34 Geral ZERO HORA SEXTA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2011 FÁBIO LAMEIRO RODRIGUES, DIVULGAÇÃO MAR DE SUJEIRA Praia do sul gaúcho fica repleta de lixo Garrafas e outros recipientes com rótulos estrangeiros dominam a paisagem do local Rio Grande/Casa Zero Hora RAFAEL DIVERIO Ao acompanhar um colega em uma expedição para estudar concheiros entre as praias do Cassino e do Hermenegildo, no litoral sul gaúcho, o oceanógrafo Fábio Lameiro Rodrigues teve uma surpresa: em vez de tapetes de concha, encontrou lixo. Intrigado e indignado, documentou a cena e publicou um artigo em um site especializado em educação ambiental. E ntre o lixo acumulado nas dunas, destaque para produtos importados. Há muitas garrafas e outros recipientes com rótulos árabes, chineses e russos. – Como não são facilmente encontrados aqui, acredito que tenham sido dispensados pelas embarcações em al- to mar ou na costa e chegou com uma ressaca. Resta saber se foi intencionalmente – comenta Rodrigues. Para reforçar a tese de que o lixo veio do mar, a região é praticamente desabitada. Não há balneários movimentados, como o centro do Cassino ou do Hermenegildo. Há apenas pe- Em vez de conchas, expedição encontrou muito lixo espalhado na areia da praia quase desabitada quenas comunidades pesqueiras. Para piorar a situação, os órgãos responsáveis por fiscalizar essas ações não conseguem agir.Como são muitas as embarcações que navegam na orla brasileira, a abordagem de todas torO descarte de lixo na praia pode no estômago ou no intestino. na-se quase impossível.As ações ocorcausar vários danos à vida marinha. O Instituto Brasileiro do Meio Amrem por meio de denúncias. Segundo o oceanógrafo Rodolfo Silva, biente e dos Recursos Naturais Reno– Parte deste material poderia estar do Centro de Recuperação de Animais váveis (Ibama) alega que,sem flagranno oceano há anos. Não temos como Marinhos (Cram), da Universidade te,não há o que fazer. rastrear. Se fosse óleo, teríamos maior Federal do Rio Grande (Furg), as tar– Normalmente, agimos por decapacidade de ação – explica o vice-altarugas são as maiores prejudicadas, núncia. Quando flagramos alguém mirante Sérgio Correia deVasconcelos, pois confundem plástico com comida. dispensando lixo, podemos autuar e Capitão dos Portos de Rio Grande. Mais de 80% das tartarugas que apreender a embarcação e o armador morreram durante tratamento no – diz o agente federal ambiental do [email protected] Cram tinham algum resíduo plástico Ibama Paulo Iribarrem. Tartarugas são afetadas MUITO ACIMA DO NORMAL Animais aparecem mortos no litoral de SC O aparecimento de dezenas de animais marinhos mortos desde o mês passado no litoral de Santa Catarina está preocupando pesquisadores e biólogos do Museu Oceanográfico da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), instituição que monitora as mortes há 18 anos. – O número está muito acima do normal e, além do mais, os casos estão concentrados em uma região – disse o curador do museu, Jules Marcelo Rosa Soto. A região fica no centro-norte de Santa Catarina, entre Porto Belo e São Francisco do Sul. De acordo com a Univali, em cerca de 30 dias foram encontradas 26 tartarugas verdes (Chelonia mydas), 12 botos (Tursiops truncatus), conhecido como “boto da tainha”, e dois golfinhos cinza (Sotalia guianensis). Na manhã de ontem, os biólogos recolheram um filhote de baleia-minke-antártica (Balaenoptera bonaerensis) na Praia de Porto Belo. À tarde, foi identificada na Praia Brava, em Itajaí, uma toninha (Pontoporia blainvillei) já em estado de decomposição. Na quarta-feira, uma baleia jubarte (Megaptera novaeangliae), em decomposição, foi encontrada em praia de São Francisco do Sul. Segundo o curador do museu, o mais provável é que as mortes te- nham relação com a pesca de emalhe realizada no litoral catarinense. Nesse processo, a rede é lançada ao mar tendo pesos em uma das extremidades e flutuadores na outra.Os peixes e crustáceos acabam presos nas malhas durante o processo de tentar se libertar. Soto disse, ontem à tarde, ter recebido denúncias de que um navio estaria utilizando uma malha mais grossa e com comprimento superior ao permitido pela legislação. Baleia tinha sinais de mordida de tubarão Ele acentuou que o aparecimento da jubarte pode ter sido coincidência,visto que, em Santa Catarina, ela fica em alto-mar.O corpo tinha sinais de mordidas de tubarão-azul. Soto disse que ainda iria verificar a denúncia sobre o barco com as redes ilegais.Algumas das tartarugas apresentavam sinais que levam a crer que ficaram presas em emalhe. Elas eram juvenis, com tamanho entre 33 e 41 centímetros de comprimento.Todos os animais foram recolhidos para exame. O coordenador do Projeto Tamar, que estuda as tartarugas, ligado ao Instituto Chico Mendes, em Florianópolis, Gustavo Stahelin, disse que não tinha recebido nenhum comunicado do Museu Oceanográfico sobre as mortes dos animais.