GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE CURSO DE MEDICINA Doenças exantemáticas na infância: Mononucleose Infecciosa José Roberto T. da Ponte Junior Josiane Lilian de Sousa Lima Karollina Di Paula R. Salgado Lucas Pontes Moutinho Luís Antônio Luz Gomes Mariane de Souza Zampieri Patrícia Pereira Carvalho Belém-Pará 2010 ÍNDICE CONCEITO ________________ 3 ETIOLOGIA ________________ 4 EPIDEMIOLOGIA ________________ 5 TRANSMISSÃO ________________ 6 PATOGENIA ________________ 7 QUADRO CLÍNICO ________________ 8 DIAGNÓSTICO ________________ 11 COMPLICAÇÕES ________________ 14 TRATAMENTO E PROFILAXIA ________________ 15 BIBLIOGRAFIA ________________ 16 2 CONCEITO A Mononucleose Infecciosa (MI) clássica, também conhecida como “febre glandular”, e “doença do beijo”, é uma doença de baixa mortalidade e letalidade, de manifestações agudas e geralmente benignas, apresentando um grande polimorfismo clínico, porém, na maioria das vezes,cursando com febre, faringite e linfoadenopatia, além de outros achados clínicos, hematológicos e sorológicos bem definidos. 3 ETIOLOGIA Diferentes condições têm sido associadas a esta síndrome (Tabela 1), embora mais de 80% dos casos pode ser atribuído à infecção aguda por vírus Epstein-Barr (EBV). As causas tradicionais da síndrome incluem a infecção com EBV, CMV, HIV infecção primária, infecção aguda por Toxoplasma gondii em imunocompetentes, herpes e infecções humanas do vírus 6. No entanto, esta lista pode aumentar ou diminuir ou não incluir os critérios de linfocitose atípica e duração da febre. O vírus Epstein-Barr, que é um DNA vírus, é um herpesviridae da subfamília do gamaherpesvirinae que infecta a maioria dos indivíduos antes da idade adulta. Há 2 tipos de VEB: 1 e 2 (ou A e B) que, embora apresentem diferenças genéticas na infecção latente, não mostram diferenças na infecção aguda. É portador de um sistema de antígenos constituído por substâncias do capsídeo viral, que induzem resposta precoce, e também por substâncias do núcleo e da membrana. A detecção de anticorpos contra estes antígenos é importante para o diagnóstico da infecção e para a definição do seu estágio. Sua presença é mostrada sempre no interior da célula infectada, propagando-se em laboratórios sempre em linfócitos B humanos. 4 EPIDEMIOLOGIA A mononucleose infecciosa é uma doença de distribuição universal, ocorrendo esporadicamente e em qualquer idade, porém prevalente (7080%) entre crianças e adultos jovens. A distribuição dos anticorpos parece variar consideravelmente conforme o padrão de higiene e desenvolvimento socioeconômico das regiões e populações estudadas. Nas populações de baixo nível socioeconômico, parece haver uma tendência de aquisição de anticorpos mais precocemente, sugerindo que crianças de mais baixa idade podem infectar-se mais cedo, nem sempre através de uma infecção aparente. Já a infecção clínica clássica pelo EBV é prevalente no adolescente e no adulto jovem em populações de melhor padrão socioeconômico. Em São Paulo, os dados mostram que 80% da população já tem anticorpos anti-EBV aos 12 anos de idade4 e que, mesmo em escola privada de nível socioeconômico melhor, 68,9% das crianças de seis a 14 anos têm anticorpos anti-EBV. Percentual esse igual ou mais alto ao encontrado entre estudantes adolescentes de 17 a 19 anos na Inglaterra e Estados Unidos. Não há predileção racial e a incidência é idêntica em ambos os sexos. 5 TRANSMISSÃO Via de Transmissão Contato direto com secreções salivares de indivíduo portador em susceptível; objetos contaminados com saliva de portadores do vírus na fase de excreção. Por isso, sua transmissão é favorecida por ambientes onde há aglomerações e más condições de higiene e habitação. Ocasionalmente transfusões de sangue. Período de transmissão A excreção viral pode persistir durante vários meses após a infecção primária, observando-se, não raramente, a condição de portadores assintomáticos. Período de incubação Variável; geralmente se prolonga por 30 a 50 dias, evidenciando-se, entretanto, períodos mais curtos, de até dez dias. 6 PATOGENIA Após a inoculação inicial, o vírus se replica no epitélio das células nasofaríngeas; a lise dessas células produz a disseminação viral para as estruturas adjacentes, glândulas salivares, tecido linfóide da orofaringe e, por viremia, o comprometimento do sistema linforeticular, incluindo o fígado, baço e linfócitos B no sangue periférico. A infecção do linfócito B vai desencadear uma resposta imune do hospedeiro através das células natural killer e linfócitos T CD8+ com funções supressoras e citotóxicas, que são os linfócitos atípicos característicos; esta resposta controla a infecção aguda. Após a infecção aguda o VEB permanece latente no linfócito B e células epiteliais da orofaringe. 7 QUADRO CLÍNICO As infecções primárias ocorrem, na maior parte das vezes, em fase precoce da infância e usualmente são assintomáticas, podendo estar associadas com sintomas comuns a inúmeros outros processos infecciosos virais, como um quadro febril auto-limitado ou uma faringoamidalite. Tende a manifestar-se com sua forma clássica em crianças maiores, adolescentes e adultos jovens, em mais de 50% dos casos. Observam-se, assim, episódios leves de infecção respiratória alta (faringites, amigdalites, otites média), "rash" cutâneo, linfadenopatia e hepatoesplenomegalia. Quadro clássico: Após período prodrômico de dois a cinco dias, caracterizado por malestar, astenia, acompanhado ou não de febre, aparecem os sinais e sintomas da enfermidade, variáveis na intensidade de paciente para paciente e mais leves em crianças de pouca idade. A febre, praticamente em todos os casos, é de intensidade variável, durando em cerca de 60% dos casos, menos de sete dias, contudo pode perdurar por várias semanas. Observa-se odinofagia em 80% a 85% dos casos, com linfadenomegalia. A adenopatia envolve principalmente os linfonodos cervicais anteriores e posteriores, mas pode acometer qualquer cadeia ganglionar, evoluindo até para linfadenomegalias gigantes. Os linfonodos acometidos são dolorosos, firmes e nunca apresentando sinais flogísticos. 8 Pode-se evidenciar desde eritema leve de faringe até amigdalite grave, com exsudato branco-acinzentado. A úvula e o pálato se tornam de aparência gelatinosa e pode ocorrer enantema em pálato (50% dos casos), com petéquias na junção do pálato duro com o pálato mole. Observa-se, ainda, aumento do baço em até 50% dos casos, do fígado em 30% a 50% dos casos e edema peri-orbitário em até um terço dos pacientes acometidos (sinal de Hoagland). O quadro pode acompanhar-se de outros sinais, como a icterícia (em 5% dos casos). O "rash" cutâneo aparece em cerca de 3% a 8% dos casos, usualmente eritematoso e maculopapular, com textura de lixa fina, podendo ser urticariforme, escarlatiniforme, morbiliforme, hemorrágico ou petequial; o exantema pode se manifestar em 70% a 100% dos casos quando inadvertidamente se utiliza ampicilina. A resolução do quadro geralmente leva em torno de duas a três semanas. Uma das alterações que mais rapidamente desaparece é o "rash" cutâneo, em menos de uma semana. No auge do exantema pode haver confusão diagnóstica com escarlatina. A infecção pode se manifestar através de outras entidades associadas ao vírus, como desordens linfoproliferativas, infecção crônica, úlceras genitais, linfoma de Burkitt, carcinoma nasofaringeano, parotidite recorrente, pneumonite intersticial, uveítes, etc. Infecção aguda por citomegalovírus (CMV). Os quadros clínicos associados às infecções por este agente são diversos, embora a maior parte das vezes a infecção é subclínica. Não se associa somente a quadros de MI, mas também à síndrome TORCH em casos de transmissão vertical e a uma diversidade de quadros em pacientes imunocomprometidos. A síndrome de MI por CMV também afeta adolescentes e adultos, embora se apresente em uma gama mais ampla de idade e mais de 40% dos casos ocorrem na faixa 9 dos 30 anos. A presença de faringite, adenopatias ou esplenomegalia é incomum. A febre habitualmente é mais prolongada e em alguns casos pode alcançar 4 meses de duração. Aproximadamente um terço dos casos de MI não associados ao VEB são provocados por CMV (5-7%). 10 DIAGNÓSTICO A- Testes laboratoriais inespecíficos: 1) Hemograma - leucócitos de 10 000 a 20 000/mm3, raramente excedendo 30 000/mm3, com 40% a 50% do total representado por linfócitos. Aparecem linfócitos atípicos (Linfócitos de Downey – linfócito atípico com citoplasma aumentado, núcleo condensado e relação citoplasma – núcleo aumentada - 10% a 20% do total de leucócitos ), provavelmente linfócitos T, em resposta à infecção das células B. O leucograma normal ou discretamente elevado e a leucopenia (10% a 20% dos casos) podem ocorrer primeira semana. Plaquetopenia de intensidade variável ocorre freqüentemente e trombocitopenia. 2) Transaminases e bilirrubinas - as bilirrubinas podem estar aumentadas, não excedendo 5mg/100ml, enquanto as transaminases também podem se elevar discretamente, raramente apresentando aumentos significativos. Fosfatase alcalina, aspartato aminotransferase e bilirrubina – aumentam em 5 a 14 dias; gama-glutamil transferase se eleva em 1 a 3 semanas e desidrogenase lática – aumenta em 95% dos pacientes. B- Testes laboratoriais específicos: 1) Anticorpos heterófilos - são imunoglobulinas M que reagem contra antígenos de outra espécie, como hemácias de carneiro, de cavalo e de boi, não se observando reação com rim de cobaia, o que os diferencia dos anticorpos heterófilos de Forssman e dos encontrados em outras condições. Esses anticorpos podem não ser detectados no início do quadro; alcançam o pico máximo na segunda e terceira semanas e permanecem até por quatro a oito semanas, podendo não estar presentes em 50% dos casos de crianças 11 com idade inferior a quatro anos. Pesquisam-se os anticorpos heterófilos pelas seguintes técnicas: 2) Testes rápidos de lâmina (qualitativos) - Monoteste ou reação de Hoff Bauer (hemácias formalizadas de cavalo), Monospot (hemácias citratadas de cavalo), Monosticon (hemácias de cavalo e carneiro). Detectam 90% dos casos em adultos e somente 50% daqueles em crianças menores de quatro anos; 3) Testes quantitativos (Reação de Paul-Bunnell-Davidsohn) - título significativo maior igual a 1:56, caindo mais de 50% após adsorção com rim de cobaia e a zero após adsorção com hemácias de boi. C- Testes sorológicos específicos: Geralmente determinados por métodos de imunofluorescência indireta, utilizando-se também a técnica de ELISA. 1) Fase aguda da infecção - resposta rápida de anticorpos IgG e IgM contra antígenos do capsídeo viral (anti-VCA): - IgM anti-capsídeo: transitória (1 a 3 meses), diagnostica infecção aguda; - IgG anti-capsídeo: pico durante a doença aguda, declina levemente em semanas a meses, persistindo em nível estável por toda a vida. 2) IgG contra antígenos precoces (anti-EA) - presente por vários meses ou até anos; 3) Anticorpos contra antígenos nucleares (anti-EBNA) - aparecem mais tarde, emergindo gradualmente durante vários meses; permanecem por toda a vida. D- Isolamento do vírus: Em secreções de orofaringe, não estando disponível na maioria dos laboratórios. O isolamento do vírus não necessariamente indica infecção aguda. E- PCR (reação em cadeia da polimerase): Realizada em laboratórios de pesquisa. 12 13 COMPLICAÇÕES As complicações não são comuns, mas a mais temida sem dúvida alguma, é a rotura esplênica, comumente relacionada a traumatismos leves. Este fenômeno descrito mais freqüentemente durante a segunda semana de doença, é menos comum em crianças do que adultos. A obstrução das vias aéreas (estridor, dispnéia) é descrita em poucos casos e ocorre devido ao aumento significativo de amígdalas e do tecido linfóide da orofaringe. Alguns pacientes apresentam metamorfopsia, caracterizada por alteração na percepção do tamanho de objetos, assim como sua forma e relação espacial. Esta síndrome é descrita como “Alice no país das maravilhas”. Outras complicações incluem: meningite com predomínio de células mononucleares no líquor, mielite transversa, paralisia, síndrome de Giullain-Barré, síndrome de Reye, anemia hemolítica por anticorpos do tipo crioaglutinina, miocardite, pneumonia intersticial e trombocitopenia que pode ser causada pela produção de anticorpos antiplaquetários e destruição periférica, principalmente em baço Morte pode ocorrer especialmente em pacientes imunodeprimidos. O EBV é um vírus a desordens linfoproliferativa (linfoma de Burkitt, por exemplo), o que pode resultar em um número de síndromes proliferativas desde não malignas, mas agressivas como a síndrome hemofagocítica, até malignas como carcinoma nasofaríngeo, doença de Hodgkin, etc. 14 TRATAMENTO E PROFILAXIA Indica-se somente terapia de suporte como hidratação, analgésicos e antitérmicos. Em casos de sintomatologia grave como obstrução respiratória importante, complicações hematológicas ou neurológicas, esplenomegalia muito volumosa ou miocardite, a utilização de corticosteróides por período curto pode ser benéfica. Utiliza-se, nesses casos, a prednisona, na dose de 1 mg/kg/dia, oralmente, durante sete dias. Os pacientes com superinfecção amigdaliana por Streptococcus betahemolíticos do Grupo A de Lancefield devem ser tratados especificamente. As atividades físicas devem ser limitadas para os pacientes com organomegalias. Pode ser recomendada a utilização do aciclovir em altas doses (15 mg/kg/dose, cada 8 horas) para os pacientes imunocomprometidos. A maioria dos pacientes é tratada ambulatorialmente. Internação está indicada em presença de ruptura esplênica, comprometimento de vias aéreas, trombocitopenia grave, anemia hemolítica, desidratação e complicações neurológicas. A ruptura de baço é uma emergência que requer tratamento cirúrgico, necessitando esplenectomia. Os pacientes hospitalizados devem ser manuseados com precauções padrão. Não existe vacina recomenda-se que os convalescentes não doem sangue até seis meses após o início da doença. 15 BIBLIOGRAFIA CARVALHO, LHFR, Mononucleose infecciosa. Jornal de Pediatria. Vol. 75, supl. 1, 1999. DIAS, EP; ROCHA, ML; CARVALHO, MOO e AMORIM, L MF. Detecção do vírus Epstein-Barr em tonsilites recorrentes. Rev. Bras. Otorrinolaringol. vol.75 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2009 ERUELO, EE; BRAVO, AC; MARTINEZ- ECHEVARRIA, LS; ABIÁN, MAG. Afectación parotídea por virus de Epstein-Barr. Revista Pediatría de Atención Primaria. Volumen I. Número 1. Enero/marzo 1999.Madrid. FICA, C A. Síndrome de mononucleosis infecciosa en pacientes adolescentes y dultos. Rev. chil. infectol. v.20 n.4 Santiago 2003 LOPES, A C. Tratado de clínica Médica. 1º edição. São Paulo, Rocca 2006. Vol III. MARCONDE, E. Pediatria básica; 8ª Ed, volume 2; São Paulo: SAVIER, 1994. MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Vigilância em Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. Ed. rev. Brasília : Ministério da Saúde, 2005. 320 p. (Série B. Textos Básicos de Saúde). MURAHOVSCHI, J. Pediatria diagnóstico + tratamento; 5a Ed. Atual. – São Paulo: SARVIER, 1994. 16 RIBEIRO-SILVA AR, ZUCOLOTO S. O papel do vírus EpsteinBarr na tumorigênese humana. Medicina Ribeirão Preto 2003;36:16-23 apud DIAS, EP; ROCHA, et al. Detecção do vírus Epstein-Barr em tonsilites recorrentes. Rev. Bras. Otorrinolaringol. vol.75 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2009 SOCIEDADE Diferencial BRASILEIRA com Outras Doenças DE PEDIATRIA. Exantemáticas. Diagnóstico Disponível em: <http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=24&id_detalhe=96 0&tipo_detalhe=s>. Acesso em: 20 mai. 2010, 16:12:34. 17