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Papo de Nutrição com Cláudia Marchese
Nº 1 | Julho/2012
A Aesculap Academia promoveu o evento “O papel da
Nutrição na prevenção, tratamento e cura de feridas –
uma abordagem completa” reunindo profissionais de
diversas especialidades em duas edições.
Os eventos de excelente nível científico ocorreram no dia
29/03/2012 no Centro de Convenções RB1 no Rio de Janeiro e no
dia 17/04/2012 no Hospital Português em Salvador, ambos reconhecidos e pontuados pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral.
A equipe de palestrantes foi composta pelos médicos, Adriano Mehl
e Valéria Girard, coordenadores científicos do evento, pelas nutricionistas Cláudia Balhesteiro Marchese, Nara Lopes no Rio de Janeiro e
Vanessa Cabral em Salvador e pela enfermeira Mara Blanck.
As atividades tiveram início com as palestras da Nutr. Nara Lopes
no Rio de Janeiro e da Nutr. Vanessa Cabral em Salvador, abordando o tema “Do tratamento hospitalar ao domiciliar: novos
cenários”. A Dra Nara apresentou projeção do IPEA (Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas) quanto à distribuição etária da
Cláudia Marchese
Nutricionista Pós-Graduada em Nutrição
Clínica pela UNISINOS, especialista em
Terapia Nutricional pela SBNPE, gestora
do serviço de Nutrição e Gastronomia do
Sistema de Saúde Mãe de Deus (RS) e
membro do Conselho Consultivo da SBNPE
2012/2013.
população brasileira até 2035, que prevê um aumento considerável no contingente de idosos, inclusive acima de 80 anos de
idade. Esse envelhecimento populacional intensifica a preocupação com as doenças crônicas não transmissíveis fortemente
influenciadas pelo estilo de vida. A especialista ilustra com o
conceito 3-4-50, que identifica as doenças crônicas como a principal causa de morte e invalidez em nível mundial, ultrapassando
as doenças infecciosas e as lesões, que reflete melhoria na prevenção e tratamento dessas enfermidades, porém sugere estilo de
vida pouco saudável. O 3-4-50 fundamenta-se no fato de que, três
comportamentos (alimentação inadequada, sedentarismo e tabagismo) contribuem para quatro doenças crônicas (câncer, doenças
cardíacas e acidente vascular cerebral, diabetes tipo 2 e doenças
pulmonares, tais como asma) que causam mais de 50 por cento de
todas as mortes no mundo.
A Dra Vanessa apresentou ricas experiências como a atuação na
equipe de Acolhimento do Programa de Humanização Permanecer
SUS – Bahia e todo o empenho para desenvolvimento da Escuta Qualificada e Solidária. A Dra Nara ressaltou os desafios para
a qualificação da atenção domiciliar em Nutrição, onde muitas
vezes, nos deparamos com carência de estruturas mínimas de higiene e saneamento básico e apresentou o manual instrutivo do
Melhor em Casa, que trabalha o conceito da segurança do hospital
no conforto do lar.
Na sequência, a Dra Valéria Girard trabalhou o tema “Prevenção
e tratamento de feridas: como nutrir adequadamente nosso
Papo de Nutrição com Cláudia Marchese | Nº 1 | Julho/2012
paciente?”, discorrendo com propriedade sobre a desnutrição do
idoso, ressaltando a tríade Anorexia – Sarcopenia – Caquexia. A
conferencista lembra que a Anorexia está relacionada com a baixa ingestão nutricional, que contribui para a Sarcopenia, na qual
estados inflamatórios e oxidativos, induzem liberação de citocinas
(IL-6, TNF) e hormônios catabolizantes (cortisol) que resultam em
proteólise muscular. Esse cenário inflamatório converge em Caquexia, perda de gordura e massa muscular.
A Dra Valéria ressalta que a desnutrição é ponto determinante
para o surgimento de úlceras de pressão e que estas em contrapartida, agravam a desnutrição, fato que pode ser explicado
também pela expressiva perda proteica em feridas (Iizaka. Nutrition 2010). Nessa mesma palestra, foram trazidas informações
extremamente importantes do ponto de vista de significância econômica das úlceras de pressão, visto que estas estão relacionadas
com incremento de mortalidade e aumento significativo dos custos hospitalares. Estudo realizado no Reino Unido (Banks. Clin Nutr
2010) demonstrou que as úlceras de pressão aumentaram o tempo
de permanência hospitalar e relacionaram-se como principal fator
de aumento de custos, representando gastos de £ 750 milhões/
ano e adicionando custos na ordem de £ 6,9 milhões pela perda
resultante da não disponibilidade de leito hospitalar para uso com
outros pacientes, devido à permanência hospitalar de portadores
de lesões relacionadas à desnutrição. A Dra Valéria ainda apresentou uma série de produções científicas de sua equipe que demonstraram a superioridade da formulação industrializada quando
comparada à artesanal e artesanal suplementada na reversão dos
quadros de desnutrição e na cicatrização de lesões, finalizando
com uma síntese de recomendações nutricionais.
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profundamente na sensibilidade necessária para ser um terapeuta
de pessoas com lesões de pele e não de feridas localizadas em
pessoas. O Dr Adriano, trouxe à discussão dados que inquietaram
os ouvintes, lembrando que após os 70 anos de idade, 7 dias de
imobilização, aumentam em 70% a chance de desenvolvimento de
úlcera de pressão e que após os 40 anos de idade, a perda de massa
magra ocorre na ordem de 10% por década e após os 70 anos, esta
perda aumenta para 15% por década. O especialista relatou também que a pressão necessária para produção de lesão tecidual é de
32mmHg, sendo que pacientes acamados são submetidos à pressões de cerca de 70mmHg e ressaltando que a exposição de feridas
a pressões de 30mmHg, minimiza a atividade dos fibroblastos para
produção de colágeno e de 35mmHg compromete atividade leucocitária local, aumentando a susceptibilidade à infecções.
O Dr Mehl enfatiza que a terapia nutricional precisa ser PLANEJADA mesmo que não possa ser detalhada e deixa um claro recado a
cerca do que não devemos fazer no manejo de feridas:
1. Esquecer de alimentar e hidratar o paciente
2. Não tocar no doente
No início da tarde, a Nutr. Cláudia Marchese desenvolveu o tema:
“O papel da proteína na recuperação de pacientes com feridas
crônicas”, enfatizando mais uma vez a importância de olharmos
o doente integralmente e não a sua ferida isoladamente. A Nutr
Cláudia relembra a posição do EPUAP (European Pressure Ulcer
Advisory Panel) que considera a Nutrição como um dos dois fatores chaves sobre os quais podemos atuar, assim como a carga
tecidual.
Posteriormente, o Dr Adriano Mehl, trouxe com clareza e fluidez,
sua riquíssima vivência abordando o tema: “Tratamento de feridas: da nutrição ao uso de adequado dos curativos, como estamos evoluindo”. O especialista começou sua explanação fazendo
uma reflexão fundamental acerca dos sentimentos que acometem
esses doentes, onde ele ilustra essa dor dizendo que “a ferida lambe a pele e morde a alma”, levando a assistência a pensar mais
A palestrante relata que a desnutrição compromete a síntese
proteica e a capacidade de reparação tecidual e pode ser prevenida e tratada com uma adequada terapia nutricional, na qual é
preciso atentar para a oferta proteico-calórica e hidratação do
paciente. Assim, durante a internação hospitalar, o paciente deve
ser acompanhado por equipe interdisciplinar, que irá diagnosticar os diferentes estágios da lesão para que o nutricionista possa
Palestrantes: Adriano Mehl, Valéria Girard, Nara Lopes, Cláudia Marchese e Mara Blanck
Cristina Pinho (B. Braun), Valéria Girard, Lawrence Storey (B. Braun), Mara Blanck, Adriano Mehl,
Roseli Campos (B. Braun), Claude Regnier (B. Braun), Cláudia Marchese, Danielle Bastos (B. Braun),
Alvaro Americano (B. Braun) e Nara Lopes
Papo de Nutrição com Cláudia Marchese | Nº 1 | Julho/2012
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Evento do Rio de Janeiro
Evento de Salvador
pautar-se nessa informação para o adequado planejamento das
necessidades de macro e micronutrientes. “o profissional deve
realizar avaliação nutricional para diagnosticar a presença
ou o risco de desnutrição, na qual a avaliação subjetiva global
(ASG) apresenta bom nível de evidência de indicação de acordo com o DITEN (B), devendo ser complementada com exames
laboratoriais como dosagem de albumina sérica e hemograma,
uma vez que a hipoalbuminemia ocasiona alteração da pressão
oncótica e edema e assim como a presença de anemia, compromete a difusão tissular de oxigênio e nutrientes, comprometendo a cicatrização da lesão”. A Nutr. Cláudia fez uma associação
entre as diversas funções da proteína e sua importância para
o processo de cicatrização, tais como funções de transporte da
albumina, ferritina e transferrina citadas acima; sinalizadores
como da insulina no controle glicêmico que é determinante para
prevenção da infecção através da adequada atividade fagocitária
e para ação dos fibroblastos na síntese de colágeno; catalisadoras como, por exemplo, da lisina hidroxilase que atua conjuntamente com a Vitamina C nas reações bioquímicas finais de
entrelaçamento da hélice do colágeno que confere sua rigidez e
o configura como proteína estrutural, um dos mais importantes
papéis desse nutriente.
A última palestra desses dias de profícua atividade ficou a cargo
da Enfa. Mara Blanck que motivou a todos com sua vasta experiência e entusiasmo com o tema “Tecnologias para tratamento
de feridas: casos clínicos”, no qual apresentou dois casos de difícil manejo e péssimo prognóstico, o primeiro uma grave lesão
decorrente de politrauma em acidente de moto e a segundo uma
gangrena de Fournier, ambos com intervenções interdisciplinares,
persistentes, corajosas e coroadas de êxito, fazendo com todos saíssem com a certeza de que “Pequenas Atitudes Salvam Muitas
Vidas”.
Ao final dos turnos de palestras, foram realizadas mesas redondas
com todos os palestrantes e discussão dos temas abordados com
forte participação da plateia, fato que fez com que os eventos
tivessem como ponto alto a riqueza dessa interação e troca de
experiências.
Nessa exposição ainda foi ressaltada a importância de um adequado aporte calórico que impeça que aminoácidos sejam convertidos
em precursores gliconeogênicos, ou seja, 30 a 35 ou 40Kcal/kg
dia, além de uma oferta proteica de 1,2 a 1,5g/kg/dia corroborada
por vários trabalhos e consensos que demonstram a superioridade
de ofertas hiperproteícas na cicatrização e melhoria de estágios
de lesões, com atenção especial ainda à Arginina e à Vitamina C,
que participam ativamente da síntese do colágeno, essencial para
remodelação e força tênsil da cicatriz.
Laboratórios B. Braun S.A. | OPM
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Julho/2012
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