RECURSOS HÍDRICOS E MEIO AMBIENTE Heráclito Ney Suiter Nosso Mundo e a Água Terras Emersas: Águas: 149.000.000 km2 (29,2%) 361.000.000 km2 (70,8%) - Para cada 1.000 litros de água utilizada pelo homem resultam 10.000 litros de água poluída (ONU, 1993); - No Brasil, mais de 90% dos esgotos domésticos e cerca de 70% dos efluentes industriais não tratados são lançados nos corpos d'água; - O homem pode passar até 28 dias sem comer; Mas apenas 3 dias sem água. Distribuição da Água no Mundo 97,2 % da água do ciclo hidrológico estão contidos nos mares, oceanos e lagos salgados (Ecossistemas Marinhos) 2,8 % da água do ciclo hidrológico são de água doce (Ecossistemas de Água Doce) Água Doce: 2,8 % 76,7 % geleiras e lençóis glaciais 22,3 % lençóis subterrâneos 1 % águas de superfície (rios, charcos e pântanos) Fonte: Adaptado de UNESCO/PHI/REDES, 1994 Ecossistemas Aquáticos - 71% da superfície terrestre Disponibilidade de Água Doce Salgada Doce Total = = = 1.362.200.000 km3 37.800.000 km3 1.400.000.000 km3 Água Doce: Geleiras e Capotas Polares Águas Subterrâneas* e umidades do solo Lagos e Pântanos Atmosfera Rios (superficial) Total 29.181.620 km3 8.467.200 km3 132.300 km3 15.100 km3 3.780 km3 (77,20%) (22,40%) (0,35%) (0,04%) (0,09%) 37.800.000 km3 (100,00%) (*) Deste total, cerca de 70% encontra-se em profundidades superiores a 750 metros Evolução do Uso da Água no Mundo A disponibilidade da água no mundo é irregular pelas dimensões geográficas, condições climáticas e distribuição populacional. Exemplo: China e Canadá recebem quantidade semelhante de precipitação total e por hectare. A China possui população quase 42 vezes superior à do Canadá. Cada habitante chinês dispõe de 2,2% da água disponível para cada canadense. A no H a b ita n te s U so da Á gu a m 3/h a b /a n o 1940 2 ,3 x 1 0 9 400 1990 5 ,3 x 1 0 9 800 Consumo Médio de Água no Mundo Faixa de Renda G ru po de R enda B a ix a U ti l i z a ç ã o a n u a l 3 m /h a b . 386 M é d ia 453 A lta 1 .1 6 7 Fonte: Relatório do Banco Mundial, 1992. Disponibilidade de água por habitante/região (1000 m3) Região 1950 1960 1970 1980 2000 África 20,6 16,5 12,7 9,4 5,1 Ásia 9,6 7,9 6,1 5,1 3,3 América Latina 105,0 80,2 61,7 48,8 28,3 Europa 5,9 5,4 4,9 4,4 América do Norte TOTAL 37,2 30,2 25,2 21,3 17,5 178,3 140,2 110,6 89 4,1 58,3 Fonte: N.B. Ayibotele. 1992. The world water: assessing the resource. Efeitos de Contaminação Muito Severo A evolução dos problemas hídricos (World Resources, 1990) Severo Moderado 2000 1960 Período Romano Local Regional 1800 1900 Continental Global Escala do Problema Há 2.000 anos atrás a população mundial correspondia a 3% da população atual, enquanto a disponibilidade de água permanece a mesma. A partir de 1950 o consumo de água, em todo o mundo, triplicou. O consumo médio de água, por habitante, foi ampliado em cerca de 50%. A ilusão da abundância tem mascarado a realidade de que a água de boa qualidade está cada dia mais escassa. A indissociabilidade dos aspectos de qualidade e quantidade da água determinam a qualidade de vida das populações. Indicadores de Relativa Escassez de Águas Níveis Médios de Consumo Humano < 2.000 m3 per capita/ano - sinal de alerta; < 1.700 m3 per capita/ano - começa a ocorrer escassez local, tornando-se rara; < 1.000 m3 per capita/ano - ameaça a saúde, interrupção do desenvolvimento e risco à prosperidade humana; < 500 m3 per capita/ano - ameaça a sobrevivência. Fonte: World Bank, 1995. Population Reference Bureau 1991 Ciclo Hidrológico Características da Água -Potencialidade para Aproveitamento Os recursos hídricos estão distribuídos desigualmente pelas distintas regiões do globo. 2/3 da quantidade de água disponível se perdem em processos de drenagem e escoamento superficial. Apenas 14.000 km3 estão disponíveis para suprimento relativamente estável, o que corresponde a cerca de 2.590 m3 por indivíduo/ano. O Ciclo Hidrológico Fonte: CNEN, 1996 CIRCULAÇÃO DA ÁGUA DOCE Local Velocidade Tempo de residência Atmosfera 0,1 - 100 km/h 5 - 6 dias Superfície (rios) 1 - 100 km/dia 15 - 20 dias Aqüiferos 0,001 - 100 cm/dia até milhares de anos GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (BACIAS HIDROGRÁFICAS BRASILEIRA) GEOGRAFIA DAS ÁGUAS (BACIAS HIDROGRÁFICAS DO TOCANTINS) ÁGUA NO BRASIL O Brasil detém 11,6% da água doce superficial do mundo. Os 70 % da água disponíveis para uso estão localizados na Região Amazônica. Os 30% restantes distribuem-se desigualmente pelo País, para atender a 93% da população Fonte: DNAEE 1992 POTENCIAL HÍDRICO BRASILEIRO Região/Bacia Áreas em Km2 Chuva média Vazões médias m3/s ETP Vazão/Chuva Brasil 1. Amazonas 2. Tocantins 3. Atlântico Norte A Nordeste 4. São Francisco 5. Atlântico Leste A B 6. Paraná A 877.000 Paraguai B 7. Uruguai 178.000 8. Atlântico Sul Totais Fonte: BR + Bacia Amazônica 3.899.965 6.112.000 757.000 757.000 242.000 242.000 787.000 787.000 634.000 634.000 242.000 242.000 303.000 303.000 877.000 39.935 368.000 368.000 178.000 9.589 224.000 224.000 8.511.965 10.724.000 DNAEE, 1994 m3/s Brasil BR + BA m3/s % 493.491 42.387 16.388 27.981 19.829 7.784 11.791 11.200 16.326 4.040 10.519 128.900 11.300 6.000 3.130 3.040 670 3.710 11.200 1.340 4.040 4.570 202.000 11.300 6.000 3.130 3.040 670 3.710 28.735 1.340 5.549 4.570 291.491 31.087 10.388 24.851 16.789 7.114 8.081 28 14.986 42 5.949 41 27 37 11 15 09 31 696.020 177.900 251.000 445.020 36 8 43 O potencial hídrico no Brasil corresponde a 54% do total da América do Sul e a 14% do deflúvio total dos rios do planeta (WRI, 1970) BRASIL Vazão Total: 5.610 km3/ano Nordeste 3,3% CentroOeste 15,7% Sudeste 6,0% Sul 6,5% Norte 68,5% Área das Bacias Hidrográficas no Brasil (em %) São Francisco 7,5% Paraná 14,3% Uruguai 2,1% Amazônica 45,7% Trecho Sudeste 2,6% Trecho Leste 6,7% Fonte: IBGE, 1995 Trecho Norte e Nordeste 11,6% Tocantins 9,5% Distribuição dos Recursos Hídricos, da Superfície e da População (em % do total do país) REGIÃO Norte Centro-Oeste Sul Sudeste Nordeste Soma RECURSOS HÍDRICOS 68,50 15,70 6,50 6,00 3,30 100,00 SUPERFÍCIE POPULAÇÃO 45,30 18,80 6,80 10,80 18,30 100,00 6,98 6,41 15,05 42,65 28,91 100,00 USO RACIONAL E SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS HÍDRICOS USOS DA ÁGUA Abastecimento Urbano: - 150 a 300 l/hab/dia Abastecimento Industrial: - siderurgia - 85 m3/t aço; - agroindústria - 20 m3/t carne ou conservas enlatadas; - frigoríficos - 3 m3/animal abatido; Uso Agrícola: - irrigação - 10 a 15 mil m3/ha/ano; - dessedentação animal - 50 l/UA/dia - lavoura de sequeiro - 1 m3/kg de grãos produzidos CONFLITOS E RISCOS POTENCIAIS Geração e co-geração de energia hidroelétrica Navegação / transporte Abastecimento urbano e industrial Diluição e transporte de dejetos Preservação da biodiversidade Aquicultura e pesca Irrigação agrícola e uso pecuário Recreação e laser DEMANDA CRESCENTE DE ÁGUA Um indivíduo, vivendo em condições primitivas, necessita de apenas 20.000 litros de água durante toda a vida. Um habitante de áreas urbanas e/ou industriais usa de 4 a 20 milhões de litros em sua vida. A quebra do paradigma está no manejo da base de recursos naturais, e não no mero balanço dos usos consuntivo e não consuntivo da água. MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA • • • • • • Estações de tratamento de esgotos e efluentes; Coleta e disposição de lixos e resíduos urbanos e industriais; Obras de conservação e controle da erosão dos solos; Métodos racionais de irrigação; Aplicação racional de defensivos agrícolas; Monitoramento dos mananciais e dos logradouros poluentes. MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA O desenvolvimento sustentável está limitado pela capacidade de absorver os impactos das cargas poluentes numa bacia hidrográfica. MELHORIA NA QUALIDADE DA ÁGUA Zoneamento Econômico-Ecológico Fortalecimento institucional no âmbito da bacia Capacitação de recursos humanos Novo enfoque para a Assistência Técnica e Extensão Rural; O tema recursos hídricos e, mais amplamente, o da água, se presta ao início desse processo de mudança de vez que a água interpenetra segmentos e setores de toda e qualquer natureza do interesse da vida e de atividades humanas no Planeta Terra. RACIONALIZAR O USO DAS ÁGUAS Melhor entendimento dos processos produtivos que incorporem uma visão sistêmica de seus componentes; Visão holística em relação a um arcabouço geral – moldura – orientado a mercados (internos/ externos); Contemplar interesses públicos/coletivos e os interesses privados/empresariais, segundo enfoques preservacionistas e produtivistas. ASPECTOS LEGAIS GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS Outorga do direito de uso da água e da correspondente cobrança pelo uso autorizado (Código de Águas, Art. 42, 1934). Domínio das águas: União, Estados e Distrito Federal (Constituição Federal, 1988). * Uso para transporte, diluição e assimilação de efluentes * Uso para consumo ou como fator de produção. Independem de outorga pelo poder público, o uso de água para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais distribuídos no meio rural, as derivações, captações, lançamentos e acumulações considerados insignificantes. GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS A Lei nº 9.433, de 08.01.97: estabelece condições de organização do planejamento e gestão dos recursos hídricos. A gestão integrada de que trata tem muito a ver com águas superficiais, adotando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento e, certamente, o será, também, de gestão. Instrumentos Art. 5º Planos de Recursos Hídricos Outorga de Direito de Uso Usuário Autorização Concessão Permissão Cobrança pelo Uso da Água Enquadramento dos Corpos d’Água em Classes de Uso (Resolução 20 do CONAMA) Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos Para o uso da água Fortalece a relação entre a gestão dos recursos hídricos e a gestão ambiental ARRANJO INSTITUCIONAL A Lei nº 9.433, de 08.01.97: 1. Conselhos (Nacional, Estaduais/DF) de Recursos Hídricos; 2. Comitês de Bacias Hidrográficas; 3. Agências da Água, e 4. Organizações civis de recursos hídricos. Coordenação geral e responsabilidade: Secretaria de Recursos Hídricos, do MMA Composição (Representantes) Ministérios e Secretarias da Presidência da República Conselhos Estaduais e DF Usuários Organizações Civis CNRH Presidente - Ministro Titular do Ministério do Meio Ambiente (MMA) Secretário Executivo - Secretário de Recursos Hídricos do MMA (SRH/MMA) Composição 50% 50% (Arts. 37 a 40) União Estados Municípios Usuários Entidades Civis Nº de participantes e os critérios para sua indicação serão estabelecidos nos regimentos dos comitês Comitês serão dirigidos por: Presidente Eleitos dentre seus membros Secretário Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos Art. 33 Composição: Conselho Nacional de Recursos Hídricos • Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal • Órgãos dos Poderes Públicos Federal, Estaduais e Municipais • (competências - Gestão de Recursos Hídricos) Comitês de Bacias Hidrográficas s Agências de Bacia ÁGUA - Fundamentos Art. 1º Bacia Hidrográfica 1. Água é um bem de domínio público 2. A água - bem finito e vulnerável - é dotado de valor econômico 3. Em situações de escassez, o uso prioritário da água é o consumo humano e a dessedentação animal 4. Uso múltiplo das águas 5. A bacia hidrográfica é a unidade de planejamento 6. Gestão descentralizada e participativa Organizações Civis de Recursos Hídricos (Legalmente constituídas - Art. 47 e 48) Consórcios e Associações intermunicipais de bacias hidrográficas Associações regionais, locais ou setoriais de usuários de recursos hídricos Organizações técnicas e de ensino e pesquisa Organizações não-governamentais com objetivos de defesa de interesses difusos e coletivos da sociedade Outras organizações reconhecidas pelo Conselho Nacional ou pelos Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos “A água não ocupa mais espaço do que realmente necessita. Por isso equivale à moderação.” Immanuel Kant