A grande cavanillesia brasileira WJ Manso de Almeida Carl Martius deu o nome de Pourretia tuberculata a essa esplêndida espécie arbórea que surge na paisagem do norte de Minas (“prope Salgado...”) e do sul da Bahia (“usque ad Malhada”). Classificada no gênero Cavanillesia Ruiz & Pav., a espécie toma a denominação de Cavanilllesia arborea Schum. na Flora Brasiliensis (www.florabrasiliensis.cria.org.br/ ), tendo como sinônimos as designações Pourretia arborea Wild. e Pourretia tuberculata Mart. & Zucc. Essas designações latinas parecem sintetizar a descrição de dois traços marcantes da espécie: uma árvore comprida e inchada, ou grande e barriguda. De fato, trata-se de uma árvore de grande porte, frequentemente ultrapassando a vinte metros de altura. O seu tronco, mais estreito na base, avoluma-se no trecho intermediário, aí surgindo a sua característica barriga, para, a seguir, comprimir-se paulatinamente no sentido do seu topo. Esse caule como que se curva para trás ao receber a inserção dos primeiros ramos, e se transforma em ramo-guia da árvore. Por vezes, os próprios ramos secundários desenvolvemse à imagem do caule. Ou seja, embora sempre grossos e quase roliços, mostram-se mais estreitos na base de inserção, intumescidos no segmento intermédio, voltando a se estreitarem até o ponto onde têm origem os novos rebentos da ramificação. O caule e os ramos exibem estrias verdes longitudinais, apontados como órgãos suplementares de fotossíntese, e são dotados de fortes acúleos, como se armas fossem para proteger as suas belíssimas floradas de suave cor purpúrea e os seus frutos envoltos em painade-seda. Da descrição oferecida na Flora Brasiliensis, consta o seguinte trecho: ...”ob enormem mole atque formam inusitatam miro adspectu”... (v.g. “figura admirável de uma enorme construção de formas inusitadas”, dir-se-ia, numa tradução livre). A fotografia que a seguir se apresenta, feita nas proximidades de Januária, antiga Porto Salgado, vem ilustrar aquela admiração registrada pelo botânico. Vem ilustrar, também, outra característica que o texto da Flora confere à espécie: com a idade e o seu crescimento, as suas formas alongamse e a intumescência que distingue o seu caule torna-se mais discreta. Formidável! Uma criatura que se torna esbelta com o passar dos anos. Às vezes, a vizinhança silvestre vem realçar a sua presença e, em conjunto, compor um bonito quadro paisagístico. Outras vezes, em pequenos grupos, Publicação do sítio www.wjmansodealmeida.com.br/ 2 essas árvores destacam-se no sítio campestre pela impressão de movimento que lhes dão as suas próprias formas. Outras, ainda, vêm roubar a atenção, os seus ramos plenos de flores roxas a se destacarem contra o azul celeste. Januária, MG 3 Paineiras de Peruaçu e Itacarambi 4 Outro gigante. Verdelândia, MG As seguintes medidas e anotações adicionais referem-se a uma Cavanillesia observada em Itacarambi, Minas Gerais, durante excursão feita em maio de 2011: caule e ramos dotados de acúleos e estrias verdes longitudinais; folhas pecioladas, pecíolo semi-roliço de base intumescida com 13,0 cm de comprimento; folhas digitadas de sete folíolos subsésseis verde-claros, suaves ao tato (sendo jovens os exemplares colhidos), lâmina de borda serrilhada, base aguda e ápice redondo, dimensões crescentes no sentido do topo da folha, medindo o folíolo central 13,5 cm por 6,0 cm e o menor, junto à base, 7,5 cm de comprimento por 3,5 cm de largura; flores independentes, embora próximas umas das outras, situadas nas extremidades dos ramos; corola de cinco pétalas de cor púrpura na metade superior e branco-creme tracejado de grenat na metade inferior, obovais unguladas, base aguda e ápice redondo, de dimensões variáveis, medindo de 8,5 a 8,8 cm de comprimento e de 3,5 a 4,0 cm de largura; cálice de três pontas arredondadas, imbricadas e irregulares, medindo 1,5 cm de comprimento; pedúnculo verde roliço, de 1,3 cm de comprimento; cinco estames de 5,5 cm de comprimento, cada um sustentando no seu ápice duas grandes tecas bipartidas (seis mm de comprimento); pistilo 5 longo, com pequeno estigma esferoide superando a altura dos estames, embora esses se mantenham recurvados, geralmente; fruto não observado. A paineira observada em Itacarambi 6 As medidas e particularidades ora comentadas devem ser tomadas a título de mais um exemplo das características da espécie, porquanto essas podem apresentar variações (talvez) inesperadas, conforme se depreende dos textos especializados e das observações feitas por diferentes naturalistas. Aliás, conta um morador do norte de Minas que a embiruçu é muito mais grossa que a barriguda, ainda que muita gente creia tratar-se da mesma árvore. Ou seja, baseado no seu conhecimento empírico, esse morador alerta que, como noutros casos, a espécie apresenta variedades. Cabe adicionar, nesta oportunidade, que uma variedade dessa gigantesca Cavanillesia foi localizada, igualmente, nos municípios goianos de Jesúpolis e Jaraguá (tanto no distrito sede, quanto junto ao povoado de Artulândia), em pleno cerrado do Planalto Central, durante excursões realizadas em 2012, especialmente. xxxxxxxx