documento

Propaganda
Breves notas sobre o Design e a Internacionalização de Portugal
O design torna passível de ser consumido aquilo que o homem cria no plano
abstracto, colocando no mercado todas as descobertas, grandes ou pequenas. Povoa o
nosso quotidiano de objectos, materiais ou não, maiores ou menores, mais ou menos
visíveis, dividindo território com outras disciplinas como a arquitectura, a arte, e as
engenharias. É um democratizador de conhecimento na medida em que, equacionando
diversas vertentes complementares, como a estética, a ética, a economia, a cultura, a
funcionalidade, a sustentabilidade, busca encontrar as respostas que melhor solucionem os
problemas da sociedade contemporânea, criando com isso novas materializações ou novos
processos de organização de informação, susceptíveis de serem utilizados por todos. É por
isso uma extraordinária ferramenta na construção de uma sociedade actual, dinâmica,
competitiva e mais justa. É também um veículo importantíssimo na transmissão –
comunicação – de uma imagem sobre a cultura, país, local, cidade de onde é originário.
Representa não só capacidade de produção, de fazer bem, como capacidade de concepção
e de inovação.
Ao longo dos últimos anos o design português deu passos de gigante, evoluiu,
amadureceu, e apresenta-se neste momento com uma grande força. Existe uma nova
geração de criadores, atenta, exigente e informada, que se veio impondo ao longo destas
últimas décadas e cuja produção é incontornável, do ponto de vista nacional e internacional.
Quer seja na moda, no design industrial, no design de comunicação ou em “novos” designs,
como o de software, de serviços ou de sistemas, Portugal apresenta neste momento uma
geração de criadores ao nível mundial, capaz de satisfazer e de surpreender o mercado mais
exigente. Sem querer personalizar aqui, basta reparar na quantidade de designers
portugueses que são mencionados na imprensa internacional, que são apresentados em
diversas capitais do mundo e que são contratados por empresas internacionais. Esta
inclusão no sistema internacional, essa imagem de um Portugal produtor de bons designers
e bons profissionais atrai os olhares sobre o que se passa no nosso país, valoriza toda a
nossa produção e põe em relevo a eficácia do que é pensado e produzido em Portugal.
Embora não me pareça correcto, hoje em dia, falar-se de um design nacional, de
onde emane uma identidade nacional definida, recusar a existência de linguagens e
metodologias específicas a cada contexto geográfico e cultural seria, também, absurdo. Os
valores locais, quando embebidos no processo criativo, permitem solidificar a construção da
imagem de um pais, seja ele qual for. E isso passa quer pela adopção de métodos de
produção tradicionais aplicados às industrias actuais, quer pela utilização de matérias primas
locais e da sua aplicação na industria existente, quer pela leitura criativa de todo um
património histórico e cultural. Os nossos designers, conscientemente, trabalham sobre esta
matéria, um misto entre passado e presente, e sobre ela e com ela, definem os objectos do
futuro.
Uma nova imagem de Portugal emerge neste momento de uma geração de
criadores – não só designers, como é claro – e de agentes culturais que se posiciona no
mundo de forma afirmativa e segura. Reflectem um modo de ver e de ser Português inserido
num sistema único e comunicante que é esta grande aldeia global em que vivemos. A par
do trabalho deste grupo de criadores é fundamental o apoio e estímulo que lhes é dado, para
que esta produção tenha a eficácia que pode ter. Assim, sempre que o Estado se organiza
de forma a ajudar a sua promoção, sempre que um governante se associa a momentos em
que os novos projectos são apresentados, sempre que se conjugam esforços e politicas,
sempre que se une a sociedade civil com as grandes instituições nacionais, é potenciada
toda uma produção que pode realmente ajudar a construir um momento de viragem para o
nosso pais.
Do ponto de vista económico é absolutamente essencial neste momento valorizar a
marca Portugal e o que a nossa economia produz. É necessário sedimentar uma imagem de
valor acrescentado para a produção nacional que não passa necessariamente – ou apenas por grandes campanhas publicitárias e investimentos em feiras. Os circuitos que ditam e que
definem valor estão anexos aos media, aos opinion-makers, aos grandes trensetters e a
especificas redes tecnológicas sociais e só chegam ao grande público depois de avalizados
por estes núcleos. Operar nestes segmentos de forma estratégica e estruturada, fruto de um
planeamento rigoroso e um timinig correcto e utilizando mais valias de grande valor como o
design, a arquitectura e a cultura contemporânea é um factor de entrada nestes meios e um
vector de aceleração importantíssimo.
Alguns exemplos prácticos:
1. Criar a designação “Thought and Made in Portugal”. O design sintetiza o
binómio concepção/produção nacional. Enfatiza o facto de se pensar bem
com o de se saber fazer bem. É um suporte inigualável para a marca
Portugal e que pode ser associado como um selo de qualidade e promovido
como tal. Deverá ser constituído um comité que possa atribuir esta
designação como marca distintiva e de qualidade e poderá ser criado uma
prémio. Uma vez que a denominação é proposta pela experimentadesign
gostaríamos de coordenar este processo com o Governo.
2. Apresentar durante as visitas de Estado “show cases” de design português,
operando
em
parceria
com
agentes
da
sociedade
civil nacionais
beneficiando da rede internacional informal e extremamente eficaz que estes
detêm. Constituir um grupo de trabalho que reúna associações empresariais,
o Centro Português de Design e as instituições privadas
dedicadas ao
design em Portugal (experimentadesign e as duas associações de
designers, a APD e a AND, que estão neste momento a preparar a
constituição da Ordem dos Designers) e definir estratégica e sinergicamente
que show cases apresentar. Rentabilizar, de preferência, projectos
expositivos já produzidos, para reduzir custos.
3. Dar ênfase à importância do design para Portugal renovando as ofertas de
Estado através da criação de uma selecção de peças de design
contemporâneo e renovando alguns dos espaços de representação
simbólica nacional, onde são recebidos altos representantes internacionais,
políticos, opinion makers, CEO’s, etc.
4. Criação de rede de Embaixadores da Diplomacia Económica (à semelhança
do que o UK faz com o Trade&Investment Ministry) e organizar com eles
uma série de acções internacionais, de posicionamento e divulgação. Estes
Embaixadores são interlocutores das mais diversas áreas mas que detêm
eles próprios uma forte rede internacional e um reconhecimento internacional
inquestionável em circuitos de opnion-makers, media, políticos, económicos,
académicos e institucionais. As suas constantes saídas fora de Portugal
podem ser rentabilizadas e organizadas de forma a promoverem o nosso
país de forma ainda mais consistente. Devem constituir um grupo fortemente
heterogéneo (não falamos aqui apenas de design, como é claro) e com
provas dadas num período temporal longo. Exemplos: João Fernandes,
Filippe de Botton,
Isabel Carlos, António Mexia, Zeinal Bava, Elvira
Fortunato, Leonor Beleza, António Câmara, Emilio Rui Vilar, Eduardo Souto
Moura, Alvaro Siza, António Damásio, Ricardo Salgado, Artur Santos Silva,
Julião Sarmento, Pedro Cabrita Reis, João Lobo Antunes, Eduarda
Abbondanza.
5. Verificar que tipo de produtos nacionais – desde gadgets electrónicos e
office, estacionário, acessórios, vestuário – podem ser utilizados pelos
nossos governantes nas visitas de trabalho e de Estado internacionais de
forma a passar uma imagem inovadora, de qualidade e de grande identidade
nacional. É um veículo quase subliminar mas se usado de forma consistente
e bem pensada sedimenta uma imagem de qualidade e inovação.
6. Posicionar a presença da economia portuguesa em blogs, redes sociais
através de um site criado especificamente para o efeito, com uma linha
editorial muito definida e muito contemporânea, promovendo design,
arquitectura e cultura contemporâneas nacionais com uma linguagem de
revista web trendsetter.
Guta Moura Guedes
Lisboa, 8 de Agosto de 2011
Download