A MISSÃO É SIMPÁTICA Antigamente é que era bom! texto Norberto Louro foto Zé Oliveira Reconheço que dou comigo certos dias a desfiar uma ladainha interminável de reclamações infundadas. E não sou só eu! Junta-se a mim um coro infinito de gente, como eu, a silabar esta espécie de harmonia desafinada e infundada. Com a crise que atravessamos, o coro tem aumentado desmesuradamente. Parafraseando alguém que li, eis a situa­ ção catastrófica que teimamos descrever, talvez por já a sabermos de cor. Que antigamente tudo era melhor, que o mundo hoje vai de mal para pior. Que o governo só faz política de promessas, e a câmara e a junta de freguesia são inoperantes. Que a cidade está uma sujeira, que os preços não param de aumentar. Que a própria Igreja estacionou. Que a missa é muito longa, que o padre nunca mais se cala. Que o carro não pega, que o semáforo nunca mais muda, que o táxi não aparece, que a fila do meu lado não anda. Que a promo- ção nunca mais sai. Que a reforma não chega. Que a minha equipa perdeu, que os árbitros são uns incompetentes. Os presidentes uns corruptos. Que o calor é insuportável e o frio é demais. Que nunca mais chove, que nunca mais deixa de chover. Que as pes­soas só sabem reclamar, que as crianças não param de chorar, que os jovens são uns estouvados, que os casamentos não duram, que os amigos desaparecem. Que já não há vergonha. Que o meu chefe não me compreende, que ninguém reconhece o meu trabalho, que os preços não param de subir. Que o meu telefone está enguiçado, o meu computador tem vírus, os contadores da luz e da água endoideceram. Porque é que a sorte bafejou só alguns? Porque é que não ganho o totoloto? Porque é que só eu tenho tanta gente a atrapalhar a minha vida? E se eu conseguisse um diploma sem estudar e uma promoção sem ser avaliado? Porque é que a gente tem tanta tribulação, tanta dor e sofrimento que tornam a vida um vale de lágrimas? Não será que a gente se agarra demasiado às coisas? Ora repare bem: acabámos de celebrar o Natal: Jesus nasceu num estábulo emprestado. Ao entrar em Jerusalém para ser aclamado rei, montou num burrico emprestado. Multiplicou os pães e os peixes nuns cestos emprestados. Utilizou uma barca para falar às multidões… Emprestada! Jesus foi sepultado num túmulo emprestado. Só a cruz era d’Ele. Era rico e fez-se pobre. Nunca amaldiçoou a sua condição de nada ter. Vai começar um novo ano. Pense nisto: por muito mal que esteja o mundo, nunca esteve tão bom para tantos (ainda não todos!) como agora. Não quer dar um jeitinho ajudando isto a melhorar? JANEIRO 2009 FÁTIMA MISSIONÁRIA 33