suas estruturas hajam alterado suas características de
mobilidade [11]. As técnicas devem respeitar a cinética íntima
de cada articulação e das estruturas periarticulares, buscando
recuperar os movimentos elementares de deslizamento e
rolamento necessários à harmonia articular, através de
pequenas oscilações desenvolvidas entre as extremidades
ósseas. A mobilização intra-articular promove o “afrouxamento” das fibras do tecido conjuntivo quando este é submetido à tensão de afastamento no momento da mobilização,
resultando em aumento da amplitude de movimento e
conseqüente melhora da função [12], devido teoricamente
ao aumento do comprimento das fibras capsulares e quebra
das adesões intracapsulares fibroadiposas, resultando no
aumento da quantidade de movimento intra-articular em
uma articulação, repercutindo no movimento angular do
segmento [13].
Objetivo
Este estudo objetiva investigar a interferência da
mobilização intra-articular na amplitude de movimento
angular da coxofemoral.
Material e métodos
A fim de eliminar a possibilidade de vieses potenciais
nos resultados, utilizamos métodos de coleta de dados
apropriados. Tal procedimento nos permitiu tirar conclusões significativas dos resultados. Esta pesquisa apresentou caráter quantitativo e tipologia descritiva e quase
experimental.
Amostra
A população alvo foi composta por 30 indivíduos, de
ambos os sexos, divididos em 2 grupos, controle e
experimental, selecionados aleatoriamente na cidade de Barra
Mansa, Estado do Rio de Janeiro, durante o período de março
a maio de 2003.
Os critérios de exclusão compreenderam:
- Não estar enquadrado na faixa etária em questão;
- Apresentarem patologias osteoarticulares em membros
inferiores;
- Não concordarem com os termos de compromisso,
assumido com o pesquisador.
É importante ressaltar que os preceitos éticos-legais foram
considerados conforme rege a Resolução 196/96, do
Conselho Nacional de Saúde de 10/10/1996 (Brasil, 1996),
que trata das recomendações éticas quando da realização de
pesquisas que envolvam seres humanos.
A coleta de dados com o objetivo de aferir a amplitude
articular de coxofemoral nos movimentos de flexão e
extensão, foi realizada com o goniômetro antes e após as 10
sessões de mobilização intra-articular.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
24
Instrumento de medida
Utilizou-se o goniômetro universal para a medição em
graus da amplitude articular de coxofemoral, pois segundo
Clapper [14], este mostra uma variação significativamente
menor, sendo um instrumento mais confiável.
1 - Goniometria para flexão de quadril
Norkin & White [15], determinam a testagem, com o
indivíduo em decúbito dorsal com a coxofemoral em posição
neutra. Inicialmente o joelho é estendido, mas à medida que
é completada a amplitude de flexão do quadril, permite a sua
flexão. O eixo do goniômetro sobre o trocanter maior do
fêmur, o braço proximal com a linha média lateral da pelve e
o braço distal com a linha média lateral do fêmur.
Durante a fase de experimento, a mobilização intraarticular da coxofemoral foi realizada com movimentos
de decoaptação, anteriorização e posteriorização da cabeça
femoral, favorecendo o movimento da cabeça femoral sobre
o acetábulo no plano sagital. A mobilização da articulação
realizou-se de forma direta, ou seja, movida passivamente
pelo mobilizador, usando técnicas de oscilação da cabeça
femoral [16].
Figura 2 - Final da amplitude de movimento ativo para extensão de
coxofemoral.
Figura 1 - Final da amplitude de movimento ativo para flexão
de coxofemoral.
A intervenção
As oscilações foram realizadas em 2 séries, com uma
freqüência de 2 a 3 por segundo por cerca de 1 minuto,
seguidas por um período de repouso de vários segundos [13].
2 - Goniometria para extensão de quadril
Norkin & White [15], determinam a testagem, com o
indivíduo em decúbito ventral com a coxofemoral em posição
neutra. Inicialmente o joelho é estendido, mas à medida que
é completada a amplitude de extensão do quadril, permite a
sua flexão. O eixo do goniômetro sobre o trocanter maior
do fêmur, o braço proximal com a linha média lateral da
pelve e o braço distal com a linha média lateral do fêmur.
Procedimentos
Na primeira etapa realizou-se uma avaliação inicial, com
o objetivo de detectar ausência de patologias que pudessem
intervir nos resultados obtidos. A aferição da amplitude
articular pela goniometria da coxofemoral, foi empregada,
antes do procedimento de mobilização e após 10 terapias
de intervenção.
artigo 03a - Gláucia.pmd
24
a. Decoaptação
A decoaptação é a tentativa de separação das peças
articulares com o objetivo de por em tensão de afastamento,
os elementos capsulares e ligamentares que podem ser
responsáveis pela limitação de amplitude, proporcionando o
alongamento destas estruturas, aumentando o espaço
fisiológico diminuído [11].
Com o paciente em decúbito dorsal, o mobilizador,
posicionado homolateralmente, sustentando o segmento a
ser mobilizado com as mãos próximas à articulação
coxofemoral e obedecendo a uma angulação de 45º e joelho
a 90º. O mobilizador posiciona seu antebraço no oco poplíteo
com as mãos próximas à articulação coxofemoral e imprime
uma força de afastamento no sentido caudal do segmento a
ser decoaptado.
Posteriormente foram realizadas mobilizações rítmicas,
exercendo uma força débil sobre a cabeça femoral no sentido
antero-posterior e postero-anterior.
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Figura 3 - Posicionamento adotado pelo mobilizador com o
objetivo de realizar a decoaptação da coxofemoral.
25
Figura 5 - Mobilização da cabeça femoral no sentido postero-anterior.
b. Mobilização antero-posterior
O paciente em decúbito dorsal e o mobilizador situado
homolateralmente, exercendo força débil no sentido de
posteriorização da cabeça femoral, no final da amplitude intraarticular percebida [11,17].
Figura 4 - Mobilização da cabeça femoral no sentido Antero-posterior.
Tratamento estatístico
Inicialmente empregou-se a estatística descritiva, com
apresentação de valores médios, desvio padrão e índice
de confiança. A seguir utilizou-se a estatística inferencial
com o objetivo de verificar se havia diferença entre os
valores médios apresentados na variável amplitude de
coxofemoral, quando submetida à mobilização intraarticular.
c. Mobilização postero-anterior
Paciente em posição de decúbito ventral, mobilizador
situado homolateralmente, exercia uma força débil no
sentido de anteriorização da cabeça femoral, no final da
amplitude intra-articular percebida (11;17).
Tabela I -1ª avaliação da amplitude coxofemoral (AACF) do grupo controle.
NR ORD
Média
D Padrão
Ic [ m; 95%]
Nota: Estatística descritiva
A
A
C
Flexão(º)
Flexão(º)
Extensão(º)
D
E
D
93.53
91,13
11,86
20,88
18,01
6,28
81,9683; 105,0983
81,1545; 101,1120
8,3838; 15,3494
desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos do grupo controle.
F
Extensão(º)
E
12,20
6,97
8,3393; 16,0606
Tabela II - 2ª avaliação da amplitude de coxofemoral (AACF) do grupo controle.
NR ORD
Média
D Padrão
Ic [ m; 95%]
A
Flexão(º)
D
93,53
20,95
81,6646; 104,8686
A
Flexão(º)
E
90,80
18,56
80,5177; 101,0822
C
Extensão(º)
D
12,06
6,14
8,6627; 15,4705
F
Extensão(º)
E
12,66
7,18
8,6861; 16,6472
Nota: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos após 45 (quarenta e cinco) dias da 1ª avaliação
no grupo controle.
artigo 03a - Gláucia.pmd
25
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26
Tabela III - Avaliação da amplitude decoxofemoral (AACF) do grupo experimental.
A
A
C
F
Flex(º)
Flex(º)
Ext(º)
Ext(º)
NR ORD
D
E
D
E
Média
76,46
79,13
6,66
6,06
D Padrão
29,41
23,44
3,81
4,43
Ic [ m; 95%]
60,1782; 92,7550
66,1479; 92,1187
4,5561; 8,7771
3,6125; 8,5207
NOTA: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos do grupo experimental.
Tabela IV - 2ª Avaliação da amplitude de coxofemoral (AACF) do grupo experimental.
A
A
C
F
Flex(º)
Flex(º)
Ext(º)
Ext(º)
NR ORD
D
E
D
E
Média
105,46
106,73
11,80
12,33
D Padrão
8,66
12,09
2,67
2,69
Ic [ m; 95%]
100,6668; 110,2665
100,0371; 113,4295
10,3169; 13,2830
10,8434; 13.8232
NOTA: Estatística descritiva desenvolvida a partir dos dados primários dos 15 (quinze) indivíduos do grupo experimental.
Análise estatística
Controle (1a avaliação) x Controle (2a avaliação)
Foram testadas as seguintes hipóteses H0: µ1=µ2 X H1:
µ1 ≠ µ2. O nível de significância utilizado foi de a=5 %.
Teste utilizado: t-student do tipo “antes x depois” (dados
pareados) encontrando-se os seguintes valores para as variáveis:
Variáveis
ACFFD
ACFFE
ACFED
ACFEE
Estatística teste t =
0,6359
0,7702
-0,2464
-0,4809
valor de p
0,5351
0,454
0,809
0,638
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE –
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda.
Em todas as variáveis testadas há evidência estatística
de H0, concluindo-se que, para 14 graus de liberdade, não
existe diferença estatisticamente significativa entre as variáveis da 1ª avaliação e 2ª avaliação grupo controle. Utilizando-se a alternativa não paramétrica (Wilcoxon) foram
encontrados os mesmos resultados, confirmados pelos
valores abaixo.
Variáveis
ACFFD
ACFFE
ACFED
ACFEE
Estatística teste z=
0,1664
0,0208
-0,0837
0
valor de p
0,8678
0,9834
0,9333
1
Experimental (1a avaliação) x Experimental (2a avaliação)
artigo 03a - Gláucia.pmd
26
Foram testadas as seguintes hipóteses H0: µ1=µ2 X H1:
µ1 ≠ µ2. O nível de significância utilizado foi de 5%. A
análise pelo teste t-student apresenta resultados estatisticamente significativos, evidenciando H1 quando submetidos
as variáveis, à mobilização intra-articular, como pode ser
observado nos seguintes dados:
Variáveis
ACFFD
ACFFE
ACFED
ACFEE
Estatística teste t=
-4,0888
-4,8026
-4,9079
-6,1943
valor de p
0,0011
0,0003
0,0002
0
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE –
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda.
A partir da evidência de H1 enunciaram-se novas
hipóteses H0: µ1 < µ2 X H1: µ1 > µ2, concluindo-se pelo
teste t-student, que em todas as variáveis encontramos
evidências de H0 para 14 graus de liberdade. Evidencia-se
que a média da 1ª avaliação é significativamente menor que a
da 2ª avaliação, ou seja, efeito positivo após o tratamento,
como sugere a análise estatística:
Variáveis
ACFFD
ACFFE
ACFED
ACFEE
Estatística teste t=
-4,0888
-4,8026
-4,9079
-6,1943
valor de p
0,9994
0,9999
0,9999
1
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE –
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda
11/02/04, 12:05
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
Utilizando-se a alternativa não paramétrica através do
Wilcoxon, foram evidenciadas as demais variáveis H1 e
enunciadas as hipóteses: H0: µ1< µ2 x H1: µ1> µ2. Os
resultados encontrados foram semelhantes aos apresentados
pelo teste paramétrico (t-student) como mostram os dados:
Variáveis
ACFFD
ACFFE
ACFED
ACFEE
Estatística teste z=
-2,6644
-3,5495
-3,8106
-3,6876
valor de p
0,9961
0,9998
0,9999
0,9999
ACFFD – Amplitude de coxofemoral para flexão direita; ACFFE –
Amplitude de coxofemoral para flexão esquerda;
ACFED – amplitude de coxofemoral para extensão direita; ACFEE –
Amplitude de coxofemoral para extensão esquerda.
27
articular, minimizando o processo de envelhecimento, como
afirma Goulitty [24].
Na mobilização intra-articular, os movimentos
provocados passivamente pelo mobilizador, alternando
compressão e descompressão da cartilagem, favorece ao
aumento da permeabilidade da cartilagem, desenvolvendo
uma lubrificação normal indispensável à mobilidade (24).
A cápsula espessada durante o processo de envelhecimento,
devido à organização anárquica do colágeno, estirou-se à
mobilização intra-articular, alongando e redirecionando as
fibras de colágeno, o que permite maior amplitude articular,
devido à flexibilização maior do tecido capsular. Estas
condições permitem, segundo Goulitty [24], James [25],
Obermann [26] e Nordim & Frankel [7], o aumento da
amplitude de movimento conquistada, como encontrado no
grupo experimental.
Discussão
Conclusão
O grupo controle, devido seleção aleatória, era constituído
de indivíduos de ambos os sexos, praticantes e não praticantes
de atividade física regular.
Os resultados permitiram identificar que as variáveis,
amplitude de coxofemoral direita e esquerda, que apresentavam uma média maior do que o grupo experimental na 1ª
avaliação. Isto provavelmente deve-se ao fato de alguns
participantes do grupo controle, praticarem atividades físicas
regularmente, o que poderia ter subido a média do grupo.
Walker [18] ressalta que nenhuma relação consistente foi
encontrada entre a quantidade de atividade física e a amplitude
de movimento. A tendência geral dos resultados desta
pesquisa não o apoiou, encontrando respaldo nos estudos
de Dufour [19], Fedrigo [20] e Ríos [21], que afirmam ser a
atividade física fator diferenciador das condições dos tecidos,
favorecendo a sua capacidade física.
Devido aos dados primários obtidos no grupo controle,
cuidado ainda maior foi tomado no grupo experimental, onde
condição “sine qua non” foi admitir somente indivíduos do
sexo feminino que não praticassem nenhuma atividade física,
promovendo assim maior homogeneidade do grupo e maior
fidedignidade nos resultados.
Após 45 dias, o grupo controle foi submetido a 2º
avaliação. Os resultados não evidenciaram alterações das
variáveis quando comparados com os dados da 1º avaliação.
É possível supor que se o tempo entre a 1º e 2º avaliações
fosse maior, essas condições poderiam ser alteradas
evidenciando as perdas gradativas e geradas pelo avançar da
idade, descritas por Kauffman [22], Kemoung [23] e
Sherphard [10].
O grupo experimental foi submetido a mesma mensuração
realizada pelo grupo controle. Pode-se observar diferença
estatisticamente significativa nos dados resultantes da
intervenção realizada na coxofemoral, mostrando através da
unanimidade nos resultados, aumento do ângulo da amplitude
O envelhecimento articular gera limitações na amplitude
de movimento devido retrações na cápsula articular, a tensão
aumentada nos ligamentos e a degeneração da cartilagem. A
mobilização intra-articular através do alongamento seletivo
da cápsula, indicou significância estatística para a = 5%, o
aumento da amplitude articular, minimizando o efeito do
envelhecimento natural nas condições limitadoras do
movimento, permitindo ao idoso melhor qualidade de vida e
diminuindo o índice de patologias geradas pela alteração da
cinemática articular da coxofemoral.
artigo 03a - Gláucia.pmd
27
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Artigo original
Facilitação do diafragma pelo método Kabat como
reexpansão pulmonar em pacientes com traumatismo
cranioencefálico e ventilação com suporte pressórico
Diaphragm facilitation through Kabat method as pulmonary
re-expansion in patients with traumatic brain injury and
pressure support ventilation
Sérgio Nogueira Nemer*, Jefferson B. Caldeira**, Paulo R. S. Filho**, Leandro M. Azeredo**, Cláudia S. Geraldo**, Ricardo
Gago**, Monclar R. Polycarpo**, Léa K. Ferreira**, Cátia M. Coimbra**, Rodrigo A. Ramos**, Paulo Cesar P. de Souza***
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*Fisioterapeuta, Professor de fisioterapia em UTI da Universo, Professor do curso de Pós-graduação em fisioterapia cárdio-respiratória da Universo,
Professor do curso de fisioterapia pneumo-funcional da Universidade Castelo Branco, Chefe da equipe de fisioterapia e rotina da ventilação mecânica do
Hospital de Clínicas de Niterói, **Fisioterapeutas do Hospital de Clínicas de Niterói, *** Chefe da UTI do Hospital de Clínicas de Niterói
Resumo
A fisioterapia respiratória tem apresentado grandes dificuldades em mostrar evidência
de suas técnicas. O objetivo deste estudo é mostrar que a fisioterapia respiratória, através
do reflexo de estiramento diafragmático pelo método Kabat, pode melhorar alguns
parâmetros da função pulmonar e a oxigenação em pacientes com traumatismo
cranioencefálico (TCE), durante a ventilação com suporte pressórico (PSV). Foram
avaliados 40 pacientes (idade: 45 ± 16.80 anos) com TCE e escala de coma de Glasgow
na admissão na unidade de terapia intensiva (UTI) menor ou igual a oito. Todos os
pacientes foram entubados, ventilados e tiveram a pressão intracraniana (PIC)
monitorizada ao menos nos quatro primeiros dias. O estudo começou quando os pacientes
estavam em condições de iniciar o desmame, em PSV. Nesta fase, a facilitação do diafragma, através do reflexo de estiramento, foi realizada nos pacientes avaliados, enquanto
o volume corrente (VC), a complacência dinâmica do sistema respiratório (Cdyn,rs) e a
saturação de oxigênio (SpO2) eram medidos em três momentos: antes, durante e após
uma hora do término da técnica. Durante a técnica, a pressão positiva expiratória final
(PEEP) e a pressão de suporte (PS) foram mantidos em 5 e 10 cmH2O respectivamente,
enquanto a FiO2 foi mantida em 0.35. Considerando o valor inicial e aquele medido
após uma hora do término da técnica, de acordo com o teste t de Student, os seguintes
resultados foram obtidos: A SpO2 aumentou de 95,95 ± 1,93 % para 97,55 ± 1.48 %
(P = 0,0001), o VC aumentou de 437,00 ± 102,71 ml para 522,50 ± 107,10 ml (P =
0,0001) e a Cdyn,rs aumentou de 43,70 ± 10,27 ml / cm H2O para 52,25 ± 10,71 ml
/ cm H2O (P = 0,0001). Concluindo, neste grupo de pacientes com TCE grave, nossos
resultados mostraram que a facilitação do diafragma, através do reflexo de estiramento
durante a PSV, foi eficaz em promover reexpansão pulmonar e melhorar a oxigenação.
Palavras-chave:
Re-expansão pulmonar,
reflexo de estiramento,
suporte pressórico.
Artigo recebido 16 de dezembro de 2003; aceito 15 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Sérgio Nogueira Nemer, Rua Miguel de Fria, 95, bloco B / 101, Icaraí 24220-001Niterói RJ,
E-mail: [email protected]
artigo 04a - Sérgio.pmd
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
30
Key-words:
Pulmonary re-expansion,
stretching reflex,
pressure support.
Abstract
Chest physical therapy has presented great difficulties in showing evidence of its
technics. The aim of this study is to show that chest physical therapy, through stretch
reflex of the diaphragm by Kabat method can improve some parameters of the
pulmonary function and the oxygenation in patients with traumatic brain injury (TBI)
ventilated in pressure support ventilation (PSV). Forty patients (age: 45,0 ±16,80) with
TBI and Glasgow coma scale less than or equal to eight in admission to intensive care
unit (ICU) were evaluated. All patients were intubated, ventilated and had the intracranial
pressure (ICP) monitorized at least in the first four days. The study started when the
patients had conditions to begin the weaning, in PSV. In these phase, the diaphragm
facilitation, through stretch reflex was done in patients evaluated, while the tidal volume
(Vt), the dynamic compliance of the respiratory system (Cdyn,rs) and the oxygen
saturation (SpO2) were measured in three moments: before, during and one hour after
the end of the activity. During the stretching, the positive end expiratory pressure
(PEEP) and the pressure suport (PS) were kept in 5 and 10 cmH2O respectively, while
the FiO2 was kept in 0,35. Considering the initial values and those measured one hour
after the end of the technique, according to the Student’s t test, the following results
were obtained: The SpO2 increased from 95,95 ± 1,93 % to 97,55 ± 1,48 % (P =
0,0001), Vt increased from 437,00 ± 102,71 ml to 522,50 ± 107,10 ml (P = 0,0001)
and Cdyn,rs increased from 43,70 ± 10,27 ml / cm H2O to 52,25 ± 10,71 ml / cm
H2O (P = 0,0001). In conclusion, in this group of patients with severe TBI, our results
showed that the diaphragm facilitation, through the stretch reflex during PSV, succeeded
in promoting pulmonary re-expansion and in improving the oxygenation.
Introdução
A fisioterapia respiratória em Unidade de Terapia Intensiva
(UTI) apresenta enormes dificuldades em comprovar
evidência de suas técnicas. Muitos estudos sugerem esta
afirmativa [1,2,3], no entanto é cada vez mais difícil encontrar
uma UTI que não tenha um serviço de fisioterapia. Mesmo
com pouco evidência, é fato inegável que os chefes da maioria
das UTIs não querem ficar sem fisioterapia. Desta pequena
história, podemos escolher uma entre duas hipóteses, ou os
chefes das UTIs estão pagando os fisioterapeutas em vão, ou
a fisioterapia possui alta credibilidade, mesmo sem maiores
evidências. Como os chefes das UTIs, via de regra, são além
de bons médicos, bons administradores, a primeira hipótese
deve ser descartada. Talvez, o que esteja acontecendo seja
uma falta de dados avaliando a efetividade da fisioterapia em
UTI [4], ou uma raridade de fisioterapeutas dispostos a não
só trabalhar, como também comprovar seu trabalho. Da
mesma forma que os médicos necessitam colher seus dados
para suas publicações, o fisioterapeuta tem que fazer o mesmo,
pois a cada dia que passa, as experiências apenas pessoais são
cada vez menos creditadas. Há uma necessidade urgente de
estudos que justifiquem a função da fisioterapia na UTI [4] e
só pode caber a nós, fisioterapeutas, justificar esta função.
artigo 04a - Sérgio.pmd
30
A fisioterapia respiratória e, sobretudo, a motora são cada
vez menos observadas nas UTIs; os fisioterapeutas destas
unidades estão progressivamente mais mecanizados e muitas
vezes, só auscultam os pulmões, aspiram as vias aéreas e
ajustam o ventilador mecânico. Boa parte dos fisioterapeutas
das UTIs se direcionou apenas para a assistência ventilatória,
que sem dúvida, tem recursos mais eficazes em reverter a
hipoxemia e aumentar a expansão pulmonar, mas estes se
esquecem que suas próprias técnicas em associação com a
ventilação mecânica podem melhorar ainda mais a função
pulmonar. Os estudos que abrangem a fisioterapia
respiratória, sobretudo em UTI, basicamente usam esta
apenas para desobstrução pulmonar, sendo raro encontrar
estudos que tratem de fisioterapia respiratória para a reexpansão pulmonar. Mais raros ainda são os estudos de
fisioterapia respiratória que mostram melhora na função
pulmonar, e quando esta ocorre, geralmente é restrita durante
o momento da técnica.
As técnicas de Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva
(PNF) ou método Kabat é uma forma de tratamento
fisioterapêutico iniciada pelo Dr. Herman Kabat nos anos
40 [5]. Em 1947, Margaret Knott e em 1953, Dorothy Voss
se uniram ao Dr. Kabat e em 1956, o primeiro livro de PNF
foi publicado [5]. O método foi inicialmente usado no
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tratamento de portadores de poliomielite, porém outros
estudos revelaram sua eficácia em várias doenças. Dentro
das inúmeras técnicas que o método utiliza, uma nos parece
talvez ainda mais especial, que é o reflexo de estiramento,
que segundo o Dr. Kabat, em 1947, declarou que esta talvez
possa ser a única forma de produzir contração em um
músculo fraco [6]. Obviamente, esta afirmativa exclui as
estimulações elétricas, mas está envolvendo diretamente a
cinesioterapia. Além de inúmeras utilidades, o método pode
ser usado para estimular e reforçar músculos dos membros,
do tronco e também os músculos respiratórios, entre eles, o
diafragma, que como todos nós sabemos, é o mais importante
músculo da respiração. As técnicas de PNF raramente são
observadas como recursos fisioterapêuticos na maioria das
UTIs. No entanto, em nosso serviço, acreditamos e fazemos
uso quase que rotineiro destas técnicas, não só para os
músculos dos membros e tronco em pacientes acamados com
ou sem doenças neurológicas, como na recuperação de
pacientes com doenças como a Síndrome de Guillain-Barré
ou após traumatismo raqui-medular, estimulando também a
musculatura respiratória.
O objetivo deste estudo é avaliar a variação de alguns
parâmetros da função pulmonar através da facilitação do
diafragma realizada pelo reflexo de estiramento diafragmático
(como descrito pelo método Kabat) em pacientes ventilados
com suporte pressórico.
31
Foto 1 – Posicionamento do fisioterapeuta.
Foto 2 – Posicionamento das mãos do fisioterapeuta.
Material e métodos
O estudo foi realizado entre o período de maio de 2001 a
janeiro de 2003 na unidade de terapia intensiva (UTI) do
Hospital de Clínicas de Niterói. Avaliamos 40 pacientes (29
homens e 11 mulheres) com traumatismo cranioencefálico
(TCE) e escala de coma de Glasgow na admissão à UTI
menor ou igual a 8. Todos os pacientes foram entubados e
ventilados de forma invasiva, além de terem a pressão
intracraniana (PIC) monitorizada ao menos nos 4 primeiros
dias. O estudo foi realizado somente quando o paciente
estivesse iniciando o processo de desmame, sem necessidade
de qualquer sedação e de aminas vasoativas, durante o
primeiro ou segundo dia de ventilação com suporte pressórico
(PSV). Portanto, pacientes mais graves, que só permaneceram
em ventilação mecânica controlada, não evoluindo para a
ventilação com suporte pressórico, não foram incluídos no
estudo. Mesmo estando estáveis e em PSV, mas como
conseqüência à lesão cerebral e/ou à sedação residual,
nenhum paciente encontrava-se em condição de obedecer
aos comandos verbais e de aumentar a profundidade da
respiração. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética de
nossa instituição, não requerendo consentimento de
informação, já que se tratava apenas de condutas
cinesioterápicas de rotina e sem qualquer interferência na
evolução da doença. Os ventiladores mecânicos utilizados
foram os Dräger Evita 1 e 2 (Germany) e os Siemens Servo
artigo 04a - Sérgio.pmd
31
300 (Sweden). Os monitores utilizados foram Hewlett
Packard Agilent V24C e Agilent CMS 2001 (USA). Sabendose da dificuldade de se alcançar manualmente o diafragma,
os pacientes obesos, ou com abdome mais proeminente, assim
como os que apresentavam cirurgia abdominal, distensão
abdominal, ou qualquer complicação abdominal que afetasse
a mecânica respiratória ou ainda aqueles que apresentassem
reação à dor ou expressão facial de dor à palpação nesta região,
foram excluídos do estudo. Os pacientes que apresentavam
doença pulmonar prévia e doenças neuromusculares também
foram excluídos do estudo.
A maioria dos pacientes já estava sem monitorização da
PIC (devido a sua normalidade por mais de 48 horas),
enquanto aqueles que ainda tinham a PIC monitorizada,
apresentavam esta em valores abaixo de 10 mm Hg e
encontravam-se estáveis sob o ponto de vista hemodinâmico.
Todos os pacientes foram submetidos ao reflexo de
estiramento diafragmático como preconizado pelo método
Kabat, empurrando para cima e lateralmente com os
polegares ou os dedos, abaixo das últimas costelas [7].
Objetivando eficaz resposta de contração da musculatura
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diafragmática, o reflexo de estiramento foi realizado no final
da expiração, onde este músculo se encontra mais alongado.
A seguir, a facilitação do diafragma tomava continuidade a
cada respiração, sem excesso de pressão no abdome do
paciente, respeitando o volume minuto e sempre sem
provocar dor. O tempo de realização da técnica foi de 15
minutos. Todos os pacientes estavam posicionados em
decúbito dorsal, com a cabeceira elevada entre 30 a 45 graus.
As fotos 1 e 2 mostram o posicionamento do fisioterapeuta,
de suas mãos, e do paciente durante a técnica.
Antes do procedimento ser realizado, todos os pacientes
tinham sido submetidos à vibração associada à compressão
torácica, seguida de aspiração traqueal, a fim de evitar
elevações na resistência das vias aéreas (Raw) e reduções na
complacência dinâmica do sistema respiratório (Cdyn,rs).
Objetivando normalização dos sinais vitais após as condutas
anteriores, cinco minutos de intervalo foram esperados até
que a primeira mensuração do volume corrente (VC), da
Cdyn,rs e da SpO2 (saturação de oxigênio) fossem mensurados
e registrados. O VC e a Cdyn,rs foram obtidos através da
média de cinco respirações consecutivas, enquanto a SpO2
considerada foi aquela que permaneceu constante durante
dois minutos sem qualquer alteração. Não foi permitida
qualquer mudança na fração inspirada de oxigênio (FiO2)
durante o estudo e esta permaneceu em 0,35 antes, durante e
após as condutas. Durante a técnica, todos os pacientes foram
mantidos com uma pressão de suporte em 10 cm H2O e
PEEP (pressão expiratória positiva final) em 5 cm H2O.
A SpO2, a Cdyn,rs e o VC foram mensurados em três
momentos: o primeiro, antes da técnica ser realizada, o segundo,
durante a técnica, e o terceiro, após uma hora do término da
técnica. O segundo momento, embora tenha sido mencionado,
não foi considerado “real”, pois este foi durante a técnica. O
objetivo principal foi comparar a variação dos parâmetros
avaliados no primeiro momento em relação ao terceiro
momento. A Cdyn,rs foi obtida através da seguinte fórmula:
C dyn,rs = VC / Pressão de pico – PEEP
Análise estatística
A análise estatística foi realizada pelos seguintes
métodos: para verificar se existe variação significativa no
valor da SpO 2, do VC e da Cdyn,rs durante as três
avaliações, foi realizada a análise de variância para medidas
repetidas. O teste de comparações múltiplas de Bonferroni
foi utilizado para identificar quais avaliações diferiram entre
si. O teste t de Student emparelhado foi utilizado para
verificar se existe variação significativa entre a primeira
medida das três variáveis avaliadas para a segunda medida.
O critério de determinação adotado foi o nível 5 %, ou
seja, quando o valor de p do teste estatístico for menor
ou igual a 0,05, então existe significância estatística. A
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32
análise estatística foi processada pelo software estatístico
SAS System.
Resultados
A idade foi de 45,08 ± 16,8, o APACHE II (Acute
Physiology and Chronic Health Evaluation) foi de 15,80
± 4,98, o tempo em ventilação mecânica foi de 11,58 ±
6,35, e a escala de coma de Glasgow na admissão à UTI
foi de 5,8 ± 1,32. A tabela I mostra as principais
características dos 40 pacientes avaliados no momento da
admissão à UTI. Como todos os pacientes avaliados
estavam estáveis e já tinham passado pela fase mais crítica
de sua inter nação, felizmente não houve óbitos.
Inicialmente, seis pacientes não toleraram o desmame,
porém posteriormente todos foram desmamados. Nos
pacientes que ainda tinham a PIC monitorizada, esta não
mostrou alterações significativas com o reflexo de
estiramento diafragmático.
Tabela I – Principais características dos pacientes avaliados na admissão
à UTI.
Variável
Idade
PIC
APACHE II
Glasgow
média
45,08
16,00
15,80
5,80
desvio padrão
16,80
6,00
4,98
1,32
mínimo
17
6
6
3
máximo
68
28
26
8
Houve uma elevação significativa da SpO2 inicial (95,95
± 1,93 %) em relação à segunda medida, obtida durante a
técnica (98,05 ± 1,32 %; P = 0,0001). Houve uma redução
significativa da SpO2 obtida durante a técnica em relação ao
terceiro momento (medida uma hora do término da técnica),
de 98,05 ± 1,32 % para 97,55 ± 1,48 % (P = 0,0001), porém,
com um fator positivo, a SpO2 não voltou ao valor inicial.
Comparando-se apenas a medida anterior à técnica com
aquela após uma hora do término desta, houve uma elevação
também significativa, de 95,95 ± 1,93 % para 97,55 ± 1,48
% (P = 0,0001).
Houve uma elevação significativa do VC inicial
(437,00 ± 102,71 ml) em relação à segunda medida,
obtida durante a técnica (582,75 ± 111,08 ml; P =
0,0001). Houve uma redução significativa do VC obtido
durante a técnica em relação ao terceiro momento (de
582,75 ± 111,08 ml para 522,50 ± 107,10 ml; P = 0,0001),
porém também sem retornar ao valor inicial. Comparando-se apenas a medida anterior à técnica com aquela
após uma hora do término da mesma, houve também
uma elevação significativa, de 437,00 ± 102,71 ml para
522,50 ± 107,10 ml (P = 0,0001).
Houve uma elevação significativa da Cdyn,rs inicial (43,70
± 10,27 ml / cm H2O) em relação à segunda medida, obtida
durante a técnica (58,27 ± 11,10 ml / cm H2O; P = 0,0001).
Houve uma redução significativa da Cdyn,rs obtida durante
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Tabela II – Variação da SpO2 , do VC e da Cdyn,rs antes e após uma hora do término da técnica.
Variável
SpO2 (1)
SpO2 (3)
VC (1
VC (3
Cdyn,rs (1)
Cdyn,rs (3
média
95,95
97,55
437,00
522,50
43,70
52,25
desvio padrão
1,93
1,48
102,71
107,10
10,27
10,71
mínimo
92,0
94,0
280
340
28,0
34,0
máximo
99,0
100
690
760
69,0
76,0
F valor
0,0001
0,0001
0,0001
Fig. 1- Variação da SpO2.
Fig. 2 - Variação do VC.
a técnica em relação ao terceiro momento (de 58,27 ± 11,10
ml / cm H2O para 52,25 ± 10,71 ml / cm H2O; P = 0,0001),
porém novamente sem retornar ao valor inicial. Comparandose apenas a medida anterior à técnica com aquela após uma
hora do término desta, houve também uma elevação
significativa, de 43,70 ± 10,27 ml / cm H2O para 52,25 ±
10,71 ml / cm H2O (P = 0,0001).
A tabela II mostra as variações do VC, da SpO2 e da
Cdyn,rs, antes (1) e após uma hora do término da técnica (3),
com o respectivo p valor em relação ao aumento das variáveis nestes dois momentos. O momento 2 foi desprezado
para os resultados finais, já que eram valores obtidos apenas
durante a técnica.
As figuras 1 e 2 mostram a variação do VC e da SpO2
antes, durante e após uma hora do reflexo de estiramento
diafragmático. O gráfico da Cdyn,rs não foi colocado, pois
apresentaria exatamente a mesma variação do VC.
enfermeiros. Se olharmos por este ângulo, a presença do
fisioterapeuta na UTI poderia ser restrita apenas para remoção
das secreções e técnicas coadjuvantes. É lógico que não
podemos nos esquecer da fisioterapia motora, que é essencial,
indispensável e não realizável nem com longínqua semelhança
por outro profissional. Portanto, apesar de tantos benefícios
que a fisioterapia oferece, continuamos bastante limitados.
Seguindo esta linha de pensamento, objetivamos ampliar
nosso arsenal de técnicas e divulgar que a fisioterapia, através
da cinesioterapia respiratória, também pode ser bastante útil
para aumentar o volume pulmonar. Sabemos que pacientes
mais graves, como aqueles com Lesão Pulmonar Aguda (LPA)
e Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA),
apresentam dificuldade de aumento do volume pulmonar até
mesmo com as manobras de recrutamento alveolar, portanto
não temos a pretensão de acreditar que a cinesioterapia
respiratória aumentaria de forma significativa o volume
pulmonar nestes pacientes. Por outro lado, já existem inúmeras
limitações em nossas técnicas, e pelo menos nós,
fisioterapeutas, não devemos acrescentar outras.
Sabendo das dificuldades em comprovar nossas técnicas,
principalmente em pacientes ventilados de forma invasiva,
excluímos pacientes com doença pulmonar prévia e com
doenças neuromusculares, da mesma forma que estes
geralmente também são excluídos dos estudos que abordam
ventilação mecânica na SDRA [8]. Excluímos também os
pacientes obesos, ou com abdome mais proeminente, ou ainda
Discussão
Embora a fisioterapia, através da cinesioterapia respiratória, atravesse uma fase de descrença até por alguns
fisioterapeutas, é necessário que se tente comprovação de
nossas técnicas, para assim justificar nossa presença nas UTIs.
Esta necessidade se reforça pelo fato de que a monitorização
respiratória e os ajustes ventilatórios são também feitos pelos
médicos e a aspiração traqueal também é feita pelos
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aqueles com cirurgias abdominais, entre outros já citados, já
que realmente não seria possível obter o mesmo êxito com
estes, pois não estamos tentando provar que o reflexo de
estiramento diafragmático seja milagroso, mas que pode ser
muito útil e eficaz em determinados pacientes. É verdade
que os pacientes avaliados neste estudo não mais estavam
graves e tinham pulmões previamente saudáveis, mas, como
podemos observar nos resultados, tiveram sua mecânica
respiratória e troca gasosa bastante melhorada.
Alguns estudos sobre fisioterapia respiratória mostram
aumento da complacência do sistema respiratório e melhora
da gasometria arterial [9,10,11], enquanto que outros,
realizados apenas com exercícios (como respiração diafragmática e respiração com os “lábios franzidos”) mostram
apenas redução no consumo de oxigênio, justificada pela
redução da freqüência respiratória [12]. No entanto, estes
efeitos muitas vezes permaneceram apenas durante a
realização dos exercícios [9-12]. Embora o posicionamento
possa ser mais efetivo em manter o volume pulmonar, a
facilitação neurofisiológica da respiração é útil para pacientes
ainda inconscientes, sonolentos, ou nos que ainda estão
parcialmente dependentes de ventilação mecânica invasiva,
principalmente se estes se encontram em desmame difícil
[13]. Acredita-se que a estimulação proprioceptiva aumenta
de forma reflexa a profundidade da respiração [13].
Em um de nossos estudos prévios [14], 30 dos 40
pacientes estudados no atual estudo haviam sido avaliados e
comparados com um grupo controle de 27 pacientes. A
pressão inspiratória máxima (Pi max) havia melhorado de –
38,6 ± 8,9 para – 42,2 ± 9,1 cm H2O (P = 0,00007 – Teste
de Wilcoxon) após sete dias do uso da facilitação do
diafragma. O aumento foi estatisticamente significativo em
relação ao grupo controle, que não foi submetido a nenhuma
conduta de treinamento muscular respiratório (- 42,2 ± 9,1
cm H2O x – 39,2 ± 6,7 cm H2O respectivamente; P < 0,01 –
Teste t de Student). O estudo atual não avaliou a Pi max,
pois não obtivemos um aumento proporcional de pacientes
também no grupo controle, fator que inviabilizou a
continuidade da comparação com a Pi max. No entanto,
temos motivos e constatação neurofisiológica de que quando
um músculo é submetido ao reflexo de estiramento, há
aumento de sua força [6].
A ventilação mecânica controlada piora a capacidade da
força gerada pelo diafragma [15-21], sobretudo, quando
associada à sedação [15]. Em situações específicas, como após
fadiga muscular respiratória, lesão cerebral, sepse, entre outras,
a ventilação mecânica controlada pode ser benéfica. Na sepse,
a ventilação mecânica controlada pode proteger o diafragma
através da redução do estresse mecânico imposto nas
miofibrilas diafragmáticas, que sofrem pela hiper-fragilidade
de seu sarcolema, induzida pela sepse [22]. Em ratos, 72 a 96
horas de inatividade em ventilação mecânica controlada já
são suficientes para reduzir a força diafragmática em mais de
50 % [23]. Poucos estudos existem em humanos em relação
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34
aos efeitos da ventilação prolongada na atividade
diafragmática, no entanto, há relatos de que após 12 dias de
ventilação mecânica controlada em neonatos, a maioria das
fibras diafragmáticas já se encontra atróficas [23]. Portanto,
a inatividade diafragmática está associada à ventilação
mecânica prolongada, e como prevenção, sempre que
possível, devemos evitá-la. Em relação à ventilação mecânica,
tentativas de PSV poderiam ser feitas diariamente nos
pacientes não dependentes de ventilação mecânica controlada,
objetivando prevenir maior atrofia diafragmática. Em relação
à fisioterapia, o treinamento muscular inspiratório pode ser
feito objetivando melhorar a endurance e a força muscular
inspiratória. Embora haja limitada evidência de que a
fisioterapia possa ajudar no desmame [4] e que o treinamento
muscular inspiratório possa aumentar a força e a endurance
muscular inspiratória [24], alguns estudos mostram que tal
conduta pode facilitar o desmame [25,26]. No entanto, maior
atenção deve ser dada aos critérios para selecionar pacientes
para o treinamento muscular inspiratório, pois muitas vezes
a inadequada Pi max, que indica o treinamento, pode ser
conseqüente à desnutrição, ou a distúrbios eletrolíticos, como
hipopotassemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia. Nestas
situações, não há sentido algum em realizar o treinamento,
pois além da fadiga precoce que ocorreria, apenas com a
reposição destes eletrólitos, provavelmente a força muscular
inspiratória se normalizaria. Outras situações incoerentes de
se realizar o treinamento, são em doenças progressivas e
degenerativas, como na Esclerose Lateral Amiotrófica, onde
não há como ocorrer ganho de força e trofismo muscular,
pela própria evolução da doença, mas mesmo assim, alguns
fisioterapeutas teimam em treinar os músculos destes
pacientes, obtendo apenas fadiga como resultado. Ainda em
relação à fisioterapia, de acordo com nosso estudo prévio
[14], acreditamos que o reflexo de estiramento diafragmático
também possa colaborar em melhorar a força muscular
inspiratória, embora outros estudos sejam necessários para
confirmar nossa hipótese.
As manobras de recrutamento alveolar estão cada vez
mais diversificadas, porém duas são as formas básicas de
promover o recrutamento, que servem de origem para as
demais variações. Um dos métodos é através da pressão
positiva contínua em vias aéreas (CPAP) em torno de 40 cm
H2O por cerca de 40 segundos [27, 28], elevando assim a
capacidade residual funcional. O outro método é através da
elevação da pressão máxima em vias aéreas, em ventilação
controlada a pressão (PCV) [29], alcançando em torno de 50
cm H2O por cerca de 2 minutos [30], elevando assim o volume
corrente, a capacidade inspiratória e como conseqüência, a
capacidade vital. Com o significativo aumento obtido do VC
durante o reflexo de estiramento diafragmático por 15
minutos, nos baseamos no aumento da Cdyn,rs e temos
motivos para acreditar que houve algum grau de recrutamento
alveolar. Como não houve elevação da pressão de suporte,
nem redução no “tempo de rampa” (rise time), nem aumento
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
da profundidade da inspiração, fatores estes que podem
aumentar o volume corrente durante a PSV [31], o único
mecanismo que pode explicar o aumento do volume corrente
é o reflexo de estiramento diafragmático. Após o reflexo de
estiramento diafragmático ser realizado, há uma súbita
descompressão na parede abdominal que funciona de forma
similar à inspiração profunda. Como a inspiração profunda
também aumenta o fluxo inspiratório durante a PSV [31], o
aumento do volume corrente pode ser justificado. Pelo fato
de que um músculo após ser submetido ao reflexo de
estiramento, ter uma contração mais eficaz, e nesta situação,
a conseqüência seria a maior profundidade da inspiração, o
aumento do VC também pode ser justificado sob o ponto de
vista neurofisiológico em decorrência do reflexo de
estiramento. No entanto, sabemos que se a descompressão
súbita fosse realizada na caixa torácica superior, também
haveria elevação do volume corrente durante a conduta. Por
outro lado, como se suspeita de que a cinesioterapia
respiratória possa reduzir a SpO2 [2], preferimos não fazer
condutas na caixa torácica superior, restringindo nosso estudo
à parede abdominal, minimizando assim o suposto colapso
alveolar que haveria durante uma compressão torácica.
Acreditamos que a continuidade do reflexo de estiramento
diafragmático, mantendo o volume corrente significativamente mais elevado por cerca de 15 minutos, promoveu
algum recrutamento alveolar, já que a Cdyn,rs também foi
elevada de forma significativa. Os pacientes não tinham
qualquer lesão pulmonar, mas apresentavam a Cdyn,rs ainda
algo reduzida (43,70 ± 10,27 ml /cm H2O) antes da conduta,
mas após esta, mostraram uma elevação da Cdyn,rs para
52,25 ± 10,71 ml / cm H2O (P = 0,0001). Estes resultados
reforçaram nossa hipótese de recrutamento alveolar, ou de
reexpansão pulmonar, através do aumento da capacidade
inspiratória e vital em virtude do reflexo de estiramento
diafragmático.
Embora tenha ocorrido uma queda significativa nos três
parâmetros avaliados após o término da técnica, os níveis
que permaneceram após esta, foram significativamente
maiores que os iniciais e assim se mantiveram ao menos por
mais de uma hora, mostrando que a conduta atingiu os
objetivos esperados.
Conclusão
A fisioterapia respiratória não deve cair em descrença,
mas necessita de mais estudos para ter maior evidência. Ainda
há técnicas eficazes e pouco exploradas, como o reflexo de
estiramento diafragmático, que pode auxiliar na reexpansão
pulmonar e na melhora da oxigenação.
Com os resultados obtidos, concluímos que o reflexo de
estiramento diafragmático pelo método Kabat foi eficaz em
aumentar a SpO2, o VC e a Cdyn,rs neste grupo de pacientes
com TCE grave, mostrando ser uma boa conduta fisioterapêutica, sobretudo em associação com a PSV.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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Artigo original
Prevalência de lombalgia em praticantes
de exercício contra-resistência
Prevalence of low back pain in weight lifting
Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos, M.Sc.*, Marco Antônio Guimarães da Silva, D.Sc.**, João Santos Pereira,
D.Sc.**, Luiz Alberto Batista, D.Sc.***
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*Universidades Castelo Branco e Estácio de Sá, **Universidade Castelo Branco, ***Universidades Castelo Branco e UERJ do Rio de Janeiro
Resumo
Estudos provam que a queixa de lombalgia é um dos problemas mais comuns da
sociedade. Autores especializados no assunto relatam a existência de uma diversidade de
fatores que podem gerar disfunções na coluna lombar, disfunções estas que se associariam
a traumas mecânicos, características psicossociais e comportamentais, tipo de ocupação,
morfologia (estatura, idade, peso, obesidade), tipo de atividade física, entre outros dados.
Com o aumento do número de praticantes de musculação em academias e a grande
prevalência de dor lombar nesta classe, o levantamento epidemiológico torna-se
importante para reforçar a sua prevenção e tratamento de maneira a assegurar a saúde e
qualidade de vida desses participantes. O objetivo do presente estudo é fazer o
levantamento da prevalência de dor lombar em praticantes de musculação em academias
do Rio de Janeiro. Para tal, foi utilizado um questionário epidemiológico, auto-aplicável,
adaptado do Quebec Back Pain Disability Scale, enfatizando perguntas sobre a dor lombar e
indagando idade, sexo, estado civil, profissão e descrição da atividade física que realiza.
Tem-se como preocupação fazer um levantamento dos fatores predisponentes e aspectos
da lombalgia, para que no futuro, seja possível promover-se a elaboração de um programa
de educação para a saúde. O referido questionário foi aplicado em 160 praticantes de
musculação, sendo 117 mulheres e 43 homens, com idade média igual a 27,98 ± 9,61, em
academias do Rio de Janeiro. Utilizou-se tanto as técnicas da estatística descritiva, no
sentido de caracterizar os dados médios das respectivas variáveis. Quanto às tabelas de
freqüências, foram utilizadas técnicas da estatística inferencial, por meio de um teste
não paramétrico χ2, a fim de verificar-se a interdependência entre as distribuições de
freqüências observadas, para uma significância de p < 0,05. Os achados apontam para
as seguintes características: a prevalência da dor lombar atingiu 57,1%, existem relações
de dependência da variável sexo com o tempo de prática (p = 0,0401) e o manifesto da
dor (p = 0,2862). Para a variável idade, verificou-se a existência de uma relação de
dependência com o tempo de prática (p = 0,0008), perfeitamente aceitável e coerente.
Entre as variáveis dor lombar, freqüência da dor lombar e manifesto da dor encontraramse relações de dependências significativas (p < 0,05), denotando que as mesmas são
inter-relacionadas. Para as demais variáveis e os respectivos cruzamentos, não foram
encontradas relações significativas de dependências.
Palavras-chave:
lombalgia, exercício
contra-resistência,
promoção de saúde.
Artigo recebido em 15 de janeiro de 2004; aceito em 5 de fevereiro de 2004
Endereço para correspondência: Karynne Grutter Lisboa Lopes dos Santos, Avenida General San Martin, 570/401 Leblon 22441-010 Rio de Janeiro RJ,
Tel: (21) 2259-6161/97751724, E-mail [email protected]
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Abstract
Many studies in the literature have pointed the low back pain (LBP) complaint as one
of the society´s most common problems. The authors of these studies have reported a
diversity of factors that can generate dysfunctions in the lumbar spine, which could be
associated with mechanical injury, psychological, social and behavioral characteristics,
occupational type, morphology (height, age, weight, obesity), type of physical activity,
among others. With the increase of weight lifting and the large prevalence of LBP in
this population, an epidemiological survey becomes important to reinforce the prevention
and treatment to improve health and quality of life. The aim of this study is a survey
of the prevalence of LBP in weight lifting individuals. An epidemiological questionnaire
adapted from Quebec Back Pain Disability Scale was used, giving emphasis to LPB and
data like: sex, marital status, profession and description of physical activity. The aim of
this survey is to identify the onset of this syndrome, the associated factors, with the
objective to promote future health education programs. The questionnaire was applied
in 160 weight lifting individuals (117 female and 43 male), medium age 27,98 ± 9,61, in
fitness centers of Rio de Janeiro. A descriptive statistical treatment was used to
characterize the medium values of data from the respective variables as well asthe
table of frequency. To verify the interdependence among frequency distribution observed
a no parametric test χ2 was used. The level of significance for this study was chosen at
p < 0,05. The following characteristics appear in the results: the prevalence of LBP
found was 57,1%, and the statistic analysis indicated dependence between sex and
duration of practice (p = 0,0401), sex and pain onset (p = 0,2862), age and duration of
practice (p = 0,0008). Between the variables LBP, frequency of LBP and pain onset,
was found a significant relationship of dependence (p < 0,05). For the other variables
and respective crossings, significant relationship of dependence were not found.
Key-words:
low back pain, weight lifting,
health promotion.
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Introdução
Em função da ampla incidência de quadros dolorosos, a
coluna vertebral tem sido tema em pesquisas [1]. Ela perfilase entre um dos principais motivos de queixa dos problemas
ortopédicos [2-4]. É uma das doenças mais comuns no mundo
ocidental, vindo a afetar aproximadamente 80-85% da
população em alguma época de sua vida [5-8].
A síndrome dolorosa lombar ou lombalgia, definida como
uma dor localizada na região lombar, em quase sua totalidade
de etiologia idiopática, representa alto custo para o sistema
atual de saúde [9]. Geralmente, identifica-se dor, aumento de
temperatura e espasmo muscular na região lombar, diminuição
da mobilidade do tronco e dor irradiada para os segmentos
corporais inferiores [10].
Pesquisas sugerem numerosas condições como causas de
lombalgia, incluindo tensões musculares, alterações liga-mentares,
fraturas, rompimento do disco intervertebral e lesões miofasciais,
por exemplo, estiramentos musculares e tendinites [11].
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Muitas disfunções da coluna lombar acontecem na
presença de instabilidade articular dessa região, ao existir
movimentação articular excessiva, sem controle muscular protetor, afetando a qualidade e a quantidade do movimento [12].
O desequilíbrio muscular constitui um fator importante,
pois a coluna necessita de estabilidade durante seus movimentos para evitar a sobrecarga excessiva. Esta estabilidade
parte de estruturas ligamentares íntegras e de uma boa
musculatura, principalmente a abdominal.
Mais de 80% de todos os casos de dor lombar são
causados por músculos do tronco fracos, ao invés de desordens estruturais [13]. O espasmo do músculo psoas desempenha um papel relevante nas patologias da região lombar
[14]. Os músculos ajudam a regular a postura, provendo de
informação o sistema de controle motor sobre a posição
do corpo no espaço. Os músculos e tendões dos segmentos
espinhais, por mudanças degenerativas ou trauma mecânicos, poderão apresentar contração muscular insuficiente,
associada a desalinhamento do segmento espinhal [15].
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Como já citado anteriormente, muitos tecidos estão
capacitados a produzir sintomas de lombalgia; o disco
intervertebral é, porém a fonte primária deste mal, em
contraste com as articulações facetárias [16].
O disco intervertebral desempenha um papel de
amortecedor e de repartidor de pressão. Com o avançar da
idade, ele se desidrata, desaparecendo aos poucos suas
capacidades elásticas. O núcleo perde o caráter gelatinoso, as
fibras do anel se rarificam e se debilitam. Então, o disco se
degenera, sua altura decresce, favorecendo o aumento das
forças de pressão, sobre as facetas articulares posteriores,
provocando a artrose.
A herniação discal é fundamentalmente a liberação do
material nuclear do confinamento do ânulo fibroso
envolvente, levando a compressão das raízes nervosas
adjacentes, manifestando a ciatalgia [17,18].
As cargas adicionais na coluna lombar são suportadas
pelo corpo vertebral e disco intervertebral anteriormente e
pelas duas facetas articulares posteriormente. As articulações
facetárias são o centro motor da unidade funcional. Quando
solicitadas anormalmente, geram processo irritativo,
inflamatório e a sinovite que, em longo prazo, provocam o
surgimento de sinais artrósicos, acusados radiologicamente
pelo pinçamento articular, pela osteofitose e pela esclerose
subcondral [19-22].
Em quadros mais avançados, as fraturas vertebrais
resultarão em modificações posturais, incluindo agravamento
da cifose torácica, retificação da lordose cervical com
protrusão da cabeça e pescoço, aumento da lordose lombar,
escoliose, anteriorização e rebaixamento das costelas e
aproximação da 12ª costela à crista ilíaca. Estas alterações
contribuirão para a diminuição da estatura, entre 10 e 20 cm,
para a sobrecarga de músculos, tendões e ligamentos
adjacentes para a diminuição do volume das cavidades
abdominal e torácica, chegando a protrusão abdominal e
alteração das funções cardíaca, pulmonar, gástrica e vesical.
Tais distúrbios podem dificultar a respiração e causar
constipação, hérnia de hiato, incontinência urinária e, ainda,
limitações nos movimentos da coluna, fraqueza generalizada,
alterações no equilíbrio e conseqüente prejuízo da autoimagem [23].
As características físicas e os fatores de risco associados
a lombalgia, incluem flexibilidade, discrepância no
comprimento de membros inferiores, disfunção da articulação
sacroilíaca, intensidade do treinamento e limitações de força
muscular [24].
A lombalgia resultaria de processos degenerativos,
originados por mudanças relacionadas à idade ou por forças
biomecânicas alteradas. Várias síndromes produzem
degeneração progressiva da coluna lombar, como nos casos
da osteoartrite facetária, da estenose espinhal lombar, das
discopatias e da espondilolistese [15,25].
Investigações revelam que a degeneração do disco
intervertebral e a espondilólise lombar se registram com
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maior freqüência em pessoas que fazem trabalhos de
sobrecarga [26].
Médicos especialistas no assunto acreditam que os grandes
inimigos da coluna são a má postura no trabalho e no dia-adia, a vida sedentária ou a atividade física excessiva [4].
Freqüentemente, prescreve-se exercício físico na
prevenção e no tratamento da lombalgia. Há, porém uma
falta de conhecimento sobre seus tipos, sua freqüência e sua
duração; é bom lembrar que concretiza-se num tratamento
não invasivo e relativamente barato. A inatividade física age
prejudicialmente no sistema músculo-esquelético [27].
A prática da atividade física em relação à saúde vem
interessando a vários autores [28].
Pesquisadores como Pollock et al. [29], Astrand e Rodahl,
Saltin e Rowell, Prat et al., Bee e Mitchel, apud Pellegrinotti
[30] descrevem o grande benefício preventivo e terapêutico
dos exercícios físicos, reconhecidos e recomendados pelos
especialistas envolvidos com a questão da saúde.
A atividade física pode ser definida como qualquer
movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos
que resulte em energia expandida, incluindo o exercício, o
esporte, o trabalho e as atividades domésticas [31].
Atualmente, as doenças hipocinéticas representam grande
causa de óbito na população adulta, superando as doenças
infecciosas [32].
É consenso dos profissionais da área das ciências do
esporte que os indivíduos fisicamente mais ativos apresentam
mais saúde do que os inativos, ou tendem a experimentar
menores taxas de morbidade por causas crônicas
degenerativas [33].
Quando a atividade física é praticada com freqüência,
diminui a intensidade e a velocidade de implantação de
disfunções músculo-esqueléticas, neuro-musculares e cardiopulmonares, decorrentes do envelhecimento orgânico. Ainda
que iniciada em idade avançada, a prática de exercícios tende
a aperfeiçoar a qualidade do desempenho físico e a reverter
parcialmente as disfunções já instaladas [34].
Os principais objetivos fisiológicos a serem alcançados
por meio de um programa de treinamento são os seguintes:
aumento da capacidade de produzir trabalho, benefício da
troca energética, melhor circulação periférica, diminuição da
gordura corporal, decréscimo dos níveis de gordura
sangüínea, prevenção contra doenças arterio-coronarianas,
desenvolvimento de valências físicas, por exemplo, a
flexibilidade, a força, a coordenação neuro-muscular e a
agilidade, mais proveitosa qualidade de vida e
desenvolvimento da estética corporal [35,36].
A flexibilidade é um componente considerável de aptidão
física. Exercícios pretendidos em benefício do desenvolvimento
da flexibilidade incorporam-se na maioria dos programas de
condicionamento, a fim de aprimorarem o desempenho atlético
e a redução do risco de lesões nos esportes [37].
A prática desportiva precisa de um bom nível de
flexibilidade, pois exige a utilização completa dos arcos
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articulares, especificamente envolvidos nos gestos desportivos, a fim de alcançar-se uma performance de alto
rendimento [38].
A atividade física, contudo, só produzirá efeitos
benéficos em seus praticantes, caso seja escolhida com
critério, aprendida, apreciada e, fundamentalmente, dosada
em intensidade e volume; outrossim, espera-se que seja
adequada a cada tipo de participante, ao grupo e aos
objetivos pro-postos. Quer se dizer com isso que, além
dos princípios científicos do treinamento desportivo individualidade biológica, adaptação, sobrecarga,
continuidade, interdepen-dência volume-intensidade e
especificidade [39] -, outros importantes critérios devem
ser empregados e respeitados [40].
A abordagem tradicional que destaca a necessidade de
esforços físicos contínuos e vigorosos, repercutindo em
ganhos significativos nos componentes da aptidão física, vem
se modificando. A participação regular em exercícios físicos
de força moderada prestar-se-ia mais evidentes do que os
advindos de esforços mais vigorosos, trazendo mais benefícios a saúde. Existem fortes indícios de que programas de
exercícios envolvendo esforços físicos moderados têm mais
probabilidade de serem adotados e mantidos ao longo de
toda a vida, em comparação com aqueles vigorosos [41].
Stein [42] acredita que traumas mecânicos, alterações
metabólicas, além de problemas psicológicos, resultariam, da
atividade física feita de forma inadequada.
Diversos investigadores do tema insistem que os alunos
devem submeter-se a exame médico, antes de serem avaliados
pelo professor [39].
Machado e Fernandes Filho [39] advogam que a prescrição
do exercício incluirá a avaliação médica e a análise da
freqüência, da intensidade do treinamento, da duração do
exercício e de sua modalidade.
Danos na coluna lombar acometem, com freqüência, atletas
competitivos e “recreativos”. Documenta-se a ocorrência de
lombalgia em vários atletas de diferentes jogos esportivos,
incluindo o futebol americano, o golfe, a ginástica, a corrida e
o tênis. Presentifica-se em maior grau em esportistas que
participam de jogos de velocidade e contato [24].
A atividade esportiva, cujos fins são competitivos, expõe
riscos de dores e doenças na coluna lombar, associados aos
esforços musculares acentuados e repetitivos [43].
A lombalgia, ao atacar os atletas jovens, decorre dos
elementos posteriores da coluna. Homologam algumas
publicações que a ocorrência de alta freqüência de
espondilólise, causada pela extensão máxima, repetida em
jogos esportivos e na ginástica [44].
As fraturas de tensão são danos de overtraining ou síndrome
do excesso de treinamento, comuns entre atletas e indivíduos
fisicamente ativos, sendo reconhecida entre recrutas do
exército por um cirurgião prussiano em 1855 [45].
Garcia Júnior e Mortatti [46] complementam que as
variáveis intensidade e volume, quando não dosadas
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adequadamente em um programa de treinamento, provocam
uma sensação de fadiga que persiste mesmo após os períodos
regulares de recuperação, acarretando alterações emocionais,
comportamentais e físicas.
A maioria dos episódios de lombalgia detectada por causa
do treinamento é secundária a contusões, tensão muscular
ou síndrome facetária, e associada a mecanismo traumático
ou movimentos repetitivos [47].
As lesões desportivas, em geral, classificam-se em dois
tipos: lesão traumática aguda, que é resultante de uma pancada
ou torção devido ao deslocamento, fratura ou distenções; e
lesão por repetição, advinda de treinamento repetitivo e
microtraumas [48].
Aproximadamente, metade de todas as lesões referentes
às práticas desportivas, tanto em adultos como em crianças e
adolescentes, pode ser atribuída a microtraumas repetitivos
ou ao excesso de treinamento. A etiologia destas lesões é
multifatorial, contribuindo para elas, tanto fatores intrínsecos,
como extrínsecos. Os fatores intrínsecos abrangem
alinhamento anatômico das extremidades e amplitude de
movimento articular, enquanto que os extrínsecos incluem
calçados inapropriados, superfície de treinamento inadequada
e erros nos treinos [49].
Sherman [47] considera que o exercício deveria ser
realizado, sempre que possível, em superfícies macias, pois
na infância e adolescência, as áreas de risco são governadas
pelos centros primários e secundários de ossificação, surgindo
na forma de osteocondrose, degeneração ou necrose, seguida
por regeneração ou recalcificação.
Recomendou-se o exercício no tratamento da lombalgia,
durante décadas. A melhoria da aptidão aeróbia elevaria o
fluxo de sangue e a oxigenação dos tecidos, inclusive dos
músculos, ossos e ligamentos da coluna vertebral. O exercício
aeróbio também é passível de amortecer o impacto
psicológico da dor lombar, agindo positivamente sobre o
humor, a depressão e a tolerância à dor [24].
Li e Bombardier [50] assevera que na terapia física da
lombalgia, cabem exercícios que envolvem atividades
aeróbicas de baixo impacto e de condicionamento abdominal.
Nas academias os exercícios resistidos, a bem do
desenvolvimento das valências físicas, força e resistência
muscular, associados a alongamentos específicos, assinalamse em forma de fatores de proteção à coluna. À proporção
que o músculo é sobrecarregado, através de exercícios com
pesos devidamente orientados e controlados, a força e a
resistência à fadiga, aumentarão, diminuindo-se, então, o risco
de lesões [43].
Na opinião de Novaes e Vianna [51], ao revelarem a grande
diversificação nas atividades das academias. Os clientes podem
optar pela musculação, passando, antes ou depois, por várias
modalidades de ginástica (aeróbica, localizada, step training,
body pump, natação, hidroginástica, alongamento, lutas
squash, tênis, e até pelas atividades mais recentes no mundo
fitness, como bikeclass, spinning, aerobox, slide e outros).
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Segundo Dos Santos [52] as modalidades mais praticadas
nas academias são a musculação, 60,6%, a localizada, 27,1%,
e a aeróbica, 10,8%.
Os achados citados no parágrafo anterior corroboram
com os estudos de Novaes [53], ao defendem que o paradigma
atual de beleza é retratado pelo corpo atlético com
musculatura muito bem definida. Aconselham, para atingir
tal fim, sobretudo a ginástica localizada e a musculação, além
de um baixo percentual de gordura corpórea, através das
atividades aeróbicas.
Costa [54] complementa, atentando que o alto percentual
na prática da musculação, parte do fato de que esta atividade
admite grande diversidade de horários, proporciona a
realização de exercícios personalizados e, também, o
desenvolvimento de outras qualidades físicas diferentes das
desenvolvidas na ginástica.
Segundo Pereira [55], a musculação funciona como uma
atividade preventiva e de recuperação, visando a uma melhor
qualidade de vida. Acredita que ninguém se machuca por
executar exercícios. O que normalmente ocorre é a lesão ser
ocasionada pela execução inadequada de exercícios, pelo
exagero ou pela utilização de alguma técnica indevida. A
maioria dos casos de lesões na musculação ocorre por excesso
de sobrecarga de trabalho, o chamado overtraining.
O número crescente de academias, escolas e universidades com recursos para o treinamento com pesos também
confirma a popularidade desta forma de condicionamento
físico [56].
O elevado número de praticantes de musculação e de
academias que oferecem tal atividade, junto a sobrecarga que
esta modalidade é capaz de causar à região lombar da coluna
vertebral, aliam-se a falta de literatura sobre o tema. Tornase, pois, necessário um levantamento epidemiológico. Tal
levantamento identificaria a prevalência de lombalgia em alunos
de musculação e ofereceria substrato, para programas de
prevenção, a saúde e qualidade de vida desta classe.
Portanto, o objetivo geral deste estudo é identificar a
prevalência de lombalgia em praticantes de musculação, de
ambos os sexos, no município do Rio de Janeiro e demonstrar
a correlação entre dor lombar e a prática dessa atividade.
Isto com o propósito de investigar a relação entre dor lombar
e atividade física, objetivando, no futuro, a elaboração de um
programa de educação para a saúde. Este programa visaria o
bem estar físico, social e psicológico dos praticantes.
Material e métodos
A amostra contou com 160 (cento e sessenta) praticantes
de musculação em academias, sendo 117 mulheres e 43
homens, com idade média igual a 27,98 + 9,61, escolhidos
aleatoriamente do Município do Rio de Janeiro. Acrescentase que foram excluídos indivíduos que executavam outro tipo
de atividade física, e que estivessem se submetendo a algum
tipo de tratamento para a dor lombar.
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41
41
Como instrumentação aplicou-se um questionário
epidemiológico, auto-aplicável adaptado do Quebec Back Pain
Disability Scale. Deu-se ênfase às perguntas sobre a dor lombar
e também sobre outros dados - idade, sexo, estado civil,
profissão e descrição da atividade física.
Todas as questões foram fechadas, porém algumas
continham ítens para serem especificados, por exemplo: “De
que maneira a dor se manifesta em atividade ou repouso, e
em qual (is) movimento (s) e em qual (is) posição (ões),
respectivamente”?
O questionário Quebec Back Pain Disability Scale,
devidamente validado, sofreu pequenos reajustes,
principalmente quanto às perguntas sobre dor lombar;
também excluiram-se dados como hábitos pessoais e fatores
individuais (fumo, álcool, atividade física extra, sono), fatos
psicológicos e psicossociais (perfil de personalidade, relações
afetivas com amigos e família).
Os questionários foram distribuídos e recolhidos pela
autora do estudo, com o intuito de atender aos objetivos da
pesquisa. Explicou-se, de modo geral, em que consistia o
estudo, esclarecendo sua importância em benefício dos
próprios pesquisados. Sendo assim, os alunos aceitaram
participar, respondendo as perguntas do instrumento.
O presente estudo observou o tratamento estatístico a
bem das normas básicas, mantenedoras da cientificidade da
pesquisa. O nível de significância atingiu p < 0,05, isto é,
95% de certeza nas afirmativas e/ou negativas que o presente
estudo venha denotar.
O tratamento estatístico foi dividido em duas partes: a
primeira relativa à estatística descritiva, na qual se determinaram
as distribuições de freqüências para os dados de natureza
discreta, isto é, os que obedecem ao sistema de contagem
conforme o processo específico de classificação, além dos dados
de natureza contínua, quer dizer, aqueles que obedecem a um
sistema métrico bem definido, e colocam em prática, os
parâmetros de média, desvio-padrão, mínimo e máximo.
A segunda parte tratou da estatística inferencial, por
meio da qual aplicaram-se os testes de hipóteses. Utilizouse, então, o teste não paramétrico Qui-Quadrado; através
dele fez-se a análise comparativa, entre as distribuições de
freqüências derivadas dos cruzamentos entre as questões
levantadas e as respectivas variáveis discricionárias (faixa
etária e presença de dor).
Resultados
A prevalência da dor lombar atingiu 57,1%, dos
praticantes. Existem relações de dependência da variável sexo
com o tempo de prática (p = 0,0401) e o manifesto da dor (p
= 0,2862). Para a variável idade, verificou-se a relação de
dependência com o tempo de prática (p = 0,0008),
perfeitamente aceitável e coerente.
As variáveis dor lombar, freqüência da dor lombar e
manifesto da dor, encontraram-se relações de dependências
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significativas (p < 0,05), denotando que as mesmas são interrelacionadas. Para as demais variáveis e os respectivos
cruzamentos, não foram encontradas relações significativas
de dependência.
Tabela I - Descrição das variáveis e parâmetros.
Parâmetro
Sexo
Faixa etária
P21
P22A
P22B
P31
P33
P35
Descrição
Sexo
Faixa etária
Tempo de prática
Freqüência semanal
Horas/Aula
Dor lombar
Freqüência da dor
Manifesto dor
Tabela II - Resultados da estatística inferencial, segundo
a aplicação do teste χ2 por sexo.
Sexo
Idade
P21
P22A
P22B
P31
P33
P35
Qui-Quad
12,14
11,64
7,74
8,91
2,13
3,25
3,78
g.l
7
5
3
4
1
5
3
Sig.p
0,0960
0,0401
0,0517
0,0634
0,1444
0,6615
0,2862
Resultado
Independentes
Dependentes
Independentes
Independentes
Independentes
Independentes
Independentes
Tabela III - Resultados da estatística inferencial, segundo
a aplicação do teste χ2 por faixa etária.
Idade
P21
P22A
P22B
P31
P33
P35
Qui-Quad
67,54
35,94
32,31
1,74
52,27
13,71
g.l
35
21
28
7
35
21
Sig.p
0,0008
0,0222
0,2621
0,9728
0,0304
0,8817
Resultado
Dependentes
Dependentes
Independentes
Independentes
Dependentes
Independentes
Discussão
A prevalência de dor lombar em praticantes de
musculação, expressa nesta pesquisa chegou a 57,1%.
Neste tipo de atividade, a prevalência é alta, quando
comparadas com outras como as do basquetebol, 11 a
12%, voleibol, 11%, golfe, 10%, corrida, 5%, tênis, 50%
e futebol, 30% [24] e também, com a ginástica de
academia, que é de 50,4% [52].
Algumas questões podem estar relacionadas com a alta
prevalência nesse tipo de atividade física, que por sua vez, se
assemelham a ginástica de academia.
Pollock e Wilmore [29] sugerem que as atividades de
alto impacto, como as corridas, a dança aeróbica e o
basquetebol, correlacionadas às grandes forças de
compressão aplicadas sobre a coluna, podem precipitar ou
agravar os problemas lombares.
artigo 13 - Karynne.pmd
42
A execução do exercício de agachamento com sobrecarga,
provoca o aumento da pressão intradiscal e do trabalho da
musculatura paravertebral, sobretudo nas execuções
incorretas [22].
Nos exercícios abdominais, o movimento de flexão
completa do tronco ativa a função paradoxal do músculo
íliopsoas, de flexor do quadril para extensor da coluna lombar
[36]. Quando o psoas se contrai, ele se une ao ilíaco na flexão
da articulação do quadril e tende a tracionar as vértebras
lombares, numa direção anterior e inferior. Por seu turno, se
os músculos abdominais se contraírem simultaneamente,
evita-se a inclinação da pelve para frente e ocorre a flexão
lombar, a flexão do quadril, ou ambas. Mas se os abdominais
são fracos, a pelve se inclina para frente, sob a influência do
ilíaco, enquanto ocorre a extensão lombar [54].
Segundo Costa [54], as diferentes posições assumidas por
um indivíduo e os diferentes exercícios para os membros
superiores proporcionam diferentes sobrecargas nos discos
intervertebrais. A curvatura lombar se acentua, ao utilizarem
altas cargas de trabalho para membros superiores, especialmente
quando estes se encontram elevados acima da cabeça. Além
disso, os movimentos de flexão de braço e glúteos em “quatro
apoios”, em função das altas intensidades de trabalho exigidas
e da grande incidência de execuções inadequadas, podem resultar
em uma postura hiperlordótica da região lombar.
Por um outro lado, o treinamento de força pode aumentar
ou preservar a massa muscular, especialmente de indivíduos
em fase de envelhecimento, contribuindo para o decréscimo
de lesões ortopédicas e manutenção da independência
funcional [57].
Conclusões
Em decorrência da grande prevalência da lombalgia na
população em geral, a sua prevenção constitui uma estratégia
primordial de intervenção terapêutica.
A constatação de que o número de academias, em todo o
Brasil, tem crescido de forma impressionante só vem
incentivar e respaldar a necessidade do embasamento
científico aos profissionais que atuam nessa área.
Inadiável é esforçar-se para que a intensidade da atividade
física seja dosada segundo cada faixa etária, acresce que o
fator individualidade biológica sempre deverá presentificarse com nitidez em qualquer programa de atividade física.
Outrossim, na musculação em academia torna-se
imprescindível controlar as variáveis como a dosagem dos
exercícios em intensidade (número de exercícios ou repetições
realizadas na unidade de tempo, percentual de peso levantado
e duração dos intervalos de tempo entre os estímulos),
volume (número de exercícios, repetições e duração); tipo
de exercício; a realização de exercícios de alongamento, antes
e depois das aulas, e o aquecimento antes das aulas.
Os exercícios para prevenção da lombalgia precisam
incorporar-se à vida diária, não só dos alunos de academia,
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mas também, de toda a comunidade, em geral, com o intuito
de se obter resultados satisfatórios, ao garantir a redução da
prevalência de algias lombares.
Ao prescreverem-se as atividades físicas de maneira
adequada e segura, recomenda-se, inicialmente, conhecer as
condições atuais de saúde e condicionamento físico de cada
indivíduo. Os alunos devem submeter-se às avaliações médica
e física, estabelecendo, assim, a intensidade do treinamento,
a duração do exercício e a modalidade.
É aconselhável que a elaboração de programas educativos,
tanto de prevenção, quanto contra a recorrência da lombalgia,
através da atividade física, se direcione no sentido de
desencadear conhecimentos, atitudes e comportamentos
compatíveis com uma dinâmica social fisicamente ativa e
desenvolvida, no cotidiano de vida, ao longo da existência
das pessoas, independente da sua área de atuação.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
45
Revisão
Alterações no consumo de oxigênio, na difusão da
membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculo
esqueléticas observadas após transplante cardíaco
Impairment of oxygen uptake, alveolo-capillary
membrane diffusion and musculoskeletal abnormalities
after heart transplantation
Luciana Leitão Santos*, Gisele Alves Guimarães**
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*Fisioterapeuta graduada pela Universidade Católica do Salvador, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica do Salvador
Palavras-chave:
Transplante cardíaco,
exercício, difusão alovéolocapilar.
Key-words:
heart transplantation,
exercise, alveolo-capillary
diffusion.
Resumo
Objetivo: Observar as anormalidades persistentes após transplante cardíaco e a influência
destas na capacidade para o exercício. Métodos: Foi realizada revisão da literatura
especializada nos últimos 13 anos através das bases de dados Medline, Lilacs e livros
publicados no período. Resultados: Ainda que, após a intervenção cirúrgica, haja um
incremento na performance cardíaca, nos sintomas e na hemodinâmica, as alterações no
consumo de oxigênio, na difusão da membrana alvéolo-capilar e anormalidades músculoesqueléticas persistem após o transplante cardíaco, apesar da discreta melhora. Conclusões:
Anormalidades músculo-esqueléticas, na difusão da membrana alvéolo-capilar e no
consumo de oxigênio adquridas no curso da insuficiência cardíaca congestiva não são
curadas após transplante cardíaco. Esses resultados interferem diretamente na capacidade
para o exercício desses pacientes.
Abstract
Objective: To observe persistent abnormalities after heart transplantation and its
influence on exercise capacity. Methods: A literature review was realized including the last
13 years in Medline and Lilacs database and books published in the same period. Results:
Even though, after surgical intervention, there was a improvement in cardiac performance,
symptoms and hemodynamics, uptake oxigen changes, alveolo-capillary membrane
diffusion changes and musculoskeletal abnormalities persist after heart transplantation,
despite minimal improvement. Conclusions: Impairement on oxigen uptake, alveolo-capillary
membrane diffusion and musculoskeletal after heart transplantation acquired in congestive
heart failure are not cure after heart transplantation. These results interfere directly on
exercise capacity in these patients.
Artigo recebido 24 de fevereiro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Luciana Leitão Santos, Rua Guilherme Marback, 6 Bonfim 40415-160 Salvador BA, Tel : (71) 312-7071/9141-5129,
E-mail: [email protected]
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Introdução
A insuficiência cardíaca grave constitui-se num estado
fisiopatológico no qual um déficit na função cardíaca é
responsável pela incapacidade do coração em bombear
sangue em um ritmo capaz de suprir as necessidades
metabólicas dos tecidos. A insuficiência cardíaca grave tem
como causas mais comuns a aterosclerose, cardiomiopatia,
valvulopatia, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e
pericardiopatia, as quais têm como condições associadas
mudanças nos hábitos de vida e ao envelhecimento
populacional global. No Brasil, as causas mais comuns são:
miocardiopatia dilatada, seguida de miocardiopatia chagásica
e isquêmica [1].
O transplante cardíaco é a terapêutica de escolha para
pacientes portadores de insuficiência cardíaca congestiva
(ICC) refratária ao tratamento clínico no qual a intervenção
medicamentosa e cirúrgica convencional prévia (troca de
válvulas, aneurismectomia, revascularização miocárdica ou
implante de marcapasso/desfibrilador) falharam [1,2]. Tal
fato tornou-se possível devido à evolução tecnológica,
medicamentosa e de pesquisas direcionadas para essa
intervenção.
O presente estudo tem por objetivo apresentar as
alterações no consumo de oxigênio, na difusão da membrana
alvéolo-capilar e as anormalidades músculo-esqueléticas
persistentes nos pacientes submetidos à transplante cardíaco
e a influência dessas na capacidade ao exercício, ressaltando
a importância desses conhecimentos para o bom andamento
do programa de reabilitação cardíaca.
Metodologia
Esse artigo de revisão de literatura teve suas referências
obtidas através de pesquisa por meio da base de dados
Medline e Lilacs. As palavras-chave utilizadas foram:
transplante cardíaco, exercício e músculo esquelético. A busca
de artigos inclui ainda checagem manual de referências e
capítulos de livros. Foram encontrados artigos publicados
em várias línguas, sendo selecionados apenas aqueles
publicados nos idiomas inglês e português. Dessas referências,
foram selecionados 20 artigos que preencheram outros
critérios de inclusão: ano de publicação compreendido entre
1988 e 2001 e apresentação de dados referentes às alterações
observadas após o transplante cardíaco. Foram excluídos
todos aqueles artigos que tratavam de transplante cardíaco
em crianças bem como os que apresentavam descrições do
procedimento cirúrgico e outros procedimentos médicos e
farmacológicos.
Dos artigos selecionados, 6 são do Brasil, 4 dos Estados
Unidos, 3 do Canadá, 3 da Alemanha, 2 do Reino Unido, 1
da França e 1 da Suécia. Os livros ou capítulos de livros
utilizados também tiveram anos de publicação coincidentes
com os dos artigos.
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Alterações observadas após o
transplante cardíaco
Apesar de todo o aprimoramento da técnica, a
infecção permanece como uma das principais causas de
morbidade e mortalidade significativa após o transplante,
mesmo com a utilização de modernos antimicrobianos [1].
Além dessa complicação, o transplantado está sujeito aos
efeitos da imunossupressão [1-6] e do descondicionamento
pré-transplante [7-10]. A qualidade de vida do paciente após
o transplante melhora consideravelmente, revelando
melhorias quanto às limitações funcionais, possibilitando o
retorno ao trabalho e reintegração na sociedade [11]. Após a
intervenção cirúrgica, há uma melhora na hemodinâmica, na
performance cardíaca e nos sintomas, mas, ainda assim, a
capacidade para o exercício é prejudicada [12-14]. A presente
revisão apresenta algumas das alterações observadas em
pacientes submetidos a transplante cardíaco, as quais
influenciam no desenvolvimento de fadiga e conseqüente
intolerância ao exercício demonstradas por esses pacientes.
Consumo de oxigênio (VO2)
O consumo máximo de oxigênio, potência aeróbica
máxima ou VO2 máximo são sinônimos para designar o
momento no qual a captação de O2 alcança um platô durante
a prática de atividade física e não mostra qualquer aumento
adicional ou aumenta pouco com uma carga adicional de
trabalho. Um trabalho físico adicional será realizado pelas
reações de transferência de energia da glicólise com formação
de ácido lático. Sendo assim, o indivíduo ficará exausto e
incapaz de continuar a realização da atividade proposta [15].
O VO2 mede a capacidade funcional dos pulmões e do
sistema cardiovascular, relacionando-se e dependendo dos
sistemas de fornecimento, transporte, chegada e utilização
do oxigênio [15,16]. O VO2 máximo e o limiar anaeróbico
têm sido utilizados para avaliar a gravidade do
comprometimento cardíaco [16-19]. O consumo de oxigênio
está intimamente ligado com a velocidade de utilização de
ATP [16]. Os pacientes cardiopatas e transplantados
habitualmente não atingem o consumo máximo de O2,
definindo-se então o VO2 de pico como o maior VO2 obtido
[19], sendo observado que tais pacientes atingem VO2
máximo menor que o predito em testes de exercício [16-19].
Pacientes com significativa vasculopatia do enxerto
alógeno têm também uma baixa tolerância ao exercício com
consumo de oxigênio máximo menor que os valores preditos
após o transplante. Outros fatores com rejeição, denervação
cardíaca (a qual pode influenciar na capacidade para alcançar
a freqüência cardíaca máxima predita para a idade), terapia
imunossupressora, descondicionamento, alteração músculo
esquelética e falha do coração a longo prazo antes do
transplante podem contribuir para o VO2 máximo abaixo do
predito não só em pacientes com vasculopatia do aloenxerto
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como em todos os receptores de transplante cardíaco [16,1824]. A limitação ao exercício é observada na maioria dos
pacientes avaliados de acordo com o consumo máximo de
oxigênio e máxima carga de trabalho encontrada, levando a
uma capacidade de trabalho e absorção de oxigênio
reduzidas [21].
Difusão na membrana alvéolo-capilar
A transferência de gás movimentado desde a atmosfera
até os alvéolos através da barreira sangue-gás ocorre por
difusão. O fluxo sanguíneo pulmonar é grandemente
aumentado durante o exercício intenso fazendo com que o
tempo de passagem do eritrócito no capilar seja diminuído.
Conseqüentemente, o tempo disponível para a oxigenação é
menor, porém indivíduos normais respirando ar ambiente
não apresentam queda mensurável na PO2 capilar final [25].
Contudo, se a barreira sangue-gás encontra-se comprometida
por algum processo patológico que dificulte a difusão do
oxigênio, a velocidade de elevação da PO2 nos eritrócitos é
correspondentemente lenta e esta pode não alcançar o nível
de PO2 do gás alveolar antes que o tempo disponível para
sua oxigenação no capilar tenha terminado. Como resultado,
observa-se uma diferença na PO2 existente entre o gás alveolar
e o sangue capilar final. O exercício severo reduz o tempo
disponível para a oxigenação com conseqüente diminuição
da PO2 [25]. Desse modo, um paciente com debilidade na
barreira sangue-gás tem mais chances de apresentar
comprometimento na difusão, caso ele se exercite [8].
Pacientes com ICC apresentam freqüentemente
deficiência da função respiratória causada por aumento da
área cardíaca e efusão pleural recorrentes [8]. Outros fatores
que contribuem são: congestão venosa pulmonar com edema
intersticial, fibrose progressiva e diminuição da perfusão
alveolar [21]. Alterações pulmonares restritivas e obstrutivas
ocorrem no curso da deficiência cardíaca. Com a progressão
da patologia, mudanças estruturais na membrana alvéolo
capilar acontecem resultando em debilidade na capacidade
de difusão. As alterações na função respiratórias
correlacionadas com mudanças hemodinâmicas são utilizadas
como parâmetro para avaliação do estágio e severidade da
doença em pacientes com ICC [7].
A prevalência de anor malidades ventilatórias
obstrutivas e restritivas são melhoradas após um ano. A
capacidade de difusão persiste diminuída após esse
período, sugerindo que as mudanças estruturais na
membrana alvéolo-capilar desenvolvidas no curso da ICC
não regrediram, embora o principal estímulo, a congestão
venosa pulmonar, seja revertido após o transplante [7].
Este estudo teve como resposta o transplante como
produtor de um aumento na taxa e severidade das
anormalidades na difusão pulmonar.
Fisiologicamente, o fluxo sanguíneo disponível limita a
transferência de oxigênio para dentro do capilar pulmonar.
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47
Em contrapartida, a transferência do monóxido de carbono
(CO) é limitada unicamente pela difusão sendo, por esse
motivo, o gás de escolha para observar as propriedades de
difusão do pulmão [19,20,7,8]. A redução do volume
sanguíneo capilar por processo patológico é capar de
diminuir a capacidade de difusão pulmonar. A capacidade
de difusão do pulmão para o CO é norteada pela área e
espessura da barreira sangue-gás e pelo volume de sangue
nos capilares [25].
Observou-se discreta melhora no fator de remoção
pulmonar para o CO como resultado do aumento na
capacidade pulmonar total, atribuída a melhora no mecanismo
do gradil costal [7]. Apesar da melhora na função ventilatória
que ocorre após um ano, não ocorreu melhora adicional após
esse período. A capacidade de difusão tem sido mostrada em
correlação com a diminuição da capacidade ao exercício.
Entretanto, esse fator vem sendo mostrado também como
não limitante da capacidade ao exercício em pacientes com
ICC e transplantados. As anormalidades ventilatórias têm
sido reportadas em conexão com a diminuição da capacidade
para o exercício após transplante [7,8].
Anormalidades músculo-esqueléticas
Existem dois tipos de fibra músculo-esquelética
classificadas por suas características contráteis e metabólicas.
As fibras do tipo I são de contração lenta com padrão de
atividade elétrica tônico [23]. Contêm numerosas
mitocôndrias relativamente volumosas, sendo resistentes à
fadiga e bem apropriadas para o exercício aeróbio
prolongado por possuírem alta concentração de enzimas
mitocondriais necessárias para alimentar o metabolismo
aeróbio.Já as fibras tipo II são de contração rápida com
padrão de atividade elétrica fásico. Possuem alta
fadigabilidade e capacidade de gerar energia rapidamente
para produzir contrações rápidas e vigorosas. Dependem
essencialmente de seus sistemas glicolíticos a curto prazo
bem desenvolvidos para a transformação de energia.
Acredita-se que o treinamento específico (e talvez a
inatividade) possa induzir uma verdadeira transformação
de fibras tipo I para tipo II e vice-versa [15].
Pacientes com falência cardíaca crônica, a longo prazo,
demonstram alterações na histologia e bioquímica músculoesquelética incluindo atrofia muscular, diminuição da
percentagem de fibras tipo I e aumento nas fibras tipo II e
II b acompanhadas por um decréscimo na capacidade
enzimática oxidativa, seguida de decréscimo na capacidade
aeróbia.Tais adaptações músculo-esqueléticas em resposta
à falência cardíaca resultam em surgimento anaeróbio
precoce e fadiga, tendo papel importante na determinação
da tolerância e da resposta à intervenção terapêutica [23].
Outra possível explicação para o aumento do número de
fibras tipo II em pacientes com ICC é o resultado da seleção
de células tipo I mortas devido ao aumento na formação
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48
de radicais livres em fibras oxidadas, transformando as fibras
tipo I em tipo II [23].
Pacientes com ICC a longo prazo demonstram
metabolismo anaeróbio precoce na musculatura esquelética
durante o exercício. As anormalidades intrínsecas no músculo
podem também contribuir para o metabolismo anaeróbio
precoce. A diminuição do número de fibras tipo I (as quais
têm alto potencial para a oxidação aeróbia) e o aumento no
número de fibras tipo II b é um potente estímulo para o
aparecimento precoce de metabolismo anaeróbio,
contribuindo para a fadiga durante o exercício [20].
O descondicionamento possibilita o aumento na produção
de lactato durante o exercício submáximo na musculatura
esquelética.Observou-se que, além de alterações na
composição da fibra, houve diminuição do número de
capilares ao redor de cada fibra.A hipóxia muscular devido a
hipoperfusão esteve presente nos pacientes estudados [20].
Pacientes com ICC, a longo prazo, também demonstram
depósitos de lipídios aumentados e fibrose músculo
esquelética, sugerindo uma miopatia generalizada [26] causada
tanto pelas anormalidades cardíacas quanto músculoesqueléticas. Alterações na morfologia mitocondrial também
sugerem capacidade enzimática oxidativa reduzida [20].
Os pacientes em estágio final da ICC submetidos à
transplante tem melhora na capacidade funcional e na
capacidade para o exercício, ainda que reduzida. O aumento,
ainda que discreto, na capacidade para o exercício está
relacionada com a performance cardíaca melhorada, aumento
do índice cardíaco, melhora da função pulmonar pela
diminuição da pressão capilar pulmonar, vasodilatação
periférica e ativação neurohumoral. A distribuição do tipo de
fibra não mudou após transplante, com persistência do
predomínio de fibras do tipo II. O número de capilares
adjacentes às fibras individualmente também não mudou [23].
A área de secção transversa da fibra aumentou após o
transplante. Entretanto, o aumento na área de fibra tornouse significativo apenas 12 meses após o transplante e as áreas
de fibras foram, ainda assim, abaixo dos valores considerados
normais [26,10]. O atraso no aumento da área de fibra pode
ser atribuído às altas doses de corticóide da
imunossupressão.Terapia com altas doses de corticóide está
associada com atrofia músculo esquelética [26].
Pacientes com ICC possuem depleção rápida anormal de
fosfocreatina e aumento da acidose intracelular durante o
exercício. Tais anormalidades metabólicas persistem após o
transplante. Observou-se uma continuada diminuição na
capacidade para o metabolismo oxidativo [9].
Os defeitos músculo-esqueléticos podem ser permanentes
e irreversíveis no momento em que o paciente está doente o
suficiente para ser submetido ao transplante [9]. Contra esse
fato, está a possibilidade de melhora sintomática e do alívio
da fadiga após transplante.O uso de corticóides pode causar
tanto a miopatia por esteróides como a perda muscular. Em
animais, a ciclosporina causa mudanças estruturais e
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funcionais nas células endoteliais, incluindo uma incapacidade
de relaxamento do endotélio dependente [10].
A dispnéia pode ser exacerbada pelas anormalidades na
musculatura respiratória. O trabalho de respirar é grandemente
aumentado em pacientes com ICC [8,9]. A desoxigenação da
musculatura respiratória acessória ocorre durante o exercício
em pacientes com ICC crônica [9]. A dispnéia apresentada
durante o exercício submáximo é significativamente
correlacionada com parâmetros da função muscular
respiratória, sendo aliviada após transplante. Tal fato pode ser
atribuído às pressões pulmonares menores, melhora da função
da musculatura esquelética ou uma combinação desses [10].
A capacidade ventilatória sustentável máxima esteve
significativamente diminuída em pacientes com ICC. Esta
aumenta após transplante, mas permaneceu reduzida quando
comparados transplantados com indivíduos normais. Essa
descoberta é coerente com a diminuição da endurance da
musculatura respiratória em pacientes com ICC, a qual
reverte-se parcialmente pós-transplante. Observou-se uma
melhora da endurance da musculatura respiratória, mas não
houve uma normalização [10].
Conclusão
Observou-se que as anormalidades na difusão continuam
presentes na maioria dos pacientes submetidos à transplante
cardíaco. Entretanto, não foram encontradas evidências que
suportem a hipótese de que a diminuição na capacidade de
difusão da membrana alvéolo-capilar seja responsável pelo
desempenho reduzido ao exercício. Este parece estar reduzido
devido à debilidade na perfusão pulmonar, baixos volumes
correntes e fraqueza dos músculos respiratórios. Alterações
histológicas da musculatura esquelética podem ter um papel
importante na fisiopatologia da fadiga durante o exercício
após transplante cardíaco. Se o transplante reverte as
anormalidades na difusão da membrana alvéolo-capilar, no
consumo de oxigênio e nas anormalidades músculoesqueléticas, tais fatos não foram observados. A capacidade
de exercício, embora melhorada, não é normalizada de
maneira significativa. Tais fatos influenciam diretamente nas
respostas do paciente ao programa de reabilitação cardíaca.
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Revisão
Análise da influência do estresse no equilíbrio postural
Analysis of the influence of stress on postural balance
Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, M.Sc.*, Wilma Costa Souza, M.Sc.**, Leonardo Davi Pistarino Pinto***,
Glauco Alexandre Gaban***, Alexsandra Dias Serafim****, Enio Thalles Batista de Faria*****
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*Fisioterapeuta, Profª. da Universidade Gama Filho (UGF) e da Universidade de Nova Iguaçu, **Fisioterapeuta, Profª. da UGF e
Instituto Metodista Bennett, ***Fisioterapeuta, ****Fisioterapeuta, Profª. da UNIFOA (Volta Redonda), Fisioterapeuta da Maternidade
Carmela Dutra (SMS-RJ), *****Acadêmica de Fisioterapia da UGF
Palavras-chave:
equilíbrio postural, estresse,
ansiedade, desequilíbrio,
sistema vestibular.
Resumo
O equilíbrio postural refere-se ao alinhamento dos segmentos articulares necessários
para manter o centro de gravidade dentro dos limites máximos da estabilidade. Três
sistemas sensoriais contribuem para a manutenção do equilíbrio postural: visão,
vestibular e somatossensorial assim como a cognição que permite o indivíduo
desenvolver estratégias de equilíbrio antes mesmo da ocorrência de um evento. O
estresse é definido como uma mobilização química coordenada do corpo humano,
para atender às exigências da luta de vida ou morte ou de uma rápida fuga frente a um
evento que amedronte ou ameace o organismo. As reações ao estresse variam de um
indivíduo para outro e entre elas destacam-se irritabilidade, ansiedade, depressão, apatia,
raiva, pânico e dificuldade de concentração. A ansiedade, que é um sintoma de estresse,
parece influenciar no equilíbrio postural provavelmente por diminuir a capacidade
perceptiva além de intervir nos sistemas somatossensorial, visual e vestibular. Sendo
assim, é necessário incorporar na fisioterapia, além do re-treinamento sensorial, as
terapias cognitivo-comportamentais para obtenção de maior êxito neste campo de
intervenção terapêutica, embora sejam necessárias maiores pesquisas para se desenvolver
e validar tais planos terapêuticos.
Artigo recebido 24 de abril de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Glória Maria Moraes Vianna da Rosa, Av. Oliveira Botelho, 504, Alto 25960-001 Teresópolis RJ, Tel: (21) 26423545/
99975790, E-mail: [email protected]
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Abstract
The postural balance refers to the proper linear position of the necessary joint segments
to keep the gravity center within the maximum limits of stability. Three sensory systems
contribute to the maintenance of the postural balance: sight, vestibular and
somatossensorial, as well as the cognition which permits the individual to develop balance
strategies before the occurrence of an event. Stress is defined as a coordinate chemical
mobilization of the human body, to meet the demands of the fight for life or death or of
a fast getaway in face of an event that frighten or threaten for the organism. The
reactions to stress vary from person for other and among them outstand irritability,
anxiety, depression, apathy, rage, panic and concentration difficulty. The anxiety, which
is a stress symptom, seems to influence the postural balance probably because it decreases
the perceptive capacity besides its interference on the somatossensorial, visual and
vestibular systems. It is necessary to incorporate in physical therapy treatment, besides
the sensorial re-training, behavioral cognitive therapies to obtain a better result in this
field of therapeutical intervention although further researches are necessary to develop
and to validate such therapeutical plans.
Key-words:
postural balance, stress,
anxiety, vestibular system,
unbalance.
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Introdução
A postura, usualmente definida como o arranjo relativo
das partes do corpo, envolve um complexo mecanismo para
atingir o equilíbrio nas diversas atitudes corporais assumidas
no dia a dia [1,2].
Equilíbrio é a capacidade de manter-se equilibrado ou a
capacidade de manter o centro de gravidade sobre a base de
apoio [3]. O equilíbrio depende da capacidade de manter uma
posição, de se estabilizar durante as atividades voluntárias e
de reagir às perturbações externas [4,5].
Três sistemas sensoriais contribuem para a manutenção
do equilíbrio postural: visão, vestibular e somatossensorial
[6]. A cognição parece também ter papel importante nesse
controle como observado por Perrin et al. [7].
O estresse é definido como uma mobilização química
coordenada do corpo humano, para atender às exigências da
luta de vida ou morte ou de uma rápida fuga frente a um
evento que amedronte ou ameace o organismo [8] e por isso,
envolve diversas respostas do ser humano.
É provável que a ansiedade (que é considerado sintoma
de estresse) possa influir na habilidade do indivíduo usar o
sistema somatossensorial, visual e vestibular para o adequado
controle do equilíbrio [9].
Hipotetiza-se também que um elevado estado de
ansiedade poderia influir na capacidade cognitiva [1].
Na verdade, não está claro se as alterações do equilíbrio e
desordens de ansiedade têm uma patofisiologia comum no
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sistema nervoso central ou se há uma chance maior de
ocorrerem ao mesmo tempo [9].
Este trabalho tem por objetivo, analisar, através de revisão
da literatura, a possível influência do estresse no equilíbrio
postural visando com isso a possibilidade de se propor uma
abordagem investigatória e terapêutica desses distúrbios de
equilíbrio voltada também para os aspectos psicológicos além
dos de ordem vestibular, visual e somatossensorial
favorecendo, através uma intervenção multiprofissional, a
prevenção de doenças ou sua recuperação mais rápida e eficaz.
Desenvolvimento
Equilíbrio postural
O equilíbrio postural refere-se ao alinhamento dos
segmentos articulares necessários para manter o centro de
gravidade dentro dos limites máximos da estabilidade [10].
A manutenção do equilíbrio postural é um complexo
mecanismo de controle, alimentado por um fluxo de impulsos
neurológicos provenientes dos sistemas proprioceptivo,
vestibular e óculo-motor cujas informações são processadas
pelo sistema nervoso central e retornam pelas vias eferentes
para manter o controle do equilíbrio corporal pela contração
dos músculos antigravitacionários [6].
Embora o equilíbrio seja freqüentemente considerado um
processo estático, é na verdade, um processo dinâmico que
envolve vias neurológicas múltiplas [10].
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O sistema somatossensorial (ou proprioceptivo) contribui
para o equilíbrio ao fornecer informação acerca da localização
relativa das partes corporais.
Ele fornece informações sobre a posição e o movimento
do corpo em relação à superfície de apoio, e sobre a posição
e o movimento dos segmentos do corpo em relação uns aos
outros. Este sistema também pode fornecer informações
sobre alinhamento dos segmentos do corpo em relação uns
aos outros e à superfície de apoio, descrevendo o estiramento
muscular e a posição articular do tornozelo ou de articulações
mais proximais. O sistema somatossensorial é particularmente
sensível aos movimentos rápidos, como os produzidos por
perturbações repentinas nas posições articulares [11].
A informação proveniente desse sistema tem origem em
fontes periféricas, como músculo, cápsula articular e outras
estruturas de tecidos moles e é retransmitida ao bulbo e tronco
cerebral através da via medial - leminiscal da coluna dorsal
[12]. Essa informação ajuda a coordenar os movimentos dos
olhos, da cabeça e do pescoço, a fim de estabilizar o sistema
visual e a manter as posturas e os padrões coordenados do
movimento [13].
O sistema vestibular é uma das ferramentas mais
importantes do sistema nervoso no controle da postural.
Ele é ao mesmo tempo um sistema sensorial e motor. Na
sua função de sistema sensorial, ele fornece ao sistema
nervoso central (SNC) informações sobre a posição e o
movimento da cabeça e a direção da gravidade. O SNC usa
essas informações, combinadas com as fornecidas por
outros sistemas sensoriais, para construir uma imagem da
posição e do movimento do corpo todo e do ambiente que
o cerca.
Além de fornecer informações sensoriais, o sistema
vestibular também contribui diretamente para o controle
motor. O SNC utiliza as vias motoras descendentes, que
recebem informações vestibulares e de outros tipo, para
controlar as posições estáticas da cabeça e do corpo e para
coordenar os movimentos posturais. Este sistema, que
contribui com informações importantes para a sensação e a
percepção do movimento e da posição do corpo como um
todo, consiste em dois tipos de sensores de movimento: os
canais semicirculares e os órgãos otolíticos. Os canais
detectam o movimento rotacional da cabeça e os órgãos
otolíticos detectam a aceleração linear [14].
O sistema visual sinaliza a posição e o movimento da
cabeça em relação aos objetos circunjacentes. Este sistema
pode fornecer ao SNC informações necessárias para
determinar se o sinal das estruturas otolíticas corresponde a
uma inclinação em relação à gravidade ou a uma translação
linear da cabeça. O sistema visual também fornece
informações sobre a direção vertical, a posição e o movimento
da cabeça em relação aos objetos circunjacentes e orienta a
cabeça a manter uma posição correta além de informar acerca
do movimento dos objetos circundantes, oferecendo assim,
orientação da velocidade do movimento [15].
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52
A cognição também parece ter papel importante no
controle postural levando o indivíduo a desenvolver
estratégias de equilíbrio antes mesmo da ocorrência de um
evento [7]. Segundo os autores o controle postural pode
envolver um sistema de referência baseado em conhecimento
anterior e um processo de correção quando surgem súbitas
modificações. Este último depende do aprendizado ou
experiência e da cognição.
O equilíbrio ortostático é influenciado por diversos fatores
fisiológicos, como a respiração, os batimentos cardíacos e o
retorno venoso [17,18] e fatores mecânicos como diferentes
bases de apoios [19], mudanças súbitas de peso ao segurar
uma carga [20], aumento progressivo de massa em gestantes
[21], fraqueza muscular, alterações na acuidade proprioceptiva
e na amplitude de movimento [10].
Do ponto de vista clínico, a separação entre os processos
de equilíbrio, sensoriais e motores significa que um indivíduo
pode apresentar um equilíbrio deficiente por duas razões: A
posição do centro de gravidade com relação à base de suporte
não está sendo percebida com precisão; Os movimentos
automáticos necessários para levar o centro de gravidade para
uma posição equilibrada não estão sincronizados ou
coordenados de maneira eficiente [22].
Estresse
Nos anos recentes, o termo estresse tem aparecido com
freqüência na literatura relacionado às diversas manifestações
psicofisiológicas que são observadas no organismo quando
este se vê frente a uma situação que o ameace ou amedronte.
Reações fisiológicas do organismo frente a eventos
estressantes foram primeiramente descritas por Selye [8] que
as dividiu em 3 fases. Na fase de alarme, o organismo se depara
com um agente estressor, o que provoca a liberação de
diversos hormônios deixando - o em estado de prontidão ou
alerta. Se o estressor é de grande intensidade ou de longa
duração, surge a fase de resistência que é caracterizada pela
tentativa do organismo restabelecer seu equilíbrio interno
usando a energia adaptativa de reserva. Na fase de exaustão
finalmente, não há mais resistência para lidar com o estressor,
ocorrendo aumento das estruturas linfáticas, exaustão
psicológica e física com o aparecimento de doenças [23].
Walter Cannon, fisiologista americano, descreveu em 1932
a resposta de luta ou fuga observada no organismo a partir
de manifestações fisiológicas reguladas pelo sistema nervoso
simpático e pelo sistema endócrino quando o indivíduo sentese ameaçado [24].
Com base no trabalho de Cannon, pode-se definir estresse
como uma mobilização química coordenada do corpo
humano, para atender às exigências da luta de vida ou morte
ou de uma rápida fuga frente a um evento que amedronte ou
ameace o organismo [8].
A partir da década de 60, psicólogos vêm estudando a
experiência do estresse principalmente do ponto de vista de
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como ele é percebido pelas pessoas, as diversas formas de se
lidar com ele e de como o estresse pode afetar a saúde [24].
A importância da percepção das pessoas acerca dos
eventos estressantes passou a ser melhor investigada contando
- se nessa área com a grande contribuição de Richard Lazarus
e colaboradores ao elaborar o conceito de Apreensão
Cognitiva ainda na década de 50, e posteriormente, integrando
este conceito no modelo psicológico do estresse. [25].
Um evento qualquer pode ser mais ou menos estressante
dependendo da forma como individualmente o interpretamos.
Além da forma como o indivíduo percebe o evento, sua
habilidade em lidar com o estressor pode efetivamente
diminuir os efeitos do estresse [26].
Atualmente, considera-se que as reações do estresse se
expressam por um conjunto de modificações que ocorrem
no organismo frente a um evento que as pessoas considerem
como ameaça ao seu bem estar [27].
O estressor é, portanto, o evento considerado ameaçador,
perigoso ou desafiador pelo indivíduo.
O estresse é considerado positivo em situações que
impulsionam os indivíduos no sentido da satisfação de suas
necessidades, porém, ao atingir certos níveis, é nocivo,
favorecendo inclusive o surgimento de distúrbios orgânicos
e/ou psicológicos.
É necessário acrescentar que as reações ao estresse variam
de um indivíduo para outro, e mesmo em um único indivíduo
variam em momentos diversos, já que fatores sociais e
psicológicos parecem modificar o impacto do estressor.
Entre as manifestações psicológicas ligadas ao estresse
destacam-se irritabilidade, ansiedade, depressão, apatia, raiva,
pânico e dificuldade de concentração [23].
O estresse parece influenciar o equilíbrio provavelmente
por diminuir a capacidade perceptiva devido à redução da
concentração.
Ansiedade e desordens de equilíbrio
O termo ansiedade refere-se a um estado de tensão ou
apreensão associada à expectativa de alguma coisa que
acontecerá no futuro próximo. O indivíduo com ansiedade
generalizada vive muitos meses sob tensão constante, sem
causa aparente, o que lhe provoca distúrbios orgânicos de
vários tipos [28].
O termo vertigem pode ser descrito como uma sensação
de movimento irregular ou giratório seja de si mesmo ou de
objetos externos [29]. Gagey & Weber [1], ressaltam que em
linguagem usual a palavra vertigem pode ser associada a uma
emoção agradável como na expressão “vertigem do amor”.
Na condição patológica a palavra está ligada a emoções
negativas, já que esta pode vir acompanhada de náuseas,
vômitos, dores epigástricas, sudorese, taquicardia, entre
outros. A sensação de vertigem é também freqüentemente
associada ao medo do vazio e da altura ou ao sentimento de
vergonha em público.
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Diversos estudos têm relacionado ansiedade e desordens
do equilíbrio como os mostrados por Yardley & Redfern
[30]. Em seus estudos observaram que pacientes com tonteira
persistente após desordem vestibular referiram associação
entre episódios de tonteira e períodos de atividade mental,
estresse ou fadiga.
É provável que a ansiedade possa influir na habilidade
do indivíduo usar o sistema somatosensorial, visual e
vestibular para o adequado controle do equilíbrio embora
isto ainda não esteja claro [9].
Para Balaban & Porter [30] a ansiedade talvez exerça efeito
direto no funcionamento do sistema vestibular através de
numerosas interconexões centrais entre o sistema de
equilíbrio e o sistema nervoso autônomo através da formação
reticular e locus coerulus. Alternativamente, é possível que o
processamento central da informação perceptual, necessária
à orientação, seja afetada pela atividade mental que
acompanha a ansiedade ou o estresse [31].
Hipotetiza-se também que um elevado estado de
ansiedade poderia influir na capacidade cognitiva e na
possibilidade de se utilizar a experiência prévia como
referência. Em situações de estresse o indivíduo encontrarse-ia invadido pela avaliação pessimista de um perigo que o
ameaça ou pela dificuldade de uma situação social. A vertigem
poderia surgir como a expressão somática da ansiedade [1].
Estudos como os de Yardley & Redfern [30]
demonstraram que distúrbios de equilíbrio podem estar
associados a elevado nível de ansiedade já que estes
observaram que pacientes com tonteira persistente, após
desordem vestibular, referiram associação entre episódios
de tonteira e períodos de atividade mental. Mouzani et al.
[32] também observaram que a presença da ansiedade
pode agravar a vertigem em pacientes com disfunção
vestibular. Contudo, em muitos casos foi observado que
o mal estar vertiginoso aparentemente não teve causa
psicológica desencadeadora, mas pode levar a uma angústia
secundária.
Interessante pesquisa desenvolvida por Bohnout et al.
[33] encontrou correlação significativa entre altos níveis
de ansiedade e baixa performance do equilíbrio em 7 estudantes saudáveis.
Outros autores, como Wada et al. [34] encontraram
importante influência do estado de ansiedade no equilíbrio
postural. Foram investigadas 31 mulheres, estudantes com
idade entre 18 e 20 anos, sem qualquer alteração do equilíbrio.
O resultado da medida do estado de ansiedade (Inventário
de estado de ansiedade de Spilberg) mostrou que 16
indivíduos da amostra encontravam-se com elevado estado
de ansiedade. Todos os participantes da amostra foram
submetidos à teste em plataforma de força para a medida
das oscilações corporais com olhos abertos e depois fechados.
Os autores concluíram que o estado de ansiedade afetou o
equilíbrio postural antero/posterior em estudantes em pé
com olhos abertos.
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Segundo Maki & Mellroy [34] indivíduos saudáveis com
elevado estado de ansiedade submetidos à realização de tarefas
cognitivas (contas aritméticas), mostraram inclinação anterior.
Desta forma, concluíram que elevados níveis de ansiedade,
provocada pela realização da tarefa, motivou o deslocamento
anterior do centro de gravidade.
Por outro lado, a cognição, como citado anteriormente,
também parece ter papel importante no controle postural
levando o indivíduo a desenvolver estratégias de equilíbrio
antes mesmo da ocorrência de um evento [7]. Sendo assim,
fatores que dispersam a cognição necessária para a
manutenção do equilíbrio podem ser os responsáveis por
seu distúrbio. O fato da ansiedade mostrar-se capaz de alterar
a concentração do indivíduo pode justificar sua influência
nos distúrbios de equilíbrio postural.
Nos últimos anos, a fisioterapia tem-se mostrado efetiva
na redução dos sintomas em pacientes com desordens de
equilíbrio. De modo geral, esta se baseia na utilização de
mecanismos comportamentais tais como a adaptação, a
substituição e o reaprendizado. Os exercícios implicam em
movimentos lentos da cabeça, do corpo e dos olhos com
objetivo de eliciar os sintomas e promover a adaptação a
estes [9].
A fisioterapia baseada em exercícios de habituação e
treinamento de equilíbrio pode promover a independência
nas atividades da vida diária, nas tarefas de alto nível e de
cuidado pessoal [35].
Entretanto, o fato de alguns pacientes com desordens de
ansiedade, desenvolverem sintomas de desequilíbrio como
parte da reação de ansiedade justifica uma abordagem
psicológica nos casos onde há a ligação entre distúrbios de
equilíbrio e estresse [9] até mesmo por que o tratamento que
passar por uma etapa cognitiva para o resgate do equilíbrio
poderá tornar o paciente mais ansioso e conseqüentemente
mais desequilibrado posturalmente.
Conclusão
Por ter a cognição papel importante no controle postural,
além dos sistemas somatossensorial, visual e vestibular, a
alteração na concentração do indivíduo pode interferir no
processo de manutenção do equilíbrio.
O fato da ansiedade parecer ser capaz de influenciar
na concentração de pessoas clinicamente estressadas e
na habilidade do indivíduo usar o sistema somatossensorial, visual e vestibular, distúrbios de equilíbrio
mostram-se realmente suscetíveis à influência do estado
de estresse.
Por tudo isso, é necessário incorporar na fisioterapia além
do re-treinamento sensorial, as terapias cognitivocomportamentais para obtenção de maior êxito neste campo
de intervenção terapêutica, embora sejam necessárias maiores
pesquisas para se desenvolver e validar tais planos
terapêuticos.
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C
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Revisão
Adaptação funcional do aparelho respiratório aos efeitos
do envelhecimento: aplicabilidade dos exercícios globais
de força e resistência
Functional adaptation of the respiratory system to the effects of
the aging process: use of global exercises of strength
and endurance
Alexandre de Mayor*, Renata Ungier de Mayor*
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*Fisioterapeuta especialista em U.T.I., **Fisioterapeuta mestranda em Saúde da Mulher e da Criança (Instituto Fernandes Figueira FIOCRUZ-RJ)
Palavras-chave:
Envelhecimento, respiração,
exercício.
Resumo
Este estudo de revisão bibliográfica aborda a aplicação de exercícios globais de força
e endurance no indivíduo idoso, a partir da compreensão dos efeitos morfofuncionais
decorrentes do envelhecimento sobre a biomecânica respiratória. A literatura mostra
que os indivíduos idosos se beneficiam da prática de atividade física regular, que minimiza
os efeitos da inatividade sobre suas atividades funcionais, dado que esta constitui um
agravante para a instalação de quadros patológicos.
Key-words:
Aging, breathing, exercise.
Abstract
This literature review concerns the use of global exercises of strength and endurance
in the elderly, based on the understanding of the morpho-functional effects of aging on
respiratory biomechanics. Studies show that elderly persons benefit from the practice
of frequent physical activity, which minimizes the effects of inactivity on their functional
activities, knowing that it increases the severity of pathological conditions.
Artigo recebido 16 de julho de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Alexandre de Mayor, Av. Ataulfo de Paiva 135 sala 907, Leblon 22440-030 Rio de Janeiro RJ, Tel.: (21)2259-0969 Alexandre de Mayor, E-mail: [email protected] - Renata Ungier de Mayor, E-mail: [email protected]
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Introdução
A elevação da expectativa de vida da população mundial
faz crescer o interesse por parte dos profissionais da área de
saúde em medidas que mantenham a independência, a autonomia e a qualidade de vida dos indivíduos idosos [1]. Estudos
sobre as repercussões do envelhecimento se fazem necessários,
de modo a permitir que estes indivíduos se adaptem às
sucessivas modificações orgânicas que estão por ocorrer.
O envelhecimento constitui, fisiologicamente, modificações morfofuncionais em diversos sistemas orgânicos, entre
eles o aparelho respiratório. Tais modificações podem favorecer a inatividade e conseqüentemente o aparecimento de
diversas patologias [2].
O presente estudo de revisão bibliográfica tem como
objetivo revisar os efeitos morfofuncionais do envelhecimento sobre a biomecânica respiratória e a eficácia da aplicação de exercícios globais de endurance e força muscular no
processo de adaptação funcional do idoso. Isso se justifica
pelo fato de que, apesar de o indivíduo idoso responder de
maneira positiva aos estímulos solicitados, muitas vezes é
subestimada a sua real capacidade física, ocasionando um subaproveitamento dos exercícios [3,4,5]. Por esta razão, as respostas
morfológicas não são tão evidentes e tampouco favorecem, do
ponto de vista funcional, a esperada qualidade de vida.
Desenvolvimento
A biomecânica respiratória e as alterações
decorrentes do envelhecimento
O parênquima pulmonar é um tecido complacente, devido
à elasticidade oferecida por seus componentes e à diminuição
da força de aproximação da superfície de revestimento
alveolar desenvolvida pelo surfactante. A complacência do
pulmão é aumentada pela idade [6].
Os alvéolos, bronquíolos e vasos sanguíneos são compostos por fibras conjuntivas colágenas, elásticas e reticulares,
interligadas e organizadas geometricamente. Por esta razão,
se estendem durante a força gerada na inspiração e, após a
aplicação desta força, se recolhem permitindo o retorno à
sua forma original. Esta interligação de fibras conjuntivas
confere às estruturas pulmonares uma interdependência, ou
seja, caso um alvéolo tenda a se fechar, os demais contribuem para sua abertura [7]. Estudos bioquímicos sugerem
que não ocorrem mudanças no conteúdo de fibras conjuntivas com o envelhecimento [8]. A força de recolhimento
do tecido pulmonar diminui porque a fibra colágena tornase mais estável, diminuindo o número de ligações intermoleculares, enquanto a rede de fibras elásticas perde sua
organização pela presença de fibras pseudo-elásticas. Quanto
aos aspectos morfológicos, encontra-se um homogêneo alargamento dos ductos alveolares sem evidência de destruição.
Não há infiltrados celulares nos alvéolos, sugerindo ausência
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de processo inflamatório, diferente do que é encontrado
em um pulmão enfisematoso. Devido à atrofia do epitélio
ciliar e das glândulas da mucosa brônquica, o mecanismo
de clearance é reduzido, predispondo a um maior risco de
infecções [9].
No alvéolo, por sua vez, a superfície de revestimento é
composta por três tipos de células: as células endoteliais dos
capilares, os pneumócitos tipo I e os pneumócitos tipo II
[7]. Os pneumócitos tipo II secretam o surfactante pulmonar,
que tem a função de reduzir a força de aproximação da
superfície de revestimento alveolar, além de permitir que os
alvéolos sejam inflados durante a inspiração, mantendo o
equilíbrio pressórico em alvéolos de diferentes tamanhos e
reduzindo o esforço dos músculos respiratórios [6]. Não
existem dados evidentes que comprovem mudanças na
quantidade ou qualidade do surfactante produzido, nem no
número ou funcionamento das células pneumócitos tipo II
em idosos [8].
Exatamente como o pulmão, a parede torácica também é
elástica. Porém, ao contrário do pulmão, sua complacência
diminui progressivamente com a idade. Mudanças na geometria do arcabouço torácico ocorrem pela diminuição da massa
óssea (osteoporose) em decorrência de fraturas completas
(por esmagamento vertebral) ou parciais (vértebra em cunha), resultando em um aumento do diâmetro ântero-posterior e na acentuação da curvatura fisiológica da coluna
torácica. A osteoporose do idoso é resultado da diminuição
da função osteoblástica, dos níveis de calcitonina e da enzima
1 á-hidroxilase, o que reduz os níveis de vitamina D3 ativa,
causando menor absorção de cálcio no intestino e, conseqüentemente, osteoporose [10]. A inatividade do idoso, resultado
da disfunção crônica músculo-esquelética, pode resultar em
deformações ósseas, ossificação ectópica ao redor das articulações (osteófitos), perda da mobilidade articular e encurtamento e/ou esclerose ligamentar [11]. As mudanças do arcabouço torácico, além de diminuírem a complacência da parede torácica, modificam a curvatura do músculo diafragma,
alterando a sua capacidade de gerar força [8,9]. A força de
contração diafragmática é representada pela pressão diafragmática (Pdi), resultado da diferença entre a pressão dos
músculos abdominais (Pab) e a pressão pleural (Ppl). Estudos
em idosos entre 67 e 81 anos em comparação com grupo
controle mais jovem mostram uma redução de 13% da Pdi
durante uma inspiração máxima [8]. O decréscimo na força
dos músculos respiratórios em idosos está relacionado a um
déficit nutricional e parece relevante quando a situação clínica
exige uma demanda adicional destes músculos, como por
exemplo, na pneumonia e na insuficiência ventricular
esquerda. Enright et al. [12] correlacionam valores de pressão
inspiratória máxima (MIP) e pressão expiratória máxima
(MEP), com peso corporal e massa corpórea. Neste estudo,
valores de MIP e MEP mostraram-se significativamente
correlacionados com a força dos músculos esqueléticos periféricos, como no teste da preensão de mão (handgrip).
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A força dos músculos esqueléticos periféricos diminui
com a idade, devido à atrofia muscular principalmente das
fibras tipo II (fast twitch), enquanto as fibras tipo I (slow twitch)
não sofrem mudanças substanciais [3,9]. As fibras do tipo I
caracterizam-se por apresentar um tempo de contração
relativamente lento, devido a uma baixa atividade de miosina
ATPase na fibra muscular e alto conteúdo mitocondrial que
favorece as atividades enzimáticas oxidativas. Estas fibras são
mais adaptadas para contrações continuadas (endurance) [7].
A alteração entre a quantidade de unidades contráteis e não
contráteis (tecido adiposo e conjuntivo) dentro do músculo,
assim como o déficit na relação entre ativação e recrutamento
muscular, também são fatores determinantes para a
diminuição da força muscular periférica, resultando, no idoso,
em dificuldades nas atividades da vida diária [3,9].
Estes dados permitem concluir que as mudanças músculoesqueléticas associadas à idade afetam a função muscular
respiratória e, por isso, medidas que visem trabalhar a função
respiratória, sem abordar a globalidade do corpo, serão de
pouca eficácia.
As provas de função pulmonar
As provas de função pulmonar constituem a análise
prática da fisiologia respiratória [13]. Com o objetivo de
quantificar a perda da função pulmonar, acompanhar a
evolução do envelhecimento sobre o sistema respiratório e
observar o impacto das terapêuticas empregadas, alguns
estudos procuraram relacionar as repercussões do
envelhecimento com a função pulmonar.
Como pode ser observado na Tabela I, em relação aos
valores preditivos, todos os indivíduos idosos apresentavam
função pulmonar normal. Entretanto, em valores absolutos,
pode-se observar o declínio nos níveis de capacidade vital
(VC) e fluxo expiratório, assim como um aumento do volume
residual (RV), demonstrando, porém, que se encontram
dentro do que se pode esperar em decorrência do
envelhecimento [14].
Um homem de 60 anos em repouso tem um aumento no
gasto energético estimado em 20% em comparação a um
indivíduo de 20 anos de idade durante a ventilação corrente.
Este indivíduo passa a respirar com volumes mais altos
porque o pulmão torna-se mais distensível e a parede torácica
menos complacente, aumentando o volume de ar aprisionado
(RV) e conseqüentemente aumentando a capacidade residual
funcional (FCR) [8]. A capacidade pulmonar total (TLC) não
diminui significativamente ao longo da vida. Isso ocorre
porque a diminuição da complacência da parede torácica é
contrabalançada pela maior distensibilidade pulmonar. Por
outro lado, a capacidade vital forçada (FVC) e o fluxo
expiratório forçado no primeiro segundo (FEV1) diminuem
com a idade. Como fluxo é uma medida que reflete a relação
de um dado volume em relação a uma unidade de tempo,
temos então, no indivíduo idoso, uma relação entre força de
contração e tempo de resposta motora diminuídas. Além
disso, a alta prevalência de doenças crônico-degenerativas
no idoso, associada com a inatividade, faz com que estes
indivíduos apresentem maior comprometimento da função
pulmonar [9].
O pico de fluxo expiratório (PEF) também decresce com
a idade em indivíduos idosos não fumantes, sugerindo que
as alterações morfológicas das pequenas vias aéreas sejam
decorrentes da presença de um padrão obstrutivo. Isso não
implica dizer que, para estes indivíduos, esse padrão seja
considerado fisiologicamente inadequado para a manutenção das suas funções. O volume de fechamento (CV), que
é o volume em que as pequenas vias aéreas começam a se
fechar durante a expiração, alcança, com o envelhecimento,
55% a 60% da TLC. Tanto a alteração do PEF quanto do
CV deve-se à alteração da organização e composição dos
tecidos de suporte destas vias aéreas, as fibras conjuntivas
elásticas e colágenas.
A ventilação voluntária máxima (MVV) é uma medida da
função muscular, pois avalia a capacidade de trabalho da
musculatura respiratória em relação às forças elásticas e
resistivas do sistema respiratório. Quando a MVV está
diminuída, mostra que o indivíduo está com a capacidade
aeróbica reduzida. Isso é determinante para os músculos
respiratórios, principalmente o diafragma, entrarem mais
rapidamente em fadiga. O consumo de oxigênio (V’O2)
durante o exercício, que entre os 20 e 30 anos encontra-se
no pico máximo, é significativamente menor nos indivíduos
idosos sedentários do que naqueles que permanecem
praticando uma atividade física regular [8]. Estes achados da
função pulmonar estão de acordo com os estudos de
DeLorey e Babb [14], que afirmam que o envelhecimento
Tabela I - Função pulmonar
Indivíduos
Jovens
(35 a 45 anos)
Senior
(65 a 75 anos)
Idosos
(85 a 95 anos)
Fonte: [14]
artigo 08 - Alexandre.pmd
FVC
(% pred)
4,43 ± 0,94
(109 ± 9)
4,12 ± 1,08
(115 ± 17)
3,08 ± 1,00
(109 ± 18)
58
FEV1
FEV1/FVC
(% pred)
(% pred)
3,50 ± 0,75 (79 ± 4 )
(104 ± 9)
2,92 ± 0,74 (72 ± 5)
(104 ± 13)
2,04 ± 0,67 (67 ± 7)
(109 ± 16)
PEF
TLC
RV/TLC MVV
(% pred)
(% pred)
(% pred) (% pred)
8,84 ± 1,77 5,85 ± 1,15 (24 ± 4) 150,9 ± 36,9
(118 ± 1)
(99 ± 11)
(115 ± 13)
7,85 ± 2,37 6,54 ± 1,31 (37 ± 6) 120,5 ± 30,6
(109 ± 14)
(114 ± 13)
(110 ± 12)
5,82 ± 1,33 5,55 ± 1,69 (45 ± 5) 86,0 ± 25,9
(100 ± 20)
(110 ± 22)
(97 ± 11)
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Dlco
(% pred)
25,7 ± 5,14
(105 ± 14)
21,6 ± 4,57
(110 ± 16)
13,85 ± 2,75
(97 ± 11)
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
causa importantes restrições à mecânica respiratória durante
o exercício. Isso significa, contudo, que indivíduos idosos
tenham limitação para o exercício, a menos que a função
cardiovascular sobrecarregue a função respiratória.
Efeitos fisiológicos do exercício no idoso
Alguns estudos utilizam inadequadamente o termo
“fisioterapia torácica”, designando uma série de condutas
restritas e de difícil validação [15]. Desse modo, o aprofundamento do estudo de uma técnica em particular permanece
carente de uma inserção da abordagem fisioterápica em um
contexto global do paciente. Os benefícios de cada conduta
não devem ser analisados somente do ponto de vista de
seus efeitos sobre o parênquima pulmonar, mas também
deve ser levada em conta sua relação com os aspectos
biomecânicos (mobilidade articular, contração muscular,
posicionamento, etc).
Para a manutenção de uma vida independente, é
indispensável no idoso, a atividade de locomoção. Indivíduos
acima de 75 anos apresentam alterações neuro-musculares
que, associadas à reduzida atividade diária, apresentam
diminuição da função sensório-motora, causando, por sua
vez, diminuição do equilíbrio e aumentando o risco de quedas,
fraturas e confinamento ao leito [4]. Toda situação que leve o
idoso à inatividade deve ser evitada, uma vez que a inatividade
tem uma grande relação com a alta incidência de mortalidade
no idoso por pneumonia comunitária [2].
A caminhada é um exercício aeróbico que tem por
finalidade trabalhar não somente os grupamentos musculares
periféricos, mas também os músculos respiratórios. À medida
que o nível de trabalho é aumentado, a captação de oxigênio
aumenta linearmente até chegar ao V’O2 máximo. Aumento
de atividade acima deste nível somente pode ocorrer através
da glicólise anaeróbica com produção de lactato. Indivíduos
inativos entram nesse processo anaeróbico com níveis
relativamente baixos de atividade [16]. A combinação da
caminhada com exercícios de força muscular, equilíbrio,
flexibilidade e alongamento aumentam a função sensóriomotora em idosos [4].
Em indivíduos idosos que praticam exercícios regulares,
o sistema respiratório pode se adaptar a níveis mais altos de
exigência física [8]. Coggan et al. [5] relatam, em estudo, o
efeito do exercício de endurance sobre a capacidade oxidativa
e o aumento do número de capilares musculares em indivíduos
idosos entre 60 e 70 anos de idade. Os achados foram um
aumento de 20% na densidade capilar, enquanto o número
de capilares por fibra muscular aumentou em 25%.
Exercícios regulares não eliminam completamente a perda
muscular relacionada à idade, mas podem aumentar a
resistência (endurance) e a força muscular nos indivíduos idosos
de maneira similar à observada nos indivíduos jovens [17].
Outro dado importante é que a suplementação alimentar, sem
nenhuma prática regular de exercícios concomitantes, não
artigo 08 - Alexandre.pmd
59
59
reduz a fraqueza muscular. A melhora na endurance favorece
a adaptação dos grupamentos musculares esqueléticos a uma
maior demanda metabólica que, por sua vez, aumentam a
tolerância à fadiga muscular, inclusive dos músculos
respiratórios, entre eles o diafragma. Esta melhora muscular
permite uma melhor resposta global do organismo às
atividades funcionais, beneficiando uma maior autonomia e
independência. A diminuição do desuso muscular é
acompanhada por um aumento do nível de mobilidade
funcional e atividade global [17], ou seja, a melhor qualidade
de vida, está relacionada ao conjunto dos efeitos do exercício,
e não a uma função específica.
Em idosos, o aumento da força muscular ocorre, não
somente como resultado da hipertrofia, mas também por
uma adaptação neural da fibra muscular [4]. Entre as
adaptações neurais, estão incluídas uma melhor sincronia no
estímulo deflagrado nas unidades motoras e uma maior
habilidade de recrutamento de unidades motoras para
permitir o adequado ajustamento na força a ser utilizada.
Harridge et al. [18] realizaram um treinamento muscular de
resistência progressiva para o músculo quadríceps femoral,
em indivíduos idosos entre 85 e 97 anos de idade, 3 vezes
por semana, durante 12 semanas. Ao final do estudo,
observou-se, entre os indivíduos participantes do programa
de treinamento, um aumento médio de 134% na força do
músculo quadríceps femoral e de 10% na área de secção
cruzada muscular. Outros artigos, citados por este autor,
apontam na mesma direção. Nguyen [19] relata que a carga
repetitiva imposta pelos exercícios de força pode, como efeito
secundário, manter ou aumentar a densidade mineral óssea.
Conclusão
A função respiratória não pode ser dissociada das
atividades funcionais nos seres humanos. Alterações
morfofuncionais são progressivamente impostas a todos os
indivíduos ao longo da vida, sendo que, ao acometer o
aparelho respiratório, conferem limitações significativas
[8,9,14]
Segundo Canguilhem [20], “Quando classificamos como
patológico um sintoma ou um mecanismo funcional isolado,
esquecemos que aquilo que o torna patológico é sua relação de inserção
na totalidade indivisível de um comportamento individual”. Ou
seja, é preciso conhecer o indivíduo para saber se as
restrições impostas pelo envelhecimento serão significativas
ou não, para a manutenção de uma função adequada dentro
do contexto da sua vida. O mesmo autor se refere à doença
como uma nova norma fisiológica, onde a terapêutica deve
ter como objetivo a adaptação. Em um contexto de
nor malidade, o envelhecimento também provoca
alterações nas normas fisiológicas vigentes, demandando
medidas objetivas que facilitem sucessivas adaptações,
necessárias para que tais novas normas não favoreçam a
instalação de um quadro patológico.
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Não há dúvida de que a prática de atividade física regular
favorece a adaptação do indivíduo idoso às modificações
decorrentes do envelhecimento. Os efeitos benéficos
proporcionam um envelhecimento mais saudável, acarretando
uma lentidão das alterações fisiológicas decorrentes deste
processo, tanto nos idosos saudáveis como naqueles ditos
“fragilizados” [9]. De um modo geral, os exercícios impõe,
ao aparelho respiratório, uma maior solicitação mecânica,
estimulando a ação dos componentes pulmonares e
extrapulmonares. Os resultados obtidos através dos exercícios
globais, mostram que indivíduos idosos respondem
positivamente aos estímulos e obtêm ganhos morfofuncionais
significativos. Por esta razão, cabe ao fisioterapeuta não
subestimar sua capacidade física e solicitar o estímulo
adequado para se obter os ganhos funcionais desejados.
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Forense; 1978.
C
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61
Revisão
A intervenção fisioterapêutica na doença de Parkinson
The physical therapy intervention in Parkinson disease
Soraya Carvalho da Costa Monte*, João Santos Pereira, D.Sc.**, Marco Antônio Guimarães Silva, D.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neurológica, **Professor Titular do PROCIMH, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro
Resumo
A proposta deste estudo é avaliar as condutas terapêuticas não medicamentosas
utilizadas na doença de Parkinson. Realizou-se revisão bibliográfica dos últimos anos
com intuito de mostrar e comentar a importância e a eficácia da fisioterapia na doença
de Parkinson.
Palavras-chave:
Doença de Parkinson,
atividade física.
Abstract
The aim of this study was to assess therapy, except drugs, in Parkinson disease. It was
done a literature review of the last years to show and comment the importance and
efficacy of physical therapy in Parkinson disease.
Key-words:
Parkinson disease,
physical activity.
Artigo recebido 24 de novembro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Soraya Carvalho da Costa Monte, Rua Canhoba, 27 Santa Cruz 23575-040 Rio de Janeiro RJ
artigo 09 - Soraya.pmd
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Introdução
A doença de Parkinson (DP), com uma prevalência de
1% na população geral, é uma patologia de evolução lenta
que reduz progressivamente os movimentos voluntários,
observando-se alterações motoras, que acometem a marcha,
o equilíbrio e a postura. Bioquimicamente a doença de
Parkinson consiste na diminuição da concentração de
dopamina (DA) no estriado. Isto decorre da morte neuronal
na substância negra (geralmente acima de 80%) reduzindo a
produção de DA e conseqüentemente sua ação no estriado.
Estudo bioquímico demonstrou que ocorre aumento da
concentração de DA logo no início da vida seguindo-se, a
partir dos 20 anos perda lenta e progressiva [1]. Através da
anatomia patológica observa-se despigmentação da substância
negra (devido à morte neuronal e conseqüentemente redução
da melanina) e o aparecimento de inclusões fibrilares
intracitoplasmática (corpúsculos de Lewy). Tem sido proposto
que a DP seja uma aceleração anormal do processo de
envelhecimento.
O diagnóstico clínico da doença de Parkinson baseia-se
na história da doença do paciente, no exame clínico e na
epidemiologia. Os exames complementares tais como
tomografia computadorizada cerebral (TCC) e Ressonância
Magnética de Crânio (RMC), são utilizados para diagnóstico
diferencial. A Tomografia por emissão de pósitrons (PET),
disponível em raros hospitais no Brasil, tem como finalidade
avaliar a funcionalidade dos núcleos da base na Doença de
Parkinson e outras doenças degenerativas do SNC sendo de
grande utilidade para se observar à progressão desta doença.
Um método fácil e de grande utilidade prática para
avaliação da doença, são as escalas de pontuação que podem
ser utilizadas para analisar a evolução clínica da doença ou a
eficácia do tratamento. Entre elas temos as escalas de Webster,
UPDRS, e Hohen Yahr [2] que nos proporcionam uma
avaliação clínica e evolutiva da doença.
Confirmando-se o diagnóstico de DP, o passo seguinte
será analisar o impacto desta doença sobre o desempenho
das atividades diárias do indivíduo. Deverá, então, o
parkinsoniano, ser inquirido pormenorizadamente sobre sua
capacidade para as atividades da vida diária, tais como de
falar, alimentar-se, deglutir, levantar-se da cadeira, vestir-se,
manter a higiene pessoal, escrever, rolar na cama, andar,
trabalhar e manter o convívio social [3,4].
Com base nestes conceitos, resolvemos elaborar esta
revisão de literatura com a finalidade de atualizar as diferentes
condutas desta doença no tratamento fisioterapêutico.
Desenvolvimento
Embora o tratamento medicamentoso seja se grande
importância para melhora dos sintomas, a terapêutica para
os indivíduos parkinsonianos envolve cuidados médicos e
reabilitatórios, sendo a fisioterapia, a fonoaudiologia e a terapia
artigo 09 - Soraya.pmd
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ocupacional de grande importância. Uma vez confirmado o
diagnóstico, o tratamento deve ser iniciado. O paciente e a
família precisam de orientação relacionada às atividades
diárias e aconselhamento de como enfrentar a doença.
Tratamento fisioterapêutico
A fisioterapia atua nos sinais e sintomas da doença de
Parkinson, tais como: rigidez, bradicinesia, tremor e marcha.
O programa de exercícios cinesioterapêuticos ativo livre e
passivo tem como objetivo desacelerar a progressão da
doença, impedindo o desenvolvimento de complicações e
deformidades secundárias e manter ao máximo as
capacidades funcionais do paciente [5].
A curto prazo as seguintes metas são relevantes para o
tratamento do paciente com parkinsonismo [6,7]:
• Manter ou aumentar a amplitude de movimentos em
todas as articulações;
• Impedir contraturas e corrigir as posturas defeituosas;
• Impedir a atrofia por desuso e a fraqueza muscular;
• Promover e incrementar o funcionamento motor e a
mobilidade;
• Incrementar o padrão de marcha;
• Melhorar os padrões de fala, respiração, expansão e
mobilidade torácicas;
• Manter ou aumentar a independência funcional nas
atividades da vida diária;
• Ajudar o ajustamento psicológico à incapacidade
funcional nas atividades da vida diária;
• Melhorar o equilíbrio e a instabilidade postural.
Já a longo prazo o programa fisioterapêutico tem por
finalidade:
• Retardar ou minimizar a progressão e efeitos dos
sintomas da doença;
• Impedir o desenvolvimento de complicações e
deformidades secundárias;
• Manter ao máximo as capacidades funcionais do
paciente;
• Melhorar a qualidade de vida do paciente, reintegrando
a sociedade.
Exercícios de amplitude de movimento
Os exercícios ativos e passivos devem ser feitos várias
vezes ao dia (dentro da amplitude de movimentos). Os
exercícios ativos irão ajudar a fortalecer os músculos
extensores alongados, enquanto que estirará os flexores que
se apresentam retesados e encurtados. Quando o paciente
se encontra limitado no movimento ativo que ele pode
realizar, geralmente deve-se utilizar o movimento passivo e
ativo assistido. As contraturas de músculos específicos podem
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responder as técnicas de inibição antagonista, como a técnica
de facilitação neuromuscular proprioceptiva (contrair-relaxar).
No entanto, como o relaxamento muscular que ocorre
geralmente não é completo, o fisioterapeuta deverá utilizarse de movimentos lentos, rítimicos e rotatórios dentro de
uma amplitude total de movimento. O estiramento passivo
prolongado e/ou as técnicas de estiramento mecânico que
usam splints e outros aparelhos podem ser necessárias para
melhorar a amplitude de movimento naquelas articulações
onde as contraturas estiverem mais acentuadas [6].
Os exercícios de amplitude de movimentos para serem
realizados em casa devem ser acompanhados por algum
equipamento adaptativo, como por exemplo as polias na
parede, se a bradicinesia não for muito grave [6].
Exercícios de mobilização
Um programa de exercícios para o paciente com
parkinsonismo deverá ser baseado nos padrões de movimento
funcional, que trabalhe os vários seguimentos do corpo ao
mesmo tempo. Os movimentos extensores, abdutores e
rotatórios devem ser realizados várias vezes. Os movimentos
devem ser rítmicos, recíprocos e progredir até que atinjam
uma amplitude total do movimento. Os estímulos verbais,
tácteis e auditivos irão auxiliar o paciente a reconhecer o
movimento. Os comandos verbais, música, metrônomos,
espelhos e a marcação do chão serão auxiliares para se
aumentar a mobilidade geral do paciente. [6]
O treinamento da marcha é realizado para superar déficits,
tais como: marcha desequilibrada, alinhamento e reflexos
posturais defeituosos. Tem como objetivo aumentar o passo,
alargar a base de apoio, aumentar o movimento contralateral
do tronco e do braço.
A mobilização dos músculos da face é outro importante
exercício, devido a interação social limitada na presença da
rigidez acentuada e da bradicinesia. Esses sinais podem
influenciar no estado psicológico e na motivação do paciente.
Deve-se praticar movimentos faciais diários, exageradamente,
usando um espelho para o feedback visual. [6]
Relaxamento e atividade física
Para aumentar o movimento é preciso reduzir a rigidez.
Muitas técnicas de relaxamento parecem efetivas, incluindo
o balanço lento e cuidadoso, a rotação dos membros e do
tronco e até mesmo o uso da yoga. Com o parkinsoniano o
sucesso no relaxamento pode ser melhor obtido na posição
sentada, já que a rigidez pode aumentar em decúbito dorsal.
Além disso, como os músculos proximais estão mais
freqüentemente envolvidos que os músculos distais, o
relaxamento pode ser mais fácil de se conseguir seguindo
uma progressão distal para proximal. A posição invertida deve
ser usada com cuidado. Inicialmente esta posição facilita
algum relaxamento (aumento no tono parassimpático) e
artigo 09 - Soraya.pmd
63
63
posteriormente aumenta com a extensão do tronco, que é
importante para o parkinsoniano. [5,8]
Conseguindo-se diminuir a rigidez através do relaxamento,
o movimento pode ser iniciado. Para o indivíduo com doença
de Parkinson, esse movimento deve ser em toda amplitude.
Com as técnicas de relaxamento, torna-se mais fácil começar
com movimentos distais e gradualmente aumentar o
movimento, indo para os músculos proximais e tronco. A
posição sentada é a melhor posição para iniciar, começando
com um balanço de braços e aumentando sempre a amplitude.
Como os padrões simétricos bilaterais são mais fáceis que os
padrões recíprocos, eles devem ser inicialmente utilizados.
Para ampliar rotação de tronco (que ajuda a diminuir a rigidez
proximal) pode ser usada facilitação neuromuscular
proprioceptivo (PNF) e iniciação rítmica. Adicionalmente, o
tratamento pelo neurodesenvolvimento (NTD) e a técnica
de mobilização podem ser úteis para aumentar a mobilidade
escapular e pélvica [6,8,9].
À medida que o movimento aumenta, as atividades bilaterais
podem ser substituídas por padrões recíprocos. A utilização
de atividades funcionais também é importante. Nas atividades
de marcha devem ser encorajados os passos e balanceios de
braços amplos. Adicionalmente, as mudanças na direção, as
mudanças nos padrões de movimento, as atividades de parar e
iniciar a marcha devem ser bastante enfatizadas [8,9].
Além do tratamento ambulatorial, o parkinsoniano deve
receber um programa domiciliar, sendo necessário encorajar
os exercícios moderados e consistentes como parte do dia
normal. A fadiga deve ser evitada e os exercícios devem ser
graduados para a capacitação do indivíduo. O terapeuta deve
ter em mente que habilidades aprendidas, como alguns
esportes, são por vezes menos afetadas que os movimentos
automáticos [5].
A dança de baile é também uma excelente forma de terapia
para os pacientes com Parkinson, já que promove
movimentos rítmicos, rotação, equilíbrio e coordenação [10].
Finalmente, a Doença de Parkinson é uma doença
progressiva, degenerativa. A terapia e os exercícios podem
modificar a progressão, mas não podem interromper ou
revertê-la [1,8,9].
Cinesioterapia
A cinesioterapia é, etimologicamente a “arte de curar que
utiliza todas as técnicas do movimento”. Ela faz parte de um
conjunto de terapias que emprega diversos agentes físicos
(água, eletricidade, ondas, calor), que se completam
mutuamente conforme a doença a tratar, conjunto este
denominado mais freqüentemente de fisioterapia [11].
A intervenção da Fisioterapia, através do recurso
cinesioterapêutico visa proporcionar melhora nos distúrbios
motores da doença de Parkinson, proporcionando assim
melhor adaptação às atividades da vida diária, seja de ordem
física, psíquica e social [12].
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Cinesioterapia é o emprego de exercícios ou movimentos
como forma de tratamento, com base no princípio de que
um órgão ou sistema se adapta ao estresse ao qual for
submetido. Os exercícios terapêuticos envolvem aplicação e
ajustes de estresses de forma apropriada para produzir as
adaptações desejadas sem provocar lesões. Os efeitos dessa
intervenção são cumulativos com a manutenção do processo
e revertem caso o processo seja interrompido.
O objetivo da cinesioterapia é manter e ou melhorar a
performance muscular, promovendo o estado funcional do
indivíduo.
O programa de exercícios depende de:
• Características do tecido muscular (músculos de força,
velocidade ou endurance)
• Habilidade do sistema nervoso central para direcionar
e coordenar o movimento
• Propriedades do sistema de alavancas: comprimento do
braço de alavanca
• Amplitude de movimento articular
• Componentes psicológico ou emocional
Exercícios respiratórios
Os exercícios respiratórios auxiliam o relaxamento e
trabalham de forma eficaz na expansão torácica, aumentando
a capacidade vital do paciente, prevenindo assim as limitações
músculo-esqueléticas, que podem contribuir para alta
incidência de complicações pulmonares, por ventilação
inadequada.
Embora haja limitações respiratórias causadas pelas
alterações posturais típicas do parkinsoniano, estas não estão
diretamente ligadas à mortalidade por falência respiratória.
A bradicinesia e a rigidez na DP, além de determinarem
dificuldade na execução e na repetição dos atos motores em
geral, afetam os músculos respiratórios, levando-os a fadiga
e conseqüentemente limitando a ventilação.
Ao iniciar um programa de fisioterapia respiratória para
esses pacientes, devemos considerar a resistência imposta à
mobilização do tórax tanto pela postura em flexão como pela
presença de rigidez torácica, típicas da DP.
A reabilitação dos portadores de DP tem sido direcionada
especialmente para as limitações motoras, fazendo-se
necessária avaliação funcional respiratória a fim de identificar
as disfunções e estabelecer programa de tratamento
direcionado [13].
Hidroterapia
A hidroterapia é um recurso da fisioterapia utilizando a
água como agente externo, realizando exercícios aquáticos
terapêuticos em piscinas aquecidas e cobertas, utilizada na
reabilitação de várias patologias, com orientação restrita do
profissional de fisioterapia. O objetivo da reabilitação aquática
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neurológica é tornar o paciente mais independente possível
para realização de suas tarefas de vida diária [14].
Existe uma grande variedade de métodos terapêuticos
disponíveis para tratar pessoas com disfunções neurológicas,
sendo que a hidroterapia está se tornando mais aceita, ocupando
um lugar definitivo no tratamento destes indivíduos.
Embora as pesquisas dos tratamentos hidroterápicos em
pacientes com lesões neurológicas sejam bastante limitadas
até o presente momento, a hidroterapia vem sendo utilizada
por muitos fisioterapeutas. Possivelmente a escolha pela
hidroterapia se deva aos efeitos que esta proporciona ao
organismo humano e a grande aceitação por parte dos
pacientes [14].
Várias são as técnicas que podem ser aplicadas na
hidroterapia. O Watsu (Walter Shiatsu, schiatsu aquático) é
uma das técnicas que promovem o relaxamento muscular e
o alongamento de musculaturas encurtadas, melhorando as
amplitudes de movimento e trazendo bem-estar geral ao
paciente [14]. Os métodos de Bad Ragaz e Halliwick podem
ser empregados para o desenvolvimento de força muscular,
para melhorar as amplitudes de movimento e proporcionar
um condicionamento físico adequado para os pacientes com
a doença de Parkinson [14].
Todas as técnicas utilizadas na hidroterapia não devem
ser estanques e tão pouco trabalharem segmentos
individualmente. Isto garante o trabalho global do indivíduo
e é mais condizente com o ambiente aquático que é
extremamente dinâmico [14].
Conclusão
A Fisioterapia tem um papel importante na manutenção
física dos pacientes com doença de Parkinson colaborando
na melhora dos aspectos motores, psíquicos e evitando o
aparecimento de posturas inadequadas que contribuem
para o agravamento dos sintomas. Juntamente com o
tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico pode-se
proporcionar, em muitos casos, a estabilização dos estágios
da doença, melhorando o prognóstico desta patologia de
tão difícil tratamento.
Há necessidade para o paciente com DP de um programa
de tratamento preventivo ou reabilitador, não só motor, mas
também direcionado para a função respiratória com intuito
de aumentar a amplitude torácica, o que proporcionará
melhora da capacidade funcional desses pacientes, trazendolhes maior independência e, por conseguinte melhor qualidade
de vida. A abordagem psíquica e fonoaudiológica, em muitos
casos, também são necessárias.
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C
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Estudo de caso
Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade:
tratamento fisioterapêutico com
abordagem ludoterapêutica
Attention deficit problems/hyperactivity:
physical therapy with ludotherapy approach
Alcioney Valeski, M.Sc.*, Bárbara Lucia Pinto Coelho**, Michelle Corrêa Rodrigues***
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*Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Coordenador do Centro de Pesquisa e
Equoterapia Haras Araranguá, SC – CEPEHA, **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC, ***Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
Resumo
O objetivo deste artigo é relatar a atuação da Fisioterapia no tratamento do Transtorno
de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH), utilizando-se a abordagem ludoterapêutica.
Para tanto, apresenta-se o caso de um paciente infantil, 11 anos, do sexo masculino,
diagnosticado como portador dessa condição, atendido no Hospital Regional de Araranguá,
situado no Estado de Santa Catarina. O paciente foi submetido a 8 sessões de tratamento,
duas vezes por semana. Em todas as sessões, foram realizados exercícios de alongamento
passivo de membros inferiores, aperfeiçoamento da coordenação motora, equilíbrio,
concentração e, conseqüentemente, a correção postural. Conclui-se que suprir as necessidades
da criança com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade oferece novos desafios
aos fisioterapeutas, porém, existe a necessidade de estudos que identifiquem as reais alterações
motoras e, principalmente, as que apresentam direta ou indiretamente, relação com a
funcionalidade, para que a Fisioterapia tenha parâmetros de elaboração da intervenção.
Palavras-chave:
Transtorno de déficit de
atenção, hiperatividade,
ludoterapia.
Key-words:
Upset of deficit of attention,
hiperactivity, ludotherapy.
Abstract
The aim of this article is to report the contribution of physical therapy to Attention
Deficit Problems/Hyperactivity, through the ludotherapy approach. It presents the
case of an 11 years old boy, attended at Araranguá Regional Hospital, in Santa Catarina
state. The patient accomplished eight sessions of treatment, twice a week. In every
session, the treatment consisted of passive stretch exercises in lower limbs, coordination
improvement, balance, concentration, and consequently posture correction. The results
show that providing the children presenting Attention Deficit Problems/Hyperactivity
needs creates physical therapists new challenges, but studies are necessary to identify
the real coordination changes, mainly the ones that are, directly or indirectly, related to
neurological functions, in order to achieve parameters to work out the intervention.
Artigo recebido 16 de setembro de 2003; aceito em 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Prof. Alcioney Valeski, Caixa Postal 331 – 88900-000 Araranguá SC, E-mail: [email protected]
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Introdução
O Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade
(TDAH) é um transtorno do desenvolvimento do tempo de
atenção, impulsividade e/ou hiperatividade, assim como do
comportamento, no qual estes déficits são significativamente
inapropriados para idade mental. Tem início na primeira
infância, é geralmente crônico ou persistente ao longo do
tempo; e não é resultado direto de atraso severo de linguagem,
surdez, cegueira, autismo ou psicose infantil [1].
Os indivíduos que apresentam este transtorno demonstram
dificuldades de aprendizagem, deficiência do controle motor e
equilíbrio. Algumas crianças, com dificuldades de aprendizado
apresentam problemas em relação ao controle motor, os quais
se manifestam principalmente durante o uso das mãos e nas
atividades relacionadas com o equilíbrio.
Assim sendo, o objetivo deste artigo é relatar a atuação
da Fisioterapia no tratamento do Transtorno de Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH), utilizando-se abordagem
ludoterapêutica, apresentando-se o caso de um paciente, de
11 anos, diagnosticado como portador dessa patologia,
atendido na clínica de Fisioterapia do Hospital Regional de
Araranguá, situado no Estado de Santa Catarina.
A motivação para o estudo decorre do fato de que o
TDAH é uma patologia totalmente relacionada aos distúrbios
motores, sendo, por isso, a Fisioterapia instada a atuar no
tratamento dessa condição. Além disso, a escassez de trabalhos
na literatura especificamente tratando da intervenção
fisioterapêutica em indivíduos com essa patologia reitera a
importância do estudo.
Conforme se relata, o distúrbio de hiperatividade com
déficit de atenção é uma condição freqüente em crianças,
sendo considerado importante problema médico-social.
Caracteriza-se por distúrbios motores, cognitivos e
comportamentais, que comprometem o aprendizado de
crianças normais.
Revisão da literatura
Existe atualmente uma variedade considerável para o
emprego de uma nomenclatura para o problema do déficit
de atenção. Na literatura especializada, encontram-se diversas
siglas para descrever este distúrbio, dentre elas: SHDA
(Síndrome de Hiperatividade com Déficit de Atenção), PHDA
(Perturbação de Hiperatividade com Déficit da Atenção),
ADD (do inglês Attention Deficit Disorder) e TDAH (Transtorno
de Déficit de Atenção/ Hiperatividade).
Dessa forma, para essa revisão, adotou-se a nomenclatura
“TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade)”
por considerá-la a mais usada entre os diversos estudiosos
dessa condição.
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade
baseia-se nos sintomas de desatenção (pessoa muito distraída)
e hiperatividade (pessoa muito ativa, por vezes agitada, bem
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67
67
além do comum), tais aspectos, entretanto, são normalmente
encontrados em indivíduos sem o problema, por isso, para
haver o diagnóstico desse transtorno, a falta de atenção e a
hiperatividade devem interferir significativamente na vida e
no desenvolvimento normais da criança ou do adulto [2].
O transtorno deve estar presente por, pelo menos, seis
meses, comprometer o funcionamento escolar ou social e
ocorrer manifestações antes dos sete anos [3,4]. Porém, antes
dos quatro ou cinco anos, é difícil ser feito o diagnóstico,
pois o comportamento das crianças nessa idade é muito
variável e a atenção não é tão exigida quanto em crianças
mais velhas. Mesmo assim, algumas crianças desenvolvem o
transtorno numa idade bem precoce [2].
Estima-se que cerca de 3 a 6% das crianças na idade
escolar (entre 5 a 10 anos) apresentem TDAH [2,5,6]. A maior
incidência ocorre no sexo masculino, numa proporção
equivalente a 2:1.
Todavia, a diferença da proporção meninos/meninas
encontrada entre estudos populacionais e clínicos
provavelmente deve-se ao fato de que as meninas apresentam
menos sintomas de conduta, sendo, portanto, menos
encaminhadas a avaliações e tratamento [6,7]. Porém, mesmo
apresentando-se mais comumente em crianças, não sendo
devidamente tratado, o transtorno continuará se
manifestando na fase adulta. Em adolescentes e adultos, no
entanto, ainda existem poucos dados a respeito de qual é a
incidência da população afetada [2].
Quanto aos fatores de risco, a ocorrência do TDAH está
associada a um certo número de fatores de risco pré-natais:
tabagismo, alcoolismo materno, alimentação rica em açúcar,
problemas familiares, exposição a determinadas substâncias
e sofrimento emocional pré-natal, porém, o fator de risco
mais aceito é o de uma vulnerabilidade herdada ao transtorno,
que vai manifestar-se de acordo com a presença dos fatores
ambientais, desencadeando níveis mais baixos de
metabolismo no cérebro do que os indivíduos que não
apresentam o transtorno. Contudo, quanto mais forte a carga
genética, menor a importância desses desencadeadores [6].
Em geral, as principais variáveis causas relacionadas à
etiologia do TDAH, apontadas pela literatura, são: fatores
neurológicos, reações tóxicas e herança genética. Nesse
sentido, entre os possíveis fatores etiológicos encontram-se:
substâncias ingeridas na gravidez (nicotina e álcool);
sofrimento fetal (sobretudo durante o parto); exposição ao
chumbo e fatores neurológicos.
Quanto à patogenia do TDAH, recentes trabalhos
científicos encontram evidências que podem ser reunidos
em dois grandes grupos: um que aponta para o déficit
funcional de certos neurotransmissores (dopamina e
noradrenalina) e outro que enfatiza o déficit funcional do
lobo frontal, mais precisamente do córtex pré-frontal [1,8,17].
Portanto, estudos estruturais e metabólicos, adicionados
aos estudos genéticos e familiares, conferem ao TDAH uma
delineação de transtorno neurológico [1].
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Com relação à fisiopatologia, o TDAH está diretamente
relacionado com o controle motor deficitário e, por extensão,
com as dificuldades no aprendizado e a falta de atenção
exacerbada. Podendo-se, assim, observar um ciclo vicioso, onde
tudo se inicia pelo controle motor deficitário levando às diversas
complicações, conforme se demonstra na figura 1 a seguir [9].
Fig.1 - Ciclo vicioso do controle motor deficitário.
Fonte: Shepherd (1996)
O diagnóstico do TDAH é fundamentalmente clínico [7],
sendo que até a presente data, não existe qualquer método
laboratorial, de neuroimagem ou neurofisiológico entre exames
complementares capaz de confirmar o diagnóstico, como se
espera de praxe no estudo das doenças pediátricas [10].
O diagnóstico é feito a partir da demonstração de
características neurocomportamentais de desatenção e
hiperatividade/impulsividade, comprometedoras do
funcionamento do indivíduo e impróprias para determinada
fase do desenvolvimento [1].
Dessa forma, os critérios de diagnóstico para TDAH
foram estabelecidos pela Associação Americana de
Psiquiatria, através do Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM-IV) [11], que apresenta três
subtipos do transtorno: predominância dos sintomas de
desatenção, predominância dos sintomas de hiperatividade e
impulsividade, e predominância de ambos.
Assim, o DSM-IV, de 1994, distingue 3 tipos de TDAH,
dependendo das manifestações que predominam no quadro
clínico: 1. Tipo predominantemente desatento (TDAH-D);
2. Tipo predominantemente hiperativo-impulsivo (TDAHHI) e 3. Tipo combinado (TDAH-C).
O quadro clínico, de uma forma geral, consiste-se na
apresentação de algumas alterações, tais como dificuldade de
atenção e concentração, problemas de aprendizado, distúrbios
do comportamento, retardos da fala e distúrbios motores.
Quanto aos exames complementares, o eletroencefalograma (EEG) e a ressonância magnética são bastante
solicitados no tratamento das crianças com TDAH. Entretanto,
os dados fornecidos por estes exames e de estudos que os
avaliaram em crianças com essa patologia são conflitantes. Uma
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das razões é a falta de uniformidade dos resultados [12].
As medicações mais testadas em estudos cuidadosos e
mais usadas na prática clínica são os chamados
estimulantes. No Brasil, o único estimulante encontrado
no mercado é o metilfenidato [13], comercializado com o
nome de Ritalina [6].
Outra classe de medicações bastante utilizada e que demonstrou clara eficácia é a dos antidepressivos tricíclicos [6].
Pode parecer paradoxal que medicações chamadas de
estimulantes possam ajudar crianças e adolescentes hiperativos
e impulsivos, entretanto, essas medicações estimulam a função
das áreas cerebrais responsáveis pelo comportamento inibitório
e, por isso, tendem a melhorar o “freio inibitório”. Como os
antidepressivos tricíclicos, os estimulantes aumentam a
disponibilidade dos neurotransmissores que pareçam estar
deficitários nessa área [14].
Porém, apesar dos efeitos salutares da medicação, esse
tratamento é limitado em diferentes for mas: estão
associados aos efeitos colaterais, alguns pais e professores
não aceitam a medicação devido a preocupações filosóficas/
religiosas; esses tratamentos não curam o TDAH no sentido
de normalizar totalmente o comportamento da criança e
os efeitos da medicação desaparecem quatro horas depois
da administração [14].
Dessa forma, essas limitações para o tratamento
medicamentoso promoveram a busca de intervenções
adicionais que possam levar à maior manutenção da mudança
comportamental por mais tempo e em diferentes ambientes,
tais como intervenções psicoterapêuticas e estratégias de
manejo cognitivo-comportamentais em casa e na escola [6].
Todavia, a medicação permite que essas outras abordagens
terapêuticas sejam mais eficazes [15].
Referentemente às complicações, estudos demonstram
que crianças com TDAH apresentam um risco aumentado
de desenvolverem outros transtornos psiquiátricos na
infância, adolescência e idade adulta, incluindo
comportamento anti-social, abuso ou dependência de álcool
e drogas, transtornos do humor e de ansiedade [5,7],
conforme se demonstra na figura 2, a seguir, que representa
a evolução provável do TDAH não tratado [15].
Fig.2 - Evolução provável do TDAH não tratado.
Fonte: Kewley e Latham (2001)
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Materiais e métodos
A amostra constituiu-se de um paciente infantil, de 11
anos, do sexo masculino, que apresenta Transtorno de
Déficit de Atenção/ Hiperatividade. O estudo foi realizado
na clínica de Fisioterapia do Hospital Regional de Araranguá,
SC. Para o desenvolvimento do estudo, foi realizada
avaliação fisioterapêutica-neurológica infantil e ortopédica,
na qual constavam dados de identificação, anamnese e exame
físico. Também se aplicou o Teste do DSM-IV, com a mãe
do paciente.
No total, foram realizadas oito sessões, iniciando-se com
a avaliação fisioterapêutica-neurológica infantil e ortopédica
e teste do DSM-IV com a mãe do paciente; nas demais
sessões, foram realizados os procedimentos fisioterapêuticos
mediante abordagem ludoterapêutica, pelo fato de tratar-se
de paciente infantil.
Para facilitar a análise, foi preenchida ficha de evolução
fisioterapêutica, procedimento rotineiro e obrigatório da
entidade, que per mite melhor acompanhamento do
tratamento, na qual constam nome do paciente, idade,
diagnóstico clínico, diagnóstico fisioterapêutico, fisioterapeuta
responsável, procedimentos fisioterapêuticos e evolução do
paciente em cada sessão.
Os equipamentos utilizados para o tratamento
fisioterapêutico foram bolas, tatame, cones, jogos de montar
peças, canetas coloridas, espuma (barbear), barras paralelas,
balancim e escada com dois degraus.
O tempo de duração de cada sessão foi de 40 minutos,
realizadas duas vezes por semana.
Relato do caso
Paciente nasceu de gravidez transcorrida normalmente, a
termo, apesar de a mãe apresentar hipertensão e tomar
medicamentos, sendo que o parto foi cesariana. Após 24 horas
do nascimento, teve convulsão, sendo realizados imediatamente
os procedimentos necessários, porém, nunca mais veio a
apresentar essa ocorrência. Paciente nasceu de gravidez
transcorrida normalmente, a termo, apesar de a mãe apresentar
hipertensão e tomar medicamentos, sendo que o parto foi
cesariana. Após 24 horas do nascimento, teve convulsão, sendo
realizados imediatamente os procedimentos necessários,
porém, nunca mais veio a apresentar essa ocorrência.
Com 7 (sete) meses de idade, a mãe começou a perceber
alterações no desenvolvimento da criança (como engatinhar,
andar), posteriormente, foi diagnosticado alteração de
equilíbrio, provavelmente decorrente do Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Com 7 (sete)
meses de idade, a mãe começou a perceber alterações no
desenvolvimento da criança (como engatinhar, andar),
posteriormente, foi diagnosticado alteração de equilíbrio,
provavelmente decorrente de Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH).
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Aos 7 (sete) anos, ingressou na A.P.A.E., ficando por 3
(três) anos, quando, por encaminhamento, passou a freqüentar
a escola onde está matriculado atualmente, na 1ª série do Ensino
Fundamental. Sua alimentação é normal e sem a necessidade
de auxílio, sendo que a criança não pede comida, a mãe tem
que oferecer. Não apresenta nenhum caso na família e tem
três irmãos. Aos 7 (sete) anos, ingressou na A.P.A.E., ficando
por 3 (três) anos, quando, por encaminhamento, passou a
freqüentar a escola onde está matriculado atualmente, na 1ª
série do Ensino Fundamental. Sua alimentação é normal e
sem a necessidade de auxílio, sendo que a criança não pede
comida, a mãe quem tem que oferecer. Não apresenta nenhum
caso na família e tem três irmãos.
A medicação administrada ao paciente é Gaballon (ácido
gama-aminobutírico, vitaminas B1 e B6, pontotenato de cálcio
e lisina de cálcio), indicado para estafa física, mental e
antianoréxico (administrado pela manhã); além de Ritalina
(metilfenidato), que é indicado para hiperatividade e favorece
no tratamento dos outros problemas associados ao
transtorno, além de contribuir nos programas paralelos de
tratamento - psicológico, educacional e social - (administrado
pela manhã) e Neozine (levomepromazina), indicado para
tratar sintomas psicóticos e também para agitação ou
irritabilidade de pacientes com outros problemas neurológicos
(administrado à noite).
A queixa principal, conforme relato da mãe, é quanto à
comunicação, concentração e coordenação motora.
Discussão
Para a avaliação, foram coletados os dados de
identificação e obtido o diagnóstico clínico, caracterizado
por “alteração de equilíbrio”, com suspeita de Transtorno
de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Durante a
avaliação, percebeu-se que o quadro clínico e a história da
doença mostraram-se compatíveis com a patologia
diagnosticada, confirmando-se com o diagnóstico médico
apresentado pela mãe e ratificado através da realização do
teste estabelecido pela Associação Americana de Psiquiatria,
através do DSM-IV, sendo o paciente classificado como
tipo combinado (TDAH-C). A queixa principal, conforme
relato da mãe, é quanto à comunicação, concentração e
coordenação motora. Durante a avaliação, percebeu-se que
o quadro clínico e a história da doença mostraram-se
compatíveis com a patologia diagnosticada, confirmandose com o diagnóstico médico apresentado pela mãe e
ratificado através da realização do teste estabelecido pela
Associação Americana de Psiquiatria, através do DSM-IV,
sendo o paciente classificado como tipo combinado
(TDAH-C).
As crianças com TDAH do tipo combinado (TDAHC), com predomínio de sintomas de hiperatividade/
impulsividade, são mais agressivas e impulsivas do que as
crianças com outros dois tipos. O tipo combinado apresenta
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também um maior prejuízo no funcionamento global, quando
comparado aos outros grupos [6].
O diagnóstico fisioterapêutico foi alteração funcional
relacionada à diminuição de equilíbrio e coordenação
motora, além de alteração de marcha. O diagnóstico
fisioterapêutico foi alteração funcional relacionada à
diminuição de equilíbrio e coordenação motora, além de
alteração de marcha.
Dessa forma, através da revisão literária realizada e mediante
uma visita à instituição A. P. A. E., pôde-se fazer a comparação
com os sinais clínicos manifestados pelo paciente, constatandose que as reações desse paciente caracterizam-se, muitas vezes,
pela imaturidade de respostas e pela incapacidade de controlar
o grau de atividade ou de impulsividade. Dessa forma, através
da revisão literária realizada e mediante uma visita à instituição
A. P. A. E., pôde-se fazer a comparação com os sinais clínicos
manifestados pelo paciente, constatando-se que as reações
desse paciente caracterizam-se, muitas vezes, pela imaturidade
de respostas e pela incapacidade de controlar o grau de
atividade ou de impulsividade.
Além disso, foi possível verificar, conforme as literaturas
pesquisadas, que a criança com TDAH apresenta distúrbios
motores, cognitivos e comportamentais, sendo que os
distúrbios motores são um dos principais motivos de queixas
de professores e pessoas em geral que lidam com indivíduo
com essa condição. Os problemas motores são
freqüentemente descritos de maneira global, compreendendo
a precariedade das funções de equilíbrio e a coordenação
imperfeita entre os membros e/ou o corpo inteiro.
Tendo-se como base o conhecimento do comportamento
e desenvolvimento motor normal e a avaliação fisioterapêutica
neurológica e ortopédica, buscou-se através das alterações
motoras, de atenção e aprendizagem que o paciente apresenta,
desenvolver atividades fisioterapêuticas, adaptando-as às
necessidades do mesmo.
Dessa forma, o tratamento tem os seguintes objetivos:
trabalhar o equilíbrio, aperfeiçoar a coordenação motora,
desenvolver habilidades de manipular objetos, treinar marcha,
desenvolver a consciência do corpo e do espaço e maximizar
o controle postural.
Portanto, o tratamento fisioterapêutico realizado tem
como base a cinesioterapia ativa associada à abordagem
ludoterapêutica.
A cinesioterapia é o tratamento das doenças através do
movimento. A cinesioterapia ativa é a parte da Fisioterapia
que utiliza o movimento provocado pela atividade muscular
do paciente com uma finalidade terapêutica precisa, sendo
descrita pela ação da atividade das fibras musculares contráteis
do paciente, de maneira analítica ou global, voluntária ou
automática reflexa. Tal atividade é realizada com uma
finalidade terapêutica local, regional ou geral.
A cinesioterapia, através de seus exercícios terapêuticos,
promove a prevenção de disfunção, assim como o
desenvolvimento, melhora, a restauração ou manutenção de
artigo 10 - Alcioney.pmd
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força, resistência à fadiga, preparo cardiovascular, mobilidade,
flexibilidade, estabilidade, coordenação, equilíbrio e
habilidades funcionais [16].
A ludoterapia foi incorporada à terapêutica pelo fato
de tratar-se de paciente infantil, considerando-se que o
comportamento lúdico contribui para aquisição das
habilidades de cada domínio do desenvolvimento [17]. O
ato de brincar estimula a curiosidade, a iniciativa e a
autoconfiança, proporcionando a aprendizagem, o
desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da
concentração e da atenção. Além disso, independente do
contexto histórico, cultural e social, toda criança brinca.
Desde o seu nascimento, ela experimenta, descobre,
inventa, exercita e combina suas habilidades através da
brincadeira [1].
Assim sendo, o ato de brincar mostra-se indispensável à
saúde física, intelectual, emocional e social da criança.
Mediante a ludoterapia, dessa forma, foram direcionados
os procedimentos fisioterapêuticos, como alongamentos,
exercícios de equilíbrio e coordenação motora, visando a
proporcionar ao paciente uma melhor qualidade de vida e
adaptação ao meio em que vive. Entretanto, é de fundamental
importância o conhecimento das características do
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade para
conduzir a terapia de maneira que o paciente se sinta
confortável e seguro.
No total foram realizadas 8 sessões de tratamento, com o
tempo de duração de 40 minutos, tendo-se observado, em
duas sessões, traços de irritabilidade e pouca iniciativa para a
realização das atividades, entretanto, na maioria das sessões,
o paciente mostrou-se colaborativo.
Quanto aos procedimentos fisioterapêuticos adotados,
esses podem ser assim elencados: alongamento passivo para
membros inferiores (quadríceps, isquiotibiais, tríceps sural e
iliopsoas) e alongamento de paravertebrais (Série de Willians
e Prece Maometana), visando à mobilidade; exercícios para
aperfeiçoar coordenação motora de membros superiores e
membros inferiores; treino de marcha nas barras paralelas e
com cones; treino de equilíbrio, coordenação motora e
correção postural no balancim e bola de ginástica; pontoschaves Bobath e diagonal de Kabat para correção postural.
Com relação à ludoterapia, foram realizadas atividades
como joguinhos de montar, desenho, “zig-zag” entre cones,
derrubar cones com bolas de diversos tamanhos, arremesso
e chute com bolas, “batata-quente”, colagem de gravuras,
“andar na ponte”, entre outras atividades, direcionadas à
coordenação motora, equilíbrio e correção postural.
Em todas as sessões, dessa forma, foram realizados
exercícios de alongamento passivo de membros inferiores,
mediante a ludoterapia, aperfeiçoamento da coordenação
motora, concentração, equilíbrio e, conseqüentemente,
correção postural.
As figuras 3 e 4, a seguir, ilustram algumas das atividades
desenvolvidas no tratamento fisioterapêutico.
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Fig. 3 - Exemplo de atividade fisioterapêutica desenvolvida com paciente.
Fonte: Dados dos autores
Fig. 4 - Exemplo de atividade fisioterapêutica desenvolvida com paciente.
Fonte: Dados dos autores
Neste contexto, as metas gerais a longo prazo são
melhorar o estado dos sintomas neurológicos detectados na
avaliação, melhorar ou manter o nível ótimo de
funcionamento físico, contribuir para o fator psicológico e
impedir ou retardar a presença e/ou desenvolvimento de
complicações secundárias.
Entretanto, o prognóstico foi considerado reservado, em
função das características típicas da patologia diagnosticada,
que se trata de um transtorno crônico; esperando-se, então,
minimizar os efeitos adversos que caracterizam essa condição,
trabalhando a coordenação motora e equilíbrio funcional para
uma melhor qualidade de vida, assim como a correção
postural.
Por outro lado, as evidências que suportam a efetividade
do tratamento dos déficits motores em crianças com
distúrbios de aprendizagem são ainda fragmentárias, pois a
criança com distúrbios de aprendizagem apresentam padrões
altamente variáveis de incapacidade que tornam difícil prever
ou medir a resposta à terapia [18].
Conclusão
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade tratase de um problema neurobiológico que compromete as
funções de equilíbrio e promove uma coordenação imperfeita
artigo 10 - Alcioney.pmd
71
71
entre os membros e/ou o corpo inteiro, afetando,
principalmente, o desempenho escolar do paciente.
A etiologia do TDAH permanece obscura, porém se
acredita que ela seja um conjunto de fatores ambientais e
genéticos bem estabelecidos, que precisam ser incorporados
a alguma hipótese etiológica unificadora da doença. A
hipótese patogênica mais aceita é o de haver uma
vulnerabilidade herdada ao transtorno, que se manifesta de
acordo com presença de desencadeadores ambientais,
traduzindo-se num déficit funcional de certos
neurotransmissores ou de um déficit funcional do lobo
frontal, mais precisamente do córtex pré-frontal, o que
ocasionaria um defeito na condução dos impulsos nervosos
e condicionaria o aparecimento dos sintomas.
As pessoas com TDAH normalmente são encaminhadas
a tratamento quando entram na escola, ocasião em que o
distúrbio é mais notado, em função da inadaptabilidade à
instituição ou devido à falta de concentração para as atividades
escolares, sendo a Fisioterapia, integrada à equipe
multidisciplinar, uma das áreas que podem contribuir para
um eficaz tratamento dessa patologia, contribuindo para uma
maior independência e segurança nas atividades rotineiras
do paciente, sobretudo escolares, além de proporcionar ao
portador e seus familiares uma visão clara e objetiva sobre as
adaptações necessárias à vida diária, para um melhor convívio
na sociedade, trabalhando também o fator psicológico,
bastante influenciado pela doença.
Todavia, por se tratar de um distúrbio crônico, embora
na maioria das vezes ocorra uma remissão dos sintomas na
adolescência e vida adulta, a orientação para pessoas com
TDAH por fisioterapeutas deve ser vista e planejada numa
base a longo prazo, pois um envolvimento contínuo
proporciona ao fisioterapeuta adequar o tipo de tratamento
oferecido, variando de acordo com os sintomas apresentados
por cada paciente e os benefícios advindos com a Fisioterapia.
Neste sentido, as necessidades que a criança com
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade apresenta
precisam ser analisadas no contexto de seu desenvolvimento
educacional, emocional e motor. Portanto, a questão
geralmente não é se a criança irá se beneficiar da terapia, mas
quais os tipos de reparo são mais essenciais para a mesma,
em determinado estágio de seu desenvolvimento e,
conseqüentemente, a abordagem fisioterapêutica eleita. Sendo
assim, algumas crianças com incoordenação motora lidam
muito bem com seus problemas depois que eles são
identificados, direcionando, desta forma, a abordagem
fisioterapêutica que mais lhe convém.
Além disso, vale lembrar da importância do diagnóstico
precoce nos casos de patologias neurológicas, para que se inicie
o tratamento fisioterapêutico o mais cedo possível, prevenindo
assim possíveis deformidades e alterações estruturais, bem
como melhorando a qualidade de vida e preparando o paciente
para as alterações que irão ocorrer na sua vida diária,
aumentando o seu grau de funcionalidade e adaptação.
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72
Por outro lado, com o estudo realizado e o conhecimento
obtido sobre a atuação da Fisioterapia, pôde-se desenvolver
um programa de tratamento que proporcionasse ao paciente
estímulos e prazer em realizar o tratamento, já que as
crianças afetadas por essa condição necessitam de
afetividade e atenção especial por parte do profissional que
esteja conduzindo o tratamento.
Ainda deve-se salientar que, os objetivos do tratamento
fisioterapêutico foram tão logo se mostrando eficientes,
uma vez que o paciente a cada sessão correspondia,
mostrando-se colaborativo e realizando as atividades
propostas, assim como a mãe relatava as melhoras obtidas,
como a apresentação de maior concentração e
coordenação motora.
Dessa forma, suprir as necessidades da criança com
Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade oferece
novos desafios aos fisioterapeutas, porém, existe a necessidade
de estudos que identifiquem as reais alterações motoras e,
principalmente, as que apresentam direta ou indiretamente,
relação com a funcionalidade, para que a Fisioterapia tenha
parâmetros de elaboração da intervenção.
Referências
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Sprint; 2002.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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Atualização
Graduação da resistência ao movimento durante
a imersão na água
The graded resistance during the movement
in water immersion
Juliana Monteiro Candeloro*, Fátima Aparecida Caromano, D.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Pesquisadora Voluntária do Lafi-ReaCom do Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP, **Profa. Dra. do
Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da USP. Este texto faz parte da dissertação de mestrado a ser defendida pela primeira autora
Palavras-chave:
Hidroterapia, força muscular
e física.
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar uma revisão bibliográfica com atualização
e exemplos práticos sobre o uso da água como resistência durante a realização de
cinesioterapia em imersão (hidroterapia). Este estudo foi elaborado a partir dos
fundamentos físicos, como viscosidade, turbulência, profundidade da água, velocidade
dos movimentos, braço de alavanca, área frontal de resistência ao movimento, mudança
de direção dos movimentos e densidade (uso de flutuadores), que permitem prescrever
exercícios de fortalecimento com diferentes graus de intensidades.
Abstract
The aim of this paper is to present an up-to-date review, and examples of the usage
of water as a mean of resistance during the practice of physical exercise in immersion
(hydrotherapy). This review was based on the physical properties of water, such as
turbulence, viscosity, water level/deepth, movement speed, torque, frontal area of
resistance to the movement, change in movement direction and density (using floaters).
They allow the prescription of strenght exercises with different intensity degrees.
Key-words:
Hydrotherapy, muscular
strenght and physics.
Artigo recebido 9 de dezembro de 2003; aceito em 10 de janeiro de 2004.
Endereço para correspondência: Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano, Lafi-Reacom - Laboratório de Fisioterapia e Reatividade Comportamental, Rua
Cipotânea, 51 Cidade Universitária da USP 05360-000 São Paulo SP.
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Introdução
Sabe-se que, para produzir o aumento da força muscular
é necessária a prática de exercícios físicos com resistência
ao movimento. Geralmente, no treinamento realizado em
solo, consegue-se estabelecer esta resistência por meio de
pesos proporcionais à quantidade de trabalho que um
músculo ou grupo muscular pode realizar. O treinamento
de exercícios visando aumentar a força muscular, realizado
em meio aquático, é considerado eficaz e fundamenta-se
nas propriedades físicas da água para fornecer resistência
ao movimento.
Para calcular a resistência ao movimento de um objeto
através do ar ou líquido utiliza-se à fórmula:
R = d x C x v2 x A/ 2.G
Nesta fórmula, “R” é a resistência, “d” a densidade, “C”
coeficiente de arrasto, “v” a velocidade, “A” a área frontal
do objeto e “G” a força da gravidade. Como a densidade
do corpo imerso e a ação da força da gravidade dentro da
água (em oposição ao empuxo, desde que mantido o mesmo
nível de imersão) são sempre constantes podemos dizer que
a resistência da água é proporcional ao coeficiente de arrasto,
ao quadrado da velocidade do movimento e à área frontal
do objeto.
A partir do uso das variáveis físicas citadas, o fisioterapeuta
poderá criar diferentes situações de resistência ao movimento,
conforme será discutido a seguir:
Viscosidade
A viscosidade é o resultado do atrito entre as moléculas
de um líquido devido à força de coesão das partículas (é a
força de atração entre moléculas vizinhas do mesmo tipo
de matéria) e adesão (é a força de atração entre moléculas
vizinhas com diferentes tipos de matéria). A viscosidade
tor na a água um meio ideal para o trabalho de
fortalecimento muscular, pois neste meio, a resistência
aumenta à medida que a força é exercida contra água ou
ainda pode ser praticamente eliminada, facilitando o
movimento o que permite controle do fortalecimento
dentro da tolerância do paciente e da amplitude de
movimento articular com que inicia o tratamento. Esta
resistência pode ser de até 800 vezes maior que a resistência
oferecida pelo ar.
Coeficiente de arrasto
O coeficiente de arrasto está relacionado com a forma
e o alinhamento do objeto com a água. Quanto mais
alinhado o objeto, menor será o coeficiente de arrasto, ou
seja, a mão em concha terá uma maior resistência do que a
mão estendida.
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74
Área frontal do objeto a ser deslocado
na água
Para realizar um movimento na água é necessário superar
a resistência que a água oferece, então, quanto maior a
superfície de contato frontal do objeto com a água, maior
será a força para superar a resistência da água e
conseqüentemente, mais difícil será o movimento.
Exemplo: caminhada de frente causando maior resistência
que a caminhada lateral.
Progressão: sem uso de palmares, uso de palmares
alternando em membros superiores e inferiores para uso de
palmares nos dois braços ao mesmo tempo.
Velocidade dos movimentos
A resistência da água é proporcional ao quadrado da
velocidade, então ao dobrar a velocidade do movimento,
quadruplica-se a resistência oferecida ao movimento.
Exemplo: extensão de tríceps - posição ereta, pernas
levemente abduzidas e fletidas, com o cotovelo na lateral do
corpo, flexionado e palma da mão voltada para baixo.
Estender e fletir o cotovelo.
Progressão: quanto mais rápido a velocidade do
movimento maior resistência será oferecida aos grupos
musculares.
Densidade
Os flutuadores são materiais menos densos que a água,
pois possuem grande volume de ar e pequeno peso.
Portanto, oferecem resistência a qualquer movimento contra
o empuxo, realizado em velocidade maior que a crítica,
sendo que esta resistência é proporcional ao numero e ao
tamanho dos flutuadores.
Exemplo: Patinar na água com movimentação de braços
- Em pé, deslizar os pés para frente e trás de forma alternada
e sem deslocamento do corpo. Os braços farão movimentos
circulares na altura do tórax.
Progressão: iniciar o exercício sem o uso de flutuadores,
prosseguir inserindo flutuadores pequenos (alternando as
sessões enfocando em membros superiores e membros
inferiores), evoluir para uso de flutuadores pequenos
(membros superiores e em membros inferiores
simultaneamente) e posteriormente utilizar flutuadores
grandes (primeiro alternando membros superiores com
inferiores e depois com o uso simultâneo em ambos os
membros).
Braço de alavanca
O corpo humano é composto por sistemas de alavancas
que tem um fulcrum (articulação), um ponto de aplicação de
força (músculo) e um ponto de aplicação de resistência (peso).
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A posição relativa desses três pontos determina o tipo de
alavanca. A maioria das alavancas no corpo humano é
classificada como de terceira classe, ou seja, o músculo está
localizado entre a resistência e o fulcrum.
Na água, a resistência é igual à quantidade de água deslocada
durante o exercício, ou seja, se o membro esta fletido ele desloca
menos água do que quando o está estendido.
Exemplo: abdução e adução de ombro - posição ereta,
com água na altura do ombro, de lado para a barra paralela.
Progressão: Abduzir o ombro com flexão de cotovelo,
progredindo para abdução do ombro com extensão de cotovelo.
Posição dos flutuadores
Aqui se unem os conceitos de aumento do número e
tamanho de flutuadores. Pois, com o uso de flutuador diminui
a densidade do membro, facilita a abdução e resiste à adução.
Exemplo: abdução e adução de quadril - em posição ereta,
de frente para a borda da piscina, abduzir a aduzir uma das
pernas. Repetir com a outra perna.
Progressão: iniciar faz sem uso de flutuadores, passando
para uso de flutuadores proximal (acima do joelho) e
progredindo para uso de flutuadores distal, (neste caso,
adiciona-se também o uso de conceito de braço de alavanca).
Profundidade da água
Em terra o centro de gravidade de um corpo localiza-se
em frente ao sacro (nível S2). Na água, está localizado na
altura dos pulmões. Conseqüentemente o grau de sustentação
parcial do peso varia com a profundidade da água. Com água
no nível de C7, as mulheres e os homens suportam 8% do
peso corporal, no nível do processo xifóide 28% em mulheres
e 35% em homens e, no nível da espinha ilíaca ântero-superior
47% em mulheres e 54% em homens.
Exemplo: agachamento - Em pé, seguro na paralela,
pernas afastadas aproximadamente 20cm. Lentamente
flexionar os joelhos e abaixar o dorso ereto até que as coxas
fiquem paralelas com o chão. Estenda as pernas sem alterar
a posição da coluna e retorne a posição inicial.
Progressão: quanto mais rasa for a piscina, maior será o
peso, sustentado nos músculos e em conseqüência a
resistência que suportam o agachamento e o retorno à posição
de bipedestação.
Turbulência
Quando se olha para o fundo da piscina e consegue-se
ver um objeto nitidamente, sem movimento algum da água,
dizemos que a água esta tranqüila. Caso haja pessoas se
movimentando, não será possível ver o fundo, ocorre um
movimento irregular das camadas do fluido o que chamamos
de água turbulenta (turbulência). O movimento através do ar
ou da água provoca o surgimento de correntes turbilhonantes
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que tracionam para frente qualquer coisa que se encontre
em seu interior. Isso significa que haverá muito menos esforço
para o corpo que estiver em posição secundária ou posições
subseqüentes. Quando um movimento é realizado em um
sentido constante, a turbulência forma correntes circulares
na mesma direção, e o movimento se torna cada vez mais
fácil, bem como, ao inverter o sentido do movimento, a
musculatura terá que se contrapor a uma parede de
turbulência atuando em oposição ao movimento, o que exige
um esforço maior. A turbulência se gradua pela velocidade
do movimento, comprimento e forma da alavanca e posturas
e equipamentos não aerodinâmicos.
Exemplo: caminhada frente/trás - caminhar com passos
normais em linha reta, quando atingir o outro lado da piscina
retornar de costas até a posição inicial.
Progressão: caminhar cada vez mais rápido, com o corpo
bem estendido e uso de flutuadores.
Movimento em fluxo laminar ou turbulento
Durante o fluxo alinhado ou laminar, ocorre um
movimento contínuo do fluido, com todas as moléculas se
movendo paralelas umas as outras e os trajetos não se cruzam.
Ocorre apenas uma pequena fricção entre as camadas do
fluido, pois elas se separam para se moverem ao redor do
objeto e suavemente unem-se novamente depois.
O fluxo turbulento produz um aumento na fricção entre
as moléculas do fluido e entre o objeto e o fluido. O
movimento das moléculas é rápido, aleatório e não acontece
em uma linha aerodinâmica. Isso resulta em uma área de
baixa pressão atrás do objeto em movimento, que tende a
segurá-lo. A resistência ao fluxo turbulento é maior que ao
fluxo alinhado.
Exemplo: caminhada na piscina
Progressão: no inicio fisioterapeuta caminha à frente do
paciente depois o paciente caminha sozinho, e posteriormente
o fisioterapeuta provoca turbilhonamento da água.
Mudança de direção dos movimentos
Um determinado movimento faz com que a água
movimente na mesma direção, se o movimento for invertido
ele irá mover-se contra o fluxo da água. Então quando se
reverte a direção do movimento, precisa-se de uma força para
parar o membro em movimento, outra para vencer a
turbulência causada pelo movimento e mais uma força para
se iniciar o movimento em direção oposta ao que estava sendo
realizado. Portanto, quanto mais repetições nas mudanças
de direção dos movimentos, cada vez maior será a resistência
que a água oferecerá.
Exemplo: movimento de todo membro inferior desenhando um
círculo - Em pé, corpo ereto, segurando na barra paralela da
piscina. Eleve uma das pernas na lateral, movimente de
forma circular fazendo três repetições no sentido horário e
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inverter realizando três repetições no sentido anti-horário.
Progressão: quanto mais curto e rápido o movimento for
realizado maior será a resistência.
Associação das propriedades físicas
da água para obter a máxima intensidade
de resistência em imersão
O fisioterapeuta, utilizando sua criatividade, pode associar
as diferentes propriedades físicas da água produzindo um
número quase que incalculável de exercícios com grau de
resistência crescente. Esta associação pode se dar entre duas,
três ou até quatro variáveis diferentes. A seguir, serão expostos
alguns exemplos deste tipo de associação.
Em trabalho de fortalecimento muscular de um grupo
isolado (por exemplo, abdução e adução de quadril com
extensão de joelho) iniciamos com movimento acima da
velocidade crítica da água sem uso de qualquer flutuador.
Após podemos introduzir flutuadores pequeno acima do
joelho aumentando a velocidade; em seguida coloca-se o
flutuador grande no tornozelo, com flexão plantar e, estimulo
verbal para realização do movimento na maior velocidade
possível e em pequenas amplitudes de movimentos.
No trabalho corporal de fortalecimento (por exemplo,
abdução e adução de membro inferior e superior em decúbito
dorsal) inicia-se somente com a resistência que água oferece
na acima velocidade crítica; na segunda fase faz-se uso de
flutuadores pequenos, ora em membro inferiores ora em
membros superiores, com flutuadores (alinhados com a água);
na terceira fase usa-se flutuadores pequenos (alinhados com
a água) nos membros inferiores e superiores ao mesmo tempo
com aumento da velocidade e na quarta fase faz-se o uso de
flutuadores grandes (desalinhados com a água) em membros
superiores e inferiores simultaneamente, com grande
velocidade, e mudança de direção.
Discussão
Uma busca feita por artigos que abordassem treinamento
de força na água, por meio dos bancos de dados, Medline,
Lilacs, Physical Therapy e Bireme, publicados nos últimos 15
anos, não resultou em nenhum trabalho que relate o
treinamento de força na hidroterapia, nem indicações de
como a graduação da resistência da água na hidroterapia
poderia ser realizada ou que efeitos produziria. Por isso, a
necessidade deste estudo, a fim de trazer o assunto para
discussão e estimular pesquisas experimentais nesta área.
O esclarecimento das propriedades físicas da água como
opção de resistência aos movimentos fundamentarão a
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decisão clínica sobre o desenvolvimento de um programa de
exercícios fisioterapêuticos progressivos, do mais fácil para
o mais difícil, até o máximo de resistência que a água e os
acessórios possam oferecer, tornando as intervenções
hidroterapêuticas seguras e eficientes.
A água favorece aspectos comportamentais do tratamento
fisioterapêutico. A reeducação de força muscular é muitas
vezes estressante e monótona e, sendo possível variar as
formas, velocidades, decúbitos e outros fatores relacionados
ao treinamento aquático, é possível um tratamento mais
criativo e eficiente.
A introdução de dificuldade na resistência ao movimento
se dá pelo feedback do paciente ao fisioterapeuta durante cada
sessão. Sugere-se a elaboração de programas de treinamento
de força muscular associando o treinamento localizado ao
trabalho corporal geral.
Pode-se concluir que ao simples movimento na água,
acima de sua velocidade crítica, oferece resistência muscular.
Se for possível aproveitar recursos físicos isoladamente ou
combinados para atender a necessidade do objetivo de
tratamento do fisioterapeuta, pode-se atingir um grau elevado
de resistência, muitas vezes associando atividades funcionais
e com as necessidades e prioridades do paciente, antes do
inicio do trabalho de fortalecimento em solo.
Deve-se lembrar ainda que, nos casos de disfunções
respiratórias, somente a imersão até o pescoço já é suficiente
para aumentar o trabalho respiratório em 60%, em
decorrência do deslocamento do sangue da periferia para
região central e da resistência à inspiração oferecida pela
pressão hidrostática.
Desta forma, o trabalho com resistência exige do
fisioterapeuta organização e cuidados, considerando cada
paciente isoladamente e sempre relembrando os efeitos
fisiológicos que ocorrem devido à imersão.
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Janeiro: Sprint; 1996.
C
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Resumos de trabalhos e congressos
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Henrique Güths1, Gaspar Rogério
Chiappa1, Glória Menz Ferreira2,
Viviane Delatorre2, Ricardo Stein1,
Jorge Pinto Ribeiro1; Pedro
Dall’Ago1,2,3
Hospital de Clínicas de Porto Alegre,
Serviço de Cardiologia - UFRGS,
Porto Alegre, Rio Grande do Sul
2
Curso de Fisioterapia do Centro
Universitário La Salle –
UNILASALLE
3
Departamento de Ciências Fisiológicas
da Fundação Faculdade Federal de Ciências
Médicas de Porto Alegre – FFFCMPA,
Porto Alegre,
Rio Grande do Sul
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus
da UNIVALI
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Treinamento muscular inspiratório melhora a cinética de
recuperação do oxigênio após exercício máximo em
pacientes com insuficiência cardíaca
Introdução: Durante o período de recuperação após teste cardiopulmonar
(TCP), pacientes com insuficiência cardíaca (IC) apresentam redução da força
e da resistência dos músculos inspiratórios. A fraqueza dos músculos
inspiratórios está associada com o prolongamento da cinética do oxigênio
durante a fase de recuperação.
Objetivos: O objetivo deste estudo foi testar a hipótese que o treinamento
muscular inspiratório (TMI) reverte à fraqueza dos músculos inspiratórios após
exercício e melhorar a cinética do consumo de oxigênio durante a recuperação
em pacientes com IC.
Materiais e Métodos: Participaram deste estudo 28 pacientes com IC, fraqueza
muscular inspiratória (PImáx<70 % do predito). Os pacientes foram
designados para um programa de TMI com duração de 12 semanas (n=16),
incluindo 7 sessões de 30 minutos por semana, com um incremento semanal
de 30 % da PImáx (Threshold); e um grupo controle (n=12), que participaram
do mesmo programa, porém sem carga resistiva. A PImáx foi mensurada
no repouso e após 10 minutos do TCP, assim como antes e depois do
programa de TMI. Para avaliar a cinética do oxigênio (VO 2) durante a
recuperação, antes e após o TMI, foram calculados o VO2 slope no terceiro
minuto e o período de recuperação (VO 2/t–slope) através de regressão
linear. O tempo médio correspondente a 50% da recuperação do VO2 pico
(T1/2VO2) foi também calculado.
Resultados: Não houve diferenças significativas nas características basais entre
os grupos. Após o TMI, houve um aumento significativo da Pimáx (antes:
69±3 cmH2O; após: 129±15 cmH2O, p<0,0001), não havendo alteração no
grupo controle. O VO2/t-slope aumentou somente no grupo TMI (antes:
0,892±0,7; após: 1,378±0,7 l.min/min, p<0,001). O T1/2VO2 diminuiu (antes:
1,47±0,3; após: 1,03±0,1 min, p<0,0001) somente no grupo TMI. A redução
da PImáx no décimo minuto foi menor após o TMI (antes: 23±8%; após:
10±2%, p<0,001).
Conclusões: O treinamento muscular inspiratório melhorou a cinética do
oxigênio durante ao período de recuperação e reduziu a queda da força
muscular inspiratória após exercício máximo em pacientes com insuficiência
cardíaca. Estas observações indicam que a fraqueza da musculatura
inspiratória é um determinante reversível da cinética do consumo de oxigênio
no período de recuperação em pacientes com IC.
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Comparação da PEmáx e PImáx na capacidade pulmonar
total, capacidade residual funcional e volume residual
em adultos normais
K. Herbst-Rodrigues K1, V.F. Santos1,
P.A. Lima1, M.V.H. Herbst-Rodrigues2
Universidade de Mogi das Cruzes,
Mogi das Cruzes, São Paulo
2
Instituto do Coração – InCor,
São Paulo, São Paulo
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15
de novembro de 2003, Itajai SC,
Campus da UNIVALI
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Introdução: A força dos músculos ventilatórios pode ser mensurada
indiretamente pelas pressões inspiratória (PImáx) e expiratória máximas
(PEmáx). Estes valores auxiliam na avaliação da capacidade do indivíduo
respirar espontaneamente, no treinamento muscular respiratório, e com
isso, na reabilitação da função ventilatória. A avaliação da Pimáx a partir
do volume residual (VR) e da Pemáx a partir da capacidade pulmonar
total (CPT) pode sofrer interferência dos componentes da caixa torácica e
do pulmão. Quando as pressões são avaliadas a partir da capacidade residual
funcional (CRF) essa interferência é eliminada já que é o ponto de repouso
do sistema.
Objetivos: Verificar se avaliação das pressões em diferentes volumes pulmonares
altera o valor da força dos músculos respiratórios. Propor a padronização da
medida que represente maior fidedignidade na avaliação muscular respiratória.
Materiais e Métodos: Foram estudados 107 indivíduos (50 mulheres e 57
homens), com idade entre 17 e 30 anos sem doença pulmonar prévia.
Foram excluídos 22 indivíduos (7 mulheres e 15 homens) que apresentaram
valores menores que o mínimo predito para sua idade. Para avaliação da
PImáx, os indivíduos realizaram as medidas a partir da CRF e do VR e
para avaliação da PEmáx as mesmas foram realizadas na CRF e na CPT.
Todas as medidas foram coletadas com o indivíduo sentado
confortavelmente com as narinas ocluídas e o bocal conectado ao
manovacuômetro. Após 3 medidas foi escolhida a maior, contanto que
esta não fosse a última, caso isso ocorresse seria realizada nova medida.
Todas as medidas foram realizadas pelo mesmo examinador a fim de
excluir a interferência do comando verbal.
Resultados:
Masculino
CRF
PImáx 156 + 32,95
CRF
PEmáx 140 + 29,95
Feminino
VR
p
CRF
VR
p
167 + 37,88
0,180
114 + 31,94 125 + 35,67
0,061
CPT
p
CRF
CPT
p
164 + 25,18
<0,001
94 + 22,64
118 + 17,43
<0,001
Conclusões: Não há diferença na medida da Pimáx quando realizada a
partir da CRF ou do VR. A PEmáx é maior quando medida a partir da
CPT. A partir disto propõe-se que a PEmáx seja sempre medida a partir
da CRF.
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Utilização da máscara oro-nasal para a mensuração das
pressões respiratórias máximas em indivíduos saudáveis
Wellington Pereira dos Santos
Yamaguti, Ana Cláudia Coelho,
Antônio Fernando Brunetto
Introdução: A técnica para a mensuração das pressões respiratórias máximas
(PRM) convencionalmente descrita preconiza a utilização de um bocal como
interface entre o manovacuômetro e o paciente. Em algumas condições
clínicas como na paralisia facial, traumas de face e mandíbula e fissuras
palatinas a utilização do bocal para essa medida torna-se inviável. O uso da
máscara oro-nasal pode ser uma opção para a mensuração das PRM em tais
condições.
Objetivos: Esta pesquisa teve como principal objetivo comparar os valores
das PRM obtidos através do método com bocal e com máscara oro-nasal, em
indivíduos saudáveis.
Materiais e Métodos: Foi utilizado para este estudo um manovacuômetro
digital MVD500 (Globalmed), um bocal e uma máscara oro-nasal com
coxim inflável e flexível. Foram avaliados 27 indivíduos saudáveis (13 H e
14 M), com média de idade de 21,85 ± 2,35 anos. As PRM foram mensuradas
através de um bocal e de uma máscara oro-nasal. O primeiro método
aplicado foi randomizado através de um sorteio. Foram realizadas dez
manobras de pressão inspiratória máxima (PImax) e dez de pressão
expiratória máxima (PEmax), com um intervalo de 1 minuto entre cada
mensuração. Após a aplicação do primeiro método, o indivíduo descansava
durante 20 minutos antes da aplicação do segundo método. A PImax foi
realizada a partir do volume residual e a PEmax a partir da capacidade
pulmonar total. Foi considerado o máximo valor entre as dez medidas de
PImax e PEmax em cada método para a análise estatística. O estudo foi
cego para os resultados tanto para o avaliador quanto para o avaliado, sendo
os resultados anotados por um segundo avaliador. Aplicou-se o teste t de
Student dependente considerando uma diferença estatisticamente significativa
para p<0,05. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da instituição e
todos os indivíduos assinaram um termo de consentimento.
Universidade Estadual de Londrina –
UEL, Londrina, Paraná
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus
da UNIVALI
Resultados: Os resultados estão expressos na tabela abaixo pela média ± desvio
padrão:
Máscara
Bocal
p
PImax
146,52 ± 35,88
139,48 ± 33,15
0,02*
PEmax
152,00 ± 46,66
148,30 ± 40,43
0,26
*Diferença estatisticamente significativa
Conclusões: O método de mensuração das PRM pela máscara oro-nasal é tão
confiável quanto o método realizado com bocal.
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Validação de um teste para avaliação da capacidade funcional
de idosos com a utilização de banco e cadência livre
Marlus Karsten1, Walter Celso de Lima2
Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, Itajaí, Santa Catarina
2
Universidade do Estado de Santa
Catarina – UDESC, Florianópolis,
Santa Catarina
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15
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Alexandre Doval Costa, Marcelo de
Mello Rieder, Silvia Regina Rios Vieira
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço
de Medicina Intensiva - UFRGS, Porto
Alegre, Rio Grande do Sul; 2o Congresso
Sul-Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, 1a
Jornada Catarinense de Fisioterapia
Cardiorrespiratória, 13 a 15 de novembro de
2003, Itajai SC, Campus da UNIVALI
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Introdução: A avaliação da capacidade funcional de indivíduos idosos com o emprego
de testes submáximos tem sido largamente empregada. Os testes submáximos que
empregam o banco como ergômetro geralmente possuem duas características que
dificultam a sua utilização pela população em questão [idosos], a cadência é fixa e a
altura do banco geralmente é desproporcional à sua condição física.
Objetivos: Desenvolver e validar um teste para avaliação da capacidade funcional
de indivíduos com idade entre 60 e 69 anos, que utiliza um banco de 15
centímetros de altura como ergômetro e cadência livre.
Materiais e Métodos: O Teste de Banco com Cadência Livre [TBCL] foi comparado
com o Teste da Caminhada de Seis Minutos [TC6min] em uma amostra da população
da foz do Rio Itajaí-Açú. Verificou-se o tempo necessário para que o TBCL fosse
sensível às alterações cardiovasculares, respiratórias e de conforto comparadas às
encontradas na aplicação do TC6min e identificou-se a correlação do desempenho
[capacidade funcional] dos participantes em ambos os testes. Cada teste foi executado
duas vezes pelos participantes e os dados da segunda execução foram comparados.
Os parâmetros cardiovasculares [freqüências cardíaca - FC e pressão arterial - PA],
respiratórios [saturação arterial de oxigênio – SpO2] e de conforto [percepção de
dor nos membros inferiores - DOR e percepção de esforço - SSE] foram
mensurados e utilizados no tratamento estatístico, que incluiu: teste F, teste t de Student
e teste de Wilcoxon, todos com nível de significância á = 0,05; a Correlação de
Pearson foi empregada na avaliação da validade.
Resultados: Na comparação entre as segundas medidas dos testes avaliados não
houve diferença estatística entre as médias da PA e da SpO2. A FC mostrou
comportamento distinto entre os testes, com p=0,0436 no 5º minuto e p=0,0121
no 6º minuto. A DOR apresentou p= 0,0018 no 4º minuto e p=0,0007 no 6º
minuto e a SSE teve p=0,1638 no 4º minuto e p=0,0003 no 6º minuto. Nas variáveis
que apresentaram diferença estatística significativa os valores do TBCL eram maiores
Os valores de r (coeficiente de correlação), foram iguais ou maiores que 0,7 para a
FC, PA, SpO2 (5º e 6º minutos) e capacidade funcional (4º a 6º minutos).
Conclusões: A validade do TBCL foi determinada para a população estudada;
o TBCL, no 4º minuto de aplicação, alcançou efeito similar ao TC6min nas
variáveis analisadas, com exceção da sensação de DOR, devendo ser aplicado
neste período de tempo.
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Avaliação de alterações cardiorrespiratórias em pacientes
criticamente enfermos por dois métodos de desmame da
ventilação mecânica
Objetivos: Analisar os parâmetros de intercâmbio gasoso, mecânica respiratória
e de monitorização cardiovascular, durante o desmame da VM, utilizando as
técnicas de PS e peça T e comparar estas variáveis em subgrupos de pacientes
cardíacos e não cardíacos.
Materiais e Métodos: O estudo foi um ensaio clínico randomizado cruza­do,
comparando PS e peça T. Foram analisados 20 pacientes, com idade de 57 ± 15
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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anos, que estavam em VM por um período entre 2 a 54 dias. Os dados analisados
incluíam: saturação periférica de oxigênio (SaO2), dióxido de carbono no ar
exalado (PetCO2), freqüência respiratória (f), volume de ar corrente (VT), volume
minuto (VE), freqüência cardíaca (fc) e pressão arterial (sistólica, diastólica e média).
Os dados foram registrados nos tempos zero, quinze e trinta minutos, após a
instituição da técnica de desmame sorteada, com intervalo de 30 minutos de
repouso antes da realização da técnica seguinte. Foi feita uma compa­ração
intragrupos e intergrupos para os 20 pacientes. Além disso, os pacientes fo­ram
divididos em cardíacos (n = 11) e não cardíacos (n = 9) e compa­rados entre si
em relação aos parâmetros cardiovasculares.
Resultados: A comparação entre PS e peça T demonstrou que os valo­res de
SaO2, VE e VT, foram mais elevados durante a PS em todos os tempos (p <
0,001), assim como os de PetCO2 demonstraram aumento quando em PS nos
três tempos (p < 0,05). Os valores de f diminuíram quando submetidos a PS
nos tempos zero e quinze (p < 0,05). Não houve diferença entre PS e peça T
para os valores de pressão arterial e fc. A comparação entre as técnicas em
cardíacos e não cardíacos demonstrou que os valores de fc diminuíram nos
cardíacos, no tempo 30 (p < 0,05). A fc era maior nos pacientes não cardíacos
quer em PS quer em peça T (p < 0,05). Nas medidas eletrocardiográficas, na
comparação entre os grupos cardíacos versus não cardíacos, foram verificadas:
alterações de segmento ST em 7(64%) pacientes cardiopatas e em 2(22%) não
cardiopatas (p < 0,05); arritmias foram vistas em 3(27%) dos cardiopa­tas e em
1(11%) não cardiopata; a taquicardia sinusal foi observada somente nos não
cardiopatas, em núme­ro de 5(56%) (p < 0,01).
Conclusões: Comparando PS com peça T uma melhor resposta foi observada
nas medidas de parâmetros respiratórios e de oxigenação com o uso de PS.
Não foram observadas diferenças significativas nas medidas de parâmetros
car­diovasculares e eletrocardiográficos.
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Daiana Cristine Bündchen, Daiane
Rossato Stefanelo; Evanilda Barbosa,
Luciana Barbosa, Ângela Pereira,
Angélica Rubin, Paulo Viecili
Instituto de Cardiologia da Cruz Alta,
Cruz Alta, Rio Grande do Sul
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Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
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Importância da atividade física no tratamento da HAS
avaliada pelo consumo de O2
Introdução: O sedentarismo tem sido considerado um fator de risco para a
saúde da população. A hipertensão arterial sistêmica (HAS) acomete cerca de
25% da população e é elemento determinante para o aceleramento da
aterosclerose sistêmica. Juntas aumentam os riscos para doenças cardiovasculares.
A prática regular de atividade física, bem como o controle da pressão arterial
tem sido considerado fatores de proteção contra processos degenerativos.
Objetivo: Estudar a efetividade da atividade física no tratamento não
farmacológico de hipertensos sedentários avaliados pelo método do consumo
máximo de oxigênio (VO2).
Materiais e Métodos: Participaram 26 indivíduos com HAS em uso de medicação,
sendo 73% feminino (57,8 ± 10 anos) e 27% masculino (61,2 ± 9 anos). Do
total da amostra, 61,5% hipercolesterolêmicos, 26,9% hipertri- gliceridêmicos,
15,3% tinham índice massa corpórea maior 30 kg/m2 e 11,5% eram diabéticos.
Os indivíduos submetidos à avaliação da capacidade funcional através do teste
ergométrico (TE), tendo como padrão o protocolo de Bruce para a obtenção
indireta do VO2 máximo. Foram submetidos a um programa de
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condicionamento físico progressivo, com intensidade de treinamento de 70%
da carga, três vezes por semana, em sessões de até 40 minutos em esteira
rolante. Foram mensuradas freqüência cardíaca e a pressão arterial no pré,
pico e pós-atividade, durante 12 semanas ininterruptas. No final do programa
realizou-se um novo TE para comparação. Os dados foram analisados através
do programa Sigmastat, usou-se Teste t para fins comparativos, e considerouse p < 0,05 significante.
Resultados: Após o treinamento foi observado um aumento significativo do
VO2 (24,2 ± 16,8 x 33,1± 14,6 ml/kg/min; p < 0,00001), uma queda na pressão
sistólica (PAS) pré-atividade (143,3 ± 22,5 x 130,5 ± 19 mmHg; p<0,004), na
PAS pós-atividade (139,4 ±19,3 x 127 ± 13,8 mmHg; p < 0,002). Em relação à
pressão arterial diastólica (PAD) constatou-se uma redução pré-atividade (89,7
± 14,5 x 81,4 ± 10,5 mmHg; p<0,001) e no pico do exercício (89,6 ± 11,2 x
81,5 ± 9,7 mmHg; p=0,009).
Conclusões: A realização de atividade física regular programada para
pacientes hipertensos sedentários otimizou os níveis pressóricos, bem como
aumentou a capacidade máxima do consumo de oxigênio. Dessa maneira, a
atividade física deve ser amplamente incentivada em indivíduos hipertensos
mesmo sob medicação.
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Franck M Peçanha, Giulia A
Wiggers, Christine P Gonçalves,
Fabíola F Bersot, Michelle C Roseti,
Vanine D Duarte, Priscila G Januário
Centro Universitário de Vila Velha,
Vila Velha, Espírito Santo
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15
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Análise dos efeitos da tapotagem e vibrocompressão sobre
a função pulmonar de indivíduos normais
Objetivos: Estudos prévios demonstram resultados conflitantes dos efeitos
da vibração e tapotagem sobre a função pulmonar. O propósito deste estudo
foi avaliar o efeito da tapotagem e da vibrocompressão na função pulmonar.
Materiais e Métodos: 11 indivíduos do sexo feminino, sadios, com idade média
de 21 ± 1,2 anos foram submetidos aleatoriamente à aplicação das técnicas de
tapotagem e vibrocompressão, sendo respeitado um intervalo de no mínimo
48 horas entre a realização das técnicas. As manobras foram aplicadas durante
20 minutos, pelo mesmo fisioterapeuta, sendo os testes de função pulmonar
realizados antes e 30 minutos após a realização das técnicas.
Resultados: Após a tapotagem ocorreu significante redução da CVF (antes:
3,57 ± 0,47 L/min vs. depois: 3,52 ± 0,47 L/min; p=0,02), do VEF1 (antes:
3,03 ± 0,39 L/s vs. depois 2,97 ± 0,39L/s; p=0,005) e FEF (antes: 3,73 ± 0,92
L/s vs. depois: 3,01 ± 0,51 L/s; p=0,02) com relação VEF1/CVF sem alteração
significante (antes: 86,33 ± 4,64 L/s vs. depois: 86,53 ± 5,25 L/s; p>0,05). A
vibrocompressão provocou redução significante no FEF (antes: 3,65 ± 0,71 L/
s vs. depois: 3,58 ± 0,80 L/s; p = 0,002) e na relação VEF1/CVF (antes: 88,7 ±
4,12 L/s vs. depois: 88,1 ± 4,38 L/s; p<0,05).
Conclusões: As manobras de tapotagem e vibrocompressão exercem efeito
obstrutivo sobre a função pulmonar de indivíduos normais, entretanto, este
efeito é semelhante entre as manobras.
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Cláudia Mara Campestrini Bonissoni,
Louise Maria Borsarini de Oliveira,
Mônica Vettori Medeiros
Efeitos de um programa de vinte sessões de exercícios
aquáticos na força muscular respiratória, mobilidade torácica
e pico de fluxo expiratório em homens acima de 60 anos
Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, Itajaí, Santa Catarina
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a 15
de novembro de 2003, Itajai SC, Campus
da UNIVALI
Introdução: Com o envelhecimento ocorrem importantes alterações funcionais
no sistema respiratório, resultando em uma menor capacidade respiratória. Entre
elas, destaca-se a redução da força muscular respiratória, a redução do pico de
fluxo expiratório máximo instantâneo e a diminuição da mobilidade torácica.
Objetivos: A pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito de vinte sessões de
exercícios aquáticos em idosos acima de 60 anos do sexo masculino em relação
à força muscular respiratória, mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório
máximo instantâneo.
Materiais e Métodos: O estudo foi realizado com dez indivíduos do sexo
masculino, idosos acima de 60 aos, na Clínica-Escola de Fisioterapia na UNIVALI.
Inicialmente foi realizada uma avaliação verificando força muscular respiratória,
mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório máximo instantâneo, sendo
reavaliados a cada cinco sessões. Os indivíduos foram submetidos a um protocolo
de exercícios aquáticos de vinte sessões.
Resultados e Conclusões: Os dados obtidos demonstraram vinte sessões de
exercícios aquáticos melhoram significativamente (p<0,05) a força muscular
respiratória, a mobilidade torácica e o pico de fluxo expiratório máximo
instantâneo de idosos do sexo masculino. Os exercícios aquáticos proporcionam
aos idosos uma melhora da função dos músculos esqueléticos e respiratórios
resultando num melhor condicionamento cardiorrespiratório e, conseqüentemente, melhora da qualidade de vida.
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Taina Reis Pereira, Mirna Marques
da Fonseca, Robson da Silva
Almeida, Derval Gomes Pereira
Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, Jequié-BA
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Levantamento dos indícios de problemas de saúde nos garis
As horas desgastantes de esforço físico podem gerar graves problemas de
saúde nos garis. Por essa razão essa profissão deve ser cuidadosamente estudada,
a fim de promover uma maior eficiência, satisfação e produtividade. Este
trabalho objetiva analisar os indícios de danos físicos e fisiológicos dos garis
sabendo que os mesmos são submetidos à carga horária alta de trabalho que
exige intensa aplicação de força, além da exposição aos meios físicos. A
metodologia foi abordada de forma quantitativa e qualitativa a partir da aplicação
de um questionário com uma amostra de 13 trabalhadores do município de
Ipiaú-BA. Foi observada uma maior incidência de dor na região lombar da
coluna vertebral (22%), além de dores nos MMSS (20%) e MMII (16%), dores
de cabeça e vertigens (20%) e danos à derme das mãos e dos pés (18%) fazendo
um comparativo entre os sexos. Os resultados demonstram que as queixas de
dor estão relacionadas à inadequação ergonômica do ambiente de trabalho e
uma falta de conscientização própria dos garis em se proteger de agentes externos
danosos. São propostas medidas de segurança do trabalho e projetos orientadores
para adequação ao trabalho, reduzindo, assim, o risco de lesões futuras.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
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Produtos e tecnologia
O consultório inteligente de ConsultórioOnLine
A empresa Consulnet de Porto Alegre lança o serviço ConsultórioOnLine para todos os profissionais
de saúde. Acessível por computador ou telefone celular, este consultório do futuro permite consultar
dados de pacientes, agendar consultas, controlar o fluxo de caixa. Tudo por um preço amigável e sem
se preocupar com a tecnologia: basta clicar e entrar na Internet.
O ConsultórioOnLine foi criado para resolver todos os problemas encontrados pelo profissional,
desde as urgências até o atendimento do paciente, em todas as situações do cotidiano. Baseada na
tecnologia aplicada a bancos de dados e usando a mesma plataforma dos serviços de home banking,
a ferramenta ConsultórioOnLine permite ao profissional da saúde uma série de facilidades:
• Banco de imagens;
• Agenda de consultas por dia e local de atendimento;
• Mobilidade: acessar o seu consultório através do celular ou Palm;
• Banco de dados (fichário) dos pacientes;
• Consultor de marketing;
• Interatividade com paciente;
• Fluxo de caixa; etc.
A segurança e o sigilo necessários para manter suas informações são maiores do que as
fornecidas por um sistema de home banking. O acesso é pessoal e as informações são criptografadas.
Tudo para garantir a total confidencialidade.
ConsultórioOnLine é uma nova tecnologia aplicada à gestão de clínicas e consultórios. A
tecnologia empregada na construção do ConsultórioOnLine possibilita controle total da
ferramenta sem no entanto exigir do usuário precauções com os seguintes aspectos:
• Cópias de segurança (Backups);
• Sistemas de Firewall e anti-vírus;
• Configuração do Sistema; etc.
Os profissionais de saúde que já adotaram a solução Consultório OnLine deram adeus a
todos estes problemas.
A quem se destina ConsultórioOnLine?
ConsultórioOnLine pode ser usado por qualquer profissional da saúde. O serviço é modular.
Pode ser empregado para a gestão do seu consultório ou clínica ou ainda fazer parte da estrutura
de gestão de um hospital.
O que motivou seu desenvolvimento?
O desenvolvimento de um serviço como este é parte de um processo natural imposto pela
rápida evolução das tecnologias de comunicação. Para os profissionais da saúde que atuam em
vários locais e não tem tempo a perder este novo modelo é perfeito.
Em que tipo de mobilidade estamos falando?
A possibilidade de você poder acessar o seu consultório, seja a ficha clínica de um paciente
ou a sua agenda de marcação de consultas pelo seu telefone celular, Palm ou computador. Não
importa onde você esteja, não importa o meio, o que interessa é que se você precisar da informação
ela está ao seu alcance no exato momento que você precisa dela.
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Quantos usuários já se utilizam do serviço ConsultórioOnLine?
São mais de três anos de desenvolvimento contínuo e um ano de operação comercial. Já são
mais de 3.000 usuários com tendência a uma forte aceleração na medida em que a operação
comercial avança. Importantes nomes e organizações de saúde estarão se incorporando já neste
inicio de ano, aumentando significativamente estes números.
Como funciona o serviço?
O conceito adotado é o da simplicidade. Embora a tecnologia empregada seja altamente sofisticada
o uso dos recursos é muito simples. Através da Internet você assina o serviço, cadastrando-se, e
configura os recursos que vai empregar. Se tiver alguma dificuldade durante este processo ou
posteriormente na sua utilização você conta com ajudas que detalham cada uma das etapas ou se
utiliza do suporte online (chat) ou ainda dispõe de uma linha 0800. Também existe um modulo de
demonstração e treinamento que você pode empregar. E o que faz toda a diferença, basta dominar
um módulo do serviço que automaticamente você domina todo o restante. Pronto, agora basta
qualquer computador com acesso a Internet, Palm ou o seu telefone celular para que você possa ter
acesso ao seu Consultório Inteligente.
Como funciona o acesso à agenda de consultas e ficha do paciente?
E no modo remoto?
Você utiliza os recursos como se estivessem instalados naquele computador que no momento
você está usando. Se você tem uma rede de computadores, não muda nada, basta que esta rede
compartilhe um acesso a Internet para que todos possam usar simultaneamente o serviço. Sua
secretária pode estar trabalhando a agenda de marcação de pacientes enquanto você,
simultaneamente, está trabalhando com uma ficha clínica de um paciente e neste mesmo momento
a sua outra secretária que está no seu outro consultório que fica num hospital esta agendando
outra consulta na agenda do consultório do hospital. E os acessos são restritos por senhas que
você determina. As secretarias, por exemplo, podem ficar restritas ao uso das respectivas agendas.
E o sistema ainda envia automaticamente para o seu celular, na forma de uma mensagem, o
status das suas agendas já consolidadas. No modo remoto o acesso pode ser feito através do
telefone celular, utilizando o serviço de dados da operadora, mais conhecido como WAP ou
ainda através de um Palm conectado a Internet. O sistema está modelado para obter o melhor
de cada um dos dispositivos. Isto garante ao usuário um acesso rápido e simplificado ao serviço.
Em que o serviço pode auxiliar o profissional e agradar
seus pacientes?
Você vai ter uma importante ferramenta de marketing trabalhando de forma integrada com a
sua gestão operacional. Um exemplo, quando um paciente é agendado, se autorizado, ele poderá
ser notificado através de uma mensagem no telefone celular, com alertas padronizados, com 24
horas e duas horas que antecedem a consulta, evitando assim esquecimentos ou atrasos. Na data
de aniversário dos pacientes o sistema poderá enviar uma mensagem de felicitação por E-mail e ou
celular de forma automática. Você pode permitir que os seus pacientes possam auto-agendarem
suas consultas, usando a Internet. Caso você necessite fazer um remanejo na agenda, fruto de uma
emergência, os pacientes que serão atingidos podem ser notificados pelo celular imediatamente. O
sistema controla os retornos programados de consultas mantendo pacientes e você ou sua secretaria
informados. Você pode mandar mensagens personalizadas definindo critérios de seleção para
grupos de pacientes. Esses são apenas alguns exemplos. São todas ações que fidelizam e encantam
seus pacientes. São recursos integrados a sua rotina operacional trabalhando o seu marketing de
forma continua. Em muito pouco tempo serão os pacientes que irão perguntar: “O seu consultório
tem serviços inteligentes, não tem?”
Onde e quanto?
O serviço pode ser contratado através do site www.consultorio-online.com. Para
profissionais que não têm necessidade do Módulo Banco de Imagens em seu consultório o
custo é de R$ 50,00 mensais.
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Normas de publicação Fisioterapia Brasil
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em
outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro,
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas
condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em
inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee
of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na
versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo
de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito,
etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
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3. Revisão
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Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 1 - janeiro /fevereiro de 2004
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM
o nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
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- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
2004
Março
13 a 17 de junho
European Federation for Research in Rehabilitation
Rehabilitation Sciences in the New Millennium –
Challenge for Multidisciplinary Research 8th Congress
Ljubljana, Slovenia
Informações: www.cd-cc.si/EFRR2004
21 a 26 de março
8th Congress International Federation
of Manipulative Therapy
International Convention Centre Cape Town
South Africa
Informações: www.uct.ac.za/depts/pgc/
30 de junho a 3 de julho
Physical Therapy 2004: Annual Conference & Exposition
of the American Physical Therapy Association
Chicago, Illinois
Informações: www.apta.org
25 a 28 de março
Reafis – Congresso nacional de fisioterapia (Reatech)
Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo SP
Informações: Pacin Eventos (11) 5589.1489
8 a 10 de julho
Biomecânica craniofacial e fisiopatologia
temporomandibular
Prof. Dr. Mariano Rocabado
Centro de Convenções de Pernambuco
Recife PE
Informações: [email protected]
www.oclusivo.com.br
17 a 25 de abril
Ventilação mecânica invasiva e não-invasiva
Prof. Leonardo Costa (UFRJ), Alexandre Cossenza (UERJ)
Premier Center
Rio de Janeiro
Informações: (21) 2548 6942
[email protected]
Abril
22 a 24 de abril
5º CIOT - Congresso do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de São Paulo
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo SP
Informações: (11) 3168 1149,
E-mail: [email protected]
www.ciot2004.com.br
23 a 24 de abril
II Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose
Centro de Eventos Hotel Plaza São Rafael
Porto Alegre RS
Informações: felliniturismo.com.br
Maio
16 a 19 de maio
I Congresso Paulista de Fisioterapia Respiratória do
Estado de São Paulo
SOBRAFIR – Regional São Paulo
São Pedro SP
Informações: www.sobrafir.com.br
Junho
3 a 5 de junho
Congresso Nacional do Departamento de Ergometria
e Reabilitação Cardiovascular
Centro de Convenções Hotel Serrano
Gramado RS
Informação: felliniturismo.com.br
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Julho
Agosto
27 a 28 de agosto
Confit – Congresso de fisioterapia no trabalho
Centro de Exposições Imigrantes
São Paulo SP
Informações: Pacin Eventos (11) 5589-1489
Setembro
29 de setembro a 2 de outubro
XII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória Prática Baseada em Evidência
Centro de Convenções Topázio Imperial
Ouro Preto MG
Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121
Outubro
27 a 30 de outubro
II Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco
Informações: www.fisioterapiamanual.com.br
Novembro
5 a 7 de novembro
II Congresso Internacional de Fisioterapia
I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
III Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico
Cinesiológico Funcional
Rio Centro, Rio de Janeiro RJ
Informações: www.sbf.org.br
10 a 13 de novembro
V Interdisciplinary World Congress on Low Back and
Pelvic Pain
Austrália
[email protected]
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Índice
(vol.5, nº2 março/abril 2004 - 89~172)
EDITORIAL
Que venha o tornado!, Marco Antonio Guimarães da Silva .................................................................................................................. 91
ARTIGOS ORIGINAIS
A influência da personalidade na postura, Kelser de Souza Kock, Lilian Gerdi Kittel Ries ......................................................... 92
Análise da marcha de gestantes: um estudo preliminar, Fabiana Flores, Sperandio, Gilmar Moraes Santos,
Mônica Silva de Souza, Camila Costa de Araújo, Daiane d’Agostini Nesi .................................................................................................. 98
Repercussões
Fisioterapiarespiratórias
prática da aplicação da técnica de isostretching em indivíduos sadios,
Ana Carolina Brandt, Denise da Vinha Ricieri, Luciane Elisa S. Griesbach ............................................................................................. 103
Acupuntura cinética como efeito potencializador dos elementos moduladores do movimento
no tratamento de lesões desportivas, Daisy Franca, Vasco Senna-Fernandes, Célia Martins Cortez ...........................................111
Efeito do alongamento estático após diatermia de ondas curtas versus alongamento estático
nos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias, Carlos Eduardo Pinfildi, Rodrigo Paschoal Prado,
Richard Eloin Liebano ....................................................................................................................................................................................119
A melhora da capacidade do alcance funcional em mulheres idosas após os exercícios
de Cawthorne e Cooksey, Angela dos Santos Bersot Ribeiro, João Santos Pereira .............................................................................. 125
Estudo da imagem e esquema corporal de crianças portadoras de paralisia cerebral
do tipo tetraparética espástica, Fernanda Ishida Corrêa, Tamine Teixeira da Costa, Moisés Veloso Fernandes .............................131
Estudo do equilíbrio estático de idosos e sua correlação com quedas, Mário Antônio Baraúna,
Suzi Rosa Miziara Barbosa, Roberto Sérgio Tavares Canto, Ruiz Angelo Ventura da Silva, Cristiano Diniz Campelo Silva,
Karla Maria Pereira Baraúna .........................................................................................................................................................................136
Ginástica Laborativa
REVISÃO
Análise comparativa de dados clínicos do lúpus eritematoso sistêmico e abordagem fisioterapêutica,
Emília Cardoso Martinez, Glauber Alvarenga Peroba, Rodrigo Renato da Silva ........................................................................................ 142
ESTUDOS DE CASOS
Tétano: relação de dois casos internados no hospital regional de Araranguá em Santa Catarina
e abordagem fisioterapêutica, Alcioney Valeski, Bárbara Lucia Pinto Coelho, Daniela Constâncio ..............................................148
Tratamento fisioterapêutico precoce em recém-nascido com luxação congênita de quadril,
André Gustavo Moura Guimarães, Ivete Furtado Ribeiro, Luiz Fábio Magno Falcão ............................................................................... 154
Tratamento fisioterápico em um cão portador de displasia coxo femoral utilizando
piscina terapêutica, Gabriela Correia de Almeida e Silva .................................................................................................................... 160
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS . ....................................................................................................................164
NORMAS DE PUBLICAÇÃO . ........................................................................................................................................................... 170
EVENTOS . ................................................................................................................................................................................................172
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR - São Paulo) Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde
Editoração e arte
Andréa Vichi
Aline Figueiredo
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749
e-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Administração
Bárbara de Assis Jorge
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São Paulo
Praça Ramos Azevedo, 206/1910
01037-010 - São Paulo - SP
Tel: (11) 3362-2097
Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Assinaturas
6 números ao ano + 1 CD-ROM
1ano: R$ 156,00
Editores associados
Dr. André Luís Santos Silva
Drª. Tiene Deccache
Rio de Janeiro: (21) 2221-4164
Representante de Assinatura: A.Shalon
(11) 3361-5595
Publicidade e marketing
René Caldeira Delpy Jr.
[email protected]
Atendimento ao assinante
Ingrid Haig
[email protected]
Todo o material a ser publicado deve ser
enviado para o seguinte endereço
por correio ou por e-mail
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20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
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I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
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copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou
propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção
na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
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Editorial
Que venha o tornado!
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
[email protected]
Quase todos nos lembramos do Mágico Oz (filme de
Victor Fleming, EUA, 1939). Os seus 65 anos de existência
não o envelheceram. Pelo contrário, ainda nos permitem,
neste problemático mundo terceiro milenista, ter o desejo
de sermos apanhados por um tornado e transportados para
uma terra, “além do arco íris”, onde os nossos desejos,
ao menos de um emprego digno e decente, pudessem
ser realizados.
Para os que não viram o filme, o que move os seus
personagens, em busca do mágico de Oz, é a busca de alguma
solução para os desejos e carências de cada um deles. Ao
final da história, todos descobrem que já possuíam dentro
de si mesmos aquilo que procuravam do lado de fora. Não
precisavam de nenhuma mágica.
O primeiro passo que nos aproxima do filme parece já
ter sido dado pela mãe natureza, que, providencialmente, se
encarregou de trazer para estes tristes trópicos o Catarina,
nosso primeiro furacão. Mas e os demais passos?
Considerando que não somos a Dorothy, que não temos o
cachorro Totó nem a bruxa boa (Glenda) e tampouco o
mágico, parece que também teremos que descobrir, por nós
mesmos, que temos o que precisamos para alcançar os
nossos objetivos.
Ter que o precisamos precisa ser lido aqui como
esforçamo-nos, durante o curso de graduação e pósgraduação, para a divulgação acadêmica do nosso nome,
através de publicações e participações em eventos científicos,
e, principalmente, descobrirmos a nossa parcela de
criatividade.
Voltando ao Mágico de Oz, há uma passagem em que a
Dorothy, dando-se conta de que necessitava chegar a cidade
Esmeralda, pergunta a Glenda: “Mas por onde inicio?”
“Quase todo mundo começa pelo principio, querida”,
responde Glenda.
É preciso estabelecer um começo. Cada um traçará o
seu próprio inicio. Mas gostaria de trazer uma experiência
pessoal que já tenho levado para os meus alunos de
índice+exp+editorial.pmd
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Mestrado, Doutorado e, principalmente, para aqueles que
fazem os cursos de especialização que estão sob a nossa
responsabilidade.
No final dos anos 70, voltando de uma viagem à Europa,
buscava uma solução econômica que me permitisse viajar
mais. Eram anos difíceis para os professores de Universidades Federais, (ainda hoje o são) que não podiam pensar
em viagens intercontinentais. Foi então que, na tentativa de
equacionar o problema, enviei, para algumas universidades
da Espanha e Portugal, um programa de um curso de
biomecânica, que já vinha ministrando no Brasil e em paises
da América do Sul, propondo a realização destes cursos
naquelas instituições. Para espanto de alguns colegas que
me disseram à época que eu não conseguiria porque ninguém
me conhecia, em apenas dois meses, já estava de malas
prontas. A partir daí, foram mais de 30 cursos ministrados
nestes dois paises.
Mais tarde, nos anos 80, com o desejo de propor e fazer
trabalho em empresas, procurei, nas páginas amarelas, alguma
instituição que pudesse dar respaldo ao trabalho pretendido
e ali encontrei a Associação Brasileira de Prevenção de
Acidentes (ABPA). Daí por diante, foram mais de 300
palestras e cursos em empresas do grupo e um livro editado
sobre prevenção de dor nas costas.
Estes dois exemplos podem ilustrar que o inicio de tudo
está em nós mesmos e que não podemos nos ater a “meios
convencionais” na busca do nosso tão sonhado emprego.
Que venha o tornado!
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor de mestrado recomendado
pela CAPES
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Artigo original
A influência da personalidade na postura
The influence of personality on the posture
Kelser de Souza Kock*, Lilian Gerdi Kittel Ries, M.Sc.**
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*Fisioterapeuta do Hospital Nossa Senhora da Conceição – Tubarão – SC, **Fisioterapeuta, Professora da Disciplina de Fisioterapia
Aplicada à Pediatria II – Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina –
Florianópolis - SC
Resumo
Esta pesquisa objetiva verificar a influência da personalidade na postura. Tem como
base a tipologia junguiana, a qual define psicologicamente dois tipos de personalidade:
extrovertida e introvertida. Especificamente, procura evidenciar o padrão postural mais
comum em ambos os tipos psicológicos. Os instrumentos utilizados foram o simetrógrafo,
para a avaliação postural e o questionário de Neymann-Kohlstedp, para análise da
personalidade. Esses puderam avaliar, através de um estudo de campo, os sessenta
indivíduos acadêmicos do CEFID - UDESC. Os resultados obtidos indicam que a
cabeça anteriorizada e a protusão de ombros, embora vistas nos dois tipos psicológicos,
foram mais freqüentes nos introvertidos. Outro dado expressivo foi a grande quantidade
de indivíduos com alteração na coluna vertebral em ambos os tipos psicológicos. Conclui
que, de acordo com os dados alcançados, sugere uma relação entre personalidade e
postura, porém na maioria das vezes o fator psicológico não foi bastante capaz de
alterar a constituição física.
Palavras-chave:
personalidade, postura,
imagem corporal.
Abstract
The purpose of this study is to know how the personality have an influence on
posture. It is based on Junguian tipology who estabilish psichologicaly two types of
personality: extrovert and introvert. Specifically, the aim at to prove the most common
(usual) pattern of posture in both psycologies types. Simetrograph was the instrument
used to posture evaluation and Neymann-Kohlstedp questionary to personality analysis.
Those methods could evaluate sixty students from CEFID-UDESC. The results showed
that anterior position of the head and of the shoulders, although it was present at two
psychologies types, were most frequent in introvert. Another important result was the
great index of vertebral column alteration in both types of personality. It was concluded
that, based on the results, there is some relation between personality and posture, but in
most of times the psychology factor wasn’t able to change the body form.
Key-words:
personality, posture,
body image.
Recebido 21 de maio de 2003; corrigido 16 de março de 2004; aceito 20 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Kelser de Souza Kock, Rua Galdino José de Bessa, 164 Oficinas 88702-220 Tubarão SC, Tel: (48) 622-2794/
9996-9811, E-mail: [email protected]
artigo 01 - Kelser.pmd
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Introdução
O presente trabalho descreve a influência da personalidade
na postura segundo a perspectiva da tipologia junguiana. Jung
[1], define basicamente dois tipos psicológicos: extrovertido e
introvertido. Em pesquisas anteriores [2-8], já foi demonstrado
o aspecto global do indivíduo, onde mente e corpo funcionam
em uníssono.
Caminhando nesse sentido, tentou-se observar o grau da
influência da personalidade na postura, bem como verificar
os limites extremos posturais de cada personalidade. Tendo
em vista a possível correlação entre a personalidade e o vício
postural mais comum de cada tipo, pode-se fazer um
tratamento preventivo, evitando futuros problemas posturais
que venham a ocorrer. Além disso, através da anamnese, o
terapeuta pode avaliar se o paciente possui uma personalidade
extremada (extrovertido/introvertido), estabelecendo um
diagnóstico que não se preocupará somente com a correção
da postura, mas também fará o encaminhamento a
profissionais especialistas nessa área. Outro fator importante
a ser considerado é a consciência do esquema corporal, pela
qual o paciente poderá fazer uma auto-correção de sua postura.
Como hipóteses, esperava-se que os tipos introvertidos,
pela predominância do subjetivismo e valorização do mundo
interno [1], poder-se-iam mostrar-se numa postura de
fechamento anterior, caracterizados pela rotação interna de
membros superiores (MMSS) e membros inferiores (MMII),
cifose torácica e protusão de ombros, nitidamente marcados
pela cadeia Ântero-Lateral de Dennis-Struyf [4]. Pelo
contrário, os tipos extrovertidos, marcados pela objetividade
e exaltação do mundo externo [1], poder-se-iam apresentarse numa postura de abertura, caracterizados pela rotação
externa de MMSS e MMII e retração de ombros,
mostrando-se com predominância da cadeia Póstero-Lateral
de Dennis-Struyf [4]. E na faixa intermediária, os tipos
medianos, por possuírem traços dessa ou daquela
personalidade, poder-se-iam apresentar-se numa postura com
parâmetros mais próximos da normalidade.
O método utilizado teve como natureza a pesquisa aplicada,
de campo, sendo descritivo de correlação. Através da
comparação dos dados obtidos pelo questionário de NeymannKohlstedp (analisa a personalidade) e pela avaliação postural,
pôde-se constatar que os tipos introvertidos apresentaram
maior taxa de anteriorização da cabeça e protusão de ombros
que os extrovertidos. Outro dado expressivo foi a acentuada
percentagem de alteração na coluna vertebral em ambos os
tipos psicológicos. No mais, pode-se dizer que a personalidade
não foi um fator tão relevante capaz de alterar a postura.
Material e Métodos
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(UDESC) do Centro de Educação Física, Fisioterapia e
Desportos (CEFID).
Foram escolhidos 30 indivíduos do sexo masculino e 30
do sexo feminino através de uma amostragem não
probabilística intencional, no período de outubro / 2000 a
fevereiro 2001. Os integrantes da amostra não eram
portadores de qualquer tipo de patologia.
Instrumentos de pesquisa
Foram utilizados um simetrógrafo [9], para avaliação
postural e o questionário de Neymann-Kohlsdtedp [10] para a
análise da personalidade (extrovertido/mediano/introvertido).
Descrição dos instrumentos
a) Questionário de Neymann-Kohlstedp: é constituído
de 50 perguntas fechadas, as quais analisam a personalidade
segundo a tipologia junguiana.
b) Simetrógrafo (“quadro quadriculado”): Responsável
pela avaliação postural. Consiste num tabuleiro portátil, com
placa de acrílico transparente, medindo cerca de 1,95 m de
altura por 90 cm de largura, sob uma moldura de alumínio.
Um braço metálico é fixado perpen-dicularmente sobre a
moldura superior, projetando-se aproximadamente 60 cm
para frente. O prumo de chumbo preso a este braço divide
o tabuleiro no sentido vertical em duas medidas iguais. Sobre
o tabuleiro de acrílico apresentam-se linhas horizontais e
verticais, dividindo toda a superfície em quadrados de 7,5
cm. Estes quadrados permitem localizar e registrar os defeitos
da postura.
Coleta de dados
Os escolhidos foram abordados no Centro de Educação
Física, Fisioterapia e Desportos (CEFID) e através de uma
conversa informal, era esclarecido o assunto e as questões
de estudo. Após a conversa era entregue o questionário de
Neymann-Kohlstedp para a avaliação da personalidade
(extrovertido / mediano / introvertido). Os indivíduos, então,
respondiam o questionário e devolviam logo em seguida ao
aplicador. Em alguns minutos a resposta do tipo de
personalidade era dada ao questionado. Logo após, os
indivíduos eram levados à sala de mecanoterapia da Clínica
de Fisioterapia do CEFID para serem submetidos a uma
avaliação postural. Eles, então, estavam trajados com roupa
de banho e se colocavam, junto ao simetrógrafo, dando
início a avaliação. Posteriormente, era informado ao
indivíduo a presença ou não de desvios posturais.
População e amostra
Organização dos dados
A população da referente pesquisa foi constituída pelos
acadêmicos da Universidade do Estado de Santa Catarina
A personalidade, dividida em dois tipos gerais por Jung
[1], foi acrescida de mais um tipo intermediário, totalizando
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3 (três) tipos psicológicos: introvertido, mediano e
extrovertido. Considerando que não existe um indivíduo
puramente introvertido ou extrovertido, achou-se melhor
acrescentar o tipo mediano, que seria a soma das características
introvertidas e extrovertidas numa mesma pessoa.
Os dados relacionados à personalidade foram obtidos
pelo questionário de Neymann-Kohlstedp, através de 50
(cinqüenta) perguntas fechadas. Para essas perguntas, as
únicas respostas possíveis eram sim ou não. Assim, cada
resposta definia um traço introvertido ou extrovertido.
Somando-se essas respostas, formava-se o tipo psicológico
de cada indivíduo. Dessa maneira, foi possível defini-los em
porcentagens:
• tipos extrovertidos: acima de 55 % de extroversão ou
abaixo de 45% de introversão;
• tipos medianos: entre 45% de introversão / extroversão
e 55 % de introversão / extroversão;
• tipos introvertidos: acima de 55% de introversão ou
abaixo de 45% de extroversão.
Com relação ao exame postural, a ficha de avaliação
pôde informar qualquer anormalidade existente; assim, foi
possível correlacionar a personalidade e a postura.
Análise dos tipos psicológicos relacionados
a parâmetros normais de postura
Analisando os resultados da postura em AP (ânteroposterior) relacionada com os tipos psicológicos, pode-se
perceber que a “nor malidade postural” é vista
frequentemente em ambos os tipos de personalidade.
Esperava-se que esse parâmetro mais próximo do normal
fosse visto comumente no tipo mediano, o que não ocorreu,
exceto na postura da cabeça e dos ombros (Figura 1).
Com relação aos extremos de personalidade, os
introvertidos apresentaram mais normalidade nos mamilos,
triângulo de Talles, cristas ilíacas e joelhos e em
contrapartida, os extrovertidos obtiveram o parâmetro mais
normal apenas na linha alba e patelas (Figura 1).
É interessante observar também que, os maléolos, hálux
e artelhos foram geralmente normais nos três tipos de
personalidade (Figura 1).
Figura 1 - Relação entre tipos de personalidade e parâmetros normais de
postura (AP).
Resultados e discussão
Análise dos tipos psicológicos
Na análise dos tipos psicológicos dos 60 indivíduos
avaliados, verifica-se que houve predominância dos tipos
medianos (40%) e extrovertidos (45%) sobre os introvertidos
(15%) nos dois sexos. Outro fator importante a ser destacado
é a pequena quantidade de indivíduos do sexo feminino
(5%) dentro do tipo psicológico introvertido, chegando a
metade, com relação ao sexo masculino (10%) (Tabela I).
Convém lembrar que, Jung [1] classifica a personalidade
em dois tipos gerais: introvertido e extrovertido. O tipo
extrovertido vive de maneira tal que, o objeto representa
em sua consciência, como grandeza determinante, uma
função mais importante do que a do seu ponto de vista
subjetivo. O tipo introvertido distingue-se do extrovertido
pelo fato de que não se orienta pelo objeto e pelo
objetivamente, mas por fatores subjetivos.
O acréscimo do tipo mediano é justificado pela soma de
traços introvertidos e extrovertidos, já que é assim que o
questionário de Neymann-Kohlsted funciona. Os tipos
medianos, por apresentarem características desta ou daquela
personalidade, obtiveram um grande número de indivíduos,
totalizando 40% do total (Tabela I).
Tabela I - Relação entre tipos de personalidade e sexo.
Introvertidos
Masc 6 (10%)
Fem 3 (5%)
Total 9 (15%)
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Medianos
11 (18,3%)
13 (21,6%)
24 (40%)
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Extrovertidos
13 (21,6%)
14 (23,3%)
27 (45%)
Total
30 (50%)
30 (50%)
60 (100%)
Ao analisar-se os tipos de personalidade com a postura
em PA (póstero-anterior), observa-se que os tipos medianos
apresentarem mais normalidade na postura escapular
(esquerda e direita) e nos pés. Em compensação, no outros
parâmetros ela foi igual ou inferior, com relação aos demais
tipos psicológicos (Figura 2).
Os resultados que merecem destaque são a freqüente
taxa de alteração na coluna vertebral e a grande normalidade
na prega glútea e linha poplítea encontradas em ambos tipos
de personalidade (Figura 2).
Na postura vista de perfil relacionada com os tipos
psicológicos, os resultados demonstram que, os tipos
medianos obtiveram maior taxa de normalidade apenas na
coluna vertebral, ombros e MMII. No mais, os resultados
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dos extrovertidos e introvertidos analisados de acordo com
os parâmetros normais de postura, foram superiores ou
equivalentes (Figura 3).
Os dados obtidos que se referem a maior normalidade
nos introvertidos foram encontrados no tronco, MMSS, pelve,
joelhos e pés. Já nos extrovertidos, apenas a cabeça e abdômen
mostraram-se com maior frequência normais (Figura 3).
Figura 2 - Relação entre tipos de personalidade e parâmetros normais de
postura (PA).
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posturais no plano sagital. Dennis-Struyf [4], diz que é nesse
plano que a personalidade se torna mais evidente na forma
corporal. E Kendall [11], comenta que desvios posturais
relacionados à dominância são vistos comumente no plano
coronal. Assim, explica-se a preferência pelo plano sagital,
além de tornar-se enfadonha a descrição detalhada de
todos os parâmetros posturais. A inferência dos resultados
foi feita através do teste qui-quadrado, o qual não
encontrou significância estatística (p>0,05) em nenhuma
das variáveis avaliadas.
Na variável cabeça, pode-se perceber que a postura
normal é freqüente tanto nos tipos psicológicos extrovertidos
(70,3%) quanto nos introvertidos (55,5%). Em relação à
postura alterada observa-se que nos diferentes tipos de
personalidade ocorre um predomínio da cabeça anteriorizada,
sendo mais freqüente nos introvertidos (44,4%) do que nos
extrovertidos (22,2%). Já a posteriorização da cabeça
somente foi encontrada no tipo psicológico extrovertido
(7,4%) (Tabela II).
Tabela II - Relação entre tipos de personalidade e postura da cabeça.
Cabeça
Normal
Anteriorizada
Posteriorizada
Total
Figura 3 - Relação entre tipos de personalidade e parâmetros normais de
postura (Perfil).
Introvertidos
5 (55,5%)
4 (44,4%)
0 (0%)
9 (100%)
Extrovertidos
19 (70,3 %)
6 (22,2%)
2 (7,4%)
27 (100%)
Cabe observar, que esses resultados parecem demonstrar
a predominância das cadeias AL e PL [4], nos tipos
introvertidos e extrovertidos, respectivamente. O fechamento anterior leva a uma cabeça anteriorizada e, pelo
contrário, a abertura induz à posteriorização da cabeça.
No parâmetro postural ombros, percebe-se que não
houve indivíduos com retração, enquanto que a protusão
foi freqüente e um pouco mais acentuada nos tipos
introvertidos (55,5%). A normalidade evidenciou-se nos
extrovertidos (55,5%) (Tabela III).
Tabela III - Relação entre tipos de personalidade e postura do ombro.
Análise dos tipos introvertido e
extrovertido relacionados à postura
Discutindo agora os tipos extremos de personalidade,
aparecem os tipos extrovertidos e introvertidos. Para que a
demonstração dos dados não fique demasiado entediante e
desinteressante, preferiu-se relacionar os dados mais
relevantes referentes à pesquisa, enfatizando os desvios
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Ombros
Introvertidos
Extrovertidos
Normais
4 (44,4%)
15 (55,5%)
Protusos
5 (55,5%)
12 (44,4%)
Retraídos
0 (0%)
0 (0%)
Total
9 (100%)
27 (100%)
Assim como nos resultados supracitados, pode-se
observar uma pequena relação entre as cadeias de DennisStruyf [4] e a personalidade. A cadeia AL, devido ao
fechamento, produziu uma porcentagem de protusão de
ombros um pouco mais elevada nos introvertidos do que
nos extrovertidos.
Nos resultados referentes à coluna vertebral vista de
perfil é interessante frisar que a cifose torácica acentuada é
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Figura 4 - Relação entre postura de coluna vertebral (perfil) e tipo de personalidade.
freqüente (entre 50%) nos dois tipos psicológicos. Os dados
referentes à hiperlordose lombar e retificação lombar foram
semelhantes em ambos tipos de personalidade. A
porcentagem de retificação torácica foi maior nos
introvertidos. Os valores referentes à taxa de normalidade,
hiperlordose cervical e retificação cervical foram superiores
nos extrovertidos. (Figura 4).
Nos dados alcançados pela avaliação da coluna vertebral
vista em posição póstero-anterior, percebe-se que a
escoliose foi maior nos tipos extrovertidos (70,3%),
enquanto que o parâmetro normal da coluna vertebral na
posição póstero-ânterior foi maior nos tipos introvertidos
(44,4%). Entretanto, mais de metade de ambos tipos
psicológicos apresentaram postura alterada da coluna
vertebral no plano coronal (Figura 5).
Figura 5 - Relação entre postura da coluna vertebral (PA) e tipos
de personalidade.
Em relação à estática pélvica, os
introvertidos apresentaram levemente mais normalidade (66%),
enquanto que os extrovertidos
mostraram-se mais retrovertidos
(48,1%). Nenhum deles possuiu
anteversão (Tabela IV).
Obser vando os resultados
referentes ao plano frontal do joelho,
obteve-se o parâmetro normal mais
freqüente nos introvertidos (77,7%).
O valgismo foi encontrado somente
nos extrovertidos (14,8%) e o
varismo foi semelhante nos dois
tipos (Tabela V).
Já no plano sagital, a normalidade foi semelhante em ambos, os
joelhos semi-fletidos só foram encontrados nos extrovertidos
(25,9%) e o genu recurvatum foi levemente maior nos
introvertidos (44,4%) (Tabela V)
Os dados encontrados na patela mostram que a
medialização foi mais freqüente nos extrovertidos (37%
contra 11,1% dos introvertidos) e sua lateralização
evidenciou-se nos introvertidos (33% contra 0% dos
extrovertidos). A normalidade foi levemente superior nos
extrovertidos (Tabela V).
Dennis-Struyf [4] comenta que a cadeia PL (tipo
extrovertido) apresenta-se em rotação externa (R.E.) de
MMII e a cadeia AL (tipo introvertido), ao contrário, mostrase em rotação interna (R.I.) de MMII. Kapandji [12], diz
que durante a R.I., o fêmur arrasta a patela para dentro. E,
durante a R.E. produz-se o inverso, o fêmur arrasta a patela
para fora.
Sendo assim, observa-se uma diferença entre os resultados
encontrados e as referências bibliográficas. Além do que, o
parâmetro postural patela possuiu um p de 0,0593, onde a
significância estatística mais se aproximou a 0,05. Sugerindo,
uma certa relação antagônica entre as variáveis estudadas.
Com relação aos resultados do arco longitudinal dos pés,
a normalidade foi levemente superior nos introvertidos
(88,8%) e o pé cavo mais freqüente nos extrovertidos (25,9%).
Não foi encontrado pé chato em ambos (Tabela VI).
Os dados referentes ao retropé assemelharam-se nos
dois tipos psicológicos. Apresentando normalidade pouco
acima de 40%, valgismo levemente superior a 30% e varismo
entre 20% (Tabela VI).
Tabela IV - Relação entre tipos de personalidade e postura pélvica.
Pelve
Normal
Antevertida
Retrovertida
Total
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Introvertidos
6 (66,6%)
0 (0%)
3 (33,3%)
9 (100%)
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Extrovertidos
14 (51,8%)
0 (0%)
13 (48,1%)
27 (100%)
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Tabela V - Relação entre tipos de personalidade e postura dos joelhos
e patelas.
Joelhos (AP)
Normais
Valgo
Varo
Total
Introvertidos
7 (77,7%)
0 (0%)
2 (22,2%)
9 (100%)
Extrovertidos
16 (59,2 %)
4 (14,8%)
7 (25,9%)
27 (100%)
Joelhos (Perfil)
Normais
Semi-fletidos
Recurvados
Total
PATELAS
Normais
Mediais
Laterais
Total
Introvertidos
5 (55,5%)
0 (0%)
4 (44,4%)
9 (100%)
Introvertidos
5 (55,5%)
1 (11,1%)
3 (33,3%)
9 (100%)
Extrovertidos
13 (48,1 %)
7 (25,9%)
7 (25,9%)
27 (100%)
Extrovertidos
17 (62,9%)
10 (37%)
0 (0%)
27 (100%)
Tabela VI - Relação entre tipos de personalidade e postura podálica.
Pés (Arco Long.)
Normais
Chato
Cavo
Total
Introvertidos
8 (88,8%)
0 (0%)
1 (11,1%)
9 (100%)
Extrovertidos
20 (74%)
0 (0%)
7 (25,9%)
27 (100%)
Pés (Retropé)
Normais
Valgo
Varo
Total
Introvertidos
4 (44,4%)
3 (33,3%)
2 (22,2%)
9 (100%)
Extrovertidos
13 (48,1%)
9 (33,3%)
5 (18,5%)
27 (100%)
Conclusão
Pelos resultados apresentados, observa-se que a
influência psicológica evidenciada no padrão postural não
ocorreu tanto quanto o esperado. Os dados obtidos mostram
que a frequência de indivíduos com cabeça anteriorizada e
ombros protusos é maior nos introvertidos, embora eles
também apareçam nos extrovertidos. Esse resultado parece
demonstrar a predominância da cadeia AL nos introvertidos.
Com base nos dados que se relacionam com a hipótese
nula, onde não há influência da personalidade na postura,
pode-se dizer que, de forma geral, o fator psicológico não
foi bastante capaz de alterar a constituição física. De acordo
com Keleman [3] e Vayer [13], a genética, além da
personalidade, é um fator importante na configuração da
forma corporal.
Além disso, é importante frisar que o acréscimo do tipo
mediano à tipologia junguiana extrovertida e introvertida se
deu com objetivos de classificação e melhor definição
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psicológica. Assim, os tipos gerais ficaram como extremos
de personalidade, caracterizados teoricamente pela
predominância das cadeias AL (introvertida) e PL
(extrovertida) [4]. Desse modo, os tipos medianos possuem
características de ambas as personalidades junguianas.
Supunha-se que, dessa maneira, os medianos teriam um
parâmetro postural mais próximo da normalidade, o que
não foi encontrado. Provavelmente pela confirmação da
hipótese nula.
Como sugestão para um outro trabalho, propõe-se que
a análise da personalidade seja realizada por um psicólogo e
a avaliação da postura seja analisada por critérios menos
subjetivos, como digitalização de fotos, propiciando uma
abordagem mais aprofundada à avaliação.
É desejo do autor que, com essa pesquisa, a idéia de
unicidade e globalidade [2-8], onde mente e corpo funcionam
em uníssono, se tornem mais evidentes. Mesmo com
resultados pouco expressivos, mas que induzem uma certa
relação entre personalidade e postura, a noção do indivíduo
como unidade é interessante para uma visão mais
abrangente do ser humano.
Referências
1. Jung CG. Tipos psicológicos. 9ª ed. Rio de Janeiro: Zahar;
1967.
2. Lowen A. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. 4ª
ed. São Paulo: Summus; 1977.
3. Keleman S. Anatomia emocional: a estrutura da experiência.
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C
05/04/04, 18:35
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
98
Artigo original
Análise da marcha de gestantes: um estudo preliminar
Analysis of the gait of pregnant women: preliminary study
Fabiana Flores Sperandio, M.Sc.*, Gilmar Moraes Santos, M.Sc.**, Mônica Silva de Souza***,
Camila Costa de Araújo***, Daiane d’Agostini Nesi***
○
○
○
○
○
○
○
○
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○
○
*Docente da disciplina de Fisioterapia Aplicada a Ginecologia e Obstetrícia I e II da UDESC, **Docente da Disciplina
de Ortopedia e Traumatologia da UDESC, *** Fisioterapeutas, Projeto de pesquisa financiado pela Probic
Palavras-chave:
biomecânica, dor lombar,
gestação.
Key-words :
biomechanics, low back pain,
gestation.
Resumo
O principal objetivo deste estudo foi analisar as características biomecânicas da
marcha com e sem calçado esportivo entre as 13a 15a, 25a 27a e 34a 36a semanas de
gestação, e relacionar o nível de incapacidade por dor lombar nos 3 períodos gestacionais
estudados. Dados cinéticos e espaço-temporais da marcha foram coletados através da
esteira ergométrica Kistler-Gaitway™, no Laboratório de Biomecânica da UDESC. Os
valores de dor lombar foram obtidos aplicado-se o Questionário de dor lombar de
Oswestry. Os dados foram analisados através da estatística descritiva e inferencial (p <
0,05). Existiu correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis biomecânicas
sem calçado (passada, passo direito) e com calçado (primeiro pico de força direito e
esquerdo, segundo pico de força direito, cadência, duplo apoio e simples apoio esquerdo)
durante o primeiro período estudado. Houve tendência à redução dos valores para o
comprimento da passada, cadência e taxa de aceitação de peso no decorrer da gravidez
nas duas situações. O inverso ocorreu com o tempo de apoio simples e duplo apoio.
Abstract
The main objective of this study was to analyze the biomechanical characteristics
of the gait with and without sport shoes in the 13-15, 25-27 and 34-36 weeks of
gestation, and to relate the level of incapacity for low back pain in the 3 periods
studied. Kinetic and time-space data of the gait were collected through the met GaitwayKistler, in the Biomechanics Laboratory of UDESC. The values of low back pains were
obtained by appling the Questionnaire of lumbar pain of Oswestry. The data were
analysed through the descriptive statistics and inferencial (p < 0,05). Existed correlation
between the low back pain of gestation and the biomechanical parameters without
shoes (step, right step) and with shoes (first pick of right and left force, second pick of
force right, cadence, double support and simple left support) during the first studied
period. There was tendency to the reduction of the values for the length of the step,
cadence and tax of weight acceptance in elapsing of the pregnancy in the two situations.
The inverse occured with simple support time and double support.
Recebido 25 de maio de 2003; corrigido 31 de julho de 2003; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Fabiana Flores, Clínica Escola de Fisioterapia Udesc-Cefid, Rua Paschoal Simone, 358 Coqueiros 88080-350,
Florianópolis SC, Tel: 248-8155, E-mail: [email protected]
artigo 02 - Fabiana.pmd
98
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Introdução
O período gestacional compreende diversas mudanças
corporais e submete a mulher a adaptações fisiológicas e
anatômicas [1,2] que visam ao preparo de um meio adequado
para o feto em crescimento [3]. Durante a gravidez ocorrem
mudanças na forma, tamanho e inércia do corpo da mulher [4].
Essas alterações biológicas poderiam gerar transformações
hormonais e anatômicas com predisposição a lesões musculoesqueléticas, ou ainda, alterar o curso de enfermidades préexistentes [5]. Para Gleeson e Pauls [6] as mudanças posturais
ocorridas durante a gestação não são com freqüência
patológicas, mas alterações incontroladas que podem causar
síndrome de dor lombar, aguda ou crônica.
A dor lombar na gravidez apresenta alta freqüência, sendo
que para metade de todas as gestantes este acometimento é
inevitável [7-11] existindo, porém, falta de conhecimento
sobre a patogenia e as manifestações clínicas [7,12,13].
Cecin [14] verificou que, apesar do progresso da
ergonomia aplicada à coluna vertebral e do uso de
sofisticados métodos de diagnóstico, as lombalgias tiveram
um crescimento 14 vezes maior que o crescimento da
população. Isto resulta em uma grave situação sócioeconômica, geradora de prejuízos incalculáveis. A dor lombar
é um dos maiores problemas de saúde na sociedade ocidental
[15]. A licença ou o atestado médico, não são capazes de
eliminar a dor lombar [11,16].
O aumento de peso ocorrido durante o período
gestacional faz com que a mulher crie compensações, como
o aumento da base de suporte com o intuito de manter o
equilíbrio do corpo [17-19].
As mudanças anatômicas ocorridas durante a gestação
podem causar alterações no andar da gestante, contribuindo
para uma variedade de condições de uso excessivo do sistema
musculo-esquelético [20]. Todavia, percebe-se a escassez de
estudos que caracterizem a dinâmica do andar da gestante,
relacionando-a às mudanças ocorridas durante este período
[20,21].
O trabalho objetivou analisar o comportamento
biomecânico da marcha durante as 13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª
semanas de gestação, comparando os valores do pé direito
(D) e do pé esquerdo (E) nas situações com calçado e descalço
e relacionar estas alterações com o nível de incapacidade
por dor lombar.
Materiais e métodos
O estudo teve aprovação do Comitê de Ética da
Udesc. A amostra investigada apresentou média: 27,06 ±
5,06 anos de idade, e foi constituída por mulheres entre a
13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª semanas de gestação (controle pela
D.U.M. e Ultra-sonografia obstétrica).
Todas as gestantes apresentavam o pé direito (D) como
dominante. Entretanto, grande parte da perda amostral, foi
artigo 02 - Fabiana.pmd
99
99
devido a abortos, trabalhos de parto prematuro, préeclâmpsia e dificuldade de locomoção das gestantes até o
laboratório, especialmente, no terceiro período avaliado.
A amostra foi dividida em grupos, por períodos
gestacionais. O primeiro período foi composto por 15
gestantes sem calçado e 14 com calçado, o segundo por 11
gestantes sem calçado e 10 com calçado entre 25a-27a
semanas, e o terceiro grupo, que compreendeu o intervalo
entre a 34a-36a semanas gestacionais apresentou 5 gestantes
que foram avaliadas com e sem calçado. Geralmente, de 8
a 20 sujeitos são estudados em pesquisas sobre mudanças
fisiológicas na gestação [22].
Utilizou-se como instrumento de medida a esteira KistlerGaitwayTM. As plataformas de força forneceram a força de
reação do solo na superfície de contato durante a fase de
apoio do movimento [23].
O instrumento de avaliação da dor lombar foi o
Questionário Oswestry de Incapacidade por Dor Lombar
[24,25], bem como um questionário específico [21], em
que as gestantes eram instruídas a preencherem a cada novo
experimento.
Na aquisição dos dados utilizou-se a velocidade média
ao caminhar 5m e então, realizou-se a calibração do
instrumento para a normalização dos dados, através da
aquisição do peso da gestante. O software Gaitway™ foi
configurado para tempo de coleta de 12s com freqüência
de amostragem de 600Hz. A coleta dos dados foi realizada
após 6 minutos de caminhada na esteira.
Os dados obtidos foram submetidos à estatística
descritiva e ao teste de correlação de Spearman com um p
d” 0,05 no programa Statistic 99.
Resultados e discussão
As gestantes foram pesadas na esteira Kistler-Gaitway™,
durante a calibração. Pôde-se perceber que as mulheres
analisadas tiveram um aumento médio de massa, quando
comparadas com o peso pré-gestacional, de 3,9 kg até o 1º
período de gestação, de 9,2 kg até o 2º período e de 11,8 kg
até o 3º período estudado. Estes valores também foram
encontrados por diferentes autores [26-28].
Variáveis biomecânicas da marcha obtidas
na esteira Kistler-Gaitway™
Analisou-se as seguintes variáveis espaço-temporais:
comprimento do passo (CPA), comprimento da passada
(CP), tempo de apoio simples (TAS), tempo de duplo apoio
(TDA) e cadência (CAD). As variáveis cinéticas foram: o
primeiro pico de força (PPF), segundo pico de força (SPF),
e taxa de aceitação de peso (TAP). As figuras 1 e 2
demonstram os valores médios obtidos durantes a marcha
em 3 períodos gestacionais.
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Fig. 1 - Demonstra os valores médios obtidos durante a marcha de gestantes com calçado nos 3 períodos gestacionais.
Fig. 2 - Demonstra os valores médios obtidos durante a marcha de gestantes sem calçado nos 3 períodos gestacionais.
A análise da marcha, principalmente na fase de apoio,
possibilita a diferenciação entre estruturas patológicas e
padrões normais de caminhar [23,29].
Tabela I – Correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis espaçotemporais da marcha durante a gestação na 13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª
semanas gestacionais na situação com e sem calçado (p < 0,05).
Dados espaço-temporais e cinéticos
Variavéis
espaço-temporais
Foi avaliada a correlação entre a dor lombar gestacional
e as variáveis biomecânicas da marcha (Tabela I e II)
Não existiu correlação entre a dor lombar gestacional
e as variáveis cinéticas da marcha durante a gestação na
13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª semanas gestacionais na situação
sem calçado.
No 1º período estudado houve correlação significativa
moderada na situação sem calçado entre a dor lombar
gestacional referida com a passada e o passo direito (Tabela I).
Entretanto, na análise dos valores com calçado houve
correlação da dor lombar gestacional com a marcha no
primeiro pico esquerdo, primeiro pico direito, segundo pico
direito, cadência, duplo apoio e apoio simples esquerdo das
primíparas.
Os valores da dor lombar gestacional do segundo período
e do terceiro período não demonstraram existir correlação
significativa com as variáveis cinéticas e espaço-temporais
da marcha de gestantes, tanto nas situações de análise com
e sem calçado.
Passada
Passo esquerdo
Passo direito
Cadência
Duplo apoio
Apoio simples esquerdo
Apoio simples direito
Passada
Passo esquerdo
Passo direito
Cadência
Duplo apoio
Apoio simples esquerdo
Apoio simples direito
Passada
Passo esquerdo
Passo direito
Cadência
Duplo apoio
Apoio simples esquerdo
Apoio simples direito
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100
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Período
gestacional
(semanas)
13ª-15ª
13ª-15ª
13ª-15ª
13ª-15ª
13ª-15ª
13ª-15ª
13ª-15ª
25ª-27ª
25ª-27ª
25ª-27ª
25ª-27ª
25ª-27ª
25ª-27ª
25ª-27ª
34ª-36ª
34ª-36ª
34ª-36ª
34ª-36ª
34ª-36ª
34ª-36ª
34ª-36ª
p (com
p (sem
calçado) calçado)
0,07
0,08
0,06
0,00
0,00
0,02
0,10
0,12
0,16
0,09
0,69
0,09
0,47
0,39
0,88
0,85
0,94
0,43
0,36
0,27
0,41
0,04
0,07
0,02
0,33
0,42
0,13
0,07
0,13
0,11
0,17
0,66
0,35
0,59
0,97
0,53
0,52
0,57
0,14
0,18
0,28
0,15
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Analisando-se o comportamento da marcha, verificouse que a cadência e a passada, apresentaram redução destes
valores com a evolução da gestação (figura 2). Valores
semelhantes foram encontrados por Santos [21] em estudo
biomecânico da marcha de duas mulheres no quinto, sexto
e sétimo meses gestacionais. Isto pode ter ocorrido, em virtude
das mudanças na forma, tamanho e inércia do corpo da
mulher [4,5,19].
Tabela II – Correlação entre a dor lombar gestacional e as variáveis
cinéticas da marcha durante a gestação na 13ª-15ª, 25ª-27ª e 34ª-36ª semanas
gestacionais na situação com calçado (p < 0,05).
Variáveis
Cinéticas
Primeiro pico
esquerdo
Primeiro pico
direito
Segundo pico
esquerdo
Segundo pico
direito
Taxa aceitação
peso esquerdo
Taxa aceitação
peso direito
Primeiro pico
esquerdo
Primeiro pico
direito
Segundo pico
esquerdo
Segundo pico
direito
Taxa aceitação
peso esquerdo
Taxa aceitação
peso direito
Primeiro pico
esquerdo
Primeiro pico
direito
Segundo pico
esquerdo
Segundo pico
direito
Taxa aceitação
peso esquerdo
Taxa aceitação
peso direito
Período
r(X,Y)
Gestacional
r²
t
p
Estudando as variáveis cinéticas primeiro pico de força
e segundo pico de força pode-se perceber a tendência do
aumento médio dos valores com o transcorrer da gestação,
exceto entre os dois últimos períodos para o segundo pico
de força, na situação com calçado. Santos [21] também
encontrou valores crescentes da variável primeiro pico de
força do 6° para o 8° mês de gestação.
Essas alterações podem estar relacionadas ao aumento
do peso da gestante e às alterações músculo-esqueléticas e
hormonais. A relaxina é a responsável por aumentar a
elasticidade das articulações [5,18,28].
Percebe-se que o segundo pico de força apresentou
valores maiores do que o primeiro. Conforme Hamil e
Knutzen [31], o segundo pico é geralmente de maior
magnitude que o primeiro e indica o papel que a musculatura
deve exercer para o desenvolvimento de força, com a
finalidade de acelerar o corpo para fora do solo.
Em relação à variável taxa de aceitação de peso foram
encontrados valores de média decrescentes durante a
gestação nas situações com e sem calçado esportivo. Para
Amadio e Serrão [23,30], esta variável corresponde à
aceitação do peso corporal, assegurando estabilidade e
permitindo a progressão do membro durante o ciclo da
marcha. É provável que a diminuição dos valores da taxa
de aceitação de peso durante a gestação esteja relacionada à
alteração no equilíbrio, em decorrência da mudança do
centro de gravidade [8,12,31].
13ª-15ª
-0,64
0,41
-2,9
0,01
13ª-15ª
-0,66
0,43
-3,03
0,01
13ª-15ª
-0,38
0,14
-1,41
0,18
13ª-15ª
-0,58
0,34
-2,46
0,02
13ª-15ª
-0,34
0,12
-1,25
0,23
13ª-15ª
-0,3
0,09
-1,07
0,30
25ª-27ª
0,08
0,01
0,23
0,82
25ª-27ª
0,17
0,03
0,48
0,64
25ª-27ª
-0,12
0,02
-0,35
0,73
Variáveis de incapacidade por dor lombar
25ª-27ª
-0,2
0,04
-0,58
0,57
25ª-27ª
-0,05
0
-0,15
0,88
Através da Tabela III, observa-se o grau de incapacidade
por dor lombar durante a gestação, preconizado pelo
Questionário de Oswestry [24].
25ª-27ª
-0,12
0,01
-0,34
0,74
34ª-36ª
0,05
0
0,09
0,93
Tabela III – Demontra a faixa de incapacidade por dor lombar, de acordo
com Questionário de Oswestry na situação com e sem calçado.
34ª-36ª
0,03
0
0,05
0,96
Faixa de
incapacidade:
34ª-36ª
0,1
0,01
0,18
0,87
34ª-36ª
-0,1
0,01
-0,18
0,87
34ª-36ª
-0,22
0,05
-0,4
0,71
34ª-36ª
-0,26
0,07
-0,47
0,67
Os valores médios de duplo e simples apoio tiveram um
acréscimo leve da 13ª-15ª semanas até a 34ª-36ª semanas
gestacionais. Este fato pode estar relacionado com a variável
cadência, já que ocorreu a diminuição do número de passos
por minuto. Pode-se igualmente, relacionar estas alterações,
com o ganho de massa, já que a gestante fica mais pesada e
aumenta a fase de apoio da marcha.
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101
101
Mínima
Moderada
Severa
13-15
com
sem
calçado
12
13
2
2
25-27
com
sem
calçado
8
9
2
2
34-36
com
sem
calçado
3
3
1
1
1
1
Durante o estudo com 200 mulheres no período de 24/
36 horas após o parto não houve relação entre o ganho de
peso gestacional e a dor lombar [7]. Entretanto, o sintoma
de dor lombar durante a gestação, esteve presente em 80%
dos casos, com curva ascendente no terceiro trimestre
gestacional e dependência direta das atividades domésticas
no estudo sobre dor lombar [32]. O desconforto na coluna
lombar pode ocorrer devido tanto ao ganho de massa
durante a gestação, quanto às alterações hormonais, que
diminuem a estabilidade da sacro-ilíaca [33,34].
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
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De acordo com Nicholls e Grieve [35], em um estudo
com 12 gestantes, 50% delas referiram maior dificuldade
na realização das atividades domésticas por dor lombar.
Conclusão
As alterações geradas no corpo da gestante em
decorrência da gravidez têm influência em vários aspectos
do sistema da mulher e os resultados encontrados nesta
pesquisa sugerem mudanças também no mecanismo da
marcha.
Quanto ao comportamento da dor lombar, observou-se
que ela foi presente e significativa no primeiro período,
apresentando maior valor dentro da faixa de incapacidade
mínima. Existiu correlação significativa na situação sem
calçado na passada e no passo direito. Houve correlação
significativa da dor com a marcha com calçado no primeiro
pico de força, no segundo pico de força direito, cadência,
duplo apoio e simples apoio esquerdo. No segundo e terceiro
períodos estudados não foi apontado correlação estatisticamente significativa nas duas situações avaliadas.
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34. Lee D. A cintura pélvica. 2ª ed. São Paulo: Manole; 2001.
35. Nichols JA, Grieve DW. Posture, performance and disconfort
in pregnancy. Applied Ergonomics, 1992;23(2):128-32.
C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
103
Artigo original
Repercussões respiratórias da aplicação da técnica de
isostretching em indivíduos sadios
Respiratory repercussions of isostretching technique application
in healthy individuals
Ana Carolina Brandt, M.Sc.*, Denise da Vinha Ricieri, M.Sc.**, Luciane Elisa S. Griesbach***
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*Fisioterapeuta, Docente dos Cursos de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná e Uniandrade (Curitiba PR), **Fisioterapeuta,
Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba/PR), ***Fisioterapeuta
Palavras-chave:
isostretching, movimentos
respiratórios tóracoabdominal, fotogrametria,
diagnóstico cinesiológico
funcional.
Key-words :
isostretching, chest wall
movements, photogrammetry,
functional kinesiologic diagnosis.
Resumo
O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da aplicação do isostretching, um
exercício postural global, sobre o comportamento respiratório tóraco-abdominal numa
população sadia. A técnica foi aplicada em seis jovens sedentárias, com idade média de
22,33 ± 2,42 anos, previamente submetidas a uma avaliação respiratória pontuada e à
análise angular fotogramétrica da inspiração e expiração máxima na postura ortostática
e caracterização do padrão muscular ventilatório utilizado. O isostretching foi aplicado
em sessões diárias de 45 minutos, durante 10 dias úteis, perfazendo duas semanas.
Após a aplicação da técnica, a avaliação foi repetida e os resultados comparados. Houve
um aumento de 0,9% e 0,73%, respectivamente, para a pontuação registrada para
exame físico e avaliação funcional. A análise angular dos valores encontrados nos registros
pós-aplicação da técnica mostrou uma maior contribuição do compartimento abdominal
para o movimento respiratório, em relação ao comportamento obtido nos registros
pré-intervenção. Os resultados são compatíveis com a melhora da atuação diafragmática
durante a mobilização de médios a altos volumes respiratórios, e sugerem que o
isostretching pode promover impacto efetivo e mensurável sobre a função respiratória
de seus praticantes, mesmo em regimes de aplicação diferenciados daqueles estabelecidos
pelos seus precursores.
Abstract
The aim of this study was to evaluate the isostretching technique’s impact, a postural
global exercise, on the chest wall respiratory movements behavior in healthy young
ladies. For this purpose, the technique was applied on six sedentaries female subjects,
22,33 ± 2,42 years old, previously submitted a pointed respiratory evaluation and a
photogrammetry angular analysis of maximum inspiration and expiration in the
Recebido em 22 de julho de 2003; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Ana Carolina Brandt, Rua Pedro Foltran, 3989 Bigorrilho, 80710-200 Curitiba PR, E-mail: [email protected]
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orthostatic posture and characterization of ventilatory muscle type utilized. The
isostretching was applied in forty-five minutes long diary sessions by 10 days, during 2
weeks. After the sessions, the evaluation was repeated and the results were compared.
The scored results for physical examination and functional evaluation showed an
improvement of 0,9% and 0,73%, respectively. The angular values analysis in the postapplications technique showed a bigger compartiment contribution to respiratory
movements than obtained on pre-application registers. The results are compatible with
more effective diaphragmatic performance during high and medium respiratory volumes
and suggest that the isostretching technique can promote effective impact on respiratory
function of their practitioners, even in differencied regimens of those established by its
precursors.
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Siglas utilizadas no texto:
Σa = somatório angular de identificação do padrão respiratório.
(∆ aX – ∆ a M) ANT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para
compartimento torácico superior (X) e torácico inferior (M), na vista anterior.
(∆aX – ∆aM)LAT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para compartimento
torácico superior (X) e torácico inferior (M), na vista lateral.
(∆aX – ∆aU)ANT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para compartimento
torácico superior (X) e umbilical (U), na vista anterior.
(∆aX – ∆aU)LAT = diferença entre os deslocamentos angulares obtidos para compartimento
torácico superior (X) e umbilical (U), na vista lateral.
X = compartimento torácico superior
M = compartimento torácico inferior
U = compartimento abdominal
∆a = Deslocamento angular do compartimento avaliado, calculado pela diferença entre
os valores dos ângulos inspiratórios e expiratórios.
∠exp = valor do ângulo expiratório, em graus, no momento da expiração máxima ou na
capacidade residual funcional.
∠insp = valor do ângulo inspiratório, em graus, no momento da inspiração máxima ou na
capacidade pulmonar total.
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Introdução
Nosso sistema muscular é composto basicamente por
dois tipos: os músculos estáticos, ou tônicos e os músculos
dinâmicos, ou fásicos. Os músculos estáticos representam
2/3 da nossa musculatura. São organizados em forma de
cadeias musculares, onde cada músculo ou grupo muscular
constitui um elo [1]. Isto determina que um estiramento
local é compensado por um encurtamento em um ponto
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qualquer da cadeia. Os músculos inspiratórios são estáticos.
Eles devem ser flexibilizados através da insistência sobre a
expiração. Portanto, em todas as posturas é essencial insistir
sobre a expiração profunda.
Duas cadeias destacam-se como função estática: a cadeia
anterior e a posterior. A cadeia mestra anterior é de
fundamental importância na respiração pelo seu papel sobre
o tórax e o diafragma. Quando esta cadeia está encurtada,
a cadeia é projetada para frente, a região torácica aumenta
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sua curvatura cifótica e os ombros encontram-se rodados
internamente. Portanto, trabalhar somente a respiração não
se preocupando com a parte postura pode ser ineficaz [2].
O método Isostretching foi criado em 1974 por Bernard
Redondo na França e é considerado um complemento ao
tratamento dos inúmeros desequilíbrios que acometem a
postura. É não somente um método complementar, mas
também um método preventivo que fortalece e equilibra o
corpo evitando compensações [3]. O isostretching foi
desenvolvido com intuito de preparar e proteger a
musculatura do relaxamento ou retração que essa possa
sofrer pela falta de uma atividade física postural adequada.
Tem por objetivo fortificar o corpo, através de exercícios
propícios. Um método postural, global e ereto. É considerado
postural, pois os exercícios são executados dentro de uma
posição vertebral correta, por alguns segundos, o tempo de
uma longa expiração; global, porque o corpo todo trabalha
a cada exercício; e ereta, porque a técnica solicita à coluna
vertebral um autoengrandecimento [3]. A freqüência mínima
de administração da técnica aos pacientes deve ser de duas
vezes por semana, e o período previsto para a atividade
deve ser dividido em séries progressivas, garantindo a
manutenção da concentração individual em cada exercício,
chave para o sucesso na realização desse método.
Uma das principais bases do método é a respiração. Segundo
Redondo [3], há a necessidade de um trabalho respiratório
para desenvolver a capacidade pulmonar e melhorar a
mobilidade diafragmática para dividir melhor as pressões entre
a parte superior e inferior do tronco. O diafragma tem um
papel importante na estática da coluna e em virtude disto deve
ser suficientemente flexível e móvel para aumentar ou reduzir,
conforme a necessidade, o tronco superior [2].
Partindo das premissas fundamentais da técnica e das
repercussões anunciadas sobre a função respiratória, este
estudo teve por objetivo a avaliação do impacto da aplicação
intensiva da técnica sobre a função respiratória de jovens
sadias sedentárias, medida por indicadores funcionais de
referência e pela biofotogrametria computadorizada.
Material e método
Esta foi uma pesquisa primária descritiva sobre desfecho
clínico de uma intervenção fisioterapêutica específica [4],
que seguiu as determinações da Resolução 196/96 – CNS
sobre estudos envolvendo seres humanos.
Compuseram a amostra seis jovens voluntárias, do sexo
feminino, acadêmicas do 4o. ano do Curso de Fisioterapia
da Universidade Tuiuti do Paraná. O estudo foi desenvolvido
nas dependências da Clínica-escola de Fisioterapia da
Universidade Tuiuti do Paraná e os procedimentos
metodológicos incluíram três etapas de abordagem dos
componentes da amostra: (1) Avaliação Respiratória Inicial;
(2) Aplicação da Técnica de Iso-Stretching; (3) Reavaliação
Respiratória Final.
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105
Avaliação respiratória inicial e final
As avaliações respiratórias foram integradas por
indicadores funcionais de referência e tiveram sua
metodologia baseada em padrões internacionais de avaliação
da função respiratória [5]. Compuseram as avaliações: (a)
Anamnese e dados antropométricos; (b) Exame Físico e
Testes Funcionais Respiratórios; (c) Avaliação Biomecânica
dos Movimentos Respiratórios da Parede Torácica.
(a) Anamnese e dados antropométricos
A anamnese foi composta de dados de identificação
pessoal e histórias pessoal e familiar de doenças respiratórias
e não-respiratórias. Os dados antropométricos de peso e
estatura foram coletados para o cálculo de índice de massa
corporal.
(b) Exame físico e testes funcionais respiratórios
A segunda abordagem dos componentes da amostra foi
feita através do exame físico e dos testes funcionais
respiratórios, e orientou quanto à condição respiratória de
cada voluntária. Esta condição respiratória, que recebeu o
impacto da aplicação da técnica de Iso-Stretching, foi
posteriormente reavaliada dentro das mesmas bases, de
modo a oferecer parâmetros sobre o quanto a abordagem
postural da técnica se reflete em modificações da dinâmica
e da mecânica respiratória.
O exame físico foi realizado de acordo com Porto [6],
enquanto os testes funcionais respiratórios foram executados
de acordo com o protocolo de Ricieri & Lodovico [7], mas
o diferencial da avaliação esteve na atribuição de pontos
aos resultados registrados em cada teste. Três níveis de
pontuações permearam todos os resultados, traduzindo em
pontos as condições clínicas da amostra, e permitindo uma
comparação objetiva entre os registros coletados antes e
após a aplicação da Técnica de Iso-Stretching.
b.1. Pontuação para registros do exame físico
Cada registro obtido no exame físico recebeu três níveis
de pontuações, cujos critérios de estratificação encontramse descritos no Quadro 1.
b.2. Pontuação para registros dos testes funcionais respiratórios
Para cada registro obtido a partir dos testes integrantes
da avaliação funcional respiratória foram igualmente atribuídos
três níveis de pontuações, cujos critérios encontram-se
descritos no Quadro 2.
Compuseram a Avaliação Funcional Respiratória os
seguintes testes: (a) Pico de Fluxo Expiratório; (b) Pressões
Estáticas Máximas, Inspiratória e Expiratória; (c) Volumes
Inspiratórios Máximos; (d) Resistência Muscular Respiratória.
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(c) Avaliação biomecânica dos movimentos respiratórios
da parede torácica
O estudo do comportamento mecânico da parede
torácica e caracterização do padrão respiratório foi realizado
através do uso da Biofotogrametria Computadorizada como
instrumento de avaliação, sendo utilizada a rotina de avaliação
dos movimentos respiratórios de Ricieri et al. [8,9].
A aquisição de imagens foi feita através de uma câmera
filmadora digital Sony TRV-140, estando as voluntárias em
posição ortostática e sendo isoladas para fotointerpretação
as imagens adquiridas na vista anterior e lateral, nos seguintes
momentos: (1) Inspiração Máxima, a partir do volume
residual; (2) Expiração Máxima, a partir da capacidade
pulmonar total.
Como etapa preliminar, foi realizada a análise da
mobilidade tóraco-abdominal, total e por compartimentos,
calculada através do deslocamento angular (∆a) entre valores
angulares inspiratórios (∠insp) e expiratórios (∠exp) máximos,
de acordo com a equação:
∆a = ∠insp – ∠exp
Para estudar a caracterização do padrão ventilatório
recorreu-se à equação desenvolvida por Ricieri et al. [8],
associando ∆a de cada compartimento em cada vista:
Σa = [(∆aX – ∆aM) + (∆aX – ∆aU)]ant + [(∆aX – ∆aM) + (∆aX
– ∆aU)]lat
Quadro 2 - Pontuação atribuída como critério de classificação do impacto
da doença/disfunção sobre as funções avaliadas na rotina proposta.
Pontuação
atribuída
Descritor
funcional
Critério de consideração
para os resultados coletados
em cada variável
0 pontos
Disfunção
respiratória
Valores encontrados
encontrados abaixo de 60%
dos valores referência,
considerados para o exame/teste.
3 pontos
Limitação
funcional
Valores encontrados entre
60 e 80% dos valores
referência, considerados para
o exame/teste.
5 pontos
Função
normal
Valores encontrados acima de
80% dos valores referência,
considerados para o exame/teste.
Quadro 1 - Pontuação atribuída a cada teste integrante do exame físico.
Unidade de
Avaliação
Testes realizados
5 pontos
3 pontos
0 pontos
Exame físico
deitado
Morfologia
do tórax
Sem alterações
morfológicas
Presença de
assimetrias e/ou
alterações morfológicas
Presença de deformidades
instaladas e cicatrizes
cirúrgicas[A]
Padrão Respiratório
Costo-diafragmático
Predomínio torácico
Paradoxal e Assincronia
Ritmo Respiratório
Eupneico
Dispnéia, Bradipnéia,
Taquipnéia
Ritmos patológicos
Mobilidade torácica
Mobilidade normal
Mobilidade
diminuída em uma
região ou hemitórax
Mobilidade diminuída em
mais de uma região ou
hemitórax
Força Muscular
Respiratória[B]
Expande sob a
palpação, apresenta
consistência,
vence resistência
Expande sob a palpação,
apresenta consistência,
não vence resistência
Não expande sob a
palpação, não apresenta
consistência, não vence
resistência
Palpação anterior
Sem anormalidades
Anormalidades
presentes em uma
região ou hemitórax
Anormalidades presentes
em mais de uma região ou
hemitórax
Palpação posterior
Sem anormalidades
Anormalidades
presentes em uma
região ou hemitórax
Anormalidades presentes
em mais de uma região ou
hemitórax
Percussão Torácica
Som claro Atimpânico
Timpanismo ou
submacicez
Macicez
Frêmito Tóraco-Vocal
Som claro pulmonar
FTV ausentes ou
diminuídos
FTV aumentado
Ausculta
pulmonar[C]
Murmúrio vesicular
presente sem ruídos
adventícios
Murmúrio vesicular
diminuído sem ruídos
adventícios
Presença de ruídos
adventícios
Exame físico
sentado
Referentes a procedimentos relacionados a doenças respiratórias; [B]Critério de avaliação manual de Cuello; [C]Realizada regionalmente em
ambos pulmões.
[A]
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Aplicação da técnica de iso-stretching
O método foi aplicado durante dez dias seqüenciais, no
período de duas semanas consecutivas, compreendidas entre
13/08/2002 e 23/08/2002, totalizando dez sessões com
duração de cinqüenta minutos cada.
As sessões de isostretching eram divididas em duas
partes: a primeira constava do aquecimento, com duração
de 10 minutos e a segunda da aplicação dos exercícios
propriamente ditos, com duração de 40 minutos.
O aquecimento foi realizado na bicicleta estacionária.
Os exercícios de isostretching foram realizados nas posições
em pé, sentado e deitado. Em cada posição escolheram-se 4
exercícios que foram repetidos 3 vezes cada um (a primeira
para compreender, a segunda para corrigir e a terceira para
executar da melhor maneira). Segundo Redondo [3], o tempo
de manutenção de cada exercício é determinada pela
expiração, a qual deve durar 10 segundos ou mais. Neste
trabalho, a respiração foi mantida por 15 segundos em
cada repetição.
As séries de exercícios foram compostas da seguinte
maneira:
- exercícios simétricos;
- exercícios assimétricos;
- exercícios com bastão (de 1 m) e
- exercícios com bola.
Todas as sessões foram diretamente supervisionadas a
fim de orientar as voluntárias quanto à postura correta, à
manutenção da respiração e à conscientização corporal.
Resultados
A amostra apresentou características de homogeneidade
que viabilizaram a análise conjunta dos resultados obtidos,
partindo do princípio de uma amostra normal, atribuindose “normal” o conceito de “mais freqüente” [10]. A Tabela
I apresenta as características antropométricas da amostra.
Tabela I - Características da amostra.
Média
22,33
61,33
1,65
22,54
Gráfico 1 - Pontuação obtida no exame físico pela somatória dos pontos
atribuídos em cada teste, antes e após a aplicação da técnica de Isostretching.
A pontuação para o exame físico deitado totalizava 35.00
pontos, enquanto que para o exame físico sentado a pontuação
total era equivalente a 45.00 pontos. O percentual alcançado
pelo grupo amostral na avaliação inicial foi de 96.20% para
o primeiro exame e 99.27% para o segundo exame. Na
avaliação realizada após a aplicação da técnica observou-se
um aumento de 0.9% para a somatória dos pontos obtidos
no exame físico deitado, e de 0.73% para o exame físico sentado.
Pontuação da avaliação funcional
respiratória
Os testes integrantes da avaliação funcional respiratória
totalizaram 20.00 pontos. Através dos resultados registrados,
o grupo alcançou a média de 16.50 pontos ou 82,5% na
avaliação inicial, e a média de 17.0 pontos ou 85% na
reavaliação, num aumento de 0.5%.
Avaliação biomecânica dos movimentos
respiratórios da parede torácica
Características da amostra
Variável
Idade (anos)
Peso (kg)
Estatura (m)
IMC (kg/m2)
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Desvio padrão
2,42
7,79
0,04
2,38
Na aplicação da equação para análise do deslocamento
angular (∆a) a expansão inspiratória dos compartimentos
durante a inspiração foi evidenciada por valores positivos
para ∆a, enquanto que valores negativos evidenciaram uma
retração inspiratória do compartimento analisado. Os
resultados obtidos, antes e após a aplicação do Iso-Stretching
estão apresentados nas Tabelas II e III.
Gráfico 2 - Pontuação média obtida na avaliação funcional respiratória
pela somatória dos pontos atribuídos em cada teste, antes e após a aplicação
da técnica de Iso-Stretching.
Pontuação do exame físico
Uma vez que todos os testes do exame físico foram
pontuados, a média do total dos pontos alcançados serviu
como referência de comparação para valores pré e pósaplicação da técnica (Gráfico 1).
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Tabela II - Deslocamentos angulares medidos na vista anterior em cada
compartimento analisado antes e após a aplicação do iso-stretching.
Valores
obtidos
X ant
Mant
Uant
Padrão
Ventilatório
Pré-Sessões Média ∆a
DP
3,87 1,36 -0,87
0,82 1,29 0,76
7,24 ± 1,92
Pós-Sessões Média ∆a
DP
3,57 1,07 -0,58
1,37 0,71 0,71
6,65 ± 2,86
Tabela III - Deslocamentos angulares medidos na vista lateral em cada
compartimento analisado antes e após a aplicação do iso-stretching.
Valores
obtidos
X ant
Mant
Uant
Padrão
Ventilatório
Pré-Sessões Média ∆a
DP
3,63 -0,16 -1,80
0,88 0,52 0,89
9,23 ± 2,73
Pós-Sessões Média ∆a
DP
3,55 1,32 0,12
2,67 0,83 0,64
5,66 ± 5,10
A caracterização do padrão ventilatório (Σa) foi efetuada
pela comparação entre os resultados obtidos antes e após a
aplicação do da Técnica de Iso-Stretching, de modo que os
maiores valores para resultados alcançados representaram
um maior predomínio do compartimento torácico durante
a respiração. O inverso foi verdadeiro: menores valores como
resultado da aplicação da equação representaram uma maior
contribuição da mobilidade abdominal durante o movimento
respiratório (Gráfico 3).
Gráfico 3 - Valores obtidos na aplicação da equação de caracterização
do padrão ventilatório.
Padrão Anterior: resultado da aplicação da equação para valores
obtidos na vista anterior; Padrão Lateral: resultado da aplicação
da equação para valores obtidos na vista lateral; Ântero-lateral:
resultado da combinação aditiva dos resultados anterior e lateral.
Discussão
O precursor da técnica de Isostretching admite que “a
harmonia do corpo se forja pela qualidade, equilíbrio, entre a força,
leveza, potência de contração e possibilidade de alongamento”. Segundo
ele, o controle respiratório, o domínio das sensações e da
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posição faz a base do Iso-stretching, acrescentando um
intenso trabalho muscular, ativo e consciente. No trabalho
de Beloube et al. [11], que utilizou o método isotretching
em dois adolescentes, verificou-se uma melhora nas retrações
musculares e diminuição dos graus escolióticos e cifóticos,
o qual podem interferir na respiração.
A parede abdominal estabiliza a base do tórax durante a
inspiração, promovendo a expansão do tórax e também
proporciona uma importante estabilização das vísceras. Tem
relação topográfica e funcional com o tórax, diafragma e
com o dorso, constituindo um elo funcional entre as cadeias
posterior e respiratória, ratificando a importância do trabalho
global. Portanto, a efetividade do diafragma depende da
parede abdominal e também da coluna lombar, pois é um
dos locais de sua inserção. A influência do isostretching na
respiração é determinada pela expiração (que determina o
tempo de manutenção da postura), pelo autocrescimento
da coluna (local de inserção do diafragma-coluna lombar) e
pelas contrações isométricas.
O estudo mostrou que os indicadores funcionais de
referência, como exame físico, testes funcionais musculares
de força e volume não foram suficientes para expressar o
impacto da aplicação da técnica de Isostretching sobre o
aparelho respiratório. A composição amostral de sujeitos
sadios pode ser a razão deste achado; embora em todas as
unidades de avaliação pontuadas o aumento dos valores
percentuais tenha sido de 0,9% para o exame físico deitado,
0,73% para o exame físico sentado e de 0,5% para avaliação
funcional respiratória, é importante ressaltar que os valores
iniciais já eram próximos da pontuação máxima possível em
cada unidade. Basicamente, este resultado expressa que em
um grupo sem limitações respiratórias, como o grupo
amostral deste estudo, não é possível que os valores póssessões superem a normalidade. Assim, os esforços
voltaram-se para os achados cinesiomecânicos respiratórios
que pareceram ser os melhores indicadores deste impacto.
A expiração desenvolvida através da projeção semicerrada
dos lábios, tal como utilizada durante a aplicação da técnica
de Iso-Stretching, é também denominada de respiração
freno-labial ou “pursed-lips breathing” (PLB) pela descrição
original [12]. Como forma de padrão ventilatório, ou seja,
investida de objetivos terapêuticos, a PLB pode ser descrita
como uma resistência expiratória variável, criada pela
constrição dos lábios, com objetivo de manter positiva a
pressão nas vias aéreas nesta fase da respiração. Investigada
em oito estudos ao todo, em toda literatura disponível nas
bases de citações científicas, a PLB teve sua primeira
apresentação, como recurso terapêutico, na década de 60
[12]. É uma manobra freqüentemente citada por ser adotada
por pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva
crônica durante a respiração espontânea [13].
São atribuídos os seguintes efeitos à aplicação da técnica:
(1) recrutamento ativo da musculatura abdominal durante
a expiração; (2) alterações positivas no padrão fisiológico da
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
respiração, como aumento do tempo expiratório e volume
corrente e redução na fração tempo respiratório e freqüência
respiratória; (3) redução da capacidade residual funcional; e
(4) melhora na saturação de oxigênio arterial [14].
O efeito da PLB sobre o padrão e a mecânica da
respiração em 11 voluntários sadios, em repouso e durante
o exercício numa bicicleta ergométrica, foram estudados
em 1996 por Spahija e Grassino [13]. De acordo com os
resultados encontrados, a aplicação da PLB durante o
repouso resultou em: (1) manutenção no volume minuto e
redução na freqüência respiratória, pelo aprofundamento
nos níveis de ventilação para médios volumes; (2)
confirmação das propriedades já atribuídas à técnica, como
aumento do tempo expiratório, tempo total da respiração e
volume corrente; (3) aumento do recrutamento muscular
diafragmático; e (4) ausência de efeitos acumulativos sobre
a capacidade residual funcional [14].
Este estudo partiu do princípio de que a aplicação da
PLB na técnica de Isostretching é feita numa condição que
mais se assemelha ao repouso, pesquisada por Spahija e
Grassino. A forma de registro de imagem em nosso estudo,
para análise biofotogramétrica, somente permitiu avaliar
mobilidade e recrutamento dos compartimentos da parede
torácica durante a inspiração e expiração máximas. As tabelas
2 e 3 evidenciam, pelos valores angulares que apresentam,
um aumento da contribuição abdominal para a mobilização
aérea nos resultados pós-sessões, mais evidentes nas medidas
feitas pela vista lateral. Este resultado vai ao encontro dos
achados de Spahija e Grassino [13] que identificaram o
aumento do recrutamento muscular diafragmático como
um dos efeitos da aplicação da PLB em repouso em
indivíduos sadios.
Não obstante, dois destaques merecem ser apresentados
para reforçar as conclusões apresentadas: (1) as medidas
mais evidentes na vista lateral; (2) os valores não tão
expressivos para o compartimento abdominal (U), quando
comparados aos valores observados no tórax superior (X)
e inferior (M).
Desde o trabalho de Ricieri et al. [8,9] sabe-se que a
análise dos movimentos respiratórios através da
biofotogrametria apresenta uma maior correlação entre
movimentos e volumes nas imagens adquiridas na vista
lateral, ou seja, aquelas que registram os movimentos ânteroposteriores e crânio-caudais. Os autores relatam que tórax e
abdome movimentam-se ventralmente durante a inspiração,
sendo que o tórax movimenta-se mais no sentido vertical,
enquanto que o abdome apresenta movimentos basicamente
no sentido ântero-posterior. Esta característica mecânica
explica o fato de que os maiores valores, e mais conclusivos
para estudos bidimensionais de análise de imagem, tenham
sido encontrados para o deslocamento angular na vista lateral
(vide Tabela III).
Ainda se faz necessária uma argumentação clara para
explicar os pequenos valores encontrados para o deslo-
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109
109
camento abdominal. Kenyon et al. [15] relatou que, durante
a ventilação tranqüila, particularmente na postura em pé,
ocorre um aumento da pressão do compartimento abdominal
pela descida das vísceras, estira os músculos abdominais
passivamente; esta tensão passiva nos músculos abdominais
representa uma importante ação de desinsuflação sobre o
compartimento torácico baixo durante a ventilação tranqüila.
Assim, justifica-se que o movimento abdominal apresente
menor amplitude que o movimento do tórax na posição
ortostática. Os resultados angulares corroboraram esta
evidência: estirados na posição ortostática, o compartimento
abdominal move-se menos que o compartimento torácico,
porém ambos movimentam-se no mesmo ritmo.
Pelos resultados encontrados, acredita-se que a
aplicação clínica da técnica, com objetivos respiratórios
primários ao invés de posturais, seja de valor em situações
clínicas em que a reeducação diafragmática seja um objetivo
terapêutico a ser atingido. Sugere-se ainda que a técnica
seja estudada em grupos de portadores de doenças
respiratórias para avaliar seu real impacto sobre os
indicadores funcionais respiratórios quando estes se
encontrarem em situações de déficit clínico.
Conclusão
Com os resultados alcançados foi possível concluir que
a técnica de Isostretching apresenta um aumento do
recrutamento diafragmático durante a respiração, como
resultados de sua aplicação intensiva em um grupo de jovens
sadias. Este recrutamento se evidencia pelo aumento da
contribuição do compartimento abdominal durante as
manobras inspiratórias pós-sessões. Os estudo mostrou que,
em sujeitos sadios, os indicadores normalmente utilizados
pela avaliação fisioterapêutica tradicional não são efetivos
para avaliar tal impacto e que a análise biomecânica da
parede torácica, através da biofotogrametria, foi o indicador
mais efetivo para avaliar as repercussões respiratórias
anunciadas pela técnica de Iso-Stretching.
Agradecimentos
Nossos agradecimentos ao Prof. Ms. Marcelo Márcio
Xavier e Esperidião Elias Aquim pelo apoio recebido no
Ambulatório de Fisioterapia Respiratória da Universidade
Tuiuti do Paraná para a realização das avaliações respiratórias
contidas neste estudo. Este estudo foi realizado na Clínica
de Fisioterapia da Universidade Tuiuti do Paraná e contou
com o apoio técnico-científico do Instituto Brasileiro de
Fisioterapia Aplicada/IBRAFA-RJ.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
111
Artigo original
Acupuntura cinética como efeito potencializador
dos elementos moduladores do movimento
no tratamento de lesões desportivas
Kinetic acupuncture as potential effect of movement
modulation elements in treatment of sport injuries
Daisy Franca*, Vasco Senna-Fernandes**, Célia Martins Cortez, D.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Acupunturista, Professora de Ambulátório de Acupuntura e Eletroacupuntura de Academia Brasileira de
Arte e Ciência Oriental - ABACO, **Médico, Cirurgião plástico, Cirurgião de mão, Acupunturista, Professor da ABACO,
***Médica, Professora de Fisiologia da UERJ
Palavras-chave:
Acupuntura, cinesioterapia,
locomotores distúrbios.
Resumo
Este trabalho se baseia no estudo do tratamento de lesões desportivas através da
Acupuntura Cinética, que é um método sistemático o qual associa a Acupuntura à
Cinesioterapia durante a reabilitação do sistema músculo-esquelético, potencializando
os elementos moduladores do movimento, através da propriocepção. Tal associação
visa preparar a estrutura lesada para receber o estímulo fisioterápico, considerando que
a Acupuntura é capaz de: inibir o ciclo espasmo-dor, melhorando as valências físicas e
a performance do fuso muscular e tendinoso durante os movimentos. Além disso, a
Acupuntura promove sinergismo com a Cinesioterapia na recuperação do movimento,
pois o estímulo acupuntural pode ser de ação prolongada através da manutenção da
inserção de agulhas ou sementes em pontos específicos, durante o tratamento. Neste
estudo, foram incluídos 31 casos de atletas de diversas modalidades (tênis, futebol,
voleibol, ginástica olímpica, capoeira, balé e jiu-jitsu) portadores de distúrbios locomotores,
tais como: tendinite de tendão de Aquiles, lombalgia, dorsalgia, torcicolo, tenossinovite,
Síndrome do Túnel do Carpo, Síndrome do Pronador, contusão muscular, tennis elbow e
gonalgia por lesão de menisco; sendo 13 homens e 18 mulheres, com faixa etária
compreendida entre 11 a 40 anos. Todos apresentavam dificuldade na realização de
atividades físicas por presença da dor, que prejudicavam o seu desempenho geral. Os
parâmetros de avaliação dos resultados foram: Escala Visual Analógica (EVA) da
intensidade da dor (0-10 mm, sendo 0 sem dor e 10 a pior dor); Escala de Avaliação
Numérica (EAN) de melhora clínica em relação à dor (MCRD) (0-100%, sendo 0 sem
melhora e 100% a melhora total; e o número de sessões (NS) que influenciam
indiretamente a performance geral do atleta. A taxa média de redução da intensidade
da dor calculada com os dados da EVA (de 9,3 ± 0,9 mm para 1,5 ± 1,3 mm) foi de
84,0 ±14,6% (χ2 = 4,8), e a taxa média de MCRD pela EAN foi de 86,1 ± 3,1% (χ2 =
2,8). A média do número de sessões realizadas foi 5,5 ± 3,1. Dessa forma, a taxa média
de melhora por sessão foi de 15,6 ± 1,1%. Houve importante correlação entre as taxas
Recebido 24 de novembro de 2003; corrigido 3 de fevereiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Daisy Franca, Rua Alice, 1150 Laranjeiras 22241-020 Rio de Janeiro RJ, E-mail: [email protected]
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de melhora calculadas com os dados da EVA e a taxas da avaliação com a EAN (r =
0,9358, P > 0,0001). Todos os indivíduos que estavam em período de competição ou
apresentação, e que tinham se afastado recentemente de suas atividades, retornaram
aos seus treinamentos, no máximo, após a terceira sessão: 53% retornaram após a
primeira sessão, 37% após a segunda e 11% após a terceira. Os resultados mostraram
que a Acupuntura Cinética foi eficiente na reabilitação desportiva para evitar as
conseqüências resultantes da suspensão do treinamento na vida do atleta durante
uma lesão.
Abstract
The aim of this paper is to evaluate the treatment of sport injuries by kinetic
acupuncture. It is a systematic method that associate Acupuncture to kinesitherapy
during the rehabilitation of the musculoskeletal system, promoting the kinetic
modulators elements through the proprioception. This association is based on preparing
the injured structure to receive the physical therapist stimulation, considering that
acupuncture is able to inhibit the pain-spasm cycle, improving the physical values and
the performance of muscle spindles during the movements. So, acupuncture promotes
synergism with kinesitherapy to restore movements, and through its stimulation may
have a long acting by maintaining the insertion of needles or seeds in specific points
during the treatment time. In this study, we treated 28 cases of athletes from different
sport kinds (tennis, football, volleyball, gymnastics, triathlon, brazilian kick-boxing,
ballet and jiu-jitsu) with locomotory disorders (such as Achilles tendon tendonitis, low
back, dorsal pain, tenosinovitis, carpal tunnel syndrome, pronator syndrome, muscle
bruise, tennis elbow, knee pain with meniscus injury), being 13 men and 18 women,
with ages ranging from 11 to 40 years. All of them presented difficulties in doing
physical exercises, due to pain and performance disturbance. The treatment results
were evaluated by parameters: Visual Analogue Scale for pain score (0-10mm, 0
being no pain and 10 worse pain), Numeric Rating Scale (NRS) of clinical improvement
related to pain (CIRP) (0-100%, 0 being no improvement and 100% a total
improvement, and Number of Sessions (NS), which influence indirectly the athlete
general performance. The mean rate of pain intensity reduction calculated under
VAS’s data (from 9,3 ± 0,9 mm 1,5 ± 1,3 mm) was 84,0 ± 14,6% (χ2 = 4,8), and the
mean rate of CIRP of NRS was 86,1 ± 3,1% (χ2 = 2,8). The mean rate of the
number of accomplished sessions was 5,5 ± 3,1. In that way, the mean rate of pain
improvement of each session was of 15,6 ± 1,1%. There was an important correlation
between the improvement rates between VAS and NRS (r = 0,9358, P > 0,0001).
Every patient in period of competition or presentation, and who was inactivated
because of locomotory disorder, could return for their training after one, two or
three treatment sessions: 53% returned after the first session, 37% after second, and
11% after the third session. Through these data it is possible to observe that kinetic
acupuncture can play an important rule in sport rehabilitation related to the nontraining period of injured athlete.
Key-words:
hip dysplasia, cinesiotherapy,
sensori-motor stimulation.
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112
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Introdução
O bom desempenho de um atleta requer higidez
funcional dos seus vários sistemas orgânicos [1]. A
sobrecarrega do sistema músculo-esquelético em resposta à
intensa atividade física, durante o treinamento, às
competições ou apresentações, exige do corpo níveis de força
muscular, de amplitude articular e transferência de peso
muito acima dos fisiológicos. Os movimentos corporais
realizados no esporte sofrem mudanças inesperadas e,
quando são associados a interrupções rápidas, bruscas e de
grande impacto, podem levar a perda de acomodação das
estruturas osteoarticulares e miotendinosas [2]. Assim, o
aparelho locomotor quando submetido à sobrecarga, as suas
valências físicas (Força, Endurance e Flexibilidade) [3]
precisam se manter integras. Para que isso aconteça é
necessário um bom preparo físico e constitucional capaz de
evitar ou superar qualquer tipo de lesão que venha a ocorrer.
Quando o atleta sofre uma lesão, seja por traumatismo
local direto ou por sobrecarga repetitiva, o padrão
neuromuscular se altera profundamente, assim como, as suas
atividades proprioceptivas, que vão influenciar negati-vamente
todas essas valências físicas, reduzindo a performance geral
do competidor, principalmente pela presença da dor, edema,
isquemias, tensão muscular, contratura muscular reflexa, etc.
A presença do processo inflamatório gera a espoliação de
proteínas, que resulta em edema e estimulação dos fibroblastos,
retenção de metabólitos de difícil eliminação pelo organismo,
deflagrando uma sucessão de eventos que culminam com a
formação de fibrose no local, o encurtamento dos tecidos
envolvidos e, até, a incapacidade funcional [4].
A literatura médica mostra que, no mundo do esporte,
as estruturas do aparelho locomotor mais freqüentemente
lesadas são os músculos e, em seguida, as articulações. As
lesões podem resultar de contusões, entorses, luxações,
tendinites, fraturas e outros [5]. Podem ser, inicialmente, de
natureza mecânica, por mau condicionamento físico e por
treinamento excessivo com exercícios desgastantes, levando
o sistema músculo-esquelético ao sofrimento constante
mediante solicitações de grande mobilidade osteoarticular.
Posteriormente, surgem os efeitos de natureza química em
resposta à desidratação local, que causa insuficiência na
drenagem dos músculos e tendões ocasionando uma nutrição
celular incorreta e acúmulo de toxinas no organismo [4]. A
dor é sem dúvida a manifestação sintomatológica mais
importante destas lesões, sendo considerado o principal fator
limitante e mais preocupante na reabilitação [6].
O tratamento convencional [7,8] aplicado para lesões
não cirúrgicas é por meio medicamentoso (analgésico,
antiinflamatórios e corticosteróides) associado à fisioterapia,
que é normalmente dividido em 4 fases distintas: 1) A fase
aguda-inflamatória (até 72 horas após a lesão); 2) A fase de
reparação (de 72 horas até 2 a 6 semanas); 3) A fase de
remodelação (até 6 meses); e 4) A fase de readaptação ao
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113
esforço. Tal tratamento visa à eliminação do quadro álgico
e da expansão da flogose, a prevenção da fibrose e a
estimulação progressiva da propriocepção, bem como a
melhora da coordenação motora; até a reintegração do atleta
no treinamento esportivo [2,9]. Contudo, vários autores
[10,11] ressaltam a importância da reeducação proprio-ceptiva
neuromuscular na fase de remodelação (fase 3), através da
identificação sensório-receptora das características do
movimento, tais como a orientação, a localização espacial, a
velocidade e a atividade muscular [2], por meio dos exercícios
de Cadeia Cinética Fechada (CCN) [10]. Este é um método
de exercícios no qual o segmento terminal é fixo com
considerável resistência externa, o que impede ou limita sua
movimentação. Visa o aprimoramento proprioceptivo e
neuromuscular; assim como aumenta tolerância a cargas de
alongamento, estabilidade dinâmica e postural.
Porém, uma parte dos pacientes evolui para estágios
subagudo e crônico da lesão com dificuldade de recuperação
e de retorno às suas atividades esportivas. Isto causa danos
à sua performance, pois, já se sabe que dentro de um período
de 7 a 28 dias de inatividade pode atenuar as valências físicas
[2,12]. Powers e Howley utilizam o ditado “use-o ou percao” [13], lembrando que cinco semanas de treinamento
ocasionam rápido ganho de mitocôndrias musculares e que
após uma semana sem treinamento, a perda pode chegar a
50% do que foi adquirido [14].
O tratamento do aparelho locomotor por acupuntura é
praticado desde a antiguidade no mundo oriental,
especialmente quando se trata de processos inflamatórios
crônicos e resistentes às condutas convencionais [15,16,17].
No entanto, os trabalhos sobre o tratamento de acupuntura
no esporte são escassos.
O uso de acupuntura na Medicina Tradicional Chinesa
(MTC) para tratamento e reabilitação das lesões traumatoortopédicas (LTO) e musculoesqueléticas (LME) foi muito
comentado por Hua Tuo [15]. Para a MTC [16], a dor é causada
pela presença de estagnação de Qi e sangue no canal tendíneomuscular síndrome Bi do membro inferior, que evolui
gradualmente com formação de edema na região afetada. A
reabilitação na MTC tem como objetivo de circulação de Qi e
sangue, regulando o yin e o yang, eliminando a dor, removendo
a estase e relaxando o espasmo muscular [18,19].
Em recente estudo [20], demonstramos a eficiência da
Acupuntura Cinética (AC) na reabilitação de casos de LME,
e que a acupuntura é um excelente recurso pré-cinético na
fisioterapia por apresentar quesitos favoráveis à inibição do
ciclo espasmo-dor. A aplicação de acupuntura potencializa a
ação da cinesioterapia, levando a uma reabilitação mais eficaz.
A AC mostrou beneficiar, significantemente, os pacientes de
LME em relação à dor e ao ganho de abertura de arco articular,
podendo, por isso, ser capaz de prevenir o processo fibrótico
e melhorar a atividade motora desses pacientes.
O objetivo do presente trabalho foi estudar a eficiência
da AC (AC) como tratamento de lesões traumato-ortopédicas
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
114
Tabela I - Resultados da avaliação por EVA e EAN e número de sessões de AC em função do tipo de atividade física e da classe de DME.
Ind.
Atividades
físicas
DMS
1
Educação
Física
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
Futebol
Malabarismo
Balé
Ginástica
Olímpica
Tênis
Alpinismo
Jiu Jitsu
Luta Livre
Capoeira
EVA Pré
EVA Pós
EAN (%)
Nº de
sessões
Melhora/
sessão(%)
Sessão
de retorno
Cervicalgia
8
3
70
6
11,7
2
Dorsalgia
Punho
Lombalgia
Lombalgia
Gonalgia
Lombalgia
Tendinite Tendão de Aquiles
Dorsalgia
Lombalgia
8
8
9
8
7
10
9
10
8
3
1
2
2
2
2
4
4
0
70
90
80
80
90
80
60
60
100
3
4
5
4
4
13
3
11
4
23,3
22,5
16,0
20,0
22,5
6,1
20,0
5,4
25,0
0
0
2
1
0
FT
2
FT
0
Trauma na mão
Trauma da coxa
Tendinite Tendão de Aquiles
Lombalgia
Lombalgia
Trauma em Calcâneo
Coxa Posterior
Trauma no joelho
10
10
10
8
9
9
10
10
0
2
1
1
2
3
1
0
100
80
90
90
100
70
90
100
5
8
10
13
6
3
10
5
20,0
10,0
9,0
6,9
16,7
23,3
9,0
20,0
0
0
1
1
1
2
1
3
Tenosinovite do Punho
Contusão intercostal direito
Tendinite Tendão de Aquiles
Torção lig. medial do tornozelo
Trauma em cotovelo
Trauma em dedo
Trauma em coxa
joelho
Trauma de tornozelo
Trauma em Coxa
Torcicolo
Ombragia
Gonalgia
9
10
10
8
10
10
10
10
10
10
10
9
10
0
0
0
3
0
0
0
2
3
1
1
0
3
100
100
100
70
100
100
100
80
70
90
90
100
70
8
2
5
5
3
1
5
5
5
6
1
4
4
12,5
50,0
20,0
14,0
33,3
100,0
20,0
16,0
14,0
15,0
90,0
25,0
17,5
0
2
3
FT
1
0
1
2
2
1
1
1
0
Tabela II - Médias da intensidade e melhora da dor e do nº de sessões
Média
D. Padrão
de AC.
Material e método
EVA da Intensidade da Dor (0-10mm)
Pré-tratamento
Pós-tratamento
9,3 mm
1,5 mm
±0,9
±1,3
EAN da Melhora Clínica em
relação à Dor (%)
86,10%
±3,1
Nº de Sessões
5,5
±3,1
Este estudo clínico foi realizado no Ambulatório de
Pesquisa em Acupuntura da ABACO, no período de 2000 a
2003 e incluiu 31 indivíduos, sendo 17 mulheres e 13
homens, na faixa etária de 11 a 40 anos. Os tempos de
evolução dos quadros variam de uma semana a três anos.
Dentro dessa amostragem tivemos: 10 casos de dor em
região da coluna vertebral (cervicalgia, dorsalgia e lombalgia);
5 casos por trauma em região anterior e posterior de coxa;
3 casos de tendinite do tendão de Aquiles; 2 casos de trauma
no tornozelo; 4 casos de lesão no joelho; 1 caso de tendinite
no punho; 1 caso de trauma no dedo; 1 caso de trauma no
cotovelo; 1 caso de torcicolo; 1 caso de contusão de
intercostais; 1 caso de trauma no calcâneo; 1 caso de lesão
na mão.
(LTO) e lesões músculo esqueléticas (LME) resultantes da
prática de atividades desportivas. A AC é um método
sistemático que associa Acupuntura à Cinesioterapia durante
a reabilitação do sistema músculo-esquelético. Os resultados
são discutidos sob o enfoque do alívio do quadro álgico e
potencialização do sistema proprioceptivo muscular favorecendo a volta mais rápida ao treinamento de sua atividade esportiva.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
Figura 1 - (a) Taxas de indivíduos tratados que estavam fora de atividade
(inativos) e aqueles que estavam em período de competição ou apresentação,
discriminando os indivíduos que ainda se mantinham em treinamento,
apesar da lesão (em atividade), e os que haviam parado recentemente por
causa da dor e que retornaram após as três primeiras sessões. (b) Taxas de
indivíduos que retomaram suas atividades esportivas após a primeira,
segunda e terceira sessões de AC.
115
Todos os pacientes foram previamente submetidos à
avaliação médica associada a laudos de Ortopedia,
diagnosticados de acordo com a MTC, dando ênfase à pesquisa
de nódulos álgicos. A seguir, foram submetidos ao estudo
cinesiológico e, posteriormente, ao tratamento adequado ao
quadro patológico, seguindo as três etapas da AC [20]:
1ª etapa: O paciente era submetido à acupuntura
sistêmica de acordo com a MTC [16] e crâniopuntura YNSA[21]. Foram utilizadas agulhas de aço inoxidável, de
vários comprimentos (5mm a 30mm) e de calibres. Em casos
resistentes à conduta primária, aplicou-se eletroacupuntura
através de um eletroestimulador (*) de corrente alternada
assimétrica ajustado ao modo denso-disperso conforme
preconizada por Han [22] para tratamento de quadro álgico
severo; ventosa para contraturas; e moxibustão para
síndromes de deficiência [16];
2ª etapa: A cinesioterapia foi aplicada de acordo com
cada patologia em conjunto com os acupontos da
crâniopuntura, que eram mantidos estimulados e revisados
em relação ao Hibiki [21]. Em caso de presença de rigidez
articular ou contratura muscular segmentar persistente,
foram pesquisados nódulos álgicos, que foram tratados pela
manobra dinâmica de Jiao [23].
3ª etapa: Na auriculopuntura [24] foi preconizado o uso de
sementes de mostarda protegidas por micropore em acupontos
auriculares, de acordo com cada quadro sindrômico. A aplicação
era renovada de semana em semana, sendo os pacientes
orientados em relação higiene auricular.
Todos os pacientes foram submetidos à avaliação álgica
periódica durante o tratamento por meio dos dois métodos
subjetivos bem conhecidos: Escala Visual Analógica (EVA)
para a intensidade da dor (0-10mm, sendo 0 sem dor e 10 a
pior dor) e a Escala Avaliação Numérica (EAN) para
a melhora clínica em relação à dor (MCRD) (0-100%,
Figura 2 - Freqüências relativas dos indivíduos tratados pela AC em função da taxa de sendo 0 sem melhora e 100% a melhora total) [25].
melhora da dor e o número de sessões de AC.
Resultados
Neste estudo, o parâmetro de avaliação mais
importante foi o quadro álgico, do qual dependem
a amplitude, a marcha e a performance, principalmente em quadros agudos [26,27].
A Tabela I discrimina os resultados obtidos pela
avaliação com a EVA em função dos tipos de
atividade física e das classes de DME. Essa tabela
mostra as taxas de melhora e o número total de sessões
de AC realizadas para cada caso tratado, bem como
o número de sessões que possibilitou o retorno do
indivíduo às suas atividades de treinamento.
A Tabela II apresenta as médias de todos os
casos e os respectivos desvios padrões dos valores
(*) DS-100C (Sikuro- Sistema e Equipamentos Eletrônicos Ltda.).
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Figura 3 - Freqüências relativas dos indivíduos tratados pela AC em função da taxa de
melhora da dor e da modalidade esportiva: alpinismo (Alp), balé, capoeira (Cap), educação física
(EF), futebol (Fu), ginástica olímpica (GO), jiu jitsu (JJ), luta livre (LL), malabarismo (Mb)
e tênis (Te).
A figura 3 permite a comparação dos
resultados obtidos em função da modalidade
esportiva dos indivíduos tratados pela AC.
Discussão
oriundos da avaliação do nível de dor segundo a EVA e a
EAN, antes e depois do tratamento sistemático de AC. Nesta
tabela pode ser observado que a média da intensidade de
dor caiu de 9,3 ± 0,9 mm para 1,5 ± 1,3 mm na EVA,
tendo sido a taxa média de MCRD avaliada pela EAN de
86,1 ± 3,1%. A média do número de sessões realizadas foi
5,5 ± 3,1. Dessa forma, a taxa média de melhora por sessão
foi de 15,6 ± 1,1%. Houve importante correlação entre as
taxas de melhora calculadas com os dados da EVA e a taxas
da avaliação com a EAN (r = 0,9358, P > 0,0001). A taxa
média de melhora calculada com os dados da EVA (de 9,3
± 0,9 mm para 1,5 ± 1,3 mm) foi de 84,0 ± 14,6%.
As figuras 1 permitem a avaliação da eficiência da AC
como suporte terapêutico para casos de atleta com LME e
que não podem se afastar das suas atividades físicas. A figura
1a mostra que dos 31 indivíduos tratados, apenas 9,7%
estavam inativos e 29% não chegaram a parar suas atividades
em função da dor, mas estavam em situação de sofrimento,
e que 32% retornou aos seus treinamentos após a primeira
sessão do tratamento. Todos os indivíduos que estavam em
período de competição ou apresentação, e que tinham se
afastado recentemente de suas atividades, retornaram aos
seus treinamentos, no máximo, após a terceira sessão: 53%
retornaram após a primeira sessão, 37% após a segunda e
11% após a terceira, como confirmado pela figura 1b.
A figura 2 apresenta a relação entre as freqüências
relativas dos resultados terapêuticos, de acordo com o nível
de melhora da dor em valor percentual e o número de
sessões de AC.
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116
À medida que o mundo desportivo se
estende, altos níveis de exigência e de performance
são solicitados aos atletas. As lesões do aparelho
locomotor (LAL) no esporte são inevitáveis.
Assim, a conduta adotada para a sua
recuperação tem que ser rápida e eficiente, já
que o tempo de afastamento do treinamento
para recuperação de injúrias é um fator
determinante na perda de performance geral em
desportistas bem preparados. O quadro se
torna mais alarmante após quatro semanas de
repouso, pois a abstinência prolongada ao treino
leva à perda gradativa das adaptações neurais
e hormonais. Todavia, a acupuntura pode
minimizar tais efeitos durante a reabilitação, pois
é um tratamento que estimula o aumento do
aporte sangüíneo no local da lesão, o que
melhora a oxigenação dos tecidos e favorece a
produção de ATP [28]. Além disso, a
Acupuntura é um excelente método analgésico muito eficiente
por apresentar três mecanismos de ação fundamentais: (1)
bloqueio aferente segmentar; (2) bloqueio descendente supraespinal, mediante as vias piramidais, e (3) ativação de processos
analgésicos endógenos (liberação encefalinas e endorfinas).
Dessa forma, a acupuntura leva à redução do uso
indiscriminado de drogas antiinflamatórias e analgésicas, que
podem interferir na performance do atleta e trazer danos
importantes à saúde, pelos seus efeitos colaterais [28,29].
Assim, a acupuntura pode proporcionar ao atleta uma
alternativa no tratamento de LAL [17,30].
Os aumentos do aporte sanguíneo, de oxigenação tissular,
da atividade fagocitária e da liberação de substâncias
vasoativas são outros exemplos de respostas fisiológicas que
são estimuladas pela acupuntura; e que favorecem a
recuperação do sistema músculo esquelético. O posicionamento anatômico de pontos de acupuntura próximos aos
vasos linfáticos facilita as trocas metabólicas [28].
A AC é uma conduta que tem como vantagem a aplicação
sincronizada de dois procedimentos terapêuticos em uma só
sessão, sendo dividida em três fases respeitando o momento
cinético do paciente. A inserção das agulhas é feita em pontos
sistêmicos, microssistêmicos e locomotores (sejam eles locoregionais, segmentares, à distância, ou somatotópicos) [20].
Durante a primeira fase da AC, a pré-cinética, o sistema
músculo-esquelético é preparado pela acupuntura para as
fases seguintes, pois melhora o quadro álgico e promove
miorrelaxamento. Na fase pré-cinética, cada paciente é
reavaliado de acordo com o seu quadro clinico que,
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geralmente, inclui dificuldade de movimentação da região
lesionada, devido à presença de contratura ou nódulos
musculares dos antagonistas correspondentes.
No presente estudo, os 31 indivíduos que foram
tratados por AC eram praticantes de atividades desportivas
ou artísticas de expressão corporal e freqüentemente
participavam de competições ou apresentações que
requerem treinamento físico contínuo. Apenas 9,7% desses
31 indivíduos estavam inativos (figura 1a) e 29% não
haviam parado suas atividades, apesar da dor, porque
estavam em pleno período de competição ou apresentação.
O tratamento por AC mostrou ser muito eficaz neste
último grupo, pois com o tratamento eles não precisaram
suspender suas atividades. Nestes casos houve relatos de
melhora total de dor e da performance já na primeira sessão,
com o restabelecimento da capacidade funcional plena para
a competição.
A eficiência do tratamento foi especialmente notável nos
61% dos indivíduos que estavam em período de competição
ou apresentações e que tinham parado recentemente o
treinamento por causa da dor. Todos eles puderam se
reintegrar às suas equipes de trabalho, no máximo, após a
terceira sessão de AC. Dentre esses (χ2 = 2,3 P < 0,0001),
foi significante a taxa de indivíduos (90%) que retomou
seus treinamentos com uma e duas sessões (figura 1b).
Esses resultados mostram a eficiência da AC na
reabilitação desportiva para evitar as conseqüências, muitas
vezes dramáticas para sua vida de atleta, resultantes da
suspensão do treinamento, durante um período de
recuperação de um quadro de LME ou LTO.
O nível de melhora dos pacientes foi avaliado pelos
métodos que usam a EVA e a EAN. Essas duas escalas
forneceram resultados com forte correlação entre si (r =
0,9358 (P > 0,0001). Foram estatisticamente significantes
(tabela 2) as médias das taxas de MCRD avaliada pela EAN
(86,1 ± 3,1%, χ2 = 2,8) e calculada com os dados resultantes
da aplicação da EVA (84,0 ± 14,6 %, χ2 = 4,8) em relação
à redução da intensidade da dor. A taxa média de MCRD
por sessão foi de 15,6 ± 1,1%, de acordo EAN, tendo sido
5,5 ± 3,1 a média do número de sessões realizadas.
Como mencionado na introdução, a reabilitação de um
atleta pode ser resumida em 4 fases, sendo as duas últimas
de grande importância para a prevenção de recidivas e novas
lesões. Através deste estudo, observamos que a AC pode
sintetizar essas quatro fases em um período curto de
tratamento, em relação às condutas convencionais. Com uma
média de cinco sessões de AC (figura 3) a maioria dos casos
agudos tratados alcançou a resolução clínica da dor. É
importante notar na figura 3, que houve caso de resolução
clínica na primeira sessão do tratamento, mostrando a
possibilidade de se alcançar, em uma única sessão, os
objetivos desejados para as duas últimas fases da reabilitação
de atletas, a remodelação completa das estruturas em termos
de força e elasticidade e a readaptação ao esforço. O nível
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117
117
de melhora de 70% foi mais freqüente entre a terceira e
sexta sessões dos tratamentos.
Esses resultados já eram esperados por nós, pois
recentemente [20] demonstramos a eficiência da AC na
reabilitação de casos de LME. Segundo Silbernagl e
Despopoulos [30] o sistema músculo-esquelético é sensível
aos efeitos da acupuntura mediante a ativação dos
proprioceptores que deflagram reflexos de alongamento.
Logo após a inserção da agulha, além do processo
inflamatório por microtrauma, ocorre estímulo elástico sobre
os fusos. Um estímulo muito intenso pode gerar potenciais
de ação nas fibras nervosas aferentes dos fusos musculares
(fibras Ia) e órgãos tendíneos (fibras Ib). Devido ao autoreflexo, tais potenciais mudam a tensão do músculo, mediante
efeito inibidor simultâneo sobre os antagonistas relacionados.
Como esses receptores se localizam na profundidade dos
acupontos, estando interligados aos mesmos, eles reagem a
alterações de tensão e de comprimento muscular, que
ocasionam respostas neuromotoras evocadas da periferia
através do alfa-motoneurônio. Em adição, devido à
influência das fibras do gama-motoneurônio na tensão das
fibras musculares intrafusais nas vias eferentes, os
propriocepetores ativam o mecanismo de contração
muscular, que induz a um reflexo de relaxamento, ou seja,
alongamento da musculatura contraída e indução reflexa
para finalização da resposta reflexa. Através deste
mecanismo, o estímulo acupuntural leva a finalização do
impulso nos alfa-motoneurônio, através da recuperação do
potencial de membrana, que promove miorrelaxamento e
redução de taxas de impulsos. Esse mecanismo protege o
músculo de uma sobrecarga [30].
Na prática da AC em lesões esportivas, podemos observar
que esta se assemelha a uma associação entre os métodos
de Reeducação Proprioceptiva Neuromuscular (RPN)
[10,31] e de Cadeia Cinética Fechada [10,32]. A RPN
consiste em um método de treinamento que tem por objetivo
elevar as respostas motoras inconscientes pela estimulação
dos sinais aferentes e mecanismos centrais responsáveis pelo
controle articular dinâmico [10]. Um efeito que pudemos
notar ao realizar a manobra dinâmica de Jiao [23] no trigger
point na região acometida, é que a acupuntura age sobre os
proprioceptores, diminuindo a consistência dos nódulos
musculares e promovendo o miorrelaxamento geral, bem
como alivia o quadro álgico. Tudo isto resulta em ganho da
mobilidade e potencialização da RPN.
O grupo de atletas que apresentou a maior freqüência
relativa de casos de resolução clínica da dor (figura 3) foi o de
lutadores de jiu jitsu (freqüência relativa FR = 3/4, melhora/
sessão = 33,3%). A resolução clínica também foi alcançada no
tratamento dos dois atletas de tênis e dos dois de ginástica
olímpica, tendo sido necessárias em média, respectivamente,
3,5 e 7,5 sessões para tal resultado. Taxas de melhora abaixo de
70% foram observadas apenas em dois casos entre os jogadores
de futebol (FR = 2/3) com 3 e 11 sessões (Tabela I).
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A melhor taxa de melhora por sessão do tratamento
também foi observada dentre os lutadores de jiu jitsu (Tabela
I), onde tivemos um caso de resolução clínica de trauma de
dedo com apenas uma sessão (100% de melhora/sessão).
Em um caso de torcicolo entre os lutadores de luta livre
com 90% de melhora/sessão e um caso de contratura
intercostal unilateral em um jogador de tênis com 50% de
melhora/sessão. Foram observados dois casos de 25% de
melhora /sessão, um de ombralgia em lutador de luta livre
e o outro de lombalgia em um malabarista, os demais
apresentaram taxas de melhora/sessão abaixo de 24%.
Sob o ponto de vista fisioterapêutico, a acupuntura
mostrou ser excelente método coadjuvante na realização dos
exercícios cinesioterápicos. Particularmente no alongamento
estático, em que o segmento osteomuscular é levado ao
máximo permitido pela flexibilidade do atleta, foi observado
ganho precoce de amplitude de arco articular. Também foi
observada melhora no realinhamento articular e no
fortalecimento muscular por efeito dos exercícios que resgatam
movimentos específicos da atividade esportiva do indivíduo.
Tais exercícios visam o ganho ou manutenção da flexibilidade,
da força muscular e trofismo muscular, bem como ativam os
proprioceptores para manutenção da postura e estabilidade
articular apropriadas à modalidade esportiva.
Conclusão
Nossos resultados mostram que a AC ou Cinesioacupuntura, que é um método sistemático que une dois
procedimentos sinérgicos, potencializa o processo de
reabilitação do aparelho locomotor. Também verificamos que
a ação da acupuntura intercede direta ou indiretamente nas
valências físicas em relação ao sistema músculo esquelético,
favorecendo à performance do indivíduo na atividade desportiva,
quando associada ao trabalho cinesioterápico. Com isso o atleta
ganha uma recuperação mais acelerada, sem ficar muito tempo
fora de suas atividades de treinamento físico.
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C
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Artigo original
Efeito do alongamento estático após diatermia de ondas
curtas versus alongamento estático nos músculos
isquiotibiais em mulheres sedentárias
Effect of static stretch after short-wave diathermy versus static
stretch on ischiotibial muscles in sedentary women
Carlos Eduardo Pinfildi*, Rodrigo Paschoal Prado*, Richard Eloin Liebano, M.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Professor Assistente em Fisioterapia Geral II do Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva – IMES –
FAFICA, **Fisioterapeuta, Docente da UNICID em Fisioterapia Geral II e Docente do Instituto Municipal de Ensino Superior de
Catanduva – IMES – FAFICA
Palavras-chave:
músculos isquiotibiais,
diatermia de ondas curtas,
alongamento estático,
flexibilidade.
Resumo
O sedentarismo é uma das principais causas que leva a uma diminuição da flexibilidade
muscular, causando algumas vezes alterações posturais. O alongamento é uma das
técnicas mais utilizadas na fisioterapia para aumentar a flexibilidade muscular. O objetivo
desse estudo foi analisar o efeito da diatermia de ondas curtas na flexibilidade dos
músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias. Trinta mulheres sedentárias com limitação
da flexibilidade dos músculos isquiotibiais foram selecionadas através de 2 testes de
flexibilidade e distribuídas ao acaso em 3 grupos (10 mulheres em cada grupo). Foi
utilizado um sistema de polias com 7 kg para realização do alongamento. Grupo 1
(controle) não realizou nenhum tratamento, Grupo 2 – realizou alongamento estático
por 3 minutos somente e o Grupo 3 realizou alongamento estático por 3 minutos após
20 minutos de diatermia de ondas curtas. Os grupos 2 e 3 realizaram o tratamento 3
vezes por semana durante um mês. Três dias após o término do estudo, as voluntárias
foram avaliadas através de 2 testes de flexibilidade dos músculos isquiotibiais com o
goniômetro. Os testes ANOVA e Tukey mostraram que as diferenças entre os grupos
foram estatisticamente significativas (p < 0,005) para ambos os testes. Os resultados
desse estudo mostraram que o uso de diatermia de ondas curtas antes do alongamento
estático pode ser mais efetivo para o aumento da flexibilidade muscular do que os
procedimentos utilizados nos grupos 2 e 1.
Recebido 15 de dezembro de 2003; aceito 15 de março de 2004.
Endereços para correspondências: Carlos Eduardo Pinfildi, rua Aracajú, 1352, Vila Santo Antônio 15801-250 Catanduva SP, Tel: (17) 3524-8203 /
9717-7712, E-mail: [email protected], Rodrigo Paschoal Prado, rua Rio grande do sul, 801, Higienópolis, 15804-040 Catanduva SP, Tel: (17) 3522-3983 /
9717-5734, E-mail: [email protected].
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Abstract
The sedentarism is one of the main causes that lead people to a decrease of muscular
flexibility, causing sometimes posture damage. The stretch is one of the most used
techniques in physical therapy to increase muscular flexibility. The aim of this study
was to analyse the short-wave diathermy effect in the ischiotibial muscles in sedentary
women. Thirty sedentary women with limited flexibility ischiotibial muscles were selected
through 2 ischiotibial muscles flexibility tests and randomly divided in 3 groups (10
women each group). It was used a pulley system with 7 kg (15,4 lb) in one of the sides
to stretch. Group 1 (control) realized no treatment, group 2 realized static stretch for 3
minutes only and group 3 realized static stretch after 20 minutes of short-wave diathermy
for 3 minutes. The groups 2 and 3 realized the treatment 3 times a week for one
month. Three days after the study ended, the women were evaluated through 2 ischiotibial
muscles flexibility tests with goniometer. The Anova and Tukey tests showed that the
differences among the groups were statistically significant (P < 0,005) for both tests.
The results of this study showed that the use of short-wave diathermy prior to static
stretch group 3, may be more effective for increasing ischiotibial muscles flexibility
than the procedure used in the groups 2 and 1.
Key-words :
ischiotibial muscles, short-wave
diathermy, static stretching,
flexibility.
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Introdução
O alongamento é uma das técnicas mais utilizada na
fisioterapia para se obter um aumento da amplitude de
movimento (ADM) por meio do aumento da flexibilidade
muscular. Também atua na diminuição do tônus,
encurtamento e espasmo muscular, além de ser utilizado
para preparar a musculatura antes dos exercícios físicos,
evitando assim, lesões musculares [1-5].
Para a escolha adequada de um alongamento, é necessário
verificar o objetivo e a capacidade de cada indivíduo. Os
tipos mais utilizados são: alongamentos ativo, passivo, balístico,
facilitação neuromuscular proprioceptiva e estática [6,7]. O
alongamento estático é o mais utilizado para se obter aumento
da flexibilidade e relaxamento muscular [8].
Atualmente não há um consenso sobre a duração e
freqüência do alongamento, quando se refere ao aumento
da flexibilidade muscular [9,10]. O alongamento não se torna
eficaz quando utilizado por menos de 6 segundos, mas é
eficiente quando utilizado de 15 a 30 segundos com um
número maior de repetições [11-13].
Madding et al. [13] concluíram em um estudo que o
alongamento por 15 segundos é tão eficaz quanto o de 2
minutos, enquanto outros autores como Bandy, Iron e
Briggler [10] concluíram em sua pesquisa que o alongamento
por 30 e 60 segundos é mais eficaz do que o alongamento
por 15 segundos para o aumento da flexibilidade, não
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havendo diferença entre os alongamentos de 30 e 60
segundos. Para obter um aumento ou manter a flexibilidade,
um indivíduo sedentário deve-se alongar por pelo menos
uma vez ao dia, 3 ou 5 dias por semana e mantê-lo alongado
por maior tempo possível [9,4,14].
Segundo Souchard [15] quando se alonga um músculo
aquecido, este se torna mais flexível facilitando o
alongamento, porém retorna ao seu comprimento normal
após resfriado. Um músculo não aquecido quando alongado,
obtém um aumento no seu comprimento, mantendo assim
esse novo comprimento.
Recentemente vários autores observaram que o tecido
conectivo quando aquecido antes do alongamento, aumenta
a extensibilidade do tecido encurtado, tornando-o mais
confortável [12,14,16,17]. Quando a temperatura muscular
aumenta, o tecido conectivo cede mais facilmente,
diminuindo a força e o tempo de alongamento [8,18].
Wessling, DeVane, Hylton [8] utilizaram em seu estudo
o alongamento estático e ultra-som combinado no músculo
tríceps sural, comparando com o alongamento estático
somente. Knight et al. [12] utilizaram como fonte de calor o
ultra-som contínuo, exercícios de aquecimento ativo e calor
superficial. Ambos os estudos mostraram que o alongamento
estático combinado com o ultra-som contínuo apresentou
melhores resultados do que os outros métodos
Devido aos resultados positivos das pesquisas que
utilizaram aquecimento antes do alongamento [8,12,14,17],
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foi escolhido a diatermia de ondas curtas contínuo como
meio de calor profundo por ter uma ampla utilização no
meio clínico e pela falta de pesquisas com este equipamento
[19,20].
Dessa forma este estudo foi realizado com o propósito
de determinar o efeito do alongamento estático após diatermia
de ondas curtas versus alongamento estático na flexibilidade
dos músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias.
Material e Método
Para a realização dessa pesquisa foi utilizado um
equipamento de ondas-curtas modelo Diatermax 350p da
marca KLD Biossistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda,
com 350 W de pico de potência, tipo contínuo e pulsado
com repetição de pulso de 30 a 400 Hz, oscilação da
freqüência de 27,12 Mhz e comprimento de onda de 11,06
metros. Foram utilizados também dois eletrodos capacitivos
flexíveis de borracha.
As voluntárias foram mensuradas com goniômetro
universal para avaliar a ADM no início e no término da
pesquisa. O alongamento estático foi realizado por um
sistema com duas polias e uma corda. Uma das
extremidades foi fixada ao tornozelo esquerdo da
voluntária, enquanto a outra extremidade era fixada a um
peso com 7 kilogramas. Antes do início do estudo, foi
realizado um estudo piloto para determinar o peso utilizado
no alongamento.
As voluntárias eram fixadas ao divã em decúbito dorsal
com faixas elásticas. Uma das faixas era fixada no joelho
direito da voluntária e a outra no quadril, para obter um
melhor posicionamento para o alongamento (Fig. 1).
Figura 1 – Sistema de polias.
121
e assinaram um termo de consentimento, declarando que
elas não estavam participando de nenhum programa de
alongamento, e também que concordavam em participar
do estudo. Os critérios de exclusão para o estudo foram
gravidez, patologias vasculares, desordens neuromuscular,
lesões em quadril, joelho e tornozelo e doenças malignas.
Para participar do estudo, as voluntárias tinham que
exibir mais de 20º de perda de ADM em ambos os testes
utilizados no estudo para verificar a flexibilidade dos
músculos isquiotibiais.
Procedimento
As voluntárias foram selecionadas com dois testes de
flexibilidade dos músculos isquiotibiais.
No Teste 1 (T1), a voluntária permanecia deitada em
decúbito dorsal com os membros inferiores estendidos, mas
o joelho direito e o quadril fixados com faixas elásticas. O
pesquisador sempre marcava o trocânter maior do fêmur
com uma caneta permanente onde era posicionado o eixo
do goniômetro. O mesmo pesquisador posicionava o
goniômetro no ponto marcado, com o braço estacionário
do goniômetro na linha axilar média do tronco e o braço
móvel posicionado paralelamente a superfície lateral da coxa
usando como referência o côndilo lateral do fêmur. O
pesquisador pedia para a voluntária realizar a flexão ativa
do quadril esquerdo (arbitrariamente escolhido) com o joelho
estendido, definindo como ponto de mensuração quando a
voluntária sentisse um leve desconforto ou um retesamento
nos músculos isquiotibiais.
Neste momento era mensurada a ADM com o
goniômetro usando o método descrito por Norkin, White
[21]. A posição zero era considerada como posição neutra
do quadril e a posição total era considerada como 90º de
flexão do quadril (Fig. 2).
Figura 2 – Teste (T1) de flexibilidade dos músculos isquiotibiais.
Fonte:Dados do Autor
Trinta mulheres sedentárias entre 18 e 25 anos do
Instituto Municipal de Ensino Superior de Catanduva –
IMES – FAFICA foram selecionadas. As voluntárias leram
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121
Fonte: Dados do Autor
05/04/04, 18:35
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
122
No Teste 2 (T2) o pesquisador sempre marcava o
trocânter maior do fêmur, o côndilo lateral do fêmur e
maléolo lateral da tíbia. Cada voluntária era posicionada em
decúbito dorsal, com o quadril esquerdo e joelhos flexionados
à 90º por mensuração goniométrica. O quadril e o joelho
direito eram fixados com duas faixas elásticas.
O mesmo pesquisador do T1 posicionava o quadril
esquerdo e o joelho flexionados a 90º. O segundo pesquisador
posicionava o eixo do goniômetro no joelho esquerdo sobre
o côndilo lateral do fêmur, com o braço estacionário do
goniômetro na face lateral do fêmur, usando como referência
o trocânter maior do fêmur e o braço móvel do goniômetro
era posicionado na face lateral da fíbula usando como
referência o maléolo lateral. O pesquisador pedia para
voluntária fazer a extensão ativa do joelho esquerdo, definindo
como ponto de mensuração quando a voluntária sentisse
um leve desconforto ou um retesamento nos músculos
isquiotibiais [21]. A posição neutra era considerada como
90º de flexão do joelho e a extensão total do joelho era
considerada como zero grau (Fig. 3).
aquecidos até elas referirem um calor confortável [19].
Foi utilizada a técnica coplanar, onde foi colocado um
eletrodo na origem proximal dos músculos isquiotibiais,
sob a tuberosidade isquiática e o outro eletrodo na origem
distal, sob a junção músculo-tendinosa do joelho esquerdo.
Após aquecido, a voluntária era alongada no sistema de
polias (Fig. 4).
Três dias após o término do estudo, as voluntárias foram
avaliadas com o T1 e T2. Os pesquisadores que realizaram
essa avaliação foram os mesmo que realizaram a primeira
avaliação, e eles não sabiam a qual grupo a voluntária pertencia.
Figura 4 – Técnica Coplanar.
Figura 3 – Teste (T2) de flexibilidade dos músculos isquiotibiais.
Fonte: Dados do Autor
Resultados
Nesta pesquisa foi comparado qual protocolo de
tratamento foi mais eficiente. Entretanto, foi utilizado 2 testes
de flexibilidade dos músculos isquiotibiais, para avaliar o
valor da ADM entre o início e o término da pesquisa para
cada grupo. Para a análise estatística dos resultados foi
realizado o teste ANOVA (Análise de Variância) para verificar
Fonte: Dados do Autor.
Após selecionadas, as 30 voluntárias foram randomizadas
em 3 grupos com 10 em cada grupo.
O Grupo 1 (G1) não realizou protocolo de tratamento
e serviu como grupo controle.
O Grupo 2 (G2) realizou alongamento estático somente
por 3 minutos, 3 vezes por semana durante um mês. O
alongamento estático foi realizado da mesma maneira do
grupo 3.
O Grupo 3 (G3) recebeu diatermia de ondas curtas
contínuo por 20 minutos antes de realizar o alongamento
estático. O alongamento estático foi realizado por 3
minutos, 3 vezes por semana durante um mês. As
voluntárias eram secadas com uma toalha para remover o
suor. Logo após, a voluntária deitava sobre o divã na posição
de decúbito dorsal e seus músculos isquiotibiais eram
artigo 05 - Carlos Eduardo.pmd
122
Tabela I - Valores em graus do pré-teste e pós-teste do Teste 1.
Grupos
Voluntárias
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Grupo 1
prépósteste
teste
Grupo 2
prépósteste
teste
Grupo 3
pré- pósteste teste
50º
53º
50º
68º
38º
42º
50º
53º
63º
46º
35º
37º
40º
48º
30º
48º
37º
32º
56º
50º
42º
38º
45º
41º
50º
42º
51º
55º
39º
47º
55º
50º
50º
50º
40º
42º
48º
51º
60º
46º
Fonte: Dados do Autor.
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47º
55º
50º
75º
59º
61º
47º
43º
68º
61º
72º
75º
70º
60º
70º
68º
75º
77º
65º
72º
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
o efeito do tratamento e o Teste de Comparação Múltipla
de Tukey dois a dois para verificar a diferença entre os
tratamentos.
Os testes ANOVA e Tukey mostraram que as diferenças
entre os grupos foram estatisticamente significantes (p <
0,005) para ambos os testes.
As Tabelas I e II mostram os valores em graus da ADM
do Teste 1 e Teste 2, respectivamente, de cada voluntária,
onde eram avaliadas no início e no término do estudo,
chamados de pré-teste e pós-teste.
Os gráficos I e II ilustram as médias aritméticas obtidas
dos valores entre o pré-teste e o pós-teste.
Tabela II - Valores em graus do pré-teste e pós-teste do Teste 2.
Grupos
Voluntárias
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Grupo 1
prépósteste
teste
Grupo 2
prépósteste
teste
Grupo 3
pré- pósteste teste
38º
43º
34º
58º
40º
35º
32º
35º
42º
35º
43º
32º
30º
48º
40º
35º
32º
30º
45º
30º
38º
43º
48º
35º
44º
45º
32º
32º
30º
25º
40º
42º
32º
58º
38º
35º
34º
37º
42º
42º
Fonte: Dados do Autor.
Gráfico I – Médias aritméticas do T1.
Fonte: Dados do Autor.
Gráfico II – Médias aritméticas do T2
Fonte: Dados do Autor.
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123
53º
40º
44º
60º
48º
45º
40º
40º
60º
40º
54º
60º
62º
61º
70º
70º
55º
60º
44º
50º
123
Discussão
O calor e o alongamento são freqüentemente utilizados
clinicamente para aumentar a flexibilidade e restaurar perdas
de ADM [8,10,11,22]. O calor vigoroso (maior que 4º acima
da temperatura corpórea) aumenta a extensibilidade do
tecido colágeno e diminui a viscosidade dos tecidos e tendões
[16,20]. A diatermia de ondas curtas pode produzir um calor
vigoroso em grandes áreas, levando a um relaxamento
muscular, diminuição do espasmo muscular e diminuição
do encurtamento muscular [23,24].
Alguns autores utilizaram o ultra-som, exercícios de
aquecimento e calor superficial combinado com o
alongamento estático nos músculos isquiotibiais, contudo o
alongamento combinado com o ultra-som mostrou melhor
resultado do que os outros métodos [8,12,14].
Este estudo é uma das primeiras documentações sobre
o efeito do alongamento estático após diatermia de ondas
curtas versus alongamento estático na flexibilidade dos
músculos isquiotibiais em mulheres sedentárias. Sendo que
este foi designado para obter um melhor entendimento de
protocolos de alongamento para aumentar a ADM e como
o uso da diatermia de ondas curtas pode afetar este protocolo
na prática clínica [19,20].
Os músculos isquiotibiais foram escolhidos, porque eles
são um dos principais músculos que sofrem encurtamento
com o sedentarismo [2,4,11]. A diatermia de ondas-curtas é
usada para aquecer estruturas profundas, sendo utilizada
nesse estudo para aquecer os músculos isquiotibiais por
inteiro, melhorando a efetividade dos fusos musculares [20].
Atualmente não há um consenso sobre duração e
freqüência de alongamento quando se refere ao aumento
da flexibilidade muscular, contudo foi utilizado 3 minutos,
uma vez ao dia e 3 dias por semana durante um mês,
porque para obter um aumento ou manter a flexibilidade,
a mulher sedentária deve alongar pelo menos uma vez ao
dia, 3 ou 5 dias por semana e mantê-lo alongado o maior
tempo possível [4,9,14].
De acordo com os dados, depois de um mês do protocolo
de alongamento, mostrou que o grupo 3 foi mais eficiente
do que os outros grupos. Acredita-se que o grupo 3 mostrou
melhor resultado em ambos os testes, porque a elevação da
temperatura aumenta a taxa de disparo das fibras tipo II
aferente do fuso muscular e gama eferente e um aumento
na taxa de disparo das fibras tipo Ib dos órgãos tendinosos
de golgi (OTG) [25-29].
Essas mudanças na taxa de disparo dos nervos
contribuem para redução da taxa de disparo do
motoneurônio alfa, relaxando o músculo e aumentando assim
a flexibilidade muscular com o alongamento [27,28].
A elevação da temperatura também pode mudar a
viscoelasticidade do tecido conectivo e resultar numa
elongação plástica depois do alongamento [8,29,30].
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124
Conclusão
Ambos os grupos experimentais (G2 e G3) aumentaram
a amplitude de movimento em ambos os testes, mas o uso
da diatermia de ondas curtas por 20 minutos antes do
alongamento obteve uma maior aumento na flexibilidade
dos músculos isquiotibiais. Este estudo permitirá maiores
opções na efetividade do aumento da flexibilidade muscular.
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C
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Artigo original
A melhora da capacidade do alcance funcional em mulheres
idosas após os exercícios de Cawthorne e Cooksey
Functional reach improvement in normal older women after
Cawthorne and Cooksey exercises
Angela dos Santos Bersot Ribeiro*, João Santos Pereira, D.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Ciências da Motricidade Humana, Universidade Castelo Branco RJ, **Professor titular do PROCIMH,
Universidade Castelo Branco RJ
Palavras-chave:
envelhecimento, estimulação
vestibular, capacidade do
alcance funcional, equilíbrio.
Key-words :
aging, vestibular stimulation,
functional reach, balance.
Resumo
O envelhecimento natural é acompanhado por um déficit funcional em todos os
sistemas do organismo, inclusive no sistema vestibular, que pode resultar em distúrbios
no equilíbrio. Uma abordagem terapêutica específica para a estimulação da função
vestibular, no idoso, pode gerar aprendizado motor e, portanto, contribuir para a
prevenção e melhora destes distúrbios. Quinze mulheres, entre 60 e 69 anos, média =
64,8 (± 2,95) foram submetidas aos exercícios de Cawthorne e Cooksey, durante três
meses, três vezes por semana, durante sessenta minutos. Outras quinze mulheres
compuseram o grupo controle (idade média = 65,46 ± 2,85). Todas foram avaliadas
segundo a Capacidade do Alcance Funcional (CAF). Para análise dos resultados utilizaramse os testes T-Student e Wilcoxon. O nível de significância determinado foi de p < 0,05.
À comparação dos dados do grupo experimental, nas avaliações pré e pós-intervenção,
observou-se diferença significativa (p < 0,05), com melhora no índice da CAF. Os
exercícios de Cawthorne e Cooksey foram capazes de promover melhora significativa
no equilíbrio desta amostra e podem ser aplicados como medida preventiva e curativa
nos distúrbios do equilíbrio em idosos.
Abstract
The aging is accompanied with a functional deficit in all of the body’s systems,
including the vestibular system, and it can result in balance disturbance. A specific
therapeutic approach for a vestibular function stimulation, in elderly people, can promote
the motor learning and, so, it can contribute to the prevention and to the improvement
of these disturbances. Fifteen women, aged 60 to 69, mean = 64,8 (± 2,95) were
submitted to the Cawthorne and Cooksey exercises during three months, three times a
week, during sixty minutes. Others fifteen ones compose the control group (mean of
age = 65,46 ± 2,85). All of them were evaluated according to the Functional Reach
(FR). For analysis of these results was used the T-Student and Wilcoxon tests. The level
Recebido 15 de dezembro de 2004; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Angela dos Santos Bersot Ribeiro, Rua Bráulio Cunha, 67 Bairro Ano Bom 27323–320 Barra Mansa RJ, Tel: (24)
3323-0377/9994-2072, E-mail: [email protected]
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of significance that was determined was about p < 0.05. In a comparison to the dates
from experimental group, in the assessment of before and after intervention, was
observed a significant difference (p < 0.05), with an improvement on the FR index.
The Cawthorne and Cooksey exercises were able to promote a significant improvement
on the balance of this sample and they can be administered as a prevention and as a
way to cure the balance disturbances in elderly people.
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Introdução
O movimento é fundamental para o bem-estar e para a
qualidade de vida do idoso. Uma vez que o envelhecimento
representa a passagem do tempo e não a presença de
patologia, pode o idoso apresentar estratégias magníficas para
garantir a sua independência e cabe ao terapeuta implementar
e potencializar estas estratégias para melhorar sua qualidade
de vida [1].
Se o desenvolvimento global humano começa na
concepção e só se encerra com a morte [2], não é no
envelhecimento que o desenvolvimento termina. Embora
menos intensos, nesta fase da vida ainda serão observáveis
os fenômenos de neuroplasticidade, responsáveis pela
aquisição de novos conteúdos de memória, dos processos
de aprendizagem e na remodelagem pós-lesão [3]. A
execução de exercícios de caráter repetitivo permite criar
uma “imitação” do input sensorial normal, esperando-se que,
através destes inputs, os outputs dos sistemas sejam
modificados [4]. Esta característica do aprendizado motor é
plenamente aceitável e possível no idoso, conquanto sua
capacidade de adaptar-se esteja presente, uma vez que os
processos de neuroplasticidade também estão.
Os impulsos específicos do sistema vestibular são
provenientes do tipo de movimento que os receptores
sensoriais deste sistema, os cílios, realizam. Através destes
inputs o sistema consegue informar-se sobre os movimentos
e a posição da cabeça no espaço em relação à gravidade e
sobre a sua velocidade de aceleração [4-6]. Estas informações
carreadas pelas aferências vestibulares somam-se àquelas
carreadas pelas aferências proprioceptivas, visuais e auditivas
que são integradas, e o conjunto destas sensações espaciais é
memorizado em um “banco de dados”, sendo cada
movimento novo comparado a estes esquemas memorizados,
criando-se os automatismos, de forma que os ajustes
necessários à manutenção do equilíbrio ocorram [9].
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A hipoatividade inerente ao processo de envelhecimento
contribui para a diminuição dos inputs sensoriais globais no
idoso. Em se tratando do sistema vestibular, a diminuição
destes inputs determinaria um atraso e/ou uma menor
eficácia na elaboração das respostas motoras (os próprios
outputs) necessárias à manutenção do equilíbrio, ou seja,
determinaria uma falência ou deterioração dos mecanismos
de manutenção do equilíbrio, o que estará diretamente
associado com a presença de quedas [7-10].
A chamada “reabilitação vestibular” foi criada há mais
de vinte e cinco anos e inicialmente foi desenvolvida para o
tratamento de pacientes com vertigens e/ou transtornos
do equilíbrio [5,11]. Entretanto, muitos autores concordam
em afirmar que idosos “normais”, ou seja, sem antecedentes
neurológicos ou otorrinolaringológicos, mas com transtornos
do equilíbrio, podem melhorar notavelmente com as
estimulações vestibulares. [4,11-13].
Segundo Kronhed et al. [14] um estudo sueco de 1988
usando questionários demonstrou que existe um decremento
significativo na estabilidade entre as idades de 60 e 75 anos.
O sistema vestibular como parte do conjunto sensorial
responsável pelo equilíbrio também envelhece, e pode
determinar déficits de equilíbrio que não estejam diretamente
associados à presença de uma patologia, mas apenas ao
envelhecimento natural. As próprias atividades de vida diária,
que normalmente envolvem uma série de condições de
conflito sensorial, podem determinar situações de risco para
quedas, também no idoso saudável, uma vez que este tem
dificuldade para selecionar informações sensoriais confiáveis
para a manutenção do controle postural [8].
Considerando-se que os exercícios de reabilitação
vestibular possuem a característica de serem repetitivos
[4,15], e, portanto, permitirem a criação do input sensorial
normal com a conseqüente geração dos outputs, que é a
base do aprendizado motor e, que exercícios de treinamento
específico para um determinado sistema são relatados como
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significativamente relevantes na melhora da função deste
mesmo sistema [8], exercícios e/ou movimentos que
estimulem especificamente a função do sistema vestibular
podem influenciar as reações de equilíbrio.
Horak et al. [16] consideram que uma terapia específica
para o equilíbrio pode, além de proporcionar o aprendizado
motor, potencializá-lo, através da aplicação dos conceitos
do aprendizado motor como: prática, feedback, experiência
e reeducação do equilíbrio. Os Exercícios de Cawthorne e
Cooksey, aplicados nesta pesquisa, utilizam estes conceitos,
uma vez que propiciam situações de desequilíbrio, através
de atividades variadas, nas quais os indivíduos devem buscar
estratégias para a manutenção eficaz da postura, e incluem
exercícios de habituação com movimentos da cabeça,
pescoço e olhos, podendo estar associados com a marcha,
exercícios de controle postural e exercícios de
condicionamento geral [15].
Material e métodos
População e amostra
Foi utilizado um grupo de idosos, escolhidos
aleatoriamente, pertencentes à Associação de Moradores
do Bairro Vila Independência do município de Barra Mansa
RJ, não institucionalizados, do sexo feminino, com idade
variando entre 60 e 69 anos.
Os participantes foram submetidos a uma avaliação com
um médico clínico geral com o objetivo de se analisar a
existência de patologias que pudessem influenciar na
pesquisa. Os critérios de exclusão foram a presença de
patologias neurológicas, otorrinolaringológicas, distúrbios
vasculares, metabólicos, degenerativos ou neoplásicos.
Instrumento de avaliação
A Capacidade do Alcance Funcional (CAF) é descrita
como uma avaliação do equilíbrio estático funcional, tendo
sido relatada como bastante confiável e sensível às alterações
do equilíbrio que ocorrem durante o envelhecimento. Ela é
útil para determinar o risco de quedas em idosos. Duncan et
al. [17] assim classificam a CAF: 0 para a incapacidade total;
1 para o alcance menor do que 15,0 cm; 2 para o alcance
entre 15,0 cm e 25,0 cm; 3 para o alcance maior que 25,0
cm. Alcance menor que 15,0 cm está associado a um alto
risco de quedas, e alcance entre 15,0 e 25,0 cm a um
moderado risco. A CAF é considerada biomecanicamente
análoga à excursão do “centro de massa corporal” nas
atividades funcionais e como um preditor do limite máximo
da estabilidade.
Para avaliar a CAF, o indivíduo é instruído a tentar
inclinar-se para frente o máximo que conseguir. A extensão
do movimento é mensurada usando-se uma fita métrica, ao
longo de 1 metro. O acrômio do indivíduo é alinhado com
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127
127
a altura da fita métrica, enquanto o seu braço fica paralelo
à fita, ou seja, o ombro estará com um grau de flexão de
90º. Com o punho cerrado o indivíduo se estica para a
frente o máximo possível, enquanto mantém os dois pés
planos sobre o chão, sem tocar na parede ou na fita métrica.
Procedimentos
Todos os indivíduos selecionados foram avaliados
segundo o instrumento de medida descrito. Destes, quinze
foram submetidos aos exercícios de estimulação da função
vestibular (de Cawthorne e Cooksey), compondo o grupo
experimental, e outros quinze não foram submetidos a eles,
caracterizando o grupo controle. Os exercícios foram
aplicados três vezes por semana, durante sessenta minutos,
por nove semanas. Após este intervalo de tempo todos os
participantes da amostra foram reavaliados. Os resultados
da avaliação e da reavaliação foram comparados.
Tratamento e análise dos dados
Os dados iniciais e finais obtidos pela CAF foram
analisados e comparados por dois testes estatísticos de
significância: o Teste T-Student e o Teste de Wilcoxon.
Nestes testes são enunciadas duas hipóteses chamadas de
H0 – hipótese nula e H1 – hipótese alternativa. Para H0
não existe diferença significativa entre as médias, para H1
existe diferença significativa entre as médias. Quando a
hipótese H1 (x1 ≠ x2) foi evidenciada, novas hipóteses foram
testadas, onde para Ho: x1 < x2 e para H1: x1 >x2, no caso
dos testes pareados, e Ho: xe < xc e H1: xe > xc, sendo xc
a média do grupo controle e xe a média do grupo
experimental, para os testes não pareados. O nível de
significância determinado foi de 5%, ou seja, p< 0,05.
Resultados
A idade média para o grupo experimental foi de 64,8
(±2,956) e para o grupo controle de 65,46 (± 2,850).
Nos 15 idosos do grupo controle, a análise e comparação
dos dados da CAF pelo teste T-Student encontrou-se valor
t = 0,1979 e p = 0,8459 evidenciando-se a hipótese Ho e
concluindo-se que, para 14 graus de liberdade, não houve
diferença significativa entre os resultados relativos à CAF
das duas avaliações, realizadas num intervalo de nove
semanas. Pelo teste Wilcoxon confirmou-se esta evidência,
sendo achado o valor Z = 0,0623 e p = 0,9503 , conforme
observa- se na Tabela I.
Nos 15 idosos do grupo experimental, a análise e
comparação dos dados da CAF pelo Teste T-Student
encontrou-se valor t = -3,9146 e p = 0,0016 evidenciandose a hipótese H1 e concluindo-se que, para 14 graus de
liberdade, houve diferença significativa entre os resultados
relativos à CAF das duas avaliações, pré e pós intervenção.
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Tabela I - Valores da CAF por indivíduo do grupo controle (1ª e 2ª avaliação).
CAF
1ª avaliação
2ª avaliação
34,5
38
25
25,5
33
33
25,5 35
30 31,5
32
30,5
(valores em cm)
26
40
31
25,5 38,5
31
26
26
22
20,5
x1 = 28,43 cm
dp = 6,0085 T-Student t = 0,1979 Wilcoxon Z = 0,0623x2 = 28,33 cm
(valores) p = 0,8459
(valores) p = 0,9503
IC [m; 95%] = [-0,9835; 1,1835].
25,5
25
28,5
28
27
27,5
15,5
14,5
27,5
30
29
33
dp = 6,1489
Tabela II - Valores da CAF por indivíduo do grupo experimental (pré e pós-intervenção).
CAF
1ª avaliação
2ª avaliação
32,5
38
30
30
25
30,5
31 32,5
31,5 40
30
35
(valores em cm)
23,5
30
36,5
34
30,5
41
25
41
38
38
x1 = 29,7 cm dp = 4,1653
T-Student t = -3,9146 Wilcoxon Z = -2,7173x2 = 34,2 cm
(valores) p = 0,0016 (valores)
p = 0,0066
IC [m; 95%] = [-6,9655; -2,0344].
Pelo teste Wilcoxon confirmou-se esta evidência, sendo
achado o valor Z = -2,7173 e p = 0,0066, o que pode ser
observado na Tabela II. A partir da evidência de H1,
enunciou-se novas duas hipóteses, Ho: x1<x2 e para H1:
x1>x2. Pelo teste T-Student achou-se valor t = -3,9146 e p
= 0,9992. Então, para 14 graus de liberdade, evidenciou-se
a nova hipótese H0, ou seja, a média dos escores da 1ª
avaliação da CAF foi significativamente menor que a da 2ª
avaliação; o que foi confirmado pelo teste Wilcoxon, com
valor Z = -2,7591 e p = 0,9971.
A análise e comparação dos dados entre as médias dos
grupos controle e experimental na 1ª avaliação da CAF
(Gráfico I) pelo teste T-Student, encontrou-se t = 0,671 e p
= 0,5077, evidenciando-se a hipótese nula (Ho), ou seja,
para 28 graus de liberdade não existem diferenças significativas
entre os dois grupos na 1ª avaliação, o que foi confirmado
pelo teste Wilcoxon, onde Z = 0,4262 e p = 0,6699.
Gráfico I – Valores médios da CAF (cm) nos grupos experimental e
controle (1ª e 2ª avaliação).
experimental
controle
Diferença entre médias do grupo controle e experimental
(1ª avaliação): IC [m; 95%] = [-2,6001; 5,1334]
Diferenças entre as médias grupo controle e experimental
(2ª avaliação): IC [m; 95%] = [1,8993; 9,8339]
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128
30
30
25
30,5
dp = 4,2961
A análise e comparação dos dados entre as médias dos
grupos controle e experimental na 2ª avaliação da CAF
(Gráfico I) pelo teste T-Student, encontrou-se t = 3,0291 e
p = 0,0052, evidenciando-se a hipótese alternativa (H1), ou
seja, para 28 graus de liberdade, existem diferenças
significativas entre os dois grupos, o que se confirma pelo
teste Wilcoxon, onde Z = 2,6168 e p = 0,0089. Neste caso,
como houve evidência de H1, testou-se as hipóteses Ho: xe
< xc e H1: xe > xc, pelo T-Student com t = 3,0291 e p =
0,0026, evidenciando-se a hipótese H1, ou seja, para 28
graus de liberdade, a média do grupo experimental foi
significativamente maior que a do grupo controle na 2ª
avaliação, o que confirma-se pelo Wilcoxon, onde Z = 2,6168
e p = 0,0044.
Discussão
A Capacidade de Alcance Funcional (CAF) é um
instrumento de avaliação do equilíbrio desenvolvido por
Duncan et al. [17] que se apresenta como um instrumento
capaz de avaliar o equilíbrio estático funcional de forma
“pura” já que é pouco influenciada pela endurance, pela
força e pela flexibilidade, sendo, portanto, bastante sensível
às alterações do equilíbrio que decorrem do envelhecimento.
O estudo de Duncan et al. [18] para a validação da CAF
incluiu 128 voluntários com idade entre 21 e 87 anos e
chegou às seguintes conclusões: a CAF tem boa correlação
(r = 0,71) com o exame da excursão do centro de pressão
(COPE) feito em laboratório, é um teste preciso (coeficiente
de variação = 2.5%) e tem estabilidade (coeficiente de
correlação intraclasse = 0,81). Os seguintes valores foram
determinados neste estudo: 20 – 40 anos, homens 42,4 cm
(± 4,82) e mulheres 37,08 cm (± 5,58); 41-69 anos, homens
37,84 cm (± 5,58) e mulheres 35,05 cm (± 5,58); 70 – 87
anos, homens 33,52 cm (± 4,06) e mulheres 26,67 cm
(± 8,89).
Outro estudo de Duncan et al. [17] incluiu uma amostra
de indivíduos com idade entre 70 e 104 anos, sendo que
indivíduos que possuíam patologias (neurológicas,
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ortopédicas/reumatológicas e vestibulares) não foram
excluídos e não houve associação entre o valor do alcance e
a década de vida, porém este e outros autores indicam o
uso deste teste também em idosos saudáveis para o cálculo
do risco de quedas. Weiner et al. [19] num estudo com idosos
entre 66 e 104 anos detectou a seguinte performance no
alcance funcional: variação entre 10,9 cm e 41,91cm, com
média em 27,6 cm e desvio padrão de 7,8.
Segundo Weiner et al. [20], a CAF é tão sensível a
alterações que pode, mesmo com um número pequeno de
indivíduos (n = 21), proporcionar resultados relevantes num
estudo prospectivo. Portanto, no presente trabalho pode-se
determinar que o valor de 29,06 cm (± 5,12] encontrado é
aquele que se espera observar em idosos com as mesmas
características do grupo estudado. Este valor está abaixo do
valor médio encontrado no estudo de Duncan et al. [18], o
que é explicado pelo fato de que, no estudo deste autor,
indivíduos mais jovens foram classificados junto aos
indivíduos pertencentes à sétima década. Já nos outros
estudos citados idosos com patologias não foram excluídos.
Pela classificação de Duncan et al. [17] indivíduos com
o valor de CAF encontrado neste estudo não seriam
classificados como pertencentes a grupo de risco de queda.
Para este autor, fazem parte do grupo de risco indivíduos
com valor de CAF até 25,0 cm.
A melhora da CAF no grupo experimental neste trabalho
foi da ordem de 15% o que representa um valor significativo
(p<0.05), conforme se observa na Tabela II e no Gráfico I.
Também existiram diferenças significativas (p < 0,05) entre
os resultados dos grupos experimental e controle na 2ª
avaliação, ou seja, pós-intervenção (Gráfico I), da ordem de
20%. Estes resultados coincidem com os de Rogers et al. [21]
que comprovaram em seu estudo com uma amostra composta
por doze indivíduos com idade entre 61 e 77 anos que
realizavam atividades físicas com superfície de suporte instável
(bolas), um incremento da CAF da ordem de 20,3%. Dennis
[22] também demonstrou que a CAF é responsiva a técnicas
que objetivem a melhora do equilíbrio postural. No presente
estudo pode-se afirmar que exercícios que estimulam a função
do sistema vestibular são capazes de promover a melhora da
CAF, ou seja, são capazes de promover a melhora do equilíbrio
estático funcional em idosos.
Conclusão
Apesar de, segundo a CAF, estes idosos não pertencerem
ao grupo de risco de sofrer quedas, os exercícios de
Cawthorne e Cooksey aplicados durante nove semanas,
numa frequência de três vezes por semana, durante 60
minutos, foram capazes de interferir no equilíbrio estático
funcional, promovendo sua melhora, em um grupo
experimental constituído por idosos entre 60 e 69 anos, do
sexo feminino, já que houve melhora significativa nos valores
da CAF.
artigo 06 - Angela Bersot.pmd
129
129
O grupo controle não apresentou diferenças significativas
entre os resultados das duas avaliações, feitas num intervalo
de nove semanas, segundo a CAF.
Comparando-se os grupos controle e experimental na 2ª
avaliação, conclui-se que este último apresentou melhoras
significativas em relação ao primeiro, de modo que resultados
similares aos do grupo experimental podem ser esperados
em outros grupos.
Pode-se determinar que o valor de 29,06 cm (± 5,12) é
o que se espera encontrar para a CAF em idosos com as
mesmas características do grupo estudado.
Os resultados e conclusões descritos confirmam as
expectativas de diversos autores [4, 11, 12, 13, 22] que
sugerem a melhora no equilíbrio com a aplicação de
exercícios de estimulação da função vestibular em idosos
saudáveis, uma vez que estes indivíduos realmente
apresentaram melhoras significativas.
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C
05/04/04, 18:35
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
131
Artigo original
Estudo da imagem e esquema corporal
de crianças portadoras de paralisia cerebral
do tipo tetraparética espástica
Study of body image and body scheme of
spastic tetra paretic children with cerebral palsy
Fernanda Ishida Corrêa, M.Sc.*, Tamine Teixeira da Costa**, Moisés Veloso Fernandes***
○
○
○
○
○
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○
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*Departamento de Fisioterapia da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, **Fisioterapeuta, ***Supervisor de estágio
de neurologia infantil da Universidade Nove de Julho - UNINOVE
Resumo
O objetivo desse trabalho foi avaliar a imagem corporal e esquema corporal das
crianças portadoras de paralisia cerebral (PC) do tipo tetraparética espástica do Setor
de neurologia infantil da UNIVAP, pela análise do desenho de si mesmas. Metodologia:
Foi pedido a cinco crianças com PC do tipo tetraparética espástica que fizessem um
desenho de si mesmas, e em seguida foi feita uma análise do desenho da figura humana,
baseado em F. Goodenoughi. Resultados: Conseguiu-se detectar prováveis distúrbios de
esquema corporal, tendo em vista que, todas as crianças testadas não apresentaram a
Imagem Corporal correspondente à idade cronológica adequada. Conclusão: As crianças
portadoras de paralisia cerebral do tipo tetraparética espástica do Setor de neurologia
infantil da UNIVAP apresentam alteração na sua imagem e esquema corporal, ou seja,
um atraso na relação da imagem que possuem de si mesmas.
Palavras-chave:
paralisia cerebral,
imagem corporal,
esquema corporal.
Abstract
The aim of this study was to assess the body image and body scheme of children
with cerebral tetraparetical palsy from the neurological service of UNIVAP, by analysis
of drawings of themselves. Methods: It was asked to five children to do drawings of
themselves which were analized, based on F. Goodenoughi analysis of body scheme.
Results: It was detected probable disturbs of body scheme, in view of that, all the tested
children had not presented the corresponding Corporal Image to the adjusted
chronological age. Conclusion: The children with cerebral Palsy present alteration in their
body image and scheme, or a delay in the relation of the same image that they possess
of themselves. This study may help to understand the body image and body scheme
integration research in children with cerebral palsy.
Key-words:
cerebral palsy,
body scheme,
body image.
Recebido em 27 de janeiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Fernanda Ishida Corrêa, Rua Professor Francisco Galvão freire, 163 São José dos Campos SP, Tel: (12) 3491086,
E-mail: [email protected]
artigo 07 - Fernanda.pmd
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132
Introdução
A paralisia cerebral (PC), ou encefalopatia crônica não
progressiva da infância, é uma das mais freqüentes patologias
causadas pela venerabilidade nervosa. São considerados
portadores de PC, aqueles pacientes que apresentam um
distúrbio do movimento e da postura, tais como paresias
(fraqueza muscular), hipercinesias (movimentos voluntários
anormais), incoordenações, etc [1].
É um distúrbio motor (tônus e postura) causado por
lesão não progressiva no sistema nervoso em desenvolvimento freqüentemente mutável e variável. Como a
patologia é de caráter não progressivo ou evolutivo, o seu
transtorno funcional irá se estruturar no tempo e a evolução
será determinada pelo momento em que o fator tóxico agiu
no sistema nervoso em formação. O comprometimento é
crônico, porque uma vez ocorrida a lesão a criança
apresentará o déficit para sempre. Esse déficit é devido ao
local da lesão e ao estágio de maturação (desenvolvimento,
em que a criança se encontra) [2,3,4].
Todas as crianças portadoras de PC apresentam, um
atraso no seu desenvolvimento motor; tem dificuldade para
formar sua base sensório-perceptivo-motora, que irá ampliar
o comprometimento do aprendizado motor. Essas crianças,
que têm uma disfunção motora, apresentarão limitações para
exploração do ambiente em que vivem, podendo acarretar
em um déficit na exploração sensorial. Conseqüentemente,
surgirão deficiências e lacunas nas áreas perceptivas e
cognitivas. Contudo, é possível apontar, que aparentemente
o déficit de percepção apresentado pela criança PC poderá
não ser orgânico, mas sim, desencadeado por falta de
experiência, logo isso poderá afetar o esquema corporal [5].
Os distúrbios de aprendizado motor, ou dispraxias,
apresentados pelos portadores de PC, podem ser oriundos
de: disfunção motora de percepção, déficit sensório motor,
distúrbio de desenvolvimento e de coordenação, problemas
de integração sensorial e sensório-motora, consciência e
controle corporal (déficit de esquema corporal) [3].
É pelo desenvolvimento da Imagem Corporal e da
integração do esquema corporal que a criança toma
consciência do próprio corpo e das possibilidades de
movimentos [6,7]. O esquema corporal é elemento crucial
para o desenvolvimento motor e transtornos nesse esquema
acarretarão em distúrbios sensórios motores importantes para
a criança [8].
Assim, sabendo da importância da imagem e esquema
corporal para o desenvolvimento psicomotor, este trabalho
visa identificar possíveis alterações da imagem e esquema
corporal da criança portadora de paralisia cerebral.
Material e Métodos
Os sujeitos que contribuíram, para esta pesquisa foram
5 crianças portadoras de PC tetraparéticas espásticas, com
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132
idade variando de 5 a 17 anos, todos pacientes do Setor de
Neurologia Infantil da UNIVAP. Todas as crianças analisadas
já fizeram tratamento fisioterapeûtico anterior e têm o
cognitivo preservado.
Foram utilizados os seguintes materiais para a aplicação
do teste: Folha de papel sulfite A4 para o desenho. Canetas
esferográficas nas cores - azul, verde (claro e escuro), rosa,
laranja, roxa, lápis preto. Prancheta. Questionário destinado
aos responsáveis, a respeito do desenvolvimento da criança,
termo de consentimento assinado pelos pais e responsáveis.
Gabarito do teste desenvolvido pelos autores da pesquisa,
baseado no teste de F. Goodenoughi. Os desenhos foram
feitos individualmente, todas foram posicionadas sentadas
no tablado, em posição de banco a 90º e as que não tinham
controle de tronco, foi dado um apoio pela terapeuta. A
prancheta ficou apoiada nas coxas das crianças e foi solicitado
que fizessem um desenho de si. Para a coleta dos desenhos
(realização dos desenhos), não foi determinado tempo. Após
a coleta dos desenhos, foi realizada a análise dos desenhos,
pela comparação entre os desenhos dos sujeitos testados com
o desenho estimado de uma criança sem comprometimento
neurológico (c.s.c.n.), com a idade cronológica correspondente.
Resultados
Figura 1 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 5 anos, (b) desenho do paciente
A, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 2 anos.
Desenho de uma
(c.s.c.n) de 5 anosfecha o tronco
Paciente A– 5 anos
c.s.c.n. de 2 anos nomeia as partes do
corpo, mas não as
coloca no desenho
Como podemos observar na figura 1, ao centro
encontra-se o desenho do paciente A, com idade cronológica
de 5 anos. Comparando ao desenho à esquerda que equivale
a uma c.s.c.n. com a idade de cinco anos, observa-se que a
criança apresenta atraso com relação ao seu esquema
corporal, pois o seu desenho equivale ao de uma criança de
dois anos, que está representado à direita, ou seja, nomeia
as partes do corpo, mas não as coloca no desenho.
Na figura 2 ao centro encontra-se o desenho do paciente
B, com idade cronológica de 8 anos, comparado ao desenho
à esquerda que equivale a uma criança normal com a idade
de 8/9 anos, mostra que a criança apresenta atraso com
relação ao seu esquema corporal, pois o seu desenho
equivale ao de uma criança de 2 anos, que está representado
à direita, ou seja, nomeia as partes do corpo, mas não as
coloca no desenho.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
Figura 2 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 8/9 anos, (b) desenho da
criança B, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 2 anos.
8/9 anos – coloca
detalhes: botões, laços,
bolsas, braços e mãos
com dimensões exatas
Paciente B
8 anos
2 anos nomeia as
partes do corpo,
mas não as coloca
no desenho
133
corporal, pois o seu desenho equivale ao de uma criança
de 1 ano, que está representado à direita, ou seja, apenas
traços grosseiros
Figura 5 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 9/10 anos, (b) desenho do
paciente E (c) desenho de uma c.s.c.n. de 8 anos.
9/10 anos em
diante – figuras
de perfil
Paciente E – 17 anos
8 anos – coloca
detalhe:botões,
laços, bolsas, braços
e mãos com
dimensões exatas
Figura 3 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 9/10 anos, (b) desenho do
paciente C, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 2 anos.
9/10 anos em
diante – figuras
Paciente C - 14 anos
5 anos – fecha
o tronco
Observa-se na figura 3, ao centro o desenho do paciente
C, com idade cronológica de 14 anos, comparado ao
desenho à esquerda, que equivale à uma c.s.c.n. com a idade
de 9/10 anos em diante, verifica-se que a criança apresenta
atraso com relação ao seu esquema corporal, pois o seu
desenho equivale ao de uma criança de 5 anos, que está
representado à direita.
Figura 4 – (a) o desenho de uma c.s.c.n. de 9/10 anos, (b) desenho do
paciente D, (c) desenho de uma c.s.c.n. de 1 ano.
9/10 anos
Paciente D – 15 anos
em diante –
figuras de perfil
1 ano – apenas
traços grosseiros
já deveria
desenhar alguns
círculos, mas
apenas faz traços
grosseiros.
Como podemos observar na figura 4, ao centro
encontra-se o desenho do paciente D, com idade cronológica
de 15 anos, comparado ao desenho à esquerda que equivale
a uma c.s.c.n. com a idade de 9/10 anos. Essa análise retrata
que a criança apresenta atraso com relação ao seu esquema
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133
A figura 5 tem ao centro o desenho do paciente E, com
idade cronológica de 17 anos, comparado ao desenho à
esquerda, que equivale a uma c.s.c.n. com a idade de 9/10
anos. A figura mostra que a criança apresenta atraso com
relação ao seu esquema corporal, pois o seu desenho
equivale ao de uma criança de 8 anos, que está representado
à direita, ou seja, 8 anos coloca detalhe: botões, laços, bolsas,
braços e mãos com dimensões exatas.
Discussão
Os distúrbios psicomotores (distúrbios motores,
problemas de coordenação motora, equilíbrio, lateralidade,
orientação espacial) são agravados quando está presente o
distúrbio do esquema corporal, por isso, da importância de
se enfatizar exercícios de reeducação psicomotora referentes
à estimulação da integração do esquema corporal. Toda função
do sistema nervoso central (SNC) tem seu circuito de controle
durante todas as fases do desenvolvimento neuropsicomotor
(DNPM). Essas funções são preservadas pela experiência
sensorial, desde a lactância, e são possibilitadas pela repetição,
que leva ao aprendizado dos padrões habituais de ativação
muscular [9].
É necessário focalizar a atenção em itens específicos
devido à omissão ou ao exagero que podem estar presentes
nos desenhos das crianças, como a timidez, que é
caracterizada quando a criança desenha uma figura sem
braços e mãos; a ausência dos braços também pode significar
passividade ou imaturidade intelectual; pés pequenos são
interpretados como expressão de insegurança; mãos
escondidas podem ser expressão de sentimento de culpa;
sombra excessiva pode indicar ansiedade; o uso do grotesco,
figuras desarticuladas são características freqüentes nos
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desenhos de crianças com desordens emocionais sérias [10].
Assim algumas destas características puderam ser
observadas em alguns desenhos, como na figura 1, onde se
pôde observar um atraso da imagem que a criança tem de si
mesma, pois com 5 anos a criança é capaz de já desenhar
uma bola entre a cabeça e as pernas (tronco), um nariz e uma
boca. O membro superior aparece depois, desligado com
dificuldades da cabeça. Cresce o interesse pelo umbigo e o
tronco é adicionado. As extremidades já não saem mais da
cabeça, mas se localizam nas regiões superiores e inferiores
(tronco) abaixo da cabeça grande. Algumas crianças
representam o tronco através de uma linha [6]. Além disso,
observa-se, a presença do grotesco e a figura desconjuntada,
que segundo [10], são características freqüentes nos desenhos
de crianças com desordens emocionais sérias, as linhas fracas
e quebradas, sugerem insegurança.
Na figura 2, observou-se um atraso da imagem que a
criança tem de si mesma, pois com 8 anos a criança é capaz
de já desenhar duplo contorno dos membros e indicações
diferenciais (traje). O corpo é figurado nas transparências das
roupas; aparece o traço bi-linear, indicando volume. As
crianças ainda misturam o desenho do perfil com o rosto de
frente. Muitas vezes percebemos nos desenhos de perfil: dois
olhos, dois narizes. A diferenciação sexual pode aparecer em
desenhos de crianças de 8 a 10 anos. A habilidade de desenhar
uma disfunção física no desenho de si mesmo, só é possível
em crianças de 7 a 8 anos [6]. Nota-se também que a figura
é desconjuntada, o que pode caracterizar distúrbio emocional,
desenho restrito a uma só área pode sugerir insegurança e
também não há a transposição dos membros, rosto, podendo
caracterizar imaturidade intelectual [10].
Na figura 3, só foi possível comparar o desenho ao de
uma criança de 10 anos, pois não foi encontrado na literatura
o desenho que correspondesse à idade de 14 anos, e mesmo
assim, pôde-se observar um atraso da imagem que a criança
tem de si mesma, pois com 10 anos [10] diz que a criança já
é capaz de desenhar duplo contorno dos membros e
indicações diferenciais (traje), diferenciação sexual, habilidade
de desenhar uma disfunção física no desenho de si mesmo,
pescoço, e o segundo olho desaparece do perfil.
Na figura 4 pôde-se observar um atraso da imagem que
o paciente tem de si mesmo, pois com 15 anos, o paciente
apenas nomeia as partes do corpo, mas não os coloca no
papel. Não apresenta características de desenhos de um
adolescente.
Na figura 5, observa-se a ausência dos braços, podendo
indicar imaturidade intelectual. Nota-se que o desenho está
restrito a uma só área e segundo [10] pode sugerir
insegurança, e ainda a presença de linhas fortes podem
indicar hipertonia.
Na análise geral, 100% das crianças PC testadas, tem
ausência de pelo menos um dos membros nos seus desenhos,
o que nos leva a acreditar, que essas crianças tenham
distúrbio no esquema corporal, ou seja, uma Somatognosia
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134
ou autopagnosia, que segundo [11] demonstra a falta de
conhecimento do próprio corpo e essa falta de conhecimento
dos segmentos corporais, impede que as crianças
transponham o membro no papel. Essas crianças apresentam
somatognosia, ou uma dispraxia das realizações motoras,
pela ausência dos membros nos seus desenhos.
Provavelmente as crianças têm dificuldades em executar
tarefas propostas pelos terapeutas que exijam diferenciação
das partes do corpo e podem ser incapazes de reproduzir
os movimentos do terapeuta.
A representação corporal é prejudicada nos dispráxicos.
Há a desadaptação da estrutura dos movimentos a dos
objetos, ou distúrbios do agenciamento dos movimentos em
sua relação com o próprio corpo [12].
Propõe-se que nas terapias, sejam realizados exercícios
sensório- motores para que esses déficits, no caso a
somatognosia ou dispraxia das realizações motoras, sejam
supridas e assim as crianças possam tomar consciência de
seu corpo e favorecer o aprendizado motor.
Aprender significa usar sinapses normalmente não usadas,
ou seja, o uso maior ou menor de sinapses é o que condiciona
uma aprendizagem no sentido neurológico. Deste modo, o
fisioterapeuta ou o educador físico estará ajudando a criança
a diferenciar seu sistema nervoso ampliando seu número
de sinapses, conseqüentemente, facilitando o aprendizado
motor [6].
O desenvolvimento da criança se dá por meio de
processos de aprendizagem da linguagem, conhecimento do
seu próprio corpo, e como se relacionar com o meio ambiente.
De acordo com as etapas do campo gnósico, no campo
práxico, a criança aprende a manusear o objeto, aprende a
utilizar seu próprio corpo, e aprende a ter controle do espaço,
para realizar suas atividades, respectivamente [13].
A psicomotricidade trabalha com exercícios de
flexibilidade, de fortalecimento, de equilíbrio, de agilidade,
com o objetivo de ajudar a criança a perceber melhor o seu
corpo, conseqüentemente a dominar seu movimento [14].
A reeducação psicomotora é uma ação pedagógica e
psicológica, utilizando meios da educação física, com o
objetivo de normalizar ou melhorar o comportamento da
criança [15]. A educação física educa por exercícios. Admitese que se possa aplicar essa definição à fisioterapia neurológica
infantil. A maioria das sessões é realizada por meio de técnicas
excelentes compostas por exercícios motores [7].
Sugere-se que sejam implantados os exercícios lúdicos
no decorrer dessas sessões, e não apenas aplicar a psicomotricidade, mas sim, implementar as terapias com exercícios
de reeducação psicomotora.
A amostra da pesquisa de cinco pacientes não permite
uma análise profunda a respeito do tema imagem corporal.
Entretanto, esse estudo permite futuramente acrescentar
e colaborar um pouco mais na pesquisa da imagem corporal
e a integração do esquema corporal das crianças portadoras
de PC.
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A falta de atualização do fisioterapeuta quanto a imagem
corporal dos pacientes, talvez possa aumentar ainda mais a
distância entre o que o terapeuta deseja e o que o paciente
imagina oferecer, ou seja, nos exercícios propostos pelo
terapeuta e as execuções e respostas dadas pelo paciente.Cada
profissional poderia adotar em uma avaliação inicial um
parâmetro para estabelecer a atual imagem corporal dos
pacientes, como o exemplo aqui sugerido, pois os desenhos
favorecem avaliação rápida e é um recurso que permite
comparação de amostras futuras, para mensurar a evolução
do tratamento referente à integração do esquema corporal.
Além disso, podemos direcionar o tratamento, antes
de elaborá-lo.
Conclusão
Baseado nos resultados obtidos no presente trabalho
obteve-se as seguintes conclusões:
• As 5 crianças portadoras de paralisia cerebral do tipo
tetraparética espástica do setor de neurologia infantil da UNIVAP
apresentam alteração na sua imagem e esquema corporal, ou
seja, um atraso na relação da Imagem de si mesmo.
• Adotando um parâmetro para estabelecer a atual
imagem corporal dos pacientes em uma avaliação inicial,
favorece o diagnóstico precoce dos distúrbios do esquema
corporal e possibilita direcionar o tratamento pela reeducação
psicomotora. Talvez seja possível minimizar o déficit de
integração da imagem corporal dessas crianças, favorecendo
um melhor aprendizado motor. E para isso é necessária a
continuação da pesquisa.
artigo 07 - Fernanda.pmd
135
135
Referências
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C
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136
Artigo original
Estudo do equilíbrio estático de idosos e sua correlação
com quedas
Study of elderly static balance and its correlation with falls
Mário Antônio Baraúna, D.Sc.*, Suzi Rosa Miziara Barbosa, M.Sc.**, Roberto Sérgio Tavares Canto, D.Sc.***,
Ruiz Angelo Ventura da Silva****, Cristiano Diniz Campelo Silva****, Karla Maria Pereira Baraúna****
○
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*Fisioterapeuta, Centro Universitário do Triângulo, UNITMG, **Fisioterapeuta, docente da UNIDERP, Centro Universitário do
Triângulo, UNITMG, ***Médico, pós-doutorado em Traumatologia, Centro Universitário do Triângulo, UNITMG, ****Fisioterapeuta,
Centro Universitário do Triângulo, UNITMG
Resumo
Os objetivos desse estudo foram a quantificação das oscilações corporais em idosos,
nos planos sagital e frontal através do teste de Romberg adaptado utilizando-se como
instrumento a biofotogrametria computadorizada, bem como a verificação de correlação
entre as oscilações do equilíbrio estático com as quedas. Foram captadas imagens das
oscilações em ambos os planos, de 68 indivíduos do sexo feminino, na faixa etária
compreendida entre 65 e 84 anos. Posteriormente, as imagens foram selecionadas e
quantificadas pelo aplicativo ALCimage® 2.1. Os resultados exibiram oscilações do
corpo no plano frontal de 8,87 ± 5,51 para o lado direito e de 10,81 ± 5,61 para o lado
esquerdo, sendo comprovado maior tendência do corpo a cair para esse lado. No plano
sagital as oscilações posteriores foram de 12,42 ± 7,07 e as anteriores 19,00 ± 9,58,
confirmando a maior tendência do corpo a cair para frente.
Palavras-chave:
equilíbrio, queda, idoso.
Abstract
The aims of this study were to quantify the corporal swing in elderly, in the sagittal
and frontal plane through the Romberg test that was adapted using as instrument the
computerized biophotogrammetry, as well as the correlation verification among the
swing of the static postural balance with the falls. Images of the oscillations were
captured in both plans of 68 individuals of the feminine gender, with the age ranging
from 65 to 84 years. After that, the images were selected and quantified by the software
ALCimage® 2.1. The results exhibited oscillations of the body in the frontal plane 8,87
± 5,51 to the right side and 10,81 ± 5,61 to the left side. In the sagittal plane the
anterior oscillations (19,00 ± 9,58) and the posterior ones (12,42 ± 7, 07), confirming
the tendency of the body drop to front.
Key-words :
balance, fall, elderly.
Recebido 5 de janeiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Secretaria da Pós-Graduação/UNITMG, Av. Nicomedes Alves dos Santos, 4545 – Bloco E – B, Gávea 38411-106
Uberlândia MG, E-mail: baraú[email protected]
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Introdução
Apesar da divergência de opiniões a respeito, o
envelhecimento é considerado um fenômeno natural,
progressivo, não uniforme variando de indivíduo para
indivíduo, estando na dependência de alguns fatores como
hábito de vida e herança genética [1,2]. Este promove uma
série de alterações no ser humano, envolvendo aspectos
psicológicos, fisiológicos e patológicos [3]. O processo de
envelhecimento fisiológico do cérebro é lento, gradual e não
incapacitante na maioria dos idosos, levando à diminuição
das reservas funcionais do organismo em todos os aparelhos
e sistemas do corpo (muscular, ósseo, nervoso, circulatório,
pulmonar, endócrino e imunológico) [4]. O declínio destes é
principalmente devido à perda normal e gradual de células,
sendo o déficit neurofuncional devido ao fato do tecido
nervoso (elementos neuronais) não dispor de capacidade
reparadora, ou atividade reprodutora, estando então sujeitas
aos agentes moleculares do envelhecimento [4,5].
Independente de qualquer alteração sofrida, este processo
se dá de forma continuada, alterando várias funções
corpóreas, sendo uma das mais comprometidas a capacidade
do homem manter-se em pé em equilíbrio na posição
ortostática [1]. Este fato justifica-se devido não ser este um
evento estático, mas sim dinâmico, onde o corpo realiza
movimentos corporais involuntários – oscilações posturais
– mesmo quando se tenta mantê-lo parado. Dessa forma os
mecanismos neuromusculares corretivos devem estar íntegros,
para que as respostas tanto estáticas quanto dinâmicas sejam
eficientes, preservando assim o equilíbrio [6].
Entretanto, o sistema de controle postural é bastante
complexo, envolvendo a recepção de informações sensoriais
dos sistemas vestibular, visual e proprioceptivo por via
aferente, sendo estas decodificadas no Sistema Nervoso
Central (SNC) onde são feitas alterações necessárias para
manutenção do equilíbrio. A seguir são emitidas respostas,
sendo estas conduzidas por via eferente promovendo a
ativação dos músculos antigravitacionais, que são os
responsáveis pela manutenção do controle do equilíbrio
corporal [1,4,7].
Com o avanço da idade e a deterioração ocorrida nos
diversos sistemas, as habilidades de controle postural são
alteradas, gerando anormalidades na marcha e instabilidades
posturais [3,8,9]. Estas interferências são justificadas pelo
decréscimo na velocidade de condução das informações,
bem como no processamento de respostas, que, por serem
lentas e inadequadas geram situações de instabilidade,
colocando em risco a habilidade de mover-se com segurança,
aumentando a predisposição a queda [10, 11].
Esta tem sido definida como um evento não esperado,
no qual a pessoa cai ao chão de um mesmo nível ou de um
nível superior [11]. Decorre da perda total do equilíbrio
postural, relacionando-se à insuficiência súbita dos
mecanismos neurais e osteoarticulares envolvidos na
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137
137
manutenção da postura, sendo essas insuficiências resultantes
de alterações no processo de senescência e senilidade [10].
Vem sendo considerada como um dos mais importantes
fatores de mudança na vida do idoso em virtude das
restrições que esta pode imputar, variando desde escoriações
leves, restrições na mobilidade, limitações nas atividades da
vida diária (AVD’s), perda da independência funcional, até
o isolamento social provocando diminuição na qualidade
de vida do idoso. Também devido aos altos custos sociais
com institucionalizações e o aumento nos índices de
mortalidade e morbidade [11-13]. Sua incidência aumenta
exponencialmente com a idade e sua prevalência é sobre o
sexo feminino [2,10,12,14].
A natureza multifatorial do problema sinaliza a
dificuldade da identificação do idoso com tendência a queda,
tornando difícil a intervenção ante a ocorrência do evento.
Entretanto, a identificação das causas e de pessoas com
tendência à queda, é tão importante quanto o tratamento
de suas conseqüências [1,11,12]. Em decorrência desse fato,
observa-se em revisão de literatura, inúmeros testes
específicos e métodos tanto qualitativos quanto
quantitativos, desenvolvidos a fim de se identificar as causas
das instabilidades, avaliar o controle postural, mensurar o
equilíbrio e a mobilidade dos idosos [9,15] na tentativa de
se estabelecer o perfil e/ou parâmetros, que possam ajudar
nessa identificação [10,12,16].
Os métodos qualitativos, apesar seu grau de efetividade
possuem pouca confiabilidade quando comparados aos
quantitativos. Já os quantitativos, apesar dos altos custos de
material e pessoal, têm como suporte a simulação numérica,
que embora conjugada à experimentação tradicional,
assumem um papel fundamental quando interpretação e
confiabilidade dos resultados, devido ao registro de dados
extremamente precisos e impossíveis de serem percebidos
ou registrados de outra forma [17-19].
Sendo assim, a identificação dos mecanismos causadores
de padrões patológicos bem como a quantificação do
afastamento da normalidade são passíveis de serem
avaliados, pautados na precisão e confiabilidade dos dados
obtidos. Dessa forma é possível planejar, direcionar
terapeuticamente e desenvolver um programa de tratamento
possibilitando o sucesso da reabilitação. Esta se apresenta
como uma oportunidade ímpar para a redução dos altos
custos com a saúde, taxas de mortalidade e melhoria da
qualidade de vida da população idosa [13,14,16].
Material e Métodos
Para verificar a correlação entre as oscilações do corpo
em equilíbrio estático com a ocorrência de quedas, foi
desenvolvido um protocolo de estudo que utiliza o sistema
biofotogramétrico computadorizado como instrumento
quantificador angular do desvio da linha de equilíbrio, sendo
aplicado o Teste de Romberg.
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Foram estudados 68 indivíduos do sexo feminino, destras,
na faixa etária compreendida entre 65 e 84 anos, não
institucionalizadas, residentes na cidade de Campo Grande/
MS. Os procedimentos desenvolvidos e executados nesse
estudo foram aprovados pela Comissão de Ética na Pesquisa
em Humanos do Centro Universitário do Triângulo (UNIT).
Os critérios para a seleção dos indivíduos foram préestabelecidos em um protocolo de inclusão, sendo excluídos
os indivíduos que apresentassem restrições neurológicas e/
ou físicas; fossem portadores de qualquer tipo de
comprometimento à sua permanência na posição ortostática;
fizessem uso de órteses para membro inferior ou que
tivessem sofrido fraturas, com ou sem implante metálico,
nos membros inferiores.
Posteriormente, em entrevista, foram colhidos dados
pessoais, antropométricos, sendo calculado a seguir o índice
de massa corpórea (IMC). Também foram colhidas
informações a respeito das variáveis relevantes no processo
de predisposição à queda, tais como uso e quantidade de
medicação (M) ingerida/dia e prática de atividade física (AF).
Para que fosse possível observar as oscilações corporais
nos planos sagital e frontal na etapa da fotointerpretação
das imagens, foi confeccionado um capacete de PVC
possuindo duas antenas reguláveis, sendo este acoplado à
cabeça do voluntário. As antenas do capacete foram
posicionadas de forma a coincidirem com pontos anatômicos
pré-estabelecidos.
Foram utilizados dois quadros posturométricos fixados
na parede atrás e na lateral esquerda do indivíduo. Dois fios
de prumo foram presos ao teto a uma distância de 10 cm da
parede na mesma disposição dos quadros posturométricos,
coincidindo com a linha central destes, sendo alinhados
juntamente com as antenas do capacete de forma a estarem
em 0º para o início da aquisição das imagens.
As imagens colhidas foram registradas e armazenadas
em fitas de vídeo cassete, sendo a seguir exportadas para
um videocassete acoplado a um computador dotado de uma
placa de aquisição de imagens. A seguir selecionamos a
imagem que traduzisse o grau de oscilação corporal mais
acentuado sendo demarcados três pontos seqüenciais sobre
a mesma, sendo que o ângulo formado quantificado pelo
aplicativo o ALCimage 2.1®.
Figura 1 – Digitalização das imagens.
Para a análise estatística, foi aplicado o método nãoparamétrico do Coeficiente de Correlação por Postos de
Spearman (rs), tendo o nível de significância estabelecido
em 5% (p < 0,05) para uma prova bilateral.
Resultados
Participaram desse estudo 68 voluntárias do sexo
feminino com idade média de 73,59 ± 5,60 anos; estatura
de 1,53 ± 0,05 cm; peso de 63,99 ± 10,80 kg e IMC de
27,31 ± 4,06.
Em relação à ocorrência e ao número de quedas os
resultados encontram-se demonstrados nas tabelas I e II.
Tabela I - Resultados obtidos em ocorrência de quedas. Quedas
Sim
Não
Total
N = número de indivíduos
n
43
25
68
%
32
68
100
Tabela II - Valores obtidos em relação a relação ao número de quedas
da população.
Número de quedas
1
2
3
4
Total
n
20
19
3
1
43
%
46,5
44,2
7
2,3
100
Fotointerpretação angular
As oscilações corporais, observadas no plano frontal,
foram quantificadas pelo aplicativo ALCimage® 2.1, através
de desvios do corpo a partir da linha média para os lados
direito e esquerdo (Tabela III).
Tabela III - Exposição da média, desvio padrão e mediana da quantificação
das oscilações corporais registradas pela câmera anterior para os lados direito
e esquerdo do corpo.
Câmera lateral
Ângulo anterior
Ângulo posterior
Média
19
12,42
Desvio-padrão
9,58
7,07
Mediana
18,44
10,75
Os dados angulares referentes às oscilações corporais
dos indivíduos da amostra no sentido antero-posterior
também foram avaliados pela biofotogrametria
computadorizada e os valores obtidos estão registrados na
Tabela IV.
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Tabela IV - Exposição da média, desvio padrão e mediana da
quantificação das oscilações corporais anteriores e posteriores registradas
pela câmera lateral.
Câmera Anterior
Ângulo anterior
Ângulo posterior
Média
8,87
10,81
Desvio-padrão
5,51
5,61
Mediana
7,65
9,21
Comparação idade e as demais variáveis
A fim de verificarmos a existência de correlação entre a
idade dos voluntários e as demais variáveis investigadas
(queda, IMC, ângulos para direita (AD) e esquerda (AE),
anterior (AA) e posterior (AP), elaborou-se a tabela V para
ilustrar os resultados obtidos).
Tabela V - Correlação entre a variável idade e demais variáveis, queda,
IMC, ângulos para direita/esquerda, anterior e posterior.
1
2
3
4
5
6
Idade
Idade
Idade
Idade
Idade
Idade
Idade
Variáveis
Queda
IMC
AD
AE
AA
AP
rs
0,1484
-0,2635
0,1896
0,2095
0,0561
0,2367
p
0,227
0,030*
0,187
0,118
0,657
0,113
rs = Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman.;
p = nível de significância (*) significante em nível de 0,05;
IMC = índice de Massa Corpórea; AD = ângulo para direita;
AE = ângulo para esquerda; AA = ângulo anterior;
AP = ângulo posterior.
Ao analisarmos a tabela acima, verificamos a existência
de correlação significativa somente entre idade e IMC.
Observamos ainda não haver correlação significativa entre
a idade e as demais variáveis, uma vez que todas as
probabilidades associadas aos valores do nível de significância
(p) foram superiores a 0,05.
Comparações entre quedas e demais variáveis
Para verificarmos a possível correlação entre as quedas
relatadas e as variáveis investigadas, confeccionam a
Tabela VI.
Tabela VI - Correlação entre variável queda e os ângulos de oscilação
corporais nos planos frontal e sagital.
Oscilações
rs
p
corporais
1
Queda
AD
0,2257
0,115
2
Queda
AE
0,3677
0,005*
3
Queda
AA
0,383
0,002*
4
Queda
AP
0,0311
0,837
rs = Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman.;
p = nível de significância (*) significante em nível de 0,05;
AD = ângulo para direita; AE = ângulo para esquerda;
AA = ângulo anterior; AP = ângulo posterior.
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Quedas
139
139
Os resultados, ilustrados na tabela acima, demonstram
haver correlações estatisticamente significante nos itens 2 e
3. Esses resultados indicam existir correlação positiva entre
as quedas e as oscilações corporais nos planos sagital e frontal.
Discussão
O presente trabalho avaliou o grau das oscilações
corporais de idosos nos planos sagital e frontal e sua
correlação com quedas, utilizando com método de análise a
biofotogrametria computadorizada.
A eleição da faixa etária da população investigada
baseou-se em estudos da literatura [1,7,9,11], que relatam
sobre a coincidência entre o avanço da idade e o declínio
da integridade dos vários sistemas fisiológicos que
participam do controle e dos ajustes posturais, acentuando
a tendência à queda. Apesar dos relatos literários, ao
correlacionarmos essa variável com a ocorrência de queda,
nossos resultados não foram estatisticamente significantes,
podendo ser este justificado em função do número de
amostra de nosso experimento ser menor do que a dos
estudos citados anteriormente, devendo este dado ser
investigado posteriormente.
Em relação ao IMC, ao correlacionarmos este com a
variável idade, nossos dados foram estatisticamente
significantes, corroborando com os de Buchowski e Ming
[20] ao relatarem que com o processo de envelhecimento
os indivíduos tendem a um aumento de massa magra.
Em nosso experimento ao correlacionamos idade com
AD; AE; AA e AP, nossos resultados não foram
estatisticamente significantes. Também não foram
encontrados na literatura, até a presente data, trabalhos que
tenham investigado essa correlação e que tenham utilizado
instrumento igual ao nosso.
A eleição do teste de Romberg para a avaliação do
equilíbrio em nosso experimento pautou-se na praticidade e
na aceitação de seus resultados na prática clínica. Entretanto,
este é considerado suficiente apenas para a qualificação do
equilíbrio em bom ou ruim, pois se baseia na observação
não sistematizada, na visão clínica e na experiência do
profissional. O teste não nos permite a reprodução fidedigna
por outro avaliador como também a realização de
comparações durante o tratamento, tornando-o um
instrumento de medida frágil e muito susceptível ao erro
[17]. Neste experimento, estabelecemos um modelo
adaptando o teste de Romberg ao sistema biofotogramétrico
computadorizado, devido à alta precisão de resultados,
reprodutibilidade metodológica e secundariamente à
viabilidade econômica, quando comparado aos instrumentos
tradicionalmente utilizados, que embora precisos, a falta de
operacionalidade e os altos custos inviabilizam a aplicação
prática no cotidiano clínico. Em relação aos instrumentos
de avaliação das oscilações corporais encontrados na
literatura alguns observaram as oscilações em somente um
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140
plano do corpo, antero/posterior (AP) ou médio/lateral
(ML), outros observaram em dois planos [7,8,17,18,19].
Em nosso experimento, optamos pela observação em dois
planos, pois as informações obtidas nos garantem maior
precisão nos resultados [17,21].
Ao mensurarmos os graus de oscilação corporal no
plano sagital (sentido A/P) e correlacionarmos com a
ocorrência de quedas, pudemos constatar que as oscilações
corporais anteriores foram superiores e estatisticamente
significantes quando comparadas às posteriores,
demonstrando uma maior tendência de o corpo cair para
frente. Os referidos dados, corroboram com alguns estudos
da literatura que se utilizaram instrumentos iguais aos
nossos [22,23] e também plataformas de força [7,8]. Esse
resultado pode ser justificado devido ao fato de que para
iniciarmos um movimento, o corpo é projetado para frente,
projetando o centro da massa para fora da base de suporte,
podendo ocorrer perda da percepção dos limites de
estabilidade que, associada à falha nas reações de
retificação e endireitamento do corpo leva este ao
desequilibro tendendo a queda [1,8].
Analisando comparativamente os graus de oscilações
corporais no plano frontal (para os lados direito e
esquerdo) e correlacionando-os com a ocorrência de
quedas, nossos resultados apresentaram-se altamente
significantes para o lado esquerdo, demonstrando haver
uma maior tendência à queda do corpo para o lado
esquerdo. Esses resultados corroboram com estudos
literários [17], podendo também este ser justificado em
função de serem as voluntárias deste experimento destras,
demonstrando que a incidência de queda para o lado não
dominante do corpo.
Em função dos resultados observados, entendemos que
para a verificação da tendência do corpo a queda, as
mensurações das oscilações corporais, deve ser realizada
em mais de um plano do corpo devido ao fato de que um
maior número de informações adquiridas, passa a ser
conclusivo quando da detecção do evento. Observamos
ainda que, o aspecto quantitativo imprimido pela
biofotogrametria computadorizada, vem a somar no amplo
espectro das variáveis subjetivas tradicionalmente
investigadas, passando este a ser conclusivo na detecção
do evento.
Conclusão
Podemos concluir mediante os resultados obtidos nas
condições experimentais do presente estudo, que o sistema
de imagens (biofotogrametria computadorizada), pode ser
utilizado para a quantificação das oscilações corporais nos
planos sagital e frontal do corpo, mostrando-se eficaz e
preciso. Concluímos ainda que o corpo apresenta maior
tendência à queda no sentido anterior (plano sagital) e no
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140
sentido da lateral esquerda do corpo (plano frontal). As
quantificações das oscilações corporais devem ser
investigadas na prática clínica sendo estas passíveis de serem
utilizadas na identificação do idoso com tendência à queda,
para que seja possível intervir na prevenção de recidivas ou
ante a ocorrência do evento.
Agradecimentos
À Universidade para o Desenvolvimento do Estado e
da Região do Pantanal –UNIDERP - (Campo Grande/ MS)
pelo incentivo científico e financeiro.
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C
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142
Revisão
Análise comparativa de dados clínicos do lúpus
eritematoso sistêmico e abordagem fisioterapêutica
Comparative analysis of clinical data in systemic lupus
erythematosus and physical therapy approach.
Emília Cardoso Martinez*, Glauber Alvarenga Peroba*, Rodrigo Renato da Silva**
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*Acadêmico de fisioterapia da UNIBAN, **Professor adjunto da disciplina de fisioterapia aplicada a reumatologia da UNIBAN,
Professor de eletroterapia UNIBAN/UNIABC
Palavras-chave:
lúpus eritematoso sistêmico.
Key-words :
systemic lupus erythematosus.
Resumo
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença crônica, multissistêmica, de
etiologia desconhecida, que se apresenta com um amplo espectro de manifestações
clínicas caracterizadas por exacerbações e remissões. Mostra-se uma patologia
extremamente variada em sua forma de apresentação clínica combinando diferentes
formas de lesões orgânicas, as quais vão desde um inocente rash cutâneo até uma
doença grave e potencialmente fatal, envolvendo rins, sistema nervoso central.
Considerando a prevalência alarmante das artrites e artralgias no LES, torna-se primordial
uma apreciação diagnóstica e terapêutica mais completa, por parte dos fisioterapeutas
considerando não somente sintomas relacionados ao sistema músculo-esquelético, mas
também a órgãos essenciais como fígado, rins, coração e sobretudo ao grande fato
destes pacientes apresentarem doenças vasculares encefálicas corriqueiramente.
Abstract
The systemic lupus erythematosus (SLE) is a chronic, multissystemic illness, of
unknown etiology, and that it is presented with an ample spectre of clinical manifestations
characterized by attacks and remissions. An extremely varied pathology in its clinical
presentation reveals different forms of organic injuries, which go since a cutaneous
rash until a serious and potentially fatal illness, involving kidneys, central nervous system.
Considering the alarming prevalence of arthritis in the SLE, a more complete diagnostic
and therapeutical appreciation be comes essential, on the part of the physical therapists,
considering not only symptoms related to the muscle skeletal system, but also organs as
liver, kidneys, heart and over all to the great risk for these patients to present encephalic
vascular illnesses.
Recebido 21 de agosto de 2003;corrigido 15 de novembro de 2003; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Emília Cardoso Martinez, Rua Dom Teodósio, 54 Tremembé 02357-020 São Paulo SP,
E-mail: [email protected]
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143
Introdução
Manifestações clínicas
O tema deste trabalho está direcionado para o Lúpus
Eritematoso Sistêmico (LES) com o objetivo principal de
estudar manifestações clínicas, expor as possíveis
combinações sintomáticas e salientar a importância de
avaliações minuciosas em todos os pacientes, por mais simples
que se apresentem os casos.
No LES, o sistema músculo esquelético, em até 90%
dos casos, sofre alguma espécie de acometimento. As artrites
e artralgias no LES são caracterizadas por dor suave e
quase nenhuma evidência de sinovite, raramente ocorre
deformação severa das mãos e dos pés com subluxações
não-erosivas múltiplas, distenção de cápsula articular
e tendões.
As doenças cárdio e cérebro-vasculares têm sido
reconhecidas como as principais causas de morbidade e
mortalidade em pacientes com LES. Clinicamente, a doença
cardíaca isquêmica é relatada em 6% a 17% dos pacientes e
acidentes cérebro-vasculares em 3% a 15% dos casos [1].
A proposta deste estudo é fazer uma coleta de dados
por meio da história clínica de pacientes com LES, discutir
a associação de sintomas e sua importância para a abordagem
de um tratamento fisioterapêutico complementar, estando
atento a uma gama de acometimentos e não somente se
apegar ao sistema músculo esquelético, tendo como objetivo
discutir as manifestações lúpicas durante o processo de
reabilitação e correlacioná-las com abordagem fisioterapêutica.
Sinais e sintomas gerais ocorrem em qualquer fase da
doença em 53% a 77% dos casos, caracterizados por
adinamia, fadiga, perda de peso, falta de apetite, febre,
poliadenopatias, mialgias, artralgias, entre outros.
Cerca de 90% dos pacientes com LES eventualmente
têm algum tipo de manifestação cutânea que pode ou não
ser específica da doença.
Segundo Moreira e Carvalho, 1998 o envolvimento
renal é um dos principais determinantes da morbidade e
mortalidade no LES. As manifestações renais do LES são
altamente variáveis na sua apresentação clínica, podendo
variar desde uma proteinúria leve até uma glomerulonefrite
rapidamente progressiva, causando insuficiência renal dentro
de algumas semanas.
As doenças cárdio-vasculares têm sido reconhecidas
como as principais causas de morbidade e mortalidade em
pacientes com LES. Clinicamente, a doença cardíaca isquêmica
é relatada em 6% a 17% dos pacientes [1]
Pacientes com LES apresentam alto risco para o
desenvolvimento ou aceleração de doença aterosclerótica e
hipertensão arterial. Isso está diretamente ligado tanto a
efeitos diretos da doença como a efeitos colaterais do
tratamento. O envolvimento do endocárdio ocorre quando
vegetações estéreis são encontradas nas superfícies
valvulares (endocardite de Libman-Sacks), havendo, ao
exame clinico, o achado de sopros principalmente em
válvulas mitral e aórtica.
O pulmão é um órgão freqüentemente envolvido no
lúpus. Derrame pleural ocorre em cerca de 20% a 30%,
podendo ser a manifestação inicial em 2% a 3% dos casos
As manifestações neurológicas que podem ser
encontradas são de difícil diagnóstico, compreendendo
disfunção cognitiva, cefaléia, convulsão, meningite asséptica,
acidente vascular cerebral, coréia, neuropatia periférica,
alterações visuais ou neuropatia autonômica. Essas
manifestações são atribuídas a um processo primário que
resulta diretamente de oclusão vascular devido à vasculopatia
mediada por imunocomplexos ou por anticorpos antineuronais.
Dores articulares e musculares são sintomas muito
freqüentes no LES, de fato, 90% das pessoas com lúpus
vão experimentar esses sintomas em algum momento
durante o curso da doença. Com freqüência, as artralgias e
a mialgias persistentes podem imitar doenças viróticas, como
se fosse uma gripe. Outros podem ter os sintomas
característicos da artrite, ou seja, articulações que não ficam
apenas doloridas, mas também inchadas, quentes e sensíveis.
Outros ainda, com inflamação intensa nos músculos, podem
experimentar uma fraqueza progressiva a perda de
resistência aliadas a dores nos músculos. Essas dores nas
articulações e músculos podem ocorrer a qualquer momento
durante o curso do LES, ou podem ainda preceder outros
sintomas da doença por meses ou anos.
Desenvolvimento
Definição
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença
crônica, multissistêmica, de etiologia desconhecida, causada
por dano tecidual resultante de alterações na resposta
imunológica, com presença de anticorpos dirigidos contra
proteínas do próprio organismo, se apresenta com um amplo
espectro de manifestações clínicas caracterizadas por
exacerbações e remissões.
O LES é uma doença auto-imune, de interesse
multidisciplinar, que afeta principalmente mulheres jovens
com pico de incidência entre os 15 e os 40 anos de idade, e
é 5 a 10 vezes mais comum em mulheres que em homens.
Nas crianças e nos idosos a relação mulher: homem cai para
2:1. Na população geral, o LES afeta aproximadamente 1
caso em 2.000 a 10.000 habitantes. Sua distribuição é
universal, entretanto dependente de fatores étnicos e
ambientais, sendo assim parece ter maior incidência em raças
não caucasóides [2].
Em relação a sua fisiopatologia possivelmente representa
o resultado da interação de múltiplos fatores, entre os quais
merece destaque a ação dos fatores ambientais em indivíduos
geneticamente predispostos.
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O comprometimento vascular ocorre em 30% a 40%
dos pacientes em fase ativa da doença e ao longo da evolução.
Acometimento de artérias de médio calibre levando a úlceras
isquêmicas e necrose de extremidades ocorrem em menos
de 10% dos casos. Mais raramente podemos encontrar
vasculites mesentéricas e de retina.
Fisioterapia no LES
O LES, sendo uma doença imunológica, crônica e que
evolui em surtos é desprovida de tratamentos eficientes para
se chegar à cura completa. Os tratamentos disponíveis protegem os órgãos da ação inflamatória provocada pelo desarranjo
do sistema imune e induzem a remissão da doença, mas não
revertem as falhas iniciais no sistema imunológico [3].
Segundo Moreira e Carvalho [3], um dos motivos mais
importantes do tratamento fisioterapêutico é manter
habilidade para as atividades funcionais, o que depende da
capacidade física do indivíduo, sujeita a muitas variáveis,
como alterações na função cárdio-respiratória, força
muscular e flexibilidade.
Para grande maioria das pessoas, um tratamento efetivo
pode minimizar os sintomas, reduzir as inflamações e manter
as funções do corpo íntegras. Medidas preventivas podem
reduzir os riscos de uma crise. A focalização do tratamento
é baseada em necessidades e sintomas específicos de cada
pessoa. Pelo fato das características e do curso do Lúpus
variar significativamente de pessoa para pessoa, é importante
enfatizar que uma avaliação médica constante é essencial
para assegurar um diagnóstico e tratamento adequados.
Como o lúpus não é incapacitante, salvo raras exceções,
a fisioterapia em seu tratamento visa prevenir problemas e
restaurar o equilíbrio osteomuscular. O paciente deve sempre
fazer exercícios, para prevenir que a musculatura fique
hipotrofiada. Alongamentos, fortalecimentos musculares e
medidas analgésicas são as “armas” que um fisioterapeuta
dispõe. Devem-se trabalhar todas as articulações do corpo,
e estar sempre atento ao quadro clínico do paciente, pois
medidas fisioterápicas que podem aliviar algum dos
problemas decorrentes, podem vir a ser uma contra
indicação de algum outro quadro clínico.
Segundo David e Lloyd [4], os programas de exercícios
para o LES devem enfatizar a força e a resistência, com
exercícios aeróbicos de baixo impacto. Os programas devem
incluir fortalecimentos isotônicos e isométricos da
musculatura adjacente às grandes articulações e
manutenção da amplitude de movimento, mas se a necrose
avascular estiver presente, apenas os exercícios isométricos
são indicados.
A diminuição da capacidade aeróbica é achado comum
nos pacientes com LES e é provável que sua causa seja o
descondicionamento dos músculos periféricos. Em estudo
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144
realizado por Sakauch et al. [5] o descondicionamento físico
e a fadiga rápida em pacientes com LES pode ser resultado
da difusão danificada do oxigênio nos músculos periféricos
inflamados nos pacientes com a doença ativa.
Nos períodos intercríticos, quando o paciente apresentar
controle clínico, é preciso explorar ao máximo o potencial
remanescente e estimular o condicionamento físico global. Após
uma exacerbação da patologia é necessário fazer uma minuciosa
avaliação funcional para se detectar o grau de independência
nas atividades de vida diária, a restrição causada pela dor e o
descondicionamento físico [6].
Cossermelli et al. [7], relata que o repouso é necessário
nas fases iniciais e enquanto houver atividade da doença
pelo acometimento sistêmico, pela fadig a fácil e
persistente, febre, às vezes bem elevada e outros
elementos clínicos. O repouso será absoluto quando as
manifestações forem agudas e intensas, passando a relativo
se elas forem menos acentuadas e dosados de acordo
com as condições do paciente.
Embora o prognóstico de pacientes com LES tenha
melhorado muito nas últimas décadas, muitos pacientes
continuam não respondendo à terapêutica atualmente
utilizada. Glomerulonefrite, que evolui para insuficiência
renal, e a progressão de lesões neurológicas, que
comprometem a qualidade de vida e a sobrevida de
pacientes com LES, são alguns dos motivos que levam
pesquisadores a buscar novas alternativas terapêuticas.
Geralmente pacientes submetidos a tratamento,
fisioterápico junto com o tratamento medicamentoso
e apoio psicológico, apresentam um quadro mais estável
da doença.
Dados
Nesse trabalho foram analisados artigos científicos, nos
idiomas português, inglês e espanhol dos últimos 10 anos
onde as principais bases de dados consultadas foram a Lilacs,
Medline, Google, SIBI-USP, PubMed, Webscience e as
bibliotecas mais consultadas foram a BIREME, Faculdade
de Medicina da USP, UNIBAN.
Os artigos foram encontrados a partir da combinação
das seguintes palavras-chave: “lúpus eritematoso sistêmico X artrite
X artralgia X músculo-esquelético X manifestações X prognóstico X
tratamento X histórico.” Onde as publicações mais antigas
foram utilizadas como base histórica e livre consulta.
Também foi realizada uma coleta de dados por meio de
uma entrevista com o objetivo de levantar o histórico clínico
de pacientes lúpicos contendo informações sobre o
desenrolar da patologia, as principais manifestações e os
tratamentos utilizados. Foram entrevistados 7 pacientes sem
nenhum critério de exclusão, todas eram do sexo feminino
e a idade varia de 16 a 39 anos.
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Discussão
A prescrição de tratamento fisioterapêutico complementar,
muitas vezes não é feita pelo reumatologista devido à
multiplicidade e gravidade dos sintomas e diferenças clínicas
de cada paciente, pois medidas fisioterápicas que podem
aliviar algum dos problemas decorrentes, podem vir a ser
uma contra-indicação de algum outro sintoma.
Os pacientes estudados apresentaram manifestações
diversificadas e necessidades particulares, obrigando o
fisioterapeuta à não utilização de tratamentos protocolados
e sim uma terapia com componentes exclusivos para cada
indivíduo, levando em conta suas necessidades imediatas e
as possíveis conseqüências para outros sistemas.
A tabela abaixo mostra a sintomatologia mais freqüente
e sua incidência nos 7 pacientes estudados. Como descrito
na literatura, a artralgia e a artrite têm uma grande incidência
e em nossa pesquisa privou somente uma paciente.
Manifestação
%
Manifestação
%
artrite/ artralgia
alterações
hematológicas
febre
mialgia/ miosite
úlceras orais
cefaléia
fossensibilidade
psicose
rash malar
85
síndrome do
imobilismo
adenomegalia
cardiopatia
convulsões
derrame pleural
fibromialgia
tendinite
trombose
vasculite
42
28
28
28
28
28
28
28
28
71
71
57
57
42
42
42
42
No LES, muitas vezes o comprometimento músculoesquelético toma grandes proporções sendo inevitável o
repouso por algia excessiva ou mesmo por incapacidade de
locomoção de alguns pacientes que podem vir a apresentar
síndrome do imobilismo.
O papel adjuvante da fisioterapia no LES torna-se
praticamente obrigatório diante destes quadros extremos
onde as mobilizações articulares começam passivamente
com o paciente ainda confinado no leito. Mas e a fisioterapia
após a resolução dos casos mais graves?
Devido à estabilização de sintomas graves muitas vezes
os pacientes não dão seguimento ao tratamento
fisioterapêutico permanecendo sedentários por todo o curso
da patologia. Podendo neste momento serem indicados a
um tratamento fisioterapêutico, com programas de exercícios,
estimulando o paciente a ser ativo nos limites de sua condição,
realizar terapias de reorganização corporal como reeducação
postural, promover o bem estar com terapias manuais,
alongamentos e fortalecimentos musculares dependendo das
necessidades e possibilidades de cada paciente.
A partir deste ponto serão discutidas algumas
manifestações do LES, encontradas nas pacientes
pesquisadas, voltadas para as complicações que podem ser
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145
145
desencadeadas pelo próprio curso da patologia ou como
conseqüência de um tratamento fisioterapêutico desatento.
Todas as manifestações discutidas partem do suposto do
paciente estar realizando tratamento fisioterapêutico
ambulatorial por indicação do médico responsável, com a
patologia relativamente estável.
O estudo funcional dos pulmões de pacientes lúpicos,
mesmo sem história de comprometimento pulmonar,
revelou um padrão restritivo com diminuição da capacidade
vital e da capacidade pulmonar total e diminuição da
capacidade de diminuição da difusão do CO, ao lado de
hiper ventilação, hipoxemia, hipocapnia e aumento
significativo da diferença alvéolo-arterial do oxigênio. Este
perfil foi funcional foi particularmente acentuado nos
pacientes com queixa de dispnéia e com radiografia do tórax
apresentando campos pulmonares pequenos e diafragma
em posição expiratória [7].
Quando o paciente apresentar alterações pulmonares
recorrentes, o fisioterapeuta deve ter cuidados primordiais,
deve realizar a ausculta pulmonar e tomada da freqüência
respiratória diariamente no inicio e no término da terapia,
para conferir se a ventilação pulmonar está dentro dos
padrões do paciente, deve ser sempre examinado o padrão
respiratório e simetria dinâmica do tórax. Deve-se ter cautela
com o excesso de atividades físicas extenuantes, evitar a
fadiga e a hipoventilação do paciente para evitar maiores
complicações ou mesmo recidivas de quadros anteriores.
Nestes casos qualquer alteração respiratória deve ser
considerada como possível recidiva da patologia.
Segundo Skare [8], quando o paciente apresentar suspeita
de catarata decorrente do uso prolongado de esteróides, devese precaver aplicações de calor profundo, como ondas curtas
e microondas, em regiões próximas aos olhos, pois pode
ocorrer o agravamento ou o aparecimento da catarata. Muitas
vezes o fisioterapeuta enfatiza os acometimentos músculos
esqueléticos, podendo de forma indireta piorar o quadro.
Como descrito por Karamfilov e Elsner [9], as doenças
de pele preexistentes, como as lesões cutâneas do LES,
podem ser agravadas por atividades físicas, pois a pessoa
vai estar exposta a diversos fatores ambientais tais como a
temperatura, alérgenos e irradiação e estes podem ter um
importante papel no desenvolvimento destas lesões.
Raios solares são em muitas situações capazes de
desencadear os quadros lúpicos ou de exacerbar manifestações
sistêmicas. Todos os enfermos devem evitar excessiva
exposição à luz solar e ambientes aquecidos, especialmente
aqueles com fotossensibilidade. Superada a fase aguda da
doença e conforme a magnitude da remissão, pode-se tentar
exposições moderada, iniciando-se pelos períodos menos ricos
em raios ultra-violeta (até as 9 horas e depois das 16 horas) [7].
Sabendo dessas informações ao abordar um paciente
lúpico que apresente lesões cutâneas ou fotossensibilidade,
o fisioterapeuta deve estar atento quanto à indicação de
aplicações de calor e realização de atividades físicas, pois
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em algum momento da patologia elas podem ser extremamente
contra-indicadas e se forem realizados podem prejudicar
seriamente o paciente. É de extrema importância evitar ou
uso de calor radiante como infravermelho e ultravioleta em
pacientes fotossensíveis pelo fato dos riscos superarem os
benefícios terapêuticos.
Liang [10], relata que o treinamento aeróbico durante as
crises agudas de LES pode aumentar a sintomatologia,
causando uma piora no quadro geral do paciente.
Segundo Cotran, Kumar e Robbins [11], a imobilização,
o confinamento ao leito e a diminuição das atividades físicas
diminuem a ação “ordenhadora” da musculatura da parte
inferior da perna lentificando o retorno venoso predispondo a formação de trombos. Em aproximadamente 50%
dos casos estes trombos são totalmente assintomáticos e
só serão reconhecidos ao embolizarem. Devido à incerteza
do diagnóstico, é fundamental a obser vação do
fisioterapeuta durante o atendimento quanto a alguns sinais
como edemaciamento dos pés e tornozelos, úlceras
varicosas, infecções secundárias e hipersensibilidade
ao toque na região entre os músculos gastrocnêmios
(sinal de Homan) que podem ser indicativos de trombose
venosa profunda.
Considerando o alto risco de um paciente lúpico sofrer
uma embolização, o fisioterapeuta deve adotar uma atenção
especial para técnicas como massoterapia, drenagem linfática
e os sinais que sugerem trombose devem ser minuciosamente
avaliados diariamente, caso algum destes sinais esteja
presente, o tratamento deve ser interrompido imediatamente
e o paciente deve ser encaminhado ao reumatologista para
uma avaliação mais específica. Skare [8] considera o uso de
anticoagulantes em casos de trombose de repetição para
evitar casos de embolização durante as terapias.
O descontrole pressórico por tempo prolongado leva à
hipertrofia miocárdica, sendo o principal fator desencadeante
de insuficiência cardíaca congestiva no LES [12].
No trabalho realizado por Marcelina, Sella, Nunes e Sato
[12] a taquicardia, dor precordial, palpitações, dispnéia e
febre no paciente com LES podem estar presentes como
sinais clínicos tanto da miocardite como da pericardite. Os
dados demonstrados por Júnior et al. [13] sugerem que
pacientes nas fases inativas do LES apresentam variáveis
hemodinâmicas dentro dos limites da normalidade e podem
evoluir para estado hiperdinâmico sem causas evidentes
devido à atividade da doença. A variação hemodinâmica pode
ser considerada mais um dos critérios de atividade do LES.
Portanto se torna de extrema importância, como já citado
em relação a complicações pulmonares, a verificação dos
sinais vitais do paciente, incluindo a tomada da pressão
arterial, no início e no final da terapia. Não se devem excluir
patologias agudas de um paciente com LES, pelo simples
fato de ele ser um paciente ambulatorial e relativamente
apresentando a patologia estável.
Segundo Skare [8], em pacientes com episódios anteriores
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146
de infartos agudos do miocárdio ou doença coronariana
deve-se contra indicar o uso do gelo, para analgesia, em
regiões próximas ao pescoço e ombros, pois estes pacientes
estarão sujeitos a desencadear um quadro de angina pectoris.
Em estudo realizado por Araújo et al. [14] sugere que o
LES cause diminuição da massa óssea na coluna lombar em
mulheres na pré-menopausa. As evidências não estão
relacionadas à dose de glicocorticóides e parecem ser
decorrentes da própria doença.
Neste caso os exercícios de flexão da coluna estão contra
indicados, pois ficou demonstrado que eles aumentam a
incidência de fraturas vértebrais. As fraturas vertebrais
ocorrem durante o levantamento de cargas, sobretudo quando
o movimento consiste em flexão e rotação combinadas da
coluna vertebral. Os exercícios para fortalecimento da
musculatura abdominal precisam ser realizados de forma
isométrica, com a coluna mantida reta e sem aumentar as
forças de compressão sobre as vértebras [15].
A anemia hemolítica auto-imune do LES causa uma
diminuição do número de hemácias circulantes que são
destruídas por anticorpos antieritrocitários [11]. No LES, a
anemia pode ter caráter crônico ou agudo que deve ser de
conhecimento do fisioterapeuta antes de iniciar o programa
de terapia. Um paciente anêmico não possui o mesmo
rendimento que outros pacientes e isso deve ser levado em
consideração para melhor avaliação dos resultados. Sendo a
anemia do LES hemolítica não se obtém resultados com a
administração de ferro por meio da dieta.
A trombocitompenia caracteriza-se principalmente por
sangramento, em geral partindo de pequenos vasos, as
localizações mais comuns destas hemorragias são a pele e
as mucosas dos tubos gastrintestinais e geniturinário, onde o
sangramento costuma se associar com o aparecimento de
pequenas petéquias. Quando a contagem do número de
plaquetas é inferior a 20.000/mm³ podem ocorrer
sangramentos espontâneos. Em pacientes com plaquetometrias
acentuadamente deprimidas corre-se o risco de sangramento
intracraniano [11]. Durante o tratamento fisioterapêutico
deve-se tomar extrema cautela com leves traumas e
exercícios de alto impacto para não ocorrerem hematose,
sangramento intramuscular ou mesmo epistaxe como
conseqüência da trombocitopenia.
Conclusão
O LES é uma doença altamente complexa com múltiplas
manifestações que variam de gravidade de acordo com o
sistema comprometido. O prognóstico tem melhorado nos
últimos 30 anos, pela identificação precoce da doença, a
terapêutica contra infecções e o tratamento antiinflamatório
e imunossupressor mais eficientes. Em virtude da redução
da mortalidade, aspectos como manifestações cardiovasculares,
co-morbidades, complicações terapêuticas e qualidade de
vida têm merecido especial atenção.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
Na abordagem fisioterapêutica de pacientes com LES,
diversas condições devem ser claramente elucidadas. Nós não
temos e nunca teremos pacientes absolutamente iguais,
principalmente quando se tratarem de pacientes lúpicos. O
conhecimento por parte do fisioterapeuta sobre a patologia
deve se extremamente abrangente sendo necessária muita
sensibilidade para perceber sinais sutis que podem vir a
significar um grande comprometimento se iniciando. Tornase primordial a conferência dos sinais vitais diariamente nos
pacientes, principalmente aqueles atendidos em serviços
ambulatoriais onde muitas vezes a figura do médico não se
faz presente.
Portanto o fisioterapeuta necessita de bom senso para
adequar uma terapia com componentes exclusivos para seu
paciente associando sempre quais serão os efeitos benéficos
e principalmente os efeitos prejudiciais ao paciente. Muitas
vezes são enfatizados somente os acometimentos músculos
esqueléticos, esquecendo que outros sistemas estão
comprometidos e que a terapia pode de forma indireta
prejudicar o paciente.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
148
Estudo de caso
Tétano: Relação de dois casos internados
no Hospital Regional de Araranguá em
Santa Catarina e abordagem fisioterapêutica
Tetanus: Relationship between two cases hospitalised
at the Regional Hospital of Araranguá in Santa Catarina
and physical therapy approach
Alcioney Valeski, M.Sc.*, Bárbara Lucia Pinto Coelho**, Daniela Constâncio***
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*Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Coordenador do Centro de Pesquisa e Equoterapia
Haras Araranguá, SC – CEPEHA, **Fisioterapeuta, Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC, ***Acadêmica do curso de Fisioterapia da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC
Resumo
Este artigo compara dois pacientes do sexo masculino, classificados com tétano
acidental grave entre os meses de julho de 2002 a julho de 2003, internados na Unidade
de Terapia Intensiva - UTI do Hospital Regional de Araranguá – HRA em Santa Catarina.
Os pacientes entraram em contato com o bacilo Clostridium tetani que é o causador do
tétano de forma acidental. Foram analisadas a evolução clínica dos pacientes e a influência
da intervenção da fisioterapia nos aspectos motores, demonstrando suas alterações,
complicações e limitações no atendimento.
Palavras-chave:
tétano, UTI, espasmos
musculares.
Key-words :
tetanus, ICU, muscle spasms.
Abstract
This article compares two male patients classified as having severe accidental tetanus,
from July 2002 until July 2003, hospitalised at the ICU of the Regional Hospital of
Araranguá – HRA in Santa Catarina. The patients were in contact with the Clostridium
tetani bacillus, which causes accidental tetanus. The clinical evolution of the patients
and the influence of the physical therapy on the motor aspects were analysed, showing
the alterations, complications and limitations in the health care provided.
Recebido 16 de setembro de 2003; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Prof. Alcioney Valeski, Caixa Postal 331 88900-000 Araranguá SC, E-mail: [email protected]
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Introdução
O tétano é causado pelo bacilo gram positivo formador
de esporos Clostridium tetani. Ele pode ser encontrado nos
mais diversos ambientes, presente quase sempre no solo,
crescendo sob condições anaeróbicas. A patologia causada
por clostridium não é comum, mas tem importância
considerável, sendo quase sempre grave e algumas vezes
até fatal.
O Bacilo Clostridium tetani libera duas exotoxinas:
tetanolisina e tetanospasmina. A primeira não apresenta tanta
importância na progressão da doença, já a tetanospasmina
tem grande afinidade com quatro áreas do sistema nervoso
(placas motoras terminais, sistema nervoso simpático, centros
medulares, células do corno anterior da medula).
O diagnóstico do tétano geralmente é clínico e define a
patologia em poucas horas. Não existe diagnóstico
microbiológico e tão pouco sorológico, pois os organismos
raramente são isolados de um ferimento. Existem algumas
classificações para enquadrar o paciente tetânico, tais como
o tétano generalizado que é a forma mais comum, podendo
a extensão do trauma ser grave ou até mesmo tão
insignificante que o paciente já tenha esquecido. O período
de incubação é de 4 a 14 dias dependendo da distância da
lesão até o sistema nervoso central, o trismo é a principal
queixa chegando a 75% dos casos.
Histórico
O tétano, doença do sistema nervoso, apresenta um
interessante quadro clínico, principalmente em casos não
tratados que despertou a atenção dos médicos desde a
Antiguidade como Hipócrates. Nicolaier introduziu o tétano
em animais com injeções de solo, onde eram encontrados os
microorganismos causais. Em 1899, Kitasato conseguiu isolar
em cultura pura o clostrídio. Já em 1892, Nocard imunizou
cavalos com injeções de soro eqüino antitóxico.
Sugeriu-se o uso de curare no tratamento do tétano em
1811, mas como para isso as doses para abolir os espasmos
tetânicos graves produziam a paralisia dos músculos
respiratórios, seu uso teve que esperar 150 anos, até que a
ventilação sob pressão positiva intermitente (VPPI) por meio
de tubo endotraqueal com manguito fosse introduzida no
tratamento do tétano na Dinamarca em 1953.
Patologia
O Gram-bacilo Clostridium tetani é o causador do tétano,
doença infecciosa e não contagiosa. Ele pode ser encontrado
livre no meio ambiente, com poeira, areia, excrementos,
objetos enferrujados e instrumentos cirúrgicos não
esterilizados entre outros. “Para que este bacilo penetre no
organismo é necessário que haja uma porta de entrada, seja
ela um ferimento leve ou grave” [1].
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149
149
As manifestações clínicas da doença: “A doença
caracteriza-se por contrações espásticas dos músculos
esqueléticos. Também é conhecida como “trismo”, por causa
do envolvimento inicial dos músculos da mastigação” [2].
Fisiopatologia
A fisiopatologia é descrita da seguinte forma: “C. tetani
não é um microorganismo invasor. A infecção permanece
estritamente localizada na área do tecido desvitalizado
(ferida, queimadura, lesão, coto umbilical, sutura cirúrgica)
onde os esporos foram introduzidos. O volume de tecido
infectado é pequeno, e a doença é quase totalmente uma
toxemia. A germinação do esporo e o desenvolvimento de
microorganismos na forma vegetativa que produzem toxina
são auxiliados primeiro pela presença de tecido necrótico,
segundo por sais de cálcio e por terceiro nas infecções
piogênicas associadas. Todos estes fatores contribuem para
estabelecer um baixo potencial de oxidação-redução. A toxina
liberada pelas células vegetativas pode atingir o sistema
nervoso central pelo transporte axônico retrógrado ou pela
corrente sanguínea. No sistema nervoso central, a toxina fixase rapidamente aos gangliosídios na medula espinhal e tronco
cerebral e exerce as ações descritas anteriormente.” [3].
Patogenia
A patogenia do tétano é oriunda de duas exotoxinas
elaboradas pelo bacilo: a tetanolisina e a tetanospasmina. A
primeira apesar de poder lesar os glóbulos brancos, sua
contribuição não é importante na doença. Já a segunda é
uma neurotoxina e tem afinidade muito grande com quatro
locais específicos no sistema nervoso:
• as placas motoras terminais nos músculos esqueléticos;
• o sistema nervoso simpático;
• os centros medulares; e,
• as células do corno anterior da medula.
Esta toxina tem um efeito parecido com a da estricnina
sobre as vias motoras. Os espasmos musculares e as
contrações que caracterizam esta doença provêm da inibição
da liberação da acetilcolina que bloqueia a inibição normal
central das células do corno anterior levando a uma resposta
motora exagerada a qualquer tipo de estímulo. Ela também
atua sobre os centros medulares, fazendo acontecer a asfixia
por depressão ou espasmo respiratório dos músculos da
respiração e levando a uma maneira comum de morte.
Salienta-se que a toxina uma vez combinada com as células
receptoras não pode mais ser neutralizada pela antitoxina [4].
Epidemiologia
O tétano, em países em desenvolvimento, com padrões
de imunização e regras de higiene precários, constitui-se
um grande problema de saúde pública. O microorganismo
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150
é encontrado no solo e em fezes humanas e de animais,
sendo o tétano comum nos climas quentes e áreas rurais
altamente cultivadas. Como exemplo tem-se a prática, por
mães não imunizadas, de revestir o coto umbilical, após o
nascimento, com estrume animal ou ‘pó de poeira’ uma argila
seca local vendida para fins cosméticos. O C. tetani pode ser
encontrado também em áreas urbanas, mas o índice de
contaminação não é elevado, em função do padrão de vida
e de higiene, que também se reflete na ausência do tétano
neonatal devido a boa higiene obstétrica.
Acontece um declínio da imunidade com o
envelhecimento. Nos Estados Unidos, são notificados 50 a
70 casos anualmente, quase todos em indivíduos nãoimunizados ou inadequadamente imunizados. Uma revisão
de 110 casos de tétano nos Estados Unidos, em 1989-1990,
mostrou que 86 (78%) eram lesão aguda, 10 (9%) consistiam
em complicações de feridas crônicas e 5 (5%) de
complicações pelo uso de injeção de drogas. Houve um caso
de tétano neonatal e 10 (9%) não apresentaram porta de
entrada reconhecida. Quanto à idade dos pacientes, 58%
tinham mais de 60 anos e 6% menos de 20 anos.
O alerta para o tétano em usuários de drogas injetáveis,
que acontecem com mais freqüência, pois apresentam feridas
limpas inadequadamente e baixos níveis de imunidade [5].
Diagnóstico e Quadro Clínico
O diagnóstico do tétano, geralmente é clínico e define a
patologia em poucas horas. Não existe diagnóstico
microbiológico tampouco sorológico, pois os organismos
raramente são isolados de um ferimento. Os casos clínicos
apresentam fortes espasmos musculares; trismo e riso
sardônico devido à contração rígida dos músculos da
mandíbula que impede a abertura da boca; reflexos
exagerados podem ocorrer. A rigidez do músculo das costas
produz um arqueamento para trás, o opistótono.
Fatores de risco
Os fatores de riscos estão relacionados, principalmente
com a faixa etária (idosos são mais propensos), com o estado
físico do paciente e se for ou não usuário de drogas. A falta
de imunização ou imunização incompleta também é um
fator de risco preocupante. No Brasil, o idoso constitui o
principal grupo de risco de adoecer e morrer da doença. A
vacinação, higiene e tratamento adequado das feridas
permitirão o controle da doença [6].
Cuidados específicos dos
pacientes com tétano
Os pacientes devem estar em lugar tranqüilo, reservado
e ser incomodado o mínimo possível. Devem se manter
internado em um serviço de terapia intensiva para serem
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150
observados cuidadosamente, principalmente quanto ao
desenvolvimento de complicações da doença.
Alguns cuidados com pacientes [8]: “Deve-se tomar
cuidado na prevenção de úlceras de decúbito ou de
contraturas, mas várias tarefas rotineiras de enfermagem
devem ser omitidas, porque elas podem precipitar espasmos
dolorosos e perigosos. Na fase inicial a nutrição não merece
grande consideração, e o equilíbrio hidreletrolítico deve ser
mantido pela administração de soluções intravenosas
adequadas, acompanhadas de um gráfico cuidadoso de
perdas e ganhos. Após a condição do paciente ter sido
estabilizada, e o perigo de aspiração minimizado, uma nutrição
adequada deve ser programada, através de sonda nasogástrica.
Um regime de hiperalimentação intravenosa pode ser usado
em pacientes com doença grave e demorada.” [7].
Algumas medidas gerais são determinadas no tratamento
de pacientes com tétano, ressaltando também a tranqüilidade:
“Os objetivos da terapia são eliminar a fonte da toxina,
neutralizar a toxina não-ligada, prevenir os espasmos
musculares e proporcionar suporte – em especial respiratório
– até a recuperação. Os pacientes devem ser internados em
uma unidade de tratamento intensivo tranqüila, onde se
possam manter observação e monitoração cardiopulmonar
contínuas, mas seja possível minimizar a estimulação. A
proteção das vias respiratórias é vital. Os ferimentos devem
ser verificados, limpos com cuidado e bem debridados.” [7].
Tratamentos medicamentosos
Um dos tratamentos medicamentosos administrados em
pacientes são os antibióticos que não possuem efeito sobre
a toxina tetânica, mas matam as formas vegetativas do
microorganismo e impedindo a sua multiplicação retiram as
condições favoráveis para o crescimento dos clostrídeos.
Devem ser continuados por um período suficiente para
assegurar que os esporos tetânicos não possam sobreviver,
o que significa um mínimo de cinco dias. Penicilina G deve
ser usada parenteralmente em doses de 1 a 10 milhões de
unidades diárias, por 10 dias; tetraciclina, eritromicina e
cloranfenicol são substâncias alternativas para pacientes
alérgicos à penicilina.
Antitoxina deve ser administrada para neutralizar a toxina
circulante e a toxina não-ligada no ferimento. A
imunoglobulina tetânica humana (TIG) é o preparado de
escolha e deve ser dada sem demora.
Para os espasmos musculares são utilizados agentes,
sozinhos ou combinados, que são dolorosos. O esquema
terapêutico ideal seria eliminar a atividade espasmódica sem
causar sedação excessiva nem hipoventilação. Usa-se em
ampla escala o diazepam, um benzodiazepínico e agonista
do GABA. A dose é titulada, podendo ser necessárias grandes
dosagens (250 mg/dia ou mais) [7].
Embora os antibióticos freqüentemente sejam prescritos
para tratar a ferida infectada e para impedir a produção de
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toxina, não existem indicações de que eles influenciem
favoravelmente a doença. Quando se usar antibióticos, a
penicilina G deve ser o medicamento de escolha porque é
altamente eficaz contra o bacilo tetânico, e seu espectro
limitado diminui a probabilidade de ocorrerem
superinfecções [7].
151
Complicações contribuem de modo significativo para a
morbidade e a mortalidade do tétano. Tratamento muito
vigoroso, a permanência prolongada no leito juntamente com
a ação da toxina tetânica podem ser as mais freqüentes
complicações. As complicações mais freqüentes são: “A
insuficiência respiratória, tanto por laringospasmo como por
espasmo dos músculos respiratórios, é uma ameaça
constante. Além da hipóxia, a atelectasia é uma conseqüência
comum da dificuldade respiratória. A dificuldade de
deglutição leva à aspiração de secreções, que também pode
causar atelectasia e iniciar a infecção pulmonar.
Ocasionalmente ocorre tromboflebite, mas uma trombose
venosa branda é mais comum, e pode levar à embolização
pulmonar. As complicações cardiovasculares parecem ser
devidas a uma hiperatividade, com batimentos cardíacos
acima de 180 por minuto, vasoconstrição intensa e
hipertensão. O edema pulmonar pode ocorrer tanto como
conseqüência da miocardite, como por excessiva reposição
de líquidos. A pneumonia é uma complicação tardia comum
do tétano e é encontrada em 50% a 70% dos casos
autopsiados [7].
b) imunização ativa com vacina, de preferência Td em
pessoas de mais de 7 anos de idade.
Para ferimentos limpos e pequenos não se recomenda a
imunização passiva com TIG, mas ela deve ser fornecida a
todos os demais ferimentos se a história de vacinação do
paciente revelar imunização parcial ou desconhecida.
Quanto ao tétano neonatal, a melhor medida é a
vacinação materna mesmo durante a gravidez, além de
nascimentos em hospitais e treinamento de atendentes
obstétricos que não sejam profissionais da área médica.
O C. tetani é encontrado em todos os lugares, e a única
esperança da prevenção do tétano repousa em grandes
campanhas de imunização. Uma imunização ativa eficaz é
possível e, se aplicada universalmente de acordo com as
normas, o tétano poderia ser virtualmente eliminado. Até
mesmo o tétano neonatorum podia ser prevenido, porque
as crianças são protegidas pelos anticorpos que atravessam
a barreira placentária [7].
prevenção do tétano é responsabilidade de todos na
tomada de decisões, nas políticas de saúde e na reversão
deste quadro através de uma maior conscientização por parte
dos que trabalham na Educação para a Saúde para a
implementação das ações de incentivo à imunização do idoso
no que diz respeito ao tétano e a outras doenças
imunopreveníveis. Além de um maior benefício para a
população prevenindo doenças, evitando sofrimentos, a
imunização é uma forma de economia social, pois o custo
do tratamento de um paciente com tétano é suficiente para
vacinar dez mil pessoas[1].
Prevenção
Exames complementares
O Immunization Practices Advisory Committee recomenda
que a imunização ativa de lactentes e crianças com DPT
(toxóides diftéricos e tetânicos e pertussis adsorvido) aos dois,
quatro, seis e 15 meses, bem como aos quatro a seis anos de
idade e o Td (toxóides tetânicos e diftéricos adsorvidos para
uso em adultos) a cada 10 anos nas idades no meio de cada
década (15, 25, 35 anos, etc.). A prevenção deve acontecer
de maneira que todo adulto parcialmente imunizado ou não
receba a vacina, assim como aqueles que estejam se
recuperando do tétano [7].
A série primária para adultos consiste em 3 doses: a
primeira e a segunda são dadas a um intervalo de 4 a 8
semanas, enquanto a terceira o é 6 a 12 meses após a
segunda. É necessário um reforço a cada 10 anos, que pode
ser dado no meio de cada década etária, ou seja, aos 35, 45
anos e assim por diante. A partir dos 7 anos de idade, é
preferível o toxóide tetänico e diftérico combinado (Td)
adsorvido (para uso em adultos), em vez do toxóide tetânico
de antígeno único.
Para os ferimentos o tratamento adequado exige:
a) imunização passiva com TIG;
Corrêa et al. [8] descrevem os exames complementares
que consistem em:
a) hemograma: normal ou com leucocitose com desvio
à esquerda secundária ao foco.
b) aumento de CPK, hipercalemia, mioglobinúria por
rabdomiólise.
c) Líquor normal.
d) aumento de catecolaminas na urina (ácido vanil
mandélico).
Complicações
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151
Materiais e Métodos
O estudo foi realizado com dois pacientes do Hospital
Regional de Araranguá – HRA em Santa Catarina, ambos
do sexo masculino com idades de 49 e 63 anos que
desenvolveram tétano acidental grave.
O levantamento de dados de cada paciente foi analisado
com a autorização dos mesmos ou responsáveis. A análise
dos prontuários foi realizada através de pesquisa das
evoluções clínicas apresentadas pelos pacientes, sendo
analisado as alterações motoras.
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Descrição dos casos
Caso 1
Paciente do sexo masculino com idade de 49 anos,
exercendo a profissão de agricultor. Entrou em contato com
o bacilo Clostridium tetani ao cair de sua motocicleta e tendo
parte de seu calcâneo sido arrancado.
O período de incubação foi de 8 dias, sendo trismo
a primeira característica clínica apresentada, seguida de
fraqueza muscular na região dos ombros. Foi internado na
Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Regional de
Araranguá – HRA em Santa Catarina, permanecendo neste
setor aos cuidados de um clínico por trinta e cinco dias até
receber alta.
Fez uso da ventilação mecânica assistida controlada por
vinte dias, sendo trocada a modalidade para ventilação
mandatório intermitente sincronizada e permanecendo nesta
por mais nove dias. Ao ser retirado da ventilação foi colocado
traqueostomia em Oxigenoterapia.
O paciente internou no dia 02/10/2002, permanecendo
por quatro dias com contraturas musculares intensas que
desapareceram ao quinto dia. Na seqüência dos dias
apareceram novas contraturas musculares ao movimento,
mas que desapareciam com sedativo. No oitavo dia as
contraturas foram mais freqüentes e permaneceram por
dois dias.
Entre o décimo e o décimo primeiro dia, ainda em
sedação, apareceram novamente algumas contraturas. Com
o passar dos dias foram diminuindo as reações com estímulos
externos, que desencadeavam contrações tetânicas. A
fisioterapia, desta maneira, só pode ser realizada no décimo
sétimo dia. Até então se conseguiu fazer apenas a fisioterapia
respiratória, mas com reação de dor constatada pela
expressão facial do paciente. No décimo nono dia o paciente
movimenta a cabeça e os membros superiores com
dificuldade, apresentando períodos de contraturas quando
estimulados.
No vigésimo segundo dia é trocada a ventilação mecânica
assistida controlada por ventilação mandatória intermitente
sincronizada continuando episódios de tetania. No vigésimo
terceiro dia o paciente obedece aos comandos verbais e
dois dias depois voltam as contrações musculares freqüentes.
Permanecem os períodos de contratura muscular pelo
vigésimo sétimo dia e no trigésimo dia o paciente é retirado
da ventilação mecânica e recolocado em Oxigenoterapia,
permanecendo por volta de dois dias e recebendo alta para
a clínica médica no trigésimo quinto dia.
Caso 2
O paciente do caso 2 é do sexo masculino com idade de
63 anos, exercendo a profissão de agricultor. Em suas
atividades de vida diária trancou o dedo em uma máquina de
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152
moer milho, amputando a falange dista do segundo metacarpo,
entrando em contato com o bacilo Clostridium tetani.
O período de incubação foi de 9 dias e a primeira
característica clínica apresentada foi o trismo, seguido por
insuficiência respiratória, sendo internado na Unidade de
Terapia Intensiva do Hospital Regional de Araranguá – HRA
em Santa Catarina.
A princípio fez uso da ventilação mecânica assistida
controlada permanecendo cinco dias, após passou para
ventilação mandatária intermitente sincronizada. Por
solicitação do médico intensivista da Unidade de Terapia
Intensiva o paciente foi transferido para a cidade vizinha
que fica a 29 km de distância do HRA para realizar
tomografia computorizada de crânio. Durante a viagem na
ambulância do HRA, os médicos foram dando suporte
ventilatório através do ambu, sempre estimulando o paciente
para que respirasse ativamente. Feito o desmame do paciente
ao retornar após a tomografia não foi mais necessário suporte
ventilatório. Apenas foi colocado em Oxigenoterapia por
solicitação do médico intensivista.
Discussão
Pelo acompanhamento destes dois casos, demonstra-se
a grande importância da fisioterapia para o paciente tetânico,
já que atua na função respiratória e motora, enfoque deste
trabalho é a motora.
A evolução clínica dos pacientes difere no período em
que estiveram internados na Unidade de Terapia Intensiva,
devido ao tempo de permanência no setor e à evolução das
contraturas musculares.
No caso 1, o paciente ficou internado 35 dias e a
fisioterapia motora só foi possível ser realizada em 17 dias
de internação em função da diminuição das contraturas
musculares. No caso 2, o paciente permaneceu 48 dias na
Unidade de Terapia Intensiva e não foi constante o
aparecimento de contraturas musculares, podendo a
fisioterapia motora ser realizada nos primeiros dias de
internação.
Nos dois casos foi realizada fisioterapia de forma passiva
lenta e global, prevenindo e mantendo o movimento articular
em normal.
Outro enfoque foi dado às mudanças de decúbito para
diminuição das pressões ao corpo devido ao tempo em que
ficaram acamados, prevenindo as úlceras de pressão.
Também foi enfocado o correto posicionamento dos
pacientes no leito, pelo tempo prolongado em que nele
ficaram podendo acarretar posições viciosas.
Ao iniciarem-se os edemas em membros superiores e
inferiores, posicionavam-se os membros em posição de
drenagem utilizando a degravitação associado a movimentos
passivos articulares, ajudando na drenagem do edema.
No caso 1, a dificuldade encontrada foi na ausculta
pulmonar, já que o estetoscópio estava gelado ao toque e
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
mesmo sendo friccionado o diafragma por ser de material
metálico na tentativa de aquecê-lo, desencadeava estímulos
ao toque no paciente. Este procedimento básico e inicial de
atendimento promovia contraturas musculares. No decorrer
dos dias com a diminuição das contraturas pode-se realizar
a ausculta com mais facilidade.
No caso 2, após várias sessões realizadas o paciente não
conseguia realizar movimentação ativo assistido,
per manecendo por muito tempo de for ma passiva,
dificultando a diversidade do tratamento.
Conclusões
Pouco se tem escrito sobre a atuação do profissional
fisioterapeuta em pacientes tetânicos, dificultando um pouco
no embasamento de informações de atendimento e
procedimentos no processo de reabilitação destes casos. A
primeira etapa, deixa a evidência da extrema importância
da atuação do fisioterapeuta na Saúde Pública, realizando a
prevenção primária com orientações e palestras em escolas
e na comunidade de sua região. Segundo é a etapa curativa,
na execução do tratamento clínico e fisioterapêutico. Na
literatura foi encontrado que o paciente com tétano
apresentaria um tônus hipertônico, mas na Unidade de
Terapia Intensiva o paciente fica em coma induzido através
da sedação, levando à alteração do tônus muscular, ficando
hipotônico, apresentando conseqüentemente arreflexia. A
vantagem de se ter um tônus muscular diminuído é que se
consegue realizar os movimentos passivos globais sem que
o paciente apresentar contrações tetânicas. Demonstrando
a relevante interatividade interdisciplinar com os médicos
intensivistas na troca de informações clínicas e
medicamentosas. A rotina numa Unidade de Terapia
Intensiva, neste caso, nos faz refletir no planejamento de
artigo 10 - Alcioney.pmd
153
153
atendimento e de que melhor formar utilizar as técnicas e
procedimentos fisioterapêuticos. No primeiro momento, a
preocupação era atender de forma eficaz trazendo resultados
satisfatórios e que não causassem contrações tetânicas no
paciente, evitando estímulos sonoros, sensitivos ou luminosos.
Um procedimento básico e inicial que é ausculta tornava-se
um cuidado essencial e vital para estes pacientes, aquecer o
diafragma e a intensidade e pressão exercida ao colocá-lo
no tórax ao realizar a ausculta pulmonar, prioriza o sucesso
do desenvolvimento inicial dos atendimentos, não
desencadeando contraturas musculares.
A cinesioterapia deve ser realizada com movimentos de
forma lenta, passiva e global, atingindo todas as articulações
e amplitudes. O progresso do trabalho fisioterapêutico
dependerá das respostas, nível de contaminação e do grau
de acometimento do organismo do paciente.
Referências
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problemática da saúde coletiva? Rev Latinoam Enfermagem
2001;9(6).
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Guanabara Koogan; 2000.
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Medicina. 3ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998.
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de Medicina). Florianópolis: ACM; 1999. p. 426-30.
C
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154
Estudo de caso
Tratamento fisioterapêutico precoce em recém-nascido
com luxação congênita de quadril
Precoce physical therapy treatment in new-born
with hip congenital luxation
André Gustavo Moura Guimarães*, Ivete Furtado Ribeiro**, Luiz Fábio Magno Falcão**
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*Fisioterapeuta da Unidade Neonatal da FSCMPa, Professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA),
**Acadêmico de Fisioterapia da UEPA, Estudo realizado na Unidade Neonatal Dra. Amélia Ribeiro da FSCMPa
e no Ambulatório do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS IV) da UEPA
Palavras-chave:
Luxação congênita de
quadril, cinesioterapia,
estimulação sensório-motora.
Resumo
A Luxação Congênita de Quadril (LCQ) é caracterizada pela perda do contato
espontâneo que ocorre tanto antes, como pouco depois ao nascimento, tendo maior
incidência no sexo feminino (8:1), sendo a forma unilateral mais comum. Sua etiologia é
desconhecida. Se não tratada precocemente, graves complicações osteomioarticulares
podem comprometer o prognóstico. O tratamento visa combater contraturas dos tecidos
moles e incapacidade funcional em decorrência da falta de uso. O estudo de caso foi
baseado no acompanhamento do recém-nascido (RN) de M.C.P.S., a termo, 1º gemelar,
presença de um 2º natimorto, má posicionamento intra-uterino de membros inferiores
(MMII) e Impressão Diagnóstica de Malformações Congênitas Múltiplas, dentre elas a
LCQ. Sendo utilizado como conduta fisioterapêutica a Cinesioterapia Motora Passiva,
Estimulação Sensório-motora e Posicionamento adequado no leito. Devido ao
acompanhamento precoce que o RN fora submetido, pode-se constatar maior controle
na articulação do quadril, diminuição significativa do genum recurvatum bilateralmente
e melhora na movimentação espontânea. Além de responder melhor aos estímulos
proprioceptivos. Com vista no prognóstico funcional, percebeu-se que a conduta utilizada
indica uma favorável evolução motora. Enfatizando, portanto, que o acompanhamento
fisioterapêutico precoce caracteriza-se como um tratamento viável para os RN’s
comprometidos pela LCQ.
Artigo recebido 23 de outubro de 2003; aceito 15 de dezembro de 2003.
Endereço para correspondência: Ivete Furtado Ribeiro, Tv. Dom Romualdo de Seixas, 799 Umarizal 66050-110 Belém PA, Tel: (21) 224-8897 /
241-8274 / 9149-2735, E-mail: [email protected]
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Abstract
The hip dysplasia (congenital hip luxation) is characterized by spontaneous contact
lose which happens before or after the birth, with more incidence in feminine sex (8:1),
being more common the unilateral mold. Its etiology is unknown. When it is not treated
precociously, severe bone, muscles and articulation complications could compromise
the prognostic. The aim of the treatment is to reduce the contracture of the soft
tissues and functional incapacity in consequence of the disuse. This study case was
based in follow-up of a new-born, first twin, with intra-uterine malposition of lower
limbs and diagnostic impression of multiple congenital malformation, including hip
dysplasia. The physical therapy used was the passive moving cinesiotherapy, the global
proprioceptive stimulation and adequate position in bed. In order to the precoce followup the new-born was submited, a better control of the hip was constated, a significant
diminution of hyperextension of the knees and improvement of spontaneous moving.
Besides better answer to proprioceptive stimulus. Looking at the functional prognostic,
this treatment showed a favorable evolution of movement. It is emphatized that precoce
physical therapeutic follow-up is a viable treatment for new-born with hip dysplasia.
Key-words:
hip dysplasia, cinesiotherapy,
sensori-motor stimulation.
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Introdução
A Luxação (ou displasia) Congênita de Quadril (LCQ) é
consecutiva ao desenvolvimento anormal de um ou mais
elementos que formam a articulação do quadril: cabeça do
fêmur, acetábulo ou tecidos moles, com inclusão da cápsula,
que cercam a articulação [1].
A etiologia da malformação muito provavelmente inclui
fatores múltiplos, como o mau posicionamento e fatores
mecânicos no útero, frouxidão ligamentar induzida por
hormônios, fatores genéticos e culturais ou ambientais [2]. A
LCQ também é encontrada em combinação com outras
malformações congênitas, tais como Artrogripose Múltipla e
Pé Eqüino-Varo [1]. Agentes mecânicos podem ser
consideradas as bridas âmnicas, pois causam lesões destrutivas
em qualquer segmento corporal. O torcicolo, o pé torto e as
deformidades crânio-faciais relacionam-se com a posição fetal
e a presença de compressões extrínsecas ao feto [3].
A LCQ é uma das mais comuns em raças ocidentais, sendo
que as mulheres apresentam uma incidência maior que os
homens numa proporção de 8:1, e isto embora não
comprovado, pode estar associado a fatores hormonais que
induziriam a uma frouxidão. Além do que, em 1/3 dos casos
o acometimento é bilateral [4].
A LCQ pode ser classificada em típica quando a luxação
ocorre ao nascer devido à frouxidão existente e teratológica
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155
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quando a luxação ocorre ainda dentro do útero e tem
associação com outras alterações caracterizando-se como
uma síndrome [4].
As extremidades estão suscetíveis às principais
anormalidades morfológicas durante o período embrionário,
quando os brotos dos membros estão desenvolvendo-se.
Com o crescimento e o desenvolvimento fetal, o acetábulo
aumenta o seu diâmetro e torna-se mais raso, dando menor
cobertura para a cabeça femural, resultando em um quadril
muito instável [2].
O diagnóstico depende da idade com que é realizado,
parecendo mais fácil à medida que a criança vai crescendo.
Contudo, o tratamento tem melhores resultados e é menos
agressivo quando iniciado ainda no RN.
Mesmo nas melhores condições, apenas metade ou 2/
3 dos pacientes tratados após o 1º ano de vida podem
esperar uma recuperação total e livre de complicações, como
marcha retardada, bacia alargada, encurtamento do membro
afetado, etc. A luxação gradual é muito freqüente e a dor
devido às alterações degenerativas normalmente surge na
meia-idade [5].
A seleção de RN’s para uma LCQ inclui a Manobra de
Ortolani e de Barlow, sendo mais confiáveis quando realizadas
antes do 2 meses de idade; haja vista que à medida que o
bebê cresce, o quadril instável permanece no acetábulo
durante o crescimento normal, ou fica fora do acetábulo e
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
156
não pode ser recolocado O exame radiológico não é o melhor
para se diagnosticar a afecção, uma vez que o esqueleto da
criança nesta fase é predominantemente cartilaginoso. O ultrasom seria uma boa indicação [6,4].
A partir dos dois meses, o encurtamento muscular e
estiramento capsular estão presentes, não sendo mais possível
uma redução passiva. Nesta fase pode-se observar o Sinal de
Peter-Bade (assimetria das pregas cutâneas) e o de Hart
(limitação da abdução) [4].
Em crianças mais velhas que já estão andando, a LCQ é
normalmente diagnosticada pelo padrão de marcha anormal.
Crianças com LCQ unilateral exigem o Sinal de
Trendelenburg positivo, e crianças com LCQ bilateral
apresentam um andar gingado [2].
Relacionado ao tratamento, crianças com até 2 meses
de idade terão as articulações coxo-femurais mantidas em
abdução e flexão com talas (órtese de contenção), com o
intuito de aumentar a tensão da cápsula articular[1].
Entretanto, algumas complicações podem desenvolver-se
com o uso desses equipamentos como necrose avascular
da cabeça umeral e deslocamento inferior. Essas
complicações podem ser evitadas mediante monitorização
regular, com a orientação doa pais sobre o ajuste adequado
[2]. Já em lactentes entre 2 e 12 meses a redução é feita sob
anestesia geral e sempre precedida de tração cutânea para
alongar a musculatura acometida [4]. E depois dos 12 meses
raramente o quadril da criança poderá ser reposicionado
sem intervenção cirúrgica.
Deste modo, deve ser realizado um exame sistemático e
rigoroso dos quadris do RN, pois se até o 2º mês de vida as
condições de tratamento são favoráveis, o mesmo não ocorre
após um ano, tornando-se praticamente impossível conseguir
quadris normais com métodos puramente conservadores.
Materiais e métodos
Graves distúrbios motores interferem na capacidade
funcional dos portadores de Luxação Congênita de Quadril
(LCQ), podendo trazer seqüelas irreversíveis, quando não
tratada precoce e adequadamente. Deste modo, tal temática
foi escolhida para estudo de caso, sendo que os dados contidos
na pesquisa foram obtidos através do registro fotográfico,
entrevistas com a mãe do recém-nascido (RN),
acompanhamento hospitalar (três atendimentos por dia, sendo
20 a 30 minutos cada) e ambulatorial após alta hospitalar.
O programa de tratamento adotado foi baseado nas
recentes abordagens relacionadas à reabilitação de pacientes
com LCQ; haja vista que o objetivo do tratamento consiste
em aumentar a Capacidade Funcional Motora e Sensitiva de
Membros Inferiores (MMII). Sendo que quanto mais precoce
for o tratamento, menores serão as mudanças anormais nas
estruturas da articulação do quadril e mais curto será o tempo
necessário para que as estruturas retornem à sua relação
normal [2].
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156
Considerações éticas
A mãe do RN concordou em participar da pesquisa e
assinou um consentimento informando sobre a publicação
do presente trabalho.
Relato de caso
RN de M.C.P.S., sexo masculino, a termo, 1º gemelar,
presença de uma 2º natimorto, nascido no dia 19 de agosto
de 2002 de parto Cesário com apresentação cefálica, má
posicionamento intra-uterino de MMII, na Maternidade da
Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPa).
Com o encaminhamento do RN ao Serviço de Fisioterapia
da FSCMPa na Unidade Neonatal Dra. Amélia Ribeiro,
realizou-se a Avaliação no dia 21 de agosto de 2002, na qual
observou-se limitação funcional da articulação coxofemoral
bilateralmente, principalmente para a abdução, verificada com
as Manobras de Ortolani e Barlow, presença de Genum
Recurvatum bilateral, Amplitude de Movimentos (ADM’s)
limitadas para flexão de joelho e flexão plantar de tornozelo,
este com hiperdorsiflexão bilateralmente e Pé Torto
Congênito (PTC) de aspecto posicional em Membro Inferior
Esquerdo (MIE). Além disso, verificou-se hipotonia e
hipotrofismo de MMII, sendo que através da cinesioterapia
motora passiva notou-se bloqueio biarticular de joelho, que
pode ser vencido com a manipulação. Apresentava também,
anestesia de MMII e arreflexia de Aquileu e Patelar. Além
disso, constatou-se a presença de desconforto respiratório
com evolução importante, haja vista que o RN apresentava
anóxia moderada, estando sob Oxi-hood e com presença de
retração esternal significativa e de crepitações bilaterais ao
exame da ausculta pulmonar; sendo então, submetido à
fisioterapia respiratória.
Ainda assim, o neonato foi submetido a exames
complementares como: Raio-X, Ultra-sonografia (US)
craniano transfontanelar, e ao final constatou-se Impressão
Diagnóstica de Malformações Congênitas Múltiplas; sendo
elas: Luxação Congênita de Quadril, provável Agenesia de
Patela, Microcefalia, Hidrocefalia, Micrognatia, Criptorquidia.
Entretanto cabe ressaltar, que não fora solicitado US das
articulações coxofemorais pelo pediatra.
Depois de diagnosticada diminuição da capacidade
funcional motora de MMII, optou-se por reavaliá-lo de duas
em duas semanas. Deste modo, a fisioterapia interveio
inicialmente com Cinesioterapia Motora Passiva das
articulações do joelho e tornozelo e Posicionamento
adequado no leito em decorrência a LCQ. Então, o RN foi
mantido em “posição de r㔠(quadril em flexão e abdução),
através de fraldas no 1º mês e a partir do 2º, talas de
contenção [1]. E paralelo a isto, realizou-se mobilização do
tronco e cabeça levemente, correção e adaptação postural
prevenindo e evitando encurtamento dos adutores e
iliopsoas [4].
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Fig. 1 - Avaliação do RN. Belém /PA – 2002
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Fig. 4 - Posicionamento no leito pós-atendimento. Belém /PA - 2002
Fonte: Pesquisa dos autores
Fonte: Pesquisa dos autores
Fig. 2 - Avaliação do RN. Belém /PA - 2002
Esta conduta foi mantida até à 1ª reavaliação, quando se
acrescentou a Estimulação Sensório-motora visando
melhorar o desenvolvimento Neuropsicomotor do RN, sendo
que para tal foram utilizados estímulos táteis, auditivos, visuais,
proprioceptivos e motores [7]. Com o objetivo de alcançar o
aumento do tônus muscular, utilizou-se o placcing e o tapping,
os quais produzem estímulos destinados a influenciar o tônus
muscular dos segmentos com deformidades. E em virtude a
anestesia de MMII presente utilizou-se texturas diferentes
(bolinha para propriocepção, escova com cerdas macias,
pincel e esponja dupla-face) objetivando reverter o quadro.
Fig. 5 - Estimulação sensorial. Belém /PA - 2002
Fonte: Pesquisa dos autores
Fig. 3 - Cinesioterapia Motora Passiva de Joelho. Belém /PA - 2002
Fonte: Pesquisa dos autores
E ao final de cada acompanhamento o RN era
posicionado em decúbito dorsal para se evitar complicações
posturais da coluna vertebral e pelve, sendo tal
posicionamento mantido com o uso de “ninhos”, “rolinhos”
e “contenções”.
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157
Após 01 mês de inter venção fisioterapêutica foi
adicionado à conduta, Cinesioterapia Motora Passiva e
Estimulação tátil e proprioceptiva para articulação do quadril
bilateralmente, com o intuito de recuperar a capacidade
funcional e evitar possível intervenção cirúrgica.
Após alta-hospitalar (24/10/02) o lactente recebeu
acompanhamento ambulatorial, no qual a conduta foi
mantida. E somado a esta, elaborou-se um programa
terapêutico domiciliar a ser aplicado pelos pais, intercalado,
necessariamente, ao acompanhamento ambulatorial.
Resultados
Depois de 01(um) mês de tratamento, pode-se verificar
melhora progressiva, haja vista que se observou aumento do
tônus muscular, em especial nos MMII, permitindo com isso,
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Fig. 6 - Maior estabilização de coxofemural. maior estabilização
Belém /PA - 2002
de quadril e joelho
em flexão após
manipulação,
contribuindo, assim,
para a diminuição do
genum recurvatum
bilateralmente. Além
disso, observaram-se
reações pouco expressivas a alguns
estímulos proprioceptivos, como: dolorosos e tátil grosseiro somente na
face plantar.
Ao final de 02
(dois) meses de
acompanhamento
Fonte: Pesquisa dos autores
fisioterapêutico, o
lactente foi submetido à última reavaliação, na qual encontrava-se gemente e
mais ativo apresentando movimentação espontânea, maior
controle na articulação do quadril bilateralmente estava,
verificando também aumento da abdução e extensão do
quadril, com melhora significativa do tônus muscular. Ainda
assim, observou-se, na articulação do joelho diminuição
significativa do genum recurvatum bilateralmente e aumento
da ADM para flexão; enquanto que na articulação do
tornozelo verificou-se aumento de flexão plantar
principalmente em MIE. Outro ponto observado refere-se à
sensibilidade, uma vez que o lactente já respondia a um maior
número de estímulos proprioceptivos e com maior
intensidade, principalmente nas extremidades. Além da
presença de Reflexo Patelar em Membro Inferior Esquerdo.
Discussão
A intervenção precoce e um acompanhamento
fisioterapêutico continuado o qual foi submetido o recémnascido (RN), desde a fase hospitalar até a ambulatorial,
consistiu numa grande contribuição no desencadeamento da
reabilitação, pois o objetivo do tratamento concentra-se,
principalmente, em aumentar a capacidade funcional motora
de MMII, minimizando o aparecimento de possíveis seqüelas
que se não tratadas precoce e adequadamente, poderão impor
ao paciente o ônus de um defeito físico para o resto da vida.
Em decorrência a falta de uso dos segmentos acometidos,
os problemas encontrados em relação à motricidade referemse geralmente à diminuição da ADM articulares nos MMII, a
qual é devida à contratura dos tecidos moles, assim como à
diminuição da força muscular; além do que, pode desencadear
alterações de estruturas que poderão sofrer interferências
indiretas da deformidade [1].
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158
Fig. 7 - Diminuição do Genum Recurvatum. Belém /PA -2002
Fonte: Pesquisa dos autores
Fig. 8 - Última reavaliação. Belém /PA 2002
Relacionado a
sensibilidades, agora o
lactente em alguns
acompanhamentos
reagia a determinados
estímulos que em
sessões anteriores não
haviam desencadeado
respostas, ou então, a
situação se apresentava de ordem inversa,
refletindo, com isso, a
adaptação sensitiva
que estava sofrendo. E
tal adaptação consistiu
em pontos positivos,
uma vez que no
decorrer do tratamento houve um aumento
satisfatório na intensiFonte: Pesquisa dos autores
dade das respostas
aos estímulos.
No estudo desenvolvido houve boa aceitação das
condutas fisioterapêuticas utilizadas, haja vista que o RN
reagiu de forma satisfatória com evolução clínica positiva e
progressiva, permitindo a concretização de um bom
prognóstico, o que contribuiu para dar continuidade ao
acompanhamento ambulatorial e domiciliar através de um
programa terapêutico aplicado pelos pais, o que permite uma
nova pesquisa baseada no tratamento tardio.
Conclusão
O acompanhamento fisioterapêutico baseado na conduta
empregada consiste de grande importância e valia na
prevenção e/ou minimização de possíveis alterações
morfofuncionais dos MMII, em decorrência aos processos
patológicos da LCQ.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
Portanto, acredita-se na contribuição que o presente
estudo de caso venha oferecer à comunidade acadêmica
científica; além do que, se espera que novos estudos nesta
área possam ser desenvolvidos, podendo melhorar ainda
mais o tratamento fisioterapêutico em RN’s
comprometidos pela LCQ.
Referências
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em pediatria. 3ª ed. Santos; 1996. p.228-33.
2. Tecklin JS. Tratamento ortopédico. Fisioterapia pediátrica.
3ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2002. p.311-4/326-9.
artigo 11 - Ivete.pmd
159
159
3. Biologia On line. Aberrações. [citado 2003]. Disponível em
URL: http// www.infonet.com.br/biologia/aberracoes.htm.
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Texto e Atlas do desenvolvimento Normal e seus desvios no
lactente: Diagnóstico e tratamento precoce do nascimento até
o 18º mês. São Paulo: Atheneu; 2000. p.57-59.
C
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160
Estudo de caso
Tratamento fisioterápico em um cão portador de
displasia coxo femoral utilizando piscina terapêutica
Physical therapy in dog with hip dysplasia using swimming pool
Gabriela Correia de Almeida e Silva
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Acadêmica de fisioterapia da Faculdade Ítalo Brasileira
Palavras-chave:
displasia coxofemoral canina,
fisioterapia veterinária,
hidroterapia em cães.
Key-words:
veterinary physical therapy,
canine hip dysplasia, veterinary
hydrotherapy.
Resumo
Objetivo: Avaliar a importância da fisioterapia na reabilitação de cães displásicos,
utilizando como recurso principal a piscina terapêutica. Métodos: Foram realizadas dez
sessões de fisioterapia. Três sessões realizadas em solo, utilizando eletroterapia e
cinesioterapia para o tratamento da doença secundária, e sete sessões com piscina
terapêutica para tratamento da doença de base, a displasia coxo femoral. Resultados:
Após as dez sessões indicadas, constatou-se melhora significativa da claudicação e apoio
simétrico dos membros pélvicos, melhora na distribuição de peso, resultando na melhora
da marcha. Conclusões: Os efeitos do tratamento fisioterapêutico na displasia coxo-femoral
foram satisfatórios, tendo em vista a melhora da sintomatologia, o retardo da evolução
da doença, pois o exercício aquático fortalece a musculatura do quadril, diminuindo a
instabilidade articular, além de proporcionar o ganho de condicionamento cardiovascular
e ser uma atividade prazerosa para o animal.
Abstract
Objective: To assess the importance of physical therapy in canine hip dysplasia
rehabilitation using the swimming pool therapy as principal resource. Method: Ten physical
therapy sessions were realized. Three sessions were realized on ground, using
electrotherapy and kinesitherapy for the secondary disease treatment and seven sessions
in swimming pool for treatment of the fundamental disease. Results: A significant
improvement and support of superior limbs were noticed after ten sessions. Conclusions:
The physical therapy effects in the canine hip dysplasia were satisfactory getting symptoms
improvement, delaying the disease development. The water exercise strengthens the
hip muscles, reduces the articular instability besides improving cardiovascular parameters,
and is pleasure activity for the animal.
Recebido 24 de novembro de 2003; corrigido 3 de fevereiro de 2004; aceito 15 de março de 2004.
Endereço para correspondência: Av. Ministro Álvaro de Souza Lima, 253 Bl.14 apt.403 Jd Marajoara 04664-020 São Paulo SP,
Tel: (11)5522 2339/8148 4132, E-mail: [email protected]
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
Introdução
O objetivo da aplicação de técnicas de fisioterapia em
animais, assim como na medicina humana, é o regresso à
função normal, à reabilitação de capacidades e performances atléticas.
Apesar dos animais diferirem em tamanho, forma e
características do ser humanos, os seus ossos, músculos,
nervos e vasos não diferem em natureza ou função do
homem. Muitas funções fisiológicas são semelhantes. Uma
vantagem dos animais é que o tempo de resposta ao
tratamento é muito mais rápido, provavelmente devido a
um metabolismo mais acelerado que o do homem.
A displasia coxofemoral (DCF) é uma doença articular
freqüente em cães, principalmente em raças de médio e
grande porte. Caracteriza-se por ser de natureza poligênica,
quantitativa e multifatorial. Os sinais clínicos variam
amplamente, desde claudicação a dor aguda. O diagnóstico
definitivo é feito somente através do exame radiográfico
obedecendo a padrões de execução e interpretação.
Nos últimos anos, a DCF vem despertando a
preocupação crescente dos clínicos e das associações de
criadores diante dos prejuízos que ela acarreta. O
conhecimento da etiologia da displasia, que não se restringe
somente às questões genéticas, mas também compreende
múltiplos fatores e as complexas interações entre eles,
constitui o principal passo para seu controle.
Essa afecção é definida como um desenvolvimento falho
na articulação coxofemoral que se caracteriza por variados
graus de frouxidão ligamentar permitindo uma subluxação
ou luxação em idade precoce. À medida que a afecção
progride, a deformação do acetábulo e cabeça femoral é
acompanhada pelo desenvolvimento de artropatia
degenerativa. A instabilidade articular, presente na displasia,
ocorre à medida que há um atraso na maturação muscular
em relação ao crescimento esquelético.
A DCF pode ser classificada em leve, moderada ou
severa, e a fisioterapia pode auxiliar no tratamento em
qualquer uma dessas classificações.
Será apresentado neste trabalho um tratamento
fisioterápico, utilizando como recurso principal a hidroterapia
que com suas propriedades e técnicas é capaz de
proporcionar alívio da dor, fortalecimento muscular entre
outros efeitos terapêuticos.
161
Figura I - Aplicação do ultra-som, 7 minutos cada membro posterior,
bilateral.(parâmetros fundamentados na prática clínica do fisioterapeuta
veterinário, pois não existem relatos na literatura sobre a dosagem adequada
na utilização do ultrasom em cães displásicos.)
Figura II - Alongamento de quadríceps, deve ser feito bilateralmente.
Figura III - Exercício aeróbio, utilizando a escada. Após a aplicação do
ultra-som, o animal não claudica e utiliza o membro mais acometido
(esquerdo) como apoio.
Material e Método
Foi estudado um cão da raça Boxer, macho, com idade
de 1 ano e 3 meses com peso de 29 kg.
Com aproximadamente 3 meses o cão começou a
apresentar deformidades nos membros pélvicos. Com cinco
meses apresentou claudicação. Após consulta veterinária
iniciou tratamento medicamentoso com antiinflamatório
Maxican. As radiografias apresentaram Displasia
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Coxofemoral severa. Passados alguns meses com tratamento
medicamentoso sem sucesso, o cão foi indicado à fisioterapia
e submetido ao medicamento Artroglican, por apresentar
doença secundária (artrose).
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Recursos
Foram utilizados no tratamento estudado a cinesioterapia
e o ultra-som terapêutico como recursos auxiliares e a
hidroterapia em piscina terapêutica como recurso principal.
A avaliação foi baseada na anamnese, inspeção e palpação,
verificados nas duas primeiras sessões.
Figura IV - Adaptação ao meio aquático, o cão ainda não nada de forma
satisfatória, alguns animais tem medo ou receio de água, é necessário um
período maior para adaptação.
Procedimentos
Piscina terapêutica: A piscina utilizada para o tratamento
estava aquecida a aproximadamente 30ºC. Tem
profundidade de 60 cm, comprimento de 11 metros e
largura aproximada de 1 metro. Está localizada no Hotel
Pet Shop Cãotry Club SP.
Cinesioterapia: A intensidade e duração do alongamento
dependem da tolerância do paciente e da força e resistência
física do terapeuta. Um alongamento manual de baixa
intensidade aplicado por mais tempo possível será mais
confortável e mais tolerado pelo paciente, o que resultará
em maior ocorrência de melhora sem expor o tecido
enfraquecido a forças excessivas que podem ameaçar a
estrutura. O músculo pectíneo é um dos principais a ser
alongado, pois é o responsável pela adução do membro,
podendo inclusive ser responsável pela luxação, quando
encurta, no presente estudo, o paciente não tolerou
este alongamento.
Foi observado compensações e utilizou-se os pontos chaves.
Exercícios aeróbicos, para ganho de força e exercícios
proprioceptivos também fizeram parte do tratamento.
Figura V - O animal começa a se adaptar e utilizar os membros posteriores
durante o nado.
Figura VI - Exercícios na água, o animal utiliza apoio bilateral.
Tratamento realizado
O tratamento realizado teve como objetivo principal
proporcionar uma melhor qualidade de vida para o animal.
A diminuição da dor é fator importante para uma melhora
da marcha. O tratamento para artrose secundária é de grande
importância para a obtenção dos resultados esperados.
• Diagnóstico fisioterapêutico: Dificuldade para marcha
com claudicação (devido a quadro álgico), limitações do arco
de movimento, hipotrofia muscular, artrose secundária.
• Objetivo fisioterapêutico: Diminuição da dor, melhora
da amplitude de movimento, ganho de força muscular,
recuperação funcional geral.
• Programa de tratamento: Hidroterapia associada ao
uso de ultrassom e cinesioterapia como recursos auxiliares.
Figura VII - O paciente nada tranqüilamente sem auxilio, utiliza os
quatro membros, e faz da terapia uma atividade prazerosa.
O animal, submetido a dez sessões de fisioterapia, foi
avaliado na primeira e segunda sessões, no decorrer do
tratamento, realizado de uma a duas vezes por semana,
observava-se atentamente respostas positivas do animal ao
tratamento proposto, a ultima sessão contou com uma última
avaliação e com orientações para AVD´S e controle da
alimentação( peso) do animal.
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Resultados
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Após a realização das dez sessões fisioterápicas
constatou-se:
• Ausência da claudicação;
• Apoio simétrico dos quatro membros;
• Melhora da marcha;
• Discreta hipertrofia muscular;
décima sessão o nado era praticado por 50 minutos com
poucas pausas.
O trabalho da fisioterapia na doença degenerativa
humana deve ser contínuo, os resultados obtidos em dez
sessões de fisioterapia veterinária foram satisfatórios abrindo
novas questões no que se refere a tempo de tratamento,
manutenção e intensidade da terapia, sendo necessário
novos estudos.
Discussão
Agradecimentos
Existem poucos relatos na literatura de trabalhos
fisioterápicos em animais de pequeno porte. Ainda não se
tem conhecimento científico dos parâmetros de avaliação e
tratamento em cães displásicos. O tratamento proposto neste
trabalho foi fundamentado na terapia humana e deve ser
estudado e aprofundado, contribuindo assim para a
fisioterapia veterinária.
O presente trabalho estudou um cão da raça Boxer, de 1
ano e três meses, 29 kg, apresentando Displasia coxofemoral
severa, artrose secundária e um quadro clínico típico da afecção
com dificuldade de locomoção, andar bamboleante, claudicação
unilateral, dorso arqueado entre outros.
A utilização do ultra-som terapêutico foi indicada para
tratamento da artrose secundária, não sendo objetivo deste
trabalho o estudo dos parâmetros mais adequados para tal
técnica no cão.
A hidroterapia, recurso utilizado para o tratamento, deve
ser estudada e adaptada para o tratamento animal, levando
em consideração a temperatura interna do cão que é de
38º C.
Agradecemos ao Dr. Marcelo Gondo, Docente da
Faculdade Ítalo Brasileira, e Dr. Cláudio Ronaldo Pedro,
M.Sc., fisioterapeuta e médico veterinário, pelo auxílio
prestado na realização do estudo de caso, à Dra. Normian
Oliveira por acreditar no meu trabalho, ao Sr. Octavio
Leite pela colaboração prática e também pelo auxílio
financeiro, à equipe do Hotel Pet Shop Cãotry Club SP
pela colaboração.
Conclusão
Após dez sessões realizadas, observamos ausência da
claudicação, apoio simétrico dos membros, discreta
hipertrofia muscular e melhora da marcha. Não sendo
objetivo deste estudo, o ganho de condicionamento
cardiovascular também foi notado, percebendo-se que na
primeira sessão o paciente tolerava o exercício aquático por
30 minutos, com consecutivas pausas para descanso e já na
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163
Referências
1. Bates A, Hanson B. Exercícios aquáticos terapêuticos. São
Paulo: Manole; 1998.
2. Braga I. Fisioterapia na medicina veterinária. Revista Fisio &
Terapia.1999;2[12]19.
3. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e
técnicas. 3ª ed. São Paulo: Manole;1998.
4. Leach D. Análise da locomoção. In: Bojrab MJ. Mecanismos
da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2ª ed. São Paulo:
Manole; 1999. p. 1279-86.
5. Martinez ACOM. O uso da piscina terapêutica no tratamento
da displasia coxo femoral canina [ monografia]. Bahia:
Universidade Católica de Salvador; 2001.
6. Riser WH. Displasia coxofemoral canina. In: Bojrab MJ.
Mecanismos da moléstia na cirurgia dos pequenos animais. 2ª
ed. São Paulo: Manole; 1999. p. 924-32.
7. Skinner AT, Thompson AM. Duffield: Exercícios na água. 3ª
ed. São Paulo: Manole; 1985.
8. Torres RCS. Displasia coxofemoral em cães parte I:
etiopatogenia. Revista do Conselho Federal de Medicina
Veterinária. Brasília: 2000;6:1-5.
C
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Resumos de trabalhos e congressos
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Carlos BM Monteiro,
Sandra Cardozo
UNIFMU e UNISA,
E-mail: [email protected]
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Mensuração da função motora grossa em um paciente
portador de paralisia cerebral diplégica com a utilização
de mola derrotativa
Introdução: No atendimento ao portador de Paralisia Cerebral, são utilizadas
diferentes abordagens de tratamento, assim como são prescritos vários tipos de
órtese para proporcionar função ou prevenir deformidades. Uma órtese que se
utiliza para evitar deformidade e, com isso, propiciar maior função motora no
futuro é a mola derrotativa, aparelho ortopédico que tem um cinto de fixação
na cintura pélvica do qual saem duas molas acompanhando lateralmente os
membros inferiores, que se fixam em bota ou tênis ortopédico. Desta forma, a
tensão provocada pela mola nos membros inferiores do paciente diminui o
posicionamento em rotação medial e adução dos quadris, o que propicia uma
vivência em posição fora do padrão patológico. Este trabalho propõe analisar
se o paciente, enquanto utiliza a mola derrotativa, consegue apresentar a mesma
função motora do que sem sua utilização. Este estudo propiciará ao fisioterapeuta
a possibilidade de verificar se durante a utilização da mola derrotativa o paciente
apresenta alteração da função motora grossa.
Material e Método: Foi selecionado para este estudo um paciente portador de
Paralisia Cerebral com 10 anos de idade que utiliza a mola derrotativa com o
objetivo de vivenciar o posicionamento dos membros inferiores em um padrão
mais adequado. Para podermos avaliar a função motora, optou-se por utilizar o
GMFM (Gross Motor Function Measure) um instrumento de observação
padronizado criado e aprovado para medir mudança na função motora grossa
que ocorre nas crianças portadoras de Paralisia Cerebral. Foi aplicado o GMFM
no paciente sem a utilização da mola derrotativa e, logo a seguir, com a utilização,
para então fazermos a análise dos resultados obtidos.
Resultados: Após a análise dos dados obtidos verificou-se que em todas as cinco
dimensões do GMFM ocorreu uma diminuição da função motora grossa, durante
a utilização da mola derrotativa, sendo que a seguir apresentar-se-á os resultados
em porcentagem: dimensão deitar e rolar – diminuição de 4%, dimensão sentar –
diminuição de 10%, dimensão engatinhar e ajoelhar – diminuição de 17%, dimensão
em pé - diminuição de 41% e dimensão andar, correr e pular – diminuição de
35%. Escore total – diminuição de 14% da função motora grossa.
Conclusão: Apesar de termos analisado apenas um paciente, concluímos que
ao prescrever a mola derrotativa para pacientes com diplegia espástica para
propiciar vivência sensório-motora em posicionamento mais adequado dos
membros inferiores, temos que considerar que durante o uso da órtese o paciente
poderá apresentar diminuição da função motora grossa, independente se deitado,
sentado ou em pé. Dado importante para o fisioterapeuta decidir a prescrição
da mola derrotativa.
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Fátima Aparecida Caromano,
Daad Saab, Esdras Guerreiro
Vasconcelos,. Curso de Fisioterapia
USP, Academia de Polícia Civil de São
Paulo, Instituto de Psicologia da USP
E-mail: [email protected]
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Objetivo: Sabendo-se o quanto a dor lombar gestacional pode limitar a gestante
em seus afazeres, o principal objetivo deste estudo foi analisar o comportamento
da dor lombar durante a gestação (13-15 semanas, 25-27 semanas e 34-36 semanas
gestacionais).
Material e Método: A amostra foi constituída por 19 gestantes saudáveis, entre
19 e 39 anos. As gestantes responderam a dois questionários e participaram do
Exame Físico (Medidas Antropométricas:Circunferência Abdominal Total,
Processo Xifóide-Sínfise Púbica e Linha Média Axilar-Cicatriz Umbilical) nos 3
períodos pré-estabelecidos. O primeiro questionário continha perguntas sobre
dados pessoais, incidência, características (sinais e sintomas) e fatores de risco
para a dor lombar. O segundo questionário, o Questionário Oswestry de
Incapacidade por Dor Lombar, visou quantificar o quanto à dor lombar interfere
nas AVD’s.
Resultados: Pôde-se observar que em 100% das gestantes analisadas (25-27
e 34-36 semanas) apresentaram dor lombar, ficando claro os prejuízos causados
por ela no decorrer da gestação. Na mesma proporção houve aumento do
peso corporal, das medidas antropométricas e da altura do fundo uterino. As
médias das notas do Questionário Oswestry passaram de 8,7% no primeiro
período, para 18,86% no terceiro período avaliado. Estas gestantes estavam
na Faixa de Incapacidade Mínima, podendo retratar um aumento na dificuldade
de realizar suas AVD’s. História prévia de dor lombar foi considerada fator
predisponente de evolução de dor lombar gestacional.
Conclusão: Observou-se que através do exame físico e da anamnese
(questionário) podemos identificar precocemente gestantes com potencial para
desenvolver a dor lombar entre a 25-27 e 34-36 semanas, embora esta não
seja caracterizada como uma patologia incapacitante. UDESC
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Comportamento da dor lombar gestacional
Fabiana Flores Sperandio, Gilmar
Moraes Santos, Camila Costa de
Araújo, Monica Silva de Souza
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Variáveis psicossociais e físicas de estresse relacionadas a
seqüestro com cativeiro
Introdução: O número de seqüestros envolvendo cativeiro vem aumentando
significativamente. Conhecer as respostas psicossociais e físicas apresentadas por
pessoas submetidas a este tipo de violência poderá facilitar a compreensão das
estratégias de enfrentamento apresentadas por estas e, posteriormente, as possíveis
formas de intervenção terapêutica para esta população.
Objetivo do estudo: Pesquisar as variáveis psicossociais e físicas de estresse
relacionadas à situação de seqüestro com cativeiro, bem como o relato dos
efeitos deste tipo de seqüestro na qualidade de vida após a libertação.
Métodos: Obteve-se a lista parcial de pessoas seqüestradas e submetidas à
cativeiro, na cidade de São Paulo, por meio de indicação da Delegacia AntiSeqüestro (nome e telefone), ao mesmo tempo em que se buscava informações
com pessoas conhecidas sobre alguém que pudesse ter sido submetida a este
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tipo de crime. Após explicar os procedimentos da pesquisa, catorze pessoas
se disponibilizaram para participar do estudo. Foram aplicadas e
posteriormente analisadas as seguintes atividades: 1) Classificação dos dados
gerados pelo questionário com uma única questão aberta. 2) Coleta de dados
a partir do teste Scope-Coping, que avalia resposta de enfrentamento. 3) Coleta
de dados a partir do teste LOC, que avalia apoio utilizado. 4) Coleta de dados
a partir da lista de sintomas de estresse - LSS/VAS (relativos aos períodos
antes e após o seqüestro).
Resultados: Quando questionados sobre “qual a lição que ficou para você depois de
ter sido submetido a esta situação?” os participantes referiram-se a medidas de
segurança, alterações na perspectiva quanto ao futuro de vida e mudanças de
valores. É válido enfatizar como a segurança é vista como um fator de
sobrevivência, dentro dos limites que cada pessoa pode agir (por exemplo,
blindando o carro ou modificando seus hábitos, a exemplo de não parar nos
faróis à noite). Observa-se também um movimento em direção à reorganização
da vida. Quanto aos valores, percebe-se uma ênfase na valorização da família
(em alguns casos da religião) e um questionamento político-social, que embora
apareça na forma de crítica, tenta chamar atenção para o assunto. Cinco dos
participantes referiram dores musculares, três referiram alterações
cardiocirculatórias como pressão alta ou palpitação após a libertação, quatro
referiram dificuldade para dormir e dois relataram dores de cabeça. Na
avaliação utilizando o teste LOC, que delimita se o participante apoiou-se em
si próprio (self), na sorte ou no apoio de pessoas poderosas, encontrou-se que
a maioria das pessoas entrevistadas (n = 11) valoriza mais o self. Na avaliação
do nível de estresse encontrou-se que, dos sujeitos entrevistados, metade (n =
7) não apresentou modificações no nível de estresse, de acordo com o
instrumento utilizado. Da outra metade, dois (14%) apresentaram melhora e
cinco (36%) piora no nível de estresse, comparando o período da entrevista
com o período antes do seqüestro. O teste Scope-Coping, que avalia as respostas
de enfrentamento, mostrou que, dos entrevistados cinco apresentam um
enfrentamento médio e nove apresentam um enfrentamento acima da média,
isto é, bastante adequado.
Discussão e conclusão: Durante as entrevistas foi possível perceber que, por
mais difícil que tenha sido a situação com emoções negativas (como medo,
angústia, desânimo, revolta...), posteriormente ao seqüestro, a maioria dos
entrevistados conseguiu elaborar e organizar uma resposta para continuidade
da vida, como aproveitá-la melhor ou mudar para um país mais seguro.
Percebeu-se um movimento intenso de cada entrevistado na busca de um
equilíbrio emocional e físico. Este padrão de comportamento pode estar
associado ao tipo de população pesquisada – bom nível socioeconômico e
educacional, utilização de apoio em sua própria pessoa e boa capacidade de
enfrentamento (coping) em diferentes situações. Chama a atenção o fato de que
doze participantes referiram seqüelas físicas decorrentes do seqüestro. Nenhum
dos participantes procurou apoio profissional com objetivo de restaurar o
equilíbrio físico/emocional. A atuação fisioterapêutica associada com o trabalho
de reabilitação psicológica é fundamental no retorno à normalidade física e
emocional das pessoas submetidas a seqüestro e o trabalho interdisciplinar
pode facilitar a compreensão da evolução dos sinais e sintomas.
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Wellington Pereira dos Santos
Yamaguti, Luiz Antonio Alves,
Carrie Chueiri Ramos Galvan,
Shirley Aparecida Fabris Souza,
Antonio Fernando Brunetto
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Introdução: A interpretação da manovacuometria remete aos valores até então
obtidos com instrumentos analógicos, o que torna necessário cálculos preditivos
para interpretar os resultados da mensuração digital.
Objetivos: O estudo teve como objetivo determinar equações preditivas de
pressões analógicas para os sexos masculino e feminino a partir da mensuração
com manovacuômetro digital.
Materiais e Métodos: A coleta de dados foi realizada no Laboratório de Avaliação
Cardiorrespiratória da Universidade do Vale do Itajaí no período de março a
abril de 2002, sendo a população alvo os acadêmicos dos cursos do Centro de
Ciências da Saúde do Campus de Itajaí, Itajaí, Santa Catarina. A amostra constou
de 100 indivíduos saudáveis, de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 25 anos.
Utilizou-se manovacuômetros analógico da marca Ger-Ar, modelo MV300,
intervalo operacional de ± 300 cmH2O, precisão de 5 cmH2O e digital da marca
Globalmed, modelo Microhard V1.0-500, intervalo operacional de ± 500 cmH2O
e precisão de 2 cmH2O. As mensurações das pressões respiratórias máximas foram
realizadas estando os indivíduos avaliados, na posição sentada, em repouso, com
a coluna ereta e inclinado para frente. Foram executadas três mensurações da
PImáx e PEmáx com um repouso de 30 a 60 segundos entre elas, sendo utilizada
a média das mensurações para análise descritiva seguida da determinação da equação
de regressão e teste de hipótese da reta de regressão (teste F), a= 5%.
Resultados: As equações encontradas para sexo feminino foram: (A) PImáx
analógica = 0,9724.PImax digital + 13,255 ± 1,96 (11,133) e (B) PEmax analógica =
1,0531.PEmáx digital + 7,8531 ± 1,96 (11,581). Para o sexo masculino: (C) PImax
analógica = 0,8671.PImax digital + 37,6 ± 1,96 (11,866) e (D) PEmax analógica=
0,862.PEmax digital + 29,688 ± 1,96 (16,985), sendo que os valores de F não
foram significantes para a= 5%.
Conclusões: Conclui-se com a pesquisa que as equações preditivas das pressões
analógicas foram aceitas para o nível de significância estabelecido nesse estudo.
Universidade Do Vale Do Itajaí –
Univali, Itajaí, Santa Catarina, 2o
Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória, 13 a
15 de novembro de 2003, Itajai SC,
Campus da UNIVALI
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Determinação de equações preditivas de pressões respiratórias máximas analógicas a partir das pressões digitais
Emmanuel Alvarenga Panizzi,
Fernanda Rosa Willrich, Cristiana
Ferreira Lima, João Ramos Neto,
Edilaine Kerkoski, Nadir Barbosa
Alves, Rhuanita Graciela Drozd
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Comparação entre a PImax mensurada pelo método
da válvula unidirecional e o convencional em pacientes
submetidos ao desmame da ventilação mecânica
Introdução: Em Unidades de Terapia Intensiva a PImax tem se mostrado
como um importante índice preditivo de sucesso no desmame da ventilação
Universidade Estadual de Londrina – UEL, mecânica invasiva (VMI). O método mais comum para se mensurar a PImax é
Londrina, Paraná, 2o Congresso Sul-Brasileiro através da manutenção de um esforço inspiratório máximo após uma expiração
forçada. A PImax também pode ser mensurada através da utilização de uma
de Fisioterapia Respiratória, 1a Jornada
Catarinense de Fisioterapia Cardiorrespiratória, válvula expiratória unidirecional. Objetivos: Comparar a PImax obtida pelo método
convencional e pelo método da válvula unidirecional, em pacientes em processo
13 a 15 de novembro de 2003, Itajai SC,
de desmame da VMI.
Campus da UNIVALI
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Materiais e Métodos: Foram avaliados 10 pacientes (7 M e 3 H) internados
na UTI do HURNPr com idade média de 43,75 ± 11,80 anos. Todos os
pacientes apresentavam-se com tubo oro-traqueal, em processo de desmame
da VMI, conscientes e cooperativos. A PImax foi mensurada através do
método convencional e da válvula unidirecional, sendo randomizado o
método a ser inicialmente aplicado. Durante as mensurações de PImax, os
pacientes eram posicionados em semi-decúbito de 45° e incentivados de
maneira padronizada. Foram realizadas 10 mensurações de PImax para cada
método com intervalo de 1 minuto entre cada medida. Após a realização
do teste previamente randomizado, o paciente descansava durante 20 minutos
antes da realização do segundo teste. No método convencional, foi utilizado
um manovacuômetro digital MVD500 (GlobalmedÒ) acoplado a um tubo
“T” com encaixe para o tubo oro-traqueal. O paciente realizava uma
expiração até volume residual seguida de um esforço inspiratório máximo.
No outro método, a válvula unidirecional era acoplada ao manovacuômetro
sendo solicitado para o paciente inspirar e expirar com o máximo esforço
durante 20 segundos. O maior valor obtido de PImax para cada método
foi selecionado para análise estatística. Foi utilizado o test t de student
dependente com diferença significativa para p < 0,05. A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética da instituição e todos os pacientes assinaram um termo
de consentimento.
Resultados: A PImax obtida pelo método convencional foi 48,90 ± 18,45
cmH2O e a PImax obtida pelo método da válvula unidirecional foi 62,00 ±
19,78 cmH2O. Houve diferença estatisticamente significativa entre os valores
obtidos de PImax pelos dois métodos (p = 0,001).
Conclusões: O método da válvula unidirecional é melhor para a mensuração
da PImax em pacientes submetidos ao processo de desmame da VMI.
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Cláudia Mara Campestrini Bonissoni,
Louisse Maria Borsarini de Oliveira,
Mônica Vettori Medeiros
Efeitos de um programa de 20 sessões de exercícios aquáticos na força muscular respiratória, mobilidade torácica
e pico de fluxo expiratório em homens acima de 60 anos
Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI, Itajaí, Santa Catarina,
2o Congresso Sul-Brasileiro de Fisioterapia
Respiratória, 1a Jornada Catarinense de
Fisioterapia Cardiorrespiratória,
13 a 15 de novembro de 2003, Itajai SC,
Campus da UNIVALI
Introdução: Com o envelhecimento ocorrem importantes alterações funcionais
no sistema respiratório, resultando em uma menor capacidade respiratória. Entre
elas, destaca-se a redução da força muscular respiratória, a redução do pico de
fluxo expiratório máximo instantâneo e a diminuição da mobilidade torácica.
Objetivos: A pesquisa teve como objetivo avaliar o efeito de vinte sessões de
exercícios aquáticos em idosos acima de 60 anos do sexo masculino em relação
à força muscular respiratória, mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório
máximo instantâneo.
Materiais e Métodos: O estudo foi realizado com dez indivíduos do sexo
masculino, idosos acima de 60 aos, na Clínica-Escola de Fisioterapia na UNIVALI.
Inicialmente foi realizada uma avaliação verificando força muscular respiratória,
mobilidade torácica e pico de fluxo expiratório máximo instantâneo, sendo
reavaliados a cada cinco sessões. Os indivíduos foram submetidos a um protocolo
de exercícios aquáticos de vinte sessões.
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Resultados e Conclusões: Os dados obtidos demonstraram vinte sessões de
exercícios aquáticos melhoram significativamente (p<0,05) a força muscular
respiratória, a mobilidade torácica e o pico de fluxo expiratório máximo
instantâneo de idosos do sexo masculino. Os exercícios aquáticos proporcionam
aos idosos uma melhora da função dos músculos esqueléticos e respiratórios
resultando num melhor condicionamento cardiorrespiratório e, conseqüentemente,
melhora da qualidade de vida.
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Normas de publicação Fisioterapia Brasil
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em
outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro,
sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas
condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver”
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical
journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo
Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as
especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em
inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee
of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na
versão atualizada de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo
de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman)
com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico,
sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez
referências.
2. Artigos originais
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas,
formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito,
etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/
Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
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3. Revisão
170
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 2 - março /abril de 2004
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
1. Normas gerais
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM
o nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado
do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu
conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia,
análise).
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- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem
ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas
em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
30 de junho a 3 de julho
Physical Therapy 2004: Annual Conference & Exposition
of the American Physical Therapy Association
Chicago, Illinois
Informações: www.apta.org
2004
17 a 25 de abril
Ventilação mecânica invasiva e não-invasiva
Prof. Leonardo Costa (UFRJ), Alexandre Cossenza (UERJ)
Premier Center
Rio de Janeiro
Informações: (21) 2548 6942
[email protected]
Abril
22 a 24 de abril
5º CIOT - Congresso do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de São Paulo
Centro de Convenções Rebouças, São Paulo SP
Informações: (11) 3168 1149,
E-mail: [email protected]
www.ciot2004.com.br
23 a 24 de abril
II Congresso Brasileiro de Fisioterapia da Escoliose
Centro de Eventos Hotel Plaza São Rafael
Porto Alegre RS
Informações: felliniturismo.com.br
Maio
16 a 19 de maio
I Congresso Paulista de Fisioterapia Respiratória do
Estado de São Paulo
SOBRAFIR – Regional São Paulo
São Pedro SP
Informações: www.sobrafir.com.br
Junho
3 a 5 de junho
Congresso Nacional do Departamento de Ergometria
e Reabilitação Cardiovascular
Centro de Convenções Hotel Serrano
Gramado RS
Informação: felliniturismo.com.br
13 a 17 de junho
European Federation for Research in Rehabilitation
Rehabilitation Sciences in the New Millennium –
Challenge for Multidisciplinary Research 8th Congress
Ljubljana, Slovenia
Informações: www.cd-cc.si/EFRR2004
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8 a 10 de julho
Biomecânica craniofacial e fisiopatologia
temporomandibular
Prof. Dr. Mariano Rocabado
Centro de Convenções de Pernambuco
Recife PE
Informações: [email protected]
www.oclusivo.com.br
Julho
Agosto
27 a 28 de agosto
Confit – Congresso de fisioterapia no trabalho
Centro de Exposições Imigrantes
São Paulo SP
Informações: Pacin Eventos (11) 5589-1489
Setembro
29 de setembro a 2 de outubro
XII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória Prática Baseada em Evidência
Centro de Convenções Topázio Imperial
Ouro Preto MG
Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121
Outubro
27 a 30 de outubro
II Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco
Informações: www.fisioterapiamanual.com.br
Novembro
5 a 7 de novembro
II Congresso Internacional de Fisioterapia
I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
III Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico
Cinesiológico Funcional
Rio Centro, Rio de Janeiro RJ
Informações: www.sbf.org.br
10 a 13 de novembro
V Interdisciplinary World Congress on Low Back and
Pelvic Pain
Austrália
[email protected]
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Índice
(vol.5, nº3 maio/junho 2004 - 173~256)
EDITORIAL
Somos todos culpados até que se prove o contrário, Marco Antonio Guimarães da Silva ...................................................... 175
ARTIGOS ORIGINAIS
Qualidade de vida dos médicos militares do hospital geral de Curitiba, Arlete Ana Motter, Glaycon Michels ............ 177
Biomecânica da marcha e da postura com calçado de salto alto, Aderbal Silva Aguiar Júnior,
Tatiane Marcos Freitas ....................................................................................................................................................................................183
Efeitos
da fisioterapia
no aprimoramento da vida sexual feminina, Maicon Wronski de Medeiros,
Fisioterapia
prática
Melissa Medeiros Braz, Karina Brongholi .......................................................................................................................................................188
Percepção subjetiva do esforço em indivíduos hipertensos e normotensos durante a execução
do teste ergométrico, Jônatas de França Barros, Geraldo de Paula Valle, José Roberto Pimenta de Godoy ........................................194
Avaliação postural da seleção brasileira masculina de basquete, Paulo Henrique Cinelli Moreira, Gisele Cirelli,
Claudinei Chamorro Pelegrina Jr, Cesar Pereira Soares de Oliveira ...............................................................................................................202
REVISÕES
Lesões SLAP - Aspectos clínicos e patológicos, Jaciene de Souza Silva, Leila de Albuquerque Fonseca .................................. 209
Influência do decúbito ventral nas trocas gasosas de pacientes com hipoxemia refratária ao oxigênio,
Ana Carolina de Almeida Koide, Emerson dos Santos, Décio Iandoli Júnior ............................................................................................... 216
Mecanismos que explicam o efeito da atividade física na prevenção de acidente vascular encefálico,
Rafael Braune de Castro, Lucia Marques Vianna ........................................................................................................................................221
Limites da estimulação elétrica neuromuscular no fortalecimento de músculos esqueléticos saudáveis
e com déficit de força, Jamilson Simões Brasileiro, Tania de Fátima Salvini ............................................................................. 224
Ginástica Laborativa
ESTUDOS DE CASOS
Ruptura por trauma corto-contuso do músculo deltóide, Daniel Tavares da Mata Barreto, Thais Pereira Guisande ..........231
Complicação relacionada ao uso da respiração com pressão positiva intermitente, Renata Lenize Pasini,
Luciana Castilho de Figueiredo, Rosmari Aparecida Rosa Almeida Oliveira, Renato Giuseppe Giovanni Terzio ...................................... 242
OPINIÃO
A atuação do fisioterapeuta na unidade básica de saúde, Andressa Caetano da Veiga, Carlos Alberto Soares Neves,
Paula Montagna, Sandra Sayuri Kanda, Samuel dos Santos Valença ..........................................................................................................246
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS . ....................................................................................................................250
NORMAS DE PUBLICAÇÃO . ........................................................................................................................................................... 254
EVENTOS . ................................................................................................................................................................................................256
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR - São Paulo) Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde
Direção de arte
Andréa Vichi
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749
e-mail: [email protected]
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Administração
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Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
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Assinaturas
6 números ao ano + 1 CD-ROM
1ano: R$ 156,00
Editores associados
Dr. André Luís Santos Silva
Drª. Tiene Deccache
Rio de Janeiro: (21) 2221-4164
Representante de Assinatura: A.Shalon
(11) 3361-5595
Publicidade e marketing
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Todo o material a ser publicado deve ser
enviado para o seguinte endereço
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Ilustração da capa: Gino Severini, Le Boulevard, Londres 1911 – óleo sobre tela (63,5 x 91,5 cm)
I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes.
© ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do
copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou
propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção
na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Editorial
Somos todos culpados até
que se prove o contrário
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
[email protected]
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor do curso de mestrado da UCB
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Ao longo dos tempos, as idéias dos grandes pensadores têm influenciado os costumes,
a cultura e servido para, em algumas situações, justificar ações políticas. No Direito
penal, a filosofia positivista, que encontra no mecanicismo seu esteio principal, influenciou,
no passado, o pensar jurídico e acabou justificando, nos regimes políticos de exceção,
certos valores para obtenção da culpabilidade dos presumidamente considerados
criminosos. Para o bem da humanidade ou, pelo menos, para parte dela, a situação
mudou e, mais uma vez, a influência do pensar filosófico, agora Kantiano, promoveu,
sob o ponto de vista ético e moral, um resgate do valor da confissão, oferecendo-se ao
infrator a oportunidade de reconhecer seus erros e arrepender-se, atenuando, assim, a
sua pena.
Caso os equívocos e falta de evidências de nossas investigações científicas fossem
considerados crimes, os artigos que publicamos, frutos destas investigações, dariam
uma bela materialidade do delito e seriam uma irrefutável confissão.
Haveria, nestes casos, dois tipos de infratores: os crédulos ingênuos e os pseudo cognoscitivos.
Os primeiros, crédulos ingênuos, são os que se limitam a ler os trabalhos publicados por
outros e acreditando, piamente, no que leram, se encarregam de serem vetores
multiplicadores das conclusões levantadas no trabalho lido. Se os crédulos ingênuos forem
formadores de opinião, a situação se agrava, porque, com certeza, através de suas palestras
ou de trabalhos publicados (geralmente sob forma de livros ou de revisão) poderão
influenciar com falsas informações um sem números de alunos, ávidos por novos
conhecimentos.
Os pseudo cognoscitivos são constituídos por aqueles que efetivamente participam do
processo da produção cientifica, executando pesquisas e publicando os seus resultados
em periódicos, previamente indexados. Os seus artigos serão lidos pelos crédulos ingênuos
e por outros pseudo cognoscitivos à busca de informações para poderem executar seus
projetos de pesquisas. Se não tivermos muita cautela, até mesmo excesso de zelo, na
interpretação dos resultados expressos nos artigos publicados por estes, estaremos
alimentando uma bela cadeia de equívocos.
Mas porque tanto ruído e tanta preocupação com o tema? Haveria tantos equívocos
e equivocados nas áreas da investigação e publicação? Há tempos, venho, como já
afirmei em outro editorial, exigindo que meus alunos de Especialização (Atlântica
Educacional), Mestrado (UCB) e Doutorado (UBA) procedam a respectivamente 25,
75 e 150 análises de artigos, que geram, por sua vez, 100, 300 e 750 páginas de análises
criticas dos artigos citados nas referências. Todo e qualquer artigo citado deve passar
por analise critica, com nível de exigência circunstanciado ao curso que o aluno esteja
fazendo. Depois da análise, os alunos elaboram a pergunta que o autor deveria ter feito
ao projetar a pesquisa, cujos resultados permitiram o artigo em questão. Além disso, os
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alunos formulam as hipóteses substantivas e estatísticas, com inserção do valor p de
alfa ou beta, para todos os artigos analisados. Na capacitação desses alunos, feita com
analises prévias de artigos, temos observado que somente uma parcela muito pequena
de artigos analisados apresenta qualidade. Analisamos publicações em revistas indexadas
no país e no exterior e, sem que me causasse surpresas, observamos que publicações
em revistas internacionais de grande impacto também apresentam, em sua grande maioria,
artigos pouco fundamentados. Um dos exemplos que melhor ilustra o que venho dizendo
há anos talvez seja uma meta-analise, publicada em revista indexada no Medline, que nos
apresenta o seguinte resultado: de mil novecentos e noventa e seis (1996) artigos publicados
sobre lombalgia, se pré selecionou, apenas, doze (12) que atendiam ao mínimo de qualidade
exigida para um artigo. Dos doze (12) artigos pré-selecionados, apenas quatro
apresentavam os quesitos exigidos para seguirem até o final. Desses quatro (4), apenas
dois (2) passaram pelo teste de qualidade total, ou seja, o que diziam podia ser interpretado
como expressão da mais pura realidade. Diante deste quadro - a aprovação de apenas
dois (2) entre mil novecentos de seis artigos (1996) artigos publicados em revistas de
impacto - o que fazer?
Todas as revistas indexadas analisam, através do seu corpo editorial, os artigos que
lhe são enviados e, com freqüência, devolvem os artigos aos seus autores para correções.
O problema é que as correções não contemplam, obviamente, adequações metodológicas
no trabalho já realizado, já que, se assim o fizessem, o autor seria levado a repetir o seu
experimento. Em outras situações, o avaliador não esta atento ou, até mesmo, preparado
para a detecção dos vieses introduzidos nas pesquisas que geraram os artigos analisados.
A criação e um departamento especializado, em cada editora, que tomasse para si a
responsabilidade de analisar metodologicamente as pesquisas contidas em cada trabalho
enviado e a exposição destas análises, ao final de cada artigo publicado, poderia ser parte
da solução do problema. Restaria saber se o autor concordaria em se expor a tal situação
e se as editoras poderiam arcar com a despesa para manutenção da equipe especializada
(a margem de lucro das editoras, ao contrário do que se pensa, não é grande).
Bem, talvez no futuro, quem sabe em algum país, os advogados descubram que as
equivocadas informações cientificas que passamos para os nossos pares e para a população
sejam passiveis de processos e aí nos reste o consolo de reconhecer os nossos erros, nos
arrependermos e nos beneficiarmos de uma atenuação de pena. Não nos esquecendo,
é claro, de rezarmos uma oração para Kant.
Uma outra sugestão, talvez a mais importante para o momento, seja a de, mais uma
vez, evocar o nosso filósofo transcendentalista e interpretar, com rigor, a sua definição
de critica: a atitude ou capacidade de distinguir entre o verdadeiro e o falso, tendo critérios e razões
para tal e não aceitando afirmações de outros sem o seu prévio exame. Quando o assunto é
publicação e pesquisa cientifica, cabe duvidarmos de tudo e de todos. Inclusive deste
editorial. Afinal, somos todos culpados, até que .............
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Artigo original
Qualidade de vida dos médicos militares
do hospital geral de Curitiba
Life quality of military doctors at the general hospital of Curitiba
Arlete Ana Motter, M.Sc*, Glaycon Michels**
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*1º Tenente Fisioterapeuta, Chefe da Fisioterapia do Hospital Geral de Curitiba, Professora da Universidade Tuiuti do Paraná, Curso de
Fisioterapia, **Doutor em Medicina, 2º Tenente Médico R/2 Aeronáutica, Professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção e Curso de Medicina UNISUL
Palavras-chave:
médicos militares, qualidade
de vida, estresse, depressão.
Key-words:
military doctors, life quality,
stress, depression.
Resumo
O objetivo dos autores foi avaliar o grau de comprometimento da qualidade de vida
em indivíduos que, além de médicos, têm que se submeter a uma estrutura organizacional
diferente daquela civil. Fizeram parte do estudo 52 médicos militares, que trabalham
no Hospital Geral de Curitiba (HGeC). A coleta de dados se deu por meio da aplicação
de questionários. A análise da situação e dos resultados revelou 36% da população com
estresse, 23% apresentando diferentes níveis de depressão e apenas 3,9% dos médicos
com qualidade de vida considerada adequada. O equilíbrio deverá ser buscado pela
sociedade e pelo indivíduo, no sentido de que as exigências do mercado não retirem do
homem o que ele tem de mais precioso: a sua saúde física e mental.
Abstract
The aim was to evaluate the implication degree of life quality in individuals who,
besides working as doctors, must submit themselves to an organizational structure
that differs from the civil one. The study was composed by 52 military doctors,
working at the General Hospital of Curitiba. The data collection was performed by
the application of questionnaires. The analysis of the situation and results revealed
that the condition of stress is present in 36% of population, 23% present different
levels of depression and only 3,9% of the doctors presented suitable conditions of
life quality. The quest for balance must come from society and the individual himself,
in sense that the career demands do not remove what is most precious for men:
mental and physical health.
Recebido 7 de abril de 2003; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Arlete Ana Motter, Rua Martin Afonso, 371/202B São Francisco 80410-060 Curitiba PR, Tel: (41) 233-3803/
9967-0687, E-mail: [email protected]
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Introdução
Sabe-se que, para o médico, existem uma série de
privações que se estendem desde o período preparatório
para os vestibulares até a graduação, quando não por toda a
carreira. São fatos comuns, a esse profissional, a sobrecarga
de trabalho; as privações de sono; as interrupções fora de
hora; os horários incertos para refeições e isolamento social.
Acrescente-se que a consagrada descrição da figura do médico
como um “sacerdote” [1] não tem hoje o reconhecimento
tradicional, porém muitos pacientes e familiares ainda o vêem
como um ser com poderes sobre-humanos, o que faz
aumentar ainda mais sua responsabilidade. Esse ritmo
contínuo de vida resulta, via de regra, em situações de
extremo estresse para o profissional médico civil.
Quanto ao profissional médico militar, além de enfrentar
os percalços acima relatados, ainda convive com freqüentes
transferências e a submissão a uma organização caracterizada
pelo rigor da hierarquia, da disciplina e de pouca flexibilidade.
Nessa relação recursos humanos/trabalho/organização,
incluem-se alta pressão temporal e estresse físico e mental.
E, como se sabe, esse conjunto de fatores resulta em
prejuízos para a saúde e bem-estar do trabalhador, uma vez
que o item saúde resulta da interação de fatores hereditários,
ambientais e de estilo de vida [2].
Como se depreende, a organização militar envolve o
exercício do poder pelos superiores no controle dos
subordinados e a orientação destes em relação àquele poder
[3]. Conseqüentemente o médico que se acha inserido nesse
ambiente, pressionado pelas inerentes contingências da
profissão, é um sério candidato a doenças como hipertensão,
estresse e depressão, quando não agravadas por fatores
individuais como obesidade e sedentarismo ou uso em excesso
de álcool ou drogas.
Os médicos do Hospital Geral de Curitiba (HGeC)
trabalham em diversas outras instituições de saúde da capital
paranaense e região metropolitana, sobrecarregando-se física
e mentalmente. No Brasil, Meleiro [4] cita; sobrecarga
horária, privação de sono, contanto intenso e freqüente com
a dor e o sofrimento, contato com a morte e o morrer e
limitações do conhecimento médico, como fatores
estressantes, associados ao exercício profissional.
A literatura evidencia a incidência e a prevalência de
depressão e suicídio nesse grupo profissional, mais elevada
que na população em geral. Sendo o suicídio a segunda causa
de morte entre os alunos da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo [4]. Parece existir relação entre a
excessiva carga horária de trabalho aliada a privações do
sono e à incidência de depressão em residentes de medicina
[5]. De acordo com Gaspar [6], em muitos locais o plantão
médico inicia-se à noite, após um dia normal de trabalho, o
que leva o profissional a permanecer trabalhando sem dormir
por mais de 36 horas. Entretanto jornadas prolongadas
mostram queda no desempenho dos médicos e alterações
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de estados de humor com implicações significativas na vida
pessoal e profissional.
Logo são vários os problemas apontados na literatura
com relação ao trabalhador médico. Assim busca-se uma
avaliação da qualidade de vida dos médicos militares à luz
da ergonomia, ciência que estuda a adequação das condições
de trabalho à condição psico-fisiológica dos trabalhadores,
para que estes obtenham o máximo de conforto, segurança
e desempenho na realização de suas atividades [7].
Trabalho médico
Apesar de possuir alto grau de autonomia, o médico é
treinado a salvar vidas a qualquer custo, a estar disponível e
apto para desempenhar a tarefa a qualquer hora do dia, sendo
que a omissão de socorro, segundo o Código de Ética Médica,
é delito grave, passível de punição com perda do direito do
exercício profissional [8]. Seu trabalho se dá em meio a alto
fluxo de atividades, de pessoal e de pacientes. Deve estar
preparado para lidar com o inesperado, para minimizar os
fatores de agressões e ter habilidades no trato com as pessoas,
particularmente em situações de crise emocional.
A carga de trabalho depende de vários fatores
relacionados à tarefa, tais como limitações temporais, o
contexto em que ela está inserida e o nível de complexidade
exigido para sua execução. Toda atividade possui pelo menos
três aspectos: físico, cognitivo e psíquico inter-relacionados,
sendo que o trabalho hospitalar exige um componente
cognitivo intenso e complexo [9]. Quanto à carga psíquica
do trabalho, ela aumenta quando a liberdade de organização
do trabalho diminui, surge então o sofrimento. Não somente
o medo e a angústia no trabalho, mas também a frustração
e a agressividade podem aumentar as cargas
cardiovasculares, musculares e digestivas [10,11]. Portanto
a organização do trabalho possui um papel de fundamental
importância na diminuição da carga mental do trabalhador.
As exigências do trabalho conduzem o médico a longos
períodos de envolvimento com microdecisões de toda
ordem, relacionadas à solicitação da memória, ao seu
conhecimento técnico e científico e sujeitas a interrupções
constantes. Wisner [12] cita a desproporção entre exigências
do trabalho e o pessoal disponível como fator que provoca
alta exigência do médico. A adoção de medidas, que tornem
o ambiente físico de trabalho nos hospitais mais atrativo e
com características familiares, é sugerida por vários autores
como forma de atenuar o estresse.
Dentro da organização militar, a exigência quanto à
disciplina de normas e horários é pouco flexível, dada à
própria natureza de sua missão. Sabe-se, porém, que tal
situação pode facilitar a instalação da burocracia, correndo
o risco de se cultivar uma visão parcial, “concentrando sua
atenção nos aspectos meramente formais das organizações e
deixando de lado aqueles que efetivamente fazem com que
as organizações funcionem: as pessoas que nelas operam”
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
[13]. Nesse sentido, Fernandes [14] salienta a importância
da autonomia no ambiente de trabalho, como forma de
aumentar a satisfação e estimular a criatividade e
envolvimento dos trabalhadores.
Há também que se falar dos períodos de lazer e
relaxamento, que se tornam cada vez mais escassos na vida
do médico, deteriorando sua qualidade de vida. A ausência
de horários fixos para alimentar-se, na maior parte das vezes,
se traduz em refeições rápidas e pouco saudáveis. A prática
de atividade física ou esporte, geralmente, esbarra na
dificuldade de encontrar um horário em que não esteja
trabalhando, estudando ou dando atenção à família [15].
A necessidade de agregar conhecimentos atualizados ao
seu fazer, pressionado por uma medicina cada vez mais
dependente de tecnologia e dividida em especialidades, leva
o médico a buscar maiores condições financeiras que lhe
permitam freqüentar cursos de reciclagem [8]. A má
remuneração médica determina o excesso de trabalho com
empregos em diversos locais [15,16]. O médico, não raro,
precisa se deslocar de um local para outro e enfrentar o
trânsito conturbado, mesmo após um plantão noturno
bastante agitado e estressante. Diante desses fatos, supõe-se
que ele seja “bombardeado” diariamente por inúmeros
agentes estressores. Dependendo da suscetibilidade e do
equilíbrio psicossomático do profissional, esses agentes
podem resultar-lhe em doenças gástricas, cardíacas,
depressivas e, portanto, em prejuízos na qualidade de vida.
Materiais e Métodos
Este trabalho foi desenvolvido no HGeC, pertencente
ao Exército Brasileiro – Ministério da Defesa - entre
janeiro de 2000 e maio de 2001. Foram avaliados 52
médicos de ambos os sexos. Os sujeitos do trabalho
incorporam, além da missão médica propriamente dita,
outras específicas da profissão militar, tais como: comissão
de recebimento de materiais, comissão de descarga de
materiais, comissão de revisão de contracheques e
representação em solenidades militares.
Desde 1862, foi criada a Enfer maria Militar da
Guarnição do Paraná, que após diversas transformações e
mudança de endereço, passou a chamar-se Hospital Geral
de Curitiba a partir de 1953. O HGeC presta atendimento
aos militares e dependentes que fazem parte da V Região
Militar, circunscrição de Paraná e Santa Catarina.
As entrevistas com os médicos militares foram realizadas
nos corredores e enfermarias do Hospital, sem horário
previamente agendado. O instrumento utilizado é o
Inventário de Qualidade de Vida [18], cuja autora considera
que para obter boa qualidade de vida, é necessário ser bem
sucedido no aspecto afetivo, social, profissional e de saúde.
O segundo instrumento utilizado é o Teste de Auto-Avaliação
sobre Reação Aguda ao Estresse [19]. O terceiro instrumento
é o Inventário de Depressão de Beck [20].
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Resultados
A idade média da população avaliada foi de 31 anos,
variando entre 24 e 38 anos. Participaram do estudo 15
militares (29%) do sexo feminino e 37 médicos militares
(71%) do sexo masculino. Quanto ao estado civil dos
entrevistados, 60% são casados, 28% solteiros e 2%
separados. Não houve viúvos. Os médicos avaliados se
subdividem em médicos militares de carreira (MMC): 29%
e médicos militares temporários (MMT): 71% (Tabela I).
Tabela I - Perfil profissional dos entrevistados.
Características
Médias
Idade (anos)
31
Número de empregos
03
Jornada de trabalho diário
11
Quantidade de horas de sono diário 06
Tempo de profissão (anos)
07
Desvio Padrão
3,61
1,38
2,44
0,71
3,55
Quanto ao sono, houve média de 6 horas/dia. Encontrouse 54% cursando residência médica, mestrado, doutorado,
especialização, outro curso superior ou línguas estrangeiras.
Os outros 46% responderam que não estavam estudando na
época da entrevista. A maioria deles atua em outros empregos
(que variam de 3 até 7 locais diferentes), após cumprida a
jornada regulamentar de 6 h/dia no HGeC. Jornada de 11
horas de trabalho, aí incluídas as do HGeC (Tabela I).
Os MMC trabalham 10h/dia e os MMT, 12 h/dia. Além
de cumprir uma jornada de trabalho maior, estes últimos
têm, em média, maior número de empregos (4), enquanto
que os MMC têm, em média, 3 empregos.
Figura 1 - Resultado do inventário de qualidade de vida.
O inventário baseado em Lipp [18], revelou apenas 02
(3,9%) entrevistados com qualidade de vida considerada
adequada: um trabalhador do sexo masculino (1,9%) e uma
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trabalhadora do sexo feminino (1,9%), sendo um MMC e o
outro MMT (Figura 1). Quanto à saúde dos médicos
militares, observou-se que está totalmente relegada a segundo
plano, uma vez que apenas 3,9% pessoas tiveram sucesso
nessa área. Nas respostas dadas, 78% dos médicos militares
não faz check-up regularmente. 73% não fazem exercícios
físicos pelo menos três vezes por semana e 59% admitiu
não fazer refeições saudáveis.
Constatou-se um total de 19 trabalhadores (36,5%)
com níveis de estresse necessitando de tratamento médico
(Figura 2). Os sintomas mais apontados pelos médicos
entrevistados foram: sensação de fadiga, mal estar,
cansaço ou fraqueza, além de tensão, inquietação,
dificuldade em relaxar e irritabilidade. Houve maior índice
de trabalhadores masculinos estressados: 15 homens
(41%) para apenas 4 mulheres (25%). E predomínio do
estresse nos MMC (46,6%), apesar de gozarem de
estabilidade profissional, trabalharem menos horas por
dia e terem menos empregos, restando 32,4% dos MMT
com estresse.
Figura 2 - Ocorrência de estresse nos médicos militares.
O estudo mostrou que 12 (23%) dos médicos militares
avaliados apresentam diferentes níveis de depressão (Figura
3), quais sejam: depressão mínima ou nenhuma: 40 (77%)
médicos; suave: 6 (12%); moderada: 5 (10%) médicos; e
depressão grave: 1 (2%) médico. Encontraram-se diferentes
níveis de depressão no sexo masculino, o que totalizou
incidência de 30%, e sexo feminino com 6% de depressão.
O número de empregos não influenciou na incidência de
depressão, já que não houve diferença significativa entre
os dois grupos. Não foi encontrado, nesse estudo, diferença
significativa entre indivíduos com jornada de trabalho maior
ou menor em relação à depressão.
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Figura 3 - Níveis de depressão nos médicos militares.
Discussão
Os avanços tecnológicos trouxeram mudanças radicais
nas relações de trabalho que se refletem no cotidiano de
todos. Desse modo de vida não escapam os médicos do
HGeC: a maioria atua em vários locais de trabalho. Não
estamos no século XIX no qual a classe operária trabalhava
14 a 16 horas por dia em condições desumanas, em fábricas
barulhentas e mal ventiladas [7]. Porém, em pleno século
XXI, os trabalhadores médicos analisados enfrentam, longas
jornadas de trabalho. Apesar disso conseguem ter horas de
sono consideradas adequadas, pois segundo a literatura: o
período médio total de sono é de 7,5 horas [17].
Averiguou-se que, além do trabalho, o indivíduo se dedica
ao estudo. A dificuldade de manter-se atualizado é um fator
limitante para a satisfação do médico. As diferenças entre os
dois tipos de Contrato de trabalho podem ter explicação no
fator segurança de emprego. Enquanto o MMC tem emprego
assegurado até a aposentadoria, o MMT pode permanecer
por somente 8 anos no Exército, o que o obriga a buscar outras
fontes de renda. Outra situação, vivida pelo militar de carreira
e que não afeta o temporário, são as constantes transferências
de uma cidade a outra, a critério de seus superiores,
determinando uma necessidade maior de adaptação.
Alguns médicos consideram que houve progressiva piora
em sua qualidade de vida desde a entrada no curso de
medicina, relacionando o fato ao excesso de estudo [16]. A
vida dessas pessoas nunca mais será a mesma, pois após a
graduação se vêem envolvidos por um ritmo de trabalho
intenso, que exige alto nível de conhecimento técnico, restando
pouquíssimo tempo para outros aspectos da vida, justificando
os resultados obtidos nessa pesquisa em que a qualidade de
vida dos médicos militares está prejudicada. Um dos médicos
avaliados revelou que fica bastante deprimido e triste nos
finais de semana e feriados em que está trabalhando. Deduzse que o médico é um ser solitário, pois vive à margem da
sociedade devido ao seu ritmo intenso de trabalho.
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Tabela II - Resultado do inventário de qualidade de vida aplicado aos
médicos militares.
Quadrantes
Social
Afetivo
Profissional
Saúde
Sucesso (S)
26 (50%)
18 (35%)
26 (50%)
02 (3,9%)
Sem Sucesso (SS)
26 (50%)
34 (65%)
26 (50%)
50 (96,1%)
Da leitura das tabelas pode-se inferir que a maioria das
pessoas não está de todo feliz com o tipo de vida que está
desfrutando (Tabela II). Contudo a dedicação quase que
exclusiva a uma determinada esfera da vida não lhe garante
boa qualidade de vida, pois é do equilíbrio entre trabalho e
satisfação das necessidades pessoais que emerge o que
conceituamos de qualidade de vida. Usar o trabalho para
mascarar um casamento que naufraga, uma carreira pouco
satisfatória ou a perda de contato com os filhos, parentes e
amigos, pode ser uma armadilha fatal para quem crê que
assim é feliz. A tecnologia, que se julgava propiciar mais
tempo de lazer para o trabalhador, na verdade, livrou-o de
trabalho físico, mas tornou-o escravo de um trabalho que
lhe exige cada vez mais empenho mental e intelectual. A
carga de trabalho tornou-se mais pesada, os prazos cada
vez mais curtos e os contatos humanos tornam-se cada vez
mais impessoais.
Curiosamente, verifica-se nesse estudo não haver
relação entre a quantidade de trabalho exercida e qualidade
de vida, pois as pessoas que mais trabalham foram as que
demonstraram ter melhor qualidade de vida. Sabe-se,
porém, que existe um conjunto de outros fatores como
estilo de vida, cultura, crenças e valores que interferem
nesse resultado.
A explicação do predomínio masculino com estresse,
talvez resida no mito de que os homens são fortes, corajosos,
seguros, decididos. “Homens não choram” [21]. A figura
masculina continua associada à força e ao poder, e, portanto,
a obrigação de se enquadrar nessa imagem é motivo de
grande angústia para os homens. Na formação acadêmica
do estudante de medicina são comuns frases do tipo:
“médico não pode comer, médico não tem fome, médico
não tem dor, médico não fica doente”. Demonstrar os
sentimentos e sofrimentos representa sinal de fraqueza [16].
Sintomas isolados de depressão chegam a ocorrer em
30% das pessoas no decorrer de suas vidas [17], portanto o
resultado encontrado não difere da literatura. Houve
diferença importante entre homens e mulheres com
depressão, o que é divergente entre diferentes autores. Cerca
de 9% a 26% das mulheres e 5% a 12% dos homens terão
uma depressão durante sua vida [17]. Para Nogueira-Martins
[5] as mulheres mostram maior incidência de depressão do
que os homens. Segundo Poles, homens solteiros, divorciados
ou viúvos apresentam maior probabilidade de depressão,
abuso de álcool e drogas, acidentes de carro ou de cometer
suicídio, isso porque a companhia feminina favorece a
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diminuição da ansiedade de companheiro, alimentação mais
saudável, horários mais fixos, portanto, uma vida mais
saudável [22].
Conclusão
O ritmo de vida desses trabalhadores, obviamente, vai
se manifestar a nível psicossomático. Resultado: baixa
motivação e produtividade, que pode resultar em
conseqüências mais sérias, como o evidenciam os processos
por erros médicos, cada vez mais numerosos e visíveis em
nosso país. Em tempo: não se pode atribuir esse resultado
relativo à qualidade de vida dos médicos militares
exclusivamente ao fato de exercerem o trabalho no HGeC,
pois a carga horária a ser cumprida nesse estabelecimento é
somente de 6h/dia.
Da análise das razões pelas quais se trabalha além dos
limites suportados pelo corpo, salta apenas uma verdade: é
urgente ter equilíbrio. Fazer o melhor por si mesmo e não
pelo mercado, saber dosar as horas de trabalho, de se dedicar
à família e ao lazer, alimentar-se saudavelmente, evitar fumo,
bebidas e drogas, dormir o suficiente e em horários
regulares, reservar um tempo para relaxar ou praticar um
exercício físico são medidas que certamente tornarão melhor
a qualidade de vida.
O equilíbrio é, pois, recomendado a todos, empresas e
seus sistemas organizacionais, chefes e subordinados. Aos
médicos e profissionais afins, que trabalham com vidas
humanas, recomenda-se mais equilíbrio ainda: que trabalho
e vida pessoal sejam contemplados de modo inteligente,
mesmo sabendo-se que o estresse sempre será parte
integrante de suas vidas.
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C
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Artigo original
Biomecânica da marcha e da postura com
calçado de salto alto
Biomechanics of gait and posture with high heels shoes
Aderbal Silva Aguiar Júnior*, Tatiane Marcos Freitas**
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Fisioterapeuta, Professor em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica do Curso de Fisioterapia e Pesquisador do Núcleo de Estudos do
Movimento Humano da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Campus Tubarão, **Acadêmica Curso de Fisioterapia da
Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Campus Tubarão
*
Palavras-chave:
calçado de salto alto, joelho,
marcha, postura.
Resumo
O calçado de salto alto é um recurso estético freqüentemente utilizado pela população
feminina. O objetivo da pesquisa foi analisar o comportamento do joelho de adolescentes
que utilizam calçado de salto alto: no ortostatismo e na marcha com e sem salto alto. A
pesquisa foi descritiva comparativa, com amostra de tamanho 30 e caráter randômico.
Os dados subjetivos foram coletados através de entrevista, e os cinemáticos por cinemetria
na deambulação e em ortostatismo, após tratamento pelo software CorelDraw 9.0. A
análise dos dados foi feita pelo software Microsoft Office Excel 7.0 com plataforma
Windows ME. As médias encontradas não tiveram diferenças significativas na marcha
e na postura das adolescentes com o calçado de salto alto e sem o calçado, com intervalo
de confiança igual a 5%.
Abstract
The high hell shoes are an aesthetic resource frequently used by the feminine
population. The objective of the research was to analyze the knee behavior of adolescents
when they use high hell shoe: in the erect posture and the gait with and without high hell
shoes. The research was descriptive comparative, with randomized sample of 30
adolescents. The subjective data had been collected through interview, and the kinematic
ones by kinemetry in the erect posture and gait, after treatment by software CorelDraw
9.0. The data analysis was made by software Microsoft Office Excel 7.0 with Windows
Platform ME. The joined averages did not have significant differences in the gait and
the posture of the adolescents with and without the high hell shoes, with p = 5%.
Key-words:
high heel shoes, knee,
gait, posture.
Recebido 12 de agosto de 2003; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Aderbal Silva Aguiar Jr, Coordenação do Curso de Fisioterapia, av. José Acácio Moreira, 787, Bairro Dehon
88704-900 Tubarão SC, E-mail: [email protected]
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Introdução
O calçado de salto alto é um recurso estético
freqüentemente utilizado pela população feminina, de
qualquer idade, inclusive crianças, algumas em fase de
desenvolvimento. Linder e Saltzman[1] enfatizam a reemergência do calçado de salto alto e o interesse científico
no terceiro quarto do século XIX, seguindo-se pelo seu
desaparecimento na Revolução Francesa, estando associada
com a crescente pressão dos empregadores para o uso deste
calçado por prolongados períodos de trabalho. Segundo Smith
et al. [2] durante a marcha, o apoio do pé se divide em 60%
para o antepé e 40% para o retropé, sendo que quando é
utilizado o calçado de salto alto esses valores se alteram,
pois o peso sustentado pelo antepé está relacionado com a
altura do calcanhar, havendo assim uma descarga maior de
peso sobre o antepé devido o trabalho isométrico no
movimento de plantiflexão do tornozelo, de acordo com
Dawson et al. [3], Franklin et al. [4], Nyska et al. [5] e McBride
et al. [6], assim como também aumento na lordose lombar.
A marcha além de ter um objetivo funcional tem que ser
também segura e estética. Fatores posturais e sociológicos
como o uso do calçado alto pode influenciar a incidência e a
severidade de dor anterior do joelho em mulheres, afirma
Fulkerson e Arendt [7,8].
O objetivo da pesquisa foi analisar o comportamento
cinemático do joelho na marcha de adolescentes que utilizam
calçado de salto alto e comparar esses mesmos ângulos na
marcha sem calçado, verificando também os ângulos em
ortostatismo, o comprimento do membro inferior, o peso, a
altura das adolescentes e a história do uso do calçado de
salto alto, identificando o tipo e o tamanho do salto que
utilizam com mais freqüência.
Material e métodos
A pesquisa foi do tipo descritiva comparativa, com uma
população considerada de distribuição normal, constituída
por mulheres jovens, colegiais e universitárias, do Colégio
Dehon e Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL,
de Tubarão-SC. A amostra da pesquisa teve tamanho 30 e
caráter randômico. Os dados foram adquiridos através de
entrevista, antropometria e por cinemetria do joelho das
adolescentes deambulando e em ortostatismo, com e sem
calçado de salto alto. A análise dos dados foi feita pelos
programas CorelDraw 9.0 e pelo Microsoft Oficce Excel
7.0 com plataforma Windows ME.
b) Dor: é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada ou descrita em termos de lesões reais
ou potenciais. A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo
aprende a utilizar este termo através de suas experiências;
c) Cadeia muscular posterior: Para Marques [10] a
cadeia muscular posterior é composta pelos músculos da
planta do pé, músculos posteriores da perna e da coxa e os
músculos da coluna vertebral.
Os instrumentos para coleta utilizados na pesquisa foram:
• Fita métrica, de um metro e trinta centímetros de
comprimento;
• Balança antropométrica, marca Filizola;
• Marcadores de isopor com diâmetro de 35mm;
• Câmera de vídeo, da marca Panasonic, modelo PV IQ 205D VHS-C;
• Entrevista;
• Ficha para avaliação antropométrica;
• Máquina fotográfica digital, Sony FD Mavica, modelo
MVC – FD75;
• Fundo negro, de tecido fosco, de 6m2;
• Calçado de salto alto com 10,5 cm no calcanhar e 1,5
cm na parte anterior do caçado;
• Vídeo cassete, da marca Panasonic, modelo super 4
HD, G21 digital, com freqüência de aquisição de 24Hz;
• Software CorelDraw 9.0.
O estudo piloto foi realizado no dia 26 de março de
2002, antes de começar a coleta de dados para verificar a
qualidade da imagem da filmagem e da fotografia e para
corrigir erros sistemáticos.
Em seguida, foi passado em salas de ensino médio do
Colégio Dehon da cidade de Tubarão e em salas de faculdade,
principalmente em salas do curso de Fisioterapia, e
convidadas adolescentes a participarem da pesquisa, fazendo
uma breve explicação de como seria a pesquisa e o local da
pesquisa, na Clínica Escola de Fisioterapia da UNISUL de
Tubarão em agosto de 2002.
Foi aplicada uma entrevista constando dados pessoais,
história do uso do calçado e comportamento dos
desconfortos, seguindo-se da mensuração das medidas
antropométricas: massa corpórea, altura e comprimento real
dos membros inferiores.
Figura 1 – Calçado utilizado na pesquisa
As variáveis da pesquisa foram:
a) Ângulo do joelho: Segundo Hamil et al. [9], durante a
caminhada o pé toca o solo com a articulação do joelho
quase estendida (5° a 8° de flexão). Durante a fase de apoio,
o joelho está em 0°. E durante a retirada do pé do solo, o
joelho está em 40° de flexão;
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Os marcadores de bolas de isopor foram posicionados
nos pontos: trocânter maior, linha articular do joelho acima
da cabeça da fíbula e no maléolo lateral sendo fixadas com
pedaço de fita adesiva transparente, em decúbito dorsal para
realização da cinemetria.
Na cinemetria estática foi fotografado o perfil direito
com olhar para o horizonte. O calçado de salto alto foi da
mesma marca e modelo, mudando apenas a numeração.
Na cinemetria dinâmica foi filmado o plano sagital direito
caminhando com o calçado de salto alto e depois sem o
calçado, adquirindo em média uma passada ou uma passada
e meia da adolescente, numa velocidade auto-elegida para a
mesma, com o olhar fixo para o horizonte.
A filmagem e a fotografia foram feitas com um fundo
negro, para possibilitar contraste com os marcadores
de isopor.
A aquisição dos dados cinemáticos angulares da marcha
foi realizada por fotografia no slow motion do vídeo cassete
nos momentos do contato inicial do calcâneo, do apoio médio
e no apoio final.
Depois de adquiridos os eventos da marcha e da postura,
foram analisados os ângulos do joelho no programa
CorelDraw 9.0 avaliando esses dados com o calçado de
salto alto.
Os dados foram avaliados por estatística indutiva, no
programa Microsoft Office Excel 7.0, utilizando o teste t
de distribuição de student com p = 0,05. O valor crítico,
para n = 30 e p = 5%, foi retirado de Neto [11].
185
Gráfico I - Flexão do joelho durante a marcha.
Contato inicial: Conforme Ramalho, o contato inicial é
o início da fase de apoio, correspondendo ao pico máximo
de resposta à carga o momento em que o calcâneo faz
contato com o solo e nesse momento o joelho está em
extensão quase completa e conforme Saad [13] o joelho
está com uma angulação de 180° a 175°. A média do ângulo
do joelho encontrada na marcha sem calçado foi de 173,4°
± 4,3 com o calçado de salto alto foi de 169,5° ± 6,8.
Estatisticamente não existiu diferença significativa entre as
duas médias, com o calçado de salto alto e sem o calçado,
com significância é igual a 5%.
Apoio médio: É o avanço do corpo sobre o pé
estacionário, afirma Saad e nessa fase o joelho está a 180°.
A média encontrada do ângulo do joelho nessa fase na
marcha sem calçado foi de 171,1° ± 6,5. Com o calçado de
salto alto a média do ângulo do joelho foi de 167,7° ± 8,1.
Estatisticamente também não houve diferença significativa
entre as médias do ângulo do joelho encontrada na marcha
Resultados
com o calçado de salto e sem o
calçado, com significância igual
Tabela I - Variável postural.
a 5 %. Na análise do gráfico I,
Variável
Com salto
Sem salto
tteste
T51,5%
observamos uma discreta dimiÂngulo de flexão do joelho1
174,4º±4,5
175,1º±3,8
0,3722
2,055
nuição da extensão com o calçado
1 – Graus.
de salto alto, o que também foi
observado por Snow e Willians
Tabela II - Variáveis cinemáticas da marcha.
[14] e Ebbeling et al. [15].
Variável
Com salto
Sem salto
tteste
T51,5%
Contato final: segundo o
Ângulo de flexão do joelho -Apoio inicial1
173,4º ± 4,3 169,5º ± 6,8 0,0701
2,048
autor citado anteriormente, essa
2,03
Ângulo de flexão do joelho - Apoio médio1 171,1º ± 6,5 167,7º ± 8,1 0,1818
fase também pode ser chamada
Ângulo de flexão do joelho - Apoio final1
139 ± º14,6
145,2º ± 15
0,1952
2,021
de desprendimento do pé, sendo
1 – Graus.
caracterizada como preparação
para a fase de balanço. Nesse momento o joelho está a
140° de flexão. Na marcha sem calçado a média do ângulo
Discussão
do joelho no contato final foi de 139,0° ± 14,6. E a média
do ângulo do joelho no contato final na marcha com o
calçado de salto foi de 145,2° ± 15,0. Como os ângulos que
O gráfico I está relacionado com a análise cinemática
foram obtidos na marcha das adolescentes, com o uso de
da marcha de adolescentes, fazendo uso de calçado de
calçado de salto alto e sem uso de calçado foram pequenas,
salto alto e sem o calçado. O objetivo foi de verificar o
estatisticamente, a pesquisa provou que o uso do calçado
ângulo do joelho, na fase de apoio nesses dois tipos de
de salto alto não altera o ângulo do joelho na marcha.
marcha. Segundo Ramalho [12], a fase de apoio está
Nós não encontramos alterações cinemáticas na marcha
dividida em contato inicial, contato total do pé, médio apoio,
desta amostra, embora autores como Kerrigan et al. [16],
desprendimento de retropé e desprendimento do pé.
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num estudo com amostra razoável de 20 mulheres jovens
tenham encontrado aumento de 23% nas forças de
compressão patelofemoral na marcha com salto alto do
que descalço.
Gráfico II - Flexão do joelho em ortostatismo.
faixa saudável quando o resultado fica entre 19 e 25 pontos;
com uma média de altura de 1,63 m, não tiveram
estatisticamente discrepância de membros inferiores, com
significância = 5%. Na pesquisa a média de comprimento
de membro inferior destas jovens saudáveis direito foi de
84,8 ± 3,9 cm e do membro inferior esquerdo de 85,4 ±
4,3cm. Através do cálculo de Anderson e Green citado
por Santih e Mercadante [20] foi calculado o nível de
discrepância pela fórmula:
Gravidade =
da assimetria
A média do ângulo do joelho na posição ortostática em
repouso foi de 174,4° ± 4,5 com o calçado de salto e sem o
calçado a média do ângulo foi de 175,2° ± 3,8.
Estatisticamente não houve diferença no ângulo do joelho
com o calçado de salto e sem o calçado, com significância
igual a 5%, pois Smith et al cita que o ângulo do joelho em
flexão na postura simétrica é de 174° e Marques afirma
que o encurtamento da cadeia posterior predispõe o individuo
a um joelho em flexo. De Lauter et al. [17] encontraram
números diretamente contrários aos nossos, estáticos e
dinâmicos, indicando compensação no tornozelo e joelho.
Gráfico III - Discrepância de membros inferiores.
Através da ficha de avaliação foi verificado que as
adolescentes pesquisadas apresentaram uma média de 18,5
anos e segundo Chipkevitch [18] o período da adolescência
varia de 17 a 20 anos; com média de massa corporal de
53,7 kg, que através do índice da massa corporal (IMC)
tiveram resultado de 20 pontos, ou seja, são saudáveis,
sendo que Powers e Howley [19] citam que o IMC é a
relação entre o peso corporal (em kg) e a altura (em metros)
ao quadrado, e para o sexo feminino é considerado uma
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186
comprimento do – comprimento do
lado normal
lado encurtado
__________________________________
x 100
comprimento do lado normal
Onde é considerado como uma discrepância leve quando
atinge 10% e a média das adolescentes que participaram da
pesquisa foi de 7%, considerando-se então que elas não
possuem discrepância de membros inferiores.
De acordo com a entrevista realizada com as adolescentes
foi verificado que 100% das participantes utilizam calçado de
salto alto, sendo que 41% das participantes usam o calçado de
salto grosso com mais freqüência, 31% utilizam o calçado de
salto fino com mais freqüência e 28% usam o calçado com o
salto plataforma, ou seja, uma distribuição quase uniforme.
Recordando Linder e Saltzman sobre a crescente pressão
dos empregadores para o uso deste calçado por prolongados
períodos de trabalho, através da entrevista verificamos 100%
das adolescentes utilizando calçado de salto alto, com alta
média de uso semanal de 4,8 dias e diária de 7,5 horas.
Essas adolescentes começaram a usar o calçado por volta
dos 14 anos de idade, sendo o salto grosso o tipo de salto de
preferência e a altura do salto mais utilizada é de 10cm. Os
calçados com alturas de saltos mais baixos são utilizados
por poucas adolescentes.
Quanto à altura do salto as adolescentes citaram mais de
uma altura que utilizam com freqüência. A altura do salto
utilizada com mais freqüência é o salto de 10cm em que 23
adolescentes fazem o uso desta altura com mais freqüência.
O salto de 4cm é o salto menos utilizado, apenas 3 adolescentes
fazem o uso desse com freqüência. O salto de 3cm é utilizado
por 4 adolescentes, o salto de 5cm foi relatado por 9
adolescentes, o salto de 6cm é utilizado por 10 adolescentes
que usam com freqüência, a altura do salto de 7cm é utilizado
com freqüência por 12 adolescentes, à altura do salto de 8cm
é utilizado por 20 adolescentes e a altura do salto de 12 cm é
utilizado por 6 adolescentes com freqüência.
Com relação ao desconforto na utilização de calçado de
salto alto, 63% das adolescentes pesquisadas apresentaram
queixas e 37% não. Na entrevista sobre a história de uso do
calçado, encontrou-se média de 4,5 ± 1,2 anos, 4,8 ± 1,8
dias semanais e 7,5 ± 1,9 horas diárias, demonstrando
relevante participação no gosto humano.
O local de desconforto mais relatado foi o antepé, com
31% das queixas. A perna posterior foi referida por 23%
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das adolescentes, a coluna vertebral, mais especificamente
a lombar, por 16% das adolescentes, o retropé 13%, o joelho
anterior 5% e a coxa e o joelho posteriormente, a perna
anteriormente e o tornozelo por 3% das adolescentes. A
região do quadril e da coxa anterior não apresentou queixas.
Conclusão
Com a pesquisa foi verificado que o calçado de salto
alto não interfere no ângulo do joelho, tanto na fase de
apoio da marcha, quanto na posição ortostática. Portanto
consideramos não existir riscos para o joelho, com uso de
calçado de salto alto, mas encontramos queixas relevantes
no pé e na coluna vertebral.
As adolescentes que participaram da pesquisa
apresentaram-se com massa corporal dentro dos padrões
saudáveis, através dos cálculos do Índice de Massa Corporal
(IMC) e sem discrepância de membros inferiores.
O desconforto do uso do calçado de salto alto foi relatado
por 63% das adolescentes, com maior freqüência de queixas
na região do antepé, seguido por queixas na região posterior
da perna e na região lombar da coluna vertebral, sem queixas
relevantes na região do joelho.
Após avaliação dos dados, nossa opinião não considera
o uso do calçado de salto alto responsável pelo desenvolvimento de alterações patológicas do joelho e de tamanho
de membros inferiores, na faixa etária estudada. Sendo
demonstrada relevante freqüência de uso e afinidade por
este tipo de calçado.
Sugerimos o mesmo estudo, avaliando-se o comportamento principalmente do pé, mas também tornozelo e
coluna lombar.
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C
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188
Artigo original
Efeitos da fisioterapia no aprimoramento
da vida sexual feminina
Physical therapy effects on women sexual life improvement
Maicon Wronski de Medeiros*, Melissa Medeiros Braz**, Karina Brongholi**
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*Acadêmico do Curso de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Tubarão, **Professora da disciplina de Fisioterapia
aplicada à Ginecologia e Obstetrícia II da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Tubarão
Palavras-chave:
fortalecimento perineal,
vida sexual.
Resumo
Para a Organização Mundial da Saúde, a felicidade sexual é uma condição inseparável
da condição de saúde. Com isso, a Fisioterapia assume importância na obtenção do
prazer sexual. Este estudo é do tipo experimental sem grupo controle e com pré e pósteste. Foram acompanhadas quatro pacientes, duas orgásmicas e duas anorgásmicas
como objetivo de analisar o efeito do fortalecimento perineal na melhora da vida sexual
e no tratamento da disfunção sexual feminina enquanto anorgasmia. Para isso, foi
aplicado um questionário, uma ficha de avaliação e foi graduada a força perineal através
de toque bidigital, cones vaginais e biofeedback. Foi estabelecido um protocolo de tratamento
e realizados dez atendimentos. Observou-se que todas as pacientes relataram aumento
da satisfação sexual, sendo que as anorgásmicas passaram a experimentar orgasmos.
Embora não tenha havido ganho de força perineal significativo, o aumento da consciência
corporal pode explicar a melhora da vida sexual.
Abstract
For the World Health Organization, the sexual happiness is an inseparable condition
of health. Due to it, the physical therapy has a great importance in order to obtain
sexual pleasure. This is an experimental study without control group and with pre and
post test. Four patients were attended, two of them with orgasm and the others
anorgasmic. The aim was to analyze the effect of perineal strengthening in the
improvement of the sexual life and, also, in the treatment of the women with anorgasmy.
It was applied a questionnaire, an evaluation sheet, and was graduated the perineal
power through finger touch, vaginal cone and biofeedback. It was established a treatment
register and was realized follow-up. It was observed that all patients reported that their
sexual pleasure had increased, and anorgasmic women began to experience the orgasm.
However they did not present significant gain of perineal strengthening, the increase of
body conscience can explain better the improvement of sexual life.
Key-words:
perineal strengthening,
sexual life.
Recebido 12 de dezembro de 2003; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Melissa Medeiros Braz, Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL, Av. José Acácio Moreira, 787
Bairro Dehon 88704-110 Tubarão SC, Tel: (48)233 3450/ 9102 2492, E-mail: [email protected]
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Introdução
A sexualidade é um processo amplo e muitas vezes
complexo. Projeta-se no corpo todo, não se limitando aos
órgãos sexuais ou ao ato sexual. Complexo também quando
depende de nossa cultura que diferencia a sexualidade
masculina da feminina.
Sem dúvida a emancipação da mulher, o advento da
pílula anticoncepcional vem contribuindo para a liberdade
de prazer. Esta não é vista como um problema, visto que se
hoje o sexo feminino tem dificuldades sexuais, essas eram
múltiplas quando faltava a liberdade.
Trataremos aqui das dificuldades que essa mulher
“moderna” enfrenta diante do apelo e da tirania sexual que
se estabeleceu nas últimas décadas. Essa tirania desvincula
conhecimento, felicidade, afetividade da prática sexual. A
obrigatoriedade do orgasmo, a virgindade vista como
vergonha, fazem com que a mulher fique ainda mais retraída
para expor seus problemas para a sociedade e até mesmo
para profissionais da área.
O sexo feminino é tido como “passivo”, possui
sexualidade mais difusa (corpo todo) uma vivência mais
espiritual e uma sensualidade maior que a genitalidade, ao
contrário do homem que possui sexualidade mais focalizada
(genital) e uma vivência mais objetiva, portanto mais
condizente com a turbulência do dia-a-dia.
Dentre as disfunções sexuais que atingem mais
comumente o sexo feminino, destacamos a anorgasmia, que
se entende por dificuldade de atingir o orgasmo. Anorgasmia
não deve ser confundida com frigidez, pois a mulher que
sofre de anorgasmia tem interesse sexual e todas as respostas
satisfatórias para realizar o ato sexual. A anorgasmia pode
ser classificada como primária, secundária e absoluta.
A avaliação do grau de força perineal e o tratamento
fisioterapêutico é pouco conhecido na disfunção sexual da
anorgasmia. Nosso objetivo é justamente pesquisar o grau
de força perineal e quais os efeitos do fortalecimento perineal
em pacientes com tal diagnóstico.
A anorgasmia atinge um número extremamente grande
de mulheres, no entanto é difícil saber ao certo o número
exato das mulheres que são vítimas dessa disfunção, pois
destas, ao tratar de anorgasmia, a primeira atitude defensiva
é negá-la. Segundo o psicólogo Pinheiro entre 50% e 70%
das mulheres brasileiras têm anorgasmia.
As disfunções sexuais têm sido quase que exclusivamente
tratadas em consultórios psicológicos e ginecológicos.
Geralmente o processo é o mesmo: a paciente procura um
ginecologista e este acaba encaminhando o paciente a
consultórios psicológicos.
Devido à grande quantidade de mulheres que sofrem de
anorgasmia entendemos a necessidade de outras áreas – não
só a Medicina e a Psicologia – abrangerem o tema. Nessa
área a fisioterapia é uma inovação que pode trazer benefícios
a muitos casais e principalmente para as mulheres.
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189
189
Para Back [1], o tratamento da disfunção sexual é
de suma importância, pois na questão da saúde
propriamente dita a questão sexual desempenha uma
função vital para os dois sexos, tanto que a Organização
Mundial de Saúde (OMS) estipula que a felicidade
sexual é uma condição inseparável da questão da saúde,
onde a falta de prazer pode desencadear múltiplos
problemas como uma constante tensão e mau humor,
depressão, insônia, entre outros.
A mulher que tem dificuldades para atingir o orgasmo
pode se tornar uma pessoa deprimida, aflita, com
baixa auto-estima e por isso com uma qualidade de
vida comprometida.
Segundo Abuchaim e Galvão [2], a ausência de orgasmo
pode atingir qualquer faixa etária, mas há maior predomínio
em mulheres jovens, devido ao início da atividade sexual,
onde a falta de experiência dificulta a chegada do clímax. Os
sexólogos dizem que, na maioria dos casos, a capacidade
orgásmica tende a aumentar com o passar dos anos e chega
ao máximo por volta dos 35 anos. A mulher com anorgasmia
pode aproveitar plenamente as outras fases do ato sexual,
isto é, tem desejo, aproveita as carícias e se excita, porém
algo bloqueia no momento do orgasmo.
A fisioterapia aplicada à disfunção sexual feminina pode
trabalhar com técnicas simples e de baixo custo, um exemplo
deste é a cinesioterapia, utilizando técnicas específicas para
disfunção sexual tais como cones vaginais; assim melhorando
a vida sexual dessas mulheres que enfrentam dificuldades
para alcançar o orgasmo.
Dentro deste contexto, a fisioterapia aplicada à
anorgasmia surge como uma nova opção de tratamento
que poderá minimizar a disfunção entre as mulheres.
Buscando um novo equilíbrio entre corpo e mente há
grandes probabilidades do tratamento fisioterapêutico
proposto tornar-se benéfico.
Materiais e Métodos
A pesquisa realizada foi do tipo experimental com grupo
único com pré e pós-teste. Visou analisar os efeitos das
técnicas de fortalecimento perineal em mulheres orgásmicas
e anorgásmicas.
A população consistiu em mulheres com anorgasmia e
mulheres orgásmicas, sem patologia associada, nuligestas
entre 20-22 anos, acadêmicas da Universidade do Sul de
Santa Catarina – UNISUL, Tubarão, Santa Catarina.
A amostra foi formada por quatro mulheres (sendo duas
orgásmicas e duas anorgásmicas).
Para realização desta pesquisa foram utilizados:
a) Ficha de avaliação: que se constitui de anamnese
e exame físico das mulheres e que foi validada por cinco
fisioterapeutas;
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190
b) Questionário: com perguntas referentes à patologia,
que foi validado por cinco fisioterapeutas;
c) Escala de satisfação em relação à vida sexual: foi elaborada
uma escala de graduação da satisfação sexual, na qual a paciente
graduava em números a sua satisfação com a sua vida sexual.
A graduação variava de 0 a 3, sendo 0 – insatisfeita, 1 –
satisfação regular, 2 – satisfeita e 3 – muito satisfeita.
Foi realizada avaliação do grau de força perineal através de:
- Exame de toque bidigital: o exame de toque foi realizado
com o uso de luvas e lubrificante. Este consiste na introdução
dos dedos médio e indicador na vagina da paciente, afastamse os dedos para assim poder graduar a força de contração.
Este foi graduado de 0 a 3 (0 – sem contração, 1 - pouca
contração, 2 – tem contração, mas não vence a resistência
feita pela mão, 3- contração que vence a resistência da mão).
- Cones vaginais: Segundo Polden e Mantle [3] são
pequenas cápsulas de formato anatômico, constituídas de
materiais resistentes e relativamente pesados, o peso dos cones
variam de 20 a 70 gramas aproximadamente. Os cones
vaginais que foram utilizados eram da marca Femtone, que
era composto por um kit de cinco cones. Para graduação de
força perineal com os cones vaginais foram realizados uma
seqüência de atividades (caminhar, subir e descer escadas,
subir e descer rampas, pular, realizar contração de cócoras)
com a utilização dos cones. As pacientes iniciavam as atividades
com o cone de menor peso (número 1) e foram aumentados
até o limite máximo que elas puderam suportar.
Os exercícios realizados nas dez sessões eram os
seguintes: iniciava-se com a paciente na posição de
decúbito dorsal, realizando 5 contrações perineais de 3
segundos cada, com a utilização do aparelho de
biofeedback Perina, realizava-se 3 séries de 5. Paciente na
posição de cócoras, realizar 5 contrações perineais de 3
segundos, com a utilização do Perina. Em 2 séries de 5.
Paciente em decúbito dorsal fazendo ponte, associada à
contração perineal. Realizado 10 vezes. Paciente em decúbito
dorsal, joelhos fletidos, colocava-se uma bola entre os joelhos
e realizava-se a contração de adutores e contração perineal.
Realizava-se 10 vezes. Paciente em decúbito dorsal realizava
contração da bola, associado à ponte e à contração de glúteo.
Fazia-se 10 vezes. Paciente em pé realizando anteversão e
retroversão pélvica, por 10 vezes. Paciente em pé realizando
agachamento, no momento em que levantava realizava-se
contração. Realizado por 10 vezes.
Ao fim dessas atividades foi realizado um circuito no
qual a paciente caminhava em uma pista pré-determinada,
na qual subiu e desceu escadas, subiu e desceu rampas com
a utilização dos cones vaginais por 10 vezes. O peso do
cone foi estipulado no dia da avaliação, no qual foi testado
o número do cone adequado para cada paciente. Foi realizada
também contração com uso do cone na posição de cócoras.
Além de apoiar-se no espaldar, elevando um membro
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190
inferior em seguida o outro (abdução de membros inferiores
com uso do cone).
Foram realizadas 10 sessões com cada paciente, em dias
alternados, na Clínica-Escola de Fisioterapia da Universidade
do Sul de Santa Catarina, durante o período que foi de
junho a setembro de 2003, cada sessão durava
aproximadamente 50 minutos. Os resultados foram
analisados ao fim das dez sessões com a reavaliação das
pacientes e a nova aplicação do questionário para analisar
os resultados.
Resultados e Discussão
Caracterização das pacientes anorgásmicas
As duas pacientes anorgásmicas possuíam 20 anos de
idade. Segundo Piato [4], ao contrário do que se possa
imaginar, as mulheres de menor faixa etária, ou seja,
mulheres com um desconhecimento parcial, ou menos total,
da musculatura perineal possuem maiores dificuldades de
alcançar o orgasmo.
Ambas as pacientes classificavam como boa sua
primeira relação sexual, mas não conseguiram obter o
orgasmo. Segundo Quintas [5], assim como aprendemos
a andar, ler, dirigir, comer, nós também aprendemos a
atingir o orgasmo. O que ocorre para muitos é esse
aprendizado ser uma maneira muito natural, enquanto
para outros se faz necessário um percurso maior. Cada
pessoa tem seu desenvolvimento de acordo com seu ritmo.
As pacientes possuíam vida sexual ativa há dois anos,
sendo que no decorrer deste tempo não conseguiram atingir
o clímax da relação, sendo com os parceiros atuais ou com
parceiros anteriores.
Segundo relato das pacientes, ambas afirmaram que
nunca se masturbaram. Segundo Bouer [6], o orgasmo
feminino está diretamente ligado ao grau de excitação da
mulher, seu bem estar físico, estado do humor e do que se
faz necessário para se chegar ao clímax da relação. Um
grande número de mulheres realmente tem dificuldades
para chegar ao orgasmo, principalmente durante o ato sexual
e mais especificamente com a penetração. Para chegar ao
orgasmo com maior facilidade é importante conhecer
melhor o próprio corpo para depois se sentir mais à
vontade com o corpo do outro. Para isso, nada melhor
que a masturbação.
Em relação às fases do sexo por que cada paciente passa,
ambas relataram que passam pelo desejo, excitação e
lubrificação, não se conseguindo chegar à fase do orgasmo
e resolução.
Caracterização das pacientes orgásmicas
Uma das pacientes orgásmicas tinha 20 e a outra, 22
anos de idade. Uma paciente classificava como boa sua
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primeira relação sexual. Já a outra como péssima. Ambas
não conseguiram obter o orgasmo na primeira relação.
As pacientes possuíam vida sexual ativa que variava de
dois anos na paciente mais nova e quatro anos na outra
paciente, sendo que no decorrer deste tempo conseguiram
atingir o clímax em algumas das relações, sendo com o
parceiro atual ou com parceiros anteriores.
Segundos relatos das pacientes, ambas afirmaram que
nunca se masturbaram. Em relação às fases do sexo, ambas
relataram que já passaram por todas as fases, ou seja, desejo,
excitação e lubrificação, orgasmo e resolução.
Ambas as pacientes relataram que não se preocupam
com a obtenção do orgasmo, pois estas atingem o mesmo
em algumas de suas relações sexuais.
Grau de satisfação com a vida sexual das
pacientes anorgásmicas
Gráfico I - Grau de satisfação sexual das pacientes anorgásmicas antes
e após o tratamento fisioterápico.
191
Grau de satisfação com a vida sexual
das pacientes orgásmicas
Gráfico II - Grau de satisfação sexual das pacientes orgásmicas antes e
após o tratamento fisioterápico.
Com o gráfico 2 se podem constatar os efeitos benéficos
do tratamento fisioterápico das pacientes orgásmicas. Podese observar que as duas pacientes evoluíram seu grau de
satisfação sexual de satisfeita (2) para muito satisfeita (3).
Não podemos deixar de enfatizar que ambas as pacientes
relataram que a relação sexual ficou melhor.
Com isso foi possível demonstrar os efeitos benéficos do
protocolo de tratamento fisioterápico proposto neste trabalho.
Grau de força perineal através do toque
bidigital das pacientes anorgásmicas
Gráfico III - Grau de força perineal das pacientes anorgásmicas antes e
após o tratamento fisioterápico através do toque bidigital.
Com o gráfico 1 podem-se constatar os efeitos benéficos
do tratamento fisioterápico das pacientes anorgásmicas.
Pode-se observar que uma das pacientes evoluiu seu grau
de satisfação sexual de satisfação regular (1) para satisfeita
(2). Já a outra paciente evoluiu de satisfação regular (1)
para muito satisfeita (3). Não podemos deixar de enfatizar
que ambas as pacientes obtiveram orgasmo na relação sexual
com seus parceiros com a realização do tratamento
fisioterápico. Com isso foi possível demonstrar os efeitos
benéficos do protocolo de tratamento fisioterápico proposto
neste trabalho.
Segundo Grosse e Sengler [2], o trabalho fisioterápico
na anorgasmia é de suma importância, pois ele pode auxiliar
na obtenção de vários tipos de contração, com isso podendo
auxiliar na obtenção do orgasmo na relação sexual.
Fluckiger [8] relata que os exercícios fisioterápicos
auxiliam muito as mulheres no ato sexual. Pois com eles
fica cada vez mais próximo de se chegar ao orgasmo
para as mulheres anorgásmicas, e para as mulheres
orgásmicas que não apresentavam dificuldade alguma
relatam que os orgasmos passaram a ser mais intensos e
em maior número.
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191
De acordo com o gráfico 3, pode-se observar que a
força inicial de ambas as pacientes anorgásmicas era grau 3
e permaneceu a mesma após o tratamento. Não se observou
ganho de força, no entanto ambas relataram melhora na
vida sexual, o que pode ser explicado por uma melhor
consciência da musculatura perineal.
Segundo Moreno [9], no tratamento fisioterápico, a
conscientização da região pélvica e perineal das mulheres
com disfunção sexual e incontinências é muito importante.
Considerando que aproximadamente 37% das mulheres
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não tem consciência corporal de sua região pélvica e não
conseguem contrair seus músculos perineais quando
solicitados, cabe ao fisioterapeuta despertar nestas
pacientes a propriocepção dessa região.
Segundo Mannocci [10], os exercícios perineais destinamse a intensificar as sensações na área perineal, aumentando a
consciência corporal desta região. Com isso preparando a região
para que esta responda corretamente aos estímulos sexuais.
Foi possível obser var que a anorgasmia dessas
pacientes não era em relação à diminuição da força de
contração perineal, pois ambas apresentavam uma
contração perineal satisfatória. Mas sim pela diminuição
da sua consciência corporal, o que causava uma
dificuldade na obtenção do orgasmo.
propostas no protocolo de tratamento. Além de auxiliarem
na consciência corporal das pacientes.
Moreno [9] relata que o uso dos cones vaginais aumenta a
força muscular do assoalho pélvico, mas também torna a
atividade fisiológica desses músculos mais coordenada com as
contrações, melhorando a função da musculatura no ato sexual.
Grau de força perineal com os cones
vaginais das pacientes orgásmicas
Gráfico V - Grau de força perineal das pacientes anorgásmicas antes e
após tratamento fisioterápico com utilização dos cones vaginais.
Grau de força perineal através do toque
bidigital das pacientes orgásmicas
Gráfico IV - Grau de força perineal das pacientes orgásmicas antes e após
o tratamento fisioterápico através do toque bidigital.
Com o gráfico 4, pode-se observar que a força inicial
de ambas as pacientes orgásmicas era grau 2. E ao término
do tratamento uma manteve-se em grau 2 e a outra paciente
evoluiu para grau 3. Não se observou ganho de força em
uma das pacientes, no entanto ambas relataram melhora
na vida sexual, o que pode ser explicado por uma melhor
consciência da musculatura perineal.
O gráfico 6 demonstra a utilização dos cones vaginais
com as pacientes orgásmicas. Pode-se observar que uma da
pacientes apresentou uma evolução significativa passando
do cone de número 1 para o cone de número 3. Já a segunda
paciente manteve uma seqüência na utilização dos cones,
ou seja, durante as sessões fisioterápicas foi utilizado o cone
de número 4, isso não que dizer que esta paciente não
evoluiu, pois mesmo mantendo-se no cone de mesmo
número, as pacientes ganhou maior resistência na realização
das atividades propostas no protocolo de tratamento. Além
de auxiliarem na consciência corporal das pacientes.
Gráfico VI - Grau de força perineal das pacientes orgásmicas antes e após
tratamento fisioterápico com utilização de cones vaginais.
Grau de força perineal com os cones
vaginais das pacientes anorgásmicas
O gráfico 5 demonstra a utilização dos cones vaginais
com as pacientes anorgásmicas. Pode-se observar uma
seqüência na utilização dos cones, ou seja, durante as sessões
fisioterápicas foi utilizado o cone de número 4, isso não que
dizer que as pacientes não evoluíram, pois mesmo
mantendo-se no cone de mesmo número, as pacientes
ganharam maior resistência na realização das atividades
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Conclusão
Referências
Com a finalização desta pesquisa foi possível obter
resultados significativos no tratamento de mulheres com
disfunção sexual, em específico das anorgásmicas.
Demonstrando assim a importância dos efeitos da
Fisioterapia no tratamento desse tipo de patologia.
Com o protocolo de tratamento aplicado foi possível
observar os efeitos significativos da Fisioterapia nesta área.
Pois as pacientes anorgásmicas passaram a atingir o orgasmo;
e as pacientes orgásmicas obtiveram melhora significativa
no prazer sexual.
O protocolo de tratamento utilizado mostrou sua eficácia
na melhora da disfunção sexual. Foi possível constar que a
disfunção sexual das pacientes tratadas não estava relacionada
com a falta de força perineal, pois ambas as pacientes não
obtiveram aumento significativo na força, mas obtiveram
uma maior consciência corporal do local. Com a melhora
da consciência corporal, as pacientes puderam melhorar sua
vida sexual.
Com estes resultados pode-se observar que a Fisioterapia
tem muito a evoluir na área da Ginecologia e Obstetrícia.
Principalmente na área ligada à disfunção sexual, que está
sendo descoberta e aprimorada a cada dia. Com a evolução
da área e procura das mulheres por uma maior qualidade
de vida sexual, é de suma importância que a Fisioterapia
continue crescendo e se desenvolvendo para atender as
exigências das mulheres modernas.
1. Back LR. Clínica renascer vaginismo. [citado 24 ago 2002].
Disponível em URL: http://www.mps.com.br/infoserv /
renascer / vaginismo.htm
2. Abuchaim CM, Galvão ALA. A sexualidade normal e
transtornos sexuais. [citado 24 ago 2002]. Disponível em URL:
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codArt=52
3. Polden M, Mantle J. Fisioterapia em ginecologia e obstetrícia.
2 ed. São Paulo: Santos; 2000.
4. Piato S. Tratado de ginecologia. São Paulo: Artes médicas;
1997.
5. Quintas V. Biologia do sexo. São Paulo: Atheneu; 2002.
6. Bouer Jairo. Masturbação. [citado 25 set 2003]. Disponível em
URL: http://www.caliente.com.br/caliente/ duvidas/
index.shtml?duvida54.
7. Grosse D, Sengler J. Reeducação perineal. São Paulo: Manole;
2002.
8. Fluckiger K. Mulher e orgasmo. [citado 22 ago 2003].
Disponível em URL: http://www.escelsanet.com.br/
sitesaude/artigos_cadastrados/artigo.asp?art=732.
9. Moreno A. Fisioterapia em uroginecologia. São Paulo: Manole;
2004.
10. Mannocci JF. Disfunções sexuais: abordagem clinica e
terapêutica. 3 ed. São Paulo: Fundo editorial Byk; 1995.
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C
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Artigo original
Percepção subjetiva do esforço em indivíduos
hipertensos e normotensos durante a execução
do teste ergométrico
Subjective perception of the effort in hypertensive and
normotensive individuals during ergometric test
Jônatas de França Barros, D.Sc*, Geraldo de Paula Valle, M.Sc** e José Roberto Pimenta de Godoy***
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*Professor da Faculdade de Educação Física, Professor e Orientador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, UnB,
**Fisioterapeuta, Professor da Funorte e FIP,***Professor de Anatomia e Neuroanatomia do UniCEUB
Palavras-chave:
hipertensão arterial sistêmica,
escala de Borg, percepção
do esforço, exaustão física.
Resumo
Objetivo: Analisar a percepção subjetiva do esforço em indivíduos hipertensos e
normotensos do Distrito Federal, diante de estresse físico, teste de esforço em esteira
ergométrica (Protocolo de Bruce), utilizando a escala de Borg como medida quantitativa.
Delineamento da investigação: estudo analítico transversal. Local de realização: Setor de
Hemodinâmica do Hospital Anchieta, Taguatinga-DF. Amostra: 55 indivíduos com idade
entre 42 e 60 anos do setor de Hemodinâmica, foram divididos em dois grupos,
hipertensos e normotensos, segundo critério dos valores da pressão arterial sistólica e
diastólica (PAS e PAD) em repouso e da indicação médica para o teste de esforço.
Resultados: Analisando as porcentagens de freqüência cardíaca máxima de reserva durante
o teste ergométrico não foram observadas diferenças estatisticamente significativas da
percepção entre os grupos (p > 0,05) nos estágios, anterior e posterior à exaustão física
e a variação da PA apresentou correlação alta entre os grupos, (r = 0,99) para PAS e
PAD nos estágios repouso, esforço físico máximo, anterior e posterior à exaustão física.
Conclusões: A hipertensão arterial não é um fator gerador de alterações que possam
distorcer a percepção do esforço.
Recebido 6 de janeiro de 2004; corrigido 2 de março; aceito 1 de junho de 2004
Endereço para correspondência: Prof. Dr. Jônatas de França Barros, Colia-UnB Bloco E, Aptº 606, asa Norte 70910-900 Brasília-DF,
E-mail: [email protected]
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Abstract
Objective: To analyze the subjective perception of the effort in hypertensive and
normotensive individuals from Brasilia when submitted to physical stress in ergometric
test (Protocol of Bruce), using the Scale of Borg as quantitative measurement. Design:
traversal analytic study. Test place: Anchieta Hospital - Section of Hemodynamic Taguatinga-DF. Patients: 55 individuals with age between 42 to 60 years in the
Hemodynamic Section of the Anchieta Hospital in Taguatinga-DF were divided in two
groups, hypertensive and normotensive, according to the criterion of the systolic and
diastolic arterial pressure values while resting and the medical indication for the effort
test. Results: Analyzes on the percentages of maximum cardiac frequency of reserve
during the ergometric test did not reveal statistically significant differences of the
perception between the groups (p > 0,05) for both phases, before and after the physical
effort test and the arterial pressure variation presented high correlation between the
groups, (r = 0,99) for systolic and diastolic arterial pressure in the phases of rest,
maximum physical effort, before and after the physical exhaustion. Conclusions: Arterial
hypertension is not a generating factor of alterations that can distort the perception of
the effort.
Key-words:
systemic arterial hypertension,
scale of Borg, perception of the
effort, physical exhaustion.
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Introdução
Mudanças na vida moderna tornaram o homem um ser
passivo na realização das tarefas, fato este devido às
alterações comportamentais como o aumento da expectativa
de vida crescente para homens e mulheres, o predomínio de
população urbana sobre a população rural, alterações nos
hábitos alimentares e na vida social, o aumento crescente do
sedentarismo; e, sobretudo, as mudanças na composição
étnica, com misturas de raças, costumes, tradições, alteraram
o perfil populacional no último século Castro et al. [1].
A partir da revolução industrial, a mecanização do trabalho
reduziu a necessidade do homem de se expor a esforços físicos
na realização de suas tarefas cotidianas. Nos dias atuais, o
estilo de vida facilitou o convívio do homem com seus
semelhantes e com a natureza. A grande velocidade do
desenvolvimento tecnológico minimizou, em grau elevado, o
esforço físico do ser humano na realização dos trabalhos [1].
Este novo perfil populacional favorece o aparecimento
de índice cada vez maior de morbimortalidade resultante de
doença crônico-degenerativa. Entre as características deste
novo perfil, o sedentarismo decorrente deste avanço
tecnológico trouxe consigo o aparecimento de um grupo de
doenças, entre elas as que acometem o sistema
cardiovascular, Andrade et al. [2].
As doenças crônicas não-transmissíveis, dentre elas a
hipertensão arterial, apresentaram um aumento significativo
nas últimas décadas, sendo responsáveis por um grande
número de óbitos em todo o país, Lessa et al. [3].
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A hipertensão arterial sistêmica é classificada como um
dos mais graves problemas de Saúde Pública que atinge o
adulto brasileiro, exigindo apoio assistencial amplo e efetivo,
e uma pesquisa epidemiológica que fixe, com mais segurança,
sua incidência e prevalência, tanto na zona rural quanto na
urbana, permitindo, assim, uma melhor definição dos
programas de assistência [3].
A prevalência da hipertensão arterial sistêmica em alguns
países como Cuba, Espanha e no Brasil gira em torno de
32 % da população [4-6]. Cerca de 14 milhões de brasileiros
são hipertensos, sendo que 15% desse total são adultos em
idade economicamente ativos, aumentando os custos sociais
por invalidez ao trabalho (Primeiro Consenso Brasileiro para
o Tratamento da Hipertensão Arterial, 1994).
Entretanto a HAS é assintomática em 70 a 80% dos casos.
Portanto a melhor maneira de se diagnosticá-la é a verificação
temporal da pressão arterial. Caso isso não seja feito, a
hipertensão pode evoluir silenciosamente por 20 a 30 anos.
Certos fatores de riscos estão ligados ao aparecimento e
desenvolvimento da hipertensão arterial. Os principais
fatores que aumentam os riscos de desenvolver a HAS têm
íntima relação com estilo de vida individual. Estes fatores
foram divididos em fatores de riscos incontroláveis: raça,
idade, sexo e hereditariedade; e os fatores de riscos
controláveis: obesidade, consumo de álcool, contraceptivo
oral, tabagismo, consumo de sal, diabetes, sedentarismo,
tensão emocional, dislipidemia.
O tratamento da hipertensão arterial se faz apoiado em
três princípios: atividade física, dieta e medicamentoso [7].
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Para quantificar a intensidade de exercício que o nosso
paciente realiza, de uma forma barata, eficaz e que satisfaça
os nossos interesses, existe uma escala de percepção do
esforço (RPE) [8,9].
Haveria diferença da percepção do esforço de um
indivíduo hipertenso submetido a um trabalho gradual em
esteira rolando durante um teste ergométrico quando
comparado ao indivíduo normotenso?
Objetivo geral
Comparar a percepção subjetiva do esforço em grupos
de indivíduos hipertensos e normotensos durante a
realização do teste de força máxima em esteira ergométrica,
realizado em ambiente ambulatorial, utilizando a esteira
rolante como ergômetro, e como instrumento de aferição, a
escala RPE de Borg [10].
Objetivos específicos
• Comparar a percepção do esforço durante o teste
ergométrico em indivíduos normotensos e hipertensos.
• Avaliar a percepção subjetiva do esforço um estágio
antes do esforço máximo.
• Elucidar as questões a respeito da escala de Borg e sua
utilização no processo de reabilitação.
• Analisar através de técnicas não-invasivas a resposta
cardiovascular durante um teste ergométrico.
• Analisar o comportamento da pressão arterial sistólica
e diastólica em diferentes intensidades.
(48,71 ± 5,03 anos). O IMC no grupo experimental variou
de 21,9 a 29,5 kg/m2 (26,84 ± 2,28), enquanto que no grupo
controle o IMC variou de 21,6 a 29,7 kg/m2 (25,62 ± 2,50).
Tabela I - Estatística descritiva da amostra dos 55 indivíduos (27 indivíduos
do grupo de hipertensos e 28 indivíduos do grupo normotensos) segundo a
Idade em anos e o Índice de Massa Corporal.
Estatística descritiva
Idade
Índice de Massa Corporal
Hipertensos
51,15 ± 6,06
26,84 ± 2,28
n = 27
Normotensos
48,71 ± 5,03
25,62 ± 2,50
N = 28
Foi realizado um teste t de Student em que avaliamos as
médias da idade e IMC dos grupos experimental e controle.
Não sendo observada diferença significativa entre os dois
grupos (p > 0,05).
No gráfico 1, descreve que de toda a amostra 21,8%
são fumantes, sendo 9.1% do grupo experimental e 12,7%
do grupo controle, e 78,2% negaram ter fumado ou já haviam
parado de fumar há mais de 2 anos. Deste total de não
fumantes 40,0% pertence ao grupo de hipertensos e 38,2%
ao grupo de normotensos.
Gráfico 1 – Número de indivíduos tabagistas e não tabagistas nos grupos
de hipertensos e normotensos.
Material e Métodos
Este estudo caracteriza-se como analítico observacional,
do tipo coorte transversal [11]. A população do estudo foi
moradores da cidade satélite de Taguatinga-DF e entorno
que freqüentaram o Setor de Hemodinâmica do hospital
Anchieta em Taguatinga com indicação para teste de esforço,
no período junho e junho de 2001. A amostra de estudo foi
uma amostra por conveniência em que os integrantes foram
locados a partir do momento em que compareciam ao local
da pesquisa. Os participantes da pesquisa tiveram como prérequisito para ingresso, a prescrição médica do teste de esforço
anterior a este trabalho. As 55 pessoas que participaram deste
trabalho foram divididas em dois grupos: sendo 27 pessoas
que constituíram o do grupo experimental (Hipertensos) e 28
pessoas que formaram o grupo controle (Normotensos).
Resultados
Segundo a tabulação das respostas da entrevista dos 55
participantes da pesquisa, observamos que no grupo
experimental a idade variou de 42 a 60 anos (51,15 ± 6,06
anos); já no grupo controle a idade variou de 42 a 59 anos
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*% Hipertensos: não tabagistas 40%; tabagistas 9,1%
*% Normotensos: não tabagistas 38,2%; tabagistas 12,7%
Foi realizado um teste χ2, para observar se a proporção
de tabagistas era a mesma para os grupos de hipertensos e
normotensos, não apresentando diferença significativa entre
(p > 0,05).
Os resultados gráficos 2 também mostraram que a
porcentagem de indivíduos que haviam feito o teste
ergométrico anterior a esta pesquisa era de 58,2% divididos
em 30,9% para o grupo experimental e 27,3% para o grupo
controle. 42.8% nunca haviam feito o teste ergométrico, sendo
18,2% para os hipertensos e 27,3% para os normotensos.
Realizado teste χ2, não se observa diferença significativa
entre os dois grupos (p > 0,05).
Foram analisadas no gráfico 3, porcentagens da freqüência
cardíaca máxima de reserva (FCMR) e freqüência cardíaca
máxima (FCM) um estágio anterior ao término do teste
ergométrico (TE), e no período de recuperação 3 minutos
após o término do teste ergométrico (TE).
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3- maio /junho de 2004
Gráfico 2 – Número de indivíduos que haviam realizado teste ergométrico
anteriormente a este estudo e que não haviam realizado nos grupos de
hipertensos e normotensos.
*% Hipertensos: não tabagistas 30,9%; tabagistas 18,2%
*% Normotensos: não tabagistas 27,3%; tabagistas 23,6%
Foi realizado um Teste Exato de Fisher. Não houve
diferença significativa entre os dois grupos (p > 0,05).
Foram observadas na tabela II, as porcentagens da
freqüência cardíaca máxima de reserva visualizamos que
os valores envolviam uma grande amplitude. Estes mesmos
resultados e subdividimos em 3 intervalos de porcentagem
da freqüência cardíaca máxima (FCM), estes intervalos
compreendem: 50 a 74%, 75 a 84% e acima de 85%,
segundo Lamb et al. [12].
Para os valores de 50 a 74% da FCMR foi realizado
um Teste Exato de Fisher. Não houve diferença significativa
entre os dois grupos (p > 0,05). Para os valores de 75 a
197
84% da FCMR foi realizado um Teste Exato de Fisher em
que não se observou diferença significativa entre os dois
grupos (p > 0,05). Para os valores maiores de 85% foi
realizado um Teste Exato de Fisher no qual não houve
diferença significativa entre os dois grupos (p > 0,05).
Entretanto na tabela III a freqüência cardíaca máxima
de reserva (FCMR) não é um valor utilizado com muita
praxe no meio clínico e nas academias, e sim a freqüência
cardíaca máxima. Fizemos então a analise das porcentagens
da freqüência cardíaca máxima (FCM), nos intervalos que
compreendem: 80 a 90% da FCM e > 90% da FCM.
Tabela III – Número de indivíduos que se enquadraram dentro dos
intervalos de 80 a 90% e >90% da Freqüência Cardíaca Máxima de
Reserva (FCMR), e a sua resposta de acordo com a tabela de Borg.
Porcentagem Borg
FCMR(%)
80 a 90
Pesado
Muito pesado
> 90
Pesado
Muito pesado
Total
Valor
15 e 16
17 e 18
15 e 16
17 e 18
Normotensos Hipertensos
*7
3
12
5
n =27
**10
2
11
1
n = 24
*Um caso no grupo de normotensos possuía valor menor que 80% da
FCM.
**Três casos no grupo de hipertensos possuíam valores menores que
80% da FCM.
Para os valores de 80 a 90% da FCMR foi realizado um
Teste Exato de Fisher, em que não se observou diferença
significativa entre os dois grupos (p > 0,05). Para os valores
maiores de 90% da FCMR
Tabela II – Numero de indivíduos que se enquadraram dentro dos intervalos de 50 a 74%, 75 a 84% e > 85% da foi realizado um Teste Exato
de Fisher, no qual se observou
Freqüência Cardíaca Máxima de Reserva (FCMR), e a sua resposta de acordo com a tabela de Borg.
diferença significativa entre os
Porcentagem FCMR %
Borg
Valor
Hipertensos
Normotensos
dois grupos (p < 0,05).
50 a 74
Pesado
15 e 16
10
6
No período de RecuMuito pesado
17 e 18
2
2
peração no gráfico 4, após
75 a 84
Pesado
15 e 16
4
4
a realização do TE, o
Muito pesado
17 e 18
5
5
paciente permaneceu parado
> 85
Pesado
15 e 16
5
6
esperando os sinais hemodinâmicos voltarem à situação
Muito pesado
17 e 18
1
4
de repouso. Após um período
Total
27
27*
de 3 minutos avaliamos
*Um indivíduo normotensos apresentou valor menor do que 50 %.
novamente a percepção do
paciente depois de uma prova
Gráfico 3 – Número de indivíduos que no período anterior ao teste de esforço relataram os valores pesado e muito pesado
exaustiva. Foram determida escala de percepção de Borg.
nados dois intervalos: de 30 a
49 % da FCMR e valores <
30 % da FCMR.
Foi realizado um Teste
Exato de Fisher em que não
se observou diferença significativa entre os dois grupos
(p > 0,05).
artigo 09 - Jonatas.pmd
197
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
198
Gráfico 4 – Número de indivíduos que relataram os valores leve e moderado
no período de recuperação do teste de esforço.
No estágio de esforço físico máximo, a pressão arterial
sistólica variou 150 a 230 mmHg (182,6±15,2) e a pressão
arterial diastólica variou de 70 a 95 mmHg (82,3 ± 7,9). No
período de recuperação, a pressão arterial sistólica variou
de 110 a 160 mmHg (157,7 ± 11,7) enquanto que a
diastólica variou de 70 a 90 mmHg (79,6 ± 7,2).
Tabela V – As médias da pressão arterial sistólica e diastólica (mmHg)
nos momentos repouso, no estágio anterior à exaustão física e durante a
exaustão física e no período de recuperação.
Tabela IV - Número de indivíduo que se enquadraram dentro dos
intervalos de 30 a 49% e < 30% da FCMR, e a sua resposta de acordo com
a tabela de Borg.
Porcentagem Borg
30 a 49
Leve
Moderado
< 30
Leve
Moderado
Total
Valor
Normotensos Hipertensos
11 e 12
*7
**4
13 e 14
3
3
11 e 12
11
8
13 e 14
4
8
25
23
* 7 pessoas no grupo de Normotensos apresentam % da freqüência
cardíaca > 50 % da FCMR
** 4 pessoas no grupo de Hipertensos apresentam % da freqüência
cardíaca > 50 % da FCMR
Para os valores de 30 a 49% da FCMR foi realizado
um Teste Exato de Fisher, em que não se observou diferença
significativa entre os dois grupos (p > 0,05). Para os valores
menores de 30% da FCMR foi realizado um Teste Exato
de Fisher, no qual não se observou diferença significativa
entre os dois grupos (p > 0,05).
A pressão arterial foi analisada nos períodos de repouso,
no estágio anterior à exaustão física e durante a exaustão
física e no período de recuperação.
No grupo experimental, foram observados os seguintes
valores da pressão arterial sistólica e diastólica nos 4
momentos: Na fase de repouso: a pressão arterial sistólica
variou de 140 a 160 mmHg (143,89 ± 6,25), enquanto a
diastólica variou de 90 a 110 mmHg (95,7 ± 4,9). No estágio
anterior à exaustão física, a pressão arterial sistólica variou
de 175 a 230 mmHg (199,3 ± 14,2) e a pressão arterial
diastólica de 90 a 120 (98,5 ± 7,1). No estágio de esforço
físico máximo: a pressão arterial sistólica variou 180 a 250
mmHg (217,78 ± 15,7) e a pressão arterial diastólica variou
de 90 a 125 mmHg (98,7 ± 7,7). No período de
recuperação, a pressão arterial sistólica variou de 140 a 190
mmHg (157,7 ± 11,7) e a pressão arterial diastólica de 90 a
110 mmHg (95,7 ± 4,9).
No grupo controle durante a fase de repouso: a pressão
arterial sistólica variou de 90 a 130 mmHg (120,2 ± 10,9),
enquanto que a diastólica variou de 70 a 90 mmHg (79,6 ±
7,2). No estágio anterior, a exaustão física a pressão arterial
sistólica variou de 140 a 200 mmHg (169,3 ± 13,1) e a
pressão arterial diastólica de 70 a 95 mmHg (82,3 ± 7,9).
artigo 09 - Jonatas.pmd
198
Repouso
Anterior
Máxima
Recuperação
Sistólica
Hipertensos
143,9
199,3
217,8
157,6
Normotensos
120,2
169,3
182,7
137,0
Diastólica
Hipertensos
95,5
98,5
98,7
95,7
Normotensos
79,6
82,3
82,3
79,6
Foi realizado a analise de variância (ANOVA) das
médias da pressão arterial sistólica e diastólica entre os 4
momentos em ambos os grupos em que constatamos os
seguintes resultados:
Análise da variância das médias da pressão arterial
sistólica para o grupo de hipertensos nos momentos
repouso e antes da exaustão. Análise da variância das
médias da pressão arterial sistólica para o grupo de
hipertensos nos momentos repouso e exaustão física.
Análise da variância das médias da pressão arterial
sistólica para o grupo de normotensos nos momentos
repouso e recuperação. Análise da variância das médias
da pressão arterial sistólica para o grupo de normotensos
nos momentos repouso e antes da exaustão. Análise da
variância das médias da pressão arterial sistólica para o
grupo de normotensos nos momentos repouso e exaustão
física. Análise da variância das médias da pressão arterial
sistólica para o grupo de normotensos nos momentos
repouso e repouso. Não foi obser vada diferença
significativa (p > 0,05).
Agora faremos a análise da pressão arterial diastólica
nos 4 momentos: Análise da variância das médias da
pressão arterial diastólica para o grupo de hipertensos
nos momentos repouso e antes da exaustão física. Análise
da variância das médias da pressão arterial diastólica para
o grupo de hipertensos nos momentos repouso e da
exaustão física. Análise da variância das médias da pressão
arterial diastólica para o grupo de hipertensos nos
momentos repouso e recuperação. Análise da variância
das médias da pressão arterial diastólica para o grupo de
normotensos nos momentos repouso e da exaustão física;
repouso e antes da exaustão física são iguais. Análise da
variância das médias da pressão arterial diastólica para o
g r upo de nor motensos nos momentos repouso e
recuperação. Não foi observada diferença significativa
(p > 0,05).
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3- maio /junho de 2004
Discussão
Como quantificar a intensidade de exercício durante um
programa de reabilitação cardíaca de nossos pacientes de
forma barata, eficaz e que satisfizessem nossos interesses?
Será que a escala de percepção de esforço, idealizada por
Borg responde a pergunta para toda a população?
Lamb et al. [12] nos seus trabalhos para analisar a
confiabilidade da escala de Borg durante treinamento com
exercício progressivo através do teste de reprodutividade,
verificou que havia uma diminuição da sensibilidade
perceptiva com o aumento da carga.
Whaley et al. [13] afirmam que diretrizes recentes
recomendam taxar de forma generalizada os valores de 12
a 16 da RPE para uma melhoria das funções hemodinâmicas
(VO 2 max, freqüência cardíaca, pressão arterial) no
tratamento de cardiopatas e treinamento de pessoas sadias.
Os resultados de seu trabalho desafiam a aplicabilidade das
recomendações da RPE. No seu trabalho, ele utilizou 60 a
80% da FCMR e a freqüência cardíaca máxima para avaliar
a percepção do esforço. Nessas três intensidades foram
constatadas diferenças significativas entre o grupo de pessoas
saudáveis e pacientes cardiopatas. Ele recomenda que deva
ser levada em conta a variabilidade interindividual dos
participantes.
Brion et al. [14], em pesquisa com grupos de pacientes
hipertensos, que executavam atividade física ativamente,
verificou que não havia diferença significativa com relação
à percepção do esforço de indivíduos sedentários.
Com base no trabalho de Whaley et al. [13] e Lamb et al.
[12], nossa pesquisa foi direcionada a detectar diferença na
percepção subjetiva do esforço em indivíduos hipertensos e
normotensos durante o teste ergométrico.
Para tornar a amostra a mais homogênea possível
delimitamos os grupos com relação a sexo, idade, IMC, tabagismo
e se já haviam realizado o teste ergométrico anteriormente.
Na literatura pesquisada verificamos a utilização de
grupos heterogêneos com relação às variáveis independentes
que utilizamos. A idade e o sexo tiveram uma grande variação
em diversos trabalhos. Lamb et al. [12] e Riddell et al. [15]
valeram-se de adolescentes do sexo masculino nos seus
estudos, Hassmen et al. [16] e Brion et al. [14] utilizaram
indivíduos de ambos os sexos com idade variando de 18 a
65 anos de idade, entretanto Will e Walter [17] e Sorensen et
al. [18] adotaram a idade variando de 40 a 60 anos. Com
base nestes dois últimos estudos, resolvemos adotar um
critério para sexo masculino e para a idade variando de 40
a 60 anos, sendo que no grupo experimental a idade variou
de 42 a 60 anos (51,15 ± 6,06 anos); e no grupo controle a
idade variou de 42 a 59 anos (48,71 ± 5,03 anos).
Dentre os artigos pesquisados, a amostra variou de 16 a
100 participantes. A nossa amostra totalizou 55 participantes
número que pode ser considerado satisfatório em vista do
valor expressivo de limitações e restrições que atribuímos.
artigo 09 - Jonatas.pmd
199
199
Nenhum trabalho, dos que foram pesquisados, fazia
menção sobre o tabagismo e a realização prévia do TE. A
tabela I e gráficos 1, 2 apresentam a estatística descritiva
das variáveis independentes: idade, IMC, tabagismo e
realização anterior de teste de esforço respectivamente. Foi
averiguado que não existia diferença significativa entre os
grupos (p > 0,05) para essas variáveis.
Fizemos a análise das variáveis dependentes, pressão
arterial e freqüência cardíaca. Foi então determinado que
avaliassem a percepção subjetiva do esforço num estágio
anterior à exaustão física. Era de nosso interesse saber se
em um estágio próximo ao esforço máximo existiria
divergência da sensibilidade dos dois grupos e não a
correlações entre a freqüência cardíaca e os níveis de
intensidade propostos por Borg.
O gráfico 3 mostra que no período anterior ao término
do teste de esforço relataram os valores “pesado e muito
pesado” (15-16 e 17-18) para escala de Borg (Pesados: Hipert.
19, Normot. 17; Muito pesados: Hiptert. 8, Normot. 11).
Não foi observada diferença estatisticamente significativa
entre os dois grupos (P > 0,05), entretanto, verificamos que
a porcentagem da FCMR tinha uma grande variação em
ambos os grupos, e resolvemos ir além, fragmentamos nossa
amostra em intervalos correspondentes a porcentagem da
FCMR e sua relação com a escala de Borg proposto por
Wilmore e Costill [19]. Os intervalos analisados foram de
50 a 74%, de 75 a 84% e > 85% da FCMR.
A tabela II mostra o número de indivíduos que relataram
os valores de intensidade “pesado e muito pesado” (15-16 e
17-18) nos intervalos da FCMR já mencionados. Diferente
do trabalho de Whaley et al. [13] em que ele fixou os valores
correspondentes a 60 e 80 % FCMR, e correlacionou com
Borg, nós gostaríamos de saber se haveria divergência das
respostas dos dois grupos.
Foi verificado que nos intervalos não houve diferença
estatisticamente significativa entre os grupos quando
utilizamos o teste exato de Ficher, com um grau de
significância p = 0,05, em todos os intervalos a diferença
entre o grupo foi maior que 95%.
Carmouche et al. [7] comenta que nos programas de
reabilitação cardíaca e nos treinamentos aeróbios utiliza-se
muito a freqüência cardíaca máxima absoluta, determinada
pela fórmula de Carvonem (220 BPM – idade). Como é
um método bastante utilizado, fizemos a análise dos
indivíduos que apresentaram valores maiores de 90% para
FCMR (tabela IV) e verificamos que existia diferença
significativa para valores acima de 90% da FCM (P < 0,05),
concordando com trabalho realizado por Whaley et al. [13]
para valores próximos do esforço máximo.
Não foi encontrado na literatura pesquisada nenhum
trabalho que fizesse a avaliação da percepção do desconforto
no período recuperação, 3 minutos após um teste
ergométrico. O gráfico 4 mostra o número de indivíduos
que no período de recuperação relataram os valores “Leve
22/06/04, 13:34
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
200
e Moderado” (11-12 e 13-14). Não foi observada diferença
estatisticamente significativa entre os dois grupos (P > 0,05),
entretanto, verificamos que a porcentagem da FCMR
também tinha uma grande variação em ambos os grupos, e
resolvemos fragmentar nossa amostra em intervalos
correspondentes a 30a 49% e menor que 30 % FCMR.
A pressão arterial foi a outra variável dependente
estudada. Esta variável é de grande importância por
apresentar diretamente relação com o débito cardíaco. Brion
et al. [14] faz um estudo com pacientes hipertensos
moderados em uso de bisoprolol comparado com
nitrendipine, em que ele constatou diferença significativa
da pressão arterial sistólica (p = 0,001) entre os grupos e da
freqüência cardíaca máxima (p = 0,001).
Swain et al. [20] não achou diferença significativa da
pressão arterial sistólica e diastólica quando comparado antes
e depois do uso de alfa 1-agonists pseudoephedrine (PSE) e
phenylpropanolamine (PPA), devido a esta pesquisa
realizamos o nosso trabalho com os pacientes hipertensos
em uso de medicamentos anti-hipertensivos.
Na verdade nenhum dos trabalhos e artigos pesquisados
fazia correlação direta da pressão arterial com a escala de
percepção de Borg. No nosso trabalho foi comparada à
média a pressão arterial do grupo de hipertensos com a
média da pressão arterial com o grupo de normotensos
nos estágios repouso, antes da exaustão física, no período
da exaustão e no período de recuperação. A Tabela V
demonstra as médias da pressão arterial sistólica e diastólica
nos quatro estágios avaliados. Foram observadas diferenças
significativas da pressão arterial sistólica nos períodos
anterior a exaustão física, no esforço físico máximo e no
período de recuperação para os grupos hipertensos e
normotensos (p < 0,05) e não foi encontrada diferença
estatisticamente significativa para pressão arterial diastólica
em nenhum momento nos dois grupos.
Conclusão
Podemos concluir que não houve diferença
estatisticamente significativa entre o grupo experimental e o
grupo de controle quando analisamos a FCMR de uma
forma global e segmentada nos intervalos de 50 a 74%, 75
a 84% e maior que 85%.
Para um programa de reabilitação cardíaca no qual
utilizamos as porcentagens da FCM até 85%, podemos
utilizar a escala de Borg para intensificar o tratamento,
devendo, porém atentar para a pressão arterial.
Quando analisamos a porcentagem da freqüência
cardíaca máxima de reserva com os valores da escala de
Borg como parâmetro de intensidade de esforço, relatados
pelos participantes desta pesquisa concluímos que não
houve diferença estatisticamente significativa entre os
grupos nos momentos anteriores à exaustão física e no
período de recuperação.
artigo 09 - Jonatas.pmd
200
Concluímos que a hipertensão arterial não é um fator que
intervém na percepção do esforço quando é analisado com a
freqüência cardíaca máxima de reserva e com porcentagens
inferiores a 90% da freqüência cardíaca máxima.
Pode-se afirmar que a pressão arterial sistólica aumenta
com os estágios de TE como também a percepção do esforço
nos dois grupos, mas em momento algum podemos afirmar
que existe alguma correlação. O indivíduo hipertenso
necessita de um monitoramento da pressão arterial durante
a pratica de atividade física.
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C
22/06/04, 13:34
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
202
Artigo original
Avaliação postural da seleção brasileira
masculina de basquete
Postural assessment of brazilian basketball team
Paulo Henrique Cinelli Moreira*, Gisele Cirelli**, Claudinei Chamorro Pelegrina Jr***, Cesar Pereira Soares de Oliveira****
○
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*Fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Basquete, Docente das Disciplinas Administração em Fisioterapia, Exercícios Terapêuticos e Reeducação
Funcional, Recursos Terapêuticos Manuais e Prática Supervisionada em Ortopedia do Curso de Fisioterapia da Universidade de Taubaté – UNITAU,
**Fisioterapeuta, Docente das Disciplinas Administração em Fisioterapia, Eletrotermofototerapia, Recursos Terapêuticos Manuais e Prática Supervisionada
em Ortopedia do Curso de Fisioterapia da UNITAU, ***Fisioterapeuta, ****Médico do Esporte, Chefe do Departamento Médico da Confederação
Brasileira de Basquete, Docente das Disciplinas Fundamentos Biológicos e Cinesiologia do Curso de Educação Física da UNIFMU
Resumo
O basquete é um esporte que exige posicionamentos assimétricos do corpo humano,
sendo que nos principais movimentos como passe, drible e arremesso as situações de
desequilíbrio são constantes. Estes gestos são realizados após uma perfeita educação com
base na repetição, visando à perfeição. Assim certos grupos musculares serão mais utilizados
do que outros, devido provavelmente a manualidade preferencial adotada por cada atleta,
bem como os posicionamentos em quadra destes. Desta forma, se visualizarmos os
grupos musculares, dispostos em cadeias musculares, seu encurtamento irá mostrar os
padrões posturais existentes em cada atleta. Na forma de um estudo experimental com a
Seleção Brasileira Masculina de Basquete, que disputou o Torneio Pré-Olímpico de Porto
Rico em 2003, procurou-se avaliar os padrões posturais dos atletas envolvidos nesta
competição e relacioná-los com a manualidade e posicionamento em quadra. Não foi
encontrada diferença significativa entre os padrões de retração das cadeias musculares
anterior e posterior. Devido a solicitações e treinamentos em posicionamentos diversos,
os deslocamentos corporais em anterior foram encontrados na maioria dos atletas devido
provavelmente ao treinamento em desequilíbrio anterior visando maior velocidade de
contração durante recuperação ou saída ao ataque. Com relação à deformidade em
escoliose, 67% apresentou padrão destro convexo lombar.
Palavras-chave:
Esporte, basquete
masculino, alterações
posturais, escoliose.
Key-words :
sport, male basketball,
postural changes, scoliosis.
Abstract
Basketball is a sport that demands anti-symetrical positions of the human body,
because the main movements as pass, dribbles and hurls, the unbalanced situations are
constant. These gestures are carried through after a perfect education on the basis of
the repetition, aiming at to the perfection. Thus, certain muscular groups will be more
used than others, due probably to the preferential manuality adopted by each athlete,
Recebido 11 de março de 2004; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Paulo Henrique Cinelli Moreira, Rua Leite Ferraz, 75/113-C, Vila Mariana 04117-120 São Paulo SP,
Tel: (11) 5579 1298/ 9756 9794, E-mail: [email protected]
artigo 04 - Paulo Henrique.pmd
202
22/06/04, 13:34
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
203
as well as their position in square. If we can visualize the muscular groups, and the
muscular chains, their shortening will go to show the existing postural standards in each
athlete. In the form of an experimental study with the Brazilian man’s basketball team
that disputed the Pre Olympic Games of Puerto Rico in 2003, it was evaluated the
postural standards of the involved athletes in this competition and related them with
the manuality and positioning in squares. There was no significant difference between
the standard retraction of the anterior and posterior muscular chains. Due to the requests
and training in diverse positionings, the corporal displacements in anterior were found
in the majority of the athletes due probably to the training in previous disequilibrium
aiming at fast speed of contraction during recovery or exit to the attack. With relation
to the deformity in scoliosis, 67% presented lumbar right-handed convex standard.
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Introdução
O basquete é um esporte que exige coordenação de
movimentos, ritmo e sucessões variadas de esforços, com
características assimétricas em membros superiores, visando
à posse e ao desfazer da bola [1].
Seus movimentos principais, como o passe, o drible e o
arremesso, são realizados, em geral, em situações de
desequilíbrio, com rotações ou alternâncias entre as cinturas
pélvica e escapular, apenas com um ou ambos os membros
superiores e com apoio unipodal ou bipodal [1]. Estes gestos
são realizados após uma perfeita educação com base na
repetição, visando à perfeição [2].
A musculatura dos membros inferiores são as
responsáveis pela alta velocidade de contração e resistência
à fadiga nos deslocamentos em quadra e os membros
superiores, responsáveis pelos movimentos precisos e mais
ajustados [2]. Em cada gesto, existe uma interação entre os
movimentos dos membros inferiores com os membros
superiores, sendo desta forma um sistema global, com
alternâncias de estabilizações e pontos de apoio, através da
ação dos músculos dispostos em cadeias [3].
O aprendizado deste esporte é realizado com exercícios
extenuantes de posicionamento, visando manter uma base
alargada no sentido ântero-posterior, possibilitando uma
projeção anterior em maior velocidade durante o ataque e
uma base alargada no sentido lateral com rotação externa
dos membros inferiores e abdução da articulação
coxofemoral durante a marcação (defesa) [1].
Sabe-se que o tecido conjuntivo é a base dos tecidos
humano, sendo composto basicamente de colágeno e elastina.
Quando tensionado de forma contínua e prolongada, seus
feixes se alongam e quando tensões curtas e repetidas, seus
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feixes se densificam, se tornando mais resistentes e menos
elásticos [3,4]. Com esta base, pode-se dizer que os músculos
possuem uma capacidade de adaptação quando submetidos a
diferentes graus de extensão ou comprimento, ou seja, o músculo
esquelético pode diminuir de comprimento e extensibilidade
quando mantido em posição de encurtamento. Desta forma,
o posicionamento altera as propriedades do tecido, estimulando
a flexibilidade (alongamento) ou seu encurtamento, sendo
determinativo do padrão postural do indivíduo [5].
Este padrão postural indica o posicionamento das
articulações e seus respectivos tecidos, por exemplo, varo/
valgo dos joelhos, pés cavo/plano, coxo femoral em rotação
interna/externa, etc, podendo ser a causa inicial de dor ou
distúrbios. Sendo assim, o exame minucioso das diversas
articulações e tecidos moles é de suma importância para a
detecção das patologias [6].
Com relação às práticas esportivas, existem inúmeros estudos
comparativos entre sexo, epidemiologia das lesões, treinamento
físico, avaliação física, entre outros, mas não existem literaturas
sobre as alterações posturais ou padrão postural característico
de uma modalidade. A avaliação da postura do atleta, assim
como a correlação com o lado dominante pode ser fundamental
para prevenção de algias e lesões futuras. Este estudo tem por
finalidade identificar alterações posturais estáticas da Seleção
Masculina de Basquete que representou o Brasil no Torneio
Pré-Olímpico de Porto Rico – 2003.
Material e métodos
Após ser submetido e aprovado pelo Comitê de Ética
de Estudos e Pesquisas em seres humanos da UNITAU,
foram avaliados os 12 jogadores que representaram o Brasil
no Torneio Pré-Olímpico de Porto Rico – 2003.
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Todas as avaliações foram realizadas
no período de 10 – 16/08/03, utilizando
um protocolo prévio de avaliação
adaptado da literatura [7,8], analisando os
atletas nos planos anterior, posterior, perfil
direito e esquerdo, flexão anterior em pé e
sentado, de forma estática, trajando apenas
calção de banho, utilizando máquina
fotográfica digital modelo Sansung digimax
130 para obtenção das imagens, as quais
foram realizadas sempre na mesma
distância e local, observadas nas figuras 1,
2, 3, 4, 5 e 6.
O posicionamento da máquina
fotográfica manteve-se em uma distância
fixa de 4 metros do indivíduo a ser
analisado e em uma altura de 1,50 metro
do solo. Para o posicionamento do
indivíduo, foi estabelecida uma distância
de 30 cm da parede, mantida através de
uma marca no solo.
Para obtenção da base de apoio dos
atletas, solicitou-se que os mesmos
fechassem os olhos e realizassem o
movimento de “marcha no local”, e após,
parar em posição agradável, ou seja,
aquisição de forma inconsciente da base de
apoio. Para análise do deslocamento
corporal foi utilizado um “fio de prumo”,
objeto o qual detecta leves alterações
assimétricas, sendo fundamental para análise
deste critério.
Além desta avaliação objetiva, os atletas
foram questionados com relação a
alterações visuais, auditivas, mastigatórias,
diferença de comprimento nos membros
inferiores e tempo de esporte.
Todos os atletas foram informados sobre
o estudo e consentiram com a divulgação
dos dados mediante termo preenchido
voluntariamente pelos mesmos.
Fig. 1- Vista anterior.
Fig. 2 –Vista posterior.
Fig. 3 – Vista perfil D.
Fig. 4 – Vista perfil E.
Fig. 5 – Flexão em pé.
Fig. 6 – Flexão sentado
Resultados
Após análise dos dados obtidos nas
avaliações posturais e nos questionários, estes
foram transcritos em uma tabela (Tabela I)
para melhor visualização. Foram apresentados os dados: posição em quadra,
manualidade, cadeia muscular predominante,
deslocamento corporal ântero-posterior e
látero-lateral, escoliose e alterações
específicas de cada atleta.
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204
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Tabela I - Características físicas e posição de jogo dos jogadores da Seleção Brasileira de Basquete que atuaram no Pré-Olímpico – 2003.
N
Posição
Manualidade
Cadeia
Deslocamento
Escoliose destro
Outros
Predominante
Corporal
convexa
1
Lateral
Destro
Anterior
Posterior/ D
Lombar
-
2
Lateral
Sinistro
Posterior
Anterior/ D
Lombar
-
3
Armador
Sinistro
Anterior
Posterior/D
Dorsal
Hipom ATM E
4
Pivô
Destro
Anterior
Anterior/E
Lombar
-
5
Lateral
Destro
Anterior
Anterior/E
Dorsal
-
6
Armador
Sinistro
Posterior
Anterior/ E
Dorsal
-
7
Pivô
Destro
Anterior
Anterior/E
Lombar
-
8
Pivô
Destro
Anterior
Anterior/ D
Lombar
MIE > 1 cm
9
Lateral
Destro
Posterior
Anterior/ D
Lombar
Hipom ATM D
10
Lateral
Destro
Posterior
Anterior/ D
Lombar
Hérnia discal L4-L5 / L5-S1
11
Armador
Destro
Posterior
Anterior/E
Dorsal
-
12
Pivô
Destro
Posterior
Anterior/ E
Lombar
Distúrbio visual D
Legenda: MIE – membro inferior esquerdo; Hipom. – hipomobilidade; D – direito; E – esquerdo; outros – alterações específicas de cada atleta.
Gráfico 1 - Relação posicionamento em quadra e cadeia muscular predominante dos jogadores da
Seleção Brasileira de Basquete.
Gráfico 2 - Relação posicionamento em quadra e deslocamento corporal látero-lateral dos
jogadores da Seleção Brasileira de Basquete.
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205
Na tabela I, visualiza-se que em relação à
manualidade, entre os armadores encontrouse um destro (33%) e dois sinistros (67%),
enquanto que os quatro pivôs são todos destros
(100%) e entre os laterais, quatro são destros
(80%) e apenas um é sinistro (20%).
O gráfico 1 relaciona o posicionamento
em quadra com a cadeia muscular
predominante. Nos alas, 60% (3 atletas)
possuem predominância da cadeia muscular
posterior e 40% (2 atletas) possuem
predominância da cadeia muscular anterior.
Entre os pivôs, nota-se que 25% (1 atleta) tem
predominância da cadeia muscular posterior
e três atletas (75%) da cadeia muscular anterior.
Entre os armadores, 2 atletas (67%) possuem
predominância da cadeia muscular posterior
e 1 atleta (33%) da cadeia muscular anterior.
Os gráficos 2 e 3 expõem o posicionamento em quadra e o deslocamento estático
nos eixos ântero-posterior e látero-lateral
respectivamente. Desta forma, no gráfico 2,
pode-se visualizar que entre os alas 80%
possuem deslocamento corporal à direita e
apenas 20% à esquerda. Nos pivôs, 75%
apresentam deslocamento corporal à esquerda
e 25% apresentam deslocamento à direita e
entre os armadores, dois atletas (67%)
apresentam deslocamento corporal à esquerda
e apenas um (33%) possui deslocamento
corporal à direita.
O gráfico 3 apresentou os dados do
deslocamento antero-posterior, sendo
que 83% dos atletas apresentaram
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
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deslocamento corporal anterior, apresentando apenas dois
jogadores o posicionamento em deslocamento posterior.
Com relação ao posicionamento em quadra e a
deformidade escoliose destro convexa, observou-se que entre
os entre os armadores, 100% possuem escoliose destro
convexa dorsal, não sendo equivalente aos dados
encontrados nas posições lateral e pivô, os quais
apresentaram maior incidência em escoliose destro convexa
lombar, 80% e 100% respectivamente (gráfico 4).
Gráfico 3 -Relação posicionamento em quadra e deslocamento corporal
ântero-posterior dos jogadores da Seleção Brasileira de Basquete.
Gráfico 4 - Relação posicionamento em quadra e escoliose convexa dos
jogadores da Seleção Brasileira de Basquete.
Gráfico 5 - Relação manualidade e escoliose destro convexa dos jogadores
da Seleção Brasileira de Basquete.
O gráfico 5 demonstra a relação da manualidade com a
escoliose (deslocamento lateral patológico) destro convexa
dos atletas nas colunas dorsal e lombar. Nos destros, 78%
(7 atletas) possuem escoliose destro convexa lombar e 32%
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206
(2 atletas) possuem escoliose destro convexa dorsal. Entre
os sinistros encontrou-se 33% apresentando escoliose destro
convexa lombar e 67% dorsal.
Discussão
Defendido por Bienfait [3], o movimento do sistema
locomotor é ocasionado por gestos globais devido às tensões
associadas que acontecem pelas cadeias musculares e seus
componentes viscoelásticos [9]. Essa ação dinâmica das
cadeias musculares tem o objetivo de oferecer movimentos
funcionais ao corpo humano através dos sistemas musculares
cruzado, reto anterior e posterior [3,8,10-13]. Possui também
uma função estática responsável pela manutenção do
equilíbrio humano através de interações menos complexas
que as geradas pelos movimentos dinâmicos [3,11-13]. Um
posicionamento em desequilíbrio permanente devido à
discrepância de membros inferiores, distúrbios viscerais ou
visuais, má oclusão dentária, entre outras, gera uma pressão
na cadeia muscular estática, modificando-a, levando a
deformações posteriores [11,12,14-16]. Desta forma, deve
ser analisado o gestual e a estática do atleta em sua atividade
a fim de identificar padrões compensatórios. O exame
estático possui como objetivo atentar sobre o equilíbrio de
cada segmento, verificando as condições de adaptação,
analisando as modificações contínuas da base de sustentação
e o posicionamento da cabeça. Já o exame dinâmico visa
detectar o local e as causas de desequilíbrio muscular [17].
Os estudos relacionados à prática do basquete ainda são
poucos e não possuem uma correlação entre os mesmos.
Não foram encontrados artigos específicos relacionando
alterações posturais com os esportes.
Com relação ao posicionamento em quadra e a sua
relação com a retração da cadeia muscular predominante,
encontrou-se que entre os alas, 60% (3 atletas) possuem
predominância da cadeia muscular posterior e 40% (2 atletas)
da cadeia muscular anterior, entre os pivôs, nota-se que
25% (1 atleta) tem predominância da cadeia muscular
posterior e três atletas (75%) da cadeia muscular anterior e
entre os armadores, 2 atletas (67%) possuem predominância
da cadeia muscular posterior e 1 atleta (33%) da cadeia
muscular anterior, assim sendo, 50% de atletas com
características de retração da cadeia muscular anterior e
50% da cadeia muscular posterior.
Estes dados podem ser explicados através das cadeias
musculares. A cadeia posterior age constantemente quando
o indivíduo encontra-se em posição ortostática, devido à
tendência em desequilíbrio anterior evidenciado no ser
humano [3,4,8,12]. Esta é composta pela musculatura
posterior do tronco e membros inferiores e suas retrações
causam desequilíbrios na estática, como por exemplo,
retificação da coluna vertebral, geno varo de joelhos, cavos
de pé, entre outros. Os movimentos em saltos com extensão
do tronco, muito comuns nesta atividade, aumentam a
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
solicitação e estimulam a hipertonicidade da musculatura
posterior do tronco, podendo gerar uma inversão das
curvaturas lordóticas, deformidade comum em indivíduos
com retração da cadeia posterior [8-13]. Em contrapartida,
estes atletas também realizam treinamentos de defesa, em
uma postura de flexão anterior de tronco, com flexão
acentuada das articulações dos tornozelos, joelhos, quadris,
cotovelos e ombros [1,2,18-20], ou seja, em encurtamento
da cadeia muscular anterior (musculatura anterior dos
membros superiores, tronco, coxas e adutores), gerando
em alguns atletas desequilíbrios em valgo de tornozelos e
joelhos, rotação interna da coxo femoral, anteversão
pélvica, entre outras [8-13]. Além destes gestos, pode-se
destacar o arremesso, o qual, cada atleta possui uma
mecânica particular, realizando o gesto com a presença de
rotações, alternâncias de posicionamentos de pés, ante ou
retropulsão corporal, entre outras, dentro do padrão de
cada indivíduo. Desta forma, não foram encontradas
diferenças significativas neste parâmetro.
Com relação aos deslocamentos laterais, 80% dos alas
possuem deslocamento corporal à direita e apenas 20% à
esquerda, entre os pivôs, 75% apresentam deslocamento
corporal à esquerda e 25% à direita e entre os armadores,
dois atletas (67%) apresentam deslocamento corporal à
esquerda e apenas um (33%) à direita. Segundo Mézières in
Cittone, o homem no plano frontal não deve possuir
desequilíbrios laterais, descarregando o peso de forma
simétrica nos MMII [10].
Já no deslocamento antero-posterior, 83% dos atletas
apresentaram deslocamento corporal anterior e apenas dois
atletas o posicionamento em deslocamento posterior. Este
achado vai ao encontro dos estudos de Busquet, o qual
relata que o corpo humano constrói sua estática sobre um
desequilíbrio anterior, aumentando o trabalho da musculatura
paravertebral para reequilíbrio do sistema [12]. Já Abitol
explica este desequilíbrio ântero-posterior com a teoria da
evolução da espécie humana, relatando que algumas
modificações aconteceram no corpo humano para
proporcionar a postura ereta e a locomoção bípede, como
por exemplo, o deslocamento posterior e para baixo do
centro de gravidade, o tronco mais curto e alargado no plano
médio-lateral e afinado no plano ântero-posterior [21]. As
posições de desequilíbrio ântero-posterior e látero-lateral são
treinadas exaustivamente visando velocidade nos
deslocamentos de recuperação da bola e saída rápida ao
ataque, um deslocamento em “pêndulo anterior” [1,17,18].
No basquete, o trabalho dos membros inferiores é muito
importante, sendo desta forma, exaustivamente treinado.
Estes atletas receberam um aprendizado de movimentos
em parada de dois tempos (pés em posição antero-posterior),
jump stop (salto com saída assimétrica e aterrissagem simétrica),
pé de pivô (mantendo um pé fixo e giro sobre outro), fintas
(movimento de drible em desequilíbrio), entre outros,
solicitando alterações nas bases [1,2,18-20]. O treinamento
artigo 04 - Paulo Henrique.pmd
207
207
em determinadas posições gera adaptações do tecido vivo
em encurtamento ou alongamento determinando os padrões
posturais [5]. Além destes dados, lesões articulares ou
alterações visuais, geram déficits nos sistemas primários de
equilíbrio e estabilidade, alterando o posicionamento corporal
e os ajustes posturais, proporcionando deslocamentos
corporais [22].
Analisando o parâmetro escoliose, entre os armadores,
100% possuem escoliose destro convexa dorsal, diferente dos
dados encontrados nas posições lateral e pivô, os quais
apresentaram maior incidência em escoliose destro convexa
lombar, 80% e 100% respectivamente. Segundo Rash-Burke
in Gantus, a região lombar da coluna vertebral é a mais
suscetível a lesões desportivas. Entendemos que os padrões
assimétricos do esporte como o arremesso, o qual o atleta
realiza o movimento de soltar a bola apenas com o membro
superior dominante, realizando elevação deste membro acima
do ombro com uma angulação de 45Ú à 90Ú com relação
ao solo e saltos em busca da bola com apenas um membro
superior [18-20], geram uma tendência à assimetria corporal,
devido adaptação do tecido vivo citada anteriormente.
Quando comparada a manualidade com a escoliose,
encontrou-se que nos destros, 78% possuem escoliose destro
convexa lombar e 32% destro convexa dorsal. Entre os
sinistros encontrou-se 33% apresentando escoliose destro
convexa lombar e 67% dorsal. Sabe-se que a cadeia cruzada
comanda movimentos de torção das cinturas escapular e
pélvica e quando em retração, é classificada como provável
etiologia de deformidades em inclinação lateral com rotação
oposta da coluna vertebral, ou seja, escoliose [12-13]. Ao
elevar o membro superior direito, a cadeia cruzada anterior
esquerda é solicitada (fibras oblíquas que ligam o ombro
direito ao quadril esquerdo) elevando o quadril esquerdo,
formando uma convexidade lombar à direita. No sinistro,
temos o movimento oposto, com tendência à convexidade
lombar à esquerda. Esta curvatura lombar pode ser
compensada com uma segunda curvatura dorsal oposta
[4,12-14].
Conclusões
Entre os atletas estudados, predominou-se o lado
dominante direito (75%). Não foi encontrada diferença
significativa de retração das cadeias anterior e posterior,
devido provavelmente a alternâncias de movimentos e
gestuais, implicando cada qual a solicitação de cadeias
distintas, sendo os movimentos de saltos verticais em extensão
da coluna e membros, a solicitação da cadeia posterior e
deslocamentos em velocidade anterior solicitando os
músculos da cadeia anterior. Os deslocamentos corporais
em anterior foram encontrados na maioria dos atletas devido
provavelmente ao treinamento em desequilíbrio anterior
visando maior velocidade de contração durante recuperação
ou saída ao ataque. Com relação à deformidade em escoliose,
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
208
67% dos indivíduos apresentaram padrão destro convexo
lombar, sendo que entre os indivíduos destros 78%
apresentaram este padrão devido provavelmente à retração
da cadeia cruzada anterior esquerda.
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C
22/06/04, 13:34
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
209
Revisão
Lesões SLAP - Aspectos clínicos e patológicos
SLAP lesions - Pathologic and clinical aspects
Jaciene de Souza Silva*, Leila de Albuquerque Feijó Fonseca**
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*Fisioterapeuta, **Professora do Departamento de Fisioterapia da UCSal, Fisioterapeuta da Enfermaria
de Ortopedia do Hospital Geral Roberto Santos
Palavras-chave:
articulação do ombro, lábio
glenoidal, lesão SLAP, tendão
do bíceps.
Key-words:
shoulder joint, glenoid labrum,
SLAP lesion, biceps tendon.
Resumo
Este trabalho de revisão bibliográfica investiga as lesões SLAP, que acometem o lábio
glenoidal superior, seus aspectos clínicos e patológicos. Estas são freqüentemente associadas
a outras patologias e produzem sintomas muito vagos, levando à confusão diagnóstica.
Com base em achados artroscópicos, as lesões SLAP foram inicialmente classificadas em
quatro tipos. Recente estudo acrescentou mais três tipos para essa classificação, sendo as
do tipo II as de maior incidência. Foram observados ainda três subtipos destas e relatados
seus efeitos na biomecânica do ombro. Diversos mecanismos de lesão foram propostos e
dois novos exames físicos foram preconizados. Controvérsias existem quanto ao melhor
método de diagnóstico por imagem, porém a certeza diagnóstica só pode ser possível via
artroscópica. É de interesse da fisioterapia estudar tais lesões, pois são relativamente
novas no conhecimento ortopédico, com importantes repercussões clínicas quando não
identificadas, constituindo graves obstáculos à reabilitação.
Abstract
The aim of this literature review article was to study the SLAP lesions that involve
the superior glenoid labrum, their pathologic and clinical aspects. These are often
associated to other pathologies which produce many vague symptoms that lead to
misdiagnostic. Based on arthroscopic findings, SLAP lesions were initially ranked into
four types. A recent study added more three types to this classification, being the type
II the most incident. Three under-types of these were observed and their effects on
the shoulder biomechanics were related. Many lesion mechanisms were proposed and
two new physical exams were commended. There are controversies about the best
diagnostic method by image; but the diagnostic assurance only can be possible by
arthroscopy. Physical therapy is interested to study such lesions, due they are new for
the orthopedic knowledge, with important clinical repercussions when they are not
identified, producing critical obstacles to the rehabilitation.
Recebido 27 de julho de 2003; aceito em 1 de junho de 2004
Endereço para correspondência: Leila de Albuquerque Feijó Fonseca, Rua das Acácias, 470, salas 501/3 Pituba, Salvador BA, Tel: (71) 3538003/
3792653, E-mail: [email protected] - [email protected]
artigo 07 - Jaciene.pmd
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22/06/04, 13:34
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
210
Introdução
As lesões do lábio glenoidal superior, SLAP (Superior
Labrum Anterior-Posterior) lesions, constituem importantes
causas de disfunções em atletas que realizam arremesso, assim
como produzem sintomas significativos nas atividades de
vida diária de um não arremessador. Freqüentemente
associadas a outras patologias, produzem sintomas muito
vagos que levam à confusão diagnóstica com outros
acometimentos intra-articulares. Embora vários estudos
tenham sido desenvolvidos durante estes últimos anos, desde
a sua descoberta, em 1990, os mecanismos de dano das
lesões glenoidais superiores são ainda pouco conhecidos. Sem
a vantagem do exame clínico fidedigno, estas lesões podem
ser ainda negligenciadas ou mesmo confundidas com outras
patologias, constituindo importante obstáculo à reabilitação.
Progressos em artroscopia de ombro conduziram, com
segurança, à identificação das lesões que envolvem o lábio
superior e a âncora do tendão do bíceps. Embora crescente
número de pesquisas, ultimamente, tenha se dedicado à
compreensão destas lesões, existe, ainda, pequena bibliografia
a respeito.
Desenvolvimento
Metodologia
Este trabalho consiste de uma revisão bibliográfica cuja
estratégia de busca incluiu consulta de bases de dados
eletrônicas Medline e Bireme. Foram encontrados 11 artigos
que preencheram os critérios de inclusão: ano de publicação
compreendido entre 1992 a 2003. Não foram encontrados,
dentro destes critérios, artigos com abordagem
fisioterapêutica sobre o tema. Para a seleção buscou-se a
combinação dos termos: articulação do ombro; lábio
glenoidal; lesão SLAP; tendão do bíceps. A estratégia de
revisão incluiu também checagem manual de referências
literárias e capítulos de livros que abordavam este tema.
Foram excluídos artigos sobre técnicas cirúrgicas detalhadas
tendo em vista que tal averiguação não integra a proposta
deste estudo.
Características da lesão
A SLAP lesion, ou lesão SLAP é definida como uma lesão
do lábio superior que compreende tanto a porção anterior
como a posterior do labrum, tomando-se como referência
central a zona de inserção do tendão da cabeça longa do bíceps
que, exatamente devido a essa correlação anatômica, assume
grande importância para essas lesões, por sua função
estabilizadora dinâmica. Constitui um grupo de lesões de origem
traumática freqüentemente associadas a outras patologias intra
e extra-articulares, traumáticas ou não, podendo também ser
encontradas mais raramente isoladas [1,2].
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Embora um crescente número de publicações tenha
focado a anatomia, função, diagnóstico e resultados de
tratamento, os sinais e sintomas das lesões SLAP são ainda
pouco definidos. Essas lesões caracterizam-se por dor mal
localizada, sem precisão topográfica e discreto grau de
instabilidade glenoumeral. Dor no tendão longo do bíceps
não é freqüente e infreqüentes também são os estalidos
intra-articulares, que quando associados à dor, história de
trauma com apoio no membro superior em extensão ou
em atletas arremessadores assumem importância na pesquisa
clínica. Devem servir de suspeita de lesões SLAP, casos de
pacientes que mantém quadro doloroso persistente na
articulação do ombro, com diminuição de amplitude de
movimento e pequena resposta ao tratamento físico [2,3].
Uma sintomatologia típica do atleta arremessador é
desenvolvimento de dor anterior ou posterior, podendo estar
associada à síndrome dead arm que são sintomas neurológicos
transitórios, caracterizados pela dor durante o arremesso
com diminuição da performance e da velocidade [4,5].
Classificação
Com base nos achados artroscópicos, as lesões SLAP
foram inicialmente classificadas por Snyder [6] em quatro
tipos. Considerações posteriores foram feitas por outros
autores [4,7,8]:
Lesões tipo I, em que ocorre um esgarçamento do labrum
superior, porém suas fixações, bem como a do tendão,
continuam intactas (Fig. 1). Este tipo revelou-se sem significação
patológica e de baixa freqüência. Seus aspectos normalmente
confundem-se com o processo degenerativo fisiológico mais
comumente observado com o envelhecimento.
Lesões tipo II, em que a fixação do lábio é comprometida
por uma avulsão do complexo labro-bicipital da glenóide,
resultando em instabilidade deste complexo (Fig. 2). Constituem
as lesões de maior incidência dentre as lesões labrais, cerca de
50 % de todas as lesões SLAP. Foram observados ainda três
subtipos de lesões SLAP tipo II: ântero-superior; pósterosuperior, também designada SLAP lesion tipo II posterior; e
combinada antero-posterior (Fig. 5). Com base em experiências
com atletas arremessadores, as lesões SLAP tipo II posterior
revelaram-se mais comuns nestes do que no grupo por trauma
não arremessador, nos quais predominaram as lesões anteriores.
Normalmente esse tipo de lesão gera uma instabilidade pósterosuperior que se manifesta pela pseudolassidão anterior. Estudos
recentes preconizam que a desestabilização da inserção do
bíceps resultaria em aumento significativo da translação
glenoumeral ântero-posterior e súpero-inferior. A instabilidade
superior crônica pode levar a uma lesão específica do manguito
rotador, o que pode explicar a alta incidência das lesões do
manguito rotador em pacientes com SLAP lesions crônicas.
Também foi relatado um outro efeito biomecânico das lesões
SLAP tipo II, especialmente em arremessadores que
apresentavam o tipo combinado e posterior. Quando o braço
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Fig. 3 - SLAP tipo III. [6]
Fig. 1 - SLAP tipo I. [6]
Fig. 2 - SLAP tipo II. [6]
Fig. 4 - SLAP tipo IV. [6]
Fig. 5 - Três subtipos de lesão SLAP tipo II pela localização anatômica: (A) anterior, (B)
posterior, e (C) combinada [8].
é trazido para abdução e rotação externa, o tendão bicipital
assume um ângulo mais vertical e posterior, o que fará com
que o bíceps se direcione medialmente ao tubérculo
supraglenoidal, transmitindo uma força de torção ao labrum
póstero-superior. Sendo assim, recomenda-se, para pacientes
que se submeteram a reparos da lesão SLAP posterior, que
evitem realizar a rotação externa passiva precocemente
(primeiras três semanas), pois é onde se observa o fenômeno,
mesmo sem abdução. Isso porque a rotação externa estressa o
labrum póstero-superior.
Lesões tipo III consistem em uma laceração em alça de
balde do lábio superior, que pode avançar para dentro da
articulação, porém o arco do bíceps permanece intacto. São
raras (Fig. 3);
Lesões tipo IV são lesões em alça de balde do labrum
superior, onde a laceração labial se estende para o tendão
bicipital, permitindo sua subluxação para dentro da
articulação. Também são lesões raras e freqüentemente
associadas a uma lesão de Bankart, no quadro de
instabilidade anterior crônica (Fig. 4).
Alguns autores fazem referência à recente estudo
realizado por Maffet et al., que acrescenta, ainda, mais três
tipos, para esta classificação [1,7]:
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Lesões tipo V, que consistem de uma associação SLAP II
a uma lesão Bankart antero-inferior que se estende
superiormente, envolvendo a separação do tendão do bíceps.
Estes tipos de lesão estão sempre presentes no contexto de
instabilidade anterior crônica.
Lesões tipo VI, definidas como instabilidade radial ou lesão
da orla glenoidal, que são associadas com separação do arco
do bíceps. Nerisson, Kempf e Bonnomet [7] definem estas
lesões como uma volumosa lingueta labral superior sem
desinserção biciptal, de interesse puramente nosológico.
Lesões tipo VII, caracterizadas pela extensão da lesão
SLAP em posição inferior ao ligamento glenoumeral medial,
e em menor proporção, comprometendo também o
ligamento glenoumeral inferior. Sua freqüência é baixa.
Mecanismos de lesão
Alguns mecanismos de lesão têm sido propostos para as
lesões SLAP, tais como uma força de compressão no ombro
após queda com o braço em extensão; tração no braço,
como resultado de um puxão ou secundariamente a
movimentos de tração repetidos ou excessivos da inserção
tendínea, como em arremessadores de beisebol, nadadores,
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jogadores de tênis e de voleibol. Estudos têm relatado
numerosas lesões na articulação glenoumeral durante as
diferentes fases de um lançamento: (1) durante a rotação
(wind-up), que tem por finalidade preparar o arremessador
em uma postura e equilíbrio adequados para o lançamento,
a cabeça do úmero pode ser desgastada e tornar-se áspera
devido à ação de alavanca sobre o lábio glenoidal posterior;
(2) na fase de levantamento (cocking), o ombro é abduzido e
rodado em aproximadamente 90º. Essa posição coloca a
cápsula articular anterior, os rotadores internos, que são
usados para acelerar a bola, e o tendão biciptal sob tensão
máxima. Estudos revelaram que a posição do tendão durante
a aplicação de carga é um fator determinante na patogênese
das lesões SLAP tipo II, que ocorrem com maior freqüência
na posição máxima. A tensão aumentada do tendão do
bíceps aumenta também a rigidez em torção da articulação
glenoumeral e induz ao estresse localizado no ligamento
glenoumeral inferior, contribuindo para a redução da
estabilidade anterior do ombro; (3) aceleração, que começa com
a rotação máxima e termina com a soltura da bola. Os
músculos que estiveram distendidos na fase de levantamento
passam a ser os aceleradores em uma contração muscular
concêntrica; (4) soltura e desaceleração, quando inicialmente, o
úmero adota um ritmo alto de rotação interna e o cotovelo é
estendido rapidamente. Grandes forças são geradas no
manguito rotador nesta fase, necessárias para tornar mais
lenta a rotação interna e adução horizontal do úmero, e para
estabilizar a cabeça do mesmo na glenóide, bem como para
resistir à força de afastamento que tenta arrancar o braço da
articulação, na direção para onde a bola está sendo arremessada.
As lacerações do lábio na inserção do tendão da cabeça longa
do bíceps, a subluxação deste tendão por laceração do
ligamento transverso e várias lesões do manguito podem
ocorrer durante essa fase do arremesso. Godinho et al. [2],
tendo como base estudos realizados por Rodosky, Hanter e
Snyder, relataram que este mecanismo de desaceleração,
realizado pelo bíceps do atleta arremessador, causa uma tração
excessiva no labrum superior; (5) execução (follow-through), fase
durante a qual o corpo movimenta-se para diante com o
braço, reduzindo as forças de afastamento aplicadas ao ombro,
o que resultaria em aumento de tensão sobre os músculos do
manguito [3,9,10].
Como causa de lesão, além dos arremessos repetidos já
citados, Burkhart, Morgan e Kliber [4] relataram ainda um
outro possível mecanismo, que seria um episódio único de
trauma que incluísse uma força agonista excêntrica atuando
contra uma contração ativa do bíceps braquial, o que poderia
potencializar a ruptura da cabeça longa desse músculo no
tubérculo supraglenoídeo.
Urban e Caborn, citados em estudo de Bencardino [1],
postularam que diferentes mecanismos de lesão resultariam
em diferentes tipos de SLAP lesions. Atletas que usam
repetitivamente o braço por sobre a cabeça estão propensos a
desenvolverem lesões tipo I ou II, ao passo que pacientes que
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apresentam história de queda com o braço estendido estão
mais sujeitos a ter lesões tipo III, IV ou VI. Lesões tipo V e VII
têm sido mais freqüentes em instabilidade por um trauma agudo.
Diagnóstico clínico
O diagnóstico apropriado da lesão é considerado crítico
para o tratamento adequado. No entanto, um diagnóstico
clínico acurado da lesão SLAP pode ser difícil. Tal dificuldade
se deve à forma de apresentação dos sintomas, muito vaga,
que sugere muitas vezes outros acometimentos intraarticulares do ombro.
Ao exame físico, o teste de tensão bicipital, palm up test
ou speed, pode ajudar a identificar uma lesão da cabeça longa
do bíceps na sua inserção no lábio superior, além de
evidenciar o grau de participação desse músculo na patologia.
Dor em região antero-superior do ombro experimentada
quando o mesmo é fletido contra uma resistência com o
cotovelo estendido e o antebraço supinado pode levar à
suspeita de uma lesão SLAP. Da mesma forma, o teste
compressivo de rotação pode estar presente em uma lesão
labral. Este teste é realizado em posição supina, com o
membro superior em 90º de abdução, 90º de flexão do
cotovelo; fazendo-se compressão articular com movimentos
de rotação, objetiva-se capturar a alça labral, provocando
um ressalto articular [2,3].
O teste clínico realizado com o cotovelo estendido,
antebraço em pronação máxima e adução de 10 a 20º (teste
de compressão ativa de O´Brien ou cross chest adduction test)
também tem sido utilizado como diagnóstico, embora existam
autores que afirmem não ser patognomônico, já que pode
ser positivo também nas alterações acromioclaviculares. Esse
teste é considerado positivo para as lesões SLAP se houver
manifestação de dor profunda, localizada no sulco
intertubercular durante uma resistência, a qual desaparece
ou é aliviada com o antebraço supinado ativamente; um
estalido doloroso intra-articular com o membro pronado
também indica lesão lábioglenoidal [5].
O teste do deslizamento anterior (AST) também foi
relatado como diagnóstico para as lesões labrais. O exame é
realizado com as mãos posicionadas nos quadris, polegar
para trás e estabilização da escapula por uma das mãos de
examinador, enquanto a outra é colocada no cotovelo,
resistindo à força de impulsão realizada para cima e para
trás pelo paciente. A suspeita diagnóstica é baseada na
presença da dor ou clique durante o esforço. O teste mostrou
sensibilidade de 78,4% e especificidade de 91,5%, mas não
confirma o diagnóstico [2].
Em estudo de Kim et al. [10] foi relatado um novo teste
diagnóstico para lesões SLAP isoladas, nomeado de biceps
load test II. O teste é conduzido com o paciente em supino.
O braço a ser examinado é elevado a 120º e rodado
externamente ao seu ponto máximo, com o cotovelo fletido
a 90º e o antebraço em posição supinada. Pede-se ao paciente
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que faça uma flexão do cotovelo enquanto o examinador
resiste. O teste é considerado positivo se o paciente queixarse de dor durante a flexão resistida ou se a dor piora após o
exame. É negativo se a dor não aparece com a flexão resistida
do cotovelo ou se a dor, pré-existente durante a elevação e
rotação externa, não muda ou diminui pela flexão resistida
do cotovelo. O biceps load test II fundamentou-se em estudos
biomecânicos que relataram que a abdução e rotação externa
do ombro, durante a fase de arremesso, estressam a origem
do tendão da cabeça longa do bíceps e sua inserção no
labrum posterior. Estudos eletromiográficos dinâmicos
demonstraram, também, que o bíceps é extremamente ativo
em atletas arremessadores quando o ombro está na posição
abduzida e rodada externamente. Durante o bíceps load test
II, uma contração ativa contra uma resistência estressa a
inserção do complexo biceps-labral superior, onde a dor é
elicitada no ombro com a SLAP lesion tipo II. A abdução e
rotação externa do ombro, durante o teste, muda a direção
relativa das fibras do bíceps para uma posição em ângulo
oblíquo ao labrum póstero-superior, antes paralelo a este.
Esta mudança no vetor da força do bíceps aumenta a dor
generalizada na labrum superior durante a contração resistida
do bíceps em abdução e rotação externa. Desse modo, o
bíceps load tess reproduz o mecanismo de lesão da SLAP tipo
II, demonstrando ser um teste muito sensível e específico,
de diagnóstico efetivo para tais lesões [10].
Estudos recentes possibilitaram correlacionar quatro
testes de exame físico de acordo com a presença e a
localização anatômica da lesão SLAP tipo II, analisando
estatisticamente suas respectivas especificidade e
sensibilidade. Os testes foram: (1) sensibilidade da fossa
bicipital, (2) teste de Speed, (3) teste de O’Brien, e (4) teste
de recolocação de Jobe. O teste para a sensibilidade da fossa
bicipital foi considerado positivo quando a dor era aumentada
à pressão profunda no ombro lesado, em comparação com
a mesma lesão no ombro oposto sem dor. O teste de Speed
produziu resultados positivos à dor na região do sulco bicipital,
com resistência à flexão anterior com o ombro fletido à 90º
e antebraço supinado. Por último, o teste de recolocação de
Jobe era positivo quando a dor e apreensão no ombro
(geralmente localizadas na região póstero-superior),
produzidas pela abdução e rotação externa, eram aliviadas
por uma força de direção posterior aplicada à cabeça do
úmero. O uso do termo, teste de recolocação de Jobe, deve
ser claramente distinguido do seu uso em diagnóstico de
instabilidade anterior, em que a dor e apreensão são
geralmente localizadas anteriormente e aliviadas pela
diminuição da pressão na cabeça umeral. Os testes de
O’Brien e Speed se mostraram úteis na previsão das lesões
anteriores, enquanto que o teste de recolocação de Jobe foi
útil na previsão da lesão SLAP posterior [4].
Embora diversos testes tenham sido desenvolvidos para
avaliar a lesão SLAP, o exame físico revelou-se ainda ineficaz
para diagnosticar tais lesões. O quadro clínico muito
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impreciso, assim como a presença de patologias associadas,
assume aspectos que confundem o diagnóstico, tornando-o
ainda mais difícil.
Diagnóstico por imagem
A identificação das lesões labrais através de técnicas não
invasivas apresenta-se como um permanente desafio para
os estudiosos da área. Diversos autores [2,3,12] concordam
que esta forma tem se mostrado de eficiência limitada nas
visualizações de tais lesões. Muitas discussões existem quanto
ao melhor método de imagem para diagnosticar as lesões
SLAP. No entanto tem se reservado à artroscopia o mérito
de ser o único método seguro de confirmação diagnóstica,
através da qual pode-se também realizar a regularização
labral e/ou sutura com fixação lábio-glenoidal .
Diagnóstico diferencial
As lesões do lábio glenoidal superior freqüentemente
encontram-se associadas a outras patologias, tais como:
tendinite calcária, luxação recidivante anterior, subluxação
recidivante, síndrome do impacto e ruptura do manguito
rotador, sendo a associação mais freqüente a instabilidade
anterior. Diversas outras patologias como frouxidão do
ligamento glenoumeral inferior, lesão de Bankart, lesão de
Hill-Sachs, lesões condrais, fragmentos soltos e lesões
completas, também foram encontradas em associação com
as lesões SLAP. È importante ressaltar que existem também
outras lesões que acometem o lábio glenoidal, muito
semelhante às lesões SLAP, mas que não pertencem a este
grupo de lesões. As lesões anterosuperiores ou lesões de
Andrews foram as primeiras lesões labrais reconhecidas como
característica do ombro doloroso do lançador.
Morfologicamente, também podem ocorrer esgarçamento
da lingueta e/ou desinserção, porém estes são estritamente
limitados à região anterosuperior e não se estendem para
traz da inserção do tendão longo do bíceps, o que os
distinguem de uma lesão SLAP. As lesões labrais posteriores
são menos freqüentes que as superiores e anterosuperiores.
As posteroinferiores geralmente surgem associadas a uma
condrite local da glena, enquanto que o esgarçamento do
labrum posterosuperior está associado a uma ruptura da
face profunda do supraespinhoso. As lesões anteroinferiores
associadas à lesão do ligamento glenoumeral inferior,
pertencem ao quadro típico de instabilidade anterior crônica.
Além disso, a dificuldade diagnóstica pode acentuar-se ainda
mais, devido a grande variação anatômica da região labral,
como a inserção regular, porém frouxa do lábio, a forma
labral meniscóide, ou a fragmentação labral geralmente
observada em pacientes idosos, constituindo esta uma lesão
degenerativa e não uma lesão SLAP. Por esses motivos, os
tipos I e II são os de diagnóstico diferencial mais difícil,
especialmente nas faixas etárias mais altas [1,2,7].
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Recente estudo de Kim et al. [13] revelou que um teste
de Speed positivo e uma lesão do supraespinal estavam,
significativamente, associados às lesões tipo I. Os achados
associados às lesões tipo II diferenciaram-se, de acordo com
as idades dos pacientes: este tipo de lesão em pacientes que
tinham 40 anos de idade ou menos, foi associado apenas
com uma lesão Bankart, enquanto naqueles que tinham mais
de 40 anos, o tipo II foi encontrado em associação com
uma lesão do supraespinal e osteoartrite da cabeça umeral.
As lesões tipo III e tipo IV associaram-se com uma ocupação
de alta demanda e uma lesão Bankart.
O recesso sublabral, muitas vezes, pode simular uma
lesão SLAP, podendo dificultar ainda mais o seu diagnóstico.
Smith et al. [14] descreveram dois sinais de RM artrográfica
úteis para distinguir um recesso sublabral de uma lesão
SLAP. Primeiro eles notaram que essa estrutura anatômica
se localizava entre a glenóide superior e a metade anterior
do labrum superior, não se estendendo posteriormente à
inserção da cabeça longa do bíceps, o que os levou a
concluir que a intensidade do sinal de RM, entre o labrum
e a glenóide, no terço posterior da glena superior,
representava uma lesão SLAP. Um outro sinal relatado é o
denominado “biscoito de Oreo duplo”, o qual pode ser
visto quando estão presentes duas coleções de líquido, sendo
que o fluido mais lateral, dentro da substância do labrum,
lembrando uma lesão meniscal no joelho, representaria a
lesão; e o mais medial, entre o lábio e a glenóide, o recesso
sublabral. Uma outra estrutura anatômica que pode
complicar também o desmembramento das lesões labrais
é o intervalo rotador, que corresponde a uma zona
compreendida entre o supraespinhoso e o subescapular
sede de rasgos e inflamações [7].
O diagnóstico, portanto, não é fácil e pode passar
despercebido ou ainda confundir-se com aspectos que
são variáveis da anatomia normal. No entanto as lesões
SLAP, sem nenhum achado patológico associado, são
incomuns e cuidados devem ser tomados quanto aos
sintomas que lhe são atribuídos, quando outras lesões
encontram-se presentes.
Tratamento
Este trabalho não tem como proposta o estudo do
tratamento das lesões SLAP, mas o entendimento da
natureza destas. Exporemos, no entanto, breves comentários
a respeito, com o intuito de que venham a ser desenvolvidos
futuros raciocínios fisioterapêuticos.
As recomendações terapêuticas específicas baseiam-se
no tipo de lesão labral presente. Snyder et al. [6] recomendam
para as lesões SLAP tipo I, a realização apenas do
desbridamento do tecido degenerado. Para as lesões tipos II
indica-se também o desbridamento e o lábio glenoidal deve
ser suturada e fixada a glenóide. Nas lesões tipo III,
desbridamento com fixação lábio-glenóide e sutura da alça
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de balde, alternativamente pode-se apenas ressecar-se a alça,
e nas lesões tipo IV, procedimento semelhante é realizado.
O programa de reabilitação da lesão SLAP deve ter
características diferentes de acordo com a técnica cirúrgica
utilizada. O paciente com o lábio reinserido necessita de um
período com movimento restrito no pós-cirúrgico imediato,
para que possa ocorrer boa cicatrização tecidual. Nestes
casos, deve-se ter muita cautela com os movimentos do
braço, enfatizando a ausência de contração ativa do bíceps
por seis a oito semanas, assim como a ausência também da
flexão anterógrada ativa além de 90º por seis semanas. Do
contrário, nos pacientes que foram submetidos a um
desbridamento do lábio, o movimento e fortalecimento
podem progredir muito mais rapidamente e a reabilitação
baseia-se nos sinais e sintomas [9].
Conclusão
As lesões SLAP têm-se mostrado ainda distantes de
seu conhecimento pleno, apesar dos avanços ortopédicos
ocorridos neste sentido. Sendo de relevância clínica
considerável, constituem fonte de sintomas e incapacidades
para o paciente, especialmente o atleta jovem. A
sintomatologia vaga, como também a complexidade da
anatomia labral e suas variantes nor mais, torna o
diagnóstico clínico extremamente difícil. A localização
anatômica dessa lesão, bem como a dificuldade de acesso
cirúrgico clássico possibilitou o negligenciamento das lesões
SLAP por longas datas. Com as modernas técnicas de
artroscopia pôde-se estudar, diagnosticar e tratar essas lesões
antes pouco conhecidas.
Embora muitos estudos tenham sido realizados sobre
as lesões SLAP, desde a sua descoberta, pouco se sabe
ainda sobre a referida lesão, principalmente no que diz
respeito à sua apresentação clínica e ao mecanismo de
lesão. Faz-se necessário incrementar as pesquisas para
que se possam produzir evidências para as bases teóricas
já existentes.
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C
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Revisão
Influência do decúbito ventral nas trocas gasosas de
pacientes com hipoxemia refratária ao oxigênio
Influence of ventral decubitus on patient gas exchange with
refractory hypoxemia at oxygen
Ana Carolina de Almeida Koide*, Emerson dos Santos**, Décio Iandoli Júnior***
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*Fisioterapeuta, **Fisioterapeuta, professor titular das disciplinas de Pneumologia e Fisioterapia Respiratória na Unisanta,
***Doutor em medicina pela UNIFESP, professor titular da disciplina de Fisiologia na Unisanta
Palavras-chave:
Hipoxemia, oxigenação,
decúbito ventral, ventilação,
troca gasosa pulmonar.
Key-words:
Hypoxemia, oxigenation,
ventral decubitus, ventilation,
pulmonary gas exchange.
Resumo
Através de revisão bibliográfica propõe-se analisar os efeitos do decúbito ventral
sobre o índice de oxigenação e a diferença alvéolo-arterial de oxigênio em pacientes
com hipoxemia refratária. Freqüentemente os pacientes internados em Unidade de
Terapia Intensiva passam longos períodos do dia em decúbito dorsal, condição que
facilita a abordagem da equipe interdisciplinar, porém acarreta grandes alterações na
mecânica ventilatória. O decúbito ventral tem a intenção de recrutar unidades alveolares
dorsais colapsadas, tornando-as novamente ventiladas. Com esta intervenção observase uma redistribuição do fluxo aéreo para estas áreas perfundidas, equilibrando a relação
ventilação/perfusão e melhorando a complacência pulmonar. Conclui-se que com o
decúbito ventral há uma melhora significativa dos parâmetros ventilatórios.
Abstract
Through a revision of literature, the aim of this work was to analyse the effects of
ventral decubitus on oxygen index and the alveolar-arterial oxygen difference in patients
with refractory hypoxemia. Patients in Intensive Care Units frequently spend long periods
in dorsal decubitus, condition which helps the interdisciplinary staff approach, but
cause many alterations in ventilatory mechanics. Ventral decubitus has the intention to
recruit dorsal alveolar units collapsed, turning them ventilated again. A redistribution
of airflow to this perfusion areas was observed with this intervention, balancing the
ventilation/perfusion relationship and improving the pulmonary compliance. In
conclusion, ventral decubitus significantly improves the ventilatory parameters.
Recebido 17 de fevereiro de 2004; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Ana Carolina de Almeida Koide, Rua Thiago Tacão, 42/13 Ponta da Praia 11030-320 Santos SP, Tel.: (13) 3261-3649
ou (11) 3501-9481, E-mail: [email protected]
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
Introdução
A expansão dos pulmões pode estar limitada por fatores
intrínsecos ou extrínsecos, prejudicando a função respiratória.
Quando um indivíduo está posicionado em decúbito
dorsal, ocorre uma limitação extrínseca em sua expansão
pelo contato com o leito. A incursão do diafragma, também
estará prejudicada pela acomodação das vísceras sobre ele.
Sabe-se que os pacientes internados em unidade de terapia
intensiva (UTI) submetidos à ventilação mecânica (VM)
passam grande parte de seu dia em decúbito dorsal, pois
esta posição facilita a abordagem da equipe multidisciplinar,
o atendimento fisioterapêutico, a monitoração respiratória,
o acesso venoso, o correto posicionamento da prótese de
ventilação mecânica, entre outras vantagens.
Porém existem também as desvantagens. Entre elas está
a diminuição da capacidade residual funcional (CRF),
favorecendo o fechamento das vias aéreas e a diminuição
das trocas gasosas. Quando a postura é invertida, deixando
o paciente em decúbito ventral, ocorre mudança na pressão
transpulmonar capaz de reverter este quadro [1].
Esta alteração da pressão transpulmonar pode estar
atribuída à redução do peso do coração e das outras
estruturas do mediastino sobre o parênquima pulmonar
[1,2,3], e ao alívio dos efeitos compressivos do pulmão
consolidado e do peso das vísceras abdominais sobre a região
caudal do pulmão dorsal [1].
A proposta do posicionamento em decúbito ventral
objetiva reverter as desvantagens do decúbito dorsal,
melhorando a oxigenação do paciente.
Com a região dorsal em contato com o leito, o fluxo aéreo
encontrará grande resistência nas áreas posteriores, sendo assim
desviado para a região anterior, porém, como o fluxo sanguíneo
é maior na região posterior esta situação vai resultar em áreas
bem ventiladas e pouco perfundidas nas regiões anteriores e
shunt arteriovenoso nas regiões posteriores.
Quando adotamos o decúbito ventral, ocorre logo nos
primeiros minutos uma redistribuição do fluxo sanguíneo
para as áreas ventiladas, reduzindo o shunt pulmonar com
melhora da pressão arterial de oxigênio (PaO2) [4,5].
Pappert apud Ribeiro [6] entende que a melhora da
oxigenação no decúbito ventral “deve-se ao aumento do
fluxo sangüíneo nos alvéolos recrutados, com redução do
shunt e aumento das unidades pulmonares com relação
V/Q normal”.
O emprego do decúbito ventral como recurso
fisioterapêutico tem sido muito relatado e os resultados são,
na maioria das vezes, positivos.
Esta revisão bibliográfica visa reunir considerações gerais
sobre o posicionamento em decúbito ventral para que se
consiga melhorar a oxigenação do paciente acamado por
longos períodos.
Propõe-se comparar protocolos de diferentes pesquisadores e alicerçar elementos para estabelecer o
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momento mais adequado de se realizar a transferência do
paciente para o decúbito ventral.
Desenvolvimento
Perfil do paciente
Dentre os pacientes com indicação para decúbito ventral,
muitos têm diagnóstico de Síndrome do Desconforto
Respiratório Agudo (SDRA), segundo os critérios do
Consenso Americano-Europeu de Pneumologia e Terapia
Intensiva, em que a doença deve ser de início agudo, com
hipoxemia refratária ao O2, índice de oxigenação (PaO2/
FiO2) menor do que 200 mmHg, exame radiológico de tórax
evidenciando infiltrado bilateral difuso, ausência de
insuficiência cardíaca e pressão capilar pulmonar menor do
que 18 mmHg [3,7,8,9,10].
Chatte et al. [11] classificam SDRA apenas pela
radiografia com presença de condensação bilateral, e
incluem para tratamento com uso de decúbito ventral
pacientes com insuficiência respiratória aguda com rápido
decréscimo na oxigenação, onde a VM se faz necessário.
Valores de PaO2/FiO2 menores ou iguais a 150 mmHg
são os marcadores de indicação do decúbito ventral para
Chatte [11] e Mure et al. [12]. Torres e Vieira [3] indicam o
decúbito ventral para pacientes com Lesão Pulmonar Aguda
(LPA) mantendo PaO2/FiO2 menor do que 300 mmHg.
Gattinoni et al. [4], Nakos et al. [5] e Machado et al. [13]
determinaram a inclusão dos pacientes em seus trabalhos,
quando estes apresentassem PaO2 menor do que 60 mmHg.
Valores iniciais mínimos de fração inspirada de oxigênio
(FiO2) variaram entre 50 e 70% [5,11,13].
Nakos et al. [5] e Chatte et al. [11] apenas pronaram pacientes com um mínimo de 6 e 8 horas de VM, respectivamente.
Sinais de intolerância do paciente em assumir o decúbito
ventral devem ser considerados. O mesmo deve retornar para
o decúbito dorsal, imediatamente, se houver um decréscimo
maior do que 5% na saturação de oxigênio (SatO2) ou ainda
uma queda na pressão arterial sistêmica de 25 mmHg [11].
Comprometimento cardiovascular, como instabilidade
hemodinâmica, arritmia cardíaca, falência ventricular
esquerda, história ou risco de parada cardiorespiratória,
hemorragia e até mesmo hemodiálise, são vistos por muitos
estudiosos como contra-indicação do decúbito ventral [3,4,5,
7,11,14], apesar de existirem estudos que afirmam a eficácia
da reanimação cardiopulmonar mesmo durante o decúbito
ventral, onde a massagem cardíaca é iniciada rapidamente,
sem ter que submeter o paciente ao retorno para a posição
dorsal às presas, o que poderia resultar em desconexões
acidentais do tubo endotraqueal e de cateteres [15].
Drogas vasoativas podem ser usadas para um melhor
controle hemodinâmico. Vollman e Bander [14] relataram
o uso de uma ou mais drogas vasoativas em onze de quinze
pacientes estudados.
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Processos traumáticos tornam a transferência mais
arriscada: quando existir instabilidade biomecânica na coluna
vertebral; quando o paciente fizer uso de grande fixador
externo na pelve [16] ou ainda; quando o trauma envolver a
caixa torácica [4,17].
Instabilidade neurológica, como hipertensão intracraniana
grave, contra-indica a transferência de decúbito [3,7,14,17],
assim como neoplasia terminal ou metastática [7].
Doenças intra-abdominais importantes, como distensão
abdominal ou isquemia intestinal também são consideradas
contra-indicação [3,7,14,17]. Vollman e Bander [14]
excluíram estes pacientes mesmo quando eram mantidos
no decúbito ventral com abdome sustentado.
Para a transferência, os pacientes devem estar
devidamente sedados [8,9,10,11,14] e se necessário
curarizados. Pelosi et al. [10] e Chatte et al. [11] realizaram
em seus pacientes bloqueio neuromuscular com o uso de
Pancuronium bromide.
Assistência ventilatória
A maior parte dos estudos analisados sobre o uso do
decúbito ventral relata pacientes com tubo orotraqueal ou
traqueostomia, exceto no estudo de Tulleken et al. [18], onde
foi utilizada ventilação não invasiva por máscara facial, com
uso de pressão positiva contínua em vias aéreas (CPAP) no
intuito de evitar a VM.
Nos pacientes submetidos ao decúbito ventral, os modos
ventilatórios encontrados na literatura pesquisada foram:
volume controlado [5,10,13]; volume controlado limitado à
pressão [12]; assistido controlado ciclado à volume [8,14];
pressão controlada [9]; ventilação mandatória intermitente
sincronizada (SIMV) [5] e, pressão controlada com relação
invertida [11].
O volume corrente ofertado ao paciente varia de acordo
com a doença de base [19]. Na SDRA, o ideal é conhecer a
curva de complacência, que provavelmente estará reduzida,
sendo necessário o uso de volumes menores. Nakos et al.
[5] e Machado et al. [13] ofertaram a seus pacientes com
SDRA volumes entre 6 e 8 ml/kg. D´Alessandro [8] chegou
a utilizar até 4 ml/kg.
Para evitar barotrauma, o pico de pressão inspiratória e
a pressão platô devem ser monitorados, não passando de
40 cm H2O e 35 cm H2O respectivamente [5,8,10,13].
Outro parâmetro de suma importância é a pressão
positiva expiratória final (PEEP). Seu valor fisiológico varia
entre 5 e 6 cm H2O, mas nestes pacientes geralmente é
necessário o uso de pressões mais altas, entre 10 e 15 cm
H2O [5,8,9,10,12,13].
A manobra de recrutamento alveolar pode ser utilizada
durante a VM e seu resultado se acentua quando associado
à posição prona. O recrutamento alveolar tem o intuito de
promover a abertura de unidades alveolares colapsadas,
utilizando sessões de pausa inspiratória de 20 a 30 segundos,
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com PEEP alto, variando entre 35 e 45 cm H2O. As sessões
são realizadas em intervalos de três minutos [5,20].
Estudos utilizando o decúbito ventral
No meio acadêmico existe um amplo número de
pesquisas e estudos sobre os efeitos benéficos do decúbito
ventral em hipoxemia de distintas causas.
Porém a abordagem dada ao paciente, o tempo de
permanência nesta posição e a maneira como estes
benefícios são avaliados, varia de um estudo para outro.
“O tempo que o paciente permanece em uma posição e
a freqüência com que aquela posição é adotada em um
determinado tempo, baseia-se nas indicações para a posição
e nos resultados obtidos” [21].
Alguns recomendam o uso precoce do decúbito ventral,
outros apenas quando existem evidências de atelectasia dorsal
[16]. Tulleken et al. [18] utilizaram o decúbito ventral como
medida profilática em um paciente epilético com LPA por
quase afogamento. Com duas horas em prono, já se notava
o bom resultado e a VM foi evitada.
Vollman e Bander [14] realizaram um estudo com 15
pacientes portadores de SDRA e a postura inicial foi eleita
aleatoriamente, com um grupo de 8 pacientes iniciando em
dorsal e 7 em ventral. Em toda população foi observado
aumento da PaO2 e decréscimo na diferença alvéolo arterial
de oxigênio (D(A-a)O2) quando em ventral.
Dentre estudos brasileiros citamos o realizado por
D’Alessandro [8], que analisou 5 pacientes também com
SDRA. Foram transferidos inicialmente para decúbito
ventral e permaneceram nesta posição por 6 horas.
Passado este período, foram deixados em decúbito dorsal,
decúbito lateral direito e esquerdo, permanecendo três
horas em cada posição, até retornar a ventral. Seus
resultados foram positivos, mostrando um incremento
na PaO2 e diminuição na D(A-a)O2 Rangel [9] direcionou
seu estudo para o comportamento da oxigenação tecidual
em 5 pacientes com SDRA, observando também melhora
da complacência dinâmica destes pacientes mesmo ao
voltarem para decúbito dorsal.
O uso terapêutico desta postura é bem difundido no meio
pediátrico. É considerada uma conduta assistencial simples
que muito beneficia os recém-nascidos (RNs) [22].Oliveira e
Rugolo [22] estudaram o comportamento da SatO2 em 27
RNs separando-os em grupos, na presença ou não de doença
pulmonar e conforme o peso de nascimento. Os pacientes
eram mudados de posição a cada quatro horas. Os RNs com
doença pulmonar apresentaram maior estabilidade da SatO2
durante o decúbito ventral quando comparado com o decúbito
dorsal, independente do peso de nascimento.
Chatte et al. [11] fizeram uso deste recurso em 32
pacientes, colocando-os em decúbito ventral também por
quatro horas. Após retornar a decúbito dorsal, o paciente
somente era transferido novamente para ventral se o médico
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responsável julgasse necessário, tendo como parâmetro as
condições clínicas do doente.
Piehl e Brown apud Vollman e Bander [14] observaram
em seu estudo com 5 pacientes com insuficiência respiratória
um declínio nos níveis de PaO2 após 4 a 8 horas em decúbito
ventral. O tempo de permanência nesta posição foi variável.
Segundo Riley [16], algumas unidades recomendam manter
o paciente em decúbito ventral durante a noite, outras por
apenas quatro horas.
Um grande estudo randomizado e multicêntrico foi
realizado por Gattinoni et al. [4] com dois grupos de 152
pacientes, onde as causas da hipoxemia foram LPA e
SDRA. O primeiro grupo foi estudado em decúbito
dorsal, enquanto o segundo grupo foi colocado em
decúbito ventral e permanecendo nesta postura por no
mínimo 6 horas, uma vez ao dia, até se obter melhora do
quadro, ou no máximo por 10 dias. Mais de 70% de seus
pacientes apresentaram aumento da PaO 2 logo nos
primeiros 30 minutos em ventral.
Discussão
No levantamento de dados realizado, pôde-se observar
uma melhora significativa na oxigenação em quase todos os
pacientes submetidos ao decúbito ventral, independente da
causa da hipoxemia e do tempo de utilização.
O critério adotado por grande parte dos estudiosos
para considerar uma resposta positiva, ou seja, um
paciente do grupo “responde”, é o acréscimo de no
mínimo 10 mmHg sobre a PaO2 e maior ou igual a 20
mmHg sobre a PaO 2/FiO 2 [5,17]. Langer et al. apud
Vollman e Bander [14] consideraram “responde” um
acréscimo de 7 mmHg sobre a PaO2.
O grupo de pacientes “responde” podem ainda ser
classificados em imediatos ou tardios, ou seja, que respondem
logo nos primeiros minutos em ventral ou após
aproximadamente duas horas [5].
Quanto ao grupo “não responde”, algumas características
foram observadas, podendo justificar este resultado.
Gattinoni et al. [4] acreditam que o estágio avançado da
doença e o grau de lesão pulmonar determinam esta resposta.
Tendo em vista que a maior parte dos pacientes têm
diagnóstico de SDRA, pode-se entender que, em um estágio
mais precoce da doença, na fase exudativa, as características
predominantes são edema alveolar e intersticial e atelectasia
por compressão, assim, nesta fase, eles seriam mais
beneficiados do que quando os pulmões já apresentam áreas
com proliferação de fibrose [17].
Vollman e Bander [14] observaram entre seu grupo “não
responde”, que estes possuíam em geral: maior tempo de
permanência em UTI; maior tempo de exposição à VM;
eram em média 16 anos mais velhos e, apresentavam valores
de PaCO2 mais elevados. Neste estudo não foi encontrada
qualquer diferença entre os grupos “respondem” e “não
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respondem” em relação ao sexo, idade, peso ou espessura
da parede abdominal.
Alguns pacientes podem apresentar-se como prono
dependentes, os quais não toleram o retorno ao decúbito
dorsal [17].
Após a transferência para o decúbito ventral o incremento
da PaO2 pode ser observado já na primeira hora [8,11,12].
Gattinoni et al. [4] relatam melhora após trinta minutos. Piehl
e Brown apud Vollman e Bander [14] relatam um declínio
nos níveis de PaO2 após 4 a 8 horas em decúbito ventral.
O índice de oxigenação destes pacientes alcança os
valores desejados, possibilitando a redução da FiO2 sem
interferir de maneira negativa na oxigenação [8,11,12,13,18].
Ao retornar ao decúbito dorsal, pode haver um
decréscimo na oxigenação, mas ainda assim permanece
melhor, quando comparada com os parâmetros iniciais
[4,11,12,17].
A D(A-a)O2 mostrou-se reduzida em todos os estudos
pesquisados que avaliaram este parâmetro [3,8,12,14,18].
No estudo de D´Alessandro [8] foi descrita uma redução
de 532,7 mmHg para 186 mmHg.
De modo geral, os pacientes não apresentaram
alterações hemodinâmicas ou desconexão acidental dos
cateteres e do tubo endotraqueal, durante as transferências
de decúbito [3,13,14]. Mure et al. [12] relatam um caso de
extubação acidental, sendo a reintubação realizada
imediatamente e com sucesso.
No levantamento bibliográfico de Torres e Vieira [3] e
nas experiências descritas por Chatte et al. [11] num total de
294 transferências para ventral, constataram-se pequenas
lesões cutâneas e de mucosas como um fator inconveniente.
Edema facial é o complicador mais comum [3,8], sendo
descrito por Machado et al. [13] em 100% de seus pacientes.
Conclusão
Ao término deste estudo pôde-se concluir que a melhora
na relação V/Q durante o decúbito ventral é observada na
maioria dos pacientes, e este resultado não é apenas
transitório, mas funciona como uma manobra de
recrutamento com efeitos positivos mesmo ao retornar para
decúbito dorsal.
O tempo ideal de posicionamento não está bem definido,
havendo discrepância entre as referências consultadas,
porém é notória a melhora nas trocas gasosas da maior
parte dos pacientes, melhora esta observada logo na primeira
hora após a transferência.
Pode também ser considerada como uma estratégia de
proteção pulmonar, pois favorece a redução dos parâmetros
do ventilador mecânico e das concentrações de oxigênio
ofertadas ao paciente.
É sugerido que quanto mais precoce seja a intervenção,
melhor será o resultado obtido, favorecendo o prognóstico
de reversão do quadro hipóxico.
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Revisão
Mecanismos que explicam o efeito da atividade
física na prevenção de acidente vascular encefálico
Mechanisms that explain the effect of physical
activity in preventing encephalic stroke
Rafael Braune de Castro*, Lucia Marques Vianna, D.Sc.**
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*Laboratório de Investigação em Nutrição e Doenças Crônico-Degenerativas (Lindcd), **Prof. Adjunto, Responsável pelo Lindcd, Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro
Resumo
O sedentarismo vem sendo apontado como fator de risco para doenças
cardiovasculares, como hipertensão arterial e acidente vascular encefálico (AVE).
Adicionalmente estudos epidemiológicos mostram que atividade física moderada pode
modular os níveis pressóricos. Entretanto o mecanismo de ação ainda não está bem
elucidado. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar os possíveis mecanismos
que explicam a influência da atividade física na prevenção de AVE. Foi encontrada
uma forte associação entre atividade física e AVE por prováveis mecanismos tais
como desaceleração do processo aterosclerótico, modificação na estrutura das artérias,
melhora do perfil lipídico, diminuição dos níveis de fibrinogênio e diminuição da
agregação plaquetária. Estudos relatam que atividade física aeróbica de intensidade
moderada, como por exemplo, a caminhada, por no mínimo cinco vezes por semana,
pode aumentar valores de HDL colesterol, regular atividade fibrinolítica, reduzir
índice de massa corporal, reduzir pressão arterial sistólica, reduzir freqüência cardíaca
e aumentar a captação de oxigênio e, mesmo no caso da ocorrência de AVE, há uma
redução da incidência e severidade de seqüelas relacionadas.
Palavras-chave:
acidente vascular
encefálico, hipertensão
arterial, atividade física.
Abstract
Sedentarism is a risk factor to cardiovascular diseases, like hypertension and encephalic
stroke. Studies showed that moderate intensity exercise may reduce blood pressure
levels, but this mechanism has not been elucidated. The objective of this study was to
investigate the possible mechanisms that explain the influence of physical activity in
preventing stroke. We found a strong association between exercise and stroke by probable
mechanisms like the decrease of atherosclerotic process, modifications on artery
structure, improvement of lipidic profile, decrease in fibrinogen levels and platelet
Key-words:
stroke, blood pressure,
physical activity,
Recebido 16 de abril de 2004; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Profa. Dra Lucia Marques Vianna, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Laboratório de Investigação em
Nutrição e Doenças Crônico-Degenerativas – UNIRIO, Rua Dr. Xavier Sigaud, 290 Térreo, Urca 22290-240 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2295-3225, Fax: (21)
2295-8891, E-mail: [email protected]
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agglutination. The revised data showed that moderated exercise training such as walking
may increase HDL levels, reduce body weight, blood pressure and heart rate, increase
oxygen captation and decrease fibrinogen levels and even when a stroke happens, there
is a reduction in incidence and severity of related sequels.
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Introdução
O acidente vascular encefálico (AVE) é uma das principais
causas de morte no Brasil, a terceira causa de morte no
Estados Unidos e uma das maiores causas de desabilidades
em países industrializados [1]. É a mais comum doença
neurológica e, mesmo após um declínio nas taxas de
mortalidade relacionadas ao AVE em países industrializados
desde o início do Século XX devido à diminuição das
fatalidades, da incidência ou ambos, mostra-se responsável
por 10% das mortes no mundo inteiro [2]. Prevenir o AVE
é um problema de saúde pública e de importância econômica
devido ao grande número de seqüelas e seu tratamento leva
a prolongada hospitalização e alto custo médico.
Um tratamento específico para o AVE ainda não foi
encontrado e a identificação de fatores de risco é necessária
para uma prevenção primária. Estudos epidemiológicos
apontaram como fatores de risco a pressão arterial aumentada,
obesidade, intolerância a glicose, dislipidemias, uso de
contraceptivos, fumo, abuso de álcool, dieta inadequada e
inatividade física [1]. Mesmo que a genética tenha um peso
grande, a observação de indivíduos que migram mostrou a
mesma incidência de AVE dos indivíduos de seu país de escolha,
apontando também para fatores ambientais [2].
Por ser baixa a prevalência de atividade física em países
industrializados onde ocorre alta incidência de AVE, sugeriuse uma provável associação entre o sedentarismo e o acidente
vascular encefálico [2]. A partir daí uma série de trabalhos
vem propondo mecanismos que explicariam tal associação.
Assim o objetivo desse trabalho foi investigar os possíveis
efeitos protetores da atividade física.
Desenvolvimento
Acidente vascular encefálico / Atividade
física / Lesão no AVE
Muitos estudos avaliam a real causa da lesão histológica
no AVE, porém há uma grande necessidade de estudarmos
o fenômeno que acomete as células neuronais após o evento
isquêmico, ainda não elucidado. Dentre as várias propostas
podemos destacar a isquemia per se, a liberação de
neurotransmissores excitatórios, o aumento na biossíntese
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de eicosanóides levando ao aumento de cálcio e, por
conseguinte liberação enzimática, liberação excessiva de óxido
nítrico sintetase que também é mediada pelo aumento de
cálcio e distúrbios na expressão gênica mitocondrial [3].
Os mecanismos pelos quais o exercício físico auxilia na
prevenção do AVE também foram estudados por Laufs et al.
No exercício há aumento de células progenitoras endoteliais
que levam a efeito benéfico na aterosclerose, angiogênese e
reparo vascular. O treinamento de corrida levou a uma
redução de 22 ± 25 na formação de neoíntima e aumento
na angiogênese de 41 ± 16% quando comparados ao grupo
controle. Esses valores levaram a concluir que tais mecanismos
poderiam estar envolvidos também no efeito benéfico do
exercício nas doenças cardiovasculares [4].
Ensaios submeteram camundongos da linhagem C57/
BL6 ao treinamento de natação sendo adicionada sobrecarga
de 2 ou 4% de seu peso corporal para modular a intensidade
do exercício. Foi encontrada uma redução na freqüência
cardíaca em repouso, mas não houve alteração na pressão
sistólica (PS), indicando que não há efeito do treinamento
na PS de camundongos normotensos. Houve também um
aumento no peso ventricular e no diâmetro dos miócitos,
indicando hipertrofia cardiovascular [5].
Há uma forte associação entre os níveis de atividade física
e mortalidade por AVE em humanos. Estudos que fazem uma
comparação entre mulheres inativas e mulheres ativas,
combinando freqüência, intensidade e duração do exercício, as
mais ativas tinham aproximadamente 50% menor risco de
morte por AVE. Os autores concluíram haver uma correlação
entre a atividade física e outros fatores tais como idade, peso e
pressão sistólica, havendo também uma diminuição na
freqüência cardíaca, na prevalência de doenças coronarianas,
diabetes e no uso de medicamentos antihipertensivos em
mulheres praticantes de atividades aeróbicas [6].
Em um estudo feito com ex-alunos da Universidade de
Harvard (Harvard Alumni Health Survey), a atividade física
foi associada a um risco diminuído de AVE em homens, sendo
que em níveis de gasto calórico até 3000 kcal por semana o
risco declinou constantemente, porém acima destes níveis a
associação enfraqueceu. Um importante achado deste estudo
foi a correlação em forma de “U” entre intensidade e resposta
na atividade, devido ao menor potencial em reduzir a pressão
sanguínea das atividades mais intensas [7].
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
Outro estudo correlacionou o nível de aptidão
cardiorespiratória medido através do consumo máximo de
oxigênio (VO2 máx) e a incidência de AVE e seus resultados
apresentaram uma relação inversa entre atividade física e
AVE e AVE isquêmico em homens de meia-idade da
Finlândia. Homens com valores de VO2 máx abaixo de 25,2
ml/kg/min apresentavam riscos 3,24 vezes maiores para o
AVE e 3,50 vezes maiores para o AVE isquêmico, enquanto
aqueles com valores apenas 3,5 ml/kg/min. maiores,
apresentavam representavam 17% menores [8].
Mecanismos fisiológicos da atividade
física no AVE
A associação negativa encontrada entre atividade física e
AVE pode ser mediada por mecanismos tais como desaceleração
de processo ateroesclerótico, modificação na estrutura das
artérias, redução de vasoespasmos, aumento da estabilidade
elétrica do miocárdio ou aumento da fibrinólise. Atividade física
também é associada a melhor controle do diabetes, aumento
do colesterol HDL e menor peso corporal [6].
Segundo Lee e Paffenbarger é plausível para a atividade
física diminuir o risco para acidente vascular cerebral por
controlar a obesidade, diminuir a pressão arterial, manter
normalizada a tolerância à glicose e aumentar a sensibilidade
à insulina. Porém quando ajustadas a determinados fatores
de corte, tais como diabetes, hipertensão e índice de massa
corporal, os dados justificam somente uma parte modesta
do benefício da atividade física. Outros meios dentre os
quais a atividade física pode diminuir o risco de AVE incluem
o perfil lipídico, diminuição dos níveis de fibrinogênio,
aumento da atividade fibrinolítica e redução da agregação
plaquetária [7].
Vários mecanismos biológicos têm sido propostos para
explicar os efeitos protetores da atividade física contra a
doença coronariana, entre esses efeitos estão: a regulação
da função hemostática, decréscimo da agregação plaquetária,
decréscimo da coagulação, melhora na sensibilidade à insulina,
melhora na aptidão cardiovascular, diminuição do peso
corporal e regulação da pressão arterial. Possivelmente esses
efeitos podem ser aplicados à isquemia e, devido ao fato, é
sugerido que o exercício aeróbio regular induza a um
decréscimo no tônus cerebrovascular em mulheres jovens
e promova adaptações favoráveis para a prevenção de
doenças cerebrovasculares [9].
A baixa capacidade cardiorespiratória (VO2 máx) está
associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares,
por outro lado o aumento desta capacidade pode atrasar a
progressão da aterosclerose que é considerada a base
patológica da doença coronariana e AVE isquêmico, o que
indica que a prática regular de atividade física pode retardar
a aterosclerose. Com base nos dados existentes, uma pressão
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223
223
intraluminal alta levará a mudanças no músculo liso e
endotélio nas artérias intracerebrais. Em indivíduos com sinais
ateroscleróticos pré-clínicos e hipertensão em repouso ou
durante exercício, o aumento do stress nas paredes das
artérias pode aumentar o risco para lesão endotelial e
permeabilidade na barreira hemato-encefálica e resultar em
edema local ou multifocal. Lesão endotelial e mudanças na
interação entre células sanguíneas e o endotélio podem levar
a formação de trombos e lesões isquêmicas. Outros
mecanismos específicos para prevenção do AVE
hemorrágico são a redução da pressão arterial e os efeitos
benéficos da função endotelial [5].
Conclusão
A prevalência de atividade física é baixa no mundo
industrializado. As diretrizes básicas para saúde de trinta
minutos ou mais de atividade aeróbica de intensidade
moderada, como por exemplo, caminhada, por cinco ou
mais dias da semana, parecem reduzir a incidência de AVE,
principalmente no que diz respeito ao AVE isquêmico,
diminuindo a incidência e a severidade de seqüelas. O
exercício físico parece apresentar benefícios tanto de ordem
bioquímica quanto anatômica, sendo os principais a redução
do peso corporal, diminuição da pressão arterial, aumento
do colesterol HDL, melhora a capacidade contrátil de artérias
e reduz a formação de trombos, mostrando possível efeito
na prevenção de AVE.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
224
Revisão
Limites da estimulação elétrica neuromuscular
no fortalecimento de músculos esqueléticos saudáveis
e com déficit de força
Neuromuscular electrical stimulation limits in strengthening
of healthy and deficient muscles
Jamilson Simões Brasileiro, M.Sc.*, Tania de Fátima Salvini, D.Sc.**
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*Fisioterapeuta, Docente dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Fisioterapia (latu sensu) da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, RN, **Fisioterapeuta, Pós-doutorado no NeuroMuscular Research Center, Universidade de Boston EUA, Docente dos Cursos de
Graduação e Pós-graduação em Fisioterapia (strictu sensu) da Universidade Federal de São Carlos, SP
Palavras-chave:
estimulação elétrica
neuromuscular, contração
muscular.
Resumo
A Estimulação Elétrica Neuromuscular (EENM) tem sido usada há vários anos
como um coadjuvante no treinamento físico. Especificamente nas últimas décadas, esta
técnica tem sido usada no fortalecimento de músculos inervados, com base nos trabalhos
do cientista russo Yakov Kots, que usou estimulação elétrica de alta freqüência para
ganhos de força muscular. De acordo com Kots, as bases para o uso de EENM no
fortalecimento muscular seriam de que mais unidades motoras poderiam ser recrutadas
pela EENM do que durante contrações voluntárias máximas realizadas pelo individuo.
Entretanto muitos desses resultados são atualmente questionados e há ainda muita
controvérsia na literatura sobre o papel da EENM no fortalecimento dos músculos
esqueléticos. O objetivo dessa revisão é avaliar as conclusões de estudos científicos
realizados nos últimos vinte anos sobre o tema, bem como apresentar resultados que
obtivemos avaliando o uso da EENM em músculos saudáveis e com déficit de força
muscular. Nossos resultados demonstram que a EENM, associada ao treinamento
com contrações voluntárias máximas, não proporcionou ganho de força adicional tanto
em músculos saudáveis, como naqueles que mantiveram déficit de força após a
reabilitação. Assim a EENM deveria ser usada preferencialmente nas fases iniciais do
processo de reabilitação, quando algum déficit de recrutamento motor ainda estiver
presente e associado a sinais de desconforto do individuo, durante a realização da
contração muscular.
Recebido 10 de maio de 2004; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Tania F. Salvini, Departamento de Fisioterapia, Universidade Federal de São Carlos, CxP: 676, 13565-905
São Carlos SP, Tel: (16) 260-8345, Fax: (16) 261-2081, E-mail: [email protected]
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Abstract
Neuromuscular Electrical Stimulation (NMES) has been used for years as aid to
physical training. Specifically in the last decades, this technique has been used on the
innervated muscle, based on the publications of Yakov Kots, who used high frequency
of electrical stimulation for gains in muscular strength and endurance. According to
Kots, the basis for the use of NMES treatment for muscle strengthening is that more
motor units could be activated with this modality than during maximal voluntary
contractions. However, there are several controversies among the results of the studies
and thus, the limitations of NMES need to be established. The purpose of this
review was to evaluate the results of studies realized in the last years and also present
our results about the use of NMES on healthy and deficient muscles. Our results
demonstrated that NMES, associated to the maximal voluntary contractions, did not
improve the strength gain in the healthy muscles, as well as in the muscles that maintain
some strength deficit after the rehabilitation process. Then, the NMES would be
preferentially used in the initial periods of the rehabilitation when some deficit of
neuromuscular recruitment is present and associated with signs of discomfort during
the muscle contraction.
Key-words:
neuromuscular electrical
Stimulation, muscular
contraction.
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Apresentação
Inicialmente, gostaríamos de tecer algumas considerações
sobre o que nos levou a escrever um artigo de revisão sobre
os limites da estimulação elétrica neuromuscular (EENM) no
fortalecimento dos músculos esqueléticos. Embora nossa
experiência nesse tema seja recente, só há quatro anos
iniciamos estudos que permitiram avaliar com mais detalhes
o efeito da EENM no fortalecimento muscular, tanto em
músculos saudáveis como naqueles com déficit de forca, alguns
resultados nos surpreenderam muito. Em músculos saudáveis
ou com déficit motor avaliou-se o efeito do treinamento contraresistido, realizado com contração muscular voluntária máxima,
associado ou não à EENM. A hipótese era de que a EENM,
utilizada durante a contração voluntária máxima realizada pelo
individuo, pudesse induzir alterações no ganho de força, na
massa muscular ou no recrutamento das unidades motoras
dos músculos estimulados.
Para nossa surpresa, a EENM não produziu ganho
adicional em nenhuma das variáveis avaliadas, quando seus
resultados foram comparados ao grupo que utilizou somente
o treinamento com contração voluntária máxima. Também
foi surpresa constatar que isso ocorreu tanto em músculos
normais como naqueles que apresentaram déficit de força.
Essa constatação é paradoxal, pois a EENM tem sido
amplamente recomendada e utilizada por diversos
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profissionais para auxiliar no ganho de força muscular.
Portanto nos parece oportuno trazer esse tema ao debate.
Assim o objetivo dessa revisão é apresentar resultados
atualizados da literatura cientifica sobre o tema, bem como
os resultados obtidos em nosso laboratório, para que se
possa discutir o papel da EENM no fortalecimento muscular,
baseando-se em resultados científicos. Esperamos despertar
o interesse do leitor pelo assunto e ampliar a discussão sobre
o tema, proporcionando subsídios que permitam uma
utilização clinica mais criteriosa da EENM.
Introdução
Os estudos que envolvem o uso da EENM no
fortalecimento dos músculos esqueléticos são bastante
controversos. Além dos diferentes procedimentos
metodológicos, os parâmetros manipuláveis clinicamente nos
geradores de corrente não obedecem a um padrão uniforme,
o que torna difícil a comparação dos resultados obtidos em
diferentes estudos. Talvez isso explique as grandes
divergências nas conclusões obtidas em diferentes
experimentos.
Particularmente nas últimas décadas, dois fatores
estimularam o interesse sobre os efeitos da EENM em
músculos inervados. O primeiro foi o desenvolvimento de
novos tipos de estimuladores, mais versáteis e mais acessíveis
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para o uso clinico. O segundo fator se refere aos resultados
da década de 70, sobre a eficácia dos programas de EENM
para desenvolver força muscular em atletas de elite, assim
como em indivíduos não-atletas saudáveis e por extensão,
sua utilidade no tratamento de músculos esqueléticos com
déficit de força [1].
As dúvidas que envolvem o uso da EENM na prática
clínica, porém, concentram-se, sobretudo, na sua capacidade
de produzir níveis de contrações que induzam o
fortalecimento muscular. Ganhos de força muscular com
EENM têm sido observados apenas em protocolos que
atinjam níveis percentuais de torques maiores que 50% da
contração voluntária máxima (CVM) [2,3]. Desta forma,
intervenções que produzam baixos níveis de torque seriam
ineficazes no processo de fortalecimento muscular.
A capacidade de geração de torque constitui-se assim, um
dos pré-requisitos para a eficiência dos equipamentos de
EENM no fortalecimento muscular. Esta capacidade seria
dependente tanto da ativação direta de grandes unidades
motoras, como pelo efeito facilitatório por retroalimentação
sensorial sobre os neurônios motores, conforme proposto
por Trimble & Enoka [4]: a aferência cutânea que ocorre
com o uso da EENM pode alterar a população de unidades
motoras que são ativadas pelo exercício.
Alheias às discussões de caráter científico que envolve
esses estudos, diversos modelos de geradores de corrente
elétrica continuam sendo lançados no mercado, sem a devida
comprovação cientifica de seus resultados em humanos,
conforme usualmente indicado nas instruções dos manuais
dos equipamentos. Além disso, em muitos casos, não há
clareza nas instruções referentes aos riscos e limitações dos
equipamentos. A popularização da utilização desses
equipamentos em hospitais, clínicas, academias de ginástica
e até mesmo seu uso domiciliar tem contribuído para seu
uso indiscriminado. Infelizmente, a EENM tem sido também
utilizada como propaganda enganosa ao consumidor, em
que se propaga que se pode obter “o corpo ideal” com sua
utilização, gerando inclusive intervenções por parte das
agências de vigilância sanitária.
Desenvolvimento
A produção de força muscular
em sujeitos saudáveis
Como aumentar a força e a massa do músculo esquelético?
Há vasta literatura sobre o tema e se sabe que somente
exercícios que utilizem pelo menos 75% da força máxima são
capazes de um recrutamento máximo de unidades motoras. É
importante enfatizar que só assim as fibras musculares de
contração rápida (também denominadas do tipo II) são ativadas
(para revisão ver Costill e Wilmore, 2001 [5]).
Os exercícios voluntários para aumentar a força muscular
seriam assim baseados no princípio da sobrecarga: três series
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226
de 8 a 12 contrações musculares de alta intensidade,
utilizando aproximadamente 75% da força máxima,
realizadas duas ou três vezes por semana [6]. Num esforço
para se estabelecer correlações entre esses indicadores e a
eficácia da EENM, diversos estudos foram desenvolvidos
nos últimos anos.
A principal justificativa para o uso da EENM no
fortalecimento muscular é que mais unidades motoras
poderiam ser ativadas por esse procedimento. De acordo
com Kots, o primeiro a utilizar a EENM no fortalecimento
muscular em indivíduos saudáveis, a capacidade para um
maior recrutamento de unidades motoras seria o principal
fator responsável pelos significativos ganhos de força,
observado na associação da EENM ao treinamento com
contrações voluntárias máximas. Kots utilizou a chamada
“corrente russa” no treinamento de atletas olímpicos, e
segundo ele, foram registrados ganhos de força da ordem
de 30 a 40%. Teoricamente, com um estímulo elétrico
suficientemente forte, o recrutamento de unidades motoras
poderia ser máximo. Segundo Kots, tal aumento no
recrutamento motor permitiria ao sujeito exercer maior força
contrátil durante a contração eletricamente induzida quando
associada à contração voluntária, do que o recrutamento
produzido somente pela contração voluntária isolada. Cabe
ressalvar que os trabalhos do Kots nunca foram reproduzidos
no Ocidente, e seus resultados são bastante questionados
atualmente na literatura científica [1].
Alguns autores acreditam que forças em torno de 50 à
60% da CVM são requeridas para o fortalecimento ou
hipertrofia de músculos saudáveis [2]. Assim quanto maior
a capacidade de produção de força, maior seria a vantagem
obtida com o uso da estimulação elétrica. Lieber [3] afirma
que os estudos que demonstraram ganhos significativos de
força com a utilização da EENM foram aqueles nos quais
os músculos foram ativados em uma proporção
relativamente alta (mais de 50%) dos valores obtidos nas
contrações voluntárias máximas. Entretanto diversos
experimentos demonstraram que a EENM isolada não
atingiria esses níveis de contração.
Kramer [7] em um importante estudo sobre a associação
da EENM a CVM, utilizando diferentes freqüências de
estimulação (20, 50 e 100 Hz), observou que a estimulação
elétrica isolada produz níveis de torques bem inferiores aos
gerados pela contração voluntária e a sobreposição destas,
em indivíduos saudáveis, não resultou em maior torque do
que aqueles produzidos pela CVM isolada, em nenhuma
das freqüências aplicadas.
Brasileiro & Villar [8] também não observaram nenhum
aumento significativo no torque gerado pelo quadríceps femoral
de vinte indivíduos saudáveis quando associaram a EENM à
contração voluntária máxima, enquanto que a EENM isolada
produziu valores de torque de cerca de 45% da CVM.
Walmsley et al. apud Delitto [6] utilizaram quatro
geradores com diferentes características de pulso e
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constataram que a associação EENM e CVM em nenhuma
ocasião excedeu o valor do pico de torque da CVM isolada.
Mais recentemente, um estudo em indivíduos saudáveis
comparou a capacidade de geração de torque entre duas
formas de estimulação elétrica: a corrente de baixa
freqüência e a corrente russa [9]. Nenhuma das duas formas
de estimulação produziu aumento significativo no pico de
torque dos sujeitos avaliados, quando a contração voluntária
foi associada à EENM.
Em recentes estudos realizados em nosso laboratório,
temos observado que a EENM, aplicada de forma isolada,
produz níveis de torques bem inferiores aos gerados pela
contração voluntária máxima, e desta forma, não seriam
eficazes quando se deseja o aumento da força ou da massa
muscular. Avaliando o torque produzido pelo quadríceps de
sujeitos saudáveis, nossos resultados apontam para valores
que variaram de 39 a 54 % da CVM [8,9,10].
Fig. 1 - Pico de torque em sujeitos saudáveis antes (PRE) e após (PÓS) o
período de treinamento. No mesmo indivíduo, um membro foi treinado
somente com CVMs e no contra lateral a CVM foi associada a EENM.
(* p < 0,05: quando comparados os resultados pré e pós – treinamento).
EENM no fortalecimento muscular
de sujeitos saudáveis
Delitto et al. [6] propõem que nenhum benefício
adicional pode ser atribuído à associação da EENM à
Contração Voluntária Máxima, nos regimes de treinamento
de músculos saudáveis. Deve-se considerar, entretanto, que
a EENM pode ter um papel muito importante na assistência
de pacientes que, por alguma razão (hesitação, controle
motor inadequado, dor, etc) não podem realizar
voluntariamente um treinamento com exercícios que
utilizem altas intensidades de contração [14].
Um dos primeiros estudos a avaliar os ganhos de força
obtidos com a EENM, quando comparados com o exercício
voluntário, foi realizado no início dos anos 80. Laughman
[11], em um treinamento aplicado em 58 sujeitos saudáveis,
observou que o uso isolado da EENM, utilizando altas
intensidades de contração muscular, produziu ganhos de
força semelhantes aos do exercício voluntário. No entanto
a grande maioria dos estudos realizada posteriormente não
confirma esses resultados.
Por exemplo, Currier & Mann [12], comparando os
resultados do treinamento isométrico utilizando a CVM em
um grupo de indivíduos e CVM sobreposta à EENM em
outro grupo, identificaram que os ganhos de torque entre
os dois grupos foram semelhantes.
McMiken et al (apud Delitto et al, [6]) também
compararam os efeitos dos exercícios voluntários e destes
associados à EENM no músculo quadríceps de sujeitos
saudáveis. Utilizando altas intensidades de estimulação,
atingindo cerca de 60% da CVM, os indivíduos realizaram
dez sessões, ao longo de três semanas. Nenhuma diferença
significativa foi observada entre os dois grupos. Ou seja, a
EENM não potencializou o ganho de forca obtido pelo
treinamento com CVM.
Recentemente avaliamos a influência da EENM,
utilizando um gerador de corrente russa, no processo de
fortalecimento muscular de universitários saudáveis [13].
Através de um programa de treinamento voluntário (3 séries
de 10 contrações concêntricas voluntárias máximas, 2 vezes
por semana) realizadas em um dinamômetro isocinético,
durante quatro semanas consecutivas, observou-se que o
grupo que associou a EENM ao treinamento voluntário
obteve ganho de força semelhante ao grupo que utilizou
apenas a contração voluntária (Fig. 1).
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A produção de força em
músculos deficitários
A lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) da
articulação do joelho é muito comum nas atividades
esportivas e, de modo geral, tem como conseqüência a
diminuição da força extensora do joelho. A fisioterapia tem
um importante papel na reabilitação desses indivíduos e o
fortalecimento muscular do quadríceps é um dos principais
objetivos a ser atingido. É importante esclarecer que os
resultados que serão apresentados na seqüência, que
avaliaram o efeito do treinamento utilizando CVMs e EENM
em músculos com déficit de força foram, em sua grande
maioria, realizados em indivíduos submetidos à reconstrução
de LCA.
Um teste de força muscular voluntária não permite
determinar se um eventual déficit é causado por atrofia
muscular, fatores motivacionais, incapacidade para a
ativação das unidades motoras ou uma associação de fatores
múltiplos. As intervenções terapêuticas em cada uma dessas
situações diferem substancialmente. Quando há atrofia
muscular, um programa de exercício de fortalecimento
utilizando contrações voluntárias está indicado, assim como,
apenas estímulos motivacionais podem ser acrescentados
ao treinamento quando esse aspecto for relevante e na
ausência de alterações anatomo-fisiológicas. Por outro lado,
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se o problema principal for a incapacidade para ativar o
recrutamento neuromuscular devido a inibição reflexa, o
exercício voluntário isolado pode não ser efetivo e outra
estratégia terapêutica deve ser usada [6].
Assim, um diagnóstico preciso das causas da fraqueza
muscular é imprescindível para a escolha adequada do
recurso terapêutico a ser utilizado. Infelizmente, nem sempre
o profissional dispõe de recursos que permitam uma
detalhada avaliação morfo-funcional do músculo esquelético
como, por exemplo, imagens de ressonância nuclear
magnética para avaliar a massa muscular, dinamometria para
mensuração do torque muscular e eletromiografia que
possibilite avaliar o recrutamento das unidades motoras.
Alguns autores propõem que a capacidade para a ativação
do quadríceps femoral nos estágios iniciais de reabilitação,
após reconstrução do LCA é bastante limitada, por um
reflexo inibitório que poderia resultar da dor e do edema no
joelho [15].
Uma alteração na ativação das unidades motoras
morfologicamente normais seria causada por uma ruptura
do feedback sensorial nas lesões do LCA, e poderia ser o principal
responsável pela diminuição na função do quadríceps femoral,
nas debilidades deste ligamento (15). Esses estudos sugerem
que a maior causa na queda nos níveis de força do quadríceps
após lesões no joelho é a utilização inadequada das unidades
motoras. Esse fator seria mais importante do que uma eventual
atrofia [15]. Trimble & Enoka [4] observaram que, nestas
condições, a ativação voluntária dos músculos não pode ser
total, especialmente porque se observa uma queda na
excitabilidade do neurônio motor.
Entretanto os mecanismos envolvidos nesta “inibição
reflexa” ainda não foram totalmente elucidados. Draper [17]
sugere que a dificuldade em contrair os músculos ativamente,
nas fases iniciais dos exercícios de fortalecimento, pode ser
devido ao edema, à dor, e, sobretudo à diminuição na
atividade dos receptores articulares. Segundo o autor, o
feedback desses receptores influencia a atividade das unidades
motoras dos músculos envolvidos. Alguma alteração no
feedback dos receptores pode intervir na capacidade de
contração da musculatura circundante, e conseqüentemente,
alterar ou mesmo impedir a contração ativa durante os
exercícios de reabilitação.
Krebs et al. [18] sugerem que o trauma tecidual causado
pela lesão, associado à incisão anterior na cápsula articular,
usada nos procedimentos que envolvem a reconstrução do
LCA, causaria uma distorção temporária na atividade dos
receptores do joelho, a qual pode permanecer por três
semanas ou mais. Como esses receptores facilitam a atividade
do quadríceps femoral, a perda desse efeito resulta em uma
diminuição no controle motor e o uso deste músculo durante
o processo de reabilitação fica limitado, prejudicando a função
normal. Desta forma, o papel do feedback no controle do
movimento não seria limitado a mecanismos corporais
reflexos ou a correções na trajetória dos movimentos; os
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mecanismos proprioceptivos para o controle do movimento
seriam o “gatilho” de uma série de componentes envolvidos
na execução dos movimentos [19].
Se a contração voluntária do quadríceps femoral é
impedida, a ativação do músculo com estimulação elétrica
isolada ou sobreposta à contração voluntária seria maior do
que a ativação voluntária isolada. Os indivíduos em processo
de reabilitação teriam assim uma reserva funcional de unidades
motoras que não seriam ativadas voluntariamente, mas que
poderiam ser recrutadas através da estimulação elétrica [2].
Um estudo sugere que a EENM poderia compensar
essa deficiência por um aumento na excitabilidade do
neurônio motor, tanto pela ativação direta de grandes
unidades motoras como pelo efeito sensorial produzido pela
corrente elétrica sobre a pele [4].
Entretanto poucos trabalhos têm relacionado à
capacidade de geração de torque produzido pela EENM
em portadores de disfunções neuromusculares. Gould et al.
[6], avaliando o torque isométrico em 20 pacientes
submetidos à meniscectomia, observaram que o grupo que
trabalhou com estimulação elétrica associada a CVM atingiu
um maior percentual de torque que o grupo que realizou
somente contrações voluntárias.
Snyder-Macler et al. [20], comparando o torque
isométrico do quadríceps femoral de pacientes submetidos
à reconstrução do LCA, observaram que, após quatro
semanas de treinamento, a EENM foi capaz de manter a
força muscular nas fases iniciais da reabilitação.
Fig. 2 - Torque extensor do joelho de sujeitos, sete semanas após
reconstrução do LCA, obtidos durante a Contração Voluntária Máxima
(CVM), Estimulação Elétrica Neuromuscular isolada (EENM) e pela
associação de ambas (CVM+EENM) (* p < 0,05: quando
CVM+EENM foi comparada à CVM e EENM).
Alguns dos nossos resultados também sugerem que
indivíduos submetidos a cirurgias recentes podem se
beneficiar do uso da EENM. Analisando 20 sujeitos, sete
semanas após a reconstrução do LCA, observamos que a
EENM isolada produziu níveis de torques próximos a 70%
da CVM, e desta forma, poderia ser utilizada para o
restabelecimento da função muscular [10]. Além disso, a
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associação da EENM com a CVM elevou em 40% o torque
gerado pelo quadríceps, indicando que a intensidade das
contrações foi potencializada com essa associação (Fig. 2).
O fortalecimento em músculos
com déficit de força
Quando há queda na performance muscular, o uso da
EENM pode estar indicado para recuperar os níveis iniciais
de força. Delitto et al. [21] observaram que os resultados de
indivíduos submetidos a programas de reabilitação com o
uso da EENM, contrastavam com os estudos prévios
realizados em indivíduos saudáveis. Analisando dois grupos
de sujeitos recentemente submetidos à reconstrução do LCA,
um treinando com EENM e outro com exercícios
voluntários, os indivíduos do primeiro grupo terminaram o
treinamento com maior percentagem de força, tanto para o
grupo extensor (de 51% para 78%) como para o flexor (de
70 para 94%).
Lieber et al. [3] têm sugerido que na fase inicial, logo
após reconstrução do LCA, os programas que envolvem o
uso da EENM são mais efetivos do que aqueles que utilizam
apenas o exercício voluntário. Isso ocorre porque no período
pós-cirúrgico, de modo geral, os pacientes não têm
capacidade para ativar os músculos voluntariamente.
Recentemente avaliamos em detalhes os efeitos da
EENM no fortalecimento muscular de sujeitos submetidos
à reconstrução do LCA e já reabilitados, porém que ainda
apresentavam déficit de força extensora no joelho (Brasileiro
& Salvini, 2004; manuscrito em preparação). A avaliação
dos indivíduos e o programa de treinamento foram realizados
nove meses após reconstrução do LCA.
Em um grupo desse mesmo estudo, o treinamento do
músculo quadríceps no membro submetido à reconstrução
de LCA consistiu de três séries de dez repetições com exercícios
excêntricos máximos, realizados em um dinamômetro
isocinético duas vezes por semana. Em outro grupo de
indivíduos, também submetidos à reconstrução de LCA, o
mesmo protocolo de treinamento foi utilizado, porém o
músculo foi também estimulado com corrente russa, utilizada
na máxima intensidade suportada pelo indivíduo, durante a
realização das contrações excêntricas. Em ambos os grupos
foram observados: a) o pico de torque, em dinamômetro
isocinético; b) a massa muscular do quadríceps, utilizando-se
imagens obtidas por Ressonância Nuclear Magnética (RNM);
c) o recrutamento neuromuscular, através da eletromiografia
de superfície dos músculos Vasto Medial, Vasto Lateral e Reto
Femoral do quadríceps. Os resultados desse estudo mostram
que o treinamento excêntrico induziu melhora significativa
em todos os aspectos examinados (Brasileiro & Salvini, 2004;
manuscrito em preparação). Por outro lado a EENM não
causou nenhum beneficio adicional ao treinamento
excêntrico, conforme pode ser observado em relação ao pico
de torque (Fig. 3).
artigo 05 - Tania.pmd
229
229
Fig. 3 - Pico de torque extensor do joelho de indivíduos submetidos à
reconstrução de LCA há nove meses, avaliados antes (PRE) e após (POS)
12 semanas de treinamento, realizado com contração voluntária máxima
excêntrica (CVME) e CVME associada à EENM CVME+EENM)
(*p < 0,05 quando valores pré e pós de cada grupo foram comparados). Não
houve diferença no ganho de força entre os grupos.
Esses resultados, comparados aos obtidos quando a
EENM foi utilizada no tratamento do quadríceps no período
logo após a reconstrução do LCA, indicam que o beneficio
da EENM como recurso para auxilio no ganho de forca
muscular pode ser “tempo dependente”. Isto é, em indivíduos
com déficit de forca muscular, o uso da EENM deveria
limitar-se aos períodos iniciais de recuperação, quando
possíveis mecanismos inibitórios ainda estão presentes. O
uso da EENM em fases mais tardias parece não trazer
nenhum benefício morfológico ou funcional adicional, além
dos já adquiridos com o treinamento realizado com exercícios
contra-resistidos (Brasileiro e Salvini, 2004; manuscrito em
preparação).
Desta forma, os estudos sobre o uso da EENM indicam
que a ênfase deste recurso deveria ser direcionada para a
assistência de pacientes que, por alguma razão, não possam
realizar contrações musculares intensas, o suficiente para
produzir ganhos de força ou para minimizar os efeitos da
inatividade. Entretanto em sujeitos saudáveis poucas
evidências sugerem que a EENM, utilizada de forma isolada
ou associada à CVM, proporcione mais benefícios que o
treinamento realizado somente com CVM.
Conclusões
Não existem evidências que suportem o uso da EENM
no fortalecimento de músculos saudáveis, uma vez que esse
recurso não induziu qualquer alteração no ganho de força,
quando comparado ao treinamento físico utilizando-se
somente Contrações Voluntárias Máximas;
Para o fortalecimento do quadríceps, após reconstrução
do LCA, a EENM deve ser usada preferencialmente nas
fases iniciais do período pós-operatório e associada a CVMs,
quando ainda há uma inibição no recrutamento neuromuscular, dor ao movimento, receio do indivíduo, etc. No entanto
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ainda faltam estudos que detalhem a contribuição da EENM
no ganho de forca muscular durante esse período;
No período tardio após reconstrução de LCA (cerca de
nove meses), não há necessidade de se associar a EENM
ao treinamento físico, realizado com CVM, para o
fortalecimento muscular. A EENM não induziu nenhum
ganho adicional de torque, massa e recrutamento motor
quando associada ao treinamento;
O uso da EENM no fortalecimento muscular, utilizado
durante as diferentes fases da reabilitação, nas diversas
doenças que afetam o sistema locomotor, ainda é muito
polêmico. Há grande necessidade de estudos científicos
criteriosos, realizados em humanos, que subsidiem de modo
seguro e eficaz seu uso clínico.
Agradecimentos
A CNPq (Projeto Universal), CAPES, FAPESP pelo
apoio financeiro.
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C
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
231
Estudos de caso
Ruptura por trauma corto-contuso do músculo deltóide
Traumatic rupture of deltoid muscle
Daniel Tavares da Mata Barreto*, Thais Pereira Guisande**
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*Fisioterapeuta, supervisor de estágio curricular, setor Aparelho Locomotor, CEFIR, Universidade Santa Cecília,
**Acadêmica de fisioterapia, Universidade Santa Cecília, Santos, São Paulo
Palavras-chave:
ferimentos e lesões,
recuperação de função
fisiológica, desenvolvimento
muscular, paresia.
Key-words:
wounds and injuries,
recovery of function, muscle
development, paresis.
Resumo
Este trabalho teve como objetivo relatar o caso de um atleta de ginástica olímpica
que sofreu ruptura completa do músculo deltóide (fibras anteriores e médias) do ombro
esquerdo por trauma corto-contuso. O paciente foi submetido a miorrafia e iniciou o
tratamento fisioterapêutico logo após a cirurgia. O tratamento fisioterapêutico constou
de crioterapia na 1ª semana pós-operatória (PO); mobilização miofascial e articular a
partir da 2ª semana PO; exercícios de controle neuro-muscular a partir da 3ª semana
PO, associados a exercícios de resistência muscular localizada e de força, com progressão
de volume e intensidade de trabalho; a partir da 5ª semana foram iniciados exercícios
específicos, considerando o comportamento motor necessário e exigido na ginástica
olímpica. A evolução clínica foi acompanhada através de exames de ultrassonografia.
O paciente recebeu alta conclusiva na 7ª semana PO, sendo liberado para reinício dos
treinamentos, não apresentando qualquer seqüela funcional.
Abstract
The purpose of this case study was to describe the case of a gymnastic male athlete
who suffered total rupture of both anterior and medial portions of deltoid muscle by
a perforating trauma. The patient had a reconstructive repair (miorraphy) and initiated
physical therapy soon after surgery. Physical therapy was based on criotherapy at first
week; miofascial and articular mobilization at second week; neuro-motor control exercises
at third week, associated with endurance and strength exercises, with volume and intensity
progression; at the fifth week specific exercises were initiated, considering motor behavior
related to gymnastics. Ultrassonographic images accompanied patient’s clinical evalution.
Conclusive discharge and return to training habits happened at the seventh week postsurgery, without any functional deficits.
Recebido 16 de setembro de 2003; corrigido 23 de dezembro de 2003; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Thais Pereira Guisande, Rua Mato Grosso, 232/34, 11055-010 Santos SP, Tel: (13) 3224-2286/8113-4074
E-mail: [email protected]
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232
Introdução
As lesões que acometem o tecido muscular podem ter
dois principais fatores etiológicos [1]: o trauma direto (ou
contusão) e a distensão. Whiting e Zernicke ainda citaram
uma terceira classe etiológica: a lesão muscular induzida pelo
exercício [2]. A classe das lesões abertas por trauma direto
será o objeto principal deste estudo.
As lesões musculares podem ser classificadas quanto à
gravidade de acometimento em três diferentes graus. As lesões
musculares de primeiro grau não apresentam ruptura
aparente ou perda funcional de força. As lesões de segundo
grau apresentam deterioração parcial do tecido muscular,
com dor intensa impossibilitando o término da atividade e
perda de força contrátil. Uma lesão de terceiro grau
apresenta-se como uma ruptura completa da unidade
musculotendínea, com incapacidade funcional, sensibilidade
local e alteração do relevo segmentar, com uma aparente
depressão no local da lesão [3]. Em casos de lesões abertas,
em que existe solução de continuidade de tecidos superficiais
e exposição de tecidos profundos, a detecção do grau de
lesão do tecido muscular é mais clara e a escolha do
procedimento terapêutico é mais preciso.
Em lesões traumáticas abertas, “um agente mecânico atua
de maneira inesperada sobre os tecidos do segmento corporal
de forma direta ou tangencial e vence sua resistência, o agente
traumático é a causa da lesão que chamamos de contusão”
[4]. Assim, a agressão atinge a pele, o tecido celular
subcutâneo, com possível solução de continuidade. Tecidos
mais profundos como vasos, tecido conjuntivo e fibras
musculares sofrem rupturas variáveis dependendo da
magnitude da força traumática.
As implicações funcionais das lesões musculares são
significativas e incluem a diminuição na amplitude de
movimento articular, a alteração da resistência à fadiga e a
diminuição na velocidade de encurtamento muscular, mas é a
prolongada perda de força que é vastamente reconhecida. As
perdas de força de mais de 40-50% são comuns neste tipo de
lesão, e a recuperação completa pode levar mais de 1 mês.
Assim, os objetivos deste estudo foram: 1) estudar o caso
de uma ruptura total por trauma corto-contuso das porções
anterior e média do músculo deltóide e 2) a abordagem
terapêutica realizada para a recuperação da função muscular
e retorno à atividade esportiva.
lesão aberta de tecidos moles em ombro esquerdo. Cursou
com ruptura total das porções anterior e média do músculo
deltóide sem comprometimento associado de estruturas
capsulo-ligamentares. Foi realizada hemostasia imediata pela
compressão da área lesada por tecido limpo, contendo a
hemorragia. Foi realizada cirurgia reparadora e reconstrutiva
dos tecidos muscular, subcutâneo e cutâneo com sutura
boca-a-boca por fios de mercilene 2.0 em 1 hora e 30
minutos após a lesão. Permaneceu imobilizado por 7 dias
(tipóia tipo Velpeau) durante os quais fez uso de medicação
analgésica e antibiótica preventiva. Também foi realizado
procedimento crioterapêutico durante o mesmo período (20
minutos a cada 3 horas).
Durante a 2 a semana foi iniciado programa
cinesioterapêutico, com mobilização passiva do ombro nos
planos sagital (amplitude de flexão glenoumeral até 90o) e
transversal (amplitude de rotação externa glenoumeral até
10o) e do cotovelo, punho e dedos do plano sagital.
Quinze dias após a lesão evidenciou-se, segundo
exame de ultrassonografia bidimensional de alta resolução,
descontinuidade das fibras do músculo deltóide
comprometendo suas porções anterior e média com
ecotextura heterogênea de dimensões 6.1 x 0.6
centímetros; e ainda, espessamento e aumento da
ecogenicidade no tecido celular subcutâneo do seguimento
proximal do braço esquerdo.
Vinte dias após a lesão o exame físico constatou a presença
de cicatrização incompleta de tecidos superficiais, com solução
de continuidade e coloração rósea em aspecto ântero-lateral
do ombro esquerdo. A observação comparativa dos ombros
evidenciou diminuição de volume do lado esquerdo,
constatada na perimetria. As medidas foram realizadas por
fita métrica, 6 e 12 centímetros abaixo do acrômio e estão
apresentadas no Quadro 1: Perimetria inicial. O tecido
cicatricial apresentava-se aderido a planos profundos em toda
sua extensão. A amplitude de movimentos do complexo
articular do ombro, medida através de goniometria,
apresentava-se limitada em 120o de flexão, 110o de abdução
e 30o de rotação externa, enquanto os movimentos de extensão
e rotação interna encontravam-se livres de limitações. O
paciente ainda apresentou grau 4 de força muscular dos
músculos flexores, abdutores e rotadores externos
glenoumerais e grau 4+ de força muscular dos músculos
extensores e rotadores internos glenoumerais [6].
Relato de caso
Quadro 1 - Perimetria inicial
Indivíduo do sexo masculino, 25 anos, praticante de
ginástica olímpica não-competitiva, com excelente nível de
condicionamento físico prévio e ausência de quaisquer
afecções do aparelho musculoesquelético anteriormente à
lesão. Sofreu trauma direto em acidente automotivo em que,
durante o trânsito de bicicleta, o vértice da porta de um
automóvel atuou como instrumento corto-contuso causando
Com base nos dados provenientes do exame físicofuncional realizado na terceira semana após a lesão, um
programa terapêutico foi conduzido em ambiente
ambulatorial, 5 vezes por semana durante 2 horas e 30
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232
Lados
Direito
Esquerdo
A 6 cm do acrômio
37.5 cm
34.5 cm
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A 12 cm do acrômio
36.0 cm
32.0 cm
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
Figura 1 - Terceira semana: flexão
de ombro esquerdo sentado.
Figura 2 - Terceira semana:
flexão de ombro esquerdo em pé
minutos diários visando: (1) Melhorar as condições do
tecido de cicatrização, aumentando sua força tênsil,
extensibilidade e independência de tecidos profundos
através de manobras manuais de mobilização tecidual; (2)
Melhorar as condições viscoelásticas dos tecidos
periarticulares per mitindo movimento completo da
articulação glenoumeral através de exercícios de
alongamento e manobras miofasciais; (3) Readequar o
padrão de ativação neuromuscular estimulando a
plasticidade tecidual e a recuperação funcional do tecido
lesado através de eletro-estimulação muscular (2500Hz
modulada a 30Hz, 9s:18s em 3 séries de 6 minutos) e
233
Figura 3 - Terceira semana:
Figura 4 - Terceira semana: abdução de
flexão bilateral de ombros em pé. ombro esquerdo em pé.
exercícios ativos; (4) Aumentar a tolerância dos tecidos
periarticulares (ligamentos, cápsula e músculos) à sobrecarga
imposta pela prática esportiva, readequando força,
resistência muscular localizada (RML), velocidade de
ativação reflexa e flexibilidade através de exercícios ativos
e ativos-resistidos, e por fim, (5) Reintroduzir o indivíduo
em sua atividade física habitual através de exercícios de
especificidade do gesto esportivo. Ainda, ao término da
sessão de tratamento diário a técnica de crioterapia foi
utilizada (20 minutos de aplicação de gelo moído) com o
objetivo de limitar a reação inflamatória proveniente da
atividade muscular e minimizar os efeitos potencialmente
lesivos ao tecido em recuperação.
Quadro 2 - Protocolo de atenção fisioterapêutica.
Período
Conduta terapêutica
Primeira semana: fase inflamatória
Imobilização por tipóia tipo Velpeau
Crioterapia 20 minutos a cada 3 horas
Segunda semana: fase de cicatrização
Mobilização passiva de ombro, em flexão até 90o e em rotação
externa até 10o, de cotovelo, de punho e de dedos
Crioterapia 20 minutos a cada 3 horas
Terceira e quarta semanas: fase de remodelação
Manobras manuais de mobilização do tecido cicatricial: fricção, tensão
longitudinal, tensão transversal, pinçamento
e rolamento do tecido (pince-roulé)
Manobras miofasciais: peitoral maior e grande dorsal 5x20 segundos
Exercícios isométricos
Adução horizontal de ombro 10x10 segundos
Abdução horizontal de ombro 10x10 segundos
Exercícios isotônicos
Flexão de ombro com sinergia de adutores de ombro 3x10 reps
Flexão de ombro com sinergia de abdutores de ombro 3x10 reps
Rotação externa de ombro 4x25 reps
Rotação interna de ombro 4x25 reps
Exercícios de Alongamento de músculos peitoral maior, deltóide
anterior, médio e posterior e trapézio superior 30 segundos
Crioterapia 20 minutos
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234
Continuação do quadro 2.
Quinta e Sexta Semana: especificidade funcional
Eletro-estimulação: 2500Hz modulada a 30Hz com 9s ON (rampa e sustentação)
e 18s OFF, durante 6 minutos, 3 vezes (3x10 reps) sobre a porção anterior do m.
deltóide associado à contração ativa isométrica de adutores horizontais de ombro
em CCF
Exercícios isotônicos em padrão diagonal com resistência variável (banda elástica)
Flexão associada à abdução e rotação externa do ombro com supinação de
antebraço 4x10 reps
Flexão associada à adução e rotação externa de ombro com supinação de
antebraço 4x10 reps
Exercícios Isotônicos com resistência variável (banda elástica)
Desenvolvimento (abdução de ombro) com cotovelos extendidos 3x10 reps
Adução horizontal de ombro com cotovelos extendidos 3x10 reps
Ativação muscular reflexa por deslocamento abrupto do membro no espaço 3x3
minutos em flexão e abdução a 90o
Descarga de peso ponderal/ total sobre os membros superiores
Exercícios de Alongamento de músculos peitoral maior, deltóide anterior, médio e
posterior e trapézio superior 30 segundos
Crioterapia 20 minutos
Sétima Semana: Recondicionamento físico e
Retorno à prática esportiva
Exercícios de força, potência e flexibilidade 3x semana
Exercícios nos aparelhos masculinos de ginástica: barra fixa, argolas, barras
paralelas e cavalo com alças 3x semana
Resultados
Após seis semanas da lesão traumática do músculo
deltóide, com ruptura completa de suas porções anterior e
média, a avaliação físico-funcional constatou: cicatriz em
tecido superficial íntegra, de bordos esbranquiçados e centro
róseo, livre de aderência aos tecidos profundos, com boa
elasticidade e resistência; aspecto volumétrico simétrico entre
os ombros, constatado através de perimetria (ver Quadro
3: Perimetria final); a amplitude de movimentos do ombro
esquerdo evoluiu eqüitativamente ao lado não-lesionado,
atingindo o máximo de amplitude de movimento possível
para a articulação glenoumeral nos três planos e eixos; a
força muscular apresentou-se simetricamente comparável
Figura 5 - Sétima
semana: flexão de ombro
esquerdo sentado.
artigo 11 - Thais.pmd
Figura 6 - Sétima
semana: flexão de
ombro esquerdo em pé.
234
ao lado não-lesionado e o indivíduo pôde ser reintroduzido
à prática esportiva em níveis pré-lesionais.
O exame de ultrassonografia bidimensional de alta
resolução evidenciou forma, contornos, espessura e
ecogenicidade normais dos tendões e ventres dos músculos
supraespinhoso, infraespinhoso, bíceps e subescapular; fina
faixa hipoecóica, com discreta hiperecogenicidade ao redor,
em topografia do músculo deltóide esquerdo, com ausência
de massas ou coleções.
Quadro 3 - Perimetria final .
Lados
Direito
Esquerdo
Figura 7 - Sétima
semana: flexão bilateral
de ombros em pé.
A 6 cm do acrômio
37 cm
36 cm
Figura 8 - Sétima
semana: abdução de
ombro esquerdo em pé.
22/06/04, 13:34
A 12 cm do acrômio
33 cm
33 cm
Figura 9 - Sétima
semana: abdução bilateral
de ombros em pé.
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
Discussão
Atenção emergencial
“O período decisivo de resistência contra uma invasão
bacteriana é dentro das primeiras 3 horas após a
contaminação bacteriana do tecido, quando os mecanismos
protetores do corpo estão maximamente envolvidos em
manter sob controle o crescimento e disseminação
bacterianos” [7].
A atenção emergencial em lesões traumáticas abertas é
determinante para a recuperação da integridade tecidual. A
contaminação do tecido retarda o início do processo de
cicatrização, perpetuando o período inflamatório; assim, a
atenção imediata pós-traumática auxilia na retirada de corpos
estranhos do local da lesão através da limpeza do ferimento e
a reconstrução emergencial limita os déficits metabólicos,
vasculares e físicos do tecido lesionado. Ainda, a reconstrução
imediata evita que as porções do músculo rompido entrem em
estado de contração reflexa, o que dificultaria sua sutura [3].
Primeira semana: fase inflamatória
Imobilização e crioterapia
Existem diferentes opiniões sobre se o tratamento de
eleição nas lesões musculares deva ser de mobilização precoce
ou imobilização. A imobilização acelera a produção de tecido
de granulação e pode conduzir a uma concentração de tecido
cicatricial de organização estrutural deficiente. No entanto,
é necessário um período adequado de imobilização, de cerca
de 5 dias, para que o tecido muscular alcance a fase de
granulação, que um tecido neoformado cubra toda a área
lesionada e possua resistência contra as forças provocadas
pelo tratamento de mobilização, que poderiam conduzir a
novas rupturas [3].
A crioterapia “é o resfriamento ou diminuição da
temperatura dos tecidos com finalidades terapêuticas” [8].
Seus efeitos terapêuticos envolvem a diminuição do metabolismo
local, a vasoconstrição e o aumento do limear de estimulação das
terminações sensoriais. A diminuição do metabolismo tecidual diminui
a necessidade de consumo de oxigênio pelas células,
preservando as células lesionadas e permitindo que o tecido
sobreviva recebendo a quantidade limitada de oxigênio a
que está submetido [9]. Este efeito pode ser especialmente
útil ao final de um programa de exercícios, que seja
potencialmente lesivo aos tecidos, como os exercícios
resistidos. “Durante um tratamento de 20 minutos o
metabolismo celular é reduzido em 19%” [10]. A vasoconstrição
diminui o aporte sanguíneo ao tecido lesionado, inibindo a
disseminação dos agentes inflamatórios e impedindo que o
processo inflamatório torne-se difuso (9). A queda da
temperatura na superfície da pele para –12.7o C provoca
artigo 11 - Thais.pmd
235
235
aumento do limiar de excitabilidade dos fusos musculares inibindo
sua ativação e o mecanismo reflexo de estiramento,
resultando em redução do espasmo muscular [10]. A
interrupção do espasmo muscular reflexo diminui a dor pela
interrupção da estimulação mecânica sobre os receptores
livres para dor. A diminuição da dor pode interromper o
ciclo de resposta à lesão, permitindo que o reparo e a
cicatrização continuem [10].
Segunda semana: fase de cicatrização
Exercícios passivos
A mobilização precoce parece ser essencial para a
reabsorção do tecido cicatricial e para uma melhor
organização estrutural dos elementos de reparação; no
entanto, uma nova ruptura tecidual pode ser produzida por
uma mobilização muito vigorosa e intensa [3]. Ainda, a
mobilização aumenta a resistência tecidual, melhora a
orientação das fibras musculares em regeneração, melhora
a vascularização tecidual facilitando o retorno venoso e
diminuindo o edema [3]. O período de imobilização
prolongado pode ainda trazer complicações funcionais para
os tecidos, como a rigidez articular e o encurtamento
muscular. “A disfunção muscular, uma das causas de lesões
dos tecidos moles, pode ser decorrente do não-alongamento,
devido à contratura fascial ou encurtamento do tendão
muscular provocados pela imobilização” [5].
Assim, a mobilização articular controlada, em planos e
eixos próprios da articulação, promove melhora das
condições de viscoelasticidade teciduais, facilitando a
irrigação musculotendínea, prevenindo complicações do
período de imobilização, como a perda de densidade das
estruturas capsuloligamentares e intrarticulares [2].
Terceira e quarta semanas:
fase de remodelação
Manobras de mobilização do tecido cicatricial
A maturação do tecido cicatricial acontece ao longo de
meses e chega a estar ainda incompleta ao final de um ano.
A formação de colágeno aumenta a resistência da ferida
restabelecendo a força e a integridade originais; no entanto,
raramente o tecido recupera sua resistência e elasticidade
total. A orientação anatômica das proteínas fibrosas que
formam a cicatriz é dependente e induzida pelo esforço;
assim, as forças físicas desempenham um importante papel
na remodelação, orientando as fibras de colágeno em linhas
de tensão que se assemelham à condição pré-lesão [7].
As manobras manuais de mobilização tecidual têm o
objetivo de atuar como forças de tensão sobre o tecido
cicatricial, provocando uma melhor reorganização estrutural
e um alinhamento conformacional que ofereça ao tecido
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236
Figura 10 - Terceira semana.
Figura 11 - Quinta semana.
Figura 12 - Sétima semana.
As manobras utilizadas envolveram 1) a fricção; 2) a tensão longitudinal; 3) a tensão transversal e 4) o pincé-roulé [11] ou
descolamento do tecido.
Figura 13 - Manobra de fricção.
Figura 14 - Tensão transversal.
maior resistência contra forças incidentes sobre o mesmo,
protegendo-o contra rupturas. Especialmente nos esportes
que utilizam preferencialmente a atividade dos membros
superiores, como na ginástica olímpica, a restituição da
força tecidual superficial é determinante para o retorno à
prática esportiva.
Figura 15 - Tensão longitudinal. Figura 16 - Manobra de pincé-roulé.
e assim, a hidratação e a nutrição teciduais. Sobre os músculos,
o tensionamento no sentido das fibras musculares, promove
o deslizamento dos filamentos de actina para fora e melhora
suas condições viscoelásticas [12].
Figura 17 - Manobra miofascial para músculo peitoral maior.
Manobras miofasciais
Bienfait [12] descreve em detalhes a anatomia das
maiores fáscias corporais, a fascia superficialis e a aponeurose
superficial, enfatizando o conceito de continuidade fascial e
de uma visão corporal global.
Envolvendo os ventres musculares, as fáscias, sob
condições normais, permitem mobilidade livre entre os
músculos e grupos musculares, divididos em compartimentos,
facilitando a execução de atos motores. Bienfait afirma “temos
certeza que ela” (a aponeurose superficial) “é o órgão mecânico
principal da coordenação motora” [12].
O deslizamento livre entre as fáscias, além de agir como
agente mecânico para a coordenação intermuscular,
promove o “embebimento” dos tecidos pelo chamado líquido
lacunar (descrito por Bienfait), promovendo sua hidratação
e nutrição [12].
As manobras miofasciais, ou pompages, são manobras
manuais que promovem a normalização da tensão e do
funcionamento das fáscias, readequando a circulação lacunar
artigo 11 - Thais.pmd
236
Figura 18 - Manobra miofascial para músculo grande dorsal.
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Exercícios de alongamento
A flexibilidade, definida como uma “qualidade motriz
que depende da elasticidade muscular e da mobilidade
articular, expressa pela máxima amplitude de movimentos
necessária para a perfeita execução de qualquer atividade
física eletiva, sem que ocorram lesões anátomo-patológicas”
[13] é conhecidamente uma capacidade motora
indispensável para a prática de alguns esportes. Dada a
importância da flexibilidade para a execução de gestos
específicos em modalidades esportivas, particularmente na
ginástica, fatores que possam interferir na excursão
articular, como a falta de elasticidade do tecido muscular,
devem ser abordados.
Assim, os exercícios de alongamento são o método
utilizado para melhorar as propriedades viscoelásticas do
tecido muscular e das fáscias que o envolvem, aumentando
a amplitude de movimentos, ou flexibilidade, freqüentemente
diminuída após um período de inatividade.
O aumento da amplitude de movimentos seguindo
imediatamente o alongamento passivo pode ser explicado
pelo comportamento viscoelástico do músculo e por
mudanças de curto período na extensibilidade muscular.
Alguns autores afirmam que o alongamento passivo por
um período tão curto quanto 30 segundos é suficiente para
obter aumento de mobilidade articular. Assim, existem muitos
experimentos que sustentam o conceito de que o
alongamento passivo sustentado leva à geração de um
músculo mais longo e funcionalmente intacto, embora por
mecanismos desconhecidos [14].
“O pré-alongamento da unidade musculotendínea é
importante antes do começo do programa de fortalecimento
(...) após a sessão de fortalecimento, o alongamento deve
ser feito mais uma vez, seguindo-se colocação de gelo na
parte lesada para reduzir exacerbações inflamatórias pósexercício” [1].
Exercícios ativos
Os músculos que compõe o manguito rotador
(supraespinhoso, infraespinhoso, subescapular e redondo
menor) são músculos determinantes para o funcionamento
normal do ombro. Eles permitem a excursão da cabeça umeral
na fossa glenóide impedindo seu contato com estruturas
suprarticulares como o acrômio e o ligamento córacoacromial. São, portanto, músculos que exercem função
protetiva, durante os movimentos do ombro, evitando a
chamada “síndrome do impacto”, em que estruturas de tecidos
moles, interpostas entre o úmero e estruturas suprarticulares
sofrem forças compressivas e/ou friccionais.
Assim, a ativação precoce destes músculos, forneceu
subsídio físico para que os movimentos do ombro fossem
explorados sem a possibilidade de lesão a estruturas
artigo 11 - Thais.pmd
237
237
previamente intactas, que tenham sofrido os efeitos do
período de imobilização.
Exercícios ativos-resistidos
A hipotrofia resulta de causas como a imobilização, o
repouso ou hábitos sedentários após um período de
treinamento físico, onde a demanda de trabalho solicitado
é inferior à capacidade de desenvolvimento de força do
tecido muscular. Ocorre assim, a diminuição da
circunferência muscular, da força e da resistência, menor
ritmo de síntese e maior ritmo de degradação protéica
(catabolismo) [2].
A característica dominante no processo de adaptação
muscular à sobrecarga é a hipertrofia, onde o músculo
sofre um aumento em suas fibras individuais, aumentando
sua quantidade de proteínas contráteis e, portanto, sua força
em resposta a um treinamento resistido específico [2]. No
entanto, os “ganhos iniciais de força muscular se relacionam
à melhora dos níveis de atividade das unidades motoras.
Depois das primeiras duas semanas de treinamento, são
feitos ganhos adicionais de força através de hipertrofia
muscular” [1].
De acordo com os achados físicos apresentados após
vinte dias da ruptura muscular do músculo deltóide,
identificou-se que, a limitação em amplitude de
movimento (ADM) da articulação glenoumeral,
especificamente nos movimentos de flexão, abdução e
rotação externa, relacionava-se diretamente com a
debilidade de força dos músculos envolvidos nos mesmos
movimentos. Por tanto a restrição de mobilidade
apresentada pelo indivíduo estava predominantemente
relacionada com a alteração das características funcionais
do tecido muscular, como a elasticidade e a força, do
que com alterações das características físicas
intrarticulares. Tal observação permitiu a determinação
da conduta mais precisa e adequada para este caso, com
enfoque específico no ganho de força e ativação dos
músculos deficitários.
Figura 19 - Isometria de adutores horizontais de ombro.
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Figura 20 - Isometria de abdutores horizontais de ombro.
Figura 21 - Isotonia de flexores com
sinergismo de adutores horizontais de
ombro.
O programa de treinamento resistido evoluiu
enfocando: 1) a ativação de cadeias musculares,
estimulando o recrutamento de músculos deficitários pela
ativação de músculos sadios, melhorando o
condicionamento específico de um conjunto de músculos
não-relacionados diretamente com a lesão, comprometidos
pelo período de imobilização; 2) melhora da resistência
muscular localizada (RML), oferecendo subsídio para o
treinamento de força, com a instituição de séries com alto
número de repetições e baixa carga; 3) a melhora da força
muscular absoluta, com a instituição de séries com baixo
número de repetições e carga alta.
Figura 22 - Isotonia de flexores
com sinergismo de abdutores
horizontais de ombro
O’Driscoll, em seu relato pessoal de ruptura intramuscular
do tríceps braquial relatou que após nove anos de
acompanhamento, a força isométrica apresentou-se igual
ao lado contralateral, enquanto a resistência testada
revelou 5 a 10% de diminuição comparada ao lado
contralateral. Observou que durante períodos de exercício
físico mais regular a resistência muscular parecia estar
muito melhor e após períodos sem ou com menos
exercício, a limitação na resistência apresentava-se
novamente aparente [15].
Os exercícios de RML foram desenvolvidos durante a
terceira semana e enfocaram a ativação dos músculos da
cintura escapular, especialmente os músculos do manguito
rotador. Os exercícios de força foram iniciados durante a
quarta semana e conduzidos até o término do tratamento,
devido a alta especificidade dos músculos que envolvem a
articulação do ombro no desenvolvimento dos princípios
da ginástica olímpica.
É importante observar que, “a taxa de melhora depende
da disposição do indivíduo à sobrecarga” (1), portanto,
sua tolerância ao esforço físico é um importante fator
preditivo de melhora e foi um atributo apresentado pelo
sujeito deste estudo.
Figura 23 - Isotonia de rotadores externos de ombro.
Figura 24 - Isotonia de rotadores internos de ombro.
“Em um trabalho, os escores de força melhoraram
significativamente quando precedidos por um programa
usando trabalho com muitas repetições. Assim, parece
apropriado iniciar o atleta num programa com muitas
repetições e baixa carga, antes de embarcar num programa
altamente resistido” [1].
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Quinta semana e sexta semana:
especificidade funcional
Eletro-estimulação muscular
O uso terapêutico de correntes eletro-estimulantes
apresenta diversos benefícios e pode ser aplicado com
diferentes objetivos. Um dos objetivos para o qual se utiliza
as correntes elétricas é a ativação muscular, em que a
corrente promove a redução do potencial transmembrana
da célula muscular pelo aumento da permeabilidade do sódio
para o interior da célula, produzindo sua despolarização e
gerando contração muscular [16].
“Durante o esforço volitivo do paciente, pode-se tetanizar
o músculo por 3 segundos, seguidas vezes, dando-se 5
segundos para repouso, aumentando-se apenas a freqüência
dos impulsos” [17].
Uma corrente ininterrupta pode levar o músculo à
fadiga; assim, a relação de 1:1 (on:off) tende a fadigar o
músculo rapidamente enquanto relações on:off com
períodos de repouso maiores tendem a reduzir
significativamente a fadiga [16].
Assim, o uso de uma corrente de média freqüência (2500
Hz) modulada a 30Hz com períodos de 9:18 de ativação:
repouso, respeita o que
Figura 25 - Posicionamento de eletrodos
se conhece acerca da
sobre porção anterior do músculo deltóide
utilização da eletro(ventre muscular).
estimulação muscular
como medida terapêutica. Seu uso foi
associado à contração
isométrica voluntária,
priorizando-se a ativação da porção anterior do músculo deltóide com o objetivo de
ganho de força muscular específica.
239
Exercícios de especificidade esportiva
Os exercícios ativos-resistidos a partir da quinta semana
após a lesão enfatizaram 1) a ativação específica dos
músculos deficitários (especialmente a porção anterior do
músculo deltóide) com padrões de movimentos específicos;
2) a ativação reflexa dos músculos do ombro com
deslocamento abrupto em direções variadas e 3) a
imposição de carga axial sobre o membro superior com
co-ativação dos músculos de todo o membro superior,
especialmente do ombro.
Os padrões de movimentos isolados foram realizados
com o uso de faixas elásticas, como indicou Saal [1] e em
padrões funcionais específicos, como mostram as figuras
27, 28 e 29.
A velocidade de ativação reflexa dos músculos
envolvidos em uma lesão, ou em um período de inatividade,
encontra-se freqüentemente diminuída, o que pode ser
razão de limitações ao funcionamento do segmento,
principalmente durante atividades complexas, como no
esporte. Portanto o treinamento da velocidade de ativação
reflexa faz parte de um programa de readequação de
habilidades específicas.
Figura 27 - Adução horizontal de ombros com cotovelos em extensão.
Figura 28 - Diagonal: flexão, abdução e rotação externa de ombro.
Figura 26 - Exercício ativo (isometria de adutores horizontais de ombro)
associado a eletro-estimulação do músculo deltóide (porção anterior).
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Figura 29 - Diagonal: flexão, adução e rotação externa de ombro.
Sétima semana: retorno aos níveis
prévios de atividade física
Ao fim da sexta semana de programa terapêutico o
indivíduo recebeu alta por resolução e foi reinserido no
programa de condicionamento físico específico. O programa
de treinamento continuou com freqüência de 3 dias semanais
e incluía exercícios de flexibilidade, força e potência, além
de exercícios específicos nos aparelhos masculinos de
ginástica olímpica: argolas, cavalo com alças, barras paralelas
e barra fixa.
Figura 33 - Argolas.
Figura 30 - Ativação muscular reflexa: deslocamento abrupto.
Figuras 31 e 32 - Descarga de peso corporal
sobre membros superiores.
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240
Exercícios de
sustentação de
peso corporal
sobre os membros superiores
foram realizados
buscando a readaptação das estruturas capsuloligamentares à
sobrecarga específica da prática
esportiva e foram
realizados durante
a quinta e a
sexta semana de
tratamento.
Figuras 34 e 35 - Cavalo com alças.
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Figura 36 - Barras paralelas.
Figura 37 - Barras paralelas.
241
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Rodrigues EM, Guimarães CS. Manual de recursos
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São Paulo: Manole; 2000.p. 3-42.
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C.
Recursos terapêuticos em fisioterapia: termoterapia,
procedimento cirúrgico imediato para o processo de
eletroterapia, ultra-som, terapias manuais. São Paulo: Manole;
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p.162.
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dos exercícios de resistência muscular localizada e força por
literatura. Revista Paulista de Educação Física 2000;
meio da adequação de volume e intensidade de trabalho e
14(1):85-96.
6) a importância das atividades direcionadas à especificidade
14.
Deyne PG. Application of passive stretch and its implications
do gesto esportivo.
for muscle fibers. Phys Ther 2001;81(2):819-27.
15. O’Driscoll SW. Intramuscular triceps rupture. CJS
Agradecimentos
1992;35(2):203-6.
16. Robinson AJ, Snyder-Mackler L. Eletrofisiologia clínica:
Ao Prof. Ms. Marco Antônio Ferreira Alves, por sua
eletroterapia e teste eletrofisiológico. 2 ed. Porto Alegre: Artmed
orientação e ao Dr. Abrão M. Altman, por sua atuação,
2001. p.426.
17. Lucena C. Eletroterapia. Curitiba: Lovise; 1990. p.135.
fundamental para o sucesso deste caso.
C
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241
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242
Estudo de caso
Complicação relacionada ao uso da respiração
com pressão positiva intermitente
The intermittent positive pressure breathing complication
Renata Lenize Pasini*, Luciana Castilho de Figueiredo**, Rosmari Aparecida Rosa Almeida Oliveira***,
Renato Giuseppe Giovanni Terzi****
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*Fisioterapeuta, **Coordenadora do Curso de Aprimoramento Adulto e Supervisora do Curso de Especialização de Fisioterapia Respiratória
em UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP e Docente da UNIARARAS, ***Coordenadora do Curso de Especialização em
Fisioterapia Respiratória em UTI-Adulto do Hospital de Clínicas da UNICAMP, ****Coordenador de docência e pesquisa na UTI do
Hospital de Clínicas da UNICAMP.
Resumo
O uso do recurso terapêutico com pressão positiva intermitente (RPPI), para
expansão pulmonar, tem sido intenso dentro do tratamento de pacientes em uma Unidade
de Terapia Intensiva. As suas indicações são basicamente a prevenção de atelectasias,
aumento das capacidades pulmonares e recrutamento de áreas pulmonares hipoventiladas
ou colapsadas. Embora a contra-indicação absoluta seja o pneumotórax, a avaliação
clínica se faz necessária previamente ao uso da técnica (RPPI), com o intuito de
evitarem-se complicações associadas à indicação inadequada ou até mesmo ao seu uso
indiscriminado, como foi reportado nesse estudo de caso.
Palavras-chave:
RPPI, pneumotórax,
pressão positiva.
Abstract
The intermittent positive pressure breathing resource (IPPB), for pulmonary expansion
has been widely used in the treatment of patients in Intensive Care Units. The indications
are basically atelectasis prevention, pulmonary capacities increase and recruitment of
pulmonary spaces. Although the absolute counter-indication is the pneumothorax, it is
necessary to proceed to an previous clinic evaluation for the therapy, in order to avoid
complications associated to its inappropriate indication or its generalized use.
Key-words:
IPPB, pneumothorax,
positive pressure.
Recebido 13 de novembro de 2003; corrigido 20 de maio; aceito 10 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Renata Lenize Pasini, Rua Barretos, 97, Jardim Ciranda, 14700-575 Bebedouro SP, Tel: (17) 3342-2775 /
(19) 9614-8910, E-mail: [email protected]
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
Introdução
A respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) é
definida como uma forma de exercício respiratório utilizando
a pressão positiva para aumento dos volumes pulmonares e
da capacidade vital. A realização da técnica se faz através de
um respirador mecânico, sendo mais utilizado o Bird Mark
7, que é adaptado ao paciente via máscara facial ou bucal,
dependendo do nível de colaboração e de compreensão do
paciente [1].
Embora a RPPI seja mais indicada para realizar a expansão
pulmonar, a técnica também é eficaz quando usada para
promover a higiene brônquica [2]. A RPPI pode ser utilizada
em pacientes com atelectasia ou, de forma preventiva,
àqueles que possuam fatores de risco para esta complicação,
principalmente quando não colaboram com técnicas mais
simples, como a inspirometria de incentivo. Quanto às contraindicações, embora não tenham sido relatadas como
absolutas, exceto na presença de pneumotórax hipertensivo,
o sucesso da técnica está relacionado a uma avaliação
criteriosa do paciente associado ao bom senso da equipe
multidisciplinar, na tomada de decisão para o seu uso. Assim
a RPPI deve ser indicada com rigoroso critério, evitando
complicações, que vão desde a alcalose respiratória até à
distensão gástrica.
Este estudo de caso tem como objetivo demonstrar a
importância da avaliação respiratória previamente à utilização
do RPPI como recurso terapêutico.
Material e métodos
Este estudo baseia-se na análise do tratamento
fisioterápico com a RPPI, relatando o pneumotórax como
complicação decorrente da técnica, na paciente M.A.B.B.,
45 anos, HC: 848429-0, com história de claudicação
inter mitente há 4 anos, dor bilateral em MMII,
principalmente em panturrilhas e pés, associado à palidez e
frieza ao elevar os membros. A paciente apresentava
antecedentes de tabagismo (parou há 4 anos) e hipertensão
arterial sistêmica. A insuficiência vascular periférica era
atribuída a uma síndrome da aorta hipoplásica.
Em agosto de 2003, a paciente foi internada para
investigação clínica na enfermaria da Cirurgia Vascular,
apresentando RX de tórax normal (anexo A). A indicação
cirúrgica se deu após diagnóstico de oclusão da aorta no
segmento infra-renal, confirmado por arteriografia. A
paciente foi submetida a enxerto vascular aorto bi-ilíaco com
prótese de Dácron. Após a cirurgia foi admitida na Unidade
de Terapia Intensiva (UTI) hemodinamicamente estável e
oligúrica. Na UTI a tentativa de cateterizar a veia jugular
direita não obteve sucesso, o que levou a punção da veia
subclávia direita também sem sucesso. Durante este último
procedimento foi observada a saída de pequena quantidade
de ar pela seringa.Uma terceira punção, agora na veia jugular
artigo 12 - Renata.pmd
243
243
esquerda foi realizada sem intercorrência. O RX de tórax
de controle após a punção, não evidenciava alterações
radiológicas (anexo B). No dia seguinte, a paciente evoluiu
com quadro álgico importante na região dorsal associada a
desconforto respiratório, que melhorava com decúbito lateral
esquerdo associado à máscara de Venturi com FiO2 = 0,28.
À noite com a piora do quadro respiratório, optou-se por
indicar a RPPI. Na manhã seguinte, em uma radiografia,
foi observado um pneumotórax à direita (anexo C). Após a
drenagem o pulmão ficou totalmente expandido (anexo E).
Resultados
Após 24 horas da punção central, a paciente evoluiu
com quadro clínico típico de pneumotórax, ou seja, dor
torácica, dispnéia e desconforto respiratório. A decisão
quanto à realização da RPPI foi tomada de acordo com o
quadro clínico apresentado no momento. Os sintomas não
foram amenizados com a técnica como demonstrado no
gráfico de valores de pressão arterial média (PAM),
freqüência respiratória (FR) e freqüência cardíaca (FC)
distribuídos desde o momento da admissão até a drenagem
do pneumotórax (anexo F). Houve um aumento da
freqüência cardíaca em relação à admissão e ao momento
da punção do tórax, com pico durante a realização da RPPI
assim como a freqüência respiratória que assumiu o mesmo
comportamento, com pico durante a terapia, pois nesse
momento o pneumotórax foi agravado. O valor da PAM
foi normal na admissão da paciente na UTI, apresentou
queda durante o procedimento da punção de via central e
realização da RPPI, retornando ao valor normal após a
drenagem do pneumotórax.
Pode-se observar então, que o quadro respiratório
estabilizou após este procedimento com valores de
gasometria PaO2 = 112 mmHg, PaCO2 = 33,5 mmHg,
SatO2 = 99% e reversão do pneumotórax visualizado no
RX de tórax.
Discussão
A RPPI consiste na aplicação de pressão positiva
inspiratória em respiração espontânea, como uma
modalidade terapêutica intermitente ou em longo prazo [2].
Em respiração espontânea a pressão intratorácica alternase entre positiva e negativa. Por contraste, durante ventilação
mecânica não-invasiva a pressão intratorácica permanece
acima da pressão atmosférica todo o tempo. Devido a essas
condições não fisiológicas, a pressão positiva na via aérea
se transmite aos alvéolos e, na vigência de um acidente de
punção, pode agravar um eventual pneumotórax [3].
A paciente utilizou a RPPI devido aos sinais clínicos
respiratórios desfavoráveis, sendo a primeira vez por vinte
minutos e a segunda vez por quinze minutos durante o
plantão noturno.
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A RPPI é muito utilizada como terapia de reexpansão
pulmonar, porém estudos relatam que suas indicações são
variadas. Handelsman [4] mostrou que a RPPI pode ser
utilizada na crise asmática e na exacerbação dos sintomas
de DPOC quando não há resposta a outras terapias ou na
falência respiratória secundária a cifoescolioses e doenças
neuromusculares. Mais freqüentemente é indicada na
prevenção de atelectasias e no cuidado pós-operatório.
Neste caso, a técnica foi indicada em virtude de alguns
sinais clínicos apresentados pela paciente, tais como o
desconforto respiratório, a taquidispnéia e a queda da
saturação de oxigênio, sem uma avaliação mais completa
antes da RPPI. Normalmente, na avaliação do pneumotórax
encontra-se ausculta pulmonar do hemitórax acometido um
murmúrio vesicular diminuído ou abolido e no exame
gasométrico revela uma hipoxemia e, eventualmente
hipocapnia por hiperventilação compensatória.
A RPPI foi estudada em pacientes portadores de fibrose
cística, evidenciando complicações raras decorrentes do uso
da pressão positiva, exemplificando o pneumotórax [5].
Ademais, o autor enfatizou a necessidade de supervisão e
individualização da terapia, avaliando seus riscos e benefícios.
Relatos de pneumotórax relacionados com a ventilação
não-invasiva com diferentes manifestações clínicas tais
como: pneumomediastino prévio, associado à dor torácica
e queda de pressão arterial, taquicardia, arritmias e enfisema
subcutâneo, foram apresentados por outros autores [6,5].
É fato que a implantação de um cateter central pode
trazer varias complicações como sangramento, infecções
locais, hematomas dentre outros, porém os benefícios
trazidos pelo mesmo, são certamente maiores [7]. O propósito
de exaltar a importância da prevenção de complicações
decorrentes da técnica é a necessidade de tratamento que
prolongaram a estadia hospitalar.
Neste caso o pneumotórax foi uma complicação
obser vada, induzida por intercorrência de punção
subclávia, porém agravado pela RPPI, este agravamento
poderia ser evitado por melhor avaliação do quadro
clínico, antes de sua aplicação. A constatação de
timpanismo a percussão torácica, de um murmúrio
vesicular diminuído em hemitórax direito, a correta
interpretação da freqüência cardíaca e respiratória
aumentadas, assim como a hipoxemia e a hipocapnia
associados à instalação aguda do quadro pulmonar, seriam
suficientes para sugerir o diagnóstico de pneumotórax e
a solicitação de novo estudo radiológico.
Embora não haja concordância para o tratamento dos
pacientes que apresentam o primeiro episódio de
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pneumotórax, em Terapia Intensiva, pneumotoraces póspunção são sempre drenados com tubo torácico e drenagem
com selo d’água. Há autores que relatam a aspiração manual,
porém este tipo de drenagem é bastante limitado pelo fato
de não existirem dados seguros e comparativos da sua
eficácia [8].
Felizmente após o diagnóstico de pneumotórax,
confirmado pela radiografia de tórax, foi realizada a
drenagem torácica sob selo d’água, e a expansão pulmonar
confirmada por nova radiografia (anexo D).
A melhora dos sintomas e dos sinais clínicos (percussão,
ausculta, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e
gasometria) associados à drenagem torácica, não mais
impediria a manutenção da RPPI como recurso fisioterápico.
Conclusão
A indicação da RPPI deve-se basear no diagnóstico
correto e deve ser individualizada para cada paciente. É
prioritária a avaliação clínica e gasométrica do paciente para
que esta técnica seja realizada sem riscos e com sucesso.
Referências
1. Soares SMTP, Veloso CA, Figueiredo LC. Manobras
fisioterapêuticas em pacientes sob ventilação mecânica. In:
Carvalho RRC. Ventilação mecânica: Avançado - vol II. São
Paulo: Atheneu; 2000. p.353-80.
2. Wilkins RL, Scanlan CL. Terapia de expansão pulmonar. In:
Fundamentos da terapia respiratória de Egan. São Paulo:
Manole; 2000. p. 804-9.
3. Hormann C, Benzer H. Errors in ventilation therapy. Wien
Klin Wochenschr 1994; 13:407-11.
4. Handelsman H. Intermittent positive pressure breathing
(IPPB) therapy. Health Technol Assess Rep 1991;1:1-9.
5. Haworth CS, Dood ME, Atkins M, Woodcock AA, Webb
AK. Pneumothorax in adults with cystic fibrosis dependent
on nasal intermittent positive pressure ventilation (NIPPV):
a management dilemma. Thorax 2000;55:620-2.
6. Estafanous FG, Viljoen JF, Barsoum KN. Diagnosis of
pneumothorax complicating mechanical ventilation. Anesth
Analg 1975;6:730-5.
7. Noppen M, Alexander P, Driesen P, Slabbynck H,Verstraeten
A. manual aspiration versus chest tube dranaige in first
episodes of primary spontaneus pneumothorax: a
multicenter, prospetive, randomized pilot study. Am J Respir
Crit Care Med 2002; 9:1202-3.
8. Moreira RCR, Batista JC, Abrão E. Complicações dos cateteres
venosos centrais de longa permanência: análise de 500 implantes
consecutivos. Rev Col Bras Cir 1998; 25 (6):403-8.
C
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ANEXOS
A. Radiografia de tórax prévia a cirurgia
B. Radiografia de tórax após passagem do cateter central (intracath)
C. Radiografia de tórax com pneumotórax
D. Radiografia de tórax com dreno e pneumotórax residual
E. Radiografia de tórax drenado
F. Evolução da Freqüência cardíaca (FC), Freqüência respiratória (FR) e Pressão arterial média (PAM)
A
B
C
D
E
F.
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Opinião
A atuação do fisioterapeuta na unidade básica de saúde
Andressa Caetano da Veiga*, Carlos Alberto Soares Neves*, Paula Montagna**, Sandra Sayuri Kanda***,
Samuel dos Santos Valença, M.Sc****
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*Curso de Fisioterapia do UNASP, **Fisioterapeuta, docente do UNASP, ***Fisioterapeuta da Unidade Básica de Saúde Capão
Redondo, ****Fisioterapeuta, docente do UNASP
A necessidade de expansão e melhoramento nos atendimentos oferecidos á
população carente fez rever os modelos adotados até a metade do século XX, no
qual era priorizado a assistência curativa do atendimento médico individualizado sem
qualquer possibilidade de terapias alternativas [1]. Até a década de 70, no Brasil, os
recursos à saúde em sua maior parte eram destinados aos hospitais, que ficavam
superlotados dificultando os atendimentos. Em 1996, na XII Conferência Nacional
de Saúde, foi estendida a toda população brasileira, a assistência à saúde através de
um Sistema Único de Saúde (SUS) sendo estabelecido que o atendimento à saúde é
um direito do cidadão e um dever do Estado [2].
A Constituição Federal, de 1998, define como princípios do Sistema Único de Saúde:
Universalização, Integralidade, Descentralização, Hierarquização e Participação popular
[3]. O modelo de assistência do SUS é o de vigilância à saúde denominado de Programa
Saúde da Família, que abrange os três níveis de atenção à saúde: primário, secundário e
terciário [4]. O Programa Saúde da Família (PSF) existe desde 1994 e sua estratégia é
de priorizar as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde das pessoas, de
forma integral e contínua. Centralizando os esforços do seu trabalho nas Unidades
Básicas de Saúde, que são capazes de resolver, com qualidade, cerca de 85% dos
problemas de saúde da população, diminuindo o fluxo dos usuários para os níveis mais
especializados “desafogando” assim os hospitais. O atendimento prestado pode ser na
Unidade Básica de Saúde ou no domicílio, quando considerado necessário. Os Agentes
Comunitários de Saúde (ACS) são os elos fundamentais entre a comunidade e os serviços
de saúde. Os agentes compõem as Equipes de Saúde da Família - ESF [3].
O Ministério da Saúde [3,4] lançou, em 1999, o Manual para a Organização da
Atenção Básica e define que “Atenção Básica é um conjunto de ações, de caráter
individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção dos sistemas de saúde,
Recebido 10 de outubro de 2003; aceito 1 de junho de 2004.
Endereço para correspondência: Prof. Samuel dos Santos Valença, Centro Universitário Adventista de Ensino – UNASP, Coordenação de Fisioterapia Estrada de Itapecerica, 5859 Jardim IAE 05858-001 São Paulo SP, Tel.: 5822-6166 ramal 5071 / 6171, E-mail: [email protected]
ou [email protected]
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voltados para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação”.
As ações preventivas vêm sendo cada dia mais utilizadas na área da saúde. A prevenção
ou promoção da saúde é uma maneira de estar diminuindo gastos futuros para os
cofres públicos e evitar grandes epidemias que causam problemas à comunidade.
Para Ribeiro [1], prevenção é a intervenção mais precoce no processo saúde-doença,
enquanto para Candeias [5] e Czeresnia [6] promoção da saúde são ações que visam
a modificações no estilo de vida, ou seja, adoção de hábitos de vida saudáveis, na
tentativa de diminuir o risco de adoecer e morrer. Para que estes programas de
promoção da saúde tenham bom andamento são necessários profissionais devidamente
capacitados e desempenhando plenamente suas atividades. Ribeiro [1] refere que os
profissionais da área de saúde precisam ter competência técnica e compreensão dos
problemas de saúde da comunidade onde atuam e tenham noção de que assistência á
saúde é muito mais que tratar a doença.
Atuação da fisioterapia na promoção da saúde
Por muito tempo a fisioterapia ficou excluída dos serviços básicos de saúde pela sua
atuação, na maioria das vezes na reabilitação, esquecendo-se da prevenção e promoção
da saúde. Para Sampaio [7] o profissional fisioterapeuta vem desenvolvendo suas ações
voltadas para a atenção secundária e terciária, atuando em clínicas, consultórios privados
ou hospitais, com um papel de pouco destaque na atenção primária.
Antigamente a fisioterapia era definida “como tratamento de pacientes incapacitados
por doenças, traumatismo ou perda de parte do corpo, através de exercícios terapêuticos,
calor, frio, água, luz, eletricidade, ultra-som ou massagem” [8]. A fisioterapia atual vem
sendo definida “como ciência da saúde voltada ao estudo, prevenção e terapêutica dos
distúrbios cinéticos funcionais dos órgãos e sistemas do corpo humano” [9]. Para
Rebelatto et al. [10] “o fisioterapeuta tem como dever a promoção da saúde da população.
Para isso, deve haver uma atenção direcionada para assistência ao indivíduo não somente
após estar acometido por alguma patologia, mas uma preocupação com a promoção e
a manutenção da saúde e a prevenção de doenças”. Fazer prevenção é uma maneira de
agir antes que o problema ocorra. A resolução n.º 10, artigo 1º do Código de Ética do
profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, mostra que a prevenção deve fazer
parte da atuação destes profissionais. “Artigo 1º - O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional
prestam assistência ao homem, participando da promoção, tratamento e recuperação
de sua saúde”.
O fisioterapeuta e demais profissionais da saúde devem atuar na prevenção de
doenças e maus hábitos que possam prejudicar a saúde dos indivíduos. Existe, portanto,
um vasto campo de atuação para o fisioterapeuta em saúde pública podendo promover
uma melhor qualidade de vida à comunidade.
Limitações enfrentadas pela fisioterapia na promoção da saúde
O trabalho da fisioterapia na promoção da saúde nos serviços públicos é uma nova
forma de atuação e, por isso, ainda passa por dificuldades técnicas, necessitando de
adaptações e esforços. Um dos problemas enfrentados diz respeito à formação acadêmica
dos fisioterapeutas, que são despreparados para este tipo de trabalho. Para Afonso [11]
“a formação discente parece não estar voltada para a questão da prevenção, mas sim,
prioritariamente, para as técnicas de tratamento reabilitadoras”. Segundo Rebelatto [10]
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para que os fisioterapeutas tenham uma melhor qualidade de atuação depende, em
grande parte, do que é ensinado na formação destes profissionais, mas por outro lado
depende também de quanto os docentes e responsáveis por esses cursos são capazes de
transformar o conhecimento disponível em comportamentos profissionais e das próprias
características de qualidade e quantidade do conhecimento disponível. Outro problema
enfrentado é a falta dos serviços de fisioterapia e a escassez de profissionais fisioterapeutas.
A falta de recursos terapêuticos nas UBS dificulta o trabalho do fisioterapeuta que se
sente limitado na atuação, seja devido à grande demanda da população ou quanto à falta
de equipamentos e até espaço físico. Soma-se a esse fator a pouca ou nenhuma experiência
em atuação na rede básica, porque o fisioterapeuta na sua maioria está capacitado para
atuar em serviços com melhores recursos técnicos.
O atendimento domiciliar numa comunidade de baixa renda é outra nova realidade
que precisa ser encarada pelo profissional fisioterapeuta. Ao atender em domicílio ele se
vê forçado a conviver, formar vínculos com os familiares e a própria comunidade
adjacente, causando muitas vezes angústia no profissional e possível distanciamento dos
usuários. A atuação do fisioterapeuta nas UBS fica limitada por vários fatores como o
número insuficiente de profissionais disponíveis na rede básica, a urgência no tratamento
das seqüelas, sendo necessário priorizar o tratamento curativo em detrimento à prevenção.
Os pacientes também enfrentam dificuldades no acesso ao serviço de fisioterapia
da rede pública. Exemplo disso são as enormes listas de espera para receber o
primeiro atendimento e quando o recebe, às vezes, enfrentam barreiras como:
dificuldade para deslocamento (Residência – UBS) e dificuldades financeiras para o
transporte até a UBS, perdendo em alguns casos a oportunidade de recuperação e
agravamento do problema.
Alternativas de terapias
Existem vários trabalhos que propõem medidas para prevenção e alternativas de
tratamentos para pacientes com poucas complicações e até mesmo para pacientes
crônicos e/ou complexos. Cabe ao profissional de fisioterapia adequar-se e até mesmo
criar suas próprias alternativas para suprir a demanda dos atendimentos nas UBS. Além
do atendimento individualizado, as atividades em grupo têm-se mostrado uma das
possibilidades de conduta fisioterapêutica. Atividades em grupo podem contribuir para
a diminuição da demanda por atendimentos individuais e têm sido fator importante na
adesão ao tratamento. Nas referências citadas neste trabalho foram encontrados vários
métodos diferentes de se realizar atividades em grupos. Por exemplo: em um trabalho
realizado na comunidade do Gratão e Maria de Nazaré em Pernambuco no período de
março de 1998 a julho de 2000, os fisioterapeutas de uma maneira geral realizavam
atendimentos para reabilitação, atividades em grupo de: postura, hipertensos, diabéticos,
gestantes e prevenção de incapacidades em hanseníase [1]. Um outro exemplo está
sendo realizado desde 1990 no Centro de Saúde São Gabriel na cidade de Belo Horizonte
onde os fisioterapeutas atuam em programas de orientações e atividades físicas para
hipertensos, diabéticos e crianças com asma [7]. A Universidade Federal de Santa Maria
tem desenvolvido atividades do Programa Nacional de Combate ao Fumo, em conjunto
com a secretaria Municipal de Santa Maria e a Igreja Adventista, por meio de “Cursos
para deixar de fumar” desde 1993. Realizam também palestras educativas em escolas e
bairros da cidade sobre tabagismo, em feiras e exposições por meios de painéis e
esclarecimento aos visitantes [12].
Ao fisioterapeuta, a realidade é dura, às necessidades da população que o cerca são
reais, mas existe possibilidade quanto à construção de novos caminhos em sua profissão.
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Referências
1. Ribeiro KSQ. Atuação da fisioterapia na atenção primária à saúde – Reflexões a partir de uma
experiência universitária. Fisioter Bras 2002;3:311-318.
2. Almeida C. Saúde e equidade nas reformas contemporâneas. Saúde em debate 2000;24:6-21.
3. Brasil. Ministério da saúde. Manual para organização da atenção básica. Brasília, 1999.
4. Souza MH. A estratégia de saúde da família no Brasil. Jovem Médico 1999;1:1-11.
5. Candeias NMF. Conceitos de educação e de promoção em saúde: mudanças individuais e
mudanças organizacionais. Rev Saúde Pública 1997;31:1-8.
6. Czeresnia D. The concept of health and the difference between prevention and promotion.
Rev Saúde Pública 1999;15:1-14.
7. Sampaio RF. Promoção de saúde, prevenção de doenças e incapacidade: a experiência da
fisioterapia/UFMG em uma unidade básica de saúde. Fisioter Mov 2002;15:19-23.
8. Shestak R. Fisioterapia prática. São Paulo: Manole; 1980.
9. Menezes RG. Entrevista. Fisio&terapia 1998;2:12-14.
10. Rebelatto JR. Fisioterapia cotidiana: ações profissionais e decorrências para a população. Rev
Fisioter Univ São Paulo 1998;5:36-48.
11. Afonso JL. Fisioterapia na atenção primária em saúde. Ícone 1994;2:45-75.
12. Martins JS, Fröemming MB, Ribeiro EC. Fisioterapia na promoção da saúde respiratória e
no combate ao tabagismo. Fisioter Mov 1999;12:53-60.
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Resumos de trabalhos e congressos
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Márcia Gouveia da Cunha*, Cordeiro,
Renata Cereda**, Fátima Aparecida
Caromano, D.Sc.***
*Fisioterapeuta, Mestranda em
Fisiopatologia Experimental pela
FMUSP, **Fisioterapeuta, ***Profa.
Curso de Fisioterapia da FMUSP,
Laboratório de Fisioterapia e Reatividade
Comportamental do Curso de Fisioterapia
da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (LaFi-ReaCom).
Endereço para correspondência: Curso de
Fisioterapia da FMUSP, Laboratório de
Fisioterapia e Reatividade Comportamental,
A/C Fátima Caromano, Rua Cipotânea,
51, Cidade Universitária USP 05360000 São Paulo SP
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Elaboração e aplicação de teste para avaliação do equilíbrio
estático de idosos saudáveis
As quedas acidentais constituem um dos graves problemas que ocorrem
com freqüência com os idosos, estando associadas a alterações estruturais e
funcionais. A intervenção preventiva depende da detecção precoce da perda
de equilíbrio estático e dinâmico. O objetivo deste estudo foi a criação de um
teste simples e de baixo custo, para a avaliação do equilíbrio estático de idosos
considerados saudáveis, sem história pregressa de acidente por queda e posterior
avaliação de sua aplicabilidade clínica. Para tanto, realizou-se um conjunto de
testes de equilíbrio estático, previamente filmados em vista frontal e lateral, em
80 participantes (55 mulheres) com idade média de 66,2 ± 5,3 anos. Os
participantes foram distribuídos em dois grupos, o grupo A com idade entre
61 e 66 anos e o grupo B com idade variando entre 66 anos e um mês e 71
anos. Foram atribuídos graus de desempenho, variando de 1 a 5, em oito
tarefas motoras que constituíam na permanência em apoio unipodálico,
associando-se realização de diferentes movimentos com os membros superiores
e, apoio bípede com descarga de peso somente na região anterior do pé ou
nos calcâneos. De acordo com o escore total atingido por cada participante,
estes foram classificados em portadores de equilíbrio bom, regular ou
insuficiente. A maioria dos participantes do grupo B apresentou equilíbrio
regular (75%), apenas 15% apresentaram equilíbrio bom e, 10% apresentaram
equilíbrio insuficiente. No grupo A, 40% dos participantes apresentaram
equilíbrio regular e, 60% apresentaram equilíbrio bom, não tendo sido
encontrado participantes com equilíbrio insuficiente. Não foi observada
diferença estatisticamente significativa entre os participantes do sexo feminino
e os do sexo masculino. O conjunto de testes utilizado se mostrou rápido em
função do fato de se utilizar filmagem ao invés de observação direta,
diminuindo o tempo de exame de 15 para 6 minutos. Também se mostrou de
baixo custo, com geração de dados permanentes (viáveis de serem comparados
em diferentes tempos ou situações) e geraram informações que permitem ao
fisioterapeuta estabelecer objetivos clínicos preventivos, no que se refere ao
treinamento de equilíbrio estático. O conjunto de testes utilizados se mostrou
suficiente para detectar diferenças funcionalmente relevantes em dois grupos
com diferença de faixa etária de cinco anos. Este estudo é indicativo da
necessidade de avaliação periódica do equilíbrio estático em jovens idosos.
Nossa opinião é de que estes testes devem ser acompanhados, por filmagem,
de forma comparativa no tempo, o que facilitaria a decisão clínica sobre a
intervenção preventiva.
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Regina Célia ReisCuatttrin *,
Fátima Aparecida Caromano**
Análise descritiva da flexibilidade em canoístas
de velocidade de elite
*Fisioterapeuta, especialista em
Morfofisiologia Aplicada ao Exercício pela
Universidade Estadual de Maringá,
***Profa. Curso de Fisioterapia da
FMUSP, Laboratório de Fisioterapia e
Reatividade Comportamental do Curso de
Fisioterapia da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (LaFiReaCom)
Introdução: A canoagem de velocidade é uma modalidade olímpica
caracterizada por competições que variam de 1’15" à 3’50". Os atletas desta
modalidade necessitam de uma preparação física adequada para ganho de
resistência cardiorespiratória, velocidade, flexibilidade, força e resistência. Este
trabalho foi realizado com os atletas da Seleção Brasileira de Canoagem de
Velocidade e, teve como objetivo caracterizar a flexibilidade por meio do teste
de ombro e do teste de flexão anterior de tronco modificado.
Material e Métodos: Participaram do estudo os nove atletas da Seleção Brasileira
de Canoagem de Velocidade, com idade variando entre 18 e 28 anos (média de
21,5 anos) e tempo médio de prática de 5,8 anos, em seu local de treinamento
na cidade de Piraju SP. A coleta de dados dos testes foi realizada no período
matutino. A flexibilidade do ombro foi medida através do registro fotográfico
da distância alcançada pela mão durante a flexão anterior do tronco e pelo teste
do ombro - quando o ombro direito estiver sendo medido, a palma da mão
direita posicionou-se voltada para as costas e dorso da mão esquerda ficou
repousando sobre as costas. Para medir a flexibilidade do ombro esquerdo
posicionou-se de forma inversa. A mensuração da flexibilidade dos músculos
do tronco, pelve e membros inferiores foi realizada por meio do programa
software CAD 2000.
Resultados e Discussão: Foi observado que existe uma assimetria clinicamente
significativa da musculatura da cintura pélvica no desempenho do teste de ombro
em 4 dos 9 atletas avaliados. Esta assimetria poderá ser causa de deformidade
torácica, e sugeriu-se tratamento de reeducação funcional. Todos os participantes
apresentaram flexibilidade ótima, isto é, a distância dedo-chão estava além da
encontrada para população normal para esta faixa etária.
Endereço para correspondência: Curso de
Fisioterapia da FMUSP, Laboratório de
Fisioterapia e Reatividade Comportamental,
A/C Fátima Caromano, Rua Cipotânea,
51, Cidade Universitária USP 05360-000
São Paulo SP
Fig. 1 - Teste dedo-chão em atleta canoísta de elite mostrando quadro funcional característico
com excelente flexibilidade, leve bloqueio torácico baixo, e leve encurtamento de isquiotibiais.
A mensuração mostrou um deslocamento médio extra da mão, além da
planta do pé, de 21,7 cm ± 6,8 cm. É característico da população estudada leve
bloqueio da mobilidade na região torácica baixa e leve encurtamento de
isquiotibiais. Acredita-se que a assimetria observada no teste de ombro de alguns
dos atletas avaliados esteja relacionada com a aplicação desigual da força durante
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o movimento da remada. Teoricamente essa aplicação de força deveria ser igual
em ambos os braços.
Conclusão: O teste de ombro mostrou assimetria da musculatura em 4 dos 9
atletas avaliados. Acredita-se que a assimetria observada esteja relacionada com
a aplicação desigual da força durante o movimento da remada. Acredita-se que
o padrão de flexibilidade encontrado esteja biomecanicamente relacionados com
a estabilidade do tronco superior e da pelve e, da respiração, de forma simultânea,
durante a remada, favorecendo o movimento e protegendo o tronco.
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Beatriz Calil Padis Campos*, Ronaldo
Luís da Silva*, Maria Sílvia Pardo**,
Fátima Aparecida Caromano***
*Fisioterapeuta, Pesquisador voluntário,
**Fisioterapeuta e Mestranda em
Fisiopatologia Experimental-FMUSP,
***Profa. Curso de Fisioterapia da
FMUSP, Laboratório de Fisioterapia e
Reatividade Comportamental do Curso de
Fisioterapia da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (LaFiReaCom)
Endereço para correspondência: Curso de
Fisioterapia da FMUSP, Laboratório de
Fisioterapia e Reatividade Comportamental,
A/C Fátima Caromano, Rua Cipotânea,
51, Cidade Universitária USP 05360000 São Paulo SP
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Composição corporal em jovens idosas
sedentárias saudáveis
Introdução: A obtenção de medidas referentes à composição corporal é baseada
no princípio de que a condutividade elétrica da massa livre de gordura é muito
maior que a de gordura para uma corrente elétrica de alta freqüência e baixa
amplitude. Trata-se de uma técnica rápida, não invasiva, de baixo custo e capaz
de fornecer medidas como porcentagem de gordura corporal, peso magro,
metabolismo basal em calorias/dia e água corpórea total. Este tipo de medida
fornece um controle acurado da composição corporal em estudos que
acompanham o paciente por período prolongado, evitando assim, viés de
pesquisa. Medidas com a população brasileira estão sendo desenvolvidas. O
objetivo do estudo foi de estudar a composição corporal numa população de
mulheres idosas, comparando os dados obtidos com os dados de literatura,
utilizando o analisador de composição corporal Biodynamics.
Material e Métodos: Foram selecionadas 106 mulheres idosas sedentárias e
saudáveis, com idade média de 69,94 anos (mínima de 65anos e máxima de 75
anos), peso médio de 64,68 kg (mínimo de 55 kg e máximo de 86 kg) e, altura
média de 153 cm (mínimo de 141 cm e máximo de 165 cm). Os participantes
foram posicionados em decúbito dorsal em maca de madeira. Os eletrodos,
em número de quatro, foram posicionados aos pares no tornozelo e no punho.
A coleta de dados a partir do exame durou em média dois minutos. Para maior
fidedignidade dos dados coletados foram controlados num período de 24 horas
anterior ao exame, a ingestão de álcool, realização de exercício físico, ingestão
de alimentos em excesso e uso de diuréticos – que poderiam afetar as medidas.
Resultados: Os dados foram submetidos à análise estatística descritiva.
Encontrou-se porcentagem média de gordura total de 36,75% (± 8,4%, mínimo
de 28,9% e máximo de 45,2%), peso magro médio igual a 62,82 kg (± 12,9 kg,
mínimo de 41,2 kg e máximo de 70,03 kg), porcentagem de água corpórea
total média de 48,3 l (± 5,4 l, mínima de 39,6 l e máxima de 56 l) e, metabolismo
basal de 123,1 kcal/dia (± 22,0 kcal/dia, mínimo de 838 kcal/dia e máximo de
1515 kcal/dia).
Discussão e Conclusão: Os dados encontrados para a população estudada são
próximos dos encontrados em estudos similares e publicados em revistas
especializadas, mesmo comparando-se os dados obtidos neste estudo com os
obtidos por meio de calorimetria e pesagem subaquática. Sugere-se a
continuidade do estudo com a ampliação da amostra, em diferentes faixas etárias,
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com pessoas de diferentes níveis socioeconômicos e, a avaliação do efeito da
prática de atividade física e/ou esporte nas variáveis estudadas.
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Daniela Valadão Freitas Rosa*, Glauco
Gomes de Arantes**, Juliana Carvalho
Reis*, Luís Gustavo Machado Soares*,
Paulo César Tostes Campos Júnior***
*Fisioterapeuta, **Médico,
***Farmacêutico
Endereço para correspondência: Juliana
Carvalho Reis, Fundação Educacional de
Caratinga, Centro de Pesquisa e Extensão
Joaquim Eure Pereira, Avenida Moacir de
Mattos, 49, Centro, Caratinga MG, Email: [email protected]
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Relevância da atividade física no tratamento
de transtornos depressivos
Objetivo: Avaliar a importância da atividade física supervisionada no tratamento
de transtornos depressivos.
Métodos: O presente estudo utilizou uma amostra de quinze pacientes que
apresentavam transtornos depressivos, não estavam em tratamento no momento
e tinham idade superior a 21 anos, os quais foram submetidos à avaliação pela
Escala de Hamilton para quantificação e caracterização do transtorno depressivo.
Em seguida, foi realizada randomização duplo-cego para distribuição de
fluoxetina (20 mg) e placebo e randomização para atividade física e grupo controle.
No entanto, foram formados quatro grupos: grupo 1: fluoxetina e atividade
física, grupo 2: placebo e atividade física, grupo 3: fluoxetina e grupo 4: placebo.
Os grupos em atividade física realizaram treinamento aeróbico três vezes
semanais, durante uma hora, por quinze semanas. Ao final, foi realizada nova
avaliação pela Escala de Hamilton.
Resultados: O grupo que realizou atividade física e fez uso de fluoxetina
apresentou melhora mais significativa, todavia o grupo que realizou atividade
física e fez uso de placebo também apresentou melhora importante.
Conclusão: A atividade física não associada a farmacoterapia pode melhorar
os sintomas depressivos.
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Normas de publicação Fisioterapia Brasil
A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade
bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos
científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia.
Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser
publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros
meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que
pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições.
A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform
requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N
Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê
Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações
que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses
Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical
Journal Editors (ICMJE), htpp://www.icmje.org, na versão atualizada
de outubro de 2001.
Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da
revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/email) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não
implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor.
O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno
de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos
recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico,
limitando-se unicamente ao estilo literário.
1. Editorial
Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um
de seus membros.
Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em
corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com
todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito,
etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências.
2. Artigos originais
sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas
científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo
dos artigos originais.
4. Atualização ou divulgação
São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre
tema de interesse dos profissionais de Fisioterapia (novas técnicas,
legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um
artigo de revisão.
5. Relato de caso
São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando
um método ou problema através de exemplo. Apresenta as
características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade
e pode ser realizado em humano ou animal.
6. Comunicação breve
Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior
rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações,
resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar
comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de
argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor.
Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras
digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em
Power Point, Excel, etc
Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências
bibliográficas.
5. Resumos
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando
dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais
ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de
dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes
itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão.
Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato
A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc.
Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word.
Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato
.tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc.
Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências
bibliográficas.
Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de
rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão
da exposição, assim como a qualidade literária do texto.
Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos
inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê
Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas.
6. Correspondência
Esta seção publicará correspondência recebida, sem que
necessariamente haja relação com artigos publicados, porém
relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a
artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou
trabalho antes de se publicar a carta.
Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações
anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras.
PREPARAÇÃO DO ORIGINAL
3. Revisão
1. Normas gerais
São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à
Fisioterapia, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de
texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira:
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 3 - maio /junho de 2004
fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações
de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.
1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada
tabela junto à mesma.
1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as
especificações anteriores.
As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com
qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem
estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif.
1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução,
material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O
autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o
espanhol e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser
efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou e-mail. Para os
artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar
uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM
o nome do artigo, data e autor.
2. Página de apresentação
A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações:
- Título em português, inglês e espanhol.
- Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e
títulos acadêmicos.
- Local de trabalho dos autores.
- Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o
respectivo endereço, telefone e E-mail.
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação.
- As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc.
3. Autoria
Todas as pessoas consignadas como autores devem ter
participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade
pública do seu conteúdo.
O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições
essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e
interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma
parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da
versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as
condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos
ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão
geral do grupo de pesquisa também não é suficiente.
4. Resumo e palavras-chave
(Abstract, Key-words)
Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo
150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os
estruturados), seguido da versão em inglês.
O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações:
- Objetivos do estudo.
- Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise).
- Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos).
- Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade.
Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para
facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos
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utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca
Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: http://
decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes.
5. Agradecimentos
Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e
material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios
farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências,
em uma secção especial.
6. Referências
As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver
definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas
devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e
relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as
seguintes normas:
Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de
seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se
diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão,
ponto, páginas inicial e final, ponto.
Exemplo:
Livro:
May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986
Capítulo ou parte de livro:
Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor.
Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed.
New-York: Raven press; 1995. p.465-78.
Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do
trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto
e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e
final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas
são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of
Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais,
disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar
a abreviação latina et al.
Exemplo:
Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization
of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas.
Cancer Res 1994;54:5016-20.
Os artigos, cartas e resumos devem ser
enviados para:
Jean-Louis Peytavin
Atlantica Editora
Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
20021-180 Rio de Janeiro RJ
Tel: (21) 2221 4164
E-mail: [email protected]
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Calendário de eventos
2004
Junho
30 de junho a 3 de julho
Physical Therapy 2004: Annual Conference
& Exposition of the American Physical
Therapy Association
Chicago, Illinois
Informações: www.apta.org
8 a 10 de julho
Biomecânica craniofacial e fisiopatologia
temporomandibular
Prof. Dr. Mariano Rocabado
Centro de Convenções de Pernambuco - Recife PE
Informações: [email protected]
www.oclusivo.com.br
Setembro
29 de setembro a 2 de outubro
XII Simpósio Internacional de Fisioterapia Respiratória
- Prática Baseada em Evidência
Centro de Convenções Topázio Imperial
Ouro Preto MG
Informações: Congress Eventos (31) 3273 1121
02 de outubro
II Simpósio em Fisioterapia Esportiva
Araras SP
Informações: (19) 9740-0906
Julho
9 e 10 de julho
II Curso de fisioterapia hospitalar
Dra Beatriz Brandão e Dra Lilian Santos
HSE (Hospital dos Servidores do Estado) Rio de Janeiro RJ
Informações: (21) 2253 6462/33311958
E-mails: [email protected], [email protected]
13 a 17 de julho
X Eneefisio
Natal RN
Informações: (84) 206-2639 / 9408-5068 / 9431-6036
26 a 30 de julho
XIX CSBMFR - Congresso Brasileiro de Medicina
Física e Reabilitação
PUC - Rio - Rio de Janeiro - RJ
Informações: www.angraeventos.com.br (21) 2554-9334
28 a 30 de julho
I Congresso Mundial de Estudantes de Fisioterapia
Santiago Chile
Informações: (02) 7512261
Agosto
20 e 21 de agosto
X Simpósio Internacional de Ventilação Mecânica
e I Simpósio Internacional de Ventilação Mecânica
em Neonatologia e Pediatria
São Paulo SP
Informações: (11) 5018-4730 / 5018-4729
08 a 12 de outubro
XXXVII ENAF
Poços de Caldas MG
Informações: (35) 3222-2344
16 e 17 de outubro
V Congresso Internacional de Reeducação Postural
Global - RPG
Roma, Itália
Informações: (33) 5. 62.69.63.18 / (33) 5. 62.69.61.93
E-mail: [email protected]
www.rpgsouchardinst.com.br
19 a 22 de outubro
IV CONNEFI
São Luis MA
Informações: (98) 9116-5025
27 a 30 de outubro
II Congresso Internacional de Fisioterapia Manual
Centro de Convenções da Universidade Federal
de Pernambuco
Informações: www.fisioterapiamanual.com.br
Novembro
5 a 7 de novembro
II Congresso Internacional de Fisioterapia
I Congresso Nacional de Fisioterapia Social
III Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico
Cinesiológico Funcional
Rio Centro
Rio de Janeiro RJ
Informações: www.sbf.org.br
10 a 13 de novembro
V Interdisciplinary World Congress on
Low Back and Pelvic Pain
Austrália
[email protected]
27 a 28 de agosto
Confit – Congresso de fisioterapia no trabalho
Centro de Exposições Imigrantes
São Paulo SP
Informações: Pacin Eventos (11) 5589-1489
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Índice
(vol.5, nº4 julho/agosto 2004 - 257~332)
EDITORIAL
Seja bem vinda, Revista Neurociências, Marco Antonio Guimarães da Silva ............................................................................259
Homenagem a Suely Marques, Tania Maria Alvarez Dias ............................................................................................................ 260
ARTIGOS ORIGINAIS
O valor moral de uma estimulação precoce humanizada na encefalopatia crônica infantil,
Lília Athayde Abelheira, Heron Beresford ..................................................................................................................................................... 261
Características e diferenças da dor sacroilíaca e lombar durante a gestação em mulheres primigestas
e multigestas, Fabiana Flores Sperandio, Gilmar Moraes Santos, Fernanda Pereira .............................................................................. 267
Fisioterapia
no pós-operatório
imediato de artroplastia total de joelho,
Fisioterapia
prática
Adriana Lucia Pastore e Silva, Luciano de Arruda Castelo .........................................................................................................................272
O uso do ultra-som terapêutico no tendão calcâneo visando o aumento da amplitude de movimento,
Gisele Cirelli, Mario Adrian Misailidis, Maria Eugenia Briet da Silva, Michele Hoshino .......................................................................... 279
Uso do simulador do paciente humano em UTI: um novo paradigma na relação aluno-aprendizagem,
Rachel Maria da Silva Bezerra, Carlos Alberto Caetano Azeredo, Fabio Cavalcanti ................................................................................. 285
Efeitos da vibração sonora de baixa freqüência na espasticidade e controle motor de pacientes
de acidente vascular encefálico com reflexo tônico cervical assimétrico (RTCA), Graziela Saraiva Reis,
Lúcia Souza Magro, Nivaldo Antônio Parizoto, Paulo Umeno Koeke, Flávio Pulzatto ............................................................................... 289
A resposta da TENS no controle da dor miofascial dos pacientes portadores de disfunção
temporomandibular, Roberta de Medeiros Bezerra Freire Martins, Millena Hanóika Silva Marques Santos,
Robson Alves da Silva, Nayara Frota Rosado Gondim, M.Sc. ....................................................................................................................293
REVISÃO
As bases estruturais e moleculares da contração muscular, Verônica Salerno Pinto,
Valéria
Pereira de
Sousa, L. C. Cameron ......................................................................................................................................................298
Ginástica
Laborativa
ESTUDO DE CASOS
O uso da eletroestimulação nervosa transcutânea como recurso de alívio de dor no trabalho
de parto em um contexto de humanização da assistência obstétrica, Cristine Homsi Jorge Ferreira,
Ana Márcia Spanó Nakano, Juliana Vilela Bueno, Maria Letícia Giublin Teixeira Sanches .................................................................... 307
Tratamento fisioterapêutico na sequela da lesão medular cervical (C2 e C3), Emanuelle Chaves Mendonça,
Gerson Dantas Soares, Lusicleide Galindo da Silva, Maria Elma de Souza Maciel Soares, Gisele Barros Soares ..................................... 312
ATUALIZAÇÃO
Atuação fisioterapêutica no aleitamento materno e na intercorrência mamária: proposta de tratamento,
Ana Cristina da Nóbrega Marinho ...............................................................................................................................................................317
RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ...................................................................................................................... 321
LIVROS ........................................................................................................................................................................................................ 327
NORMAS DE PUBLICAÇÃO ............................................................................................................................................................. 329
EVENTOS .................................................................................................................................................................................................. 331
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Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004
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Fisioterapia Brasil
Editor científico
Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro)
Conselho científico
Profa. Dra. Fátima Aparecida Caromano (USP - São Paulo)
Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina)
Prof. Dr. LC Cameron (UNIRIO - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos)
Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais)
Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa)
Prof. Dr. Norberto Peña (Univ. Federal da Bahia - UFBA – Bahia)
Prof. Dr. Roberto Sotto (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina)
Profa Dra Tania de Fátima Salvini (UFSCAR - São Paulo) Grupo de assessores
Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina)
Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro)
Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná)
Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro)
Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo)
Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador)
Dra. Luci Fabiane Scheffer Moraes (Univ. do Sul de Santa Catarina)
Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro)
Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro)
Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo)
Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia)
Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná)
Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo)
Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro)
Dr. Philippe E. Souchard (Instituto Philippe Souchard)
Profa Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro)
Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro)
Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro)
Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro)
Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro)
Revista Indexada na LILACS - Literatura
Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde
Direção de arte
Andréa Vichi
Rio de Janeiro
Rua da Lapa, 180/1103
20021-180 - Rio de Janeiro - RJ
Tel/Fax: (21) 2221-4164 / 2517-2749
e-mail: [email protected]
www.atlanticaeditora.com.br
Administração
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01037-010 - São Paulo - SP
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Editor executivo
Dr. Jean-Louis Peytavin
[email protected]
Assinaturas
6 números ao ano + 1 CD-ROM
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Editores associados
Dr. André Luís Santos Silva
Drª. Tiene Deccache
Rio de Janeiro: (21) 2221-4164
Representante de Assinatura: A.Shalon
(11) 3361-5595
Publicidade e marketing
René Caldeira Delpy Jr.
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Atendimento ao assinante
Ingrid Haig
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Todo o material a ser publicado deve ser
enviado para o seguinte endereço
por correio ou por e-mail
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Ilustração da capa: Umberto Boccioni, La rue entre dans la maison 1911 – óleo sobre tela (100 x 100 cm)
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propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção
na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante.
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Editorial
Seja bem vinda,
Revista Neurociências
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Prof. Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva
[email protected]
* Editor científico de Fisioterapia Brasil
Pós Doutorado na UFRJ
Professor do curso de mestrado da UCB
No editorial anterior, havíamos falado sobre os equívocos que todos os que
trabalhamos com a pesquisa experimental envolvendo seres humanos cometemos. Ainda
que não tenha recebido nenhuma notificação, vale a pena ressaltar, a título de não
cometer injustiças, que as investigações realizadas com animais em laboratórios costumam
constituir um padrão de excelência, geralmente imune aos vieses que tanto nos
atormentam na pesquisa clínico-experimental. Não há como deixar de evocar a concepção
cartesiana e, dentro dela, relembrar o tão temido e estigmatizado mecanicismo: tudo na
natureza segue o perfeito funcionamento de uma máquina, as mesmas causas provocando
sempre os mesmos efeitos; a indissociável relação do mecanicismo com a causalidade, a
justificar os que, na ciência devem trabalhar como a precisão de uma cosmografia
ptolomaica (antes de Galileu).
Terminada a justificativa que se fazia necessária à omissão editorialística anterior,
sento-me próximo a estante e ponho-me a olhar vagamente para os livros, buscando,
inconscientemente, um tema que me leve a este editorial. Em meu socorro, eis que se
projetam dali os livros de Antonio Damásio (O erro de Descartes, O Mistério da consciência e
Em busca de Espinosa). Em um suposto paradoxo, o autor português, eminente investigador
de linha experimental, subordinado às regras da certeza matemática, acaba criticando,
em uma de suas obras, o criador do universalmente conhecido “Cogito, ergo sum”. Foi
exatamente esta aparente contradição que me chamou atenção para tentar estabelecer
uma conexão entre os dois tipos de pensamento: o pautado na subjetividade e o estruturado
na objetividade.
Embora Damasio pareça, salvo interpretações pessoais infundadas, ter cometido
algumas injustiças com Descartes, revela-se um neurocientista de primeira linha e
contextualiza, de forma primorosa, em seus livros, as relações de unidade mente e
corpo. Em sua última obra, busca um paralelo sem igual com a filosofia de Espinosa e
acaba conduzindo o leitor a estruturar um pensamento que, longe de confronto, tenta
imaginar uma comunhão dos mundos da investigação. A partir daí, somos, inevitavelmente,
levados a buscar, nas distintas áreas das ciências, um paradigma que permita a amigável
convivência das pesquisas filosóficas histórico-sociais com os legados cartesianos deixados
por Kepler, Copérnico, Descartes e cia.
Ainda que a obra de Damásio tenha acendido a chama para me levar a pensar
nesta integração de diferentes campos de pesquisa, ela se presta também a realçar as
contribuições e esclarecimentos que a Neurociência vem trazendo aos mais diversos
campos do conhecimento.
A Atlântica Editora, atenta à importância do assunto, passa a publicar uma revista
sobre a área, reunindo expoentes da Neurociência no Brasil que também gozam de
grande prestigio junto à comunidade acadêmica internacional. Quem sabe, em um futuro
próximo, não vejamos publicações cujos resultados tenham sido oriundos do matrimônio
cientifico, tendo como noivos o casal objetividade e subjetividade?
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004
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Homenagem
Homenagem a Suely Marques
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Tania Maria Alvarez Dias
Professora das disciplinas de História e Fundamentos da Fisioterapia, Ética e
Deontologia, Fisioterapia aplicada a Traumato-Ortopedia e Reumatologia
E-mail: [email protected].
No último dia 30 de junho de 2004, partiu nossa querida mestra Dra. Suely Marques,
uma mulher que conduziu sua vida com nobreza e retidão. Escreveu várias páginas da
história da Fisioterapia no Rio de Janeiro, principalmente os primeiros capítulos, os mais
desafiadores e árduos. Pioneira, não apenas travou uma luta pessoal pelos fisioterapeutas,
mas acima de tudo na defesa da Fisioterapia como ciência e na preparação deste grupo
para dominá-la.
Admirável sua paixão pela profissão, fez dela sua filosofia de vida, pois teve a
oportunidade em participar como terapeuta e paciente. Ensinou-me muito esta formidável
mestra, com o qual tive a boa sorte em trabalhar por alguns anos, mantendo um
relacionamento (mesmo após sua saída da ABBR) como profissional e, em um segundo
momento como paciente. Sinto-me aliviada por ter exposto pessoalmente por diversas
vezes minha gratidão a sua participação em minha formação profissional.
Aprendi com Suely a filosofar e atentar para a beleza do exercício da fisioterapia.
Aprendi que nossas mãos não apenas tocam estruturas anatômicas, que movimentos de
nossos corpos são emprestados a outros corpos quase inertes em decorrência de doenças
incapacitantes. Enfim, aprendi a poesia que permeia e emolduram nossa profissão.
Nos momentos de sua supervisão e orientação técnica eu observava atentamente o
desejo em transmitir sua experiência e conhecimento e que seu aluno realmente
assimilasse. Esta é uma atitude nobre e digna na relação professor / aluno. O verdadeiro
mestre é aquele que deseja que seu discípulo o supere e o conduz para esta realização.
Parta em paz querida mestra, nós Fisioterapeutas prometemos dar continuidade ao
seu trabalho, herdar sua paixão pela fisioterapia e acima de tudo honrar este perfil
profissional que você ajudou a delinear e esculpir ao longo destes anos.
Muitíssimo obrigada
Fisioterapia Brasil - Volume 5 - Número 4 - julho /agosto de 2004
261
Artigo original
O valor moral de uma estimulação precoce
humanizada na encefalopatia crônica infantil
The moral value of a humanized early psychomotor
stimulation in chronic child cerebral palsy
Lília Athayde Abelheira, M.Sc., Heron Beresford, D.Sc.
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*Docente do curso de graduação em fisioterapia da UCB e UNIG, **Professor titular da UCB, professor adjunto da UERJ
Palavras-chave:
estimulação precoce, ética,
paralisia cerebral,
desenvolvimento infantil.
Resumo
A maneira desumana com que são tratados muitos pacientes portadores de
encefalopatia crônica infantil (ECI), que necessitam de estimulação psicomotora
precoce, desenvolvida por profissionais da saúde, se constitui no problema do qual se
originou este artigo. O objetivo do mesmo foi desenvolver uma fundamentação teórica
acerca de uma estimulação psicomotora precoce humanizada voltada para crianças
portadoras de ECI, com o propósito de se contribuir para minimizar a desvalorização
desses pacientes como Pessoas Humanas. A fundamentação teórica utilizada para a
consecução desse objetivo, foi baseada no pensamento de vários autores. A metodologia
adotada teve como tipol
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