Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza Departamento de Geociências Laboratório de Geografia Aplicada Palestra proferida na cidade Rio Paraíba em debate: Vereadores, UFPB e Comunidade de São Miguel de Taipu Paulo Roberto de Oliveira Rosa Professor do DEGEOC/CCEN – Laboratório de Geografia Aplicada O processo de extração de areia do leito do Rio Paraíba tem sido uma realidade vista não somente pelo lado dos garimpeiros do mineral, mas também pelos ambientalistas como tem sido a presença permanente da APAN (Associação Paraibana dos Amigos da Natureza). A luta travada entre os mineiros e os ambientalistas têm requerido visão de técnicos e também de cientistas, tendo como espectadores e juízes a própria comunidade local e seus representantes políticos. O cenário em que os pontos de vistas divergem tem sido temática polêmica nos últimos cinco anos desde que a Associação dos Amigos de Guarita em Itabaiana - PB levantou bandeira contra a retirada de areia do Rio Paraíba naquela localidade, ferindo de forma acentuada não somente a estética do leito do Rio como também as próprias pistas de rolagem por onde os enormes caminhões transitavam com carga muito superior à capacidade de suporte das ruas urbanas. Os moradores do Distrito de Guarita e também da sede municipal de Itabaiana, protestaram veementemente contra a atividade mineradora que estava provando danos ambientais irreversíveis aquele lugar, o protesto gerou uma lei ambiental que foi promulgada por unanimidade na Câmara de Vereadores e imediatamente sancionada pelo prefeito. O mesmo procedimento foi estabelecido pela autoridade nos municípios de Salgado de São Félix e Pilar. O início do Baixo Rio Paraíba estava sendo cenário de atividades degradadoras, no entanto com ação responsável e inequivocada, as autoridades refletiram e atuaram a tempo de estabelecer uma atitude que permitiu o retorno da dinâmica da natureza naquele lugar. O Baixo Rio Paraíba tem um percurso que se inicia no município de Salgado de São Félix, pois ali apesar de ainda haver afloramentos de rochas cristalinas, é um lugar cuja deposição de material sedimentar oriundo das áreas mais elevadas é uma constante, por isso é que as atividades mineradoras também tentaram se estabelecer naquele lugar. A partir desse ponto em que o rio vai perdendo sua energia erosiva e vai depositando material que vai ficando agregado nas bordas do curso, esse lugar vai formando a planície fluvial. A planície fluvial abriga o terraço sedimentar por onde o rio mantém o seu meandrante curso e, que nos períodos de enchentes o rio transborda ultrapassando a calha fluvial, correndo então pelo terraço adjacente, passando então a ser o abrigo tanto das águas quanto dos sedimentos que aí ficam depositados, formando assim as jazidas do mineral areia e/ou argila elemento muito cobiçado pela atividade extrativa (Ver Fig. 1). Leito do rio meandrante Planície aluvial tida pelo garimpo como jazida do mineral areia São Miguel do Taipu – 2002. Diante dos fatos que se instalaram de forma quase que efetiva nos municípios à montante da cidade de São Miguel de Taipu, relativos a extração exacerbada do mineral areia, as autoridades políticas da referida cidade resolveram ouvir e sabatinar um pesquisador no assunto e que poderia encaminhar o argumento dentro dos trâmites da questão ambiental. A solicitação da vereança foi dirigida a APAN e esta me encaminhou à solicitação por considerar-me atualizado na questão da geografia do Baixo Rio Paraíba. O aval da APAN se pautou em outros trabalhos por mim apresentado ao Ministério Público assim como às Comunidades Municipais à montante da cidade em destaque. Os vereadores da cidade marcaram o debate/sabatina para as dezenove horas do dia 13 de dezembro corrente, tendo o caráter de sessão extraordinária daquele colegiado, pois poderia ser ou não aprovado o projeto de Lei enviado aquela casa pela vereadora Marcilene. Dos nove vereadores, compareceram sete (maioria significativa). A sessão foi marcada pela presença de uma população significativa de cidadãos do Município cuja participação significou interesse social pela causa que estava sendo tratada. (Ver Fig. 2). Figura 2 –O público atento às explanações sobre os danos causados pela mineração no Rio Paraíba Como a casa Legislativa não tem área que abriga um efetivo populacional grande, a sessão foi transferida para o Colégio Estadual local, e a sessão se deu no pátio. A exposição sobre danos ambientais provocados pela atividade mineradora e também pelo baixo retorno econômico para o município foi o tema abordado, cuja apresentação se deu a partir de uma série de imagens apresentadas ao público. A argumentação se deu a partir de uma exposição sobre a questão das legalidades, assim como das ilegalidades e do poder municipal sobre a questão de legislar sobre o patrimônio natural e seu futuro. Num segundo momento foi importante fazer um trabalho de geografia comparada, ou seja, trazer processos análogos sobre o mesmo rio, porém em áreas diferentes, neste sentido se fez uma distribuição das atividades mineradoras nas áreas à montante da cidade em tela. (Ver Fig. 3). Figura 3 – Apresentação de fatos análogos sobre a degradação mineradora no Rio Paraíba Não resta dúvida que a imagem fala para todos que conseguem ver, e querem ver. No entanto não se pode deixar de lado que o ponto de vista é relativo, e neste caso temos de forma bem nítida a visão do empreendedor que está se beneficiando do bem natural, como uma dádiva, e o cidadão que sozinho fica impotente de ação diante do capital estabelecido e voraz. Porém o que foi apresentado enquanto imagens foram os resultados obtidos em outras atividades referentes aos estudos feitos nas localidades que estavam sendo degradadas pela atividade minerária no curso do Rio Paraíba: Guarita e Pilar. Não resta dúvida que o processo análogo conota a possibilidade a partir das tendências, nesse sentido pudemos apresentar o que a atividade minerária havia feito e que jamais seria recuperado relativo às áreas exploradas nos municípios rio acima, pois o mineral retirado é de elevado montante quantitativo, pois apresentamos imagens que refletiam o tamanho dos caminhões, assim como o excesso de carga que ultrapassava bastante o limite da carroçaria. Essas imagens tiveram a intenção não somente de demonstrar o volume do material retirado como também a relação do peso com a pavimentação das ruas por onde os veículos pesados estavam passando assim sendo, a possível vibração que esses veículos são capazes de estabelecer sobre as edificações, possibilitando, com o passar do tempo, danificar a própria estrutura das mesmas. Após a apresentação dos argumentos que foram extraídos de documentos préexistentes, iniciaram-se os questionamentos, num primeiro momento os vereadores tiveram a palavra, questionando sobre os danos ambientais e possíveis danos para a população. As respostas estiveram sempre vinculadas ao que havia sido apresentado tomando como referência os trabalhos executados nos municípios à montante. Num segundo momento, a platéia pediu para poder ter voz, e também explanou fatos que vinham a corroborar com o que havia sido explanado, avalizando a voz da pesquisa que havia sido feito em outras áreas. Em certo momento houve presença de discurso acalorado, porém o papel do pesquisador foi também para conter os ânimos entre a platéia e o corpo de vereadores, pois estavam todos acalorados pelo fato de que a economia estava tendo um caráter mais especulativo, e que não estaria trazendo benefícios diretos à população da cidade. O lugar por onde a dragagem estava sendo feita estava sendo denominada pelo popular do lugar como “draga beach”, ou seja, lugar de possibilidade aparente de uma praia que viria trazer nos futuros possibilidades de entretenimento, porém o que houve foi uma explicação que quando a draga abandona um lugar é porque a jazida nesse ponto ficou esgotada deixando o leito com apenas uma grande camada de argila “lama”, tirando a possibilidade de uso daquele lugar como uma área apropriada para o banho, e ainda neste tocante o fundo argiloso é propício a colonização de gramíneas permitindo que o rio diminua drasticamente seu fluxo pr4oporcionando um ótimo ambiente para a colonização de insetos, como os mosquitos que tanto incomodam o bem estar das pessoas. Após as calorosas discussões, surge o impasse, pois não foi conveniente tratar de votar a matéria que estava em pauta, pois na realidade o que estava sendo feito era uma espécie de acareação entre a vereança, o pesquisador e os cidadãos do lugar, e como não havendo o córum por completo do corpo de vereadores não foi pertinente a votação da matéria que foi pauta da reunião, no entanto com o passar dos dias, ou mais precisamente, na quinta feira seguinte dia dezenove de dezembro de 2002, a matéria foi votada na Câmara de Vereadores de São Miguel de Taipu e acatada por oito votos contra um que votou contra, pois segundo informações não oficiais, era interessado no areeiro. A participação do pesquisador do Laboratório de Geografia Aplicada do Departamento de Geociências – CCEN da UFPB foi de suma importância para que a tomada de decisão dos vereadores com o aval dos cidadãos do lugar, tivesse maior clarividência em relação ao patrimônio ambiental assim como com as gerações futuras de São Miguel de Taipu, partindo então pela aprovação em plenário da Lei que establece critérios rigorosos na proteção ao Rio Paraíba naquele município.