Revista Brasileira de Gestão de Negócios Publicação quadrimestral da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – FECAP Revista Gestão de Negócios – Ano 6 – número 15 – agosto 2004 Expediente Revista Brasileira de Gestão de Negócios Publicação quadrimestral da FECAP Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado Conselho de Curadores Presidente Honorário – Sílvio Alvares Penteado Neto Presidente – Horácio Berlinck Neto Vice-Presidente – Mário Amato Membros Paulo Ernesto Tolle Abram Abe Szajman Shigeak Ueki Esther de Figueiredo Ferraz Flávio Fava de Moraes Ruth Cardoso Superintendência Executiva Superintende Geral – Marcelo Freitas Camargo Superintendente Administrativo Financeiro – Roberto Uchôa Alves Lima Superintendente Acadêmico – Manuel José Nunes Pinto Centro Universitário Álvares Penteado – UNIFECAP Reitor – Manuel José Nunes Pinto Vice-Reitor – Luiz Fernando Mussolini Júnior Pró-Reitor Administrativo – Roberto Uchôa Alves Lima Pró-Reitor de Graduação – Jaime de Souza Oliveira Pró-Reitor de Extensão e Desenvolvimento – Fabio Appolinário Pró-Reitor de Pós-Graduação – Maria Sylvia Macchione Saes Programas de Mestrado em Administração Empresarial e Controladoria e Contabilidade Estratégica Coordenador de Administração de Empresas – Dirceu da Silva Coordenador de Controladoria e Contabilidade Estratégica – João Bosco Segreti Diretor Geral da Revista: Marcelo Freitas Camargo Editor: Mauro Neves Garcia Conselho Editorial Antônio Barbosa Lemes Júnior – Universidade Federal do Paraná – UFPR Carlos Alberto M. Callegaro – Universidade Federal do RGS – UFRGS César Augusto Tibúrcio Silva – Universidade de Brasília – UnB Eliseu Martins – Universidade de São Paulo – FEAUSP Gilda Figueiredo Portugal Gouvêa – Universidade de Campinas – UNICAMP Gustavo Guerra Galindo – Universidad Veracruzana – México Heitor Takashi Kato – Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR Jonathan Hermosilla Cortés – Director Escuela de Comercio Pontificia Universidad Católica de Valparaíso – Chile Marcos Cortez Capomar – FEA-RP-USP – Universidade de São Paulo Martinho Maurício Gomes de Ornelas – Universidade Federal da Paraíba – UFPB Paulo Schimidt – Universidade Federal RGS – UFRGS Paulo Tromboni Nascimento – Universidade de São Paulo – FEAUSP Stael Maria Vieira Barquette – Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF Simon L. Dolan – Universidad Ramon Luill – Barcelona – Espanha Diagramação Real Produções Gráficas Ltda. Produção Gráfica Iglu Editora Ltda. Núcleo de Pesquisa Mônica Menkaitis Bressan Antônio Carlos Nogueró Secretaria do Mestrado Amanda Russo Chirotto Leslye Revely dos Santos Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores. Permite-se a reprodução desde que citada a fonte e o autor. Pede-se Permuta We request exchange On demand l’échange Se solicita canje Endereço para Correspondência e Contato Revista Brasileira de Gestão de Negócios do Centro Universitário Álvares Penteado – UNIFECAP Av. Liberdade, 532 – São Paulo – SP – CEP 01502-001 tel.(11) 3272-2264 E-mail: [email protected] Site: www.fecap.br Editorial A presente edição marca o segundo passo da nova versão da nossa Revista, a continuidade após sua reestruturação total, com novo formato e corpo de conselheiros e pareceristas. Este número, para nossa satisfação, traz artigos de pesquisadores paulistas, brasileiros, mexicanos e americanos, envolvendo autores das cidades de São Paulo, ABC Paulista, Campinas e México, além dos Estados do Maranhão e da Flórida. Os artigos publicados nesta edição abordam as áreas de gestão e organizações, marketing e mercado acionário. Em gestão e organizações os assuntos apresentados versam sobre responsabilidade social na ótica de organizações da sociedade civil, movimento cooperativista de trabalho no Brasil, bem como ciclo de vida organizacional na definição e determinação das fases de uma organização. Os artigos enquadrados na área de marketing abordam um modelo matemático para o mercado de café mexicano, escolha da empresa para seguros de fiança locatícia e ética no marketing. O último artigo destaca um instrumento de avaliação do desempenho de risco no mercado acionário brasileiro. Finalizando, agradecemos aos novos membros do conselho; aos pareceristas que atenderam ao nosso apelo que se cadastraram e avaliaram os trabalhos submetidos à publicação; e a todos aqueles que responderam, positivamente, à nossa chamada de trabalhos para a presente edição. Mauro Neves Garcia Editor Diretrizes para publicação Áreas Temáticas: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. Administração da Informação Administração de Ciência e Tecnologia Contabilidade e Controle Gerencial Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade Estratégia em Organizações Finanças Gestão Internacional Gestão de Operações e Logística Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho Gestão Pública e Governança Marketing Organizações/Comportamento Organizacional Organizações/Teoria das Organizações Gestão Social e Ambiental Gestão de Agronegócios Normas: Os artigos a serem submetidos à revista deverão obedecer aos seguintes quesitos: a) Formato: • O artigo deve ser inédito, não tendo sido enviado a outro veículo para publicação, e ter no mínimo 10 e no máximo 20 páginas, incluindo apresentação detalhada dos procedimentos metodológicos utilizados, ilustrações, bibliografia e notas de final de texto • Editor de texto Word do Office 97 ou posterior. • Configuração das páginas: Tamanho do papel: A4 (29,7 x 21 cm) e Margens: superior 3 cm, inferior 2 cm, esquerda 3 cm. e direita 2 cm. • Fonte do texto Times New Roman, corpo 12. • Espaçamentos Simples (entre caracteres, palavras e linhas). . b) Observações importantes: • Todas as notas de rodapé deverão estar incluídas como notas de final de texto; • Ilustrações, tabelas e gráficos: Excel ou Power Point, vinculados ao Word, com fonte Times New Roman corpo 10; • Resumo e Abstract devem ser apresentados em um único parágrafo, com o mínimo de 10 e o máximo de 15 linhas, e com palavras-chave e key-words; • Os títulos e subtítulos deverão ser identificados com negrito e corpos de diferentes tamanhos, caminhando do maior para o menor (título e subtítulo), não se admitindo o uso de negrito fora deste contexto; • As palavras em outros idiomas, que não sejam em português, devem aparecer em itálico; • As citações com três linhas ou mais devem ser feitas em itálico e recuadas 1,0 centímetro tanto da esquerda quanto da direita, além da margem normal; • A identificação do autor ou autores deve ser feita em folha separada do texto, acompanhada de um breve curriculum vitae e título do artigo. Os artigos cuja autoria seja identificada não serão avaliados para publicação c) Conteúdo da primeira página: • Título do trabalho, com todas as palavras principais iniciando em maiúsculas • Resumo e palavras-chave e Abstract e key-worlds • Início do corpo do texto. d) Envio: [email protected] Ano 6 – Número 15 – 2004 Revista Brasileira de Gestão de Negócios Sumário Ética no marketing: ação isolada ou do negócio? Miguel Arantes Normanha Filho Aplicação do conceito do ciclo de vida organizacional na definição e determinação das fases de uma organização varejista Abramo Nicola Battilana Valter Beraldo Mathematical model for mexican coffee market G. Guerra Galindo Charles B. Moss Responsabilidade social na visão de organizações da sociedade civil Antonio Marcos Vargas de Oliveira Úrsula A. Araújo Nogueira Dirceu da Silva O ressurgimento do movimento cooperativista de trabalho no Brasil João Carlos Felicio Domingues Fulvio Cristofoli A escolha da seguradora para o seguro fiança locatícia na óptica dos corretores de seguros Júlio César Bezerra da Silva 7 15 27 34 42 49 Revista Brasileira de Gestão de Negócios : publicação quadrimestral da FECAP – Vol. 6, n.15 (mai./ago.) 2004 – . São Paulo: Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – __v. : 21 cm ISSN 1806-4892 Continuação de: Revista Álvares Penteado ISSN 1516-1994 1. Contabilidade 2. Economia 3. Administração 4. Finanças 5. Publicidade e Propaganda 6. Comércio Exterior 7. Controladoria. 8. Mercados Financeiros 9. Sistema de Informação I. Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (São Paulo, SP) Tiragem: 1.000 exemplares Artigo Ética no marketing: ação isolada ou do negócio? Miguel Arantes Normanha Filho Mestre em Administração em Serviços pela UNIBERO-SP. Mestrando em Gerontologia pela PUC-SP. Pós-Graduado em Administração de Marketing, pela FECAP/CEAP-SP e Formação de Professores para o Ensino Superior – UNINOVE-SP. Coordenador Acadêmico, Professor Universitário e Consultor Empresarial. [[email protected] / [email protected] / [email protected]] RESUMO Este artigo, sobre a ética no marketing parte do pressuposto que a mesma não existe se ela não estiver inserida na ética dos negócios. Não pode ser entendida e definida como uma área de estudo acadêmica de forma desvinculada da ética dos negócios. Falarmos de ética no marketing pressupõe que exista sólido conhecimento do que é marketing, dessa forma suas definições, conceitos, abrangência e limitações são detalhadas para amplo conhecimento. A ética no marketing está inserida na dos negócios, uma vez que um plano de marketing está atrelado e em consonância com o plano estratégico da empresa, e a postura ética empresarial está definida explicita ou implicitamente na missão organizacional. PALAVRAS-CHAVES Marketing; ética; ética no marketing; ética nos negócios. ABSTRACT This article, about the ethics in marketing, presupposes that it does not exist if it is not inserted in business ethics. It cannot be understood and defined like a subject of academy study away from the ethics of business. Speaking about marketing ethics requires solid marketing knowledge; in this way its definition, concepts, understanding and limitations are detailed for broader knowledge. The ethics in marketing is inserted in business since a marketing plan is related to the strategic plan of the company and ethics of business posture is awr out or is implicit in organizational goals. WORDS-KEYS Marketing, ethics, ethics in marketing, ethics of business. 1. INTRODUÇÃO Ora, o mercado, no Brasil – pergunte a qualquer agência de publicidade –, são quarenta milhões de Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP seres humanos. Somente quarenta milhões têm acesso aos bens de necessidades [...] O segredo da publicidade é tornar necessário o supérfluo. E o grande drama das pessoas, hoje, não é ter ou não um trabalho, mas como se inserir no mercado. Precisam estar no mercado[...] Não podem levar em conta conotações éticas, elaborar um planejamento de inclusão das maiorias, um projeto a longo prazo. (FREI BETTO, 2001) O marketing é uma das ferramentas da administração de empresas e dos negócios, e é fortemente conhecido e aplicado, na maioria das vezes, em processos de troca, com o fim de lucro. E hoje, está cada vez mais sendo aplicado em uma nova amplitude na esfera da responsabilidade social corporativa no Brasil, “Cada vez mais as empresas estão se defrontando com a necessidade de incorporar a responsabilidade social aos seus objetivos de lucro. Ação socialmente responsável das empresas já ultrapassou o estágio de mera tendência para se transformar gradativamente em estratégia corporativa” (TREVISAN, 2002, p.3). Pinto & Lara, ensinam que “Uma vez que a orientação mais moderna do marketing não mais está focada somente na preocupação com os clientes externos, mas sim na satisfação de todos os públicos que interagem com a empresa, teria relevância discutir qual seria a relação entre a adoção de práticas de cidadania corporativa e o planejamento de marketing das empresas” (PINTO & LARA, 2004, p. 49), e segundo Carroll (1991) citado pelos autores, existem quatro dimensões para a cidadania corporativa: econômica, legal, ética e filantrópica. Assim a ética no marketing está inserida na ética dos negócios. Rossini & Palmisano, quando falam de ética e impactos sociais, dizem que: Os valores éticos, sociais e políticos devem sempre ser contemplados em conjunto, é como se fosse uma tríade para que possa existir equilíbrio. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 7 MIGUEL ARANTES NORMANHA FILHO O ambiente em que iremos viver nos próximos 20 anos será caracterizado, dentro de um processo de transformação da base econômica da sociedade, por mudanças rápidas e profundas causadas pelo desenvolvimento da tecnologia (ROSSINI & PALMISANO, 2003, p. 148). 8 A ética deve, portanto, ser encarada como posicionamento estratégico pelas empresas que visam o lucro, em seu processo de negócio, tomando-se a atenção que as ações que motivam e viabilizam o processo de troca da empresa com o mercado, são feitos através do uso de ferramentas do marketing, que são, algumas vezes, alvo de críticas em face dos aspectos ligados às ações de indução, às necessidades e expectativas das pessoas por dado produto ou serviço. São necessários tais produtos e serviços para dado segmento da sociedade? Os interesses sociais são considerados, ou a resultante de lucro é prioritária na decisão da empresa? Tais indagações nos remetem ao exposto por Srour, que advoga que estudamos em ética, “Os fenômenos morais e, mais especificamente, as morais históricas, os códigos de normas que regulam as relações e condutas dos agentes sociais, os discursos normativos que identificam, em cada coletividade, o que é certo ou errado fazer” (SROUR, 2003, p.15). Segundo o artigo de Pena, Ética y estratégia em el marco teórico referencial de la business ethics, o termo ethos, é originado dos termos gregos: ethos (com eta inicial) e ethos (com épsilon inicial). O primeiro termo designa a moradia do homem. O segundo ethos tem sentido de abrigo. O vocábulo de origem do ethos como costume. A metáfora da moradia do homem e seu abrigo indicam que, a partir do ethos, o espaço do mundo se torna habitável para o homem. Este espaço é construído e incessantemente reconstruído pelo homem como uma casa, é uma obra do homem para sentirse seguro e protegido. A segunda concepção do ethos (com épsilon inicial) aponta para o comportamento que resulta de uma constante repetição dos atos. Trata-se de uma constante na atuação da pessoa, que se contrapõe ao impulso do desejo. Designa, portanto, o processo do hábito, compreendido como a disposição de atuar de determinado modo (PENA, 2003). Não existirá ética no marketing enquanto não existir ética nos negócios. As ações de marketing são partes integrantes, sinérgicas às do negócio. Assim, cuidados especiais devem ser observados, pois ética no marketing deve ser entendida com uma área de estudo acadêmico que pesquisa as relações do processo de troca e suas implicações, da empresa com o mercado e Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP vice-versa, do ponto de vista ético, em uma abordagem sistêmica, a parte (marketing) está ligada ao todo (o negócio). 2. CONHECENDO O MARKETING O desconhecido é sempre exagerado – assim diziam os romanos. E assim foi com o marketing no Brasil, por muitos e muitos anos. Não o conhecíamos e por não o conhecermos dávamos-lhe o caráter de cabulosa magia negra, espécie de rito secreto de alguns demônios americanos. Como conseqüência, sempre que um especialista vindo dos Estados Unidos nos falava de marketing, nós o tomávamos por mágico (Gracioso, 1983, p. 13). Não podemos falar de ética no marketing se não entendermos qual é seu significado, sua abrangência, suas limitações, as discussões e os estudos a cerca dele, caso contrário poderemos simplificar e limitar, de forma equivocada, a necessidade da ética, e cairmos em um lugar comum como se a mesma fosse restrita a uma parte das ações do seu composto operacional, sem entendermos que é um processo que envolve a relação da empresa com o ambiente externo. Marketing e ética começam a caminhar juntas, de forma identificável e como abordagem de estudos a partir da Escola do Macromarketing, quando se iniciaram as pesquisas dos impactos das atividades de marketing e das organizações na sociedade e vice-versa. Emergiu como conseqüência do crescente interesse pelo papel dos negócios na sociedade, assim limite e ética tornam-se uma constante. Face exposto, e para efeito do presente artigo, adotaremos como referência à abordagem da orientação de marketing societal, que expõe “... que as empresas incluam considerações sociais e éticas em suas práticas de marketing” (KOTLER, 2000, p.47). Novas realidades emergem das macromudanças no sistema mundial, influenciando os ambientes de negócios do Brasil, quebrando paradigmas, redefinindo padrões de comportamento organizacionais, exigindo habilidades, conhecimentos, desempenho, responsabilidade e postura ética dos profissionais que exercem as funções de administrador, executivo, consultor e professor. Esse cenário tem levado as empresas a repensar suas estruturas organizacionais e metodologias sobre estratégia e questões operacionais. No Brasil, o estrategista depara com obstáculos peculiares, não observados em outros países. Um Ano 6 Número 15 Agosto 2004 ÉTICA NO MARKETING: AÇÃO ISOLADA OU DO NEGÓCIO? deles é a instabilidade econômica e política, resultado da ausência de uma definição de diretrizes claras e comprometedoras tanto do governo quanto de outros segmentos (RICHERS, 2000). Em síntese, embora inicialmente dificultado por resistências à mudança, o processo de modernização em curso no Brasil se caracteriza, no plano político-ideológico, pela desradicalização e pluralismo; no ordenamento econômico, pela abertura, internacionalismo e integração; nas posturas de governo, pela descentralização, privatização e desregulamentação; nas posturas empresariais, pela competitividade e descartelização (KAPOS; ROSETTI, 1992, p. VII-IX). Há meio século, ninguém praticamente conhecia o termo marketing no Brasil, “Entretanto, hoje, circula com a mesma freqüência que as palavras democracia e guaraná” (RICHERS, 2000, p.3). Hoje, a despeito da amplitude do conhecimento e até mesmo do uso abusivo e intensivo pela mídia, a adoção do termo na realidade brasileira, vai apenas um pouco além da prática do composto promocional (COBRA, 1985, p.33): observa-se que, em várias situações, marketing e propaganda ainda são tratados como sinônimos. Saber a diferença entre os termos e, principalmente, as abrangências de sua aplicação, evitarão erros e equívocos do profissional que terá a incumbência de administrar (gerenciar) suas ações em determinada organização (industrial, comercial ou de serviços), ou seja, orientará o encarregado pela administração de marketing, assim como ajudará na área da docência, e clarificará a questão da ética no marketing. Quando usamos a expressão ética temos como pressuposto que conhecemos o contexto de onde ela está inserida, porém na questão do marketing existem fatores que devem ser considerados para que possamos ter o real alcance da sua aplicação, assim devemos conhecer que: 1 – Ele é tanto uma filosofia quanto uma técnica. Como filosofia, é uma postura mental, uma atividade, uma forma atual de conceber a função comercial, a relação de troca, por parte da empresa ou entidade que oferece seus produtos e serviços. Essa concepção, resultado de uma evolução na forma de entender a troca, parte do conhecimento das necessidades e desejos do consumidor, com o fim de satisfazê-los do modo mais benéfico, não só para o consumidor, mas também para a entidade ofertante. Como técnica é o modo específico de efetuar e levar a cabo a relação de troca, consistindo em identificar, criar, desenvolver e servir a demanda. Entretanto, seu entendimento não deve estar restrito a Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP uma simples função empresarial, mas entendê-lo como filosofia do negócio da empresa. 2 – Em geral, o alcance de uma disciplina científica estabelece o conteúdo e os limites do seu campo de estudo. Sua importância se deve à concepção científica que, especialmente na década de 70, exigiu análises que definissem objetivamente a especificidade de seu campo de estudo, para então defini-lo ou não como ciência. Tradicionalmente, limitou-se à área econômica empresarial; foi a partir da década de 1970 que se aprofundou a ampliação de tais limites. Segundo Mestre (1996, p.53-55), Kotler e Levy foram os autores que se manifestaram mais contundentemente a favor da ampliação do conceito, para incluir outras organizações, além daquelas com fim de lucro. Paralelamente a essa postura, alguns autores têm-se mostrado contra a ampliação do seu campo de estudo, caso de Luck (apud MESTRE, 1996, p.53-55) ao sustentar que o conceito deve limitar-se somente àquelas atividades cujo resultado seja uma transação de mercado, já que não se pode ter uma transação se não houver um preço a ser pago. Arndt (1978, 1980) considera que não se devem aplicar suas técnicas a áreas não-empresariais que não visam a lucro. Esse autor europeu sustenta que, se tal fato ocorresse, haveria conflito com a antropologia social, psicologia social e sociologia. Considera, portanto, que deve se limitar à área econômica e que qualquer ampliação do seu escopo deveria chamar-se por outro nome. Também Laczniak e Michie (apud MESTRE, 1996, p.53-55) criticaram a sua ampliação, especialmente no campo dos problemas sociais. Levy e Kother (1979), entretanto, replicaram estas críticas, argumentando que tais posicionamentos eram excessivamente restritivos, rígidos e limitadores do estudo da disciplina. 3 – Os debates sobre a natureza científica surgiram com o desenvolvimento da disciplina. Buzzell (apud MESTRE, 1996, p.159-160) sustenta que, de forma geralmente admitida, ciência é um corpo de conhecimento classificado, sistematizado, organizado ao redor de uma ou mais teorias centrais e um número de princípios gerais, normalmente expressos em termos quantitativos, conhecimento que permite a predição sobre determinadas circunstâncias e o controle dos acontecimentos. Em sua opinião, é improvável que ele cumpra tal requisito, pois, apesar de existir um substancial corpo de conhecimento classificado sobre o marketing, certamente não há teorias centrais; ademais são poucos os princípios aceitos, e a capacidade de predição é realmente limitada. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 9 MIGUEL ARANTES NORMANHA FILHO 10 A abordagem de Buzzell foi contestada, primeiro de modo específico, por Taylor (1965) e, posteriormente, de forma mais geral, por Hunt (1976, 1983), para quem os requisitos para que uma disciplina seja considerada ciência são três: 1º) ter um objeto de estudo próprio, extraído do mundo real, descrito e classificado; 2º) supor a existência de uniformidades e regularidades subjacentes que interrelacionam as variáveis do objeto do estudo, e 3º) adotar procedimentos certificados para estudar o objeto de sua competência. Em sua evolução como ciência, ele baseia-se em disciplinas como a psicologia, que proporciona os fundamentos para diversos modelos de comportamento do consumidor e análises de atitudes; a estatística, cujas técnicas têm sido amplamente utilizadas para analisar relações entre variáveis e a investigação operativa, desempenhada nos modelos de otimização. Como disciplina científica, integra-se às ciências sociais e está relacionada com quatro grupos de disciplinas científicas: o primeiro grupo é constituído das disciplinas com as quais se relaciona mais diretamente: a economia, a ciência política e os estudos da organização; o segundo é composto das disciplinas que estudam o comportamento humano: a antropologia, a sociologia, a psicologia e a comunicação; o terceiro contém aquelas disciplinas que tratam de aspectos mais amplos da vida, como a filosofia e a ecologia; o quarto grupo reúne ciências relacionadas com o marketing, aquelas que lidam com ferramentas, técnicas e métodos de medidas: a matemática, a estatística, a econometria e as ciências da computação (MESTRE, 1996, p.159-160). Não obstante os consideráveis progressos tanto no desenvolvimento de teorias quanto nos métodos de investigação que se têm produzido no marketing durante os últimos anos, ainda existem dúvidas a respeito do caráter científico da disciplina. Simon (1986, 1995) aponta, como possíveis causas da desorientação da ciência do marketing, a falta de distinção clara entre investigação básica e aplicada, assim como a prevalência de uma visão estreita (nãoholística) da realidade dos problemas comerciais, a utilização de metodologias de investigação inadequadas, a escassa relação entre o mundo acadêmico e a prática empresarial e a falta de orientação para o mercado. 4 – O seu conceito não descreve o que é nem o que faz o marketing, pois se trata de uma forma de pensar, uma filosofia que direciona o entendimento da relação de troca de produtos e serviços de uma organização com o mercado. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP 5 – O conceito atual parte das necessidades do consumidor, o usuário, e são estas que orientam a produção. No entanto, essta concepção do processo de troca não é nova. Os economistas clássicos, como Adam Smith e James Mill, consideravam que a atividade econômica deve estar centrada no consumo e não na produção, atendendo, assim, aos interesses do consumidor. A relação de troca tem passado por orientações distintas em sua evolução até chegar ao conceito atual, quando se contemplam não só as necessidades dos indivíduos em particular, mas também as necessidades da sociedade em geral. Entretanto, a forma de encarar a relação de troca evoluiu com o transcorrer do tempo e, fundamentalmente, com a presença e competência existente: quanto maior é o grau de competência, melhor é a sua aplicação. Para Levith (1975), marketing significa algo mais que vender os produtos e serviços. A venda tem como objetivo o que o cliente adquire, algo que a empresa possui, constituindo a ‘colocação’ do produto um fim em si mesmo; em troca, exige que a empresa tenha o que o cliente quer (MESTRE, 1996, p. 532534). Kotler (1977) afirma que a venda se apóia em ações de curto prazo, preocupa-se com os produtos disponíveis; por sua vez, é uma atividade em longo prazo, pois procura criar ou adaptar os produtos às necessidades dos consumidores (MESTRE, 1996, p. 532-534), ou criar necessidades que gerem produtos. A venda considera que o consumidor potencial é persuadido mediante uma promoção intensa e, assim, demandará o produto ou serviço ofertado. Porém, na realidade, o que o comprador busca não é um produto determinado, e sim satisfazer uma necessidade. O produto é somente um meio para alcançar um fim: a satisfação de uma necessidade. O que se pode conseguir de um modo efetivo é o que se persegue o marketing. O seu conceito apresenta maiores dificuldades em sua aplicação prática. Fundamentalmente, aplicá-lo a uma organização consiste em fazer o melhor trabalho possível na direção do atendimento às necessidades e objetivos do cliente. Nenhuma empresa consegue êxito de forma continuada se não for orientada pelo e para o mercado, o que equivale a perceber as trocas que ocorrem no mercado e seu respectivo retorno, além de mapear permanentemente as cambiantes necessidades da clientela. Qualquer organização que atue na sociedade responde também a ela. Se os produtos que vende ou os serviços que presta prejudicam as pessoas, estes devem ser eliminados, ou os danos causados, reduziAno 6 Número 15 Agosto 2004 ÉTICA NO MARKETING: AÇÃO ISOLADA OU DO NEGÓCIO? dos ao mínimo. A organização, portanto, considerando sua responsabilidade social, deve fazer um balanço entre seus interesses e as necessidades dos clientes e o bem-estar da sociedade. Kotler (2000, p.30) propõe uma definição social, marketing é um processo social por meio do qual as pessoas e grupos de pessoas obtêm aquilo que necessitem e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação de produtos e serviços de valor com outros. 6 – A teoria e a inadequação dos termos na prática Mesmo com a evolução das definições de marketing, que sempre acompanhou a dos negócios, das mudanças sociais e ambientais, ainda ocorrem equívocos e inadequações no emprego dos termos. Cobra (1997, p. 24) cita Kotler e Gerald Zalterman, que procuram estabelecer uma definição do marketing social: “A criação, implementação e controle de programas calculados para influenciar a aceitabilidade das idéias sociais e envolvendo considerações de planejamento de produto, preço, comunicação, distribuição e pesquisa de marketing”. Muitas tentativas foram feitas e continuam para definir precisamente marketing, algumas de forma a distorcer seu sentido, a ponto de Robert Batels (1974, p.38) afirmar que “Se o marketing é para ser olhado como abrangendo as atividades econômicas e não econômicas, talvez o marketing como foi originalmente concebido reaparecerá em breve com outro nome”. Se, na teoria, entre os mestres, há discordância quanto ao uso do termo, na prática o problema revela-se ainda mais confuso. Uma das primeiras conseqüências é o constante uso, como sinônimos, dos termos propaganda e marketing, propaganda e publicidade, em decorrência de simplificações que os torna semelhantes. Em vez da evolução para um melhor entendimento sobre estes termos, já que, desde 1953 o marketing passou a ser ensinado oficialmente em nossas universidades (esta primazia coube à Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo), há por parte da mídia, em especial a impressa, uma proliferação do uso inadequado dos termos, o que tende a perpetuar a confusão dos estudantes e profissionais do mercado (gestores). O Brasil de hoje não deve ser mais visto, no que se refere ao seu mercado de consumo, como um ambiente de simples troca, compra e venda de produtos e serviços. Além da sofisticação e qualidade de produtos e serviços, existe um desequilíbrio entre Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP oferta e demanda, o que obriga a uma criteriosa segmentação de mercado e responsabilidade social para manter a possibilidade de sobrevivência das empresas. Visando a atender à necessidade desta nova realidade, que não permite erro, o marketing não pode ser entendido como sinônimo de propaganda nem confundido com ela, mesmo porque tal situação é um equívoco que pode levar empresas a prejuízos, uma vez que elas não conseguem, somente pela propaganda, atender a um consumidor cada vez mais exigente. Tal confusão pode ser observada no dia-adia, não no nível semântico, e sim no conceitual. A mídia é uma das responsáveis pelo uso inadequado dos termos, por não clarificar a diferença entre eles, perpetuando a ignorância sobre a matéria. A causa do problema (uso inadequado dos termos) não é a mídia em si, mas a influência dos profissionais de propaganda, como formadores de opinião que são, sobre ela. Historicamente, no Brasil, a propaganda aparece antes do marketing, o que em parte explica a confusão de termos e até mesmo a predominância da propaganda na mídia em artigos/ matérias publicados. Assim, como se aplica a ética no marketing? 3. ÉTICA NO MARKETING Partiremos de uma definição simples de ética: “... refere-se a padrões de conduta e julgamento moral – ou seja, à questão de saber se as decisões e comportamentos dos administradores estão certos ou errados”.(WRIGHT; KROLL; PARNELL, 2000, p.120), e adotaremos como ponto fundamental, que tais padrões de conduta sejam determinados, formalmente, pelas organizações, através de um código de ética “...que acrescente valor à instituição [...] A instituição necessita definir como deseja desenvolver-se, de tal forma que a postura ética, a conduta moral, os seus valores e crenças essenciais se tornem parte da cultura da organização.” (ARRUDA, 2002, p. 1-3). Assim clara definição de ética e formalização através de um código, são fundamentais para que possamos entender de forma prática a ética no marketing e a ética nos negócios, objetivando que exista padrões de medição de desempenho. Ao falarmos de ética no marketing, precisamos ter a clareza de que ele como filosofia de negócio é mais facilmente definido, entretanto quando fazemos uso das técnicas (a aplicação na prática, o fazer), estamos fazendo uso de várias ciências, em especial de vários atos da administração de empresas, da economia, Ano 6 Número 15 Agosto 2004 11 MIGUEL ARANTES NORMANHA FILHO 12 das ciências contábeis, da estatística, da psicologia, do direito e da sociologia, todas elas com seus códigos de ética próprios, nem sempre suficientes para abranger resultantes de ações conjuntas, do processo resultante. Porém como qualquer atividade, ela requer que se crie, redefina, e se pratique e consolide padrões éticos que impeçam o engano e a prática de comercialização desleal do consumidor, mas também contra os concorrentes, e contra a legislação vigente. A ética diferentemente das leis, que geram interpretações, deve ter valores definidos e cumpridos, ainda mais no caso das implicações poderosas do marketing junto à sociedade, muitas vezes não percebida pela mesma. A evolução do marketing acompanha a evolução da sociedade, e principalmente da acirrada concorrência existente hoje e que tenderá aumentar cada vez mais. O marketing tanto no seu aspecto instrumental, como no operacional, atua exatamente sobre o comportamento dos consumidores através de sofisticados instrumentais, devemos, portanto, termos a dimensão que tais ações não são imorais, e assim, se a ética é considerada por alguns autores como a ciência da moral, a obsessão aos lucros e resultados econômicos e financeiros devem antes de ter um controle legal, ter um controle moral de atos ilícitos. Das ferramentas usadas pelo marketing, as que mais se evidenciam na falta de conduta ética nas suas aplicações, são a propaganda, a promoção de vendas, a venda pessoal e a logística empresarial, entretanto não devemos tratá-las como “prática não ética” de forma estanque, em separado (de cada instrumento), pois como o marketing caracteriza-se pela ação do conjunto, não existe parte “não ética”, uma parte compromete o todo, a filosofia. Se uma parte não pratica, não existe ética no marketing. Apesar da ética no marketing ainda ser negligenciada ainda no Brasil, felizmente nossa sociedade está cada vez mais madura e consciente do seu papel como consumidora e cidadã, o que reforça a necessidade das empresas na ética e responsabilidade social, que carrega concomitamente teias legais mais rígidas, que obrigam as organizações a um alto grau de comprometimento ético na sociedade na qual estão inseridas. Devemos tomar atenção em questões relativas “As morais empresariais” conforme exposto por Srour, “Em uma economia competitiva, os empresários não têm como deixar de considerar os interesses díspares de seus stakeholders. Porque mercados abertos, aliados a regimes políticos liberais, conferem enorme poder de fogo àqueles que se organizam[...] A mesma coisa se aplica aos acionistas minoriRevista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP tários, gestores, trabalhadores sindicalizados, associações de moradores, organizações não-governamentais, movimentos ambientalistas. Todos eles podem valer-se desses e de outros instrumentos de pressão...” (SROUR, 2003, p. 274). Assim ao falarmos de ética no que tange aos negócios devemos ter como objetivo, a existência de um código de ética, ele “… só pode ser vantajoso para seus vários stakeholders” (ARRUDA, 2002, p. IX). A ética no marketing está inserida na ética dos negócios que é definida implícita ou explicitamente na Missão da organização, e o marketing possui seu plano de ação atrelado ao planejamento estratégico da empresa. E tendo planejamento estratégico, temos o pressuposto que a organização pratica administração estratégica, que considera três ambientes: 1) a empresa; 2) o ambiente concorrencial; 3) o macroambiente. Assim se a empresa é uma O.S.A . – Organização a Serviço do Ambiente, sua existência somente se justifica e é influenciada pelo ambiente externo. Nada mais fácil supor que, se a empresa é uma organização viva composta de pessoas, a ética começa de dentro para fora: o conjunto é ético, ou não. Portanto a ética no marketing transcende uma área da empresa e não é restrita a ela, aplica-se portanto, à ética dos negócios. Certo & Peter, no livro Administração Estratégica (1993), citam Laczniak (1983) afirmando que o “problema relacionado com influências éticas é a falta de padrão universal simples para julgar se uma ação em particular é ética”, e resumem os padrões éticos apregoados por Gene Laczniak: 1) A Regra de Ouro: Agir em relação aos outros da mesma forma que você espera que as outras pessoas ajam em relação a você. 2) O princípio utilitarista: Agir de forma a resultar no maior bem para a maior quantidade de pessoas. 3) Imperativo categórico de Kant: Agir de tal forma que a atitude que você tomar possa ser uma lei ou regra universal de comportamento em relação às circunstâncias dadas. 4) A ética profissional: tomar atitudes que um grupo qualquer de colegas profissionais vejam como apropriadas. 5) O teste de TV: pergunte, “Eu me sentiria à vontade explicando, em cadeia nacional de TV, porque tomei esta atitude? (CERTO & PETER, 1993, p. 297-298) Assim, as práticas éticas de negócios, e insere-se em tal contexto a ética no marketing, estamos falando de uma questão que nos remete a julgamento social. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 ÉTICA NO MARKETING: AÇÃO ISOLADA OU DO NEGÓCIO? 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O marketing ainda é uma área da administração pouco usada nos negócios, no Brasil, no que se refere a seu amplo e complexo escopo de aplicação. Existem na realidade ações isoladas de algumas das ferramentas, em especial as comunicacionais, propaganda e promoção de vendas. Em parte explica-se tal procedimento porque é mais fácil o entendimento do marketing como filosofia, do que da aplicação de suas técnicas, que em muitas situações envolvem áreas distintas do saber distintas. Apesar de ainda negligenciada no Brasil, a ética no marketing, em função do amadurecimento e consciência da nossa sociedade, está cada vez mais sendo incorporadas nas práticas empresariais. Ela transcende a uma área específica da empresa e permeia toda a organização, o negócio, estando assim incorporada à ética dos negócios. Devemos ser conscientes que em uma sociedade exigente e sabedora de seus direitos e deveres, ela cobrará cada vez mais uma postura ética nos negócios, e, como conseqüência, do marketing. Ações não éticas nos remeterá a julgamento social. Assim, ética nos negócios e no marketing deve ser objeto de estudos acadêmicos, profundos e constantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARANTES, Affonso C.A.; FILHO, Alberto de O. L.; GUERREIRO, Bruno A. de M.; SILVA, Gustavo de Sá; FIGUEIREDO, Orlando; HAMBURGUER, Polia L. e RICHERS, Raimar. Administração mercadológica – princípios & métodos. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1982. ARRUDA, Maria Cecília Coutinho de. Código de ética. São Paulo: Negócio, 2002. BALLESTERO, Henrique. Estudios de mercado. Una introducción a la mercadotecnica. Madrid: Alianza Editorial, 1990. 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Valter Beraldo Prof. Dr. em Administração – Faculdade de Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP); Professor da FEA-USP e da PECE-EPUSP. [[email protected]]. INTRODUÇÃO RESUMO O presente artigo aborda a relação entre modelos que analisam as fases do ciclo de vida organizacional e a efetividade organizacional – baseada em uma organização varejista criada no início do século XX, mais precisamente, no dia 29 de novembro de 1913 e que foi reconhecida pela população paulistana, no início dos anos 90, como a loja que tinha a “cara” de São Paulo. A análise dos períodos favoráveis de crescimento e dos períodos críticos possibilitou identificar as características de cada uma das cinco fases identificadas no estudo: crescimento inicial, administrativa, crescimento massificado, expansão e descontrole. Conclui-se pela importância dos conceitos subjacentes que se inserem: na elaboração das fases; na teoria do ciclo de vida organizacional como instrumento que pode contribuir no planejamento estratégico das organizações. PALAVRAS-CHAVE Ciclo de vida organizacional, Desenvolvimento organizacional, Crescimento organizacional, Estudo de caso. ABSTRACT The present article approaches the relationship among models that analyze the phases of organizacional life cycle and the organizacional effectiveness, based on a retail organization – maid in the beginning of the century XX, more precisely, on November 29, 1913 and that it was recognized by the population paulistana, as being the one that most resembled the city. The analysis of the favorable periods of growth and of the critical periods it made possible to identify the characteristics of each one of the five identified phases in the study: initial growth, administrative, mass growth, expansion and no control. It is concluded by the importance of underlying concepts, that they interfere: in the research when of the phases elaboration; in the theory of organizacional life cycle as instrument that can contribute in the strategic planning of the organizations. KEY WORDS Organizacional life cycle, Organizacional development, Organizacional growth, Case study. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP O presente trabalho descreve e analisa as fases do ciclo de vida de uma organização que foi reconhecida pela população paulistana, no início dos anos 90, como a loja que tinha a “cara” de São Paulo e tem como objetivo: primeiro, discutir como o estudo do ciclo de vida de uma organização pode ser um instrumento importante para entender a história e obter dados culturais, estratégicos e outros que possibilitem proceder a adaptações úteis de mudança; segundo, contribuir para suprir a demanda acadêmica, principalmente de cursos de varejo, que esbarra em uma carência: a de textos versando sobre a realidade varejista brasileira. (ANGELO e SILVEIRA, 1999:15). Com o propósito de explicitar melhor essas dimensões dividimos o artigo nos seguintes tópicos: breve histórico da empresa, fundamentação teórica, metodologia utilizada na pesquisa, o resultado da pesquisa e enceramos o artigo fazendo as considerações finais. Breve histórico da empresa O Mappin ou Mappin Stores1 , como era conhecido quando abriu suas portas, no dia 29 de novembro de 1913 – autorizado pelo decreto de nº 10536 de 1913, assinado pelo então Presidente da República, Hermes da Fonseca e pelo Ministro da Agricultura, Indústria e Comércio, Pedro de Toledo – com 11 departamentos, 40 empregados e respaldado no capital e na experiência dos ingleses, queria servir à elite2 uma variedade de produtos importados e uma política de relacionamento com seus clientes sempre inovadora: a venda de produtos por meio de Catálogo, suas vitrines e suas liquidações asseguravam o sucesso. Após seis anos, em 1919, o Mappin contava com 35 departamentos, 200 funcionários e o prédio da rua Ano 6 Número 15 Agosto 2004 15 ABRAMO NICOLA BATTILANA / VALTER BERALDO 16 XV de Novembro já era pequeno para comportar seus funcionários e atender sua clientela. Mudaria para a chamada “esquina dos Quatro Cantos”, no prédio conhecido como a “casa do Barão de Iguape”, na Praça do Patriarca. Anos difíceis, porém, viriam, com a crise de 1929 nos EUA, que fez despencar o preço do café e com o Estado Novo implantado pelo governo de Getúlio Vargas, que culminou com a Revolução Constitucionalista de 1932. Isso somado às transformações políticas e econômicas da época desencadearia uma série de controvérsias entre os diretores, que culminou com a assunção de novo controlador inglês. No ano de 1939 o Mappin mudou de endereço, atravessou o viaduto do Chá e se instalou no edifício João Brícola em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. As novas instalações proporcionaram à empresa 5357 m² de área de vendas, distribuídas nos cinco primeiros andares, e abrigou os seus 50 departamentos e 500 funcionários. Nesse mesmo ano, também, o nome da sociedade mudou para Casa Anglo Brasileira, entre outros motivos, para se adaptar às novas exigências legais. Mas continuaria a ser conhecido como Mappin. Em 1947, acompanhando a modernização econômica do país no pós-guerra, ingressa na Bolsa de Valores de São Paulo e em 1948 inaugura uma seção de roupas feitas para disputar uma nova fatia de mercado, composto pela classe média que já era alvo dos concorrentes. Entretanto, a política centralizada imposta pelos ingleses, que não compreendiam bem o novo cenário brasileiro, acabaria por levar à venda do controle acionário em 1950. No dia 30 de junho de 1950, assumiu a direção da loja Alberto Alves Filho, antigo comerciante de café, filho de Alberto José Alves, que se manteve à frente no comando até sua morte, em 1982. É o momento da massificação. São Paulo crescera, a classe média emergente3 formava um novo mercado que não podia ser ignorado. A loja que até então trabalhava com produtos importados, que lhe garantiam altas margens, mudou em busca de produtos que propiciassem maior rotatividade de seus estoques e menor margem. Os grossos tapetes verdes, a porta giratória, a barbearia e o tradicional salão de chá que servia de ponto de referência, entre outras seções, cederiam lugar para exposição e venda de artigos fabricados pela indústria nacional, por meio de um sistema de financiamento4 criado em 1952, em que o cliente podia pagar suas compras em até dez vezes. Em 1964, o Mappin criou a companhia Financiadora São Paulo e no ano de 1969, inaugura a loja Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP São Bento, estendendo seu horário de funcionamento até as 22 horas. Em 1972, o Mappin criou o crédito automático, ampliando em 64% o número de clientes que compravam a prazo e, em 1973, registrou um aumento de vendas, em termos reais, de 54,86%. Em 1975 foi inaugurada a filial Xavier de Toledo para atender a uma necessidade de crescimento demandada pela seção de saldos e, em 1977, foram inauguradas as lojas: São João, para explorar um segmento que vinha crescendo: a linha de veículos, e a Cidade Jardim, basicamente uma loja de presentes que encerrou suas atividades com a abertura da loja Itaim, inaugurada em 29 de novembro de 1984. No final da década de 70 e início da década 80, o Mappin inicia estudos para automação de suas lojas Praça Ramos, São Bento e Xavier de Toledo. Foi a primeira empresa da América Latina a implantar o PDV – caixa no ponto de venda. Apesar da morte do controlador em 1982, as mudanças iniciadas e aprovadas sob sua gestão continuaram. Os novos sistemas tecnológicos trouxeram ganhos de produtividade significativos, beneficiando todas as áreas da empresa. O Mappin estava no caminho certo: em 1983, foi considerada a empresa do ano; pesquisa do Gallup, realizada em março de 1984, junto à população paulistana revelou que 97% dos paulistanos conheciam o Mappin e que 64% dos entrevistados já haviam realizado compras na empresa; a publicação Melhores e Maiores da revista Exame de 1984 outorgou ao Mappin o título de melhor empresa no varejo dos últimos dez anos. (ALVIM e PEIRÃO, 1985). Em novembro de 1987, três anos após a inauguração da loja do Itaim, o Mappin inaugura sua primeira loja fora do município de São Paulo, localizada em Santo André e em shopping center. Em 1991 adquiriu da Sears cinco novos pontos de vendas, quatro operando em shopping centers, sendo que duas dessas lojas estavam localizadas na cidade de Campinas. Nesse mesmo ano a Casa Anglo Brasileira S. A., que já havia criado e incorporado novos negócios, passa a ser holding do grupo e o Mappin, como sempre foi conhecido, passa a denominar-se Mappin Lojas de Departamentos. No intuito de diversificar suas operações, em 1993 inaugura, em Santos, a loja TV Mappin. Essa loja era destinada a atender ao público consumidor por meio de terminais multimídia nos quais os próprios clientes identificavam no vídeo os produtos ofertados e realizavam suas compras. Além de dispor de um serviço Ano 6 Número 15 Agosto 2004 APLICAÇÃO DO CONCEITO DO CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL NA DEFINIÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS FASES DE UMA ORGANIZAÇÃO VAREJISTA de telemarketing, nesse mesmo ano criou o Mappin Store Company, beneficiando-se da abertura de mercado para os produtos importados e procedendo a venda destes por meio de catálogo. Em abril de 1994 foi inaugurada mais uma loja, Plaza Sul. O Mappin Lojas de Departamentos, em dezembro de 1995, ano que antecedeu à venda do controle acionário, atuava como a única loja de departamentos completa do Brasil no mercado dos denominados “bens de magazines”, operando com aproximadamente 85.000 itens, distribuídos entre as linhas de produtos: Eletrônicos, Eletrodomésticos e Eletro-portáteis, responsáveis por 36% das vendas; Confecções, 13%; Móveis e Esporte e Lazer, 21%; e Bazar, utilidades, Cama, Mesa e Banho, responsável por 30% da venda total da loja. Em 1996, a Casa Anglo Brasileira, holding do grupo, desfez-se da Companhia Financiadora Mappin São Paulo, seguindo sua estratégia anunciada de reforçar o caixa da empresa e dedicar suas atenções para o varejo, seu principal negócio. Em agosto de 1996, o Sr. Ricardo Mansur assume o controle acionário do Mappin e anuncia um plano arrojado de abertura de lojas franqueadas. O novo controlador procedeu, também, a uma série de inaugurações de lojas: em abril de 1997 é inaugurada a primeira loja franqueada em São Roque; em março desse mesmo ano, mais uma loja do Mappin é inaugurada em São José dos Campos. No segundo Semestre de 1997 foram inauguradas 3 novas lojas, todas em shopping centers: Jardim Sul em agosto, Tatuapé em outubro e Ribeirão Preto em novembro. Em janeiro de 1998 o Sr. Ricardo Mansur adquire o controle acionário da Mesbla, empresa recém saída de um processo de concordata, que acumulava um alto passivo fiscal, já negociado, com estoque de mercadorias baixíssimo e com dezenas de lojas espalhadas no Brasil, de norte a sul. Nesse mesmo ano foi inaugurada a loja Mappin no Shopping Interlagos, onde já existia uma loja Mesbla, que nessa data já pertencia ao grupo. No inicio de 1999 começam os rumores sobre a verdadeira situação da empresa que, em péssima situação, começa atrasar, também, pagamentos de fornecedores. Em abril de 1999 duas das mais tradicionais lojas da rede Mappin – São Bento e São João – fecharam as portas. Em 29 de julho de 1999, o Mappin tem sua falência decretada. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Existe na literatura uma grande quantidade de estudos que analisam o desenvolvimento das organizações nas diferentes fases de seu ciclo de vida. Uma variedade de bases é utilizada, por autores diversos, para descrever as características relativas a cada uma dessas fases. A ênfase aplicada na elaboração desses estudos destaca desde as orientações cognitivas dos administradores, a estrutura organizacional até o meio ambiente da organização. Assim, em distintos contextos operacionais, cada fase terá um cenário diferente de problemas (QUINN E CAMERON, 1983). Ao discutirem como as organizações crescem em complexidade, como progridem de uma estrutura mais simples até uma estrutura funcional mais complexa, alguns autores procuram identificar a existência quanto à influência do meio ambiente na estrutura; outros, a influência do meio ambiente na estratégia e dessa na estrutura e também o que a administração faz para aproveitar as oportunidades e neutralizar as incertezas. Entender esses processos permite se ter uma visão clara da dinâmica organizacional e, conseqüentemente, das forças que provocam seu crescimento e das forças que provocam perturbações organizacionais. A abordagem de KATZ e KAHN (1978) concebe a organização com características de um sistema aberto. Segundo esses autores, o desenvolvimento da estrutura organizacional é uma reação às necessidades impostas pelo ambiente externo da empresa. Os autores observam três fases no ciclo de vida das organizações: a primeira fase, um sistema primitivo em que as bases para as atividades produtivas estão apoiadas nos empenhos cooperativos das pessoas, para conseguir uma relativa estabilidade ambiental permitindo, assim, à empresa, por meio dessa condição, passar para uma segunda fase, a da organização estável, em que a organização centraliza o foco na cooperação, controle e coordenação. Surge, assim uma estrutura de autoridade [...], a primeira manifestação do sistema gerencial. (p.99). Um sistema de manutenção acontece para regular as atividades organizacionais e nasce, portanto, dessa maneira, a estrutura formal. É nessa fase que surge, também, uma estrutura informal para suprir exigências não cobertas pela estrutura formal. Na terceira fase a estrutura organizacional incorpora mecanismos adaptáveis para lidar com o ambiente externo. Muitas vezes uma organização terá departamentos separados para merchandising, propaganda Ano 6 Número 15 Agosto 2004 17 ABRAMO NICOLA BATTILANA / VALTER BERALDO 18 e vendas, [...] relações públicas e contato com a sociedade maior.(p.101). CHANDLER (1962: 383-396), ao analisar uma amostra de grandes empreendimentos industriais americanos, observa que a estrutura organizacional é conseqüência direta da estratégia da empresa. O autor identificou na história desses empreendimentos quatro fases: 1) expansão inicial e acumulação de recursos, em que os administradores se orientam na aquisição de recursos – instalações, equipamentos, recursos humanos e aquisição de empresas menores – e expansão que por sua vez impõe a necessidade de manter consolidadas as atividades de produção que trabalham continuamente e pede a coordenação mais íntima com a demanda de clientes, pela criação de uma organização de marketing. Dessa forma, consolidam-se os canais de marketing e de distribuição, permitindo manter a centralização funcional e o controle sobre os produtos; 2) a racionalização do uso do recurso. A administração se volta para o uso mais eficiente dos recursos, encetando dupla tarefa: na primeira, os custos unitários tiveram que ser reduzidos racionalizando as várias atividades e na segunda o estabelecimento de estruturas funcionais ( vendas, produção etc.) para a empresa como um todo; 3) crescimento continuo. A saturação dos mercados iniciais leva as empresas a se diversificarem em novos mercados e buscarem novos negócios relacionados aos existentes; 4) racionalizando o uso da expansão dos recursos. Enquanto a estratégia de diversificação permitiu os recursos das empresas se expandiram, isso não assegurou a sua eficiente aplicação. E reorganização estrutural se fez necessária. Surge assim a estrutura multidivisional, unidades autônomas reportando-se a unidade central, para controle financeiro global. GREINER (1972) procedeu a um estudo investigativo do crescimento organizacional, em que analisou a idade da organização, seu tamanho, os períodos de crescimento, os períodos de estagnação e o ritmo de expansão da indústria na qual está inserida. O autor observa que a estrutura não muda apenas por contingências e pressões externas, mas muito mais em virtude do comportamento da administração que decide mais em função de experiências anteriores do que por aquilo que está por vir. As empresas em desenvolvimento, segundo GREINER (1972), tendem a passar por cinco fases de crescimento organizacional. Cada uma das fases progride por um período de evolução (termo utilizado para descrever períodos de crescimento) e por um período de revolução (termo usado para assinalar períodos agitados na vida da organização), conforme mostra a figura 1. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Figura 1 – As cinco fases de crescimento organizacional. Fonte:(GREINER, 1972:41). Na Fase 1: Criatividade. A atenção dos administradores se volta à criação de um produto e um mercado. A empresa possui uma estrutura informal, as pessoas dedicam muitas horas de trabalho, as recompensas são modestas, a comunicação é bastante informal, o controle das atividades baseia-se em informações recolhidas no mercado e na reação dos clientes. À medida que a empresa cresce, necessita de um número maior de empregados, há uma visível piora nas comunicações informais, cai o nível de motivação e a empresa necessita de novos investimentos. Os desentendimentos entre os diretores aumentam. Ocorre então uma crise de liderança, que constitui o início da primeira revolução. É necessário um novo administrador, com competência e habilidades para reconsolidar a empresa. Na Fase 2: Direção. Sob o comando da nova liderança a empresa entra num novo período de expansão. Surgem funções especializadas; são estabelecidos métodos contábeis de manutenção de estoque e compras; o estabelecimento de uma estrutura mais formal (comercial e produção) e a comunicação entre as pessoas também se formaliza. Com o tempo, a organização se torna maior, mais diversificada e mais complexa. Embora os empregados tenham mais especialização, têm pouco poder de decisão. Acham-se amarrados em suas iniciativas. Acaba ocorrendo uma crise de maior autonomia por parte dos níveis administrativos mais baixos. A solução é: aumentar a delegação de poderes, descentralizar. Na Fase 3: Delegação. Na nova etapa de desenvolvimento, a estrutura empresarial é descentralizada. A motivação se faz por meio de pagamento de prêmios, tendo como base o volume vendas; são conceAno 6 Número 15 Agosto 2004 APLICAÇÃO DO CONCEITO DO CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL NA DEFINIÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS FASES DE UMA ORGANIZAÇÃO VAREJISTA didas aos níveis hierárquicos mais baixos maior responsabilidade e autoridade; a comunicação se torna menos freqüente e mais formal: por escrito, pelo telefone ou por meio de rápidas visitas às filiais ou aos escritórios; a direção central administra por exceção – com base em relatórios periódicos – e concentra sua atenção em novos empreendimentos. Esse tipo de operação altamente diversificada resulta em um período de crescimento considerável. Entretanto, os diretores percebem que estão perdendo o controle. Os gerentes, cada um trabalha à sua maneira, desperdiçando eficiência. As áreas agem independentemente. Portanto, a crise de controle se inicia quando a alta direção procura reconquistar o comando geral da empresa e será solucionada com o uso de técnicas de coordenação. Na Fase 4: Coordenação. Apresenta as seguintes características: as unidades organizacionais fundemse em grupos de produtos; são estabelecidos processos formais de planejamento; na administração central são desenvolvidos programas para controles; o retorno sobre os investimentos, para cada grupo de produtos, constitui um critério importante para a distribuição de verbas; funções técnicas, tais como processamento de dados, são centralizadas na administração, enquanto decisões comuns e diárias continuam descentralizadas; compra de ações e distribuições de lucros são usadas para promover a imagem da empresa. Estes novos métodos de coordenação impõem um crescimento mais ordenado da empresa. Contudo, sistemas e programas administrativos aumentam e começam a exceder a sua utilidade. As normas e procedimentos tornam-se mais importantes e a inovação fica em segundo plano. Surgem gradativamente dúvidas e “conflitos” entre a administração e a média gerência. A organização se torna grande, muito complexa e requer mais agilidade e flexibilidade. Cria-se uma crise burocrática. Na Fase 5: Colaboração. A fase final, descrita por GREINER (1972), ressalta uma nova revolução cultural. Um comportamento mais flexível, por meio de equipes de trabalho, permite empreender o controle social e a autodisciplina; passa a existir uma forte colaboração pessoal numa tentativa de superar a crise de burocracia. Segundo GREINER (1972: 44), poucas empresas entraram na fase 5. Não há, portanto provas suficientes. O autor levanta a hipótese que a revolução nesta fase será em torno da “saturação psicológica” dos empregados, e se resolverá por meio de novas estruturas e programas que estimulem o “relaxamento” das tensões mentais. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Figura 2 – Ciclo de vida das organizações, exigências. Fonte: ADIZES (1990:223). Outro autor, ADIZES (1990) em seus estudos analisa outras dimensões relativas ao ciclo de vida organizacional, tais como os estilos de lideranças e a cultura que predomina em cada uma das fases devido ao papel – Empreendedor (E), Produtor (P), Administrador (A), ou Integrador (I) – que se originam após um período revolucionário e requerem sua institucionalização. Os estilos gerenciais e padrões de comportamento mais apropriados que surgem desses papéis levam ou não a empresa à próxima fase estão na figura 2. O autor descreve o ciclo de vida organizacional comparando-o a determinados estágios da vida humana, conforme mostrado na figura 2 e sintetizados, a seguir: Namoro, necessário à concepção do empreendimento; Infância, em que a empresa procura oportunidades; Toca-toca, fase em que a orientação é preponderante para venda; Adolescência, fase em que a empresa promove mudanças culturais; Plenitude é a fase mais favorável de todo o ciclo; Estabilidade é o primeiro estágio do envelhecimento; Aristocracia, fase em que os problemas começam a aparecer; Burocracia Incipiente, fase em que os aspectos culturais e estilo dos dirigentes favorecem o surgimento de conflitos e ninguém se sente responsável; Burocracia, fase em que a empresa apresenta muitos sistemas de pouca funcionalidade, muita formalidade, as pessoas ficam alienadas ao processo, ou seja, ninguém sabe tudo que precisa ser feito; Morte. Esta vem quando ninguém mais se compromete com a organização. (p.12-93). Dos quatros modelos apresentados neste estudo, o de ADIZES (1990) parece ser o único preocupado com o declínio organizacional e morte para fechar Ano 6 Número 15 Agosto 2004 19 ABRAMO NICOLA BATTILANA / VALTER BERALDO o ciclo. O declínio organizacional acontece principalmente por causa de uma grande ênfase na estabilidade, administração e regras e procedimentos. (QUINN e CAMERON, 1983:39). METODOLOGIA Inspirados por essa literatura e com base em nossa experiência profissional, resolvemos analisar as mudanças ocorridas no Mappin. Valemo-nos, para isso, do estudo de caso e da pesquisa exploratória descritiva realizada por BATTILANA (2003) quando da elaboração da Dissertação de Mestrado, cujo tema é “A Contribuição da Função de Recursos Humanos para a Evolução de uma Loja de Departamentos: O Mappin – Um Estudo De Caso”. O estudo de caso, segundo YIN (2001), ....é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos e beneficia-se de várias fontes de evidencia. (p.32) Figura 3 – Instrumento de pesquisa. Fase Áurea (1973 a 1982) – O sucesso do crédito automático implantado em 1972, ao mesmo tempo que proporcionou à empresa expandir seu volume de vendas, elevou os índices de inadimplência a níveis muito significativos, obrigando-a a rever várias estratégias organizacionais e a adotar uma postura mais tecnocrata. A inauguração de três filiais, X.T., S.J.(75) e C.J.(77) e mais tarde o falecimento do diretor comercial(1981) e do controlador, figura dominante na direção da empresa (1950 até 1982), marcaram esse período. Com relação à descrição da fase acima: [] [] 20 Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP [] Discordo [] Concordo [] [] Concordo Totalmente Fase da Expansão (1982 a 1990) – A nomeação de um novo presidente do Conselho, a criação de duas novas filiais, Itaim(1984) e Sto. André(1987) , primeira loja fora do município de São Paulo, a implantação de projetos que visavam integrar qualidade de atendimento e níveis de serviços prestados aos clientes, alinhado-os à política de expansão da empresa; o endividamento de curto prazo da empresa, os índices crescentes de inflação e os vários planos econômicos contornam esse período. Com relação à descrição da fase acima: [] [] Cabe, entretanto, esclarecer como foi construído o caso quando da elaboração da dissertação. A partir de uma visão holística inicial, dividimos o período de análise em quatro fases distintas marcadas por alguns acontecimentos que se seguiram e as caracterizaram, denominadas, também, uma a uma, de forma que o nome caracterizasse da maneira mais próxima possível o contexto vivido pela empresa no período. Estas fases deram origem a um instrumento de pesquisa, mostrado na figura 3. Este instrumento foi submetido a respondentes (diretores e gerente) para que opinassem: a) se concordavam totalmente, b) concordavam, c) discordavam ou d) discordavam totalmente. Se a resposta fosse (a), nada indagávamos; se a resposta fosse (b), perguntávamos: como eu poderia melhorar a descrição e o conteúdo para que você concorde totalmente? Se a resposta fosse (c) perguntávamos: com o que é que você discorda, mais especificamente? O que você sugere para eliminar os pontos de discordância? Se a resposta fosse (d) perguntávamos como você faria a divisão desse período? Permitindo, assim, uma descrição das fases o mais próximo possível da realidade. Embora essa pesquisa – para conclusão da dissertação – tenha sido realizada com propósitos dife- Discordo Totalmente Discordo Totalmente [] Discordo [] Concordo [] [] Concordo Totalmente Fase da Consolidação (1990 a 1996) – Esse período caracterizase por consolidar ações e planos iniciados na fase anterior. O processo de reengenharia tem início. A incorporação de seis novos pontos de vendas, criação da Holding, do Mappin Lojas de Departamentos e a venda do controle acionário marcam essa fase. Com relação à descrição da fase acima: [] [] Discordo Totalmente [] Discordo [] Concordo [] [] Concordo Totalmente Fase do Descontrole (1996 a 1999) – Período marcado pela: implantação de uma autocracia “descontrolada”, eliminação da memória cultural da empresa, realização de negócios sem embasamento técnico, em que projeções de lucro ou prejuízo pouco eram consideradas, levando ao inevitável, à falência. Com relação à descrição da fase acima: [] [] Discordo Totalmente [] Discordo [] Concordo [] [] Concordo Totalmente Dados do entrevistado Último cargo ............................................................ Ano de admissão .................... Ano de saída .................... Idade ....... Formação ......................................................... Outros cargos ocupados ................................................................................ Ano 6 Número 15 Agosto 2004 APLICAÇÃO DO CONCEITO DO CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL NA DEFINIÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS FASES DE UMA ORGANIZAÇÃO VAREJISTA rentes e para levantar dados relativos ao período de 1972 a 1999, foi possível pelas informações coletadas nas entrevistas, material de arquivo e num trabalho desenvolvido pelas historiadoras Zuleika Alvim e Solange Peirão, patrocinado pela empresa por ocasião da comemoração de seus setenta anos, a recuperação de fatos históricos da empresa que datam desde seu surgimento no Brasil até o dia em decretada sua falência. Portanto, tendo em vista o objetivo inicial do presente estudo foram analisadas a pesquisa empírica e o estudo de caso realizado por BATTILANA (2003). A análise do conteúdo desse material possibilitou identificar: uma fase de Crescimento Inicial, que vai de 1913 a 1936, período em que a empresa procura crescer e ampliar sua área de venda; uma fase Administrativa, que vai de 1936 a 1950, fase em que a empresa passa a administrar problemas surgidos no período anterior; uma fase de Crescimento Massificado, que vai de 1950 a 1982, que ocorre em virtude de uma mudança estratégica implantada após a venda do controle acionário; uma fase de Expansão, que vai de 1982 a 1996, período em que a empresa procura diversificar suas atividades e expande seus pontos de venda para outras regiões e uma fase de Descontrole, que vai de 1996 a 1999, período em que há uma ruptura cultural muito forte, ocorrem ações não muito claras e a empresa vai à falência. Para BARDIN (1996:41), análise de conteúdo é “um conjunto de técnicas de análise das comunicações que, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, visa obter indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e de recepção (variáveis inferidas) destas mensagens”. Entre as técnicas apontadas por YIM (2001:132), parece que a melhor que se adapta ao presente estudo é “criar modos de apresentação dos dados – fluxogramas ou outros métodos – para examinar os dados”, seguindo as proposições Fonte: (Battilana, 2003: 145) teóricas e desenvolvendo uma estrutura descritiva. RESULTADOS DA PESQUISA Com o objetivo de sistematizar e possibilitar uma melhor visualização das principais características encontradas em cada uma das fases – Crescimento Inicial, Administrativa, Crescimento Massificado, Expansão e Descontrole – do Mappin, sintetizamos os resultados da pesquisa nos quadros 1, 2, 3 e 4 e confrontamos com as características apontadas por GREINER (1972). No quadro 5, em virtude da peculiaridade da fase, relacionamos apenas as principais características da empresa nesse período. 1ª Fase – Crescimento Inicial – de 1913 a 1936. Período em que a empresa cresce e se desenvolve acompanhando a expansão econômica do Estado. As vendas por catálogos, as vitrines e as liquidações promovidas por meio dos jornais parecem ir ao encontro das observações de CHANDLER (1962) relativas aos canais de marketing e distribuição, descritos em sua fase inicial e acumulação de recursos. A empresa tem sua primeira crise, ao que tudo indica, motivada inicialmente por fatores externos. No quadro 1 apresentamos algumas características observadas nesse período, confrontando-as com as características apontadas por Greiner (1972), na fase de Criatividade. Quadro 1 – Características das fases: Criatividade (Greiner) versus crescimento Inicial (Mappin). 1ª Fase de Greiner Criatividade • Ênfase em produzir mercado e produto. • Muitas horas de trabalho e recompensa modesta. • Comunicação informal. • Estrutura informal • 1ª Crise. Crise de liderança 1ª Fase do Mappin (1913 a 1936) – Crescimento inicial A) Criação e expansão da área de vendas: criação de vários pontos de vendas e venda de produto por catálogo e vitrines. B) Nada foi diagnosticado sobre o aspecto recompensa. Entretanto, o trabalho árduo era uma característica marcante na empresa, principalmente nas épocas de liquidação. C) O critério de apresentação usado para seleção, descontos na compra de mercadorias, o descanso concedido sem exigências legais, desconto nas compras, festas de confraternização e o número de funcionários parecem apontar para uma comunicação mais informal. D) Embora em 1919 o Mappin contasse com 35 departamentos e 200 funcionários, não foi possível precisar esta dimensão. E) A 1ª crise ocorre em 1936 em face das divergências administrativas entre os diretores e levaria a assunção de novo controlador. Fonte: os autores. Revista Brasileira de Gestão de Negócios 21 — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 ABRAMO NICOLA BATTILANA / VALTER BERALDO 2ª Fase – Administrativa – de 1936 a 1950. A organização muda o nome da Razão Social, expande sua área de vendas e enfrenta dias turbulentos: o corte nas importações provocou a falta de mercadorias e obrigou a promover corte nos salários para garantir os empregos; a racionalização do uso dos recursos e mais adiante o ingresso na Bolsa de Valores. Foram várias as mudanças culturais havidas no âmbito interno e externo da organização. A administração das mudanças promovidas pela empresa nesse período perece ter contribuído de forma eficaz para o crescimento da organização. Basta analisar o crescimento do número de funcionários. No ano de 1946 contava com a colaboração de 900 funcionários, contra 500 que possuía em 1939. O crescimento da indústria nacional contribuiu, também, para uma mudança cultural. Nessa fase parece imperar na administração o espírito empreendedor e administrador ADIZES (1990). Outras características dessa fase estão sintetizadas no quadro 2 e confrontadas com as características apontadas por Greiner (1972), na fase de Direção; Quadro 2 – Características das fases: Direção (Greiner) versus Administração (Mappin). 2ª Fase de Greiner Direção 2ª Fase do Mappin (1936 a 1950) – Fase de Administração • Estabelecimento de uma estrutura mais formal. • Em 1939, modifica o nome de sua razão social para adaptar-se à lei de sociedade por ações. O próprio número de diretores observados no estudo de caso parece indicar a existência de uma estrutura mais formal. • Especialização de tarefas. • Com o aumento no número de departamentos, de novas linhas de produtos e a própria lei das sociedades por ações parece ter exigido funcionários mais especializados. • Estabelecimento de métodos contábeis de manutenção de estoque e compras. • Por outro lado, esses fatos parecem requerer novos sistemas contábeis de manutenção de estoques e compras. • Comunicação mais formal. • Essas novas configurações parecem impor um toque mais formal nas comunicações, embora o estudo nada tenha revelado a esse respeito. • • A Segunda Guerra Mundial e a política do governo impuseram sérias dificuldades às importações e trouxeram conseqüências sérias para a empresa, obrigando-a a reduzir drasticamente seus custos; o aumento da classe trabalhadora propiciou um comércio mais diversificado e competitivo e esse crescimento da concorrência exigia novas estratégias. Entretanto, a política centralizada imposta pelos ingleses, que não compreendiam bem o novo cenário brasileiro, acabaria por levar a empresa a uma crise de autonomia, que teve como desfecho a venda do controle acionário em 1950. 2ª Crise. Crise de maior autonomia. Fonte: os autores. 22 3ª Fase – Crescimento Massificado – de 1950 a 1982 Este talvez tenha sido o período mais favorável da empresa e aproxima- se da plenitude de ADIZES (1990). A visão: empreendedora, administrativa e criativa de sua administração propiciou flexibilidade e crescimento lucrativo. As mudanças culturais foram fantásticas, quando comparadas às fases anteriores e também quando comparadas dentro do próprio período: o ingresso na Bolsa de Valores (1947), o esforço e a parceria com a indústria nacional e os aspectos políticos que marcaram a organização mostram um cenário que se aproxima da terceira fase de KATZ e KAHN (1978), ou seja, incorpora mecanismos para lidar com o ambiente externo. As mudanças tecnológicas tiveram papel de extrema importância e prepararam a empresa para Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP uma nova fase, a da expansão. O quadro 3 a seguir mostra as principais características do Mappin nessa fase e as características apresentadas por Greiner (1972) em sua fase de Controle. 4ª Fase – Expansão – de 1982 a 1996. Observa-se nesse período uma maior preocupação relativa à especialização das funções de recursos humanos; redefinição do perfil dos profissionais dessa área; introdução de programas de treinamentos destinados à formação de lideranças e à melhoria de qualidade do atendimento, as negociações feitas com os sindicatos, com as delegacias regionais do trabalho e outros órgãos governamentais e as ações realizadas para o processo de aculturação relativos às mudanças e expansão. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 APLICAÇÃO DO CONCEITO DO CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL NA DEFINIÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS FASES DE UMA ORGANIZAÇÃO VAREJISTA Quadro 3 – Características das fases: Controle (Greiner) versus Crescimento Massificado (Mappin). 3ª Fase de Greiner Controle 3ª Fase do Mappin (1950 a 1982) – Fase de Crescimento Massificado • Maior responsabilidade e autoridade são concedidas aos níveis hierárquicos mais baixos. • Pressões externas (entre outras, a mudança no perfil da classe consumidora) exigiram uma mudança na estratégia de comercialização, requerendo novas competências organizacionais e impondo novas responsabilidades. • A motivação se faz por meio de pagamento de prêmios, tendo como base o volume. • Decisões centralizadas na diretoria. • A direção central administra por exceção – com base em relatórios periódicos – e concentra sua atenção em novos empreendimentos. • A comunicação menos freqüente e mais formal: por escrito, pelo telefone ou por meio de rápidas visitas às filiais ou aos escritórios. • 3ªCrise. Crise de Controle • O sistema de remuneração, por várias vezes, sofreu alterações que acabaram propiciando impacto positivo dentro da organização. • A direção não administrava por exceção; a criação da Financiadora Mappin São Paulo teve como objetivo inicial não a diversificação de negócios, mas a captação de recursos que garantiriam a venda financiada. • A comunicação formal era muito precária e quando existia era feita em forma de avisos e comunicados. • O fluxo dos trabalhos segue normas e rotinas existentes. • Cumprimento de prazos e o atendimento às demandas dos clientes são características marcantes, assim como a lealdade. • Aprimoramento dos canais de comunicação externa: campanhas publicitárias, propagandas criativas especificas, em grande quantidade. • A implantação de novos sistemas de processamentos de dados abriu espaço para o surgimento de novas funções especializadas. • Não foi identificada crise de controle. A passagem para uma outra fase se deu em virtude das mortes do diretor comercial e do controlador, mas não sofreu solução de continuidade. O novo controlador deu prosseguimento às estratégias da empresa objetivando a sua expansão. Fonte: os autores. Nessa fase a empresa não só ampliou o número de lojas como também diversificou seus negócios. O período foi marcado por forte queda nos resultados operacionais da empresa, motivada principalmente pela política governamental e pelos sucessivos planos econômicos. (BATTILANA, 2003). Parece que apesar dos investimentos feitos na área de processamento de dados, os sistemas operacionais, embora tenham progredido, geravam dificuldades e custos relativamente elevados. O novo posicionamento estratégico elaborado pela empresa, em 1995, contemplava, entre outros, uma profunda mudança nos sistemas operacionais da loja e na estrutura de RH. O presidente da Holding, que veio acumular o cargo de diretor geral, deu início ao projeto, entretanto, a entrada de um novo diretor geral parece ter dado novos rumos à organização. (BATTILANA, 2003). Outras características que marcaram essa fase estão observadas no quadro 4. 5ª Fase – Descontrole – de 1996 a 1999 A venda do controle acionário trouxe conseqüências drásticas para o Mappin. Parece que nessa Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP fase o controlador só implantou crises e não conseguiu controlá-las. A empresa, portanto, não conseguiu concluir sua fase de expansão. As características mais marcantes dessa fase estão descritas no quadro 5. DISCUSSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo apresenta algumas limitações derivadas da pesquisa inicial: a primeira, decorrente de espaços provenientes da própria pesquisa; a segunda, por eventuais distorções introduzidas pela dificuldade de trazer à memória fatos ocorridos há muitos anos, ou seja, trazer ao presente, com rigor, certas evidências do passado. Referenciado na literatura, o ciclo de vida, apesar de se tratar de um conceito bem antigo e questionado por vários críticos, o conceito do ciclo de vida ainda oferece bons meios para se entender o desenvolvimento de um produto, de uma empresa ou mesmo de uma indústria. KAYO e FAMÁ (2000:52). Ano 6 Número 15 Agosto 2004 23 ABRAMO NICOLA BATTILANA / VALTER BERALDO Quadro 4 – Características das fases: coordenação (Greiner) versus Expansão (Mappin). 4ª Fase de Greiner Coordenação 4ª Fase do Mappin (1982 a 1996) – Fase da Expansão • As unidades organizacionais fundem-se em grupos de produtos. • Nessa fase as estruturas da área comercial e de lojas foram organizadas por linhas de produtos. • Enfatiza a elaboração de projetos voltados ao atendimento do cliente – produtos e serviços. • São estabelecidos processos formais de planejamento. • O planejamento da própria expansão e posteriormente, em 1996, a formulação de novo planejamento estratégico parecem coincidir com as observações de Greiner. • Na administração central são desenvolvidos programas para controles. • Rigidez no controle dos gastos com pessoal e a implantação de indicadores de produtividade, em vários setores da empresa, sinalizam para uma preocupação voltada para controle. • O retorno sobre os investimentos, para cada grupo de produtos, constitui um critério importante para a distribuição de verbas. • Não foi identificado. • Funções técnicas, tais como processamento de dados, são centralizadas na administração, enquanto decisões comuns e diárias continuam descentralizadas. • Investimentos significativos nas áreas de processamento de dados. A empresa sempre teve uma administração centralizada, com exceção feita parcialmente às lojas, a partir desta fase. Embora as decisões ainda tenham continuado centralizadas, a expansão permitiu um maior grau de autonomia aos gerentes. Suas decisões relativas a pessoal eram tomadas em função de um quadro previamente aprovado, as quais normalmente eram referendadas pela diretoria. • Compra de ações e distribuições de lucros são usados para promover a imagem da empresa. • Não foi identificada. • • • • • Introduz em sua cultura a utilização de consultores internos e externos. Institucionalização como política a terceirização de serviços. Maior ênfase nas relações de trabalho. Atendimento ao público consumidor aos domingos. A introdução de novos sistemas de atendimento impõe novas formas de treinar, motivar e remunerar. • A partir da metade da década de 80 a administração volta suas atenções à abertura de novos negócios: Consórcio Mappin, Vecon Veículos, entre outros. • Amplia-se a carteira de benefícios. É criado o Mappin Sociedade de Previdência Privada, que tinha como objetivo instituir planos de benefícios previdenciários. • A comunicação ainda contém fortes traços de sigilozidade e seletividade. No início da década de 1990 cria um veículo periódico de comunicação interna. • Administração de crises – forte característica de reatividade. • Em 1995 a empresa apresentava algumas dificuldades em seu processo de gerenciamento e execução, que se apresentavam nem sempre bem definidos, complexos e até burocráticos. Esses motivos levaram a empresa a elaborar um novo plano estratégico. A empresa não chega a enfrentar grave crise burocrática, o controle e vendido e esta toma novos rumos. • 4ªCrise.. Crise Burocrática Fonte: os autores. 24 Embora o estudo de Greiner apresente um modelo estruturado, em fases, relativo ao ciclo de vida organizacional, assim como os outros descreve explicações de crescimento e de declínio, mas não consegue padronizar um modelo geral. GREINER (1972) não abordou a influência externa que, dependendo de condições conjunturais, tanto Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP pode facilitar períodos de crescimento, como agravar períodos de crise. Entretanto o autor deixou claro que a solução de um problema dá início a um novo caminho e que, com o passar do tempo, causa outro problema de ordem diferente. As fases resultantes da pesquisa apresentam contextos operacionais diferentes e variações significaAno 6 Número 15 Agosto 2004 APLICAÇÃO DO CONCEITO DO CICLO DE VIDA ORGANIZACIONAL NA DEFINIÇÃO E DETERMINAÇÃO DAS FASES DE UMA ORGANIZAÇÃO VAREJISTA Quadro 5 – Características da fase de descontrole. • Ruptura cultural nos padrões e em tudo aquilo que assegurava a empresa; • A alteração no quadro de pessoal, a saída de pessoas experientes e a entrada de jovens sem experiência alguma de varejo; • Queda no nível motivacional muito acentuada; • Implantação de negócios sem que houvesse definição clara e correta do modelo; • Planejamento e Estudos de cenários realizados com alta visão empírica, baseada em hipóteses não adequadas; • A comunicação deixava a desejar e as normas e procedimentos não eram claramente definidos. • Interferência direta da Superintendência comercial em todas as áreas; • Uso da autoridade hierárquica, como “fonte de conhecimento” e de determinação. Fonte: os autores. tivas em relação ao modelo referencial que resultam: na não identificação de fases totalmente semelhantes, na não identificação de determinadas características e na sobreposição de características, ou seja, certas características surgem em momentos e em contextos diferentes, quando comparado o modelo referencial com a pesquisa. Dessa forma, se tomarmos as fases da pesquisa como referencial, podemos observar sobreposições em relação às fases dos modelos estudados, e que são válidas para o presente estudo, conforme mostrado no quadro 6, abaixo. Esses fatos ocorrem, primeiro, porque o ciclo de vida de uma organização é influenciado por inúmeras variáveis que derivam: da estrutura da empresa; da influência exercida pelo ambiente externo e interno; do ritmo da indústria na qual a empresa está inserida; das inovações; dos sistemas de controle; do planejamento; da política de marketing e comercialização; da administração eficiente de seus recursos humanos, financeiros e tecnológicos; das mudanças culturais, enfim, abrange as várias dimensões do processo organizacional que permeiam o processo cognitivo de seus administradores e impõem soluções diferentes. A diferença, portanto, está naquilo que a administração faz ou não para que a organização passe à próxima fase (DODGE e ROBBINS, 1992). Em relação ao número de fases, parece que são conseqüências diretas do enfoque dado em relação ao cenário e das dimensões que se esteja analisando. É o que se pode constatar pelo resultado da análise derivada do referencial teórico. Quadro 6. Quanto ao mais, as considerações aqui apresentadas são mais amplas do que as propostas. Entretanto, fica-se com a certeza que o estudo detalhado de todas as características do processo organizacional, passado e presente, pode fornecer ao administrador conceitos e condições de entender os problemas, permitindo formular hipóteses, para conseguir soluções positivas de manter ou modificar estratégias que permitam prolongar os períodos de crescimento da organização. Quadro 6 – Comparativo das fases. MAPPIN GREINER ADIZES KATZ E KAHN CHANDLER Crescimento Inicial Criatividade Namoro e Infância Sistema Primitivo Acumulação de Recursos Administrativa Direção Toca-Toca e Adolescência Organização Estável Racionalização dos Recursos Crescimento Massificado Controle Plenitude Estruturas Encorajadoras Crescimento Continuo Expansão Coordenação Estabilidade e Burocracia Estruturas Encorajadoras Crescimento Continuo e Racionalização / Expansão Descontrole - Burocracia e Morte - - 25 Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 ABRAMO NICOLA BATTILANA / VALTER BERALDO REFERÊNCIAS NOTAS ALVIM, Z.; PEIRÃO, S. Mappin 70 Anos. São Paulo: Ed.ex-lebre, 1985. BARDIN, L. L’analyse de contenu. Paris: PUF, 8. Ed. 1996. Apud FREITAS, H. e JANISSEK, R. Análise Léxica e Análise de Conteúdo: Técnicas complementares, 8 seqüenciais e recorrentes para exploração de dados qualitativos. Porto Alegre: Sphinx: Editora Sagra luzzatto, 2000. BATTILANA, A.N. A Contribuição da Função de Recursos Humanos na evolução de uma Loja de Departamentos: o Mappin – um estudo de caso. São Paulo, 2003. Dissertação de Mestrado, UNIFECAP. CHANDLER, A. Strategy and Structure. Massachusetts Institute of Technology. Press, 1962. DODGE, H. R.; ROBBINS, J. E. An empirical investigation of the organizational life cycle model for small business development and survival. (http://proquest. umi.com/pqdweb?index) Acesso em 30 de julho de 2003. GREINER, L. E. Evolution and Revolution as Organizations Grow. Harvard Business Review, JulyAugust 1972. p. 37-46 KATZ, D. e KAHN R. L. Psicologia Social das Organizações. São Paulo: Atlas 1978. KAYO, E. K e FAMÁ, R. Estrutura de Capital e Ciclo de Vida: um ensaio sobre os Estágios de desenvolvimento financeiro em empresas de base tecnológica. Revista Álvares Penteado, V. 2, n.5, dez.2000. QUINN, R. E. E CAMERON, K. Organizational Life Cycles and Shifting Criteria of Effectiveness: Some Preliminary Evidence. Management Science 29 (1983): 33-51 YIM, R. K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. 2ed. Porto Alegre: Bookman, 2001. 1. No ano de 1774, uma casa comercial especializada em pratarias, porcelanas, cristais e artigos finos para presentes surgia na cidade de Sheffield, no norte da Inglaterra, exibindo o nome de família de seus fundadores, Mappin & Webb. Mais tarde, após sua transferência para Londres, viria se instalar em Buenos Aires, no final do século XIX. Em 1911 os irmãos Mappin, Walter John e Herbert Joseph instalaram na Rua do Ouvidor, nº 100, Rio de Janeiro, a primeira filial brasileira que lá permaneceria até 1960, data em que se retirou do Brasil. Em 1912, um ano após a abertura da “loja carioca”, o Mappin & Webb viria a se instalar em São Paulo, à Rua XV de Novembro. Mas foi somente no dia 29 de novembro de 1913 que o Mappin Stores, uma loja de departamentos, viria a ser criada tendo como sócios os irmãos Mappin, Henry Portlock e Jhon Kitching. 2. Para se entender o processo de crescimento da empresa é importante relembrar alguns aspectos que marcaram a economia brasileira e, principalmente, a de São Paulo. Apresentamos, abaixo, algumas características marcantes da época, pinçadas do texto de ALVIM e PEIRÃO (1985). O Mappin surge num momento em que o café começava a transformar a fisionomia da até então acanhada província de São Paulo, produto esse no qual se concentrava a economia brasileira. O país voltava-se para o café, principal produto de exportação, e a expansão propiciada por ele abriria espaço para que indústria e comércio, embora incipiente, instalassem-se e o próprio crescimento da população proporcionaria sua expansão. No início do século, época de instalação do Mappin, o comércio em São Paulo floresce exatamente nas mesmas linhas gerais em que se apoiava a agricultura. Por meio de um trânsito intenso entre importadores e distribuidores, financiadores e atacadistas, indústrias e retalhistas é que se forma o comércio de São Paulo no início do século. 3. Dois foram os fatores responsáveis pelo crescimento da classe media: o primeiro diz respeito aos imigrantes que bem sucedidos ocupavam posições em todos os setores (campo, indústria, comércio, setor bancário e em outras profissões); o segundo, ao empobrecimento de várias famílias tradicionais em virtude dos negócios do café, no qual se apoiavam. 4. Tratava-se de um tempo em que as próprias lojas, ou as indústrias encarregavam-se de financiar ao consumidor, com seu próprio dinheiro ou descontando em banco duplicatas assinadas pelos clientes.. (ALVIM e PEIRÃO, 1985:160). 26 Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 Artigo Mathematical model for mexican coffee market G. Guerra Galindo Professor, Facultad de Economía., Universidad Veracruzana, México. E-mail: [email protected] Charles B. Moss Professor, Food and Resource Economics, Institute of Food and Agricultural Sciences, University of Florida. E-mail:: [email protected] ABSTRACT The assumption that the production of quality coffee is more expensive than the production of coffee of less quality, also that market failures in the transmission of quality signals to producer lower the average quality of coffee produced industry. Used its simultaneous equations in three stage lest square found it, that some variable were significant as size of producer affect the share sold cherry, the quality affect the international green coffee price of México means when quality of cherry, then increase the share sold of green coffee. But has no evidence that market power concentration affect the share prices of green coffee. KEY WORD Quality, cherry, green, coffee price, altura, and prima, size of producer, market power concentration. RESUMO A afirmação que a produção de café de qualidade é mais cara que a produção de café de menor qualidade, também que mercado falha na transmissão de sinais de qualidade para os produtores baixarem a qualidade média do café produzido. Ao usar equações simultâneas em mínimos quadrados de três estágios, descobriu-se que algumas variáveis foram significantes: o tamanho do produtor afeta a parcela de café cherry vendida, a qualidade afeta o preço internacional de café verde do México, e a qualidade da cherry aumenta a parcela vendida de café verde. Mas, não há evidencia que a concentração de poder de mercado afete a parcela de preços do café verde. PALAVRAS CHAVE Qualidade, cherry, green, preço do café, altura, e prima, tamanho do produtor, concentração de poder de mercado. México is the world’s fifth largest coffee producer with 5% after Brazil 27%, Colombia 14%, Indonesia 7% and Viet Nam 6%. México produces the arabica variety classified within the other milds group. Coffee is produced on total of 761,161 hectares in twelve Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP states. This area is cultivated by 282,593 growers with an average of 2.7 ha./producer during 1990-1997. the primary producing states are Chiapas, Veracruz and Oaxaca with 76.4% of the total production. In agricultural sector of México the coffee accounts for 20.4% of export income, as such it is the second largest commodity after horticulture with 23.9%, therefore coffee represent the main activity in the agricultural sector. The industrial organization of the Mexican coffee industry is complex with a multitude of producers, processors and wholesaler. This complexity may hinder the ability of the domestic coffee industry to expand its markets at home or abroad. In order to salvage production, those groups mix different quality coffee beans together, missing the opportunity to practice price discrimination across different quality standards. For example, higher quality coffee would be priced higher. If groups of production followed a strict classification, Mexican coffee could receive higher prices and would not have to depend upon volatile prices caused by uncertainty in the future world supply of coffee bean, in particular the production behavior of Brazil and Colombia. In part due to the low production of the principal producers and ecological, economic and social problems, shipments to these countries (Brazil and Colombia) have decreased the supply of coffee in the international market in the wake of a relative stable consumption level, the prices have increased. In addition the industrial structure of coffee production in Mexico is such that the price signals regarding quality are typically not transferred to farmers. Another reason for the reduction in quality might be the dominance of small farmers, who don’t have their own processing plant. Instead they have established relationships with large national traders or foreigners, therefore that hand of cherry coffee, is process and until sold. The farmer then receives the ultimate sales price for the Ano 6 Número 15 Agosto 2004 27 G. GUERRA GALINDO / CHARLES B. MOSS coffee less the cost of transformation and storage. This situation provides only a little percentage for the farmer, some cases this process has been successfully. This aspect is an important outcome from the concentration in the processing of coffee. Data from the Consejo Mexicano del Café indicates that there are only ten enterprises that export more that 57% of coffee. In summary we can say in general that the problems are of producer organization and quality selection of coffee. Given the importance of price premium in signaling the return to quality. This study will examine the pricing mechanism for coffee in Mexico. The first stage will examine of the current market channels focusing on potential imperfect competition processors. This examination will focus on the failure the pricing mechanisms that fail to send the appropriate price signals with regard to coffee quality. Building on the models of imperfect competition and next examine how another organization such as producer cooperatives or state trading enterprises may be used to reorganize producer is a very that benefits the coffee industry in Mexico. The empirical models, given the two strands of literature developed, we want to estimate two models. a. Following the discuss of game theory the market for lemons, and the model of producer size from chapter IV, we hypothesis that, Sc Sp = α 0 + α 1 Sz p + α 2 P G + ε Sc is the amount marketed in cherry, Sp is the amount market as pergamino so Scp is the rate of relation cherry/pergamino, SzP is the average size of the producer and P G is the average price received by farmers. We anticipate that, α 1 ≤ 0 → as farms small, more market as cherry α 2 ≥ 0 → as the estimated price increase the quality premium b. Next model equation is the rate of price between price of Mexican green coffee and price U.S. retail. PG 28 PUSr c. The third model equation is the rate sale quantity of altura and prima coffee quality. Qty = δ 0 + δ 1 S cp + δ 2 PQ / USr Scp is the rate between price cherry and pergamino, and PG/Usr is the relation of green price and US retail. δ 1 ≤ 0 → coefficient of rate sale cherry and pergamino by producer δ 2 ≥ 0 → coefficient of rate sale by processor green and US retail. I used the program of Statistic Analysis System (SAS) with regression model, these equations can be estimate simultaneously at the aggregate level. Theorical Model Used Empirical Models S cp = β 1 ≥ 0 → coefficient of concentration as the market power. β 2 ≥ 0 → coefficient of rate quantity sale altura and prima quality. β 3 ≥ 0 → coefficient of Mexican exportation. = β 0 + β1C + β 2 Qty + β 3 M Exp PG is the price of green Mexico exports, PUSr is the world or U.S. retail, C is the concentration (Entropy), Qty is rate of sale altura/prima quality, MExp is the quantity export by Mexico. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Although most of the previous work are in context of single-equation models, even a cursory look through almost any economics textbook shows that much of the theory is build on sets, or systems, of relationships. Familiar examples include market equilibrium, models of the macroeconomic, and sets of factors or commodity demand equations. Whether one’s interest is only in a particular part of the system or in the system as a whole, the interaction of the variables in the model will have important implications for both interpretation and estimation of the model’s equations, Greene (2000). There are situations where there is a two-way flow of influence among economic variables, that is one economic variable affects another economic variable(s) and is, in turn, affected by it (them). This is the case of our model. This is typically referred to as a simultaneity problem. In this case the economic equilibrium implies a simultaneous solution of two or more economic relationships, the simultaneous problem raises several problem in empirical investigation. First, estimation of the equations separately leads to a simultaneous equations bias. This bias is compounded by its persistence in large sample. As result of the bias, several econometric procedures have been developed for system regressions. These include two stage least squares (2SLS), three stage least squares (3SLS) and Ano 6 Número 15 Agosto 2004 MATHEMATICAL MODEL FOR MEXICAN COFFEE MARKET indirect least square (ILS). While each procedure solves for the simultaneous equations bias, 3SLS or iterative three stage least squares (IT3SLS) has desiring asymptotic properties. Application of only of these procedures requires that the mathematical restrictions on the model specification. Specification. Specifically, the model must be specified in a way that separates the economic effect of the simultaneously determined variables. These restrictions are typically referred to as identification restrictions. In this study, I will use iteration three stage least squares IT3SLS can be viewed as the – of 2SLS and seemingly unrelated regression. 2SLS study the system by estates two data of regression. First, the procedure estates the endogenous variable, or the variable simultaneous determined is the model as a function of the exogenous variable, or the variable whose are not determined is the model. These estimated values are then used as instrument to estimate the final form of the model, this procedure was first suggested by Theil, H (1957). The order condition of identifiably A necessary but not sufficient condition of identification, know as the order condition, Gujarati (1995) said it may be stated in two different but equivalent ways as follows, the necessary as well as sufficient condition of identification bravely: Definition A. In a model of M simultaneous equation in order for an equation to be identified, it must exclude at least M-1 variables (endogenous as well as predetermined) appearing in model. If it excludes exactly M-1 variables, the equation is just identified. If it excludes more than M-1 variables, it is over identified. Definition B. In model of M simultaneous equations, in order for an equation to be identified, the number of predetermined variables excluded from the equation must not be less than the number of endogenous variables include in that equation less 1, that is. The 3SLS procedure can be as follows: Stage 1: calculate the 2SLS estimates of the identified equations. Stage 2: use the 2SLS estimates to estimate the structural equations’ errors, and then use these to estimates to estimate the contemporaneous variancecovariance matrix of the structural equation’s errors. Stage 3: apply GLS to the large equation representing all the identified equation of the system. K − k ≥ m −1 if K – k = m – 1, the equation is just identified, but if K – k f – 1, it is over identified. Rank condition of Identification In a model containing M equations in M endogenous variables, an equation is identified if and only if at least one nonzero determinant of order (M – 1)(M – 1) can be constructed from the coefficients of the variables (both endogenous and predetermined) exclude from that particular equation but included in the other equations of the model. Three-stage least squares (3SLS) 3SLS these analysis is the equations with the universe o the variance matrix. In essence 3SLS is a generalized least squares modificated to 2SLS along the term of Sellner’s seemingly unrelated regression. Because the nonpherical disturbances in different equations, however, these estimates can differ from the 2SLS estimates and can in fact be more efficient, Kennedy (1989). Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP As indicated earlier, 3SLS is one of several procedures that can be used to estimate a system of equations. The 3SLS estimator is consistent and in general is asymptotically more efficient than the 2SLS estimator. If the disturbance in the different structural equations are uncorrelated, so that the contemporaneous variance-covariance matrix of the disturbance of the structural equations is diagonal, 3SLS reduces to 2SLS. Compare 3SLS with ILS, Compare 3SLS with ILS. The properties of ILS estimators. The estimators of the reduced-form coefficients are consistent and under appropriate assumption also best unbiased or asymptotically efficient. Do these properties carry over to the ILS? It can be shown that the ILS estimators inherit all the asymptotic properties of the reduced-form estimators, such as consistency and asymptotic efficiency. But proprieties such as unbiased ness do not generally do not generally hold true. The estimators are consistent. IT3SLS builds into the 3SLS by consisting the fact that the variance matrix applied to the 2SLS estimator is conditioned on inefficient parameter estimates. Thus, IT3SLS iterates by updating the variance matrix using the 3SLS results to estimate the system. This iterates process stops once the variance matrix becomes stationary face iterates one iterates to next. Model used of Measures Theory Measures of concentration are used to answer cross sectional questions concerning the variation Ano 6 Número 15 Agosto 2004 29 G. GUERRA GALINDO / CHARLES B. MOSS in concentration among industries in a given time period, time series questions concerning changes in concentration in a particular industry over time and questions that incorporate both time series and cross sectional information Hall & Tideman (1967). They have set forth a few desirable properties of measures of concentration and shown that with respect to these properties there are better measures of concentration and shown that with respect to these properties there are better measures than the popular concentration ratio. HH = Pt 2 and TH = 1 /(2 iPi ) − 1 satisfy all properties. HH and HT share with CR the property that there is more than one distribution of firms which can generate a given value of index (Herfindahl-Hirschman index-HH). In communication theory and the physical sciences, entropy is a measure of the degree of disorder, uncertainty, or randomness in a system Horowitz & Horowitz (1968). Suppose there are i = I,…, n possible events that can occur. Let the probability of occurrence of the i th event be denoted by pi . The entropy in the system, or the disorder or freedom of choice, is defined to be the negative of the weighted average of logarithms to the base 2 of the pi where the pi are the weights. In symbols H is given by: ∑ ∑ There would seem to be ready, useful, and intuitively appealing analogy between the entropy of a communication source and the competitiveness of an industry. The greater is the degree of competition, the greater the uncertainty as to which of a given number of firms will secure the business of a buyer chosen at random. The specification form of the IT3SLS to be estimate is The model used above we transformed in following it: LnS = α 0 + α1 LnS Z + α 2 LnPM pratio1 = β 0 + β 1 Entropy + β 2 LnQTY + LnM EXP LnQTY = δ 0 + δ 1 LnS + δ 2 pratio1 Variables Endogenous; LnS, LnQTY, pratio1 Variable Exogenous; LnSZ, LnPN, Entropy, LnMEXP Parameters; α 0 ,α1 ,α 2 , β 0 , β1 , β 2 , δ 0 , δ 1 , δ 2 Relations; S=SC/SP, QTY=QA/QP Pratio1 = log (PM/PW) LnS = log (SC/SP) LnSZ = log (sizeprod) LnPG = log (pgreenm) LnQTY = log (QA/QP) LnMEXP = log (Mexexp) H = −∑ pi log 2 pi HH = ∑ S i2 E = −∑ S i ln S i Table 1 – Data for Regression. M exExp 117120 110760 186540 174180 178920 221580 230580 152940 224340 261540 210360 187360 183600 189000 195420 274740 262860 232920 245100 315507 P c h e rry 1 .2 3 7 8 1 .4 7 4 9 1 .1 4 7 2 1 .3 7 1 9 1 .5 2 7 5 1 .8 1 1 3 1 .5 1 2 4 1 .5 5 1 9 1 .5 1 0 1 0 .7 8 3 3 1 .5 1 5 9 1 .2 0 7 1 1 .0 2 6 8 1 .0 2 4 9 2 .6 7 9 6 1 .7 8 7 0 2 .6 6 2 1 2 .7 2 0 5 1 .5 5 4 5 1 .5 0 7 2 P p e rg a m 1 .3 9 3 3 1 .5 0 7 4 1 .2 4 2 0 1 .4 8 6 8 1 .6 8 7 8 2 .0 1 6 2 1 .6 9 6 4 1 .6 4 3 5 1 .6 9 8 9 0 .9 3 0 7 1 .7 1 6 6 1 .3 1 4 6 1 .1 2 8 8 1 .1 4 0 2 2 .9 7 4 6 2 .1 6 8 0 3 .1 5 3 1 3 .1 5 3 1 1 .8 6 5 1 2 .0 4 2 5 P G re e a n M 2 .7 2 3 3 .0 7 3 2 .0 6 6 2 .5 5 7 2 .5 0 2 2 .8 0 6 2 .4 8 5 2 .6 2 8 2 .3 6 6 1 .6 1 7 1 .8 2 8 1 .4 2 2 1 .4 7 9 2 .3 1 3 3 .4 7 0 2 .4 1 6 3 .2 6 5 3 .3 0 9 2 .2 4 7 2 .3 6 5 P G re e n C 3 .0 1 3 .5 8 2 .6 6 2 .9 7 2 .7 9 2 .9 5 2 .9 8 3 .4 8 2 .9 4 2 .8 9 2 .4 2 1 .7 4 1 .8 1 2 .3 5 3 .9 1 2 .9 6 3 .2 9 3 .6 3 3 .6 6 2 .9 7 USARet 5 .5 1 4 .4 4 4 .5 5 4 .4 9 4 .6 8 4 .7 3 6 .1 1 5 .2 0 5 .0 4 5 .4 5 5 .2 6 4 .9 8 4 .5 7 4 .7 9 6 .3 3 4 .8 7 6 .0 8 6 .4 5 5 .4 1 6 .5 6 E n tro p y 1 .9 1 0 8 1 .9 0 0 4 1 .9 1 1 4 1 .9 1 7 0 1 .9 2 2 4 1 .9 6 6 4 1 .9 3 3 6 1 .9 3 9 8 1 .9 3 4 8 1 .9 3 5 0 1 .9 0 8 0 1 .9 2 8 4 1 .9 5 0 7 1 .9 2 7 3 1 .9 4 6 7 1 .9 4 3 7 1 .9 2 5 0 2 .0 6 6 6 2 .0 0 6 8 1 .9 2 1 9 H e rf S iz e P ro d 0 .1 7 9 4 2 5 9 .8 0 .1 8 3 2 2 5 9 .8 0 .1 8 1 3 2 5 7 .3 0 .1 8 0 9 2 5 4 .8 0 .1 8 0 5 2 5 3 .5 0 .1 6 9 7 2 4 8 .3 0 .1 8 1 4 2 4 2 .8 0 .1 6 6 6 2 4 2 .3 0 .1 8 0 9 2 3 6 .1 0 .1 7 3 2 2 3 2 .0 0 .1 8 1 4 2 3 3 .5 0 .1 7 2 7 2 3 0 .8 0 .1 6 6 9 2 2 5 .4 0 .1 7 4 3 2 2 0 .4 0 .1 6 7 2 2 1 5 .9 0 .1 6 5 4 2 1 2 .1 0 .1 7 5 9 2 0 8 .6 0 .1 5 3 8 2 0 9 .6 0 .1 7 8 1 2 0 7 .8 0 .1 9 7 3 2 0 6 .5 Q lity A 1 5 .8 1 4 .3 1 5 .9 1 6 .1 1 5 .9 1 6 .2 1 5 .7 1 4 .2 1 2 .9 1 4 .7 1 2 .2 1 2 .7 1 2 .3 1 1 .9 1 2 .7 1 2 .6 1 5 .9 1 5 .1 1 8 .1 1 5 .2 Q lity P S c h e rry S p e rg a m 6 5 .2 75 25 6 5 .7 75 25 6 5 .1 74 26 6 4 .6 72 28 6 4 .9 70 30 6 4 .1 70 30 6 5 .3 66 34 6 7 .8 75 25 7 0 .1 73 27 6 7 .4 70 30 6 9 .8 75 25 6 9 .3 75 25 6 9 .8 75 25 7 0 .2 78 22 7 0 .5 78 22 7 3 .4 76 24 6 5 .0 77 23 6 0 .7 78 22 6 1 .7 79 21 6 8 .9 80 20 30 Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 MATHEMATICAL MODEL FOR MEXICAN COFFEE MARKET Table 2 – Results Nonlinear IT3SLS Summary of Residual Errors. D F M o del Eq u atio n LN S P R A T IO 1 LN Q T Y 3 4 3 DF Er r o r R o o t M SE SSE 0.33358 2.87828 0.51946 17 16 17 M SE 0.01962 0.17989 0.03056 Where S is the relate quantity of cherry coffee sold to pergamino coffee sold, SZ is the average size of producers PM is the price of Mexican green coffee, PW is the US retail price of coffee, Pratio1 is the ratio of Mexican green price to US retail price, Entropy is the measure of concentration of Mexican export firms, QTY is the ratio of altura coffee sold to prima coffee sold (a measure of quality), QA is the quantity of altura coffee sold and QP is the quantity of prima coffee sold, ln denote the notation logarithm . in this study ln (S), ln (Q TY) and ln (Pratio1) are endogenous and ln (SZ), ln (PM), entropy and ln (MEXP) are exogenous. In this model, pratio1 and QTY, quality, are simultaneously determined. The data for the estimation are presented in table 1. This part presents the results of the empirical model described before applied the data give in the R -Sq u ar e 0.4819 1.6340 0.0091 0.14008 0.42414 0.17480 A dj. R -Sq 0.4209 2.1279 0.1278 same chapter. In general the results show that the size of producer determine share of sold cherry, when the quality increases the price of green coffee increase, Mexican processors have not been able to extract additional returns from market power and if share sold cherry decrease increase the quality of coffee green. Results of the Full Estimated Model The regression results from the simultaneous equation model in three stage least squares of residual errors are presented in table 2. In same form of IT3SLS parameter estimates results are presented in table 3. In most of variables the F-statistics for these models are significant at the 5% level. Table 3 – Results Non linear IT3SLS Parameter Estimates. Parameter Estimate Approx. Std. Err. T Ratio Approx. Pr ob f T Share of cherry coffee α0 9.284042 2.14831 4.32 0.0005** α 1 (Producer size) -1.519176 0.39277 -3.87 0.0012** α 2 (Price of green) 0.085404 0.12469 0.68 0.5026 (Constant) PMCE Ratio β 0 (Constant) 1.316296 5.45009 0.24 0.8122 β 1 (Entropy ) 0.273074 1.61943 0.17 0.8682 β 2 (Quality ) 2.280190 0.96308 2.37 0.0308** β 3 Exports 0.070749 0.07054 1.00 0.3308 Quality δ 0 (Constant) -1.118629 0.29824 -3.75 0.0016** δ 1 (Share of cherry ) -0.064566 0.18660 -0.35 0.7336 δ 2 (Price ratio) 0.438559 ** Denotes significance at the 5% level. Revista Brasileira de Gestão de Negócios 31 — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 G. GUERRA GALINDO / CHARLES B. MOSS Table 3. show the results of value estimate, error standard, T ratio, probability (T) of parameter in the equation models, where in the The number of observation used twenty, missing zero, statistics for system to objective 0.5947 and objective*N 11.8931. The size of producer significantly affects the share sold of cherry coffee. This means when the size of producer increase the share sold of cherry. However the price of green coffee has no significant effect or the share of cherry coffee sold. The market concentration of processors in Mexico has no effect on the relative price of Mexican coffee, whereas the relative quantity of altura to prima has significance on the price ratio for Mexican coffee means when the quality of coffee increases. The price first it is share of sold cherry coffee ( parametersα i ), second is share of sold of green coffee in relation of roost coffee in the international market ( parametersβ i ), and the last one is the quantity sold of altura and prima quality ( parameterδ i )of Mexican green coffee increase. On the other hand the quantity Mexican export has no affect the share of price. Thus, Mexican does not significance affect the world market price. The share of cherry coffee sold has no significance in the quality. However, an increase the share cherry sold decrease the overall quality of Mexican coffee. In addition, the relative price of Mexican coffee has significance effect in the quantity of altura quality so when decrease the price of green coffee the quantity of altura quality decrease relative price of Mexican coffee, whereas the relative quantity of altura to prima has significance on the price ratio for Mexican coffee means when the quality of coffee increases. The price of Mexican green coffee increase. On the other hand the quantity Mexican export has no affect the share of price. Thus, Mexican does not significance affect the world market price. The share of cherry coffee sold has no significance in the quality . however, an increase the share cherry sold decrease the overall quality of Mexican coffee. 32 CONCLUSIONS AND DISCUSSIONS include the general decline in the quality of Mexican coffee over time. This decline in the quality of coffee may be explained by several factors including the structure of the market for coffee within Mexico and agronomic factors. This study examines this hypothesis. The study develops the traditional models of the effect of market power using simple supply and demand relationships and game theory. Talking, the studied results, increase in market power or the level of concentration reduces the price received by producers. The game theoretic models sup pert the conclusions even if the processors interact in a noncompetition game. Next, the study developed a model of endogenous quality choice based in the size of coffee producers. The theoretical model () that smaller producers may not have the incentive to differentiate the quality of their coffee. As a result, smaller producers sell through alternative market channels for an average price. Has again game theory can be used to describe the demand slide in market quality that results in this alternative market channel. Based an these model, this study formulates an empirical model relating the share of coffee marketed as cherry to the size of producers, the quality of coffee to the share marked as cherry and the relative price of Mexican coffee, and the relative price of Mexican coffee as a function of its quality, the concentration is the processors sector and the US retail price of coffee. The results indicate that the average size of the producer has a statistically significant affect in the share of the coffee marketed as cherry coffee. Further, as the size of the producer declines, the share marketed cherry increases as expected. Similarly, the quality of coffee produced in Mexico is an increasing function of the relative price of Mexican coffee, as expected. On addition, this relation ships is statistically significant. In addition the share of coffee sold as cherry coffee has a negative effect on quality. However, this effect is not statistically significant. (Timely) the relation price of Mexican coffee is an increasing function of the quality of Mexican coffee and a decreasing function of the market concentration. However the second effect is not statistically significant. In general, coffee producers in Mexico have seen their price decline relative to the international market price of coffee. Economically, this decline may be attributed to several factors. For example, one explanation could be the rise in market power at the processor and export level, other explanation Suggestions for Further Research Anyway we have another market problem due the international power of Colombia and Brazil, whereas Colombia produce soft coffee, Brazil produce caturra and Mexico another soft and exist empirical experience in Mexico about sold coffee of good Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 MATHEMATICAL MODEL FOR MEXICAN COFFEE MARKET quality got premium, in another words, Mexico can not sale it’s coffee with the same quality as large main, Mexico need to look into another market of quality because the quantities and prices of Colombia and Brazil affect the volatile price and overall to Mexican coffee, we look in next figure that elasticity of supply and demand for quality coffee (Santoyo, 1994), of Colombia is different to Mexico, when increase a minimum quantity produce of coffee in world side the price increase but affect more to Mexico that Colombia this is due the curves are more inelastic for quality of coffee in Mexico, then Mexican producers and processors need to look for special market whit special quality, We can follow search how much we can increase quantity in quality and which strategic follow for smaller producer. 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Docente do IESAM – Instituto de Ensino Superiores da Amazônia [[email protected]] Prof. Dr. Dirceu da Silva Docente do UNIFECAP – Centro Universitário da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado [[email protected]] RESUMO KEY WORDS Este estudo apresenta-se como uma reflexão em relação à prática da responsabilidade social na sociedade nos dias atuais. Busca-se identificar na visão das organizações da Sociedade Civil qual é o papel do indivíduo, das empresas e da formação destes indivíduos como agentes transformadores das empresas nas atividades sociais desenvolvidas por estas empresas. O estudo busca identificar além destas percepções, pontos importantes na relação entre as empresas e as organizações da Sociedade Civil e da formação dos executivos que estarão desenvolvendo as políticas dentro das empresas. Identificar a responsabilidade social sob a ótica das organizações da sociedade civil, possibilita uma nova visão que venha a facilitar a compreensão de como cada ator social têm desempenhado o seu papel. Social Responsibility, Non-profit Institutions, Ethical Business, Third Sector. PALAVRAS-CHAVE Responsabilidade Social, Organizações da Sociedade Civil, Empresa Cidadã e Terceiro Setor. ABSTRACT 34 This paper shows itself as a reflection on the social responsibility nowadays. It tries to find the non-profit institutions vision about the people’s role, enterprise’s role and the preparation of this people to be the subject to change the social activities developed by the enterprises. The paper tries to go beyond these perceptions, identifying the most important points between the enterprise and non-profit institution’s relationship, and the executive’s preparation to develop the enterprise policies. The social responsibility identification under the nonprofit institutions view permits a new vision that should make easier the understanding on how each social actor performs its role. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP 1. INTRODUÇÃO Como pode ser observado na mídia, muito se tem falado sobre Responsabilidade Social, principalmente a partir da última década do século passado. Nessa década é que o grande público passou a perceber os meios de atuação da Sociedade Civil no enfrentamento dos problemas sociais, principalmente em decorrência da realização da Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – UNCED (United Nation Conference of Environment and Development), e de seu encontro paralelo, o Fórum Internacional de ONGs (Organizações Não Governamentais) e Movimentos Sociais, eventos estes conhecidos como Rio 92 ou Eco 92,os quais despertaram a mídia nacional para a problemática Social e Ambiental além da atuação das ONGs (MENDES, 1999). É também nessa época que começou a se intensificar o aparecimento na mídia dos termos “ONG”, “Responsabilidade Social”, “Balanço Social”, “Sociedade Civil”, “Terceiro Setor” e outros relacionados à atuação da Sociedade Civil Organizada. Isto não quer dizer que a nossa sociedade não sofresse de graves problemas sociais antes dessa década, mas sim que grande parte da população e dos meios de comunicação, não haviam ainda percebido totalmente o desenvolvimento das organizações como um novo poder e o surgimento de um novo nível de participação da Sociedade Civil Organizada e das Empresas nas questões sociais. Com a redução do Estado nas atividades sociais e a diminuição da capacidade da sociedade de enfrenAno 6 Número 15 Agosto 2004 RESPONSABILIDADE SOCIAL NA VISÃO DE ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL tar diretamente os problemas sociais, o agravamento destes problemas leva ao desenvolvimento de uma nova racionalidade social, onde o papel das empresas é relevante (MELO NETO e FROES, 2001). O objetivo deste estudo foi de procurar identificar qual é a percepção das Organizações da Sociedade Civil quanto a pratica da “Responsabilidade Social” pelas empresas com as quais mantém relacionamento no desenvolvimento de sua atuação social. Para tanto foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa em duas organizações selecionadas na base de dados das Organizações da Sociedade Civil que participaram do programa de capacitação em gestão, desenvolvido pela Associação dos Alunos e Ex-Alunos de MBA (Master in Business Administration) da Universidade de São Paulo – USP. Um dos critérios para a escolha das organizações que seriam pesquisadas foi de selecionar uma organização que tivesse terminado recentemente esse processo de capacitação e outra que o tivesse terminado a pelo menos seis meses. Outro critério adotado foi que as áreas de atuação fossem diferentes, para que se pudesse haver diversidade de percepção em função dos relacionamentos mantidos entre as organizações e as empresas financiadoras, patrocinadoras ou parceiras de seus programas e projetos. Dentro destes critérios, foi selecionada uma organização que atua na área de saúde, desenvolvendo programas de educação, convivência e qualidade de vida dos portadores de uma determinada patologia e seus familiares, e uma organização que desenvolve suas atuações na área ambiental. Por se tratar de uma pesquisa investigativa, com o objetivo de gerar hipóteses baseadas nas percepções dos gestores dessas organizações, optou-se pela técnica de Focus Group. Segundo Giovinazzo (2001), o Focus Group é a técnica recomendada para o tipo de pesquisa objeto deste artigo particularmente por fornecer “riqueza e flexibilidade na coleta de dados, normalmente não disponíveis quando se aplica um instrumento individualmente”. No planejamento da pesquisa foram definidas as seguintes questões que serviram de base à formulação do roteiro a ser seguido pelo moderador: a – Como são percebidas as práticas de Responsabilidade Social desenvolvidas pelas empresas? b – Qual o grau de influência destas práticas nos trabalhos desenvolvidos por estas Organizações da Sociedade Civil? Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP c – Qual a percepção da evolução temporal da consciência social das empresas? d – Existem setores ou indústrias onde a Responsabilidade Social Empresarial se destaque? e – Quais aspectos seriam relevantes na formação acadêmica dos gestores empresariais? Foi ainda definido: (a) que seriam realizadas duas reuniões uma para cada organização; (b) que os participantes das organizações seriam seus principais gestores, incluindo no grupo as pessoas (2 em cada grupo) que passaram pelo processo de capacitação já citado; (c) quem faria o papel de mediador e quem ficaria com a função de observador; e (d) as datas e locais de realização das reuniões. Para o registro das informações, foi programado o uso da técnica de gravador e de transcrição de dados conforme orientação de Queiroz (1991, cap. VI e VII), e a análise de dados de acordo com a técnica de análise de conteúdo preconizada por Bardim (QUEIROS, 2003). O presente artigo está dividido em cinco partes. Na primeira, além da introdução ao tema, são apresentadas as questões que motivaram a pesquisa e a forma como a mesma foi desenvolvida. Na segunda parte são apresentadas as conceituações sobre “Responsabilidade Social” comparativamente ao conceito de “Filantropia”, a “Responsabilidade Social” nas empresas, seus estágios, e o conceito de “Balanço Social”. A terceira parte aborda as principais formas de atuação social desenvolvidas pelas empresas. A seguir é feita uma análise dos dados obtidos com a pesquisa desenvolvida junto às Organizações selecionadas e finalmente na conclusão, se irá procurar relacionar esses resultados com os conceitos apresentados. 2. A RESPONSABILIDADE SOCIAL Mas o que é “Responsabilidade Social”? Segundo Melo Neto e Froes (2001), a Responsabilidade Social é uma ação transformadora, tem a ver com o dever cívico, busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Podese então concluir que a “Responsabilidade Social” é inerente ao indivíduo e às organizações. Assim, a “Responsabilidade Social”, compreende as pessoas tanto individualmente quanto de forma coletiva e organizada. Esta forma coletiva e organizada pode se apresentar como Organizações da Sociedade Civil, como Empresas ou como Governo. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 35 ANTONIO MARCOS VARGAS DE OLIVEIRA / ÚRSULA A. ARAÚJO NOGUEIRA / DIRCEU DA SILVA O exercício da “Responsabilidade Social” do indivíduo, pode ser desenvolvido de forma comportamental e através do voluntariado em Organizações da Sociedade Civil ou em Organizações Públicas. As Organizações da Sociedade Civil são a representação da ação social de uma coletividade, procurando atender a uma causa social. Ao Governo cabe intrinsecamente a responsabilidade sobre o bem estar público. Mas esta premissa não isenta o Estado de sua Responsabilidade Social. Tanto que Herbert de Souza (2003), o Betinho, em artigo sobre Balanço Social sugere que tanto as empresas estatais quanto os governos municipais deveriam publicar os seus balanços sociais, devendo para estes últimos ter sua formatação adaptada. Antes de ser abordado o tema “Responsabilidade Social” nas empresas, convém que seja rapidamente revisado o tema “Filantropia”. Filantropia é a retribuição à sociedade do sucesso nas atividades comerciais, industriais ou profissionais, através de doações. Em decorrência da filantropia, sugiram as entidades filantrópicas, que buscam estes recursos (MELO NETO e FROES, 2001). No Quadro 1, podem-se observar as diferenças existentes entre a Filantropia e a Responsabilidade Social segundo estes autores. Quadro 1 – As Diferenças entre a Filantropia e a Responsabilidade Social. Filantropia Responsabilidade Social Ação individual e voluntária Fomento da caridade Base assistencialista Restrita a empresários filantrópicos e abnegados Prescinde de gerenciamento Decisão individual Ação coletiva Fomento da cidadania Base estratégica Extensiva a todos Demanda gerenciamento Decisão consensual Fonte: Melo Neto e Froes (2001, p. 28). Além de basear-se no assistencialismo a Filantropia costuma ser pontual, só ocorrendo quando há disponibilidade de recursos e sem a preocupação com a continuidade de qualquer programa, o que gera por parte das organizações que dependem destes recursos, a busca constante de um grande número de patrocinadores de forma a procurar garantir o fluxo necessário para sua atuação. 2.1. A Responsabilidade Social Empresarial 36 O novo nível de consciência empresarial, a nova ética social empresarial, é uma postura que engloba desde o tratamento dados aos funcionários, as relações com os acionistas, fornecedores, clientes, obrigações legais, conduta ética nos negócios e o envolvimento nas ações sociais desenvolvidas pela comunidade (MELO NETO e FROES, 2001). A empresa que pratica a Responsabilidade Social, está exercendo também a Cidadania Empresarial. Segundo Montana e Charnov (1998), a Responsabilidade Social pode ser classificada em três estágios. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP No primeiro as empresas apenas cumpre as suas obrigações oriundas do sistema legal constituído e as ditadas por acordos sindicais. No segundo estágio a empresa além do atendimento das obrigações legais, buscam satisfazer as necessidades sociais percebidas que a afetam diretamente. Finalmente, no terceiro estágio, a empresa amplia sua participação social buscando desenvolver ações sociais mesmo para problemas que não a afetem diretamente (Quadro 2). O desenvolvimento desta nova consciência empresarial, teve o seu marco inicial em 1972, com as discussões sobre os limites da expansão econômica, que resultou no “Relatório Meadows” (primeiro relatório do Clube de Roma¹), culminando na França, em 1977, com o “Relatório Sudreau” que abordava a reforma da empresa e a aprovação da lei que institui o “Balanço Social” na França (MELO NETO e FROES, 1999). 1 – O Clube de Roma teve seu início na década de 60 e reunia chefes de estado, economistas, pedagogos, humanistas, industriais, banqueiros, líderes políticos, e cientistas entre outros membros de diversos países, que se encontravam para analisar a situação mundial e oferecer previsões e soluções para o futuro da humanidade. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 RESPONSABILIDADE SOCIAL NA VISÃO DE ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL Quadro 2 – Estágios da Responsabilidade Social Empresarial. 1º Estágio Abordagem da Obrigação Social Satisfazer apenas as obrigações legais 2º Estágio Abordagem da Responsabilidade Social Satisfazer as obrigações legais e as obrigações sociais atuais que afetam diretamente a empresa 3º Estágio Abordagem da Sensibilidade Social Satisfazer as obrigações legais e sociais previstas relativas a tendências/problemas que estão surgindo, mesmo que afetem a empresa diretamente Fonte: Adaptado de Montana e Charnov (1998, p. 36). A bandeira do Balanço Social foi empunhada no Brasil pelo Betinho, que presidindo o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE, em “seu último ato público no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, conclamou as empresas a se engajarem na divulgação de seu Balanço Social oferecendo para isso um modelo concreto” (GRZYBOWSKI, 2003). Como definiu Betinho (SOUZA, 2003b p. 1), “Trata-se de uma avaliação para medir e julgar os fatos sociais vinculados à empresa, tanto internamente – empresa/empregados – como externamente (empresa/comunidades)”. O sucesso de uma empresa não está mais ligado apenas ao aspecto econômico (CAPPELLIN e GIULIANI, 1999), novas dimensões que incluem a atuação social, o respeito e preservação do meio ambiente e o apoio à cultura, passam a fazer parte dos critérios utilizados pela sociedade para avaliar uma empresa diferenciando-a no mercado. Pode-se dizer que o Balanço Social deve refletir a atuação social da empresa, podendo seguir a classifica- ção dos estágios sugeridos por Montana e Charnov que também é contemplada na proposta do IBASE conforme artigo de seu diretor Cândido Grzybowski (2003) e ilustrado no Quadro 3. Como pode ser observado, ao primeiro estágio (Abordagem da Obrigação Social) corresponderiam os itens de Recursos Humanos e de Tributos e Contribuições Legais. Ao segundo estágio (Abordagem da Responsabilidade Social), incluir-se-ia os Investimentos em Ações Sociais na sua forma mais simples, isto é, atendendo a comunidade onde a empresa está localizada, e no terceiro estágio (Abordagem da Sensibilidade Social), seriam incluídos todos os componentes propostos para o Balanço Social. Numa concepção mais ampla, Ribeiro e Lisboa (2003) definem que O Balanço Social “envolve a demonstração da interação da empresa com os elementos que a cercam ou que contribuem para sua existência, incluindo o meio ambiente natural, a comunidade e economia local e recursos humanos”, ou seja, todas relações da empresa. Quadro 3 – Componentes do Balanço Social. Recursos Humanos Os indicadores laborais, juntamente com os indicadores da composição do quadro funcional, são os melhores indicadores da responsabilidade social empresarial. Tributos e Contribuições Legais Trata-se de uma contribuição social compulsória, uma ressocialização impositiva do valor agregado, que é significativa em relação ao negócio. Investimento no Meio Ambiente O investimento no meio ambiente, primeiro na transformação e aperfeiçoamento de práticas internas e depois em projetos de interesse da sociedade como um todo. Investimento em Ações Sociais Nem que seja apenas na comunidade em que a empresa atua, tais investimentos, por pequenos que sejam, revela o quando a empresa reabre para a questão social. Fonte: Baseado em Grzybowski, (2003). Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP 37 Ano 6 Número 15 Agosto 2004 ANTONIO MARCOS VARGAS DE OLIVEIRA / ÚRSULA A. ARAÚJO NOGUEIRA / DIRCEU DA SILVA 3. FORMAS DE ATUAÇÃO SOCIAL 38 As formas das empresas desenvolverem suas ações sociais externas, podem ser perfeitamente identificadas em duas pesquisas. A primeira desenvolvida em 1999 pelo Centro de Estudos em Administração do Terceiro Setor – CEATS, mantido pela FIA – Fundação Instituto de Administração dos professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA/USP e divulgada em artigo de Fisher e Falconer (2000), que investiga as atividades de estimulo empresarial ao desenvolvimento interno do voluntariado, e a segunda realizada na região de Londrina no ano 2000, que investiga a atuação social das grandes empresas dessa região, e divulgada em artigo de Aligleri e Borinelli (2001). Ressalte-se que os universos pesquisados são bastante diferentes. A primeira pesquisa com um foco qualitativo com grandes empresas e quantitativo a nível nacional com todos tipos de empresas, e outra abrangendo 26 grandes empresas da região de Londrina no Paraná. Percebe-se pelos relatos destes pesquisadores que as empresas desenvolvem sua ação social de formas distintas. A primeira executando diretamente as ações, seja através de projetos próprios ou de projetos encampados pelas empresas. Uma outra forma de atuação é através do desenvolvimento de ações em parcerias com outras organizações, da sociedade civil ou do governo sendo que, na região de Londrina são encontradas no universo pesquisado um grande número de empresas com participação restrita a doações. Finalmente, verifica-se o desenvolvimento de ações sociais apoiadas por empresas através do voluntariado empresarial. Pode-se então resumir em quatro formas as atuações das empresas no desenvolvimento de suas ações sociais, além das combinações entre estas formas: (1) diretamente, através de projetos próprios, (2) através do apoio e desenvolvimento do voluntariado interno, (3) através de parcerias e (4) através de doações. Quanto a estrutura, identifica-se nestes artigos que as formas utilizadas para o desenvolvimento destas atuações, podem ser classificadas em três modelos de atuação distintos. O primeiro, característico principalmente de empresas multinacionais e grandes corporações, é a constituição de institutos ou fundações criados para gerir e desenvolver estas atividades sociais, desvinculadas da atividade empresarial da empresa mantenedora. O segundo modelo, também característico de grandes organizações, é a integração da atividade social à atividade empresarial, ou seja, a atividade social faz Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP parte da estratégia de posicionamento da empresa, fluindo por toda sua estrutura. O terceiro modelo, é o das empresas que definem uma área específica dentro de sua estrutura operacional para o desenvolvimento e gestão das ações sociais. Está área pode ter como função exclusivamente os programas sociais da organização, ou desenvolver outras funções, sendo que neste caso normalmente a função de atuação social não é a função principal da área, e sim complementar. Em algumas empresas esta função pode estar alocada a uma única pessoa. Percebe-se que conforme o nível de consciência social se desenvolve na organização, os programas passam a ter mais consistência e as áreas de atuação começam a ficar cada vez mais definidas, passando a ter um caráter estratégico. De acordo com Guedes (2003, p. 7), “Uma empresacidadã tem no seu compromisso com a promoção da cidadania e o desenvolvimento da comunidade os seus diferenciais competitivos”, a diferenciação em relação aos seus concorrentes se dá também pelo exercício da cidadania, que vem reforçar a imagem institucional. Mas como é vista a participação das Empresas nas causas sociais pelas organizações da Sociedade Civil? O objetivo deste artigo é justamente iniciar a identificação de como as organizações da Sociedade Civil, que desenvolvem programas sociais percebem: (a) as práticas de Responsabilidade Social desenvolvidas pelas empresas; (b) o grau de influência destas práticas nos trabalhos desenvolvidos por estas organizações da Sociedade Civil; (c) a percepção da evolução temporal da consciência social das empresas; (d) se existem setores ou indústrias onde a Responsabilidade Social Empresarial se destaque; e (e) quais aspectos seriam relevantes na formação acadêmica dos gestores empresariais. Como foi mencionado, este trabalho é um início de identificação destas questões, não tendo de forma alguma a pretensão de estabelecer conceitos, mas sim e apenas, levantar hipóteses que possam no futuro ser objeto de estudos mais aprofundados que levem a uma adequada compreensão deste relacionamento entre o Segundo Setor (Mercado) com fins privados e o Terceiro Setor (Organizações da Sociedade Civil) com fins públicos. Fernandez (2002). 4. ANÁLISE DA PESQUISA Na análise do conteúdo das respostas, comentários e debates surgidos durante os dois encontros com as organizações que participaram do processo de pesquisa, foram identificadas as seguintes posiAno 6 Número 15 Agosto 2004 RESPONSABILIDADE SOCIAL NA VISÃO DE ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL ções a respeito das questões levantadas para a identificação da percepção destas organizações sobre a Responsabilidade Social nas Empresas: Os grupos pesquisados enfatizaram a importância da consciência individual na prática da Responsabilidade Social antes de chegar à análise do que é praticado na empresa. É a contribuição individual, é o preocupar-se com outros que somado às ações empresariais irá proporcionar as melhorarias na sociedade em benefício de todos. Quanto à forma de atuação das empresas no desenvolvimento de suas ações de Responsabilidade Social, as quatro formas de atuação apresentadas no embasamento teórico foram identificadas espontaneamente pelos dois grupos, sendo que a forma de atuação através de projetos próprios e a de voluntariado interno são apenas conhecidas pelos componentes dos grupos, sem a experiência direta. As formas mais presentes nas organizações, têm sido a de parcerias e a de doações. Quanto às parcerias, são percebidas pelas organizações um alinhamento entre a área de atuação da empresa e as causas pelas quais mantém interesse em realizar parcerias. Algumas empresas também já tem definidas previamente em que causas sociais ela irá ter atuação. A forma de atuação através de doações, é percebida ainda como prática muito presente nas empresas. Porém, mesmo em empresas consideradas parceiras, se percebe que pode haver a redução ou interrupção do fluxo de financiamento por qualquer contratempo econômico. Não é uma ação planejada, não há compromisso com a continuidade. Foram identificados pelos participantes, os três modelos de atuação das empresas quanto à estrutura, embora um tenha se apresentado como predominante. Este modelo é o da determinação de uma área específica dentro da estrutura da empresa para o desenvolvimento das ações sociais da empresa. Principalmente as áreas de Recursos Humanos e de Marketing. Este ponto é ainda mais marcante na organização que desenvolve suas atividades na área da saúde, onde a área de maior relacionamento tem sido a área de Marketing das empresas parceiras. Foi relatado que a visão de Responsabilidade Social se diferencia dentro das empresas, dependendo da área funcional. Isto acontece inclusive com a visão de Responsabilidade Social percebida nos voluntários. Um ponto importante levantado pelas duas organizações pesquisadas é a legislação, tanto a legislação fiscal quanto a legislação restritiva ou impositiva. Foi apontado que, além de facilitar a captação de recurRevista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP sos por parte das organizações sociais e criar as condições para a definição da atuação das empresas nas áreas social/ambiental, a legislação ajuda a desenvolver, mesmo que por vezes de forma forçada, uma conscientização que pode ser considerada de certa forma eficiente. Esta mudança no nível de conscientização das empresas para com as causas sociais, seja causada pelas restrições ou imposições legais, sejam pela possibilidade da utilização de benefícios fiscais, tem criado facilidades/oportunidades para as organizações da Sociedade Civil. Porém, foi salientado o equivocado receio de algumas empresas em associar sua marca a determinadas causas sociais temendo que essas causas possam levar a uma imagem negativa. Nestes casos, cabe às organizações sociais o papel de desmistificação, de mostrar caminhos para o desenvolvimento de oportunidades às empresas que adotarem a causa. Para isso, e também para melhorar o processo de formação de parcerias e captação de recursos, a capacitação dos profissionais das organizações sociais tem s se tornado um fator de extrema importância para essas organizações. Este é um ponto importante. A aproximação entre as organizações da Sociedade Civil e as empresas tem provocado uma maior profissionalização dessas organizações. Foi ainda identificado por um dos participantes da organização que desenvolve suas atividades na área da saúde que alguns de seus parceiros já identificaram a organização como fazendo parte de sua cadeia de valor. Desde a década de 90 pode-se observar o aumento de participação das empresas no trabalho social. Como relatado por um integrante da organização que atua na área de saúde: “... É que todo mundo fala disso e qualquer empresa que você vai, estão falando em responsabilidade social...” e outro integrante corrobora: “... Então é mesmo assim, vou falar que é uma bandeira, que o movimento social hoje é uma bandeira”. Segundo o relato de uma das participantes da organização da área ambiental, a consciência social nasce do limite que já foi atingido. Um limite funcional, uma ruptura. A consciência social não é a coisa maravilhosa que aparenta ser, é uma necessidade. A consciência empresarial está diretamente relacionada ao crescente amadurecimento da consciência da sociedade em relação à responsabilidade social. Como relatou uma integrante da organização que atua na área ambiental: “... Então, hoje... a mudança de valores está sendo fortemente colocada. Como Ano 6 Número 15 Agosto 2004 39 ANTONIO MARCOS VARGAS DE OLIVEIRA / ÚRSULA A. ARAÚJO NOGUEIRA / DIRCEU DA SILVA 40 ela está sendo transferida, como ela está sendo apropriada pelos vários grupos dos atores sociais...”. Estas mudanças ocorreram mais intensamente no final da década de 90, e tem sido reduzida a sua intensidade nos últimos 4 anos. Foi apontado que uma evolução maior ocorreu nas empresas onde a atuação social está ligada à área de Recursos Humanos, apresentando porém uma evolução menor quando a área responsável pela atuação social é a área de Marketing por normalmente colocar esta atuação sob um aspecto diretamente comercial. Conforme foi percebido, as empresas normalmente praticam suas ações sociais, dentro de sua área de atuação ou se associam a causas que lhe proporcionem mais visibilidade. Dentro dos grupos estudados, as empresas de destaque citadas foram organizações nacionais de grande porte e multinacionais, sendo que estas empresas têm a sua área de atuação relacionada de alguma forma com a causa social abraçada pelas organizações de terceiro setor estudadas. Foi citado ainda que as Multinacionais e a mídia são as mais atuantes nestas parcerias. Como foi observado por uma integrante da organização ligada à saúde: “... Vamos dizer as multinacionais ligadas à enfermidade, as outras não...” E outra integrante contribui: “... as empresas apóiam. Depois a mídia, que de uma forma ou de outra acaba divulgando nosso trabalho”. Um ponto comum entre os integrantes dos dois grupos estudados, é que a responsabilidade social deve estar presente na formação do indivíduo. Como foi dito por uma integrante da organização da área de saúde: “... A formação para despertar o interesse pela responsabilidade social deve ser desde a educação de base...”, e um ponto ainda mais fundamental citado por uma integrante da organização da área ambiental é que nós somos educados para sermos individualistas, Responsabilidade Social é coletivismo, se preocupar com os outros. Assim, pelo que se percebe dos depoimentos dos dois grupos, a formação universitária, que é o final da linha, não conseguirá apresentar um resultado efetivo nesta área se não houver uma mudança no sistema educacional como um todo, tanto para a área social quanto para a área ambiental. Isto é reforçado pelo depoimento que diz que “se a pessoa não pratica como pessoa, não vai praticar como empresa, ou vai apenas ficar no Marketing, na troca, no que gera visibilidade”. Uma preocupação percebida nos componentes de ambos os grupos é que tanto nos cursos de graduação como nos de especialização, os professores e palestrantes deveriam ter experiência prática no terceiro setor para melhor explicar e despertar o aluno para esta realidade. Como foi observado por uma Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP integrante do grupo da organização da área da saúde: “... É necessário sensibilizar o aluno à causa social...”. Outro ponto de preocupação é com os estagiários que procuram desenvolver suas atividades em organizações sociais sem o conhecimento adequado das particularidades específicas das organizações da Sociedade Civil e de sua atuação. Essa falta de conhecimento tem ocasionado muitas vezes uma dificuldade em desenvolver um bom trabalho nestas organizações, resultando também em um trabalho acadêmico de qualidade não tão adequada. Foi citado ainda que o processo de conscientização empresarial a partir dos novos graduados é um processo de longo prazo, pois mesmo que a Instituição de Ensino forme um profissional de ótimo nível, ele terá ainda que ensinar à empresa, pois as pessoas que estão na empresa, não passaram pela mesma formação. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como foi dito anteriormente, o objetivo deste trabalho foi de iniciar a identificação de como as organizações da Sociedade Civil que desenvolvem programas sociais percebem a Responsabilidade Social nas Empresas. Foi também mencionado que como resultado deste levantamento, deveriam ser identificadas hipóteses que pudessem ser objeto de novos estudos no futuro. Observou-se que na análise das opiniões, foram confirmadas as hipóteses inicialmente indicadas pela bibliografia, mas novas questões surgiram, tão importantes para a análise e pesquisa futura quanto às confirmadas. Dentre estas podemos indicar: O primeiro ponto importante verificado foi que, dependendo da área dentro da empresa, a concepção sobre Responsabilidade Social será diferente e que estas diferenças afetam inclusive os projetos de voluntariado empresarial. Este aspecto também tem forte influência nas ações da empresa dependendo de onde estão alocadas as atividades sociais, se na área de RH ou na área de Marketing. Outro ponto importante percebido é o do receio de algumas empresas associarem sua marca a algumas causas sociais por acreditarem que possam ocasionar impacto negativo junto aos seus públicos, obrigando as organizações da Sociedade Civil a desenvolver as estratégias que as empresas poderão se utilizar se adotarem estas causas. Foi percebida também a crescente necessidade da profissionalização, ou melhor capacitação, dos Ano 6 Número 15 Agosto 2004 RESPONSABILIDADE SOCIAL NA VISÃO DE ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL quadros das organizações da Sociedade Civil para conseguirem se manter no mercado. Interessante a observação de um integrante de uma das organizações, sobre a identificação de um segmento de parceiros apontar a organização como fazendo parte da cadeia de valor destas empresas. Quanto ao aspecto educacional, percebe-se que há uma certa descrença quanto aos resultados de uma atuação educacional apenas nos níveis universitários, pois conforme foi apontado por todos os integrantes da pesquisa, este assunto se inicia com a mudança cultural da ênfase no individualismo adotada pela sociedade ocidental e da abordagem da temática desde a educação de base. Outro aspecto a ser considerado na formação profissional dos gestores das empresas, é a consistência da mensagem passada em virtude da experiência pessoal de professores ou palestrantes. Isto tem sido percebido por pelo menos uma das organizações pesquisadas em função do preparo inadequado dos estagiários que procuram a organização. A Responsabilidade Social hoje não é mais considerada um modismo, pode-se observar claramente a atuação dos indivíduos, das empresas e das organizações da sociedade civil em prol da cidadania. Houve de fato um desenvolvimento da consciência dessa nova ética social, na medida em que a sociedade se engajou em programas sociais. A ação social assume vários significados singulares. Para muitas pessoas representam um elo com a educação, saúde, lazer, dentre outros e a possibilidade de ajuda ao próximo através do trabalho voluntariado. Para as empresas têm representado desde a possibilidade de atendimento de suas obrigações legais até o desenvolvimento de ações sociais, passando ainda pelo aproveitamento de oportunidades de mercado. Cada um desses atores tem um papel extremamente importante na busca da sociedade de erradicação de seus problemas sociais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALIGLERI, Lílian Mara; BORINELLI, Benilson. Responsabilidade Social nas Grandes Empresas da Região de Londrina. In: Encontro Nacional da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Administração (25.: 2001, Campinas). Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2001. 1 CD-ROM. 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Ano 6 Número 15 Agosto 2004 41 Artigo O ressurgimento do movimento cooperativista de trabalho no Brasil João Carlos Felicio Domingues Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Metodista de São Paulo – UMESP [[email protected]] Fulvio Cristofoli Mestrando em Administração de empresas pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul [[email protected]] RESUMO ABSTRACT A face mais visível da crise recente, foi o incremento observado na taxa de desemprego, tema que domina o debate social brasileiro nos últimos anos. Assistimos hoje as transformações importantes no mundo do trabalho. Novas formas de organização aparecem e a natureza se modifica. O desaparecimento de empregos permanentes; e simultaneamente, aparecem novas tecnologias e formas inovadoras de trabalho. Ao mesmo tempo em que milhares de pessoas sofrem pela falta de uma vaga, outras sofrem pelo fato de terem que trabalhar excessivamente. Rapidamente surgem e mudam as formas de trabalhar neste processo de transformações, convivem desde o trabalho mais simples, como o que exige unicamente o esforço físico, manual, até o trabalho mais complexo que utiliza energia cerebral, conhecimentos como a programação ou cálculos matemáticos. O lugar onde se realiza o trabalho também se transforma, funções surgem e desaparecem com velocidade, muitas vezes, não gerando nenhuma identidade profissional. O movimento cooperativista de trabalho, diante deste cenário, representa um modelo de comportamento alternativo entre o mercado e os trabalhadores, trazendo a estes através da cooperativa o seu instrumento jurídico de viabilização eficiente do trabalho, principalmente eliminando a intermediação. Isto permite a distribuição de maior renda ao trabalhador, uma vez que o excedente antes apropriado pela intermediação, agora é redistribuído entre os cooperados associados, efetivamente os executores do trabalho. The most visible aspect of the recent crisis is observed in the increase of the tax of unemployment. In the last few years the theme of unemployment dominates the brazilian social debate. Nowadays we notice in the world important evolution refering to work. New types of organizations appear and modify nature. Permanent jobs begin to desapear and new forms of tecnologies appear to inovate the way of working. While millions of people suffer to obtain a job, others suffer through the fact of having to work a lot. Quickly new ways and forms of work appear to modify also the way of thinking. On one side we have simple jobs that need only physical and manual effort, and on the other side we find more complex work that demands know how and advanced knowledge. Where we find work is also changing ocupations appear and disapear so quickly that it is difficult to create a professional identity. Due to this picture cooperative labour represents an alternative way of relationship with work. Trying to build a different approach between it and the market. With this, comission agents are eliminated. This allows a bigger distribution of profits to the worker. Before the gains were divided between the intermediates and now it goes to the associates who really did the work. PALAVRAS-CHAVE 42 Cooperação, associação, emprego. Cooperation, association, job. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP KEY WORDS Cooperation, association, job. INTRODUÇÃO O Movimento Cooperativista ressurge fortemente na década de 90, mais precisamente após a promulgação da Lei Federal nº 8.949 de 09 de dezembro de 1994, que acrescenta um parágrafo específico ao ArtiAno 6 Número 15 Agosto 2004 O RESSURGIMENTO DO MOVIMENTO COOPERATIVISTA DE TRABALHO NO BRASIL go 442 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), onde declara a inexistência do vínculo empregatício entre as cooperativas de qualquer ramo de atividade, seus associados e aos tomadores deste tipo de serviço. Foi justamente este subterfúgio legal que proporcionou maior confiabilidade aos contratantes. Nas duas últimas décadas, o mundo do trabalho vem sofrendo profundas transformações e enfrentando sérios problemas no que se refere à geração de novas oportunidades e manutenção dos atuais níveis dos postos de trabalho. Será analisada, nesta pesquisa, as principais diferenças entre a contratação da mão-de-obra cooperada e a regida pela CLT, fatores estes que favorecem as empresas à praticarem esta modalidade de contrato. Conhecer esta seqüência de eventos, possibilitará o entendimento de seu crescimento ou estagnação e os impactos causados por esta “bandeira”, que mesmo sob o amparo da Legislação Federal nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971, onde a Política Nacional do Cooperativismo é definida em sua forma e constituição jurídica, vem sofrendo constantes ataques de diversas instituições que contestam sua legitimidade e legalidade. Estes fatores controvertidos, confundem os envolvidos (cooperados, cooperativas e contratantes) bem como os eventuais pretendentes que desejam adentrar ao sistema. As investidas contra o movimento acontecem através de denúncias originadas por órgãos fiscalizadores, defensores dos direitos trabalhistas que na realidade, devido a falta de atualização da Lei nº 5.764, não define claramente à quem compete fiscalizar as cooperativas. DEFINIÇÕES E PRECURSORES DO MOVIMENTO COOPERATIVISTA Etimologicamente a palavra cooperativa deriva do latim cooperari, que significa a ação de cooperar, colaborar, prestar um trabalho com os outros. No mundo moderno, cooperação consiste em associar pessoas com a finalidade de se realizar negócios com capital próprio visando o benefício mútuo. Do ponto de vista jurídico, a cooperação é considerada uma forma coletiva de organização ou sociedade, na qual os direitos e os deveres dos cooperados são previamente estabelecidos, como retirada de excedente, exercício do voto, adesão voluntária, neutralidade política, religiosa, racial e social. Sob o enfoque econômico, a cooperação consiste em um meio de se elevar o padrão de vida dos associados da organização. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP As sociedades cooperativas são como institutos modernos que tendem a melhorar as condições das classes sociais, principalmente a de pequenos capitalistas profissionais das mais variadas funções. Procura libertar estas categorias de trabalhadores da dependência dos grandes capitalistas por meio da união das forças econômicas de cada um. Elimina aparentemente a figura do intermediário, ou terceiro investidor e nesse sentido todas as operações ou serviços que constituem seu objeto de trabalho são realizados ou prestados pelos próprios sócios, exatamente para esse fim que se organizam as empresas cooperativas. Reduzem despesas, pois que eliminando o intermediário, distribuem os lucros entre os próprios associados, despertando assim o hábito da economia entre os sócios. A partir do século XVI, em meio a um regime espoliador responsável pela convulsão social das classes populares de diversos países europeus, surgem propostas de organização das classes trabalhadoras. Diversos estudiosos da Inglaterra, França, Alemanha e outras nações da Europa deixaram experiências e obras capazes de motivar o surgimento de uma nova ordem sócio-econômica, conduzindo à reformulação comunitária em busca da felicidade e do bem-estar. O movimento inicia-se com a formação de colônias cooperativas de trabalho conduzidas pelo ideologista John Bellers, em 1690, na Inglaterra. Já, em 1771 também na Inglaterra, o empresário Robert Owen, volta-se para os problemas sociais, preocupando-se com o baixo nível social dos operários, reduz a jornada de trabalho, regulamenta o trabalho da mulher e do menor possibilitando a participação deles nos resultados auferidos, torna-se assim, o mais inovador de todos os idealistas. Mesmo sem obter relevante sucesso e reconhecimento em seus empreendimentos, a sociedade inglesa e a de outros países fica devendo à Robert Owen e à seus inúmeros seguidores, a fundação das “Cooperativas” e dos “Sindicatos”. Talvez as mais importantes lições comunitárias da sociedade moderna tenham advindo de suas experiências. As primeiras idéias, dando início ao movimento, manifestam-se através da corrente liberal dos socialistas utópicos do século XIX e na primeira metade do século XX, com as experiências que marcaram época”. Os utopistas que vão sistematizar e lançar as bases da organização cooperativista pertencem aos países pioneiros do progresso intelectual e do desenvolvimento industrial da época moderna, notadamente Inglaterra e França ... Ano 6 Número 15 Agosto 2004 43 JOÃO CARLOS FELICIO DOMINGUES / FULVIO CRISTOFOLI ... destacam-se: John Bellers (1654-1725) – Inglês, tentou organizar cooperativas de trabalho para terminar com o lucro e as indústrias inúteis. Robert Owen (1772-1865) – Nasceu na Inglaterra e é considerado o pai do cooperativismo. Combateu o lucro e a concorrência por considerá-los os principais responsáveis pelos males e injustiças sociais. Preocupado com as condições de vida do proletariado inglês, funda escolas para filhos de operários. Charles Gide (1847-1932) – Francês e professor universitário conhecido mundialmente por suas obras sobre economia política e cooperativismo, fundador da Escola de Nines, muito contribuiu com a produção do conhecimento sobre o cooperativismo. Phillipe Buchez (1792-1865) – Nasceu na Bélgica, criou um cooperativismo “autogestionado”, independente do governo. Na França organiza associações operárias de produção. Charles Fourier (1772-1858) – Nasceu na França, idealizador das cooperativas integrais de produção, comunidades onde os cooperados tinham tudo em comum. O Surgimento do Movimento Cooperativista 44 Com o descobrimento da máquina a vapor, inicia-se um novo ciclo na produção artesanal. Caracterizando-se por profundas mudanças nos processos fabris, atribuída à Revolução Industrial, os trabalhadores foram prejudicados pelo novo modelo que substituiu a força do trabalho artesanal e outras atividades por máquinas que haviam sido inventadas. Esses trabalhadores tiveram que enfrentar os inconvenientes do desemprego, em virtude da mão-deobra excedente, levados a procurar alternativas para garantir o sustento de suas famílias. Discutindo suas dificuldades e buscando soluções para problemas que já se tornavam angustiantes em toda a Europa, a classe operária decidiu então criar uma sociedade de consumo com base no cooperativismo puro, onde cada um economizaria pequenas parcelas de seus poucos rendimentos, mesmo submetendo-se a inúmeras privações, durante um ano, para assim tentar formar algo que pudesse tirá-los da aflitiva situação. Reuniram-se então 27 tecelões e uma tecelã, numa tarde de novembro de 1843 e em 21 de dezembro de 1844, para a fundação de um armazém comunitário, com capital inicial de 28 libras, representando uma libra de cada um do grupo. Dispondo de pequenos estoques de açúcar, gordura, farinha, e outros gêneros de primeira necessidade, o modesto estabelecimento, administrado pelos seus próprios fundadores, foi alvo da incredulidade e da inveja dos Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP tradicionais comerciantes da cidade. Despertou, porém, a atenção dos consumidores locais e principalmente das classes trabalhadoras, pela considerável prosperidade. Logo no primeiro ano de funcionamento o capital da empresa aumentou para 180 libras e, cerca de dez anos mais tarde, o “Armazém de Rochdale” já contava com 1.400 cooperados. A sociedade prosperava economicamente funcionando de forma democrática e exercendo sua função social. Os valores de ajuda mútua e de igualdade de direitos e deveres cultivados pelos tecelões ingleses são tão fundamentais que, mesmo passados mais de 150 anos, permanecem como o cerne deste movimento que se expandiu pelo mundo por meio dos tempos e em diferentes campos da atividade humana. As experiências e as idéias dos precursores de Robert Owen, extraídas de seus livros ou conservadas por seus seguidores, não tiveram aproveitamento tão eficaz como o demonstrado pelos operários da cidade de Rochdale, na região de Lancaster na Inglaterra. A partir da experiência desses pioneiros, as cooperativas se multiplicaram pelos mais diversos setores, como produção de moagem, pesca, panificação, consumo, crédito, saúde, transporte, seguros e outras atividades em diversos países, originando o “Movimento Cooperativista”. As cooperativas em seus primórdios enfrentaram o desafio de se afirmarem perante a legislação como uma forma especial de sociedade diversa das sociedades mercantis. De acordo com BULGARELLI (1990), o grande problema principalmente jurídico do cooperativismo, foi sem dúvida conseguir mostrar sua originalidade. Durante todo o período do movimento está marcado pelo trabalho incessante da sua doutrina em demonstrar que muito embora tendo pontos de semelhanças com as sociedades capitalistas e as associações beneficentes, possuía características próprias que lhes valiam um lugar a parte, na classificação societária. Resultou daí que a legislação dos países onde se implantou, passou a reconhecer sua natureza peculiar, de tal forma que, hoje, praticamente em todos eles são encontradas leis sobre cooperativas. Um dos organismos internacionais que mais tem se preocupado em disseminar essa forma especial de sociedade de maneira expressiva e atuante desde sua criação, em 1924, é a OIT – Organização Internacional do Trabalho. Uma de suas primeiras missões técnicas foi o estudo desse tema, ocorrido logo no ano de sua criação. Posteriormente passou a desenvolver planos e programas de apoio à governos e a Ano 6 Número 15 Agosto 2004 O RESSURGIMENTO DO MOVIMENTO COOPERATIVISTA DE TRABALHO NO BRASIL movimentos cooperativos, objetivando as seguintes finalidades: ! ! ! ! formação de recursos humanos de todos os integrantes das cooperativas; formação de planos de desenvolvimento cooperativo que integrem todas as formas associativas; geração de empregos; fortalecimento institucional e intercâmbio entre as cooperativas. Alguns países vêm se destacando no estímulo e proteção ao sistema. Dados obtidos no informe da OIT demonstram estatisticamente a importância do movimento para os dias de hoje e em termos mundiais: De acordo com a revista da OIT (1996), na Polônia, mais de 75% das moradias existentes foram construídas por cooperativas; Na Suécia, a cadeia de cooperativas “OK” possui a maior refinaria de petróleo do país e é responsável pela distribuição de 20% do total de combustíveis e produtos petrolíferos, como também, as cooperativas são responsáveis por 99% da produção de laticínios; na Malásia, o maior sistema de seguros é do movimento cooperativista; as cooperativas de turismo e viagens romenas são de extrema importância devido à amplitude de sua rede e ao grande número de estações de férias; na Índia as cooperativas leiteiras têm usinas de transformação de leite, que estão entre as maiores e mais modernas do mundo e fazem chegar o leite às regiões mais longínquas, assim como, cerca da metade da produção de açúcar derivam delas; a Islândia, pequena ilha do mar do Norte, é comumente conhecida como “Islândia Cooperativista”, devido ao elevado nível de desenvolvimento das cooperativas em todos os setores da economia; o segundo lugar no sistema bancário mundial de crédito é ocupado pelas Caixas Cooperativistas Agrícolas Francesas; as cooperativas de Mondragón, Espanha, são grandes produtoras de refrigeradores e eletrodomésticos e estão entre as 10 maiores empresas do país; As cooperativas polivalentes Japonesas, responsáveis por 95% da colheita do arroz, agregam quase que a totalidade dos agricultores, e ocupam um lugar de destaque no desenvolvimento econômico das regiões rurais, quase todos os pescadores são cooperados; as cooperativas de eletrificação rural foram responsáveis pela quase totalidade da energia elétrica implantada no setor rural dos Estados Unidos. Em síntese, não somente a OIT, mas outros organismos internacionais e nacionais que serão observados posteriormente focam suas peculiaridades e Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP características de ação, identificando-se fortemente com as cooperativas, como um meio adequado e eficaz de promover o desenvolvimento econômico e social das populações de países desenvolvidos e/ou em vias de desenvolvimento. As Cooperativas, principalmente as de “Trabalho”, inserem-se expressivamente nesse contexto. Conforme assinalado é uma das importantes maneiras de se promover a ocupação profissional das pessoas garantindo-lhes trabalho digno e remuneração adequada. Para o perfeito entendimento deste sistema, é essencial buscar na sua origem o início do movimento no Brasil e como se encontra nos dias de hoje. A GÊNESE DO MOVIMENTO NO BRASIL Por volta de 1610, quando foram fundadas no Brasil as primeiras “Reduções Jesuíticas”, houve a tentativa da criação de um estado em que prevalecesse a ajuda mútua. Este modelo de sociedade solidária entre missionários indígenas e colonizadores visava, em primeiro lugar, o bem-estar do indivíduo e de sua família acima dos interesses econômicos da produção. Incentivada por padres jesuítas, a prática do “mutirão”, já vivenciada pelos povos primitivos, vigorou por cerca de 150 anos entre os índios Guaranis nas diversas Reduções. Na visão de OLIVEIRA (1984) o Movimento Cooperativista propriamente dito começou a ser conhecido no Brasil somente por volta de 1847, quando um Francês Jean Maurice Faivre, sob a inspiração de Fourier, fundou nos sertões do Paraná a Colônia Tereza Cristina, que, apesar de sua breve existência, muito contribuiu para o florescimento do ideal cooperativista no país. A primeira cooperativa brasileira, foi fundada em 1891 – Cooperativa de Consumo dos Funcionários da Companhia Telefônica em Limeira, SP. A partir de 1932, com a promulgação do decreto nº 22.239, que define as principais características de uma cooperativa, em seu contexto consagra postulações doutrinárias do sistema cooperativista. É este o principal marco da grande expansão do movimento cooperativista no Brasil. Segundo OLIVEIRA (1984) o primeiro Congresso Brasileiro de Cooperativismo foi realizado em São Paulo em 1944, na comemoração do Centenário da Cooperativa dos Pioneiros de Rochdale, e hoje as cooperativas brasileiras são responsáveis por: 75% do trigo, 40% do açúcar, 32% do álcool, 37% da soja e 41% da cevada. Quase 43% das exportações brasiAno 6 Número 15 Agosto 2004 45 JOÃO CARLOS FELICIO DOMINGUES / FULVIO CRISTOFOLI 46 leiras de lã e derivados, 52% do leite inspecionado, 25% do leite em pó integral, 42% do leite desnatado, 50% da manteiga, 35% do queijo e 40% do iogurte, como também, é responsável por 23% da capacidade nacional de armazenamento de grãos. Depois de muitas experiências na prática e na legislação, foi instituída a Política Nacional de Cooperativismo, que compreende a atividade decorrente de iniciativas ligadas ao sistema cooperativo, originário do setor público ou privado, isolado ou coordenado, desde que reconhecido seu interesse público. É o que está na lei federal de nº 5.764, de 16/12/1971, em seu art. 3º – “as pessoas que celebram um contrato de cooperativa estão buscando almejar uma atividade econômica, de proveito comum, comprometendose, para tanto, a contribuir com bens ou serviços, sem o objetivo de lucro”. Logo, a sociedade cooperativa foi regulamentada com substancial espírito comunitário, concebida no passado ela existi até hoje com o objetivo de proveito comum dos sócios, designados por – “sócios cooperados”. Comum em diversas atividades econômicas, as pessoas passam a aderir as maneiras de agir que possibilitam benefícios a todos. Isso se verifica principalmente na produção rural, no consumo e na prestação de serviços, como também em outros meios que proporcionem o desenvolvimento do ser humano, das famílias e das comunidades onde vivem. A união de pessoas com o foco na melhoria de todos, possibilita o crescimento individual, alcançando os maiores resultados, aumenta e melhor distribui a renda, proporciona desenvolvimento criativo dos negócios, busca incessantemente a superação das dificuldades afirmando-se gradativamente no contexto conjuntural das nações como um modelo de gestão organizacional auto-gerido. A superação das dificuldades características das cooperativas, pauta-se em valores morais e educativos, centrados na concepção de cada pessoa como um ser livre, soberano e capaz de realizar o seu autodesenvolvimento como o da própria comunidade que se encontra inserido. Na função de dono e usuário da sociedade, o cooperado, além de responsável pela execução de todos os atos e cumprimento dos objetivos estabelecidos, tem que definir claramente como devem ser prestados os serviços que a ele se destinam. O cooperado organizado em comitês, conselhos e em núcleos ou comissões, deve contribuir da melhor maneira possível em favor daqueles que receberam a incumbência da administração da cooperativa, para que todas as decisões sejam corretas e representem a vontade da maioria. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP É insuficiente arrolar diferentes definições sobre “cooperados” e “cooperativas”, o que se pretende é chegar à compreensão do fenômeno que produz um enorme movimento na realidade social onde ocorre. Fatores que Contribuíram para o Ressurgimento do Movimento Cooperativista no Brasil Alguns fatos marcaram o ressurgimento do movimento cooperativista, especificamente o incremento da atuação das cooperativas de trabalho no cenário nacional. Acentuou-se nas duas últimas décadas, essencialmente em decorrência de eventos de ordenamento jurídico, inseridos no código de leis brasileiro e concebidos com o intuito de eliminar conseqüências diametrais e opostas àquelas desejadas pelos legisladores, o que provocou verdadeiras armadilhas legislativas. Um outro fator visível dessa proliferação aconteceu durante a instituição do “Plano Real”, com a implantação da nova moeda por meio da MP – Medida Provisória nº 542, de 01/07/1994. Não são raros os casos de mudanças na lei que provocam conseqüências opostas ao esperado. Apesar de já estar contida na Lei Federal no 5.764, de 16/12/1971, em seu artigo de nº 90 – “qualquer que seja o tipo de cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados”, foi ainda necessário acrescer um artigo na CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, por meio de outra lei federal a de nº 8.949, de 09/12/1994 o artigo de no. 442 –“ O contrato individual de trabalho é o acordo tácito ou expresso, correspondente à relação de emprego. Parágrafo único – Qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviço daquela”. Com base nas declarações do Sr. Ex-ministro e vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho PAZZIANOTTO, especialmente após a modificação do art. 442 da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas, ocorrida em dezembro de 1994, se tornou em um exemplo clássico desse tipo de armadilha. Concebido para incrementar a produção nos assentamentos rurais, com a remoção dos “empecilhos” da legislação trabalhista e previdenciária, o novo parágrafo – de resto topicamente mal colocado – acabou por ensejar a proliferação de falsas cooperativas, nos mais diversos ramos de atividade. Abriu-se a discussão, acirraram-se os debates, aprofundaram-se as reflexões. Caminha a consciência jurídica nacional, atualmente, no sentido de admitir um relevante Ano 6 Número 15 Agosto 2004 O RESSURGIMENTO DO MOVIMENTO COOPERATIVISTA DE TRABALHO NO BRASIL papel às cooperativas de trabalho. Alerta-se, porém, para a necessidade de impedir seu desvirtuamento, com combate sem trégua aos aproveitadores. A questão das pressões reivindicatórias remonta do período da Revolução Industrial, em que duas linhas políticas fundamentais orientavam as primeiras organizações operárias. Uma delas assumia comportamento extremamente agressivo, buscando por meio da arregimentação dos trabalhadores somar forças capazes de enfrentar os industriais da época, em condições de relativo equilíbrio; a outra tinha como escopo o desenvolvimento do sentimento de solidariedade, onde se reuniam pessoas para constituir fundos que assegurassem assistência aos trabalhadores em caso de desemprego, doença, invalidez e velhice. Esses mesmos princípios nortearam os assentamentos rurais no Brasil, agora não mais contra os industriais, mas contra o governo clamando por profundas reformas. Para contemporizar a situação de atos como estes, os legisladores não somente criaram o artigo nº 442 da CLT, mas como evento anterior, em 05/10/1988, representantes do povo, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte, provocaram completa modificação da Constituição visando instituir em tese um “Estado Democrático”, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais de uma sociedade mais fraterna. Em artigo apropriado à situação contido na Constituição Federativa do Brasil de 05/ 10/1988, encontramos em seu artigo nº 5 – “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo a brasileiros e a estrangeiros a residência no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;... ...XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;... ...XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;... ...XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;... ...XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extra-judicialmente”. De igual forma, outros artigos da Constituição tratam de assuntos específicos relacionados ao movimento Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP cooperativista como os de número 146-III – item c.; 174 – Parágrafos 2º, 3º, 4º; nº 187-VI; e 192-VIII. O primeiro Decreto-Lei que legaliza as atividades cooperativistas no Brasil é o de no 1.637, datado de 05/01/1907, que cria os sindicatos profissionais e sociedades cooperativas – Capítulo II, artigos 10 a 25. Mas, é realmente a Lei Federal nº 5.764, de 16/ 12/1971, que prevalece até hoje e define toda a política de cooperativismo, instituindo o regime jurídico para esse tipo de sociedade, dando outras providências criando – um “Regimento Interno” e o “Código de Conduta dos Associados em Cooperativas”. Deve-se levar em consideração que a lei prevê requisitos específicos para a formação de associações de trabalhadores em cooperativas, ressaltando àquelas chamadas de “falsas cooperativas de trabalho”, pois fraudam a lei ocultando relações de trabalho permanente em regime de subordinação e, pagamentos que de fato, são salários. Resta ao intérprete mais preocupado, fazer a distinção entre as verdadeiras cooperativas de trabalho e as dissimuladas e, averiguar se o sentimento de solidariedade entre seus membros e o perfeito enquadramento legal é o que predomina. Por outro lado, temos a implantação do Plano Real em 1994, forçando o Governo Federal a tomar medidas emergências, acarretando em uma reforma monetária. Segundo PINHO (2000), o aumento acelerado da descapitalização e, conseqüentemente, a diminuição do capital de giro dos investimentos em ampliação ou novas instalações, máquinas e equipamentos, bem como em treinamento de pessoal. Por outro lado, o extraordinário crescimento atual das cooperativas urbanas de trabalho e de prestação de serviços resulta, sobretudo, da intensa necessidade de busca de novas formas organizatórias da mão de obra, liberada pela aceleração do desemprego e pelas demissões voluntárias. Marcado por fortes pressões de enxugamento, o setor empresarial enfrenta o desafio da reengenharia interna e ao mesmo tempo, a aceleração da busca da qualidade e produtividade. Seguindo padrões impostos pela economia globalizada, todas as empresas nacionais, desde o setor privado, chegando no público e autárquico, apóiam-se na gigantesca onda conhecida como o “fenômeno da terceirização”. A reação das cooperativas de trabalho é imediata, ressurgem principalmente durante o Plano Real, com as mudanças dos critérios monetários e o incremento do artigo nº 442 na CLT. Atuam até os dias de hoje como fortes concorrentes às empresas de terceirização, embora não Ano 6 Número 15 Agosto 2004 47 JOÃO CARLOS FELICIO DOMINGUES / FULVIO CRISTOFOLI as sejam, são sim “secundarizadoras” termo que explicaremos posteriormente, vem contribuindo de forma eficaz com o processo de reabilitação das empresas. No entanto, para um perfeito entendimento deste estudo, faz-se necessário explicar as ramificações que dão forma ao movimento. CONCLUSÃO O trabalho representa um valor importante nas sociedades ocidentais, exercendo uma influência considerável sobre a motivação dos trabalhadores assim como sobre sua satisfação e sua produtividade. Compreender os sentidos do trabalho hoje, é um desafio importante para os administradores, tendo em vista as múltiplas transformações que tem atingido às organizações e os “mundos do trabalho”. O momento de transformação organizacional constitui potencialmente uma oportunidade, para reorganizar o trabalho de tal forma, que a qualidade de vida e a eficácia organizacional sejam melhoradas. Assistimos hoje, importantes transformações no mundo do trabalho. Novas formas de organização aparecem e a natureza se modifica com o desaparecimento de empregos permanentes, simultaneamente aparecem novas tecnologias e formas inovadoras de trabalho. Ao mesmo tempo em que milhares de pessoas sofrem pela falta de uma vaga, outras sofrem pelo fato de terem que trabalhar excessivamente. O trabalho conserva um lugar importante na sociedade, no que diz respeito ao relacionamento com outras pessoas para ter o sentimento de vinculação, ter algo o que fazer, evitar o tédio e ter um objetivo na vida. O trabalho representa um valor importante e exerce influência considerável, sobre a motivação dos trabalhadores, sua satisfação e produtividade. Rapidamente surgem e mudam as formas de se trabalhar neste processo de transformações, convivem desde o trabalho mais simples, como o que exige unicamente o esforço físico, manual, até o trabalho mais complexo que utiliza energia cerebral e conhecimentos, como é a programação ou cálculo matemático. O lugar onde se realiza o trabalho também se transforma, novas funções surgem e desaparecem com muita velocidade, não gerando nem a identidade profissional, como o caso dos bancários, telefonistas, telemarketing, vendas através da TV, venda em rede, autônomos etc. Estas mudanças de hábitos em comportamentos do trabalhar, faz repensar o enfoque sobre ter trabalho e ter emprego. Isto gera de fato novos tipos de relações entre o capital e o trabalho, entre empregador e empregado e entre trabalhador e contratante. Estas relações entre o trabalhador e o usuário, suas habilidades ou serviços em um novo mercado de trabalho envolvem, portanto um novo tipo de relação, escassamente abordado como: o autônomo, em tempo parcial, temporário, à domicílio, terceirizado e associado ou cooperado. Este tipo de mudança nas formas do trabalho, relaciona-se com o mercado e como conceito de trabalho propriamente dito. Fatores que deram margem à enfoques como a da empregabilidade – que de fato coloca ao menos uma parcela significativa dos novos trabalhadores, o problema da valorização da profissão como posse de habilidades e conhecimentos sob o controle do indivíduo, mesmo com muita autonomia, quebrando a denominada solidariedade grupal de classe. Este novo trabalhador com autonomia e empregabilidade negocia sozinho suas condições no mercado de trabalho ou, eventualmente, através de formas associativas, como as cooperativas de trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BULGARELLI, Waldirio. Elaboração do Direito Cooperativo (Um Ensaio de Autonomia), São Paulo: Atlas, 1990. OIT: Reunion de expertos en cooperativas. El papel de las cooperativas en la promocion del empleo. Informe três da priemira edição. Genebra, 1996, p. 2. OLIVEIRA, Terezinha Cleide. O desenvolvimento das cooperativas de trabalho no Brasil, Brasilia: OCB, 1984. PAZZIANOTTO PINTO, Almir. Cooperativas de Trabalho, S. Paulo: Genesis, 1999. PINHO, Diva Benevides. Gênero e desenvolvimento em cooperativas, compartilhando igualdade e responsabilidades, Brasília: ESETec, 2000. 48 Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 Artigo A escolha da seguradora para o seguro fiança locatícia na óptica dos corretores de seguros Júlio César Bezerra da Silva Mestre em Administração de Empresas. Professor da UNICEUMA de Maranhão [[email protected]] RESUMO Esta pesquisa teve a finalidade de avaliar o processo decisório do corretor do seguro fiança locatícia, buscando conhecer alguns aspectos que influenciam a escolha deste profissional por uma seguradora para indicá-la aos seus clientes. Para isso, considerou-se num primeiro momento a opinião de 10 (dez) das maiores corretoras que operam neste segmento no Brasil; opinião esta, coletada através de entrevistas, que geraram várias assertivas sobre o assunto. Com a determinação destas assertivas, desenvolvemos um questionário que foi aplicado em 112 corretores que operam com o seguro fiança locatícia no Brasil. Este questionário buscou medir a concordância dos demais corretores com relação às assertivas coletadas na primeira fase desta pesquisa. Na pesquisa bibliográfica realizada, apresentamos um modelo do comportamento de compra dos corretores de seguros, que se mostrou inteiramente relacionado às assertivas proporcionando assim um melhor entendimento a respeito do processo decisório destes intermediários. Com a aplicação do questionário, pudemos confirmar a importância dos itens relacionados na entrevista, e concluir que o corretor do seguro fiança locatícia, indica a seus clientes uma seguradora que além de proporcionar-lhe maiores receitas e trazer mais satisfação a seus clientes, também o reconheça como importante profissional, proporcione melhores condições de trabalho, seja mais eficiente nas suas operações e possua melhor qualidade nos seus serviços. PALAVRAS-CHAVE Processo decisório; Corretor de seguros; Seguro Fiança Locatícia; Escolha da seguradora. ABSTRACT This research had the purpose of evaluating broker’s decisive process of the insurance bail tenant, seeking to know some aspects that influence the choice of this professional by a insurer to indicate to their customers. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP For that, it considered in a first moment the opinion of 10 (ten) of the largest brokers who operate in this segment in Brazil; Opinion collected through interviews, that generated several assertive about the subject. With the determination of these assertive, we develop a questionnaire applied in 112 brokers who operate with the insurance bail tenant in Brazil. This questionnaire sought to measure the brokers concordance with regard to the assertive collected in the first phase of this research. In the accomplished bibliographical research, we present a purchase insurances brokers behavior model, that we showed entirely related to assertive providing thus a better understanding concerning about of the decisive process of these intermediary. With the interview, we could confirm the items importance related in the interview, and to conclude that the insurance bail Tenant broker, it nominates to their customers a insurer that besides providing him larger profit and to bring more satisfaction to his customers, also recognizes it as important professional, provide working best terms, be more efficient in their operations and own better quality in his services. KEY-WORDS Decisive Process; Insurances broker; Insurance Bail Tenant; Insurance company choice. I. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas tem sido comum a contratação de seguros pelos brasileiros, fato este ligado ao crescimento econômico do país e ao crescimento da necessidade de segurança em todos os segmentos da vida moderna. Entre estes vários segmentos podemos citar os bens, as finanças, a saúde, a vida, as obrigações para com terceiros etc. Diante deste fato, a industria de seguros passou a ser mais procurada como solução para estes crescentes problemas, ocaAno 6 Número 15 Agosto 2004 49 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA sionando um admirável crescimento do mercado segurador brasileiro. Ao passo que cresceu a demanda do mercado segurador brasileiro, cresceu também a concorrência dentro do setor. Muitas seguradoras surgiram no Brasil, tanto nacionais como estrangeiras, acirrando então a disputa pelos consumidores, e diversificando também os métodos e esforços destas seguradoras para conseguir uma maior participação de mercado e melhor atender o consumidor. Este estudo foca um canal de distribuição dos seguros no Brasil, o corretor de seguros, que se constitui num dos maiores parceiros da industria de seguros para a venda dos seus produtos, capaz de influenciar diretamente na escolha dos consumidores com suas indicações e consultorias. Buscou identificar os fatores considerados importantes pelos corretores de um determinado seguro, o seguro fiança locatícia, para escolher a seguradora que será indicada aos consumidores. Para melhor se entender as características do mercado segurador e do seguro, primeiramente, mostrou-se as diferenças em relação aos bens e a forma como os seguros, enquanto serviços, são avaliados pelos consumidores. Após esta abordagem falou-se do processo decisório do consumidor. A analise e apresentação dos resultados encontrados na pesquisa, explicando cada item, através de gráficos e tabelas, foram desenvolvidos no software SPSS. Finalmente, apresentam-se as conclusões e comentários sobre a pesquisa, destacando os aspectos mais importantes para o corretor do seguro fiança locatícia na hora de escolher a seguradora que será indicada aos seus clientes e alguns pontos significativos para as seguradoras que almejam o crescimento neste ramo. SERVIÇOS 50 A atividade econômica mundial esteve por muitos séculos focalizada na produção de bens para o consumo da humanidade, no entanto, as necessidades do homem foram transformando-se durante as épocas e fases da historia, levando a economia a agregar mais uma atividade em sua estrutura. Trata-se dos serviços, que ao contrario dos bens, não são materiais nem podem ser tocados; são portanto intangíveis. Os serviços podem ser conceituados por diversos pontos de vista, muitos estudiosos sentem certa dificuldade, KOTLER (2000: 448), conceitua Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP os serviços enfatizando bastante a característica de intangibilidade que eles possuem: “Serviço é qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada. A execução de um serviço pode estar ou não ligada a um produto concreto”. LOVELOCK e WRIGHT (2001:05) apresentam duas definições que melhor caracterizam os serviços, uma com enfoque no sentido físico e outra no sentido ocupacional que estes desempenham: “Serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte à outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade de nenhum dos fatores de produção”. “Serviços são atividades econômicas que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos e lugares específicos, como decorrência da realização de uma mudança desejada – ou em nome do – destinatário do serviço”. As definições anteriores apresentam o serviço com base na característica de intangibilidade que este apresenta e no sentido que ele tem para os indivíduos. Porém outros pesquisadores enriquecem mais ainda o conceito dos serviços, quando o diferenciam dos bens. Diferenças entre bens e serviços Os serviços diferem-se dos bens em vários aspectos. É certo que muitos bens estão unindo-se aos serviços para melhor concorrerem no mercado, mas as diferenças entre eles é um fato consolidado. Os pesquisadores definem melhor estas diferenças através das características pertinentes a cada bem e a cada serviço. HOFFMAN E BATESON (2003), percebem a união cada vez maior entre os bens e serviços; muitos bens estão sendo projetados com o incremento de serviços auxiliares, e muitos serviços possuem pelo menos alguns elementos de bens tangíveis, como o extrato bancário e a apólice de um seguro. Porém, as definições que HOFFMAN E BATESON (2003:25) dão de produto e serviço, enfatizam principalmente a diferença entre estes no item tangibilidade: Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS “No geral, bens podem ser definidos como objetos, dispositivos ou coisas, ao passo que serviços são definidos como ações, esforços ou desempenhos... Finalmente, a diferença principal entre bens e serviços é a propriedade de intangibilidade – ausência de substancia física.” HOFFMAN e BATESON (2003) citam como meio de perceber as diferenças entre os bens e serviços, a escala de tangibilidade (figura 1), que mostra uma serie de produtos com base em sua tangibilidade; confirmando que os bens puros são predominantemente tangíveis, ao passo que os serviços puros são predominantemente intangíveis. Figura 1 – Escala de tangibilidade. Sal Refrigerantes Detergentes Automóveis Cosméticos PREDOMINANTEMENTE INTANGÍVEIS Lojas de Fast-food PREDOMINANTEMENTE TANGIVEIS Lojas de Fast-food Agencias de Propaganda Linhas Aéreas Gerencia de Investimento Consultoria Ensino Fonte: Adaptado de HOFFMAN E BATESON (2003). Para LOVELOCK e WRIGHT (2001), os serviços diferem-se dos bens em diversos aspectos, sendo que alguns são mais evidentes, podendo listar nove diferenças básicas entre os serviços e os bens: ! ! ! ! ! ! ! ! Ao contrário dos bens, os clientes não obtém propriedade sobre os serviços; Os produtos dos serviços são realizações intangíveis; Diferentemente dos bens, nos serviços há maior envolvimento dos clientes no processo de produção; Nos serviços, outras pessoas podem fazer parte do produto; Na produção dos serviços, há maior variabilidade nos insumos e produtos operacionais; Muitos serviços são de difícil avaliação pelos clientes; Normalmente, há uma ausência de estoques nos serviços; Para os serviços o fator tempo e relativamente mais importante; Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP ! Os sistemas de entrega dos serviços podem envolver canais eletrônicos e físicos; KOTLER (2000) também menciona as diferenças de características entre os bens e serviços, ele então define quatro características que diferem os serviços dos bens como as principais: Intangibilidade. Inseparabilidade, Variabilidade e Perecibilidade. Quanto a Intangibilidade, ao contrario dos produtos físicos, os serviços não podem ser vistos, sentidos, ouvidos, cheirados ou provados antes de serem adquiridos. Os consumidores então procurarão por sinais de qualidade dos serviços nas instalações, pessoas, equipamentos, matérias de comunicação, símbolos e nos preços percebidos (KOTLER, 2000). A característica de inseparabilidade refere-se à simultaneidade da produção e consumo dos serviços. Onde a pessoa que presta o serviço torna-se parte dele e o cliente que esta recebendo o serviço também influencia no resultado (KOTLER, 2000). A variabilidade é uma característica resultante dos diferentes ambientes e das diferentes personalidades das pessoas que executam os serviços. Dependendo do momento e das pessoas envolvidas, ele é desempenhado de forma mais satisfatória ou não, com mais ou menos qualidade e etc. (KOTLER, 2000). A Perecibilidade está relacionada à não existência de estoques para os serviços. Quando a demanda é estável a perecibilidade dos serviços não é um problema, porém quando a demanda é oscilante, existem problemas, pois nos momentos de baixa demanda, os serviços não podem manter o mesmo ritmo, pois assim terão prejuízos (KOTLER, 2000). Devido a suas características diferenciadas, os serviços são avaliados pelos consumidores diferentemente dos bens, a exigência pela qualidade não esta apenas no produto final, mas também esta no processo de criação e entrega do serviço. A avaliação dos serviços pelo consumidor passa então a ser uma grande preocupação para as empresas que o prestam. Avaliação dos serviços A avaliação dos serviços pelos consumidores, é um tanto mais difícil que a dos produtos. Pois diferentemente dos produtos, os atributos dos serviços não podem ser facilmente determinados antes e até mesmo depois da sua compra e uso. (LOVELOCK e WRIGHT: 2001). Para avaliarmos os serviços, podemos considerar os seus atributos. Os atributos de um bem ou serviço Ano 6 Número 15 Agosto 2004 51 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA são todos os seus aspectos (tangíveis e intangíveis) que podem ser avaliados pelos clientes (LOVELOCK e WRIGHT: 2001). Os atributos de um bem ou serviço são classificados por LOVELOCK e WRIGHT (2001) como: atributos de procura, atributos de experiência e atributos de confiança. Os atributos de procura são as características do produto que os consumidores podem avaliar imediatamente antes da compra. O conhecimento destes atributos diminui a incerteza ou riscos associados à compra (LOVELOCK e WRIGHT: 2001). Conforme LOVELOCK e WRIGHT (2001), os atributos de experiência não podem ser avaliados antes das compra e nem sempre podemos confiar na precisão de informações de parentes, amigos e demais fontes pessoais. Uma vez que para produtos altamente tangíveis, o conhecimento de bens é obtido pela concentração nos aspectos físicos do produto, para produtos altamente intangíveis a avaliação é baseada na experiência que cerca o beneficio principal do produto. Conhecemos os atributos do serviço pela experiência de recebê-lo real; assim, quando compramos um serviço compramos uma experiência (HOFFMAN E BATESON: 2003). Os atributos de confiança são representados pelas características do produto que os clientes podem não conseguir avaliar mesmo depois da compra e consumo. Como exemplos temos o mercado financeiro, onde poucos investidores conhecem-no suficientemente para saber se o seu analista de investimento conseguiu os melhores retornos dos seus fundos investidos (LOVELOCK e WRIGHT: 2001). Figura 2 – Como os atributos do produto afetam a possibilidade de avaliação. A Maioria dos serviços A Maioria dos produtos Ricos em Atributos de Procura 52 Ricos em Atributos de Experiência Conserto de computador Serviços jurídicos Educação Cirurgia complexa Refeições em restaurantes Sessão de cinema Corte de cabelo Entretenimento Difícil de avaliar Roupas Cadeira Veiculo motorizado Alimentos Fácil de Avaliar Ricos em Atributos de Confiança Fonte: LOVELOCK e WRIGHT (2001). Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Conforme figura 2, estes atributos são influenciadores diretos da capacidade de avaliação que o consumidor terá em relação ao produto ou serviço, ou seja, a partir deles o consumidor avaliará o produto ou serviço com maior facilidade ou com maior dificuldade. Assim, atentando-se para estes atributos, as empresas de serviço podem se posicionar melhor diante dos consumidores, cuidando para que seus serviços busquem promover a imagem externa, a confiança e pré-avaliação positiva diante dos consumidores. Podemos então concordar através da figura 2, que serviços especializados onde o consumidor tem pouco ou ate mesmo nenhum conhecimento sobre sua execução, exigem a confiança deste consumidor de forma mais acentuada. No caso de serviços com necessidade de consumo freqüente, que possuem os fluxos e características mais conhecidas pelos consumidores; a qualidade percebida será medida pela experiência do consumidor adquirida durante a compra e execução destes serviços. Serviços como o Seguro, podem então ser avaliados pelos consumidores através de duas perspectivas: com base na experiência que estes adquirem durante a vigência de uma apólice, em caso de seguros periodicamente necessários ao consumidor e com base na confiança do consumidor em caso de seguros eventualmente necessários para o consumidor. Processo Decisório do Consumidor O processo decisório do consumidor é a definição da seqüência percorrida durante a atividade de compra de um bem ou serviço desempenhado por este consumidor (MOWEN e MINOR 2003). Este processo retrata o caminho trilhado pelo consumidor em direção a aquisição de um produto ou serviço. Para SHELT, MITTAL e NEWMAN (2001), é fundamental que os profissionais de marketing entendam o processo decisório pelo qual passa o cliente. Pois através desse entendimento, poderão organizar seus esforços de marketing de modo que respondam aos imperativos decisórios do cliente. O processo decisório do consumidor é um processo bastante diversificado e complexo, com particularidades inerentes a cada individuo, a cada situação e a cada ambiente que envolve a compra de um bem ou serviço. Isso nos leva a considerar que o consumidor pode assumir diferentes papéis, ser revestido por diversos interesses e ter reações individuais conforme o seu perfil interior, quando o assunto é a tomada de decisão. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS SHELT, MITTAL e NEWMAN (2001), consideram que os consumidores tomam decisões no mercado como compradores, pagantes e usuários. Essas decisões geralmente incluem se devemos comprar, o que comprar, quando e de quem comprar e como pagar. O usuário então, é aquele que detecta a necessidade pelo produto ou serviço, ele é quem se beneficiará da compra, portanto é quem dá motivos para a aquisição do produto ou serviço. O pagante é o responsável pelo pagamento do produto ou serviço, a ele é atribuída a função de estipular quanto teremos disponível de recursos para realizar a compra. O comprador é aquele que efetuara a compra, baseado nos recursos disponíveis e no desejo do usuário, ele fará a escolha entre as opções que melhor se encaixam no consenso geral. KOTLER (2000), apresenta uma divisão mais abrangente dos papéis do consumidor no processo de compra; ele distingue então cinco papéis para as pessoas envolvidas em uma decisão de compra: o iniciador, quem sugere a idéia de comprar um produto ou serviço; o influenciador, quem influencia na opinião do consumidor; o decisor, quem decide sobre qualquer componente de uma decisão de compra: comprar, o que comprar, como e onde comprar; o comprador, aquele que efetivamente realiza a compra; e o usuário, quem consome ou usa o produto ou serviço. O consumidor, além de tomar decisões conforme cada um dos papéis que esteja assumindo; também toma decisões conforme sua visão particular, suas concepções e suas características pessoais. Considerando o perfil interno dos consumidores, SCHIFFMAN e KANUK (2000) sugerem quatro diferentes visões para o processo de tomada de decisão: uma visão econômica, uma visão passiva uma visão cognitiva e uma visão emocional. Para SCHIFFMAN e KANUK (2000), no campo da visão econômica, o consumidor é caracterizado como decisor racional, considerando um mundo de competição perfeita. Na visão passiva, o consumidor é visto como um ser alienado aos interesses e concepções dos vendedores, sendo taxados como compradores compulsivos e irracionais. A visão cognitiva apresenta o consumidor como um ser racional, pensante e perceptível às suas verdadeiras necessidades e a real qualidade dos produtos e serviços ofertados; este modelo cognitivo enfoca os processos pelos quais os consumidores procuram e avaliam a informação sobre marcas selecionadas e os fornecedores. Já a visão emocional, retrata o consumidor como um ser social, cultural e orientado por sentimentos individuais, onde Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP suas fantasias, seus medos, sua sexualidade e esperança definem as suas decisões. Modelos do processo decisório do consumidor Com relação ao processo percorrido pelo consumidor para a tomada de decisão, podemos considerar um consenso entre os pesquisadores deste processo; portanto há definido um modelo genérico do processo decisório do consumidor. Para MOWEN e MINOR (2003), a seqüência percorrida pelo consumidor na hora de comprar um bem ou serviço, possui cinco passos: Reconhecimento do problema; Busca; Avaliação das alternativas; Escolha e Avaliação pós-compra. SHETH, MITTAL e NEWMAN (2001), definem também cinco passos no processo decisório do consumidor; diferenciando do processo definido por MOWEN e MINOR (2003) na nomeação dos últimos passos: o quarto passo intitulado como compra em vez de escolha, o quinto passo nomeado como experiência pós compra em vez de avaliação pós compra; e também na tarefa de avaliar e escolher a melhor alternativa, que acontecem no terceiro passo ao invés do quarto. SCHIFMAN e KANUK (2000), começam apresentando o modelo do processo decisório em três componentes: Inputs, Processo e Outputs (figura 3). O item Input compreende as atividades do composto de marketing das organizações que visam comunicar os clientes potencias dos produtos ou serviços, e as influências sócio-culturais que o individuo sofre em seu ambiente no dia a dia; no item Processo, encontra-se o reconhecimento do problema, a busca por informações e a avaliação das alternativas; e no item outputs encontra-se a compra e a avaliação pós compra, coincidindo assim nesses dois últimos itens com os outros pesquisadores acima citados. Conforme o modelo genérico do processo decisório do consumidor acima descrito, vimos que o consumidor primeiramente detecta a sua real necessidade de obter um determinado produto ou serviço, logo após ele inicia um processo de busca de informações sobre como atender esta necessidade, consultando primeiramente sua memória sobre os produtos e serviços que conhece, e posteriormente pesquisa no mercado e por diversos meios sobre os produtos e serviços que atenderão sua necessidade; então ele relaciona as opções encontradas, e finalmente faz a escolha do produto ou serviço comprando-os; após adquirir o produto ou serviço, o consumidor avalia este desempenho em face de suas expectativas anteriores. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 53 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA Figura 3 – Modelo Simples de Tomada de Decisão do Consumidor. Influências Externas INPUT Esforços de Marketing da Empresa: 1.Produto 2.Promoção 3.Preço 4.Canais de Distribuição Ambiente Sócio-cultural 1.Família 2.Fontes Informais 3.Outras Fontes não-comerciais 4. Classe Social 5. Subcultura e Cultura Processo decisório do consumidor PROCESSO Reconhecimento da Necessidade Busca Pré-compra Avaliação das alternativas Campo Psicológico 1.Motivação 2.Percepção 3.Aprendizado 4.Personalidade 5.Atitudes Comportamento de Pós-Decisão OUTPUT Compra 1.Teste 2.Compra Repetida Avaliação de Pós-compra Fonte: SCHIFFMAN e KANUK (2000). Considerando que os cinco estágios do modelo genérico retratam satisfatoriamente o processo decisório do consumidor, estudaremos então cada estágio deste modelo, destacando suas principais características e aplicações. Perspectivas para tomada de decisão 54 O modelo genérico de tomada de decisão, foi por muito tempo considerado como perfeito pelos pesquisadores, somente no final dos anos 70 eles passaram a considerar o Processo Decisório mais analítico e cuidadoso, agregando a cada fase do processo diferentes perspectivas (MINOR e MOWEN, 2003). MINOR e MOWEN apresentam três perspectivas que melhor definem o processo de tomada de decisão do consumidor. Na perspectiva tradicional, o processamento das informações para o comportamento de compra assume uma postura racional. Nesta perspectiva estão associadas ambos os caminhos que levam a tomada da decisão, a abordagem da hierarquia de efeitos de alto envolvimento e de baixo envolvimento. Onde, na hierarquia de alto envolvimento o consumidor passa de maneira linear por todos os estágios do processo de decisão, quando ocorrem altos níveis de processamento de informações; e na hierarquia de baixo envolvimento o nível de avaliação de alternativas praticamente é esquecido pelo consumidor, e o processo de escolha é feito de maneira simplificada (MOWEN e MINOR: 2003). Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Diferentemente da perspectiva tradicional, a perspectiva experimental considera que os consumidores tanto sentem quanto pensam, isto é, suas escolhas são baseadas em sentimentos, sensações, emoções, e imagens geradas pelos produtos (MOWEN e MINOR: 2003). Partindo de uma perspectiva experimental, o estágio de reconhecimento do problema resulta da percepção de que existe uma diferença entre o estado afetivo real e o estado afetivo desejado. De maneira semelhante o processo de busca diz respeito à procura de informação referente ao impacto afetivo das opções de escolha. No estágio de avaliação das alternativas, as opções são avaliadas com base em suas qualidades afetivas. A escolha é baseada no critério afetivo. Por fim, a avaliação pós compra questiona se o resultado atendeu ou não às expectativas emocionais do consumidor. (MOWEN e MINOR: 2003) Na perspectiva da influência comportamental, consideram-se os comportamentos dos consumidores e as contingências do ambiente capazes de influenciar estes comportamentos. Os fatores do ambiente físico como: texturas, odores e luminosidade influenciam no comportamento dos clientes no momento da compra. O processo decisório do consumidor de um produto ou serviço, não acontece somente num cenário envolvendo o consumidor e o fornecedor. Em grande parte das situações de compra, entre os fornecedores e os consumidores existe um terceiro agente denominado de intermediário. 2.2. Processo Decisório do Consumidor Intermediário Conforme Mowen e Minor (2003), os consumidores podem ser motivados a buscar contribuição de outras pessoas em três situações de compra: quando os produtos são altamente visíveis para outras pessoas; quando o produto é altamente complexo e quando não é fácil testar o produto contra algum critério objetivo. Existem pessoas com maior capacidade para fornecer informações do que outras; isso por conhecerem melhor ou até mesmo serem especialistas no produto ou serviço em questão. Conforme pesquisas apontadas por Mowen e Minor, os quatro tipos de influenciadores do consumidor são: O Líder de Opinião, o Inovador, o Consultor de Mercado e o Consumidor Substituto. Entre estes quatro influenciadores do consumidor, o intermediário esta mais relacionado com o consumidor substituto. O consumidor substituto refere-se a um indivíduo que atua como um agente usado pelo consumidor para guiar, direcionar e levar a cabo as atividades Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS de mercado. Ele tende a ser convocado para compras de alto envolvimento, onde o consumidor transfere o controle a um agente interno mais capacitado. Ele pode adotar vários papéis como: consultor, agenciador ou corretor; e a ele o consumidor confia as funções de busca, avaliação e escolha das informações participantes do processo de decisão. Como exemplo de consumidor substituto, ou melhor, cliente intermediário, pode-se citar o corretor de seguros, que é um profissional autônomo que intermedia as vendas de seguros entre os consumidores e as seguradoras. Uma empresa que utiliza intermediários em sua estrutura de vendas precisa conhecer e entender os fatores que influenciam o processo decisório deste tipo de cliente. Existem muitos tipos de intermediários, com base em BENNETT no ano de 1995 (apud SHETH, MITTAL e NEWMAN: 2001), podemos considerar como principais intermediários: ! ! ! ! ! ! Os atacadistas comerciantes, que são empresas de propriedade independente cujo objetivo principal é adquirir, estocar e manusear mercadorias em grandes quantidades para revendêlas a varejistas em menores quantidades; Os distribuidores, que correspondem a um tipo de atacadista atuante especialmente em linhas em que se deseja uma distribuição seletiva ou exclusiva; geralmente, vende para outros fabricantes; Os representantes, que são uma unidade de negocio que negocia compras, vendas ou ambas sem adquirir direito de propriedade; Os corretores, que são intermediários que agem como representantes para compradores ou vendedores, não obtendo direito de propriedade nem custodia das mercadorias. Os VARS (Value-added resellers), sendo estes varejistas que compram um produto de um fabricante ou atacadista e então acrescentam seu próprio componente, de modo que o produto acabado tenha mais valor para o consumidor final. Os varejistas, os quais são comerciantes que vendem principalmente para o consumidor final. Entre os varejistas encontramos as lojas de especialidade, as lojas de convivência, as lojas de departamento, os hipermercados e etc. SHETH, MITTAL e NEWMAN (2001, p.610), destacam que há um processo decisório especifico para o cliente intermediário. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP “Os intermediários têm percepções, motivações e atitudes; eles seguem os passos de decisão desde o reconhecimento da necessidade até a avaliação das alternativas; e eles têm um sentimento de satisfação ou insatisfação após a decisão, além de reciclarem e adaptarem suas escolhas anteriores”. Voltando para um dos tipos de clientes intermediários, o corretor de seguros, apresenta-se um modelo sugestivo do seu comportamento de compra, com base no modelo de comportamento de compra do revendedor, desenvolvido por SHETH, MITTAL e NEWMAN (2001). O comportamento de compra do revendedor é uma função com vários fatores, onde os três principais são: Exigências de mercadorias, Alternativas de fornecedores e Características situacionais. Esses fatores influenciam o processo decisório dos membros da UTD (Unidade de Tomada de Decisão). As exigências de mercadorias e as alternativas de fornecedores são antecedentes, ou determinantes primários, do processo decisório. Sem elas, não surge a necessidade de tomada de decisão. As características situacionais (Figura 4) moderam ou modificam o processo acionado pelos dois primeiros fatores (SHETH, MITTAL e NEWMAN: 2001). As exigências de mercadorias por parte do corretor de seguros são a tradução adequada dos desejos do seu cliente, onde estas exigências variam conforme as características do próprio corretor e dos produtos; sendo que estas características que o corretor busca no produto e que ele incorpora em seu interior são um reflexo das exigências do seu cliente final. Como característica dos corretores citamos: a localização do escritório do corretor em relação a seguradora, a filosofia de administração do corretor voltada para aspectos financeiros ou para a qualidade do produto; o posicionamento e nicho de mercado orientado para a marca, para produtos inovadores, para produtos populares ou sofisticados etc. Com relação às características do produto serão apontados itens referentes a cada produto individualmente, por exemplo: em seguros de automóveis é percebida a quantidade de serviços para socorro ao segurado, a extensão quilométrica destes serviços, existência de serviços de reparos mecânicos, descontos em estacionamentos e lojas automotivas etc., e no seguro Fiança Locatícia são percebidos o limite para cobertura de alugueis, a agilidade para aprovação cadastral de pretendentes, a existência de assistência jurídica e etc. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 55 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA Figura 4 – Um modelo de comportamento de compra do corretor de seguros. Características do Corretor Escolha da seguradora e do produto UTD do comprador Exigências de Mercadoria Características do seguro Políticas e estrutura da corretora -Características individuais dos corretores -Critérios de compra -Habilidade para negociação e poder relativo de compra Satisfação Estrutura do setor de seguros Alternativa de fornecedores Esforços de Marketing da seguradora Características situacionais Clima do negocio do mercado Condições Posição financeira do corretor Fonte: SHETH, MITTAL e NEWMAN (2001). 56 A alternativas de fornecedores dependem da estrutura do setor de seguro e dos esforços de marketing da seguradora. Esta estrutura do setor refere-se ao nível de competitividade no mesmo, podemos dividilo em monopólio, oligopólio, concorrência entre monopólios e competição pura. Quando há um monopólio em determinado seguro, a decisão do corretor será entre comercializar e não comercializar este seguro; se há um oligopólio, o corretor decidirá pela seguradora que oferecer os melhores termos; existindo concorrência entre monopólios, onde cada seguradora atende a um nicho especifico do seguro em questão, o corretor decidirá por comercializar a linha ou produto de uma seguradora; e se há competição pura o corretor deverá decidir que fornecedor escolher a partir da grande quantidade de opções. Os esforços de marketing referem-se ao apoio dado pelas seguradoras para atender as necessidades do corretor visando atraí-lo; entre estes apoios podemos destacar o aconselhamento técnico, treinamento, visitas técnicas dos promotores de produto das seguradoras aos clientes dos corretores, o atendimento personalizado e etc. As características situacionais do mercado de seguros, que também influenciam as decisões dos corretores podem ser divididas em três: “O clima no negócio”, que se resume na situação do mercado consumidor de um determinado seguro, como exemplo Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP temos a taxa de inadimplência no mercado de aluguéis refletindo no seguro Fiança Locatícia; “as condições de mercado”, as quais referem-se a eventos sociais e políticos imprevistos que reduzem ou aumentam o suprimento do mercado, ou mudam o acesso destes mercados; como exemplo temos as mudanças nas regras de operação e restrição de comercialização dos seguros que a Susep determina para as seguradoras, as intervenções da Susep em determinadas seguradoras e etc.; “a posição financeira do corretor de seguros”, refere-se a sua lucratividade e liquidez diante da comercialização de seguros em uma determinada seguradora; existem seguradoras que oferecem boas comissões aos corretores, porém os custos de comercialização que ela transfere ao corretor e também o alto custo na comunicação com a seguradora, reduzem a liquidez do corretor. A unidade de tomada de decisão do corretor de seguros ou de uma empresa corretora pode ser composta por um individuo ou por um grupo, conforme seja a estrutura da corretora. A UTD possui características que também influenciam a decisão do corretor, entre elas temos: “a estrutura e políticas da corretora”, que são posicionamentos da corretora em relação às seguradoras baseados em interesses comercias e políticos, por exemplo, temos corretores que preferem trabalhar com apenas uma seguradora, para assim adquirir melhores comissões e melhores benefícios e corretores que preferem trabalhar com seguradoras de grande porte e com marcas famosas; “características individuais”, demonstradas pelo nível de perícia, personalidade e motivação que o principal decisor da corretora possui, e pelo nível de apatia que este decisor da corretora tem em relação aos funcionários de uma seguradora; “critérios de compra”, tratam-se da ênfase que o corretor dá a um atributo do seguro, por exemplo, valores mínimos de comissão, período máximo para aceitação do seguro etc; e “habilidades de negociação e poder de compra”, que influenciam a decisão do corretor à medida que o corretor costuma negociar termos favoráveis a ele em paralelo com a disposição da seguradora em aceitar e oferecer estes termos. O Seguro Fiança Locatícia Na atividade imobiliária, mais precisamente na área de locações, a necessidade por uma garantia eficiente e confiável levou as seguradoras a criar um produto que viesse garantir esta atividade comercial de forma satisfatória. Assim em 1979 através da ResoAno 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS lução CNSP nº 14/79 foi criado o Seguro Fiança Locatícia. A lei das locações que até então mencionava duas opções para a garantia locatícia: a Caução e o Fiador; acrescentou mais esta forma de garantia em suas alíneas. Estas duas formas de garantia não estavam atendendo com precisão as expectativas dos Locadores de imóveis, que sofriam bastante com a inadimplência dos locatários, concedendo assim uma grande oportunidade para o desenvolvimento do seguro Fiança Locatícia. O seguro Fiança Locatícia, garante ao proprietário do imóvel (Locador) a falta de pagamentos de aluguéis e encargos (condomínio, IPTU, contas de água, luz e gás). As garantias de Multas Contratuais e de Danos ao Imóvel poderão ser oferecidas através de coberturas adicionais. Para a contratação do seguro é necessária primeiramente, a realização do cadastro do pretendente à locação, após sua aprovação serão solicitados documentos conforme a lei 8245/ 91 e as normas do produto, após estes passos segue-se à aceitação e emissão da apólice. No caso de existir sinistro na apólice, representado pelo inadimplemento das obrigações do contrato de locação, serão necessários também alguns documentos e determinadas ações dos segurados, conforme condições gerais do produto. Por ser um seguro de garantia, o garantido (inquilino) é o pagador do prêmio em favor do segurado (locador), que é o beneficiário do seguro. As características de crédito existentes neste seguro obrigam sua aceitação com base em uma prévia análise cadastral do garantido, a qual serve para minimizar os riscos da seguradora. Conforme estatísticas do IRB (1986), o Seguro Fiança Locatícia só começou a ser comercializado em 1985, inicialmente por 7 seguradoras, aumentando para 8 no final de 1986 (Quadro1). Quadro1 – Seguradoras operantes no Seguro Fiança Locatícia em 1986 tícia também foi impulsionado, chegando a dobrar a arrecadação do prêmio total entre 1995 e 2002. Em 1995, o prêmio arrecadado foi de R$ 13.944.782 e existiam 43 seguradoras emitindo apólices, em 2002 o prêmio total arrecadado atingiu o valor de R$ 27.688.220. Por ser um seguro com regras e operações diferenciadas dos outros ramos, por carregar um nível de sinistralidade preocupante devido ao alto nível da inadimplência no Brasil, por exigir das seguradoras especializações no mercado imobiliário e amplo conhecimento das leis de locações; o Seguro Fiança acaba não sendo atrativo para as seguradoras. Existiram seguradoras que tentaram especializarse, mas acabaram retirando-o do seu portifólio de produtos. Ele chegou a ser comercializado entre 1995 e 2003 por 71 seguradoras. Porém hoje ele esta sendo comercializado por um número de 24 seguradoras sendo que 21 delas não ofertam este produto explicitamente, operam apenas em casos especiais ou para atender estritamente seus maiores segurados; já as outras 3, conforme quadro 3, têm o seguro Fiança Locatícia inserido em seu portifólio de produtos: Tabela 1 – Histórico do Prêmio Total do Seguro Fiança Locatícia entre 1995 e 2003. ANO PRÊMIO TOTAL 1995 R$ 13.628.778,00 1996 R$ 18.688.840,00 1997 R$ 21.260.436,00 1998 R$ 20.608.845,00 1999 R$ 19.865.338,00 2000 R$ 17.905.801,00 2001 R$ 24.028.066,00 2002 R$ 27.688.220,00 Fonte: Adaptada dos dados estatísticos da Susep 2003 (www. susep.gov.br). SEGURADORAS IOCHPE PORTO SEGURO SUL AMERICA TERRESTRE BAMEIRINDUS RIO BRANCO VERA CRUZ FINANCIAL PARANÁ Fonte: Adaptado do anuário estatístico IRB 1986. Quadro 2 – Seguradoras que ofertam o Seguro Fiança em seu portifólio de produtos. SEGURADORAS PORTO SEGURO – CIA. DE SEGUROS GERAIS INTERBRASIL SEGURADORAS S/A Conforme pode ser observado na tabela 1, o setor de seguros no Brasil deu um incrível salto nos últimos 15 anos, neste embalo o Seguro Fiança LocaRevista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP QBE SEGUROS S/A Fonte: Formulado através dos dados estatísticos da Susep2003 (www.susep.gov.br). Ano 6 Número 15 Agosto 2004 57 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA A comercialização do seguro fiança locatícia, por suas características diferenciadas, traz aos corretores de seguros uma grande vantagem sobre os demais canais de distribuição; uma vez que se necessita de uma dedicação maior no conhecimento e acompanhamento dos processos de aceitação, controle e indenização das apólices, os consumidores certamente precisarão de um profissional para contratar esta modalidade de seguro. Os corretores então, serão os responsáveis pelo contato direto com o consumidor apresentando os produtos, dando-lhes toda a consultoria e o suporte necessários na decisão de compra do produto e na orientação de escolha da seguradora que prestará o serviço. METODOLOGIA DA PESQUISA Instrumento da Pesquisa A pesquisa foi realizada em duas fases, a primeira tratou-se de um estudo exploratório e qualitativo, realizado para definir itens importantes para a decisão de escolha do corretor do seguro Fiança Locatícia diante das opções existentes no mercado; onde seu objetivo foi conhecer e apresentar os atuais fatores de relevante importância para o corretor na indicação de uma empresa seguradora para o consumidor. Foram então realizadas 10 entrevistas em profundidade com corretoras de seguros com considerável produção do seguro Fiança Locatícia no Brasil. No intuito de definir as características dos corretores que trabalham com o seguro fiança, de descobrir a imagem dos consumidores na visão destes corretores, e principalmente coletar opiniões que definissem a percepção dos mesmos em relação ao produto e as seguradoras que o ofertam; o roteiro de entrevista baseou-se em quatro itens, conforme mencionado abaixo: ! ! ! ! 58 Perfil Profissional do corretor do seguro Fiança Locatícia. Avaliação dos pontos fortes e fracos e da operação do seguro Fiança Locatícia. Relacionamento entre o corretor do seguro Fiança Locatícia e as seguradoras. Opiniões dos corretores sobre o mercado e clientes do seguro Fiança Locatícia. As questões do roteiro de entrevista foram formuladas de forma objetiva e sistematizadas, buscou-se a formulação de questões com facilidade de Revista Brasileira de Gestão de Negócios entendimento para os corretores do seguro fiança realizando pré – testes para melhor garantir a objetividade das questões. As entrevistas foram então gravadas e posteriormente transcritas, sendo assim realizada uma seleção dos trechos mais importantes para os corretores do seguro fiança locatícia, fornecendo um total de 28 assertivas. Após a relação das assertivas com as opiniões dos corretores na pesquisa exploratória qualitativa, partimos para a segunda etapa da pesquisa, que consistiu em uma pesquisa do tipo conclusiva, de espécie descritiva e quantitativa. Para isso aplicamos um inventario, que foi encaminhado por meios eletrônicos aos corretores do seguro Fiança Locatícia do Brasil. — FECAP O inventário que mediu as opiniões e atitudes dos corretores do seguro fiança locatícia foi dividido em duas partes, as quais relacionam-se de forma direta com corretor e suas características e também com as assertivas encontradas pela entrevista realizada na primeira fase desta pesquisa. Portanto segue a divisão do questionário: ! ! Parte 1 – Caracterização do perfil dos corretores do seguro fiança locatícia: – Nesta parte podemos verificar o perfil do corretor do seguro fiança locatícia, levando em consideração dados biográficos e profissionais do mesmo. Parte 2 – A opinião dos corretores do seguro fiança locatícia a respeito das assertivas que o levam a indicar uma seguradora aos seus clientes: – Nesta parte os corretores irão apresentar qual a intensidade de concordância ou discordância com as assertivas encontradas no estudo exploratório realizado. A organização das assertivas no questionário de entrevista foi realizada após sorteio aleatório, definindo então a ordem de cada uma. Medir a atitude de indivíduos, requer a utilização de alguma ferramenta de pontuação. Podemos conceituar as atitudes como estados mentais capazes de influenciar a escolha de ações que a pessoa faz, e capaz de manter consistência pelas ações (MOREIRA: 1986). Ao medir as atitudes, devem ser observadas as manifestações, as quais são visíveis e mensuráveis, que Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS são encontradas nas pessoas que se deseja medir. As atitudes devem ser medidas através de declarações pessoais a respeito das crenças, sentimentos e comportamento em relação ao objeto estudado e através do “comportamento observado” abertamente em relação ao objeto. As atitudes dos indivíduos perante determinado fenômeno são uma incógnita para os pesquisadores. Diante deste problema foram desenvolvidos instrumentos para medi-las; estes instrumentos são as escalas. Para construir uma escala podemos seguir alguns passos sendo o primeiro deles, a obtenção de itens (assertivas), que representarão na escala o universo de interesse (MOREIRA: 1986). Existe uma grande variedade de escalas, podemos então dividi-las em escalas de ordenamento ou comparativas e escalas de pontuação ou categóricas (MALHOTRA: 2001). ! ! Escalas comparativas: Nela o pesquisador compara dois ou mais objetos psicológicos relacionando-os a determinada propriedade; Escalas Categóricas ou de pontuação: São as mais utilizadas nas pesquisas, nelas o objeto psicológico é avaliado de forma independente, sem comparação com outro objeto psicológico. Para medir a atitude dos corretores diante das questões propostas, foi utilizada uma das mais usadas escalas categóricas ou de pontuação, a escala de Likert. A escala para medida de atitudes deve conter uma série de assertivas ou itens com respeito a um determinado objeto. Como há possibilidades dos respondentes adotarem pontos neutros (indiferente), escolhemos um numero impar de categorias. Conforme MALHOTRA (2001), deve ser utilizado um numero impar de categorias para escala, no caso de haverem respondentes que possam ficar neutros em algumas questões. Cada um desses itens será avaliado por meio de cinco opções de preferências: Concordo Totalmente, Concordo, Indiferente (posição intermediária), Discordo e Discordo Totalmente. Em média, esta escala possui cerca de vinte a trinta itens, sendo comum obterem menos itens. Confiabilidade do Instrumento de Pesquisa Para medir a confiabilidade do questionário de pesquisa, podemos recorrer ao coeficiente alfa de Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Crombach (tabela 3). Este coeficiente varia entre “0” e “1”. Quanto mais alto for o coeficiente alfa de Crombach, mais confiável é o teste. Conforme YU (2001), o coeficiente 0,7 ou superior a este é um valor aceitável. Porém o fato de obtermos no teste um coeficiente mais baixo, não implica em um péssimo teste. Tabela 3 – Coeficiente Alfa de Crombach (por fator). FATOR NOME DO FATOR ASSERTIVAS COEFICIENTE ALFA DE CROMBACH 1 Características técnicas do produto 6 , 7807 2 Qualidades da operação do produto 3 , 7899 3 Atributos técnicos da Seguradora 4 , 7199 4 Qualidade Operacional de seguradora 3 , 6527 5 Influencia externa 3 ,7460 6 Atributos do produto 2 , 7325 7 Atributos comerciais da seguradora 2 , 6524 Fonte: SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Se considerarmos que existem apenas dois fatores com coeficiente alfa de Crombach abaixo de 0,7, porém próximos a esta marca (fatores 4 e 6, com coeficiente 0,6527 e 0,6524 respectivamente), podemos consideram satisfatória a consistência interna dos dados do instrumento de pesquisa. Sendo assim possível qualificar o instrumento com aceitável e interpretar com sucesso os resultados da pesquisa. População e Amostra Para MALHOTRA (2001) o tamanho da amostra deverá ser quatro ou cinco vezes, no mínimo, maior que o numero de questões, em um levantamento amostral com a escala de Likert. Como o numero das assertivas que compõem o questionário de pesquisa são 28, precisaremos de no mínimo 112 pessoas. No entanto, considerando o numero de corretores que produzem este seguro de forma satisfatória (prêmios em torno de R$ 1000,00 por mês) e regular no Brasil, por volta de 500 corretores, enviamos o questionário por meios eletrônicos para aproximadamente 300 corretores. Destes 300 corretores, só obtivemos retorno de 50; aplicando então pessoalmente o questionário com mais 62 respondentes, conseguimos alcançar um numero aceitável de respostas. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 59 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA Tabela 4 – Divisão das assertivas em fatores. 1 Indico a seguradora que admite o maior percentual de comprometimento/ renda ,734 do garantido do Seguro Fiança Costumo indicar a seguradora que possui as menores taxas para o Seguro ,664 Fiança Locatícia Costumo indicar a seguradora que dá prazos maiores para o aviso de sinistro na ,647 apólice Costumo indicar a seguradora que é flexível em seus critérios de analise ,643 p/aceitação do Seg. Fiança. Costumo indicar a seguradora que não possui operações burocráticas p/ a ,586 contratação do Seguro Fiança Indico a seguradora que oferece o maior número de opções p/o parcelamento ,572 do prêmio do Seguro Fiança Costumo indicar a seguradora que oferece o atendimento telefônico mais rápido e com melhor qualidade Costumo indicar a seguradora que é rápida e eficiente na análise de fichas cadastrais p/o Seg. Fiança. Indico a segurad que paga as indenizações de sinistro em menos dias Costumo indicar a seguradora que divulga o Seguro Fiança Locatícia na mídia (Tv, Rádio ou Outdoors). Costumo indicar a seguradora que disponibiliza na Internet sites p/ acompanhamento dos meus processos Indico a seguradora que dá oportunidades p/o corretor opinar sobre procedimentos técnicos do S. Fiança Costumo indicar a seguradora que oferece cursos para o aprendizado dos corretores no Seguro Fiança Indico a seguradora que disponibiliza produtores comerciais eficientes e comprometidos c/o corretor Indico a seguradora que tem unidade entre as informações prestadas pelas áreas técnica e comercial Costumo Indicar a seguradora que possui eficientes canais de comunicação com o corretor Indico a seguradora que mantêm a igualdade entre corretores na aplicação de regras e de privilégios Indico a seguradora que dá liberdade para expressar minhas opiniões sobre a qualidade dos produtos Costumo indicar a seguradora exigida pelo segurado (locador) Costumo indicar a seguradora exigida pela administradora do imóvel Costumo indicar a seguradora exigida pelo garantido (inquilino) Indico a seguradora que oferece o maior número de benefícios aos segurados (locadores) do Seg. Fiança. Indico a seguradora que oferece o maior número de benefícios aos garantidos (inquilinos) do Seg.Fiança Costumo indicar a seguradora que oferece assistência jurídica gratuita p/os segurados do Seg. Fiança. Indico a segurad. que possui uma marca bem conhecida no mercado Indico a seguradora que promove a comunicação com os segurados após a venda do Seguro Fiança Indico a seguradora que disponibiliza promotores do Seg. Fiança p/ minhas visitas às imobiliárias. Costumo indicar a seguradora que oferece ampla variedade de códigos de comissão para o Seguro Fiança 60 2 COMPONENT 4 5 3 6 7 8 ,809 ,786 , 615 , 712 , 645 , 545 , 537 , 771 ,647 , 585 ,870 ,824 ,626 ,762 ,584 ,807 ,679 ,795 Fonte: SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS FATOR 1 – Características técnicas do produto Análise dos Resultados Para determinarmos o número de fatores, obedecemos aos dois princípios básicos definidos por CUESTA E HERRERO (2002) como indispensáveis: os princípios da parcimônia e da interpretação. O principio da parcimônia diz que os fenômenos precisam ser explicados com o menor número de elementos e que estes elementos precisam ser propensos a uma interpretação substantiva. O principio da interpretação considera o estudo da composição das saturações fatoriais significativas de cada fator e a atribuição de nome a cada fator, conforme o seu conteúdo; eliminando-se as cargas fatoriais baixas, geralmente as abaixo de 0,25. Os resultados foram então analisados com parcimônia e interpretação, Na tabela 16 podemos visualizar que as respostas dos corretores permitiram uma divisão do questionário em 7 fatores, havendo correlação estatística entre as diversas questões apresentadas. O primeiro grupo intitulamos de “Características técnicas do produto” e compreendeu 6 assertivas. O segundo grupo chamamos de “Qualidade da operação do produto”, compreendendo 3 assertivas. O terceiro grupo foi chamado de “Atributos técnicos da seguradora”, com 4 assertivas. Ao quarto grupo chamamos de “Qualidade operacional da seguradora” englobando 3 assertivas. O quinto grupo foi chamado de “Influencia externa”, pois se trata da influencia externa na decisão do corretor, compreendendo 3 assertivas. O sexto grupo referese aos atributos do produto, sendo composto por 2 assertivas; e o sétimo e ultimo grupo foi chamado de “Atributos comerciais da seguradora”, possuindo também 2 assertivas. Após apresentarmos a divisão das assertivas em fatores (tabela 4), apresentaremos uma tabela demonstrando a freqüência das respostas para cada assertiva, estaremos então agrupando as respostas em três níveis: Concordância (composto pelas respostas concordo totalmente e concordo), Indiferença (composto pela resposta indiferente) e Discordância (composto pelas respostas discordo e discordo totalmente). As respostas do grupo Concordância serão consideradas como motivadoras da escolha do corretor por uma determinada companhia de seguros na hora de indicá-la ao seu cliente, e a do grupo Discordância consideradas como não-motivadoras da escolha do corretor. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Este fator compreende as condições gerais do produto, as regras de comercialização e as normas de operação do seguro fiança locatícia, Estas características técnicas do seguro fiança, são muito consideradas pelo corretor no momento em que ele estiver escolhendo a seguradora para indicar a seus clientes. Cada assertiva relacionada a este item obteve um alto nível de concordância conforme explicado abaixo (tabelas 5, 6, 7, 8, 9 e 10). ! P(34) Indico a seguradora que possui as menores taxas para o Seguro Fiança. Tabela 5 – Freqüência da assertiva P(34). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo indeferente concordo Total 14 32 66 112 12,5 28,6 58,9 100,0 12,5 41,1 100,0 Fonte: Relatório do SPSS. Considerando a formação do preço do seguro fiança, atentamos para o impacto que as taxas menores causam na decisão do corretor, foram 58,9% dos corretores respondentes que concordaram com a escolha pela seguradora com menores taxas. ! P(35) Indico a seguradora que oferece o maior número de opções para o parcelamento do prêmio do Seguro Fiança. Tabela 6 – Freqüência da assertiva p(35). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo indeferente concordo Total 13 28 71 112 11,6 25,0 63,4 100,0 11,6 36,6 100,0 Fonte: Relatório do SPSS. As condições de pagamento do premio do seguro fiança, são muito importantes para a escolha do corretor, 63,4% dos corretores concordaram que o maior número de opções para parcelamento deste prêmio influencia suas decisões. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 61 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA ! P(36) Dá prazos maiores para o aviso do sinistro na apólice. Tabela 7 – Freqüência da assertiva P(37). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo indeferente concordo Total 19 27 66 112 17,0 24,1 58,9 100,0 17,0 41,1 100,0 O percentual de comprometimento da renda do pretendente é um item bem delicado neste seguro, pois ele existe para diminuir o risco do produto para a seguradora, os corretores ficaram divididos nesta assertiva, porém 49,1% deles concordam que o maior percentual e um fator que influencia na sua escolha pela seguradora. ! Fonte: Relatório do SPSS. O prazo determinado para o aviso de sinistro na apólice do seguro fiança locatícia traz impactos na escolha do corretor, 58,9% dos corretores concordam que o maior prazo para este aviso influencia suas decisões. ! P(19) É flexível em sua filosofia e critérios de analise para aceitação do Seguro Tabela 8 – Freqüência da assertiva P(19). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordância Indiferença Concordância Total 13 14 85 112 11,6 12,5 75,9 100,0 11,6 24,1 100,0 A flexibilidade nas analises e critérios de aceitação do seguro fiança é um fato que influencia bastante na escolha do corretor do seguro fiança locatícia por uma companhia seguradora, entre os respondentes, 75,9% concordaram com esta assertiva. P(39) Indico a seguradora que admite o maior percentual de comprometimento da renda do pretendente (inquilino) para o Seguro Fiança Tabela 9 – Freqüência da assertiva P(39). 62 Tabela 10 – Freqüência da assertiva P(40). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 29 25,9 25,9 Indiferente 13 11,6 37,5 Concordo 70 62,5 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Nesta assertiva, 62,5% dos corretores concordaram que a não existência de operações burocráticas neste seguro impacta em sua escolha pela seguradora. FATOR 2 – Qualidade da operação do produto. Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. ! P(40) Não possui operações burocráticas para o Seguro Fiança Locatícia Estas qualidades referem-se à eficiência dos funcionários e dos processos técnicos da seguradora e a eficiência dos métodos de analise e de construção do produto. Conforme o alto índice de concordância das assertivas relacionadas neste fator (acima de 80%) este item traz muito impacto na decisão e escolha do corretor do seguro fiança locatícia (tabela 11, 12 e 13). ! P(15) É rápida e eficiente nas análises de fichas cadastrais para o Seguro Fiança. Tabela 11 – Freqüência da assertiva P(15). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo indeferente concordo Total 30 27 55 112 26,8 24,1 49,1 100,0 26,8 50,9 100,0 Discordância Indiferença Concordância Total 2 2 108 112 1,8 1,8 96,4 100,0 1,8 3,6 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Revista Brasileira de Gestão de Negócios Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. — FECAP Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS Quase a totalidade dos corretores do seguro fiança locatícia (96,4%) concordaram que a rapidez e eficiência nas analises de fichas cadastrais impactam em sua escolha pela seguradora. ! P(16) Oferece cursos para o aprendizado dos corretores no Seguro Fiança. Tabela 14 – Freqüência da assertiva P(16). P(37) Pagar as indenizações de sinistros em menos dias. RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordância 8 7,1 7,1 Indiferença 12 10,7 17,9 Tabela 12 – Freqüência da assertiva P(37). Concordância Total 92 112 82,1 100,0 100,0 RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 6 5,4 5,4 indeferente 11 9,8 15,2 concordo Total 95 112 84,8 100,0 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Os 84,8% dos corretores do seguro fiança locatícia concordaram que o pagamento das indenizações de sinistro em menos dias influencia em suas escolhas por uma seguradora. ! ! P(38) Oferece um atendimento telefônico mais rápido e com melhor qualidade. Tabela 13 – Freqüência da assertiva P(38). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 4 3,6 3,6 indeferente 5 4,5 8,0 concordo 103 92,0 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. O atendimento telefônico com mais rapidez e com melhor qualidade foi considerado pelos corretores respondentes como extremamente importantes para sua escolha por uma seguradora. FATOR 3 – Atributos técnicos da seguradora Os atributos técnicos da seguradora referem-se ao apoio que a seguradora oferece ao corretor visando dinamizar as operações técnicas, e permitindo ao corretor obter melhor qualidade do produto. O nível de concordância com as assertivas oscilou entre 50% e 82% (tabelas 14, 15, 16 e 17). Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. O oferecimento de cursos para os corretores, foi considerado um importante apoio, e um atributo da seguradora que causa impacto na escolha do corretor. ! P(17) Comunica/Divulga o Seguro Fiança na mídia (TV, Rádio e outdoors). Tabela 15 – Freqüência da assertiva P(17). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo indiferente 18 38 16,1 33,9 16,1 50,0 concordo Total 56 112 50,0 100,0 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. 50% dos corretores concordaram que escolhem a seguradora que comunica e divulga o seguro fiança na mídia, mas também podemos verificar um alto percentual de indiferença (33,9%) com relação a esta ferramenta de apoio. ! P(18) Disponibiliza na Internet, sites p/acompanhamento dos processos na seguradora. Tabela 16 – Freqüência da assertiva P(18). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordância 13 11,6 11,6 Indiferença 17 15,2 26,8 Concordância 82 73,2 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório fornecido pelo SPSS. Ano 6 Número 15 63 Agosto 2004 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA Para os corretores do seguro fiança locatícia, a existência de sites na internet para acompanhamento dos seus processos na seguradora traz um forte impacto na sua escolha pela seguradora. ! P(42) Dá oportunidades p/o corretor opinar sobre procedimentos técnicos do Seguro Fiança Quase a totalidade dos respondentes (95,5%), concordou que a existência de eficientes canais de comunicação na seguradora, impactam na sua decisão pela seguradora, e nenhum dos respondentes discordaram desta assertiva, confirmando-a ainda mais. ! Tabela 17 – Freqüência da assertiva P(42). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA P(24) Mantêm a igualdade entre corretores na aplicação de regras e de privilégios Tabela 19 – Freqüência da assertiva P(24). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 14 12,5 12,5 Discordo 7 6,3 6,3 indeferente 24 21,4 33,9 indeferente 9 8,0 14,3 concordo 74 66,1 100,0 concordo 96 85,7 100,0 Total 112 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Fonte: Relatório fornecido pelo SPSS. Entre os respondentes, 66,1% concordaram que a oportunidade dada pela seguradora para opinar sobre os procedimentos técnicos do seguro fiança locatícia influencia suas escolhas pela seguradora. Entre os corretores do seguro fiança locatícia, 85,7% responderam que escolhem a seguradora que trata igualmente todos os corretores, sem dar mais privilégios ou concessões a um ou a outro corretor. ! FATOR 4 – Qualidade operacional da seguradora Refere-se à qualidade das atividades e das operações da seguradora, as quais englobam desde o atendimento ao corretor até o envio do produto ao segurado, este item também foi considerado como forte influenciador no processo decisório dos corretores de seguro fiança locatícia, uma vez que o nível de concordância das assertivas ficou acima de 85% (tabelas 18, 19 e 20). ! P(14) Possui eficientes canais de comunicação com o corretor. P(25) Tem unidade entre as informações prestadas pela área “técnica e comercial” Tabela 20 – Freqüência da assertiva P(25). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 5 4,5 4,5 indeferente 9 8,0 12,5 100,0 concordo 98 87,5 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Dos corretores do seguro fiança locatícia, 87,5% concordaram que escolhem a seguradora que e coerente em suas informações, com a unidade de informações entre as áreas técnica e comercial. Tabela 18 – Freqüência da assertiva P(15). 64 RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordância - - - indiferença 5 4,5 4,5 Concordância 107 95,5 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP FATOR 5 – Influência Externa Este fator refere-se a todos os fenômenos e influencias que interferem ou moldam a decisão do corretor do seguro fiança locatícia. Estas influências muitas vezes regem as decisões e escolhas destes corretores, mas há situações em que o corretor não atende a estas influências (tabelas 21, 22 e 23) Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS ! P(21) A administradora (imobiliária) exige. Tabela 21 – Freqüência da assertiva P(21). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordância 38 33,9 33,9 Indiferença Concordância 28 46 25,0 41,1 58,9 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. A exigência da imobiliária pela seguradora a operar o seguro fiança, impacta bastante na decisão do corretor de seguros, uma vez que o corretor não pode ir contra a vontade do seu cliente ele então tenta orientar o cliente a mudar de escolha ou pode acabar aderindo à opinião do mesmo. Entre os respondentes, houve um aparente equilíbrio com relação às concordâncias (41,1%) e discordâncias (33,9). ! FATOR 6 – atributos do produto Os atributos do produto referem-se aos benefícios vinculados ao seguro que atraem os segurados e conseqüentemente os corretores (tabelas 24 e 25). ! RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordância 31 27,7 27,7 Indiferença 22 19,6 47,3 Concordância 59 52,7 100,0 Total 112 100,0 RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 3 2,7 2,7 indeferente 13 11,6 14,3 100,0 concordo 96 85,7 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. A grande maioria dos respondentes concordou que quanto mais benefícios forem oferecidos aos segurados, mais aceitação terá a seguradora quando estes forem indica-la aos seus clientes. ! Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Para 52,7% dos corretores, quando o segurado exige a escolha pela seguradora, a sua decisão geralmente é acatada. P(23) O pretendente (garantido) exige. Tabela 23 – Freqüência da assertiva P(23). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 42 37,5 37,5 Indiferente 31 27,7 65,2 Concordo 39 34,8 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP P(31) Oferece o maior numero de benefícios p/segurados (locadores) do Seguro Fiança. Tabela 24 – Freqüência da assertiva P(31). P(22) O segurado (locador) exige. Tabela 22 – Freqüência da assertiva P(22). ! A maioria dos corretores discordou desta assertiva, foram 37,5% de corretores que não concordam que a exigência do inquilino influencia na sua decisão por uma determinada seguradora. P(32) Oferece o maior numero de benefícios p/garantidos(inquilinos) do Seguro Fiança. Tabela 25 – Freqüência da assertiva P(32). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 6 5,4 5,4 indeferente 23 20,5 25,9 concordo Total 83 112 74,1 100,0 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Da mesma forma que no item anterior, o maior numero de benefícios oferecidos aos garantidos traz grande impacto na escolha do corretor pela seguradora. 74,1% dos respondentes concordaram com esta assertiva e apenas 5,4% discordaram. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 65 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA FATOR 7 – Atributos comerciais da seguradora São os atributos que visam promover a comercialização do seguro fiança locatícia com o fornecimento de apoio comercial aos corretores e acompanhamento de suas atividades comerciais como visitas e contatos com os clientes após a venda (tabelas 26 e 27). ! P(29) Disponibiliza promotores do Seguro Fiança para minhas visitas às imobiliárias. Tabela 26 – Freqüência da assertiva P(29). RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 17 15,2 15,2 Indiferente 35 31,3 46,4 100,0 Concordo 60 53,6 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. Entre os respondentes, 53,6% concordaram que a disponibilidade de promotores de produto pra visitas às imobiliárias e um apoio que traz muito impacto nas suas escolhas por uma seguradora a operante no seguro fiança locatícia. ! P(30) Promove a comunicação com os segurados após a venda do Seguro Fiança. Tabela 27 – Freqüência da pergunta 30. RESPOSTA FREQÜÊNCIA % % ACUMULADA Discordo 24 21,4 21,4 Indiferente 33 29,5 50,9 Concordo 55 49,1 100,0 Total 112 100,0 Fonte: Relatório gerado pelo SPSS. 66 Os corretores do seguro fiança locatícia, ficaram divididos nesta assertiva, onde 49,1% concordaram com a comunicação entre a seguradora e os segurados após venda do seguro pelo corretor, e 29,5% foram indiferentes a este procedimento da seguradora. Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP 6. CONCLUSÕES E COMENTÁRIOS Conforme os resultados obtidos no levantamento feito com 112 corretores que produzem o seguro fiança locatícia, podemos encontrar fatores diferentes dos esperados, que causam consideráveis impactos no processo decisórios destes corretores, quando a questão é a escolha da seguradora que garantirá o risco. Fatos esperados como a marca da seguradora, o maior valor do prêmio que traz conseqüentemente maiores comissões e a maior divulgação do produto na mídia, não obtiveram os níveis de concordância imaginados inicialmente. No entanto, analisando os resultados por uma visão geral, é notório informarmos que as assertivas inicialmente extraídas na pesquisa exploratória (entrevista) foram quase totalmente confirmadas pelos 112 corretores respondentes. Havendo um alto numero de concordância e só em poucas assertivas houve um equilíbrio, com a existência de corretores indiferentes e não concordantes com a questão. Os fatores agrupados através da analise fatorial, definiram então tópicos diretamente relacionados à opinião dos corretores sobre o que realmente é importante existir na seguradora e no seguro fiança locatícia para que ele indique-os aos seus clientes. Podemos encontrar uma forte relação conceitual entre os resultados da pesquisa e os passos do comportamento de compra do corretor do seguro fiança locatícia. Conforme o modelo do comportamento de compra do corretor do seguro fiança locatícia, os corretores passam por cinco processos: Analise / Exigência de mercadorias Analise das alternativas de fornecedores Influencia das características situacionais Fase do processamento das informações Momento de escolha pela seguradora Analisando os fatores encontrados na pesquisa e os processos do comportamento de escolha do corretor, descobrimos que é possível fazermos uma relação entre estes, contribuindo assim para uma melhor interpretação dos resultados. Considerando a correlação que existe entre o comportamento de compra do corretor de seguros e os fatores influenciadores da escolha do corretor, podemos definir que cada assertiva relacionada aos fatores tem forte influência na escolha do corretor do seguro fiança locatícia pela seguradora a garantir o risco, segundo o grau de concordância adquirido por cada uma. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 A ESCOLHA DA SEGURADORA PARA O SEGURO FIANÇA LOCATÍCIA NA ÓPTICA DOS CORRETORES DE SEGUROS Para melhor afirmamos este fato, podemos então relacionar cada assertiva conforme o percentual de concordância, considerando-as da seguinte forma: ! As assertivas com considerável nível de discordância, como Não influenciadoras para a escolha do corretor; ! As assertivas com considerável nível de indiferença e com nível de concordância ate 50%, como Indiferentes para a escolha do corretor; ! As assertivas com nível de concordância entre 51% e 70% como influenciadoras da escolha do corretor e; ! As assertivas com concordância acima de 70% podem ser consideradas como fortes influenciadoras da escolha do corretor; precisam valorizar, que mais influenciam esta decisão do corretor do seguro fiança locatícia, podendo também ser apresentadas conforme seguem: ! ! ! ! ! ! ! ! Tabela 28 – Fortes Influenciadores da escolha do corretor do seguro fiança locatícia. ! FATOR ASSERTIVAS ! 1 • Indico a seguradora que é flexível am sua filosofia e critérios de análise 2 • Indico a seguradora que é rápida e eficiente na análise de fichas cadastrais. • Indico a seguradora que paga as indenizações de sinistro em menos dias • Indico a seguradora que oferece um atendimento telefônico mais rápido e com melhor qualidade. 3 • Indico a seguradora que oferece cursos p/o aprendizado do corretor • Indico a seguradora que disponibiliza na internet sites p/acompanhamento dos processos. 4 • Indico a seguradora que possui eficientes canais de comunicação c/o corretor. • Indico a seguradora que mantêm a igualdade entre corretores na aplicação de regras e de privilégios. • Indico a seguradora que tem unidade entre as informações prestadas pela área “técnica e comercial” 6 • Indico a seguradora que oferece o maior numero de benefícios p/segurados (locadores) do Seg. Fiança. • Indico a seguradora que oferece o maior numero de benefícios p/garantidos(inquilinos) do Seg. Fiança. Fonte: Elaborada pelo autor. O estudo do processo decisório do corretor do seguro fiança locatícia, desenvolvido neste trabalho, nos leva a entender que a escolha que o corretor faz por uma determinada seguradora depende de características criadas e desenvolvidas pelas próprias seguradoras. As características que as seguradoras Revista Brasileira de Gestão de Negócios — FECAP A seguradora precisa ser flexível; A seguradora deve ser eficiente e rápida nas suas operações; As seguradoras devem promover melhores condições de atendimento e de trabalho para o corretor; A seguradora deve operar com tecnologia atualizada; A seguradora deve zelar pela seriedade nos compromissos assumidos com o corretor; A seguradora deve oferecer atributos aos produtos que os diferenciem da concorrência; A seguradora precisa oferecer atributos que atraiam os segurados; A seguradora deve possuir taxas e preços competitivos; Seguradora deve dar oportunidade para os corretores opinarem, sabendo escutá-los; A seguradora precisa fornecer um apoio diferenciado ao corretor de seguros, que contribua para a capacitação e para a produtividade do mesmo. Com o alcance das características que mais atraem os corretores, as seguradoras não só estarão conseguindo maiores receitas e maior fidelidade por parte do corretor, mas também estarão contribuindo para o melhor desenvolvimento e qualificação do mercado segurador brasileiro, o que conseqüentemente resultará no satisfatório crescimento deste setor na economia brasileira. BIBLIOGRAFIA BARROS, Maria Luisa. Bancos apostam nos corretores. Previdência e Seguros, São Paulo, v. março/abril, p.20 – 21, 2002. BERKEL, Tom Van. Risk e Benefits management, United States, v.106, p. 33-34,2002. CUESTA, Marcelino; HERRERO, F.C. Introducción al análisis factorial. Disponível em http://www.uniovi.es/ ~Psi/Dpto_Psicologia/metodos/tutor.1/indice.html. Acesso em 05/06/2004. DILLMAN, Don A., Mail and Telephone Surveys: The Total Design Method. New York: Willey, 1978, pp 80 – 86. ENGEL, KOLLOT e MINIARD. Consumer Behaviors, New York: Drylen Press, 1995. Ano 6 Número 15 Agosto 2004 67 JÚLIO CÉSAR BEZERRA DA SILVA FIGUEIREDO, Sandra. Contabilidade de seguros. São Paulo: Atlas, 1997. GALIZA, Francisco Jose dos Santos. Economia e Seguros; uma introdução. Rio de Janeiro: Funenseg, 1977.274p. HOFMAN E BATESON, Marketing de Serviços. 4ª edição Porto Alegre: Bookman KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do consumidor. São Paulo: Atlas, 2000. KOTLER, Philip. Administração de marketing. São Paulo: Prentice Hall, 2000. LARRAMENDI, I. H.; PARDO, J.; CASTELO, J. Manual básico de seguros. Rio de Janeiro: Edições Técnicas, 1971. LOVELOCK e WRIGHT. Serviços: Marketing e gestão. São Paulo: Saraiva, 2001. LUCCAS FILHO, Olívio. Preço de venda em seguros: A importância dos custos em sua formação. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis e Financeiras) – Pontifícia Universidade Católica. São Paulo, 2000. LUPORINI, Carlos Eduardo de Mori. Avaliação das Cias. Seguradoras: insuficiências dos critérios atuais e propostas de um novo modelo. 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