reorganização da escola: trajetórias entre jornada ampliada e

Propaganda
REORGANIZAÇÃO DA ESCOLA: TRAJETÓRIAS ENTRE JORNADA
AMPLIADA E TEMPO INTEGRAL
Joelci Mora Silva1 - UFMS
Célia Beatriz Piatti2 - UFMS
Grupo de Trabalho - Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Básica
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este relato tem como temática a educação integral em tempo integral, e traz a experiência
vivenciada no Curso de Extensão/Aperfeiçoamento intitulado “Proposta Curricular e
Metodologia na Educação Integral”, oferecido pela Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS) para professores e demais profissionais vinculados a escolas públicas da
Educação Básica inseridas no Programa Mais Educação ou de tempo Integral, professores da
Educação Básica e profissionais da Educação Infantil, realizado com momentos a distância e
presenciais, nos polos de Campo Grande e Corumbá, entre 18 de outubro de 2014 e 10 de
agosto de 2015, em parceria com a Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC). O objetivo
principal deste trabalho foi propor uma reflexão crítica acerca da reorganização dos temposespaços escolares na educação de tempo integral, partindo das participações dos cursistas em
um fórum de discussão on-line, postadas no ambiente Moodle. Consideramos especialmente
relevante o momento em que podemos entrar em contato com os conceitos formados por
nossos(as) alunos(as). Destacamos esta discussão pela importância do tema e pela
contribuição das inserções dos cursistas. Fundamentamos as discussões com o auxílio da
Teoria Histórico-Cultural e de estudos da área de Educação Integral. Como resultado, destacase a importância de considerar as participações dos cursistas, como uma forma de evidenciar
suas reflexões e concepções evocadas pela troca de saberes ali realizada. Assim, cumpre-se
com o objetivo de oferecer aos professores, agentes culturais e aos demais profissionais da
educação, em formação, condições de observar e introduzir nas suas reflexões novas
concepções acerca da ampliação da jornada escolar e as implicações desta ampliação no
âmbito das políticas públicas em Educação.
Palavras-chave: Educação em tempo integral. Teoria Histórico-cultural. Fazer docente.
1 Mestre em Educação: Educação, Psicologia e Prática docente pela Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS). Doutoranda em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMS. Bolsista
CAPES. Tutora do curso “Proposta Curricular e Metodologia na Educação Integral”. Integrante do GEPPE Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia e Educação. E-mail: [email protected].
2 Doutora em Educação: Educação, Psicologia e Prática docente pela Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul (UFMS). Professora Adjunta da UFMS. Coordenadora do curso Licenciatura em Educação do Campo
UFMS. E-mail: [email protected]. Professora pesquisadora do curso “Proposta Curricular e Metodologia
na Educação Integral”. Integrante do GEPPE - Grupo de Estudos e Pesquisa em Psicologia e Educação.
ISSN 2176-1396
2972
Introdução
Vivemos em um mundo rumoroso, sempre preocupados com o tempo. Que tempo é
esse? Conceituar tempo é uma tarefa difícil, pois existem muitos “tempos”. De acordo com a
definição do dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), tempo significa uma série ininterrupta e
eterna de instantes, medida arbitrária da duração das coisas em época determinada.
Na perspectiva dessa definição, é possível considerar que há tempo para todas as
coisas, mas, às vezes, falta o tempo para concretizar tudo que é preciso. Medimos tudo em
tempo. São datas, horas, dias, semanas, meses e anos, provocações diárias que nos permitem
olhar o tempo e controlá-lo. O tempo é objetivado pelo homem por meio de objetos de
contagem e controle como relógios e calendários.
Localizamo-nos no tempo e pelo tempo com perguntas simples que, no cotidiano, são
fortes indícios do tempo ou da falta dele. Que horas são? Que dia é hoje? Quando será o
acontecimento? Consideramos que o tempo é movimento, é devir, é dialético e, portanto, é
educativo, é formativo. Desse modo, compreender o tempo de formação integral é entender a
premência de estratégias metodológicas para que esse tempo seja de aprendizado integral e
integrado.
Por esse prisma, compreendemos que a Educação em tempo integral é um tempo
destinado à formação – escola, família e sociedade - imbuídas no mesmo objetivo para que
esse tempo na escola seja de articulação com as comunidades fora da escola e, portanto, para
além da sala de aula.
Nessa perspectiva, temos como princípio que todo tempo é tempo de aprender e, nesse
sentido, a escola em tempo integral é ambiente propício e motivador para integrar a criança e
o jovem em diferentes modalidades de aprendizagem.
Com o objetivo de compreender as concepções dos participantes do curso “Proposta
Curricular e Metodologia na Educação Integral” acerca da questão da reorganização espaçotempo nas escolas de tempo integral, analisamos as respostas de um fórum de discussão,
realizado no ambiente Moodle, como atividade livre da “Unidade 1 - Educação integral em
tempo integral: conceitos, impasses e possibilidades” do segundo módulo intitulado
“Educação integral em tempo integral como política pública”, onde foram lançados
questionamentos acerca da interlocução dos assuntos educação integral, jornada ampliada, e
escola em tempo integral.
2973
Para ilustrar nossas discussões apresentaremos recortes do fórum citado com excertos
que representam a compreensão dos cursistas ao serem provocados a refletir sobre as questões
em tela.
Jornada ampliada e tempo integral: discussões acerca da reorganização do tempoespaço na escola
Na Educação Integral, organizar os tempos e os espaços é prioridade para compor
práticas e propostas que realmente correspondam e legitimem o tempo mais prolongado na
escola. Cabe aqui questionar: Que tempos são esses?
Para incentivar tal reflexão foi proposto o fórum on-line “Reorganização da escola:
trajetórias entre jornada ampliada e tempo integral”, postado no ambiente Moodle no dia 02
de dezembro de 2014, lançando uma discussão com os seguintes questionamentos:
a) É possível professores e alunos, escolas e comunidades participarem de diferentes
projetos sociais, culturais, educacionais, esportivos, de lazer, políticos entre outros
em prol de uma jornada ampliada? Como?
b) Qual é o compromisso de gestores, professores e pais que assumem a escola de
Educação Integral?
c) Como criar arranjos educativos locais e ações intersetoriais na ação da escola de
tempo integral?
d) Por que a Educação Integral está em evidencia hoje, na mídia, nas escolas e em
todo contexto Educacional?
e) Como dinamizar um currículo na configuração de uma escola de tempo integral?
Selecionamos o tópico quatro deste fórum, por ter o maior número de participações,
para que pudéssemos analisar, além das concepções, a dinâmica da discussões provocada por
estas indagações. Destacamos algumas impressões, que serão expostas a seguir, entremeando
e compondo o exame da questão e a reflexão teórica acerca deste tema.
Iniciaremos com o depoimento de uma cursista sobre o que se espera da Educação
Integral:
Educação Integral pressupõe escola pública, de qualidade, igualitária e com acesso
para todos, em articulação com espaços/políticas/atores que possibilitem a
construção de novos territórios/espaços físicos e simbólicos de educação pública.
Eis o desafio que se apresenta! (CURSISTA 2).
2974
Para entender o que é educação integral é necessário ter em mente que este tema conta
com desdobramentos que abarcam desde a pura acepção do termo integral até os programas
ensejados pelo Ministério da Educação. Em nenhum momento eles divergem, ao contrário,
demonstram uma complementação e um crescimento de intensidade e amplitude que
convergem para um objetivo comum.
Podemos iniciar com o significado puro da palavra integral - pleno, total, inteiro - já
deparamos com os adjetivos que simultaneamente fundamentam e explicam as características
dessa vertente educacional.
Ao buscarmos o significado da palavra integral, encontramos a seguinte definição no
dicionário Aurélio (1999): "inteiro, total, completo". A partir desse conceito, concebemos a
escola integral como a possibilidade de uma educação completa. Portanto, consideramos que
essa educação não é apenas um espaço para a criança ficar aos cuidados dos professores, mas
um ambiente no qual o tempo é sempre de formação, de constituição de sujeitos em todos os
aspectos de seu desenvolvimento.
Para que isso se concretize no contexto escolar, é necessário um repensar de quase
todas as características vistas hoje nas escolas públicas brasileiras. Para além da justa
preocupação com as instalações físicas precárias, materiais insuficientes, dentre outros
problemas, a educação integral propõe importantes alterações nas relações postas do fazer
docente.
Dentre estas alterações, destaca-se a maneira de percepção do tempo e do espaço no
processo de ensino e de aprendizagem, que passam a ser considerados de forma mais ampla e
abrangente.
Pensar e propor uma educação integral é avançar na reflexão e possível ação sobre o
direito de mais tempo de educação. Para Arroyo (2012), é preciso pensar sobre a relevância
política dos programas anteriormente citados, os quais ocupam cada vez mais a centralidade
no MEC e em muitas escolas e redes de ensino municipais e estaduais. O autor alerta para o
fato que há muitas escolas que, na perspectiva de avançar na implantação desses programas,
organizam suas atividades com treinos intensivos para que os estudantes possam melhorar o
seu desempenho nas “ameaçadoras provinhas, provas e provões” para elevar a média e
alcançar melhores resultados em relação a outras escolas. Afirma também que essa lógica
apresenta os usos e abusos dos referidos programas e muitas escolas são tentadas a entrar nas
lógicas tradicionais que regem nosso seletivo sistema escolar, a se adaptar às lógicas e valores
que outros programas impõem como a política nacional de avaliação por resultados, por
2975
comparações competitivas entre escolas e redes ou por medo ou incentivo aos mestres. Com
bônus, prêmios e castigos frente aos resultados alcançados, já que concordamos que
É possível desde que haja uma estrutura bem organizada, em que todos os
professores e gestores possam trabalhar em conjunto, em prol do bem comum a
toda a comunidade escolar. Foi bem comentado pelos colegas acima, um projeto
bem estruturado, com subsídios de trabalho pedagógico, acessível a todos os
profissionais que atuarem nesta área, não pensarmos somente nos indicies de
aprovação, mas na qualidade que este serviço será apresentado a comunidade
escolar, levar a sério este trabalho, dar transparência pública a todos que precisam
deste trabalho, para que a comunidade saiba a importância deste trabalho e como
ele será desenvolvido, para que possa concluir com êxito. (CURSISTA 4)
A proposta é muito mais profunda do que atribuir uma carga horária maior às
atividades já desenvolvidas, redundando em uma permanência maior dos alunos nas escolas.
Em que pese como fundamental o fator de ampliação da jornada, o educar de forma integral
deve estar em primeiro plano, como adverte Paro (2009):
Da perspectiva de uma educação integral, a pergunta que se faz é se vale a pena
ampliarmos o tempo dessa escola que aí está. E a conclusão a que chegamos é que,
antes (e este é um “antes” lógico, não cronológico) é preciso investir num conceito
de educação integral, ou seja, um conceito que supere o senso comum e leve em
conta toda a integralidade do ato de educar (PARO, 2009, p. 18-19).
Dessa forma, a escola integral exige compromisso, construção de um projeto
pedagógico que possibilite uma formação integral e integrada. Assim, são vários os desafios,
dentre os quais se encontra o de ampliar o tempo de permanência na escola, pois é necessário
também pensar no tempo em que a criança permanece com sua família. Não basta lhe oferecer
diversas atividades apenas para preencher o tempo, elas precisam estar acopladas aos
conteúdos. É preciso articular escola e cidade como um dos territórios educadores. É
necessário valorizar os aspectos culturais locais para que a criança sinta o pertencimento ao
lugar. A família é necessária e sua experiência precisa ser valorizada. Família e escola
precisam caminhar juntas na mesma direção para dar conta dessa demanda.
A comunidade deve ser acionada e, para isso, é importante e necessário criar projetos
que a valorizem e a tragam para esse espaço de educação como forma de inclusão de ideias e
ideais. Na escola integral, a educação não acontece e nem deve acontecer apenas nas salas de
aulas e no interior da escola, é preciso sair desse espaço e acontecer em outros ambientes
(cidade, rua, bairro, comunidade).
Uma escola de tempo integral abre suas portas para a inclusão, a expansão do saber, a
garantia de um ensino melhor, a participação do aluno em projetos e ações socioculturais,
2976
amplia a relação escola e comunidade, família e escola. Por fim, um dos aspectos importantes
e vitais nesse processo de concepção da escola de tempo integral é romper com a dicotomia
entre aulas convencionais e atividades integradas. Por isso, é prioridade a elaboração de
projetos que visam à gestão compartilhada, rompendo com a ideia de que, ao estarem na
escola, as crianças e os jovens já estão em situação que favoreça a melhoria de seu
desenvolvimento integral. Se não pensarmos a escola em sua diversidade, corremos o risco de
apenas “cuidar” dessas crianças e jovens, sem promover uma educação integral de qualidade.
Corrobora com este pensamento a visão da cursista 1, que aponta os objetivos e
destaca as dificuldades muitas vezes enfrentadas pelos professores e demais profissionais
destas escolas:
A escola de tempo integral assim como os profissionais que trabalham nessas
escolas têm como objetivo levar uma educação diferenciada para os estudantes[...]
Temos a consciência do que é preciso para desenvolver jovens capazes, pensantes e
criativos porém muitas vezes não temos as ferramentas nem o apoio necessário
para executar nossas tarefas, e no final somos cobrados por isso (CURSISTA 1).
Segundo Arroyo (2012), pode-se constatar que uma maioria de docentes das escolas
que estão implementando esses programas não os reduzem a mais um tempo de treinamento
para provas, mas para garantir o direito a mais educação. O autor segue afirmando que, para
não cair em interpretações reducionistas desses programas, será necessário manter como
orientação a seguinte pergunta: Por que aumentou a consciência popular do direito a mais
educação e mais tempo de escola?
Os programas políticos como Programa Mais Educação, Escola de Tempo Integral
ou Escola Integrada podem ser vistos como que puxando para o realismo
comprometido, tendo o grande mérito de chamar o pensar e fazer educativo e seus
profissionais ao reconhecimento dessa centralidade do direito à vida, ao corpo, ao
espaço, ao tempo e à sua inseparabilidade dos processos de educar, ensinar,
aprender, humanizar-nos (ARROYO, 2012, p.40).
A partir dessa afirmativa, outras questões surgem: Em que condições é possível
aprender a viver, aprender a vida digna e justa? Como avançar para políticas de
reconhecimento? Que espaço é esse de Educação Integrada? Compreendemos que não deve
ser mais um espaço sem sentido e significado para o professor, bem como para a criança e o
jovem. É preciso que ele se configure como um espaço de vida, de justiça, de formação
constante, de constituição de sujeitos em todos os aspectos do seu desenvolvimento.
Para Arroyo (2012), é preciso reorganizar os tempos da escola para um viver digno e,
nesse sentido, esses programas não se propõem a apenas ampliar o tempo, mas a reorganizar
2977
com radicalidade os tempos-espaços do viver a infância-adolescência, tornando -os mais
próximos de um digno e justo viver, ao menos na totalidade dos tempos-espaços escolares.
Machado (2012) explicita a ideia de que,
[...] o tempo escolar precisa ser “preenchido” e há pressa, muita pressa em efetivar o
cumprimento das inúmeras tarefas, atividades, planos de aulas. Não há tempo para
despropósitos. É preciso correr porque o tempo (Cronus) exige que devoremos o que
fora proposto (MACHADO, 2012, p. 270).
Essa ideia de tempo cronus3 está instituída na escola como uma forma de destituir o
tempo que pode ser experimentado em outros sentidos da infância-adolescência. Tempos que
nem sempre representam a possibilidade de contratempos, ser e estar em processo de
desenvolvimento de diferentes dimensões da constituição social humana.
Nesse sentido, conceber a escola de tempo integral é assumir um compromisso de
mudança, de construção de um projeto pedagógico que visa mais tempo na escola com
espaços e tempos para viver a infância e adolescência com dignidade, pois, conforme Arroyo
(2012), é um direito à vida, corpos, tempos e espaços de um justo viver. Segundo o autor,
quando esse direito é negado, todos os outros são. “Às infâncias-adolescências populares é
negado o direito mais básico: desenvolver seu viver, seu corpo em espaços-tempos humanos”
(ARROYO, 2012, p. 41).
Educação integral representa um projeto de vida, no qual as crianças e jovens são
valorizadas como sujeitos de direitos. É um projeto multidimensional, dessa forma o aluno é
considerado em todas as dimensões e estas são ativadas por meio da cultura, da arte, da
história, do lazer, da atividade intelectual, da promoção de saúde e de tantas outras
possibilidades de desenvolvimento necessário à vida e à construção de uma sociedade melhor.
Consideramos que a questão do desenvolvimento pleno do ser humano é o ponto de
interseção entre a educação integral a teoria histórico-cultural, já que o estímulo ao
crescimento das capacidades cognitivas pode ser notado como um ponto em comum de
ambas.
Para que tal objetivo seja alcançado, é necessário considerar que o meio, alunos e
professores não podem exercer papeis passivos nas relações educacionais, porque a interação
ativa constitutiva, com a participação de todos os agentes, é condição determinante para o
desenvolvimento das funções psíquicas superiores:
3
Chronos - Cronus - refere-se ao tempo cronológico ou sequencial, de natureza quantitativa.
2978
O que menos se deve é imaginar o processo educativo como unilateralmente ativo e
atribuir todo o caráter ativo ao meio, reduzindo a nada o caráter ativo do próprio
aluno, do mestre e de tudo que está em contato com a Educação. Na Educação, ao
contrário, não existe nada de passivo (VIGOTSKI, 2004, p. 71).
Vem de encontro com esta consideração de Vigotski a pontuação verificada no fórum,
onde a cursista escreve sobre as possibilidades da educação integral:
De fato, hoje, muito se fala sobre a Educação Integral, mas este debate não é novo,
pois desde o PDE (2001) observa-se a busca e a justificativa para uma ampliação
da jornada escolar e penso eu, que a Educação Integral surge como uma
possibilidade de reconstruir um sistema de ensino que não mais nos atende sob o
aspecto de ensino-aprendizagem, especialmente onde de forma tradicional, temos o
ensino dogmático e passivo. (CURSISTA 3).
Para que haja este rompimento, vemos o professor como peça fundamental, porque
para além das atribuições já previstas, cabe ao professor, nessa trajetória de educação,
estimular o desenvolvimento das potencialidades das crianças e jovens nessa ampliação de
tempo, rompendo com qualquer atitude passiva. O tempo e o espaço da educação integral é
um tempo de formação interdisciplinar permeado por um trabalho coletivo, no qual compete
ao professor oferecer condições necessárias aos estudantes para tornarem-se protagonistas em
ações e projetos que visem a sua formação, fato que não acontece apenas na consolidação dos
conteúdos, mas também em atividades que possibilitem a formação integral.
Ao professor também é atribuída a responsabilidade de identificar as necessidades do
desenvolvimento do estudante, a participação coletiva junto aos colegas de profissão,
considerar o aluno para além da sala de aula, superar a quimera de um contexto no qual o
professor ensina e o aluno aprende, ou seja, é preciso ultrapassar a clássica afirmação na qual
apenas um ensina e o outro apenas aprende. Portanto, ambos nesses espaços diversos e
educativos aprendem, principalmente a conviver na produção de novos tempos.
A tarefa do docente consiste em desenvolver não uma única capacidade de pensar,
mas muitas capacidades particulares de pensar em campos diferentes; não em
reforçar a nossa capacidade geral de prestar atenção, mas em desenvolver diferentes
faculdades de concentrar a atenção sobre diferentes matérias (VIGOTSKI, 1988, p.
108).
Portanto, pensar a educação integral é repensar um novo paradigma para as práticas
educativas e, portanto, repensar a ação docente. Mais tempo na escola é um desafio
compartilhado entre gestores, educadores, família e comunidade escolar. Ampliar a jornada
implica em repensar tempos e espaços educativos que não se configuram apenas, com a
divisão do tempo de aula convencional e um tempo de atividades prazerosas, mas como um
2979
tempo de oportunidade de ensino e aprendizagem constantes em tempo integral e integrado no
qual os estudantes possam se desenvolver integralmente. Esse desenvolvimento depende da
organização dos tempos que são novos arranjos educativos cujo objetivo é oferecer aos
estudantes a possibilidade de formação em todas as dimensões e potencialidades do ser
humano.
A Escola de tempo Integral pode e deve se articular com ações que envolvam a
comunidade escolar, os pais, enfim, todo o contexto escolar. Neste sentido, os
professores assumem um papel de extrema importância, pois serão eles os primeiros
a pensar em temáticas interessantes para seus alunos e em formas de motivá-los
(CURSISTA 3).
Frente a essas mudanças ao professor cabe outras responsabilidades e perspectivas
para alcançar os objetivos dessa nova possibilidade de ampliar os tempos e os espaços
educativos e os novos arranjos que permitam a realização de atividades que realmente possam
se configurar em aprendizagens concretas.
Algumas considerações
A experiência de propor uma reflexão balizada pelos entendimentos dos cursistas
revelou-se uma experiência interessante uma vez que, a maioria dos cursistas estão no
contexto escolar de escolas de tempo integral e, portanto, experienciam situações, organização
e atividades que permitem aliar teoria e prática.
Essa reflexão se faz necessária, como mais uma maneira para repensar os tempos
educativos, a partir das práticas pedagógicas, do papel do professor, de sua formação e da
formação do aluno.
Compreendemos que a jornada ampliada é um grande desafio, pois, ao mesmo tempo
em que luta pelo direito à esse tempo e espaço ampliado, gestores, professores, pais e
comunidade, ainda experimentam práticas e vivem experiências na tentativa de compreender
os processos que possam consolidar essa formação integral.
Esse tempo de educação integral não é um tempo qualquer, de preenchimento de
lacunas na aprendizagem é um tempo de conhecimento, de aprendizagem, de convivência, de
garantia de direitos de constituição das dimensões humanas para que sujeitos envolvidos
(estudantes, professores, pais, gestores, comunidade) sejam formadores e formandos de um
tempo de “viver digno” em todas as dimensões que favorecem os tempos e os espaços
educativos no desenvolvimento dos sujeitos envolvidos.
2980
Educar de forma e de tempo integral é possibilitar diferentes experiências ao aluno,
ávido para encontrar e descobrir outros caminhos que possam atender as suas necessidades
frente a uma sociedade informatizada e que propõe a ele um mundo de ação, de diálogo, de
encurtamento de distâncias.
Consideramos que elaborar metodologias que favoreçam o processo ensinoaprendizagem na formação docente e dos demais profissionais, potencializa e consolida as
iniciativas de educação integral no âmbito das políticas públicas,
referenciando as
experiências realizadas como produção de novos conhecimentos científicos possíveis de
análise que favoreçam repensar propostas e metodologias que ampliam a compreensão de
ampliação da jornada escolar e as implicações desta ampliação no âmbito das políticas
públicas em Educação.
REFERÊNCIAS
ARROYO, Miguel Gonzales. O direito a tempos-espaços educativos de um justo e digno
viver. In.: MOLL, J. (org). Caminhos da educação integral no Brasil: direitos a outros
tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Penso, 2012.
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua
portuguesa. 3 ed. totalmente rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
MACHADO, Alexsandro dos Santos. Ampliação de tempo escolar e aprendizagens
significativas - Os diversos tempos da educação integral. . In.: MOLL, Jaqueline (org).
Caminhos da educação integral no Brasil: direitos a outros tempos e espaços educativos.
Porto Alegre: Penso, 2012.
PARO, Vitor Henrique. Educação integral em tempo integral: uma concepção de educação
para a modernidade. In: COELHO, Lígia Martha Coimbra da Costa Coelho (Org.). Educação
integral em tempo integral: estudos e experiências em processo. Petrópolis: DP et Alli,
2009. p. 13-20.
VIGOSTKI, Lev Semenovitch. Psicologia pedagógica. Trad. Paulo Bezerra. 4 ed. São Paulo:
Martins Fontes. 2004.
VIGOTSKI, Lev Semenovitch. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar.
In: VIGOTSKII, Lev Semenovitch; LURIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alexis
Nikolaevich. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Trad. Maria da Penha
Villalobos. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1988. p.103-117.
Download