1 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL ALELOPÁTICO DO ADUBO VERDE (CROTALARIA SPECTABILIS) SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE TOMATE (LYCOPERSICON ESCULENTUM MILL) E POSTERIOR DESENVOLVIMENTO EM CAMPO Helem Fernandes Naves Peixoto1,3 Severino de Paiva Sobrinho 2,3 Mariane de Carvalho Vidal2,4 1 Voluntário Iniciação Científica PVIC/UEG 2 Pesquisador orientador 3 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Porangatu, UEG 4 Pesquisador Embrapa Hortaliças Resumo Teve por objetivo avaliar o potencial alelopático de C. spectabilis na cultura de tomate (Lycopersicon esculentum) nos primeiros 45 dias em campo, quando as mudas são produzidas utilizando substrato com diferentes porcentagens de C. spectabilis. Em campo as mudas foram distribuídas no espaçamento 0,6m x 1,0 m e os tratamentos em blocos inteiramente casualizados. Após 45 dias em campo os parâmetros avaliados foram: número de folhas por planta; altura de planta; diâmetro do caule e matéria seca. Os dados obtidos foram submetidos a analise regressão polinomial. O número de folhas não sofreu variação significativa em função da quantidade de C. spectabilis, já a altura e o diâmetro das plantas de tomate foram favorecidos pela elevação na quantidade de C. spectabilis no substrato para a produção de mudas. A matéria seca atinge seu valor máximo quando se utiliza uma porcentagem de 20,50% de C. spectabilis na composição do substrato. Palavras – Chave: Alelopatia, Crotalaria spectabilis, tomateiro. Introdução Rice (1984) definiu o termo alelopatia como o efeito prejudicial e/ou benéfico entre plantas através de interações químicas, incluindo os microrganismos. Os compostos químicos que possuem atividade alelopática são produtos do metabolismo secundário produzido pelas plantas, chamados de aleloquímicos, substâncias alelopáticas, fitotoxinas ou apenas produtos ou 2 metabólitos secundários. Estas substâncias estão presentes em todos os tecidos das plantas, incluindo folhas, flores, frutos, raízes, rizomas, caules e sementes (Putnan & Tang 1986). Para Friedman (1995), todos os órgãos da planta têm potencial para armazenar aleloquímicos, mas a quantidade e o caminho pelos quais são emitidos difere de espécie para espécie. Os compostos alelopáticos podem ser liberado através da exudação radicular, volatização, decomposição de resíduos vegetais, lixiviação através da chuva, neblina ou orvalho (Rodrigues et al., 1992). Com a intenção de avaliar o potencial alelopático de adubos verdes, Peixoto et al (2004) testaram diferentes concentrações de extratos utilizando a parte aérea em sementes de tomate, averiguaram que o extrato de Crotalaria spectabilis e Canavalia brasiliensis a 8%, e a concentração 4% e 8% de C. spectabilis e Mucuna aterrimum foram os maiores inibidores. Erasmo et al. (2002) observaram os efeitos da matéria verde dos adubos verdes no crescimento das culturas de alface e da planta daninha capim-colchão (Digitaria horizontallis), verificou que as espécies de feijão de porco e Crotalaria spectabilis proporcionaram maiores reduções na matéria seca da parte aérea na cultura da alface enquanto o sorgo proporcionou maior redução de crescimento da planta daninha. Pouco se sabe sobre efeitos alelopáticos de leguminosas no estabelecimento de culturas hortículas, portanto é importante a realização de pesquisas nesse campo para se conhecer as relações alelopáticas entre espécies. Este trabalho teve como objetivo avaliar o potencial alelopático de C. spectabilis na cultura de tomate (Lycopersicon esculentum) nos primeiros 45 dias em campo, quando as mudas são produzidas utilizando substrato com diferentes porcentagens de C. spectabilis. Matérias e Métodos O trabalho foi desenvolvido na UEG, Unidade de Porangatu, no período de Abril a junho de 2005. Para obtenção do extrato de C. spectabilis foram colhidas plantas na Embrapa de Hortaliças, em seguida separada a parte aérea e posta para secar e depois triturada. As mudas foram produzidas em bandejas de isopor de 128 células com substrato composto de extrato de C. spectabilis e plant max. Os tratamentos utilizados na produção das mudas foram: a testemunha que continha apenas plantmax; substrato com 10% de C. spectabilis; substrato com 20% de C. spectabilis e substrato com 40% de C. spectabilis. 3 Após o semeio as bandejas foram irrigadas duas vezes ao dia e após 31 dias as mudas foram levadas para o campo quando tinham de 3 a 4 pares de folhas definitivas. Em campo o espaçamento adotado foi de 0,60 m entre plantas e 1,0 m entre linhas, e os tratamentos foram distribuídos em blocos inteiramente casualizados (DBC), sendo que o ensaio continha 3 blocos e cada tratamento no bloco tinha cinco plantas. As plantas permaneceram em campo por 45 dias, sendo irrigadas diariamente, durante este período foram realizadas duas capinas, e não foram adubadas, pois a análise de solo não recomendava adubação. Os parâmetros avaliados foram: número de folhas por planta aos 45 dias; altura de planta aos 45 dias; diâmetro do caule aos 45 dias e matéria seca da parte aérea aos 45 dias. Os dados obtidos foram submetidos a análise de regressão polinomial. Resultados e Discussão O número de folhas por planta não se ajustou a nenhum modelo de regressão polinomial, observando-se a figura 1 verifica-se uma ligeira queda no número de folhas por planta em função de uma maior porcentagem de C. spectabilis, porém esta queda não foi detectada pela análise de regressão. N° de folhas aa 15 14 13 12 0 10 20 30 40 50 porcentagem de C. spectabilis Figura 1. Nú mero de folhas por planta de tomate em função da porcentagem de C. spectabilis no substrato das mudas. UUP – UEG, Porangatu, 2005. 4 Entretanto, este parâmetro pode não revelar efeitos tóxicos produzidos pela planta, pois a planta pode mesmo sob efeito alelopático produzir um número de folhas semelhantes aquele das plantas da testemunha, porém menores e mais próximas. As plantas produzidas com 40% de C. spectabilis na composição do substrato para a produção das mudas apresentaram as maiores altur as (Figura 2). É provável que este resultado tenha ocorrido em virtude da irrigação do substrato durante o período em que as mudas estiveram nas bandejas tenha provocado uma lixiviação dos compostos alelopáticos. Então esta maior quantidade de C. spectabilis passou a fazer o papel da matéria orgânica fornecendo nitrogênio e, portanto a planta atinge uma maior altura. y = 0,0021x2 - 0,0346x + 46,509 R2 = 0,9118 Altura (cm) 49 48 47 46 45 0 10 20 30 40 50 Porcentagem de C. spectabili Figura 2. Altura de planta de tomate em função da porcentagem de C. spectabilis no substrato das mudas. UUP – UEG, Porangatu, 2005. O diâmetro do caule também apresentou o maior valor para as plantas produzidas com substrato composto por 40% de C. spectabilis. O substrato se mostrou um promotor de crescimento, uma vez que um aumento na quantidade de C. spectabilis na composição do substrato fez com que provocasse um aumento no diâmetro da planta de tomate (Figura 3). Porém este resultado é o inverso do esperado, isso porque algumas literaturas citam a C. spectabilis como uma espécie com grande poder alelopático, entretanto isto não se verificou para o tomateiro nos primeiros 45 dias em campo. Diâmetro (mm)aa 5 8,5 y = 0,0004x2 - 0,0007x + 7,8779 8,4 R2 = 0,9965 8,3 8,2 8,1 8 7,9 7,8 0 10 20 30 40 50 Porcentagem de C. spectabilis Figura 3. Diâmetro do caule do tomateiro em função da porcentagem de C. spectabilis no substrato das mudas. UUP – UEG, Porangatu, 2005. Por outro lado esta maior quantidade de substrato pode servir como fonte de nitrogênio, e assim ao contrario do que se esperava o substrato apresentou efeito positivo sobre o crescimento das mudas em campo. O peso da matéria seca da parte área de plantas de tomate foi influenciado pela porcentagem de C. spectabilis no substrato para a produção de mudas do tomateiro. O peso máximo de matéria seca da parte aérea aos 45 dias foi estimado através da derivada da equação de regressão, onde a produção máxima de matéria seca foi de 10,84 g/planta quando se utilizou 20,50% de C. spectabilis na composição do substrato para as mudas (Figura 4). y = -0,0063x2 + 0,2589x + 8,1789 R2 = 0,78 14 Peso da MS (g) 12 10 8 6 4 2 0 0 10 20 30 40 50 Porcentagem de C. spectabilis Figura 4. Peso da matéria seca do tomateiro em função da porcentagem de C. spectabilis no substrato das mudas. UUP – UEG, Porangatu, 2005. 6 A matéria seca é um excelente parâmetro para observar ação de elementos sobre a planta, uma vez que esta relacionada com a capacidade da planta na produção de biomassa e observamos que acima de 20,50% de C. spectabilis na composição do substrato para as mudas de tomate, passa a ocorrer uma redução na quantidade de biomassa produzida, isto pode provocar uma redução na produção e produtividade do tomateiro. Conclusão As diferentes concentrações de C. spectabilis na composição do substrato para a produção de mudas não influenciou o número de folhas do tomateiro. O diâmetro do caule e altura de plantas apresentarem seus maiores resultados para as maiores concentrações de C. spectabilis na composição do substrato. A matéria seca da parte aérea apresentou seu maior valor para uma contração máxima de 20,50% de C. spectabilis na composição do substrato. Bibliografia ERASMO, A. L.; ALVES, P. L.; AZEVEDO, R. W.; CAVALCANTE, G. Efeito da fitomassa de alguns adubos verdes e sorgo forrageiro sobre o crescimento da cultura de alface e Digitaria horizotallis. In: Anais XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, Gramado, 2002. Gramado, 2002. p. 69. PEIXOTO, H.F.N.; DINIZ, B. M.; VIDAL, M. C. Ação alelopatica da parte aérea de espécies de adubos verdes na germinação da alface. In: Anais do LV CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, Viçosa, 2004. Viçosa, 2004. RODRIGUES, L. R. de A.; RODRIGUES, T. de J. D.;REIS, R. A. A alelopatia em plantas forrageiras. Jaboticabal:Universidade Estadual Paulista, 1992. RICE, E.L. 1984. Allelopathy. Academic Press, Lo ndon. PUTNAN, A.R. & TANG, C.S. 1986. Pp. 1-19. In: A.R. PUTNAN & C.S. PUTNAN. The science of allelopathy. John Wiley & Sons, New York. FRIEDMAN, J. 1995. Allelopathy, autotoxicity, and germination. Pp. 629-644. In: J. KEGEL & GALILI, G. (eds.). Seed development and germination. Marcel Dekker Inc., New York.