Paciente do sexo masculino, 51 anos de idade, refere que há nove meses, após punção venosa para realização de endoscopia digestiva alta, começou a apresentar dor, calor, aumento de volume e limitação de amplitude de movimento em mão e punho direito, associado a rigidez matinal de até três horas. Evoluiu em três meses com aparecimento de lesão nodular, dolorosa, de consistência fibro-elástica em dorso do punho. Negava outros sintomas no período. Apresentava como antecedentes hemocromatose e cirrose hepática, tendo sido submetido a transplante hepático há quatro meses, com início de tacrolimus e prednisona 15mg/dia. Ao exame físico apresentava-se em bom estado geral, sem alterações em demais órgãos e sistemas exceto por aumento de volume de mão e punho direito, com discreta hipercromia difusa e aumento de temperatura local (ver figura 1). Foi realizada punção para estudo de material do cisto sinovial (ver tabela 1). Pesquisa de fator reumatoide, APF, crioglobulinas, anticorpo anti-núcleo, anti-LKM, anti-músculo liso, anti-mitocôndria e ANCA foram negativos. Figura1 – Fotos das mãos e punhos com quatro meses de diferença Figura 2 – Radiografia de mão e punho direito UltraUltra-sonografia mão direita: direita: Volumosa distensão da bainha dos extensores do quarto compartimento, com espessamento parietal e septos internos na face dorsal do punho, estendendo-se desde a porção distal do antebraço até a altura carpal, medindo aproximadamente 8,3 x 4,5 x 1,6 cm (Long x T x AP), sem alterações tendíneas evidentes. Distensão capsulo-ligamentar das metacarpo-falângicas do segundo ao quinto dedos, de forma mais acentuada no primeiro, com sinovite interposta, sem significativa hipervascularização ao estudo Doppler colorido. Profundamente aos tendões flexores do quarto e quinto dedos, nota-se formação amorfa, hiperecogênica, sem significativa sombra acústica posterior, estendendo-se ao longo das diáfises média e distal do quarto metacarpo, com intensa vascularização interna ao estudo Doppler colorido, sugerindo sinovite. Espessamento e heterogeneidade difusa dos planos subcutâneos. Ressonância magnética de punho e mão direita: direita Moderada quantidade de líquido com espessamento sinovial e realce pelo meio de contraste nas bainhas dos compartimentos extensores e tendões flexores do carpo e dos dedos, compatívelcom tenossinovite. Derrame articular, espessamento sinovial e realce pelo meiode contraste rádio-cárpico e intercárpico, com tênue edema da medular óssea de etiologia reacional. Não há erosões significativas. Não se observam alterações significativas nas metacarpofalângicas e interfalângicas proximais e distais. OBS: Caso clínico apresentado na reunião clínica da Disciplina de Reumatologia da UNIFESP pela Residente Tainá Cândida de Almeida no mês de fevereiro de 2011. Vamos lá! Deixem seus comentários, conduta e hipótese diagnóstica. Na próxima semana nos encontramos novamente. Conclusão: Diagnóstico: Diagnóstico Realizada biópsia sinovial de punho direito com crescimento de fungo filamentoso compatível com Sporotrix schenckii. Conduta: Conduta Paciente iniciou tratamento com itraconazol com duração prevista para 12 meses e segue em acompanhamento no ambulatório de Reumatologia. Comentários do Dr. Jamil Natour, Professor Adjunto - Livre Docente, Chefe do Setor Coluna Vertebral, Procedimentos e Reabilitação em Reumatologia da UNIFESP: “O envolvimento articular mais freqüente na hemocromatose é das metacarpofalangicas com artrite destrutiva. A hemocromatose é sub-diagnósticada, apesar de sua relativa freqüência nas pessoas de ascendência norte-européia (1:400 pessoas). Está associada à doença por depósito de pirofosfato de cálcio (DDPC), ou condrocalcionose. No caso do paciente, o que vimos foi um quadro localizado no punho. Apesar da multiplicidade de articulações no punho e do acometimento periarticular, poderíamos considerar o paciente como tendo uma monoartrite crônica. Nestes casos o diagnóstico diferencial com infecção por micobateria ou por fungo é obrigatório e a biópsia sinovial se impõe. Apesar de freqüentemente inespecífica, a biópsia sinovial em casos como este é o único meio de firmar o diagnóstico. A principio, toda monoartrite crônica tem indicação de biopsia sinovial. Devemos salientar a facilidade e a baixa agressividade da biópsia sinovial feita por agulha”.