Considerações sobre léxico e gramática Alzerinda Braga O léxico é

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Considerações sobre léxico e gramática
Alzerinda Braga
O léxico é o conjunto de unidades significativas de uma língua. Unidades cujos
significados se referem majoritariamente ao mundo biopsicossocial que nos cerca. Essa
unidade, que no momento chamaremos de palavra (atentem para o conceito de palavra e de
outros termos como vocábulo, lexia, lexema), é a unidade básica do léxico. Contudo, como
vocês já devem saber, para proferir qualquer enunciado e transmitir o sentido que queremos
não basta apenas emitir as palavras, pois além de escolher as palavras com o sentido que
queremos, é necessário obedecer certas regras que a língua que falamos nos impõe. Assim,
eu posso usar as mesmas palavras e construir sentidos diferentes. Vejamos os exemplos
abaixo:
O menino gosta do cachorro
O cachorro gosta do menino
As unidades lexicais (palavras) usadas nas frases acima são as mesmas, no entanto
sentido delas é diferente porque para dar sentido ao que dizemos é preciso empregar as
palavras de acordo com as regras de combinação sintática da língua portuguesa. Isso é
gramática. Sintaticamente, as frases simples de nossa íngua são formadas por meio da
combinação de Sujeito + predicado, sendo o sujeito constituído sintaticamente por um sintagma
nminal (SN) e o predicado por um sintagma verbal (SV). O que nos dá uma regra sintática
básica que é: F = SN + SV.
Poderíamos ainda dizer:
Meninos gostam de cachorro.
Continuamos com as mesmas unidades lexicais e construímos uma frase com sentido
diferente das outras duas. Isso também é decorrente do emprego de regras gramaticais. Vários
aspectos gramaticais foram trabalhados para construir esse terceiro enunciado e diferenciá-lo
dos outros dois. Como alguns de vocês notaram foi modificada a categoria gramatical de
número (menino/meninos; gosta/gostam). Faz parte da gramática do português marcar os
nomes e os verbos para exprimir número. Além do número, o verbo tem que ser marcado
também para tempo, modo e pessoa. As categorias gramaticais de número e pessoa no verbo
se realizam pela concordância com o sujeito, pois é regra gramatical de nossa língua que o
verbo concorde em número e pessoa com o sujeito (daí: menino gosta, mas meninos gostam).
Outro aspecto gramatical importante para o sentido das frases é a categoria de definitude. Em
português os nomes são também marcados como definidos (o menino) ou indefinidos (um
menino) e a falta dessas marcas dá ao nome um sentido genérico como ocorre no exemplo
'meninos gostam de cachorro'. Trata-se aqui de 'menino' e cachorro' de modo geral e não de
indivíduos específicos. Vejam que são muitos os aspectos gramaticais utilizados para
diferenciar semanticamente estas frases e essas regras gramaticais são sistematicamente
usadas quando falamos, pois é a única maneira de criarmos esses sentidos em nossa língua.
Sempre teremos de construir as frases, marcar o número nos nomes e nos verbos seguindo
as mesmas regras. As regras gramaticais formam o sistema de nossa língua e esse sistema
nos é imposto para podermos falar e produzir enunciados com sentido que pode ser
interpretado por nossos interlocutores.
Quando comparado com a gramática o léxico já se mostra menos sistemático porque
as regras que nele operam são menos abrangentes e menos impositivas. Para ilustrar esse
fato, observem os exemplos abaixo.
VERBO
NOME
cantar
cantor
falar
falador
amar
*amador
Uma regra simples para formar nomes de agentes a partir de um verbo é acrescentar à
raiz verbal o sufixo –or (-dor). Contudo, como mostra o exemplo, essa regra não se aplica
sistematicamente a todos os verbos. Há verbos que não recebem esse sufixo para formar
nome de agente (amador não é aquele que ama) e há outras formas de fazermos isso:
podemos dizer simplesmente “aquele que ama” ou utilizar a forma amante, utilizando outro
sufixo. O fato de uma regra se aplicar a uma parte restrita do léxico, de haver mais de uma
forma para realizarmos a mesma operação lexical, dando ao falante liberdade de escolha na
hora de construir o seu enunciado é que fundamenta a afirmação de que o léxico é menos
sistemático do que a gramática.
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